Versus#52

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V E R S U S M A G A Z IN E

EDITORIAL

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vErSUS MAGAZINE

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D IR E C Ç Ã O

Moda Pa re ce q u e a go ra chegou a moda ou s e l h e qui s e re m c h a m ar, o f ilã o , dos fi lmes autobi ográfi cos . “ Boh e m i a n

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES

o m í tico co ncerto de Wembley mas i s s o s e rã o “cont a s

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

p a ra ou tro ro sá rio”. Na Net fli x surgi u “Th e Di rt ”, a ce rca

F O T O G R A F IA

Rh a p s o d y ” vale u essenc i almente pela i nte rpret a ç ã o de Ra m i Male k ma s... haveri a ali mui to m a i s pa ra expl ora r - p o r exe mp lo , ter i do um pouco mais a l é m e a borda r

d o s Motley Cru e mas mesmo assi m se m s e r con s e n s ua l

Créditos nas Páginas

a uto biograf ia, d est a vez sobre Elton Jo h n .

Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

Re s ta sab er q u ando aparecerá alguém com a s “ bol a s”

O U T IL IZ A D O R P O D E :

e a go ra p rep ara- se para est rear “ Roc ket ma n” ma i s um a

s u f i c i entes p ara fazer algo sobre Oz z y Os bourn e Un ce n so re d . Po r enquanto, vou sat i s fa ze n do o m e u ví c i o cinéf ilo d e auto ou pseudo- bi ografi a s com “ CB G B ” - Co untry, Blu egrass and Blues. Bo n s f ilmes e b oa músi c a, Eduardo Ramalhadeiro

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copiar, distribuir, exibir a obra

S O B A S S E G U IN T E S C O N D I ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i za dor deve dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O uti l i zador não pode al terar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.


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SOEN

C O N T E ÚDO Nº52 04/19

0 4 T R IA L B Y FIR E

28 LAST IN L IN E

7 8 PA L E T E S D E M E TA L

0 5 K E IT H FL INT

30 HEAVY M E TA L & F U T E B O L

9 2 F E S T IVA IS A N O RT E

0 6 N E RV O S A

34 TIM B O W N E S S

9 4 V IC T O R A LV E S

1 2 D E STR O Y E RS OF ALL

47 ALBUM V E R S U S

1 5 P L AY L IST VE RS U S

50 BLURR T H R O W E R

9 9 G A B R IE L S O U S A

1 6 A L CID E S BU R N

54 CRITIC A V E R S U S

1 0 0 G A R A G E P O WE R

2 2 WAVE -G O TIK -T REFFEN

64 HEART O F B U D A - TAT T O O S H O P

104 RAUHNÅCHT

2 6 C A RL OS FIL IPE

70 ANTRO D E F O L IA

1 0 8 C A R L O S F IL IP E D O D I C I C I L I N D R I

A N TR O D E F O L I A

2 4 E MB RYO NIC CE LLS

72 M OSH

2 7 MI GUE L T IAG O

74 BESTA

A ESCOLA

SOEN

G R Ê L O S D E O RT E L Ã

96 FLAK (SU)POSIÇÕES

COSMIC MASS

H A J A PA C I Ê N C I A

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Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

2

Básico

1

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel L e i t e J r.

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Hélder Mendes

Hugo Melo

MÉDIA

1.0

1.0

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3.5

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4.5

3.1

3.5

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2.5

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2.6

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2.7

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3.6

AVANTASI A Moong low (Nuclear Blast)

DESTROYERS OF AL L The Vile M a n i f e s t o

(Mosher Records)

M A L EV O L EN T CR E AT I O N

T he 13t h Be ast (Century Media)

S OI LW ORK Verklig he te (Nuclear Blast)

S TEVE HAC KE TT

A t The Ed g e o f L ight

(Inside Out)

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Keith Flint 1969 – 2019

Keith Flint – “Punkin’ instigator” Alguém disse uma certa vez que os Prodigy podiam ser considerados os Sex Pistols do século XXI. Pessoalmente não vou tão longe, uma vez que a mítica banda de punk emitiu enormes onda de choque que colidiram com uma muito conservadora sociedade Britânica, o que não sucedeu com os Prodigy. Contudo, arrisco-me a afirmar que todos nos conseguimos recordar da primeira vez que vimos o vídeo de “Firestarter”. A performance de Keith Flint teve um enorme impacto no público, e a música eletrónica nunca mais foi a mesma. Ele, um punk de coração, contribuiu para que a banda se mutasse em algo diferente. Com um estilo muito particular, os Prodigy ganharam apreciadores onde à partida seria difícil, caso dos consumidores de Rock pesado. A sua atitude, grande presença e carisma inigualável, muito contribuíram para a mudança de paradigma da música eletrónica. Acarinhado por músicos e pelos fãs, era uma figura quase consensual neste difícil mundo do espetáculo. Confirmando a máxima “only the good die young”, penso que Keith Flint irá ser sempre recordado pelo rebelde que alterou a forma como percecionamos a música eletrónica, ajudando-a a levá-la a locais e a públicos que pareciam inatingíveis. “Firestarters” precisam-se, e é com enorme pena que vemos este desaparecer. Ivo Broncas Photo credit to its owner

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ASCENDENTE DECADÊNCIA O trio feminino Nervosa trouxe um novo fôlego internacional à música brasileira mais extrema e nada melhor do que falar com o seu elemento mais recente, Luana Dametto, sobre «Downfall of Mankind», lançado em 2018 e cuja promoção ao vivo tem sido especialmente intensa. O título do álbum prestou-se a que abordássemos temas como a ascensão da extrema-direita no mundo, o assédio sexual e o machismo na música pesada, a situação políticosocial e, claro, a atuação no SWR – Barroselas Metal Fest. Palavra a Luana Dametto, a mulher que não deixa pedra sobre pedra! Entrevista: dico Fotos: Arquivo da banda

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A 18 de outubro de 2018 ano a Fernanda Lira dizia, no blogue Rock Dissident, a propósito da mais que previsível eleição de Bolsonaro como presidente do Brasil, “Eu, mulher, pobre, moradora de periferia, descendente directa de nordestinos, índios e negros, feminista, macumbeira, metaleira, cercada de amigos e familiares gays, tenho medo de não ser mais ouvida, respeitada, de apanhar na rua, de desaparecer porque fujo dos ‘padrões de bem’ que ele prega.” E agora? Com o facto consumado, que sentimento vos assalta o espírito? Que ambiente se vive actualmente no Brasil? O Brasil vive tempos de escuridão! Sentimos as coisas piorarem pela atitude das pessoas. Se antes tínhamos medo da violência, agora temos o dobro. As pessoas com más intenções (racistas, machistas, homofóbicos, fanáticos da igreja...) tinham mais cautela para se expressar. Agora, com um presidente fascista que apoia tudo isto, essa gente sente-se no direito de agredir outras pessoas. Sabem que têm apoio. Vivemos um momento em que a censura pode voltar a ser comum. Irão calar-nos enquanto artistas e seres humanos. A população estava tão cansada de ser roubada, que preferiu votar em qualquer partido político, mesmo que isso pudesse custar a nossa demoraria e liberdade (além de continuarmos a ser roubados). Mas tempos ainda piores virão. Sentes agora mais discriminação (laboral, por exemplo), sexismo, assédio sexual ou ainda não notas diferença relativamente aos tempos anteriores à eleição de Bolsonaro? Antes e depois da eleição, na tua perspectiva, as mulheres eram/são tratadas como iguais pelos homens e beneficiam dos mesmos direitos e oportunidades? Virtualmente sim, mas não por parte de pessoas que convivem comigo ou têm interesses relativamente à banda. No Brasil, as mulheres nunca foram tratadas de forma igual aos homens, e o cenário vai ficar ainda pior. O presidente já disse que a sua irmã foi resultado de uma “fraquejada” que o seu pai deu [risos]. Este vai ser o reflexo de igualdade que iremos ter: o que já é mau só tende a piorar. Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Suécia, Hungria, Itália, Suíça, Holanda e Andaluzia. Em poucos anos, estes países ou regiões (no caso da Andaluzia) da Europa viram estrear-se nos respectivos parlamentos partidos de extremadireita; noutros casos, os partidos xenófobos, intolerantes e anti imigração reforçaram o seu eleitorado; e noutros ainda chegaram ao poder través de coligações governamentais. Nos Estados Unidos temos Donald Trump, que diariamente mostra aquilo de que é capaz. Chegámos a uma nova era de intolerância? Creio que sim, estamos a eleger fascistas no mundo inteiro e a ficar cada vez mais intolerantes quando confrontados com as diferenças. É triste, mas acredito

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que depois de sofrermos como já sofremos, sem esquecer as consequências do fascismo, as pessoas compreenderão o que estão a fazer. «Downfall of Mankind», título do vosso mais recente álbum, pode aplicar-se a praticamente qualquer época histórica da Humanidade, mas quando o compuseram referiam-se especificamente ao período actual? Na maioria do disco sim, mas também temos algumas referências ao passado, como no tema “Never Forget Never Repeat”, em que falamos de como as pessoas esqueceram os nossos erros do passado, mas se encontram sempre à beira de repetir tudo. Com uma demo (2012), um clipe (Masked Betrayer) e a abertura para os Exodus em São Paulo, chamaram a atenção da Napalm Records, através da qual editaram os álbuns «Victim of Yourself», «Agony» e «Downfall of Mankind», o primeiro álbum que gravaste com as Nervosa. Apesar de estares na banda apenas desde o ano passado, fala-me do percurso das Nervosa. Temos vindo a crescer de álbum para álbum, de todas as formas possíveis. O «Victim of Yourself» foi o nosso primeiro produto profissional. Foi bem gravado, tinha um conceito bem idealizado e bom grafismo. O facto de sermos uma banda feminina também chamou bastante a atenção do público. No entanto, a dado momento o grupo ficou sem baterista e deu-se a situação contrária: as Nervosa sentiram-se discriminadas por serem uma banda de mulheres que apenas estava a começar, mas após o lançamento de «Agony» e de o lugar de baterista ter ficado ocupado em definitivo as coisas melhoraram muito. «Agony» foi o álbum que fez a banda crescer, fazendo mais tours e obter o respeito da “cena”. As Nervosa mostraram que se encontravam em processo de amadurecimento e solidez. Agora amadurecemos ainda mais e julgo que o «Downfall of Mankind» é o álbum mais sério e brutal do grupo. A abordagem deste álbum é notoriamente mais Death Metal, em detrimento do Thrash típico da banda. O que levou ao endurecimento da vossa sonoridade? [Antes de eu ingressar no grupo] Os outros elementos já se encontravam em plena evolução. Trazendo eu influências de Death Metal, fui escolhida para baterista das Nervosa. Venho de uma linha Death, com os Apophizys, portanto foi algo natural para mim. Verificou-se uma evolução natural da banda, para a qual também contribuiu a minha entrada. Essa constatação leva-me à pergunta óbvia: ao longo dos anos houve quatro alterações de formação, três delas no posto de baterista. Eras a mulher certa pela qual a banda esperava? Espero que sim [risos]. Não é fácil encontrar mulheres


Temos vindo a crescer de álbum para álbum [...] O facto de sermos uma banda feminina também chamou bastante a atenção do público. [...] 9 / VERSUS MAGAZINE


com sensibilidade musical no Metal, especialmente no que se refere aos sons mais extremos. Mais difícil ainda é encontrar alguém que, além de cumprir musicalmente com a banda, possa abandonar o emprego, os estudos e a família para viver na estrada a maior parte do ano. Desde que comecei a tocar era esse o meu objectivo. Encontram-se actualmente em digressão e antes desta concluíram outra. Sentem que a nível de base de fãs, de orçamentos para tocar e de venda de merchandising o crescimento da banda tem correspondido às vossas expectativas? Sim, a nossa última tour na Europa foi surpreendente. Calculamos a média de vendas de álbuns e merchandise com base nas vendas realizadas nas últimas digressões, e na mais recente digressão europeia as vendas triplicaram! Os fãs estavam ansiosos para adquirir o novo material. É muito bom ter essa resposta do público, dá-nos confiança no nosso trabalho. Este mês regressam a Portugal. Desta vez irão tocar no segundo mais antigo festival do País e um dos mais importantes da Europa a nível underground, o SWR – Barroselas Metalfest. Actuarão também para mais público e num palco maior do que aquando da vossa estreia em Portugal. Podemos esperar alguma surpresa para este espectáculo? Estamos muitos felizes por tocar novamente em Portugal. Nunca aí fui e estou ansiosa. Podem esperar um novo set list, muito mais agressivo e próximo dos fãs e um palco algo diferente do habitual! Além das Nervosa, acumulas funções de baterista nos já citados Apophizys, com quem gravaste a Demo Rehearsal e o álbum «Into the Caos» mas parecem estar em stand-by. Como tem sido o trajecto deste grupo no cenário underground brasileiro? Os Apophizys são uma banda incrível, mas infelizmente nunca tivemos um bom orçamento para nos mostrarmos profissionalmente. Tocávamos em todo o estado [do Rio Grande do Sul], mas não fora daqui, pois por ainda sermos uma banda underground, não tínhamos ajudas de custo para viajar. Além disso, éramos cinco, cada uma tem o seu emprego e a sua vida pessoal, portanto tudo era mais difícil. Gostaria que a banda tivesse tido uma oportunidade de mostrar seu o trabalho mais profissionalmente, em especial fora do Brasil. Quem sabe, um dia… Regressando ao aspecto da discriminação, por serem uma banda exclusivamente de mulheres as Nervosa vivem alguma forma mais explícita desse fenómeno? A banda já viveu momentos bastante sombrios nesse aspecto, ouvimos muitos comentários nojentos. Eu ainda não tocava com elas, mas acompanhei tudo de fora. Se fôssemos um grupo de homens nos anos

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80, por exemplo, não ouviríamos os comentários absurdos que ouvimos. Ninguém sabe como é estar nesta indústria e ser mulher. Hoje em dia isso é menos notória, mas ainda se verifica. Recebemos alguns comentários machistas nas redes sociais ou de pessoas que nos tratam como se tivéssemos de provar que tocamos bem por sermos mulheres. É difícil, mas esperamos que as pessoas também melhorem a sua perspectiva. Portanto, no meio musical sentem-se, de alguma forma, mais propensas a serem vítimas de assédio. Existe alguma história que queiras partilhar? Sim, o assédio sexual acontece de várias formas. Somos abordadas com comentários porcos sobre a nossa aparência e termos ordinários. Face a face as pessoas não são tão corajosas, mas há sempre qualquer situação do género, como os fãs pedirem para tirar fotos connosco e aproveitaram para nos “abraçar” demais, comentar algo que não tem nada a ver com o nosso trabalho ou dar um beijo malicioso… Isso é mais raro, mas acontece. Já houve situações em que tentaram beijar-nos na boca durante um autógrafo. Embora já não tenha o impacto de outrora, sempre achei o termo “groupie” algo sexista, como se apenas as mulheres pudessem ser “groupies”. O conceito de homens “groupies” faz-te sentido, na medida em que, tendencialmente, as mulheres são mais selectivas? Faz sentido, pois também existem homens que querem aproximar-se do camarim para ficar com as bandas e tentar a sua sorte, mas devido ao conceito de machismo as coisas são interpretadas como se o homem fosse exímio em o conseguir e as mulheres frágeis por quererem. A mulher é sempre tida como frágil e os homens nunca aceitam ser apelidados de “groupies”. Não temos groupies, mas sabemos como isso funciona. Para finalizar, além desta tour europeia, que planos existem para breve? Além da tour pensamos lançar novo material na internet, mas ainda não temos muitos planos, na medida em que estamos a divulgar o «Downfall of Mankind». Facebook Youtube


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[...]estamos a eleger fascistas no mundo inteiro e a ficar cada vez mais intolerantes quando confrontados com as diferenças. 11 / VERSUS MAGAZINE


MANIFESTO À DESTRUIÇÃO Não se deixaram levar pelo mito urbano de que a maior parte das bandas falha no segundo álbum. «The Vile Manifesto» é um manifesto muito sério dentro do nosso panorama metálico e os Destroyers of All continuam o seu sustentado crescimento, sendo já umas das referências de peso na senda metálica em Portugal. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

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CSA - Olá, novamente! Já entrevistei os Destroyers of All pelo vosso primeiro álbum e, desta vez, trago companhia. O que têm andado a fazer? Como foi recebido o vosso primeiro álbum? Destroyers of All - O nosso primeiro álbum «Bleak Fragments» (2016) teve criticas muito positivas a nível mundial. Desde o seu lançamento há quase 3 anos que temos estado a promove-lo com concertos em Portugal e Espanha e, entretanto, compusemos, gravámos e lançámos mais um álbum, «The Vile Manifesto» (2019). Eduardo – Este é o vosso segundo álbum saiu no princípio de Fevereiro. Em algum momento vocês pensaram naquele mito urbano que diz que a maior parte das bandas falha no segundo álbum? Sinceramente não nos ocorreu pensar as coisas dessa forma. Sentimos alguma responsabilidade para fazer um bom álbum, mas isso qualquer banda sente. O importante é podermos tocar e gravar aquilo que gostamos e estamos muito orgulhosos deste trabalho. - E como foi recebido «The Vile Manifesto»? Até agora as críticas que nos têm chegado têm sido muito positivas. No geral afirmam que a banda está mais coesa e confiante. Estamos ansiosamente à espera de mais. - Em que medida marca um novo capítulo na vossa evolução? É um álbum mais rápido, mais directo e mais pesado que o

EP “Into the Fire” (2013) e que o «Bleak Fragments» (2016). Tentámos puxar por nós mesmos nesses aspectos e creio que é possível ouvir essa evolução quando colocamos o álbum a tocar. Eduardo – A música abarca vários estilos e influências, que vão desde o Thrash/Black/Death até ao Rock/Metal Progressivo. Quais são as vossas influências musicais e como é o processo de composição que resulta nesta brutalidade de álbum? Todos nós temos influências um pouco diferentes uns dos outros, uns são mais influenciados pelo Rock, outros pelo Death, outros pelo Thrash, Black etc... O que sempre fizemos desde início foi pegar nestes diferentes estilos e tentar encaixa-los naturalmente nas nossas composições. Creio que também tem sido um pouco essa a identidade da banda e estamos muito orgulhosos do que temos feito até agora. - Eu atrever-me-ia a dizer que são das bandas nacionais mais evoluídas tecnicamente. Como é chegar a 2019 e ao segundo álbum e serem considerados uma das melhores bandas portuguesas? Vocês ligam a isto ou estão-se a cagar para estes epítetos e só querem fazer música? Desde já obrigado por essas palavras. Mas realmente só nos interessa fazer boa música. Tecnicamente gostamos de desafios quando tocamos e tentamos explorar essa parte técnica, mas não temos problemas se tivermos que tocar músicas mais

simples. O importante é o feeling e que a música bata cá dentro a quem possa ouvir. - Posto isto, face à vossa qualidade e à mediocridade da generalidade dos artistas portugueses, conseguem conceber que se dê mais tempo de antena ao Conan Osiris do que aos artistas que realmente têm talento? Conan quem? Nós só conhecemos Conan o Bárbaro! eheheh! Agora a sério, já se sabe nos dias de hoje que quanto mais parola é uma coisa, mais divulgada e vendida vai ser também. Os tempos infelizmente mudaram e já poucos conseguem ser reconhecidos pelo seu esforço, dedicação e talento. Mas só podemos falar por nós próprios e tentamos dentro do possível fazer a nossa parte e acima de tudo aquilo que gostamos, e isso não tem preço. Tudo o que vier por acréscimo será sempre bem-vindo e valorizado por nós. - E já agora, como é que vocês vêem o panorama metálico em Portugal? Sem dúvida que o panorama metálico está numa fase de crescimento muito positiva. Há cada vez mais pessoal com vontade de organizar festivais nas suas cidades, vilas, aldeias e é óptimo ver certos festivais a evoluir e a crescer de ano para ano. As bandas nacionais também estão cada vez melhores em todos os aspectos, o que só vem enriquecer o Metal em Portugal.

O importante é podermos tocar e gravar aquilo que gostamos e estamos muito orgulhosos deste trabalho. 13 / VERSUS MAGAZINE


europeia do início do séc. XX? [Estou a pensar, por exemplo, no Manifesto Anti Dantas, de Almada Negreiros, em Portugal, ou no Manifesto do dadaísmo, de Tristan Tzara, a nível internacional.] Manifestam-se contra quem, contra quê e como relacionam cada uma das faixas que o compõem com essa ideia de manifesto? Neste caso «The Vile Manisfesto» retrata algumas das muitas manifestações e atrocidades cometidas pela humanidade ao longo dos tempos. Retractamos experiências científicas bastante bizarras com cobaias humanas durante a 2ºGuerra Mundial por exemplo... Desastres nucleares, crimes cometidos pela igreja, etc...

«The Vile Manisfesto» retrata algumas das muitas manifestações e atrocidades cometidas pela humanidade ao longo dos tempos.

Eduardo – Como já disse, «The Vile Manifesto» está brutal e será (para mim) um dos melhores álbuns de 2019. Mas (com sinceridade) digo o que menos me agrada: a masterização. Como esta cena da “Loudness War” me interessa muito, acho que o nível dinâmico ou “Dynamic Range” está um pouco abaixo do meu gosto pessoal – Média de 4. - Quem produziu e masterizou este álbum? Estão totalmente satisfeitos com o resultado final? Ou mudariam alguma coisa? Nós gostamos é de opiniões sinceras! ;) Desde o EP “Into the

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Fire” (2013) que o João Dourado (Golden Jack Studios) tem sido o nosso produtor, para além de um grande amigo é uma pessoa com um talento enorme no que faz e no qual confiamos a 100%. É com ele que temos trabalhado nos nossos álbuns e certamente iremos continuar a trabalhar no futuro e estamos muito satisfeitos com o resultado. CSA – Deram o nome de manifesto a este álbum. Pretendem associá-lo à tradição que se afirmou nas correntes contestatárias da literatura

CSA – A capa é bastante tenebrosa, sinistra. - Convidaram o mesmo artista [o indonésio Adi Kallinga aka Silencer8] para a fazer? Em que medida se relaciona com o conceito do álbum, os temas nele abordados? Nesta capa optámos por trabalhar com o Mark Riddick, um ilustrador americano com grande reconhecimento que já realizou trabalhos para Arch Enemy, Exodus, Morbid Angel e muitos outros. O objectivo era mesmo o de criar uma imagem negra, obscura, sinistra, que fosse de encontro ao conceito do álbum e ficámos muito satisfeitos com o resultado. CSA – Em Agosto de 2018, tivemos a oportunidade de vos ouvir na segunda edição do Vagos Metal Fest. Vão participar em algum festival de Metal em 2019? Sim já temos alguns festivais marcados na nossa agenda, que se vão realizar mais para a segunda metade do ano mas ainda não podemos entrar em muitos pormenores. Mas para já vamos apresentar o álbum em Coimbra, Lisboa, Porto, e já temos datas também para Espanha. Facebook Youtube


Playlist Carlos Filipe

Ernesto Martins

Stéphan Forté - The Shadows Compendium Jean Michel Jarre - Magnetics Fields Jean Michel Jarre - Revolutions Todesbonden - Sleep Now, Quiet Forest Mortal Love - All the Beauty... Realms Of Odoric - Third Age Deep Sun - Das Erbe Der Welt

Allegaeon - Apoptosis Motley Crue - Shout at the Devil Dark Angel - Darkness Descends Ron Jarzombek - PHHHP! Plus Hexvessel - All Tree

Cristina Sá

Frederico Figueiredo

Blurr Thrower – Les Avatars du Vide Gorgon – The Veil of Darkness Nirnaeth – From Sahdow to Flesh Phlebotomized – Deformation ogf Humanity Saor – Forgotten Paths Selvans – Faunalia

Carcass - Necroticism: Descanting the Insalubrious Earth - A Bureaucratic Desire for Extra-Capsular Extraction John Carpenter - Anthology: Movie Themes 19741998 Girlschool - Hit and Run Vltimas - Something Wicked Marches In Iron Maiden - Killers

Eduardo Ramalhadeiro

Gabriel Sousa

Hans Zimmer - Live In Prague Soen - Lotus Dream Theater - Distance Over Time Spirits of Fire - Spirits of Fire Nevermore - This God less Endeavor

Uriah Heep – Livin’ The Dream Hardline – Double Eclipse Jason Becker – Triumphant Hearts Neal Morse – The Great Adventure Monster Truck – True Rockers

Emanuel Leite Jr. Sepultura - Beneath the Remains Satyricon - Now, Diabolical Kreator - Pleasure to Kill Anathema - The Silent Enigma Death Angel - The Ultra-Violence

Emanuel Roriz Bloodbath - The Arrow Of Satan Is Drawn King Diamond - Songs For The Dead: Live Craft - White Noise And Black Metal Capitão Fausto - A Invenção do Dia Claro Besta - Eterno Rancor

Helder Mendes Paradise Lost - One Second Death - Individual Thought Patterns David Gilmour - Live At Pompeii The Dillinger Escape Plan - One Of Us Is The Killer Besta - Eterno Rancor

Ivo Broncas Gojira - L’enfant Sauvage Machine Head - The Blackening Lamb of God - VII: Sturm und Drang Pantera - Vulgar Display of Power

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Foto: Helder Ferrer

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Alcides Burn À conquista do mundo Com créditos afirmados no Brasil, está a lançar-se para o resto do mundo do Metal. Entrevista: CSA & Emanuel Jr.

