Jornal Valor Local - Edição Fevereiro 2021

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Rádio Valor Local - www.valorlocal.pt - Ouça em todo o lado Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 96 • 25 Fevereiro 2021 • Preço 1 cêntimo

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Sofia Theriaga, diretora do ACES-Estuário do Tejo

“Que venham as vacinas em grande escala que vacinaremos de segunda a domingo” EXCLUSIVO

Economia na 20 Destaque da 12 à 14

Biblioteca Itinerante de Azambuja ajuda pais a entreter os filhos durante o confinamento

Luís de Sousa vai dar luz verde aos parques fotovoltaicos da Torre Bela e da Cerca Câmara de Azambuja “vai ter de pagar indemnização à Triaza” se quiser acabar com o aterro Ambiente na 19 PUB


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Câmara de Azambuja compra plataforma móvel para a Proteção Civil

Nova Viatura já causa polémica O veículo em segunda mão custou cerca de 180 mil euros mais IVA e segundo Luís de Sousa vem preencher uma lacuna no concelho. O presidente dos Bombeiros de Azambuja diz que ficou a saber desta compra pelas redes sociais Câmara Municipal de Azambuja comprou, recentemente, uma viatura em segunda mão para a proteção civil municipal. A viatura com plataforma elevatória de combate a incêndios teve um custo aproximado de 180 mil euros mais IVA e servirá para dar apoio também aos bombeiros locais, de Azambuja e de Alcoentre. O novo carro, foi adquirido à empresa Touchfire – Distribuição de Equipamentos de Proteção, cujo contrato de aquisição foi celebrado em novembro de 2020. O anúncio foi feito pela empresa à qual a Câmara adquiriu o veículo no seu site. No entanto, a novidade não agradou aos bombeiros de Azambuja, que através do seu presidente, André Salema, na sua página de Facebook, disse ter ficado a saber pela empresa e não pela autarquia. Ao Valor Local, o presidente da Camara de Azambuja, desvalorizou a polémica. O autarca diz que está “admirado com a reação do presidente dos bombeiros” porquanto esta viatura ficará ao dispor das corporações. Para o presidente da Câmara, “o senhor presidente dos bombeiros de Azambuja tem aqui uma grande zona industrial onde a viatura dará muito jeito”. Luís de Sousa relembra o incêndio da Jular, fábrica de compostos de madeira, onde existiu a necessidade de pedir reforço aos bombeiros vizinhos do Cartaxo através de uma viatura do mesmo tipo. Esta é uma viatura que pode levar uma secção até ao topo, na qual pode, por exemplo, ser montado um canhão de água. Um equipamento considerado útil para alguns tipos de cenários de incêndio, nomeadamente, em indústrias, ou como foi no passado no incêndio

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do Chiado em Lisboa. Para além disso, a grua é composta por uma plataforma no cimo, onde podem operar dois homens, desde que treinados para o efeito. O presidente da Câmara de Azambuja, salienta, entretanto, que não falou com o presidente dos bombeiros de Azambuja, porque não tinha de o fazer: “Perguntei ao meu comandante operacional (Nuno Fonseca) que deu o parecer favorável”, assegurando que à posteriori, aquele conversou também com os comandantes dos corpos de bombeiros do concelho de Azambuja. Por isso Luís de Sousa, salienta que desta forma não compreende “o espanto do presidente dos bombeiros”. Esta foi uma decisão municipal e por isso os operacionais “deviam ficar contentes”. O autarca reforça a compra do equipamento com o facto de existirem prédios com altura considerável no concelho e que esta plataforma pode chegar aos 32 metros de altura e “salvar uma família”, dá o exemplo. Quanto à utilização da viatura, nomeadamente, da plataforma, Luís de Sousa assegura ao Valor Local, que o município vai ministrar formação para a sua utilização. André Salema e Luís de Sousa e uma intensa troca de galhardetes sobre prioridades na Proteção Civil Depois das declarações ao Valor Local de Luís de Sousa, no nosso site, André Salema voltou a terreiro para contestar os argumentos do presidente da Câmara. O presidente da associação reconhece que não sendo o autarca obrigado a dar-lhe satisfações acerca das decisões que toma sobre questões relacionadas com a

O veículo da discórdia proteção civil municipal, “ou outras”, ainda assim lembra que os bombeiros de Azambuja são um parceiro “fundamental e incontornável” nestas matérias. Recorda por isso que a Proteção Civil Municipal não “possui qualquer tipo de operacionais a atuar todos os dias no terreno” e assim sendo considera que seria de “bom tom que o presidente dos Bombeiros de Azambuja e o seu comando, tivessem sido consultados previamente sobre esta aquisição, o que clara e inequivocamente não aconteceu”. André Salema salienta ainda, numa nota enviada ao Valor Local, que a viatura em causa terá de ter operacionais com formação, algo que o presidente da Câmara concorda e que vai providenciar junto dos corpos de bombeiros. Aliás ao Valor Local, o autarca diz que vai pedir uma lista às duas corporações, para que indiquem profissionais aptos a receber essa formação. Nesse campo, André Salema disse “que será absolutamente necessário averiguar da possibilidade de poder haver uma equipa disponível para o fazer, o que, nas condições atuais, não é matéria fácil,

e estes factos, só por si, teriam merecido uma discussão prévia com a instituição”. Na sua opinião a aquisição desta viatura não é uma prioridade atualmente, já que “existem deficiências noutros equipamentos, absolutamente necessários para salvar vidas com uma utilização, infelizmente, muito mais regular, e como tal há que definir prioridades”. O responsável recorda que os bombeiros de Azambuja ainda não conseguiram comprar uma nova viatura de desencarceramento por não conseguirem reunir todo o valor necessário, já que a comparticipação da Câmara neste caso se situa aquém do necessário. Em causa está um remanescente de 66 mil euros, a juntar ao valor proposto pela autarquia para uma viatura que terá um custo aproximado de 290 mil euros. André Salema justifica com o facto de a atual viatura “já apresentar deficiências que podem pôr em risco até os próprios operacionais”, sendo que para já os bombeiros de Azambuja procuram formas de financiamento. De acordo com o presidente da câmara de Azambuja, a viatura em

causa teria um custo superior em quase 100 mil euros àquela que foi adquirida pelos bombeiros de Alcoentre. Ao Valor Local, Luís de Sousa que diz não entender esta polémica, recorda que a autarquia estava disposta a dar o mesmo valor para a aquisição de uma viatura semelhante para os bombeiros de Azambuja, algo que segundo o autarca foi recusado, uma vez que a corporação azambujense queria uma viatura mais cara do que a de Alcoentre e, portanto, propôs que fosse a associação a assumir o custo daquilo que considerou como “extras”. André Salema vinca a legitimidade da decisão do presidente da Câmara, mas volta à carga com o veículo plataforma reforçando que este tipo de viatura, à época emprestada por outros municípios, teve escassas utilizações no passado: “ apenas no incêndio na Jular e noutro em Vila Nova da Rainha, nunca tendo sido necessário em qualquer outra circunstância, em que estivessem em risco vidas ou bens dos munícipes de Azambuja, até porque as características deste equipamento não permitem que o mesmo opere na maioria do

nosso território urbano”, ilustra desta forma para demonstrar o que diz ser uma disparidade de critérios sem sustentação. Também Rui Corça, vereador da oposição na Câmara de Azambuja, e durante a última em sessão do executivo municipal, considerou que a aquisição desta viatura não era prioritária, nomeadamente, nos tempos que correm. O autarca questionou Luís de Sousa sobre o alegado desconhecimento dos corpos de bombeiros com a compra da viatura. Na resposta Luís de Sousa referiu que não falou com André Salema, mas que esta questão seria operacional, por isso as conversações terão passado pelos comandantes e não pelas direções. Ainda assim o presidente da Câmara que também é o responsável máximo da proteção civil sublinha o seu espanto pelo levantamento desta polémica, já que considera que as conversas tidas no passado teriam algum peso no processo. Contudo o presidente da autarquia, vai solicitar reuniões com os comandantes de Alcoentre e de Azambuja para discutir a questão novamente.

Porto Alto: Posto de abastecimento de combustível é facto consumado construção de um posto de abastecimento de combustível numa zona residencial na localidade do Porto Alto deu azo a um levantar de protestos por parte de moradores daquela localidade, no concelho de Benavente. Em causa a proximidade ao Restaurante Paris e a um poste de alta tensão da EDP, bem como a vários edifícios de habitação e uma escola. Os moradores temem pela sua segurança. Em reunião de Câmara, o vereador do PSD, Ricardo Oliveira, quis sa-

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ber qual o ponto de situação quanto a este projeto que já mereceu o parecer favorável das várias entidades chamadas a pronunciar-se. “A população vai ficar prejudicada com o aparecimento desta obra? Já sabemos qual o impacte deste posto de abastecimento de combustível?”, questionou. O autarca quis saber se haverá lugar ainda a algum tipo de serviço acessório como uma loja de conveniência ou qual o tamanho da bomba. Carlos Coutinho, presidente da

autarquia, adiantou que a obra recebeu o parecer favorável da Direção Geral de Energia e Geologia e que se encontra enquadrada no âmbito do Plano Diretor Municipal (PDM). O licenciamento incluiu ainda o parecer favorável da EDP, atual E-Redes. Como tal “estão cumpridos os parâmetros do ponto de vista da segurança”. Quanto à localização em causa foi cedida por proprietários dos terrenos para aí ser desenvolvida a atividade. Coutinho lembrou que há mais postos de abasteci-

mento de combustível no miolo de áreas urbanas no concelho, nomeadamente, na sede de concelho e na cidade de Samora Correia. O projeto contempla ainda uma estação de serviço. O vereador do Urbanismo, Hélio Justino, considerou que apesar de compreender “o desagrado” da população, acredita que a médio prazo o impacto não será “tão grande quanto se pensa”, reforçando que o projeto recebeu todos os pareceres a nível da sua segurança para a localização.

Autarquia desvaloriza possíveis impactes negativos


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Idosos de Alverca estavam ansiosos por tomar a vacina contra a Covid-19 mérico Mendanha tem 94 anos e foi um dos primeiros vacinados contra a Covid-19 no Centro de Saúde de Alverca. Diz à nossa reportagem que não sentiu qualquer efeito secundário e foi com prontidão que disse logo que estava interessado em ser vacinado quando o centro de saúde o contactou a meio da passada semana. “Fiquei ao mesmo tempo muito contente e muito ansioso, porque já tenho uma certa idade”, revela-nos e com boa disposição, acrescenta - “Parece que sou um bebé outra vez, não me passava pela cabeça com esta idade, ainda ter de tomar uma vacina”. O futuro encara-o com otimismo “porque tem mesmo de ser assim”. Com outros problemas de saúde associados à sua já longa idade, contou-nos em direto para a nossa emissão Especial Covid-19 que levámos a cabo na Rádio Valor Local que tem vivido o último ano com muitos receios. Vive com a esposa nove anos mais nova e conta-nos que têm conseguido ultrapassar a longa pandemia porque são “muito unidos”. O pior conta-nos “são as dores nas pernas”. “Mal consigo andar, mas vamos vivendo, comecei na acupunctura há pouco tempo”. Diz mais uma vez que estava ansioso por este dia e aconselha todos os que são da sua idade a não hesitarem quando forem contactados. A vacinação fora dos lares de idosos e outras estruturas residenciais de apoio àquela faixa etária iniciou-se na nossa região, este sábado, na sede do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário

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neste caso, a idosa já não saía de casa há muito tempo, desde o Natal. Vacinação a conta gotas na região

Paula Falcão e Pilar do Vale vieram à vacina no Centro de Saúde de Alverca

do Tejo, no Centro de Saúde de Alverca. Nos próximos dias deverá arrancar nos postos de vacinação instalados em cada um dos concelhos ligados ao ACES-Estuário do Tejo: Azambuja, Benavente, Alenquer, Vila Franca de Xira, e Arruda dos Vinhos. No dia da nossa reportagem estava a ser administrada a vacina da Pfizer/BioNTech. A primeira a ser disponibilizada no espaço europeu. Sofia Theriaga, diretora do ACES Estuário do Tejo, conta que apesar de mais recentemente o país ter recebido as doses da vacina da Astrazeneca/Oxford, optou-se pela da Pfizer dado que até há escassos dias não havia certezas da eficácia da congénere em pessoas com mais de 65 anos, que resultou da colaboração entre aquela universidade britânica e a farmacêutica em questão.

Pilar do Vale, com 93 anos veio à vacina por conselho da neta. Há várias semanas que não saía de casa, e no sábado ela como muitos outros idosos da freguesia acabaram por não enjeitar esta oportunidade. Paula Falcão, nora, refere que “a sogra não estava com muita vontade”. Contudo “não pensámos duas vezes em vir aqui. Tomara que as vacinas cheguem para todos para que consigamos retomar a nossa vida normal”. Até à data os contactos têm sido o mais limitados possível e já há muito tempo que a sogra “não saía de casa”. “Correu tudo bem, sentiu-se um pouco tonta quando tomou a vacina mas penso que tenha sido mais ansiedade do que outra coisa”. Ao lado, uma outra idosa que aguardava para regressar a casa, estando a cumprir a meia hora de espera prescrita

após a toma da vacina, era mais entusiástica: “Estou a sentir-me otimamente bem. Foi muito bom tomar a vacina”. Armandina Soares estava com a mãe já com 93 anos, e conta que o processo foi muito rápido - “Praticamente nem esperámos tempo nenhum”. Não houve reações à vacina e agora esta família só espera pelo dia em que a mãe possa finalmente voltar a abraçar “as bisnetas”. Foi a pensar nisso que não hesitou - “Pelos poucos anos de vida que lhe restam que possa novamente abraçar a família”. Armandina Soares conta que teve de ir viver para casa da mãe depois da morte do pai há seis meses. Não foi por Covid-19, mas não conseguiu ver o corpo do pai, devido às regras impostas pela Direção Geral de Saúde que proibiam a abertura dos caixões. Também

Durante esta semana o ACES- Estuário do Tejo estima vacinar 3580 pessoas no cinco concelhos. Até finais de abril deverá ser vacinada a população com mais de 50 anos com as doenças acima citadas associadas e os idosos com mais de 80 anos. Sendo certo que por parte dos municípios há um desejo de maior celeridade em todo o processo. O presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho fala em 710 doses com destino ao município nesta semana que termina a 28 de fevereiro, que serão ministradas no espaço cedido pelo município para o efeito, Centro Cultural de Samora Correia. A autarquia tem ainda uma linha telefónica ao dispor da população no caso de dúvidas quanto ao processo de vacinação. Já no concelho de Arruda, a vacinação já arrancou no pavilhão municipal, e Carla Munhoz, vereadora com o pelouro da Saúde, dá conta da aplicação de 114 doses na sexta-feira, dia 19 de fevereiro, a que se seguiram mais 30 na segunda-feira seguinte, e até ao fim da semana serão mais 168, mas neste cálculo estão ainda incluídos os utentes e funcionários dos lares que não tinham sido vacinados, devido a surtos em curso como foi o caso da Misericórdia de Arruda. Este é um ritmo que considera aceitável. No total deverão ser vacinadas 1181 pessoas neste concelho na primeira fase. No

caso do município de Azambuja, Luís de Sousa, presidente da Câmara diz que até este sábado, 27 de fevereiro, serão vacinadas 250 pessoas. Já no concelho de Alenquer, a vacinação já arrancou na Unidade de Saúde Familiar, mas passa para os pavilhões de zinco frente à Romeira, esta quinta-feira, dia 25 de fevereiro. Paulo Franco, vereador com o pelouro da Saúde, refere que na passada sexta, dia 19, foram ministradas 168 doses. Prevendo-se a aplicação de mais 240 esta semana. No total há 4 mil 800 pessoas à espera de serem vacinadas na primeira fase no município. O autarca diz que o ritmo de vacinação não se afigura como pessimista dada a margem de manobra de mais dois meses. Por outro lado, a autarquia em conjunto com as juntas de freguesia, GNR e Proteção Civil já identificou todos os residentes elegíveis para esta fase “mesmo os que residem em pequenos aglomerados rurais”. Já no concelho de Vila Franca de Xira, o município responde que o centro de vacinação instalado no Pavilhão do Cevadeiro está nesta altura totalmente preparado para entrar em funcionamento e isso acontece segundo apurámos, esta sexta-feira, dia 26 de fevereiro. O município diz desconhecer o número de vacinas a ministrar nesse dia. Estão até à data sinalizadas 10.326 pessoas (20.652 doses) no concelho para serem vacinadas neste grupo nesta primeira fase da vacinação. Este número pode ainda aumentar, devido ao encaminhamento de pessoas através do setor privado.

