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Rio São João

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4 Ano Novo

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seja, atrás da atual Casa São José e da atual residência das Irmãs, e a área recebida em permuta é aquela onde se encontra a atual igreja matriz, casa paroquial e museu.34

Padre Lux, com visão de futuro, projetou a nova igreja, ampla e funcional, “no mais perfeito e elegante estilo romano”, inaugurada no dia do padroeiro, 20 de janeiro de 1928, e que existe ainda hoje em perfeito estado de uso e conservação. O templo está ornamentado com belíssimo altar mor e com dois altares laterais esculpidos em madeira de cedro por Hugo Berndt em 1943. Nesses altares está fi gurada, de forma simbólica, a história da salvação. Recentemente, em 2010, a igreja passou por ampla reforma e foi decorada no teto e nas Igreja Matriz “São Sebastião” de Vargem do Cedro paredes com quadros a óleo representando cenas bíblicas e fi guras de padres que marcaram a vida religiosa de Vargem do Cedro.

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O ensino religioso era ministrado em todas as comunidades da Paróquia. Entendia-se que a religião descamba para superstição quando não

34 Segundo fontes orais, Antônio Eff ting não era muito favorável a essa permuta pois alegava ter que se desfazer de sua horta. Para solucionar o impasse, João Boeing teria cedido ao vizinho determinada área onde este pudesse desenvolver sua horticultura.

vem acompanhada do conhecimento da doutrina. Era preciso que os fi éis soubessem em que estavam acreditando. Por isso, os professores de religião eram cuidadosamente escolhidos entre as pessoas melhor preparadas para tão importante tarefa de educação religiosa. O vigário nomeou, em 1936, como professores do ensino religioso as seguintes pessoas: Cristina Westrup, em Bom Jesus; Fridolino Hülse, em Capivaras (Praia Redonda); Mathias Erhardt, em São Martinho; Apolônio Westrup,35 em São Luiz; Irmã Margaretha, em Vargem do Cedro36 .

A paróquia São Sebastião de Vargem do Cedro compreende a igreja matriz e algumas capelas. Até 1965, quando foi criada a paróquia de Cristo Rei em São Martinho, pertenciam à paróquia de Vargem do Cedro as seguintes capelas: São Martinho, Praia Redonda, São João do Capivari, São Luiz, Bom Jesus e Rio Chicão. A última, localizada na serra do Tabuleiro, na divisa das águas entre o rio D’Una e Capivaras, é uma comunidade pequena e de maioria evangélica e atualmente não recebe mais visita de padre católico. Com a criação da paróquia Cristo Rei, a paróquia São Sebastião fi cou reduzida à igreja matriz e às capelas de São Luiz e Forquilha.

A localidade de São Luiz tornou-se conhecida por causa do assassinato da menina Albertina Berkenbrock, ocorrido em 15 de junho de 1931. Apesar de contar com poucas famílias, o lugar transformou-se em centro de romaria, que teve seu auge na década de 50. Por uma série de circunstâncias, o movimento de peregrinos decaiu a tal ponto que quase não se falava mais na Serva de Deus. Em 2000 foi retomado o processo de beatifi cação e, a partir de então, o fl uxo de romeiros que se dirige ao lugar do martírio não pára de crescer. No dia 20 de outubro de 2007, Albertina foi proclamada ofi cialmente Bem-aventurada, podendo receber culto de veneração público em São Luiz. Para garantir uma adequada infraestrutura, a Diocese de Tubarão adquiriu uma signifi cativa área de terra próxima ao lugar do martírio onde pretende construir um santuário de grandes dimensões. O Estado, por sua vez, para facilitar o acesso dos romeiros, construiu uma rodovia asfaltada de São Martinho a São Luiz.

35 Apolônio Westrup estudou no Seminário dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, em

Brusque, nos anos de 1926 a 1930, recebendo sólida formação religiosa. 36 Livro do Tombo, nº 1.

Durante 87 anos os Padres do Sagrado Coração de Jesus dirigiram com muita dedicação e zelo pastoral a paróquia de Vargem do Cedro. Em 2008, tendo em vista o futuro santuário de Santa Albertina, a direção da Diocese de Tubarão achou por bem tomar aos seus cuidados esta paróquia e confi á-la aos padres diocesanos.

Rio São João

Os primeiros moradores de Rio São João frequentavam inicialmente a capela de Santa Maria. No entanto, apesar da boa vontade, nem sempre era possível frequentar o culto todos os domingos e dias santos de guarda na capela. Além da distância de cerca de 15 quilômetros por um caminho que não era mais que uma simples picada pela mata e mal conservada, havia outros empecilhos como chuva, calor, cansaço da semana e doenças. Por isso, celebrava-se o culto dominical (Andacht), ora em casa de Franz Koep ou em casa de Bernard Schreiber.

