Já saiu VERSUS MAGAZINE #51 is OUT!

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47 Fevereiro

1 / VERSUS MAGAZINE

Revenge of the Fallen

In the Woods...

Nanowar of Steel


EDITORIAL

Ivaginar Portugal sem os Serrabulho? Nem pensar! “As vaginas são todas iguais”, dizem as senhoras (pois, não querem que os maridos/ companheiros andem a experimentar outras…). Mas serão mesmo? Bom, façamos uma breve análise...” científica”: algumas são peludas, outras são carecas (por opção das proprietárias ou por desesperada suplicação do seu companheiro/marido). Todavia, todas se assemelham a mexilhões e, numa linha mais vegetariana, são dotadas de um grelo — maior ou menor, mas todas, sem exceção, têm o seu encanto. Ah, e diga-se de passagem, que o grelo é um vegetal que adoro (o grelo vai muito bem com azeite, vinagre e pimenta. Fica delicioso)! De resto, e mantendo-nos no sector da gastronomia, algumas vaginas assemelham-se a hambúrgueres: os grandes lábios são tão… gulosamente “vastos” que nada destoam do menu de uma cadeia de fast food especializada em…hambúrgueres. Neste caso falamos, portanto, de gastronomia tipicamente norte-americana, com muita carnonga mas o que a banda de capa da VERSUS deste mês tem para nos oferecer é precisamente…VAGItarianismo, ou seja, vegetarianismo…vaginal! A Versus tem por princípio distinguir-se da rotina (não gostamos mesmo nada de fazer, mês após mês, a mesma coisa). Portanto, decidimos, por unanimidade e valor artístico, trazer para banda de capa os Serrabulho. Em sete anos, este quarteto de Vila Real praticante de Happy Grind tem levado divertimento e brutalidade a 14 países europeus. Porntugal – Vagitarian Gastronomy é o seu terceiro e mais recente álbum, que promete elevá-los a um patamar superior em termos de exposição além-fronteiras. Mais de metade dos espetáculos deste quarteto de Vila Real ocorrem no estrangeiro, tornando-o um dos grupos extremos nacionais com maior atividade ao vivo fora de portas. Numa entrevista esclarecedora, o baixista e produtor Guilhermino Martins confidenciou-nos que os próximos dois anos serão particularmente ativos ao nível da atividade em palco. Tudo isto conquistado por direito e esforço próprios. Não é o caso de outros, que, erguendo e sustentando carreiras baseadas em cunhas, influências, “amiguismos”, corrupção e outros esquemas pouco claros, arrebatam a exposição que outros poderiam ter, mas não tocam em 500 bandas criadas propositadamente para aparecer…Portanto, o Underground nacional é hoje um antro de cobras venenosas, de gente mesquinha e maledicente investida em criar divisões no meio! Gente que opta pelos amigos em detrimento de outros. Que nunca dá oportunidades a tantos que as merecem. A competição saudável implodiu, tendo-se criado fações que apenas acentuam a podridão em que o Underground nacional se tornou. E é por essas divisões internas criadas artificialmente, mas com agenda própria, que nunca chegaremos a ser tão influentes como merecíamos. Agradeçamos este estado de coisas aos miseráveis morais, aos invejosos crónicos, aos ressabiados e aos filhos da puta que diariamente minam o cenário metálico nacional. Frequentemente, estas…” características” conjugam-se nos mesmos indivíduos. Não é por acaso. Felizmente, bandas como os Serrabulho permitem-nos abstrair o pensamento de “gente” como esta, bem como da sua miserável conduta. Oiçamos então Porntugal – Vagitarian Gastronomy em loop, enquanto degustamos um saboroso arroz de grelos e mexilhão. Lembram-se de uma iguaria melhor? Boa mú si ca e Bo m 2 01 9 , Dico

2 / VERSUS MAGAZINE

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D IR E C Ç Ã O Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

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44

SERRABULHO

C O N T E ÚDO Nº51 12/18

0 4 T R IA L B Y FIR E

32 PLAYL IS T

8 6 N A N O WA R O F S T E E L

0 5 2 0 18 - OS ME LH ORES

33 O HOM E M D A M O T O S E R R A

9 1 V IC T O R A LV E S

0 6 C A RD H O U S E

34 NAILE D T O O B S C U R IT Y

9 0 G A B R IE L S O U S A

1 0 W OLVE NNES T

43 ALBUM V E R S U S

94 JOSEPH DEEGAN

1 4 U T HA

51 M IGUE L T IA G O

NAILED TO OBSCURITY

SOLSTÍCIO

G R Ê L O S D E O RT E L Ã

(SU)POSIÇÕES

9 8 IN F E S T U S

52 CRITIC A V E R S U S

1 0 2 IN T H E WO O D S ...

2 0 R E VE NGE O F TH E FALLEN

60 WITHE R FA L L

1 0 4 E IN H E R J E R

2 4 T H E LIO N’S DA U GHTER

66 PALETE S D E M E TA L

1 0 8 D E C L IN E O F T H E I

2 6 C A RL OS FIL IPE

76 GARA G E P O W E R

1 1 2 C A R L O S F IL IP E D O D I C I C I L I N D R I

1 8 N U NO LO P E S

2 8 S L IDH R

MOSH

A N TR O D E F O L I A

47 FEVEREIRO

80 O PESO Q U E V E M D O B R A S IL

3 / VERSUS MAGAZINE


Trial by Fire A FOREST OF STARS

ANAAL NATHRAKH

BEHEMOTH

Grave Mou n d s And Gr ave M istakes

I Loved You A t Your D ark es t

(Prophecy Productions)

A N e w K i n d O f H o r ro r (Metal Blade)

MÉDIA: 4,1

MÉDIA: 3,5

MÉDIA: 3,4

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

5 3 4 4,5

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

4 2,5 3 4,5

(Nuclear Blast)

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

3 3 3,5 4

CANTIQUE LEPREUX

DRAGONLORD

EVOKEN

Pa ysages Polaires (Eisenwald)

Dominion (Spinefarm Records)

H ypnagogi a

MÉDIA: 2,7

MÉDIA: 3,3

MÉDIA: 4,5

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

3 2 3

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

3 3,5 3,5

(Earsplit)

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

4,5 4,5

HATESPHERE

SHINING

SOULFLY

R ed uced To F l e s h (Scarlet Records)

Animal (Spinefarm Records)

Ritual (Nuclear Blast)

MÉDIA: 2,2

MÉDIA: 1,9

MÉDIA: 1,8

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

3 1 2,5

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

2 1 3 1,5

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

0,5 1,5 3,5

TUSMORKE O sl o b org e rl i g Tusm or ke [ ...]

(Karisma Records)

MÉDIA: 2,8

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

4 / VERSUS MAGAZINE

2,5 3

Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

2

Básico

1


Melhores 2018 Carlos Filipe 1. 2. 3. 4. 5.

Therion - Beloved Antichrist Thy Catafalque - Geometria Amorphis - Queen Of Time Wallachia - Monumental Heresy A Forest Of Stars - Grave Mounds And Grave Mistakes

Cristina Sá 1. 2. 3. 4. 5.

Autokrator – Hammer of the Heretics Hekate – Totentanz Skan – Death Crown Thy Catafalque – Geometria Funeral Mist – Hekatomb

Ernesto Martins 1. 2. 3. 4. 5.

Horrendous - Idol Thy Catafalque - Geometria Winterfylleth - The Hallowing of Heirdom Evoken - Hypnagogia Dimmu Borgir - Eonian

Gabriel Sousa

1. Angra - OMNI 2. Moonspell - 1755 3. The Night Flight Orchestra - Sometimes The World Ain’t Enough 4. Pleasure Maker - Dancin’ With Danger 5. Uriah Heep - Livin’ THe Dream

Nuno Lopes 1. 2. 3. 4. 5.

Ihsahn - AMR Amorphis - Queen of Time Obscura - Diluvium Voivod - The Wake Dimmu Borgir - Eonian

Eduardo Ramalhadeiro 1. 2. 3. 4.

Amorphis - Queen of Time Riverside - Wasteland Witherfall - A Prelude to Sorrow Orphaned Land - Unsung Prophets & Dead Messiahs 5. Madder Mortem - Marrow

Emanuel Roriz 1. 2. 3. 4. 5.

A Perfect Circle - Eat The Elephant Archgoat - The Luciferian Crown Primordial - Exile Amongst The Ruins Ghost - Prequelle Bloodbath - Thje Arrow Of Satan Is Drawn

5 / VERSUS MAGAZINE


Cartas saídas da gaveta «City Blur» é o primeiro trabalho de Cardhouse e já se encontra disponível desde o primeiro trimestre de 2018, em formatos que serão no mínimo curiosos. O homem por trás desta criação é o multi-instrumentista/produtor português

Daniel Cardoso,

que para além de uma infindável lista de

projectos de renome em que já participou, é também conhecido por se ter juntando aos britânicos Anathema, onde já ocupou funções de teclista ou baterista. Entrevista: Emanuel Roriz

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Sendo Cardhouse o teu projecto a solo, és tu o responsável absoluto por tudo o que se ouve neste «City Blur»? Daniel Cardoso: É um projecto a solo na plena acepção da palavra já que toda a concepção multidisciplinar quer musical, gráfica ou visual foi até agora feita por mim. Tive uma pequena ajuda com um valioso par de participações externas, se a memória não me falha foram o Tóbel Lopes e o Fábio Almeida. O primeiro fez uma letra completa para um tema, fez ainda parte de outra letra de outro tema e cantou num desses temas. O segundo contribuiu com dois grandiosos solos de Saxofone. O processo foi tão arrastado e moroso que espero não me estar a esquecer de ninguém, mas no geral diria que sou o único culpado por tudo de bom ou de mau que este álbum tiver. Para mim foi uma surpresa ouvirte cantar, e muito bem… Já tinhas explorado a tua voz de forma tão extensa, como aqui, em algum trabalho anterior?

Nunca desta forma, não. Sempre fui um cantor de chuveiro e há dezenas de álbuns que produzi que contam com participações de voz minhas não creditadas, seja a fazer pequenos reforços ou algumas harmonias. Mas há algum tempo que tinha a fantasia de lançar um álbum 99% feito por mim, e isso teria que incluir voz. Como é que nasce a ideia de criares o projecto Cardhouse? Foi uma necessidade de expressão musical que ainda não tinha sido preenchida em muitos dos projectos que já te envolveste? Foi certamente isso. Não foi propriamente pensado de forma a ser o que se tornou, foi apenas uma ideia que se foi mutando e desenvolvendo naturalmente e que partiu da necessidade de fazer algo meu. Devo ter começado por fazer um tema ou outro e depois fui encontrando o caminho que quis seguir naturalmente, até chegar ao resultado final que o álbum apresenta.

O teu percurso musical esteve sempre muito ligado ao universo rock/metal. No entanto, o que nos propões em “City Blur” são ambientes e atmosferas bem diferentes dessas vertentes. O que podes enumerar como influência e inspiração para este conjunto de temas? Eu não oiço propriamente rock ou metal de forma recreativa já há alguns anos e isso talvez se deva ao facto de ter trabalhado tanto com esses estilos de música que quando quero ouvir música acabo por procurar naturalmente outros estilos. Como produtor, e digo-o a nível de criatividade de produção, também vejo o rock e metal como estilos bastante limitados porque passando a barreira de ter tudo a soar em conformidade com a tendência dos tempos em que estivermos, não há muito para onde ir. No entanto pego num álbum de uma menina de Hollywood tipo a Lana Del Rey ou de uma estrela do RN’B como o TheWeeknd e está cheio de pormenores cativantes, ideias de produção, efeitos fixes,

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É um projecto a solo na plena acepção da palavra já que toda a concepção MULTI-DISCIPLINAR quer musical, gráfica ou visual foi até agora feita por mim.

os chamados “production values”… Não é só “bons samples de bateria, bom re-amping na guitarra, e uns berros por cima”. Não culpo os produtores de rock e metal, ou se o fizesse teria que me culpar a mim também, mas o estilo em si não tem propriamente espaço

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para criatividade de produção. E não há nada de errado com isso, mas eu não consigo fugir ao facto de que sou um criativo, gosto de brincar e de inventar e como tal senti-me bastante mais inspirado em fazer algo fora do rock e metal essencialmente pelos limites e

barreiras que esses estilos criaram para si próprios. Queres arriscar uma designação para o estilo de Cardhouse? Podemos ser fancy e chamar-lhe uma espécie de dark indie, seja lá o que isso for. O disco «City Blur”» está disponível em 4 tipos de pack. Achei interessante a ideia de possibilitares que os compradores tenham acesso aos ficheiros Stem e ao projecto das prémisturas no Cubase, assim como a hipótese de adquirir o microfone Neumann que utilizaste na gravação do disco. O que te levou a possibilitares este acesso íntimo às tuas músicas? Tenho duas respostas para isso. Por um lado, fiz aquilo que eu gostava que alguns artistas/ bandas tivessem feito com álbuns de que gostei bastante. Adorava ter tido esse tipo de acesso a alguns álbuns da minha vida e como neste caso tive a facilidade técnica de o fazer, não vi porque não o fazer. Por outro lado, foi uma forma de tentar rentabilizar o álbum da melhor forma possível porque são esses os tempos em que vivemos. Os temas “Ink” e “ExtraMile” tiveram direito a vídeo, funcionando como apresentação/ promoção do disco. O que te levou à escolha destes dois em particular? São os meus preferidos e talvez os únicos que acho mesmo bons no álbum todo, já que no geral acho o álbum razoavelmente mediano. O vídeo da “Ink” é mais elaborado, já o vídeo da “Extra- Mile” é apenas uma espécie de visualiser, não é propriamente um “VIDEO”, mas serve o propósito. Ambos feitos por mim, tal como todo o conteúdo visual da Cardhouse. Existe algum plano para levar o projecto Cardhouse para o palco? Se sim, dentro de que moldes poderá vir a acontecer? Existe, existe banda e tem havido ensaios. Aliás, posso dizer que


estamos road-ready. Existem também algumas barreiras logísticas a ultrapassar para o tipo de concerto que queremos dar, mas estamos a trabalhar nesse sentido e de forma a fazer algo que justifique não só às pessoas a ida a um show de Cardhouse, como me justifique a mim sair de casa ou parar outros trabalhos para me dedicar a isso. Aquilo que não vai existir é dar concertos só para dar concertos, ou tocarmos em situações desconfortáveis ou não benéficas quer para nós quer para quem nos quiser ouvir. Ou é a sério ou não é. Estás também prestes a lançar o disco «Cercle» do teu projecto em nome próprio. Em que é se baseia o conceito desta experiência? É uma longa história, mas tentando ser breve, eu tive sempre a fantasia de fazer bandas sonoras. Há uns anos atrás comecei a desenvolver ideias nesse sentido e na altura até tinhas planos para algo mais megalómano que envolvia três

ilustres colaboradores, mas embora as coisas estivessem encaminhadas o processo foi-se arrastando demasiado e todos nós fomos ficando cada vez mais absorvidos cada um com os seus outros projectos, e este ficou confinado à minha gaveta de projectos em standby. Entretanto, 2 ou 3 anos depois, Cardhouse esteve em vias de fazer uma pequena tour pela Europa, mas por limitações logísticas não era possível levar a banda toda. Foi-me sugerido ir a solo, ou seja, representar Cardhouse em palco sozinho, e eu após alguma resistência pessoal achei que talvez o pudesse fazer, desde que conseguisse criar um tipo de show audio-visual em que a não-presença da banda fosse compensada por uma orgia de efeitos visuais de vídeo e luz. Posteriormente foi-me dito que isso seria possível em alguns concertos dessa tour mas noutros não pelas dimensões do palco, e questionaram-me se não poderia fazer algo diferente

nesses concertos mais pequenos, o que me levou a lembrar deste projecto antigo. Ao pegar nele de novo, e uma vez que não tinha vontade nenhuma de representar Cardhouse ao vivo sem o resto da banda, apercebi-me que o melhor seria focar-me apenas neste novo projecto e acabei por desenvolver um espectáculo audio-visual que foi apresentado numa pequena tour por França, Holanda e Reino Unido. Durante este processo foi claro para mim que devia acabar este álbum e dar continuidade ao que foi apresentado nesta tour. As colaborações antigas com os tais ilustres continuam como parte do objectivo, mas para já, já que as circunstâncias assim o decidiram, vou avançando sozinho e num futuro próximo invocarei outra vez os já mencionados ilustres para um possível show e/ou álbum conjunto. Facebook Youtube

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Trevas e psicadelismo Trata-se de uma combinação improvável, que os WOLVENNEST gerem de forma magistral. Entrevista: CSA

1 0 / VERSUS MAGAZINE


Encontrei muito pouca informação sobre a banda, portanto vou começar por te perguntar quem são os Wolvennest. Michael Kirby – Wolvennest nasceu numa noite do ano de 2013. Nessa noite, gravei uma demo numa máquina de gravar cassetes de quatro pistas e com um riff de bateria muito simples. Pouco depois, o Corvus e o Mark Debacker juntaram-se a mim e começámos a trabalhar em várias ideias no nosso estúdio caseiro. Convidámos o Albin e a Marthyna de Der Blutharsch para se associarem a nós como coautores do nosso primeiro álbum. E assim Wolvennest converteu-se num projeto em que colaboram músicos oriundos de diferentes esferas musicais, mas que se conhecem muito bem uns aos outros. Também descobri que não são mencionados na Encyclopaedia Metallum, porque não vos veem como uma banda de Metal. Não me preocupo com categorias, mas o facto de ter lido esta observação na Metallum surpreendeu-me muito. Concordas com ela? Talvez um dia alguém da Metallum nos ouça num concerto e mude a opinião sobre nós? Mas, para mim, isso não é nada importante Na observação acima referida afirmam que a vossa música é sobretudo Folk. Concordas? Temos uma grande quantidade de influências muito variadas, provavelmente porque provimos de horizontes musicais muito diferentes. Como descreverias Wolvennest? Tiveram sempre este tipo de som ou experimentaram outos géneros antes do que podemos ouvir neste álbum? No primeiro álbum, atingimos diretamente o objetivo final: construir o nosso próprio som. Com este novo álbum confirmámos essa conquista. Consideramos que a nossa música e arte são Psychedelic Krautrock combinado com o lado oculto do Metal.

Calculo que tu és o principal compositor da banda. É mesmo assim? Onde encontras inspiração para a vossa música? Os três músicos (o Marcus Debacker, o Corvus e eu) são os responsáveis pela composição neste projeto e o nosso produtor – o DéHà – também tem uma grande liberdade para interferir em cada uma das etapas da composição e da produção. Encontramos inspiração em nós mesmos e nas nossas experiências musicais. O próprio processo de composição traz-nos muitas sensações positivas. Quem completa algumas das canções escrevendo letras para elas? Sou eu que escrevo todas as letras e adoro essa parte do processo, porque constitui um verdadeiro desafio para mim. Tens de criar palavras ou frases que combinem com a música e que lhe confiram uma energia extra. Podes fazê-lo em Inglês, Francês ou Árabe ou até usar apenas onomatopeias. Posso demorar semanas a acabar um texto, mas é uma fase da criação musical verdadeiramente excitante. Passando agora a «Void», gostava de saber o que significa o título. Significa apenas o que diz [“vazio”]. Todos nós, em algum momento das nossas vidas, experimentamos uma sensação de vazio devido a uma experiência positiva ou negativa. As drogas também te podem levar a viver um sentimento de vazio. Pode significar tantas coisas. Podes comentar para nós cada uma das canções deste álbum tendo em conta o seu tema central? “Silirte” é uma faixa instrumental, que funciona como intro para o álbum e apresenta uma melodia oriental. “Ritual Lovers” trata da união de duas pessoas através do lado oculto da mente, para atingirem o mais alto nível espiritual de vida. “Void” transmite a sensação de que estás no alto de uma montanha

[é um] projeto em que colaboram músicos oriundos de diferentes esferas musicais, mas que se conhecem muito bem uns aos outros.

ou no deserto, locais onde te podes confrontar com todo o tipo de sensações ou visões que te purificam por completo. “L’Heure Noire” é a canção com mais ingredientes Black Metal ou Neo Folk. Estamos muito orgulhosos do facto de Alex Von Meilenwald, dos Ruins of Beverast, ter aceitado contribuir com a sua voz para esta faixa. É muito poderosa, mística e mágica. Foi incrível e espetacular a ideia de usar onomatopeias nesta canção, que nos foi dada pelo Alex. Dános a sensação de que a nossa vida é assombrada por espíritos desconhecidos. “The Gates” é uma canção cuja letra está escrita parte em Francês e parte em Árabe, incluindo algumas fórmulas mágicas nesta última língua. É uma espécie de tributo à banda marroquina altamente psicadélica que dá pelo nome de Nass El Ghiwane. Também levam o seu público a atingir uma espécie de transe, tal como é objetivo de Wolvennest. Nesta canção, intervém o meu irmão marroquino Ismail Iskaldi, com quem descobri a beleza do deserto do seu país. Aliás, a canção é um testemunho sobre essa experiência. “La Mort” é uma canção ritual, uma espécie de sabat, que se inspira em bandas como Black Widow, Magma ou Catherine Ribeiro + Alpes.

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Fiquei muito surpreendida com a capa do álbum. Estava à espera de algum menos colorido. Que ideia(s) expressa? Como está relacionada com a identidade do álbum representada pela música e letras? Quem a fez? Foram autoritários para esse artista? Na realidade, não conseguimos encontrar um artwork que agradasse a todos os elementos da banda até que Bobby Beausoleil, preocupado com a situação, nos propôs um dos seus quadros. A Sharon Shazzula é uma grande amiga deste artista e visitou-o no verão passado na prisão. Somos fãs da sua música. E foi assim que ele decidiu oferecer-nos o seu quadro intitulado “Uni”, para ser a capa de «Void».

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“Uni” funciona como uma espécie de mantra e confere ao nosso álbum um caráter de intemporalidade, como se «Void» datasse dos fins dos anos 60 ou do início dos anos 70. Fazem concertos? Onde? Sim. Até ao momento, já recebemos convites fantásticos de bandas como Dool, Electic Wizzard e Wolves In The Throne Room, para abrir concertos deles e também de festivais como House of the HolY, Roadburn, Desert Fest, Acherontic Arts e outros. A Ván Records estabeleceu um plano para ajudar a promover este álbum? A Ván é uma editora

verdadeiramente profissional e apaixonada pelo seu trabalho e, até agora, tudo o que tem feito por nós tem sido perfeito. Há alguma banda com quem gostassem especialmente de tocar? [Recentemente entrevistei Hekate, uma banda alemã, que seria um excelente parceiro para vocês, do meu ponto de vista é claro.] Eu conheço a música de Hekate. Adoramos música Neofolk com paisagens tenebrosas construídas a partir de elementos experimentais e industriais, logo estamos abertos a esse tipo de experiência. Facebook Youtube


No primeiro álbum, atingimos diretamente o objetivo final: construir o nosso próprio som.

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Medo, desapontamento, insucesso Chris Noir, em nome dos Ultha, escolhe estas palavras-chave para descrever a essĂŞncia do seu surpreendente Black Metal. Entrevsta: CSA

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gerido pelo nosso amigo Stefan, da Vendetta Records, mas o nosso novo álbum vai ser lançado pela Century Media. Isto não parece muito excitante, mas nós preferimos deixar a outras bandas a tarefa de dar origem a lendas. O que significa o vosso nome? Vem de um conto de H. P. Lovecraft, intitulado “The acts of Ulthar”. É o nome de uma pequena cidade, onde acontecem coisas muito estranhas – como seria de esperar, dado tratar-se de uma narrativa da autoria de Lovecraft. O Ralph e eu somos grandes fãs dos seus escritos, embora Ultha não seja de modo nenhum uma banda lovecraftiana.

[…] Isto não parece muito exci-

tante, mas nós preferimos deixar a outras bandas a tarefa de dar origem a lendas.

Saudações, Chris! Mas que álbum! Adorei a música, a voz, a atmosfera, a mescla de melodia e violência. Tem todos os ingredientes que me seduzem na música em geral e no Black Metal em particular. Chris Noir – Obrigado. Ainda bem que gostaste! Por favor, fala-nos um pouco da história de Ultha. Formámos a banda em 2014, depois da dissolução das nossas antigas bandas (Planks, Goldust, Atka, Ira, para mencionar apenas algumas). A ideia de base para Ultha foi lançada pelo Ralph e pelo Jens, o nosso membro fundador, que andavam há algum tempo a discutir a possibilidade de criar uma banda de Black Metal. Ainda me lembro da primeira vez em que visitei o Ralph, em Colónia, ocasião em que conversámos sobre como gostaríamos de fundar uma verdadeira banda de Black

Metal. De facto, as nossas antigas bandas incluíam ambas elementos de Black Metal na composição da sua música, mas nenhuma nos parecia fazê-lo de forma adequada. A coisa concretizouse, quando nos juntámos ao Manuel, que também mudou para Colónia e já conhecia o Ralph e o Jens. Começámos a ensaiar, a fazer concertos e gravámos um álbum com o Andy, que acabou por se responsabilizar pelos sintetizadores e pela eletrónica em Ultha. Infelizmente, o Jens teve de abandonar a banda, por motivos de saúde e profissionais, pelo que tivemos o Ralf na banda durante dois anos. Mas ele também teve de nos abandonar depois da gravação deste terceiro álbum. Portanto, até agora, lançámos dois álbuns e o terceiro – «The Inextricable Wandering» – está prestes a ser lançado. A nossa discografia conta ainda com uma mão cheia de EPs e splits. Até agora, tudo era

Quais são as vossas principais influências musicais? Na nossa página na internet, escrevemos: “Se conseguirem imaginar Leviathan e Emperor a juntarem-se a Neurosis para tocarem canções de Fields Of The Nephilim, obtêm Ultha.” Pode parecer uma gabarolice, mas resume – de forma bastante adequada – o que nós fazemos. Mas é claro que há muitos outros que nos influenciam, desde bandas de Black Metal – como Weakling ou Ash Borer – a infratores de regras – como Swans ou Sonic Youth – passando por bandas de Post Punk e Dark Wave, bandas sonoras de filmes e até música clássica e o Death Metal old school de Dismember, por exemplo. Todos ouvimos uma grande variedade de música, logo é difícil associar o que fazemos a um pequeno número de nomes. Tencionam substituir esses nomes por outros, agora que estão na iminência de lançar o vosso terceiro álbum? Não. Por que o faríamos? Seria uma fraude. É claro que, como toda a gente, ouvimos mais umas bandas do que outras em dadas alturas e, por vezes, durante o processo de composição, encontramos algo que nos impressiona e nos influencia.

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Mas, em termos gerais, as nossas coordenadas estão definidas – embora incluam muitas influências. Vocês parecem girar em torno do conceito de “dúvida”. O vosso primeiro álbum intitula-se «Pain Cleanses Every Doubt» e o novo, «The Inextricable Wandering». Podes dizer-nos de há algum fundo de verdade nesta ideia. E relacionar o tema do vosso segundo álbum – «Converging Sins» – com os destes dois? Em parte, é verdade. A nossa música sempre girou e sempre irá girar em torno dos lados negativos da emoção humana, porque é nesse estado que nós a criamos. Mas «Pain Cleanses Every Doubt» não tinha um conceito preciso. Englobava “apenas” as primeiras canções que escrevemos, sem sabermos se iria ou não ser lançado e sem nos preocuparmos com isso. Mas, de facto, o tema da dúvida está presente nas quatro canções. O conceito subjacente a «The Inextricable Wandering» é o medo e a forma como este se relaciona com o desapontamento, de que é uma consequência. Cada uma das suas canções trata de uma forma diferente de medo, que o Ralph sentiu ou de que tomou conhecimento. É claro que há uma relação estreita entre a dúvida e o medo, mas essa ideia não estava presente no nosso espírito à partida. «Converging Sins» está ligado ao nosso primeiro álbum por “You Exist For Nothing”, a última canção do seu antecessor, que trata da profecia que não oferece dúvidas de que ser humano é falhar. No fim de contas, tudo falha e faz da vida algo desprovido de valor. O segundo álbum acabou por ser um concetual e reflete sobre o facto de sermos inteligentes, providos de moral e de ética, mas acabarmos sempre por nos afundar no pecado. Esta ideia também leva ao conceito de medo, porque não podes viver, nem amar sem sentires o receio de falhar. A última canção deste álbum – “Fear Lights the Path” – faz a ponte com o nosso novo álbum. Portanto, é

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verdade que estão ligados entre si. Por que sentem a necessidade de apresentar composições com mais ou menos 10 minutos no vosso álbum? Não previmos isso à partida. Aconteceu assim. O efeito geral que procuramos atingir é que o ouvinte se deixe levar por um riff ou parte de canção, sem nunca se perder. Não é fácil encontrar um equilíbrio perfeito entre a repetição e a variação, mas bandas como Swans e Ash Borer eram mestres nesta arte e fazem parte das nossas grandes influências. Portanto, é daí que vem esse efeito. Nunca nos sentamos e dizemos assim: “Temos de triplicar a duração deste ou daquele riff, senão não conseguimos atingir o objetivo dos 15 minutos.” Acontece naturalmente, parecenos adequado. Se compuséssemos uma canção com 4 minutos e nos parecesse bem, também a gravaríamos. Pode-se dizer que a música e as vozes em «The Inextricable Wandering» são bastante obsessivas? [Também me parece que a extensão das composições ajuda a produzir esse efeito.] Já fizeram esse comentário sobre os nossos álbuns mais antigos. Literalmente, no que diz respeito à voz, a única coisa que eu consigo é gritar até me saírem as tripas. É claro que, nos últimos anos, a minha voz mudou um pouco, mas soa como soa. Não conseguiria cantar doutra forma, mesmo que tentasse. A voz do Ralph é muito mais flexível. Os vocalistas de Black Metal que eu sempre tomei como referências são John Gossard (dos Weakling), Storm (de Strid) e Jef Whitehead (que canta nos primeiros álbuns de Leviathan, com destaque para o EP intitulado «The Speed of Darkness»). Felizmente, a minha voz é relativamente parecida com as deles, mas isso é uma mera coincidência. Li algures que o Ralph é o criador da música e das letras da banda. O

processo foi diferente desta vez? Para ele, foi de certeza. Ele escreve sempre num estado de espírito extremo, só assim é que consegue produzir riffs, melodias e letras tão tenebrosos e obsessivos. Para ele, é uma espécie de diário metafórico. Teve alguns meses muito difíceis desde o início deste ano e recorreu a muita música diferente da habitual para o ajudar na sua luta. Estas novas influências refletiram-se certamente na forma como as nossas canções soam agora. Por outro lado, a banda também está mais madura, sabemos exatamente o que queremos coletivamente. Tudo isto se combinou para nos levar a produzir o trabalho mais desafiador que podemos apresentar até à data. De facto, este é o vosso terceiro álbum e já se sente nele uma grande maturidade. Como conseguiram alcançar este pico? Não consigo responder a essa pergunta, porque não sinto que tenhamos atingido um pico. É claro que tenho consciência de que melhorámos, de que tocámos melhor juntos, de que sou um melhor baixista agora, de que sabemos melhor o que resulta nas canções de Ultha do que há uns tempos atrás, mas espero que ainda tenhamos algo guardado nas nossas mangas para mostrar na nossa música futura. Podes comentar a capa do álbum para nós? Trabalhámos com os nossos amigos Ivan K. Maras e Sara Biscaldi da Deathless Pictures. A foto está diretamente relacionada com o título do álbum: «The Inextricable Wandering». Mostra uma figura indistinta que procura encontrar o seu caminho na escuridão e através do nevoeiro, o que corresponde a uma metáfora da vida. Esta tende a não apresentar contornos claros, a não nos mostrar um caminho a seguir, mergulhando-nos nas trevas e na incerteza, que levam ao medo e, consequentemente, ao desapontamento e ao insucesso.


