Para Onde Caminha o Jornal Impresso

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JORNALISTAS E PUBLICITÁRIOS SE DIVIDEM SOBRE O FUTURO, ENQUANTO UMA PESQUISA COM GERAÇÕES MAIS NOVAS MOSTRA O BAIXO ÍNDICE DE LEITURA.

Alexandre dos Santos Texeira Ana Luíza da Silveira Bruna de Moraes Silva Fernanda Amaral Silveira Marcos Lampert Horta Gonçalves Maria Eduarda Silveira da Silva Nathalia Silveira da Silva Ricardo Henrique Arouche Toledo [Organizador] Sara Helen de Espíndola Thaís Gomes Texeira e Thuanny Regina Hoffmann [Alunos da 4ª fase de Jornalismo da UNISUL – 1º semestre de 2013] Prof. Dr. Laudelino José Sardá (Orientador | Editor) – Prof. Dra. Amaline Mussi (coeditora)

2014


Sebastião Salésio Herdt Reitor Mauri Luiz Heerdt Vice-Reitor e Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa e de Extensão

Laudelino J. Sardá Diretor

Mirian Maria de Medeiros Secretária-Geral da Reitoria

Alessandra Turnes Assistente Administrativa e financeira

Willian Máximo Chefe de Gabinete

Vivian Mara Silva Garcia Assistente Editorial

Valter Alves Schmitz Neto Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos

Robson Galvani Medeiros Assistente de Marketing

Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional

Officio (officiocom.com.br) Editoração

Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário de Tubarão

Revisão ortográfica, gramatical e metodológica Ana Paula Aguiar dos Santos apasfloripa@gmail.com

Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Fabiano Ceretta Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual

Ildo Silva da Silva Assessor de Promoção e Inteligência Competitiva

Lester Marcantonio Camargo Assessor Jurídico

Comitê Editorial | Redes de Pesquisa e Desenvolvimento Regional Amarildo Felipe Kanitz, Doutor, UFPB (Associado)

Kellen da Silva Coelho, Doutora, UFPB

Ana Lucia A. de Oliveira Zandomeneghi, Doutora, UFMA

Marison Luiz Soares, Doutor, UFES

Ana Regina de Aguiar Dutra, Doutora, Unisul

Nilzo Ivo Ladwig, Doutor, UNESC/UNISUL

Jacir Leonir Casagrande, Doutor, UNISUL

Rogério Santos da Costa, Doutor, UNISUL

Karine de Souza Silva, Doutora, UFSC

FICHA

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

EM BUSCA DE EXPLICAÇÃO ESTA PUBLICAÇÃO é produto das atividades desenvolvidas pelos alunos da 4ª fase do Jornalismo da UNISUL, disciplina Jornalismo em Impressos, ministrada pelo professor Laudelino José Sardá. O trabalho contempla três etapas: resumo da história do jornalismo no Brasil, a partir do império; entrevista com jornalistas e publicitários e uma pesquisa com jovens na faixa etária de 16 a 34 anos, além de uma análise técnica do professor Dagoberto Dalsasso. Com este trabalho, os futuros jornalistas procuraram, junto a profissionais, explicações para a grande dúvida sobre o futuro do jornal impresso. As incertezas produzidas pela velocidade da tecnologia e do crescimento das mídias sociais são muitas.


FUTURO INCERTO OS JORNALISTAS ouvidos pelos estudantes se dividem em relação ao futuro do jornal impresso. Têm, entretanto, a mesma argumentação em defesa de uma necessária e urgente mudança no conteúdo jornalístico. Da mesma forma, os publicitários advogam a importância de uma readequação dos jornais, em curto prazo, a uma nova realidade, embora alimentem otimismo. O professor Dagoberto Dalsasso, que analisa a pesquisa, pondera não ser hora de se “jogar a toalha”, pois o prazer da boa leitura “high touch” ainda não foi suplantado pelo poder sedutor, veloz e conveniente da “high tech”. Os jornais impressos podem continuar limitados às notícias sobre fatos do dia anterior? Os entrevistados, principalmente os jornalistas, entendem que não e que é fundamental uma consciência em torno da revitalização de conteúdo. A grande reportagem, característica do jornal até o começo dos anos 90, poderia ser uma alternativa de oxigenação, mas fica uma dúvida: os leitores do terceiro milênio convivem com textos longos de jornais? Há a teoria de que o jornalismo continua praticando suas atividades comuns e que o impresso, mesmo desaparecendo, não comprometeria essa atividade. O objetivo desta publicação é suscitar discussão em torno do presente e futuro do jornal impresso, que soube desempenhar o seu papel ao longo da história brasileira, mesmo nos episódios em que a censura de governos, principalmente os ditatoriais, comprometeu o seu


desempenho. O Curso de Comunicação da UNISUL, nos campi da Pedra Branca, em Palhoça, e de Tubarao, está comprometido com esse debate, justamente porque seu programa curricular vive e discute as mudanças permanentes no jornalismo. Os futuros profissionais que se formam na UNISUL estão preparados para o jornalismo, independente dos meios e dos avanços tecnológicos. O futuro está incerto como sempre esteve nos períodos de mudanças estruturais. Assim foi com o advento do telex, da impressora off-set, das composições a frio e dos primeiros sinais de digitalização dos textos, que prenunciaram a informatização rápida das redações. A diferença, contudo, é que o impacto provocado pela internet revolucionou os processos de conhecimento e informação, como uma séria advertência de que não basta produzir um jornal moderno e bonito com conteúdo defasado. A discussão, por isso, é em torno de uma pergunta pertinente: como vencer esse difícil desafio? Os autores

TRAJETÓRIA INTERROMPIDA Ricardo Henrique Arouche Toledo ( A LU N O E O R G A N I Z A D O R DA O B R A )

QUEM LEU a segunda edição de Notícias do Planalto, de Mario Sérgio Conti, livro que narra a epopeia investigativa dos profissionais da imprensa que denunciaram casos de corrupção no governo Collor, sabe que o autor reservou ao posfácio uma análise reveladora. Ali ele relata que os mesmo jovens jornalistas, após terem sido fundamentais na deposição do então presidente brasileiro da época, trocaram a camisa, vestiram a do time adversário e foram jogar no campo inimigo. Agora, uns prestam consultoria para políticos engasgados em casos de corrupção. Outros migraram para atividades de divulgação. E há os que se dedicam a encontrar meios de encobrir escândalos e métodos de refletir a falsa boa imagem de seus clientes na mídia. Tornaram-se manipuladores especialistas. O cenário desanimador do jornalismo impresso, afogado pelo infinito mar de informação trazida pela correnteza da internet, perde fôlego ainda mais, com a perspectiva de as novas gerações dedicarem pouco tempo à leitura no papel. Tudo se resume a alguns cliques nas redes sociais ou, por vezes, à casual visita ao jornal com o qual o leitor se identifica. O jornalista Marcos Sá Corrêa, especialista em edições on-line, faz um alerta e resume a condição atual que prevalece, uma rasante maré que


suga a inteligência brasileira para o ralo da desinformação: ”Qualquer bobagem hoje vira notícia”. Mistura-se à receita a crise vivida pela imprensa mundial em sucessão à crise de 2008, a qual fez com que o alto custo e a demanda para produzir tais matérias e reportagens tivessem o seu financiamento reduzido de forma drástica – a investigação aprofundada sofreu o golpe mais duro. A ameaça fica evidente em escala global. Na Inglaterra, David Cameron não passou da intimidação, mas ameaçou de censura o The Guardian, um dos jornais mais importantes do mundo, por estar investigando as denúncias de espionagem feita pelo governo Obama. Leonard Downie Jr., professor da Escola Walter Cronkite de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade do Estado do Arizona firma que o jornalismo investigativo “está em risco na caótica reconstrução digital do jornalismo nos EUA”. Ele resume o problema: o longo e dispendioso processo de produção de reportagens investigativas tornou-se um peso para redações cada vez mais enxutas, na medida em que, em crise, os jornais lutam para se reinventar e sobreviver à crise. No Brasil, mesmo com a recente lei de acesso à informação, os censores unem forças e elaboram formas de coibir a investigação, seja através de marcos regulatórios da mídia, concentrados em censurar e proibir biografias. As inúmeras críticas contra os meios de comunicação – seja no ambiente político, seja no viés ideológico – parecem finalmente surtir efeito. Por fim, sem investigação, os jornais, revistas e a própria televisão perdem o seu valor democrático, caindo na superficialidade que domina hoje a comunicação rápida da mídia social. A forma de o jornalismo consolidar-se com um diferencial na mídia é, sem dúvida, o aprofundamento da informação. É difícil? Não. É bem mais fácil do que sobreviver no cenário difuso e comum, em que os usuários das mídias sociais já se veem como jornalista na emissão de dados e informações superficiais. Será que o diploma de jornalista já não vale mais o que pesa? Teremos de emitir diplomas para todos os usuários das mídias sociais? O jornalismo, com certeza, saberá sobreviver aos desafios das mudanças profundas e radicais, com inteligência, perspicácia e comprometido com a dignidade da sociedade ética.

MOMENTO DE REAGIR Daniela Germann COORDENADORA DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISUL

ERA UMA vez o jornalismo impresso ou será que é a vez do jornalismo impresso? É fato que ele está em crise, com o advento da internet cada vez mais os leitores estão se transformando em internautas. Porém, este é o momento sim do jornalismo impresso, momento de se reinventar, de investir em pautas trabalhadas, de voltar às ruas, produzir materiais investigativos e de profundidade, voltar ao antigo formato, com textos mais críticos e relevantes, prática esta abandonada pela imprensa brasileira há muito tempo. É preciso ainda entender o funcionamento do novo leitor, não fazendo dele um mero receptor de informações factuais/superficiais. Que o jornal impresso é o melhor veículo de formação e de opinião, ninguém discute, porém é importante trabalhar na perspectiva de uma abordagem inteligente e honesta dos fatos, algo esquecido nos dias de hoje devido à busca desenfreada pelo furo factual. Os jornalistas precisam sair das redações, buscar na rua a compreensão do que está noticiando, usar a sensibilidade e perceber o que acontece ao seu redor, dar voz ao ordinário, ao invisível. É preciso ter “afeto” na “confecção” dos materiais e perceber o movimento destes novos leitores/atuantes, que hoje já nascem clicando e postando e que têm autonomia para buscar a informação que mais lhes convém.


MUDAR PARA VENCER Laudelino José Sardá P R O F E S S O R / O R I E N TA D O R

AS PESQUISAS e discussões promovidas por alunos de Jornalismo da Unisul e condensadas neste livro ensejam um questionamento oportuno: o jornalismo vai continuar obstinado à procura de furos de reportagem? Tentará prorrogar a sua sobrevivência tendo a notícia como o seu principal fundamento? O jornal impresso insistirá em permanecer como noticiarista de acontecimentos nos limites do esgotamento suscitado na internet? O jornalismo, na verdade, está fascinado e desnorteado com o surpreendente impacto das mudanças. O telex, que já era um avanço até início dos anos 90, com a transmissão de notícias das agências especializadas, rapidamente caiu em desuso por força da instantaneidade produzida pela internet. Se o telex necessitava de 10 minutos para emitir uma matéria de 40 linhas, esses 600 segundos são hoje suficientes para a emissão de 30 ou mais informações com fotos, independente do tamanho. O jornalismo vive atordoado usando as mesmas técnicas profissionais dos anos 70 na velocidade do terceiro milênio. A instantaneidade torna ambígua essa profissão, que já foi mais talentosa em informação, na grande reportagem, nas reflexões sociais e no posicionamento crítico coerente. Hoje parece estar no palco, esperando que o seu espetáculo lote a plateia, sem, contudo, saber se o conteúdo é para teatro, circo ou uma ópera.


O impressionante neste cenário recheado de paradoxos é que o jornalismo continua utilizando o mesmo tempo dos anos 70 para deixar o jornal pronto à rotativa. Ora, na era da máquina manual de escrever, o profissional dispunha de um telefone, cuja linha exigia, sobretudo, perseverança, e de carro para ir até às fontes de informação. Além disso, a revisão, edição, diagramação, composição e a paginação eram também manuais. E alguns jornais ousavam fechar a edição dominical no sábado à tarde. Hoje o clima mistura a angústia com sofreguidão, como que dispusesse dos mais refinados materiais para construir uma casa sem dispor de um projeto e forma de realizar. A maior obstinação é achar que as novas gerações, que vivem zapeando no ciberespaço, precisam ser motivadas à leitura de jornais. Lembro-me de que, nos anos 60, 70 e 80, a maioria dos jovens também não lia jornais e nem por isso o jornalismo deixou de alcançar sucesso. O desafio, com certeza, está na capacidade do jornalismo de reconstruir a sua identidade neste cenário híbrido, mostrando que o jornalista ainda é um profissional que faz a diferença na notícia e na reflexão da sociedade. Para isso, é necessário que o jornalista pare de ser seduzido e enfeitiçado pelas mídias sociais sem saber o que fazer, sob pena de o usuário, aquele que manda informações e fotos de flagrantes para a imprensa, a ele se igualar e se achar no direito de requerer à Delegacia do Trabalho a sua carteira de jornalista. Para o jornalista e escritor escocês Carl Honoré, autor do livro Devagar, vivemos no afogadilho, achando que não temos tempo para fazer tudo em um dia, porque somos, por nós mesmos e pela cultura da sociedade contemporânea, encorajados a ter tudo, a fazer mais e mais coisas, até nos sentirmos fracassados. Em outras palavras, habituamo-nos a colocar a quantidade na frente da qualidade. Nós jornalistas estamos nesse dilema, improdutivos de qualidade e descomedidos na quantidade. E para onde caminhamos? O jornalismo resiste a mudanças; não abre mão da formatação cinquentenária dos três veículos tradicionais: jornal, rádio e tv. Fugindo um pouco do nosso tema, o jornal impresso, é oportuno dizer que não há mais espaço para a televisão insistir com seus telejornais no mesmo formato de

40 anos atrás. A tv e o rádio são os veículos altamente interativos e precisam fugir ao papel superado de apenas noticiar. Imagine a família no sábado ainda precisar ouvir telejornais à noite, quando o momento destina-se mais a entretenimento imune a fatos policialescos e denúncias de corrupção. O jornalismo da informação precisa ter espaço em qualquer tempo na televisão, que necessita inovar com discussões e opiniões sobre qualquer assunto que interesse à sociedade. Não há como o cidadão esperar mais pelo noticiário formatado para obter informações. Logo, as emissoras precisam trabalhar a informação de forma dinâmica e sem as formalidades que as obrigam a investir em mais de cinco horas de preparação dos jornais. O tempo real é o grande desafio da televisão e do rádio. Da mesma forma, o jornal impresso não pode ficar à mercê da internet, que deve ser também o seu meio, mas não a sua pauta. O jornal feito com bom senso, crítica e provocação pode ser produzido em 80% uma semana antes, sem cair na defasagem. O furo de reportagem acabou e as notícias pararam de ser simplesmente a melhor matéria-prima. Nos anos 70, a nossa inquietação libertava-nos da preguiça que nos limitava à simplificação na descrição de fatos, impulsionando-nos a assumir posição clara e bem fundamentada com artigos, editoriais ou colunas opinativas. Hoje, mesmo com as facilidades de acesso ao conhecimento, às informações e a fontes, o jornalismo atrofia-se, sem perceber que não há como vencer a batalha comprometendo o conteúdo pela velocidade descomedida. A instantaneidade, que faz parte do DNA das novas gerações, abortou o prazer dos furos de reportagens, torna insipiente a tentativa de se fazer valer um impresso com as mesmas informações já divulgadas na internet, ofuscado na velocidade descomedida, que alimenta o êxtase para emborcar na frustração. Afinal, o que está faltando para a mudança? Apenas coragem. Quando os computadores começaram a aposentar as máquinas manuais de escrever, jornalistas protestaram em alguns jornais, como o New York Times. Hoje eles não protestam contra a internet, é claro. Ao contrário, mergulham no fascínio da tecnologia e não enxergam terra firme. A hora é de mudar para vencer.


O professor Luciano Bittencourt defende que devemos pensar no jornalismo como essência, no sentido de que ele não morre, mas se projeta se recria. Concordo. Contudo, nós jornalistas precisamos nos adequar a uma nova realidade imposta pela tecnologia. E uma única pergunta precisa ser respondida: qual o papel do jornalista nas mídias sociais?

O JORNALISTA PRECISA MUDAR Sara Helen de Espíndola A LU N A E AU TO R A

AQUELE QUE fora o principal meio de comunicação por muitos anos possuía uma característica que explicava tal popularidade: o jornalista. Esse era um pouco de tudo: poeta, político e formador de opinião. Era associado à boêmia, à inteligência e definido como caçador de notícia. Fazia entrevistas com papel e caneta, no local onde elas aconteciam, e olhavam nos olhos dos entrevistados. Os anos passaram e o impresso não mudou, pois ele é um ser inanimado: quem mudou é o que faz o jornal de papel. A tecnologia mudou a velocidade do mundo; tornou tudo rápido e instantâneo. Tomou conta das redações e da maneira como os jornalistas trabalham. A forma de captar a notícia mudou raramente; o profissional do impresso, hoje, é incapaz de sair da redação. Entrevistas são feitas por email, skype ou telefone, sem que haja conhecimento do lugar e do contexto em que o fato ocorreu. As informações não são pesquisadas em livros, mas na internet, pois o profissional precisa fazer três matérias no tempo suficiente apenas para a produção de uma. Outro fator que tem interferido na maneira de fazer jornalismo é “o jornalista” da rede social. O impresso não tem atualizações a todo instante; a notícia acontece, é capturada e escrita, mas só é divulgada quando


o jornal fica pronto. Já, na rede social, é diferente: a notícia acontece no mesmo instante em que fotos são tiradas e rapidamente alguns caracteres são postados e qualquer usuário da rede tem acesso à notícia instantaneamente. Além disso, a linguagem é próxima. Quem lê sente intimidade com o assunto, pois estando no lugar onde a notícia aconteceu, mesmo que seja escrito um pequeno texto, informações preciosas e importantes ficam evidenciadas e o leitor as compreende. Após refletir sobre esta realidade, é possível fazer a seguinte pergunta: o jornalista do impresso vai cativar leitores e conseguirá produzir edições da mesma maneira como está produzindo hoje? Esta pergunta pode ser respondida com outras perguntas como: Por que as pessoas não leem mais impressos como antes? Talvez devido à superficialidade, à falta de interesse pela notícia por parte do jornalista e dos releases (que muitas vezes são impressos sem modificações). Na pesquisa de opinião, inserida nesta publicação, o cidadão responde a esses questionamentos. Se esses quesitos mudassem, certamente a possibilidade de cativar leitores seria muito maior do que da maneira atual. Contudo o ponto-chave da sobrevivência do jornalista do impresso está na forma como produz o conteúdo de um jornal (que é a notícia em forma de matérias e reportagens) e a importância que ela tem para esses profissionais. O jornalista tem a credibilidade, fator que diferencia o seu texto de qualquer outro que seja produzido por um leigo. Mas falta apenas uma atitude: sair da frente do computador e voltar para a forma antiga de fazer jornalismo: ir até a notícia, questionar com inteligência, abolir a padronização da notícia, não ser frio (sentir a dor de uma mãe que perdeu o seu filho e não perguntar como ela se sente), priorizar a verdade, ter como base a responsabilidade com a verdade e com a sociedade e olhar no olho do entrevistado. Tais características levaram o impresso ao auge e foram responsáveis por mantê-lo lá por tanto tempo, mas foram desprezadas e qual foi a consequência? Cada vez menos leitores! Portanto, elas precisam ser retomadas, por serem características do verdadeiro JORNALISMO que ainda pode salvar o impresso.

JORNAL DO INTERIOR E OS AVANÇOS Ana Luíza da Silveira A LU N A E AU TO R A

O JORNALISMO do interior tem-se aproveitado dos avanços tecnológicos para a realização de suas pesquisas, já que, dessa maneira, fica mais fácil a obtenção de informações. Porém, devido aos poucos recursos disponíveis, a capacidade de seleção do jornalista se torna ainda mais primordial. Em um grande noticiário, a quantidade de notícias divulgadas é vasta, por isso o profissional que trabalha em uma comunidade menor necessita de apuração maior do que vai ser transmitido, para que estabeleça mais envolvimento com a comunidade, e, sendo assim, fique mais próximo do leitor. Até recentemente – e isto ainda existe jornais do interior eram sustentados pelo favorecimento político-partidário. Este quadro muda rapidamente, em razão das exigências permanentes da população, de contar com um jornalismo informativo, pautado na imparcialidade e construído com matérias claras e objetivas. Costuma-se ver, ainda, nesse tipo de jornal, um grande número de cotas publicitárias envolvendo o comércio local em cidades menores ou em bairros de municípios mais populosos. Este é o jeito mais fácil de subsistência, que impede, contudo, o


jornal de dispor de equipe de profissionais mais bem remunerados. O jornal do interior costuma abordar notícias da região de maior abrangência, tornando-se um instrumento de luta para a comunidade. É nesse tipo de publicação que a comunidade ganha respaldo, com espaços para expressar suas denúncias e reivindicar seus direitos, o que, em uma grande mídia, não ocorre. Não é comum dar muita atenção à divulgação de notícias do estado, do país, ou internacionais. Não interessa aos jornais do interior concorrer com a mídia de maior circulação e abrangência. É normal que um jornalista atuante no interior tenha maior espírito comunitário e político, já que, além de informante da comunidade, ele acaba participando das reivindicações da população e a ela se junta em defesa de melhorias da qualidade de vida na região. Essa proximidade causada acaba afetando o jornalismo investigativo, destinado a apurar fatos exigidos pela própria sociedade. O jornalista está presente no seio comunitário, motivo pelo qual não foge ao compromisso e ao comprometimento com a comunidade. O avanço tecnológico contribuiu para o fortalecimento e a expansão do jornalismo interiorano, obrigando-o a ocupar espaço na internet e, com isso, ajuda a divulgar a sua cidade. Além disso, as mídias sociais constituem o grande desafio dos jornais do interior, em razão de obrigá-los a não fugir à verdade e ao aprofundamento dos fatos que ocorrem no dia a dia da sua cidade. Ainda mais, o jornal do interior parece ganhar a pole position das mudanças. Em sua interação permanente com a sociedade, o jornalista desenvolve senso crítico e, assim, é estimulado também a opinar sobre o desenvolvimento da cidade, seus problemas e avanços. Quem sabe o jornalismo do interior seja um dos modelos de sobrevivência à nova era do jornalismo.

