enfoque-125

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http://enfoquevilabras.blogspot.com ANDRÉ ÁVILA

vilabrás novembro / dezembro

2010

distribuição gratuita edição 125

Sonhos no papel Garotos e garotas da Brás desenham o que mais desejam

> Página CENTRAL

Idalina Rosa, 105 anos Histórias de quem atravessou o século > Página 13

Você dá a notícia Nesta edição, os temas foram sugeridos pelos leitores

Brincadeira de

criança

Grupo de amigos usa casas em construção para brincar de escondeesconde

> EDIÇÃO ESPECIAL DO ENFOQUINHO


02 EXPEDIENTE Universidade do Vale do Rio dos Sinos Av. Unisinos, 950 Bairro Cristo Rei São Leopoldo/RS Reitor Marcelo Aquino Vice-reitor José Ivo Follmann Pró-reitor Acadêmico Pedro Gilberto Gomes Diretor da Unidade de Graduação Gustavo Borba Coordenador do Curso Comunicação Social – Jornalismo Edelberto Behs

São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Da Redação A edição 125 do Enfoque Vila Brás inovou. Além de protagonistas das nossas histórias, os moradores tornaram-se pauteiros do nosso jornal. E o resultado são inúmeras matérias que de alguma forma descrevem as dificuldades e os anseios daqueles que lá habitam. Inovou para mostrar de perto a realidade vista e vivida por aqueles que respiram o dia a

A equipe do Enfoque ouviu o seu público, escreveu e fotografou o que ele pediu. Esta edição, mais do que nunca, foi feita especialmente para eles. Neste jornal você confere um pouco do muito que é a Vila Brás. Obrigado aos pauteiros, parabéns aos repórteres e fotógrafos e, a você, uma boa leitura!

dia da Vila. O Enfoque mudou no intuito de reforçar sua identidade e consolidar ainda mais os seus objetivos enraizados no jornalismo comunitário. Mudou não para dar voz ao povo da Vila, mas, sim, para dar oportunidade a este povo que já tem voz e algo a dizer.

de

vilabrás Jornal-laboratório produzido por alunos das disciplinas de Redação Experimental em Jornal e Fotojornalismo do Curso de Comunicação Social Jornalismo da Unisinos.

FALE CONOSCO! Telefone: (51) 3590.8466 E-mail: enfoquevilabras @gmail.com Edição: Luana Reis Manoela Teixeira Miriam Moura Vanessa Wagner Ellen Mattiello Hector Moraes André Avila Stéfanie Télles Daniela Fanti (editora-chefe) Marco Rocha Orientação: Eduardo Veras Flávio Dutra Nikão Duarte Monitoria: Eduardo Nozari

Fotografia: Ana Paula Figueiredo André Ávila Carina Mersoni Cristiane Abreu Daniel Nunes Débora Soilo Fabiana Eleonora Fabrício Preto Fernanda Mandicajú Gabriel Gabardo Guilherme Barcelos Harrisson Andrade João Pedro Zandonai Kenia Ferraz Leandro Maciel Leonardo Pedroso Luana Elias Magda Marques Pedro Barbosa Ramiro Furquim Suellen Dal’Agnol Taíssa Bach Tamires Gomes Arte: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) Projeto gráfico: André Seewald Gabriela Schuch Diagramação: Gabriela Schuch Marcelo Grisa Supervisão técnica: Marcelo Garcia

Daniela Fanti Lílian Stein Rafaela Kley

S

ugerir a pauta, apurar as informações e redigir o texto. Seis meninas da Brás realizaram essas funções no sábado, 16 de outubro, dia da última visita dos alunos da Unisinos à Vila em 2010. A proposta era fazer com que elas participassem de uma reunião de pauta

– em que as sugestões foram feitas por elas mesmas e discutidas pelo grupo – e, depois, buscassem as informações necessárias para construir o texto final. Giovana Dornelles, Suélen Santos Rodrigues, Pâmella Stenhaus, Eduarda da Silva André, Nathália Luana de Souza Lopes e Miriam da Conceição Novaes foram repórteres por um dia. Divididas em duplas, blocos e canetas à mão, saíram em busca de

fontes, informações, curiosidades e, na companhia da fotógrafa, boas imagens. Puderam contar com a ajuda de estudantes de Jornalismo – receberam dicas de como abordar os entrevistados, anotar os dados e construir o texto. O resultado foram três matérias que, a partir da percepção das meninas, relatam o que de alguma forma não está certo dentro da realidade vivida por cada uma delas.

O bullying e suas consequências Giovana Dornelles (12 anos) Suélen Santos Rodrigues (12 anos) O bullying, que é uma série de agressões contra alguém que não consegue se defender, pode ser praticado por qualquer pessoa e acontece com muita frequência na Escola João Goulart. Qualquer um pode ser alvo do bullying, e o agressor às vezes nem sabe o nome e a gravidade do que está fazendo. As agressões físicas e psicológicas são comuns e até podem levar à morte. A história que vamos narrar foi contada pela estudante Daiane Santos dos Santos, de 15 anos. Ela diz que conhece um caso de bullying. “Inventaram histórias sobre uma menina que tinha acabado de chegar, e todos começaram a ofender ela”, conta. A aluna deixou de vir na aula por se sentir humilhada e rejeitada. O bullying é um problema muito sério e ocorre em quase todas as turmas da escola. A professora Janine Rossato,

Pitaco da editora Lílian Stein

Fui surpreendida pela Giovana e pela Suélen já na sugestão da pauta. O bullying, segundo elas, é uma realidade comum na escola e precisa ser conhecido pelos

ANA PAULA FIGUEIREDO

Reportagem: Adriano Carvalho André Ávila Camila Nunes Caroline Raupp Cecília Medeiros Clarissa Figueiró Daniela Fanti Débora Soilo Eduardo Herrmann Ellen Mattiello Fabrício Preto Fernanda Herrera Guilherme Möller Gustavo Alencastro Gutiéri Sanchez Frederico Dilly Hector Moraes Leandro Vignoli Liane Priscila Rodrigues Liege Freitas Lílian Stein Luan Iglesias Luana Reis Luciano Nunes Manuela Teixeira Priscila Carvalho Marco Rocha Matheus Cardoso Miriam Moura Paola Madeira Patrícia Oliveira Pedro Bicca Priscila Zigunovas Rafael Martins Rafaela Kley Roberta Roth Roberto Ferrari Rodrigo Rodrigues Rogério Bernardes Sabrina Schönardie Simone Núñez Reis Stéfanie Telles Suélen Dal’Agnol Tarcísio Bertim Thaís Jobim Vanessa Wagner Vanessa Lopes

Meu Enfoque

Giovana Dorneles e Suélen Rodrigues apuram a pauta de Sociologia, começou a fazer um trabalho para os alunos conhecerem mais o assunto. Quando ocorre um caso assim, ela conversa com os alunos e tenta resolver. Às vezes, a conversa

moradores da Brás. Não esperava ver nessas meninas de apenas 12 anos tamanha desenvoltura para argumentar e defender sua sugestão e colocá-la em prática. O papel de orientadora, que cabia a mim, resumiu-se a observar as repórteres abordando suas fontes – minha ajuda foi dispensada tão logo entreguei

precisa ser mais forte para que eles entendam. É preciso conhecer e entender o bullying. Quem pratica não sabe o mal que está fazendo para a outra pessoa.

às duas o bloco e a caneta. Saí da Brás orgulhosa e, mais do que isso, emocionada. O resultado da dedicação e talento de Giovana e Suélen é o que encerra as edições do Enfoque neste semestre. Para mim, fica a lição: cheguei a pensar que iria ensinar. Terminei com a certeza de que quem havia aprendido era eu.


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Meu Enfoque “Desrespeitar é feio. Os professores querem ajudar” O respeito com o próximo é muito importante na vida de qualquer pessoa. Todo mundo sabe disso, mas algumas pessoas não dão a mínima para a educação. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental João Goulart, que fica na Vila, um dia a professora chamou a atenção dos alunos porque eles estavam conversando e, quando ela virou as costas, eles começaram a debochar dela. Na Escola Estadual de 1º Grau Firmino Acauan, que fica no bairro Santos Dumont, já aconteceu uma situação parecida com essa. Quando a professora pediu para um estudante parar de conversar, ele começou a falar muitos palavrões. A professora mandou ele para a secretaria, e a diretora

Pitaco da editora Daniela Fanti

Deu pra perceber nos olhos delas, ao menos, entusiasmo. Um

ligou para os seus pais, pois o aluno não estava respeitando a professora. Isso é uma coisa que acontece em todas as escolas, mas não deveria acontecer em nenhuma. Os professores ficam magoados, pois eles estão na escola para ensinar e não para brigar com os estudantes. Na opinião da professora Ivonete Rodrigues, da Escola João Goulart, é preciso ser mais rígida com os alunos e tentar entender o lado deles. “Eu procuro me colocar no lugar dos estudantes e entender por que eles fazem isso. O que é respeito para mim, pode não ser para eles”, fala a Ivonete. Os professores gostam muito dos alunos e querem ser amigos deles. Desrespeitar os professores é muito feio, pois eles só querem ajudar.

desejo inocente de querer ajudar em meio a alguma ansiedade, também minha, provocada pelo até então novo jeito de fazer jornal. Entenderam facilmente qual era a proposta do trabalho

ANA PAULA FIGUEIREDO

Pâmela Stenhaus (11 anos) Eduarda da Silva André (9 anos)

Pâmela e Eduarda defendem o papel dos professores no aprendizado

e foram categóricas na escolha do assunto: “Quero fazer sobre os alunos que não respeitam os professores”. Apesar de o papel de orientálas sobre o que fazer e o que não

fazer na hora de escrever uma matéria era meu, voltei da última ida à Vila Brás com a impressão de que quem mais aprendeu com essa experiência fomos nós, futuros jornalistas.

