Versus Magazine #50

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A N TRO DE F O L IA

S UP L E M E N T O V E RSU S

L IV E

HEAVY METAL & FUTEBOL

VOLUME II PENSร ES NO CTUR N ES S e m sig nif ica do pr ofundo

R I VE RSI D E Pรณ s - apo cal i ps e

MADDER M O RTE M O ce n tr o de t u d o


V E R S U S M A G A Z IN E

EDITORIAL

Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

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D IR E C Ç Ã O

Luto Os Metallica mai s uma vez vêm a Port uga l e s e rá ce r tame nte u m dos pontos altos de 2 0 1 9 , de um a

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES

a trab alha r p a ra pagar o preço do bi lh ete .

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

( Es t as p alavra s foram roubadas ao n os s o col a bora dor

F O T O G R A F IA

d i g ressã o q u e já é consi derada a mel h or. . . l e i a -s e a m a i s lu c rativa d a b anda. No ent anto, para os ve r n o di a 0 1 de Ma i o , d ia d o trabalhador, o pessoal vai te r de s e “e s fol a r“

Nu no Lo p e s)

Créditos nas Páginas

S i m b i os e, f a leceu vit im a de um terríve l ac ide nte . Todos

Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

es t amos de lu to p ela p erda de um m ú s ico t re m e n do,

O U T IL IZ A D O R P O D E :

O un d ergrou nd est á de luto ! Bife s , o baix is t a dos

u m a pes s oa brilhante e que no s d e ix a ce do de m ais . A toda a f a m ilia, co m p anheiros e am igos as n os s as

copiar, distribuir, exibir a obra

S O B A S S E G U IN T E S C O N D I ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i za dor deve

s e nt i da s con d olencias.

dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

Bo a mú sica , Eduardo Ramalhadeiro

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METAL ALLEGIANCE

C O N T E ÚDO Nº50 10/18

0 4 T R IA L B Y FIR E

32 EM ANU E L J R .

0 6 R I V E RS ID E

36 BONJO U R T R IS T E S S E

78 PEOSPHOROS

1 2 L I ZZ Y BO R D E N

40 ALBUM V E R S U S

8 4 G A B R IE L S O U S A

(SU)POSIÇÕES

1 8 MOO NR E ICH

42 CRÍTIC A S V E R S U S

86 GARAGE POWER

PA L A S

2 0 O HO MEM D A MOTOSERRA

50 ARCH G O AT

88 NUNO LOPES

2 2 D E M O NS TE AL ER

54 M IGUE L T IA G O sem passado se retorna ao passado

9 0 PA L E T E S D E M E TA L

2 6 V I C TO R ALVE S

64 PLAYL IS T

1 0 2 H E K AT E

66 M ADD E R M O RT E M

1 0 6 C A R L O S F IL IP E D O D I C I C I L I N D R I

2 8 H Y RG A L

G R Ê L O S D E O RTE L Ã

H E AV Y M E TA L & F U T E B O L

HORRENDOUS

7 2 C A R L O S F IL IP E

ANTRO DE FOLIA

MOSH

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Trial by Fire AETERNUS

B E TWE E N TH E B U R IE D A ND M E

B O NJ O U R TR IS TESSE

Heat hen

Your U l ti m ate U r b an N i gh t ma re

(Dark Essence Records)

Automata (Part II) (Sumerian Records)

MÉDIA: 3,2

MÉDIA: 4,1

3,8

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

3 2,5 3,5 4 3

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

4 4,5 3,5 4,5 4 4

(Lifeforce Records) MÉDIA:

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

2,5 45 4 4

CRIPPLED BLACK PHOENIX

DEICIDE

GWYDION

Grea t Esca pe (Season of Mist)

O v e r t u re s O f B l a s p h e m y (Century Media)

Thi r teen

MÉDIA: 3,6

MÉDIA: 3,6

MÉDIA: 2,6

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

3,5 3 4 3,5 4

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

3 4 3,5 4 3,5

(Ultraje)

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

0,5 2 4 3,5 3

IMMORTAL

MARDUK

MOB RULES

Nor t her n C h a o s Go d s (Nuclear Blast)

Vi k t o r i a (Century Media)

Beast Reborn (Steamhammer - SPV)

MÉDIA: 3,1

MÉDIA: 3,0

MÉDIA: 3,6

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

1,5 4,5 2 3,5 4

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

2,5 4 2,5 3 3

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

4,5 3,5 3,5 3

PENSEES NOCTURNES G rot es q u e (LADLO Productions)

Obra - Prima

5

3 3 2,5

Excelente

4

Esforçado

3

3

Esperado

2

Básico

1

MÉDIA: 2,9

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL JR. ERNESTO M. HUGO M. NUNO L.

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Sete

Dois mil e dezasseis foi trágico para os Riverside: Piotr Grudziński partiu. Passados dois anos «Wasteland» viu a luz do dia. Mais uma vez, afável, simpático, comunicativo, Mariusz Duda concedeu-nos algum do seu tempo, para falar sobre um novo começo que é «Wasteland». Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Oskar Szramka

Olá Mariusz, é bom voltar a falar contigo desde o ano passado, no seguimento do lançamento do «Eye of the Soundscape». O novo álbum dos «Riverside» está previsto apenas para Setembro. Já têm algum feedback relativamente a este «Wasteland»? Mariusz: Ainda não. Quer dizer, dos jornalistas temos tido boas referências, mas não sei se estão a ser simpáticos ou se gostaram mesmo, mas espero que tenham gostado porque ele é mesmo diferente. Vou ser simpático e dizer que é um álbum muito, muito bom. (risos) Então estás a ser muito, muito simpático. Agora a sério, é mesmo um bom álbum. Muito obrigado. Na minha opinião este trabalho não é tão experimental como o «Eye of the Soundscape», mas é diferente e único. Foi o álbum mais emocional que ouvi desde há muito tempo. Está na onda de um «Passing Light of Day» dos «Pain of Salvation». Concordas? Este álbum, o sétimo, reflectido na capa com um sete invertido a fazer de “L”, é realmente mais emocional. Neste trabalho, devido ao tema, não quisemos andar a experimentar com electrónica. Está ligado com a sobrevivência pós o fim do mundo, é a minha história pós-apocalíptica, e é sobre a forma como as pessoas

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tentam sobreviver ao fim do mundo, e neste fim do mundo as pessoas não tem computadores nem electrónica, apenas têm a guitarra, sendo o som mais orgânico. Quis regressar às origens através de sons mais orgânicos e com o som de guitarras acústicas. Quando temos guitarras acústicas, necessariamente tens músicas mais emocionais, que é o que faço melhor. Este álbum foi um renascimento ou um novo começo? Como podes verificar a primeira música chamase «The Day After» e a última «The Night Before» referencia ao álbum «Second Life Syndrome», que tinha como músicas inicial e final a «After» e a «Before», respectivamente. Para mim é como o síndroma da segunda vida, porque começámos como um trio e, embora sejamos uma banda diferente, eu acredito que em termos de coração e alma os «Riverside» se mantêm sem mudanças. Retomando o experimentalismo, nas músicas mais acústicas, como a «Guardian Angel» e a «The Night Before» cantas com um timbre mais grave. Porque escolheste cantá-las dessa forma? Sentes-te confortável nesse registo de voz? Lembro-me que quando comecei a ter lições de voz, que começaram há cerca de 2 anos, o meu professor…


Dois anos? Sim, porque quando finalmente aceitei que ia cantar profissionalmente quis ter um acompanhamento profissional, afinal não queria perder a voz após 50 concertos, ou algo assim. Quis evoluir em termos técnicos. Nas aulas o meu professor perguntou porque é que não cantava num tom mais grave, ao que respondi que queria estar acima dos instrumentos. Mais tarde pensei, já que o álbum vai ser diferente, uma das diferenças pode ser na voz. Num certo sentido é mais masculino.

Ele toca os solos. Ainda o temos a bordo, mas todos os ritmos e as restantes cordas são tocadas por mim porque somos um trio. Pensei que eu seria capaz de o fazer. Aliás antes de decidirmos ser um trio, aceitei logo o facto de ter de vir a tocar mais guitarra, como o Genesis, por exemplo, onde o Mike Rutherford acabou por vir a tocar a guitarra, mas no que diz respeito aos concertos ao vivo, acabavam por ter outros elementos na banda. O mesmo acontece com os Porcupine Tree. Para mim os «Riverside» começaram por ser um trio, tornando-se um quarteto ao vivo.

Como disse este álbum é bastante emocional, sendo em algumas partes bastante pesado, e por vezes mesmo obscuro. Estes elementos foram intencionais logo desde o início do álbum? Sim, é o que faço. Começo sempre pela página em branco, coloco o título, a cor da capa e mais tarde procuro encontrar diferenças que tornem o trabalho especial. Por exemplo para o «Wasteland» procurei um som de guitarra diferente, a mistura das guitarras piccolo e clássica/eléctrica, mais sons acústicos, a voz mais baixa, as baterias maiores. Estas coisas, tinha na minha cabeça, como o usar o violino pela primeira vez, por exemplo.

Onde sentes mais dificuldade, no baixo ou na guitarra? Eu sou um multi-instrumentalista, no meu projecto a solo toco vários instrumentos. Diria que a guitarra acústica é o meu instrumento principal, mas nos «Riverside» toco o baixo, a guitarra, os teclados. Agora adicionei mais alguns instrumentos como o baixo Piccolo que é um baixo mais pequeno que utiliza as cordas da guitarra e soa igual à guitarra. Diria que o desafio não foi a parte rítmica, mas sim os solos nas músicas «Lament» e «Wasteland». Mas foi divertido.

Outro aspecto novo é que tocaste todas as guitarras. Porque decidiste tocá-las, em vez de convidar alguém, por exemplo o Maciej Meller, para o fazer?

De que forma a morte do Piotr afetou a composição deste «Wasteland»? De alguma forma afetou. É sobre ele. Com a perda do Piotr foi o fim do mundo para os Riverside, por isso penso que este cenário pós-apocalíptico

Com a perda do Piotr foi o fim do mundo para os Riverside [...]” 9 / VERSUS MAGAZINE


O meu grito interno foi encontrado no «Wasteland» [...]. Sinto que o passado está no passado. Estou apenas a olhar para o futuro.”

pode ser simbólico disso mesmo. É a história de como conseguimos sobreviver. Mas este álbum é essencialmente mais sobre nós do que ele. Mas em algumas partes como «The River Down Below» ou «Lament» há momentos que foram influenciados por ele. Mas queria frisar que o «Wasteland» não é sobre o Piotr, é sobre nós, aqueles que ficámos, os sobreviventes. É um olhar mais sobre o futuro que com o passado. Temos, nas letras, algumas histórias e conceitos que creio que foram inspirados em livros do velho oeste. Onde te inspiraste para estas letras? Sempre tive interesse nesta literatura, nestes filmes, nestes jogos. Mad Max, por exemplo, ou jogos como Fallout ou Last of Us. Gosto destes temas pós-apocalípticos. Tínhamos esta ideia há algum tempo e, na nossa última tour, a banda sonora do

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Fallout fez parte da nossa playlist. «Wasteland» não é apenas simbólico para a morte do Piotr, é igualmente simbólico para os dias de hoje, para a Europa por exemplo e para a falta de união que hoje se observa. O grafismo ficou mais uma vez a cargo do Travis Smith. Já falaste do 7, mas qual a ideia por trás desta capa? Há alguma ligação com as letras ou com o conceito do álbum? Mostra alguém que está abalada. É uma sobrevivente, mas sem várias partes. É como as pessoas se sentem com o final do mundo. São como uma estátua antiga, sem braços e sem pernas, e precisam de tempo para se recomporem. Na biografia enviada pela editora, falas no teu grito interior. Já o encontraste? Ao compor a música, sempre senti um grito interior,


mas estes últimos tempos, e com todas as tragédias que me aconteceram neste último ano, vou lançar 3 álbuns. Já lancei dois pelos «Lunatic Soul» e o «Wasteland» será o terceiro, portanto é bastante música. O meu grito interno foi encontrado no «Wasteland» mas neste momento não sinto o meu grito interior. Sinto que o passado está no passado. Estou apenas a olhar para o futuro. Na nossa primeira entrevista tivemos um pequeno desentendimento. Eu disse que os «Riverside» eram uma das principais bandas de progressivo e tu descordaste de mim. Mudaste a tua opinião. Bem, não sei porque é que discordei de ti, mas acredito que existem muito mais bandas que são mais viradas para o progressivo que nós. Não queremos hastear a bandeira do progressivo. Só queremos fazer a nossa música, e com todas as influências que hoje temos, defendo que temos um som mais alternativo que progressivo. Mas, na volta, para algumas pessoas agora ainda somos mais progressivos. Mas continuo a defender que com este álbum mostrámos que conseguimos continuar e mostrar algo de original e algo que é apenas nosso. Eu acredito que os «Riverside» são daquelas bandas que apelam ao coração dos ouvintes. Concordas? Eu acho que tocamos um rock melancólico, não tocamos metal progressivo. Às vezes é mais electrónico, outras vezes é mais rock, e escolhi este som mais melancólico para trabalhar com as emoções. É como sou, sou um gajo melancólico e gosto desse tipo de música e tento sempre evoluir e acredito que esta aproximação à música pode ajudar outras pessoas a combater a depressão, isto é, uma pessoa que esteja sozinha, ao ouvir esta música pode ajudá-la a não se sentir tão sozinha. É o meu objectivo. Vai sair uma edição em 5.1 de «Wasteland»? Sim, talvez não agora e este ano, mas sim vai sair. Tens um anjo da guarda? Claro, é a minha mulher, é a minha alma gémea. Graças a ela recuperei e sinto-me melhor que há 3 anos.

Acreditas em Deus? Cresci com uma família muito católica e acredito que existe algo, mas não sou muito dado às regras católicas. A ter de escolher diria que sou mais dado ao budismo que a todos aqueles dogmas. Mas sou interessado nisso. Se me perguntares qual é a minha religião, diria que estou na onda dos livros de Joseph Campbell (https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_ Campbell). «Riverside» vão tocar em Lisboa, e vou tentar ir ao concerto, até porque vivo a trezentos e tal quilómetros, e vou tentar conhecer-te e pagar-te uma cerveja portuguesa. Isso seria perfeito. Que podemos esperar dos «Riverside» ao vivo? Definitivamente vamos tocar as novas músicas e vamos tentar apresentar uma performance mais dinâmica com uma maior produção, luzes maiores, e eventualmente efeitos visuais. Vai ser um espectáculo muito interessante e espero conhecer alguns fãs portugueses. Muito obrigado pela tua disponibilidade e espero ver-te em Novembro e pagar-te uma cerveja. Espero que sim, e que nos possamos sentar e tu contas-me a tua vida em Portugal e eu conto-te a minha na Polónia. Muito obrigado pelo teu tempo para estar entrevista. Gostei mesmo muito, muito deste álbum e… Se puder acrescentar algo, diria que nunca tivemos um álbum tão emocional como este. Talvez o «Love, Fear and the Time Machine», mas este era sobre a infância. Este é diferente, e algo teve de acontecer para haver todas estas emoções, mas ainda bem que aconteceram porque assim esperemos poder ajudar outras pessoas. Uma vez mais muito obrigado e vamos mantendo o contacto.

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O

lado negro do amor 1 2 / VERSUS MAGAZINE

Ao lado de nomes como Alice Cooper, LIZZY BORDEN é um dos pioneiros daquilo que hoje conhecemos como Rock e está na génese de muito do Metal que se faz actualmente. Com 35 anos de carreira o músico, que dá nome à sua banda acaba de lançar «My Midnight Things» e foi o rastilho para uma conversa com o músico. E que conversa! Entrevista: Nuno Lopes | Fotos: Stephanie Cabral


Estás a celebrar os 35 anos de uma carreira que tem sido uma caminhada em grande. Estavas à espera de estar aqui passado todos estes anos? Eu não sabia que ia estar tanto tempo, mas sabia que queria fazer da música a minha vida. Por isso queria estar a fazer isto, mesmo apesar de todas as diferenças, mas sempre acreditei que iria estar aqui a fazer o que faço e sempre acreditei em mim e na minha música. E tem sido uma viagem fantástica e que me tem permitido conhecer muito e descobrir muito acerca de mim. É algo que esperava mas que nunca esperei e estou a adorar toda esta viagem. Tem sido fantástico. Lizzy Borden é, ao lado de músicos como King Diamond, Alice Cooper ou Kiss, a voz de uma geração. Estás a par da tua importância para a cena Rock? Comecei no início anos 80 quando os cantores cantavam e faço parte de um grupo de pessoas que de facto cantavam. Sim, consigo perceber a minha importância mas não lhe presto muita atenção. Eu faço o meu trabalho o melhor que posso e sei e sinto-me lisonjeado quando as pessoas reconhecem o meu trabalho, mas o meu objectivo é continuar a ser relevante e fazer bons discos.

Com uma carreira tão longa quais são os momentos mais marcantes e o que recordas dos primeiros anos? Como é que olhas para a cena que se faz actualmente? Foi muito estranho porque não havia nada! Começámos a tocar em restaurantes, não havia nada. E de repente todos vinham para Hollywood para ser estrela e eu já vivia aqui. E agora, acho que os temas são muito melhores e fico feliz por ver miúdos a fazer música. Na altura em que comecei não existia um género, não existia um mercado, por isso agora tudo está diferente. Agora já não tens muita gente a cantar, é tudo muito agressivo e não entendes o que as pessoas dizem, com as vozes guturais e brutas, o que é bom, cria diversidade, mas na altura em que comecei não havia nada disto, era um deserto. E agora há muita diversidade e o Rock e o Metal são um género que se fixou e veio para ficar. Gostei muito da altura em que comecei mas também gosto de estar a viver estes dias.

Passaram onze anos desde o teu último disco de originais, estando mesmo afastado do estúdio, o que te levou a este afastamento? Estive em digressão e não fiz muita coisa em estúdio, muito por culpa do estado da indústria. Nada é como nos anos 80/90 e não havia motivo para colocar um disco um disco novo. E tive de esperar que a música se adaptasse a tudo isto e a esta evolução e não quis lançar um disco que as pessoas não ouvissem, quis esperar e fazer um disco que as pessoas compreendessem e que fosse compreendido e não fazer um disco só porque sim. Quis fazer algo com significado mas na altura certa. E esta é a altura certa! «My Midnight Things» é um disco conceptual em torno do amor. O que é isto a que chamamos de amor e o que despoletou estas canções? Quis fazer algo que fosse completamente diferente e que fosse interessante. Quando quis fazer isto era sobre o Amor que queria fazer. Queria que este disco tivesse um sentido, que tivesse uma razão e um significado. Isso é o amor! O amor é de facto algo muito complexo e é muito difícil escrever sobre ele, principalmente no género que faço, mas quis fazer as coisas de um ponto de vista

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[...] sinto-me lisonjeado quando as pessoas reconhecem o meu trabalho, mas o meu objectivo é continuar a ser relevante e fazer bons discos.

pessoal mas não baseado na minha experiência pessoal, mas enquanto pessoa e enquanto ser humano. Já tinha escrito sobre ódio, guerra, mas nunca tinha tentado fazer as coisas desta forma. Por isso, este acabou por ser um disco muito exigente nesse sentido. O amor, enquanto sentimento, é um assunto muito sério e há, inclusivamente, quem morra por amor. Existe a procura de uma explicação para o sentimento? Existem muitos níveis no disco acerca do amor, mas quero que as pessoas tirem as suas próprias conclusões. Isto é arte! Eu usei isso como catalisador e quis fazer algo único para as pessoas e algo com que as pessoas se identifiquem e não creio que não haja ninguém que não se identifique com o amor. Não quis mostrar uma visão bonita do amor, quis fazer um disco que fosse uma viagem de uma

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personagem e que deambulasse por tudo aquilo de bom e mau que o sentimento pode ter. Afinal, isso é o amor. Com uma careira tão longa e tão recheada de sucesso continua a ser difícil, ou desafiante, evoluir a sua sonoridade e encontrar novas ideias para novos discos e nova música? Sim, é difícil, mas isso é o que torna tudo isto da música interessante. Esse e o desafio e quero-me desafiar e não fazer novamente o mesmo disco. Musicalmente quero fazer muitas coisas. Não quero fazer coisas iguais e esse é o maior desafio e é assim que encaro. Não quero lançar o novo disco duas vezes. E este disco é um reflexo disso mesmo. Eu nunca tinhas escrito sobre amor, pelo menos desta forma. Gosto de me desafiar de forma constante e é assim que vai continuar a ser.

O novo disco foi praticamente feito de forma solitária. Este foi um dos desafios e como foi criar todo o conceito de forma isolada? A maioria das vezes escrevo sozinho e quis que a solidão estivesse na minha voz. Quis dar um sentimento de isolamento. Por isso cantei num isolamento, quase, completo para que a minha voz soasse dessa forma, quis estar num ambiente solitário e deprimente, não quis estar num estúdio a compor, confortável, com ar condicionado e todos os luxos. Quis estar na penumbra e sentir essa mesma solidão para que tudo fosse perfeito no sentido do isolamento e da depressão da solidão. O acto de compor música é uma tarefa árdua e, na maioria das vezes, é difícil «desligar» da realidade própria da música que se faz. Existe algum encontro


entre a tua realidade e assuntos pessoais neste disco? Estão ligadas de alguma forma. Não directamente. Eu sou um filtro. «Accross my heart», que e o próximo single, é uma canção sobre as pessoas que tatuam alma e que não estão contigo mas que continuas a tentar que estejam. É uma canção muito negativa porque não há um final feliz, mas eu continuo a cantar que vamos conseguir quando sei que não vai acontecer. É como quando sonhas em comprar u a casa e não tens dinheiro. É o que se passa nessa canção. «Obsesed with you» fala sobre a obsessão por alguém mas tentei que não fosse óbvia e quis criar camadas. Não quis que fosse uma coisa stalker. Quis que fosse uma coisa mental. Não quis que fosse uma situação física, mas algo que te domine a mente e que não consigas fazer mais do que pensar naquilo e no que podias fazer. É uma canção muito poderosa nesse sentido, pois nada é físico. No texto disponibilizado à imprensa fala-se um pouco do público mais novo que vai aos teus concertos, é por isso que «My Midnight Things» soa tão fresco e moderno? Como é que esse público mais novo afecta a composição ou a forma como encaras a tua sonoridade? Nós somos uma banda mundial e estamos habituados a tocar para todos os públicos, a última digressão que fizemos tínhamos muita gente jovem. E eles sabiam todas as letras e ate mesmo as mais antigas e isso é poderoso e apanhou-me de surpresa. Esse foi o ponto de partida. Quando andas pelo mundo vês todo o tipo de audiência e quanto mais anos estás no activo mais esperas que a audiência seja mais velha, mas comigo aconteceu o inverso e isso deu-me que pensar e foi extraordinário ver toda a gente, e pessoas muito jovens a cantar os temas de tempos em que nem eram nascidas, foi fantástico e esse público reflecte-se no «My Midnight Things»

Quais são as expectativas em redor do disco? Ainda continuas a sentir alguma ansiedade ou nervosismo sempre que um disco é lançado? Sim, claro! (risos) Nunca sabes como o disco vai ser recebido. Este disco está a ter uma crítica muito positiva e estou absolutamente espantado. Não sei como é que isso se vai traduzir em vendas, mas a maioria dos seguidores não sabem a importância que comprar o disco tem para o artista. Se não vender não vamos conseguir ir para digressão. Quando lanças um disco tens de esperar que o disco resulte e que as pessoas o comprem. Por isso a ansiedade é algo que vou sentir sempre, porque tudo vem do lançamento e queres perceber como as pessoas reagem e como sentem os novos temas. Qual a tua opinião sobre toda esta evolução à volta da música? Existem coisas boas e más. As boas é que posso atingir mais pessoas, mas o mau é que posso chegar a menos porque há muitas bandas e isso faz com que sejas uma gota no oceano. Antes as pessoas interessavam-se pelo género e pelos artistas e isso perdeu-se,

[...] Queria que este disco tivesse um sentido, uma razão e um significado.

porque há muitas bandas. Mas não te podes deixar perder nas canções e tens de te focar nos artistas. Gosto da evolução mas espero que seja uma coisa que seja mais equilibrada. Perdeu-se toda a experiência de ouvir a música e de absorver a música e tudo o que rodeia. Isso é um factor negativo. Estás neste momento a preparar o conceito para levar o disco para a estrada. Quem te vai acompanhar nessa digressão? Nunca tocaste em Portugal, podemos dizer que este é o momento certo para o Lizzy Borden vir até cá? Sim, este e o momento ideal para irmos aí! Já na última digressão fomos a locais onde nunca fomos e nesta digressão queremos fazer o mesmo. Essa experiência isso foi excepcional e chegou o tempo de ir a Portugal. É agora ou nunca. Esta digressão deveria e tem ir a Portugal. Quanto aos músicos ainda não seleccionei ninguém, estou à espera para ver o que vai acontecer com este disco e quero que as pessoas conheçam o disco. Só depois é que vou continuar a procurar os músicos. Para já estou a promover o disco e a preparar toda a produção para a digressão, por isso as novidades irão surgir. Quanto ao futuro o que podemos esperar de Lizzy Borden no que diz respeito a novas músicas? Assinei com Metal Blade para três discos e já estou a trabalhar em novos temas, não tenho planos para me reformar. Quero ir a muitos locais onde ainda não fui. E de certeza que vou estar por ai muitos anos. Continuo a adorar isto e isto é a minha vida. Quer deixar uma mensagem para os fãs portuguese…? Quero ir e vou a Portugal! Comprem o disco porque isso ajuda e só assim podemos ir a Portugal. Temos de sentir que querem que Lizzy Borden vá aí tocar e comprar o disco ajuda muito. É agora ou nunca! (risos) Youtube

Lizzy borden

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Uma fuga sem fuga NÃO SE TRATA DE FUGIR PROPRIAMENTE, MAS DE PROCURAR NOVOS TRILHOS NO UNIVERSO DO BLACK METAL. ENTREVISTA: CSA

Saudações, Weddir! Como é a segunda vez que te entrevisto, vou começar por te perguntar o que fez Moonreich para promover o álbum anterior («Pillars of Detest»). Weddir – Saudações! Ora bem, fizemos o que sempre fazemos: levar as canções de «Pillars» connosco percorrendo as estradas de França, da Europa e do mundo! Nada melhor que tocar ao vivo para promover um álbum! Cremos no poder dos concertos e na energia que passa entre nós e os espetadores. É nesse contexto que as nossas canções revelam todo o seu sentido! Como foi o álbum recebido pelos fãs? Bem, a avaliar pela forma como reagiram, quando tocámos essas canções ao vivo! E é verdadeiramente muito gratificante, apesar de fazermos tudo isso sobretudo a pensar em nós próprios. E agora temos «Fugue». - Este título faz-me pensar na música de Bach. Há alguma relação entre os dois? Nenhuma, apesar de Bach ser um dos meus compositores favoritos. - O que significa este título para ti? Tem uma dimensão muito pessoal, um significado ligado ao desaparecimento, à fuga em todas as suas modalidades. Aconselho toda a gente a ouvir o álbum lendo as letras ao mesmo tempo. É desta forma que a experiência me parece mais positiva! Aliás, espero que seja tão traumatizante para o ouvinte como foi para mim

enquanto compositor! - Que relação se pode estabelecer entre o tema central do álbum e os tópicos tratados pelas canções incluídas nele? Tenho muita dificuldade em pôr preto no branco de que trata uma canção ou um álbum. A interpretação é sempre algo pessoal. Parece-me bem mais interessante e transcendente descobrir por si mesmo o sentido deixando-se envolver pelos textos e pela música e construindo depois a sua própria interpretação. - E com a capa – muito impressionante – do álbum? A ideia veio de mim e depois transmiti o conceito a um amigo gráfico, que conseguiu captar a essência deste disco.

outros membros de Moonreich na composição de «Fugue»? Como é meu costume, escrevi tudo sozinho e, quando estava tudo pronto, passámos à gravação.

O que mudou entre «Pillars of Detest» e «Fugue»? [Este último parece-me um pouco menos furioso, mais melódico.] O que mudou? As minhas influências musicais, sem dúvida! O estado de espírito e as emoções que eu queria partilhar eram muito diferentes dos que tinha em mente quando compus «Pillars»! Evolui-se ao longo dos anos, quer no que se ouve em nossa casa, quer na forma como tocamos. Portanto, é normal – e essencial – que isso se faça sentir nos nossos álbuns.

Queres deixar uma mensagem aos nossos leitores? Obrigado pelo tempo que me dispensarem. Vemo-nos em breve num concerto.

Que concertos estás a prever fazer para apresentar «Fugue»? Para começar, vamos participar no LADLO Fest, em Nantes, no dia 6 de outubro. Também estamos a preparar-nos para fazer concertos por toda a França e, de seguida, na Europa! Continuas satisfeito com o apoio que a LADLO tem dado a Moonreich? Completamente. O apoio deles é infalível e baseia-se na confiança! Fazem um trabalho extraordinário!

