Valor Local
Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 21 • 23 Janeiro 2015 • Preço 1 cêntimo Foto: www.batistas.pt
Opel e Ford... E depois do adeus! Págs. 9, 10, 11 e 12 Pág. 5
Palmeiras do palácio de Azambuja são para arrancar
Entrevista com presidente da Câmara de Alenquer Pedro Folgado Págs. 16 e 17 Ex-funcionário da EMIA queixa-se da Câmara de Azambuja Pág. 7
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Canhão Cársico da Ota: “uma pequena maravilha” ameaçada pelas pedreiras ma pequena maravilha a poucos quilómetros da capital do país, é assim que muitos estudiosos e não só se referem ao Canhão Cársico da Ota. O seu estudo e caracterização foi um dos projetos que saiu vencedor na primeira edição do Orçamento Participativo de Alenquer, ao qual foi atribuído uma verba de 45 mil euros. Um património que convive a pouca distância de pedreiras que são a principal ameaça ao perpetuar daquela “jóia do concelho de Alenquer”. “Trata-se de uma zona calcária do tempo jurássico escavada por um rio que conseguiu dar a aparência ao local de uma garganta funda, como se de um desfiladeiro se tratasse, ou de uma duna gigantesca mas em que os grãos de areia são pedras”, explica José Carlos Morais, biólogo, e proponente desta proposta, e continua – “O rio foi ‘abrindo’ grutas, cascalheiras, originando também pequenas nascentes, e no fundo esculpindo formas monumentais que podem ser apreciadas”. Povos do neolítico até aos árabes fixaram-se na zona, e há vestígios da sua passagem
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já musealizados. À forte componente natural junta-se a arqueológica e histórica aumentando assim o grau de riqueza do local. No entanto, o estudo das suas várias componentes desde a botânica, passando pela arqueológica, biológica, até à ecológica, geológica, e hidrológica, entre outras está por fazer, e José Carlos Morais vê neste incentivo dado pelo Orçamento Participativo um pontapé de saída para algo mais. Diversos planos regionais de ordenamento do território consagraram isso mesmo: a sua classificação e estudo. “Trata-se de uma área regionalmente importante e até em termos nacionais. Urge saber o que é necessário para preservar este local, que sofre com a laboração de várias pedreiras de grande dimensão situadas nas margens do canhão”. Apesar da importância do local, estranhamente não se encontra classificado pelos organismos competentes do Estado. “Não é admissível que nos últimos anos se tenha aprovado áreas de expansão para a continuidade da laboração das pedreiras, mesmo
A enorme cascalheira é dos pontos que mais impressiona os visitantes encostadas à zona do Canhão Cársico”. Possíveis fricções entre o desenvolvimento de uma atividade
económica e a exploração científica de um património importante ficam desde já subjacentes, mas José Carlos Morais não tem dúvidas: “Temos de perceber o que é mais importante. Já vi pararem barragens e pedreiras quando se acharam figuras rupestres e pegadas de dinossauros, mas não quer dizer que não se possa compatibilizar ambas as questões. O problema é que há pedreiras que estão a atirar resíduos para a margem do canhão e a estragar esse património”. De acordo com o Inventário de Geossítios de Relevância Nacional, em 2014, este património que é “o mais extenso e espetacular vale em canhão das regiões calcárias portuguesas”, numa escala de 0 a 400, está atualmente a enfrentar um risco de ameaça de 325. “O que temos aqui é também importante e pode ser um polo de desenvolvimento local, como os Olhos de Água em Alviela ou as Portas do Ródão, e não fica atrás desses sítios”. O portal da Geologia consagra isso mesmo, apesar de a população do concelho não estar a par deste património. “Em termos de paisagem Cársica, estudiosos referem-se a este local como um dos mais deslumbrantes da Península Ibérica, e pode ser visitada por escolas, por exemplo”. “Aqui no centro de Ota onde estamos, e onde nada se passa, poderia estar a chegar, neste momento, um ou dois autocarros com miúdos para virem visitar o canhão cársico e com isso darse vida a estes cafés e lojas. Isto
é um potencial de desenvolvimento”, exemplifica. O estudo do canhão cársico da Ota surgiu um pouco fora do contexto em relação a outros concorrentes no Orçamento Participativo, e José Carlos Morais considera que pelo seu carácter inovador “a Câmara reforçou a verba que inicialmente estaria disponível para o mesmo”. O projeto recebeu 235 votos da população, e foi o sétimo mais votado. Mesmo assim José Carlos Morais não sabe se os 45 mil euros serão suficientes. Mas será o ponto de partida para a realização de trabalho de campo com o envolvimento de estudiosos das várias áreas envolvidas. Os projetos do orçamento 2014 têm de estar concluídos no final de 2016, e José Carlos Morais não esconde a sua necessidade de urgência. “Não podemos falhar por exemplo a primavera de 2015, senão o trabalho da equipa de Botânica ficará à partida condicionado em um ano, e por aí adiante. Temos de jogar com
os ciclos da natureza. Não conseguimos caracterizar a água de verão, só para dar outro exemplo”. E não esconde que já gostaria de se ter reunido com os autarcas de Alenquer – “Estou a começar a ficar preocupado, de facto, porque este projeto tem de ser concretizado dia-a-dia”. José Carlos Morais diz que é preciso falar o quanto antes com os possíveis científicos e associações e institutos que se dedicam às áreas de estudo em causa. “Mas também quero incluir geólogos, arqueólogos e biólogos de Ota. Porque significa dar emprego a técnicos locais que terão um amor diferente por esta zona”. O projeto contempla para além da investigação e do trabalho de campo, a elaboração de relatórios sectoriais de caracterização, painéis de exposição, brochura de divulgação, a realização de um seminário, e posteriormente o projeto poderá contemplar a passagem a uma segunda fase com mais estudo e maior componente expositiva.
José Carlos Morais propôs o estudo
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Aniversário do GDA
Na Ginástica os atletas usam colchões encontrados no lixo o encerramento de mais uma Gala do Grupo Desportivo de Azambuja, o presidente do clube, Alexandre Grazina, aproveitou a ocasião para deitar mais umas achas para a fogueira conforme já começa a ser uma regra nestas alturas. O dirigente não esteve com meias palavras e disse mesmo que a falta de condições do clube para a prática de alguns desportos é tão preponderante, que, por vezes, chegam a aproveitar colchões que encontram ao pé dos contentores do lixo. “O Alex vai com a carrinha fazer uma ronda, e já tem acontecido ligarem-nos a dizer que se encontra um colchão ainda em bom estado ao pé da Socasa, por exemplo”. A necessidade de mais equipamento, estende-se também ao facto de o clube possuir tapetes para a prática de ginástica com mais de 30 anos. “Esses tapetes vieram para Azambuja depois do 25 de Abril quando se formou uma secção
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de judo. Não estamos a querer fazer um choradinho, mas esta é a triste realidade, e se com estas condições conseguimos com que os nossos atletas participem nas competições nacionais com resultados de relevo, pódios e títulos, teríamos ainda mais hipóteses se tivéssemos um mínimo de condições”, enfatizou, e ilustrou- “Quando vamos competir noutros locais e falamos dos colchões, as pessoas ficam de boca aberta face aos nossos resultados”. “Gostaríamos de ter o piso adequado para essa prática mas o mesmo tem um preço que não podemos suportar.” Até no que se refere aos aparelhos de ginástica, foi a prata da casa que se incumbiu do fabrico dos mesmos, desde as barras às paralelas, passando pelas traves baixas. “Os nossos técnicos dão largas à sua imaginação porque têm um dever de consciência muito grande do valor dos nossos atletas”, e exortou os autarcas presentes a aban-
donarem o pensamento de que o clube vive para pedir – “Ouvimos dizer que queremos tudo, que já ocupamos os espaços da EPAC, das piscinas, do estádio, do pavilhão, mas não temos casa, e precisamos de ser ajudados, e de facto a Câmara temnos ajudado. Mas merecemos mais respeito, não que não o tenhamos, mas a nível do que fazemos e do que ainda podemos fazer”. “Azambuja é conhecida pelos seus toureiros, pela sua pesca desportiva e hoje também pelo GDA que vai a qualquer ponto do país e também da Europa! Peço que nos ajudem e façam justiça, porque merecemos isso”. No entanto saudou o empenho e a ajuda de todos os envolvidos no clube desde os técnicos aos pais dos atletas que têm sabido remar contra a maré de dificuldades. “Sem eles seria impossível realizar este trabalho e existir há 65 anos”.
O dirigente lançou um grito de inconformismo
Novo parque infantil em Casais da Lagoa junta de freguesia de Aveiras de Baixo optou pela obra de um parque infantil em Casais da Lagoa, orçada à volta de quatro mil euros, no âmbito do Orçamento Participativo que levou a cabo em 2014. Outras duas propostas foram apresentadas, sendo que
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uma delas tinha um valor demasiado alto para as possibilidades da junta, pois compreendia a recuperação da envolvente ao polidesportivo das Virtudes, incluindo o piso e as vedações. “A obra do parque infantil será efetuada em conjunto com a Câ-
mara de Azambuja que nos vai enviar o seu orçamento para levarmos a cabo essa recuperação”, refere Carlos Valada, presidente da junta. Este parque situase junto à escola da localidade. A junta financiará metade do investimento (cerca de dois mil euros),
outros dois mil euros serão aplicados pela Câmara. “Vamos retirar os equipamentos que lá estão, para os colocar junto ao jardim do fontanário na mesma localidade. E assim conseguiremos recuperar dois parques quase com o dinheiro de apenas
um.” A população da freguesia foi informada através de edital de que estava a decorrer um orçamento participativo, e o autarca confessa que a mesma “ainda não está muito habituada” a estas solicitações. “Queremos que a popula-
ção e as coletividades participem mais na vida da junta, o baixo número de participações nesta iniciativa não nos desmotiva”. A junta de freguesia de Aveiras de Baixo vai levar a efeito, em 2015, novamente esta iniciativa, em princípio com uma verba superior.
objetivo, garantindo “que todo o executivo camarário dará com certeza um subsídio tendo em vista a obra”. O presidente da Câmara lembrou, no entanto, que o concelho de Azambuja ainda carece de vagas em lar, nomeadamente, no que toca a IPSS’s (Instituições Particulares de Solidariedade Social) com acordos com a Segurança So-
cial. Ainda no capítulo da assistência ao idoso, Luís de Sousa refere mesmo que está a ser levado a cabo um plano de pormenor numa quinta perto de Vale do Paraíso para a construção de um lar privado, onde está incluído um lar residencial, “mas será destinado a um público-alvo com outro poder económico”.
Câmara de Azambuja visita obras do lar de Vale do Paraíso Associação do Centro de Dia para a 3ª Idade de Nossa Senhora do Paraíso é a única IPSS que no concelho de Azambuja com obras de ampliação em curso. As obras destinam-se à construção de mais um piso, com o objetivo de dotar com a valência lar aquela instituição com sede em Vale do Paraíso. A obra foi visitada durante o mês
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de janeiro pelo presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa e pela oposição, nomeadamente, pelos elementos da Coligação pelo Futuro da Nossa Terra, e CDU que embora o tenham feito em horários diferentes, não deixaram de se congratular com mais esta valência e aposta no município de Azambuja. Em declarações ao Valor Local,
o presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa, enalteceu o trabalho e o dinamismo levado a cabo pelos responsáveis da associação. O presidente da Câmara destacou que não estava à espera de ver nascer no terraço da associação mais uma valência. O edil referiu que o aproveitamento do espaço foi “muito bem feito” ao mesmo tem-
po que destacou a necessidade da existência daquela valência não só em Vale do Paraíso como no restante concelho de Azambuja. Luís de Sousa não descartou a hipótese de a autarquia poder ajudar na obra em termos financeiros, todavia disse ser necessária a realização de algumas reuniões de trabalho com esse
Ficha técnica: Valor Local, Jornal de informação regional, sede de
redacção e administração: Quinta da Mina 2050-273 Azambuja; telefones: 263 047 625, 96 197 13 23 correio electrónico: valorlocal@gmail.com • Site: www.valorlocal.pt • Propriedade e Editor: Associação Comércio e Indústria do Município de Azambuja (ACISMA); Quinta da Mina 2050-273 Azambuja. NIPC 502 648 724 • correio electrónico: adm.valorlocal@gmail.com • Director: Miguel António Rodrigues CP 3351 miguelrodrigues@valorlocal.pt • Colaboradores: Sílvia Agostinho CO-1198 silvia.agostinho@valorlocal.pt, Vera Galamba CP 6781, José Machado Pereira, Daniel Claro, Rui Alves Veloso, Miguel Ouro, Nuno Filipe, Augusto Moita • Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida: paginacao@valorlocal.pt • Fotografia: José Júlio Cachado • Serviços Administrativos e Departamento Comercial:Ana Reis, telefones: 263 047 625, 93 244 63 22 correio electrónico: vendas.valorlocal@gmail.com • N.º de Registo ERC: 126362, Depósito legal: 359672/13 • Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga • Tiragem: 4000 exemplares
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Palmeiras do Palácio em Azambuja vão ser todas arrancadas cenário idílico da avenida das palmeiras em Azambuja deverá deixar de ser uma realidade. Em articulação com a administração central, a Câmara de Azambuja prevê proceder ao arranque de todas as palmeiras. A quase totalidade das árvores sucumbiu à praga do escaravelho vermelho. Os estragos são visíveis com algumas árvores totalmente despidas e com o que resta delas a permanecer no chão. Muitos troncos e folhas jazem agora sobre esta avenida, impedindo a normal passagem de pessoas e viaturas. O vereador Silvino Lúcio confessa que o cenário é de fato “desolador”, mas que apesar dos esforços efetuados junto do Governo, com a presença de técnicos no terreno, no sentido de uma solução, dado que aquele património é do Estado, foi impossível fazer mais, pois quando a praga atinge a palmeira torna-se um dado praticamente adquirido a morte e a contaminação das árvores. O autarca escla-
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rece também que o inicial aparecimento da praga mesmo que detetado a tempo não impediria a contaminação das restantes árvores, pois o seu poder de destruição é altamente letal, e daí o fato de terem restado também poucas árvores saudáveis a nível do país. No caso de Azambuja, no local em causa, estamos a fala de 104 árvores que vão ficar para a história. “Enfrentámos muitas dificuldades nos contatos com o ministério do Ambiente, perceber no fundo quem é que manda, a burocracia do costume. Possivelmente se estivéssemos a falar de uma árvore que não fosse apenas ornamental, mas com importância económica como a oliveira ou o eucalipto, teria havido outra atitude das entidades”, lamenta também. Silvo Lúcio refere que ainda se chegou a ter esperança num tratamento fitossanitário experimental que se fez em Cascais, mas depressa as expetativas das entidades ficaram goradas. “Não tenho conhecimento de
que algum tratamento tenha tido sucesso”. Pouco resta à Câmara a não ser a limpeza, queima e enterramento das árvores caídas, e proceder ao corte das que ainda se mantêm de pé. “Trata-se de um trabalho pesado que envolverá muitos meios. O município tem disponibilidade para alocar alguns meios, mas também temos de ter a ajuda das entidades governamentais, bem como apoio técnico”, refere o vice-presidente. Este cenário serviu muitas vezes para filmagens de telenovelas e filmes, até estrangeiros, com a sua paisagem a lembrar África ou outras paragens mais distantes. Agora a Câmara entende que o cenário das palmeiras deverá continuar, mas com a replantação de novas, (menos exóticas e tropicais) – as banais palmeiras de leque. Mas à partida mais resistentes a pragas como a do escaravelho. A morte já é certa, e em breve dei-
xará mesmo de existir por completo qualquer resquício de palmeiras. Neste sentido Silvino Lúcio aconselha a população a mentali-
zar-se para o que ai vem – “Não vale a pena os saudosismos, ficamos apenas com o registo das imagens de que um dia isto exis-
tiu.” Ainda vão decorrer muitos anos até que as novas palmeiras replantadas possam ser apreciadas.