Centro Instrução Musical e Recreio de Cabanas do Chão legaliza sede Miguel A. Rodrigues Centro de Instrução Musical e Recreio de Cabanas de Chão, no concelho de Alenquer, assinalou no passado 16 de fevereiro 80 anos de existência. As comemorações foram apenas simbólicas, tendo em conta as restrições pela Covid-19 e que vieram limitar toda a atividade daquela coletividade. Contudo houve uma boa notícia: ao fim de vários anos os sócios conseguiram legalizar o edifício da coletividade. José Martins, presidente da instituição, disse à Rádio Valor Local, que o último ano não foi bom. Ainda assim referiu que não podia deixar de assinalar a data “com o hastear das bandeiras” e com uma “sentida homenagem” aos sócios fundadores, nomeadamente, aos que já par-

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tiram. Habitualmente, e por ocasião

das comemorações, a coletividade faz uma pequena romagem

Coletividade assinalou data redonda com esperança no futuro

ao cemitério local, algo que mais uma vez não foi possível, tendo substituído essa iniciativa com esta “pequena cerimónia”, onde estiveram presentes alguns diretores. Segundo José Martins, neste hastear das bandeiras, com a bandeira nacional, a da coletividade, e a do concelho, homenagearam-se, igualmente, os restantes sócios, frisando que “estas celebrações são habituais, mas que dado o contexto pandémico, ficaram muito aquém.” O momento foi também de celebração. A coletividade ao fim de 20 anos conseguiu legalizar a sua sede social. Segundo o presidente da direção, a atual sede tem todas as condições para a prática de várias atividades pelo que já carecia desta homologação por parte da Câmara de

Alenquer, algo que veio a acontecer agora. “Fruto de várias vicissitudes e passando de direção para direção, nunca se procedeu ao seu licenciamento camarário”, refere lembrando que já há dois anos, quando ainda era presidente da assembleia geral, iniciara o caminho da legalização do espaço. Ao Valor Local, José Martins sublinha que a sua direção foi mesmo constituída com esse fim, algo que agora se conseguiu e que acarreta alguns benefícios. Passa a ter um contador de luz em nome próprio e com tarifas mais baratas, até porque como está sem atividade devido à Covid, tal também interfere nas contas no final do mês. Para trás, ficam noites de fados e inúmeros eventos, como um espetáculo único com uma ban-

da de tributo aos Xutos & Pontapés, que em 2019, permitiu algum fluxo de caixa, para as obras do edifício. Neste caso, o presidente da direção salienta que ainda assim, e apesar das dificuldades as atividades do centro de instrução musical, ficaram apenas adiadas e a partir do momento em que tudo passe voltará à atividade plena. Apesar da Covid, o Centro de Instrução Musical e Recreio de Cabanas de Chão não se pode queixar do apoio dos sócios. O responsável vinca que foi feita uma “campanha junto daqueles que tinham quotas em atraso. Tivemos uma resposta positiva de muitos deles e de outros que se fizeram sócios entretanto”. Agradece ainda à autarquia e às empresas que estiveram na origem da legalização do edifício.


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Sofia Theriaga, diretora do ACES Estuário do Tejo

“Que venham as vacinas em grande escala que vacinaremos de segunda a domingo” Em vésperas do eclodir da pandemia tornou-se diretora do ACES Estuário do Tejo. Com 51 anos, e natural de Tomar dá conta do ponto de situação no processo em curso de vacinação. O estado de espírito dos profissionais não podia ser melhor. E revela que durante o último ano todos os que fazem parte do ACES ganharam uma capacidade de adaptação e de resiliência que nenhuma má notícia consegue abalar. Valor Local – É dado hoje (13 de fevereiro) o pontapé de saída na vacinação contra a Covid-19 na nossa região com esta primeiro apontamento, se podemos dizer, no Centro de Saúde de Alverca. É também um momento marcante? Sofia Theriaga - Sim de facto é um dia muito importante. Numa situação normal, os nossos profissionais estariam em casa com as famílias, mas decidiram fazer parte desta campanha que começa hoje. Temos um número muito significativo de profissionais a vacinarem utentes e até colegas. Qual é ponto de situação quanto ao stock de vacinas, dado que se fala numa escassez dados os problemas a montante com os laboratórios internacionais? Vamos gerindo o nosso trabalho em função do stock existente e cumprindo em função dos lotes que nos são entregues e temos conseguido fazer esse trabalho. Hoje é o primeiro dia e é bom para olearmos os nossos circuitos internos. Por parte dos utentes há um misto de alegria e ansiedade. Quanto a nós profissionais do ACES ganhámos no último ano uma capacidade de resiliência e de adaptação que faz com que estejamos preparados para tudo. Temos basicamente pessoas de Alverca a serem vacinados hoje? Sim, porque a quantidade de vacinas ainda não justificava a abertura do pavilhão multiusos e optámos por fazer no centro de saúde e convocar os utentes mais idosos. A maioria das pessoas quis tomar a vacina? O balanço é positivo. Os familiares também estão a colaborar. Se algum utente não tiver forma de se deslocar também estamos aqui para ajudar nessas situações. Ninguém vai ficar para trás. Em cada um dos concelhos que compõem o Agrupamento

Sofia Theriaga fala numa grande capacidade de resiliência por parte dos profissionais do ACES de Centros de Saúde do Estuário do Tejo: Azambuja, Benavente, Alenquer, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos está preparada uma infraestrutura para receber as pessoas que serão vacinadas, desde pavilhões municipais a outros espaços mais amplos. Estamos a falar de mega pontos de vacinação para quando tivermos um stock de vacinas suficiente e estamos preparados para vacinar em massa. Os nossos profissionais estão super motivados e colaborantes e esperamos ter sucesso. Haja vacinas em quantidade suficiente que vacinaremos de segunda domingo! De que forma o ACES se está a articular, de modo a que ninguém fique de fora do processo de vacinação, sobretudo, nesta altura, em que estão a ser chamadas as pessoas com mais de 80 anos, muitas delas sem a mesma capacidade de aceder a um telemóvel (dado que os contactos passam pelo envio de uma men-

sagem) em comparação com a população mais jovem? No terreno como é que vai ser? Os nossos secretários clínicos estão a fazer um trabalho muito exaustivo nesse aspeto e ontem tivemos muitos deles o dia inteiro a confirmar contactos, e quando temos dificuldades pedimos às juntas de freguesia para nos ajudarem a corrigir algum contacto que possa estar menos bem. O intuito é criarmos meios e pontes com utentes que possam não estar tão acessíveis. Ninguém vai ficar para trás porque a nossa vida é isto nos cuidados de saúde primários. Estamos próximos dos utentes, temos equipas de enfermagem a fazer cuidados domiciliários e temos certeza de que com a ajuda das autarquias conseguirmos levar esta missão a cabo. Mesmo que informaticamente não seja possível, faremos o que estiver ao nosso alcance para chegarmos a toda a gente. Todos têm sido incansáveis connosco por parte das autarquias.

Tivemos alguns casos de surtos em vários lares da nossa região. Já está praticamente terminado o processo das duas tomas em algumas instituições. Contudo e apesar de sabermos que apenas uma dose não é suficiente, não deixa de ser estranho o número de casos que tem aparecido não só aqui na área do Estuário do Tejo como também no resto do país? Cada caso é um caso. Há inúmeras situações que podem contribuir para esses quadros, até porque os profissionais desses lares circulam todos os dias para fora. Por outro lado, temos utentes que saem para consultas hospitalares. As estruturas residenciais para pessoas idosas não são estanques pois como sabemos os vírus podem entrar das mais diversas formas. Têm acontecido casos de pessoas que registam fortes efeitos secundários depois da toma da vacina. Qual é a experiência que o ACES regista

até ao momento nesta matéria? É normalíssimo, mas depende de cada pessoa. Nos profissionais vacinados no ACES temos assistido aos mais variados quadros, desde pessoas com reações quer à primeira ou segunda dose, quer outros apenas com reação a uma das doses e pessoas sem nenhuma reação. Depende muito do nosso organismo. Funciona em parte como a vacina da gripe e é natural. As pessoas não devem assustarse. Quem desejar pode entrar em contacto connosco. Temos assistido a vários casos de pessoas que pertencem a instituições, mas que não estão na linha da frente que acabaram por tomar a vacina, qual é a posição do ACES? Normalmente enviam-nos uma lista com vista ao dia da vacinação. As diretoras técnicas das ERPI elaboram essas listas, mas nós não temos conhecimento daquilo que é a função das pessoas nessas institui-

ções. Temos de confiar nas listas que nos são confiadas. E o que está previsto para o caso das sobras? Nós temos feito um esforço enorme dentro do agrupamento e das equipas que estão a vacinar e quando surgem as sobras chamamos os profissionais de ERPI’s vizinhas para irem à vacina de maneira a minimizar essa questão, sem fugir das orientações. Se porventura no local estivessem elementos das forças de socorro como bombeiros ou pessoas da Cruz Vermelha seriam considerados? Não foram considerados até esta altura. Agora já podemos, mas não no início da vacinação. Acompanhavam apenas as equipas. Quantas pessoas com mais de 50 anos com as patalogias já referidas associadas bem como os idosos com mais de 80 anos vão ser vacinadas aqui na área do ACES – Estuário do Tejo? Estamos a falar de 18 mil 500 utentes para um universo completo de 235 mil pessoas, mas ainda deve crescer porque ainda aguardamos indicação dos médicos do privado. Quem não tiver médico de família mais dificilmente será convocado para a vacina? De todo. Posso dizer-lhe que as pessoas que hoje estão a ser aqui vacinadas são da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Alverca sem médico de família. Não fazemos distinção. E quanto aos imigrantes? Se tiver autorização de residência atribuímos um número provisório de utente e não haverá grandes dificuldades. Quanto aos outros que ainda não estejam completamente legalizados e penso que regra geral estamos a falar de pessoas ainda jovens, ainda têm, nesta fase, algum tempo para formalizarem a sua situação de forma a poderem ser convocados.

Salvaterra: Mês da Enguia adiado para Maio or tradição o mês de março traz sempre com ele o Mês da Enguia no concelho de Salvaterra de Magos, fazendo desta iguaria a rainha à mesa dos restaurantes. Em nota de imprensa, o município informa que pretende levar o evento gastro-

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nómico a efeito durante o mês de maio. Por norma, é levado a efeito em março, sendo este mês “de particular relevância na economia do concelho de Salvaterra de Magos pois consegue envolver múltiplas e complementares

áreas de negócio que vão da hotelaria ao artesanato, passando pelo alojamento, produtores de vinho, operadores turísticos, produtores agrícolas, entre várias outras áreas.” Dado o contexto pandémico, a Câmara Municipal de Salvaterra

de Magos informa que a 25ª edição do Mês da Enguia está programada para decorrer de 01 a 31 de maio, nos restaurantes aderentes. A Feira Nacional de Artesanato e de Produtos Tradicionais, que por norma decorre durante o

Mês da Enguia e que dá a conhecer artesanato e produtos do concelho e múltiplas regiões do país, não será realizada este ano. A Câmara Municipal manterá no Mês da Enguia um conjunto de exposições associadas como

habitualmente à entidade do concelho que serão entretanto divulgadas, assim como a demais componente programática cultural que está em preparação e que será ajustada ao que o contexto pandémico permitir à data.


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Pandemia: Funerárias duvidam das novas normas para os funerais Sílvia C. d'Almeida êm sido vários os constrangimentos causados aos portugueses pela pandemia de Covid19, que chegou a Portugal há sensivelmente um ano. Um deles, foi a impossibilidade das pessoas se despedirem dos seus entes queridos entretanto falecidos, sendo proibido realizar velórios, e selados todos os caixões. Fomos saber a opinião de profissionais do setor funerário sobre a nova norma da DGS que permite que os caixões sejam abertos para que haja reconhecimento do corpo. Segundo Eurico Conde, da Funerária Periquito, no Cartaxo, com a Covid “mudou quase tudo na forma como as famílias enlutadas podem manifestar as suas perdas, não podendo fazê-lo como desejariam” o que se tornou num processo “ainda mais difícil”. De acordo com a sua perceção “as pessoas não deixam de sofrer, mas temos de atender que a envolvência também é diferente porque o número de indivíduos que podem participar nas cerimónias fúnebres foi drasticamente reduzido”. Face à não comparência como seria desejá-

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Agentes funerários dão conta de dificuldades acrescidas para o setor

vel de amigos, família alargada, ou vizinhos, “não diria que as pessoas estão a viver mais friamente a situação do luto, mas são certamente tempos estranhos os que vivemos, em que não há uma partilha da dor, uma

vivência coletiva, e as famílias claro que lamentam a perda, choram, mas pelo que tenho percecionado a emoção não se instala de uma forma tão vincada”. Os corpos vão diretamente do hospital para o cemitério, pelo

que aqueles que atendem à cerimónia não têm o tempo desejável para se despedirem através do velório o que é “muito difícil”. “A nível psicológico, penso que esta pandemia vai deixar marcas profundas e muitas cicatrizes”,

opina este agente funerário do Cartaxo. Pare Eurico Conde, “as pessoas têm, no entanto, aceitado bem as restrições impostas e não tem havido problemas”. “Estão muito cientes da forma como se devem comportar e de como devem agir nestas situações – sem aglomerações, nem aqueles abraços reconfortantes, que são tão necessários nestes momentos, nem cumprimentos, mas sim um seguir à risca do que é recomendado”. Paula Martins da Nova Agência Funerária de Azambuja e Aveiras, refere, por outro lado, que a “emotividade” característica daquelas cerimónias aumentou ainda mais em tempo de Covid. “Os funerais são mais sofridos, as pessoas nem sequer se podem despedir, por não poderem ver o corpo, e é complicado convencê-las de que não pode ser, dado que é o que a lei nos manda.” Uma nova norma da DGS veio permitir, no entanto, que os caixões sejam abertos para que haja um reconhecimento do corpo e para que os familiares se possam despedir dos seus mortos. Durante a cerimónia fúne-

bre, o caixão deve preferencialmente manter-se fechado, mas caso seja esse o desejo da família, e houver condições, pode permitir-se a visualização do corpo, desde que rápida, a pelo menos um metro de distância. Para além disto, existe ainda a possibilidade de se usarem caixões com viseira. Perguntámos a Eurico Conde o que pensa desta nova diretiva. Na sua opinião a nova medida “veio confundir ainda mais as pessoas inclusive os profissionais do sector”. “É incompreensível, tendo em conta que se trata de um vírus com uma alta taxa de mortalidade, com uma forma de propagação muito fácil. Não compreendo como é que de um momento para o outro se altera isso. É muito difícil para nós controlarmos as pessoas num funeral ao abrirmos uma urna, para que se mantenham a um metro de distância, e não toquem na urna. Quem faz as regras não sabe nem procura informar-se com quem lida diretamente com as situações. Eu consigo entender a intenção, mas acho que estamos a abrir a porta para que a propagação do vírus aumente”.

