enfoque-vila-brás-edição-127

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blogdoenfoque.wordpress.com LORENA RISSE

vilabrás maio

2011 distribuição gratuita edição 127

Economia Prepare o churrasco com R$ 80 ANDRÉ SEEWALD

> Página 13

Coreografia Grupo Explosão da Dança soma 117 alunos > Página 6

Decoração reciclada Jeans usado vira tapete > Página 12

Dienifer Pâmela Flores, 20 anos, dedica o fim de semana para brincadeiras com os filhos João Daniel, Ana Carolina (ambos na foto) e Maria Eduarda

Minha mãe

No Mês das Mães, o Enfoque conta a história de mulheres que iluminam caminhos na Vila Brás

mundo é a melhor do

> PÁGINAS 8, 9, 10 E CONTRACAPA


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Cotidiano Da Redação

EXPEDIENTE Universidade do Vale do Rio dos Sinos

O tempo nublado do sábado, dia 9 de abril, não desanima os repórteres e fotógrafos que visitam a Vila Brás pela segunda vez neste semestre. Pautas apuradas, é hora de voltar à redação para a elaboração das matérias que nesta edição foram das mais variadas. Para exemplificar, com a alta no preço dos alimentos, conferimos quanto custa um churrasco, uma das tradições do gaúcho, na Vila Brás. Apuramos também a história de Ademir Soares e sua esposa,

Av. Unisinos, 950 Bairro Cristo Rei São Leopoldo/RS Reitor Marcelo Aquino

Vice-reitor José Ivo Follmann Pró-reitor Acadêmico Pedro Gilberto Gomes Diretor da Unidade de Graduação Gustavo Borba Coordenador do Curso Comunicação Social – Jornalismo Edelberto Behs

de

vilabrás

Maria Beatriz, que fizeram da decepção de não conseguir comprar chocolates para os filhos na Páscoa uma forma de ter uma renda extra. Um problema corriqueiro da Brás, mas que continua sem solução é mais uma vez relatado pelo Enfoque. O esgoto e as inundações que já fazem parte do cotidiano dos moradores e, infelizmente, ainda não foi solucionado. Dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda! O trecho da

música de Erasmo Carlos é confirmada nesta edição do Enfoque. Através da história de Silvia Z. Peres, mais uma vez confirma-se que o sexo feminino vem tomando espaços que eram quase que exclusivamente masculinos. Além desses assuntos, você encontra no Enfoque dança, trabalho voluntário, projeto polícia cidadã e outras matérias, como o Concurso de Redação Nova História, que já está mexendo com a Escola João Goulart.

Colorado é coração

Jornal-laboratório produzido por alunos das disciplinas de Redação Experimental em Jornal e Fotojornalismo do Curso de Comunicação Social Jornalismo da Unisinos.

FALE CONOSCO!

Torcedor de 12 anos fez a família pintar símbolo do Inter na parede de casa

Telefone: (51) 3590.8466 E-mail: enfoquevilabras @gmail.com

Gabriela

da

Silva

gabytxa@gmail.com

C

Orientação: Eduardo Veras Flávio Dutra

olorado de coração é o jovem Leonardo Henrique Silveira da Silva, 12 anos. Ele nunca colocou os pés no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, mas leva o amor pelo Internacional no peito. Na casa branca com portas e janelas vermelhas na Vila Brás, em São Leopoldo, o estudante da Escola Municipal João Goulart contou com a ajuda do pai, o metalúrgico Pedro, 43 anos, para pintar o símbolo do clube gaúcho em uma parede. Para o desenho no quarto, a família chamou um artista profissional,

Monitoria: Lílian Stein

que estampou o brasão do clube sobre a cama do menino. Quadros com fotos das escalações que conquistaram os títulos do Colorado estão emoldurados e devidamente expostos na sala. É ali, ao lado do pai, da mãe, Liane, e da irmã Leire, 10 anos, que o pequeno vibra e se emociona com os lances do alvirrubro gaúcho em dias de jogo. “No Inter e Mazembe, ele ficou triste. Chorou que a gente teve que consolá-lo. Teve até pesadelo depois”, lembra Pedro, referindo-se ao jogo disputado pela equipe gaúcha na semifinal do Mundial de Clubes da Fifa, em Abu Dhabi, em dezembro de

2010, quando o Inter perdeu por 2 a 0 para o time da República Democrática do Congo. Passados os traumas, Leonardo leva numa boa a torcida pelo Inter. Diz que na escola sempre tem discussão entre colorados e gremistas, mas não costuma se envolver. O pai até pede para que o menino não vá à escola com o fardamento branco e vermelho, para evitar confusão. Mas em casa... Ah! Em casa é outra história, a camiseta colorada já parece fazer parte de Leonardo. O menino curte jogar bola com os amigos, mas seu sonho mesmo, além de conhecer o meia D’Alessandro, é ser músico. Até já

toca no violão o hino do Inter. Para ficar ainda mais bonita, a canção sai em ritmo gauchesco. Leonardo faz parte da Associação de Meninos e Meninas de Progresso, instalada na Rua 25 da Vila Brás, e é lá que recebe as lições sobre o instrumento. Fã do talento do filho, a mãe estranha um pouco tanta paixão pelo Colorado. “Eu acho uma loucura”, confessa Liane, admitindo, no entanto, que é impossível não se envolver com a devoção do menino pelo clube. Mas de onde vem tanta paixão? “Já saiu do hospital colorado”, diverte-se o pai, orgulhoso com o pequeno músico e companheiro de torcida.

Bárbara Bauer

Edição: Henrique Machado Reportagem: Ana Paula Figueiredo Andressa Boll Beatriz Mross Bruna Elida Conforte Carina Mersoni Daniela Villar Débora Américo Diego Jabuinski Éder Romeu Kurz Eduardo Pedroso Fagner Marques Gabriela da Silva Giórgia Bazotti Henrique Machado Joice Paz Juliana Brião Luana Teixeira Elias Patrícia Carvalho Priscila L. Pilletti Roberta Reis Sindy Longo Taína Lauck Tiago Vargas

São Leopoldo, maio de 2011

Fotografia: Ananda Lopes André Seewald Andre Pereira Bárbara Bauer Clara Állyegra Dierli dos Santos Francine Maldaner Hamilton Nunes Jeferson Nunes Juliano do Amaral Liege Freitas Liliana Egewarth Lorena Risse Marcos Ludvig Marilia Bissigo Pablo Furlanetto Patrícia de Oliveira Ricardo Santos Rita do Carmo Semira Martins Vanessa Ramos Vinícius Casco Arte: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) Projeto gráfico: André Seewald Gabriela Schuch Diagramação: Marcelo Grisa Supervisão técnica: Marcelo Garcia

Leonardo enrola-se na bandeira vermelha e branca para exibir sua paixão pelo clube colorado, sentimento que herdou do pai, o metalúrgico Pedro


Você reclama

São Leopoldo, maio de 2011

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FOTOS SEMIRA MARTINS

E agora, prefeitura? Após o município afirmar que a limpeza realizada no Arroio Gauchinho resolveria a situação do esgoto, o cenário ainda é de descaso por parte das autoridades Giorgia Bazotti giorgiabc@gmail.com

Joice Paz

joice.paz@hotmail.com

A

reportagem do Enfoque retornou à casa dos moradores da Vila Brás, entrevistados para a edição nº 126, a fim de averiguar a situação relatada pelas fontes: alagamentos quando chove forte, além da situação da rede de esgoto do Loteamento Leopoldo Wasun. Assim que chegamos à casa de Dona Vera dos Santos, ela nos contou que novamente a chuva havia adentrado sua residência: “Minha neta dizia: “Vó, vamos nadar?”. Brinca Vera com a calamidade da situação. Novamente observamos móveis novos estragados pelo esgoto e alguns ainda suspensos. Mais à frente, na mesma Rua 23, mais uma voz que necessita ser ouvida. Marli Teresinha Rodrigues de Lima, dona de casa que reside há 21 anos na vila, reforça que a situação está cada vez pior. Segundo ela, a rede de esgotos do Loteamento, juntamente às obras do Trensurb, causaram mais transtornos e prejuízo do que alguma melhoria na qualidade de vida dos habitantes. Marli conta que a solução de algumas famílias é construir no andar de

cima das casas, fuga que nem sempre é possível para a maioria das pessoas de baixa renda. Além da máquina de lavar estragada pela água que invadiu sua casa, Marli tem tendinite e, sem a máquina, fica difícil torcer suas roupas. Parecia impossível, mas a situação piorou nas ruas do Loteamento Leopoldo Wasun. Caminhamos até o final da Rua 23 em direção à Rua 1, principal do conjunto habitacional. O que há três semanas eram apenas poças se transformou em uma espécie de lago entre as ruas. Além do cheiro muito desagradável da rede aberta, é impossível transitar sem pisotear no esgoto das casas. Os moradores seguem revoltados com o descaso das autoridades que transformaram o loteamento em uma terra à margem da Brás, já que a associação dos moradores afirma desconhecer a situação. “Não recebi nenhuma reclamação sobre esse fato”, afirma Ana Rosa, secretária da associação. Em uma manhã de sábado, moradores do Loteamento estavam limpando o acúmulo de esgoto com barro. Muita água parada, mosquitos e mau cheiro está deixando as pessoas ainda mais indignadas por viver naquele local. “O que adianta o governo dar casas se não nos dão

