Jornal Valor Local, Edição 22 de Novembro de 2013

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ACISMA

Valor Local

Jornal Valor Local • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 7 • 23 Novembro 2013 • Preço 1 cêntimo

Grande Reportagem: Retrato dos nossos idosos

Gado destrói hortas sociais de Azambuja

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Alemanha é luz ao fundo do túnel para doentes com cancro

Págs. 14 e 15

Freguesia em destaque:

Vila Nova da Rainha

Págs. 10 e 11

Págs. 8, 9 e 10


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www.ACISMA.org

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Regularização de dívidas ao fisco e segurança social Por intermédio do Decreto-Lei n.º 151-A/2013, de 31 de outubro, a partir de 1 de novembro, e até dia 20 de dezembro, quem proceder ao pagamento total ou parcial das dívidas fiscais ou à segurança social, fica dispensado de pagar juros de mora, juros compensatórios, custas do processo de execução fiscal, e ainda beneficia da redução da coima associada à dívida. Tal resulta da publicação do regime excecional de regularização de dívidas de natureza fiscal, bem como de dívidas à segurança social, cujo prazo legal de cobrança tenha terminado até 31 de agosto de 2013. Este regime aplica-se a todas as dívidas que sejam declaradas pelos contribuintes, ou pelos seus representantes, nos termos da lei, antes do ato do pagamento, ainda que desconhecidas da administração fiscal e da segurança social. Assim, o pagamento por iniciativa do contribuinte, no todo ou em parte, do capital em dívida, até 20 de dezembro próximo, determina, na parte correspondente, a dispensa dos juros de mora, dos juros compensatórios e das custas do processo de execução fiscal. Esse pagamento determina ainda a atenuação do pagamento das coimas associadas ao incumprimento do dever de pagamento dos impostos dos quais resultam as dívidas em causa. Esta atenuação corresponde a uma redução da coima, consoante os casos, para: - 10% do mínimo da coima prevista no tipo legal, não podendo resultar um valor inferior a 10 euros, caso em que será este o montante a pagar; - 10% do montante da coima aplicada, no caso de coimas pagas no processo de execução fiscal, não podendo resultar um valor inferior a 10 euros, caso em que será este o montante a pagar. Às infrações praticadas até 31 de agosto deste ano, respeitantes ao incumprimento de obrigações tributárias acessórias que deem origem a liquidação de imposto ou de contribuições para a segurança social, regularizado nos termos deste regime: - é aplicada uma coima correspondente a 10% do montante mínimo legal, desde que regularizadas até 15 de novembro, não podendo resultar um valor inferior a 10 euros, caso em que será este o montante a pagar; - é aplicada uma coima correspondente a 10% do montante mínimo legal, desde que o pagamento do imposto que originou a infração ocorra até 20 de dezembro, não podendo resultar um valor inferior a 10 euros, caso em que será este o montante a pagar. No que diz respeito às contra-ordenações contra a segurança social cujo facto tenha sido praticado até 31 de agosto de 2013, podem beneficiar deste regime, desde que o pagamento da respetiva coima seja

efetuado durante o período de pagamento voluntário. O pagamento da coima determina ainda a dispensa do pagamento dos encargos do processo de contra-ordenação ou de execução fiscal. Além disso, em matéria criminal, considera -se que o pagamento integral da dívida, efetuado nos termos deste regime, se enquadra no regime de dispensa da pena, para os casos em que a dívida do imposto em causa seja considerada crime (como sucede com o abuso de confiança fiscal). Caso esteja a correr, até 20 de dezembro de 2013, qualquer processo de execução fiscal, ou de qualquer outra dívidade natureza fiscal ou à segurança social, destinado apenas a cobrar juros e custas, se a dívida associada estiver regularizada, o processo de execução será extinto, sem demais formalidades. As coimas não aplicadas ou não pagas, associadas ao incumprimento do dever de pagamento de imposto cuja regularização ocorreu antes de 1 de novembro de 2013, são reduzidas, consoante o caso: - 10% do mínimo da coima prevista no tipo legal, não podendo resultar um valor inferior a 10 euros, caso em que será este o montante a pagar; - 10% do montante da coima aplicada, no caso de coimas pagas no processo de execução fiscal, não podendo resultar um valor inferior a 10 euros, caso em que será este o montante a pagar. Para beneficiar desta redução, o contribuinte deve proceder ao respetivo pagamento até 20 de dezembro ou, até à mesma data, identificar o processo de contraordenação onde está a ser aplicada a coima.Para efeitos de aplicação deste regime não se aceita a dação em pagamento como meio de pagamento, ou seja, não podem os contribuintes entregar bens para pagar a dívida. Pode ainda beneficiar condições de regularização deste regime no caso de, até 20 de dezembro, antecipar o pagamento, no todo ou em parte, do valor das prestações enquadradas em quaisquer outros regimes de regularização prestacional. Além disso, este regime não prejudica a aplicação de outros regimes legais vigentes mais favoráveis aos executados ou infratores. Nos casos em que o pagamento do valor em falta dependa de prévia liquidação da administração fiscal, a aplicação deste regime depende ainda do cumprimento das correspondentes obrigações declarativas até ao dia 15 de novembro. Este regime de regularização aplica -se aos pagamentos efetuados durante o seu período de vigência – 1 de novembro a 20 de dezembro de 2013 –, relativamente às dívidas de natureza fiscal abrangidas pelo mesmo, podendo o sujeito passivo optar por efetuar o pagamento utilizando o Portal das Finanças. No caso de dívidas em execução à segurança social, os contribuintes que pretendam beneficiar das medidas excecionais agora previstas devem solicitar o respetivo documento de cobrança nas secções de processo executivo do sistema de solidariedade e segurança social. O pagamento das dívidas à segurança social cuja cobrança coerciva ainda decorra pela administração fiscal, deve ser efetuado no serviço de finanças onde se encontre pendente o processo executivo. Quando se trate de quaisquer outras dívidas à segurança social, os contribuintes que pretendam beneficiar das medidas excecionais agora consagradas devem solicitar ainda o respetivo documento de cobrança nos serviços do sistema de solidariedade e segurança social. (Fonte: Boletim Empresarial)

Correcção No texto da edição passada sobre a lista de municípios que demoram mais de 90 dias a pagar aos fornecedores, erradamente referimos que Alenquer havia superado esta estatística por não constar na lista, no entanto, o município é dos poucos que até, há poucas semanas, ainda não tinha remetido à DGAL os dados relativos ao penúltimo trimestre, daí a sua não inclusão para já nesta listagem.

Ficha técnica:

Valor Local, Jornal de informação regional, sede de redacção e administração: Quinta da Mina 2050-273 Azambuja; telefones: 263 418 263; 263 047 625, 96 197 13 23 correio electrónico: valorlocal@gmail.com; Site: www.valorlocal.pt.vu • Propriedade e editor: Associação Comércio e Indústria do Município de Azambuja (ACISMA); Quinta da Mina 2050-273 Azambuja. NIPC 502 648 724 • correio electrónico: adm.valorlocal@gmail.com • Director: Miguel António Rodrigues CP 3351 • Colaboradores: Sílvia Agostinho CO-1198, Vera Galamba CP 6781, José Machado Pereira, Daniel Claro, Rui Alves Veloso, Miguel Ouro, Nuno Vicente, Cátia Carmo, Dina Patrício • Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida: valorlocal@gmail.com • Fotografia: José Júlio Cachado • Serviços administrativos e publicidade: Sandra Seabra, Miguel Nabeto, correio electrónico: valorlocal.comercial@gmail.com • N.º de Registo ERC: 126362, Depósito legal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga • Tiragem: 4000 exemplares


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Sociedade

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Gado destrói hortas sociais de Azambuja s abrangidos pelo projecto das hortas sociais de Azambuja, na zona das Cortes de Cavalos, perto do rio Tejo, estão desgostosos com os recentes acontecimentos relativos a este projecto, que nasceu há um ano atrás, através do então vereador Luís de Sousa, actualmente, presidente da Câmara: é que todos os dias uma manada de vacas atravessa a estrada e vem destruir o que está plantado. Os hortelões desconhecem ou pelo menos não se atrevem a nomear o responsável pelos animais, mas já pediram a intervenção do município. “Estou muito triste porque tirei férias durante o mês de Novembro para vir cuidar da horta e agora está tudo destruído. Tinha alfaces, couve portuguesa, brócolos, feijão-verde que ficaram em ´águas de bacalhau´. Gastei dinheiro sem efeito nenhum”, lamenta-se Pauli-

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na Almeida, que confessa desconhecer o proprietário. Refere que

já viu cerca de 20 vacas: “Tentei enxotá-las com muito medo”.