Ávinho e Feira de Maio em formato online s certames âncora do concelho de Azambuja vão ter uma versão online. A pandemia não deixa outra solução a não ser usar as redes sociais para transmitir o melhor da Ávinho e da Feira de Maio. Os eventos de Aveiras de Cima e de Azambuja movimentam anualmente milhares de visitantes e constituem-se como uma atração turística para as duas maiores localidades do concelho. Nesse sentido, e porque a autarquia quer continuar a

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dar um incremento à economia local, decidiu fazer uma versão criativa e online das duas iniciativas. Sem em 2020 não existiu tempo para marcar posição quanto aos certames, o ano atual será mesmo o virar de página por um lado, e por outro a fórmula mais eficaz de lembrar os certames à distância e em segurança. À Rádio Valor Local, o vereador com o pelouro do turismo, António José Matos, frisou que estas

iniciativas servem sobretudo para manter a tradição, embora de uma forma diferente. Entre algumas ideias novas, o vereador sustenta que em Aveiras de Cima, as caixas da EDP podem vir a ser usadas como “telas” onde “vamos pintar quadros alusivos ao ciclo do vinho”. Aveiras de Cima tem como ponto alto na Ávinho o desfile sobre o ciclo do vinho, onde habitualmente participam as associações da freguesia e é um dos momentos

mais representativos da cultura local. Este ano e para não perder essa vertente, a autarquia assegura que “estamos a falar com a Fundação da EDP, no sentido de podermos usar as muitas caixas da EDP que existem na localidade”. No entanto e a par disto, o concurso dos vinhos, avançou sem muitas restrições, dado que este dilui-se no tempo e as regras da Direção Geral de Saúde permitem fazer o certame sem grandes

constrangimentos, a par disto, a autarquia prevê um conjunto de iniciativas online. Já em Azambuja, grosso modo, António José Matos diz que a autarquia vai pedir de novo para que as pessoas enfeitem as janelas e fachadas com motivos alusivos à Feira de Maio. A juntar a isto o vereador salienta que a Câmara colocará lonas em vários pontos da vila com fotos alusivas à feira. O vereador lembra as transmis-

Comandante dos bombeiros da Póvoa é candidato à presidência da Liga Presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Lisboa e Comandante dos Voluntários da Póvoa de Santa Iria, António Carvalho, assumiu uma candidatura à liderança da Liga de Bombeiros Portugueses, presidida atualmente por Jaime Marta Soares. Em declarações à Rádio Valor Local, António Carvalho, que também mantém as funções de Comandante Municipal Operacional do Concelho de Vila Franca de Xira, assegurou que esta candidatura tem como slogan: “Refundar a Liga pelo Futuro dos Bombeiros”. António Carvalho sustenta que os

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bombeiros não têm sido bem tratados pelas autoridades do país, e começa por recordar o facto de terem sido impedidos de socorrer e transportar vítimas de Covid no início da pandemia. De acordo com António Carvalho “esta candidatura que enviamos aos corpos de bombeiros, pretende mobilizar os companheiros, que se sentem desanimados com a situação atual no seio do setor”. Para o operacional, nos últimos quatro anos, mas sobretudo a partir de 2017 “os bombeiros têm sido muito mal tratados pelo poder político, e pelo Governo e por isso, também as associações se sen-

tem um pouco marginalizadas naquilo que são as suas funções, que é manter os corpos de bombeiros e assegurar o socorro em Portugal”, algo, mais visível agora em 2020 por causa da pandemia. De acordo com António Carvalho, a situação levou a um descrédito crescente entre os soldados da paz, sendo que na sua opinião “a liga ficou cada vez mais amarrada a paradigmas do passado, e não conseguiu fazer com que o Governo apoiasse as associações e os bombeiros”. Foi a partir deste “descrédito” que surgiu a partir de agentes do setor “que temos vindo a pensar neste

assunto”. O operacional diz que se sentiu desafiado para, em conjunto com outras forças neste meio, “alterar a situação e dar uma nova dinâmica a quem representa os bombeiros em Portugal”. Para já António Carvalho diz não existir nenhuma lista preparada, até porque as eleições na melhor das hipóteses decorrerão em outubro deste ano e assegura que ao nível dos corpos de bombeiros, “existem muitos quadros e pessoas competentes que possam incorporar este projeto”. Ouça esta entrevista em podcast em www.radiovalorlocal.com

Candidato quer assumir uma rotura com o estado de coisas no setor

sões do Valor Local, que decorreram até 2017, onde podíamos constatar um grande incremento de espetadores no estrangeiro, para ilustrar que a transmissão de algumas iniciativas é sempre uma boa ideia, nomeadamente, conferências alusivas ao mês da cultura tauromáquica. Estas são para já apenas ideias, pois segundo o vereador, toda a pandemia, veio colocar em teste a capacidade da autarquia se reinventar.


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Polémica das vacinas dentro dos lares de idosos

Manuel Frazão diz que nem tudo é preto e branco esde que se iniciou a vacinação contra a Covid-19, que os lares de idosos têm estado sob os holofotes, tendo em conta os alegados abusos levados a cabo nesse processo. Há dirigentes acusados de aproveitamento e de terem ficado com sobras de vacinas ou mesmo de se terem colocado à frente de funcionários. Manuel Frazão, presidente do Secretariado Regional de Santarém da União das Misericórdias Portuguesas, ao Valor Local diz que é preciso ter em linha de conta algumas excecionalidades relacionadas com o processo, embora diga que não compactue com as situações em que os “prevaricadores têm de ser punidos”. Ressalva que à priori o Governo deveria ter determinado os critérios para a toma da vacina

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que no seu entender pecaram por serem demasiado genéricos no início. O também provedor da Misericórdia de Pernes, Santarém, explica que no caso de existir um surto dentro de uma instituição “todo o pessoal acorre aos utentes e lida de perto com a situação” para ilustrar que não há posições estanques

em que parte dos funcionários não lida com utentes, até porque nunca se sabe quando mais braços podem ser necessários, porque os surtos não têm hora

marcada para aparecerem. “No surto que se passou na minha instituição tive 38 funcionários de baixa e as administrativas tiveram de ir para a linha de frente fazer apoio domiciliário”, e por isso “qualquer ativo das misericórdias ou outras instituições é necessário para socorrer os nossos utentes”. Na sua opinião, o ministério da Saúde e o da Segurança Social poderiam ter acautelado este tipo de realidades. Para além de que “durante a primeira toma da vacina, muitos funcionários estavam a rejeitar essa necessidade, e tiveram de ser os provedores a dar o exemplo para motivarmos essas pessoas que, no fundo, tinham medo”. Manuel Frazão explica ainda que “ninguém foi alertado para os sobejos

de vacinas que foram compostas dentro das nossas instituições”, esclarece para ilustrar que as doses não vinham feitas previamente. No caso da Misericórdia de Pernes “foram os bombeiros locais os beneficiados” com as sobras. Manuel Frazão diz ainda que não foi vacinado. Os critérios deveriam ser mais elásticos e contemplarem, no seu entender, ainda os voluntários porque “há que defender a instituição no seu todo”. O dirigente destaca que no caso das misericórdias “temos provedores que são muito ativos dentro das instituições”. “Recentemente houve um surto na Misericórdia de Benavente e não havia colaboradores. Tiveram de recorrer a uma empresa externa e a colaboradores da Cruz Vermelha. O provedor não foi vacinado, mas tinha todo o direito a sê-lo porque esteve na linha da

frente”. Depois da toma da primeira dose da vacina, sucederam-se surtos em vários lares do país e da região, e no entender de Manuel Frazão tal não está relacionado com nenhum abrandamento nos cuidados tomados pelas instituições. “As pessoas continuam a ter receios, mas julgo que é apenas algo que não é explicável, até porque a primeira toma não é suficiente como sabemos”. Para Manuel Frazão, a pandemia colocou à prova a vida nestas instituições com vários danos mentais associados – “Há uma provedora num distrito próximo do nosso que esteve 44 dias dentro da misericórdia porque não tinha colaboradores que chegassem”. Trabalhar em espelho é também um desafio para as colaboradoras das instituições – “As pessoas andam cansadas física e mentalmente”.

Alenquer: Início da vacinação considerado dia histórico ia 12 de fevereiro marcou o início da vacinação nos quartéis de bombeiros da região. A primeira toma deu-se nesse dia para os bombeiros de Alenquer e de Arruda dos Vinhos, embora apenas para 50 por cento do número de efetivos. Entretanto o ministério da Saúde face à escassez de vacinas determinou para data incerta a vacinação dos restantes efetivos e voluntários das corporações do nosso país numa decisão que está a causar celeuma. o Valor

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Local acompanhou a vacinação no quartel de bombeiros de Alenquer onde se juntaram também elementos das corporações de Arruda e de Merceana. Para Valter Machado dos bombeiros de Alenquer este era um dia “há muito aguardado”. “Andamos na linha da frente há demasiado tempo e ainda não tínhamos sido vacinados”. É tripulante de socorro na corporação na ambulância de INEM e não tem dúvidas em constatar que face aos riscos no transporte de

doentes Covid “já andava desesperado”. “Foram muitos meses a colocar a nossa saúde em risco embora sempre com muitas precauções”. Rodolfo Batista, comandante dos bombeiros de Alenquer, considera este “um marco importante e um dia histórico” e apenas lamenta que não tenha ocorrido mais cedo, mas “mais vale tarde que nunca”. No dia da nossa reportagem 44 bombeiros da corporação alenquerense foram vacinados. “Deviam ser to-

Para os dois operacionais de Arruda e Alenquer foi mais um passo para terem mais segurança no transporte de doentes

dos porque não há bombeiros de primeira ou segunda, mas é o que temos”. Os critérios de escolha basearam-se em diversos aspetos. “Foram considerados os bombeiros profissionais, em primeiro lugar, porque são os que passam cá mais tempo, no nosso caso estamos a falar de 30 operacionais. Sobraram 14 para os voluntários, e aí o critério seguido foi o da antiguidade e o da graduação”. Rita Pereira, dos Bombeiros de Arruda dos Vinhos, considerou o

arranque de vacinação como algo “importante dado que todos os dias estamos na linha da frente a transportar doentes Covid”. A terceira vaga da pandemia fica associada às imagens de ambulâncias à porta dos hospitais e no seu caso, relata que “foram dias difíceis”. José Pereira, voluntário há seis anos, nos Bombeiros de Merceana, conta que um dos episódios que mais o marcou na pandemia foi ter de socorrer uma pessoa sua conhecida que “es-

José Pereira, voluntário na corporação da Merceana, fala num diz muito feliz

tava bastante mal” com a Covid19 tendo levado o doente ao hospital de Vila Franca de Xira. “Hoje em particular é um dia bem-vindo porque fazemos emergência médica e temos de estar seguros. Não custou nada e incentivo todos a tomarem a vacina. Sendo bombeiro voluntário “estas causas também se fazem de voluntários e tentamos cativar cada vez mais os nossos jovens a inscreverem-se neste caso na corporação de Merceana”.


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Vítima de ataque por dois cães em Alenquer

Cidália Martins com longa recuperação pela frente mulher do presidente da União de Freguesias Carregado-Cadafais está livre de perigo mas tem um longo período de recuperação pela frente e vai ficar internada no Hospital de S. José por tempo indeterminado. Recorde-se que, Cidália Martins, 56 anos, treinava sozinha, devido à pandemia, no dia 12 de fevereiro, quando foi surpreendida por dois cães de raça cane corso quando atravessava um caminho público alcatroado entre o cemitério de Alenquer e a zona de Parrotes. Cidália Martins, atleta de corta mato federada, foi sujeita a várias cirurgias que passaram por enxertos de pele e tecidos – “O braço direito melhorou um bocadinho, mas o esquerdo não mexe. Vai ter de enfrentar mais operações”, conta-nos José Martins, marido e autarca. Ao Valor Local, recorda que era normal a esposa bem como ele

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utilizarem aquele caminho para os seus treinos e nunca se depararam com a presença de animais. Os cães pertença de um homem ligado ao treino animal na brigada cinotécnica da GNR atacaram os membros superiores da atleta federada que chega a correr entre 3000 a 3500 quilómetros por ano. “O ataque foi de tal maneira violento que chegaram até ao osso. Já lhe coseram um dos braços do pulso até ao ombro, o outro está mais difícil, já tiveram de enxertar pele e tecidos da perna”. Durante o treino, o casal chegou a estar ao telefone até que a dada altura quem telefonou foram estranhos que estavam a passar no local, e que deram o alerta para José Martins e para os bombeiros. Os cães foram recolhidos ao canil municipal, mas o proprietário disse a José Martins que não conseguia ex-

Dois cães de raça cane corso estropiaram os braços da atleta

plicar o sucedido. O Valor Local contactou o dono dos animais através do seu local de emprego, mas este não respondeu ao nosso pedido. “Não consegue explicar por que razão os cães se soltaram e vieram para a estrada, mas dada a profissão dele deverá ter conhecimentos de treino quanto ao desempenho dos cães e controle dos níveis de ferocidade. Apenas sei que atuaram de forma muito selvagem, porque o próprio cirurgião falou de danos muito elevados no corpo humano. Aliás as duas pessoas testemunharam que mesmo quando chegaram ao local, um deles continuava a atacar. Estavam ambos muito focados na destruição dos membros”, evidencia José Martins. O proprietário desde o dia do ataque que amiúde contacta o autarca por sms a perguntar pelo estado de saúde da esposa, mas não há

mais conversas para além disso. “Eu até prefiro assim”, diz o presidente da junta. O caso seguirá agora os trâmites legais com investigação em curso por parte do Ministério Público. Raça Cane Corso Apesar da lei portuguesa não enquadrar esta raça como potencialmente perigosa, certo é que há relatos de ataques similares, no planeta, pela raça cane corso, bastando para tal uma pesquisa no google. Especialistas recomendam atenção a este animal. Não sendo uma raça completamente proibida em vários países, as autoridades têm recomendado cautela aos proprietários destes exemplares. O cane corso é uma raça italiana, recomendada para donos experientes. É principalmente um cão de guarda.

Oposição queria consulta pública ao projeto ribeirinho para Alverca e Sobralinho oposição Bloco de Esquerda e CDU, na Câmara de Vila Franca de Xira, entendem que faria sentido que o novo parque ribeirinho de Alverca/Sobralinho fosse sujeito a consulta pública, para assim os cidadãos se pronunciarem sobre o projeto. O presidente da Câmara de Vila Franca, Alberto Mesquita, alegou que esta obra estava inscrita no programa eleitoral e que não vai abrir uma exceção e com isso atrasar a sua construção que, recorde-se, está prevista para este ano, com o objetivo de se unir toda a margem norte do concelho até ao Parque das Nações. Está é uma intervenção que está orçada em cerca 8,9 milhões de euros, no entanto Alberto Mesquita, ao Valor Local, em julho do ano passado aquando da apresentação da obra referiu que poderia não existir fundos comuni-

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tários disponíveis para comparticipar a mesma e que teria de ser a Câmara a fazer face a essa circunstância e avançar assim com

o financiamento. Carlos Patrão, vereador do Bloco de Esquerda, quis saber qual o valor do investimento que será

aplicado na aquisição de parte dos terrenos. Em causa está também a criação de uma pequena praia fluvial, numa zona

Durante a apresentação do projeto em julho de 2020

de sapal, recuperando a anterior Praia dos Tesos, que terá tendência a “artificializar” o local, segundo o autarca. “No mesmo local temos uma zona industrial devoluta que poderia ser utilizada para espaço de lazer e reabilitar aquela área”, e sugeriu a ideia de uma consulta pública junto da população. Nuno Libório da CDU sublinhou que o principal é que a “a população de Alverca e Sobralinho tenha direito à sua área de lazer com ligação ao Tejo o quanto antes”, tendo em conta que já existiu um abaixo-assinado neste sentido. Contudo expressou que há questões de ordem ambiental que não podem ser descuradas e que devem fazer parte de um projeto mais vasto. Mesquita voltou a sublinhar que os demais parques lineares também não foram considerados

para discussão pública e não está na disponibilidade de atrasar o processo que esteve disponível para ser consultado. “Assinámos o protocolo das alterações climáticas e agora fizemos determinadas opções para quele espaço que não fazem sentido”, referiu Carlos Patrão. Libório acrescentou – “Um processo de discussão publica não colocaria em causa este projeto”. O presidente da Câmara retorquiu alegando que as entidades públicas chamadas a dar o seu parecer não apresentaram resistências de maior. “Não se pode atrasar mais este projeto, e se não conseguirmos avançar com fundos da União Europeia recorreremos a empréstimo bancário porque temos capacidade de endividamento. Este processo vai avançar com todas as cautelas e preocupações expressas”.