Escola pede socorro A Escola Municipal de Ensino Fundamental João Goulart enfrenta um grande problema: as pichações. Elas são encontradas nos banheiros, muros da escola e até mesmo nas paredes dos corredores. Professores e a maioria dos alunos estão

Pitaco da editora Rafaela Kley

Com apenas 10 anos, Nathália Luana de Souza Lopes e Miriam da Conceição Novaes foram repórteres por um dia na Vila Brás. Se, no início, meu sentimento era de receio, no ponto final da matéria meus olhos revelavam a

inconformados com toda essa sujeira. “O colégio é como a casa da gente, precisa de cuidados”, reflete a diretora da escola, Gardênia Lara Pacheco. Toda a escola e principalmente os banheiros são limpos toda a semana e mesmo assim sempre estão sujos. A aluna da 6ª série Larissa Steinhaus conta que os alunos picham escondidos, deixando a escola com um aspecto de mal cuidada. “Tem que descobrir quem

vivência inesquecível que tive. Arrisco-me em dizer que, se a experiência delas foi interessante e divertida, a minha foi uma lição de jornalismo. Bastava conversar com Nathália, que sonha em ser estilista ou jornalista, e com Miriam, que quer ser professora de Educação Física, para perceber o

faz isso e punir”, defende a estudante. A conscientização é essencial. “Fico muito triste com esta situação, os alunos precisam se esforçar mais”, ressalta a professora de Artes, História, Ciências e Religião, Mônica Konrath. Temos que saber que estamos sujando a nossa própria escola, que estamos prejudicando a nós mesmos e que precisamos rever nossas atitudes, antes que seja tarde demais.

potencial de ambas. Elas não precisavam que lhe ditassem o passo a passo de uma produção jornalística, o conhecimento estava ali, guardado em suas letras. A infância e o jornalismo resultaram em algo fantástico: essas meninas não escreveram apenas um texto, elas iniciaram uma mudança.

ANA PAULA FIGUEIREDO

N athália L uana de S ouza L opes (10 anos ) M iriam da C onceição N ovaes (10 anos )

Nathália reclama das pichações nos banheiros


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

ENQUETE Você acha o Enfoque Vila Brás importante? Por quê? Texto: Roberta Roth Fotógrafo: Daniel Nunes

Porque é possível aprender brincando MAGDA MARQUES

Carlos Alberto Dias, 53 anos, aposentado

“Acho importante porque fala das necessidades da Vila.” Raul Danilo Berlitz, 43 anos, comerciante

Cléberson Ricardo Porto, 30 anos, operador de máquina “Porque a gente fica sabendo dos problemas e das coisas boas que acontecem aqui.” Márcio Pinheiro, 24 anos, carpinteiro “Para o bairro ficar informado. Para saber o que está sendo feito. Temos muitos problemas e o Enfoque é importante para isso.” Maykon Caon, 13 anos, estudante

“O Enfoque divulga melhor a Vila.”

Rogério Bernardes

Programa Mais Educação contempla 150 estudantes da Vila Brás

Bernadina Nogueira de Oliveira, 50 anos, aposentada “As pessoas comentam o que está faltando. E também há bastante coisa para as crianças.”

“Traz notícias para todo o povo. A gente conversa sobre os assuntos. É bem diferente de uma notícia que corre na vizinhança. E, para as pessoas que não tem informações, é uma vantagem.”

Quem foi Leopoldo Wasun?

Alunos exibem com orgulho os trabalhos realizados nas oficinas da Escola João Goulart Patrícia Oliveira

H

á um ano, os alunos da Escola João Goulart participam de uma atividade que alia aprendizado, diversão e valorização da autoestima. Com o Programa Mais Educação, os participantes do projeto apresentaram para a comunidade a criatividade que existe dentro de cada um. O Mais Educação é uma parceria do Governo Federal com o município, no qual os alunos realizam oficinas em turno inverso das aulas. Na escola, são 150 estudantes que participam das atividades oferecidas: português, matemática, dança, canto, taekwondo, reciclagem e recreação. “A iniciativa surgiu para melhorar o aprendizado do aluno e reduzir o índice de reprovação”, explica a coordenadora do projeto na escola, a professora Raquel Fagundes. Com o objetivo de mostrar um pouco mais do que é feito nesse projeto, os alunos apresentaram suas habilidades na Feira Pedagógica, um evento que acontece no sábado e envolve toda a comunidade. Artigos de utilidade e decoração como regador, fruteira,

lixo, pufs, jogos didáticos, entre outros objetos produzidos com material reciclado, foram expostos em um estande. A oficina de reciclagem é uma das mais procuradas e visa despertar a conscientização dos estudantes, que aprendem desde a separação dos detritos até utilizá-los de forma criativa e produtiva. “Reaproveitamos todo o material que iria para o lixo, como vidro, jornal e plástico e o transformarmos”, destaca a monitora das oficinas e também professora, Flávia Vargas. Para os alunos, essa é uma alternativa para aprender, de forma lúdica, lições que levam para a vida toda. João Francisco Gabriel, de nove anos, participa de diferentes oficinas. “Aprendi a me defender dos outros na oficina de taekondo e também reciclar o lixo, na de reciclagem.” Flávia ainda destaca que as oficinas são de grande valia para o aprendizado dos alunos e que eles correspondem de forma satisfatória. “É gratificante ver os trabalhos deles, feitos com maior cuidado, expostos para todos verem”, revela.

Da aula para a exposição Gustavo Alencastro Há pelo menos 10 anos, os alunos da Escola João Goulart têm a chance de expor os trabalhos desenvolvidos em aula, graças à Mostra Pedagógica. A exposição apresenta maquetes sobre o meio ambiente, produtos feitos de material reciclável, releituras de quadros de Van Gogh, fotografias tiradas pelos próprios alunos. A professora Letícia Lauzer trabalhou o tema “Elementos visuais” a partir de um caixote de madeira. A intenção era que as crianças entendessem as formas e sua disposição no espaço: linhas, limites e ângulos. Luane Soares, 14 anos, aluna da sexta série, comenta: “Aprendi a usar martelo e pregos. Com 15 colegas, construímos essa estrutura”.

Leopoldo Wasun dá nome à principal rua da Vila Brás. A via é o coração do local com diversos comércios, como supermercados, farmácias, açougues, lojas de roupas e vários outros empreendimentos que tocam a vida das pessoas. Mas quem foi Leopoldo Wasun? Na odisséia em busca desta resposta, teve início a conversa com alguns moradores da Vila, que disseram desconhecer quem pode ter sido esse personagem. “Moro aqui faz 17 anos e não faço ideia”, comentou Zenir Pedro Buratti. Nenhum registro sobre ele foi encontrado na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de São Leopoldo, nem na Câmara de Vereadores ou no Museu Histórico Visconde de São Leopoldo. O historiador Germano Melik e Gillson Justino da Rosa, um dos maiores genealogistas do Rio Grande do Sul, não conseguiram resolver o mistério. Por fim, o historiador Rodrigo Trespach deu um alento e revelou quem pode ter sido Leopoldo Wasun, homem que dá nome a uma rua, mas que, infelizmente, ninguém sabe dizer quem foi. Segundo Trespach, Leopoldo Wasum (1891-1959) nasceu em São Leopoldo e fixou residência em Novo Hamburgo. Era proprietário de um salão de baile no bairro Santo Afonso, o “Salão Wasum”, que hoje pertence à Sociedade Sempre Viva. Possuía também uma cancha reta para corrida de cavalos. Sem muitas opções para divertimentos na época, esses eram dois importantes locais de recreação para a população do bairro e da Cidade.


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Falta de policiamento preocupa Delitos acontecem diariamente na Vila, guarda municipal culpa a falta de efetivo em São Leopoldo Luciano Nunes segurança pública é um assunto preocupante em todo o país. Diariamente, é possível assistir na televisão a notícias envolvendo assassinatos, assaltos, entre outros crimes. Na Vila Brás não poderia ser diferente. A localidade sofre também desse problema. O bairro já presenciou dois assassinatos nos últimos dois meses. O primeiro aconteceu no início do mês de agosto, e contabilizou um homem ferido e outro morto com cinco tiros. No incidente mais recente, dois homens começaram a atirar contra outros três, que estavam em um bar, na Avenida Leopoldo Wasun. As três vítimas foram atingidas e uma acabou não resistindo aos ferimentos. Segundo informações colhidas com alguns moradores que preferiram

TAÍSSA BACH

A

não se identificar, a falta de agilidade do atendimento policial é uma das causas desse número expressivo de crimes cometidos no bairro. Uma comerciante local ainda acrescentou que pequenos delitos, como agressões, acontecem com muita frequência, principalmente no horário de saída dos estudantes da Escola João Goulart. Coincidentemente, no mesmo dia da visita dos alunos da Unisinos à Vila Brás, estava passando uma viatura da Guarda Municipal de São Leopoldo pelo bairro. Os vigilantes relataram a dificuldade que enfrentam, diariamente, para tentar manter a ordem pública. Os guardas civis municipais não possuem o mesmo poder que os oficiais da Brigada Militar, o que os impossibilita de realizar alguns tipos de abordagens. A Guarda Municipal

realiza patrulhas rotineiras na Vila Brás, no mínimo duas por dia. Ainda estão presentes sempre que solicitados pelo número 153. O policiamento não

pode ser intensificado devido à atual falta de efetivo na polícia, situação pela qual grande parte dos municípios do Rio Grande do Sul está passando.

