TCC2 - Habitação e Direito à Cidade no Alto da Caeira

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HABITAÇÃO E DIREITO À CIDADE NO ALTO DA CAEIRA


acadĂŞmico Umberto Violatto Sampaio orientadora Maria InĂŞs Sugai

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Para ver uma cidade, não basta ter os olhos abertos. É necessário, em primeiro lugar, descartar tudo o que impede de vê-la, todas as ideias adquiridas, as imagens preconcebidas que dificultam o campo visual e a capacidade de compreender.

Italo Calvino

O trabalho apresentado tem por objeto uma proposta para edificação de Habitação de Interesse Social em Florianópolis-SC, mais precisamente no bairro do Alto da Caeira, que abriga uma das comunidades do Maciço do Morro da Cruz demarcadas como Zona Especial de Interesse Social – ZEIS. São propostas no projeto 208 unidades habitacionais com 52 m² cada, enquadradas no Programa Minha Casa Minha Vida – MCMV, faixa 1, destinadas ao atendimento de famílias com renda bruta mensal de R$ 1.800,00.

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A perspectiva adotada no trabalho é a de que moradia digna é um direito de todo cidadão, no entanto não se constitui somente num espaço construído que garanta o abrigo. É, portanto, parte de um espectro mais amplo, que envolve a integração entre os moradores, a cidade e sua adequada localização urbana, o que garante a cidadania e qualifica a vida urbana - a escola, a rua pavimentada, centros de saúde, áreas de lazer, creches, de facilidade de acesso ao transporte público de qualidade, ao emprego, enfim da possibilidade dos cidadãos serem partícipes no processo de construção da cidade. Moradia digna é, portanto, aquela devidamente inserida nas áreas urbanamente equipadas e que garanta às pessoas, a partir do convívio entre os diferentes, o direito à cidade. A proposição de habitação social em ZEIS situadas em áreas urbanas centrais é essencial para que a população de baixa renda possa ter garantias de uso e de ocupação do solo urbanizado, ou seja, inserção na cidade formal, assegurando, como é o caso do Alto da Caeira, sua permanência no local. Ao disponibilizar, com o acesso à centralidade, o uso pleno dos equipamentos públicos de qualidade e o convívio entre os diferentes - enfim, uma efetiva urbanidade - pretende-se diminuir o processo que leva ao fenômeno da suburbanização e da segregação sócio-espacial, relacionadas à apartação social, à pobreza e à violência urbana, que tanto oneram os deslocamentos feitos na cidade, não permitem a preservação socioambiental e ampliam as desigualdades e as injustiças sociais.

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FLORIANÓPOLIS - a quem se destina. Recorrentemente os meios de comunicação alardeiam o predicado de “Ilha da Magia” como referência a Florianópolis, cidade com elevados índices de qualidade de vida - uma população com renda média elevada, expectativa de vida alta e amplo acesso a serviços públicos de saúde, educação, lazer, moradia, etc. No entanto, existe um significativo contingente populacional, em áreas centrais e periféricas do município, que vivem à margem dessas qualidades midiaticamente noticiadas. Segundo o IBGE no censo de 2010, a população estimada para a Capital no ano de 2015 foi de 469.690 habitantes. Em 2008, de acordo com a PMF, haviam sido cadastrados 64 assentamentos precários, que envolviam 65 mil pessoas, aproximadamente 16% da população total. A partir dos mesmos dados levantados pela prefeitura, constatou-se que esses assentamentos tiveram um crescimento duas vezes maior que o do município, que se manteve em 3,31% a.a de 1991 a 2000. Muito embora se omita, a Ilha é lugar de muitos assentamentos em situação precária, cuja ocupação por pessoas com baixa renda sofre constante pressão, não só pelo poder público, mas, também, pelo setor imobiliário, para que sejam realocadas para outras áreas mais afastadas. Essa pressão, quando não advém do poder coercitivo do Estado, é silenciosamente praticada pela expansão do mercado imobiliário que, impelindo as pessoas ao êxodo para áreas que não interessam ao capital especulativo, dá início ao processo de gentrificação.

9% 31%

1

2

3

Saco Grande 8%

Sul da Ilha Continente

11%

29% 12%

Distribuição dos assentamentos em Florianópolis. Fonte: Grupo Infosolo

Centro Norte da Ilha Maciço da Costeira

4 1 Comunidade do Monte Cristo, situada na parte continental de Florianópolis. 2 Favela do Siri, na Praia dos Ingleses - Norte da Ilha. 3 Serrinha - comunidade no Maciço do Morro da Cruz, próxima à Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC. 4 Alto da Caeira - comunidade cuja ocupação é das mais recentes do Maciço do Morro da Cruz.

