Revista nº7

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Revista Número 7

Miguel Andrade Betta splendens : A genética das cores, 2ª Parte Acarichthys heckelii

Fertilização para Totós Anatomia dos Peixes Underwater Amazon, um aquário de referência.

JANEIRO de 2012 / DEZEMBRO de 2014

- A entrevista que nunca foi feita.


Índice 2 Editorial 3 Miguel Andrade A entrevista que nunca foi feita

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Betta Splendens – A genética das cores, 2ª Parte

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Acarichthys heckelii

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Underwater Amazon, um aquário de referência

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Peixes doentes! Precauções recomendadas para a saúde do aquariofilista

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III Encontro Nacional de Aquariofilia – Coimbra

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Fertilização para Totós

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Anatomia dos Peixes

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Ficha Técnica da Revista PF Fundador: José Martins

Fotografia: Fábio Joaquim, Pedro Santos, Pedro Vicente e Sandra Costa na pesquisa em www.Google.com

Director: Vera Santos

Subdirector: Mara Silva e

Design Capa e Paginação: Vera Santos

Hugo Saldanha Revisão: Vera Santos e Mara Silva Colaboradores: Hatori, Pedro Santos, Fábio Joaquim, Propriedade e publicação: PeixeFauna Mara Silva e Vera Santos

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Editorial Caros leitores, é com agrado que publicamos mais um número da revista PeixeFauna. É caso para dizer que mais vale tarde do que nunca, na verdade devo assumir que foi difícil reunir conteúdo de relevância para a revista, mas conseguimos finalmente. E como tal, é nossa obrigação partilhar aqui convosco, o nosso esforço e empenho, na edição de uma revista interessante, que deixe marca e substância no mundo da aquariofilia falada em Português! Assim sendo, passo a prestar homenagem ao referir quem idealizou esta revista. Foi um grupo de 4 amigos, ex-moderadores do PeixeFauna, cujos nomes passo a referir, José Martins, Aníbal Alves, David G e Hélder Silva. Por motivos de força maior os três últimos afastaram-se do fórum, e a revista foi publicada e fundada pelo primeiro moderador referido, de nome José Martins. Na altura eu era moderadora geral e empenhei-me com ele para que a revista fosse publicada, o que se conseguiu, com algum êxito, embora tenha sido bem modesta comparativamente a esta de hoje, mas sem dúvida um número um, honroso. Em meu nome e de toda a equipa, que atualmente moderam este espaço, os nossos agradecimentos a estes senhores, que se esforçaram por dinamizar o nosso fórum, fazer dele o que é atualmente e implementar a boa prática da aquariofilia em Portugal, com as suas experiências e partilha de conhecimentos a nível do nosso amado hobby. Nesta 7ª edição destaco a entrevista ao Biólogo Miguel Andrade, um amigo que se dedica a vivíparos e peixes de água fria e lagos. Há dois anos, tive o prazer de receber um sim ao meu pedido para realizar uma entrevista com o Miguel, com a finalidade de ser publicada no PeixeFauna. Ora, a melhor maneira de o fazer, é publicá-la agora nesta edição. Esperámos algum tempo e finalmente o Miguel respondeu ás minhas perguntas, de uma maneira simples e muito abrangente. Esta entrevista é algo extensa, mas por o interlocutor ser tão interessante, vale a pena ser lida com calma, certamente irão gostar de a ler. Apresentamos também, um aquário de referência no nosso fórum, a montagem Underwater Amazon do membro Fábio Joaquim. De salientar o artigo elaborado pela Mara Silva, a nossa “veterinária” de serviço no PeixeFauna que nos presenteia nesta revista com um artigo, sem dúvida a ler. Estou a falar do artigo intitulado ” Peixes doentes! Precauções recomendadas para a saúde do aquariofilista.”

Não deixem de ler, os demais artigos executados e publicados nesta edição, a pensar em vocês todos, caríssimos amigos! A Revista PeixeFauna e toda a equipa que escreveu e idealizou este nº 7, deseja um Bom Ano de 2015, a todos os membros, leitores e amigos desejando, que consigam realizar novos projetos e montagens num futuro próximo e que os partilhem aqui junto de nós, no nosso Fórum PeixeFauna! Abraços Vera Santos

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Miguel Andrade A entrevista que nunca foi feita. PF - Como surgiu a tua paixão por aquariofilia? MA – A minha paixão por manter e criar peixes começou em criança. Lembro-me perfeitamente, das idas à praia, de me começar a sentir fascinado com as cores dos peixes que ficavam retidos nas poças de água nos baixios de areia, quando a maré vazava… e ainda assim só os conseguia ver de cima. Capturá-los, isso já era outra história! Os peixes do Índico têm tanto de belo como de ágeis, felizmente para eles. No entanto, em pouco tempo, apurei uma técnica de “caça” que me permitiu recolher uns escassos indivíduos de variadas espécies de entre os mais jovens e inexperientes. O primeiro exemplar que vi fora de água deixou-me completamente rendido. Até chegarem à palma da minha mão havia, no entanto, que praticar uma habilidade que exigia muita paciência e destreza de movimentos, motivo que muitas vezes me afastava das esculturas na areia e das brincadeiras comuns das crianças à beira-mar, pelo menos durante algumas horas, quando as marés se apresentavam de feição. Permitam-me, já agora, que vos descreva rapidamente e em poucas palavras, a dita “habilidade”.

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Limitava-me, inicialmente, a deixar a temperatura subir o suficiente para os peixes encurralados nas pequenas poças de água parada entrarem em angústia e ficarem mais vulneráveis ao meu “ataque”. Nos trópicos isso não é difícil em qualquer estação do ano, basicamente só há duas, pelo que não se tratava de uma tão longa espera que desmoralizasse qualquer miúdo. Assim que os peixes começavam a denotar algum desconforto e demonstravam vulnerabilidade, escolhia poças pequenas e pouco profundas, preferencialmente com poucas pessoas em seu redor. Conduzia calmamente um pequeno cardume para uma margem onde a água fosse suficiente para cobrir o dorso dos peixinhos e, em seguida, com um movimento certeiro com a parte interior do pé projetava alguma água para a areia e, consequentemente, alguns peixes de forma a ficarem dois ou três exemplares em seco na margem. Nem sempre funcionava. Na verdade a taxa de insucesso era elevada, mas ao fim de algumas tentativas «o crime compensava». Os peixes rapidamente se apercebiam da minha estratégia e obrigavam-me a mudar de poça.


Um determinado dia, por volta dos meus 6 anos de idade, não me limitei a observá-los e a devolvê-los de novo ao seu meio. Num balde de plástico usado para as brincadeiras na areia, trouxe para casa alguns desses peixinhos, sem ter obviamente a noção de que os animais não iriam sobreviver. Nessa altura, além de despojado de conceitos éticos basilares, estava muito longe de imaginar o valor que esses exemplares representariam atualmente no mercado de aquariofilia de água salgada. Infelizmente para mim, e em especial para os peixes, eles não toleravam o líquido cristalino que saía das torneiras, e rapidamente a água recolhida do mar em poucos dias deteriorava-se ganhando um cheiro nauseabundo que causava a morte dos habitantes do pequeno balde. Sacrificadas umas quantas capturas à vez, fui sendo devidamente doutrinado pelos adultos a mudar de prática, a qual era considerada muito pouco deontológica. Dessa forma deixei de condenar mais peixes à morte, sem que os mesmos tivessem cometido algum crime ou violado alguma lei, mas o vírus da paixão pelos peixes tinha-se integrado de forma definitiva. Naquela altura, os aquários eram algo raro, somente acessíveis a alguns adultos e eram sobretudo usados como peças decorativas numa sala de estar. Eram pesadíssimos e encarcerados numa estrutura de metal, geralmente de ferro, à qual era aplicada uma caixa em vidro de grande espessura. Existiam umas colas especiais por vezes

desconhecia-se ainda o uso do silicone, e era ainda aplicada massa de vidraceiro na junção das paredes de vidro com a feitas em casa que selavam as uniões entre os vidros, estrutura metálica. Por sua vez, a dita estrutura de metal era previamente tratada com várias demãos de umas tintas ati-corrosão peculiares. Por todas estas razões se compreende que, naquela época, dificilmente se mantinham nos lares grandes aquários, até porque a esmagadora maioria deles eram propensos a fugas, corrosões e uma coleção pouco simpática de sucessivos acontecimentos desagradáveis.

Outrora o meu pai havia tido um aquário na sala de estar, mas não me recordava dele na época em que “caçava” nas poças. Era demasiado novo para me recordar de tal. Apercebi-me do aquário que o meu pai teve bem mais tarde, quando revia a minha infância num daqueles antigos filmes de 8 mm, sem som e exibidos numa sala ás escuras preparada propositadamente para os amigos da família. Lá estava o aquário por detrás de mim quando me preparava para dar os meus primeiros passos. Era um modesto 60x20x25, fenomenal para a altura, generosamente povoado com Tetras, um par de Escalares e uma salganhada de Platies, Caudas-de-espada e os famosos Gupies, na altura todas espécies raras, preciosas e caríssimas, que o chinês da melhor loja de animais de companhia arranjava maneira de importar, por via marítima, de Singapura, da Malásia ou de Hong Kong.

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Poucas eram as pessoas, que tinham mais do que um aquário, a sua manutenção era quase um quebra-cabeças e o material de apoio à vida como compressores de ar, filtros, iluminação e afins eram dispendiosos, grandes, ruidosos e mais ineficazes e “primitivos” do que os equipamentos atuais.

demorasse mais de três meses a evaporar.

Até uma simples desmontagem/remontagem do aquário exigia, no mínimo, duas pessoas e um número considerável de horas de trabalho. Lembro-me vagamente do meu pai e da minha mãe a cooperarem em equipa, com algumas bacias de plástico, o chão salpicado de água e muita confusão em torno do aquário.

Só no final da época das chuvas, é que percebi que esses “peixes” curiosamente ganhavam pernas. Uma vez munidos de membros superiores e inferiores, o que muita confusão me fez, iam-se embora na minha ausência. Os esconjurados anfíbios que me deram a primeira desilusão.

Por motivos, que facilmente se podem depreender, o conceito de “fish room ” ainda estava muito pouco explorado naquela época. Poucos eram os lares vocacionados para a aquariofilia, e quando isso sucedia dispunham de um único aquário “ornamental”, sempre de água doce. Contudo, a natureza era tão pródiga e a biodiversidade tão esmagadora que, no país onde nasci e vivi a minha infância, me tornaria biólogo ou aquariófilo à força. Num canto do mundo onde «os peixes choviam do céu» e apareciam no fundo dos quintais sem serem convidados, ou até nas poças de água dos caminhos rurais, ninguém lhes ficaria indiferente por muito tempo. E foi dessa forma que, contrariando a severa legislação para impedir a proliferação do mosquito, na luta contra o omnipresente flagelo da malária, leia-se paludismo, começaram a aparecer uns recipientes denominados pela minha avó como baldes de “água choca” e “algas” num recanto escondido nos confins do quintal.

Infelizmente, não eram coloridos como os do mar, mas eram abundantes, mais dóceis e sobretudo lentos, razão pela qual eram extremamente fáceis de apanhar até mesmo com o uso de um copo de plástico.

Na minha inocência, levei algum tempo a compreender que não estavam a ser comidos pelos cães lá de casa quando iam beber aos meus recipientes, como inicialmente supus, mas que tinham mudado de cor e de forma, saindo da água, pulando alegremente pelo quintal na forma de rãs e sapos. Fundulus Lineatus

Elassoma zonatum

Curiosamente a minha dedicação à água doce começou com uns peixes muito estranhos que misteriosamente despontavam após as primeiras chuvas, em qualquer concentração de água que

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Alguns deles, eram mesmo os que trepavam às árvores e apareciam colados nos tetos lá de casa, para desespero e terror de qualquer senhora da família.

mesma espécie, pois nos recipientes dos “parasitas”, despontavam alguns dos “bonitos” por mais que distanciasse ambas as “coleções”.

Resolvi então, procurar por peixes “a sério” que não ganhassem pernas mais tarde ou mais cedo. Inicialmente recorri aos lagos dos jardins públicos da cidade, e foi neles que “literalmente esbarrei” com a minha primeira espécie de eleição.

Assim um dia “fez-se luz” e juntei todos, machos e fêmeas, para compreensível e enorme felicidade dos machos que haviam permanecido apertados durante meses. Mais tarde alguém me disse que os ditos peixinhos se chamavam Gupies.

Eram pequeninos tal como eu na altura, pacíficos, muito rústicos, pouco exigentes, comiam de tudo e suportavam perfeitamente tanto a água transparente da torneira, como a água verde dos meus recipientes vivendo todo o ano ao ar livre sem problemas, exceto quando as chuvas torrenciais faziam transbordar alguns dos recipientes e, muitos deles decidiam «dar novos mundos ao mundo», indo parar aos locais mais estranhos que vos possa ocorrer antes de ficarem em seco.

Que nome tão estranho para um peixe originário de um país onde se falava Português, devia ser engano, mas soava bem. Mais tarde ainda, um adulto contou-me o que considerei o mais extraordinário, os Gupies eram originários das longínquas Caraíbas e da Venezuela, locais paradisíacos do outro lado do mundo. Como era possível?! Como teriam ido ali parar? Seria verdade?

Outra vantagem destes bicharocos era o facto de serem bastante coloridos e muito variados, embora não comparáveis aos que poderiam ser capturados na praia.

Sim, de facto era possível. Algum tempo mais tarde alguém teve a paciência de me explicar que, os ditos Gupies, estavam na nossa terra pois tinham sido trazidos com o objetivo, muito nobre, de comerem as larvas dos mosquitos que transmitiam a malária.

No entanto, como o método de captura era o clássico saco de plástico com um pedacinho de pão lá dentro, acabava sempre por se infiltrar uma outra espécie, que denominei “os parasitas”, até porque esses ditos supérfluos não tinham grande beleza nem cores atrativas, na realidade mal se distinguiam na água verde. Com muita paciência era feita em casa uma triagem e separação das espécies para locais distintos, de modo a «não existirem confusões e misturas». Contudo, para grande pena minha, os “bonitos” não se reproduziam e “os parasitas” não paravam de ter “ninhadas” generosas. Alguns meses mais tarde é que me finalmente me apercebi que eram todos da

Uau! Era aquilo que eu precisava ouvir. Passei a procurar larvas de mosquito para empanturrar os meus peixes, e eles prazerosamente as devoravam. Os recipientes passaram a estar à vista de toda a gente ao invés de estarem escondidos dos adultos lá nos confins do quintal, ou num terraço ao ar livre na cobertura da casa dos meus avós para onde trepava furtivamente tratar de uns quantos peixes exilados (era o meu “site II” em caso de ser descoberto).

Aphanius fasciatus

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O argumento era tal que até passei a ser incentivado a cultivar os ditos peixinhos para “purificar” o quintal. E foi assim que montei o meu primeiro “lago”, aproveitando uma banheira que sobrou de umas obras na casa de banho. Esse primeiro “lago” permitiu-me explorar as primeiras espécies indígenas, a começar nos Killies e a acabar nos meus estimados Ciclídeos, alguns dos quais «cuspiam nuvens de filhos pela boca».

enormes carpas ornamentais “Koi”, as quais representam outros tempos e são conditio sine qua non para manter um dos lagos a funcionar num jardim que não é meu.Tenho assim a desculpa perfeita para aí poder manter as restantes espécies.

E disto isto, basicamente foi assim que tudo começou. O que acabo de narrar, e para justificar a minha paixão pela aquariofilia, deve ser analisado à luz da respetiva época e do lugar onde os factos ocorreram, isto é, no século passado, longe da Europa, Estados Unidos ou do Japão. Vivíamos a aquariofilia sem acesso a clubes, associações, literatura ou contacto com outros apaixonados pelos peixes mas com mais experiência. Qualquer comparação com a realidade de hoje é pura coincidência. Até porque, na altura, os inventores da Internet ainda mal tinham chegado à escola secundária, nesses idos anos em que computadores eram como os dinossauros, ocupavam salas inteiras, servindo basicamente para efetuar cálculos complicados aos militares e cientistas. PF - Que tipos de espécies manténs? Fazes criação? MA – Atualmente estou seriamente limitado em termos de espaço. Depois de há cerca de 17 anos atrás ter gerido praticamente 86.000 litros de água, dispersos entre uma “fish room” e quatro lagos de jardim, estou presentemente refém de um aquário com 200 litros de capacidade em minha casa, assim como 2 lagos de jardim, um com 4.000 litros e outro com 20.000 litros de capacidade, estes útimos em casa do meu pai. Essa é uma das razões preponderantes pela qual continuo muito dedicado aos Cyprinodontiformes. Mantenho ainda duas

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Aphanius Baeticus Dos Cyprinodontiformes ovulíparos venero peixes dos géneros Aphanius, Cyprinodon, Fundulus e Valencia, entre os quais manteria muitas das espécies de bom grado. Infelizmente, com o atual espaço disponível só me é concedido o privilégio de manter duas espécies do género Aphanius, uma delas apenas desde Outubro passado, principalmente porque muitas espécies de peixes pertencentes aos supra mencionados géneros, estão protegidas por legislação internacional, a qual impede a sua captura e manutenção em cativeiro. Tenho porém conseguido nos últimos tempos uns raros Poeciliídeos e Goodeiídeos pertencentes a linhagens com local de proveniência, data de captura e autor devidamente identificados. Estas preciosidades não se encontram à venda no comércio e só são possíveis de alcançar através de contactos internacionais, da minha participação no GWG e das capturas na natureza do Miguel Figueiredo, muitas vezes acompanhado pelo Delfim Machado, os campeões nacionais nas expedições ao estrangeiro, em particular no

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que concerne aos ovovivíparos. De 1998 em diante, escolhi dedicar-me sobretudo aos peixes vivíparos e ovovivíparos porque se reproduzem naturalmente, são rústicos, e capazes de prosperar durante as minhas longas ausências sem necessidade de cuidados específicos, ou procedimentos complicados como sucede, por exemplo, com a reprodução de anual de Killies, alguns Tetras e Locarídeos, entre outros.

posso proporcionar, sobretudo em termos ambientais, a minha preocupação seguinte é determinar se são conciliáveis com as que habitam previamente o local onde vou misturá-las devido à crónica falta de espaço que tenho. Agora tenho que povoar lagos e aquários com mais do que uma espécie, ao contrário do que era hábito no passado. Se todas as premissas assim o indicarem, avanço decididamente para a obtenção dos peixes.