Quando a Companhia Colonizadora Grão-Pará mediu as terras de Rio São João em 1892, muitos novos moradores procedentes de Alto Capivari, Santo Antônio e Santa Maria se estabeleceram neste novo núcleo colonial. A Companhia Colonizadora reservou para a igreja uma área de terra situada dentro do lote adquirido por João Rocha. Diz o documento da Companhia: “Este terreno [de João Rocha] fi ca situado na margem direita do Rio São José e em ambas as margens do Rio São João. Fica excluída deste terreno uma pequena área pertencente à capela”. Embora os sucessivos donos da gleba de João Rocha terem posto em dúvida esta doação, a ponto de um deles ter exigido indenização da comunidade, os documentos originais da época, no entanto, provam que a doação foi feita pela Companhia. Como havia muitas famílias evangélicas, a doação foi repartida entre católicos e evangélicos, cabendo aos católicos 7.020 m² e aos evangélicos 6.324 m².

Antes mesmo de terem capela onde pudessem se reunir para celebrar o culto e os demais sacramentos, os fi éis de Rio São João já recebiam a visita do Padre para trazer o conforto espiritual. No dia 21 de setembro de 1897, Frei Xisto confi rmou os batizados que os pais já haviam feito anteriormente em casa, na ausência de sacerdote. Diz o documento:

A vinte e um de setembro de mil oitocentos noventa e sete na capela de São José, Rio S. João, usei os santos óleos e as outras cerimônias eclesiásticas em

Bernardo, já batizado validamente em casa, nascido a 18 de abril do mesmo ano, fi lho legítimo de Antônio Heerdt e de Bernardina Beumer. Foram padrinhos Bernardo Beumer e Isabel Schewing, todos deste curato. Frei Xisto Meiwes.37

O padroeiro São José pode ter sido sugerido pelos moradores, pois muitos haviam residido antes em Santa Maria e, com relação ao lugar de origem, Santa Maria, escolheram São José como padroeiro da capela e protetor da comunidade. Pode também ter sido sugestão de Frei Xisto Meiwes pelo mesmo motivo.

O número crescente de moradores e as gradativas melhorias de vida justifi caram o pedido de licença feito pelos colonos ao Bispo Diocesano de Curitiba para construírem uma capela. O pedido foi encaminhado por Frei Xisto que, de Teresópolis, vinha atendendo esta comunidade nascente. Apesar da distância e da morosidade de comunicação com Curitiba, a resposta não demorou.

No dia 15 de setembro de 1896, o Bispo Dom José de Camargo Barros, concedeu licença para construir uma capela em Rio São João nos seguintes termos:

Fazemos saber que atendendo ao que nos apresentaram os habitantes do Rio de São João da paróquia de Teresópolis neste bispado: havemos por bem pela presente conceder licença para que no referido bairro se possa erigir e fundar uma capela, com tanto que seja em lugar alto, livre de umidade, desviado quanto possível de lugares imundos e lugares particulares e que tenha âmbito em redor para andarem procissões, devendo ser o lugar para tal fundação designado pelo Revdo. pároco respectivo, a quem autorizamos para benzer a primeira pedra de edifício na forma do ritual romano. Na mesma capela não se poderão celebrar os ofícios divinos sem nossa provisão nova, precedendo informação paroquial de achar-se ela provida de paramentos, alfaias precisas e habilitada com o competente patrimônio e tendo em vista a informação do respectivo Pároco.38

A capela foi benzida por Frei Xisto Meiwes39 no dia 15 de janeiro de 1898. Diz o documento:

37 Livro de Tombo do Curato de Teresópolis. 38 Livro de Tombo do Curato de Teresópolis, p. 18b. 39 Frei Xysto (Johannes) Meiwes nasceu em Hagen, perto de Delbruck (Paderborn), na Alemanha, no dia 1 de fevereiro de 1853 e faleceu em Florianópolis no dia 28 de agosto de 1926.

Visitei a nova capela do Rio de São João, achei-a decente e benzi a mesma a quinze de janeiro de 1898. Frei Xisto.40

A capela era pequena, sem torre, de tijolos à vista, com estrutura de madeira, e coberta com folhas de zinco. Tinha na frente apenas uma porta de entrada e, em cada lado, duas janelas. Localizava-se mais ou menos no centro do atual cemitério dos católicos. Na época, as sepulturas fi cavam do lado esquerdo (lado norte) da capela. Na extrema direita da área reservada ao cemitério encontrava-se a capela dos evangélicos, no mesmo local onde se encontra a igreja atual.

A comunidade de Rio São João obteve licença para erigir um cemitério, expedida pelo Bispo de Curitiba no dia 13 de junho de 1898, com a recomendação de que fosse cercado. Atualmente o túmulo mais antigo ainda existente é de Ana Heinzen Koep e data de 11 de outubro de 1900. Porém, há vestígios de sepulturas mais antigas.

