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Vargem do Cedro

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4 Ano Novo

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de Peter Josef Steiner, comemorativa do acontecimento, indica que a Missão aconteceu nos dias 26 de abril a 3 de maio daquele ano.

Os registros paroquiais, principalmente o Livro de Tombo, indicam que, de tempos em tempos, aconteciam nas capelas do Vale do Capivari missões populares que se constituíam num importante momento de evangelização e de reavivamento espiritual dos fi éis.

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Fotografi as da época mostram que em 1950 houve novamente Missão, em São Martinho. Desta vez os pregadores foram Frei Pascásio Rettler17 e Frei Salésio Brinkmann18 .

Lado esquerdo: Padre Gregório Locks. No centro: Frei Pascásio Re ler e Frei Salésio Brinkmann. Lado direito: Padre Heriberto Borgert

17 Frei Páscásio Re ler nasceu em Castrop-Rauxel – Merklinde – Alemanha no dia 26.1.1915 e faleceu em Sorocaba-SP no dia 16.9.2004. 18 Frei Salésio Brinkmann nasceu em Altendorf (Alemanha) no dia 18.5.1910 e faleceu em

Agudos-SP no dia 28.10.1997.

A foto abaixo mostra a grande participação de povo na Santa Missão.

Santa Missão em São Martinho – 30 de abril a 6 de maio de 1950

A capela de São Martinho nunca foi sede paroquial, apesar de a comunidade ser a mais antiga e a mais central do Baixo Capivari. Nas primeiras décadas o atendimento religioso era feito a partir de Teresópolis. Depois, quando foi criado o curato de Vargem do Cedro em 1910, os padres desta paróquia assistiam os fi éis de São Martinho. Em 1965, com a criação da paróquia de Cristo Rei em São Martinho, a capela de Alto São Martinho passou a ser uma fi lial desta paróquia.

Capela de Alto São Martinho e o cemitério em ambos os lados onde estão sepultados os pioneiros

Vargem do Cedro

A história religiosa de Vargem do Cedro inicia com a vinda dos imigrantes que trouxeram na bagagem de sua vida as sementes da fé. Aqui as plantaram, cultivaram-nas e elas deitaram raízes profundas. “Para o serviço Divino os colonos reuniam-se alternadamente ora em casa de Jacob Rech, ora na de Henrique Hellmann. A nova colônia foi visitada algumas vezes pelo Padre Röer, vigário de Teresópolis”.19 Os dois colonos moravam respectivamente abaixo e acima da atual igreja matriz.

Segundo a tradição oral, a primeira capela de Vargem do Cedro foi construída por iniciativa de Henrique Hellmann. “Católico fervoroso, não apenas cedeu sua casa como espaço para as reuniões da comunidade, como também a brindou com uma capela. Uma igreja completa: um

19 Livro de Tombo do Curato da Vargem do Cedro, nº 01, fl s. 1.

pequeno altar, bancos e até mesmo os quadros da via-sacra na parede. Construiu-a ao lado de sua casa”.20

Esta capela, além de pequena, situava-se em local um tanto quanto fora do centro do povoado. Quando a comunidade decidiu pela construção de uma capela maior numa área mais central, Antônio Eff ting cedeu uma área para esta fi nalidade. 21 Diz o documento: “Em 1884 Antônio Eff ting fez doação, para a capela e cemitério, de um terreno de uns 80 metros de frente e mais ou menos outros tantos de fundo até o ribeirão. Naquele mesmo ano foi principiada a construção da capela”.22

Acervo: Bundesarchiv Berlin

Capela, casa paroquial e escola em 1910

A doação do terreno para a capela e cemitério foi ratifi cada em documento e assinado por Antônio Eff ting e sua esposa Margarida Rech, pelas testemunhas e pelos conselheiros da capela Jacob Rech e Bernard Haveroth no dia 15 de outubro de 1887. Na ocasião, após missa solene, o

20 Depoimento de Adelina Boeing Feuser. In: HELLMANN, Josefi na. Colonização, cultura e tradições de Vargem do Cedro. Blumenau: Nova Era, 2010. p. 181. 21 No dia 31 de julho de 1884 foram realizados os primeiros batizados em Vargem do

Cedro. Foram 23 ao todo. 22 Livro de Tombo do Curato da Vargem do Cedro, nº 01, fl s. 1.

pároco de Imaruí procedeu à bênção do cemitério. Curiosamente, o documento fala em novo cemitério e nova capela, o que sugere a existência de cemitério e capela anteriores a esta data.23

O padroeiro de Vargem do Cedro é São Sebastião. Não há consenso a respeito da origem do padroeiro. No documento de doação do terreno, consta que Antônio Eff ting escolheu São Sebastião como padroeiro da capela. É provável que São Sebastião já fosse conhecido e venerado pelos imigrantes vestfalianos radicados em Vargem do Cedro e por isso adotaram o santo como patrono.

