12 Regards
BELÉM LIMA 12 Regards
BELÉM LIMA
BELÉM LIMA
12 Regards
Título Title Belém Lima 12 Regards Editor Editor José Manuel das Neves Direcção de Arte Art Director Gustavo Suarez Design gráfico Grafic Design Pedro Cores Coordenação Editorial Editorial Coordination Virgínia Palma Coordenação Escritório Office Coordination Ana Coutinho, Cláudia Lopes, Luísa Marques, Duarte Silva (arquitectos) Eduarda Freitas (Jornalista) Retroversão Técnica Technical Retroversion Incubadora-id - Fernando Torres e Ana Torres Retroversão English Translation Alexandra Leitão Revisão Revision Sérgio Simões Paginação e Arte Final Pagination and Art work Susana Monteiro Foto Capa Cover Photo FG + SG_ Fotografia de Arquitectura www.fernandoguerra.com Pré-impressão Pre-printing Uzina ISBN 978-989-8456-00-7 Depósito Legal Legal Deposit 318 522 / 10 Data de edição Publishing date Fevereiro 2011 Edição Edition Uzina Books Praça do Príncipe Real n.º 22 - 1º 1250-184 Lisboa Telef: 351 21 122 4100 Fax: 351 21 122 4139 geral@uzinabooks.com ©UZINA BOOKS, 2011 Todos os direitos reservados. Todos os textos, imagens, ilustrações, fotografias, marcas e outros elementos contidos nesta publicação designados por “o conteúdo” estão protegidos por lei, sendo expressamente interdita qualquer cópia, reprodução, difusão ou transmissão, utilização, modificação, venda, publicação, distribuição ou qualquer outro uso, total ou parcial, comercial ou não comercial e quaisquer que sejam os meios utilizados, do conteúdo desta edição, publicação e de conteúdos acedidos através desta mesma publicação. All rights reserved. no part of this publication may be reproduced in any form or by any means, graphic, eletronicor mechanical, including photocopying and reecording by an information storage and retrieval system, without premission in writing from the publisher. Printed in Portugal
Municipio pesodarégua
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10.
552 Palavras do editor 572 Words of publisher MÁQUINAS BURGUESAS António Belém Lima em conversa Bourgeois machines a conversation with António Belém Lima
12 Regards 21.
CASA MTS MTS House
34.
COOP HABIReal Habireal Coop
49.
BIBLIOTECA MUNICIPAL DR. jÚLIO TEIXEIRA /GRÉMIO LITERÁRIo Vila-Realense Dr. Júlio Teixeira Municipal Library / Grémio Literário Vila-Realense
161.
RESERVAS AMAZÓNIA /Museu Nacional de Etnologia Amazonian Reserves / Ethnology Museum
170.
MuSEU da VILA VELHA Vila Velha Museum
193.
EDIFÍCIO ENTRONCAMENTO Entroncamento Building
208.
ASSOCIAÇÕES BAIRRO ALAGOAS Bairro Alagoas Associations
68.
EDIFÍCIO TOPIMOB Topimob Building
224.
CASA R R House
78.
CASA O O House
236.
Fichas técnicas Technical Data
104.
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA Music Conservatory
238.
Colaboradores List of staff
138.
Paços do Concelho de Boticas Boticas Town Hall
239.