Alenquer não conseguiu reaver vários computadores emprestados na primeira fase da pandemia vice-presidente da Câmara Municipal de Alenquer, Rui Costa, salientou que ainda há muitas dificuldades no terreno quando o tema se prende com a entrega de computadores aos alunos do concelho dado o estado de confinamento. O autarca deu conta que durante o período de emer-

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gência que vigorou durante o passado ano letivo, a Câmara não conseguiu reaver vários computadores que emprestou aos alunos, e outros acabaram por vir danificados, pelo que o município registou algumas perdas. Por outro lado, lamentou que muitas famílias carenciadas não tenham aceitado fi-

car com um computador durante a atual terceira vaga da pandemia, “Penso que com um pouco de zelo não teríamos problemas mas foi opção dessas famílias dado que estamos a falar de um período que não se deve prolongar por mais do que uns 40 dias segundo as expetativas”, lamentou-se. Uma

das medidas previstas foi o empréstimo de computadores via escolas, dado que o Governo não está a conseguir adquirir máquinas em número suficiente. Frederico Rogeiro, vereador do PSD, criticou o Governo por ter anunciado que iria suprimir as lacunas neste domínio sem o ter consegui-

do. Rosália Batista também do PSD deu a ideia de serem fornecidos tablets Rui Costa acabou por concluir que “os preços dos computadores dispararam e não existe quantidade suficiente com os valores a aumentarem brutalmente”. Em abril de 2020 a autarquia ad-

quiriu 125 computadores portáteis e mais de 50 ligações à Internet, num investimento global de aproximadamente 60 mil euros, a que se juntaram 48 tablets para equipar as denominadas “salas de aula do futuro”. Já este ano disponibilizou cerca de 125 computadores portáteis e mais 48 tablets.


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Câmara de Arruda entrega medicamentos na casa de idosos Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos e as farmácias do concelho assinaram um protocolo no âmbito do programa “Vamos Lá Nós” que pretende minimizar os riscos de exposição e contágio à doença do coronavírus e de combate ao isolamento social, sobretudo para a população mais vulnerável. O Valor Local acompanhou uma dessas deslocações da autarquia a casa de um casal de idosos da localidade de Carrasqueiro, Maria Helena Silva e Ramiro Frita, com 88 e 89 anos respetivamente. Mário Ferreira, funcionário do município, estava incumbido de entregar, no dia da nossa reportagem, mais um pacote com medicamentos. Ramiro Frita quis dar uma gorjeta, mas o trabalhador recusou. “Não podemos aceitar”, adverte. O idoso teve pena até porque “não tinha importância nenhuma”. Ele e a esposa já não veem a família desde o Natal, exceto um dos filhos que vai levar as compras. Vivem mesmo à beira da estrada que vai para Vila Franca de Xira. Com os vizinhos pouco ou nada convivem, até porque a Covid-19 não dá margem para muito. Vão aparecendo à porta ao longo do dia, “aos bocados”, pois como a casa fica num local de passagem dá para irem vendo quem passa, “mas sempre de

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Foi mais um dia de entrega de medicamentos por parte do município

máscara”. À falta de melhor “vemos passar o trânsito e os vizinhos”, diz Maria Helena. Quaisquer conversas “só ao longe!”. O processo de vacinação dos grupos prioritários (pessoas com mais de 50 anos com insuficiência cardíaca, insuficiência renal grave, doença coronária e doença pulmonar obstrutiva crónica ou doença respiratória crónica e pessoas com mais de 80 anos) nos quais se inscrevem estes dois cidadãos já arrancou no concelho de Arruda, mas Maria Helena e Ramiro

Frita ainda não foram convocados. Mas também não sabem se podem ser vacinados. “Não quero ir sem falar com o médico porque já tirei um peito e tenho outros problemas de saúde”, refere a idosa que acrescenta – “Seria bom saber como é que se vai passar”. Já o marido também é cauteloso – “Eu vou lá mas primeiro tenho de dizer tudo o que tenho, porque já tive problemas de coração e de rins. Não sei se a vacina não vai desafinar cá a história”. De certa forma “já estamos habituados a

Nersant apoia ideias de negócio NERSANT - Associação Empresarial da Região de Santarém está a aceitar candidaturas de novos projetos empresariais a concurso de empreendedorismo. O concurso, que tem candidaturas abertas até ao final do mês de fevereiro, vai premiar o vencedor com 2 mil euros para apoio ao desenvolvimento do projeto e constituição da empresa, sendo atribuído ao segundo classificado, um prémio monetário de mil euros para o mesmo efeito. Para além disso, todos os projetos empresariais candidatos terão direito a incubação com duração de três meses nas incubadoras das instituições parceiras do concurso de ideias e a uma bolsa mensal no valor de 700 euros por mês durante os 3 meses iniciais do período de incubação, caso sejam jovens empreendedores que desenvolvam projetos oriundos do meio académico, tendo em vista a constituição de empresas de base tecnológica e/ou assentes em forte intensidade em conhecimento e que não detenham outro rendimento quer por conta própria ou por conta de

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outrem. O concurso de ideias de negócio tem, assim, como objetivo estimular o lançamento de startups inovadoras na região e incentivar o investimento empresarial com a utilização de tecnologia e conhecimento. São destinatários do concurso todos os cidadãos com idade igual ou superior a 18 anos, detentores de ideias de negócio e projetos de criação de empresas, com os seguintes requisitos: exequibilidade financeira; adequação ao mercado; caráter inovador; e credibilidade das referências académicas e profissionais dos seus promotores. As candidaturas podem ser apresentadas por uma única pessoa ou por uma equipa, sendo que neste caso os dados a incluir na candidatura deverão ser os do líder do projeto, devendo referir-se os restantes elementos da equipa no formulário. Cada empreendedor pode, ainda, apresentar mais do que uma candidatura. As ideias a concurso devem prever a constituição de uma empresa localizada num município pertencente a uma das NUT III da re-

gião Alentejo, nomeadamente Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Alentejo Central e Lezíria do Tejo: Almeirim, Alpiarça, Benavente, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Golegã, Rio Maior, Salvaterra de Magos, Santarém, Azambuja. De referir que o concurso de ideias de negócio “Business In Alentejo” é uma iniciativa do projeto BUSINESS + 2.0, dinamizado pela NERSANT, NERE, NERBE/AEBAL, cofinanciado pelo programa Alentejo2020 e FEDER. O mesmo pretende dar resposta a um conjunto de fatores críticos de competitividade regional, identificados nos diagnósticos das principais estratégias da região. As candidaturas podem ser submetidas no portal do projeto em: https://businessdoispontozero.pt/ concurso/business-in-alentejoedicao-1/. (Para mais informações e / ou esclarecimentos, os interessados devem contactar a área de apoio ao empreendedorismo da NERSANT através dos contactos sitiodoempreendedor@nersant.pt ou 249 839 500.)

isto da Covid-19 e não sei se com a vacina não vamos ficar piores”, diz Maria Helena que não esconde os seus receios. Contudo ressalva que nada lhes falta “porque mal precisamos de alguma coisa o meu filho (o único membro da família que ainda vê) deixa as coisas à porta”. Mesmo assim as saudades são muitas “Só temos o filho, a filha, a nora e

uma neta. No Natal tivemos aqui a filha e a neta, porque o meu filho e a mulher foram para a sogra, e desde essa altura que nunca mais tomámos contacto com o resto da família. Falamos ao telefone”. Com a pandemia, referem-nos, “acabou-se tudo”. Até “a missa aos domingos”, refere Maria Helena. A meio de janeiro, os números da pandemia cavalgaram as piores estatísticas, mas o casal não teve medo – “Estamos à conta de Deus! Já outras pessoas, coitadas não podem abrir as suas lojas e andar para a frente, infelizmente”. No Carrasqueiro, ninguém ficou infetado com Covid-19, “que se saiba”. “Isto é um pequeno lugarzinho”, enfatiza Ramiro Frita. O casal diz que toma os cuidados necessários com a desinfeção das mãos. “Mas também praticamente não saímos daqui”. Os dois idosos não sabem o dia de amanhã e se a pandemia vai acabar – “Tenho medo de morrer e que isto continue mau para quem cá ficar”, diz Maria Helena. Lembram-se de quando eram jovens, e os pais falarem da gripe pneumónica (1918). “O avô do meu marido morreu nessa altura

vítima dessa doença”, acrescenta. O pai de Maria Helena nasceu em 1897 e lembra-se de ouvir falar do que tinha sido a gripe, “mas na altura não havia televisão”. Quanto ao serviço prestado pela Câmara de Arruda é uma mais-valia. “O meu filho é que nos inscreveu e acho que é um bom serviço. Deixámos de andar a correr para a farmácia”. Mário Ferreira é o funcionário da Câmara encarregue de prestar este serviço. Desloca-se a casa de quem o solicita, recolhe a quantia necessária e desloca-se à farmácia para depois entregar na casa dos idosos os medicamentos pedidos. O protocolo entre a Câmara e as farmácias de Arruda e Arranhó foi assinado em outubro passado e permite desenvolver medidas que visem assegurar o fornecimento de medicamentos e outros produtos de saúde. O objetivo é evitar que os cidadãos se desloquem às farmácias, criando um circuito de atendimento rápido com a entrega preferencialmente no domicílio dos utentes que vierem a ser selecionados. Esta entrega ao domicílio é feita através da Unidade Móvel de Saúde, e dos serviços de ação social. PUB


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Dossier: Águas 11

Grupo de Lesados da Águas do Ribatejo já pensa numa ação popular contra a empresa Grupo de Lesados da Águas do Ribatejo vai avançar com uma ação popular contra aquela empresa intermunicipal que serve os concelhos de Almeirim, Alpiarça, Benavente, Chamusca, Coruche, Salvaterra de Magos e Torres Novas. O grupo já deu entrada com uma queixa na Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Saneamento (ERSAR) em que através de um longo documento dá conta daquilo que considera ser a “Roleta Russa das Faturas Milionárias de Contagens Inverosímeis”, isto tendo em linha de conta que após o período de emergência que vigorou de março a junho do ano passado, as contagens não foram efetuadas, resultando em muitos casos, e à posteriori, em faturas que os consumidores consideraram como astronómicas. No documento ao qual tivemos acesso, o grupo começa por explanar que mesmo partindo do princípio, que “parte das faturas milionárias, possam ser de acertos de consumos efetivamente ocorridos, em resultado da falta de leituras durante os meses de verão, período em que a AR interrompeu em várias zonas, sem aviso, a prática de leituras mensais”, tal afigura-se, em muitos casos, como resultado de uma “prática desleal” e “à revelia dos princípios juridicamente consagrados (artº 5º do DL 194/2009). Embora “a AR se refugie noutros - nº2 e Al.a do nº6, ambos do artº 67º do DL 194/2009, para crucificar consumidores com faturas milionárias de alegados acertos, alguns incompreensivelmente em meses seguidos.” E dá o exem-

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Carlos Almeida, Manuel Inácio e Eduardo Costa são alguns dos rostos deste movimento

plo de um apartamento desocupado por completo em Torres Novas, onde um consumidor teve um acerto de 695 euros. “Nessa argumentação, a AR não admite (por omissão) a existência de falsas contagens devidas a ar, refluxos de água, eletricidade parasita na rede (esta nos contadores eletrónicos), etc, que a própria ERSAR admite existirem, em função das características técnicas dos contadores (volumétricos, de turbina, eletrónicos, entre outros)”, exemplifica o comunicado dos cidadãos. O grupo de cidadãos está ainda preocupado com a qualidade do serviço pese embora o farto investimento nas redes e no saneamento anunciado desde sempre pela AR. O plano de investimentos da AR a 40 anos refere: construção de 30 estações de

tratamento de águas residuais; construção de 49 estações elevatórias; construção de 54 quilómetros de emissários intercetores; remodelação de 13 ETAR´s; remodelação de 11 estações elevatórias; construção de 15 novas captações; construção de 10 novos reservatórios; construção de 7 novas estações elevatórias; construção de 52 quilómetros de adutores; remodelação de uma estação de tratamento de águas; remodelação de 240 quilómetros de novos coletores. Contudo opina aquele grupo - “A renovação das redes herdadas dos municípios, passados já 13 anos dessa incorporação no património da AR, e a substituição de órgãos de proteção das redes de distribuição são o parente pobre deste plano de investimentos a longo prazo, como se vê pela não me-

lhoria dos índices de roturas e suspensões do abastecimento referidos a seguir.” O grupo de lesados fornece ainda uma explicação para o estado de coisas nos contadores e os valores inflacionados nas faturas - “Ora, os eventos que ocorrem nas redes de distribuição (roturas, baixas pressões, cor da água, nomeadamente) são os que incidem diretamente sobre o serviço prestado aos clientes, sobretudo os das periferias e das zonas altas. Não tendo a AR condições de assegurar o correto funcionamento de uma rede vetusta, de que não se conhece um padrão de qualidade homogénea nas redes recebidas dos sete municípios e mantendo órgãos deficientes e níveis elevados de suspensões de abastecimento (em 2017 – 4,31 roturas/dia e

773 suspensões; 2018 – 4,03 roturas/dia e 761 suspensões; e 2019 – 4,04 roturas/dia e 617 suspensões), como é reconhecido nos relatórios e contas de tal se deve ao desgaste de materiais e deficiente estado de condutas e ramais, levantam fundada suspeita de que a medição em contadores de velocidade, que a empresa tem instalado nos últimos anos esteja a ser gravemente inflacionada, nos casos que vieram ao conhecimento desta associação.” “Efetivamente, sabendo-se que a rede é velha, maioritariamente de fibrocimento sujeita a roturas frequentes, que a sua reabilitação é de somente 0,6% ao ano (Fonte: Relatório Anual ERSAR/2019), que apresenta roturas de abastecimento frequentes, consequentemente a pressão é preventiva-

mente baixa, não permitindo em muito locais o arranque de esquentadores, sendo suscetível à existência de ar na rede e refluxos de água, certamente contabilizados nos contadores sem válvulas antirretorno; não se vislumbra a obstinação da AR em assumir o absurdo das conclusões nas respostas às reclamações, de que se os contadores marcaram é porque os consumos se verificaram, em manifesto desrespeito do já referido artº11 da Lei 23/96 que obriga a AR na procura das verdadeiras causas e não apenas no enviar de ‘conclusões fáceis’.” “Não se vislumbra que uma empresa intermunicipal, cujas receitas cobrem em 126% as despesas, que desperdiça cerca de 32% da água que corre nas redes, que apenas recupera anualmente 0,6% da sua envelhecida rede de abastecimento (Fonte: Relatório ERSAR/2019) e que no 1º semestre de 2020 contabilizou 370 quebras de abastecimento, 94% das quais não programadas (Fonte: Relatório de Gestão e Contas da AR/1º Semestre/2020), continue a assumir a obstinação de crucificar os seus indefesos munícipes com faturas milionárias”, continua a explanar o grupo. Em conclusão o Grupo de Lesados da Águas do Ribatejo pede à ERSAR “uma rigorosa auditoria/inspeção, no âmbito das suas competências estatutárias”, no sentido de a AR “reverter a sua continuada e incompreensível obstinação de penalizar os seus consumidores com faturas milionárias ilegítimas.”

Nova conduta em Samora para reduzir perdas de água e roturas Águas do Ribatejo está a concluir a obra de substituição da conduta de abastecimento que atravessa a Rua Cândido de Oliveira (rua das piscinas), em Samora Correia. A empreitada inclui a construção de novos nós e a substituição de todos os ramais existentes. Com esta intervenção será dado um contributo para a redução das roturas e das perdas de água na zona dado que a conduta existente está em final de vida útil e apresenta algumas debilidades com roturas frequentes. A intervenção foi feita em sinto-

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nia com os trabalhos em curso no âmbito da reabilitação da zona com obras na Rua Cândido de Oliveira, Parque Ruy Luís Gomes, no espaço frente à Torre do Arneiro doa Corvos e na Azinhaga do Brejo a cargo da Câmara Municipal de Benavente. A nova conduta instalada pela AR pretende melhorar o abastecimento a vários equipamentos públicos como Centro de Saúde, Lar de Idosos, creche, piscinas, campo de ténis e pavilhão gimnodesportivo. “Os clientes domésticos e comerciais também irão sentir melhorias na rede eliminando-se alguns constrangi-

mentos, nomeadamente nos pisos superiores dos prédios”, diz a empresa em comunicado. A AR já havia instalado marcos de água para abastecimento dos bombeiros em caso de fogo urbano numa zona de elevada densidade populacional e com um conjunto de serviços fundamentais que recebem diariamente centenas de utentes. Esta empreitada insere-se no plano em curso nos sete municípios onde a AR gere os sistemas de abastecimento com o objetivo de reduzir as perdas de água e aumentar a eficiência ambiental.

