ORGANIZ ADORES .
Demétrio de Rzeredo Soster Mirna Tonus
" Um dos termos es sencia is no processo ensinoaprendizagem e motivação. No jornal-laboratório dos cursos de Jornalismo , os professores utilizam os mais diversos me ios poro motivar os alunos e transformá-los em profissionais críticos e eticos. Enessa prático que 05 estudantes colocam em execução os conhecimentos teóricos apreendidos nos disciplinas térnico prof issionoli zantes . Já em 1960, Luiz Beltrão, um dos pion eiros no ensino de Jornalismo, demonstrçwo preocupa ção com o prático no formação dos jornalista s. Isso ficou evidenciado no moção do Jornal Cobaio, uma formo de simu lar situações profissionalizantes, no momento em que os curso s nã o dispunham do mínimo infra-estruturo poro p rático laboratori a l. Se o re gulame ntação do profissão do j o rnalista, em 1969, questionava a ditad ura da teoria no ens ino de Jornali smo, o fim do obrigatoriedade · do estágio, dez anos depois . reforçou o ditadura do prática, :acentuando o tecn icism o nos cursos . Essas duas medido s evidenciaram o importância d o j ornal-laboratóri o no formação do jo rnalista . Da í a validade deste livro que p retende oferecer o quem aprende, ensino ou pesquisa jornalismo imp resso , o registro de algumas dos principais expe riênci a s lab o ra to ria is colocados em prático nos universidades brasileiros . Este volume pretend e registrar o estod .o do arte da produção laboratorial em Jorn alismo impresso no Brasil , ém supo rtes como jornai s, revisto s .·e jornais-murais. Alem de o fe recer suporte teórico-metodol ógico .em dinâmicas materiais nos âmbitos de ensino. extensão e pesqu isa. funções traduzidas no papel das u.rnvers1dades .
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9 PROJETO JORNAL- LABORATÓRIO: AMBIENTE DE APRENDIZAGEM DENTRO DE UMA VISÃO DE HIPERMÍDIA Luciano Bitencourt e Raquel Wandelli
Sempre é tempo de lembrar que o jornal-escola, ou jornallaboratório, teve sua primeira aparição quando a atividade jornalística referenciava-se, quase que exclusivamente, no papeljornal como produto de seu labor 1 • Consolidado há mais de três décadas no bojo das medidas que restringiram ou mesmo interditaram o uso de estágios na regulamentação do exercício profissionaF, o jornal-laboratório sacralizou-se em produtos impressos de caráter preferencialmente informativo, cujo objetivo é associar-se à teoria como elemento constitutivo da formação em Jornalismo. O papel já não é mais o suporte dominante do jornalismo herdeiro da cultura impressa e a atividade de estágio, devidamente regulamentada, já não representa uma ameaça para a integridade profissional. Nem por isso o jornal-laboratório impresso foi ou deve ser eliminado: como um produto de mídia, é um instrumento de experiência pedagógica que não cessa de reinventar-se. Do ponto de vista transdisciplinar de comunicação e de universidade que tem se estabelecido no horizonte epistemológico, a concepção ideal para o jornal-laboratório é a de se afirmar como ambiente de aprendizagem. O produto do fazer jornalístico inscrito em suportes midiáticos específicos passa a ser entendido como resultado de uma práxis que não se pauta apenas nos modos de produção, circulação e em canais de mercado consagrados pela indústria das mídias de massa. Nesse sentido, é para o labor em toda a sua complexidade que voltam-se os processos de ensinoaprendizagem . ~-
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No curso de Jornalismo da Universidade do Sul de Santa ~atarina, os debates sobre a concepção de jornal-laboratório mscreveram -se em uma proposta de currículo distanciada do en~endimento de que o modo de produção alicerça-se exclusivamente nos suportes midiáticos e em suas técnicas especializadas. As produções em impresso reúnem, evidentemente especificidades que merecem atenção no processo formativo. Ma~ a proposta curricular vigente projeta-se sobre a importância da atividade jornalística numa sociedade cada vez mais mediada pela tecnologia mas ainda excludente quanto a oportunidades de acesso à informação e ao conhecimento. Antes de tudo , é necessário, mesmo que sucintamente , abordar os critérios