Moonreich Youtube

Que papel coube aos

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

José Carlos Pereira: Com apenas 20 anos de estudo, termina Medicina. Nesta época em que urge o olhar atento dos bloggers sobre a actualidade nacional e internacional, em que precisamos de ser incisivos e contundentes sobre o que de errado acontece na nossa sociedade, eis que uma notícia do mais fútil que há, me entra pelas órbitas oculares, chocalha-me o cérebro, e me deixa com dores. Nos abdominais. De rir, claro está. https://www.cmjornal.pt/famosos/detalhe/jose-carlos-pereira-ja-e-medico

“José Carlos Pereira já é médico”, diz o Correio da manhã. Como assim, “já”? Ora bem.. primeira matrícula no ano lectivo de 1997/1998... noves fora.... 21 anos, certo? Arredondemos para uns simpáticos 20 anos!! Realmente é digno de registo! Que bem conseguiu conciliar a sua carreira como actor, Pai, apresentador e provador oficial de bebidas brancas e espirituosas, não é? E tendo em conta todas estas actividades, estarse-ia à espera que tivesse dificuldades em terminar o curso, certo? Mas eis que somos maravilhados com a informação que em apenas 20 anos o conseguiu completar. Para ele os meus parabéns! Começa agora com 39 anos uma bonita carreira que irá durar tanto tempo, quanto aquele que levou a tirar o Mestrado integrado em Medicina. Isso, ou até o seu fígado colapsar. Uma das duas.... Independentemente disso, há felicitar o mais recente médico, e não pensar que o é apenas porque os Professores Doutores já não aguentavam o cheiro a álcool nas salas de aula. Isso é só uma boca estúpida, tenham vergonha! A verdade é tinha um projecto e conclui-o, coisa que outros “famosos” nunca o vão conseguir. Estou a falar claro do disco de originais do Tony Carreira, ou do Manzarra se tornar vegetariano (dizem as más línguas que come febras a torto e a direito). “Os cães ladram e a caravana passa”, escreve ele. Está bem oh Zé, mas olha lá... os cães ladraram muito tempo! E a caravana, essa demorou muito, mas muito tempo a passar! E não foi por falta de combustível que isso aconteceu! Pelo o que se sabe, sempre te atestaste bem! Boa sorte com isso! (Estou a falar contigo, Zé, mas também com os teus doentes.) E agora não te esqueças que tens de tirar a especialidade! Se calhar, era boa ideia apressares isso, senão acontece como um amigo meu diz, e terminas a mesma quando tiveres num lar de terceira idade. Ah! E ainda bem que para seres médico não tens de saber mexer em Photoshop, caso contrário ainda te faltariam mais 30 anos, porque pela amostra que tivemos… ui ui! Já agora, porque é que tiveste de fazer uma montagem? Ninguém te vendeu uma bata? Proibiram-te de mexeres em estetoscópios? Terás avisos na faculdade com uma foto tua onde se pode ler: “Afastar este individuo de batas e de outros símbolos que o possam fazer parecer um médico. A reitoria agradece”? Despeço-me com receio de adoecer. Mas só porque ainda está calor, quero ir à praia, e não dá jeito nenhum ficar de molho. O Homem da Motoserra

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Um desfile de estrelas Aconteceu em «Last Reptilian Warrior», o álbum mais recente desta banda indiana, em que há um baterista diferente em cada canção. Entrevista: CSA

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Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro


Olá novamente, Sahil :-) Este álbum despertou a minha curiosidade. Antes de mais, o título deixou-me muito intrigada. - Quem é este «Last Reptilian Warrior»? O que simboliza? Sahil – É p o protagonista da minha história. De certo modo, também representa o fim de parte da minha jornada musical. Não me apercebi disso quando a escrevi, mas, de certo modo, representa uma antevisão da minha opção e do caminho que segui. Podemos dizer que o álbum é uma narrativa? De facto, tal como muita da música que escrevo, este álbum é uma narrativa. Cada canção representa um capítulo da história e estão todas ligadas umas às outras. Também está aberta a interpretação por parte dos fãs: cada um pode vê-la à sua maneira. - Onde encontraste esta história? Em lado nenhum. Criei-a eu mesmo. Pode-se dizer que fui inspirado pela minha paixão por filmes e séries da TV que vi. Há nela uma pitada de ficção científica, que me leva a dizer que foi influenciada por séries da TV como “Stranger Things” e “Westworld” e até por filmes como “The Avengers”, mas, neste álbum, não encontrará vingadores dispostos a salvar o mundo. - O que te levou a contar esta história? Sempre gostei de contar histórias através das minhas letras e música. Este é o tema de Demonic Resurrection desde 2005 e é algo que acabou por se converter numa espécie de tradição que transparece nos títulos, temas e letras dos meus álbuns. Calculo que a ilustração na capa do álbum representa esse protagonista. - Quem escolheste para fazer a arte para este álbum? É uma história interessante. Tinha planeado limitar-me a comprar algo que já estivesse pronto, porque não tinha previsto fazer um álbum. No início, tinha previsto lançar um EP e não havia dinheiro para mandar fazer artwork especialmente para este lançamento. Há muitos artistas que vão disponibilizando material na internet e tu podes contactá-los e pedir-lhes para acrescentarem o teu logo e o título. Eu andava à procura de algo assim que se adaptasse a este título, Até já tinha encontrado uma ilustração adequada para a capa e a t-shirt, quando o Reuben [Bhattacharya] me telefonou. Perguntou-me o que é que eu tencionava fazer em relação ao artwork e eu dei-lhe a conhecer os meus planos. Então ele pediu-me para eu desistir dessa ideia e o deixar fazer a arte para este álbum, porque merecia esse esforço. Portanto, combinámos um preço que eu pudesse pagar e não fosse indigno do trabalho que ele ia fazer. E foi assim que tudo aconteceu. Há muitos anos que somos amigos e ele também fez a capa para «Dashavatar», o último álbum de Demonic Resurrection. Como vês, temos uma boa relação de trabalho também. - Que papel desempenhaste na criação deste herói?

[…] este álbum é uma narrativa. Cada canção representa um capítulo da história e estão todas ligadas umas às outras. […] 23 / VERSUS MAGAZINE


Apresentei ao Reuben algumas ideias sobre a história (que, na altura, ainda não estava exatamente concluída) e, combinando a forma como ele a via e a minha perspetiva, ele criou o artwork que podes ver na capa do álbum. Ao invés do que aconteceu com álbuns anteriores, para os quais eu já tinha tudo previsto à partida, este foi sendo criado à medida que avançávamos, uma canção de cada vez. Portanto, a história foi seguindo direções diferentes enquanto era escrita, mas, no fim, ficou perfeita. Também há o facto de teres convidado um músico para cada faixa do álbum. - Todos tocaram bateria nas canções que escreveste para este álbum? Convidei bateristas para todas as canções exceto a que deu o título ao álbum, em que toquei eu mesmo, porque é uma canção fácil. - Como conseguiste chegar aos músicos que te interessavam para este projeto? Tudo começou com o Kevin Paradis. Vi um vídeo dele a tocar uma canção de Benighted a 270bpm e tinha escrito que, se alguém quisesse um baterista para uma canção sua, bastava contactá-lo. Portanto, escrevi-lhe imediatamente dizendo-lhe que estava a escrever uma canção a 270bpm para ele e foi assim que tudo começou. Depois limitei-me a escrever a outros bateristas de quem era fã e a perguntar-lhes se podiam tocar as minhas canções ou se não estavam disponíveis. - Como reagiram todos esses bateristas ao teu convite? Quase todos disseram que sim, exceto um, mas sobretudo porque estava ocupado e não tinha tempo para gravar a canção. A maioria ficou radiante por tocar as canções e todos gostaram da música. - E como fizeste para decidir que canção ias atribuir a cada um? Escrevi as canções mais ou menos a pensar nesses bateristas. Tinha muitas ideias prévias para a música que usei, mas construí cada canção a pensar no baterista que a ia tocar.

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Convidei bateristas para todas as canções exceto a que deu o título ao álbum, em que toquei eu mesmo, porque é uma canção fácil. - Trabalhaste com cada convidado para arranjar a canção para ele? Como foi tudo feito pela internet, nunca cheguei a tocar com nenhum deles. Escrevi as canções e mandei-lhas sem as partes de bateria. Logo, deilhes toda a liberdade para as criarem à sua maneira e também segui os conselhos que me deram para adaptar a estrutura da canção e fazer os arranjos. ­­- Como fizeste para ensaiar com cada um deles? Não cheguei a fazê-lo. Gravei todas as partes de guitarra e enviei-lhas e depois eles gravaram a bateria e reenviaram o material para mim e, por fim, eu rematei o trabalho! - Se tocares as canções deste álbum nos teus concertos, quem vai tocar contigo? Não penso que vá alguma vez tocar estas canções ao vivo. É apenas um projeto de estúdio. Se vier a haver alguma possibilidade de isso acontecer, terei de contactar cada um desses bateristas e ver quem tem tempo e está interessado em fazer isto ao vivo. De qualquer modo, hoje em dia, tocar ao vivo é tão difícil e fica tão caro que me arrisco a nunca vir a ter dinheiro para concretizar essa ideia. Video

Demonstealer


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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

(des)refinados Quanto mais sugas mais necessidade tens de morder, no sentido de saborear o néctar puro da vida Na linha de sangue procuramos a construção da frase assertiva, que te faz silenciar e degustar o momento Preciso de sangue novo e sábio Preciso de olhos abraçando-me... Agitar as ideias que nos leva ao ego da criatividade E lançar o jogo ao público adormecido pela oferta da arte sensaconalista, ausente de tudo irmã do nada Preciso do velho soldado que traz consigo a paz da guerra de outrora Preciso novamente da cor das flores encharcadas com a água que vem da mãe pedra Ainda agora dançava ao som das palavras da tua voz E daquela posição, ali na velha cadeira que me suportava baixinho, inventei novos passos de dança... Ergue as mãos aos céus, estala os dedos

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Tóxico e catártico É o Black Metal que Hyrgal nos proporciona em «Serpentine», o primeiro álbum da banda reeditado em LP pela LADLO. Entrevista: CSA | Foto: Gaelle Le Rebeller

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Saudações, Clément! Tenho muitas perguntas para ti. O que quer dizer Hyrgal? Clément – Saudações, Cristina. Hyrgal é o resultado da combinação de duas runas: Tiwas e Hagalaz. Quando eu andava à procura de um nome para o meu projeto, queria mesmo que evocasse algo antigo, que fizesse referência a uma herança do passado, algo muito velho, folclórico, místico. Estava numa época da minha vida em que me interessava muito pela cultura escandinava e pelo folclore nórdico. As runas são um elemento primordial dessas culturas e pareceume importante utilizá-las no nome da banda. O seu poder simbólico e a sua antiguidade adaptavam-se perfeitamente ao que eu queria exprimir. Algo colérico e frio. A que se refere o título «Serpentine»? A uma família de minerais. As “rochas serpentinas” são ricas em certos metais tóxicos e em fibras de amianto, cancerígenas e ecotóxicas. Isso pareceume interessante, porque Hyrgal se caracteriza pela devoção à natureza. Por outro lado, a vertente nefasta desse tipo de minerais permite-me compará-los com o Black Metal que a banda toca. Pode-se encontrar esse tipo de rochas, entre outros locais, nos Alpes, o que se adapta a um dos objetivos do álbum: homenagear as minhas raízes alpinas. Podes comentar para nós os temas das diferentes faixas do álbum? Não posso dizer que o álbum tenha um tema específico ou um conceito, mas penso que há um fio condutor que liga entre si a música, o lado visual e o lado pessoal. No que diz respeito aos textos, tratase de constatações, de uma necessidade visceral de exprimir coisas que são cancerígenas para mim. Uma espécie de catarse literária, feita com os meios de que disponho, como é óbvio. Tentei injetar neles uma homenagem às minhas raízes, ao meu folclore e ao meu país, à minha terra. Mas o tema central e predominante continua a ser a rejeição da nossa evolução progressista, bem como da nossa evolução social. Foste tu que escreveste as letras? Quem te inspirou? [Gosto muito das imagens, que me fazem pensar em Baudelaire e na sua poesia em que se misturam a beleza e a podridão.] Sim, sou eu o autor dos textos. Não posso referir nenhuns autores em particular. Foi a primeira vez que tentei escrever em Francês, portanto limitei-me a procurar esvaziar o meu espírito e transcrever da forma mais honesta que me foi possível o que tinha no meu âmago. Sem me preocupar com influências ou autores específicos, cuspi o que me ia na alma para o papel. O que representa a capa do álbum? É uma foto, um desenho?

É uma foto de um chalé que pertence a pessoas da minha família e se situa nos Alpes. Quem a tirou? O meu pai. Usá-la foi também uma forma de o homenagear, pois morreu em 2012. Aliás, todas as fotos que aparecem no álbum são da sua autoria. O vosso Black Metal agrada-me muito. Podes dizernos o que, na tua opinião, confere originalidade à música de Hyrgal? É difícil responder a essa pergunta! É impossível para mim por que razão me parece que a música de Hyrgal é original ou não. Penso que é preciso ser muito pretensioso para afirmar que a sua música é mais original do que a de outros. Tento apenas compor música da forma mais honesta que me for possível, abstraindo-me ao máximo de influências para obter o produto mais coerente possível com a minha forma de ver a arte. E – a propósito de originalidade – gostei especialmente da primeira composição de «Serpentine» e sobretudo da percussão. Podes falarnos um pouco dessa canção? É uma faixa que foi escrita pelo Emmanuel Zuccaro, o baterista de Hyrgal. É um músico que tem bases de composição muito boas, assim como de gravação e de engenharia do som. Propus-lhes escrever uma canção para a intro do álbum, para afirmar ainda mais o seu estatuto no seio da banda. Pedi-lhe que fizesse algo que estivesse ligado a uma vertente de folclore, de misticismo, que tivesse um ar antigo. Ele escolheu uma lira bizantina para tocar a melodia e alguns instrumentos de percussão antigos e outros para as partes rítmicas. Essa composição parece-me muito bem conseguida e perfeitamente adequada à atmosfera geral do álbum. Como é que a LADLO vos descobriu? Eu já conhecia o Gérald, o chefe da editora, do tempo em que tocava em Svart Crown. Ia seguindo as atividades da editora, Quando «Serpentine» estava pronto para ser lançado, enviamos-lhe o álbum. Mas, nessa altura, o Gérald andava muito ocupado e, infelizmente, o nosso álbum passou-lhe despercebido. Assim, acabámos por lançar «Serpentine» pela Naturmacht Productions. Alguns meses depois, o Gérald retomou o álbum e foi amor à primeira vista. Rapidamente, contactou-me para saber se ainda poderíamos trabalhar juntos e ficou logo tudo decidido. A reedição de «Serpentine» constitui o prelúdio para o lançamento de um novo álbum? Não forçosamente. Pretendíamos sobretudo que o álbum fosse lançado em vários formatos. Depois do digipack lançado pela Naturmacht Promotion e da cassete da Solar Asceticists Productions, faltava-nos

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N

ão posso dizer que o álbum tenha [...] um conceito, mas [...] o tema central [...] continua a ser a rejeição da nossa evolução progressista [...]

o LP. Foi a LADLO que se encarregou de o lançar e fez um trabalho maravilhoso. Mas, já que falas nisso, mantenham-se atentos à banda aí por volta de outubro. Têm algum plano conjunto para promover o álbum? Isso é da responsabilidade da equipa da editora, que faz esse trabalho na perfeição. É um prazer trabalhar com profissionais tão motivados e dotados para o trabalho que fazem. Estamos encantados. Vamos fazer alguns concertos para defender o nosso álbum, mas não de maneira intensiva. A nossa próxima data está relacionada com o Festival des Acteurs de l’Ombre, que vai comemorar os 10 anos da editora.

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Uma última curiosidade: por que nos fizeram esperar 9 anos para podermos ouvir um álbum de Hyrgal? Isso aconteceu devido a uma conjugação de circunstâncias. Quando lançámos a demo, em 2007/2008, eu passei a fazer parte de Svart Crown. Em 2010, vários fatores levaram à dissolução de Hyrgal e eu consagrei-me inteiramente a Svart Crown, nos 5 anos que se seguiram. Mas não me saía da cabeça a ideia de voltar a fazer música com Hyrgal. Quando deixei Svart Crown – em 2015 – tirei algum tempo para mim próprio, depois compus «Serpentine» e cá estamos nós. Hyrgal Youtube


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Heavy Metal & Futebol Por: Emanuel Leite Jr.

Palmeiras

“O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”... A coluna Heavy Metal & Futebol já falou de Steve Harris e sua paixão pelo West Ham, de Andreas Kisser e Paulo Jr. dos Sepultura e seus clubes São Paulo e Atlético-MG, respectivamente, dos Tankard e a loucura pelo Eintracht Frankfurt, homenageou Malcolm Young ao contar sobre o seu Glasgow Rangers (e também do seu irmão, Angus) e apresentou o Aston Villa, clube de futebol que faz bater mais forte os corações dos pioneiros do heavy metal Geezer Butler, Tony Iommi e Ozzy Osbourne, dos Black Sabbath. Nesta edição da Versus Magazine, a Heavy Metal & Futebol vai escrever sobre um clube pesado! Pelo menos no que toca aos seus adeptos. Afinal, a Sociedade Esportiva Palmeiras, da cidade de São Paulo, no Brasil, tem entre seus ilustres seguidores nomes como os irmãos Max e Igor Cavalera (Cavalera Conspiracy), João Gordo (Ratos de Porão), Derrick Green (Sepultura) e até mesmo Mike Patton (Faith No More). 3 2 / VERSUS MAGAZINE


Sobre o Palmeiras

A Sociedade Esportiva Palmeiras, ou, simplesmente, Palmeiras, completou recentemente 104 anos de existência. Fundado no dia 26 de agosto de 1904 por um grupo de imigrantes italianos na cidade de São Paulo, o clube inicialmente se chamava Palestra Itália, em homenagem ao país de origem de seus fundadores. Somente em 1942 o clube seria rebatizado. E de forma forçada. Nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, o Brasil, governado por Getúlio Vargas, manteve posição neutra. Em 1942, contudo, o governo brasileiro declarou apoio aos Aliados e foi proibido no país a associação a qualquer país do “Eixo”. Por essa razão, o Palestra Itália passou a ser chamado Sociedade Esportiva Palmeiras e suas cores que eram as mesmas da bandeira italiana perdeu o vermelho, ficando apenas o branco e verde que permanecem até hoje e fazem o clube ser conhecido popularmente por “Verdão”. Palmeiras Na altura em que foi forçado a mudar de nome, o Palestra Itália já era um clube extremamente popular. Graças aos oito títulos do Campeonato Paulista que havia conquistado até então. E na primeira final do torneio estadual disputada sob o nome de Palmeiras, o clube se sagrou campeão, vencendo o rival São Paulo. O Campeonato Brasileiro só viria a ser disputado em 1959, com a criação da então Taça Brasil. E foi nas décadas de 1960 e 1970 que o Palmeiras viveu o seu primeiro período de grandes glórias. Precisamente na altura em que o futebol brasileiro vivia o seu auge (a seleção Canarinha foi campeã do Mundo três vezes entre 1958 e 1970), o Verdão era um das poucas equipas capazes de rivalizar com o Santos de Pelé. O bom futebol praticado pelos palmeirenses rendeu ao clube o apelido de “Academia do Futebol”, que se dividiu em duas fases - a primeira na década de 1960 e a segunda na década seguinte. No período das duas “Academias”, o clube foi campeão brasileiro seis vezes entre 1960 e 1973. Dentre os craques destas duas gerações, destaque para Djalma Santos e Ademir da Guia. Ao fim da era das “Academias”, o Palmeiras passaria por um longo período de seca. Depois de conquistar o Campeonato Paulista de 1976, o alviverde somente voltaria a celebrar uma conquista 17 anos depois, quando em 1993 voltou a conquistar o Campeonato Brasileiro e também o Paulista. Foi o período conhecido como “Era Parmalat”, no qual o clube recebeu elevados investimentos da empresa italiana. Graças ao abundante dinheiro dos italianos, o Palmeiras venceu mais dois Campeonatos Brasileiros, sua primeira Copa do Brasil e sua primeira e única Copa Libertadores da América. Craques como Rivaldo e Roberto Carlos, e grandes jogadores como os campeões do Mundo com o Brasil Marcos, Mazinho e Zinho, além de nomes como Edmundo, Alex e o paraguaio Arce vestiram a camisola alviverde na “Era Parmalat”. O treinador Luiz Felipe Scolari, que comandou a seleção portuguesa entre 2003 e 2008, estava à frente da equipa campeã das Américas em 1999. Scolari, a propósito, é o atual técnico do clube. Sem o dinheiro da Parmalat, o Palmeiras voltaria a sofrer uma fase mais penosa. O clube chegou a ser despromovido à segunda divisão do futebol brasileiro duas vezes (caiu em 2002 e voltou a descer em 2012). Em 2016, novamente com uma empresa privada a investir fortemente no clube, o Verdão voltou a se sagrar Campeão Brasileiro, consagrando-se como o clube com mais títulos nacionais até o momento: nove.

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Principais Títulos

1 Copa Libertadores 9 Campeonatos Brasileiros 3 Copas do Brasil

RIVALIDADES Derby Paulista

O grande rival do Palmeiras é o Corinthians. Verdão x Timão fazem o tradicional Derby Paulista, o dérbi historicamente de maior rivalidade de todo o estado de São Paulo, sendo um dos maiores clássicos do futebol brasileiro e uma das rivalidades mais acirradas de todo o mundo futebolístico. A primeira vez que se enfrentaram foi em 1917, mas antes disso já havia uma disputa entre os adeptos dos dois clubes - na altura já os mais populares de São Paulo - para verem qual deles era o melhor. Grandes decisões como as dos Campeonatos Paulistas de 1933, 1954, 1974, 1993 e 1999 (este com direito a uma briga generalizada entre os jogadores no relvado), além dos históricos embates na Copa Libertadores de 1999 e 2000 ajudaram a alimentar esta grande rivalidade.

Choque Rei

A cidade de São Paulo tem três grandes clubes. Palmeiras, Corinthians e o São Paulo FC. Assim como acontece em cidades como Istambul ou Londres, é natural haver uma rivalidade maior que a outra, mas quando há pelo menos três clubes de grande dimensão no mesmo município, obviamente os confrontos entre eles fazem sair faísca. É o que acontece entre Palmeiras x São Paulo, que protagonizam o dérbi conhecido como Choque Rei. Uma rivalidade cujas raízes históricas vão além do futebol. O São Paulo tem sua origem na fusão de dois clubes da elite paulistana - o Club Athlético Paulistano e a Associação Atlética das Palmeiras -, ao passo que o Palmeiras foi fundado pelos humildes emigrantes italianos. Essa questão de classes alimentou a animosidade entre os dois clubes.

Clássico da Saudade

No estado de São Paulo, não confundir com a cidade de São Paulo, há ainda um quarto clube de grande dimensão. Trata-se do histórico Santos, da lenda do futebol mundial Pelé. Nos tempos de Pelé, o Santos dominou o futebol paulista, brasileiro e continental. E, como escrevemos mais acima, foi neste período que o Palmeiras viveu a era da “Academia”. O alviverde era das poucas equipas do país que faziam frente ao Santos. E é por isso que este embate é conhecido como Clássico da Saudade. É a menor das três rivalidades, mas não se pode dizer que há amizade entre os adeptos dos dois clubes.

O mascote

O clube tem dois mascotes. O primeiro e mais antigo é o periquito verde. Porém, em 2016, o Palmeiras adotou oficialmente como mascote o porco, até então um mascote “extra-oficial”. A associação ao porco surgiu de forma pejorativa, porque era assim que a elite paulista se referia aos italianos e seus descendentes desde a Segunda Guerra Mundial. Foram os adeptos que resolveram adotar o apelido já nos anos 1980. E o uso do porco, até mesmo em cânticos, passou a ser recorrente, até que o animal foi oficializado como mascote.

CURIOSIDADES Os irmãos Cavalera

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Fundadores dos Sepultura, os irmãos Max e Igor Cavalera são filhos do italiano Graziano Cavalera, que era funcionário do Consulado da Itália em São Paulo. Como bons filhos de italianos, os irmãos se tornaram adeptos do Palmeiras. Max Cavalera costuma falar que foi nas bancadas do Parque Antártica, nome do antigo estádio do Palmeiras, que Igor começou a dar as primeiras “batucadas”, ainda criança, junto com os adeptos alviverdes. Em 2003, quando ainda fazia parte dos Sepultura, Igor gravou uma versão do hino oficial do clube, que contou ainda com a participação de Branco Mello, da banda de Rock Titãs, e da bateria da maior claque palmeirense, a Mancha Verde (que foi convidada pelo baterista). Youtube


Mike Patton

O vocalista dos Faith No More, Mike Patton, é mais um influenciado por Igor Cavalera (e, neste caso, também por Max). Muito amigo tanto dos irmãos como dos atuais integrantes dos Sepultura, Patton se tornou mais um “porco” por influência dos irmãos e também por ter se apresentado no antigo estádio do clube com os Faith No More nos anos 1990.

Derrick Green

O fanatismo de Igor Cavalera pelo Palmeiras fez do estadunidense Derrick Green mais um palmeirense. Na ocasião em que o vocalista entrou para os Sepultura, numa de suas primeiras visitas ao Brasil, em 1997, Igor o levou à final do Campeonato Brasileiro, em que o Palmeiras enfrentou o Vasco. Derrick gostou do ambiente e ainda foi convencido pelo baterista de que como Green é verde em português, fazia todo o sentido ele se tornar um palmeirense.

Casa do Metal

Tanto o antigo estádio palmeirense, Parque Antártica, como o atual Allianz Parque, são como uma casa do Metal, e também do Rock, em São Paulo. Já se apresentaram nos estádios do Palmeiras nomes como Ozzy Osbourne, Mettalica, Iron Maiden, Megadeth, Faith No More Queensrÿche, Aerosmith, Guns N’ Roses, Anthrax, Black Label Society, Whitesnake, Rod Stewart, David Bowie e Paul McCartney. Curiosamente, os Sepultura, que já fizeram concertos em outros estádios da cidade, nunca se apresentaram no Parque Antártica ou no Allianz Parque.

João Gordo

João Gordo, vocalista dos Ratos de Porão, que se apresentaram na última edição do Vagos Metal Fest, também é adepto do Palmeiras. Em 1996, a convite da Revista Placar, Gordo gravou uma versão do hino do clube para uma coletânea lançada pela revista. Youtube

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Um inferno de cimento Apesar de gostar de alguns aspetos das cidades, Nathanael vê-as basicamente como algo que revela os lados negativos da ação da humanidade sobre o planeta. Entrevista: CSA

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Saudações, Nathanael! Estás assim tão descrente acerca das cidades modernas? Vês algo positivo nelas? O conceito de cidade baseia-se na desigualdade e na exploração do ambiente, de seres humanos e de animais. A construção das primeiras cidades só foi possível, porque a humanidade subverteu a natureza através da agricultura. Isto significa basicamente que os humanos decidiam que espécies vegetais e animais tinham o direito de viver em certas áreas. Ao fazer isto, a humanidade converteu-se no governante do mundo natural e deixou de fazer parte dele. O excedente alimentar produzido pela agricultura conduziu ao crescimento demográfico, o que deu origem às primeiras cidades. Estas não são mais do que pedaços de terra onde se concentram demasiados seres humanos que vivem dela. Portanto, tens de destruir a terra à volta delas para a tornares propícia à agricultura e à produção de alimentos suficientes para manter as cidades. Temos aqui um círculo vicioso, que termina na domesticação, na exploração e no domínio da classe governante sobre as pessoas mais pobres. Portanto, respondendo à tua pergunta, é verdade que a ideia de viver em cidades é moral e eticamente condenável e o mesmo acontece com o nosso atual modo de vida, porque está a destruir o nosso planeta e as comunidades de seres humanos e animais que vivem nele. Se quiseres saber mais sobre este conceito, recomendo-te a leitura das obras de John Zerzan e Derrick Jensen. É claro que há lugares nas cidades de que eu gosto e atividades que as pessoas gostam de fazer, mas, basicamente, as cidades instauraram neste planeta uma forma de viver injusta. Este álbum parece apresentar uma série de intertextualidades. - Conheces «.neon», de Lantlös, oub «Dirty», de Aborym? Não serão eles parentes do teu «Your Ultimate Urban Nightmare»?

A cena Black Metal moderna apresenta muitas bandas que tratam da desolação da vida nas cidades e nas áreas urbanas. Essa ideia sempre me interessou. Portanto, podes dizer que, por exemplo, «.neon», de Lantlos, ou «Moloch», de Ancst, são parentes de «Your Ultimate Urban Nightmare». - O início da segunda canção recorda-me “Welcome to the Jungle”, uma das minhas canções favoritas no espólio dos Guns N’ Roses, embora seja completamente diferente. O que pensas disto? Compreendo por que razão isso acontece. O início de ambas as canções evoca, de forma similar, a atmosfera das grandes cidades e as letras também são parecidas. Mas é claro que são diferentes, tendo em conta a música e os sentimentos que esta transmite.

à ideia e me parecer que está adequado à canção e a descreve bem, eu uso-o. Neste álbum, eu queria incluir alguns títulos com ressonâncias modernas, porque a ideia de urbanidade está sempre ligada às cidades modernas. O título da segunda canção – “Like the Scythe in the Ripened Field” – corresponde muito simplesmente à tradução para Inglês de uma passagem de um poema de Ingeborg Bachman, um autor alemão, intitulado “Hinter der Mauer” (ou seja, “atrás da parede”). Corresponde a uma linha do poema. Eis a sua origem. A depressão continua a ser o teu tema principal? Realmente, ouvir este álbum fez-me sentir uma grande ansiedade. É claro que a depressão ainda é o meu tema principal. Não vou dizer que é o único tema da banda, mas, sem dúvida nenhuma, é o seu grande tema, pelo que

Oz títulos das canções são bastante curiosos, porque alguns são muito modernos (por exemplo, o que deu o nome ao álbum) e outros estão cheios de referências clássicas (por exemplo, o que escolheste para a segunda canção – “Like the Scythe in the Ripened Field”). O que pensas deste comentário? Não perco muito tempo a pensar se o título de uma canção é adequado ou não, ou se é conforme aos “[...] a ideia de viver em cidades é moral estereótipos de um qualquer e eticamente condenável e o mesmo género. Se me acontece com o nosso atual modo de vida” vier um título

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está sempre a manifestar-se. A música de Bonjour Tristesse trata sempre da tristeza e da sensação de estar farto de toda a porcaria que se passa neste mundo. Por conseguinte, a depressão vai sempre fazer parte da arte desta banda, mas não ao ponto de fazer os ouvintes cair numa letargia. O propósito é levar as pessoas se apreender da ira subjacente a ela. Quais são os tópicos abordados nas letras deste álbum? Outros tópicos abordados nas suas letras são o “ecocídio”, as relações interpessoais, a procura de um significado num mundo cada vez mais desprovido de tal coisa, a anarquia e a enorme desigualdade que caracteriza as sociedades modernas e os países industrializados. Adoro o estilo geral da tua música neste álbum. É Black Metal e… não é Black Metal. Podes comentar esta ideia? Gosto de usar elementos clássicos do Black Metal, tais como blast beats, gritos ferozes e riffs trémulos. Mas o Black Metal pode ser muito mais do que isto, se te deixares levar por certas influências. Ouço bandas de estilos muito variados e, por conseguinte, incluo na minha música influências de outros géneros como Post Rock, Crust Punk, Death Metal e Hardcore. É saudável para o Black Metal deixar-se influenciar por estilos diferentes. Oito anos separam «Par Un Sourire» de «Your Ultimate Urban Nightmare». - O que andaram tu e a tua banda a fazer durante este tempo? Não passei sete anos a trabalhar neste álbum. Depois do lançamento do primeiro álbum, não tinha a certeza de querer continuar a criar música sob a designação de Bonjour Tristesse. Tenho andado muito ocupado com as minhas outras bandas – Heretoir e King Apathy – e vários outros projetos musicais e cheguei mesmo a pensar em pôr termo

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a esta banda. Mas, em 2015, fui contactado por uma editora alemã, que me perguntou se podia fazer uma reedição do primeiro álbum e eu gostei bastante da ideia e, a partir desse momento, comecei a escrever material novo para o segundo álbum. De momento, não estou seguro de que venha a existir um terceiro álbum, mas já tenho ideias para novas canções, portanto não é inconcebível que venha a surgir um novo álbum num futuro próximo. - De que forma esses acontecimentos se refletiram neste segundo álbum? Por outras palavras, o que o distingue do seu predecessor e quais são as semelhanças entre eles? Parece-me que, de um modo geral, podemos encontrar uma atmosfera muito similar no primeiro e no

“[...] a depressão vai sempre fazer parte da arte desta banda, mas não ao ponto de fazer os ouvintes cair numa letargia. O propósito é levar as pessoas se apreender da ira subjacente a ela.” segundo álbum. Em ambos, encontrarás música depressiva e desolada. O primeiro assemelhase mais a um álbum clássico de Black Metal depressivo, enquanto o segundo é mais influenciado por outros géneros. No que diz respeito às letras, o primeiro álbum apresenta uma crítica à civilização moderna e o mesmo acontece no segundo. Há pormenores que mudaram, assim como alguns aspetos da música, mas, de um modo geral, a banda continua a ser o que era, quando começou entre 2008 e 2011. Vi que uma das tuas outras bandas – Heretoir – lançou um álbum no ano passado. Esse facto contribuiu para o “atraso” no lançamento deste álbum? [Também gostava de os entrevistar um dia.]