HISTÓRIA E TENDÊNCIA Maria Eduarda Silveira da Silva A LU N A E AU TO R A

A invenção do alemão Johannes Gutenberg, no século XV, consistiu em uma prensa de tipos móveis, na qual se utilizava tinta à base de óleo e uma chapa de madeira para moldar os caracteres. No Ocidente, Gutenberg imprimiu diversos exemplares da bíblia, revolucionando a comunicação de massa. A propósito, Gutenberg precisou de cinco anos para imprimir a primeira bíblia. Essa descoberta foi essencial, como ponto de partida, à produção de um maior número de exemplares em menor tempo, ensejando o surgimento do jornal impresso, que se notabilizou ao longo dos últimos 200 anos pelos avanços tecnológicos, principalmente a partir da Revolução Industrial. Com início na Inglaterra, no século XVIII, a Revolução Industrial caracterizou-se pelo conjunto de mudanças tecnológicas, com efeitos multiplicadores no sistema de produção industrial, na economia e, consequentemente, na sociedade de modo geral. Na primeira fase, em meados do século XXVIII, a presença de minas de carvão e de minério de ferro em seu território levou a Inglaterra ao pioneirismo na construção de navios e ferrovias a vapor, o que significou a primeira grande revolução industrial, com a substituição da produção artesanal por fábricas movidas pelas primeiras máquinas. Contudo, isso gerou abusos no uso


de mão-de-obra infantil, trabalho escravo e o neocolonialismo na África. Já no final do século XIX iniciou-se outra grande revolução nos Estados Unidos, com o aumento da produtividade através do emprego de máquinas avançadas. Passou-se a utilizar o petróleo como fonte de energia e foram inventados o rádio e o telefone. O final da Segunda Guerra desencadeou uma nova fase de avanços tecnológicos e científicos. A energia nuclear deu avanço à urbanização e ao crescimento econômico e, principalmente, social, com a valorização e respeito ao trabalhador. A informática começa a ser gerada, acelerando a comunicação e a produção industrial. Outra grande revolução surge com a internet, que transforma o mundo, derrubando barreiras geográficas aos acessos à informação e ao conhecimento. A Internet criou um novo ambiente, um espaço não físico, mas real, que permite a total interação entre os seus usuários e elimina de vez as barreiras do tempo e do espaço, além de ter, atualmente, um alcance tão grande quanto a televisão. Na web, todos podem ser tanto receptores quanto emissores de mensagens, ou seja, todos geram conteúdo. E não só: eles leem, assistem a vídeos, fazem compras, pagam contas etc. A revolução digital vai ainda mais longe. Surge a TV na nuvem. As emissoras de televisão logo vão ter que se adequar à evolução, em função de os usuários passarem a dispor de programas sem o formalismo do horário. Basta buscar nas nuvens o programa que desejar e que já esteja armazenado. Isto denota o quanto é importante a televisão inovar para não cansar e perder espaço para o grande e rico acervo de conteúdo disponível lá no céu. Ou melhor, nas nuvens! Por exemplo, em um programa de entretenimento uma pessoa pode entrar ao vivo com sua imagem e interagir, sem precisar de esquema tecnológico da TV. O mesmo ocorrerá com o rádio e já acontece com a alimentação de conteúdo nas mídias sociais. Com o surgimento deste meio, a informação, que não pertence somente às grandes mídias, passou a ser a matéria-prima da nossa sociedade, fonte de capital e de poder. A imprensa deve adaptar-se às novas características do público. O jornalista – assim como os usuários – agora passa a ser “multimídia”, e deve saber lidar não só com a escrita mas

também com a produção audiovisual, por exemplo. A necessidade de compreensão das novas mídias também é requisito básico para um bom comunicador, pois este deve estar atento ao que acontece no meio virtual. Na Internet, o jornalismo é feito de diversas formas, podendo ser, até mesmo, segmentado. Um site pode atender à demanda de somente um nicho da sociedade, não tendo, necessariamente, um compromisso com uma abordagem ampla, de todos os assuntos. Neste meio, é possível ousar utilizar linguagens diferentes, vídeos, imagens, áudios, links e hiperlinks. O jornalismo é feito nos blogs e nas redes sociais e, além disso, é colaborativo, onde cidadãos comuns – sem formação em comunicação social – participam de forma ativa na produção de uma reportagem, através de suas opiniões e vivências.


SUMÁRIO A INTERNET NOCAUTEOU O JORNALISMO?

FUTURO AINDA NEBULOSO

1 Como vê o futuro do jornal impresso?

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2 Há condições de o impresso sobreviver com o jornalismo on-line?

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3 O paywall pode ser a sobrevivência financeira da empresa?

47

4 O que precisa ser melhorado em conteúdo para o impresso ser mais atrativo?

1 Haverá leitores suficientes para justificar anúncios em jornal impresso nos próximos anos?

91

2 No embate entre o impresso e as mídias sociais, quem tem melhor chance de sobrevivência?

97

55

3 Com a massificação das mídias sociais, os classificados, que ainda ajudam muito na sobrevivência dos impressos, já não estariam mudando de veículo?

103

5 Na velocidade do jornalismo on-line, com milhões de seguidores, haverá público leitor suficiente para justificar anúncios em jornal impresso?

63

4 Qual a sua visão do jornalismo impresso do futuro?

109

Publicitários entrevistados

115

6 O usuário das mídias sociais também atua como emissor de informação. Ainda há espaço para o furo de reportagem e informações requentadas no jornalismo impresso?

69

Um pouco de história | Do império à república

119

7 Como mudar o conceito e o conteúdo da notícia para o impresso ser inovador e atraente?

77

O pesadelo volta com nova ditadura

127

Pesquisa de opinião

133

Jornalistas entrevistados

82

Jovem ainda lê, mas jornais precisam inovar

133

Os números da pesquisa

136

Perfil dos entrevistados

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PA R A O N D E C A M I N H A O J O R N A L I M P R E S S O

PA R A O N D E C A M I N H A O J O R N A L I M P R E S S O

1 Como vê o futuro do jornal impresso? 2 Há condições de o impresso sobreviver

com o jornalismo on-line?

3 O paywall pode ser a sobrevivência

financeira da empresa?

A INTERNET NOCAUTEOU O JORNALISMO?

4 O que precisa ser melhorado em conteúdo para o

impresso ser mais atrativo?

5 Na velocidade do jornalismo on-line, com

milhões de seguidores, haverá público leitor suficiente para justificar anúncios em jornal impresso?

6 O usuário das mídias sociais também atua como emissor

de informação. Ainda há espaço para o furo de reportagem e informações requentadas no jornalismo impresso? 7 Como mudar o conceito e o conteúdo da notícia para o impresso ser inovador e atraente? A MAIORIA dos jornalistas entrevistados defende que o jornal impresso precisa ser reinventado para sobreviver à era da instantaneidade. Aponta como causas principais de suas falhas, diante dos desafios da revolução tecnológica, a insistência em trabalhar com notícias vencidas nas mídias sociais e a ausência de reflexão crítica sobre problemas vivenciados no dia a dia pela sociedade. Os entrevistados foram convidados pelos alunos-autores com os critérios da experiência profissional e da nova visão do jornalismo no cenário de mudanças e competições permanentes. Segundo eles, para sobreviver ao nocaute da tecnologia, o jornal impresso precisa de um remédio agressivo capaz de lhe dar velocidade na mudança e aprofundamento de suas técnicas e conhecimento.

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COMOVÊ O FUTURO DO JORNAL IMPRESSO? Jornal de hoje publica notícias de ontem | Errado! | Quem quiser continuar a ler a edição impressa, terá que pagar mais por ela | Naquele dia, o mundo da comunicação voltou 1 século no tempo e o jornal foi, de novo, o protagonista | Faz-se um mau jornalismo no impresso hoje, especialmente nos jornais | O jornalismo impresso tem uma sobrevida bastante interessante se explorar o regionalismo | De uns anos para cá, os meios de comunicação abriram espaço em suas redações para o repórter escrever à geração digital que nunca foi trabalhada para ler jornal impresso | O impacto da tecnologia também acontece em benefício dos jornais impressos | se, ao invés da prensa de Gutenberg, tivéssemos desenvolvido ferramentas para valorizar a fala e não a escrita e o Jornalismo nascesse nesse contexto? provavelmente estaríamos hoje discutindo se essas ferramentas não estariam em risco | Destruir florestas para fabricar papel | o jornalismo de autor deverá prevalecer e o conteúdo mais e mais ligado ao jornalismo de análise e de pesquisa | O futuro do jornal impresso é o que ele deixou para trás | O jornalismo começou em jornal, há séculos, mas, atualmente, nele é onde menos se pratica | Só vai esperar para ler no dia seguinte quem não tem acesso à informação na hora em que ela acontece | Suspendemos a edição integral no nosso site, por enquanto | Os veículos impressos terão que se reinventar para não publicarem ‘amanhã’ as notícias de ‘ontem’, já universalizadas pela webpress | O Jornal Impresso durará enquanto

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Carlos Damião - Nebuloso. Jornal de hoje publica notícias de ontem. Errado! Nos novos tempos, o jornal impresso tem que repercutir e não noticiar o que a internet já informou à exaustão. Não acredito que a versão impressa vá acabar, mas ela precisa ser reinventada o tempo inteiro. Darlete Cardoso - O jornalismo impresso deve promover uma grande reflexão sobre seu futuro, na medida em que atualmente o seu conteúdo está muito parecido com as notícias on-line e de mídias eletrônicas. Deve encontrar um caminho diferente para poder concorrer com o on-line e não perder leitores. Deonísio da Silva - A tendência nacional é o jornal impresso se tornar mais caro, pois as tiragens vão baixar e assim vai aumentar seu custo industrial. Os leitores vão preferir ler em computadores, notebooks, tablets, celulares etc. Quem quiser continuar a ler a edição impressa terá que pagar mais por ela. E, para isso, o conteúdo terá que justificar muito bem a sobrevivência do jornal em papel. Felipe Lenhart - Os jornais que sobreviverem serão equivalentes a tablets, e-readers, multimídia e com interatividade. De qualquer forma, algumas empresas estão trabalhando com muito empenho e dedicação para manter suas versões impressas. O exemplo mais recente do poderio de um jornal impresso em ser o canal de divulgação de uma notícia de impacto mundial foi a edição do New York Times do dia 14 de maio/2013, que saiu com o agora clássico artigo de Angelina Jolie sobre sua decisão de retirar os seios preventivamente por conta do altíssimo risco de desenvolverem câncer. E o jornal o fez com uma responsabilidade e um 30

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senso de “civilidade”, digamos, invejável: aquilo que se tornaria o assunto do dia no planeta inteiro – e manchete garrafal em muitos veículos – foi chamado no rodapé da capa, no canto direito, apenas com o nome da atriz e o número da página. Sem sensacionalismo, sem a urgência do apelo da fama da autora do texto para vender mais edições ou qualquer coisa nesse sentido. Um verdadeiro “tapa com luva de pelicas” em blogs, redes sociais, sites de notícia. Naquele dia, o mundo da comunicação voltou um século no tempo e o jornal foi, de novo, o protagonista. Flávio Gomes - Em longo prazo tende à extinção. Por vários motivos, dois determinantes. Faz-se um mau jornalismo no impresso hoje, especialmente nos jornais. As revistas são um caso diferente, que merecem uma análise também diferente. Os jornais são ruins e, por isso, as pessoas estão deixando de comprá-los. Estão se tornando irrelevantes. E a operação “fazer jornal” é cara. Papel, impressoras, rotativas, tinta, distribuição... Tudo é muito caro. E antiecológico. Os jornais vão se tornar desnecessários no papel. O que não quer dizer que as empresas jornalísticas devam deixar de existir. Ildo Silva da Silva - O Jornalismo Impresso tem uma sobrevida bastante interessante se explorar o regionalismo. O impresso tem conquistado força com a expansão da Internet e dos novos meios digitais, uma vez que as pessoas são submetidas a um bombardeio de informações. Assim, buscam um meio de credibilidade para formar sua crença. Contudo, se não houver uma melhoria na linha editorial dos veículos, com a definição pelo foco regional e aprofundamento nas coberturas, garantindo visibilidade às questões de interesse das pessoas, o Impresso acelerará o próprio fim. Jaílson de Sá - O jornalismo impresso terá que se reinventar para manter um mínimo de participação no universo da Comunicação. Temos visto mudanças constantes nos processos de comunicação e os meios impressos precisam acompanhar tendências, profissionalizar-se e capacitar suas equipes. De uns anos para cá, os meios de comunicação abriram espaço em suas redações para o repórter escrever à geração digital que nunca foi trabalhada para ler jornal impresso. É preciso continuar exigindo que o

profissional de jornalismo volte a pensar de maneira mais profunda, a ser o repórter que deve saber ouvir, ver e dizer. Cada vez mais o jornalista precisa saber contar boas histórias. Quem não se adapta, fica para trás. Laudelino Santos Neto - O impacto da tecnologia também acontece em benefício dos jornais impressos. É impressionante que, nos últimos anos, cidades de 20 mil, 30 mil habitantes ou mais já possuem jornais impressos diários, coisa impensável há alguns anos, mesmo antes da internet. Talvez este seja o aspecto pouco percebido com as novas tecnologias; elas atingem a tudo e a todos. Por isso mesmo, sou otimista quanto ao futuro. Caso surja o fato extraordinário, o jornal impresso pode lançá-lo em caderno de várias páginas. Esta elasticidade não se encontra na TV, no rádio, nas mídias eletrônicas, porque eles têm limitações de tempo e espaço. Luciano Bittencourt - O jornalismo tem seu vínculo com o impresso porque a prensa de Gutenberg foi a primeira tecnologia que permitiu a disseminação de informações. Mas a escrita não foi a primeira forma de expressão humana. A escrita nasceu imitando a palavra falada, quer dizer: a fala é a nossa forma elementar de comunicação. Imaginemos o seguinte: se, ao invés da prensa de Gutenberg, tivéssemos desenvolvido ferramentas para valorizar a fala e não a escrita e o Jornalismo nascesse nesse contexto? Provavelmente estaríamos hoje discutindo se essas ferramentas não estariam em risco. Não acredito no termo “jornalismo impresso”. Jornalismo é uma atividade que precisa superar seus suportes. Não sabemos que ferramentas estão por vir. A relação do Jornalismo não é com o impresso, mas com a escrita; e este vínculo não deve morrer. A escrita tem sido valorizada de várias maneiras inclusive pelas novas ferramentas de comunicação. Há potencialidades textuais pouco exploradas pelo Jornalismo de hoje. As plataformas multimidiáticas têm sido usadas para aproximar linguagens já tradicionais no contexto jornalístico. O rádio, a TV e o jornal migraram para estas plataformas com suas estruturas textuais, suas técnicas e seus conceitos consagrados. Os jornalistas têm sido reativos às novas ferramentas; são usuários, não protagonizam o potencial que as

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ferramentas permitem na apuração e disseminação de informações sobre nosso cotidiano. Portanto, o futuro do Jornalismo impresso pouco importa. O Jornalismo expresso pela escrita vai continuar sobrevivendo, com certeza. E a escrita continuará sendo uma forma fundamental de expressão para o Jornalismo. Mário Pereira - O jornalismo impresso só terá algum futuro (e não muito longo) se dedicar-se, cada vez mais e com maior competência à análise e à opinião, pois em matéria de informação será sempre superado pelo on-line. As novas tecnologias da informação avançam com velocidade “supersônica”. A questão ecológica também influencia. Destruir florestas para fabricar papel... Max Gonçalves Filho - O futuro do jornalismo impresso depende de uma mudança radical de conceito e uma reformulação profunda das estruturas atuais. Ainda hoje o jornalismo impresso está muito associado às novidades, às notícias, ao dia a dia. Mesmo as revistas semanais, apesar de colocarem mais e mais conteúdos de análise e posicionamento, ainda estão presas ao que está acontecendo. Revistas especializadas como, femininas, de automóvel, surf, ginástica etc. são outro universo que terá uma vida mais longa já que seu conteúdo se prende muito mais à especialidade. Dentre as mudanças, acredito que o jornalismo de autor deverá prevalecer e o conteúdo mais e mais ligado ao jornalismo de análise e de pesquisa. Outra mudança é que mais e mais estará fora do imediatismo e passará a ser projetado. O New York Times e o Boston Globe estão começando timidamente neste caminho. Assim o jornal de segunda-feira tem um foco econômico, de terça política e análises de problemas locais, de quarta basicamente internacional, de quinta fachio; de sexta com edição de entretenimento; sábado e domingo já são caracterizados como dias de jornal-revista. Em conceitos assim as estruturas vão buscar diferentes tipo de profissionais. O jornalista ganhará mais destaque, mas precisa se especializar. Numa reportagem internacional sobre a Libéria, publicada em capítulos no NYTimes, o grupo trabalhou um ano.

Algumas sobre os novos conceitos de guerra foram trabalhados mais de um ano. Assim, o imediatismo, a correria, os prazos fatais vão deixar de existir. O publisher do San Francisco Chronicle me disse que o jornal havia vendido 70% da sua frota de veículos porque eles agora buscavam as notícias na TV. Eles noticiam, nos analisamos e para isso não precisamos de correria e estar no local. Enfim, culturalmente o jornal ainda é e será uma realidade muito forte, caminhando para a digitalização e a especialidade. Ney Duclós - O futuro do jornal impresso é o que ele deixou para trás: a reportagem bem apurada, o foco na análise bem fundamentada, o exercício da pauta exclusiva. O jornal impresso se desviou de seus princípios quando se decidiu pela superficialidade, os serviços e a pressa na confecção das edições (pressa confundida com agilidade). A internet implodiu tudo isso. Se você quiser uma informação sobre serviços, a rede é imbatível, um jornal impresso fica anos luz atrás em capacidade de informar nessa área. O equívoco é que, para “salvar” o impresso, tenta-se intensificar exatamente os desvios. O resultado é o que vemos: o fim dos jornais, que sucumbem orientados por consultores que não são do ramo do jornalismo. O impresso se soma aos veículos digitais, como prova o paradoxo “clique aqui na nossa edição impressa”. O produto em papel, como o vinil que volta com força, mantém conforto e portabilidade. Nilson Lage - O jornalismo começou em jornal, há quatro séculos, mas, atualmente, nele é onde menos se pratica. O grande jornal impresso tornou-se, dominantemente, catálogo de entretenimento, produtos e ideias patrocinadas. Parte de verdades previamente estabelecidas e cuida de enquadrar nelas os fatos. Assim, geralmente passa batido pelo que há de realmente novo, interessante e importante no mundo. Faz-se jornalismo em sites e blogs da Internet, no rádio, na televisão; nas empresas, em órgãos do Estado, em toda sorte de instituições e comunidades. É exatamente a variedade de compromissos editoriais – em decorrência, de perspectivas – que viabiliza e dá interesse ao jornalismo como

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instituição, sobretudo quando a informação primária ou básica é partilhada universalmente, o que tende hoje a ocorrer. Rafael Pedro Matos - Não é apenas o jornal impresso que está em xeque. O que mais me preocupa é o futuro do jornalismo, que está intimamente ligado à expansão do acesso as mídias digitais. Quanto maior for a cobertura de redes de internet e mais barato o seu acesso, menor o interesse do público pelo jornal impresso. Só vai esperar para ler no dia seguinte quem não tem acesso à informação na hora em que ela acontece. Como esta expansão é muito lenta longe dos grandes centros urbanos este processo deverá demorar e prolongar a vida dos jornais, mas, onde já esses periódicos já se consolidaram, as tiragens tendem a diminuir. O jornal impresso terá uma chance de futuro se conseguir oferecer algo de diferente do que já foi informado (com mais rapidez) pelas mídias digitais. Raul Sartori - Com certa preocupação, mas nem tanto, principalmente no Brasil e em Santa Catarina e notadamente nas pequenas comunidades. Mas isso não quer dizer que quem está no jornalismo impresso deva ficar acomodado. Tomo como base meu projeto pessoal, em sociedade com uma sobrinha, jornalista profissional, em Nova Trento, 12.300 habitantes, onde lançamos, há cinco anos, um jornal semanal chamado “O Trentino”, focado essencialmente em assuntos locais. Chegou a ter 4 mil exemplares de tiragem, distribuído gratuitamente. Um ano depois instituímos assinatura. Nossa tiragem no momento é de 1.600 exemplares e queremos ampliar para 2 mil. Afora a venda avulsa, quase 400 deles são distribuídos gratuitamente na zona rural do município. Voltando ao foco: para sobreviver, precisamos de assinantes. Na nossa ultima campanha muitas pessoas nos responderam que não queriam assinar o jornal porque ele estava disponível, na integra, na Internet, e gratuitamente. Ficamos preocupados e logo contratamos pessoal qualificado para instituir a cobrança digital, que logo iremos implementar. Suspendemos a edição integral no nosso site, por enquanto. Sérgio da Costa Ramos - O jornal de papel conviverá por muitos anos com o eletrônico, a não ser que a escassez das matérias primas (papel e

celulose) ou a tirania das autocracias, manipulando-as e monopolizando-as – para o exercício da censura de fato, como já acontece – restrinjam a circulação. Os veículos impressos terão que se reinventar para não publicarem “amanhã” as notícias de “ontem”, já universalizadas pela webpress. Mas aí valerá a opinião, o texto interpretativo, o comentário, o jornalismo de autor, exclusivo e investigativo, ou seja: um dia o “The New York Times” vai se transformar numa (revista) “New Yorker”. O mesmo valerá para o jornalismo regional, que será cada vez mais valorizado. O jornalismo.com informará em primeira mão; o impresso complementará com o comentário, a crítica, a revelação “behind the scenes”. Thiago Skárnio - O Jornal Impresso durará enquanto o acesso aos dispositivos digitais e à internet não for totalmente popular e universal, e as pessoas com o hábito de consumo e leitura desta mídia tradicional existirem.