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O registro mais antigo de ocupação do morro data do século XVIII, no entanto, a ocupação cresceu ainda mais, no começo do século XX, com as demolições e remoções da população que habitava os cortiços à beira do Rio da Bulha (Rio da Fonte Grande) no lado leste da praça XV, onde, hoje, se localiza a Av. Hercílio Luz. Nas décadas seguintes, as ocupações disseminadas pelo Maciço do Morro da Cruz se consolidaram em condições extremamente precárias, marcadas principalmente pela falta de saneamento básico, de coleta do lixo, de calçamento das ruas e de transporte público. Tudo a denunciar o caráter seletivo dos investimentos sempre destinados à porção mais abastada da população, em detrimento daqueles que, expulsos de seu reduto original, ficaram sujeitos ao padecimento causado pelo descaso do poder público e por toda sorte de abandono. A ocupação do Maciço do Morro da Cruz está relacionada a três fatos históricos sucessivos: o fim da escravidão, o higienismo da década de 20 e a expansão da construção civil na década de 50. Paulatinamente, cada um a seu modo e a seu tempo, esses fatos deflagraram o êxodo intraurbano posteriormente verificado, posto terem dado causa à formação de um contingente humano que “não cabia na cidade”. Exemplificando, uma das mais antigas comunidades do Maciço, a do Monte Serrat, deve suas origens principalmente à canalização do Rio da Fonte Grande, pois os que habitavam suas adjacências, tendo perdido o acesso à água, passaram a se valer dos córregos e fontes d’água localizadas nessa área do morro. Era gente tal qual as lavadeiras que, não mais escravas, como “livres” valiamse, até então, da água do rio para exercer seu ofício. Posteriormente, na década de 50 e 60, um grande impulso imobiliário pela cidade coincide com o crescimento ainda maior do Monte Serrat e das comunidades próximas: Morro da Queimada, do Céu, do Bode e do Mocotó, cujos moradores, em grande parte, eram operários dessas construtoras. O Maciço, fosse pela sua localização ou pelo fato de algum parente já viver nessa região da cidade, era o ponto de chegada de muitos que deixavam suas terras em direção à Capital e acabavam, por ser em muitos casos a única alternativa para uma família pobre, se estabelecendo de forma irregular.

O MACIÇO DO MORRO DA CRUZ

O MACIÇO DO MORRO DA CRUZ

Axonométrica - Sede insular

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Durante a década de 80 e 90 as áreas do Maciço permaneceram sendo ocupadas em função de um acréscimo migratório próprio do período. O Alto da Caeira, por exemplo, recebeu, principalmente, uma população vinda do interior do Estado de Santa Catarina - do Planalto e do Oeste Catarinense, além de receber um grande número de pessoas da Grande Florianópolis e do Vale do Itajaí.

O ALTO DA CAEIRA Nas décadas de 80 e 90 o processo migratório de populações do interior de Santa Catarina e de outros estados, que se iniciara na década de 50 e 60, cresce consideravelmente. Esse movimento mais recente, marcado pela intensa precarização das condições de vida no campo, portanto, pela pauperização de seus habitantes, levou à ocupação, por serem as únicas disponíveis, em áreas íngremes e geomorfologicamente instáveis das áreas do Maciço. A população que se instalou no Alto da Caeira, como já mencionado, o fez em áreas de difícil acesso e vulneráveis - suscetíveis a deslizamentos. No entanto, somente o Alto da Caeira faz a conexão entre a área central, a baía sul e os bairros residenciais da bacia do Itacorubi, o que o transforma em área de grande interesse especulativo e, por isso, lugar de tensão entre população local, investimentos empresariais e políticas públicas.

Via Expressa Sul Rod. Gustavo Richard

Av. Mauro Ramos

Beira-mar norte

Alto da Caeira

Área de HIS

Via Transcaieira

Campus UFSC

Córrego Grande

Vista a partir de uma das comunidades do Maciço para o Aterro da Baía Sul(1978).

A história das comunidades do Maciço é, portanto, a da exclusão, praticada, sistematicamente, pelo Estado e pelas elites. As classes de renda mais baixa, cujo modo de vida baseado na subsistência - forçadamente substituído pelo urbano, o do trabalho produtivo - foram, assim, sempre relegadas às áreas onde a vida comum na cidade não lhes era permitida, afastados das infraestruturas, dos serviços, da saúde, da educação e da moradia.

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Creche Posto de Saúde (Agronômica) Escola Ensino Básico Padre Anchieta Cemitério Municipal Hospital Infantil Joana de Gusmão Centro Integrado de Cultura (CIC) (TITRI) Jardim Botânico

Creche

Creche

tro Cen

BAÍA NORTE

Creche

Escola Ensino Básico Hilda Teodoro Vieira

Escola Ensino Básico Silveira de Souza Hospital Governador Celso Ramos AV. MAURO RA MO

S

MORRO DA CRUZ

TR SC

AN RA

ALTO DA CAEIRA

EI

AI

Terminal de Ônibus Centro (TICEN) Escola Ensino Fundamental Antonieta de Barros

Escola Desdobrada José Jacinto Cardoso

Creche

Hospital Universitário

Ação Social Casa São José SERRINHA

Instituto Estadual de Educação

Hospital de Caridade

Escola Ensino Básico Escola Ensino Básico Simão Hess Creche Feliciano Nunes Pires

A

Instituto Federal deSanta Catarina (IFSC) Posto de Saúde (Monte Serrat) Creche

Terminal Rodoviário Rita Maria

Terminal de Ônibus Trindade (TITRI) Posto de Saúde (Trindade)

Escola Lúcia Do Livramento Mayvorme

MONTE SERRAT

Colégio Estadual Prof. Henrique Stodieck Escola Ensino Básico Lauro Müller

a

ade d n Tri

VI

Posto de Saúde (Centro)

MANGUEZAL DO ITACORUBI

Bai rro d

IR

BE AV.

