Valor local edição março 2016

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Valor Local Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 35 • 18 Março 2015 • Preço 1 cêntimo

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Acidente da Póvoa de Santa Iria

30 anos depois a dor continua O Tabu de Ramos

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Dias quentes da Opel de Azambuja em livro


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Criatividade de novos artesãos em destaque no Mês da Enguia omo é hábito no Mês da Enguia, o pavilhão do Inatel recebe a Feira de Artesanato e Produtos Regionais com a presença de várias dezenas de artesãos de diversos pontos do país. Um dos que tem dado nas vistas nesta feira, que se encontra a decorrer até final de março, é Fernando Martinho, de Foros de Salvaterra, que transforma pneus em pequenas obras de arte: relógios, fruteiras, cintos, entre outros objetos. Quem passava, no dia da reportagem do Valor Local, pelo seu stande não ficava indiferente, e há quem dse recuse a acreditar na capacidade que o pneu tem de se moldar e de se transformar nos mais básicos objetos do quotidiano. “É um trabalho duro, que puxa muito pelo corpo que tenho vindo a executar há cerca de dois anos”. Todo o processo é manual, e apenas usa uma parafusadora elétrica. Percorre as feiras do género um pouco por todo o país, e o sucesso não se fez esperar – “Todos ficam admiradíssimos, e normalmente vendo sempre uma quantidade razoável de peças, até porque estamos a falar de objetos que não se partem, que são laváveis, e até dá para mudar a cor”, descreve.

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A principal dificuldade que enfrenta neste passatempo, dado que tem uma ocupação profissional, prende-se com a aquisição de matéria-prima. “Trabalho com um tipo de pneu que não é fácil de arranjar, proveniente das rodas de motas e moto 4”. Fernando Martinho que considera que na escola era mau a trabalhos manuais, tem objetivos para os próximos tempos, como executar um candeeiro em pneus. “Não sei quando lá vou chegar, mas tenho esperança”, refere ao mesmo tempo que vai dando a conhecer outros objetos como pequenos chocalhos em pneu “numa homenagem ao prémio de património mundial da humanidade”. Venceslau Martins dedicou-se ao artesanato também há pouco tempo, nos tempos livres da sua profissão de serralheiro. Basicamente a sua arte consiste em decalcar desenhos em cima de discos de vinil, e a partir daí recortá-los, resultando a obra em silhuetas com estilo e que podem dar um toque diferente a uma decoração. A mulher que já é artesã há mais tempo mas noutro ramo normalmente participa com Venceslau Martins em diversas feiras. Normalmente e até conseguir completar o desenho que se

O artesão e a sua obra

Trabalho feito com recurso a pneus propõe fazer num disco de vinil demora três horas. Contudo refere que há outros que lhe dão mais trabalho, como um que executou de Freddie Mercury que usa mais processos do que o habitual. Para obter matéria prima, adquire os discos a uma associação

de beneficência em Algés, a maioria deles “resultantes das promoções das Seleções Reader’s Digest”. Na parede do stande estão afixados discos de clássicos e de sucessos dos anos 60 e 70 como Paul Anka, Frei Hermano da Câmara, entre outros. Contudo nem tudo são

discos para transfomar – Também tenho discos em casa e não os estrago”, responde rindo, para reforçar que há material que não é passível de ser “estragado” ou “estilizado” à sua maneira. “Nos tempos do vinil ouvia muita música, nunca pensei que algum dia me pudesse dedicar a

isto”, revela. Feira é um dos pontos fortes do Mês da Enguia Hélder Esménio, presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, explica ao Valor Local que o certame “cresceu em número de standes, mas sobretudo em diversidade e qualidade dos produtos expostos”. Para o autarca, o crescimento é natural, sobretudo tendo em conta que o certame impôs-se “desde que ficou no pavilhão do INATEL, o que se traduziu num afluxo de visitantes, com um palco para espetáculos, e isso faz com que exista uma outra dinamização” que traz “vantagens para o público e produtores locais”, e alude igualmente ao apoio das associações e coletividades do município de Salvaterra de Magos, que dinamizam o espaço. O autarca refere que o crescimento do certame tem sido uma constante. Salienta que anteriormente o dia forte para os restaurantes era o domingo, mas agora os dois dias do fim-de-semana são igualmente “muito fortes”, o que tem vindo a ser conseguido com uma “grande campanha de publicidade virada para fora do município.” Para tal, refere o autarca, têm contribuído as campanhas em publicidade estática, quer nos jornais, quer nos outdoors, mas também o esforço que o município tem feito para trazer a televisão todos os anos.


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Antigo trabalhador lança livro sobre os dias quentes da Opel de Azambuja Pela primeira vez, e pela mão do antigo trabalhador da fábrica da Opel de Azambuja, Armando Martins, são relatados em livro os acontecimentos que antecederam o fecho da empresa neste concelho, em 2006. As lutas sindicais, os problemas sociais, os braços de ferro que marcaram a existência dos últimos dias da Opel podem ser, agora, lidos em “Conflitos Sociais”. Ao Valor Local, Armando Martins antecipa algumas das histórias do livro, que vai ser lançado no dia 9 de abril, no Restaurante Valverde, em Azambuja. rmando Martins, antigo supervisor da secção de pintura, recorda que durante os primeiros tempos de instabilidade começou logo a tomar notas no emprego que viriam a servir para compilar a obra. Ainda pensou em fazer o lançamento logo após o encerramento, “mas devido às consequências que o abandono de Azambuja por parte da Opel causou a muitas famílias”, achou “que ainda era cedo”, tendo em conta que muitas feridas ainda permaneciam abertas. O antigo chefe de secção da pintura lembra que trabalhavam na fábrica 1207 pessoas, mais cerca de 200 provenientes de empresas que prestavam serviços na Opel. Só do concelho trabalhavam na Opel 400 pessoas. Com o fecho, muitos problemas sociais agudizaram-se. Houve casais que se divorciaram. “Sei de alguns casos de pessoas relativamente novas que faleceram depois do fecho da fábrica, cerca de quatro ou cinco, embora não possa associar diretamente, mas certo é que muita gente passou a viver mal” recorda, embora realce que no caso de Azambuja muitos conseguiram arranjar emprego em empresas de logística, e outras pessoas mais velhas tiveram acesso à reforma. Quem começava na Opel ia logo auferir 1200 euros, nem que fosse como operário de linha, um ordenado ainda hoje considerado acima da média. Para além disso, os trabalhadores tinham outras regalias como alimentação, transporte, seguros, prémios. Os motivos para o fecho da fábrica e a transferência da produção para Saragoça, Espanha já são por demais conhecidos. A General Motors alegou falta de produtividade, e que por cada unidade produzida em Portugal gastava mais 500 euros. Armando Martins é da opinião de que as intransigências que começaram a surgir de parte a parte (comissão de trabalhadores versus direção da empresa) é que ditaram o fim da Opel. A comissão exigia aumentos de ordenado fazendo passar uma atitude

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de inflexibilidade. Por outro lado a direção da GM movida também por uma dificuldade em lidar com as exigências da outra parte optou pela transferência da produção. “Não fazia sentido que isto tivesse acontecido quando anos antes, em 1999 – e quando tudo se conjugava para que fechasse – a Opel tinha aumentado a capacidade da fábrica de Azambuja. A mudança para Saragoça ia custar milhões de euros. Talvez a fábrica fechasse, mas não a meio do processo. Seria de esperar que o seu encerramento pudesse ocorrer por volta de 2009 ou 2010”, opina. Por tudo isto, não tem dúvidas – “Não houve bom senso por parte da comissão de trabalhadores que exigia aumentos para todos os setores no mínimo de 150 euros, quando no resto das fábricas da Europa esse aumento tinha ficado ao nível da inflação” As negociações com a Comissão de Trabalhadores para as indemnizações a pagar foram longas. Os primeiros rumores de que mais de 1200 pessoas iam ficar desempregadas surgiram nos primeiros meses de 2006. Deram-se muitos atos de insubordinação na fábrica como boicotes ao trabalho, situações de laxismo e absentismo. “Houve muitas situações em que se fez parar a linha e atrasar a produção”. E neste aspeto, Armando Martins decide falar de alguns colegas, no livro, que nem sempre se pautaram pela atitude mais correta como “Pedro Morais” – “absentista oficial”; ou “Ricardo Mota” que, a dada altura, “entra também de baixa médica para não ter de ajudar a equipa a suportar a ausência de Nuno”. “Possivelmente também estavam numa fase de andarem um pouco perdidos”, reflete. Contudo refere que nunca temeu que os “automóveis fossem para o mercado com problemas de segurança” devido à falta de empenho “porque o filtro era muito rigoroso”. Uma vez encerrada a fábrica, Armando Martins considera que ninguém ficou prejudicado- “Foram dados dois meses por cada ano

de trabalho, e neste aspeto os trabalhadores que auferiam menos de 1500 euros também tiveram mais algumas benesses para além disso”. “Foram tempos difíceis os que vivemos ao sabermos que íamos perder o emprego. Primeiro com muitas lágrimas, depois deu-se a fase da raiva e da revolta, e por fim a da saturação. Quando percebemos que não haveria volta a dar só queríamos negociar da melhor forma possível”. Já lá vão quase 10 anos que a Opel fechou, mas ainda hoje Armando Martins mantem contacto com antigos colegas, através de jantares, e da rede social facebook. No dia do lançamento do livro, espera contar com esses amigos que ficaram para a vida, e com os quais partilhou um tempo da sua vida, “quando trabalhávamos numa fábrica que oferecia condições ímpares, e da qual temos muitas saudades”.

O livro de Armando Martins é lançado em abril


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Centro de convívio em Azedia para atenuar a solidão dos idosos oi inaugurado mais um projeto vencedor do Orçamento Participativo de Alenquer, desta vez em Azedia, na freguesia de Ribafria/Pereiro de Palhacana, no dia 5 de março. O projeto apoiado financeiramente pelo município consistiu na conversão da antiga escola primária num centro de convívio e apoio a idosos, que teve um custo de 59 mil 973 euros. Foi para a população um dia de festa, como já o tinha sido em inícios dos anos 90 quando se reivindicou a construção da escola básica. A união fez a força mais uma vez, e assim se conseguiu evitar que o edifício permanecesse sem uso, após a transferência dos alunos. Amândio da Silva, um dos proponentes da ideia, e pertencente à Associação Recreativa e Cultural de Azedia, refere que o projeto para a terceira idade teve um forte empenho dos jovens “da nova união de freguesias que motivaram as pessoas a votarem”. Tra-

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zer os idosos para o espaço que foi renovado e que compreendeu a colocação de novo piso no seu interior e exterior, casas de banho novas, instalação de mobiliário e aparelhos de ginástica, “é outro dos desafios”. Torna-se importante numa freguesia envelhecida e com alguma população a viver isolada “ir de encontro a essas pessoas, nem que seja através dos meios de transporte da junta de freguesia, que já se disse empenhada nesse objetivo, e trazê-las para aqui, para que possam conviver, para não se sentirem tão sozinhas”, reflete. Este projeto que não vai ficar por aqui pretende ainda envolver a Misericórdia e a Associação de Apoio a Jovens e Idosos da Freguesia de Meca para que com “o seu conhecimento e experiência nos possam também dar uma ajuda”. A história deste edifício começou nos anos 90 quando a população quis que fosse edificada uma es-

cola primária, pois “as aulas eram dadas numa casa de habitação que ficava num beco”. Amândio da Silva salienta que apesar de hoje não existirem muitos jovens na freguesia, em 1991 “havia muitas crianças, e fizemos uma luta com a Câmara para conseguir esta es-

cola, após a doação do terreno por um particular”. A escola funcionou durante 21 anos, “e como ficámos com pena de ter fechado, decidimos apostar nesta nova vertente através do Orçamento Participativo”, até porque “a localidade não dispõe de centro de dia”.

“Aqui nas redondezas há realmente muitos idosos que precisam de apoio e de companhia, por isso penso que este espaço vai ser muito importante”, acrescentou à nossa reportagem uma potencial utilizadora do centro de convívio, Maria Esteves”, que durante o pe-

ríodo em que a escola esteve aberta foi funcionária das limpezas. “Deixava tudo limpinho”, não tem dúvidas em salientar. “Os meus netos andaram aqui na escola, agora venho eu para cá”, refere, por seu lado, Custódia Paulo.

Idosos da freguesia satisfeitos com nova obra

Antigo Hospital ainda à espera de ser reaproveitado velho Hospital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, ainda permanece sem destino certo, gorada que ficou a hipótese de poder vir a ser aproveitado, em parte, para a instalação dos serviços da Segurança Social. Depois de várias notícias que davam conta da possível reutilização do espaço, Alberto Mesquita, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, anunciou, mais recentemente, a possibilidade da instalação de uma unidade de cuidados continuados no edifício mas ainda

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sem dados muito concretos. Propriedade da Misericórdia local, o velho hospital que funcionou até 2013 aguarda assim pelo seu reaproveitamento. O presidente da Câmara vinca que o município “tem feito imensas diligências” sublinhando que ainda há cerca de 13 dias ficou a saber que o proprietário do edifício “vai apresentar uma candidatura para aproveitar o espaço hospitalar para unidade de cuidados continuados que tanta falta fazem ao nível da Área Metropolitana de Lisboa, dada a necessidade de

mais oferta de camas”. Já no que toca ao espaço sobrante, nomeadamente, das antigas urgências, este pode ser “aproveitado para serviços da administração central”. E essa foi uma das questões que, conta, esteve a verificar. O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, diz que têm sido feitas inúmeras tentativas para o reaproveitamento do espaço que não pode ficar muito mais tempo sem ser utilizado, até porque os sinais de vandalismo são por demais evidentes.