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HÁ CONDIÇÕES DE O IMPRESSO SOBREVIVER COM O JORNALISMO ON-LINE? As duas formas são conciliáveis | É necessário encontrar caminhos diferentes | Um meio não mata o outro | Há muitos exemplos de excelente uso do | Bem mais barato dar um iPad para cada assinante do seu jornal do que continuar imprimindo e distribuindo | Os jornais brasileiros estão acabando por outra razão | São ruins, mesmo | É um equívoco o impresso buscar sustentação no on-line | São duas organizações diferenciadas | Precisamos aprender a fazer uma mensagem multimídia e não apenas ligar os pontos do que já fazemos | Sobreviver, sim | Como, é que são elas | Não só há condições de sobreviver, como os dois sistemas se alimentam um do outro | Foi o “jornalismo impresso”, em suas reformas para atender a mercados, que matou o texto longo | Não sobreviverá se continuar competindo com a internet | Só com profundas mudanças | Desde que não caia no erro de produzir textos apressados e mal escritos, a reproduzir Boletins de Ocorrência ou releases | O que muda são os aparatos técnicos | O grande desafio é manter a saúde financeira das empresas jornalísticas | Sim, evidentemente, e por longo tempo | Não será fácil | Enquanto hard news, não tem a menor condição de competir

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Carlos Damião - Sim. As duas formas são conciliáveis. O on-line deve estar em cima do fato, alimentando o público com informações. O impresso deve ser “de fundo”, de análise mais extensa, de repercussão e reflexão. Darlete - Pode, mas é necessário encontrar caminhos diferentes, com um conteúdo mais aprofundado, contextualizado e analítico. Não haverá leitores para o jornal impresso, se ele continuar a concorrer, em termos de conteúdo, com o on-line. Deonísio da Silva - Sim, pois um meio não mata o outro, embora no Brasil a novidade quase sempre substitua a coisa consolidada. Temos um exemplo em Santa Catarina: a editora Noa-Noa, de Cléber Teixeira, recentemente falecido, especializada em edições artesanais, como eram antes das modernas impressoras. Felipe Lenhart - Desde que assuma sua interface digital e aproveite de verdade as oportunidades que o meio oferece, como a facilidade para aplicar conceitos como “storytelling”. Há muitos exemplos de excelente uso do on-line para produzir e distribuir informação on-line, e até criação de bancos de dados e ferramentas de pesquisa, mas vou citar um que ganhou o Prêmio Pulitzer deste ano, e é do New York Times: a reportagem on-line “Snow Fall”. Vale a pena ir ao Google e procurar: fotos, textos, vídeos, animações, tudo em prol do melhor jornalismo em um único hotsite. Na edição 2013 do Fórum Mundial de Editores, que ocorreu em Bangkok durante o 65º Congresso Mundial de Jornais, foram apresentados projetos semelhantes, empreendidos por empresas de todas as partes do mundo, o que sempre é estimulante (para saber mais, visite http://bit.ly/18L3fP8). 40

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Flávio Gomes - Há, por um tempo, e se fizerem um bom jornalismo. Repito: a longo prazo, por questões econômicas e logísticas, o jornalismo no papel vai ser extinto. É mais barato dar um iPad para cada assinante do seu jornal do que continuar imprimindo e distribuindo. Mas o jornalismo não acabou por causa da internet. Ao contrário. Trabalhamos com a mesma matéria-prima: informação. Ainda é preciso gente que saiba apurar, observar, relatar, escrever. Esse é o jornalista. Mas os jornais brasileiros estão acabando por outra razão. São ruins, mesmo. E as pessoas têm acesso a outras fontes de informação, e de graça. Se o leitor achar que o jornal é necessário, ele vai comprá-lo. O problema é que ele está se tornando desnecessário. Ildo Silva da Silva - É um equívoco o impresso buscar sustentação no on-line. São duas organizações diferenciadas. O que ocorre com uma empresa que produz um impresso. Ela tem um fechamento diário. Se levar esta experiência para o on-line, o que normalmente ocorre, gera uma frustração do internauta. Um veículo ágil com um produto ultrapassado. O ambiente virtual oportuniza a oferta de vídeos, textos, análises, comentários, áudios, etc. Poucas empresas oferecem um hipertexto com esta dimensão. Há reportagens em texto, com fotos, lincadas com reportagens em áudio e outras em audiovisual. Isso é um equívoco. É preciso construir uma nova linguagem para o virtual e não levar para aquele ambiente as experiências isoladas que temos. Há mais de 40 anos, o filósofo canadense Marshal Mac Luhan escreveu que o meio é a mensagem. O meio on-line não é o televisivo, nem o impresso e tampouco o ambiente de rádio. Precisamos aprender a fazer uma mensagem multimídia e não apenas ligar os pontos do que já fazemos. Jaílson de Sá - Sobreviver, sim. Como, é que são elas. Nos Estados Unidos há bastante tempo os meios impressos vêm encolhendo. E o Brasil começa a fazer o mesmo. Grandes jornais como Folha, Estado e O Globo estão diminuindo seus espaços editoriais e aqui em Santa Catarina basta assinar um jornal para se perceber diariamente esse enxugamento. Muitas matérias são produzidas de noticiário nacional e internacional e outra parte reproduzida das agências de notícias. E, também, há bom

volume de publicação de releases oriundos das empresas e assessorias de imprensa. Enquanto os dirigentes não acordarem para esse equívoco e começarem a produzir conteúdo mais consistente e analítico, veremos jornais cada vez mais sintéticos, o que é bastante perigoso e deve ser visto com toda a cautela. Laudelino Santos Neto - Não só há condições de sobreviver, como os dois sistemas se alimentam um do outro. A Folha de São Paulo, edição de 04/07/2013, publicou na página A8 uma pesquisa do datafolha, em que 80% dos links de maior alcance nas principais hashtags do Twitter foram da imprensa escrita, durante o auge das manifestações públicas de protesto no mês de junho. Então nós temos uma coisa ao mesmo tempo contraditória, paradoxal: a tida como principal ameaça do jornalismo impresso quando surgem fatos relevantes se alimenta primordialmente das informações geradas pelo seu pseudo-oponente. Então podemos concluir que Facebook, Twitter, sites de informação e outros interagem com o jornalismo impresso, um reforçando o outro. Luciano Bittencourt - Assim como não adoto a concepção “jornalismo impresso”, também não adoto a concepção “jornalismo on-line”. A escrita, como referenciei anteriormente, está presente em ambos os modos de disseminar informações. Dizem que textos longos estão perdendo força e isso, no meu entendimento, não é verdade. Eu mesmo não leio jornais impressos há muito tempo. Minhas ferramentas de trabalho (e isso inclui fontes de informação) são o computador, o tablet e o smartphone. No tablet tenho acesso a muitos textos de valor, bem escritos e tão longos quanto os publicados em jornais que valorizam esse tipo de expressividade. Note que a ideia de que textos devem ser mais curtos não nasceu com as novas ferramentas. Foi o “jornalismo impresso”, em suas reformas para atender a mercados, que matou o texto longo. Sendo assim, bons textos escritos continuam tendo valor, mesmo sem o papel como suporte. Já me questionaram sobre o fato de o on-line não trazer todas as informações trabalhadas no impresso em Jornalismo. Minha resposta é que há muito mais informações que o impresso não traz, disponíveis no

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on-line, inclusive informações “não jornalísticas” cuja qualidade supera a de reportagens ditas boas. Mário Pereira - Como eu disse, terá como sobreviver se souber usar a competência, com análise e opinião. Não sobreviverá se continuar competindo com a internet. Max Gonçalves Filho - Só com profundas mudanças. Quem insistir nas velhas escolas com certeza terá seus dias contados. Nei Duclós - Desde que não caia no erro de produzir textos apressados e mal escritos, a reproduzir Boletins de Ocorrência ou releases. Precisa devolver ao pauteiro, ao editor e ao repórter, selecionados por talento, competência e meritocracia, o poder de decidir o que vai ser a edição. Se continuar interferindo como está e matando jornalista que consegue enfim publicar uma matéria que preste (o Brasil ocupa lugar de destaque no ranking dos jornalistas assassinados), não haverá futuro nenhum. Nilson Lage - Na história dos meios de comunicação, os antigos não morrem quando novos aparecem; em geral, modificam-se. Na pior hipótese, reduzem sua participação como produtores sociais de conhecimento “encolhem”. Assim, a fotografia não extinguiu a pintura, o cinema não acabou com o teatro, a televisão não eliminou o rádio e o cinema. O que muda são os aparatos técnicos. Caixas de tipos, ramas de diagramação, linotipos, mesas de montagem de ofsete, filmes fotográficos, discos de cera e de vinil, clichês impressos com luz actínica, máquinas de escrever, editoras analógicas de videoteipe, projetores de cinema foram para o museu. Muda também a natureza das mensagens, porque é o meio que as formata. Os jornais impressos terão certamente de se adaptar. Os que não o fizerem poderão sobreviver algum tempo, por força da tradição, voltados para os resistentes ou os excluídos das novas tecnologias, visando nichos de mercado ou, numa hipótese improvável, se encontrar outro uso para o papel além de forrar gaiolas, proteger o tapete dos carros quando saem do lava-rápido e embrulhar frutas para amadurecer. Todos os meios convergem para a Internet.

Uma das novidades nela é a redescoberta do altruísmo. Em mundo em que supostamente todos cuidam de obter vantagens, há pessoas que desenvolvem softwares, escrevem artigos e enciclopédias e as oferecem generosamente a seus semelhantes. Isso alimenta a perspectiva de que, mais cedo ou mais tarde, a informação será socializada: os direitos autorais e as patentes serão devolvidos de alguma forma a autores e criadores, em lugar de quase totalmente apropriados por quem comercializa obras e inventos; os livros serão objetos gráficos requintados, bons para presente – como atualmente é o caso de álbuns de cds e dvds ou dos discos de vinil que ainda se fabricam. Para sobreviver, os jornais deverão tornar-se objeto de desejo, não artigos de primeira necessidade. Rafael Pedro Matos - O grande desafio é manter a saúde financeira das empresas jornalísticas. A crise do jornal impresso não seria tão grande se a internet já tivesse a mesma rentabilidade que um dia os impressos tiveram. Os recursos publicitários que deixam o impresso, nem sempre vão para o digital. No passado, grupos políticos e econômicos investiram recursos na manutenção de jornais com interesses nem sempre jornalísticos. Hoje, mais do que defender uma ideologia, os anunciantes desejam resultados econômicos. Raul Sartori - Sim, evidentemente há condições de o impresso sobreviver, e por longo tempo. Vamos testar nosso projeto nisso. Mas não vejo como não dar bons resultados, principalmente porque, no meu caso, notamos que nosso leitor, seja o local ou aquele que, originário de Nova Trento, foi morar em outras cidades, Estados e até países (temos alguns leitores na Itália), sente imensa necessidade de saber o que acontece na sua cidade natal, o foco quase único do nosso semanário. Ademais, nem a metade da população da minha cidade ainda tem acesso à Internet. Assim, o jornal impresso ainda tem enorme preferência, inclusive por aqueles que têm internet em casa. Preferem o jornal impresso, principalmente os mais idosos. Para não perder leitores jovens, instituímos uma página só voltada para eles, com fotos e informações de interesse. Sérgio da Costa Ramos - Não será fácil. Mas o jornalismo impresso ainda conta com o leitor tradicional, aquele que prefere levar

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o tabloide impresso para a praia e não o tablet. E há também todo o ritual da leitura de um meio físico que não desaparecerá assim, por encanto, num estalar de dedos. Só com a mudança de hábito, através das gerações. O contato das mãos com livros e jornais já dura cinco séculos, desde a Bíblia de Johannes Gutenberg, impressa em Mainz, ano de 1450. E pode durar mais alguns. Thiago Skárnio - Somente se a sua linha editorial for de aprofundamento de temas. De grandes reportagens e textos reflexivos. Enquanto hard news, não tem a menor condição de competir.

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O PAYWALL PODE SER A SOBREVIVÊNCIA FINANCEIRA DA EMPRESA? O que conheço de paywall é um desastre total | Tem se mostrado interessante nos grandes veículos | esse tipo de leitura tende a representar receita considerável, superior às do impresso, como no caso das obras de referência e de consulta | É um modelo do qual não se tem escapatória | O que os jornais têm de exclusivo que leve alguém a pagar para ler na internet? | Há ambientes no mundo que têm esta prática | Aqui não chegou a emplacar | Tem sido uma forma de gerar monetização | Com certeza | As mesmas dúvidas que cercam as áreas de redação e informatização também acontecem | Neste sentido, o modelo de negócios para o Jornalismo vai mudar radicalmente | Em princípio, acho complicado | A maioria dos jornais e das editoras já está utilizando uma solução mista | Acho antipático e se volta contra o jornal | Particularmente ainda considero o serviço um tanto caro | Acredito que sim, mas | Não há grande jornal impresso que não tenha inaugurado o seu “pedágio” | Não!

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Carlos Damião - Não dá certo. Muitos jornais desistiram. E o que você quer saber do noticiário consegue via Google. Muita gente que assina on-line acaba publicando em blogs e redes sociais. O que conheço de paywall é um desastre total. Darlete Cardoso - Acredito que tem se mostrado interessante nos grandes veículos. Precisamos esperar um pouco mais para saber seus resultados em veículos menores. Deonísio da Silva - O paywall, literalmente muro de pagamento, vem crescendo muito: é a leitura digital, tanto nos EUA e na Europa, como no Brasil. Não apenas na mídia mas também nas editoras esse tipo de leitura tende a representar receita considerável, superior às do impresso, como no caso das obras de referência e de consulta. Felipe Lenhart - É um modelo do qual não se tem escapatória: é preciso cobrar pelo seu produto. Em 2012, o New York Times (sempre ele!) ganhou mais dinheiro com assinaturas do que com publicidade, pela primeira vez na história, graças ao sucesso de sua política de paywall. Mas só o paywall não salvará nenhuma empresa. Flávio Gomes - Não. Não acho que hoje os jornais grandes têm um produto bom o bastante para dizerem: ei, você aí, paga para ler o que eu te ofereço. Provavelmente, a mesma informação que o cara vai pagar para ler na “Folha” estará de graça no iG ou no Terra, com uma pequena diferença de estilo, talvez, que não importa ao leitor. O que os jornais têm de exclusivo que leve alguém a pagar para ler na internet? Um colunista ou outro? É muito pouco. Grandes reportagens? Seria o caso, talvez, se os 48

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jornais tivessem grandes repórteres e investissem nisso. Mas não fazem. Acho meio pretensioso esse negócio de que o cara vai pagar porque é a grife “Folha”, ou “Estadão”. O que as empresas jornalísticas têm de fazer é investir em qualidade. E assim ganhar audiência, e assim, anunciantes. Ildo Silva da Silva - Não acredito que o paywall represente a sobrevivência das empresas jornalísticas que atuem na área do impresso. No Brasil as pessoas não têm hábito de pagar para acessar a estes conteúdos. Há ambientes no mundo que têm esta prática. Aqui não chegou a emplacar. Há algumas experiências vitoriosas, mas com resultados ainda tímidos. Jaílson de Sá - Tem sido uma forma de gerar monetização além da receita advinda da publicidade e de assinaturas. Há anos os veículos vêm cobrando pelo acesso ao conteúdo digital. Uns cobram pelo acesso a certos conteúdos, outros deixam livre o acesso, mas restringem a quantidade gratuita possibilitando apenas a leitura de resumos e chamadas das notícias. Com a perda de receita pela ausência de grandes anunciantes e diminuição de tiragens, já se verifica uma corrida dos jornais pela cobrança do acesso ao material completo em seus portais na web, com o paywall exigindo preenchimento de cadastro e pagamento da mensalidade. Caberá ao marketing do jornal convencer os internautas de que vale a pena pagar por notícia de qualidade. Laudelino Santos Neto - Com certeza. As mesmas dúvidas que cercam as áreas de redação e informatização, também acontecem na área administrativo-financeira. A tecnologia que põe tudo em cheque. E uma das saídas é ir testando as possibilidades novas de pagamento de serviços, vendo o que o público aceita ou não pagar. Luciano Bittencourt - Há estudos contemporâneos sobre o futuro do trabalho que apontam uma série de mudanças nas organizações; mudanças que dizem respeito inclusive à organização das organizações. Se levarmos em consideração que o trabalho em rede é uma realidade, o que chamamos de freelancer reconhecido hoje no Jornalismo tem mais chances de ser a forma de trabalho hegemônica nesse futuro. Neste sentido, o modelo de negócios para o Jornalismo vai mudar radicalmente.

Há muitos modos de produção diferentes em andamento hoje. Há muitas formas de disseminação de informações reconhecidas hoje. E muitos “modelos de negócio” estão por vir. Creio que com formatos impensados atualmente por conta das relações que estão sedimentando-se nas novas gerações. Mário Pereira - Sobre o paywall e a sobrevivência das empresas ainda não tenho opinião formada. Em princípio, acho complicado. Max Gonçalves Filho - A maioria dos jornais e das editoras já está utilizando uma solução mista. Algumas informações gratuitas e o melhor e mais importante do conteúdo dentro de diferentes esquemas de pagamento. O problema nesse caso é que a internet já criou seus caminhos próprios. Os Blogs são mais e mais consultados e respeitados. As estações de rádio e tv da internet crescem em números assustadores dia a dia. O universo social, Facebook, Linquedin etc. já são uma fonte inesgotável de notícias e análises. Há uma resistência ao jornalismo tradicional ainda visto como comprometido com governos e políticas específicas e longe da verdade. No caso das bombas em Boston, a internet e os mobiles ficaram entupidos de tantas pessoas que adicionaram diferentes fontes de informação. Segundo uma pesquisa da Sotialbakers.com, um número infinitamente superior de pessoas acionou a internet em lugar da tv tradicional e dos jornais. Este fenômeno já havia acontecido no Oscar e no resultado das eleições americanas, então não são mais fatos isolados, mas tendências. Nei Duclós - Acho antipático e se volta contra o jornal. O conteúdo deve ser sempre liberado. O ganho na internet é em publicidade. Hoje temos possibilidade de ler jornais do mundo inteiro. Imagine pagar para acessar cada um deles: é inviável. Nilson Lage - O paywall parece ter sido boa solução para o New York Times. No entanto, é caso específico, provavelmente excepcional: jornal em inglês, editado no centro de um império “onde o sol jamais se põe”, com leitores por todo o mundo. Esse conjunto de fatores lhe permitiu fixar um preço baixo para o acesso, mantendo o custo marginal do impresso.

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Outro caso é o da Folha de São Paulo, tornada anexo do provedor Uol, que se beneficiou do pioneirismo para captar grande número de clientes. Note-se que provedores são simplesmente dispensáveis na Internet – tanto quanto ascensoristas de elevadores ou cobradores de ônibus. A diferença entre o negócio jornal (ou revista, ou TV) e a Internet reside justamente no custo marginal. O jornal é uma indústria que transforma papel em impressos, dispondo para isso de oficinas, e que tem o produto onerado pela distribuição e pelo transporte. Esses custos não existem na Internet. Enquanto jornais, como empresas, exigem milhões, portais da web se fazem na grandeza dos milhares. Pensando em termos de teoria de sistemas: se o jornal é sistema operacional que concretiza o produto de um sistema de controle, a Internet é o sistema de controle puro: seu custo é essencialmente o da manutenção dos criadores. Pela ausência do custo marginal, a Internet viabiliza uma forma de produção econômica próxima do custo zero – em redes sociais, projetos voluntários como os wikii – ou com custo residual, como subproduto de uma série de instituições educacionais, de pesquisa, comunitárias, classistas, empresariais etc. A viabilidade da solução paywall – ou da cobrança pura e simples – é maior em áreas nas quais a informação tem valor que se transforma rapidamente em lucro financeiro (caso da informação macroeconômica abalizada ou da informação microeconômica dirigida) ou quando o produto tem valor artístico que caracteriza claramente autoria. Note-se, a propósito, que o direito autoral protege textos e produtos audiovisuais, não ideias - e que essas podem sempre ser reformuladas em novos produtos. Rafael Pedro Matos - Não tenho informações suficientes para avaliar o resultado do paywall nas empresas que o adotaram. Particularmente ainda considero o serviço um tanto caro. Penso que as empresas poderiam segmentá-lo ainda mais. Por exemplo: um leitor pode ter interesse nas notícias de futebol e de um clube apenas. Para isso não deveria pagar pelo conteúdo completo do jornal. Mas o que se percebe é que o mesmo leitor que um dia pagou por um jornal na banca de jornais não aceita pagar para

ler notícias na internet. Mas jornalismo de qualidade e credibilidade tem custo. Quem paga esta conta? É esta conta que não está fechando e colocando não só os impressos mas também o jornalismo em risco. Raul Sartori - Acredito que sim, mas não tenho elementos suficientes para uma resposta mais precisa. Sérgio da Costa Ramos - Não há grande jornal impresso que não tenha inaugurado o seu “pedágio”. Até o popular “The Sun”, da chamada “yellow press” (“marron”, baseada em fait-divers e fofocas) inglesa, vai adotar o seu paywall ainda neste mês de maio de 2013. Mesmo este “ingresso pago” terá poderes limitados, posto que os usuários, por enquanto, ainda fogem da intimação por pagamento. Ao insistirem em acessos gratuitos, matam a fonte de receita das empresas, que apelam cada vez mais para a publicidade on-line. Acontece que as marcas que programam os títulos de jornais on-line estão descobrindo que elas próprias podem ser “o meio” – e, assim, produzir o seu próprio conteúdo. Uma grande empresa automobilística, por exemplo, tenderá a produzir o seu próprio jornal on-line. Thiago Skárnio - Não.

