Jornal Valor Local Edição Abril 2021

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Rádio Valor Local - www.valorlocal.pt - Ouça em todo o lado Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 98 • 22 Abril 2021 • Preço 1 cêntimo

Centrais solares podem levar ao desaparecimento de centenas de espécies de aves da região Ambiente na 21

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Alenquer

O percurso imparável da médica Lurdes Queimado que hoje é investigadora de topo nos EUA

Pandemia colocou a nu as fragilidades da saúde nos postos médicos da região Destaque da 12 à 14

Sociedade na 2

Autárquicas Azambuja:

Inês Louro já faz contactos para a sua lista pelo Chega! Política na 17 PUB


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O percurso imparável da médica Lurdes Queimado que hoje é investigadora de topo nos EUA oi para os Estados Unidos em 1996, e o que era para ser apenas uma experiência na sua área de três meses, acabou por ser o início de uma carreira de investigação abundante na área da pesquisa do cancro da cabeça e do pescoço. Lurdes Queimado, 57 anos, é da Pocariça em Olhalvo, concelho de Alenquer, e tem um percurso comandado pelo sonho. Médica, ainda se lembra de andar na escola primária da aldeia, onde desde cedo se fez notar. Oriunda de uma família humilde, o pai a dada altura queria que deixasse de estudar para ajudar no trabalho do campo. Foi o professor primário que convenceu a família a não o fazer. Hoje, e muitos anos depois, está ligada ao Departamento de Otorrinolaringologia, e Cirurgia da Cabeça e do Pescoço (Department of Otolaryngology, Head, & Neck Surgery) da Universidade de Oklahoma. É professora e investigadora nesta universidade e o seu percurso profissional passa ainda por uma prolífica carreira editorial na sua área. O seu extenso currículo de mais de 77 páginas que enviou ao nosso jornal atesta um percurso imparável desta médica do concelho de Alenquer, que ultimamente tem dado que falar porque o seu grupo de investigação foi o primeiro no mundo a demonstrar algo que ainda não estava científica e cabalmente provado: que o cigarro eletrónico destrói o DNA das células, sendo nesse aspeto quase tão maléfico quanto o cigarro comum.

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Até meados dos anos 90 trabalhava no Instituto Português de Oncologia em Portugal, e foi aos Estados Unidos apenas para aprender “umas técnicas”. Na altura “o genoma ainda não estava totalmente descodificado e eles aqui na América possuíam conhecimentos para se ir mais além no conhecimento dos tumores das glândulas salivares”. Nessa altura foi convidada para ficar na Universidade do Texas no Southwestern Medical Center. Seguiu uns tempos para a Universidade de Oklahoma. Mas foi ainda em Portugal “onde o bichinho da investigação cresceu tremendamente quando trabalhei no Porto com a equipa do doutor Sobrinho Simões e da professora Raquel Silva com quem aprendi imenso”, recordase. As diferenças na investigação que se faz nos dois países assentam sobretudo nas verbas disponíveis, “até porque se faz muito boa pesquisa em Portugal, mesmo com pouco dinheiro”. Com uma carreira consolidada conta que a pesquisa na área dos tumores das glândulas salivares concentra-se muito na análise da biologia molecular. O tabaco que “causa muitas lesões no ADN das células” é a principal causa deste tipo de cancros e a toxicologia tem sido uma área bastante explorada pela investigadora. Com a explosão sobretudo nos Estados Unidos do uso do cigarro eletrónico, a sua pesquisa tem estado voltada para este dispositivo. A equipa

As saudades de Portugal são muitas mas foi em terras de Tio Sam que concretizou o sonho de uma vida

de Lurdes Queimado conseguiu provar que mesmo “uma dose baixa pode provocar danos nas células e no seu ADN”, e com isso funcionar como uma porta aberta para a entrada do cancro e de síndromes no corpo humano. “O cigarro eletrónico altera as proteínas e inibe o nosso organismo de corrigir o dano causado”. Apesar de tudo o tabaco convencional “não deixa de causar mais danos

à nossa saúde” do que o cigarro eletrónico, acrescenta Lurdes Queimado, que contudo especifica que as diferenças não são muitas – “Numa análise à primeira vista das células verificamos que o cigarro eletrónico pode causar menos danos, mas, quando vamos analisar mais à lupa a dinâmica celular de uma forma bastante mais específica, aí percebemos que causa tantos malefícios

como o tabaco”. Este é um trabalho de anos e cada vez mais desafiante porque o mercado nos Estados Unidos assiste a uma explosão de vários tipos de cigarros eletrónicos. “Há mais de sete mil géneros de líquidos dentro destes cigarros que não são todos iguais”. Mais de 25 por cento dos jovens entre os 18 e os 25 anos usam cigarro eletrónico naquele país. A pesquisa não para e Lurdes Queimado e a sua equipa garantiu um fundo do “National Cancer Institute” nos Estados Unidos no valor de 2,2 milhões de dólares para estudo do impacto do cigarro eletrónico no cancro da cabeça e do pescoço em que serão analisados grupos de pessoas que usam este dispositivo, ou apenas o tabaco tradicional, ou ambos. O cancro da cabeça e do pescoço é o sexto com maior prevalência a nível mundial. A Índia encabeça as estatísticas no que toca à doença associada ao uso do tabaco combustível, enquanto os Estados Unidos estão no topo com o cigarro eletrónico, o que é bem ilustrativo das implicações que o dispositivo acarreta, e da necessidade de se apostar no aprofundar do conhecimento científico, e quando 80 por cento dos seus consumidores têm menos de 50 anos. Por outro lado, e ainda na análise dos efeitos do cigarro eletrónico foi possível comprovar “que as células expostas a estes dispositivos não respondem bem à quimioterapia”.

Contudo a polémica quanto a este tipo de cigarros, “ainda prevalece na comunidade científica, como por exemplo, em Inglaterra, onde se pensa que mudar do cigarro combustível para este pode ser uma solução”. “É difícil chegar a um consenso porque é algo relativamente novo e quando existem muitos dispositivos, que vão aparecendo e desaparecendo muito depressa no mercado”. Lurdes Queimado costuma vir todos os anos a Portugal e diz-nos que sente muitas saudades da “família em primeiro lugar”, mas também “da praia e do mar”, dos “campos da nossa região que são lindos”, e do clima “porque aqui praticamente só temos verão e inverno”. “Lembro-me de ir à praia em pequena no trator do meu pai e a distância parecer enorme, mas nós aqui para chegarmos à costa levamos oito a dez horas de carro”. Voltar a trabalhar em Portugal na sua área não esconde que poderia ser uma hipótese mas remota. “Seria bom estar novamente próxima da família”, contudo “em Portugal e nesta área existem muitas capelinhas e seria difícil continuar uma carreira sem voltar ao início”. Oriunda de uma família “onde ninguém foi estudar”, deixa a mensagem – “Não é por sermos de uma pequena aldeia e sem muito acesso à informação que isso nos deve impossibilitar de sonhar mais alto. Se quem nos estiver a ler tiver um sonho não deve deixar de ir atrás dele”.

Passagem para o público

Carlos Andrade Costa fica à frente do Hospital de Vila Franca arlos Andrade Costa será o novo administrador hospitalar do Hospital de Vila Franca de Xira, segundo apurado pelo Valor Local junto de fonte oficial. A partir de junho, a unidade que serve os concelhos de Vila Franca de Xira, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja e Benavente passa para as mãos do Estado e nesta altura o nome já está escolhido. Carlos Andrade Costa ainda está, atualmente, ligado ao Centro Hospitalar do Médio Tejo que integra os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas. O Grupo Mello abandona a gestão do hospital de Vila Franca ao cabo de 12 anos, oito dos quais na nova unidade localizada em Povos. Carlos Andrade Costa é licencia-

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do em Direito e tem um vasto currículo na área da gestão hospitalar, tendo iniciado a sua atividade profissional como administrador hospitalar no Centro Regional de Lisboa do Instituto Português de Oncologia. Foi ainda administrador delegado do Hospital Central Dr. José de Almeida; administrador delegado do Hospital Ortopédico de Sant’Ana e do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão. Foi membro do Conselho de Administração da Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo. Esteve também ligado a hospitais militares como membro da direção do Hospital das Forças Armadas, sendo até ao momento o único civil que geriu aquele tipo de

unidades. Desde julho de 2014, que preside ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE. Com um abundante currículo e experiência, o novo administrador hospitalar terá um forte desafio pela frente agora que a gestão do hospital volta às mãos do Estado, num desfecho nada desejado pelos cinco presidentes de Câmara. De unidade obsoleta e sem condições na localização - onde hoje vai surgir o novo campus de Saúde da misericórdia local - o hospital de Vila Franca de Xira passou em escassos 12 anos a ser uma referência no universo da saúde com a entrada do Grupo Mello, tendo adquirido nos últimos anos sucessivas acreditações por enti-

dades de referência a nível mundial como a Joint Commission International. Em 2019, o Governo anunciou a não renovação do contrato de gestão com a José de Mello Saúde. Por circunstâncias diversas, o ministério da Saúde nunca conseguiu chegar a acordo com o privado no sentido da continuidade do serviço prestado. O ministério de Marta Temido apenas anunciou até à data o lançamento de concursos para novas parcerias público privadas para os hospitais de Cascais e Beatriz Ângelo, Loures. A parceria de Vila Franca com o Estado vai seguir o mesmo caminho da de Braga, que foi gerida igualmente pelo Grupo Mello, até 2019, cujo caminho foi o do regresso à gestão pública.

Gestor hospitalar tem renovada missão pela frente


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Ministério da Educação quer replicar programa de empreendedorismo do concelho nas escolas do país município de Alenquer obteve o reconhecimento por parte do ministério da Educação no que respeita ao Programa de Empreendedorismo nas Escolas, que está implementado há sete anos. A Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares quer usar esta ideia lançada pela Câmara de Alenquer e incentivar a larga escala o empreendedorismo entre os alunos do país. Na Rádio Valor Local, o vereador com o pelouro do empreendedorismo, Paulo Franco, faz um balanço positivo destes sete anos, em que foi fundamental “o empenho das escolas, a colaboração dos professores e o entusiasmo dos alunos”. Ao longo dos anos tem sido possível passar à prática algumas das ideias dos alunos, como o jogo Além Vou, desenvolvido entre 2014 e 2015, que esteve à venda numa superfície comercial concelhia. O projeto foi apoiado pela Science4You que atua no setor dos brinquedos educativos.

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Outro dos projetos foi o do “Pão Alão” desenvolvido na escola de Santana da Carnota e posteriormente comercializado pela empresa Europastry, multinacional também presente no concelho, e que “foi outro dos motivos de orgulho para este projeto”. Na escola de Aldeia Gavinha, um grupo de alunos desenvolveu mais um jogo “À Descoberta de Portugal Continental” com parceria da Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega da Merceana. Mais tarde foi lançado o livro “Carregado, carregadinho de histórias” que beneficiou de uma parceria da AlenCulta que se predispôs à sua edição. Em breve, e de novo numa parceria com a Europastry será lançado o projeto de confeitaria “Os Miminhos dos Rei” numa alusão à Tradição do Pintar e Cantar dos Reis. A fábrica produzirá o conceito criado por alunos da escola de Canados no ano letivo de 2015/2016, quando ainda estavam no quarto ano. Vão estar

Paulo Franco dá conta da realização nesta altura de projetos que ficaram em carteira

à venda, para já, nos supermercados do concelho. “Passados estes anos, estão naturalmente entusiasmados, só agora foi possível, porque a Europastry dissenos na altura que tinha as suas li-

nhas de produção preenchidas, mas isto é um pouco o retrato da nossa vida, por vezes queremos concretizar algum projeto numa determinada altura, mas só o vamos conseguir uns tempos mais

tarde. Ou seja, os alunos aprenderam a gerir uma situação de insucesso”. Paulo Franco conta que na altura “ficaram tristes e descrentes mas agora foi possível”. O vereador conta que na calha para edição está ainda um livro de receitas interculturais que conta com a colaboração de vários alunos da escola do Carregado no ano letivo de 2016/2017. Devido ao facto de a freguesia ter uma vasta comunidade de imigrantes foi possível reunir contributos diversificados. O projeto também serve como forma de integração. “Estamos a tentar editá-lo. Foi um trabalho difícil na sua compilação, porque quisemos integrar a grande maioria das 58 nacionalidades e através da nossa rede de contactos ter uma obra realmente representativa das nossas comunidades migrantes. Estamos a trabalhar também com a Secretaria de Estado para a Integração e as Migrações”. Um dos próximos passos passa

por interligar o programa de empreendedorismo nas escolas com a incubadora de empresas. A disciplina de Empreendedorismo integra os diversos graus de ensino desde o 4º ano até ao 12º ano. “Quando estiverem no secundário, os alunos podem ir para a incubadora e desenvolverem o seu projeto, beneficiando ainda de uma rede de mentores como foi o caso da Science4You”, dá conta Paulo Franco. O papel dos professores tem sido importante neste projeto. Muitos deles expressam a sua pouca preparação para assumirem esse papel no início de cada ano letivo e “por termos identificado essa necessidade, capacitamos os docentes através de formação com uma empresa parceira”. Os alunos estão também “cada vez mas exigentes e é nesse sentido que também temos procurado desenvolver novas parcerias e levar os seus projetos cada vez mais longe”, declara o vereador. PUB


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Rui Corça: “Câmara de Azambuja gasta mais dinheiro nas associações de animais do que em apoios às IPSS” H

á anos que o município de Azambuja tem vindo a protelar a eterna questão da construção de um canil municipal. A autarquia no mandato de Joaquim Ramos nunca considerou o tema de importância maior, e mesmo Silvino Lúcio, atual vice-presidente, em declarações ao Valor Local, em 2018, salientava que o canil era importante, mas havia problemas mais urgentes para resolver na vida das pessoas. A Câmara acumula verbas para subsidiar a atividade de associações locais que atuam como retaguarda da autarquia no acolhimento de animais abandonados, numa solução que nem sempre é a mais desejada. Segundo Rui Corça, vereador do PSD, o efeito bola de neve desta opção por não se construir um canil - seja porque a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo prometeu uma estrutura intermunicipal mas que deixou para as calendas gregas, seja porque continuam as conversações com a cadeia de Alcoentre para se criar um espaço para o efeito no interior do presídio - “há muito que causa desconforto”. De acordo com a oposição o valor das verbas para associações por inexistência de uma solução camarária já supera a das verbas entregues todos os anos às instituições particulares de solidariedade social do concelho.