Antigo hospital de Vila Franca chegou a este estado

Câmara de Arruda produz inventário do seu património município arrudense vai avançar com o “Inventário do Património Cultural, Civil e Religioso do Concelho de Arruda dos Vinhos” como forma de preservar e deixar um legado para o futuro através da memória coletiva do concelho. Alvo de pesquisa e de estudo será o seu património cultural, monumental, mas também as pequenas obras que caracterizam de uma forma mais genuína as formas de viver de uma comunidade. Neste sentido, a Câmara tem vindo, gradualmente, a investir na investigação e salvaguarda do património concelhio. Este trabalho, desenvolvido pelo Centro de Estudos e Investigação de Arruda dos Vinhos, prolonga-se por 15 meses, até dois

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de maio de 2017. “Pretende ser um instrumento que permite identificar globalmente o património edificado presente no território de Arruda dos Vinhos, constituindose como fundamental na política de valorização, investigação, divulgação, salvaguarda e proteção”, refere a autarquia. Face à inexistência de um levantamento exaustivo e detalhado do património cultural edificado (civil e religioso) do concelho de Arruda dos Vinhos, apesar da existência de um primeiro inventário do património arqueológico (Carta Arqueológica de Arruda dos Vinhos), torna-se “premente a necessidade da elaboração do inventário em curso”. “Este levantamento é um contributo importante para o desenvolvimento

sustentável do concelho, no que diz respeito, à definição das suas políticas de ordenamento do território, prevendo-se a sua utilização no próximo processo de revisão do PDM de Arruda dos Vinhos.” Para além do evidente interesse histórico/científico que cada um dos edifícios inventariados poderá apresentar, os mesmos representam também um papel importante na história e na identidade da comunidade local. Assim, este projeto pretende promover “um maior envolvimento entre a população, o seu património e o seu passado, fazendo com que a comunidade local tenha um papel mais ativo na proteção, conservação e valorização dos bens patrimoniais.”, conclui o município.

Estudo deverá estar pronto em 2017


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Casa da Juventude em Azambuja no edifício do arquivo Câmara Municipal de Azambuja pondera um volte-face na intenção de colocar em hasta pública o edifício, na Rua dos Campinos, que atualmente alberga o arquivo municipal e que já foi sede da GNR. Em setembro do ano passado, o Valor Local noticiava a firme intenção do município em avançar para a solução de vender aquele património, que sofreu uma primeira avaliação no valor de 250 mil euros, porque não tinha condições de reabilitar o espaço, embora o edifício se encontre inscrito, há vários anos, como uma das prioridades para recuperação no âmbito da Sociedade de Reabilitação Urbana da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo. Em declarações ao Valor Local, Luís de Sousa refere que a intenção de recandidatar este património aos fundos europeus, no âmbito do Plano de Ação para a Regeneração Urbana (PARU), é agora uma possibilidade. Sendo que está pensada a adaptação do espaço a Casa da Juventude ou albergue para jovens que estejam de passagem pelo concelho. O projeto já foi submetido à CCDR,

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e ainda neste âmbito urbanístico está contemplado também o propósito de dar uma nova dignidade

ao arquivo, que recorde-se está no interior da casa da Rua dos Campinos dentro de caixas. A Rua

Moniz da Maia também vai sofrer obras de nivelamento “para se evitar a criação de autênticas pisci-

nas sempre que chove”. O Posto de Turismo também está contemplado neste pacote do PARU. Ain-

da não há valores para as obras enumeradas, “pois até à data ainda só foram entregues as fichas”.

O imóvel apresenta sinais evidentes de degradação

Falta de condições de trabalho no Arquivo Municipal de Vila Franca Arquivo Municipal de Vila Franca de Xira é por estes dias um local triste e onde as condições de trabalho já conheceram melhores dias. Numa visita de trabalho no âmbito de uma pesquisa, o Valor Local constatou as dificuldades porque que passam as funcionárias daquele espaço. Desde o amontoado de documentos às ratoeiras espalhadas um pouco por toda a sala, o arquivo municipal de Vila Franca necessita mesmo de melhores dias. O espaço que é alugado, já serve de arquivo vai para mais de trinta anos e por isso a necessidade urgente de obras para preservar a história local é premente. Em declarações ao Valor Local, Alberto Mesquita, presidente do município, diz ter conhecimento das dificuldades dos funcionários. Questionado sobre a existência de ratos, o autarca não se mostrou surpreendido, mas afiançou que este espaço é uma das prioridades até ao final do mandato. O autarca esclarece que o município está “a trabalhar para encontrar uma solução o mais

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depressa possível”; e lembra que está em curso uma remodelação e consequente melhoramento dos espaços de trabalho, e por isso anuncia que “o arquivo encabeça essas preocupações que temos de resolver”. Para já Alberto Mesquita não avança com a localização exata do novo espaço. Mas ao Valor Local garante que “o arquivo será colocado num outro local”. A relocalização do arquivo municipal não implica que algum do acervo deixe de estar nas atuais instalações “pois terá de ser trabalhado e inventariado”, mas de facto “o arquivo vai ainda neste mandato passar para outro edifício, com outras condições e para que se preserve os documentos que fazem a história da nossa História”. Alberto Mesquita anuncia, por outro lado, as intenções do município em requalificar todo o quarteirão onde está o edifício do arquivo municipal. “Temos de encontrar outras soluções de construção que ali se possam vir a fazer. Será um trabalho de fundo porque estamos a falar de alguns edifícios que estão degradados, pelo que muitos de-

les terão mesmo de ser demolidos para mais tarde se encontrarem outras respostas”.

Alberto Mesquita vinca, entretanto, que a requalificação de todo o quarteirão está num hori-

Atuais instalações do arquivo

zonte mais alargado, garantindo que pontualmente os serviços “têm vindo a trabalhar em pedi-

dos que nos chegam”, nomeadamente, a nível das acessibilidades necessárias para o local.


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Câmara de Azambuja lamenta perda da EPAC urante as últimas reuniões de Câmara de Azambuja, esteve em discussão a necessidade da autarquia passar a dispor de uma sala de espetáculos que possa albergar atividades municipais de maior dimensão, sem a necessidade de ter de alugar tendas. O antigo edifício da EPAC junto a uma das rotundas da vila de Azambuja serviu durante anos para esse fim, mas neste momento aquele espaço de 600 m2 encontra-se afeto à prática de atividades desportivas de uma coletividade, e para fabrico de cerveja por parte de um particular, que requalificou todo o espaço em troca da cedência gratuita das instalações. Ao Valor Local, Luís de Sousa, presidente do município, sem querer colocar em causa a ocupação atual da EPAC, não deixa de sentir pena por já não poder usar aquele espaço. “Foi uma decisão de quem cá estava antes, e não posso fazer nada, embora fizesse parte do executivo, e nisso assumo as minhas responsabilidades”. De acordo com o protocolo assinado pela empresa MMCL Cervejeiros e o município, a empresa não está a cumprir no imediato o item relacionado com a criação de um museu da cerveja que devia ter sido instalado “no prazo máximo de um ano a contar da última data de aprovação dos processos de licenciamen-

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Cervejeira ocupa parte do espaço to”, sendo que a MMCL Cervejeiros já labora no local pelo menos desde 2014. Também não têm sido realizadas atividades junto das escolas como previsto, o que o proprietário José Costa reconhece – “Esse processo está um pouco atrasado, mas queremos começar a desenvolvê-lo”. Já quanto ao museu da cerveja refere que a coleção de objetos relacionados

com o fabrico da bebida está a ser efetuado. A empresa de acordo com o protocolo tem também de criar 10 postos de trabalho, sendo que até à data apenas possui três. Contudo, o protocolo não indica uma data limite para esse fim. “Provavelmente ainda não conseguiram alcançar o que desejariam em termos do negócio. Já falei com o proprietário sobre as

visitas das escolas. Reconheço que a Câmara também ainda não se mexeu nesse sentido. Quanto ao museu temos de conversar para que seja uma realidade, dado que está no protocolo”, sintetiza o presidente da autarquia, Luís de Sousa, que lembra que se a Câmara tivesse dinheiro, na altura, teria feito as obras necessárias na EPAC “e hoje não tinha necessidade de

andar a pensar num nova obra que vai sair mais cara”. À época, em 2012, a decisão da Câmara foi contestada pela oposição. Jorge Lopes, vereador da Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra, referiu que o edifício estava valorizado em 500/600 mil euros para venda “e agora propõe-se que esse património seja entregue a uma empresa a custo zero que vai fazer

ao longo dos anos 115 mil 530 euros de obras, e que vai gastar por mês 481 euros, pode ler-se numa ata do município”. O edifício da EPAC foi comprado no final dos anos 90 pelo antigo presidente da Câmara, Carlos Alberto Oliveira, já falecido, por 200 mil euros com o intuito de transferir para o local as oficinas municipais, o que não aconteceu.

Feira do Empreendedorismo Jovem em Alenquer Câmara Municipal de Alenquer deu a conhecer em conferência de imprensa a 1ª Feira do Empreendedorismo Jovem a ter lugar de 17 a 22 de maio no edifício da Romeira. Esta feira será o culminar dos projetos Atelier Empreender Criança, Academia Empreender Jovem, Oficinas Co-empreendedoras e Mini Empresas, nos quais mais de 600 alunos com idades compreendidas entre os 8 e os 18 anos, pertencentes aos quatro agrupamentos de escolas do concelho, vão apresentar publicamente os seus projetos. “Colocámos a fasquia muito alta com a comercialização do jogo Além Vou, e esta feira é ainda mais ambiciosa a esse nível”, evi-

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denciou o vereador Paulo Franco. Ainda durante a Feira serão realizados diversos Workshops dedicados ao Empreendedorismo, bem como eventos de animação cultural com a atuação de artistas do concelho. Serão ainda ensaiados os primeiros passos para colocar em marcha o Orçamento Participativo Jovem Feira dá também protagonismo aos amantes do Lego Paralelamente, inserido na Feira do Empreendedorismo irá decorrer o evento “ALENQUER Fan Event – for LEGO® Lovers 2016”. João Carlos Costa da organização desta iniciativa evidenciou

que faz todo o sentido a participação do universo Lego numa feira de empreendorismo já que está provado que a construção de Lego “estimula a criatividade”, o que “tem tudo a ver com a capacidade de empreender”. “O Lego é mais do que um brinquedo, pois a nível cognitivo ajuda na capacidade de concentração das crianças”. evidenciou. A associação “AlfaLug” que representa os construtores Lego também se associou à iniciativa, e foi dado a conhecer que durante a feira, serão levadas a cabo peças Lego dos principais monumentos e figuras históricas de Alenquer, “o que dará um atrativo especial ao evento”, concordaram organização e autarcas presentes.

Autarquia e entusiastas do Lego apostam no sucesso do evento

Reclamações na obra do quartel da GNR de Alenquer s procedimentos em relação ao projeto e contratação pública para a construção do novo quartel da GNR de Alenquer ainda se encontram em fase de audição prévia. As

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obras deveriam arrancar já no início deste ano, mas Pedro Folgado, presidente da autarquia, refere ao Valor Local que se deu o caso de haver reclamações por parte de empresas de arquitetura

que apresentaram projetos, mas que não ficaram satisfeitas com questões relacionadas com esta fase de contratação. Neste momento, a Câmara está a analisar as reclamações no sentido de se

avançar para a conclusão do projeto. Ainda não foi escolhido o vencedor para o projeto de arquitetura, mas numa pré-eliminação de alguns dos concorrentes, estes não terão ficado satisfeitos

poer ficarem arredados do concurso. A Câmara mantem a firme intenção de concluir a obra em finais de 2017, conforme foi assumido e assinado com o ministério da

Administração Interna, mas Pedro Folgado admite que poderá sofrer algum atraso tendo em conta o prolongar desta fase de audição prévia, que espera recuperar entretanto.