que regularam o repensar de currículo . As Diretrizes Acadêmicas da Unisul pedem um projeto pedagógico ba~eado. n_o _desenvolvimento de competências para a formação u~1vers1tana. Quer dizer: as referências sociotécnicas que onen~am .a formação profissional em determinada área não podem pres_cmdir ~os _valores socioculturais e científico-tecnológicos na s1stematizaçao dos saberes e na preparação para o mundo do trabalho. , Diz~~ ainda as diretrizes que o sentido para a aprendizagem esta em at1v1dades organizadas para que os conteúdos, oriundos das disci~linas científicas, sejam recursos essenciais para o desenvolvimento das competências determinadas no âmbito universitário. Tais atividades se articulam numa escala processual de certificações que organizam o currículo em ciclos formativos 3 complementares sem requisitos prévios entre eles. A organização curncular pede, então, ambientes planejados para transformar os ~onteúdos _em conhecimento significativo. É neste lugar que se mscreve o Jornal-laboratório . Sendo assim, a ideia mesma de jornal-laboratório não poderia ficar aprisionada ao produto que lhe deu originalmente suporte, menos ainda vinculada a determinadas disciplinas, via de re~ra .técnicas, e a um fluxo curricular que a orienta para uma espec1fic1dade na formação. No contexto da reforma curricular em que se materializa, o projeto de jornal-laboratório ideal atravessa
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Jornal ismo- laboratório : impressos
o curso de Jornalismo em toda a sua extensão e se deixa atravessar tanto pelas contribuições das áreas de conhecimento 4 quanto pelos conceitos de hipermídia e hipertextualidade. Epistemologicamente, sustenta-se no currículo que a Comunicação é campo de atuação para o Jornalismo. Para além dos lugares de ocupação interpretados como postos de trabalho a serem preenchidos, o Jornalismo tem, nesse sentido, uma dimensão política que gera paixões coletivas, vontades de agir em torno de questões emergentes da contemporaneidade, capazes de mobilizar e reunir o conjunto de alunos e professores em torno de um projeto comum a cada plano de ensino unificado.
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qu e os repórteres sujam os sapatos para eric~ntrar, desde o século XVIII, as ruínas, os restos, as sobras .da Humanidade que um l progresso seletivo apresentado como orderh linear e natural do desenvolvimento vai deixando pelo cami~ho, na emblemática imagem que Walter Benjamin criou ef!l "Conceito de História" (19946). . Os documentos que expressam a t~oriomia adotada para as disciplinas científicas e para os processos formativos consolidados academicamente no Brasil trazem o Jornalismo como subárea da Comunicação e como área de formação nas Ciências Sociais. São os recortes nessas áreas e as interfaces entre elas e delas com as que compõem o complexo referencial científico contemporâneo, ou os campos de saber' inscritos na dinâmica dessa relação, que dão forma conceituai aos diferentes modos de produção e relativizam os ideários profissionais cristalizados na industrialização das mídias de massa.
No início desta experiência curricular, decidiu-se, em reunião de planejamento, dar consequência e aprofundamento ao projeto das vivências com grupos sociais mantidos à sombra dos holofotes da mídia. A proposta fundamenta-se na ideia de que o jornalismo, como potência histórica, pode realizar o que DidiHuberman chama, em Peuples exposés, peuples figurants 5 (2012) de dar rosto aos povos do presente ameaçados de desaparecimento: a censura mercadológica ou a exposição estereotipada. As duas ações, tanto a sub quanto a sobre-exposição, são, segundo o autor, da mesma ordem de invisibilidade. Ganhou corpo então a ideia de inventariar os povos protagonistas que não correspondem aos modelos de indivíduos referendados pela esfera midiáticomercadológica. São grupos sociais em situação de tensão, que oferecem uma sabedoria e uma cultura próprias merecedoras de serem narradas e documentadas, sob pena de terem suas luzes próprias apagadas e se perderem para a história do cotidiano, como alerta Didi-Huberman em Sobrevivência dos vaga-lumes (2001).
