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Por Victoria Holtz

Meus olhos rapidamente varreram o local, o vento uivava fortemente, meus cabelos batiam em meu rosto e voavam em um ritmo próprio enquanto um olhar negro e misterioso me encarava, mesmo de olhos fechados eu sentia o seu olhar arder em mim, em minha face. − Quem está ai? – sussurrei na noite. No alto, as nuvens flutuavam com um peso incomum, os galhos dos carvalhos brancos se vergastavam loucamente, uma lufada quase me atingira com um punhado de folhas. Era como se alguém estivesse me dizendo que não era bem-vinda neste lugar. O luar lançava sombras estranhas e havia uma escuridão impenetrável por toda parte. O vento gelado açoitava meus cabelos. O olhar continuava ardente, mas agora concentrava em meu rosto, ou mais especificamente em meus olhos. Dei um breve passo para trás, meu olhos se focaram em um estranho saindo de trás das lápides, andando calmamente em minha direção, virei-me e inclinei para frente. − Shiu. – uma mão tampava minha boca. – Não irei lhe machucar. – O que você quer de mim? – perguntei ao me soltar. – Em breve. – sussurrou ele. Seu rosto era tampado por um capuz que se lhe estendia por um manto. – Agora feche os olhos, eu estarei lá quando... De repente o olhar dele não era mais ardente, era algo gélido e frio, meus olhos foram tomados por uma escuridão e a necessidade de respirar se tornou sufocante. – Filho, se esconda rápido. – Mãe, eu... – Não, não podemos parar agora. Uma mulher, de cabelos negros, rosto pálido e olhos azuis, corria junto a um garoto por um túnel escuro e gelado. O garoto aparentava ter cinco ou seis anos, tinha


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os olhos de um profundo azul cristalino, sua pele era uma palidez incomum, tão parecido com sua mãe. Eles arfavam correndo pelo túnel. – Chris venha, entre ali dentro e só saia quando eu vir lhe buscar. –disse a mulher se agachando ficando na altura do garotinho e apontou para uma entrada pequena que até o garoto – Chris – teria alguma dificuldade em entrar. – Ok. – sussurrou o garotinho com medo. – Eu... cuida-se, eu prometo vir te buscar. A mulher depositou um beijo na testa dele, levantou-se e virou as costas, correndo de volta. Assustado o garoto entrou por aquele buraco. Ali era pequeno, mas para ele era até espaçoso. Ficou ali por horas ou minutos, ele – eu – não sabia, encarando uma poça feita por pingos de água e esperando esperançoso que a mãe dele voltasse para busca-lo. Ao longe, começou a ouvir um grito agonizante, não sabia o que era e muito menos de quem era. – Chris? Ouviu sua mãe chamando e saiu dali indo ao encontro dela. O medo havia sumido dele, agora a felicidade o dominava e seus olhos expressavam-na. A abraçou fortemente e esperou ser abraçado de volta, porém não aconteceu. – Me perdoe. – murmurou a mulher e gravou os dentes no pescoço do garoto. – MÃE?! – MÃE?! – reproduzi o grito agoniado daquele garoto. Acordei suando e assustado. Sempre tinha sonhos assim, eu sonhara novamente a mesma coisa, eu e o homem misterioso em algum lugar parecido com um cemitério e com o garoto. Quem era ele? Chris era o nome dele, mas seria Christian Ozera? –Pensei que não fosse mais acordar. – Rose... Quando foi que entrou? – Eu ia lhe acordar. Já passam das dez horas e você ainda estava dormindo. – disse Rose, minha protetora. – Fui dormir tarde, estava sem sono. Sentei na cama, Rose quase automaticamente sentou-se na cama, exatamente onde minhas pernas estava há alguns segundos.