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O QUE PRECISA SER MELHORADO EM CONTEÚDO PARA O IMPRESSO SER MAIS ATRATIVO? O jornal impresso precisa sair do “noticiário”, ser mais “de fundo”, reflexivo, opinativo, crítico | Deve mostrar ao leitor o que muda na vida das pessoas determinado fato veiculado pelos jornais on-line, sites e blogs | Mudar o modo e os locais de impressão, aumentar a divulgação, fazer com que | o básico do jornalismo desde que a profissão existe | Repensar o veículo jornal, basicamente | O que queremos fazer? O que podemos oferecer que a internet não oferece? | Uma forma de manter o interesse do leitor impresso e sua fidelização ao meio será | Não existem fórmulas prontas e muito menos mágicas | Jornalistas deveriam se assumir como cronistas de seu tempo | Ser cronista de seu tempo exige do jornalista um | O fator inteligência aliado a textos criativos e bem escritos | Os jornalistas vão ter que ser valorizados e vão virar as estrelas, assim o combate aos blogs será | O jornalismo precisa ser competente, não atrativo | Não é showbizz nem nada, não é entretenimento | Não sei se é uma questão apenas de conteúdo | Entendo que é uma questão de | o foco tem que ser em assuntos da | terá que procurar a pauta exclusiva, | Conteúdo não encontrado ou, de leitura difícil na rede

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Carlos Damião - O jornal impresso precisa sair do “noticiário”, ser mais “de fundo”, reflexivo, opinativo, crítico. É impossível para o impresso concorrer com a velocidade do on-line. Não cheguei a conhecer, mas, até a década de 1970, havia jornais matutinos e vespertinos. E sabe por que os vespertinos foram criados? Entre outras coisas, para fazer frente à concorrência (velocidade) do rádio e da TV. Os vespertinos sumiram porque a fórmula caducou. Darlete Cardoso - Melhores textos, contextualizados, analíticos e, especialmente, mais humanizados. Devem mostrar ao leitor o que muda na vida das pessoas determinado fato veiculado pelos jornais on-line, sites e blogs. A rapidez da divulgação do fato fica com a internet e com as mídias eletrônicas. O jornal deve apurar melhor, humanizar mais. Deonísio Silva - Mudar o modo e os locais de impressão, aumentar a divulgação, fazer com que o impresso chegue ao leitor sem tantos intermediários, o que encarece demais o processo. Editar uma publicação nos grandes centros do eixo Rio-São Paulo, imprimi-la ali e levá-la de avião, de barco ou de caminhão até a última etapa antes de chegar ao leitor, torna o impresso inviável. Felipe Lenhart - Ter mais conteúdo exclusivo, opinativo e de análise. Ou seja: o básico do jornalismo desde que a profissão existe. Flávio Gomes - Repensar o veículo jornal, basicamente. O que queremos fazer? O que podemos oferecer que a internet não oferece? Mas não é tarefa fácil, porque na prática qualquer coisa que você pode colocar no papel, também pode enfiar numa tela. É preciso pesquisar hábitos de 56

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leitura, saber quem lê jornal ainda, qual o tamanho desse público, como fazer dele um público fiel etc. Ildo Silva da Silva – Defendo que o impresso seja mais focado no jornalismo regional e que traga os temas mais aprofundados. Aprofundamento das reportagens e análises de articulistas que possam situar o leitor em relação aos enfoques e abordagens das coberturas. Jaílson de Sá - Com a diminuição das tiragens se verifica, obviamente, diminuição de reposição dos leitores que estão migrando para outros meios como os mobiles que estão cada vez mais acessíveis e atraentes. O leitor agora, além de ler jornal, começa a checar os aplicativos no celular, dar uma espiadinha nos sites de notícia e também nas redes sociais. Uma forma de manter o interesse do leitor impresso e sua fidelização ao meio será a oferta de menos conteúdo, mas com uma significativa melhoria na qualidade do que é publicado. Enxugar o espaço editorial pode ser pela diminuição de editorias e de volumes de matérias e assuntos, mas apurados com precisão e profundidade e editados com inteligência. A crítica, a denúncia, o debate, a informação consistente, são instrumentos nobres de promoção da liberdade, da democracia e da cidadania, e conduzir essas atitudes com sensibilidade é uma arte. Se não for assim, estaremos apenas apressando o passo rumo à irrelevância. Laudelino Santos Neto - Sonho com uma maior interação entre o texto impresso e o computador. Algumas revistas, como a Super interessante, já lançam, no final de alguns artigos, um “leia mais”, com uma indicação de um ou mais livros. Pode-se fazer algo parecido, mas este “leia mais” pode ser um link que remete a informações mais aprofundadas produzidas pela versão on-line da mídia impressa. A melhora do conteúdo acontecerá nesta época de incertezas, através do ensaio e erro. Não existem fórmulas prontas e muito menos mágicas. Luciano Bittencourt - O conteúdo jornalístico, via de regra, anda burocrático em todos os suportes midiáticos. Não é exclusividade do impresso a falta de atratividade. Portanto, falo aqui do conteúdo jornalístico e não exclusivamente do “jornalismo impresso”.

Jornalistas deveriam se assumir como cronistas de seu tempo. Aliás, o tempo de cobertura não é mais um problema: para o “jornalismo impresso” era preciso ter material diário para publicação; no “jornalismo on-line”, pode-se publicar a qualquer tempo e as informações podem ficar disponíveis permanentemente, podem ser corrigidas permanentemente, podem ser refeitas permanentemente... Mas estas características não são observáveis ainda no contexto da produção jornalística. Sim, os textos são atualizados a qualquer tempo. Mas os jornalistas ainda estão sujeitos aos mesmos procedimentos de trabalho, defendem os mesmos ideários de produção, estão confinados aos modelos de negócio em crise de sobrevivência. Ser cronista de seu tempo exige do jornalista outro tempo de produção, outros métodos de observação do cotidiano, outras formas de apuração e um envolvimento com suas fontes pouco ortodoxas para os padrões que temos atualmente. As matérias produzidas pelo Jornalismo atual expressam pouco o momento em que vivemos; são superficiais, pouco reflexivas e nada sensíveis aos problemas que nos afetam. Mário Pereira - A resposta está acima: mais análise, mais opinião. O fator inteligência aliado a textos criativos e bem escritos. Max Gonçalves Filho - Os autores vão ser mais importantes que a media. Os jornalistas vão ter que ser valorizados e vão virar as estrelas, assim o combate aos blogs será mais direto e eficiente. A parte gráfica terá que ser estudada com grande cuidado. O sensacionalismo terá de ser substituído por soluções que marquem definitivamente o que se está querendo mostrar. Há anos a Revista New Yorker produz capas com artistas consagrados ou estreantes, mas sempre uma visão artística, e não uma visão fotográfica. Numa reportagem publicada há uns dois anos no Miami Herald sobre a guerra do Afeganistão, as ilustrações eram desenhos e cartas dos soldados e não fotografias de combate ou sensacionais. O efeito foi imensamente maior. Nei Duclós - Contratar jornalistas de qualidade. O jornalismo precisa ser competente, não atrativo. Não é showbizz nem nada, não é entretenimento.

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O leitor quer informação, que costuma ficar soterrada num tsunami de repetições. É difícil chegar ao núcleo do drama, à informação. O que temos é a velha desculpa de que as fontes não retornaram as ligações. Ora, se não retornaram as ligações, então não há matéria. O repórter precisa suar para conseguir o que todo mundo quer. É isso o que atrai num jornal e não promoções, concursos ou frescuras. Nilson Lage - Como questão prévia, discuto esse “atrativo”. O adjetivo (belíssimo) em português é “atraente”: ”Uma mulher atraente” não é mais atraente do que “uma mulher atrativa”? “Atrativo” em português, antes de se copiarem palavras inglesas, era substantivo, de modo que se podia falar do atrativo da mulher atraente. No mérito: Como se depreende da resposta anterior, inteligência, originalidade e criação formal ajudariam. Rafael Pedro Matos - Não sei se é uma questão apenas de conteúdo. Entendo que é uma questão de comportamento. As pessoas mudaram a forma como consomem música, por exemplo. Agora a mudança chegou ao consumo de notícias. Temos jornais ruins e também muito bons, mas eles parecem cada vez mais coisa de gente velha. Os mais jovens não querem sujar os dedos e sim usá-los para deslizar por alguma tela touch-screen. Raul Sartori - Respondo pelo meu projeto de jornal semanal: o foco tem que ser em assuntos da comunidade, da cidade, do bairro da cidade, da vila, da sua escola, do clube, da igreja, do time de futebol, das entidades da sociedade organizada, etc. Todos me dizem isso na minha cidade: finalmente alguém que lhe diz, via jornal, o que acontece, aconteceu ou vai acontecer na cidade, uma vez que, até então, ninguém fazia isso, a não ser uma tragédia ou algo parecido quando a rádio da vizinha cidade resolvia noticiar. Vejo que a cidade quer ver-se representada no jornal, que o jornal seja seu porta-voz (no que realmente está sendo, porque praticamente obriga suas autoridades a tomar algumas medidas ali cobradas por seus leitores). Evidentemente que são necessárias outras condicionantes. No meu negócio, por exemplo, a independência jornalística

do semanário é total, bem como financeira. É uma façanha em jornal de pequena cidade do interior, mas é possível. É só dar-se ao respeito, ser transparente e honesto. Sofre-se de vez em quando, por conta de políticos desonestos inconformados com isso (a independência do jornal), mas é perfeitamente possível fazer jornalismo isento nesses lugares. Sérgio da Costa Ramos - O jornal impresso não concorrerá mais ao troféu de ser o primeiro a dar notícia do factual. Assim, terá que procurar a pauta exclusiva, o jornalismo de opinião, ressuscitar a grande reportagem, a história lapidar, e, até mesmo, “o furo”, que continua sendo atemporal. Dependerá mais do talento, da habilidade, do instinto e do “savoir-faire” do jornalista. O futuro do jornal impresso está no jornalismo do “porquê”. Thiago Skárnio - Conteúdo não encontrado ou, de leitura difícil na rede. Textos mais extensos.

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NAVELOCIDADE DO JORNALISMO ONLINE, COM MILHÕES DE SEGUIDORES, HAVERÁ PÚBLICO LEITOR SUFICIENTE PARA JUSTIFICAR ANÚNCIOS EM JORNAL IMPRESSO? Eis uma grande discussão atual | ainda acredito que é um nicho não esgotado, por enquanto | É necessário discernir o que deve conviver nas | esses anunciantes sabem que o público desses jornais tem dinheiro e é seu público-alvo | Quem presta atenção num banner, entre os milhões de seguidores, sei lá, do perfil | Bem produzido, ainda terá fôlego para atrair o interesse dos | Quem pesquisar e estudar tendências do setor poderá encontrar caminhos que atraiam | Com todo o crescimento do jornalismo on-line, é só abrir os jornais de quarta, sábado e domingo e ver os imensos | Outros modelos de negócio precisam eclodir | O fator inteligência aliado a textos criativos e bem escritos | Muito difícil | Os jornais impressos morrem por incompetência empresarial e jornalística, e não | Talvez algum segmento de negócio possa ter interesse em | Mas temos que considerar a possibilidade de o jornalismo on-line também ter anúncios | Sem prescindir do meio impresso e regional – necessariamente complementar | Não! 62

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Carlos Damião - Eis uma grande discussão atual. A queda de faturamento do impresso é visível e debatida com preocupação pelos empresários e especialistas. As demissões em massa nos grandes veículos, fechamento de revistas (como Playboy) são indicativos de que a redução do modelo publicitário clássico – do impresso – tende a ser um grande perigo para o futuro dos jornais e outras publicações. Outro dia, numa reunião profissional, um empresário do ramo imobiliário afirmou: “Estou anunciando em jornal impresso apenas por uma questão institucional, para divulgar nossa marca. Anúncio em impresso não vende mais como antes. O que vende é internet (site da empresa dele)”. Darlete Cardoso - Os jornais impressos devem rever seus planejamentos financeiros e buscar alternativas em outras mídias. Mas ainda acredito que é um nicho não esgotado, por enquanto. Deonísio da Silva - Nos países onde o digital está mais avançado, o impresso acabou para algumas publicações, mantendo-se em outras. É necessário discernir o que deve conviver nas duas formas, o que só pode ser digital e o que é preferível ser impresso. Mas o normal é a coexistência dos meios. De todo modo, eu acho que o impresso vai elitizar-se. Felipe Lenhart - Quando você pega um grande jornal inglês ou americano, estão lá anunciantes enormes, como Rolex, grifes de moda etc., porque esses anunciantes sabem que o público desses jornais tem dinheiro e é seu público-alvo. Se isso vai continuar ocorrendo é uma incógnita. Flávio Gomes - O fato de um site, ou uma página no Facebook, ou um canal no YouTube ter milhões de seguidores não quer dizer que são 64

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milhões de pessoas vendo seus anúncios. Quem presta atenção num banner, entre os milhões de seguidores, sei lá, do perfil do Luan Santana? Ou num pop up na home do UOL? Não sei. 10%? 1%? Não sei. O jornal é uma mídia como qualquer outra, que está precisando se reinventar, é claro. Mas alguns setores ainda preferem o jornal a qualquer outra mídia para anunciar, como mercado imobiliário ou indústria automobilística. Há público que justifique a publicidade no impresso desde que o impresso tenha público, venda bem. Para vender bem, tem de ser bom, necessário, atraente. E há várias modalidades possíveis hoje de publicidade usando os vários veículos de um mesmo grupo jornalístico, o que inclui os impressos. Ildo Silva da Silva - Acredito que o Impresso, sendo bem produzido, ainda terá fôlego para atrair o interesse dos leitores e dos anunciantes. Jaílson de Sá - Acredito que o jornal impresso deva ser pensado daqui por diante como um meio de nichos e não mais como um grande jornal que aprofunda em tudo. A publicidade no meio impresso vem caindo e vai cair cada vez mais. Recentemente vimos demissões de centenas de profissionais na Folha de São Paulo, Estadão, TV Record e, agora, há a expectativa de grande quantidade de demissão na Editora Abril que anunciou na semana passada o fechamento de 8 revistas. Das grandes editoras é a que mais sentiu a queda de leitores e de faturamento com títulos consagrados despencando de 400 mil assinantes para míseros 30.000. Portanto, quem pesquisar e estudar tendências do setor poderá encontrar caminhos que atraiam leitores fiéis e anunciantes rentáveis. Laudelino Santos Neto - A segmentação do mercado e, por consequência, também das mídias e dos anúncios é um fato. Com todo o crescimento do jornalismo on-line, é só abrir os jornais de quarta, sábado e domingo e ver os imensos anúncios de página inteira. Luciano Bittencourt - Bons textos continuam sendo valorizados. E a sobrevivência empresarial com base em anúncios, em propaganda, parece estar com os dias contados. Outros modelos de negócio precisam eclodir. Para isso é preciso, primeiro, superar a visão romântica de que a “morte do impresso” é a “morte do jornalismo”. Esse, para mim, é o

equívoco justificável apenas pelo fato de que boa parte dos empregados nas empresas de comunicação, hoje, é de jornais, revistas... Não podemos esquecer que há certa visão elitizada da produção em impressos. A escrita continua sendo valorizada excessivamente como a única forma de produção que expressa profundidade. Há outras formas de linguagem hoje que tratam de temáticas atuais com tanta ou mais profundidade que a escrita. O problema é que a maioria dos profissionais não dominam estas linguagens. Mário Pereira - O fator inteligência aliado a textos criativos e bem escritos. Max Gonçalves Filho - Muito difícil. A interação e a mobilidade superam em tempo e conteúdo os furos de reportagem. Como dissemos antes o jornalismo de pesquisa, projetos elaborados vão e devem substituir as manchetes de furos. Foi ridículo os jornais publicarem horas depois, ou até no outro dia, manchetes sobre as bombas da maratona de Boston. Eram assuntos requentados e sem nenhuma novidade real. Nei Duclós - Sem dúvida. O jornal impresso, bem feito, editado e distribuído, é um produto nobre que pode ser disputado pelos leitores. Mas se fizer porcaria, ninguém vai querer. Os jornais impressos morrem por incompetência empresarial e jornalística, e não por culpa da internet. Nilson Lage - Na Internet, o dinheiro vai todo para fazer jornalismo. Abre-se espaço para empreendimentos mais eficientes e centrados na atividade-fim, menos dependentes de financiamento bancário e desatrelados da rede de dados facciosos que hoje toma contra do mundo. Isso tem significado mais amplo do que se imagina. A centralização da informação nos media gerou extrema concentração da indústria da publicidade, cujo custeio baseia-se no faturamento da veiculação. Se esse despenca, desaba uma poderosa estrutura de marketing. O poder econômico ainda tateia na sua busca pelo controle da rede. São tentativas isoladas visando ora a restrição do acesso e seu escalonamento financeiro, ora o domínio das mídias sociais por robôs eletrônicos e escritórios de divulgação montados à semelhança do telemarketing ou

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a orquestração dos discursos de seu interesse pelo maior número de fontes possíveis etc. Rafael Pedro Matos - Talvez algum segmento de negócio possa ter interesse em manter este tipo de contato com o seu público alvo, mas não sei identificar qual é. Raul Sartori - Por enquanto sim. Mas temos que considerar a possibilidade de o jornalismo on-line também ter anúncios. No meu caso estamos iniciando a transição agora. Certamente chegará o momento – talvez alguns anos adiante – em que teremos uma plataforma quase totalmente on-line, com um jornal impresso apenas para atender alguns leitores mais “teimosos”, digamos assim. Sérgio da Costa Ramos - As grandes empresas anunciantes precisarão manter o grande espectro de abrangência da mídia, na sua forma universalmente eletrônica, mas sem prescindir do meio impresso e regional – necessariamente complementar. Acho que haverá mercado para os dois meios. Mas o impresso sofrerá perdas, precisando trabalhar mais o mercado de publicações legais, aquelas em que a lei exige circulação impressa. Thiago Skárnio - Não.

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O USUÁRIO DAS MÍDIAS SOCIAISTAMBÉM ATUA COMO EMISSOR DE INFORMAÇÃO. AINDA HÁ ESPAÇO PARA O FURO DE REPORTAGEM E INFORMAÇÕES REQUENTADAS NO JORNALISMO IMPRESSO? A exclusividade sobre o “furo” virou tolice em tempos | Acredito que não exista mais furo de reportagem | Requentadas nunca mais! O leitor se sentirá fraudado! | Para o requentado, não, mas para o furo, sempre! O que acontece é que hoje todo mundo se acha jornalista | O que ocorre é que é mais fácil produzir ou reproduzir textos já batidos | Credibilidade é a grande ameaça às mídias sociais | Nisso, a grande imprensa leva uma enorme | O verdadeiro furo do jornal impresso não é divulgar em primeira mão o fato, mas sim contextualizá-lo de forma ampla | O “furo”, um fetiche jornalístico para justificar-se como negócio | Na era da internet e das redes sociais, não existe mais espaço para “furos” | O jornal impresso não pode é virar gigolô dessa produção múltipla, pedindo | As informações, difíceis de controlar, vazam mais frequentemente | O jornalismo impresso só terá furos se tivermos investimentos em jornalismo investigativo | Mas esta atividade | O factual, com a velocidade da informação, tem que buscar enfoques diferenciados | O furo de reportagem e as pautas instigantes serão os motores do novo jornalismo impresso | O espaço para furo, fruto de jornalismo investigativo ou de boas fontes, sempre vai existir

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Carlos Damião - Quando um colunista diz que deu uma informação exclusiva, eu morro de rir. Porque se trata de uma grande bobagem. Outro dia um deles falou assim na TV sobre uma informação que circulava no Facebook havia dias. A exclusividade sobre o “furo” virou tolice em tempos de redes sociais e participação interativa dos leitores. Darlete Cardoso - Acredito que não exista mais furo de reportagem, nem condições de requentar informações, mas investir em conteúdo contextualizado e humanizado. Deonísio da Silva - Requentadas nunca mais! O leitor se sentirá fraudado! Para reportagens sempre haverá público, desde que elas tenham qualidade. Quem cobriu melhor a Guerra de Canudos foi um engenheiro militar. Nem jornalista era. E usou um vocabulário que até hoje parece grego para muitos leitores! Todavia é um exemplo de reportagem, de texto bem escrito. Foi a qualidade do texto que lhe garantiu a permanência. Falo de Euclides da Cunha e de Os Sertões. No impresso ou no digital, o grande cuidado deve ser com todas as linguagens, não apenas com a língua portuguesa, mas com a diagramação, o mirante das fotos, o conceito do fotógrafo, o conceito do redator e do repórter, enfim. Felipe Lenhart - Para o requentado, não, mas para o furo, sempre! É um dever do jornal trazer assuntos exclusivos todos os dias na sua capa. Flávio Gomes - Primeiro, é preciso fazer uma distinção. Nem tudo que as mídias sociais difundem é informação. Não sei o percentual, mas mais de 99% é bobagem, não é informação. Ainda é preciso ter gente que produza informação com qualidade e responsabilidade. O que acontece 70

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é que hoje todo mundo se acha jornalista. Twitter não é jornalismo, nem Facebook. São ferramentas que os jornalistas TAMBÉM usam, inclusive para se manter informados sobre vários assuntos. Hoje, é verdade, a internet permite que todo mundo diga alguma coisa. Mas isso não é muito diferente do passado, em que um cara podia subir num caixote na praça e dizer o que quisesse. Há um fluxo muito grande, isso, sim, de informações. O impresso não requenta informações, necessariamente. Muitas vezes é a mídia social que requenta o que foi produzido e publicado no impresso. E fica com a paternidade da notícia. É preciso ter cuidado ao colocar mídias sociais como concorrentes de jornais impressos. A mídia social, muitas vezes, multiplica o alcance daquilo que um jornal publicou. Isso sim. “Ah, mas tem gente que se informa pelo Twitter”, vai dizer alguém. Eu sei. Porque sigo perfis de jornais e de empresas jornalísticas, por exemplo. Ildo Silva da Silva - Com o fenômeno das mídias sociais, todos passam a ser geradores ou produtores de conteúdos. A diferença deste perfil de internauta com o do profissional de imprensa precisa ser evidenciada pela qualidade e multiplicidade da informação. Diversos enfoques e diferentes abordagens. O jornalismo investigativo é um segmento da produção de notícia que precisa cada vez mais de apoio e investimento. O que ocorre é que é mais fácil produzir ou reproduzir textos já batidos. Jaílson de Sá - Como jornalistas, aprendemos que o fato vira notícia quando surpreende ou quando sai do comum. E, hoje, qualquer um que frequente as redes sociais é um repórter. Sem critério, sem compromissos, sem filtro, sem uma linha editorial, mas fazem notícias com seus posts. Cabe aos jornalistas a quem se dá a missão de proceder a análises fidedignas dos fatos, a geração de matérias inéditas e grandes furos de reportagem. Mas é preciso que arregacem as mangas e passem a investigar com boas fontes mais do que ficar na torcida para que as coisas aconteçam por si sós na forma de simples informação e entretenimento. Credibilidade é a grande ameaça às mídias sociais. Nisso, a grande imprensa leva uma enorme vantagem e, talvez, aí esteja um diferencial competitivo valioso a se investir.