Em toda a vasta região, desde Teresópolis até São Ludgero, passando pelos vales do Capivari e do Braço do Norte, cresciam e se multiplicavam as comunidades. Era impossível ao idoso Padre Röer atender a todos os fi éis. Para ajudá-lo nesse árduo trabalho pastoral, veio, no início de 1890, procedente de Münster, Padre Francisco Xavier Topp para atender seus conterrâneos, fi xando residência em São Ludgero. Logo notou que um sacerdote não era sufi ciente para um campo missionário tão extenso, pois para percorrê-lo de uma extremidade a outra eram necessários cinco dias ou mais. Após alguns meses escreveu uma carta ao Bispo de Münster pedindo mais padres. Dois sacerdotes prontifi caram-se a vir para o Brasil: O Padre Antônio Eising24, de Bocholt, com 42 anos de idade, e o Padre Francisco Auling25 , natural de Münster, com 33 anos. Ambos embarcaram a 1º de janeiro de 1891 em Bremen e após seis semanas encontravam-se em terras sul brasileiras. Os três sacerdotes, depois de visitarem juntos toda a região, dividiram entre si o trabalho. Padre Topp, na qualidade de pároco, fi cou na sede do curato em Teresópolis, Padre Auling permaneceu junto aos colonos do Braço do Norte e Padre Eising assumiu o Vale do Capivari, fi xando residência em Vargem do Cedro onde permaneceu por três anos até ser indicado pelo Bispo de Curitiba para assumir a paróquia de Brusque26 .

23 O documento se encontra no Arquivo da Cúria Metropolitana de Florianópolis, na pasta “Vargem do Cedro”. 24 Padre Antônio Eising nasceu em Bocholt no dia 16 de janeiro de 1847. Trabalhou em

Tubarão, foi vigário de Brusque e, aos 58 anos de idade, ingressou na ordem Franciscana com o nome de Frei Capistrano. Faleceu em Blumenau no dia 18 de setembro de 1921. 25 Padre Francisco Auling nasceu em Münster no dia 17 de dezembro de 1857 e faleceu em

Curitiba. 26 Cf. KLEINSCHMIDT, Beda. Das Auslandsdeutschtum in Übersee und die Katholische Missionsbewegung. Aschendorsche Buchhandlung: Münster in Westfalen, 1926. 21/22.

Heft, p. 195-197.

Desde a saída do Padre Eising em 1893 até a criação do curato em 1910, Vargem do Cedro esteve, em termos de administração religiosa, anexada ora a Teresópolis, ora a Tubarão ou a São Ludgero, e os sacerdotes que se encarregavam da pastoral deste distrito foram os padres Francisco Topp, Francisco Auling, Frei Xisto Meiwes, Frederico Tombrock, Carlos Schmees, Huberto Ohthers, Antônio Tertilt e João Batista Klöcker. Eles atenderam Vargem do Cedro enquanto não havia padre residente na comunidade. Era um atendimento precário e os fi éis sentiam a necessidade de uma assistência próxima e permanente para as missas, confi ssões, casamentos, óbitos, catequese, escola e assistência aos enfermos. A presença do padre era uma segurança a quem recorrer na hora da necessidade. Era o conselheiro na solução dos problemas.

Consta que em 1901, Frei Zeno Wallbröhl pregou, em alemão, as Santas Missões nas capelas do Vale do Capivari e também em Vargem do Cedro. As Santas Missões eram sempre importantes momentos de animação e de reavivamento espiritual.

Em fevereiro de 1910 a capela passou a ser sede de curato ao qual foram anexadas, em 15 de dezembro de 1911, as capelas de São Martinho e de São João do Capivari. O primeiro pároco com residência no curato foi o Padre João Batista Steiner.27 Datam, portanto, desde 1910, os primeiros livros paroquiais, próprios ao curato, a saber: de batismo, de casamento e de óbitos.

Acontecimento importante na vida religiosa de Vargem do Cedro foram as Santas Missões pregadas pelos frades franciscanos Burcardo Sasse e Boaventura Klemmer no ano de 1913. As Santas Missões, um verdadeiro retiro espiritual da comunidade, duravam uma semana, atingiam todos os fi éis, desde as crianças com lições de catecismo, os jovens com palestras especiais e os adultos. Estes dois missionários exerceram grande infl uência espiritual não só em Vargem do Cedro como em todo o sul de Santa Catarina onde se dedicaram à pregação de missões populares. Na biografi a de Frei Burcardo Sasse lê-se que ele era um homem talhado para esse trabalho: “Sua estatura alta, forte e bem formada, sua voz sonora e resistente (nos tempos em que não havia microfone e alto-falante), seu espírito de adaptação – elaborando os seus temas conforme o ambiente –,

27 Padre João Batista Steiner era natural de Lu ingen (Alemanha) onde nasceu no dia 17 de julho de 1844. Chegou ao Brasil em 4 de junho de 1884. Faleceu em Teresópolis no dia 13 de junho de 1935.

a facilidade de compreender o espírito do povo e o respeito que votava às tradições populares”.