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CSA – Olá, Alcides. Antes de mais, pedimos desculpa pelo atraso no envio destas perguntas. Estivemos à espera de um momento em que pudéssemos dedicar o merecido tempo à análise do teu trabalho, para podermos formulá-las. Alcides Burn – Olá! Sem problemas. Gostaria de agradecê-los pela oportunidade de mostrar meu trabalho eu suas páginas, fico muito feliz com isso. Emanuel – Em 2019, completas 20 anos trabalhando com artes para bandas de Heavy Metal. Parabéns pela efeméride! Podes nos contar como tudo começou? Muito obrigado! Bom, tudo começou por minha paixão por desenhos. Desde pequeno, gosto de desenhar e essa paixão só aumenta a cada dia. Ao mesmo tempo, sempre gostei de música. Eu comecei no Heavy Metal nos anos 1990, com alguns amigos escutando, e depois comecei a fazer uns desenhos para eles. Depois um tio, que infelizmente já não está entre nós, me presenteou com um computador. Era um dos melhores na época e aí veio o começo dos meus trabalhos com imagens. Agradeço demais a ele por ter me dado esse presente. CSA – És um autodidata? Ou fizeste alguns estudos específicos para seres artista gráfico? Aprendi tudo só. Apenas muito depois que fiz um curso de desenho e pintura digital para aperfeiçoar. Emanuel – Já conheço o Alcides há muitos anos e sei que atuas profissionalmente em outra área e que teus trabalhos artísticos com bandas de Metal não é tua principal atividade. Como consegues conciliar as duas funções? Não é por enquanto, mas vai ser, estou trabalhando em cima disso. Poderia ter me dedicado mais, apenas a viver disso, mas aconteceu muita coisa nesses 20 anos. Mas, como sempre falo, nunca é tarde para tentar algo. Eu sou publicitário, trabalho em agência já tem bastante tempo, mas hoje me dedico mais às artes de bandas e as coisas estão acontecendo. Acredito que uma hora vai acontecer, é só dar tempo ao tempo. Emanuel – Começaste teus trabalhos com bandas mais underground. És do Recife, no Nordeste brasileiro, uma região periférica no contexto socioeconómico do Brasil, o que se reflete na cena do Metal brasileiro. Conta-nos um pouco como foi a tua evolução na área até começares a trabalhar com bandas de outras regiões do país. Na verdade, eu sou de Belém do Pará, saí de lá tinha 1 ano. Meu pai era da Marinha e vivia sendo transferido, até que ele se aposentou e viemos para Recife, onde estou até hoje. Mas meu sangue é pernambucano, amo o Recife. Como você falou, minha carreira mesmo começou aqui. Meu primeiro trabalho a sair em CD mesmo foi

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o Decomposed God, o álbum «The Last Prayer»: esse foi o pontapé inicial. Depois vieram Disgrace and Terror, Queiron, Ancestral Malediction, até vir a primeira arte para uma banda internacional: o Iconoclasm. Emanuel – Qual foi a primeira grande banda, quero dizer, com maior projeção nacional e internacional, com que trabalhaste? Nacional, acredito que foi o Sanctifier com a arte do «Awaked by Impurity Rites». Essa ficou entre as melhores do ano pela votação do público da revista Roadie Crew. Nem imaginava isso. Depois dela, a do álbum «Centurian», da banda Malefactor também entrou na lista. Internacional, não faço muitas, mas tem duas que foram bem importantes: Blood Red Throne – «Brutalitarian Regime» – e um concurso que participei para fazer a capa do último álbum do Keep of Kalessin. Não ganhei, mas, quando acabou, o vocalista da banda Obsidian C. me escreveu e falou que a arte que eu tinha criado se encaixava perfeitamente em uma das letras do álbum e acabou virando um merch deles, uma t-shirt. CSA – É verdade que os teus clientes são maioritariamente brasileiros? Sim, ultimamente tem aparecido mais bandas de fora. Estou trabalhando em duas no momento: uma da Inglaterra que sou muito fã, o Warlord U.K., e uma do Japão. CSA – Modificas o teu estilo de acordo com a nacionalidade da banda em questão? E com o género de música que faz? O estilo é basicamente o mesmo, a inspiração que é diferente. Bandas mais extremas, eu faço muitas. O desafio é quando vem algo mais melódico. CSA – Onde vais buscar a tua inspiração? Há alguns artistas plásticos (recentes ou nem tanto) que vejas


Aprendi tudo só. Apenas muito depois que fiz um curso de desenho e pintura digital para aperfeiçoar.

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como influências? Eu sou cinéfilo e adoro filmes com monstros gigantes, zumbis, criaturas, isso me inspira. Mas, sim, trabalhos de artistas como H. R. Giger, Travis Smith, Dave Mckean e brasileiros como Rafael Tavares, Gustavo Sazes, Marcelo Vasco também me inspiram. Fora isso, tudo ao meu redor me inspira, seja um animal, uma árvore, uma paisagem. Recentemente, estava viajando e tirei varias fotos na estrada. Uma hora isso vira arte. CSA – A tua arte é bastante variada. - Tens alguns trabalhos – que eu diria “clássicos” – combinando o negro e o vermelho (por exemplo, capas para Krisiun e Demonized Legion, do Brasil, ou Blood Red Throne, da Noruega). Concordas com o uso do atributo “clássicos”? Para o Krisiun, na verdade criei duas artes – ambas para o lyric vídeo – e uma delas virou uma camisa da tour europeia deles, depois acabou sendo lançada no Brasil também. O Demonized Legion foi um desafio, foi minha primeira arte praticamente criada com pintura digital. Considero ela importante por conta desse desafio. Às vezes começo a criar com uma tonalidade e depois acaba mudando, mas eu curto muito essas mais obscuras com tons de vermelho. - Tens outros facilmente reconhecíveis como adequados a bandas de Death Metal (como os que fizeste para Abarch, do Brasil, ou Acheron, dos EUA). Que parte coube aos teus clientes na escolha das imagens para as capas dos seus álbuns? Geralmente eu tenho uma liberdade. Nesses trabalhos acima citados, eu tive total liberdade de fazer o que queria inspirado nos títulos dos álbuns, praticamente foram aprovados de primeira. Mas há alguns que exigem uma conversa longa expondo ideias de ambas as partes. - Neste conjunto, gosto muito das capas em que aparecem animais fantásticos combinando partes de outros animais (serpentes ou outros répteis, polvos, talvez até insetos). Como produzes essas imagens? Tenho um banco de imagens bem extenso. As vezes eu mesmo tiro fotos de insetos e outros animais e guardo, depois é só ir para o Photoshop e fazer a mágica acontecer. Fico brincando – por horas, às vezes – num detalhe até que eu fique satisfeito com o resultado. - Tens alguns trabalhos em que retomas imagens características da iconografia católica – como a cabeça ou a figura inteira de Cristo crucificado (em capas para As The Shadows Fall, do Brasil, ou Belchior, dos EUA) ou uma “Pietá” (numa t-shirt para

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Decomposed God). Podemos dizer que têm muito a ver com o teu lado brasileiro? Digamos que tenha a ver com meu lado antirreligioso. A capa do As The Shadows Fall foi outro desafio, porque a arte foi uma releitura da arte da demo «For The Rising Of A Pagan Age», que é uma pintura de Boris Vallejo. Então o desafio foi recriar aquilo com outra visão. Tinha que ser algo brutal, porque o álbum se chama «Inferno». Então, para não usar demônios, resolvi usar o Cristo. E para o Decomposed God, resolvi fazer algo brutal, mas com uma áurea mais de monumentos, pintura, remetendo a algo mais antigo já que eles estão comemorando 27 anos de carreira. - Algumas fazem pensar em capas de livros policiais. (Estava a pensar na Coleção Vampiro, editado pela Livros do Brasil, quando era ilustrada por Lima de Freitas, lá pelos anos 60.) É o caso da que fizeste para Warcursed. Aceitas este paralelismo? Gosto muito dessa capa do Warcursed, mas ela foi inspirada em filmes slasher de serial killers: «O Massacre da Serra Elétrica», «Sexta-Feira 13». Essa foi a ideia desde o começo: depois que li a letra, resolvi entrar nesse clima. - Há duas que me chamaram particularmente a atenção. De um lado, temos a que fizeste para Realidade Encoberta, que combina elementos que me parecem pertencer a universos muito diferentes, o que causa surpresa. Do outro, temos o clássico desenho que fizeste para «Cursed», dos brasileiros Heavenless. Podes dizer-nos algo mais sobre estes trabalhos? A do Realidade é bem recente, foi uma das últimas que fiz. Eu criei todo conceito em cima do título do disco, remete a tudo o que estamos passando hoje no Brasil, todo esse momento político que está sendo uma das piores coisas que já vi na minha vida, um caos completo. Eles têm uma música nesse álbum que se chama “TV Alienação”. Então, resolvi misturar esse lance das pessoas serem escravas da mídia, colocando uma TV no lugar da cabeça deles e, ao mesmo tempo, eles acorrentados como escravos e, dentro das TVs, alguns momentos que remetem a esses fatos. Já a arte do Heavenless é outra inspirada em filmes: nesse caso, «A Bruxa», que é um dos melhores filmes de terror que já vi. Resolvi seguir a linha da arte do primeiro álbum deles, mais simples como se fosse um desenho. CSA – Já agora, gostaria que nos falasses um pouco das capas para os tributos a AC/DC e Moonspell (este último decerto muito recente, já que o título


faz referência a uma das faixas mais populares do seu álbum mais recente). Legal! O Tributo ao Moonspell foi idealizado com o meu amigo Emanuel. Assim que decidimos o nome, conversámos sobre essa arte e chegámos à ideia de utilizar os dois lobos. O guará representa a espécie que vive no Brasil, a imagem do meio com a face coberta representa o medo e do outro lado outro lobo-ibérico. A do AC/DC também foi bem recente. Fui convidado pelo Luiz Rizzi, da Secret Service, para criar a arte. Ele lançou uma trilogia e escolheu 3 artistas para fazer as artes. Acho que mandei umas duas ou três versões, mas essa foi a aprovada. Ela é meio que uma releitura da clássica capa do «For Those About to Rock» com o canhão e coloquei crânios como munição, deixando algo mais pesado que remetem as bandas que estão no tributo. CSA – Fazes muito merchandising ou só trabalhas nessa área pontualmente? A maioria das artes que crio viram merch de alguma forma. Às vezes, a banda pede outra coisa diferente, mas acredito que tudo vira camisa, poster, adesivos, etc. Crio muitos flyers para eventos também. Emanuel – Mais recentemente começaste a fazer artes para os lyric videos, uma nova tendência no mercado musical, especialmente no Metal. Fala-nos um pouco sobre esta nova vertente de teu trabalho. Na verdade, os lyrics quem faz é um brother meu, o Marcelo Silva. Eu colaboro com as artes e algumas ideias, mas a parte de animação toda é com ele, que, na minha opinião, vem se destacando bastante no Brasil.

fazer esse trabalho, além de que você às vezes fica perto dos seus ídolos. Foi assim com o Obituary, banda que sou muito fã, com o Moonspell esse ano. Nem acreditava que aquilo estava acontecendo. Hoje também trabalho para o Abril Pro Rock, um dos maiores festivais do Brasil: sou designer e participo da curadoria. E também faço trabalhos para outros produtores locais. Além disso, também já criei artes para grandes festivais do estilo como Setembro Negro, Metal Maniacs Meeting e Open The Road Fest, entre outros. CSA & Emanuel – Alcides, muito obrigado pela atenção. Deixamos aqui um espaço para tuas últimas considerações. Novamente gostaria de agradecer à Versus. Espaços como esses são sempre muito importantes para os artistas. Espero que continuem nessa batalha sempre, tem meu total apoio. Gostaria de convidá-los a visitar meu site: www.burnartworks.com e conferir meu trabalho e me seguir também no instagram e facebook, @alcidesburn. E qualquer dúvida podem entrar me contato pelo email: alcidesburn@gmail.com. Muito obrigado pessoal www.burnartworks.com Facebook

Emanuel – Como já foi mencionado, completas 20 anos de carreira, digamos assim. Há algo planeado para 2019, em celebração a este marco? Sim, não poderia passar em branco. Eu trabalhei muito e preciso mostrar minha arte para todos. Então resolvi fazer algumas exposições em festivais de Metal. Já fechei alguns, em breve irei divulgar quais são. Fora isso, estou criando algumas artes que irão virar merch, camisas, canecas, adesivos. Emanuel – Tu também és vocalista de uma banda de Death Metal – os Inner Demons Rise – além de colaborares com produtores locais em concertos e festivais. És, afinal, um apaixonado pelo Metal, não é mesmo? O Metal ‘tá no sangue, faz parte de mim. Quanto à banda, infelizmente estou deixando. Banda exige tempo, investimento, dedicação e, como estou me dedicando mais às artes e ao meu selo, tive que abdicar da banda. Mas foram 10 anos muito importantes para mim: aprendi muito e me diverti também. Mas, no momento, preciso focar mais em outras coisas. Produção sempre gostei, curto muito

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Por: Eduardo Rocha

O encontro negro Tal como em anos anteriores, a Versus estará presente no maior fesitval Gótico do Mundo, que se realizará em Lepzig, entre os dias 07 e 10 de Junho. wave-gotik-treffen.de/ Facebook

Há cerca de 26 anos atrás, dois góticos de Leipzig tiveram uma ideia completamente fora do comum: elas não queriam organizar apenas mais um festival de música obscura, mas pretendiam criar uma autêntica reunião internacional de pessoas com ideias semelhantes para concertos, conversas e comemorações. Aquando do primeiro Wave-Gotik-Treffen (WGT), que decorreu em 1992 na cidade de Leipzig e contou com cerca de 2.000 visitantes e apenas um punhado de bandas, era improvável que alguém imaginasse que dentro de alguns anos o WGT se tornaria o maior encontro de góticos de todo o mundo. Este ano o WGT, que conta agora com mais de um quarto de século, decorre entre os dias 7 e 10 de Junho, sendo que mais de 20.000 góticos de todo o mundo se vão reunir uma vez mais em Leipzig. O WGT assume-se, uma vez mais, como o maior encontro internacional de toda uma comunidade. Estarão presentes por toda a cidade mais de 200 bandas, incluindo projetos e artistas a solo de todos os espectros da Música gótica: do Electro-Pop ao Goth-Metal, passando pelo EBM até ao Neofolk e, por fim, da música medieval ao Post Punk. Além de nomes reconhecidos da cena, o público está também convidado para novas descobertas com várias bandas ou artistas underground menos conhecidos do universo da música gótica. Os concertos e eventos acontecem em mais de 50 locais espalhados por toda a cidade como por exemplo, nos cofres do Moritzbastei, no esplêndido salão de cúpula neo-antigo do Volkspalast, e na histórica piscina pública Stadtbad bem como com concertos em enormes salões. O programa do WGT também incluirá recitais de música clássica, música de câmara e concertos de órgão. Desde o seu início que o Wave-Gotik-Treffen se afirmou como muito mais do que um festival de música: os seus visitantes podem viajar no tempo com o mercado medieval da Vila Pagã (Heidnisches Dorf). Várias peças de teatro e cinematográficas terão também lugar enquanto que visitantes em roupas históricas reunir-se-ão para um piquenique victoriano no maior parque da cidade. Durante quatro dias, o grande pavilhão do agraMessepark será transformado no maior mercado de produtos góticos de todo o mundo. Em vários clubes da cidade, DJs internacionais convidam o público a dançar até ao amanhecer sendo que haverá também uma enorme fetish-party, onde a entrada só é possível seguindo um rigoroso código de vestimenta. As passagens sinuosas do centro da cidade de Leipzig com os seus edifícios históricos das épocas renascentista, barroca e Art Nouveau são o palco ideal para para este festival. É também de destacar, para os amantes de arte e cultura, o facto de a entrada para vários dos museus de Leipzig ser gratuita bem como todos os transportes públicos estarem incluídos. O parque de campismo do festival estará também disponível sendo, para tal, necessário um bilhete especial (chamado Obsorgekarte).

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28. Wave- Gotik-Treffen annual gathering from 7th of June to 10th of June (Whitsun) in Leipzig / Germany The following artists already promised their appearance: A Slice Of Life (B) ✧ A Spell Inside (D) ✧ Absurd Minds (D) ✧ Agonoize (D) ✧ Alien Vampires (GB) ✧ Am Not (GB) ✧ And The Golden Choir (D) ✧ Arhai (GB) ✧ Artwork/Belladonna (D) ✧ Ashram (I) ✧ Automelodi (CDN) ✧ Autumn (USA) – European premiere ✧ Battle Scream (D) ✧ Bragolin (NL) ✧ Camerata Mediolanense (I) ✧ Cara� Angren (NL) ✧ Cat Rapes Dog (S) – exclusive concert in Germany ✧ Cervello Elettronico (USA) ✧ Christian Death (USA) ✧ Christine Owman (S) ✧ Cold Showers (USA) ✧ Coph Nia (S) ✧ Coppelius (D) ✧ Cradle Of Filth (GB) ✧ Creux Lies (USA) ✧ Cubanate (GB) ✧ Darkcell (AUS) ✧ Darkher (GB) ✧ Das I� (D) ✧ Dear Deer (F) ✧ Die Nerven (D) ✧ Dystopian Society (I) ✧ Edo Notarloberti (I) ✧ Eggvn (MEX) ✧ Empathy Test (GB) ✧ Empirion (GB) ✧ Erik Cohen (D) ✧ Escape With Romeo (D) ✧ Evi Vine (GB) ✧ Faun (D) ✧ Fehlfarben (D) – playing “Monar�ie und Alltag” ✧ Fliehende Stürme (D) ✧ Forced To Mode (D) ✧ Freakangel (EST) ✧ Friends Of Gas (D) ✧ Fu�steufelswild (D) ✧ Geometric Vision (I) ✧ Gitane Demone Quartet (USA) ✧ Goethes Erben (D) ✧ Golden Apes (D) – 20th stage anniversary concert supported by Steve Hewitt (Love Amongst Ruin, formerly Placebo) ✧ Grausame Tö�ter (D) ✧ Ground Nero (B) ✧ Ha�edepiciotto (D/USA) ✧ Hämatom (D) ✧ Hante. (F) ✧ Haujobb (D) ✧ Hell Boulevard (CH) ✧ Hell-O-Matic (D) ✧ Helrunar (D) ✧ Henric De La Cour (S) ✧ Human Tetris (RUS) ✧ In Strict Confidence (D) ✧ In2TheSound (GB/D) ✧ Mike Dudley & The Convent – playing “The Sound” ✧ Inkubus Sukkubus (GB) ✧ Intent:Outtake (D) ✧ Janus (D) ✧ Job Karma (PL) ✧ Jonathan Bree (NZ) ✧ Jungstötter (D) ✧ Karies (D) ✧ Kellermens� (DK) ✧ Killus (E) ✧ King Dude (USA) – full band performance ✧ Knasterbart (D) ✧ Kontravoid (CDN) ✧ Kælan Mikla (ISL) ✧ La Scaltra (D) ✧ Laura Carbone (D) ✧ Lene Lovi� Band (GB) – exclusive festival show in Germany to celebrate the 40th anniversary of “Stateless” ✧ Light Asylum (USA) ✧ Logic & Olivia (D) ✧ London After Midnight (USA) ✧ Lord Of The Lost (D) ✧ Luigi Rubino (I) ✧ M.I.N.E (D) ✧ Ma�inista (S) ✧ Maerzfeld (D) ✧ Megaherz (D) ✧ Meta Meat (F) ✧ Mi�ael Cashmore & Shaltmira (GB/LT) ✧ Mila Mar (D) ✧ Murder At The Registry (D) – exclusive 30th anniversary concert ✧ Na�tmahr (AT) ✧ Near Earth Orbit (D) ✧ New Model Army (GB) ✧ Nitzer Ebb (GB) ✧ October Burns Bla� (GB) ✧ Omnimar (RUS) ✧ Orange Sector (D) ✧ OUL (D) ✧ Parade Ground (B) ✧ Phasenmens� + ICD-10 (D) ✧ Philipp Ho�mair & Die Elektrohand Gottes (AT/D) ✧ Pleasure Symbols (AUS) ✧ Priest (S) ✧ Psy�e (CDN) ✧ Rhys Fulber (CDN) ✧ S.K.E.T. (D) ✧ Sad Lovers And Giants (GB) ✧ Saeldes Sanc (D) ✧ Sally Dige (DK/CDN) ✧ Sanguis Et Cinis (D) – exclusive 20th anniversary reunion concert ✧ Scarlet Dorn (D) ✧ S�andmaul (D) ✧ S�attenmann (D) ✧ S�warzer Engel (D) ✧ Seadrake (S/ZA/D) ✧ Sebastian Fitzek (D) – reading “Der Insasse” ✧ Selofan (GR) ✧ Shadow Project 1334 (USA) – first concert of Eva O, William Faith and Stevyn Grey for 27 years ✧ She Pleasures Herself (P) ✧ Solar Fake (D) ✧ Soman (D) ✧ Sono (D) ✧ Sonorus7 (D) ✧ St. Mi�ael Front (D) ✧ Still Corners (USA) ✧ Synthatta� (D) ✧ System Noire (D) ✧ Tamaryn (USA) ✧ Tangerine Dream (D) ✧ Tanzwut (D) ✧ Tempers (USA) ✧ The Adicts (GB) ✧ The Bellwether Syndicate (USA) ✧ The Cassandra Complex (GB) ✧ The Chur� (AUS) ✧ The Creepshow (CDN) ✧ The Foreign Resort (DK) ✧ The Lust Syndicate (I) ✧ The Moon And The Nightspirit (H) ✧ The O‘Reillys & The Paddyhats (D) ✧ UK Decay (GB) ✧ Unto Ashes (USA) – supported by Mi�ael Popp (QNTAL, Estampie) ✧ Urze De Lume (F) ✧ Velvet Acid Christ (USA) ✧ Void Vision (USA) ✧ Vowws (AUS) ✧ Welicoruss (RUS) ✧ Welle:Erdball (D) ✧ White Lies (GB) ✧ Winterkälte (D) ✧ Witt (D) ✧ Wolfheart (FIN) ✧ X-RX (D) ✧ XIV Dark Centuries (D) ✧ Zweite Jugend (D) Furthermore we recommend to you: WGT-Musik-Kammer ✧ opera performances ✧ readings ✧ autograph-shows ✧ museums & exhibitions ✧ motion pictures ✧ Victorian picnic ✧ concerts in sacred venues ✧ guided tours through Leipzig‘s largest cemetery ✧ concerts at the Gewandhaus ✧ theatre & variety ✧ Aft ershow parties with well known DJs ✧ WGT scene-fair in the agra exhibition hall No.1 ✧ medieval mile “Celebrant 2019” ✧ pagan village ✧ horse-drawn buggy rides ✧ knight performances ✧ medieval acrobats ✧ fashion shows ✧ fetish party “Obsession Bizarre” ✧ fi re and light performances ✧ esotericism and mu� more ✧ More details will be published soon!

The following ti�ets, including the below listed range of services, you can acquire in advance sale. Ti�et-Order at www.wave-gotik-treffen.com or call **49.341.2120862

© goeart 2019

Obsorge-Karte:

Limited up to 9999 Ti�ets for 25,- € ea� (excl. advance sale �arges), contains the following service-pa�age: • Camping at the Treffen-Campingground (agra-fairground)

Please note:

Entrance and usage of the campingsite is not possible without the “Obsorgekarte”. The “Obsorgekarte” is only valid in connection with the Treffen-Event-Ti�et.

Treffen-Event-Ti�et:

4-Days-Ti�et for all events within the 28th Wave-Gotik-Treffen Whitsun 2019, 130,- € ea� in advance ti�et sale (excl. advance sale �arges). The Treffen-Event-Ti�et includes free using of public transport (tram, city-busses, regional trains, suburban trains) within the zone 110 of MDV (“Mitteldeuts�er Verkehrs Verbund”) from 7th of june, 8.00 am to the 11th of june, 12.00 am (except for special routes)

Parking Vignette:

For car parking at the Treffen-area you have to pur�ase a Parking Vignette for 15,- € (excl. advance sale charges). Please note: Parking at the Treffen-area (agra-fairground) is definitely not possible without a Parking Vignette.