Rede de esgoto em foco LEONARDO PEDROSO

O sistema de esgoto da Vila Brás ainda é bastante precário. Os moradores reclamam do mau cheiro e dos animais, como ratos e baratas, que invadem suas residências quando chove muito. Isso ocorre devido ao entupimento dos bueiros e ao alagamento das vias públicas. A cabeleireira Cleusa Terezinha relata que, em dia de chuva forte, as ruas ao redor de sua casa ficam inundadas. Já o comerciante Sérgio dos Santos, proprietário da Fruteira e Mercearia Toró, diz que, para ele, a situação já foi pior. Toda vez que chovia, as baratas invadiam o mercado. Segundo Sérgio, há cerca de cinco meses a prefeitura foi até a Vila fazer algumas arrumações nas bombas que puxam a água para o valãoda Rua 24. “De lá para cá, diminuiu o mau cheiro. Quem ainda sofre com isso são os moradores de perto do valão”, conta Sérgio. O valão é a céu aberto, e o lixo é jogado a sua margem. Melhorias estão sendo

Boas novas na Brás Tarcísio B ertim

Vanessa Lopes Ramos

Alagamentos são frequentes em dias de chuva forte projetadas e realizadas pela prefeitura de São Leopoldo. Uma delas é a obra do Loteamento Padre Orestes, que promete mais comodidade. Segundo a assessora comunitária Letícia Haubert, existe um plano de abertura de uma avenida que vai ligar a Ponte da Rodoviária até Novo Hamburgo, cruzando pela Brás. “Com isso, virá todo o processo de infraestrutura, como esgoto cloacal, rede elétricas, pavimentação e ruas mais bem organizadas”, diz Letícia. O prazo estimado

pela administração municipal para a realização dessas obras é de dois anosou mais. As famílias das Ruas 23, 24 e 25 serão colocadas no Loteamento Padre Orestes. “Na altura dos diques, estaremos reassentando 124 famílias nos próximos três meses’’, estima Letícia. Para a conclusão do Loteamento Padre Orestes serão reassentadas 550 famílias da linha de Extensão da Trensurb. Somente assim, os moradores da Vila Brás terão uma melhor qualidade de vida.

A Guarda Municipal pode ser solicitada pelo número 153

A Vila Brás ainda sofre muito com problemas de esgoto a céu aberto: ruas sem asfalto, moradias precárias, falta de luz, água, e possui apenas uma escola e uma farmácia. Entretanto, o comércio se prolifera no bairro, as obras do trensurb trazem avanços e valorizam os imóveis. Na Brás, nem tudo são flores, mas elas existem. “Lá por 1998, comprei uma estante. A nota já estava pronta, mas quando disse que era para entregar na Vila Brás, eles disseram que não entregavam”, conta Claudemir Schütze, morador da Vila há 19 anos e presidente da Associação de Moradores desde 2004. “Hoje, todos entram aqui, inclusive várias empresas de ônibus”, completa. Recursos federais reformaram a casa de bombas do bairro, o que evita novos alagamentos, coisa que acontecia até

2007. Segundo Schütze, essas melhorias não são de agora: “É um processo que vêm de oito anos para cá”. Outro significativo é a regularização fundiária, que viabiliza as escrituras de casas e terrenos em nome dos seus proprietários. Para o presidente da associação, é apenas uma questão de tempo para mais essa conquista. Os problemas ainda acontecem: alguns moradores reclamam das eventuais faltas de água, luz e também da segurança, como a moradora Cristina Lima Viana, que já sofreu uma tentativa de arrombamento em sua casa, no loteamento Vila Brás 3, construído pela trensurb para retirar as famílias que moravam às margens de onde o trem iria passar. Segundo Cristina, apesar de tudo, a nova moradia é muito melhor do que a precariedade em que viviam antes.


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

A falta que faz uma lixeira Achar um local adequado para descartar é desafio para quem caminha pelas ruas da Vila Brás

C

aminhar pela Avenida Leopoldo Wasun com um papel de chiclete recém consumido, um folheto de propaganda ou um copo descartável é um tormento àqueles que zelam pela limpeza e se recusam a colocar o lixo no chão. Como não há lixeira pública instalada, a saída para os menos conscientes é abominável: descartar tudo à beira da avenida e das ruas da vila. E o resultado é muito lixo acumulado. Os moradores são unânimes em apontar a colocação de lixeiras como uma das soluções para a limpeza da Brás. “Nada impede alguém de levar seu

lixo para casa e não jogar nas ruas, mas sentimos falta de lixeiras apropriadas”, destaca a moradora Tatiana Porto. Pedro Chagas tenta localizar alguma lixeira, mas não encontra. “O pessoal vai colocar o lixo onde? Nas ruas. Tem que haver lixeiras. A vila mais limpa é mais bonita”, opina. Fabiane de Moraes, outra moradora, nota o acúmulo de lixo e também concorda com a instalação de lixeiras públicas. “Sinto falta disso. Na Rua 25, onde moro, também não tem nenhuma”, critica.

GABRIEL GABARDO

Frederico Dilly

Tem gente que larga o que não quer mais na principal avenida da Vila

Depósito irregular na Rua 24

GABRIEL GABARDO

LEANDRO MACIEL

Entulhos entopem as bocas de lobo

A situação fica mais grave quando chove forte D ébora Soilo

Moradores reclamam do acúmulo de dejetos a ceu aberto G uilherme M öller Os moradores da Rua 24 sofrem com um problema constante: o lixo depositado irregularmente. As pessoas que residem no local reclamam principalmente do mau cheiro e da falta de conscientização. Segundo Maria Helena Norberto Machado, residente na Brás há 15 anos, a situação do lixo já ocorre há bastante tempo. “Esse lixo está aqui há muito tempo, o cheiro é horrível e nossa rua fica feia. Gostaria de ver isso

resolvido, fica difícil viver nessas condições”, reclama Maria. Ela explica que a conscientização seria a melhor forma de resolver o problema, porém uma placa de alerta também poderia auxiliar na educação da comunidade. José Natal é vizinho do “lixão”. Ele diz que é uma vergonha a situação. “Antes o caminhão recolhia o lixo, agora ele não passa faz tempo. O cheiro é insuportável, tem até bicho morto jogado aqui”, explica Natal.

Outra moradora da rua, Arani Severo, acredita que o principal problema é nos dias chuvosos. “Vira um barro só. Vem lixo de outros locais e isso prejudica nossa saúde, principalmente para as crianças que brincam no local”, ressalta Arani. O lixo é produzido por toda a comunidade, por isso deve haver uma conscientização geral para eliminar esse problema. É importante que seja depositado em locais adequados, evitando transtornos, como no caso da Rua 24.

A Vila Brás, assim como diversas localidades do Estado, é vítima de alagamentos quando se torna muito grande o volume de chuva. Moradores queixam-se do desleixo de alguns vizinhos que, por jogar lixo pelas ruas, acabam contribuindo para o entupimento das chamadas bocas de lobo. Gilberto Rodrigues Aguiar, 78 anos, e Maria Ondina, 63, são casados e residem há oito anos na Rua das Magnólias. Por diversas vezes o casal se viu em desespero por estar com a casa alagada. “Se chove pode ter certeza que a rua vai virar uma lagoa. Já pedimos que fosse feito uma arrumação nos canos, mas ainda não nos deram retorno algum”, reclama Gilberto.

José Olmiro de Paula, 57 anos, vizinhos dos Aguiar, acompanha a agonia de casal a cada ameaça de chuva. “Como a casa deles é mais baixa, o risco de entrar água é maior. Meu pátio já chegou a alagar, mas graças a Deus dentro de casa nunca aconteceu”, relata. Segundo o morador, nos dias em que chega a chover duas horas seguidas, não há como sair de casa, já que a rua fica totalmente submersa a água. O pedido é por conscientização dos moradores, já que os alagamentos acontecem pelo grande número de lixo que acaba sendo arrastado pela água e, por uma atenção especial da Secretaria de Habitação para a Rua das Magnólias.


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Pedestres versus veículos Mesmo na avenida principal da Vila, que tem calçadas, a maioria das pessoas anda pelo meio da rua

O

s moradores da Vila Brás têm um hábito perigoso. Costumam caminhar na via. Não utilizam a calçada e se expõem constantemente ao risco de atropelamento. Wagner dos Santos, pedreiro refratário, acredita que as pessoas querem correr o risco: “A maioria das ruas é estreita, mas, na Avenida Leopoldo Wasun (que tem quadras com calçamento), as pessoas andam no meio da rua para desafiar o perigo.” Crianças e adultos passeiam pela via, ignorando a calçada, como se estivessem certos. Reclamam quando os carros buzinam ou dão sinal de luz. Miriam Cruz, vendedora da loja RV Cell, diz que os moradores da Vila deveriam mudar seus costumes. “Há mais ou menos um mês, um menino foi atropelado por um carro aqui em frente. Se ele estivesse na calçada, o acidente não teria

ocorrido”, conta. Assim como os motoristas, os ciclistas também enfrentam problemas para se deslocar na Avenida Leopoldo Wasun. A cabeleireira Cleusa Teresinha Vieira leva a filha para a creche de bicicleta. “É complicado. Muitas pessoas têm o hábito de caminhar na rua, e, assim como eu, corro o risco de cair e me machucar, elas correm o risco de ser atropeladas”, desabafa. Outro problema apontado se deve aos carros, que estacionam em cima da calçada. Motos e restos de material de construção muitas vezes também obstruem a passagem dos pedestres. Cleusa afirma ainda que os usuários do transporte coletivo igualmente são prejudicados: “Tem vezes que o ônibus precisa parar depois do ponto, pois tem carro estacionado na parada”. A dona de casa

RAMIRO FURQUIM

F ernanda H errera

Pedestres encontram obstáculos nas calçadas e acabam usando a via para se deslocar Heloísa Maria dos Santos acredita que as pessoas caminham no meio da rua porque as calçadas

têm desníveis, o que dificulta o deslocamento, principalmente dos mais velhos. E, quando a

Telefones mudos incomodam moradores O número de usuários de telefonia móvel aumentou no país. É difícil encontrar quem não tenha hoje o seu próprio aparelho celular, mas muitas pessoas ainda utilizam telefones públicos. Quem alertou para o fato foram Tâmara dos Anjos, de 13 anos, e Ketlyn Abreu da Silva, de 11 anos. As duas garotas, além de sugerirem o assunto, foram responsáveis por nos guiar e entrevistar os moradores. Numa caminhada pela avenida principal, Leopoldo Wasun, de ponta a ponta elas mostram os telefones que apresentam defeitos. Dos oito orelhões existentes ao longo da avenida, apenas dois ainda estão em funcionamento. A maior parte está mudo, sendo três por falta de manutenção, e os outros três depredados. Dona Neusa Nogueira reclama do vandalismo

DéBora Soilo

Lâmpadas em perigo MAGDA MARQUES

Sabrina Schonardie

Postes são alvos de depredação durante a noite Thaís Jobim

Tâmara e Ketlyn mostram orelhões com defeito recorrente: “Eles quebram os telefones públicos por vandalismo e porque não cuidam da Vila”. Mas existem exceções, como o orelhão localizado na calçada em frente à loja Sabrina Modas. “O meu funciona, quando estraga,

eu já ligo para a empresa vir arrumar”, contou Renato dos Santos, proprietário da loja. O resultado do vandalismo e da falta de restauração é que os telefones estão sendo utilizados para colar propagandas e não realizar ligações.

calçada está boa, “os comércios usam o espaço dos pedestres para expor seus produtos”, reclama.

