A Zica #5

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editorial: vermes, astronautas & américa latina

A Zica deu um salto e chegou ao espaço sideral. Mas, antes de chegar lá, começamos aqui embaixo: sob nossos pés, peles e entranhas, onde vivem os vermes. Tal qual fez Brás Cubas, o cáustico personagem da nossa literatura, esta edição trás à luz estes seres considerados repulsivos, mas que, pensando bem, não merecem ser caso de tanto nojo. Afinal, são eles que nos ajudarão a completar o ciclo de nossas vidas quando não estivermos mais aqui para fazê-lo por nós mesmos. Estes serezinhos têm uma existência quase ou totalmente poética, dependendo do seu ponto de vista. Porque não uma homenagem? Se falamos então de quem nos faz novamente uno com a terra, falamos também de quem nos faz voar além dela. O que significa um astronauta, afinal? Porque lançamos homens (e cachorros) ao espaço? Apenas um fetiche mítico-científico que serve a disputas de poder? Será que no fim das contas o astronauta nada mais é que um viajante solitário numa viagem pra lugar nenhum? Porque escolher ir para tão longe, e talvez nunca voltar ao solo original? Procuramos alguns astronautas para que nos respondessem, mas não encontramos nenhum. Aqui embaixo, pelo menos, temos o conforto de saber que, devorados pelos vermes, seremos sempre parte do planeta.

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E, se esta edição fala sobre retorno à Terra e viagem ao cosmo, nosso terceiro tema - América Latina - é um convite para pensarmos sobre o lugar onde a maioria de nós nasceu e vive e que faz a figura materna para nossa referência de mundo. O único lugar de onde podemos partir e o único retorno possível. É importante falar sobre nossa experiência continental, original, nesse momento que as coisas têm ficado cada vez mais difíceis por aqui. A tal democracia vive um período funéreo, com ideologias medíocres saindo do armário, que nos remetem à Idade Média, ressuscitando mil e uma atrocidades para oprimir ainda mais quem sempre esteve por baixo. Roubos históricos e a eterna luta pela independência nos faz constatar atônitos que talvez nunca saímos do feudalismo e da escravidão trazidos pelos europeus. E, agora que decidimos ir até a lua, fomos ainda mais longe em nossa órbita e pela primeira vez produzimos a edição por meio de um financiamento coletivo, que teve a colaboração de centenas de pessoas que nos emocionam em acreditar nesse rolê. Por mais difícil que seja editar esta publicação, é muito gratificante ver a quantidade de pessoas que se envolvem e contribuem pra ela sair. Fazer a última edição foi tão difícil que cogitamos seriamente não continuar. Mas são tantas pessoas que nos dizem o quanto a Zica é importante para elas, que a revista já não é somente nossa: é de muito mais gente e quase não temos escolha. A Zica tem que sair! Desta vez A Zica saiu com muitas novidades e o projeto gráfico da dupla Bruno Rios e Matheus Ferreira apresenta isso de forma contundente. A capa ficou a cargo do vibe tronxíssima Diego Gerlach, parceiro de longa data. Nesta edição, além do trabalho de mais 70 artistas, tem cartela de stickers, mini zine de fotografias e posters - vários mimos que vocês merecem. E como esse processo tem sido tão empolgante, ainda tivemos fôlego para lançar, logo em seguida a esta edição, um projeto extra: um fanzine com o tema “Frankenstein”, em homenagem aos 200 anos da personagem criada pela autora Mary Shelley. A zine será só com trabalhos feitos por mulheres e a curadoria das sensacionais editoras convidadas: Clarice Lacerda, Ing Lee & Maria Trika. E agora, com a revista em mãos, comece a sua viagem.

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estavam agora vazios. Escuridão e silêncio. Uma por uma, ia eliminando todas as explicações que tentava dar àquela espécie de cegueira estranha na qual podia ver seu corpo, todas as partes de seu monomotor e nada mais. Estando certo de que não se tratava de mal físico, supôs se tratar de um mal mental. Se perguntava se realmente havia decolado naquela tarde, se era quem pensava que era, se sabia o que pensava que sabia. A esposa dizia que andava cansado e ele quase suspirou aliviado ao se convencer de que acabava de acordar no meio da madrugada no breu do hangar apagado após alongar demais um cochilo no final do expediente. Teve de interromper o suspiro, porém, quando não conseguiu recuperar na memória o momento em que havia se encostado para descansar além do fato de que essa teoria não explicava porque toda aquela escuridão estava restrita ao exterior do avião uma vez que as luzes internas estivessem também desligadas. Via com clareza suas mãos agarradas ao leme inerte, suas pernas, o contorno das janelas, os bancos vazios, o chão, a lataria antiga do monomotor. Abandonou lentamente o pânico inicial já que, ao que parecia, não se movia em nenhuma direção. Tendo nascido sob as sombras dos mistérios daquelas linhas, tentou se refugiar no