Intervenção pretende contribuir para a diminuição das roturas


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Biblioteca It a entreter os

Foi a primeira vez que Jorge Simões recorreu a este serviço

Sílvia C. d’Almeida om muitos pais em teletrabalho derivado ao confinamento, e muitas crianças em casa após o fecho de escolas, tornou-se necessário arranjar maneiras de as entreter, de uma forma lúdica e instrutiva. São muitos os progenitores que decidiram assim recorrer ao novo serviço da Biblioteca Municipal da Azambuja, a BICA. Há que encontrar formas criativas de entreter os mais jovens que não passem apenas pelos videojogos ou por assistir à TV. Neste aspeto, muitos pais do concelho de Azambuja, à beira de um ataque de nervos ou não, devido ao confinamento, viram neste serviço uma alternativa pedagógica. Impedidos de frequentarem as várias bibliotecas do concelho, e desta forma requisitar os seus livros, podem agora contar com a entrega à porta de sua casa, sendo garantidas todas as medidas de segurança. A BICA - Biblioteca Itinerante do Concelho da Azambuja foi inaugurada no dia 15 de março de 2019 mas já antes já tinha sido realizada uma experiência de cerca de um ano com uma carrinha antes do serviço se tornar personalizado,

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com o objetivo de se realizar um diagnóstico das necessidades da população. A dinâmica inicial, sem pandemia, seguia uma linha de proximidade para com a população com menos mobilidade, direcionada para a camada etária mais idosa e mais afastada das sedes de freguesia. Visitava inicialmente as escolas que não tinham biblioteca escolar e posteriormente também escolas com bibliotecas escolares. Hoje, em tempos de confinamento, presta o serviço “porta a porta”. Este começou em pleno entre março e maio de 2020 e só nesse ano entregou mais de 1150 documentos. Os interessados em recorrer ao serviço podem aceder ao catálogo da biblioteca, e fazer o seu pedido, ou então usar o telefone, Facebook ou email para o efeito. As entregas são feitas à terças e quintas-feiras. Helena Bordalo, de 36 anos, é bibliotecária em Vila Franca de Xira, e já fez voluntariado na biblioteca da Azambuja. A trabalhar em casa desde 22 de janeiro, produz conteúdos online para crianças e jovens em idade escolar, e para isso tem de ter acesso aos livros. Para evitar deslocações dado o período PUB


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tinerante de Azambuja ajuda pais s filhos durante o Confinamento que atravessamos, recorre à BICA. Mas este não é o único motivo. Tem uma filha de sete anos, que adora que lhe contem histórias. “Normalmente temos o hábito de as ler à noite e como já esgotei o stock de livros aqui em casa requisitei o serviço. Aliás, desde que ela tinha dois anos que costumávamos ir à biblioteca de Azambuja todos os sábados para as atividades e ouvir as histórias.” “Ela é uma menina que está muito habituada a livros. Entra numa livraria e começa logo a escolher e a mexer…as estórias contadas no Youtube não têm a mesma importância. Eu evito que ela esteja muito tempo ao computador, ao tablet ou ao telemóvel. Dou-lhe sempre um livro”. Quando lhe perguntamos se é fácil atrair os miúdos para a leitura, com a distracção da televisão, responde: “Depende, pois dos cinco aos nove é fácil se estiverem acostumados com a leitura. Depende muito dos adultos que estão com eles. Se contarem histórias de maneira engraçada, eles acabam por gostar.” Kathleen Figueiredo, também moradora na freguesia de Azambuja, conta-nos que tem lido muito para

Helena Bordalo escolheu este livro para ler à filha os seus filhos de três e cinco anos. Para a auxiliar de educação em layoff, “não tem sido muito difícil” gerir as atividades com as crianças em casa nestes momentos de pandemia, até porque “as educadoras também têm falado muito com eles durante as aulas online.” A BICA tem, no entanto, sido uma

grande ajuda, “através da experiência proporcionada pela leitura dos livros e pelas atividades propostas através das redes sociais”, ideais numa lógica de complementaridade. Antes do confinamento, visitava a biblioteca uma vez por semana. “Requisitávamos o máximo número possível de livros, e PUB

em dois dias estavam lidos, tínhamos de ir logo buscar outros”. Quando tem algum tempo para ler, gosta de romances históricos e policiais, mas admite que durante este confinamento tem assistido a mais televisão, nomeadamente, séries, “muito mais do que quando estava a trabalhar.” Quanto aos

seus filhos, desde muito novos que lhes incutiu o gosto pela leitura. “Desde muito pequeninos que comecei a ler-lhes histórias, especialmente, à noite, e os meus filhos com a idade deles, não têm consolas, tablets, não usam o telemóvel” e por isso “tento que as atividades direcionadas para eles sejam mais pedagógicas”. Para Jorge Simões, morador em Casais do Regedor, ainda na freguesia de Azambuja, esta foi a primeira vez que requisitou os serviços da BICA. Os seus filhos de 11 e 5 anos já eram leitores assíduos da coleção da biblioteca, e no dia da nossa reportagem os livros eram para a sua filha mais nova. Conta-nos que a escolha foi feita em conjunto, até porque um dos critérios relacionou-se com o gosto pessoal da criança. No saco para entrega constavam alguns títulos que costumam fazer as delícias dos mais pequenos naquelas idades: “Dezoito histórias de princesas e fadas”, “Príncipes e Princesas”, “Os mais belos contos de fadas” e “Rapunzel”. O universo das princesas tipicamente do agrado das meninas fascina a filha e Jorge Simões mostra-se expectante

quanto a mais um serão em que a imaginação promete voar, e contanos que vai ler estas obras à noite com ela. Já os dias são passados na telescola ou no zoom, no caso do seu filho, já que a filha ainda está na pré-primária, mas tem também já alguma interação online com a escola. “Ela faz muitos desenhos, pinta muito, passa alguns momentos normais a ver televisão, porque também lhes queremos dar um docinho. No fundo é tentar mantê-los ocupados com coisas de que gostam para que não se chateiem muito”. Principalmente, “gostam de ler e ouvir as histórias, e frequentemente lembram-se desses conteúdos, especialmente quando veem os filmes na televisão e já sabem o enredo”. Enquanto a menina prefere contos de princesas, o menino gosta de tecnologia, e do passado dos jogadores de futebol. Diz-nos que durante esta fase têm mais tempo para adquirirem cultura geral naquilo que são conteúdos próprios para a idade, e no fundo “mais tempo para tudo, inclusive para estarem com os pais, pois não pode ser tudo mau”. “Valorizo muito o tempo que agora passo com eles. Em cirPUB


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Sónia Ferreira requisitou vários livros para as suas aulas

cunstâncias normais não poderia tão bem acompanhar o crescimento deles.” Sónia Ferreira, também moradora na freguesia, é educadora de infância de crianças com três anos de idade, e têm uma bebé com dois. Está a trabalhar a partir de casa e o seu ofício consiste no fundo em contar histórias. Pretende gravar vídeos para os miúdos e quem sabe usar a plataforma Zoom para o efeito. Como não tinha livros com os temas que queria tratar, decidiu pedir emprestados à biblioteca itinerante, mas aproveitou e trouxe também alguns para a sua filha. Já conhecia este serviço dado que a escola onde trabalha já o usava regularmente. Contudo, é a primeira vez que o requisita individualmente. Conta que atualmente já é possível recorrer a plataformas da internet, e que já tentou, mas prefere o livro bem como os seus alunos. “Talvez porque os livros apelam mais ao sentido de interpretação. Faço as minhas expressões para chamar a atenção das crianças. Privilegio nesse trabalho não apenas a história mas também as imagens”. A sua filha também prefere a imagem no livro. “O digital não serve!”. Quanto à ideia de uma biblioteca móvel, diz que “acaba por ser confortável, especialmente nesta fase da Covid-19, em que não podemos ir a lugar nenhum”. Isabel Martins está em casa desde que começou o confinamento. Trabalhava num centro de estudos, que encerrou entretanto. É a única leitora que entrevistámos que pede livros apenas para si. Segundo nos conta, o confinamento está a “ser horrível” já que apenas sai “para ir às compras”. Com muito tempo livre entre os afazeres domésticos, tem recorrido à BICA que ajuda a preencher os seus dias trazendolhe sempre novos títulos para a entreter. “Sou uma leitora assídua da biblioteca e sempre que preciso eles cá vêm”. Gosta de ler policiais, e normalmente chega aos dois livros por semana. A televisão fica em segundo plano. “Caso contrário dava em maluca sempre com as mesmas notícias”. O ro-

mance que vai ler desta vez é o Vidas Adiadas. Diz que esta foi uma boa iniciativa e recomenda o serviço de entrega de livros a toda a gente. Silêncio ensurdecedor invade a biblioteca em tempos de confinamento Se não estivéssemos em plena pandemia, no dia da nossa reportagem, que começou no edifício da biblioteca de Azambuja antes de partirmos com a BICA, o cenário seria por estes dias composto por alguns reformados a lerem os jornais numa das alas, mais alguns estudantes das escolas locais a estudarem ou a consultarem livros noutra, isto só para dar o exemplo. Provavelmente os mais jovens já teriam sido repreendidos por estarem a falar mais alto como é costume nestas idades, mas nesta altura a biblioteca permanece com

as luzes apagadas na maior parte das salas e os livros ficaram adormecidos não se sabe até quando. Apenas os funcionários estão presentes e prontos para mais um dia de entregas ao domicílio. Joana Whitfield, técnica da Rede de Bibliotecas do Município de Azambuja, em que se inclui a BICA, lamenta que não se possa receber pessoas na biblioteca: “Anteriormente, tínhamos na sala de estudo cerca de 30 utilizadores e na infantojuvenil, ao sábado de manhã, cerca de 10 famílias lá dentro. Neste momento, o silêncio que temos que é o que normalmente se deseja numa biblioteca é ensurdecedor”. Em entrevista ao Valor Local, conta-nos que antes da pandemia “tínhamos uma relação muito próxima dos utilizadores, com salas muito cheias, e famílias inteiras na biblioteca.” Nesta fase, devido a todas as restrições, “não podemos

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Habitual leitora hoje foi dia de Kathleen Figueiredo também doar algumas obras à biblioteca ter nada disso”. “Em março de 2020 fechámos a porta tal como agora. Toda a gente ficou em choque com a situação e tivemos de entrar pela via digital. Começámos com inúmeras iniciativas nas redes sociais, no facebook e no site do município. Em abril pensámos em reestruturar as coisas e a pensar que com a BICA podíamos chegar às pessoas, já que não podiam sair de casa, e dessa foram passaríamos a ir ter com elas. O que verificamos é que especialmente em tempos de pandemia as pessoas têm mais necessidade de ler, de ter uma companhia, um escape. Muitas pessoas estão sozinhas em casa, o que é dramático. Em maio do ano passado começámos, assim, com o projeto porta a porta”. Esclarece ainda que em termos de “logística é mais complicado do que parece”. Dado que a coleção da biblioteca tem títulos espalha-

Joana Whitfield conta que a biblioteca teve de mudar a agulha para conseguir chegar aos leitores em tempo de pandemia

dos entre os polos de Alcoentre, e de Aveiras e o edifício principal em Azambuja. Para a técnica, “tem sido muito gratificante porque nem toda a gente pode comprar, ou encomendar online”. Os livros não são baratos. “Temos pessoas que consomem literatura, que leem três livros de 10 em 10 dias, e esse consumo não permite a aquisição regular, por isso nós emprestamos.” A BICA tenta ser também um serviço de companhia naquilo que é o possível de momento - “As pessoas saúdam-nos e dizem ainda bem que fomos levar os livros, porque há três meses que muitos não veem ninguém.” Relativamente às medidas de segurança necessárias, até porque os livros são manuseados por muitos utilizadores e existe por isso risco de contágio, diz que têm de cumprir as normas da Direção Geral de Saúde, mas também da Direção Geral do Livro,

dos Arquivos e das Bibliotecas, que também estabelece algumas normas relativamente a estes empréstimos. Uma dessas regras relaciona-se com um período obrigatório de quarentena para as obras, após a sua devolução, normalmente, de quatro dias. Cristina Campino e João Paulo, funcionários, estiveram encarregues da entrega dos livros neste dia. João Paulo conta que em Quebradas uma das utentes deste serviço, antes da pandemia, pedia sempre algumas revistas, mesmo sem saber ler, “para ir folheando e conversando connosco”. O mesmo acontecia “com os utentes do Lar de Vale do Paraíso que se encontravam com a BICA e iam vendo as obras e falando connosco”, diz Cristina Campino. Foi um contacto que se perdeu com a pandemia que esperam poder reaver quando tudo voltar a ser como era dantes.


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Por linhas direitas

Fevereiro 2021 António Jorge Lopes

Em Portugal nada faz sentido e ninguém sabe porquê meu bom amigo Luis Farinha, distinto jurista, disse-me vezes sem conta que “Portugal não tem solução”. E estas últimas semanas, infelizmente, teimam em dar razão ao Ilustre Colega! Numa segunda-feira, o primeiroministro António Costa garantia que “não se justifica o encerrramento das escolas do ponto de vista sanitário”. No dia seguinte já declarava “amanhã, quarta-feira, vamos iniciar a campanha de testes rápidos nas escolas, não queremos fechar as escolas”. E dois dias depois disse ao país que afinal as escolas tinham de ser todas fechadas… O mesmo primeiro-ministro assegurava em Abril de 2020 que “no próximo ano lectivo todos os alunos do ensino básico e secundário terão acesso às plataformas digitais para o ensino à distância”. Chegados a Janeiro de 2021, as escolas foram fechadas mas sem ensino à distância, porque afinal só tinham sido entregues pouco mais de 100 mil computadores… A ministra da Saúde anunciou em Março de 2020 que o Serviço Nacional de Saúde iria contratar

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mais 950 médicos e chegámos a Dezembro de 2020 com menos 800 médicos do que no mês de Março… Entretanto anuncia-se um Monumento de Homenagem às Vitímas dos Incêndios de Pedrógão Grande que vai custar 1,8 milhões de euros! Mas continuam por recuperar e reconstruir centenas de casas em Pedrógão e o valor gasto em apoio às vítimas ao longo destes anos é pouco mais do que o valor do dito monumento… Pelo meio ficámos a saber que o último presidente do Tribunal Constitucional, Costa Andrade, mandou gastar quase 20 mil euros do erário público no seu retrato a óleo e mansamente ninguém fala do assunto… Mas o novo pre-

sidente do Tribunal Constitucional, João Caupers, viu-se envolvido numa polémica pública e violenta com os habituais comentadores esquerdistas por ter escrito há uns anos o que é óbvio: os gays e as lésbicas são uma minoria na sociedade portuguesa, têm direitos que devem ser defendidos, mas essa minoria não pode impor a sua vontade à maioria da sociedade sob pena de haver uma “inversão de termos” e passar a haver a “ditadura das minorias”… Por falar na esquerda radical, o provocador costumeiro de nome Mamadou Ba, dirigente da associação SOS Racismo e antigo assessor parlamentar do Bloco de Esquerda, publicamente conhecido por constantes atoardas racis-

tas contra os brancos, foi nomeado pelo governo de António Costa para pertencer ao “Grupo de Trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação”, conforme consta do Diário da República do dia 8 de Janeiro. É mais ou menos como pôr uma raposa a tomar conta de um galinheiro… No meio de todas estas e outras imbecilidades das últimas semanas, o ex-deputado bloquista Fernado Rosas ainda acusou de “criminoso de guerra” o recém falecido tenente-coronel Marcelino da Mata, o militar mais condecorado do Exército português por executar com particular eficiência as missões que a pátria que escolheu como sua lhe ordenou!… Como a imbecilidade se alastra como uma mancha de óleo, ficouse ainda a saber que o presidente da Câmara de Lisboa Fernando Medina (PS) insiste em destruir os conjuntos florais com os Brasões do Império que existem há décadas à frente do Mosteiro dos Jerónimos, que o deputado socialista Ascenso Simões propõe a demolição do Padrão dos Descobrimentos e que a deputada do PAN Inês

