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Alto São Martinho (São Martinho

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4 Ano Novo

4 Ano Novo

Padre Wilhelm Friedrich Clemens Röer nasceu no dia 29 de setembro de 1822, numa abastada família burguesa residente na cidade de Münster. Seu pai, Dr. Franz Röer, era médico e sua mãe chamava-se Sophia Honthumb. Depois de terminados os estudos no Gymnasium Paulinum em 1838, estudou teologia, sendo ordenado sacerdote no dia 19 de agosto de 1848 na Catedral de Münster, onde também celebrou sua Primeira Missa. Após a ordenação, trabalhou em Warendorf assumindo uma capelania que ele havia recebido em herança. Em novembro de 1860 abdicou de todos os cargos e vida confortável em sua terra natal e foi trabalhar como missionário entre os imigrantes, seus conterrâneos, em Santa Catarina. Sua sede era em Teresópolis. Foi o fundador de São Ludgero, onde passava meses atendendo os colonos. Faleceu em Porto Alegre no dia 8 de outubro de 1891.

No livro dos registros de batismo de Teresópolis consta que, em 1873, Padre Röer atendeu pela primeira vez a comunidade de São Martinho. Nessa ocasião realizou 10 batizados. A partir de então, atendeu regularmente esta comunidade enquanto as forças lhe permitiram cavalgar pelas picadas. Em novembro de 1887, passou pela última vez pelo vale do Capivari ao dirigir-se de São Ludgero a Teresópolis. Já idoso e sem forças para as longas viagens, retirou-se para a Santa Casa de Porto Alegre – RS, falecendo no dia 8 de outubro de 1891. Foi sepultado no cemitério de São José em Porto Alegre.

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O jornal Münsterischer Anzeiger, ao noticiar o falecimento do missionário, expressou-se nos seguintes termos:

Padre Röer deixou sua pátria para ir em socorro de seus conterrâneos alemães no “selvagem Brasil” (assim costumava ele denominar esta terra). Ele cumpriu seu difícil chamado com autêntico zelo apostólico e com genuína

oblação sacerdotal. Sem poupar esforços nem temer perigos, trabalhou por quase 30 anos como cura d’almas junto aos alemães desamparados, numa região tão extensa que para percorrê-la eram necessários mais de cinco dias de viagem. O fato de os emigrantes alemães especialmente da Vestfália, do Reno e do Mosela que se mudaram para o Brasil e se estabeleceram no Estado de Santa Catarina, nos vales do Cubatão, Capivari e Braço do Norte, terem permanecido tão fi éis católicos, eles o devem, depois de Deus, quase que unicamente ao incansável trabalho desse extraordinário sacerdote. Com imensa gratidão eles reconhecem os méritos do seu “bom padre Röer” e dele sempre falam com grande estima e grato amor.5

Depois de Padre Röer, a região de São Martinho foi atendida por muitos anos pelos padres franciscanos sediados em Teresópolis. Entre estes, destacam-se, de modo especial, Frei Xisto Meiwes e Frei Zeno Wallbröhl.6

Em todas as comunidades encontra-se, ao lado da igreja, o cemitério. Os colonos sempre demonstraram grande respeito e veneração pelos ancestrais. Não veneravam os mortos por magia ou superstição, no sentido de acreditar na presença de seus espíritos ou auxílio, mas por respeito às tradições familiares. Mesmo vivendo sem grandes recursos fi nanceiros e isolados entre as montanhas e fl orestas, conseguiram edifi car belos túmulos para perpetuar a memória dos entes queridos7 . Chama à atenção a disposição dos túmulos que em todos os cemitérios estão voltados em direção ao sol nascente para signifi car que, os que jazem nos túmulos, aguardam a ressurreição de Cristo simbolizado pelo sol nascente.