Cessna - 172 Quando a escuridão chegou, súbita e violenta, naquela tarde de junho, Conrado olhava indiferente pela janela do avião calculando mentalmente quantas viagens ainda teria que fazer antes de encerrar o dia. Decidiu que ainda passaria sobre aquelas linhas pelo menos mais uma vez antes de chegar em casa às dezenove bem a tempo de ver o Alianza jogar. Voava a 120 nós sobre o geoglifo do macaco quando a janela frontal do monomotor se apagou como uma televisão que é tirada da tomada. Sentiu instantaneamente as vísceras se contraírem geladas pelo susto mas, por força de instinto, manteve o leme firme e o avião, alinhado. Não que isso fizesse muita diferença naquele momento já que, ao tentar checar os instrumentos do painel, percebeu que o avião estava desligado. Olhou para a janela lateral tentando ver a qual velocidade caíam e se seria possível salvar alguma das vidas mas percebeu que essa janela, assim como todas as outras do avião estavam igualmente desligadas. Só aquela escuridão profunda havia. Olhando para o lado, percebeu também que estava sozinho. Todos os assentos, ainda há pouco ocupados por turistas empolgados,

texto decorado que recitava aos viajantes mas não encontrou em nenhum lugar algo que explicasse seu sumiço. Se lembrou subitamente das procissõe s que era obrigado a frequentar com a mãe e a avó, quando criança, na Iglesia de Santiago Apóstol onde via a imagem ensanguentada de um homem magr o que se dizia ter ressucitado. Via mãe e avó de joelh os com a testa colada ao encosto do banco da frent e, os olhos fechados e apertados, rezando culposas, pedindo perdão com arrependimento fervoroso, para que não fossem mandadas ao inferno. Conrado sentia medo porque embora não entendesse como

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alguém voltava a viver, ou por que sempre tocavam nos pés de gesso daquele homem, certamente não queria ser jogado em lagos de fogo e tormento para sempre. Por isso, também colava sua testa no banco da frente e se punha a procurar qualquer pecado infantil que devesse confessar ao homem ensanguentado. Quando tinha idade suficiente para correr até o hangar de Nasca e pedir dinheiro aos turistas que chegavam de todos os cantos do mundo, viu que a sensação de casa se estendia sobre toda a cidade e a cidade era tudo de grande que conhecia. Não entendia porque todas aquelas pessoas falando idiomas desconhecidos, porque todos o jornais do mundo, todos os cientistas e místicos vinham até tão perto dele investigar coisas que em nenhum lugar do mundo se sabia explicar. Do que conseguia entender dos jornais e filmes que se faziam na cidade, ouvia com pavor relatos que davam conta

de seres vindos de Marte, de Júpiter, do passado, do futuro, com não se sabe qual intenção. Via chegarem viajantes de aspecto muito mais sério que o usual em busca de contato. Traziam oferendas, mensagens e equipamentos para se fazerem ouvir de aparência tão exótica que não se aventurava a falar com eles nem para pedir uma moeda. Se esforçava mais em seus exames de consciência, pressionava mais forte a testa contra a madeira dos bancos da igreja e evitava respeitosamente o olhar triste das figuras que a mãe colecionava e dos retratos falados que a televisão fazia de aparições dos seres espaciais na esperança de que todos aqueles mistérios recuassem e fossem embora e ele não tivesse mais medo do fogo embaixo dos pés ou do infinito sobre os ombros. Os anos que se acumularam e a rotina de enfrentar aqueles campos todos os dias, várias vezes por dia, porém, tinham deixado dormente qualquer preocupação metafísica que viesse dali. Aprendeu a confiar somente no que mostrava seu