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O Tabu de Ramos ¢ Miguel A. Rodrigues á três anos fora da presidência da Câmara Municipal de Azambuja, Joaquim Ramos temse dedicado a gerir a sua vida e dado mais atenção à sua saúde, depois de um problema cardíaco. Joaquim Ramos prepara-se, agora, para lançar dois livros: um romance em abril e um livro autobiográfico em outubro, este último relatando a experiência pela qual passou depois da sua doença. Mas o regresso à política ativa pode ser também uma realidade Em entrevista ao Valor Local, o ex-autarca salienta que está quase recuperado em termos de saúde, e por isso diz-se preparado para novos desafios políticos, nomeadamente, no concelho. Ramos diz mesmo que não coloca de parte uma recandidatura à presidência do município, e sempre vai dizendo: “Estou disponível para desempenhar qualquer atividade que o Partido Socialista entenda que deva fazer. Essa é a minha disposição e disponibilidade”. Tem sido voz corrente no seio político de Azambuja, que Joaquim Ramos tem inclusivamente uma lista com nomes prontos pronta avançar, isto no caso de se perfilar a sua candidatura. Todavia o antigo autarca nega “a existência de qualquer lista sombra”. “Ainda é muito cedo para entramos nesse tipo de situações, mas há pessoas que gostaria de ver nos órgãos autárquicos. Comigo ou com outra pessoa que assuma a candidatura do Partido Socialis-

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ta.” Por outro lado, Joaquim Ramos rejeita a ideia formada de que os autarcas devem fazer dois mandatos seguidos, ou seja não tem de ser natural a recandidatura de Luís de Sousa, isto “sem querer fazer juízo” sobre o mandato do atual presidente, que foi seu antigo vice-presidente. “Não acho que tenha de ser uma regra. Pode fazer dois ou três. Há mesmo presidentes que fazem sete ou oito, embora já não seja possível”. O antigo autarca faz questão de puxar dos galões nos seus mandatos como autarca: “Tenho a sensação – dado o percurso e as votações que tive que foram sempre em crescendo; e sempre com maioria absoluta e reforçada – que se não tivesse ido para a frente a lei da limitação de mandatos, e se eu não tivesse tido o meu problema de saúde, que era capaz de ser mais um daqueles presidentes que se perpetuariam no poder”. Contudo, Ramos sempre disse que o seu ciclo politico não ultrapassaria os 12 anos, tantos quantos os que esteve na presidência do município. Joaquim Ramos considera que a lei está bem executada e que a limitação de mandatos acaba por ser uma mais-valia, mas lembra que “por regra em todas as eleições tudo está em aberto”. “Não há direitos adquiridos, sendo presidente atualmente ou não, como no meu caso que já fui. Qualquer militante do PS neste caso pode apresentar a sua candidatura”. Em três anos de afastamento, Joaquim Ramos diz que nunca

teve a tentação de se imiscuir no trabalho do atual executivo. Diz também, por outro lado, que nunca existiu qualquer pedido de ajuda por parte da equipa de Luís de Sousa no sentido de entender melhor “esta ou aquela matéria que vinha de trás.” “Qualquer partido pode constituir uma ameaça ao PS em Azambuja”. O anterior presidente do município diz não se querer pronunciar sobre a gestão do PS na Câmara Municipal. Apenas salienta que tem “acompanhado de longe a situação política no município”, nomeadamente, “ a atuação da oposição”. O antigo autarca refere que o tem feito através do facebook e da imprensa ou nas reuniões do PS e diz também que não procura nem quer ter conversas com a oposição sobre a atuação do atual executivo. Todavia, Ramos diz constatar: “que pela primeira vez em muitos anos há uma agregação das forças do PSD em torno de um determinado projeto”. “Porque como se lembra, até há pouco tempo os seus elementos estavam permanentemente desagregados”, lança. Ao Valor Local, Joaquim Ramos vai mais longe e não hesita em referir que tendo em conta os resultados das últimas eleições autárquicas, com a perda da maioria absoluta “qualquer partido pode de facto constituir uma ameaça ao PS em Azambuja”. Sobre o convite a Herculano Valada para votar ao lado do PS,

Ramos não assume por completo candidatura à Câmara Ramos não se pronuncia, mas lembra que o convite não foi para uma coligação, mas para uma pessoa em particular, e por isso prefere dizer que “O PS atraiu tão-somente Herculano Valada para votar ao seu lado”. Joaquim Ramos desiste de quatro meses de ordenados Joaquim Ramos teve uma intervenção pública que fez correr muita tinta, logo após as eleições, quando numa reunião de Câmara foi reclamar dos ordenados que o município ficou de pa-

A Concessão das Águas processo de concessão a um privado da gestão de águas e saneamento em baixa foi iniciado no segundo mandato de Joaquim Ramos, e nunca se revelou um processo pacífico. Joaquim Ramos sofreu pressões para que a distribuição em baixa das águas e o saneamento ficassem na “orla” do município, mas segundo Joaquim Ramos, o estado da rede “era tão mau que e a Câmara não tinha dinheiro para fazer essa operação na sua totalidade”; e continua a garantir que a concessão “foi a melhor opção” Ramos diz que acompanha, mas através da comunicação social, as evoluções deste processo. O autarca viu de longe a nomeação, primeiro de Cunha Marques, e depois de Miguel Carrinho para a comissão de acompanhamento, e refere que à distância sabe “que a Câmara está suficientemente preparada para resolver o problema, como o resolveu e bem”. “Aliás, em 2013, quando adoeci já tinha o acordo feito. Já só estava à espera do parecer da entidade reguladora das águas”. Ramos evidencia que quer Luís de Sousa quer Silvino Lúcio, atual vice-presidente, “tiveram o pelouro das águas” para lembrar que as responsabilidades são de todos. Aliás o antigo autarca salienta mesmo que Luís de Sousa foi “presidente do júri que decidiu, mediante parecer do Instituto Superior Técnico, propor a atribuição da concessão à empresa Aquapor”, vincando que o atual executivo está assim preparado para gerir o dossier: “Chegaram portanto a uma boa resolução para ajudar o povo de Azambuja.” Pela dificuldade do tema, o antigo presidente confessa que este é um assunto que só daqui a alguns anos se pode avaliar com mais profundidade: “Temos de ganhar distância para se conseguir avaliar a verdadeira dimensão da concessão e os seus aspetos positivos”. Ramos enumera, neste sentido, que sem nos darmos conta acabaram-se os problemas com as roturas de água, a falta de água, e os desperdícios sublinhando também que o sistema de esgotos já cobre a generalidade do concelho. “Esta concessão foi negociada com unhas e dentes na defesa dos direitos dos azambujenses”, conclui.

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gar, relativos aos quatro meses em que esteve internado, sendo que na altura ainda era presidente da Câmara. Contudo, este é um assunto já encerrado, uma vez que Joaquim Ramos diz ter desistido de receber os ordenados em causa. O antigo autarca salienta que as custas com os advogados eram superiores aos vencimentos que tinha para receber. Por outro lado vinca também que a primeira informação dos seus advogados fazia crer que o processo seria relativamente fácil, mas esbarrou no facto de poder vir a fazer jurisprudência noutros casos. Aliás, refere Ramos, este foi caso único

no panorama nacional. “Devo ser o único com vínculo de trinta e tal anos ao Estado que por ter estado doente e em coma, deixei de receber qualquer espécie de remuneração”. Na altura um parecer do advogado da Câmara, dava conta que Ramos não teria direito ao vencimento. Joaquim Ramos vinca, entretanto, que este episódio não fragilizou a relação com o atual presidente da Câmara: “Se o atual presidente que foi meu vice-presidente durante doze anos, e meu amigo, tivesse qualquer pretexto jurídico para processar os meus vencimentos, processaria. Não tenho dúvidas”.

Os Processos “Pratas” oaquim Ramos ainda não terá sido notificado pelo tribunal na qualidade de testemunha no caso do desaparecimento dos processos, tendo em conta que a Câmara já recorreu da sentença que ilibou o antigo vereador José Manuel Pratas. Ramos salienta que tem apenas acompanhado o assunto pela comunicação social, nomeadamente através do Valor Local. Joaquim Ramos diz que soube também através do nosso jornal que ia ser ouvido, mas até ao momento e oficialmente ainda não recebeu nada. Ramos refere que está disponível: “Não tenho conhecimento de nada. Na altura José Manuel Pratas tinha o pelouro das contraordenações e portanto quando delego competências, confio inteiramente nessas pessoas”. Nesse sentido Joaquim Ramos, diz achar “estranho todo este processo”, referindo pois que aguarda serenamente, e para já não quer “esmiuçar situações nem vasculhá-las”.

J

Antigo chefe de divisão processa Câmara de Azambuja antigo chefe de divisão da Câmara Municipal de Azambuja, Pedro Bourgard colocou o município em tribunal. O antigo quadro não foi reconduzido como chefe de divisão por Luís de Sousa, presidente da Câmara, e como tal optou por levar o assun-

O

to à Justiça. Segundo apurou o Valor Local, o município alegou através de um parecer jurídico para não reconduzir o engenheiro Pedro Bourgard no cargo que ocupou desde que Joaquim Ramos, antigo presidente da câmara o trouxe para

Azambuja. O chefe de divisão teve um especial protagonismo durante a revisão do tarifário da Águas da Azambuja e as negociações com o município. Entrevistado pelo Valor Local, Joaquim Ramos mostra-se surpreendido com a atitude de Pedro

Bourgard, com quem regularmente vai falando, assim como tem mantido conversa com outros antigos técnicos que trouxe do município de Lisboa. Todavia Joaquim Ramos vinca que não abordou com o mesmo esse assunto e salienta que é normal “que o en-

genheiro Pedro Bourgard se tenha sentido mal tratado pelo posterior executivo municipal.” “Os restantes elementos que vieram comigo saíram. Sempre alegaram que ficariam apenas enquanto eu fosse presidente e foi isso que fizeram”, mas o engenheiro “Pedro

Bourgard manifestou sempre a sua intenção de ficar em Azambuja, pelo que penso que talvez se tivesse pouco acarinhado”. O Valor Local tentou chegar à fala com Pedro Bourgard, mas até ao fim desta edição não foi possível obter uma reação.


Política

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Valor Local

Câmara de Alenquer

Tribunal de Contas alerta para factoring ilegal no passado ¢ Sílvia Agostinho Tribunal de Contas emitiu um parecer segundo o qual a Câmara Municipal de Alenquer recorreu a operações de factoring indevidamente. Trata-se de um instrumento utilizado pelas empresas com problemas de liquidez no sentido de avançarem com os pagamentos aos fornecedores através de um empréstimo bancário. Este tipo de pagamentos estão interditos, desde 2013, à Administração Pública salvo em situações de saneamento financeiro. Os anteriores presidentes da autarquia Álvaro Pedro, e Jorge Riso procederam a estes pagamentos, nomeadamente, junto da extinta Resioeste. Também o atual presidente da Câmara, Pedro Folgado, fez uma operação de factoring no valor de 300 mil euros no início do mandato. As operações de factoring são referentes aos anos de 2006, 2009, 2010, 2011 e 2013 ascendendo a um total de sete milhões de euros. A questão foi suscitada no anterior mandato pelo vereador do PSD, Nuno Coelho, que desconfiou da legalidade destes contratos, que não chegavam a aprovação da assembleia municipal, bastando para isso que o presidente da Câmara assumisse os compromissos. “Estamos a falar de uma antecipação de receita e não de pagamento de compromissos. Trata-se de

O

Decisão do Tribunal só chegou ao conhecimento do executivo recentemente um procedimento que depois não entra para as contas do endividamento da autarquia, apenas os juros. Há três anos que a questão foi levantada mas mais vale tarde do que nunca, e o Tribunal de Contas deu-nos razão quanto à ilegalidade das operações”, sustenta Nuno Coelho, ouvido pelo Valor Local. O vereador não esquece que quando suscitou a questão “o PSD foi crucificado em praça pública por não querer que a Câmara pagasse aos seus fornecedores, e hoje o Tribunal vem dar-nos razão contra a diretora do departamento financeiro da Câmara. Sempre

pugnámos para que a o município pagasse os seus compromissos mas dentro da legalidade”, destaca. “Sentimo-nos magoados na altura”, desabafa. Atual presidente da Câmara quer pagar o mais depressa possível Pedro Folgado, que também assinou uma operação de factoring refere que o fez por se tratar de um documento que ficou pendente. “Assinei logo após tomar posse em outubro de 2013, e como não havia nenhuma recomendação,

na altura, do Tribunal de Contas nem da Direção Geral de Finanças, não me suscitou dúvidas, até porque outros também o tinham feito”. Refere ainda que o município foi alvo de uma inspeção das finanças, em que foi dito que “esse instrumento não era lá muito correto, mas apenas isso”. “Não nos penalizaram, se fosse assim tão grave tinham-nos punido de algum modo”. O presidente da Câmara assume como prioritário o pagamento imediato do que ainda falta saldar destas operações assumidas no passado – “Tenho a noção

de que falta pagar cerca de 130 mil euros (já com juros) e de modo a fechar este dossier o mais depressa possível, saldaremos esse valor em falta porque não quero estar de modo nenhum a cometer ilegalidades”. Reportando-se à ação dos seus antecessores, refere que “muito provavelmente foi a única forma que conseguiram ter para pagar dívidas a fornecedores, que não para investimento, dado que não tínhamos meios através da tesouraria normal.” Contudo e face ao quadro de ilegalidade, a Câmara de Alenquer bem como muitas do país que

aderiram às operações de factoring para saldarem dívidas, nomeadamente, de curto prazo, beneficiam da lei que existia até 2012 que, de certa forma era omissa para as autarquias quanto à possibilidade de assinarem contratos de factoring. Não há por isso lugar à figura da infração financeira e respetiva punição. O factoring contudo nunca esteve representado em parte alguma na Lei das Finanças Locais. A partir de 2013, a lei estipula a proibição de as autarquias recorrerem a este instrumento, mas sem efeitos retroativos.

PCP volta à carga com a abolição das portagens em Alverca O

PCP de Vila Franca de Xira quer a abolição das portagens em Alverca do Ribatejo. O assunto já não é novo, mas os comunistas consideram que é altura de voltar “à carga” com o tema. Carlos Braga, da comissão concelhia do PCP, salienta o aumento de tráfego e a poluição, assim como, o impacto económico que as portagens têm na vida das famílias insistindo, por isso, na sua abolição. Numa conferência de imprensa realizada num dos viadutos de acesso em Alverca, os comunistas deixaram bem claro que não têm intenções de desistir e que ponderam mesmo ações de protesto para breve. Para já, a comissão concelhia limitou-se a chamar os jornalistas, mas Carlos Braga diz que estão previstas ações de protesto como um buzinão na A1 e uma marcha lenta desde Alverca

até à entrada de Lisboa para chamar a atenção do Parlamento. Certa é para já a recolha de assinaturas que o PCP está a levar a cabo. Carlos Braga que falou em nome da comissão esclarece que o objetivo é recolher a assinatura de 15 mil subscritores e conseguir que a petição seja debatida no Parlamento. Aliás Carlos Braga, ao Valor Local, salienta mesmo que o facto de o PCP ter um acordo de incidência parlamentar com o governo PS, pode ajudar na discussão da petição na Assembleia da República. Todavia o responsável lamenta a postura do Partido Socialista de Vila Franca de Xira na Assembleia Municipal, que se absteve numa moção sobre acessibilidades para aquele concelho. O fim das portagens em Sacavém nos anos 90 foram o mote

para esta reivindicação dos comunistas que desde essa altura consideram que quem precisa de atravessar o concelho de Vila Franca entre Alverca e a sede de concelho tem de pagar, o que não sucede com as freguesias mais a sul. A reivindicação dos anos 90, mantem-se assim atual, até porque à época os comunistas exigiam um tratamento igual para todo o município. Todavia a agudizar o problema está a falta de vias alternativas à Estrada Nacional 10 e a “não construção dos nós de acesso à A1 no Sobralinho e a partir da Estrada dos Caniços em Vialonga” que a par das portagens “em Alverca do Ribatejo e em Vila Franca de Xira, assumem-se como obstáculos impeditivos a uma normal fluidez do trânsito e a uma boa mobilidade da população no Concelho de Vila Franca de Xira”.