Cenário desolador na extensa avenida
Câmara de Vila Franca pondera processar a Adubos de Portugal Câmara Municipal de Vila Franca de Xira pondera responsabilizar criminalmente a empresa que esteve na origem do
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surto de legionella no concelho, a Adubos de Portugal. A informação foi avançada pelo presidente da câmara, Alberto Mesquita, no âm-
bito da assinatura de um protocolo entre a Ordem dos Advogados e o município, para prestar apoio às vítimas daquele surto.
Assinatura do protocolo
Aos jornalistas, o presidente da câmara salientou que terá ainda de aguardar as conclusões do inquérito que está a ser levado a cabo pelo Ministério Público, para depois decidir por um eventual pedido de indeminização pelos danos causados ao município “para reparar a imagem que foi criada e que deve ser reparada”. Alberto Mesquita que falava em fortes prejuízos para a imagem daquele concelho, destacou também que aos poucos a vida vai voltando ao normal, embora o “fantasma da legionella ainda esteja presente”. Alberto Mesquita diz que o município alargou a campanha de gastronomia “para motivar as pessoas que habitualmente vinham cá às nossas festas e que se retraíram um pouco”. O presidente da Câmara destacou a necessidade de se minimizar os efeitos do surto, que foi muito sentido pela restauração, mas que agora e depois de várias iniciativas “já não se nota tanto e o barómetro é mesmo a restauração que teve
alguma quebra e o comércio em geral, mas nesta altura já se assiste a alguma retoma”. O surto de legionella que ocorreu em Novembro matou doze pessoas e afetou mais de 300 famílias. É para essas pessoas que o município vilafranquense quer também virar as atenções. Nesse sentido foi celebrado um protocolo com a delegação local da Ordem dos Advogados. O objetivo, segundo as partes envolvidas, é aconselhar e encaminhar as famílias que queiram colocar processos à empresas causadora do foco no município. Ao Valor Local, Alberto Mesquita destacou que essa primeira triagem e aconselhamentos serão gratuitos, mas depois “cada caso é um caso”. Paulo Rocha, presidente da delegação Ordem dos Advogados de Vila Franca de Xira, referiu que “o patrocínio em si e a propositura das ações já não serão abrangidos pela gratuitidade”. Paulo Rocha destacou a existência de bases jurídicas para a inter-
posição das ações, mas há que aguardar para “saber que prova vai recolher o Ministério Público para se perceber se se adere a essa queixa criminal, que até pode ser feita por todas as pessoas em conjunto, ou se pelo contrário não se aguarda pela recolha de prova e se se avança por uma ação civil tendo em conta os danos causados pele surto, quer ao nível pessoal ou profissional.” Este é um protocolo que vai vigorar durante três anos e é composto por uma bolsa de advogados do concelho de Vila Franca de Xira, que se candidataram a esta iniciativa. Sobre este assunto, o presidente da Câmara enalteceu a disponibilidade dos profissionais da justiça, vincando inclusive que se esteve perante um dos maiores surtos mundiais de legionella de sempre. A autarquia vai, agora, disponibilizar informação aos interessados, bem como um número de telefone para encaminhar as famílias para as diversas situações.
Centenário da aviação militar em Vila Nova da Rainha ila Nova da Rainha foi o berço da aviação militar portuguesa. Foi aqui que se instalou em 1914 a Escola de Aeronáutica. Antes Portugal tinha tido apenas alguns ensaios na pilotagem de pequenos aparelhos. Vila Nova da Rainha inauguraria assim uma primei-
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ra página da história da aviação portuguesa, e desde o ano passado que está a ser comemorado o primeiro centenário da aviação militar. O município de Azambuja apenas este ano se associa à efeméride, com algumas atividades, com destaque para a colocação
de uma aeronave numa das rotundas principais de Vila Nova da Rainha. O monumento terá um custo de 17 mil 500 euros. Ainda se ponderou a hipótese de o avião, doado pela Força Aérea, ser colocado sob um espelho de água mas dado o en-
carecimento dos custos, a ideia foi abandonada. A obra deverá estar pronta no ano que vem, e o concurso será lançado este ano. A obra será custeada pela Câmara e pela junta de freguesia. Terá lugar também uma exposição na galeria municipal. Poderá estar ainda em
cima da mesa, o arranjo de um dos antigos hangares. Em data ainda a definir, o presidente da junta de freguesia de Vila Nova da Rainha, Joaquim Marques, refere que estão previstas atuações da banda da força aérea, concertos, e descida pelas
ruas, bem como um almoço com as patentes. Luís de Sousa rejeita a ideia de que o município se associou à efeméride com um ano de atraso, e alega que a Força Aérea é que está a coordenar as comemorações.
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Bombeiros de Azambuja “respiram agora outros ares” comemorar 83 anos de vida e com 70 bombeiros no corpo ativo, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, preparase agora para novos desafios. Não que os desafios do passado tenham sido inteiramente superados, mas segundo o atual presidente, André Salema e o novo comandante, Armando Baptista, “têm sido dados passos seguros nesse sentido.” No âmbito destas comemorações que os bombeiros desejam como “caseiras”; ou seja envolvendo mais os bombeiros, e menos as entidades oficiais, o Valor Local quis tentar esclarecer algumas questões que têm sido alvo de vários pontos de interrogação. André Salema diz que a associação “respira agora outros ares” e por isso encara os novos desafios com “otimismo”. Ao Valor Local, André Salema e Armando Batista dizem que se assiste “a uma mudança na forma como os bombeiros atuam, diferente de há três anos atrás”. André Salema avança que se vai recandidatar às próximas eleições para dar continuidade ao trabalho feito até aqui, que passou também pela racionalização de custos. Os contratos com fornecedores foram cancelados ou renegociados. Os veículos ao serviço dos bombeiros foram otimizados e assim “conseguiu-se rentabilizar as receitas e despesas da associação.” Um dos exemplos, segundo André Salema, incidiu sobre o parque de viaturas. “Tínhamos carros que passavam mais tempo na oficina do que ao serviço dos soldados da paz. Foi feito um estudo que levou à poupança de quase cinco mil euros na manutenção dessas viaturas.” Uma poupança que – garante o comandante dos bombeiros – se veio a refletir na otimização do parque de viaturas, também através da aquisição de outros carros mais novos.
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André Salema destaca que todos “os gastos supérfluos que não estavam direcionados para a nossa atividade concreta, foram alienados, cortados”, na senda do que também começou a ser feito pela anterior direção, mas com algumas alterações. As fontes de receita também já não são o que eram, pois, (e a título de exemplo), os serviços de transporte de doentes, já vão sendo cada vez mais escassos. Armando Baptista que participa em conjunto com a direção em parte da gestão da casa, reforça que “a saúde não dá lucro”. As despesas são fixas, com os ordenados do pessoal ou com os gastos das viaturas, “mas a receita é variável e por isso torna-se difícil fazer um equilíbrio”. O comandante vinca que o facto de o hospital poder não pagar um serviço de transporte aos bombeiros, pode levar a um encargo extra do doente, ou por fim da própria associação. Chegado da Cruz Vermelha para substituir o anterior comandante, Pedro Cardoso, Armando Baptista diz que viu “esta missão como um desafio”. Com efeito Armando Baptista é assalariado da casa. No início, o ordenado do comandante foi alvo de polémica, dado que se falou em valores díspares em relação ao resto da corporação, mas nesta entrevista o mesmo referiu que acaba por pagar o seu próprio ordenado com “formações pagas por empresas enquanto comandante deste corpo de bombeiros entre outros serviços, dando por isso algum sustento aos bombeiros”. Armando Baptista que já fazia esse trabalho quando estava na Cruz Vermelha em Lisboa, trouxe consigo algumas empresas, com as quais ainda hoje mantém o ministrar de formações, que permite à associação pagar-lhe um vencimento, sem que isso “belisque a sua saúde financeira”, reitera. Aliás, Armando Batista, que diz ser
André Salema, presidente da corporação um homem de desafios, esclarece mesmo que com a saída da Cruz Vermelha, veio a perder dinheiro, mas que isso é compensado através de aulas que dá numa instituição. Neste sentido diz-se sentir “um embaixador” dos bombeiros de Azambuja”, ao mesmo tempo que vinca a necessidade de ter reestruturado o corpo de bombeiros “que teria sempre de ser feito por qualquer outra pessoa que aqui estivesse ”. Este foi segundo Armando Batista um enorme desafio, mas também ele já ultrapassado. Para Armando Batista o “benefício da dúvida” pedido à direção foi quanto bastou para levar a cabo um trabalho que ele próprio considera já avançado. Primeiro, a associação investiu em equipamentos e fardamentos individuais. A associação gastou perto de 12 mil euros tendo como garantia que no espaço de um ano as verbas seriam rentabilizadas. Ora essa foi uma meta alcançada com suces-
so, refere o comandante que considera ter ultrapassado “esse desafio” através de uma verba que já tinha em mente através da “carteira de clientes que trazia da Cruz Vermelha e até da polícia”, onde é formador. Com esta medida. Armando Batista acredita “ter credibilizado as tropas”. Aos poucos, o comandante refere que foram sendo ganhos alguns hábitos: “Os bombeiros passaram a ter mais cuidado com as fardas e agora já são eles que se autoeducam”; referindo que a titulo de exemplo foram proibidos o álcool e o tabaco no quartel. Bombeiros e a responsabilidade social Os bombeiros de Azambuja têm um programa em conjunto com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Azambuja (CPCJ) que consiste na integração de alguns jovens identificados, nas iniciativas do quartel de bombeiros.
Armando Baptista, comandante Armando Baptista que não quer apontar esta medida como de caráter militarista, vinca que “a necessidade de disciplina de que carecem muitos destes jovens oriundos de famílias desestruturadas é muito grande”. O comandante salienta que o sucesso da reintegração desses jovens “é de 100%”. Estamos a falar de uma instrução já com 19 jovens, cinco dos quais identificados pela CPCJ, “que estão a revelar um sentido de integração total”. Este “é um programa que obriga os jovens a participar em formações à sexta-feira ou aos sábados, abrangendo também o período das férias escolares”. Armando Baptista vinca a necessidade de se ocupar os jovens com idades entre os 14 e os 15 anos, até porque muitos dos pais têm de trabalhar e não conseguem acompanhar os filhos. Nos bombeiros, “os jovens não podem fazer atividade operacional, porque a lei não o permite, mas fa-
zem manutenção, limpeza e formação cívica”. Mas para este programa resultar tem de existir uma troca de informação entre a escola e o comando. Neste caso se as notas não forem boas, ou a aplicação dos jovens nos estudos não for aceitável, pode haver lugar a algum tipo de sanções. Armando Batista explica ao Valor Local que “são punidos com esforços físicos, como por exemplo flexões. Outro castigo consiste em limpar as jantes dos carros com uma escova de dentes”, refere, sublinhando que tal não se trata de “uma punição de regime militar”, ao mesmo tempo, que observa que pior do que os castigos para esses jovens; é quando se lhes acena com a possibilidade de não voltarem a regressar ao quartel e às suas atividades. “É uma doença para eles!”, não se coíbe de referir o comandante. “Este projeto tem fundamentalmente uma função de integração”.