painel e nos dias de mais calor, quando saia do avião com sua camisa social para fora, amarrotada e colada pelo suor nas costas, gostava de rir com os colegas ironizando as pessoas que buscavam naquelas linhas mais do que pedras arrastadas por povos antigos: -¿En Nazca, carajo? ¡Si fuera yo, diseñaría en Copacabana! Mas agora, flutuando em silêncio naquele abismo, não sentia como se estivesse em Nazca. Não sentia como se estivesse em lugar nenhum. Abriu lentamente as mãos, que seguravam o estabilizador desde que tudo havia sumido, e quis se encostar para pensar. Não sabia como sair dali, ou se realmente seria aquilo um lugar de onde pudesse tentar sair. Oprimido pelo silêncio absoluto que vinha daquele nada, começou lentamente a sentir nos ouvidos uma pressão crescente que aumentou até o ponto em que sentia estar mergulhando em águas profundas. Continuou aumentando e Conrado ficou feliz ao notar que aquela dor, que antes também pertencia ao nada daquela escuridão, era a primeira coisa que voltava a existir. De olhos sempre abertos, pôs-se a repetir mentalmente os dados do avião, os nomes de sua família, a escalação do Alianza para que pudesse usá-los depois como lastro de sua sanidade, e, sentindo que a pressão começava a se dissolver, percebeu que o final daquilo se aproximava. Olhou pela janela, e o desenho do macaco estava novamente encravado no chão do deserto ensolarado e seco. Sem aviso, mas também sem surpresa, viu voltarem as luzes que piscavam no painel e o ruído áspero do monomotor. Ao seu lado, turistas terminavam as frases que haviam começado e fotografavam, empolgados, o chão.

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PARTIRÃO DE BRASÍLIA OS PROJÉTEIS PARA A LUA

sideravelmente com a penetração do televisor nos lares brasileiros, a partir de 1950. Foi também o ano da derrota para a seleção uruguaia, em pleno Maracanã, no campeonato mundial de futebol, fato que contribuiu significativamente para a mudança psíquica no inconsciente coletivo do brasileiro mediano frustrado e ainda por cima alimentado pela paranoia da Guerra Fria. Com a morte de Stalin e as ascensões de Nikita Khrushchov, na União Soviética, e Dwight Eisenhower, nos Estados Unidos, ao poder, intensificava-se a disputa das duas superpotências pelo domínio econômico e ideológico mundiais. Em 1954, era criado o serviço secreto de inteligência dos soviéticos, a KGB, enviando espiões para diversos países do mundo, inclusive para o Brasil, onde o casal Mikhail e Anna Filonienko infiltrou-se por seis anos.

Amor, estou triste porque sou o único brasileiro vivo que nunca viu um disco voador. Carlos Drummond de Andrade

Juscelino havia sido eleito no fim de 1955 e, como parte do seu plano de metas desenvolvimentista, teve que conseguir muito capital estrangeiro para garantir o mote de campanha. Os “cinquenta anos em cinco” envolviam avanços não apenas nas áreas industrial (automobilística), energética (hidrelétrica e nuclear) e bélica, mas especialmente no desenvolvimento científico. Filonienko obteve sucesso na bolsa de valores, ganhou uma fortuna e tornou-se um empresário rico, mas sua missão principal era servir de contato entre Moscou e o presidente brasileiro. Tendo sido cortejado pelas autoridades soviéticas, ainda em campanha, com promessas de apoio financeiro e tecnológico, mas sem qualquer simpatia pelo comunismo, o pragmático JK havia decidido utilizar essa oportunidade para financiar um grande e extravagante sonho, que viabilizaria um futuro brilhante para o país: a construção de Brasília, sua nova capital administrativa e financeira. A cidade proporcionaria um crescimento interno sem precedentes, mas não apenas isso: o plano, basicamente, era trazer o espaço até nós, em pleno Planalto Central, o ponto perfeito  — por questões geográficas e meteorológicas (fora as místicas, como a famosa profecia de

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ouca gente sabe, mas, em plena guerra fria, o Brasil quase teve papel decisivo na corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética. Criada em 1953, a discreta Sociedade Interplanetária Brasileira tinha entre seus membros ninguém menos que o futuro presidente da república Juscelino Kubitschek. Apaixonado por astronomia, o mineiro de Diamantina mantinha-se oficialmente fora dos registros, mas a influência dos ideais interplanetários guiaria boa parte do seu governo. Conforme reportagem publicada àquele ano na Folha da Noite, a SIB, que contava com uma sede de campo em Carapicuiba, com telescópio e tudo, onde seus fundadores reuníam-se periodicamente para debates de assuntos referentes ao futuro turismo inter-astros, acreditava que, “se as viagens para a Lua, para Marte ou Saturno, vierem a concretizar-se, nosso país estará na vanguarda do movimento, ocasião em que também aqui poderemos vir a ter uma ‘agência de passagens para os astros’.” Não é coincidência que os relatos de objetos voadores não identificados aumentem con-

