A restauração na arquitetura é um tema que foi e ainda é abordado por vários teóricos ao longo da história. Cada um possui uma metodologia, um modo de pensar, analisar e de intervir na arquitetura patrimonial. Para a definição das diretrizes a serem tomadas, no presente projeto, foi necessário um estudo sobre os diferentes pontos de vista acerca do tema. No decorrer deste memorial será possível notar que os autores do projeto não optaram por seguir uma única corrente de pensamento, tendo em vista que em muitos momentos as teorias se complementam, e que havia uma intenção distinta para cada situação projetual. Assim, o texto está seccionado a fim de isolar as diferentes abordagens feitas ao longo de todo o projeto de restauração.
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Segundo Vitruvius a arquitetura se apoia em um tripé, que é composto pelo seu caráter formal, venustas, estrutural, firmitas, e o seu uso, utilitas. A união dessas três esferas compõe toda e qualquer obra arquitetônica. Para Casarlade, a maior missão que a arquitetura tem dentro do contexto do nosso cotidiano é a criação de “lugares” que possibilitam a ocorrência da nossa vida. Essa missão principal alude à esfera do uso que os edifícios arquitetônicos assumem, tendo em vista que é ele que determina que tipo de atividades serão desenvolvidas no “lugar” que foi projetado, ou seja é o uso que define como a vida deverá ocorrer em determinado espaço.
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A criação de lugares para sua utilização acaba tendo serventia não apenas para o homem, como também para o próprio edifício, ao passo que é a utilização do espaço, a existência de vida no local, que vai assegurar a existência do edifício em si. Isso ocorre porque a partir do momento em que a arquitetura é usada e vivenciada ela passa a portar em si significado, que advém da memória dos seus utilizadores. Isso pode
ser percebido no Santuário do Caraça, em um edifício deteriorado pelas chamas se manteve vivo através do seu novo uso. Para Milton Santos (1986, apud ALBUQUERQUE, 2006, p.43) o espaço é um conjunto que não pode ser separado, de um lado há o arranjo de objetos geográfico, naturais e sociais e do outro está a vida que os preenche e os anima. Dessa maneira, surge a necessidade de manter erguido aquilo que carrega em si grande significado para os usuários, garantindo assim, o sentimento de preservação dos edifícios. Assim, embora muitas vezes assistamos à destruição desses elementos referenciais e propiciadores, a eles devem se dirigir nossos esforços de preservação, afinal, perder essas obras seria como perder o “lugar” e a “alma da cidade”, daí a preocupação com a conservação e a identidade; (CASARLADE, 2014, p. 431). Logo, percebe-se a importância do uso em uma obra arquitetônica, portanto para o presente projeto de restauração ficou decidido que seria essencialmente o edifício a ser restaurado possuísse um uso. À vista disso, definiu-se que este abrigasse um museu de saberes populares piauienses, denominado Mestre Ceramista Raimundinha Teixeira, uma homenagem ao principal expoente feminino dentre os artesãos ceramistas teresinenses. A escolha da temática do museu fundamentou-se na necessidade da transferência destes saberes populares às novas gerações no intuito de garantir que estes se perpetuem no tempo, suprindo ainda a carência de mais espaços socioeducativos no perímetro do centro onde há uma grande concentração de escolas. Dentre as salas que expõem o acervo próprio do museu distribuíram-se ofícios e fazeres tradicionais piauienses como o bordado, a cerâmica, a escultura em madeira, o tear, o trançado em palha, a feitura de objetos em couro.