É claro que o trabalho que faço com Heretoir e King Apathy acaba sempre por afetar o lançamento dos álbuns de Bonjour Tristesse. Se tocares em concertos (muitos) e gravares álbuns para três bandas diferentes, haverá sempre alguma que ficará prejudicada. É algo que me desagrada, mas que é inevitável. Onde encontraste a capa para este álbum? Quem a fez? É uma foto? É uma combinação de fotos de várias megacidades. Fui eu próprio que a criei e queria que se parecesse com uma visão tão realista quanto possível do grande pesadelo que é um enorme aglomerado urbano. À primeira vista, parece algo belo, mas, quando olhas mais atentamente, dás-te conta da atmosfera muito tenebrosa e assustadora. O pensamento subjacente à urbanidade também tem essas características. Muita gente pensa que é maravilhoso viver em grandes cidades e passam muito a falar-te do que mais apreciam nas cidades em que vivem, mas se pensares bem nisso e observares com atenção essa realidade, vais encontrar nela inúmeros aspetos negativos. Pensa, por exemplo, nos sem abrigo, nas espessas nuvens de fumo que saem das chaminés dos arranha-céus, dos rios enegrecidos pelo lixo e pelo veneno que circulam nas suas águas. Quanto maior for a cidade, mais evidentes se tornam as facetas “inferno de cimento” e “Moloch”. Vais fazer concertos para apresentar este álbum aos fãs? Quem vai estar contigo? De momento, não há concertos previstos para Bonjour Tristesse. Muito simplesmente, não tenho tempo para apresentar mais de dois projetos musicais ao vivo. Obrigado pelo interesse e pela oportunidade de falar da música que faço. Youtube

BonjourTristesseofficial


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ALBUM VERSUS HORRENDOUS «Idol» (Season of Mist)

“Pedrada no charco” é a expressão que vem à mente aos primeiros minutos de rotação deste disco. Assombro é o estado de alma que persiste assim que «Idol» termina. A banda norte-americana começou em 2009, primeiro obcecada pelo death metal vintage de influência sueca, mas cedo evoluiu no sentido de uma abordagem mais aberta e criativa que plasmou para a posteridade no terceiro álbum «Anareta» (2015). Este novo registo, «Idol», eleva agora a fasquia para um nível de sofisticação que desafia categorizações. Usando os melhores ensinamentos das escolas Death, Cynic (antigo) e Coroner, o colectivo de Filadélfia criou um trabalho que soa francamente fresco, e que se descreve como uma invulgar textura caleidoscópica com laivos progressivos, rico em mudanças de tempo, leads virtuosos e apontamentos técnicos que se vão revelando a cada audição. O estilo de composição acutilante da banda está patente nos muitos segmentos contagiantes que se vão sucedendo e na incrível fluência da música. E embora a consistência do álbum torne difícil a tarefa de salientar uma ou outra faixa, diria que “Divine anhedonia” e o viciante “Devotion (blood for ink)” são os temas que melhor atestam a veia genial dos Horrendous. «Idol» é o primeiro álbum a contar com a participação do baixo fretless de Alex Kulick, que se mostra bem à altura do talento estelar dos irmãos Jamie (bateria) e Matt Knox (guitarra) e de Damian Herring, o guitarrista e vocalista de registo rouco que lembra Martin van Drunen. Com uma estrutura vagamente conceptual sobre ídolos, reais ou imaginários, que escravizam a humanidade, «Idol» é um disco variado como poucos, e com um nível de musicalidade ao longo dos seus quarenta minutos de duração que não se descreve por palavras. Enfim, uma preciosidade a não perder, que se destaca categoricamente da concorrência, mesmo num momento pródigo em excelentes lançamentos de death metal. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

A C H E RO NTAS

AETERNUS

A R S T ID IR

«Cabaret de la Guillotine» (Agonia Records)

«Heathen» (Dark Essence Records)

«Nivalis» (Season of Mist)

Quando, na última edição do Under de Doom, os greco-germânicos Acherontas se apresentaram, as indicações foram as melhores, porém, tudo descamba com a audição deste «Faustian Ethos», o sétimo disco de uma carreira que vai já na sua segunda década de existência. De nada vale comparar este disco com os anteriores, porém, estes 8 temas que compõem «Faustos Ethos» são demasiado insípidos e confusos, ficando, até um sentimento desconfortável em relação a este Black Metal «mal amanhado» e feito de clichés a que o género já nos habituou, porém, tudo aqui soa forçado e, até mesmo a produção parece uns furos abaixo dos seus antecessores. Este acaba por ser um disco amargo e que vem, de alguma forma, retirar o ímpeto que discos como «Amarta (Formulas of Reptilian Unification Part II)» ou «Vamachara» deram ao quinteto. Ficará a dúvida se este sub-rendimento se deve às mudanças de formação que a banda enfrentou ou se, por outro lado, este «Fausto Athos» é, apenas, um percalço. Só o futuro o dirá, para já este disco é uma das desilusões do ano. [6/10] NUNO LOPES

Completam agora 25 anos de actividade mas já têm lugar de honra reservado, há muito tempo, nos anais da história do Metal graças a clássicos incontornáveis do black metal como «Beyond the Wandering Moon» (1997) e «... And so the Night Became» (1998). Desde essa altura para cá a banda norueguesa liderada pelo prolífico guitarrista/vocalista Ares (Ronny Hovland, que tocou com os Immortal e os Gorgoroth) passou a dar preferência a um estilo de death/dark metal que é o que ainda predomina neste oitavo registo de originais. Mais atmosférico que o anterior, «... and the Seventh his Soul Detesteth» (2013), «Heathen» é um álbum de composição mais directa, como fica desde logo evidente nos dois primeiros temas. A faixa seguinte, “Conjuring of the gentiles”, segue contornos idênticos em andamento mid-paced, com passagens melancólicas memoráveis, mas destacase pelos harmoniosos e prolongados leads melódicos de Ares. “The significance of Iblis” e “How opaque the disguise of the adversary” aproximam-se do death metal mais rápido de discos mais recentes, contando com motivos rítmicos e melódicos de primeira categoria. Finalmente duas surpresas: “Boudica” por causa dos riffs folkish em que se baseia, e “`Illa Mayyit” pelos devaneios melódicos características do médio oriente, incluindo mesmo apontamentos de instrumentos tradicionais. E pouco mais há a dizer sobre «Heathen», excepto que contou com a produção imaculada do ex-Enslaved Herbrand Larsen, e que é, em escassos 35 minutos, uma montra do melhor death metal atmosférico feito por quem sabe muito disto. [8/10] ERNESTO MARTINS

Existem discos que nos libertam a alma e, uma vez mais, os islandeses Arstidir voltam a elevar a fasquia de uma caminhada transcendental que começou em 2009 com o disco homónimo. Neste novo disco a banda solta as amarras rumo a algo que pode ser o que nós quisermos. Não julguem que este é um disco de Metal. Mas isso pouco importa num disco em que a banda vem acrescentar tonalidades mais quentes em oposição ao seu trabalho de, por exemplo «Hvel». Feito de canções leves, imediatas, este disco arrebatanos pela simplicidade e sensibilidade com que os músicos transformam pensamentos em música e transformam cada trecho como se de um novo acordar se tratasse. Quando se escuta «Nivalis» e temas como “Lover”, “Like Snow” ou “Conviction” podemos voar e ser o que quisermos e podemos estar onde a alma desejar. Este é um disco feito de despertares, de manhãs submersas na noite que passou e embrenhada num nevoeiro de dúvidas. Não há limites para o som dos islandeses, da mesma forma que não existem fronteiras no pensamento. Este é um disco para apaixonados por música, independentemente se se é Metalhead ou Pop. Este é um disco extraordinário e obrigatório. Um sério candidato a disco do ano. [10/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

B E T WEE N TH E B U RIED AND M E

C RY S TA L B A L L

«Automata (Part II)»

«Crystallizer» (Massacre Records)

«Of Fire and Evil» (Lusitanian Music)

Formados em 1998 em Lucerna, Suiça, os Crystall Ball são hoje já veteranos no Power Metal, sendo este «Crystallizer» o seu décimo disco. Poderemos sempre constatar o facto de que os anos dourados do género já lá vão, da mesma forma que podemos constatar que os suiços teimam em não alterar a sua fórmula o que, bem vistas as coisas, é positivo. «Crystallizer» é um disco imediato e que contém todos os chavões do género. Riffs contagiantes, refrões orelhudos e, principalmente, um cuidado estético a que a banda já nos habituou. Aliás, podemos mesmo dizer que as mais recentes alterações nos Crystal Ball fizeram com que a banda tenha neste registo um punhado de boas canções onde se destacam “S.O.S” ou “Gentlemans Agreement”. Como já vem sendo habitual a temática dos suiços reveste-se de mensagens sociais, onde a esperança, o amor e, em alguns casos, o desdém se encontram lado a lado. Sem ser um disco brilhante e sem querer ser mais do que é, «Crystallizer» é um disco que não compromete em nada os suíços. Só é pena que o desgaste do género remeta os Crystal Ball para um (quase) desconhecimento, no entanto, é tão bom ouvir um disco tão simples como eficaz. [7.5/10] NUNO LOPES

Temos de começar isto pelo início e perceber de onde vieram os Decayed e colocar a sua carreira em perspectiva para que se compreenda o que foi e é o underground que tanto se fala e se escuta por aí. Muito mais do que uma banda os lisboetas são, por estes dias, uma instituição do Black Metal e do Metal em geral. A responsabilidade tem sido toda da perseverança de um José Afonso que teima em rodear-se de alguns dos melhores músicos da nossa “praça” e, com isso, faz que cada disco da banda mantenha uma vitalidade e uma ‘frescura’ que não altera, em nada, a sonoridade dos lisboeta. «Of Fire and Evil» é um disco que não pretende surpreender nem reinventar o que quer que seja. Igual a si mesmo José Afonso vai debitando letras que nos gelam as veias e entorpecem os músculos. Percebe-se que, mesmo sem mudar, acrescentam algo mais a um som cru e desfeito na sujidade oldschool que emana em temas como “Firestorm” ou “Across The Sea”. São quase trinta anos de existência e, só por isso, cada disco de Decayed é uma certeza do que vamos ouvir e sentir e só o estranho prazer de ouvir os Decayed, no activo, a forjar o seu caminho com punhos de aço, a mostrar do que são feitos. Pode ser até mais um disco de Decayed, e então? [7.5/10] NUNO LOPES

(Sumerian Records) Este é o segundo lançamento do ano dos Americanos Between the Buried and Me, depois de terem lançado a “Part I” do álbum com o mesmo nome em março. Sendo este um álbum conceptual, não vejo porque não foi feito um único lançamento com as duas partes como um todo – ou seja num mesmo packaging – a não ser por puras razões comerciais da editora. Num meio já de si saturado de música, um lançamento a menos era bem-vindo. Esta é a única crítica que verdadeiramente faço à parte da música, pois relativamente a esta, este conjunto de álbuns é mais um passo em frente na consolidação desta banda como um dos actos mais fortes do metal progressivo, numa vertente technical death e avant-guarde metal. Quanto a isto, a primeira e excepcional música de 13 minutos “The proverbial bellow” fala por si, representando na perfeição toda a música e capacidades dos Between the Buried and Me. Segue-se “Glide”, uma espécie de chansonette alegórica que após dois minutos derrapa imediatamente em “Voices of trespass”, que me faz lembrar imediatamente a música dos Diabo Swing Orchestra pelo estilo e composição aplicada. «Automata (part II)» fecha como começou regressando à música que os caracteriza, com “The grid”. Penso que este desvio musical faz deste trabalho um algo estranho e pouco homogéneo no seu todo. Dá a ideia que os Between the Buried and Me quiseram tocar vários géneros e experimentar. Individualmente, cada música é excelente e muito bem conseguida, repleta de excelentes momentos musicais como só eles sabem fazer, mas num todo, fica algo desconectado. [8.5/10] CARLOS FILIPE

D E C AY E D

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CRITICA VERSUS

DE ICID E

DRH

FA A L

«Overtures of Blasphemy» (Century Media Records)

«Thin Ice»

«Desolate Grief»

(Apathia Records)

(Ván Records)

Um álbum instrumental para ser bom tem, antes de mais, de cativar o ouvinte e ser suficientemente variado na sua forma e musicalidade para que não caia numa perigosa monotonia. Me parece que são observações demasiado óbvias. Estas premissas tornam-se mais complicadas de atingir quando estamos perante um quarteto de músicos, cujo instrumento predominante é o saxofone, nas suas mais diversas variantes. Por isso podem já estar a perguntar se este disco será um hino à monotonia. A resposta é claramente, não! Os DRH chegam-nos directamente de Lyon, França e “trazem no bolso” «Thin Ice», um álbum com muita qualidade, tanto a nível da interpretação e execução, como de composição. No entanto, o disco é quase um EP, quatro temas de estúdio mais dois ao vivo e o tempo passa mesmo a correr, quando damos por ela estamos já de volta ao primeiro tema. Estes Franceses conseguem imiscuir os saxofones de forma bastante criativa e talentosa, sendo o resultado um curtinho álbum de Jazz Progressivo, experimental, divertido e por vezes completamente “marado”. Os DRH podiam ter enriquecido o disco com mais dois ou três temas e este é o “defeito” mais grave que encontro. Uma palavra para o artwork e os vídeos da banda, excelentes desenhos animados. Confiram e não deixem passar os DRH. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

Este não é propriamente um novo disco – saiu em janeiro passado – mas a sua excelência justifica aqui uma breve menção, mesmo que algo tardia. Estou a falar naquele que considero ser, talvez, o melhor álbum de doom de 2018. A banda holandesa que o assina já tinha provado possuir um talento invulgar para fabricar algumas das mais tortuosas e arrastadas malhas sónicas do género, quando fez, em 2012, o álbum «The Clouds are Burning». «Desolate Grief» confirma esse dom peculiar (apesar de ter sido gravado por um line-up bastante renovado, que inclui a teclista portuguesa Cátia Almeida) e carrega um sentido de desolação ainda mais apurado. “Grief”, que surge logo a seguir a um curto intro, agarra desde logo a atenção de qualquer admirador daquele doom funerário e emocionalmente carregado. A atmosfera é trágica e arrepiante nas partes lentas e os segmentos mais dinâmicos são totalmente galvanizantes. Sobre as fantásticas linhas melancólicas de guitarra sente-se o desespero nos gritos agonizantes de William Nijhof, que se transformam em imprecações cavernosas em “No silence”, faixa que entra em toada death metal lá mais para o fim. “Evoking emotions” baseia-se numa bela melodia ao estilo de My Dying Bride, e “The horizon” recupera muito da atmosfera e do sentimento trágico inicial de “Grief”, revelando uma composição fluente que faz os doze minutos do tema se esgotarem num ápice. Notar que aqui não há traços do maldito post-qualquer coisa, tão ubíquo em álbuns actuais do género. Apenas doom romântico não adulterado, capaz de resistir ao teste do tempo. Um mimo. [9/10] ERNESTO MARTINS

Se o rock ‘n’ roll é a música do diabo, então Glen Benton é o seu embaixador. Antes do fenómeno massificado de Marilyn Manson ou do circo mediático em torno do black metal norueguês, reza a lenda sobre uma banda de death metal da Florida cujo mentor sacrificava animais durante entrevistas e havia gravado na sua testa uma cruz invertida com um ferro em brasa. A mensagem de propaganda anticristã enraízada na ideologia de Lavey e na filosofia de Nietzsche, fermentava a raison d’être da banda e, apesar da transitoriedade de tendências que orbitam no mundo do metal, o entusiasmo desta banda (que se autodenominou como “o assassino de Deus”), tem perdurado sem oscilação ou tolerância. O que nos trás ao presente (12º) álbum do conjunto, contando este com a participação de Mark English (dos Monstrosity) e Kevin Quirion nas guitarras, para além dos membros originais Steve Asheim e Glen Benton. Tratase de um trabalho resultante de 5 anos de maturação e que nos trás algo de familiar mas também um pouco invulgar, seja no midpace de “One with Satan”, remontando um pouco ao espírito do “The Fourth Dimension” dos Hypocrisy, ou na estranha sensação de “melodia” que adorna os riffs tecidos em tremolo, que vão inflamando o álbum. Os próprios solos correspondem e ampliam esta tendência, sem contudo se desarticular com o registo tipicamente abagaçado de Benton. Apesar deste caráter mais limado, o presente esforço não deixa de se categorizar como um vertiginoso enxerto de porrada (na extensão musical do termo...), com o tema “Defying the Sacred” a soar particularmente incendiário. Um disco que de certo não desapontará os fãs e, com alguma sorte, desencaminhará mais algumas almas. [6.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

6 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

G WY D ION

H A M M E R K IN G

HYRGAL

«Thirteen»

«Poseidon Will Carry Us Home»

«Serpentine»

(Ultraje)

(Cruz Del Sur Music)

(Naturmacht Productions)

Quase a completarem um quarto de século de existência, os Gwydion, porta estandarte do viking metal em Portugal, lançam o seu quarto álbum. Inevitavelmente existe aquela estranheza de ver uma banda lusitana a aventurar-se numa cultura onde dominam, por razões óbvias, os nórdicos. A comparação desta banda portuguesa aos gigantes destas andanças é inevitável, mas a verdade é que não os conseguimos colar directamente a uns Amon Amarth, que saltam à mente numa comparação imediata, mas eventualmente mais a uns Ensiferium, sendo que os Gwydion, em termos sonoros, andam ali pelo meio entre um death melódico e um power metal. Felizmente aquela estranheza rapidamente desaparece quando nos damos conta da qualidade da composição e execução das músicas. Pessoalmente, encontramos os Gwydion no seu melhor em músicas como “Balverk warfare”, “Shield maiden’s cry” ou uma “Oh land of ours Al Andaluz”, eventualmente aquelas mais ‘coladas’ ao tradicional viking metal, mas que, em bandas que tocam este género, não é propriamente algo negativo. A dúvida e a sensação que ficamos no final de ouvirmos este «Thirteen» é se os «Gwydion» poderiam ter ido mais longe, arriscando desviar-se um pouco do caminho que têm seguido. Não obstante esta sensação de querermos um pouco mais, este é um bom álbum que não vai decepcionar os fãs. [7/10] HUGO MELO

Desde o remoto ano de mil novecentos e oitenta e oito, quando me emprestaram uma K7 com Slayer do lado A e uns tais de Manowar do lado B, que não ouvia algo de tão refrescante e interessante na área do power metal, vertente True Metal, com um piscar de olhos ao que os seus conterrâneos Running Wild faziam no tempo de «Port Royal». Hammer King, com três álbuns no busto, estão a fazer um verdadeiro “check ao rei” do True Metal, que verdade seja dita, a cada álbum que fazem estão cada vez pior numa verdadeira descida aos infernos. É aqui que bandas como Hammer King são cruciais para manter o estilo vivo e elevar a nossa alma de True/Power Metal, a qual já não lá vai com os Americanos de New York. Oiçam “The king is a deadly machine”, talvez a mais Manowarish do álbum, e uma amostragem exemplar do que eles [Manowar] deviam fazer. Logo na faixa do mesmo título do álbum que abre «Poseidon Will Carry Us Home», somos de imediatos impregnados no espírito dos novos reis, com malhas e solos acutilantes, com um vocalista que não é um Eric Adams, certo, mas que tem capacidade vocal para o lugar em questão. O resto do álbum segue pelo mesmo diapasão, navegando pelas mesmas águas da primeira música, mas ainda melhor, como o provam “Battle of wars” ou “Where the hammer hangs”, ficando nós, no fim, com a sensação que «Poseidon Will Carry Us Home» é um trabalho repleto de grandes hinos. Oiçam “Glorious night of glory”, simplesmente fenomenal! Não há aqui nenhuma música menos conseguida, é sempre a dar-lhe forte e feio. A comparação com Manowar é simplesmente ao nível do estilo e influências, pois os alemães Hammer King conseguiram criar um som distinto e caracterizador. Só espero que esta banda tenha a sua oportunidade e consiga singrar nesta selva que é a industria da música de hoje; têm potencial para isso e ainda não mostraram tudo o que são capazes, apesar de já terem esgotados os famosos três primeiros cartuchos, perdão, álbuns. O rei está morto! Viva o rei! [9/10] CARLOS FILIPE

Por esta altura do campeonato, e sendo os franceses recém-coroados campeões do mundo esta expressão faz duplo sentido, já muito boa gente percebeu que a cena black metal gaulesa é das mais excitantes que por aí correm. Projectos de qualidade surgem a cada minuto, muitos deles vocalizados na língua de Molière, reforçando o carácter distintivo desta abordagem ao black metal. Os Hyrgal são mais um colectivo que surge a apostar neste subgénero tão concorrido e, não estando no topo das ofertas, «Serpentine» é um competente disco de estreia. A bateria fustigante de “Représailles” ou de “Aux Diktats de l’Instinct” (um dos destaques de «Serpentine») é um óptimo cartão de visita e impõe-se como um recurso que dá brilho a este álbum, não esquecendo evidentemente as guitarras bem distorcidas e os rasgos vocais de Clément Flandrois. Tudo o que aqui está explanado, no fundo, sintetiza o actual momento do black metal à francesa, sendo caso para dizer “Allez les Bleus”! Por fim, embora sendo um elemento secundário face à música propriamente dita, deve referirse o muito bom gosto que terá presidido à escolha da ilustração da capa, pois além de esteticamente irrepreensível tem a propriedade de resumir na perfeição a postura decadentista e desencantada dos Hyrgal. [7.5/10] HELDER MENDES

7 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

KING DUDE

L IZ Z IE B O R D E N

«Music to Make War To»

«This Midnight Things» (Metal Blade Records)

«Viktoria» (Century Media Records)

O norte-americano Lizzie Borden está, onze anos depois, de regresso aos discos com este «This Midnight things». Um disco feito após anos de estrada e depois de um músico se isolar sobre si mesmo e reflectir sobre o amor, um sentimento tão vasto e rico e que Borden com o seu talento para contar histórias transforma em algo belo e sórdido. Em nada este disco foge ao que o músico nos habituou, porém, é na simplicidade de temas “Obsessed with You” ou “The Long May Be Haunt Us” que o músico revela a sua faceta mais pop e a sua amplitude vocal. A produção deste disco está, também ela, ao nível das típicas produções norte-americanas, sendo possível ouvir e vislumbrar todos os pormenores de um disco, praticamente feito por Lizzie. É facil ficarmos apegados a este disco que não pretende ser mais do que é, e isso já faz de «This Midnight Things» um grande registo de Hard Rock FM, feito por alguém que, ao lado de Alice Cooper ou Kiss, nos deu a conhecer um outro Rock. Ainda a descobrir a faixa-título acompanhada ao piano que é, no fundo, a cereja no topo do bolo. [8/10] NUNO LOPES

Estar a apresentar uma nota introdutória sobre estes suecos é desperdicio de tempo e de palavras, já que desde sempre que a banda liderada por Morgan Hakansson nunca foi indiferente por todos e muitos motivos, mesmo que, em muitos casos não fossem os melhores. Lideres do Black Metal sueco os Marduk nunca rejeitaram uma boa polémica e souberam sempre reagir a elas com uma coerência atroz e indiferentes a todo o caos que envolvia o seu nome ou a sua música. Mas isso são outras conversas e este texto deve refletir sobre aquele que é o 14º disco dos suecos e que, mais uma vez, se debruça sobre o belicismo da Alemanha do Terceiro Reich sem que, no entanto, seja um disco totalmente bélico, existindo mesmo um lado espiritual. Não se pense que o quarteto tirou o pé do acelerador e se esse é o o vosso pensamento podem tirar o ‘cavalinho da chuva’ pois, mesmo após 28 anos de carreira a banda teima em ser furiosa, devastadora e, principalmente, devota à sua sonoridade e mestria como cria a sua música. Em pouco mais de trinta minutos a devastação é contínua e poucos são os momentos de calmia, sendo talvez “Tiger I” o melhor exemplo que confirma a regra e, a partir de momento que “Werewolf” começa a desfilar nos ouvidos percebemos que temos mais um grande disco de Black Metal, sem ‘chouriços’ e sem perdão, como aliás tem sido a carreira do quarteto. “Werwolf” é a porta de entrada para um mundo de horror que tem tanto de passado como de presente e “June 44” é tão rápida como eficaz, porém são exmplos de uma banda que teima em dilacerar a humanidade com o seu lado mais negro e sombrio. Querendo-se ou não os Marduk continuam a ser líderes de uma matilha. Este é um verdadeiro disco de Black Metal e quem disser o contrário não pode querer coisa boa na sua vida. [8/10] NUNO LOPES

(Ván Records) O mais recente trabalho de T.J. Cowgill assenta no tema da guerra e apresenta-se como uma soturna alegoria sobre a irascível sede do ser humano pelo conflito. “Time to go to War” prepara o ambiente do álbum num envolvente e elegíaco tom, encompassado na fúnebre cadência de esvaídas notas de piano. Um dos mais cabisbaixos temas de King Dude a abrir caminho para a indulgência EMO de “Velvet Rope”, uma viciante e orelhuda faixa a transpirar a sentimentalidade gótica que se evidencia ao longo do álbum em “I Don’t Write Love Songs Anymore” ou “Dead on the Chorus”, faixas que conseguirão multiplicar o seu eco nos tímpanos dos fãs de Cowgill, recordando os tempos áureos dos The Cure, Sisters of Mercy ou Fields of the Nephilim. A familiaridade das referências não se esgotam aí, sendo que tão cedo somos igualmente embrenhados na lânguida embriaguez dark jazz de “Good and Bad”, a sugerir os mais melancólicos temas dos saudosos Morphine, na sensualidade de um dueto de Cowgill com Josephine Olivia. As reverberações sombrias deste estonteante caleidoscópio impelemnos ainda para o dinamismo post-rock de “The Castle”, para depois nos convidarem para o dançável registo eletrónico de “In the Garden”, ou até, de uma forma mais atrevida e inusitada, nos provocarem com a insinuação ska de “Let it Burn”. King Dude revela-se assim mais audacioso que nunca, transfigurandose em múltiplas camuflagens que adornam o seu singular registo de folk e dark americana. De salientar a genialidade de “Twin Brother of Jesus” num cruzamento que evoca Depeche Mode, nas suas “Songs of Faith and Devotion”, mesclado com a assertividade empedernida de uns delta blues. Numa discografia de irrepreensível genuinidade, «Music to Make War To» exponencia os talentos deste compositor no ápice de uma já ilustre e notável carreira. [9/10] FREDERICO FIGUEIREDO

8 / VERSUS MAGAZINE

MARDUK


CRITICA VERSUS

MOB RU LES «Beast Reborn»

(Steamhammer-SPV) Prestes a completar 25 anos de existência, os Mob Rules retornam com o lançamento de «Beast Reborn», o nono álbum de estúdio da carreira destes alemães, sucedendo ao bem recebido «Tales from Beyond», de 2016. E o conjunto comandado pelo vocalista Klaus Dirks nos brinda com um trabalho coeso, pesado, com riffs sólidos, bateria poderosa e passagens épicas, muito graças a grandiosos corais. Depois da curta faixa instrumental de introdução, “Ghost of a Chance” abre «Beast Reborn» com bons riffs, grande trabalho vocal de Dirks e um interessante duelo de solos, uma boa forma de apresentar o novo guitarrista, Sönke Janssen. “Shore’s Ahead” vem logo na sequência e eleva a fasquia da agressividade, ao mesmo tempo que traz pitadas de progressivo e elementos épicos que nos lembram Avantasia. Uma característica marcante dos Mob Rules é que suas músicas, em muitos casos, soam como um encontro dos Avantasia com os Iron Maiden. É o que acontece precisamente em “Traveller in Time”, com os riffs iniciais nos remetendo aos Iron Maiden moderno, ou seja, mais progressivo, ao mesmo tempo em que as linhas de teclado e o refrão “pegajoso” nos levam aos Avantasia. A seguir temos talvez a mais “Maideniana” de todas as canções de «Beast Reborn»: “Children’s Crusade”, com riffs totalmente Iron Maiden e duelo de guitarras que também soam aos mestres ingleses. Talvez não por acaso, é a minha faixa favorita do álbum. A tríade “Iron Maideniana” deste lançamento se completa com a interessante “War of Currents”. Outra música que merece destaque é “Way Back Home”, que bem que poderia ser a faixa de encerramento, uma vez que a balada “My Sobriety Mind (For Those Who Left)” é, digamos, descartável e portanto, seria desnecessária (pelo menos para encerrar o álbum). Com seus riffs que nos fazem bater cabeça e seu clima épico, “Way Back Home” seriam o final perfeito para «Beast Reborn», um trabalho digno de respeito destes já veteranos do Power Metal. Em 2019, os Mob Rules chegam a um quarto de século de estrada e «Beast Reborn» mostra-nos uma banda amadurecida e talentosa, que

M O O N R E IC H

M O S G E N E R AT O R

«Fugue» (LADLO)

«Shadowlands» (Listenable Records)

Os Franceses Moonreich apresentamnos o seu quarto álbum em «Fugue» com uma abordagem bastante melódica e algo psicadélica ao seu black metal. Nota-se a procura de uma sonoridade única, que os diferencie das restantes bandas da cena, num exercício que é de saudar. Com sete relativamente longas faixas, tendo a mais curta a duração de 5 minutos, os Fugue dão-se ao luxo de construir e experimentar várias sonoridades ao longo deste álbum, o que os posiciona já longe do black metal mais tradicional. As duas primeiras faixas, “Fugue Part I” e “Fugue Part II”, são o perfeito exemplo do acima descrito: temas longos, com construções melódicas complexas e uma dose bastante forte de experimentalismo. “With open throat for way too long” é talvez a faixa mais brutal, rápida e directa do álbum. “Heart symbolism” mostra-nos, inicialmente, o lado mais acessível e melódico da banda com largas misturas de blastbeats sendo este mesmo o conflicto interior da banda: a tentativa de criar algo melódico e fácil de absorver mas que ao mesmo tempo tenha uma certa dose de brutalidade. E é neste conflicto que a banda tenta encontrar a sua sonoridade. “Rarefaction” segue esta mesma linha: directa e brutal mas com uma certa dose de melodia. ”Carry that drought because I have no arms anymore” acentua este mesmo conflicto, sendo que a banda tenta absorver algumas das sonoridades mais modernas conciliandoas com as suas raízes mais tradicionais. “The things behind the Moon”, a última faixa do álbum, é talvez a faixa mais longa do mesmo sendo que aqui a banda leva ambos os extremos ao seu apogeu numa mesma faixa. Talvez o tema mais interessante do álbum e que melhor o resume. Um álbum interessante para os fãs de Gojira e bandas similares. [7/10] EDUARDO ROCHA

Todos aqueles que apregoam que o Rock está morto é porque, certamente, nunca se cruzaram com os Norte-Americanos Mos Generator. Porém, nunca é tarde e ainda vão a tempo de descobrir esta máquina liderada pelo carismático Tony Reed. Mostrando que o formato power-trio continua a ser tão viável como há 30 anos atrás os Mos Generator são, hoje, uma máquina bem oleada e imparável. Antes de existir o Stoner já existia o Rock, e Tony Reed aprendeu com os melhores. «Shadowlands» é um enorme disco Rock, mesmo que (aqui e ali) o nome de Ozzy surja “à flôr da pele”, como sucede em “The Destroyer” ou “Stolen Ages”. Porém nada se esgota aí e, onde o anterior «Abyssinia» era simples e limpo, este é sujo e directo ainda que de forma dissimulada, os Generator apresentem uma maior aproximação ao Blues-Rock (mesmo que eles não admitam). Há, ainda a destacar a forma como o trio, ao mesmo tempo que nos presenteia com canções feitas de pó e óleo de motor, tem também, em temas como “Drowning in Your Loving Cup”, uma solidez instrumental que melhora a cada disco que passa. O Rock, como tem de ser, nunca irá morrer e os Mos Generator continuam a mostrar isso mesmo em «Shadowlands». [7.5/10] NUNO LOPES

já merece mais destaque no cenário do género que tocam.