Treffen & Festspielgesellsaft für Mitteldeutsland mbH

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Phone: +49 (0) 341/2120862 ✧ Web: www.wave-gotik-treffen.de ✧ E-mail: info@wave-gotik-treffen.de


A modéstia compensa Veio-me esta ideia à mente, ao ler as comedidas respostas de Max às perguntas para a entrevista da Versus. Entrevista: CSA

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[…] [Em «Horizon»] Refletimos sobre o destino dos refugiados, à procura de dias melhores, arriscando-se a perder a vida nessa demanda […]

Podes falar-nos um pouco da história da banda? Max – Embryonic Cells foi criada em 1994. Fazemos um Black Metal híbrido, que privilegia a emoção e se caracteriza por uma certa medida de eficiência. Sentimo-nos motivados pela ideia de lançar álbuns cada vez melhores e de tocar em lugares onde ainda não nos conhecem! Já lançámos «Before the Storm» e «Black Seas», em edição de autor e, mais tarde, «The Dread Sentence», pela Axiis Music. Estamos agora a lançar o nosso novo álbum – «Horizon» – com a Apathia Records. As novas canções continuam a combinar agressividade e melancolia e, na nossa opinião, irão agradar principalmente aos fãs de Black e Thrash Metal! Sentes que Embryonic Cells representa mesmo o renascimento do velho Black Metal dos anos 90? Penso que a nossa banda sintetiza numerosas influências, todas provenientes da cena Black Metal dos anos 90. Disso não tenho dúvida nenhuma. Mas creio que os nossos álbuns – e, sobretudo,

«Horizon» – são modernos. A produção deste último é bem característica de 2018, sem por isso ser assética Não vivemos acompanhados pelos fantasmas dos nossos ídolos, nem tentamos copiar a sua essência, mas é verdade que temos uma grande afinidade com esse período da história do Metal que evocaste. Contudo, o nosso maior desejo é continuar a desbravar o nosso estilo de composição pessoal. Se pudessem fazer um concerto com uma dessas velhas glórias, quem escolheriam? Acho que cada um dos membros de Embryonic Cells responderia de forma diferente! Mas como sou eu que estou a responder a esta entrevista, digo já sem hesitação que escolheria Bathory! Era uma banda sem floreados e dotada de uma aparente simplicidade, mas com a eloquência indispensável para nos levar longe, muito longe, para nos mergulhar nas mitologias antigas! Onde vai Embryonic Cells buscar a inspiração para a sua música?

Sempre consideramos as obras de Howard e Lovecraft como uma importante fonte de inspiração, embora esses dois autores tenham menos importância em «Horizon». A composição deste álbum foi inspirada sobretudo nas tragédias que têm pontuado a atualidade destes últimos anos. Refletimos sobre o destino dos refugiados, à procura de dias melhores, arriscando-se a perder a vida nessa demanda, essas pessoas oriundas de países em guerra, que tentam escapar à miséria e ao infortúnio e que lutam pela sua sobrevivência. É esta saga, que transformou o mar Mediterrâneo num cemitério, que nós contamos no nosso quarto álbum. Apesar da aspereza da tua voz – que cria um contraste muito interessante – sinto que este álbum tem um lado muito onírico, que resulta da articulação melódica dos instrumentos. Concordas comigo? [Estava a pensar, por exemplo, em “Carved In My Skin”, a terceira faixa do álbum de que gosto mesmo muito.]

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Essa dimensão épica, a frieza dos riffs, a sensação de tragédia traduzida pelos arranjos e a voz dilacerante sempre fizeram parte da imagem de marca de Embryonic Cells, pelo menos desde que começámos a divulgar a nossa música! É claro também que o lado sinfónico engendrado pelo Pierre Le Pape dá às nossas composições as eleva a firmamentos mais oníricos. Isso aconteceu nos álbuns anteriores e é igualmente verdade para «Horizon»!

És tu o responsável pela composição em Embryonic Cells? Efetivamente, sou eu que crio as linhas de guitarra e a arquitetura global das composições – sempre muito despojada, o que permite à bateria, ao baixo e aos teclados fixarem-se nessa coluna vertebral e conferir-lhe sensibilidade. Desta forma, por um lado, asseguramos a coerência de estilo nas várias faixas e, por outro, damos a cada músico um espaço próprio para se exprimir.

A música que apresentam neste álbum é compacta (na medida em que, de um modo geral, tocam todos juntos – sem que os instrumentos se confundam – havendo momentos em que um se destaca – por exemplo, a guitarra ou os teclados). Esta descrição agrada-te? Sim, é exactamente esse o efeito que queremos produzir! A música de Embryonic Cells combina passagens melódicas, em que o som de um instrumento se pode destacar, com partes mais opressivas, em que sublinhamos

E quem escreve as letras para as vossas canções? Eu encarrego-me de estabelecer as diretrizes da música e dos textos. Sempre escrevi as letras depois de ter composto a música. Mas, para «Horizon», pela primeira vez interroguei-me sobre se não deveria começar por escrever as letras. Assim, neste álbum, parti de melodias cantadas e de alguns esboços de letras… Este processo criativo pareceu-me muito libertador. Mas, francamente, penso que isto não tem importância nenhuma, porque

Não vivemos acompanhados pelos fantasmas dos nossos ídolos, nem tentamos copiar a sua essência, mas é verdade que temos uma grande afinidade com esse período da história do Metal [os anos 90] […]

um dado riff, com o propósito de realçar a sua essência. Sublinho ainda o facto de que a banda decidiu ter só uma guitarra, o que liberta bastante o espaço musical, dando mais oportunidade aos outros instrumentos para se exprimirem.

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uma maneira de fazer não é melhor do que a outra: cada uma tem as suas vantagens e especificidades. Em composição/escrita, cada um faz como lhe parecer melhor. Por que razão chamaram «Horizon» a este álbum? Quando olhamos para o horizonte, o céu e a terra confundem-se,

assemelham-se pela falta de cor. Fixar o seu olhar no horizonte – um objetivo a atingir – pode ser uma fonte de esperança ou, pelo contrário, servir apenas para nos fazer perder a coragem por completo. Esta ideia resume a história dos protagonistas do nosso álbum, presos entre dois horizontes. E a capa ? De que forma representa essa entidade? Quem a fez? Essa imagem representa um afogamento, um desaparecimento. Estas mortes trágicas recordamnos que as guerras e a pobreza continuam a obrigar as pessoas a empreenderem viagens perigosas, que, por vezes, lhes custam a dignidade e, com demasiada frequência, a própria vida. Eu próprio me encarreguei de fazer o artwork, tal como nos álbuns anteriores. Que planos fizeram com a Apathia para promover o vosso álbum? O contrato que temos com a editora permite-nos tirar proveito da sua experiência e profissionalismo, o que nos deixa mais espaço de manobra para nos focarmos no lado artístico do projeto. Penso que a Apathia faz crescer a banda e temos total confiança neles, pelo que estamos muito satisfeitos com esta colaboração. Quando é que terei a sorte de ir assistir a um concerto vosso em Portugal? Adoro Portugal, pelo que isso nos daria muito gosto! Não há nada programado nesse sentido, para já, mas não há dúvida de que gostaríamos muito de visitar o vosso país. Não sei se bandas como Sinistro ou Toxikull ainda existem, mas, se for esse o caso, gostaríamos muito de partilhar um cartaz com eles!

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a escola

toda a vida andei numa escola sem aulas práticas nem valiam a pena as teóricas e os amigos ah! os amigos que são de todas as idades e que ensinam e aprendem como os melhores professores para eles inventámos um nome camarada nome de quem partilha a arma e a munição o sangue e o coração a boca aberta num grito ou fechada se for o caso de ser o silêncio a salvação pode dar-se a situação se fores preso, camarada que isto de democracia é bonito mas nunca é certo nas mãos da burguesia podem estalar no ar foguetes e celebrar-se até em galas e sessões solenes a pompa da circunstância do momento que isso, aprendi, não faz da miséria abundância senão em novela venezuelana em que o sonho de silicone surge no sono dos que vêem televisão toda a vida fiz essa licenciatura em direitos humanos de verdade sem prémios à mistura nem nobeis nem sakharovs que é como quem diz areia pós olhos e os camaradas sempre atentos as camaradas sempre em guarda na linha da frente de rosto levantado ameaçados e com medo de perder a vida sabendo que se não forem camaradas a já perderam fazem a escola sem recreio sem receio opção revolucionária de fazer sobre os escombros do que aprenderam aquilo com que sonharam não, não é por dentro que se muda caso contrário, estamos fora.

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Aventura e ambição musical Os Last in Line estão de volta com mais um bom álbum de Rock, uma evolução e a descoberta da nova identidade da banda. Uma conversa curta com Vivian Campbell mas que revela muito do que são os Last in Line Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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“N

ós tivemos 3 anos de concertos com o Phil e durante esse tempo eu acho que realmente encontrámos a nossa identidade como banda.

Olá Vivian, obrigado por responderes às nossas perguntas pela terceira vez! Na nossa entrevista aquando do lançamento do álbum dos Riverdogs, perguntei se “estarias à espera de alcançar o elogio e o definitivo reconhecimento com a «Califórnia»”. A tua resposta foi: “Eu tenho zero expectativas”. Desta vez eu pergunto: Tens as mesmas expectativas em relação a “II”? Vivian - Infelizmente, sim, eu tenho zero expectativas para álbum também. Nos tempos actuais a música nova é praticamente inútil. No entanto, como compositores e criadores de novos conteúdos, a verdadeira alegria está em criar algo bonito. Pode não nos tornar ricos, mas enriquece as nossas almas. A beleza é a verdadeira recompensa. Os Last in Line começaram como um projecto paralelo, com este segundo lançamento, tens alguma ideia se este projecto evoluirá uma banda a tempo inteiro? Depois de 27 anos com os Def Leppard estes serão sempre o meu foco principal. No entanto, LIL é um projecto paralelo tão sério quanto se poderia imaginar. Quando não estou a trabalhar com o Def Leppard, estou a trabalhar para os LIL. É um projecto que realmente me faz sentir vivo como guitarrista. Claro que a morte de Jimmy foi uma tragédia, mas vocês continuaram chamando o Phil Soussan. Como foi a sua adaptação à banda? Como é que

ele enfrentou a responsabilidade de substituir Jimmy? Ninguém pode ser substituído, mas desde que decidimos seguir em frente o Phil encaixou na banda e integrou-se excepcionalmente bem. Ele é muito talentoso como músico, cantor e compositor e encaixou muito bem na banda. Desde os anos 80 que o Phil era nosso amigo e do Jimmy, então, foi natural para todos nós e eu sei que o Jimmy aprovaria! «Heavy Crown» foi muito… Dioish! Muito mais veloz e com aquela sonoridade típica dos anos 80. No entanto, «II» mostra-nos uma mudança com muito mais groov. - Porquê esta mudança de estilo e sonoridade? Para mim, «II» parece-se muito como um segundo álbum. Nós tivemos 3 anos de concertos com o Phil e durante esse tempo eu acho que realmente encontrámos a nossa identidade como banda. Para os meus ouvidos, as músicas de «II» mostram mais aventura e ambição musical do que «Heavy Crown». No álbum anterior nós estávamos a “jogar pelo seguro” e a descobrir o nosso caminho como banda que emergiu das cinzas dos Dio original. Com “II” saímos dessa “sombra” e como disse, encontrámos a nossa própria identidade. - Como Phill contribuiu para o “II”? Continuam a usar o mesmo modus operandi no que toca à composição dos temas? Como foi com o Jimmy, agora é com o Phil. Cada música que os LIL escrevem, parte de um esforço colaborativo. Este processo

remonta à banda original dos Dio e é assim que escrevemos as músicas. Nos primeiros discos dos Dio, Vinny, Jimmy e eu criávamos a estrutura musical para o Ronnie escrever as letras. Nós temos a mesma abordagem com os LIL, improvisamos e gravamos ideias para Andrew criar letras. É um processo muito orgânico que envolve todos na banda e incorpora todos os “sabores” e, portanto, a química de toda a banda. Vi no vosso site que já têm alguns concertos agendados nos EUA e no Download Festival. Por que apenas um concerto na Europa? Na realidade temos o Download Festival (e um concerto num club em Londres) na Europa. No entanto, estamos a planear dar mais concertos na Europa lá mais para o final do ano. Esperamos poder promover o álbum numa digressão Europeia em Outubro, Novembro ou Dezembro. Algumas semanas atrás, eu vi “Bohemian Rhapsody” e como sou uma grande fã do Queen, voltei a rever aquele tremendo concerto que foi o “The Freddie Mercury Tribute Concert” em Wembley. Se já viste o filme, o que achaste? Eu vi o filme e acho que merece todos os elogios. Os Queen marcaram uma Era na música e foram (ainda são) uma enorme influência para muitos artistas e bandas, onde se podem incluir, também, os Def Leppard. Todos temos uma grande dívida para com ele. Facebook Youtube

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Heavy Metal & Futebol Por: Emanuel Leite Jr.

“O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”... A coluna Heavy Metal & Futebol já falou de Steve Harris e sua paixão pelo West Ham, de Andreas Kisser e Paulo Jr. dos Sepultura e seus clubes São Paulo e Atlético-MG, respectivamente, dos Tankard e a loucura pelo Eintracht Frankfurt, homenageou Malcolm Young ao apresentar o seu Glasgow Rangers (e também do seu irmão, Angus), contou a história do Aston Villa, clube que faz bater mais forte os corações dos pioneiros do heavy metal - Geezer Butler, Tony Iommi e Ozzy Osbourne, dos Black Sabbath - e trouxe a curiosidade sobre o mais recente campeão Brasileiro, Palmeiras, que tem uma legião pesada de seguidores dos irmãos Max e Igor Cavalera, passando por Derrick Green (Sepultura), João Gordo (RDP), até o Mike Patton (Faith No More). Nesta edição da Versus Magazine, a Heavy Metal & Futebol vai apresentar a relação de fanatismo de Robert Plant, o lendário vocalista dos Led Zeppelin, com o Wolverhampton Wanderers, clube que atualmente é treinado pelo português Nuno Espírito Santo.

Wolverhampton Sobre o Wolverhampton O Wolverhampton Wanderers Football Club surgiu em 1877 como St Luke’s F.C. Apenas em 1879, após a fusão com o Blakenhall Wanderers, clube de críquete local, é que passaria a se chamar Wolverhampton Wanderers FC. O clube é um dos membros fundadores da Football League (1888). Quando ainda se chamava St Luke’s, a equipa vestia camisolas azuis e brancas em listras horizontais, com calções e meias azuis. Ao passar a ser Wolverhampton Wanderers, o equipamento mudou para camisolas em listras vermelhas e brancas verticais, calções e meias pretas. Somente em 1891 é que o clube adotaria as cores atuais, o amarelo e preto: depois de um jogo como visitante com o Sunderland, que tinha equipamentos exatamente iguais, a Football League determinou que cada clube deveria ter cores diferentes (vale lembrar que nesta altura não existiam equipamentos alternativos). Assim, adotou-se o amarelo e preto, inspirado no lema da cidade - “das trevas vem a luz”. Foi com as cores pela qual ficou conhecido que os Wolves conquistaram o seu primeiro título nacional. Foi a FA Cup de 1893. Troféu que voltaria a conquista em 1908, altura em que já estava na segunda divisão inglesa. O clube andou alguns anos pelos escalões inferiores, passando pela terceira divisão inclusive, até retornar em 1932 à primeira divisão. Em 1949, conquistaria mais uma FA Cup. A década de 1950 foi, de longe, o período mais glorioso na história do clube. Foi quando os Wolves

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conquistaram seus três títulos de campeão inglês (1953/54, 1957/58, 1958/59) e ainda ficaram outras três vezes com o vice-campeonato, além de terem fechado a década, em 1959/60, com o triunfo na FA Cup (a quarta do palmarés). Naquela altura, a equipa auriengra era muito provavelmente a maior força do futebol inglês. O clube chegou a ser tratado como “campeão do mundo” pela comunicação social inglesa, após bater o Honvéd, da Hungria, em 1954. Os húngaros eram base da seleção nacional que havia conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos 1952 e que entre 1953 e 1954 havia humilhado a Inglaterra (7x1 e 6x3). Nomes como Kocsis, Czibor e Puskás faziam parte do 11 do Honvéd. Os Wolves venceram por 3x2 e este amigável inspirou a proposta de criação da Taça dos Campeões Europeus, atualmente Liga dos Campeões. Em 1965, os aurinegros voltariam a ser despromovidos, dando início a um período de constantes quedas e acessos. Em 1971/72, ainda seria vice-campeão da Taça UEFA, sendo derrotado pelo também inglês Tottenham na decisão. Nos anos 1980, o clube vive seu período mais sombrio, com quedas ao terceiro e quarto escalões ingleses, voltando à segunda divisão (então Division 2) em 1989. Desde então, os Wolves se tornaram um clube acostumado a disputar a Championship (segundo escalão), com alguns anos na Premier League. Em julho de 2016, o clube foi adquirido pela companhia chinesa Fosun, tendo como principal articulador o português Jorge Mendes. Não é por acaso que Nuno Espírito Santo, cuja carreira de jogador e treinador está intrinsecamente ligada a Mendes, comanda a equipa aurinegra desde 2017. Com Nuno à frente, o clube conquistou a Championship em 2017/18, retornando, assim, à Premier League. Títulos 3 Ligas Inglesas 4 FA Cups 2 Taças da Liga Inglesa Rivalidade A cidade de Wolverhampton fica na região da West Midlands inglesa. Por essa razão, o maior rival dos Wolves é o West Bromwich Albion, da cidade de West Bromwich, que dista 17km de Wolverhampton. Wolves e Baggies protagonizam o chamado “Black Country Derby”, uma das mais acirradas e intensas rivalidades de todo o futebol inglês. O primeiro embate entre as duas equipas aconteceu na temporada 1885/86 e o West Brom se deu melhor, eliminando o rival da FA Cup. O último confronto ocorreu em 2012, pela Premier League. Na ocasião, o West Brom goleou os Wolves, 5x1. O Wolverhampton viria a ser despromovido naquela temporada. E, por isso, desde então, o Black Country Derby não é disputado. No total, os Wolves venceram 53 confrontos, perderam 64 e empataram 43. Outros dois rivais locais da West Midlands são os dois clubes de Birminghan, o Birmingham City e o Aston Villa (clube do coração de Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, dos Black Sabbath, como contamos há algumas edições). Dentre estes, a maior animosidade é com os Villans, pois estes são o maior clube da região e, por isso, é o maior alvo de todos os rivais da West Midlands. CURIOSIDADES Baixa médica Torcedor apaixonado dos Wolves Robert Plant admitiu em entrevista que já mentiu sobre suas condições físicas para que pudesse assistir aos jogos do clube. “Era difícil sair de Inglaterra quando minha equipa estava bem... Depois de tantos anos acompanhando esse clube, eu perguntava ‘por que estou em turnê logo agora?’. Houve algumas vezes com o Led Zeppelin em que eu misteriosamente tive uma dor de garganta horas antes do jogo e consegui voltar a tempo de assistir ao jogo... E, milagrosamente, estava inteiro no dia seguinte!”, contou Plant The New Times. Desde os cinco anos Robert Plant tinha cinco anos de idade à primeira vez em que esteve no Molineux Stadium, casa dos Wolves. Isto significa que ele, ainda criança, já ia aos jogos da equipa do coração no seu período mais glorioso, quando foi três vezes campeão nos anos 1950. Onde estou? Em 1973/74, os Wolves conquistaram a Taça da Liga. Foi o primeiro título com alguma importância que Plant viu já em sua fase adulta. O vocalista não perdeu a oportunidade de celebrar em grande. “Ser adepto do Wolves é o mais próximo a andar sob um autocarro que eu consigo imaginar. Quando nós ganhamos a Taça da Liga em 1974, eu levei três dias para chegar em casa. Eu não tinha a menor ideia de onde eu estava”, afirmou Plant numa entrevista.

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Uma paixão, sua religião Em entrevista ao Birmingham Mail, Plant declarou: “Bem, eu suponho que seja um pouco como uma religião, mas eu não carrego um crucifixo até o final de semana. A paixão pelo Wolverhampton estragou meu casamento por um tempo. É o amor por algo que não sei como explicar. Eu amo isso até a morte”. Vice-presidente de honra Em 2009, o músico tornou-se presidente de honra dos Wolves. Aproveitou a ocasião para dizer que “apesar de seguir a equipa pelos últimos 50 anos, eu não me sinto mais vice-presidente do que todos os outros desequilibrados que se acotovelam pelas bancadas semana após semana”.

Na foto à direita, Robert Plant com jogadores dos Wolves campeões da Taça da Liga 1980.

Plant cantou nas festas em celebração ao título da Championship 2017/18, que deu acesso à Premier League

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Fina arte O simpatiquíssimo Tim Bowness respondeu outra vez às nossas questões. Desta vez, a conversa girou em torno da “constelação de estrelas” que compõem o mais recente álbum «Lost In The Ghost Light». A “cereja no topo do bolo” são (também) as boas notícias relativas a no-man, projecto que divide com Steven Wilson. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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Eu escolhi músicos porque eu queria ser surpreendido - Jim Matheos trouxe algo de Fripp e Below de Bowie [...]

01 de março marcou o lançamento de outro grande álbum - pelo menos para mim. Tu ainda te sentes ansioso sempre que um disco teu chega às lojas? Tim Bowness - Sim, sinto. Criar um álbum é um processo obsessivo e imersivo para mim, então dedico muito tempo e muito de mim em cada lançamento. Eu sempre quero fazer algo de novo, então, há sempre uma preocupação de que aquilo que eu acho excitante, pode não despertar o mesmo sentimento ao público. Os teus álbuns anteriores foram muito bem-sucedidos: Tabelas do UK Top 10 Rock, Progressive e Vinyl, etc ...Achas que este álbum se vai sobrepor aos anteriores? Felizmente correu melhor. Além de estar no Top 5 da tabela de Rock do Reino Unido (e a sair-se bem em outras), também está a ter um impacto maior em outros países. Na nossa última entrevista, disseste que em alguns aspectos “Stupid Things…” e “Abandoned Dancehall ...” são álbuns que se complementam e o anterior “Lost in The Ghost Light” foi um álbum conceptual. Existe algum aspecto particular em «Flowers At The Scene» que o torna único? É o primeiro álbum desde o “Returning Jesus” dos no-man que não tem um tema ou conceito subjacente. Embora tenha estruturado este álbum como uma forma coesa de trabalhar,

eu vejo-o como uma colecção de 11 músicas muito diferentes com 11 letras muito diferentes. Para mim, são como pequenas histórias cinematográficas em forma de música. Com uma vasta colecção de músicas, como é que “Flowers At The Scene” se encaixa em tua extraordinária discografia? Pode parecer estranho, mas sempre sinto que estou no começo de qualquer coisa… «Lost In The Ghost Light» foi muito pontual em termos de conceito e estilo musical. «Lost In The Ghost Light» parecia um fim em si, enquanto «Flowers At The Scene» - como «Loveblows & Lovecries», «Wild Opera» e «Abandoned Dancehall Dreams» - parece um novo começo. Tu rodeaste-te de dezasseis músicos extraordinários... (Eu nem ouso destacar alguém) - O quão difícil foi convidar e reunir esses músicos para tocar no álbum? Felizmente, não muito difícil. O mais difícil foi Kevin Godley, enquanto eu localizava seu paradeiro! Através de um publicitário americano consegui fazer chegar a música até ele e depois de várias coversas e dois grandes pacotes enviados para Dublin eu tive a minha oportunidade! - Como foi o processo de gravação de «Flowers At The Scene»?