AR A-M

Habitação de Interesse Social

Colégio Aplicação (UFSC) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

VIA TRANSCAIEIRA

BAÍA SUL

Posto de Saúde (Prainha) Creche

Escola Ensino Básico Getúlio Vargas

Creche Creche

200M

1:20.000

Creche 100M

500M

Saco Limões do ro

Ba ir

Eletrosul Posto de Saúde (Pantanal)

Creche

Escola Ensino Básico Jurema Cavalazzi

Posto de Saúde (Saco dos Limões)

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Posto de Saúde (Córrego Grande) Escola João Alfredo Rohr


Um claro indicativo da situação de precariedade na comunidade é a diminuição gradual, a partir da Serrinha, no preço do aluguel conforme as casas se aproximam do Alto da Caeira. A precariedade de grande parte das casas disponíveis para aluguel, o fato de estarem, muitas vezes, em encostas muito íngremes, a menor oferta de intra-estrutura e serviços são fatores que implicam a queda dos preços. Um outro aspecto que comprova essa condição é o fato da renda média ser para essa comunidade, segundo dados do IBGE de 2010, das menores do Maciço, cerca de 0 a 3 salários mínimos. (ver axonométrica sede insular -página 6) A carência de equipamentos voltados a suprir a demanda por saúde e educação é bastante grande. Na comunidade não há escolas de ensino básico e fundamental, as crianças e adolescentes frequentam as escolas das comunidades vizinhas: na Serrinha a escola de ensino básico José Jacinto Cardoso e a Ação Social Casa São José. No Monte Serrat: a Escola Lúcia Maria Mayvorme, sob cuidados do Grupo Marista que a assumiu após ser tomada pelo tráfico de drogas anos atrás.

O lixo e o esgoto da comunidade não são, muitas vezes, destinados apropriadamente. Das casas que não têm fossa, as águas são descartadas ora nos sinuosos caminhos ou ruas da comunidade, ora em um córrego nas partes baixas do assentamento, que, também segundo relato de moradores, há menos de trinta anos tinha água limpa, onde pescavam camarões, usavam a água para cozinhar, tomar banho, dentre outras atividades de lazer. O descaso com que a coleta de lixo é feita, leva ao acúmulo de resíduos próximo a terrenos vazios ou nos leitos de córregos da região. As pessoas, cujas casas não são alcançadas pela coleta do lixo, precisam, via de regra, caminhar longas distâncias para destinar os resíduos em um ponto determinado pela Companhia Melhoramentos da Capital - Comcap. Nestes pontos, em função do acúmulo de lixo decorrente das escassas coletas, os resíduos se espalham, e seu recolhimento se torna ainda mais precário.

Outras duas escolas bastante frequentadas pelas crianças da comunidade são: a Escola Getúlio Vargas, no bairro do Saco dos Limões e a Escola Simão Hess, no bairro da Trindade, esta última a mais distante, cerca de 2,4km e 30 minutos de caminhada. As creches mais próximas são, considerando que os pais levam os filhos muitas vezes a pé com crianças de colo, muito distantes. Estão localizadas em diferentes pontos: uma no bairro do Saco dos Limões, outra muito pequena e que não atende a demanda das comunidades, na entrada da Serrinha próxima à UFSC e a última próxima ao IFSC na rua que leva ao Monte Serrat a partir da Av. Mauro Ramos. O acesso ao posto de saúde do Monte Serrat é o mais rápido, já que não é preciso fazer baldeação entre ônibus e as distâncias, apesar da declividade das ruas, podem ser percorridas a pé. No entanto, o posto não atende a demanda de todas essas comunidades: Serrinha, Alto da Caeira e Monte Serrat. O Posto do Saco dos Limões é mais distante. Muitos moradores seguem até o Terminal do Centro para que não precisem pagar duas passagens, dessa forma podem fazer integração com a linha que passa em frente ao posto. O tempo gasto é maior e, como muitas vezes quem procura um centro de saúde está debilitado, os percursos são extremamente desgastantes.

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inc. ≤ 15º 15º ≤ inc. ≤ 30º 30º ≤ inc. ≤ 45º

A partir do mapa de cheios e vazios é possível observar o quão irregular é o traçado da malha urbana no Alto da Caeira. As casas, em função do terreno íngreme, se implantam, muitas vezes, em função da topografia e não da rua, talvez por isso não seja fácil presumir onde passam as ruas. É possível perceber também que a densidade de casas na parte à esquerda do mapa é maior, o que sugere, por estar nas cotas mais baixas, que essa ocupação seja mais antiga.