[8.5/10] EMANUEL LEITE JR.

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CRITICA VERSUS

PEN S É E S N O C T U R N E S

R IV E R S ID E

«Dente de leão» (Independente)

«Grotesque» (LADLO)

«Wasteland» (InsideOut Records)

Vamos primeiro às apresentações: Palas é o projecto a solo de Filipe Palas, um músico bracarense que já integrou os Smix Smox Smux e Maquina del Amor. Introduções feitas… Filipe Palas foi ao baú e sacou alguns temas que, por diversas razões, não se enquadraram noutros projectos do qual fazia parte. Inteligente e talentoso como é – se ouvirem «Dente de leão» vão perceber porquê – deu-lhes uma nova “cara” e novos arranjos, convidou uma série de músicos amigos, bons e competentes e fez-se ao estúdio. O resultado são temas que às vezes mais parecem um delírio irónico ou “uma ganza” cheia de humor e sarcasmo. Digamos que para completar esta estranha adjectivação, «Dente de leão» é um constante Rock and Rollar, aparentemente simplório e minimalista mas com muita alma e talento. Alma e talento que faltam à maioria dos artistas nacionais e que cada vez mais são “embebidos” por uma mediocridade sem precedentes, tal e qual um “fast-food” musical. Mas Filipe Palas é inteligente na música que faz. É um dos artistas nacionais pelo qual espero ver mais grandes músicas e grandes feitos. Está na playlist das viagens para o trabalho e só é pena o disco ter tão poucos temas mas fiquem atentos a este rapaz e aos seus próximos passos. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

Pegar na crueza do black metal e enfiar-lhe uma vestimenta requintada é a habitual receita do black metal avant-garde. «Grotesque», o segundo álbum lançado pelos franceses Pensées Nocturnes (originalmente saído em 2010, foi reeditado pela LADLO neste ano de 2018), oferece, em termos musicais, tudo aquilo que se pede a quem gosta deste subgénero, e em termos líricos também não é nada de desprezar, apresentando conceitos nihilistas e pós-nihilistas (veja-se “Paria”, com o seu algo nietzscheano final: “Je suis le Corbeau Blanc / L’oiseau affranchi du temps / Survivant de l’ennui / Je deviendrais ce que je suis.”). As vocalizações “grotescas” de Vaerohn, a máscara por trás dos Pensées Nocturnes, prestam-se bem à mensagem que se deseja passar, ao traduzirem uma certa carga de desespero que se encontra vincada nas letras. Instrumentalmente, o maior elogio que «Grotesque» merece é o de ser equilibrado, pois nunca se mostra demasiado técnico e/ou experimental, tendência que ocorre em muitos projectos, nem sempre com resultados positivos. Tal equilíbrio entre a crueza black metal e o requinte avant-garde é mesmo um dos principais motivos por que vale a pena (re)descobrir este «Grotesque», passados tantos anos. Não será tempo dado por perdido, bem pelo contrário. [8/10] HELDER MENDES

Talvez um dos álbuns mais aguardados do ano. Depois da tragédia que assolou a banda, os Riverside mantiveram-se no limbo do apocalipse. Mas estes senhores são demasiado importantes para desistirem. «Wasteland» é uma segunda vida, tal como nos conta Mariusz Duda em entrevista à nossa revista. Muito provavelmente os fãs estariam à espera que Piotr fosse o centro e a maior inspiração. Não só mas também. O álbum assenta numa temática pós-apocalíptica… de sobrevivência. Coincidência, ou não, e por mais paradoxal que possa parecer é mais pesado do que habitual, sem deixar de ser um dos álbuns mais sentimentais de que tenho memória – juntamente, talvez, com «In The Passing Light of Day» dos Pain of Salvation. Não obstante esta dicotomia, há elementos novos na música. Uma voz mais grave e além dos habituais músicos e instrumentos, «Wasteland» conta com alguns músicos convidados: Maciej Meller, Michal Jelonek no violino e Mateunz Owczarek que partilha um solo de guitarra. Duda e Lapaj deambulam por diferentes instrumentos e variantes: Orgão Hammond, banjo ou baixo piccolo. Mas o que realmente sobressai, o que respira e transpira da música é todo um sentimentalismo melancólico, cimentado, em parte, pela tragédia mas também pela forma como os Riverside se têm expressado musicalmente ao longo destes anos. «Wasteland» é um regresso às origens, como se pode constatar, por exemplo, com a utilização de mais guitarras acústicas ou mesmo o título dos temas que referenciam ao segundo álbum «Second Life Syndrome». Se nos embrenharmos na vida dos Riverside e por mais cliché que possa parecer, músicas como “Guardian Angel” ou “River Down Below” – o solo à David Gilmour é soberbo - arrepiam. Esta música é genuína e não precisa de ser descrita, precisa de ser ouvida, sentida e vivida. [9.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

PAL AS

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CRITICA VERSUS

SK INL ESS

T H E R IO M O R P H IC

Z E V IO U S

«Savagery»

«Of Fire and Light»

«Lowlands»

(Relapse Records)

(Dethstar Wreck’ordes)

(Nefarious Industries)

Formados em 1992 com o propósito de serem a banda mais barulhenta de sempre cedo os Skinless se impuseram numa cena liderada por bandas como Obituary ou Cannibal Corpse através do disco de estreia «Progression Towards Evil» que veio colocar os Nova-Yorkinos no mapa e tudo se manteve ‘calmo e sereno’ até 2011, altura em que a banda se colocou num hiato que só foi quebrado dois anos depois e cujo resultado pode ser escutado no anterior «Only the Ruthless Remain», soubemos na altura como sabemos agora com o lançamento de «Savagery» que os Skinless não abdicam de nada no seu propósito inicial. «Savagery» é mais uma coleção de temas em que a banda se desafia a si (e também as forças da física) e traz dez temas furiosos e do que de melhor se faz no Death Metal. Estranho é as duas peças “Reversal of fortune” e “The hordes”, será interlúdios num disco devastador e que, certamente não deixará ficar mal qualquer headbanger que se preze. «Savagery» é um disco em que o quinteto se revela, efetivamente, selvagem e consigo traz ainda a companhia de Damian Leski(Broken Hope). Tecnicamente irrepreensível e com uma produção que nos dilacera as entranhas, os Skinless apresentam aqui um dos bons discos do ano no que diz respeito ao género e dão mais um passo na conquista do objectivo a que se propuseram. [7.5/10] NUNO LOPES

Há muito afastados das edições discográficas os lusitanos Theriomorphic estão de regresso com este EP que, curiosamente, surge uma década depois de «The Beast Brigade». Lançado, nesta primeira fase, apenas em versão digital, «Of Fire and Light» é um disco que traz uns Theriomorphic liderados como sempre por Jó que, verdade seja dita, tem algumas das suas linhas de baixo mais poderosas, no topo da sua forma e, possivelmente, também se pode dever ao facto de nesta nova ‘encarnação’ os Theriomorphic apresentarem uma nova formação com a entrada de André Silva (Sacred Sin, ex-Gwydion, entre outros) e João Duarte (Corpus Christii, Morte Incandescente, entre muitos outros) que trazem uma maior experiência e um bafo a enxofre muito mais intenso. Em pouco mais de 20 minutos e com três instrumentais, os Theriomorphic provam que estão vivos e de boa saúde, mostrando que, de facto, quem sabe nunca esquece e, 20 anos depois da sua génese é bom perceber que os Theriomorphic não só se mantém como umas das melhoras bandas nacionais de Death Black Metal, como aproximam o seu som de uma nova era Thrash. Um regresso em grande mas que sabe a pouco. [8/10] NUNO LOPES

É fascinante descobrir o muito que se consegue fazer com o essencial dos instrumentos rock - guitarra, baixo e bateria - e os Zevious são um belo exemplo desse tipo de criatividade espartana. «Lowlands» é o quarto registo deste trio Nova-Iorquino, constituído pelo baterista Jeff Eber (dos Dysrhythmia), o baixista Johnny DeBlase (Sabbath Assembly) e o guitarrista Jeff Eber (Smother Party), que se estreou em 2008 com o acústico e intensamente jazzy «Zevious» (2008), mas que, desde essa altura, tem vindo a evoluir numa direcção mais híbrida com elementos progressivos e uma sonoridade mais Metal, mantendo-se sempre fiel ao formato 100% instrumental. Bem mais rombudo que o disco anterior, «Passing through the wall» (2013), este novo trabalho é pródigo em intrincadas malhas dissonantes, sustentadas por um baixo encorpado, bem pesado, e uma bateria sempre muito criativa. É aliás o dinamismo desenfreado da bateria de Eber que assume por vezes o protagonismo, como acontece de forma mais notória no tema de abertura, “Tube lord”, em “Slow reach” e no proggy “Smear campaign”. O fraseado de guitarra é frequentemente abstracto, hipnótico e por vezes mesmo anacrónico (“Sensor recall”), exigindo umas poucas de audições atentas para se tornar confortável no ouvido. Há também lugar para algum psicadelismo, como é evidente em “Slaves of rotor” e “Null island”. Com uma sonoridade crua e pouco produzida «Lowlands» é - já deu para ver - um trabalho de música desafiante, longe do convencional, que se recomenda apenas a quem gosta de abandonar, de vez em quando, a zona de conforto. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

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ADN musical Ou, como dizemos em Português: corre-lhes nas veias, está-lhes no sangue. Entrevsta: CSA

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Cá estou eu a entrevistarvos novamente para a Versus Magazine (Portugal). Da outra vez, respondeste às minhas perguntas sobre «The Apocalyptic Triumphator». Desta vez, falaremos de «The Luciferian Crown». - Este álbum pretende ser uma sequela do seu predecessor, ou trata-se de trabalhos independentes, apesar de estarem unidos pelo mesmo tema (o satanismo). Ritual Butcherer – Os nossos lançamentos são todos mais ou menos sequelas uns dos outros, porque todos têm o mesmo ADN, ou seja, a mesma filosofia. O foco de cada um deles pode variar ao nível dos pormenores, mas não nas suas linhas gerais. «The Apocalytic Triumphator» estava talvez um pouco mais nas blasfémias contra o caminho da mão direita, enquanto «The Luciferian Crown» retoma o interesse pelo caminho da mão esquerda, pelos rituais e pela devoção a Lúcifer. Pode-se dizer que o novo LP consiste numa análise mais aprofundada da minha alma, enquanto o anterior revelava a forma como vejo o mundo. Se analisares as letras das canções – tendo em conta, por exemplo, “I am Lucifer’s Temple” ou “The Obsidian Flame...”, aperceber-te-ás de como são pessoais. - Os dois álbuns também estão unidos pelo género musical, mas há certamente diferenças entre eles, não é assim? Mais uma vez, tenho de dizer que os ingredientes principais

são os mesmos em ambos, mas que introduzimos mais variações nas canções deste álbum. Basta pensar na competência do novo baterista – Mr. Goat Aggressor – que nos abriu novas possibilidades e nos trouxe novas ideias, que funcionaram muito bem. Eu queria mesmo que este álbum captasse elementos dos meus primeiros trabalhos (demos e o EP «Angelcunt») e os combinasse com as últimas ideias e estruturas de canções mais complexas, para fazer dele uma espécie de elo que unisse toda a carreira da banda. Por exemplo, neste novo álbum, usamos mais harmonias de baixo do que nos anteriores e ideias novas relativas ao papel da bateria na transformação das ideias antigas. - Os vocais deste álbum são mesmo maléficos. Como obtêm esse efeito? Não são sempre assim? Para dizer a verdade, saem assim naturalmente. Acrescentamos alguns efeitos de eco e retardamento, mas tudo o resto está como saiu. Nos nossos concertos, poderás notar que os vocais são tal e qual como os podes ouvir nos lançamentos. Temos usado o termo “Invocation” em vários dos nossos lançamentos e agora quisemos usar uma nova designação para a intro – “Introcation” – para chamar a atenção para uma versão modernizada do conceito que criámos em 1993. Os tópicos abordados nas várias faixas são muito variados.

- De que forma abordam o vosso tema principal (acima referido) neste álbum? Os principais elementos – a saber, o satanismo e elementos declaradamente blasfemos – estão sempre presentes em todos os lançamentos de Archgoat. Desta vez, demos muito mais ênfase ao lado satânico e a uma forma muito pessoal de descrever os rituais que fazem parte do nosso caminho desde o início até à atualidade. O que simbolizam os porcos na faixa intitulada “The Messiah of Pigs”? Provavelmente o seu valor como símbolo até é apresentados de forma muito direta, o que pode desviar a atenção dos ouvintes do que é óbvio. A canção centra-se nas marteladas que serviram para pregar Cristo na cruz e o título evoca o momento em que Jesus crucificado é apresentado como o Messias dos Cristãos. Chris Moyen criou mais uma capa magnífica para o novo álbum de Archgoat. - Esta obra encheu-vos as medidas? Na minha opinião, é O melhor trabalho dele que me foi dado ver. Apresentamos-lhe uma ideia de base muito sofisticada e detalhada. Queríamos que a ilustração representasse o esforço do Homem para conquistar o último fogo prometaico e que evocasse a 100% a grandeza da música de Archgoat. Só os pormenores que podes encontrar nessa ilustração chegam para te deixar abismada.

Os nossos lançamentos são todos mais ou menos sequelas uns dos outros, porque todos têm o mesmo ADN, ou seja, a mesma filosofia. […]

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[…] Pode-se dizer que o novo LP consiste numa análise mais aprofundada da minha alma, enquanto o anterior revelava a forma como vejo o mundo. […]

Eu adorei e os outros membros da banda ficaram extremamente satisfeitos com o resultado final. - A mim parece-me estar especialmente relacionada com a canção intitulada «The Jezebel’s Black Mass Orgy». Quem sou eu para julgar a forma como as pessoas interpretam a nossa música! Na realidade, o segundo artwork criado para o álbum – em que podes ver bruxas a dançar em redor de Lúcifer – é que está diretamente ligado a essa canção. Eu pedi expressamente que essa imagem se focasse no momento em que a canção começa e desliza para uma missa negra orgíaca, algo que o ouvinte pode imaginar à sua maneira. - Também me parece que temos aqui uma “capa clássica” de Black Metal.

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É uma boa capa para um álbum, mas só o tempo revelará se vai ou não ficar nos anais da cena. Tem um forte valor simbólico e provavelmente os que compreendem o seu conceito de base verão nela algo mais para além de uma capa. - Já pensaram em expor o trabalho que o Chris tem feito para a banda durante uma das vossas digressões? Penso que seria uma iniciativa muito interessante. Fizemos um concerto em França – creio que foi em 2015 – em que ele expôs a sua arte. Foi algo muito, muito interessante. Para mim, foi fantástico ver ao vivo trabalhos que eu já conhecia desde os anos 80. Gostei mesmo dessa ideia e, se calhar, vou aproveitála para comemorar o nosso 30.º aniversário, para dar um toque diferente à efeméride.

Por falar de digressões, vão fazer concertos durante este verão? Têm alguma digressão prevista? Este verão, apenas fizemos um concerto em Turku, a nossa pequena cidade, só para termos o prazer de apresentar ao vivo algumas das canções. Mas o verão não é a altura que nos interessa. Temos uma digressão europeia prevista para breve, portanto não vale a pena investirmos em concertos no imediato. Estamos também a preparar uma digressão para o próximo ano, centrada num conceito que temos andado a desenvolver. Mas falaremos desse assunto no momento certo. Têm alguma data em Portugal? Somos grandes fãs de Metal finlandês. Não há nada confirmado. Já tocámos duas vezes no Porto e,


corresponde aos nossos primeiros concertos fora da Finlândia: a digressão europeia de 2005, cujo primeiro concerto teve lugar em Londres. Foi estranho ver como as pessoas ficaram excitadas por nos verem, porque, em tempos mais antigos, era muito raro as bandas tocarem no estrangeiro e, de repente, ali estávamos nós a fazer cerca de 15 concertos de uma assentada em quase 10 países. Um outro evento memorável ocorreu quando abrimos para Venom, em Itália, o que foi particularmente significativo para mim, porque eles foram uma das principais razões que nos levaram a fundar Archgoat. Também fiquei com excelentes memórias de alguns países como a Tailândia e a Austrália. À parte os concertos, também quero referir o facto de «The Apocalyptic Triumphator» ter ficado em 6.º lugar no top musical da Finlândia e em 4.º lugar no top da Indie.

em ambas as ocasiões, passámos momentos agradáveis, portanto temos vontade de repetir a experiência. É uma bela cidade com um bom público. Na entrevista de 2014, referiste uma banda de que gostavam muito e que queriam apoiar: Obscure Burial. Chegou a acontecer algo que aproximasse ainda mais as duas bandas? Sou amigo deles e até tínhamos pensado em fazer um concerto juntos na semana passada, mas eles tiveram de o cancelar. São uma banda muito promissora, verdadeiramente fora do normal, portanto aconselho vivamente quem gostar de bom Death Metal a ouvir a sua música. Archgoat vai completar 30 anos em 2019. - Qual é a sensação de fazer parte da cena Metal há tantos anos? Na verdade, faço parte da cena desde os meados dos anos 80

e tenho-me apercebido do que mudou e de como isso aconteceu. Talvez por isso seja tão “puritano” e sinta tanta vontade de a manter fechada como era no início. Como sempre me dei com pessoas que fazem parte da cena – para o bem e para o mal – posso dizer que todos os meus amigos fazem parte de bandas ou estão envolvidos em outras atividades relacionadas com o Metal. No entanto, em muitas ocasiões, fiquei francamente desagradado com o aparecimento de novas bandas que não trazem nada de novo à cena, não têm nada a dizer que seja seu, não são originais, o que é uma pena. - Que acontecimentos te marcaram a valer durante estes anos? O primeiro foi o momento em que tive nas minhas mãos «Angelcunt», o primeiro EP da banda. Foi um momento surreal, porque, nessa altura, era muito raro para uma banda de Black Metal conseguir um contrato. O segundo

- Pensas que a banda chegará aos 40 anos? Vejo mais coisas a favor disso do que contra, mas veremos o que aconteceu dentro de 11 anos. - Vão celebrar o 30.º aniversário de algum modo especial? Claro que vamos, porque seria lamentável não o fazermos. Ainda não tomámos decisões relativas aos lugares e às datas, mas vamos fazer um concerto em duas partes: começaremos a tocar com a formação original pela primeira vez desde 1995 e seguiremos com a formação atual e haverá algo de cada um dos nossos álbuns. Portanto, vai ser uma oportunidade para os fãs verem como era AG quando começou e como fomos mudando ao longo de todos estes anos – se é que isso aconteceu. Também me parece que vamos aproveitar a tua ideia acima referida.

Archgoat Youtube

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sem passado se retorna ao passado eis o ciclo venenoso da serpente que não matámos no ovo as falsas bandeiras soprando ódio pelo túnel de vento construído com os tijolos das nossas escolas e os salários dos professores contratados

os medos alastrando como uma doença pela pele afora contaminada pelo ar infecto dos esgotos construídos com o cimento dos nossos hospitais a falta de tudo sentida assim no âmago de quem nunca teve nada e essa voz que exige o fim da democracia mascarada de fim da corrupção que anda pelas ruas de mão em mão sem morada fiscal mas sempre domiciliada no paraíso fiscal do aldrabão

eis um veneno que se injecta nas veias da ignorância uma passadeira vermelha caminhada por ilusão um livro de estante dos destaques do hipermercado um imposto demasiado caro para um serviço que só apetece pedir o livro de reclamações uma escola fechada um hospital com direito de admissão um teatro igreja universal e um actor de esmola na mão uma ciência terraplanada e um doutor de bolsa não será possível agradecemos a sua compreensão um polícia raivoso na fábrica ocupada e em auto-gestão e detectives brandos a ajudar a esconder as contas do patrão uma mão na massa enquanto milhões amassam o pão

é nesse pântano que se torna ténue sem que nos apercebamos a luz e ao contrário do que se passa com as igrejas os museus iluminam bem mais quando não ardem.

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Suas Majestades Após uma primeira conversa com Mark Menghi, o principal responsável pela criação da banda, aquando do lançamento do primeiro álbum, a Versus voltou a falar com um membro dos Metal Allegiance, desta vez o carismático Alex Skolnick. O novo álbum «Power Drunk Majesty» foi apenas o catalisador de uma entrevista muito agradável onde se abordaram diversos temas desde os Testament, Savatage e Criss Oliva, The Alex Skolnick Trio e claro, «Power Drunk Majesty». Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro & Ivo Broncas

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Este álbum tem o lançamento previsto para Setembro. Já têm alguma reacção? Alex Skolnick: Sim, tem sido bastante boa, quase universalmente boa. As pessoas respondem logo e parece gostarem. Todos os entrevistadores com quem falei parece terem gostado. Muitas pessoas falam da pressão inerente à gravação. Sentes esta pressão dos Metal Allegiance? Não, penso que, quando fizemos o primeiro álbum, e estamos a falar de várias pessoas que embora nunca tenham gravado em conjunto estão habituados a estar em estúdio, encontrámos um estilo que funcionasse. No primeiro álbum fomos em várias direcções à procura de um estilo que funcionasse e acho que resultou bem. Neste segundo algum poderíamos ter ido em várias direcções, mas optámos por um caminho mais no estilo de músicas como «Pleadge Your Allegiance» ou «Can’t Kill The Devil». Depois de termos algumas músicas nesse estilo, pudemos explorar e ir mais além, como na música com o Johan dos Amon Amarth, ou com a Floor dos Nightwish. Fomos a alguns lugares inesperados, mas acredito que no geral o álbum tem um som bastante coeso. Para o primeiro álbum entrevistamos o Marco que disse que esta banda era um grupo de amigos e que não se consideravam um super grupo, como constantemente estão a ser rotulados. Neste sentido são amigos ou super amigos que fazem muito boa música? (risos) Diria que somos um grupo de super amigos, mas compreendo porque é nos rotulam dessa forma até porque é uma forma conveniente de nos caracterizarem. Ao contrário de outros super grupos que gravam em vários locais no mundo, vocês de facto tocam e gravam, exceptuando as vozes, se não me engano, os álbuns juntos. Achas que esta opção justifica parte do vosso sucesso? Acho que sim. Um álbum soa melhor quando se toca junto. Numa época em que é facílimo agarrar num computador e copiar e colar partes de músicas, para mim é demasiado óbvio porque torna o álbum demasiado perfeito e eu não gosto. Tenho bandas de amigos que fazem isso e tem algum sucesso, mas pessoalmente não gosto. Gosto da música que é tocada em conjunto, e não só o metal. Como é o vosso processo criativo? Sendo vocês tão criativos, quem é o chefe? Depende da música. Há músicas, como a «Power Drunk Majesty» em que eu criei o início no estúdio como uma demo. Eu defini como seria estrutura. Depois, tocando juntos houve alterações que foram efectuadas e aí não existe um chefe. Noutras músicas são outros a liderar. Por vezes é repartido, na «The Accuser» por exemplo fui eu que compus a grande

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parte do instrumental, mas quando chegámos às letras, sabia que o Mark queria estar envolvido e tomar as rédeas. Ele acabou por criar três letras de músicas o que me fez dar um passo atrás e criar novas melodias para as letras. Por isso, por vezes sou eu o chefe mas por vezes são os outros. O Portnoy por exemplo, nas jams onde tocamos todos juntos, criava imensos riffs que foram guardados e muitas vezes juntos a outros já existentes. Creio que foste o produtor. Eu e o Mark produzimos... Da última vez que falámos com o Mark, ele dissenos que enviavas as músicas aos outros membros para eles gravarem a parte deles. Para os cantores como aconteceu? Entraram em estúdio ou gravaram noutro lado? Um pouco de ambos. Foi diferente para cada pessoa. Tomando novamente como exemplo a primeira música, a «The Accuser», depois do Mark escrever as letras, eu criei as melodias e depois agarrei na música e cantei-a, fazendo uma demo, e digo-te que não canto metal, nunca irei liderar uma banda como cantor de metal. Sei cantar outros estilos, mas não metal.

“[...] acredito que no geral o álbum tem um som bastante coeso.”


Gosto da música que é tocada em conjunto e não só o metal. 2 1 / VERSUS MAGAZINE


Foto: Kevin Wilson Metal Allegiance-tour

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Andreas Kisser foi também convidado para abrilhantar, ainda mais, o segundo álbum dos Metal Allegiance, por isso - e como é um tipo porreiro - enriquecemos mais um pouco esta entrevista com três singelas perguntas feitas por Emanuel Leite Jr. sobre a sua participação neste projecto.