Uma antiga reivindicação do PCP de Vila Franca


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Eventos

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Ávinho à espera de evoluir freguesia de Aveiras de Cima recebe entre os dias 8 e 10 de abril mais uma edição da ÁVINHO - Festa do Vinho e das Adegas. Esta é uma iniciativa que acontece em parceria com a Câmara Municipal de Azambuja, Junta de Freguesia de Aveiras de Cima e “Associação Vila Museu do Vinho”. Como habitualmente, o objetivo é mostrar o melhor vinho feito aos visitantes e para tal, através da compra de uma caneca que custa dois euros, quem passa por Aveiras de Cima pode provar gratuitamente o vinho nas várias adegas privadas participantes na iniciativa. Este ano estão presentes dez. Esta é uma festa diferente, onde os produtores abrem as suas portas aos forasteiros partilhando também alguns segredos do bom vinho ribatejano que produzem. A festa já conta com doze anos de existência, e por isso vai criando raízes e marcando o calendário da região. Ainda assim, e pese embora o sucesso e os benefícios que consegue para a freguesia, não está isenta de polémica. Já há vários anos que o presidente da junta de Aveiras de Cima reclama mudanças para o certame. António Torrão considera que a Ávinho tem ainda muito para dar, mas para tal é necessário envolver os produtores e a sociedade civil, quer através das associações locais, quer através de produtores do resto do concelho de Azambuja. Torrão considera que o certame deve continuar na “orla” do município, mas em doze anos, o autarca diz que esperava “a implementação de algumas ideias com vista a melhorar o certame.” “Temos de perceber o que queremos fazer. Se é uma festa apenas para beber uns copos, ou se

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é uma festa com algum significado e para desenvolver alguma coisa”. Nesse sentido, Torrão defende que a população deve ser ouvida. Algo que, refere, ainda não aconteceu: “Devíamos ouvir as forças vivas desta terra. Fazer uma reunião alargada, de caráter público, envolvendo as pessoas que estão à frente das coletividades e instituições”. Para o autarca, não tem existido por parte da Câmara Municipal recetividade a esta ideia da junta, já que António Torrão diz ter queixas da população sobre o figurino do certame, defendendo que “mais ano, menos anos, vamos mesmo ter de partir para a auscultação da população, correndo o risco de se esgotar o sistema de organização da festa”. Luis de Sousa refuta as críticas de António Torrão O presidente da Câmara Municipal de Azambuja, Luís de Sousa, diz não querer criticar o presidente da junta de Aveiras de Cima, mas vai lembrando que António Torrão “faz parte do grupo de trabalho que prepara a Ávinho que já se reuniu uma série de vezes em Aveiras de Cima”. Por esse motivo, Luís de Sousa diz não entender as críticas de António Torrão até porque se o presidente da junta “acha que devíamos ter ouvido a população poderia ter feito menção disso mesmo nas reuniões”. Nesse sentido Luís de Sousa diz que não está correto da parte de António Torrão fazer “essas críticas no fim”. Luís de Sousa vinca que as ideias para o certame são partilhadas entre todos, nomeadamente com a junta de Freguesia, com a Associação Vila Museu do Vinho e Câmara Municipal, e reforça: “Se o senhor presidente da

Vinho do concelho em destaque junta não estivesse nesse grupo de trabalho, estaria na posição de fazer as críticas que quisesse. Mas ele faz parte do grupo”. Lembrando que a Câmara “acata as opiniões dele e de todos”, apesar de ser “o município a arcar com as despesas”. Refere ainda que António Torrão concordou “com as ideias propostas pelo vereador da Cultura ao presidente da junta. Não levantou problemas. A posição dele só

pode ser política”. Todavia Luís de Sousa acredita que a Ávinho será de novo bemsucedida. O autarca recorda o apoio das empresas e dos produtores numa festa marcada pelos bons néctares feitos no concelho de Azambuja. Mas a Ávinho não vive só de vinho e petiscos, existe também a componente lúdica. Ao nível musical, a edição deste ano terá como cabeças de cartaz o artista

“Augusto Canário”, 6ª feira às 24h00, e o grupo “Ar de Rock”, sábado às 22h00. Para além destes grupos, o destaque vai também para a animação com o fado amador itinerante pelas adegas, sexta a partir das 21h00, e ainda para o desfile etnográfico demonstrativo d’ “O Ciclo do Vinho”, às quatro da tarde de sábado. Quanto a novidades, o certame que arranca às 17h30 de sexta-

Festival das Sopas na Adega da Labrugeira stá de regresso nos dias nove e dez de abril na Adega Cooperativa da Labrugeira, o Festival de Sopas e Merendas de Alenquer. A ideia de se fazer este certame nasceu há 14 anos por parte de habitantes do concelho de Alenquer que na altura ocupavam posições na estrutura da adega, e da Câmara Municipal, num evento em que a organização sempre foi partilhada pelas duas entidades. Com o passar dos anos, o certame cresceu e já ultrapassou as fronteiras do município. Para a organização, é hoje uma referência na região Oeste, registando

E

afluências médias de cinco mil visitantes ao longo dos dois dias do evento. O festival passa por divulgar e promover o conceito alimentar que era usado no passado pelos trabalhadores rurais. Uma alimentação assente em produtos da terra e confecionados com métodos próprios das gentes de Alenquer. A entrada é gratuita e o visitante poderá adquirir o “KIT Sopa e Merenda” e levar a típica tigela de barro para casa. A concurso vão estar diversos participantes nomeadamente coletividades do concelho. Muitos vão ser os pe-

tiscos e sopas que se podem provar. Só a título de exemplo: sopa da aldeia; caldo verde; sopa de rabo de boi ou sopa de feijão com abóbora. No capítulo dos petiscos haverá coiratos, salada de orelha, moelas, escabeche de codorniz. A animação ficará a cargo das associações e coletividades locais, num misto de tradição e inovação. Vão estar presentes ao longo dos dois dias, entre outros, os Vindimeiros de Aldeia Gavinha; Rancho Folclórico de Alenquer; Tuna Noses com Vozes, Ensemble da Associação Musical Cabanas de Torres

Sopas tradicionais fazem as honras da casa

feira, contará com a inauguração da “Exposição Arte Vinho”, uma exposição de pintura com vinho da autoria de Gabriela Gonçalves. A Ávinho está orçada em 57 mil 700 euros, mas os custos poderiam ser superiores tendo em conta que uma superfície comercial do concelho vai patrocinar o certame com a oferta de 600 quilos de febras; 500 quilos de pão, fósforos e acendalhas.


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Dossier: Águas

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Presidente dos SMAS de Vila Franca apreensivo

“Poderemos vir a pagar da água mais cara do país à EPAL” O

presidente do conselho de administração dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento de Vila Franca de Xira, António Oliveira, está preocupado com o futuro da gestão dos SMAS tendo em conta a fusão que o setor sofreu, com a passagem de 19 sistemas para cinco. Atualmente Vila Franca de Xira integra a Águas de Lisboa e Vale do Tejo e poderá estar iminente a curto/médio prazo uma oneração da fatura

aos clientes da qual dificilmente o concelho escapará. Até hoje, o município conseguiu suportar os custos, fazer obras e ter tarifas acessíveis quando comparado com outros concelhos da região, mas este quadro poderá alterar-se em nome da homogeneização dos custos da água que o anterior Governo quis implementar recorrendo à fusão. A esperança pode residir no atual Governo que já deu a entender

que é possível uma eventual reversão da fusão, até porque “está provado que a gestão na nova estrutura não cumpre o critério de redução de custos”, salienta o presidente do conselho de administração dos SMAS. Uma constatação aliás corroborada pelo presidente da Águas de Portugal, principal interessada na fusão, face ao enorme volume de dívidas das Câmaras, empresas intermunicipais, e concessionárias privadas para

António Oliveira aguarda por volte face na verticalização

com aquela entidade. António Oliveira não se conforma com o atual estado de coisas tendo em conta que “os SMAS de Vila Franca são autossuficientes, e conseguem gerar investimento sem recorrer a empréstimos bancários”. “Não é compreensível que sejamos chamados para tapar os défices dos sistemas do interior”. (Durante anos, várias Câmaras do país subsidiaram os custos da água e do saneamento sem fazer repercutir esse esforço no valor da tarifa aos consumidores). A empresa municipal conseguiu aprovar um decréscimo de várias tarifas para o ano de 2016, mas face ao atual estado de coisas, António Oliveira não hesita em apontar que dentro de dois anos, o preço dos serviços vai subir. Reportando-se à boa saúde financeira dos SMAS, informa que desde os anos 60 que não recorre a empréstimos bancários para fazer face aos investimentos, como tal e ao contrário do que acontece em outros sistemas, não ocorre subsidiação cruzada. “Continuamos a pagar aos nossos fornecedores,

gerar receita para o investimento, e sem inflacionar a fatura da água”, conclui neste sentido. “Poderemos vir a pagar da água mais cara do país à EPAL em nome do fundo de equilíbrio tarifário para os municípios do interior. Sou totalmente contra”. Em todo o processo que conduziu à verticalização, “não foi pedido o parecer a tempo e horas à Associação Nacional de Municípios Portugueses”, e “quando a decisão estava tomada”. Toda esta questão desemboca na famigerada dívida dos municípios à Águas de Portugal que tem de ser paga “seja de que maneira for”, lança o presidente dos SMAS. Privatização – “Se o figurino nacional se alterar temos de ponderar tudo” Este é atualmente um “negócio com saúde técnica e financeiramente, e com trabalhadores que vestem a camisola”, refere o responsável em jeito de conclusão. Face ao futuro e à eventualidade de algum dia o setor poder vir a ser

privatizado no concelho de Vila Franca de Xira rejeita para já essa hipótese, mas tudo vai depender da evolução que a água e o saneamento possam vir a assumir no país, e possíveis custos. “Para já e com esta Câmara não é uma possibilidade, mas se amanhã se o figurino nacional se alterar aí temos de ponderar tudo”, deixa no ar. O futuro é uma incógnita, mas neste ano de 2016, os SMAS de Vila Franca de Xira preparam-se para efetuar um investimento na ordem dos 5 milhões de euros. “Desafio outros sistemas da região de Lisboa a apresentarem uma proposta superior”, enfatiza. No Plano Plurianual de Investimentos (a três anos), o montante de investimento poderá ascender a 15 milhões a aplicar em redes de abastecimento e saneamento. Sendo que à data está a decorrer uma “importante” empreitada na Póvoa de Santa Iria que vai permitir aumentar a capacidade de armazenamento para dois dias nos reservatórios que servem as freguesias da Póvoa, Vialonga, Alverca, e Forte da Casa.


Destaque Acidente da Póvoa de Santa Iria 12

Valor Local

30 anos depois a dor continua

¢ Miguel A. Rodrigues ¢ Sílvia Agostinho ra para ser apenas mais uma segunda-feira banal de regresso ao trabalho e às aulas para muitas dezenas de pessoas da região, sobretudo do concelho de Vila Franca de Xira, mas uma alegada falha humana, conforme destacam os jornais da época, aliada a um atraso do comboio rápido que vinha da Covilhã precipitou o desastre no dia 5 de maio de 1986. A composição embateu contra um transvia causando a morte a 18 pessoas: 11 morreram no interior dos dois comboios, faleceram ainda 2 passageiros que estavam à espera de embarcar, e cinco pessoas já nos hospitais. Oitenta ficaram feridas. Este foi um dos acidentes mais emotivos da história dos caminhos-de-ferro em Portugal, talvez porque transportasse na sua maioria jovens com destino às escolas e faculdades de Lisboa. Aconteceu há 30 anos na Póvoa de Santa Iria e vamos em busca dessas memórias junto de vítimas, familiares, autarcas e antigos bombeiros. Para Vítor Grade, com 20 anos na altura, este foi um acontecimento

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que deixou marcas profundas. Residia em Alverca, e por hábito apanhava o comboio em causa com destino à Escola Secundária Chelas-Olivais, como tantos ou-

tros colegas. “Íamos todos na brincadeira na última carruagem, como habitualmente”, lembra-se. Em situações normais, o transvia tinha de aguardar no resguardo e

