#32
MAIO 2017
O FU TU RO
DA MÚSICA
MERCADO
Aperte o play: o batidão do funk é no YouTube Pelo País
Na MPB, uma renovação movida a hits de antigamente Arnaldo Antunes
Cinco tendências que em breve serão realidade. Você está preparado?
Uma ponte afetiva entre São Paulo e Lisboa
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#32
MAIO 2017
RE VIS TA
A Revista UBC é uma publicação da União Brasileira de Compositores, uma sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivos a defesa e a distribuição dos rendimentos de direitos autorais e o desenvolvimento cultural.
Diretor executivo Marcelo Castello Branco Coordenação editorial Elisa Eisenlohr Assistente de coordenação editorial José Alsanne Projeto gráfico e diagramação Crama design estratégico Editor Alessandro Soler (MTB 26293) Textos Alessandro Soler (Madri), Andrea Menezes (Brasília), Bruno Albertim (Recife), Fabiane Pereira (São Paulo), Lúcia Mota (Nova York), Michele Miranda (São Paulo), Patricia Espinoza (Rio de Janeiro) e Yuri Medeiros de Lima (Santa Maria, RS) Fotos Gustavo Stephan (Niterói, RJ) Capa Foto Shutterstock Tiragem 8.500 exemplares/Distribuicão gratuita Rua do Rosário, 1/13º andar, Centro Rio de Janeiro - RJ, CEP: 20041-003 Tel.: (21) 2223-3233 atendimento@ubc.org.br
por_ Marcelo Castello Branco
A UBC é uma sociedade de gestão coletiva da música de todos. Nosso foco maior, nosso motor, são a música e seus criadores, os autores e todos os agentes criativos deste novo mercado. Um mercado com regras dinâmicas, frenéticas. De novos oxigênios, novos ares e lares.
Editorial
Diretoria Paulo Sérgio Valle (Presidente) Abel Silva Antonio Cicero Aloysio Reis Ronaldo Bastos Sandra de Sá Manoel Nenzinho Pinto
Não tem lugar marcado para ninguém. O mais rápido se senta no melhor lugar, mas o seu lugar é transitório, precisa ser revalidado todos os dias e noites, sob o risco de se sentar no chão, de súbito. Simples assim. O mundo digital que nos atropela é incansável, renovável em seus ciclos e descobertas. Os titulares de direitos querem respostas, querem mais perguntas, querem o diálogo da porta aberta de verdade, do ir e vir sem fronteiras nem trincheiras. A música do futuro é, mais do que nunca, a música do agora, aquela que está acontecendo em qualquer lugar e vai ser distribuída e acessada por muitos, redistribuída em seguida para novos destinos e usos. Qualquer aposta é arriscada, pretensiosa e perigosa. A nova revista UBC espelha a nova UBC e propõe essa discussão sem fim, para os apaixonados por esse mistério que nos seduz, a música do Brasil e do planeta. Não temos respostas e não queremos respostas. Queremos o caminho, o passo a passo deste labirinto criativo de muitas entradas e saídas simultâneas, convulsivas, nunca conclusivas.
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entrevista: Marcos Sabino
28 30 33 34 Dúvida do Associado
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distribuição: Cinema
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MERCADO: Funk
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CRIAÇÃO: Música no RS
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CAPA: O futuro da música
NOVIDADES nacionais
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FIQUE DE OLHO
NOVA UBC
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pelo país: Novos velhos hits
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pelo país: Arnaldo Antunes
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notícias internacionais
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JOGO RÁPIDO: Chimarruts
ín dI ce 12
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jogo rápido 5
Prestes a lançar turnê nacional, Chimarruts celebra seus 17 anos e a consolidação de uma cena que ajudou a formar: o reggae do Sul
JA maI CA, RS
Há 17 anos, oito adolescentes que se encontravam para tocar violão e beber chimarrão nos parques de Porto Alegre deram origem à banda Chimarruts e ampliaram a geografia do reggae no Brasil. Dona de um estilo próprio, a banda vai pegar a estrada, numa turnê pelo Brasil, e planeja um DVD. É o que conta o vocalista Rafa Machado.
Vocês já dividiram festivais com grandes nomes. Que evento simboliza a grande guinada na carreira da banda? Em 17 anos, houve vários momentos. Mas, em 2014, o Planeta Atlântida abriu as portas para a gente tocar mais além da Região Sul. Já no Pop Music Festival, em SP, com Shakira, Ziggy Marley, foi nossa primeira vez num estádio.
Revista UBC: Ser do Sul traz para o reggae de vocês uma característica específica? Rafa Machado: Fazer reggae no Sul é um desafio, porque tu vais concorrer com dois gigantes: o tradicionalismo e o rock. A Chimarruts é fruto da cena underground de Porto Alegre e teve como inspiração o festival Reggae of Pampa. Ali, surgiu a primeira leva do reggae gaúcho. Que, hoje, tem duas tendências: o reggae pop dos anos 90 e o reggae mais roots.
Em que a localização de vocês influi nas letras? Somos diretamente influenciados por um hábito bem porto-alegrense, que é o de frequentar parques, tocar junto com os amigos, o que por si já é bem poético. Compomos muito em casa, mas muita música surge também na estrada. As duas coisas se complementam.