Laudelino Santos Neto - Haverá sempre espaço para o furo e para análises conjunturais no jornalismo impresso. Agora estes aspectos sofrerão ou já estão sofrendo profundas modificações. O verdadeiro furo do jornal impresso não é divulgar em primeira mão o fato, mas sim contextualizá-lo de forma ampla, dando-lhe uma amplitude conjuntural e estrutural impossível de se conseguir nas mídias sociais, onde predomina o senso comum, a opinião pessoal. Luciano Bittencourt - O furo de reportagem nasceu como forma de valorização mercadológica do trabalho jornalístico considerado mais antenado, digamos. Mas parte do princípio de que todos os veículos deveriam ter interesse na mesma informação publicada primeiro por um deles. O furo de reportagem só se justifica no contexto da homogeneidade de pautas (e da falta de criatividade por decorrência). As redes sociais acompanham uma visão de mundo mais diversificada, menos homogeneizada (pelos menos quanto aos interesses por informação). Neste sentido, o “furo”, um fetiche jornalístico para justificar-se como negócio, perde completamente a força. O “furo”, aliás, nasceu também com o impresso para justificar as limitações de espaço e tempo característicos desse modo de veiculação de informações. Mário Pereira - Na era da internet e das redes sociais, não existe mais espaço para “furos”. Mas informações “requentadas” (ou mentirosas e manipuladas) são fartas. Max Gonçalves Filho - O conceito de anúncio em jornal impresso faz parte do que falamos acima, de mudanças necessárias. Acredito que o anúncio tradicional será substituído por patrocínios. Assim o banco irá patrocinar a parte econômica, a fábrica de automóveis a parte de automóveis, e por aí vai. Mas no conceito de patrocínio, ou seja: além de pagar o jornal, patrocinar o grande repórter, o grande economista, enfim um trabalho de associação de imagem entre o conteúdo e o patrocinador. Os pequenos anúncios vão ter que ser imensamente criativos e imensamente baratos e vão se espalhar pelo jornal. Os cadernos de classificados são monótonos e difíceis de ler, assim o classificado vai virar o

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pequeno anúncio, o catch para o olho do leitor e vai ocupar os espaços mortos nas páginas dos jornais. Nei Duclós - O trato eficiente da informação por parte de profissionais do jornalismo é obrigatoriamente melhor e mais poderoso do que o amadorismo das mídias individuais. O jornal impresso não pode é virar gigolô dessa produção múltipla, pedindo que mandem vídeos sobre tudo. Mande o repórter lá, tire o jornalista da cadeira para que obtenha informação exclusiva e de qualidade. É obrigação de um bom jornalista ser melhor do que um improvisado vídeo-repórter. Mas, quando ele usar uma informação que venha desse público ativo, deve dar o crédito e não escondê-lo como se não houvesse um indivíduo produzindo aquela mídia que está sendo usada no impresso. Nilson Lage - A maioria absoluta dos usuários de mídias sociais tem a dizer, em termos de informação primária, apenas aquilo que testemunha. A produção de informação nova a partir de informação recebida depende do repertório, isto é, da capacidade de integrar o input informativo em um elenco de que se extraiam novas sínteses. Cabe ao processo educacional refinar repertórios, de modo a permitir sínteses que não reflitam cenários de velhos preconceitos, valores retrógrados e resíduos de experiências Rafael Pedro Matos - Do jeito que está indo, não. O jornalismo impresso só terá furos se tivermos investimentos em jornalismo investigativo. Mas esta atividade é uma das mais caras no jornalismo. A investigação de uma boa pauta demanda tempo de bons profissionais. É uma conta que ninguém quer pagar, apesar da grande importância que tem para a sociedade. Raul Sartori - Na minha cidade tenho a vantagem de dar a grande maioria das informações em primeira mão uma vez que outro veiculo (uma rádio) não dá importância maior ao jornalismo e lê as notícias publicadas no jornal. O factual, com a velocidade da informação, tem que buscar enfoques diferenciados no jornalismo impresso. Tento certo equilíbrio com matérias descompromissadas com a factualidade local. Sérgio da Costa Ramos - O furo de reportagem e as pautas instigantes serão os motores do novo jornalismo impresso, que precisará, cada vez

mais, contar histórias que não estejam completamente sob o domínio das mídias eletrônicas. E se os assuntos forem obsessivos, dominantes, como o julgamento (pelo Tribunal do Júri) de alguém réu de rumoroso crime, o que salvará o impresso será a história “exclusiva”, que revelará o que o “main stream”, a história corrente, ainda não souber. Thiago Skárnio - Sim. O espaço para furo, fruto de jornalismo investigativo ou de boas fontes, sempre vai existir. Informações requentadas, só enquanto análise e desdobramento.

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COMO MUDAR O CONCEITO E O CONTEÚDO DA NOTÍCIA PARA O IMPRESSO SER INOVADOR E ATRAENTE? Conteúdo tem preço | Promover essa reflexão de mudanças urgentes | percepção e o poder de expressá-la | para fazer com que o leitor | É difícil concorrer com as mídias on-line na geração de notícia | E sim, aquele que demanda um jornalismo analítico e de profundidade | Notícia, enquanto conceito e conteúdo, são de natureza jornalística, não de natureza impressa | Valorizar o profissional, as pessoas vão querer ler o autor e não se importar com a media | Voltar a fazer reportagem | O que o impresso pode ter de diferente das mídias digitais para ser mais atraente? | Grandes reportagens e textos reflexivos

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Carlos Damião - Quando falei da reinvenção dos jornais, estava justamente alertando sobre a questão do conteúdo. O problema é que os jornais pagam salários cada vez menores. Conteúdo tem preço. Para ser inovador e atraente, o impresso tem que ter uma equipe de primeira qualidade, com jornalistas muito experientes e novatos participando como colaboradores/aprendizes. Não vejo outra forma. Com baixos salários, como hoje, o impresso, mesmo reinventado, vai dançar. Darlete Cardoso - Promover essa reflexão de mudanças urgentes, como disse acima. Deonísio da Silva - Ninguém que não leia, escreve bem. Quem escreve bem sobre qualquer assunto tem lastro intelectual. Yuri Gagarin disse uma frase poética quando foi ao espaço: A Terra é azul! Ele não era poeta. Era um piloto militar que tinha sensibilidade para a beleza do mundo. Se ele fosse um repolho ou uma alface intelectual, no máximo ficaria com o olho arregalado como uma vaca atolada. Mas não era nada disso e soube expressar aquele momento sublime e decisivo para a humanidade num belo resumo, numa frase concisa, objetiva e bem escrita. Neil Armstrong fez algo parecido quando pisou na Lua pela primeira vez: É um pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade. Sua percepção e o poder de expressá-la lhe foram dados pela cultura que o impregnava. Senão diria qualquer bobagem, como dizem esses que fazem mil gols, que, aliás, raramente dizem alguma coisa que preste. Felipe Lenhart - Aproveitando ao máximo o on-line, para fazer com que o leitor vá até o site do seu jornal preferido, após terminar a leitura do impresso. 78

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Flávio Gomes - Os grandes jornais brasileiros ainda não encontraram uma forma de oferecer, nesta era de informação rápida e farta, mesmo que muitas vezes inconsistente e imprecisa, um produto atraente. Os jornais precisam investir em reportagens para fazer a diferença. Não se pode, como já disse, fazer um jornal com conteúdo que o leitor já leu em fontes on-line. Os jornais impressos necessitam investir em qualidade para atrair leitores diferenciados. Ildo Silva da Silva - É difícil concorrer com as mídias on-line na geração de notícia. O caminho do jornalismo impresso deve ser pautado no aprofundamento e na geração de contextualizações e opiniões abalizadas a respeito dos eventos e fatos noticiados. Laudelino Santos Neto - O jornalismo impresso tem que se transformar em uma espécie de enciclopédia diária, fazendo a mediação entre os fatos, a sociedade, as instituições, num esforço de explicar os fatos e conectá-los com outras visões, outras redes de informação e conhecimento. Creio que o leitor apressado, desinformado e meio alienado do que acontece a sua volta, na sua cidade, no seu país, não deve ser a prioridade do jornalismo impresso. E sim, aquele que demanda um jornalismo analítico e de profundidade. Luciano Bittencourt - Não creio que haja necessidade disso. Notícia, enquanto conceito e conteúdo, é de natureza jornalística, não de natureza impressa. Sendo assim, a crônica de nosso tempo exige concepções de “notícia” menos formais. O Jornalismo precisa voltar a ser valorizado pela reportagem, pelo sentido humano na interpretação do mundo que nos cerca. A mediação tecnológica que nos permite, enquanto jornalistas, contar nossas versões dos acontecimentos considerados importantes para a atualidade, depende de ferramentas que precisamos aprender a usar como arte expressiva, como forma criativa de valorizar a diversidade de pontos de vista e dar visibilidade para o que nos cerca e não é percebido por um olhar homogêneo e limitado, característico em nossa sociedade. Max Gonçalves Filho - Valorizar o profissional. As pessoas vão querer ler o autor e não se importar com a media; mudar os conceitos de notícia imediatista e sensacionalista para projetos e opiniões; criar expectativas

para os números especiais, como dissemos acima quem quiser saber só economia, só assina ou só compra o jornal da segunda-feira. Ou seja: valorizar conteúdos específicos para atrair leitores específicos; valorizar a parte gráfica fugindo do óbvio de fotos repetitivas; por último, o conteúdo tem que deixar de ser imediatista, o jornal tem que sobreviver o dia-a-dia. Nei Duclós - Voltar a fazer reportagem. A solução é clássica e o clássico é sempre inovador e de vanguarda. Nilson Lage - O jornalismo surgiu como instrumento da luta da burguesia contra o estado aristocrático; poderá tornar-se instrumento da luta contra o império financeiro e suas verdades convenientes. Para isso, terá que aprender a trabalhar com números e tecnologia da informação; ouvir mais; procurar mais; refletir mais – sem perder, porém, a ingenuidade originária. O jornalismo prosperou associado ao consumo de bens. Acho que deverá associar-se ao consumo de ideias. O jornalismo é pensado como alavanca para educação das massas. Terá de aprender a ser educado por elas. O jornalismo foi sempre instrumento de poder. Terá de ser instrumento de diálogo. Rafael Pedro Matos - O impresso será inovador e atraente se conseguir manter a originalidade. Se persistir em tentar acompanhar o on-line estará sempre chegando atrasado. O que o impresso pode ter de diferente das mídias digitais para ser mais atraente? Esta é uma das grandes questões a serem respondidas. Raul Sartori - Tentamos ser criativos, muito criativos, e absolutamente independentes, considerando que estamos fazendo jornal para uma população que até seu advento lia muito pouco. Assim, enfrentamos o imenso desafio de “acostumar” a população a ler. Repito: nosso segredo está no enfoque jornalístico local, com todo tipo de notícia possível, inimaginável para a maioria. Toda hora nos perguntam onde buscamos tantas notícias. Não sabem que pelo menos 40% do que levantamos acaba sobrando por falta de espaço. Na minha experiência pessoal tento provocar o leitor, insistindo para que não se acomode ou se acovarde, que use o jornal como meio para se expressar e libertar de certas amarras. Thiago Skárnio - Grandes reportagens e textos reflexivos.

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JORNALISTAS ENTREVISTADOS

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Carlos: Jornal com notícias de ontem. Errado!

Rafael: Futuro do jornalismo preocupa mais.

Ildo: Foco regional, a salvação dos jornais.

Jaílson: Pensar o jornal com profundidade.

Duclós: A internet implodiu tudo.

Carlos Damião

Rafael Pedro Matos

Ildo Silva da Silva

Jailson José de Sá

Nei Duclós

Foi editor-chefe dos jornais O Estado, Santa Catarina e A Notícia (do AN Capital); assessor de imprensa da Eletrosul e do governo do Estado de Santa Catarina. É colunista do jornal Notícias do Dia e na Internet.

Formando em jornalismo pela Unisul, cursa mestrado na Universidad Europea Miguel Cervantes. Trabalhou em jornais, televisão e rádio de Tubarão, Criciúma e de outras cidades catarinenses e, também, do Canadá. É professor de Jornalismo da Unisul, comentarista político e entrevistador da Unisul TV, colunista de jornais e em seu blog.

Graduado em Jornalismo pela PUC (RS) e especialista em Comunicação pelo UniCeub (DF) e Máster em Jornalismo para Editores pelo Centro de Extensão Universitário de São Paulo. Atuou em rádio e televisão em Porto Alegre, Santa Catarina, São Paulo e Brasília. É professor de jornalismo da Unisul, onde também dirige a Comunicação Social e a UnisulTV.

Trabalhou na Ogilv, na Ziegelmeyer Pimentel e foi diretor-executivo HouseAgency do Grupo Real. Em 1997 fundou, em São Paulo, a Markteam, especializada em Marketing Cultural. Em 2003 implantou o portal Acontecendo Aqui. Em 2004 fundou o Clube de Propaganda e Marketing de Santa Catarina. Em 2011 e 2012 foi coordenador de conteúdo do Seminário MIDIA SANTA CATARINA.

Editou revistas Isto É, Senhor, Brasil 21, Empreendedor; redator da Folha de S. Paulo, Folha da Tarde, Jornal Santa Catarina, O Estado, A Tribuna (Vitória); colaborador de Veja e caderno 2 de O Estado de S. Paulo. Publica crônicas no Diário Catarinense e é diretor da W11/Francis (SP) e blogueiro; publicou 11 livros e cinco e-books, entre romances, poesias e crônicas.

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Sérgio: Jornal vive, mas sem a tirania das autocracias.

Mário: Jornal viverá se exercer a crítica e análise.

Flávio: O que o jornal pode oferecer além da internet?

Darlete: O jornal precisa fazer uma grande reflexão.

Felipe: Jornal será tablete, e-readers com interatividade.

Thiago: Jornal dura enquanto a internet não se popularizar.

Sérgio da Costa Ramos

Mário Pereira

Flávio Gomes

Darlete Cardoso

Felipe Lenha

Thiago Skárnio

Escritor e jornalista. Ocupou praticamente todos os postos de carreira em jornais nos tempos românticos do jornalismo, até exercer as funções de Editor-Chefe de “O Estado” e do “Jornal da Semana”. Correspondente de “Veja” em Santa Catarina e de imprensa na Europa, baseado em Londres. Escreveu 12 livros de crônicas e é membro da Academia Catarinense de Letras.

Jornalista, advogado e professor de jornalismo da Unisul. Foi repórter, redator, editor e editor-chefe de vários jornais do RS, SC, SP e RJ. Editou a Opinião do Diário Catarinense, onde publica crônicas semanais. Escreveu sete livros e participou de antologias e de coletâneas de crônicas. É membro da Academia Catarinense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura.

Jornalista, dublê de piloto, escritor e professor da FAAP. Trabalhou no Popular da Tarde, Folha de S. Paulo, revista Placar, Quatro Rodas Clássicos e ESPN, e também nas rádios Cultura, Jovem Pan, Bandeirantes, Eldorado e Estadão. Fundou a agência Warm UP, que cobriu a Fórmula 1 para mais de 120 jornais. É comentarista e repórter da ESPN Brasil e edita no MSN o site “Grande Prêmio”.

Formada em Jornalismo e em Administração pela Unisul, é especialista em Jornalismo e mestre em Ciências da Linguagem. Iniciou a carreira como colunista de jornais, atuando em jornais estaduais. Assessorou empresas como Indústria Carboquímica Catarinense (ICC) e Porto de Imbituba, Itagres, Pró-Vida, Ajet, Unimed, Laguna Tourist Hotel, Hospital São João Batista de Criciúma, Hotel Termas da Guarda, Água Mineral da Guarda, Laguna Internacional e outras. Foi coordenadora e leciona há 17 anos no Jornalismo da Unisul; é editora do jornal on-line Unisul e assessora a Associação Catarinense de Shoppings Centers.

Jornalista, iniciou sua carreira como redator do portal ClicRBS. Foi repórter do caderno Donna, do Diário Catarinense e do DC Cultura; cronista, substituiu por várias vezes Sérgio da Costa Ramos no DC. Foi editor-assistente da Editora Letras Brasileiras e editou o jornal Palavra Palhocense. É redator-chefe da NacionalVOX – Agência Digital, e editor do portal DeOlhoNaIlha.

Jornalista, fotógrafo e produtor gráfico. Produz charges e ilustrações para publicações independentes e sindicais. Edita o site sarcastico.com.br, destinado a apoiar cultura digital, liberdade de expressão, estado laico, democracia líquida e políticas públicas voltadas para a cultura. Coordena o Pontão Ganesha de Cultura Digital, mantido pelo Ministério da Cultura, e a Alquimídia.org. Integra o Conselho Municipal de Cultura de Florianópolis.

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Laudelino Santos Neto: Otimismo à sobrevivência do impresso.

Sartori: Impresso ainda com preferência.

Deonísio: Impresso vai se tornar mais caro.

Nilson Lage: O jornal tornou-se um catálogo publicitário.

Luciano Bittencourt: Vínculo do jornalista é com impresso.

Laudelino Santos Neto

Raul Sartori

Deonísio da Silva

Nilson Lage

Luciano Bittencourt

Jornalista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde pós-graduou-se em sistemas de comunicação. Participou da transformação da Fessc em Unisul, onde implantou o Curso de Jornalismo, a Assessoria de Imprensa, a Editora e elaborou os projetos de concessão da Unisul TV e rádio universitária. Trabalhou em vários jornais, rádio e TV no Rio de Janeiro, Florianópolis e Tubarão. É membro da Escola Brasileira de Psicanálise.

Graduado em Ciências Sociais na UFSC, é de Nova Trento e jornalista desde 1977. Iniciou a carreira em O Estado e foi correspondente de O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo e da revista Isto É. Assessorou em comunicação o governo do Estado de Santa Catarina. Hoje é sócio proprietário do jornal O Trentino e assina uma coluna publicada por 17 jornais de Santa Catarina.

Membro da Academia Brasileira de Filologia e doutor em Letras pela USP. Consultor das Universidades Unisul e Estácio de Sá. Estreou como autor com Exposição de motivos, premiado pelo MEC em 1975 e levado à televisão por Antunes Filho. Além de inúmeros livros de contos, é autor dos romances A cidade dos padres, Orelhas de aluguel, Teresa (premiado pela Biblioteca Nacional), Os guerreiros do campo e Avante, soldados: para trás, que recebeu o Prêmio Internacional Casa de las Américas, em 1992, em júri presidido por José Saramago. Professor aposentado da Universidade Federal de São Carlos (SP). Outra obra, derivada de longa pesquisa, é De onde vêm as palavras. Apresenta na Band News um programa “Sem papas na língua”.

Começou sua carreira profissional no Diário Carioca, que, na época, inovava o texto jornalístico. Doutor em linguística e filologia, lecionou nas universidades federais do Rio de Janeiro, Niterói e de Santa Catarina, até se aposentar. É autor de vários livros, entre os quais Ideologia e Técnica da Notícia; Estrutura da Notícia; Teoria e Técnica do Texto Jornalístico. Estudou medicina, sem completar o curso, e dirigiu o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.

Especialista em Gestão Estratégica em Instituições de Ensino Superior, coordena a Unidade de Articulação Acadêmica em Educação, Humanidades e Artes na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), atua também como professor do Curso de Jornalismo na UNISUL, instituição em que coordenou o curso de Comunicação Social entre 2005 e 2010. Trabalhou como repórter e editor no Jornal O Estado (1985-1991), como repórter, apresentador e editor na RBS TV (1991-1995); sócio-fundador da Clipagem, primeira empresa de monitoramento da informação de Santa Catarina (1993-2003).

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FUTURO AINDA MUITO NEBULOSO

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1 Haverá leitores suficientes para justificar anúncios em

jornal impresso nos próximos anos?

2 No embate entre o impresso e as mídias sociais quem tem

melhor chance de sobrevivência?

3 Com a massificação das mídias sociais os classificados, que

ainda ajudam muito na sobrevivência dos impressos, já não estariam mudando de veículo?

4 Qual a sua visão do jornalismo impresso do futuro? PUBLICITÁRIOS SE dividem na discussão sobre o futuro do jornalismo impresso e uma das razões é a indefinição das mídias sociais no tocante ao modelo de publicidade cabível em suas plataformas. Contudo, a maioria vê futuro para os jornais impressos, se houver a necessária adequação de conteúdo à velocidade que a tecnologia impõe, com mudanças e hábitos e costumes.