Falta de um canil municipal leva a situação insustentável no entender da oposição

“Este é mais um dossier em que ficamos por ser esclarecidos quanto à estratégia do município. Vamos tapando os buracos e atirando algum dinheiro para cima dos problemas e sem resolução à vista”, diz Corça. Em causa está a associação Abrigo, em Vale do Paraíso, um espaço sem boxes, que recebe mensalmente uma verba de dois mil euros, segundo os últimos dados, e que segundo a oposição tem correspondido na medida do possível ao que está protocolado com a Câmara. Contudo e nos últimos anos, a autarquia fez mais

um protocolo desta feita com a Associação e Proteção dos Animais e Ambiente de Azambuja, em Aveiras de Baixo (APAAZ), mas que está longe de correr bem. A oposição queixa-se de que a associação não abre as portas para que o executivo tome nota do que está a ser feito, e de que forma as verbas estão a ser aplicadas. Por outro lado, o espaço desta associação foi alvo de inspeção da Direção Geral de Veterinária. Encontra-se sobrelotado, ou seja sem condições dignas para os animais, mas que recebe todos os meses da Câ-

mara – 750 euros, segundo os últimos dados a que tivemos acesso e que reportam a 2019. Câmara acusada de não ter mão numa associação que recebe apoios, mas que não quer mostrar o que faz ao dinheiro que a Câmara dá Rui Corça diz que há mais de um ano que pediu para visitar a APAAZ, e que a Câmara não tem tido mão no estado de coisas e nos abusos em causa. “É grave porque sabemos que essa asso-

ciação não tem as condições mais adequadas e já foi alvo de queixas nesse aspeto”, e remata a este respeito – “Hoje em dia um cão no município de Azambuja é mais apoiado do que uma pessoa que esteja nas IPSS”. O vice-presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio, repudia as palavras de Corça, afirmando que tal é mentira e demagógico, porquanto a autarquia tem duplicado as verbas de apoio às IPSS. O Valor Local fez as contas e anualmente as duas associações recebem em conjunto uma verba de 33 mil euros, segundo os últimos dados de 2019. No ano de 2017, a autarquia atribuiu 22 mil euros às IPSS. Em 2019, antes da pandemia, foram 40 mil euros para as IPSS. Com a pandemia, a autarquia reforçou de facto as verbas para 90 mil euros, contudo em anos anteriores as verbas não andavam muito distantes das atribuídas às associações Abrigo e APAAZ, isto sem contar com os seis mil euros por ano que vão a partir de agora para a Tico e Teco por força da inexistência de um gatil. Silvino Lúcio defende-se “Se os animais estivessem em instalações nossas também tínhamos de gastar essa verba”. O vice-presidente concorda que a Câmara andou a reboque das promessas da CIMLT mas que quer

deitar mãos à obra ao problema da falta de um canil. Segundo Silvino a solução pode passar pela aquisição de pavilhões modulares a instalar nos terrenos da prisão de Alcoentre, e poder beneficiar da mão de obra reclusa e encerrar definitivamente o capítulo da falta de um canil. Inicialmente a ideia era construir de raiz um canil mas os valores andavam na ordem do meio milhão de euros, “com a solução dos módulos ficará por um terço desse valor”, garante. O autarca diz ainda que a Câmara está descontente com o estado de coisas com a APAAZ e que já foi retirado o subsídio mensal até que a associação mude a agulha. “Já instámos a senhora que tem de mostrar o que faz. É uma recetora de animais, e tem de fazer programas de adoção”. A proprietária deste espaço “foi alvo dessa inspeção porque tinha as coisas desmazeladas, e um excesso de animais”. O autarca prefere salientar que “o programa de adoções está a ser um sucesso no concelho, mas que não é fácil a gestão deste problema”, e exemplifica que recentemente a Câmara retirou 56 gatos da casa de uma acumuladora “e no fundo o Governo fez a lei do CED (portaria 146/2017) mas os municípios que se desenrasquem”.

Prémio Soares quer fomentar o interesse dos jovens pelas questões europeias Delegação Socialista Portuguesa no Parlamento Europeu vai levar a cabo a primeira edição do Prémio Mário Soares. Esta é uma iniciativa que se destina a galardoar, a partir de agora, os alunos do 3º ciclo do ensino básico, sendo que as candidaturas estarão abertas até ao dia 31 de maio. O concurso que visa promover a cidadania europeia será composto por trabalhos no âmbito da componente curricular “Cidadania e Desenvolvimento” e que valorizem aspetos da cidadania europeia, segundo a eurodeputada socialista Isabel Carvalhais em declarações à Rádio Valor Local. Isabel Carvalhais justifica a escolha desta unidade curricular com o facto de acompanhar “todo o terceiro ciclo, sendo possível trabalhar estas temáticas tão importantes (com os jovens) e que muito prezava ao doutor Mário Soares”. Para Isabel Carvalhais, é impor-

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Prémio Mário Soares tem como alvo os alunos do terceiro ciclo das escolas do país

tante combater “a iliteracia europeia” e por isso considera que esta iniciativa pode ser uma maisvalia nesse sentido. À Rádio Valor Local, a eurodeputada sustenta que esta nova geração está “mais aberta” para as questões europeias e por isso, esta forma de apresentar a Europa no seu todo através deste prémio poderá ser um dos caminhos para que “estes cidadãos de amanhã possam assimilar a importância das questões europeias no dia a dia”, apesar de existir ainda “algum défice na relação dos cidadãos com a instituições europeias e o projeto europeu”. A eurodeputada sustenta, entretanto, que a escolha desta faixa etária tem um propósito. Trata-se do facto de estarem na idade em que é possível incutir alguns valores: “É na mais tenra idade que temos de ser expostos à compreensão do que é isto da democracia, dos valores da pluralidade, do respeito pelas diferenças, se-

jam de género ou étnicas”. Por outro lado, este prémio, “procura também homenagear a figura do Doutor Mário Soares”, refere a eurodeputada, que salienta as qualidades “humanistas e europeístas” do antigo fundador do Partido Socialista, Primeiro-Ministro e Presidente da República. Os vencedores desta primeira edição vão merecer uma visita ao Parlamento Europeu, a casa da democracia europeia, com tudo pago, incluindo a estadia. No entanto, poderão também candidatar-se alunos fora da disciplina de Cidadania, desde que seja do mesmo ciclo de estudos, que tenha por “finalidade contribuir para o desenvolvimento de um sentimento de pertença dos cidadãos à União Europeia”. O júri do Prémio Mário Soares será presidido por Isabel Soares, filha de Mário Soares e de Maria Barroso. Ouça a entrevista na íntegra em podcast em www.radiovalorlocal.com


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Programa para controle de gatos vadios em Azambuja alvo de críticas Câmara Municipal de Azambuja aderiu ao programa de “Captura, Esterilização e Devolução” (CED) com o objetivo de controlar a população de gatos no concelho. O abandono animal está na ordem do dia, e este projeto pretende aumentar o número de esterilizações, e com isso controlar a reprodução dos animais de rua o máximo possível. O objetivo é encontrar cuidadores que deixem comida e água para os gatos vadios, os denominados assilvestrados, em locais estratégicos. Contudo a oposição e o grupo informal “Campanha de Esterilização de Animais Abandonados (CEEA)” criticam a Câmara por estar a implementar o CED contra o espírito para o qual foi criado. A autarquia contratualizou uma verba de seis mil euros com a Associação Tico e Teco, do Cartaxo, para que recolha os animais depois de esterilizados, mas sem a preocupação de os devolver à rua. Em reunião de Câmara, a veterinária municipal alegou que já tentou o contacto com “as pessoas que dão de comer aos gatos para que reforcem o seu papel de cuidadores, mas ninguém se chega

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à frente”. O Valor Local ouviu o vice-presidente da Câmara, Silvino Lúcio, que reforça a posição do município com a inexistência de um canil e de um gatil, o que também está na origem deste protocolo assumido com a associação do Cartaxo. José Paulo Pereira, vereador do PSD, lamenta que dos seis mil euros para ano e meio do projetoapenas “15 por cento dos fundos serão utilizados efetivamente no programa, os restantes 85 por cento serão afetos a esta associação” prevendo-se um máximo de 100 gatos a serem abrangidos para recolocação em colónias durante 18 meses. O autarca lamenta que só nesta altura a autarquia tenha aderido a este programa, quando outros municípios já fazem esse percurso há mais tempo, “e quando há verbas a fundo perdido para se tratar deste problema”. A própria “Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo tem protocolos com entidades farmacêuticas que permitem agilizar as esterilizações”. Por outro lado, “nem se sabe qual o número de animais existentes nas colónias”. José Paulo Pereira não tem dúvidas – “A Câmara entrega

Associação Tico e Teco do Cartaxo vai capturar os gatos errantes de Azambuja os animais à associação e fica à espera, que ela resolva o problema, porque no fundo estamos a falar de colónias em ambiente urbano que causam desconforto às pessoas. Diminuir o efetivo de gatos, mas ter presente a sua devolução deveria ser o objetivo no seu todo”. Silvino Lúcio reforça o papel im-

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portante que a Associação Tico e Teco vai ter porque “em primeiro lugar não é fácil apanhar animais de rua, e será isso que eles vão fazer também”. Por outro lado, e na questão de a Câmara não estar a levar a cabo este programa a cem por cento, ao encaminhar os gatos para a associação sem se preocupar com a sua devolu-

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ção após a esterilização, refere que esse “é um trabalho que vai demorar o seu tempo”. “Estamos a agilizar com as juntas de freguesia no sentido de encontramos pessoas que possam assumir essa responsabilidade de lhes dar de comer e beber, e no fundo manter as colónias”. Um dos problemas inerentes às coló-

nias atualmente prende-se com a circunstância de as pessoas “darem os restos das suas refeições, mas isso não pode ser, porque os gatos devem comer comida seca, no fundo ração”, explica para salientar que nem toda a gente está motivada para ir mais além nessa tarefa, que também implica despender verbas para isso.


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Covid-19: Suspeita de toma indevida de vacinas em lar de Aveiras de Cima Sílvia C. d’Almeida elo menos dois elementos do Lar Nossa Senhora da Purificação, em Aveiras de Cima, são suspeitos de terem tomado vacinas contra a Covid-19 de forma indevida, segundo pelo menos três fontes identificadas pelo Jornal Valor Local, ouvidas nos últimos meses, mas que preferiram manter o anonimato, para além de alguns mails pouco explícitos enviados à nossa redação à época dos acontecimentos. O caso sucedeuse logo na primeira toma em janeiro, e tem sido comentado à boca pequena no concelho até pelos decisores políticos autárquicos. Em causa estão os nomes de José Guilherme, membro da direção, que não tem contacto com os utentes, nem frequenta a instituição diariamente, e de Amélia Paulo, antiga médica no lar. À data dos acontecimentos, recordamos, apenas os utentes e funcionárias de lares estavam autorizados pelas autoridades a serem vacinados. Confrontado com esta situação

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pelo Valor Local, José Guilherme não confirma nem desmente que tomou a vacina, e não quis dar qualquer esclarecimento ou declaração ao nosso jornal. Remetenos para a direção da instituição, que tal como nos conta, “organizou todo o processo de vacinação.” Amélia Paulo, ao contrário, assume que tomou a vacina, no entanto explica que isto se deveu ao facto de estar em contacto direto com os utentes do lar, pois continua a exercer funções na instituição, às terças e quintas, ao contrário do adiantado pela nossa fonte que garante que nesta altura esse trabalho é exercido por um médico do centro de saúde de Azambuja. Amélia Paulo diz ainda que o seu nome vinha na listagem emitida pela Direção Geral de Saúde, pelo que não há da sua parte, qualquer ilegalidade. Contudo a lista das pessoas a vacinar em cada instituição é fornecida pela mesma às entidades da saúde, e uma vez no local os enfermeiros não questionam quem é

Instituição a braços com polémica das vacinas quem na lista nem fazem nenhum questionário a indagar da função dos indivíduos a vacinar. Contudo

soubemos que no dia da vacinação, houve mal-estar entre funcionários pelo facto de quer um quer

outro dos visados terem sido vacinados, numa altura em que as vacinas ainda eram escassas e as

prioridades eram outras. Tentámos contactar o Padre António Cardoso, responsável máximo da instituição, para que nos esclarecesse esta polémica, mas até à hora do fecho desta edição não foi possível localizá-lo nem pelo telefone de casa, nem pelo telemóvel, nem no lar apesar de termos deixado recado. Têm sido vários os casos reportados, na comunicação social, de abusos de poder relativamente à vacinação Covid em Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSSs), sendo que o Ministério Público estaria a investigar em fevereiro deste ano, cerca de 33 casos de irregularidades no processo. O nosso jornal reportou um caso semelhante na região da Azambuja em fevereiro, na altura, na Cerci Flor da Vida. O seu presidente, José Manuel Franco, foi acusado por uma funcionária de “ter ficado à frente de várias colaboradoras da linha da frente no acesso à primeira toma da vacina da Covid19.”

Miguel Duarte aceita a medalha de mérito municipal da Câmara de Azambuja iguel Duarte, o jovem ativista português, natural de Azambuja, que foi ilibado recentemente da acusação de auxílio à imigração ilegal depois de ter salvado milhares de migrantes no mar Mediterrâneo a bordo do Iuventa, embarcação de uma organização humanitária, confirma que vai aceitar a medalha de mérito municipal. Depois de alguma polémica, o jovem já deu o sim à autarquia. No fecho desta edição o próprio confirmou isso mesmo. Miguel Duarte está nesta altura de re-

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Miguel Duarte embarcou esta semana para mais uma ação de salvamento no Mar Mediterrâneo

gresso ao mar para continuar o seu papel como ativista. Luís de Sousa parabenizou, na Rádio Valor, Local Miguel Duarte, anunciando que a autarquia se prepara, então, para homenagear o ativista depois de ter chegado à Câmara uma proposta nesse sentido pelos núcleos locais do Partido Socialista, Juventude Socialista e Mulheres Socialistas de Azambuja. Numa entrevista na nossa rádio, Miguel Duarte referiu que continua empenhado nas suas causas

humanitárias. O ativista lamenta que nem todos os seus colegas tenham visto os seus processos arquivados. “Foi com surpresa que assisti à sentença, até porque a culpa deles foi igual à minha”. Dos 10 acusados, seis foram ilibados. No processo estavam ainda acusadas as organizações “Save The Children” e “Médicos sem Fronteiras”, o que “eleva para 21 o número de pessoas acusadas, todas trabalhadoras humanitárias”. O jovem tornou-se conhecido

quando lançou uma campanha de crowdfunding para angariação de verbas para custear o processo. Na altura angariou 55 mil euros só em Portugal. À época dos factos de que era acusado, 2016 e 2017, o aluno de Matemática no Instituto Superior Técnico sentiu o apelo para se envolver no resgate aos refugiados e migrantes no Mediterrâneo, então com 24 anos, a bordo do navio Iuventa, juntamente com mais nove pessoas no âmbito da organização não governamental alemã Jugend Rettet.

Começou o sonho do Campus de Saúde da Misericórdia de Vila Franca oi dado o pontapé de saída para a obra do novo campus de saúde da Misericórdia de Vila Franca de Xira que vai contar com clínica de ambulatório, unidade de cuidados continuados, e um lar de idosos, num investimento de 17 milhões de euros com recurso a fundos comunitários e que segundo o provedor Armando Jorge Carvalho deverá estar concluído em 2023. As obras de demolição começaram, e a Câmara de Vila Franca financia para já em 500 mil euros, sendo que há conversações para que a Misericórdia passe a beneficiar de receitas de um

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possível parque de estacionamento a construir nas imediações. Em troca a Misericórdia cede 2320m2 do terreno da envolvente ao antigo Hospital Reynaldo dos Santos à autarquia. A ideia inicial era a de aproveitar as instalações devolutas, pertença da Santa Casa, mas de acordo com as normas nada disso pode ser possível e um equipamento de raiz vai surgir no local. A instituição recorreu a verbas do Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU). A Santa Casa está em vésperas de garantir financiamento junto da banca a

pagar a 20 anos para suportar a totalidade do investimento respeitante às três obras. Armando Jorge Carvalho ao Valor Local diz que nesta altura a instituição garantiu três empréstimos: 6,5 milhões de euros para a clínica; 2,8 milhões de euros para o lar e 5,5 milhões de euros para a unidade de cuidados continuados. A instituição chegou ainda a acordo com a Luz Saúde para 20 anos na exploração da clínica de saúde, com contrato de arrendamento. No dia 16 de abril foi dado o pontapé de saída numa assinatura de contratos entre a instituição e as empre-

sas envolvidas na obra. O presidente da Câmara de Vila Franca, Alberto Mesquita, presente na cerimónia saudou o investimento. Numa primeira fase, começarão as obras para a clínica, seguemse as da unidade de cuidados continuados, mais atrasado está o processo tendo em vista um lar de idosos com candidatura ao programa PARES, fundo da Segurança Social. “Trata-se de um objetivo de grande monta para uma instituição como a nossa gerida por voluntários, mas esperamos ser bem sucedidos”.