Acervo: Bundesarchiv Berlin

Rio São João em 1910. No centro do cemitério, a primeira capela da comunidade católica, benzida em 1898. No alto, à esquerda, a segunda capela, inaugurada em 1907. À direita, igreja evangélica luterana (IECLB)

Como nas demais comunidades da colônia, a visita do padre acontecia de três em três meses. Sem tempo e sem condições para uma evangelização em profundidade, a formação religiosa fi cava praticamente a

40 Livro de Tombo do Curato de Teresópolis, p. 31b

encargo das famílias. Porém, atarefadas com as lides diárias do desbravamento da terra, do cultivo da lavoura, pouco tempo sobrava para uma catequese familiar, exceto aos domingos, quando se reuniam para o culto. Face a tal situação, a comunidade de Rio São João também foi contemplada com uma Santa Missão. Diz o documento: “Em 1901, Frei Zeno Wallbröhl fez Santa Missão, em língua alemã, na capela de Rio São João”. Em comemoração a esse evento, foi confeccionada uma gravura em madeira onde consta que a Santa Missão aconteceu de 4 a 8 de setembro de 1901.41

Com o passar do tempo, a capela de Rio São João se deteriorou. A madeira apodreceu e os tijolos, de má qualidade, arruinaram. A comunidade resolveu construir nova capela, maior, e toda de tijolos, rebocada e caiada de branco, com cobertura de telhas. Não se tem notícia quando teve início a obra. O documento da bênção diz:

No mês de maio de 1907 sua Excia. o senhor Bispo Dom Duarte Leopoldo e Silva concedeu licença de benzer a nova capela ereta em São João do Capivari, deste curato [Teresópolis], em honra de São José. Esta nova capela foi ereta por estar a velha arruinada e imprópria aos atos do culto divino.42

Na margem do documento lê-se:

Aos 5 de novembro de 1907 benzi a capela de São José, novamente erecta no lugar denominado Rio de São João”. Ass. Hieronymus Goldkuhle.

A segunda capela também se tornou pequena para acolher os fi éis que aos domingos vinham participar do culto. Em 1928, a comunidade somou mais uma vez esforços e construiu nova capela. Segundo informações orais de pessoas idosas, Felipe Heerdt, antigo morador e homem infl uente na comunidade, contratou a construção da capela. Porém, segundo as mesmas fontes orais, o valor estipulado não foi sufi ciente e a comunidade teve que intervir com material e mão-de-obra. Antônio Schneider, na época um jovem de 16 anos, informou ter ajudado a carregar nas costas, pelas picadas, de Praia Redonda até Rio São João, barras de ferro de seis metros de com-

41 O quadro-lembrança se encontra guardado na torre da capela São José, em Rio São

João, com a seguinte inscrição: “Zum Andenken an die Mission, gahalten am 4-8. Sept. 1901 vom How. Fr. Zeno Wallbröhl OFM” (Em recordação à Missão, pregada de 4-8 de setembro de 1901 pelo Revmo Frei Zeno Wallbröhl OFM). 42 Livro de Tombo do Curato de Teresópolis.

primento e uma polegada de grossura que, esticadas na altura do teto, de uma extremidade a outra, serviam de reforço para que as paredes laterais não se abrissem. Esta capela, inaugurada em 1929, era, para a época, uma boa construção, feita toda em alvenaria, com bonita pintura interna. Foi também ornamentada com belíssimos altares esculpidos primorosamente em madeira pelo artista Hugo Berndt e seus fi lhos. Junto ao altar do lado direito encontrava-se um relógio de parede que indicava, além das horas e minutos, os dias do mês.

Capela de Rio São João inaugurada em 1929

Acervo do autor

Com o passar dos anos, também esta capela se deteriorou. Em vez de reformá-la a comunidade preferiu erguer outra. A construção levou menos de um ano e a inauguração, com a bênção do templo, aconteceu na manhã do dia 6 de maio de 1961 em missa presidida pelo Bispo Diocesano Dom Anselmo Pietrulla e cantada pelo coro da paróquia de Rio Fortuna. É a atual capela que se encontra bela e majestosa na encosta do morro. Felizmente os altares (central e dois laterais) foram transferidos para a igreja nova e ali se encontram para uso do culto divino e admiração de todos.43

43 Era o ano de 1958. A diretoria (fabriqueiros) de então, composta pelos senhores Simão Heinzen, Rafael Heerdt e Manoel Schmidt, convocaram a comunidade para decidir sobre o que fazer: reformar a antiga capela ou construir uma nova. Após muita discussão e avaliação, foi feita a votação e a maioria se mostrou a favor da reforma da antiga capela. Quando a comissão levou esta decisão ao Padre Ludgero Waterkemper, então pároco de Rio Fortuna, à cuja paróquia esta capela pertencia, ele sugeriu aos fabriquei-

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