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5 Escola de Rio Gabiroba (Rio Gabiroba

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4 Ano Novo

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Escolas Alemãs para Santa Catarina”, com sede em Blumenau, visitou as escolas do Vale do Capivari, deixou registrado a respeito da “Escola Rio Sete” o seguinte:

A Escola Rio Sete encontra-se aproximadamente oito quilômetros distante da anterior [Santa Maria], na margem do rio Sete, um afl uente do Capivari. 30 famílias, a maioria evangélica, moram lá e, no momento, mandam apenas 27 crianças para a escola. Em muitas famílias as crianças cresceram sem frequentar a escola. A taxa escolar mensal chega a 800 réis por criança. Há três ou quatro anos a comunidade recebeu da administração municipal de Palhoça 25$000 réis por mês como auxílio, porém, como em toda a parte, somente no breve período de “pesca de votos” antes das eleições municipais. O professor da comunidade, Kronfeld [Groenveld], de origem holandesa, dirige a escola há 26 anos. [...] O prédio escolar é propriedade da comunidade e nela encontramos farto material didático que lhe foi enviado pela Associação Regional de Hamburgo para a Germanidade no Estrangeiro.33

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Nos primórdios da colonização era comum a comunidade oferecer moradia ao professor e, como solução prática, a construção era dividida em dois ambientes distintos, a moradia do professor e a sala de aula. Em rio Sete, a casa da escola era da comunidade e nela morava também o professor na parte reservada para moradia.

Quando o Padre Augusto Schwirling quis transformar as escolas comunitárias em escolas paroquiais católicas, não enquadrou neste projeto a escola de Rio Sete porque a comunidade era evangélica. Numa reunião da comunidade local em que este assunto foi discutido, um dos presentes teria se levantado e dito: “Se Padre Schwirling aparecer aqui, receberá uma surra”.

Aries Groenveld não conheceu a aposentadoria. Mesmo octogenário, trabalhou até o fi m da vida. Sem substituto, a escola foi fechada com o falecimento deste benemérito professor.

Em 1919 a comunidade evangélica construiu uma igreja, a Paulus Kirche, alguns quilômetros rio acima, numa área mais central do povoado. Anexa à igreja começou a funcionar a escola sob a direção de Julius

Ida (*1896), Augusto (*15.12.1897), Jacob (*18.8.1899 – †23.7.1940), Anna, Rodolfo e

Lydia. Aries naturalizou-se brasileiro. 33 Bericht Dienstreise. 9-22 nov. 1910. Bundesarchiv Berlin.

Schupp34, natural de Templin (Alemanha) e imigrante em Anitápolis. Julius Schupp notabilizou-se como exímio professor. Morava num anexo da capela e, porque entendia de medicina, atendia doentes e receitava medicamentos. Embora não sendo ordenado, exercia também o cargo de Pastor e, como tal, batizava, fazia enterros e presidia os cultos. Viveu sozinho em Alto Rio Sete durante alguns anos porque sua esposa fi cara com os fi lhos em Anitápolis, na localidade de Varginha onde era parteira e professora.

Julius Schupp exerceu o magistério em Alto Rio Sete até 1937 quando foi substituído por Fri Boetcher, que lecionou até 1938, quando precisou se afastar por causa da campanha de nacionalização e da perseguição aos estrangeiros durante a Segunda Guerra Mundial (1938-1945).

Terminada a guerra, sucederam-se vários educadores por breves períodos de tempo, citando-se Erna Scheidt, Willy Roberto Kühl e Felipe Vineglied. Nesse período foi construído novo prédio escolar capaz de atender o número cada vez maior de alunos.

A partir de 1954 assumiram sucessivamente a escola Zenir Freitas, Nair Maria Elias, Irma Fogaça, Tereza Onorato Alves Machado, Selma Onorato Schmoeller (1970-1984), José Ailton Cardoso (1985-1986), Adenésia de Souza (1987), Kátia Regina Heerdt Duarte (1988-1989), Maria Dulce Scho en Duarte (1990-1991), Vera Lúcia Rosa Michels (1992), Sandra Regina Cardoso, Odete Steiner e Cláudio Sehnem.