Ao que parece, Ultha é uma banda surpreendente no palco, segundo a vossa editora. Concordam com eles? E o que faz os concertos de Ultha tão especiais? Somos surpreendentes e especiais talvez porque abordamos os concertos de uma forma diferente de muitas bandas de Black Metal. Não temos truques, não realizámos “rituais”, não usamos velas ou corpse paint ou máscaras. Somos apenas cinco gajos banais, mergulhados em muito nevoeiro e banhados por uma luz vermelha estática, que nos permitem esquecer a nossa individualidade e concentrarmo-nos na música. É uma espécie de concerto de Rock, porque gostamos de ver bandas que dão o litro no palco. Nós fazemos o mesmo. Movimentamonos muito no palco, talvez sejamos até um pouco excessivos em relação a outras bandas. O lado catártico de tocar o vivo é crucial para mim, portanto dou o máximo que posso. O verão está quase a acabar, mas o outono também é uma boa época do ano para concertos. Planearam algo especial a pensar no lançamento do vosso álbum em outubro? Vamos fazer uma pequena digressão em outubro e outra em abril. Antes disso, vamos ter o nosso concerto de lançamento no Soulcrusher Fest, na Holanda e mais alguns concertos aos fins de semana. Como já não tocamos há seis meses, aguardamos ansiosamente esses concertos. Facebook Youtube

Todos ouvimos uma grande VARIEDADE de música, logo é difícil associar o que fazemos a um pequeno número de nomes. 17 / VERSUS MAGAZINE


O QUE É O AZEITE AFINAL? (Uma relação alimusical) Por: Nuno Lopes

a·zei·te (az-zait, azeite, óleo, essência) substantivo masculino 1. Líquido oleoso que se extrai da azeitona. 2. Óleo extraído de outros frutos ou de certos animais. in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Aquilo que podem ler acima é o que me diz o dicionário sobre a palavra «azeite», porém, uma só palavra pode ser muito mais do que aquilo que realmente quer dizer. Quando se fala de música com azeite ou azeiteiros ou ainda música Do Azeite! Mas o que é isto afinal? Foi nesse sentido que nos últimos dias indaguei-me com esta questão e fui à procura de respostas. Encontrei respostas interessantes mas, o importante a reter é que o azeite pode ser tanta coisa e pode não ser nada a não ser mera semântica que, de alguma forma, nos faz entender o que o outro quer dizer. Certamente, haverá na Musica Popular Portuguesa, aka Pimba, aquele artista (performer) que é só azeite. Percebem o que quero dizer, como haverá no Jazz ou na World Music. O conceito de Música com Azeite pode ser, de facto, enganadora pois, como todos sabemos, uma colher de azeite não é lá muito bom e não escorrega assim tão bem! Se ainda não experimentaram, não tentem! Mas, o melhor desta coisa do azeite é que é uma definição muito portuguesa, não existe em mais lado algum, ao contrário do nosso azeite com rótulo espanhol. Imagem algo como «oil-music» ou «i don’t like that, they are so oilie». soa estranho não é? Também se chega à conclusão que todos sabemos o que é o azeite e todos sabemos que, pelo menos algum azeite gostamos! Todos sabemos o que é o azeite mas também ninguém sabe o que é mesmo que todos o saibamos. Vida longa ao Azeite. «Que anda aqui na roda inteira/ aqui e em qualquer lugar/ Ó rama Ó que linda rama/ Ó rama do olival» (música popular)

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Revenge of the Fallen 2 0 / VERSUS MAGAZINE


A essência da negação Caríssimos leitores da Versus: eis os Revenge of the Fallen! Mais uma boa banda nacional que começa o seu despertar neste “mundo cão”. Este quinteto vem directamente de Cascais e apresentam-se com um EP muito genuíno e estão determinados a carregar o peso e a melodia em todos os seus temas. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro & Emanuel Roriz

Eduardo: Para começar, parabéns pelo vosso EP e a pergunta da praxe: Quem são os Revenge Of The Fallen? De onde vêm e para onde vão? Olá, desde já obrigado pela oportunidade. Os ROTF são cinco elementos, Cláudio Santos na voz, Tiago Espadinha e Fábio Gil nas guitarras, Martín Gaspar no baixo e Carlos Araujo na bateria. Vimos de localidades, “culturas” e ideais diferentes, e encontramo-nos para utilizar essas multiculturas para produzir o que fazemos. Para onde vamos? Para a frente. Para a frente é o caminho! Emanuel: Vocês apresentam-se com “Pareidoila”, um EP de 4 temas, mas certamente que neste momento já têm mais material original. Consideram que o que se ouve no EP é representativo daquilo que os Revenge of the Falle serão num futuro próximo, ou estão naquela fase de evolução natural de um colectivo que ainda se pode categorizar como jovem? Sim, estamos ainda numa fase de evolução, autodescoberta, que supomos deva perdurar para sempre, pois vai obrigar-nos de certa forma a ser exigentes connosco mesmos. Eduardo: … ao ouvir a vossa música o tempo passou num instante e fiquei à espera de mais, sinal que a vossa música cativa. Como é que vocês definem os Revenge of the Fallen e que mensagem esperam passar aos vossos fãs? Não terás adormecido? (risos) Repara tendo um tão curto tempo de existência a definição de banda, nos dias de hoje vai diferir da definição daqui a uns tempos, portanto… deixemos o tempo e o nosso trabalho responder a essa questão. Mensagens para os fãs? Black Friday, T-shirts a 10 € (risos). Eduardo: Acham que os Revenge of the Fallen podem marcar a diferença no panorama musical português? Ou se quiserem, acham que vão marcar o panorama musical nacional?

Não nos cabe a nós achar, ou presumir tal coisa. Contudo gostávamos de daqui a uns 10 anos olhar para trás e pensar que sim. Eduardo: Este EP é de alguma forma conceptual? O que dizem as letras e quem as escreve? O título do EP envolve conceptualidade, vejamos: Uma letra escrita, sempre pelo Cláudio, tem um valor, um impacto, uma marca para ele. Quando chega ao público podem interpretar de forma diferente. Logo aí tens o título explicado “o que as vezes parece, pode até nem ser”. Eduardo: Gostei particularmente do vosso som cru, embora ligeeeeeeeeeeiramente comprimido para o meu gosto – Lá diz o povo que “gostos não se discutem… lamentam-se”. Como decorreu o processo de gravação e quem produziu? Não correu da melhor maneira, com culpas divididas. Foi o nosso trabalho possível para o planeamento feito. No fim de contas o objectivo de começar a ser falados foi atingido. Aprendemos muito com ele e vamos com maior bagagem para o próximo trabalho, já no próximo ano. Quanto à característica da gravação, queríamos proximidade com o que fazemos nos ensaios, sem exageros de produção. Emanuel: O significado de revolta que atribuem à vossa designação tem mais que ver com o libertar de algum demónio interior vosso ou pretendem, mais que isso, lançar um alerta às mentalidades mais reprimidas do povo português? “Ambos os dois” como diz o poeta (risos) Serve para exorcizar o negativo que há em nós, através da música que fazemos. Se alguém se identificar com elas e se servirem delas para mudar as suas vidas, melhor… Objectivo cumprido! Eduardo: Porque é que vocês decidiram retirar do negativo o sumo da essência da vossa música e não o positivo? Positivo já é bom. O negativo é a filtragem do

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[...]estamos ainda numa fase de evolução, auto-descoberta, que supomos deva perdurar para sempre [...]

mesmo, uma diálise á nossa alma. Purificação através da música. Todos nós já passamos por momentos menos bons, e é através da música que se deseja fazer essa limpeza. Eduardo: Eu vejo a promoção que vocês fazem no Facebook, por exemplo. Acham que este será o caminho para a afirmação, onde as bandas são elas próprias a “trabalhar” para a promoção e divulgação? Nos dias que correm e com o “budget” que dispomos nós somos os nossos melhores amigos. O que é feito, seja bom ou mau, é feito por nós. Responsabilizamos-nos pelo sucesso ou pelo fracasso. Eduardo: Bem… este EP deixou “água na boca”, o que é que podemos esperar dos Revenge of the Fallen num futuro próximo? Para quando o vosso álbum de estreia? Podem esperar mais aventuras. Não nos vamos conformar com um estilo, não há fronteiras na música, não na nossa. Iremos sempre trabalhar para uma música que por definição nos soe bem a nós. Se alguém gostar então ficaremos ainda mais satisfeitos! Quanto ao formato em que lançaremos as nossas músicas, estamos em finais de 2018, o digital está na berra, o físico está morto. Teremos nesse aspecto, uma abordagem comercial. No que diz respeito à divulgação do som da banda iremos certamente apostar mais no formato digital e não necessariamente em formato álbum. Emanuel: Falando de concertos, o que esperam poder vir a fazer? Qual a exposição que esperam vir a ter no circuito nacional de espectáculos? E perspectivas de internacionalização, há algumas? Esperamos tudo. Estamos cá para tudo! Cá dentro ou lá fora, a vingança será nossa! Facebook Youtube

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À procura de uma nova era É este o objectivo principal que esta banda de nome enigmático persegue. Entrevista: CSA | foto: Josh Rowan

Saudações, Rick! The Lion’s Daughter é mesmo uma banda diferente. Por que escolheram esse nome para a banda? O que significa para vocês? Rick Giordano – Precisamente pela sua ambiguidade. Era o título de um romance sentimental que o Erik e eu vimos no aeroporto, quando estávamos em digressão com a nossa antiga banda, que já não nos andava a agradar. Era uma fonte tão pouco plausível para se ir buscar o nome de uma banda que nos pareceu que este nos iria dar a liberdade necessária para fazer tudo o que quiséssemos. No fundo, o nome não tem sentido. «Future Cult» é o vosso terceiro álbum. Podemos vê-los como uma espécie de trilogia ou são independentes uns dos outros? É evidente que há uma progressão

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natural à medida que os três foram sendo criados e lançados, mas não tínhamos a mínima intenção de fazer uma trilogia. Os álbuns não estão relacionados uns com os outros de nenhuma forma, tanto quanto eu sei. Cada um deles tem o seu próprio espaço e tempo. Francamente, já não me interesso muito pelos nossos dois primeiros álbuns, nem penso muito neles. Do meu ponto de vista, a banda é agora muito diferente e já nem me identifico muito com o que éramos nessa altura. Mesmo sendo os vossos álbuns independentes uns dos outros, deve haver alguma relação entre eles. - Estão associados pelo tipo de música? A música que fizemos para «Shame On Us All» parece-me agora desleixada e pouco focada,

mas não é forçosamente má. Muitas coisas violentas sãono. As letras são uma confusão e, frequentemente, não fazem sentido. «Existence Is Horror» já era um álbum mais focado e começava a mergulhar nos temas relacionados com o horror. Nesse álbum, fizemos alguma experimentação, mas não me parece que a nossa visão se tivesse afirmado muito nesse lançamento. Ainda estávamos a pensar muito “dentro da caixa”. Decidimos realmente explorar mais esta senda do horror e da ficção científica em «Fulture Cult», mas, desta vez, fomos mais pacientes. Sempre quisemos encontrar uma forma de combinar de modo perfeito música de banda sonora capaz de inspirar horror com o Metal agressivo que tocávamos e, desta vez, pareceme que chegámos lá. Este álbum tem alguns temas semelhantes


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ecidimos realmente explorar mais esta senda do horror e da ficção científica em «Fulture Cult», mas, desta vez, fomos mais pacientes. […] aos de «Existence Is Horror», mas é bastante mais limpo e eficaz. Dedicámos-lhe mais reflexão e mais tempo e, na nossa opinião, valeu a pena. Nunca me senti tão orgulhoso de algo em que tenha trabalhado em toda a minha vida. Definimos um objetivo e atingimolo mesmo. Convertemo-nos na banda que queríamos mesmo ser. - Será que estes álbuns estão relacionados de alguma forma através dos tópicos tratados nas suas letras? De certa forma, sim. Muitas das letras são intencionalmente vagas e eu não gosto de falar muito sobre elas. Eu diria que as letras de «Future Cult» são muito mais pessoais ao ponto de me fazerem sentir desconfortável. Escrevemos muito sobre ira, ódio, destruição… mas esta foi a primeira vez que escrevi sobre o medo, sobre as coisas e as ideias que me parecem assustadoras, pessoalmente. Na minha opinião, é algo que podemos explorar de uma forma muito mais intensa. E o que é este culto futuro doe que o álbum nos fala? Tem a ver com a ideia de se converter em algo diferente. Todos vivemos encerrados em espaços escuros situados no interior das nossas mentes, que não partilhamos com ninguém, mas estranhamente os nossos piores atributos são aquilo que nos liga uns aos outros de forma mais forte. É algo repugnante. Lá bem no fundo, nós – os seres humanos – somos lixo repugnante.

Reparei que as capas dos três álbuns são muito diferentes umas das outras. As duas primeiras são muito clássicas (uma a preto e branco e a outra em cores sombrias), mas a terceira é muito especial. - Provoca-me arrepios, porque me parece muito claustrofóbica. Concordas comigo? Não a vejo dessa forma, antes pelo contrário. Faz pensar numa paisagem tão vasta, tão imponente, que acaba por se tornar opressiva e isoladora. Penso que retrata a forma como muitos de nós se sentem no mundo. - Que ideia pretende a banda exprimir através desta capa? A capa de um álbum acaba por ser uma espécie de convite para entrar nele e ouvir o disco. Esta capa tem algo de familiar, mas, ao mesmo tempo, de estranho, de belo, mas também terrível, de vivo e apelativo, mas igualmente perturbador… é uma grande obra. E também é uma foto verdadeiramente incrível. - E quem é este Mothmeister? Eu não estou aqui para revelar segredos. Mas também te posso dizer que não tenho a certeza de quem seja. - Penso que esta capa combina perfeitamente com a vossa música. É colorida e assustadora, ao mesmo tempo. A vossa música tem melodias maravilhosas, mas são obsessivas e provocam angústia, um efeito que é sublinhado pela tua voz áspera. Que pensas desta apreciação? Parece-me bastante adequada. Mas posso dizer-te que parte desse efeito é intencional e que parte aconteceu espontaneamente. Tenho tendência para não levar as coisas de forma muito dura, quando estou a compor música ou a escrever letras. Por vezes, algo visual ou um artista causam-te uma impressão forte e, quando isso acontece, tu sentes o seu efeito no teu íntimo e que faz sentido. Foi exatamente o que eu senti da primeira vez que vi o trabalho de Mothmeister. Há uma correlação total entre a música e o artwork.

Falando de papéis desempenhados na banda, quem é o principal compositor? E quem assina as letras? Eu componho a maior parte da música no meu estúdio em casa e depois dou-a a conhecer ao Erik e ao Scott, que injetam nela as suas ideias e lhe dão uma vida nova. Ouvem coisas de que eu nunca me apercebi e fazem pequenas alterações e melhorias. Eu faço o grosso do trabalho, mas o resultado final não seria o que é e a banda não soaria como soa sem o contributo deles. Eu escrevo as letras todas – embora admita que sempre detestei fazê-lo. Quero compor música, não fazer trabalhos de casa. Fazem concertos? Sim, apresentamos a nossa música ao vivo. Somos três no palco: guitarra, baixo, bateria. E temos microfones para duas vozes. Todas as partes de sintetizador são programadas pelo Erik, de acordo com o que ele toca nas canções. Não é fácil, mas foi a solução que encontrámos para evitar ter um quarto membro. Preferimos sermos só nós os três na banda. A Season of Mist apresentou-vos um plano para promover este «Future Cult»? Temos uma curta digressão prevista para o fim de julho e planos para o fim do verão e o início do outono. Conhecem algumas das bandas do catálogo da SoM? Gostariam de tocar com algumas delas? Temos amigos em algumas das bandas e é claro que somos fãs de muitas… mas isso não funciona como as pessoas pensam. Não é por estarmos na mesma editora que vamos ser amigos dos Mayhem ou partir em digressão com os Craft, que, por acaso, até são uma das minhas bandas favoritas. Mas nunca se sabe o que pode acontecer no futuro. Facebook Youtube

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Apesar desta história fantástica já ter quase um quarto de século, só muito recentemente, quando o DVD/Bluray foi lançado, tomei conhecimento deste raro acontecimento que me passou despercebido todos estes anos de todos, o concerto mais memorável e arriscado da história, num contexto de guerra que ia devastando os Balcãs nos 90, após a desintegração da Jugoslávia. Entretanto, adquiri e li o livro autobiográfico de Bruce Dickinson, “What this button do?”, e, além da persona do Paul Bruce Dickinson, pude perceber melhor a origem deste concerto/aventura memorável. Resumidamente, Bruce recebeu uma chamada telefónica em casa, a perguntar se queria fazer um concerto em Sarajevo, ao que Bruce retorquiu logo, “Não é uma zona de guerra com tiroteios diários?” Do outro lado responderam: “Sim, mas as Nações Unidas têm tudo planeado.” E Bruce aceitou com um “Porque não?”. O Coronel Martin das Forças Britânicas das Nações Unidas que estavam na guerra dos Balcãs, teve a ideia alucinante de fazer um concerto em Sarajevo. Seria uma operação de um dia, um “in&out” aerotransportado por helicópteros, uma verdadeira loucura digna de um Apocalypse Now (o qual tem uma coisa deste tipo quando os protagonistas vão rio acima ao encontro do Coronel Kurtz). Então, o referido Coronel Martin começou a sondar as bandas, duas das que sabemos recusaram, pela própria boca do Bruce foram os Metallica e os Motorhead. O recusar seria a resposta mais obvia, pois só um louco ou destemido é que aceitaria algo deste calibre e algo arriscado. O projecto a solo de Bruce, o qual tinha lançado nesse ano de 1994 o seu segundo álbum «Balls To Picasso», e este, aventureiro e pouco dado a vedetismos, apesar de ser quem é, partiu para uma aventura que lhe dava mesmo assim algumas garantias. As coisas organizaram-se, foi marcada a data, e tudo passava por viajar até Split – Croácia – vestir os coletes e capacetes da UN, apanhar um helicóptero Sea King e voar até Sarajevo, dar o concerto e regressar. Uma operação militar especial dos britânicos da UN, para que tudo corresse pelo melhor, pois Bruce Dickinson e os Skunkworks iam dar um concerto em plena guerra, numa cidade cercada, melhor, ladeada pelas duas frentes da guerra (a frente Sérvia dum lado e a Bósnia do outro), repleta de snipers que não poupavam ninguém, tal como na altura passava nas notícias o verdadeiro drama daquelas gentes de Sarajevo. Tudo correu bem até que, já na Bósnia, Bruce e companhia tomaram conhecimento que não haveria ponte aérea para Sarajevo. Estava tudo finito. O Coronel Green, o superior do Coronel Martin, deu-lhe passagens para regressarem a casa e virou costas. Bruce olhou em redor, olhou para os seus colegas de banda, já que ali estavam, porque não tentar chegar ao seu destino e virou-se para o Coronel Green, respondendo: “Coronel Green. Muito obrigado, mas sabe, nós vamos tentar chegar a Sarajevo. Não sei como o vou fazer, mas nós cá nos arranjamos.” O resto da história deixo para o documentário e o único facto que é evidente, foi a realização do concerto em Sarajevo a 14 de dezembro de 1994. Bruce e companhia apanharam

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“Scream for me Sarajevo!” um comboio humanitário de uma organização não governamental, conhecida pelos “The Serious Road Trip”, que iam para Sarajevo via Mostar durante a noite, levando-nos assim para o meio da zona de guerra. Toda esta epopeia da banda dava um grande filme, pois tem um início repleto de dados para escrever a base da estrutura da história: uma personagem principal maior do que a vida, um “Mcguffin” fortíssimo – dar um concerto numa cidade cercada – e uma jornada épica com os “The Serious Road Trip” e arriscada para chegar a Sarajevo, que ocuparia todo o segundo acto do filme. O guião começaria com a actuação da banda num qualquer concerto da tournée do Balls to Picasso Tour, o qual serviria até de genérico. Depois passaríamos a apresentar o Coronel Martin e a sua proposta de um concerto rock em Sarajevo. Seguir-se-iam os vários contactos com as bandas até Bruce aceitar a proposta. A banda chegava à Bósnia e quando esperava partir para Sarajevo em helicópteros, recebia uns bilhetes de volta. Bruce recusa e tenta mesmo assim dar o concerto. Fim do 1º Acto. O segundo acto seria a viajem para Sarajevo e a preparação e organização do concerto com todas as peripécias que estão contadas no documentário, quer dos membros da banda, quer dos organizadores, quer dos metalheads fãs de Iron Maiden e Bruce que existiam em Sarajevo. O terceiro acto passaria pelo tão esperado “Scream for me Sarajevo” pela boca de Bruce. Fim. Um ponto forte do documentário, é o testemunho dos intervenientes que fica para a posteridade, num documentário que estreou o ano passado no cinema e agora pode ser visto em DVD/Bluray. O filme centra-se em dois aspectos: O da banda e o impacto de tudo aquilo, e, os organizadores e fãs locais, incrédulos com o facto improvável de Bruce Dickinson vir dar um concerto na sua cidade cercada. O foco está sempre subjacente a guerra, as frentes, as mortes, os snipers e o facto de o espaço do concerto não ter sido atacado aquando do evento, pois este facto era uma incógnita. A construção narrativa do documentário é excelente. Primeiro apresentam-nos os Bósnios que viverem aquele momento histórico e o coronel da UN, só aos 30 minutos é que aparece o Bruce e os outros elementos da banda. A pouco e pouco há duas coisas que começam a fervilhar: primeiro, será que o Bruce vai a Sarajevo passado estes 20 e tal anos? Será que vamos ter imagens do concerto e ouvir o tão famigerado “Scream for me Sarajevo”? Pois, o documentário não desilude neste aspecto! Este é também um filme emocional, pois aquele concerto, naquela noite, também foi repleto de emoção e as três horas do evento fez com que aquelas pessoas esquecessem que estavam em plena guerra. «Scream For Me Sarajevo» é um filme documentário que merece ser visto, pela fantástica história de uma banda, num concerto improvável, numa guerra horrível e a transmissão de um humanismo emocional, que mudou aquelas pessoas para sempre.

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Homem vs Terra É ESSENCIALMENTE SOBRE ESTE TEMA E AS SUAS DECLINAÇÕES QUE SLIDHR REFLECTE. ENTREVISTA: CSA

Saudações, Joseph! Cá estou a entrevistar-te para a Versus Magazine. Da outra vez, o tema da conversa foi «Deluge», o álbum de estreia dos Slidhr. Desta vez, vamos discutir «The Futile Fires of Man». Entretanto, algumas coisas mudaram na banda. - Que contributo tem dado o terceiro membro da banda para a sua arte? Joseph Deegan– De facto, o Garðar deixa a sua marca no som da banda. Quando eu estava a compor e gravar a guitarra e o baixo, estava a adotar uma determinada abordagem, mas, quando se envolve outra pessoa no processo, ela ouve as coisas de forma diferente e acrescenta algumas nuances, que nunca me ocorreriam. Ele foi nosso músico de sessão nos últimos anos, portanto foi uma decisão lógica fazê-lo passar a membro definitivo. - Uma vez que tu és a alma da banda, como lidas com os outros dois membros da banda? Ainda sinto alguma estranheza, quando penso que a banda que eu criei sozinho chegou ao que é atualmente. Em tempos idos, tinha pensado em dar-lhe uma formação completa, mas depois decidi não o fazer. Quando isso aconteceu, foi um processo natural, não teve nada de forçado. Todos trabalhamos muito bem juntos, logo parece-me que temos uma formação forte. - Da última vez que falámos, disseste que nunca farias um concerto. O que te fez mudar de opinião? A cena de onde venho estava longe de ser a ideal. Era difícil encontrar bons músicos e o nível

dos concertos era péssimo, abaixo do amadorismo. Tive muitas experiências negativas com várias bandas, o que me levou a criar Slidhr, para que houvesse algo bem diferente disso. Chegou a altura em que passar aos concertos pareceu ser uma progressão natural. Conhecia alguns músicos da cena islandesa de há alguns anos atrás através do nosso guitarrista e eles facilitaram muito a transição. - Já tocaram ao vivo algumas das canções deste álbum? Sim, no Oration Festival, na Islândia, e no House of the Holy, na Áustria, tocámos algumas das novas faixas. Desde essa altura, acrescentámos algum novo material à nossa set list. Os dois álbuns parecem estar ligados pelos seus temas: a destruição das pessoas perversas, no primeiro, e a ausência de consciência, no segundo. - Também os vês assim? Se, ao falares de “pessoas perversas”, te estás a referir a TODAS as pessoas, então sim, o primeiro álbum trata da destruição das pessoas perversas. Mais precisamente, tratava da indiscriminada erradicação da espécie em que nos convertemos. Suponho que o tema do novo álbum não está longe desse, já que se refere a algo que eu acredito que tem mesmo de acontecer. O título do novo álbum refere-se à arrogância do Homem e à sua obsessão pelo domínio da natureza, algo que é completamente fútil. - É por coincidência que o título do primeiro se refere à água e o título do segundo faz referência

ao fogo? Se te informares sobre mitos de destruição, constatarás que todos eles falam da nossa extinção por ação dos elementos. Este é um dos principais temas de Slidhr e sempre foi. Porém, no caso do título do segundo álbum, o termo “fogo” refere-se à crença humana na ideia de que temos uma espécie de força que nos defende da natureza (seja a tecnologia ou qualquer outro meio), o que é uma completa idiotice. Acho a capa absolutamente fantástica. - Também foste tu que a fizeste como aconteceu com a do primeiro álbum? Sim, também fiz esta. A capa de «Deluge» foi feita um tanto à pressa, pelo que não fiquei verdadeiramente contente com ela. Esta mais recente está bem mais próxima da forma como eu a imaginei. Dá muito jeito que eu possa fazer o artwork para a banda. Às vezes, é muito difícil encontrar a pessoa certa para fazer o trabalho pretendido. - Penso que representa um demónio. Há alguma relação entre a tua personagem e as criaturas demoníacas da arte japonesa? Não, não há relação direta com a arte japonesa, não há nenhuma influência direta. É verdade que sou fã de artistas japoneses como Yoshitoshi, Hokusai e Hiroshige. Mas as influências estéticas que podes ver nesta imagem vêm sobretudo da arte europeia. - Podes comentar as relações entre os elementos da capa e os tópicos tratados no álbum? A natureza é frequentemente

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“ representada como algo demoníaco ou maligno, quando, na realidade, ela se limita a existir, sem se preocupar minimamente com as opiniões tolas dos humanos. A imagem que escolhi para a capa faz alusão a essa ideia: a Terra vista como uma besta que há de devorar o Homem. A música do álbum é fascinante, mas bastante opressiva. - Podes fazer-nos uma visita do álbum relativa às relações entre este e o tópico que escolheste para cada canção? Este álbum tem de ser ouvido na íntegra. Actualmente as pessoas sentem necessidade de obter uma gratificação imediata, portanto isso não vai certamente acontecer muitas vezes. Os tópicos abordados no álbum estão ligados entre si, para proporcionar uma experiência coerente. Estar a analisar cada faixa separadamente

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[…] O título do novo álbum refere-se à ARROGÂNCIA do Homem e à sua OBSESSÃO pelo domínio da natureza, algo que é completamente fútil.

não teria interesse para ninguém. - Não há dúvida de que os teus companheiros de banda dão substância à música de Slidhr. Convidaste-os para participar na criação deste álbum de alguma forma? Na realidade, eu apresento sugestões básicas para a bateria, mas os arranjos finais são da responsabilidade do baterista. Não quero ser demasiado ditador. Se eu não confiasse nele, fazia logo tudo eu mesmo, como aconteceu no início. O mesmo acontece com o baixo. O Garðar traz ideias que nunca me passariam pela cabeça e eu fico muito entusiasmado a ouvi-las. De certo modo, esta colaboração permite-me ouvir de forma mais objetiva do que antes. Vais repetir a experiência de fazer concertos relacionados com este álbum? Não iremos fazer muitos, mas sim,

vamos fazer três concertos este ano, mas cada um deles é único. Poderá haver mais alguns, mas não está nada ainda decidido de forma definitiva. Já há um terceiro álbum refugiado nas profundezas da tua mente? Isso ainda vai demorar bastante tempo. Temos em estudo uma colaboração interessante a ocorrer lá para o fim do ano com os nossos amigos de Akatechism. Criar um longa duração acarreta muito trabalho e é um processo que demora muito tempo. Não vai acontecer, enquanto a inspiração não se apoderar de mim. Tenho um último pedido a fazerte: gostaria de te entrevistar como artista gráfico e tatuador profissional. Sem problemas. Facebook Youtube


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Playlist Carlos Filipe

Misanthrope - Alfa X Omega Jean Michel Jarre - Magnetics Fields Jean Michel Jarre - Revolutions King Diamond - Deadly Lullabyes Accept - Symphonic Terror(Live At Wacken 2017) Lacuna Coil - The 119 (Show Live In London) Decembre Noir - Autumn Kings A Forest Of Stars - Grave Mounds And Grave Mistakes

Cristina Sá

Bölzer – Hero – Iron Bonehead Bonjour Tristesse – You Ultimate Urban Nightmare Decline of the I – Escape – Agonia Craft – White Noise Black Metal – Season of Mist Grabak – Bloodline Divine – Massacre Iskald – Innhøstinga – Indie Omrade – Nade – My Kingdom Slidhr – The Futile Fires of Man – Ván Records

Eduardo Ramalhadeiro

Soen - Lotus Nailed to Obscurity - Black Frost Gotthard - Defrosted 2 Rikard Sjöblom’s Gungfly - Friendship Metal Church - Damned If You Do

Emanuel Roriz

Slayer - Reign In Blood Dragonlord - Dominion Cardhouse - City Blur A Perfect Circle - Eat The Ealephant Benediction - Transcend The Rubicon

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Ernesto Martins

Queen - I e II Sigh - Heir to Despair The Blood Divine - Awaken Iskandr - Euprosopon Thormenthor - Abstract Divinity

Frederico Figueiredo

Led Zeppelin - IV The Who - Who’s Next? Goatsnake - Black Age Blues Miles Davis - Dark Magus All Them Witches - Lightning at the Door John Coltrane - Blue Train

Gabriel Sousa

Gotthard — Defrosted 2 Halestorm — Vicious Barón Rojo — Volumen Brutal FM — Tough It Out Kamelot — The Shadow Theory

Helder Mendes

Faith No More - Angel Dust Morbid Angel - Covenant Ry Cooder - Paris, Texas Enslaved - In Times Aeternus - Heathen


O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Ano novo, a mesma bosta. Terminaram as festividades! É aquela altura do ano em que depois das únicas duas semanas do ano onde realmente tentamos que haja paz e a harmonia, sentimos um vazio. Principalmente no estômago. A dura realidade de vermos todos os bolos, doces e fritos desaparecerem de um momento para o outro das nossas mesas sem termos tido a hipótese de nos despedirmos convenientemente deles (ou seja, com uma visita ao Hospital por paragem de digestão), é um choque para muitos de nós. Eu pessoalmente fico deprimido até ao Carnaval, altura em que se instalam, muito convenientemente, várias barracas de cachorros e farturas mesmo à porta da minha casa. Sim, bem sei que podemos olhar para as nossas barrigas ou ancas para matar saudades, mas não é a mesma coisa. E é neste catatónico estado de pós-festas, em que as alucinações provocadas pela recém-adquirida obesidade juntamente com a privação de açúcar, e pelo facto de estarmos embebidos num qualquer espírito festivo no rótulo do qual se pode ler “15% de volume”, que fazemos as maravilhosas “resoluções de ano novo”. O que são para mim as “resoluções de ano novo”? Ora bem, para as tentar descrever, fui rever o vocabulário usado por grandes escritores Portugueses como Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa e Eça de Queiroz, com o intuito encontrar uma palavra que definisse a profundidade, seriedade e o compromisso que se sente quando são feitas. Após um longo período de pesquisa e reflexão o termo mais brilhante que encontrei para o fazer é: Merda. Não “merda” no sentido de estrume, que uma vez colocado no chão vai dar origem a algo produtivo. Não! “Merda” no sentido da diarreia que o caniche do vizinho deixou no chão do prédio, e quando dão por isso têm a carpete de arraiolos toda suja, um cheiro a ETAR dentro de casa, e dão por vocês não só a limpar merda da carpete, como o vosso próprio vómito. Aquele momento em que se apercebem que afinal, sempre se lembram do que comeram ao almoço, e fazem uma nota mental no sentido que devem (mesmo!) mastigar melhor a comida. Vamos ser honestos: ninguém, ou quase ninguém, quer efectivamente cumprir estas resoluções! Caso contrário já as tinham posto em prática. São óptimas para as redes sociais, onde se dá a entender que estão num caminho de mudança para se tornarem num ser humano ainda mais perfeito do que aquele já dão a entender que são através de publicações do Facebook. Sim, aquelas repletas da moral e sabedoria que não sentem nem têm. Ui! Que agora vou ao ginásio! E vou comer melhor! E vou

limpar a casa e lavar as meias! (Esta última é minha). Portanto, mais de metade das alminhas que fazem estas resoluções, fazem-no para “Show off”. Quem são as outras? Quem é preguiçoso demais para as cumprir, quem não tem coragem para as fazer, ou megalómanos. Confusos? Eu explico! Bem se pode ter a vontade de ir todos os dias ao ginásio, mas alguém com 300kg, que não consegue sair da cama sem a ajuda de uma grua, e que para chegar à porta da rua é necessária uma logística que envolve 20 pessoas e 5 empresas de construção civil… tentar ir ao ginásio todos os dias parece-me, quiçá, impossível. Talvez esta comparação tenha sido ela também excessiva. Contudo, para quem encara a sua deslocação ao wc como uma tarefa árdua, fazer exercício todos os dias é uma bonita utopia que eles sabem que não vão cumprir. E podem sempre dizer: “Eu queria… mas não tenho tempo! Ando sempre a correr.” (embora não literalmente, para tristeza das calças que já não conseguem esticar mais) Ou, por exemplo, quem quer pedir ao chefe para colocar toda a difícil personalidade, antipatia e histerismo num bonito supositório com capacidade de levar até 5kg de uma qualquer substância, e introduzi-lo o mais lentamente possível, sem anestesia e sem recurso a cirurgia, no local de eleição para a colocação de supositórios… mas que mal passa à sua porta sente os seus esfíncteres a falhar. Estarei a ser injusto? Talvez. Haverá quem encare a resolução de ano novo como uma chapada na cara a eles próprios! “Não sejas mandrião e cobarde! Vai em frente e faz aquilo a que te propuseste!” Porém, apesar de toda a boa vontade, há quem pura e simplesmente seja incapaz de levar a cabo o que pretendia. Soube por exemplo que o nosso querido amigo Jorge Jesus se propôs a ler grandes clássicos da literatura Portuguesa. Até cumpriu! Leu os Lusíadas, por exemplo. Isto é… leu uma página. Ou seja… a capa. Mas tentou!! Isso é que importa!! A minha resolução de ano novo é simplesmente deixar de fazer resoluções de ano novo. Vou-me afastar das redes sociais até fevereiro, altura em que vem o Carnaval e voltam as fotos de bêbados, que é sempre mais divertido do que ver filosofias baratas e “decisões” de ano novo que nunca vão passar da primeira semana. Despeço-me em privação de açúcar e sem resoluções na manga: O Homem da Motoserra

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Gelo Nuclear Em 2016 entrevistámos os Nailed to Obscurity aquando do lançamento de «King Delusion». Nessa altura nada faria prever que o álbum seguinte estaria a ser lançado pela Nuclear Blast. «Black Frost» não é uma agradável surpresa, porque isso já foi com «King Delusion», é, sim, uma evolução natural de uma banda em crescimento e da qual podemos esperar muitas coisas boas. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Ester Segarra