O

s Metal Allegiance é um projeto de músicos consagrados na cena metaleira. Aliás, tu fazes parte de um projeto latino-americano, De La Tierra, que tem o mesmo princípio, quero dizer, ao meu ver, tratam-se de iniciativas que reúnem grandes músicos da cena pesada para fazerem juntos algo que promova ainda mais o Metal. Concordas comigo? Como é que vê estas iniciativas? E o Metal Allegiance em particular. Os Metal Allegiance e os De La Tierra foram dois projetos para os quais fui convidado para fazer parte. Os Metal Allegiance estão agora lançando o segundo disco de músicas originais, mas é um projeto que também tem covers, a ideia era juntar alguns músicos, tocar material destes músicos e alguns covers que sempre influenciaram a nossa carreira. Agora com o segundo disco o material dos Metal Allegiance estão tomando mais conta do setlist. Os De La Tierra eu acho um pouco diferente. Os De La Tierra é uma banda que começou com a intenção de sempre fazer música original. A gente tocou um cover, dois covers, em um show aqui e outro ali, quando headliner, porque a gente só tinha um disco - os De La Tierra também têm dois discos. Acho um pouco diferente, mesmo porque é uma banda que canta em espanhol e a proposta é um pouco diferente. Mas, eu curto pra caramba participar dos Metal Allegiance. Com eles eu fiz alguns solos do primeiro disco e no segundo. Já participei de três ou quatro shows, principalmente lá na NAMM, em Los Angeles, em janeiro, onde todos os músicos estão ali, então fica mais fácil de juntar todo mundo. E agora com o segundo disco e o apoio da Nuclear Blast, os Metal Allegiance têm crescido e tem aberto a possibilidade para turnês. Inclusive, em novembro a gente está indo para a América do Sul. Vamos fazer Brasil, Argentina e Chile. Há uns anos tiveste um projeto com o David Ellefson, chamado Hail! (que também contou com a participação do Mike Portnoy). Foi através do Ellefson que surgiu o convite para participares do primeiro álbum do Metal Allegiance? E como tu te sentiste ao ser convidado para colaborar com um projeto de músicos tão competentes e consagrados na cena? Eu e o David a gente teve os Hail! e o Mike Portnoy participou de dois shows, em Nova Iorque e em Boston. E foi o Ellefson mesmo que me deu o toque, que me trouxe para o Metal Allegiance. Eles chamam dos quatro principais, né, que é o David Ellefson, Alex Skolnick, Mike Portnoy e o Mark Menghi, que é um baixista e trabalha mais no business de equipamento e conhece muita gente. Os quatro começaram esse projeto e o Ellefson, acho que pela experiência que eu tive com os Hail!, a gente fez muito show com os Hail!, inclusive Rock in Rio em Lisboa, temos um DVD no Líbano quem sabe um dia saia, enfim, o Ellefson me chamou para fazer parte dos Metal Allegiance. E eu aceito os desafios. Ainda por cima para trabalhar com uma galera tão foda, músicos que estão na estrada há muito tempo, vários que influenciaram os Sepultura, Testament, Megadeth, Slayer, toda essa galera que participa. E fiquei muito feliz em poder fazer parte disso. Em janeiro deste ano Portnoy disse que tinhas sido o MVP da apresentação do Metal Allegiance no House of Blues (Anaheim, Califórnia). Em setembro voltaste a dividir o palco com os caras. Qual é a sensação de estar junto com esses músicos ao vivo? Tocar com esses caras é foda! O Portnoy me chamou de MVP porque no ensaio antes do dia do show, não tinha nenhum guitarrista, todos estavam ocupados, o Alex Skolnick estava fazendo show solo, Gary Holt não estava lá, entre outros que participaram do show, e eu fiz o ensaio completo, com todo mundo, com todos os vocalistas e inclusive toquei músicas que eu não ia tocar no show. Mas, como eu toco cover desde que eu nasci praticamente, minha primeira banda antes de entrar para os Sepultura, era os Esfinge, e a gente tocava muito cover; os Kisser Clan que eu toco com o Yohan Kisser [filho do Andreas Kisser] também só toca cover. Para mim tocar cover é uma grande escola, um grande prazer para mim. Então, para mim foi tranquilo e curti pra caralho fazer aquele ensaio. E o show foi maravilhoso! Deu tudo certo. Tocar Slayer com Gary Holt foi foda. Como eu disse, com o apoio da Nuclear Blast tem surgido mais oportunidades de shows e espero poder participar destas turnês, porque não só no palco, mas nos bastidores é uma interação sensacional. A galera se respeita muito, curte muito o que está fazendo, é uma galera que gosta de tocar mesmo e isso realmente não tem preço.

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“Há momentos em que sentimos que é uma banda a 100%, noutros sentimos que é um projecto paralelo.” Mas a ideia foi criar a matriz. Fiz isto para algumas músicas, como a «Impulse Control», a «Liars & Thieves», onde canta o Troy dos Mastodon. Por exemplo, nas músicas «Bound By Silence» e «Mother Of Sin» o Mark trabalhou directamente com o John Bush e com o Bobby Blitz. Outro exemplo foi o Max Cavalera onde ele criou a sua parte no estúdio dele. A Floor dos Nightwish criou umas das minhas partes favoritas. Foi algo onde ela gravou um sample e enviou. Eu estava a ouvir a melodia e as letras, adorei e pedi-lhe para continuar. Falando de cantores, digamos que conseguiste juntar o Monte Olimpo dos cantores de metal. Como é que escolheste quem cantaria cada música? Inicialmente, relativamente a alguns, não tínhamos a certeza, mas foi ficando mais claro conforme as coisas foram avançando. Por exemplo na «The Accuser» vários poderiam a ter cantado. Primeiro compuseram as músicas e depois pensaram nos vocalistas? Sim, primeiro fizemos as músicas, depois fiz o padrão vocal e depois convidámos o cantor. Por exemplo o Blitz poderia ter cantado a «The Accuser». Ela seria diferente, mas para te mostrar que outros poderiam

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ter cantado as músicas. Mas acho que o Trevor Strand fez um excelente trabalho. Recordo-me de o ouvir nos The Black Dahlia Murder a fazer várias vozes e na gravação pedi-lhe para fazer determinada voz, mas que não cantasse como eu (risos), mas sim que seguisse aquele padrão. E o que ele devolveu, foi fantástico. Acho que na música com o Johan, não houve dúvidas porque ele tem um groove que quase conseguia ouvir os Amon Amarth a tocá-la. A do Max Cavalera, que é uma música muito tribal, também não houve grandes dúvidas. Depois de dois álbuns poderemos chamar os «Metal Allegiance» uma banda ou ainda um projecto secundário? Bem, nesta altura é difícil de dizer. Há momentos em que sentimos que é uma banda a 100%, noutros sentimos que é um projecto paralelo. Não o vejo dessa forma, embora as pessoas gostam de identificar uma pessoa com uma banda, sempre me vi como um músico mais abrangente. E não apenas no metal. Seja qual for o projecto em que estiver a trabalhar, nessa altura é o meu projecto principal. Em termos das letras, existe algum conceito na «Power Drunk Majesty»? Sim, é uma música política. Fala da corrupção e da integridade da política que nos Estados Unidos estão a ficar sem ética, dignidade e moral. Pessoalmente aplica-se mais aos republicanos que aos democratas, mas nestes últimos também encontramos exemplos disso. Já que referes a política. Gostas do Trump? (risos) É bastante óbvio. Creio que não consigo demostrar isso, já que se responder “não”, é um


eufemismo. Honestamente é uma das piores coisas que aconteceu na América a par da guerra civil e do 11 de Setembro.

Telecaster, uma Gibson L5 de 1976, e são guitarras com as quais passei muito, mas são limitadas quanto ao som que consigo tirar delas, ao contrário da ESP.

Também és o guitarrista de uma pequena banda chamada «Testament». Partilhas o teu equipamento entre estes dois projectos? Sim, definitivamente. A minha ESP personalizada é usada nos dois projectos. Nos «Metal Allegiance» creio que consegues ouvir melhor os meus riffs, não apenas os solos, e eu adoro tocar riffs. Mas alguns dos riffs vão soar diferentes, porque ouves a minha forma de tocar. Depois tens riffs que tem aquele toque de trash a lembrar um Scotty ou um Hetfield, outras são influenciadas pelos riffs de Randy Rhodes, ou por bandas de powermetal, ou Tony Iommi.

Um dos projectos paralelos que tens é o «Alex Skolnick Trio», tendo sido o último álbum, salvo o erro, em 2011. Tens ideia de lançar um novo trabalho no futuro próximo? Sim, daqui a 4 semanas. Devias falar com o nosso agente.

Uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos são os «Savatage». Se não me engano tocaste no álbum «Handful of Rain». Foi o primeiro álbum depois da morte do Chris. Que te recordas desse tempo. Chegaste a conhecê-lo? Sim, as nossas bandas fizeram uma digressão juntos. Eu era uma grande fã dos trabalhos iniciais dos «Savatage». É a história clássica onde as coisas poderiam ter acabado de outra forma e é pena não terem acabado. Se lhes perguntarem sobre o álbum «Fight for the Rock», eles dir-te-ão que não estão orgulhosos desse trabalho porque lhes foi imposto pela editora fazerem um trabalho mais comercial. Quando ouvi o álbum nem quis acreditar que era a mesma banda. Fui um grande fã e fiquei horrorizado quando recebi a notícia do Chris. Ao mesmo tempo fiquei comovido quando o irmão John quis que eu o substituísse. Inicialmente disse que não porque sabia que, a longo prazo, não o ia conseguir fazer, mas o John não quis saber e pediu-me para tocar naquele álbum, o que acabou por acontecer. Foi uma experiência que gostei bastante e, considerei manterme na banda, mas a única forma de o conseguir era se tivesse um papel criativo. Os «Metal Allegiance» são um bom exemplo onde para além de ser produtor, componho, faço os meus riffs, estás a ver a ideia? Nos «Testament» não faço isso, mas tenho o meu lugar. Nos Trio sou o produtor, o compositor principal. Nessa altura os criativos eram o John Oliva e o Paul O’neill e eu seria apenas o gajo dos solos. Se fosse uns anos antes teria aceitado, mas nessa altura já sabia que queria ter um papel mais criativo.

O que é que consideras mais difícil. Tocar metal ou jazz? Pergunta interessante. Para mim creio é mais difícil aprender jazz que aprender metal. Uma vez que aprendes a tocar jazz, para mim torna-se mais difícil tocar metal. O jazz é mais aberto o que faz com que, ao vivo, não tenhas de tocar sempre a mesma coisa. Podes improvisar e tocar mesmo algo completamente diferente e não há pressão e não problema, não há regras. No metal os concertos têm de ser semelhantes e isso é difícil, mas voltando ao aprender,… o aprender uma malha básica de jazz, um blues de Charlie Parker, por exemplo, é mais difícil que aprender a tocar a «Paranoid» dos «Black Sabbath».

Última questão. Um dos vossos antigos membros, o Eric Petersen tem uma banda desenhada, com influências de black metal, chamada «The Burner». Então e tu? Acho que era altura de teres a tua própria BD. (risos) Sim, podia ter um super-herói que fumava cachimbo. Isso teria piada. Creio que a minha cena fora dos «Testament» é a música. São os Trio, os «Metal Allegiance», os Jane Getter Premonition, trabalhar no Guitar Camp do Joe Satriani juntamente com o Steve Vai e o Eric Johnson. Não sinto a necessidade de outros produtos. Gosto de escrever! Escrevo para uma revista, já escrevi um livro, escrevo para blogs, já dei palestras em Universidades.

Se tivesses de escolher apenas uma guitarra, qual escolherias e porquê? Ui, essa é difícil. Creio que levaria a minha ESP AS, provavelmente porque nessa guitarra faço tudo. Tenho um set-up que faz com que, caso entenda, tenha o som de uma Stratocaster. Tenho umas guitarras vintage que não têm preço, como uma

Espero ver-vos brevemente em Portugal. Obrigado pelo vosso tempo e boa sorte. O prazer foi meu, obrigado.

Falando dos «Testament», para quando o novo trabalho? Estamos a terminar a digressão com os Slayer e é difícil nos concentrarmos na composição na estrada, porque os espectáculos esgotam-nos a energia toda. Mas estamos a pensar nisso, já escrevi algumas partes, o Eric também. Não vamos fazer mais nenhuma digressão. Vamos fazer um festival no México com os Alice in Chains, os Slayer, os System of a Down, depois em Dezembro temos outro concerto em Los Angeles, mas não vamos aceitar mais nenhuma digressão.

Metal Allegiance Youtube

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Playlist Carlos Filipe

Luciferian Light Orchestra - Luciferian Light Orchestra Overkill - Live at Overhausen Avantasia - The Metal Opera I & II Hammer King - Poseidon Will Carry Us Home Mob Rules - Beast Reborn Amorphis - Queen Of Time

Cristina Sá

Bölzer – Hero – Iron Bonehead Bonjour Tristesse – You Ultimate Urban Nightmare Decline of the I – Escape – Agonia Craft – White Noise Black Metal – Season of Mist Grabak – Bloodline Divine – Massacre Iskald – Innhøstinga – Indie Omrade – Nade – My Kingdom Slidhr – The Futile Fires of Man – Ván Records

Eduardo Ramalhadeiro

Tara Perdida - É assim Tara Perdida - Nada a esconder Omnium Gatherum - The Burning Cold Witherfall - A Prelude to Sorrow Nanowar of Steel - Stairway to Valhalla

Emanuel Leite Jr.

Arthur Verocai - Arthur Verocai Dimmu Borgir - Eonian Sepultura - Machine Messiah Kreator - Gods of Violence Imago Mortis - Vida: the play of change

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Ernesto Martins

Monstrosity - The Passage of Existence Rush - Different Stages Live António Pinho Vargas - As Folhas Novas Mudam de Cor Bolzer - Hero Suicidal Tendencies - The Art of Rebellion

Frederico Figueiredo

Entombed - Morning Star Old One - Old One Autopsy - Shitfun True Detective - Season 1 OST The Cavemen - The Cavemen Sleep - The Sciences

Gabriel Sousa

Ayreon — Ayreon Universe - Best of Ayreon Live Kamelot — The Shadow Theory Heart — Heart The Night Flight Orchestra - Sometimes The World Ain’t Enough TKO — Let It Roll

Helder Mendes

Faith No More - Angel Dust Morbid Angel - Covenant Ry Cooder - Paris, Texas Enslaved - In Times Aeternus - Heathen


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E

ssência Chega quase a ser visceral. «Marrow» suga-nos até à essência do que são os Madder Mortem. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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Olá Agnete, obrigado por responder às nossas questões. O lançamento do álbum está previsto para Setembro, já têm algum feedback ou reacção da imprensa? Agnete: Até agora as reviews têm sido muito positivas e os fãs parecem gostar dos novos temas que foram lançados, por isso, tudo bem até agora. As reviews vão começar a sair mais a sério agora, por isso vamos ver como corre. «Marrow» é o vosso 7º álbum e sucessor de «Red in Tooth and Claw». Após duas boas digressões com Soen, o que representa «Marrow» para Madder Mortem? Eheh – pergunta fácil e difícil. A resposta fácil é que este álbum é a representação musical de quem somos e do que queremos tocar neste momento. Mas vou tentar responder de forma mais profunda: Após a longa espera para lançar “Red In Tooth And Claw” em 2016, conseguir lançar este álbum tão cedo foi um alívio. Significa que as músicas são recentes e actualizadas. Significa também que não temos uma lista enorme de material para escolher para ser lançado, fica tudo mais limpo. Como o nome indica, “Marrow” significa “centro”, o núcleo do que somos e penso que a música neste álbum é um bom exemplo do que é Madder Mortem. Temos uma grande variedade de estilos musicais e influências mas o nosso som identifica-nos perfeitamente. Este álbum é complexo. Quais são as vossas maiores influências e como geriram as complexidades que vos levou a esta grande obra? As nossas influências são demasiadas para serem listadas, ouvimos vários estilos musicais diferentes e tudo nos influencia, embora não tomemos uma decisão consciente em seguir um estilo. Regra geral, seguimos as ideias que nos surge. Testamos várias formas diferentes de tocar certas ideias e em seguida escolhemos a que nos agrada mais. As influências são uma ferramenta importante

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para resolver certas questões instrumentais ou do som para um riff em especial. Um exemplo disso é o refrão em “Moonlight Over Silver White” onde quisemos recrear o ambiente da música de Angelo Badalamenti em “Twin Peaks” já que somos todos grandes fãs de Lynch. Essa decisão tornou a coisa mais fácil para chegar ao som, com os efeitos na guitarra e a melodia da voz. Mas uma influência mais geral para este álbum será o heavy rock dos anos 70, sem haver uma banda específica, mas o som dessa altura parece mais orgânica e trabalhada. Há muita qualidade na música dessa altura e quisemos captar esse sentimento o que significa não fazermos demais no que toca a produção e gravação – também deixamos claro algumas ideias para a produção final. As letras em «Morrow» seguem algum conceito? Não, não é conceptual. As músicas partilham um mesmo sentimento de alguma forma e há ideias e temas comuns entre elas. Um dos temas é a ideia de conto-defada que se pode encontrar em “Moonlight” e “White Snow, Red Shadows” (e talvez um pouco em “Waiting To Fall”). Outro tema recorrente é “sê quem és, mesmo que custe”, nos temas “Liberator”, “My Will Be Done”, “Marrow” e “Stumble On”. Outras músicas falam sobre amor e dor, em “Until You Return” and “Far From Home”. Se teria de escolher um tema mais global nas nossas músicas, diria “como a liberdade e a segurança são duas forças opostas nas nossas vidas”. Não fizemos nada de conceptual desde “Deadlands” mas tenho pensado muito nisso, ultimamente. Gostaria de trabalhar nisso em breve. A capa está muito conseguida, quem é o artista por detrás dos gráficos? A base são ilustrações desenhadas à mão do artista norueguês Thore Hansen. É o meu artista favorito (e dos Madders) desde criança, portanto conseguir ter trabalhado

com ele para a capa do nosso disco foi um feito inacreditável. Gostei muito do resultado, os seus desenhos têm um toque anos 70 por isso pensamos que iria encaixar bem. Mr. Hansen tem sido uma grande inspiração para nós, a música e letra do tema “He Who Longed For The Stars” do álbum “Mercury” foi inspirado pelo seu livro com o mesmo nome. O tema “The Eighth Wave” de “Eight Ways”, foi inspirado por um livro ilustrado de crianças de Hansen que eu e o BP adoramos quando crianças. O livro é sobre o mito de um alemão voador, onde presa a solidão. Há um particular desenho em que mostra tão bem essa solidão, cansaço e desespero que as minhas letras reflectem isso, tentando descrever essa imagem. O artista Costin Chioreanu pegou nos esboços de Hansen e trabalhou na parte gráfica deste álbum, penso que fez um trabalho incrível passando para digital a versão original. Costin também fez o nosso primeiro vídeo, uma animação para “Far From Home”, por favor dêem uma vista de olhos, temos muito orgulho nesse trabalho. E como se relaciona este artwork com a música e as letras? Pensamos que é melhor deixar total liberdade a artistas deste calibre, por isso enviamos algumas músicas e letras ao Thore Hansen e detalhes de trabalhos nossos anteriores, apenas pedimos-lhe para fazer o que bem entendesse. Por isso não posso responder pelo Thore mas pessoalmente acho que os gráficos oferecem uma mais vasta margem para interpretação da música e da letra, o que é sempre positivo. O teu irmão produziu o álbum e fez um óptimo trabalho, como é trabalhar com ele como produtor e músico? Hehe, deverias perguntar a outra pessoa porque eu não sei como é trabalhar sem ele! Quero dizer, como somos irmãos há um respeito diferente. Sabemos que podemos


contar um com o outro mas por outro lado conhecemo-nos tão bem que podemos partir logo para a discussão onde, provavelmente, com outra pessoa tentaríamos ser mais cordiais. Mais do que isso, partilhamos a mesma ideia: queremos fazer a música que faz sentido para nós, da melhor forma que podemos e com base nos nossos princípios. Isso significa uma carrada de trabalho para o

BP, mas honestamente penso que mais ninguém conseguiria o mesmo resultado, porque ele conhece profundamente a música, até ao ínfimo detalhe. Como músico, gosto mesmo que ele seja teimoso e que não abandone até ter conseguido mesmo que isso signifique mais ensaios. Quando compomos, trabalhos sempre todos juntos como banda e por vezes é complicado aguentar os

longos ensaios onde tentamos chegar a algum sítio com uma música. BP é bom a trazer-nos de volta á realidade, á intensão original da música. Penso que estiveram em Portugal no ano passado, com os Soen, tive a sorte de poder estar lá. Têm algum plano para tocar de novo em Portugal? Talvez como cabeça de cartaz, talvez?

[...] este álbum é a representação musical de quem somos e do que queremos tocar neste momento.

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Não está previsto, mas vamos tentar voltar ao Porto e Lisboa o mais cedo possível, talvez este outono ou no Natal. Esses concertos foram muito bons, adoramos tocar aí por isso adoraríamos voltar. Vamos fazer uma pequena digressão como cabeça de cartaz este outono, mas a distância não nos permite ir de autocarro até Portugal, por isso talvez um voo num fim-desemana. Poder ser cabeça de cartaz seria óptimo, temos várias músicas longas, um set maior iria nos permitir mostrar melhor o que fazemos e também dá ao público mais capacidade de processar as músicas. Vi no vosso site que estão a organizar um crowdfunding “ Become a part of the

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madder mythology”, como vai funcionar? Neste momento falta uma semana para terminar a campanha, estamos a tentar chegar aos 150% do nosso objectivo inicial, o que é altamente! Estamos completamente subjugados pelo apoio dos nossos fãs e pela comunidade metal. O nosso primeiro álbum “Mercury” celebra 20 anos em 2019 e gostaríamos de o re-editar com um disco extra com novos temas e re-estruturação de anteirores. Também estamos a planear um concerto aniversário especial, se

conseguirmos atingir os 150% vamos realizar um documentário sobre a nossa longa história. No crowdfunding podes comprar CDs, artigos raros e outro merchandise por isso se esta entrevista sair antes de acabar, podem ir lá dar uma vista de olhos. O melhor desta campanha foi reatar com os nossos fãs e a comunidade metal. Após a longa espera da saída de “RITAC” muitos fãs pensaram que nos tínhamos separado, por isso foi uma óptima forma de mostrar que ainda cá estamos. Faz-nos falar com pessoas que se interessam mesmo pela nossa música e os nossos fãs são tão eclécticos que tem sido um prazer enorme e muito inspirador trabalhar neste projecto – mas também com longas e frustrantes noites a editar vídeos.


Aqui está o link: https://igg.me/at/ madderanniversary Uma descrição que pode ser mal recebido por alguns artistas é “Female Fronted Band” - isto porque não se usa “Male Fronted Band”. O que achas desta etiqueta? Meh – o que dizer? Não gosto de etiquetas em geral e penso que nunca encontramos uma que nos descreva. Prefiro que nos descrevam usando a palavra “progressivo” porque gosto da abertura que esse nome carrega, nos dias que correm. Em relação ao “Female Fronted”... bem, sou mulher, é uma descrição correcta do género de um dos membros da banda, mas não diz absolutamente nada sobre a música que fazemos. A parte “fronted” também não percebo, somos uma banda, uma unidade, não há frente nem trás, somos todos igualmente importantes. Ok, geralmente destaco-me em palco em que coloco-me em frente mas é mais uma questão prática do que outra coisa. Sou também geralmente a porta-voz da banda mas isso é devido aos meus estudo em línguas e ser um membro fundador da banda. Por isso é tecnicamente correcto mas é pouco informativo no que toca á música que tocamos, a meu ver. Dantes chateava-me mais estas coisas, mas tem a ver com o facto de a cena ter mudado

nos últimos anos, pois há mais bandas de metal com mulheres vocalistas, por isso não tem tanto a ver com a cena “a bela e o monstro” que tanto me incomoda. Mas desilude-me um pouco. Vejo o mundo do metal como a música da rebelião e fico triste de ver o metal influenciado por conceitos mainstream. Podemos e devemos ser melhores. E para mim isso passa por não ligar tanto a etiquetas e concentrarmo-nos na música. Tu ou a banda alguma vez passaram por alguma forma de descriminação ou dificuldade relacionada com géneros? Sim e não. Penso que sofremos menos do que outras bandas, mas notamos alguma tensão. Nunca sofri muito com outros músicos, o que aconteceu foi ter encontrado pessoas demasiado simpáticas prontas a ajudar e carregar com material que eu própria seria perfeitamente capaz de carregar (tenho 20 anos de experiência). É mais sobre como certas pessoas falaram de nós, dando mais importância ao facto de eu ser mulher do que à música que fazemos, o que é uma grande desilusão. Um exemplo disso foi uma vez um jornalista de um canal de TV insistir em comparar o lançamento de um álbum com ter um filho, mesmo depois de eu ter insistido que não tenho

crianças e que a metáfora não era muito apropriada. Pareceume que essa foi a única forma dessa pessoa relacionar-me com o processo criativo de escrever e lançar álbuns. Não me parece que ele tenha a capacidade de perceber que as mulheres tenho outras referências que não o lar e criar crianças. Tive a minha dose de presunções de outros, que não percebo do que falo, sobre material e compor música, isso deixa-me fora de mim. Considero-me uma boa vocalista e porta-voz, mas não sou nenhuma modelo. De certa isso pode-me ter facilitado certas coisas, certas pessoas poderão pensar que consegui chegar onde estou graças a mérito-próprio e não pela minha beleza física. Mulheres mais reservadas talvez tenham tido mais dificuldades do que eu, no meu caso, a minha posição na música e em palco é mais forte, nunca “fui escolhida” - sempre fiz as minhas escolhas e isso reflecte-se na nossa banda. Não é porque nada de grave me aconteceu posso dizer que o mundo do metal não seja reaccionário e misógino. É triste e patético, espero que esses factores se diluem à medida que evoluirmos. Agrada-me o facto que a minha presença incomode algumas mentes mais conservadoras. Na verdade, o que seria do metal sem provocação? Youtube

Madder Mortem

Prefiro que nos descrevam usando a palavra “progressivo” porque gosto da abertura que esse nome carrega. Youtube

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Foi com alguma estupefacção e alegoria, mas não surpreendido, que fiquei a saber que Steven Seagal foi nomeado por Vladimir Putin “enviado especial da Rússia para os EUA”. De facto, nada melhor que enviar o senhor pancadaria para colocar as relações Rússia-EUA na ordem, e desancar forte e feio no Donald Trump sempre que este pisar o risco. Alias, só me lembro da famosa cena do “Em terra Selvagem”, na qual Seagal educa o seu oponente com uma maravilhosa reinterpretação do jogo da sardinha, maravilhoso que seria cena idêntica, mas agora com Seagal e Trump. Steven Seagal tornou-se cidadão da Rússia em 2016 e é um amigo pessoal do Presidente da Federação Russa, e quem sabe, seja este o culminar da carreira do actor americano, agora também cidadão Russo. Nenhuma notícia poderia ser melhor para passar em retrospectiva a carreira de Steven Frederic Seagal e perceberem o que fez, deste praticante de artes marciais, numa das figuras mais marcantes do cinema de acção dos anos 80 e 90. Tomei conhecimento com esta figura nos primeiros filmes de Seagal, Nico – À margem da lei (Above the Law, 1988), Duro de Matar (Hard to Kill, 1990) e Marcado para Matar (Marked for Death, 1990). A sua forma peculiar de distribuir pancada, sempre controlando a acção e usando o movimento do opositor como contragolpe subtil e eficaz, com o intuito de partir ossos sem nunca ser atingido pelos adversários e perder a postura. Pura elegância de movimentos de artes marciais. Estes três primeiros filmes, deram o mote para o herói de acção, herdeiro de um Chuck Norris – que já ia com 2 décadas de cinema – mas intocável e repleto de um discurso moralista, um actor algo limitado, mas com presença e carisma no ecrã, que o tornaram a figura que o é hoje, escamoteando assim esta fraqueza artística de representação. Mas como é que alguém não predestinado para o cinema, acaba como um actor incontornável e de renome mundial? Tudo começou, quando Seagal, conhecido entre os seus adversários da América do Sul como o “La Tortuga” devido ao seu estilo peculiar de lutar com movimentos lentos, mas eficazes, foi para o Japão aprender Aikido, tornandose 7º Dan. Lá, foi o primeiro ocidental a ter permissão para abrir uma escola de Aikido – isto já eu sei há mais de 20 anos! Além do Aikido, Seagal é cinturão preto de Judo, Kungfu, Kendo, Karaté, Krav Maga e Muay Thai. Com todo este saber da arte das lutas corpo a corpo, não foi surpreendente o facto de Seagal abrir uma agência de segurança local e começar a treinar as forças policiais japonesas e agentes da CIA e militares americanos. A questão de “ter sido agente da CIA” era um voxpop recorrente nos anos 90 e até visto como um mito urbano do actor norte-americano, quando na realidade ele “aparentemente” trabalhou com a CIA, não estando claro em lado nenhum que tenha sido “Agente da CIA”. Depois de regressar aos Estados Unidos, Seagal aplicou a mesma fórmula do ensinamento e assim começou a trabalhar com os agentes do cinema, como coordenador de cenas de acção em filmes como 007- Nunca Digas Nunca (Never Say Never, 1983) ou O Grande Desafio (The Challenge, 1982), culminando no seu primeiro filme, Nico – À margem da lei (Above The Law, 1988). Seagal entrou com o pé direito no cinema, pois os seus 3 primeiros filmes, foram bem-recebidos e tiveram um grande sucesso, estabelecendo-o como um dos

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La Tortuga principais actores de acção da sua época, apesar dos papéis serem sempre os mesmos em contextos narrativos diferentes. Alias, a verdadeira personagem de todos os filmes é ele próprio, não a que o argumentista escreveu no argumento. Os anos 90 foram anos de ascensão e afirmação de Seagal como irredutível actor de artes marciais, cimentando o seu estilo “wise guy” (chico esperto) da porrada, tendo tirado um mestrado a “aviar” murros e partir braços e pernas aos seus oponentes. A partir de meados dos 90, Seagal começou a passar a sua mensagem ecologista e moralista do respeito pelos outros, pelas minorias. Os filmes são hoje clássicos do género de acção, tendo para mim atingido o expoente máximo com “Em Terra Selvagem” (On Deadly Ground, 1994). A segunda metade dos 90 foi de altos e baixos com filmes fraquíssimos como “Força em Alerta 2” (Under Siege 2, 1995) ou “Corrupção Total” (Fire Down Below, 1997) mas tendo feito filmes decentes como “O Homem Que Brilha” (the glimmer man, 1996) ou o que é para mim o último decente filme do homem, “Fogo Cerrado” (exit wound, 2001). A partir daqui, tal como outros actores de acção da mesma época de Hollywood, o cinema de Steven Seagal perdeu interesse à medida que ele foi ganhando peso, tendo a sua figura se tornado cada vez mais patética como actor de acção pois, com o peso excessivo, perdeu a credibilidade física como lutador de artes marciais. Assim, muito por culpa própria, devido às escolhas que fez de entrar em filmes menores, que, o que queriam mais era explorar a sua imagem para venderem uma treta qualquer de filme, Seagal afundou-se com a chegada do novo milénio. Não queria deixar passar a sua estranha participação no filme “Decisão Critica” (Critical desition, 1996), no qual partilha a vedeta com Kurt Russell, onde inexplicavelmente e de forma surpreendente a meio do filme, morre, quando tenta entrar no avião que foi alvo de desvio, através de um F117 stealth que se “colou” por baixo. Além do cinema e das artes marciais, Seagal também foi polícia para um reality show, de polícias, em “Steven Seagal: Lawman”; cantor, tendo editado 2 álbuns em 2005 e 2006, e tendo sido premiado com um punhado de Framboesa de Ouro. Cometeu o erro de não aceitar um papel nos mercenários do Sylvestre Stallone – só lá falta mesmo ele e o Rugter Hauer – e está prestes a entrar na sequela do filme que o lançou, Nico 2 (above the law 2, anunciado). Apesar do excelente actor canastrão que foi, Steven Seagal ficará para sempre nos anais do cinema, pelo seu estilo de luta e presença inconfundível e carismática no grande ecrã, a forma única, eficaz e limpa como defronta os oponentes e claro está, apesar de tudo, um punhado de bons filmes de acção que protagonizou. Actualmente, é mais conhecido pelas posições políticas que toma, ou os líderes que apoia, o qual culminou com a cidadania russa.