Com a nucleação das escolas, a escola foi desativada em abril de 2007 e os alunos passaram a estudar na Escola de Ensino Fundamental de Rio São João.

34 Julius Karl Georg Schupp nasceu em Templin (75 quilômetros ao norte de Berlim) no dia 28 de junho de 1866. Com 21 anos de idade, casou com Lúcia Eva Minna Krüger nascida no dia 28 de fevereiro de 1872. O casal, com um fi lho e duas fi lhas, chegou no

Rio de Janeiro no dia 2 de novembro de 1910. No dia 30.12.1912 chegou à recém-fundada colônia Anitápolis onde fi xou residência durante alguns anos. Posteriormente, já idoso, estabeleceu-se em Rio São João/São Martinho-SC. Julius faleceu no dia 6 de fevereiro de 1955 e Lúcia Eva no dia 6 de agosto de 1962. Ambos estão sepultados no cemitério da Comunidade Evangélica de Rio São João.

5 Escola de Rio Gabiroba

Primeira escola de Rio Gabiroba. O professor Gustavo Schmoeller com o cônsul alemão e alguns alunos

A primeira escola de Rio Gabiroba foi fundada pelos moradores em 1903. Não se sabe quem foi o primeiro mestre-escola, mas pode-se presumir que tenha sido um colono com mais instrução e interessado em lecionar, como acontecia nas demais comunidades. No relatório do cônsul alemão que visitou a escola em 1908, lê-se:

Em Rio Gabiroba um jovem professor de nome Schomoeller35 educa 12 crianças há alguns meses. Também ele é apenas formado numa escola da colônia dali. No entanto, segundo me foi dado observar e pelas informações de pessoas do lugar, ele se presta bem ao magistério.36

O relatório afi rma ainda que a escola se localizava num lugar não muito apropriado, na vargem, perto do rio, uns 300 metros de distância

35 Trata-se de Gustavo Schmoeller que lecionou alguns anos em Rio Gabiroba e depois se mudou para Rio Cachoeirinha (Grão-Pará) onde lecionou por muitos anos. 36 Relatório consular de 28 nov. 1908. Bundesarchiv. Berlin.

da atual capela. Era uma construção de tijolos com estrutura de madeira à vista como mostra a foto na página anterior.

Mais tarde, de fevereiro de 1910 em diante, lecionou nesta escola Friedrich Baccalarius. Era evangélico, nascido em Worten, perto de Dortmund (Alemanha). Antes de ser professor em Rio Gabiroba, trabalhou na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, no Acre.37 Adoeceu vítima de malária e então, a conselho do consulado alemão do Rio de Janeiro, dirigiu-se para o Sul do Brasil. Em Blumenau procurou serviço na Estrada de Ferro Santa Catarina. Não sendo admitido nesse emprego, chegou a Rio Gabiroba, onde assumiu o cargo de professor. Moravam, nesta época, em Rio Gabiroba, 18 famílias, das quais 10 católicas e 8 evangélicas.38 Padre Augusto Schwirling tentou, por bem ou por mal, transformar a escola comunitária em escola católica. Mas a comunidade, para evitar confl itos entre membros das duas confi ssões religiosas, decidiu continuar com a escola comunitária, contrariando os interesses do pároco.39

Em novembro de 1910, o representante do consulado alemão em Florianópolis visitou a escola e deixou registrado no seu diário de viagem:

[Procedente de Braço do Norte], cheguei no mesmo dia a Gabiroba onde o capacitado Baccalarius (Friedrich Bachalaureus) ensina para 16 alunos. Estavam presentes à minha visita sete crianças. As outras nove encontravam-se naquele dia em Rio São João, na doutrina de Primeira Comunhão com o Padre Schwirling.40 A escola dá a impressão de ordem. No entanto, falta quase por completo material didático. As aulas se limitam a ler, escrever e contar.41