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Eduardo: Olá mais uma vez! Muito obrigado pelo vosso tempo a responder às nossas perguntas. Obviamente tenho de começar por uma mudança muito importante na vossa carreira… que foi a assinatura de um contracto com a Nuclear Blast. Como é que isto aconteceu? Raimund: Definitivamente assinar com a Nuclear Blast foi um grande passo para nós e estamos muito gratos por isso. Depois do lançamento de «King Delusion» nós sentimo-nos muito satisfeitos com o resultado e com o trabalho que a Apostasy Records fez connosco. Mas achámos que seria a altura ideal para experimentar o próximo nível no nosso caminho evolucional como banda. Tomasz (fundador da Apostasy Records) pensou que nós podíamos ficar com ele na nossa equipa. Isto foi muito importante para nós já que somos bons amigos e a nossa relação foi ficando cada vez mais forte ao longo dos anos. De repente, ele apareceu com uma oferta da Nuclear Blast e o resto foi tudo muito simples. Ainda não acreditamos muito bem no que nos está a acontecer. (risos) CSA: Suponho que o álbum anterior teve uma excelente

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recepção. O que nos podes dizer relativamente a isso? Raimund: Todo o processo correu muito bem e até hoje ainda gostamos muito de «King Delusion». Foi e ainda é um marco importante na nossa carreira e foi a primeira vez que ficámos 100% satisfeitos com o resultado. Para além da escrita também encontrámos a sonoridade ideal que nos permitiu complementar a música com as palavras. Bem… as reacções da imprensa foram para lá daquilo que estávamos a imaginar e isso convenceu-nos de que fizemos o mais acertado. Eduardo: Quais foram as mudanças mais importantes entre uma pequena editora e uma das mais importantes? Raimund: A Apostasy Records e o nosso promotor, Peter Klapproth, trabalharam que se fartaram na promoção de «King Delusion». Dito isto, nós agora vemos e percebemos que há uma grande diferença. O catálogo e as pessoas são muito maiores e por isso, podemos levar a nossa música a um maior número de pessoas. É também uma honra ver o nosso nome no catálogo da Nuclear Blast, juntamente com grandes bandas. Ainda hoje parece mentira. Eduardo: um aspecto que me chamou a atenção foi a diferença de volume entre «King Delusion» e «Black Frost». Quem produziu e masterizou «Black Frost»? (Digo isto porque ouvindo os dois álbuns de seguida a intro de “Black Frost” quase rebenta com as colunas e ouvidos (risos)) Raimund: Este álbum foi produzido

por Victor “V. Santura” Bullock que também trabalhou connosco em «King Delusion». Foi a primeira vez que ficámos 100% satisfeitos com o resultado final. Além da composição também a nível da sonoridade que ficou muito próxima do nosso som ao vivo e elevou ainda mais a atmosfera, algo que já procurávamos há muito tempo. O Viktor compreende a nossa música como ninguém e, por isso, queríamos que trabalhasse connosco outra vez. Na minha opinião a sonoridade de «Black Frost» é ainda mais orgânica em comparação directa com «King Delusion» e a atmosfera criada é ainda mais negra. Eduardo: (Na minha opinião) Em «Black Frost» vocês seguiram um caminho diferente - Enquanto o álbum anterior é um pouco mais melódico, este aqui parece-me com mais elementos melancólicos e tendencialmente doom. Para mim o «King Delusion» é mais directo e fácil de ouvir. Às primeiras audições ainda pensei: “Bem… O anterior é melhor” mas agora como que “cresce” à medida que o ouço. - Porquê esta mudança de direcção e não seguirem… Digamos, a “fórmula” do álbum anterior? Volker - Eu não diria que o «King Delusion» é mais melódico que «Black Frost» per se. Embora eu saiba que alguns fãs poderão sentir isso. Simplesmente neste álbum tentámos dar mais espaço a todos os instrumentos e especialmente às vozes. Era nosso objetivo enfatizar algumas partes com guitarras poderosas, por um lado, mas também reduzir a secção instrumental em alguns pontos para dar mais ênfase às vozes e noutras partes é o baixo junto com a bateria que sobressaem. Eu acho que isto é uma grande diferença relativamente aos álbuns anteriores e na minha opinião, uma melhoria, especialmente se compararmos «Black Frost» com «King Delusion». Em geral, acho que o novo material é mais


Foi a primeira vez que ficámos 100% satisfeitos com o resultado final. Além da composição também a nível da sonoridade que ficou muito próxima do nosso som ao vivo [...] 37 / VERSUS MAGAZINE


complexo para para quem ouve. Há um monte de coisas a acontecer dentro de cada música e eu acho que é por isso que leva algum tempo para entrares nas músicas, por assim dizer. Além do facto de que adoramos brincar com os contrastes das partes limpas e suaves em alternância com as partes mais pesadas, que é o principal atributo de nossa música, não há nenhuma forma quando se trata de escrever músicas. Todos nós sentimos que queríamos criar algo escuro e pesado, mas bonito ao mesmo tempo e com esse objetivo nas nossas mentes deixamos nossas ideias fluírem. Na verdade, foi assim que sempre fizemos, só que em cada novo álbum, cada membro da banda se desenvolve individualmente e com isto a música também. - Na minha opinião manteve a mesma sonoridade mas a nível de composição há uma notória evolução. Este passo foi uma consequência da mudança de editora ou este seria o mesmo álbum se fosse editado pela Apostasy Records? Volker: Tens razão. Como disse anteriormente, é muito importante para nós mantermos os nossos principais atributos e as nossas raízes musicais mas isto veio naturalmente. De qualquer das formas, há sempre uma constante evolução na nossa sonoridade. Isto não é influenciado por ninguém e fazemos o que achamos mais certo. No fundo é tudo muito simples: trabalhamos até todos estarem 100% satisfeitos com os temas e esta forma de trabalhar não muda consoante a editora. Então, sim, «Black Frost» teria sido o mesmo em qualquer outra editora. - Houve mudanças na vossa forma de trabalhar de um álbum para o outro? Volker - Primeiro que tudo, com o tempo tu aprendes com os erros que cometeste no passado e é óbvio, o melhor é não repetilos. Mesmo assim, nem sempre é fácil ver ou tomar consciência e, no final, sugar o melhor deles.

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Mais importante: nós tornamonos mais eficientes como banda durante o processo de composição. Começamos com ideias muito vagas e trabalhamos todos juntos na sala de ensaio, no intervalo dos nossos trabalhos regulares. Gravamos os bocados que escrevemos, ouvimos repetidas vezes e reunimo-nos novamente para melhorar as partes originais. As músicas vão-se formando lentamente. Por si só, este processo tornou-se muito eficaz. Também acho que todos nós nos concentramos mais durante o processo de composição mas a maior mudança relativamente às anteriores foi que, com «Black Frost», fizemos uma pré-produção no estúdio. Raimund, Ole e eu fomos lá algumas semanas antes da gravação definitiva para trabalhar no material e depois apresentar e envolver nosso produtor no material que já tínhamos escrito. Depois disso, fomos novamente para a sala de ensaio e fizemos os últimos arranjos antes de entrarmos no estúdio para finalmente gravar «Black Frost». CSA: Eu gosto dos contrastes das vozes, às vezes limpa, outras mais agressiva; as guitarras “frias” e o ritmo da bateria. Reconheces esta minha descrição no álbum? Raimund - Antes de mais muito obrigado! É muito bom saber que gostaste da dinâmica e do dos contrastes do álbum. Isto é um grande elogio para nós. Definitivamente reconhecemos esta tua descrição no álbum. Para nós é o nosso álbum mais diverso que fizemos até hoje. Nós tentamos amadurecer as nossas ideias e deixá-las fluir através dos ensaios. Enquanto as músicas por si só se tornaram mais dinâmicas, a voz seguiu isto instintivamente. No final não foi planeado que haveria uma enorme diversidade de vozes, mas acabou por ser engraçado tentar muitas coisas diferentes; visto a esta distância, tenho a dizer que até resultou muito bem. Mas foi sempre a nossa

intenção enriquecer os Nailed to Obscurity com as nossas melhores características e enriquecer ainda mais a música com novos elementos musicais. Eduardo - Este álbum será lançado no dia 11 de Janeiro. Com estas mudanças óbvias - de que falámos anteriormente - como é que achas que as pessoas irão reagir a isso? Volker - Estamos todos muito animados, felizes e orgulhosos com este novo lançamento. É claro que esperamos que os nossos fãs (e não só) gostem das novas músicas. Mas isto está fora do nosso alcance. Eu acho que para os fãs mais antigos, ao princípio, poderá ser um pouco mais difícil ouvir «Black Frost». Em comparação com «Opaque», por exemplo, é bastante diferente em muitos aspectos. Mas se fizeres a ligação entre todos os nossos lançamentos, notas que «Black Frost» é o próximo passo evolutivo para os Nailed to Obscurity e tenho certeza que muitos dos fãs que ouvirem o álbum irão perceber isso. Como estamos em constante desenvolvimento é inevitável que alguns deles poderão não concordar com a nossa evolução mas eu tenho certeza que a maior parte deles vão gostar e espero que com o «Black Frost» algumas pessoas novas encontrem o seu caminho para ouvir os Nailed to Obscurity. CSA - Sobre o que é este álbum? Raimund - Não há um conceito fechado por trás das letras do álbum mas todas elas tratam de pessoas que lutam contra si mesmas. Hoje em dia, fica cada vez mais difícil seres tu mesmo. O mundo exterior parece que te classifica ou te põe um rótulo muito depressa. É difícil expressar ou mesmo aceitar as emoções mais sombrias e melancólicas como parte natural de nós mesmos. As letras do álbum são sobre pessoas que suprimiram as suas emoções por muito tempo e não perceberam o grande fardo que carregam com elas.


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[...] se fizeres a ligação entre todos os nossos lançamentos, notas que «Black Frost» é o próximo passo evolutivo para os Nailed to Obscurity [...]

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Eduardo - Como é que as tuas letras se relacionam com a música? Raimund - Eu acho que a relação entre a música e as letras é como um diálogo. Eu tento recolher ideias para as possíveis letras antes do início do processo de composição. Sempre que sinto que uma ideia é suficientemente forte, envio um e-mail para mim ou escrevo num papel. Quando os primeiros arranjos terminam, começo, então, a procurar entre os rascunhos gravados se há alguma ideia em particular que encaixe num determinado tema. Às vezes, nenhuma delas encaixa e aí começo a escrever algo de raiz. Mas também há casos em que é a música que me inspira a escrever e com esta forma de trabalhar eu tento que as letras realmente se enquadrem com a música. Claro que as minhas ideias estão abertas aos outros elementos da banda, de forma a lhes dar inspiração para fazerem a música. Como vês, há definitivamente uma forte ligação entre as letras e a música. CSA - E a capa: é mais um pouco de arte de Santiago Caruso? Raimund - Sim, estás certa. O Santiago fez também a capa e os desenhos para «King Delusion» e como ficámos muito satisfeitos com o resultado, quisemos voltar a trabalhar com ele. O processo para as ilustrações foi igual ao álbum anterior. Nós enviámos o instrumental das músicas mais as letras e ele pediu mais detalhes para entender o significado por detrás do título “Black Frost”. Depois de algum tempo, ele disse-nos que tinha uma ideia muito forte sobre as ilustrações e que queria começar a desenhálas imediatamente, sem enviar qualquer esboço. Como confiamos nele, deixámo-lo fazer o que sabe fazer melhor. O resultado final surpreendeu-nos e encaixou muito bem no conceito da música e das letras. CSA - Como é que o tema principal do álbum está reflectido

na capa? Raimund - “Black Frost” é um termo relacionado com embarcações. A “geada negra” aparece nas estruturas dos navios que ao se mover na água e devido às baixas temperaturas, juntamente com a chuva e humidade arrefecem ao ponto de congelar. Este gelo acumulado é capaz de fazer virar os navios. Da mesma forma, os seres humanos que não conseguem canalizar e não aceitam as suas emoções mais sombrias, como parte deles mesmos, criam sobre eles um peso ao tentar afastar esses mesmos sentimentos. Esse peso é capaz de “virar” as mentes desses seres humanos. Santiago pegou nessa ideia e encontrou a ideia base para as ilustrações. Para ele “Black Frost” é como uma doença na sociedade contemporânea e só ataca os seres humanos. Animais, árvores ou plantas são imunes à “geada negra”. Com esta interpretação, ele adicionou um componente social e crítica e realmente o conceito que criou encaixa muito bem com todas as letras. CSA - Neste álbum, as músicas são mais curtas do que em «King Delusion». Existe alguma relação entre esse facto e o conceito por detrás do álbum? Volker - Para ser honesto, não acho que as músicas sejam muito mais curtas. Eu concordo que esse tipo de música “oversized”, como aparecem em «King Delusion». Por exemplo, falta em «Black Frost» algo como “Uncage my Sanity” e o álbum pode conter uma ou duas músicas mais curtas. Mas no geral é que as nossas músicas são, novamente, bastante longas, com espaço suficiente para respirar. Isto se compararmos a muitos outros lançamentos no Metal. E isto precisamos de fazer, de forma a dar espaço à nossa maneira progressiva de escrever. O que nós realmente tentámos implementar foi uma composição de músicas mais ordenada e eu acho que isto poderá levar a uma percepção diferente da duração das músicas.

Eduardo - Lendo algumas reacções a «Black Frost», sobre as vossas influências, acaba por ser engraçado, porque quase todas as pessoas mencionam uma banda diferente: Opeth, Katatonia, November’s Doom, Paradise Lost. Estas bandas estão entre as vossas principais influências que tornam o vosso som único? Volker - Somos influenciados por tantas e grandes bandas… Mas estaria a mentir se eu te dissesse que esses nomes não tiveram um grande impacto na nossa música e gostamos muito dos que mencionaste. Mas quando se trata de música, o leque de bandas que ouvimos é muito grande, independentemente do género e eu acho que esse é o ponto-chave da nossa música. Como ouvintes não temos limites e isso também se reflecte na nossa música. Eduardo - Você estão prestes a embarcar numa digressão europeia com os Amorphis, Soilwork e Jinjer. Existe alguma data prevista para Portugal? O que é que as pessoas podem esperar dos Nailed to Obscurity? Volker - A digressão com os Amorphis, Soilwork e Jinjer será muito importante para nós e o timing com o lançamento do nosso álbum não poderia ser o melhor. Estamos animados e já um pouco impacientes para começar. A próxima digressão levar-nos-á a muitos lugares na Europa, infelizmente não há data em Portugal incluída. Mas, além da digressão, estamos também a trabalhar para que possamos passar por Portugal em breve. Seria a nossa primeira vez e, pelo que ouvi, é verdadeiramente espectacular tocar diante de vocês e estamos a fazer tudo para que isso aconteça.

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ALBUM VERSUS Nailed to Obscurity «Black Frost» (Nuclear Blast)

Os Germânicos Nailed to Obscurity têm vindo a evoluir e a construir uma carreira sólida… passo a passo, álbum a álbum, acabando por culminar com o lançamento de «Black Frost» pela Nuclear Blast. Se «King Delusion» foi já uma agradável surpresa, a banda não se deixou esmorecer por tamanha responsabilidade e, já dentro de uma nova editora, evoluiu para uma nova sonoridade. Nós, que recebemos “toneladas” de música, procuramos (quase) sempre algo novo, que se destaque do marasmo que é, muitas vezes, a falta de criatividade. Eis como vejo e sinto o seu Death Metal: é melódico e melancólico, quase cru, misterioso, por vezes tenso e desconfiado, o ritmo compassado mas poderoso e a melodia dissonante e introspectiva. A voz ora brutal e cavernosa, a clamar por desespero, ora calma como um sussurro tranquilo. As notas respiram por entre o sufoco emocional e elevam-se à filosofia das palavras. Os Nailed to Obscurity amadureceram, evoluíram e com eles também a música. No entanto, com esta evolução veio também alguma complexidade que não estava presente nos álbuns anteriores – há muito mais a acontecer dentro de cada música - e, por isso, poderá haver alguma resistência. Não se deixem enganar, a inércia desaparecerá à medida que vão entendendo a música e depois de se embrenharem no ambiente criado, sentir-se-ão completamente viciados e envolvidos numa bruma obscura. Estamos ainda no início de 2019 e «Black Frost» é já o primeiro na lista dos melhores. Um álbum que só será surpreendente para quem não os conhece e é um dos melhores álbuns de Death Metal Melódico que que tive o prazer de ouvir nestes últimos álbuns. [ 9 /1 0 ] ED U A R DO R A MA L HADEI RO

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Eb ntre

icos, pitos e cagalhões

A brincar, a brincar, são uma das bandas nacionais mais reconhecidas aquém e além-fronteiras. Chegados ao terceiro álbum em cinco anos e após algumas centenas de concertos por essa Europa fora, os SERRABULHO estabelecem-se, com a devida vénia, como um dos grupos nacionais mais reconhecidos, aliando música extrema ao HUMOR como mais ninguém o faz. A VERSUS falou com o baixista e produtor Guilhermino Martins, que nos fez um ponto da situação. 44 / VERSUS MAGAZINE

Entrevista: Dico

Fotos: André Henriques


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Eis-me a entrevistar-te novamente para a VERSUS MAGAZINE, após uma digressão de 109 datas de apoio a Star Whores, que parou em 14 países, incluindo várias participações em festivais. Que balanço fazes desse período? Sentes que o vosso nome e base de fãs cresceram, por um lado; e, por outro, que o retorno financeiro, seja em cachets, ajudas de custo, vendas de discos e de merchandise foi suficiente, ou pelo menos justo? Foi uma longa jornada, de facto, Dico. O balanço é mais do que positivo e, quando, há cinco anos, fui convidado para me juntar a Serrabulho, estava longe de imaginar o que aí vinha! Desde o lançamento do segundo álbum – Star Whores – o crescimento da banda foi inegável. Há um vídeo no Youtube que compara – lado a lado – a reação do público de um festival alemão, onde atuámos em 2015 e, depois, em 2017 e a diferença é abissal! Perceber que ao longo dos últimos três anos os promotores foram colocando Serrabulho num spot cada vez melhor, em termos de horário, nos seus eventos; ir percebendo o carinho e o respeito que fomos granjeando e verificar que as solicitações para concertos não paravam – e por isso o Porntugal só saiu agora – deram-nos um alento ainda maior. Não bastava já a diversão de tocar numa banda destas e ainda recebíamos, em troca, esse troco, passo a redundância… Há coisas que, contadas, parecem exageradas, mas os vídeos no Youtube acabam por ilustrar o que tento descrever. Tocar em países como a Roménia ou a Dinamarca e ter o público “na mão”, com uma significativa parte a já conhecer os temas, é algo inexplicável. Em relação ao retorno financeiro, a banda sempre foi autossustentável. Todos temos os nossos empregos e vamos conciliando o tempo entre trabalho, família e os inúmeros concertos. E sim, a procura de

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merchandise tem crescido de ano para ano. Entretanto, lançaram Grind is Love, 7'' Split EP com os Shoryuken. O vosso tema foi uma hilariante versão de «Sweet Child O’Mine», dos GunsN’Roses, que vocês rebatizaram de «Sweet Grind O’Mine». Desde estão, este tema também se tornou obrigatório nos vossos concertos. Decidiram lançar este 7” dada a extensão da tour e a preparação do 3º álbum, para mostrar ao pessoal que se mantinham a trabalhar, ou foi pura diversão? Foi uma forma de dar algo às pessoas, uma vez que, com tantos concertos a serem agendados, percebemos que o álbum seguinte ainda demoraria algum tempo a ser concretizado. E em boa hora o fizemos, uma vez que a Sweet Grind O’Mine acabou por nos dar a conhecer a um público que, de outra forma – talvez por recearem o termo “grindcore” – nunca sentiriam curiosidade para nos ouvir. À semelhança da paródia feita com «Sweet Child'O Mine», está no vosso horizonte "dar o tratamento" clássico dos Serrabulho a outro tema conhecido e incluí-lo no set-list da tour que se avizinha? Está, sim! O Carlos [Guerra, vocalista] deu-nos a ideia de fazer uma versão muito nossa de um tema clássico de Heavy Metal. Não sei quando vai acontecer, mas tenho a certeza que, no futuro, vamos conseguir gravá-lo. Por ora, como compreendes, a prioridade é promover o Porntugal ao máximo, por isso é provável que a ideia seja a longo prazo. E não, antes que perguntes, não posso revelar qual o tema (e de que banda)! [risos] No comunicado de imprensa do novo álbum, Porntugal (Portuguese Vagitarian Gastronomy), a editora diz que este é o disco dos Serrabulho mais "Serrabulho": significa isto

que consideram ter encontrado o vosso som “definitivo”, que efetivamente representa a banda, embora sempre hajam tido um conceito muito próprio, desde a música, às letras, passando pela imagem? A meu ver, o novo álbum condensa tudo o que de mais característico tem esta banda: a referência às raízes, ao tradicional (aqui mais em relevo, na verdade), o nonsense sempre presente, a imagem e as letras com um teor cómico e tudo com uma legitimidade insuspeita, até devido à nossa origem geográfica. Tudo, talvez, mais aprimorado, fruto de vários anos de convivência mútua entre nós e tantos concertos que nos deram múltiplas histórias para colecionar e, ao mesmo tempo, nos permitiram perceber o que funcionava melhor e pior ao vivo. Sentem, portanto, que as raízes da cultura portuguesa que aprofundam e usam de forma agradavelmente louca neste álbum serão a regra nos futuros registos dos Serrabulho? Pergunto isto porque aqui encontramos letras escritas em Mirandês; paródias com os emigrantes a viver nos países francófonos mas que quando vêm a Portugal de férias querem evidenciar-se como sendo estrangeiros, sendo que de vez quando lá lhes sai um “ó Santiago Manuel, anda cá, meu grande filho da puta (sendo a própria mãe a chamar ao filho… filho da puta!) e não escapam de fazer uma figura triste; os ditados populares tipicamente nacionais, com o seu misto de sabedoria mas igualmente de humor; mas também instrumentos do folclore. Ou seja, como povo, nós, Portugueses, somos efetivamente o que podemos ver e ouvir em Porntugal. Estamos aqui bem retratados. Fala-me esta abordagem. Bem, o Ass Troubles tinha acordeão, o Star Whores tem um tema com bandolim e o novo álbum tem gaita de fole, rabel,


A meu ver, o novo album condensa tudo o que de mais característico tem esta banda

Gosto da música que é tocada em conjunto e não só o metal. 4 7 / VERSUS MAGAZINE


tarota e vários instrumentos percussivos tradicionais. Por isso, parece-me indiscutível que essa presença das raízes musicais já faz parte da identidade de Serrabulho. Da mesma forma, a utilização do Francês – o primeiro disco tem a Lèche Moi les Couilles, por exemplo – advém do facto de termos tantos familiares emigrados e do quão particular é, em virtude disso, o agosto transmontano. Não posso dizer que o novo disco ilustre com clareza o que é ser português, pois há óbvios exageros com intenção cómica, mas, de uma forma caricatural, acabámos por retratar alguns traços realistas, claro! A este aprofundar da cultura e das raízes nacionais nem sequer escaparam, em termos estéticos, figuras determinantes da nossa História (Marquês de Pombal, D. Afonso Henriques e Luís Vaz de Camões), sem esquecer a personagem mitológica do Zé Povinho (cujo significado social vai muito para além do que muitos julgam), criado por Rafael Bordalo Pinheiro. Foi divertido encarnar estas figuras nas sessões de fotos? Era algo que faltava para colocar a cereja no topo do bolo e para que o disco, conceptualmente, vos fizesse sentido? As nossas sessões fotográficas são sempre verdadeiras epopeias. Juntos, com o auxílio do André Henriques, embarcamos em viagens alucinantes em busca de locais onde a natureza se destaque. E, aqui em Trás-os-Montes, temos imensos! A imagem da banda acaba por ser uma extensão do seu som. Não se sobrepõe a ele, mas é, não há como o negar, importante por complementar todo o conceito alucinante. E sim, é divertidíssimo e acabamos por dar imensas gargalhadas, com as figurinhas que fazemos. Agora imagina a cara de quem vai a passar e vê quatro tipos, vestidos de forma estranha, a tirar aquelas fotografias [risos]. À parte os elementos tradicionais

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portugueses que usam nas letras, tenho a clara sensação de que as mesmas estão ainda mais loucas (e isso é algo que não é fácil de alcançar). Preciosidades como “Abri a janela / estava um cagalhão / no fundo da Ruela, imaginei-o no pão / mas cagalhão sem condimento não tinha muita piada / imaginei com ovo e pimento / e uma tomatada.” Ora, este é um poema absolutamente lindo. Portanto, aquilo que eu e os leitores queremos saber é qual é a marca da cola que a banda anda a snifar porque é efetivamente muito boa. Na verdade, essa canção é uma exceção à regra, uma vez que a grande maioria dos temas e as suas letras são baseadas em factos que já nos aconteceram. No caso da Cagalhão Com Ovo a Cavalo, a letra e o riff principais foram idealizados pelo Carlos e, quem o conhece, sabe que tem um sentido de humor muito próprio, que acaba por nos contagiar. Aliás, a convivência dentro desta banda é tão despreocupada e alegre quanto parece. Há a noção de que estamos juntos a criar algo “maior”, mas com a firme sensação de que nos divertimos enquanto o fazemos. E isso nota-se quando passa mais de uma semana sem concertos. Há toda uma sensação de “ressaca” de palco, que quase dá comichão. Sem brincadeiras, sei que já existem planos para promover ao vivo este 3º terceiro álbum. Existe algo concreto que possas adiantar-nos, quer a nível de tours, festivais, etc.? Vamos andar na estrada nos próximos dois anos, pelo menos, e já temos datas agendadas até outubro de 2020. Por ora, os concertos já anunciados são: 29.12.18 - Assembleia do Metal 2018, Pindelo dos Milagres, São Pedro do Sul 18-19.01.19 - XXXapada na Tromba, RCA Club, Lisboa 02.02.19 - Massas Club, Pedrulha, Coimbra 28.04.19 - SWR, Barroselas Metalfest, Barroselas

05.07.19 - Resurection Fest, Viveiro, Espanha 22.08.19 - Deathfeast Open Air, Andernach, Alemanha 24.08.19 - Loud Farm Fest III, Skiland, Stará Myjava, Eslováquia 02.11.19 - Masters of Grind 2019, Concertzaal De Casino, SintNiklaas, Bélgica. No entanto, é seguro afirmar que vamos ultrapassar as 109 datas de promoção do disco anterior. Sei também que 2019 reservará algumas surpresas para os Serrabulho. Haverá algo que já possas adiantar em primeira mão à Versus Magazine ou ainda não é o timing certo? Não é a altura certa para falarmos disso. Mas vamos ter atuações muito, muito especiais, nomeadamente em festivais onde já fomos anunciados. Algo que não tardará a ser público, mas que, neste momento, não posso revelar. A nível de digressões, que territórios estratégicos mais vos interessa conquistar com este álbum, segundo, obviamente, os orçamentos disponíveis, bem como número e a qualidade das propostas de promotores de outros países (e até continentes?) Mantendo a lógica de autossustentabilidade, o objetivo passa por tocar em outros países que ainda não visitámos e, sim, a médio prazo, chegar ao Continente Americano. Algo que não é, de todo, impossível, mas, lá está, implicará a continuação do crescimento da banda. Há também imensas solicitações a chegar do Brasil, Estados Unidos e México, por exemplo, e as estatísticas do Spotify não enganam. Mas…um passo de cada vez, como sempre. Em Portugal, antes dos Serrabulho, já houvera bandas como Comme Restus, Darku Phalo, Kalashnikow ou Cunnilingus, numa abordagem mais nonsense, e, à exceção dos Kalashnikow, que foram, de certa forma, uma bandarelâmpago, as outras tiveram


existências intermitentes. Na área da música pesada com humor, os Serrabulho são, até hoje, a banda nacional com uma carreira melhor delineada e consistente. A vossa abordagem lírica, musical e estilística constitui definitivamente a fórmula do vosso sucesso, mostrando uma variedade a que o público não estava habituado. Fala-me da idealização de todo este projeto intitulado Serrabulho e da conceptualização de cada álbum. Eu só entrei em Serrabulho quando a banda veio gravar o primeiro álbum, aqui aos estúdios. Dado que eram três elementos, oferecime para a gravar as pistas de baixo e acabaram por me convidar para fazer alguns concertos, sem grande compromisso. A partir daí, a ligação foi-se estreitando, ao ponto de passar a fazer parte do grupo. A nossa carreira não foi, admito-o, propriamente “delineada”. Não houve um grande plano para fazer algo que crescesse desta forma. No fundo, eu juntei-me a três estarolas que andavam a fazer

algo diferente, único, pejado de diversão (para banda e público) e sem grandes pretensões artísticas, na verdade. Aliás, a primeira vez que começámos a falar, entre nós, de concertos no estrangeiro, a ideia pareceu-me descabida e deslocada da realidade. Repara, nos primeiros concertos dos Serrabulho em que toquei, havia 20-30 pessoas no público, as condições eram pobres e o som era mau, mas as reações do público eram excêntricas, manifestando uma alegria que acabou por nos contagiar. No fundo, a palavra-chave deste grupo é, para mim, genuinidade. E talvez seja isso que cativa tanto as pessoas, a par de uma identidade mais personalizada – exótica, se preferires – que tentamos adicionar à música extrema que praticamos. O facto de sermos tão proactivos também ajuda – e de que maneira – a que as coisas aconteçam. Depois, o facto de sermos pessoas tão diferentes, que se complementam enquanto grupo,

é excelente. Por vezes, damos por nós, na estrada, em estapafúrdias sessões montypythonianas, a discutir conceitos para temas novos, baseados nas aventuras que se passaram no concerto (ou na after-party) da noite anterior. De igual modo, todo o conceito dos álbuns acaba por surgir da forma mais natural possível: se nos fizer sorrir e deixar bem-dispostos, é provável que aproveitemos determinada ideia. Há muito que te divides pela gravação, mistura, masterização, aulas de instrumento, etc. nos teus Blind & Lost Studios que têm sido objeto de cada vez maior procura, nomeadamente em termos de bandas internacionais. Faz-nos um balanço deste percurso e que projetos tens agora em mãos no estúdio. Até nisso, o papel de Serrabulho foi importante, por ter dado a conhecer o meu trabalho a uma camada mais vasta de potenciais interessados. Desde o Star Whores que diversas bandas estrangeiras

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Não posso dizer que o novo disco ilustre com clareza o que é ser português, pois há óbvios exageros com intenção cómica

têm recorrido ao meu trabalho, seja como produtor, responsável pela mistura e / ou masterização. Em janeiro passado trabalhei cá com os belgas Brutal Sphincter, em abril próximo terei os bascos Mutilated Judge no estúdio. Já trabalhei também com os Kadaverficker ou os Condylomata Acuminata, falando especificamente da “cena” Grindcore, em que não costuma haver muito cuidado com a produção dos discos. O meu objetivo sempre passou por tornar o som dos temas tão percetível quanto possível, sem perder o seu lado extremo. Pelos vistos, mais bandas têm apreciado essa abordagem, daí a procura dos estúdios e do meu trabalho. Neste momento estou a gravar com um projecto local de Folk Rock, chamado Multidão Solitária, que já vai, aliás, no seu quarto álbum. Em janeiro terei os penafidelenses Godark - Death Metal melódico – a registar o seu primeiro longa-duração, havendo ainda uma série de outros projetos prestes a ser concretizados. Além disso, tenho sido cada vez mais solicitado por editoras independentes para remasterizar discos clássicos, que têm sido editados em vinil. O crescimento do estúdio sempre

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foi assente na ótica de máxima “qualidade e dedicação”. É muito importante, para mim, não enganar as bandas e dar-lhes o máximo de atenção por forma a que, ao saírem daqui, além de levarem um disco profissionalmente gravado, tenham aprendido algo que lhes possa ser útil no futuro. Tenho a óbvia sensação de que é isso que tem sucedido e, talvez por isso, muitas bandas regressem para gravar mais álbuns. A Rotten Roll Rex tem feito um trabalho meritório com os Serrabulho, e o facto de estar sedeada na Alemanha facilita a distribuição dos vossos álbuns para todo o território europeu. Tendo tu falado em entrar no espaço norte-americano, haverá perspetivas de assinar contratos de licenciamento para esse e outros territórios? Os nossos discos têm distribuição no continente americano, até pelos licenciamentos que a editora já tem lá. A Rotten Roll Rex foi a melhor plataforma que esta banda podia ter encontrado para se dar a conhecer a um público mais vasto. Aliás, felizmente, as editoras a quem temos estado ligados têm sido excelentes para nós. A nacional Vomit Your

Shirt, responsável pela edição do primeiro CD (que vai, aliás, ter agora uma reedição, por estar esgotado há muito tempo), merece um destaque gigante por ter sido a primeira a apostar em nós. Desde aí, a ligação entre nós tem sido constante e o trabalho que o Micael [Olímpio, organizador do festival Butchery at Christmas Time e baixista dos R.D.B.] tem feito com esta editora é algo que importa sublinhar. É uma pessoa séria, com olho (e ouvido) para bandas plenas de potencial e uma simpatia desarmante. É impossível não lhe estarmos eternamente gratos. Regressando à Rotten Roll Rex, o entusiasmo do Marco – dono do selo – foi impossível de ignorar. Ele chegou a ser vocalista dos Gut – uma banda carismática dentro deste género específico – e tem construído uma editora com um sério following, em que o público já sabe perfeitamente o que esperar das suas edições. E, claro, sempre que nos encontramos na Alemanha, há patuscadas de grande nível. Muito obrigado por esta oportunidade, Dico! Facebook Youtube


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solstício tivemos um solstício curto ao contrário dos que vivem as horas independentemente da época umas sobre as outras sem distinção uma noite curta um dia não tão longo quanto a translacção do planeta parecia permitir traídos por uma precessão própria quem sabe isto de a terra ter dois pólos acaba por influenciar os nativos de todos os signos poemas madrugadas poemas meia noite e tanto o sorriso se esvai em lágrimas como os pulsos latejam sangue pressuroso para escorrer sob as unhas dos que sem saber da estrela polar se desorientam por mais que gritem ao vento tivemos um solstício curto disso nada sabem os sãos para quem os dias e as noites e as horas e os minutos têm todos, uns atrás dos outros, para sempre, o mesmo comprimento de uma cobra que se alimenta da cauda sem princípio nem fim que começa e acaba no espectro do audível na vibração perceptível de todas as partículas menos as de si próprios que passaram a barreira do som e já só os gatos as ouvem tivemos as mãos atadas por uma guita fina chamada vontade ou falta dela tivemos as mãos libertas por uma faca romba do mesmo nome ou falta dele. eu nunca serei o cheiro da chuva no chão porque não cheguei a nuvem eu nunca serei foz porque me afoguei na nascente.