Simultaneamente são animais que não atingem grande porte e que, por essa razão, nos permitem manter uma população geneticamente viável em espaços relativamente modestos. Esse fator é muito importante para quem, como eu, se dedica à modalidade de reprodução a longo termo, o meu recorde foi atingido com a manutenção de incontáveis gerações de uma única linhagem de Carassius Auratus , o London Shubunkin, também conhecido como Chuwen-Chin de cauda normal, a qual reproduzi durante 18 anos consecutivos. Como estou de facto muito desesperado por espaço e também tempo livre diga-se em abono da verdade, muitas das espécies que mantenho já se consideram extintas na natureza, ou infelizmente estão muito perto disso. Ainda assim não me posso queixar da sorte, pois graças à preciosa colaboração de amigos como a Maria João, consigo por vezes cooperações de valor inimaginável. PF - Quais os cuidados que tens em termos de manutenção? MA – O primeiro cuidado é estudar a biologia e a ecologia das espécies-alvo, de forma tão profunda quanto a literatura ou a Internet mo permitam. Este processo chega a ocupar-me alguns meses antes de receber os peixes. Quando estou seguro de que essas espécies são compatíveis com as condições que lhes

Cyprinodon alvarezi Como estou a agir ao contrário da maioria dos colegas de passatempo, isto é, não necessito de recriar condições específicas para o bem-estar dos peixes, porque seleciono quase exclusivamente espécies adequadas às características ambientais do local onde as vou manter, poupo muito trabalho diário mas sobretudo muita energia elétrica, recursos e dinheiro.

De resto é o habitual, e inclui-se na tentativa de simulação do maior número de condições do seu habitat natural, incluindo pormenores como o regime de iluminação apropriado ou a dieta alimentar mais ajustada para os peixes em questão. Enfim, escapam algumas recriações relativas ao ambiente de origem, como a simulação das chuvas em aquário, mas até nesse ponto tenho sorte, pois um número considerável das espécies que mantenho é encontrado em corpos de água muito confinados dos desertos. Há contudo uma prática que não é muito corrente e que uso há vários anos com sucesso, as mudanças parciais de água com assiduidade.

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Faço-o particularmente, nalguns casos por ser absolutamente incontornável, nomeadamente nos peixes oriundos de nascentes de águas “puras” que, por essa razão, são muito mais sensíveis a concentrações de nitritos ou de nitratos perfeitamente inócuas para muitas espécies, porém, as mudanças de água servem igualmente como forma de controlar/erradicar alguns problemas. TPA’s frequentes já provaram serem um método satisfatório, para evitar certos fracassos e problemas na manutenção dos peixes, incluindo evitar avanços com medicação química para erradicar surtos epidémicos, pois se as condições favoráveis à proliferação dos agentes patogénicos forem entretanto atenuadas ou abolidas, os peixes bem alimentados, em qualidade e não só em quantidade, a reação à renovação da água é bem tolerada e o surto é debelado em pouco tempo.

Cyprinodon elegans De facto, se as condições ambientais estiverem dentro de limites aceitáveis para a espécie, nomeadamente a temperatura, as tpa’s são um método que, por exemplo, nos resolve com eficácia alguns casos de doenças causadas por bactérias, em particular se for usado logo de início. Chamo no entanto a atenção para o facto de que esta não é uma regra universalmente aplicável e, pode mesmo revelar-se prejudicial à biologia de algumas espécies. Cada caso é um caso, e o investimento no conhecimento não ocupa

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lugar, pelo que não devemos misturar peixes com necessidades ambientais diferentes nem aplicar o mesmo método universalmente. Outro cuidado primário e fundamental, é manter um número razoável de peixes para a quantidade de água disponível. Grandes multidões, leia-se concentrações elevadas de indivíduos, potenciam sempre problemas, mais tarde ou mais cedo, nomeadamente em cativeiro onde os peixes são conservados em espaço restrito independentemente dos sistemas de filtragem mais ou menos sofisticados ou eficientes. PF - Que conselhos dás a quem está a começar com vivíparos? MA – Jamais, adquirir peixes de forma emotiva e não ponderada, ou seja, com um mínimo de planeamento e informação prévia (sejam quais forem os peixes – vivíparos ou outros). Aprender, tão profundamente quanto for possível, sobre a biologia e a ecologia das espécies-alvo, selecionando muito bem as fontes de informação, pois infelizmente há asneiras e mitos replicados até à exaustão, sobretudo na Internet. Para quem tiver paciência aconselho mesmo a procurar ler alguns artigos científicos, disponíveis em bases de consulta integrais acessíveis ao público via Internet. São pistas fundamentais e muito mais fidedignas que certas “fichas” publicadas em sítios de amadores ou muitas opiniões lidas nos fóruns. Uma falsidade repetida e propagada milhões de vezes (por cópia e colagem)… não a torna uma verdade. Aconselho acima de tudo não se descurarem as seguintes questões na fase de planeamento: a) Escolher os peixes em função dos objetivos a curto, médio e longo prazo, isto é – sabermos optar entre manterem-se alguns

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indivíduos de uma espécie que nos conquistou sentimentalmente, sem preocupações com a sua reprodução (num aquário comunitário, por exemplo) ou, no outro extremo, avançarmos para a manutenção de uma linhagem por tempo indefinido, preparando as condições para a sua reprodução.

Os maiores erros a que tenho assistido ao longo dos anos, estão maioritariamente relacionados com algo muito simples, a maioria das pessoas age de forma emotiva (afectiva) quando adquire os peixes. Não planeiam e não recolhem informação prévia em fontes fidedignas cada vez menos frequentes. Uma importante ajuda, passaria por dispormos de profissionais com a formação adequada no comércio, os que ultrapassam a fronteira do nível comerciante curioso, simples atendedor, ainda são muito raros.

Cyprinodon pecosensis

b) Escolher os peixes em função do tempo livre (e dedicação) disponível, isto é – se vamos apostar nas linhagens domésticas de espécies, cada vez mais rústicas e muito adaptadas à aquariofilia ou, no extremo oposto, se nos queremos dedicar a alguma daquelas linhagens provenientes de aninais selvagens da mesma espécies, com exigências que inspiram cuidados especiais diários, comparáveis aos cuidados exigidos pelos peixes originários dos recifes marinhos de coral situados nos trópicos. c) Escolher os peixes adequados às características ambientais do local onde vão ser instalados (aquário/lago), ou criarem-se condições específicas de acordo com a biologia e ecologia da(s) espécie(s) escolhida(s)?

Muitas desilusões e fracassos poderiam também ser evitados se pudéssemos ter, no futuro, uma melhor “filtragem” de conteúdos e opiniões não fundamentadas em conhecimento real nos fóruns. Admito ser humanamente impossível e a moderação prévia de intervenções acabaria com a “democracia” intrínseca a esses locais de liberdade e debate.

Cyprinodon_rubrofluviatilis

Auxiliaria igualmente de forma evidente se a Internet não estivesse tão repleta de asneiras e as pessoas não parassem nos primeiros resultados de pesquisa ou tivessem outros cuidados na escolha das fontes. 11


Mas acima de tudo, e mais importante para as escolhas dos principiantes, o ideal seria aspirarmos a uma aquariofilia evoluída no nosso país, em particular ao nível das atitudes ou da deontologia. Muitos erros seriam evitados se a sinceridade fosse prática corrente, ou seja, se quem está a ajudar o iniciado não sabe ou não tem conhecimentos bem fundamentados, mas baseia o seu “saber” apenas na teoria, geralmente de outros, deveria admiti-lo sem preconceitos, em vez de debitar falsa sabedoria ou reproduzir enganos e erros. Uma das ideias que deveria ser combatida, é a de que todos os vulgarmente conhecidos como peixes “vivíparos” são típicos modelos de opção para os iniciados na aquariofilia. Sem entrar sequer no exemplo das espécies extremófilas, poderia dar-vos uns quantos exemplos de bocas, desafios para os mais experientes aficionados pelas ditas “espécies nobres”, e pelos “peritos” ligados à aquariofilia através das especialidades mais exigentes em termos técnicos e científicos.

Elassoma alabamae Já assisti ao fracasso na manutenção de vivíparos e ovovivíparos ditos “selvagens” por parte de ilustres colegas que são nomes conhecidos e “sonantes” no nosso meio, nomeadamente por terem várias décadas de experiências e terem conquistado a nossa admiração, por feitos

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alcançados com espécies ou recriações de habitats extremamente exigentes. Todos os dias aprendo com os meus peixes, literalmente. Tal como acontece em ciência, por vezes o que desde sempre foi assumido por todos como uma verdade absoluta, um dia descobre-se que afinal não é bem assim e que andávamos todos enganados. No entanto há algo que é intransponível, o conhecimento tão profundo quanto possível sobre a biologia dos animais mantidos, esse sim, pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso, a sobrevivência ou a perda de exemplares, mas acima de tudo entre sermos éticos ou estarmos a provocar sofrimento desnecessário noutros seres vivos. Neste aspeto é bom relembrar que os peixes não se lamuriam, não choram, não gemem, não se lastimam, não gritam de desespero, não nos incomodam com os seus clamores de aflição ou sofrimento. Para mim é sinal de preocupação quando vejo um aquário que cumpre aparentemente todos os requisitos indicados para a manutenção de uma espécie, pelo menos à luz do conhecimento atual, mas alguns peixes exibem aquele mesmo comportamento que tinham outrora os animais enjaulados dos jardins zoológicos da minha infância, isto é, não param de “fazer piscinas”, percorrendo continuamente o vidro de uma ponta à outra e voltando em sentido contrário. Esse é o primeiro sinal de alerta, ao qual a generalidade das pessoas não presta atenção.

Elassoma evergladei

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Há vivíparos e ovovivíparos para quase todas as situações e formas de estar na aquariofilia, até para os aquários ditos “comunitários”, têm é que ser bem escolhidos. Não sou, de todo contra os chamados aquários comunitários, muito pelo contrário. Nunca poderei é concordar em consciência, e refuto com vigor combinações arbitrárias e não organizadas de espécies, nas quais se juntam as habituais “saladas de frutas”, reunindo-se animais e plantas com exigências físicoquímicas por vezes diametralmente opostas ou comportamentos incompatíveis com a convivência mútua num espaço tão restrito. É muitas vezes nestas contraditórias congregações que são mantidos os ovovivíparos mais comuns de linhagens ornamentais domésticas. Os problemas éticos agravam-se ainda mais quando as pessoas resolvem “reproduzi-los” aí, recorrendo às chamadas “maternidades”, o método mais refinado de tortura e castigo das fêmeas em gestação, totalmente inadmissível em termos dos valores morais mais básicos ou princípios de conduta sustentável, em todas as correntes que conheço da filosofia ética contemporânea aplicada à aquariofilia. Elassoma okefenokee

PF - Que vivíparos poderemos ter em casa sem aquecimento? MA – Se tivermos em consideração a habitação típica no nosso país, qualquer

espécie de Goodeiídeo viverá confortável durante praticamente todo o ano, nos nossos lares sem a necessidade de se usar um sistema de aquecimento da água. Curiosamente, alguns começam a ter problemas mais ou menos graves de saúde acima dos 25ºC, pelo que convém ter algum cuidado no verão, para não os expormos muito tempo a uma prova de esforço, ou seja, a valores de temperatura acima do limite anteriormente referido.

Enneacanthus obesus Em minha casa as temperaturas do aquário chegam facilmente aos 28ºC/29ºC nos meses de Julho e Agosto, já tive oportunidade de o comprovar no passado, tendo perdido alguns exemplares devido a complicações de saúde causadas pelo calor. Foi então que resolvi investir num sistema de refrigeração da água que agora mantem o aquário abaixo dos 24ºC nessa altura do ano. Há no entanto, um número simpático de espécies de Goodeiídeos que vivem confortavelmente acima dos 25ºC durante o tempo que for necessário, estando igualmente aptos a tolerarem temperaturas ligeiramente inferiores a 14ºC no inverno, o que os torna muito interessantes para habitarem nos nossos lares com uma poupança considerável nos custos com a energia. Um número, também simpático de Goodeiídeos está apto a sobreviver abaixo dos 10ºC, o que duvido que aconteça em

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muitas habitações do nosso país, mesmo no pico do inverno, mas inclui-os no lote de espécies a manter num lago de exterior em muitas regiões. Todos os Poeciliídeos provenientes de regiões temperadas ou climas de altitude, nomeadamente os que se distribuem naturalmente do Estado de São Paulo, no Brasil, até limite sul desta sub-família na Argentina e Uruguai, assim como os que são originários da costa Atlântica dos Estados Unidos até Tampico, no México, são apropriados para os mantermos em aquários não climatizados nas nossas casas durante todo o ano. Os Anableptídeos também possuem umas 13 espécies interessantes na mesma região geográfica que engloba o Sul do Brasil, o Norte da Argentina e o Uruguai, a maioria das quais viverão muito confortavelmente nos nossos aquários domésticos sem necessitarem de arrefecimento no pico do calor ou de aquecimento no pico do frio. Há obviamente mais espécies de água doce que adotaram como estratégia reprodutiva a viviparidade e a ovoviparidade, como as pertencentes às famílias Hemiramphidae e Potamotrygonidae, mas são todas mais ou menos dependentes de climatização dos aquários domésticos durante o Inverno.

Enneacanthus gloriosus.

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PF - Foi criado o Grupo ViP, explica-nos o que é e quais os seus objetivos? MA - O grupo ViP (Vivíparos Portugal) é um grupo informal de entusiastas e interessados por peixes vivíparos e ovovivíparos, que se dedica ao estudo, manutenção e divulgação dos mesmos. Embora, se privilegiem as variedades naturais ou as estirpes que, sendo manipuladas por seleção artificial não estejam significativamente adulteradas pela atuação antropogénica, qualquer linhagem é muito bem aceite, mesmo que não se enquadre decididamente neste conceito. A presença do grupo na Internet serve de “ponto de encontro” (fórum) e “ferramenta de trabalho” (base de dados, etc.), podendo ser visitada ou acedida a qualquer momento e em qualquer ponto do mundo através da hiperligação http://www.keepbase.org/fish/vip/sp.php. As regras são extremamente simples http://www.keepbase.org/fish/vip/vip/rules .html e acessíveis a qualquer interessado que se queira juntar a nós. Temos já um interessante conjunto de atividades nos primeiros anos desde a sua fundação, incluindo o “1.º Fórum de Discussão Nacional sobre peixes Vivíparos e Ovovivíparos”, realizado a 12 de Maio de 2012 (o qual incluía um debate e uma exposição de peixes), a participação nos 2 últimos Congressos Internacionais do GWG (Viena de Áustria em 2012 e Asperen na Holanda em 2013), o “2.º Encontro Nacional do Grupo ViP”, em 29 de Junho de 2013 no Aquário Vasco da Gama (o qual incluiu diversas palestras), uma presença oficial na “XIII Convenção Internacional da Associação Portuguesa de Killifilia”, em 19 e 20 de Outubro de 2013, com um aquário expositivo e a convite da Direção da APK, para além de reuniões com