O que eram poças tornou-se um lago, onde o mau cheiro é insuportável

Sandy, de oito anos, se equilibra para não pisar no esgoto

Moradores fizeram mutirão para limpar a rua

Marli indica a altura que a água alcançou na última chuva

condições de habitá-las?”, interpela Leandro Souza, porteiro. Segundo o morador, não há saída para o esgoto. “Eles dizem que vão colocar bombas para levar o esgoto para o local correto, mas estamos esperando até agora”, afirma Leandro. Voltando à casa de Antônio Novaes, percebe-se que o cenário está ainda pior. O buraco aberto pelo Semae há mais de um mês transbordou, e Vânia Rodrigues, vizinha de Antônio, colocou pedras para evitar que o esgoto escorra para o asfalto. Mas a medida teve o efeito contrário: “Quando tem sol não posso sair de casa, o cheiro de esgoto é terrível”. Na tarde do domingo seguinte, Gelson de Almeida ia receber a família e os amigos para comemorar seu aniversário. “Como vou receber os meus convidados com essa sujeira e mau cheiro?”, questiona. Para não passar vergonha, ele teve que limpar a frente da casa. A indignação com a falta de respeito e o descaso das autoridades estão deixando os moradores do Loteamento sem perspectiva de mudança. Entramos em contato com SEMAE e a Secretaria de Comunicação de São Leopoldo, mas, até o fechamento desta edição, não obtivemos retorno.


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Cidadania

São Leopoldo, maio de 2011 FOTOS JÉFERSON DIAS

Com boa infraestrutura, sede da Associação na Avenida Leopoldo Wasun é também um espaço para a realização de festas e eventos

Trinta anos de história O início

Associação dos Moradores da Brás comemora três décadas de lutas e conquistas

Tudo começou com o problema da falta d’água. Moradores se reuniram para reivindicar a colocação de uma caixa d’água para atender cerca de 60 famílias da Vila Brás. Em janeiro de 1982 os moradores se mobilizaram para ir até a prefeitura e pressionar o executivo. “Conseguimos a doação do encanamento necessário para a distribuição da água nas casas. O que faltava era a mão de obra por parte da prefeitura”, disse Nadyr Gargioni Menguer, primeiro presidente da Associação. Nadyr conta que entidades como Lions Clube e Rotary auxiliaram e incentivaram muito para que a entidade fosse fundada “Hoje já conquistamos muitas coisas através da Associação. Não fosse a união dos moradores, nada disso teria sido alcançado”, comemora Nadyr.

Henrique Machado henriquemachado80@gmail.com

C

om sua sede na Avenida Leopoldo Wasun, a Associação dos Moradores da Vila Brás conta com aproximadamente 400 sócios pagantes e uma boa infraestrutura para servir a comunidade. Além do espaço para a realização de festas e eventos, está destinada uma verba de R$ 10 mil para a organização de um local para a montagem de uma biblioteca com o objetivo de proporcionar aos moradores um espaço para leitura e também auxiliar as crianças em trabalhos de pesquisa. “Estamos recebendo doações de livros de moradores, posto de saúde e biblioteca municipal. Esta verba será importante para melhor organização deste espaço”, diz Luciano Borba Machado, morador da Vila Brás. O regimento interno da associação, aprovado no ano de 2010, regulamenta o uso da sede, deixando claro que a instituição não discrimina pela cor, sexo, crença, time ou partido político. Todos têm voz e vez dentro da

associação. “Todos são iguais, independente de qualquer coisa. Somos moradores do mesmo bairro e queremos sempre o bem comum”, diz Claudimir Schutze, atual presidente da Associação. Outro aspecto que o regimento ressalta é a proibição do uso da sede para atos políticos ou o uso de seu

nome para esse fim, já que seus sócios são pertencentes a várias correntes políticas. Para que não houvesse problemas desse tipo, foi determinada essa proibição. As reuniões de diretoria são realizadas nas primeiras quartas-feiras do mês. A partir das reuniões, são organizadas assembleias que

visam colher as reivindicações dos moradores e levá-las aos órgãos responsáveis buscando as soluções. Para se associar, o morador deve procurar a sede da associação às quartas-feiras das 17h às 19h aos sábados das 9h as 11h, com um comprovante de residência. A mensalidade custa R$ 3.

Luciano Borba Machado diz que a verba para a organização da biblioteca será importante para a Associação


Cidadania

São Leopoldo, maio de 2011

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Uma por todas, todas por uma Trabalho voluntário de agentes de saúde, como o brechozinho solidário, prevê melhorias para a comunidade Bia Mross Clara Àllyegra

mrossbia@gmail.com

A

chuva que ameaçava cair na Vila Brás não impediu o brechozinho solidário de acontecer. É assim, ao ar livre e sem estrutura que as três mosqueteiras, que, assim como na história, também são quatro, Margot Becker, Célia Trentin, Arlete Carvalho e Laura Stanhaus, oferecem aos moradores da Brás uma alternativa barata para renovar o guarda-roupa. Há quase um ano as voluntárias tiveram a ideia de integrar a comunidade e ajudar a quem precisa. “O brechozinho surgiu como uma forma de proporcionar melhorias para nossa comunidade. Começamos com a divulgação das agentes de saúde que frequentam as casas, e hoje o brechozinho é uma referência na Vila”, conta Margot Becker, técnica de enfermagem da Unidade Básica de Saúde Brás há sete anos, ou “Tia Margot”, como é chamada pelo amigos da Brás. Os benefícios que o brechozinho gera vão além do baixo custo das roupas. “ Já compramos colchão, medicamentos, e até transporte para consultas médicas e entrevistas de emprego. É um

das “quatro” mosqueteiras é resultado do contato direto e frequente que as agentes de saúde têm com a comunidade e que as faz identificar as necessidades da Vila. Projetos semelhantes surgem de sugestões dos próprios moradores e são concretizados através do trabalho dessas mosqueteiras, como o Bocão, que acontece nas segundas sextas-feiras do mês e trabalha a saúde bucal das crianças da Brás. “Nosso próximo passo é a criação de uma biblioteca comunitária. Já temos livros para começar o projeto, porém esse necessita de uma estrutura física adequada”, constata Margot.

projeto simples, mas que leva integração, saúde e, de certa forma, educaçåo para a o bairro”. Bicicleta por R$ 20 O brechozinho não se restringe a roupas: tem calçados, acessórios, brinquedos e até bicicleta. “A gente trouxe R$ 2 mas queremos levar mais coisas”, reclamam Maisa e Guilherme Schitz. Os preços variam. “Quem chega cedo encontra muita coisa boa. Às vezes, o que tem nem dura até às 17h”, alerta Laura. “Quando fica o refuguinho, doamos para as meninas do Fuxico.” “Nada se faz sozinho” O trabalho voluntário

Brechozinho solidário

Sorrisos como o de Maísa e Guilherme são o objetivo da causa

Quando: no primeiro sábado após o dia 5 de cada mês, das 9h às 17h. Onde: Avenida Leopoldo Wasun, ao lado da Unidade Básica de Saúde Brás Preços: R$ 0,50 cada peça de roupa ou calçado. Doações: as “mosqueteiras” mantêm o projeto com doações. Para ajudar, entre em contato com Margot pelo telefone 8128-1574. Além de roupas e calçados, elas precisam de máquinas de costura para o projeto do Fuxico e uma TV para as palestras do Bocão.