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HAVERÁ LEITORES SUFICIENTES PARA JUSTIFICAR ANÚNCIOS EM JORNAL IMPRESSO NOS PRÓXIMOS ANOS? Nativos da Internet vão, logicamente, preferir ler os jornais em seus aparelhos mobiles | Haverá leitores para o jornal impresso, mesmo que sejam nichos e não mais a massa, como foi até agora | A tendência da mídia impressa é de se segmentar | É provável que os consumidores da mídia impressa tenham de pagar mais pelos exemplares | Sempre haverá | Aliás, o jornal impresso já começa a se reinventar | Acredito que sim | Por tudo isso, acredito que estamos vivendo um momento histórico, pois um meio | O jornal impresso não substitui uma boa conversa | Quero crer que o digital não substituirá o impresso

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Chico Socorro - Como a pergunta fala dos próximos anos, entendo que estamos falando do curto-médio prazo. Nesse sentido, acredito que os jornais continuarão sim a ter leitores suficientes que garantam a sua sobrevivência. Paralelamente, é preciso acompanhar também a evolução da versão digital dos principais jornais – creio que, mais adiante, os principais jornais de cada estado dinamizarão a cobrança por uma assinatura digital. E especialmente os mais jovens, aqueles que são nativos da Internet, vão, logicamente, preferir ler os jornais em seus aparelhos mobiles. Mas ainda restarão mitos leitores tradicionais. Dagoberto Dalsasso - Acredito que “sempre” haverá leitores para o jornal impresso, mesmo que sejam nichos e não mais a massa, como foi até agora. Tem uma frase que diz que haverá sempre um confronto entre o high tech e o high touch. Sempre haverá os que, por charme, por tradição, por sensibilidade, por ser ou querer ser diferente ou sei lá o que mais, procurarão o high touch. Hoje tem mercado seguro para o disco de vinil de qualidade. Também, não dá para esquecer que ainda convivemos num mix de gerações de “não digitalizados”, imigrantes e nativos digitais. No futuro, a massa consumidora será cada vez mais “digitalizada” (nativa) e nascerá em ambientes cada vez mais digitais, assim o jornal ou qualquer outra forma de leitura digital tenderá a ser mais intensa que a impressa ou suas formas atuais não digitais (veja o sucesso estrondoso dos tablets). Até mesmo porque o meio digital permite, junto ao texto, a inclusão de sons, imagens em movimento (vídeo) e o que o torna mais poderoso: a 92

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interatividade (até em tempo real). Isso é força num mundo que tem se expressado, cada vez mais, pelo viés visual da comunicação e pela urgência de manifestação e respostas. Elóy Simões - Com certeza. A tendência da mídia impressa é de se segmentar. Já está fazendo isso – mais lentamente na área dos jornais, mais rápido na de Revista. Houve uma época em que se acreditava, por exemplo, que os jornais deviam, para sobreviver, publicar notícias curtas, para resistir à concorrência da TV. Não foi o que ocorreu. Hoje, acredito que eles devem seguir o caminho inverso, a exemplo do que fazem as revistas: divulgar editoriais cada vez mais profundos, e noticiário investigativo, abordando segmentos específicos. É o que ocorrerá. Emílio Cerry - Depende do horizonte temporal que estejamos considerando. O número de leitores irá progressivamente decrescer na proporção das reduções de tiragens. Os jornais impressos não irão desaparecer a curto prazo, mas é provável que os consumidores da mídia impressa tenham de pagar mais pelos exemplares. Só a publicidade – solicitada a ser distribuída através de novas plataformas – não conseguirá sozinha “sustentar” os jornais, o que atualmente ainda permite preços baixos dos exemplares avulsos e assinaturas. A propósito, é provável que os jornais incrementem seus esforços para criar maiores bases de assinantes, agregando serviços/produtos adicionais nos pacotes de assinaturas. Júlio Pimentel - Sempre haverá. Só que, cada vez mais, vai ser exigido um planejamento de mídia bem feito, que permita saber quem e quantos são os leitores, para poder direcionar corretamente produtos e mensagens. Em outras palavras, mesmo que sejam poucos, serão consumidores a ser atingidos pela publicidade. Ricardo Barbosa lima - O número de leitores está caindo rapidamente e os mais jovens já não tem o hábito de ler jornais impressos. Não acredito que o meio acabe, mas terá sua participação cada vez mais reduzida. Rodrigo Lapolli - Nos próximos anos, sim. Não sei se nas próximas décadas. Aliás, o jornal impresso já começa a se reinventar, principalmente

em mercados maduros como os EUA e Europa. Há um posicionamento latente de que o jornal deve ser um “hub” que capta, organiza e dá vazão para a quantidade de informação que temos por segundo hoje. O The Guardian é um excelente exemplo de empreendedorismo comercial. Ele já entendeu que o jornal deixou de ser um monólogo e, hoje, precisa ser uma conversa. Roberto Costa - Vamos definir quantos são os próximos anos. Se forem os próximos 20 anos, acredito que sim. Teremos menos anúncios em jornais reformulados, para atender a um novo leitor. Contudo, o jornal apresentou crescimento médio de 3,5% de circulação em 2011, e de 2,3% no primeiro semestre de 2012. O aumento foi impulsionado, em maior escala, pelo crescimento nas vendas das publicações com preço de capa entre R$ 1 e R$2. Isto quer dizer que, se a circulação está crescendo, o número de leitores também está. Logo, teremos leitores nos próximos anos, mas há tendência de esse cenário mudar em duas décadas. Rosa Estrella - Tudo leva a crer que a mídia impressa deve desaparecer em alguns anos. A nova geração de leitores já tem dificuldades em lidar com o peso e o formato dos impressos, além da limitação do volume de informação que eles comportam. Por tudo isso, acredito que estamos vivendo um momento histórico, pois um meio que foi o mais importante durante mais de cinco séculos deixará de fazer parte da vida das pessoas no mundo todo. Sérgio Calderaro - Acredito que haverá leitores suficientes para justificar que anunciantes continuem propagando seus serviços, seus produtos, suas marcas e seus ideais por meio das páginas dos jornais impressos. A mudança básica, imagino, estará no perfil dos leitores, no perfil do público consumidor de jornal impresso. Isso acarretará, como consequência, uma alteração do perfil dos anunciantes. O prazer da leitura no papel, no meu modo de ver, sobreviverá à avalanche digital que presenciamos de uns anos para cá. Ou, pelo menos, eu quero acreditar nisso. Antes do surgimento da imprensa, notícias eram difundidas por via oral. O papel surgiu e as pessoas não pararam de falar. O jornal impresso não substitui uma boa conversa. Quero crer que

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o digital não substituirá o impresso. São coisas diferentes. Como já disse, o que ocorrerá, penso eu, é uma alteração do perfil do público consumidor do jornal impresso. Não se pode ainda prever qual a alteração que poderá ser. Talvez o público envelheça; talvez se acumule em capas financeiramente mais altas da população; talvez, nas mais baixas; talvez nas esferas mais intelectuais; talvez, nas menos; talvez jornais impressos se segmentem cada vez mais, buscando nichos específicos de públicos de interesse. Não me arrisco nesse nível de previsão. O que tenho certeza é que agências e anunciantes terão de se manter atentas a todas essas mudanças. O jornal impresso continuará existindo, e obviamente continuará existindo um público leitor que justifique o jornal impresso. Basta saber bem que público é esse para direcionar a comunicação publicitária com um mínimo de dispersão. Aliás, como sempre foi feito.

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NO EMBATE ENTRE O IMPRESSO E AS MÍDIAS SOCIAIS, QUEM TEM MELHOR CHANCE DE SOBREVIVÊNCIA? Haverá convivência entre a plataforma impressa e a digital | Pesquisas recentes mostram a importância dos meios clássicos | pessoas e empresas ainda terão de aprender como lidar com as mídias sociais | O mundo já é “multiscreen” | Cada vez mais vai ser buscada uma integração entre as mídias, e não embate | Os públicos são cada vez mais diferenciados e exigentes no consumo de assuntos | As pessoas como eu, você e as próximas gerações, são conectadas | Não há embate entre jornal impresso e mídias sociais: eles são complementares | as mídias sociais devem se manter além dos impressos | O futuro de cada mídia deverá ser trilhado de forma paralela

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Chico Socorro - A curto e médio prazo, creio que haverá convivência entre a plataforma impressa e a digital. Não haverá, a meu ver, a substituição drástica, abrupta, do jornal impresso pela versão on-line. Isso é histórico: na mídia eletrônica, a TV não acabou com o rádio e a Internet também não substituirá a TV – seja esta aberta ou por assinatura. Cada meio, inclusive a mídia impressa (jornais e revistas), terá que obviamente se “reinventar” em função dos avanços tecnológicos. Mas acredito que haverá espaço para todos os meios de comunicação – maior ou menor. Dagoberto Dalsasso - Vejo dois campos distintos. Na questão 1, deu para sentir um pouco isso. As mídias sociais são fontes de interação e círculos de convivência virtual, mas não necessariamente fontes de informação formal (pelo menos ainda, a não ser que a informação parta de “espaços oficiais de fontes críveis”). As mídias sociais repercutem, ampliam, mas ainda dependem dos meios formais para “legitimação/oficialização”. Afinal, se não saiu no Globo e no Estadão, ou no Jornal nacional (da TV), não é importante em escala (ou pelo menos não parece ser). Pesquisas recentes mostram a importância dos meios clássicos na “formação de opinião” que é então “circulada/reverberada” nas mídias sociais. A questão é: credibilidade da fonte. Se as mídias sociais puderem construir isso, o que é difícil pela pulverização de fontes e pouco profissionalismo (já que é um meio muito mais pessoal que profissional/formal), terão mais força. Muitas empresas têm colaborado para esse enfraquecimento de credibilidade pela forma não atrativa (desinteressante) 98

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em que se colocam nas mídias sociais. Com relação específica ao meio impresso, acredito que, ao longo do tempo, quem levará vantagem serão as mídias sociais. Eloy Simões - Ambas. Acho que pessoas e empresas ainda terão de aprender como lidar com as mídias sociais. Possivelmente, daqui a pouco elas, terão outras características. Outras exigências de uso. E, como expliquei lá atrás, a mídia impressa terá de passar por uma frequente readaptação. Aliás, já estamos observando isso. Somente nos últimos meses, vimos, pelas mudanças por que passaram Folha, Estadão, Valor Econômico e Editora Abril – embora por enquanto superficiais – que o processo já começou. Aliás, os jornalistas, que sofrem diretamente o impacto dessa mudança, também precisarão buscar um caminho novo. Emílio Cerry - O mundo já é “multiscreen”. Mas a questão passa mais por conteúdo do que por plataformas. A cada dia (ou seria a cada hora?) surgem novos canais para atender às demandas de informação. Contudo ainda não vejo embate direto entre os meios impressos e as mídias sociais, pois têm estruturas diferentes, entre elas a interação e a possibilidade de formar e conectar grupos de interesses similares ou iguais. As mídias sociais prestam-se mais à “snack culture”, provendo informação rápida e superficial. A mídia impressa ainda é melhor para conteúdos profundos e detalhados. Outra coisa: para muitos consumidores (exceto os da geração Y) é bastante desconfortável ler textos longos em telas. Júlio Pimentel - Cada vez mais vai ser buscada uma integração entre as mídias, e não embate. As mídias sociais em geral repercutem o que jornais e revistas publicam, portanto a integração é o caminho. Mídias sociais vão, sem dúvida, sobreviver, evoluir, ganhar novas formas, e jornais terão que buscar maneiras de tirar proveito para evoluir junto. Ricardo Barbosa Lima - As mídias sociais têm possibilidade de crescimento muito maior que os veículos impressos. Acrescento a elas todas as mídias de conteúdo que oferecem muito mais velocidade e capacidade de segmentação. Os públicos são cada vez mais diferenciados e exigentes no consumo de assuntos.

Rodrigo Lapolli - As mídias sociais. As pessoas como eu, você e as próximas gerações, são conectadas. É muito mais cômodo que eu converse através de um aparelho em minha mão, do que “ouça” ou leia apenas a opinião de outra pessoa sem poder dar a minha. Interação é tudo! Roberto Costa - São coisas diferentes. Os jornais vão continuar cumprindo uma função mais informativa enquanto as mídias sociais dão mais voz à interatividade do leitor. Mas é claro que na internet. O futuro é mais promissor. Não há embate entre jornal impresso e mídias sociais: eles são complementares. Notícias lidas nos jornais são comentadas nas mídias sociais, e, muitas vezes, isso só valoriza as informações do meio impresso que, normalmente, são mais ricas em detalhes, mais aprofundadas. Rosa Estrella - As mídias sociais devem se manter além dos impressos, pois possibilitam uma nova forma de relacionamento interpessoal que vem crescendo de forma exponencial em todas as faixas etárias e camadas sociais. Sérgio Calderaro - Como já disse, penso que as duas sobreviverão. E, na verdade, esse negócio de “embate” é uma coisa do momento atual. Penso que, dentro de algum tempo, cada mídia seguirá seu caminho, e, aí, o tal embate, tal e como o conhecemos hoje, acaba. O futuro de cada mídia deverá ser trilhado de forma paralela, ou ainda, de forma conjunta e complementar, como já observamos em alguns casos, hoje em dia, dentro de uma mesma empresa que mantém o impresso, o digital e sua presença em redes sociais. Há e haverá espaço para as duas mídias. Cada mídia consolidará suas características e imagino que cada uma se firmará dentro de suas possibilidades de alcance e de perfil de público. Tanto o jornal quanto as mídias sociais conservarão a semelhança de ambos serem veículos de comunicação, mas seus perfis enquanto mídias, creio, se tornarão cada vez mais nítidos para agências e anunciantes. Penso que, com o tempo, será mais fácil decidir se o mais adequado para determinado cliente é anunciar em jornal impresso ou em mídia social, ou nos dois, da mesma forma que hoje é fácil decidir se um cliente deve anunciar em cinema ou em tevê. Inclusive – lembremos, porque vem ao caso –, quando surgiu a tevê, e depois o videocassete, e depois

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o DVD, muitas foram as vozes que afirmaram a morte das salas de cinema. No entanto, sabemos, até hoje a sala de cinema tem um charme especial que nenhum outro aparato consegue. A experiência de ir ao cinema é incomparável, desde o momento de pesquisar os filmes disponíveis e ligar para alguém propondo o programa até a hora de escolher a roupa, sair de casa, pegar o tíquete, comprar pipoca, ver as pessoas ao redor, sentar na poltrona e, na saída, poder tomar um chope e tecer comentários sobre a obra. São totalmente diferentes os processos “ir ao cinema” e “assistir a um DVD”. Creio que esse paralelismo pode ser adaptado também entre o jornal impresso e as mídias sociais. As situações de uso, de consumo, dessas duas mídias são diferentes. As duas sobreviverão porque proporcionam experiências distintas aos seus respectivos consumidores. Interessante notar: no caso do DVD na sala de casa em embate com o rolo na sala de cinema, o objeto a ser comunicado é o mesmo – o filme. No entanto, a experiência de consumo em uma ou outra situação é bem diferente. Ou seja, o objeto permanece, mas muda a experiência humana e social que o envolve. Agora, procedamos ao salto: o conteúdo na telinha digital – seja ele noticioso ou publicitário – pode ser o mesmo divulgado pelo impresso, mas as experiências que se acumulam em torno dos atos “abrir o jornal” e “ligar o aparato” são bem outras. Estamos falando já do nível do fazer humano, que, ao meu ver, transcende o próprio objeto a ser consumido. As pessoas continuarão trocando informações oralmente; as pessoas continuarão abrindo jornais impressos; as pessoas continuarão acessando a rede. Tudo isso porque as atividades que envolvem cada uma dessas modalidades são distintas. O ser humano, curioso e voraz como é, não elimina ou substitui experiências. Ele as acumula (hoje, por exemplo, mesmo com os inventos do fogão a gás, fogão elétrico e microondas, a experiência ancestral de se assar uma carne diretamente no fogo – um churrasco! – continua mais viva do que nunca).

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COM A MASSIFICAÇÃO DAS MÍDIAS SOCIAIS, OS CLASSIFICADOS, QUE AINDA AJUDAM MUITO NA SOBREVIVÊNCIA DOS IMPRESSOS, JÁ NÃO ESTARIAM MUDANDO DE VEÍCULO? Continuará, acredito, sendo da forma tradicional | O Google já é o grande classificado | Já mudou | Se não estão mudando, vão mudar | Isso já está ocorrendo | Sem dúvida | já estão mudando de meio | Não é mudar | É se adaptar | Reorganizar | ainda permanecerão nos veículos impressos | substituir definitivamente as versões impressas | as experiências em torno do impresso e do digital são distintas entre si

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Chico Socorro - Não acredito que essa seja uma tendência. A leitura dos anúncios classificados nos jornais impressos continuará, acredito, sendo da forma tradicional: a pessoa assinala, anota ou eventualmente recorta o que lhe interessa. Algo que ela não pode fazer, de imediato, com a mídia social. Dagoberto Dalsasso - O Google já é o grande classificado... Já mudou. Para o impresso, o que existe é ainda uma questão do poder regional para o segmento privado e legal para o segmento público, princípio legal da publicidade, que dá origem às publicações legais, disputadíssimas pelos jornais. Quem, hoje, mesmo procurando no caderno classificado do jornal local, não pesquisa simultaneamente no Google? O que acontece é que tem uma profusão enorme de classificados eletrônicos e muitos são muito ruins. Aí acabam mais por atrapalhar que ajudar. Em gestão de data base, tem uma frase que diz que bancos de dados (e as mídias sociais vivem disso) são sistemas GIGO – garbage in – garbage out. Ou seja, se não atualizar com informação confiável (se entrar lixo), sairá lixo. Tem imóveis vendidos há mais de 1 ano ainda sendo anunciados em sites de classificados. Eloy Simões - Se não estão mudando, vão mudar. E rápido. A velocidade das respostas que as mídias sociais imprimem às mensagens, atende com perfeição às necessidades dos classificados e do próprio varejo. Emílio Cerry - Isso já está ocorrendo. E os classificados serão cada vez mais “individualizados” de acordo com cada consumidor, ajustando-se a seus perfis sociodemográfico e psicográfico, momento, oportunidade e outras variáveis. 104

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Júlio Pimentel - Sem dúvida. Os classificados pela internet são muito mais completos, dão mais informações, ilustram o produto. A economia dos jornais necessariamente sofrerá mudança radical nesse aspecto – cadernos dominicais pesadíssimos de classificados deixarão de existir, afetando dramaticamente o faturamento. Ricardo Barbosa Lima - Os classificados já estão mudando de meio. Vejam o volume de classes na web que superam em muito os tradicionais, tanto em quantidade quanto na eficácia e no custo/benefício. As métricas estão aí para ficar. Rodrigo Lapolli - Com a massificação das mídias sociais, os classificados, que ainda ajudam muito na sobrevivência dos impressos, já não estariam mudando de veículo? Não é mudar. É se adaptar. Reorganizar. Na verdade ele está migrando cada vez mais para o digital. Roberto Costa - Os jornais impressos demoraram a entrar na rede com classificados, com medo de matar a galinha dos ovos de ouro dos jornais impressos. A consequência disso é que outros veículos ocuparam este espaço e estão ameaçando seriamente o formato tradicional dos classificados impressos. Contudo, a evolução da circulação dos títulos ‘populares’ nos dá indícios de que os classificados ainda permanecerão nos veículos impressos. Rosa Estrella - Certamente que sim. A grande maioria dos veículos impressos está investindo em classificados virtuais e preparando-os para substituir definitivamente as versões impressas. Sérgio Calderaro - Hoje ainda existe certa confusão. Esta confusão está na mente dos profissionais das agências, nos anunciantes, dentro das próprias empresas jornalísticas e também no público consumidor final. Mas, dentro de algum tempo, como já relatei, penso que a confusão se abrandará. Essa será a tendência, desde meu ponto de vista. O caso do classificado é particularmente complicado. A rapidez do digital e suas inúmeras possibilidades de expansão da informação pode dar a ideia de que o embate é injusto. Por exemplo, se alguém procura um imóvel. Na rede, o anúncio dispõe de fotos e de mapa de localização, coisa que o impresso não oferece ou não é comum que ofereça. Por outro lado, o papel

possibilita ao público ações como circular com uma caneta os anúncios de interesse, recortá-los e enfiá-los no bolso. Pode parecer bobo e antiquado circular a página de classificados, mas atenção: nem todo mundo tem facilidade de conexão móvel. A vida vai além do seu bairro, dos seus amigos e dos seus colegas de faculdade. Volto a repetir, pois acho esse o cerne da questão: as experiências em torno do impresso e do digital são distintas entre si. Desde que o jornal tenha jogo de cintura para detectar públicos os serem atendidos, ele sobreviverá, e sua seção de classificados idem. As experiências possibilitadas por um mesmo objeto (o anúncio classificado, no caso) mudam totalmente, de acordo com a mídia que serve de suporte a ele. Há e seguirá havendo público para todos.

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QUAL A SUA VISÃO DO JORNALISMO IMPRESSO DO FUTURO? Continuará a ter um papel de grande relevância | vejo o impresso mais para nichos | o jornalista terá de ser, | vários jornalismos, ajustados a milhares de diferentes grupos de leitores | serão menos genéricos, mais especializados, opinativos em sua essência | temos que aprender a conviver com a insegurança que isto abarca e a nos tornar cada vez mais resilientes | As estradas de ferro continuam até hoje, porém os trens, já não são mais os mesmos! | já estamos vivendo um modelo híbrido de jornal impresso e na web | não chegará à segunda metade deste século | parar no bar mais próximo, pedir um café e degustá-lo lentamente enquanto se folheia o periódico

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Chico Socorro - O jornalismo impresso, no meu entendimento, continuará a ter um papel de grande relevância. Em primeiro lugar, porque o jornal vem assumindo cada vez mais um caráter investigativo em relação aos políticos e instituições, além de suprir os leitores de simples informação. Exemplo: entre 7 e 30 de junho passado, a Folha de São Paulo publicou 198 páginas cuja reportagem principal era sobre as passeatas de protesto que “incendiaram” o país; o jornal Estado de São Paulo publicou 159 páginas e O Globo 158. (Fonte: Folha de SP do dia 7/7/2013 - pag A6). E essas matérias, reportagens repercutiram intensamente nas redes sociais – “alimentaram” as redes sociais. Outro aspecto a ser destacado: as pessoas, em geral, preferem ler os artigos assinados dos colunistas na mídia impressa. Na rede social, o “consumo” do que é postado é, pela própria dinâmica da Internet, feito de forma rápida. Já, na mídia impressa, as pessoas dedicam o tempo necessário à leitura de um artigo de seu interesse. Dagoberto Dalsasso – Ultraprofundo e mais literário (menos factual), algo que vá pela linha do storytelling e que enriqueça as pessoas que gostam de ler. A internet tem pecado na profundidade aquilo que oferta em variedade. Por isso mesmo vejo o impresso mais para nichos. Eloy Simões - De alguma forma, já respondi a essa pergunta. No futuro – aliás, desde agora – o jornalismo terá de ser, ao mesmo tempo, mais profundo, mais investigativo, mais instigante. Significa que o jornalista terá de ser, além de talentoso para escrever, craque para pesquisar. Para 110

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usar os recursos oferecidos pela internet, mas também – quem sabe principalmente – tirar a bunda da cadeira e ir pessoalmente à fonte. Emílio Cerry - O jornalismo digital ainda enfrenta dificuldades de definir um modelo para monetizar seus produtos (o “pay wall” parece promissor) Creio que teremos vários jornalismos, ajustados a milhares de diferentes grupos de leitores. Caminhamos para a ultrasegmentação, a ponto de chegarmos ao jornalismo one-to-one. Claro que isso será possível pelo jornalismo eletrônico, pois seria inviável economicamente, através das plataformas impressas. Mas espero que, no futuro que ainda me resta, consiga ler diariamente o meu jornal. Júlio Pímentel - Entendendo que “jornalismo” aqui se refira a jornais, minha opinião é que cada vez mais o que vai importar é o conteúdo. Os jornais continuarão a ser fontes de conteúdo, consultados via papel, mobile, tablet, computador, seja qual for a mídia. Penso que serão menos genéricos, mais especializados, opinativos em sua essência. E terão que ser criativos em sua estratégia econômica, pois essa função vai, sim, sofrer profundas modificações. Ricardo Barbosa Lima - Acredito que o jornalismo impresso vai apresentar no futuro matérias com conteúdo/análises aprofundados sobre os mais variados temas. Penso que será um balizador importante na formação da opinião. A velocidade das mudanças continuará crescente e temos que aprender a conviver com a insegurança que isto abarca e a nos tornar cada vez mais resilientes. Rodrigo Lapolli – Entenda: em 1960, Theodore Levitt publicou um artigo na revista de negócios de Harvard que mudaria por completo o pensamento moderno das empresas. A “miopia de marketing” na qual Levitt fala, são as falhas administrativas que têm raiz na crença de que uma empresa existe para fabricar produtos ou realizar serviços. Empresas precisam satisfazer seus clientes. E se hoje as pessoas passam 5 horas, 8 horas por dia conectadas, por qual razão o jornal impresso não se reinventaria? Aliás, se não se reinventar está fadado a virar a estrada de ferro que Levitt fala tão bem em seu artigo. As estradas de ferro continuam até hoje, porém os trens, já não são mais os mesmos!