Estado Central e Local: “5.0”. utilidade gerada para as populações a partir dos recursos públicos disponíveis é suscetível de ser aumentada em função da incorporação sistemática de nova informação nos processos de tomada de decisão e de trabalho da Administração Pública. Os bens e serviços públicos apresentam algumas características que os distinguem dos bens e serviços de natureza privada. A diferença económica entre bens e serviços públicos e bens e serviços privados reside exclusivamente em considerações técnicas e objetivas, que são bem evidentes na seguinte assunção: não é possível excluir os “não pagadores” do acesso a bens e serviços de natureza pública (sem

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“rivalidade” no consumo) como, por exemplo, a segurança pública, a defesa nacional e a limpeza e higiene do espaço público. É possível compreender, com relativa facilidade, que os bens e serviços de natureza pública são suscetíveis de gerar mais utilidade total por unidade monetária investida do que os bens e serviços privados. A lógica é simples: um banco público é utilizado por imensas pessoas diariamente. A cada pessoa que se senta no banco, aumenta a utilidade total do banco/euro investido. A propósito deste artigo, assume ainda especial interesse a doutrina do utilitarismo. O utilitarismo é um ramo da filosofia moral que se debruça sobre as preocupações morais que resultam das

desigualdades na distribuição de rendimento. É esta, sobretudo, a base conceptual que orienta os Estados no processo de redistribuição. No entanto, esta moeda tem duas faces. Um Estado redistribui para efeitos de saúde e educação universais, segurança social, bens e serviços públicos. É a partir da receita fiscal que o Estado financia estas garantias e as suas funções. A este propósito, está devidamente estudada a relação entre o nível dos impostos e a receita total fiscal arrecadada. Se os impostos forem muito altos, haverá um desincentivo à produtividade, com as atividades mais taxadas a desacelerarem a produção e, globalmente, a produtividade da

Ficha técnica: Valor Local jornal de informação regional Propriedade e editor: Propriedade: Metáforas e Parábolas Lda – Comunicação Social e Publicidade • Gestão da empresa com 100 por cento de capital: Sílvia Alexandra Nunes Agostinho; NIPC 514 207 426 Sede, Sede do Editor, Redação e Administração: Rua Engenheiro Moniz da Maia, Centro Comercial Atrium , nº 68 Loja 17 2050-356 Azambuja Telefones: 263 048 895 - 263 106 981 - 96 197 13 23 - 93 561 23 38 Correio eletrónico: valorlocal@valorlocal.pt; comercial@valorlocal.pt Site: www.valorlocal.pt Diretor: Miguel António Rodrigues • CP 2273A • miguelrodrigues@valorlocal.pt Redação: Miguel António Rodrigues • CP 2273 A • miguelrodrigues@valorlocal.pt • 961 97 13 23; Sílvia Agostinho • CP 6524 A • silvia-agostinho@valorlocal.pt • 934 09 67 83 Multimédia e projetos especiais: Nuno Filipe Vicente multimédia@valorlocal.pt Colunistas: Rui Alves Veloso, Augusto Moita, Acácio Vasconcelos, José João Canavilhas, António Salema “El Salamanca”, Inês Lourenço, Jorge Laureano Jacinto e Silvia Carvalho Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida • paginacao@valorlocal.pt Cartoons: Bruno Libano Departamento comercial: Rui Ramos • comercial@valorlocal.pt Serviços Administrativos: Metaforas e Parabolas Lda - Comunicação Social e Publicidade N.º de Registo ERC: 126362 Depósito legal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga Tiragem média: 8000 exemplares Estatuto Editorial encontra-se disponível na página da internet www.valorlocal.pt

Sousa Real admite que o tecto do Salão Nobre do Parlamento tem de ser alterado porque retrata momentos dos nossos Descobrimentos!… Até a socialista Ana Gomes já perdeu a “seriedade presidencial” com que se travestiu durante uns meses e regressou à arruaça a que sempre nos acostumou! E vai daí que resolveu escrever no Twitter que André Ventura deve ser preso e o partido Chega! ser suspenso… mas tudo preventivamente! Nem os Tribunais Especiais do “tempo da outra senhora” se lembrariam desta proposta “democrata” de Ana Gomes! Já nem quero falar da pouca vergonha que se viu nestas semanas na vacinação de amigos, primos, cunhados e quejandos, preferencialmente com cartão partidário cor-de-rosa... Ou da aprovação de uma lei da eutanásia na semana em que Portugal registava tristes recordes mundiais em termos de óbito por COVID-19!… Contudo, enquanto estas e outras imbecilidades fazem o seu caminho, Portugal tem há semanas consecutivas o pior desempenho

económico da Zona Euro, conforme resulta dos relatórios da OCDE. Desde 1986, Portugal recebeu 140 mil milhões de fundos europeus e continuamos na cauda da Europa, ultrapassados por países que entraram depois de nós e que eram mais pobres do que nós. Mas a “bazooka financeira”, nome que substitui o pomposo “Plano de Recuperação e Resiliência” do governo de António Costa, vai alocar 80% dos seus fundos ao Estado, como se não fossem as empresas que produzem riqueza e criam trabalho numa sociedade moderna! Até parece que em Portugal nada faz sentido e ninguém sabe porquê. Mas as coisas fazem sentido e sabe-se porquê. E é por isso que a cegueira ideológica do actual PS amarrado por convicção e conveniência à esquerda radical faz, concerteza, rebolar no túmulo socialistas como Mário Soares e Salgado Zenha…

João Santos

economia a cair mais ou menos acentuadamente. Isto significa, paradoxalmente, que, a partir de um certo limite, mais impostos significam menos produtividade e, por conseguinte, menos receita fiscal arrecadada pelos Estados. Assim, o exercício complexo dos governos passa por calibrar, a cada conjuntura, o nível certo de impostos (entenda-se de redistribuição) que garanta a maximização da utilidade total obtida a partir dos recursos à disposição sem desestimular a produtividade das economias. Este raciocínio poder ser facilmente compreendido com uma pequena equação. Consideremos que: no numerador da equação (parte superior) colocamos a utilidade que o Estado (Central ou Local) gera para os cidadãos a partir de um determinado investimento; o nível de investimento (em euros) do Estado (Central ou Local) é colocado no denominador (parte inferior) desta equação muito simples. No final, podemos assumir que o resultado desta di-

visão corresponde à utilidade alcançada pelo Estado (Central ou Local) com cada euro do erário gasto naquele investimento. Ora, ambas as variáveis desta equação são suscetíveis de melhorar. Para o efeito, é fundamental tomar as melhores opções estratégicas possíveis a cada momento e isso só é possível havendo a possibilidade de incorporar no Estado Central ou Local a informação ajustada. Para isso, a interconexão e integração tecnológica com o “exterior” é vital. É de modernização que se trata. Vivemos na chamada Sociedade da Informação. Nunca a informação assumiu tanta preponderância para o desenvolvimento individual e coletivo. Este paradigma, que se consolida e reforça a cada dia, é uma realidade que resulta do facto de o crescimento do conhecimento ser sequencial e incremental. À medida que a indústria se vai desenvolvendo e especializando em função da produção de equipamentos e aplicações informáticas que armaze-

nam e processam informação, maior é a propensão e a capacidade da sociedade para gerar nova informação. É um processo iterativo. Nas últimas duas décadas, a transformação tecnológica foi colossal e não é possível antecipar com segurança como estará o mundo daqui a outras duas. Neste sentido, para garantir processos de decisão que resultem na maximização da utilidade (somente gerada a partir das escolhas mais acertadas), assume importância decisiva garantir que as entidades da Administração Pública se modernizam tecnologicamente. Só assim a esfera pública conseguirá processar o conhecimento atualmente disponível e traduzir essa capacidade acrescida em mais eficiência na gestão do erário.


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Opinião 17

Portugal - Estado de Sítio! F

alei-vos na semana passada de uma nova ambição para Portugal, que envolvesse todos os Portugueses, nem de propósito o Governo, levou esta semana a consulta pública o Programa de Recuperação e Resiliência. Depois de meses de proclamações propaganda e publicidade em torno da vinda de fundos da Europa, finalmente o Governo abre a janela sobre que projetos propôs a Bruxelas Da análise que fiz fiquei muito preocupado, pois em nada corresponde a um projeto de recuperação económica pós covid, que traga esperança e futuro para Portugal e para os Portugueses. Mais preocupado fico, por se pode tratar da única oportunidade que o País tem para poder recuperar de uma crise profunda, económica e social, que está aí à porta, de consequências incertas e de prazo limite desconhecido, pois ninguém sabe quando tudo isto vai terminar. Nestas circunstâncias é muito importante que os Portugueses participem no processo de consulta pública, deixem sugestões e fiquem a saber as verdadeiras intensões do Governo. Este plano como o próprio nome indica deveria ser de recupera-

ção do País face à pandemia, e à crise económica e social que vamos enfrentar. Por isso o plano, padece desde logo de duas fragilidades face aos objetivos centrais, na substância por um lado e na forma por outro. Na substância, o plano está completamente rendido a uma visão política estatizante e centralista, que privilegia medidas essencialmente baseadas no investimento em serviços do Estado, sem capacidade reprodutiva. É totalmente desadequada a repartição de fundos entre publico e privado, mais de 80% dos projetos estão alocados ao Estado, Todos sabemos que o país só pode responder à crise com uma aposta clara nas empresas, no reforço da sua capitalização e competitividade, em especial nas exportadoras, mas também nas PME, que constituem o principal tecido empresarial português, e mantêm o emprego. Na forma, assiste-se a um leilão de obras, sem qualquer coerência entre elas, numa espécie de manta de retalhos, tudo ao molho e fé em deus, a pedido dos autarcas socialistas, sem que se crie valor para o país como um todo, serão obras muito importantes para a região onde vão ser im-

plantadas, mas não servem o país como um todo é investimento não reprodutivo. Resumindo e concluindo o plano deixou de ser uma visão estratégica para Portugal, sair da crise e passou a ser um plano de recuperação e resiliência do Governo de António Costa; Depois de um mandato, com a austeridade encapotada sob a forma de cativações, a impedir a modernização de serviços públicos como transportes, deixando concursos na gaveta; Ou a falta de investimento na saúde, com consequência negativas brutais, no combate à pandemia, seja nos cuidados de saúde em hospitais centrais com serviços a fechar constantemente, seja com unidades locais de saúde encerradas e sem recursos humanos para funcionarem. António Costa e o Governo aprestam-se a concretizar um programa de promessas eleitorais, utilizando fundos comunitários, numa espécie de festa socialista, que me faz recordar os tempos de Sócrates. Entre vários projetos, deixo aqui alguns exemplos do que digo: Estratégia Nacional para o hidrogénio, sobre esta estratégia existe algum Português que saiba o que isto é? Os poucos especia-

listas que ouvi sobre o tema consideram este projeto tenebroso, mas o governo apresta-se a gastar nesta estratégia 400 M €. Ou qual o retorno económico para Portugal de uma nova ponte entre Alcoutim e San Lucar em Espanha, num território em que do lado de cá e de lá todos juntos não serão mais que 20000 habitantes. Ou mesmo qual o contributo positivo do investimento de 400 mil de euros no carrossel para turistas, do Metropolitano de Lisboa, no ponto mais central da cidade, a baixa, pergunto quantos automóveis vai tirar dos cerca de 380 mil que todos os dias entram na cidade, com origem nos concelhos da periferia. De que adianta investir 300 mil euros em comboios, se não se renovam ou eletrificam as linhas existentes Para não falarmos da 267 mil euros que vão se investidos na capacitação digital da justiça, com a criação de plataformas digitais para tudo e mais um par de botas; Ou o que dizer do custo de 200 mil euros na criação do portal Único de serviços públicos; Ou os 100 mil euros na criação digital do cadastro do território; Todos aceitamos que estes in-

vestimentos são muito importantes, mas a reflexão que faço para mim próprio é em que medida a utilização de fundos comunitários nestes projetos do Estado ajudam a resolver a crise social, que está aí à porta, as pessoas, as famílias, as empresas que mantem os postos de trabalho com grandes dificuldades? Ainda por cima andamos há anos a ouvir a propaganda da comunicação do PS e do Governo a dizer que Portugal está modernizado em qualquer destas áreas, não assistimos todos ao lançamento do simplex em que atá as vacas voavam, recordamse? Não é este o país que se autointitula desde o tempo de Sócrates, como o campeão das energias renováveis e amigas do ambiente. Então caros leitores porque será necessário Portugal voltar a fazer os mesmos investimentos? É a questão que vos deixo! Este programa é a maior confissão do fracasso governativo de António Costa, vai agora tentar executar o que prometeu e não fez. O investimento vai servir essencialmente para engordar a máquina do Estado ficando as em-

Do internacional ao local, três assuntos sobre os quais urge refletir o internacional ao local, três assuntos sobre os quais urge refletir e continuar a trabalhar: Primeiro, a absoluta necessidade de a União Europeia repensar a sua estratégia de abordagem com a Rússia, que é uma potência e um mercado económico fortíssimo. A visita do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros da União Europeia à Rússia foi tudo menos um sucesso, e deu conta de que ou os países europeus articulam melhor entre si a sua política externa, ou a União Europeia não conseguirá afirmar-se como bloco coeso de in-

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fluência e negociação, garantindo a preponderância enquanto continente. A simultaneidade da expulsão de diplomatas europeus, por Moscovo, durante a visita do Alto Representante Europeu (por alegada ingerência na política interna russa) apenas fragilizou uma relação que é necessária, a muitos níveis, para a própria Europa, sendo certo que a aproximação crescente da Rússia à Turquia e à China ser-nos-á sempre prejudicial, num contexto em que o globalismo dos mercados, do trabalho, dos produtos e das matérias-primas relativizam o nosso peso, capacidade de reação e

de influência ao nível planetário. Devem assim os responsáveis políticos europeus refletir muito sobre a forma como a União consegue ter uma efetiva política de negócios estrangeiros (ou não – porque todos nos lembramos que a União Europeia não foi capaz de falar a uma só voz em momentos fulcrais da geopolítica mundial, como a invasão do Iraque, por exemplo); e pensar também muito bem em como se conseguirão abrir portas para uma aproximação à Rússia, cujo mercado e poderio militar não pode ser descartado. Em termos nacionais, palavra positiva para o Governo, que

também a semana passada anunciou apoios suplementares às famílias em teletrabalho com crianças pequenas a estudar a partir de casa, ou dependentes com incapacidade comprovada igual ou superior a 60%, para quem – neste contexto pandémico – o apoio dos familiares é fundamental. No caso das famílias monoparentais, então, esta dificuldade de trabalhar a partir de casa e apoiar os filhos pequenos que estão em ensino à distância ainda é mais gritante, pelo que António Costa dá assim mais um passo importante no apoio direto a quem mais precisa.