Entre tantos problemas existentes na Brás, a iluminação é aquela que tira o sono dos moradores da Rua R, mais conhecida como Rua Magnólia. A escuridão toma conta da via, pois dois postes estão sem lâmpadas, tornando perigoso o acesso à rua durante a noite. “Muitas vezes, quando voltamos do trabalho, percebemos

que não há mais luz no poste”, declara Lidiane de Souza, que mora há três anos no local. “Necessitamos de uma proteção para as lâmpadas, não adianta a prefeitura vir aqui e atender o nosso pedido, sendo que alguns dias depois vamos ficar sem luz novamente”, desabafa José Olmiro de Paula, que reside há quatro anos no local. “Aqui é bom de morar, o nosso maior problema é a falta de luz.”


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Um eremita contra a poluição Trabalho isolado de bombeiro na estação de tratamento de esgotos da Brás é pouco conhecido pelos moradores de

Carvalho

P

rotegida por um imponente portão trancado com cadeados e administrada por somente uma pessoa. Esta é a estação de tratamento de esgotos da Brás, onde se realiza um trabalho que contribui para a melhoria na qualidade de vida da população. O único trabalhador no local, o bombeiro Agmar Vargas, 50 anos, trabalha todos os dias da semana e administra uma grande estrutura. Moradores como Augusto Martins, 67 anos, carpinteiro, mesmo residindo próximo ao local, pouco conhecem sobre o serviço realizado na estação. “Não sei quase nada sobre o que se passa ali. Apenas sei que desde quando a estação passou a operar, não aconteceram mais alagamentos na região”, afirma Augusto que

reside há cerca de 20 anos na comunidade. A estação é composta por sete bombas que realizam o tratamento de água com uma capacidade de escoamento de aproximadamente 1000 litros de esgoto por segundo. “Trabalho há nove meses aqui e já vi muitas coisas. Não só pelo fato da estação receber detritos provenientes de Novo Hamburgo e de São Leopoldo, mas também pela quantidade de resíduos que são tratados aqui. Até já tirei um sofá inteiro que ficou retido em um de nossos filtros”, conta Agmar. A distância da Avenida Leopoldo Wasun até a estação de tratamento de esgotos é de cerca de dois quilômetros. Entretanto, requer uma boa dose de paciência para atravessar

fabiana eleonora

Adriano

pontes improvisadas e desafiar íngremes barrancos. Um verdadeiro desafio que contribui para o

Dramas de uma moradia irregular Faz cinco anos a hora do banho é quase um martírio para Janaína da Rosa e sua família, que têm de encher baldes para fazer a higiene. Quando chove e esfria precisam aquecer a água no fogão. “É difícil para a gente, pois são três crianças para dar banho, no inverno complica mais”, diz Janaína. Esse drama não é vivido apenas por ela, mas por aproximadamente 19 famílias que residem nos fundos da Rua 26, uma área invadida há quase dez anos. Moradores sofrem com a falta de saneamento básico, e temem algum acidente com a eletricidade, já que o abastecimento de energia elétrica é feito por gato. O sanitário da família Rosa é um enorme buraco no chão. O mau cheiro

é frequente. Em dias de chuva o problema se agrava, pois a água inunda o pátio, trazendo a sujeira. Todos vivenciam dificuldades decorrentes da ocupação de área de proteção ambiental. As moradias irregulares não contam com serviços oferecidos pelo governo. O realocamento das famílias está sendo providenciado. Elas devem receber moradias populares, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), instituído pelo Governo Federal. A transferência começará a ser realizada a partir de junho de 2011, segundo a secretária municipal de Habitação, Isabella da Costa Albrecht. Mas os moradores não confiam na promessa. “Sempre que procuramos a prefeitura, o que nos mandam fazer é esperar”, reclama Janaína.

KENIA FERRAZ

A falta de saneamento dificulta o acesso às casas

Agmar já encontrou um sofá inteiro no canal de tratamento d’água

Onde pagar as contas? TAMIRES GOMES

Miriam Moura

afastamento da comunidade e dificulta o entendimento da população sobre o que acontece no local.

Neuza Nedich precisa ir a outro bairro para colocar as contas em dia Rodrigo Rodrigues Onde pagar as contas? Para os moradores da Vila Brás, a resposta não é das mais agradáveis. Para pagamento de faturas que estão por vencer, é necessário se deslocar ao Centro de São Leopoldo, em agências bancárias, ou ao bairro Scharlau, em lotérica distante cerca de três quilômetros. Tempo e dinheiro, no caso da passagem do transporte, gastos para pagar vencimentos de água, luz e cartões de crédito, por exemplo. “Seria uma boa ter uma lotérica por aqui, faz falta para nós”, relata a moradora Neuza Nedich, 37 anos.

A vida seria facilitada para ela e toda a comunidade. A moradora lembra que a Brás tem de tudo; mercado, ferragem, farmácia; menos uma lotérica. Em seguida indaga: “Se abrisse, ia durar?”. O temor é compartilhado pelo comerciante Neri Souza, 32 anos, dono de um minimercado na Avenida Leopoldo Wasun. “Já pensei em montar uma lotérica, mas é muito investimento, principalmente em segurança”. A rotatividade de dinheiro atrairia assaltantes. O comerciante também enfrenta distâncias para pagar suas contas. “Toda a semana tenho que ir pagar na lotérica do bairro Scharlau”.


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Procura por móveis cresce e incentiva os negócios Produtos novos e usados podem sair mais em conta em lojas menores

Q

uem nunca comprou um roupeiro ou armário de cozinha e ficou dias esperando que a loja mandasse uma pessoa à sua casa para montar? Comprar numa loja menor pode ser mais simples. O Brick Leiria, do casal Claudete e Carlos Leiria, é uma das únicas lojas de móveis da Brás. O negócio começou há seis anos, quando os proprietários, que moram em Novo Hamburgo, alugaram uma lojinha na avenida Leopoldo Wasun e, com apenas R$ 400 de capital, colocaram quatro móveis à venda. As peças foram vendidas rapidamente, e o negócio cresceu: o Brick já trocou de ponto duas vezes desde então, sempre ocupando lojas maiores na mesma avenida. Segundo Claudete, eles começaram vendendo móveis usados, mas hoje os produtos

novos dão mais lucro. “Colocamos o preço sempre abaixo das grandes lojas, com descontos para quem paga à vista e parcelamento para vendas a prazo”, diz. Carlos aponta outras vantagens em comprar numa loja pequena: “Fazemos a entrega e a montagem no mesmo dia, sem cobrar frete”. Roupeiros, colchões e beliches estão entre os itens mais procurados no local. Carlos diz que o movimento do bairro é bom para as vendas, mas para morar, nem tanto: “Preferimos um local mais sossegado”, afirma o proprietário. O objetivo, diz Claudete, é crescer mais. “Estamos sempre investindo o que ganhamos. Queremos comprar um terreno e construir um prédio bom para a loja”, conta. Eles também planejam ampliar a oferta de produtos, colocando à venda eletrodomésticos, como

tanquinhos de lavar roupa e fogões.

Claudete Leiria à frente do negócio que construiu com o marido, Carlos

Remédios só aqui SUELLEN DAL’AGNOL

Farmácia Sulbrasileira localiza-se na entrada da Vila Suélen F austte D al ’A gnol Com diversos brechós, mercados e lojas em geral, os moradores da Vila Brás contam com apenas uma farmácia. Localizada na Avenida Leopoldo Wasun, na esquina com a Rua Rio Grandino Ferraz Kruel, a Farmácia Sulbrasileira é a única opção para as pessoas que procuram por medicamentos,

perfumaria, artigos para beleza e higiene pessoal na localidade. Instalada há 15 anos, a farmácia procura atender não apenas a Vila Brás, mas também as regiões próximas ao bairro. De acordo com o funcionário Nelson Oro, 22 anos, o local foi escolhido devido à grande circulação de pessoas. “Somos poucos funcionários e, apesar do movimento ser bom,

luana elias

Priscila Zigunovas

conseguimos atender a demanda”, afirma. Há quatro anos foi implantado o serviço de tele-entrega gratuita, realizado por uma empresa terceirizada. Os produtos mais procurados são remédios anticoncepcionais e artigos de perfumaria. Oro ressalta que “a falta de movimento no centro do bairro” é o principal motivo de existir apenas uma drogaria.

O celular como meio de vida H ector M oraes Em 2001, Dílson Alves Viana fundou a Tele Dil Celulares no terreno de sua casa, na rua dos Lírios, 78. Com o crescimento do negócio, chegou a abrir e administrar oito lojas localizadas em diferentes municípios, como Sapiranga, Novo Hamburgo e até mesmo Porto Alegre. Hoje ele está aposentado e passou a administração para filhos e parentes, que ainda mantêm quatro lojas em funcionamento. “Apenas acompanho o trabalho deles hoje em dia, já não tenho mais nenhum envolvimento”, afirma. Atualmente, seu genro, Volnei da Silva Fagundes, morador da Vila desde

2005, administra a loja de São Lepoldo. É ele quem atende aos clientes e concerta os celulares. Assim como Dílson, ele fez um curso de especialização para aprender a consertar os telefones. Os valores e o tempo de entrega variam de acordo com cada concerto “depende muito da peça que precisa ser trocada”, afirma Volnei. A loja recebe aproximadamente 50 clientes por mês, sendo que a clientela não se resume apenas a residentes da Vila Brás. Segundo Dílson, moradores de Montenegro, Esteio, Sapucaia e de Salvador do Sul procuram os serviços da Tele Dil Celulares.