Para já, vai tentar reforçar a vedação, (algo que até pode não servir

Paulina Almeida mostra como ficou a horta

quando falamos de animais com um peso muito elevado). “O dono das vacas tem de organizar os animais de uma forma diferente, caso contrário continuaremos a sofrer os prejuízos. Sei que já cá esteve um trabalhador da Câmara a tirar fotografias” Estas hortas foram criadas com o objectivo de ajudar as famílias carenciadas de Azambuja. Ao todo são cerca de 33 lotes com cerca de 200 a 300 m2. Muitos proprietários permanecem ali desde a primeira hora e no caso de Joaquim Carlos, a horta significa “uma excelente forma de economizar no supermercado”. Também cultiva de tudo um pouco. Quanto à questão das invasões das hortas pelo gado, tem conhecimento de que a autarquia está a agilizar esforços. “A GNR já foi chamada diversas vezes, e há fotos de vacas dentro das hortas.

Mesmo de dia, já apanhei animais aqui dentro. A maioria das hortas está vedada, mas torna-se perigoso estar a escassos metros do gado.” Joaquim Carlos prossegue: “Os animais não podem andar aqui, têm de estar num recinto próprio, ainda por cima, atravessam uma via pública, ainda que pouco movimentada, para virem para as hortas. Por vezes, andam por aqui algumas crianças e torna-se perigoso.” Segundo, o vereador Silvino Lúcio poderá existir mais do que um proprietário de gado envolvido nesta situação. No entanto, o principal “culpado” já se terá mostrado disponível para resolver a situação e, por estes dias, estará a proceder ao reforço da limitação da sua propriedade para evitar que o gado volte a invadir as hortas.

Viver na Lezíria foi conhecer queijo chévre feito na Maçussa projecto “Viver na Lezíria” esteve desta vez na Maçussa, onde ficou a conhecer o espaço de Adolfo Henriques, conhecido como o único produtor de queijo chévre artesanal no nosso país. Cerca de 50 pessoas acompanharam a explicação do produtor que aprendeu a

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fazer queijo de cabra há mais de 30 anos. “Foi uma aventura, ninguém fazia isto em Portugal”. Chegou a fornecer as grandes cadeias de supermercado, mas entretanto desistiu devido às condições que lhe foram impostas pela grande distribuição. Hoje está presente sobretudo na

restauração e na hotelaria. Também já exportou para Inglaterra e Espanha. A iniciativa contemplou ainda uma visita às hortas onde possui plantados alguns produtos ditos gourmet, bem como, um lanche final na adega, num convívio entre todos os participantes.

As memórias da comerciante mais antiga do mercado de Azambuja ntónia Valada é a vendedora mais antiga do mercado de Azambuja. A comerciante que fez 80 anos no passado dia dez de Outubro, continua a marcar presença no espaço, onde vende produtos cultivados por si, em Casais de Baixo, há mais de 70 anos. Ao Valor Local, recorda os seus primeiros passos na profissão, numa altura em que a vida era dura, “quase tão dura como a dos dias de hoje”. Conta Antónia, que começou a vender pelas mãos da mãe, no actual largo da Câmara, que até há bem pouco tempo ainda tinha as marcações em calçada dos espaços que dividiam os vários vendedores. A anciã recorda os tempos duros, “em que o senhor Carlos Vieira transportava às costas as mesas de madeira”. E este já é o terceiro mercado que conhece, pois antes deste novo espaço inaugurado em meados de 2006, Antónia também vendeu no anterior, nas traseiras do edifício da Câmara Municipal. Antónia Valada cuida sozinha da terra. O seu dia-a-dia é passado entre o mercado municipal e os

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seus terrenos, onde cava a terra. “Semeio nabiças, batatas e cou-

ves, semeio de tudo um pouco”. Salienta a comerciante que o ne-

A comerciante cultiva os produtos que vende

gócio “está mau. Não aparece aqui ninguém a comprar nada e a gente

não vende”. Para a comerciante a actual localização do mercado “é pior”. “O outro mercado era junto da estação, sempre aparecia mais gente a comprar”. “Agora os hipermercados e essas coisas grandes estragaram-nos a vida”, lamentando, desta forma, a chegada dos grandes supermercados a Azambuja: “Primeiro veio o Intermarché e nós notamos um bocadinho, depois veio o Aldi e notamos ainda mais, com o Minipreço, ficou ainda pior”.Aos 80 anos, Maria Antónia diz que não está preparada para parar. “Vou continuar aqui até poder”, destaca. Para além de Antónia Valada, muitos outros comerciantes do Mercado Municipal de Azambuja se queixam das vendas. Aliás a reportagem do Valor Local, foi mesmo aproveitada por alguns comerciantes para desabafarem sobre algumas dificuldades que sentem no dia-a-dia. Todavia, é o futuro que os preocupa. O comércio em geral já teve melhores dias, e os grandes supermercados têm “roubado fregue-

sia” contou uma vendedora ao Valor Local, que diz temer um novo aumento de preços do aluguer das bancas no próximo ano. Os comerciantes lamentam a falta de clientes e embora reconheçam que o actual espaço tem melhores condições do que o anterior, receiam “ter de deixar de vender se a Câmara aumentar os preços”. Contactado pela nossa reportagem, Silvino Lúcio, vice-presidente da Câmara Municipal de Azambuja, e vereador com o pelouro das feiras e mercados, tranquilizou os comerciantes garantindo que não haverá aumentos de preços. Contudo alguns dos vendedores queixaram-se do aumento de preços nos últimos anos, algo ao qual vereador responde salientando, que “apenas foram aplicadas as tabelas que já há muito estavam aprovadas e não aplicadas.” Durante algum tempo, esclarece o vice-presidente: “a autarquia cobrava 3 euros por banca, quando devia cobrar nove”. Alguns comerciantes têm mais do que uma banca e por isso “o aumento de preços reflecte-se ainda mais”.


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Cultura

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Carminho e Rão Kyao vencem prémio Carlos Paredes s álbuns “Coisas Que a Gente Sente”, de Rão Kyao, e “Alma”, de Carminho, venceram ex-aequo o Prémio Carlos Paredes, entregue no dia 12 de Novembro, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. O auditório do Museu do NeoRealismo não foi suficiente para receber o público que queria assistir à entrega dos Prémios Carlos Paredes. A noite começou com uma pequena actuação dos músicos “JazzdoaaV” do Ateneu Artístico Vilafranquense que antecedeu um pequeno discurso do presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita,que apresentou o prémio que já tinha sido anteriormente ganho por Bernardo Sas-

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setti, Mário Laginha, Pedro Jóia e Ricardo Rocha ou os Rosa Negra. Rão Kyao explicou a razão de ser de “Coisas Que a Gente Sente”, publicado há um ano, e tocou “Depois de um sonho”, “Com os amigos”, “No dá e dá”, “Por Shankara” e “Em Aljezur”, em que a protagonista é a flauta de cana. “Alma” é o segundo disco da fadista Carminho que, em 2012, recebeu o Prémio Amália Rodrigues de melhor intérprete, que veio acrescentar ao Prémio Revelação de 2005 . Carminho, que se fez acompanhar dos seus habituais músicos Luís Guerreiro e Marino de Freitas e o produtor e marido Diogo

Clemente, cantou “Lágrimas do Céu”, “Malva Rosa”, “Disse-te Adeus” e “Pedras da Minha Rua”; e antes de terminar, chamou ao palco o amigo Rão Kyao (com quem tem um dueto gravado) e juntos cantaram e tocaram “Fado das Horas”, que terminou com uma ovação do público presente. O Prémio Carlos Paredes “visa contribuir para o reforço da identidade cultural nacional, através da música, nomeadamente a de raiz popular portuguesa, procurando homenagear os maiores criadores e intérpretes musicais portugueses do século XX e incentivar a criação e a difusão de música de qualidade feita por portugueses”. Dina Patrício

Carminho e Rão Kyao encantaram o público presente

Último dia nas arenas não estava previsto O

cavaleiro tauromáquico de Azambuja, Manuel Jorge de Oliveira, colocou um ponto final na sua carreira. O veterano decidiu fazê-lo a 21 de Junho numa corrida na Praça de Toiros do Cartaxo, sem dizer a ninguém, depois de 44 anos de carreira. Manuel Jorge de Oliveira confessa que nem o próprio imaginava que ia ser assim. Foi algo que aconteceu no momento em que presenciou uma praça cheia de gente, e um ambiente “extraordinário”, propicio a tomar essa decisão. O cavaleiro assume que a decisão apanhou os amigos, aficionados e até a família desprevenidos. A corrida do Cartaxo tinha na altura um ambiente muito especial, “próprio dos anos 70 e 80”. “ Aquilo teve impacto em mim. Já não tenho muito para dar aqui, hoje é o dia”, pensou na altura. Uma decisão da qual não se arrependeu à posteriori. Confrontado com o facto de não se despedir em Azambuja, na praça de toiros da sua terra, mas no Cartaxo, Manuel Jorge

de Oliveira vinca que isso não pesou na decisão. “No meu ponto de vista estava em Azambuja” tendo em conta o ambiente, os amigos, familiares e todas as caras conhecidas que tornaram

aquele ambiente especial.” Mesmo a morar no Cartaxo, Manuel Jorge de Oliveira, que sempre foi conhecido como o “Cavaleiro de Azambuja”, refere sentirse ainda como o representante

desse concelho. Sobre a vida tauromáquica em Azambuja, o cavaleiro considera que “precisa de abrir o espirito, pois está fechada numa série de preconceitos”; todavia refere