Carlos Silva*

presas com umas meras migalhas. Portugal lamentavelmente, é o país da EU onde o Estado menos investe nos incentivos às empresas, dados da OCDE 0,45% do PIB, nem 1%. Para terminar, apesar de o rigor na escolha dos investimentos não ter sido o mais acertado, resta-me esperar uma eficaz fiscalização na aplicação dos fundos, garantindo a integridade do uso dos mesmos, e que estes sejam aproveitados na efetiva recuperação do país, e não sejam abertas vias verdes para o amiguismo, o compadrio a corrupção e a falta de transparência nos processos. Boa semana, saúde e até à próxima * deputado do PSD na Assembleia da República (Cronista da rubrica “Grande Tribuna na Rádio Valor Local)

Fernando Paulo Ferreira*

Estes trabalhadores poderão, assim, sem perder o emprego ou a totalidade do salário, passar a desempenhar a tempo inteiro a sua função de educadores e/ou familiares. Parabéns pela iniciativa. Última nota para a necessidade de reforçar o combate pela abertura de mais um nó na autoestrada que sirva a Cidade da Póvoa de Santa Iria. Os trabalhos de requalificação da EN10 entre a Póvoa e Alverca, desenvolvidos pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com o acordo do Estado, que a tornaram numa verdadeira avenida urbana e de qualidade, aberta à

circulação pedonal e ciclável com segurança (e cuja diferença espantosa deixa os habitantes do Município vizinho de Loures com água-na-boca), acentua o papel imprescindível da A1 não como autoestrada, mas como via rápida a Lisboa. Na Europa, no País e no Concelho de Vila Franca de Xira, eis três assuntos que estão sempre em cima da mesa. * deputado do PS na Assembleia da República (Cronista da rubrica “Grande Tribuna” na Rádio Valor Local) PUB


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David Ferreira passa a líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Vila Franca Miguel A. Rodrigues os 29 anos, David Ferreira começa a assumir um papel de relevo no PSD de Vila Franca de Xira. Militante de base, começou pela “jota” local e tem vindo a assegurar algumas das discussões mais importantes na bancada da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, substituindo em algumas matérias o líder atual da bancada, Rui Rei, que deixará em breve essa posição, mantendo apenas a liderança da comissão política concelhia, funções que quererá ter quase em exclusividade para tratar do processo autárquico em Vila Franca. David Ferreira faz parte assim de um conjunto de jovens da “nova vaga” de políticos do PSD de Vila Franca de Xira. Será esse o caminho que o atual deputado municipal diz querer seguir em entrevista à Rádio Valor Local.

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David Ferreira diz não enjeitar um acordo com o CDS, partido com o qual, e por tradição, o PSD tem vindo a fazer algum tipo de acordos, quer seja a nível local, quer ao nível nacional. Nas últimas eleições, o PSD concorreu sem o CDS e isso é algo que pondera repetir em 2021. À Rádio Valor Local, David Ferreira salienta que “o CDS ou qualquer outra força política tem de ter a noção da representatividade que o PSD tem”. David Ferreira sustenta, entretanto, que embora nada esteja fechado ainda, o PSD “tem de utilizar da melhor forma a sua posição de força pois é o maior partido do espetro centro direita”. O deputado municipal que tem estado envolvido na construção das listas, afiança, por outro lado, estar de “mente aberta” a qualquer acordo, mas que tal não deve passar em primeira

instância pela negociação de lugares. Essa, refere David Ferreira, deve ser uma discussão à posteriori. “Não pode ser esse o modelo. Primeiro porque o CDS não tem essa força e depois porque tal não é o que as pessoas estão à espera”. David Ferreira sustenta que, em primeiro, haverá lugar à apresentação do projeto “e depois logo se vê se serão atribuídos o segundo, quarto ou décimo lugares” em qualquer uma das listas aos diferen-

tes órgãos autárquicos. O deputado municipal que é critico da gestão que o PS faz das cidades concelhias, é também crítico da forma como o PSD de Vila Franca de Xira tem demonstrado o trabalho feito pela vereadora Helena de Jesus que aceitou pelouros do Partido Socialista neste mandato. Aliás, ainda está em aberto a recandidatura da atual vereadora do PSD, refere David Ferreira, que assegura que a discussão, embora já tenha começado, ainda não passou para o papel a escolha de um candidato efetivo à Câmara de Vila Franca de Xira. Para já, sabe o Valor Local, existe um

perfil de candidato aprovado pelos órgãos locais. Um perfil que poderá indiciar uma outra escolha que não Helena de Jesus. Quanto ao atual mandato da vereadora, David Ferreira sustenta que Helena de Jesus “tem feito um trabalho extraordinário”, no entanto assume que tem sido difícil passar para fora outra imagem que não a de uma vereadora eleita pelo PSD, mas completamente colada e alinhada com o Partido Socialista. À Rádio Valor Local, o deputado municipal sublinha que esse foi um problema durante este mandato. Algo que diz não ser verdadeiro. Por outro lado, sublinha que a negociação dos pelouros, à época, também não foi bem conduzida. Esse será um assunto a considerar no futuro, uma vez que, também aqui, o PSD “tem uma palavra a dizer”. Ouça a entrevista completa em podcast em radiovalorlocal.com

PSD e CDS-PP de Azambuja enterram machado de guerra e vão juntos na corrida autárquica PSD e o CDS-PP de Azambuja vão voltar a candidatarse às autárquicas de Azambuja em coligação. Em 2017 a coligação foi desfeita, a escassos meses das eleições numa rotura que deu que falar entre Rui Corça, cabeça de lista, e José Carlos Matos, antigo líder do CDS local, mas agora e depois de uma análise ao mandato autárquico do Partido Socialista, ambos os partidos querem reeditar esforços. José Carlos Matos já não faz parte do novo projeto autárquico, e Rui Corça, recandidato, parece ter melhores relações com o atual líder dos centristas, Vasco Lima.

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Rui Corça e Vasco Lima reeditam coligação de centro-direita no concelho

Num comunicado em conjunto, a que o Valor Local teve acesso, as duas estruturas partidárias lideradas por Rui Corça (PSD) e Vasco Lima (CDS), referem que estes últimos quatro anos de mandato autárquico “demonstraram à exaustão que o projeto político do Partido Socialista está esgotado e traduziu-se na prática numa gestão municipal errática, vazia de ideias, obras ou ações, sem qualquer planeamento estratégico e definição de prioridades, e principalmente muito aquém das necessidades das populações”. Entre outros temas destacam questões como as polémicas do aterro ou das centrais

fotovoltaicas, mas também outras problemáticas de gestão corrente como a necessidade de se colocar em prática o arranjo de estradas municipais, cujo documento remonta a 2017, “considerado como muito prioritário, mas que continua por resolver”. PSD e CDS dão conta de uma “grande falta de capacidade de gestão e de fazer aplicar as verbas” pois apesar de a saúde financeira da Câmara se apresentar como “fulgurante” pouco ou nada avança. Lembram que entre 2016 e 2020, “os contribuintes entregaram à Câmara de Azambuja quase oito milhões de euros de Imposto Único de Circulação”.

Por isso concluem que “as promessas não saem do papel apenas por incapacidade de planear bem e fazer rápido”. Os partidos que voltaram à mesa das conversações, também apontam o dedo à CDU. PSD e CDS, em comunicado, acusam o único vereador comunista David Mendes de se comportar “como um jogador suplente que nunca apresentou quaisquer propostas ou soluções alternativas e válidas e sem grande discussão quanto às opções tomadas pelo PS”. Os dois partidos pretendem apresentar os candidatos às juntas durante o mês de março.

José Braz, coordenador do PS: “Silvino Lúcio é o nosso candidato” ilvino Lúcio continua a ser o cabeça de lista do PS às eleições autárquicas de outubro. A garantia foi dada ao Valor Local por José Braz, secretário coordenador da Secção de Azambuja do Partido Socialista, e um dos militantes locais mais próximos do candidato à Câmara e atual vice-presidente. A doença e o súbito afastamento que o PS refere ser temporário, está a levantar algumas ques-

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tões junto dos militantes, que mostram o seu ceticismo quanto à recuperação atempada de Silvino Lúcio. O vice-presidente da Câmara está em casa e acompanha amiúde o estado do município e todas as movimentações em torno do PS. José Braz refere mesmo ao nosso jornal que “não foi equacionada a hipótese de Silvino não ser candidato” e refere que toda esta “preocupação” está relacionada

com o facto de há muitos anos, os militantes estarem habituados a verem o atual vice-presidente como “o homem do leme”. O responsável da secção refere por isso que considera, “natural que haja à volta de todo este seu problema de saúde, uma curiosidade e ansiedade em saber como ele se encontra, no entanto devem os militantes, simpatizantes, amigos do PS e do Silvino estarem tranquilos”.

Aliás, Braz refere mesmo que a seção de Azambuja continua a trabalhar normalmente no processo autárquico de outubro próximo. O Valor Local teve oportunidade de informalmente falar com Silvino Lúcio nos últimos dias, que deu conta da evolução positiva do seu estado de saúde, necessitando contudo ainda de algum resguardo até voltar a aparecer de novo na cena política.

O vice-presidente da Câmara está em casa e acompanha amiúde o estado do município e todas as movimentações em torno do PS


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Se quiser acabar com o aterro Câmara de Azambuja vai ter de “pagar indemnização à Triaza” Sílvia Agostinho uito daquilo que será a permanência ou não do aterro da Triaza no concelho de Azambuja será decidido até 20 de maio deste ano, altura em a Agência Portuguesa do Ambiente em consonância com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR-LVT) serão chamadas a pronunciar-se sobre a extensão da licença ambiental sem a qual a empresa do universo MotaEngil não poderá continuar a laborar. A Câmara de Azambuja que já se pronunciou no processo arrasou a empresa na consulta pública com vista à emissão daquele documento suscitando que a Triaza entre outras matérias, violou a lei no que respeita ao Regime de Licenciamento Único Ambiental e Regime de Prevenção e Controlo Integrado da Poluição. Contudo os ventos não se mostram nada favoráveis para aqueles que estão contra a permanência do aterro de resíduos não perigosos. Em entrevista ao Valor Local, Teresa Almeida, presidente da CCDR-LVT, diz entender o ponto

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de vista da população que tem estado há largos meses na linha da frente a pedir o encerramento da unidade face aos maus cheiros e à localização que colide com o que está na lei, situando-se a menos de 300 metros dos núcleos populacionais da freguesia de Azambuja. Teresa Almeida refere que não foram “observadas questões que obstem” à continuidade do aterro “dentro daquilo que são as competências” da CCDR, sendo certo que o processo “passa primeiro pela Agência Portuguesa do Ambiente”. A responsável diz de forma muito prática que já transmitiu ao presidente da Câmara de Azambuja que se não quiser a unidade no seu território, porque dificilmente existirão imperativos de qualquer outra natureza, “a melhor maneira é indemnizar a empresa para que ela saia”. “A Câmara é soberana em querer ou não determinada infraestrutura, mas se não quiser terá de pagar uma indemnização. Uma coisa é não licenciar, outra é rescindir. São consequências distintas”.

Aterro cumpre os mínimos requisitos para continuar a laborar segundo a presidente da CCDR-LVT

Quanto ao muito famigerado relatório da Inspeção Geral da Agricultura, do Mar e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) cujos resultados ainda não foram dados a conhecer, “foi passada uma coima à empresa devido a um movimento transfronteiriço não autorizado”, adianta ao nosso jornal, Teresa AlPUB

meida, que assegura que este facto não é valorizável dentro daquilo que é o enquadramento geral da problemática do aterro e as questões de fundo subjacentes – “No fundo equivale a pagar uma multa de trânsito”. A CCDR-LVT aguarda então pelo trabalho que a APA vai efetuar no

domínio da renovação da licença ambiental, e pelo que é dado a entender “o aterro tem condições para continuar”. “A nossa informação vai nesse sentido, porque não há questões impeditivas de tal”. Muito criticada tem sido a postura destes organismos do Estado, considerados por pecarem em ter-

mos de fiscalização deste tipo de unidades, e numa altura em que Portugal assiste ao levantamento de vários movimentos populares conta os aterros, principalmente desde que o país se tornou um dos principais importadores de resíduos estrangeiros. Teresa Almeida não esconde que o organismo que dirige tem limitações em termos de pessoal e de recursos, o que não deixa de ser “uma insatisfação”. Mas assegura que tem feito os esforços “possíveis” para levar a cabo ações no terreno. “Estamos a cumprir dentro do possível o Plano de Ação de Aterros que prevê ações de fiscalização e inspeção destas unidades”. Esta medida do ministério do Ambiente foi dada a conhecer no ano passado, antes do surgimento da pandemia, e depois disso praticamente pouca ou nenhuma informação foi difundida naquele sentido. A responsável assegura ainda que teve indicação de que a unidade da Triaza terá deixado de receber amianto como de resto o Valor Local já adiantara em anteriores edições. PUB


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Luís de Sousa vai dar luz verde à instalação das centrais da Torre Bela e da Cerca Sílvia Agostinho m declarações exclusivas ao Valor Local, Luís de Sousa dissipa dúvidas: vai mesmo dar parecer positivo às duas mega centrais fotovoltaicas em perspetiva para o concelho: Torre Bela e Quinta da Cerca. Haverá mais uns quantos projetos de grande dimensão, mas o presidente da Câmara de Azambuja garante que depois de viabilizar aqueles dois de maior envergadura a cargo das empresas CSRTB Unipessoal LDA e Aura Power (Torre Bela) e Fotovoltaica lote A – EDP (Quinta da Cerca) fecha a porta a novos projetos de maior monta. Luís de Sousa diz mesmo – “Estive a analisar tudo com muita calma e não vejo motivos para não votar a favor”. Os impostos municipais que em particular a empresa Aura Power e CSRTB podem vir a pagar não são, na sua opinião, algo a colocar de parte. Ao longo dos 30 anos que as empresas pretendem estabelecer-se no concelho deverão pagar de derrama um total de quatro milhões de euros, o que no conjunto das três décadas não chegará a 200 mil por ano. Quanto ao IMI, a Câmara ainda está a tentar apurar junto da autoridade tributária se a empresa terá ou não de fazer face este imposto. Em declarações ao nosso

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Luís de Sousa diz que o Governo tem a faca e o queijo na mão nesta matéria jornal Simon Coulson, CEO da empresa, (texto ao lado) garante o seu compromisso de honra quanto à instalação da sede social no

município. “Temos de pegar neste tipo de processos com muita calma porque há compromissos e objetivos

do Governo para o ambiente, e nós do nosso lado também temos de avaliar em conformidade”, refere o autarca. Sendo certo que a

Câmara não vê grandes entraves nos dois projetos, porque estão “dentro de muros”. A autarquia está a ver com as duas empresas

possíveis benefícios que podem passar por apoios “junto de IPSS e coletividades” com “placas fotovoltaicas” que podem fazer diminuir a fatura da eletricidade, entre outro tipo de ajudas. “Não vale a pena andar nestas guerras porque a Assembleia Municipal é que decide. E se decidir que não quer os projetos, depois vem o Governo que tem a faca e o queijo na mão em tudo isto”. Luís de Sousa diz que ainda não sentiu pressão por parte do Estado neste âmbito. O autarca recusa a ideia de que está na disponibilidade de abrir os braços para todo o tipo de projetos desta envergadura, até porque “há limites” e nesse sentido declara que fecha a porta a outros congéneres no futuro. Lembra que houve uma desistência, entretanto – “Veio aqui um projeto para um campo de painéis para Alcoentre e Rio Maior mas já anunciaram que afinal não pretendem vir para cá. Mais recentemente e nos últimos dias outro anunciou que também desistiu de ficar no nosso concelho. Por aqui se vê que não são tantos assim!”. “De resto temos dois projetos muito pequenos também aqui no concelho mas quase insignificantes” que deverão ser votados favoravelmente entretanto.