Nessa época, a população de Vargem do Cedro era de aproximadamente 500 almas. As três capelas juntas (Vargem do Cedro, São Martinho e São João do Capivari) somavam juntas cerca de 1.220 pessoas.

Com a idade avançada, Padre João Batista Steiner desistiu, em princípio de 1916, das capelas de São Martinho e de São João do Capivari, que foram então unidas ao curato de Rio Fortuna. As- Em pé, esquerda para direita: Germano sim, o curato da Vargem do Heidemann, Frei Burcardo Sasse, Frei Cedro fi cou restrito à capela Boaventura Klemmer e Francisco Hellmann. de São Sebastião, na sede. Sentados, esquerda para direita:

Em abril de 1917, Mon- Conrado Rech, Antônio Eff ting e João Heinzen senhor Francisco Xavier Giesberts, Vigário de Laguna, e Padre Carlos Keilmann, vigário de Tubarão, visitaram Vargem do Cedro a convite do cura Padre João Batista Steiner. Desta viagem Padre Carlos Keilmann deixou o seguinte relato:

No dia seguinte, após a Santa Missa, o encanecido sacerdote [Padre João Batista Steiner] mostrou-nos seu pequeno reino: a igreja e a escola, a casa paroquial e os arredores. As construções dão boa impressão pela agradável pintura clara e pelo tamanho. De modo especial dava boa impressão o prédio escolar. Aproximadamente a 100 metros, em frente à escola, encontra-se a casa do professor. Uma considerável quantidade de famílias de abelhas [colmeias] dá ao professor a oportunidade de, nas horas vagas, exercer uma atividade prática. Um pouco mais afastado, numa pequena encosta, encontra-se uma gruta dedicada a Nossa Senhora de Lourdes. A devoção dos colonos à Imaculada Conceição fez com que ela fosse ali construída. Imediatamente ao lado direito da igreja está a casa paroquial e no lado esquerdo o cemitério. É possível

observar como, após a missa, o bom povo, de acordo com antigo costume, se apressa em visitar por alguns instantes os túmulos de seus entes queridos e rezar ainda um Pai Nosso pelo descanso eterno dos falecidos. Uma grande casa comercial, de dois andares, situada em frente à igreja, mostra em suas amplas vitrines a variedade de mercadorias. O lugarejo todo é um autêntico retrato de algum pequeno povoado vestfaliano de agricultores. Aqui como lá, as famílias moram espalhadas cada qual em sua bonita casa. Uma exuberante horta circunda a residência. Atrás da casa há um pomar bem organizado com nutritivas árvores frutíferas. Com um plantel de animais domésticos o maior possível, cada qual, aqui como lá, ostenta sua riqueza. Nesse sábado, jovens e velhos estão de pé para arrumar tudo bem festivamente para a primeira comunhão no dia de amanhã. As moças trazem fl ores e verde em quantidade e tecem guirlandas e buquês. Os rapazes ornamentam festivamente com palmitos o caminho da procissão. Também a igreja é decorada, por dentro e por fora, com festivos enfeites e todas as casas do povoado, em primeiro lugar a casa comercial, rivalizam em ostentar o melhor. Por toda a parte, coroas e bandeiras espelham a alegria da festa. Tiros de morteiros anunciam na manhã seguinte a alvorada do tão esperado dia e logo afl uem de toda a parte os colonos a cavalo ou de mula. Homens, mulheres e crianças: todos vêm montados. O nenenzinho descansa tranquilo durante a viagem no colo da mãe. O segundo está sentado sem medo atrás do pai e se segura na aba do seu casaco. Quanto aos adultos, cada qual monta seu próprio animal. O conjunto oferece ao visitante um quadro único e ao mesmo tempo interessante. E logo começam os festejos. Em modelar ordem, dirige-se a procissão sob cânticos e orações até a igreja. As vozes dos fi éis misturadas ao som festivo dos sinos e do estouro dos morteiros ecoam de uma montanha a outra. Na igreja transcorre sublime solenidade tal qual nós a conhecemos na querida pátria alemã. Padre Giesberts faz o sermão da festa e eu dou a Primeira Santa Comunhão aos pequenos. Após o café comunitário, seguiu logo a bênção do Santíssimo para que os que moram longe possam chegar cedo em casa. Aos moradores do povoado e redondeza próxima a capela preparou, para a parte da tarde, um grandioso encanto para os ouvidos. A banda de música tocou de maneira perfeita suas melodias. Um professor que aí se encontrava em visita alegrou os presentes com a apresentação de histórias de conteúdo sério e alegre. E os encantadores sons das profundamente sentidas canções populares alemãs davam à festa a verdadeira solenidade. Sentimo-nos novamente inteiramente alemães. O lindo dia transcorreu segundo autênticos costumes alemães e à noite a gente ouvia ainda em sonhos o ressoar das melodias pátrias.28