RUA ELISEU MARTINS
RUA AUREOLINO DE ABREU
LOCAÇÃO ENTORNO IMEDIATO
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50m
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FACHADA DA QUADRA RUA AREOLINO DE ABREU
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SITUAÇÃO INSERÇÃO NO CONTEXTO 1 - MUSPI 2 - Babylândia 3 - Hotel Real 4 - Banco Itaú
5 - futuro Museu da Imagem e do Som 6 - Rua Climatizada 7 - Banco do Brasil
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FACHADA DA QUADRA RUA BARROSO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ | ARQUITETURA E URBANISMO | TÉCNICAS RETROSPECTIVAS 2016.2 MUSEU DOS SABERES POPULARES DO PIAUÍ MESTRE CERAMISTA RAIMUNDINHA TEIXEIRA JULIANA SEPÚLVEDA | LUÍZA CARVALHO | VANESSA CORDEIRO ORIENTADORA: PROF. PAMELA FRANCO
muspi raimundinha teixeira
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elemento formal descaracterizado região da fachada que está cedendo manchas de infiltração recobertas por pintura posterior pintura distinta do padrão da edificação
descolamento de pintura e reboco presença de pixo
A FACHADA SITUAÇÃO ATUAL O edifício possui duas fachadas, ambas apresentam diversas patologias (fig. 2 e 3). Uma delas é devido a problemas estruturais internos, um trecho da fachada de menor dimensão está cedendo, esta apresenta diversas fissuras nas paredes, bem como há um abaulamento da superfície. É possível perceber que as fachadas possuem uma grossa camada de argamassa, provavelmente aplicada, repetidamente, na tentativa de corrigir as fissuras nas paredes da edificação, causadas pela sobrecarga do telhado. Além disso, é notável o problema com a infiltração, que causa manchas nas paredes, também houve aqui uma tentativa de disfarçar tal patologia, através da pintura sobre as manchas, porém ainda é possível ver as marcas por trás da camada de tinta. A composição de cores da pintura foi criada a partir da observação dos registros passados, procurando destacar harmoniosamente os frisos, almofadas e todos os elementos decorativos da fachada. Em alguns pontos a pintura foi descaracterizada, onde elementos específicos da fachada não seguem o mesmo padrão de cor do restante do edifício.
INTERVENÇÃO A intervenção na fachada será no sentido de restauração. Essa decisão foi tomada segundo a visão de Ruskin sobre a importância da conservação da arquitetura do passado, pois é através dela que os indivíduos criam uma identidade dentro da cidade. Ruskin também acrditava na conservação da configuração original dessa arquitetura, já que ele acreditava que as edificações pertenciam aos seus primeiros construtores. Ainda seguindo o pensamento dele no processo de restauração não serão admitidos cópias, imitações ou acréscimos. O processo de restauração servirá para a remoção das patologias existentes.
rachaduras significativas
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3m
MAPA DE DANOS - FACHADA RUA AREOLINO DE ABREU
pintura distinta do padrão da edificação elemento formal descaracterizado manchas de infiltração recobertas por pintura posterior canalização não original composta por tubo de PVC
presença de pixo
rachaduras significativas
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3m
MAPA DE DANOS - FACHADA RUA BARROSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ | ARQUITETURA E URBANISMO | TÉCNICAS RETROSPECTIVAS 2016.2 MUSEU DOS SABERES POPULARES DO PIAUÍ MESTRE CERAMISTA RAIMUNDINHA TEIXEIRA JULIANA SEPÚLVEDA | LUÍZA CARVALHO | VANESSA CORDEIRO ORIENTADORA: PROF. PAMELA FRANCO
OBSERVAÇÕES: Na parte interna das molduras das esquadrias há a presença de manchas negras. Essas manchas também se encontram por trás dos canos de escoamento de água pluvial. Todas as portas e janelas necessitam de repintura, pois há diferentes tons de cor em um mesmo objeto.
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CONSTRUIR
CONSERVAR
CONSERVAR
DEMOLIR
DEMOLIR
PLANTA DE DEMOLIÇÃO E CONSTRUÇÃO
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PRIMEIRO PAVIMENTO 0
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DE DEMOLIÇÃO E CONSTRUÇÃO PLANTA BAIXA PLANTA DE DEMOLIÇÃO E CONSTRUÇÃO PAVIMENTO TÉRREO PAVIMENTO TÉRREO
CONSTRUIR
LEGENDA CONSTRUIR CONSERVAR DEMOLIR
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ | ARQUITETURA E URBANISMO | TÉCNICAS RETROSPECTIVAS 2016.2 MUSEU DOS SABERES POPULARES DO PIAUÍ MESTRE CERAMISTA RAIMUNDINHA TEIXEIRA JULIANA SEPÚLVEDA | LUÍZA CARVALHO | VANESSA CORDEIRO ORIENTADORA: PROF. PAMELA FRANCO
muspi raimundinha teixeira
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