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Por JúniorAlmeida

O despertador tocou às oito da manhã. Era 25 de dezembro. Era natal. Eu não queria levantar da cama e, principalmente, sair de baixo das cobertas, mas eu precisava. Levantei e fui até a janela, abri e apreciei a vista. Estava nevando um pouco e a neve já cobria praticamente todo o gramado da Academia, fazendo-o parecer um enorme tapete branco com alguns pontos ainda verdes. Alguns novatos já estavam lá fora aproveitando o recesso de natal, mas a maioria tinha voltado pra casa para ficar com a família. Saí da janela e me virei, meu quarto estava uma verdadeira bagunça, então comecei a arrumá-lo antes de descer para o café da manhã. Assim que terminei a arrumação, fui puxada para a mente de Lissa. Ela estava andando pelos corredores dos dormitórios, mas não eram os dormitórios dos Moroi, eram os dos Dhampir. Aparentemente Lissa estava vindo me ver. Ela segurava dois presentes nos braços, um grande e um pequeno, quando chegou a frente ao meu quarto ela os colocou no chão, e quando ela estava prestes a bater a porta, eu voltei a mim. Antes da primeira batida, eu saí da minha cama e a abri a porta. - Como você...? Ah, tá, a ligação. Acho que nunca vou me acostumar com isso – disse ela, se abaixando, pegando os presentes do chão e colocando de volta nos braços. - Tem certeza que é você quem nunca vai se acostumar? – Eu disse levantando uma sobrancelha. – Bem, pode entrar. Lissa entrou, estendeu os braços com os presentes na minha direção e disse sorrindo: - Feliz Natal! - Nossa, dois presentes?! Obrigada, Liss – eu disse surpresa pegando os presentes e colocando sobre minha cama. - Na verdade só um é meu, o outro é de Christian – ela me disse, parecendo que queria esconder um sorriso.


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- Christian Ozera? O Senhor do Submundo, me dando um presente de natal? Ele quer minha alma em troca? – Disse, fingindo espanto. - Rose! – Repreendeu Lissa. Começamos a rir. O fato de Christian me dar um presente de natal era engraçado, porém, mais engraçado ainda era o fato de que eu tinha um presente pra ele também. - Bom, vamos aos presentes então! – Eu disse, me sentando na cama e começando a abrir os presentes que acabara de ganhar. O presente grande era o de Lissa. O pacote era retangular e um pouco pesado, estava embrulhado em um papel de presente preto com estampas de flores vermelhas. Quando tirei o embrulho... Caramba! O presente de Lissa para mim era um Macbook da Apple e, de acordo com a caixa, ele era o mais moderno. - Liss, você não precis... -... “Você não precisava comprar isso” – ela me interrompeu imitando a minha voz (eu esperava não soar assim quando falava) –, eu sei, mas você precisa, Rose. É pra te ajudar com seus deveres de casa e você esqueceu seu antigo notebook na faculdade quando voltamos pra cá, lembra? Era verdade, isso fazia tanto tempo que eu nem lembrava, mas Lissa sim. Nerd como sempre, ela também pensava na minha educação, além de pensar na dela, claro. Uma vez, ela tirou uma copia do livro dela sobre história escandinava e me deu, só porque eu tinha perdido o meu. - Está bem! Você iria me obrigar a usar de qualquer forma – eu disse. - Ótimo! Agora abra o de Christian – ela disse apontando para o pacote menor que estava no meu colo. O presente de Christian estava embrulhado em um papel rosa berrante com estrelas douradas estampadas, e eu desconfiava que ele tivesse escolhido esse papel de propósito. Depois que tirei o embrulho, vi que o presente era uma caixinha – daquelas onde geralmente vêm anéis – e quando a abri fiquei sem palavras. Christian me deu um broche. Ele tinha um formato de estrela e em cada ponta dela havia uma pequena pedra azul, no meio do broche havia uma letra “O” cravada no metal. - Nossa... Eu nem sei o que dizer – eu disse, realmente sem ação.


