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DADI CARVALHO: POUCAS PALAVRAS, M\u00DASICA DE SOBRA

COM BONS SERVIÇOS PRESTADOS A NOVOS BAIANOS, JORGE BENJOR E MICK JAGGER, ENTRE TANTOS OUTROS MESTRES, O CARIOCA TRABALHA EM PROJETO DE TRILHAS SONORAS E LANÇA UM SELO PRÓPRIO, O DADI RECORDS

Por Alessandro Soler, do Rio

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Dadi Carvalho já gravou com Mick Jagger, foi habitante fixo do mítico sítio dos Novos Baianos no swinging Rio dos anos 1970, baixista do grupo e, igualmente, de um peso-pesado do rock nacional, o Barão Vermelho. Fundou a banda A Cor do Som, referência do pop brasileiro aclamada no Festival de Montreux, na Suíça, e foi músico acompanhante de Tribalistas, Marisa Monte, Rita Lee, Jorge Benjor, Moraes Moreira. Homenageado na canção “O Leãozinho”, do amigo e parceiro Caetano Veloso, deixou seu nome escrito nos créditos de mais de 60 bolachas, muitas da turma aí acima, mas também de gente como Nando Reis, Léo Jaime, Maria Gadú ou Ney Matogrosso. Criou um estilo próprio de tocar baixo e guitarra desde que, aos 13 anos – e, portanto, há exato meio século – decidiu que era isso que queria fazer. Mas enumerar seus muitos feitos não é mesmo a dele. É com pouquíssimas palavras – cinco, mais exatamente – que Dadi resume seu espírito a um só tempo zen e intranquilo, quando instado a comentar o quão próximo se vê da realização: “Acho que ainda falta muito.”

O músico carioca, que tem por passatempo se fechar no seu estúdio, gravar e “descobrir novas sonoridades”, não para de maquinar coisas. Dedicado a um projeto de trilhas sonoras para filmes, ele conta que tem passado bastante tempo criando. E dando forma ao seu recém-criado selo, Dadi Records, que terá distribuição pela Coqueiro Verde. “Vou lançar meus CDs que saíram no Japão, um outro que fiz na Itália com amigos músicos de lá, e que se chama 'InventeRio', e também trabalhos do André Carvalho, entre vários outros projetos. Pelo selo, também vou pôr para download gratuito o projeto das trilhas sonoras que venho preparando. Gosto muito de ficar no estúdio gravando trilhas”, diz.

Entre mesas de som, amplificadores, microfones, processadores e mais aparatos, ele põe a mão na massa como qualquer garoto do século XXI e, ao mesmo tempo, mata a saudade de um outro tempo, quando o ofício era mais “analógico”, algo inacessível, cheio de encanto. “Hoje a gente tem o seguinte quadro: muito mais gente faz música, e é incomparavelmente mais fácil produzir em estúdios caseiros e divulgar pela internet. Ao mesmo tempo, me parece que as músicas passam mais rápido. Tenho saudade da época em que ficávamos esperando um novo LP dos artistas que faziam a nossa cabeça, do amadorismo romântico da música”, confessa.

Um dos mestres de cujos lançamentos ele certamente sente falta – e que não titubeia em chamar de melhor parceiro – é Jorge Benjor: “Me identifico muito com a musicalidade intuitiva dele.” Também sobra espaço para um carinho especial por Caetano, claro. Numa tarde de praia com Dadi, no Rio do fim dos anos 1970, o baiano teve a inspiração para “O Leãozinho”, que, dor e delícia, é sempre, e inevitavelmente, associada ao baixista. “Não me ligo muito nisso, não. Fico honrado por nosso poeta Caetano ter pensado em mim com uma poesia e uma música dele, como fez para outras pessoas.”

Daquele tempo de explosão criativa, encontros geniais, costumes em revolução, porém, sem dúvida o que mais o marcou foi a experiência comunitária, meio profana, meio espiritual, com os amigos Baby (então Consuelo), Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Moraes Moreira e outros mais ou menos fixos no sítio do bairro de Vargem Grande. “Foi a minha universidade de música e vida”, resume Dadi. “Divertido demais. Eram os anos 1970, já viu... Toda a loucura rolava com muita música.”

Depois da biografia “Meu Caminho é Chão e Céu – Memórias Dadi”, que lançou no finzinho do ano passado e na qual relata o dia a dia da convivência – musical, lisérgica, afetiva, familiar – com os Novos Baianos, é possível que Dadi não tenha mais muito o que contar aos filhos. Mas certamente uma bela bagagem musical ele já deixou. Ambos, Daniel e André Carvalho, enveredaram pelo mundo da música e já colhem boas experiências. “O Daniel é produtor e engenheiro de som e ganhou cinco vezes o Grammy. O André é compositor e já lançou seu primeiro CD, 'Tempo do Tanto', com músicas gravadas pela Maria Gadú ('Tudo Diferente'), Marisa Monte ('Nada Tudo'), Mart'nália ('Daquele Jeito')...”, enumera, orgulhoso.

Cercar-se de gente boa parece ser coisa de família. E lição que não se esquece. Para o futuro próximo, Dadi promete novos encontros e projetos. Sem muitas palavras. Com a cabeça só na música: “(O que eu quero é) continuar minhas parcerias com amigos, estar no meu estúdio gravando... Isso me faz tão bem!”

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