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Ex funcionário da EMIA acusa Câmara de Azambuja de injustiças ¢ Sílvia Agostinho sidro Ferreira foi funcionário da Empresa Municipal de Infraestruturas de Azambuja (EMIA) e considera que o seu despedimento e não reintegração nos quadros da autarquia foi uma injustiça. O extrabalhador daquela empresa, que entrou para a mesma em 2004 e que não vinha da Câmara, desconfia da forma como todo o processo de liquidação da empresa iniciado em 2012 tem decorrido, a começar pelas contas bancárias ainda ativas, mas principalmente a forma como os funcionários, três na altura, foram despedidos. Em entrevista ao Valor Local, Isidro Ferreira, atualmente desempregado, que preferiu não ser fotografado para esta reportagem, confessa que tudo teve desde o início contornos estranhos – “Em agosto de 2012, e quando estava de férias, recebo uma chamada para vir à EMIA porque tinham uma informação muito urgente para tratar comigo. O meu chefe insistiu muito, estranhei mas passados poucos dias, apresentei-me na empresa. Comunicou-me de imediato que a empresa ia ser liquidada e que nós íamos perder o posto de trabalho”. Na altura, lembra-se que questionou o porquê de tal pressa, dado que a proposta estava apenas em decreto-lei. O presidente da Câmara de Azambuja, à altura – Joaquim Ramos, também me deu “o facto como consumado, e isto só com o projeto-lei.” Enviaram-lhe a carta de rescisão a 20 de agosto, 11 dias antes de a lei ser publicada, e que “previa a reintegração dos funcionários nas autarquias”, apenas mais restrita para os funcionários com um ano de contrato, o que não era o caso. Isidro Ferreira desempenhava funções de administrativo, e de acordo com um parecer dos advogados da Câmara, não haveria direito à sua reintegração na autarquia, porque as funções da EMIA não estavam sujeitas a internalização de serviços. O ex-trabalhador discorda – “Os serviços relacionados com as empreitadas e com a contratação pública faziam parte da EMIA, e as funções desempenhadas por mim na EMIA prendiam-se
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efetivamente com esse apoio técnico”. Ou seja “os funcionários da EMIA estariam mais capacitados e providos de conhecimentos técnicos e humanos, isto sem querer desconsiderar os funcionários municipais”. Isidro Ferreira acredita que foi induzido em erro ao ter assinado a carta de demissão. Atualmente este ex-funcionário, que tem sido o único a insurgir-se com a questão da sua não reintegração, refere que tem reunidas as condições para agir judicialmente contra a Câmara e já conta com um advogado. “Muitas vezes, perguntam-me por que só agora me comecei a mexer? Respondo que primeiro tive de perceber todos os contornos da liquidação da EMIA e de todo este processo de despedimento”. No último ano, os contatos com a Câmara de Azambuja e o atual presidente também têm deixado a desejar. Pelo meio, o vice-presidente, Silvino Lúcio, de acordo com Isidro Ferreira, até lhe chegou a prometer que tudo se ia resolver e que o mesmo poderia ser de facto reintegrado na Câmara. Luís de Sousa, presidente do município, refere que o vice-presidente lhe jurou a pés juntos que nunca prometera tal ao ex-funcionário. Neste processo, Isidro Ferreira culpa não apenas Luís de Sousa, Joaquim Ramos, mas também toda a oposição e assembleia municipal “que lavaram as mãos. Este problema é da Câmara, e de todos. Só porque o antigo presidente não se recandidatou, o atual não pode dizer que ‘herdou o quintal’ sem problemas só porque não era presidente na altura”. A Isidro Ferreira também não lhe caiu particularmente bem um email onde Luís de Sousa escreve o seguinte – “Conheces-me bem e em vez de mandares este mail poderias ter vindo falar comigo, mas segundo me disseram tu até és de uma força política diferente da minha e como era altura de campanha eleitoral não me admira esta tua reação”. (Isidro Ferreira terá ficado consternado quando Luís de Sousa disse na campanha eleitoral que não ia despedir ninguém, mas o presidente da Câmara acrescentou que depois da
sua eleição não o faria) Um dos argumentos dos advogados da Câmara refere contudo que a admissão de Isidro Ferreira na autarquia, nesta fase do campeonato, poderia não ser tão líquida quanto isso, pois teria de ser aberto concurso público, e aquele exfuncionário não ser o escolhido – “Isso é um facto!”, constata, mas apressa-se a elencar “as ilegalidades do processo” – “Como é que a empresa se encontra extinta e as contas bancárias permanecem ativas, e quando já foi aprovada a reintegração do património da empresa na Câmara. Nada foi acatado”. O ex-funcionário informa ainda que apenas conhece mais dois ou três casos semelhantes ao seu em todo o país. “Em todo o lado, os funcionários foram reintegrados, e quando eu olho para o meu caso é que compreendo a injustiça que me fizeram”. Sobre a possibilidade de a Câmara não poder fazer contratações, Isidro Ferreira diz que investigou e que “Azambuja se encontra abaixo do número máximo definido por lei”. “Santarém teve um PAEL de 43 milhões de euros, e ainda há meses integrou 30 pessoas”. A defesa dos autarcas Luís de Sousa, atual presidente do município, refere que falou diversas vezes com o ex-funcionário em causa para também “atestar das possibilidades de reintegração na Câmara”. “Demonstrei sempre disponibilidade para isso, mas penso que o senhor Isidro deveria ter logo à partida e quando o anterior presidente lhe pôs a condição da sua demissão, ter dito que não estava disponível, não era agora três anos depois”. “Os nossos advogados sempre me disseram que era difícil trazêlo de volta, mas que estavam disponíveis para a Câmara pedir um parecer a outros advogados, e se fosse diferente, talvez se arranjasse maneira de o readmitir”. Entretanto deu-se o episódio com Silvino Lúcio, e Luís de Sousa lamenta que Isidro Ferreira tenha alterado a verdade dos factos – “Admireime com essa conversa, e o senhor
Isidro Ferreira aponta o dedo aos autarcas da Câmara vice-presidente garantiu-me que nunca prometeu nada, que tudo era mentira”. O presidente do município revela que a partir de certa altura perdeu definitivamente o interesse em ajudar o ex-funcionário da EMIA, pois aquele “começou a ir por caminhos atribulados”. “Perdi o incentivo. Ele meteu a oposição nesta questão, e pareceu-me que queria tornar o caso político. Num dos mails que me enviou até sugeriu que tínhamos aqui um saco azul nesta questão da EMIA”. A juntar a isto “usava de um tom agressivo quando se reunia comigo”. Questionado sobre a urgência no despedimento de trabalhadores, quando volvidos mais de dois anos, as contas da EMIA ainda estão ativas e a empresa não totalmente liquidada, o presidente da Câmara refere que “a questão não pode ser encarada sobre esse prisma”. Luís de Sousa refuta a ideia de que houve “má vontade” do anterior presidente no apressar do despedimento. Esclarece também que o facto de as contas ainda permanecerem ativas, se deve à circunstância de ter sido preciso fazer uma recolha sobre o inventá-
Câmara Azambuja atribui 35 mil euros a coletividades Município de Azambuja pagou os subsídios às coletividades referentes a 2013, no valor de 35 mil 591 euros. Depois de três anos sem fazer a respetiva transferência, a Câmara de Azambuja voltou assim a dar os apoios há muito reclamados pelas associações, numa cerimónia que teve lugar no final de dezembro. O tema esteve no centro do debate com a oposição CDU e Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra a criticar os atrasos e a incentivar a autarquia a de futuro ter outro método na calendarização da atribuição daqueles subsídios. O fato de o vereador das Coletividades, António Amaral ter dito publicamente que o novo método de atribuição dos subsídios terá por base “um disciplinar das associações”, não terá caído bem em alguns setores e a vereação também criticou isso mesmo. Por seu lado, Luís de Sousa, presidente da Câmara, referiu que dadas as dificuldades da autarquia; não conseguiu atribuir os subsídios atempadamente, e falou nestes apoios como um presente de Natal, elucidando, ainda, que agora não basta a uma associação ter a porta aberta para receber um subsídio da Câmara. Tem de apresentar um programa de atividades. Trâmites que segundo explicou assim como o vereador das coletividades, António Amaral, também contribuíram para os atrasos verificados.
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rio da empresa, a que se somou um erro entre a Câmara e a conservatória na altura da extinção. “Temos vindo a reunir com solicitadores e advogados para o final das avaliações, e a resolver com os bancos para passagem dos empréstimos para a Câmara. O único movimento da EMIA atualmente tem consistido no pagamento das dívidas”. Ainda sobre o caso de Isidro Ferreira, Luís de Sousa considera que o mesmo “tem todo o direito de resolver o seu caso na Justiça”. “Se o tribunal decidir que ele tem de regressar eu abro-lhe a porta sem problemas nenhuns. Não vou é cometer ilegalidades, porque o advogado diz-me que não; bem como outras entidades”. Quanto a Joaquim Ramos, este sustenta que a Câmara tinha chegado, em 2012, à conclusão de que a EMIA tinha de encerrar as portas. “Averiguou-se através de parecer se os trabalhadores poderiam ser reintegrados nos quadros da Câmara, o qual foi negativo. Fez-se a rescisão do contrato, receberam a indemnização”. Joaquim Ramos confirma que durante o seu mandato não conheceu
qualquer animosidade por parte do ex-funcionário – “Ninguém colocou problemas! Foi tudo pacífico com os três trabalhadores”. Sobre a eventual pressa excessiva em precipitar a extinção dos postos de trabalho, quando a lei ainda não estava completamente clara, e nas demais Câmaras houve um compasso de espera, Joaquim Ramos argumenta que “não valia a pena”. “A EMIA tinha esgotado o seu plafond de financiamento, 8 milhões de euros, não ia pedir reforço de endividamento à assembleia municipal, quando já havia uma lei a dizer que tinha de ser extinta. Por que razão iria arrastar o processo, e deixar três pessoas ali sem fazer nada?” Mais tarde, a lei veio de facto a permitir a reintegração dos trabalhadores, mas Joaquim Ramos recusa em dizer que o que fez foi “fora de tempo”. “Foi na altura em que devia ser, não posso adivinhar que leis estão para sair, e depois não fazia sentido perpetuar a agonia da EMIA. Não podia fazer mais obras e manter artificialmente uma estrutura de pessoal a pesar no orçamento municipal, e daí a sua extinção”.
Negócios com Valor
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Valor Local
“AgroApis” no mercado do mel desde 2012 aposta na exportação funcionar desde 2012, a “AgroApis” tem vindo a conquistar o mercado do mel no país. Pedro Cardoso, um jovem apicultor de Azambuja, esclarece que se interessou por este ramo depois de uma conversa de amigos sobre o tema. Daí à construção da empresa foi um pequeno passo. Pedro Cardoso salienta que a curiosidade sobre este tema, o fez aprofundar os conhecimentos na área, tendo depois frequentado formações apícolas. Posteriormente, recorda, fez algumas experiências com colmeias, e numa fase seguinte, submeteu um projecto no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural – PRODER. “Fiz o curso de jovem empresário agrícola e implementei a minha exploração”, sintetiza. Com as colmeias nos concelhos de Azambuja, Cartaxo, e Rio Maior, Pedro Cardoso diz não ter dúvidas em afirmar que estamos perante o “verdadeiro mel ribatejano” O jovem apicultor
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vinca que trabalha apenas com uma qualidade de abelha. Tratase da “Apis mellifera melífera”, que é uma “abelha produtiva que ‘propolisa’ (segrega uma substância resinosa) com abundância”. É uma espécie que se adapta com facilidade a diferentes ambientes, “porém é nervosa e torna-se agressiva com facilidade quando o maneio é inadequado”. Nesse sentido, ironiza, e vinca que já perdeu a conta ao número de vezes que foi picado – “Hoje em dia mesmo com equipamentos de proteção cada vez mais cómodos e seguros nunca estamos livres de uma ou outra picadela”, esclarece o jovem apicultor. Sobre a qualidade das abelhas, destaca que em breve fará experiências com as espécies “Apis mellifera Carnica” e “Apis mellifera Ligustica”, lamentando que a experiência mais negativa que teve não foi com as picadas, mas com o furto total das col-
meias. Para já a produção da “AgroApis”, está centrada apenas na produção de mel. Todavia em breve, Pedro Cardoso refere que o objetivo é o de iniciar a criação de rainhas e dedicar-se também às produções de polén e própolis (substância resinosa obtida pelas abelhas através da colheita de resinas da flora e alterada através das enzimas contidas na sua saliva)”. Para além disso salienta que atualmente está a dar formação na área agrícola e por isso: “É um objetivo meu criar algumas ações de formação também na área da apicultura”. Quanto ao escoamento da produção, Pedro Cardoso vinca que esta é vendida maioritariamente a granel para uma organização de produtores na Serra da Lousã, da qual faz parte. Contudo o mel produzido e entregue a essa organização “tem como principal destino os mercados internacionais”. Mas independentemente da
venda a esta organização, há uma pequena parte que pode ser encontrada em algumas lojas de produtos tradicionais em Lisboa e não só. Há perto de dois meses, o mel da “AgroApis”, está também disponível em Azambuja na mercearia Pé de Salsa. Todavia e embora o negócio esteja a crescer, há sempre os riscos de fogos florestais e as questões ambientais que podem colocar em causa as colmeias e as abelhas. Pedro Cardoso fala na necessidade de um acompanhamento atento por parte do apicultor – “Há como é sabido, ao longo do ano, períodos em que a floração é escassa, e em que as condições climatéricas não permitem o bom desenvolvimento das colónias. Nessas alturas cabe ao apicultor através da sua experiência minimizar os riscos”. Em conclusão, o jovem apicultor afirma que os fogos “são sem dúvida uma ameaça, mas também os furtos”.
Pedro Cardoso decidiu dedicar-se às abelhas em 2012
Valor Local
Cultura
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Museu da Glória do Ribatejo
Um mergulho no quotidiano rural de antigamente ¢
Sílvia Agostinho Museu da Glória do Ribatejo conserva um espólio apreciável de objetos do quotidiano e da cultura da população daquela localidade do concelho de Salvaterra de Magos. Fomos conhecer este espaço através da Associação de Defesa do Património Etnográfico e Cultural com o seu presidente, o museólogo e historiador Roberto Caneira. Em 1986 quando surgiu a associação, um grupo de jovens convencido de que muitos dos hábitos e das tradições da Glória poderiam desaparecer decidiram fundar o núcleo em causa, com uma recolha junto da população de objetos que vão desde mobiliário, ao enxoval das mulheres da aldeia, passando por outros artefactos do quotidiano, “com o objetivo de estudo e divulgação daquele património”. Foram criados dois núcleos museológicos – a casa tradicional, e mais tarde o museu etnográfico. “Muito do que aqui podemos observar ainda podemos verificar na indumentária e nos usos das mulheres mais idosas”, refere Roberto Caneira. A casa tradicional é composta por um quarto com as clássicas camas de ferro e um pequeno berço feito em cortiça destinado ao bebé da família-tipo da classe rural. Na cozinha são observáveis os tradi-
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cionais utensílios fabricados em lata e esmalte como havia antigamente, a roupa de casa feita com os célebres bordados de outrora, “presentes em todos os aspetos da vida, menos na morte, desde os cortinados ao paninho do móvel”. “Esta casa obedece à arquitetura do sul do Ribatejo, feita de adobe e de taipa e não de xisto como é norma no norte do país.” Normalmente as casas só tinham duas a três divisões. A maioria das pessoas não possuía casa de banho, mas a lareira tinha um lugar central na vida doméstica. A lavagem da roupa fazia-se nos ribeiros. Transversal a muitas gerações rurais do país, e neste caso também às da Glória do Ribatejo – a memória da compra do primeiro par de sapatos. “Muitos só os tiveram quando tinham já 11 ou 12 anos”, evoca Roberto Caneira. Mas a partir da década de 50, a vinda da Raret também permitiu uma melhoria das condições de vida, com a população a absorver também algumas “características” norte americanas. “A população deve muito à Raret, (posto de retransmissão dos Estados Unidos para a Europa durante a Guerra Fria) pois apareceram novas profissões como os serralheiros. A Raret doou terrenos e contribuiu para a vinda da luz elétrica para a
Glória”. Foi também graças à escola da Raret, que funcionou até aos anos 90, que muitos jovens prosseguiram mais tarde os estudos, sendo que esta freguesia há alguns anos atrás era a que possuía mais licenciados do concelho. “A escola praticava um ensino muito rigoroso”. Ainda no que toca às tradições e às diferentes etapas da vida, também na Glória, o lenço dos namorados era um ex-libris do modo de vida das então gerações mais novas. “O lenço tinha as iniciais do rapaz e da rapariga que o bordava. Quando o rapaz o usava na lapela significava perante a comunidade que tinha assumido um compromisso”, dá a conhecer o museólogo. Quando se chegava à altura do casamento, os vestidos de noiva da mulher gloriana primavam pela sua peculiaridade apresentando cores diversificadas, e bordados. “Era a própria noiva que o confecionava, comprando antecipadamente o tecido em Coruche”. O museu possui fatos doados que remontam à década de 20, (os mais antigos), bem como das décadas subsequentes. O mais recente data de 1949. “A mulher fazia o seu vestido com muito preciosismo com pregas, bordados e rendas. Na freguesia do Granho também eram confecionados mas não com este grau de
Roberto Caneira mostra os vestidos de noiva de antigamente detalhe”. Na ala das exposições temporárias, o museu exibe uma mostra de fotografias comparativas entre a aldeia nos anos 40 e 50 até ao aspeto atual, patente até finais de junho, sempre com a ruralidade como mote. “Por exemplo, hoje ainda subsiste um agricultor que usa a carroça quando vai para a charneca, e o homem gloriano no
seu modo de vestir abandonou o colete, mas ainda continua a usar o chapéu ou o boné”. “O sentimento das gerações mais novas é de grande respeito mútuo para com as gerações mais velhas, e vice-versa”, sentencia. O museu recebe visitas mediante marcação junto da associação, contudo se o visitante chegar à Glória do Ribatejo poderá dirigir-
se à junta de freguesia, onde um funcionário se encarregará de abrir o espaço. “O museu tem esta característica de servir de repositório e de informar sobre aspetos deste património que os jovens não conheceriam de outra forma, enquanto os mais velhos revêemse no que aqui se encontra. O museu apela também muito aos sentimentos”.