Educar para transformar Luana Elias A Associação Meninos e Meninas de Progresso (Ammep) tem como lema o título desta matéria: “Educar para transformar.” Trabalha com crianças e adolescentes e acompanha suas famílias em situação de risco e vulnerabilidade. “As crianças e adolescentes não ficam na rua, são acolhidos, têm uma orientação e desenvolvem atividades lúdicas”, afirma a pedagoga Alessandra da Silva Maria, que integra a equipe de 22 profissionais que atendem a entidade na Vila. Segundo Alessandra, a associação também orienta os moradores, como, por exemplo, nos casos em que eles não recebem o

auxílio Bolsa-família ou não conseguem vaga para as crianças na escola. O foco maior da entidade é o atendimento às crianças e adolescentes, por meio de oficinas das mais variadas, que vão desde orientação voltada à prevenção do uso de drogas, preservação do meio ambiente, até atividades lúdicas, como artesanato, dança e capoeira. “Não são aulas, não trabalhamos com reforço de conteúdos”, frisa Alessandra. “Eles vêm aqui para pintar, brincar e se divertir.” As crianças de seis a 11 anos são acolhidas pelo Projeto Arte, Cultura e Educação. Já adolescentes entre 12 e 15 anos fazem parte do Adolescer. Os meninos e meninas são recebidos no turno inverso da

ananda lopes

luana.elias@hotmail.com

A Ammep recebe doações de cidades parceiras para realizar o brechó escola, de segunda à sexta. Eles recebem café da manhã, almoço e lanche da tarde. Na Brás, a associação atende cerca de 80 crianças. Os três filhos de Carine Rosa frequentam a associação todos os dias. “Eles são

bem tratados, tem como se desenvolver mais e levam vários assuntos para casa que a gente às vezes desconhece”, conta Carine. “Em vez de estarem na rua aprendendo coisas erradas, eles fazem aulas de dança e capoeira.”

Em abril, um brechó solidário movimentou os arredores da Rua 25 da Brás. A associação promoveu o primeiro dos três brechós que acontecem todo ano. As roupas custavam entre R$ 0,10 e R$ 1,00. O dinheiro arrecadado com as vendas será destinado à compra de utensílios para a cozinha da entidade. Apesar da correria do dia a dia, Juvilde Dias, não deixou de prestigiar o brechó. “Quem tiver paciência de procurar acha. Eu já sou craque nisso”, conta. A Associação Meninos e Meninas de Progresso possui outras duas instalações: no Loteamento Tancredo Neves, Rua 02, nº 24, e na Rua Governador Roberto Silveira, nº 407, Bairro Santos Dumont. Juntas, as três associações atendem 300 crianças.


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Cidadania

São Leopoldo, maio de 2011

Pela dança, um novo caminho Projeto idealizado por estudante de Educação Física leva cultura e inclusão social a moradores da comunidade ANDRÉ SEEWALD

Diego Jabuinski diegoodair1006@hotmail.com

O

projeto Explosão da Dança é sucesso entre moradores da Vila Brás e de bairros vizinhos. Liderado pela estudante do Curso de Educação Física da Unisinos Graciela de Oliveira Souza, 24, o trabalho consiste em aulas de dança coreografada pela mesma, nas modalidades street, jazz, e contemporânea. Os encontros acontecem sempre aos sábados das 9h30min as 14h e nas quartas das 18h30min as 21h, em uma sala ao lado do salão comunitário Cristo Operário. No início o projeto enfrentou muitas dificuldades. Existia a desconfiança por parte de moradores e faltava um local fixo para os encontros. Foi então feito um pedido aos administradores da Igreja Cristo Operário para que disponibilizassem um espaço. A sala cedida, no entanto, encontrava-se em condições precárias, precisando de reformas, as quais foram feitas a base de muito esforço. Rifas, almoços e chás foram formas utilizadas para arrecadar recursos para tocar as obras. Os próprios alunos encarregaram-se do trabalho braçal. Em pouco tempo, a reforma estava pronta. Atualmente o projeto conta com cinco turmas aos sábados, e outras três às quartas à noite, totalizando 117 alunos matriculados, incluindo a turma Baby Dança, com crianças de três a sete anos. O sucesso é tamanho que existe uma lista de espera para novas matrículas com cerca de 80 nomes, já que no momento não há vagas para novos ingressantes. Para Graciela, o trabalho desenvolvido

Aulas de Graciela de Oliveira Souza lotam salão da Igreja Cristo Operário aos sábados pela manhã vai além de promover cultura e inclusão social, trazendo também benefícios na área da saúde. “As aulas provêem uma hora de atividade física intensa, algo que devido a alguns fatores, em especial a internet , tem afastado os jovens desse tipo de exercício”, conta. Em um curto espaço de tempo, o grupo já participou de diversas

apresentações e concursos, tendo inclusive, ido a Garopaba(SC) em duas oportunidades. Foram muitos prêmios, incluindo o primeiro lugar no estilo dança contemporânea no São Leopoldo em Dança 2010, concurso no qual o grupo participa há cinco anos. O adolescente Júnior Romário Faller, 16, foi um dos primeiros alunos do grupo

Explosão da Dança, em 2005. Para ele, o grupo representa muito: “O projeto é tudo na minha vida, é o que eu mais gosto de fazer”, conta emocionado. O projeto idealizado por Graciela enfrentou e superou dificuldades, tornouse modelo. Através da dança, leva alegria e perspectiva de um novo futuro a jovens moradores da Vila Brás.

Corrente da solidariedade Daniela Villar villar.daniela@hotmail.com

alguém para ajudar. “A gente não promete nada, deixamos bem claro que vamos tentar”, explica Laranjinha. Em alguns casos, o que a pessoa precisa é apenas para

utilização temporária, sendo assim, a ONG se compromete em buscar o equipamento emprestado de volta e direcionar para outra pessoa que precise. O único critério DANIELA VILLAR

Fundada há cerca de seis anos, a ONG Nova Visão Social (NVS) promove ações solidárias em prol de fazer o bem sem ver a quem. Esse é o lema criado pelo presidente Bruno Garcia, 50, o Laranjinha. Bruno, que perdeu a visão há 11 anos, é um batalhador diário em busca de assistência para outros deficientes. Ele conta que hoje o sistema de auxilio a deficientes físicos e visuais é precário. “Não é justo que um deficiente aguarde tanto tempo, isso é imoral,” desabafa sobre o tempo que se pode levar para conseguir uma consulta no dentista. A NVS é formada por um grupo de pessoas deficientes que resolveu ajudar outras pessoas deficientes. A ONG

recebe doações de cadeiras de rodas, camas hospitalares, bengalas, muletas, óculos e fraldas. No entanto, parte dos objetos é comprada. Para isso, a NVS promove chás e rifas, e o valor arrecadado é totalmente revertido em cadeiras e camas. “A gente pede quando é necessário”, enfatiza o presidente da Ong. Através do auxilio de assistentes sociais que trabalham dentro do hospital de São Leopoldo, Bruno consegue ter a certeza de que as famílias que procuram a ONG realmente são de baixa renda. Ao receber o pedido, ele divulga em seu programa de rádio e para os companheiros da Corrente da Solidariedade. Se a ONG possui recursos financeiros, pode comprar o aparelho solicitado, se não possui, corre atrás de

Durante o programa, Laranjinha recebe ligações e diverte os ouvintes

utilizado pela SNV é o de chegada. “Era preciso criar um critério, não temos como julgar o que é mais urgente, todos os casos são urgentes”, explica Bruno. Para fazer parte da Corrente da Solidariedade, você pode entrar em contato com o presidente da ONG, Bruno, pelo telefone (51) 9816-9909. Para conhecer mais sobre o trabalho da SVN, ouça o programa de rádio Nova Visão Social, que vai ao ar todas as terças e quintas das17h às 19h pela Rádio Feitoria 87.9. A última ação da ONG foi uma rifa de duas camisetas autografadas, uma do Sport Club Internacional e a outra do Grêmio. O sorteio ocorreu no dia 30 de abril, e o valor arrecadado foi revertido para ações solidárias.