Como muitas das músicas, eu tinha quatro bateristas, três baixistas e três guitarristas a trabalhar nelas. Em seguida, seleccionei o que eu achava que eram as melhores e mais apropriadas. Não há dúvida de que o profissionalismo e a habilidade de Jim Matheos, Colin Edwin, Tom Atherton, Dylan Howe, Ian Dixon e Brian Hulse brilham neste álbum. É mais orientado para músicas do que meu álbum anterior, mas também é mais “musical” por causa da qualidade das contribuições instrumentais. - Eles tocaram no mesmo estúdio com você ou gravaram a música em diferentes estúdios? Excepto em raras ocasiões, em diferentes estúdios. Fiz algumas gravações no mesmo estúdio com Brian Hulse e a seção rítmica de David K Jones / Charles Grimsdale. - Os teus convidados contribuíram de alguma forma com suas ideias para a versão final das músicas? Eu escolhi músicos porque eu queria ser surpreendido - Jim Matheos trouxe algo de Fripp e Below de Bowie - ou porque eu conhecia o trabalho deles e sabia exactamente o que esperar – gostei muito do álbum «Subterraneans» de Dylan Howe e sabia que ele poderia acrescentar algo… - ou então, queria uma combinação de ser surpreendido e conseguir exactamente o que eu queria. De um modo geral, os músicos dão-me o que eu quero e um pouquinho mais. Além disso,

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[...] o Steven e eu passámos alguns dias em estúdio a trabalhar no novo álbum de no-man.

costumo usar muito menos do que recebo. Eu editei a contribuição de Andy Partridge massivamente (ele deu cinco vezes mais do que aparece no álbum). Peter Hammill adicionou óptima partes de guitarra ao refrão de “It’s The World” que eu realmente não estava à espera. Acabei por usar quase tudo! Liricamente falando, existe um conceito comum, ou cada música conta uma história diferente? Todas são histórias muito diferentes. A faixa-título diz respeito às repercussões de um esfaqueamento num parque, “Rainmark” lida com o amor romântico no meio de um apocalipse, “I Go Deeper” habita a mente fragmentada e medicada de um paciente que vagueia à noite

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num hospital e assim por diante. A música pode ser animada em alguns lugares, mas as letras não são! (Risos) A tua biografia enviada pela editora diz que esta é a primeira produção conjunta com Steven Wilson em mais de uma década, mas tenho a impressão que ele também misturou e masterizou «Lost in the Ghost Light». É isso? Nos álbuns anteriores lançados pela Inside Out, o Steven apenas misturou (além do «Stupid Things» que foi misturado pelo Bruce Soord). Eu dou instruções muito específicas de como eu quero que soe e eles fazem o seu trabalho. Em FATS, creditei como produzido por no-man e Brian Hulse, o que é correcto, embora o álbum consista, geralmente, nas minhas sugestões

de arranjos (e usa músicos que escolhi). “I Go Deeper”, “Borderline” e “Killing To Survive” são baseados em ideias que eu tinha em termos de som. “What Lies Here”, “The Train That Pulled Away” e “Flowers At The Scene” são versões em grande escala das demos que Brian Hulse e eu criámos. “Not married Anymore” e “The War On Me” foram enriquecidas por Steven (e acho que possuem a qualidade de no-man). “Rainmark”, “Ghostlike” e “It The World” continham ideias de produção em que todos nós três contribuímos. Como já falámos, este álbum foi produzido por no-man. Como é que esta colaboração funciona? Há muitos anos eu e o Steven gostámos da ideia de criar uma


equipa de produção no-man – por assim dizer. Os no-man sempre tiveram uma sonoridade diferente e gostámos da ideia de trabalhar criativamente com outras pessoas e espalhar o DNA da banda. FATS acabou por proporcionar uma oportunidade ideal para experimentar esta ideia. Algumas das músicas soam como no-man e juntando a isto o facto de que o álbum foi produzido também por no-man, poderia ser este o começo para o regresso deste projecto? Concordo. Para mim, em particular “Not Married Anymore” e “The War On Me” - possuem um forte componente no-man. Logo depois de termos terminado FATS, o Steven e eu passámos alguns dias em estúdio a trabalhar no novo álbum de noman. Composicionalmente está terminado e estamos apenas a aguardar as gravações finais das vozes e alguns overdubs instrumentais. Parece um disco muito no-man mas é totalmente diferente de qualquer coisa que tenhamos lançado antes. Enquanto preparo esta entrevista, vejo no teu blog uma história muito curiosa sobre Kevin Godley e a sua contribuição para este álbum. Parece-me que o 10cc tiveram uma enorme influência. Assim: - De que maneira 10cc e álbuns como «The Original Soundtrack» influenciaram a tua vida musical? Antes dos 10cc, eu gostava de ouvir música de filmes e hinos da igreja. John Barry (que eu ainda adoro) foi o meu ídolo. Junto com o “Live And Let Die” de Paul McCartney, “I’m Not In Love” foi a primeira música Pop / Rock que eu gostei e comprei. A banda era inteligente, espirituosa, emotiva e ambiciosa e eu diria que o amor pelas baladas e épicos multiseccionados levaram-me a outros artistas, incluindo os Beatles, Pink Floyd (e Prog em geral), The Beach Boys e Frank. Zappa - Como foi ver Kevin cantar numa

das tuas músicas e qual foi a contribuição dele para o resultado final? Foi maravilhoso. A voz dele me acalmava quando criança. No final, acabei por usar apenas a voz dele como voz de fundo, já que a minha voz fazia mais sentido no contexto do álbum. Mas há uma versão da música com ele a cantar a música inteira. Sinto que a ele trouxe uma verdadeira sensação de tristeza e uma nova alma ao tema. O artwork - mais uma vez foi feito por Jarrod Gosling – está espectacular.

Neste álbum também tocas ukulele e trompete. - É a primeira vez que incluis estes instrumentos nos teus álbuns? Sim. Eu aprendi o ukulele em grande parte para ensiná-lo ao meu filho (que tem aulas de ukulele na escola). “Rainmark” começou a desenvolver-se para demonstrar ao meu filho como escrever e fazer overdub. E então, criei algumas densas camadas de ukelele que continham, ocasionalmente, um solo - “fuzz ukelele” – e a partir daí surgiu a música. A parte do trompete é puramente amostrada, peguei nalgumas partes do Aleksei Saks e fiz um loop em “It’s World”. Se eu tiver que te pedir para escolheres cinco músicos para formar um projecto - vivos ou mortos - quem escolherias? Uma questão muito difícil!! Eu definitivamente teria Miles Davis no trompete e Eberhard Weber no baixo. Fora isso, talvez Pete Townshend na guitarra, Peter Gabriel nos teclados e texturas e Brian Blade na bateria.

Obrigado. - Como é que está relacionado com as letras e todo o conceito do álbum? (Se houver algum...) Assim como as minhas outras capas de álbuns a solo, dei a Jarrod uma ideia muito clara do que eu queria em termos de imagens e layout. Ele então pintou-as de uma maneira única. A capa lida com as permutações da frase “flores na cena”. Assim, excepto na situação de deixar flores no local de um crime, a capa retracta flores de uma forma mais romântica ou doméstica (a contracapa relaciona-se com a canção “Not Married Anymore”). A imagem principal era deliberadamente ambígua. Poderia representar antigos amantes reunidos, pais num funeral de uma criança, um sinal de gratidão etc.

Eu acho que deves estar ciente de tua importância e influência no prog/rock. Como vês esta tua importância nesta senda musical progressiva? Eu realmente não estou. Estou cercado de pessoas - amigos, familiares e vizinhos - que não têm interesse no que faço. Eu dou tudo ao que faço sabendo que isso não significa nada para aqueles que estão no meu ambiente mais próximo. Eu também não toco muito ao vivo, então, não recebo feedback regular do público. Eu acredito fortemente no que faço e, felizmente, ainda tenho uma audiência que segue a minha música. A música tem sido um aspecto vital para mim desde meus primeiros anos de adolescência e permanece assim (tanto criando como ouvindo). Em última análise, quero mover e inspirar as pessoas da maneira que fui movido e inspirado por certos artistas e álbuns.

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- A tua música é feita com e do coração. Hoje em dia vemos cada vez mais bandas preocupadas com o tecnicismo e virtuosidade. Tomando, por exemplo, a música prog 60/70 e comparando-a com a música feita nos dias de hoje, vês isto como uma evolução? Para mim, ser musical e apropriado é preferível à técnica extravagante. As formas de tocar muito espalhafatosas são geralmente formas de encobrir a falta de ideias ou emoções e não acho que isso seja verdade para o espírito dos pioneiros. Genesis gostavam de ideias, emoções e melodias fortes. Sou um grande fã da onda de artistas progressistas dos anos 60 e 70, mas acho que o espírito

musical progressivo muda a cada década: ele pode ser encontrado em Psychedelia, Underground / Art / Prog Rock, 1960, 1970, Krautrock, Fusion, Post -Punk, No Wave, New Romantic, produções da ZTT dos anos 80, Trip Hop, Drum’n’Bass, Post Rock etc etc. Com uma excepção - a conceptual «Lost In The Ghost Light» - eu desconfio que o facto de ser categorizado como Prog tem muito mais a ver com as minhas associações, do que com minha música. Eu acho que o que eu faço é mais uma evolução dos gostos de Bowie, Talk Talk, Roxy Music / Eno, Blue Nile, Kate Bush, Peter Gabriel, David Sylvian e assim por diante, do que ser uma continuação

dos estilos de Genesis, Yes, King Crimson, Camel, Jethro Tull, etc. Dito isto, eu pessoalmente gosto muito da música Genesis, Yes, King Crimson, Camel, Jethro Tull etc Obviamente, espero que aquilo que faço tenha uma qualidade emocional honesta e também seja distintiva musicalmente. Muito obrigado por esta oportunidade de te entrevistar. Gostei muito do álbum e espero um dia ver-te em Portugal. Isso seria bom. Obrigado pelas perguntas, Eduardo.

Antes dos 10cc, eu gostava de ouvir música de filmes e hinos da igreja.

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Entrevista: Dico

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Intelectual e sentimental

Os Soen sofreram “bullying” por parte dos críticos e fãs pelas parecenças com os Tool – estávamos em «Cognitive». Agora estamos em «Lotus» e no entretanto, os Soen cresceram e afirmaram-se ao ponto da criarem uma sonoridade única, carregada do mais puro e belo sentimentalismo melódico. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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O novo álbum saiu a 21 de fevereiro. Como tem sido a recepção? Sim, já lançámos 3 singles e até ver, as reacções têm sido muito positivas, as pessoas parecem gostar pelo que estamos contentes. Tenho um problema com o «Lotus», que é: não consigo ouvir mais nada, porque é tão absorvente. Era este o sentimento que esperavam obter das pessoas ao ouvirem este álbum? Não esperamos nada. Quando escrevemos a música e quando fazemos as coisas, fazemos aquilo que achamos que é bom para nós. Não tendemos a antecipar o que as pessoas vão pensar porque pode correr mal. Mas fico contente por ouvir que gostaste. Cada álbum dos «Soen» é único. Será «Lotus» o melhor dos últimos álbuns? Acho que é a primeira vez que sentimos que todas as peças encaixaram como deviam. Mentalmente estávamos no lugar certo e sentíamo-nos bem como músicos e como banda. A produção é excelente, por isso tudo junto parece um todo, holístico. Nos últimos álbuns a maior crítica que li foi da parte da masterização, da parte dinâmica. Para este álbum foi diferente? Fiquei com a sensação que este trabalho é mais dinâmico. Confirmas? Queres dizer que a masterização tem mais dinâmica e não está tão comprimida. Quem hoje faz as

masterizações, tem mais sensibilidade para este tema. O volume já não é o mais importante, e creio que cada vez mais as misturas venham a ser mais dinâmicas. Se ouvires o vinil, vais sentir ainda mais as dinâmicas da mistura. Depois de ouvir todos os álbuns de forma cronológica a minha opinião relativamente ao «Lotus» é que é o álbum mais directo e melódico, sendo que mantém aqueles momentos pesados e parece-me que libertaram a música, como se vestissem um casaco apertado e de repente o abrissem e soltassem o que lá está dentro. Concordas com a minha estranha análise? Sim, até certo ponto as pessoas associam-nos ao metal progressivo, mas sentimos que podemos sair desse lugar e tocar aquilo que queremos. Na nossa música tens partes mais técnicas, músicas mais longas, e temos outras influências de outras músicas, porque é aquilo que gostamos, por isso quando dizes que há partes mais directas, concordo contigo porque também gostamos disso, não tem de ser sempre técnico. Já somos velhos para ter de impressionar. Existe, neste «Lotus», mais do que se vê. Tem camadas e contrastes, muitas vezes frágil na sua doçura e ternura. Que pretendem transmitir a quem ouve o álbum? Não sei. Normalmente deixamos isso para o ouvinte. Tens de ter a tua interpretação. Se leres as letras

levas contigo algo teu, por isso espero que transformes a música que te damos e a tornes tua. Queres que a música seja técnica e intrincada e queres detalhes que vais descobrindo conforme vais ouvindo. Não é apenas uma viagem intelectual é também sentimental, portanto, quando ouves a música é algo que te fala ao coração e não apenas à tua mente. As pessoas vão sentir a mudança na vossa música. O que os levou a esta mudança e qual foram os desafios quando começaram a trabalhar no «Lotus»? Não creio que o tenhamos visto dessa forma. Limitámo-nos a fazer a nossa música e esta evolui. Em cada álbum, algo acontece e o som torna-se diferente. Hoje, quando escrevemos, a música torna-se num som que se mantém pesado e não é algo que calculamos e antecipamos, simplesmente acontece. Em «Lotus» também usaram equipamento analógico? Diria que «Lykaia» teve mais esse elemento analógico. Neste álbum não tivemos regras. Fizemos muitas partes analógicas, mas também usámos muito equipamento digital porque tivemos essa experiência analógica em «Lykaia», e agora tínhamos uma visão como deveria soar e ao trabalhar com David Castillo, o nosso produtor, que teve envolvido desde o início, ele decidiu que para obtermos o som que queríamos deveríamos usar também o digital.

“ Mentalmente estávamos no lugar certo e sentíamo-nos bem como músicos e como banda.

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Se as levar (as canções) ao coração não há problema, mas tens de as tornar tuas. Como um ouvinte. Foto: Eduardo Ramalhadeiro


Como sempre as letras são como poesia. Quem as escreveu? Bem todos, mas diria que para este «Lotus», o Martin escreveu a maior parte. É-te difícil cantar músicas tão sentimentais que foram escritas por outra pessoa? Não, não interessa. Se as levar ao coração não há problema, mas tens de as tornar tuas. Como um ouvinte. Mas são letras fantásticas. Qual o tema das letras? Existe alguma ligação, mas as letras são baseadas em experiências pessoais não algo inventado. Cada música é em si uma história? Sim, estão contidas em si. Têm um novo guitarrista, o Cody Ford. Como foi a integração dele e quais os seus contributos para este álbum? Infelizmente o Marcus, por estar envolvido em tantos projectos, teve de sair da banda. Encontrámos o Cody na internet. Hoje há muitos talentos a mostrar as suas capacidades no Instagram ou no YouTube. Contactámo-lo e ele encaixou perfeitamente na banda. Ele faz todos os solos no álbum e estamos muito contentes por tê-lo encontrado. Ele é canadiano. Ele fez um trabalho fantástico. O que gosto mais são aqueles solos à Pink Floyd e claro o solo em «River». Esperavam que ele tivesse estas influências? Ficaram surpreendidos? Sim, ficámos. Mas quando ele começou a tocar percebemos que encaixava perfeitamente nas nossas músicas. Era perfeito. E claro que consegues identificar essas influências no estilo dele, mas isso é excelente. Quando concordamos com um guitarrista procuramos alguém que tenha um som emotivo em vez de alguém que tenha um som mais técnico e que consiga tocar mais rápido, por isso penso que esta era a expectativa.

Esta é a minha opinião pessoal, que só toco bateria na garagem, mas o teu estilo a cantar também mudou para este álbum? Não faço ideia. Pode ter mais poder, as vocalizações em determinado sentido podem ter mais força. Os primeiros álbuns tinham umas vocalizações mais intricadas, mas creio que agora há mais elementos nas vocalizações que são mais puras. Não diria mais agressivas, mas sim que são cantadas num tom mais alto e que transmitem outro tipo de emoção às palavras. Até cantas em falsete na «Rivers» e na «Martyrs». Foi um desafio? Por acaso sempre gostei de cantar em falsete, mas nunca tinha encontrado lugar para isso nas canções. Em algumas músicas também canto em falsete em partes mais pesadas. Até funciona bem e eu gosto. Como cantor quais são as tuas principais influências? São muitas. Sempre gostei de Layne Staley dos Alice in Chains. Era um cantor fantástico. Também tens, ainda que fora da esfera do metal, o Jeff Buckley, o Freddy Mercury, Dio, adoro o Dio, e, dos Candlemass, o Messiah Marcolin. Vocês são suecos, mas li algures que tens problemas em tocar no teu país. Podes explicar? Sim, ainda não toquei na Suécia. É estranho e é irónico que tenhas tantas bandas de metal da Suécia, mas não tens nenhuma procura deste tipo de som pelo que elas tocam todas fora do país. Entretanto, já fomos convidados para ir tocar à Suécia, mas lá no outono, por isso, vamos ver. As coisas mudam. Não vão ter nenhum problema em tocar em Portugal, e vou lá estar para vos ver no Hard Club... Portugal tem sido fantástico para nós, desde o primeiro álbum. É como voltar a casa. Que podemos esperar dos vossos concertos no Porto e em Lisboa. Vão ter alguma coisa especial? Vai ser maior. Em todas as di-

gressões adicionamos sempre mais qualquer coisa e esta vai ter mais luzes e mais alguns extras. Mas a grande diferença vão ser as novas músicas. A minha voz, por qualquer razão nunca esteve tão boa e enquanto banda estamos melhor que nunca, por isso vai ser muito bom. Relativamente à parte gráfica, só tive acesso à capa, mas li que esta é fantástica. Como é que esta casa com a música e o conceito do álbum? Achamos que a parte visual e a música andam de mãos dadas e têm de te dar a ideia de algo uno. Por exemplo, os símbolos, como os ossos, são algo sobre os quais cada pessoa terá a sua interpretação. Tiveram interferência no grafismo contribuindo com as vossa ideias? Sim, foi uma mulher que nos fez o grafismo, mas todos tivemos ideias que queríamos exprimir. Quem produziu os álbuns anteriores? Fomos nós. Porque é que não produziram este último? Como sempre produzimos os nossos álbuns, por querermos ter o controlo absoluto do resultado final, é difícil confiar em alguém. Neste caso, como já o conhecíamos como produtor pela sua participação no «Lykaia», sentimos que podíamos confiar nele para tomar conta do som. O que é que o David Castillo trouxe aos Soen? Ele trouxe o seu talento como produtor ao som. Sabe exactamente como chegar ao som que queremos. É um talento com quem queremos crescer. Diria que deu grande contributo para o álbum e estou muito contente. Joel, muito obrigado pela tua paciência e pela entrevista, e vemo-nos em Março, no Porto. Lá nos veremos. Obrigado Eduardo.

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LOTUS...

the intoxicating, addictive, new album by swedish progressive metallers soen!

out now! SOEN Live:

March 30TH Hard Club, Porto March 31st RCA Club, Lisbon

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www.soenmusic.com www.sl-music.net


ALBUM VERSUS Soen «Lotus» (Silver Lining Music)

Há bandas que nasceram para chegar ao coração das pessoas - caso raro na música contemporânea. Os Soen têm vindo a construir esta cândida reputação e o dom de chegar ao âmago do nosso Ser. Misturando de uma forma sublime e magistral a melodia, técnica e peso (q.b), «Lotus» é como um abraço apertado e caloroso, um aconchego. Após um início diríamos algo conturbado (… e talvez exacerbado) pela constante comparação com os Tool, os Soen souberam (evoluir?) para uma sonoridade mais única. Algo que incomoda e sempre incomodou é o tipo de masterização, especialmente em «Tellurian» e «Lykaia». No entanto, «Lotus» dá um passo à frente nesse aspecto e a música tem muito mais dinâmica – tal como podemos perceber pelas palavras de Joel na nossa entrevista. Sonicamente é quase extraordinário, com a música, voz e todos os instrumentos a “voarem” livremente. O exemplo disso é, por exemplo, o interlúdio em “Martyrs”, o crescer progressivo da bateria… suave…. Quase como um sussurro - como só Martin Lopez o sabe fazer - juntamente com baixo, o deambular sonoro de uma coluna para a outra e o culminar com o falsete. Isto, caríssimos, é como deveria ser (ouvida) a música: piano, forte, crescendo, etc. dinâmica e nunca no mesmo nível sonoro. Cody Ford substituiu Marcus Jidell e mostrou ser uma mais valia - pensem só que foi descoberto na internet - tendo adicionado uns deliciosos laivos de David Gilmour por vários temas. «Lotus» é o álbum mais directo e melódico, uma viragem e o consolidar da identidade musical dos Soen, um soltar das amarras das partes mais pesadas e progressivas e um abraçar do mais puro sentimentalismo melódico. Falar de «Lotus» é falar de sentimentos, introspecção, é música que atinge o coração, é algo que fica connosco e nunca se esquece… No fundo isto são os Soen. [10/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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SOEN + GHOST IRIS + WHEEL 30/03/19 - Hard Club

Reportagem: Elsa Mota Fotografia: Eduardo Ramalhadeiro

Agradecimentos: Bruno Simões & Free Music Events

2019 marcou o tão desejado regresso dos Soen aos discos e a Portugal. A sala 2 do Hard Club estava preparada e aconchegada para receber os Suecos apresentarem o seu disco mais recente: «Lotus». A noite começou muito bem com os Finlandeses Wheel e o seu “quê” de misterioso, entrando a banda toda com uma espécie capuz, capuzes esses que foram tirados durante o concerto. Os Wheel estiveram a apresentar, também, o seu mais recente lançamento «Moving Backwards» e nada melhor para definir os Wheel que uma frase escrita no seu website: “Enquanto esperamos pelo próximo álbum do Tool, pensamos em fazer o que gostaríamos de ouvir”. De salientar que a actuação dos Wheel foi ainda abrilhantada com a presença de Joel Ekelöf que deu uma ajudinha na voz. Seguiram-se os Dinamarqueses Ghost Iris que, na minha modesta opinião, estão completamente desenquadrados com o ambiente geral, tanto da música como dos espectadores. De facto, uma banda de Metalcore Progressivo que por muita boa que seja, é como “peixe fora d’agua”. No entanto, o concerto foi bastante energético e ainda houve alguns (poucos) headbangers bem juntinhos ao palco e tempo para uns minutinhos de “crowd surfing” por parte do guitarrista dos Ghost Iris. Mas toda a gente que quase enchia a sala estava lá para ver os Soen. O concerto abriu com “Covenant”, “Opal” e “Rival”. “Tabula Rasa” não podia faltar, como é óbvio. A actuação dos Soen, tal como aconteceu na última vez que estiveram no Hard Club, quase que roça o intimista, tendo como pontos altos, o interlúdio de “Martyrs” - com a sala quase toda em silêncio e “Lucidity”. O setlist acabou com “Slithering”. Demasiado óbvio que o povo iria chamar pela banda e para o encore estavam reservados “Savia”, “Sectarian” e terminaram em apoteose com o tema que dá nome ao álbum: “Lotus”.

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Irremediavelmente humano UMA MALDIÇÃO? UMA ASSUNÇÃO? CADA UM JULGARÁ À SUA MANEIRA. ENTREVISTA: CSA

Saudações! Uma banda recomendada pela LADLO é sempre uma boa… antes uma excelente surpresa! Saudações. E obrigado pela entrevista. Resume para nós a história deste magnífico projeto musical. Blurr Thrower é uma síntese de numerosos conceitos de que me quero libertar, que se exprime através da música, de textos, de imagens. É preciso vê-lo com uma tentativa de “Gesamtkunstwerk”, em vez de um simples projeto musical. Não quero com isto dizer que consegui atingir esse objetivo, apenas que é ele que me anima. O projeto resultou de uma crise que sofri devido ao consumo de drogas, que, na altura, tomava para conseguir escrever. Havia um contexto, substâncias e um perfume, que – de forma simultaneamente química e espiritual – me despertaram. Era uma experiência mística muito intensa, que de imediato me forneceu o universo, as cores e as texturas que sempre me obcecaram e que procuro exprimir o melhor que posso na obra que está agora a ser lançada. Por isso, é um projeto profundamente íntimo, que contém em si as minhas forças e as minhas fraquezas e evolui entre um intelectualismo exacerbado e, inversamente, uma bestialidade

instintiva e visceral. Os pares opostos são algo de fundamental para mim. Seja o Vazio ou o Vago, a obscuridade ou a luminosidade, o imobilismo face ao movimento… De certa forma, cada um destes fenómenos faz parte integrante do universo que procuro representar através de Blurr Thrower. Nesta diegese, «Les Avatars du Vide» representa uma parte dos conceitos ligados à obscuridade através da personalização do Vazio, que representa o éter, a angústia e as neuroses que me definem. Trata-se de uma tentativa de apresentar na atualidade os resultados de uma psicanálise sem fronteiras, que cada um deve poder explorar e interpretar à sua maneira. Servir-se de si mesmo para ilustrar as emoções mais brutas, mais francas tem sido o fio condutor deste projeto e sê-lo-á sempre. Um verdadeiro niilismo em que o próprio sujeito é a sua presa, sem noção de pátria, de género. O intimismo ao serviço da concretização de um onirismo universal, uma paisagem de Absoluto. O que significa o nome da banda? Refere-se à luz num universo etéreo e alucinado. Uma lufada de oxigénio numa atmosfera sufocante. É a reação química provocada pelo choque entre o Vazio e o Vago e as cores que dele

resultam. Para mim, é um nome positivo e luminoso. Vejo-o como a iniciação. O início de algo, uma renovação. No entanto, pode ter numerosos significados e cada um pode interpretá-lo à sua maneira, se assim o quiser. Quais são as tuas influências? Na informação da editora, Blurr Thrower é associada a bandas como Time Lurker (que já entrevistei em 2017), o que me parece bastante plausível. Tenho inúmeras influências. É evidente que Time Lurker e Paramnesia são fundamentais para este projeto. São bandas arrebatadoras e não compreendo por que razão estes projetos não são mais valorizados na cena. A sua música está cheia de atmosferas muito intensas e etéreas, que sentimos mesmo antes de a ouvirmos. Time Lurker foi a primeira banda da LADLO que ouvi e fiquei logo refém do seu universo e do artista que o cria, assim como da editora. No que diz respeito a Paramnesia, vejo-a como uma banda que conseguiu mesmo combinar o Black Metal tradicional – com a sua vertente odiosa e muito destrutiva – com atmosferas mais fantasmagóricas, abstratas e transcendentais. A meu ver, o resultado é perfeito e representa de forma precisa a atmosfera do

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[…] é um projeto profundamente íntimo, que contém em si as minhas forças e as minhas fraquezas […]

Black Metal que eu tanto amo e que me anima atualmente. No que toca aos conceitos, sou influenciado pela filosofia e pela literatura dos séculos XIX e XX, embora os encontre também em muitas outras obras de diversas naturezas. Gosto bastante de vasculhar tudo a partir do momento em que encontro algo que me interesse. Tanto encontro o Vazio numa obra de Velikovic como em Artaud, ou em Van Gogh (que corta uma parte de uma orelha para a dar a alguém de que gosta numa véspera de Natal, ou em Edgar Poe que foi encontrado quase morto numa sarjeta. Em termos musicais, vai do Black Metal francês dos anos 90 e 00 (Mütiilation, Antaeus, Nehemah,…) até ao Black Metal norte-americano dito atmosférico (Ash Borer e Fell Voices à cabeça da lista), que chamo assim porque – por natureza – o Black Metal tem de ser sempre atmosférico. Também Rapp norte-americano e, logicamente, Rock psicadélico à moda de Religious Knives, que – se não atentarmos no lado vagabundo hippie – é muito Black Metal na sua essência. Fazer este tipo de música e da forma como a fazes não te leva a sentir que não és deste mundo? De um ponto de vista pessoal, criar «Les Avatars du Vide» foi