28 KEILMANN, Carlos. “Ein Besuch in Vargem do Cedro”. In: Das Reich des Herzens-Jesu.

Si ard. 1923. p. 125.

Em dezembro de 1920, Padre João Batista Steiner deixou o curato que foi anexado, provisoriamente, ao de Rio Fortuna até setembro de 1921. Nesta data foi restabelecido o de Vargem do Cedro, compreendendo, como anteriormente, os distritos da Vargem do Cedro, de São Martinho, de São João do Capivari e do Rio Chicão. Foi nomeado cura Padre Gabriel Lux que já se encontrava há alguns meses em Vargem do Cedro.29

Em 25 de julho de 1921 houve visita pastoral em Vargem do Cedro e o secretário do Bispo deixou registrado no Livro de Tombo a seguinte impressão:

Durante a nossa permanência honrou-nos a população com suas manifestações de apreço, tendo-nos inúmeras vezes mostrado com palavras e com o exemplo o respeito e amor que sentiam pela nossa santa religião, pelos seus ministros, em particular pelo seu capelão-cura, Padre Gabriel Lux, que a Providência para aqui encaminhou para guiar este bom e religioso povo.30

Padre Jacó Gabriel Lux SCJ31 tem lugar de destaque na história de Vargem do Cedro e em toda a região. Os mais antigos, que melhor o conheceram, dele se lembram como homem culto, piedoso, empreendedor e bom administrador. Se como arquiteto deixou seu estilo em muitas e grandiosas obras, não menos marcantes são os traços que deixou na alma das pessoas.

É lembrado como homem corretíssimo e íntegro. Em Vargem do Cedro era médico, arquiteto, padre, comandante geral. Um patriarca respeitado e amado pelo que sabia e fazia pelo povo. Vivia vida de asceta. Transpirava amor, renúncia, paz, serenidade e maturidade na provação. Ousado nos empreendimentos, santo em sua vida, incomodava os que não queriam ver os padres populares e tendo infl uência sobre o povo. Rapidamente viam no seu trabalho social uma ingerência no político.32

A população crescera, ultrapassando, no fi nal da década de 1920, a mais de 70 famílias. Considerando que as famílias eram numerosas, com

29 Livro de Tombo do Curato da Vargem do Cedro, nº 1, fl s. 1 e 1v. 30 Livro de Tombo nº 1, p. 4. 31 Pe. Gabriel Lux nasceu em Bonn, na Alemanha, a 8 de maio de 1869 e faleceu em Vargem do Cedro no dia 4 de dezembro de 1943. 32 Necrológio e notas biográfi cas. Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus.

Província Brasileira Meridional, p. 74.

oito ou mais fi lhos por casal, a capela não comportava mais todos os fi éis que compareciam ao culto divino. É importante lembrar também que, numa comunidade católica como Vargem do Cedro, todos os fi éis compareciam à igreja aos domingos e dias santos. O não comparecimento de alguém era motivo de preocupação ou de censura. Fazia-se, portanto, necessário construir uma nova igreja em lugar mais amplo e vistoso. De acordo com a tradição da Igreja, o templo deveria estar localizado em lugar mais elevado para ser visto de longe.

Área A, B, C, D (lado esquerdo) devolvida a Antônio Eff ting. Área A, B, C, D (lado direito), adquirida de Antônio Eff ting

Atendendo a esses requisitos, foi feita, em 1925, uma permuta de terreno com Antônio Eff ting que fi zera a primitiva doação do terreno para igreja, cemitério e escola. Antônio, então doador, recebeu de volta 5.900 m² e, em troca, cedeu para a nova igreja e casa paroquial uma área de 6.000 metros quadrados.33 O terreno que Antônio Eff ting recebeu de volta situava-se atrás do antigo cemitério, igreja, casa paroquial e escola, ou

33 O documento de permuta encontra-se no Arquivo da Cúria Metropolitana de Florianópolis. Pasta “Vargem do Cedro”.

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