Segurança

São Leopoldo, maio de 2011

Mais perto da comunidade

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Projeto da Brigada Militar leva ônibus até a porta das escolas na tentativa de aproximar-se das crianças MARÍLIA BISSIGO

Bruna Elida Conforte brunaconforte@yahoo.com.br

O

FOTOS RICARDO SANTOS

projeto Polícia Cidadã, desenvolvido pela Brigada Militar, iniciou suas atividades no dia 1º de abril desse ano. O ônibus circula diariamente em bairros de São Leopoldo e visa a integração entre a Brigada e a comunidade, principalmente com o público infantil. Na Vila Brás, até a realização dessa matéria, o grupo de policiais já esteve em duas ocasiões desde o começo do projeto. A unidade móvel é estacionada em frente às escolas, tentando estabelecer um contato mais próximo com as crianças, com o intuito de modificar a visão negativa que eventualmente elas tenham da polícia. “Tem que mudar isso, a visão da criança. A criança vê a polícia e acha que é confusão”, afirma a moradora Paula Paz, 40 anos, cujo filho pediu que ela fosse até a escola, pois quando viu a polícia pensou que havia ocorrido uma briga. Para o soldado Jonatas Rosa, 26 anos, o que eles estão fazendo é plantar uma sementinha para colher no futuro. Também explica que é uma ida a campo, que busca apurar informações e identificar os problemas da população. “Essa aproximação vai captando a realidade dessa comunidade, escutamos o que as pessoas têm a dizer”, ressalta. O primeiro passo é sempre entrar em contato com o diretor da escola e, quando já estão no local, uma das formas de aproximação é convidar as crianças e pais para conhecer o ônibus. Na manhã de sábado, houve um momento em que 10 crianças estavam dentro da unidade estacionada em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Orestes João Stragliotto. Elas sentam nos bancos, fazem perguntas aos policiais e olham tudo com muita curiosidade e interesse. Algumas demonstram medo no início, mas, como essa é justamente a visão que a polícia busca reverter, com diálogo e simpatia

A unidade móvel desperta o interesse e a curiosidade dos jovens estudantes e facilita a interação, um dos principais objetivos do Projeto Polícia Cidadã

eles intervêm de forma a convencer as crianças de que não é necessário ter medo da polícia. “É muito show!”, “Que tri!”, exclamam as crianças ao conhecer o ônibus. O grupo é composto por quatro policiais, que são sempre os mesmos, facilitando o estabelecimento de um vínculo mais forte com a população. Além de Jonatas, participam da ação os soldados Robson Chaves, 27 anos, Clarissa Pando, 23, e Robson Oliveira, 24. Eles contam que a ideia é fazer um projeto integrado a nível municipal entre os órgãos de segurança pública (civil, militar e guarda municipal), oferecendo palestras, para orientar as crianças em relação à violência como um todo. Eles fotografam essa interação e pretendem montar um blog, para divulgar o projeto. Apesar dos objetivos do projeto estarem ligados à aproximação com a comunidade, o grupo tem estrutura para fazer documentações e agir caso seja necessário. Durante essas duas idas à Vila Brás, o grupo não precisou intervir ou resolver casos. Não houve nenhuma ocorrência.

Quando a educação vira caso de polícia Fagner Marques fagner.marques@gmail.com

Não sei se interessa a alguém. Mas há 15 anos, era estudante do Ensino Fundamental (antigo 1º Grau) de uma escola pública e me deparava diariamente com questões que envolviam agressões, tanto físicas quanto emocionais. Esses poucos anos que se transcorreram desde minha infância, me parecem agora uma eternidade. A violência no ambiente escolar atingiu níveis que alarmam pais, professores e até mesmo estudantes, mostrando que uma questão que até pouco tempo representava uma forma de crescimento pessoal – aprendi muito convivendo com adversidades escolares – é, hoje, caso de polícia.

Desentendimentos, ameaças e até mesmo violência física fazem parte do dia a dia dos alunos da Vila Brás. A comerciante Solange Blauth, que possui um estabelecimento ao lado da Escola Municipal João Goulart, aponta que as desavenças entre colegas acontecem diariamente. “Tenho um filho de 13 anos que estuda na João Goulart e não me sinto tranquila”, afirma. Ela comenta que depois de muitos episódios violentos, a escola conseguiu a contratação de um guarda civil municipal que controla a entrada e saída dos alunos. Mesmo assim, Solange considera a iniciativa insuficiente: “Os jovens se sentem inibidos na saída da escola, mas, poucos metros

depois, quando não existe mais controle, as confusões ocorrem rotineiramente”. Ela sugere que sejam criadas rondas policiais permanentes, que deem segurança aos jovens durante a volta para casa. O problema não é exclusivo da João Goulart. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Orestes João Stragliotto precisou manifestar-se publicamente contra a violência para conseguir amparo do Estado. “Após incidentes de agressões a estudantes, realizamos uma paralização. Assim a escola, os pais e a comunidade foram ouvidos e conseguimos apoio para aumentar a segurança”, destaca Elizandro Esquiam, diretor da instituição. Em parceria com a Secretaria da Educação e a Secretaria de

Segurança, serão implantados projetos com o objetivo de educar os estudantes e tentar socializar crianças e adolescentes no sentido de evitar que se envolvam em situações de risco. Ideia semelhante foi sugerida por Jeferson Marcelo Peres, pai de uma estudante da João Stragliotto. “Todos temos problemas e muitas vezes nos encontramos a ponto de descarrega-los em outras pessoas, mas precisamos construir valores que nos façam pensar que atitudes violentas não são o caminho, declara. Nas poucas andanças que tive pela Vila Brás, ficou a dúvida: eu era um estudante tolerante demais ou o mundo se transformou tanto em tão pouco tempo? Sinceramente, não sei responder.


08

Dia das Mães

Amor para to

‘Mãezona’ para 14 crianças

Mães contam suas histórias de luta, carinho e textos:

Carina Mersoni

carinamersoni@gmail.com

Priscila Pilletti

prilp_211@hotmail.com fotos:

Lorena Risse

A

dolescentes, solteira aposentadas. Todas e passando por dificul entrevistadas têm uma co Conheça um pouco da traj

Babá há 15 anos, Zilda guarda no coração muitos “filhos” Filhos biológicos, Zilda Dias Dutra, 63 anos, só teve quatro. Mas, no coração, guarda um número de perder a conta. É na casa dela, já há 15 anos, que ficam os filhos de moradores da Vila Brás que trabalham fora. Atualmente, são 14 crianças, de dois a 11 anos, mas o grupo já chegou a ter 20. Depois dos filhos, vieram os netos, e a procura por Zilda só aumentou. “Eles (os pais) trazem e eu não sei dizer ‘não’”, conta, cheia de alegria. A rotina na casa é agitada: “Cuido de um, e o outro já está se desacertando do outro lado”. mas ela afirma que não há dificuldades: “Tem que saber levar, conversar”.

Além de garantir seu sustento, a atividade de babá é o maior prazer de Zilda. Na parede forrada de portaretratos de filhos, netos e parentes, as crianças que cuida também ganham espaço. Na residência e no pátio, a movimentação não para nem aos sábados, quando pelo menos seis deles ficam com a babá. Aos domingos, quando a casa fica vazia e em silêncio, Zilda prefere sair à rua. O meio-dia se aproxima e, no fogão, o arroz quase transborda da panela, enquanto a massa aguarda na pia para ser escorrida. Ao redor da pequena mesa da cozinha, pelo menos 12

crianças se acomodam para almoçar. Nessa hora, o carinho de Zilda se transforma em saborosos pratos. A experiência para lidar com crianças vem da adolescência, quando ajudou a mãe a cuidar dos cinco irmãos menores. Separada e morando com um filho e a nora, Zilda conta com a ajuda da afilhada de 17 anos para dar conta da criançada. No Dia das Mães, ela recebe os parabéns dos filhos biológicos e dos filhos do coração, que, mesmo quando deixam sua casa, sempre voltam para visitá-la. Um amor que não começa na barriga, mas dura para a vida inteira.

A filha rebelde que virou mãe careta Gravidez na adolescência, abandono do companheiro e mais de um casamento fizeram parte da trajetória de Margarete Gonçalves. “Meu arrependimento é de não ter ouvido a minha mãe quando era jovem”, conta. Aos 13 anos, a vendedora engravidou, quando morava em Santo Ângelo, e o pai não quis assumir. Foi então que se mudou para a Brás com a mãe. Teve mais quatro filhos no primeiro casamento e após 11 anos, se separou. “Graças a Deus fiquei com meus cinco filhos”, comemora. Depois dessa união, houve outra, da qual nasceu a última filha. “Depois dele, fiquei muito tempo sozinha”.

Para manter a casa hoje com cinco filhos, o neto e o marido, Margarete vende cosméticos e, nas palavras dela, inventa coisas para escapar das contas. “Passei muitas dificuldades para criar meus filhos. Eu era uma adolescente muito rueira, achava que as coisas não aconteceriam comigo”, lembra. “Não sirvo de espelho para meus filhos, mas os eduquei para que tenham outro caminho”. Mesmo tendo sido uma filha rebelde, Margarete se tornou uma mãe coruja e “quadrada”, em suas próprias palavras. “Criei eles sozinha. Agradeço muito pelos filhos que tenho e a quem me ajudou a educá-los”, encerra.