Carlos Pimentel lamenta que a Escola de Toureio de Azambuja esteja parada ¢
Miguel A. Rodrigues arlos Pimentel, antigo novilheiro de Azambuja, lamenta que a Escola de Toureio da Poisada do Campino esteja atualmente em stand-by. O antigo novilheiro azambujense fez questão de expressar o seu desalento em entrevista ao nosso jornal, dias antes de ter subido ao palco para receber o troféu Excelência/Valor Local no âmbito da gala anual do Grupo Desportivo de Azambuja. Este ano o Valor Local associou-se, pela primeira vez, à iniciativa juntando o seu nome a uma das categorias mais prestigiantes desta gala. Carlos Pimentel que já foi professor da Escola de Toureio de Azambuja lamentou o estado a que chegou a festa brava na associação, referindo que embora afastado da atividade da mesma, sabe que “é do conhecimento geral que a escola de toureio está parada”. Todavia acrescenta não saber as razões que levaram a tal estado de coisas. Carlos Pimentel diz que “é
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lamentável o ponto a que chegámos” enaltecendo, em contraponto, o trabalho levado a cabo nos últimos anos por quem esteve à
frente da escola. Aliás Carlos Pimentel lamentou, igualmente, o tratamento dado às antigas glórias do toureio azambu-
jense. O antigo novilheiro deu como exemplo o que se vai fazendo em Vila Franca de Xira com o clube taurino, que vai lembrando
Carlos Pimentel desalentado com a Poisada do Campino
os seus, quando Azambuja “esquece muitas vezes aqueles que levaram bem alto o seu nome nos quatro cantos do mundo.” Carlos Pimentel destaca que Azambuja é conhecida pelo seu toureio a pé através dos nomes de Ana Maria, Manuel Tavares e outros, que “até há algum tempo atrás iam sendo lembrados pela tertúlia ‘Velha Guarda’ de Lourenço Luzio, que por motivos pessoais deixou de levar a cabo muitas das iniciativas que fazia.” Uma das formas de homenagear os muitos toureiros e aficionados poderia passar segundo Carlos Pimentel, pelo facto de tornar “mista” a corrida de toiros da Feira de Maio. “Nunca percebi porque não se o faz”. O antigo novilheiro considera que dado o facto de Azambuja ser uma terra com uma larga percentagem de praticantes de toureio a pé, impunha-se a realização de uma corrida mista: “Era o mínimo que se podia fazer. Contam-se pelos dedos, as corridas
mistas que aqui se fizeram”. Para o antigo novilheiro, essas corridas podiam levar à promoção de novos valores “porque se não houver um incentivo, um ídolo, ou algo que prenda a atenção dos jovens, estes acabam por perder o interesse e ignorar a festa brava”. Carlos Pimentel exerceu a atividade profissional de novilheiro entre os anos de 1970 e 1975. Iniciou a aprendizagem do toureio sob a orientação de António Salema no ano de 1965. Apresentou-se pela primeira vez em público em Azambuja no ano de 1967. Fez prova de novilheiro na sua terra natal por ocasião da Feira de Maio. Toureou em todas as praças de toiros do país, da Madeira e dos Açores. Despediu-se como profissional em Azambuja no ano de 1975, regressando em 1981. Despediu-se definitivamente no ano de 1999, toureando pela última vez na praça de toiros de Azambuja, num festival de homenagem ao povo de Azambuja.
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Foto António Caria
Foto António Caria
Linha de Montagem da Opel
Mais um dos momentos simbólicos
Fecho dos portões da opel num dos últimos dias
Opel e Ford… Depois do Adeus Ao fim de 63 anos, em 2006, a Opel em Azambuja chegou ao que muitos tinham previsto um ano antes. Greves, paragens, desentendimentos e reivindicações entre administração e trabalhadores catapultaram um fim que já era dado como certo, dado que a administração na Alemanha teria traçado o encerramento da fábrica de Azambuja, já que esta unidade era vista como pequena, mesmo tendo em conta os índices de produtividade. Neste trabalho revisitámos os últimos dias da Opel, através dos seus ex-funcionários, e de um dos elementos portugueses que esteve na sua administração. No caso da Ford, o seu encerramento foi mais pacífico, com uma parte dos seus trabalhadores a passarem para a Opel. ¢ Miguel A. Rodrigues Opel chegou a Azambuja em 1943, e segundo rezam as crónicas da altura, tratou-se de uma imposição de Salazar, que terá indicado que só as marcas com produção em território nacional, poderiam vender no nosso país. Daí e até à construção da Ford e da Opel em Azambuja foi um passo que levou ao emprego de milhares de pessoas em toda a região. Fazendo deste concelho uma pequena Detroit (cidade dos Estados Unidos conhecida por ter muitas fábricas de automóveis) portuguesa. A Ford terá sido de resto uma das empresas de automóveis pioneiras em Portugal e com fábrica em Azambuja. O seu processo de desmantelamento foi minimamente pacífico, tendo encerrado no ano 2000, com parte dos trabalhadores a passarem para a vizinha Opel. Ao todo foram 302 trabalhadores que deixaram a empresa. A última Ford Transit deixou de ser
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montada em Portugal no dia 23 de março desse ano. O fecho inseriu-se no plano de reestruturação que a Ford levou a efeito no mercado europeu no final dos anos 90 e que atingiu em particular a Ford de Azambuja e a unidade da Polónia. A decisão teve por objetivo concentrar a produção do modelo que sucedeu à Transit na fábrica da Ford no Reino Unido. Um dos ex-trabalhadores deste gigante americano, é o atual presidente da junta de Vila Nova da Rainha, Joaquim Marques, que guarda boas recordações do tempo que lá passou. “Estive 38 anos nessa empresa, os funcionários saíram todos muito bem, com a indemnização a que tinham direito, deram a cada um uma ford transit, e hoje posso dizer que tenho uma boa reforma graças ao tempo que lá passei, de 1048 euros”. O nível de vida dos seus fregueses na altura em que esta empresa e a Opel laboravam era outro. Perto de 50 pessoas desta lo-
calidade que albergou estes dois gigantes dos automóveis trabalharam nas empresas em causa. “Os tempos eram outros, na altura e graças a esses empregos, as pessoas de Vila Nova da Rainha que trabalhavam lá, iam de férias para o Algarve no verão, por exemplo. Hoje ficam todas em casa”. Quando a Ford foi encerrada, restava então a Opel, que tinha integrado perto de centena e meia de trabalhadores da concorrente, adquirindo também os terrenos e as instalações contíguas onde estivera a marca americana. Para a região, o facto de haver uma expansão da Opel, era um fato importante que representava mais emprego e também mais oportunidades económicas. Isto é, havia na altura muitas empresas que já dependiam da produção da Opel, quer na restauração e comércio local, quer ao nível de outsourcing, através de empresas que forneciam serviços à própria
Opel dentro e fora de portas. Para muitos foi uma oportunidade única, mas nas contas finais, esta decisão de encontrar em empresas externas uma forma de contratar serviços e trabalhadores acabaria por representar mais pessoas desempregadas. Na Opel, já laboravam cerca de 1200 pessoas, que a juntar a outras 300 que trabalhariam nessas empresas externas, tal elevaria em muito o número de desempregados em dezembro de 2006. Todavia há ainda a acrescentar o facto de até ao ano 2000, não ser permitida a contratação de famílias: ou seja marido e mulher não podiam trabalhar na mesma fábrica. Algo que veio a mudar nesse ano, e que no fim das contas em 2006, significou um revés ainda maior para as famílias que tinham apenas aquele emprego e rendimento como certos. José Eduardo Serra, funcionário da PPG, uma das empresas de outsourcing da Opel, lembra ao
Valor Local que os tempos até ao ano de 2005 “corriam na perfeição”. O responsável pela empresa na Opel, esclarece, no entanto, que ainda não é claro o motivo pelo qual a empresa mãe decidiu fechar a fábrica em Azambuja, apesar de decorridos vários anos do seu encerramento. Todavia, salienta que muitas das lutas laborais levadas a cabo nos anos de 2005 e 2006 poderão ter dado um contributo nesse sentido. Aliás José Eduardo vinca que o peso da Opel em Portugal não era medido pela casa mãe da mesma maneira que o das outras fábricas na Europa. A fábrica portuguesa era inferior em termos de dimensão à fábrica de Saragoça, em Espanha. “A Opel preferia ver as bandeiras dos países e não a qualidade do produto final”. Sobre esse assunto, o Valor Local encontrou opiniões unânimes. A Opel Combo, o último veículo a ser produzido em Azambuja, “era feito com paixão” refere também
José Eduardo, que enaltece as capacidades dos operários portugueses quando era preciso resolver pequenas questões que iam surgindo à última hora. A Opel Combo foi o último modelo produzido em Azambuja levando a que os trabalhadores simbolicamente pintassem a última carrinha produzida de dourado e assinassem o seu nome, como forma de despedida. A Opel em Azambuja foi de resto um posto de trabalho para muitas famílias e várias gerações. Um posto de trabalho interrompido pela administração liderada por Paulino Varela, que segundo, apontam alguns trabalhadores ouvidos pelo Valor Local, deslocouse do Brasil, já com o objetivo de encerrar a empresa. Todavia, os rumores sobre quando e o porquê que levaram ao encerramento da empresa, ainda hoje estão por explicar, pelo menos aos trabalhadores. Segundo Jorge Almeida, um dos operários
As negociações: “Nem os trabalhadores sabiam da missa a metade!” fábrica fechou e deixou perto de 1500 pessoas sem emprego, mas todas com uma indeminização de um salário e meio por cada ano de trabalho. Ainda assim os tempos que se seguiram não foram fáceis. A empresa que apostava na formação dos seus operários, apostava também na reconversão tecnológica. A linha de pintura viu um investimento à época de oito milhões de contos, e a restante fábrica teve investimentos que rondaram os 12 a 15 milhões. Verbas aplicadas poucos anos antes e que acabaram por não ser rentabilizadas. Luís Figueiredo foi até 2005 membro da comissão de trabalhadores. Ao Valor Local, o antigo trabalhador refere que as negociações com a administração foram duras e que as verbas negociadas resultaram “na maior indemnização alguma vez paga em Portugal” por uma empresa. Luís Figueiredo salienta que os tempos foram de tensão entre os trabalhadores, e que muito do que se falava nas reuniões não podia ser ventilado para os operários, pois a produção tinha de continuar. “Só quem esteve lá é que sabe. Nem os trabalhadores sabiam da missa a metade!” esclarece o antigo trabalhador que vinca: “Cerca de meia dúzia tiveram de ‘gramar’ com as negociações, para que todos pudessem receber mais umas coroas. E posso lhe dizer que não se recebeu mais porque alguns quiseram ser mais papistas do que o papa”.
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da empresa durante uma das paralisações e delegado sindical à época, tudo terá sido descoberto através de um telefonema informal feito para a Alemanha. Nessa chamada, os portugueses descobriram que não havia planos para a fábrica de Azambuja produzir qualquer carro a partir de 2009, ano em que a produção da Combo terminaria. Conta Jorge Almeida, que isso motivou a desconfiança dos trabalhadores “pois uma fábrica destas teria sempre de ter planos pelo menos a dez anos, por causa das linhas e da continuidade de produção”. Tal veio a revelar-se, segundo o operário, a sentença final da empresa. Mas nem todos concordam. Armando Martins diz que foram as lutas sindicais no ano de 2005 que despoletaram, a situação, e José Eduardo Serra tam-
bém concorda. O facto de a Opel de Azambuja ficar sempre nos primeiros lugares das fábricas do grupo, como tendo dos custos mais elevados “não era só por si razão suficiente para que a administração encerrasse a empresa”. Segundo apurou o Valor Local, a fábrica de Azambuja ocupava sempre esse pódio pouco interessante para os objetivos do grupo GM, sendo que o argumento utilizado de que cada carro custava 500 euros a produzir “foi exatamente isso, apenas um argumento, que a juntar às sucessivas greves, serviu de pretexto para encerar a Opel” lamenta Armando Martins. Foi a partir do ano de 2005 que a tensão entre trabalhadores e administração começou a crescer. Nesse ano, quando se descobre
Última combo produzida as intenções da administração em passar o centro de produção da Combo para Espanha, os trabalhadores intensificaram as suas formas de luta. Greves, paralisações e protestos marcavam então os dias, até aqui quase rotineiros, da fábrica de Azambuja. Aos poucos a Opel ia saindo da vida de todos os dias, e passava para a comunicação social. A imagem era de um braço de ferro entre trabalhadores e administração. Primeiro as exigências salariais: um aumento de 150 euros para todos os trabalhadores foi uma das primeiras reivindicações, Depois de muitas horas e de muita tensão, a comissão de trabalhadores conseguia negociar três anos sem aumentos, com a possibilidade de após esse período os trabalhadores receberem perto de 1500 eu-
ros. Com ordenados a rondar os 1100 euros, os operários queixavam-se das constantes promoções e mordomias dos administradores e chefias. Casos houve em que em algumas reuniões entre a administração e a comissão de trabalhadores, o confronto físico esteve eminente, facto que terá ajudado, segundo Armando Martins à agudização do conflito e posterior encerramento da empresa. “Houve um trabalhador que chegou mesmo a exceder-se junto de um grandes patrões da Opel, um estrangeiro, que ficou transtornadíssimo com a situação”. O clima de tensão foi-se agudizado à medida que as negociações iam progredindo. Alguns trabalhadores sentiam-se ultrapassados por outros recém-chegados, e cu-
A demolição da fábrica jos ordenados eram quase idênticos aos dos que já lá trabalhavam há mais tempo. Contudo, os problemas não se ficavam por aqui. Com administradores e chefes com direito a um carro de serviço, despesas de representação, e um depósito de gasolina por dia, os operários dos setores de produção, começavam a ficar impacientes. Não só não tinham aumento, como os “chefes” continuavam a receber “mais-valias” e isto numa altura em que começavam os primeiros sinais de crise no setor automóvel. Esta foi uma situação que ajudou à tensão e a um clima de cortar à faca. Mas Armando Martins garante, por seu lado, que muitos dos recém-chegados trabalhadores à fábrica, só tinham de base em média 800 euros, negando
que fosse verdade essa discrepância salarial apontada pela comissão de trabalhadores. Todavia na Opel de Azambuja as tensões continuavam tendo por base as renegociações salariais. A administração só no verão de 2006 admitiu o encerramento daquela unidade. O braço de ferro culminaria depois de muitas discussões e de uma visita à fábrica da Alemanha bem como de uma visita ao Parlamento Europeu, por parte da comissão de trabalhadores, com um caderno de reivindicações aprovado. Contudo nessa altura já nem valia a pena falar de aumentos salariais. Em causa estaria já a indeminização a receber pelos funcionários, que já sabiam que a empresa fecharia em dezembro desse mesmo ano.
