PARALELISMO SINTร TICO
2014
PROFA. DR. VALERIA IENSEN BORTOLUZZI Vamos explicar e exemplificar o mecanismo coesivo denominado paralelismo sintรกtico.
PARALELISMO SINTÁTICO
PARALELISMO SINTÁTICO CONCEITO E EXEMPLIFICAÇÃO
PARALELISMO SINTÁTICO O paralelismo sintático consiste no encadeamento de elementos linguísticos com funções sintáticas idênticas ou orações com valores sintáticos iguais. Ou seja, temos encadeamentos de adjuntos, de objetos diretos, de predicativos, de sujeitos, que são constituídos de elementos linguísticos que se comportam sintaticamente da mesma maneira. Ex. 1: Ela vende balas e biscoitos. No exemplo acima temos um paralelismo sintático nos elementos coordenados balas e biscoitos. Esses elementos são ambos objetos diretos do verbo ‘vender’ (vender o quê? Ela vende algo.) e são constituídos os dois objetos por substantivos simples, comuns, primitivos e no plural. Ex. 2: Durante as quartas-de-final, o time do Brasil vai enfrentar a seleção da Holanda. No exemplo acima, temos o paralelismo entre o sujeito (o time do Brasil) e o objeto direto (a seleção da Holanda), ambos formados por artigo definido, substantivo comum e simples (que é o núcleo de cada um dos elementos sintáticos) e uma locução adjetiva (do Brasil e da Holanda), constituindo um adjunto adnominal.
AS CONJUNÇÕES E O PARALELISMO SINTÁTICO E Ex. 3: Hoje, fomos à praia, ao cinema e ao restaurante. No exemplo acima há paralelismos entre os adjuntos adverbiais a praia, o cinema e o restaurante, e todos são precedidos pela preposição ‘a’, o que justifica a crase antes de ‘praia’, pois temos a preposição ‘a’ + o artigo ‘a’, regra geral para uso da crase. NÃO X... SEM Ex. 4: Não adianta invadir a Bolívia sem romper o contrato do gás. No exemplo acima, os elementos paralelos são ‘invadir a Bolívia’ e ‘romper o contrato do gás’, ambos objetos diretos de ‘adiantar’. Para além de um recurso que estabelece
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paralelismo, esta estrutura conjuntiva é também um recurso coerencial, estabelecendo relações de sentido entre os dois elementos paralelos, no caso, a de condição. O rompimento do contrato do gás é uma condição para que se possa invadir a Bolívia. Podemos reconhecer o paralelismo porque ambos os elementos paralelos possuem a mesma estrutura linguística: oração reduzida de infinitivo (verbo no infinitivo = invadir e romper; objeto direto composto de artigo (a e o) e substantivo (Bolívia e contrato)). NÃO SÓ... COMO (MAS) TAMBÉM Ex. 5: O projeto não só será apreciado, como também será aprovado. No exemplo 5, a estrutura ‘não só... como (mas) também’ torna paralelos os dois predicados do sujeito ‘O projeto’. Nesse caso, temos duas orações independentes unidas pelos mesmo sujeito e uma relação de adição de informações entre elas. A informação adicional é aquela introduzida por ‘como (mas) também’ e o que nos sinaliza a existência de mais informações é ‘não só’. Os elementos paralelos possuem, como sempre, a mesma estrutura linguística, neste caso, verbos na voz passiva, formado pelo verbo ser conjugado no futuro mais o particípio passado do verbo principal (apreciado e aprovado). MAS Ex. 6: Não estou descontente com seu desempenho, mas sim com sua arrogância. No exemplo acima, a conjunção mas foi utilizada para estabelecer o contraste e também o paralelismo entre os complementos nominais de descontente (com seu desempenho e com sua arrogância). E podemos observar que os dois complementos organizam-se exatamente da mesma maneira: preposição com, pronome possessivo seu e sua e substantivos simples e comuns (desempenho e arrogância). OU; ORA... ORA Ex. 7: O governo ou se torna racional ou se destrói de vez. Ex. 8: Ora a desejava, ora a ignorava. No exemplo 7, a conjunção alternativa ou estabelece a alternância que existe entre os dois predicados (se torna racional e se destrói de vez) para o mesmo sujeito (O governo). E, ao fazer isso, a conjunção também constrói o paralelismo entre os dois predicados, que possuem exatamente a mesma estrutura: pronome relativo (se); verbos reflexivos (tornar-se e destruir-se) e complementos (racional e de vez). O mesmo acontece com o exemplo 8, cujo sujeito desinencial (marcado no tempo verbal do verbo, e portanto sabemos que é terceira pessoa do singular = ele ou ela) alterna dois sentimentos que, linguisticamente expressos, constituem dois predicados
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absolutamente paralelos por serem idênticos na sua estrutura (pronome oblíquo a + verbo no pretérito imperfeito do indicativo = desejava e ignorava) TANTO...QUANTO Ex. 9: Estávamos questionando tanto seu modo de ver os problemas quanto sua forma de solucioná-los. No exemplo 9, a estrutura conjuntiva tanto... quanto (como) estabelece não só a comparação como também o paralelismo entre os objetos diretos do verbo questionar. ‘seu modo de ver os problemas’ e ‘sua forma de solucioná-los’ são estruturas paralelas porque exercem a mesma função sintática no período composto analisado e também porque são constituídos de elementos linguísticos idênticos (pronome possessivo= seu, sua; substantivos simples, comuns e primitivos= modo e forma; preposição de; verbos na forma infinitiva= ver e solucionar; estrutura nominal (artigo+substantivo) funcionando como objeto direto=os problemas e [l]os). ISTO É, OU SEJA Ex. 10: Você deveria estar preocupado com seu futuro, ou seja, com sua sobrevivência. Algumas vezes, como no exemplo 10, as conjunções explicativas podem estabelecer paralelismo, na medida em que a explicação tem o mesmo valor sintático-semântico do termo explicado. É o que acontece no exemplo, quando temos com sua sobrevivência recebendo o mesmo valor sintático-semântico de com seu futuro, tanto que podem ser consideradas expressões sinônimas. Além disso, ambas as expressões possuem a mesma função sintática, complementando o sentido de preocupado.
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