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2 Escola de Ensino Básico “Rodolfo Feuser (Vargem do Cedro
Sendo de madeira, o edifício se arruinou com o tempo e nova construção de alvenaria foi feita pela comunidade, mais abaixo, quase em frente à capela. O edifício media aproximadamente 10 metros de frente com 6 a 8 metros de fundo, tendo na frente duas janelas e uma porta, nos fundos duas janelas e em cada lado uma porta. Na frente estava escrito “ESCOLA ISOLADA ESTADUAL DE SÃO MARTINHO DO CAPIVARY”. Essa construção serviu de escola e salão até 1952, quando foi substituída por uma terceira, construída em terreno cedido por Mathias Erhardt. Em 1967 foi construída a última, que esteve em uso até o seu fechamento como instituição de ensino.
Em 1926, em cumprimento ao Decreto nº 1.882, de 7 de maio de 1925, foi eleito o Conselho Escolar que tinha a função de “auxiliar na fi scalização dos trabalhos escolares e incrementar o ensino das escolas públicas rurais”. O Conselho, eleito pelos pais dos alunos, fi cou assim composto: Adolfo Wiemes, Germano Heerdt e Augusto Back. Ao que tudo indica, o Conselho não teve atuação, pois no livro de atas consta apenas a ata da eleição do Conselho Escolar.
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Nada se sabe a respeito dos primeiros professores que trabalharam na escola de Alto São Martinho. Segundo informações orais, a partir de determinada data atuaram ali professores formados no colégio Santo Antônio, de Blumenau. Eram eles: Silvestre Preis, Paulo May (19201924), Francisco Preis13 (1927), Mathias May (1928-1929).
Em 1930 Mathias Erhardt14 assumiu a escola. Quando jovem, estudara com os padres Jesuítas em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, obtendo uma formação aprimorada que o habilitou a ser um líder na comunidade de São Martinho. Além de professor, exercia também a função de capelão, isto é, presidia as rezas do culto dominical e ofi ciava os sepultamentos. Durante a Segunda Guerra Mundial ele foi transferido para Rio d’Una, porque sendo de origem alemã, teria que ser “abrasileirado”. Em seu lugar foram enviadas, de Imaruí, sucessivamente três professoras conhecidas pelo nome de Rosinha da Silva Gonçalves (1940-1943), Escolástica Machado (1944) e Lídia Miranda (1945 até março de 1946).
13 Francisco Preis faleceu prematuramente vítima de tuberculose. 14 Mathias Erhardt nasceu em Alto São Martinho em 5.7.1904 e faleceu na mesma localidade no dia 27.5.1985.
O lugar para onde Mathias foi transferido era distante e de difícil comunicação, impossibilitando-o de passar pelo menos nos fi ns de semana em casa. Além do mais, sendo já casado e com alguns fi lhos pequenos, não suportou o afastamento da família que necessitava de sua presença e, por isso, voltou para casa, perdendo, em consequência, o direito sobre a escola. Terminada a guerra, conseguiu, a muito custo, reaver a vaga, lecionando até se aposentar em meados de 1963.
Depois da aposentadoria de Mathias Erhardt, muitos professores e professoras sucederam-no em breves intervalos de tempo. Citamos alguns: Zeli dos Santos, Arlindo Sehnem, Valéria Della Giustina, Rosane Magali Rodrigues, Maria Verônica Marcelino Sabino, Tereza Francisco, Ático Pedro Erhardt, Sueli Eff ting, Luzia Steiner Rocha, Édina Cardoso, Albertina Michels, Valneide Rech e Maria Sehnem.
Mathias Erhardt com seus alunos em 1930
Como na maioria das comunidades, a escola sempre contou com signifi cativo número de alunos. Mas a emigração de muitas famílias jovens e
a redução do número de fi lhos por família fez com que o número de alunos decaísse gradativamente. Em 1995, quando foi realizada a pesquisa para a primeira edição deste livro, encontravam-se matriculados na escola de Alto São Martinho 11 alunos. Com a reformulação do sistema escolar, a escola de Alto São Martinho foi desativada e os alunos passaram a ser levados em transporte escolar para São Martinho, onde alguns frequentam a Escola de Ensino Básico “Fridolino Hülse” e outros a Escola de Ensino Fundamental “Rodolfo Rocha”.
2 Escola de Ensino Básico “Rodolfo Feuser” – Vargem do Cedro
Por volta de 1882, colonos vindos de Teresópolis e do Capivari adentraram pelo rio Capivaras acima e fundaram o núcleo colonial de Vargem do Cedro. Os pioneiros eram, em sua maioria, imigrantes oriundos da Vestfália e da Renânia, radicados anteriormente em Teresópolis. Em poucos anos ali se estabeleceram muitas família a ponto de, em 1902, Vargem do Cedro já contar com 426 habitantes, dos quais 192 menores de 16 anos de idade.15 Houve, portanto, a necessidade de abrir uma escola para alfabetizar e socializar as numerosas crianças do novo núcleo colonial.
A tradição oral lembra que, logo após a fundação, chegou a Vargem do Cedro Joseph Gründling para ministrar aulas aos fi lhos dos colonos em troca de uma remuneração paga pelos pais. Segundo o depoimento de João Boeing16, este professor deixou o magistério em 1897, mudando-se para São Ludgero. Em seu lugar veio Johann Brehe17 .
Em 1910, o representante do cônsul alemão, ao visitar as escolas no sul de Santa Catarina, registrou que em Vargem do Cedro havia uma escola católica e justifi cava sua existência em razão de a população professar a religião católica.