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Dom Bosco) — para pouso de espaçonaves. O grande discoporto interplanetário de proporções monumentais, contando com instalações alfandegárias, hoteleiras, estacionamento, alimentação e freeshop com imposto reduzido, seria um empreendimento turístico de operação soviético-brasileira, e teria ainda partidas diárias para diversos planetas, com estrutura da Panair. De forma sigilosa, o projeto tomava forma enquanto o país mantinha suas relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos. Logo após a revolta de Jacareacanga — levante de militares da aeronáutica que, alegando temer uma “esquerdização” do país, tentaram impedir o mandato de JK  —, em que se acusava o presidente de supostas associações com grupos financeiros internacionais para a entrega de petróleo e minerais estratégicos — mal sabiam eles —, e de infiltração comunista nos postos militares de alto-comando, ele foi a Washington, usar a sua diplomacia para acalmar quaisquer rumores nesse sentido. Juscelino tinha jogo de cintura. Visionário, jogava para a torcida, independente da camisa. Romperia inclusive com o FMI após as exigências deste de que “pusesse a casa em ordem”, mas pleiteava apoio abertamente dos Estados Unidos enquanto negociava, simultaneamente, com a URSS por debaixo dos panos.

Em 1957, aumentam consideravelmente os relatos de aparições de objetos voadores pelo mundo. Os russos tomam a dianteira na corrida espacial, lançando seu primeiro satélite, Sputnik, e em seguida a pobre cadela Laika — o primeiro ser vivo terrestre a orbitar o nosso planeta — ao espaço. Os americanos tentam não ficar para trás, criando a NASA no ano seguinte e lançando seu próprio satélite Explorer. Nesse meio tempo, o plano secreto do governo brasileiro quase veio a público quando, em uma noite de bebedeira em Petrópolis, Juscelino acabou deixando transparecer seus interesses interplanetários ao fotógrafo Almiro Baraúna, que lhe revelou as famosas fotos a bordo do navio Almirante Saldanha, na Ilha de Trindade. Cansado de omitir suas intenções da opinião pública, e para fortalecer o tema no imaginário popular, JK supostamente vazou os registros dos OVNIs para a imprensa, o que acabou causando uma onda de especulações e histeria pelo país. Seriam, realmente, alienígenas? Ou pior, comunistas? Filonienko teve de transmitir a insatisfação de soviética com essa peripécia, que poderia ter posto em risco toda a empreitada.

JK supostamente vazou os registros dos OVNIs para a imprensa

Em 1958, a URSS participava, pela primeira vez, do campeonato mundial de futebol, na Suécia e, tendo visto a importância da competição para a percepção internacional, apostava na vitória. Mas ninguém contava com a força da seleção brasileira, tendo como base o time do Botafogo, e trazendo pela primeira vez ao mundial um garoto de apenas 17 anos. A derrota de 1950 ainda assolava a memória dos brasileiros, e a conquista do título coroou a imagem do jovem Pelé como uma alternativa poética às duas superpotências. O Brasil surgia no cenário internacional como um caminho do meio, hedonista e sofisticado, exótico e bonito por natureza.

Em 1956, inicia-se o modesto programa espacial brasileiro com uma estação de observação de fachada em Fernando de Noronha, supervisionada pelos EUA. Mas além do programa oficial, criara também o PEBA — Programa Espacial Brasileiro Astronômico —, este sim, realmente ambicioso e mantido em segredo absoluto, com apoio soviético, longe das vistas dos norte-americanos. O presidente estava determinado, sobretudo, a construir e inaugurar Brasília, a nova capital futurista do país e seu legado espacial, até o fim do mandato.

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Com “Chega de Saudade”, era criada a bossanova, o que colocou definitivamente o país no mapa cultural do planeta, mas os soviéticos não estavam nada satisfeitos.

estratégica brasileira no futuro do turismo interplanetário. Em 1969 os americanos levariam o homem a uma lua desabitada e, sem os esperados lunáticos para recebê-los, viriam-se obrigados a deixar os panfletos sobre as maravilhas da Terra em papel couchê, os prospectos de vendas e plantas imobiliárias hoteleiras e alguns pares de binóculos por lá, e voltar com as mãos abanando, na esperança de convencer possíveis investidores algum dia. O delirante plano de dominação espacial comunista jamais aconteceu, e o Brasil teve de se contentar com o tricampeonato mundial de futebol, em 1970, no México, e a conquista da taça Jules Rimet  —  que ainda viria a ser roubada e nunca mais vista, mas isso é outra história  —, amargando vinte anos de ditadura militar patrocinada pelos americanos e que só chegaria ao fim pouco antes do colapso definitivo da União Soviética.