ZEIS 2

(Zona Especial de Interesse Social)

ARP 2.5 (Área Residencial Predominante)

ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO O Maciço do Morro da Cruz não é incluído na propaganda amplamente divulgada, que mostra Florianópolis como a “Capital da qualidade de vida”. É um espaço, cuja condição de exclusão e precariedade, sequer é reconhecida pelos moradores da dita “cidade formal”. Portanto, o fato de estar em área de ZEIS , reforça a importância de garantir o direito à moradia para a população de baixa renda nessa região da cidade que, embora coexista com condições difíceis - a dificíl ocupação, dada a natureza topográfica, além de problemas de ordem social - é muito visada pelo capital imobiliário.

APL- E (Área de Preservação Uso Limitado Encosta)

APP (Área de Preservação Permanente)

TRANSPORTE PÚBLICO

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191 - Linha Transcaieira 763 - Linha Caeira do Saco dos Limões

O terreno escolhido para a proposta de habitação social se caracteriza como um grande vazio urbano público, dos últimos remanescentes em todo o Maciço, numa das encostas da comunidade do Alto da Caeira e com ampla abertura para a paisagem da Baía Sul. A escolha se deve ao fato do terreno estar localizado centralmente, portanto, próximo a equipamentos e serviços urbanos, o que lhe confere um caráter de urbanidade essencial para a implantação de Habitação de Interesse Social. Recentemente, após a abertura da Via Transcaiera, como parte das obras do Plano de Aceleração do Crescimento - PAC em 2010 para o Maciço, o Alto da Caeira passou a ser a única conexão direta entre o Centro, a Baía Sul e os bairros residenciais: Trindade e Carvoeira. A pressão de ocupação sobre o terreno, como já dito, pelo capital imobiliário é muito grande devido às suas condições de centralidade e ao tamanho de sua área, que pode ser ocupada sem grande ônus.


O PROJETO A partir da observação e análise dos elementos do local eleito para uma proposta de habitação social, foram considerados relevantes os aspectos relacionados à paisagem natural, principalmente no que se refere à topografia da área que, muito acidentada, foi fator determinante do desenvolvimento do projeto apresentado. Inicialmente, foi buscada uma implantação cujo movimento qualificasse espacialmente a rua, mediante sua integração com a área edificada, contrapondo-se ao muro existente no lado oposto dessa mesma rua (Via Transcaieira), que, por si, constitui-se como um elemento alienante da desejável vida urbana. Ao evitar uma possível cisão entre o núcleo habitacional proposto e o ambiente em que este se inclui, o paralelismo entre a rua e o espaço a ser edificado conjugaria a monotonia das construções lineares com uma possível obstrução da paisagem. Assim, o movimento buscado com a disposição dos prédios, além de garantir um bom nível de insolação para os apartamentos, pode ser gerador de espaços públicos de acolhimento, tornando a

rua mais segura ao lhe serem atribuídas outras funções além do ir e vir. Devido à altura das edificações, que afronta a própria escala humana, são abertas possibilidades de acesso visual à paisagem mais distante, tal como parte da comunidade instalada na baixada, para o lado oposto do Maciço, para a Baía Sul e para a Serra do Tabuleiro. O aparente paradoxo entre a proposição de edifícios e a necessidade de se preservar a paisagem, é o que se apresenta sempre que se contrapõem a necessidade de ocupação do solo. Nesse aspecto, há que se ressaltar que a vida urbana requer essa ocupação e que da arquitetura espera-se mais do que o cumprimento de sua estrita função, espera-se a harmonia entre os espaços construídos e o território que os abriga. Em face dessas considerações, nasceu a proposta arquitetônica que se apresenta, mediante a qual se buscou respeitar a topografia local, manter viva a paisagem, apesar de se tratar de um espaço construído que por sua própria natureza “fere” o território natural.

A cota 0.00 do edifício, ou seja o pavimento térreo, se implanta, aproximadamente, sobre a cota 97m em relação ao nível do mar. Isso aconcetece em função de facilitar o acesso à moradia e demais equipamentos sugeridos, evitando a ocupação das cotas mais baixas que obrigaria a onerosos deslocamentos em declive, exigindo maiores movimentos de terra e, consequentemente, a construção de muros de arrimo cujas dimensões prejudicariam as condições sanitárias adequadas a um bom abrigo. A proposta em causa dispôs 208 unidades habitacionais com 52 m² cada, em três blocos de apartamentos que, embora autônomos, serpenteiam sobre as curvas de nível e se unem por meio de passagens, de tal forma a garantir-lhes uma identidade única, uma unicidade. Uma coisa só, apesar de serem três, é o que se busca. Dois desses blocos têm seus andares em mesmo nível, o terceiro, mais ao norte, está meio nível acima dos anteriores. Isso acontece em função de adequar da melhor forma possível os edifícios no terreno.