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A nova vida dos antigos trabalhadores encerramento da Opel de Azambuja foi um processo difícil para a região. Na fábrica que hoje já não existe, trabalhavam à época mais de 1500 pessoas. Muitos casais com filhos e com uma vida estabilizada à volta da empresa. Da empresa, para além do ordenado, conseguiram, segundo Jorge Almeida que à época representava o sindicado dos metalúrgicos, algumas benesses, inexistentes em outras empresas. Os trabalhadores da fábrica tinham duas mudas de roupa por semana. Tinham médico grátis na empresa, ao ponto de muitos dos trabalhadores só terem conhecido o seu médico de família, após terem saído da Opel. Para além disso, os trabalhadores tinham ainda direito a descontos nas peças de origem e na aquisição de veículos da marca Opel. Estas foram também algumas das contrapartidas dadas aos funcionários desde o ano 2000. Outras foram sendo acrescentadas à medida que o pacote de reivindicações ia crescendo. Com ordenados acima da média, percebe-se que muitos com formação específica para uma fábrica daquele tipo tivessem dificuldades em encontrar um emprego de acordo com as suas expectativas. Muitos optaram
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por esgotar o fundo de desemprego, que à época era de três anos para a maioria. Outros aproveitaram para abrir negócios próprios. Foi o caso de Paulo Vicente, antigo porta-voz da comissão de trabalhadores que abriu uma loja de informática, que não terá durado muito. Aliás, o Valor Local tentou chegar à fala com o representante dos trabalhadores, mas foi impossível. Jorge Almeida, antigo sindicalista, diz ter tido alguma sorte. O operário mal saiu da Opel, conseguiu lugar como assessor do antigo vereador da CDU na Câmara de Alenquer, José Manuel Catarino. Posteriormente desempregado, viria a integrar uma empresa que presta serviços em outsourcing no Hospital de Santa Maria. Também Armando Martins, chefe de secção de pintura, referiu não ter tido grandes dificuldades. Mal saíu, integrou um projeto em Espanha, depois passou por dois grupos de concessionários automóvel onde ainda se mantém. José Eduardo Serra é atualmente empresário, mas antes continuou ligado à PPG. Esteve no estrangeiro, mas o apelo da família fê-lo regressar a Portugal. Foi também chefe de gabinete do antigo presidente da Câmara de Azambuja, Joaquim
Ramos. Mas a fábrica enquanto laborava também trouxe coisas menos boas aos funcionários. O aparecimento de doenças profissionais causou também algum mal estar. Foi o caso de José Carlos Santos, que contraiu uma tendinite. Ao Valor Local, o antigo funcionário da Opel salienta que a tendinite apareceu por volta do ano de 2005. Tal ficou a dever-se à repetição de movimentos na mesma posição. No caso de José Carlos Santos, a Opel alienou-se do seu caso: “A empresa não quis saber de nada, queria era o trabalho feito”. Para ter a situação resolvida, José Carlos Santos diz que se sentiu na necessidade de recorrer à Segurança Social “para depois acionar o processo de doenças profissionais”. Depois disto foi submetido a uma junta médica, tendo ficado com uma incapacidade de quatro por cento e com o valor de 70 euros mensais. Anos volvidos a situação agravou-se. A tendinite estendeu-se à mão; e dos dedos ao pulso, cotovelo, braço e ombro: “É só caruncho!” diz gracejando José Carlos Santos. Investimentos e ajudas do Estado à Opel Em 2003 e depois das comemorações dos 40 anos da presen-
Foto Paul Duerinick
Os trabalhadores da Opel conseguiram muitas benesses ça da marca em Portugal, o governo liderado por Durão Barroso deu algumas ajudas para que a fábrica fosse mais competitiva. Dessas ajudas resultaram apoios de vários milhões de euros que terão sido aplicados nas várias secções da empresa. Com efeito a Opel de Azambuja era das fábricas que mais e melhor produzia. Os trabalhadores
“Nenhum concelho recupera de uma perda assim” ara a ACISMA, Associação de Comércio Industria e Serviços do Município de Azambuja, o encerramento da Opel foi um duro golpe no economia local e regional. Segundo o porta-voz da associação, Daniel Claro, que representa as empresas e o comércio “a empresa era um símbolo a nível nacional e levava o nome de Azambuja (Opel Azambuja) bastante mais longe do que as próprias fronteiras nacionais” daí que o encerramento acabou por significar dificuldades “para a captação de investimentos ao nível industrial, num concelho que deles tanto necessitava” Todavia, segundo o responsável, “o aspecto mais relevante terá sido o das famílias afetadas pelo desemprego consequente, e do qual o concelho ainda hoje demonstra dificuldades de recuperação em termos qualitativos”. Esta foi uma situação que afetou todo o comércio local. A ACISMA, fala num desemprego consequente, pois “as suas repercussões sociais levaram à criação de um clima de descrença no potencial económico concelhio com o agravamento das condições do comércio local de proximidade já na altura com sinais de queda” Para Daniel Claro, há outra leitura: “Foi um verdadeiro marco na mudança de paradigma do modelo económico concelhio e porventura nacional traçando uma linha que acentuou a viragem da economia local para uma cada vez maior presença do sector de serviços, decorrente de Azambuja se ter tornado um corredor logístico de média dimensão”. Para o responsável, “nenhum concelho recupera de uma perda daquela dimensão”. Daniel Claro refere que a autarquia, na altura, fez o esforço possível e a vinda da Sonae - pela dimensão e qualidade do investimento - tratou de atenuar alguns aspectos negativos sem os eliminar “até porque do ponto de vista salarial e da organização laboral as diferenças são abissais”.
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mostravam orgulho no emblema e isso ficou bem patente nas diversas atividades do centenário da empresa. Mas à medida que o ano de 2006 se foi aproximando e começava a ficar patente o encerramento da Opel, o governo já liderado por José Sócrates, fazia planos para reaver as verbas entregues à empresa. Ao todo estavam em causa cerca de 30 milhões de euros, que não seriam pagos, se a empresa fechasse depois de 2009 e não 2006, interrompendo a produção da Opel Combo. A fábrica de Azambuja foi entretanto visitada pelos administradores da Alemanha. O objetivo era traçar um plano de compensações aos trabalhadores. Depois de várias reuniões, a empresa cedeu em algumas exigências, mas os operários tiveram de construir em seis meses cerca de 23 mil veículos. Número que acabou por ser ultrapassado e que culminou com o encerramento da empresa e o pa-
gamento das indemnizações. O Estado foi ressarcido mas a Câmara de Azambuja, que reclama ainda nos dias de hoje o pagamento de cerca de um milhão de euros, referentes à isenção de impostos municipais, como a derrama, continua a navegar à vista. Isenção essa imposta pelo Estado e que a autarquia nunca pôde contestar. Na altura, Joaquim Ramos, presidente da Câmara, terá contestado a situação. Luís de Sousa, que agora lidera a autarquia de Azambuja, salienta que “a situação do município ficaria muito mais fácil se o Estado entregasse à Câmara a sua parte.” Todavia, o autarca que refere não estar disponível para abdicar desses valores, anunciou ao Valor Local, que a Câmara depois de vários anos, avançou mesmo para tribunal, interpondo uma ação contra o Estado, com vista a receber perto de um milhões de euros, há muito devidos.
Valor Local
Destaque
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Diretor da fábrica fala em frustração e mágoa arlos Antunes era o diretor da fábrica da Opel em Azambuja. O engenheiro que após o encerramento da empresa foi trabalhar para a Galp, destaca que também ele só soube do encerramento definitivo da empresa no primeiro trimestre de 2006. Carlos Antunes salienta que foi devido áquilo a que chama de “normal dialética” entre os funcionários da fábrica “que se começou a evoluir para um clima de maior tensão, com a preocupação maior sobre o futuro da fábrica e das pessoas”. O antigo diretor da fábrica destaca entretanto que durante o último ano (2005 a 2006) a direção “procurou com várias propostas e ações concretas de melhoria e de investimento otimizar a rentabilidade do modelo”. Para tal apostaria num aumento de produção e na redução de custos laborais, através do “aumento de flexibilidade e redução dos custos do trabalho extraordinário”. Para além disto, houve também a “redução de custos de serviços de outsourcing, dos serviços de logística e
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ainda propostas de alteração do próprio modelo incluindo a introdução de algumas versões.” Contudo segundo conta Carlos Antunes, estas propostas terão sido insuficientes para convencer a General Motors “que argumentava com os elevados custos de logística” até porque grande parte dos componentes vinham de Espanha e do centro da Europa, sendo que os carros acabados voltavam para lá. A juntar a isto, lembra a “ inexistência de prensas na fábrica da Azambuja e a inviabilidade financeira para se alterar esta situação”. Numa segunda fase, quando ficou completamente claro que a decisão da GM era estratégica, “já que Azambuja não tinha a escala necessária, apenas 80 mil unidades por ano” e “havia unidades de maior capacidade que estavam subutilizadas, era, de acordo com a administração, mais rentável, viabilizar essas unidades.” Foi a partir daqui, segundo o engenheiro, que “começou uma dinâmica de relacionamento e negociação para que o impacto do encerramento
da fábrica fosse minimizado para os trabalhadores e para a região”. Carlos Antunes refere a existência de “reuniões com forte confrontação de ideias e propostas, plenários, manifestações, algumas ações de maior conflitualidade”. “Mas posso testemunhar que o respeito mútuo imperou e nunca esteve em risco a segurança de qualquer elemento da direção ou trabalhador”. Quanto ao encerramento da empresa, Carlos Antunes salienta que considera que se deveu a dois elementos fundamentais: “a situação da Opel na Europa e a falta de escala da fábrica de Azambuja”. Sobre Azambuja, lembra que a “fábrica tinha mais de 40 anos, tendo iniciado com uma pequena linha de montagem, que progressivamente veio a evoluir no conceito e na dimensão, mas sempre limitada pela sua origem”, destacando que em 2000 a direção da fábrica da Azambuja propôs, e a GM aceitou adquirir a fábrica vizinha da Ford “para transferir os armazéns e converter a área anteriormente
usada em armazenagem na nova unidade de Body Shop. Este foi um salto importante na dimensão da fábrica mas não suficiente para ultrapassar esse fator de escala”, lembrando que a fábrica da Azambuja “produzia 80 mil unidades por ano, e seria possível quanto muito chegar às 100 mil com um terceiro turno, mas de baixa rentabilidade e nunca aceite pela GM. Já nesses dias, o número de referência eram as 200 mil unidades” Carlos Antunes refere que tem a opinião de que os sindicatos e a comissão de trabalhadores não terão contribuído negativamente para o encerramento da empresa. O antigo diretor vinca que “as lutas sindicais quando orientadas para o relacionamento interno da fábrica, sempre foram compreendidas, com maior ou menor aceitação pela GM. A incompreensão e o desagrado da GM acontecia quando as lutas sindicais eram manifestamente políticas e orientadas por motivações externas.” Por outro lado, o engenheiro salienta que a empresa negociou com a Comissão de Trabalha-
Carlos Antunes lamenta o fim da Opel dores um conjunto de princípios “que permitiram flexibilidade, capacidade e rapidez de resposta que contribuíram significativamente para a competitividade da fábrica da Azambuja”. Carlos Antunes esteve na Opel até ao último dia. “Foi com uma mágoa e frustração enormes que vi que as minhas infindáveis horas de trabalho diárias, assim como dos meus colegas,
não tinham resultado na continuação da produção na fábrica de Azambuja” destaca o responsável. “Tinha imenso orgulho da fábrica e da equipa que dirigia e estava completamente orientado e motivado para acabar a minha carreira profissional na fábrica de Azambuja. Mas há decisões que nos ultrapassam e há que enfrentar novos desafios.”
Opinião/Reflexão
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Valor Local
As implicações do encerramento da Opel/Ford em Azambuja
Joaquim António Ramos Ex-Presidente da Câmara de Azambuja
encerramento das instalações da Opel em Azambuja que entretanto tinha absorvido as instalações da Ford - constituiu sem dúvida um enorme revés não só para o Concelho de Azambuja mas também para toda a Região, uma vez que a Opel era de facto a grande empregadora regional, não só ao nível do número de trabalhadores como também pelo leque salarial acima da média que praticava. Foi, na verdade, uma das épocas mais conturbadas dos doze anos em que estive à frente da Câmara. No futuro, sem constrangimentos, sem intrusões partidárias e desapaixonadamente, far-se-á a história do fecho da Opel/Ford e das reais causas desse encerramento. Agora é cedo demais.
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A Opel/Ford, para além do impacto que tinha em termos económicos e de empregabilidade, tinha também o carisma de, a par da Sugal, serem percursoras da industrialização do Concelho, “arrancando” do assalariamento agrícola - e da miséria- tantas e tantas famílias. O seu encerramento teve consequências de enorme repercussão no Concelho e, repito, na Região. Em primeiro lugar porque lançou no desemprego mais de mil trabalhadores directos ( na altura do fecho empregava cerca de mil e trezentos trabalhadores), uma parte significativa já em condições de entrar em pré-reforma, mas a grande maioria ainda em plena idade activa ou mesmo nas fases iniciais das suas carreiras profis-
sionais. Foi difícil para muitos a reintegração na vida activa : alguns conseguiram montar negócio próprio, outros (poucos) emprego no mesmo ramo de actividade ou em outros sectores. Mas muitos “agonizaram” dois, três ou mais anos até conseguirem emprego. Em segundo lugar, o encerramento da Opel/Ford arrastou consigo muitas pequenas ou médias empresas que eram dela subsidiária ou prestadoras de serviço, que se viram obrigadas também a encerrar ou a diminuir drasticamente a sua actividade. Esta consequência, para além de ter contribuído para um abrandamento da actividade económica no Concelho, traduziu-se também num aceleramento do desemprego, por via
dos postos de trabalho indirectos que se extinguiram. Por último, refira-se o impacto negativo sobre o poder de compra dos habitantes do Concelho e a consequente diminuição da procura dirigida à nossa estrutura produtiva : restaurantes, pequenas unidades comerciais locais, prestadores de serviços instalados. O encerramento da Opel/Ford despertou uma enorme onda de solidariedade por parte da população do Concelho, que organizou inclusive uma marcha até à Praça do Município, e dos Municípios vizinhos - muitos deles, aliás, tinham um numero significativo de munícipes a trabalhar na empresa -, que culminou numa manifestação junto à Assembleia da República.