NOVA UBC
Bemvindo ao amanhĂŁ
A UBC estreia novas marca e estratĂŠgia com foco ampliado em todos os elos da cadeia musical do_ Rio
REVISTA UBC
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No seu 75º aniversário, a UBC dá um salto para o futuro e se reinventa como uma organização que vai além da arrecadação de direitos autorais. Os diversos elos da cadeia musical ganham atenção especial, e, sem se esquecer do foco no autor, a nossa associação reforça a importância de quem produz, edita, interpreta, escreve, compõe, canta e faz a música acontecer. A expansão no quadro de associados, agora integrado pelas principais gravadoras do país, por grandes editoras, grandes intérpretes e criadores, demanda uma atuação que promova o sucesso, estimule as iniciativas dos associados e os ajude a gerir suas carreiras. “Cresce o nosso compromisso por resultados, por atendimento e por tecnologia. Redobra nossa responsabilidade, nosso empenho, nossa busca por ferramentas novas, por estratégias locais e internacionais que possam ser replicadas no Brasil”, diz Marcelo Castello Branco, diretor-executivo
que, há pouco mais de um ano à frente da UBC, lidera essa transição. Os nossos canais de comunicação, que buscam a proximidade com os titulares, reforçarão o esclarecimento de dúvidas, a abordagem de questões realistas, do dia a dia, e a publicação de iniciativas de sucesso. Essa mudança de perfil vem acompanhada da mudança da UBC para uma nova sede, mais moderna e acolhedora, em pleno Boulevard Olímpico, no Centro histórico do Rio de Janeiro, bem como de um completo redesenho de marca, em sintonia com um amanhã que queremos não só prever como fazer acontecer. O escritório de design estratégico Crama assumiu a cuidadosa repaginação da nossa imagem. Ricardo Leite, sócio-fundador e presidente da Crama, conta que o reposicionamento da UBC partiu de uma constatação: “Todo mundo que entrevistamos durante o mergulho profundo na
associação, fossem associados, fossem profissionais que trabalham com a UBC, sempre repetiu que a marca principal desta organização é o cuidado com as pessoas, o zelo com o legado artístico que ela representa. Daí a aposta no empoderamento de quem faz música.” A logomarca da UBC, que agora se expande e se adapta, representando o abraço a todos os estilos, todos os gêneros, todas as cores e sonoridades, nasceu dessa ideia. Assim como o novo slogan: Por quem faz a música. Ao longo das próximas páginas, conheça o redesenho da Revista e entenda como a nova imagem da UBC reflete o lugar que a nossa associação quer ocupar no mercado musical brasileiro.
VEJA MAIS Ricardo Leite, criador de capas de disco lendárias e da logo Rio 450, fala sobre o redesenho de marca da UBC em youtube.com/ubcmusica
NOVIDADES nacionais 8 por_ Bruno Albertim
do_ Recife
Louvação a Gil
A Universal Music celebra os 50 anos de lançamento do primeiro álbum de Gilberto Gil, “Louvação”, colocando de novo no mercado a célebre bolacha editada originalmente pela Philips. Pré-Tropicália, o disco apresentou 12 canções de Gil, algumas em parceria com Geraldo Vandré, Caetano Veloso e José Carlos Capinam. “Viramundo”, “Procissão”, “Maria”, “Beira Mar” e “Ensaio Geral” fazem parte da obra, que, ao longo dos anos, teve relançamentos em CD e agora volta na versão original.
A fusão pop do Jamz
Com a participação luxuosa de Ivete Sangalo e Anitta, a banda Jamz faz bonito na praça com seu segundo álbum. William Gordon (baixo e voz), Paulinho Moreira (guitarra), Gustavo Tibi (teclado e voz) e Pepê Santos (bateria), revelados no programa “SuperStar”, da Globo, estruturam
o disco em onze faixas em que a guitarra rock trabalha a serviço de um pop consistente. Além de Ivete e Anitta, destaca-se a contribuição de um naipe poderoso de metais: Leo Gandelman, Serginho Trombono e Marcelo Martins.
UMA BANDA EM NÚMEROS 1. Foi a colocação do Jamz na categoria Melhor Grupo de Canção Popular no Prêmio da Música Brasileira de 2016. 2. Foi a posição final deles no “SuperStar”, da TV Globo. 3. É o número de novelas em cujas trilhas sonoras eles já emplacaram canções. 4. É o número de integrantes desta banda formada há apenas três anos e que, em setembro, participará pela primeira vez do Rock in Rio.
REVISTA UBC
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Linda Baobá:
foto_ Rose Madeo
devoção ao samba Ela está prestes a lançar seu primeiro registro em estúdio – mas sua carreira começou há bem mais tempo. Linda Baobá, mais de 40 anos de vida, já subia ao palco (ou melhor, ao altar) aos 5 para cantar no coro de uma igreja evangélica, na Zona Norte do Rio. Com o tempo, foi se aproximando do samba e, hoje fã devota de Alcione e Djavan, lança seu EP com seis faixas, recheado de bons temas de partido alto e samba de raiz. “O samba, para mim, virou uma espécie de religião. Alimenta e é alimentado pela minha negritude”, resume.
Gessy Lenny’s, sertaneja de raiz
Cearense de Ipu, do tempo em que o sertanejo nem sonhava em fazer carreira universitária, Gessy Lenny’s representa a musicalidade mais profunda do Nordeste. No comecinho dos anos 1970, ganhou o primeiro Festival de Música Sertaneja, com a música “Mais Uma Vez”, parceria com Glória Silva. Agora, reinventada, apresenta seu segundo CD solo, recheado de músicas próprias e de dobradinhas com nomes como Rita Ribeiro e Cidinha Maré. Arranjos e letras contemporâneos para uma voz sempre marcante.
O mundo romântico de
Rapha Oliveira O amor e seus descaminhos. Desse substrato é feito “O Mundo Lá Fora”, primeiro álbum de Rapha Oliveira, um músico que primeiro se fez compositor antes de se assumir como cantor. Depois de abastecer o repertório de Anitta, Ferrugem e Péricles, o carioca desfila os impressionantes falsetes de sua voz doce, firme, em nove faixas. “Prelúdio de Ilusão”, a primeira, sintetiza a atmosfera: “No amor, perdemos o juízo, e não nos falta aviso pra ter moderação.” Um álbum aderente como certas paixões.
NOVIDADES nacionais
REVISTA UBC
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Jehane Saade:
foto_ Clara Nascimento
sotaques e sons
Luiz Eça,
Músico, arranjador, pianista, compositor e… mestre. O líder do Tamba Trio Luiz Eça, inspirador de gerações, ganha homenagem, pelas mãos de alguns de seus declarados discípulos, no álbum “Em Casa com Luiz Eça”, que a Biscoito Fino acaba de lançar. Seus devotos “alunos” são um timaço integrado por Dori Caymmi, Zé Renato e Toninho Horta, reunido por Igor Eça, filho do mestre e que atua na bolacha como baixista. “É um disco de instrumentistas que cantam”, resumiu Toninho ao jornal “O Globo”, destacando a “musicalidade espontânea” do trabalho, quase todo cantado, em versos ou vocalises, e composto de históricas músicas eternizadas pelo Tamba Trio.
