Anderson Oliveira
Desmond, o bardo apresenta:
A bela, o gigante e o guerreiro feroz
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Venho dos montes Além do horizonte E levo a vida a cantar Em estalagens, tavernas, Castelos, cavernas Ou sob a luz do luar Ouçam o que eu digo Sem festa não vivo Nem me ofereçam outro cargo Sou o harpista O cantor, o flautista Chamem-me de Desmond, o bardo Conto uma história Que vem na memória Lembrança de um tempo passado Havia a donzela Inana, a bela Prisioneira de um gigante gelado
Na terra do Inverno De gelo eterno Osfrid ali era rei Os gigantes de gelo Um povo sem zelo Roubar e matar era a lei Levantaram batalha Derrubaram a muralha Da cidade do rei Baleor Saquearam o mercado Espantaram o gado Em Valreal espalharam o terror Baleor era o pai da jovem Inana A fim de salvĂĄ-la da guerra insana A mandou num navio pra uma ilha distante Osfrid era esperto tal qual era frio Com sua magia congelou o rio E Inana caiu nas mĂŁos do gigante
Num esquife de gelo prendeu seu troféu Fugiu para o norte sorrateiro ao léu Inana, a bela, para sempre dormindo estava O rei Baleor, tristonho chorou Seu povo quebrado aos deuses rezou Toda Valreal, por um milagre, esperava A tristeza era enorme E há quem se conforme Com a canção por aqui terminar Mas Desmond, o bardo Sofrendo com o fardo O final da saga irá narrar Osfrid, o gigante, bebia a vitória Na terra do Inverno era essa a história Mas eu vou contar o que de fato ocorreu De como o herói surgiu do oriente Sua luta com Osfrid à luz do poente E de como o gelado gigante morreu
No esquife de gelo ela era guardada No salão do trono na terra gelada Inana, a bela, prisioneira do mal Seu rosto era azul e estava sofrendo Os gigantes a viam aos poucos morrendo Mas não esperavam que ele fosse o tal Um chute na porta anunciou a entrada Surpresos os gigantes gritaram do nada O pequeno homem o rei quis conhecer Riam de escárnio, mas ninguém sabia Que ali se encontrava pura ousadia O invasor a todos o fel fez beber O guerreiro errante Nem um pouco galante Trapos vestia sob um grande chapéu Sua espada era tosca Estava cercado de moscas Mas cortou gigantes feito papel
Aos saltos girava A espada empunhava Rápido, era como uma águia Osfrid tremia Naquilo não cria Seus homens reduzidos a nada O herói em todos batia Fogo nos seus olhos ardia Era feito de que maldição? Osfrid berrou Seu exército chamou Mas de milhares só veio um quinhão “Um demônio ele era” Dizia o sentinela Na fortaleza ninguém viu entrar “Pouco importava” Osfrid esbravejava “Com esse verme irei acabar!”
Sacou seu machado De aço gelado Ao errante jurou a morte Beijou a donzela Através da fria cela Com aquilo buscava ter sorte Como se a bela Inana Cativa em sua fria cama Fosse por ele orar Ainda que fria Tudo ali via E ao gigante rogou-lhe falhar Osfrid atacou ferozmente O guerreiro esquivou de repente O machado no chão se enterrou Desarmado e cercado se viu O guerreiro a espada brandiu E a cabeça de Osfrid do pescoço arrancou
Os guerreiros de gelo pararam Como bonecos de neve ficaram Ao verem seu rei derrotado Aos poucos deixaram o lugar Debandaram para não mais voltar O vencedor errante não foi perturbado Exclamando, foi até a donzela “Pelos deuses, como ela é bela Não sou digno de sua paixão” Num ato final de nobreza Em Valreal pôs fim à tristeza Trazendo Inana pela mão Baleor, radiante e contente Ao errante ofertou um presente Qualquer coisa do reino era seu Até a mão da sua bela Inana Liberta do gelo que profana O rei ao guerreiro prometeu
Mas com o semblante cansado O guerreiro recusou o noivado “És tão bela e eu sou um ninguém Meu destino é vagar pelo mundo Sou filho do oriente profundo Não trago comigo um vintém” Só lhe pediu uma mecha de cabelo Longos cachos num puro vermelho Apenas isso queira de prenda Saiu vagueando sozinho Uma ave sem nome e sem ninho Iria seguir outra senda Da donzela guardaria a lembrança Sua beleza e olhos de criança Mas não podia ter seu amor Ela era feita para um cavaleiro Ele era apenas um caminheiro Forjado na batalha e na dor
Inana o vira partir O herói que a fizera sorrir Sem ao menos seu nome dizer Não era belo e azedo cheirava Mas tão valente no reino não se achava Nunca mais o voltaria a ver Dizem que muito triste ficou Em segredo por vezes chorou Sem amor, com outro senhor se casara Meio século se passou De sua beleza pouco restou Mas sempre o feio errante amara Essa é a história que trago a vós A bela, o gigante e o guerreiro feroz Se é verdade, vocês desejam saber Pois subam a Colina dos Mortos Procurem nos túmulos tortos Uma tumba sem nome vão ver
Na estaca cravada na terra Pendurado num vão feito à serra A mecha de cabelo vermelho qual chama Longos cachos voando ao vento Dos mortos testemunha o lamento A lembrança do errante e da bela Inana Senhoras e senhores Cavaleiros e doutores A todos agradeço a atenção Me despeço sem mais delongas Lá vem ele com suas madeixas longas O Velho Bardo para outra canção