Nessa perspectiva , a contribuição das diferentes disciplinas científicas para o Jornalismo está em tratá-lo como objeto de análise e nos saberes capazes de desvelar as r(;!lações de produção e as práticas sociais que lhe dão sentido. Como proposta de formação, e por decorrência de projeto curricular, a crise de legitimidade da atividade profissional desloca-se dos inodelos de negócio que a sustentam para o lugar em que se valoriza historicamente como força inesgotável de promoção dos valores da democracia e da diversidade. As interfaces inspiram propostas como essa, de experienciar o jornalismo enquanto uma narrativa de revelação dos povos, como grandes demandas políticas,' sódais e culturais que chamam nosso fazer para além do circuito da utilidade de mercado.
O jornalismo, que nasce sob a égide do capitalismo, da industrialização e do florescimento das cidades, abraça, desde os primeiros flâneurs, a incumbência histórica de trazer à luz esses povos anônimos e sem rosto que Hanna Arendt ( 1987) chama de "centelhas de humanidade" esmagadas por uma política que é, segundo a filósofa, "inumana" porque não reconhece nem promove a diversidade constituidora da humanidade. É nas ruas, "morada do coletivo", segundo Benjamin em "O flâneur" (1989c),
Na concepção de jornal-laboratório como ambiente de aprendizagem, a atividade laboral ganha um sentido prexeomórfico 7 na medida em que se inscreve no currículo como atividade formativa, como elemento aglutinador dos diversos recursos que compõem o processo de formação. Nesse contexto, é na práxis jornalística que reside a possibilidade de transformação não só da atividade prática e seus questionamentos técnicos mas, e sobretudo, das relações de produção, dos vínculos sociais e das condições
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Jornalismo -laboratório : impressos
materiais para o exercício profissional. Ao longo dos últimos dois anos, o jornal-laboratório Fato & Versão tem organizado atividades que expressam as concepções do projeto pedagógico do curso de Jornalismo na Unisul, cujo primeiro ciclo de formação está em andamento no momento desta reflexão. A partir da integração de diversas habilidades e áreas do conhecimento, produziu-se vivências como se denominaram as reportagens jornalísticas em equipe que focam as histórias de vida de moradores de rua, dependentes químicos em tratamento, presidiários, comunidades rurais, de bairro, comunidades da periferia, aldeias indígenas, grupos de brasiguaios imigrantes, trabalhadores noturnos, prostitutas, pescadores, internos de centros de tratamento psiquiátrico, enfim, todos os povos compreendidos dentro da ideia de ruínas do contemporâneo. Jornal-laboratório e projeto pedagógico
O jornal-laboratório tem como objetivo preparar os estudantes para a prática profissional, mas na perspectiva de ir além dela, de superá-la, transformá-la e inová-la. Prepara para o exercício profissional sem se submeter aos condicionamentos do mercado, buscando transformar as práticas e os formatos já esgotados, mesmo porque não há um universo estruturado a se impor a todos quando se busca ocupações no mercado (CALLON in PARENTE, 2004). Norteador do projeto pedagógico do curso, o jornal-laboratório considera o movimento paradoxal do mercado, que se esgota velozmente em seus próprios ciclos, necessitando ser contradito e inovado, ao mesmo tempo em que tende a subjugar os profissionais às prescrições cristalizadas. A prática laboratorial se afirma legitimando a experimentação de formatos transformadores no campo gráfico e editorial, como fruto da pesquisa para o desenvolvimento de novas linguagens. O estímulo a vivências jornalísticas com pessoas reais, com as quais o repórter terá de estabelecer vínculos reais, tende a tornar a prática laboratorial mais verdadeira, impactante e pedagógica. Motivando
