Esta hist贸ria cont茅m cenas inapropriadas para menores. Continue se quiser.
Capítulo 1 Os Quatro e o Vingador 1 A noite era fria. Não daquelas com ventos fortes que faziam a poeira levantar e o gado mugir assustado. O frio era pior. Era uma presença constante, uma companheira que se hospedava em cada pessoa do pequeno vilarejo de West Mill. Havia um silêncio mortuário no ar. O saloon não emitia quase nenhum ruído, exceto o piano com notas falhas de Barkes. Não havia ninguém fora de suas casas. Era assim desde que os Quatro haviam decidido repousarem ali. O tempo era indefinido, e o objetivo deles também. E como descobrir, se ninguém sequer tinha a coragem de se aproximar dos quatro cavaleiros com pistolas reluzentes e chapéus que cobriam suas faces? Oh, a visão deles era aterradora. Fariam dois dias que o povo de West Mill não saia de suas casas. Dois dias desde que o inferno começou. Dois dias desde que os Quatro Cavaleiros do Apocalipse decidiram que aquele era o seu ponto de parada. E fariam dois dias que Joanna di Lourdes, refugiada mexicana, prostituta, não tinha nenhum cliente para aquecer sua cama. Sem o que fazer, ficava ali no saloons, vendo Barkes tocar uma moda desconhecida e mal-trabalhada, sinais de que seus dedos já não eram habilidosos como antes - e como eram habilidosos aqueles dedos há dez anos atrás, pensou a prostituta, agitando seu copo de uísque velho e barato e que em breve até mesmo aquilo lhe seria tirado. Primeiro fora o movimento das pernas. O pobre coitado já tinha de andar com uma cadeira de rodas improvisada, feita com madeira velha e retorcida com rodas feitas especialmente para ele. Hora ou outra ainda era possível ver Barkes atolado no meio da areia, gritando por socorro. Por segundo, perdera o olfato e o paladar. Talvez um resultado bem esperado após ele ter fumado quase toda o estoque de fumo da cidade. Era estranho ver como um homem com futuro podia se declinar ao próprio abismo. Joanna não entendia... E de fato não procurava entender. O saloon, por sua vez, era bem cuidado. Seria vista como um excelente ponto de repouso para os viajantes que se dirigiam para a capital. Era grande na parte térrea, com cerca de vinte cadeiras e mesas dispostas à frente de um amplo balcão de madeira sulcada. O piso parecia ser lustrado todos os dias e não havia aquele fedor de bebida e vômito que na maioria dos saloons pareciam ter. No canto direito do
balcão, havia a escada que levava aos dormitórios. Janelas haviam sido dispostas aos montes. Dez janelas dos lados, cinco ao lado da porta de vai-vem. Barkes tocou a última nota e parou para respirar, tossindo repetidas vezes. Joanna ergueu o copo e sussurrou um “Saúde” para ele. Desejara uma coisa que ele não tinha, e que não ia ter. Não com oitenta e seis anos de idade. - Excelente música, Barkes. Agora descanse um pouco. - disse o dono do saloon, Bill. Estendeu um copo e preencheu-o com aguardente. - Aqui. Tome um pouco. - Acho... coff coff... vou... coff... precisar mesmo. - disse ele em meio aos acessos de uma tosse violenta. - Não entendo este povo. - disse Joanna. Sentia um formigamento na cabeça, certamente começava a ficar rubra por causa da bebida. - Não sair de casa por causa de um bando de palhaços que se intitulam Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Onde estão os anjos? Onde estão as malditas trombetas? Tudo idiotice, se me permite dizer. - Não permito que diga. Você está bêbada Joanna. Sabe o quão perigoso aqueles quatro podem ser! Viu o que fizeram com o Chael! - Bill disse, sussurrando o tanto quanto podia. Não queria ser ouvido. Não queria ser morto. - Pra mim é tudo a mais completa besteira. - Joanna sorveu o último gole de sua bebida e se levantou. Seus seios fartos quase saltaram do espartilho que impedia sua barriga de tomar uma forma oval. - Vou subir. Se algum cliente vier, avise que estou à espera. E mande-o bater na porra da porta, pelo menos um pouco de educação nesta porcaria! Bill e Barkes viram a mulher subir as escadas de maneira lenta e um pouco cambaleante. O silêncio apenas era quebrado pelo bater sem ritmo algum do saltoalto na madeira, e aquele ranger maldito. Os degraus pareciam conversar entre si, e reclamavam do peso de Joanna, com toda a certeza. - Essa mulher não consegue controlar a maldita língua. - Bill disse, suspirando aliviado. Barkes não respondeu, apenas sorriu seu sorriso banguela e tomou mais um gole de aguardente. O frio, o maldito frio, continuava a entrar no saloon, mesmo com todas as portas e janelas fechadas. E o mundo parecia segurar a respiração para uma desgraça maior. Para algo de ruim que pudesse vir a acontecer. E, por Deus, já não estava acontecendo? Aqueles homens eram cruéis, Bill bem sabia disso. Ele mesmo vira Chael enlouquecer e se alimentar de sua própria carne até que estivesse só em ossos. E ainda - que coisa mais horripilante - continuara vivo, implorando para morrer. E o mais alto dos quatro lhe negara aquilo. Por algum lugar, Chael ainda vagava no deserto, completamente desfigurado e sem pele, impossibilitado de morrer. Pelo menos havia sido isto o que os Cavaleiros disseram, em meio aos risos. E tudo aquilo porque Chael - um pai de família excepcional e um bom médico - havia tropeçado no pé daquele a quem os outros três chamavam de F.