Biografia do autor Author Biography
Jorge Figueira
MÁQUINAS BURGUESAS
António Belém Lima em conversa
Bourgeois Machines a conversation with António Belém Lima
Jorge Figueira – Nos projectos que são apresentados neste livro existe uma espécie de coerência quase unitária, que é surpreendente, e será até desconcertante para quem não tiver seguido o teu percurso nos últimos anos. Ao contrário do que seria suposto na cultura dos anos 1980, em que havia variações de estilo de edifício para edifício e uma espécie de deriva a todo o momento. Nestas obras existe uma homogeneidade, um controle. Funcionam como uma colecção. Belém Lima – Essa observação é acertada no sentido em que eu próprio constato que há uma espécie de convergência… não no resultado final. Não é uma vontade de encontrar o projecto ideal, o projecto perfeito, isso não é obsessivo para mim, de maneira nenhuma. De facto, há um despedimento desse período inicial, pós-moderno, em que a forma e o volume eram tudo e havia essa urgência de estar sempre a mudar. O tempo em que estes projectos entram é um tempo diferente. Um tempo que reconhece a urgência do silêncio. Em que as obras se valorizam não tanto por uma exuberância formal, mas mais pela sua auto-suficiência. Não precisam de gesticular. Precisam de ser mais seguras de si, de ser mais calmas, de saber estar. Nada disso significa perda de complexidade. Portanto, não é tanto a obsessão da obra ideal, perfeita… embora as obras tendam a ser cada vez mais perfeitas. Mas essa não é uma obsessão ideológica. Essa perfeição, ou essa contundência, essa simplicidade com que se apresentam, permite um jogo de contradição com os espaços interiores, que é uma coisa que me apraz bastante e que já é antiga. E que agora até é mais evidente. Conversa tida em 20 de agosto de 2010, no escritório do arquitecto belém lima com o seu amigo e arquitecto jorge figueira a propósito de um conceito e de uma prática de arquitectura.
O que nos leva àquela conclusão de que os valores abstractos têm na arquitectura, como noutras artes, uma maior perenidade em detrimento dos valores narrativos… É evidente que se constatou que a urgência da narrativa cumpriu o seu tempo. Conquistou um espaço e permitiu dizer adeus ao Moderno. Não no sentido de o substituir por outra coisa mas de permitir construir projectos mais centrados sobre si mesmo. Por isso, essa afirmação é metade verdade, metade mentira. É evidente que os projectos são agora mais abstractos, mas continuam a ter uma vontade expressiva grande. Repara que as imagens que escolhi para andarem associadas aos meus projectos são todas de pintura ou de escultura figurativa. Não tenho nenhum preconceito sobre isso, ao contrário dos Modernos, que acham que há um valor maior na abstracção. Não acho isso. Acredito que a ideia ou o conceito é que é verdadeiramente o motor, quer se exprima de modo abstracto ou não. Gosto muito de lembrar o exemplo de uma pintura de Hopper (Rooms by the Sea, 1951), em que ele inventa um ambiente sobre uma fotografia do próprio studio. Na foto vemos aquele lixo todo, as portas com muitas ferragens e pormenores, a margem de terra entre o atelier e a água… Depois na pintura, faz um trabalho de limpeza e muda a posição da porta que agora se abisma sobre a água… ajusta a realidade, mas nem por isso deixou de ser uma pintura figurativa. Só que reduz aquilo à ideia essencial, ao conceito. O que acho espantoso, e até comovente, na tua obra é que ela tem agora internamente aquilo que nos anos 1980 tendia a ser exteriorizado. Mas mantém esse vírus do mapeamento, referenciação e manipulação de imagens e de conceitos. Nesses anos mais heróicos, essa manipulação era visível, extrovertida; agora está integrada, hibernada, na arquitectura. Mas continua a acontecer e a perturbar-nos. Dir-se-ia que o momento de entrada dos projectos, com a associação de uma imagem a cada obra, é o momento em que exteriorizas graficamente o teu mapa de afectos. É interessante essa observação. Estas obras têm o vírus da complexidade e da contradição. Que é o vírus de ancorar as obras em alguma coisa. Só que essa referenciação não é para dar uma lógica e uma legitimação absoluta aos projectos. Não quero dizer: “está aqui a explicação.” Aliás, há casos em que as imagens são anteriores aos projectos e há casos em que são posteriores. No caso do ABA/Associações Bairro Alagoas, a pintura de Marlene Dumas está de facto na raiz do projecto. Noutros casos isso não acontece. São imagens em que digo: “olha, afinal está aqui o que eu queria fazer”, sem nunca antes ter pensado nisso. E essa referenciação acontece sempre, porque não vivemos num mundo gelado. Queiramos ou não, estamos sempre a seleccionar, pelas televisões, jornais, eventos; estamos sempre a dizer: “isto é o meu mundo, aquilo é pouco interessante.” É uma atitude arbitrária, mas constitui o percurso de cada um. Por outro lado, não há o objectivo de que esta nova narrativa ou esta segunda etapa da narrativa seja uma explicação para a obra. Antes podíamos dizer: “esta obra é isto e quer dizer isto.” E as pessoas tinham que perceber aquilo. E nós éramos tanto mais eficazes quanto mais conseguíssemos fazer entender a ideia da obra.