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uma experiência extenuante e dolorosa para os que me são próximos e também para mim, na medida em que eu queria ir o mais longe possível na procura e na exploração dos meandros e abismos que fazem parte de mim. A ideia era esculpir estas emoções, para tentar torna-las universais. Desse modo, o projeto tem os pés bem assentes na terra. Não é um projeto elitista, que se sente “en marge et au-dessus d’un monde que nous voulons annihiler” [“à margem e sobranceiro em relação ao mundo que queremos aniquilar”], citando Les Chants de Maldoror, mas antes um projeto à moda de Baudelaire, com abismos onde se empilham as esperanças perdidas, os sentimentos simples, as emoções exacerbadas, na medida em que estas são provocadas por um “eu” que evolui num universo societal humano. Por outro lado, reconheço que muitos na cena se veem como “sobre-humanos”, no sentido nietzschiano do termo. Mas eu penso que nós – os humanos – somos, continuamos a ser e seremos sempre “macacos”, porque não vejo que a cena se eleve ou se diferencie em relação aos habituais códigos sociais. Encantamos outro tipo de humanos, mas os códigos continuam a existir. Este é um dos conceitos de base de “Par-delà

des Aubes”. Esta interpretação é minha e radicalmente diferente daquilo que a cena pensa. Não sou atraído pelos conceitos que apontam para a rejeição do mundo no qual vivemos intrinsecamente, independentemente da nossa vontade, e no qual mesmo os mais autónomos evoluem de uma maneira ou de outra. Estaremos a mentir a nós mesmos, a criar uma barreira de fumo. Na realidade, o que magoa mesmo é a consciência de pertencer fatalmente a uma comunidade. Na informação dada pela editora fala-se de neurose e isso faz-me pensar logo em Baudelaire (tanto mais que tu és francês). Há alguma relação entre este pensamento e a tua arte? Eu penso que o Black Metal francês mantém uma relação estreita com a expressão sombria característica do Romantismo do século XIX, de que a obra de Baudelaire é um pilar. As neuroses, o mal-estar, a nostalgia, a Angústia são sentimentos e emoções que os franceses tornaram artísticos por excelência, tanto na música, como no cinema, por exemplo. Para mim, o primeiro álbum de Depressive Black Metal é «Vampires of Black Imperial Blood», de Mütiilation, o que ilustra perfeitamente o modo como vejo essa questão. Está tudo nesse álbum. Na sua obra Les Fleurs du Mal [As Flores do Mal], Baudelaire exprime – da forma mais Absoluta – TUDO o que eu próprio gostaria de revelar. E é claro que o faz


muito melhor do que eu. Por isso, pode-se dizer que a influência de Baudelaire é radical para mim, tanto no projeto como na vida pessoal. É o alfa e o ómega de muitas coisas. Dizem-nos também que a tua música não é catártica. Será que podes desenvolver esta ideia? Na minha opinião, o Black Metal não é só música. É como uma injeção de vitríolo. Encontro nesse género um lado sublime, porque ultrapassa muito rapidamente o simples universo harmonioso, para propor paisagens tão inebriantes como tóxicas, tão pegajosas como abrasivas. Uma droga, vampírica e opiácea, semelhante às obras de Albert Matignon. O próprio conceito de base de «Les Avatars du Vide» não gira em torno da ideia de se libertar do sofrimento, mas de o assumir pela sua exposição, de o experienciar verdadeiramente. Não vejo nisso uma ação que conduz ao alívio ou à purificação. Pelo contrário, trata-se de ir em demanda de uma realidade sincera, concreta e ingénua. O Black Metal que me impressiona é-me trazido por incensadores de endorfinas, não por exorcistas. De facto, é impossível para mim considerar que o Black Metal possa ter uma ambição catártica. Pelo contrário: o Black Metal isola, agride, magoa. É uma Arte que mutila. Não tenho qualquer problema em ver que uma parte da cena Metal considera que o Black Metal como um simples divertimento, uma espécie de folclore. Ainda bem que gostam tanto disso. Mas muito simplesmente essa não é a minha forma de ver as coisas. Não é assim que eu o vivo. O teu vazio está bem preenchido! Adoro o lado monótono/ obsessivo dado pela guitarra, ornamentado por alguns toques delicados de bateria e fortemente dilacerado pela tua voz e por momentos furiosos protagonizados pela percussão. Parece-te que se pode sentir a tua música desta forma?

Todos temos o direito de tentar explicar o modo como algo nos impressiona, ou não. O importante para mim é que o ouvinte sinta algo através da obra. É sempre perfeito, independentemente da forma como acontece. Outros verão na minha música algo completamente diferente, outros não verão nada, ou apenas sentirão o lado repetitivo, mas não percecionarão a vertente de alienação. Temos de nos habituar a isto, penso eu. Do ponto de vista técnico, concordo contigo: de facto, há momentos menos tensos, que também são importantes. Pessoalmente, sinto sobretudo a alternância entre momentos mais pacíficos e mais tumultuosos e gosto muito do fim do álbum, desesperado e dramático, muito concreto, contrariamente ao resto. Mas é mesmo muito difícil para mim avaliar a obra tal como ela se apresenta, porque ainda está muito presente. Como fizeste para criar esta obraprima do Black Metal? Não faço a mínima ideia, mas fico muito orgulhoso por a veres dessa forma. Contudo, não tenho a pretensão de considerar que consegui o que quer que seja. Só posso garantir que fui mais longe do que esperava, do ponto de vista moral e espiritual, pelo que estou contente com o resultado final. Foi um trabalho longo e verdadeiramente invasivo. Por que sentes a necessidade de fazer composições tão longas? Muito simplesmente, porque preciso de me apoderar do tempo e do espaço necessários para tentar comunicar o conceito que anima cada composição, porque tento compor como se estivesse a escrever uma história. Basicamente, a escrita é instintiva e visceral, sempre com o objetivo de ilustrar da melhor forma as texturas, as cores e os perfumes do universo que eu quero dar a conhecer. Segmenta-las levaria a que perdessem sentido e impacto, porque não exprimiriam todas

as variações que quero deixar nelas. Gosto de tentar construir uma unidade que se revê na sua completude. Não se trata – de maneira nenhuma – de um simples exercício de estilo. Procuro apenas propor uma longa viagem. Came Roi de Rat é o mestre gráfico de muitas bandas de Black Metal. Já encontrei outras criações suas, mas nunca tive a sorte de o entrevistar para a nossa secção gráfica. Como foi colaborar com ele para chegar à capa de «Les Avatars du Vide»: [Acho-a absolutamente extraordinária na sua aparente simplicidade.] Cometeu a proeza de ter compreendido perfeitamente o universo que eu procuro ilustrar com muito pouca matéria e tempo, como faz para todos os artistas com quem trabalha. Pessoalmente, estou muito orgulhoso do resultado: é frio, cheira a tinta, a enxofre e a remédios. É perfeito. Dás concertos? Já encontrei muitas bandas de Black Metal que não o fazem. Há tantos artistas que não fazem concertos. O Black Metal pode ser uma música de solitários e, por vezes, não ganha nada em ser apresentado ao vivo. Penso que isso se tornou evidente desde as suas origens. Blurr Thrower baseia-se em blast beats que se sucedem, num som grave produzido por um sintetizador, em riffs incisivos e textos gritados. Temos algumas ideias e muitos projetos discutidos, uns mais apaixonantes do que outros. De qualquer modo, nada será feito antes de se estar pronto para isso. Como será 2019 para Blurr Thrower? Um ano mais translúcido e calmo, penso eu. Mais instintivo. Facebook Youtube

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CRITICA VERSUS ANTYRA «Pentachronist» (Independente) Há reviews que pecam tanto por tardias, que a nossa única desculpa pode apenas ser algo do género do famoso provérbio: “Mais vale tarde que nunca”. E este é exatamente o caso de «Pentachronist», o ambicioso álbum de estreia dos alemães Antyra. Lançado em 2015, veio-me parar às mãos por puro acaso do destino. Oriundos de Leipzig, cidade do leste da Alemanha, os Antyra propõem-nos uma promissora mescla de diversos estilos, desde um feroz power metal a temas com uma brutalidade típica do Death Metal passando por arranjos orquestrais dignos de álbuns dos Therion. De notar a ambição deste conjunto, tanto a nível lírico, ou não se intitulassem de “Narrative Epic Metal”, como a nível técnico com uma execução ao nível das melhores bandas progressivas. Comecemos pelo lado lírico das coisas: o álbum está dividido em cinco diferentes capítulos, cada um com a sua própria introdução. O álbum inicia-se com a instrumental “Overtüre: Quintessanz” numa mistura de guitarras arrastadas com um pesado piano a debitar notas graves e fúnebres. De notar o papel principal do piano a guiar todo este tema. Segue-se o primeiro capítulo com a também instrumental “Prolog: Ignis” enquanto que no subsequente “Flammenflat” é que se percebem as verdadeiras ambições dos Antyra. Com um arranque rápido de guitarras seguidos de arranjos acústicos a retornarem a sonoridades típicas do Power metal misturados com imensos guturais, os Antyra mostram que também se sabem aventurar por terras do Death Metal. Músicas longas, complexas, negras e desafiantes são uma constante ao longo deste álbum o que nos obriga a várias audições para o conseguir compreender e absorver na sua totalidade. Mas todas as grandes obras são assim! O que nos fascina nos Antyra é, por um lado, a sua ambição tanto a nível lírico e musical bem como toda a ousadia em criar um álbum conceptual, algo que por vezes é difícil de convencer e vender. “Prolog: Aqua” arranca com uma combinação hipnótica de bateria e teclados que nos faz viajar por navios, oceanos e tempestades. A guitarra depois junta-se para criar o prólogo mais bonito de todo este álbum. “Von höchsten Spähren” é uma faixa bem rápida com belos arranjos vocais, em que os Antyra exploram mais uma vez o seu lado mais melódico fazendo lembrar uns Therion dos tempos do “Gothic Khabbalah” ou “Lemuria/Sirius B”. Os solos abundam no álbum mostrando toda a perícia de todos os executantes da banda, uma vez que todos brilham numa demonstração constante de inteligência musical. “Antyra”, o tema homónimo, e o único cantado em Inglês, começa numa ferocidade típica do Speed Metal mas o quarteto cedo nos surpreende com aquela multitude de estilos que tão bem conseguem juntar. “Hinab In Den Maelström” é uma faixa feroz de Death metal mais melódico mas nem por isso menos ousada. O tema final “Mente Captus Es!” é um longo exercício de equilíbrio entre o metal mais directo dos Antyra e a sua vontade de juntar sempre mais à sua música. Um excelente álbum de estreia que nos deixa a indagar quais serão os próximos passos desta banda. [9/10] EDUARDO ROCHA

KING DIAM O N D «Songs For The Dead Live» (Metal Blade Records) Há que dividir este novo trabalho ao vivo de King Diamond em duas partes. Por um lado, há o álbum ao vivo, disponível em duplo CD, e pelo outro, há o espectáculo ao vivo, disponível em duplo DVD ou Bluray. Relativamente ao álbum ao vivo, não há muito para dizer. Não constitui novidade pois já fomos brindados no passado com dois destes álbuns em 1991 e 2004. O trigger para este “ao vivo” foi a relativa recente tournée dos 30 anos do álbum «Abigail», onde King e companhia o tocaram na integra. O som e a performance de King Diamond é do melhor que já se ouviu, revelando um artista na plenitude das suas capacidades, conseguindo que esta performance ao vivo esteja ao nível – senão superior – dos álbuns de estúdio, o que no mundo dos álbuns ao vivo é o melhor cumprimento que se pode dar, pois nem sempre esta máxima é verdade. A verdadeira novidade aqui é mesmo o lançamento de um DVD/BLURAY, o que é uma estreia, uma grande novidade, aguardada há anos! Tirando o DVD extra da edição dos 25 anos de «Abigal», com um concerto gravado em 1986, nunca houve até hoje nada oficial de King Diamond – Eu tenho um DVD que fiz há uns anos com os vídeos do YouTube em que tocaram os membros icónicos da banda. O espectáculo é sublime e podemos ver a performance de King na sua plenitude. O layout do palco é o clássico, com as escadas e candelabros e toda a iconografia satânica, e todo o concerto é pautado por uma grande teatralidade, em especial durante a parte do «Abigail», que é meio concerto. A minha classificação é para o show ao vivo. Uma coisa é certa, King Diamond parece ser como o vinho do Porto: quanto mais velho, melhor parece ser a performance da sua voz. Eu, é sempre a mesma coisa, passa-se meses sem ouvir King Diamond, e quando por qualquer razão volto a ouvir, tenho sempre a mesma sensação de espectacularidade e brilhantismo deste artista ímpar do Heavy Metal. Isto é mesmo muito bom, hoje, tal como o foi há 30 anos atrás. King Diamond é imortal! [10/10] CARLOS FILIPE

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CRITICA VERSUS DREAM THE AT E R «The Distance Over Time» (InsideOut Music) Bem… só me apraz dizer: Até que enfim! Após «Black Clouds & Silver Linings» que os Dream Theater não lançavam um álbum que me surpreendesse. Coincidência, ou não, este meu distanciar da banda coincidiu com a saída de Portnoy ou se preferirem a entrada de Mangini. Não estando em causa as capacidades técnicas/musicais de cada um, o facto é que os álbuns anteriores a este deixaram muito a desejar em termos de produção de bateria e já agora, ao facto de, convenhamos fazerem “mais do mesmo”. «The Distance Over Time» marca o primeiro álbum da banda numa nova editora - InsideOut Music – e vejo-o de uma forma relativamente simples: a música despida de complexidades. Para os Dream Theater fazerem um grande álbum não é necessário um quase constate descarregar de notas, escalas e tempos complexos. É um regressar às origens onde facilmente surgem reminiscências dos anos 90 de álbuns como «Images and Words» ou «Metropolis». O resultado é música que respira e flui com muita naturalidade, mais orgânica e não tão mecanizada. Dez temas, sendo um de Bonus, dá pouco mais de uma hora de música. A génese de «The Distance Over Time» e a razão de ser um álbum…. Vá… diferente, está muito na forma em como foi gravado, resultado de um isolamento da banda. O disco arranca com três faixas pesadas, cada uma à sua maneira: Se “Untethered Angel”, um dos temas mais pesados do álbum, onde o tão famigerado Hammond X5 se faz ouvir, na típica “batalha” órgão/guitarra; “Paralysed” é um pouco mais pausado mas cheio de Groove, acabando este terço do álbum com “Fall Into The Light”, um tema típico de Dream Theater, técnica, peso, “batalhas” de solos para logo a seguir… deambularmos em “Barstool Warrior”, um tema algo intimista e cheio de melodia . “A calma antes da tempestade” e “Room 137” é como uma assombração enlouquecedora - e como curiosidade marca a primeira vez que Mangini contribui nas letras. Será que contribuiu, também, na sonoridade e produção da bateria? O segundo terço do álbum termina com um dos temas mais fortes do álbum: “At Wit’s End”, que tal como “Fall Into the Light” define o que são os Dream Theater. Pelo meio uma faixa “normal”: “S2N”, algo que fica ali entre os temas mais melódicos e introspectivos e as faixas mais pesadas, com a parte mais interessante a ser o solo a três. Para o fim ficou a balada, “Out of Reach” que mais uma vez demonstra que não são precisas muitas notas para sacar umas melodias e solos do catano! O álbum termina com o épico “A Pale Blue Dot” que tem como base a reflexão de Carl Sagan sobre a humanidade – exacto, “A Pale Blue Dot” – Um ponto pálido azul refere-se ao planeta Terra. Se calhar para melhor se entender «The Distance Over Time» deveria ser feita a uma leitura atenta ao “como”, “quando” e “porquê”. Para os mais ávidos fãs de notas, técnicas, escalas, contratempos, solos e mais solos e breaks de bateria este poderá não ser o álbum certo dos Dream Theater. Para quem apreciar e pretenda descobrir uma banda despida de muita complexidade mas munida de bastante melodia, musicalidade e coesão aqui está um dos melhores álbuns do ano. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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CRITICA VERSUS

AB S TR A C T VOID

ALLEGAEON

AMARANTHE

«Back To Reality» (Avantgarde Music)

«Apoptosis» (Metal Blade Records)

«Helix» (Spinefarm Records)

Ouvir Abstract Void invadiu-me de nostalgia de uma época que não vivi. As inspirações a sons electrónicos fantasmagóricos/frios/sintéticos/ retro-futuristas de umas décadas atrás tornamse tão sobre-aquecidas pela forma que é espalhada neste trabalho de misturas de um tão grande sentimento de perda de inspiração. Saltam-me à memória os sons do jogo “Wrong Number” ou da série “Stranger Things”. Não conheço a banda, não sei de onde vêem, quem são ou o que pretendem. Não fiz o meu trabalho de casa desta vez e não sei nada sem ser o som deles, que ouvi vezes sem conta nestes últimos dias frios, invernais, impessoais, de consumismo extremo. Sinto que fui convidado a assistir a um momento íntimo de alguém que não conheço, no seu apartamento, na sua sala de estar. No entanto sinto que conheço essa pessoa de algum lado, pela familiaridade que me induz este som. Os longos momentos instrumentais possuem melodias ora nostálgicas ora mais felizes ora mesmo tristes; estas são entrecortados com cenas de vozes distantes e incompreensíveis/ agressivas e seguidas de sintetizadores que dificilmente seria de esperar na sequência e que criam momentos únicos, originais. São a prova que o Metal não tem fim e pode ser aplicado de várias formas sem desnaturar (muito) o que foi a sua razão de ser aquando da sua criação: controvérsia. [8/10] ADRIANO GODINHO

Depois duma estreia auspiciosa em 2010, os Allegaeon progrediram a um ritmo impressionante, tornando-se numa das bandas mais apetecíveis da actualidade no panorama do death metal técnico e melódico. «Proponent for Sentience» fez furor em 2016 e agora este quinto registo de originais promete sucesso semelhante. A abertura, “Parthenogenesis”, e o tema seguinte, “Interphase//meiosis”, mostram desde logo como a fasquia da qualidade está elevada, com Greg Burgess e Michael Stancel a debitar uma torrente incessante de rodopios melódicos e acrobacias alucinantes nas seis cordas, executadas sobre uma muralha rítmica dilacerante, mas diabolicamente criativa. É impossível ficar quieto! O novo baixista Brandon Michael é claramente um virtuoso do low-end e evidencia-se aqui como uma preciosa adição à banda norte-americana. Tomem nota dos efeitos brutais que ele saca em “Extremophiles (B)”. “Exothermic chemical combustion” é outra faixa incontornável, muito por causa do refrão infeccioso e do trabalho fenomenal das guitarras. Mais uma vez, a simbiose perfeita entre o virtuosismo delicado e o peso esmagador. Neste disco a banda abre-se um pouco mais a novas ideias, apresentando em “Tsunami and submergence” uma experiência algo diferente, ainda mais proggy, onde domina o registo vocal limpo, e depois, em “Colors of the currents”, um aprimorado instrumental acústico executado por Burguess em dueto com a guitarrista norueguesa Christina Sandsengen. «Apoptosis» tem tudo para incendiar os mosh pits por esse mundo fora mas é, simultaneamente, uma experiência sensorial muito rica e um disco para quem gosta de death metal com musicalidade. [8/10] ERNESTO MARTINS

Novo disco para o sexteto nórdico e que marca a estreia do novo vocalista Nils Molin (Dynazty) no lugar de Jake E.. «Helix» é um disco de Death Metal melódico que se destaca na diversidade vocal e na forma como as três vozes se incorporam num som com peso e groove poderoso, que tanto bebe na poção de uns Arch Enemy como, em alguns momentos, nos fazem lembrar todas aquelas bandas dos anos 00. Com uma produção de grande nível, «Hélix» é um disco feito de um «azeite» de muito boa qualidade e onde se percebe a evolução da banda. Com refrões orelhudos, um bom uso da electrónica e boas vozes «Helix» é um disco que se ouve muito bem e que traz uns Amaranthe cada vez melhores na sua fórmula e nas suas ideias, o que faz com que nos agarremos a esta «frescura» que a banda traz a um género saturado e (cada vez mais) com menos ideias. Uma belo «rebuçado»! [8/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

B E S TA

A NNE KE VA N GIERSBERGEN

AZUSA

«Symphonized»

«Heavy Yoke» (Indie Recordings)

«Eterno Rancor» (Lifeforce Records)

Este é o disco de estreia do projecto que liga Liam Wilson e David Husvik (ex-The Dillinger Escape Plan) a Christen Espevoll (Extol) e Eleni Zafiriadou (Sea + Air). Apresentações feitas e antes que se chame a esta banda um supergrupo, deixamos já, bem claro, duas situações a) estão cá todos os elementos que tornaram os músicos reconhecidos e b) esta é uma banda com personalidade bem vincada e que se desliga com esse mesmo passado. Para além de alguma esquizofrenia já habitual, os Azusa conseguem, muito por culpa da enorme vocalista, atingir um estranho Nirvana (não é uma referência à banda). Com um punhado de temas muito bem intercalados entre si, recebemos toda a magnitude sentimental que um só ser humano pode ter quando embarca nesta viagem que é a vida. Este é um disco em tons laranja. Por aqui há toda uma inconstante a cada tema e que lhe confere uma estranha áurea, pode parecer uma hipérbole, mas que nos assalta num turbilhão de emoções, todas elas fortes. Esqueçam tudo o que já ouviram e deixemse levar por um disco que é uma agradável surpresa. [8/10] NUNO LOPES

Este texto inicia-se com uma previsão: quando no final de 2019 se elaborarem as habituais listas dos discos nacionais do ano, «Eterno Rancor» não poderá nem deverá faltar. É certo que ainda a procissão vai no adro, e são esperados, felizmente, bons lançamentos, mas não restam dúvidas de que a nova entrega dos Besta é um petardo grind/crust de categoria superior. Praticamente sem momentos para encher chouriços, a agressão sonora que inicia com “Diamorte” e termina com a cover para “The Regulator” (dos Bad Brains) apela constante e furiosamente ao headbanging, não oferecendo descanso mesmo nos momentos mais compassados, como no final de “Porco Azul”. Com uma produção bem superior à da colectânea «Filhos do Grind», de 2016, «Eterno Rancor» prova que esta Besta está num outro nível, liderada pela performance vocal de Paulo Rui, que encarna aqui o seu espírito “Barney Greenway” de uma forma irrepreensível. Os Napalm Death, de resto, são uma comparação óbvia e inevitável (ouça-se “Neoselvagens”, por exemplo), mas não se pense que os Besta se deixam reduzir à mera homenagem, pois há muito mais aqui para além disso. «Eterno Rancor» é uma prova de vitalidade dentro do nicho grind e reveladora de que, a cada novo lançamento, os Besta, mais do que bestas, estão a ficar mesmo bestiais. Absolutamente recomendado para os fãs das sonoridades mais extremas… e a todos os outros também! [9/10] HELDER MENDES

(InsideOut Music) A diva holandesa Anneke Van Giersbergen, que ainda recentemente lançou as sementes do novo projecto VUUR, volta aos escaparates com «Symphonized», uma colectânea de temas apresentados ao vivo que passa por vários momentos da sua carreira (VUUR, The Gathering, The Gentle Storm, Anneke em nome próprio), além de introduzir uma ou outra surpresa. Com os arranjos proporcionados pela Orquestra Residente de Haia a juntaremse à voz melíflua de Anneke, parecem estar reunidas as condições para um bom disco de rock/metal sinfónico e, fazendo o balanço, é isso que sucede. Anneke, já se sabe, dispensa apresentações: dona de um registo vocal encantador, versátil e muito, muito próprio (muitas vezes imitada, nunca igualada), foi figura de proa na disseminação do chamado “female fronted metal” e é, ainda hoje, uma referência incontornável. Este disco tornase indispensável na colecção dos fãs de Anneke, mas para os demais talvez sofra de desequilíbrio, já que nem todas as faixas estão no mesmo patamar: o destaque tem de ir para as três que gravou com os The Gathering (“Amity”, “Travel”, “Forgotten”), não esquecendo a versão de “When I Am Laid In Earth” que a juntou aos Árstídir, originalmente uma ária do compositor Henry Purcell para a ópera Dido e Eneias. Os restantes temas resumem aquilo que tem sido Anneke pósThe Gathering: alguns momentos bons, outros nem por isso. Seja como for, é um disco recomendável, mesmo para quem não esteja a par da carreira da vocalista holandesa. E tem esse must que é ouvir Anneke cantar, em “Travel”, “You must have loved / The colour of these violins” e ouvir mesmo violinos à séria. [7.5/10] HELDER MENDES

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CRITICA VERSUS

BL UR R T HROWER

D WA R R O WD E L F

E IN H E R J E R

«Les Avatars du Vide»

«Of Dying Lights»

«Norrøne Spor»

(LADLO Productions)

(Flowing Downward)

(Indie Recordings)