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CRITICA VERSUS

A FO R E ST OF STARS

A B S T R A C T V O ID

A N A A L N AT H R A KH

«Grave Mounds and Grave Mistakes» (Prophecy Productions)

«Back To Reality» (Avantgarde Music)

«A New Kind of Horror» (Metal Blade Records)

Esta banda de Leeds, Inglaterra, apresenta uma das mais sólidas evoluções, com o seu muito original black metal, de difícil subcategorização, devido à riqueza musical que emana das suas músicas, e os caracteriza linearmente. Há quem diga que é psicadélico – não ouço onde – e outros que é avantgarde – aqui já começo a concordar, no final acho que a verdade está no meio, pelo que a designação de Avantgarde Black Metal assenta que nem uma luva. «Grave Mounds and Grave Mistakes» é o quinto opus e acrescenta mais uns degraus na rampa de ascensão que esta banda tem escalado no metal até aos nossos dias – O céu é o limite. Cada música apresenta uma tonalidade intrínseca sem nunca fugir ao tema principal do Avantgarde Black Metal, apresentado uma riqueza tal, que a cada audição descobrimos mais uma saliência musical mais, um pormenor. Talvez esta é a palavra chave para definir a música dos A Forest of Stars: pormenor. As músicas oscilam entre os 6 e os quase 11 minutos, se excluirmos a “intro”, e ao longo de cada uma, há vários tempos, várias texturas, vários compassos que lhe dão corpo. Apesar de toda esta disparidade musical, o álbum é unido num todo pelo som Black Metal original da banda e o tema subjacente da era Vitoriana, com melodias hipnóticas carregadas de decadência. «Grave Mounds and Grave Mistakes» é uma excelente proposta do género, que coloca o standard da banda numa fasquia muito alta. A Forest of Stars é uma das bandas mais interessantes que anda por aí no meio mais pesado. [9.5/10] CARLOS FILIPE

Ao primeiro contacto a música dos Abstract Void gera alguma apreensão. A sonoridade puramente electrónica e os beats sintéticos new wave que abrem o disco parecem sugerir desde logo a possibilidade da coisa descambar a qualquer momento para o piroso. Mas isso, na verdade, nunca acontece, e o que perdura é a sensação duma experiência refrescante, resultado duma fusão magistral entre uma sonoridade synthwave retro e um blackgaze ao estilo dos Alcest. Trocado por miúdos o que temos aqui é música feita de melodias etéreas, que irradiam uma nostalgia quase permanente, conduzida por teclados proeminentes, pontuados por percussão electrónica, com guitarras dissimuladas a conferir profundidade e negritude, e um gélido e distante registo vocal de black metal. «Back to Reality» é o segundo longa duração do projecto de um multi-instrumentista que pretende permanecer no anonimato, e quem ouviu o primeiro álbum, «Into the Blue», dirá até que este novo disco poderá soar como uma segunda parte desse álbum de estreia publicado em 2017, só que um pouco mais agressivo. O peso acrescido é desde logo atestado, por exemplo, pelo ataque rápido do titulo-tema, bem como em “A reflection of dying past”, onde as guitarras assumem, numa das raras vezes, o primeiro plano, criando uma atmosfera que lembra a abordagem sónica dos Summoning. Apesar das referências evidentes ao black metal, o mood geral da música é sempre muito inspirador, sendo “Joy night” a melhor ilustração deste estado de espírito. Como referi, «Back to Reality» pode gerar, no início, alguma estranheza, mas acaba por se tornar aditivo. [8/10] ERNESTO MARTINS

Mantendo um registo de produtividade bastante intenso, os Anaal Nathrakh voltam à carga dois anos após o lançamento de «The Whole of the Law». A fórmula, essa, não muda muito e portanto o que se pode esperar em «A New Kind of Horror» é mais do mesmo horror que o duo inglês está acostumado a mostrar. Talvez por isso, um novo álbum já não causa o mesmo sobressalto que os primeiros lançamentos provocavam; não obstante, perdida a novidade, mantém-se a competência, e aqui Dave Hunt e Mick Kenney são inatacáveis, ou quase, visto “Forward” e “Vi coactus” não serem particularmente interessantes. Hunt, diga-se, esconde cada vez menos a sua admiração por King Diamond, presenteando-nos com vozes mercyfulfateanas em momentos variados, mas com particular destaque para a óptima “The reek of fear”, um assalto sónico que nos faz pensar se não seria isto que King Diamond andaria a mandar caso, numa realidade alternativa, tivesse nascido 20 anos depois e escolhido a estrada do black metal industrial em vez de caminhar pelo heavy metal. Posto isto, resta acrescentar que os Anaal Nathrakh continuam recomendáveis: «A New Kind of Horror» tem aquilo que caracteriza os prazeres proibidos, com a sua dose de sujidade, misantropia, ruído, dissonância, provocação lírica… no fundo, elementos normalmente maus e/ou desagradáveis mas que aqui são tornados bons e apetecíveis. E esse talento constitui a imagem de marca dos Anaal Nathrakh, impressa a negro em faixas como “Obscene as cancer”, “New Bethlehem/Mass death futures”, “The apocalypse is about you” ou “Mother of Satan”. Mais do que um novo horror, o que se tem é a bojarda do costume. [7.5/10] HELDER MENDES

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CRITICA VERSUS

BÂ ’A /VE RFA L LE N/ HYRGAL

B E Y O N D C R E AT IO N

Split

«Algorythm» (Season of Mist)

«TCBT» (Season of Mist)

Em 2014, «Earthborn Evolution» distinguiuse entre os grandes lançamentos de death metal, colocando os Beyond Creation ao nível das formações mais promissoras no que diz respeito à vertente técnica do género. «The Algorythm», o terceiro registo de originais, mais do que confirma o talento do quarteto canadiano, mas é, no entanto, um disco substancialmente diferente. A música volta a fazer-se de passagens únicas, impensáveis de encontrar há uns anos num disco de death metal, só que desta vez o colectivo explora uma maior variedade de moods e uma veia claramente mais progressiva. Estes aspectos são notórios, por exemplo, na estrutura inusitada de “Ethereal kingdom”, faixa baseada num contagioso riff lento e ondulante, ou nas geniais sequências atmosféricas que emergem a meio do tema-título e no segmento final de “The inversion”. De assinalar são também os fraseados jazzy do baixo fretless de Hugo Doyon-Karout (que entrou em 2015 e se mostra bem à altura do lugar de Dominic Laponte) na introdução de “Surface’s echoes” ou no instrumental “Binomial structures”, bem como os alucinantes rendilhados dignos de guitar hero que Kévin Chartré e Simon Girard arrancam das seis cordas. Sem desprestígio para Girard, que continua a dar mostras de um competente desempenho vocal entre o gutural grave e um registo mais berrado, é curioso notar como a música se basta a si própria, graças à composição fluida, variada e rica em detalhes cativantes. «The Algorythm» desafia mais uma vez os pergaminhos do death metal, mas fá-lo agora de uma maneira ainda mais arrojada. Os fãs mais tradicionalistas do género ficam desde já avisados. [8/10] ERNESTO MARTINS

Formados em 2005 na capital do Sludge, Savannah, Georgia, nos Estados Unidos, os Black Tusk rapidamente se tornaram num dos nomes fortes de uma cena que começava a dar os primeiros passos, para esse estatuto bastaram discos como «Passage through Purgatory» ou «Set The Dial» que, além de serem bons discos, deram a oportunidade aos Black Tusk de cimentarem a sua posição através dedigressões com bandas como Down ou Weedeater. «TCBT» é o sexto disco e o segundo da banda sem o falecido Johnathon Anthon e com Barhorst(ex-Kylesa). Mantendo a toada furiosa e, tantas vezes, epiléptica sonoridade, «TCBT» não traz nada de novo ao, agora, quarteto, sendo que o que fica é uma imensa muralha sonora que busca a sua inspiração no Sludge mas que, encontra, noutros estilos a âncora para sobreviver. Este não é, de todo o melhor disco da banda, porém todos os ingredientes que os tornaram famosos estão cá todos. Uma descarga de energia capaz de nos catapultar até ao fim do Mundo, mas, parece aqui faltar alguma coisa, que nãos e sabe bem o que é, pois no final destas 12 faixas, o que fica é uma enorme confusão e uma amálgama demasiado esquizofrénica. Swamp Metal dizem eles, nós não sabemos bem o que é «TCBT». [7/10] NUNO LOPES

(LADLO Productions) Uma tripla ameaça de black metal atmosférico é a oferta deste Split que junta Bâ’a, Verfallen e Hyrgal, colectivos de língua francesa e, no caso dos dois primeiros, formação recente. Em comum, os agrupamentos têm a figura do versátil Emmanuel Zuccaro, seja como membro integrante seja como colaborador, e isso ajuda a explicar, juntamente com o género praticado e a editora responsável pelo lançamento, as parecenças entre projectos. Duas faixas é o que cabe a cada banda e deste lote o destaque tem de ir claramente para os Verfallen, o projecto solo de Zuccaro: “Derelictus” e “La valeur des ténèbres” são o eixo deste disco e talvez não seja um acaso serem as faixas 3 e 4, isto é, as do meio – por vezes, no meio está mesmo a virtude. O que, por sua vez, os Hyrgal nos apresentam não acrescenta muito ao que se ouve na estreia «Serpentine», mas “Sicaire”, ainda assim, impressiona pela sua toada negra e os seus quase 13 minutos de duração, constituindo um término adequado para o Split. Por fim (e neste caso, os primeiros são os últimos), os Bâ’a: do tridente aqui apresentado, são os menos interessantes. “Les terres de la terreur” e “La grande desillusion”, não desiludindo, estão nitidamente uns furos abaixo das faixas incluídas por Verfallen e Hyrgal. No geral, porém, trata-se de um Split recomendável, sobretudo para os fãs de black metal atmosférico. [6.5/10] HELDER MENDES

BLACK TUSK

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CRITICA VERSUS

DRAGONLORD

C R O NA XIA

DARKENHOLD

«Collapsing The Outer Structure» (Independente)

«Memoria Sylvanum»

«Dominion»

(LADLO Productions)

(Spinefarm Records)

Foi preciso esperar duas décadas para que os lisboetas Cronaxia apresentassem o seu disco de estreia e, acreditem que a espera valeu a pena, pois ao longo das 8 malhas que compõem o disco o trio coloca todas as garras de fora e alimenta o espírito Death Metal que se vivia nos anos 90 em Portugal. Isto não quer dizer que este seja um disco oldschool. Quer dizer, isso sim, que a banda consegue, desde o início do disco com a faixa-título, trazer um disco com uma dose elevada de bons riffs, bons ganchos e, acima de tudo, um conceito que se mantém coeso e firme até ao final com “Tangential threshold”. Como se tal não bastasse o trio socorre-se dos amigos Alex e Rolando, ambos dos Grog para o baixo e bateria, respectivamente, elevando assim a fasquia qualitativa de todo o disco. Numa altura em que Portugal parece ser uma baía Thrash, os Cronaxia fazem um pedaço de história Death com um disco que surpreende do início ao fim e onde temas como “The core condition” ou “Plasmatech” são autênticos murros na mesa capazes de abalar toda e qualquer estrutura, óssea ou não. Esperamos que, de facto, este não seja apenas um disco de estreia mas sim um capítulo de uma história chamada Cronaxia. [7.5/10] NUNO LOPES

Confesso que, ao aperceber-me que o estilo desta banda de Nice, França, era o black metal Medieval, esperava mais dos Darkenhold. Sendo «Memoria Sylvanum» o quarto álbum de originais, verdade seja dita, os franceses apresentam um black metal distinto, algo cru, com uma textura melódica subjacente que tenta conferirlhe o lado “medieval” que acompanha a caracterização estilística, mas este, fica-se mais pela temática da banda, dos castelos, da fantasia, do medieval, do que a música propriamente dita. Se assim o é, creio que não está conseguido de todo. A língua utilizada nas canções é o francês, o que é uma boa escolha e combina perfeitamente com a música, conferindo-lhe um toque especial. Outro lado positivo é a homogeneidade das músicas e a sua substância, tal como se pode verificar em “Sous la Voûte de Chênes”. «Memoria Sylvanum» é um álbum decente de “French Black Metal”, com identidade própria que se afasta dos seus congéneres Noruegueses e um punhado de boas músicas que enaltecem o estilo, mas sem deslumbrar de todo. A produção em geral, e a voz rasgada de Cervantes em particular, conferelhe aquele lado cru, que tanto os adeptos deste estilo gostam. Darkenhold desenvolve aqui um universo melódico de black metal feito de paisagens brumosas, mistério e ruínas medievais. Esta banda, no mínimo, merece ser descoberta pelos adeptos do género, na esperança que o próximo álbum tenha uma atmosfera “mais densa”. [7/10] CARLOS FILIPE

No mínimo é curioso e interessante sempre que um músico de renome, assim o é Eric Peterson (guitarrista de Testament), decide enveredar por um estilo musical pouco comum àquele onde o estamos habituados a ver brilhar. Assim, uma das forças motrizes dos thrashers da Bay Area, começou por dar azo à sua faceta mais obscura no seu projecto paralelo Dragonlord. À sua figura de estilo utilizada nos Testament, incrementa aqui toda a temática do black metal. Logo na intro “Entrance” o som de guitarra não deixa margens para dúvidas, até porque nos transporta, com a ajuda dos teclados, talvez para demasiado perto de algo que tenhamos ouvido já num ou outro disco dos nórdicos Dimmu Borgir. Facto é que a fusão de estilos que se ouve neste «Dominion» torna-se facilmente cativante. A raiz heavy/thrash do músico está bem presente no recheio de típicos riffs e vozes que iríamos ouvir, muito provavelmente, apenas num disco de black metal. Aliás, o tema “Love of the damned” tem o selo Testament bem estampado no invólucro, assim como os momentos iniciais de “Northlanders”. No entanto, esta última rapidamente evolui para um tema de características mais sinfónicas. Este é um daqueles discos feito para verdadeiros fãs de metal! Tudo aqui é familiar e tudo é feito com esforço para se criar algo distinto e diversificado. Não é um disco carregado de momentos marcantes e não me parece que vá sair daqui alguma espécie de hino, ou canção obrigatória. Mas a verdade é que «Dominion» é um álbum competente, capaz de entreter sem tédio ao longo dos seus 44 minutos. [7.5/10] EMANUEL RORIZ

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CRITICA VERSUS

E VO K E N

H AT E S P H E R E

«Hypnagogia»

«Reduced to Flesh»

IN T H E W O O D S … «Cease the Day»

(Profound Lore Records)

(Scarlet Records)

(Debemur Morti Productions)

Hipnagogia ou alucinação hipnagógica é o estado de semi-consciência associado à transição entre os estados de vigília e sono, que funciona aqui como artifício metafórico para descrever o trágico fim de um combatente da Primeira Guerra Mundial – o protagonista deste novo álbum dos Evoken, publicado curiosamente (ou talvez não) junto à data comemorativa do 100º aniversário do Armistício. Mas por mais interessante que possa ser o conteúdo lírico deste que é o primeiro álbum conceptual do grupo norte-americano, o que ressalta neste registo é a sonoridade francamente mais expandida, que contrasta desde logo com a abordagem fechada e monolítica dos discos anteriores, em particular a do álbum «Atra Mors» de 2012. Descansem os puristas, no entanto, porque as inovações em causa em nada comprometem o célebre doom de tipo funerário de que a banda é precursora do lado de lá do Atlântico. A diferença é que além dos riffs atroadores e arrastados e das melodias transbordantes de emoção, a música é agora mais dinâmica, inclui arranjos mais variados e saiu mais inspirada. Digamos que pelo meio do negrume e da desolação do costume surgem agora nesgas de luz, que se materializam, por exemplo, no segmento de cordas a meio de “Valorous consternation” (em contraponto com a inesperada tirada death metal que lhe sucede), nas belíssimas linhas de guitarra que pairam sobre os lânguidos riffs de “Schadenfreude”, nos coros remotamente reminiscentes dos saudosos Orphanage de “Ceremony of bleeding”, e em muito mais. No seu todo «Hypnagogia» assinala uma bem vinda reinvenção de um colectivo que já anda nisto há quase 25 anos, e que parece ter veia criativa para muito mais. [8/10] ERNESTO MARTINS

Recordo-me do meu primeiro contacto com estes senhores, já lá vão cerca de dez anos, aquando da saída do «Serpent Smiles and Killer Eyes», numa altura em que estes Hatesphere já contavam com uma década de história. Um thrash de riffs bem esgalhados e a coesão de um som globalmente poderoso ficaram bem presentes porque, uma década depois, assim que vi aquele logotipo lembreime logo deles, e o som das primeiras notas deste «Reduced to Flesh» transportaramme de volta àqueles anos. Este é o décimo álbum de uma banda que, claramente não se afastando da sua génese musical, não deixa de conseguir lançar álbuns estimulantes e de boa qualidade. Se há evolução musical, provavelmente a resposta será negativa, mas a pergunta que se coloca é, e deveria haver? Bem, a longevidade destes senhores, sob o comando de Pepe Hansen, bem como a qualidade e a aceitação geral dos seus trabalhos prova que não e, verdade seja dita, que a energia e a alma que encontramos neste «Reduced to flesh», bastando para isso ouvir a “Reduced to flesh”, ou a “Can of worms”, ponto o ponto final na questão. A capacidade de equilibrar um álbum com músicas rápidas e lentas, como por exemplo a “Nothing is definite”, ajuda a que não haja monotonia na audição do álbum e que se não se chegue a meio de um álbum a questionar quantas músicas já passaram. No final de contas, estes Hatesphere celebram a saída do seu décimo álbum com chave de ouro, mantendo-se fieis às suas origens, mas sem se mostrarem conformados com o que fazem. [7/10] HUGO MELO

Quando bandas já consolidadas executam mudanças no seu estilo ou sofrem alterações na formação, dificilmente as coisas ficam como estavam. Quando estas situações se verificam em simultâneo, aí é caso quase certo de que a volta será de 180 graus. «Pure», de 2016, mostrou isso mesmo: os In The Woods…, designadamente com a adição de James Fogarty, distanciaram-se da sua encarnação dos anos 90, sendo hoje, neste «Cease The Day», outra coisa que tem com o passado apenas vagas semelhanças. Ora, mas se «Pure», ainda assim, não envergonhava a discografia dos inventivos noruegueses, bem pelo contrário, o mesmo não pode ser dito deste lançamento de 2018. Embora “Empty streets” seja um início de álbum prometedor e cativante, algumas das faixas que se lhe seguem soam desinspiradas, pelo menos para os padrões a que os In The Woods… nos habituaram. Mesmo dando o desconto de «Cease the Day» (trocadilho óbvio com a máxima carpe diem, ou seja, seize the day) ser um grower, o ouvinte nunca abandona aquela sensação de “pois, muito bem e tal, mas estes tipos já fizeram bem melhor!” Não sendo um mau disco (não é!), fica a ideia que é algo precipitado; talvez não tivesse sido mal pensado esperar mais do que dois anos entre lançamentos. O tempo, de que se diz ser sempre bom conselheiro, provavelmente teria ajudado os In The Woods… a transformar «Cease the Day» em algo mais apetecível e memorável. [7/10] HELDER MENDES

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CRITICA VERSUS

KR IS IU N

M O N S T R O S IT Y

«Scourge of the Enthroned»

«The Passage of Existence» (Metal Blade Records)

«Garden of the Titans» (Nuclear Blast)

É sempre com alguma apreensão que recebo um novo trabalho de uma banda veterana que julgava ter já arrumado as trouxas de vez. No entanto, para minha surpresa, e apesar do longo silêncio discográfico que se prolongou por 11 anos, este é afinal um regresso em grande forma que mostra que os Monstrosity estão ainda longe de querer abandonar a primeira liga do death metal da qual eles próprios foram precursores no início da década de 90. Não comprometendo a identidade sónica brutal distintiva da banda originária da Florida, a verdade é que «The Passage of Existence» é um disco que quase a redefine. A composição é das mais ricas e elaboradas que já se viu em toda a discografia da formação, cheia de riffs inspirados e passagens de grande musicalidade que prendem a atenção a todo o momento. A execução é ao mesmo tempo precisa e criativa, com Lee Harrison a mostrar mais trabalho na bateria e Mark English a debitar leads de guitarra de arrepiar a espinha. O trabalho rítmico em “The hive” é bem capaz de deixar alguns de queixo caído, ao passo que a estrutura envolvida de “Slaves of evermore” tem aquele dom especial de induzir sorrisos nos fãs de death mais proggy. Já o esfarrapanço feroz de “Kingdom of fire” e o pára-arranca irresistível de “Radiated” são como que potentes injecções de adrenalina não recomendáveis a cardíacos. Consistente na qualidade de todos os doze temas em oferta (que não se esgotam em duas ou três rotações), este sexto registo dos Monstrosity é um disco que desanca os sentidos como se espera que o faça, só que desta vez a porrada é infligida com o requinte e a subtileza só presente nos grandes discos do género. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

Um album ao vivo é sempre um album ao vivo – às vezes não tem nada de especial e serve para “encher chouriços” em algumas discografias – mas os Opeth são uma banda à parte. «Garden Of The Titans» é o quarto album ao vivo de uma das mais míticas bandas da história da música e que não é apenas mais um, no meio de tantos. Falar dos pontos fracos é simples e rápido: só 1h28m?! Acredito que não seja nada barato, tanto ao nível da produção e aluger do espaço mas mais uns 30 minutinhos de música e já ficava plenamente satisfeito. Recebemos as edições audio e DVD do concerto e no fim de tudo, digo já que é uma edição imperdível. O Anfiteatro de Red Rocks é edílico e tão ou mais importante é a parte cénica do espectáculo, nomeadamente, o jogo de luzes. Lembro-me do último DVD dos Epica - «Retrospect» com um jogo de luzes e realização absolutamente horríves e intragáveis. No entanto, tanto nesse aspecto como no aspecto sonoro «Garden of the Titans» é soberbo, uma delícia, um prazer e um descanso – sim, porque ouvir e ver música feita desta forma é um descanso para o espírito. O setlist não há muito a reclamar penso que será um dos melhores que os Opeth poderiam apresentar. «Sorceress» domina com três temas, óbvio já que é o último álbum e aproveitam a promoção e o resto é um tema por cada álbum à excepção de «Orchid», «Morningrise» e «Still Life». De resto, quem viu os Opeth ao vivo já conhecerá a boa disposição e o humor (negro) de Åkerfeldt – sempre presente – falta só falar dos pináculos, o que considero o top dos tops: A calma (antes da tempestade) «In my Time of Need» e para “fechar com chave do mais puro ouro”: «Deliverance». Isto é obrigatório! [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

(Century Media) Há alturas em que temos de olhar para o passado e aprender com os erros! Parece ter sido isso o que o trio brasileiro Krisiun fez. Depois de nos últimos discos ter optado por alterar a sua sonoridade, facto que não parece ter agradado aos fans e à banda, os brasileiros pararam e olharam para dentro e, três anos após o insonso «Forged in Fury» voltam à carga com o 11º disco de originais, numa carreira que está mais perto dos 30 anos do que dos 20. «Scourge of Enthroned» é, finalmente, um disco de Krisiun que podemos levantar com orgulho. Aqui estão todos os ingredientes que fizeram da banda liderada por Alex Camargo um dos porta estandarte do Death Metal brasileiro e mundial. Em 8 temas que perfazem um total de 39min, o trio brasileiro não deixa nada ao acaso e somos bafejados por uma muralha sonora devastadora e que nos deixa alienados de tudo o que gira ao nosso redor. «Scourge of the Enthroned» é um disco desafiante e desafiador, ao mesmo tempo que leva até um escaldente e tórrido inferno. Mais do que um regresso às origens este é um disco que traz uns Krisium mais brutos, mais afiados e mais oleados que nunca. A mensagem essa está toda em temas como “Devouring faith” ou “Eletricide”. «Scourge of the Enthroned» é a prova de que às vezes é preciso cair para nos levantarmos mais forte que nunca. [8.5/10] NUNO LOPES

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OPETH


CRITICA VERSUS

PIG DE STR OYER «Head Cage»

(Relapse Records) Após duas décadas de existência os NorteAmericanos Pig Destroyer teimam em trazer até nós autênticos discos de puro Grindcore. Isto não quer dizer que a banda se esgote num rótulo, pois ao longo dos anos a banda, liderada como sempre pela dupla Hayes e Hull, não se deixam ficar por um rótulo e usam isso mesmo a seu favor. «Head Cage» é o mais recente disco de uma história que se tem feito de evolução sem que para isso a banda se desligue da sua génese. «Head Cage» é um disco poderoso, rápido e que não defraudará os fans do género e, muito menos, os fans da banda. Podemos mesmo olhar para este sexto disco como um compêndio daquilo que tem sido a carreira da banda. Sem espaço para respirar este é um disco que nos permite a descobrir um quinteto sem medo de mostrar as suas raízes e, principalmente, sem receio de mostrar a sua evolução enquanto músicos e, principalmente, enquanto seres que povoam nesta «ervilha» chamada de mundo. «Head Cage» é um disco recheado de boas ideias que, passadas à acção, atestam a capacidade dos Pig Destroyer em construir grandes discos, em que a violência vai muito mais além da música e onde a banda nos atira à cara tudo o que está errado nos dias de hoje, como se de 1997 a 2018 tivesse sido apenas um passo, os Pig Destroyer seguem o seu trilho de destruição, sem mácula e sem perdão. Afinal, eles são muito mais que Grindcore….eles são os Pig Destroyer. [7.5/10] NUNO LOPES

S A R A H L O N G F IE L D

S IG H

«Disparity» (Season of Mist)

«Heir to Despair» (Candlelight Records)

Se há músicos que possuem aquela “estrelinha”, isto é, um factor quase da ordem do inexplicável que lhes permite fazer tudo bem feito, «Disparity» comprova que Sarah Longfield faz parte dessa elite. Funcionando a partir do progressivo como sustentáculo, a guitarrista norte-americana, já longe da sua aventura com os The Fine Constant, não tem qualquer género de escrúpulos em viajar por outros mares, sejam eles próximos (o jazz) ou distantes (a pop, a electrónica…). Embora a matiz técnica nunca deixe de estar presente, como se pode ouvir, por exemplo, no solo de “Miro”, é indiscutivelmente este explorar de fronteiras o grande destaque de «Disparity». Como é óbvio, esta abertura assustará muita gente acostumada a sonoridades mais convencionais, e é igualmente verdade que nem todos os temas aqui incluídos causam o mesmo impacto; no entanto, não só o todo é maior do que a soma das partes, como também acaba por haver aqui um bocadinho de tudo para o ouvinte menos formatado e mais propenso a ser surpreendido. Sim, a componente metálica está muito – mesmo muito – diluída, mas motivos de interesse não faltam num disco bastante recomendável para este final de 2018. E não, não é apenas a técnica na guitarra um desses motivos de interesse: a voz límpida e etérea revela as capacidades de Sarah também neste domínio e confirma-a como uma artista completa. [8/10] HELDER MENDES

Quem conhece a discografia já consideravelmente vasta dos Sigh vai começar por estranhar este novo trabalho. É que apesar de a música manter toda a excentricidade avantgarde a que Mirai Kawashima sempre nos habituou, este é, ainda assim, o disco menos cerebral da formação de Tokyo. É também o álbum mais japonês de sempre, não só porque esse é o idioma mais usado, mas muito por causa dos vários instrumentos tradicionais que se fazem ouvir. Um deles é o samisém, executado nada mais nada menos que pelo ex-Estradasphere Kevin Kmetz. A flauta aparece também com destaque, nomeadamente logo no início, em “Aletheia”, que cativa de imediato pelas fantásticas melodias de inspiração oriental. O que se segue no alinhamento é, na essência, heavy metal, com alguns laivos de prog vintage e alguma insanidade. “Homo homini lupus” tem a participação vocal de Phil Anselmo e passa, pelo menos na parte final, como uma verdadeira homenagem aos Iron Maiden. As duas composições seguintes seguem parâmetros idênticos, com o registo esquizofrénico de Kawashima a alternar com coros masculinos, ocasionais orquestrações e muitas passagens memoráveis. Como que a gerar um contraponto, o tríptico “Heresy” faz-se de andamentos lentos, conduzidos por percussão electrónica e teclados, e uma ambiência que remete para as estéticas avantgarde dos Arcturus. Depois do idiossincrático e até irritante «Graveward», de 2015, (que não me arrancou um rating melhor do que 6/10) é excelente ver os Sigh regressar ao melhor do seu “cinematic horror metal”. Um disco obrigatório. [9/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

THE L IO N ’S D A U G H T E R

T IM H E C K E R

«Grainsville» (Spinefarm Records)

«Future Cult» (Season of Mist)

«Konoyo» (Kranky)

Quando surgiram, no ano de 2015 com «Farm Machine», os finlandeses Steve’n’Seagulls foram bem recebidos pela comunidade Metal, em muito devido ao facto de a banda dar uma nova roupagem aos temas dos australianos AC/DC. Passaram três anos e o quinteto está de volta aos discos, após «Brothers in Farms», com este «Grainsville» e o resultado fica aquém do esperado, não por culpa da banda ou dos temas escolhidos. Aqui a questão é mais de fórmula. É certo que os temas poderão até nem ser os mais óbvios e isso pode ser um factor menos positivo, no entanto e acima de tudo, o som bluegrass dos finlandeses começa a denotar alguns sinais de fatiga e, principalmente, começa a perder o impacto dos trabalhos anteriores. Também é certo que “I´m broken” (Pantera), “Alive” (Pearl Jam) ou “Are you gonna go my way” (Lenny Kravitz) são boas versões, no entanto, é quando a banda abandona o Banjo e se atira a uma “I was made for loving you” (Kiss), numa versão completamente despida e original, que «Grainsville» atinge o seu ponto mais alto. Já todos sabemos que se vive no campo mas, mesmo assim, esperava-se mais do quinteto finlandês. Talvez seja a «maldição» do terceiro disco. [6/10] NUNO LOPES

Produzido por Sanford Parker (ex-Minsk, Buried at Sea) e masterizado por Colin Jordan, este «Future Cult» é o aguardado e difícil terceiro disco para os Norte-Americanos The Lion’s Daughter (TLD). Não sendo, propriamente, um grande disco «Future Cult» tem todos os ingredientes que estabeleceram o trio como um dos mais aplaudidos no underground. Ou seja, o que temos aqui são temas furiosos onde a electrónica se encontra com a melodia enquanto que a temática apocalíptica se vai desenrolando. Talvez por isso mesmo, a melhor forma de entrar em «Future Cult» seja através de um artwork que tem tanto de futurista, como de actual. Os TLD conseguem ser furiosos e melodiosos, o que cria, até certa medida um desconforto saudável. Os TLD não estão para brincadeiras e querem destruir tudo o que se apresente pelo caminho. Existem momentos em que nos perdemos na temática do disco, porém, o trio recupera sempre que parece ficar sem pé e mostram-se capazes de criar grandes temas, que bem podem ser a banda sonora perfeita para o fim anunciado e não tão distante. Mesmo no caos encontramos temas como «Grease Infant» (um dos melhores temas do disco) ou «Call The Midnight Animal» (um dos mais furiosos temas). Este até pode não ser o melhor disco do trio, porém é um bom disco, mesmo que por vezes pareça demasiado confuso. [7/10] NUNO LOPES

Tim Hecker apresenta-nos um álbum algo conservador quando colocado em contrapeso com a excentricidade de «Love Streams». O presente trabalho resulta das viagens do compositor ao Japão e da colaboração com a Tokyo Gakuso, conhecida orquestra Gagaku (uma variação de música clássica associada à côrte imperial japonesa). Embora se trate de uma abordagem mais despida, mantêmse as melodias uterinas envoltas nas notas aquosas de uma febrilidade fantasmática. O calor dos instrumentos tradicionais embrenhase na frieza sintética da música eletrónica para produzir uma desorientadora narrativa pendular, alternada entre o abandono e a elevação. Feedback carbonizado em diálogo com exalações de instrumentos de sopro e a sugestão insidiosa de cordas beliscadas, contribuem para uma narrativa familiar e nostálgica que cimenta «Konoyo» como um dos álbums mais assimiláveis da carreira do compositor. De salientar a sublime deserção de “Across to Anoyo”, a qual nos sepulta uns palmos abaixo da contemplação, num trabalho de introspeção luminosa. Por entre as brechas da sonolência espreita a palpabilidade sinestésica dos sentidos, em notas uterinas que segregam a urgência de um frágil asilo. Instrumentos asiáticos ateiam a incandescência de um silêncio construído em progressões silábicas. Hecker tacteia o seu discurso na cambaleante cadência da franja serotónica, evocando visões crepusculares na sonorífera latência da memória. [8/10] FREDERICO FIGUEIREDO

S TE VE ’N’SE AGULLS

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CRITICA VERSUS

W EIG H T OF E MPTINESS

YERÛŠELEM

«Anfractuous Moments For Redemption»

«The Sublime»

(Independente)

(Debemur Morti Productions)

Do Chile chegam-nos estes Weight of Emptiness com uma proposta musical que aglutina o death metal progressivo com muitas piscadelas aos Opeth da fase intermédia, ali de «Still Life» até «Ghost Reveries», e o doom metal. Ora, pelo que se ouve aqui, os chilenos merecem um contrato o mais rapidamente possível: o talento e a noção de onde se quer chegar estão bem presentes neste álbum de estreia, lançado em 2017 e agora em busca de distribuição internacional. Começa logo bem: à intro “Anfractuous” segue-se a fortíssima “Behind the masks”, que deixa de imediato o ouvinte com água na boca; daqui até “Redemption” não se verificam praticamente pontos baixos, o que constitui uma demonstração de solidez nem sempre fácil de encontrar em bandas independentes. «Anfractuous Moments For Redemption» vive muito da dinâmica que apresenta nas guitarras de Juan Acevedo e Alejandro Bravo, mas todos os integrantes têm um desempenho muito positivo, seja nos momentos mais contidos, seja naqueles mais intensos (uma boa súmula é a faixa “Inner chaos”, que é como uma amostra do disco no seu todo). De futuro, falta somente darem uma limpeza rápida nas influências opethianas e construírem uma identidade que seja a dos Weight of Emptiness. De resto, é não mexer muito porque assim está bom. [8/10] HELDER MENDES

Mecânicos ritmos de trip hop em sincopada marcialidade reptiliana, encontram inflamadas linhas de baixo, seguindo a crua primitividade do “Streetcleaner” dos Godflesh. A assertividade das batidas deglute a embriagada desorientação das guitarras moduladas por efeitos etéreos de shoegaze. As vocais, por sua vez, assumem um plano periférico, como uma prece segredada, sepultada na subliminaridade de orações reverberantes. A par dos referidos Godflesh ou mesmo dos Massive Attack, é arranhada a memória dos tempos audaciosos do “Grand Declaration of War” dos Mayhem e das produções da Moonfog na fase mais tardia dos anos 90, bem como a genialidade esquizóide dos Skinny Puppy (de uma forma substancialmente mais domada). “The Sublime” conjura um imaginário de efeverescência apócrifa e abissal contemplação, muito à semelhança da discografia dos But aus Nord, banda da qual ambos membros (Vindsval e W. D. Feld) de Yerûselem descendem. O álbum, apesar da referida linhagem, reflete uma caráter marcadamente eletrónico, despindo, em grande medida, a componente “metal” em benefício da promíscua ostensividade post-punk/industrial. Apesar de se apresentar como um trabalho que sugere tendências dissidentes, revela-se como um projeto relativamente previsível, o que, de todo o modo, não constitui desmérito, sobretudo se o assumirmos como instrumento de conjuração da “psychedelia” urbana de tétricos cenários de abandono industrial. [7/10] FREDERICO FIGUEIREDO

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A arte como CATARSE É uma conceção com séculos de existência que se aplica à arte de Witherfall a acreditar nas palavras de Jake Dreyer e Joseph Michael, os mentores da banda. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

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Eduardo – Os dois álbuns são diferentes. O primeiro parece ter sido escrito de forma mais rápida (e, se calhar, mais espontânea) e este levou mais tempo. Por que escolheram estas abordagens para cada um deles e quais são as diferenças que os separam? Joseph – Não demorámos mais tempo a compor este álbum que «Nocturnes». O processo só se alongou devido a problemas de agenda. O Jake esteve envolvido em inúmeras digressões de Iced Earth e o trabalho só avançava, quando conseguíamos juntarnos. Nenhuma canção pode ser escrita sem estarmos os dois. Todos os passos decorrem de uma estreita colaboração. Jake – Para além do facto de eu e o Joseph andarmos muito ocupados com digressões, dirigir uma banda é um trabalho que consome muito tempo. Queríamos que as ideias para a escrita surgissem naturalmente. Sempre que eu conseguia arranjar tempo para ir ao estúdio do Joseph ou ele para aparecer no meu, o trabalho revelava-se muito produtivo.