E enquanto Bill estava absorto em seus pensamentos e Barkes concentrado em sua bebida, a porta de vai-vem foi empurrada. Ela foi. E voltou. 2 Há dois dias de viagem de West Mill O caos. Esta palavra era a única que podia exemplificar a situação da cidadezinha de Calbas Mine. O fogo subia pelos telhados de madeira de todas as casas, ganhando cada vez maiores proporções e se alastrando. Corpos carbonizados à frente do bar local era a única prova de que a cidade havia sido habitada. O cheiro de carne queimada subia ao nariz do pistoleiro parado no meio da rua principal. Um rifle Winchester 73 de repetição estava cruzado em suas costas. Em suas duas mãos carregava duas Colts 45, reluzentes à luz ferrenha do sol, que estava já na metade de seu ciclo. Em pouco tempo a lua apareceria e cobrira a fumaça que subia em espiral aos céus. O pistoleiro parecia sussurrar algumas palavras ininteligíveis, um segredo que somente sua alma poderia saber. Estava de olhos fechados, o chapéu de vaqueiro cobrindo quase metade de seu rosto, deixando o resto obscurecido pelas sombras da tarde. Seus lábios ainda se moviam, silenciosos como a areia que se desprendia dos desertos. Seu sobretudo esvoaçava com a brisa que vinha do norte da cidadezinha. De repente, o pistoleiro ergueu a cabeça, como se já tivesse terminado de fazer o que quer que fosse que ele estava fazendo. Olhou ao seu redor no mais profundo silêncio, os revólveres pendendo em suas mãos. Podia ouvir as próprias batidas do coração. Inspirou o ar desgraçado do lugar e pôs-se a andar, guardando as armas nos coldres escondidos sob o sobretudo. Não faz muito tempo desde que saíram daqui. Pensou ele, caminhando solitário por aquela extensão árida. Seus olhos ardiam com a fumaça e a secura do ambiente. Seu nariz parecia estar sendo penetrado por centenas de pequenas agulhas que o fazia lembrar-se do que ele perseguia, da desgraça na qual ele caçava. John Hardin decidira por si mesmo que iria pôr um fim naquela onda de destruição que os quatro cavaleiros que diziam ser os iniciantes do apocalipse, aqueles que corriam os céus espalhando pragas, fome, guerra e morte. Os quatro Cavaleiros do Apocalipse. Calbas Mine seria a terceira cidade pela qual eles passavam. A sua cidade natal, Silrym, havia sido a primeira. Assim como ele, os outros não tiveram a mínima chance de preverem o que estava para acontecer. Afinal, que tipo de pessoa acreditaria numa história contada por padres para assustar a população.