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A vida é um vazio… 3 6 / VERSUS MAGAZINE


… que só a criação artística pode preencher, segundo Vaerohn, o cérebro de Pensées Nocturnes. Entrevista: CSA

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“O

palhaço trágico ou triste encarna relativamente bem as numerosas dualidades e oposições inscritas no projeto artístico de PN […]”

Foto: Lukas Guidet

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Parece que gostas muito de palhaços… ou, se calhar, nem por isso. [O palhaço no logo da banda parece-me muito bem.] Qual destas duas hipóteses corresponde à realidade? De onde vem este amor… ou desamor? Os fãs não estranham a associação de um palhaço – geralmente visto como uma personagem cómica – ao Black Metal – normalmente considerado como sinistro? Vaerohn – O palhaço trágico ou triste encarna relativamente bem as numerosas dualidades e oposições inscritas no projeto artístico de PN: choro/riso, Belo/ Feio, confiança/medo, rigor/ loucura, carinho/violência, etc. O homem não é um ser binário, que acolha alternadamente a cólera, a alegria, a frustração, a loucura ou o amor, antes experimenta tudo isto ao mesmo tempo. Temos aqui uma espécie de amálgama complexa, que gera uma dinâmica, com as transições entre estes estados a encarnar em estilos aparentemente muito diferentes, mas, na realidade, relativamente semelhantes. O teu Black Metal é muito original. - De onde tiraste a ideia de combinar instrumentos de Metal (guitarra, bateria) com instrumentos de circo ou até clássicos (neste último caso, o piano, por exemplo)? - Onde é que aprendeste a tocar instrumentos de sopro? Sozinho, pouco a pouco, tal como aprendi a cantar e todos os outros instrumentos. Por tentativa e erro, experimentando, testando. Tentar e aprender fazem parte do prazer que experimento, quando estou a compor. Como qualquer pessoa sã que se respeita a sui própria, a minha vida é uma luta permanente contra o tédio. Estamos incessantemente à procura da novidade, daquela sensação que ainda não experimentamos, da sonoridade inédita, da composição original, de instrumentos inusitados.


Oponho-me em absoluto à perfeição, representada, por exemplo, pela mestria inigualável num dado instrumento. Trata-se de algo que demora demasiado tempo a atingir e que exige que se faça e refaça incessantemente os mesmos movimentos, as mesmas ações. Significa estar sempre a experimentar as mesmas sensações… dá para enlouquecer. O Homem não é perfeito, logo essa demanda da excelência não me diz nada, não é para mim, não me atrai. - Como fazes para apresentar este tipo de música durante os concertos? [Deves precisar de muitos músicos, uma vez que não recorres a samples.] Tudo passa pela procura da fluidez e da coerência, que pode levar-me a dar total liberdade aos outros músicos. É preciso saber esquecer os elementos que produzem efeito no estúdio, mas que funcionam no palco e ser suficientemente inteligente para acrescentar à música elementos-chave que, à partida, não têm interesse quando está no estúdio. Tentar alcançar a eficácia, em vez de reproduzir estupidamente os álbuns de estúdio com samples que não têm vivacidade e outro intermináveis. A ideia é dar uma segunda vida a estas composições. Queremos mesmo limitar ao máximo o uso de samples e recorrer sobretudo a verdadeiros instrumentos, quando subimos ao palco. - E – por falar de estar no palco – não se pode dizer que a tua música é ao mesmo tempo épica (portanto narrativa) e trágica (ou seja dramática)? De facto, tentamos criar um verdadeiro espetáculo – com princípio, meio e fim, desenvolvimentos e contracorrentes no meio, etc… sem pôr de parte a componente de Black Metal melancólico, mesmo francamente depressivo, com uma perspetiva ao mesmo tempo despreocupada e refletida, traduzindo um posicionamento são e neutro relativamente a esta cena, a esta sociedade, a esta vida.

De que nos fala «Grotesque»? Diz-nos que a vida não tem nenhum significado profundo, é desprovida de verdade absoluta, de finalidade determinada. Estamos condenados a criar um vazio, a agitar-nos durante um período que nos foi destinado antes de cairmos no esquecimento. Uma tal conceção do mundo permite libertar-se dos constrangimentos que nos são impostos, recriar-se a si próprio, fazer um molde à nossa medida durante algumas semanas, no máximo alguns meses. A batalha está perdida desde o início, por isso é preciso troçar da vida e ridicularizar o mundo. «Grotesque» é tudo isso. Podes fazer-nos uma visita guiada do álbum e explicar como decidiste que tipo de ambiente irias dar a cada faixa? [É mesmo preciso ouvir o álbum várias vezes para tomar consciência de toda a sua profundidade.] Infelizmente, há mais de seis anos que não ouço este álbum… Parece-me inútil estar a discorrer sobre esse trabalho, sobretudo porquem, entretanto, saíram quatro outros álbuns, cada um com uma trajetória diferente: «Ceci Est de la Musique», «Nom d’une Pipe», «À Boire et à Manger» e «Grand Guignol Orchestra», que deverá ser lançado muito em breve. Assim que o álbum é publicado, deixa de ter interesse para mim, O que importa mesmo é o processo de composição e de criação. São momentos privilegiados de comunhão entre o artista e a sua obra, que eu procuro. O produto final não me diz nada.

A associação intempestiva de elementos que fazem parte de universos completamente distintos que ele pôs em ação nesta imagem e com a qual conseguiu obter um efeito que, paradoxalmente, parece natural, surge aos meus olhos como a melhor representação visual possível do espírito do álbum. É uma metáfora da robotização da humanidade moderna, de que nós fazemos parte, uma espécie de amálgama incongruente de elementos aparentemente sem relação uns com os outros que convivem num mesmo espaço para dar uma sensação subtil de insanidade. A LADLO tem o grande dom de escolher bandas que fazem mesmo a diferença na cena. Prevês continuar a trabalhar com eles? O Gérald, o chefe da LADLO, é um bom amigo e, assim sendo, pareceu-nos normal começar juntos esta aventura. Os dois primeiros álbuns de PN foram também os dois primeiros lançamentos da LADLO e esta contribuiu claramente para fazer de PN a banda que é atualmente. Depois os nossos caminhos divergiram um pouco, quando a LADLO começou a orientar-se para as variantes mais modernas do Black Metal, enquanto PN se mantinha fiel ao passado. Mas não está fora de questão a ideia de virmos a trabalhar juntos no próximo lançamento. Youtube

PNRecords

A capa é assaz intrigante e faz-me pensar nas primeiras fases da obra de Picasso, que também tomou o circo como tema. - Quem a criou para ti? De que forma representa ela o espírito do álbum? O layout é da 3-Crosses, mas a ilustração é da autoria de Stephen Rothwell, um artista britânico que se move num universo paralelo, de pesadelo, assaz grandiloquente.

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A arte da desobediência Para Peosphoros, é esta a essência da verdadeira arte, na música ou em qualquer outro campo. Entrevista: CSA & Ernesto Martins

CSA – Têm alguma história musical antes de terem fundado Peosphoros? Peosphoros – Sim, Antes, durante e depois. Consulta a Metal Archives. Também tenho uma carreira cinematográfica e na pintura e dirigi uma editora discográfica. CSA – O que significa o nome da banda? “Peosphoros” é um jogo de palavras feito a partir de "Eosforos/ Eosphoros" (aka Lucifer). “Peos” significa “pénis” em grego, portanto Peosphoros literalmente significa “aquele que tem um pénis”. CSA – Veem-se como uma verdadeira banda? Ou são simplesmente um ato provocador? É verdade que nos apresentámos como uma “banda” em muitas ocasiões. Também dissemos que somos politicamente correto e LGBTQMN. Talvez seja verdade, quem sabe! Penso que somos um projeto artístico multimédia (também fomos promovidos dessa forma). Hás-de constatar que

fizemos mais vídeos do que música. De qualquer modo, nunca consegui perceber a obsessão pelos rótulos. Se a minha sobrevivência dependesse de escolher um dos dois que referiste, eu escolheria a designação “ato provocativo”, o que quer que isso seja. Parece mais artístico e divertido que “uma verdadeira banda”. Ernesto – Vocês dizem frequentemente que são “edgetivists”. O que significa esse termo? Que usamos os limites como uma forma artística. Os artistas têm de suportar o pesado fardo de aturar idiotas unidimensionais a que chamam o público e que pensam que uma obra de arte pode sempre ter um verdadeiro sentido que se resume num enunciado. Como é que as pessoas se atrevem a fazer perguntas a David Lynch acerca do “significado” dos seus filmes! Dá-me vontade de os esbofetear usando o “Finnegans Wake”. Mas, recentemente, em vez de ultrapassarem esta

idiotice, as pessoas levaram-na ainda mais longe com a moda do “politicamente correto”. Como se, só por cantares canções sobre matar mulheres, tivesses de ser forçosamente misógino, ou, por cantares sobre matar judeus, tivesses de ser um nazi. E as pessoas que ouvem Goregrind? São psicopatas? O “Edgetivism” consiste muito simplesmente em fazer trabalho que infringe os limites, para lembrar aos cérebros mirrados do público atual que não precisas de ser um psicopata para fazer arte extrema, usar o extremismo para dizer algo sobre a sua arte. Quando o “politicamente correto” passar de moda, já não será necessário fazer “edgetivism” e o artista poderá focar-se mais no que quer conhecer melhor sem ser julgado por pecadilhos. CSA – Não têm receio de que as pessoas vos confundam com uma banda de Glam Rock por causa do vosso visual? Muito. CSA – Então, o que é Pink Metal? E contra o Black Metal? Pink Metal é um espelho multifacetado, que reflete o Metal extremo da actualidade. Sobretudo o Black Metal, que supostamente é a versão mais “inumana” do Metal extremo. Disfarçam-se de marginais a fazer arte perigosa e

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juntos. Preocupamo-nos mais em trazer o extremismo à cena do que com o que vestimos. Ernesto – Estão de acordo com a designação de Experimental Black Metal que é usada para descrever a música de Peosphoros? Realmente, não ligo nenhuma a rótulos, na minha opinião, só são úteis nas lojas de música. Suponho que nos atribuem essa designação de Experimental Black Metal na Metal Archives e na Metalstorm.net, porque só têm alguns rótulos disponíveis e esse é o que se aproxima mais do nosso estilo. Muitas bandas a quem aplicam a designação de Black Metal não fazem esse tipo de música, nós somos mais uma nessa situação. Mas prefiro a vossa designação de Glam Rock do que a de Experimental Black Metal. Essa designação faz pensar em bandas de Jazz Metal bem hipster com letras sobre palermices satânicas que não arriscam nada. Piada à parte, chamem-nos o que quiserem, porque isso não me interessa para nada.

[…] Penso que somos um projeto artístico multimédia […] Hásde constatar que fizemos mais vídeos do que música. […]

profunda, mas a única coisa que sabem fazer é Metal seguro, que é cuidadosamente editado por eles mesmos, para não serem banidos. Onde estão os artistas de Black Metal verdadeiramente marginais e assassinos, que nem sequer se preocupavam com a ideia de ir para a prisão, quanto mais com a ideia de serem banidos das redes sociais e de alguns festivais de meia tigela? Os seus fãs deixamse enganar pelo seu rótulo “Black”

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ou “Death”, que acaba por ser uma espécie de moda. Usem roupa preta e digam “hail satan” e os vossos fãs pensarão que sois marginais, sem vocês terem de assumir nenhum risco. Pink Metal somos nós a denunciarmos a mascarada dos supostos “marginais” imbecis, maricas e vestidos com todas as cores do arco-íris, enquanto fazemos música com letras mais extremas do que tudo o que eles possam fazer todos

Ernesto – Uma das críticas que vocês fazem ao Black Metal é o facto de se oporem apenas ao Cristianismo e de raramente mencionarem o Islão. Parece-vos que as bandas de Metal deviam ser mais ousadas em relação ao Islamismo? Eu sou contra a falta de originalidade concetual que caracteriza a arte “extrema” atual. Quando critico o facto de evitarem referir-se ao Islamismo (quer pela positiva, quer pela negativa), já que supostamente se opõem tanto à religião, estou a dar um exemplo do facto de que gostam de se manter longe de assuntos controversos, de que se preocupam mais com venderem o seu trabalho do que com o facto de ser extremo, de que se autocensuram. Portanto, quando os critico a propósito do Islão, não é por causa do Islão, mas sim devido à sua autocensura. O mesmo comentário se aplica


ao facto de se absterem de se referirem a qualquer assunto que possa levá-los a serem “banidos”. Ernesto – Tencionam continuar a criticar o Islão nos futuros álbuns de Peosphoros? É claro que estamos sempre a troçar do Islão, mas também sentimos admiração pelos seus aspetos extremos. Criticar e apoiar o Islão é um tema presente no nosso trabalho neste momento, mas que deixará de nos interessar no dia em que as pessoas se desinteressarem do Islão como aconteceu ao Cristianismo. CSA – As vossas letras chamam a atenção por várias razões. - Algumas parecem listas de frases que podemos ouvir na TV quando as pessoas querem usar linguagem porca (por exemplo, em “Britney Therapy”). O que pensas disto? “Fuck my pussy daddy, tie me up and lash me like Islamic torturers” “be my fuhrer and let me be your Jew son, fill the room with your gas until I pass out then holocaust my ass back to consciousness” Gostava de ver essa TV de que falas. É em Portugal? Até instalava o satélite só para ter acesso a ela. - Outras assemelham-se a manifestos daqueles que eram muito populares entre os movimentos artísticos do início do séc. XX (por exemplo, “Prostitutes Must Die in Genocide”). Concordas? Essa canção foi obviamente influenciada pelo tipo de manifestos a que te referes, mas também é evidente que faz troça deles. Subverte a lógica rançosa do manifesto tomado no sentido académico, defendendo o regresso à liberdade primitiva da arte. Podes escrever todos os manifestos que quiseres, mas glorificar Peter Scully na arte é algo que exige que tenhas tomates. Frequentei uma data de escolas de arte, logo tive a oportunidade de me fartar dos manifestos. Todos esses manifestos foram escritos para parecerem “extremos” e “ativistas”, sem se correr nenhum risco. Finges

que te preocupas com os direitos humanos, etc. no teu trabalho. Portanto, a letra dessa canção é um verdadeiro anti manifesto. - “Multiculturalism Is Genocide” inclui uma lista de ideias semelhantes ao que se pode encontrar quando se ouve pessoas a falar em lugares como cafés, comboios ou o metro. Estou a pensar em versos como “Listen guys there is a genocide on white race/ Muslims are having so many children/White people are having less and less babies”. O que te parece este comentário? Talvez eu frequente cafés com mais nível, onde não ouço frases desse estilo. Mas, de facto, textos dessa natureza são uma espécie de antologia de um certo tipo de comentários imbecis que podes encontrar na internet. No entanto, justapõem diversos extremos, não adotam uma perspetiva única, antes combinam vários ângulos. Na sua essência, essa canção trata da idiotice do extremismo e das reações idiotas ao extremismo, que inclui nomeadamente a censura. Ernesto – Num vídeo, vi-vos a afirmar que apoiavam minorias como os Nazis e os pedófilos. Mas depois li algures que fazem estas afirmações bombásticas, não porque acreditem nelas, mas para “sublimar a energia através da arte”. O que significa isso? É algo que até tenho vergonha de ter de explicar. Para começar, até fiquei muito perturbado por sentir a necessidade de escrever essa frase. Quando as pessoas leem algo sobre letras gore, têm consciência de que aquilo é arte, mas parece que ainda precisam de evoluir um pouco mais para compreender que eu não tenho de ser um nazi ou um pedófilo para fazer arte pondo-me na pele dessas personagens. Mas eu acredito na evolução, portanto tenho esperança de que os artistas não terão de responder a esse tipo de perguntas daqui a 10 anos. Por favor, faz uma pesquisa no Google sobre o tema “sublimação na psicologia”.

Ernesto – Na vossa página na web escreveram “artists who aren’t pushing boundaries are doing nothing”. Acreditam que Peosphoros está a alargar as fronteiras da música? E de que maneira? Perguntar se Peosphoros está a alargar as fronteiras da música é uma redundância, tendo em conta a minha declaração sobre o papel dos artistas na redefinição dos limites da arte. Mesmo assim, vou responder à tua pergunta. Posso dizer-te que, com este nosso álbum, subvertemos o subgénero do Metal extremo com vocais gay estranhos, tal como o Black Metal subverteu o Death Metal com gritos estridentes, que, naquela altura, eram tão ridículos como os nossos vocais, devido à sua originalidade no contexto em questão. Também posso dizer que conseguimos fazer um álbum de Metal extremo usando apenas uma pista de baixo. Mas já percebeste que não é isso que interessa no nosso álbum. Certamente já te passou pela cabeça que eu estava a falar de pôr em causa tudo o que é social ou profissionalmente aceitável e que essa contestação não diz respeito apenas a um aspeto da arte. Um artista pode alargar os horizontes pegando em qualquer aspeto da sua arte. Não há dúvida nenhuma de que David Lynch alargou os horizontes do cinema, mas não o fez focando-se em aspetos como a cinematografia, o trabalho da câmara ou de edição, que são os constituintes básicos dessa arte. Focou-se essencialmente na dimensão concetual, tal como nós fazemos. Compreendes? Além disso, não há fronteiras na música. Elas são criadas e impostas por outrem, ninguém ousaria tentar deter-te, mesmo que tu tentasses fazer a música mais inconcebível que se possa imaginar. Fiz alguns álbuns com Viranesir («Kill Your Repulsive Child», «Shoot On Mom’s Corpse», etc.) tão inusitados que estou disposto a pagar um milhão de dólares a quem me trouxer algo parecido, mas ninguém tentou

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deter-me e eu não corri risco absolutamente nenhum ao fazêlos. Atualmente, os limites situamse no domínio concetual e é aí que deve atuar o artista que quiser alargar os horizontes, na minha opinião. Se algum dia alguém decidir que só é permitido fazer música 4/4 e banir tudo o que é progressivo, é dever do verdadeiro artista desobedecer. Ernesto – Em termos de conteúdo lírico, qual é a diferença entre levar mais longe os limites e cantar sobre tudo quanto seja chocante e perverso? Levar os limites mais longe não é uma qualidade objetiva, ao contrário do que acontece com “shocking and nasty shit”. O que era “shocking and nasty” há 10

anos, já não o é e vice-versa. Algumas coisas podem perder ou ganhar o estatuto de formas de alargar os horizontes. Penso que o Sid Vicious poderia usar a sua t-shirt com uma suástica na Inglaterra atual sem se arriscar a ser preso e que os Slayer poderiam ter escrito “Angel Of Death” sem se arriscarem a ser expulsos pela sua editora e a ver a sua carreira comprometida. “Edgetivism” tem a ver com levar mais longe os limites que definem o que é extremo na arte. Toda a obra que pareça “shocking and nasty” está a alargar os horizontes da arte do seu tempo. Deixa-me dar exemplos fáceis de compreender para te mostrar que se trata basicamente de uma questão de tempo. Se alguém escrevesse as letras de

Peosphoros numa altura em que não havia resistência, como mos anos 80, não estaria a pôr em causa os limites da sua época. Nos anos 40, era dever do artista fazer obras de arte comunistas, que, na altura, seriam “shocking and nasty”. Mas, hoje em dia, a arte anda a sofrer às mãos de elitistas que fazem a virtude, impõem a sua ideologia (suposto feminismo, suposto multiculturalismo, suposto victimismo) destruindo as vidas e as oportunidades de artistas inocentes. Portanto, ousares apresentar-te com a tua ultrajante t-shirt com uma suástica, como fez Sid Vicious, é mais importante para a afirmação de um artista no mundo atual do que em qualquer outra época. É uma maneira de mostrar às pessoas que a arte não é lugar para culpas e condenações. Se daqui a 5 anos, esta cultura do “politicamente correto” acabar e as pessoas começarem a dar prémios a filmes patrióticos e que esse tipo de cultura passe a dar valor aos artistas que a adotam, então será meu dever compor música sobre queimar bandeiras e saudar a memória de Che Guevara. Isto é que é a verdadeira oposição, a essência do satanismo e a origem do Black Metal!

Peosphoros Youtube

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[…] O “Edgetivism” consiste muito simplesmente em fazer trabalho que infringe os limites, para lembrar aos cérebros mirrados […] que não precisas de ser um psicopata para fazer arte extrema. […]” 4 5 / VERSUS MAGAZINE


(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

Do Hard Rock às Hard Ballads (O porquê desta “transformação” nas bandas de Hard Rock)

Estava a ouvir rádio estes dias e cheguei à conclusão que as bandas de Hard Rock a partir de 1990 foram todas taxadas como bandas de baladas porque as rádios apenas passavam estas músicas. Existem vários exemplos disto que acabei de dizer, quer com bandas formadas naquela época, em finais dos anos 80, (Extreme - "More Than Words", Mr. Big - "To Be With You", Firehouse - "When I Look Into Your Eyes", Danger Danger - "One Step From Paradise"... etc.) quer com bandas que já eram consagradas nesta época (Bon Jovi - "Bed Of Roses" e "Always", Guns N Roses - "Don't Cry" e "November Rain", Scorpions - "You & I" e "Wind Of Change", Def Leppard - "Two Steps Behind" e "When Love & Hate Collide"...)

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Eu conheço perfeitamente a discografia destas bandas e sei que as baladas são a minoria nas suas músicas, sei também que ao longo desses anos existiram muito mais singles de qualidade lançados por essas bandas, com músicas muito mais técnicas e pesadas que foram (quase) ignoradas. É também interessante perceber que antes de 1990 estas bandas já tinham baladas de grande qualidade e mesmo assim não eram elas o grande destaque, os grandes sucessos da discografia destas bandas consagradas. As bandas de maior sucesso no Hard Rock nos anos 80 fizeram sucesso com músicas Hard Rock e não com baladas ("Sweet Child O’ Mine", "Rock You Like A Hurricane", "Livin' On A Prayer", "Rock Of Ages" foram sucessos entre 1984 e 1987). Não acho que existisse um clique nas bandas para em 3 anos mudarem completamente o seu direcionamento, a mim parece claramente que a partir de uma certa época interessou a alguém que as bandas de Hard Rock fossem adjetivadas de bandas de baladas. Mesmo no passado estas bandas todas tiveram baladas mas nunca foram o grande destaque mediático. Será um pensamento correcto?? Até no Metal o grande destaque dos Metallica é "Nothing Else Matters" e “The Unforgiven”. Eu não me quero referir negativamente às baladas, longe de mim porque adoro baladas, como toda a gente que me conhece sabe. Eu quero apenas “criticar”, analisar a mudança da estratégia das rádios e das editoras em determinada época para com as bandas de Hard Rock. Eu ainda me lembro das rádios no final dos anos 80... Certas bandas já ai tinham imensas baladas e não eram só essas as músicas que eram tocadas mas sim os singles todos, sendo que depois nos anos 90, os singles eram quase colocados de lado para só tocarem as baladas e ainda por cima as mais melosas, Extreme por exemplo tinha uma balada brutal "Stop The World" que foi single e que passou na rádio muito limitadamente enquanto que "More Than Words" ainda hoje passa regularmente. O cerne da minha questão é a coincidência temporal entre a aposta em baladas nas rádios e o fim da aposta das editoras nas bandas de Hard Rock e isto parece-me tudo menos coincidência.

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GARAGE POWER

palas

Saltar em frente Filipe Palas, músico bracarense, estreia o seu projecto a solo com o EP “Dente de Leão”, um trabalho saído da corrente de música rock muito característica da sua cidade. Nesta entrevista, Palas conta-nos como vive este meio cultural, onde valoriza a cooperação artística, e de que forma faz parte dele. Entrevista: Emanuel Roriz

Este teu novo projecto a solo vem preencher uma necessidade tua de expressão musical, certo? Em que medida crias em Palas algo que ainda não tinhas realizado noutros projectos musicais? Fazer o projecto “Palas” foi um acumular de canções durante anos, canções que não serviam ou não faziam sentido para os projectos que tocava, e então, foram guardados numa gaveta com o intuito de mais tarde pegar nelas, limá-las para ficarem operacionais, e entrar em estúdio. A diferença está no modo dos arranjos, composição, onde faço o que quero e o que faz sentido na hora. É um projecto com muita alma e coração.

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Em estúdio contaste com a participação de músicos convidados para concretizar a gravação dos temas de «Dente de Leão». Quem são eles e de onde nasceu a oportunidade de colaborares com cada um deles? São músicos com um certo estofo, já com experiência em palcos e a fazer musica. Conheço-os de Braga, das salas de ensaio, costumamos frequentar os mesmos espaços noturnos, há uma amizade e um respeito mútuo. O Tiago Calçada [guitarra], guitarrista da banda Bed Legs, no passado substituiu o baixista dos Smix Smox Smux num concerto de Verão, e sempre ficou


o “bichinho” de fazermos algo juntos. Disse-lhe que tinha ideia de fazer um projecto em nome próprio e perguntei se estaria interessado. Ele aceitou o convite…e ainda bem. João Vitor Costeira [bateria], já o conheço há muitos anos, mas musicalmente foi nos Grand Father´s House que assisti ao desenvolvimento que teve como baterista. Toca também com os Dead Men Talking, e é um jovem com bastante progressão. Filipe Fernandes [baixo]...uma história engraçada, uma semana antes de entrar em estúdio não tinha baixista para gravar, já tinha a ideia que um de nós gravava os baixos e quando fosse para tocar ao vivo pensávamos numa solução, até que, ao “viajar” pelo mundo do Instagram, reparei numas fotos de um rapaz a tocar baixo, com muita pinta. Perguntei se estaria interessado em ensaiar e se estava disponível para gravar. Tem um estilo funk, mas adaptou-se bem. Luís Marques [clarinete]...sempre tive a ideia de colocar sopros nas músicas “Salta a corda” e na “Pau”, e quando vi o Luís numa jam feita no Sé La Vie, fiquei logo entusiasmado com o talento que tem. Está nos teus planos levar este projecto para o palco? Se sim, em que moldes e quando está previsto acontecer? Sim está, estão a ser agendados alguns concertos, e para já, vou tocar com banda, mais para a frente poderá ser diferente, depende do sítio, condições, etc. De onde vem a inspiração para estes temas que se encontram adornados com histórias muito particulares e peculiares? Inspiração no dia- a-dia, nas minhas filhas, na minha companheira, no que me rodeia, é a resposta base de quem faz música, mas é a pura das verdades. «Dente de Leão» é um EP com 6 temas. Significa isto que estamos perante uma espécie de apresentação/ introdução a este projecto, que pretender prepararnos para o que está para vir? Já tens mais trabalho desenvolvido para além do que podemos aqui escutar? Sim, já tenho mais musicas e estou cheio de vontade de entrar novamente em estúdio, onde me sinto mesmo bem. O objectivo é não parar, e estar sempre a fazer, produzir. Para além da música, existe também o vídeo do single “Salta a Corda”. É também algo importante para ti a associação da imagem à música? Sim, sem dúvida. Acho que a imagem tem o resto da força que a música nos dá. Há a preocupação de trabalhar com malta que tenha talento e que esteja a começar. Tive a preocupação de trabalhar com pessoas de Braga, que estão numa fase de apresentação do seu trabalho.

Podes contar-nos um pouco sobre o trabalho desenvolvido em parceria com Tiago Da Cunha na realização desse vídeo? O Tiago da Cunha é um rapaz com um talento enorme, sempre gostei dele como pessoa e como profissional. Foi uma ideia estruturada pelos dois, um desafio para cada um de nós. Contamos também com a ajuda no makeup da personagem, da Diana Sá Machado. Para além da música tens também um outro projecto que responde pelo nome de Sé la Vie. Um bar com actividade cultural em pleno centro da cidade de Braga. Como tem sido esta aventura e quais são os planos futuros para esta casa? São quase 4 anos de dedicação ao bar, à diversidade cultural na cidade, à programação mensal. Um objectivo cumprido, mas temos de estar sempre atentos e dispostos a inovar, também para fugirmos um bocado à rotina. Dos vários artistas que por lá já passaram, queres enumerar em 2 ou 3 momentos, aqueles que te tenham marcado de forma especial? O primeiro foi sem dúvida o concerto dos Mão Morta, a emblemática banda actuou no primeiro aniversário do Sé la Vie. Entrada livre e um bar a arrebentar pelas costuras. O segundo...concerto dos dEUS no Theatro Circo, anunciarem no palco que no fim do concerto iam beber copos para o Sé la Vie, o que arrastou uma multidão para lá. É regular a presença de artistas que actuam no Theatro Circo, mas os dEUS são das bandas que mais me influenciou, e fazer de barman ao Tom Barman, não é todos os dias. O terceiro, são as várias surpresas que tenho quando há bandas ao vivo. Todos os fim de semanas temos concertos, mas há bandas que superam as expectativas e ficamos sempre com a sensação que vale mesmo a pena apostar nisto.

Tive a preocupação de trabalhar com pessoas de Braga, que estão numa fase de apresentação do seu trabalho.