Saudações, Jake & Joseph. O álbum está fantástico e merece as nossas muitas perguntas sobre tudo que o rodeia e lhe deu origem. Eduardo – O álbum foi lançado a 2 de novembro (de 2018). Contudo, já tinham sido lançados dois singles e vídeos. Como reagiram as pessoas a esses “aperitivos”? Como pensas que receberão o vosso último longa duração? Jake – As reações aos vídeos foram fantásticas. Queríamos revelar simultaneamente dois aspetos diferentes do nosso álbum, sem deixar as pessoas aturdidas com uma das partes mais progressivas. Fiquei muito satisfeito com a forma como os fãs corresponderam aos nossos esforços. Joseph – Acabamos de lançar um terceiro intitulado “Shadows”! A reação foi maravilhosa. Penso que, quando os fãs puderem ouvir o álbum do princípio ao fim, vão logo perceber do que trata. Eduardo – Ambos os vossos álbuns são concetuais. Parece-vos que é essencial conhecer os factos que estão na base das letras para compreender a música de Witherfall? Joseph – Penso que seria muito difícil apreender de forma clara o conteúdo emocional das suas composições sem conhecer os factos que lhes deram origem. Daí a importância da imprensa. Obrigado por esta entrevista para Portugal.

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CSA – O vosso segundo álbum parece ser uma sequela de «Nocturnes and Requiems» porque ambos tratam do que aconteceu ao vosso amigo Adam (verdadeiramente lamentável). Tencionam continuar a tratar esta reflexão sobre a transitoriedade da vida como o principal tema da vossa arte? Jake – «A Prelude to Sorrow» é um álbum que escrevemos sobre o Adam, enquanto «Nocturnes and Requiems» foi dedicado a ele. Escrever um álbum sobre o Adam funcionou para nós como uma espécie de terapia psicótica de que eu e o Joseph não podíamos prescindir para fazermos o nosso luto. Joseph – O primeiro é como uma sequência de vinhetas que retratam vários estados emocionais e oníricos. «A Prelude to Sorrow» é um álbum sobre o Adam Sagan: a sua vida e a sua morte e a nossa amizade. CSA – A tua cumplicidade com o Joseph parece-me muito interessante, tendo em conta a diferença de idades. Como conseguiram chegar a confiar tanto um no outro? Jake – Eu sei que, se pedir ao Joseph para fazer algo e ele disser que faz, é ponto assente que isso vai acontecer. Não suporto pessoas hipócritas e esse tipo de atitude é incompatível com gerir seja o que for. O Joseph não é nada assim e tem uma capacidade de trabalho insana. No que diz respeito à composição, cada um de nós parece adivinhar o que o outro está a pensar. Joseph – Como sabes que idades temos? Eduardo – Tu és o guitarrista de Iced Earth e o Joseph tem uma forte ligação a Sanctuary/Warrel Dane. Pode-se dizer que essas são as grandes influências musicais de Witherfall? Jake – Não. Apenas tocámos nessas bandas, que


“Penso que seria muito difícil apreender de forma clara o conteúdo EMOCIONAL das suas composições sem conhecer os factos que lhes deram origem. […]” 63 / VERSUS MAGAZINE


são grandes, e também ouvimos regularmente a sua música, mas não penso que sejam forçosamente uma influência para nós. Temos as nossas influências pessoais, somos sobretudo influenciados por bandas como Queen. CSA/Eduardo – Como fazem quando compõem música nova? Quem tem o papel principal, tu ou o Joseph? Os outros membros da banda também dão o seu contributo? Jake – «A Prelude to Sorrow» foi composto em várias sessões. O Joseph vinha ter ao meu apartamento e usávamos uma guitarra acústica, uma caneta, papel, um aparelho de gravação e grandes quantidades de vinho tinto. Somos sempre eu e o Joseph que fazemos o trabalho de composição. O Anthony Crawford trata das partes de baixo e leva-as para o estúdio e, de vez em quando, temos de lhe dar algumas orientações para conseguirmos que ele faça uma espécie de contraponto à voz ou algo desse género. O Joseph e eu somos a 100% os visionários de Witherfall, até no que diz respeito ao artwork, aos vídeos promocionais, ao layout dos álbuns, etc. Joseph – Witherfall tem muitas afinidades com “fazedores” de canções dos anos 70 como Simon and Garfunkel, John Lennon e Paul McCartney, etc. Não há regras. Apenas nos sentamos e usamos instrumentos e papel e escrevemos. CSA/Eduardo – As partes de bateria são fantásticas. O Steve fez um trabalho sensacional. Será que ele sentiu algum tipo de pressão por ter tido de substituir o Adam sabendo que o álbum trata da sua morte? Jake – Penso que ele sentiu muita pressão. Respeita o legado do Adam e realmente fez um trabalho maravilhoso na sua parte do álbum. Joseph – O Steve é único. Também tivemos o Gergo Borlai a tocar no nosso álbum. Desafio-vos a tentar distinguir em que partes toca um e o outro. CSA – Quando vi a capa do vosso álbum, fiquei logo com a impressão de que conhecia aquele estilo. O

que fizeram para convencer o Warlord a aceitar pôr a sua arte ao vosso serviço? Jake – Quando estávamos a gravar «Nocturnes and Requiems», o Kristian foi a nossa primeira escolha e tivemos a sorte de ele aceitar fazer esse trabalho artístico. Vejo o seu estilo como um complemento do som de Witherfall. O lado visual é muito importante para nós. Basicamente enviamos-lhe uma ideia ou um tema, a gravação de uma das faixas e algumas das letras e deixamo-lo trabalhar. A capa que fez para «A Prelude to Sorrow» é simplesmente perfeita. Joseph – Eu envio-lhe uma mensagem com ideias sobre o tema do álbum e faço uma espécie de esboço. Para «Prelude», pensei no rio Estige com o Adam (representado pelo fantasma de uma rapariga) a acompanhá-lo. Ele envia-nos um esboço do que pretende fazer e nós reenviamo-lo com comentários. Até agora, nunca nos desiludiu. Eduardo – “Vintage” é a minha faixa favorita neste álbum e de toda a década. Cheia de raiva e desespero, mas melódica e francamente ÉPICA! O ponto mais alto da canção é a parte que se segue a “my voice will carry on” culminando num fenomenal solo de guitarra com maravilhosos arpeggios. Vejo este final com a aceitação da morte do Adam. É mesmo assim? Esta é mesmo a vossa canção mais intensa? Jake – Obrigado por teres reparado nisso. “Vintage” também é a minha faixa favorita no álbum e vejo-a como uma canção muito pessoal. O final, tal como referiste, é como uma despedida para o Adam. Na minha imaginação, somos eu e o Joseph a dizer-lhe adeus. É uma espécie de montanha russa de emoções. Às vezes, custa-me muito ouvi-la, por causa de toda a tristeza que inspira. Joseph – Vintage era o nome de um bar onde se bebe vinho a que eu e o Adam fomos quando ele descobriu que tinha um cancro. Íamos lá com frequência quando estávamos a compor «A Prelude to Sorrow» ou até para fazermos uma pausa nesse trabalho. Tal como aconteceu ao Adam e ao estúdio em que gravámos este álbum, já não existe.

Witherfall tem muitas AFINIDADES com “fazedores” de canções dos anos 70 como Simon and Garfunkel, John Lennon e Paul McCartney, etc. […]

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Eduardo – Será que esta canção é o perfeito exemplo daquilo a que vocês, na vossa biografia, chamam “the engine of a new wave of Heavy Metal”? Jake – Não tenho a certeza de que seja assim, mas parece-me que «A Prelude to Sorrow» tem indubitavelmente Dark Melodic Metal, como designam habitualmente o nosso som. Mas não me importa a designação que usem, desde que gostem da música. Joseph – E eu estou-me a borrifar para as designações. CSA – Estão a contar fazer uma digressão na Europa em breve?

Jake – Sem dúvida! Mas, para já, não podemos anunciá-la por uma questão de respeito pela banda que será cabeça de cartaz. Estaremos no Japão em novembro, em digressão com Kamelot, e depois faremos um concerto em Los Angeles com Ensiferum e Septic Flesh. Joseph – E, na primavera, estaremos na Europa, mas, tal como o Jake já referiu, não podemos dizer mais nada sobre esse assunto. E vai haver mais uma surpresa para os fãs durante essa digressão. Facebook Youtube

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PALETES Por: Carlos Filipe

77 - «Bright Gloom» (Espanha, Rock) O rock nunca morrerá! Não enquanto “77 tiver uma palavra a dizer sobre o assunto. Enquanto o nome foi originalmente sugerido, em tom de brincadeira, acabou por ficar com os catalães e já lá vão cinco álbuns, o último dos quais é o novo «Bright Gloom». É evidente que “77 estão no rock” n roll “dos anos 1970, é claro, porque eles adoram isso. (Century Media)

Ricarda Cometa - «Ricarda Cometa 2» (Argentina, Percussive sounding guitar lines zigzag) A dupla argentino-peruana RICARDA COMETA lançou o seu novo álbum, «Ricarda Cometa 2». A forma totalmente improvisada de «Ricarda Cometa 2» explode com a mistura singular de sons rituais. As linhas de guitarra ziguezagueiam, cruzam e entrelaçam com bateria e percussão explosivas e precisas. Com onze faixas em vinte e quatro minutos, a interação entre Heuman e Espinal é cativante e imersiva. Influenciada pela música ritual de no-wave, math rock, africana, latina e asiática. (Earsplit) Uada - «Cult Of A Dying Sun»

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(EUA, Melodic Black Metal) No seu segundo LP «Cult of a Dying Sun», os Uada expandem o seu alcance de ofícios hipnóticos. Equilibrando riffs agudos com melodias espectrais numa variedade de assombrosas e distintas canções de black metal. Uma lança afiada no coração da estrela mais brilhante. Épico, atmosférico, mortal. (Eisenwald) Peosphoros - «Pink Metal» (Inglaterra, Black Metal) Os transsexuais extreme metallers Peosphoros divulgaram uma declaração sobre a censura que receberam nas mãos das médias sociais e a defesa do discurso aberto. A banda afirma que eles são “uma banda politicamente correta de Trans Pink LGBTQMN que é contra o Black Metal.” Eles escrevem letras politicamente incorretas e tocam música inspirada no black metal. Álbum de estreia. (Infamy PR)

Aeternitas - «Tales Of The Grotesque» (Alemanha, Symphonic Metal) As 12 músicas do novo álbum «Tales Of The Grotesque» são todas

baseadas em contos e poemas de Edgar Allan Poe. Do ponto de vista musical, os AETERNITAS continuam com o estilo do álbum anterior, mas de uma maneira mais aprimorada. As novas músicas são mais poderosas, tal como as partes orquestrais, que são mais virtuosas sem serem sobrecarregadas. (Massacre Records)

The Lions Daughter - «Future Cult» (EUA, Horror Metal) Os The Lions Daughter desencadeiam um ataque esmagador de riffs, ritmos, linhas de baixo, e vocais de cortar a garganta. A terceiro LP «Future Cult» é sem dúvida um álbum apropriado para o hellscape pósapocalíptico que está por vir. Eles inspiram-se em todos os tipos de subgéneros de metal extremo, mas não vivem de limitações musicais e são instigados a agradar a ninguém, apenas a si mesmos. (Season of Mist) Follow The Cipher - «Follow The Cipher» (Suécia, Swedish Power Metal) Falun, esta cidade mágica no coração da Suécia, cercada


por florestas idílicas e lagos azuis profundos, surge cada vez mais como um centro criativo para jovens ambiciosas e talentosas bandas. Follow the Cipher apareceu em maio de 2014, quando Ken Kängström decidiu iniciar uma banda com a intenção de ser diferente de tudo na cena musical, criando algo completamente diferente e inovador. (Nuclear Blast) Vanhelga - «Fredagsmys» (Suécia, Melodic Black Metal) Os Vanhelga estão constantemente expandindo a sua criatividade sem perder o som melancólico clássico da Suécia, o que os torna únicos. «Fredagsmys» é o álbum mais elaborado dos Vanhelga até agora. Fiel às suas próprias palavras, o quinto LP é a exploração contínua dos lados mais escuros da realidade. (Osmose Productions)

Crone - «Godspeed» (Alemanha, dark rock) CRONE é uma banda de black rock do norte da Alemanha, liderada e moldada pelo mentor dos Secrets of the Moon. «Godspeed» é o primeiro LP do grupo, um álbum conceptual com títulos de músicas e temas inspirados nas tragédias da vida real e eventos misteriosos. Cada faixa é um testemunho tocante de uma instância incrível no tempo. Num nível puramente musical, «Godspeed» é um casamento compulsivo e catártico de energia alternativa de rock e hard rock. (Prophecy Productions)

Barren Altar - «Entrenched In The Faults Of The Earth» (EUA, blackened funeral doom) O colectivo de blackened funeral doom da Bay Area, BARREN ALTAR, tem aqui o seu álbum de estreia. Intitulada «Entrenched In The Faults Of The Earth», oferece cinco faixas de desolação sonora. BARREN ALTAR passou os últimos cinco anos a estabelecer uma presença formidável na cena musical da Bay Area através de dois EPs ferozes e um split de sete polegadas, misturando o depressivo funeral doom com uma alma black metal. (Earsplit)

The Mystery Of The Bulgarian Voices Feat Lisa Gerrard «Boochemish» (Internacional, Folk) O The Mystery Of The Bulgarian é um coral feminino que data do início dos anos 50. Elas entregam as harmonias marcantes e vigorosamente inatas à tradição cantada búlgara. A música tem sido descrita como “o casamento da vanguarda e da Idade Média”, que é uma prova da habilidade dos conjuntos de dominar as tradições vocais diversas e milenares da Bulgária, ao mesmo tempo que soa surpreendentemente moderna e original. (Prophecy Productions) ASG - «Survive Sunrise» (EUA, Hard Rock) Os riffs-roqueiros da Carolina do Norte ASG reemergem com seu sexto álbum. «Survive Sunrise» expande ainda mais a mistura da marca registrada desta banda. Com vocais incrivelmente cheios

de vida, letras evocativas e toques musicais bem afiados, os ASG criam hinos de rock melódico, com uma vibração ensolarada e colorida que faz lembrar a capa eletrizante do álbum. (Relapse Records) Fargo - «Constellation» (Alemanha, Rock) As doze canções de rock clássico e som contemporâneo, a voz agradavelmente relaxada de Peter Ladwig, o estilo de guitarra acentuado de Arndt Schulz, cujo DNA apresenta inconfundivelmente elementos de blues rock, e o estilo dinâmico de bateria de Nikolas Fritz, fazem de Fargo uma banda rock com a confiança de tal modo que parece nunca ter havido uma pausa tão longa. (Steamhammer SPV)

Space Elevator - «Ii» (Inglaterra, jazz-rock) Os Space Elevator foram formados pelo guitarrista David Young e a exuberante cantora The Duchess. Tendo lançado o seu primeiro álbum em 2014, a banda produziu um álbum de rock contemporâneo que se inspira nas influências das melhores e maiores bandas da história do rock. Com canções de rock bem trabalhadas e grande dinâmica, as músicas são entregues brilhantemente pela Duquesa. (Steamhammer SPV) Decline Of The I - «Escape» (França, Post-Black Metal) Decline Of The I é uma banda francesa de pós-black metal. Com o seu terceiro álbum de estúdio

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«Escape», é a última parte de uma trilogia conceitual inspirada nas obras do cirurgião e filósofo francês Henri Laborit, cujos trabalhos incluíram estudos sobre o cérebro. As letras e as mensagens escondidas desempenham um papel importante na música da banda, que pode ser descrita como um black metal com uma aresta aventureira e uma ampla gama de influências musicais, variando de elementos eletrónicos e industriais aos orquestrais. (Agonia Records)

Deathgrave - «So Real Its Now» (EUA, deathgrind/punk) Forjados em 2013, os DEATHGRAVE uniram-se inicialmente como quatro amigos com uma simples necessidade de jogar grindcore / powerviolence na veia de Siege, Rudi Peni e Napalm Death com um toque próprio. A banda tem obliterado locais em toda a Califórnia, bem como no Noroeste Pacífico, Sudoeste e México com seus sets. (Earsplit) Kataklysm - «Meditations» (Canadá, Melodic Death Metal) Por mais de um quarto de século, a embarcação monumental que são os KATAKLYSM dominou o mundo com um imenso e poderoso death metal. Desde a sua formação em 1991, eles desarraigaram a influência de tudo, desde a história humana antiga até os instintos básicos que cercam a emoção mortal. Parte do que tem mantido o KATAKLYSM não apenas sobrevivendo, mas prosperando por um período tão longo, é a sua

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incrível capacidade de explorar os abismos mais obscuros e os caminhos mais intricados da natureza carnal através da música. (Nuclear Blast) Mortuous - «Through Wilderness» (EUA, death/doom Metal) MORTUOUS foram formados em San Jose, Califórnia, em 2009, a partir das cinzas do projeto anterior de Colin Tarvin, Funerealm. Tarvin começou a escrever música na veia de Incantation, Autopsy e Viogression com letras centradas fortemente em visões filosóficas sobre a morte e temas anti tecnológicos. Mais tarde naquele ano ele lançou a demo «Mors Immortalis», que recebeu elogios e reconhecimento em toda a comunidade underground de death metal. (Earsplit) Jane In Space - «Gorerunner» (EUA, electronic / industrial) A mistura de sons eletrónicos e industriais, caracterizam os JANE IN SPACE com as suas composições de rock alternativo e sensibilidades. Música tão complexa requer um equilíbrio delicado de músicos experientes, O seu novo álbum é «GORERUNNER». (Independentes)

The Chapter - «Angels And Demons» (Portugal, Doom / death Metal) Vindo de Lisboa, Portugal, o som dos The Chapter é uma mistura de vários estilos, como doom, death e gothic metal, resultando em uma combinação poderosa que produz

um som próprio. (Independentes)

Spock’s Beard - «Noise Floor» (EUA, Progressive Rock) Spock’s Beard é uma banda que está num estado contínuo de evolução, como é sempre o caso com os músicos genuinamente criativos. «Noise Floor» encaixase perfeitamente nesse processo. Como todas as músicas do Spock, a maior parte do novo álbum foi escrito pelos membros de forma individual, e depois apresentado ao resto da banda como umas demos de alta qualidade. Uma mudança importante neste álbum é o retorno do baterista Nick D’Virgilio. (InsideOut Music)

Galasphere 347 - «Galasphere 347» (Internacional, symphonic progressive rock) 2018, Europa - quatro músicos unem-se para fazer um álbum de Anglo - rock sinfónico escandinavo. Os Galasphere 347 trazem uma escala épica de grande angular à sua música. A


poderosa e dinâmica bateria de Mattias, entrelaça-se com o baixo líquido de Jacob e as guitarras dão a base para a flauta suave de Ketil e os exuberantes teclados analógicos e vocais apaixonados de Stephen. As influências da banda são tão variadas quanto as suas localizações geográficas sugerem. (Karisma Records)

The Heretic Order - «Evil Rising» (Inglaterra, classic/occult metal) THE HERETIC ORDER fez progressos em «Evil Rising» - em comparação com o LP de estréia «All Hail The Order» (2015) tanto na composição das músicas e conteúdo lírico, com tópicos que vão desde o ocultismo, profecias e morte a eventos históricos factuais como a história do príncipe romeno Vlad III e a história macabra da Floresta dos Empalados que fez o exército turco tremer de medo, ou o conto sombrio e infame da passagem de Gilles de Rais. O Primeiro Concílio de Nicéia, que moldou a Bíblia cristã para se adequar às agendas políticas não escapou aos THE HERETIC OEDER. (Massacre Records) Bleeding Through - «Love Will Kill All» (EUA, Metalcore) Quando uma banda completa dez anos de idade, há uma mudança que ocorre, uma que estabelece as contribuições da banda para qualquer género em que ela seja permanente, tocando por gerações a seguir. Enquanto muitas bandas conseguem entrar em dois dígitos,

poucas conseguem chegar a 20. BLEEDING THRUGH são verdadeiramente um acto integral à música pesada contemporânea. (Nuclear Blast) The Evil - «The Evil» (Brasil, Doom/ Stoner Metal) A evidência do mal na face da terra nunca esteve tão presente. Todos os dias, milhares são mortos, torturados, estuprados e roubados ... A ganância dos políticos, a perversão dos sádicos, a indiferença dos traficantes, a falsidade dos sacerdotes, a ira dos assassinos ... exemplos diários que incita o DOOM está perto! E enquanto a devastação e a desolação consumirem as vidas insignificantes da raça humana, o som do Apocalipse será propagado pelos quatro cavaleiros THE EVIL. (Osmose Productions)

Graveyard - «Peace» (Suécia, Hard Rock) Com seu quinto álbum, «Peace», os GRAVEYARD guiam o ouvinte através de uma paisagem musical em constante mudança, com a sua marca registrada de rock clássico. Para qualquer um que acompanhou os GRAVEYARD ao longo de sua carreira, não é nenhuma surpresa que «Peace» ofereça mais uma exibição apaixonada da banda, que utiliza uma ampla variedade de estilos e humores. (Nuclear Blast) Black Tusk - «TCBT» (EUA, Sludge Metal) Havia sangue, talvez algumas lágrimas também, mas mais do que

qualquer outra coisa, foi o suor que marca o novo lançamento dos BLACK TUSK, intitulado «TCBT». O trio composto pelo guitarrista Andrew, Athon no baixo e o baterista James com todos os deveres vocais, adicionou uma pitada de punk, bem como um peso viscoso e groove para a escola de rock de Savannah que alguns críticos compararam com vários estilos de stoner e sludge . (Season of Mist)

Cryonic Temple - «Deliverance» (Suécia, Power Metal) Cryonic Temple juntamente com muito dos seus conterrâneos, colocaram a Suécia no mapa mundial do Power Metal. Misturando refrões modernos, cativantes e épicos, riffs de guitarra melódicos e batidas de tambor acutilantes, o som da banda absorve influencia tanto do Power Metal como do Heavy Metal clássico. «Deliverance» é o 6º álbum da banda. É pesado, rápido e contém 10 músicas com refrões épicos e grandes orquestrações. Por outras palavras, Epic Power Metal no seu melhor. (Scarlet Records) Wolvennest - «Void» (Bélgica, doom metal) Wolvennest ou WLVNNST é um projeto musical que propõe um processo composto de loops de guitarra, batidas repetitivas, teclas de sintetizadores misturadas a sons vocais ambientes hipnóticos obscuros. WOLVENNEST começou em e foi descrito por

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revistas musicais experimentadas e webzine como uma mistura de sons dos anos 70 Krautrock e início dos anos 90 do Black Metal norueguês. Com «VOID», WOLVENNEST vai-lhe trazer emoções misteriosas e intensas sensações musicais. (Van Records)

Refuge - «Solitary Men» (Alemanha, Heavy Metal, Thrash Metal) Peavy Wagner, Manni Schmidt e Christos Efthimiadis lançaram cinco álbuns aclamados pela crítica como uma das mais bem-sucedidas bandas de metal alemã, RAGE. Agora, reuniram-se sob o nome REFUGE para continuar o ataque sonoro que começaram em 1987. O álbum de estreia do Refuge, «Solitary Men», é o primeiro álbum de material original desta linha clássica dos Rage e certamente satisfará os fãs que se lembram dos álbuns agora lendários! (Frontiers Music) Halcyon Way - «Bloody But Unbowed» (EUA, Thrash/ Progressive/Heavy Metal) Os Halcyon Way são o melhor exemplo de ética de trabalho duro e perseverança, apesar das probabilidades quase intransponíveis. Com uma magnitude de hooks cativantes, harmonias vocais e instrumentação pesada, técnica, mas acessível. O som dos Halcyon Way não pode ser encaixado em qualquer subcategoria de metal. Assim, o novo álbum «Bloody But Unbowed» certamente agradará

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aos fãs de muitas formas de metal, mas também aos fãs de hard rock. (Agonia Records) Afsky - «Sorg» (Dinamarca, Black Metal) Afsky é um projeto de um homem baseado em Copenhague. Atrás está Ole Luk, também membro da banda de black metal dinamarquesa Solbrud. Afsky significa repugnância ou detestar em dinamarquês e é uma mistura de blackmetal clássico com algumas inspirações folk e doom. (All Noir) Yawning Man - «The Revolt Against Tired Noises» (EUA, stoner rock) A experiência auditiva do Yawning Man resume-se como um caleidoscópio intenso e gracioso de texturas musicais polifónicas. Dramático e fluente, escuro, intenso e emocional. As músicas são descritas como “uma expressão emocional e visceral de pura escuridão e beleza melódica”. Seis das oito músicas estão na tradição instrumental pelo qual é conhecida a banda. (All Noir)

Manes - «Slow Motion Death Sequence» (Noruega, Avant-garde Experimental Metal) Os lendários MANES estão de regresso com «Slow Motion Death Sequence», a manifestação mais plenamente realizada da visão inimitável que eles revelaram pela primeira vez em «Vilosophe» de 2003. Um conjunto eclético contendo as músicas mais fortes

e persuasivas de sua carreira de 25 anos, «Slow Motion Death Sequence» é realmente um disco das noites. (Debemur Morti Productions) Isenordal - «Spectral Embrace» (EUA, blackened funeral doom/ neofolk) Os temas tradicionalmente melancólicos da banda são expressos através de sons acústicos mais quentes, apresentando performances virtuosas de viola e violoncelo e uma complexidade harmônica sem precedentes. A música folclórica de ISENORDAL cria a sensação de ser transportada para um lugar escuro e mágico. Enquanto os elementos meditativos e pesarosos de seu som black / doom permanecem, com este trabalho, a banda adopta uma abordagem “desconectada” da arte. (Earsplit)

Sunstorm - «Road To Hell» (EUA, Hard Rock, Melodic Rock) Qualquer fã hardcore do hard rock certamente não será um estranho na história da carreira de Joe Lynn Turner. Desde os seus primeiros dias com Fandango até ao sucesso com Rainbow, Deep Purple e Yngwie Malmsteen, e através de sua carreira solo anunciada, o cantor nascido em New Jersey tem os seus talentos vocais em exibição há décadas. Agora, é o líder dos Sunstorm. (Frontiers Music) TNT - «XIII» (Noruega, Hard Rock, Melodic Rock) Os praticantes de hard rock


e heavy metal certamente não serão estranhos à história e à longevidade dos roqueiros noruegueses TNT. O apropriadamente intitulado «XIII» é o décimo terceiro álbum de estúdio da banda e conta com os membros fundadores Ronni Le Tekro (guitarra) e Diesel Dahl (bateria) ao lado do baixista Ove Husemoen e o novo vocalista Baol Bardot Bulsara . Os fãs da TNT podem esperar o rock melódico. (Frontiers Music) Iskald - «Innhostinga» (Noruega, Black Metal) Depois de quatro anos em silêncio, os Iskald finalmente retornam ao campo de batalha com mais força e poder do que nunca! É hora de colher todas as suas plantações e embarcar na tempestade que se desdobra em «Innhøstinga». Com este álbum, Iskald continua sua arte de black metal intenso e melódico. Este pode ser o álbum mais complexo até hoje, contendo nove músicas divididas em 50 minutos. (Indie Recordings)

The Sea Within - «The Sea Within» (Internacional, progressive rock) The Sea Within é mais um amálgama de talentos mais do que um “supergrupo” regular. Esses músicos uniram-se para criar um álbum único. O guitarrista / vocalista Roine Stolt, o baixista Jonas Reingold, o tecladista / vocalista Tom Brislin, o baterista / vocalista Marco Minnemann e o vocalista / guitarrista Daniel Gildenlöw têm um vasto

reservatório de experiência. As influências são muito ecléticas: do prog ao jazz, ao clássico, ao heavy rock, folk, punk, eletrónica e pop. (InsideOut Music) Krakow - «Minus» (Noruega, Stoner Metal) Após um ano de gravação, modelagem, regravação e refinamento, “menos” foi reduzido à essência de quem é KRAKOW como indivíduos, como grupo e como contadores de histórias. Este é um álbum que desafia qualquer tentativa de definição de género e cobre o pesado, o sutil, o melódico, o groovy, o lento, o denso, o arejado, o nu, e sempre, sempre, aquela parede de som onde nenhuma luz pode escapar. (Karisma Records)

Elvenstorm - «The Conjuring» (França, Heavy Metal) «The Conjuring» é um álbum de heavy metal puro e intransigente e tem ELVENSTORM escrito em todo o lado! O álbum está atingindo passos mais altos com uma atmosfera mais sombria, já que a banda lida com o “mal” em todas as formas e formatos. Os sentimentos transportados pelas melodias e as letras também são mais fortes do que nunca. Espere uma blitz de heavy metal surgindo das profundezas do inferno! ELVENSTORM entrega heavy metal de alta velocidade em toda a Europa. (Massacre Records) Khemmis - «Desolation» (EUA, doom metal)

KHEMMIS é uma banda de heavy metal Americana. Embora os KHEMMIS sejam inegavelmente influenciados pela doom e pelo metal clássico, rotulá-los assim não faz jus ao que é realizado em «Desolation», uma representação perfeita do heavy metal moderno que integra o passado de uma maneira que só é possível no presente. «Desolation» não é apenas o melhor registro dos KHEMMIS até hoje, mas sim uma prova da qualidade que o heavy metal ainda é capaz hoje. (Nuclear Blast) Finnr S Cane - «Elegy» (Canadá, atmospheric black metal) O trio canadiano foi cuidadosamente planejando uma continuação de «A Portrait Painted By The Sun» e o próximo capítulo na sua jornada musical cai perfeitamente em conjunto com o 10º aniversário da banda. Cane Finnr desenterrou algo que leva o ouvinte numa odisseia etérea. A música obscuramente progressiva dos Elegy abrange tudo o que a banda refinou na última década. (Prophecy Productions)