Manuel J. Oliveira recebeu-nos na sua propriedade no Cartaxo

que o “futuro é bom”, pese embora a circunstância de a sua arte se ter “politizado muito”. “Está muito agregada à política e isso fecha horizontes”. Para Manuel Jorge de Oliveira, a tau-

romaquia azambujense, bem como a de outros concelhos “tem de se tornar regional”. O cavaleiro fala da evolução da ciência e da técnica ligadas à tauromaquia, “mas esclarece que há algo que se mantém – a arte, que “é eterna”, enfatiza o cavaleiro para quem o toureio se tornou mais “científico”. Manuel Jorge de Oliveira refere os nomes do novo toureio de Azambuja: Paulo Jorge Ferreira, actualmente, nos Estados Unidos, Paulo d’Azambuja ou Ana Rita que “são bons valores, têm futuro e são três nomes a considerar”. Todavia, nem tudo são rosas no mundo dos toiros. Manuel Jorge de Oliveira critica os anti taurinos, que acusa de “terem falta de cultura” e explica que “a cultura portuguesa está intimamente ligada ao aspecto tauromáquico, mas nas escolas essa cultura é escondida. Mais grave, há professores que a escondem de propósito”. Para o cavaleiro, essa opção é “um erro dramático”, “pois significa renegar as nossas origens”.


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Instantâneos

Terra Velhinha

Zé da Mina

Publicada por Miguel Ouro, 27/07/13, Foto de Miguel Ouro Segundo Silvino Lúcio “ Grande Ti Zé da Mina. É sempre um prazer ouvir histórias suas nos nossos almocitos. Bem-haja e muita saúde. Segundo Fátima Regateiro “Zé da Mina, um Homem que conheço desde sempre e por quem tenho um grande carinho, estima e muito respeito.

Terra Velhinha é um grupo que pretende celebrar o passado de Azambuja e da sua região, rever os seus familiares, relembrar velhos amigos, situações ou lugares, e quem sabe até proporcionar reencontros, já que o reencontro com a memória do passado, esse está aqui assegurado. Se é de Azambuja, do Concelho, da região limítrofe, tem raízes cá ou é simplesmente simpatizante da nossa terra, pode publicar: fotos, documentos diversos, ficheiros áudio ou vídeos, textos que digam respeito a pessoas, famílias, situações, lugares ou contextos que protagonizem a história desta Vila Ribatejana. Reviver o nosso passado, realçando as nossas raízes faz parte de uma identidade inter-geracional, dos 8 aos 88. É a nossa história!

Valor Local Retratos da nossa terra

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A Câmara Municipal de Azambuja desmantelou um parque infantil no jardim urbano. O local foi edificado na mesma altura em que o jardim foi construído em 2007, mas pouco tempo depois com a falta de manutenção, o espaço da autoria do arquitecto Marques dos Santos, já estava a degradar-se. O local está agora como as fotos documentam, e já deu azo a criticas de alguns populares, que apesar de saberem das débeis condições de segurança dos equipamentos, continuavam a levar para lá as crianças. Esperemos agora, que após a retirada do equipamento, que o espaço também não permaneça, desta forma, demasiado tempo.

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O estado de abandono deste carro levou a que, há perto de dois meses, alguns indivíduos aproveitassem para levar algumas peças deixando a viatura no estado denunciado pelas fotos. Há meses que os moradores da Rua dos Campinos e do Largo do Alto do Victor em Azambuja, têm vindo a alertar as autoridades para a situação, mas até ao momento não se verificaram quaisquer alterações. A viatura continua abandonada, e aos poucos vai perdendo peças. O problema é que o estado da viatura atrai para o local os vândalos, que nas últimas semanas já assaltaram pelo menos dois carros propriedade dos moradores da zona.

Ti Rosa Varina

Barbearia Victor Teixeira

Publicada por Miguel Ouro, 25/07/13, Foto de Miguel Ouro Segundo Bruno Anselmo “Melhor barbeiro do mundo…só na azambuja olé!!!!” Segundo António Jorge Lopes “ Nos tempos em que ainda tinha franja, era o Sr. Vitor que me cortava a dita. Já lá vão mesmo muitos anos!” Segundo Sandra Teresa Santos “E após tantos anos continua no activo! O meu marido não dispensa os seus serviços.” Segundo Pedro Cardoso “ O meu primeiro corte foi ali e foi por muitos anos.”

Pescador Inácio Soares Publicada por Miguel Ouro, 23/08/13, Foto de Miguel Ouro (para o jornal Malaposta)

Publicada por Maria Eva Pires, 25/08/13, Foto de Maria Eva Pires Segundo João Paulo Cunha “ Minha Avó.” Segundo Ana Cunha “Minha querida avó! Minha Estrelinha…” Segundo Janica Mourato “A madrinha do meu pai, a tia Rosa. Saudades.”

O vereador Herculano Valada da Câmara de Azambuja, durante a acção do “Viver na Lezíria” mostrou ser conhecedor de burros e mostrou-se motivado para os próximos tempos. Faça-nos chegar as situações que mais o preocupam. Contacte-nos por email: valorlocal@gmail.com


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Economia

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Camilo Lourenço em Benavente

“Somos pobres porque queremos!” conhecido especialista em assuntos de economia, Camilo Lourenço, esteve em Benavente, no dia 14 de Novembro, no âmbito do périplo de acções de esclarecimento sobre finanças domésticas que efectua pelo país. Patrocinado pelo Intermarché e pela Exchange, o convidado principal mudou o local de apresentação da sua acção do cine-teatro de Benavente para um restaurante da vila, porque segundo as suas palavras estava ali “para prestar um serviço público”, e como tal não poderia aceitar que a Câmara Municipal de Benavente pudesse “cobrar o aluguer de utilização do equipa-

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mento”. A mudança de local impacientou parte de quem ali estava para ouvir o conhecido comentador, mas mesmo assim não houve desmobilização. A sala estava repleta e Camilo Lourenço não deixou de referir o facto de a Irlanda ter saído naquele dia do programa de ajustamento da Troika, isto porque, de acordo com as suas palavras, “tem uma classe política mais adulta e parceiros sociais que não ameaçam com greves, ao contrário de Portugal”. Uma afirmação que indignou alguma assistência, pois do fundo da sala alguém vociferou – “Na Irlanda não há tantos ladrões como cá”.

Camilo Lourenço consubstanciou que o modelo em Portugal se resume ao facto de “sempre que alguém chega de novo se dedica a desfazer o que o anterior fez e assim sucessivamente, dessa forma não se pode crescer”. “Já tivemos três intervenções da Troika e se tivermos quatro sernos-á passado um atestado de insanidade mental. Somos pobres porque queremos. Não podemos estar sempre a duvidar das empresas, porque há as boas e as más”. Antes, da intervenção de Camilo Lourenço, a Exchange fez uma apresentação de um dos novos produtos financeiros que podem

ser requisitados pelos portugueses nos CTT – os certificados do tesouro – poupança +, “uma boa opção para quem deseja poupar, pois rendem cinco por cento a cinco anos”. Quanto à questão da mudança de local, a Câmara de Benavente em comunicado esclarece: “Possuímos um regulamento municipal que disciplina a cedência, entre outros, dos equipamentos culturais municipais às nossas colectividades e associações sem fins lucrativos, de forma gratuita, ou através delas quando existem parcerias com terceiros havendo a garantia casuística do cumprimento do interesse público,

quando pode a acção beneficiar a população. Isto foi explicado à empresa promotora, a “Exchan-

ge” que contava com outros patrocínios, como o mencionado “Intermarché”. “

Câmara do Cartaxo vai criar a “Carta do Investidor” Zonas industriais permanecem a meio gás. Atrair empresários e fomentar os pontos fortes do concelho é objectivo Câmara Municipal do Cartaxo vai criar a denominada “Carta do Investidor”. Segundo Pedro Ribeiro, presidente da Câmara Municipal, eleito em Setembro passado, o objectivo passa por divulgar as mais-valias que o município tem para a fixação de empresas. Em entrevista ao Valor Local, o autarca esclarece que este documento que terá ainda de passar pela reunião de câmara, será elaborado por uma espécie de gabinete de trabalho, “composto por várias pessoas dispostas a dar o seu contributo”. Este é um documento que deverá “resumir de uma forma muito simples, aquilo que o concelho tem para oferecer às empresas que se queiram aqui fixar”, já que “o município não pode nesta altura oferecer baixas e isenções de impostos, devido ao facto de ainda guardar a resposta à adesão ao Programa de Apoio à Economia Local (PAEL).” Segundo o autarca, este documento deverá abordar igualmente os equipamentos sociais disponí-