Vítor Grade foi um dos sobreviventes

dar prioridade ao rápido, contudo como ainda não efetuara a manobra, e como a composição da Covilhã circulava com atraso, acabou por se encontrar na mesma

via, sendo literalmente abalroado pela composição mais possante. No transvia, que se preparava para deixar a estação da Póvoa, seguiam muitos jovens do concelho de Vila Franca. Quando Vítor Grade se apercebeu da aproximação do comboio rápido, instalou-se o alvoroço e o pânico. A composição com origem na Beira Baixa terá passado por sinais que deveriam estar a vermelho. “Lembro-me que comecei a saltar por cima dos assentos, porque tive a sensação de que podia ficar com as pernas cortadas se os bancos se juntassem”. Foi este o primeiro pensamento de Vítor Grade perante a aproximação do comboio. Como ele “toda a gente tentou escapar dali, mas curiosamente não houve gritos”, recordase, mas talvez porque entretanto perdeu a consciência desses factos. “Segundo os bombeiros, desci sozinho a escada de mão, e quando cheguei ao solo caí para o lado”. “Na minha memória apenas me lembro de ter visto o comboio a aproximar-se, e a seguir acordar a meio da cirurgia plástica que me estavam a fazer”. Teve de fazer várias operações de

modo a reconstruir a face. No hospital não lhe quiseram dizer que alguns dos seus amigos tinham morrido, nomeadamente, o jovem casal que frequentava o ensino superior na capital. Rui Benavente e a sua namorada Maria de Lurdes, moradores em Alhandra. “O meu filho morreu com 21 anos, queria ser arquiteto, andava no curso de Belas Artes. Tinha boas notas. Era bom filho, era bom de todas as maneiras”, recorda José Benavente, pai de Rui cujos sonhos de uma carreira profissional e de uma vida em comum com a namorada foram terrivelmente interrompidos. O sentimento de que a vida pode mudar em questão de segundos também o tem bem presente Ofélia Janeiro, igualmente estudante à época, com 18 anos, mas que sofreu ferimentos ligeiros no desastre - “Sempre tentei que o acidente não condicionasse o meu futuro, mas claro que condiciona! Em coisas básicas como a questão sempre presente de que um sopro, um segundo, muda a vida para sempre, ou acaba com ela. E isso condiciona não tanto a


Valor Local nossa relação com o medo do que nos possa acontecer, mas do que pode acontecer a quem amamos. Essa impotência condicionanos.”. “Sempre disse ao meu filho para nunca ir na última carruagem, parece que estava mesmo a adivinhar”, sentencia por seu lado José Benavente, sintetizando – “Não há dia nenhum que não me lembre do que aconteceu”. “A minha filha era um anjo de Deus. Era do melhor. Tanto ela como o Rui eram duas joias”, recorda por seu turno outro dos familiares enlutados, Joaquim Dias, pai de Maria de Lurdes, 21 anos, que “andava nas Belas Artes”. “Gostava imenso de pintar”. “Ela e o namorado eram inseparáveis, queriam casar. O Rui era um excelente rapaz, infelizmente já não há desses”. Joaquim Dias até se lembra que a filha não era para ter ido no comboio com o namorado, “mas infelizmente aconteceu”. Joaquim Dias e a mulher assim que souberam da notícia correram de imediato todos os hospitais de Lisboa à procura da filha. “Mas só ao fim do dia é que soube que ela e o namorado tinham sido os últimos a serem retirados dos destroços do comboio”. “Foi uma dor muito grande”. A vida dos que sobreviveram nunca mais foi a mesma. “Estava, na altura, a fazer um curso de teatro, do qual desisti. Também não segui para a faculdade. Quis apro-

veitar a vida ao máximo, e se possível de imediato”, refere Vítor Grade. Perdeu muitos amigos no acidente, nomeadamente, o casal de Alhandra, e uma das suas primeiras decisões após a tragédia foi ir viver para Lisboa sozinho, “para não ter de andar de comboio”. Passados quase 30 anos, considera que não ficou traumatizado, apesar de ter “permanecido alguns anos sem andar regularmente de comboio”. Vítor Grade foi um dos que vivendo em Alverca ainda teve a sorte consigo, pois várias foram as vítimas mortais provenientes daquela localidade. Paula Coelho, que na altura estava no conselho diretivo da Escola Secundária Gago Coutinho, ainda se lembra do velório de cerca de cinco pessoas nos bombeiros de Alverca. “Foi feito um cordão humano até ao cemitério. Tentámos dar o máximo de apoio aos alunos que ficaram sem os colegas, mas também a uma funcionária que perdeu a filha que se encontrava no comboio”. No caso de Ofélia Janeiro, esta recorda que não era habitual apanhar aquele comboio. Vivia em Alhandra e preparava-se para ter uma aula suplementar de História na escola secundária de ChelasOlivais, onde andava. “Naquele comboio iam muitas pessoas conhecidas. Ao meu lado ia a minha melhor amiga, que saltou do comboio antes do impacto. (Crê-se

Destaque que a tragédia podia ter sido maior tendo em conta que 20 pessoas pularam para fora da composição) e pelo menos fisicamente saiu ilesa. Mas iam mais amigos, colegas de escola e conhecidos de Alverca. Muitos morreram outros ficaram feridos com muita gravidade”, conta. Passados 30 anos, “a perda das pessoas é inexplicável”, “uma sensação de vazio que perdura até hoje”, refere. Quando o comboio embateu no transvia que ficou por cima do rápido, “a primeira sensação foi de um ruído ensurdecedor”, prossegue o seu relato, Ofélia Janeiro. “Eu estava a meio da última carruagem, a rever um trabalho da escola, comecei a ouvir um barulho, e quando olhei em frente vi as pessoas a correrem na minha direção. Só me apercebi do que se passava depois do choque. Lembro-me de ter agarrado a mala para manter os documentos comigo e, quando aquele terremoto parou, segurei a mala de um rapaz para que ajudasse um bebé, que estava bem, felizmente. A minha carruagem ficou em cima do rápido que chocou connosco.”, descreve destacando ter sofrido parcas mazelas – “apenas uns cortes na cabeça, numa perna e numa mão”. A passageira do transvia recorda que voltou a andar de comboio, “poucos dias depois, aterrorizada, mas consciente de que o medo não podia vencer”.

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Um acidente traumatizante para o concelho aniel Branco era o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira no ano em que se deu o acidente. Ao Valor Local, o autarca comunista agora a exercer funções na Câmara de Oeiras, lembra que foram tempos difíceis e viveu mesmo alguns percalços até chegar ao acidente. O antigo autarca recorda-se que não tinha motorista e que até chegou a ser “barrado” pelas autoridades, tendo de se identificar. Daniel Branco não esteve nas primeiras horas do acidente, até porque não se encontrava no concelho à hora em que tudo aconteceu. “Quando cheguei já não vi as famílias, ou as vitimas. As ambulâncias já se tinham retirado. Mas recordo-me bem que os dispositivos que estavam à disposição das forças de segurança e dos bombeiros, em suma da proteção civil eram muito diminutos”, salienta o antigo autarca. Como presidente da Câmara na altura, Daniel Branco, ouviu lamentos e queixas por parte dos operacionais. A falta de material de desencarceramento pesado que fizesse face às necessidades dos bombeiros na altura era uma constante. O antigo autarca reconhece que este acidente foi traumatizante. Daniel Branco vinca que tal teve um impacto social negativo “dada a sua grande envergadura com reflexos complicados em muitas famílias” Por outro lado refere que o mesmo serviu “para que bombeiros, proteção civil e o INEM, inexistente à data, acumulassem experiência” sendo que tal “foi importante em anos futuros para a Proteção Civil”. Após o acidente da Póvoa, a Câmara de Vila Franca de Xira fez sentir a sua voz face ao facto de a CP primar pela falta de diálogo e de informação. Foi constituída uma comissão de inquérito interna, que ia dando pouco eco do que andava a fazer no terreno. Nas atas das reuniões de Câmara e de assembleia municipal encontra-se patente o embaraço que os autarcas sentiam com o silêncio da empresa, acusando-a de irresponsabilidade. A autarquia começou desde logo a reclamar em conjunto com a população a quadruplicação da linha, que acabou por ser executada mais tarde. Outras questões num concelho que se apresentava pouco desenvolvido, à imagem do país de então, começaram a ser focadas como a necessidade de Alverca dispor de 12º ano, dado o número de jovens que morreram no acidente e que iam para a escola de Chelas Olivais, mas também a necessidade de um terminal de via-férrea para transvias de curto trajeto foi lem- Daniel Branco, brada. antigo presidente

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Destaque

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Valor Local

Bombeiros da Póvoa lembram falta de meios e cenário dantesco

Antigo comandante junto ao velho quartel corporação de bombeiros da Póvoa de Santa Iria ficava mesmo ao lado da estação, e aquele 5 de maio de 1986 “foi tudo menos um dia normal”, recorda ao Valor Local o comandante dos soldados da paz à época, Afonso Rita, atualmente no quadro de honra. Chefiar a corporação perante um acidente daquelas dimensões e tendo em conta a escassez de material e de homens foi uma tarefa gigantesca. “No quadro tínhamos perto de 90 homens, mas apareceram bombeiros de todo o lado, quase 400 da região de Lisboa”. O comandante ia a caminho de um almoço quando foi chamado via rádio para um acidente às portas do quartel. Já tinham sucedido suicídios, alguns sustos, mas nada que se comparasse com o que Afonso Rita iria ver minutos depois. Ainda sem saber da real dimensão do acidente, o comandante pediu ajuda a militares da GNR com quem se cruzou a caminho da estação “que se revelaram fundamentais para a fluidez dos trânsito nas horas seguintes.” António Silvestre, hoje com 68 anos, era um jovem bombeiro da

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corporação da Póvoa na altura. Vinha de um serviço à Maternidade Alfredo da Costa quando o seu colega da central começou a convocar todos os bombeiros porque tinha acontecido “um grande acidente ferroviário na Póvoa”. “Quando cheguei ao local, presenciei uma situação dantesca, com muitos corpos dilacerados e com os órgãos internos visíveis. Perdi a conta ao número de vezes que transportei feridos ao hospital de Vila Franca”. Aliás diz mesmo que naquele dia, “as artérias de Vila Franca de Xira tinham mais gente na rua do que num dia de largadas do Colete Encarnado. Desde a entrada da cidade até ao hospital, era incalculável o número de pessoas a ver as ambulâncias passarem”. Aflição era palavra de ordem e neste âmbito o bombeiro Silvestre lembra-se particularmente de uma senhora que lhe perguntou se tinha visto um homem que vinha de Castelo Branco e que trazia um cesto de fruta com ele: “De imediato associei a um homem que retirara dos escombros já sem vida”. O insólito também aconteceu quando um turista chinês que via-

Francisco Oliveira resgatou um bebé com vida

Silvestre guardou jornais da época java no comboio optou por não ir ao hospital para suturar um dedo e ficar a tirar fotografias sem parar ao sucedido. “Deve ter ganhado muito dinheiro com essas fotos, porque foi o primeiro a conseguir o registo do acidente”, conta António Silvestre que durante os trabalhos e face ao esforço físico também se lembra de ter comido duas sandes de presunto na estação, o que provocou “ataques de vómitos a algumas pessoas que por ali se encontravam a assistir aos trabalhos, face à carnificina existente”. Algo menos estranho para os bombeiros obrigados a terem de recuperar energias nos mais diversos cenários. Mas a tragédia também se fez de episódios felizes como o que foi protagonizado por Francisco Oliveira, hoje com 62 anos, que deixara de ser bombeiro há escassos meses quando a tragédia se deu, mas que não hesitou em ir ao quartel pedir equipamento para ajudar os seus antigos colegas. O soldado da paz resgatou com vida um bebé descoberto nos escombros. A mãe também sobrevivera. “Ouvi um choro de uma criança, que estava debaixo do banco. Fiquei sem pinga de sangue. Imediatamente apareceu uma senhora, só com um hematoma na testa, a gritar que era o filho dela. Nunca mais soube nada deles até hoje”, refere ao mesmo tempo que recorda emocionado - “Quando vi a criança, e perante tanta emoção, disse-lhe ‘olá bebé, olá bebé’ e por incrível que pareça ele até começou a sorrir”. O antigo bombeiro assistiu também à colisão entre comboios. E neste aspeto António Silvestre recorda: “Houve quem visse e começasse a correr só tendo parado quando chegou ao Tejo”. Quem também vestiu o fato-macaco na altura, foi o então presidente da junta da Póvoa, Rui Araújo, que fazia parte igualmen-

Presidente da junta também era bombeiro te do corpo de bombeiros. Quando chegou ao local já os colegas estavam a retirar os sobreviventes e os mortos “metidos naquela espécie de latas de alumínio tal era o estado em que as composições tinham ficado”. Como autarca uma das preocupações que teve na altura prendia-se com a possibilidade de existir um grande número de vítimas da freguesia, e como o cemitério local já estava sobrelotado, “certamente que muitas teriam de ser sepultadas em freguesias vizinhas, o que dado o impacto social da tragédia nas famílias, poderia representar um trauma acrescido”, até porque o cemitério novo na Quinta da Piedade, só apareceu mais tarde. A meio da tarde daquele dia trágico, chegou ao local o presidente da República Mário Soares que fez questão de ver os corpos. “Arrepio-me só de me lembrar do caso de uma senhora em que se via mais de um metro do intestino de fora. Foi algo que impressionou bastante o presidente, que não conseguiu evitar as lágrimas”, refere Francisco Oliveira. Muitos bombeiros trabalharam sem parar durante várias horas. O comandante lembra que só ao fim do dia é que se conseguiu de-

simpedir a linha e que um dos grandes problemas consistiu na falta de material. A chegada de duas gruas foi essencial, contudo uma delas não tinha a resistência pretendida e isso levou a que as operações demorassem mais tempo do que o desejado. “Não havia material de desencarceramento, pelo que após o acontecimento a CP ofereceu aos bombeiros esses instrumentos”, acrescenta António Silvestre. Importante, na altura, foi a colaboração de algumas empresas que se situavam nas imediações como a Solvay. Para além de ceder trabalhadores e alguma maquinaria que ajudou a desencarcerar os corpos, a Solvay abriu ainda um corredor para o socorro das vítimas. Afonso Rita explica que a única saída para as ambulâncias do quartel era a passagem de nível situada mesmo à frente da antiga sede dos bombeiros. Mas como o acidente obstruiu a passagem, a única solução foi usar o interior daquela fábrica para evacuar os feridos para os hospitais. Ainda assim, o comandante refere que havia sempre a hipótese de o socorro ser feito do outro lado da linha, ou seja do lado da

cidade, mas neste caso seria mais difícil, pois já eram muitos os carros particulares que tinham “entupido” algumas das ruas de acesso à estação. Contudo, “os bombeiros estiveram sempre focados no seu trabalho, e os populares que apareceram na estação para assistirem às operações ou à procura de familiares mantiveram sempre a distância das composições acidentadas”. “Tudo funcionou quase na perfeição, isto para um acidente que ocorreu numa época em que não havia planos de Proteção Civil, INEM ou Autoridade Nacional.”, enfatiza. “Tivemos uma missão muito dura e trabalhosa”, faz também questão de frisar António Silvestre. Valeu aqui a interajuda das corporações vizinhas e até da Cruz Vermelha que se ocupou das vítimas mortais, que aguardavam para serem enviadas para o Instituto de Medicina Legal. “Retirámos o último corpo que estava entre a traseira e a frente dos comboios às nove e tal da noite”, lembra Silvestre. Nessa noite quando foi para casa, lembra-se que a sua filha disse para ir tomar banho “porque só cheirava a mortos”.