Apesar de, como era meu dever, me ter envolvido directamente nas diligências feitas, em conjunto com a Comissão de Trabalhadores, junto da Administração internacional da Empresa e do Governo Português para viabilizar a continuidade da Empresa, houve um momento em que percebi que o encerramento era inevitável : o dia em que o Ministro Manuel Pinho, que se tinha deslocado aos Estados Unidos expressamente para negociar com a Administração da Opel, me comunicou que as exigências da Empresa eram inaceitáveis para Portugal. Naturalmente que uma das nossas preocupações dominantes no período pós-encerramento foi encontrar uma alternativa para aquelas instalações. E foi possível,
com a conjugação duma série de esforços, instalar um grande centro de distribuição da Sonae. Não foi a solução ideal, a que todos gostaríamos de ver, porque apesar do número de trabalhadores ser até superior, sabíamos que os salários praticados e a segurança laboral eram substancialmente inferiores aos praticados pela Opel. Não nos podemos esquecer, no entanto, que se tratou dum período - que ainda hoje se mantém de deslocalização de unidades industriais de toda a Europa para as economias emergentes. A alternativa seria ficarmos com um elefante branco que cedo entraria em degradação.
Programa Operacional Regional do Alentejo 2020 as últimas décadas, a Região registou profundas transformações e progressos na qualificação do território e na condição socioeconómica, em grande parte resultantes do financiamento dos Fundos Comunitários. Porém, estes resultados positivos não foram suficientes para ultrapassar algumas debilidades da Região e persistem constrangimentos relacionados com a regressão prolongada da demografia regional, o reduzido dinamismo do tecido empresarial, as limitações acentuadas nos sistemas e redes com potencial para atrair novos fluxos de investimento e a sustentabilidade problemática da mais-valia ambiental. A abordagem para responder a estes constrangimentos decorre da Estratégia Regional Alentejo 2020 e assenta fundamentalmente na valorização da identidade do Alentejo, representada pela sua herança cultural, pela sua valia ambiental e pelo aprofundamento das relações urbano-rurais, suportadas pela inovação, com vista à criação de novas dinâmicas de desenvolvimento económico, num quadro de sustentabilidade. Assim, as prioridades de intervenção que suportam a programação e os possíveis financiamentos ao abrigo dos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento estruturam-se em cinco vectores relacionados com (i) a consolidação do sistema regional de inovação e competências, (ii) a internacionalização dos activos do território, (iii) a renovação da base económica sobre os recursos naturais e a excelência ambiental da Região, (iv) a qualificação do ter-
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ritório e (v) as qualificações, empregabilidade e coesão social. Neste contexto, a estrutura do Programa Operacional Regional do Alentejo teve em consideração o enquadramento e os contributos para as dimensões estratégicas e prioridades da Europa 2020, no sentido de uma economia mais competitiva, qualificada, eficiente e coesa, nos vectores-chave relacionados com a competitividade e internacionalização das empresas (clusterização e redes de empresas; internacionalização de PME; serviços avançados de apoio a PME e grupos de PME), o ensino e a qualificação do capital humano (formação e capacitação de ativos) a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação (consolidação e conclusão das infraestruturas de I&D&I regionais; investimento empresarial em atividades de I&D e de inovação; empreendedorismo qualificado e criativo); o emprego e a coesão social (valorização dos recursos endógenos em territórios específicos; regeneração socioeconómica e física de comunidades e zonas desfavorecidas; desenvolvimento socioeconómico de base local; qualidade dos sistemas de ensino, formação e saúde); a eficiência e diversificação energética (nas empresas, nas infraestruturas públicas e na habitação social), mobilidade sustentável e qualidade do ambiente urbano (mobilidade suave; proteção, desenvolvimento e promoção de ativos públicos culturais e patrimoniais; reabilitação urbana); a capacitação institucional e a melhoria da Administração.
Segredos da Justiça Regime especial do registo automóvel O
Regulamento do Registo de Automóveis dispõe que o registo de propriedade de veículos adquirida por contrato verbal de compra e venda é promovido pelo comprador e pelo vendedor, tendo por base o requerimento de modelo único subscrito por ambas as partes. Sucede que esta obrigação de registo não é cumprida em muitos casos. Ora, a não regularização do registo de propriedade apresenta graves consequências, quer para quem permaneceu proprietário no registo (que continua, por exemplo, com a obrigação de pagamento do Im-
posto Único de Circulação), quer para quem adquiriu e não promoveu o registo a seu favor (nomeadamente porque o veículo pode ser penhorado no âmbito de uma execução que corra contra o anterior proprietário). Perante esta realidade do dia-adia, o Governo aprovou o Decreto-Lei n.º 177/2014, de 15 de dezembro, através do qual criou um regime especial para o registo requerido apenas pelo vendedor. Nos termos do artigo 2.º.º deste diploma legal, o registo de propriedade de veículos adquirida por contrato verbal de compra e venda pode ser pedido pelo ven-
dedor do veículo com base em requerimento apenas por si subscrito. Este registo pode ser requerido desde que já se encontre decorrido o prazo legalmente estabelecido para efetuar o registo obrigatório (60 dias a contar da data da compra e venda) e tem de ser feito com base em documentos que indiciem a efetiva compra e venda do veículo, como faturas, recibos, vendas a dinheiro ou outros documentos de quitação. Sublinhe-se que naqueles documentos deve constar a matrícula do veículo, o nome e a morada do vendedor e do comprador. Os
restantes elementos de identificação do comprador que não constem dos documentos apresentados (por exemplo, número de identificação fiscal) devem ser indicados no impresso de modelo único para registo. Após a entrega do requerimento de registo (presencialmente ou via on-line), a conservatória notifica o comprador para, no prazo de 15 dias, deduzir oposição escrita ao pedido de registo apresentado pelo vendedor, contestar alguma das suas menções ou vir completar os elementos necessários para a elaboração do registo. Se não existir qualquer oposição
Para concretizar esta estratégia de crescimento regional mais inteligente, sustentável e inclusivo, o POR Alentejo operacionaliza-se em 10 eixos: Competitividade e internacionalização das PME; Ensino e Qualificação do Capital Humano; Investigação, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação; Regeneração e Reabilitação Urbana; Emprego e Valorização Económica de Recursos Endógenos; Coesão Social e Inclusão; Eficiência Energética e Mobilidade; Ambiente e Sustentabilidade; Capacitação Institucional e Modernização Administrativa; Assistência Técnica. Este conjunto de Eixos deverá enquadrar operações relevantes para a concretização de objetivos estratégicos e específicos do PO, os quais deverão beneficiar também de intervenções complementares para a Região, com enquadramento nos PO Temáticos de âmbito nacional (Competitividade e Internacionalização, Capital Humano, Inclusão Social e Emprego, Sustentabilidade e Uso Eficiente dos Recursos) e nos Programas de Desenvolvimento Rural e das Pescas e Aquicultura. (Fonte: Portal Portugal 2020) A ACISMA para acompanhamento do novo Quadro Comunitário irá criar, a partir do dia 1 de Março, um gabinete de apoio aos empresários do concelho bem como uma página específica no site que poderá ser consultada já a partir do dia 1 de Fevereiro. ACISMA
António Jorge Lopes Advogado advogados.azambuja@gmail.com
por parte do comprador e o processo estiver completo, a conservatória procede ao registo da aquisição. Se existir oposição, a conservatória aprecia os fundamentos apresentados pelo comprador e depois decide se a aquisição é ou não registada. Em termos de custos, o registo de propriedade de veículos adquirida por contrato verbal de compra e venda requerido apenas pelo vendedor e efetuado no âmbito deste novo regime especial está fixado em 75 euros (cfr. artigo 14.º/1/a)). O emolumento devido pelo certificado de matrícula emitido a pedido do titular na
sequência de registo de propriedade encontra-se fixado em 95 euros. Por último, cabe referir que o artigo 15.º consagra significativas reduções nos emolumentos a pagar sempre que os registos de aquisição em causa sejam realizados até ao dia 31 de dezembro de 2015.
Valor Local
Opinião/Reflexão
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Desemprego: Somos todos Opel Portugal
Pedro Félix, Psicólogo
http://pedrofelix.weebly.com
21 de dezembro de 2006, o encerramento da Opel Portugal, em Azambuja, empurrou 1100 trabalhadores para o desemprego, ficando catalogados e associados à fábrica mesmo depois do encerrar de portas como “Desempregados da Opel”. Mais de 60% destes trabalhadores passaram de “categoria” de Desempregados a Desempregados de Longa Duração, afetando sobretudo os menos qualificados. Fazendo face à sua nova realidade, passando à procura de oportunidades de emprego, encontraram um mercado de trabalho com pouca capacidade para os reintegrar e em que as condições oferecidas eram em geral bastante precárias. Apesar de ter afetado famílias de 10 concelhos, o concelho de Azambuja foi numericamente o mais afetado, atirando a Azambuja para lugares cimeiros no que diz respeito às taxas de desemprego. O encerramento da Opel foi
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para muitos um primeiro grande confronto com a realidade do desemprego e com a realidade do impacto deste na vida das pessoas e das famílias. Hoje em dia, passados mais de 7 anos do encerramento da Opel Portugal, continua-se a conviver com esta preocupação constante que nos afeta a todos, o desemprego. Este artigo poderia ser sobre um conjunto de mais de um milhar de pessoas desempregadas devido ao encerramento da Opel, mas não é! É sobre todos nós que continuamos a viver a problemática do desemprego. Sim, todos nós! O desemprego afeta-nos a todos, sem exceção, pois direta ou indiretamente o desemprego tem o seu impacto a nível individual, tem repercussões nos outros, na família nuclear, na família alargada, nas relações profissionais, na vida social, …, em todos os campos da vida de um indivíduo. O que muitos sentiram aquando do encerramento de uma das fábricas mais importantes do concelho sente-se de uma forma ge-
neralizada, não só no nosso concelho, como no resto do país. Somos todos Opel Portugal? A nível nacional as taxas de desemprego atingiram níveis muito elevados, abalando o equilíbrio emocional das pessoas afetadas por ele. O Desemprego é um dos acontecimentos que mais afeta o bem-estar e a saúde mental de um indivíduo. O mercado de trabalho atual é cada vez mais incerto, pautado por flutuações e descontinuidades, sendo que o conceito de empregabilidade é agora muito diferente do conceito que lhe estava associado há uma década. Embora o custo económico do desemprego seja elevado, não há valor monetário que traduza adequadamente o custo humano e psicológico de longos períodos de desemprego, principalmente do desemprego persistente e involuntário. Este desemprego prolongado tem impacto, como já foi referido, no bem-estar e na saúde mental de um indivíduo e muitas
vezes mostra a sua “cara” na forma de transtornos mentais leves, depressão, diminuição da autoestima, sentimento de frustração e insatisfação com a vida, dificuldades cognitivas, entre outras consequências que vão para além das fronteiras do indivíduo. Estão também associados o aumento dos casos de violência conjugal, comportamentos desviantes, alcoolismo, consumo de drogas e um novo conceito de pobreza, a qual podemos denominar de “ pobreza envergonhada”. No contexto da família, o desemprego provoca desestruturação e desorganização familiar, sendo as crianças as principais vítimas desta situação. Arriscaria, então, afirmar que as taxas de desemprego elevadas são muito mais do que um problema económico, são um problema psicológico e social que nos afeta todos. Para esta problemática não existem soluções rápidas, nem este artigo pretende ensaiar qualquer solução sobre como pôr fim ao desemprego. Todavia é possível, a nível individual, atenuar o sen-
timento de desespero de quem se encontra a passar por esta conjuntura e aumentar as possibilidades de maior sucesso. Provavelmente o mais importante e exigente é não nos deixarmos invadir por um pensamento negativo e destrutivo e continuar a procurar trabalho com insistência. Para além da insistência, é importante definir bem os nossos objetivos, nunca perder o foco daquilo que se quer, pois, “quem não sabe para onde vai nenhum vento lhe corre de feição”. Estes objetivos têm de ser muito bem definidos e específicos, baseados num grande autoconhecimento e numa profunda pesquisa das oportunidades e ameaças do mercado de trabalho. Um outro caminho pode passar por nos reinventarmos e alargarmos ou modificarmos o nosso foco, procurando adquirir competências para poder almejar uma área de trabalho diferente e com mais oportunidades do que ameaças. Do mesmo modo, é também muito importante, tendo em consideração a questão da autoes-
tima e do networking, não perder contactos, não se fechar, não se esconder, evitar o isolamento. Seguindo a máxima de “mente sã em corpo são”, devemos criar um programa de treino físico, mental e de relaxamento, não caindo em inércia, aumentando a capacidade de organização do pensamento e contribuindo para um bem-estar físico e psicológico. Existem muitos livros e artigos que focam estas problemáticas, muitos deles com bons conselhos e orientações, no entanto tratam-se de orientações de carácter geral. Em muitos casos, as especificidades de cada um exigem uma orientação mais específica e nesses casos é conveniente procurar apoio e acompanhamento psicológico, coaching ou aconselhamento de carreira.