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a pulsão de ver, de ouvir, sentir e conhecer ''OSgrupos anônimos e os cenários que dão vida aos textos jornalísticos recupera-se o movimento de corpo ao encontro do desconhecido que está na base da narrativa deambulante. Esse aspecto de resistência laboratorial adquire maior peso se consideramos que a própria existência do repórter está ameaçada de desaparecin;iento ;em um mercado que tende a aderir à reprodução sedentária de _i~formações. O jornal-laboratório é espaço prhjle,giado para a reflexão crítica sobre a realidade, para a expressão eshlística e política. Em recusa à falsa neutralidade e imparcialidade, fortalece o exercício da análise, da interpretação e do posicionamento político sobre a realidade, obtido da soma e do confronto de vozes plurais. A busca do posicionamento assumido não 'significa, contudo, fazer do jornal, em qualquer de seus suportes, instrumento de posturas dogmáticas e ideologizadas. t Dentro da filosofia do projeto pedagógico e do Jornalismo que valoriza a integração coletiva de diferentes competências e tarefas, o jornal-laboratório resgata o aspecto coletivo essencial à produção, superando a fragmentação, a formação de guetos por setores, a individualização e a competitividade que caracterizam em grande parte as empresas jornalísticas. Além de propiciar a compreensão de todas as etapas do trabalho de colocar, no caso da produção em impressos, um jornal nas ruas, o jornal-laboratório situa o processo de produção na articulação de várias áreas do conhecimento, formas de linguagem e tecnologias, dentro de uma perspectiva hipermidiática sobre a relação entre as diferentes mídias e linguagens e em direção a um processo de ensinoaprendizagem hipertextual da comunicação~ · No contexto da universidade, o conceito de hipermídia enseja uma compreensão ampla e complexa do conjunto de mediações que se instauram na relação do homem com o meio. Implica perceber e ressaltar os significados simbólicos dessas mediações tecnológicas em que se incluem suas relações com sentidos históricos, culturais, políticos, econômicos, sociais. Promove a confluência e a integração das mídias e tecnologias modernas e rudimentares - na tendência atual da comunicação
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Jornali smo-laborat ório: impr essos
em favor do processo de construção de conhecimento as ações criativas.
e em todas
Funda-se na percepção desmitificadora e não determinista das tecnologias em relação às transformações sociais, capaz de salientar a preponderância do elemento humano que perpassa todas as mediações, das aparentemente mais simples - como a fala, a comunicação - às mais complexas. Das mídias primárias, como o corpo e a voz, às mais complexas, como o computador e a internet. Representação heterogênea dos conteúdos em diversos suportes de mídia e em diferentes expressões e linguagens em favor de uma percepção mais complexa e hipertextual da realidade, a plataforma hipermídia promove a análise comparada e a restituição do lúdico, do prazer e da autoria no processo de construção de conhecimento. Ao operar uma linguagem hipertextual na relação entre as mídias e as diferentes áreas de conhecimento, a hipermídia pressupõe uma forma de pensar também hipertextual, que ultrapassa a linearidade e a lógica causal e escapa às dicotomias buscando o entremeio. Afirma a lógica do associativismo e da interconectividade, compreendendo a simultaneidade de tempos e espaços e afirmando-se na multiplicidade de pontos de vista em recusa ao modelo e ao padrão de referência única. Numa relação de interatividade em todos os processos de geração de sentido e na explicitação da necessária relação de intertextualidade que todo texto mantém com outro, essa linguagem opera na imagem de um conhecimento em rede, com muitas entradas, muitas saídas e janelas simultâneas, onde o princípio e o fim não estão predeterminados, nem a lógica reinante é a da sequencialidade, mas onde os sentidos se estabelecem nas intersecções. Integrada a outras mídias, portanto, o jornal-laboratório busca dar ao estudante condições de vislumbrar a atual sinergia entre tecnologias e veículos que até pouco operavam de forma isolada e compartimentada. Mas busca também explicitar que os aspectos gerais da formação jornalística, seja no âmbito de sua especificidade ou enquanto área da Comunicação como campo de atuação, são transversais aos procedimentos técnicos ou ao domínio tecnológico inerentes ao treinamento para o mercado