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alguma periodicidade, assim como atos individuais ou em grupo como expedições de coleta de peixes ou presença em convenções estrangeiras como a da ALA (American Livebearer Association) no ano passado por parte de destacados membros do grupo, ou a recente participação numa expedição ao Uruguai por parte de 2 membros. Paralelamente, há uma forte comunicação através do “Facebook”, e algumas informações úteis enviadas através da lista de correio ligada ao meu sítio na Internet. Já que estamos a abordar este assunto, permitam-me um pequeno comentário acessório. Que seja do meu conhecimento, o “Grupo ViP” não tem ambições de ser, ou vir a tornar-se a médio prazo, numa organização formal de tipo associativo. Em Portugal não existe, infelizmente, “massa crítica” para tal. Como primeiro argumento, relembrovos que estamos perante uma crise declarada na aquariofilia, e não me refiro apenas àquela que é causada por motivos económicos devido à conjuntura do país. É uma situação comum em grande parte dos países com os quais temos relações formais no nosso passatempo e que se revela num “envelhecimento” evidente dos aquariófilos, bem patente na média de idade das pessoas que se dedicam aos peixes, ou melhor, na ausência de renovação geracional. Ao contrário do que se assiste nas convenções, nos fóruns há de facto muita juventude sempre presente. Com tudo de bom que essa janela para o futuro pode representar constata-se,

no entanto, que a maioria dos atuais aquariófilos tem uma passagem bastante efémera pelo passatempo. São sobretudo entusiastas repentinos, isto é, não permanecem ligados à aquariofilia por mais do que uns escassos meses ou parcos anos, muitos deles nunca se vindo a especializar em alguma das inúmeras vertentes. A maioria manterá sobretudo e unicamente uma ligação ao denominado “aquário comunitário”, pelo qual quase todos nós começámos certo dia, e não passará daí. Dessa forma, os laços com os chamados “peixes vivíparos” ficam-se muitas vezes pela manutenção de híbridos ou variedades ornamentais, manipuladas por seleção artificial, usualmente degeneradas de forma muito expressiva pela ação antropogénica, a qual atinge o seu expoente máximo no caso do Guppy (Poecilia reticulata) e das Molinésias (em particular Poecilia latipinna e complexo Poecilia sphenop). No estrangeiro há mesmo associações de grande dimensão só dedicadas ao Guppy selecionado, o qual constitui em si mesmo um negócio, quase que diria milionário. Fundulus lineolatus

Paralelamente existem outras organizações ou grupos que, repudiando completamente essa prática, atuam e estabelecem os seus limites e objetivos apenas no âmbito dos animais denominados selvagens, isto é, aqueles que continuam a respeitar a fisiologia (características físicas e acima de tudo funções mecânicas) dos seus

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antepassados capturados na natureza, antes dos mesmos serem alvo de seleção reprodutiva artificial no sentido de se apurarem características específicas ou mutações. Em Portugal, não se conhece o número certo de entusiastas dedicados de forma persistente a qualquer uma das vertentes anteriormente referidas, o que se reflete claramente na composição variável e na insignificância da quantidade de elementos que compõem Grupo ViP, isto é, para além dos “velhinhos” que constituem o chamado “núcleo duro”. Nestas condições, todas as tentativas para se constituir, manter e gerir um movimento associativo formal, pelo menos da forma tradicional, estarão momentaneamente muito propensas ao insucesso, vejam-se as dificuldades com se debatem associações dedicadas a outros grupos ou famílias de peixes há anos, até mesmo numa ou noutra especialidade da aquariofilia muito mais conceituada e popular do que os denominados “vivíparos”. Infelizmente viram-se gorar rapidamente várias tentativas para se criarem associações dedicadas aos “vivíparos”, até mesmo as que foram muito sustentadas em fóruns nacionais de aquariofilia.

Fundulus waccamensis PF - Como vês hoje em dia o mercado nacional e internacional de vivíparos?

MA – Para além das constatações

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à evidente falta de compromisso com a formação técnica e científica mais adequada, por parte da maioria dos lojistas ou pessoal de atendimento no comércio, o mercado nacional da aquariofilia sofre atualmente uma evidente regressão. A quantidade de estabelecimentos que encerraram portas nos últimos 2 anos em Portugal é preocupante. Felizmente vão subsistindo alguns estabelecimentos comerciais, até de maior dimensão, muitos dos quais constituem precisamente as honrosas exceções à falta de qualificação dos respetivos proprietários e sobretudo funcionários. Enfim, a dimensão nem sempre é sinónimo de qualidade, nos termos anteriormente abordados, mas nota-se essa tendência na comparação entre os grandes estabelecimentos e as pequenas lojas. Como exemplo posso referir que adquiri “acidentalmente” a espécie Gambusia puncticulata num pequeno estabelecimento, o que à partida seria inimaginável. Os peixes do primeiro lote, duas fêmeas não identificadas foram vendidas como Poecilia reticulata, estando no dia em que as adquiri a causar danos nas barbatanas das fêmeas de Guppy genuínas que partilhavam o mesmo aquário. O funcionário da loja foi alertado para a má identificação dos peixes e ficou combinado que me contataria caso voltasse a aparecer a “nova espécie” nos lotes ou listas de encomenda seguintes. Sem resposta, regressei um mês depois e deparei-me com mais duas fêmeas, desta vez num aquário só para elas, suponho que já teriam causado danos entretanto,.

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vendidas a um preço mais elevado e identificadas como Peixe Mosquito – Girardinus metallicus (?!?!). Enchi-me de paciência e lá voltei a explicar tudo de novo, referindo que de facto a designação popular era aceitável, mas a científica não. Comprei ambos os exemplares e reforcei o pedido de contato em caso de nova remessa, tendo confirmado que o meu contacto telefónico estava correto. Um mês depois voltei ao mesmo estabelecimento devido a nova ausência de notícias. Advinham o que terá acontecido? É fácil, não é? Outro aquário apenas dedicado a uma fêmea, e a identificação Girardinus metallicus !?! A pessoa que me atendeu, possivelmente já farta da minha insistência chamou um superior hierárquico. Fui atendido com muita simpatia mas igualmente informado com muita convicção e segurança, de que poderia ter toda razão deste mundo do meu lado, mas a identificação não seria alterada por motivos legais (?), uma vez que assim constava da guia de remessa do importador onde o estabelecimento se tinha ido abastecer Este exemplo ilustrativo é apenas «a ponta do icebergue». O mercado nacional prima por várias particularidades que infelizmente não se têm alterado muito nas últimas décadas, á exceção de um estabelecimento comercial, o qual escuso de identificar por motivos óbvios, as importações baseiam-se muito, para não dizer exclusivamente, em lugares comuns, ou seja, escassas variedades ornamentais de híbridos ou

linhagens manipuladas por seleção reprodutiva artificial, usualmente adulteradas de forma muito expressiva pela seleção antropogénica ao longo de várias gerações. Lucania parva

É porém esse o tipo de peixe que a esmagadora maioria dos aquariófilos reconhecem. É também o que se vende. É o que os grossistas importam e é os que os produtores e exportadores disponibilizam para Portugal, sobretudo a preços atrativos para o nível de negócio, caracteristicamente de escasso consumo do comércio da especialidade nacional, particularmente quando comparado com o que acontece nos parceiros da Europa. As regras de mercado são simples de entender, pelo que é escusado entrar em mais pormenores. O comércio internacional de peixes produz fortunas, criando muitos postos de trabalho e chegando ao ponto de sustentar parte considerável da operação nalgumas companhias de aviação civil dedicadas ao transporte de mercadorias. O que é facto, é que a esmagadora maioria dos consumidores finais, os aquariófilos, não buscarem as formas selvagens, menos coloridas, nada extravagantes e ainda por cima mais caras. Dessa forma, o mercado nacional limita-se a reagir à procura. No nosso país, há ainda a considerar a agravante da já referida dimensão do

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negócio e do volume das encomendas, bastante inferior ao de outros países como o da vizinha Espanha, por exemplo.

sua dimensão, chegaram a aparecer, de longe a longe, importações espontâneas de formas selvagens de vivíparos.

Os grossitas nacionais, não têm possibilidade de concorrerem ou de se evidenciarem perante a concorrência de outros países da União Europeia, do Japão, do Canadá, dos Estados Unidos ou até de grandes produtores mas simultaneamente consumidores como o Brasil e a China. Se as firmas exportadoras ou os entrepostos internacionais disponibilizam por vezes apenas o “refugo” aos nossos importadores/grossitas nacionais, tal se fica a dever às dimensões das encomendas, nomeadamente quando comparadas com as de concorrentes, pelo que as lojas não podem disponibilizar ao consumidor final variedade ou apostarem em novidades. Se no nosso país o aquariófilo está retraído por causa da crise ou da falta de poder de compra em relação ao dos colegas estrangeiros, as lojas correm riscos, como é óbvio. Quantos estabelecimentos que vendem peixes de aquário se dedicam exclusivamente a esse nicho de mercado, especializando-se unicamente nesse negócio? Quantas vendem peixes de aquário apenas como uma oferta secundária, numa atividade comercial muito mais abrangente, que inclui uma quantidade de animais de companhia (mamíferos, aves, répteis, etc)? Este é um sinal da dimensão do nosso mercado e da perda de importância da aquariofilia como fonte de rendimento para os estabelecimentos comerciais. Há obviamente exceções à regra. Numa determinada loja, bem conhecida pela

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Valencia hispanica Foi inclusivamente aí, que adquiri os meus primeiros Goodeiídeos há 10 anos atrás, e alguns Poeciliídeos invulgares no comércio nacional nos anos que se seguiram. No entanto, tais peixes ficaram meses em exposição, sem serem comprados. Em parte isso acontece por falta de interesse dos consumidores mas, acredito eu, também não devemos desresponsabilizar os preços a que os mesmos são comercializados.

Os preços podem de facto condicionar muito o negócio. Peixes raros são mais cobiçados e podem atingir valores acima da média, mas não estamos a falar do mercado Escandinavo ou dos países da Europa Central, onde a procura em relação às formas selvagens compete em igualdade de circunstâncias com a das formas manipuladas. Na Europa central, no Reino Unido e na Escandinávia há quem procure novidades e formas “selvagens” e tudo quanto é diferente é caro. Portugal é uma realidade à parte. Cá tudo quanto não seja chamativo, extravagante ou colorido não tem valor, pelo que os peixes

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de formas originais nunca poderiam ser mais caros do que os seus descendentes ornamentais, estamos completamente em contraciclo.

MA – A organização de uma convenção Europeia de vivíparos é algo ainda remoto pois as associações nacionais só agora começam a cooperar.

A única forma de se conseguirem algumas espécies não ornamentais no comércio local, foi passar a assumir individualmente a compra do número mínimo de exemplares, impostos pelo exportador, caso contrário, como é inteiramente compreensível, os peixes não eram importados.

Em relação à organização de uma convenção Europeia do GWG (Goodeid Working Group) em Portugal, essa hipótese já será considerada mais viável.

Atualmente, para além da referida falta de sensibilidade para o valor das espécies não manipuladas, os consumidores em Portugal estão a debater-se com a necessidade crescente de administrarem muito bem o orçamento doméstico, pelo que as despesas consideradas não prioritárias são adiadas ou simplesmente postas definitivamente de parte. Não há de todo um défice na oferta, mas sim na procura. Ao contrário de algumas espécies de outras famílias de peixes difíceis de se reproduzirem em cativeiro, já existe de facto produção de formas selvagens nos produtores onde o mercado da aquariofilia nacional se abastece, o que é uma boa notícia até para a preservação destas espécies na natureza, algumas das quais já ameaçadas ou mesmo extintas na sua distribuição geográfica de origem. Faltará ainda poder de compra devido aos preços praticados, divulgação e interesse declarado nesses peixes por parte dos nossos consumidores, pelo menos em número suficiente para se motivar a sua importação. PF – Para quando a organização da convenção europeia de vivíparos em Portugal?

Relembro no entanto, que tal projeto requer meios humanos, que não temos de momento no Grupo ViP, por exemplo, e requer igualmente muito trabalho prévio de preparação. Falta-nos a tal “massa crítica”, mas somos suficientemente loucos para estarmos a ponderar essa hipótese já para 2015 ou 2016. Há de facto quem entre nós esteja empenhado em estudar a hipótese de se atingir esse objetivo. Já não falta muito tempo e por essa razão temos que começar a fazer os primeiros contatos, ainda no primeiro semestre deste ano. A delegação Portuguesa, já foi convidada por várias vezes a assumir a organização do evento, como no ano passado em Asperen. Recentemente voltámos a ser incentivados, mas a responsabilidade é esmagadora e o trabalho muito exigente. Na reunião de Barcelona aqui ao lado, correu tudo de forma exemplar e também não existe uma associação dedicada aos vivíparos em Espanha. Aliás, os colegas Espanhóis chegaram a propor-nos uma associação Ibérica, mas tanto lá como cá, o problema é exatamente o mesmo, poucos aficionados, quase todos na faixa dos 40 ou mais anos de idade. Falta-nos juventude e mobilização. Vamos ponderar várias hipóteses e na próxima reunião do Grupo ViP iremos mudar de orientador e abordar este assunto.

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Chegou-se mesmo a pensar na ilha da Madeira, uma vez que somos realmente muito poucos e tanto lá como cá não existem, de momento, aquariófilos ou instituições dedicadas com algum empenho a estes peixes.

Enfim, a RAM é muito encantadora e simpática, as pessoas ainda mais, e o fantástico clima é favorável à criação ao ar livre de todos os Goodeiídeos, Anableptídeos, para além de umas largas dezenas de Poeciliídeos, mas o mais provável é que Lisboa venha a ser o local escolhido, pois infelizmente, concentra-se quase tudo na capital e seus arredores, onde ainda por cima reside o “núcleo duro” do Grupo ViP. PF - Assisti a uma palestra tua sobre lagos no exterior. Como surgiu esta forma de aquariofilia no teu percurso? MA – Na minha infância, quando os aquários não eram acessíveis e essa era a única forma de conseguir manter e criar os peixes, dei os primeiros passos no apuramento da técnica. Foi efetivamente, uma questão de necessidade no início, no entanto, tornouse rapidamente num rumo natural do meu percurso na aquariofilia, como expliquei no início desta entrevista. Atualmente, é uma tendência para a qual infelizmente não me é possível voltar, mesmo sem aspirar a atingir as áreas que mantive no passado. De momento nem sequer posso ambicionar ter os meus próprios lagos, pois vivo num prédio de apartamentos urbano. Foi no entanto, uma tendência que se consolidou ao longo dos últimos anos, ou seja, desde meados dos anos 80 do século passado, quando comecei a praticar a sério esta modalidade da

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aquariofilia e a complementá-la com os aquários de interior. Tal como, escrevi no meu sítio na Internet «qualquer ser vivo, sem exceção, e os peixes em particular, uma vez mantidos em meio artificial criado pelo ser humano devem usufruir de uma simulação, tão rigorosa quanto possível, do seu habitat de origem, incluído o espaço vital, a dieta, as condições físico-químicas e todas as restantes componentes ambientais. A manutenção de peixes ao ar livre é sem dúvida o método mais ético, conveniente, favorável e eficaz de todas as alternativas possíveis em cativeiro. Em aquários, é difícil conseguirem-se capacidades de água sequer comparáveis ás dos lagos, e se aliarmos á reconhecida vantagem obtida pelo espaço, o aproveitamento da luz solar ou das restantes condições ambientais, temos a conjugação perfeita para a recriação em cativeiro do ambiente natural dos nossos peixes.

Espero que, com o atual conhecimento e facilidade de acesso à informação, não subsistam dúvidas sobre a qualidade de vida que proporcionamos aos peixes por mantê-los e criá-los ao ar livre, evitando dessa forma um grande discurso sobre os benefícios desta prática. Em termos de observação, reconheço que não é obviamente tão compensador para o ser humano como o aquário, a não ser que se monte um lago com uma longa janela panorâmica ou estejamos a falar de um aquário com mais de 10.000 litros de capacidade, o que é raro em ambos os casos. Mas, e depois?

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Sinceramente vos confesso que não troco a possibilidade de observar os peixes debaixo de água pela respetiva qualidade de vida que lhes posso proporcionar no lago, ainda que só os consiga contemplar apenas a partir da superfície. Os peixes conservados no exterior, nem que sejam apenas durante alguns meses por ano, demonstram quase de imediato a vantagem de tal procedimento, o que dissipa todas as possíveis dúvidas a quem possa desconhecer os benefícios dos nossos animais de estimação serem mantidos em condições próximas das naturais. Experimentem proporcionar aos vossos peixes de aquário 4 meses de lago, apenas durante a época do Verão para os oriundos dos trópicos ou para os não adaptados ao Inverno no nosso clima, e logo retirarão dessa experiência as vossas próprias conclusões. Nem me passaria pela ideia, maçar-vos aqui com muitos pormenores sobre as dimensões, coloração e saúde aparente dos exemplares mantidos no exterior, em particular quando comparados com os que nunca viveram noutro sítio a não ser num aquário dentro de portas. Outro evidente benefício prende-se com a produtividade alcançada em termos de reprodução, já para não referir que certas espécies, mesmo no caso dos vivíparos e ovovivíparos, por vezes só procriam no lago. E para quem não aprecia, tanto observar os peixes a partir da superfície, acrescentaria ainda os comportamentos nunca observados em aquário que se vislumbram num lago. É verdade, que os peixes passam a ser vistos de uma forma menos atrativa e mais

distante, mas isso não tem obrigatoriamente que ser verdade. Hoje em dia há meios tecnológicos, acessíveis em termos de custo, que nos permitem mergulhar literalmente no lago, com dispositivos que cabem na palma da minha mão e nos transmitem imagem de alta definição. Muitas vezes referem-me que os peixes “desaparecem” num lago e nunca são vistos senão quando o vazamos durante a manutenção ou quando os apanhamos na rede. Isso só é parcialmente real quando estamos a abordar o tema sob o ponto de vista dos lagos muito extensos ou naqueles onde há demasiada perturbação, já para não referir os casos em que não estamos a gerir bem o lago e a água se apresenta turva. Convém relembrar, peixes com comportamentos anormalmente alterados, agitados, nervosos, sobressaltados e assustados, devido a perturbações que não deveriam estar a condicioná-los dessa forma, em particular num ambiente onde não era suposto terem a mesma pressão que os seus antepassados sofriam na natureza por parte dos predadores. Os gatos e cães da vizinhança constituem alguns dos maiores fatores de perturbação nos meus lagos não vedados. Os primeiros porque capturavam, apavoravam os peixes, os segundos porque se atiravam para dentro de água, especialmente no Verão, com as consequências que cada um de vós pode imaginar por si. No meu caso, outro fator que atemoriza os peixes e os deixa nervosos durante semanas são as incursões de intrusos quando os tentam capturar para roubarem o que conseguirem alcançar. Os atos de vandalismo, como pedras e outros objetos pesados atirados ao lago

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por estranhos, resultam igualmente em peixes aterrorizados e inquietos que raramente se deixam ver.