Entrevista
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Valor Local
Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer
“Custa à oposição que façamos coisas!” O PS voltou a conquistar a maioria absoluta nas autárquicas em Alenquer com caras novas. Muitas decisões têm sido postas em causa pela oposição, mas o presidente da Câmara contesta, e argumenta com a “vontade de fazer” e as “muitas ideias” do executivo. A principal tarefa no mandato é por um lado combater a dívida e por outro não deixar cair o investimento no concelho. ¢ Sílvia Agostinho Valor Local – Durante o ano passado decorreu pela primeira vez a iniciativa do Orçamento Participativo de Alenquer, mas para quando o início da implementação dos projetos aprovados no terreno? Pedro Folgado – A iniciativa correu bem, também tivemos a ajuda de quem conhecia este tipo de iniciativas, as suas vantagens e desvantagens. A adesão foi muito grande por parte dos cidadãos. Neste momento, estamos a avaliar quais os melhores timings tendo em conta as especificidades individuais de cada projeto. Estamos a organizarmo-nos operativamente e em termos de contratação pública no sentido dessa ida para o terreno. Teremos de adjudicar uma prestação de serviços para o estudo do canhão cársico, pois não teremos internamente todas as competências para isso. Quanto às obras físicas, serão acompanhadas por nós, outras exteriormente. As coisas estão a mexer-se, não há atrasos neste momento. Algumas pessoas interrogar-seão sobre a exequibilidade de um ou outro projeto que saiu desse orçamento participativo, nomeadamente, a pista de atletismo. 56 mil 300 euros vão chegar? Essa é a verba que temos disponível, veremos se haverá alguma derrapagem ou não nessa obra e nas restantes, no cômputo geral dos 300 mil euros adjudicados para o Orçamento Participativo. Mas posso dizer que houve um suporte técnico sustentado para afirmar que o custo de cada obra não deverá fugir das verbas atribuídas. No caso do estudo e caracterização do Canhão Cársico de Ota, o proponente José Carlos Morais em entrevista ao nosso jornal não deixou de evidenciar alguma preocupação com a concretização do projeto que tem timings específicos, com a ida de estudiosos para o terreno, por exemplo. Estamos a acertar com José Carlos Morais uma prestação de serviços. Vamos com ele ultimar os pormenores de maneira a não prejudicar outras pessoas que estão envolvidas no processo. Somos uma instituição pública e temos prazos na contratação pública, neste caso desses académicos em causa. Teremos de cumprir procedimentos, e se não for possível desde já avançar com o estudo, teremos de aguardar até que haja um desbloqueio legal. Mas é uma questão de articularmos com
Pedro Folgado faz balanço de mandato nesta entrevista o proponente, até se ultrapassarem esses constrangimentos. Até se pode incluir a continuidade desse estudo numa segunda edição do Orçamento Participativo. No que respeita a algumas obras no concelho, o que se pode esperar da circular externa que passa junto ao Lidl do Carregado que está literalmente num beco sem saída? Não está num beco sem saída, mas como todos sabem houve um concurso para se fazer essa obra em várias fases. A Câmara, a dada altura, decidiu não fazer a terceira fase da via de cintura. O empreiteiro tinha a expetativa de fazer a obra na totalidade, mas considerando que só faz dois terços, isto tem que ser negociado, e dar-lhe uma contrapartida, bem como uma negociação com o Mais Centro. Mas estou convencido de que até ao final do mês de Janeiro será concluída a obra até ao cemitério, no que diz respeito à segunda fase. No que se refere à necessidade de remodelação do Mercado de Alenquer, as queixas dos comerciantes são muitas. O problema é mais uma vez orçamental. Estávamos a ver se conseguíamos colocar o mercado num projeto dos fundos comunitários, porque a nível do Orçamento optámos por outras prioridades, nomeadamente, acessibilidades e pagamento de compromissos. A nossa intenção poderá passar também pela sua candidatura ao Fundo Jessica (braço dos fundos estruturais) que tem empréstimos muito baixos, o que poderia ser uma solução ou através de Overbooking no Mais Centro. A nossa
expetativa é de o fazer ainda este ano. E no que toca ao impasse no Mercado do Carregado? Está concluído, mas o mercado está inserido num condomínio, e não foi destacado. Estamos a tentar fazê-lo para o domínio público, para que os condóminos não paguem os impostos sobre aquele imóvel. Queremos resolver este problema, embora seja difícil porque são muitos os moradores e muitos não vivem no local. No orçamento para 2015, estão previstos dois milhões de euros para revitalização da rede rodoviária e obras municipais, o que será feito? Estamos a falar de acessibilidades, muros de suporte, limpezas de rios. Obras importantes para o concelho que não podemos adiar mais, estamos a falar de intervenções prementes. A Câmara conseguiu diminuir a dívida, no entanto, o prazo de pagamento a fornecedores continua a ser algo dilatado Temos vindo a fazer esse esforço, baixámos a dívida em cinco milhões. Atualmente a dívida é de 11 milhões, oito milhões de longo prazo, e três milhões de curto prazo. Pagamos em menos tempo aos fornecedores. Ainda há alguns meses esse prazo andava em mais de 200 dias, hoje é de 150 dias. É um esforço que temos vindo a fazer. Até ao fim do ano prevê baixar a dívida em quanto? Teremos de baixar alguma coisa, apesar de querermos fazer algum investimento. Queremos equilibrar a Câmara para depois apostarmos em investimentos maiores. Se bai-
xarmos a dívida a curto prazo já seria muito bom. A Câmara prevê ainda a aplicação de uma verba de 300 mil euros, este ano, em medidas de apoio à natalidade, em traços práticos o que significará? Esse número é uma estimativa. Estamos a organizarmo-nos em torno da consolidação de gente jovem no concelho. Poderá ser mais uma alternativa. Temos feito abordagens junto de empresas farmacêuticas, e de bens de vestuário, e em articulação, oferecer a casais jovens um cabaz de ofertas. Mas haverá um valor mínimo ou máximo a atribuir? Ainda estamos a avaliar qual a melhor maneira. Estimámos esse valor, mas vamos ver se será preciso gastá-lo. Trata-se no fundo de um cheque-bebé como acontece em outras autarquias. Acha que as pessoas ainda se deixam seduzir por esse tipo de benesses? Possivelmente o que desejam é ter um emprego entre outros aspetos. Por isso ainda estamos a pensar se alargamos a todos ou apenas aos mais carenciados. Claro que dão mais valor a um emprego, mas não será por causa do cheque-bebé que vão ter ou não mais filhos. O município também parece ter elegido a bandeira do apoio ao empreendedorismo, mas Alenquer também sofre daquele mal como outros concelhos desta região, de empresas que deslocalizam a sede de Lisboa para aqui para mais facilmente terem acesso aos fundos estruturais, sem que isso signifique a cria-
ção de postos de trabalho ou outros benefícios para o concelho. Corremos esse perigo, mas não quer dizer que nada possamos fazer. A nossa aposta passa pelo gabinete do empreendedor, com a apresentação de projetos por parte das pessoas. Alguns singrarão, outros talvez não. Temos feito muitas ações de sensibilização também no âmbito dos fundos europeus. Abrimos um espaço no Carregado nesse sentido. Prevemos a implementação de ambientes cowork e startups. Obviamente que no terreno, corremos esses riscos de as empresas aparecerem e depois não estarem muito tempo. Qual a política da Câmara para captação de mais investidores, apesar da crise? No fundo, temos feito um trabalho de proximidade com as empresas implantadas. Vamos criar uma plataforma web com o registo de todas as empresas e negócios, que possa permitir que as empresas se conheçam umas às outras. Temos feito abordagens junto da Associação Industrial Portuguesa, IAPMEI, AICEP. Para além disso, com a nova tabela de taxas estamos a facilitar nas derramas e no IRS. Essa diminuição das taxas não será ainda um pouco extemporânea dado que a Câmara possui uma dívida, que com certeza estará à procura de a fazer baixar? Temos de articular a dívida e o investimento. Se partirmos do princípio, de que sanamos a dívida e não fazemos mais nada, de facto é mais fácil. Mas de algum modo temos de colocar as finanças em ordem, e se não temos dinheiro para investir, pelo menos podemos ajudar outros pela diminuição da cobrança de receita. Se ajudarmos as pessoas e as empresas a aposta também será ganha. Temos vindo a ser contatados por empresas que querem alargar a sua dimensão. Para quando o arranque desse projeto de co-work, no fundo de incubadora de empresas que estava no seu programa eleitoral? A nossa intenção é a de criar um espaço no alto do concelho, na freguesia da Merceana ou da Ventosa, para ser mais central. Mais central mas com menos serviços de suporte. Temos esse problema, mas com a implementação desse conceito no alto do concelho, outros serviços poderão ser alavancados, e melhorar as acessibilidades.
Ou será antes no sentido daquela política de “distribuição do bem, neste caso, pelas aldeias”? Há um mundo que está desprotegido, desertificado, e se não fizermos nada por ele, continuaremos a concentrar tudo neste eixo Abrigada – Carregado e o resto continua a ser paisagem. Se criarmos oportunidades de negócios, e de serviços, tal poderá levar a mais movimento naquela zona. A minha anterior pergunta também pode encontrar eco no facto de ainda há poucos meses termos falado com o presidente da junta de freguesia de Vila Verde dos Francos que notou que o novo centro escolar tem uma capacidade acima do número de crianças existentes na localidade. As obras não devem ser pensadas a curto prazo. Mas ainda há pouco tempo fui abordado por um freguês de Vila Verde que me disse que aquela localidade estava a registar um bom índice na taxa de natalidade. Há pouco tempo nasceram oito crianças. Naquela zona, há qualidade de vida, e a construção de uma escola pode precipitar que mais gente possa optar pela freguesia em causa também por essa vertente da existência de um estabelecimento de ensino com qualidade. Temos de ir avaliando, que outras valências também possam ser implementadas. No que toca ao pagamento do transporte escolar, houve muitas críticas do presidente da junta do Carregado devido aos atrasos. Mais uma vez o problema fixou-se na liquidez financeira. Sempre dissemos que íamos pagar as dívidas de 2013, já integralmente pagas, mas não tivemos capacidade para pagar também os transportes escolares. Estamos a elaborar um plano de pagamentos para apresentar junto das freguesias. Foi falta de capacidade financeira. Foi esta questão excessivamente polemizada pela oposição? Entendo que as juntas queiram ser ressarcidas, mas também têm de compreender que não conseguimos ter capacidade financeira para poder pagar tudo de uma vez. A expetativa da junta era outra, mas vamos ver se com o IMI conseguimos pagar o transporte escolar. Vamos pagando de acordo com a antiguidade da dívida, e já pagámos a totalidade de 2013. No que toca à concessão de águas em baixa. O número de
Valor Local pedidos para o tarifário social tem vindo a aumentar. As pessoas têm cada vez mais dificuldades em pagar a sua fatura. Por outro lado, muito se joga no campo da viabilidade económica da “Águas de Alenquer”. Neste momento, consideramos que a água é cara, não sei se com o sistema multimunicipal o preço ficará mais uniforme, mas é algo que nos preocupa. Não se nos afigura rever o contrato ou rescindir porque não temos capacidade económica para isso. Mas estamos atentos. Nas conversas que mantem com a empresa, consegue perceber qual será o rumo da mesma, porque a água é muito cara, os munícipes estão muito insatisfeitos. Qual será o futuro da concessão? Essa é uma grande interrogação. As empresas têm de possuir algum lucro. Estamos a tentar perceber onde a concessão poderá ir, até porque a água não pode aumentar mais ainda. Tem sido pressionado pela empresa para rever o contrato? Não tenho sido, só estou a falar disto porque está a perguntar. Admito que possam vir com essa proposta, até porque como disse eles não têm tido muito sucesso económico, e acredito que possam voltar a querer alterar o tarifário. A empresa está a cumprir com o que está feito a nível do contrato Sim, embora tenham sido surpreendidos com o estado em que a rede se encontrava. Tiveram de fazer mais obra do que a que pensaram. Mas esse foi o risco deles. No capítulo da regeneração urbana, há fundos europeus para isso mesmo, ainda há dias foi anunciado pelo secretário de Estado um novo programa destinado aos particulares que pretendam recuperar habitações, no caso da Câmara de Alenquer o que podemos esperar? Estamos também a ver quais os instrumentos de que dispomos,
nomeadamente, uma candidatura com base nos DLBC’s – Instrumento de Desenvolvimento Local de Base Comunitária. Tem de se delimitar as áreas de reabilitação urbana primeiro para que nos possamos candidatar. Alguns proprietários serão notificados em conjunto com algumas associações para depois chegarmos ao terreno, mas ainda não sabemos as regras dos programas para o eixo da requalificação urbana. A Câmara fez um novo regulamento para o estacionamento, será que é desta que resultará em Alenquer? Tudo depende da cidadania das pessoas, mas haverá mais fiscalização em articulação com a GNR. Seremos nós nas áreas concessionadas a aplicar as contraordenações. Qual o ponto de situação neste momento, do pagamento das verbas aos proprietários de terrenos do Centro Escolar de Paredes; Pavilhão Municipal; Parque de Estacionamento da Barrada? Disse há dias na convenção do PS que o processo está a ser gerido com pinças. Em relação ao pavilhão municipal, a verba é de 1 milhão 100 mil euros que estamos a cumprir, e que será paga em 48 meses. Começámos a pagar em setembro, sensivelmente 22 mil euros por mês. Em relação ao Centro Escolar de Paredes, também fizemos um acordo com a proprietária, e este ano vamos pagar-lhe 950 mil euros, também em prestações. Em relação ao Parque da Barrada, foi acordado que podíamos dispôr daquele local, mas não implicava a compra ou o pagamento de verbas. Estamos é a tratar de pagar também o terreno onde se situa o Centro de Saúde de Alenquer. São verbas muito avultadas para a Câmara conseguir cumprir todos os meses, acha que vai conseguir? Tem de se cumprir. Se há um acordo lavrado em notário… Daí eu voltar a falar das nossas dificulda-
Entrevistas des de liquidação. Mas vamos andando e não baixamos os braços. No que se refere à Chemina, há uma parceria do município com a AICEP. Temos feito muitas abordagens a muitas empresas nacionais, e até estrangeiras. Houve o interesse de uma empresa alemã que ficou de pensar na possibilidade de um hotel. Temos uma brochura em que mostramos a área, o potencial do espaço. Estamos dispostos a negociar boas contrapartidas para os possíveis investidores, desde que tal signifique postos de trabalho e desenvolvimento para o concelho. A AICEP tem sido um parceiro importante, pois também faz a articulação com possíveis investidores. Não sei se foi impressão minha ou não, mas durante o seu discurso e também dos outros vereadores na Convenção do PS, decorrida há dias, notava-se um tom de demarcação em relação à anterior gestão PS da Câmara, também com algumas críticas à forma como alguns setores internos da Câmara eram geridos. Somos todos Partido Socialista, mas a diferença baseia-se apenas no facto de sermos outras pessoas. Não renegamos o PS, mas somos necessariamente diferentes, porque as pessoas também já não são as mesmas. Houve alguns setores para arrumar financeiramente, de acordo com os tempos em que vivemos, mas não critico os meus antecessores, porque fizeram um trabalho bem feito. As redes sociais hoje são um importante veículo de informação e de opinião. Há vários grupos no facebook ligados às questões de Alenquer, com fortes críticas à gestão da Câmara. Dá importância a essas críticas e ao que se vai comentando nesses grupos? Dou sempre importância às críticas, temos de ouvir todas as opiniões. Mas o que me aborrece e frustra é o fato de muita gente dizer mal por dizer, porque não há lugar à apresentação de soluções.