Mesmo sendo uma filha rebelde, Margarete sempre teve apoio da mãe para criar os sete filhos

Vinte anos e tr Tudo na vida de Dienifer Pâmela Flores começou cedo. Primeiro, o namoro, aos 13 anos; depois, foi morar com o companheiro aos 14. Aos 15, veio a surpresa: estava grávida. Hoje, com 20 anos, tem três filhos com Fabrício Alves Freitas, 28 anos. Nenhuma das gestações foi planejada, mas a primeira, de Maria Eduarda, hoje com cinco anos, foi a mais difícil: “Não tinha noção de cuidar. Depois que ‘ganhei’, vi que era meio cedo, mas foi bem tranquilo”. Aos 18 anos, nasceu João Daniel, hoje com dois, e há um mês, Ana Carolina. Com o apoio da mãe, Dienifer aprendeu bem o ofício: “A gente se entendeu


São Leopoldo, maio de 2011

toda a vida determinação

as, casadas, divorciadas, trabalhadoras, idosas e essas mulheres são as mães da Vila Brás. Mesmo ldades e por histórias de vida distintas, todas as oisa em comum: o amor incondicional aos filhos. jetória dessas verdadeiras heroínas.

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O doce som de ‘mamãe’ Os primeiros passos e as primeiras palavras pronunciadas por Lucas, quatro anos, são as melhores lembranças guardadas por Cristiane da Silva, 27 anos. Há um mês, ela renovou a experiência de ser mãe e deu à luz Mateus. Os dois filhos não foram planejados, embora estivesse casada, mas foram bem aceitos. Hoje, separada, ela conta que o pai, César da Rosa de Melo, 34 anos, está bem presente. “Cada fase da vida é uma surpresa”, diz a auxiliar de almoxarifado, que sentiu uma das suas maiores emoções quando ouviu pela primeira vez “Mamãe”, embora antes já tivesse ouvido “Papai”. Ela lembra da expectativa durante a gestação: quando Mateus nasceu, Cristiane virou a noite olhando para o rostinho. “Se eu tivesse condições, queria ter mais dois filhos. Meu sonho é ter

Cristiane com Mateus (no colo) e Lucas: “Se eu tivesse condições, queria ter mais dois filhos” quatro”, conta. Apesar de ser um mundo completamente diferente para ela, que, com 23 anos, já carregava Lucas nos braços,

Cristiane não tem dúvidas: “A mulher nasce para ser mãe, já tem o dom”. Uma das suas maiores alegrias? “Quando ele [Lucas] diz ‘Mãe eu te amo’”.

“Mãe que é mãe dá a vida pelo filho” Uma guerreira. É assim que os vizinhos definem Lori Fátima Pereira da Silva, faxineira que nunca mediu esforços para não faltar nada para os três filhos. “Além de faxina, já trabalhei em obra, madeireira e restaurante, sem nunca deixar faltar comida para eles”, conta a mãe de 43 anos. Ela se orgulha de dizer que, desde os 13 anos, nunca deixou de trabalhar. Hoje, a mãe de Silmara, Luiz Valdecir e Guilherme deixa os filhos na creche enquanto trabalha na limpeza.

rês filhos muito mais, dou muito mais valor para ela”. A jovem não pretende ter mais filhos e se arrepende de ter parado os estudos na sexta série; pensa em voltar para a escola, mas sabe que com a família para cuidar, é difícil. “Meu sonho é fazer faculdade para ser advogada”, conta. Trabalhando fora, ela e o companheiro dão atenção às crianças principalmente aos finais de semana. Dienifer observa que o maior desafio é educar bem. Cada momento com os pequenos é de grande valia: “A melhor parte é quando teu filho precisa de alguma coisa e vem a ti, mostrar que tu podes dar segurança, que ele confia”.

“Eles vão para a escola de manhã e à tarde vão para a creche. Costumo chegar em casa depois das 19h”, relata. O companheiro de Lori é o pai dos três filhos, mas a principal fonte de renda da casa provém do trabalho da mulher. Com R$ 520 Lori paga a creche das crianças, luz, água e o rancho mensal. Entre as dificuldades que passou na vida, a faxineira destaca um problema de saúde do filho Luiz, há cerca de três anos. Segundo Lori, ele tinha muitas dores abdominais e os

médicos julgavam ser vermes. Somente quando o levaram da escola para o hospital é que operaram a apendicite. “A cirurgia, que normalmente dura uma hora, levou quatro. Além da apendicite, meu filho tinha uma bolha de sangue que colava os intestinos à bexiga”, relembra a mãe, que considera essa a maior das desgraças pelas quais passou. “Já passei fome, perdi minha casa em um incêndio, mas sem dúvida foi pior ver a vida do meu filho em risco. Mãe que é mãe dá a vida por um filho”, finaliza.

Aos 59 anos, Erotildes já é bisavó

Erotildes se orgulha de dizer que os filhos e netos não passam pelas dificuldades que ela enfrentou

Seis filhos, 21 netos e dois bisnetos. A história da vida de Erotildes dos Reis Gomes “dá uma novela”, nas palavras da aposentada de 59 anos. Casada aos 18 anos de idade em Porto Xavier, teve o primeiro filho um ano depois. “Rodei o mundo enquanto casada, conheci diversos estados do país. Minha última filha nasceu em Xanxerê, Santa Catarina”, conta ela, que teve seis filhos em uma década, cada um com cerca de dois anos de diferença para o outro. Enquanto Erotildes trabalhou como agricultora e operária, conhecidos cuidavam das crianças, hoje com idades entre 31 e 40

anos. “Eu passei miséria, mas todos hoje estão bem, casados e com filhos”. O primeiro neto nasceu aos 19 da filha mais velha, quando Erotildes tinha 37 anos. Hoje o neto mais velho está com 22 anos e o menor, um. Bisnetos a aposentada, por enquanto, tem uma de seis anos e outro que está por nascer. “A vida teria sido mais fácil com menos filhos, mas não me arrependo de ter todos eles”, avalia Erotildes. “Quem incomoda é o marido e não os filhos”, brinca. Ela espera uma surpresa dos filhos neste Dia das Mães, que quer passar ao lado de todos eles. “Graças a Deus sou muito feliz com os meus filhos”, festeja.


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Dia das Mães

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Ontem adolescente, hoje mãe No descuido de um momento, a gravidez indesejada mudou para sempre a vida de uma garota de 14 anos bebeta.reis@gmail.com

A

inda que hoje B.R., de apenas 14 anos, fale do seu bebê de quatro meses com muito orgulho, não foi este seu sentimento quando se descobriu grávida do namorado. “Fiquei chocada”, afirma a menina. A opção de mudar para a casa do pai do bebê foi um consenso entre o casal. “Minha mãe chorou muito quando soube. Ela aceitou, mas não nos vemos muito desde então”, declara B.R. A garota, que morava com seus dois irmãos, mãe e avó, agora vive com a família do namorado. Ao contrário do que acontece com muitas jovens, ela teve total apoio dele durante a gestação e continuam juntos. “Ele vivia

fazendo carinhos na minha barriga, é muito carinhoso”, diz. Planejam casar em breve, assim que for possível. As amigas também sempre visitam, levam presentes e brincam com o bebê. “Elas ficaram muito felizes, pois não foi com elas que aconteceu”, brinca B. Apesar de afirmar que nada mudou, a menina cita alguns aspectos que ficaram diferentes depois da gravidez. Na escola, teve que dar um tempo. Parou na 6ª série, mas diz com convicção que, ano que vem, volta para os estudos. A sogra cuidava da criança, mas todos acharam que era importante ter a presença da mãe, e estar ali quando precisasse amamentar ou acalmar o bebê. Agora, além de cuidar do neto, cuida de B. também.

DIERLI SANTOS

Roberta Reis

Hoje, com o choque da gravidez superado, a adolescente se diverte com seu filho nos braços

O recado deles ederkurz@hotmail.com

Escorado na parede de uma casa em uma das tantas esquinas da Vila Brás, Adriano Correa Sedler observa o horizonte. Passam a sua frente pedestres, carros, bicicletas e ônibus. Parece desligado. De calça jeans, camiseta, boné e brincos nas duas orelhas, o jovem de 16 anos só muda de semblante quando questionado sobre a mãe e o presente de Dia das Mães. “Nem pensei ainda”, sorri o servente de obras. Tímido, Adriano mal consegue dizer algumas palavras em homenagem à mãe. Também não revela o presente que pretende entregar a ela no Dia das Mães. Ele mora com os avós e só encontra a

mãe uma vez por mês. Mateus Matias de Souza, 14 anos, tem um pouco mais de sorte. Vive sob o mesmo teto que a mãe. “No ano passado, dei uma camisa”, relembra o aluno do 5º ano da Escola Municipal João Belchior Marques Goulart, que anda pelas ruas da Brás numa velha bicicleta, com o amigo Mateus David da Silveira, nove, na garupa. Há uma fórmula original e comum entre os filhos da Vila Brás de dar presente no Dia das Mães: uma flor. Foi dessa forma que muitos jovens homenagearam suas progenitoras um ano atrás. É assim que Mateus David pretende presentear sua mãe este ano. Ele garante: “Vou dar uma flor”. A seguir, algumas homenagens dos filhos às mães nesse dia especial para todos os brasileiros.