Na assinatura de protocolos com a presença do presidente da Câmara


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Santa Casa da Misericórdia de Azambuja

O regresso à normalidade dá-se com pequenos passos Sílvia Agostinho os poucos a vida vai retornando à normalidade no lar da Santa Casa da Misericórdia de Azambuja. Como em outras unidades do mesmo género, por estes dias as visitas têm uma duração máxima de meia hora e apenas através de um vidro, onde familiares e utentes se esforçam para se ouvirem. Ainda não é permitido o contacto físico, apesar de todos os idosos e funcionários terem sido vacinados. Vive-se numa espécie de limbo até que haja luz verde para que os abraços regressem. A instituição registou em novembro um total de 38 infetados com a Covid-19 entre os utentes, a que somaram mais 15 trabalhadores. Seis idosos acabaram por falecer. Foi também através do vidro que o Valor Local falou com duas utentes que estão à espera de melhores dias, mas reconciliadas com a ideia de que ainda é cedo para visitas. Ilaete Lopes, 84 anos, é uma senhora bem-disposta e otimista. Desvaloriza até certo ponto o impacto da pandemia. Apesar de também ter contraído o vírus Sars-Cov2 refere que não ficou tão doente como outros colegas. No fundo os utentes já se habituaram um pouco a esta vida: sem visitas e com as funcionárias a trabalhar de máscara. Viúva, recebia visitas mais regulares até à chegada da pandemia por parte do irmão e da cunhada. No início foi “difícil de aceitar” que não ia poder ver durante muito tempo os familiares. Agora regressaram, mas

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Ilaete Lopes enfrentou com um forte espírito estes meses de pandemia sempre através do vidro. Aquando do surto “foi chocante”, assistir à partida de vários utentes devido à Covid-19, lembra-se. Entre as seis pessoas que faleceram “partiu uma pessoa de quem gostava muito, a Sofia Salema que morreu no hospital, mas também outra amiga, a Jacinta”, diz-nos. A viver há três anos no lar, refere que sentiu muita pena de abandonar a sua casa em Arrifana. Definindo-se como uma pessoa autónoma e que não teme a solidão, suscita que mesmo assim preferiu vir para a Santa Casa a ficar na casa do irmão em Lisboa, “porque galinha do campo não quer capoeira”. A entrada em cena da vacina contra a Covid-19 foi algo “ótimo” e por isso aceitou “perfeitamente bem” que também deveria ser vacinada. “A primeira dose ainda en-

grossou e tive de pôr gelo, mas na segunda nem isso, contudo dois dias depois tive dores de cabeça e no corpo mas foi passageiro”. Ainda se lembra bem do dia em que lhe fizeram a zaragatoa na altura do surto– “Estava a retalhar, aqui, umas castanhas, perfeitamente tranquila e bem, até que me começa a doer um braço, e daí a dor foi para as costelas, mas tudo muito passageiro. Fiz um primeiro teste que deu inconclusivo. Foi só à segunda que deu positivo”. Ilaete Lopes diz que não quis sofrer psicologicamente com o facto de estar doente – “Preferi pensar que tinha de aceitar, e de aguentar as consequências.” Ainda esteve um mês no covidário, “mas também se passou bem”. Nesta altura “estou com esperança de que isto demore pouco tempo para melhorar, porque custou-

Cidadãos de Vila Franca dão a cara pelo fim das mortes na passagem de nível Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e a Junta de Freguesia da sede de concelho em conjunto com a Infraestruturas de Portugal, estão empenhadas em terminar com a perigosidade da passagem de nível que faz a ligação da cidade ao jardim Constantino Palha e à Fábrica das Palavras. Nesse sentido, as entidades lançaram uma campanha de sensibilização em larga escala. A falta de respeito por parte dos peões no que toca ao atravessamento da linha, quando os sinais estão abertos, já levou a inúmeros acidentes, alguns deles mortais sendo que nas palavas do presidente da junta de Vila Franca, João Santos urge “acabar com aquela tragédia que ali ocorre de tempos a tempos”. De facto, a ideia de uma campanha a este nível terá partido da Junta de Freguesia de Vila Franca com o município. João Santos diz ser fundamental sensibilizar para a perigosidade da passagem de nível, que de resto é a última terrestre existente na freguesia. João Santos salienta que a ideia foi bem acolhida pelas Infraestruturas de Portugal, que viram neste projeto uma ideia pioneira que poderá ser replicada noutras localidades. Pessoas conhecidas da terra dão a cara por esta campanha como Sofia Lixa, Amália Rodrigues, José de Carvalho, Vasco Pereira, José Francisco Pereira e David Fernandes da Silva. Já foram colocados vários cartazes perto da zona de atravessamento, com o objetivo de alertar para o perigo. Há muitos anos que o município tenta em conjunto com a Infraestruturas de Portugal para a passagem de nível. Não se conseguiu encontrar para já uma forma de ser construída uma passagem superior para o trânsito automóvel. João Santos vinca que este acesso não está nas mãos da junta de freguesia, e que cabe, nesse campo, a responsabilidade à Câmara Municipal de Vila Franca e à empresa que gere a linha, que neste caso é a Infraestruturas de Portugal. De acordo com um comunicado da empresa Infraestruturas de Portugal, “a notoriedade e reconhecimento destes cidadãos de Vila Franca é essencial para influenciar o comportamento de todos e para transmitir as mensagens sobre os cuidados a ter quando se atravessa a linha”.

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Manuela Silva foi este ano para o lar me muito não sair daqui para ir ao jardim”. Já Manuela Silva está no lar há menos tempo. Veio em fevereiro já na época da vacinação. Tem 84 anos e por insistência dos filhos escolheu este lar da Santa Casa de Azambuja. Morava em Casais de Baixo, e aquando dos primeiros tempos da pandemia só saía para ir ao supermercado. Já foi vacinada na instituição. Tem saudades da sua casa, porque ainda se sente autónoma, mas os anos já pesam e algumas doenças também pesaram na decisão de vir para o lar. Os filhos e netos quando chegam para a visita cumprem o estipulado pela Santa Casa. Quanto a abraços, diz que espera por esse dia. “Quero ver se depois passo os fins de semana com a minha família”, refere, acrescentando que os dias mesmo assim vão passando depressa: “Ando sempre entretida nas conversas e nas atividades do lar ou a passear no espaço exterior com esta senhora (Ilaete Lopes)”. O Valor Local acompanhou a visita de uma familiar. Maria João tem

a sogra neste lar desde janeiro. Quanto às visitas através do vidro sente-se conformada – “É o que se pode arranjar, esperemos que isto melhore porque faz falta o abraço e o beijinho para nos sentirmos mais reconfortados”. Não foi difícil convencer a sogra a ingressar na instituição “pois como ela é de Azambuja conhece muitos dos utentes que aqui estão”. Ainda é tempo de precaução Nesta nova fase da pandemia, Vítor Lourenço, provedor, e Cristina Rodrigues, diretora técnica, vincam à nossa reportagem que “o tempo é ainda de precaução à espera que a normalidade surja o mais depressa possível tendo em conta a necessidade de afetos entre os utentes e os seus familiares”. Essa “é uma preocupação enorme”, destaca o provedor. A instituição ainda tem bem presente o surto de novembro. Superar esse facto foi possível “graças à diretora técnica Cristina Rodrigues, animadora Helena Moura, funcionários no geral, Segurança

Social entre muitas outras entidades”, destaca Vítor Lourenço. A diretora técnica diz que as famílias têm aceitado o momento atual de algumas cautelas. Já o provedor lembra que antes da pandemia passava algum tempo a conviver com os utentes durante as refeições. “Nesta altura evito entrar na parte do lar tendo em conta as circunstâncias, mas tenho pena de não poder conversar com eles”. Muitos dos familiares dos utentes também já vão sendo vacinados cá fora, e essa é uma realidade “que já estamos a ponderar” quanto a uma maior abertura nas visitas. “Para já ainda vai ser nestes moldes”, diz Cristina Rodrigues. “Não obstante existir vacina os nossos receios continuam”, acrescenta Vítor Lourenço, porque “ainda estamos longe de alcançar o descanso”. A Saúde Pública continua a aconselhar a instituição quanto às indicações básicas: desinfeção, uso de máscara, e distanciamento social, “apesar de todas as funcionárias estarem vacinadas”. Todas as semanas, a instituição testa as funcionárias divididas por grupos com apoio da Segurança Social. Com o quadro em causa, “os gastos da instituição duplicaram, e agradecemos desde já o facto de a Câmara ter aumentado para o dobro o valor do subsídio que nos é dado todos os anos, apesar de não ser suficiente, porque os custos são enormes”. A instituição na componente de creche e jardim de infância teve de entrar “em layoff”. “Foram fundamentais os apoios da autarquia e do Estado neste acrescer de custos embora e como digo sejam insuficientes”, acrescenta o provedor. A Santa Casa aumentou, neste contexto, as mensalidades “apenas de forma simbólica”.

Junta de Arruda lança concurso em busca da bandeira mais criativa junta de freguesia de Arruda dos Vinhos lançou a primeira edição do concurso de bandeiras criativas sob o lema “A minha Bandeira é Arruda”. Trata-se de uma iniciativa que visa fomentar a criatividade dos arrudenses, por um lado, e por outro ajudar o comércio local. À Rádio Valor Local, Fábio Morgado, presidente da junta de freguesia, esclarece que a autarquia vai premiar “as melhores bandeiras e mais criativas, através da entrega de vouchers para adquirir produtos no comércio local”. Para além deste incentivo, o autarca refere também que a bandeira será colocada fisicamente nos mastros da Junta de Freguesia por um determinado período de tempo. Segundo Morgado, este concurso vai premiar as dez imagens gráficas, que sejam mais criativas e representativas da freguesia de Arruda dos Vinhos. Fábio Morgado sustenta que este projeto “serve para motivar a criatividade dos nossos fregueses para construírem uma bandeira que represente o que Arruda significa para cada um deles”. O autarca sublinha, entretanto, que a ideia “é também fomentar o espírito de comunidade através de um concurso” e que está associado ao projeto de apoio ao comércio local sob o slogan: “Eu compro em Arruda”. Este projeto é realizado em paralelo com o concurso de fotografia, que decorre há dois anos e que também ele oferece vouchers para compras no comércio local. Fábio Morgado refere, no entanto, que esta bandeira, não vai substituir a logomarca nem o brasão da freguesia nos documentos oficiais. A ideia refere é apenas fomentar a criatividade

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Projeto Pontes:

Câmara de Vila Franca já acompanha 175 pessoas que vivem sozinhas Miguel A. Rodrigues Câmara Municipal de Vila Franca de Xira tem em vigor desde novembro de 2020, e com sucesso o programa “Pontes”. Trata-se de um projeto municipal que tem como objetivo a promoção do envelhecimento ativo e saudável, ao mesmo tempo em que fomenta a inclusão social e o combate ao isolamento. Na Rádio Valor Local, a vereadora com o pelouro da habitação, Helena de Jesus, referenciou este programa como uma bandeiras do executivo, tendo em conta que se destina a pessoas com idade superior aos 55 anos e está integrado na Estratégia Nacional Para o Envelhecimento Ativo. Integrado no Projecto Ativ@mente, do qual nasceu o Programa “Pontes”, permite identificar a população que vive sozinha ou em risco de isolamento social, fazendo a sua georreferenciação. Desta forma, pretende-se conhecer as suas expetativas, carências, e dificuldades, detetando precocemente situações de risco e promoven-

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Autarca evidencia as mais valias deste projeto do o seu acompanhamento através de um serviço de teleassistência e uma ação social de proximidade, junto daqueles que apresentem um quadro de vulnerabilidade. Segundo Helena de Jesus, até

ao momento os técnicos do município já identificaram cerca de 175 pessoas e 75 georreferenciadas. São idosos que estão isolados ou que ficam sozinhos durante o dia. A vereadora refere que este pro-

jeto é uma ideia antiga sendo que a georeferenciação dos ido-

sos tem sido um pilar do mesmo. Para Helena de Jesus é importante saber onde estão as pessoas mais isoladas daí que esta iniciativa identifica e “encontra” as pessoas mais vulneráveis na sociedade. “Nós tínhamos já a CPCJ que trata das crianças e muito bem. Mas tínhamos uma carência ao nível de idosos. Começámos por isso a tratar da Comissão de Proteção da Pessoa Sénior que ainda não está terminada. No entanto o projeto Pontes, avançou”. A autarca revela que esta iniciativa já permite que a comunidade esteja atenta aos mais velhos e exemplifica: Quando um idoso não aparece à hora habitual, por exemplo, na padaria, o comerciante liga para uma linha específica e o município atua, “sendo esta uma das formas de manter o contato com os mais velhos e mais isolados.”

Helena de Jesus diz que este projeto só funciona bem se toda a comunidade estiver envolvida. A vereadora salienta que até ao momento nenhum idoso desapareceu, mas que o programa está bem articulado. Recentemente, a equipa tentou contatar um idoso que não atendia o telefone. “A técnica, que mora para os lados de Santarém, foi a casa do idoso de propósito e verificou que não ouvia apenas o telefone. Foi um susto, mas tudo acabou bem” refere a vereadora. O projeto promovido pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira decorre de uma candidatura aprovada no âmbito do Portugal2020, representando um investimento municipal de 206 mil euros e uma comparticipação de igual valor através do Fundo Social Europeu. Ouça a entrevista na integra no podcast em www.radiovalorlo-

25 de Abril: Câmara de Salvaterra presta homenagem ao SNS

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s comemorações do 47º aniversário do 25 de Abril no concelho de Salvaterra de Magos vão ser assinaladas com a inauguração da exposição “SNS - O Serviço Nacional de Saúde” através da mostra da evolução histórica da assistência médica no concelho. Em anos anteriores, os temas escolhidos pela Câmara Municipal foram: “a Libertação dos Presos Políticos”, “a Liberdade de Imprensa”, “O Fim da Guerra Colonial”, “A Celebração da passagem dos 40 anos do Poder Local Democrático”, “A Mulher Portuguesa – do Estado Novo à Constituição de 1976” e “A liberdade de associação e os partidos políticos”. No dia 25 de abril (10h) terá lugar no Espaço Jackson, na Glória do Ribatejo, uma sessão solene da Assembleia Municipal e a abertura de uma exposição subordinada à temática deste ano “O Serviço Nacional de Saúde”, na qual será apresentada a evolução histórica da assistência médica no concelho. Pelas 11h30 irá decorrer a inauguração do “Monumento de Homenagem à Mulher Gloriana e à Família2, junto à EN367, numa parceria entre a União de Freguesias de Glória do Ribatejo e Granho e a Câmara Municipal. Estarão também patentes as exposições: “A Raret e a Glória do Ribatejo: 70 anos da primeira retransmissão – 4 de julho de 1951”, e “Glória: Território, Património e Identidade”, no Espaço Jackson. A Câmara Municipal vai ainda lançar os Cadernos de História e Memória volumes I e II, respetivamente com os temas “A Raret e a Glória do Ribatejo: 70 anos da primeira retransmissão – 4 de julho de 1951” e “Glória do Ribatejo - Roteiro Histórico e Turístico”. As iniciativas vão decorrer cumprindo as regras da Direção Geral da Saúde (DGS) e podem ser adiadas ou canceladas em função da evolução da pandemia e das medidas decretadas pelo Governo e pela DGS. PUB

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Empresária de Aveiras vai inaugurar uma incubadora de empresas por conta própria Sílvia C. d‘Almeida stá para breve a abertura ao público de um novo espaço para coworking e formação em Aveiras de Cima, no concelho de Azambuja. Trata-se do Hubs Grandella situado na avenida principal desta localidade. Falámos com a mentora deste projeto, Madalena Toscany, conhecida designer de moda do concelho. A sua empresa também faz parte do Hubs Lisbon, a incubadora de empresas do município que apenas funciona, para já, em ambiente virtual dado que os projetos selecionados ainda não assentaram arraiais na antiga INASI que vai acolher o projeto. A empresária diz que não está a copiar o projeto alheio ou a querer antecipar-se uma vez que o Hubs Lisbon teima em não ganhar velocidade de cruzeiro. Uma coisa é certa o nome não terá sido pura coincidência. Para os lados de Aveiras de Cima, Madalena Toscany, que está este ano indicada para os prémios da moda, começa a desbravar caminho. “O Hubs