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Rooms by the Sea, 1951 Edward Hopper
Estudio E. Hopper em Cap Cod Hopper’s Cape Cod studio
Jorge Figueira – The projects presented in this book have an almost unitarian coherence which is surprising and may even be disconcerting to those who have not followed your career in the last years. Contrary to what would be the norm in the culture of the 1980s in which style varied from building to building and there were constant shifts. These works are homogenous, controlled. They function as a collection. Belém Lima – That observation is true in the sense that I myself note that there is a sort of convergence... but not in the final result. It is not the wish to find the ideal project, the perfect project, I am not obsessed with that, not at all. There is a move away from that initial, post-modern period where form and volume were everything and it was important to be changing. The time of these projects is a different time. A time that acknowledges the urgency of silence. Where works are appreciated not so much for their formal exuberance but for their self-sufficiency. They have no need to gesticulate. They need to be surer of themselves, calmer, just to be. None of that means loss of complexity. So, it is not so much the obsession with the ideal, perfect work... although works tend to become increasingly more perfect. This is not an ideological obsession. That perfection or that conviction, that simplicity they show allows a game of contradiction with the interior spaces, which is something else that pleases me and is already quite old. And which is even more obvious now. This was a conversation on 20 August 2010 in the office of the architect belém lima with his friend, the architect jorge figueira about architectural concept and practice.
Which leads us to the conclusion that in architecture, as in other arts, abstract values are more perennial than narrative values... It is obvious that the time came where the urgency of the narrative had fulfilled its purpose. It has conquered space and allowed us to say goodbye to the Modern. Not in the sense of replacing it by something else but allowing buildings to be more centred on themselves. Which is why this statement is half lie, half truth. It is obvious that projects are more abstract nowadays, but they still continue to have a great expressive will. Note that the images I have chosen to associate with my projects are all figurative painting or sculpture. I have no prejudice about this, as opposed to the Moderns who believe there is greater value in abstraction. I do not agree. I believe that whether or not expressed in abstract fashion the idea or the concept is the true engine. I always like to recall the example of a painting by Hopper (Rooms by the Sea, 1951) in which he invents an environment based on a photograph of his own studio. In the photo we see all that mess, the doors with many hinges and details, the strip of land between the studio and the water..., in the painting, however, he tidies it up and changes the position of the door which is now poised over the water... he adjusts reality, although it is still a figurative painting. But he reduces it to the essential idea, the concept. What I think amazing and even moving in your work is that internally it now has that which in the 1980s tended to be externalised. But it still maintains the virus in the mapping, referentiation and manipulation of images and concepts. In those more heroic years this manipulation was visible, extroverted; now it is integrated, hibernating, in the architecture itself. But it continues to occur and to disturb us. We might say that the instant the projects enter and that you associate an image to each work is the instant when you graphically externalise your map of affections. That is an interesting observation. These works have the virus of complexity and contradiction. It is the virus of anchoring works to something. But that reference does not serve to give the projects logic and absolute legitimacy. I don’t mean to say: “Here is the explanation”. In fact, there are cases where the images are earlier than the projects and cases where they came later. In the case of ABA/Associações Bairro Alagoas, the painting by Marlene Dumas does in fact lie at the root of the project. In other cases this does not happen. They are images in which I say: “Look, this is really what I wanted to do”, although I had never thought of it before. That referentiation always happens because we do not live in a frozen world. Whether we like it or not we are always making a selection on television, in newspapers, of events, we are always saying, “This is my world, that is fairly uninteresting”. It is an arbitrary attitude but it constitutes each person’s trajectory. On the other hand, the aim is not that this new narrative or this second phase of the narrative should serve to explain the work. Before we could say: “This works is like this and it means that”. And people had to understand it. And the more we could make this idea of the work understood the more efficient we were.