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Acesso à própria casa Pessoas com dificuldade de locomoção ganham residências especiais em novo loteamento sanchez

S

omente a expansão dos trilhos do trem e a construção de uma estação sobre a Avenida Mauá, em São Leopoldo, foram capazes de proporcionar uma moradia digna para algumas famílias da Vila Brás. O Loteamento Brás 3 foi construído com dois tipos de habitações. Além dos sobrados, que são maioria, algumas casas foram feitas para pessoas com necessidades especiais e dificuldade de locomoção. O aposentado Godolfino Brito, 84 anos, é um morador de uma destas casas adaptadas. Complicações renais, baixa circulação sanguínea na perna e dores na coluna dificultam sua locomoção.

O número 71 da Rua 8 do Brás III é seu endereço. Casado há 14 anos com Eva Alves de Vargas, 56 anos, ele comemora o novo lar. “Lá (antiga casa) nem banheiro tinha. Aqui está tudo instalado”, revela. Até abril deste ano, Brito e a esposa moravam em situação precária na Avenida Mauá. As casas dos loteamentos construídos para as famílias removidas têm, em sua maioria, de dois pisos. Os 42 metros quadrados são padrão. A diferença nas casas especiais começa pela sua construção térrea. A entrada principal é seguida de uma rampa com corrimão. Ao final deste corrimão, a porta é alargada para o acesso fácil de uma cadeira de roda.

Outro detalhe são os banheiros, referidos por Godolfino. Três corrimãos de 80 centímetros foram colocados nas paredes próximos ao vaso e o chuveiro. Mesmo com a facilidade no banheiro, o aposentado não dispensa a ajuda da mulher. “Na maioria das vezes eu tomo banho sozinho. De vez em quando eu chamo ela pra me ensaboar”, brinca sendo observado por Eva. A remoção para o loteamento só virou realidade porque uma obra maior precisava passar no antigo endereço. A remoção das pessoas e a construção foram arcadas pela Empresa de Trens Urbanos (Trensurb) como solução para iniciar a obra de instalação da estação Rio dos Sinos.

fERNANDA mANDICAJU

G uitiéri

Com rampa e corrimão, entrar na própria casa fica mais fácil para Godolfino

Menina cadeirante terá moradia adaptada Matheus Cardoso KENIA FERRAZ

Após anos de espera, Marlei Osório Gamarra, de 33 anos, conseguiu através do Projeto Minha Casa - Minha Vida, uma nova residência para abrigar sua família e principalmente sua filha Katiúscia Gamarra da Rosa, hoje com 12 anos. Nascida prematuramente aos cinco meses de gestação, Katiuscia é hoje uma das poucas cadeirantes da Brás. A nova casa, prometida para 2011, deverá ser entregue construída totalmente adaptada

Na pequena casa em que mora, Katiúscia não pode usar a cadeira de rodas

para o seu fácil deslocamento. Atualmente, além de morar com os pais, a menina divide os espaços da pequena residência em que vivem com mais três irmãos, Jéssica, 17 anos, Kauane, 14 e Raul, oito. Katiúscia desloca-se de um cômodo a outro andando de joelhos no chão, visto que não há espaço para a cadeira de rodas. Segundo Marlei sua filha está sempre machucada, com ferimentos causados por ter que andar se rastejando. No seu dia a dia, Katiúscia frequenta a terceira série do

Ensino Fundamental, assiste à TV, ouve músicas e brinca com seus animais de estimação. Contudo, dentre essas atividades, conforme relata a mãe, é na escola que a menina sofre o maior descaso. “Se não fossem os coleguinhas, ela não conseguiria fazer nada. Os professores não a ajudam. Para eles ela é como um vaso no canto”, queixa-se. Apesar dos problemas enfrentados na escola e dos diretamente causados pela doença, Katiúscia aguarda com entusiasmo a nova moradia.

Um obstáculo a cada quadra Vanessa Wagner Cadeirantes não contam com a acessibilidade indispensável para o deslocamento em vias públicas. Calçadas sem rampas estão entre as principais barreiras encontradas na Brás. “É quase impossível sair sem ajuda de outra pessoa”, conta Fabiana Larissa da Silva, 14 anos, dependente

da cadeira de rodas há 12. Segundo a jovem, a alternativa é transitar pela rua. “Imagina ter que pedir para alguém levantar a cadeira a cada quadra”, argumenta. Entulhos e outras obstruções acentuam os problemas de pessoas com dificuldade de locomoção. Materiais de construção, placas e até lixo são deixados nas calçadas.

“Se para quem não precisa de cadeira já é complicado, imagina para nós”, desabafa Fabiana. Com as muletas, que lhe acompanham há anos, Adão Soares dos Santos, 51, enfrenta os mesmos obstáculos: “Acaba sendo mais fácil andar na rua, só tem que cuidar os carros”. Eduardo Oliveira, agente de fiscalização da Prefeitura Municipal de

São Leopoldo, informa que a responsabilidade pela construção e conservação das calçadas em frente a edificações é do proprietário, sob pena de responsabilização caso ocorra algum acidente. Ainda segundo o fiscal, a construção de rampas em esquinas, determinada por lei, cabe ao proprietário no caso de calçadas a serem construídas e à

Prefeitura nas calçadas existentes. Oliveira afirma que, no centro da cidade, a Prefeitura já realizou obras de adaptação. No entanto, não há previsão para o início do trabalho na Brás. Denúncias de obstruções e irregularidades no uso, conservação e construção de calçadas podem ser feitas pelo telefone 181.


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Três chapas concorrem à direção da Escola João Goulart Estudantes, pais, funcionários e professores escolhem candidatos de sua preferência em eleição no dia 12 de novembro

FABRÍCIO PRETO

Fabrício Preto

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o próximo dia 12 de novembro a comunidade da Escola Municipal de ensino Fundamental João Belchior M. Goulart terá importante papel. Neste dia acontece a eleição da nova direção da escola, dando a oportunidade para o exercício democrático de escolha do candidato. Podem votar os alunos a partir da 4ª série, pais, funcionários e professores. Dentro deste processo de eleição, existem 3 chapas que concorrem à direção. Para o professor Cláudio Hatje, candidato da Chapa 1, é preciso envolver a comunidade da Vila Brás nas ações da escola. “Temos diversas atividades acontecendo com nossos alunos. Os pais são essenciais nesse processo de educação”, fala Cláudio. Segundo a atual vicediretora, Juliana Garbin, candidata da Chapa 2, no histórico da escola

sempre houve eleição com chapa única, tendo pouca participação dos pais no processo de eleição. “Essa é a oportunidade de assumirmos efetivamente nosso papel na

escola”, diz Juliana. De acordo com a professora Raquel Hech, candidata da Chapa 3, mais importante do que o direito de votar é expressar o

De empregado a empregador Pedro Luis Bicca Para superar o desemprego, Zenir resolveu apostar toda sua economia na montagem de uma lancheria. Venceu os problemas e conseguiu manter o negócio aberto durante todo esse tempo. Passou de empregado a empregador. Há pouco mais de 18 anos, Zenir Pedro Buratti, 51 anos, mudou-se de Caxias do Sul para a Vila Brás. Junto com a esposa Eva, enfrentou dificuldades financeiras na chegada. Com pouco dinheiro e sem ter emprego fixo, sustentou a casa fazendo alguns bicos. Depois de um tempo conseguiu trabalho em uma fábrica de acessórios para produção de calçados em Novo Hamburgo, onde ficou por quase 15 anos. Mas há dois anos a crise levou a indústria à falência e Zenir ao desemprego.

Apertado com as contas e sem emprego, recorreu a uma alternativa muito utilizada pelos moradores da Vila Brás: montar um negócio próprio. “Foi muito difícil, passei muita necessidade. Hoje os problemas são outros, muito distantes daquela época em que vim para cá. Hoje, com a graça de Deus, me encontro mais estável. Já consigo sustentar a casa, e colocar as contas em dia”. O comércio ao longo da Avenida Leopoldo Wasun é bem amplo, mas com pouca diversidade: bares, lanchonetes e minimercados destacam-se com preços acessíveis para o custo de vida dos moradores do local. Desta forma, a comunidade produz e consome seus produtos, girando capital dentro da própria vila e criando oportunidades de emprego.

pensamento. “Democracia acontece em conjunto. Quando a maioria decide, há que se fazer um esforço para que o trabalho aconteça”, opina Raquel.

Crianças a partir da 4ª série têm direito a voto

Oito anos de luta, sem perder a alegria C ecília M edeiros Com um sorriso no rosto, batendo palmas e chamando por Joaquina, a equipe de Estratégia de Saúde da Família chega à casa do casal Joaquina e Teobaldo Scheer para realizar um atendimento do Posto de Saúde Vila Brás. Teobaldo, 76 anos, sofre de leucemia há oito anos. Durante o atendimento, a médica Lisiane Machado da Silva verifica a pressão arterial, faz a ausculta pulmonar (utilizando um estetoscópio) e dá orientações sobre cuidados com a alimentação. Ao final da consulta, entrega a prescrição do tratamento. No posto de saúde, Rosane Mello contou que Teobaldo chegou com parada cardíaca e que a equipe acreditava que ele não resistiria.

No entanto, ele foi atendido a tempo e encaminhado para o hospital. O posto recebe a informação das famílias através do agente de saúde que faz o acompanhamento. O atendimento é mensal, por isso cada agente visita cerca de 120 famílias por mês. “É muito bom poder ter um acompanhamento em casa, assim não preciso deixá-lo sozinho para marcar consulta”, diz Joaquina. Por ser idoso, Teobaldo tem atendimento prioritário. Com o acompanhamento a família fica mais segura e segue as orientações da equipe médica. Na despedida, a equipe reforça a importância de se manter afastado do tabagismo. Assim, mais uma visita da Estratégia da Família da Brás chega ao fim.