Um lago de jardim de águas transparentes implantado num local tranquilo habitualmente livre de crianças traquinas, animais domésticos ou atos de vandalismo, permite-nos desfrutar da visão de todos os seus habitantes, sem excluir as espécies tendencialmente noturnas, as que vivem no fundo ou as mais tímidas e naturalmente mais escondidas por natureza. Mais a mais, se estamos a referir-nos a peixes vivíparos mas sobretudo ovovivíparos aludimos a frequentadores da superfície ou meia profundidade. A maioria dos Poeciliídeos, está sempre tão próxima da superfície que mesmo naqueles lagos com água cor de sopa de ervilha os conseguimos constantemente avistar com muita facilidade, exceto as espécies de regiões temperadas no pico do nosso Inverno, principalmente aquelas que passam por um período de letargia ou sono hibernante durante o tempo em que se registam as temperaturas mais baixas. Já os peixes nascidos, num lago não sujeito a sobressaltos exagerados, surpreendem-nos pela sua curiosidade à nossa presença, vindo quase “comer à nossa mão” e comportando-se “naturalmente” e de forma tranquila quando observados.

Para capturar peixes nos meus lagos atuais, limito-me a afundar, com muita calma e tranquilidade, o camaroeiro e esperar que alguns entrem voluntariamente lá para dentro, o que acontece passado muito poucos instantes, sobretudo no Verão quando as temperaturas estão elevadas, os peixes estão mais ativos e existe uma imensidão de crias e jovens curiosos com tudo o que os rodeia na fase de muita ingenuidade, que também acontece nos peixes.

Cyprinodon variegatus ovinus Se respeitarem os horários das refeições com rigor, garanto-vos que no momento em que distribuírem alimento no lago, a esmagadora maioria dos seus habitantes se concentrará no local habitual onde a comida lhes é fornecida. Após o que anteriormente foi enunciado, acredito que ficarão a compreender parte do entusiasmo pela manutenção dos peixes preferencialmente no exterior, nem que seja sazonalmente no caso das espécies não adaptadas ao nosso clima.

Cyprinodon variegatus variegatus Cyprinodon hubbsi

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PF - Que vivíparos se podem manter no exterior? MA – Muitos! Mais ou menos espécies, conforme a região do país. Uma quantidade incrível na Região Autónoma da Madeira, bastantes nos Açores, assim como no Algarve litoral e sudoeste na faixa litoral entre Cascais e Sagres, menos no litoral centro e Norte, menos ainda no interior do país e apenas escassas espécies nas terras altas ou em Trás-os-Montes.

período de Inverno, mais ou menos prolongado, com temperaturas ligeiramente abaixo dos 10ºC mas nunca superiores aos 16ºC, conforme a espécie, pois caso contrário não há reprodução e os indivíduos adultos começam a morrer precocemente sem razão aparente ou atacados por doenças comuns que não os afetariam normalmente de outra forma.

A temperatura é o fator ambiental primordial por onde deve começar a nossa escolha, pois é sem dúvida o mais limitativo. Tendo apenas como referência essa premissa, as espécies alvo devem ser pesquisadas entre as originárias de zonas de grande altitude, 1.300 metros acima do nível médico das águas do mar, sobretudo acima do paralelo 18º Norte e abaixo do paralelo 20º Sul, assim como todas as regiões situadas acima do trópico de Câncer e abaixo do trópico de Capricórnio. O arquipélago dos Açores, por exemplo, será provavelmente a única região do país e certamente uma das poucas do mundo, com condições ideais para a manutenção dos Goodeiídeos mais mesófilos, desenvolvem-se melhor em condições de temperatura moderada, isto é, nem muito quente nem muito frio, geralmente entre os 15ºC e os 23°C. São peixes de altitudes elevadas muito sensíveis ao regime térmico e alguns não sobrevivem muito tempo a temperaturas que se afastem das descritas. Alguns Poecilídeos e Anableptídeos do Sul (Uruguai, Nordeste da Argentina e Sul do Brasil) não se dão bem com o calor (acima dos 24ºC), necessitando de um

Aphanius baeticus Os Poeciliídeos Norte-Americanos também beneficiam de um certo frio em parte do ano, mas já não são tão sensíveis à ausência de “pausa de Inverno”, pois são provavelmente de colonização “recente” das regiões mais a Norte e descendem de antepassados tipicamente termófilos, que gostam de calor, pelo que se defendem com a letargia (“sono hibernal”?) como forma de adaptação às baixas temperaturas. Outro fator digno de referência é que a reprodução de alguns Goodeiídeos, no seu habitat de origem, ocorre em 2 estações do ano apenas, ou seja, não é contínua, acontecendo algures na Primavera e no Outono ou no Inverno e na Primavera. Nalgumas regiões de Portugal temos nos lagos de jardim a única possibilidade de lhes proporcionarmos esse regime térmico, pois caso contrário será escusado esperamos gestações em aquário sem a simulação das flutuações de temperaturas necessárias que só podem ocorrer no exterior.

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Não esquecer porém, que as características químicas da água, entre outros fatores ambientais também pesam muito no sucesso da manutenção dos peixes, ainda assim é relativamente fácil aconselhar, a quem estiver interessado, os peixes que se podem adaptar às diferentes regiões de Portugal. O fundamental, é quem estiver interessado conhecer, com o maior rigor possível, a amplitude e regime anual térmico, sem esquecer as características da água no local onde vai experimentar a manutenção dos peixes, havendo pormenores como os micro-climas regionais a ter em consideração. É necessário, devotarmos o maior cuidado a esta questão, pois para algumas espécies uma diferença de apenas 1ºC constituirá uma fronteira intransponível à sua sobrevivência na região do nosso país em questão.

Os vivíparos e ovovivíparos mais tolerantes ao frio podem suportar descidas na temperatura da água até aos 4ºC, durante mais ou menos tempo, conforme a espécie, e muitas vezes até a população.

uma população originária da Flórida suportará limites inferiores próximos dos 10ºC. Uma população originária do interior do Texas sobreviverá até mínimas de 4ºC, ainda que se situe mais a Sul do que a Florida onde clima é continental. Uma população da mesma espécie originária da região de Vera Cruz, no México, dificilmente resistirá a menos de 12ºC por mais de algumas horas. Já um híbrido de aquário, como os que se encontram à venda nas lojas sob designação científica (duvidosa) Poecilia latipinna, terá um comportamento mais próximo da população mexicana usada como referência, visto ser provavelmente um cruzamento com P. velifera ou P. cf sphenops, espécies essas mais termófilas, mesmo que a população original da componente genética de P. latipinna tivesse sido originária do Texas. PF - Que outros peixes aconselhas a manter com o nosso clima em Portugal?

MA – Como se pode verificar pela minha resposta anterior, achei mais importante e didático abordar o assunto sob o ponto de vista da forma como a escolha das espécies deve ser feita, e não fornecer uma lista com várias hipóteses possíveis

Há espécies, que sobrevivem a frio contínuo, entre 6ºC e 9ºC por períodos de várias semanas, outras que toleram temperaturas inferiores às primeiras, descidas diárias até 5ºC ou mesmo 3ºC, mas não sobrevivem no nosso país porque necessitam igualmente de uma subida diária até pelo menos aos 12ºC, ou até ligeiramente mais, como se verifica nas suas águas de origem, climas de altitude, por exemplo. A identificação das populações originais tem igualmente muita influência.

Uma Poecilia latipinna descendente de Enneacanthus chaetodon

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de acordo com os dados que dispomos sobre experiências anteriores ou sobre os peixes, cuja distribuição geográfica natural coincide com as regiões apontadas.

jardim, isto é, desde que os colegas em causa se comprometam a cumprir as regras mínimas de segurança para evitarem a dispersão de mais invasores na nossa natureza.

A forma como os leitores lidarão com essa informação é igualmente um argumento de peso. Infelizmente todos os países do mundo sofrem atualmente as terríveis consequências das espécies invasoras ou introduzidas.

Obviamente, que aos leitores desconhecidos, a divulgação de uma qualquer lista seria sempre com base nos casos mais públicos, incluindo designadamente todos os peixes invasores dos nossos ecossistemas aquáticos atuais, o que não traria nada de novo a esta entrevista.

Um dos principais dramas que ameaça a biodiversidade em todo o planeta resulta precisamente da introdução de espécies “alienígenas” provenientes de outras regiões do mundo. Casos muito estudados como os da Austrália, por exemplo, comprovaram que grande parte dos Poeciliídeos introduzidos está a causar um autêntico desastre ecológico. O problema é ainda mais sensível quando se chega à conclusão que o aparecimento dessas espécies introduzidas e estabelecidas no ambiente natural, resulta da ação de aquariófilos, pelo que todo o cuidado é pouco quando divulgamos espécies compatíveis com o nosso clima. Terei todo o gosto e muito prazer em partilhar as espécies compatíveis que são do meu conhecimento com os colegas interessados, mas fá-lo-ei pessoalmente ou por correio eletrónico, depois de os conhecer melhor. A minha seleção particular, foi feita de acordo com os cuidados enunciados anteriormente, e algumas sugestões resultam de experiência pessoal, a qual pode ser transposta para as características da região do país onde estas espécies possam vir a ser utilizadas como peixes de lago de

Já para os colegas, que demonstrarem ser sensíveis à questão ambiental e, sobretudo para os que têm revelado uma prática reiterada de aquariofilia sustentável, com base nos valores éticos como o que nos impede de libertar peixes na natureza, lista a divulgar será um pouco mais extensa. Respondo à pergunta desta maneira com tranquilidade, pois existem, nos diversos fóruns, algumas listas mais ou menos completas, com várias sugestões que não seria oportuno estar aqui a reproduzir, nomeadamente porque seriam iguais aos tópicos onde participei no passado. Com pouco esforço de pesquisa chega-se lá muito facilmente. Nesta entrevista, encontrar-se-ão eventualmente mais algumas sugestões, que fui deixando cair ao longo da mesma, mas não poderia deixar de fazer um comentário final a propósito de espécies introduzidas. Não poderia terminar a resposta a esta pergunta sem fazer contudo a referência ao ridículo a que chegámos no caso de um ovovivíparo, hoje infelizmente disperso por quase todo o país, com resultados preocupantes ao nível do seu impacte na nossa fauna original,

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sobretudo em relação aos pequenos Ciprinídeos Ibéricos endémicos. A meu ver, e esta é a minha opinião “pessoal e intransmissível”, não é a proibição de captura e manutenção ou venda da Gambusia holbrooki que vai atenuar ou solucionar o mal que já está causado e que começou com a sua introdução, em 1921, a partir de Espanha, impulsionada por um médico daquele país com a mais nobre intenção do mundo, usar este peixe como agente biológico na luta para a erradicação da malária, leia-se de novo paludismo. Sem a consciencialização do cidadão e um meio de controlo, que neste momento se afigura impossível de concretizar na prática, a proibição de dispersão em águas naturais transposta para a lei é tão pouco eficaz a resolver as consequências da presença desta espécie invasiva, como ineficiente a impedir a sua introdução em áreas ainda não “contaminadas” com a sua presença. Tirando flagrante delito de ações delituosas feito por agentes de autoridade, não há recursos suficientes e é impensável aplicar, na prática, uma tal norma, em particular quando as forças de segurança não estão sequer devidamente formadas ou informadas para identificar as diferenças entre uma Gambusia holbrooki (proibida) e uma Gambusia affinis (de manutenção ainda livre no nosso país mas com uma biologia e ecologia muito idênticas, a qual poderia vir a causar exatamente os mesmos danos). Mais a mais, a espécie introduzida no nosso país estava identificada na literatura científica como Gambusia affinis e, até há relativamente pouco tempo, a que realmente existe no nosso ambiente se denominava cientificamente Gambusia affinis holbrooki.

implantada num dos nossos fóruns quando se escreve a palavra «Gambusia», seja para identificar a espécie proibida (G. holbrooki), seja qualquer outra das restantes cerca de 47 espécies reconhecidas pela ciência neste género. Imaginem que quero publicar um tópico sobre a espécie tropical Gambusia xanthosoma e em lugar da palavra Gambusia, em todo o texto por maior que ele seja, aparece a informação de que é uma «Espécie inserida no DL 565/99» e na «lista de espécies cuja venda é proibida em Portugal». Tanto uma afirmação como a outra não são verdade, e não é com este tipo de ação que se informa o público ou se evitam as ilegalidades, nomeadamente quando continuam a surgir tópicos de pessoas a solicitarem quem lhes arranje a espécie, porque provavelmente desconhecem como está de tal modo disseminada no nosso país que até a encontram em abundância nalgum lago de jardim público perto de si. Comigo, este aviso só teve uma única consequência, perdi a vontade de aceder ao referido fórum, pois apesar dos meus insistentes apelos ninguém da moderação pareceu entender os argumentos apresentados.

Mais ridículo e grotesco foi, não sei se ainda é, o sistema de censura automática

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PF - Que equipamentos e outros cuidados de manutenção teremos de ter para construir um lago?

MA - Antes de se construir um lago temos que planear e o equipamento depende muito disso. Temos que decidir que tipo de lago vamos implementar e quais serão os seus futuros habitantes. A fase seguinte é voltar a planear, e só depois de planear de novo, é que começaremos os trabalhos de construção. De facto, há pormenores muito importantes que devemos pensar antes. O planeamento varia ainda, consoante optarmos pila construção de um lago dos denominados “naturais”, construídos de forma tanto quanto possível, natural, em materiais como a argila, onde não existam ou pelo menos fiquem à vista elementos tecnológicos, bombas de água, filtros, fontes artificiais, iluminação, etc., e no qual não sejam criados animais e plantas que não exclusivamente os autóctones, ou pela construção de um lago artificial.

Fundulus waccamensis Nos requisitos e escolha do lugar, temos que levar em consideração desde o tipo de geologia do terreno onde vamos escavar, pois mesmo os lagos de alvenaria edificados a partir da superfície com muros

necessitam de fundações, a cobertura arbórea próxima, a queda de folhas das árvores no lago deteriora a água através da eutrofização, por outro lado o excesso de sombra ou a ausência total da mesma tem consequências na qualidade da água e no regime térmico do lago, a exposição ao vento, o estilo do jardim, as despesas de construção e manutenção, a composição do agregado familiar (se existem crianças em tenra idade o lago não pode ter profundidade suficiente para se afogarem em caso de queda acidental), que tipo de peixes se pretende manter no novo lago, etc. Dificilmente se consegue manter um lago sem manutenção, mas com um bom aconselhamento e sugestões de colegas com mais experiência, assim como um bom plano de gestão, o tempo e trabalho serão mínimos. Aconselho, uma atenta e calma observação do jardim ou local onde se pretenda instalar o lago, para se avaliar onde naturalmente pode ser integrado um espaço de água com harmonia. Também é importante, não perder de vista a localização do lago em relação aos elementos, até porque o ideal é o local ser iluminado diretamente por umas 5 ou 6 horas diárias de sol, mesmo durante o Inverno. Se o Sol é imprescindível para o crescimento das plantas ou para a saúde dos peixes, um sobreaquecimento só é desejável para as espécies tropicais, pois pode ser responsável por uma rápida profusão de algas, acompanhada por uma diminuição no oxigénio dissolvido na água. Grosso modo, a maioria dos vivíparos adequados para os lagos são na realidade mesófilos, ou seja, evoluíram para suportarem melhor temperatura moderada, o que quer dizer que não são tolerantes a um ambiente muito quente ou muito frio,

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sendo aconselhável mantê-los entre os 12ºC e os 24°C, o que raramente acontece nos lagos ao ar livre no nosso país sem um bom planeamento em relação à sua localização, protegendo-o nomeadamente dos ventos provenientes de Norte, de Nordeste ou de Este, moderando ao mesmo tempo alguma da exposição ao sol do lado Sul. Há porém, zonas do país adequadas à manutenção de peixes psicrófilos, que não toleram muito calor, sobrevivendo apenas em temperaturas que variam entre os 2ºC e os 18ºC, sendo a generalidade das outras áreas, situadas fora das nossas regiões insulares, apenas adequadas a espécies euritérmicas, que toleram grandes variações de temperatura ao longo do ano. Por essa razão, são tão populares os Peixes Vermelhos (Carassius auratus) como opção usual e frequente para povoarem os lagos situados no exterior em Portugal, o fator decisivo na escolha da variedade que criei durante 18 anos. Se o lago for bem planeado, obteremos uma água límpida e transparente mesmo sem a utilização de meios tecnológicos artificiais. Contudo, num lago mal gerido nem com a ajuda da melhor filtragem e desinfeção através de ultra-violetas se consegue livrar de uma água da cor de uma sopa de ervilhas e mortalidade nos peixes, a qual se torna mais acentuada durante as noites nos dias mais quentes no Verão ou nos golpes de frio em Invernos mais rigorosos. PF - Podes dar um exemplo de um projeto de um lago para quem se quiser iniciar? Medidas mínimas, materiais, etc.? MA – Há tipos de lagos para todos os gostos e exigências. A boa notícia é que não precisamos de ajuda profissional para a construção da maioria dessas tipologias.