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– Não vai levantar? Hoje é a véspera para Natal e você não comprou nada para o seu “querido Chris”, Lissa. – sim, ela fez aspas com a mão. – Ciúmes Rose? – brinquei, eu devia esquecer aqueles sonhos, talvez pensar neles mais tarde. – Eu? Claro que não. Levante, vamos! Eu quero comprar algo para Dimitri e para você, caso você não queira comprar nada para ele e nem para ninguém, mas você vai me acompanhar. – Ok. Levantei-me e fui direto para o banheiro. Mesmo meu elemento não sendo a água, ela me acalmava de uma maneira incontestável. Ao tomar banho, eu me sentia melhor e havia deixado de lado os sonhos que tivera, quase os esquecendo. Escolhi as roupas que vi primeiro, me vesti. Rose me esperava ainda sentada na cama, mas agora com um livro na mão. Pela capa o reconheci como meu. – Ainda não sei como gosta de certos livros. – Nós vamos às “compras” ou vamos discutir meu gosto para a leitura? – Vamos logo comer algo, antes que eu mude de companheira, Lissa. – e revirou os olhos.

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– ATENÇÃO! – e lá estava o Diretor. Em cima de um palco segurando um microfone estava o Diretor de St. Vladimir no salão. Hoje estava com uma capa que por pouco não relava no chão, em um terno e uma gravata vermelho sangue. Os garotos de St. Vladimir não estavam diferente dele. Todos com terno, porém sem a capa e cada um possui uma gravata vermelha de cor diferente. Christian estava com um terno preto, lindo devo dizer, com uma gravata vermelha quase tão sangue quanto o diretor. Já Dimitri estava com um terno cinza escuro e com uma gravata vermelha clara. Rose estava com um vestido vermelho sangue, ele ia até as metades de suas coxas e era fechado em cima, com uma manga de renda e aberto nas costas, também estava com um salto alto vermelho e que possui um leve toque de renda.


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Eu estava vestindo um vestido preto que ia até meus pés e com mangas, as costas toda dele era de renda fina, e a partir da metade de minha coxa possuía um corte que ia até o final do comprimento. E calçava um salto alto preto com as costas vermelhas. – Como todos sabem, amanhã é o Natal e é uma tradição fazermos uma festa na véspera. Os que estão a tempo conosco já sabem, já os que estão recentemente... – começou seu discurso que fazia todo ano. Era entediante ouvir o mesmo discurso todos os anos. - ... agora troquem os presentes, antes da grande contagem. – Eu ainda irei fazer um discurso para ele e lhe dar de presente no Natal. – sussurrou Chris em meu ouvido, para apenas eu ouvi-lo. Ri e ele me acompanhou. – Parece que não querem dividir a piada. – murmurou Dimitri. – Com certeza não. – concordou Rose. – Christian apenas disse que qualquer ano dá um discurso novo para o Diretor. – contei-lhes. – Eu apoiaria essa ideia. – concordou Dimitri rindo e Rose o acompanhando. – Agora vamos trocar os presentes. – disse Rose. Por seus olhos passaram um misto de alegria e surpresa, mas logo sumiram. Ela era minha melhor amiga desde, bem desde que me trouxe a St. Vladimir. Sempre era alegre e poucas coisas as deixava triste. – Lissa, este é o seu. – Rose me entregou dois embrulhos vermelhos. – Este o seu, Christian. – entregou dois embrulhos pretos a Chris. – E este o seu, Dimitri. – falou entregando um embrulho cinza a Dimitri e pegou um vermelho claro. – São meu e de Dimitri. Todos abrimos os embrulhos. Fiquei surpresa a ver que era os dois novos livros da coleção “The Mortal Instruments”. Obrigada, sussurrei ao abraçar Rose e Dimitri os agradecendo. Christian ganhou um relógio bonito e uma camisa preta com o símbolo de St Vladimir e agradeceu eles. Dimitri, por sua vez, ganhou uma nova jaqueta de couro e Rose, um vestido preto comprido com as costas descobertas. – Er... Rose, - entreguei um embrulho a ela. – Dimitri. – entreguei lhe outro embrulho. – E o seu, Chris. Espero que gostem. Rose me abraçou forte ao constatar que lhe dei um sapato da nova coleção da Channel. Dimitri agradeceu pela nova camisa preta com alguns detalhes em branco e