Curumin, olhos e boca “Boca”, quarto álbum que o cantor, compositor e instrumentista Curumin entrega na segunda quinzena de maio promete ser, outra vez, um exercício fino de observação da situação sóciopolítica e cultural do país, cheio de mensagens impactantes. Uma delas ficará a cargo de Russo Passapusso, líder do BaianaSystem, que assina “Boca Pequena”, composição que inspirou o título do disco. O rapper Rico Dalasam também integra o projeto, na canção “Tramela”, parceria sua com Curumin. A produção do disco, que sai cinco anos depois de “Arrocha”, é do próprio Curumin com Lucas Martins e Zé Nigro, e a arte da capa ficou a cargo de Ava Rocha.
foto_ Rafael Kent
amado mestre
A mistura – de sons, origens, referências culturais – é uma marca de Jehane Saade, cantora, atriz e bailarina, com passagens pela Intrépida Trupe e por grupos do Líbano e de Nova Friburgo (RJ). Descendente de italianos e libaneses, a brasileira canta em português, francês e inglês e traz para o seu álbum “Exótica”, lançado em fevereiro passado, beleza estética e sonora. Destaque para “Je Ne Veux Plus”, composta por ela, “Nômades” e “Pé Na Estrada”.
NOTícias internacionais
REVISTA UBC
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Gigantes unidas para fiscalizar os streamings
Três das maiores associações de gestão coletiva do mundo, Ascap (EUA), Sacem (França) e PRS (Reino Unido) anunciaram uma parceria para usar a base de dados das transações em bitcoin (conhecida como Blockchain) para monitorar os streams globalmente. A ideia é usar os sistemas de registro internacional ISRC e ISWC para evitar alguns dos problemas de aferição que ainda ocorrem e permitir um monitoramento de uso mais eficaz e que beneficie seus associados. A gigante americana IBM forneceria a solução tecnológica. Ainda não há data para a implantação da ferramenta.
Google e Facebook:
Receita com gravações musicais:
O Google anunciou ter removido em 2016 913 milhões de links da sua busca por infração de copyright. Já o Facebook negocia com gravadoras para pagar pelas músicas que usuários publicam em seus vídeos ao vivo. Analistas globais veem as medidas como “tímidas”, mas um primeiro passo de dois gigantes acusados sistematicamente de violação de direitos autorais.
Reino Unido (5%), Estados Unidos (2,5%) e Suécia (6,2%) foram alguns dos países que experimentaram crescimento no faturamento com gravações musicais ano passado. Segundo experts ouvidos pelo site especializado Music Ally, a disparada do streaming tem relação direta com isso, o que, apesar da ainda baixa remuneração, poderia representar um alento à indústria pelo ganho em escala.
passos (tímidos) antipirataria
Aumento em vários países
PELO PAíS 12
A tra ves sia
de Arnaldo O ex-titã vai a Portugal e volta com o DVD “Ao Vivo em Lisboa”, cheio de cores, sons e participações afetivas por_ Fabiane Pereira
de_ São Paulo
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A ponte afetivo-cultural entre Brasil e Portugal tem bases sólidas, que sustentam um tráfego cada vez mais intenso de artistas nacionais em direção à Terrinha. Se Adriana Calcanhotto, Momo e Mariano Marovatto, só para ficar em alguns nomes, fizeram as malas e resolveram ir dar um tempo por lá, outros têm empreendido travessias que, embora rápidas, enriquecem as expressões musicais dos dois países. Arnaldo Antunes é um destes. Com participações de gente de alto quilate da cena lusitana, como a neofadista Carminho e o grupo de rock Clã, ele gravou shows da turnê “Já É” em sua passagem pelo belíssimo Teatro São Luiz, na capital portuguesa, agora transformados no DVD “Ao Vivo em Lisboa”, com lançamento físico e digital em maio. “Já faríamos uma turnê por algumas cidades portuguesas, então aproveitamos para gravar também o DVD. Fazia tempo que eu não gravava um registro ao vivo, por isso me animei em fazê-lo no meio desta sequencia de shows e também porque fui seduzido pela possibilidade de ter os convidados que tive”, explica, referindo-se a Carminho e a Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves, do Clã. “Carminho é uma querida e uma artista muito talentosa. Já o Clã é parceiro de longa data.”
PELO PAíS 14
Mais pontes
O paulistano Arnaldo Antunes trabalhou pela primeira vez com um dos produtores mais requisitados do momento, o carioca Kassin, no álbum “Já É”, cujo título é uma conhecida gíria do Rio com múltiplos significados, sempre com a ideia de concórdia, conclusão. “Sempre quis trabalhar com o Arnaldo, sempre fui fã dos Titãs e da sua carreira solo. Quando recebi o convite, nem acreditei. Fizemos um disco lindo. O mais difícil foi selecionar o repertório, Arnaldo tem uma tonelada de músicas boas”, comentou o produtor ao site da UBC.
Portugal talvez seja o país, depois do Brasil, onde o artista mais se apresentou ao longo de sua carreira. “A relação do público português com minha obra existe há muitos anos. Já me apresentei por lá em todos os formatos; já lancei livro, a imprensa sempre me recebeu muito bem, e o público é muito interessado”, define Arnaldo, cuja sequência de trabalhos tem a energia necessária depois de um período sabático que ele tirou em 2014 e que inclui viagens por diversos países e um banho de culturas que influenciaram o álbum “Ja É”. ““Sempre tirei férias de no máximo um mês por ano mas na ocasião senti que precisava parar por um tempo maior, depois de uma sequência extensa de discos e turnês quase emendados”, relembra. Quando tiro férias, entro num período muito mais produtivo, talvez porque eu esteja mais aberto à criatividade e em um estado de disponibilidade maior”, contou à UBC. Arnaldo continua sendo aquele caçador de palavras que ajudou a transformar os Titãs em uma das maiores bandas do pop nacional. Em Já É – e, agora, no DVD português –, ele exercita seu talento para moldá-las e subvertê-las em composições
Se fosse para continuar o que fazia nos Titãs, não saía da banda.” Arnaldo Antunes
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próprias e parcerias com gente como Alice Ruiz, Marcelo Jeneci, Domenico Lancellotti, Davi Moraes, Carlinhos Brown, Marisa Monte. Uma explosão de cores e sons que mostra um Arnaldo multirreferenciado e constantemente inquieto. “Saí dos Titãs em 1992 para fazer algo diferente. Por isso meu primeiro disco solo, lançado em 1993, gerou tantos ruídos. Se fosse para continuar o que eu fazia na banda, não tinha saído dela”,
comenta o artista, 16 álbuns solo no currículo, mais de 20 livros publicados e uma vasta obra poética que transcende a folha de papel, expressando-se pela música e as artes plásticas com igual destreza. “Procuro sempre me renovar, não repetir as coisas que já fiz. Eu tenho essa vontade de estar sempre fazendo algo que é um desafio para mim e que renova minha carreira.”