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Há sempre uma solução, seja um mini jardim aquático em módulos de menor capacidade de água, comunicando entre si através de regados artificiais, canais e cascatas; um lago ornamental de jardim; um local de recriação da natureza (lago do tipo “natural”); um local específico para reprodução de certas espécies de peixes ou até uma piscina “natural” (um lago que contém um espaço específico com profundidade e área suficiente para ser dedicado à natação). De quanto espaço se dispõe no terreno onde será implantado o lago, seria a primeira pergunta a devolver para responder a esta questão. Que tipo de utilização se pretende, seria logo a segunda. Em termos genéricos, uma piscina para crianças ou portátil de tela em vinil, noutro material de tipo PVC ou mesmo à base de borracha, a partir dos 5.000 litros de capacidade é um ponto de partida. Será uma opção das mais económicas, é cómoda e fácil de montar. A decoração exterior é fácil e dispensa escavações no terreno, podendo mesmo instalar-se sobre pavimento consolidado, num terraço ou numa varanda. As opções com mais de 12.000 litros geralmente começam a tornar-se demasiado profundas, acima dos 90 cm, pois tirando as conhecidas carpas ornamentais “Koi”, que de facto carecem de profundidades maiores para o seu bemestar e qualidade de vida, a maioria dos peixes que mantemos não exigem profundidades maiores. A esmagadora maioria dos vivíparos e ovovivíparos são mesmo encontrados em profundidades de menos de 50 cm no seu ambiente de origem, e preferem viver perto das margens em águas pouco profundas. Quanto maior for o lago maior será

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obviamente o investimento inicial, os trabalhos de construção e os cuidados requeridos nos acabamentos.

Não há um tamanho ideal. As medidas mínimas dependem porém de escassos fatores a ter em consideração. Quantos peixes queremos manter, quanto tempo queremos manter a espécie ou espécies e o respeito pela densidade do povoamento sustentável (número de exemplares por metro quadrado). Para manter a qualidade da água, assim como um correto equilíbrio biológico e ecológico, há que planear o lago de tal forma que não fosse necessário apoio tecnológico de suporte à vida, filtragem mecânica suplementar, oxigenação artificial, etc. Os lagos pré-fabricados também estão na moda. São geralmente apropriados para manter ou reproduzir peixes pequenos, pois a sua capacidade é bastante reduzida. Também podem ser instalados por amadores e não são muito caros, embora a instalação não seja tão fácil como o exemplo anterior, pois o contorno da bacia que vai ser escavada no terreno exige um razoável grau de exatidão, senão poderão até eventualmente ocorrer fendas. Já os lagos em cimento, betão ou alvenaria, são muito duradouros, a sua reparação é a mais fácil de todas as opções, mas exigem muitas vezes mãode-obra especializada na sua construção. Por outro lado são a opção mais dispendiosa e necessitam de cuidados com o revestimento das paredes interiores, nomeadamente caso as espécies que aí serão mantidas não tenham evoluído em águas duras e alcalinas.

Para mim o lago em lona, a qual é denominada na gíria através do estrangeirismo “liner” é sem dúvida o mais

adequado ao principiante. A seguir às piscinas portáteis são sem dúvida os mais fáceis de instalar, embora exijam escavação. Ao contrário dos lagos pré-fabricados, moldam-se a qualquer lugar previamente aprofundado no terreno e permitem recriar zonas pantanosas (até 10 cm de profundidade), águas pouco profundas (até 20 cm de profundidade) e águas mais profundas, obtendo-se dessa forma uma harmoniosa combinação mais favorável às exigências ecológicas dos peixes e ao equilíbrio biológico. Talvez a grande desvantagem deste tipo de lago seja sem dúvida existirem inúmeras variedades de materiais aplicáveis, com vários níveis na qualidade oferecida pelo material, na resistência aos raios ultravioleta, na maleabilidade, nas cores, nas espessuras e nos custos. O aconselhamento é imprescindível antes de se fazer qualquer investimento na lona. Antes da construção deve-se apurar a largura e o comprimento da lona a adquirir, através de cálculos simples. Como medidas mínimas para um projeto de lago, Digno desse nome, eu aconselharia pelo menos 2 m2 de superfície e 30 cm de profundidade (cerca de 1.200 litros de capacidade). Este tipo de solução é válido para se manter apenas uma única espécie com o intuito de a reproduzir, ou mesmo de proporcionar aos peixes alguns meses de ar livre, uma vez que a recolha dos mesmos é fácil no final da estação.

Fundulus sciadicus

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Um lago ornamental, não deve ocupar menos de 6 m2 de superfície e possuir uma zona de águas profundas com pelo menos 1 m2 de área, na qual se atinjam sensivelmente os 80 cm de profundidade. Quem deseje manter carpas ornamentais “Koi” ou espécies de metabolismo acelerado que atinjam mais de 50 cm no seu desenvolvimento máximo, deve ter como limite mínimo uma área entre 10 e 15 m2 de superfície e uma profundidade de 1,5 m. Para um lago, de tipo “natural” (recriação da natureza), não devemos pensar em áreas inferiores a 20 m2 de superfície e pelo menos 1 m no ponto mais ponto mais profundo. Idealmente um bom lago, caso exista espaço para esse efeito, deverá ter pelo menos 20.000 litros de capacidade, pois a partir desse volume de água em diante é muito mais fácil atingir-se o equilíbrio sem grandes esforços e criar-se uma população geneticamente viável e sustentável a médio prazo, desde que sejam peixes de pequena dimensão, rondando os 10 cm de comprimento máximo nos exemplares adultos.

conseguir as parcerias necessárias nesse sentido, há uma lista de espécies que mereceriam todo o meu empenho e dedicação. O dilema é que não se enquadram no espectro habitual do nosso passatempo, pois são exemplos muito pouco ortodoxos para a manutenção em aquário, já vão compreender porquê mais à frente. Para aqueles que não fazem ideia das espécies que vou enumerar em seguida, aqui fica o aviso, na generalidade dos casos não são peixes atraentes à luz dos paradigmas estéticos prevalentes. Uma amiga minha chama-lhes mesmo “sardinhas”. Como tive oportunidade de referir, algures nesta reportagem, a minha tendência atual é fazer parte de um grupo, infelizmente muito restrito, daquelas pessoas que se dedicam a manter espécies ameaçadas ou mesmo extintas na natureza, pelo que o valor das mesmas não se compadece com a contemplação do “belo”, com a estética, com o decorativo, enfim, com o aquário ornamental e comunitário no seu expoente máximo.

PF - Quais espécies gostavas de manter neste hobby e que não te foram possíveis até ao momento? MA – Ora aqui está a “cereja no topo do bolo”; uma das questões mais complicadas de responder até agora sobretudo a pensar no aquariófilo padrão, pois vou confundir e desiludir certamente alguns dos leitores. Correndo o risco de muitos dos que chegaram a esta fase da entrevista ficarem com as expectativas goradas, aqui vai disto: Se voltasse a ter o mesmo espaço disponível, de outrora ou se de futuro

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Obviamente que nem todos os peixes que vou enumerar em seguida podem ser classificados na categoria dos que estão ameaçados ou mesmo extintos na natureza, mas a tendência que sigo com as espécies às quais atualmente me

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dedico é precisamente a de dar cada vez mais importância aos que estão de facto a necessitar de um auxílio à sua sobrevivência por parte. Por esta ordem de ideias, começo a minha lista pelos peixes da nossa fauna que ambicionaria um dia manter e reproduzir, quase todos considerados pouco interessantes pela generalidade das pessoas. Os peixes que vou listar em seguida adquirem no entanto o estatuto de “espécies que gostava de manter mas as quais não serão acessíveis” pelo facto da sua captura ou posse em cativeiro estar vedada ao comum dos mortais (leia-se o aquariófilo particular), nomeadamente por constarem nos anexos B-II e B-IV do Decreto-Lei n.º 140/99 de 24 de Abril (sem esquecer a nova redação imposta ao mesmo pelo Decreto-Lei n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro), entre outra legislação internacional (e nomeadamente comunitária) aplicável. Se conseguisse reunir condições mínimas para tal, e a legislação facultasse essa possibilidade aos particulares, gostaria de manter alguns dos pequenos ciprinídeos endémicos da Península Ibérica, em particular, Anaecypris hispanica (criticamente ameaçado), Achondrostoma occidentale (criticamente ameaçado), Iberochondrostoma almacai (criticamente ameaçado), Iberochondrostoma lusitanicum (vulnerável), Squalius alburnoides (vulnerável) e Squalius aradensis (criticamente ameaçado). Para além de os apreciar verdadeiramente, o objetivo real seria contribuir para a preservação de uma ou outra destas espécies, através da sua criação em habitat individual, lago monoespécie, com uma razoável de cerca de 100 litros ou mais por indivíduo,

proporcionando-lhes uma água de qualidade adequada, sem esquecer um regime hídrico próximo do que ocorre nas suas águas de origem em cada estação do ano, enfim, algo um tanto ou quanto inatingível de momento. Baixando um pouco o nível de requisito, destacam-se no entanto outros casos relativamente pouco acessíveis, desta vez não por questões de natureza jurídica mas pela inviabilidade de se virem a conseguir facilmente os exemplares que comporiam um grupo inicial de cria. Para quem não reconhece, os nomes científicos dos Poeciliideos que vou listar em seguida e os for explorar através de uma pesquisa por imagem nalgum motor de busca da Internet… ficará certamente desiludido, mas sou obrigado a reconhecer, à luz da evidência, que estou longe de poder ser classificado como um aquariófilo modelar. Por essa razão, aconselho que comecem a pesquisa pelas Micropoecilias, saltando os Cnesterodon e as Gambusia pois certamente ficarão surpreendidos e mais animados. De entre os ovovivíparos destaco (por ordem alfabética) as seguintes espécies: Cnesterodon brevirostratus, Cnesterodon carnegiei, Cnesterodon constarem nos anexos B-II e B-IV do Decreto-Lei n.º 140/99 de 24 de Abril (sem esquecer a nova redação imposta ao decemmaculatus, Cnesterodon holopteros, Cnesterodon septentrionalis, Gambusia alvarezi,

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Gambusia clarkhubbsi, Gambusia gaigei (vulnerável), Gambusia geiseri, Gambusia heterochir (vulnerável), Gambusia nobilis (ameaçada), Gambusia senilis (quase ameaçada), Gambusia speciosa, Micropoecilia branneri, Micropoecilia parae, Micropoecilia picta, Jenynsia eigenmanni, Jenynsia eirmostigma, Jenynsia lineata, Jenynsia multidentata, Jenynsia onca, Jenynsia sanctaecatarinae, Jenynsia unitaenia, Jenynsia weitzmani, Phalloptychus januarius, Poecilia reticulata (apenas populações selvagens muito localizadas) Poecilia wingei, Poeciliopsis infans, Poeciliopsis occidentalis, Xiphophorus malinche, Xiphophorus nezahuacoyotl, Xiphophorus pygmaeus e Xiphophorus xiphidium. Entre os vivíparos destaco (também por ordem alfabética) as seguintes espécies: Alloophorus robustus, Girardinichthys multiradiatus (vulnerável) Girardinichthys viviparus (em perigo crítico), Goodea atripinnis (pouco preocupante), Goodea gracilis (vulnerável) Neotoca bilineata. Curiosamente quatro das espécies anteriormente listadas - Girardinichthys multiradiatus, Girardinichthys viviparus, Neotoca bilineata e Xiphophorus pygmaeus , já estão a ser conservadas em Portugal por outros colegas, pois tive oportunidade de as trazer do estrangeiro para amigos. Como referi anteriormente, excetuando as espécies de Micropoecilia e Poecilia listadas, não são de todo peixes

vulgarmente ambicionados pelo aquariófilo tradicional e só uma minoria de pessoas (quiçá com gostos estéticos muito fora do comum), desejaria manter e criar tais peixes. Há inclusivamente espécies classificadas no género Gambusia muito atraentes em termos de coloração e quem não foram incluídas neste inventário. De toda a forma, a minha lista de cobiçados também inclui outras espécies que se enquadram em parâmetros mais aceitáveis da aquariofilia tradicional em termos estéticos, e algo mais fáceis de se conseguirem, ainda que mesmo entre os kiliófilos, alguns dos exemplos que se seguem não sejam de todo populares, sendo que os respetivos criadores se enquadram mesmo num grupo minoritário de “especialistas”, não no sentido de serem peritos ou deterem conhecimento acima da média, mas por terem preferência por espécies pouco popularizadas. Nesta última parte do inventário, dedico a minha listagem aos ovulíparos estrangeiros, começando em primeiro lugar pelos “Killies Europeus” Aphanius almiriensis (em perigo crítico), Aphanius baeticus (ameaçado), Aphanius fasciatus (quase ameaçado), Aphanius iberus (ameaçado), Valencia hispanica (em perigo crítico) e Valencia letourneuxi (em perigo crítico). Mais uma vez há uma imposição legal que torna estes peixes quase inatingíveis, pois a todas estas espécies se aplicam fortes restrições legais à sua posse (manutenção em cativeiro) e transporte, já para não referir a proibição de captura na natureza, imposta à força de pesadíssimas coimas e outras sanções.

De entre, os ovulíparos não europeus destaco as seguintes espécies

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ambicionadas; Cyprinodon alvarezi (extinto na natureza), Cyprinodon arcuatus, Cyprinodon bovinus (em perigo crítico), Cyprinodon elegans (em perigo), Cyprinodon eximius, Cyprinodon hubbsi, Cyprinodon nevadensis calidae, Cyprinodon pecosensis (em perigo crítico), Cyprinodon rubrofluviatilis, Cyprinodon variegatus ovinus, Cyprinodon variegatus variegatus, Elassoma alabamae, Elassoma boehlkei, Elassoma evergladei, Elassoma gilberti, Elassoma okatie, Elassoma okefenokee, Elassoma zonatum, Enneacanthus chaetodon, Enneacanthus gloriosus, Enneacanthus obesus, Fundulus catenatus, Fundulus diaphanus, Fundulus dispar, Fundulus lineolatus, Fundulus notatus, Fundulus majolis, Fundulus sciadicus, Fundulus waccamensis (em perigo), Lucania parva. Como fiz já notar anteriormente, alguns dos exemplos mencionados no meu inventário incluem espécies ameaçadas ou mesmo já extintas na natureza. Conservar relíquias está ao alcance de todos nós. Mas abraçar a sério essa causa implica assumir o nosso passatempo em contextos mais exigentes, os quais nos permitam contribuir para preservar os animais em grande número e a médio/longo prazo, isto é, criarem-se condições próximas do ótimo em termos ambientais e dispor de muito mais espaço do que é habitual na aquariofilia, nomeadamente a fim de garantirmos um empenho minimamente sério na conservação de uma população geneticamente viável, praticamente o oposto do aquário decorativo, embora ambas as tendências sejam conciliáveis. Independentemente, da capacidade individual para se assumir tal desígnio e da vantagem evidente de quem o faz por paixão e não por imposição profissional, por

exemplo, os Estados (e os legisladores em particular) não reconhecem senão às instituições a legitimidade e capacidade para o licenciamento de projetos com cariz conservacionista. Uma das impossibilidades de manter parte das espécies por mim ambicionadas, nomeadamente as nacionais e europeias, advém precisamente do facto da sua captura, transporte e manutenção em cativeiro estar presentemente interdita aos não especificamente autorizados e acreditados para esse efeito (leia-se interdita a particulares). O licenciamento é no entanto possível para algumas das espécies, em particular estrangeiras, mas à custa de muitos procedimentos burocráticos de eficácia duvidosa, na minha opinião pessoal. Das interessantes controvérsias que naturalmente surgem ao abrigo do atual processo de aquisição de uma autorização para manter as espécies interditadas pela Lei, selecionaria apenas a primeira que me ocorre de memória e a título de exemplo, para compreenderem o que está em questão - Como é possível provar que os exemplares mantidos pelos particulares não foram capturados diretamente na natureza, nomeadamente quando os mesmos foram de facto doados por um amador estrangeiro que os conservou e reproduziu enquanto aquariófilo durante gerações em cativeiro? Há efetivamente peixes da fauna europeia, hoje muito próximos da extinção, que são mantidos há gerações incontáveis em cativeiro, sendo permutados frequentemente entre aquariófilos. Este é o caso dos Killies naturais do país vizinho, por exemplo. Completamente interditados aos colegas Espanhóis pela sua legislação nacional, mas que são mantidos e reproduzidos em toda a Europa

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(inclusivamente em Portugal), em linhagens por vezes originadas em peixes coletados há 20 ou mais anos, logicamente muito anteriores às recentes legislações restritivas terem sido publicadas.