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30m 10m

60m

Implantação | 1:750

30m

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Fachada Rua Transcaieira | 1:500

10m

60m


Habitação Comércio/serviços Centro comunitário Creche

A tentativa de integrar o núcleo habitacional à paisagem natural, bem como ao meio urbano que estará inserido, é, por fim, garantir que a moradia extrapole as quatro paredes e disponha da dignidade que se espera dos espaços públicos. Com relação à circulação de veículos, dadas as próprias condições da encosta a ser ocupada, foi evitado o arruamento interno e suas consequências em termos da impermeabilização do solo e de sua desestabilização. Áreas para carga e descarga/embarque e desembarque e bolsões de estacionamento foram criadas ao longo da Via Transcaieira de modo a viabilizar o atendimento de necessidades do dia-a-dia.

Ainda com relação à estabilidade do solo, mediante a implantação de um paisagismo funcional nas cotas mais baixas do terreno que concilie a recuperação da mata nativa ao aumento da absorção de água pelo solo, é perfeitamente possível a obtenção de uma resposta satisfatória que evite a intensificação dos processos erosivos. Os equipamentos adicionais sugeridos, tais como creche e centro comunitário, bem como áreas de lazer/esporte, comércio/serviço deverão atender a pleito antigo da comunidade e, portanto, não serão de uso exclusivo dos moradores dos edifícios. Foram, assim, dispostos de forma que se criasse uma relação imediata com a Via Transcaieira, tornando possível o seu reconhecimento enquanto um espaço efetivamente público.

A creche, com 700m², localizada em franco acesso e em mesmo nível com relação à rua, deverá atender, segundo parâmetros do Ministério da Educação - MEC , 60 crianças de 0 a 3 anos em tempo integral ou 120 caso o funcionamento seja em dois turnos. Seus espaços contam com: salas de aprendizado, que possuem divisórias móveis se necessário um espaço, eventualmente, mais amplo; ambiente com mesas multiuso, tanto para refeições (lactário), quanto para atividades com as crianças; além de um espaço para recepção dos pais, diretoria, sala de reuniões, vestiário/ banheiro para funcionários, copa, área de serviço, solário com uma pequena horta e banheiros para as crianças.

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COBERTURA

PAVIMENTO 3

PAVIMENTO 2

PAVIMENTO 1

PAVIMENTO 0

PAVIMENTO -1 O centro comunitário, localizado num dos vãos com abertura para a paisagem foi pensado de modo a ser um espaço que pudesse abrigar reuniões e atividades da comunidade. Sua área por si só não é grande, no entanto espera-se que seu uso possa se expandir para além da delimitação prevista como centro comunitário e tome o vão e a praça sugerida em frente ao prédio, criando, portanto, uma integração entre os espaços voltados para a paisagem e o reconhecimento mútuo do que é público.

Axonométrica explodida

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Próximo à passarela que dá acesso ao edifício mais ao norte está localizado um parque infantil de forma que pudesse estar mais resguardado do movimento da rua. Do outro lado dessa mesma rua, numa área que pertence a um condomínio fechado de classe média e cujo muro, como já comentado, torna a rua estéril, foram sugeridos equipamentos de lazer como um bowl/skatepark e uma quadra poliesportiva.


C’

A’

B

0.00m

1

2

0.00m

+1.44m

0.00m 0.00m

1

1

1

1

1

1

C

+1.44m

-2.40m +1.44m -0.80m 0.00m -1.80m

B’

1 - Comércio e serviços A

2 - Centro comunitário

Pavimento 0 | 1:500 30m 10m

60m

15


C’

A’

B

-4.58m

-2.88m

3 -2.88m

-2.88m

-1.44m

4 -2.88m

C

-3.06m

-2.40m

3 - Creche 4 - Comércio

B’

A

Pavimento -1 | 1:500 30m 10m

16

60m


C’

B

A’

+3.06

+3.06m

+4.32m

C

+3.06m

+3.25m

7

5

6

+4.32m

A

B’

5 - Quadra poliesportiva 30m Pavimento 1 | 1:500

10m

6 - Skatepark/bowl 60m

7 - Parque infantil

17


C’

A’

B +5.94m

+7.20m

C

+5.94m

A

B’