LEIA MAIS Arnaldo fala sobre a criação do álbum “Já É”, que deu origem ao novo DVD. goo.gl/xOKUDY
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NOBRE
INS PI RA ÇÃO
Pitty: “Ouço Novos Baianos desde sempre, mas ‘Dê um Rolê’ era paixão adormecida”
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Craques contemporâneos revisitam clássicos e reoxigenam sua própria música por_ Michele Miranda
de_ São Paulo
Inspirar-se em seus mestres é matéria-prima elementar a todo artista. Mas, de uns tempos para cá, qualquer bom observador da nossa música já notou: há um verdadeiro boom no diálogo intergeracional. Pitty canta Novos Baianos, Lucas Santtana toca Raul Seixas, César Lacerda revisita Caetano Veloso, Álvaro Lancellotti redescobre Tincoãs, Filipe Catto celebra Cássia Eller, Curumin repagina Stevie Wonder, Qinho homenageia Marina Lima... Para a nossa sorte, a coisa vai longe. “Ouço Novos Baianos desde sempre, mas essa música (“Dê Um Rolê”) era paixão adormecida, esperando a hora de brotar”, conta Pitty,
Uma releitura é uma forma de A carreira circular.” Álvaro Lancellotti que considera a canção, de Moraes Moreira e Luiz Galvão, uma obra-prima. “Apareceu na minha última turnê, ensaiamos, e o arranjo veio tão instintivo, visceral, sem precisar de muita conversa. Virou single do novo DVD, ‘Setevidas Ao Vivo’.” Álvaro Lancellotti tem entre suas referências os Tincoãs, nascidos nos anos 60, e realizou o sonho de entregar pessoalmente um de seus discos autorais ao lendário integrante Mateus Aleluia. Depois, vieram a ideia de regravar, no segundo semestre deste ano, o álbum homônimo do grupo baiano, de 1977, e uma esperança: “Se ele gostar do meu disco, talvez se anime a participar do projeto comigo.”
PELO PAíS
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Filipe Catto preparou um show para homenagear Cássia Eller, sua grande influência desde a adolescência, que foi registrado no programa “Versões”, do canal Bis. “Cássia foi o momento em que comecei a descobrir a música brasileira. Ela me mostrou onde existia a ponte entre o rock e a música brasileira, a tradição e a transgressão”, explica. Quando fala de Caetano Veloso, César Lacerda não poupa elogios àquele que considera sua principal referência e que lhe ensinou a pensar música, mercado, cinema, Filipe Catto literatura, política, sexualidade. O cantor mineiro vai lançar ainda no primeiro semestre a turnê “César Lacerda Dentro da Estrela Azulada”, uma releitura de “Muito – Dentro da Estrela Azulada”, de 1978. “Apesar de à época ter sido duramente pichado pela crítica, é um álbum central, tem um discurso que me soa urgente. A nossa sociedade convulsiona sob a necessidade de revisitar questões esquecidas. As novas gerações passaram a se interessar historicamente pelo Brasil”, avalia Lacerda.
foto_ Anna Clara Carvalho
Para Lancellotti, a chuva de regravações é sinal de que o mercado independente está fazendo seu trabalho. “Promover uma releitura é uma forma de a gente fazer a carreira circular, trazer o público de determinado artista que já não está na ativa.”
As releituras são uma demanda do público.”
LEIA MAIS Mateus Aleluia, inspirador de Lancellotti, lança disco inédito. goo.gl/FhJIE9
A partir do alto, e da esquerda para a direita, Álvaro Lancellotti, César Lacerda e Filipe Catto: todos relançaram hits do passado
FIQUE DE OLHO
REVISTA UBC
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por_ Andrea Menezes
UBC elege
nova diretoria
A UBC já tem uma nova diretoria, eleita na Assembleia Geral do último dia 30 de março. O compositor carioca Paulo Sérgio Valle, mais de 800 canções gravadas, é o nosso diretor presidente. Além dele, foram eleitos Abel Silva (diretor superintendente), Antonio Cicero (diretor secretário), Aloysio Reis (diretor administrativo financeiro), Ronaldo Bastos (diretor de comunicação e assistência social), Sandra de Sá e Manoel Pinto (diretores vogais). O Conselho Fiscal tem Geraldo Vianna, Edmundo Souto e Manno Góes. E os suplentes são Fred Falcão, Sueli Costa e Elias Muniz.
LEIA MAIS Uma entrevista com o novo diretor presidente da UBC, Paulo Sérgio Valle. www.ubc.org.br
de_ Brasília
Relatora de projetos de isenções de direitos autorais
TSE caça registro de candidato por
A deputada Renata Abreu (PTN-SP), relatora da Comissão Especial da Câmara que analisa um pacote de 44 projetos de isenções de direitos autorais a igrejas, academias de ginástica, hotéis, rádios comunitárias e outros estabelecimentos, deve quase R$ 25 milhões ao Ecad. A revelação, feita em abril pelo jornal “O Globo”, caiu como uma bomba no mercado, que sempre desconfiou do interesse de Abreu pela rápida aprovação das isenções, uma vez que a família da parlamentar é dona de uma rede de rádios no interior paulista. Uma das rádios, o Sistema Atual de Radiodifusão, deve R$ 21,2 milhões em direitos autorais. A outra, a Rádio Difusora Atual, R$ 3 milhões. Renata tem participação acionária de, respectivamente, 16% e 25% nas rádios. Em nota, ela negou conflito de interesses.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) caçou o registro de um candidato a vereador por pirataria musical, abrindo um precedente que deve beneficiar inúmeros titulares cujas canções são usadas de modo fraudulento em campanhas. Eloir Laurek, de Rio Negrinho (SC), tinha quase 50 CDs piratas em um estabelecimento comercial seu. Para o advogado Sydney Sanches, especialista em direitos autorais, a decisão é importante por ser “tradicional e recorrente, em todas as eleições, o uso indevido de obras musicais”. “Agora, com o julgamento, o TSE permite aos titulares lesados reclamar com mais força.”
tem dívida com Ecad
pirataria musical
capa 20
Cinco tendências que impactarão profundamente a produção, a distribuição e a arrecadação na nossa indústria por_ Alessandro Soler de_ Madri Michele Miranda de_ São Paulo e Lúcia Mota de_ Nova York
REVISTA UBC
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A revolução tecnológica que vivemos supõe uma transformação nos modos de produção, distribuição, apresentação e consumo da música cuja verdadeira dimensão, por ora, podemos apenas prever. Mas há caminhos de médio e longo prazos bastante claros. A música nas próximas décadas será majoritariamente criada e consumida num contexto digital, o que pensadores e criadores estimam que afetará até mesmo os shows como os conhecemos – um modelo de exibição que pode estar com os dias contados.
novas
TRI LHAS DA MÚSICA
Na página 6, saiba mais sobre as importantes transformações pelas quais a UBC está passando.