Embora existam regras na União Europeia a impedirem a sua manutenção em cativeiro sem uma autorização especial para o efeito, fora dos países de origem aparecem quase sempre lotes destes peixes nas convenções de aquariófilos. Elassoma zonatum Se numa convenção que tivesse lugar na Bélgica, por hipotético exemplo, um Alemão doasse alguns exemplares de uma linhagem de cativeiro antiga de Aphanius iberus a um colega Espanhol e o mesmo fosse detetado pelas autoridades do seu país a transportá-los entre o aeroporto e sua casa, como é que o mesmo iria conseguir comprovar que não os capturou na natureza? Fica esta última ideia para reflexão. Entrevista feita por Vera Santos a Miguel Andrade em exclusivo para o PeixeFauna.

Elassoma gilberti

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Cyprinodon nevadensis calidae

Elassoma okefenokee

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COMBINAÇÕES DE CAMADAS Existem algumas cores que não são reguladas diretamente pelos genes, mas pela combinação de camadas com determinados genes. Os bettas dessa categoria são chamados de multicoloridos( multicolors). Existem inúmeras combinações de cores, a maior parte delas aleatórias, mas existem algumas que foram identificadas como padrões definidos. Seguidamente apresento alguns desses padrões: Originalmente, os bettas mustard gas tinham o corpo azul e as barbatanas amarelas. Hoje em dia, aparecem com vários padrões nas barbatanas de amarelo e azul. Devido a isto, em exposições estes bettas são considerados multicoloridos. A combinação de camadas para um mustard gas seria, por exemplo, azul iridescente normal, cambodian e nãovermelho tipo I.

Mustard gas:

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Betta splendens A genética das cores 2ª Parte


Black Lace

Estes bettas têm o corpo preto, com algumas escamas azuis iridescentes; a base da cauda e das barbatanas são do mesmo azul que as escamas; a parte exterior da cauda e das barbatanas são pretas e translúcidas. O black lace pode por vezes ser confundido com um black butterfly, cuja única diferença visível é a opacidade das barbatanas. Em vez de transparentes, o black butterfly tem-nas normais. ( o seu genótipo também é muito diferente). Uma combinação possível para o black lace seria azul real com iridescência normal; melano estendido, não-vermelho tipo I, amarelo com o mínimo de intensidade possível. 37


Pineaple

Um betta com este padrão apresenta uma cor de fundo amarela, com escamas pretas no corpo e barbatanas amarelas. Este peixe teria como possível combinação não-azul, melano normal, não-vermelho, e amarelo de grande intensidade.

Chocolate

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Os chocolates são similares aos mustard gas, no entanto, apresentam o corpo castanho e barbatanas. As barbatanas podem ser translucidas ou normais.

Uma combinação possível para o chocolate seria não-azul ou um azul de intensidade muito baixa com iridescência normal, melano estendido ou normal, não-vermelho, e amarelo com intensidade média ou mais alta. "Branco opaco "Apesar de não apresentar uma diversidade de cores pelo corpo, o este padrão é resultante da interação entre as camadas de cores. A cor branca é na realidade azul aço de intensidade normal que, quando em fundo claro, aparenta ser branco. Este betta apresenta, uma cor branca leitosa e brilhante. Uma das combinações possíveis para obter esta cor seria azul aço de intensidade média com iridescência estendida , cambodian, não-vermelho, amarelo de grande intensidade e o fator Opaco presente.

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"Multicolors" Apesar de todos os bettas acima escritos serem multicolor, estes designam-se assim por não apresentarem nenhum padrão convencionado. Os Bettas Multicolors (ou Multicoloridos, como os chamamos) consistem num cruzamento entre dois Bettas cujas cores sejam ambas recessivas e diferentes, e ao "juntarem-se", irão criar uma geração de Bettas Multicolors. Estes Bettas não apresentam nenhum padrão específico ou motivo para as cores que apresentam, sendo então a disposição das cores em cada camada simplesmente de carácter aleatório.

Cores Metálicas

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Recentemente apareceu um novo fator nas cores dos bettas que lhes dá um aspeto metálico. Esta característica foi conseguida a partir da hibridação de betta splendens com betta imbellis e/ou com betta mahachai . Como resultado dessa hibridação, formou-se uma nova camada chamada camada cristalina. Esta camada é diferente da camada iridescente, no que toca ao tamanho dos iridócitos. Na camada iridescente, os iridócitos têm todos o mesmo tamanho, refletindo a luz de igual forma por todo o peixe; no caso da camada cristalina, os iridócitos têm tamanhos diferentes, causando o efeito metálico. Ainda estão a ser feitas experiências de como esta nova camada influencia as outras cores, abrindo uma infinidade de novas combinações.

POR DESCARGO DE CONSCIÊNCIA Doenças genéticas ou congénitas Estas doenças são provocadas por mutações ao nível genético que provocam alterações ( mais ou menos graves) nos peixes. Estas mutações podem acontecer em qualquer reprodução em qualquer peixe, no entanto, a probabilidade de uma mutação acontecer é muito maior quanto menor for o grau de consanguinidade entre os reprodutores, por exemplo, cruzar irmãos com irmãos, primos com primos, mães com filhos, tios com sobrinhos, etc... Por serem doenças ao nível genético, os peixes já nascem com elas e podem manifestar-se logo á nascença ou mais tarde conforme cresce. Algumas só se manifestam na segunda geração, por estarem associadas a genes recessivos. Os sintomas dessas doenças debilitam diretamente os peixes, podendo afetar ninhadas inteiras, destruindo a linhagem que tanto custou a apurar. Alguns desses sintomas são: 41


-Peixes cujo tempo de vida é mas curto: -Deficiências ao nível das barbatanas; -Deformações na espinha dorsal; -Deformações ao nível da bexiga natatória( o que vai causar dificuldades ao peixe para nadar); -Tumores externos que vão crescendo até causarem a morte do peixe; -Tumores internos que causam alterações no seu metabolismo; -Alterações de cor, tamanho e outras características externas do peixe; -Esterilidade ( incapacidade de se reproduzir); -Nascimento de siameses( peixes que nascem unidos por uma parte do corpo); -Sistema Imunitário mais débil, o que deixa o peixe mais vulnerável a doenças; -Etc. Vários criadores sugerem que assim que peixes com essas doenças sejam identificados, devem ser imediatamente eliminados ou pelo menos, nunca utilizados para reprodução, para que a doença não se propague em gerações futuras e, em alguns casos, poupar o sofrimento aos próprios animais. Fontes: http://bettysplendens.com/articles http://pt.scribd.com/doc/58744420/Betta-Splendens Traduzido e escrito por Hatori em 2012.

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embora

Acarichthys heckelii

cientifico:

cascalho

possa

ser

utilizado. É uma espécie escavadora,

(MÜLLER & TROSCHEL, 1849) Nome

o

uma desvantagem para quem quer

Acarichthys

ter um plantado pois o layout está em constante mutação. Os troncos e

heckelii (Müller, Troschel; 1849)

raízes espalhados pelo aquário são Nome comum: Thread-finned Acara,

uma boa opção, bem como uma

Threadfin Acara

iluminação relativamente fraca.

Synonyms:Acara

heckelii,

Acara

subocalaris, Aequidens subocularis, Geophagus thayeri

A qualidade da água é de extrema importância, pelo que deveremos evitar

oscilações

Ordem : Perciformes

químicos

Família : Cichlidae

introdução aquário

Distribuição: Nativo de partes do norte da bacia do Amazonas na Colômbia, Peru e Brasil, incluindo Também partes mais baixas do Rio

da

dos

parâmetros

mesma,

fazendo

a

peixes

quando

o

de

estiver

estabilizado.

São

aconselhados filtros externos e as trocas parciais de água deverão ser feitas semanalmente, na quantidade de 50% a 70% do volume do aquário.

Putumayo, Trombetas, Negro, Xingu, Tocantins, Capim Branco, mais a

A dieta utilizada deve ser a mais

drenagem Essequibo na Guiana.

adequada e correta se se quer evitar

Tamanho: Aproximadamente 20cms.

o

aparecimento

de

doenças

ou

crescimento atrofiado. Aquário recomendado: Para manter um trio, um macho e duas fêmeas é

São peixes que não gostam muito de

aconselhado um aquário de 150cm

água com muita correnteza.

de frente e 45 de profundidade. Manutenção: O substrato recomendado é areia,

Temperatura: 24 – 30 °C. pH: 6.0 – 8.0 Dureza: 18 – 215 ppm 43


Alimentação: Omnívoro. A maioria

visivelmente maiores e encorpadas

dos alimentos são aceites, mas uma

que os machos. Os machos são mais

dieta variada é essencial para que

coloridos que as fêmeas.

possam desenvolver a melhor

Reprodução: Esta espécie necessita

condição e cor. Uma mistura de

de 2-3 anos para atingir a maturidade

alimentos vivos, congelados e secos

sexual

para oferecer e garantir algumas

e

matérias

como

estratégia reprodutora intrigante pelo

espinafres branqueados ou Spirulina,

qual fêmeas competem por territórios

está incluído.

e escavam tocas complexas como

vegetais,

tais

na

natureza,

subestruturas

apresenta

de

substrato.

uma

Elas

Comportamento e compatibilidade:

podem ter várias entradas, alguns

Trata-se

dos

de

uma

espécie

quais

podem

ser

consistem

falsas de

e

relativamente pacífica. Podem ser

geralmente

uma

mantidos com

entrada principal mais ou menos

outras espécies do mesmo porte e

vertical que conduz a um túnel

igualmente mais tranquilas.

horizontal no final do que é uma câmara maior, onde os ovos são

Infelizmente alguns adultos parecem

depositados.

propensos

eventos

São as fêmeas que tentam atrair um

imprevisíveis e extremos de agressão

parceiro e uma vez bem sucedidas e

intra-específica, que pode facilmente

a

resultar na morte de indivíduos mais

compartilha

direitos.

fracos. Isto pode estar relacionado

responsável

pela

com o tamanho do aquário se este

cuidados da ninhada e a defesa do

for de dimensões mais reduzidas que

território

o recomendado.

macho. Uma vez em livre natação os

Dimorfismo

a

exibir

sexual:

Fêmeas

sexualmente maduras devem ser

desova

é

completa, A

o

par

fêmea

maioria

salvaguardada

a

dos

pelo

alevinos permanecem na vizinhança, correndo

para

a

toca

quando

ameaçados e são abandonados 42

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pelos pais quando eles medem cerca mais complicações de 10 mm em média. Alguns continuam a usar a toca por mais uns tempos. Um ciclo dessa complexidade é claramente impossível replicar no aquário, e ainda surgem devido a muitas vezes de extrema agressão intraespecífica

exibida

por

espécimes adultos. Um único par exigirá

um

grande

aquário

observação rigorosa e idealmente ausência

de

concorrência.

substituto

mais

comprovado

O

em

termos de uma caverna de desova é um vaso grande e arrebitado com um buraco de entrada lascado na base,

com

simulação

das

condições naturais do clima através de levantar e abaixar a temperatura a cada dois dias. Em alguns casos promove-se mudanças de água até 50% para ajudar o acasalamento.

Traduzido e escrito por Vera Santos, 2013 Fontes: Seriouly fish, Th cichlid room copanion

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Antes de mais gostaria de agradecer a toda a equipa do fórum Peixe e Fauna por me terem feito o convite para vos mostrar a minha montagem e também para vos dar os parabéns pelo ótimo trabalho que têm feito com a revista. Já tenho aquários há vários anos, sensivelmente desde os meus 16 anos que tenho peixes e aquários. Mas provavelmente como na maior parte dos aquariófilos, o começo foi um pouco atribulado, com vários percalços e erros, alguns por falta de informação e outros mesmo por descuido. Depois de vários anos, várias montagens e experiências, venho aqui mostrar a minha mais recente montagem.

Underwater Amazon Um aquário de referencia

Fábio Joaquim 44

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SETUP: Nome do aquário: ...:::Underwater Amazon:::... Data da Montagem: 20 de Maio de 2013 Aquário: Aquatlantis Dayak 100Cx40Lx55A 220 litros brutos (160 litros efetivos) Iluminação: 2x30W T8 (10000K+6500K) Aquecimento e arrefecimento: Controlador de temperatura STC 100 ligado a um termostato Resun 300W + 2 ventoinhas Filtragem: JBL Crystalprofi E901 Greenline Substrato: Elos Terrazero JBL Aquabasis Plus JBL Manado Fertilização: Elos planta 1 Hardscape: Red Moor Wood Pedra "Tejo"

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Flora: Aponogeton Cryspus Cryptocoryne Wendtii "Tropica" Cryptocoryne Wendtii "Green" Echinodorus Cordifolius spp. Fluitans Echinodorus Quadricostatus Echinodorus "Vesuvius" Nymphaea Lotus Microsorum Pteropus Mini

Fauna: Pterophyllum scalare “Río Nanay” Apistogramma Abacaxis Dicrossus Filamentosus Corydoras Sodalis Ottocinclus Affinis Ottocinclus Negros Paracheirodon Axelrodi Caridina Japónica

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Este aquário desde o início foi todo pensado num estilo mais Low-Tech (baixa manutenção), pouca luz, sem adição de CO2, poucas fertilizações algo muito simples com plantas que requeressem poucos cuidados e que fossem fáceis de manter, o que para mim, é algo completamente diferente do que estou habituado a fazer pois praticamente todos os meus

anteriores

aquários

foram

de

alta

manutenção (High-Tech). Como podem ver tanto pelo Setup como pelas fotos, a montagem teve uma influência nos

biótopos amazónicos, não é considerado um biótopo mas é inspirado nessas montagens tanto a nível de layout como de flora e fauna. O objetivo deste aquário foi mesmo esse, ter um aquário de baixa manutenção com plantas e peixes saudáveis. 49


Portanto

depois

de

vários

meses

de

planeamento e a adquirir o material necessário para efetuar a montagem, coloquei mãos à obra ao tão esperado momento e o resultado depois de cheio foi este com a água ainda turva.

Fiquei bastante satisfeito pela montagem e inicialmente optei em ter um layout central tipo ilha, que nunca tinha feito anteriormente. Nas primeiras semanas de vida do aquário, durante a ciclagem como é habitual nas montagens recentes, apareceram as algas castanhas que se foram multiplicando até a ciclagem do aquário estar completa pois assim que o ciclo se completou (sensivelmente em 1 mês) coloquei os primeiros habitantes, os Ottocinclus e Caridinas Japónicas e como estes peixes têm um apetite voraz por estas algas, em menos de 4 dias elas desapareceram por completo do aquário e não voltaram mais.

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Aqui pode-se ver uma Caridina Jap贸nica no substrato junto de algumas algas castanhas.

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Depois de completado o ciclo fui colocando a fauna que iria habitar esta montagem, como este aquário foi influenciado em biótopos, decidi por colocar uma fauna maioritariamente Sul Americana, em que os “Reis” do aquário iriam ser os Pterophyllum scalare “Río Nanay”, que eu tanto adoro!

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Por incrível que pareça, a flora do aquário cresceu bastante bem nos 2 primeiros meses de vida do aquário, apesar de ser um aquário Low-Tech, tenho plantas com necessidades mais

exigentes

tal

como

a

Echinodorus

"Vesuvius" o que faz com que o desafio e exigência de fazer crescer esta planta com saúde seja mais alto, mas apesar disso, respondeu bastante bem às condições que lhe dei, lançando novos runners pelo aquário.

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Dado a este crescimento bastante positivo das plantas decidi prevenir e começar a fertilizar com o Elos Planta 1, que contém todos os nutrientes necessários para as plantas, logo para

prevenir

algumas

carências

e

dar

continuidade ao bom crescimento da flora decidi por bem usar desde logo o fertilizante líquido. Depois de este desenvolvimento tanto de flora como de fauna no aquário, deparei-me com um problema que a longo prazo pode ser muito prejudicial a todo o ecossistema criado por mim, as temperaturas altas! Como todos sabemos, o verão em Portugal traz-nos por vezes temperaturas altíssimas, e quando a temperatura da água do aquário chegou-me aos 29,5ºC, decidi fazer algo em relação a isso, portanto pus-me a pesquisar vários métodos de

arrefecimento e de controlo de temperatura do aquário e acabei por descobri um controlador de temperatura que me pareceu a escolha perfeita (Elitech STC 1000) pois é muito mais barato que os controladores de temperatura para aquariofilia que encontramos no mercado.

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Depois de o instalar juntamente com umas ventoinhas

(tipo

computador)

e

com

o

termostato, a temperatura está perfeita, está estável a 27ºC ( com a diferença de 0,5ºC, temperatura escolhida por mim), sem grandes oscilações! Mais um problema resolvido e assim consigo ter um ecossistema mais estável e saudável.

E aqui está um pequeno resumo dos 3 meses

de vida do meu aquário até os dias de hoje pois espero manter esta montagem durante muito mais

tempo,

apreciando

a

beleza

e

comportamento dos peixes e também de todo este “pedaço” de natureza que eu tenho em minha casa.