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veis no município, bem como, outro tipo de mais-valias, como as acessibilidades, o que na opinião

de Pedro Ribeiro, faz toda a diferença. Com efeito, o presidente da Câmara Municipal do Cartaxo destaca que uma das grandes preocu-

pações é o desenvolvimento das três zonas industriais do município. As suas localizações têm boas

acessibilidades, no entanto há casos em que as infraestruturas não deixam que o complexo avance e como tal não há novas empresas. O autarca esclarece que, nesta al-

tura, a zona industrial entre o Cartaxo e Vila Chã de Ourique “já está consolidada”. Todavia a meio-gás está a Área de Localização Empresarial do Falcão e a Zona Industrial do Casal Branco, bem como uma zona de pequenas empresas na freguesia da Lapa. A área empresarial do Falcão é aquela que está mais avançada no que toca às infraestruturas como tal “tem sido também a mais procurada. Já existe mesmo uma empresa onde os trabalhos estão numa fase mais avançada e com a perspetiva de abrir no primeiro trimestre no próximo ano”; favorecendo dessa forma o aparecimento de alguns postos de trabalho. Contudo na Zona Industrial do Casal Branco “existem, ainda, alguns constrangimentos do ponto de vista do licenciamento”, relacionados com as entidades estatais como é o caso da Comissão Coordenadora da Região de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT). Sendo que na freguesia da Lapa, há impasses urbanísticos que aguardam a revisão do Plano Director Municipal.

Pedro Ribeiro vinca que as boas acessibilidades, tais como a AutoEstrada do Norte, que já tem um nó no Cartaxo, ou a linha de caminho-de-ferro, ou o próprio Rio Tejo, aliados ao turismo, fazem do Cartaxo, um bom sítio para que as empresas se possam fixar, ressalvando uma maior aposta na campanha “Cartaxo Capital do Vinho” e uma revitalização da mesma, salientando que o Cartaxo não é só conhecida como a “Capital do Vinho”. Cartaxo com divida de 63 milhões de euros O novo presidente da Câmara Municipal do Cartaxo vai ter pela frente a “empreitada” de redução da dívida a fornecedores. Os números não deixam grande margem de manobra a Pedro Ribeiro, tendo em conta que a mesma se situa acima dos 63 milhões de euros. Pedro Ribeiro esclarece que os próximos quatro anos de mandato “vão ser muito difíceis”. “Tinha a

noção de que íamos encontrar um cenário bastante complexo, mas a realidade ainda ultrapassa aquilo que eram as nossas piores expectativas”, refere. Todavia, Pedro Ribeiro diz existir “uma grande motivação em trabalhar para inverter o actual estado das coisas”, pois diz ter encontrado junto dos funcionários da câmara “pessoas muito motivadas e empenhadas em ajudar nessa missão”. O autarca diz que esse foi também o espírito que tem encontrado nas forças vivas do concelho, que se constituem como “ um capital de energia”, lembrando que “a palavra-chave para estes quatro anos será o envolvimento”. Pedro Ribeiro diz que os próximos tempos terão de ser de união, vincando que também já se reuniu com os comerciantes do mercado diário: “Vi neles a vontade de ajudar a dar a volta à situação”, sendo que outras diligências se seguirão, como as reuniões com pequenos e médios empresários do Cartaxo.

Águas do Ribatejo continua a rejeitar entrada de privado A

empresa Águas do Ribatejo vai manter-se com a totalidade do capital público. A garantia foi dada pelos novos elementos da administração durante a apresentação à comunicação social dos novos corpos gerentes, na sede da empresa, em Salvaterra de Magos. Francisco Oliveira é agora o novo presidente da empresa, sucedendo a José Sousa Gomes. O também presidente da Câmara Municipal de Coruche garantiu ao Valor Local que embora em termos estatutários essa possibilidade esteja prevista, “para já a mesma

não está implícita”. O novo presidente mantém, assim, a mesma ideia dos antecessores, vincando que “não se justifica em termos de financiamento da empresa” a entrada de um privado. Francisco Oliveira ressalva que essa questão poderá ser colocada “se as condições estruturais da empresa ou do mercado, ou outras, se venham a alterar no futuro”. De resto a maioria dos presidentes de câmara representada na direcção da Águas do Ribatejo, garante a permanência da totalidade de capital social público. Pedro Ribeiro, presidente da Câ-

mara Municipal de Almeirim e da assembleia geral da empresa, refere mesmo que a entrada de pri-

vados, apenas, poderá ser equacionada “se o governo legislar nesse sentido”

Também o autarca de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio, sustentou a sua posição contra a entrada de privados no capital social. “Só se for obrigatório por lei” é que aceita a entrada de privados no capital da empresa. Todavia e sabendo que este é um negócio apetecível, os responsáveis dizem desconhecer o interesse de qualquer privado no capital da Águas do Ribatejo. Por outro lado, os responsáveis desconhecem uma possível pareceria com a empresa Águas de Santarém. Aos jornalistas, Francisco Oliveira garantiu que essa

informação “não passa de um rumor” pelo que é um assunto que não está considerado na agenda dos responsáveis. Para além de Francisco Ribeiro na presidência da empresa e de Pedro Ribeiro como presidente da mesa da assembleia, foram eleitos ainda Pedro Ferreira, autarca de Torres Novas, e Carlos Coutinho, presidente da Câmara Municipal de Benavente, como vogais do conselho de administração. Paulo Queimado, presidente do município da Chamusca assume funções como novo secretário.


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Destaque

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Retrato dos nossos idosos Desde os institucionalizados aos que recebem apoio em suas casas, até aos que procuram ocupar o tempo livre com actividades que lhes possam proporcionar convívio e que sejam uma mais-valia, fomos conhecer alguns idosos da região. Como vivem; como lidam com as suas doenças, como encaram a última estação da vida. Destaque ainda para algumas instituições que trabalham de perto com esta faixa etária. Sílvia Agostinho

“Jardins da Lagoa” aposta no trabalho com as demências N

a localidade de Casais da Lagoa, Azambuja, o lar “Jardins da Lagoa” decidiu, há poucos dias, implementar uma ala dedicada ao acompanhamento especializado dos idosos com demência, dado que esta unidade, de acordo com a directora técnica, Rosa Lobo, “não rejeita a integração de utentes com quadros de alzheimer e outras demências”. A nível nacional são poucos os lares do sector privado ou público que fizeram, até à data, este tipo de aposta, e quando o país tem cerca de 90 mil doentes de Alzheimer. Nessa ala do clube residencial sénior de Casais da Lagoa, estarão a trabalhar com este tipo de utentes, um psiquiatra com formação em geriatria, um psicólogo, um enfermeiro, uma terapeuta ocupacional, a directora técnica e outro pessoal auxiliar. “Trata-se de uma equipa multi-

disciplinar que vai privilegiar a inteligência emocional no contacto com os doentes de alzheimer”. Desde já Rosa Lobo, fornece algumas pistas sobre como se deve lidar com esta população alvo – “Estamos a falar de pessoas que gostam sobretudo

que as escutem, não gostam e ficam, particularmente, irritadas quando são confrontadas ou quando se lhes faz muitas perguntas. Gostam que acreditemos nelas, apesar das fabulações, de dizerem coisas sem sentido, porque o que importa,

Carlos Lourenço esteve ligado a colectividades

naquela fase das suas vidas, é que as possamos manter estáveis”, refere. Massagens terapêuticas, actividades de grupo e musicoterapia também são ferramentas que ajudam a estimular estes doentes. Os técnicos envolvidos nesta ex-

periência importante do lar têm obtido alguns sucessos para já, como no caso de um idoso que chegou à unidade com dificuldades em realizar as tarefas básicas do dia-a-dia e que conseguiu ultrapassar essa fase, embora apresente um caso de alz-

Tomás Matos gosta de fazer a sopa de letras

heimer que não regredirá, dado que a doença é incurável. Entre os utentes deste lar, está uma cara conhecida de Azambuja, trata-se de Carlos Lourenço que esteve durante 30 anos na direcção do Grupo Desportivo de Azambuja e 15 anos no Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja. Também sofre da doença de Parkinson, e em Janeira fará um ano que entrou nesta unidade residencial para séniores, depois de ter estado um mês hospitalizado e ter chegado ao lar “em condições pouco recomendáveis”. Com o apoio dos que ali trabalham tem conseguido restabelecer-se, pois lembra-se de que nem sequer andava quando chegou ao lar. Classifica a estadia como espectacular; e o seu diaa-dia divide-se entre a ginástica na passadeira, assistir televisão e actividades de grupo. Também