O plano de JK azedava. Sem verbas para concluir a construção da capital, e, sem acesso ao FMI, tenta convencer o presidente Eisenhower a financiar a OPA (Operação PanAmericana), supostamente para fortalecer o continente americano e expurgar o fantasma do comunismo. A promessa dos soviéticos de que, após os primeiros voos espaciais tripulados terem sido concluídos com sucesso, a cidade seria estabelecida como base de pouso interplanetária, controlada pelo governo brasileiro e supervisionada pelo Kremlim  — e à qual os EUA não teriam acesso, o que JK não pretendia necessariamente cumprir — começava a parecer improvável. No entanto, mesmo com as crescentes animosidades entre as duas partes e as pressões do bloco americano, a tecnologia simplesmente não foi descoberta a tempo. Era o fim anticlimático de um enredo que por pouco não mudou o rumo da civilização. Após a inauguração de Brasília e a eleição de Jânio Quadros, foi apenas em 1961 que os russos cumpriram a sua parte do trato, levando o tenente Iuri Gagarin ao espaço, a bordo da Vostok I. Logo depois, ele ainda viria ao Brasil, supervisionar pessoalmente as instalações do possível empreendimento. Surpreso com o modernismo da cidade recém-construída, teria declarado: “Tenho a impressão de que estou desembarcando num planeta diferente, não na Terra”. Mas os opositores do governo já estavam fartos da visível influência comunista no país, forçando Jânio à renúncia com a ajuda de uma CIA comandada pelo recém-eleito John F. Kennedy — que seria assassinado, em resposta, pela KGB, dois anos depois.

Hoje em dia, em Brasília, só nos resta apontar a ironia de que Nonô, o menino sonhador de Diamantina, tenha sido imortalizado em uma estátua que passa os dias acenando em saudação aos visitantes intergalácticos que nunca vieram, do alto do memorial que leva o seu nome1.

Com o golpe militar de 1964 e a posterior instauração do Ato Institucional nº5, em 1968 —   mesmo ano da morte ainda não esclarecida de Gagarin — acabavam definitivamente as chances de uma posição crucial e

Construído em 1981, cinco anos após a morte também não esclarecida de Juscelino, o Memorial JK foi objeto de duras críticas de setores conservadores, que viam no monumento referência a um dos símbolos do comunismo: a foice e o martelo. 1

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Participantes A Zica #5: 52, 53: 4E25  78, 79, 114: Adão Iturrusgarai   92: AKOP  115: Allan Sieber  22, 23, 24, 25: Annima de Mattos  120, 121, 122: Aruan Mattos  38, 39: Bernardo Pádua  54: Breno Ferreira  27: Carolina Deptulski   95: Cristiano Onofre  8: Desali  29, 30, 31, 32, 33, 34, 35: Diego Gerlach   10: Emilly Bonna  93: Emmanuel Alcalá  63: Estan de Lau   12, 13, 14: Fabio Cobiaco  65: Fernando Torelly  64: Flávio Duarte  62: Froiid   58, 59, 60, 61: Gabriel Cerqueira  67, 68, 69: Gabriel Nascimento   11: Guilherme Boschi  66: Guto Respi  20: Henrique  Mourão   86, 87: Henrique Oliveira  16, 17, 18, 19: Ian Indiano  106, 107, 108, 109: João Henrique Belo  15: José Lucas Queiroz  55: LaCruz   72, 73,


74, 75: Larissa Reis / Ana Lacerda Reis   56: Lor  103: Lucas Borges   97: Luciano Irrthum  quarta capa: Luiz Navarro  26:Luiza Maximo   57: Luiza Nasser  76, 77: Marco Vieira   42, 43, 44, 45, 114: Marcos Batista  40, 41: Maria Trika  51: Mariana Moysés  50: Matheus Lopes (Mathiole)  71: Maurício Falleiros   113: Morgana Azul  84, 85: Narowe  46, 47, 48, 49: Nava Latinotoons  105: Nicole Wafer  80, 81, 82, 83: Osvaldo Reis  9: Panhoca  98, 99, 100, 101: Paola Rodrigues   88, 89, 90, 91: Pedro Vó  96: Praia Podre   104: Ricardo Coimbra  70: Rodrigo Terra   94: Rogério Rodrigues  21: Rosana Oliveira  28:Silva,Luís  110,111,112:Stêvz  36,37:Tenesmo  2: Thiago Machado   3: Toni Cesar Graton  6, 7: Victor Stephan   102: Xablutz  116, 117, 118, 119: Yalaki De Sucre