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1755 em 2017 Um olhar português Por: Nuno Lopes

Não, este não é um artigo sobre o novo registo dos nossos compatriotas Moonspell. Este é um texto sobre Portugal e sobre dois eventos que marcaram este nosso cantinho há beira-mar plantado. Em 1755 Portugal era um país parco em recursos, humilde na sua génese e que, naquele dia de Todos os Santos acordou com o cheiro a morte, vendo desabar a sua capital perante os seus olhos, incrédulos, envoltos em terror, marcando, para sempre, a memória nacional que se viu, na altura, obrigado a começar de novo, por entre os escombros e o rasto de destruição. Portugal, Outubro de 2017, chamas invadem o nosso território, sem mácula, sem perdão, iniciados (talvez) por mãos que merecem tudo menos a liberdade que respiram. São vidas ceifadas por rostos (des)conhecidos. O cheiro é de enxofre, de madeira que crepita perante a impotência de um povo que não estava preparado, que não foi protegido. Mortes desnecessárias. enquanto se clama por salvação alguém se queixa de falta de férias, alguém resume tudo a falhas humanas, que não o são. O que existe em comum entre estes dois eventos? Nada para além de vidas ceifadas a sangue frio, além do sofrimento de um povo que não tem descanso. Seria de esperar que três séculos depois este nosso país estivesse preparado para tal, não o está por desinteresse, por interesses múltiplos que vão além da vida humana, que surgem pela simples razão de um Estado incompetente na sua génese, por uma classe política reles, que assobia para o lado, como se a culpa pudesse morrer sozinha. Por um povo que teima em acreditar em lobos com pele de carneiros. Digo basta, digo chega. Portugal não é isto e, de todas as mortes as que mais lamento são todas e cada uma. Era bom pensar que nada disto voltará a acontecer, mas esse não é o fado português e ambos sabemos que o inverno está a chegar e depois do fogo vem a água e o diluvio que ensombrará o território. Está na hora de acabar com isto, pois a culpa não pode morrer solteira e o ciclo deve ser interrompido, é isso que merecemos. O povo merece e as mortes justificam os meios para as evitar. 53 0/ /VERSUS VERSUSMAGAZINE MAGAZINE


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PALETES Por: Carlos Filipe

Gus G - «Fearless» (Grécia, Hard Rock) O virtuoso guitarrista grego, GUS G, ficou conhecido por substituir Zakk Wylde como o guitarrista principal de Ozzy Osbourne, mas GUS agora forja seu próprio caminho com o seu mais novo trabalho a solo, através do impressionante novo álbum, «Fearless»! Este é um LP que incorpora um hard-rock de fragmentos bombásticos e tudo mais. Ainda podemos contar com uma cover bem-sucedido clássico “Money for Nothing” dos DIRECT STRAITS. (AFM Records)

Dukes Of The Orient - «Dukes Of The Orient» (Inglaterra, Progressive Rock, AOR) O que dá combinar um britânico de Londres que adora o American AOR com um americano da Califórnia que cresceu num programa britânico? Dukes of the Orient é o emparelhamento magistral do vocalista John Payne (ex-Ásia, GPS) com o teclista Erik Norlander (Last in Line, Lana Lane) que agora apresentam o seu

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álbum de estreia, o qual esteve dez anos em desenvolvimento. Os poderosos vocais experientes de Payne apresentam melodias e harmonias exuberantes sobre o mar de sintetizadores clássicos e teclados artisticamente pintados com a paleta sonora exclusiva de Norlander. O álbum foi misturado numa consola analógico para preservar e melhorar a profundidade natural, clareza e alma das músicas, com grande cuidado, para evitar a compressão excessiva, equalização extrema e distorção. (Frontiers Records)

Gatekeeper - «East Of Sun» (Canadá, Epic Heavy/Doom Metal) Álbum de estreia depois de vários Eps. Os GATEKEEPER montaram uma impressionante variedade de EPs e splits, e lançam aqui «East Of Sun», um álbum que tem a música mais rápida e tem o maior épico slow-burner dos GATEKEEPER. Tem guitarras melódicas juntamente com riffs ferozes, ritmos trovejantes e passagens acústicas. O título «East Of Sun» é uma versão abreviada de um livro

de contos folclóricos escandinavos que se assemelha ao conteúdo do disco em que cada música está por conta própria. (Cruz Del Sur Music)

Abjection Ritual - «Soul Of Ruin, Body of Filth» (EUA, doom/death industrial hybrid) Com «Soul Of Ruin, Body Of Filth», ABJECTION RITUAL surge como uma besta muito diferente do que em LPs anteriores. «Soul Of Ruin, Body Of Filth» é uma vasta progressão, incorporando guitarras, baixo e um baterista no seu arsenal, e ao fazê-lo, criou uma visão muito mais diversificada e idiossincrática, mantendo a atmosfera de eletrónica pesada e ambiente industrial pelo qual eles são conhecidos em toda a cena. (Earsplit) Barren Earth - «A Complex Of Cages» (Finlândia, progressive death metal) Comemorando dez anos de death metal progressivo e conquistando um público de culto, os Barren Earth, lançam o seu quarto álbum, «A Complex Of Cages». Cada


membro da banda possui a sua própria formação musical, mas o único aspecto unificador entre eles, tem sido a apreciação das bandas de rock progressivo dos anos 70, um reconhecimento que eles admitem prontamente nas suas composições. Enquanto a tag “progressiva” pode ser vista como uma caixa, os Barren Erth usam-na orgulhosamente no contexto de heavy metal, mesmo que seu som seja muito mais dinâmico e multidimensional do que os desempenhos técnicos tão frequentemente atribuídos à progressiva metal. (Century Media Records) Hegemone - «We Disappear» (Polónia, blackened post-metal) Formada em 2010, lançam agora o segundo álbum «We Disappear», o quarteto polonês HEGEMONE usa uma interpretação intensamente pessoal do pós-black metal para retratar o processo interminável de mudança em toda a sua beleza aterradora. Para uma base pesada de riffs widescreen temáticos e vocais ardentes, a banda funde black metal modernista com fúria hardcore, acordes pós-punk, canto garganta e elementos de misticismo folclórico, linhas de sintetizadores tristemente colocadas e encapsulando texturas eletrónicas. (Debemur Morti Productions)

Bruce Lamont - «Broken Spots Excite No Pity» (EUA, psychedelic jazz-metal) Quando BRUCE LAMONT lançou

o seu primeiro álbum a solo, ele era mais conhecido como o líder do grupo psicadélico de jazz e metal de Chicago, os Yakuza. Assim, as canções melancólicas e artísticas desse álbum vieram como uma mudança radical, mostrando que ele é tão confortável ao construir épicos como os Swans, explodindo com raiva industrial e de inspiração black metal. Nos seis anos desde então, a sua jornada criativa levou-o cada vez mais longe. «Broken Spots Excite No Pity», o segundo álbum solo de LAMONT, é, em muitos aspectos, uma experiência mais dura que as de «Feral Songs». (Earsplit)

Shiraz Lane - «Carnival Days» (Finlândia, Hard Rock) Shiraz Lane personifica a variedade criativa, que ressoa através do som de guitarra de dois gumes (produzido pelo guitarrista a solo Jani Laine e pelo guitarrista Miki Kalske), da bateria de Ana Willman e do baixo de Joel Alex. Apesar da sua relativa juventude, eles já são uns veteranos no circuito underground e desenvolveram uma reputação de intransigência. Embora usam inspiração e homenagem aos seus antecessores como o Aerosmith e os Guns N’Roses, o seu som e música estão destinados a tornarem-se único. (Frontiers Records) Epos Nemo - «Latrocinium Iter Itine» (EUA, electronic experimental) Tatsuya Nakatani é um percussionista japonês de

vanguarda e artista acústico. Um mestre dos novos sons e técnica, que esculpe um som expressivo, intenso e transformador que envolve a música improvisada e experimental enquanto se opõe ao género propriamente dito. Cada música é uma troca única de energia que emprega eletrónica analógica e inspirações improvisadas por meio de cones de colunas. (Earsplit) Aura Noir - «Aura Noire» (Noruega, Black/Thrash Metal) Uma banda voltada para os conhecedores do thrash com mentes ativas e espíritos mesquinhos, os Aura Noir estão à frente do género definitivo do metal numa época em que o underground é totalmente cercado por bandas. Com «Aura Noire», um título que se assemelha bastante ao nome da banda, Aura Noir agita algumas das faixas mais refrescantes, ainda que nostálgicas, do thrash metal jamais ouvidas. (Indie Recordings)

Revertigo - «Revertigo» (Escócia, Melodic Rock) Revertigo é uma dupla de Estocolmo formada por Mats Levén (vocal) e Anders Wikström (guitarra). Com uma amizade de há quase 30 anos, Revertigo é o próximo capítulo de uma colaboração em andamento, que culminou com a produção de um novo álbum. A própria música do Revertigo é uma mistura de músicas pesadas e melódicas que homenageiam álbuns e artistas

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favoritos dos anos 70, 80 até aos dias de hoje, sem esquecer a química que ganha vida quando Mats e Anders juntam forças. (Frontiers Records) Scientist - «Barbelith» (EUA, blackened sludge metal) Fortemente influenciados pelos conceitos que giram em torno da série de BD de Grant Morrison, The Invisibles, o novo trabalho de sete faixas centra-se na “busca pelo significado da vida através do uso de psicadélicos e ocultismo. O papel de «Barbelith» é como o de uma placenta na medida em que conecta o holograma de nossa realidade subjetiva ao reino fora de nosso espaço-tempo. O espelho mágico que ajuda os humanos a perceber a sua verdadeira natureza além do conceito subjetivo do “eu”. (Earsplit) Crystal Ball - «Crystallizer» (Suiça, Melodic Hard Rock/Metal) Os elogios ao álbum anterior, «Déjà-Voodoo», ainda não acabaram que os roqueiros melódicos suíços já estão a lançar um novo álbum! O álbum «Crystallizer» mostra de forma impressionante porque é legitimamente considerada uma das melhores exportações de metal melódico feitas na Suíça! «Crystallizer» é cheio de hard rock melódico e metal! (Massacre Records)

Solstice - «White Horse Hill» (Inglaterra, Epic/Doom Metal) Depois de lançarem dois mini-

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álbuns em vinil com o próprio selo da WHITE HORSE, o impulso resultante levou os Solstice a completar o trabalho musical que é «WHITE HORSE HILL». O álbum destina-se a trabalhar musicalmente em conjunto, as letras (enraizadas firmemente na tradição folclórica oral inglesa) com a obra artística do artista norteamericano Chris Smith. (Invictus Productions)

Burden Of Grief - «Eye Of The Storm» (Alemanha, Melodic Thrash / Death Metal) Um tempo tempestuoso está no horizonte dos BURDEN OF GRIEF, porque o novo álbum «Eye Of The Storm» é tão brutal quanto um furacão! Do ponto de vista musical, BURDEN OF GRIEF conseguiu focar em seus pontos fortes, combiná-los e colocá-los em 10 riffs monstruosos que são variados e cheios de energia, melodias e grooves! Mas também encontrará uma infinidade de elementos que vão muito além do que é o thrash. Espere grooves matadores, partes acústicas frágeis e solos twinguitar clássicos, bem como o retorno do órgão Hammond. (Massacre Records) Desert Storm - «Sentinels» (Inglaterra, sludge-metal) O ano de 2018 marca o retorno dos titãs do sludge metal Desert Storm. Hoje ouvimos os primeiros rumores de «Sentinelas» na forma de “Too Far Gone”, uma potência brutal e violenta de uma faixa que aborda o sombrio tema do excesso

de consumo excessivo de álcool. (Napalm Records)

Earthless - «Black Heaven» (EUA, instrumental space rock) Enquanto os três álbuns anteriores da banda apresentavam de dois a quatro toques de rock espacial totalmente instrumentais, o quarto e último do trio da Califórnia, «Black Heaven», é algo diferente. É seguro dizer que os EARTHLESS conseguiram um pouco de peso graças à configuração não convencional de Rancho. (Nuclear Blast) Kardinal Sin - «Victorious» (Suécia, Melodic Power Metal) A hora dos KARDINAL SIN em lançar seu álbum de estreia «Victorious» chegou! O disco inteiro tem um sentimento geral sombrio e é mais uma mistura de power metal e heavy metal clássico com melodias fortes e até mesmo um toque de “Phantom Of The Opera”. (Massacre Records) Afsky - «Sorg» (Dinamarca, Depressive Black Metal) Afsky é um projeto de um homem só, de Copenhague. Por detrás está Ole Luk, também membro da banda de black metal dinamarquesa Solbrud. Afsky significa repugnância ou detestar em dinamarquês e é uma mistura de black metal clássico com algumas inspirações folk e doom. A vibe crua e dura, atingindo o frio, mas ainda assim cheia de uma linda atmosfera melancólica. (Napalm Records)


Mentiras, traição, trapaça, roubo - acumula-se e antes que possa parar a si mesmo, num ataque de paixão, arrebenta e mostra os seus verdadeiros sentimentos. Essa energia emocional sincera, sinistra e passiva-agressiva define os recém-chegados SAVAGE HANDS. (Nuclear Blast)

Michael Schenker Fest «Resurrection» (Alemanha, Rock) Michael Schenker é um homem mudado. Com uma carreira que remonta a 1969, o virtuoso da guitarra alemã é um artista para quem o termo “volátil” às vezes parece ter sido inventado. Gravado com cantores e músicos associados a Michael em décadas anteriores, o álbum intitulado «Ressurreição» vê Schenker abraçando o seu passado para construir algo novo e excitante. (Nuclear Blast) Tax The Heat - «Change Your Position» (Inglaterra, Rock N’ Roll) Mudar é bom. A mudança é importante. A mudança é o inimigo da estagnação, e um meio vital para manter as coisas frescas, inovadoras e empolgantes. Para os TAX THE HEAT, “change” significa outra coisa também. A faixatítulo do novo álbum «Change Your Position», vê-os a abordar o estado turbulento do mundo e o impacto real que tem nas pessoas. «Change Your Position» faz mais do que apenas construir o que eles já conseguiram, adicionando uma vantagem moderna e afiada à sua abordagem rock’n’roll. (Nuclear Blast) Savage Hands - «Barely Alive» (EUA, post-hardcore) A maioria das pessoas é fundamentalmente boa mas, às vezes, circunstâncias extraordinárias trazem os elementos mais amargos, indelicados e agressivos até mesmo para os mais taciturnos.

Micawber - «Beyond The Reach Of The Flame» (EUA, Death Metal) Durante a última década, os Death Metallers baseados em Green Bay mantiveram uma ética de trabalho DYI (do it yourself) inabalável. «Beyond The Reach of Flame» é uma parte diversificada do death metal americano moderno. Voz roncando, riffs batendo, solos de guitarra gémeos harmoniosos e bateria de explosão são a base de todas as faixas, mas cada faixa tem uma pitada de outros elementos de metal; sludge, black, prog e tecno, por exemplo, para fazer Micawber ficar de cabeça e ombros acima de seus pares. (Prosthetic Records) Ad Hominem - «Napalm For All» (França, Black ‘n’ roll) Vinte anos depois de sua criação, Ad Hominem ataca com seu sexto opus, intitulado «Napalm For All». O projeto de black metal francês mais polêmico propõe um álbum puro de black ‘n’ roll, ainda mais brutal do que o anterior. Uma zombaria divina, a não perder! Um retorno ao clássico divino de álbuns de ódio e ditador! Este é o projeto cuja a intenção foi desafiar os padrões atuais do black metal. (Osmose Productions)

Totalselfhatred - «Solitude» (Finlândia, Depressive Black Metal) Perseverança através da adversidade, criação através da destruição, força através da dor. Depois de anos de espera, Totalselfhatred voltou à luta. Eles estão aqui para apresentar cinco músicas de desolação melancólica em forma de audição. Apague as luzes, mergulhe na doçura da negatividade reclusa e deixe-se flutuar livremente na corrente reconfortante de emoção que seu epítome de «Solitude» proporcionará. (Osmose Productions)

Black Salvation - «Uncertainty Is» (Alemanha, Psychedelic Rock/ Doom Metal) BLACK SALVATION desafia o ouvinte a abrir bem as portas da percepção e lentamente afastarse entre as suas composições transcendentais e hipnóticos contos de magia e misticismo. Através de oito faixas e mais de 40 minutos, os BLACK SALVATION mistura de forma perfeita hard rock, doom e psicadélica numa síntese inebriante da alquimia rock n ‘roll. (Relapse Records) Zeke - «Hellbender» (EUA, Punk) As lendas do punk de Seattle ZEKE estão de regresso com seu primeiro novo álbum em mais de 14 anos, intitulado «Hellbender»! Curto, rápido, alto, «Hellbender» contém quinze faixas com a mistura de rock n ‘roll, é o culminar de uma banda de 25 anos de

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carreira, soando mais agressiva, imediata e turbinada do que nunca! (Relapse Records)

Temperance - «Of Jupiter And Moons» (Itália, Melodic Heavy Metal) Temperance é uma das mais aclamadas novas bandas de metal melódico surgidas na Europa nos últimos anos. Com três vocalistas nas suas fileiras, a música dos Temperance destaca-se por um toque de harmonias, tanto nos seus álbuns de estúdio quanto durante as suas actuações ao vivo, que também apresentam uma abundância de riffs de guitarra, eletrónica e até influências de rock. «Of Jupiter And Moons» é o mais recente álbum que constitui mais um passo em frente. (Scarlet Records)

The Damned - «Evil Spirits» (Inglaterra, Punk Rock) Formados em 1976 na vanguarda da cena punk de Londres, The Damned deu início ao nascimento

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do punk como o conhecemos, deixando um legado influente para as gerações vindouras. A sua jornada musical tem visto o quinteto evoluir, explorando corajosamente visões e sons muito além de seus impetuosos inícios. (Spinefarm Records) Whyzdom - «As Time Turns To Dust» (França, Symphonic Metal) A banda de metal sinfónico Whyzdom tem o orgulho de apresentar o seu quarto álbum de estúdio «As Time Turns To Dust». Esse novo esforço é o mais cinematográfico até hoje, com ambientes orquestrais pesados ​​ e obscuros, que lembram Danny Elfman ou Hans Zimmer. A orquestra e o coro delineiam as partes metálicas com guitarras pesadas, baixo e bateria. Marie Mac Leod solta sua voz de múltiplas camadas, indo do rock à ópera num piscar de olhos, com momentos de tirar o fôlego. «A Time Turns To Dust» está centrado na passagem do tempo e na queda da humanidade. (Scarlet Records)

Crematory - «Oblivion» (Alemanha, Industrial/Gothic Metal) Como todas as grandes bandas de rock, Crematory baseou o seu sucesso na criatividade dos seus compositores. Sendo a principal banda de metal gótico da Alemanha, o baterista Markus Jüllich, em colaboração com o produtor de longa data, manteve as composições do grupo em curso por mais de 25 anos. Ao mesmo tempo, Markus Jüllich sabe que

a evolução da banda depende de novas ideias e novas influências. (SPV Steamhammer) Nocturnal Graves - «Titan» (Austrália, Blackened Thrash Metal) Lembre-se da famosa lenda do blues sobre músicos aspirantes que se encontram com o diabo na encruzilhada, que oferece grandeza artística em troca das almas dos ansiosos buscadores da fama? Bem, uma história semelhante provavelmente pode ser contada sobre as Nocturnal Graves. Apenas troque “fama” por “verdadeiro espírito da velha escola” e reposicione a fatídica reunião até o ponto exato em que o black, death e o thrash metal entram e saem um do. O terceiro LP dos veteranos australianos celebra a agressividade brutal do lado mais sombrio da cena metal dos anos 80, impulsionada pela testosterona. (Season of Mist)

Antlers - «Beneath. Below. Behold.» (Alemanha, Atmospheric Black Metal) O segundo álbum de ANTLERS é um bastardo de 9 faixas de melodias introspectivas e palavras que não foram tocadas apenas para serem gravadas, mas sim, sangradas, suadas e gritadas! «Beneath. Below. Behold.», é uma viagem atmosférica e emocional que arrasta o ouvinte para o abismo do ser humano. Isso faz com que se afogue no vazio da perda, amor e ódio e, ao mesmo tempo, o leva para fora das


profundezas das águas negras. (Ván Records) Skan - «Death Crown» (EUA, Blackened Death Metal) Rejeitando todas as convenções, normas e restrições, a banda de metal extremo nascida no Texas, ŠKAN, forja um caminho intransigente através das forças primordiais da natureza e as transformações da morte e da iluminação. O nome “Škan” vem da linguagem Lakota Sioux, a qual se refere ao espírito do céu e aos elementos que catalisam o fluxo contínuo do universo. Como ŠKAN tem articulado cada vez mais a sua visão através da sua música envolvente e esotérica, as performances não são mais do que excitantes e ritualísticas. (Ván Records) Acherontas - «Faustian Ethos» (Grécia, Black Metal) Os gregos do black occult metal e influências do rock dos anos 70, Acherontas, estão na vanguarda da nova onda da cena grega de metal black / occult, com forte dedicação à espiritualidade, misticismo e magia, tanto no som quanto na imagem. Como tal, a banda é considerada pelos seus membros como um projeto de outro mundo; um meio, onde o metal helênico encontra a filosofia oriental e o rock retro. (Agonia Records)

Animal Drive - «Bite!» (Croácia, Hard Rock) Apresentado por Jeff Scott Soto, Animal Drive imediatamente

impressionou graças ao vocalista, Dino Jelusic, que tem uma presença incrivelmente condizente com as enormes canções de hard rock que apresenta. Vindo de Zagreb, na Croácia, Animal Drive foi formada em 2012 por Jelusic, o qual é o principal compositor e força motriz por trás do som da banda. Animal Drive leva seus ouvintes em um passeio selvagem de hard rock bombástico. (Frontiers Records) Eagle Twin - «The Thundering Heard (Songs Of Hoof And Horn)» (EUA, Stoner/Sludge/Drone/ Doom Metal) O som de comando dos Eagle Twin é uma força tectônica, onde a desgraça e o blues colidem. O tom vocal baixo e dominante de Gentry Densley é como um instrumento em si, estrondoso ao lado de riffs imponentes, e a poderosa propulsão rítmica de Tyler Smith. É uma combinação atraente, particularmente quando se adiciona uma melodiosa secção de blues à equação. «The Thundering Heard» continua onde o álbum anterior terminou. (Southern Lord)

Green Desert Water - «Solar Plexus» (Espanha, Stoner Rock) « Solar Plexus» dos GREEN DESERT WATER coloca-se no centro das atenções, recusando-se a se comprometer com uma única vibe ou qualquer outra, enquanto captura a melhor energia do rock pesado clássico, trazendo-o para uma era moderna onde é tão desesperadamente necessário.

(Earsplit) Voices - «Frightened» (Inglaterra, Progressive Black/Death Metal) VOICES nasceu das cinzas de Akercocke em 2014. Essas cinzas permaneceram acesas até se acenderem mais uma vez com a reforma dos Akercocke em 2017, mas VOICES continua esculpindo a sua própria identidade com dois álbuns de estúdio. Após a conclusão do terceiro álbum, a banda solidifica agora o caos sonoro e abre as portas para um território musical totalmente. (Candlelight) The Konsortium - «Rogaland» (Noruega, Black/Thrash Metal) Os Konsortium da Noruega reaparecem com um novo álbum de estúdio. Com o nome de um condado no oeste da Noruega, «Rogaland» vê a banda a tomar um rumo diferente, seguindo uma trajetória mais complexa e técnica. A banda tomou o máximo de cuidado em cada detalhe para canalizar e trazer as forças de seu álbum homónimo, com vocais gravados e letras escritas presencialmente na floresta, nas montanhas e na costa norte. Inspirado na natureza, este é o tipo de álbum que premia cada nova audição e revela progressivamente os seus segredos. (Agonia Records)

Death Alley - «Superbia» (Holanda, Rock ‘n Roll) Depois de um período de tumultos incansáveis, a potência holandesa Death Alley reinventou-

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se, renasceu e está pronta para enfrentar o mundo com um refinado rock n ‘roll infeccioso e desafiador. Os Death Alley são uma mistura rara de atitude punk e precisão musical diligente. E assim eles aparecem em 2018 à tona de água rejuvenescido. (Century Media)

Sanhedrin - «A Funeral For The World» (EUA, Heavy Metal) SANHEDRIN, uma das bandas mais novas e empolgantes surgidas da cena musical de Brooklyn. Criado em 2014 quando o guitarrista Jeremy Sosville (BLACK ANVIL) e o baterista Nathan Honor se juntaram ao baixista / vocalista Erica Stoltz, cujas façanhas vocais e líricas rapidamente se tornaram o complemento perfeito para as novas composições do par. A composição do SANHEDRIN está enraizada nos clássicos, traduzindo-se numa versão nova e honesta do rock e do metal que facilmente se cruza com território doom, hard rock e stoner metal. (Cruz Del Sur Music) Dan Weiss - «Starebaby» (EUA, Avant-garde Jazz Metal) Abrangendo elementos de improvisação jazz, avant rock, metal técnico e partes de música atmosférica de suspense, a formação deste lançamento conta com músicos de todos os circuitos de jazz e metal que se juntaram a DAN WEISS, incluindo Matt Mitchell, Craig Taborn, Ben Monder e Trevor Dunn. «Starebaby» é o resultado do sonho de longa

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data do baterista / compositor DAN WEISS em reunir alguns dos mais talentosos músicos do jazz para tocar música que combina a natureza improvisada dessa com o poder do heavy metal e da nova música eletrónica. (Earsplit) FM - «Atomic Generation» (EUA, Melodic Rock) FM são verdadeiros Melodic Rock Giants e «Atomic Generation» vai solidificar ainda mais as suas bases de Rock! A banda tem estado extremamente ocupada desde que se reuniu em 2007, com uma recente onda de atividades depois de lançaram o seu nono álbum de estúdio, «Heros and Villains». (Frontiers Music) Bulletboys - «From Out Of The Skies» (EUA, Hard Rock) Os BULLETBOYS começaram como uma coleção de músicos talentosos de bandas de alto nível. Usando as suas credenciais, foram capazes de capturar rapidamente a atenção dos fãs de música em geral, enquanto o vocalista Marq Torien emergiu como um dos vocalistas mais subestimados da época. Os BULLETBOYS formaram-se em 1988 no auge do movimento glam metal de Los Angeles. Ao contrário dos outros glam rockers da época, os BulletBoys eram mais hard rock e blues fusion do que metal puro. (Frontiers Music) No Hot Ashes - «No Hot Ashes» (EUA, AOR/Melodic Rock) Executando o que pode ser descrito como Classic Rock com um toque contemporâneo, os No Hot Ashes têm encantado os novos fãs nos últimos quatro anos, com canções de rock clássicos melódicos, carregado de hooks, baixo e teclado. Formados em 1983, a banda foi influenciada por UFO, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Journey, Foreigner, Thin Lizzy e outras bandas de Rock Clássico e AOR daquela era, que rapidamente começaram a compor, tocar e gravar as suas próprias músicas. (Frontiers Music)

Thunderwar - «Wolfpack» (Polónia, Blackened Death Metal) Adoração pela velha escola! Assim que entrar em contato com as músicas desta banda polonesa, vai sentir-se nostálgico dos lendários dias de metal. As cinco músicas de «Wolfpack» continuam o caminho escolhido pelo o grupo polaco, que continua a trabalha de forma ainda mais clara e convincente no tipo de metal que preferem. Este metal é consciente da tradição, com grandes riffs, solos, hooklines e poses que fazem parte do repertório da THUNDERWAR. Old School Blackened Death Metal do quarteto tem tudo! Aliás, a onda atmosférica e lúdica do metal dos THUNDERWAR é surpreendente e inspiradora. (Lifeforce Records) Melvins - «Pinkus Abortion Technician» (EUA, Rock) Os Melvins regressaram com o novo álbum «Pinkus Abortion Technician», com o baixista Steven McDonald e Butthole Surfers e o ocasional Jeff Pinkus no baixo. Este é um disco radicalmente excelente e foi um stone groove gravá-loi. (Ipecac Recordings) Mos Generator - «Shadowlands 2018» (EUA, Hard’Heavy) Os rapazes voltaram! MOS GENERATOR teve a necessidade de se despir para o básico do hard rock, sendo evidente desde o início e continua a sê-lo, a base para todo o material recente da banda. «Shadowlands» é um passo verdadeiramente artístico para a banda e vai convencer uma grande variedade de fãs de rock e metal. (Listenable Records) WET - «Earthrage» (EUA, Melodic Rock) O elemento chave para o sucesso de W.E.T. tem sido a habilidade da banda em produzir Melodic Hard Rock da mais alta ordem e conduzir o género para o futuro. Prepare-se para o próximo passo na evolução desta tremenda banda! W.E.T. construído em torno dos talentos de Robert Säll (o “W” da Obra de Arte), Erik Mårtensson (o “E” do


Eclipse) e Jeff Scott Soto (o “T” do Talismã). «Earthrage» é o terceiro álbum de estúdio da banda. (Frontiers Music)

The Golden Grass - «Absolutely» (EUA, Rock N’ Roll) THE GOLDEN GRASS é o grupo de rock pesado definitivo dos dias de hoje! Eles são um poderoso trio de rock com um toque clássico deslumbrante. O grupo extrai sem esforço as suas influências das maiores ideias musicais de quando “Rock Ruled The World”; é como se eles realmente fossem da era de ouro. (Listenable Records)

Kino - «Radio Voltaire» (Inglaterra, Progressive Rock) Já se passaram 13 anos desde que Kino lançou o seu primeiro álbum «Picture». Finalmente, eles estão de volta com um segundo álbum, «Radio Voltaire», que em todos os sentidos vê um retorno parcial ao que já sabemos e conhecemos deles. O álbum em si também representa a determinação da

banda em ultrapassar quaisquer barreiras e desafiar algumas das normas da sociedade. Pode surpreender muitos, mas há até um solo de baixo neste trabalho. (InsideOut Music) Theotoxin - «Consilivm» (Austria, Black / Death Metal) «Consilivm» é o resultado da evolução lógica e natural que a banda passou, desde o lançamento do álbum de estreia. Uma mistura de black metal e death metal extremamente rápidos, que não carecem de melodias nem de peças groovy. O novo álbum oferece black / death metal interessante, variado e extremo, tudo embrulhado numa produção brutal. THEOTOXIN foi formada em abril de 2016 por membros da Zombie Inc. e da Hollenthon. (Massacre Records)

Asphagor - «The Cleansing» (Austria, Black Metal) Depois dos álbuns «Havoc» (2010) e «Anti» (2013), que foi descrito como um dos mais fortes lançamentos de Black Metal da Áustria, é hora do terceiro LP dos ASPHAGOR. Pode-se dizer com razão que com «The Cleansing» outro marco foi alcançado e este álbum provavelmente será um dos lançamentos de Black Metal mais inteligentes e impressionantes de 2018. Sem se perder em truques desnecessários, os ASPHAGOR criam um trabalho global que é capaz de dar uma densidade atmosférica que o cativa ao longo de todo o álbum, deixando-o

sem fôlego e profundamente impressionado. (MDD Records) Fister - «No Spirit Within 2018» (EUA, Doom/Sludge/Stoner Metal) Vindo da confluência de doenças infecciosas, violência arbitrária e rios de sujidade industrial que é St. Louis, os FISTER têm sublimado o seu ambiente brutalmente tóxico num desafio deliberado e beligerante dos tímpanos desde 2009. FISTER tem um dos sons mais feios de todos os tempos modernos e vai deixá-lo quebrado e maltratado, com os seus impulsos destrutivos. Nos últimos 9 anos, os FISTER tornaram-se mais pesados e abusivos com o seu som. O seu novo álbum «No Spirit Within», é desesperadamente sombrio, terrivelmente sombrio e sujo, e terrivelmente abrasivo. (Listenable Records) Auri - «Auri» (Finlândia, Progressive folk Metal) Tudo começa com uma visão. Uma imaginação virtuosa que paira auspiciosamente no ar, composta de fragmentos multifacetados e ideias que gradualmente se tornam mais concretas, tomando forma lentamente e finalmente tomando forma nas mentes de seus criadores como um novo projeto. Isto é exatamente o que aconteceu com esses três músicos de sucesso internacional, que criaram uma joia musical na forma de AURI, que brilha ainda mais brilhante do que a Estrela Polar no céu nocturno. Johanna Kurkela, Tuomas Holopainen e Troy Donockley - os protagonistas carismáticos por trás do AURI fazem sua estreia homônima numa viagem de contos de fadas através do tempo e do espaço. Cascatas sonoras abrangentes cheias de momentos mágicos e surreais que tocam todos os nossos sentidos. AURI celebra uma espécie de etnopop épico-romântico que parece flutuar em esferas singulares, que são intangíveis, mas desencadeiam sons multifacetados com imagens poderosas. (Nuclear Blast)