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Grandella é uma incubadora de empresas que pretende ser o apoio que estas necessitam para darem os primeiros pas-

sos”, conta à nossa reportagem. “O propósito deste projeto, prende-se com o meu percurso de vida. Conheço as dificuldades

Madalena Toscany prestes a realizar mais um sonho PUB

de começar algo novo e ter falta de apoios, de parcerias, ou tão só de um aconselhamento”. O sonho para aquele espaço “passa por formação, que será no piso zero”. No primeiro piso, “haverá um lounge para trabalhar, tomar café descontraidamente, e no segundo um espaço para reuniões”. “Estamos a criar uma equipa Hubs para dar apoio a empresas que precisem desse complemento para o seu arranque e que também precisem de serviços na gestão de redes sociais, aconselhamento jurídico, desenvolvimento de websites e consultadoria, por exemplo”, dá conta Madalena Toscany, que reforça que uma das mais valias prende-se com o que considera ser uma renda baixa que vai proporcionar às futuras empresas que se queiram instalar em regime de coworking. “As pessoas se calhar não têm 500 euros para pagar de renda, mas talvez tenham 120 para usufruir do espaço e fazer reuniões com clientes. O conceito é dar apoio a quem

precisa. Temos a vantagem de estar numa zona central, o que ajuda bastante, pois podem reunir-se aqui clientes do norte e sul do país, por exemplo.” O espaço de 200 metros quadrados, propriedade da empresária e construído de raiz, estava destinado a outros fins até que esta teve esta ideia. Uma das formações a ter lugar no Hubs Grandella assim que as medidas de Covid-19 permitirem, está relacionada com a costura através de um workshop. Trata-se de um curso gra-

tuito de seis horas. As pessoas que se inscreverem podem assim “aprender as noções básicas para poderem trabalhar com uma máquina de costura doméstica”. Este projeto tem já várias parcerias com profissionais em diversas áreas, e diz a empresária que até é parceiro do Hubs Lisbon em Azambuja: “As parcerias é que fazem sentido, mesmo que na própria área, porque o que o que eu não faço, outros fazem. Apoiamo-nos muito uns aos outros.” PUB


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O 25 de abril e a liberdade Contatámos vários Presidentes de Junta da região para que nos contassem as suas memórias do 25 de abril de 1974, ou nalguns casos, por não serem nascidos na altura, do que lhes contaram sobre esta data, e quando é que ela começou a fazer sentido. Seguidamente falámos sobre liberdade, sobre as atuais medidas de confinamento e as suas repercussões na liberdade pessoal, e sobre a emergência de partidos da denominada extrema-direita nos tempos que correm. Sílvia Carvalho d’Almeida

Jorge Pisca - Presidente da Junta de Freguesia de Pontével orge Pisca encontrava-se no dia Revolução dos Cravos, “no colégio, no 1º ano”. “Mandaram-nos para casa, e nós ficámos todos contentes. Recordo-me de estar com a minha irmã e de ter ouvido falar de que tinha ocorrido uma Revolução”. No fundo “quando veio a liberdade, as pessoas começaram a falar livremente”, sintetiza desta forma simples o que significou para si o 25 de abril. Relativamente às medidas de confinamento e se são uma ameaça à liberdade das pessoas, refere que só o serão “se permitirmos que isso aconteça”, porque “está provado que se andarmos em liberdade neste momento algo muito mau pode acontecer”. Em primeiro lugar “estão as vidas das pessoas. Obviamente que estamos preocupados com a economia, mas sem pessoas não há economia. Aqui não considero que estejamos privados de liberdade, porque são precauções que temos de tomar. Penso que quando a pandemia passar vamos voltar a um estado normal, pois estamos num estado democrático, e acho que nunca mais vamos permitir que nos roubem a nossa liberdade”. Já quanto à legalização do Chega, diz: “Permitiram a legalização desse partido. Eu tenho que acreditar que quem está à frente das instituições faz o seu papel”. Sobre o facto de André Ventura ser a favor de mudanças constitucionais, ressalva: “Provavelmente não vai querer mudar tudo, apenas alguns artigos, que em 1976 faziam sentido e que agora já não fazem, mas em prol de um estado de direito democrático, e com aprovação de dois terços da Assembleia da República, e não é algo que seja feito de ânimo leve, tem que ser ponderado.”

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António Torrão - Presidente da Junta de Freguesia de Aveiras de Cima ntónio Torrão, autarca de Aveiras de Cima, recorda como foi no seu caso o dia 25 de abril de 1974 - “Foi há muitos anos. Era criança e andava numa vinha, a fazer de aguadeiro. Ouviu-se na rádio à hora de almoço que possivelmente havia uma revolução em Lisboa. Nós não sabíamos o que era uma revolução, ninguém sabia há 47 anos. Mantivemo-nos a fazer o que estávamos a fazer. O meu pai estava comigo na altura. Já tínhamos saído da escola, trabalhávamos na agricultura, e o que é que podíamos fazer?”, interroga-se, continuando a desfiar as memórias daquele dia – “Lembro-me que não havia televisão, o conhecimento que tínhamos era pela rádio”. Sobre se sente saudades de algo na época, diz: “Aqui tínhamos o nosso mundinho, não imaginávamos o que existia lá fora. Nunca tínhamos ido a Lisboa, nem sequer tínhamos televisão. Para nós estava bem assim. Depois é que tivemos mais informação sobre as coisas”. Quarenta e sete anos depois: “o país alterou-se, houve um desenvolvimento louco, houve alturas em que este não foi positivo. As pessoas eram mais humildes na altura, e foram perdendo a humildade. Cada um quis construir o seu castelo, e nós precisamos uns dos outros.” Sobre o Partido Chega ou a ascensão de partidos mais à direita do que o que era costume na vida partidária portuguesa, é perentório: “As pessoas têm que abrir os olhos. Falo pela minha freguesia, em que não esperava ter tanta gente a votar no partido. Vão na conversa fiada de que aquele partido vai resolver tudo. Eu pertenço a um partido que anda na luta pelos trabalhadores há mais de 100 anos, e enquanto este partido (PCP) existir, o Chega não passará neste país. As pessoas também podem e devem lutar mais pelos seus direitos.”

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José Avelino- Presidente da União Fábio Morgado- Presidente da Junta de Freguesia de Manique do Intendente, de Arruda dos Vinhos Maçussa e Vila Nova de S. Pedro a casa dos 30, Fábio Morgado ainda não era nascido em 74, sendo que os ideais de abril começaram a osé Avelino tinha 15 anos no Dia da Revolução dos Cravos. “Lembro-me de estar a acontecer uma grande confusão, e de estarmos preocupados com o que poderia vir a acontecer”. Estava na sua casa em Vila Nova de São Pedro. Confessa que sentiu uma grande sensação de alívio, pois sofreu na pele a repressão, de “não poder dizer o que queria”. “Cheguei a ser confrontado por professores por falar demais até numa simples redação, porque critiquei o Governo e o mundo do futebol, até pelo dinheiro que os jogadores ganhavam na altura (o que ainda hoje acontece) e o professor perguntou se eu sabia do que estava a falar. Alertou-me que podia ir preso. Eu tinha noção disso, mas aquelas eram as minhas ideias”. Sobretudo o 25 de abril significou o fim da Guerra Colonial e mais três anos, e teria de ir para o campo de batalha, pelo que a revolução significou também “um grande alívio”. Sobre restrições relativas à Covid, concorda que são a bem da saúde pública. Acerca do partido Chega, e do facto de muitos considerarem aquela força política desrespeitadora do princípio constitucional da igualdade, classificando-o como xenófobo e racista, prefere não valorizar essa contenda, “porque se eles se candidatam e têm votos, temos que respeitar a democracia, se não estamos a fazer o que criticámos no regime anterior”. “O Chega é um reflexo das pessoas que estão descontentes e revoltadas com o sistema que temos e com o Governo, mas não significa que venha aí a ditadura”, refere o autarca eleito pela CDU.

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fazer mais sentido quando acabou o ensino secundário e começou a interessar-se pela política. “O meu avô materno era quem me falava mais dessa época, pois estava em Lisboa na altura, e ficou lá retido. Assistiu a quase tudo in loco. A minha mãe ainda era muito nova e não se recorda. O meu pai ainda estava na escola, acabou por vivenciar mais o pós 25 de abril, e conta que não houve aulas nesse dia”. Tanto o pai como o avô tiveram uma participação política mais ativa, ligados a partidos de esquerda. Quando lhe perguntamos se a constituição e os valores de abril estão cumpridos, diz que “há muitos aspetos que se foram cumprindo, e isto deve-se ao que foi o espírito de abril e o que norteou a constituinte. A Constituição Portuguesa é uma das que mais garantias apresenta”. “Os direitos estão lá consagrados, os deveres também, mas ainda falta muito para se cumprirem muitos deles. Para uma parte da população, o direito à habitação, saúde, educação estão cumpridos, mas não para toda. Falta que estes direitos sejam cumpridos para todos os cidadãos de Portugal”. Quanto à ascensão de partidos da denominada extrema direita em Portugal e na Europa, considera: “Acho que acima de tudo falta noção do que foi o antes do 25 de abril. Há quem tenha a ideia de que se não tivesse ocorrido a Revolução não haveria problemas, nomeadamente, na Justiça, mas lembro-me de ouvir a minha avó dizer que uma sardinha tinha que chegar para três, e como tal é isto que temos de reter”. O jovem autarca socialista ainda se lembra de ouvir dizer que “havia uma enorme pobreza em Portugal e um atraso crónico, mas que muitos tentam omitir ou esconder, e assim puxar por um nacionalismo bacoco. Não deixa de ser preocupante, contudo, analisarmos a ascensão de partidos de extrema-direita, pois a culpa é dos políticos que não souberam dar resposta a alguns problemas”.


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Jorge Ribeiro- Presidente da União de Freguesias de Póvoa-Forte orge Ribeiro recorda-se de que na sua casa sempre se falou de política: “Os meus pais estavam ligados a esse espírito, e desde miúdo que me recordo deles conversarem comigo acerca da ação repressiva da PIDE, da censura do lápis azul, das restrições de ajuntamentos de pessoas, e por exemplo, das licenças para se usar isqueiro. Há, portanto, um conjunto de pormenores que acabam por nos ir marcando.” No entanto, foi com os professores e no ensino que começou a perceber o que realmente implicava esta data: “Fui tomando conhecimento mais pormenorizado do 25 de abril, os seus antecedentes , e o que se passou quase no imediato, em que tudo podia ir por água abaixo (essa é uma versão da historia), mas mais ainda sobre a importância da manutenção dos valores de Abril que ainda hoje se aplicam e que importa que se mantenham”. Quando lhe perguntamos se sente que os valores foram cumpridos é perentório: “A revolução constrói-se todos os dias, deu-se num espaço e num tempo concreto, mas são valores que perduram e que é importante irmos sempre renovando, especialmente quando surgem grupos radicais que poderão pôr em causa o que são os seus princípios, de livremente podermos expressar a nossa opinião e lutar pelo que acreditamos. Queremos continuar e viver num país livre em que cada um pode viver livremente”. Refere que “a Constituição é um conjunto de pressupostos que fazemos todos os dias por cumprir, tais como o direito à educação, saúde”, e que “regulam a nossa vida em sociedade”. Quanto a eventuais mudanças na Constituição, diz: “É importante perceber que querendo alguns alterar essa lei, devemos saber que caminho é que essa alteração preconiza. A legislação e a Constituição que temos hoje defendem uma sociedade justa, livre, fraterna, solidária, e é com alguma apreensão que vejo à viva força essa vontade imperar”. Esclarece que esta “ainda hoje se adequa ao que são os valores de Abril.” Quanto ao partido Chega e às alegações de que é um partido que é anticonstitucional esclarece: “Se foi aprovado pelo Tribunal Constitucional é porque os juízes fizeram uma leitura de que este não feriria os valores constitucionais”.

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Mário Parruca, Presidente da Junta de Vila Nova da Rainha ário Parruca conta-nos que era muito jovem quando tudo se passou: “Eu tinha perto de 10 anos e estava na escola primária. O que me lembro dessa altura é que saímos da escola e fomos para a estrada nacional acenar à coluna que passava com destino a Lisboa. De resto, já não tenho memória. Falava-se num golpe de estado para as pessoas terem mais liberdade, mas já foi há 47 anos, ou seja muito tempo.” Opina que com o 25 de abril foi ganha liberdade de expressão mas perdeu-se o respeito pelas pessoas mais velhas. A nova ordem social alterou isso devido à liberdade que se ganhou. “Se tivéssemos continuado no regime em que estávamos isso não teria acontecido. Mas a vida das pessoas em geral melhorou”. Relativamente a este confinamento e as restrições à liberdade individual, diz serem “um mal menor, porque a saúde está acima de tudo.” “Toda a gente deve compreender e tentar cumprir dentro dos possíveis, mas todos os dias ouvimos que isso não acontece”. Quando lhe perguntamos se está preocupado com a emergência de partidos de extrema-direita, esclarece que são fruto do descontentamento de algumas pessoas, o que faz com que “apoiem e deem voz a quem aparece para dizer mal, em vez de tentarem perceber porque é que as coisas não estão como deviam”. “A extrema-direita está a crescer de uma maneira que qualquer dia teremos restrições à liberdade das pessoas e não vai haver igualdade entre seres. Isso é que é mau que volte a acontecer, porque somos todos diferentes mas todos iguais. Todos viemos a este mundo e temos direito a viver. Temos é que tentar perceber o que está mal e tentar corrigir essas situações.”

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João Santos- Presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira presidente que se segue conta-nos que ainda criança teve noção do que significava a data que se comemora há 47 anos: “Comecei a ter perceção do que significava o 25 de abril com oito ou nove anos. Tinha um pai muito orientado para ideais de esquerda e que dava muita importância à liberdade, e ao que tinha sido atingido com aquele acontecimento, portanto fui ouvindo desde muito novo, referências à Revolução e o que tinha significado, mais liberdade para todos”. Diz, contudo, que o que entende neste momento relativamente ao valor simbólico do 25 de abril é que “as liberdades que os seres humanos devem ter são absolutamente intocáveis, mas deparamonos com muitos paradoxos e temos que ter atenção a eles”. “Por exemplo, há liberdade de escolha individual, mas resulta também da revolução um exacerbamento da consciência coletiva e da importância do coletivo”, numa alusão ao pensamento mais à esquerda. Explica ainda que “a liberdade em muitas circunstâncias leva os seres humanos a passar linhas vermelhas que não devem ser atravessadas, o que faz com que às vezes exista consequências negativas. Também a liberdade deve ter limites. Aqueles que fazem uso da mesma não podem fazer tudo o que entenderem. Não deve ser permitido que se interfira com a liberdade de escolha de outra pessoa”. Quando lhe perguntamos se a Revolução ainda está por cumprir, diz ser fundamental que “se consiga aproveitar as condições criadas para se fazerem apostas fortes na sociedade portuguesa.” “Temos algum atraso estrutural por termos saído da ditadura mais tarde em relação a outros países. Temos algum défice de democracia que devemos suprir necessariamente. Mas devemos moderar muito bem o conceito de liberdade e aliás, dar-lhe a definição que deve ter. A liberdade e a escolha individual, são absolutamente fundamentais desde que não interfiram com a liberdade do outro.”