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- Não diga nada, só aceite – disse Lissa, fechando minha mão contra o broche. – Christian disse que os Ozera dão esses broches para os guardiões da família. - Mas eu não vou ser guardiã dele. - Verdade, mas você vai ser a minha guardiã e foi por isso que ele te deu esse broche. Christian me dando um broche de família... Essa atitude me deixou realmente sem palavras e, eu não podia negar, emocionada também. - Bem, agora é a sua vez – eu disse para ela. Fui até a minha cômoda, onde eu tinha deixado os presentes e peguei o de Lissa. – Eu espero que goste. Ela pegou o pacote e o abriu e, em menos de alguns segundos, Lissa começou a chorar. O meu presente pra era um colar com pingente em formato de coração que podia se abrir em duas partes e dentro havia duas fotos, uma dos pais de Lissa de um lado e uma dela com o seu irmão, André, do outro. - Rose... Eu... Foi o melhor presente que já ganhei – ela disse em meio ao choro e me abraçou. - Não foi nada, Liss. - Rose, eu amei, de verdade – disse Lissa, enxugando as lágrimas ao me soltar. - Agora vamos tomar café. Toda essa coisa sentimental me deixou com fome – eu falei. – Ah, quase esqueci, o presente de Christian! –Fui até a cômoda novamente e peguei o presente. Agora só restava um. O de Dimitri. Quando chegamos ao refeitório Christian já estava lá nos esperando. Eu tinha levado o presente para entregar a ele. - Vocês demoraram. Rose não estava conseguindo amarrar os cadarços? – Ele resmungou para Lissa. - Nossa, se eu estivesse na 4ª série eu ficaria muito magoada com esse comentário – eu rebati. Nós sempre fazíamos isso. Era tão natural quanto respirar. – Não, sério, eu queria agradecer pelo presente. Foi muito gentil você ter me dado algo que pertence a sua família. - Eu preferiria que você dissesse isso ajoelhada aos meus pés, mas okay, só tenha cuidado – ironizou ele. Se outra pessoa tivesse falado comigo desse jeito eu teria sido bem mal educada, mas era Christian e, por mais que a gente adorasse irritar um ao outro, eu gostava dele.


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- Sua simpatia é contagiante, senhor Ozera – eu disse, fingindo estar comovida. – Agora pegue o seu presente, feliz natal! – Eu falei pegando o presente e entregando a ele. - É uma bomba? – Perguntou ele. - Christian, por favor! – Lissa o repreendeu. Ele desembrulhou o presente e ficou olhando pra ele. Era um porta-retratos com uma foto dele e Lissa juntos. Uma vez, quando fui até o quarto de Christian, para falar com Lissa, percebi que só aviam duas fotos lá, uma dos pais dele e outra de sua tia Tasha, mas nenhuma com a Lissa. Então achei que uma foto deles dois juntos seria um bom presente, já que Christian não ligava muito pra coisas materiais. - É... Hum... Obrigado, Rose – Agradeceu ele. Por um segundo pareceu que ele iria sorrir, mas ele era Christian Ozera e não me daria uma oportunidade para irritá-lo. - Droga, pensei que você fosse chorar! – Brinquei. - Não hoje, Hathaway – retrucou, Christian. - Okay, depois dessas demonstrações de carinho e amizade, podemos nos servir? – Sugeriu Lissa. Nós nos servimos e depois voltamos à mesa, Lissa e Christian sentando opostos a mim. Quando estávamos quase acabando de comer Lissa disse: - Bem, acho que já posso dizer. - Dizer o quê? – Christian e eu perguntamos ao mesmo tempo. - Hoje vamos ter uma ceia de natal particular. – disse ela. - O que você quer dizer com “particular”? – Perguntou Christian. - Sim, uma ceia de natal. Já falei com Kirova e ela permitiu usássemos a cabana na floresta. - Só nós três vamos participar? – Eu perguntei. - Não, também convidei guardião Belikov e... – Lissa foi interrompida. -... Eu! – disse Adrian Ivashkov se sentando à mesa, também oposto a mim. – Você não acha que eu recusaria um convite da princesa não é, pequena Dhampir? - Sim, Adrian também – confirmou Lissa. - Você não tem nada melhor pra fazer? – Perguntei a Adrian.


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- Caramba, isso machuca. Mas é como dizem, o amor machucar, não é? – disse ele olhando pra mim e passando a mão no seu típico cabelo despenteado. Dimitri participando de uma ceia de natal com adolescentes. Isso era no mínimo improvável, não que eu esteja reclamando, é claro. Passar o natal junto com ele seria ótimo. - Agora que já estamos entendidos, vou voltar pro meu quarto e começar os preparativos. Até a noite – Lissa disse se levantando da mesa, Christian a seguindo. - Somos só nós dois agora, Rose – disse Adrian. - Eu não poderia estar mais feliz – eu disse, dando um sorriso amarelo. - Bem, eu tenho um desafio pra você: escolha um número de um a cinco. Eu não entendi o pedido, mas se tratando de Adrian Ivashkov, poderia se tratar de algo bom ou ruim. - Cinco. Por quê? – Eu respondi. - Até mais tarde, pequena Dhampir – disse Adrian se levantando e saindo do refeitório. Eu podia jurar que o vi sorrindo quando ele virou as costas e foi embora. Quando voltei para o meu quarto, reparei que em cima da minha cama havia um pacote pequeno e quadrado, embrulhado com papel de presente prateado e um cartão grudado nele. Peguei o cartão para lê-lo e ele dizia:

“Não tinha chaminé no seu quarto, então eu entrei pela porta mesmo. Feliz natal, pequena Dhampir. A.I.” Adrian. Ele deve ter entrado no meu quarto depois que eu Lissa saímos. Eu e minha mania de não trancar a porta... Mas Adrian já tinha entrado no meu quarto e não havia mais nada que eu poderia fazer quanto a isso, a não ser abrir o presente que eu acabara de ganhar dele. O presente de Adrian para mim era um perfume. O frasco era quadrado com um líquido âmbar dentro. Eu experimentei um pouco do perfume no meu pescoço e o aroma era ótimo. Enfim, deixei o presente de Adrian de lado e comecei a me arrumar para a ceia. ***


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Quando cheguei à cabana todos já estavam lá, inclusive Dimitri. Meu coração acelerou assim que o vi e eu fiquei parada na soleira da porta, porém Lissa me tirou do meu quase transe dizendo: - Rose, você está bem? - Oh, sim, eu estou – eu disse. - Então entre! Vamos começar a ceia! – Disse Lissa me puxando pelo braço. A noite foi maravilhosa. Conversamos e rimos a noite inteira, sem falar na comida, que estava ótima também. Contudo, infelizmente, a noite havia acabado e todos tinham que voltar para seus dormitórios. - Espero que todos tenham gostado! – Lissa disse. - Eu adorei, nem os jantares da realeza seriam tão divertidos – disse Adrian. - Fiquei muito lisonjeado com o convite, senhorita Dragomir – Agradeceu Dimitri. - Eu é que agradeço! – Lissa disse sorrindo. - Agora, vamos voltar para nossas criptas. Boa noite a todos – se despediu Adrian. Depois que Lissa, Christian e Adrian foram para os dormitórios Moroi, só eu e Dimitri ficamos no local e eu disse. - Vamos, camarada? - Vamos, antes que eu me esqueça, não me chame de “camarada” – disse Dimitri. – Você ainda vai dar um presente pra alguém? – Ele perguntou, olhando o embrulho que eu segurava. Eu tinha trazido o presente de Dimitri comigo, mas me esqueci completamente de entregar a ele – o que foi bom, já que Christian, Lissa e Adrian estavam junto com a gente. O presente era um livro chamado “Caçadores de Recompensas” e falava sobre o velho oeste, bang-bang e toda aquela velharia que Dimitri gostava. Ah, é, eu esqueci! Isso é pra você. Feliz Natal. – eu falei entregando o presente para Dimitri. Ele pegou e presente e o desembrulhou, porém, havia algo errado, Dimitri ficou apenas encarando a capa do livro. Será que ele não tinha gostado? Eu teria comprado o livro errado? Não tinha como. Dimitri sempre falava desse livro, eu não poderia ter errado. Antes que ele falasse algo, eu me apressei em perguntar:


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- O que foi? Você não gostou? Se não for esse livro, eu posso trocar por outro e... Não consegui completar a frase porque Dimitri tinha me puxado pela cintura e me beijado. E que beijo. Enquanto ele me beijava era como se estivéssemos em pleno verão, porque uma onda de calor tomou todo meu corpo. Todo o frio que eu sentia tinha sumido e parecia que a neve ao nosso redor derreteria a qualquer momento. Se um sorriso de Dimitri seria o melhor presente de natal que eu poderia ganhar, um beijo dele era como ganhar na loteria sozinha. Porém, infelizmente, ele me soltou e disse: - Eu adorei o presente, muito obrigado, Rose – ele disse passando a mão pelo meu rosto. - Tem mais algum presente que você queira? Eu perguntei ainda sem fôlego. - Na verdade tem sim – ele me puxou pela cintura de novo. – Feliz natal, Roza – Dimitri sussurrou em meu ouvido e depois me beijou novamente. Eu jamais esqueceria aquele natal.


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