- O Apocalipse está chegando! - as vozes fantasmas de um “profeta” ainda ecoavam em sua mente, como dedos penetrando numa ferida recém aberta. Ninguém acreditou, e o “profeta” continuou a dar seus avisos. Por Deus, John achava que nem mesmo aquele maluco sabia do que estava falando. Ninguém sabia. E não mais teriam a chance de descobrir. Os Quatro passavam pelas cidadezinhas, ficavam cerca de uma semana nelas - sim, sete dias Deus criou a Terra, sete dias para que cada parte desfaleça, sim. - e então toda a destruição começava. Ele estava há dois dias de viagem daqueles malditos. Significava, portanto, que tinha apenas quatro dias para que pudesse impedir que a outra cidade fosse devastada. Quatro dias. Quatro dias para quatro corpos. Tinha de apressar o passo. Parou no meio do caminho e sentiu mais uma vez as centenas de agulhas penetrarem em seu nariz. Então assoviou, o som se deslocando como um monotrilho em alta-velocidade por aquela extensão silenciosa. Esperou por algum tipo de resposta, e ela não demorou a vir. Ao invés de outro assovio, John pôde ouvir o som de cascos no terreno arenoso. Olhou para trás e viu Garth, seu cavalo fiel e único sobrevivente de Silrym, além do próprio pistoleiro. O cavalo parou ao seu lado, balançando a crina e batendo com os cascos no chão. Parecia agitado para sair logo dali. John afagou o seu focinho e deu três tapinhas fracos no centro da testa dele. - Vamos sair daqui, meu querido. - disse o pistoleiro. Com uma rapidez improvável, John subiu em sua montaria. Ajeitou o chapéu de vaqueiro e fechou os olhos. Mais uma vez sussurrou alguma coisa para si mesmo e impulsionou o cavalo para frente. Garth se pôs numa corrida desenfreada, e não desacelerou até que Calbas City ficasse suficientemente para trás a ponto de não se sentir mais o cheiro pungente que exalava daquele lugar já desgraçado. O terreno que cercava a cidade era acidentado, com a estrada há muito apagada pela areia que já era uma parte constante daquele ambiente. Em breve o deserto seria grande demais até mesmo para os cactos. O período de estiagem já conseguia alcançar seus onze meses onde nem mesmo uma gota de água havia sido derramada por aquela superfície. Haviam sim as árvores de uma pequena floresta, com suas copas grandes o suficiente para garantirem sombra nos dias mais quentes. Mas em breve elas também morreriam, como já acontecia com suas irmãs mais próximas. Começavam a se tornar marrons as suas folhas, sim. E em breve seriam cinzas, e cairiam, deixando galhos como dedos nodosos tentando se proteger do sol maldito. John tinha a leve impressão de que tudo aquilo era culpa dos Quatro. E o que não seria culpa deles? Eram as personificações dos males que afligiam a raça humana desde o começo dos tempos. A Terra passava sim pelo seu pior período, e o pistoleiro tinha a chance de mudar aquilo. Com certeza tinha.
- Podemos mudar tudo, até mesmo aquilo que ainda não foi feito. - dissera-lhe seu pai uma vez. Muitos anos antes, quando ele ainda era vivo e não havia virado uma peneira no ataque dos bandoleiros do sul. E hoje John entendia, em partes. Não podia mudar o que já havia acontecido. As mortes que manchavam seus sonhos, até de seus entes queridos. Mas podia mudar o destino das outras cidades. Se fosse rápido o bastante, podia fazer isso. Sabia que podia. E iria fazer. Iria colocar uma bala na cabeça de cada um daqueles desgraçados, iria mostrar a eles o quanto erraram em escolher acabar com a Terra enquanto ele mesmo ainda estivesse vivo. Iria matar um por um, e iria vingar a morte de todos. 