5 Münsterischer Anzeiger, 1.12.1891, nº 325. 6 Graças ao trabalho vocacional desenvolvido pelos freis franciscanos, surgiram em São

Martinho as primeiras vocações religiosas. Os registros indicam, entre outros, 1) Frei

Mateus Hoepers (*31.10.1898 – †29.3.1983) ordenado no dia 6.3.1921; 2) Frei Alberto

Preis (*18.8.1896 – †21.7.1958) ordenado no dia 19.12.1925; 3) Frei Alberto Schroeder (*9.10.1898 – †7.11.1970) ordenado no dia 17.1.1932, (Deixou a Ordem em 20.8.1945); 4)

Frei Beno Sehnem [Diácono] (*18.4.1911 – †6.3.1935). 5) Frei João Evangelista Steiner (*7.12.1920 – †1.1.1999). Celebrou primícia em São Martinho dia 3.7.1955. 7 A maioria dos túmulos mais antigos e mais bonitos foram construídos por Joseph Epping, morador em Santa Maria.

Alto São Martinho (São Martinho)

O primeiro núcleo colonial germânico que se formou no Baixo Capivari recebeu como padroeiro São Martinho.8 A devoção a este santo era muito difundida em toda a Alemanha católica. Na diocese de Münster, donde veio grande número de imigrantes, existem pelo menos 21 igrejas dedicadas a este santo. Todavia, ao que tudo indica, foram imigrantes provenientes do Hunsrück que trouxeram, na bagagem de sua devoção, o padroeiro São Martinho.9

Em 28 de setembro de 1873, Padre Guilherme Röer fez a primeira visita aos fi éis em São Martinho. O relatório do agrimensor Carlos Othon Schlappal, de dezembro de 1873, dá a entender que naquela data ainda não havia capela, pois os fi éis pleitearam ao engenheiro a doação de uma área para construir a igreja. Na divisão das terras sobrara uma área em forma de triângulo que, segundo o agrimensor, “constitui ainda um lote regularmente bom, está devoluto. Pretendem os colonos católicos do lugar, requerer, segundo consta, uma parte desse triângulo sufi ciente para edifi cação de Igreja, casa para escola e logradouro público”.10 Pode-se supor que, por ocasião da visita do padre, algum colono tenha colocado à disposição sua residência para a celebração dos ofícios religiosos. Imaginamos a alegria que pervadiu a alma dos fi éis ali reunidos para acolher pela primeira vez o ministro de Deus. Que sentimentos terá vivido o zeloso sacerdote ao ser recebido com fé radiante por estes colonos vindos de todas as picadas e clareiras das matas para recepcionar calorosamente seu pastor! Por ocasião desta visita houve 10 batizados que foram os seguintes:11

8 São Martinho de Tours nasceu por volta de 316 na Hungria. Seu pai era soldado e com ele Martinho veio ainda criança para Pavia (Itália). Embora o pai fosse pagão, Martinho recebeu formação cristã. Tornou-se também soldado. Foi batizado aos 18 anos. Trabalhou como soldado na Gália (França) onde, certa ocasião de inverno, repartiu com um pobre a metade de seu manto. Mais tarde foi nomeado bispo de Tours, onde faleceu no dia 8 de novembro de 396. Sua festa é comemorada no dia 11 de novembro, dia em que foi sepultado. 9 São Martinho é o padroeiro da Igreja matriz de Briedel, situada na margem direita do rio Mosela. É a cidade natal do imigrante Mathias Joseph Back cujos fi lhos estão entre os pioneiros de São Martinho do Capivari. 10 Ofícios. Pres. P. Eng. 1873. p. 245-258. Arquivo Público do Estado de Santa Catarina. 11 Livro de batismo de Teresópolis, nº 01.