Alguns anos mais tarde, em 1917, o Padre Carlos Keilmann SCJ, pároco de Tubarão, deixou-nos em seu relato de viagem o seguinte depoimento a respeito da escola e do professor: “De modo especial deu-nos boa
15 DEUTSCHE SCHULEN und Schulgemeinden in Südbrasilien. Berlin: Blumenauer-Stiftung, Dez. 1902, p. 66. 16 BOEING, João. Gründung der Kolonie Vargem do Cedro – 1880. Manuscrito, 1964. João
Boeing (*25.9.1887 – †8.8.1964) era casado com Josefi na Eff ting. 17 Johann Brehe nasceu em Dolberg, Vestfália (Alemanha) no dia 7 de novembro de 1854 e faleceu em Vargem do Cedro no dia 19 de agosto de 1921. A tradição oral lembra que
Brehe era um dedicado criador de abelhas.
impressão o prédio escolar. Aproximadamente a 100 metros, em frente à escola, encontra-se a casa do professor. Uma considerável quantidade de famílias de abelhas [colmeias] dá ao professor a oportunidade de, nas horas vagas, exercer uma atividade prática.”18
Professor Johann Brehe com seus alunos em frente à escola
A escola paroquial de Vargem do Cedro era uma escola alemã mantida pela comunidade e o professor era pago com a mensalidade dos pais dos alunos. Comparando a remuneração deste professor com a dos professores das outras escolas da região, Johann Brehe era razoavelmente bem remunerado, pois recebia em 1902, cinquenta mil-réis (50$000 réis) por mês, ao passo que os professores de outras localidades do Vale do Capivari recebiam em torno de vinte e cinco a trinta mil-réis (25$000 réis a 30$000 réis). Também ali o ordenado do professor era proporcional ao número de crianças que frequentavam a escola. No entanto, relatórios escolares do início do século XX indicam que, mesmo assim, o ordenado era baixo e que o professor deveria receber pelo menos setenta e cinco milréis (75$000 réis) por mês. O governo brasileiro, porém, não enviou mais
18 KEILMANN, Carlos. “Ein Besuch in Vargem do Cedro”. In: Das Reich des Herzens-Jesu.
Si ard. 1923. p. 125.
recursos desde 1900 e os pais não tinham condições fi nanceiras para contribuir com valores maiores, principalmente em se tratando de famílias de prole numerosa, com dois ou mais fi lhos na escola.19 Relatórios consulares atestam que o governo alemão concedeu alguns subsídios anuais às escolas do Vale do Capivari, incluída a de Vargem do Cedro. Com e eclosão da Primeira Guerra Mundial os subsídios foram suspensos.
Johann Brehe trabalhou em Vargem do Cedro durante 25 anos como professor e catequista. Com seu falecimento, em 1921, vários professores o sucederam. Entre outros, destaca-se Conrado Rech, que estudara no Colégio Santo Antônio em Blumenau, e que assumiu a escola em 1923. Um ano mais tarde, porém, ele resolveu ser padre e foi para o Seminário Sagrado Coração de Jesus em Brusque. Sucederam-no outros professores por breve período de tempo: João Boeing (1925), Maria Hilda Lehmkuhl (1926), que ministrava algumas aulas em português, e Elisabeth Lux, irmã de Padre Gabriel Lux (1927). Neste ano de 1927, Padre Lux foi transferido para Corupá, assumindo a construção do seminário, e sua irmã Elisabeth deixou Vargem do Cedro e a escola fi cou novamente sem professor. O novo vigário, Padre Augusto Schwirling, dirigiu-se então às Irmãs Franciscanas de São José, com sede em Angelina, para assumirem a escola. Numa carta de 15 de novembro de 1927 endereçada ao Arcebispo, Padre Schwirling escrevia:
Na minha visita em Angelina combinei com o vigário Frei Gervásio Krämer ofm e com a superiora das Irmãs Franciscanas de lá – e conduzi-a com uma companheira diretamente para Vargem do Cedro, via Capivary-Alto. Como me parece, estavam satisfeitas, e quando virá a Superiora Geral da Alemanha no mês de janeiro – maio de 1928, será resolvida esta questão da nova residência em Meio-Capivary – Vargem do Cedro.20
19 DEUTSCHE SCHULEN und Schulgemeinden in Südbrasilien. Berlin: Blumenauer-Stiftung, Dez. 1902, p. 66. 20 SCHWIRLING, Padre Augusto. Carta ao Arcebispo de Florianópolis. Manuscrito. Arquivo
Arquidiocesano. Pasta: Vargem do Cedro.
Acervo: Josefi na Hellmann
As primeiras irmãs com algumas senhoras e crianças da comunidade. Da esquerda para a direita Irmã Madalena Heider, Irmã Margaretha Behmer, Irmã Conrada Murk e Irmã Marzelina Hüskens
As crianças, da esquerda para direita: Adelaide Boeing, Beatriz Eff ting, Hilda Stüpp, Maria Boeing, Laura Eff ting, Lidvina Loch, Henrique Eff ting, Nodtburga Eff ting e Alzira Boeing. As senhoras, da esquerda para direita: Johana Josefi na Po meier, atrás das Irmãs: Ema Böing com a fi lha Inês Eff ting, Elizabet Eff ting, Helena Sehnem, Rosa Eff ting com a fi lha Bernadete Loch e ao lado Ana Rocha. Última fi la da esquerda para direita: Maria Guilhermina Böing, Ana Michels com o fi lho Wilibaldo Eff ting, Josefi na Eff ting com o fi lho Henrique Boeing e Elisa Böing .21
Todos se alegraram muito com a chegada das Irmãs que tanto esperavam.
À chegada, o povo estava reunido na praça, em frente da futura residência das irmãs para receber as religiosas que haviam deixado seus parentes e
21 HELLMANN, Josefi na. Colonização, cultura e tradições de Vargem do Cedro: 1880-2010.
Blumenau: Nova Era, 2010. p. 307.