3 Joanna di Lourdes já estava em seu sétimo sono quando ouviu a porta de seu quarto ser aberta aos poucos. Não conseguira notar de primeira o que estava acontecendo, mas seus sentidos alertavam que ela não estava sozinha no aposento. Ainda com sono, ela abriu vagarosamente os olhos, olhando para a lua que trespassava a janela, jogando seu brilho branco por entre as cortinas sujas e remendadas. Quando pensou em voltar a dormir, ouviu algo no outro canto do quarto. Seus sentidos ainda entorpecidos fizeram com que ela se sobressaltasse ao ver a figura negra parada ao lado da porta semi-aberta. - Porra, eu disse que era para bater na porta! - disse ela, não deixando de expressar o seu descontentamento. Quem era aquele maldito que buscava seu calor justo naquela hora? - Desculpe-me, madame. - disse a figura. Joanna pensou ter reconhecido o modo como Bill a chamava. - Bill? É você? O que sua mulher vai pensar quando souber que está transando com sua empregadinha? - ela perguntou, ajeitando-se na cama e esfregando os olhos para enxergar melhor. - Não vai pensar nada. - disse Bill, com um tom que levou Joanna a pensar que ele estava sorrindo. Ele se aproximou mais da cama, desafivelando a cinta. - Ela está dormindo... Como um anjo. - E por que demorou tanto? Eu já estava dormindo, querido. - disse ela, empurrando o lençol para o lado e descendo a camisola até a altura dos seios fartos. Joanna já tinha a experiência de uma prostituta de qualidade, embora sua beleza não fosse a mais requisitada. Sabia que podia satisfazer com facilidade os prazeres de Bill, como tantas vezes fizera. Era sabido que Uditte, esposa dele, não dava mais no coro quanto deveria, então restava somente a ela fazer o trabalho todo. - O último cliente acabou de ir embora, só agora fechei o saloon. - disse ele. Mas algo estava errado. Joanna sentia que alguma coisa estava muito, muito errada
mesmo. Mas não tratou de dizer nada. Talvez Bill apenas estivesse bêbado e querendo um pouco de diversão, apenas isso. E a obrigação dela era dar essa diversão e não fazer qualquer tipo de perguntas. Com os dedos rápidos, ela ajudou a tirar a cinta de Bill e abriu o botão de sua calça. Ele, ainda encoberto pelas sombras, se jogou para cima dela e lhe aplicou um beijo. Ah, o beijo dele era doce, tão doce e suave quanto os de uma verdadeira dama. Sua língua se mexia com agilidade dentro da boca da prostituta, que já se sentia cada vez mais entregue. Com muito esforço, ela conseguiu se desvencilhar do beijo dele. - Nunca vi você beijando tão bem assim, querido. O que aconteceu? Está há quanto tempo sem transar? - ela perguntou. Não recebeu uma resposta direta, apenas mais um longo e delicioso beijo. Rapidamente ela abriu as pernas, esperando logo que ele começasse o trabalho. Sentia um arrepio correr pela sua espinha, e o sono abandonando seu corpo rapidamente. - Você é tão quente, tão cheia de vida. - disse ele, em meio a gemidos de prazer e mais beijos. Joanna já podia sentir a umidade, a deliciosa umidade. - E seu beijo é tão quente. Tão doce. Oh querido, tão doce. Continue me beijando, por favor. - disse ela. Sentia que seu coração logo iria parar se ele continuasse com aquela técnica maravilhosa. E ele continuou, até que se ergueu da cama de súbito, deixando-a estendida na cama. - Dizem... - Bill começou, arrancando sua camisa. Apresentava um físico invejável, realmente. Um físico que Joanna não se lembrava dele ter. - ... Que a morte tem um beijo doce. A prostituta não entendeu de imediato. A mente estava cansada e ela ainda estava marcada pelo beijo delicioso de Bill. Mas aos poucos ela voltou a raciocinar. Agora sentia uma frieza na língua e um toque azedo que parecia não sair. Era como se ela tivesse lambido um animal em decomposição. Nunca o havia feito, mas tinha certeza de que era o mesmo gosto. Ao mesmo tempo, começou a sentir uma dor profunda em seu estômago. Seus órgãos estavam todos em chamas, seus músculos se contraíam e sua garganta parecia se fechar. E havia aquela movimentação estranha em seu esôfago, como milhões de bichinhos se rastejando para fora. - O que... - ela disse, parando para tossir. - O que você fez comigo? Bill não respondeu, apenas pareceu sorrir. - Bill, o que você FEZ COMIGO? - ela gritou o máximo que aquela coceira em sua garganta permitia. - Quem é Bill? - a figura perguntou. Subitamente, a nuvem que tampava a lua se deslocou para o lado, e o brilho branco se chocou contra a face de um homem com aspecto esquelético, e que não parecia ter os olhos, apenas órbitas escuras e frias, e um sorriso frio de uma caveira.