FOTOS PATRÍCIA OLIVEIRA

Éder Romeu Kurz

“Um presente para a melhor mãe do mundo” Mateus Matias de Souza, 14 anos, e Mateus David da Silveira, nove

“Obrigado pelos carinhos que você sempre me deu”

“Amo muito você, feliz dia das mães”

“Feliz dia das mães”

Pâmela Daiana Candido Nascimento, 14

Yasmim Nogueira Haack, nove anos,

Cristian da Luz Machado, 10 anos


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Mulher

São Leopoldo, maio de 2011

Trabalho pesado com toque feminino

LILIANA EGEWARTH

Disposição e habilidade abrem novos campos de trabalho

Ana Paula Figueiredo apaulamoraes@yahoo.com.br

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arregar tijolos, fazer massa, aplicar reboco, colocar rejuntes em paredes ou no chão, realizar pinturas. Todos são trabalhos tipicamente masculinos. Mas enganase quem pensa que uma mulher não pode executar tais tarefas com qualidade. Viúva, mãe de quatro filhos, avó de duas netas, Silvia Z. Peres, 43, trabalha há um ano como servente de obras. A oportunidade simplesmente apareceu. “Andava muito estressada, com depressão, precisava sair de casa”, conta. “Decidi que iria trabalhar, mesmo que fosse carregando tijolos”. No local de trabalho, quando exercia a profissão de diarista, de tanto ver os colegas homens trabalhando com obras, tomou gosto pelo tipo de serviço. Silvia diz que tentou convencer ao seu chefe de que poderia também realizar o mesmo que eles.“Não queria ficar parada. Chorei no ouvido do patrão”, brinca. “Até que ele me levou. No início achava que mulher não poderia cumprir

essas tarefas.” O novo trabalho começou aos poucos, lixando paredes e fazendo pintura. Mas não demorou muito para pôr as mãos realmente no pesado. Hoje, Silvia realiza muitos trabalhos que antes eram tidos como de homens. No entanto, ela afirma que não há discriminação por parte dos colegas. “Não existe preconceito, pois todos são amigos”, acredita. Trabalhando das 8h às 17h30mim, de segunda a sexta, algumas vezes também aos sábados, Silvia comenta que gosta do serviço e que há somente algumas exceções que a incomodam. “Apenas é ruim quando tenho que trabalhar no sol, no verão”, destaca. “Ajudar ceramiquista é mais cansativo, pois é mais parado, só alcançando a cerâmica e a cola. Um trabalho lento às vezes cansa muito mais.” Para ela não há tipo de serviço preferido. “Só não gosto de ficar parada, gosto de estar em movimento”, explica. Silvia revela que ganha R$ 35 por dia. O valor é inferior ao de alguns colegas homens, mas não por ela ser mulher. VANESSA MANZONI

Silvia Z. Peres é servente de obras há um ano e afirma estar feliz com o trabalho “O salário depende do rendimento da pessoa e do tipo de trabalho”, afirma. Segundo ela, pedreiros e azulejistas recebem mais. “Já tive colega que fazia o mesmo trabalho que eu e ganhava menos. A diferença não é por ser homem ou mulher, tem a ver com o serviço”. Para ela, os homens estão perdendo um pouco de espaço nesses tipos de trabalhos. “Muitos homens só querem ficar pelos bares bebendo, e com isso as mulheres tomam o lugar.” Mesmo feliz com a vida e o trabalho, que não pretende trocar, Silvia não tem a aprovação dos filhos. “Eles não gostam muito. Dizem que sou louca”, brinca. A filha Fabiane Peres, que trabalha

Aumentando a renda Patrícia Carvalho pc_patriciacarvalho@hotmail.com

Arminda Dermann: uma aposentada em busca de um novo amor

como injetora de salto e sola de calçados, conta que desejaria que a mãe encontrasse outro tipo de emprego. “Não acredito que seja serviço para ela”, pondera. “É muito esforço físico, e isso, junto com os produtos, como cimento, acabam por prejudicar a pele e judiar dela. Mas, a escolha é dela”. Antes mesmo de começar a atuar na área, Silvia fez alguns serviços em sua própria casa, como o calçamento do pátio. Quando não está lixando, pintando, virando massa, ela gosta de ficar em casa, acompanhada de seu chimarrão e de suas músicas apaixonadas, como ela mesma define.

Moradora da Brás, a aposentada Arminda Dermann trabalha para aumentar sua renda e pelo prazer. Diz que, como foi criada na roça, não consegue ficar parada. Muita gente da Vila Brás a conhece, pelo menos de vista. Arminda cata latinhas e garrafas plásticas e vende para empresas de reciclagem. Antonio Julpir, 47 anos, cozinheiro industrial formado pelo Senai, é amigo de Arminda há muitos anos, a conhece como ninguém e confirma que ela é uma pessoa muito querida, alto astral e que o bairro inteiro sabe da sua história ou pelo menos a vê pelas ruas com seu carrinho de supermercado em busca de material reciclável. Descendente de alemães,

Arminda, de 73 anos, vive na Brás há mais de dez, já tentou morar em outros lugares, mas sempre acabou retornando. Conta que a Brás é um lugar muito bom para viver, que vai para a praia e ninguém mexe na sua casa. “Ainda há segurança”, comemora. Mãe de três filhos, Adelaide Terezinha, Sônia Beatriz e Flávio, ela conta que sofreu muito com a perda da filha do meio no ano passado. É viúva e garante que está atrás de um novo amor, mas reclama da dificuldade para encontrar: “Há pouco homem e muita mulher”. Vive com três gatos, três cachorros e uma galinha, que põem ovos todos os dias. Natural de Santa Tecla, adora animais e sua horta. O que mais gosta mesmo é de pescar, na plataforma de Tramandaí. Ganhou uns anzóis novos do filho caçula Flávio e ainda não

os estreou, mas assim que der, ela vai. No meio da entrevista, pedi a ela que me contasse uma história engraçada e olhem só o que ela disse: “No ano passado fui inventar de pescar em cima da ponte, fui jogar a linha e não é que pega bem no saco de um cara, mas tu precisava ver, todo mundo caiu na risada e ele ficou vermelho. Ficou por horas e horas tirando. Não me aguentei e ri muito também. É que sou meio estabanada mesmo”. Supervaidosa, pinta seus próprios cabelos de preto, e as unhas também. Diz que ficar em casa chorando pelos cantos não dá, que tem que aproveitar a vida e a saúde que Deus lhe deu. O rádio é o seu fiel companheiro todos os dias. Ela adora escutar a rádio Alegria, é apaixonada pelas músicas sertanejas e gosta de dançar também.


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Economia

São Leopoldo, maio de 2011

Os briques onde são vendidos móveis novos FOTOS LIEGE FREITAS

Preço de produtos recém-saídos de fábrica diminui interesse do consumidor por mobília já usada Juliana Brião julianabriao@gmail.com

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o contrário do que todo mundo pensa, os briques não vendem somente móveis usados. E na Brás pode-se dizer que quase não há mais utensílios seminovos para serem vendidos. Percorrendo a Avenida Leopoldo Wasun encontram-se duas lojas que se intitulam briques, mas ao entrar a surpresa está garantida. Na tentativa de montar uma sala, para ter uma noção de quanto se gastaria, me deparei com peças novas com preços razoavelmente baratos, nada de luxo, mas tudo de qualidade para uma casa. No “Ponto Brik”, que se localiza bem na entrada da Vila, podemos encontrar diversas opções de móveis novos para se vender. O proprietário Antônio Leira, 50 anos, vende um conjunto de sofás, de dois e três lugares, por R$ 350,00. Antônio conta que na sua loja ele só tem uma televisão de 20 polegadas usada que está sendo vendida por R$ 150,00. O resto no local é tudo novo, pois na visão dele não vale mais a pena comprar seminovos, já que os novos são possíveis se vender por um preço baixo. O proprietário destaca as grandes lojas como responsáveis por esse crescimento nos negócios pequenos. “As lojas grandes não estão comprando muito, isso enfraqueceu as vendas das fábricas e elas estão dando mais valor para estabelecimentos pequenos como o meu”, revela Antônio. Mesmo estando escrito na fachada das lojas que eles compram móveis seminovos, Antônio ressalta que hoje em dia só compra se estiver em perfeito estado: “Não vale a pena comprar se não for quase novo. Móveis velhos têm que ir pro lixo”, argumenta. O proprietário também conta que os seus clientes são mais da Brás, mas já recebeu visitas de pessoas do Centro de São Leopoldo atrás de seus produtos. No Brik Leira, não há nada a não ser novos. O jovem vendedor Cleiton da Silva, 17 anos, destaca que não há produtos “mais procurados”. Eles vendem de tudo um pouco. Mas comenta que, se tivesse que fazer um ranking dos primeiros da lista, esses seriam colchões e camas, “pois são muito procurados”. Já as formas de pagamentos não são nada fáceis para os frequentadores. Elas são feitas como em lojas grandes, nada de carnês, caderninhos (fiado) ou cheques. Lá, somente se pode parcelar nos cartões e só são aceitas duas bandeiras. Por fim, constatei que os briques da vila são uma ótima alternativa para adquirir produtos bons e baratos. Assim, facilitando a vida dos moradores que compram produtos novos por preços de seminovos.