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José Martins- Presidente da União de Freguesias Carregado/Cadafais ara José Martins, as memórias da Revolução são muito límpidas: “Lembro-me bem de tudo. No próprio dia do 25 de abril acordei cedo. Os meus pais eram polícias e foram chamados. Eu tinha cerca de 12 anos e fiquei durante três dias sozinho em casa a tomar conta do meu irmão. Vivi de perto a situação, morava em Lisboa, e acompanhei através dos poucos meios de comunicação que existiam na altura, pela televisão também, o que se passava. Os meus pais iam passando alguma informação, para eu ter cuidado, e não sair de casa. Nesse dia não houve escola. Na cidade de Lisboa as escolas nem chegaram a abrir. Eu para a idade que tinha considero que era bastante informado. Vivi tudo de acordo com a minha idade. Tinha a noção que tinha o meu irmão e que tinha que tomar conta dele, e também a esperança de que o futuro fosse um bocadinho melhor, para nós todos, sentimento que me foi passado pelos meus pais”. Quando lhe perguntamos se os ideais de abril foram concretizados, acha que não, “porque houve um grande aproveitamento por determinadas fações da sociedade. Os valores com os quais se fez o 25 de abril, a génese do 25 de abril perdeu-se”. Sobretudo acha que o poder após o 25 de abril passou para as mãos de pessoas erradas. Quanto à ascensão de partidos de extrema-direita particularmente em Portugal e na Europa, e o seu lugar nas sociedades atuais, acredita que essas forças radicais “colidem com o bom senso de uma sociedade democrática”. “A história ensina-nos que a radicalização das ideias não é saudável para uma vida feliz. Assenta sempre em não aceitar o que vem do outro lado. Devemos não só ser tolerantes como ecléticos. Aproveitar tudo o que vem de bom venha de onde vier.”

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Abril 2021

Pandemia colocou a nu as fragilidades da saúde nos postos médicos da região De Azambuja, a Benavente, de Vila Franca a Alenquer e só para dar este exemplo, as queixas dos utentes dos centros e extensões de saúde repetem-se: é cada vez mais difícil arranjar uma consulta. O quadro foi piorado com a pandemia, mas há situações que já vêm de trás. Sílvia Agostinho Sílvia C. d’Almeida niciamos o nosso périplo na extensão de saúde de Alcoentre, concelho de Azambuja, onde os habitantes estão cada vez mais descontentes devido às dificuldades que têm tido no acesso a consultas tanto de medicina como de enfermagem. Se existia já um grave problema de falta de médicos de família, que persiste há anos, agora também os cuidados de enfermagem são mais escassos, pelo destacamento da enfermeira para o Centro de Vacinação da Covid-19. Com a atual pandemia em curso, os utentes têm apenas acesso a consultas de urgência, para o próprio dia, à terça e sexta-feira, ten-

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do estas de ser marcadas pelo telefone entre as nove e as dez da manhã. É comum assistir-se à indignação dos habitantes da freguesia que chegam a ir pessoalmente à extensão de saúde local para marcarem consulta, dado que “as linhas estão quase sempre ocupadas ou ninguém atende”. Os cidadãos gastam uma boa parte do seu tempo a tentarem ligar para os centros de saúde da região. Quando não conseguem, resta irem bater à porta do centro de saúde, mas a norma dita que as consultas tenham de ser marcadas por telefone. Nestas coisas há sempre quem tenha mais sorte ou mais azar. Alexandra Nunes, residente em Azambuja, conta que também andou a insistir na marcação de uma

Com a pandemia resta uma médica em Alcoentre. A enfermeira está no centro de vacinação

consulta por telefone. Ligou para o geral mas sem resultados. Quando se deslocou ao centro de saúde de Azambuja deram-lhe um número fixo diferente mas que vai PUB

diretamente para a receção que trata destes assuntos. Para marcar consulta teve então de ligar para este número em específico, mas apenas entre as oito e as

nove. Sem dificuldades no outro dia de manhã ligou assim que o relógio marcou as oito horas e teve nesse mesmo dia uma teleconsulta.

De regresso a Alcoentre, Susana Santos residente na localidade e com três crianças refere que precisou recentemente de uma consulta para o seu filho e decidiu rePUB


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Abril 2021 correr à extensão de saúde local. As consultas foram suprimidas, havendo apenas as de recurso, “que estavam cheias”, conta-nos. Não tendo outra opção teve que dirigir-se ao médico particular. “Temos um bom centro de saúde, mas não temos médicos, e os médicos de recurso acabam por não nos resolver o problema. Há anos que não existem médicos de família. Ainda para mais sabemos que lhes é oferecida habitação e as viagens pagas para permanecerem na vila, não percebo o porquê não termos sorte. Realmente é estranho”, salienta, destacando ainda: “Chegámos a ter aqui o doutor Óscar que era muito bom médico, mas foi logo levado para Aveiras de Cima. Seria ótimo que arranjassem médicos de família, até porque os nossos idosos precisam de ir de madrugada para o centro de saúde para obterem consulta, muitas vezes doentes. Neste momento, tenho que me dirigir a Azambuja, fazer cerca de 20 quilómetros, para ter consultas de saúde infantil, que demoram 10 minutos. Nem eu nem os meus filhos alguma vez tivemos médico de família.” Maria Marques, também residente em Alcoentre, e em jeito de desabafo, mostra a sua indignação: “Não sei o que se passa com este Centro de Saúde ou com a saúde deste concelho, que é uma vergonha! De momento está só um médico duas vezes por semana para a freguesia toda e só se pode

apanhar consulta para o próprio dia telefonicamente. Como fazem as pessoas de mais idade? Muitas delas só sabem ligar para os filhos e outros nem telefone têm. Eu na terça-feira tive que ligar 42 vezes para conseguir consulta, consegui sim senhora, mas agora vem a outra parte, fazer o tratamento, e levar injeções e não há enfermeira todos os dias, porque estão escaladas para vacinação Covid. Resumindo tenho que recorrer a uma farmácia em Aveiras para levar as injeções. É muito triste esta nossa realidade!” Outra residente, Maria Carvalho, que fez recentemente uma pequena cirurgia, precisou de recorrer aos cuidados de enfermagem para retirar pontos, mas foi enviada para o Centro de Saúde de Azambuja. “É uma pena, pois tanto ao nível de enfermagem como de medicina temos em Alcoentre muito bons profissionais, que fazem um esforço incrível para chegar a todo o lado, mas de facto para servir toda esta população precisamos de mais efetivos.” Num comunicado publicado recentemente, os presidentes das juntas de freguesia de Aveiras de Cima, Aveiras de Baixo, Alcoentre, Vale do Paraíso e Vila Nova da Rainha deixam a sua indignação quanto ao estado de coisas. Enviaram uma carta a mostrar o seu desagrado para as diversas entidades de saúde da região e do Estado. Um dos pontos sublinhados no documento prende-se com

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encerramento da extensão de saúde de Aveiras de Baixo e o posterior encaminhamento dos utentes para a unidade de Aveiras de Cima. Sendo que face a esta realidade apenas existe um médico, nesta altura para seis mil inscritos. Os 2500 inscritos da freguesia de Alcoentre também não têm médico de família. No caso dos habitantes da freguesia de Vila Nova da Rainha fazem as suas consultas neste momento no centro de saúde da sede de concelho mas ainda há 100 pessoas sem médico de família. Os cinco presidentes de junta mostram o seu descontentamento evidenciando que “os fregueses esperam meses por uma consulta e semanas por uma simples receita, em que se chegou a um ponto de rotura que é inaceitável e que não pode continuar”, e como tal “as entidades responsáveis têm o dever de olhar para esta realidade do concelho e de encontrar respostas que sirvam os interesses da população” e esta é “uma exigência dos executivos destas juntas de freguesia”. Os autarcas vão mais longe e interrogam-se – “Como é possível que os médicos que são colocados num determinado local tenham oportunidade de concorrerem para outros locais seis meses depois e sem nenhuma penalização. Não devia existir alguma responsabilização por parte destes médicos quando aceitam uma colocação numa determinada extensão”. PUB

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Utente de Centro de Saúde da Castanheira ligou 98 vezes num só dia o centro de Saúde de Castanheira do Ribatejo o quadro não é mais pacífico. Segundo a comissão de utentes local, e numa entrevista concedida ao Valor Local, na edição passada, “é quase impossível que alguém atenda ao telefone para se marcar uma consulta”. Como dificilmente se consegue arranjar una marcação, “a extensão manda as pessoas para as consultas na Póvoa de Santa Iria” quase no extremo oposto do concelho, segundo Pedro Gago da comissão de utentes, que deixa o desabafo – “No concelho de Vila Franca de Xira, os centros de saúde trabalham bem não percebo o porquê de o nosso ter tantos problemas”. No contacto com o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo que compreende as unidades de saúde dos concelhos de Vila Franca, Benavente, Azambuja, Alenquer e Arruda dos Vinhos, Pedro Gago refere que ao longo dos anos, a atitude é de desvalorização do que se passa na Castanheira. Com a pandemia, refere o porta voz da comissão de utentes, o centro de saúde passou a exigir que as marcações de consultas sejam, apenas, através de email, contudo “essa é uma dificuldade acrescida para a população idosa”, constata revelando que depois de algumas reuniões foi possível mudar a agulha. Passou a ser pessoalmente, e sem recurso ao telefone. Pedro Gago diz que tem conhecimento de que noutros cen-

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Comissão de Utentes volta à carga quanto ao estado de coisas na extensão da Castanheira tros de saúde do concelho, o atendimento é superior, em questões tão básicas como “o pedido de uma credencial”, algo que é correspondido “normalmente e sem grandes constrangimentos”, enquanto que na Castanheira “quase que é preciso meter um requerimento ao presidente da Câmara”. Por outro lado, e quando o utente quer mostrar o resultado de exames ou análises “tem de ser através de fotocópias” ficando a aguardar mais uma vez “pela teleconsul-

ta”. Pedro Gago revela que só tem encontrado dificuldades no contato com esta extensão de saúde e diz mesmo que “há pessoas a enlouquecer e qualquer dia ainda entra lá alguém aos tiros”. O Valor Local percebeu através das redes sociais que há opiniões para todos os gostos quanto ao funcionamento desta unidade de saúde, de elogios a impropériostodo o tipo de reações cabe para destacar esta extensão por parte dos utentes locais. Muitos alegam que o atendimento é fácil e atencioso, mas do outro lado da barricada há quem alegue viver dias de inferno seja a tentar ligar para marcar consulta, seja no domínio da alegada fraca qualidade do atendimento. Uma coisa é certa os utentes da Castanheira do Ribatejo veem o tema do funcionamento do centro de saúde local como incontornável na vida da freguesia. Con-

tudo e à semelhança de muitos outros na região, o edifício tem excelentes condições físicas, mas debaixo de um vistoso e elegante complexo permanecem os eternos alicerces frágeis da saúde em Portugal: falta de médicos, e profissionais à beira de um ataque de nervos por uma razão ou outra. Uma das utentes da extensão de saúde da Castanheira é Fernanda Graça que conta que recentemente telefonou 98 vezes num dia, e 33 no outro para a unidade, mas sem sucesso. É comum ter de ir para a porta da extensão logo às quatro da manhã. “Fico dentro do carro, mas se aparece alguém tenho de sair para marcar a vez”, conta. Por vezes às seis da manhã já estão três ou quatro pessoas à porta deste centro de saúde. De inverno este deve ser o menos tentador dos cenários. Fernanda Graça fala num sistema de troca

de favores nesta unidade, onde “as senhoras administrativas reservam vagas para os amigos e amigas em troca de raminhos de flores”. Chega-se ao ponto de “às 9h30 já não haver vagas”. Quanto ao atendimento por parte dos médicos ressalva que não tem razões de queixa, mas com as funcionárias conta que já teve “grandes brigas” assim como com o “segurança”, o qual denunciou à empresa onde trabalha, acrescendo o facto de “mexer em credenciais e receitas o que devia ser proibido”. “Nem o diretor do centro de saúde merece o chão que pisa”, desabafa. Centro de Saúde de Abrigada deixa a desejar no atendimento e nas condições Em Abrigada, concelho de Alenquer, também tomámos o pulso à saúde. O centro de saúde é no rés

do chão de um andar de habitação e as condições não são as melhores. Na edição de março ficámos a saber pelo utente Delfim Simões, residente no Bairro naquela freguesia, que as consultas são quase uma miragem, e que numa das suas muitas deslocações à extensão, uma funcionária irrefletidamente abriu os envelopes de uns exames que tinha para mostrar ao médico e deu-lhe logo ali o veredicto – “Disse que não tinha nenhum problema de saúde nem na próstata nem nos intestinos, e que o melhor era passar pela unidade noutro dia, pois talvez tivesse mais sorte em conseguir consulta”. O Valor Local contactou o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo que nos disse não ter recebido qualquer queixa formal. Sofia Theriaga, diretora do ACES, estranhou “o hipotético comportamento” em causa dado que vai “ao arrepio de todas as normas de conduta seguidas pela entidade”. A unidade de Abrigada serve cinco mil utentes e o edifício está literalmente a rebentar pelas costuras. Estivemos no local logo às oito da manhã numa da últimas segundas-feiras. Flávio Gomes, habitante da localidade, estava à espera de entrar. Com a Covid-19, muitos utentes têm de esperar cá fora porque as instalações são diminutas. Concorda que é difícil marcar uma consulta através de telefone, mas a saúde também não está melhor nesta freguesia devido à falta de condições das instalações. A unidade serve os habitantes das freguesias de Abrigada e de Ota. “A falta de médicos é incontornável, mas de funcionários também”, responde. Joaquim Fragata também se encontrava a aguardar a sua vez no exterior, “porque com a Covid só lá podem estar quatro pessoas dentro”. Na sua opinião

José Luís fala do seu calvário de cada vez que vai à extensão de saúde de Abrigada


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Abril 2021 os cuidados de saúde prestados naquela extensão “são péssimos”. A falta de médicos é novamente o ponto fulcral das queixas. Joaquim Fragata refere que quando o caso é de urgência a solução passa por vir quase de madrugada para a porta do centro de saúde, caso contrário e no caso de uma consulta de rotina ou considerada como menos urgente diz que já aguardou perto de um ano. Acabou por desistir e optou por ir a um médico particular. A resposta era a de sempre, que “não há médicos”, sublinhando que este já era um quadro comum nesta extensão de saúde mesmo antes da pandemia. No dia da nossa reportagem estava ali por uma situação de urgência. “Cheguei às sete mas sou o nono na fila”, constata. Neste dia a médica só atenderia dez pessoas, mas no dia seguinte apenas seis utentes, e na quarta-feira apenas quatro. Veio cedo, trouxe o carro, mas “para quem vem de transporte público ou a pé é complicado” aguardar na fila quando as temperaturas são mais baixas. Joaquim Fragata já fez duas reclamações escritas mas “as respostas são as de sempre, rebeubéu e pardais ao ninho. É o que temos”, sentencia. O discurso repete-se nas palavras de outro utente. Falámos com José Luís que adiantou o motivo da sua vinda ao local– “Vou ter consulta para renovar a baixa mas tive de vir para aqui cedo”. Veio às sete da manhã e conseguiu vaga. “Noutras alturas e para uma baixa

Destaque 15 são as mesmas, “mas com mais dificuldades porque há dias em que pura e simplesmente não se consegue marcar consulta nem por telefone nem pessoalmente”. Neste momento existe apenas uma médica com contrato para os utentes das freguesias de Benavente, Barrosa, e Santo Estevão a que se juntam dois outros médicos que podem ir embora de um momento para o outro. A única tábua de salvação para os utentes é o Serviço de Atendimento Permanente, ou seja as urgências. A médica principal do centro de saúde “tem muitos utentes e nesta altura ainda tem de fazer apoio à vacinação contra a Covid-19”, o que faz com que “muitos se dirijam ao SAP até para obterem receitas”. Sofia Theriaga dá conta de reorganização dos serviços nesta altura

Sofia Theriaga espera o regresso à normalidade bastava vir entregar os papéis de manhã para os vir buscar à tarde”. Por telefone é difícil marcar consulta como de resto já tinha sido confirmado na nossa edição passada por Delfim Simões. José Luís ilustra: “Já deviam ter acabado com esse sistema de as pessoas virem para aqui às tantas da madrugada para apanhar uma consulta, porque se as pessoas já estão doen-

tes, piores ficam com o frio que aqui se apanha”. Quando chegou “já estavam três ou quatro pessoas dentro dos carros.” “Há sempre uns artistas que querem esperar dentro dos carros a dormir porque esperar cá fora ao pé da porta em pé e ao frio não é para todos, o que acontece é que depois dá sempre confusão ou até discussões este tipo de situações entre

as pessoas. Benavente e a eterna falta de médicos No concelho de Benavente, o cenário teima em repetir-se. Mesmo antes da pandemia, o centro de saúde sofria com falta de médicos. Domingos David da comissão de utentes declara que as queixas