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Costurando ideias

Sirlei dos Santos faz sucesso vendendo tapetes artesanais confeccionados por ela mesma

Porto Alegre, entre outros. A habilidade de Sirlei para irlei dos Santos, moradora costurar vem desde criança, há 22 anos da Vila Brás, quando ainda morava na encontrou na costura uma cidade de Vicente Dutra. oportunidade para sua vida. Ganhou sua primeira máquina Trabalhou durante quatro e começou a criar roupinhas anos na Escola Municipal João para suas bonecas. “Era Goulart como merendeira. uma máquina velha, mas me Quando decidiu sair do ajudou a aprender o que faço emprego, não sabia ainda o hoje”, lembra Sirlei. que fazer para ter uma renda Os tapetes são tão novamente. Foi quando sua requisitados que ela não amiga Neiva Pons, também consegue trabalhar com costureira e moradora da pronta-entrega, somente com Brás, sugeriu encomendas. que começasse O diferencial a fazer tapetes dos tapetes é para vender, que eles podem ...que confeccionar um como ela fazia. ser feitos com tapete de 150 por 80 Com a ajuda formas, desenhos centímetros consome e a indicação e tamanhos um dia e meio e seis de Neiva, Sirlei variados, como metros de tecido? começou a borboletas, fazer sucesso flores, sapos, com seus tapetes. “Eu e bolas de futebol, etc. Neiva trabalhamos até hoje Confeccionados com retalhos em parceria, quando estou de poliéster, os clientes com muitas encomendas peço podem também escolher as ajuda para ela”, diz. cores dos tapetes. Hoje, Sirlei dedica-se em A costureira conta com tempo integral à confecção dos uma ajuda valiosa: a de tapetes. Com quase um ano e sua mãe, que já tem 90 meio de prática, além de fazer anos, “Ela é quem me sucesso na Brás, ela já vendeu ajuda a cortar e separar os para vários lugares diferentes, tecidos”, conta Sirlei ao como: São Paulo, Sapucaia, abraçar sua mãe.

PEDRO BARBOSA

Clarissa Figueiró

S

Você sabia...

A costureira Sirlei dos Santos mostra, com orgulho, como se faz um tapete para banheiro

Dicas da Sirlei A primeira dica para você fazer um bom trabalho é gostar do que está fazendo. Para você confeccionar um tapete como esses, precisa tomar cuidado com os detalhes:

(1) Você precisa cortar tiras de tecido com mais ou menos três centímetros de altura; (2) Deixe a costura bem no meio das tiras; (3) Cuide para ir sempre franzindo o tecido.

Insatisfação com a política Quando elas se ajudam incentiva mudança Liane Priscila Rodrigues

Roberto Ferrari A dificuldade a direitos básicos para viver já tirou as esperanças da costureira Nercire David, de 42 anos, de continuar morando na Vila Brás. Sua história na localidade iniciou há cerca de 22 anos, quando veio de Campo Bom junto com a sua família. Hoje, vive com a filha de 21 anos e, mesmo somando bastante tempo de residência, não deseja permanecer na Brás. “Eu, que vivo aqui, sinto a insegurança diária. Não vejo melhoras. O máximo que acontece são promessas de melhorias. Não mais que isso”. Não é somente a segurança que Nercire critica. Segundo ela, os postos de saúde próximos também são insuficientes para atender a população, principalmente por causa dos horários de atendimento. “Eles fecham muito cedo”, justifica. A atuação de políticos na

região também é criticada pela costureira. “Eles vêm aqui, prometem, mas, passadas as eleições, eles somem. Só se aproveitam do dinheiro público e a população pouco ganha”, afirma. Nercire diz estar FERNANDA MANDICAJÚ

A ideia de criar um projeto social que valorize profissionais que estão fora do mercado de trabalho já permeia os pensamentos das mulheres na Brás. A assistente social e moradora da Vila há 30 anos Elenara Soares é uma dessas mulheres que pretende dar nova perspectiva à vida de tantas outras. Segundo ela, a proposta tem o objetivo de valorizar o trabalho desempenhado pelas mulheres na comunidade, resgatar a auto-estima, oportunizar que as participantes do projeto possam ter uma fonte de renda alternativa dentro do próprio bairro, já que dificilmente podem sair para exercer a atividade desenvolvida. “As pessoas querem o imediato, mas o processo é lento” ressalta Elenara, que justifica a dificuldade de

colocar esse e outros projetos sociais em prática, porque o bairro não dispõe outros espaços. A associação atende parcela da população da Brás, mas não consegue ampliar para outras áreas como intenciona a moradora. Buscar parcerias com a cidade de São Leopoldo e até mesmo a Unisinos está sendo discutido entre as idealizadoras do projeto que atualmente conta com quatro costureiras e duas auxiliares. A sede provisória localizada na Avenida Leopoldo Wassun, número 1.431, é pequena e com pouca estrutura, mas com o intuito grandioso de investir nessas mulheres. Apesar das dificuldades, são moradores que lutam para vencer a batalha da desigualdade social e de gênero que marcam o histórico das vilas gaúchas. Conforme Elenara relata, isso tem tudo para dar certo: “O trabalho é coletivo. Uma ajuda a outra”.

decepcionada com a política. Na última eleição, apenas votou para presidente. “Anulei o voto para os outros cargos. E se as coisas não mudarem nos próximos quatro anos, não pretendo nem votar mais. É frustrante”. Apesar dos fatos levantados, a costureira ainda aposta numa vida com mais dignidade. Porém, essa vida, no entender dela, ainda passa longe da Vila Brás. “Sonho morar em Belo Horizonte”, revela. “Gosto da cidade, já ouvi falar muito bem dela. Talvez lá seja melhor do que aqui. É só surgir a oportunidade para me mudar. É a minha esperança”.

Nercire diz que os políticos não atendem os anseios da população


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CRISTIANE ABREU

Uma centena de histórias

Ao lado da filha e dos bisnetos, Idalina descansa no pátio

Quase no fim do beco, Idalina Soares da Rosa é a testemunha lúcida de mais de um século de vida Stéfanie Telles

M

ãos pequenas, inquietas, calejadas de uma vida trabalhando arduamente na roça. Olhar distante e encoberto devido à perda da visão do olho direito. Um cenário simples. Sentada na cama, de camisola, meias cor-de-rosa e uma faixa segurando os longos cabelos brancos, assim me recebeu Idalina Soares da Rosa. Uma pequena senhora de incríveis 105 anos de idade. Há 20 anos na Brás, sendo

certamente a moradora mais velha da Vila, Dona Idalina vive seus dias no beco de número 116. Cuidada pela filha, Maria de Fátima Camargo, e pela neta, Raquel Madalena, passa seus dias curtindo os netos e bisnetos, seu cachorro e enfrentando os problemas de saúde decorrentes da idade avançada. Nascida em Vacaria, Idalina perdeu a mãe no parto e foi criada pelos avós. Casou-se cedo, aos 15 anos. Teve 13 filhos de dois casamentos e já perdeu a conta de quantos netos e bisnetos tem, pois muitos não chegou a conhecer. De descendência

alemã e bugre, o que, segunda ela, justifica o sangue forte, Dona Idalina está lúcida, caminha bem, e muitas vezes sai de casa para ir até a Rua 26. “Às vezes ela foge da gente, vai lá na rua atrás dos filhos”, diz a filha Maria de Fátima. Não sabe ler nem escrever, mas faz contas de cabeça facilmente. Possui uma memória invejável, conta histórias da revolução de 1923, entre ximangos e maragatos, e das fugas enfrentadas pelos homens e mulheres de sua família. Quando relembra o passado, o brilho nos olhos reaparece naturalmente: “Antigamente

Camila Nunes Edi de Fátima Antunes e Carmem Leote da Silva se conheceram em 1985, quando ambas foram morar na Vila Brás. Desde então, as duas famílias nunca mais se separaram. Keli Caroline Rufino e Márcia Leote da Silva Flores, as filhas de Carmem, completam o grupo de amigas. A casa de Edi é o ponto de encontro da turma, que se reúne

para divertidas rodas de chimarrão, churrascos, galetos. As quatro fazem questão de botar a mão na massa: arroz, salada... Cada uma colabora com o que pode. Como toda boa amizade, a cumplicidade entre o grupo também se manifesta em momentos difíceis. Há cerca de três meses, Carmem perdeu o marido em virtude de uma cirrose hepática. Poucos dias antes de ele morrer, o casal havia

oficializado o casamento. A dor da perda quase não permite palavras. Em meio à emoção, Márcia apenas consegue expressar gratidão à comadre Edi pelo conforto. Uma relação, definida pelas próprias, baseada no mais profundo amor, carinho, união e companheirismo.

Edi (ao centro) abraça as filhas de Carmem

JOÃO PEDRO ZANDONAI

Irmãs de afeto

os tempos eram melhores, as pessoas passavam trabalho, mas eram felizes”, diz Idalina. Ao lembrar de sua juventude, anima-se ao contar dos bailes que ia com a prima, nos quais sempre chegava cantando, outra das coisas que amava fazer. “Aproveitei a vida! Ia nas festas, nos bailes, mas namorar era pouco, namorei apenas duas vezes”, confessa. Quando questionada sobre o que ainda deseja depois de 105 anos de história, Dona Idalina é modesta: “Desejo saúde para ter ao menos mais um ano de vida”.