O susto bastou para que ela caísse da cama e se rastejasse para longe dele, gritando. - Demônio! Demônio! - ela berrava contra ele, enquanto a coceira só aumentava, junto com a dor e o gosto de azedo em sua língua. - Oh. Demônio não é meu nome. Não tenho nada a ver com ele. Por favor, me chame de M. - ele disse com aquela voz irônica e sorridente. Com um último esforço, Joanna se ergueu e correu para a porta. M não impediu que ela passasse. Parecia se divertir com tudo aquilo, aliás. Viu a prostituta abrir a porta com extremo desespero e correr o lance de escadas como nunca. Depois de alguns segundos, ele desceu a passos lentos. Joanna olhou para o saloon, que estava completamente vazio e escuro, exceto por três figuras sentadas no balcão, conversando e rindo. Quando ela terminou o lance de escadas, os três pares de olhos se viraram para ela. E ela reconhecia todos eles. Os Quatro estavam ali. Ela estava pagando pela sua língua, como Bill havia lhe dito. - Fiquem longe de mim! - disse ela, e saiu pela porta de vai-vem. E então tudo começou a piorar. A coceira aumentou, assim como a dor na barriga. Ela se ajoelhou no meio da rua e vomitou ruidosamente. Não havia nada ali exceto centenas de pontinhos brancos que se mexiam sem parar. Vermes de carne podre. Bigatos, era como chamavam os povos do sul. Como ela podia vomitar aquilo? Ela não saberia responder. Mas estava acontecendo. E então a dor em sua barriga começou e ela sentiu a indômita vontade de defecar. Não conseguiu se segurar e se pôs a cagar ali mesmo, no meio da rua. E vomitou novamente. Os bigatos agora saíam aos montes de sua boca, enquanto alguns ainda se remexiam por baixo de sua língua, que nem mais se levantava. Estava morta também. Desesperada, Joanna olhou para trás, para a própria merda e viu o que pareciam ser fetos natimortos. Centenas deles também, todos com mais ou menos três centímetros de comprimento. E não paravam de sair. Do saloon, os quatro cavaleiros saíram, todos com as mãos na cintura e um sorriso na face. Pararam e ficaram olhando o sofrimento da prostituta, que se remexia, vomitando vermes e defecando fetos. - E toda a impureza sairá aos montes dos impuros. - disse M, rindo. Os outros o acompanharam. Joanna olhou para trás e correu em direção a eles. Ajoelhou-se enquanto jorrava fetos e bigatos. Levantou seus olhos para M e pareceu suplicar para que ele parasse com tudo aquilo. O cavaleiro apenas sorriu e a empurrou. Como se não bastasse, a prostituta sentiu algo muito maior se movendo em sua garganta e em sua boca, mas que não conseguia sair com a mesma facilidade. Era alguma coisa em sua língua... Se ao menos conseguisse puxar! Já imaginava se tratar de outro verme bem maior.
Com os dedos indicador e polegar, ela grudou sua língua, que parecia se remexer por conta própria e puxou-a num ato desesperado. A língua saiu sem mostrar qualquer dificuldade. Caiu no chão arenoso e começou a se debater, ganhando características de escamas e o que pareciam ser olhos. Sua língua toda tinha o comprimento de trinta centímetros. E logo o que era uma língua começou a se transformar numa cobra peçonhenta. Joanna gritou novamente e se jogou para trás. A cobra levantou a cabeça e foi para cima de sua antiga dona. Joanna tentou lutar, mas não conseguiu, o animal era escorregadio demais. Com extrema agilidade, a cobra-antes-língua conseguiu entrar novamente na boca da mulher, fazendo seu caminho de volta pelo esôfago. Joanna começou a ter espasmos, sentindo o animal acabando com todo o seu interior. Ergueu mais uma vez seus olhos para os quatro, que riam até chorar, e suplicar por ajuda. E então morreu. A cobra reapareceria três minutos depois, saindo pelo canal vaginal da prostituta e adentrando na areia daquele quase-deserto. O silêncio continuava impermeando o lugar. Ninguém ousara ver o que estava acontecendo. O dia já começava a amanhecer, e apenas Os Quatro estavam parados à frente do corpo estendido da prostituta, que já parecia ter morrido há muito tempo. - Esta morreu pela própria língua, irmãos. - disse M. E aquilo arrancou mais risadas ainda daqueles seres estranhos. - Vamos, irmãos. Vamos tomar alguma coisa para molhar a garganta... Hahahahaha! - disse G, com um olhar tão maldoso que chegara a obscurecer o sol. Há um dia dali, um homem cavalgava, e no brilho do amanhecer, seus olhos brilharam mais uma vez. Mais uma alma a se vingar, ele sabia. Estou chegando. Ele pensara.