Perante as críticas registadas nesta reportagem, o Valor Local ouviu Sofia Theriaga, diretora do ACESEstuário do Tejo, que compreende o estado de espírito dos habitantes dos cinco concelhos, referindo que ainda há 49 mil utentes sem médico de família, “o que por si só já dificulta o acesso aos cuidados de saúde”. “Temos algumas respostas agilizadas mas que são insuficientes, e este é um quadro que já se passava antes”. A responsável não esconde que a situação se agudizou com a pandemia porque “muitos recursos humanos estão

alocados também aos centros de vacinação”. Como diretora executiva contratualizou com as unidades de saúde, nos últimos tempos, um fundo que se destina a reforçar as consultas nomeadamente no acompanhamento dos doentes de risco e de forma presencial, que inclui também a contratação de mais médicos. O ACES vai tentar ainda captar os utentes que se “acomodaram em parte à consulta telefónica e por isso dar-lhes acesso ao centro de saúde”. Sofia Theriaga expressa que nesta altura estão a decorrer reuniões com todas as unidades “para percebermos o que tem corrido menos bem nos cinco concelhos e sob a forma de uma carta de compromisso corrigirmos as situações”. Está longe o desiderato de existirem médicos de família para os 49 mil utentes, mas “vamos assegurar os possíveis para os doentes de risco, ou portadores de doença aguda”, deixa a promessa, assegurando que nesta altura “estamos a normalizar para o antes da pandemia”. Faltam médicos e enfermeiros nos cinco concelhos, especialmente este último grupo profissional concentrase agora nos centros de vacinação. “Nas consultas de planeamento familiar onde deveriam estar um médico e um enfermeiro, passou a estar apenas o médico e um assistente operacional”, dá conta para explicar a transferência daqueles profissionais para os locais onde se está a aplicar a vacina. PUB

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16 Política

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Pedro Folgado recandidato a Alenquer admite ajustes nos pelouros edro Folgado assumiu na Rádio Valor Local que se recandidata à liderança da Câmara Municipal de Alenquer. O autarca refere que este último ano não foi fácil, até tendo em conta a Covid19 e o facto de a pandemia ter impossibilitado alguns dos investimentos que o município tinha em carteira. No entanto, o autarca ressalva também os apoios que o município foi dando “às micro e pequenas empresas” o que não deixou de significar um balão de oxigénio. Sobre o seu último mandato, se for eleito, Pedro Folgado tenciona repetir a equipa que o acompanha desde 2013.O autarca mantém as posições já assumidas nos mandatos anteriores, ou seja aposta em Rui Costa como nú-

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Autarca não vai levar uma mulher em segundo lugar nas listas apesar do partido aconselhar o contrário

mero dois e vice-presidente, Dora Pereira em terceiro lugar, e em Paulo Franco como quarto elemento da lista em lugar elegível. Questionado sobre o facto de não ter uma mulher em segundo lugar, tendo em conta as diretivas do PS nacional, Pedro Folgado sublinha que essa é apenas uma recomendação. Aliás o Partido Socialista recomenda aos executivos que tenham nos dois primeiros lugares um homem e uma mulher, algo que em Alenquer não vai acontecer, porque considera que Rui Costa conhece melhor os assuntos gerais do município. “A Vereadora Dora Pereira não está preparada para liderar a Câmara, no caso, por exemplo, de me acontecer alguma coisa”, ressalvou revelando que os pelouros podem sofrer ajustes.

Sobre os cabeças de lista às juntas de freguesia e Assembleia Municipal, Pedro Folgado insiste em reconduzir todos os que possam e estejam em condições de o fazer. O autarca revelou ao Valor Local, que apenas a Junta de Freguesia de Santana da Carnota deverá ter um novo cabeça de lista do PS, por o atual autarca já ter atingido o limite de mandatos e por isso o PS está agora à procura de substituto, mas salienta que o futuro cabeça de lista deve surgir de dentro do atual executivo. Também na junta de Aldeia Galega e Aldeia Gavinha, existirão mudanças. A atual presidente não quer continuar e também aqui o PS vai querer candidatar alguém que já integra o executivo. Entrevista na íntegra em podcast em www.radiovalorlocal.com

André Rijo recandidato a Arruda dos Vinhos ndré Rijo vai voltar a candidatar-se à Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos pelo Partido Socialista. O Valor Local sabe que o autarca está a mexer nos candidatos em relação à lista de 2017, mas ainda não divulgou os nomes de quem o vai acompanhar nas eleições de 2021. Ao Valor Local, o atual presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos, refere que a equipa “está muito firme naquilo que é o trabalho que temos pela frente e o que já fizemos”. No que toca ao próximo mandato, André Rijo diz que as bandeiras principais serão o controle da pandemia “cuidar das pessoas, dinamizar a economia e preparar

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o futuro”. Em linhas genéricas o autarca explica que para além deste “desígnio” que será uma realidade nos próximos anos, adianta também que o “Arruda Lab será um projeto âncora para alicerçar todo o projeto que temos para o nosso município”, que funcionará como “um centro de inovação agroindustrial e agregador de inteligência no concelho”. Sem adiantar muitos pormenores sobre a equipa, André Rijo vincou, entretanto que um dos grandes desafios do mandato que agora termina foi mesmo a Covid- 19, na medida em que existe “um antes e um depois da pandemia”. O autarca refere que a covid “condicionou em muito o mandato au-

tárquico presente, e vai condicionar o futuro mandato autárquico.” O autarca revela a boa resposta que as entidades de saúde concelhias têm dado à pandemia, assim como toda a comunidade “que devemos continuar a dinamizar porque só todos juntos é que podemos ver a resolução dos problemas”, apelando à união de todos os quadrantes. O PS vai voltar a apostar em Catarina Pulguinhas Gaspar para liderar a lista à Assembleia Municipal, Fábio Morgado e Fábio Amorim para as juntas de Arruda e Cardosas respetivamente, Hélio Vicente para S.Tiago dos Velhos, e Pedro Mateus para a freguesia de Arranhó.

Rijo deixa antever que pode mudar na equipa à Câmara

Distrital do PSD impõe Nuno Henriques em Alenquer uno Miguel Henriques apresentou no passado dia 16 de abril, o Dia Mundial da Voz, a sua candidatura pelo PSD à Câmara Municipal de Alenquer. Antes deu a sua primeira entrevista à comunicação social na Rádio Valor Local. O agora candidato justificou esta data com o facto de ser necessário “dar voz às pessoas que não têm voz” porque “o poder político autárquico em Alenquer deve estar mais perto das populações.” Em entrevista, o candidato que vem do Fundão, desvalorizou o facto de não ser oriundo do concelho e deu a conhecer a sua candidatura indicada pela distrital do Oeste numa decisão que azedou entre os social-democratas de Alenquer, que ainda não conseguiram eleger um presidente de

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concelhia. Nuno Miguel Henriques sustenta que a sua candidatura teve o apoio da distrital e do seu presidente, o deputado Duarte Pacheco, e que já foi ratificada inclusive por Rui Rio o líder nacional do PSD. Nuno Miguel Henriques sublinha que o concelho de Alenquer se encontra, na sua opinião, a marcar passo e que a sua candidatura pretende ser uma mais valia para a evolução daquele município. O candidato que está ainda a construir o seu programa eleitoral, referiu também à Rádio Valor Local, que embora seja de fora do concelho, tem tido por parte dos cidadãos de Alenquer “uma excelente aceitação”, pelo que se ganhar as eleições vai deslocar o seu gabinete mensalmente pelas

Henriques, um candidato que já está a causar furor em Alenquer

freguesias do concelho, “para ficar mais perto das pessoas”. No seu discurso de apresentação que contou com a presença de dirigentes nacionais e atuais vereadores de Alenquer, o candidato referiu que “as pessoas estão resignadas (aos socialistas) e só isso explica que apenas tenham votado nas últimas autárquicas 39% dos eleitores”. Ainda com as listas em construção, Nuno Miguel Henriques apresentou para cabeça de lista à Assembleia Municipal Rui Neto, um militante social-democrata local, com história dentro do PSD de Alenquer. O candidato do PSD à Câmara de Alenquer apresentou também Tiago Santos como diretor de campanha. Ouça a entrevista na íntegra em Podcast em www.radiovalorlocal.com


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Política 17

PSD recandidata Luiz Otero e PS André Salema à junta de Azambuja

O ainda presidente dos bombeiros de Azambuja espera receber um voto de confiança da população

Luís Otero ficou a poucos votos da vitória em 2017 s eleições autárquicas já mexem para as juntas de freguesia da região. Em Azambuja PSD e PS já apresentaram os seus candidatos. No caso do PSD, Luís Otero foi o nome escolhido pela concelhia para voltar a tentar ganhar a junta, depois de em 2017 ter ficado a cerca de 40 votos de ganhar as eleições a Inês Louro. Desta vez, Otero não tem dúvidas e avança “com a certeza de que é

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possível ganhar a junta”. À Rádio Valor Local, critica a subserviência da atual presidente da junta Inês Louro, sobretudo no que toca à delegação de competências: “Não faz sentido a junta receber as estradas com buracos. A junta não tem meios para reparar as vias da forma como se encontram. Apenas deveriam passar para a alçada da junta, depois de reparadas, sendo que caberia

apenas à autarquia a sua manutenção”. Luís Otero parte para mais estas eleições com um número dois de peso. Trata-se se Pedro Cardoso, antigo comandante dos bombeiros de Azambuja, e ex-Comandante Municipal Operacional. Pedro Cardoso que até há pouco tempo era militante do PS, fez parte também da junta, à época presidida pelo socialista António

Amaral. Refere ainda que quer “voltar a servir as pessoas da freguesia de Azambuja como sempre o fez: com trabalho, dedicação e lealdade”. André Salema sucede a Inês Louro como cabeça de lista do PS O atual presidente dos bombeiros, está de saída da instituição e

vai abraçar um novo desafio. André Salema que será o candidato do PS à Junta de Freguesia de Azambuja, já iniciou o processo tendo em vista a construção do seu programa eleitoral. O Valor Local sabe que André Salema que sucede a Inês Louro nesta candidatura, já começou a traçar as linhas mestras do seu programa para a freguesia. André Salema deverá apostar

numa equipa renovada, tendo em linha o seu programa, para no caso de vencer as eleições, poder executar as suas ideias para a freguesia. O candidato aparece assim em cena depois de Inês Louro, ter anunciado a sua saída do PS e de todos os cargos que exercia no PS. Mantém apenas a presidência da junta de Azambuja, agora como independente.

Hélder Carvalho é o candidato do PSD à Câmara de Arruda PSD em coligação com o CDS, em Arruda dos Vinhos, vai candidatar o empresário Hélder Carvalho à liderança da Câmara Municipal. Em entrevista à Rádio Valor Local, o candidato referiu que o seu percurso profissional o levou a viajar muitas vezes, mas que o seu regresso a Arruda tem como objetivo ajudar o concelho a crescer. Hélder Carvalho que foi no passado deputado municipal diz ter aceitado sem muitas hesitações este desafio feito por alguns amigos: “Não coloquei condições mas defini regras que passam pelo facto

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de me fazer acompanhar por pessoas que não dependam da política. Independentes, próximos do PSD mas que se sintam livres para estarem ao serviço da comunidade”. Para Hélder Carvalho, o facto de o PSD não ter liderado a autarquia nos últimos anos “levou a uma desaceleração em Arruda dos Vinhos”. “Acho que é notório que o concelho de Arruda não mudou muito em relação àquilo que Carlos Lourenço (PSD) deixou”. Nesta entrevista que pode ouvir na íntegra em podcast em www.radiovalorlocal.com, Hélder Carva-

lho assume a dificuldade de vencer estas eleições, contudo aposta no facto de existir algum desgaste por parte do Partido Socialista. O PS é poder desde 2013 e desde aí tem vindo a cimentar o seu percurso. No que toca à equipa, Hélder Carvalho faz-se acompanhar por João Pedro Rodrigues, Sandra Lourenço e João Pedro Cavaco. No que toca às Juntas de Freguesia, o PSD vai candidatar Carlos Cunha à sede de concelho, Arruda dos Vinhos, Vítor Lourenço a Arranhó, Débora Neto a S. Tiago dos Velhos, e Vicente Santos à Junta

de Freguesia de Cardosas. Por enquanto o Valor Local, não conseguiu descortinar quem encabeça a lista à Assembleia Municipal. O PSD de Arruda dos Vinhos candidatou-se sozinho em 2017. Luís Rodrigues não conseguiu manter os três vereadores que transitaram da candidatura de Lélio Lourenço em 2013, relegando o partido a uma posição mais insignificante na oposição no órgão executivo. O PS liderado por André Rijo venceu com maioria absoluta, e reforçou o número de vereadores de quatro para seis no quadro municipal.

No que toca à equipa, Hélder Carvalho faz-se acompanhar por João Pedro Rodrigues, Sandra Lourenço e João Pedro Cavaco

Inês Louro já faz contactos para a sua lista pelo Chega! Valor Local conseguiu apurar junto de fonte identificada que Inês Louro, atual presidente da junta de Azambuja, que entregou recentemente o seu cartão de militante socialista, já começou a encetar contactos com habitantes do concelho tendo em vista a apresentação da sua lista pelo partido Chega! como inde-

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pendente. Recorde-se que a autarca eleita para a ajunta pelo PS anunciou ao Valor Local o abandono do partido no início de abril, invocando incompatibilidades. A autarca disse não estar de acordo com as políticas do município socialista em matéria dos projetos relacionados com os painéis fotovoltai-

cos, e com a forma como geriu o escândalo da caçada na Torre Bela. Ao longo dos anos, a autarca teve uma relação de altos e baixos com o Partido Socialista a nível local. Ainda estão na retina as constantes desavenças com Luís de Sousa, presidente da Câmara, protagonizadas no mandato pas-

sado quanto à higiene urbana entre outros assuntos. Apesar de sempre ter ocupado, nos últimos anos, posições cimeiras no partido a nível local, nos bastidores a autarca não gozava de popularidade entre os seus pares.Sobre o facto de estar a fazer convites nesta altura, Inês Louro preferiu não tecer considerações.

No início de abril, a autarca anunciou a sua desvinculação do PS


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Comprar & “descomprar” Há comprar & “descomprar” Há dizer & desdizer P’ra tanto há que ponderar Antes de se arrepender Da compra e venda Força é conjugar Com toda a segurança O eterno verbo comprar Em reforço... da confiança E no momento de o fazer Tenha sempre bem presente Que o acto de devolver Nem sempre aí se consente! Escrevêmo-lo em meados do ano um artigo sob a epígrafe “COMPRAR COM CONFIANÇA” Tornamos ao tema, agora que se anuncia um “alargamento dos prazos para as trocas”, conforme edição digital do Expresso de 27 de Outubro pretérito. Em dadas quadras do ano o verbo que mais se conjuga é comprar.