Roberto Costa - A visão até não é minha: é, por exemplo, de um dos mais competentes players do jornalismo impresso Juan Luiz Cebrian, presidente do jornal El País, um dos melhores jornais do mundo. Cebrian, que é um apaixonado pelo jornal impresso, acha que, mais cedo ou mais tarde, o jornal impresso vai desaparecer. Relata a tendência nos EUA, que, nos últimos 4 anos, viram o desaparecimento de mais de 200 títulos. Embora essa tendência tenha diminuído nos últimos 2 anos. O professor de jornalismo da Universidade do Texas, Rosental Calmon Alves, acha que o jornal só em papel já acabou e já estamos vivendo um modelo híbrido de jornal impresso e na web. Logo, teremos sim leitores nos próximos anos. Rosa Estrella - Depende do que considerarmos como futuro, mas pelo andar dos acontecimentos, creio que o jornalismo impresso não chegará à segunda metade deste século. Acredito no papel apenas como um meio de se transmitir informação, opinião e conhecimento. É claro que nossa geração irá sentir falta da sensação de folhear um jornal, uma revista, mas o conhecimento continuará a ser difundido de outras formas, até mais rápidas e eficazes. Faz parte do processo evolutivo da humanidade. Sérgio Calderaro - Continuaremos com nosso jogo de prever o futuro, sempre muito arriscado. Confesso que sou um entusiasta do impresso e isso acaba guiando todas as minhas opiniões até aqui. Até por volta dos meus quase trinta anos, eu ainda anotava telefones em papeizinhos e os guardava na carteira, pois não havia celular. Desenhava mapinhas em folhas de caderno quando queria explicar a novos amigos como chegar à minha festa, pois não havia GPS ou Google Maps. Esse modo de agir não desaparece de uma hora para outra. Hoje, até leio jornal na tela, mas sempre com a incômoda sensação de que algo me escapa. Onde estão as folhas? Como posso voltar atrás, verificar um dado recém-visto na página anterior e seguir adiante? Os cliques confundem, o jornal parece não ter início, meio e fim, e o caos se instala em minha mente jurássica. Que fique claro, portanto: emito o parecer de um ser híbrido, entre o virtual e o real, pego de surpresa no meio do caminho sem volta que foi o aparecimento dessa revolução comunicativa chamada genericamente de internet.

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Insisto na questão da experiência humana. Virtual nenhum substituirá o ato de passar numa banca de revistas e sair de lá com o calhamaço impresso dobrado debaixo do braço. E mais: parar no bar mais próximo, pedir um café e degustá-lo lentamente enquanto se folheia o periódico. É um momento mágico, se me permitem o exagero quase místico. Essa magia não se perderá tão fácil, assim como o surgimento da imprensa não acabou com a magia da conversa com o vizinho que nos noticia sobre as novidades do país e do bairro, incluindo curiosas observações pessoais que deixam qualquer âncora ou editorial no chinelo. Conversar com o vizinho – se quiser chamar de fofoca, tudo bem – é quase como assistir a um telejornal completo, mas bem melhor. Ao invés da análise do Jabor, a notícia do vizinho inclui o comentário pessoal de alguém que compartilha a vida conosco, a mesma rua, os mesmos problemas, as mesmas alegrias. Não tenho ideia de como será o jornal impresso do futuro, mas arrisco dizer que ele será. De algum modo, de alguma maneira, ele seguirá sendo. A experiência que ele possibilita é incomparável. E insubstituível.

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PUBLICITÁRIOS ENTREVISTADOS

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Cerri: os jornais impressos vão continuar.

Dagoberto: massa consumidora digitalizada.

Emílio Cerri

Dagoberto Dalssaso

É jornalista, radialista e publicitário. Dirigiu a TV Brasília e a Rádio Nacional. Nos anos 80 foi diretor da TV Cultura de Florianópolis. Com 50 anos de atuação em comunicações e marketing, passou por diversas agências e empresas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Florianópolis, entre as quais Propague, GJ (Brasília) JMM (Rio), SC, Exa, entre outras, ocupando cargos de direção, planejamento e criação. Foi um dos fundadores da Associação Catarinense de Propaganda, sendo também seu presidente e vice-presidente do Conselho Nacional das Associações de Propaganda, além de sócio fundador do Sindicato das Agências, integrando sua diretoria. É especialista em comunicação integrada de marketing e relacionamento.

É engenheiro e administrador de empresa, consultor em gestão estratégica, marketing, comunicação e negócios e de produção de conteúdo para o desenvolvimento humano nas corporações; trabalha com comportamentos baseados em estruturas arquetípicas de pensamento. Pósgraduado em gestão e marketing internacional e negócios digitais. Professor universitário, atua em gestão da comunicação e dá consultorias em agências de publicidade.

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Sérgio: sobrevivência com nichos específicos de público

Francisco: o jornal investigativo é importante

Pimentel: jornais serão sempre fontes de conteúdo.

Rodrigo: o impresso já começa a se reinventar

Elóy: a segmentação da mídia é inevitável

Ricardo: Classificados na WEB crescem bem mais

Sérgio Massucci Calderaro

Francisco Socorro

Julio Jorge Lobo Pimentel

Rodrigo Lapolli

Elóy Simões

É natural de Tubarão. Formou-se em Administração de Empresas e tem título de pós-graduado em Marketing. Atua vários anos como professor Universitário. Há 23 anos é sócio fundador da: Neovox Comunicação Estratégica de Florianópolis. Entre os clientes que atende estão: Unisul, tractebel; Sistema de Ensino Energia; Le Monde-Citroen; Siccob; Rede de supermercados Comper em todo o Brasil; Santur; Governo do Estado de Santa Catarina, entre outros.

É publicitário, consultor de marketing e um dos fundadores do Prêmio Colunistas. Atuou em agências de propaganda do Brasil e do exterior. Autor de três livros, lecionou na ESPM entre outras, e hoje é professor da Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina. Estudioso e pesquisador, está escrevendo dois novos livros, entre os quais o que pretende provocar reflexões sobre a comunicação e marketing no Brasil.

Ricardo José Pereira Barbosa Lima

Paulista, é publicitário pela ESPM-SP e Doutor em Ciências da Informação pela Universidad Complutense de Madrid. Mais de 20 anos de experiência em empresas de comunicação de São Paulo e Florianópolis. Em Madri, foi assistente de Imprensa e Divulgação da Embaixada do Brasil na Espanha. Atualmente é Diretor de Criação da MIRÓ Propaganda, de Florianópolis.

Paulista, graduado em Sociologia pela Universidade de Leipzig, Alemanha em 1968. Atua em Publicidade desde 1956, atuandoou em diversas Agências de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Trabalhou na Propague, Carlos Paulo Propaganda, Denison Propaganda e na Cia Hering, onde foi gerente de comunicação e marketing. É sócio da LatinPartners Incremento de Negócios para empresas privadas, veículos de comunicação e agências de publicidade.

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Tem carreira focada em marketing e comunicação, com quase 20 anos na área industrial, entre Unilever, Peixe e Pepsi Cola. Atuou em agências de publicidade, entre elacomo a Grant Advertising, Lintas Worldwide, ALMAP, Ziegelmeyer/Pimentel, Propeg, CBBA, JW Thompson. Desde 1994 mantém a Pimentel Consultoria. Vive em Florianópolis desde 2001, onde segue com sua atividade de consultoria em marketing e comunicação, e é sócio da Latin Partners Incremento de Negócios.

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É graduado e pós-graduado em administração. Diretor do Sindicato dos Administradores de SC; diretor e presidente do Sindicato das Agências de Propaganda de SC; coordenou o marketing do Sistema Financeiro Besc; membro efetivo da Febraban. É diretor executivo da Mercado propaganda e Marketing; sócio e membro do conselho de administração da TDS Tecnologia e Desenvolvimento de Software Ltda; sócio e diretor da Acrux Investimentos e Participações S.A.; sócio-diretor da LYNX Participações Ltda. Membro da ADBV/SC.


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UM POUCO DE HISTÓRIA

Rosa: O jornalismo impresso não chega a 2050

Costa: Midias sociais e impressos se completam.

Rosa Estrella

Roberto da Luz Costa

É jornalista de formação, mas trabalha há mais de 20 anos na publicidade. Começou a carreira como redatora publicitária, migrando mais tarde para a área de planejamento e negócios. É Diretora Executiva do Grupo Fórmula (Fórmula Comunicação; In Loco Promo; Tarrafa Digital Direct e Mind Branding) e preside o Sindicato das Agências de Propaganda de Santa Catarina.

Publicitário e administrador de empresas. Presidiu a ADVB/SC, a ABAP – Associação brasileira de Agências de Propaganda de SC; foi duas vezes publicitário do ano em SC. Começou a carreira 1972 na área de criação. Tornou-se sócio da Propague junto com Antunes Severo e, em 1981 assumiu a presidente da empresa, com a compra das ações da empresa. Foi fundador e primeiro Presidente do Clube do Vinho de Florianópolis. Atualmente é presidente do conselho consultivo desta entidade.

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DO IMPÉRIO À REPÚBLICA A IMPRENSA, no Brasil, começa de forma tardia, quase duzentos anos após a sua descoberta. No entanto, este dado pode ser questionado se forem levadas em conta outras formas de se comunicar através da escrita. O cenário selvagem e os costumes nativos da terra recém-descoberta são narrados minuciosamente por Pero Vaz de Caminha. Pode-se dizer que, com o “Pau de Tinta”, nasce a imprensa, em forma de carta. Através dela, o missivista descreve a “Colônia” que, pelas riquezas naturais, seria de “Exploração”. O relato dos navegadores estrangeiros no século XVIII sobre a Ilha de Santa Catarina revela a capacidade, naquela época, de se descreverem cenários e narrarem acontecimentos. Pode-se dizer que o jornalismo nasce com a descoberta do Brasil e, com certeza, teríamos um expressivo acervo de textos jornalísticos se a memória brasileira não fosse desprezada e se as escritas dos descobridores e navegadores estivessem preservadas e acessíveis à população. O Brasil do século XIX só experimenta sinais de modernidade a partir da influência da Família Real em cidades que rapidamente se urbanizam, como Salvador, Ouro Preto, Rio de Janeiro e São Paulo. O conhecimento e a cultura são trazidos por políticos, religiosos, estudiosos lusitanos, todos integrantes das caravanas de exílio de Dom João VI, que fugiu de 119


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Portugal em função da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte. Contudo, jornais e livros são proibidos de circular, excetos os previamente liberados pela censura do império. Em 14 navios, D. João traz toda a família, dinheiro, documentos, livros, obras de artes e muitos funcionários, que, necessitando de moradia, obrigam nativos a abandonarem suas casas. Cerca de 13 anos depois, com a expulsão dos franceses de Portugal pelos ingleses e com a revolução do Porto, D. João VI retorna a Portugal, deixando no Brasil os acervos, funcionários, padres e até políticos, além do filho D. Pedro como príncipe regente, que se torna imperador com a independência deste país em 7 de setembro de 1822. O atraso da imprensa no Brasil e suas limitações decretadas por censura da Corte refletem também as restrições que o império impõe às atividades jornalísticas em Portugal. A imprensa surge em Lisboa em 1641 com o jornal Gazeta, que precisa, a partir de 1768, submeter-se aos critérios instituídos pela Real Mesa Censória. Os jornais lusitanos, sob censura, têm pouca influência na vida cotidiana e na política durante o século XVIII. No século XIX, o desempenho dos jornais portugueses é baixo, devido à ideia de que o Império representa a única fonte segura e verdadeira que as colônias podem conhecer. Contudo, durante a invasão francesa, panfletos são estimulados pela Corte silenciosa e escondida a combater a presença das tropas de Napoleão, conclamando o povo à resistência. Ou seja, o império se vale da coragem da imprensa para combater o ideário de Napoleão. O primeiro jornal impresso no Brasil também leva o nome de A Gazeta, surgindo somente em setembro de 1808, enquanto, nas demais colônias europeias da América, a imprensa já existia desde o século XVI. Oficialmente, o jornal impresso começa no Brasil, em 13 de maio de 1808, com o órgão oficial do governo, a Imprensa Régia. A Gazeta abre caminho e, aos poucos, os jornais começam a ganhar credibilidade e espaço no país. Mais de 40 impressos de curta duração chegam a circular durante o período colonial, mas praticamente todos vencidos pela censura, forte e rígida, e que só é abrandada em 1821 com o fim da liberação prévia da notícia pela Imprensa Régia. O império não só exerce a censura como intensifica publicações contra

os movimentos pela independência. Predominam os embates entre as publicações, motivo pelo qual os jornais se caracterizam mais pela função doutrinária que informativa. O duelo entre os próprios jornalistas, da defesa ao combate, motivado principalmente pelo movimento em torno das ideias da independência, culmina quase sempre em agressões físicas a jornalistas. Para sobreviver, os jornais abrem espaços a informações sobre roubos, adultérios, anúncios de comercialização de escravos e até classificados anunciando compras e vendas de imóveis, carroças, animais, etc. Esses temas são abordados para que o jornal impresso possam atrair maior número de leitores. Os jornais impressos refletem, em sua maioria, o pensamento da classe intelectual, principalmente no final do século XIX, estendendo-se às primeiras décadas do século XX, quando predominam com inteligência e argúcia as crônicas, críticas e relatos, a exemplo de Machado de Assis, José de Alencar, entre outros notáveis escritores-jornalistas. No Correio atuam grandes jornalistas e escritores, como Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Otto Maria Carpeaux, Antônio Callado, Lêdo Ivo, Márcio Moreira Alves e tantos outros. A presença de grandes escritores, com crônicas do cotidiano, é marcante no processo de aculturação da sociedade através de jornais. Contudo, os jornais não deixam de expressar o pensamento da elite brasileira. As mulheres, ao contrário do que diz a história, ousam com suas publicações logo após o surgimento de A Gazeta. Enquanto na Inglaterra, por exemplo, surge o Lady’s Mercury no século XVII, na França, também no século XVII, circulam jornais femininos voltados para a literatura, ganhando consistência rápida. No Brasil, O Espelho Diamantino surge em 1827, com informações sobre moda, atitudes femininas e outros temas. Mas a imprensa criada por mulheres ganha peso no Rio de Janeiro e no Recife. O Jornal das Senhoras, fundado pela feminista argentina Juana Manso, trata das belas artes, literatura e moda, além de tentar conscientizar as mulheres para os seus direitos, trabalho remunerado e sua participação na vida política do país. No Rio de Janeiro, a ousadia toma conta das mulheres com o lançamento do jornal O Bello Sexo, que coloca a beleza feminina sobre todas as coisas.

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Com a ausência de escolas profissionais de comunicação, os jornalistas são, na verdade, escritores, estudiosos, advogados, médicos ou professores. Esses profissionais escrevem para os impressos sem regras e sem compromisso, apenas por amor à escrita e às informações e por puro prazer, e isto caracteriza o Glamour do jornalismo impresso, pois tal profissão sempre é relacionada aos cafés, bares e boemia. Ser jornalista é considerado um ato de loucura, diante de censura por parte da corte e desconfiança de leitores. Um episódio que marca esse período é o do jornalista italiano Líbero Badaró, que morava no Brasil havia três anos, e acaba assassinado por alemães quando retornava à sua casa, após um dia de trabalho. Suas últimas palavras se tornam bem conhecidas: “Morro defendendo a liberdade” ou “Morre um liberal, mas não morre a liberdade.” O dia do jornalista é comemorado no dia 7 de abril em homenagem a Badaró. Logo às vésperas da Independência, o país vive um clima de intensa euforia. Isso faz com que os jornais ganhem espaço e aceitação por parte dos brasileiros. O exemplo disso é o jornal “A Reforma”, do partido liberal, a favor da abolição e do federalismo. Os jornais abolicionistas conquistam o país, defendendo os interesses da população, motivo pelo qual são poucas edições, em razão das contraofensivas do império. Durante as últimas décadas do Império e da República, o jornal impresso caracteriza-se como forte instrumento de mobilização político-social, aliando-se a grupos que contribuem para as transformações sofridas pela República ao longo da sua história, além de receber maior credibilidade pelos investimentos feitos e pela qualidade da notícia. Nos primeiros anos da República Velha, de 1889 a 1930, a imprensa brasileira ensaia as mudanças em direção ao crescimento, através da formação de empresas jornalísticas e da profissionalização. Mesmo assim, a relação entre poder e imprensa parece influenciada pelo domínio político, com a segregação de informação por organismos governamentais. O crescimento econômico, motivado por investimentos ingleses e franceses na construção de ferrovias e portos, possibilita encurtar as distâncias geográficas, permitindo, inclusive, aos jornais alcançar maior dimensão gráfica com a circulação de exemplares fora de suas cidades. Contudo, o preço do envio de mensagens via telégrafo pesa na contabilidade dos

jornais, impedindo a remessa de mensagens longas, embora facilite a chegada de notícias no mesmo dia. O jornalista catarinense Gustavo Lacerda, do jornal O País, funda a Associação Brasileira de Imprensa – ABI em 1908, na tentativa de reunir jornalistas em torno da defesa da profissão. Diante das divergências de opiniões, os dois grandes jornais da época, do Rio de Janeiro, tomam lados opostos. Enquanto O País se posiciona em defesa do governo, o Correio da Manhã firma-se na oposição. Em 1891, após a publicação da nova Constituição, surge um grande jornal, o Jornal do Brasil, que dá ênfase à sua estrutura empresarial e à profissionalização dos jornalistas. Outros jornais começam a ganhar personalidades fortes, como O Estado de S. Paulo, Correio do Povo, Diário de Pernambuco, Correio Braziliense, produzido na Inglaterra, e Correio da Manhã, que se caracteriza como veículo de oposição a todos os governos, com linguagem forte e recheada de ironia, além de romper o paradigma da compra de opinião por parte dos palacianos. Outros jornais de pequeno porte acabam surgindo, com duração efêmera. A maioria dos jornais passa a depender da grande fonte de anúncios, no caso o próprio governo, que não poupa a imprensa de limites nas informações e comentários que o comprometam. Em 1915, surge em Florianópolis um jornal que acaba se transformando no maior diário do Estado e um dos três mais expressivos do Sul do país: O Estado, que encerra suas atividades na década de 90, deixa um acervo invejável, caracterizando-se como o único veículo a circular verdadeiramente em todo Estado de Santa Catarina. Uma nova fonte de informação chega ao Brasil em 1923, o Rádio, enquanto as máquinas de escrever são incorporadas às redações e às suas áreas de administração, bem como novas linotipos, que permitem acelerar a montagem das matérias, e avançadas – para a época – rotativas, que aumentam as tiragens e melhoram a qualidade da impressão. Foi nesse período que surgem novos jornais, como “O Globo”, no Rio de janeiro, e “Folha da Noite” (atual “Folha de São Paulo”), em São Paulo. Durante o período entre e Revolução de 1930 e o fim do Estado Novo, em 1945, a imprensa brasileira assiste às transformações pelas quais a política acaba ganhando notoriedade, com seus trágicos

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desempenhos sustentados pela força do corporativismo e das oligarquias. O exemplo está na vulnerabilidade de um Governo Provisório e da Revolução de 1932, bem como a criação da Constituição de 1934 e a instituição do Estado Novo em 1937. Em determinado momento, a imprensa apoia a Revolução de 1932, aprovando as reivindicações a favor das eleições livres e de uma nova Constituição. Porém, em 1937, um Golpe de Estado alonga a permanência de Getúlio Vargas no poder, elimina as eleições marcadas para o ano seguinte e institui a ditadura no país. Para contrapor à eclosão da publicidade de empresas privadas em jornais, decorrente do crescimento econômico, o governo de Getúlio Vargas usa mecanismos coercitivos de comunicação em torno do seu nome. Não se sabe nem a que partido pertence Getúlio, mas seu governo ganha notabilidade pelas ações consideradas como a grande revolução social que o país começa a sofrer, entre as quais a regulamentação do trabalho, dando ao trabalhador o salário mínimo e carteira assinada, o descanso semanal, direito à previdência social e proporcionou à mulher o direito de votar. Getúlio cria o Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP, dirigido por Lourival Fontes, e, através dele, o governo passa a persuadir veículos de comunicação – jornais e rádios – para receber o apoio necessário à difusão de suas reformas. O DIP implanta o programa radiofônico A Voz do Brasil e determina que todos os estabelecimentos públicos e comerciais exibam em suas paredes o retrato do presidente Getúlio Vargas. Mas o poder do DIP não para por aí. Exerce censura em peças teatrais e nos jornais que exercitam críticas ao governo. Em 1940, o DIP intervém no jornal O Estado de S. Paulo, destitui a sua diretoria e o transforma em um veículo de promoção do governo. Além disso, o DIP emprega e remunera jornalistas, de forma a tê-los em suas campanhas favoráveis ao ditador. Os métodos aplicados pelo governo na divulgação se igualam aos utilizados na Alemanha Nazista pelo ideólogo Joseph Goebbels. O dia 19 de abril é instituído o Dia do Presidente, em que a sociedade obriga-se a prestar homenagem ao ditador e a imprensa publicar algo favorável, sob a ameaça de sofrer intervenção. Na numeração dos exemplares de O Estado de S. Paulo não consta o período em que esteve nas mãos da ditadura.