Khôrada - «Salt» (EUA, Atmospheric/Progressive PostMetal) Erguendo-se das cinzas de Agalloch e Giant Squid, nasceu um novo grupo: Khôrada. Com um conceito completamente novo, os Khôrada são uma oportunidade para os músicos explorarem novas paisagens sonoras enquanto se desafiam criativamente. Com

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«Salt», Khôrada forja faixas de som de tirar o fôlego que incham, esticam, submergem e retrocedem com um poder ampliado e uma atmosfera agressiva e apocalíptica. (Prophecy Productions) Mindreaper - «Mirror Construction A Disordered World» (Alemanha, melodic-thrashy death metal) Os MINDREAPER vêm enriquecendo a cena underground alemã há mais de 10 anos com seu tradicional death metal melódico e thrash. Depois do bem-sucedido álbum de estreia, «Human Edge (... para o Abismo)», o segundo álbum dos Hessians deve causar algumas dores no pescoço entre os amigos do metal mais duro. As 10 músicas são todas de alto nível técnico, sem querer reinventar a roda musical. (MDD Records)

Exmortus - «The Sound Of Steel» (EUA, Technical Melodic Thrash/ Death Metal) Os trituradores neoclássicos Exmortus, fundado pelo guitarrista e vocalista Jadran “Conan” Gonzalez, conseguiram conquistas após conquistas. No entanto, o 5º álbum da banda, «The Sound of Steel», é o álbum mais pessoal, um álbum forjado em conjunto depois de um pouco de revés, mas também um que, dada a sua criação, nunca poderia ter visto a luz do dia. (Prosthetic Records) Carnation - «Chapel Of Abhorrence» (Belgica, Death Metal) Abrace os novos senhores do

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death metal com o seu novo opus, «Chapel of Abhorrence»! CARNATION é igual a loucura do death metal da Bélgica. No início de 2013, o guitarrista Jonathan Verstrepen criou a banda para mostrar o seu apreço pelas lendas do death metal da velha escola dos anos 80 e início dos anos 90. Com este álbum, CARNATION dá-nos as boas-vindas ao domínio da morte e convida-nos a testemunhar a subida ao trono! (Season of Mist) Smoke The Sky - «The Human Maze» (Alemanha, Rock/Metal) Heavy Metal reúne riffs de rock épicos com uma enorme dose de groove e uma sugestão do som inspirado em Nola: Bem-vindo ao up and coming SMOKE THE SKY! Formado em 2010, o quarteto alemão oferece um som de rock característico e energético que incansavelmente bate o público com riffs cativantes e refrões memoráveis. (All Noir)

Mark Deutrom - «Brief Sensuality Western Violence» (EUA, Art Metal) Com as obras musicais produzidas até hoje de MARK DEUTROM, qualquer introdução parece desnecessária, mas talvez não seja má ideia mencionar alguns factos que cercam a sua carreira artística. O verdadeiro tesouro da expressão artística de MARK DEUTROM reside no seu vasto leque e género que transcende as gravações a solo. MARK DEUTROM lança aqui o seu sexto álbum a solo. (Season of Mist)

Cast The Stone - «Empyrean Atrophy» (EUA, Death Metal) Cada um dos membros dos CAST THE STONE está envolvido na composição musical, e cada um tem os seus gostos variados. Mas todos parecem ter um gosto comum: um apetite pelo death metal americano e sueco. Em «Empyrean Atrophy», há elementos artesanais que podem ser comparados a atos suecos mais obscuros e progressivos. Talvez por essa razão, Dan Swanö foi uma escolha clara para a produção. Hibridizando a ferocidade obscura do death metal sueco através de uma lente de brutalidade americana, CAST THE STONE acerta um passo criativo com «Empyrean Atrophy». (Agonia Records)

Lucifer - «Lucifer II» (Alemanha, Heavy/Doom Metal/Rock) Nunca subestime o poder de transformação da música pesada. O poder do riff, a melodia e o groove insistente criam uma magia curiosa que só o verdadeiro inspirado pode aproveitar. E é aí que Lucifer entra. Criado pela poderosa potência vocal Johanna Sadonis (ex-THE OATH), esses renegados psicadélicos de rock’n’roll estão prestes a voltar com um novo álbum, um novo som e um espírito revitalizado que promete impulsioná-los até o topo. Embora ainda reconhecível como a banda que lançou Lucifer I em 2015, Lucifer II é um animal muito diferente do seu antecessor. (Century Media)


Pound - «Pound» (EUA, Instrumental) Pound - o duo de Ryan Schutte e David Stickney - leva a sua influência a todo o espectro de grind e doom, então, corta essas influências e entrega a sua própria marca de matemática hiper-shred que gira e gira implacavelmente, soltando ocasionalmente sulcos monstruosos de música. A configuração exclusiva de Pound consiste numa guitarra de 9 cordas de barítono e dois kits de bateria posicionados num ângulo de 90 graus. Os sons extraídos desses instrumentos pouco ortodoxos somam-se a uma vibração inteiramente nova que pertence apenas aos Pound. (All Noir) Comess - «Botched And Flailed» (EUA, noisy hardcore) O COMESS é um projeto de música pesada de Louisville, Kentucky, e esforça-se para criar música mais agressiva. De suas performances caóticas ao vivo, às suas gravações sinistras e cortantes, eles descobriram que o nome COMESS - palavra definida como uma situação confusa ou barulhenta - era um ajuste perfeito. (Earsplit)

Archgoat - «The Luciferian Crown» (Finlândia, Death/Black Metal) ARCHGOAT libera ainda mais pústulas diabólicas num mundo cada vez mais moldado à sua imagem. «The Luciferian Crown» é uma visão assustadoramente focalizada da corrupção infernal, não sentimental, moralmente

repugnante e impregnada de um horror violento realista. Contemporâneo com os estranhos clássicos de death finlandesa e do black metal, ARCHGOAT compartilham a mesma propensão a atmosferas alteradoras da mente, obscurecendo o místico artesanato da primeira onda do black metal com o punk gutural, o thrash primitivo, a barbárie sonora do death metal vintage e o grindcore que cheira a putrefação. (Debemur Morti Productions)

Dvne - «Asheran» (Escócia, progressive metal/doom) DVNE (pronuncia-se duna) em «Asheran» o seu álbum de estreia. «Asheran» é uma tapeçaria de som de sessenta minutos; uma narrativa épica seguindo o conto da ascensão e queda das civilizações, o retorno de um império perdido e os eventos de abrangência do mundo que consequentemente se desdobram. Repleto de temas de ficção científica, questões ambientais e visões distópicas e utópicas para o futuro da humanidade. (Earsplit) Omenfilth - «Hymns Of Diabolical Tr» (Filipinas, black metal) OMENFILTH foi gerado a partir das criptas abissais das Filipinas e expele violento e desagradável terror na veia de black metal reminiscente dos primórdios dos Rotting Christ, Varatron, Necromantia e Samael. A banda distingue dos clones bestiais black / death metal, preferindo seguir caninhos menos complicados,

aproveitando a escuridão externa do mundo e os sentimentos internos de misantropia, apatia, desolação com a necessidade de sabedoria herética e esotéricos ocultistas, fundindo tudo para criar death / thrash blackened da mais alta qualidade. (Earsplit) Cold Snap - «All Our Sins» (Croácia, Metal) A diferença entre os lançamentos anteriores do COLD SNAP e «All Our Sins» está dentro da abordagem directa dos álbuns à música e à atitude “in your face”, como a banda gosta de dizer. O álbum possui uma sensibilidade fresca e moderna, enquanto mantém o peso da assinatura da banda. O acréscimo de um segundo vocalista permitiu que o sexteto ampliasse o alcance de seu som com a introdução de vocais mais proeminentes, gritados e rosnados, bem como uma abordagem mais orientada para o riffing que combina o ressonar familiar do nu-metal com as bandas. (Nuclear Blast) Tantara - «Sum Of Forces» (Noruega, Thrash Metal) O grupo norueguês Tantara está novamente pronto para trazer o género de volta às suas raízes, combinando melodias pesadas, riffs rápidos e estruturas musicais complexas. Todos os membros, inspirados pela cena heavy e thrash metal dos anos 80, deram ao género uma nova e moderna vantagem, mantendo-se fiel ao seu legado. Com este novo lançamento, a banda mostra mais uma vez que o thrash não está morto. (Indie Recordings) Dark Millennium - «Where Oceans Collide» (Alemanha, Progressive Dark Metal) DARK MILLENNIUM continuam a sua evolução imprevisível com o novo álbum «Where Oceans Collide». O distinto trabalho de guitarra de Hilton e Michael, bem como a voz única de Christian, são as peças dominantes e altamente reconhecíveis, mesmo

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num cenário novo e experimental. A banda trabalhou novamente sem nenhum sistema de suporte técnico, como quantização de áudio ou acionadores de bateria. Profundidades atmosféricas são fornecidas por backing vocals da banda, bem como de texturas sonoras. (Massacre Records)

The Night Flight Orchestra «Sometimes The World Ain T Enough» (Suécia, Hard Rock) Os The Night Flight Orchestra começaram como uma visão unida em 2006, compartilhada entre os membros fundadores da banda, Björn Strid (vocal) e David Andersson (guitarra). Eventualmente, eles encontraram Sharlee D’Angelo (baixo, ARCH ENEMY, SPIRITUAL BEGGARS e muitos outros), Richard Larsson (teclados), Jonas Källsbäck (bateria) e Sebastian Forslund (guitarra, percussão). E como o destino tem disso, a primeira vez que todos entraram numa sala juntos e começaram a tocar, a magia foi instantânea. (Nuclear Blast) Duncan Evans - «Prayers For An Absentee» (Inglaterra, Rock) O segundo lançamento de Duncan Evans, «Prayers For An Absentee», é uma coleção de oito orações transformadas em músicas que mostram o próximo passo na sua jornada de composição. Outrora um guitarrista de A Forest Of Stars, Duncan Evans tem seguido a sua carreira a solo desde 2013, quando lançou o 7 “ «Bird Of Prey». «Prayers For An

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Absentee» está impregnado de tristeza e do que os portugueses chamem de “saudade” - um desejo inexplicável - que percorre toda a lombada de todo o álbum. Este álbum é dolorosamente quente e aberto, às vezes frágil e calmo, em outros abrasivo e irritado, mas nunca menos do que honesto e verdadeiro. (Prophecy Productions) Obscura - «Diluvium» (Alemanha, progressive death metal) Os mestres alemães do death metal progressivos, OBSCURA, completam o seu círculo conceitual de quatro álbuns, com o lançamento de «Diluvium». Completo com todos os elementos de assinatura da banda, além de polirritmia inovadora, composição dramática e virtuosismo de cair o queixo, OBSCURA eleva a fasquia mais uma vez com um álbum que ficará nos anais da história do metal como uma das performances mais impressionantes do género. (Relapse Records)

Trappist - «Ancient Brewing Tactics» (EUA, Hardcore) Os apreciadores de cerveja artesanal de Los Angeles TRAPPIST preparam as suas altamente antecipadas e antigas táticas de fabricação de cerveja antigas. «Ancient Brewing Tactics» tem 21 pistas e 33 minutos de caos induzido por bebida, com o objetivo de derrubá-lo mais rápido do que atirar numa Stout Imperial Russa de 15%. TRAPPIST tem uma missão clara, aniquilar o ouvinte com uma tempestade de

d-beat, crust punk, power violence e hardcore, tudo em nome da cerveja. (Relapse Records) Kwade Droes - «De Duivel En Zijn Gore Oude Kankermoer» (Holanda, Black Metal) O disco de estreia de Kwade Droes é um bombardeio de tapete rançoso em louvor ao crime, adoração de cabras, fanatismo rural e ódio maldoso por tudo seguro e progressivo. Betuws & Boos, prepare-se para arrancar os dentes depois de ouvir este pedaço de violência possuída! (Van Records) Circles - «The Last One» (Austrália, Extreme prog metal) Do mesmo solo fértil que deu origem a alguns dos mais inovadores actos em metal, ergue-se a potência progressista australiana CIRCLES. Combinando influências djent com metal extremo, a banda esforçou-se sempre para expandir o seu som, colocando-os numa classe própria. No novo disco, chamado «The Last One», os australianos cumprem mais uma vez a promessa de buscar os limites do que é comum no género e ultrapassá-lo. CIRCLES é o próximo passo na evolução da música pesada. (Season of Mist) Foscor - «Les Irreals Versions» (Espanha, Dark Atmospheric Metal) A banda catalã de metal atmosférico FOSCOR, nunca se esquivou de explorar as linhas entre a realidade, a poesia e o além. Com «Les Irreals Versions», a banda procura intensificar a sua música e dar um novo significado. Seis faixas, tiradas de versões anteriores, foram reorganizadas e gravadas do zero. Os FOSCOR introduzem diferentes instrumentos para as composições, criando uma atmosfera mais intimista, levando a música a novos limites. (Season of Mist) Slidhr - «The Futile Fires Of Man» (Irlanda, Black Metal) A força Black Metal Irlandesa


Slidhr foi formada em 2005 como o projeto a solo do multiinstrumentista Joseph Deegan, na época metade do grupo culto do Black Metal: Myrkr. Deegan imaginou Slidhr como uma entidade dedicada ao poder destrutivo inexorável aproveitado pelas forças indiferentes da natureza. Ao longo de uma carreira de treze anos, a Slidhr deixou a sua marca no underground com a sua marca exclusiva de Black Metal, que é tão criativa e imprevisível quanto venenosa. (Van Records)

Soldat Hans - «Es Taut» (Suiça, downtempo folk doom) O sexteto Suíço Soldat Hans começou a sua carreira como banda de noise instrumental tocando apenas de forma improvisada. O ponto de virada aconteceu por volta de 2013, quando eles decidiram escrever material para o primeiro álbum «Dress Rehearsal». O novo álbum vê a banda seguir a mesma trajetória explorada em «Dress Rehearsal», misturando elementos de doom, pós-rock, drone e dark jazz para criar músicas que soam totalmente deprimentes, assombrosas e enigmáticas, mas que não deixam de ser extremamente envolventes. (Viral Propaganda) Diabolos Dust - «The Reaper Returns» (Alemanha, Heavy/ Thrash Metal) As músicas do novo álbum apresentam parcialmente, diferentes estilos de metal. Mas, as

influências do thrash metal sempre vêm à tona. A mudança notável de estilo entre os dois últimos álbuns e «The Reaper Returns» é devido à adição de novos membros da banda, vindos da cena hardcore e death metal. Com guitarras afinadas em 3 meiostons, este é o álbum de heavy / thrash metal moderno perfeito! DIABOLOS DUST tem a ver com o intransigente thrash metal moderno com influências dos anos 80. Mas a banda não é uma cópia de bandas dos anos 80! (Massacre Records)

Madder Mortem - «Marrow» (Noruega, Progressive Metal) «Marrow» é o sétimo álbum dos Madder Mortem - uma das bandas de metal mais originais da Noruega. «Marrow» é um álbum complexo, que abrange um amplo registro de géneros e expressões - de momentos folclóricos / progressivos a vanguardistas, de bonitos e elegantes a desafiantes tonalidade e dureza modernistas. Com os vocais dinâmicos e poderosos de Agnete M. Kirkevaag no topo, como sempre. (Dark Essence Records) Hopelezz - «Stories Of A War Long Forgotten» (Alemanha, Modern Thrash Metal) «Stories Of A War Long Forgotten» é o primeiro álbum conceitual da banda. É sobre uma guerra desencadeada na Terra para nos punir dos nossos pecados. Nas 12 faixas do álbum, HOPELEZZ apresenta-se num novo nível

impressionante. Eles nunca soaram mais maduros, os refrões nunca foram mais cativantes, e as guitarras nunca foram mais melódicas do que agora. A mistura de metal brutal e prementes melodias instantâneas, agarra o ouvinte pela garganta. (Massacre Records) Ennui - «End Of The Circle» (Geórgia, Funeral Doom Metal) Formado em 2012 por David Unsaved na cidade de Tbilisi, o duo georgiano ENNUI, explora uma variedade de estilos dentro dos géneros do funeral e death metal, oferecendo uma mistura refinada de melodias obscuras, riffs esmagadores e percussão técnica, juntamente com o dramático e poético da narrativa. Os ENNUI têm o orgulho de apresentar o seu quarto álbum, «End of the Circle», que contem três canções épicas, de acordo os com diferentes cânones do género, sustentando a atmosfera de funeral doom / death metal. Esta é a música mais obscura, inventiva e extrema escrita pela banda até o momento. (Non Serviam Records)

Like A Storm - «Catacombs» (Nova Zelândia, Rock) A banda rock mais famosa da Nova Zelândia, LIKE A STORM, está de volta com o terceiro álbum de originais, «Catacombs». Como os dois últimos discos do LAS, «Catacombs» também abrange todo o espectro, do superpesado ao super melódico. (Century Media)

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GARAGE POWER

A banda portuense 47 de Fevereiro acabou de lançar a edição em vinil de “La beauté est dans la rue”. Com este pretexto estivemos à conversa com a que será provavelmente a primeira banda Portuguesa de fute-rock mediterrânico. Que estilo é este? Fomos descobrir isso e muito mais: as influências que vão de Asterix a Gabriel Garcia Márquez, passando pela Liga dos Últimos, a celebração da cultura Ibérica, e um disco que embora se denomine “Luta pela Manutenção”, achamos que tem condições para permanecer muito tranquilo na Primeira divisão. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro & Ivo Broncas

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Em primeiro lugar queremos dar os parabéns pelo vosso brilhante trabalho, e prometemos não abusar dos trocadilhos futebolísticos! Grazie ragazzi!! Ponham-se à vontade… :) Antes de mais, quem são os 47 de Fevereiro? De onde vêm e para onde vão? Os 47 FVR são uma banda de Fute-Rock Mediterrânico sediada no Porto (de Palermo). Para onde vamos não sabemos responder porque não somos bruxos mas podemos citar os eternos The Clash: “the future is unwritten!”. Ou num registo mais próximo do futebolês, “vamos indo jogo a jogo!” ahah Para quem não conhece a fundo a vossa banda, querem explicar como tudo começou? Fundamentalmente, e de uma forma muito resumida, esta banda surge das cinzas de uma outra que se chamava Touro e da qual alguns dos nossos elementos foram membro-fundadores (El Killo, Fiscal Santos), sendo que mais tarde se juntou ainda o Capitão Moura. Enquanto essa banda se desagregava, alguns de nós quiseram continuar a explorar as possibilidades de um Rock musculado e fomos começando a reunir material que mais tarde faria parte do reportório dos 47 FVR. Nesse período o Fiscal Santos foi substituído no baixo pelo Sargento Zero (que ficaria connosco até à conclusão do disco, abrindo espaço ao regresso do Fiscal a casa), e juntou-se ainda o Roque Xandeiro na guitarra portuguesa e eléctrica. De então para cá é uma história que já vai estando mais ou menos documentada em concertos, disco, vídeos, fotos, reportagens e artigos. Sendo um projecto novo, como é que vocês definem a vossa música e onde se enquadram os 47 de Fevereiro no panorama musical em Portugal? (Não vale dizer que estão em fora de jogo)

Se não estamos por vezes parece. Ou pelo menos gostamos de jogar no limite do fora-de-jogo! Precisamente porque se trata de música com sangue na guelra e coisas para dizer, sem nenhum tipo de filtros ou restrições impostas por quem quer que seja. Na nossa música mandamos nós e damos-lhe a direcção segundo aquilo que nos corre nas veias e em que acreditamos: Liberdade e Independência. Em relação à Liberdade e Independência, e relacionandoas com a questão do panorama musical em Portugal, podemos citar um personagem famoso da Liga dos Últimos, que dizia (em relação ao seu posicionamento atrás de

A nossa intenção desde o início sempre foi fazer o que nós achamos que é boa MÚSICA

um poste) que “normalmente os fora-de-jogo começam aqui”. Mas deixamos esse trabalho de análise ao trabalho da arbitragem para vocês... ahah Eu acho que o vosso estilo de jogo é único em Portugal, jogam num 1-2-3-4 com um triângulo de quatro pontas de lança invertido – há poucos plantéis em Portugal com o vosso talento e sentido de humor – como é que vocês criam o vosso estilo de jogo? Quem é o principal municiador e aquele que distribui a bola? ahah... Antes de mais agradecemos os elogios e ficamos contentes por perceber que já entraram

completamente na nossa “filosofia de jogo”!! Assim sendo, vou sacar de mais um chavão dos futebóis para dizer que numa equipa todos contam e que as individualidades só ganham relevo quando temos um colectivo forte. Claro que ao longo do processo de consolidação da banda foram ficando mais visíveis os papéis de cada um, mas a verdade é que todos têm liberdade para ir lá à frente e tentar marcar golo. Quanto às tarefas defensivas, já não se trata de uma questão de liberdade mas sim de obrigatoriedade, e às quais ninguém pode ficar alheio… ;) De onde apareceu esta vossa tendência para imiscuir o futebol com a vossa música? Muito honestamente veio de um feliz acaso. Uma noite estávamos a ouvir algum material reunido em jams para ver o que se aproveitava ou não, ao mesmo tempo que estava a dar um jogo de preparação da Selecção para o Mundial de 2014. Começámos por usar expressões que ouvíamos no relato apenas como códigos para os “riffs” ou “grooves” que interessavam, e em pouco tempo percebemos que havia ali um filão enorme com expressões fortes e que davam o mote para falar de coisas muito mais importantes, e pertinentes, do que futebol. Aliás, neste país parece que não há nada mais importante para falar. BASTA! Houve, creio eu, um óbvio cuidado da vossa parte em celebrar a cultura Portuguesa e até a mediterrânica, isto tendo em conta as línguas em que cantam, os instrumentos que utilizam… Em relação a isto mesmo pergunto o seguinte: - Quando fizeram as músicas, tinham logo a intenção de inserir a guitarra Portuguesa no vosso universo Rock, ou isso veio à posteriori? Nada disso. Nem a guitarra portuguesa, nem as várias línguas em que cantamos... Muito pouca coisa, para não dizer nada, da

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essência desta banda foi planeada ou pensada a priori. A nossa intenção desde o início sempre foi fazer o que nós achamos que é boa música e sobretudo o que nos diverte. Reparámos simplesmente que um de nós (Roque Xandeiro) toca guitarra portuguesa e que seria interessante experimentá-la no Rock. Porque não?!? O mesmo se passou em relação aos idiomas que utilizamos. Se falo melhor italiano ou espanhol do que inglês, se tenho mais vocabulário e melhor pronúncia nessas línguas, porque não utilizá-las? - Foi de alguma forma mais complicado combinar algumas influências musicais anglo saxónicas com a cultura mediterrânica? Não, de todo. As diferenças culturais e linguísticas entre Norte e Sul da Europa (ou do Mundo, se preferirem alargar o debate) são visíveis e, do nosso ponto de vista, salutares e fonte de riqueza. As fronteiras e barreiras que se formam entre os 2 campos são construções diplomáticas e sociais

feitas a posteriori, e que servem apenas para segregar e hostilizar. A música não tem fronteiras e nós somos mais uns para defender e trabalhar esta ideia! Em relação a influências, li num artigo que as referências para este vosso trabalho vão desde o Asterix, passando por Mafalda, George Orwell, Aldous Huxley, John Steinbeck Marguerite Yourcenar, Gabriel Garcia Marquez… até à Liga dos últimos! Isto dito assim parece muito complicado de conjugar, mas a verdade é que o resultado é brilhante e fala por si. Querem partilhar connosco como foi o processo de composição tendo em conta todas estas referências? Foi um pouco como a questão da guitarra portuguesa e das línguas. Foi natural e fluído, porque são autores ou personagens que fazem parte do nosso imaginário e que como tal estão presentes no nosso subconsciente. São coisas em que não pensas enquanto compões,

mas que depois te dás conta que estão lá, desde a perspicácia da Mafalda, à força das palavras do Orwell ou do Steinbeck, até à resistência dos Gauleses contra o opressor, etc... Tudo isso está presente no processo criativo, assim como as grandes bandas que nos influenciam em grande escala. Acham que este tipo de humor poderá ser um entrave ao vosso sucesso em Portugal? Veremos… ”Iremos até onde nos deixarem ir”... ahah Apesar do humor inerente a este projecto, a verdade é que também procuram passar uma mensagem séria. Querem falar um pouco sobre isso? Na realidade essa é uma questão aberta, que não estou muito seguro se deva ter uma resposta muito concreta... Entra na questão da interpretação de cada um e da respectiva apropriação que cada ouvinte faz da nossa música e dos seus conteúdos. A verdade é que nos parece que há muita

Ficámos de tal forma

SATISFEITOS

com o nosso primeiro disco que mal acabámos de pagar a edição em CD decidimos meter-nos nesta aventura.

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coisa importante no Mundo e no País para ser falada, cantada ou simplesmente pensada, e nós sugerimos algumas dessas coisas, tais como a questão das migrações, os (des)governos e as máfias que os sustentam, a Guerra Civil Espanhola, a vida nas ruas, a manutenção das nossa dignidade e ideias, etc. O vosso plantel é extenso, além dos habituais titulares vocês têm uma série de (artistas) pontas de lança. Como foi contratar esta gente toda e como é que eles se enquadraram no vosso estilo de jogo. Terá sido das partes mais fáceis do disco. Entre a grande quantidade de pessoas que temos o privilégio de conhecer e de tocar noutras bandas, foi fácil encontrar gente talentosa que nos pudesse colmatar algumas lacunas que algumas músicas ainda apresentavam. Um telefonema ou um encontro na rua e toda a gente respondeu com entusiasmos, disponibilidade e sobretudo grande

ideias! Aqui fica uma vez mais o nosso agradecimento a toda essa gente boa... Soys grandes!!! … e já agora, uma pergunta pertinente, qual foi a percentagem dos empresários nestas contratações? 0... Bola, como dizia o outro… :) Aqui não há nada para essas aves de rapina, é tudo feito com muito amor e entrega à camisola... Sangue, suor e lágrimas!! Não tive hipótese de ver o jogo, mas ouvi o relato do Rui Lavaredas do vosso jogo decisivo, e pude perceber que tiveram um jogo difícil contra o Real Máfia, e felizmente saíram vencedores. Para além desta equipa, que outras vos deram mais luta na luta pela manutenção? É verdade... Ganhámos-lhes, garantimos a manutenção, mas desconfio que para uma parte substancial da TORCIDA 47 o mais importante ainda foi termos-lhes roubado o título!! :) Quanto às outras equipas do

campeonato houve de tudo, mas também muitas com quem temos um “gemellaggio” importante e que foram fundamentais para alcançarmos a permanência, como por exemplo com os Ghosts of Port Royal, Moonshiners, da Guida, Pulha Seltzer ou O Bom o Mau e o Azevedo. Lançaram o vosso álbum em vinil – algo que me agrada de sobremaneira – Como está a reagir a Torcida 47 e porque é que se decidiram (também) por este formato? (O investimento compensou) Tinha de ser. Ficámos de tal forma satisfeitos com o nosso primeiro disco que mal acabámos de pagar a edição em CD decidimos meternos nesta aventura. O pessoal da TORCIDA 47 está a reagir bem, e dentro deles - e até fora deles - há muitos entusiastas do vinil que já o compraram ou que fazem questão de o fazer. Quanto ao facto de o investimento compensar ou não, é outra questão. Mas ver e ouvir este disco naquele formato enche-nos a alma. Acho que respondi à tua pergunta! :) E se era para compensar algum tipo de investimento acho que mais valia ter seguido outra profissão... ahahah Vocês que já garantiram a manutenção, e são agora um sério candidato a manter-se por muitos e bons anos na primeira divisão, que conselho dão a quem pretende viver profissionalmente da música? Eeeh... Que dizer?!? Trabalhem forte, tentem ser sempre o mais possível sinceros e coerentes convosco próprios, lutem pelas vossas ideias e pelo som em que acreditam. Mas acho que vou dizer uma série de banalidades. Procurem uma música dos The Cult chamada “True Believers”, ouçam-na com atenção e… ”Segue caminho”!!! Facebook Youtube

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O peso que vem do Brasil Por: Emanuel Leite Jr.

Obscurity Tears A música pesada brasileira vai muito além dos Sepultura, Krisiun, Angra, irmãos Cavalera e Ratos de Porão. De Norte a Sul daquele país de dimensões continentais há uma intensa e diversificada cena metaleira. Nesta edição da coluna, falamos com o guitarrista Evandro Andrade, dos Obscurity Tears, uma banda de doom metal do interior do estado de Pernambuco, da cidade de Vitória de Santo Antão. Entre idas e vindas, este grupo completou, em 2018, 22 anos de existência e está prestes a lançar seu segundo álbum de estúdio, o interessante “Rise of a God”. Evandro Andrade relembra toda a trajetória dos Obscurity Tears, desde os tempos do death metal dos Smashed Face, passando pela inesperada repercussão nacional do álbum “Songs for a Black Winter”, lançado em 2000, o retorno com nova formação que foi registado no EP “My Chemical State” e o futuro do grupo que agora projeta a divulgação do seu mais recente trabalho, “Rise of a God”. Formação Jefferson Barreto – baixo e voz Jr. Alves – guitarra Evandro Andrade – guitarra Bruno Lee - bateria

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foco passou a ser a capital pernambucana, onde conseguimos um bom espaço na época e tocamos com lendas do metal pernambucano, como Malkuth, Krapula, Brutal Death, dentre outras. Hoje, com a internet, nossa localização já não é um problema. Até mesmo no Recife, capital do estado, o visual metaleiro ainda chocava as pessoas nos anos 1990, imagino que na Zona da Mata pernambucana não fosse muito diferente, ainda por cima numa cidade bem menor que a capital e tendencialmente mais conservadora. Como os integrantes da banda eram vistos na cidade? Sofriam preconceitos por conta do vosso estilo? Certamente, éramos vistos como os “Satanistas” por conta do visual predominantemente preto, cabelos longos, etc. Isso na verdade nunca nos importou, pelo contrário, gostávamos da fama de “trevosos”.

Antes dos Obscurity Tears surgirem sob esta denominação, em 1996, a banda já existia, com o nome de Smashed Face e, corrija-me se estou enganado, o som era mais para o Death Metal. Quando mudam de nome, a sonoridade já era mais um Death/Doom Metal. Conta-nos sobre estes primórdios do grupo e fala-nos sobre vossa transformação sonora. Evandro: Saudações! Em primeiro lugar gostaria de agradecer o espaço cedido. Bem, no início era tudo muito novo, muito tosco e muito mais difícil. Éramos um grupo de adolescentes querendo “fazer um som”. Tínhamos dificuldade de locais para ensaio, de equipamentos e até mesmo a técnica dos integrantes era bem primária. No começo era tudo baseado na sonoridade Death Metal do início dos anos 1990. A Smashed Face foi um projeto que surgiu com esse propósito. Com o passar dos anos, conhecemos bandas como o Paradise Lost, Katatonia, Blaspherion… dentre outras. Essas bandas nos influenciaram muito na época e daí que começamos a cadenciar mais o som, tornando-o mais obscuro e soturno. Optamos por mudar o nome para Obscurity Tears, pois, o conceito lírico também já tinha mudado muito e achamos que a sonoridade Doom Metal já estava começando a se enraizar na banda e era um caminho sem retorno. Vocês são da cidade de Vitória de Santo Antão, que fica no interior de Pernambuco. Quais eram as maiores dificuldades para uma banda de Metal do interior? As dificuldades eram muitas, desde um local para ensaios, até equipamentos, contatos..etc. Outra coisa que nos desfavorecia era o fato de, não existir músicos na região que apreciassem esse estilo, nosso

O vosso primeiro álbum, “Songs for a Black Winter”, lançado em 2000, já apresentava uma sonoridade mais Gothic/Doom Metal. Embora pesado, com elementos do Death/Doom, era nítida a tendência para o Gothic/Doom, inclusive com violinos e os vocais beauty and the beast. Vocês, inclusive, foram pioneiros em Pernambuco com uma mulher nos vocais. Quais foram as vossas principais influências na altura? Nessa época, estávamos descobrindo de fato nossa sonoridade, como você citou, no “Songs For A Black Winter” é possível notar várias influências. Na época, queríamos mostrar um trabalho que navegasse do Death Metal ao Gothic. Apesar da gravação não ser das melhores e das dificuldades durante o processo de gravação, creio que conseguimos um álbum que marcou uma época em Pernambuco. Fomos a primeira banda da região a se arriscar com vocais femininos, violinos e sair da sonoridade padrão da época para o metal mais soturno. Não deve ter sido fácil para vocês gravarem um álbum de Gothic/Doom Metal em Pernambuco na virada do Século. O que nos pode falar desta experiência? Realmente, o processo não foi fácil. Na época tínhamos sete integrantes, muitas opiniões e conflitos de ideias. A gravação foi feita em um estúdio, mixagem em outro, e depois mais outra mixagem. Além disso a nossa inexperiência em gravação também complicou bastante. Creio que o trabalho foi compensador, apesar de tantos obstáculos. Mas, no fim, o “Songs for a Black Winter” foi muito bem recebido pela crítica especializada do Brasil, com reviews muito elogiosas em revistas como Roadie Crew e Rock Brigade. Esperavam tamanha repercussão? Sim, o “Songs for a Black Winter” repercutiu muito bem, foi distribuído em todo Brasil e até em outros

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países. Como você disse, as principais revistas nacionais fizeram reviews e a nota sempre acima da média. Esse primeiro trabalho nos rendeu muitos shows, mini-turnês e até shows fora do estado, o que na época não era fácil de conseguir. Não esperávamos tamanha repercussão. Até contrato com gravadoras apareceram, mas, as negociações não avançaram e com o tempo a banda começou a ter muitas mudanças de formação o que ocasionou muitas paradas. A banda, entretanto, encerrou as atividades, voltando à ativa em 2006, já com outra formação e também outras influências musicais, com um som mais Gothic Metal e com o então baixista Flávio Marcelo nos vocais. Esta experiência, entretanto, não foi tão longa, pois logo a Márcia Raquel assumiu os vocais. Por que a opção pelo vocal feminino? As pausas foram por conta de problemas na formação, infelizmente isso ocorreu diversas vezes, atrapalhando e atrasando o andamento das atividades da banda. Sobre sonoridade e vocais femininos, quando Márcia Raquel assumiu os vocais, a ideia era retornar a sonoridade da era Songs.. só que com uma pegada mais moderna. Foi um bom trabalho para a época, que rendeu o EP “My Chemical State”.