Os Blurr Thrower apresentam-nos em «Les Avatars du Vide» uma estreia auspiciosa e ambiciosa. Este registo é também um pouco peculiar uma vez que conta apenas com duas faixas mas apresenta uma duração de mais de 35 minutos. «Les Avatars du Vide» apresentanos uma sonoridade gélida, angustiante e, ao mesmo tempo, libertadora. Libertadora porque nos insta a cuspir cá para fora toda aquela raiva, vazio e negritude que por vezes nos assolam. Inspirado profundamente no chamado Cascadian Black Metal e em bandas como Weakling ou Fell Voices, estes Franceses ousam tamém explorar terrenos auspiciosos com uma diversidade difícil de alcançar num registo de estreia. Por exemplo, “Par-delà les aubes” conta com 17 minutos de variedade e ousadia em que a banda explora registos arrastados bem como andamentos bem mais colados ao black-metal, tudo complementado com arranjos melódicos bastante inteligentes. O que também nos impressiona é a facilidade com que os Blurr Thrower fazem num tema aquilo que muitas bandas tentam fazer em álbuns inteiros e por vezes não conseguem. A produção é crua e complementa perfeitamente a atmosfera que a banda pretende transmitir com um som cru daquele que extravasa os nossos sentimentos mais negros cá para fora de uma forma catártica. Apontamentos melódicos de guitarras andam lado a lado com aquele som sujo e negro que os Blurr Thrower tão bem sabem explorar. “Silence” é uma faixa abrasiva, rápida, em que a banda explora um registo mais directo e agressivo. Há algumas colagens óbvias ao som típico do Black Metal mas a banda também se sabe distanciar e explorar paisagens mais niilistas e opressivas. A segunda metade de “Silence” é um belo exemplo disso mesmo. Um excelente registo de estreia que nos deixa ansiosos pelos capítulos que se seguem. [7/10] EDUARDO ROCHA

Tom O’Dell é, sem dúvida, um pupilo exemplar da escola Summoning. Neste segundo álbum o multi-instrumentista e único membro dos Dwarrowdelf conseguiu registar a essência do estilo singular de black metal da dupla austríaca Silenius/Protector, em composições épicas conduzidas fundamentalmente por sintetizadores, usando melodias lentas de grande beleza com aquele espírito característico entre o naif e o majestoso. O’Dell mostra mesmo um excelente sentido melódico, não só com os teclados mas também com as guitarras, edificando os sete temas sobre estruturas aparentemente simples, mas que se revelam de extrema eficácia no resultado final. O registo vocal é, contudo, o aspecto menos positivo a destacar. Em lugar de manter o registo maléfico de black metal que usou no áspero «The Sons of Fëanor», o álbum de apresentação de 2018, o músico britânico optou aqui por descrever as suas visões da Terra Média de J.R.R. Tolkien, usando o seu tom natural, aveludado mas pouco competente, o que parece impedir a música de realizar todo o impacto sónico de que é capaz. E esta é uma suspeita que acaba por ser confirmada na última faixa, “Home of the Dead”, uma magnifica versão de “Land of the dead” dos Summoning, onde o vocalista convidado Jack Reynolds (dos Asira e Bykürius) faz magia ao aplicar com convicção a sua laringe diabólica. Apesar do pouco que traz de verdadeiramente novo (exceptuando o aspecto da voz limpa) «Of Dying Lights» constitui, ainda assim, uma evolução artística notável em relação ao trabalho anterior, sendo um disco que pode suscitar interesse em fãs do universo Summoning. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

Depois de dois discos nos espaço de seis anos, a grande dúvida seria perceber se os noruegueses conseguiam fazer um terceiro disco de dimensões grandiosas, em mais um patamar subido numa escada que nos guia até Valhalla. A resposta é positiva e os Einherjer voltam a surpreende com um disco que, não sendo um olhar para o passado, tem lá as suas raízes, porém, os Einherjer não pararam no tempo e mostram aqui estar à frente de um Viking Metal que tem, aos poucos, perdido a sua identidade. Talvez por, ao contrário dos anteriores, a banda ter composto o disco sentados à mesma mesa, este parece ser um disco mais coeso e, talvez, com um grau mais elevado de assertividade. Talvez mais Rock que Viking, mas com a mesma imagem de luta, guerra, frio e gelo, somos levados para uma qualquer fiorde. Ele são temas como “Fra konge te narr” ou, principalmente, na irresistível “Mot vest” que são, por agora, meras gotículas de sangue ardente que queima o frio como “The blood song”. Sem comprometer as últimas décadas, os Einherjer são hoje, nesta segunda vida da sua existência um produto do seu tempo passado. Este é um disco que respira o futuro e é de uma consistência tremenda e sem cair em clichés demasiado óbvios. «norrone Spor», tal como os Eiherjer, recomendam-se. [8.5/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

E QU A L EFT

E U C L ID E A N

FA R U L N

«We Defy»

«The Black Hole of The Soul»

(Raging Planet / Raising Legends)

«Quod Erat Faciendum» (Division Records)

Fica desde já o aviso: «We Defy» é um disco do camandro! É um autêntico calhau no marasmo que, por vezes, se torna a cena underground portuguesa! Este é, para já, um dos lançamentos do ano (e ainda só estamos em Fevereiro!). Em «We Defy» os portuenses apresentam um trabalho solidamente construído. Com a entrada de André Matos para os Equaleft a banda ganhou uma maior diversidade musical e tem, por estes dias, uma das melhores secções rítmicas deste cantinho à beira-mar plantado, onde também Marco Duarte assume um papel preponderante. Depois do sucesso de «Adapt & Survive» (2014) este «We Defy» é (mais) uma prova do talento desta banda que vai buscar as suas influências a The Dillinger Escape Plan, Meshuggah mas onde há espaço para muitos Metais diferentes. Miguel Inglês tem aqui um dos seus melhores desempenhos e é isso que se percebe em faixas como “Before sunrise”, desde logo a abrir, mas principalmente em “Mindset” (um dos temas mais intensos), “Endless” (no extremo oposto) ou “Strive” (simplesmente electrizante a catchy). Se ainda existirem dúvidas do que os Equaleft são hoje, basta escutar o single “Overcoming” para se perceber o que é a banda em 2019. Destaque, ainda, para a recuperação de “Uncover the masks”, do EP de 2010 e que conta com a participação de José Pedro Gonçalinho num saxofone esquizofrénico. Sendo este um disco do camandro resta-nos a audição atenta e em doses generosas de uma das melhores bandas nacionais da actualidade. [9/10] NUNO LOPES

Os acordes desolados do instrumental de abertura “Increatus” e a atmosfera depressivamente bem sucedida da faixa seguinte, “Numbers hold sovereignty”, fornecem os primeiros sinais do talento que este colectivo suiço parece possuir para criar, de forma natural, um tipo de post-doom esteticamente próximo de uns Neurosis ou Cult of Luna. As paisagens sónicas em toada de marcha fúnebre sucedem-se com o belo instrumental “Superstitio”, pautado por sequências rítmicas hipnóticas, onde cada nota é saboreada ao detalhe, logo seguido por “As he reached the divine yearning”, um longo numero em ritmo mais vincado, com passagens muito variadas, marcado pela performance vocal emotiva e de grande entrega do guitarrista Naser Ardelean. «Quod Erat Faciendum» (expressão latina que se traduz por “como queríamos fazer” - menos popular que a famosa “Quod Erat Demonstrandum” - Q.E.D. - das matemáticas) vê agora a sua primeira edição física, depois de ter sido gravado, entre 2015 e 2017, na sala de ensaios de banda de Neuchatel e promovido em plataformas digitais. É um trabalho de estreia lírica e musicalmente ambicioso, feito de longos temas (três passam os 12’) que se tornam, particularmente na segunda metade do disco, verdadeiros testes de endurance para o ouvinte nestes tempos de consumo imediato. Não obstante, se gostam como eu de chafurdar na miséria sónica do doom, então esta poderá ser uma proposta à vossa medida. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

(Battlesk’rs Productions/Solstice Promotion)

Depois de duas demos que deram a conhecer esta one man band de Btsm eis que surge o primeiro EP oficial do projecto lançado pela francesa Battlesk’rs Productions. Ora bem, o que temos aqui é um conjunto de temas Black Metal, mas não daquele cheio de melodias e recheado de refrões orelhudos, nada disso. Ao longo destes quatro temas o músico parece apostado em recriar os ambientes oldschool que fizeram deste género um dos mais terríficos de sempre. Não julguem que temos aqui um grande lançamento, no entanto, esta quase mão cheia de temas, mostra um músico que conhece bem as regras de um estilo que, ao longo dos anos, se veio a transformar em algo maior que a morte e ganhou uma vida própria. Ao longo dos pouco mais de 20 minutos de audição vamos lembrando nomes de outrora, o que quer dizer que a originalidade não vive aqui. Contudo quando falamos em Black Metal falamos em algo mais do que música; falamos de um estado de espírito, uma dor na alma e, nesse sentido, este «The Black Hole of The Soul» cumpre o seu propósito, mas pode não chegar para a mais exigente alma negra. [6/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

H E AU ME MORTAL

PEN S É E S N O C T U R N E S

«Solstices»

«Grand Guignol Orchestra»

(LADLO Productions)

(LADLO Productions)

Os Heaume Mortal são um projecto pessoal de Guillaume Mortal, conhecido nestas andanças através de bandas como Eibon e Cowards. Guillaume juntou ao seu projecto Jordan Bonnet, responsável pelos ritmos e Julien Henri encarregado das fantasmagóricas vozes. O primeiro registro deste trio de Franceses dá-se na forma de “Solstices” que se pode descrever como um registro moderno de black Metal que bebe influências de Doom e até mesmo de Sludge. O álbum consiste em 6 longos temas, um dos quais é uma cover de Burzum, totalizando quase uma hora de duração. O longo “Yesteryears” abre as hostilidades e começa com um daqueles riffs arrastados que nos arrebatem por completo. A voz repleta de agonia e ódio é a perfeita catarse para esta construção melódica sendo que os Heaume também se aventuram por passagens mais requintadas em que deixam o seu lado mais melódico e introspectivo vir ao de cima. Blastbeats à mistura num tema bastante ousado em que os Heaume mostram saber explorar paisagens sonoras avassaladoras. O tema fecha com berros constantes que nos instam a cuspir tudo cá para fora. “South of No North” é o tema mais curto do álbum mas nem por isso menos brutal uma vez que nos esmurra com um daqueles riffs brilhantes. “Oldborn” volta ao registro do tema inicial num tom mais arrastado em que a voz explora efeitos hipnóticos. Os Heaume são também mestres de riffs pesadões e brutais! A produção é um tanto ou quanto crua mas isso apenas ajuda à atmosfera que o álbum pretende transmitir. Todos os temas têm aquele requinte de melancolia enquanto que bebem influências de paisagens mais modernas que recentemente têm sido algo exploradas no território do black metal. A cover de Burzum na forma de “Erblicket die Tochter des Firmament” que nos dá uma interessante interpretação do original. Tongueless (part III) é um outro longo tema de mais de 12 minutos (!!!) e serve de mais um experimentação para os Heaume Mortal com coros e outros elementos que tão bem engrandecem a atmosfera opressiva e negra deste álbum. “Mestreguiral” fecha este registro como um instrumental que nos dá aquele relaxamento necessário depois de uma coça avassaladora. Um

A fronteira que separa a genialidade criativa da loucura improdutiva é, já se sabe, muito ténue, e quando falamos de Metal vanguardista há sempre que ter essas duas margens bem presentes. «Grand Guignol Orchestra», o novo lançamento dos franceses Pensées Nocturnes (a one-man band de Vaerohn), mostra-nos que, mais do que próximas, ambas as margens se confundem, lançando o ouvinte num estranho transe e levando-o a pensar “mas que raio está a acontecer aqui?!” E na verdade “estranho” é o qualificativo mais adequado ao novo trabalho dos Pensées Nocturnes, e isto não é para ser tomado no seu eventual aspecto positivo. Não, este estranhamento nem sempre é agradável, ao contrário do que ocorre nos grandes discos de metal vanguardista: dá a sensação de que os Pensées Nocturnes perderam alguma inspiração e em 2019 são mais caricatura do que outra coisa. Inspirado no Teatro do Grand Guignol, casa famosa pelas suas exibições de natureza incomum e extrema, «Grand Guignol Orchestra» é assim como que um cozinhado temperado com momentos alegres (a inspiração teatral e circense a isso ajuda) e outros menos. Por isso até faz algum sentido a homenagem que se presta ao famoso tema “Je cherche après Titine” incluído em Tempos Modernos: tal como a personagem chapliniana, umas vezes «Grand Guignol Orchestra» é agradável e bem disposto, outras é apenas trágico. Um disco com os seus momentos, portanto, mas um tanto desequilibrado (sim, tem duplo sentido esta palavra) no seu todo. [6.5/10] HELDER MENDES

excelente álbum!

[7/10] EDUARDO ROCHA

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P H L E B O T O M IZ E D «Deformation of Humanity» (Hammerheart Records) Depois de terem suspendido toda a actividade em 1997, logo após o lançamento do álbum «Skycontact», os Phlebotomized voltaram ao activo em 2013 com o guitarrista e mentor Tom Palms como único resistente da formação original, sendo este «Deformation of Humanity» o primeiro produto desta segunda encarnação. Antes de mais há que dizer que longe vão os tempos do vanguardismo esquizofrénico reminiscente dos inigualáveis Pan.Thy.Monium ou de «Nespithe» dos Demilich, patente no singular «Imense Intense Suspense» (1994), o disco de estreia que colocou esta formação holandesa no mapa das promessas mais excitantes da década de 90. No registo em análise (disponível desde dezembro de 2018) a composição continua a desafiar limites de género, mantendo a sofisticação presente nos discos anteriores. Mas claramente o foco estético é aqui mais limitado, desenvolvendose em torno de um death metal gótico, com teclados omnipresentes e frequentemente na boca de cena. O tema de abertura “Chambre ardente” fornece desde logo uma ideia muito fiel do ecletismo e da considerável amplitude de moods e intensidades presentes no resto do disco, que vão desde a agressividade brutal de “Eyes on the prize”, passando pela atmosfera doomy de “Proclamation of a terrified “breed”” até à desconcertante sequência de teclados vagamente pop do instrumental “Desideratum”. Apesar da abordagem torcida, «Deformation of Humanity» tem definitivamente os seus encantos e a excelente produção que o acompanha é só mais um aspecto que faz dele um disco recomendável. [7.5/10] ERNESTO MARTINS


CRITICA VERSUS

P S Y C R O PTIC

SACROSANCT

SERRABULHO

«As The Kingdom Drowns» (Prosthetic Records)

«Truth Is - What Is» (Vic Records)

«Porntugal» (Rotten Roll Rex)

Só há bem pouco tempo descobri os australianos Psycroptic, isto através de um concerto que a banda deu em Portugal com os Dying Fetus e Beyond Creation, sendo que, nessa altura, as indicações da banda foram as melhores. No activo há duas décadas, no curriculum desta banda contam-se já seis discos de originais e um sem número de digressões com bandas como Cannibal Corpse, Deicide ou Decapitaded, entre outros. Neste novo registo o que temos é um conjunto de temas que assenta numa estrutura que se encontra num meio caminho entre um Thrash de Testament, com o nível de composição de uns Beyond Creation, e um teor vocal entre uns At The Gates e Obscura. Suficientemente diverso este disco traz uma banda que foge ao parâmetro de bandas do que se chama Death Metal Progressivo, pois, ao mesmo tempo que segue as regras do jogo apresenta uma frescura tórrida (bem visível pela capa) e que vai ao encontro das paisagens infernais da Terra dos Cangurus. Este é um disco furioso e quente, onde nada parece ter sido deixado ao acaso. Muito mais que um disco de um género este é um disco que penitência que, como eu, deixou fugir discos como «The Scepter of The Ancients» ou «Psycroptic». «As The Kingdom Drowns» é um grande disco e que promete não deixar de surpreender os mais curiosos e, claro, os mais acérrimos seguidores. [8.5/10] NUNO LOPES

No mesmo mês em que regressaram (depois de uma paragem de 23 anos) às edições discográficas com o excelente «Necropolis» (lançado via Rock of Angels Records), os holandeses Sacrosanct viram reeditado o seu lendário álbum de estreia, «Truth Is – What Is», publicado originalmente em 1990. Na altura, a banda liderada pelo ex-Pestilence Randy Meinhard (o único que permanece hoje nos Sacrosanct), fazia um infeccioso thrash com laivos progressivos, que ficou registado para a posteridade neste primeiro álbum e no seguinte, o mais negro e colossal «Recesses for the Depraved» (1991). A sofisticação de «Truth Is – What Is» testemunha bem o esforço de afirmação de uma banda – numa época em que o thrash perdia popularidade para o death metal – bem como a ambição algo desmesurada de um Meinhard que chegou a confessar, mais tarde, que o nível técnico das composições desafiava, por vezes, a destreza de músicos ainda pouco experientes. O certo é que volvidos todos estes anos o disco continua a ser um festim para ouvidos mais exigentes, destacando-se pelos riffs criativos de Meinhard e de Michael Cerrone, e também pela prestação vocal de Mike Lucarelli, que apesar do estilo crossover, reminiscente de um Kurt Brecht (D.R.I.), assenta perfeitamente no contexto. Inteiramente remasterizada, esta edição vem com os quatro temas da makete «The Die is Cast» (o que acaba por não ser grande bónus dado que três deles já aparecem no alinhamento do disco), que conta com a prestação de Marco Foddis, outro membro seminal dos Pestilence, dirigindose principalmente aos indefectíveis do velho thrash metal, quanto mais não seja por motivos históricos. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

Olhar para o terceiro disco deste quarteto como um disco Grind é demasiado redutor. Isto porque o quarteto, oriundo de Santa Marta de Penaguião, não começa nem termina dessa forma, aliás, até podemos mesmo dizer que a principal influência destes «campónios» é Fantômas. «Porntugal» consegue ser muita coisa numa só, no entanto, humor e mirandês são duas coisas que conjugam muito bem, ainda para mais quando o bom gosto impera. Ouça-se “Grão-de-bico”, “BBC Wild life” ou, a genial “Dingleberry ice cream”. Os Serrabulho são a alegria de uma vida no campo feita de muitas delícias e peripécias de um qualquer Portugal. Talvez este seja o disco mais experimental de uma banda que, nisto que é o Grind, tem sabido evoluir e criar uma identidade que é sua, num Portugal que é nosso. Liricamente construído em três línguas (sim, os Serrabulho falam mirandês), o que temos é um disco muito bom e que não se esgota, de todo à primeira escuta. É intenso, é divertido, é Grind...é simples. A vida dos Serrabulho é uma festa e nós agradecemos. Siga a dança! [8.5/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

SKÁLD «Vikings Chant» (Decca Records/Solstice Promotion) Os Skáld são um ambicioso projecto de folk nórdico, cuja maior curiosidade reside no facto de as suas raízes estarem em França, e não na Escandinávia. Pode parecer no mínimo bizarro – ou então consistir num caso da, hoje em dia, muito em voga expressão “apropriação cultural” – ter gauleses a prestar homenagem às sonoridades e mitologia do Norte da Europa, mas bem vistas as coisas, o que é a cultura senão um património que pode ser comunicado e absorvido por qualquer pessoa, onde quer que esteja? Pondo estas considerações de lado, debrucemo-nos sobre a estreia dos Skáld: instrumentalmente, as composições vagueiam entre o que normalmente se espera ouvir na folk (uso de instrumentos tradicionais, etc.), como em “Krákumál”, e o dark ambient/neoclassical (“Gleipnir”, por exemplo). Já a voz de Justine Galmiche possui textura e riqueza q.b. para colar as diferentes, embora próximas, vertentes da sonoridade dos Skáld, sendo um dos destaques em «Vikings Chant». Outro destaque é a sensação de autenticidade que passa para o ouvinte, sensação que sem dúvida é ajudada pelo conhecimento que os integrantes têm da cultura escandinava, incluindo a língua. Refira-se, por último, a versão que executam para “Jóga” da islandesa Bjork, única faixa cantada em inglês e que termina «Vikings Chant» em nota alta. Recomendável para fãs de Wardruna e para apreciadores da mitologia nórdica pagã. [7.5/10] HELDER MENDES

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S O N O F C A IN

SULPHUR AEON

«Closer To The Edge»

«The Scythe of Cosmic Chaos»

(Half Beast Records)

(Ván Records)

Depois de um muito bem recebido EP, datado de 2016, a dupla composta por Alexandre Mota e Hugo Conim, duas das figuras mais proeminentes no nosso underground, cujo talento pode ser escutado em bandas como Decayed, Filii Nigrantium Infernalium, Dawnrider, entre muitos outros, está de regresso com aquele que é o seu primeiro disco no formato longa-duração. A maior surpresa deste disco acaba mesmo por ser a distância que o mesmo tem de tudo o que os músicos já fizeram, sendo que o resultado é um grande disco de Rock, com tudo o que temos direito. Com um total de duas mãos cheias de malhas, a dupla consegue trazer uma sonoridade refrescante, mantendo-se fiel ao que são as leis do género, mas que ganham nova vida num disco com muita atitude e raça, parecendo ser feito para ser desbravado num carro oldschool, e onde fumo, poeira e óleo se misturam com as vicissitudes da vida. Há por aqui trabalho feito com muita consciência e, principalmente, com muita consistência, fruto, talvez, de uma vida dedicada às canções. Não deixando qualquer pormenor ao acaso, Alexandre Mota mostra-se um senhor vocalista, com um timbre que se afasta dos demais e que faz esquecer tudo o que o músico já fez (e faz), sendo aqui brilhantemente acompanhado por Hugo Conim. Mais do que ser um disco de Puro Rock, Stoner, Blues ou o que se lhes quiser chamar, este «Closer To The Edge» é um registo honesto e que traz à memória os grandes discos de Rock. Este é um disco para ser escutado em doses generosas e onde é impossível resistir a temas como “Born to fail”, “Like stone” ou “The old man”. [8/10] NUNO LOPES

Lançamento ainda de Dezembro passado, mas que merece aqui a justa referência, ou não se trate de um dos mais notáveis discos de 2018 no que toca às vertentes mais extremas e obscuras da música. Em concreto estamos a falar de death metal negro, de proporções épicas, feito de riffs portentosos, uma atmosfera arrebatadora com fortes influências de Behemoth e o sentido de grandiosidade dos Nile. Uma aspecto saliente neste último trabalho dos Sulphur Aeon é sem dúvida a performance vocal de M. (Martin Hellion), em particular as suas declamações litúrgicas em registo limpo, que conferem à música uma aura ainda mais misteriosa. As letras geniais, inteiramente inspiradas na imagética fantástica de H. P. Lovecraft, dão um corpo convincente a todo o drama sónico que se desenrola ao longo dos oito temas em oferta. “Cult of starry wisdom” e “Yuggothian spell” são os temas que melhor tiram partido destas verdadeiras invocações de forças ocultas. Este último inclui segmentos explosivos com blast beats e riffs em tremolo, mas fica na mente principalmente por causa da melodia de base de inspiração vagamente oriental. A qualidade das restantes faixas mantém-se em níveis igualmente generosos, e quem teve a oportunidade de ouvir «Gateway to the Antisphere» (o disco anterior, de 2015) notará que a composição melhorou graças à introdução de segmentos doomy entre as partes mais agressivas, riffs melódicos de grande inspiração e alguns refrães memoráveis. A produção de topo de que beneficiou enfatiza a densidade sónica colossal de «Scythe of Cosmic Chaos» sem nada subtrair ao detalhe da malha musical. Enfim, tudo o que é necessário para fazer babar qualquer fã de death metal!... [9.5/10] ERNESTO MARTINS


CRITICA VERSUS

E LE CTR IC MARY «Mother» (Listenable Records) Os australianos estão de regresso com aquele que é o seu quarto registo em formato de Longa Duração e onde se contam inúmeros lançamentos menores. Como a banda já nos habituou, o que temos aqui é um punhado de temas que transpiram Rock. Podemos mesmo dizer que o quinteto aprendeu com os melhores, só assim se justificam as melodias muito Zeppianas que encontram, pelo caminho, um saudoso Chris Cornell. «Mother» é um disco que, tal a simplicidade que apresenta, traz à memória os tempos em que o Rock era apenas um estado de espírito, mesmo que com muita poeira e, claro, sob um tórrido calor australiano. Poderíamos estar aqui a dizer que os Electric Mary são Grunge, são Metal, são isto ou aquilo, mas no fundo, isto é apenas Rock’n’Roll e, nesse sentido, os australianos apresentam um belo trabalho e de escuta fácil. [7.5/10]NUNO LOPES

S A D IS T

VÖÖDÖÖ

«Spellbound»

«Ashes»

(Scarlet Records)

(Indie Recordings)

Dispensando qualquer tipo de introdução para os italianos Sadist dado o culto que a banda vem construindo ao longo de uma carreira que leva já 29 anos (ainda que interrompidos entre 2001 e 2005), vamos focar-nos naquilo que é este novo e oitavo registo da banda. O que o quarteto nos traz aqui é um trabalho denso, baseado no macabro e na obscuridade, começando, desde logo na tenebrosa “39 Steps” que é um ponto de partida para uma viagem feita de horror e sinistralidade. Imaginemos os ambientes criados por John Carpenter transpostos para um Death Metal muito próprio onde se destacam, de forma evidente, as teclas de Tommy Talamanca, que conferem a «Spellbound» uma nuance de filme série Z num ambiente (quase) noir. Claro que, pelo meio, há a voz de Trevor Nadir, cuja rouquidão e timbre muito próprio, conferem uma aura (ainda) mais assustadora a um disco que tem, bem vincada a identidade e qualidade a que os italianos já nos habituaram. Um grande disco de uma banda que está acima de qualquer suspeita. [8.5/10] NUNO LOPES

O que nasceu primeiro, a música ou a tristeza? A resposta a esta questão é uma simples metáfora para tudo o que é o primeiro disco destes noruegueses. Não querendo encontrar uma resposta a esta questão, o que o quarteto encontra é um Rock que se funde com os Blues ou com o Rock mais digno de uns Leprous (face as devidas distâncias). No entanto, mais do que perceber de onde vem a música da banda, é importante absorver a mensagem, as questões impostas em “The Secret” ou “The Broken Cage”. Poderemos dizer que este é um som que vem da alma, que vem da vida, que vem do grito e do desespero. Há espaço para uma estranha sensualidade e vertigem que, graças a uma melodia intensa, se encerra em nós. Esta é uma estreia que revela uma banda atenta ao ser humano e às suas fragilidades e, por isso mesmo, criam um disco que, de tão humano, soa tão bem. Temos banda. [7.5/10] NUNO LOPES

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Heart of Buda A tinta na ponta dos dedos Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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Para esta edição da Versus estivemos à conversa com Ricardo Pires da Heart of Buda-Tattoo Shop. Claro que o motivo da conversa só poderia ter sido um: Tatuagens.