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CONSERVATÓRIO de MÚSICA Music Conservatory Vila Real,2001/2004
0174CMZVR
Surma People (Etiópia 2003), Isabel Muñoz
MUSEU da VILA VELHA Vila Velha Museum Vila Real,2002/2008
0286MUVV
Casa Goethe, Weimar
BELÉM LIMA Vila Real, 1951
Arquitecto pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL) | 1979
Architect, Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL) | 1979
Co-Director em Arquitectos Pioledo Lda (1981-2005)
Director, Arquitectos Pioledo Lda (1981-2005)
Director em Belém Lima Arquitectos (desde 2006) associado a Norvia
Director, Belém Lima Arquitectos (since 2006) in association with Norvia
Professor Convidado no Departamento de Arquitectura da Escola Universitária
Guest Professor at the Department of Architecture, Universidade do Minho
de Artes de Coimbra (ARCA-EUAC) | desde 1997
(DAUM) | 1999-2007
Professor Convidado no Departamento de Arquitectura da Universidade
Guest Professor at the Department of Architecture, Escola Universitária
do Minho (DAUM) | 1999-2007
de Artes de Coimbra (ARCA-EUAC) | since 1997
Professor Convidado no Departamento de Arquitectura da Escola Superior
Guest Professor at the Department of Architecture, Escola Superior Artística do
Artística do Porto (ESAP) | desde 2000
Porto (ESAP) | since 2000
Prémio Arquitectura AICA | Associação Internacional de Críticos de Arte (2003)
Arquitectura AICA | International Association of Art Critics (2003) Award
Prémio Arquitectura do Douro (2008)
Arquitectura do Douro (2008) Award
Nomeado para Prémio Secil (2009)
Nominated for the Secil Award (2009)
Integra as participações nas exposições:
Participated in the following exhibitions:
1983 Depois do Moderno | Lisboa
1983 Depois do Moderno | Lisbon
1991 Europalia 91 | Bruxelles
1991 Europalia 91 | Brussels
2002 XXI Congresso UIA 2002 | Berlim
2002 XXI UIA Congress 2002 | Berlin
2003 Habitar Portugal 2000-2002
2003 Habitar Portugal 2000-2002
2005 Descontinuidade | S. Paulo
2005 Descontinuidade | S. Paulo
2006 Biennale di Architettura di Venezia | Venezia
2006 Biennale di Architettura di Venezia | Venice
2006 Habitar Portugal 2003-2005
2006 Habitar Portugal 2003-2005
2007 I Trienal de Arquitectura de Lisboa | Lisboa
2007 I Trienal de Arquitectura de Lisboa | Lisbon
2008 Expo Zaragoza 21 | Zaragoza
2008 Expo Zaragoza 21 | Saragossa
2009 Habitar Portugal 2006-2008
2009 Habitar Portugal 2006-2008
Belém Lima agradece a todos os que permitiram concluir estas obras, os clientes, todos os arquitectos colaboradores ao longo de anos, os engenheiros e os construtores e seus operários. Um agradecimento ainda a todos os que contribuíram para este livro, os sponsors, a Uzina Books e de um modo especial o editor, o fotógrafo, os que escreveram e o designer gráfico.
Belém Lima would like to thank all those who made it possible to complete these projects, his clients, all the architects with whom he has worked over the years, the building contractors and their workers. He would also like to thank all the people who contributed to this book, the sponsors, Uzina Books and in particular the editor, the photographer, the authors of the texts and the graphic designer.