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Destaque

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Santa Casa do Cartaxo apoia 45 pessoas no apoio domiciliário odos os dias, e mais do que uma vez por dia, o serviço de apoio domiciliário da Santa Casa da Misericórdia do Cartaxo desloca-se a casa de pessoas indicadas pela Segurança Social com o objectivo da sua higiene, alimentação e limpeza do lar. Acompanhámos uma dessas acções. Ana Clara, com 87 anos, é uma das idosas abrangidas. Ao fim da tarde, recebeu a higiene, e foi-lhe deixado um pequeno jantar, até porque não consegue alimentar-se como seria esperado, devido ao avanço da idade. A sua magreza é visível. Está acamada há cinco anos. “No outro dia, trouxemos-lhe frango no forno, mas foi incapaz de comer”, refere uma das funcionárias da santa casa. A técnica de Serviço Social, Elisabete Teófilo, conta que a idosa é visitada pelas funcionárias da santa casa três vezes por dia. Não conta com muitas ajudas, até porque “um dos filhos possui problemas com o álcool.” Este serviço apoia 45 utentes, sendo que a comparticipação fi- Ana Clara é uma das idosas visitadas nanceira de cada um é escassa, pois tratam-se de pessoas com carências económicas acentuadas. “A Segurança Social apenas comparticipa cinco dias por semana, até às quatro da tarde, mas fazemos o serviço todos os dias e até às oito”, refere Elisabete Teófilo. Ana Clara só encontra elogios para definir este apoio: “As senhoras da Santa Casa são muito boas, só não fazem melhor porque não podem”. No caso de Maria Helena Barroso, 84 anos, também utente do serviço de apoio domiciliário da misericórdia do Cartaxo, é, igualmente, visitada três vezes por dia. Elisabete Teófilo sublinha “a boa articulação” com a unidade de cuidados continuados do Cartaxo que permitiu “ a aquisição de uma cama articulada” para esta idosa. “O filho da senhora, de início, estava relutante, mas lá se conseguiu”. A técnica gostaria de ver incrementado o banco de ajudas local, pois “ainda hoje foi pedida uma cadeira de rodas, mas as três existentes estão a ser utilizadas por outros utentes”. Maria Helena é natural do Porto, e recebe o apoio domiciliário no Cartaxo, há cerca de um ano. “O meu filho trouxe-me para cá. Trabalhei como costureira até aos 80 anos. Fazia pijamas de flanela e camisas, uma arte que adorava”, refere. O amor que sente pela profissão que desempenhou ao longo da vida é por demais sublinhado, assim como, o aspecto religioso, até porque adora “ver a missa na televisão”.

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Uma equipa multidisciplinar vai trabalhar com doentes de Alzheimer o visitam frequentemente; e amigos há que o levam a almoçar fora. Relembra com saudades os tempos em que esteve no movimento associativo do concelho – “Estive muito tempo nas associações mas foi muito bom”. Há quem em Azambuja já não o veja há muito tempo, não imaginando que esteja num lar, dado que tem apenas 61 anos de idade. Por isso, formula um voto no final da entrevista: “Desejo a todas as pessoas de Azambuja muita saúde e que aproveitem a vida”.

Também residente neste lar, Tomás Matos, natural de Ponte de Lima, que até há poucos meses vivia em Vale do Paraíso, Azambuja. Doente de Parkinson, gosta sobretudo de actividades ligadas ao aspecto cognitivo, e por isso não dispensa as suas “palavras cruzadas e sopa de letras”, nomeadamente, as que vêm no jornal “Cardeal Saraiva” da sua terra. Com 74 anos de idade, lembrase bem dos seus tempos de juventude quando esteve na vida militar, e emigrado na Alemanha. Nos últimos anos dedicou-se so-

bretudo à agricultura. Refere que o facto de tremer já vem desde mais novo, mas que nos últimos anos se tem acentuado – “Há dias em que tenho de beber por uma palhinha e nem consigo escrever a minha assinatura, tenho pesquisado muito sobre isto, cheguei a ler alguns livros”, dá conta. O convívio com os outros utentes e funcionários é para si importante pois considera ser “muito brincalhão”. “Toda a gente gosta de mim, faço rir, sempre fui muito alegre, nunca dei uma bofetada a ninguém”.


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Destaque

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Vida nova para alunos que aprenderam a ler e escrever om pouco mais de 70 anos, Francisca Rosa decidiu que era tempo de começar a saber ler e escrever. Ao longo de toda a vida, a circunstância de ser analfabeta foi como que “uma doença”, nas suas palavras. Durante a visita do Valor Local a uma aula de alfabetização da Universidade Sénior de Benavente, em Samora Correia, um grupo de cerca de dez pessoas reúne-se para aprender, porque o “gosto” de saber cada vez mais já ninguém lhes tira. No caso de Francisca Rosa, agora é muito mais fácil ir ao supermercado, ver preços, porque antigamente “não sabia se estava a gastar muito ou pouco”, confessa. Com mais ou menos dificuldade, a aluna quis ler um pouco dos títulos da última edição do Valor Local,

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que distribuímos pelos alunos. Podemos dizer que ficou aprovada. Também aprovado ficou Valdemar Santos, 77 anos, que frequenta as aulas há quatro anos; e que já denota muito à vontade na leitura. “A minha vida melhorou muito. Agora quando me desloco a qualquer serviço ou loja, consigo ler tudo o que me é apresentado. É muito importante. Quando vou a um café faço questão de ler o jornal, mas antes tinha vergonha quando via os outros ler. Era um desgosto, mas hoje sinto-me muito satisfeito. Consigo ler também as cartas que me enviam para casa. Não preciso de pedir ajuda aos outros”. O aluno da universidade sénior refere mesmo que sente “uma grande felicidade”. “Também quero agradecer à nossa professora que é muito

boa a ensinar-nos”. Leonor Gonçalves, professora nestas aulas de alfabetização, refere que ensinar este grupo etário se baseia sobretudo em alguns truques que facilitam a memorização das palavras associadas aos sons, pois estamos a falar de “pessoas que devido à idade não têm a mesma capacidade de aprendizagem de uma criança”. No caso de Valdemar Santos, diz que após ter sido operado às cataratas “conseguiu desabrochar na leitura de uma forma imparável”. Também Maria Ferreira dá muita importância a estas aulas. “Tive sempre muita vontade de aprender a ler e escrever, mas não tinha quem me ensinasse. Agora já consigo ler a Bíblia. E isso é muito importante para mim”.

Alunos da universidade sénior de Samora Correia

Convívio entre gerações e portas abertas desde Fevereiro de 2012, a Associação de Apoio a Idosos e Jovens de Meca, no concelho de Alenquer, tenta promover um saudável en-

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contro de gerações com actividades em que os mais idosos interagem com os mais novos. No dia da reportagem do Valor Local, decorria a denominada “hora do conto”, desta vez alusiva ao Hallo-

ween. Nélson Pereira, presidente da instituição, considera que os mais idosos “podem dar um bom contributo à freguesia de Meca e à instituição, devido à sua experiência”. “É

importante que possam dar o seu testemunho de vida e que se consiga combater o seu isolamento”, refere, acrescentando que “muitas actividades podem ser feitas em conjunto, pois é boa esta mistura

de gerações”. A instituição conta com as valências de centro de dia, apoio domiciliário, centro de actividades ocupacionais (área da deficiência). O intercâmbio entre as duas gera-

Convívio entre gerações em Meca

ções também se torna importante numa vertente de ocupação de tempos livres dos mais jovens, “antes de os pais chegarem a casa, principalmente em altura de férias”, refere.


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Freguesia em destaque

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Desta vez estivemos na freguesia de Vila Nova da Rainha, onde a população se queixa do marasmo da localidade. Mais segurança na estrada nacional e limpeza do rio são algumas das questões levantadas. Fomos, ainda, conhecer o rancho de Vila Nova da Rainha e as queixas dos vendedores no mercado, assim como, as respostas do presidente da junta JoaCátia Carmo quim Marques. Jacinto Mateus, 74 anos

Lucília Jesus, 51 anos

Não há aqui nada. Não há farmácias nem médicos, as pessoas idosas têm dificuldade em governarem-se. Se precisar de qualquer coisa, de uma drogaria, por exemplo, tenho de ir a Azambuja ou ao Carregado. Isto é uma freguesia sem nada. Só temos aqui um cemitério e mesmo assim é longe do centro da freguesia.