Valor Local

Um dos maiores acidentes da CP

Destaque

Populares e ambulâncias no local

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Todos queriam ver as operações

Sindicato dos Maquinistas imputa responsabilidades à CP

assados 30 anos, o Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de ferro Portugueses (SMAQ) não tem dúvidas, ao fazer a retrospetiva do acontecimento, que o que aconteceu naquele dia foi algo que resultou da falta de investimento da CP na linha férrea. As preocupações com a segurança e a adaptação ao que já era prática nesta matéria no estrangeiro não eram, segundo António Medeiros daquele sindicato, questões que afligissem a CP/Refer. Na altura, a notícia posta a correr definia que na origem da desgraça tinha estado um erro humano. Quando o caso chegou a tribunal, poucos anos depois, a culpa não deixou de tombar para o maquinista João Farinha, entretanto falecido. Sobreviveu ao acidente bem como o colega que estava com ele na cabine. A empresa também ficou com a culpa, mas com repercussões menores. Contudo, e sempre que havia catástrofes que implicassem acidentes de comboio, “a CP e a Refer tinham como princípio inacreditável atribuir esses casos a falha humana”, para disfarçar “o enorme défice de investimento nas linhas (completamente sobrecarregadas

P

de tráfego) e na segurança”. “Felizmente, hoje estamos num patamar completamente diferente. Uma falha de sinalização como aconteceu naquele dia, (em que o penúltimo sinal antes de chegar à estação se apresentava verde quando devia estar laranja, e o último já estava vermelho), não originava automaticamente um acidente, atualmente, porque há meios complementares que ajudam à ação do maquinista quando se dá uma contradição no sinal”, atesta António Medeiros. O comando automático da velocidade hoje é uma realidade nas linhas e tornou os acidentes quase inexistentes. Na altura, o freio a vácuo era o instrumento que se usava e provava ser mais ineficaz. “Os maquinistas tinham de usar a intuição para evitarem os acidentes”. No caso de João Farinha, “sofreu na pele todas as repercussões possíveis”. “Foi punido, e despedido”. O Tribunal decretou-lhe pena suspensa, nos anos 90, tendo em conta que o processo arrastou-se durante muito tempo”. “O sindicato deu-lhe algum apoio. Ficou para sempre afetado pelo acidente, desde a sua vida profissional até

pessoal, devido à tragédia em si, mas também tendo em conta a atuação da CP”. Com o evoluir dos anos, “aumentou-se muito o investimento na segurança e nas comunicações com um canal sempre aberto para com o maquinista. O comboio consegue parar em qualquer situação de perigo iminente”, reporta para se referir à realidade atual. Mas em 1986 tudo era diferente, o próprio ministro dos Transportes do então primeiro-ministro Cavaco Silva, Oliveira Martins, mostrou-se segundo a imprensa nacional, à época, a sua impaciência pela falta de investimento da CP, exortando a empresa a passar à prática o que já tinha sido alvo de estudos. Um jornal à época do acidente da Póvoa, falava em mais de 200 mortos nas linhas férreas só entre 1981 e 1986 resultantes de descarrilamentos, choques com automóveis, e embates entre composições. Os pais de Rui Benavente e de Maria de Lurdes, o jovem casal de Alhandra que morreu no acidente, recebeu a dada altura um pedido de desculpa por parte do sindicato que nunca foi aceite. “Disse que era impossível perdoar uma coisa daquelas, e pedi para que acabassem de imediato com a conversa”, recorda José Benavente, que se revelou taxativo no seu diálogo com os maquinistas. Joaquim Dias, pai de Lurdes, recorda que no final do caso, a CP “deu indemnizações de 75 euros (quinze contos) passados dois anos”. (O salário mínimo em 1986 rondava os 112 euros por mês). “No meu caso, como a minha filha já não tinha mãe quiseram dar-me 13 euros”. Quanto ao pedido de desculpas dos maquinistas, também não compreendeu – “O mal já estava feito, não liguei importância ao facto”. Ofélia Janeiro refere que preferiu não entrar com processo em tribunal. “A imputação de culpas ao maquinista do rápido, que segundo constou na altura, trazia mais horas de condução do que as aconselhadas, deixou-me um sen-

timento de injustiça que me levou a não aceitar a conclusão de erro humano nas causas do acidente. O facto de não ter ficado muito ferida ajudou a essa decisão. Mas compreendo quem levou o processo até ao fim: pessoas com a vida destruída, amputados, viúvos, pais que perderam os filhos.” O Valor Local pediu declarações à CP sobre este acidente. Fonte oficial da empresa refere que “o acidente da Póvoa foi um acontecimento lamentável que marcou todo o setor ferroviário, pelas suas consequências e perda de vidas humanas.” Quanto ao assacar de responsabilidades e

ao facto de a empresa, alegadamente, ter tido como política imputar as culpas a falha humana, a CP defende-se: “Ao longo da história ferroviária, quaisquer acidentes e/ou incidentes, são alvo de estudo detalhado que visa, para além do apuramento das suas causas, a adoção de medidas de prevenção e correção das falhas detetadas, para impedir que estas situações se repitam. No caso deste acidente, também se aplicou esta abordagem sendo que, à época, estava já em avançado estado de evolução um sistema (denominado CONVEL), que representou um enorme incremento da

segurança da circulação ferroviária. Este sistema ainda hoje está operacional e constitui um importante componente do leque alargado de sistemas de sinalização e comunicação que, a bordo dos comboios ou ao longo da infraestrutura ferroviária, asseguram a segurança da circulação.” Nota de Redação: O Valor Local agradece a todos os que de alguma forma contribuíram para a produção desta reportagem com informação documental, e contactos sem os quais esta reportagem não seria possível dado o vasto horizonte temporal do acontecimento da Póvoa.


Opinião

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Valor Local

Intervenção Psicológica em Situação de Catástrofe acidente de comboios na Póvoa de Santa Iria, no dia 5 de Maio de 1986, foi um evento súbito, imprevisível e potencialmente gerador de trauma para todos os envolvidos. Este trágico acontecimento provocou em muitos dos envolvidos (vítimas, familiares das vítimas e equipas de socorro, entre outros), episódios de Stress e em certos casos uma evolução para Perturbação Pós-Traumática de Stress (PTSD). Era imperativo que tivessem sido providenciadas respostas adequadas a este tipo de evento, uma “Intervenção Psicológica em Situação na Crise”. Todavia, à data deste acontecimento não existiam mecanismos próprios para que tal sucedesse. Na altura, de uma forma estruturada existia ape-

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nas, desde 1978, o Centro SOS – Voz Amiga (primeiro telefone de ajuda em Portugal), um serviço de resposta à crise e à prevenção do suicídio. A Intervenção Psicológica na crise tem como principal objectivo intervir o mais precocemente possível numa situação de crise psicológica motivada por uma situação de exposição a situações stressoras. Esta crise psicológica é definida como um período de desequilíbrio psicológico que surge como resultado da vivência de um evento exigente (como a que motiva este artigo), em que os mecanismos normais de “adaptação” (coping) não têm êxito, resultando na diminuição de funcionamento adaptativo desencadeando um padrão inicial de reac-

ções emocionais, cognitivas, físicas e comportamentais que podem evoluir para psicopatologia, conhecido como Reacção Aguda de Stress. Um dos possíveis modelos a seguir nos Primeiros Socorros Psicológicos é o modelo de intervenção Curbside Manner (2012) que passa por: Proteger - Promover a sensação de segurança. Tranquilizar - Ajudar a acalmar, confortar e orientar. Conectar - Conectar à família, amigos e outras fontes de suporte. Competência - Ajudar a melhorar a capacidade de satisfação das suas necessidades promovendo o acesso a recursos. Confiança - Ajudar a recuperar um sentido de esperança e con-

fiança no próprio e no futuro. A ser hoje este trágico acidente, a história seria diferente, visto que já existem mecanismos próprios para lidar com situações de crise e/ou catástrofe, no que concerne à intervenção psicológica. Uma das iniciativas, neste âmbito, mais recente e de maior relevo surge por parte da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) que pretende disponibilizar, em cenário de catástrofe, uma bolsa de psicólogos às autoridades nacionais de resposta à emergência. Para tal, procedeu à assinatura de um protocolo de colaboração com a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). Para este efeito criou o programa “1.000 Psicólogos para situações de Catás-

trofe”, abrindo a possibilidade dos psicólogos portugueses poderem usufruir de uma formação especializada que dará as ferramentas necessárias para intervir em situação de catástrofe. Actualmente, como eu, já existem outros 661 psicólogos formados e preparados para agir e intervir em cenários de crise e/ou de catástrofe, como foi o caso do acidente de ferroviário de 1986. Para além desta iniciativa existe, também, o Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) que foi criado pelo INEM em 2004 para atender às necessidades psicossociais da população e dos profissionais. É formado por uma equipa de psicólogos afectos às

Pedro Félix* delegações Regionais do INEM, que asseguram a resposta a situações de Emergência, nas quais haja necessidade de intervenção psicológica, havendo intervenção dos psicólogos no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e na intervenção em emergência no terreno, com a Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência(UMIPE). * Psicólogo

A Europa e os Consumidores ados incontroversos de uma europa que por vezes, não é modelo, apesar da “propaganda” veiculada... I A política dos consumidores: Um contributo essencial para a estratégia «EUROPA 2020»

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“As despesas de consumo representam 56 % do PIB da UE, sendo essenciais para a consecução dos objectivos da estratégia «Europa 2020», a saber, um crescimento inteligente, inclusivo e sustentável. O incentivo da procura pode desempenhar um papel fundamental para a saída da UE da crise que perdura. Para que tal seja possível, há que concretizar o potencial do mercado único. Os dados disponíveis revelam que, para os consumidores que compram em linha na UE, a escolha dos produtos à sua disposição é 16 vezes superior, mas 60 % dos consumidores não utilizam ainda este canal de venda a retalho. Esta relutância impede-os de beneficiar plenamente da variedade de escolha e das diferenças de preços no mercado úni-

co. Melhorar a confiança dos consumidores nas compras além-fronteiras em linha através da adopção de medidas políticas adequadas pode constituir uma importante incentivo para o crescimento económico da Europa. Consumidores confiantes e no pleno uso dos seus direitos podem dinamizar a economia europeia.” II Excesso de informação = déficit de informação? O inquérito sobre a capacitação dos consumidores, publicado em 2011, revela que • 1 (um) em 4 (quatro) consumidores europeus afirma sentir falta de confiança e • cerca de 2 (dois) [rectius, mais do que 1 (um)] em 3 (três) consideram-se mal informados; • apenas 2 % poderiam responder correctamente a perguntas sobre os seus direitos de [arrependimento ou desistência nos contratos que o prevêem], as garantias e a protecção de que dispõem contra as práticas comerciais desleais. A notória carência de informação de banda dos consumidores

prejudica a sua capacidade de defender os direitos que os textos na União Europeia e nos Estados-membros lhes reconhecem. III Direitos que, na prática, não são plenamente respeitados Nos começos da década de 2010, • cerca de 2 (dois) em 5 (cinco) cidadãos europeus tiveram problemas com um produto ou serviço, o que justificaria de todo a apresentação de queixa. O total dos prejuízos sofridos pelos consumidores europeus ascendeu a cerca de 0,5 % do PIB da UE. Apesar de um nível de protecção dos consumidores globalmente elevado garantido pela legislação da UE, os problemas com que se confrontam os consumidores ficam muitas vezes por resolver: Em 2011, EUROBARÓMETRO registava: • apenas 26 % dos retalhistas (comerciantes) conhecem o prazo exacto de devolução pelo consumidor de um “produto defeituoso”. • muitos dos litígios de consumo

ficam por resolver pelo simples facto de o consumidor não tomar qualquer iniciativa. O inquérito sobre capacitação demonstra ainda que dos consumidores afectados por problemas: • apenas 16 % recorreram a associações de consumidores ou a entidades públicas para a sua resolução (na maior parte dos casos, os consumidores nem sequer equacionam a hipótese de recorrer às vias judiciais se infrutífero se mostrar o contacto inicial com o estabelecimento, em especial se os montantes em causa forem de reduzido valor). IV Restituir ao consumidor direitos que lhe foram vergonhosamente subtraídos em Portugal A LDC – Lei de Defesa do Consumidor -, dentre os direitos reconhecidos aos consumidores, estabelece na alínea g) do seu artigo 3.º – no particular do acesso aos tribunais – que “o consumidor tem direito à protecção jurídica e a uma justiça acessível e pronta”. E, ao concretizar, no artigo 14, o

preceito, aí se definiu, ao tempo: “a) o direito à isenção de preparos (taxa de justiça inicial) nos processos cujo valor seja igual ou inferior a 5 000€; b) o direito à isenção de custas em caso de procedência parcial da respectiva acção.” José Sócrates, em 2008, a 26 de Fevereiro (há já 8 anos…), pelo Decreto que fez baixar o Regulamento das Custas Judiciais, revogou tais dispositivos, “roubando” assim aos consumidores um direito, que era próprio, e que dificultou deveras desde então a vida aos consumidores ávidos de justiça. Os consumidores, a partir desse momento, ao moverem acções ou a serem demandados nos tribunais judiciais, obrigam-se ao pagamento de taxas de justiça, em geral incomportáveis. E incomportáveis como forma de dificultar exactamente o acesso às vias de resolução dos litígios. A justiça acessível desapareceu. Agora até nos tribunais arbitrais de conflitos de consumo, mercê das dificuldades experimentadas, se paga, em geral, os serviços ali prestados, aliás, com excepções muito contadas...