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Light The Torch - «Revival» (EUA, Metalcore) Os ventos da mudança abanaram a chama dos Light The Torch. No meio da miríade de lutas, eles regressam do abismo sob um novo estandarte. No que diz respeito a “onde eles estiveram”, os LIGHT THE TORCH mantêm um dos mais conceituados pedigrees da música pesada moderna. Em última análise, LIGHT THE TORCH acende o futuro não apenas para seus membros, mas para o metal em geral. (Nuclear Blast)

Gozu - «Equilibrium» (EUA, Rock) Para merecer o termo “atemporal”, um álbum realmente precisa transcender a era em que foi criado. «Equilibrium» consegue isso inequivocamente. Com raízes ancoradas na psicadélica dos anos 60 e no rock clássico, os riffs dos anos 70, o grunge dos anos 90 e o dirty rock n ‘roll que tem ressurgido nos últimos anos, Gozu tem produzido álbuns arrasadores desde 2009. (Metal Blade) Wolf King - «Loyal To The Soil» (EUA, blackened hardcore) Uma subcorrente punk selvagem e encrustada, flui ao longo das onze violenta faixas que rasgam a atmosfera de pressentimento que paira sobre os punitivos riffs. Uma estreia pesada para apreciadores do peso crusted de Trap Them e hardcore venenoso. «Loyal to the Soil», o primeiro álbum, Wolf King está pronto para semear a sua própria marca de caos. (Prosthetic Records)

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Skinless - «Savagery» (EUA, Death Metal) Os veteranos do US Death Metal, SKINLESS, voltam com a seu pulverizador sexto LP, apropriadamente intitulada «Savagery». A selvageria incorpora dez placas de apodrecimento, restos auditivos ao longo de 37 minutos de golpes titânicos, riffs agressivos e rosnados bestiais sedentos de sangue. «Savagery» vê os SKINLESS no topo da sua música, dos mais de 25 anos dum reinado de terror intocável. (Relapse Records)

Gruesome - «Twisted Prayers» (EUA, Death Metal) Com menos de quatro anos de carreira, os defensores do old school Death Metal, GRUESOME regressam com o seu segundo sermão, «Twisted Prayers». Orações torcidas segue a mudança do paradigma dos DEATH durante a era de «Spiritual Healing», incorporando mais instrumentação melódica e cerebral acompanhado de letras thrash. Explicitamente declarado como uma homenagem ao legado dos DEATH. (Relapse Records) Árstíðir - «Nivalis» (Islândia, Icelandic classically indie-folk rock) ÁRSTÍÐIR redefine o seu som e dá um salto quântico evolutivo que os vai catapultar como a mais eclética banda islandesa. ÁRSTÍÐIR nunca foi um patinho feio, mas agora, o seu cisne musical emergiu em plena beleza, gloriosa,

com «Nivalis». Os islandeses nunca se encaixaram facilmente em qualquer gaveta estilística e, portanto, atraíram uma longa lista de tentativas de uma definição musical que vai do rock indie via rock progressivo, folk indie, folk de câmara e pop, neo-clássico ao minimalismo. (Season of Mist) Cruachan - «Nine Years Of Blood» (Irlanda, Folk Metal) Estes irlandeses são conhecidos não apenas como pioneiros destemidos e belicosos do género Celtic Folk Black Metal, mas, mesmo depois de tanto tempo, CRUACHAN são estimados, com razão, como verdadeiros artistas de excepção. Desde 1992, a horda guerreira e batalhadora em torno do membro fundador, guitarrista e gritante Keith Fay, está no começo. O oitavo álbum «Nine Years Of Blood» traz-nos doze novas canções, hinos variados, todos os quais emanam espírito guerreiro puro, antigo e intocado. (Trollzorn)

Celtachor - «Fiannaiocht» (Irlanda, Celtic Black Metal) O terceiro LP dos CELTACHOR, «Fiannaìocht», é um álbum conceitual sobre a juventude do herói da mitologia irlandesa Finn. Algumas coisas mudaram musicalmente desde os últimos álbuns. Primeiro de tudo, um violinista foi adicionado à banda e o novo baixista também tocou harpa e bouzouki irlandeses, o que resulta em mais melodias folk. Além disso, poderosos vocais limpos foram implementados pelo


vocalista Stephen, que costumava se especializar apenas nos vocais de Black Metal. (Trollzorn) From Beyond - «The Band From Beyo» (EUA, Rock) Musicalmente, o quarteto lembra graciosamente uma orquestra de Kyuss, Soundgarden e Rush, como se fossem dirigidos por John Carpenter. Na estreia, From Beyond queria fazer algo que estivesse mergulhado num terror psicadélico. Eles fizeram isso fundindo elementos do cinema do final dos anos 60 e início dos anos 70. (Candlelight)

Riot V - «Armor Of Light» (EUA, Heavy/Power/Speed Metal) A história começou há mais de 40 anos em Brooklyn, Nova York. Naquela época, vários músicos reuniram-se sob a bandeira dos RIOT - e eles começaram a escrever a história do metal juntos como um dos pioneiros do power metal dos EUA. Apesar dos vários obstáculos que surgirem ao longo dos anos, a instituição de metal ainda está ativa hoje em dia! «Armor Of Light» inclui tudo o que podemos esperar desta banda. Não há dúvidas sobre isso, considerando a influência da banda na cena em geral. (Nuclear Blast) Witchsorrow - «Hexenhammer» (EUA, doom metal) Escrito durante um período hermético dos Witchsorrow que veio depois de uma intensa tournée, as sete músicas de «Hexenhammer» continuam a

explorar os cantos mais sombrios do doom, iluminando-os com a luz ofuscante do metal pesado forjado do aço mais forte. (Candlelight) Bleed From Within - «Era» (Inglaterra, Metalcore) Perseverança. Uma palavra poderosa com um significado igualmente poderoso. Diz o dicionário: “firmeza em fazer algo apesar da dificuldade ou atraso em alcançar o sucesso.” O novo álbum dos BLEED FROM WHITIN, «Era», conta essa mesma história. Uma história sem compromisso sobre o preço da vitória. O que os fãs notarão em «Era» é o emprego inteligente da melodia para suavizar as pontas cheias de raiva dos BLEED FROM WITHIN. (Century Media) Acârash - «In Chaos Becrowned» (Noruega, blackened heavy metal) Formados em Oslo no outono de 2016, e fundada sobre os pilares dos roqueiros de vanguarda dos anos 80 e 90 dos The Void, Acârash é uma banda de hard rock oculta que abraça a tradição, mas consegue forjar um som próprio, com a mistura de hard rock, doom e black metal. É um som em que a poesia esotérica e a contemplação ritualística são centrais e refletem as nuances dos contrastes sonoro e musical. (Dark Essence Records)

Cor Scorpii - «Ruin» (Noruega, Melodic Black Metal) Entre num mundo onde as ruínas são monumentos, e onde as melodias épicas e crescentes se

misturam perfeitamente com a dureza do metal extremo. Com o lançamento do segundo álbum da banda norueguesa de melodias extremas Cor Scorpii, «Ruin» o resultado de um longo e árduo processo de composição, que se inspira na música clássica, nas melodias populares e nas paisagens sonoras dos metais nórdicos. A banda também apresenta instrumentos estranhos ao metal, como o acordeão e o bandolim, revelando talentos ocultos entre os membros da banda. (Dark Essence Records)

Stormwitch - «Bound To The Witch» (Alemanha, Heavy Metal) Os STORMWITCH, um dos pioneiros do heavy metal alemão, estão de volta com seu novo álbum «Bound To The Witch»! As influências de todos os músicos são a razão pela qual este álbum acabou por ser tão variado; tudo é unido pela voz distintiva de Andy Mück. É por isso que as músicas não parecem estereotipadas e cada música tem sua própria alma. Suportado por poderosos riffs, a voz de Andy brilha e leva o ouvinte ao seu próprio mundo. Parece um álbum recém-chegado, mas cheio de poder e imaginação. (Massacre Records) Abstracter - «Cinereous Incarnate» (EUA, blackened doom) Talvez agora, assumindo a sua forma definitiva e mais horrível, Abstracter regressa com seu material mais espanto e sombrio. Em «Cinereus Encarnate»,

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ABSTRACTER desvenda um conto sonoro que encanta o sangue sobre um mundo miseravelmente amaldiçoado até o eterno crepúsculo, e onde a realidade é rasgada em pedaços, a existência reduzida aos estágios finais de sobrevivência. A banda criou um trabalho alucinatório e apocalíptico que transborda um sentimento imanente e opressivo de derrota e de esperança, convocando um cataclisma sonoro de miséria absoluta e desespero. (Earsplit) Superstition - «Surging Throng Of Evil’s Might» (México, death metal) Apesar do ressurgimento explosivo do death metal durante a última década, poucas bandas nos Estados Unidos tentaram absorver o legado fiel do mal inicial no death metal americano. Para esse fim, os Superstition lançaram a partir da antiga paisagem do Novo México o seu álbum de estreia «Surging Throng Of Evil’s Might», anunciando o regresso da chama da perdição e das forças ocultas e misteriosa ciência demoníaca. (Earsplit)

Settle Your Scores - «Better Luck Tomorrow» (EUA, Heavy pop-punk Metal) Alguns dias são melhores que outros. Há aqueles dias em que se acorda sentindo no topo do mundo, pronto para assumir qualquer coisa - nada é impossível e nada está fora de alcance. Então há outros dias os ... não tão grandes. Mas não importa o tipo de dia que for, SETTLE YOUR

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SCORES estará por perto para garantir que aproveite ao máximo e o prepare para um futuro mais brilhante e energético. (Nuclear Blast) Lik - «Carnage» (Suécia, Death Metal) Na sujeira onde os ídolos caídos repousam, as larvas e sementes em 2014 geraram uma nova criação. Isso tomou a forma feia de Lik, que apropriadamente significa cadáver em sueco. Uma criação não morta que oferece um prato de Old School death metal saboroso. «Carnage» alcançará ainda mais a missão de espalhar beleza na imperfeição. A nova arma do grupo de Estocolmo oferece mais do que anteriormente, onde podem esperar de tudo, desde músicas lentas até esmagadores riffs rápidos e furiosos. As letras são mais uma vez sobre tudo o que há sobre o céu e o inferno, tanto na realidade quanto na ficção. (Metal Blade)

De Profundis - «The Blinding Light Of Faith» (Inglaterra, Death Metal) A banda de death metal De Profundis teve uma carreira ilustre. Ao longo dos anos, eles continuaram aperfeiçoando seu som, que foi incorporando elementos progressivos e melódicos, e para o quinto LP, eles destilaram apenas as melhores qualidades numa enorme placa de death metal emotiva, mas poderosa. «The Blinding Light Of Faith» é um ousado passo à frente para a banda em territórios.

(Transcending Obscurity Records) Kontinuum - «No Need To Reason» (Islândia, Icelandic Ambient Rock) KONTINUUM tem a rara capacidade de criar música obscura que, ao mesmo tempo, vem com um calor envolvente e um apelo emocional. O terceiro álbum dos islandeses, «No Need to Reason», continua a linha do anterior «Kyrr», mas expande as possibilidades e o alcance do horizonte musical da banda. Ambient, rock, influências de ondas e outras fontes estilísticas de inspiração se fundem numa obra-prima melancólica e brilhante. (Season of Mist) Gaerea - «Unsettling Whispers» (Portugal, Black Metal) Gaerea transformou as mentalidades do género black metal. Enquanto a maioria retoma o som clássico, esta banda portuguesa leva-o para a frente e integra na perfeição influências de outros géneros como o hardcore e o sludge. Sonoramente desafiadores e coesos, Gaerea esmaga noções pré-concebidas e entrega músicas que definem o caracter da sua música. «Unsettling Whispers» é o muito aguardado álbum que vem depois do autointitulado EP. Seu tratamento da música não é apenas meticuloso, é também inesquecível. (Transcending Obscurity Records)


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Hekate

A dança da vida e da morte

Eis temas opostos – mas complementares – que os alemães Hekate unem no seu último álbum. Entrevista: CSA

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Este álbum é extraordinário em mais do que um aspeto. Susanne – Fantástico! Fico muito feliz com esse comentário. Quem são os Hekate? Fala-nos um pouco da história da banda. A banda foi fundada em 1992, em Coblença, na Alemanha. Inicialmente, a nossa música era essencialmente Neofolk. Atualmente, as nossas influências musicais são muito mais complexas, pelo que será preferível associá-la a uma tendência “Gloomy World Music” com elementos neoclássicos. Isto deve-se também ao facto de a nossa formação atual – que se mantém estável há mais de dez anos – ser constituída por cinco pessoas muito diferentes umas das outras. Cada um de nós traz as suas influências ou preferências para a banda. Este álbum soa bastante a Folk Faz-me pensar em bandas, que tivemos em Portugal, durante os anos 70, e que eram muito inspiradas por tradições musicais nacionais. É este o caso para Hekate e este «Totentanz»? Gosto mesmo dessa associação. De qualquer modo, nós gostamos de folk e somos influenciados por tradições musicais de séculos passados, provenientes de várias culturas. Não é intencional ou, pelo menos, a nós parece-nos que não. Mas, quanto mais complexos forem os sentimentos que a nossa música despertar nos ouvintes, mais felizes nós ficaremos. «Totentanz» é um álbum que trata da transitoriedade da vida, mas também da alegria de viver (por exemplo, em “Spring of Life”). Para nós, esses tópicos são muito importantes. Nestes últimos anos, cada um de nós passou por experiências difíceis e tristes. Não é nada que não possa acontecer a qualquer um, mas também tivemos de aprender a enfrentar o desgosto e a perda. Com «Totentanz», procurámos superar essas experiências através de música multifacetada, letras expressivas e, como podes ver no

artbook que acompanha o álbum, imagens impressionantes, que datam sobretudo da época da Arte Nova. Pertencem ao Axel, o nosso vocalista, que as coleciona. Onde encontraram a inspiração para este álbum? Cinco pessoas diferentes implicam muitas fontes de inspiração. Pela parte que me toca, gosto de me deixar levar pelos meus sentimentos, quando escrevo as letras. Até figuras históricas e mitológicas, criaturas míticas e imagens bonitas ligadas à natureza me podem inspirar. O Axel deixase inspirar por belos poemas ou pela sua coleção de arte. De todos nós se pode dizer que, por um lado, nos sentimos próximos da natureza e, por outro, somos muito nostálgicos. E quem compôs estas canções? O Dirk e o Jörg são os nossos compositores em «Totentanz». São ambos músicos excelentes e versáteis. Ambos gostam de estilos musicais muito diferentes, mas conseguiram combinar muito bem esses contrastes no álbum. Em álbuns anteriores, o Achim também participou muito na composição. É o nosso especialista em música medieval. No CD bónus, aparece uma canção medieval tocada com Shrutibox. O Axel e eu escrevemos as letras e desenvolvemos as linhas de voz. O que significa o título do álbum? Todas as canções têm algo a ver com esse tema? O título deste álbum segue várias tradições. No passado, lançámos álbuns em cujos títulos estava sempre presente a palavra “dança”: por exemplo, «Sonnentanz» - a dança do sol; «Templetanz» - a dança do templo. E agora temos este «Totentanz». Como já referi, o seu tema é a transitoriedade: “Memento Mori”, ou seja, lembrem-se da morte. A “dança da morte” (“Totentanz”) é um tema que vem da arte medieval. É frequente encontrar-se nas paredes das igrejas muitos frescos

em que se veem pessoas de todos os estatutos sociais, de todas as idades a dançar com esqueletos. Com certeza, este motivo também aparece em Portugal. A morte apanha-os a todos. Esta ideia afigura-se-me muito assustadora. Mas também é bela e tangível, de uma forma mórbida. Para mim, a morte é a grande incógnita, que eu receio. Mas uma parte de mim também anseia por ela. Foi por isso que escrevi a letra da canção que tem o mesmo nome do álbum. O Jörg compôs a música minimalista. Mas nem todas as canções [no álbum] são sobre a morte. Também temos faixas sobre o gosto pela vida, o desejo de conduzir os outros, a tentação, a tristeza… e, é claro, o erotismo. Não compreendo as letras em Alemão – o que lamento profundamente. Mas li as que foram escritas em Inglês. Os seus temas recordaram-me baladas antigas (por exemplo, “The Old King”) e poesia do séc. XIX (sobretudo “Lost and Broken”) e até do início do séc. XX (por exemplo, “Desire”). Queres comentar? Com prazer. Tens razão: “The Old King” é, de modo lato, uma balada, que conta que o velho rei tem consciência de que o seu fim está próximo. Apercebe-se de que os guerreiros mais novos estão a ameaçar o seu império. Está velho e cansado, mas vai ter de lutar mais uma vez. A canção não nos diz se esta será a sua última batalha, isso fica em aberto… Concordo contigo, quando dizes que “Lost and Broken” te lembra poesia do séc. XIX, porque se trata de um texto dramático que nos fala de um coração partido, sonhos melancólicos e da solidão – tudo temas típicos do Romantismo, que vigorava nessa altura. “Desire” é sobre o desejo de viver uma vida paralela, secreta, que só existe no universo onírico do narrador. Tem de suportar a realidade, mas anseia por explorar esse reino escondido. Será que isto é um tema típico da poesia do séc.

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XX? Não sei. Escrevi as letras para a música, que se apresenta muito sensual, misteriosa, até calorosa e tenebrosa. Faz-me pensar em vampiros. Como já referi, neste álbum – como acontece geralmente –, as letras foram escritas por mim e pelo Axel. As de “The Old King” e “Lost and Broken” foram escritas pelo Dirk, que me consultou. Às vezes, pegámos em poetas antigos. Por falar de poetas, vocês escolheram mesmo um poema de um poeta do séc. XIX. Posso saber porquê? O Axel escolheu um texto de Joseph von Eichendorff, um dos mais famosos poetas do Romantismo alemão. “Moonlit Night” fala da beleza do crepúsculo, mas também da transitoriedade da vida: “... and my soul stretched its wings wide (...) as if it flew home”. Entretanto, descobri que este poema é frequentemente lido nos funerais.

Acho-o triste, mas, ao mesmo tempo, reconfortante. O Alemão soa tão bem neste tipo de canções. Por que sentiram a necessidade de escrever algumas das letras em Inglês? É interessante que gostes do Alemão como língua para cantar. Não tenho opinião definida sobre esse assunto. Mas posso retribuir o elogio. O fado é belo e gosto de ouvir cantar em Português. É tão suave e melancólico. De regresso à tua pergunta, é claro que é mais fácil escrever na sua língua mãe. Mas algumas canções precisam do Inglês, penso eu. Por vezes, adapta-se melhor [que o Alemão] ao tema da canção. Às vezes, debatemos qual a língua que será mais adequada – mas é claro que tem que ser uma que dominemos minimamente. A combinação da voz, música, letras é tão maravilhosamente bela que é quase dolorosa.

- Parece-vos que este álbum tem estas características? Nem sei o que dizer perante tal elogio! Mas tenho de te confessar e espero que não me consideres arrogante… Eu adoro este álbum. Também me comove muito e há nele uma grande dose de paixão… mas não sei dizer se é belo. Limito-me a gostar dele e isso fazme feliz. E se tu o sentes como “dolorosamente belo”, ficamos contentes por ele despertar em ti esse sentimento. - O que te parece produzir este efeito? Não sei ao certo… Penso que a nossa música seduz o ouvinte e transporta-o para um outro mundo. Pomos as pessoas a sonhar. Já me disseram isso muitas vezes… Talvez seja porque as nossas canções são muito melancólicas. E também porque são “espaciais”. Entras nelas como num quarto, numa sala, numa gruta. Elas puxam-te para dentro delas. Isso também me acontece frequentemente.

[…] nós gostamos de folk e somos influenciados por tradições musicais de séculos passados, provenientes de várias culturas. […]

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Penso que a vossa música é muito dramática à semelhança do que acontece com bandas como os britânicos My Dying Bride. Concordas comigo? Uma banda fantástica! É um estilo de música ligeiramente diferente do nosso, mas concordo contigo. Gostamos de ser dramáticos e, ao mesmo tempo, de contar uma história através da nossa música. A capa do álbum é verdadeiramente fascinante… e bastante assustadora. Faz-me pensar em quadros pré-rafaelistas alusivos a temas da Antiguidade. - Quem a criou? Que aspetos do álbum representa? Foi o Axel que encontrou essa imagem. Trata-se de uma ilustração de Franz Stassen (1869-1949), representante do Simbolismo e da Arte Nova na Alemanha, que nunca foi publicada. Pode-se dizer que foi ela que nos encontrou a nós, não o inverso! Como a podemos interpretar? A Morte subiu ao trono e reina sobre tudo. Fala do amor, da sedução. Também a vejo como simultaneamente fascinante e ameaçadora. Parece que foi feita de propósito para este álbum, porque se refere a todos os tópicos de que ele trata. A beleza, a alegria de viver, o erotismo, a sedução, a dor e, sobretudo, a necessidade de não esquecer a morte. Ela está acima de tudo.

Vi que o álbum é acompanhado por um livro. O que podemos encontrar nele? Na edição limitada do livro, encontrarás desenhos a tinta da china que nunca foram publicados tirados da série “Apocalyptic Landscapes”, da autoria de Hermann Wöhler, um pintor realista verdadeiramente mágico, que só pintava em segredo e cujo trabalho está agora a ser descoberto postumamente pelo mundo artístico. Todas as imagens fazem parte da coleção do Axel. Só quando a maioria das canções do álbum estavam prontas é que o Dirk e o Axel se aperceberam de que essas imagens se adaptavam perfeitamente a elas. Até era assustador. Também encontrarás no artbook o álbum e um CD bónus com cinco faixas. Uma delas é a canção tocada com um Shrutibox, que já referi. As vozes são a minha e a do Achim. Nesse CD, aparece também uma interpretação de “The Old King”, que gravámos usando o órgão da igreja da cidade onde vivo. Eu toco e canto também. Fazem concertos? E onde habitualmente? Geralmente, na Alemanha, é claro: por exemplo, no Wace-GothicMeeting, em Leipzig, ou no NCN, em Deutzen. Gostamos de tocar em festivais e clubes ligados à nossa cena. Também já fizemos alguns concertos no estrangeiro:

por exemplo, na Holanda, na Bélgica, na Itália, na Suíça… Estão a pensar em fazer uma digressão? Já têm concertos marcados? Por falta de tempo, neste momento não podemos agendar uma digressão. Mas vamos fazer um concerto (secreto) no verão e estamos a discutir outras datas… Já alguma vez tocaram em Portugal? [Temos salas que seriam ideais para a vossa música: o CCB, em Lisboa, a “capital do Império”; a Casa da Música, no Porto, a nossa esplêndida segunda cidade; até o Teatro Aveirense, na cidade onde eu vivo.] Adoraríamos tocar em Portugal. Infelizmente, isso nunca aconteceu. Mas eu já fui aí várias vezes, ao Algarve, mas também ao norte. A minha melhor amiga casou com um português. O casamento teve lugar numa velha quinta produtora de vinho da família do noivo, perto do Porto. Durante a cerimónia, havia músicos e dançarinos. Envergavam trajes folclóricos e tocavam música tradicional. Foi uma experiência extraordinária, uma festa esplêndida. Adoro Portugal. Também adorei esta entrevista. Deu-me muito gozo. Hekate Youtube Youtube

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Dodici Cilindri

porque o barulhos dos motores também é música

Por: Carlos Filipe

WLTP W-L-Té-Quê? Este é o anacronismo do momento que movimenta parte da discussão actual sobre o mundo automóvel, a par da questão do diesel e da utilização do eléctrico. Na prática, significa um novo paradigma na execução dos testes de consumo e CO2 dos automóveis, afim de aproximar estes valores da realidade diária da utilização do automóvel. Em países que usam o CO2 como valor para taxar os veículos, assim como o nosso país, esta mudança irá simplesmente encarecer os carros novos, isto se os mesmos estados não mudarem as regras – O que parece vir a ser o nosso caso. O tempo urge para os construtores, pois este novo ciclo de homologação, o qual a primeira fase já foi introduzido em setembro de 2017 e este mês de setembro 2018 entrou na segunda fase, vai obrigar os construtores a reverem os seus motores e oferta de equipamento afim de continuar a cumprir as normas antipoluição europeias e serem competitivos e ficarem preparados para a terceira e derradeira fase que entrará em setembro 2019. WLTP ou “Worldwide Harmonised Light Vehicle Test Procedure” é um ciclo de testes em laboratório para medir o consumo e CO2 dos automóveis, o qual vem substituir o NEDC ou “New European Driving Cycle”, em vigor deste 1980 e que ficou desatualizado. “NEW” (novo) só se foi em 1980 pois hoje é “OLD” (velho). Este ciclo NEDC, nos últimos anos tornou-se completamente irrealista, isto se alguma vez o foi, pois basta olhar para os consumos anunciados pelas marcas e compará-los com os consumos reais que cada um faz, para verificar-se a diferença. O desfio é abismal. Na base, os construtores fazem batota, mas de forma legal, pois acabam por adaptar o carro e os motores ao teste afim de ter os melhores resultados possíveis em laboratório. Há uns, que até foram mais longe e adaptaram o seu software para enganar o próprio teste! Por que acham que hoje em dia, a moda do downsizing e Start&Stop pegou? Porque temos motores “tripé” - perdão, tricilindros - com turbos que quando disparam levam os consumos atrás? Foi tudo desenvolvido para poderem dar a volta ao teste NEDC, e assim conseguirem cumprir as exigentes normas europeias sem terem que gastar balúrdios em

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desenvolvimento para cumprir as regras, e apresentarem o menor dos consumos e CO2 possíveis, na ânsia de ganharem vantagem comercial. Quantos não compraram um carro em detrimento de outro porque gastava menos? Pois, com um novo ciclo, toda a industria automóvel terá que se adaptar afim de continuar a ser competitiva. Ouvi dizer que os engenheiros das marcas, este ano, não tiveram direito a férias… Mas, afinal, quais vão ser as consequências directas para os consumidores? Bem, a primeira é que os carros vão inevitavelmente ficar mais caros. Mesmo apesar de os governos estarem a estudar a alteração ao calculo do imposto sobre o CO2, no final, os carros vão ficar mais caros porque o aumento do CO2 será maior do que a alteração do ISV, na casa dos 40%-60%. Depois, pela primeira vez, o equipamento vai contar para o cálculo, significando que acrescentar este ou aquele equipamento, além do seu próprio custo, ainda vão aumentar o CO2, aumentando assim o imposto sobre o carro. Isto para não falar de acabar com a escolha mais ou menos personalizada de equipamento. Os consumos irão ficar mais próximos da realidade, certo, mas nós iremos pagar mais por isso. Do ponto de vista dos construtores, além de terem de se esforçar para cumprir as normas, terão de reorganizar a sua oferta, quer ao nível de motores, quer ao nível de automóveis, quer ao nível de equipamento, em especial este último pois terá que ser homologado com o carro. Ou seja, os carros irão ser vendidos com níveis de equipamentos, sem qualquer configuração personalizada possível. Como exemplo, há um construtor japonês que já afirmou que deixará de vender particular modelo com tecto de abrir, por este tornará o carro pouco competitivo na Europa. Mas afinal, o que irá ser beneficiado ou prejudicado - condenado a desaparecer - com o novo ciclo WLTP relativo ao anterior NEDC? Começando pelos mais, claramente a tecnologia híbrida, a transmissão manual pois oferece o manuseamento em condições óptimas, grandes motores e tecnologia de cruise control. No outro lado da barricada, os menos, estão o downsizing, motores com maior eficiência em regiões de baixa rotação serão desfavorecidos, tecnologia Start&Stop, tecnologia turbo e medidas com catalisador e equipamento extra. Ou seja, resumidamente, o conceito actual de pequenos motores com turbo e o Start&Stop têm os dias contados. O equipamento extra, por exemplo, passar de jantes 19” para 20”, ira-se pagar bem caro, se este for ainda possível de configurar. O mercado actual está num limbo com o WLTP e a luta contra o diesel, pelo que a incerteza nos próximos tempos é o mais certo. Em agosto, vimos pseudoofertas com vista a antecipar a compra do carro que supostamente ficaria mais carro em setembro, mas afinal, foi tudo adiado para janeiro 2019. O estado vai mexer nas tabelas do ISV sobre o CO2, os construtores andam aos papeis, as grandes cidades e alguns políticos continuam a sua cruzada contra o diesel, o eléctrico não arranca a sério porque a sociedade em geral ainda não está preparada para tal. Eu com tudo isto, dou o meu conselho habitual: se vão comprar carro para serem donos em pleno poder, não o façam, guardem o vosso usado e esperem uns anitos para ver como a coisa vai desenvolver, o que vai ficar, o que vai aparecer de novo, o que vai ficar obsoleto. Se tiverem ou querem mesmo adquirir um carro hoje, comprem-no com recurso a uma opção de aluguer qualquer em que a marca no final fica com o carro. Se isto virar a 90 ou 180 graus em qualquer das direcções, eles é que ficam com o “menino” nas mãos e não vocês, com um carro que pagaram na totalidade e, entretanto, ficou obsoleto e invendável porque ninguém o quer – válido para todos os tipos gasolina, diesel, híbrido e eléctrico… sim o eléctrico porque a evolução desta tecnologia pode tornar os modelos actuais completamente obsoletos.

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