Mas não é a única mudança: a criação por algoritmos, ou seja, a partir da combinação de acordes e sons feita por um robô, já é realidade em projetos de corporações como a Sony e suscita debate sobre a quem pertencem os direitos autorais; instrumentos musicais materializados por impressoras 3D ajudarão a romper todas as barreiras da concepção sonora; os serviços de streaming, que deverão passar a produzir artistas, poderão reviver a era dos grandes selos; a internet das coisas multiplicará exponencialmente o consumo de música... mas também os lucros dos criadores? Estudiosos, criadores, advogados e outros especialistas opinam sobre o tema nesta edição especial da Revista UBC que inaugura uma nova fase da União Brasileira de Compositores em seu próprio salto para o futuro.
capa 22
Eu, (compositor)
robô Sempre se pensou que a arte, tão subjetiva, tão inerentemente humana, não poderia prescindir de pessoas. Mas aí veio a robótica, e a criação musical por algoritmos se tornou já uma realidade em projetos do laboratório de ciências da computação da Sony, em Paris; da companhia Amper Music, de Nova York; da startup londrina Jukedeck; do aplicativo de elaboração on-line e instantânea de música eletrônica Mubert; ou de experimentos acadêmicos diversos. A lógica é simples: a mistura randômica de acordes, timbres, tons de vozes por um software pode gerar um conjunto compreensível e... “artístico”. No fim do ano passado, a Sony lançou “Daddy’s Car”, uma música inteira criada por um programa informático, que, para além do debate estético ou artístico, traz outro, mais palpável: a quem pertencem os direitos autorais de uma “obra” assim? Se os acordes usados na “reconfiguração” vêm de outras canções, inteiramente humanas, seus criadores ganham algo?
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“Evidentemente deveriam. O problema é provar o uso. Os manipuladores do software podem alegar que criaram tudo do nada, o que, se fosse verdade, lhes garantiria totalmente os direitos de reprodução e execução”, afirma o advogado espanhol Joaquín Muñoz,
do escritório madrilenho Ontier, especialista em Direito ligado a novas tecnologias. Ele prevê a criação de sistemas algorítmicos para varrer as criações robóticas em busca de acordes pré-existentes, outros sistemas para analisar o comportamento do consumidor e gerar novas músicas a partir do que “está mais quente” e, não menos importante, o surgimento de novas leis para embasar as previsíveis disputas de autoria. O compositor soteropolitano Lucas Santtana, antenado em novas
tecnologias, arrisca: passado o obaoba, a criação randômica tende a perder a graça. Ou, ainda, tornar-se só mais uma possibilidade: “A tecnologia sempre existiu. O que é novo é o pensamento de que tecnologia são só máquinas. As ferramentas irão sempre mudar, cabe à criatividade de cada músico fazer o que quiser com elas.”
Ouça MAIS “Daddy’s Car”, a primeira canção completa criada por algoritmos. goo.gl/7cKtWF
REVISTA UBC
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Minha música toca na geladeira. O que ganho com isso? A internet das coisas deve colocar músicas – e produtos audiovisuais em geral – na geladeira, nos carros, nos óculos 3D, em objetos variados ao nosso redor. E isso ocorrerá, estima-se, numa questão de dez anos ou menos. É lógico supor que os compositores terão mais chances de ganhar, certo? Não se as remunerações continuarem tão baixas. É o que diz Rick Carnes, presidente da Composer’s Guild of America, a poderosa associação de criadores estadunidense. Ele aposta no conceito de direito moral ao criticar os maus contratos impostos aos artistas pelos serviços de streaming – os maiores distribuidores do nosso tempo: “A pedra angular da relação entre criadores e distribuidores deveria ser o direito moral dos primeiros a uma remuneração melhor, mais condizente. Temos o direito inalienável de viver do nosso trabalho.”
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Carnes avalia que o aumento da escala poderá trazer ganhos maiores a quem vive de música, mas insiste em que somente a mudança de mentalidade das plataformas de distribuição permitirá a revalorização da profissão de compositor. Maurício Bussab, sócio-fundador do selo paulistano Tratore, vê um panorama menos escuro: “Se a arrecadação é baixa é porque o número de assinantes ainda é pequeno”, opina. “A pergunta ‘como os artistas estão sobrevivendo?’ é simples de responder, e a resposta é sempre a mesma desde que existe música gravada: os artistas recebem de uma dúzia de fontes de renda diferentes, como shows, aulas, merchandising, editoras e, sim, do fonograma. O total arrecadado pelo fonograma caiu neste novo mundo de internet, mas continua sendo significativo dentro do streaming. O aumento de escala beneficiará todo mundo”, sustenta.
VEJA MAIS Rick Carnes fala (em inglês) sobre mercado e streaming. goo.gl/MLTQjG
Em 2016, os serviços de streaming musical superaram, pela primeira vez, o número de assinantes da Netflix, maior serviço de vídeos do mundo. Em um ano, Spotify, Deezer, Apple Music, Napster e Tidal, principalmente, tiveram um aumento espantoso de 48% na sua base de assinantes, contra 24% do Netflix. Para os próximos anos, analistas preveem que a adesão de assinantes reduza muito o problema da pirataria e que o próximo desafio da indústria será remunerar melhor o artista.
capa 24
E até penico dá bom som...
04 “Artista exclusivo Spotify” De maneira análoga ao de serviços de streaming de vídeos, as plataformas de streaming de músicas devem passar a não só oferecer conteúdos exclusivos como também produzi-los. Especialistas preveem, com isso, uma espécie de revival da era dourada das grandes gravadoras – mas com a sombra da má remuneração por parte das plataformas que dominam o mercado contemporâneo.
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“Estar sob o guarda-chuva de uma grande major, mesmo que seja um serviço de streaming, pode ser vantajoso para os artistas, pela grande soma de dinheiro em produção e promoção do trabalho. Mas representaria o mesmo desafio de conseguir ser visto em meio
As impressoras 3D podem revolucionar a maneira de compor e tocar não só por permitir o fácil acesso a instrumentos já existentes. Elas podem ser os meios de elaboração de instrumentos não antes imaginados.