Agradecemos imensamente a todos os apoiadores que contribuíram com a nossa campanha de financiamento coletivo. São eles:

Adriano De Campos Adriano Mello

José Costa

Afonso Estevam de Andrade Jr Ale

Megale

Alessandro Andreola

Caio

Mendonça Fabiola Michalski Nogueira Henrique da Gama Cardoso Camila Carneiro H e n r i q u e Bahia Braga Fabrício Mourão Marques Torres de Oliveira Carlos Panhoca Hermano Lamas da Silva Felipe Soares Hugo Luiz Gadea Carol Baumgratz Fernanda Campos Ingrid Sá Lee de Pinho Monte-Mor Carolina Pires Maia Ione Tiburcio Medeiros F e r n a n d a C a u a n Maldonado Mocelin Isabel Falabella Bittencourt Lana R i c a l d o n i Fernanda Quintão Cibele Araujo Isabela Morais Filipe Marcus Ciro Inácio Marcondes Isabela Scalioni Flávia Denise Clara Garcia Ivan Camus F o n t a n a Clenio Xavier Ivan Camus Francisco de Assis Constança Guimarães Marques de Figueiredo Izadora Netz Cristian Abib S i e c z ko ws k i Francisco Silvestre de Moraes de Araujo Junior Janaina de Luna Dafne Braga Freire Duque F r e d e r i c o Callamari Joacelio Daniel de Souza Pena Barão Batista

Alexandre

Maximo

Alice

Moraes

Allan

Calloni Daniel

Faria Fredin

Ana Carolina Antunes Daniel

Junqueira Gabriel

Ana Cristina Arantes Daniel

Lopes Gabriel

Ana

Moraes

Andre

Vieira Daniel Valenca Paiva Gabriel Jácome Gabriel Caram Daniela

Pequeno Joana de Andres Caram João Caropreso C P Guedes João Mesquita Pires

Queiroz Araújo de

Carlos Souza Carlos Pinheiro

Pádua Délia Guinancio Erthal Gabriel Nascimento João Gabriel Riveres Guilherme Cardim João Gebrim Gabriela Arthur Benfica Senra Diana Dayrell de Aleandro Magalhães Artur Souza Diego Canto Macedo Geraldo Santos André

Fabris Doug

Asdrubal

Danda Douglas Utescher Bárbara Lamounier Editora Bárbarah Canali Edivaldo Bernardo R. M. de Barros Eduardo Azs

Bruno B u

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Bonamichi Elza e n o Erick

Firmino G i o v a n a Romani Rinaldi Junior Godoy Alves Guilherme Coutinho Corino Pulo N a s c i m e n t o Barrêto Guilherme Vieira

Carvalho Pinto

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Cataldo Gustavo Magela Ricco Henrique L. Santos Henrique Correa Jardim da

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Rebello

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João Victor Alves dos Santos e Xavier

João Cunha Bernardo

Luis João Borges Vilaça

Victor Rabello Victor Resende

Eduardo Eiras José Silva Gonçalves Iwao Bruno Rocha Maron Fabio Guilherme Silveira José Alves Martini Bruno Wilhelm Speck Fabio Marcel Zanetti Henrique Mafra R o d r i g u e s José Lucas Queiroz Cahue Teixeira Bruno

Figueiredo Fabiano

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Spack Luciano

José

Correia Oriol Barberà Masats Sandro

Ribeiro Karine Ludmila Souza Luísa Luz Júlia Carolina Luiz Fernando Itaborahy Ferreira D o r a b i a t o T h e o t ô n i o Luiza Maximo Júlia Costa de Oliveira Maíra Melo Júlia Tetsuya Marcela Novaes J u l i o Marcela Santos Julio José Rodrigues Alves Marcelo Augusto S a n t i a g o Jullia Gouveia Marcelo Lustosa Kellen Câmara Carvalho Oliveira Marcinha Fontana Joyce de Sá

Laetitia Larissa Freitas

Osvaldo de Melo Otto

Tuma Marco Aurélio Prates Athayde Marco Chagas Leo Freitas Marco Túlio Perdigão L e o n a r d o Batista Soares Alves Marcos Campos Lícia Gonçalves Marcos Costa Lilian Taniciane Marcus Soares Pereira Pessoa Braga