O comércio está cada vez pior, as pessoas não têm dinheiro para compras, mas podia-se dinamizar a freguesia. As pessoas fazem as compras com pagamento ‘fiado’ e, quando chega o fim do mês, também não têm dinheiro para pagar. Infelizmente há muitas pessoas com dívidas, já não há dinheiro sequer para o essencial. Eu tento sobreviver aqui na minha loja.

Joaquim Matias, 82 anos

O autarca responde

É preciso mais presença da GNR. Os carros passam com muita velocidade dentro da povoação, é uma sorte ainda nenhuma criança ter sido atropelada.

José Luís, 67 anos

Gostava que se fizesse mais coisas, como por exemplo, limpar o rio que está cheio de canas e árvores. Mas gosto muito de viver aqui e não quero mudar para outro lado.

Joaquim Marques ao referir-se à limpeza do rio “que está sujo e sempre que chove o caudal sobe e inunda casas e quintais.” Adianta que essa é “uma limpeza complicada pois é uma competência do ministério do Ambiente”. “Nos tempos em que as vacas eram gordas, a junta e a câmara gastaram doze mil euros cada”, dá a conhecer, lamentando que para o ministério do Ambiente “este tipo de situações sejam demasiado complicadas”. Outra das preocupações, é a segurança. Joaquim Marques destaca que só a lombas colocadas dentro da vila não chegam. “Alguns automobilistas passeiam-se com bastante velocidade em Vila Nova da Rainha, uns para fugir aos semáforos da estrada nacional 3, outros porque não se lembram que a localidade é bastante movimentada por pessoas a pé, tendo inclusive na sua história um acidente que vitimou uma jovem quando vinha a sair de casa.” O autarca refere que a GNR faz o seu trabalho, todavia, como não está em permanência na localidade, os infractores aproveitam-se, embora ressalve a importância das operações de controlo de trân-

sito que as autoridades fazem de vez em quando. Este é também conhecido como o autarca que está sempre disponível para resolver as questões ligadas à população mais idosa da freguesia. São conhecidas as suas deslocações com os fregueses ao Centro de Saúde de Azambuja ou mesmo “o avio de receitas na farmácia para os que possuem menor mobilidade”. Joaquim Marques diz que é com estas acções que entende que deve ser o seu modelo de actuação à frente da freguesia. Inaugurado por Joaquim Ramos, em 2007, o novo edifício da Junta de Freguesia trouxe “novas comodidades para os fregueses”, refere. Desde logo um gabinete médico, onde são ministradas consultas de âmbito geral, e uma outra casa para a implantação de uma farmácia. Todavia, Joaquim Marques, destaca que nem todos os problemas são de saúde. “Muitos são os fregueses que levantam os medicamentos na junta e que pedem para pagar mais tarde, devido às dificuldades financeiras, e esse é um problema que se tem agudizado nos últimos anos”, refere o autarca. A contribuir para isso, esteve o encerramento da Opel de Azambuja. Esse era um grande empregador da freguesia, mas era também uma das empresas que fomentava mais a economia na vila. Na altura, eram muitos os que usavam os restaurantes de Vila Nova da Rainha, os cafés e até outros pequenos estabelecimentos, mas com o encerramento da empresa em 2006 tudo mudou. A freguesia que cresceu até essa altura, é hoje um local com algumas sequelas. Vitima da crise, a vila tem hoje uma urbanização meio acabada “como é o exemplo da Socasa que faliu e que deixou lá um estaleiro que dá mau aspecto ao bairro” refere o presidente de junta. A juntar a isto, há ainda uma outra urbanização que ainda está a meio-gás, junto à Estrada Nacional 3, e que segundo o relato de alguns moradores, dificilmente será vendida nos próximos meses. Ainda assim, a freguesia é das mais bem servidas por acessos no concelho de Azambuja. Atravessada pela linha do norte e pela Estrada Nacional 3, Vila Nova da Rainha é hoje um local apetecível para algumas grandes empresas, que embora não recrutem muitos trabalhadores, ajudam na economia social. Joaquim Marques destaca as boas relações que tem com os responsáveis das principais empresas (Auchan e Sonae) para lembrar que são frequentes as dádivas à freguesia. Com orgulho, António Marques mostra à nossa reportagem algumas salas da junta de freguesia, com brinquedos e alimentos, que mais tarde serão oferecidos a famílias carenciadas. Aliás, Joaquim Marques diz que fruto dessas boas relações consegue apoios importantes para a freguesia, de que é exemplo “uma grande festa de Natal, marcada já para o dia 14 de Dezembro”. Joaquim Marques gosta de assumir que gere uma “freguesia solidária”. Ao Valor Local, diz que se depara no dia-a-dia com as inúmeras dificuldades dos fregueses menos abonados, e que na medida do possível, vai tentado ajudar. Vila Nova da Rainha o berço da aeronáutica. A freguesia de Vila Nova da Rainha assinala em 2014 o facto de ter sido pioneira na aeronáutica portuguesa. Foi em Vila Nova da Rainha que se fundou a primeira Escola Aeronáutica Militar em Portugal cujo centenário se comemora para o próximo ano. A lei que instituiu a escola foi publicada em 14 de Maio de 1914, mas a escola só foi inaugurada a 1 de Agosto de 1916. Do primeiro curso saíram pilotos como Sarmento de Beires e Pinheiro Correia. O centenário vai envolver a junta de freguesia e a Força Aérea Portuguesa em várias iniciativas que ainda não estão calendarizadas. A freguesia irá estar decorada com motivos explicativos da efeméride, sendo que o presidente da junta, Joaquim Marques, chama a atenção para a importância histórica das comemorações. Ainda hoje são visíveis da Estrada Nacional 3, o que resta dos primeiros hangares, onde eram guardados os aviões.


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Freguesia em destaque

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Chuva dentro da sede impede ensaios do rancho s colectividades têm sido das instituições mais afetadas pela crise e o Rancho Folclórico de Vila Nova da Rainha não é excepção. “Sem qualquer apoio da Câmara Municipal de Azambuja”, a coletividade vai sobrevivendo do amor que os seus diretores têm pela tradição e da “boa vontade da Junta de Freguesia” que lhes permite organizar alguns eventos e dinamizar a localidade. “O pequeno bar que temos vainos dando algumas receitas, uma média de 200 euros [por mês] para pagar luz, água e a televisão”, explicou Samuel Gonçalves, de 50 anos, vice-presidente da colectividade, ao Valor Local. O tecto da sede, onde decorrem os ensaios e está instalado o bar está degradado e não impede que a água entre nos dias em que chove com maior intensidade. Os responsáveis pela coletividade temem que, este Inverno, seja difícil ensaiar. Samuel Gonçalves garante que já pediram ajuda à autarquia para consertar o telhado, mas ainda não obtiveram qualquer resposta. “Ainda há pouco tempo fomos assaltados, entraram pelo

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telhado, destruíram-nos uns troféus e roubaram-nos outros. Neste momento consigo prever um Inverno muito difícil para nós”, lamentou o vice-presidente. Contactada pelo Valor Local, a Câmara Municipal de Azambuja refere que não tem conhecimento oficial do problema do telhado, mas diz estar disponível para tentar resolver o problema em conjunto com os responsáveis da colectividade. Apesar das dificuldades financeiras, a tradição de dançar no rancho continua bem viva entre os habitantes de Vila Nova da Rainha. Actualmente são cerca de 30 elementos, na maioria crianças do sexo feminino, e a quase totalidade dos membros pertence à freguesia. Ainda assim, Samuel Gonçalves não acredita que a actividade tenha futuro entre as próximas gerações. “Os jovens, quando chegam aos 18 anos, têm tendência para se afastarem. Regressam mais tarde já com filhos e uma vida mais estável”. Sempre que pretende levar os seus membros a dançar noutras localidades, o Rancho de Vila Nova da Rainha tem de suportar

os custos. “Gosto de ver os autocarros da Câmara de Azambuja com as palavras ´ao serviço do desporto e da cultura´”, ironizou Samuel Gonçalves. Para o futuro, o vice-presidente apenas deseja “manter esta atividade”, movido pelo “bom trabalho das crianças” e o “orgulho” que o leva a continuar a abraçar o trabalho voluntário na coletividade. Virgílio Russo, presidente do Rancho Folclórico de Vila Nova da Rainha há sete anos, apenas, pede à população da freguesia que apareça nos eventos da colectividade que dirige. “Quando organizámos o festival contavase pelos dedos o número de pessoas de Vila Nova da Rainha. A maior percentagem que cá estava tinha vindo acompanhar os outros ranchos e isto custa-nos”, relembra o presidente. O futuro adivinha-se complicado, mas a direção espera continuar a alimentar-se da “alegria” e “esforço das crianças” que se reflecte na forma como “são recebidos em todas as localidades que visitam”. “É isso que nos obriga a trabalhar e nos dá força”, acrescenta.