à multidão. E, pior, estar sob as regras de empresas que jogam forte, impõem contratos duros e limitam a distribuição, à medida em que tiram o criador dos serviços rivais”, opina Jonathan Ostrow, pesquisador associado ao Music Think Tank, um centro de estudos da Universidade de Berkeley (EUA). O francês Jeremie Varengo, dono da JTV Digital, um agregador digital, crê que Spotify, Apple etc. teriam de ser muito engenhosos na hora de passar a concorrer com as majors atuais sem parecer querer canibalizá-las. “Alguns desses serviços inclusive têm participação societária de gravadoras. Porém, Spotify e outros têm a grana, o mercado, os usuários. Um artista exclusivo de um serviço desses teria um nível de promoção do seu trabalho como há muitos anos não vemos.” LEIA MAIS Conheça um estudo sobre as distorções na era do streaming. goo.gl/LtGjr1
“O consumo hoje tende a ser voltado para a exclusividade. Construo sintetizadores analógicos, que eram populares nos anos 60, mas a tecnologia os baniu. Há cinco anos, eles voltaram com tudo. Os artistas me procuram porque querem ter seus instrumentos exclusivos, personalizar o som. As impressoras 3D serão muito úteis para isso”, prevê o associado Arthur Joly, produtor musical. A equipe do professor Olaf Diegel, da Universidade de Lund, na Suécia, conseguiu desenvolver uma impressora tão acurada que imprime instrumentos milimetricamente adaptados aos músicos. “A forma das guitarras que conseguimos imprimir é incrivelmente complexa. A música não será mais a mesma”, prevê.
Ouça MAIS Os sintetizadores personalizados de Arthur Joly. goo.gl/6CiOQF
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O show é lá em casa. Mas pode “trazer” quem quiser
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A transmissão ao vivo de shows em lugares alternativos para uma plateia potencialmente global já é realidade. Mas não poucos especialistas preveem a disseminação da prática como uma forma efetiva de o artista lucrar – recebendo parte dos ganhos com anúncios exibidos nas transmissões, por exemplo. Poupar custos com deslocamento e logística também é vantajoso.
A forma mais rápida e direta de fazer isso seria por meio das transmissões ao vivo em redes sociais, que vêm ganhando cada vez mais qualidade de stream. Youtube, Facebook, Twitter e Instagram já abrigam eventos desse tipo, e a estimativa é que o aumento nos próximos anos seja exponencial.
Outra alternativa são plataformas dedicadas a transmissões que permitem aos artistas receber doações e contribuições do público. No Brasil há duas grandes delas, Clap.me e Netshow.me. Rafael Belmonte, fundador da Netshow. me, vê possibilidade de grande expansão no modelo a curto e médio prazos. “Em breve, com óculos de realidade virtual, será possível que o espectador tenha em casa a mesma experiência de uma pessoa que está no Maracanã ao vivo. Para o artista, a ideia é baratear esse tipo de transmissão e melhorar a monetização, a fim de que os independentes também possam mostrar seu trabalho assim.”
O que quer que aconteça com o modelo de shows presenciais, uma realidade é inegável: a tecnologia bagunçou as regras anteriores do mercado, deu maior poder ao consumidor (e aos prestadores de serviço da era digital), enfraqueceu antigos atores que antes ditavam as regras e abriu um mundo de possibilidades de criação e distribuição. Como em todas as grandes mudanças, haverá quem se apegue ao passado e fique para trás. E haverá quem se adapte, aprendendo a se mover neste terreno ainda incerto e seguir adiante. Em que grupo você está?
ENTREVISTA 26
Marcos Sabino:
a mesma onda
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Um dos compositores mais ecléticos da nossa música, ele usa seu olhar sem preconceitos para lançar novos talentos na rádio do_ Rio
foto_Gustavo Stephan
Marcos Sabino flerta com todos os estilos, como um amante apaixonado pela música em suas variadas formas. Parceiro de Guilherme Arantes e Vitor Ramil, coautor de canções com Paulo Sérgio Valle, Aloysio Reis, Dalto, Chico Roque, Byafra, Carlos Colla, Ana Terra, teve criações suas gravadas por uma lista pluralíssima. Agora, aplica seu ecletismo na descoberta de talentos num programa de rádio, “A Barca do Som” (Roquette Pinto-RJ).
O esvaziamento do mercado causou um certo distanciamento entre os parceiros.”
Quem gravou Sabino: Leandro e Leonardo Fat Family Leo Jaime Asa de Águia Angélica Harmonia do Samba
Sua relação de parceiros fala por si: você não tem um estilo, tem todos. Marcos Sabino: Tenho muito orgulho de ter tantos parceiros. Ultimamente tenho feito canções mais sozinho. O esvaziamento do mercado causou um certo distanciamento entre os parceiros. Mas outro dia li uma poesia que o Paulinho Resende postou no Facebook e fiz uma melodia. Novos tempos, novas maneiras de compor. Como surgiu a oportunidade de apresentar o programa? Em 2015, propus à presidente da Roquette Pinto, a Eliana Caruso, um programa que divulgasse a música do outro lado da Baía de Guanabara. Ela aprovou. O nome, “A Barca do Som”, traduz a ideia dessa travessia. Como realiza a curadoria? Temos vários quadros. O Palco do Rock tem sido a primeira porta para bandas e artistas que estão começando, e A Barca Em Outros Mares toca os artistas de outros estados que nos enviam material. Tenho me surpreendido com muita gente boa, como Daira Sabóia, Julia Vargas, Ivo Vargas, Mahmundi, Bow Bow Cogumelo... Essa galera faz música de verdade.
LEIA MAIS A entrevista completa com Marcos Sabino em goo.gl/moTfaa
CRIAção 28
Sobre o
Rio Grande, uma ponte para o futuro Sem se esquecer de suas raízes, artistas da música tradicional gaúcha incorporam novidades e tornam cena mais diversa por_ Yuri Medeiros de Lima de_ Santa Maria (RS)
Um lugar que valoriza tanto suas tradições, seu jeito único, tem na música um dos seus traços identitários. O amor à terra permeia os sons produzidos no Rio Grande do Sul. Mas, de uns anos para cá, a incorporação de referências, sotaques, linguagens e novas técnicas de execução e produção deixa claro: o momento é de diálogo entre passado e futuro. A vitória do gauchinho Thomas Machado na última edição do “The Voice Kids”, da Globo, ou a postura de cantoras como Shana Müller, que recebeu milhares de apoio pela web ao publicar um manifesto em que critica a insistência de uma minoria em fazer letras que denigram a mulher têm algo em comum: deixam os clichês para trás.