Nome Nascimento Pai e Mãe Avós paternos Avós maternos AUGUST 18.3.1873 Werner Scho en Augusta Üssler Peter Scho en Catharina Müller Nathanael Üssler Amália Weck JOHANNES 4.2.1873 Hermann Berkenbrock Elisabeth Schmöller Bernard Berkenbrock Maria Cath. Kremer Anton Schmöller Francisca Kestering

GERHARD 27.7.1873 Bernard Ricken Gertrud Havero Johann Ricken Agatha Dirkes Johann Haveroth Catharina Nienhaus

HEINRICH 23.12.1872 Bernard Warmeling Francisca Heidemann Bernard Warmeling Catharina Hunke Theodor Heidemann Catharina Burbrinker

MARIA 6.6.1873 Bernard E ing Anna Heidemann MARIA 14.2.1873 Mathias May Elisabeth Hoepers MARIA 17.5.1873 Heinrich Eyng Elisabeth Gesing MARIA 3.6.1873 Johann Borgert Elisabeth Schwenlein BERNARD 27.7.1873 Carl Holthausen Emma Feuser CLARA 9.1.1873 Philipp Joseph Arns Maria Michels Heinrich E ing Clara Pöpper Jacob May Maria Trös Hermann Eyng Dina Laukamp Hermann Borgert Anna Cath. Kühlkamp Wilhelm Holthausen Johanna Bongard Nikolaus Arns Margaretha Simonis Theodor Heidemann Catharina Burbrinker Heinrich Hoepers Anna Specking Bernard Gesing Theresia Locks Peter Schwemlein Gertrud Wendholt Bernard Feuser Carolina Müller Mathias Michels Catharina Britz

Estes são, ofi cialmente, os primeiros cidadãos de São Martinho, pois o batismo valia também como registro de nascimento.

A maior difi culdade era o atendimento espiritual. Duas ou três vezes por ano vinha, de Teresópolis, a cavalo, pelas picadas mato afora, o Padre Guilherme Röer para visitar as capelas do Vale do Capivari. Este heroico e abnegado sacerdote dava aos fi éis ocasião de se confessarem, batizarem e casarem. Mas, o que fazer quando alguém fi cava doente e queria o viático estando o padre a três dias de distância? Por mais de 20 anos o Padre Guilherme Röer atendeu os colonos do Capivari. Debilitado, retirou-se para Porto Alegre, onde faleceu em 1891. Neste mesmo ano chegaram a Santa Catarina os missionários franciscanos, também da Vestfália, e se instalaram em Teresópolis dando continuidade aos trabalhos de Padre Röer na assistência espiritual aos colonos do Vale do Capivari.

Pouco se sabe da organização religiosa de São Martinho nos primeiros anos. Segundo a tradição das pessoas mais idosas, a comunidade construiu primeiro uma simples choupana onde os colonos se reuniam aos domingos e dias santos.12 Philipp Joseph Arns “puxava”

12 Não há notícias precisas a respeito da primeira capela de São Martinho. A antiguidade dos primeiros túmulos do cemitério ao lado da atual capela sugere já existir um oratório no lugar da atual capela inaugurada no dia 4 de dezembro de 1900. A sepultura

a reza, chamada pelos colonos de Andacht. O livro usado para esta reza era o Goffi ne, fornecido pela diocese de Münster e introduzido no curato de Teresópolis pelo Padre Röer. Como diz o título, um “livro de instrução e edifi cação espiritual” com lições sobre a fé e os costumes. Bastante volumoso, o livro continha lições explicativas de trechos da bíblia para os domingos e dias santos. Seu conteúdo era, sem dúvida, o principal alimento espiritual com que os fi éis se abasteciam todos os domingos e se mantinham fi rmes na fé e nos costumes trazidos da pátria distante e enraizados na moral cristã.

À medida que as famílias foram crescendo e se fortalecendo economicamente, construíram uma igreja de material, inaugurada no dia 4 de dezembro de 1900. É a capela que ainda está em uso. No decorrer do tempo foram feitos apenas alguns acréscimos e reparos, como a torre e a sacristia. Em ambos os lados da capela há um cemitério, ainda em uso. Anterior a este, havia dois outros: o mais antigo de todos, com umas seis sepulturas, fi cava numa pequena vargem aproximadamente dois quilômetros rio acima,13 e o outro (dos evangélicos luteranos), também com poucas sepulturas, fi cava aproximadamente dois quilômetros abaixo da capela, ambos na margem esquerda do rio Capivari. Destes dois cemitérios não há mais vestígios.