30m Pavimento 2 e 3 | 1:500

18

10m

60m


19


SOLSTÍCIO INVERNO

LESTE

OESTE

SOLSTÍCIO VERÃO

12:30

19:00

13:00

18:00

3D Copiar 1

3D Copiar 1

3D Copiar 1 3D Copiar 1

5:40

12:00

7:00

12:00

piar 1

3D Copiar 1

3D Copiar 1

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3D Copiar 1


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SISTEMA CONSTRUTIVO Em função da grande área construída, o sistema construtivo adotado consiste em componentes pré-moldados. O emprego desse sistema nessa circunstância é decisivo para redução dos custos de canteiro, diminuição de possíveis erros de execução, economia dos materiais preparatórios da obra e redução das cargas incidentes sobre a estrutura como um todo, desonerando principalmente a fundação, em razão de seu peso próprio ser inferior ao de uma estrutura convencional, moldada in loco. São, portanto, pilares nos quais se apoiam vigas por meio de mísulas. Sobre as vigas longitudinais em relação ao edifício são dispostas lajes alveolares, com 1,25m de largura e 160mm de altura. Essas vigas, por receberem todo o esforço das lajes, têm uma seção transversal maior que as vigas transversais, cuja função é, estritamente, a de contraventar a estrutura. Sobre as lajes alveolares deverá ser aplicado um capeamento, de 50mm de espessura, que consiste na disposição de uma malha de aço, recoberta com massa de concreto C30, o que permitirá melhor distribuição das cargas concentradas e a correção da contra-flecha decorrente da protensão dos paineis alveolares. As lajes alveolares se projetam em balanço para conformar tanto a sacada quanto o hall de entrada dos apartamentos. São dois módulos de laje que se apoiam na viga central de aço que sustenta o piso das galerias que dão acesso aos apartamentos. Essa é uma viga em perfil I de 25cm x 35cm, em que é soldada uma espécie de mão francesa, também de aço, onde se apoiarão tubos vazados com seção quadrada de 160mm. Sobre esses tubos são colocadas placas de argamassa armada, tipicamente usadas em passarelas, com dimensões de 1,2 x 1,25m. Esquema construtivo

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GALERIAS E CIRCULAÇÕES As galerias de acesso aos apartamentos consistem em uma circulação central que, além de representar uma economia construtiva significativa, possibilita via de regra, que a unidade fique afastada da circulação e, com isso, possa ter janelas que garantam a privacidade e a ventilação necessárias. Ademais as circulações foram, assim, solucionadas de forma que se pudesse ter um espaço voltado para algum tipo de convívio imediato entre vizinhos, que remete ao congraçamento outrora vivido nas ruas de suas comunidades. Ainda sobre as circulações, as que dão acesso aos apartamentos do Pavimento -1, por estarem assentadas diretamente sobre o terreno, terão um jardim contíguo ao muro de arrimo que faz a contenção de parte da encosta. Esse jardim deverá, além de receber água da chuva, já que em sua projeção na cobertura há uma abertura, servir como ponto drenagem da água que desce a encosta sobre a qual o edifício se implanta. São quatro pontos de circulações verticais: duas delas localizadas nos “nós” entre edifícios, onde estão, também, os elevadores e as caixas d`água. Outras duas escadas metálicas, localizadas uma no prédio mais ao norte e outra no mais ao sul, foram dispostas a fim de satisfazer a distância de caminhamento requerida pela norma. Cada caixa d`água terá cerca de 30m³, o que inclui o consumo diário e a reserva técnica de incêndio. Na cobertura, próximo às circulações verticais presentes nos “nós”, será destinada uma área de livre acesso aos moradores dos edifícios, esse espaço poderá se voltar como um mirante para a paisagem ou poderá atender quaisquer usos que os moradores decidam ser necessário, como por exemplo, um varal de roupas coletivo.