A ideia foi realmente resgatar a sonoridade clássica do Doom/ Death Metal da década de 90, que foi nossa base musical desde os primórdios.

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Com a Márcia Raquel nos vocais, vocês lançaram o EP “My Chemical State”, em 2009. Um trabalho bem interessante, com timbres mais atmosféricos, de influências mais Prog Rock, mas ao mesmo tempo com um quê soturno, de Gothic, algo que me lembrava coisas como os Sentenced, por exemplo. A banda, porém, voltou a encerrar as atividades algum tempo depois daquele lançamento. Por quê? A sonoridade realmente ficou mais clean no “My Chemical State”, mas foi tudo intencional. Sobre a parada, desta vez foi na verdade uma espécie de férias coletivas (risos), todos estavam muito atarefados com suas vidas particulares, alguns estavam sendo papais pela primeira vez, etc. Manter uma banda viva por tanto tempo não é nada fácil, tendo em vista que somos uma banda 100% independente e isso torna os processos lentos, pois, temos que conciliar a banda com trabalho, estudos, família etc. Mas a chama sempre esteve acesa, até durante as paradas oficiais, alguns integrantes sempre estiverem em contato e sempre mexendo em algo voltado à música. Já em 2016, vocês lançaram um DVD comemorativo de 20 anos dos Obscurity Tears. O que contém este lançamento? Trata-se de um concerto, coletânea de vídeos? O DVD – “Obscurity Tears 20 Years of Pure Doom Metal”, é uma espécie de documentário em vídeo, nele encontram-se cenas de shows de diversas épocas, fotos, biografia em forma de time-line dinâmica, depoimentos além de conter os lançamentos oficiais todos em um único material físico. A idéia foi celebrar os 20 anos de história.


Antes do DVD, vocês lançaram uma nova canção, “The Deep and Red Sea”. O que vos motivou a retornar novamente às atividades? O Web Single “The Deep And Red Sea” foi lançado no final de 2015. A banda já estava ensaiando e compondo músicas novas desde o final de 2014. A ideia foi lançar uma música na internet para que as pessoas soubessem que a banda estava de volta e que voltou com uma proposta mais direcionada ao Doom/ Death Metal dos anos 1990. 2018 marca o lançamento do vosso segundo álbum de estúdio. 18 anos anos depois do “Songs for a Black Winter”, os Obscurity Tears gravaram o full-lenght “Rise of a God”, um álbum que marca, também, o vosso retorno a sonoridades mais pesadas. Aliás, trata-se indiscutivelmente de um álbum de Death/Doom Metal inclusive, gostaria de vos parabenizar pelo grande lançamento. Como foi o processo de composição deste novo trabalho? O processo começou por volta de 2015, quando decidimos realmente gravar um novo trabalho. Foi um processo lento e com pausas, mudança de baterista e com a efetivação de Jefferson Barreto como vocalista. A idéia foi realmente resgatar a sonoridade clássica do Doom/Death Metal da década de 90, que foi nossa base musical desde os primórdios. O álbum tem uma temática quase conceitual e flerta em certos momentos com temáticas mais épicas e até de ficção científica. Ficou um trabalho muito pesado, denso e atmosférico. Com certeza posso dizer que “Rise of A God” foi o trabalho mais pesado já feito por nós desde os tempos de Smashed Face.

O álbum tem uma temática quase conceitual e flerta em certos momentos com temáticas mais épicas e até de ficção científica. Ficou um trabalho muito pesado, denso e atmosférico.

Fala-nos sobre o processo de gravação também, pois sei que vocês usaram dois estúdios. Na verdade, três músicas já existiam e tinham sido gravadas em outras épocas, mas não lançadas, e as mesmas deram um pouco de direcionamento ao resto do álbum. Gravamos seis faixas no Dark Side Studio em Recife, entre julho e agosto de 2018. As outras três foram gravadas em outras épocas, porém remasterizadas no Dark Side. O processo em si flui muito bem, pois, tínhamos em mente que precisávamos de um local especializado em metal para executar essas gravações, coisa que não ocorreu nos trabalhos anteriores. Diego DoUrden (Mystifier e Infested Blood) foi o produtor do “Rise of a God” e também participa em duas músicas. Como foi que rolou essa parceria? Diego DoUrden é o dono do Dark Side Studio, além de técnico ele é músico e produtor. O espaço e equipamentos são totalmente preparados para captar a sonoridade do metal. Diego tem muita experiência e além de gravar, ele nos direcionou, conseguiu extrair de nós o nosso melhor e foi muito detalhista. O diferencial deste lançamento está, dentre outras coisas, no fato de ter sido um material que teve

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realmente um produtor que entenda e aprecie o estilo. Sobre a participação do Diego nas músicas, bem, ele é guitarrista e vocalista no Infested Blood, banda clássica do underground pernambucano além de ser baixista e vocalista da lendária banda baiana Mystifier. Sendo assim, na faixa “Lost in The Deep” queríamos umas dobras de vocais guturais, um timbre diferente e poderoso, e ele foi lá e gravou, sem ensaiar... pegou o microfone e soltou a voz. Já na faixa Rise Of A God PT II, Diego participa de um coral (também improvisado) na introdução da música. Conseguimos com isso, uma diversidade vocal, enriquecendo o material como um todo. Quais vão ser os formatos de lançamento de “Rise of a God”? Inicialmente o trabalho será lançado em todas as plataformas digitais, eu digo todas mesmo! O lançamento digital está previsto para 22 de dezembro de 2018. O formato físico está previsto para o primeiro semestre de 2019 pois estamos analisando se é mais apropriado lançar totalmente independente ou através de um selo. Agora com um novo álbum, acredito que os Obscurity Tears tenham planos para caíram na estrada em 2019. O que já há agendado ou em negociações? Fizemos em agosto de 2018 uma memorável

apresentação no XVIII Blizzard of Rock, festival tradicional de nossa cidade, onde apresentamos nosso material novo ao vivo e obtivemos um feedback muito positivo. A banda encontra-se em sua melhor fase. Desde então, nosso foco tem sido viabilizar as formas de lançar o novo álbum. Alguns contatos estão sendo feitos e acredito que em 2019 iremos tocar em diversas cidades e estados. E a Europa? Está no vosso horizonte uma turnê europeia? Sim, faz parte de nossos planos. Porém, tudo precisa ser planejado, tendo em vista que os integrantes tem trabalho, família, etc. Uma banda independente precisa ter seus passos bem planejados para não conflitar com as demais atividades. Temos bons contatos lá fora, por hora a a meta a divulgar o material nos palcos brasileiros. Evandro, gostaria de te agradecer pela atenção. Parabéns mais uma vez pelo excelente “Rise of a God”. Deixo aqui o espaço para mandares uma última mensagem, divulgares os canais de contato da banda, à vontade. Eu que agradeço em nome da banda Obscurity Tears! Que 2019 traga mais espaço para as bandas independentes que tanto se esforçam para se manterem ativas. WhatsApp: +5581 98837-2244

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A Revolução Bolchevique de 1917 foi o maior fenômeno social do século 20. Ao mesmo tempo, o futebol, outro fenômeno social, consolidou-se como esporte global. Bicampeã olímpica e primeira campeã europeia, a seleção soviética marcou história. Também as rivalidades de seu campeonato. O orgulho ucraniano, Dínamo Kiev; o time da KGB, Dínamo Moscou; do exército, CSKA Moscou; e “do povo”, Spartak Moscou. Revolução bolchevique e futebol, histórias que se entrelaçaram ao longo da “era dos extremos”. Aqui narradas como uma série de reportagens. Preço: 12€ Selo Drible de Letra, editora Multifoco (https:// editoramultifoco.com.br/) Se tiver interesse, favor contatar diretamente o autor emanuel.leite.junior@gmail.com Capa de autoria de Tânia Ribeiro

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Insanos Tantos os entrevistadores como os entrevistados “não dizem pão”. A culpa, no entanto, é dos Italianos Nanowar of Steel que não levaram a sério as perguntas feitas pelo Homem da Motosserra, activo colaborador da Versus e por Um Ser Híbrido que é um gajo que não existe mas existe ao mesmo tempo… tal e qual estes Italianos… Entrevista: Homem da Motosserra & Um Ser Híbrido

Olá, obrigado por perderem o vosso tempo a responder às nossas estupidas perguntas Gatto – Olá, obrigado nós por nos fazeres perder tempo a pensar nas vossas pragmáticas questões. Abdul – Olá! Obrigado por desperdiçarem oxigénio enquanto escrevem neste ficheiro.docx Mr. Baffo – Eu sou Groot! Este álbum tem lançamento marcado algures por este mês. Como é que achas que as pessoas o vão odiar? Gatto – Eu não acho que as pessoas o vão odiar. Muito provavelmente vão ignorá-lo, tal como fizeram no passado e vão preferir ouvir um bom power metal chato e doloroso. Abdul - Eu espero receber muitas cabeças de cavalos mortos em casa. Por esta razão contratei, por uma semana, o Gordon Ramsay de forma a cozinhar em condições as cabeças de cavalo e, claro, insultar quem quer que as tenha enviado. Mr.Baffo - Se uma multa chegar com o CD… Vocês são um grupo de músicos talentosos, excepto talvez, os vocalistas, baixista e baterista. Ok, os bateristas são sempre os melhores músicos e ficam sempre com as melhores miúdas. Então,

aparte da Uinona Raider qual é o pior elemento da banda? Gatto - O pior elemento da banda é o Joao “Gostocaralho” Bacalhau da Silva, que é o nosso imaginário teclista brasileiro e talentoso centro campista. Ele é muito bom a jogar futebol com os dedos e a tocar com os pés e é por isto que falhou redondamente em jogar e tocar, mas foi bem-sucedido em manter a sua identidade secreta enquanto tocou connosco. Abdul – Tu não mencionaste o guitarrista na tua questão, acho que ele vai ficar ofendido, vou falar com ele e depois digo-te alguma coisa… Mr.Baffo – Nós somos todos perfeitos, as imperfeições fazem-te perfeito. Sem alguma imperfeição, a perfeição não fica completa. Percebeste? Não? Perfeito! No vosso site vocês são descritos como uma banda “parody-fungay-metal”. Podem explicar, por favor? Gatto – Paródia = não é sério. Diversão = não é chato. Gay = não é hetero. Metal = não de plástico. Isso significa que lidamos com objectos duros de maneira pouco profissional, a fim de entretermos o nosso “eu” diversamente hétero. Por outras palavras, a nossa música é o equivalente do heavy metal à

produção de vibradores. Abdul – É difícil de me explicar melhor que o Gatto. Vou só adicionar uma palavra: toxoplasmose. Mr.Baffo: Em minha defesa, quando fizeram o nosso site eu estava num churrasco de família. A vossa música é para ser levada a sério? Gatto: Deixa-me perguntar-te uma coisa: Tu levarias a sério o ébola? Bem… provavelmente não porque em Portugal não há ébola. Então, em Portugal poderás fazer piadas sobre isso, assim como faço nesta entrevista. Mas o ébola continua a ser muito sério. Então, isso é, «Nanowar of Steel». É o pastel de nata que comes em Belém, mas depois apercebes-te que é um pastel de ébola e quando te arrependes de não o teres levado a sério já é tarde e estás morto e enterrado. Abdul - A nossa música sempre foi levada a sério. Por exemplo, queremos muito ser cidadãos honorários do Liechtenstein, apenas para fugirmos aos impostos e gastar o nosso tempo a fugir da Polícia. A vida seria muito chata de outra forma ... Mr.Baffo - Hahahahahahaha.... hahah. LOL

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John Petrucci. Ele efectivamente descobriu que se consegue fazer metal progressivo desenhando genitais em CD’s

Neste álbum podemos encontrar muitos momentos engraçados e de paródias a algumas bandas, por exemplo: Dream Theater. Já alguma vez receberam queixas das bandas a dizerem que não gostaram? Gatto: Não, mas temos perguntas muito interessantes e estimulantes que temos de responder para algumas entrevistas. Isso é muito melhor do que ser desaprovado pelos Sabaton. Abdul: Na realidade não tivemos qualquer problema com essas bandas, mas tivemos com os instrumentos que eles tocam. Por exemplo, o nosso baterista foi ameaçado pela baqueta do Mike Portnoy. Agora, ele não pode assistir a mais concertos dos Dream Theater e eu, pessoalmente, fui molestado sexualmente por uma palheta do Malmsteen. Tem sido, literalmente, uma dor no cu. Mr.Baffo: Sim e já agora todos têm o direito de pensar o que quiserem. Eu não me sinto ofendido e não sou, de qualquer maneira, rancoroso com esses 4 pedaços de merda, filhos da puta, pedintes que ousam não gostar das nossas paródias.

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O manager dos Faith No More entrou em contacto connosco quando soube que vos íamos entrevistar. Ele ouviu “The call of Cthulhu” e disse: “Eu quero que estes gajos substituam esses velhos bastardos!” O que lhe devo dizer? Alinham? Gatto: Não, sinto muito. Eu prometi à minha falecida avó que nunca substituiria os Faith No More em qualquer circunstância, e eu vou cumprir essa promessa não importa o que aconteça. Abdul: Quando vi esta pergunta disse ao meu manager e ele disse: "Eu quero os Faith No More para substituir esses velhos bastardos". Agora ele é rico, e eu sou forçado a trabalhar como empregado numa sex shop. Mr.Baffo: Alguém falou em dinheiro?

consegue fazer metal progressivo desenhando genitais em CD’s e vinis de metal clássico. Abdul: Bem Gatto, passados estes anos já podes contar a história verdadeira. Sempre fui fã de Dream Theater e há muitos anos pedi ao John Petrucci para me assinar um CD. Ele desenhou um caralho gigante porque me queria atrair numa forma tipo… Weinstein e convencer-me a tocar no novo álbum deles (na altura era o “Rubber Soul” dos Beatles). Quando cheguei a casa e coloquei o CD na aparelhagem, fez-se magia. Estava a tocar “Warriors of the World United!”. Mr.Baffo: Agora a sério, foi o Uinona Raider que disse essa frase, por isso é o meu baterista favorito (também porque é o único que temos).

Quem teve a ideia para a soberba frase “[…] sabem como é que os Dream Theater fazem a sua música sofisticada? Arranham, com uma chave de parafusos, um caralho gigante num CD dos Manowar”? Gatto: John Petrucci. Ele efectivamente descobriu que se

Neste trabalho tem alguns convidados distintos como o Fabio Lione, o Alessandro del Vecchio e o Mario Draghi. Convidaram-nos por não serem capazes de cantar aquelas partes? Gatto: Mario Draghi foi convidado porque nos devia uns biliões de euros que nos pediu emprestado


para comprar, no mercado negro, a dívida soberana do Chipre. Em troca, concordámos em tocar a sua famosa intro “Whatever it takes…”. O Fabio e o Alessandro estavam à procura de popularidade e o que aconteceu é que eles no pagaram para cantar no álbum. Conseguimo-los por dinheiro, e é tudo o que vocês precisam de saber. Abdul: Foram convidados porque estávamos a sentirmo-nos sozinhos nas gravações. De facto, eles não cantaram de todo, mas fizerem alguns sons acidentais (como tossir) para tornar as

gravações mais interessantes. Mr.Baffo: Sim. Gosto das letras. Vocês falam sobre a «Barbie, MILF Princess Of The Twilight» e a palavra MILF prendeu a minha atenção. Está nos vossos planos fazerem um álbum com letras relativas a actrizes porno? Gatto: Não, o porno é um tópico muito trivial que não merece a nossa atenção. No futuro iremos escrever sobre astrofísica moderna: mecanismos de física plausível para apreciação da formação da galáxia, a afinação dos problemas

do modelo Lambda de Matéria Negra, a crise em pequena escala e os problemas com os satélites da galáxia dos anões e as soluções fora do paradigma cosmológico estabelecido. Antes que me perguntes, não, não lidamos com MOND (Modified Newtonian Dynamics). Abdul: Sim, vamos fazer um álbum conceptual sobre a pornografia, mas apenas sobre food porn. Já temos algumas músicas «Pizza Margherita Of Death», «Spaghetti alla Carbonara in Night», «Cheescake of souls». O álbum será dedicado a Ronaldo Luís

Sim, vamos fazer um álbum conceptual sobre a pornografia, mas apenas sobre food porn [...] 89 / VERSUS MAGAZINE


Nazário de Lima. Mr.Baffo: Já viste a nossa lista de temas? Devias ver com atenção a «Uranus». Olhando para a lestras das músicas poderemos assumir que a Barbie é uma cabra/puta criada pela Mattel? Gatto: Não, podemos assumir que é um brinquedo de plástico com falta de buracos nas partes mais interessantes e, portanto, é completamente inútil para qualquer propósito. Abdul: Na realidade a Barbie é uma trans-empregada numa sex-shop que conhecemos recentemente. Não sabes? Era um guitarrista masculino. Tenta adivinhar de que banda! Mr.Baffo: Não, deverias assumir que as MILFS são cabras/putas criadas pela Mattel. Como é que este tipo de música, e a vossa forma de estar, é vista em Itália? Gatto: Há duas formas de ver. A forma de quem vê através de óculos e a de que não têm óculos. Os que tem óculos vêm através de lentes de vidro, os outros não vêm através de lentes de vidro. Abdul: Em Itália somos muito mal vistos pela música que fazemos, especialmente pelos outros músicos. Ou, pelo menos, pelo Bocelli. Mr.Baffo: Em Braille. Como foi a reacção da mafia italiana quando começaram a cantar em inglês? Penso que boa, porque ainda estão todos vivos… Gatto: Para que fique registado, começamos a cantar em inglês logo na nossa primeira demo, em 2003, «True Metal of the World and Triumph of True Metal of Steel». Gostava que tivéssemos tido uma reacção da mafia italiana porque normalmente envolve algum tipo de dinheiro, mas infelizmente não, ainda ninguém nos contactou. Abdul: Já respondi a esta questão: Vou contratar o Gordon Ramsay para isso. Por favor não me faças repetir essa triste história.

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Mr.Baffo: É a mafia italiana, eles não compreendem inglês.

Mr.Baffo: O Hannibal Lecter aprovou esta mensagem!

Vi nos Metal Archive que desenhas e és um escritor cómico. És tu que fazes toda a parte gráfica dos «Nanowar» Onde podemos ver o teu trabalho? Gatto: O nosso vocalista, o Potowotominimak é artista gráfico de profissão. Para além de pequenas publicações (que desconheço) podes ver a nossa BD original, «Nanowar, I Custodi dell’Acciaio Inox (The keepers of the stainless steel)». Está disponível na Amazon, em https:// www.amazon.it/Nanowarcustodi-dellacciaio-Carlo-Fiaschi/ dp/8869132536. Abdul: O Gatto disse tudo sobre o Poto, mas esqueceu-se da segunda parte da questão. É ele que trata do nosso grafismo desde 40 a.c. Mr.Baffo: Foi o Potowotominimak que fez! É o «Brunelleschi of Steel»!

Já fizeram tantas maluqueiras, mas aposto que já pensaram em formas de ir ainda mais longe, verdade? Esses planos… envolvem mulheres nuas, cavalos que respiram fogo ou anões maléficos? Gatto: Eles basicamente envolvem responder a questões desafiantes e entrevistas sérias como esta. Abdul: De momento, não. Mas envolvem dragões gay pedrados, a nadar numa piscina, e a seduzirem hipopótamos fêmeas vestidos como miúdas da playboy. Tudo no contexto maravilhoso do Lago Di Iseo, em Itália. Estamos a organizar uma aposta ilegal sobre quem será molestado primeiro pelo nosso vocalista, e muito sensível aos animais, Potowotominimak. Serão os dragões ou os hipopótamos. Mr.Baffo: Sim, mas não por essa ordem.

Ao longo do álbum é obvio que conseguem tocar o que quiserem. Se tivessem de definir qual o vosso estilo, qual seria? O que raio quiserem, certo? Gatto: Happy metal. Abdul: Comedy Metal. Mr.Baffo: O que raio quisermos… Metal.

Se tivessem de dar um título à nossa entrevista, quer dizer, a todas as estupidas questões que fizemos, qual seria? Gatto: Seria «Georg Wilhelm Friedrich Hegel: Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften for dummies” Abdul: Eu diria «Interviews: Agony and Ecstasy In Eight Parts” Mr.Baffo: «Vulgar Display of Questions»

Algum do pessoal que escreve connosco gosta das saias cor-derosa que usam nos vídeos. Podem nos dizer onde as compram? Eles querem muito uma… Pelo menos três deles estão mesmo, mesmo desesperados. Gatto: Querem as saias ou as pessoas que as vestem? Até à data, não há nenhuma forma legal de se apoderarem de qualquer uma. Ou vêm ao nosso concerto, dão-nos um murro na cara e agarram a saia, ou vêm ao nosso concerto, dãonos um murro na cara e levam-nos. É uma actividade que tende a ser ilegal na maioria dos países que visitámos… por isso, desculpa, não há forma de obterem esses objectos (ou pessoas). Abdul: Não usamos nenhuma saia no vídeo. É apenas a nossa pele.

Muito obrigado pelo vosso tempo. Há muito tempo que não me divertia tanto a ouvir um álbum! Gatto: Muito obrigado também pela entrevista, gostei muito de responder às perguntas que foram do caralho que me colocaste. Não, não é verdade, as perguntas eram uma merda e agora fiquei doente do cu… Abdul: Muito obrigado pela entrevista! Esperamos ver em breve em Portugal. Por favor digam ao Cristiano Ronaldo para ir jogar para o A.S. Roma! Mr.Baffo: Espero vos ver em breve! Talvez não muito breve. Adoro-vos! Facebook

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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

Saudade

Saudade Com que idade já eu a tenho? Seus bastardos. O sucesso não transpira à volta do suor de uma cona Nem o homem é feito de papel É preciso esquecer as necessidades que criamos E mergulhar no impacto da novidade. Seus brutos!

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(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

Trump e Lordi Pontos de encontro?!?!?! Estava eu a pensar no que haveria de escrever na (Su)Posição desta Versus e eis que me veio à mente a possibilidade de comparar e até mesmo de encontrar pontos comuns entre a vitoria de Trump nas eleições Americanas e a vitoria dos Lordi no Festival Eurovisão da Canção. Os Lordi ganharam a Eurovisão em 2006 e Donald Trump ganhou as eleições Norte Americanas em 2016 portanto são 10 anos de distância entre estas 2 vitórias que analisadas de forma desatenta não têm nada a ver uma com a outra, até porque fazem parte de mundos totalmente diferentes, de contextos diferentes, uma na Europa a outra na América, uma no mundo da Música a outra no mundo da Política mas na minha opinião há vários pontos em comum.

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Em primeiro lugar em ambas as situações os vencedores eram o “underdog”, ambos estavam longe de ser o favorito e por causa disso estas vitórias causaram a surpresa e até o choque dos mais desatentos. Tanto a vitoria dos Lordi, como a vitória de Donald Trump foram contra todas as espectativas e além disso foram vitórias que provocaram reacções de espanto, é comparável a reacção de Eládio Clímaco com a reacção de vários analistas/comentadores políticos. Estas duas vitórias foram contra o “establishment”. Outro dos pontos de contacto entre estas vitórias encontra-se do lado dos votantes, não acredito que todos os que votaram nos Lordi fossem fãs da banda ou até mesmo do estilo da música vencedora mas votaram como um voto de protesto, um voto contra o status quo, foi mais um voto “anti-sistema Eurovisão” do que um voto na banda Lordi, no Hard Rock/Heavy Metal que a banda toca. Tal como com Trump, alguns dos votantes de Trump nem concordam com a maioria das suas políticas mas estavam tão fartas com o status quo, com o sistema político Norte-Americano que votaram em Trump, no “não político”, no “homem de negócios” na pessoa “anti-sistema” e porque não dize-lo, foi um voto “Anti-Clinton”. E estes são apenas 2 casos (há muitos mais) em que os votos não são pela convicção, por querer realmente algo mas são votos contra algo, são votos mais de protesto do que de construção. Há ainda outro ponto que eu quero referir que só está meio “provado”, estou a falar das consequências das respectivas vitórias, se por um lado após a vitória dos Lordi, nada mudou, o mundo da música (o mainstream claro está) e o Festival Eurovisão da Canção continuaram a ser dominados pela futilidade e pela música Pop descartável que hoje faz sucesso e daqui a algum tempo desapareceu e mais ninguém se lembra. Façam um exercício, perguntem aos/às vossos/as amigos/as que não têm ligação com o mundo do Hard Rock e do Metal se se lembram quem são os Lordi e também se se lembram quem ganhou o Festival Eurovisão da Canção após os Lordi, em 2007 (quem ganhou foi a música Sérvia “Molitva” cantada por Marija Serifovic). Já os efeitos de longo prazo da vitória de Trump são mais difíceis de provar porqueainda passou pouco tempo sobre a sua vitória mas parece-me a mim que o mundo não mudou assim tanto, a mim parece-me que a vitória de Trump é mais consequência e não uma causa desta recente deriva das populações a dar vitória nas eleições a propostas políticas mais populistas, mais protecionistas. Não peço que concordem com tudo que eu escrevo, mas peço uma coisa a todos que me leem, que tentem perceber o que eu quero transmitir aqui. É claro que só com muito boa vontade e com uma visão (demasiado) atenta se pode fazer um paralelo entre estas vitórias em mundos, épocas e contextos totalmente diferentes mas eu como fã de música e também como um atento curioso da actualidade mundial tentei ver um pouquinho além, tentei fazer uma análise ambiciosa e se calhar pretensiosa mas é a minha, é esta a minha (Su)Posição sobre o que pode unir Lordi a Donald Trump.

Foto: Jim Watson

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Joseph Deegan Um artista polimรณrfico Entrevista: CSA

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Joseph Deegan – mentor dos Slidhr, artista gráfico e tatuador – merece certamente este atributo. Olá, Joseph! Desta vez, venho entrevistar-te para a Versus como artista gráfico e tatuador. Gostei muito da arte que fizeste para os lançamentos de Slidhr, sobretudo da capa do último álbum («The Futile Fires of Man»). - Trabalhas como artista gráfico para outras bandas? Joseph Deegan – Muito obrigado. Sim, às vezes também faço artwork para outras bandas, mas geralmente sou muito seletivo na escolha desses trabalhos. No passado, pude constatar que trabalhar com algumas bandas é um verdadeiro pesadelo. É frequente 3 ou 4 dos seus elementos gostarem do trabalho, mas um deles quer mudar tudo, a começar pela ideia de partida (e, obviamente, não quer pagar pelo trabalho extra). Por essa razão, quase só faço trabalho gráfico para amigos ou bandas que não me dão problemas. - Como interages com os clientes? Queres sempre fazer as coisas à tua maneira ou tens facilidade em aceitar as sugestões que te apresentam? Prefiro sempre que as bandas tenham uma boa ideia ou visão da sua lavra. Se passaram tanto tempo a escrever letras e a construir uma atmosfera a partir da sua música, seria pouco razoável da minha parte decidir de forma ditatorial como deve ser o artwork para o seu lançamento. É sempre melhor unirmos os nossos esforços, trabalharmos juntos. Se me apresentarem uma boa ideia clara sobre o que pretendem e me explicarem o que não querem mesmo, será certamente fácil

trabalharmos juntos. ­- Podes referir alguns trabalhos que fizeste, sobretudo aqueles de que gostaste mais? Fiquei bastante satisfeito com a última capa que fiz para Slidhr. É muito raro isso acontecerme. Geralmente, detesto o meu trabalho. Também fiz algumas pinturas interessantes para o merchandising de Destriers, uma banda de Dublin. Recentemente descobri que também és tatuador. - Que tipo de clientes atendes? Há 15 anos que faço tatuagens, portanto, atualmente, a minha clientela é muito variada. Algumas das pessoas que tatuei nos primeiros tempos ainda me procuram para novos trabalhos e agora até já ando a fazer tatuagens para os seus filhos. Logo, trabalho para todo o tipo de pessoas, novos e velhos. - Suponho que lhes propões os teus próprios desenhos. Faço sobretudo o que os clientes pedem, mas esforço-me muito para converter os seus sonhos em realidades. É muito frequente ver tatuadores a quererem impor aos seus clientes as últimas tendências, para terem mais gostos no Instagram. Detesto isso. O cliente vai ficar com aquela tatuagem para o resto da vida, muito depois de aquela tendência ter passado de moda, portanto mais vale fazer o que ele/ela pretender. É assim que se fideliza a clientela. Deixem de tentar de ser tatuadores famosos na internet. - Os teus desenhos para tatuagens são muito diferentes dos que

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[…] também faço artwork para outras bandas, mas geralmente sou muito seletivo na escolha desses trabalhos. […] trabalhar com algumas bandas é um verdadeiro pesadelo. […]

fazes para os discos? [Reparei que tens preferência por figuras animais nas tatuagens que fazes, muitas vezes combinadas com elementos vegetais e caveiras.] Quando faço um desenho para uma tatuagem, tenho em conta certos aspetos. A arte de tatuar tem regras, que ajudam a garantir que o trabalho vai envelhecer sem problemas. É importante que o desenho tenha algumas linhas fortes, bons contrastes e um design bem definido. Vejo a tatuagem mais como um trabalho artesanal do que uma arte. A arte para lançamentos musicais é muito mais livre no que toca às técnicas a usar. Prefiro pintar, sempre que possível. Penso que essa técnica dá mais vida e energia ao trabalho. Por vezes, é mais rude, mas isso nem sempre é mau. ­- Mas aceitas que os clientes tragam os seus próprios desenhos para tu fazeres a respetiva tatuagem?