Mas nem sempre se sabe conjugar devidamente o verbo em todas as suas formas. Os contratos obedecem a uma máxima: • todos os compromissos terão de ser honrados. • Os contratos têm de ser cumpridos ponto por ponto. • E só podem modificar-se ou extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos por lei. Ninguém deve, pois, em princípio, após a compra, dar o dito por não dito. Se o fizer, sofrerá as consequências devidas porque incumpre o contrato. A menos que se trate de contratos à distância (por telefone, por internet…) ou fora de estabelecimento (porta-a-porta ou equiparados): em que há um prazo de 14 dias para o consumidor reflectir, para ponderar. Dentro do qual é possível, sem quaisquer consequências, dar o dito por não dito. Ou nos saldos, nos casos em que

a lei o admita, mas dentro de 5 dias úteis. É que a compra e venda tem várias modalidades que se ajustam que nem uma luva às práticas comerciais adoptadas nas quadras festivas, mas que são susceptíveis de ocorrer em qualquer época do ano. Para os contratos em estabelecimento comercial (físico, que não virtual), importa revelar as modalidades admissíveis. Diz-se, tantas vezes, com manifesta impropriedade (vimo-lo, no outro dia, em observações nas Redes) que os contratos celebrados em lojas (físicas) não admitem que se dê o dito por não dito. Não é inteiramente verdade. Confira-se o que segue: Compra e venda a contento, a gosto, sob reserva de a coisa agradar ao comprador. Neste caso, ou estamos perante uma proposta de venda [cuja aceitação ocorre se, dentro do prazo estabelecido (v. g., 8, 15 dias)

Ficha técnica: Valor Local jornal de informação regional Propriedade e editor: Propriedade: Metáforas e Parábolas Lda – Comunicação Social e Publicidade • Gestão da empresa com 100 por cento de capital: Sílvia Alexandra Nunes Agostinho • NIPC 514 207 426 Sede, Sede do Editor, Redação e Administração: Rua Engenheiro Moniz da Maia, Centro Comercial Atrium , nº 68 Loja 17 2050-356 Azambuja Telefones: 263 048 895 • 263 106 981 • 96 197 13 23 • 93 561 23 38 Correio eletrónico: valorlocal@valorlocal.pt; comercial@valorlocal.pt Site: www.valorlocal.pt Diretor: Miguel António Rodrigues • CP 2273A • miguelrodrigues@valorlocal.pt Redação: Miguel António Rodrigues • CP 2273 A • miguelrodrigues@valorlocal.pt • 961 97 13 23 • Sílvia Agostinho • CP 6524 A • silvia-agostinho@valorlocal.pt • 934 09 67 83 • Sílvia Carvalho d’Almeida • TPE-360 Multimédia e projetos especiais: Nuno Filipe Vicente • Nuno Barrocas • multimédia@valorlocal.pt Colunistas: Rui Alves Veloso • Augusto Moita • Jorge Laureano Jacinto • João Santos • António Jorge Lopes Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida • paginacao@valorlocal.pt Cartoons: Bruno Libano Departamento comercial: Rui Ramos • comercial@valorlocal.pt Serviços Administrativos: Metaforas e Parabolas Lda - Comunicação Social e Publicidade N.º de Registo ERC: 126362 Depósito legal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga Tiragem média: 8000 exemplares Estatuto Editorial encontra-se disponível na página da internet www.valorlocal.pt

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para a devolução da coisa, o consumidor o não fizer] ou já perante um contrato a que se põe termo [se, dentro do enunciado prazo, o consumidor se propuser devolver a coisa]. Cabe na primeira modalidade a venda promovida por determinados estabelecimentos sob o lema: “Satisfeito ou reembolsado” Se, dentro do prazo estabelecido [em regra, 15 dias], o consumidor entender devolver a coisa, o contrato deixa de se celebrar. É que, como diz o Código, em caso de dúvida sobre a modalidade de venda que as partes escolheram, presume-se terem adoptado a primeira (a simples proposta de venda). Compra e venda sujeita a prova é feita sob a condição de a coisa ser idónea para o fim a que se destina e ter as qualidades asseguradas pelo vendedor. (A mulher leva a camisola para oferecer ao marido sob condição de a peça lhe servir: leva-a, pois, para que experimente; se não servir, devolve-a dentro do prazo para tanto estipulado; se o não fizer, considera-se celebrado o contrato). Em princípio, os prazos deverão constar da factura ou do talão de venda. A menos que haja letreiros ou cartazes no estabelecimento

Mário Frota*

que advirtam o consumidor dos seus direitos. Mas, em princípio, se os contratos se não fizerem, não é lícito ao comerciante reter o dinheiro, emitindo uma nota de crédito, em geral com um prazo de validade curto. O dinheiro tem, nessas circunstâncias, de ser devolvido. Em certos países, quando se retém indevidamente o dinheiro, é-se obrigado a devolver em dobro. A menos que o contrato seja celebrado (nos casos em que se pretende presentear, p. e., um terceiro - parente, um amigo…) sob reserva de se proceder à substituição da coisa por outra de preço equivalente, com os ajustes que se fizerem. Caso em que ou se procede, dentro do prazo, à substituição ou se acerta a forma de gastar o dinheiro se de todo nada agradar ao presenteadona troca por troca. Isso, obviamente, dentro do princípio da liberdade contratual, que reza assim (n.º 1 do artigo 405 do Código Civil): “Dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste código ou incluir nestes as cláusu-

las que lhes aprouver”. E, como se diz no número seguinte: “As partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios, total ou parcialmente regulados na lei.” Diferente é o caso de a coisa apresentar desconformidade (defeito, vício…). Aí entra então a lei da garantia. Para as coisas móveis duradouras é de dois anos. A desconformidade tem ser denunciada no prazo de dois meses depois de detectada. E o direito exercido dentro dos dois anos que se seguem à denúncia. Estas recomendações têm um objectivo óbvio: esclarecer as pessoas, prevenir conflitos. E tornar os períodos de festas (e os mais) menos propícios a agressividades gratuitas que, quantas vezes, para aí se registam. * apDC – DIREITO DO CONSUMO - Coimbra PUB


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Cidades Inteligentes oje, pouco mais de dois séculos depois da Revolução Industrial e algumas décadas após a invenção do computador, continuamos a adaptar-nos às enormes mudanças resultantes da cada vez mais intensa e acelerada circulação de informação à escala global. Esta realidade, resultante da chamada “transformação tecnológica”, trouxe-nos um novo paradigma: à medida que a inovação acelera, também se intensifica a mutação económica, social, política e territorial. No presente, o modo de vida de cada pessoa, a convivência social e a interação com os territórios não são imunes a esta conjuntura. Segundo a Organização das Nações Unidas, 55% da população mundial vive em áreas urbanas e é expectável que esta percentagem aumente para 70% até 2050 (ONU News, 2019).

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Estima-se que as atividades humanas tenham causado cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais, com uma variação aproximada de 0,8°C a 1,2°C. É provável que o aquecimento global atinja 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue a aumentar no ritmo atual (IPCC/ONU, 2018). Este enquadramento representa desafios significativos. As cidades assumem a este propósito centralidade, pois constituem sistemas altamente complexos, com imensas interações e conexões entre os diferentes intervenientes setoriais e o meio ambiente. Neste contexto, as smart cities, mais do que uma utopia ou imaginação futurista, são uma realidade tanto possível quanto indispensável para enfrentar os desafios que a crescente urbanização implica, relacionados, sobretudo,

com a sustentabilidade dos (escassos) recursos. A este propósito, as tecnologias de informação e comunicação desempenham um papel preponderante, pois proporcionam soluções e melhorias orientadas para as esferas económica, social e ambiental. Embora a urbanização traga vantagens, também traz desafios. A rápida urbanização intensifica a pressão sobre a base de recursos disponível e aumenta a procura por energia, água e saneamento, bem como por serviços públicos. Consequentemente, as diversas questões sociais, económicas e ambientais, que afetam a competitividade e a qualidade de vida nos espaços urbanos, estão fortemente interligadas, necessitando, por essa razão, de abordagens integradas de planeamento e gestão. A competitividade territorial tem

vindo a ganhar relevo num ambiente altamente globalizado e em constante evolução. As cidades/territórios, reconhecendo a importância da afirmação nos planos nacional e internacional, procuram vantagens competitivas e modelos de intervenção coerentes com uma gestão territorial estratégica e de influência global. Atualmente, à escala mundial, é o conceito de sustentabilidade que configura o epicentro dos processos de planeamento e gestão dos territórios. Mais do que nunca, para se tornarem competitivos, os espaços urbanos deverão respeitar este pressuposto obrigatoriamente. A propósito de competitividade urbana em pleno século XXI, as smart cities são entidades fundamentais. Atualmente, os investigadores identificam como principais as seguintes componentes de um

Burnout: Razões, causas e consequências urnout: este vocábulo – anglicismo - entrou, definitivamente, no léxico português e no jargão organizacional e, está hoje, na ordem do dia. Burnout é, segundo ‘meu conceito’, um processo degenerativo veiculado pelos sistemáticos e elevados índices de pressão ou opressão sobre um indivíduo, que conduz à sua exaustão psicossomática (psicológica e física), potenciando no limite, patologias de diversa índole que minoram ou incapacitam o indivíduo no seu relacionamento intrapessoal (consigo próprio), interpessoal e social (com os outros) com todas as repercussões maléficas advenientes para o próprio e para a organização. As razões prendem-se basicamente com as exigências que se verificam nos dias de hoje, nas organizações modernas, cada vez mais estruturadas, dinâmicas e competitivas, porque a globalização assim o exige e as mudanças organizacionais decorrentes assim o impõem - 4ª. Revolução Industrial = Indústria 4.0 -. Face às envolventes interna e externa e aos desafios que se colocam, também os líderes/decisores se encontram sobre grande pressão na procura das melhores soluções práticas de gestão, visando o máximo de rentabilidade para que as organizações sejam produtivas e competitivas num mercado global necessariamente, competitivo, o que origina, por vezes, a demanda de determinadas premissas de gestão, potenciadoras do burnout, tais como: (1) Elevada pressão sobre os trabalhadores por redução das equipas de

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trabalho ou, do número de elementos por equipa; (2) ‘Opressão’ sobre os trabalhadores para o cumprimento dos objetivos e/ou metas; (3) Redução salarial, layoff, rescisão contratual (individual ou coletiva); (4) Exigência de horários de trabalho demasiado longos; (5) Imposição de formação específica e/ou de reconversão profissional face ao impacto das novas tecnologias e das mudanças organizacionais (reestruturações); (6) Necessidade de mobilidade e/ou expatriação; (7) Integração dos trabalhadores em novas organizações devido a aquisições e fusões; (8) Mas também, e não raras vezes, pela inexistência de uma gestão organizacional competente e visionária no estudo das envolventes internas e externas - pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças -; de Investigação & Desenvolvimento (I&D) – criatividade e inovação (produtos transacionáveis – exportação); na elaboração de uma estratégia coerente; na antecipação dos fatores críticos de sucesso para um projeto: alocação de meios financeiros, técnicos e humanos; no planeamento em consonância com a estratégia; na assunção de políticas de responsabilidade social, ambiental e de gestão de recursos humanos; na incapacidade para gerir conflitos e a incertezas e numa postura não proativa (reativa), com repercussões no mau ambiente e no clima organizacionais com reflexos na produtividade e causadoras do burnout profissional do trabalhador. As causas: O burnout tem duas valências: a pessoal e a profissio-

nal. (1) O burnout pessoal, tem como principais causas: a drástica redução ou perda de rendimentos, crise conjugal, conflitos ou problemas familiares; morte, acidente ou doença grave de familiar próximo, más relações interpessoais, afastamento do domicílio e da família (mobilidade ou expatriação), confinamento e dependências (álcool e estupefacientes); (2) O burnout profissional tem como causas: (a) Incompatibilidades: como, tempo insuficiente para a conclusão das tarefas e a complexificação em o trabalhador conjugar os compromissos laborais com os pessoais e familiares; (b) Contradições e incúria: exigências contraditórias face às qualificações e habilidades do trabalhador; falta de definição do papel e responsabilidade do trabalhador por incúria na definição de funções; (c) Ausência de compromisso e de comprometimento: não envolvimento do trabalhador na tomada de decisões que o afetam ou, na organização do seu próprio trabalho. Exclusão da sua participação na vida da organização; (d) Trabalho solitário: trabalhar a solo, nomeadamente, em teletrabalho e/ou em contato com o público ou clientes, eventualmente, sujeito a violência por parte de um terceiro, suscetível de configurar uma agressão verbal, física ou sexual; (e) Ausência de suporte: falta de apoio por parte da liderança nomeadamente em teletrabalho, e dos colegas. Fracas relações interpessoais; (f) Assédio psicológico ou sexual: no local de trabalho por superiores hierárquicos ou por colegas que consubstanciem um comportamento

potencialmente vitimizante, humilhante, prejudicial ou ameaçador para o trabalhador; (g) Iniquidade: inexistência de uma cultura meritocrática (reconhecimento dos talentos e do compromisso); distribuição injusta do trabalho ou de recompensas (salariais ou outras), de promoções, de oportunidades de carreira, discriminação e a igualdade de género; (h) Comunicação ineficaz: por não assertiva ou insuficiente, e mudanças organizacionais mal desenhadas e, consequentemente, mal operacionalizadas; (i) Desconforto (mal-estar): não acautelada a eficaz integração do trabalhador em novas equipas de trabalho ou, no processo de acolhimento e integração ou ainda, por mobilidade e expatriação, entre outras variáveis que contribuem para o mal-estar e a má qualidade de vida do trabalhador e, por último; (j) Insegurança no emprego, pelas razões

Opinião 19 João Santos território competitivo: Gestão inteligente; Pessoas inteligentes; Ambiente inteligente; Mobilidade inteligente; Economia inteligente; Elevados padrões de vida. No âmbito deste artigo, entende-se que o conceito de “inteligência” (smart) pressupõe, no ato de gerir um território, a conjugação do recurso às tecnologias de informação e comunicação com a preocupação para com a preservação dos recursos naturais. Na atualidade, devem ser estes os dois elementos centrais no processo de gestão de um território. Concluindo, aos espaços urbanos coloca-se o desafio de incorporar “inteligência”, através da integração e do uso extensivo de tecnologia de informação e comunicação em setores estratégicos como o ambiente, a educação, a saúde,

a energia (consumo eficiente), a água, a gestão de resíduos, a segurança e proteção civil, a habitação, o tráfego rodoviário, a economia em geral, entre outros. O exercício deste desafio deve estar alinhado com os princípios da equidade, do desenvolvimento sustentável e da inovação. Sendo alcançado, este quadro resultará em economias de escala e em ganhos de eficiência, que poderão depois ser transferidos para os setores mais vulneráveis dos territórios e das sociedades.

Augusto Moita

apontadas. As consequências: o burnout profissional tem a montante as referidas causas e a jusante as seguintes consequências a nível pessoal: mal-estar, inadaptabilidade, desmotivação, insatisfação (e.g.: trabalho pouco desafiante) e infelicidade que, poderão desencadear degradação física por stresse e patologias do foro psiquiátrico, como: depressão, ansiedade, esgotamento, insónia e, no limite esquizofrenia e potenciação de Alzheimer, catastróficas para o equilíbrio emocional do indivíduo e que, não sendo devida e atempadamente diagnosticadas e tratadas, poderão tornar-se irreversíveis. Consequências que, afetam a concentração, o compromisso e o comprometimento, a disciplina, o trabalho em equipa, a curiosidade e a capacidade para a aquisição de novos conhecimentos e da aceita-

ção de mudanças organizacionais. O burnout profissional tem como consequências a nível organizacional, as seguintes disfunções organizacionais: absentismo, presentismo, rotatividade, conflitos, descomprometimento do trabalhador com a cultura e os valores da organização e, por vezes, o ‘transporte’ dos conflitos/problemas pessoais/familiares para dentro da organização, entre outras variáveis. Consequências que se repercutirão, inevitavelmente, na produtividade da organização. O burnout, quando acontece, é ‘dramático’ para ambas as partes! Texto de opinião escrito em 06 fevereiro 2021 PUB


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Tribunal anula concurso

Recolha de resíduos em Azambuja pode ir parar às mãos da dona do aterro ou continuar na Ecoambiente Tribunal Administrativo Central Sul obrigou a Câmara de Azambuja a lançar um novo procedimento tendo em vista o serviço de recolha de resíduos urbanos que tinha sido atribuído a uma das empresas do universo Pragosa, no final de 2019, no valor de sete milhões de euros para um períodotemporal de oito anos. Recorreram da decisão a Ecoambiente, empresa à qual esteve adjudicado este serviço durante 15 anos, sempre com um elevado grau de críticas por parte da população e do executivo, e a SUMA, proprietária do aterro local, e com a qual o município tem vários processos em contencioso através de uma das suas empresas, a Triaza. No acórdão ao qual o Valor Local teve acesso é dado provimento às queixas da Ecoambiente e da SUMA por terem sido violados os princípios da igualdade, da proporcionalidade e da concorrência ao arrepio do código da contratação pública. O tribunal anulou o concurso, e diz que a Câmara usou de uma

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Concurso terá de ser feito noutros moldes pela autarquia

fórmula para classificar os diversos itens do caderno de encargos como os equipamentos, o preço

do serviço, os veículos de recolha, entre outros, de forma viciada o que acabou por beneficiar a Pra-

gosa. De pés e mãos atados nesta fase, restou ao município renovar por mais um ano o contrato com a Ecoambiente, ou seja uma das empresas que colocou a Câmara em tribunal, numa solução que é a possível para já. Silvino Lúcio, vice-presidente da Câmara, prefere não se alongar na decisão do tribunal. Sobre a questão da fórmula utilizada em que segundo este tribunal não foi a mais adequada, o autarca sublinha que foi a mesma já submetida em anteriores processos junto do Tribunal de Contas, sem oposição. “Uns juízes pensam de uma maneira e outros de outra”. Entenderam que “era melhor anularmos o concurso e lançarmos outro, o que não deixa de ser estranho porque esta fórmula (que compreende a ponderação do fator preço total e valia técnica de cada proposta com a atribuição de 50 por cento a cada uma dessas componentes) nunca foi contestada em concursos semelhantes pelo Tribunal de Contas”.