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A mãe de todos os cães Resgatados do abandono e dos maus tratos, cachorros tornam-se novos integrantes da família

O

terreno é dividido por três pequenas casas de madeira. Aos fundos, um telhado improvisado abriga materiais recolhidos pelas ruas da Vila. Um fogão, apoiado numa das paredes, integra o cenário externo das moradas. Há, ainda, um sofá de cor azul, parcialmente rasgado, que evidencia os efeitos da chuva e do sol. Mas, apesar de estar rodeado por todo tipo de lixo, o local onde Eloir dos Santos mora chama a atenção por outro motivo: seus animais de estimação. Ao todo, são seis cachorros, três patos, um gato e um cavalo. Em meio ao pátio, o sofá serve como cama a alguns cães. O fogão abandonado apenas ilustra as condições econômicas de Eloir, de 52 anos, que vive como artesã. Ela e os dois filhos recolhem materiais jogados no lixo com o intuito de

aproveitar algum objeto para uso pessoal. O hábito deu espaço à adoção dos bichos. Eloir conta que durante a infância e parte da adolescência, na cidade de Chapecó, em Santa Catarina. Se mudou para São Leopoldo depois de se casar e, desde então, há cerca de 20 anos, protege os animais que vivem nas redondezas da sua casa: “Tem gente que larga os cachorros na rua para morrer”. O apego pelos cães é reflexo dos maus tratos que ela presenciou. “Eles amarravam uma corda no pescoço dos bichos e penduravam numa árvore”, desabafa. Mesmo sem muitos recursos para viver, Eloir faz questão de dividir a comida da família com os animais. Ainda assim, não pode fazer tudo que gostaria. Falta dinheiro, por exemplo, para vacinar os mascotes da casa. Por isso, alguns cães sofrem

FABIANA ELEONORA

Luan Iglesias

com doenças e infecções. São dificuldades que Eloir tenta superar com dedicação e carinho transmitidos aos cachorros Pitoco, Piti, Brazina, Lenez, Neguinha e Faísca.

É um amor de mãe que, por meio dos animais, lhe ensina uma lição: “O ser humano tem maldade. Se ele puder tirar a vida dos outros, ele tira. O animal não faz isso”.

FOTOS SUÉLEN dAL’aGNOL

Esperta pra cachorro Priscila Carvalho Sem querer, ela impressiona cada um que chega à agropecuária Terra Nativa. Não fala com os clientes, mas é muito simpática. Não sabe contar dinheiro, mas entrega o troco certinho. Não tem idade para trabalhar, mas é uma ótima funcionária. Seu nome é Fusi, uma cadela de apenas três anos. O proprietário da loja e dono do animal, José Ernesto Hoch, 55 anos, foi quem ensinou Fusi. Ela foi comprada muito debilitada, quando tinha apenas 35 dias. “Eram nove filhotes e ninguém queria pegar ela, porque estava doente”, conta José. Ele comprou a cadela e tratou de seu problema. Hoje, a esperta cachorrinha ajuda o comerciante no seu negócio. “Ela me traz o dinheiro dos clientes, leva o troco para eles e também pega o jornal de manhã”, salienta José.

Segundo ele, quando chega alguém à noite, Fusi leva o produto solicitado e traz o dinheiro da entrada da loja para o dono dentro do pátio. O pagamento por tanta dedicação? Biscoitinhos. Sempre que termina sua tarefa, a cadela logo chega perto do pote em cima do balcão e começa a latir para ganhar sua recompensa. José conta que, quando

Fusi teve que ficar internada em uma clínica veterinária, demonstrou gratidão aos veterinários que a trataram. “Ela foi em todas as salas para agradecer aos ‘médicos’ que cuidaram dela”, afirma. O dono da agropecuária diz que a cadela “só não fala, mas é quase gente”. Sobre sua amizade com Fusi, José comenta: “Ela é minha parceira”.

Desfrutando do conforto do sofá, os animais recebem o carinho de Eloir

Fusi, a cadelinha da agropecuária, recolhe o jornal, ganha biscoito e posa para a fotografia


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São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

Bom, barato e saudável

Almôndegas

de carne com legumes

Moradores da Brás têm opção de comprar refeição saudável e saborosa por apenas R$1

A

dona de casa Olga do Nascimento Ribas vende diariamente refeições a apenas R$ 1. Viúva há 10 anos, achou na culinária uma ocupação e uma forma de ajudar as pessoas com uma alimentação saudável e barata. Quando viajava com o marido, observava que alguns restaurantes vendiam comida a R$ 1,99, daí a ideia do valor do prato. Desde que começou a comercializar os almoços, Olga já fez dois cursos de culinária, no Senac e no Senai. Todos os dias, cerca de 60 pessoas compram seu almoço. Como em sua casa não tem espaço para servir as

refeições, as pessoas trazem seus potes ou pratos e levam a comida para casa. Olga conta com a ajuda, quase diária, de sua vizinha para preparar as refeições. A dona de casa Edi Fernandes, que já foi cozinheira em outros restaurantes. Entre suas receitas mais apreciadas, estão o churrasco e o risoto de coração de frango com cerveja. “Adoro cozinhar, só não gosto de fazer doces”, comenta. Muito conhecidas no bairro por seus dotes culinários, Olga e Edi deram algumas dicas de como resolver pequenos problemas na cozinha e uma receita com reaproveitamento de alimentos.

CARINA MERSONI

Luana Reis

Dicas para o dia a dia na cozinha • Se o feijão estiver muito salgado, descasque uma batata média e coloque na panela. A batata absorve o sal. • Quando o arroz queimar, ponha pedaços de cacetinho na panela e tampe. O pão absorve o mau cheiro e até o gosto de queimado do arroz. • Adicione sempre o tempero

verde no final do cozimento para que ele não perca o sabor e as vitaminas. • Para amaciar carnes muito duras, adicione um pouco de vinagre ou conhaque com água e deixe uns minutos de molho. • Substitua o leite da massa da panqueca por iogurte. Fica bem mais leve.

Olga e Edi vendem cerca de 60 refeições diariamente

Ingredientes: 350g de carne moída; 2 cacetinhos; 2 xícaras de farinha de trigo; 1 ovo. Um pouco de presunto ou salsicha, além de cenoura, batata, tomate, cebola, pimentão (qualquer legume de sua preferência. A ideia é reaproveitar aqueles restinhos que sempre sobram na geladeira). Modo de preparo: 1. Bata no liquidificador os legumes e o presunto até ficar bem triturado e reserve; 2. Deixe os cacetinhos de molho em um pouco de água até ficarem moles; 3. Junte o pão com o ovo e a carne; 4. Misture a preparação da carne e dos legumes em uma vasilha grande; 5. Coloque a farinha aos poucos até chegar o ponto de liga; 6. Faça bolinhas e frite normalmente. Rendimento: 30 a 40 almôndegas.

Ameixa para colher do pé As árvores de ameixaamarela são uma constante em várias casas da Vila Brás. Dão uma ameixa tipo pequena, pele aveludada e sabor mais ácido em relação àquela tradicional e vermelha, muito vendida nas fruteiras. Também conhecida como ameixa-do-pará, seu nome verdadeiro é nêspera e a melhor época de colheita é entre os meses de agosto e setembro, quando as árvores se enchem da fruta e chamam a atenção de quem passa, aguçando a vontade de saboreá-las. Com residência na Avenida Leopoldo Wasun há 30 anos, Josefina Fernandes, 83, ostenta um belo pé de ameixa no seu pátio, embora não saiba como ele tenha crescido. “Não fui eu quem plantou. Acho que foi de

comer a fruta e jogar as sementes, que entraram direto na terra”, acredita. Pensionista, a moradora faz crochê e dá aulas de corte e costura em seu tempo livre. Também colhe uma boa quantidade da fruta todas as semanas. Além de comer, distribui para toda a família, os vizinhos e o seu médico. Inclusive, para Josefina, a própria ameixa teria certa função medicinal. “Dizem que é uma fruta muito boa para quem está com o intestino preso”, conta. Ao longo de toda a Vila, porém, são muitos os pés carregados com frutinhas envelhecidas, algumas murchas e outras até estragadas. Para evitar o desperdício, a simpática Josefina nos ofereceu uma bela receita de compota de ameixa, fácil e prática, que todo mundo pode fazer em casa.

GUILHERME BARCELOS

Leandro Vignoli

DOCE DE AMEIXA DA DONA JOSEFINA Ingredientes: 1 quilo de ameixas descascadas e sem sementes; ½ quilo de açúcar; 1 xícara de água; Cravo e canela em rama. Modo de preparo: 1. Faça uma calda rala com o açúcar e a água; 2. Coloque as frutas, o cravo e a canela e deixe ferver até que comecem a ficar transparentes; 3. Deixe esfriar na própria panela e acondicione em vidros.

Nêspera é o nome oficial da conhecida ameixa-amarela


vilabrás MARCO ANTÔNIO FILHO

Retratos do Cotidiano Texto: Marco Antonio Filho Fotos: Rute Maria Costa e Daniela Costa

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Rute Maria e Daniela fizeram as fotos desta página a convite do Enfoque

São Leopoldo, novembro/dezembro de 2010

urante duas semanas, Rute Maria Costa, 14 anos, e sua irmã Daniela, 13, fotografaram seu cotidiano a pedido do Enfoque. Munidas

de uma pequena câmera fotográfica descartável, captaram momentos espontâneos: os colegas na escola, reunidos para fazer um trabalho; a turma jogando vôlei na rua; a família em casa, conversando e tomando chimarrão. Foram além.

“Tirei essa foto para a aula de Geografia”, explica Rute, apontando para a foto que tirou do riacho que fica perto de casa. “A professora pediu para refletirmos sobre a poluição dos rios.” As duas irmãs usaram a câmera como instrumento de reflexão.