No ritmo da costura Taína Lauck tataslauck@gmail.com

De um trapo, de um resto, de um projeto mal desenvolvido de calça jeans, se faz tapete, uma oportunidade de renda, de bem-estar, algo para para passar o tempo, feito por mãos que o tempo já calejou. Primeiro, emparelha-se o material, as pernas rasgadas da calça jeans, com a paciência da mulher que muito viveu, mas que mantém no rosto conservado o sorriso de uma juventude invejável. Rasga-se depois a linha e se costura em volta. As duas partes são unidas como em uma sinfonia da costura, formando uma só. Um casamento,

o tapete seria? Faz-se a costura da barra. Declara-se pronto o tapete de Tereza Juranda de Almeida Lencina, 75 anos, grande nome e grande habilidade com a linha. Conta que bastam 15 minutos e surge um tapete de suas mãos. Já a dinâmina aposentada Maria Vilma Elesbão, 67 anos, não parece costurar como uma orquestra e sim como uma escola de samba e todo o seu fervor. Rindo e conversando o tempo todo, conta que costura há mais de 20 anos, usando as pernas das calças jeans de base para seus tapetes. O detalhe: todos, uma aquarela de cores feita de retalhos coloridos, nem os times de futebol escapam. O cliente pede, ela costura, simples assim.


Economia

São Leopoldo, maio de 2011

O domingo é do churrasco

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Além da costela, cardápio prevê salada verde, batata, aipim e batata doce PATRÍCIA OLIVEIRA

Sindy Longo siindyy@hotmail.com

Q

uanto custa um churrasco na Vila Brás? Para cinco pessoas sairia em torno de R$ 80. Nesse preço estão inclusos, além da carne, acompanhamentos como salada, bebidas e carvão. O churrasco é uma tradição gaúcha que alcança todos os estados brasileiros. Cada região adaptou essa modalidade de carne assada de acordo com seus gostos e costumes. Essa refeição está presente na rotina de todos os brasileiros, principalmente na daqueles que moram no estado do Rio Grande do sul. Na Vila Brás não podia ser diferente. Gelson Barros Bibiano tem 28 anos e trabalha há oito anos como açougueiro em um mercado da vila. Para ele, o churrasco faz parte do cotidiano dos moradores e da diversão de final de semana. Gelson nos conta quais são as carnes mais procuradas, “Durante a semana o que mais vende é carne para fazer assada na panela, mas o que mais

O açougueiro Gelson Bibiano mostra a carne mais tradicional do churrasco, a costela vende nos finais de semana são carnes para churrasco”, diz ele. Na hora da compra dos preparativos para o churrasco, o açougueiro afirma que a carne que os

moradores preferem é a tradicional costela. É uma refeição de fácil preparo, mas que esconde os segredos dos assadores. Cada um tem seu modo de

preparo, jeito de assar e temperos, mas o que conta é a criatividade de cada um, dando continuidade a essa tradição de “dar água na boca”.

O pedreiro José Leonir Tavares, tem 54 anos, e costuma assar carne todos os domingos, e às vezes aos sábados também. Reúne os familiares, segundo ele em torno de seis pessoas, em volta da churrasqueira e coloca as carnes na brasa. José vai além dos ingredientes básicos para o churrasco, ele incrementou com acompanhamentos de sua preferência. “Além das carnes como costela, carne de porco e frango, também preparamos salada de batata, aipim, batata doce e salada verde”, diz José. Tavares conta que, de bebidas, normalmente tem refrigerante. Cerveja ele compra às vezes para relaxar. Na hora do preparo, o que conta é a inspiração de cada assador, o preço pode variar de acordo com a escolha dos ingredientes. O negócio é escolher as carnes e os acompanhamentos que cabem no seu bolso, não se esquecendo do básico, que é o carvão e o sal grosso, mas o mais importante é não ficar de fora dessa deliciosa tradição que nos acompanha há muito tempo.

De uma Páscoa, nasce uma oportunidade Taína Lauck tataslauck@gmail.com

crianças carentes que moram em sua rua. Moradora da Rua 9 da Vila Brás, a doméstica conta que estava cansada de ver aquelas crianças sem receber nada na data e resolveu

tomar uma atitude. Há dois anos ela compra em torno de 15 kits em um mercadinho da vila e faz a distribuição, mesma atividade que ela desempenha no Natal. VINICIUS CASCO

Uma Páscoa, nenhum ovo, uma ideia. Há 20 anos, os filhos de Ademir Soares, hoje com 54, e Maria Beatriz Soares, 45, ficaram sem seus ovos de chocolate. O motivo? Seus pais deixaram para comprá-los na última hora, hábito da maioria dos brasileiros nessa época do ano. Ademir contou, todo orgulhoso, que, desse episódio, consideravelmente triste, fez-se uma oportunidade de empreender. Na Páscoa seguinte, na casa da família, os ovos foram produzidos pelo próprio casal. Ademir disse que os dois se surpreenderam com o resultado e resolveram fazer seis ovos para vender, apenas como um teste. A ideia deu certo. Com o dinheiro adquirido na venda dos seis ovos compraram mais chocolate. O resultado ficou melhor que o esperado e a produção tomou uma proporção maior que satisfazer o desejo dos filhos. Assim começou a produção do casal que hoje derrete mais de 50 quilos de chocolate para vender na Avenida Leopoldo Vasun, na Vila

Brás, em São Leopoldo. Maria ganha a vida como vendedora, e Ademir é artesão de flores de EVA. A venda de chocolates se tornou uma renda extra para a família há 18 anos. A produção é feita em uma peça construída na residência do casal, feita especialmente para isso. Um ovo de 500 gramas custa R$14. São vendidos ovos de vários tamanhos, cestas, bombons e coelhos de chocolate. As vendas começaram no início de abril. Um dos clientes assíduos dos ovos é o menino Cristiano Branco Chaves, de 10 anos, que disse sempre comprar chocolate para a mãe dele e ela levar do Seu Ademir para ele. No mercado Super21, o maior da Vila, de acordo com o proprietário Ezequiel Vargas, 29 anos, a maior procura nessa temporada não é por ovos de Páscoa, e sim por caixas de bombom. Isso acontece porque é possível, por um preço inferior, levar a mesma quantidade de chocolate. Vanda Fortes, 41 anos, mãe de Luana, 19 anos e de Eric, três, passa a Páscoa de uma forma diferente. Além de presentear o filho, também distribui kits de Páscoas para as

Há 18 anos, Ademir Soares fabrica e vende ovos de Páscoa na Avenida Leopoldo Vasun


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Cotidiano

São Leopoldo, maio de 2011 FOTOS HAMILTON NUNES

Quando o pessoal está de folga, a Avenida Leopoldo Wasun, principal via da Vila Brás, é tomada pelos moradores, que procuram atividades de lazer e compras

Manhã ensolarada de sábado Brincadeiras, lojas abertas, feirinhas movimentadas, bares e restaurantes cheios. O fim de semana é animado na Brás Andressa Boll andressa.boll@gmail.com