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Deixo aqui algumas fotos do aquรกrio e dos habitantes:

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Peixes doentes! Precauções recomendadas para a saúde do aquariofilista. Em

semelhança ao que sucede no Homem, também os peixes são portadores de agentes patogénicos no seu organismo. Mesmo no ambiente que os rodeia, é constante a presença de uma infinidade de micro-organismos dotados de uma enorme capacidade de afetar drasticamente a saúde dos seus hospedeiros. Desde o primeiro instante em que adquirimos um animal, tornamo-nos responsáveis pelo seu bem-estar e saúde. Torna-se imprescindível sermos suficientemente responsáveis, cautelosos e dedicados de modo a lhe facultarmos todos os bens necessários ao seu conforto e as melhores condições possíveis.

Os peixes não são uma exceção, e como tal, é nosso dever zelar pelo seu bem-estar e saúde, proporcionando-lhes um bom ambiente no aquário. Os agentes patogénicos responsáveis pelas enfermidades dos nossos peixes, não se encontram somente no seu organismo, mas em todo o ambiente aquático, na água, no substrato, nas decorações, na flora… Porém, embora em constante contacto com os peixes, na maioria das vezes, as bactérias e os parasitas que estão na origem de doenças, mantêm-se inofensivos devido aos mecanismos de defesa gerados pelo sistema imunitário dos peixes. Pelo exposto, é fundamental conhecermos as características de cada espécie de peixe que pretendamos adquirir, garantir a sua compatibilidade e o seu conforto no novo habitat. Um aquário harmonioso garante aos seus habitante uma maior capacidade de defesa contra as constantes agressões dos agentes patogénicos.

(Wood Heaven de Pedro Santos) Aquário harmonioso que garante aos seus habitantes as condições necessárias ao seu bem estar. 59


Um aquário é um ambiente fechado onde

a temperatura quente da água aliada a uma manutenção negligente do mesmo, representam as condições ideais para a proliferação de parasitas e bactérias. Para evitar uma reprodução intensa desses micro-organismos e a sua elevada densidade no aquário, fatores diretamente responsáveis pelo aparecimento de doenças, o melhor método é a prevenção.

relativamente baixos. - Num aquário estável, a amónia e os nitritos nunca podem estar presentes, quando detetados, são o primeiro indicador de que o sistema de filtragem não está a funcionar bem, ou é o inadequado para o aquário;

Como métodos de prevenção de enfermidades no aquário destacam-se: - Trocas parciais de água – Estas devem ser efetuada semanalmente, de aproximadamente 20 % da litragem total do aquário, de preferência com aspiração do fundo do mesmo, de modo a remover detritos e matérias orgânicas provenientes, entre outros, de excesso de alimentação e deterioração de plantas, tendo em especial atenção locais com pouca visibilidade e pouca circulação. As trocas parciais de água previnem ainda a acumulação excessiva de minerais e toxinas muitas vezes causada pela evaporação da água; - Manutenção do sistema de filtragem Os filtros representam uma componente do aquário essencial ao equilíbrio do mesmo. Uma boa filtragem assegura a qualidade da água. Quando a manutenção de um filtro é descurada, este torna-se incapaz de fazer a sua função, dando origem a alterações nos parâmetros da água, nomeadamente o aparecimento de níveis elevados de amónia e nitritos, fatais para a maioria das espécies de peixes, mesmo que em valores 60

A sifonagem do aquário com um aspirador próprio assegura uma boa parte da remoção de detritos. Um filtro com capacidade suficiente preserva o equilíbrio do aquário.

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- Temperatura - A temperatura da água deve estar estável e sempre de acordo com a necessidade das espécies que habitam o aquário. Oscilações da temperatura da água contribuem para um enfraquecimento do sistema imunitário dos peixes, permitindo que o peixe seja afetado por agentes patogénicos;

- Alimentação - Uma alimentação apropriada e variada fortalece o sistema imunitário dos peixes, aumentando a sua resistência a ofensivas bacterianas e parasitárias. Alimentar excessivamente os peixes contribui para a degradação da qualidade da água. É recomendada a moderação na oferta de alimentos aos peixes, de modo a evitar acumulação de detritos;

Uma alimentação adequada e variada fortalece o sistema imunitário dos peixes

Um termóstato evita oscilações de temperatura - Testes de qualidade da água - Uma verificação regular dos parâmetros da água, nomeadamente dos níveis de pH, amónia, nitritos, nitratos, dureza da água (GH) e dureza de carbonatos (KH) possibilitam uma deteção atempada de doenças nos peixes, provocadas por má qualidade da água. Quando ocorre uma manifestação de sintomas de doença em algum peixe, a primeira atitude a ser tomada é a verificação dos parâmetros da água, de modo a desconsiderar a má qualidade da água como causa da doença;

- Superpovoamento - Num aquário com excesso de peixes as probabilidades de surgirem doenças são muito mais elevadas do que num aquário com densidade populacional adequada. O excesso de peixes num ambiente fechado como um aquário, pode levar a uma permanente luta pela hierarquia social. Perante as possibilidades de fuga escassas, é inevitável que surjam agressões que causam lesões ou stress, fragilizando o sistema imunitário dos peixes. Um elevado número de peixes contribui ainda para a diminuição do teor de oxigénio disponível na água, para a produção elevada de resíduos fecais, e consequentemente má qualidade da água; - Flora e hardscape - As plantas naturais auxiliam na manutenção da qualidade da água e na oxigenação da mesma, contribuem para a proteção aos peixes mais pequenos e delimitação de territórios. Troncos ou rochas devem fazer parte do hardscape do aquário pois fornecem aos peixes esconderijos e refúgios, e tal como as plantas, também contribuem para a delimitação territorial. Devem ainda ser evitadas modificações contínuas na decoração do aquário devido ao estado de ansiedade que possam causar aos 61 peixes;


(Cyber Aka – José Elias, aquário densamente plantado, ideal para assegurar refúgios e abrigos aos peixes) - Quarentena - Os peixes recém adquiridos devem sempre ser sujeitos a um período de quarentena antes de serem introduzidos no aquário. A quarentena permite a deteção de peixes infetados com doenças que poderiam contagiar o aquário principal.

- Produtos químicos incorreta de produtos exemplos fertilizantes, parâmetros da água saúde dos peixes;

– Uma utilização químicos, como por sais, alteradores de podem fragilizar a

- Transporte de peixes - O transporte de peixes deve ser evitado pois contribui para o stress, que prejudica a capacidade defensiva dos peixes contra agressores externos como bactérias e parasitas;

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- Medicação - Quando surge no aquário um peixe doente, este deve ser removido para tratamento num aquário hospital. A introdução da maioria dos medicamentos no aquário, pode dizimar a colónia de bactérias depuradoras (responsáveis pela decomposição biológica de poluentes) presentes no aquário e no sistema de filtragem. É recomendado um diagnóstico correto dos peixes afetados de modo a evitar a colocação de medicação no aquário, pois este procedimento só deve ser efetuado após confirmação de que doença seja de fácil propagação.

ameaça insignificante para o seu proprietário, no entanto, existem determinados micro-organismos na origem de doenças dos peixes que são suscetíveis de transmissão ao Homem. Na realidade, os casos comprovados de transmissão de doenças no aquário aos humanos são escassos, e as probabilidades de isso acontecer, relativamente baixas e diretamente influenciadas por fatores como o tipo de agente patogénico (bactérias, vírus, parasitas), fatores ambientais (qualidade da água do aquário) e o estado de saúde do indivíduo humano. Em que circunstâncias pode ocorrer a transmissão de doenças no aquário ao seu proprietário?

Respeitar as medidas de prevenção do surgimento de doenças no aquário contribui para que a camada mucosa que protege os peixes se mantenha intacta, assegurando um bom sistema imunitário. Assegurarmos o respeito das medidas de prevenção mencionadas, permite-nos não só a contemplação de um aquário harmonioso e com peixes saudáveis, mas também a salvaguarda do nosso bem-estar e saúde. Um aquário geralmente representa uma

O risco de uma possível contração de infeções bacterianas e protozoárias, provenientes do aquário, aumenta consideravelmente quando um indivíduo se encontra predisposto para tal, devido a um sistema imunitário comprometido. Estão integradas nessa predisposição pessoas seropositivas, diabéticas, doentes oncológicos, insuficientes renais e hepáticos, sob efeito de medicação imunossupressora ou tratamento quimioterapêutico, grávidas e pessoas com idade mais avançada, entre outros. Para os aquariofiistas, o maior risco de contração de doenças provenientes do aquário reside na manutenção do mesmo, e na manipulação de peixes afetados. A infeção humana com agentes patogénicos, ocorre através da ingestão de água durante a sifonagem do aquário e do contacto da água contaminada com áreas corporais lesadas (feridas, cortes, arranhões, etc.).

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Para assegurar que não incorre em riscos, um aquariofilista deve, sempre que possível, ter ao seu dispor acessórios que lhe permitam efetuar a manutenção do aquário sem ser necessário entrar em contacto com a água. Nos casos em que seja indispensável o contacto com a água ou a manipulação de um peixe, este deverá precaver-se utilizando luvas adequadas. Em caso de contacto acidental com água ou peixes suspeitos de contaminação por agentes patogénicos de possível transmissão a seres humanos, deverá efetuar-se uma lavagem com desinfetante nas áreas afetadas. Num ambiente aquático natural existem imensos micro-organismos, no entanto, num ambiente aquático fechado como os aquários, esse número reduz drasticamente. De entre vários agentes patogénicos presentes no aquário, alguns distinguem-se pela sua capacidade de possível transmissão aos seres humanos, embora as probabilidades sejam reduzidas. Diversos micro-organismos podem afetar o ser humano, mas três pela sua presença habitual nos aquários, e pela sua maior agressividade contra o ser humano devem, maioritariamente, ser tidos em consideração. Mycobacteria É um grupo de bactérias que representam um potencial risco de contração humana e que podem causar doenças nos humanos. De entre as várias bactérias que constituem este grupo, destaca-se a Mycobacterium Marinum, que está na origem da doença tuberculose dos peixes, e diretamente associada á Mycobacterium Tuberculosis originária da tuberculose humana, pelo que trata do micro-organismo presente nos aquários que mais gravemente pode afetar um indivíduo. Embora a sua contração humana seja rara, 64

medidas preventivas devem ser tomadas pois uma vez contraída a doença, a sua cura é desconfortável e morosa, devido á sua elevada resistência. A tuberculose nos peixes A elevada resistência da bactéria Mycobacterium Marinum a condições ambientais e antibióticos, classificam-na como uma das bactérias mais contagiosas e fatais pois a tem a capacidade de dizimar toda uma fauna do aquário em tempo recorde. Uma vez contraída a tuberculose, sendo uma doença crónica, e de possível progressão lenta, a sua cura é muito difícil e a doença tem que ser diagnosticada numa fase inicial, o que normalmente não sucede devido á sua possível mimetização de outras doenças, ou até mesmo ausência de sintomas externos, exceto numa fase terminal. Esta bactéria suporta uma ampla variedade de temperaturas e pode permanecer por longos períodos de tempo no aquário principalmente no substrato. A sua capacidade de afetar discretamente os peixes sendo detetada numa fase onde a cura já não é possível, ou a sua capacidade de imitação de sintomas de outras doenças, viabilizam as hipóteses de passar despercebida por algum tempo e geralmente, quando é diagnosticada, já nada pode ser feito pelos peixes e muitos outros podem já estar infetados. É uma bactéria que pode permanecer “adormecida” por longos períodos de tempo alojada na fauna, progredindo lenta e discretamente, afetando os órgãos internos dos peixes. Encontra-se mais frequentemente nos rins, fígado e baço, sob a forma de pequenos nódulos e se a alimentação dos peixes for adequada, a qualidade ambiental do aquário e a saúde dos peixes se mantiverem estáveis, raramente representa perigo, no entanto, quando o peixe se encontra debilitado 64


e a qualidade da água seja pobre, os nódulos alojados nos órgãos irrompem, causando úlceras e hemorragias, que provocam a falha dos órgãos (não apresentando sintomas externos) seguida da morte súbita dos seus hospedeiros. Em ambientes aquáticos fechados como os aquários, esta bactéria encontra frequentemente as condições ideais á sua propagação. São particularmente favoráveis a este agente patogénico a temperatura quente da água, uma densidade populacional elevada, má qualidade da água e sobrealimentação dos peixes. Todas as espécies de peixes podem ser infetadas com esta bactéria, porém, algumas demonstram ser mais suscetíveis de contração de tuberculose, como é o caso de anabantídeos, carpas e peixes dourados, molinésias e gouramis, seguidas de tetras néon, discus e ramirezis. Sintomas da tuberculose Esta doença pode desenvolver-se por longos períodos não manifestando qualquer sintoma externo. Porém, os peixes afetados podem começar a adoecer sem razão aparente, e apresentando sintomas como apatia, perda de peso ou emagrecimento, perda de apetite, deformações,

nomeadamente espinha curvada, abdómen distendido, úlceras internas que ao irromperem causam feridas abertas incuráveis, perda de escamas e de cor, deterioração das barbatanas, exoftalmia.

Peixes infectados com Mycobacterium Marinum ( Tuberculose dos peixes) 65


A tuberculose no Homem A Mycobacterium Marinum é uma bactéria extremamente resistente a diversos fatores ambientais, e de fácil transmissão quando verificadas condições para que tal suceda. Esta bactéria afeta não só os peixes, mas também humanos e outros animais. A sua capacidade de sobrevivência é muito alta, pode manter-se ativa sem hospedeiros durante longos períodos de tempo, tanto em ambientes aquáticos como terrestres. As semelhanças entre as bactérias que causam tuberculose nos peixes e no Homem, estão na origem da sua possível transmissão dos peixes para os humanos. Prevenir essa transmissão, é responsabilidade do aquariofilista tomando as devidas precauções para que tal não suceda. A ingestão de água do aquário contaminada, a manipulação de peixes ou o contacto de áreas corporais lesadas com a água do aquário, são os meios de contaminação mais comuns do aquariofilista. Sempre que possível este deve evitar estes riscos, precavendo-se com o uso de luvas. Devido ao progresso lento da doença, quando um aquariofilista é contaminado pela tuberculose dos peixes, a incubação da bactéria pode demorar um período de tempo de dois dias a dois anos, embora geralmente os primeiros sintomas surjam ao fim de duas a quatro semanas. Após a sua transmissão, geralmente através de lesões na pele do

hospedeiro, nomeadamente nos dedos, mãos e braços, os primeiros sinais visíveis da sua presença manifestam-se exatamente no local de entrada das bactérias. A normal e pequena lesão transforma-se numa ferida “aberta” que não cicatriza, e adquire um tom vermelho arroxeado, sensível á dor quando tocada e por vezes pode expelir pus. Posteriormente a lesão cresce e alastra (pode formar-se um granuloma) e a bactéria começa a destruir os tecidos moles sob a pele, tendões e articulações. Nos casos de ausência de tratamento a bactéria entra na corrente sanguínea, podendo formar nódulos nas veias e é transportada a outros órgão, incluindo aos ossos onde causa sintomas semelhantes a artrites. O tratamento contra a tuberculose, envolve a utilização de diversos antibióticos e o tempo de recuperação depende da capacidade de resposta do individuo ao tratamento. Devido á elevada resistência da bactéria a antibióticos, não existe um tratamento específico contra a tuberculose, podem ter que ser utilizadas combinações de vários medicamentos até surgir a adequada, que permita o tratamento eficaz, e quando esta surge, o tempo de duração do tratamento até á total recuperação, varia de acordo com a capacidade de resposta do paciente podendo ter uma durabilidade de seis a dez meses ou até mais.

Lesões humanas causadas pela bactéria Mycobacterium Marinum

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Vibriosis Vibriosis, também conhecida como Vibrio é o nome usual de um conjunto de bactérias que ocorrem naturalmente em ambientes aquáticos, encontradas frequentemente em água salgada, e mais raramente em aquários. A possibilidade de contágio humano é reduzida, pois dificilmente, algumas estirpes de bactérias Vibrio podem ser transportadas pelos peixes para o aquário e, posteriormente, transmitidas ao ser humano. Das diversas estirpes existentes de possível contágio humano, salientam-se as V. Alginoltycus, V. Anguilarum e V. Damsela, transmissíveis através lesões corporais, cujos sintomas são feridas com dificuldade em cicatrizar na zona de entrada da bactéria, e as V. Vulnificus e V. Parahaemolyticus, transmissíveis através da ingestão de água, cujos sintomas são igualmente feridas de difícil cicatrização e transtornos gastrointestinais como febre, vómitos, diarreia, dor abdominal… A mais comum das estirpes desta bactéria nos aquários é a V. Anguilarum que causa a doença Lepidortose nos peixes. O tratamento humano para as infeções causadas pela bactéria mencionada são efetuados á base de antibióticos.

Peixes infetados com Vibriosis

Lesões humanas causadas pela bactéria Vibrio vulnificus.