O DIP acaba se revelando como um órgão de segurança máxima. Ao ser extinto em 1945, é substituído pelo Departamento Nacional de Informação e, mais tarde, na ditadura de 64, pelo Serviço Nacional de Informação. Em 1950, surge a televisão Tupi em São Paulo e, um ano depois é inaugurada a sua filial no Rio de Janeiro. Neste período, o rádio tem audiência considerável, porém vale destacar que a presença do jornal impresso é representativa nas casas e estabelecimentos, sendo o líder de vendas entre os meios de comunicação existentes. Entre 1940 e 50, a imprensa brasileira sofre nova modernização. Avançadas técnicas jornalísticas são adotadas, como a busca pelo lead, cuja técnica é o resumo do foco da matéria em seis linhas; a pirâmide invertida e a diagramação mais atrativa, tudo inspirado nos modelos adotados pelos norte-americanos. No período seguinte, conhecido como República Populista (19451964), novas mudanças na política afetam a imprensa. Em 1954, o presidente Getúlio Vargas se suicida, enquanto o país passa por um processo de crise política, iniciado com o assassinato do major da FAB Rubens Florentino e o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda (principal opositor de Vargas), ferido com uma bala no pé. A partir daí, a imprensa une-se aos militares e à oposição, a fim de pressionar Getúlio a renunciar. O presidente suicida-se com um tiro no coração, dentro do Palácio do Catete. Até a eleição de Juscelino, a imprensa tem um rico manancial de informações, intrigas políticas, contragolpes e episódios para informar e analisar. O vice-presidente Café Filho assume a presidência da República e manifestações em todo o país apoiam o PTB de Getúlio. A UDN de Carlos Lacerda propõe uma aliança nacional com os militares e seu nome seria candidato à presidência. Juscelino Kubtschek, governador de Minas Gerais, é lançado como presidenciável pelo PSD e busca aliança com o PTB através do lançamento da candidatura de João Goulart a vice-presidente. Carlos Prestes, presidente do PCB – Partido Comunista Brasileiro – entra na campanha pró-Juscelino, enquanto os militares se revoltam. O jornal Tribuna de Imprensa, de Carlos Lacerda, tenta desestabilizar a candidatura de Juscelino, acusando João Goulart de, com a ajuda de Perón, presidente da Argentina, armar milícias para a implantação

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de uma república orientada para a social-sindicalista. Café Filho afasta-se da presidência por motivo de doença e assume Carlos Luz, do PSD, mas da ala dissidente que resolve apoiar Carlos Lacerda, da UDN. Luz exonera o general Lott do Ministério da Guerra e o Exército se rebela e o destitui da presidência da República, assumindo em seu lugar o presidente do Senado, o catarinense Nereu Ramos, que institui estado de sítio até a garantia de posse dos eleitos em 1955: Juscelino Kubitschek e João Goulart. No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o país passa por um processo de urbanização e industrialização mais acelerado e a imprensa desfruta de relações cordiais com o governo, além da liberdade de informar e criticar sem a habitual censura dos governos anteriores. Já no final do mandato de JK, a inflação no país continua a subir, bem como a dívida externa, aumentando, assim, a insatisfação popular. Em meio à revolta do povo contra o custo de vida alto e a corrupção, a eleição de 1961 é vencida por Jânio Quadros, com uma estratégia de campanha que fica na história, utilizando uma vassoura como símbolo da varredura que pretendia promover no governo. Jânio fica no cargo de janeiro até agosto de 1961 somente. Um dia antes da sua renúncia, são estampadas nas manchetes dos jornais, denúncias feitas pelo governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que usa o seu jornal Tribuna de Imprensa para acusar Jânio de estar montando um golpe de estado. Porém, no dia seguinte, o povo é surpreendido ao se deparar com a renúncia do presidente e tal perplexidade da população é registrada pela imprensa da época. João Goulart, vice-presidente, substitui Jânio até 1964. Mesmo desconfiando da capacidade de liderança de Jango, a imprensa defende sua posse. Essa posição se altera logo. A maioria dos jornais é convencida e mobilizada pela sociedade conservadora a condenar o governo pelas greves, movimentos dos baixos escalões das forças armadas e pelo crescimento econômico em declínio, refletido nos altos índices de inflação. O governo se enfraquece enquanto a oposição, formada pela maioria das forças armadas, UDN, empresários e outros segmentos sociais, ganha espaço. Poucos jornais permanecem ao lado de João Goulart, entre eles A Última Hora, com grande influência entre o universo dos sindicatos e

estudantes, e o Diário Carioca. O Semanário, do Rio de Janeiro, denuncia com antecedência a preparação do golpe militar. O Comício das Reformas, em 13 de março de 1964, e o levante dos marinheiros, em 25 de março, servem de estopim à reação de militares. No comício para 150 mil pessoas na Central do Brasil, sob a proteção de soldados do Exército e da Marinha, o presidente João Goulart anuncia a desapropriação de refinarias privadas, fora do controle da Petrobrás, e propriedades rurais improdutivas, prenunciando uma grande reforma agrária. Os jornais, a exemplo de O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, Diário de Notícias e Correio da Manhã, fortalecem as reações contra o presidente da República. Militares se mobilizam e armam estratégia no dia 31 de março de 1964, tomando o poder no dia seguinte.

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O PESADELO VOLTA COM NOVA DITADURA O que a maior parte da imprensa deixou transparecer como o começo de uma nova era para o país, nas mãos dos militares, através do golpe de 64, logo se transforma em um pesadelo, principalmente com a supressão da liberdade de expressão. Os jornalistas, que publicavam artigos a favor do golpe militar, recheiam seus textos com críticas às decisões impostas pela ditadura, mas alguns jornais continuam hipotecando apoio aos militares. Em 1968, o Ato Institucional número 5 impõe restrições severas à liberdade de expressão e a manifestações públicas e a perseguição a jornalistas e a jornais, como o Correio da Manhã, torna-se uma tarefa diária da polícia federal e de agentes das forças armadas. Redações de jornais passam a conviver diariamente com a presença de agentes federais, com proibições muitas vezes hilariantes, como de estrofes de músicas e de surto de meningite no Rio de Janeiro. O mais comum é a censura a matérias sobre declarações de políticos, principalmente advindas do então MDB, único partido de oposição aceito pela ditadura. Profissionais de imprensa procuram driblar a censura simulando textos e chegam a inserir informações em meio aos classificados. Mesmo com o rigor da censura, sem precedente no país, jornalistas conseguem levar


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acontecimentos à população. O jornal O Estado de S. Paulo, que apoiou o golpe militar, passa a combater a ditadura diante dos atos de exceção, caracterizando suas edições com a substituição de matérias censuradas por poemas de Camões, Manoel Bandeira e outros. Jornais alternativos de resistência à ditadura ganham espaço. O pioneiro dos “nanicos” foi o “Pif-Paf”, criado por Millôr Fernandes em 1964, logo depois de ter sido expulso da revista O Cruzeiro, por pressão de conservadores da liga católica, que apoia a ditadura. A reação intensifica-se depois da crônica de Millôr, intitulada “a verdadeira história do paraíso”. Na primeira edição do Pif-Paf, Millôr Fernandes diz no editorial: “Não temos prós nem contras, nem sagrados nem profanos”. E coloca 10 princípios da publicação: I – Estamos convencidos de que o pior da nossa Democracia é que ela acaba sempre nas mãos dos democratas. II – Precisamos rever todos os princípios da Justiça Brasileira. Nossa Justiça anda tão complicada, tão cheia de burocracia, que, dentro em breve, ninguém mais terá coragem de ser malfeitor. III – Pretendemos meter o nariz exatamente onde não formos chamados. Humorismo não tem nada a ver e não deve absolutamente ser confundido com a sórdida campanha do “Sorria Sempre”. Essa campanha é anti-humorística por natureza, revela um conformismo primário, incompatível com a alta dignidade do humorista. Quem sorri sempre, ou é um idiota total ou tem a dentadura mal ajustada. IV – Nossa intenção básica é fazer com que os homens de bem se arrependam. V – Os comunistas são contra o lucro. Nós somos apenas contra os prejuízos. VI – Jamais esqueceremos o fundamental: da vida ninguém escapa. VII – Procuraremos mostrar que este país não pode melhorar enquanto o governo gastar todo o seu dinheiro na propaganda da rosca e a oposição colocar todo o seu esforço na condenação do furo. VIII – Esta revista será de esquerda nos números pares e de direita nos números ímpares. As páginas em cor serão, naturalmente, reacionárias, e as em preto e branco populistas e nacionalistas. Todos os comerciantes e industriais que não anunciarem serão olhados com suspeitas, pois “quem não anuncia, se esconde”.

IX – Devemos rever tudo, pois estamos seguros de que mais vale um pássaro voando do que dois na mão, cão que ladra só não morde enquanto ladra, e, se o hábito não faz o monge, contudo fá-lo parecer de longe. Por isso, a cavalo dado deve-se olhar os dentes com atenção redobrada. X – Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo. Nas páginas 6 e 7, o humor de Stanislaw Ponte Preta está recheado de pimenta: “As três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher de vizinho e croquete de botequim.” “O sol nasce para todos e a sombra para quem é vivo.” “Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no escuro.” “A prosperidade de certos homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.” “Caranguejo velho não sai da toca com maré baixa.”

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Circulam durante o período da ditadura cerca de 150 jornais alternativos, entre os quais “Folha da Semana”, “Pasquim”, “Movimento”, “Coojornal”, “Ex”, “Opinião”. A maioria sofre com sucessivos ataques da ditadura, não passando da quarta edição. Os nanicos atuam em ações paralelas aos jornais que apoiam o golpe militar, e a grande maioria continua ao lado da ditadura, que não hesita em gastar muito dinheiro em anúncios de ideologia da extrema direita. Temas são proibidos de divulgação na imprensa, como a reportagem do jornalista Raimundo Rodrigues Pereira. Nascido em Exu, Pernambuco, em 1940, o jornalista tem em seu currículo trabalhos em revistas como Veja, Isto É, Realidade, entre outros trabalhos e o Prêmio Esso de Jornalismo de 1971. Raimundo Pereira, editor de política da revista Veja, elabora uma pauta com base na declaração do presidente Emílio Garrastazu Médici, de que não admitiria torturas. Com isso, ele edita, em 1969, junto com a sua produção, a capa da revista com a afirmação do então presidente: “O


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presidente não admite torturas”. A partir desta capa, considerada pela equipe de produção uma alfinetada no poder político (já que era óbvio que as torturas estavam ocorrendo), inicia-se o levantamento para a produção da segunda capa sobre as torturas. Nesta semana de correria na redação da Veja, os militares proíbem o assunto no país. Mas, com coragem e paixão, Mino Carta, diretor da revista Veja, desliga os telefones da redação antes que algum agente federal ligue para a revista proibindo publicação sobre torturas. Assim, a capa estampada da revista Veja de 10/12/1969, com gravuras de sofrimento e dor, é publicada e, no seu título, a palavra tortura aparece estampada. E o que não podia para ser publicado, corre, agora, nas mãos da população. O assunto adentra as residências e estabelecimentos, revoltando os integrantes da ditadura. As características deste período cercam-se em torno de um período tenebroso, em que alguns jornalistas tentam, de todas as maneiras possíveis, noticiar os acontecimentos do cotidiano da sociedade. A morte do jornalista Vladimir Herzog estremece o meio jornalístico em 1975 e tem efeito intimidador sobre a população, a ponto de pessoas ligarem para jornais cancelando assinatura sob o temor de represália dos militares. Hamilton Almeida Filho, conhecido por ser um talento precoce - aos 15 anos já era considerado um bom jornalista -, noticia a morte de Vladimir no jornal alternativo “Ex”, cuja direção chega a ser pressionada pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo a não publicar a reportagem sobre o assassinato do jornalista Vlado, por temer outros crimes contra profissionais da imprensa. Mas o “Ex” lança a sua 16ª edição com a manchete: “A Morte de Vlado”. Hamilton e a equipe do “Ex” argumentam que, apesar de tudo, “somos jornalistas e não podemos atender ao pedido do Sindicato, mesmo reconhecendo suas razões, porque o compromisso com a sociedade é bem maior”. No começo dos anos 70, a ditadura lança uma estratégia de marketing sob o lema “milagre econômico brasileiro”, para minimizar os efeitos dos anos de chumbo. A imprensa que apoia os militares contribui significativamente para simular o clima do “milagre”, enquanto a censura impede os jornais de publicar discursos e entrevista de parlamentares da oposição.

Boas matérias jornalísticas conseguem justificam destaques em capas e primeiras páginas de jornais e revistas, mas seus autores são perseguidos e agredidos física e moralmente. Entre essas matérias destaca-se a que foi produzida por Ricardo Kotscho, repórter da IstoÉ, sobre a denúncia de mordomia dos superfuncionários. Inspirado por uma matéria que saiu em 1976 na revista New Yorker - sobre a vida com regalias que os altos funcionários da União Soviética tinham -, Kotscho pesquisa durante dois meses a vida dos políticos no Brasil e, após exibir a matéria para os colegas de trabalho, é aconselhado a deixar o país em função do risco de ser assassinado pelos militares. São tantas novidades estampadas na investigação que dá forma à matéria de Ricardo Kotscho que os jornalistas ficam surpresos e preocupados com a integridade física do colega. Ricardo, entretanto, limita-se, na reportagem, a alertar a nação para o fato de que é preciso maior controle dos gastos públicos, sob pena de políticos continuarem alimentando suas mordomias com dinheiro público. Kotscho não prevê, contudo, que quase meio século depois os problemas ligados à corrupção no Brasil estariam ainda maiores. Um trecho da matéria intitulada “Assim vivem os nossos superfuncionários”, que Kostcho também publica publicada no jornal Estado de São Paulo em 1/8/ 1976: “O trinco da geladeira quebrou e a mulher não teve dúvidas, chamou um mordomo, pago pelo governo, e deu-lhe ordens para requisitar, imediatamente uma geladeira nova, paga pelo governo.” Afinal, para quem é mulher de um diretor do Banco do Brasil, pago pelo governo, é mais fácil comprar uma geladeira nova do que consertar um equipamento de apenas dois meses de uso. A Ditadura Militar compõe um período em que a informação, para ter veracidade, era marcada por sangue e desespero de quem a publicava. É um jornalismo apaixonante, praticado por verdadeiros e exemplares profissionais. Certamente não foi o momento propício para a comunicação, mas um capítulo da história brasileira, valorizado por jornalistas de verdade, que trabalharam, dando até mesmo suas vidas em troca de notícia.

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PESQUISA DE OPINIÃO

JOVEM AINDA LÊ, MAS JORNAIS PRECISAM INOVAR SE OS jovens se sentem confortáveis e até mesmo preferem ler livros de papel, por que esse fenômeno também não é favorável aos jornais impressos? A pesquisa promovida pelos alunos da 4ª fase de Jornalismo da Unisul revela que 69,5%% das pessoas, entre 16 e 34 anos, ainda leem jornais impressos, mas 90,5% delas preferem publicações locais, das cidades onde residem. Do total que ainda mantém afinidade com impressos, 28,6% leem apenas uma vez por semana e 61,9% entre duas e cinco vezes por semana. Os que praticam este tipo de leitura mais de cinco vezes por semana não passam de 9,5%. Dos 30,5% dos cidadãos entrevistados que não leem jornais impressos, 28,3% confessam a ausência de conteúdos capazes de os atraírem. Ainda desse total, 23,9% atribuem como causa as notícias vencidas, em razão de a internet ser mais rápida. E o impressionante entre os resultados dessa pesquisa é que, apenas em duas vezes, 2,2% lembraram a falta de interação de jornais e leitores. Entre os pesquisados leitores de jornais impressos, identificou-se que, por múltipla escolha, as sessões de maior procura/interesse são: as 133


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do núcleo de informações culturais, destacando-se, individualmente, os temas: “cultura”, com 61,9% das citações e “música”, com 47,6%. Na sequência, destaca-se o bloco do núcleo localidade/regionalismo, com a citação individual dos temas: “cidade”, com 55,2%, “notícias do bairro”, com 42,9% e “polícia”, com 21,0%. Em seguida, são indicados temas como “esportes” e “colunismo”, ambos com 37,1%. E, depois, o tema “economia”, com 27,6% das menções, seguido por “horóscopo” e “emprego”, ambos com 21,0% de preferência. Os que não leem jornais impressos afirmaram, também em base de múltipla escolha, que os seguintes aspectos poderiam motivá-los à leitura: 43,7% responderam que leriam jornais impressos, se tivessem “conteúdo mais crítico”; e 34,4%, se contemplassem informações que “não estivessem na internet”. Outro destaque deve ser feito à citação que, em 17,9% dos casos, remeteu ao desejo de mais “conteúdo de humor”. Do total de entrevistados na sondagem, 99,3% acessa sites de jornais, independentemente de que uma parcela (69,5%) também lê jornais impressos. Os dados mostram, então, a sobreposição e não a exclusão de meios de acesso à informação. Do total, 36,4% acessa os sites de jornais eletrônicos todos os dias, contra apenas 4,6% de índice diário de leitura para o jornal impresso. Também, cerca de 26,5% dos entrevistados acessam tais sites esporadicamente, contra 19,9% para a leitura de jornais impressos na ordem de uma vez na semana. Quando questionados se a mídia jornal impresso sobreviverá diante das facilidades e rapidez de acesso à informação e ao conhecimento na internet, do total de respondentes da pesquisa, 34,4% afirmaram que “não sobreviverá”, contra 39,7% que afirmaram que “sobreviverá”. No entanto, 25,8% dos pesquisados afirmaram estar “em dúvida”, não tendo condição de se definir por um sim ou não no momento. Esse é um fato curioso, que revela uma espécie de “prazo de carência” até que uma tendência mental/cultural esteja delineada sobre o público jovem que, de certa forma, ainda tem um misto de proximidade e distanciamento do jornal impresso. Apenas para reforçar: dos respondentes pesquisados, somente 20,5% dizem ler jornais impressos mais que três vezes por semana, contra 58,3% na internet.

Outro aspecto que reforça o potencial da mídia impressa foi revelado através da pergunta “você gosta de ler livros impressos (em papel)?”. Do total de respondentes da pesquisa, 91,4% disse “sim”, sendo que, por enquanto, apenas 9,3% afirmou gostar de ler livros na forma eletrônica (e-book). Esses números revelam que existe, hoje, um percentual menor que 1% (para ser mais exato, 0,7%) de jovens que transitam naturalmente pelos dois mundos da leitura de livros: o impresso e o eletrônico. Vale aqui uma questão importante a ser respondida com reflexões e o aprofundamento da sondagem efetuada: se os jovens se sentem confortáveis e, até mesmo, preferem ler livros de papel, por que esse fenômeno não está se dando de maneira visível/destacável com os jornais impressos? - Com relação à frequência de leitura de livros, tanto na forma impressa quanto eletrônica, os números mostram que 56,3% dos jovens pesquisados leem até um livro por mês, enquanto 19,2% garantem a leitura de quatro ou mais livros mensalmente. Na faixa intermediária, 20,5% leem, em média, dois livros ao mês e apenas 4,0% conseguem completar a leitura de três. Entre outros detalhes mais explícitos, os números da sondagem revelam um aspecto essencial: embora haja grandes desafios de adequação comportamental a serem superados para a fidelização de jovens aos jornais impressos, não é hora de se “jogar a toalha”, pois o prazer da boa leitura “high touch” ainda não foi suplantado pelo poder sedutor, veloz e conveniente do “high tech”. Será, então, um desafio para se atingir uma melhor forma, conteúdo mais atraente e investimentos em ambos? Os números dessa pesquisa podem ainda não assustar donos de jornais, mas, se não houver um movimento capaz de inovar e ousar, de forma a ir ao encontro das atuais e novas gerações, com certeza os próximos entrevistados poderão nos surpreender com respostas que podem tornar irreversível a decadência. É necessário que as atuais e novas gerações sintam a leitura como necessária e, para isso, é fundamental que os jornais impressos se tornem bem mais atraentes.

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OS NÚMEROS DA PESQUISA

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Você lê jornais impressos? SIM | 69,5%

Não interage com a Não defende sociedade a sociedade 2,2% 4,3%

Dois dias 25,7%

Não 90,7%

Duas ou quatro vezes 21,9%

Ver mais (?)

Menos que um 12,6%

Mais que cinco 17,2% Cinco | 0,7% Quatro | 1,3% Três | 4,0%

Em dúvida 25,8%

Dois 20,5%

Não 34,4%

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Todos os dias 36,4%

Uma ou duas vezes 14,6%

O jornal impresso sobreviverá às facilidades da internet?

Outros

Cultura Colunistas Horóscopo Emprego

às vezes 26,5%

Sim 9,3%

Um 43,7%

Assuntos preferidos

Quantas vezes por semana você visita sites de jornais?

Você gosta de ler e-books?

Quantos livros você lê por mês? Com humor

Com informações que não estejam na internet Local 8,6%

Esportes Música Polícia Notícias bairro

Notícias vencidas 23,9%

Como seria o jornal que motivaria mais a leitura?

De outro estado 90,5%

Cidade

Sim 99,3%

Uma dia 28,6%

Local ou de outro estado?

Economia

Sim 91,4%

Não há nada interessante 28,3%

Outro 41,3%

Quatro dias 25,7% Três dias 25,7%

Não 0,7%

Por quê não lê?

Com tom mais crítico

Cinco dias 25,7%

Você lê sites de jornais?

Não 8,6%

Quantas vezes por semana? Todos os dias Seis dias 25,7% 25,7%

Você gosta de livros impressos?

NÃO | 30,5%

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Sim 39,7%


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Avenida Pedra Branca, 25 Cidade Universitária Pedra Branca 88137-270 – Palhoça SC Fone: (48) 3279-1088 Fax: (48) 3279-1170 editora@unisul.br

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