Na sala de aula: os colegas se amontoam para fazer um trabalho durante a aula de Geografia Daniela comenta o material produzido por ela e pela irmã: “A gente passa a maior parte do tempo jogando volêi, pois não tem mais nada para fazer aqui... Nem uma praça para brincar... Só assistir TV enjoa”. A segunda foto mostra a família reunida no domingo: a irmã Sinéia, o pai José Bento, a mãe Rosane e o tio José. Na imagem seguinte, o tema de casa: Rute fotografou o riacho para a aula de Geografia. Sobre o última instantâneo, Rute observa: “Não pensei quando tirei essa foto. Estava sentada, de repente olhei para a porta e fotografei. É a porta da sala de aula. Sento ao lado dela”


Enfoquinho Encarte da edição 125 do jornal Enfoque Vila Brás

Novembro / Dezembro de 2010

Um olhar de criança sobre a Brás Manuela Teixeira Ele tem 11 anos, gosta de desenho animado, livros de historinhas e tem quatro animais de estimação: os cachorros Bob e Pit e as cadelas Safira e Belinha. Gosta de ver televisão e sua disciplina preferida é Educação Física. Guilherme Schutze Pereira recebeu a seguinte tarefa: mostrar o melhor e o pior da Vila Brás. Durante as edições do jornal, os moradores pautaram os repórteres, sugeriram temas, expuseram seus problemas. Qual seria a percepção da Vila sob o olhar de uma criança? Ao receber o convite, o garoto não disfarçou o sorriso e a felicidade. “Estou mostrando o melhor e o pior da Vila”, dizia Guilherme para os curiosos que o olhavam acompanhados da repórter do Enfoque.

O melhor

O Pior FOTOS TAMIRES GOMES

A

dança de rua e o karatê para as crianças foram eleitos por Guilherme como o melhor da Brás. A decisão agrega uma percepção bem pessoal, já que ele é um dos alunos dos projetos. “É uma coisa que eu gosto de fazer. Não sou obrigado por ninguém”, diz. As aulas de dança de rua, dança contemporânea e jazz são ministradas pela voluntária Graciela de Oliveira Souza. As turmas somam 102 alunos. O grupo participa de festivais no Estado e em Santa Catarina. No Bento

em Dança, os alunos da Brás voltaram com três premiações (3º lugar) nas categorias infanto juvenil, juvenil e juvenil avançado. Já as aulas de karatê compreendem o projeto Karatê, Uma Vida Melhor, viabilizado através da parceria entre a Associação de Moradores e a Academia Askab. Questionado sobre a inusitada experiência, Guilherme responde: “Achei legal mostrar a Vila. As pessoas vão concordar comigo”, acredita.

E

scorregador, balanços, gangorras, bebedor e bancos nas cores verde, azul e branco. Esse é um retrato da praça que não existe mais. Eleita por Guilherme como o pior da Vila, hoje não lembra mais o local colorido e cheio de brinquedos que já foi um dia. Os únicos dois balanços que restam estão destruídos e dos outros não há vestígios. Um piso acimentado remete ao que já foi uma cancha de vôlei.

O garoto aponta estruturas de metais e descreve como a praça era há três anos. “Ali ficavam as gangorras e lá os balanços de pneus”, conta. Uma parte do lugar também é usada para depósito e queima de lixo. Sem a praça, não há outra opção de lazer para as crianças. Ao percorrê-la com os olhos, Guilherme desabafa. “O que se vê aqui? Nada, só um homem andando de bicicleta. Parece uma favela, tudo destruído e pichado”, fala.

1, 2, 3...

inventava. Não era necessária sequer uma bola para gastar as energias - apenas criatividade. Todos que viveram épocas como essa garantem: “Era muito bom”. Mas Fotos e legendas: André Ávila não é porque a tecnologia avançou Texto e legendas: Eduardo Herrmann e a violência aumentou que isso não existe mais. É um grande clichê dizer que Uma das brincadeiras de rua as crianças de hoje não correm mais populares se chama esconderua, que se divertem apenas com escode. Como o nome já entrega, computador, videogame e televisão, o objetivo é arranjar um bom a babá eletrônica. Isso porque esconderijo e evitar ser encontrado quem viveu sua infância antes por outro participante. O mais da popularização dos brinquedos importante para viabilizar a virtuais, ou quando a tecnologia brincadeira é achar um lugar que era muito menos presente em nosso tenha boas tocas. Estes meninos cotidiano, sente alegre nostalgia encontraram o local perfeito. ao relembrar das brincadeiras que Confira.

E lá vou eu!

Parece o Quico chorando, mas é um menino contando enquanto os demais se escondem


2

Enfoq

SONHOS PAR

Textos: Ellen Mattiello e Simone N

meu sonho é ver o meu pai, porque eu estou com muitas saudades dele. Ele mora em Tramandaí

Brena Mitiele de Oliveira Hermann, 9 anos, 3ª série

Q

ual criança não tem um sonho? É sonhar na infância que permite a construção de uma realidade existencial saudável. A criatividade expressa nas artes é a representatividade do universo interior. A expressão artística torna-se um instrumento Samira Paiva de Borba, 8 anos, 2ª série

Gisele da Silva Machado, 11 anos, 5ª série

O meu sonho é ganhar uma bicicleta no Natal e uns patins, porque é muito bom ir até a venda de bicicleta

Meu sonho é ter uma casa de dois andares, porque eu gostaria de ter o meu quarto, e os meus irmãos, os deles

Fotos e legendas: André Ávila Texto e legendas: Eduardo Herrmann

... quem não se escondeu é meu! Seis amigos se reúnem no loteamento Padre Orestes. Quem começa?

Todos correm para encontrar o melhor esconderijo entre escadas, muros e paredes

Escolhido o lugar...


3

quinho

RA COLORIR

Nuñez Reis. Fotos: Harrisson Andrade

Júlio Paiva de Borba, 7 anos, 1ª série

Meu sonho é ter uma moto, porque gosto de andar rápido, mas eu quero uma de gente grande, porque eu tenho força

valioso de diálogo com essa realidade em construção. Somos o resultado dos nossos desejos tão sonhados. A galeria desta página reproduz a imaginação das crianças e o modo como idealizam a realização dos seus anseios. Desenhar e sonhar: é só começar! Priscila Rosana Pacheco da Silva, 9 anos, 2ª série

Meu sonho é passar de ano e ganhar uma bicicleta, porque eu adoro. Para mim, pedalar é como jogar videogame, Playstation 2

Aháá! descobri!

A dúvida: “Ele me viu?”

“Não, acho que não...”

“Nunca vai me achar!”


4

Enfoquinho

Dança contra a falta de opção Davi Gomes Garcia, 12 anos, aluno da sexta série da Escola João Belchior Marques Goulart foi procurado pela reportagem do Enfoque para saber o que gostaria de ler no jornal. Imediatamente, respondeu que faltavam atrações artísticas na Vila. Embora não tenha respondido a pergunta, uma manifestação tão sincera deve ser levada em consideração. Reclama o garoto, “A gente vê as coisas fora daqui e tem vontade de fazer, mas não dá”. O tão esperado passeio do colégio, por exemplo, até hoje não aconteceu, “Ficamos de visitar o Museu da PUC no ano passado, mas não aconteceu por falta de verba, este ano a professora de Ciências está tentando organizar o passeio novamente, estou torcendo”, afirma. Uma das poucas opções de lazer para as crianças são as aulas de dança, realizadas na sede da comunidade católica do bairro. Davi

GABRIEL GABARDO

Caroline Raupp

O gosto pela leitura desde cedo Liege Freitas

frequenta as aulas há pouco mais de um ano e já conheceu diversas cidades viajando com o grupo para apresentações e competições. É com orgulho que fala do desempenho que tiveram no último São Leopoldo em Dança, quando conquistaram o segundo lugar. Iniciativas como a da

Davi (segundo da direita para a esquerda) busca o entretenimento através da dança

professora Graciela Souza, que fundou o grupo há cinco anos, podem mudar a vida das crianças da comunidade, apresentando novas possibilidades.

BRINCANDO DE NIEMEYER Fernanda Herrera RAMIRO FURQUIM

Nas casas em construção do loteamento Padre Orestes, os jovens Marcos Leal Farias, Brayan Silveira, Henrique Stonberg, Ismael dos Santos Motta, Cleisson da Silva, Jéferson Costa e Thiago da Motta Schuebel descobriram o cenário ideal para o esconde-esconde. A fotorreportagem foi produzida a partir da simpática acolhida dos garotos.

Se o escondido chegar primeiro ao ponto de partida, está salvo

Giovana, Jordana e Michele, de 11 anos, alunas da 5a. série da Escola de Ensino Fundamental João Goulart e sua maquete de Brasília. A professora Ivonete Rodrigues, de Geografia, aproveitou o ano eleitoral e abordou o tema falando sobre o Palácio da Alvorada - onde reside o presidente da República, a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional. A maquete foi uma das obras expostas na Multifeira da Escola, no dia 16 de outubro, onde os alunos de todas as séries e disciplinas exibiram seus trabalhos.

Na edição anterior do Enfoque Vila Brás, contei a história de Micaela Machado Soares, uma menina de 12 anos que se espelha nos alunos que escrevem este jornal. Ela tem o sonho de ser jornalista. Quando a conheci, bem por acaso, fiquei impressionada com a curiosidade dela pelo que eu e meus colegas estávamos fazendo, queria saber como a gente escrevia para o jornal e também queria saber sobre a faculdade. Umas das coisas que mais me impressionou em Micaela foi esse gosto pela leitura, que eu, pelo menos, não tinha nessa idade. Por isso, pedi para ela escrever sobre os livros de que mais gostava e sobre o que estava lendo. Encanteime com essa guria e espero que vocês também se encantem com o que ela escreveu: “Na semana passada, fui na biblioteca do colégio e peguei um livro chamado Assassinato na biblioteca. Estou lendo ele no momento. Por incrível que pareça, está sendo bom, estou na página 13. Li muitas obras importantes, que me ajudaram bastante quando precisei. Li vários livros do Monteiro Lobato. Nesse momento, estou gostando muito do que estou lendo. Está muito interessante. Gosto desse tipo de livro, porque parece que estou dentro da história. Gostei das obras da Saga do Crepúsculo. Agora estou lendo umas poesias do Fernando Pessoa. Obs: Também encontrei na biblioteca do colégio.”

E a brincadeira recomeça...

... 1, 2, 3... E lá vou eu! Fotos e legendas: André Ávila Texto e legendas: Eduardo Herrmann


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