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de trabalho. Dado o espaço de educação onde está inserido, o jornallaboratório prioriza o processo de ensino-aprendizagem, de modo que o conjunto de estudantes possa . se rever no produto editorial da instituição em que constroem seus perfis formativos. Além das tarefas específicas e individuais-, ,propõe mecanismos de autorreflexão crítica e socialização das atividades entre todos, a fim de promover a multiplicação do conhecimen~o efetivo do processo. Concebido dessa forma, o jornal-laboratóri0 escapa de ser vitrine de projetos individuais de jornalistas-professores e estudantes ou de se reduzir a uma publicação-espelho de egos-autores encerrados em sua própria individualidade. É corno .lugar significativo para a aprendizagem que o jornal-laboratório sustenta-se no projeto pedagógico do Curso de Jornalismo da Unisul e na prática dos conceitos que lhe dão sentido e integração. ·
Características de implantação Dentro do projeto de Certificação Processual, o projeto pedagógico do curso, o jornal-laboratório constitui-se como um processo interdisciplinar que integra experiências laboratoriais e de pesquisa em diferentes mídias e setores da produção jornalística. Da mesma forma, propõe-se que esteja inserido nas discussões acadêmicas dentro das várias áreas de conhecimento, valendo-se dos resultados das suas formulações e práticas investigativas, seja no contexto da produção acadêmica ou da produção jornalística n1esma. Ao favorecer tais práticas investigativas, busca-se a força de uma atividade essencial na vida universitária, tanto para a formação técnico-profissional quanto para o desenvolvimento da autonomia no contexto da aprendizagem, que é a experiência laboratorial. O ensino como pesquisa e sua extensão pelo vínculo social comprometido com a circulação do conhecimento (entendido enquanto patrimônio coletivo), oferece segurança para delegar ao estudante o poder de decisão e de autoria no processo
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impressos
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inerentes à concepção hipern'l.idiática e hipertextual.
de aprendizagem. Assim, o jornal-laboratório da Unisul quer afirmar-se corno fruto da convergência dos processos de conhecimento da instituição, resultantes em produtos jornalísticos com contexto, esmero estético, embasamento teórico, informação plural e visão crítica de mundo. O vínculo curricular através do projeto de Certificação Processual democratiza o acesso à participação, ao mesmo tempo em que permite a produção compulsória necessária para garantir a edição sistemática e periódica da produção em impressos e sua relação com outros suportes midiáticos e formas de linguagem.
• Jornalismo e não ficção - .estudos de Jornalismo relacionados ao cam po da arte oferecem a perspectiva de produções literár ias e docuinentais mais amplas e abrange nte s. Grandes-re portagens , livros-reportagem, documentários são produtos relacionados à aprendizagem.
Nos estudos ligados mais diretamente ao exercício do jornalismo, os ciclos formativos são planejados em atividades laboratoriais e conteúdos integrados às vivências orientadas para resultar em produtos tributários da exploração científica. Dessa forma o jornal-laboratório torna-se um espaço catalisador de projetos e abre perspectivas ilimitadas de enriquecimento , aperfeiçoamento e ampliação do volume de produção. Dentro da concepção de Certificação Processual, os ciclos formativos estão organizados em função de estudos específicos que caracterizam o Jornalismo, seu campo de atuação e os aspectos da produção acadêmico-científica no contexto da formação universitária.