Mário Frota* Sucessivas diligências nossas de molde a repristinar na íntegra o artigo respectivo, ao longo das legislaturas anteriores, foram fadadas ao insucesso. Portugal parece não ter intuído ainda a instante necessidade de conferir à política de consumidores foros de cidade. E os poderes instituídos tratam, em geral, com soberano desprezo os consumidores. Na Europa nem tudo são rosas, como se viu. Entre nós, é tempo, é hora de tudo se alterar! Para que os direitos sejam repostos! E a dignidade restituída os consumidores! * Presidente da apDC – associação portuguesa de Direito do Consumo


Valor Local

Acisma

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Segurança das Máquinas fabrico de máquinas representa um elemento central de uma das maiores e mais competitivas indústrias a nível da Europa. A minimização do risco de acidentes associados à utilização de máquinas é um elemento essencial da política da União Europeia. A presença da marcação «CE» numa máquina é a garantia de que esta cumpre os requisitos harmonizados de segurança que permitem que a mesma seja comercializada em qualquer local do Espaço Económico Europeu. Com vista à proteção do mercado interno, foi publicada a Diretiva 2006/42/CE, relativa às máquinas que se destina a harmonizar as regras sobre a sua comercialização, garantindo simultaneamente o mais elevado nível de segurança para os consumidores e os trabalhadores, a qual foi transposta para a ordem jurídica interna pelo Decreto-Lei n.º 103/2008, de 24 de junho. Esta legislação abrange máquinas, equipamento intermutável, componentes de segurança, acessórios de elevação, correntes, cabos e correias, dispositivos de transmissão mecânica amovíveis, quase máquinas, incluindo ainda detalhes sob os requisitos de higiene e segurança essenciais para os produtos abrangidos.

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Em 2011, foram introduzidos novos requisitos para as máquinas para aplicação de pesticidas, as quais devem ser concebidas e fabricadas de forma a minimizar a dispersão involuntária de pesticidas no ambiente. Em termos de requisitos legais, as máquinas excluídas das 23 categorias listadas no anexo IV da legislação, o fabricante deve proceder a verificações internas relativas

ao fabrico da máquina. Se um produto está abrangido por uma dessas 23 categorias, o fabricante apenas tem a opção de proceder a verificações internas do produto se tiver aplicado integralmente as normas harmonizadas que abrangem todos os requisitos de higiene e segurança relevantes. Se não for esse o caso, a conformidade do produto tem de ser avaliada quer através do Exame CE

de tipo em conjunto com o controlo interno de fabrico ou do procedimento de garantia da qualidade total. Estes procedimentos requerem o envolvimento de Organismos Notificados. Uma vez concluída a avaliação da conformidade, o fabricante deve apor a marcação «CE» no produto, de forma visível, legível e indelével, em conformidade com as instruções específicas delineadas

na própria legislação. O fabricante deve igualmente redigir a declaração CE de conformidade e garantir que esta acompanha a máquina. Atenta a esta matéria, a ASAE tem participado em ações de fiscalização do mercado promovidas a nível da União Europeia, para assegurar uma cooperação e uma troca de informação eficientes entre as respetivas autoridades de fiscalização do mercado e entre estas e a Comissão concretamente em produtos que apresentem um risco para os consumidores e para os utilizadores quando se tratam de máquinas de uso industrial. Dessas ações de cooperação destaca-se a “Joint action market surveillance on lawnmovers”, que se realizou em 2013 e 2014 e, encontra-se presentemente a participar no “Project Product Activity Power Tools”, designadamente em rebarbadoras. Nestas ações promovidas pelo PROSAFE e apoiadas pela Comissão Europeia, torna-se necessário proceder à colheita de máquinas, para serem submetidas a ensaio laboratorial com vista a verificar o cumprimento dos requisitos essenciais de segurança tanto de natureza mecânica como elétrica, tendo em vista a defesa dos utilizadores e a prevenção de acidentes de modo a não comprome-

terem a saúde e a segurança das pessoas e eventualmente dos animais domésticos ou dos bens. A justificação para a ASAE participar atualmente na ação relativa às rebarbadoras prende-se com o facto, deste existir diversas lesões resultantes do uso de rebarbadoras, nomeadamente na cabeça e no rosto dos utilizadores. Normalmente, o motivo da ocorrência destes acidentes está ligado à velocidade do disco que não respeita os limites de segurança, causando assim lesões que podem desfigurar o utilizador de forma permanente ou tornar-se até mesmo fatal. Uma vez que a segurança dos consumidores ou dos utilizadores depende, em grande parte de uma fiscalização do mercado ativa, do cumprimento das disposições de harmonização da União em matéria de segurança dos produtos, a ASAE entende que com este tipo de participações ficam garantidas as regras e as estratégias sistemáticas que permitem assegurar a eficácia da fiscalização do mercado e outras medidas de fiscalização, assegurando a sua transparência face ao público e às partes interessadas. (Fonte: ASAEnews nº 95 - março 2016)


Cultura

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Valor Local

Acelerado estado de degradação da Casa João Moreira

Objetivo seria o de fazer desta uma casa museu Casa João Moreira, em Vila Nova de São Pedro, Azambuja, continua a degradar-se a olhos vistos. O interior apresenta-se decrépito, e o projeto para a sua recuperação conforme é intenção da autarquia teima em permanecer na gaveta. Luís de Sousa, ao Valor Local, refere que a Câmara vai intervir para já a nível da recuperação do telhado, orçada em 40 mil euros. Quanto à restante qualificação para além do telhado, o presidente da Câmara não consegue para já adiantar uma data no calendário, “pois trata-se de uma recupe-

A

ração avultada”. “O anterior presidente da Câmara já tinha feito uma candidatura, que morreu, face aos custos”. Contudo, a Câmara refere que mantem a palavra com o filho de João Moreira no sentido de que a recuperação da casa poderá ser possível. “Na distribuição de saldos em abril, vamos afetar essa verba para a recuperação do telhado”. O Padre João Moreira que faleceu em 1963, permanece na memória de muitos habitantes como um cidadão benemérito da aldeia de Vila Nova de São Pedro. A casa onde residiu e que possui o

seu busto à entrada aguarda por uma intervenção. O objetivo é tornar também o seu espólio visitável. O padre teve um filho, João Moreira, hoje com 90 anos, que se tem destacado nas áreas da etnografia e do folclore. Recuperação do Castro Ainda em Vila Nova de São Pedro, continua sem fim à vista para já a possibilidade de fazer uma revitalização do importante património arqueológico do Castro. Luís de Sousa confessa que já se reuniu com um dos proprietá-

Apenas o telhado vai sofrer obras para já rios, sendo que sentiu uma nova abertura. Recorde-se que este longo processo já dura há mais de uma década, e os proprietários do terreno sempre se mostraram pouco sensíveis quanto à alienação do espaço onde se encontra o Castro, atualmente, invadido por vegetação, e quase impercetível para quem por ali passa no lugar de Torre de Penalva. “Falei com o proprietário que ficou maravilhado com o projeto que contempla a limpeza, a sinalética, e protocolo com associação dos arqueólogos”. No passa-

do, “sei que não se conseguiu chegar a acordo para venda dos terrenos, mas agora há disponibilidade”, salienta o autarca. Quanto ao valor que a Câmara terá de pagar aos proprietários, Luís de Sousa considera que “ainda não se falou no assunto”. Contudo o município no passado mostrou abertura para dar esse passo, e face à possibilidade de a recuperação do Castro poder ficar comprometida devido à dificuldade dos proprietários em decidir, “porque não queriam vender apenas uma parte” chegou-se a falar em recorrer às vias judiciais.

Cartoon Xira quer trazer mais público da região de Lisboa celeiro da Patriarcal de Vila Franca de Xira recebe até dia 8 de maio, mais uma edição da exposição “Cartoon Xira”. Esta é a décima sétima edição de um certame que já atingiu a internacionalização, e desde a primeira hora organizado pelo cartunista vilafranquense, António Antunes, que colocou o acento tónico na captação do público da Grande Lisboa para o mesmo, dado que fazer deste um evento nacional ainda se afigura como difícil. António apelou à comunicação social para a divulgação do certame vincando que “o cartoon em Portugal, como em França, está em crise, devido às quebras nas vendas de jornais”. E por isso o trabalho dos cartunistas costuma ser o primeiro dos custos a cortar pelas direções dos jornais – “Normalmente somos o parceiro pobre que é primeiramente atingido” salientou o responsável, que

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enalteceu, também no seu discurso, a qualidade dos artistas e das obras expostas. Nesta 17.ª edição, estão expostos os melhores cartoons do ano 2015 da autoria de Bandeira, Brito, Carrilho, Cid, Cristina, Gonçalves, Maia, Monteiro, Rodrigo e dos vilafranquenses António Antunes e Vasco Gargalo. Este último salientou ao Valor Local que o ano de 2015 foi bom para os cartunistas. Para o artista, o ano foi recheado de muitos momentos importantes ao nível nacional e internacional, com “muita produção”, nomeadamente, devido aos dois atentados em França. Nesta exposição, são abordados temas como os governos de Pedro Passos Coelho, e de António Costa, as Legislativas, as Presidenciais, a Grécia ou a União Europeia. Pelo lado internacional, a Cartoon Xira recebe pela primeira vez uma mulher, a cartunista bel-

ga Cécile Bertrand, com a mostra intitulada “25 anos de desenhos, 1990 – 2015.” A mostra da belga acentuadamente satírica enfatiza o papel da mulher na sociedade, os acontecimentos políticos mundiais, e sobretudo também a ameaça islâmico e os atentados. Alberto Mesquita presidente do município, salientou a importância deste evento, vincando o esforço de António e a qualidade da mostra. Ao Valor Local, o autarca referiu também o esforço financeiro para levar a cabo este certame, até porque os recursos não são infinitos, mas vincou que o município “continuará a fazer um esforço para manter esta mostra.” Questionado pelo Valor Local sobre quem escolheria para uma caricatura sua, o presidente da Câmara mostrou-se dividido entre os talentos de António e de Vasco Gargalo, os dois artistas do concelho.

António deu a conhecer as novidades

De lá para cá, o assunto tem ficado esquecido, apenas dado a conhecer pela comunidade científica que se mostra muito preocupada face ao estado de coisas, como aconteceu em entrevista ao Valor Local, na edição de janeiro, através de uma entrevista à antropóloga Maria Ribeiro que destacou a urgência na sua recuperação. O Castro de Vila Nova de São Pedro constitui-se como uma das principais descobertas arqueológicas do género tendo em conta que os vestígios da sua edificação referem-se a 2600 anos A.C até 1300 A.C.


Valor Local

Cultura

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A nova vida de Manuel Jorge de Oliveira ¢

Nuno Filipe igura de proa do toureio a cavalo, Manuel Jorge de Oliveira, cavaleiro azambujense, com 57 anos, está prestes a comemorar os 40 anos de alternativa. Recentemente foi premiado com o Troféu Excelência/Valor Local dos prémios GDA, e nesse âmbito o Valor Local deslocou-se à Quinta do Açude no Cartaxo para uma conversa sobre o passado, presente e futuro. Manuel Jorge recebeu o Valor Local no seu picadeiro, e foi com os poldros que pastam livremente nos terrenos da quinta, como pano de fundo, que iniciámos a nossa conversa. Manuel Jorge recuou aos seus tempos de menino quando acompanhava o pai a corridas e o bichinho ia nascendo. Ao mesmo tempo vivia na Sociedade Agrícola Ortigão Costa, e aquele mundo de toiros e cavalos, era um chamamento. Tinha seis ou sete anos e às escondidas já montava um burro (depois passou para um cavalo) e usava um cão que por lá andava (o Almonda, que diz ele mordia as patas ao cavalo) como toiro, até que um dia o Manuel “Gago” vai ter com o seu pai e convida o jovem Manuel Jorge para ir fazer um festival para os Bombeiros, na célebre “Monumental Caixote”.