Dirigentes gostavam de contar com mais apoio

Mercado sem vida s dificuldades económicas têm afastado as pessoas do mercado de Vila Nova da Rainha. Aqui vende-se peixe, fruta, legumes e roupa, mas aos sábados, perto das 11h30, apenas as conversas entre vendedores dão vida ao local. Maria Adelaide, de 60 anos, é uma das comerciantes. Trabalha em Vila Nova da Rainha há mais de 20 anos e gosta de cá estar mas agora tem de conjugar o trabalho no mercado com a venda de fruta e legumes a restaurantes. “A maioria das pessoas é reformada, não tem muito dinheiro. Se estiverem duas pessoas a vender fruta no mesmo dia, por exemplo, o negócio não rende”, explica Maria Adelaide ao Valor Local. São poucos os habitantes

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da freguesia que fazem as compras no mercado. A maioria dos clientes vem de fora. Para atrair mais clientes, os comerciantes defendem que abrir um posto médico em Vila Nova da Rainha podia ser a solução. Quem trabalha no mercado da freguesia só se queixa da falta de clientes, pois há “boas condições para trabalhar”. “Só preciso de uma arrecadação. Temos andado a pedir, mas ainda não a fizeram”, acrescentou Maria Adelaide, que actualmente se serve de um canto do mercado para armazenar os produtos. O Valor Local foi falar com Joaquim Marques, presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova da Rainha, e fez-lhe chegar o pedido de quem trabalha no mer-

cado da freguesia. No entanto, o presidente afirmou que, neste momento, não tem condições para satisfazer a vontade aos comerciantes. “Não há espaço para construir a arrecadação”, justificou Joaquim Marques. As traseiras do mercado seriam o único local disponível, na opinião do presidente, para se construir a tão desejada arrecadação, mas agora são utilizadas pela junta de freguesia justamente para esse fim, e ainda para servir de garagem. No passado, o mercado de Vila Nova da Rainha já teve uma pequena arrecadação, ocupada, nos dias de hoje, com uma caixa de multibanco, ao cuidado da junta, e que também ajuda os comerciantes na sua atividade.


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Opinião

Portugal, a Europa e a crise P

ara termos uma noção mais abrangente da situação económica e social da atualidade portuguesa, procurarei sintetizar alguns aspetos importantes, através duma breve apreciação da história europeia relatada por vários especialistas. Que me perdoem os historiadores por alguma falha ou incorreção dos factos. Assim, começo por fazer uma curta abordagem sobre a evolução dos povos europeus até chegarmos à União Europeia (UE), melhor conhecida pela generalidade dos portugueses. A primeira união da Europa aconteceu com a conquista pelas legiões romanas, em virtude da superior civilização dos invasores, sobretudo pelo seu poder militar e pela sua organização jurídica. Depois houve uma desagregação provocada pelas resistências internas e pelas invasões bárbaras. Recorda-se que os romanos acusaram os lusitanos de

que não sabiam e nem se deixavam governar. De seguida foi o prestígio e a autoridade do Papa, e a difusão do cristianismo, que levou à aceitação, por diversos povos da Europa, de conceções idênticas sobre o mundo e sobre os destinos do homem. Com o Império de Carlos Magno, a Europa volta a encontrar uma certa forma de unidade submetida a uma autoridade dupla: religiosa e política. A primeira do PAPA e a segunda do Imperador. Com o Cisma do Ocidente, finais do Séc. XIV, deu-se a decadência do prestígio da autoridade papal sobre a Europa cristã. Mais uma vez, através da invasão, Napoleão pretendeu a união da Europa, no início do Séc. XIX. Napoleão e Hitler tentaram a união pela força das armas. Dante e Vítor Hugo, pela poesia, cantavam a unificação da Europa, tendo o último profetizado, em 1867, que no

Séc. XX Paris seria a capital de uma nação chamada Europa. No período entre as duas grandes guerras mundiais, no Séc. XX, criou-se um clima próprio ao velho sonho de unidade política da Europa, designadamente depois da

13 António José Rodrigues

crise de 1929. Em consequência da segunda Grande Guerra, e tendo em vista uma gestão conjunta da produção do carvão e do aço (minérios utilizados anteriormente para fins bélicos pela Alemanha) o Tratado de

Paris, em 1951, fundou a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço) englobando a França, RFA, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Em 1957, em Roma, foram assinados pelos mesmos países mais dois tratados, a CEE (Comunidade Económica Europeia) e a CEEA (Comunidade Europeia da Energia Atómica. Em 1967 fundiram-se os órgãos das três comunidades para dar lugar a uma Comissão e um Conselho de Ministros únicos, tendo passado a falar-se, genericamente, de Comunidade Europeia. Depois de várias adesões, incluindo Portugal, hoje são 27 os Estados que compõem a UE, sendo apenas 17 deles aderentes à moeda única, instituída em 1/1/2002. A UE começou com intenção de criar um Mercado Único, para trocas comercias, evoluindo depois para a Política Agrícola Comum (PAC) e, mais tarde,

para a moeda única. Mas a criação da moeda não teve como suporte uma política monetária comum, o que resultou na crise económica e financeira que hoje atravessamos. A grande parte dos economistas tem defendido que só é possível manter uma moeda comum com uma política monetária e fiscal comum, o que não tem acontecido. Os eurocéticos não concordam com mais políticas comuns, sob pena dos Estados perderem a maior parte das suas soberanias, como tem vindo a acontecer com Portugal endividado. Voltaremos ao tema, se necessário, sobre o Tratado de Roma, principal responsável pela crise atual.


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Saúde

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Alemanha é luz ao fundo do túnel para doentes com cancro São cada vez mais os doentes com cancro em Portugal que se deslocam a clínicas alemãs especializadas no tratamento com células dendríticas. A de Duderstadt é uma das mais procuradas, e neste trabalho apesentamos o relato de três doentes que, nas suas palavras, começam a ver a luz ao fundo do túnel. Sílvia Agostinho esde 2007, que Fátima Simões, residente em Ribafria, Alenquer, trava uma batalha árdua para vencer o cancro. Quando tinha 37 anos, começaram a surgir os primeiros sintomas de um liposarcoma (tumor maligno que se desenvolve nos músculos, pele e tecido adiposo) numa perna. Mais tarde, apareceram-lhe sintomas nas costas e na zona dos rins. Nos últimos dois anos, alastrou-se ao pâncreas. Depois de 12 ciclos de quimioterapia, Fátima Simões decidiu arriscar um tratamento inovador em Duderstadt, na Alemanha. No Instituto do Tratamento do Tumor, naquela localidade alemã, é ministrado um conjunto de vacinas aos pacientes, através das denominadas células dendríticas, que são células imunes que fazem parte do nosso sistema imunológico. A vacina é produzida a partir dessas células, que activam o sistema imunitário contra o tu-

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mor. Fátima Simões já recebeu a primeira dose dessa vacina, por via intravenosa, sendo que fará mais três até uma primeira avaliação. Em Dezembro, parte de novo para Alemanha. “O meu tipo de cancro é muito raro e há uma possibilidade de reincidir de 90 por cento. Os médicos em Portugal já não me davam esperança, pelo que arrisquei este novo tratamento. Conheço casos bem-sucedidos e também tenho esperança de que me possa curar”, confessa; referindo que na Alemanha, ainda, não lhe conseguiram retirar a quantidade necessária de sangue para as restantes três vacinas, devido ao facto de ter ficado com as veias demasiado maltratadas tendo em conta os tratamentos de quimioterapia. O preço dos tratamentos é elevado, e só numa deslocação, Fátima e o marido pagaram cerca de cinco mil euros na clínica, mais dois

mil euros de despesas de transporte e estadia. Foi organizada uma noite de fados em Penafirme da Mata que ajudou a pagar parte das despesas. Em vários locais do concelho de Alenquer pequenos recipientes e anúncios são deixados em sítios públicos no sentido de um pequeno contributo (nib 0035 2105 0000 905710028). Proximamente, deverá ser organizado mais um serão musical destinado à angariação de verbas que consigam ajudar Fátima e a família a suportar as despesas. Fátima está reformada por invalidez, e o marido desempregado. Contam apenas com as economias que conseguiram amealhar em Espanha, país onde estiveram emigrados até há cerca de um ano. De referir que dado o carácter ainda experimental, deste método alemão, o serviço nacional de saúde português não comparticipa os tratamentos. Fátima Simões, paralelamente,