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Aeromonas e Pseudomonas Estas duas bactérias são muito comuns nos aquários, estão na origem de muitas infeções que nele surgem e são patogénicas ao ser humano. O modo de transmissão ao Homem é o usual, através de lesões na pele ou ingestão de água, embora as probabilidades de contágio sejam muito reduzidas. Os sintomas humanos verificamse através de feridas com dificuldade em cicatrizar. As Pseudomonas podem ainda causar danos nos tecidos pulmonares e provocar pneumonias. São bactérias de elevada resistência a diversas condições ambientais e medicações. No aquário, estas duas bactérias podem afetar os peixes internamente antes de surgirem sintomas externos. Por vezes, os sintomas externos adquirem características semelhantes aos sintomas verificados quando os peixes são afetados por fungos, o que pode induzir em erro no tratamento do peixe. Na verdade, a maioria das infeções fúngicas são uma infeção secundária originada por uma infeção bacteriana. Nos peixes os sintomas mais comuns de infeções bacterianas, que podem incluir outros tipos de bactérias que não aeromonas e pseudomonas, são barbatanas com raios avermelhados ou a desfazer, úlceras, manchas vermelhas, perda de apetite, apatia, inchaço abdominal, hemorragias, entre muitos outros. Hidropsia, exoftalmia e apodrecimento das barbatanas, são as algumas das doenças mais comuns causadas por estas bactérias, e geralmente causadas por má qualidade da água. Os tratamentos aos peixes afetados devem ser efetuados o mais cedo possível e á base de medicação antibacteriana.

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Peixe com hidropisia Agente etiológico: Pseudomonas fluroscens.

Peixe com furunculose Agente etiológico: Aeromonas hydrophilla

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Sintetizando, podemos referir que os aquários contêm sempre micro-organismos patogénicos que se revelam pouco problemáticos se garantido um ambiente aquático estável. E no que concerne aos aquariofilistas, os riscos de infeções oriundas do aquário são reduzidos, no entanto, em caso de suspeita de algum peixe afetado pelos organismos descritos anteriormente é sempre recomendado tomar as devidas precauções.

Artigo da autoria de Mara Silva, 2014.

III Encontro Nacional de Aquariofilia, em Coimbra de 11 a 13 de Abril de 2014. Reportagem fotográfica. Francisco Ramalho, Vera Santos e Fernando Bagatelas

Alfredo Reis de Deus. - Expedição e documentário sobre o Lago Tanganika Alfredo Reis Deus

Alfredo Reis com José Filipe

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III Encontro Nacional de Aquariofilia, em Coimbra de 11 a 13 de Abril de 2014. Reportagem fotográfica. (Continuação)

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Fertilização para Tótós Por Pedro Santos, 2014.

Após o desafio que me foi lançado na tentativa de desmistificar um pouco a fertilização das nossas plantas aquáticas, decidi inspirar-me na conhecida gama de livros, e explicar, de forma sucinta e simples este processo. Da mesma maneira que nós e qualquer animal precisa de uma alimentação equilibrada e variada, também as plantas precisam de vários elementos na sua alimentação para um crescimento saudável e sustentado. Tal como a “nossa” roda dos alimentos, também a “roda dos alimentos das plantas” está dividida em várias secções, com diferentes tamanhos, ou seja, que devem estar presentes em diferentes quantidades na sua “alimentação”. Essas secções são luz, CO2 e nutrientes, sendo que estes se subdividem em 2 grupos. O correto equilíbrio destes 3 fatores traduz-se num crescimento saudável das nossas plantas e no não aparecimento de algas, mas este assunto abordaremos noutra ocasião.

A designação Macro e Micro tem a ver com o facto de serem os grupos de nutrientes a serem consumidos em grande e pequena quantidade respetivamente. O CO2 é consumido durante o fotoperíodo (período em que existe iluminação) através da fotossíntese (processo químico através do qual as plantas vão buscar os açucares (glicose) essenciais ao seu crescimento). A sua presença potencia o consumo dos nutrientes pois facilita a sua absorção, potenciando assim o crescimento e saúde da planta.

Como conseguimos então ter o tal equilíbrio dos 3 fatores? Para isso precisamos de ter noções sobre o que é o fator limitante. Para o explicar vamos ter por base a situação de fertilização ideal em que todos os elementos estão na quantidade exata necessária para um crescimento total das plantas.

Os nutrientes podemos então subdividilos em 2 grupos: Macro nutrientes (Azoto, Fósforo e Potássio) e Micro Nutrientes (Cálcio, Enxofre, Ferro, Magnésio, Manganésio, Boro, Zinco, Fósforo, etc.). 71


Imaginemos agora uma situação diferente em que temos iluminação e injeção de CO2 ideais, mas nutrientes abaixo do ideal. Aqui as plantas iriam ter um crescimento menor, apesar de termos condições ideias de iluminação e CO2 no aquário. Neste caso o fator limitante de crescimento é a quantidade de nutrientes disponíveis para as plantas usarem no seu crescimento.

diariamente. Este tipo de metodologia tem como grande vantagem introduzir apenas o estritamente necessário ao correto crescimento das nossas plantas. Tem como desvantagem requerer um muito maior acompanhamento e muitas realizações de testes aos diversos parâmetros. Nos métodos estimativos a teoria baseia-se em não realizar qualquer tipo de teste (exceto os testes permanentes de CO2 para não intoxicarmos a fauna) e fertilizar os nutrientes sempre acima do máximo que conseguiriam consumir.

Perguntam vocês então que valores ideais são estes! No entanto a resposta não é linear. Não existe um valor universal para cada um destes fatores. Cada aquário pode ter um valor diferente para as suas necessidades. Existem é 2 tipos de teorias para a fertilização: Métodos Exatos e Métodos Estimativos. Nos métodos exatos implica um muito maior acompanhamento dos nutrientes que são consumidos diariamente e apenas esse valor é reintroduzido no aquário. Para exemplificar imaginemos que fertilizávamos o nosso aquário com 2ppm de Nitratos (NO3) e no dia seguinte verificávamos que tínhamos 1ppm. Isto queria dizer que o nosso aquário apenas consome 1ppm diários. Seria este o valor que passaríamos a introduzir

Estes métodos têm a grande vantagem de não necessitar de nenhum teste, pelo que são muito mais expeditos e garantirmos que não iremos ter qualquer deficiência por carência de nutrientes, mas economicamente são mais dispendiosos pois estamos a fertilizar por excesso. Os valores a fertilizar neste tipo de método também variam consoante o autor da teoria, sendo que, provavelmente, a mais conhecida é a teoria do Tom Barr. Independentemente do método escolhido a forma de fazer chegar os nutrientes ás plantas é igual. Podemos fazer por fertilização sólida, através de substratos férteis ou pastilhas que são enterradas no substrato (semelhantes aos adubos usados habitualmente nos vasos das plantas de casa), por fertilização líquida ou por fertilização mista (sólida + líquida). Boas Fertilizações!

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Anatomia dos peixes

Deixo

aqui umas pequenas curiosidades anatómicas para a comunidade e todos aqueles curiosos que queiram ficar a saber melhor como "funcionam" os seus peixes. Sistema Circulatório O sistema circulatório dos peixes é essencialmente um sistema simples, em que o sangue não oxigenado passa pelo coração. Daí, ele é bombeado para as brânquias, oxigenado e então, distribuído para o corpo. O coração possui quatro câmaras, mas somente duas delas (o átrio e o ventrículo) correspondem às quatro câmaras (átrios pares e ventrículos pares) dos vertebrados superiores. A primeira câmara do coração de um peixe, ou câmara recetora, é chamada de seio venoso. Tem uma parede fina como a câmara seguinte, o átrio, para qual o sangue passa. Do átrio, o sangue passa para o ventrículo, que tem paredes espessas, e é bombeado para fora, passando do cone arterioso para a aorta ventral. O sangue da aorta ventral vai para a região branquial para ser oxigenado, passando pelos vasos brânquiais aferentes, depois disso, sai das brânquias através das alças coletoras eferentes e vai para a aorta dorsal.

O sistema venoso é constituído pela veia cardinal comum, que entra no seio venoso de cada lado do corpo do peixe, sendo constituída pela fusão das cardinais anteriores e posteriores. O sangue da cabeça é coletado pelas cardinais anteriores e o sangue dos rins e das gónadas é coletado pelas cardinais posteriores. As veias abdominais laterais pares, que recebem o sangue da parede do corpo e dos apêndices pares, também entram na veias cardinais comuns. O sistema porta-renal é formado pela veia caudal e pelas duas veias porta-renais, situadas lateralmente aos rins. O sangue da região caudal passa da veia caudal para as veias porta-renais e entra nos capilares dos rins. O sistema porta-hepático coleta o sangue do estômago e do intestino e devolve-o ao fígado, de onde, depois de atravessar uma série de sinusoides, ele passa para o seio venoso por meio das veias hepáticas pares.

Sistema Respiratório O sistema respiratório com brânquias internas é uma característica dos peixes. As brânquias formadas por lamelas branquiais são constituídas por pregas finas, cobertas por epitélio respiratório que se situa sobre redes vasculares ligadas aos arcos aórticos, de modo que o dióxido de carbono do sangue pode ser trocado por oxigénio dissolvido na água. Estas trocas gasosas ocorrem durante os movimentos de 73


bombeamento da água por ação muscular. A quantidade de oxigénio disponível na água é 20 vezes menor do que a disponível no ar atmosférico (1 litro de ar = 210 mmO2 , e 1 litro de água = 10,29 mmO2). O aumento da temperatura diminui a solubilidade do oxigênio na água, trazendo problemas de anóxia para os peixes de regiões tropicais, onde o aumento de temperatura da água também aumenta o seu metabolismo Na maioria dos peixes ósseos, o pulmão primitivo transformou-se numa bexiga natatória, que pode ou não estar ligado ao esófago por meio de uma conexão dorsal. Por intermédio de glândulas, a quantidade de gás na bexiga natatória pode ser aumentada ou diminuída, de modo a manter o corpo em vários níveis dentro da água.

Sistema Nervoso/ Sensorial Os peixes, como os outros vertebrados, têm sistema nervoso bem desenvolvido, que costuma ser dividido em: - Sistema nervoso central, constituído pelo encéfalo e pela medula espinhal (ou medula nervosa), e, - Sistema nervoso periférico, constituído 74

- Os gânglios nervosos são as dilatações presentes em certos cervos, que atuam como estações retransmissoras dos impulsos nervosos. - O encéfalo é a porção anterior dilatada do tubo nervoso dos vertebrados. Ele apresenta regiões bem diferenciadas, cujo tamanho e complexidade variam nos diferentes grupos de vertebrados. Nas diversas regiões do encéfalo são processadas as informações captadas pelos órgãos dos sentidos e trazidas até ele diretamente por nervos ou pela medula espinal. Segundo o Sistema Sensorial: Inclui um encéfalo distinto e órgãos dos sentidos desenvolvidos, nomeadamente: Olhos - grandes, laterais e sem pálpebras, provavelmente apenas capazes de focar com precisão objetos próximos, mas que percebem facilmente movimentos distantes, incluindo acima da superfície da água. A retina contém cones e bastonetes, o que permite visão a cores na maioria dos casos; Ouvidos - com três canais semicirculares dispostos perpendicularmente uns aos outros (funcionando como um órgão de equilíbrio, portanto, tal como em todos os vertebrados superiores), permitem uma audição apurada, até porque o som se propaga bastante bem dentro de água. Muitos peixes comunicam entre si produzindo sons, seja esfregando partes do corpo entre si, seja com a bexiga natatória;

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Narinas – localizadas na parte dorsal do focinho, comunicam com uma cavidade coberta de células sensíveis a moléculas dissolvidas na água; Linha lateral – localizada longitudinalmente ao longo do flanco do animal, é composta por uma fileira de pequenos poros, em

comunicação com um canal abaixo das escamas, onde se encontram mecano recetores. A eficácia deste sistema para detetar movimentos e vibrações por ele causadas na água permite a formação de cardumes, fundamental como estratégia de defesa destes animais.

Tipos de Escamas

-as ganóides

A pele dos peixes tem uma epiderme estratificada com glândulas, cuja secreção mucosa tem papel protetor e lubrificante, diminuindo o atrito do animal com a água. Muitas pessoas pensam que as escamas são a pele dos peixes. Na realidade as escamas estão dispostas sobre a pele verdadeira. Elas constituem uma proteção extra para os peixes e auxilia numa melhor hidrodinâmica, permitindo que o peixe "deslize" melhor pela água.

-as ciclódes,

Existem 4 formas de escamas:

-as placóides, ctenóides,

-as ctenóides,

Existem ainda peixes onde as escamas foram substituídas por placa ósseas (calictídeos) e outros que não possuem escamas (pimelodídeos). 75


Sistema Digestivo

O alimento é ingerido pela boca e a

Composto basicamente por boca, faringe, esófago, estômago e intestino. A

boca

pode

ser

inferior

(peixes

cartilaginosos) ou anterior (peixes ósseos). Possui dentes iguais (homodontia). Na faringe, abrem-se as fendas branquiais. Os sucos digestores/digestivos são potentes. Na boca existe ainda uma pequena língua,

trituração começa no esófago, sendo feita

essencialmente no estômago e, em muitas espécies, em divertículos em forma de dedo. Estes divertículos começam a ativar as enzimas digestivas e começam a absorção dos nutrientes. Órgãos como o fígado e o pâncreas

acrescenta

novas

enzimas

digestivas à medida que o alimento viaja

pelo tubo digestivo.

ligada ao chão da cavidade e que ajuda nos movimentos respiratórios.

O intestino pode terminar em cloaca

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Sistema Reprodutor Os sexos são separados, apresentando cada indivíduo gónadas geralmente pares, tendo uma reprodução assexuada. A grande maioria é ovípara com fecundação externa, embora existam espécies com fecundação interna e hermafroditas.

os ovos e as crias durante algum tempo (normalmente perde o interesse quando os alevinos começam a desembaraçar-se sozinhos). Deve-se retirar a fêmea do aquário de desova pois o macho tem tendência a atacá-la depois da desova. O aquário deve ter algumas plantas de superfície para servir de suporte ao ninho de bolhas.

-Os Vivíparos, como o nome indica, a fertilização e a incubação dos ovos são feitas no interior do corpo da fêmea. Os alevinos nascem completamente formados e já nadam pelos seus meios. Deve-se separá-los dos outros peixes, pois estes tem a tendência de comer os alevinos, embora uma vegetação densa seja suficiente para que estes possam proteger-se desses ataques. A fêmea, depois de dar à luz, deve ser mantida uns dias em repouso num aquário à parte longe dos ataques dos machos.

-Os Caracídeos são dispersadores de ovos, sendo a sua criação muito difícil. Normalmente os criadores optam por constituir um aquário onde cerca de metade deste está coberto por vegetação densa onde os ovos ficam abrigados.

-Os Ciprinídeos são ovíparos e dispersadores de ovos. Para fins reprodutivos o aquário deve ter uma vegetação bastante densa, pois os adultos têm a tendência de comer os próprios ovos.

Os ovos são pequenos e sem anexos embrionários mas com quantidade de vitelo muito variável. Mais de 97% das espécies conhecidas de peixes são ovíparas, existindo diferentes técnicas de postura:

-Os Ciclídeos também são ovíparos. Constituem casais duradoiros e protegem os ovos e as crias durante semanas. Alguns costumam depositar os seus ovos em superfícies quase ou mesmo verticais, o caso dos escalares, enquanto outros depositam os seus ovos no interior de cavernas, como por exemplo os Kribensis.

Algumas espécies passam por mudanças de sexo, com machos que passam a fêmeas aumentando de tamanho e as fêmeas que se tornam dominantes nos cardumes, ao passarem a machos.

-Abandono dos ovos à sorte. -Colocação dos ovos num ninho construído ou num refúgio natural. -Suspensão dos ovos num suporte. -Colocação dos ovos na boca de um dos pais. -Enterramento dos ovos nos sedimentos.

-Os Anabantídeos, na sua maioria, constroem ninhos de bolhas onde os ovos são depositados. O macho protege 77


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Bexiga Natatória A bexiga natatória é um órgão hidrostático que acumula gases, principalmente o oxigénio e o nitrogénio, retirados diretamente do meio ou a partir do sangue. Ela permite ao peixe ficar “estabilizado”, flutuando em qualquer profundidade, sem gastar energia, por outras palavras, dá-lhe uma densidade neutra. Em certos peixes a bexiga natatória está ligada ao esófago (Ciprinídeos e Caracídeos), por um canal chamado pneumoduto, nos Ciclídeos ela não está ligada ao esófago, estando o seu controlo dependente de zonas bastante vascularizadas que podem libertar ou absorver gases rapidamente. Nem todos os peixes possuem este órgão: os tubarões controlam a sua posição na água apenas com a locomoção e com o controle de densidade de seus corpos, através da quantidade de óleo em seu fígado;

outros peixes têm reservas de tecido adiposo para essa finalidade.

Adaptado e escrito por Rui Bacelar de Oliveira, 2014,

Fontes www.coladaweb.com/biologia/animais/peix es pt.scribd.com/doc/7836848/O-SistemaRespiratorio-Dos-Peixes www.slideshare.net/1288/anatomia-efisiologia-dos-peixes-de-aguadocehttp://biologiainterativa.webnode.com. br/zoo-vertebrados/peixes-/anatomia-dospeixes-/ www.gforum.tv/board/1064/267808/reprod ucao-dos-peixes.html

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Revista PeixeFauna Nยบ 7 - 2014


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