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8,125 2,506

Sala/cozinha A=22,24 m²

2,509

1,544

Quarto 1 A=11,65 m²

Sala/cozinha A=27,14 m² Quarto 2 A=8,18 m²

Quarto 1 A=8,18 m²

Banheiro A=3,31 m²

2,773

Banheiro A=3,31 m²

4,063

2,888

1,181

2,509

4,059

1,544

4,063

1,563

2,50

2,888 4,063

8,125

8,125 1,563

2,50

4,063

4,063

Sacada A=2,24 m²

2,519

1,00

Sacada A=2,24 m²

2,948

1,00

4,063

2,875 6,675

Quarto 3 A=6,81 m²

1,202

Quarto 2 A=9,08 m²

1,182

1,563

2,50 Sacada A=2,24 m²

2,773

1,202

3,115

Sacada A=2,24 m²

2,875

1,00

2,50

6,675

8,125

Quarto 1 A=10,29 m²

Sala/cozinha A=27,16 m²

1,348

6,675

1,20

6,675

Quarto 1 A=11,94 m² Sala A=17,45 m²

Quarto 2 A=7,98 m²

Quarto 2 A=8,77 m²

2,983

2,703

Banheiro A=3,22 m²

Cozinha A=9,40 m²

Banheiro A=4,32 m²

1,181

2,506

1,548

4,063

2,888 4,063

Planta baixa | unidades habitacionais - 1:100

24

8,125

3,315 4,063

1,919

2,888 4,063


UNIDADES HABITACIONAIS As unidades habitacionais foram pensadas de forma que se pudesse, dependendo da necessidade do morador, criar um quarto a mais num espaço que faz parte da sala de estar. A organização estrutural do edifício permite que o espaço interno dos apartamentos possa ser arranjado conforme a necessidade do usuário, no entanto há uma região, entre o banheiro e cozinha, que concentra as prumadas hidráulicas. Esse lugar não poderá ser modificado, visto que qualquer alteração comprometeria o abastecimento dos apartamentos abaixo. As janelas foram dispostas de forma que pudesse haver ventilação cruzada, garantindo, ao menos para cada ambiente, uma janela. As áreas de abertura foram dimensionadas de acordo com o software Zoneamento Bioclimático do Brasil - ZBBR. Segundo o catálogo de propriedades térmicas elaborado pelo LabEEE UFSC, a parede com bloco de concreto de 14cm de espessura total, possui uma transmitância térmica de U = 2,74 W/m²K, portanto esse requisito básico é atendido de acordo com as demandas previstas para uma cidade como Florianópolis, localizada na Zona Bioclimática 3 em que U ≤ 3,60 W/m²K, segundo a ABNT que trata do desempenho térmico das edificações. Ainda, segundo essa norma, é recomendado o sombreamento das aberturas. Foram, portanto, propostas venezianas móveis nas aberturas das janelas localizadas nas fachadas cuja incidência solar é maior. Sobre essas venezianas foi disposto, também, uma espécie de párasol, que auxiliará no sombreamento das aberturas e na fixação dos trilhos em que correm as venezianas. Os apartamentos acessíveis estarão localizados, sempre que possível, próximos às circulações verticais dos edifícios, evitando deslocamentos desgastantes para as pessoas com alguma deficiência.

PERSPECTIVA DE UM APARTAMENTO COM 2 QUARTOS

7

6 4

8 APARTAMENTO COM 3 QUARTOS

5

10 3 1 2

Isométrica detalhe fachada - s/escala

1 Esquadria de alumínio - Janela com abertura simples para o interior 2 Laje alveolar h = 160mm | capeamento 50mm 3 Parede de bloco de concreto com reboco de 2,5cm (14cmx19cmx39cm) 4 Pilar pré-moldado (20cmx45cm) 5 Pára-sol | elemento pré-moldado (30cm de largura) 6 Viga pré-moldada 20cmx35cm 7 Viga pré-moldada 20cmx45cm 8 Porta de alumínio | 2 folhas de correr 9 Espelho fechamento de topo de laje 10 Veneziana de alumínio | 1 folha corrediça

25


3

1

2

4

9 8

6 5

7

Detalhe: Passarela de acesso aos apartamentos 1:20

Detalhe: Acesso aos apartamentos 1:20

3m

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Corte AA`| 1:200

1m

7m

Cobertura

12,96m

Pavimento 3

10,08m

Pavimento 2

7,20m

Pavimento 1

4,32m

Pavimento 0

+1.44m

Pavimento -1

-1,44m


1 Viga metálica perfil laminado I 25,5cmx35,7cm 2 Tubo metálico de seção quadrada 16cmx16cm 3 Placa de argamassa armada | 50mm 4 Conexão lateral do corrimão 5 Viga pré-moldada de concreto 20cmx35cm 6 Espelho de fechamento da laje alveolar 7 Viga pré-moldada de concreto 20cmx45cm 8 Laje alveolar | h=160mm 9 Capeamento 50mm

1 3 4

1 Pára-sol | elemento pré-moldado (30cm de largura) 2 Trilho da veneziana 3 Veneziana de alumínio | 1 folha corrediça 4 Janela com bandeira de vidro inferior e abertura simples para o interior 5 Espelho de fechamento da laje alveolar 6 Laje alveolar | h=160mm 7 Viga pré-moldada de concreto 20cmx45cm 8 Capeamento 50mm

Caixa d`água

Cobertura

Corte CC`| 1:200

1m

8 5

7 Detalhe: Janela|Veneziana 1:20

11,70m

3 8,82m 11,70m CoberturaPavimento 11,70m

Pavimento 3

8,82m Pavimento 3 8,82m Pavimento 2 5.94m

Pavimento 2

Pavimento 2 5.94m

Pavimento 1

Pavimento 1 3,06m 3,06m Pavimento 1 3,06m

Pavimento 0

0,00m Pavimento 0 0,00m Pavimento 0 0,00m

Pavimento -1

Pavimento -1 -2,88m

5.94m

-2,88m

-2,88m

3m Corte BB`| 1:200

7m

6

15,84m

Cobertura

Pavimento -1

3m

2

1m

7m

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Na cobertura haverá, na tentativa de diminuir os custos de impermeabilização da laje, telhados que fazem, também, a proteção dos boilers. Foram pensados em duas águas de forma que se pudesse, dentro do possível, se voltar sempre para o sentido norte/sul, otimizando o funcionamento dos paineis de aquecimento solar. Os boilers estão posicionados logo acima dos shafts, dessa forma acredita-se que as perdas de calor, costumeiras nesse tipo de instalação, diminuam e aumente a eficiência do sistema, já que o caminho que a água quente deverá percorrer é muito menor. É em função disso, por não haver espaço suficiente para ambas instalações, que as caixas d`água não foram dispostas na projeção dos shafts.