Fátima no dia em que chegou ao instituto alemão


Valor Local continua a efectuar exames e a ser acompanhada no hospital de Santa Maria – “De dois em dois meses, efectuo uma TAC ou ressonância, pois numa semana posso estar bem, e noutra voltar a piorar”. O apoio da família e dos amigos tem sido muito importante para conseguir lidar com a doença, pois os médicos em Portugal já não lhe davam muita esperança e a Alemanha, nas suas palavras, “é onde toda a gente quer ir” na esperança de uma possibilidade de cura. “Achei uma agulha no palheiro” Há dois anos começou a sentir fortes dores de cabeça e mal-estar. Depois de ter efectuado exames, foi-lhe dito que possuía uma “massa enorme” na região do cerebelo. Guilherme, hoje com 24 anos, residente no concelho de Alenquer, foi submetido a uma intervenção cirúrgica que segundo os médicos deveria eliminar o problema, mas depressa se chegou à conclusão de que se tratava de um sarcoma alveolar das partes moles, um cancro maligno. “Disseram-me que podia estar relacionado com uma queda que sofri há cerca de cinco anos, quando caí de um cavalo e desmaiei, mas na altura fiz um raio x e estava tudo bem, mas também relacionam o problema com uma

causa genética”, explica. Pesquisou na internet sobre a doença, mas desistiu pois leu “histórias muito complicadas” relacionadas com este sarcoma. No Instituto Português de Oncologia não lhe deram grandes hipóteses. A quimioterapia não lhe foi apresentada como solução, mas antes um tratamento com medicamentos de diversa ordem, mas o quadro não apresentava melhoras. O sarcoma chegou mesmo a disseminar-se “através de pontinhos mais pequenos no cérebro”. A dada altura neste seu percurso decidiu, em conjunto com os pais, procurar soluções lá fora. Primeiro, em Itália, mas novamente sem grandes frutos, até que ouviu falar do instituto em Duderstadt. Há cerca de um ano, que está a realizar tratamentos nesta clínica com sucesso. O seu problema regrediu, e quando lá chegou, aquando da primeira consulta, foi-lhe logo apresentado um caso de sucesso de alguém que tivera uma doença semelhante à sua. Até à data, Guilherme já fez 10 vacinas. Inicialmente foi desaconselhado pela sua médica oncologista em Portugal, por se tratar de um método experimental, mas com poucas perspetivas de obter uma cura no país, arriscou e não se arrepende. “Costumo dizer que acertei, que achei uma agulha num palheiro”, ao referir-se à “evolução do seu quadro clínico”. Os pontinhos que se encontravam disseminados no

Saúde cérebro desapareceram, e o principal reduziu, até à data, cerca de 40 por cento. Vai continuar a deslocar-se à Alemanha, por mais uma temporada, até que o quadro possa regredir totalmente. Na clínica, segundo conta, têm vindo a ser testados novos métodos como a injeção de células dendríticas não através do sangue do paciente, mas de um familiar, ou células gama delta. “Um doente com cancro nos pulmões a quem não davam mais do que meses de vida, fez uma aplicação com células do sangue do filho, e após alguns tratamentos não apresentava sinais, quando antes era considerado como um caso perdido”. No que diz respeito ao seu caso Guilherme diz sentir muita esperança, face aos resultados obtidos. “Não sei se é psicológico mas sinto-me mais esperançada” Maria Deolinda, 50 anos,residente no concelho de Almeirim, regressou há poucas semanas de Duderstadt. Tal como no caso de Fátima Simões tratou-se da primeira deslocação à clínica alemã. Há cerca de um ano foi-lhe diagnosticado um cancro no pâncreas, já com incidência também na veia da bílis. Os médicos do Hospital de Santarém não lhe deram uma especial esperança, visto que aquele tipo de cancro é dos que apresenta piores consequências.

Maria Deolinda Rapidamente iniciou as sessões de quimioterapia, dado que o tumor se apresentava como de natureza “muito invasiva”. “Fiquei de rastos com as 10 sessões de quimio.” A agressividade da doença acentuou-se. Depois de uma reportagem exibida num canal de televisão, os filhos de Maria Deo-

15 linda decidiram levar a mãe à clínica alemã. “Inicialmente, não quis, porque o médico disse que já não havia nada a fazer, mas a minha família lá me convenceu que podia ser possível. Começámos a angariar fundos com a ajuda de amigos, familiares, e até de pessoas que não me conheciam de lado nenhum.” Dia 10 de Dezembro regressa a Alemanha para a segunda dose da vacina. Já reuniu a verba necessária para este segundo tratamento. Maria Deolinda conta que um outro paciente da mesma clínica, residente em Azambuja, lhe referiu que chegou a Duderstadt num estado pior do que o seu, até porque possuía o mesmo tipo de cancro, mas que conseguiu melhorar. “O seu testemunho deu-me muita força”, acrescenta. O médico que a acompanha é o proprietário da clínica Thomas Nesselhut: “Não me garantiu a cura a 100 por cento, mas que o meu quadro clínico poderia melhorar entre 30 a

50 por cento. O que me daria mais alguma qualidade de vida, assim como, tempo de vida”. Adormecer o tumor é então o objectivo. Na sua primeira deslocação a Alemanha pagou 12 mil euros. Seguese, em Dezembro, uma verba de cinco mil euros e 10 mil para as restantes. “A factura que apresentam é muito detalhada quanto aos tratamentos, tal como numa qualquer clínica portuguesa”, acrescenta. Esta doente também possui uma conta para este fim: 0045 5470 4026062967 194. Para já, sublinha a importância de estar a sentir-se “cada vez melhor”. “Não sei se é psicológico ou não, mas estou mais esperançada”. A doente está consciente do facto de a comunidade médica portuguesa possuir um pé atrás quanto a estes tratamentos na Alemanha mas conta um facto curioso: “Um médico cardiologista no Hospital de Santa Maria está lá a fazer tratamentos porque também está doente”.

Razões para a não comparticipação deste tratamento comunidade médica mundial, incluindo a portuguesa, apresenta algumas dúvidas sobre este tratamento tendo em conta o seu carácter experimental. A Autoridade Portuguesa do Medicamento avisa que o tratamento do cancro com células dendríticas carece de demonstração científica e alerta que a participação em ensaios clínicos não pode envolver pagamentos por parte dos doentes ou das famílias; já que necessita de aprovação pelas autoridades do medicamento da Comissão Europeia. Além disso, recorda que a Agência Europeia do Medicamento ainda não reconhece aquele tratamento como tal, considerando que apenas está em investigação.

A


Valor Local

300 árvores plantadas no Vale Gerardo epois do grave incêndio ocorrido no Verão de 2012, o sítio do Vale Gerardo em Aveiras de Baixo recebeu 300 novas árvores de várias espécies esta quartafeira, dia 20 de Novembro. A iniciativa integrada na Semana da Reflorestação Nacional do “Movimento Plantar Portugal” contou com o apoio do grupo Auchan, que possui em Azambuja o seu centro logístico nacional. Ao todo cerca de meia centena de pessoas esteve envolvida nesta actividade, entre as quais elementos dos sapadores florestais municipais, proteção civil, vereação, e funcionários da empresa patrocinadora. O Vale Gerardo, propriedade municipal, possui um projecto de uma urbanização e de uma quinta pedagógica que nunca avançou, devido às dificuldades financeiras da autarquia. Ao Valor Local, Luís de Sousa, presidente da Câmara Municipal de Azambuja, lamenta que não se tenha avançado com os projectos, mas considera que, para já, é mais oportuna “a necessidade de reflorestação deste espaço, com várias espécies arbóreas”. Para o autarca, este tipo de iniciativas deveria multiplicar-se e

D

saúda o envolvimento da Auchan nesta acção no concelho de

Azambuja, nomeadamente, em Vale Gerardo que é uma das zo-

nas mais antigas a necessitar de reflorestação.

Luís de Sousa e Carlos Valada participaram na iniciativa

Carlos Valada, presidente da Junta de Freguesia de Aveiras de

Baixo, destacou igualmente a importância desta iniciativa, “até porque este espaço estava muito despido e necessitava de ser reflorestado”. O presidente da Junta, destaca o carácter desta acção lembrando que “é bem-vinda, e que devia ser seguida por outras empresas no âmbito da sua responsabilidade social”. Nesta acção coordenada pela autarquia foram plantadas várias espécies de árvores, oferecidas pela Auchan: a alfarrobeira, carvalho, castanheiro, cipreste, cedro, freixo, pinheiro bravo, pinheiro manso e sobreiro. A empresa ofereceu 750 árvores no total, 300 foram destinadas a esta reflorestação. As restantes destinam-se a acções idênticas de reflorestação calendarizadas para o próximo Dia Mundial da Floresta, assim como, outras iniciativas do município de Azambuja junto da comunidade escolar e juntas de freguesia do concelho. O incêndio em Vale Gerardo que originou esta reflorestação ocorreu a 22 de Julho de 2012. O fogo mobilizou mais de centena e meia de bombeiros, e obrigou à evacuação de algumas casas na freguesia. Miguel António Rodrigues


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