Pedro

Hudson Sérgio Pedro Marconi Silvério Sofia

Lucas

Lobato

Rafael de Castro Faria Thiago

Ramos

Rafaella P Raíssa Ramon Andrade

Ródney

Completo Matheus de Souza Viana Lucas de Avila Carvalho Fleury Matheus Gonçalves M o r t i m e r Matheus Parizi Lucas Mafra Maurício Fregonesi Lucas Paduan Folchito F a l l e i r o s Lucas

Simão

Moraes

Lucas

Lote

Ivo

Cambraia Thiago

Rafael

Lucas

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Guedes Savio Leite e Silva Neto Selma Mitie Taketani Utrabo Chaves

Henrique Patrick Marcelo Preato Sérgio Carvalho de Mendonça Paula Lobato Sergio Luiz Paulo Andre Moraes Moreira Rodrigues Pedro Castro Sergio Simao

R a m Linaibah Maria Horta M. R. Alves Ras de Carvalho Mariana Carvalho Leal G. Ricardo O R Mariana Moysés Ricardo 42 Binder SIlva Roberto Barbi Mário Corrêa de

Livia

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Pedro Rolla Antuña Souzza Siri Petrus Mello Teca Lobato Ferraz e Silva Thales Ramonielli Valadares Márcio Alves Plocki Pollyanna Abreu Theo Portalet de Marco Antônio Priscila Michelon Muniz Vieira e Sá T e i x e i r a thiago ataide machado

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Quintão Mônica Rodrigues Murilo

Lucas Tadeu Pereira Naomi Soares Gomes Nicolás

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Vieira Rodrigo B.

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Souto Rodinistzky Thiago Pereira Thiago Souto Pena Tiago Cícero de Tulio Castanheira Vitral Victor Bello p a z z o Victor Dias Fael Victor Diniz Maia Almeida Saraiva Portilho Vinicius Caporalli Simões Vinicius Marins Borges Almeida Vitória Armanelli A. Rodz Wender rabelo Amaro William Pereira Augusto de Almeida Dores Xablo Lutz Pereira César de Freitas Yuri Simon da Silveira Ianni Zacarias Okuyama

Iha Rodrigo Ortiz Vinholo Bollini Samuel 129

Rodrigues

Zacaxavier


Agradecimentos Aos artistas e amigos que doaram ou trocaram trabalhos conosco ao longo desses anos ou que participaram dos eventos durante a campanha: Desali, Ana Rocha (Polvilho Edições), Kid Azucrina, Bruno Rios, Fumaça, Paulo Marcelo Oz, Mauricio Falleiros, Diego Gerlach, Maria Trika, Pedro Morais, Marco Vieira, Matheus Sá Motta, Silva Luis, Victor Stephan, Panhoca, Mário de Alencar, Fronha, Tenesmo, Mateus Lopes (Mathiole), Hugo de Paula, João de Merda, Luiza Maximo, Guto Respi, a dupla Dé Vora e Inês Periente, Cecília Silveira, Xerelll, Galvão Bertazzi, 4e25, Marcel Verter, Brígida Campbell, Lucas Mafra, Gabriel Skap, João Gabriel One, João Valadão, Davi DMS, Cyanogaster Noctivaga, Lucas Kroeff, Karina Felipe, Clarice Steinmüller, Ródney A. Rodz, Lorena Zschaber, Coletivo Mofo, William Lima (Will), João Martins, Gilbert Daniel, Rodrigo Terra, Lucas Torres, Felipe Godoy, Pedro Ninja, Luiz Matuto,

Comum, Pablo Rodrigues, Daniel Jack, Rafael Casamenor, Rogério Santos, Thiago Alvim, Tiago Lacerda, Rossano Polla, Dimas Forchetti, Gabriel Nast, Gordo Seboso, Dionisio Arte & Laura Athayde

Ao Nicolás Bollini, pela tradução do texto da chamada para o espanhol. A Jordana Hissa, pelos GIFs sensacionais. A Raíssa Pena, por tornar mais fácil esse financiamento coletivo tão difícil. Ao O Miolo Frito, Ian Indiano e Filipe Marcus que fizeram artes especiais; e ao Panhoca, Xablo Lutz e João de Merda pelos memes zoeiros durante a campanha. Aos espaços que nos apoiaram: Quartoamado (Bernardo Biagioni e Raul Sampaio) , Mama Cadela (Gustavo Biagioni) pelos eventos na campanha & a Kasa Invisível (Okupa tudo!). Pelas colaborações musicais de DJ Bill, Luisa Loes e Santapala (Dedé Santaklaus e O Pala) e ao rolê do Piolho Nababo (Desali, Daniel Toledo, Flora Maurício & Ed Marte).