Antes de mais, obrigado pelo teu tempo a responder às questões da Versus Magazine. Esperamos poder colaborar durante muito tempo. Sendo assim e para abrir as hostilidades: Quem é o Ricardo Pires e como surgiu a HEART OF BUDA - TATTOO SHOP? Ricardo Pires - Olá eu sou o Ricardo Pires, tenho 41 anos e sou tatuador há 16 anos. Eu quando tive contacto com as tattoos trabalhava num bar no Bairro Alto e um cliente nosso apareceu lá com uma tattoo acabada de fazer pelo irmão que tinha começado a tatuar à pouco tempo. Não demorou muito até fazer a minha primeira tattoo, devo dizer que fiquei fascinado com todo o processo. Durante algum tempo as tattoos não me saíam da cabeça até recuperei um hábito que tinha em miúdo , que era desenhar , e por consequente arranjei maneira de experimentar tatuar num pedaço de pele de porco com a ajuda do tatuador que me tinha feito a primeira tattoo. Nesse dia decidi: VOU TATUAR

Vendi umas coisas e comprei o material necessário para me iniciar na Tatuagem mas rapidamente percebi de que sem ter quem me ensinasse iria ser difícil ultrapassar todas as dificuldades de um principiante. Com a ajuda de verdadeiros amigos, em especial um, consegui que me apresentassem a um tatuador e depois de um grande esforço lá consegui que ele me aceitasse como aprendiz. Depois de completar o aprendizado abri a minha primeira loja mas com a ajuda do destino viria a juntar-me novamente com o meu Mestre com quem mais tarde iria abrir uma loja, a Heart of Buda TattooShop . Em que ano é que começaste a fazer tatuagens? Eu comecei a fazer tattoos em 2003 Quando é que começaste a perceber que a tua vida poderia passar por ser um tatuador profissional? As tatuagens hoje em dia, podemos dizer que estão banalizadas, ou

seja, já se torna normal passarmos na rua e depararmo-nos com um estúdio de tattoos. Na altura em que comecei dizermos que tatuavamos como modo de vida nem sempre era aceite como uma profissão válida. Mas realmente o que é certo é que já na altura havia uma grande comunidade de apaixonados por esta arte e faziam todo o gosto em exibir as suas tatuagens. Durante toda a aprendizagem nunca deixei o trabalho que tinha mas a pouco e pouco comecei a ser procurado pelo meu trabalho, o amigo trazia o amigo e de repente tinha uma carteira de clientes considerável e que tornava viável o abraçar em pleno esta carreira. Onde é que aprendeste esta arte? Eu aprendi a tatuar em Portugal numa loja que hoje em dia já não existe. Mas tatuar significa uma permanente aprendizagem. Penso que já deverás ter participado em convenções. Se for o caso: -Já ganhaste alguns prémios? (Este

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facto será importante (ou vital) para se ter sucesso? Já participei em convenções tanto em Portugal como no estrangeiro e já fui premiado numa delas. É claro que um prémio é um reconhecimento pelo teu bom trabalho mas de todo acho importante e muito menos vital para se alcançar o sucesso. Sucesso esse que varia de pessoa para pessoa. Para mim, alcançar o sucesso significa ter um trabalho com boas referências para o público em geral e ser procurado para fazer a arte que gosto no estilo que mais gosto. -Quais são as tuas melhores memórias das convenções em que participaste? As convenções para mim servem para socializar com os meus pares e as melhores memórias que tenho são disso mesmo. Alguns de nós já nos conhecemos há muito tempo e quando as condições são propicias monta-se a festa que dá origem a histórias hilariantes e situações caricatas que ficam na memória de todos nós. Em suma, disparates atrás de disparates. Como é que descreves o teu estilo de trabalho? É sempre complicado analisarmos o nosso trabalho e dar-lhe um estilo, o que gosto mais de fazer é realismo mas realmente o que faço é uma interpretação de uma imagem real ao meu estilo. Pode não fazer sentido o que acabei de dizer mas não consigo designar um estilo para o meu trabalho, simplesmente tenho um estilo que gostaria de alcançar. O que é que te inspirou como artista? Quando me iniciei na tatuagem o que mais me inspirava era o facto de existirem muitos artistas tatuadores que faziam verdadeiras obras de arte na pele e isso para mim era intrigante. Eu que era um mero aprendiz, que mal sabia fazer uma linha direita ou pintar qualquer coisa de forma solida e consistente ficava curioso como é que se conseguia fazer aquele tipo

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de trabalho. Retratos por exemplo. Há algum aspecto (ou aspectos) em particular que te distingam dos demais tatuadores? Em particular não há nenhum mas de uma forma geral existem muitos aspectos que me distinguem de muitos tatuadores ou pseudo tatuadores/artistas que hoje em dia andam para aí. Assim de repente apenas me lembro que o que mais me distingue dos demais tatuadores é fazer um esforço diário para valorizar a nossa arte e não para banaliza-la como tantos fazem em busca de likes e prémios. Tens algum tatuador/artista que admires? Tens algum que te influencie? Hoje em dia é muito difícil ter um tatuador que verdadeiramente te influencie, somente porque é tão fácil ter acesso ao trabalho de tantos que na verdade acabamos por ser influenciados por vários. Admiro o trabalho de muitos mas posso enunciar dois que me influenciaram no inicio do meu percurso são eles de nome Robert Hernandez e Paul Booth Quais são os tipos de tatuagens que mais gostas de fazer? De todos os estilos de tatuagens que existem as que mais gosto são as realistas, desde os retratos a personagens ou cenas de filmes, de horror preferencialmente, mas o que eu gosto mesmo é de tatuar. Desde que o desenho seja harmonioso e que seja o mais indicado para a zona que se vai tatuar por mim é tudo válido. … e aquelas que detestas? Porquê, já agora? O que mais desgosto de fazer são maoris porque é um estilo que não se aprende sem ser com alguém que saiba e não tendo esse conhecimento sinto que estou denegrir todo o significado que esse estilo tem. Na minha opinião acho que se for para fazer um disparate mais vale a pena estar sossegado.


… e qual foi a tatuagem mais memorável que já criaste? Tenho alguns trabalhos que realmente resultaram muito bem mas a meu ver ainda não executei nenhuma “master piece”. Antes de alguém fazer uma tatuagem tens alguns conselhos que gostes de dar? Sim claro. Ser tatuador não significa simplesmente aplicar tinta na pele. Nomeadamente clientes de primeira tatuagem têm muitas dúvidas e nem sempre têm noção de como é que vai ser o resultado final. O conselho mais importante que se pode dar é fazer ver ao cliente que fazer uma tatuagem é uma decisão importante, que não deve ser tomada de animo leve e que devem tatuar alguma coisa que lhes diga algo sem seguirem modas que normalmente levam a arrependimentos que se revelam dispendiosos e dolorosos quando se têm que alterar. Tens alguma tatuagem que gostasses de fazer mas que ainda não surgiu a oportunidade de...? No tipo de trabalho que gosto estão sempre a surgir novas imagens que gostaria de fazer mas há uma que em 16 anos ainda não surgiu oportunidade para a fazer que é uma imagem do Frankenstein. Para ti, qual é o cliente ideal para fazer uma tatuagem? O cliente ideal seria alguém que não ponha objecções no tipo de imagem que quero fazer; que aguente as horas necessárias sem se queixar e que pague sem regatear o preço. No geral, quanto de uma tatuagem é a ideia do cliente e quanto dela são as coisas que achas melhor colocar nessa tatuagem? No meu ver a tatuagem é 100% a ideia do cliente e 100% minha a escolha das imagens, digo isto porque nem sempre os clientes têm paciência suficiente para

[…] hoje em dia está tudo à distância de um clique, o que faz com que se formem tatuadores auto-didatas sem noção nenhuma; de como é que uma loja funciona ou de que o que é preciso para se fazer um bom trabalho[…] 67 / VERSUS MAGAZINE


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[…] Em Portugal a mentalidade em relação às tatuagens está a mudar mas num processo lento[…]

estarem horas em busca da melhor imagem para tatuarem e têm uma certa tendência para fazerem o que já viram em vez de serem eles a procurar a exclusividade. O que é que distingue uma boa tatuagem de uma má tatuagem? São inúmeros os detalhes que fazem uma tattoo deixar de ser boa para ser péssima. Para além de todo o processo técnico que envolve a elaboração de uma tattoo e que depende somente do tatuador também existe o desenho versus o sítio onde vai ficar. Por vezes dou por mim a ver uma tattoo seja nas redes sociais ou na rua, onde esta situação acontece mais, e reparo que o trabalho até está aceitável mas não está no sítio mais indicado, logo vai parecer deslocado e sem fluidez em relação ao corpo. O próprio tatuador tem de se defender nestes casos, para mim o sentido estético manda muito. Qual é a tua percepção da evolução das tatuagens em Portugal? A Tatuagem evoluiu muito nestes últimos anos e a meu ver de forma descontrolada. Enquanto que antigamente não se tinha acesso a nada, hoje em dia está tudo à distância de um clique, o que faz com que se formem tatuadores auto-didatas sem noção nenhuma; de como é que uma loja funciona ou de que o que é preciso para se fazer um bom trabalho, sem desrespeitar quem durante muitos

anos lutou para que a nossa forma de vida fosse aceite e respeitada na nossa sociedade. Juntando toda a luta dos likes e dos views nas redes sociais, que ganharam uma importância desmedida no alcançar de um objectivo que se calhar de benéfico não têm nada para todos nós, no âmbito geral a qualidade de trabalho está bastante elevada. Acho que existem artistas muito bons no nosso país e de certa forma dão cartas no panorama mundial das tattoos mas no reverso da medalha está toda uma situação descontrolada que a meu ver não dignificam a nossa profissão em nada. Relativamente à mentalidade: achas que ainda há algum estigma relativamente às pessoas que usam tatuagens? Já te apareceu alguém a pedir para remover uma tatuagem por causa, por exemplo, do trabalho? Sim, já várias pessoas vieram questionar-nos sobre remoção de tatuagens, nós não fazemos mas aconselhamos um sítio próprio para o fazerem. Nem sempre essa procura é por questões de trabalho, até porque normalmente os clientes têm um certo cuidado em escolher a zona do corpo que vão tatuar exatamente por causa dessa situação. Em Portugal a mentalidade em relação às tatuagens está a mudar mas num processo lento, já se vê pessoas tatuadas a trabalhar em postos que há uns anos atrás era impensável. Será que foi a mentalidade que

mudou por si só ou realmente a comunidade de tatuados aumentou de tal maneira que já é difícil haver pessoas em idade de começar a sua vida laboral, sem tatuagens? Eu acredito que esse estigma é um problema de gerações. Nós, que hoje em dia temos tatuagens, quando chegarmos à qualidade de cidadãos sénior não nos vai causar surpresa lidarmos com pessoas tatuadas nos mais diversos serviços, somos nós que temos de saber demonstrar que não é pelo facto de termos tatuagens que não somos pessoas válidas. Por exemplo, eu sou um péssimo desenhador… mas quando digo péssimo…. É mesmo péssimo. Achas que eu daria um bom tatuador? Na minha opinião quando não se tem jeito para desenho o melhor era deixar as tatuagens em paz. Acho que não darias. Que conselhos podes dar aos artistas e tatuadores que estejam agora ou que queiram começar neste mundo? O meu melhor conselho é que o façam pelas razões certas e não pelo deslumbre de uma vida que não existe. Tatuar é trabalho árduo que exige bastante dedicação e paciência para se começar a fazer o que realmente se gosta em termos de arte. Heart of Buda Tattoo Shop Ricardo Pires tattoo artist

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

«Comando» de 1985, com Arnold Schwarzenegger é o filme de acção por excelência dos anos 80 e que caracteriza por excelência a época do Reagnismo Americano, apesar disto nada ter haver com o filme propriamente dito. É o típico filme de acção com todos os excessos, maiores que a realidade – até parece que hoje os filmes de acção não o são! – que caracterizavam e ridiculizavam de certo modo o cinema desta década. A diferença para os dias de hoje, é que estes excessos eram realizados com recurso a duplos e efeitos reais, ao passo que hoje, é tudo feito por computador, o que torna o excesso de acção ainda mais caricatural e próximo da banda desenhada, e quem sabe, bem menos realista que a acção dos anos 80. O feeling de exagero e inverosimilhança de «Comando» era o reinante na altura em que o filme saiu, ao mesmo tempo que era visto como um grande filme de acção com a estrela em plena ascensão, o Austríaco Arnold Schwarzenegger. Com o passar dos anos, este como muitos outros dos anos 80, tornaram-se nuns verdadeiros clássicos do cinema do género, suplantando qualquer crítica ou ponto menos positivo que o filme tenha, permitindo o passar dos anos dar a volta aos negativos e torna-los pontos positivos, fazendo com que estes mesmos pontos criticados à data de estreia do filme, sejam os mesmíssimos pontos que faz deste filme ser um clássico nos dias de hoje. Para mim, «Comando» é um filme especial. Foi este filme, que vi em primeiro, juntamento com «Predador» da mesma época que me fez ser um grande fã do Schwarzie. Podia já haver o Stallone e o Chuck Norris, mas o Schwarzie era o meu preferido. Depois, era um dos poucos filmes consensuais lá em casa. Todos gostavam deste filme. Vi «Comando» ainda antes de ter videogravador, em algo também comum na época, que era os cafés passarem filmes do vídeo clube nas suas televisões para atrair mais alguma clientela. É mais ou menos o mesmo que hoje com o futebol. Mas afinal do que trata «Comando»? Que filme é este? É um filme de acção com Arnold Schwarzenegger no papel de John Matrix, um ex-militar de elite que está debaixo de um programa de protecção especial com a sua filha no meio da montanha. A sua vida normal é interrompida quando um grupo de mercenários lhe raptam a filha com o objectivo deste ajudar o general Arius (Dan Hedaya) a tomar o poder num pais fictício chamado de Vale Verde. John Matrix embarca num avião com um voo de 11 horas. Numa cena tão espectacular como inverosímil, Schwarzie salta do avião em pleno momento da descolagem e marca 11 horas no seu relógio: O tempo que tem para recuperar a sua filha antes de descobrirem que fugiu. O resto do filme é descobrir para onde levaram a filha e depois viajar para o local e fazer o assalto monumental final de 1 contra todos que irá escrever este filme nos anais do cinema do género. Além da acção desmesurada, um dos pontos magistrais de Comando são os seus diálogos, muito anos oitenta, muito machistas, mas que marcam determinantemente a imagem, sem acrescentarem nada de novo à história. Há muitas, mas a minha

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Comando preferida é quando Matrix pendura pelo braço esquerdo o 1º membro do gang (David Patrick Kelly) – o que assegura que ele entrou no avião – de cabeça para baixo, junto a uma ravina e diz: “Matrix: Lembras-te Sully, quando te prometi que te matava no fim? Sully: Sim, Matrix, tu disseste! Matrix: Menti” e larga-o. Ou, “Cindy: Podes-me dizer qual a razão disto tudo? John Matrix: Claro, um gajo em que eu confiava à anos quereme morto. Cindy: Isso é compreensível. Eu só te conheço à 5 minutos e também te quero ver morto.” E no final: “Major General Franklin Kirby: Deixou alguma coisa para nós? John Matrix: Só corpos.”. Este é um filme definidamente de uma época. Qualquer um, vê-lo hoje sem ter passado pelos anos oitenta, vai achar aquilo estranho e mau, pois já há muito que não se fazem filmes de acção assim. Como já mencionei, vi este filme em VHS antes de ter um leitor de VHS. Depois da aquisição de um lá para casa, no Natal de 1988, não tardou muito para começar a borbulhar uma coisa muito em voga na altura que foi a cópia de filmes. A “pirataria” do antes internet e torrentes. Coloquei pirataria entre aspas porque sempre tínhamos de pagar o aluguer e a cópia ficava no nosso arquivo pessoal, e emprestável a amigos – muito pouco emprestável porque podiam estragar a fita – pelo que não era assim tão mal visto na época. O que era mesmo pirataria, era copiar para revender o filme. Bem, isto tudo acabou com uma coisa chamada macrovision, uma protecção ao nível da imagem que aniquilou as cópias. Assim, logo que se tornou possível gravar os filmes do vídeo clube com um amigo este e o Predador foram os primeiros dos que eu já tinha visto, ficaram gravados na minha mítica cassete nº 11, “actividade” inaugurada com o filme Robocop (Paul Verhoven, 1987) e O Gladiador (The Running Men, Michael Glaser, 1987 – outro filme com o Schawarzie) na K7 nº 10. Posto tal, Commando e o Predador foram visionados por mim pelo menos mais de 20 vezes nos anos seguintes. Entretanto, chegou o DVD e logo corri para ter Comando, mas, para minha surpresa, o filme que vi em DVD era ligeiramente diferente do que tinha em VHS gravado do videoclube: faltavam algumas das cenas mais violentas. As diferentes versões de DVD e Bluray que por aí andam não correspondem ao filme original que saiu em 1985. Ainda comprei um Bluray em 2010 na esperança de ter o filme completo, mas não, logo descobri que ainda lhe faltavam algumas cenas chave. Assim, todas elas antes de 2015, mais umas do que outras têm cenas cortadas. Só finalmente em 2015 – 30 anos depois! - é que finalmente saiu uma versão idêntica ao original! Um director’s cut como é apelidado. Assim, tenho 4 suportes digitais do mesmo filme: 1 DVD de 2000, 1 Bluray de 2010, 1 DVD com o filme convertido do VHS gravado e por fim o Bluray Director’s cut.

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HAJA PACIÊNCIA! Por: Nuno Lopes

Não há muitos dias Fernando Ribeiro escreveu um post numa rede social em que colocou (e de que maneira!) o dedo na ferida. Nesse texto o frontman de Moonspell apontava a mira aos melómanos deste género tão apaixonante como o Metal. Concorde-se ou não com o que foi escrito não deixa de ser verdade o que o músico diz. Nesse texto Ribeiro fala sobre o triste fado português de sermos tão pequenos, desdenhosos e sequisosos pela galinha do vizinho. E fá-lo de forma consciente e certeira, o que fez com que muitos invadissem o mural do músico com opiniões diversas, mas essa é apenas a ponta do icebergue. Senão vejamos: a) em Portugal há muito que nos agarramos aos «ses» ao invés de percebemos que, ao longo dos anos, o mercado do Metal em Portugal cresceu e, com isso, trouxe uma oferta que, em muitos casos é dificil de acompanhar. Porém, ao invés de ficarmos saisfeitos com isso a tendência é de criticar (de forma negativa) os esforços de quem, com muito esforço, tenta trazer a Portugal o melhor que se faz neste espectro. é tão fácil criticar o facto de vir o artista A, B, ou C em vez de vir um, ou outro, cujo desejo é superior, tal como será o custo do mesmo artista. b) uma outra guerra tem a ver com as bandas de versões e de originais. Aqui o caso ainda se torna mais gravoso, pois neste caso, os artistas atiram-se uns aos outros (quase) só porque sim. Já pensaram que as bandas de versões não fazem mais do que prestar tributo a bandas/artistas que fazem, em muitos casos, parte do nosso imaginário e da memória de muitos que cresceram a ouvir essas mesmas bandas e que, existindo, não fazem mais do que elevar a qualidade dessas mesmas composições? Já pensaram que o trabalho que fazem é tão, ou mais dificil, do que criar originais? Já pensaram que o tempo que o artista perde a apanhar o riff X, Y ou Z, é o mesmo que uma banda de originais perde a tentar «sacar» o blastbeat correcto, a melodia certa para que a sua ideia floresça e cresça para proporcionar ao seu ouvinte momentos de regozijo? É triste quando artistas atacam outros. c) O underground e o mainstream. A mais antiga das guerras no Metal. Esqueçam, não há mainstream no Metal, é mera ilusão. Olhemos para os nomes de Metal que, aqui e ali vão surgindo nos Tops nacionais, podemos pensar em Iron Maiden, Moonspell, Spliknot ou Korn, por exemplo, que outras bandas do género entram nos tops nacionais? Esta discussão sobre mainstream e underground faria sentido se, porventura, Portugal fosse a Islândia, a Finlândia ou Alemanha, mas nós somos portugueses em Portugal. Estas são, apenas, algumas linhas de uma dicussão que é uma «não discussão» e onde Fernando Ribeiro tem razão no que diz. Podemos mesmo dizer que estamos rodeados de «Velhos do Restelo» que apenas sabem criticar sem valorizar um género que se impôs como poucos em solo nacional. Não se trata de acharmos que somos melhores ou piores, mas sim uma questão de respeito à música e a um género venerado por tantos, seguido por outros tantos. Fernando Ribeiro tem razão, e a experiência ajuda-o a ter razão no seu raciocinio, nas suas palavras. e nos faz entender que este ambiente de (quase!) guerrilha não é saudavel e traz uma bola cheia de nada consigo. Concordo com Fernando Ribeiro e acrescento... Haja paciência!

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empre Besta

São já 9 os lançamentos dos Besta desde 2012 e muitos sãos os nomes de relevo com o qual já dividiram palcos. À imagem da sua música não dão sinais de abrandamento e o novíssimo disco - “Eterno Rancor” vem atestar tudo isso, celebrando também o início de uma importante ligação com o selo da Lifeforce Records. Que sejam também eternos estes Besta!

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Entrevista: Emanuel Roriz


Photo: Estevam Romera

Sem qualquer tipo de desprimor para com todo o vosso trabalho, tenho de reconhecer que “Eterno Rancor” é sem dúvida um lançamento de qualidade superior. Concordam que deram um salto representativo nesta fase da vossa carreira? Besta - Sim, a produção foi mais satisfatória e isso ajudou a “realçar” os temas, por assim dizer. Foi um desenvolvimento natural da banda, fruto do nosso empenho e trabalho ao longo destes 6 anos e meio de banda. As canções foram mais cuidadas, assim como a capa e as letras do disco. Portanto sim, concordo com a tua opinião sem dúvida. O novo disco vem também com a novidade da associação dos Besta ao selo alemão Lifeforce Records. O que representa para vocês esta nova ligação contratual? Foi algo que procuraram ou foi uma oportunidade que apareceu? Já conhecíamos o Stefan e o staff da Lifeforce, de maneira que foi das primeiras editoras a quem mostramos o disco. A reacção foi quase que imediata, e como tem sido habitual na nossa carreira, queremos ir degrau a degrau fazendo o nosso trabalho com os pés no chão e a Lifeforce é mais uns degraus que subimos. É uma editora que conhecemos bem e

sempre tratou o nosso trabalho como músicos com o maior respeito. Foi natural esta ligação com eles. Todo este novo patamar na vossa carreira significará um maior nível de exposição, maiores digressões, mais festivais? À partida sim, se bem que é sempre impossível de prever o que vai acontecer na realidade. Às vezes teres um grande disco não significa que os outros achem o mesmo. Esperamos que as pessoas gostem e nos queiram a tocar em vários locais e festivais claro. Em solo nacional têm já agendada uma data de concertos entre Março e Abril para promoção de «Eterno Rancor». Sentem que estão a chegar a novos locais? Por onde vão andar e o que se pode esperar desta digressão? Temos aquelas cidades cruciais como Lisboa, Porto ou Braga onde temos bastantes pessoas que gostam da banda e outras onde nunca fomos, como Alenquer ou Santarém. Temos ainda a tour pelo Brasil a ser planeada pela terceira vez e o Masters Of Grind na Bélgica, entre outros que estamos a trabalhar. Têm tocado imenso ao lado dos brasileiros Desalmado. Este tipo

de ligações, que imagino que nasçam com base na amizade, comportam também o ideal do espírito Do It Yourself que vocês também cultivam. Qual é para vocês a importância destas sinergias? Quando fazes este tipo de música 90% das coisas de bom que acontecem nascem do boca a boca, amizades com outras bandas, intercâmbios e outras iniciativas do género. É isso que vai fazer o teu trabalho rolar e ser falado. Com o Desalmado foi nesse âmbito claro, somos amigos já há algum tempo e tudo encaixou muito naturalmente. Somos duas bandas muito parecidas na maneira de estar e ver a música. A química ou sinergia como referiste foi natural. No novo trabalho volta-se a ouvir o grito de revolta e a denúncia social/política já característica da Besta. Sobre que assuntos cai o foco neste “Eterno Rancor”? Política, sociedade, religião são assuntos sempre actuais, fazem parte da atrocidade cometida pelo humano e é uma luta sem fim. Existe desde sempre e nós queremos continuar a denunciar e combater à nossa maneira e com a nossa música dando voz à nossa opinião. Esta banda é a nossa arma basicamente.