Esses ciclos estruturam à formação específica em Jorn~lismo dentro 90 projeto pedagógico de Certificação Processual e inserem o jornal-laboratprio como preparação p ara o exercício profissional no sentido da proposta até aqui idealizada. Contudo, há outros ciclos de estudo que fundamentam o campo de atuação no qual o ambiente de aprendizagem aparece como elemento aglutinador de projetos jornalísticos, cujo objetivo é dar sentido à estrutura, à organização ·e tudo o que diz respeito às condições de produção . Nesse conjunto estão Comunicação e Organizações Contemporâneas; Comuniqição, Mídia e Política ; Comunicação e Linguagem.
A organização curricular Processual em Jornalismo oferece:
Um terceiro e último conjunto de ciclos de estudo oferecem abertura qu anto ao conceítp d~ expressividade e suas possibilidades no exercício jornalístic(). Nesse conjunto , propõe-se o aprofundamento das linguagens e s~por,te~ midiáticos que dão sentido ao Jornalismo enquanto produto . Expressões Audiovisuais, Expressões Sonoras, Expressões Visuais e Gráficas, Fotografia são ciclos de estudo que procuram vincular as forma s de expressar informações jornalísticas e seus potenciais de suporte. Nele, o jornal-laboratório ganha a abrangência enquanto exercício plen o do labor jornalístico.
proposta
na Certificação
• técnicas jornalísticas - ciclo que concentra aspectos das teorias do Jornalismo com os processos de produção, suas técnicas e tecnologias . A principal característica deste ciclo é orientar os estudantes no contexto das relações de produção que determinam os procedimentos consagrados na indústria das mídias de massa . • narrativas e gêneros - baseado nas características de linguagem e na relação destas com os suportes midiáticos por onde circulam as informações jornalísticas. Neste ciclo, pretende-se reforçar a criatividade no âmbito expressivo do Jornalismo e nas perspectivas de inovação
• Jornalismo contemporâneo -. busca evidenciar o mundo do trabalho , as relações de ·produção consagradas e alternativas e as perspectivas da atividade no contexto da sociedade midiatizada. , ·
Os planos de en sino por ciclo formativo contemplam propostas de oficina e grupos de estudo que incorporam conceitos e estra tégias de produção, seu gerenciamento e características de
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especialidade desde a filosofia do pro jeto até o diálogo com os protagonistas. Para dar conta desse desafio, os planos propõem oficinas e grupos de estudo em torno de dois eixos : formação integral e complementar. No primeiro caso, trata-se de oficinas focadas nas competências transversais abordadas em diferentes contextos ao longo do projeto pedagógico: política editorial, controle de qualidade, revisão e avaliação; pesquisa de conteúdo, produção de pautas e planejamento. No segundo caso, são oferecidas paralelamente oficinas e grupos de estudo relacionados a questões complementares, que dependem do interesse do estudante. Tais atividades complementares, incluídas na concepção de jornal-laboratório, oferecem diálogo com disciplinas científicas para contextos específicos, desenvolvimentos de propostas para o campo educacional, vivências jornalísticas em coberturas fora da universidade, estudo científico e técnico da produção fotográfica , uso da linguagem visual, jornalismo especializado e a relação de sua produção com a arte e a ciência. Nesse aspecto, o currículo do curso estabelece a carga horária mínima a ser cumprida, à escolha do estudante, mas reconhece toda a trajetória por ele realizada. Associada a essa proposta, o curso inicia a implantação do conceito de currículo acadêmico que reconhece tanto a carga horária mínima prevista para a integralização curricular quanto a carga horária total cumprida pelo estudante, para além do projeto pedagógico. O jornal-laboratório torna-se, assim, também o espaço de articulação e flexibilização entre o currículo proposto pela universidade e o desenhado pelo estudante no que tangem à autonomia quanto à própria formação. Considerações
finais
A produção em impressos, consolidada pelas experiências intensificadas nos últimos dois anos pelo jornal-laboratório Fato & Versão não está mais estruturada especificamente em um momento do curso . Antes, contribui para a consolidação do perfil