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LOCAÇÃO SOCIAL O trabalho não se aprofundou no tema da locação social gerida pelo próprio Estado, no entanto é preciso que se comente sobre outras formas de gestão, diferentes do financiamento da casa própria, que possibilitem o acesso à moradia central e, portanto, o direito à cidade. O financiamento da casa própria é a política dominante, quase exclusiva, das cidades brasileiras. Esse modelo, contudo, é ineficaz ao não garantir que famílias pobres acessem os programas. Isso ocorre devido às exigências legais dos contratos, tais como: documentação ou comprovação de renda, além do fato de muitas famílias não conseguirem arcar com as despesas das prestações. O MCMV, mesmo com o lançamento do programa Faixa 1, mudou, em parte, esse cenário que atende uma população de baixíssima renda. No entanto, não é solucionado o problema da taxas condominiais que, por não serem subsidiadas pelo Estado, faz com que o custo da moradia seja inacessível para aquelas pessoas que, muitas vezes, sobrevivem do trabalho informal, com baixos e incertos rendimentos mensais. Ademais, mesmo não sendo o objeto deste trabalho, vale anotar que o problema da localização dos empreendimentos vinculados ao programa de casa própria, geralmente viabilizados nas periferias mais afastadas, não permitem a mobilidade do trabalhador no território urbano, muito embora a flexibilidade de residência seja um fator de melhoria das condições de sobrevivência. A partir da ótica do mercado habitacional, a política de financiamento da casa-própria influnciou diretamente no preço dos imóveis, ajudando a inflar o mercado, o que tornou ainda mais difícil o acesso por uma população de baixa renda à moradia digna, seja pela casa-própria ou por aluguel. Tendo isso em vista, a presente proposta de habitação reservará uma porcentagem das unidades para locação social. Esse programa é, sobretudo, necessário para complementar as políticas de habitação voltadas para a aquisição da casa própria, à medida que atende uma população que não tem condição de manutenção ou aquisição de financiamentos.

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É preciso considerar que a locação social é um serviço público que pode lidar de forma eficiente com relação à situação de precariedade de moradia que tantas famílias são impelidas a viver. A propriedade, por ser pública e não ser alienável, não estará suscetível às pressões do mercado imobiliário que, com a valorização das áreas centrais e a revenda das unidades para pessoas com maior poder aquisitivo, aumenta o preço da moradia. Ao mesmo tempo, a mobilidade no território é garantida para aqueles trabalhadores, informais ou não, que precisam lidar com a transitoriedade do ofício. Ao mesmo tempo a criação de uma política de reserva de aluguel social poderá diminuir os abusos de praticados por proprietários de cortiços ou por proprietários privados,

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COMÉRCIO E SERVIÇOS LOCAIS As áreas voltadas para o comércio e serviços atenderão as demandas imediatas, de pequena escala de um bairro. Foram pensados espaços que poderiam abrigar possíveis usos tais como: um minimercado, quitanda ou algum tipo de mercearia que venderia frutas, legumes e verduras; padaria, farmácia - próxima à creche no Pavimento -1, cabelereiro, revistaria/livraria - que poderia estar localizada no vão, vinculada ao centro comunitário, sapateiro, costureira, bar, além de outras possibilidades de uso. Algumas atividades que já acontecem na comunidade poderiam ter espaço para que seus produtos possam ser comercializados, a fim de que a economia local seja contemplada.


ÁREAS DE LAZER É icônica a proposição das áreas de lazer nesse espaço cercado da comunidade. O muro, parte de um condomínio de classe média, proíbe, limita e define a rua como mera rota do ir e vir, em detrimento de atividades de ócio e de acolhimento. Esse lugar da comunidade pode ser mais seguro, inclusive para os que fazem uso do muro como garantia de proteção, com a ocupação efetiva do território.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

AGRADECIMENTOS

O direito à cidade, como parte de uma intricada rede de relações e disputas sociais determinantes da arquitetura, foi, essencialmente, o fio condutor da proposta para habitação social agora apresentada.

Este trabalho é fruto de uma série de questionamentos feitos ao longo de todo o curso. Sua realização só foi possível com o convívio rico e com trocas de experiências que tive com meus colegas e professores durante todos esses anos. A todos eles meu carinho e sincero agradecimento.

Buscou-se no projeto responder às demandas concernentes à ocupação do solo urbano, uma vez que as questões técnicas que envolvem a arquitetura não podem ser tratadas como um fim em si mesmas, deslocadas do debate acerca dos relevantes aspectos que conformam a cidade. Assim, entendendo o desenvolvimento urbano como um dos garantidores de justiça e bem-estar social, foram propostos os edifícios em questão, cuja funcionalidade extrapola a exclusiva destinação habitacional, para alcançar, mediante a integração da moradia com a estrutura urbana presente na área de sua implantação, uma nova e possível urbanidade.

A minha mãe que, contra tudo e todos, teve a sabedoria de nos acolher, a mim e a minha irmã, em todos os momentos, dificeis ou não. Ao meu primo, Zé Carlos, cujo papel na minha formação foi essencial. Sem ele, olhar para o mundo seria muito mais nebuloso. A minha orientadora, Maria Inês, que com dedicação e empenho esteve presente em todo o processo do trabalho. A ela, pelo crédito e confiança demonstrados e pelo comprometimento profissional, a minha profunda admiração. Aos meus amigos, familiares e companheira. A convivência com vocês é essencial para continuar.

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