Dos festivais à rede Em um home studio em Santana do Livramento, Juliano Gomes e Leonel Gomez fizeram uma pausa nas gravações para atender à Revista UBC.
Com mais de 25 anos dedicados à música regional, acumulam dezenas de premiações em festivais de canção gaúcha. “Quando começamos, havia mais ou menos 85 festivais; hoje quase todos estão mortos, e isso não é culpa dos músicos”, afirma Juliano, que vê uma produção forte e rica e uma nova dinâmica de mercado: a ascensão das redes sociais deu um novo impulso à cena independente. Nascido em 1971, mesmo ano da primeira edição da Califórnia da Canção, Pirisca Grecco, cantor e compositor da banda Comparsa Elétrica, também teve sua trajetória escrita (e premiada) no palco dos festivais. Hoje mistura sua guitarra telecaster americana com um histórico lenço maragato. “Sou torcedor da espontaneidade, não da repetição das fórmulas”, afirma. Adepta do modelo de gestão independente, a Comparsa Elétrica produziu seu mais recente trabalho por meio de financiamento coletivo. A mistura também encontra terreno fértil na musicalidade do grupo Mas Bah!. Há cinco anos na estrada, a banda transcendeu as fronteiras estaduais com uma linguagem arejada
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e usando a internet como ferramenta. Gustavo Brodinho, baixista do grupo, ressalta que ainda há uma preocupação conservadora com a estética da música gaúcha: “Há uma necessidade de rotular, e o que nos rotula nos emburrece”, afirma. O novo álbum do grupo levará o título “Antena Raiz” e traduz o espírito da coisa: pés nesta terra e cabeça no mundo. Juliano Gomes acredita que “a música gaúcha, para ser compreendida por todo mundo, precisa parar de falar apenas na linguagem daqui”. Leonel Gomez, que se inspira no chamamé argentino, vai na mesma onda: “Não gosto de rótulos, pois, de Norte a Sul do país, temos muitos tipos de música. O que deve prevalecer é a qualidade.”
MTG: da festa ao seu bolso
foto_ Tiago Benedetti
A importância da música tradicional gaúcha para o ideário e a cultura do estado é tamanha que a temporada de inverno esquenta com a realização de diversos shows, principais nos chamados CTGs, centros de tradições gaúchas, em várias cidades sul-rio-grandenses. De olhos nesse movimento, o Ecad criou há alguns anos a rubrica especial MTG (movimento tradicionalista gaúcho), que tem distribuição anual sempre no mês de novembro e valor distribuído para um rol específico de dois mil fonogramas típicos das festividades ligadas ao movimento.
O cantor e compositor Pirisca Grecco
Saiba mais Veja o calendário completo de distribuição em goo.gl/TtIDWW
MERCADO 30
Plataforma vira principal canal de lanรงamento do funk e traz nova lรณgica ao mercado por_ Patricia Espinoza
do_ Rio
Bonde do YouTube
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Soundsystems, bailes de favelas, a conquista das rádios, a venda maciça de discos. Ao longo de sua história, o funk, mesmo marginalizado e até proibido, jogou mais ou menos segundo as regras. Ou seja, seus artistas viviam de direitos autorais por execução pública (rádios, TV, shows), direitos de reprodução (discos) ou, em alguns casos, venda de ingressos para bailes. Em sua enésima reinvenção, a lógica é outra, e o ritmo popular mais controverso da nossa música apela à maior e mais poderosa arma de “dominação em massa” do nosso tempo, o YouTube. Que não se vê como uma plataforma de execução pública, não paga direitos autorais na mesma proporção que outros atores do mercado, mas abre uma nova e promissora janela de lucros por meio de anúncios.
PRIMEIRO A REDE, DEPOIS A TV Para muitos artistas, o que antes era impensável, como a veiculação de um clipe na MTV, passou a ser possível. Afinal, os meios tradicionais, hoje, miram os digitais mais que o contrário. É o que diz Washington Rodrigues, dono da Tom Produções, um megacanal de funk no YouTube com “mais de um bilhão de visualizações”. “O YouTube hoje é a melhor forma de divulgação. Para aparecer na TV é preciso, primeiro, ter sucesso na rede. Já trabalhamos com Nego do Borel, Bonde das Maravilhas, Biel, Mr. Catra, Menor do Chapa, Livinho, Pedrinho, Duduzinho e Marcelly, entre outros. Produzimos uma média de 10 a 20 clipes por mês.” Seja em megacanais como o dele, seja de modo solo, muitos funkeiros viraram youtubers e têm parte de sua renda advinda dos cliques que conseguem, que podem lhes render mais de 50% sobre cada anúncio que o YouTube publica em cada visualização. Os artistas apostam no barateamento dos meios de produção para surfar essa onda.
No princípio era o soul O funk (clássico) é um filho sessentista do soul, do jazz e do rhythm and blues americanos. No Brasil, o ritmo ganhou corpo na década seguinte, e o que se ouvia, por aqui, apesar das influências de James Brown e cia., era diferente. Dialogava já com o miami bass e o freestyle e animava os bailes black, que recebiam abrigo nas favelas do Rio. Nos anos 1980, as soundsytems e seus paredões de caixas de som ditavam os passinhos nos bailes. Era o início do reinado de equipes como Furacão 2000, Pipo’s e Cash Box, que desceram ao asfalto e conquistaram as rádios.
Mr. Catra: “O mundo digital nos tirou novamente do gueto, e estou muito feliz com isso”
MERCADO
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foto_ Robert Schwenck
“Antigamente era muito caro produzir um clipe legal. Hoje em dia está tudo mais acessível. Ou seja, investese menos, e dá para fazer uma coisa bem feita”, conta o produtor e compositor Dennis DJ, que alcançou 80 milhões de visualizações com o clipe de “Malandramente”, protagonizado pelos MCs Nandinho e Nego Bam. A prova de que o filão é viável é que o funk atravessou de vez a Dutra e se tornou forte nas periferias paulistanas. Um dos “reis” desse mundo neofunkeiro é MC Gui, que alcançou 54 milhões de cliques com o clipe da música “Sonhar”, lançada em 2014. “Conheci o funk por meio de ídolos como o Mr. Catra e o Buchecha. Depois veio (a divulgação por meio do) YouTube. Apesar disso, acho a rádio ainda mais abrangente”, afirma Gui, citando um meio paradoxalmente mais difícil de alcançar hoje.