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E também Área de Serviço (Bruno Figueiredo & Roberto Staino), Mixsórdia (Débora Fantini & Marcelo Lustosa), revista Prego (Alex Vieira), revista Beleléu, Ugra Press (Danire Douglas Utescher), Lote 42 (Cecília Arbolave & João Varella), Laerte Coutinho, Maria Nanquim (Luciana Foraciepe), Carlos Andrei (O Tempo), Vitralizado (Ramon Vitral), Gibi Foda, Papo Zine, Balbúrdia, Programa Arranjo (João Eugênio), Pulo Comunicação (Helen Murta e Jão), Música Quente (Marcelo Santiago), Rafael Mordente, Arnaldo Branco, Família de Rua, Banca Tatuí, Walisson (Impressões de Minas), Guilherme Leite, Joanna Ladeira, Luiza Nasser, Maria Silvia, Mme. Rrose Sèlavy, Fodastic Brenfers, Grupo Porco, Fadarobocoptubarão, Francisco Vianna, Quixote Livraria, Rosalva (desaparecido),Ricardo Coimbra,

Sérgio Simão, Sandro Merg, Tarley McCartney, além de todos que compareceram aos nossos eventos. A Zica é uma publicação que recebe o apoio direto e indireto de muitas pessoas.

Esperamos ter lembrado de todas e todos aqui e desde já pedimos desculpas caso algum nome nos tenha escapado. Saiba que esta edição carrega o seu carinho impresso.

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Urubois foi um selo criado pra lançar A Zica, urucubaca em forma de revista, um fanzine com ilustrações, quadrinhos e aforismos.

Em 2010, João Perdigão, Marcelo Lustosa e Luiz Navarro lançaram a A Zica #0 em um evento memorável no Mercado Novo, o Vendendo Peixe. Os temas da primeira incursão Zica eram morte, macumba e classe média, com a maioria de artistas de Belo Horizonte Em 2011, saiu A Zica #1, com os temas putaria, scifi e propaganda – e cerca de 60 artistas.

No ano que era pro mundo ter acabado, saiu A Zica #2, com os temas apocalipse, bullying e canabis. João Perdigão e Luiz Navarro assumiram a edição. Em 2013, quando o Brasil esteve em convulsão social em jogos pré-Copa, A Zica #3 saiu recheada de vandalismo, pirataria e trevas.

E, em 2015, se juntou à edição o cartunista Marcos Batista e saiu a Zica #4, com os temas funk, dinossauros e Rússia. O projeto gráfico ficou por conta da Ana Rocha.


Editores Luiz Navarro (editor-chefe desta edição), João Perdigão e Marcos Batista Projeto Gráfico, diagramação e produção gráfica

Capa

Bruno Rios e Matheus Ferreira Vídeo para o Catarse por Área de Serviço

Diego Gerlach

Fanzine de fotos encartado Matheus Sá Motta

Posters da campanha do Catarse Hugo de Paula e Estevam Gomes

Stickers Marcos Batista, Day Lima, Binho Barreto, Diego Sanchez, Desali e Aline Lemos

Patch Paulo Marcelo Oz

Posters encartados Benson Chin De Merda

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As páginas 114, 115 e 116 foram compostas em Andada, da fundição argentina Huerta tipográfica.

Miolo em Pólen bold 90g/m2 e folha de guarda em Vegetal Clear Plus 112g. Impresso em offset em BH, MG.

Desenvolvida por Carolina Giovagnoli, a fonte possui elementos que permitem editar textos no idioma Guaraní.

Capa em Savile Row Plain - Aubergine - 200g/m2, impressa em serigrafia no Mercado Novo, BH, MG.

As páginas 4, 5, 88, 89 e entre 128 e 136 foram compostas em Barlow e Barlow semi-condensed.

Tiragem: 1000 exemplares

Desenvolvida por Jeremy Tribby, a fonte foi batizada em homenagem a John Perry Barlow, ativista pelos direitos da liberdade na internet, autor da Declaração de Independência do Ciberespaço e de algumas letras de canções para a banda estadunidense “The Gratefull Dead”.

Belo Horizonte, setembro de 2018

Contato azica@urubois.org http://azica.tumblr.com www.facebook.com/revistazica www.instagram.com/azicazine

Dedicada a Paulo Henrique Pessoa, o Ganso (1955-2018)

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