H

á tempos que a Vila Brás não é mais um lugar com falta de segurança. Crianças brincando nas ruas, famílias passeando, fazendo compras, dividindo espaço com os cachorros, todos vivem em aparente harmonia. As manhãs de sábado ensolaradas emanam um clima tão agradável que é impossível imaginar como o lugar pôde ser visto com tão maus olhos. Salões de beleza fervilhando de clientes, entre homens e mulheres, que querem se embelezar para o final de semana. Crianças correndo, jogando bola, meninas brincando de panelinha, meninos de carrinho, se preparando para participar das atividades do projeto Escola Aberta, que acontecem na Escola Municipal João Goulart, são os personagens mais típicos

de se encontrar. Muitos carros nas ruas, motos de som e bicicletas que dividem o espaço com os pedestres não impedem que o dia siga em harmonia. O comércio todo aberto também aproveita o movimento para vender seus produtos. As pessoas que têm uma folguinha aproveitam o amplo comércio para adquirir aquilo que necessitam. Para Diná Mousquer, comerciária, o sábado é bom porque principalmente no final da tarde aumenta o movimento e, com ele, as vendas. “Fico cuidando da loja e quando tenho uma folguinha fico sentada aqui na frente para ver o movimento da rua”, salienta. Além daqueles que usam o sábado para lazer, há os que aproveitam a folga para trabalhar ainda mais, como é o caso do auxiliar administrativo José Eberson dos Santos. Durante a semana trabalha numa empresa, e nos finais de semana ajuda o pai

na reforma de casa, fazendo a massa com o cimento. A manhã de sábado ele passa na companhia dos familiares. Outra característica marcante das manhãs de sábado na Vila Brás é a movimentação nas feirinhas de roupas. Nos brechós é possível achar roupas baratas, nos mais variados tamanhos e estilos. A dica para que se

consiga desfrutar mais dessas feirinhas é chegar cedo, pois quanto mais o tempo passa, mais pessoas chegam e as melhores peças se esgotam. Os restaurantes e lancherias também são destaque. Chegando perto do meio-dia o cheirinho de comida atrai o alfato de qualquer pessoa e até mesmo dos animais. Churrascos,

almoços, lanches e frangos assados são apenas alguns dos exemplos da riqueza gastronômica do local. Os supermercados e açougues também recebem um grande movimento de pessoas preocupadas em garantir o alimento para preparar a refeição do final de semana. Carnes, carvão e sal grosso são itens indispensáveis no local aos finais de semana. Assim, pode-se ver que a Vila Brás é, com certeza, um recanto cheio de surpresas, oportunidades e harmonia. A equipe do Enfoque pode e dá seu veredicto: a Brás é um lugar como qualquer outro, com pessoas simples, dignas e honestas.

Crianças aproveitam o final de semana para brincar


Cotidiano

São Leopoldo, maio de 2011

Bate-bola com a gurizada

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Crianças jogam futebol na calçada, enquanto aguardam escola abrir para a brincadeira da tarde tiagotvr@gmail.com

“U

m, dois, três, quatro e cinco. É até aqui”. Assim começa o futebol na calçada em frente à casa de Luciano Borba Machado, 34 anos. Ele é pai de Pedro, de 5 anos, o menor do grupo, com cerca de cinco garotos. Primeiro eles fazem as “goleirinhas”. Colocam chinelos ou mesmo pequenas pedras para demarcar as traves. Pedro só olha, fica esperando enquanto os maiores fazem a medição. “São cinco passos, às vezes quatro”, explica Pablo Corrêa Schetze, de 10 anos. “Lá na minha rua a gente joga com até 10 passos”, retruca, mesmo estando em frente à sua casa, o saltitante Pedro. Mas quando perguntado se não ficaria muito fácil de fazer gols, o pequeno logo responde: “É que tem uns muito atentados no gol. Tem uma guria que joga muito...”, exclama. O tempo para conversa é pouco. O futebol os chama. Qual a criança brasileira que nunca jogou bola. Menino ou menina, tanto faz. Na Brás não é diferente. Principalmente os guris, não perdem tempo. Depois da escola, de tarde, ou aos finais de semana, os dias inteiros. Jogam futebol sem parar. A Escola Municipal de Ensino Fundamental João

Goulart, onde a maioria deles estuda, proporciona este lazer. Ela abre seus portões aos sábados para que a criançada possa aproveitar as duas quadras. Uma é de futsal, a outra de areia. “Essa escola aberta é uma maravilha. As crianças têm onde brincar, não tem tempo para se perderem na vida”, aproxima-se falando Pedro Rosa Duarte, 62 anos de idade e 27 de Vila Brás. “Isso é um sonho. Hoje podemos andar na rua até tarde, não tem assalto, temos ônibus na porta de casa. Hoje está bom mesmo”, completa sorridente. Luciano Machado concorda. Seu guri, Pedro, o dono da bola, estuda na Escola Municipal de Educação Infantil Girasol, mas está sempre no educandário dos amigos maiores para bater uma bolinha. “Antes era ainda melhor. Abria sábado e domingo”, pondera Machado. A outra opção para o futebol é a praça. “Só que na praça tem muita pedra. E quando chove fica tudo alagado”, lembra Machado. “Na escola tem até ‘oficineira’. Tem hora para os pequenos e depois eles se revezam, vão para a areia e os grandes ficam na quadra de futsal”, explica. Quase todos eles já jogaram algum campeonato, seja na própria escola onde estudam ou em campos da cidade. Mostram orgulho disso e também de irem

MARCOS LUDVIG

Tiago Vargas

Pablo, Rafael, Pedro e Ailand compartilham sonho de um dia serem jogadores de futebol bem no colégio. “Tirei 2º lugar num campeonato e fiz cinco gols. Um foi de pênalti”, vibra Pablo. “Ah, e nunca rodei”, conta o garoto que cursa a 4ª série. Rafael Corrêa, 11 anos, diz que joga no Juventus,

um time da cidade. Também adora futebol e já participou de diversas competições. Ele está na 4ª série, também. Contar eles não contam os gols. Mas vibram muito cada vez que a bola cruza a demarcação. E se perguntar

pra quem é o melhor: “Sou eu”, diz um deles. “Não, eu que sou”, fala o outro. “Nada disso, o melhor aqui sou eu”. Mas isso pouco importa. Estão se divertindo numa incessantemente nova Vila Brás. Isso sim é bom saber!

Barbara Bauer

Encaçaparam o porco Gabriela Simoni gabytxa@gmail.com

Um porco de 74 quilos foi o grande prêmio do primeiro torneio de sinuca organizado pelo Bar do Alemão, instalado na Rua Leopoldo Wasun, na Vila Brás. O campeonato estava programado para começar às 13 horas do dia 9 de abril, um sábado, mas era meiodia e ninguém ainda havia se inscrito. “Só Deus sabe o que vai acontecer”, respondeu o proprietário do estabelecimento, Ivair

da Silva Santos, quando questionado sobre o que se poderia esperar da competição. Aos praticantes da arte de encaçapar as bolinhas no canto da mesa, também foi oferecida uma caixa de cerveja para quem conseguisse o segundo lugar. Já a terceira posição levaria para casa meia caixa da bebida. Na verdade, a expectativa era de que todos os ganhadores juntassem seus respectivos prêmios para garantir a festa.


Enfoquinho

vilabrás

Cruzadinhas

Palavras

Toda mãe é vaidosa e gosta de estar bonita. Você consegue acertar as principais roupas e acessórios que elas gostam?

Mãe é uma só, mas toda mãe assume muitos papéis diariamente. Você consegue encontrar mais nove abaixo? 1

- Mãe

- Conselheira

- Mulher

- Amiga

- Esposa

- Namorada

- Companheira

- Exemplo

- Profissional

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Concurso de redação

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e ição, o Enfoqu Na próxima ed a os textos Vila Brás public Concurso de vencedores do ovido História, prom Redação Nova m parceria co a pelo jornal em . al João Goulart Escola Municip res, so ão dos profes Com a orientaç e ri ta à oitava sé alunos de quin nto os a partir do co escrevem text a. an de Mario Quint Velha História, a história, Vale continuar comentar, refazer ou até O 15 a 25 linhas. escrevendo de dade mular a criativi objetivo é esti a. leitura e escrit e o gosto pela rie sé r po o xt um te Será escolhido e. ado no Enfoqu para ser public

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Cartão para a mãe Crie um cartão bem bonito para a sua mãe! Veja como é fácil: numa folha de cartolina, desenhe dois corações em branco. Desenhe o seu rosto num deles e o rosto da sua mãe no outro. Junto, escreva também: “Parabéns por mais um dia tão especial!”. Depois, corte e entregue para a mãe, preenchendo no verso: De (seu nome): _____________________________ Para (nome da sua mãe):_____________________ Veja o modelo:

Parabéns por mais um dia tão especial! De:

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Respostas: Perfume (1) - Esmalte (2) - Bolsa (3) - Brinco (4) - Zíper (5) - Vestido (6) - Pulseira (7) - Blusa (8) - Sandália (9) - Batom (10) - Saia (11) - Camisa (12) - Tiara (13) - Maquiagem (14) - Sapato (15)

Caça-


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