O abnegado Padre Guilherme Röer não teve as mínimas condições para dar uma formação religiosa mais completa aos colonos, pois estava sozinho no atendimento aos fi éis de Teresópolis, Vale do Capivari, São Ludgero/Braço do Norte e por muito tempo da paróquia de São Pedro de Alcântara. No entanto, a visita do padre, ainda que esporádica, era ocasião privilegiada para ministrar os sacramentos, instruir os fi éis sobre as verdades básicas da religião, ministrar aulas de catecismo e visitar algum enfermo. Não era o ideal, mas o possível naquelas circunstâncias. Era sufi ciente para manter viva a fé e as práticas religiosas

mais antiga ainda preservada é a de Johann Esser, nascido no dia 24.1.1830 e falecido no dia 15.7.1880. Quando os colonos conseguiram do agrimensor o terreno que eles pleitearam para uma casa de oração, tomaram posse do mesmo construindo o cemitério e, provavelmente, também uma capela. É compreensível que a primeira capela fosse uma construção rústica, talvez de madeira ou, o que é mais provável, de tijolos à vista com armação de madeira. 13 O primeiro cemitério (hoje abandonado) fi cava aproximadamente dois quilômetros acima da capela, e é anterior a 1872, pois o agrimensor Friedrich Von Schoeler, ao medir as terras do Baixo Capivari, registrou-o em seu croqui.

dos colonos. Quando os padres franciscanos chegaram a Teresópolis, logo perceberam a necessidade de um atendimento mais completo e organizaram missões populares nas comunidades mais distantes. Em 1901, Frei Zeno Wallbröhl14 OFM pregou Missão em língua alemã nas capelas do Vale do Capivari. Em São Martinho a Missão aconteceu nos dias 26 de agosto a 1º de setembro.

Outro acontecimento importante na vida religiosa de São Lembrança da Missão, de 26 de agosto a 1º Martinho foi a visita pastoral de de setembro de 1901. Pregada por Frei Zeno Dom José de Camargo Barros, Wallbröhl Fr. OFM bispo da diocese de Curitiba, a que estava jurisdicionada toda a Igreja Católica de Santa Catarina, pois ainda não havia sido criada a diocese de Florianópolis. Por ocasião da visita, em 7 de agosto de 1902, houve 131 crismas. Se o número de crismas parece elevado, deve-se tomar em consideração que, por ocasião da visita do bispo, os fi éis das comunidades vizinhas como Rio São João, Rio Gabiroba e Praia Redonda também compareceram, pois o bispo se dirigiu de São Martinho para Vargem do Cedro e de lá para São Bonifácio, no Alto Capivari.

A primeira comunhão era sempre um evento religioso importante na comunidade, celebrado solenemente. Embora haja poucos registros desta solenidade, sabe-se que era um evento quase que anual. Assim, no dia 26 de maio de 1907, frei Jerônimo Goldkuhle ofi ciou missa em São Martinho em que 26 crianças fi zeram primeira comunhão.

Em 1913 houve outra vez Missão em São Martinho, tendo como pregadores os freis Burcardo Sasse15 e Boaventura Klemmer16. Uma pintura

14 Frei Zeno Wallbröhl nasceu em Epel, perto de Colônia, na Alemanha, no dia 30 de julho de 1866 e faleceu em Petrópolis-RJ no dia 30 de junho de 1925. 15 Frei Burcardo Sasse nasceu em Backum, Alemanha, no dia 24 de novembro de 1870 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 14 de outubro de 1841. 16 Frei Boaventura Klemmer nasceu em Kessenich, Alemanha, no dia 1 de abril de 1881 e faleceu em Porto União no dia 26 de março de 1941.

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