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profi ssion al e acadêmico em todos os ciclos formativos de senhad os pela nova organização curricular. As~im c·omo o Jorn alismo tem raí zes n a cultura literária disseminada :p<';l~prensa de Gutemberg, a concepção de jorn al-laboratório não ;,se descola do pap eljornal, ainda que com a necessária articul~ção de outros suportes midiáticos presente s no cotidiano de estudantes , professores e 1 profissionais. . , No desenho de uma plataforma de mídia palimpseica, em que um suporte de comunicação rev'ela ~ camada de outros, o Fato & Versão, completa 10 anos de existência expressando-se não apenas como veículo impresso, ·mas fcomo produto de um en sino qualificado em suas técnicas e concepções. O jornal laboratório, que nasceu impresso, foi desde sua origem essencial para fundamentar as concepções de Jornalismo, de currículo e de processo formativo característicos do é:ursó na Unisul. A ideia de ambi ente de aprendizag em , em seu conceito :mais amplo , de espa ço propício à mobilização de recursos, à negociação de rumos e à valori zação de diferentes saberes na construção do conheciment o, pôde se materializar a partir das vivências e das experiência s lúdico-pedagógicas e acadêmico-científicas proporcionada s pelo jornal. As referências construídas no âmbitQ do jornal-laboratório com a preocupação de dimensionar sempre: seu papel no contexto formativo do curso são agora argumento para se pensar perspectiva s de intervenção no Jornalismo enquanto c;onhecimento e enquanto práxis profissional. O laboratório abre-se a outros suportes e linguagens, a outros produtos da cultura do impresso, insuflados pela convergência tecnológica e pelos . processos inovadores no campo da comunicação . Mas é enquanto labor jornalístico pensado academicamente e estruturado em ciclos formativos qu e o laboratório ganha um lugar significativo no processo de ensino aprendizagem na áre a.
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Notas
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Sociedade midi atiza da . Rio de Janeiro: Maµad, 2006 .
Não estamos aqui nos referindo à ideia de trabalho sofrido, eminent emente braçal e dispendioso, como interpretado no senso comum . Labor aqui assume o sentido da atividade mesma do jornalista ao longo de sua vida profissional. Diz o Art 19 do Decreto 83.284/79 , que dispõe sobre o exercício da profissão de jornalista que: "Constitui fraude a prestação de serviços profissionais gratuitos, ou com pagamentos simbólicos, sob pretexto de estágio, bolsa de estudo, bolsa de complementação, convênio ou qualquer outra modalidade, em desrespeito à legislação trabalhista e a este regulamento". Com base nesse texto as escolas de Jornalismo adotaram a produção de periódicos impressos como forma de associar teoria e prática nas propostas curriculares . No contexto da organização curricular, a ideia de ciclo orienta uma inteligência de oferta que combina carga horária, perspectivas de estudos com grau de terminalidade e desenvolvimento de competências estruturantes e complementares para o perfil de formação na área. Os ciclos não se confundem com as tradicionais fases disciplinares porque permitem uma certa flexibilidade na escolha por parte do estudante quanto às perspectivas de estudo no contexto da aprendizagem que ele entende como significativa. O termo "área de conhecimento " é usado aqui no contexto das disciplinas científicas legitimadas e organizadas em função de seus objetos e métodos de análise consolidados epistemologicamente. Obra ainda não traduzida em língua portuguesa . O termo campo de saber é objeto do parecer CNE/CES 968/98, ainda em vigor. Na página 8, o documento refere-se ao termo como "um recorte específico de uma área de conhecimento, ou de suas aplicações, ou de uma área técnicoprofissional ou, ainda, uma articulação de uma ou mais destas ''. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman adota o termo no contexto de como os seres humanos tendem a conceber o mundo a partir do que podem fazer diante da vida e de como o fazem habitualmente .
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