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Às vezes, sim, embora nunca faça uma cópia fiel do modelo proposto. Farei algo parecido. Mas se alguém pretender um trabalho de algum artista gráfico ou um artwork feito para uma banda, farei a respetiva cópia. Onde encontras a inspiração para as tuas criações? Tal como quando componho música, procuro captar uma atmosfera que eu sinta. Não é fácil e, por vezes, acabas por fazer algo completamente diferente da tua ideia original. Mas isso também é aliciante. Se tivesse de escolher uma fonte de inspiração principal, seria a natureza. Está cheia de magia. Que técnicas usas… - No artwork para música? Depende do que o cliente quiser. Por vezes, é mesmo isso que determina a abordagem que vais adotar. Sempre que possível,

recorro à pintura. Mesmo os trabalhos baseados em linhas são feitos com um pincel. Se preciso de incluir no desenho uma infinidade de pequenos detalhes, posso usar uma pena. No entanto, gosto mais de trabalhar com pinceis: as linhas parecem mais enérgicas, mais cheias de sentimento. - Nos desenhos que vais tatuar em pessoas? Geralmente, limito-me a fazer um esboço a lápis. Fazer um desenho completo, com as sombras e as cores, demora muito tempo e a maioria das pessoas não tem paciência para esperar. Aprendeste a fazer trabalho gráfico e a tatuar ou és um autodidata? Por muito estranho que pareça, quando era um miúdo, não gostava das aulas de desenho. Isso diz muito sobre a porcaria que é o sistema educativo. Desde que me lembro, sempre passei muito


tempo a desenhar e pintar, mas não gostava de o fazer na escola, porque nos impunham imensas restrições. Gostava sobretudo de trabalhar com metal, porque o professor era bom nessa arte e eu conseguia mesmo fazer objetos com as minhas próprias mãos. Abandonei a escola muito cedo. Não quero ter nada a ver com escolas… Comecei a fazer tatuagens por minha própria iniciativa e, durante algum tempo, era péssimo. Então, alguém se apercebeu do meu potencial e deu-me emprego nessa área. Foi aí que comecei a melhorar gradualmente. Não era propriamente um aprendiz, mas o trabalho que fiz nessa altura pôs-me no bom caminho e ajudoume a aprender as bases. Tive de pôr de parte a música durante alguns anos, para me concentrar

exclusivamente na arte gráfica e no ofício de tatuar. Não foi fácil, mas acabou por valer a pena. Ter passado anos a tatuar turistas em tendas na rua deu-me as bases técnicas do ofício. Tens o teu próprio estúdio de tatuagem? Onde fica? Basicamente trabalho para um estúdio privado em Dublin. É simpático e calmo: tudo se passa entre mim e o cliente. Atualmente, faço muito trabalho de grande escala, o que é bastante penoso, portanto o ambiente relaxante facilita as coisas. Viajas para ires fazer esse trabalho noutros locais? Dantes fazia-o, nas agora raramente. Sinto-me muito confortável no meu estúdio e prefiro ficar-me por aí. No passado,

viajava frequentemente, para ir a congressos e aceitava convites para trabalhar pontualmente em vários países europeus. Isso pode ser divertido e inspirador, mas, nos dias que correm, sinto que viajar é mais agradável, quando podes conhecer o local que fostes visitar. É muito difícil fazê-lo, se tiveres de passar o dia inteiro preso num estúdio de tatuagem. Já alguma vez expuseste o teu trabalho? Sozinho não, mas já participei com alguns trabalhos em várias exposições. É algo em que tenho pensado muito ultimamente. Gostava de fazer uma exposição de beneficência, para apoiar o resgate de animais. Facebook Instagram

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O lado negro da… vida Retomando o título de um álbum fascinante e adaptando-o à música deste projeto a solo que combina o Black Metal com muitas outras influências. Eis os Infestus Entrevista: CSA

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Saudações, Andras! Esta é a nossa terceira entrevista e estou à espera deste álbum desde 2016. Andras – É um prazer comunicar-te que a espera acabou. Reparei que demoraste quatro anos para concretizar a tua ideia. Por que precisaste desse tempo para teres «Thrypsis» pronto para ser lançado? As coisas boas demoram tempo a concretizar. Houve sempre um intervalo de três anos entre os meus álbuns. A razão é simples: Infestus é um projeto a solo. Eu crio e toco tudo sozinho e também faço a mistura dos meus trabalhos. Assim, tenho controlo total sobre tudo. Cada opção, por muito pequena que seja, resulta da minha forma de ver as coisas. E gasto todo o tempo que seja preciso para concretizar a minha ideia. Mas, com «Thrypsis», a história é diferente. Feri-me e isso forçou-me a adiar a gravação da bateria durante meio ano e depois outro ferimento – decorrente do uso excessivo do meu braço em escaladas – impediu-me de gravar as partes de guitarra durante vários meses. Tentei várias vezes dar início às gravações. Mas, cada vez que tentava, a dor fazia-me perceber que ainda ia passar muito tempo até estar apto para o fazer. Foi um período muito difícil para mim, por não poder satisfazer as minhas paixões. A certa altura, depois de vários meses, resolvi fazer gravações de 10 minutos de três em três dias, para ir avançando um pouco. Sentia-me ridículo, mas a dor não me permitia ir mais longe. Quando penso no que sofri emocionalmente… Também reparei que a tua editora considera que mais uma vez criaste uma entidade que tem as suas raízes no Black Metal mas depois se orienta para um som diferente, o que não me surpreendeu nada. Podes comentar esta ideia? O Black Metal é decididamente a base da minha música, mas ela também apresenta influências de Doom, Thrash, Heavy Metal e ainda música acústica e clássica, que eu combino de forma a atingir o que eu desejo para uma dada canção. Não me preocupo com definições de géneros. Não há regras, apenas imperam o meu gosto e a liberdade criativa que servem a minha necessidade de exprimir esta escuridão complexa que vive dentro de mim desde que me tenho consciência. O que significa o título que deste a este álbum? Como é que esse tema se reflete nas letras que escreveste para ele? “Thrypsis” é uma palavra do Grego clássico que

é usada em vários campos ligados à medicina e à ciência, por vezes com uma ortografia diferente da original. Descreve um acontecimento ligado à destruição em que algo é feito em bocados. Por exemplo, a palavra “Chromothripsis” designa um evento isolado de destruição cromossómica complexa que ocorre nas células e que leva à sua morte ou provoca mudanças caóticas que podem causar doenças. No meu álbum, associo este processo ao nível mental e vejo a própria vida como um ato de “thrypsis” aplicada ao indivíduo decorrente da ação conjunta da psique, da rede neuronal e da sociedade. Nos últimos quatro anos, tive de gerir as consequências de numerosos eventos traumáticos presentes e passados, que deixaram marcas nas minhas letras. Então este álbum tem a ver com problemas de saúde mental como o seu predecessor? Parece muito atormentado. Não de forma direta, mas antes apresentadas como uma consequência da “thrypsis”. A sensação de tormento espelha uma grande parte das minhas emoções e, logicamente, é um elemento importante de todos os meus trabalhos. A minha arte tem de ter o poder de evocar a dor que lhe deu origem. Eu adoto uma abordagem masoquista da música. Tem de magoar, de ferir. Na minha opinião, a arte verdadeiramente relevante só pode derivar do abismo que existe em cada um de nós. Em que te baseaste para decidires que aspeto irias dar a cada faixa do álbum? São as emoções que condicionam a minha maneira de compor. Quando estou envolvido num processo, deixo as coisas acontecerem e fico a ver o que sai dali. Quero que a minha música reflita a minha personalidade. E que as pessoas que gostam da minha música possam tomar consciência desse facto. São arrastadas da agressão para a tragédia para a depressão e de volta às mais sublimes alturas… uma audição difícil, mas “compensadora” para quem compreende a essência da minha música. Adorei as partes de piano. Tiveste aulas de música em criança? Obrigado pelo elogio. Não, nunca tive aulas de piano. Aliás, nunca tive aulas de nenhum dos instrumentos que toco nos meus álbuns. Tenho jeito para tocar, mais nada.

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Não há regras, apenas imperam o meu gosto e a liberdade criativa que servem a minha necessidade de exprimir esta escuridão complexa [...]

Que papel desempenhaste na conceção da capa? Reuni várias vezes com o Ain para criar o artwork. Houve duas versões anteriores. Mas eu queria que a ilustração mostrasse que processo designado por “thrypsis” faz efetivamente parte da minha existência. Ele fez um trabalho espetacular que permitiu concretizar a minha visão. Ele ocupou-se do artwork e eu de tudo o que dizia respeito ao layout. A propósito, a capa só conta metade da história. Tens de ver a contracapa para apreenderes o resto. É a tua cara que aparece nessa imagem? Sim. E quem é Ain? O teu guitarrista? Sim, é um dos meus guitarristas de sessão. Também é designer gráfico. Portanto, era lógico que eu trabalhasse com ele neste artwork. Já trabalhei com ele para fazer a capa de «The Reflecting Void». Ain também realizou um curto, mas incisivo vídeo que fizemos para a canção intitulada “Pulse of the Annihilation”. Na última entrevista, estavas muito contente com a receção do teu terceiro álbum («The Reflecting Void», 2014). Que tens a dizer-nos sobre este? Ainda não há críticas a «Thrypsis», pelo menos que

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eu saiba. O lançamento está previsto para o dia 5 de outubro. Mas as poucas pessoas que eu conheço que já puderam ouvir o álbum ficaram sem palavras. Vais fazer concertos? Da última vez que falámos sobre este assunto, disseste que precisavas de substituir alguns dos músicos. Sim, vai haver concertos e vou participar em alguns grandes festivais como o Hellfest ou o Metaldays, por exemplo. Enquanto estive a preparar o novo álbum, esse aspeto passou para segundo plano. Mas agora que vai ser lançado, quero mesmo fazer concertos. É um processo muito penoso, quando tens um projeto a solo que exige um domínio dos instrumentos que poucos têm. Tive de fazer muitas mudanças nos músicos, desde que decidi levar Infestus para os palcos, sobretudo no que diz respeito à bateria. Recentemente, também tive de substituir o guitarrista principal, porque as circunstâncias da vida do músico que ocupava essa posição se alteraram muito. Tive muita sorte em encontrar o Thomas [Wieser], de Virial, que está a fazer um bom trabalho. Estamos a preparar-nos para subir ao palco novamente. Facebook Youtube


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ANCORADOS NO PASSADO A CAMINHO DO FUTURO Para James Fogarty, o que passou para ITW é o húmus onde vai germinar o futuro da banda. Entrevista: CSA Saudações, James. Já é a segunda vez que te entrevisto como membro de In The Woods. A outra foi há menos de dois anos, logo pode-se dizer que a banda está viva e se recomenda, não é assim? James Fogarty – Sem dúvida! Aliás, pessoalmente gostaria de gravar e lançar álbuns de ITW de 18 em 18 meses – 2 anos. Penso que, se queremos continuar a ser relevantes, temos de estar sempre a compor, gravar e lançar música. A atmosfera e o espírito humano mudam todos os anos – o que estava na berra em 1994 agora é só nostalgia. ITW tem de seguir em frente, senão corremos o risco de

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passar mais 14 anos sem lançar um álbum (o que já aconteceu). Fiquei surpreendida por constatar que agora só tu e o Anders são mencionados como membros de ITW. O que aconteceu? Os irmãos Botteri saíram devido a querelas recorrentes, que afetaram negativamente a vida da banda durante os anos 90. É uma pena, mas foram eles que fizeram essa opção. Atualmente, estão a trabalhar num novo projeto, de que eu serei vocalista. Contudo, ITW é agora constituída pelo Anders e por mim, mas também pelo Bernt [Sørensen, guitarrista].

Tê-lo trazido para a banda foi uma excelente ideia, porque há muitos anos que ele está na periferia da cena musical de Kristiansand (até chegou a gravar com a sua banda ao mesmo tempo que ITW gravavam «Omnio»). Eu e o Bernt dividimos ao meio a tarefa de escrever os riffs para o álbum. Ele é deveras um bom músico. Tendo em conta os respetivos títulos, dir-se-ia que não há ligação (ou, se existe, é fraca) entre este álbum e o seu predecessor. Concordas comigo? Completamente. E isso acontece, porque não pretendemos que haja


ligação entre «Pure» e «Cease The Day». Vejo cada um destes álbuns como um universo em si mesmo, com a sua essência específica. «Cease The Day» tem um início, um meio e um fim. Não haverá uma segunda parte deste álbum, como não houve para o anterior! O mundo é demasiado rico no que diz respeito a emoções e experiências, para nos ficarmos parados a remoer no presente, quando o futuro está já ali ao virar da esquina. Já estaremos a meio do próximo álbum, quando a maioria das pessoas tiver digerido «Cease The Day». Como é que a ligação entre os dois álbuns (ou a sua ausência) se reflete na sua música e letras? «Cease the Day» é um álbum semiautobiográfico, que retrata a vida da banda nestes últimos dois anos. Houve altos e baixos, momentos agitados e outros mais calmos, tempos fáceis e tempos difíceis. A verdade é que, por vezes, as letras são tão ambíguas que o ouvinte pode interpretá-las à sua maneira e mesmo projetar na nossa música a sua própria história. É uma característica verdadeiramente sensacional, que ITV apresenta desde o primeiro dia da sua existência. Calculo que este álbum foi escrito por ti e pelo Anders. Como fizeram para se articularem? Fui à Noruega no início de 2017 e registámos algumas ideias. Uma dessas gravações acabou por se converter numa das faixas do álbum: “Transcending Yesterdays”. Posteriormente, verificámos que, no estúdio, nunca conseguíamos captar a sua energia, pelo que eu decidi que a apresentaríamos como um tema a tocado ao vivo com uma letra que reflete o amor/ ódio que sinto pela ideia de tocar ao vivo. O ruído da multidão que se ouve foi recolhido durante os nossos concertos na Grécia em 2018. Quando lá estive, conheci o Bernt num concerto da sua banda (Mental Disaster, que toca um Death Metal brutal). Na sequência

desse encontro, sugeri ao Anders que experimentássemos o Bernt como músico de sessão e, depois de alguns concertos, dei por mim a trocar ideias com ele por mail. Quando conseguimos reunir canções suficientes para lançar um álbum, ele veio ao Reino Unido e trabalhámos juntos durante dois dias para fazer demos para seis canções. Foi um processo bastante calmo. Deixei-o gravar todas as linhas de guitarra rítmica e eu concentrei-me na melodia da outra guitarra e no baixo. Como relacionam a foto de um cervo imponente que aparece na capa do álbum com o tema principal deste lançamento? Imaginei o velho espírito de ITW a emergir das florestas vetustas aventurando-se no moderno, mas inanimado, mundo atual (uma imagem que representa a forma como vejo a cena musical da atualidade). Representa um instantâneo do espírito selvagem e indomável de ITW, que estava em falta desde o primeiro álbum. Parece-me que este último se caracteriza por um grande equilíbrio entre um lado sombrio e um lado mais luminoso. Estamos encantados por termos conseguido revisitar mais uma vez as raízes mais remotas da banda, sem perdermos o que aprendemos ao

longo do tempo que já passou desde o seu início. Como foi recebido o vosso álbum anterior? Fizeram muitos concertos para o promover? E que expetativas têm para este? «Pure» foi bem recebido, mas tivemos bastantes problemas com os concertos. Daí resultou que os gémeos Botteri tenham decidido abandonar a banda e que tivéssemos tido de optar por contratar um baixista de sessão para acompanhar o Kare (o nosso guitarrista de sessão) e juntar o Bernt, para completar a formação da banda. O resultado final é uma mudança (mas ITW sempre mudou, de álbum para álbum) e a formação de sessão mais forte que alguma vez teve. Estamos ansiosos pelos concertos de 2019. Que planos fizeram com a Debemur Morti para promover «Cease The Day»? Eles deixam-nos ocuparmo-nos da música e nós confiamos neles no que diz respeito à promoção. Neste momento, estamos concentrados em fazer mais concertos, para promover «Cease The Day» à nossa maneira, e em dar início ao novo capítulo na vida de ITW. Facebook Youtube

“[...] Penso que, se queremos continuar a ser relevantes, temos de estar sempre a compor, gravar e lançar música. [...]”

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Da importância da flexibilidade e das raízes Einherjer é uma banda que bem merece o nome que escolheu: tal como os míticos guerreiros, caídos no campo de batalha, que aguardam no Valhalla [o salão do palácio dos deuses nórdicos] a chamada para o “ragnarok” [a batalha que porá fim ao mundo] e continuam a lutar, vendo as suas feridas sempre curadas, esta banda norueguesa está a conhecer uma verdadeira “ressurreição”. Assim, em 2011, lançaram um novo álbum – “Norrøn” –, sendo de referir que o anterior – “Blot” – data de 2003. Depois de alguma espera, conseguimos “chegar à fala” com Gerhard Storesund, o baterista da banda, para discutirmos um pouco o rumo que a banda norueguesa pretende seguir, na sua nova vida. Entrevista: CSA

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O nome “Einherjer” assenta mesmo bem à banda, porque esta se desmembrou e depois “ressuscitou”. Por que razão este vosso projecto musical está a conhecer duas vidas? Gerhard Storesund – Apesar dos três membros de Einherjer também fazerem parte de Battered, há uma grande diferença entre estas duas bandas. Retrospetivamente, podemos dizer que Battered nos serviu para recarregar baterias. É essencialmente uma banda de thrash metal, um estilo com o qual todos crescemos. A música de Einherjer corresponde mais a uma espécie de “pintura musical” do que a meras canções. Einherjer é uma mistura de muitos estilos diferentes e, para fazer a sua música, vamos buscar influências a inúmeras fontes. Pessoalmente, gosto mais de compor para Einherjer. Battered é um projeto divertido, Einherjer é uma espécie de estilo de vida. E agora está de volta à cena. Vocês parecem ser uma banda muito controversa, com frequentes mudanças de alinhamento. O que gerou todas essas convulsões? E como alcançaram a estabilidade que parecem estar a viver agora? É verdade que tivemos um bom número de membros durante o nosso percurso. Penso que há tantas razões para essas mudanças quantos os membros que a banda teve e tem. Duas das razões mais fortes para todas as alterações registadas ao longo da história de Einherjer são o grau de compromisso com a banda que cada um se sentia capaz de assumir e as suas opções quanto à direcção musical a seguir. Neste momento, estamos bem juntos. Agora a banda só conta com três membros. Como conseguem fazer tanto “barulho” com tão pouca gente? Nos concertos ao vivo, temos mais um elemento: um baixista de sessão. Além disso, também recorremos muito a samples. Queremos que a música de Einherjer ao vivo soe tão próxima da das gravações quanto possível. Portanto, nos concertos ao vivo, também incluímos a maioria dos elementos sinfónicos que é possível encontrar nos nossos álbuns de estúdio. Imagino que escrevem juntos a música e as letras. Como se organizam para fazer este trabalho? Na realidade, escrevemos sempre a música primeiro. Como para mim a voz é também um

instrumento rítmico, vamos pensando nela quando estamos a compor a estrutura rítmica das nossas canções. Acontece o mesmo relativamente à estrutura melódica. As letras surgem depois e são adaptadas à música. Consideram-vos como uma banda de Viking/ pagan metal. Mas, ao ouvir a vossa música, é fácil detetar que esta inclui também outro tipo de elementos. Quais são os ingredientes que utilizam para “cozinhar” a vossa arte musical? Bem, nós vamos buscar inspiração a todo o tipo de música. Somos três músicos com gostos diferentes. Na sua essência, Einherjer é uma banda de heavy metal e gostamos de valorizar a parte de metal acima da parte folk. Também nos inspiramos muito na música clássica e em bandas sonoras de filmes. Temos ainda um grande apreço pelo folclore norueguês, mas usámo-lo para dar “sabor” à nossa música, para lhe dar mais “paladar”, não como elemento dominante da mesma. E como entraram em contacto com a Indie Recordings. Sentem que encontraram a parceria ideal para as vossas aventuras musicais? Já no tempo em que éramos membros de Battered estávamos em contacto com a Indie Recordings, que queria lançar álbuns de Einherjer. Agora cresceu e é uma editora muito forte, com muitas bandas de prestígio no seu catálogo. Além disso, conta com profissionais muito dedicados. Por conseguinte, sentimos que seria difícil encontrar uma editora mais adequada a Einherjer neste momento. Há algum conceito subjacente a “Norrøn”? O que significa essa palavra? Em Inglês, “Norrøn” significa “Nórdico”. É um termo usado para designar a antiga cultura nórdica. Refere-se aos povos que dela faziam parte, à sua fé, à versão pré-cristã dessa cultura. E quais são os grandes temas abordados neste álbum? Infelizmente, não percebo nada de Norueguês. Não há nenhum tema específico em “Norrøn”. Nunca sou eu que escrevo as letras das nossas canções, por isso não gosto de dar pormenores relativamente a elas. Foi o Frode que escreveu todas as letras para este álbum. No entanto, posso dizer que o tema base tem a ver com velhos mitos nórdicos e com a nossa cultura pré-cristã.

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O álbum tem uma capa muito interessante, intrigante mesmo. Podes dizer-nos quem a fez e explicar-nos que relação mantém com a essência de “Norrøn”? Foi feita por Renathe H. Bryn. O sentido que se lhe pode atribuir depende inteiramente de quem estiver a olhá-la. É um desenho aberto a muitas interpretações. Podemos relacionála com o facto de se dizer habitualmente que os povos que não conhecem a sua história passada, as suas origens, a sua cultura são como árvores desenraizadas. Além disso, a árvore ocupa um lugar muito importante na mitologia nórdica: para nós, o mundo é uma árvore, a que chamamos Yggdrasil. Li uma crítica em que, a propósito de “Norrøn” se falava de “guitarras ‘preguiçosas’ acompanhadas por fantásticos vocais”. Que te parece este comentário sobre o vosso álbum?

É difícil comentar semelhante observação, quando surge fora do respetivo contexto. Nem sequer consigo perceber se é positiva ou negativa. De qualquer modo, a base da música de Einherjer nunca foram os riffs extravagantes, nem nunca será. Há que avaliar o que fazemos na sua globalidade. Seria estranho escrever, a propósito de uma obra de Beethoven qualquer coisa como “os coros são fantásticos, mas não gostei dos trompetes”. Quais são os vossos planos para a promoção deste álbum? Temos já algumas iniciativas previstas. Uma delas é participar no Ragnarok Festival, na Alemanha, e também no Full Force e no Norwegian Inferno Festival, entre outros.

A música de Einherjer corresponde mais a uma espécie de “pintura musical” do que a meras canções. Einherjer é uma mistura de muitos estilos diferentes […]

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Da arte como fuga Ao tratar o tema da fuga, no รกlbum que fecha a trilogia consagrada ao pensamento de Henri Loborit, Decline of the I assume a arte como uma forma de fuga. Entrevista: CSA Fotos: David Fitt

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Olá novamente, já que é a segunda vez que te entrevisto para a Versus Magazine! Da outra vez, disseste-me que só te faltava explorar a terceira proposta de Laborit para ajudar o indivíduo a escapar à pressão externa: a fuga. -Acreditas mesmo na eficácia dessa solução? Já a experimentaste sob alguma das suas várias formas? Resulta? A-K. – Na realidade, essa é a primeira proposta de Laborit, para fazer face a uma agressão. O nosso primeiro reflexo, quando algo nos agride e nós não queremos lutar, é fugir. É claro que não se trata de cobardia. É uma atitude bem mais inteligente tentar contornar um muro do que chocar com ele. Portanto, efectivamente, acredito mesmo na eficácia desta solução. E, como acontece com toda a gente, às vezes fujo mesmo. Não se trata de uma fuga encarada no sentido literal, mas antes de uma fuga simbólica permanente. Fujo, quando vejo, quando componho música, quando me perco nos meus pensamentos diante de um interlocutor “soporífero”. Trata-se muito simplesmente de encontrar segurança, um lugar onde não nos sintamos mais agredidos. O animal tem de fugir literalmente. Nós, graças ao terceiro cérebro (o da imaginação, da concetualização), podemos refugiar-nos em nós mesmos. E funciona mesmo. Laborit já não é do nosso tempo, mas parece-me que se trata de alguém que compreendeu bem o que o futuro reservava à humanidade. Podes comentar esta afirmação? O sistema que ele criou é magnífico e, de facto, parece-me sólido e absolutamente compatível com as épocas que se seguiram à sua. Mais precisamente, ele apercebeu-se de que estamos permanentemente expostos a situações de inibição da ação, em que nos encontramos encurralados, incapazes de fugir ou de lutar. É isso que nos destrói lentamente, em fogo brando, friamente. Quando o meu chefe me dá uma ordem que me parece ilegítima, quando já não amo a minha mulher, mas tenho um empréstimo para pagar e filhos, quando estou doente e não encontro uma cura. Tudo isto são situações de inibição da ação, em que a sociedade nos envolve. Não é para admirar que as pessoas enlouqueçam ou se afundem na depressão. São escapatórias para pessoas que já não conseguem suportar tudo o que lhes acontece. Esta causa também explica a crença religiosa: o refúgio no espiritual, porque o mundo” cá em baixo” é insuportável. O mesmo acontece com o suicídio, que continua a ser uma grande causa de mortalidade nos países ocidentais. Certamente foste tu que compuseste toda a música deste álbum. - Como fizeste para o distinguir dos seus predecessores a nível musical? Queria fazer algo sintético e mais diversificado do que nos anteriores. Como há muitos tipos de fuga

Não tinha a certeza de que iria prosseguir depois da trilogia, mas, de certa forma, a banda impôs-se a mim. […]

(loucura, religião, droga, arte, etc.), queria que as faixas fossem diferentes umas das outras. - Neste álbum, continuamos a ter música à qual a designação “troubled Black Metal” de que falavas na nossa primeira entrevista se adequa na perfeição. Concordas comigo? Sim, até fui eu que criei essa expressão. Faz-me pensar na frase de Pascal Quignard, que se pode ouvir no fim de “Inhibition”: “Le trouble est un autre nom du désir”. Neste álbum, ouve-se um coro. Recorreste à tua mãe e aos seus amigos (como fizeste no último álbum de Merrimack)? Não, não é um verdadeiro coro. Usei samples. Gosto muito das passagens onde alguém fala (ou lê) em vez de cantar. Qual é a finalidade deste artifício? A spoken word faz parte da paleta de vozes que podemos usar. Para mim, constitui uma outra

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abordagem musical da voz, mais baseada no ritmo e na interpretação. Mas, neste caso, não é a minha voz. Gravaste tu mesmo todos os instrumentos além da voz ou convidaste músicos para participarem na criação deste álbum? Fiz o mesmo que nos álbuns precedentes. Compus tudo, mas fiz a gravação com um baterista e dois outros vocalistas. Também há uma convidada – Kyrich, da banda Ode – que se ouve no fim da faixa intitulada “Je Pense Donc Je Fuis”. Calculo que também foste tu que escreveste as letras para todas as canções. - Deixaste-te influenciar pelos escritos de Laborit? Escrevi a maior parte das letras, mas não todas. (O Vestal também escreveu algumas.) E é verdade que me deixo inspirar por Laborit. Mas nunca de uma forma literal. De facto, o modo como abordamos as letras é bastante iconoclasta: não escrevemos propriamente letras para cada uma das canções, antes textos, que nem sequer estão forçosamente articulados entre si, onde vamos depois buscar o material de que precisamos para fazer as letras. É um processo muito espontâneo, muito vivo. Uma espécie de “cadavre exquis” do Black Metal. - Podes comentar as formas de fuga que são propostas neste álbum? Podes explicar por que razão consideras que perder os seus órgãos é uma forma de fuga? No que diz respeito ao corpo sem órgãos, o raciocínio é um pouco mais complexo do que isso. Não quero ficar exatamente refém de um conceito, pelo que nem tudo o que escrevi para este álbum gira em torno da fuga. Nessa canção, aludo ao conceito de Deleuze, que pretende desconstruir as representações habituais, nomeadamente as relativas ao corpo. Pondo em causa a nossa visão do corpo, organizado, hierarquizado (órgãos puros, órgãos impuros), podemos desenvolver novas formas de apresentar a existência. Pensando no conceito do álbum, trata-se de fugir ao sistema em forma de árvore, para adotar uma forma horizontal, sem centro, assim como um rizoma. - E a que se refere o FKM para quem se hurle? O título “Hurlements…” é uma referência indirecta ao filme de Debord intitulado “Hurlements en faveur de Sade”. FKM era o pseudónimo de um grande amigo, o que se pode ouvir nessa canção. Com o seu consentimento e depois de lhe ter apresentado o projeto, gravei a nossa última conversa e extrai dela passagens fortes, comoventes. Morreu algum tempo depois. - E a “negentropia“? É um conceito muito utilizado pelo filósofo Bernard Stiegler. Trata-se do inverso da entropia. Para ele, é algo que constitui um saber, uma organização fértil de informações, face ao caos ambiente criado por todas as novas tecnologias disruptivas.

A capa do David Fitt não podia ser mais impressionante. - Criaram-na juntos? Como foi feita? Para esta capa, queríamos algo sóbrio, a preto e branco. Não queríamos usar muitos filtros, efeitos, queríamos ir diretamente ao essencial. Decidimos fazer fotografias nos bosques, para a capa e também para o vídeo. Foi tudo feito em 2 ou 3 horas. - Ao procurar no youtube o vídeo para ”Je Pense Donc Je Fuis”, descobri que há outro (para “Enslaved by Existence”). Tencionam fazer mais vídeos? Não, não prevemos fazer mais nenhum. Na outra entrevista, disseste-me que não sabias se ias fazer concertos para promover o segundo álbum («Rebellion» - 2015), mas que haveria novidades em 2016. - Chegou a acontecer? Tens planos para a promoção de «Escape»? E – se chegares a subir a um palco para apresentar este álbum – não seria necessário prever uma espécie de dramatização para acompanhar a voz e a música? [É muito dramático, desde o tema central até à capa passando pela articulação entre a música e as letras.] Que farias para reconstituir as passagens em que se ouve o coro? - Que expectativas tens para este terceiro álbum? Não, não chegámos a fazer concerto nenhum, mas cada penso mais nisso. E, se isso vier a acontecer, não vou revelar antecipadamente o que se passaria no palco. Mas já tenho algumas ideias. E assim chegaste à trilogia consagrada à pesquisa de Henri Laborit. Vais pôr fim a Decline Of The I ou já encontraste um novo tema para abordar num próximo álbum? Não tinha a certeza de que iria prosseguir depois da trilogia, mas, de certa forma, a banda impôs-se a mim. Há alguns meses, fui passar uma semana sozinho no campo, levando comigo apenas o necessário para fazer música. Não sabia o que ia sair dali. E, de facto, dei-me conta de que o que estava a fazer, mesmo sem me aperceber do facto, tinha a marca de Decline Of The I. Portanto, vai mesmo haver uma continuação, Mas ainda é muito cedo para saber se será uma trilogia ou não. Isso ainda não sei dizer. Uma última questão: não ficas deprimido por tratares temas tão perturbadores? Pelo contrário, o facto de poder pôr cá fora o que há de mais sombrio dentro de mim funciona como uma purga. Ex-primir para não de-primir, precisamente. Para mim, é um processo completamente terapêutico. Tenho sobretudo necessidade de compor, para me aliviar. Paralelamente, acho fascinante que algumas pessoas se interessem pelas minhas neuroses convertidas em música. Youtube

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Dodici Cilindri

porque o barulho dos motores também é música

Por: Carlos Filipe

A arte dos 12 cilindros em V Apesar destes andarem há 70 anos a fazê-los evoluir, os motores V12 não nasceram com a Ferrari. Eles existem há muito mais anos do que o mágico ano de 1947, e, o que esta marca tem feito a esta arquitectura foi manter-se fiel a este conceito, ao longo da sua existência, fazendo com que cada nova evolução oblitere a anterior, a todos os níveis. Foram os motores V12 que fizeram a sua glória desportiva, que por seu turno, lhes conferiu o estatuto que a marca tem hoje. O conceito do motor em V com 6 cilindros de cada lado, a 60, 120 ou 180 graus a rodarem na mesma cambota, data já de 1913. Mas não vou por aí, se quiserem saber a origem e história dos motores V12 – que aliás começaram nos barcos – pesquisem na internet para saber mais. Não há praticamente nenhum construtor de renome que na sua vida como marca, não tenha oferecido um V12 no seu alinhamento. V12, no mundo automóvel, significa nobreza. É um marco estatutário para qualquer marca ter e desenvolver um motor deste tipo. Não é certamente por qualquer razão económica ou desportiva – à excepção da Ferrari, pois estes são geralmente mais pesados, mais complexos, mais caros e consomem bem mais do que os seus primos V8 para níveis de potência, por vezes ligeiramente superiores como o V12 Mercedes dos anos 90. A excelência destes motores vem da sua configuração, que lhes confere uma suavidade de funcionamento, uma quase ausência de vibração que advém do equilíbrio dos dois bancos de cilindros, permitindo uma potência elevada, acompanhada de uma sonoridade distinta e um funcionamento suave. A Ferrari não enveredou por este espírito, pelo menos a nível de competição – já que os V12 dos 400, 456 e 612 primam mais pela sua suavidade do que nervosismo. Os seus motores são nervosos e os V12 não são excepção. O objectivo é o máximo de potência e uma eficiência acutilante com o único propósito de ganhar competições. O nervosismo dos motores Ferrari advém muito da utilização da cambota a 180 graus em vez dos tradicionais 90 graus, conferindo-lhe três coisas: Nervosismo, elevadas rotações – logo potência - e uma sonoridade única no mundo automóvel. Tudo começou com o Ferrari 125 S e o motor Colombo Type 125 de 1,5 Litros. Este primeiro V12 ficou conhecido como Colombo V12. Foi o primeiro V12 a 60 graus, 1,5 Litros, 118 CV às 6800 rotações, que só terminou a sua carreira em 1989 com a última evolução do 412i. Passados 70 anos e inúmeras evoluções que passaram até por um V12 a 180 graus do Testarossa, para baixar o centro de gravidade, hoje, a Ferrari tem no F140 a 65 graus o seu último V12 atmosférico. Já não é obra de um só engenheiro como foi até 1980, sendo agora apelidados

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por F seguido por um número. Esta última evolução, o F140 GA, tem 800 CV às 8500 rotações e 6.5 Litros de capacidade com 718 N.m às 7000 rotações, o qual já tem uma evolução nas edições especiais Monza SP1&SP2 com 810 CVs. O mais extraordinário disto tudo, é que numa era do downsizing e turbos, o V12 Ferrari continua a “crescer” – …-5.5-5.7-6.0-6.3-6.5 - e a ser tal como sempre o foi: atmosférico! O que sempre caracterizou os motores Ferrari foi o som da mecânica de excepção. Há mesmo engenheiros cujo o trabalho é apurar o som dos V8 e V12, para que a orquestra sonora possa projectar os diferentes tons, consoante a rotação do motor, indo do baixo ao soprano passando pelo tenor. A Ferrari leva isto tão a sério, que na sua apresentação anual têm um slide que apresenta isto mesmo como um facto irrefutável! Os nossos dias estão a ser madrastos para este tipo de motores. A pressão colocada nas emissões, teve como consequência os motores apresentarem cilindradas reduzidas e a adição de turbos para manter ou mesmo aumentar os níveis de potência. A troca do V12 5.9 atmosférico da Aston Martin por um 5.2 biturbo de origem Mercedes é prova disto. Isto levou muitos construtores a abandonarem os V12, como a Jaguar, em certa parte a BMW e a Mercedes, ou a enveredarem por biturbos como os Mercedes 65 AMG – que equipa igualmente o Pagani Huyara - ou a Aston Martin, que agora tem motores Mercedes como já referi – deviam ter vergonha. Houve mesmo um V12 a diesel, que só podia ter vindo da Audi, mais precisamente no Q7 V12 Tdi de 500 CV mas este também já não existe no catalogo. Os únicos de momento, fieis ao V12 atmosférico são a Ferrari e a Lamborghini com o Aventador S, SV ou SVJ. Até ver, porque brevemente estes motores vão passar a ser híbridos. A era mágica dos V12 foi os anos 90, onde todas as marcas de eleição e as desportivas que iam aparecendo, como a MacLaren com o F1 ou a Bugatti com o EB110, escolhiam um V12 como unidade de propulsão. Mesmo a Ferrari regressou ao V12 com o seu superdesportivo F50, depois de ter lançado anteriormente o F40 com um V8 biturbo, a Formula 1 era dominada por V12, havia o 850i da BMW, o Mercedes SL 600, que só existia para o prestígio do modelo e marca, pois o SL 500 com um V8 era um carro melhor do que o 600, o Lamborghini Diablo, o Jaguar XJ220 que inicialmente foi “vendido” com um V12, mas devido a problemas técnicos ficou com um V6 biturbo, o qual aniquilou a sua carreira comercial. O topo de gama da Jaguar era um V12 6L, o topo de gama da Mercedes era o S600, o topo de gama da BMW era o 850i, depois veio o 850 Csi e a berlina 750i. A Aston Martin no final dos 90 desenvolveu o DB7 V12 Vantage, motor que serviu de base para os futuros DB9 e Rapid. Independentemente do que acontecer daqui para a frente na industria automóvel, mesmo que os V12 desapareçam, o que vale é que todos os que foram construídos até hoje, grande parte, continuarão por aí a seduzir e maravilhar os amantes do mundo automóvel. Espero que, pelo menos, a Ferrari não hipoteque a sua herança desportiva e de construtor, pondo fim a um casamento com 70 anos de existência.

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