37 Grande número de alemães veio para o Brasil atraído pela propaganda para trabalhar na construção da Estada de Ferro Madeira Mamoré, na fl oresta do Acre, construída entre 1907 e 1912. A maioria contraiu malária e morreu. Os que sobreviveram, voltaram para a Alemanha. Alguns fi caram no Brasil, entre os quais Friedrich Baccalarius. 38 Bericht über die Schulen im Süden des States S. Catharina. Bundesarchiv – Berlin. 39 Para afastar o professor, Padre Schwirling acusou Baccalarius de molestar as meninas da escola. 40 Padre Schwirling vivia em permanente confl ito com os professores protestantes e com os representantes do consulado alemão. O autor do Relatório insinua que a doutrina de Primeira Comunhão que Padre Schwirling marcou para acontecer em Rio São João, onde deviam comparecer também as crianças católicas de Rio Gabiroba, teria sido para esvaziar a visita da autoridade consular em Rio Gabiroba, com a ausência da maioria das crianças que eram católicas. 41 Bericht über die Dienstreise vom 9.–22. November 1910 betreff end Schulbesichtigungen im

Süden vom Santa Catharina. Bundesarchiv – Berlin.

No entender do cônsul, Friedrich Baccalarius era um professor competente, capaz de dar excelente formação às crianças, mas, por causa da pressão do Padre Schwirling, pretendia deixar o magistério nesta escola. Efetivamente, Friedrich Baccalarius retirou-se. Não se sabe quem assumiu a escola. Num relatório da Associação das Escolas Comunitárias de Santa Catarina consta que a escola se encontrava em estado de abandono e sem professor, pois este havia sumido da noite para o dia. O mesmo relatório cita Wilhelm Heymann como professor da escola. Os documentos não revelam quem ele era nem quanto tempo fi cou em Rio Gabiroba; talvez um ou dois anos.

Em seguida assumiu Hermann Gross, um imigrante alemão que chegou a Anitápolis em 1912 e que, decepcionado com a realidade que ali encontrou, decidiu abandonar aquele núcleo colonial, dirigindo-se então a Rio Gabiroba. Preocupou-se muito com a preservação da cultura e do espírito germânico nas crianças e na comunidade.

Em 1915 a comunidade construiu nova escola, ou melhor, transferiu a primeira para um lugar mais central da povoação. Esta escola localizava-se numa colina, em terras de Henrique Eyng42, perto da atual estrada estadual SC 431. Na época, a diretoria da escola era composta por Adam Defreyn (presidente), Friedrich Laureth (secretário) e Henrique Eynk (tesoureiro). Em 1915 a escola recebeu uma ajuda do governo alemão no valor de 150 marcos.

Hermann Gross era evangélico e, como tal, teve muitas divergências, discussões e atritos com o Padre Augusto Schwirling, que atendia a capela de Rio Gabiroba e que não desistia da ideia de transformar esta escola, que era comunitária, em escola paroquial católica. Padre Schwirling, com o apoio da diretoria da capela presidida por Werner Scho en, manobrou a substituição de Hermann Gross por Emília Lezack Suck, uma católica. A substituição não agradou os evangélicos, gerando um lamentável atrito entre os membros das duas confi ssões religiosas. Emília Lezack Suck não se manteve por muito tempo no cargo e vários professores se sucederam por breves períodos de tempo.

Outro professor que se destacou nesta escola foi Arthur Alfred Drechsel. Lecionou de 1918 a 1922. As pessoas por nós entrevistadas, e que dele se lembravam, foram unânimes em afi rmar que Drechsel era

42 As terras de Henrique Eyng são atualmente de propriedade de Martinho Eyng.

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