Jorge Lopes: “Por este andar, vamos ficar conhecidos como o concelho que acabou todo tapado por painéis fotovoltaicos” PSD e o CDS querem uma reunião urgente da Assembleia Municipal para que sejam reprovados os dois maiores projetos em perspetiva para o concelho no domínio da energia fotovoltaica. Para marcar essa sessão, é necessário um número de assinaturas mínimo que os dois partidos ainda não conseguiram recolher. Em causa a Central Fotovoltaica da Cerca, cujo processo de consulta pública terminou a 23 de fevereiro, com previsão de instalação de 458 mil painéis solares, entre as freguesias de Aveiras de Baixo e Vila Nova da Rainha, terminando no Camarnal, concelho de Alenquer, e o da Torre Bela, na União de Freguesias de Manique do Intendente, Maçussa e Vila Nova de São Pedro, cuja avaliação de impacte ambiental termina a um de março, com previsão de 638 mil 400 painéis. Em declarações ao Valor Local, o deputado do PSD e presidente da

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comissão de Ambiente na Assembleia Municipal, António Jorge Lopes, defende que o seu partido

nada tem “contra a produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis” como é o caso da ob-

tida através de campos de painéis solares, mas não quando se fala em “mega centrais que no seu

Para o autarca do PSD a Câmara prepara-se para tomar mais uma mega má decisão para o concelho

conjunto vão acabar por condicionar entre sete a oito por cento do território municipal” que assim ficará refém destes projetos económicos durante um período de 30 anos, o tempo expectável para a exploração de energia através dos empreendimentos que se pretendem instalar. “Temos obrigação de tomar decisões perante opções que não trazem riqueza nenhuma para o concelho”, refere, lançando o dado quanto aos postos de trabalho – “Entre as duas centrais não chegamos a 20 empregos, mas teremos milhares de hectares ocupados”, faz a comparação. O autarca fornece a estratégia que no seu entender deveria ser seguida pelo município – “Deve analisar de per si todas as propostas que se queiram implementar em função da distribuição no território, pois qualquer dia passamos a ser conhecidos por sermos aquele concelho que ficou todo tapado por painéis so-

lares”. Confrontado com o facto de o projeto a implantar na Torre Bela estar previsto para uma área onde até à data o proprietário mais não fez do que plantar eucaliptos, não se desenhando qualquer outro uso mais relevante para o local, responde que “a devastação ambiental não deixa de ser uma preocupação pois o eucalipto também contribui para a descarbonização”. O Valor Local sabe que o Governo já começou a pressionar alguns municípios que não querem este tipo de projetos nos seus territórios e a este propósito Jorge Lopes acrescenta – “Mal feito será se os autarcas não conseguirem impor a sua vontade naquilo que é o seu território, e já muitos rejeitaram este tipo de empreendimentos que não trazem riqueza e no nosso caso já se fala em nove centrais. Não se pode entender isto de forma leviana”.


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Aura Power garante que vai fixar sede no concelho Depois de ter sido retomado o processo de avaliação do estudo de impacte ambiental para a central solar a instalar na Torre Bela, o Valor Local voltou a falar com Simon Coulson, CEO da Aura Power, sobre as intenções da empresa que promete fixar a sua sede no concelho e minimizar os impactes ambientais. Para já fica a promessa. O processo ainda vai passar pelo crivo da assembleia municipal e muita água promete passar por debaixo da ponte. Valor Local – Neste momento, e depois da polémica montaria, quais são as expetativas da Aura Power, retomado o processo de consulta pública para o projeto de energia solar na Torre Bela? Neste momento recomeçou o processo de avaliação de impacte ambiental e mantemos a nossa confiança em relação à qualidade dos projetos. As centrais solares em questão são de extrema importância na trajetória delineada por Portugal no âmbito do compromisso assumido no Acordo de Paris (2015), em conjunto com o desafio de garantir o balanço neutro de emissões de gases de efeito de estufa em 2050 – conforme está explanado no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC) e no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), apresentado em 2019, onde são definidos os objetivos para a geração de energia renovável até 2030. Recentemente, a vossa empresa, em conjunto com os proprietários da Torre Bela, remeteu no processo dirigido à APA que os painéis solares a instalar não pretendem chocar com os restantes animais – veados,

gamos e javalis (cerca de 100) que permanecem na quinta. Está em condições de facto de garantir isso? A área de implantação dos projetos solares a serem construídos será separada da restante área da reserva de caça através de uma vedação perimetral. São duas atividades independentes, deste modo os painéis solares não são um problema para os animais. Que aspetos do projeto estão a merecer a vossa atenção de forma a não colidirem com o meio ambiente? O desenvolvimento de projetos solares é parte integrante da transição energética para um planeta mais limpo. Assim, a abordagem dos promotores, é a realização sistemática de estudos de impacte ambiental para todos os projetos (como é o caso destes). Os promotores optam por tecnologias inovadoras que respeitam o meio ambiente, limitando o potencial impacte das mesmas, assim como a implementação de uma política de proteção da biodiversidade existente nos vários locais onde são instalados os painéis solares. No que diz respeito às preocupações ambientais dos

projetos, desde o início que o desenho das centrais excluiu como áreas de instalação painéis e outros equipamentos as zonas da Reserva Agrícola Nacional e os montados existentes, em particular o corredor ecológico da Ribeira da Maçussa. A conservação da biodiversidade é uma preocupação constante nos nossos projetos estando previstas medidas de majoração da mesma através da eco pastorícia e apicultura. Por fim, no âmbito do compromisso com as gerações mais jovens é nosso objetivo a integração de iniciativas do programa Eco- Escolas com os estabelecimentos de ensino mais próximos. Qual o ponto de situação nas negociações para contrapartidas para o município? Estamos muito agradecidos pelo

apoio do município da

Azambuja às energias renováveis. Cumprimos a legislação em todos os projetos, e somos favoráveis a um diálogo aberto e um processo de desenvolvimento transparente, na relação com todas as entidades. O presidente da Câmara já disse que para viabilizar este projeto a Aura Power Rio Maior (uma das participadas deste grupo inglês) teria de mudar a sua sede para Azambuja, de forma que o concelho beneficie a nível de impostos. Como foi mencionado durante o processo de licenciamento a Aura Power Rio Maior SA será registada no município da Azambuja, assegurando o nosso compromisso com a autarquia. O impacto dos campos eletromagnéticos está associado também a este

tipo de centrais. Apesar de não haver consenso quanto a esta matéria e os seus impactes na saúde, mesmo assim gostaríamos de saber o que está planeado por parte da vossa empresa para minimizar esta questão ao máximo no projeto da Torre Bela? Durante a realização e submissão do Estudo de Impacte Ambiental, posteriormente avaliado por um painel multidisciplinar de entidades, os promotores têm de entregar o projeto de execução da linha de elétrica que interliga as centrais solares à Rede Nacional de Transporte (RNT). O projeto da linha inclui a modelação dos campos eletromagnéticos, exercício que também ocorre no Estudo de Impacte ambiental no fator “saúde humana”. Após a construção da linha, esta será entregue à Redes Energéticas Nacionais (REN) obrigando ao cumprimento integral da legislação vigente, definida através das recomendações da União Europeia (UN) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) estando sujeita a ações de fiscalização pelas entidades competentes, garantindo a segurança de todos.

Centrais solares- O caso de Salvaterra de Magos

Presidente da Câmara recusa olhar para este tipo de projetos como se fossem o demónio Sílvia C. d´Almeida s crescentes preocupações com os impactos das alterações climatéricas, e a necessidade de redução das emissões de CO2 na atmosfera, têm levado a um fenómeno de multiplicação de centrais solares em Portugal. Azambuja está na mira de empresários do setor, mas Salvaterra de Magos já começou este processo e funcionam desde há pouco tempo alguns projetos no terreno. Estimase que haja no ano de 2021, uma instalação recorde de novas centrais fotovoltaicas. Só no concelho de Salvaterra de Magos, existem duas em funcionamento, a de Marinhais e a do Granho, cada uma com a potência de 25 MW, e “está ainda em curso um estudo de viabilidade” para construção de uma terceira, segundo Luís Gomes, vereador do Bloco de Esquerda (BE), da mesma autarquia, em declarações ao Valor Local. Luís Gomes é perentório: Estes investimentos “têm de ser enquadrados numa perspetiva de desenvolvimento da localidade”. No caso concreto do Granho, “a possibilida-

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Instalação de centrais solares no concelho de Salvaterra também gerou controvérsia

de de crescimento ficou completamente estanque” devido à ocupação destas terras. Outro dos constrangimentos desta central é que trouxe um “impacto visual considerável”, já que se situa parcialmente próxima de uma zona urbanizada. Apesar de ocupar apenas uma área de 50 hectares situa-se paredes meias com a aldeia do Granho e a sua vinda para o concelho foi contestada nas redes sociais. Quanto à criação de empregos, também evidencia que nada o concelho ganhou nessa matéria:

“Tenho de reconhecer que existem condicionantes muito grandes. A lei não permite grandes intervenções, a não ser alguma vontade política para sensibilizar os proprietários dessas empresas. Os impactes positivos são zero. Estiveram lá durante a sua construção à volta de 100 trabalhadores, mas não há conhecimento de que fossem oriundos do concelho ou da região. A esmagadora maioria dos que por lá andaram tratava-se de mão de obra barata.” Segundo se constou à época, a empresa sub-

contratada para esse feito, a Ibérica Renovables LDA, recorreu a imigrantes provenientes de países como Índia e Paquistão. O projeto é do grupo EFACEC e já está em funcionamento. Segundo o “Ribatejo News” terá sido o próprio presidente da junta de Glória/Granho a interceder junto da empresa subcontratada para que desse emprego a pessoas da terra. Ouvido pelo Valor Local, o presidente da Câmara, Hélder Esménio, garante que aquele projeto está “completamente fora da área

urbana e urbanizável” e que foi construído numa zona florestal, sem infraestruturas de saneamento e de água, e de acordo com o Plano Diretor Municipal (PDM). E lança as seguintes questões: “O concelho não faz parte de um todo nacional?”; “Um investimento que tem um ‘interesse relativo’ seja ele feito em qualquer localidade, e cujo grande mérito é limitar o gasto de energia fóssil utilizando a energia solar, tem de trazer mais valia direta para a população onde é feito?”. Mas deixa ainda mais questões: “É algum investimento poluidor ou que crie mal-estar às populações? É pecaminoso do ponto de vista ambiental? É uma mera ocupação territorial do que antes era floresta? Por que razão teria de dar compensações?”. Esclarece ainda que ao abrigo da lei, a negociação de contrapartidas por parte da autarquia não é legal, e coloca questões de transparência. “Quando se começa a pedir dinheiro para os bombeiros, por que não se pediu para a Santa Casa ou para a associação de solidariedade social ou para um clube des-

portivo. Ou seja, não saímos daqui!” Quando questionado se a empresa foi convidada a sedear-se no concelho, não confirma e diz: “Vivemos num país onde existe liberdade empresarial. A empresa quando vem com um projeto para a Câmara já está constituída”. Minimiza ainda a questão da barreira visual criada, dizendo que “tudo cria impacto paisagístico” e que a central foi construída “num terreno amplo”, sendo que as infraestruturas têm cerca de “1,5 metros de altura”. Para o autarca, a questão reside na circunstância de se saber se o terreno poderia ter tido um fim diverso mais importante para o concelho, que não o do projeto da central, “o que pode ser discutível”, mas assegura que não o teria aprovado se pensasse dessa maneira. Sobre a questão de eventuais pressões, de que outros autarcas se queixam por parte do Governo, para a aprovação deste tipo de empreendimentos, garante que não tem sido o seu caso.


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Nuno Barrocas, Voz de “Uivo do Lobo” na Rádio Valor Local A paixão pela eletrónica surgiu na infância, muito pela influência do pai, que trabalhava nesta área. Conjuntamente a isto, o gosto pela música, numa época em que tudo o resto era escasso, e a explosão de rádios que se deu nos anos 80, viriam a tornar possível desenvolver a profissão de radialista. Conheça Nuno Barrocas, criador e animador do programa “Uivo do Lobo”, na sua Rádio Valor Local. Sílvia C. d’Almeida sua primeira experiência foi na Rádio (pirata) Clube de Azambuja, aos 17 anos, onde teve um programa de rock. Conta-nos que a sua aparência não condizia muito com o estilo que apresentava, uma vez que quem gostava de rock, mais precisamente heavy, tinha nessa altura, por norma, determinadas características a nível da indumentária, o que não era o seu caso. Houve até pessoas que ouviam o programa e que chegaram a perguntar-lhe se sabia quem o apresentava. “Não imaginavam que fosse eu!”. Conta-nos ainda que teve de convencer o diretor de programas a fazê-lo, porque “naquela altura elaborar um programa de rock heavy numa rádio pirata e local em que sobretudo se passava música moderna pop era algo complicado”. “O que eu queria fazer era considerado desviante, e foi uma pedra no charco.” No tempo em que ainda se usavam vinis e cassetes, lembra-se de gravar as suas músicas favoritas quando as ouvia noutros programas, para depois as passar no seu próprio programa. “O que hoje seria um sacrilégio”, não tem dúvidas em considerar. Quando surgiram os licenciamentos e a pirataria teve de acabar foi a concorrente, a Rádio Ribatejo, atualmente extinta, que à época estava integrada numa cooperativa presidida por António Lança, que permaneceu. Acabou por também colaborar aí, mas “mais na área técnica”. Curiosamente não seguiu esta área nos estudos superiores, trabalhando primeiro em gestão de empresas, e atualmente como informático. Sobre esta interrupção nas lides da rádio, diz: “Sou uma pessoa que gosta de muitas coisas, e também gosto muito daquilo que faço”. Questionado acerca das qualidades ne-

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cessárias para se ser profissional, acaba por dizer com humildade - “Há muitos bons locutores, pessoas muito engraçadas e bem mais à vontade do que eu por aí”. Sempre trabalhou, por isso, nesta área como amador, no entanto, ressalva que tenta “como amador ser o mais profissional possível”. O feedback, contudo, é positivo. Diz que numa farmácia de Lisboa tocava, há dias, em fundo o seu programa na Rádio Valor Local, e que “numa das vezes um cliente entrou e disse que nunca numa farmácia tinha ouvido música tão boa, e nunca neste género”, sendo que o que estava a tocar era rock. Começou a colaborar com a Rádio Valor Local ainda antes da sua inauguração em setembro do ano passado, na parte dos bastidores onde parte da magia também acontece. E não esconde o sabor especial que teve ao participar na montagem do estúdio e na resolução de alguns problemas informáticos. O convite para ter o seu programa seguiu-se naturalmente. Este consiste “numa réplica adaptada” do que fez anteriormente, sendo que desta vez não se limita a um único estilo. Neste momento, e devido à pandemia e às restrições impostas, não sendo permitidos os espetáculos, decidiu apoiar artistas portugueses, ajudando-os a promover a sua música. A cada programa é nos dado a conhecer um novo artista com conversas informais e atuações ao vivo. Está a gostar da experiência, embora seja recente, mas confessa que está “destreinado”. O locutor António Sérgio é para si uma inspiração, e é a partir do nome de um dos seus programas: “A hora do Lobo” que nasce “Uivo do Lobo”. Os seus gostos musicais são difíceis de definir, porque é “muito eclético”, e diz gostar de “música

por instinto”. Diz que “depende um pouco da disposição”. “Por definição” é rockeiro, gosta dos clássicos, mas a sua “sensibilidade musical” não lhe permite apreciar estilos “para lá de pesados”. Gosta ainda de jazz, blues, música clássica, e de alguns fados. Esclarece que “em todos os estilos musicais há música boa”. Não gosta de música popular, mas reconhece que “o Toy é um cantor que canta muito, muito, bem”. Procura ainda descobrir subcategorias, ou variantes dos vários estilos, porque “hoje em dia as correntes musicais vão-se desmembrando, as pessoas com a sua criatividade vão fazendo, dentro dessas categorias, coisas diferentes, e encontro material bastante interessante.” Ao nível do rock, há um grupo que para si se destaca, que são os ACDC, no jazz gosta de Duke Ellington, e no fado, de Mariza. Para quem está a iniciar-se nesta área, e apesar de considerar que não é a melhor pessoa para dar conselhos, recomenda que haja “respeito” para com o ouvinte. É necessário “ser criativo, fazer o que se gosta, e ser natural”. Quando lhe perguntamos se tem alguma mensagem para os nossos leitores/ouvintes, diz: “Espero que nos continuem a ouvir, o projeto da Rádio Valor Local está muito bom. Posso ser suspeito mas está muito completo, pois tem todo o tipo de informação para uma rádio online, sabemos que 99% das rádios online são automatizadas, e esta funciona como uma rádio de emissão de frequência. Tem um nível de informação elevadíssimo, e com uma grande variedade de programas de autor”. Ouça Nuno Barrocas e “Uivo do Lobo” aos sábados e domingos das 15h00 às 17h00 em www.valorlocal.pt.

Nas últimas edições do seu programa tem ajudado a promover artistas portugueses

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