CATRA: “JÁ TENHO MEU CANAL” Acima, Dennis DJ; abaixo, MC Gui: dois expoentes na nova era digital do funk no eixo Rio-São Paulo
Representante da velha guarda do funk e grande apreciador do que a garotada está produzindo, no eixo Rio-São Paulo, Mr. Catra analisa: “Quem não acompanhar vai ficar para trás. Ainda estou aprendendo como funciona, mas já tenho o meu canal também.” De uma coisa ele diz ter certeza: qualquer que seja o meio de divulgação, o universo funkeiro não deixará nunca de se reinventar. Que o diga o jornalista Silvio Essinger, especialista no gênero e autor do livro-reportagem “Batidão: Uma História do Funk” (2005). “Como sensação da mídia, o funk vai e vem. Mas a verdade é que está o ano inteiro aí. No Rio, é a trilha da cidade, com todas as suas contradições.” Trilha sonora e, para Catra, tábua de salvação: “Vi amigos meus entrarem para o crime e famílias acabarem no tempo em que se proibiram os bailes nas comunidades. O funk veio do gueto, mas por muito tempo não podíamos fazer eventos lá. Hoje o momento é outro, com o mundo digital, que nos tirou novamente do submundo. E estou muito feliz com isso.”
VEJA MAIS Assista a vídeos no canal Tom Produções, um dos maiores do funk, em goo.gl/KQ8kAl
DISTRIBUIÇÃO
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Cinema:
da tela para o seu bolso As músicas dos filmes que são exibidos em salas de cinema têm regras específicas para a arrecadação e distribuição dos seus direitos autorais. O cálculo é feito com base em um percentual da bilheteria do filme, se há cobrança de ingresso: 2,5% da receita bruta são destinados aos autores, intérpretes e outros titulares de direitos autorais das músicas. Se não houver cobrança de ingresso, o valor devido pela música é baseado no tamanho do local. A distribuição dos valores é feita de forma direta, ou seja, contempla exatamente as músicas que estão dentro do filme em questão. Para isso, o local de exibição precisa, além de pagar os direitos devidos ao Ecad, informar quais foram os filmes exibidos e suas bilheterias. Desta maneira, é possível alocar a verba arrecadada para o filme correto. Depois, em outra etapa, é preciso que um documento chamado cue-sheet tenha sido registrado na
base de dados da UBC. O cue-sheet nada mais é do que um documento que lista as músicas e fonogramas que constam naquele filme, além de dar outros detalhes sobre sua utilização, por exemplo, por quanto tempo a música é usada, se é usada como música de fundo, tema de personagem, abertura etc. Estes dados vão direcionar como será distribuído o valor destinado para aquele filme. A grosso modo, uma música que foi usada por um minuto recebe menos do que outra utilizada por 2 minutos, desde que as duas tenham o mesmo tipo de utilização (se fundo musical, música de performance, tema de abertura, tema de encerramento, e assim sucessivamente, tendo cada tipo um peso diferente). Nos últimos anos, foram fechados diversos acordos com exibidores cinematográficos, e cada vez mais os produtores audiovisuais
Saiba como se calcula o montante devido pelo uso de sua música em filmes do_ Rio
têm se preocupado em enviar os cue-sheets para a UBC. Isso tem permitido à distribuição de cinema crescer bastante. Só em 2016, o salto da categoria cinema no total distribuído pelo Ecad foi de 122% e relação a 2015.
O peso de cada utilização Fundo Musical (BK): obra e fonograma utilizados como fundo musical – peso 1/12 Demais Obras (DM): clipes musicais, cenas de shows dentro de um programa e outras utilizações – peso 2/12 Performance (PE): obra executada no audiovisual pelos personagens – peso 6/12 Temas de Abertura e Encerramento (TA e TE): peso 12/12 Tema de Personagem (TP): peso 8/12
LEIA mais Veja o nosso guia de música em audiovisual em goo.gl/3e3wx7
Dúvida do Associado
“Tenho músicas que estão sendo executadas em uma peça teatral. Posso negociar diretamente com o produtor da peça os meus direitos de execução pública?” [ Simone Saback
Rio de Janeiro - RJ ]
Para nos comunicar que haverá negociação direta com o produtor, entre em contato conosco e peça o modelo de liberação de show a fim de fazer a dispensa de cobrança. Você receberá o modelo de uma carta no qual deverá informar seus dados pessoais, os títulos das obras de sua autoria para os quais quer dispensar a cobrança, o local e a data do evento em que serão serão utilizadas. Se houver parceiros ou editora nas obras, estes também terão que informar a suas associações de gestão coletiva para que as obras sejam liberadas.
Revista UBC Quando alguém se afilia à UBC, nos dá um mandato para fazer a cobrança e estabelecer os preços pela utilização do seu repertório. Porém, o associado tem sempre a prerrogativa de estabelecer pessoalmente esse preço e fazer a gestão individual do seu próprio
direito autoral. Para isso, a lei 9.610/98 exige que se faça uma comunicação prévia à associação com até 48 horas de antecedência. Desta maneira fica avisado que para o uso específico – neste caso, numa peça de teatro – não precisamos fazer a cobrança.
E você, tem dúvida? Entre em contato com a UBC pelo e-mail atendimento@ubc.org.br, pelo telefone (21) 2223-3233 ou pela filial mais próxima de você.
COMO A MÚSICA, A UBC SE AMPLIFICOU E AGORA VAI ABRAÇAR O FUTURO. A UBC passou por uma transformação. Sem perder a sintonia que sempre teve com você e com a música. Uma mudança que vai reverberar por todos os lados. E você vai sentir. Conheça a nova UBC: assista ao nosso manifesto usando o QR CODE acima ou pelo link bit.ly/UBCManifesto WWW.UBC.ORG.BR
MUDAMOS DE PALCO. E A NOSSA VOZ FICOU AINDA MAIS AFINADA COM QUEM FAZ MÚSICA. A UBC está de cara nova. Uma sede que representa modernidade, sensibilidade e acolhimento. Venha conhecer e sinta-se ainda mais em casa. Rua do Rosário nº 1 13º andar – Centro Rio de Janeiro.
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