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disse que iria usar com o jaqueta em breve. Christian olhava o novo sapato admirado e me agradeceu com um beijo na testa. – Acho que agora é a minha vez. Dimitri e Rose. – entregou um embrulho para cada um. – Esse é para você, Lissa. – me entregou um embrulho pequeno e branco com uma fita preta. Abri o embrulho e sorri. Era um colar com um pingente em forma de coração, atrás de dele estava escrito “Lissa”. O abracei e o agradeci. Rose ganhou uma pulseira de prata e agradeceu. Dimitri ganhou um relógio e o agradeceu. – Coloca em mim. – pedi para Christian. Seus dedos pegaram o colar da minha mão, colocou meu cabelo para o lado e com gentileza, colocou o colar ali. Toquei o pingente novamente, senti um beijo gélido em minha nuca e depois meu cabelo cobrindo. – Venha comigo. – Christian sussurrou em meu ouvido. – Já volto. – avisei Rose e ela assentiu começando a dançar com Dimitri ao som da música baixa que tocava. Segurei a mão de Christian e ele a segurou. Passamos pelas pessoas até estar fora do salão. Chris continuava a me puxar por um corredor e mais outro, até subirmos algumas escadas e passar por outros corredores. Estávamos numa sacada em algum lugar da St Vladimir. O lugar era lindo, apesar de alto, dava para ver além do bosque perto. O céu estava com lindas estrelas e a lua estava alta, refletindo toda sua beleza. – Aqui é lindo. – murmurei. – É sim. – Christian me abraçou por atrás e eu encostei minha cabeça nele. Passamos alguns minutos olhando para a nossa vista, a apreciando, até que ouvimos uma contagem ao longe. NOVE. OITO. SETE. SEIS. CINCO. QUATRO. TRÊS. DOIS. UM. FELIZ NATAL. – Feliz Natal. – dizemos juntos. –Eu te amo. – sussurrou Christian e me beijou. *** 25 de Dezembro Querido diário, Faz um tempo que não escrevo aqui, acho que desde a morte de meus pais. Ultimamente tem acontecido tantas coisas, há tanto para lhe contar... Agora são aproximadamente quatro e meia da manhã e ainda estou acordada com o sol quase nascendo. Porém meus sonhos bons tem sumido e tenho alguns sonhos estranhos e outros perturbadores na verdade. Sempre com um homem misterioso – que apesar de nunca tê-lo visto –, é bonito, sempre estamos em algum lugar escuro e assustador como um cemitério. E toda vez, ele se aproxima, mas nunca me conta quem é. Também tenho sonhos com um garoto que aparenta ter cinco ou seis anos. Alguns são felizes, outros tristes. Mas sempre acordo gritando e suando.


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Isso não é o que tenho mais de importante para lhe contar. Ontem em especial, foi... perfeito. Para você entender, hoje é o Natal. Então, ontem foi a véspera. Todos nós – eu, Rose, Dimitri e Christian – compramos presentes para fazermos a troca deles, à noite no salão. O salão estava lindo, tão bem decorado. Rose e Dimitri estavam lindos, Rose com um vestido vermelho aberto nas costas e Dimitri com um terno cinza escuro e uma gravata vermelha claro. Aliás, eles me deram os dois novos livros da coleção de “The Mortal Instruments” como presente. Ahh e Christian... ele estava lindo. Com um terno preto que parecia ter sido feito especialmente para ele e uma gravata sangue, combinando com seu sapato preto recém-comprado. Sabe, cada dia que passa me sinto mais apaixonada por ele. Ele me faz sentir viva, me faz ver que ainda posso conseguir ser feliz, ele me faz tão bem. Talvez eu esteja pirando, mas... Christian me lembra tanto o pequeno garoto nos meus sonhos e eu tenho medo de que isso seja ruim. Mas o que pode acontecer de ruim? Agora que eu estou feliz... Será possível... ser ele?


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