É mais cómodo refugiarem-se nesses veículos, mas depois não aparecem nos debates ou pessoalmente. É isso que me custa, mas não no sentido de os calar. Mas costuma dedicar alguma leitura ao que por lá se vai dizendo nesses fóruns? Por sistema não, porque não tenho muito tempo, por outro lado acaba por ser tão triste o que as pessoas vão dizendo, sem conhecimento ou fundamento. Faz parte da cultura portuguesa ter opinião sobre tudo mas sem sustentação. Deveríamos aprimorar as nossas opiniões. Muito comentado nas redes sociais tem sido também o protagonismo do vereador Rui Costa, nomeadamente, aquele percalço ou não, dir-me-á de sua justiça, ao tornar pública a cerimónia de entrega das mochilas escolares a crianças carenciadas. De fato podíamos ter tido algum cuidado nesse processo, mas não houve queixas das pessoas, ou dos pais, foi a própria oposição que nos acusou de falta de modéstia e de excesso de notoriedade. Admito que podíamos ter tido mais cuidado, mas isso não é o primordial. Mas à oposição custalhes que façamos coisas, e aí somos acusados de que os procedimentos não são os corretos, que há erros administrativos. Mas por vezes há mesmo erros administrativos. Por vezes avançamos mais depressa do que aquilo que estipulam os prazos e do que a própria legislação refere, mas é no sentido de fazermos alguma coisa, e não de cometermos a ilegalidade pela ilegalidade. Mas chegar, neste caso, à população carenciada. Podíamos ter feito um projeto e tê-lo levado à Câmara, mas são procedimentos mais lentos. Os miúdos precisavam das mochilas naquela altura. Não fazemos as coisas para aparecer na fotografia mas para chegar às pessoas. Esta entrevista pode ser visualizada na íntegra em www.valorlocal.pt
Câmara de Alenquer está na expetativa para ver qual o futuro da concessionária de águas
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As atividades de Natal e as polémicas P
edro Folgado considera que a marca Vila Presépio conseguiu um bom impulso com as atividades que a Câmara e privados levaram a efeito na última quadra natalícia. “Não sei se tivemos mais turistas, mas houve mais gente a circular efetivamente. Apesar das polémicas, tive a informação de que circularam por Alenquer cerca de 40 mil pessoas”. Sendo que 18 mil deslocaram-se ao espetáculo Quebra Nozes no centro comercial Campera, no Carregado. As outras 22 mil pessoas dividiram-se pelas atividades da tenda dos sabores, e eventos da Câmara como a concentração de reis magos, cerimónia de iluminação do presépio, ou o Christmas Trail. A Câmara tinha orçada uma verba de 19 mil euros para os eventos de Natal, sendo que acabou por gastar apenas 15 mil 750 euros. “Ainda tivemos retorno da Caixa Agrícola que fez algum investimento, bem como do Mac Donald’s com refeições”. Muita tinta correu sobre a instalação de um restaurante gourmet com uma tenda bem no centro da vila que de acordo com a oposição deveria ter sido alvo de um concurso público. Nuno Coelho, vereador da Coligação Pela Nossa Terra, acusou a Câmara de ter cometido uma ilegalidade, mas Pedro Folgado volta a referir que foi o privado que procurou a Câmara e pagou todas as taxas para o efeito. “Não podia abrir concurso porque o espaço não era nosso, nem era nossa intenção ali montar uma tenda ou abrir um restaurante”. “Sei que tiveram sucesso, porque muita gente o frequentou, não sei se ganharam muito ou pouco dinheiro”. Nuno Coelho considerou que outros empresários da restauração poderiam à partida ser prejudicados por não terem tido a mesma oportunidade com a tenda, mas Pedro Folgado refere que o sentimento geral foi de que “todos ganharam com o processo. Ou seja os outros restaurantes não deixaram de ter clientes, pelo contrário até ganharam”. Se no futuro, “outros restaurantes apresentarem propostas para uma tenda, e se for mais do que um, com certeza que avançaremos para um regulamento e concurso”, deixa a promessa.
Diferendo com a Águas do Oeste U
m dos mais recentes problemas prende-se com o fato de a Câmara de Alenquer, oposição incluída, estar contra o facto de a Águas do Oeste (AO) pretender levar a cabo a taxação das águas residuais não tendo em linha de conta as entradas indevidas das águas pluviais no sistema. Apesar de a Câmara ser acionista do sistema intermunicipal, Pedro Folgado diz que há questões pendentes, nomeadamente, as incrustações no sistema. “Estou farto de falar disto com a Águas do Oeste, e com a EPAL!”. “As entidades têm-se remetido ao silêncio e um dia teremos as tubagens entupidas, e temos falado disto em seminários e todos assobiam para o lado, ERSAR incluída”. A solução para este caso poderia passar pela alteração do ponto de entrega. A nova proposta para ser implementada nos concelhos do sistema intermunicipal é vista com bons olhos por alguns municípios como Torres Vedras. “Temos de negociar em conjunto e não apenas com base numa proposta de nova metodologia”. Pedro Folgado considera ainda que o peso do seu concelho é relativo na estrutura da AO, quando o compara com Torres Vedros por exemplo, “que iniciou a nova metodologia, que poderá prejudicar os interesses dos munícipes de Alenquer e que vai contra a nova legislação para os novos sistemas multimunicipais, mas queremos chegar a um consenso”. E volta a referir a questão das incrustações:“Não há vontade de se fazer esse investimento na entrega das águas em alta, e assim resolvia-se o problema das incrustações, bem como no problema dos mínimos”, que a ERSAR diz que são para acabar. Enquanto estas questões não se resolverem, a Câmara considera que é extemporâneo aceitar a proposta da Águas do Oeste. Se bem que também reconheça que a dívida em tribunal do concessionário em baixa, Águas de Alenquer, para com o sistema intermunicipal possa estar a funcionar como areia na engrenagem. “O processo está a decorrer em tribunal, e vamos ver no que vai dar”.
Personalidades
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Valor Local
Vasco Gargalo, cartunista de Vila Franca de Xira
“Nesta profissão corremos riscos e fazemos riscos”
uma altura em que a profissão de cartunista nunca foi tão falada como agora, devido aos trágicos acontecimentos de Paris com a morte de vários profissionais do jornal satírico Charlie Hebdo, fomos conhecer Vasco Gargalo, natural de Vila Franca de Xira, e um dos mais requisitados cartunistas nacionais. O vilafranquense assume que há alturas em que tem mais trabalho, todavia não se queixa de ter seguido a sua paixão como profissão. Aos 38 anos, Vasco Gargalo lembra que o seu percurso estava traçado à partida. Os desenhos começou a fazê-los quando o pai comprava o jornal “A Bola”. Começou por desenhar algumas figuras do desporto, que num ápice ia, depois, mostrar ao pai, que lhe dava as indicações de como devia melhorar. Vasco Gargalo já participou em diversas exposições. O artista partilhou com os melhores do mundo o “Cartoonxira” em 2002 a convite da Câmara de Vila Franca e do organizador, o também cartunista “António”, com quem mantém uma relação profissional há vários
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anos, admirando o seu trabalho e o estilo. Aliás, Vasco Gargalo salienta a importância do “Cartoon” sem palavras. Algo que é comum no colega António e também nos seus próprios trabalhos. Vasco diz que “é um desafio conseguir passar a mensagem sem palavras”, mas ainda assim é algo que vai fazendo nos seus trabalhos. Ainda assim, Vasco salienta que trabalha em regime de freelancer. “Neste momento, vou-me dividindo entre os cartoons e caricaturas pela ilustração editorial, livros infantis e outros projetos artísticos. Tentando sempre construir, encontrar um caminho e um lugar num jornal de tiragem nacional através do meu trabalho.” Todavia, a vida profissional de Vasco Gargalo não fica por aqui, em 2009 venceu o “”. A iniciativa premiou um trabalho sobre “Personalidades portuguesas do século XX”, e foi publicado a 7 de Março de 2008 no Jornal Público.
do jornal satírico Charlie Hebdo deixou uma marca profunda em Vasco Gargalo. “Este massacre tocou-me em particular, pelas vítimas que são cartunistas, pela liberdade de expressão e de imprensa que foi atingida, e pelo radicalismo e fanatismo praticado em nome de uma religião, provocando ainda mais a islamofobia na sociedade ocidental”, descreve. O cartunista é da opinião de que “com este atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo, levantou-se a
questão e dúvidas sobre a atual liberdade de expressão, em torno das fronteiras do humor. O humor mais que fazer rir, deve fazer pensar e com este atentado deixounos todos a pensar sobre este assunto.” Cabu, Charb, Tignous, Wolinski e Honoré, foram referências para muitos jovens cartunistas: “Nunca tive a oportunidade de contactar com estes excelentes cartunistas, mas ficam os seus desenhos que comunicam com o mundo inteiro
O massacre do Charlie Hebdo A tragédia que vitimou cartunistas
Vasco Gargalo já venceu vários prémios
para sempre.” A liberdade do cartunista é condição essencial, mas também Gargalo conheceu a censura por parte de um jornal nacional – “Sim, uma vez rejeitaram um trabalho meu num jornal de tiragem nacional, nesta profissão corremos riscos e fazemos riscos. Podemos ser rejeitados ou reconhecidos pela nossa opinião nem sempre conseguimos agradar a todos, mas a magia é essa!”, descreve “Nesta área, comunicar ou expressar uma opinião através do desenho de uma forma inteligente e sublime tocando sempre na ferida sobre o tema a retratar, mais vale uma imagem do que mil palavras.” Gargalo acredita que o acontecimento em Paris possa trazer outra luz para a forma como o público encara a profissão de cartunista – “Sou da opinião que provavelmente poderá trazer outro respeito, poderá enaltecer esta profissão, até mesmo, mudar algumas mentalidades relativamente a esta arte tantas vezes menorizada. Que a morte de uns façam-nos cada vez mais acreditar. Sempre!”
Valor Local
Terra Velhinha
Instantâneos Notícias para a História
Batuja – O Ardina de Azambuja
Foto de Sebastião Arenque e Paulo Peres por Miguel Ouro, 6/12/14 Segundo Miguel Ouro “Relembramos o Ardina Fernando Batuja na foto mais antiga, na segunda a recriação dos animadores do MOA com o amigo actor João Coelho que é o nosso ardina. No início dos anos 50 o Fernando Batuja ia à estação buscar a remessa de jornais encomendados que vinham no trama de Lisboa para distribuir ao cliente certo, porta a porta, o jornal da capital para os ávidos leitores da terra velhinha. E os leitores eram em primeira instância as gentes um pouco mais abastadas, comerciantes, mangas-de-alpaca, alguns lavradores e um ou outro alfabetizado que naquele dia dava azo a soltar 1 tostão. Apesar de muitas vezes os jornais já estarem vendidos, o Batuja incumbia-se na mesma de apregoar a venda do jornal, pois era com satisfação que realizava a sua tarefa, levada tão a rigor que o levava a ser considerado um ardina ao nível dos melhores da grande capital. A Festa do lançamento da 4ª revista no Atrium Azambuja esteve bonita com a presença do Batuja, as reedições voaram outra vez e a edição da 4ª revista de 125 exemplares esgotou em 2 dias. No balanço da campanha "Ajude-nos a Ajudar" da revista Terra Velhinha uma parceria Terra Velhinha, Junta de Freguesia de Azambuja e ZDT com o patrocínio Atrium-Construaza, entregámos o cheque no valor de 1254 euros à Cerci Flor da Vida, cantámos-lhe os parabéns pelo 33º aniversário, entregámos 2 fotos lembranças a dois membros do grupo Terra Velhinha, ao primeiro publicador António Pereira, e ao último doador de espólio fotográfico do momento, o César Fernando "Camarista". Tivemos Fado com a Maria do Céu Corça, Luís Grácio e Pedro Barrocas, e apareceu-nos o ardina Fernando Batuja a vender a revista e os jornais. E naquela manhã de 1952…ainda o sol espreitava timidamente mas com vontade de mais tarde se espelhar nas águas do Esteiro, já o Batuja vinha rua acima com os seus pregões a servir de despertador de alguns rapazolas atrasados para a jorna do campo. “Olhó Século, olha Bola, Olho Benfica é pró carola. Olha o Diário, olha a República, olha a Bolaaa…”
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Reverendo cónego João de Sousa Canilho O discreto obreiro no silêncio ¢ José Machado Pereira, Historiador Aos 82 anos, faleceu o cónego João de Sousa Canilho, pároco de Azambuja e Vila Nova da Rainha, neste Domingo, dia 16 de novembro. Nascido a 6 de julho de 1932, em Penamacor, Diocese da Guarda, o cónego Canilho foi ordenado sacerdote pelo Cardeal D. Manuel Cerejeira, em 15 de agosto de 1957. Foi professor e prefeito do Seminário de Santarém, entre 1957 e 1966, e em 1968 foi nomeado pároco da Azambuja e Vila Nova da Rainha. Foi também pároco de Vila Franca de Xira, entre 1974 e 1975, e pároco interino de Manique do Intendente (1976 e 1978). Em 1999, foi nomeado Cónego da Sé de Lisboa. Foi juiz do Tribunal Patriarcal, entre 1994 e 1999, e vigário de Vila Franca de Xira, entre 1996 e 2001. Foi presidente da direção da Casa Sacerdotal do Patriarcado de Lisboa e membro do Conselho Presbiteral, além de Vigário Geral do Patriarcado de Lisboa, entre 2004 e 2013.
Documentos para a História
Reverendo cónego João de Sousa Canilho O discreto obreiro no silêncio “Primeiro documento” que em 1968, o Reverendo cónego João de Sousa Canilho, na qualidade de prior de Nossa Senhora da Assunção da vila de Azambuja, dirigiu à população.
Festejo do Triunfo de Carlos Pimentel em VF Xira 1972
Foto de José Maria Matos e publicação por Cátia Matos, 8/12/14 Segundo Ana Monteiro “É verdade uma Mãe querida...foi sempre muito querida para mim...gostava muito dela.” Segundo Madalena Matos “Que saudades Alexandre, duas mulheres de garra...” Segundo Mafalda Maia “Lembro-me tão bem.” Segundo Manuel Jesus Correia “A tua mãe tinha sempre uma palavra amiga e um bom conselho, paz à sua alma.” Segundo Rosário Pereira “Dormi muito na casa dela quando o marido morreu ensinou-me a rezar e muitas outras coisas. Tenho saudades dela, a Emília era uma querida vizinha e a Ti Domingas e as irmãs nunca vou esquecê-las e outras que estão no meu coração” Segundo Inês Grazina “Vovó Emília.” Segundo José Luís Salema “Não tenho palavras amigo.”
Documentos para a História
Reverendo cónego João de Sousa Canilho O discreto obreiro no silêncio Texto de “Apresentação” do livro «Santa Maria de Azambuja – Património: História e Arte», escrito em 2001 pelo reverendo cónego João de Sousa Canilho, internado na clínica da Cruz Vermelha. Sempre ambicionei que a Vila de Azambuja com a riqueza do seu passado, apaixonasse alguém pelas coisas da história e nos testemunhasse factos, vidas, vivências e personagens que nos ajudassem a conhecer melhor o que foi, é, e poderá ser, a história desta terra. Este livro que agora temos nas nossas mãos, é fruto do trabalho incansável de alguém que à custa do esforço próprio, se tem feito um estudioso e defensor do património cultural e histórico deste Concelho: o Dr. José António Pereira. Agradeço-lhe vivamente, que tenha dedicado o seu estudo ao aprofundar a história desta Paróquia e seu templo. Agradecemos-lhe igualmente, em nome desta comunidade, que lhe tenha oferecido a edição desta obra, contribuindo assim, com este benemérito gesto, para as obras de recuperação que temos vindo a realizar na nossa Igreja Matriz. Cónego João de Sousa Canilho Prior de Azambuja Azambuja, Junho de 2001
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