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O pai de Manuel Jorge, Joaquim Oliveira, não acreditou no que Manuel “Gago” lhe dizia. Afinal nem sabia que o filho tinha jeito para os toiros, mas um dia à socapa lá assistiu a uma dessas brincadeiras com o cão e viu que o rapaz até tinha talento. Manuel Jorge não se livrou, contudo, de um ralhete, mas começou aí aos 10 anos, uma carreira que o iria guindar a primeira figura do toureio. No entanto, conta Manuel Jorge à nossa reportagem, que teve uma juventude normal: com a escola, e a prática de desporto, até final da adolescência, altura em que os cavalos e os toiros começaram a falar mais alto. Aos 18 anos era já o cavaleiro amador que mais corridas realizava em Portugal, quando foi tirar a alternativa, que era para ser dada por José Mestre Batista, mas que acabou por ser dada por José João Zoio, (diz-se que por problemas físicos do primeiro). Nessa altura, já corria todo o país na companhia de nomes como Brito Pais ou João Moura a cavalo, e Carlos Pimentel ou Nino de La Capea no toureio apeado. Manuel Jorge é também um grande apreciador do toureio a pé e isso levou-o (diz ele, para mostrar que o toureio é só um) em 1988,

a fazer em Azambuja uma corrida, onde lidou quatro toiros a cavalo, e dois a pé. No seu percurso há também a curiosidade de ter gravado um álbum de fados com o nome “O meu cavalo Alazão”. “Sempre se falou muito na mistura de toiros e fados nos 80,

e por isso decidi experimentar”; conta. Em 2013, retirou-se e não pensa voltar às arenas. Poderá dar a alternativa a Parreirita Cigano ou ao seu filho, “mas mais do que isso não”, pois agora a sua vida “é outra”. Diz-nos que devido aos

elevados custos envolventes, o toureio é algo bastante caro e hoje em dia dedica-se à equitação. Tem vários picadeiros espalhados pela Europa, com base na Alemanha, em Munique, mas também na Áustria, França, Suíça, Inglaterra e Suécia. Quando

A equitação é agora a sua principal atividade

lhe perguntamos se a Tauromaquia é uma arte ou um desporto, diz-nos que é uma arte, “porque não há árbitros, ninguém julga o certo e o errado, é uma coisa que vai ao gosto e coração das pessoas, cada um decide do que gosta”.


Economia

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Valor Local

Construaza e Sem Ir na vanguarda

Empresas de Azambuja buscam conhecimento no Dubai uas empresas de Azambuja viajaram para a cidade do Dubai nos Emirados Árabes Unidos no último mês. A Construaza e a Sem Ir aproveitaram para conhecer uma realidade em constante evolução. Ir em busca de novas tecnologias e novos materiais foi o objetivo dos dois parceiros do concelho de Azambuja que procuraram saber um pouco mais do know how (conhecimento) que aquele país do Médio Oriente tem para oferecer. Segundo José Eduardo Pereira, a deslocação surge na senda da aposta da empresa Sem Ir “num conjunto de soluções inovadoras no domínio das energias renováveis, com aplicação em novos projetos de edifícios, lares residenciais, misericórdias, piscinas, entre outros contribuindo para a sustentabilidade destes projetos”. O responsável pela empresa destaca que o seu plano estratégico prevê que até 2020 a Sem Ir possa estar no top 10 nacional destas tecnologias. “Vamos a qualquer parte do mundo buscar o conhecimento” sendo que “a Construaza como parceiro da evolução e inovação, acompanhou- nos nesta procura do saber”. “Como as nossas universidades estão ainda em processo de estudo, queremos procurar os melhores exemplos lá fora”, refere. José Eduardo Pereira vinca que

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existe uma nova centralidade “e neste aspeto os Emirados Árabes Unidos constituem-se como uma referência” lembrando que “ Dubai-e Abu Dhabi estão deste 1995 a usar as técnicas mais inovadoras do mundo da investigação”. Portugal, na sua escala, “está a ir muito bem também, e em breve utilizaremos algumas dessas técnicas inovadoras em próximos projetos desafiantes, em que nos consultem”. No que se refere à Construaza, o engenheiro civil Guilherme Monteiro, diz que a ida ao Dubai representou “um importante acréscimo de conhecimento em termos de soluções construtivas”, tendo em conta as diversas áreas de ação da empresa no âmbito industrial, residencial e nas IPSS’s. As empresas visitaram aquela que é considerada a “Primeira Smart City (Cidade Inteligente) em construção – a denominada cidade Carbono Zero”. Segundo Guilherme Monteiro “na atual conjuntura económica, existe cada vez mais a preocupação da redução de custos energéticos de forma a obter custos de exploração menores” vincando que na sua opinião “as dificuldades económicas do país podem funcionar como uma oportunidade, e serem o principal catalisador para o desenvolvimento tecnológico nomeadamente em termos de soluções construtivas e de exploração eficientes”.

Todavia a Construaza já aposta em algumas técnicas inovadoras, como é o caso da “implementação do sistema capoto, colocação de caixilhos em PVC com corte térmico, conceção de sistemas solares térmicos para aquecimento de água e de piso

radiante e a instalação de sistemas fotovoltaicos (estes últimos dois em parceria com a SEM IR)”. O que tem vindo a contribuir para “uma grande melhoria na sustentabilidade dos nossos edifícios, aproximando assim Portugal dos conceitos da cida-

de do Dubai”. Quanto às comparações entre o Dubai e Portugal, Guilherme Monteiro lembra que aquela cidade é caracterizada pelos abundantes arranha-céus e pela utilização de materiais bastante dispendiosos nas mais diversas

zonas dos edifícios. “A nosso ver, infelizmente, Portugal ainda está muito longe desse panorama construtivo. Portugal deve sim procurar cada vez mais sustentabilidade nos seus edifícios com a implementação de soluções construtivas inovadoras.”

A comitiva azambujense no Dubai

Câmara de Arruda coloca exigências à Sonae Sonae vai construir em Arruda dos Vinhos um parque de estacionamento e uma ciclovia. As obras fazem parte de um protocolo assinado com o muni-

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cípio tendo em conta a edificação de mais um supermercado da marca que está em fase de construção nas proximidades do terminal rodoviário. O Continente Bom Dia que fica-

rá na Avenida Engenheiro Adriano Brito da Conceição, prevê cerca de 40 postos de trabalho, sendo que neste protocolo a preferência deverá ser dada aos habitantes do concelho.

As obras já protocoladas com a Sonae visam facilitar a tomada e largada de passageiros para o Externato João Alberto Faria, sendo que a ciclovia vai ligar a Avenida Engenheiro Adriano

Brito da Conceição e o futuro estabelecimento comercial ao referido estacionamento. Nos 40 postos de trabalho a criar, a Sonae deverá também dar preferência de contratação

a residentes no Concelho e desenvolver esforços no sentido de possibilitar a introdução, no seu circuito comercial, de produtos da região oriundos do tecido empresarial local.


Valor Local

Desporto

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Ginastas do GDA trazem 12 medalhas para casa ¢

Nuno Filipe oze medalhas, foi o número alcançado pelas ginastas do Grupo Desportivo de Azambuja, após participação no Torneio José António Marques, prova que abre a época a nível nacional, e que decorreu em Loures, no Pavilhão Paz e Amizade nos dias 20 e 21 de fevereiro. As atletas da divisão base, onde se insere o GDA, competiram no domingo e alcançaram resultados “bastante meritórios”, de acordo com a direção do clube

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ao Valor Local. Assim no escalão juvenil, Carolina Ferreira subiu ao pódio, com um terceiro lugar na trave, enquanto no escalão júnior, Lara Cintra obteve o primeiro lugar na geral individual, assim como na trave e solo tendo obtido o segundo posto nas paralelas assimétricas. O segundo posto foi também alcançado por Vitória Oliveira na trave e por Joana Santos nas paralelas assimétricas e solo, ao mesmo tempo que se quedou pelo ter-

ceiro lugar do concurso individual. No escalão sénior, mais um primeiro lugar individual, desta vez por Beatriz Boligo, que também venceu nos saltos e na trave, sendo terceira nas paralelas assimétricas e quarta no solo Também realizaram a prova com sucesso, embora sem direito a pódio, as atletas Alice Gonçalves, Inês Moreira, Margarida Fidalgo, Beatriz Corêa, Matilde Nabeto, Madalena Alberto e Constança Fernandes.

O GDA soma sucesso na ginástica

Novos balneários no Campo dos Carvalhos Câmara Municipal de Salvaterra de Magos desenvolveu um projeto de arquitetura que pretende vir a candidatar a verbas da Federação Portuguesa de Futebol, a pedido da direção do Sport Clube Desportos da Glória, tendo em vista os novos balneários. De acordo com o presidente da Câmara, Hélder Esménio, no seu blogue, a solução desenvolvida

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Caminhada da Mulher em Samora Correia ais de 150 pessoas participaram na Caminhada da Mulher no domingo, 13 de março, em Samora Correia. O percurso de mais de 10 quilómetros promoveu o contacto com a natureza em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo na ligação entre o Monte de Pancas e a Herdade

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de Camarate quase no limite com Alcochete. Ao longo de duas horas e meia, os caminhantes, na maioria mulheres, desfrutaram de paisagens tipicamente ribatejanas com sobreiros, pinheiros entre uma variada vegetação onde pasta gado bravo e manso. Ao longo da ca-

minhada dezenas de espécies de aves deram um ar de sua graça numa manhã primaveril com o regresso dos calções e das t-shirts. A caminhada foi organizada pela Junta de Freguesia de Samora Correia e no final todas as mulheres receberam uma geribéria em jeito de homenagem.

pretende “corrigir uma versão anterior que deslocalizava os balneários em relação à linha central do campo de jogos”, “encavalitando-os quase em cima do bar”. Por se tratar de um investimento ainda avultado, que ultrapassará previsivelmente os 100 mil euros, houve a necessidade de se proceder à correção em causa. A direção do clube terá acedido às novas sugestões, que visam me-

lhorar o projeto. Na expetativa de que a Federação Portuguesa de Futebol possa vir a comparticipar a obra, o presidente da autarquia refere que assumiu perante os dirigentes do clube a intenção de propor à Câmara o financiamento de parte do investimento, “ajudando desta forma a viabilizar uma benfeitoria de que o Campo dos Carvalhos carece”.


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Instantâneos

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Tauromaquia Azambujense ¢

António Salema “El Salamanca”

Memórias (Recordar Etelvino Laureano) m dia depois desta edição do Valor Local lhe chegar às mãos (19 de Março), passam 68 anos da apresentação em Madrid, na Monumental de Las Ventas, de Etelvino Laureano. Estávamos em 1948, e o então novilheiro de créditos já firmados iria tomar parte de uma novilhada, onde seriam lidadas rezes de 500 quilos e rejeitada de tenta da ganadaria de Pablo Romero. Mas este dia acabou por correr mal a Etelvino. Ao dar um Natural Ajudado, sofreu uma forte cornada que o pôs, segundo se dizia na altura, às portas da morte. No entanto, com a fé na Virgem de Macarena, (aquela que os toureiros esperam sempre que os acompanhe), e com a intervenção do cirurgião Jimenez - tudo não passou de um forte susto e Etelvino ficaria restabelecido.

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Feira de Maio 2016 (O Bafejado) stá a chegar Maio, e Azambuja já se prepara para a sua feira. Maio é o mês da Cultura Tauromáquica, e na Galeria Municipal Maria Cristina Correia, vai estar patente uma exposição que evoca o célebre cavalo Bafejado, com ferro Ortigão Costa. Haverá ainda uma sessão evocativa, onde serão entregues réplicas do cavalo ao ganadero e a Manuel Jorge de Oliveira, que tantos êxitos alcançou com o célebre cavalo preto.

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Memórias II (Recordar Georgino Falcão – Parte 3) ontinuamos neste número a falar de Georgino Falcão, e hoje vamos contar como ele alterou para sempre as esperas de toiros na Feira de Maio de Azambuja. As esperas iniciaram-se na altura da presidência do Sr. José Barroso, mas tinham uma proteção muito rudimentar, pois usavam-se varolas de eucalipto. Assim, três anos depois, e já com o Eng. Pedro José Vidal como presidente da Câmara, o Georgino resolve ir falar com ele, e diz que seria melhor haver em Azambuja umas tranqueiras mais fortes, à semelhança de Vila Franca de Xira. O Eng. Pedro José, deu luz verde a esse projeto e o Georgino pôs logo mãos à obra, mas não o ia fazer sozinho, convidou o Quinteiro (outra figura bem conhecida de Azambuja) para o ajudar e lá foram para a Serra do Montejunto cortar pinheiros, que depois eram limpos e levados para as instalações da cadeia de Alcoentre onde eram tratados, ao mesmo tempo que a ferragem era feita numa oficina do Cercal. A montagem final, era executada nas oficinas da Câmara de Azambuja. Na inauguração das tranqueiras novas, na Feira de Maio, o Falcão era um homem feliz, e este tipo de tranqueira permanece até aos dias de hoje. (continua).

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Ficha técnica: Valor Local jornal de informação regional Administração: Quinta da Mina 2050273 Azambuja Redação: Travessa da Rainha, 6, Azambuja Telefones: 263 048 895 - 96 197 13 23 Correio eletrónico: valorlocal@valorlocal.pt; comercial@valorlocal.pt Site: www.valorlocal.pt Propriedade e editor: Associação Comércio e Indústria do Município de Azambuja (ACISMA); Quinta da Mina 2050-273 Azambuja. NIPC 502 648 724 Diretor: Miguel António Rodrigues CP 3351- miguelrodrigues@valorlocal.pt Colaboradores: Sílvia Agostinho CP-10171 silvia-agostinho@valorlocal.pt, Vera Galamba CP 6781, José Machado Pereira, Daniel Claro, Rui Alves Veloso, Augusto Moita, Nuno Filipe Vicente multimedia@valorlocal.pt, Laura Costa lauracosta@valorlocal.pt, António Salema “El Salamanca”Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida: paginacao@valorlocal.pt Fotografia: José Júlio Cachado Serviços administrativos: ACISMA N.º de Registo ERC: 126362 Depósito legal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga Tiragem média: 5000 exemplares

"Morreu o senhor Contente. Nicolau partiu no dia 14 de março. O pai das novelas passou também por Azambuja. Na antiga estação foram filmadas cenas da novela Cinzas, em 1992, onde Nicolau dava corpo à personagem Securas"

Retratos da nossa terra placa que anunciava a construção dos quartéis da GNR e da Cruz vermelha de Aveiras de Cima, esteve muitos anos a aguardar a construção. Entretanto foi substituída pela placa que indicava a requalificação da estrada. Não havia lugar para as duas?

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