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Rui Corça, vereador do PSD, à época da atribuição do serviço desconfiou dos critérios e já nessa altura referiu que o concurso mais parecia “feito à medida” com o objetivo de servir os interesses da Pragosa. “O modelo de concurso como foi apresentado desincentiva a apresentação de propostas diferenciadas que conduzam a um melhor preço” refere citando o que o tribunal diz no acórdão. Como tal “vamos ter pelo menos mais um ano em que a situação não vai ser resolvida”. O vereador da CDU, David Mendes, lamentou por diversas ocasiões o facto de a Câmara não se ter esforçado por voltar a internalizar o serviço de recolha de resíduos sólidos urbanos, com a aposta numa aquisição de meios e de recursos humanos, e que tenha, antes, optado por este caminho. Observou ainda que desta feita fica entregue mais uma grande empreitada no concelho ao universo das empresas Pragosa. Quanto à circunstância de a Câ-

mara ter nesta altura razões de queixa do trabalho da Ecoambiente e ter um contencioso com a SUMA via Triaza, Rui Corça diz não querer comentar a possibilidade de ter sido construído um caderno de encargos e respetiva votação do jurí, de forma a que o serviço de recolha de resíduos, limpeza urbana de contentores e desobstrução de coletores pluviais não fosse parar às mãos daquelas empresas. “Não posso tirar essa conclusão, mas se a intenção foi essa não me parece a mais correta”. Já Silvino Lúcio rejeita por completo o pressuposto dizendo que “não se pode misturar as coisas, tratando-se essa de uma interpretação falaciosa”. “Tanto me faz que ganhe o Manuel, o Joaquim, ou o António desde que o serviço seja bem feito”, refere argumentando que não teme os efeitos que possa produzir na opinião pública a atribuição deste serviço, por exemplo, à empresa que gere o aterro, alvo de polémicas diversas.


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Resort de luxo no Mouchão do Lombo do Tejo causa polémica Mouchão do Lombo do Tejo apresentado como a maior ilha privada da Europa

hipótese de construção de um hotel de luxo no denominado Mouchão do Lombo do Tejo, freguesia de Vila Franca, conforme o Valor Local avançou com a notícia em 2019, levou, nesta altura, à redação de uma carta aberta por parte de uma série de especialistas contra as pretensões do proprietário local, tendo em conta a “possível delapidação ambiental” do mouchão. “Em defesa do Estuário do Tejo”, assim se chama o documento que vem sendo divulgado na comunicação social nos últimos tempos. Os signatários do documento onde estão, entre outros, antigos diretores de institutos ligados ao Estado, ex-governantes, professores universitários, biólogos, e engenheiros fala da intensificação da presença humana no mouchão em causa que vai significar “mais ruído e perturbação à vida selvagem do estuário em especial da avifauna”, e que por esse

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facto “o dinheiro e os negócios não devem prevalecer sobre os valores fundamentais da vida.” O projeto chama-se Ilha de Lisboa, e a propriedade foi adquirida por Sidik Latif em 2018, por 35 milhões de euros, com o intuito de dar um cunho turístico ao local que passaria não só por um empreendimento hoteleiro, mas também pela disponibilização de várias atividades ligadas ao lazer como equitação, kitesurfing , vela e passeios de charrete. O apelo é ao turismo no local e são destacados, entre outros pontos de interesse, a proximidade ao futuro aeroporto de Lisboa, à Ponte Vasco da Gama, e até à pista de Alverca no caso de vir a receber jatos privados. Sidik Latif vendeu negócios no Brasil ligados à hotelaria. Foi proprietário do Sunrise Hotels & Resort Holding e do Sunsys Hotel e Resort. O Mouchão do Lombo do Tejo tem

estado sob os holofotes desde há vários anos, e as polémicas têmse multiplicado. Em 2010 já se falava num projeto de turismo de natureza. A ilha é pontuada por algumas construções de apoio à atividade agrícola. Ao longo dos anos, muitas têm sido as vozes discordantes quanto aos usos e à intensidade da marca humana naqueles territórios selvagens, nomeadamente, através de grupos ambientalistas do concelho que falavam das diversas “intervenções ilegais” realizadas neste mouchão em concreto. Numa notícia de fevereiro de 2008, da agência Lusa, em que citava o grupo Xiradania, esta associação ambiental dava conta das denúncias que, ao longo dos tempos, endereçou às entidades estatais relacionadas com “obras de ampliação de caminhos, e de edifícios pré-existentes, bem como a construção de outros novos”, representando “um aumento

da área construída de quase 130 por cento”. As ilegalidades, segundo o movimento Xiradania, estendiam-se ainda à construção de um cais ilegal, e à destruição do coberto vegetal da zona entre as marés nas áreas adjacentes ao cais pré-existente. Foram levantados diversos autos à anterior proprietária Real Mouchão do Lombo do Tejo. Nuno Libório da CDU fala em erro crasso Em reunião de Câmara, o vereador da CDU, Nuno Libório, vincou a sua preocupação face a este investimento que conta com fundos soberanos do Dubai, um fundo privado de Inglaterra e investidores brasileiros a que se junta o interesse financeiro de um grupo tailandês de hotelaria de luxo, o Six Senses. Libório diz ter ficado estupefacto com a regularização das

construções na componente que diz respeito à alteração do uso do solo para fim turístico em 27 m2. O resort de luxo terá 70 quartos e um spa, mais 60 a 70 “vilas” em madeira entre os 250 e os 450m2. Para o autarca “isto não é turismo de natureza”, e não tem nada a ver com o Plano de Ordenamento do Estuário do Tejo ou o Plano Diretor Municipal. O autarca está convencido que a ir para a frente “o projeto vem trazer consequências bastante negativas sobre a preservação dos mouchões”. Nuno Libório pediu para que a Câmara providencie a informação sobre o andamento do processo. Recorde-se que há pouco mais de um ano, o presidente da Câmara, Alberto Mesquita, entrevistado pelo nosso jornal assegurava que o processo estava bem encaminhado junto das entidades que superintendem o ambiente, e que não conhecera nenhum retroces-

so. O presidente da Câmara não é contra os projetos turísticos, pois pior fim está a ter, na sua opinião, o Mouchão da Póvoa, deixado ao abandono e a sofrer os efeitos naturais da erosão “arriscando-se a desaparecer mais dia menos dia.” Os mouchões estão identificados no Plano de Ordenamento da Reserva Natural do Estuário do Tejo como áreas de intervenção específica, sendo prioritárias ações para a recuperação dos habitats e da paisagem, a manutenção das utilizações necessárias à conservação dos recursos naturais e a promoção de ações de investigação científica e de sensibilização, bem como de desenvolvimento local, nomeadamente, manter a integridade física dos mouchões, e dos seus habitats naturais, através da contenção dos processos erosivos que ameaçam a sua estabilidade e através da promoção de atividades sustentáveis.

Centrais solares podem levar ao desaparecimento de centenas de espécies de aves da região Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) está preocupada perante a perspetiva da região ser inundada por grandes centrais de painéis solares que em última análise vão levar a uma debandada geral da avifauna, “porque se analisarmos os impactes ao nível de cada uma das centrais, pode parecernos que não significam nada de especial, mas quando temos mais de uma dezena de projetos em perspetiva teme-se de facto por efeitos bastante pesados na ecologia e no ambiente, e a escala ganha uma amplitude completamente diferente”, enfatiza

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Joaquim Teodósio, Coordenador do Departamento de Conservação Terrestre daquela organização não governamental.

O especialista fala em falta de planeamento estratégico nestes investimentos que resultam da aposta do país em cumprir as

Íbis Preta uma das espécies que habita na região

metas das energias renováveis impostas pela União Europeia no horizonte temporal até 2050. Recorde-se que no caso das aves são reportados incidentes de eletrocussão ou colisão nas linhas elétricas neste tipo de parques. Por outro lado, diz a ONG “estão a ser sacrificados terrenos de zona de Reserva Agrícola Nacional (RAN) e Reserva Ecológica Nacional (REN), em que muitos deles receberam fundos destinados a projetos e que serão sacrificados com vista aos parques fotovoltaicos”. A associação remeteu recentemente um parecer junto da Agên-

cia Portuguesa do Ambiente relativamente ao projeto da Central Fotovoltaica da Cerca que ficará entre os concelhos de Azambuja e de Alenquer com 458 mil painéis solares, onde assinala riscos para espécies como a íbis preta, e o flamingo, que “povoam a área de forma regular”, mas que nada foi considerado no estudo de impacte ambiental para a análise de risco de colisão com as linhas elétricas. Está ainda reportado, segundo a SPEA, um “vasto dormitório de grandes dimensões de corvos-marinhos na parte do projeto que fica na ribeira de Ota” e também aqui nada

está previsto pela Fotovoltaica Lote A, EDP, o promotor do projeto. O corredor em causa é ainda casa de espécies como a águia calçada, a águia cobreira, o gavião e o açor, bem como, da cegonha branca. Refere a associação que nada foi considerado no estudo para “compensar a perda de habitats para estas e outras espécies”. Vaticinar o desaparecimento de centenas de espécies pode ser uma possibilidade – “tendo em conta a acumulação de centrais numa área relativamente concentrada”, prejudicando a biodiversidade da região.


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Alenquer quer elevar uma das festas mais antigas do mundo a património cultural nacional m 2021, as Festas do Império do Divino Espírito Santo de Alenquer assinalam 700 anos (1321-2021). Um marco relevante que serviu de mote à intenção de classificação destas festas como Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal. A proposta do município foi aprovada por unanimidade em reunião de Câmara. A ideia à semelhança do que acontece com o “Pintar e Cantar os Reis” é também levar mais longe a cultura do concelho, e ver reconhecida pelo ministério da Cultura esta tradição como de interesse imaterial nacional. Rui Costa, vice-presidente da Câmara, sublinha, em declarações ao Valor Local, diz que as festas em causa “são um dos eventos mais agregadores da identidade da população”. “Quantos concelhos do nosso país têm um culto ou uma devoção com um enraizamento popular muito forte já com 700 anos, que nos séculos XIV e XV parte para os arquipélagos portugueses e para África, e que se espalha por todo o mundo e

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Este ano as celebrações vão prolongar-se até outubro com milhões de devotos em todo a parte, tendo nascido numa casa à beira rio em Alenquer”, refere acrescentando que este é um culto ligado a Domingo de Pentecostes com milhões de fiéis em todo o mundo. As festas nasceram, de forma re-

sumida, do encontro entre a Rainha Santa Isabel com a ordem franciscana em Alenquer. Terão germinado as festas em honra do Divino Espírito Santo, com início no domingo de Páscoa e encerramento sete semanas depois, no domingo de Pentecostes, com

Festival “Políticas à Parte” em Arruda dos Vinhos Centro Cultural do Morgado, em Arruda dos Vinhos, assinala o desconfinamento da cultura com um festival que pretende promover o pensamento político através da arte, inspirado pela quadra de forte cunho político que se comemora no 25 de abril e 1 de maio. A programação consistirá em três espetáculos, duas talks (conversas) e uma exposição. JP Simões abre o festival no dia 23 de abril com um concerto totalmente

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dedicado ao espírito da canção de protesto. A companhia LaFontana, de Vila do Conde, apresentará, no dia 27, um espetáculo coproduzido pelo Museu da Marioneta: “Discursos: O Triunfo da Palavra”, em que a palavra e o discurso político de grandes figuras do século XX serão o centro das atenções. No dia 29 de abril, Pedro Jóia - um dos músicos mais conhecidos no que diz respeito ao virtuosismo, apresentará o seu último trabalho editado em

JP Simões é um dos convidados da iniciativa

2020 - “Zeca”, em homenagem à obra de José Afonso. A Galeria Municipal receberá a exposição de fotografia “Rostos de Abril” de Carlos Barbeitos. As imagens são constituídas pelos rostos anónimos que todos os anos participam nas manifestações do 25 de abril e que, na visão do fotógrafo, são esses anónimos que perpetuam abril. No que diz respeito às talks, a política cultural será o grande objeto de discussão, reunindo um grupo de personalidades com destaque nas suas áreas como: David Santos (curador da obra de arte do Estado); Paulo Pires (programador cultural e assessor no Ministério da Cultura) e Vítor Belanciano (Jornalista de Cultura no Público). Os espetáculos têm um custo de 2 euros. Os bilhetes estão à venda no Posto Turismo e bilheteira Clube Recreativo e Desportivo Arrudense (CRDA) no dia do espetáculo. O festival será simultaneamente transmitido em streaming, excetuando a exposição de fotografia e a peça “Discursos: O Triunfo da Palavra”. Toda a informação disponível em http://www.cm-arruda.pt/festival_politicas_a_parte

a procissão solene e o bodo, uma refeição constituída por pão e sopa de carne que era distribuída aos pobres. Ainda hoje existe esta componente do bodo que em ano de pandemia terá de ser suprimida. Para o vereador da Cultura, Rui

Costa, “é com enorme satisfação que assim se cumpre mais um desígnio na revitalização destas festas que, sendo das mais antigas de Portugal, a cada ano que passam vêm ganhando enorme reconhecimento e protagonismo nacional e internacional”, afirmou. “Aliás, não fora esta terrível pandemia, e estaríamos certamente envoltos neste preciso momento em grandes celebrações que, não acontecendo como inicialmente planeado, as que levaremos a cabo não deixarão de honrar dignamente o momento e as comemorações dos 700 anos”, acrescentou o responsável pelo património local. Rui Costa explicou ainda que “para além de todo este incrível património imaterial associado ao culto e às festas e que mobiliza pessoas e boas vontades, existe no nosso concelho todo um vasto conjunto de património cultural material também associado às mesmas e que, por si só, também ele é fator decisivo nesta classificação.” A título de exemplo, o vereador

nomeou “a Casa do Espírito Santo de Alenquer (Capela, Albergaria e Arcada), as Capelas do Espírito Santo de Aldeia Galega e de Aldeia Gavinha e Arneiro, as Igrejas de Atalaia, Ota e Pereiro de Palhacana e, por último, as Capelas de Paúla, Paiol, Casais Brancos e Vale Benfeito, assim como um grande legado de coroas, bandeiras e estandartes, entre outras peças religiosas”. O próximo passo será levar esta proposta à próxima reunião da Assembleia Municipal, a 23 de abril, a quem compete a confirmação desta classificação e iniciar o processo de candidatura ao Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial. Contudo estes “processos sempre trabalhosos, longos e chegando a gerar esperas penosas, mas somos resilientes e combativos para levar mais este processo em frente até bom porto”, concluiu o vereador. Saiba mais sobre as Festas do Espírito Santo de Alenquer 2021, no site oficial em www.alenquerterradoespiritosanto.pt. PUB


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