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uando fazes este tipo de música 90% das coisas de bom que acontecem nascem do boca a boca, amizades com outras bandas, intercâmbios e outras iniciativas do género

A temática dos Besta acaba por beber mais inspiração na realidade actual do nosso país, ou no clima de instabilidade que se vê um pouco por todo o globo terrestre? Sim, alguns temas são focados em problemas internos e situações alarmantes do nosso país, e outros, claro, do universo inteiro. Há assuntos que simplesmente não podem ser esquecidos e quando achamos que faz sentido serem abordados pela banda assim o fazemos. Desçamos agora até à raiz. Os membros dos Besta não são nenhuns estranhos no cenário da música extrema nacional, sendo que cada um de vocês já deambulou, e assim continuam, por tipos de sonoridade bem distintas. Como é que acabaram por convergir neste estilo que é grindcore, que é punk… Para ser sincero não foi planeado

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Photo: Marina Melchers

tocarmos grind, ou punk, ou metal, ou outro subgénero qualquer. Queríamos fazer música pesada, incisiva, extrema e a química dos 4 elementos resultou naquilo que fazemos. Foi super natural. O artwork de eterno rancor demarca-se completamente dos restantes trabalhos dos Besta. Foi algo propositado? Qual a importância que atribuem a esta imagem de apresentação do novo trabalho? Sim, queríamos algo totalmente diferente daquilo que foram os artworks anteriores, em 2015 cruzámo-nos com o Marco Donida da banda Matanza Inc. e Enterro no Brasil e ficamos bons amigos desde então. Sendo o Marco um dos maiores artistas brasileiros resolvemos recorrer ao seu enorme talento para dar vida ao Eterno Rancor. Queríamos uma capa muito anos 80, naquela linha

das bandas crossover e com o toque único do Marco chegamos a esse objectivo! Ficámos super contentes! São já nove lançamentos em sete anos de actividade e na vossa discografia é possível encontrar EPs, splits, gravações ao vivo e trabalhos de longa duração. Têm já em mente que o futuro vai manter esta regularidade e diversidade de edições, ou o que fazem em Eterno Rancor pode servir de molde ao que está por vir? Os lançamentos não são pensados, vão surgindo a maior parte das vezes porque estamos sempre a “cozinhar” música. Agora, a partir do Eterno Rancor há um contracto, há a Lifeforce no meio e há toda uma estratégia de longa duração. Facebook Youtube


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PALETES Por: Carlos Filipe

Dl’Iaul - «Nobody S Heaven» (Italia, Rock/Metal) Formados em Milão em 2010, DI'AUL (leia-se 'The Owl'), a banda está de volta com o seu novo álbum «Nobody's Heaven», onde complexidades sutis são unidas a uma impressionante composição de rock dos 70 e grooves dos 90. O resultado final é um som distinto e único capaz de misturar a agressão de CROWBAR e as visões apocalípticas de KILLING JOKE. (All Noir PR) Praise The Plague - «Antagonist» (Alemanha, Blackened Doom/ Sludge Metal) Praise The Plague é uma banda de doom-metal com uma atitude darkmetal obscura e devoradora. O quarteto de Berlim, criou uma atmosfera deprimente em cima de uma parede pesada e enlameada de destruição. «Antagonist» é o álbum de estreia. (All Noir PR) Motorowl - «Atlas» (Alemanha, Psychedelic Doom Rock) Com influências que vão dos Black Sabbath e do início dos Pentagram, a potência psicodélica da Alemanha Oriental criou uma mistura

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altamente dinâmica de imposição, peso, harmonias profundas e atmosferas agitadas. «Atlas» é uma interação ininterrupta entre variedades clássicas de guitarras pesadas e pós-rock moderno, estruturas sonoras coloridas e buracos negros profundos. O segundo álbum dos Motorowl é obviamente influenciado pelo grego Titan, Atlas; filho de Iapetos e da Ásia, condenado a erguer o céu por toda a eternidade até aos confins da terra. (Century Media Records)

Aborted - «Terrorvision» (Belgica, Death Metal) ABORTED está no seu melhor com «TerrorVision»! A banda belga, ao longo da carreira de mais de 20 anos, transformaram-se nuns irônicos e mal-humorados de curiosidades menores, com uma ascensão repleta de fileiras infestadas de larvas de death metal. Músculos sobre cérebros - ou gorgolejos sobre inteligência - tem sido o lema musical dos Aborted desde que saíram do útero do death metal com desenvoltura. (Century Media Records)

Baest - «Danse Macabre» (Dinamarca, Death Metal) Os dinamarqueses do death metal, BAEST, cujo apelido se traduz como 'bestas' ou 'bruto' na língua nativa da banda, encaixam-se perfeitamente no som vicioso do grupo. Altamente influenciado por bandas como Bloodbath, Grave, Entombed e Dismember, que são famosos pelo seu pedal selvagem Boss HM-2 e abusando do tom da guitarra, os BAEST tem uma espinha dorsal mortal que combinam com a sua própria vantagem criativa e uma energia incrível e feroz. (Century Media Records) Avast - «Mother Culture» (Noruega, blackgaze and postblack metal) Os AVAST são uma banda que todos os intervenientes colocam numa variedade de géneros, como o blackgaze e pós-black metal. Mas também pode ser dito que as raízes da banda estão no punk rock e hardcore, já que as letras do AVAST não estão centradas nos temas habituais do black metal, mas tendem mais para uma abordagem filosófica e poética sobre questões


sociais e ambientais. Qualquer que seja o género em que gostariam de colocá-los, não há, no entanto, absolutamente nenhuma dúvida de que os AVAST mesclam habilmente na estética do black metal com a atmosfera do pós-rock para criar uma paisagem sonora impressionante e hipnotizante. (Dark Essence Records)

Thron - «Abysmal» (Alemanha, Blackened Death Metal) Formado em 2015 como um projeto de músicos experientes e dedicados de bandas alemãs na região da Floresta Negra, os objetivos iniciais dos THRON era tocar autêntico black / death no espírito do início até meados dos anos 90. Apesar de ter nascido na Alemanha, THRON pode se originar de um país nórdico. A banda cria uma simbiose de melodias gélidas, aspereza e uma atmosfera assombrosa. (Listenable Records) Orkan - «Element» (Noruega, Black/Thrash Metal) Tendo lutado contra o cancro e doenças musculares raras e incapacitantes, os ORKAN está prontos e têm em «Element» o seu novo álbum. Este lida com o poder e a ferocidade dos quatro elementos, e é uma homenagem à força implacável da terra e à paisagem de sua terra natal, a Ilha de Stord. Frente ao ORKAN está o guitarrista dos TAAKE, Gjermund Fredheim, famoso por criar o único solo de banjo no Black Metal. A banda diferencia-se dos seus

pares, com uma técnica habilidosa, enquanto, ao mesmo tempo, é capaz de invocar uma escuridão intransigente e envolvente. (Dark Essence Records) Outre - «Hollow Earth» (Polónia, Black Metal) OUTRE desferiu um violento golpe aos desavisados ​​em 2015 com o seu implacável e punitivo álbum de estreia, «Ghost Chants». Quando o sol começa a pôr-se em 2018, fogos ardentes são reacendidos, velhas feridas abertas de novo e OUTRE volta com seu segundo esforço, «Hollow Earth». Empurrando o envelope com um som já polido e apertado, «Hollow Earth» vê a banda continuar a refinar a sua arte, tecendo sem esforço a detonante dissonância de black metal com uma selvageria gutural de baixo death metal e grooves parecidos com sludge. Sintetizadores espectrais e vocais limpos entram em espiral neste vórtice enegrecido de uma atmosfera assombrosa e cavernosa. (Debemur Morti Productions)

Jordsjo - «Jordsjo» (Noruega, Progressive Rock) Jordsjø é uma banda progressiva de Oslo, Noruega inspirada nos antigos filmes de terror, música sintética dos anos 70, prog sueco, romances de fantasia e natureza norueguesa. Há um tema subjacente de alienação, raízes e sonhos - com um som orgânico e dinâmico que dá associações aos anos 70 prog, com traços de música eletrônica e folk. Muita

flauta, guitarras e uma vasta gama de sintetizadores vintage - resultando num som quente e vintage, enquanto ainda soa fresco e interessante. (Karisma Records)

La Chinga - «Beyond The Sky» (Canadá, Hard Rock) Um power trio de hard rock com poderes psicadélicos em Vancouver, no Canadá, LA CHINGA tira do Black Sabbath, Led Zeppelin, MC5 e seus próprios maus hábitos para conjurar os quarenta e cinco minutos de rock sublime e confiante que compreende «Beyond The Sky». (Earsplit) A Dying Planet - «Facing The Incura» (EUA, Progressive metal) Vindos do norte da Califórnia, os irmãos gêmeos Tipton - Jasun (guitarra) e Troy (vocal) - são a força criativa coletiva por detrás dos A DYING PLANET. O projeto começou com uma música, «Missing», e imediatamente expressou desejo em escrever e escrever. Assim surgiu este seu primeiro álbum. (Earsplit) Bangladeafy - «Ribboncutter» (EUA, tech metal) A banda de baixo e bateria de tech metal BANGLADEAFY sempre teve a reputação de preencher muito espaço sonoro entre duas pessoas. Não satisfeitos em aniquilar todas as moléculas do ar, a dupla adicionou sintetizadores abrasivos à mistura e lentamente trouxe de volta os vocais punk que eles já utilizaram no seu primeiro

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LP. «Ribboncutter» introduz uma nova etapa na exploração de quase doze anos a empurrar os limites musicais convencionais. (Earsplit) Infernal Coil - «Within A World Forgotten» (EUA, Death Metal) Mortalidade brutal, implacável, transcendental, o death metal dos INFERNAL COIL's e «Within A World Forgotten» é uma expressão artística atolada numa vasta atmosfera escura através das muitas camadas de som, ambiente e ruído que projetam uma sombra envolvente ao longo dos trinta e seis minutos que sustentam esta arrogância. A dicotomia musical fala dos temas conceituais dos infográficos do mundo natural, contrastando a beleza e o caos da natureza, assim como a autodestruição aparentemente inevitável da humanidade. (Earsplit) Iskandr - «Euprosopon» (Holanda, Black Metal) ISKANDR regressa com o seu segundo álbum intitulado «Euprosopon». O título do álbum expressa a impossibilidade do homem ideal. No entanto, a formulação de novos conceitos de heroísmo é essencial para preservar ideias de conflitos e anseios numa época de desvalorização eterna. Juntamente com uma maior clareza no som, mantendo uma perspectiva natural e intransigente familiar para aqueles que estão conscientes da saída anterior do círculo Haeresis Noviomagi, este registro irá certamente demonstrar as alturas que este projeto anseia alcançar. (Eisenwald) Horseman - «Of Hope Freedom And Future» (Alemanha, Hardcore/Thrash Metal) O novo álbum dos cinco cavaleiros define novos padrões em termos de som e composição da banda. A banda estava armada com um taco de beisebol musical em álbuns anteriores, e seu principal objetivo era tocar música intransigente e contundente. Agora, a banda desenvolveu-se numa direção

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mais moderna. «Of Hope, Freedom And Future» oferece uma mistura de composições brutais com riffs contagiantes e interessantes e melodias cativantes. (Massacre Records)

Solar Temple - «Fertile Descent» (Holanda, Atmospheric Black Metal) Emergindo da margem das antigas florestas do Veluwe, SOLAR TEMPLE oferece a sua estreia em toda a extensão. «Fertile Descent» atrai com a sua impressão de black metal e a sua abordagem única. Não totalmente perceptível, as duas faixas deste álbum torcem e dobram com uma ferocidade vertiginosa. Os sons surrados estão entrelaçados com um eco distante que também parece quente e convidativo. (Eisenwald)

The National Orchestra Of The United Kingdom Of Goats «Huntress» (Italia, Symphonic Grind Pop) Formada para curar a dor e as

trevas de todas as almas perdidas que vagam pelo mundo, estes quatro heróis propuseram-se de contar a única história verdadeira. A única história que salvará muitos e destruirá os que já estão muito além da redenção. Feche todas as portas, acenda uma vela - e mate os responsáveis. O género musical da banda é uma mistura de rock progressivo, novo rock artístico e pop. A banda descreve seu estilo como "Symphonic Grind Pop". (Focusion) Eskhaton - «Omegalitheos» (Austrália, Death Metal) «Omegalitheos é a terceira manifestação completa dos Australianos ESKHATON. «Omegalitheos» é um excelente exemplo de como os limites do estilo devem ser expandidos. Prepare os seus sentidos para a destruição de violência psicótica do Death Metal e daqueles que estão ansiosos para receber mais do que as fórmulas padronizadas e previsíveis. O Death Metal sempre foi uma fonte de energia doente, violenta e obscura que distorce os sentidos. É o que «Omegalitheos» faz sem misericórdia. (Lavadome Productions) Promethee - «Convalescence» (Suiça, Progressive Metalcore) Os PROMETHEE são conhecidos por tocar uma mistura pesada, abrasiva e tecnicamente exigente. É verdade que a banda de Geneve cultiva um som de várias camadas e vagabundeia entre o pós-metal, o mathrock, o noise e o dark hardcore. A versatilidade estilística e uma composição surpreendente dão aos ouvintes a atitude destrutiva e crua das músicas. Dissonâncias, interrupções repentinas e erupções emocionais explosivas são combinadas com um canto impressionante, melodias apocalípticas e linhas cativantes. (Lifeforce Records) Negacy - «Escape From Paradise» (Inglaterra, Heavy Metal) O novo álbum «Escape From Paradise» é o resultado de


anos de trabalho e pesquisa. As composições começaram imediatamente após o lançamento de «Flames Of Black Fire». «Escape From Paradise» é mais melódico e fácil de ouvir em comparação com o lançamento anterior e a produção também deu um passo notável em termos de qualidade. (Massacre Records)

Satan - «Cruel Magic» (Inglaterra, NWOBHM, Heavy Metal) Enquanto os porta-estandartes do movimento NWOBHM e responsáveis pela ​​ seminal Court of the 83 e pela Sentença Suspensa de 87, com «Cruel Magic», os SATAN deixam bem claro que em 2018 eles não estão interessados ​​ em simplesmente capitalizar as glórias do passado. Composto por 10 faixas de metal lacrimogêneo, é evidente e profundamente o trabalho dos homens de Newcastle. Infundindo um som característico com uma vibração mais crua, selvagem e espontânea do que a exibida no poderoso «Atom By Atom» de 2015. (Metal Blade) Siege Of Power - «Warning Blast» (EUA, Death/Thrash Metal) Todas as gravações do seu álbum de estréia «Warning Blast» foram feitas em apenas algumas horas e a maioria das músicas e letras foram escritas no local. As músicas cruas e intensas contêm uma grande variedade de estilos, acompanhado de riffs ferozes e poderosos, um baixo brutal e uma batida de bateria que combinam

com a pura insanidade vocal. Com «Warning Blast» o quarteto tem um excelente exemplo para entregar a sua própria marca de puro metal violento! (Metal Blade)

Annisokay - «Arms» (Alemanha, post-hardcore) ANNISOKAY – a banda alemã que estabelece novos padrões para a música rock / metal pesada e melódica. ANNISOKAY são o frontman Dave Grunewald, o vocalista e guitarrista Christoph Wieczorek, o segundo guitarrista Philipp Kretzschmar, o baixista Norbert Rose e o baterista Nico Vaeen. A banda foi fundada em 2007 em Halle an der Saale por Christoph e Norbert. A ANNISOKAY estabeleceu sua base musical com uma espinha dorsal rítmica e melódica que dá vida ao canto comovente e a gritos agressivos. (Nuclear Blast)

Doro - «Forever United, Forever Warriors» (Alemanha, Heavy Metal)

Este é o 20º álbum da DORO! E, no entanto, não é apenas este grande aniversário que faz «Forever Warriors, Forever United» um álbum verdadeiramente extraordinário. Também não é o facto da rainha do metal estar a lançar o seu primeiro álbum duplo. Não, «Forever Warriors, Forever United» é tão especial porque DORO apresenta 25 (!) novas faixas que têm uma coisa em comum; uma incrível variedade estilística, combinada com a mais alta qualidade. DORO oferece um foguete musical com uma quantidade inacreditável de hits. De hinos a baladas, do heavy metal ao clássico - a rainha do rock & metal prova, sem sombra de dúvida, que ela governa todas as facetas do género rock (e muito mais)! (Nuclear Blast) Blood Of Serpents - «Sulphur Sovereign» (Suécia, Black Metal) «Sulfur Sovereign» é a primeira oferta para apresentar o baterista Christoffer Andersson e o vocalista Thomas Clifford. Com os recursos recém-recrutados, a banda deu um passo decidido para uma direção suprema de black metal, indo a toda a velocidade com vocais vigorosos que rasgam e rugem com igual medida. Misturado com trabalhos de guitarra melódica escura e riffs esmagadores, «Sulphur Sovereign» é um ataque completo de black metal intercalado com peças atmosféricas e melódicas assombrosas. (Non Serviam Records) Our Mirage - «Lifeline» (Alemanha, Post-Hardcore) O mundo moderno está doente! Depressão é um tema principal dos jovens e adultos e é exatamente isso que as músicas da banda póshardcore OUR MIRAGE falam. Os quatro rapazes da Alemanha descrevem a sua música como “letras de difícil bater como o coração bate pela música”. Essas letras são embaladas em músicas emocionais e melodias cantadas que vão atingir os sentimentos.

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espalhar a sua mensagem de música moderna sincera e energética por toda a Alemanha. A sua forte ética DIY – Do it Yourself, o senso de perfeição e implacabilidade quando se trata de escrever, tocar e interagir com a crescente base de fãs resulta não apenas numa óptima participação em qualquer programa VENUES, como também na projecção impressionante no seio do social media. (Nuclear Blast) Mantar - «The Modern Art Of Setting Ablaze» (Alemanha, Sludge Metal) Os ferozes MANTAR do norte da Alemanha conseguiram mais em cinco anos do que a maioria das bandas com o dobro da idade e tamanho. O produto de uma amizade de vinte anos entre o guitarrista / vocalista Hanno Klaenhardt e o baterista Erinc Sakarya, é uma história de sucesso que nasceu inteiramente de uma coisa: trabalho duro, com 3 álbuns, um EP e um lançamento ao vivo. Agora, MANTAR retorna com «The Modern Art Of Setting Ablaze», um choque curto e agudo que aguça os riffs famintos e o ritmo de tirar o fôlego de seus anteriores discos. (Nuclear Blast) The Spirit - «Sounds From The Vortex» (Alemanha, Black/Death Metal) Nas longas noites escandinavas de inverno dos anos 90, a dureza da morte (melódica) foi combinada com a atitude gelada do black metal e criou uma escuridão sufocante que durou até hoje. A alma dessa fusão musical continua viva nas composições apaixonantes de THE SPIRIT, e com a determinação e total elegância de «Sounds From The Vortex» evoca uma atmosfera vinda diretamente dos túmulos escandinavos. (Nuclear Blast) Venues - «Aspire» (Alemanha, Post-Hardcore) Iniciado no início de 2015, o sexteto VENUES, conseguiu

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Binah - «Phobiate» (Inglaterra, Death Metal) A génese de Binah remonta a 2010, quando Aort começou a inventar visões iniciais com o propósito de produzir uma gravação de death metal gótico, detalhado e mórbido. Pouco depois, I.R.G. e A. Carrier foram naturalmente absorvidos pelo projeto, formando assim o núcleo triunvirato que invocaria o som de Binah. O começo de um desvio, de duração indefinida, de ideias mais antigas para um futuro inquietante e incerto. A jornada de Binah para o grande desconhecido continua com «Phobiate». (Osmose Productions)

Sjukdom - «Stridshymner Og Dodssalmer» (Noruega, Black Metal) Os Sjukdom tem as suas origens em meados de 2011, quando o baterista Natt e o vocalista Avsky, alimentados pela paixão mútua pelo black metal, decidiram iniciar um projeto próprio. O objetivo era criar black metal no estilo

tradicional norueguês - agressivo, frio e sem piedade. Em setembro de 2011, o guitarrista Hul juntouse à banda e o nome de Sjukdom foi escolhido. Sjukdom entrou novamente no processo de escrita, e o andamento seguinte intitulado «Stridshymner og Dødssalmer», apresenta-se como um álbum brutal e acelerado. (Osmose Productions) Infera Bruo - «Cerement» (EUA, Progressive Black Metal) Tem havido muitas bandas a empurrar os limites do metal extremo. Infera Bruo, uma banda de black metal baseado na Nova Inglaterra, faz-o de uma maneira muito mais sutil e menos óbvia. O quarteto faz riffs discordantes, bateria de blast beat e harmonias móveis que levam o ouvinte numa jornada tal que perde o norte depois do álbum acabar. O álbum contém 8 faixas, umas quente e exuberante, enquanto outras são duras e frias. Enquanto tudo isso cria uma obra-prima de black metal, colocando a banda bem acima de seus pares. (Prosthetic Records) Sylvaine - «Atoms Aligned 2C Coming Undone» (Noruega, Ambient Post-Metal) Uma forte dualidade entre mundos. Um equilíbrio entre o belo e o duro, a serenidade e o caos, entre um mundo exterior e um mundo interior, entre a nossa vida humana e as origens espirituais. O multi-instrumentista norueguês SYLVAINE lida com a gama extrema de emoções que esta existência humana tem a oferecer, como resultado de estar em constante conflito consigo mesmo e lutando para se adaptar a este lugar que chamamos de nosso. O projeto serve como uma catarse emocional para o artista, revelando o anseio eterno por algo mais residente dentro de suas melodias, capturando a sensação de estar preso e contido pela forma humana. (Season of Mist)


Rebel Wizard - «Voluptuous Worship Of Rapture And Response» (Austrália, Black/ Heavy Metal) Prolífico, misterioso, caótico e sutilmente profundo, Heavy Negative Wizard Metal Warlock, B. Nekrasov retorna com outra mistura de black metal e NWOBHM. Rebel Wizard continua a criar músicas que se destacam da maioria das bandas de metal. Há algo nessa música que capta muito do que atraiu muitos de nós ao heavy metal, tais como a fantasia e a ferocidade, a energia selvagem de uma pura adrenalina, o virtuosismo da guitarra, a ritmos que movimentam a cabeça, as melodias heroicas, tudo combinado com a intensidade aterrorizante dos gritos de black metal. (Prosthetic Records)

Hate Eternal - «Upon Desolate Sands» (EUA, Death Metal) HATE ETERNAL mantém fielmente o espírito do death metal enquanto o seu aguardado sétimo álbum de estúdio, «Upon Desolate Sands», demonstra qualquer sinal de concessões! Mais agressivo e tecnicamente complexo do que os seus homólogos suecos, o death metal da Flórida nasceu do thrash em meados dos anos 80. O novo LP dos HATE ETERNAL duplica o ataque patenteado de alta velocidade de ferocidade vertiginosa combinada com dinâmica de longo alcance, composições excelentes e uma brutalidade esmagadora. (Season of Mist)

Vreid - «Lifehunger» (Noruega, Norwegian Black 'n Roll) A brigada de metal norueguesa surgiu das cinzas de WINDIR após o trágico desaparecimento das lendas "Sognametal", com a missão declarada de explorar novos caminhos musicais. O estilo do VREID é muitas vezes referido como black 'n roll, já que elementos do rock dos anos 70, metal clássico dos anos 80 e black metal norueguês são claramente audíveis. Agora com o oitavo álbum «Lifehunger», o black 'n roll está de volta! Com oito novas faixas, o VREID está pronto para o próximo capítulo. (Season of Mist)

Vulcain - «Vinyle» (França, Hard Rock) Como um dos nomes mais antigos e mais reverenciados da cena heavy metal e hard rock francesa, VULCAIN sempre foi e sempre será um nome familiar. Desde os anos 80, VULCAIN tem estado no topo da cena do hard rock francês. Depois de 30 anos de rock n 'roll e 13 álbuns até agora, o novo álbum da banda, «Vinyle», mostra a cena do hard rock que VULCAIN jogo no topo, com a mesma força imparável! (Season of Mist) Nonpoint - «X» (EUA, Hard Rock) Depois de mais de 20 anos, dez lançamentos e mais de um milhão de álbuns vendidos em todo o mundo, os Nonpoint mantém uma ligação inquebrável entre a banda e a base de fãs obstinada em todo o mundo. «X», o quinteto não apenas mantém o momentum, mas

também amplifica a intensidade. (Spinefarm Records) Arsis - «Visitant» (EUA, Techincal Melodic Death Metal) ARSIS brilha como destaque primário do género técnico e melódico do death metal. O quarteto americano, baseado em Virginia Beach, derivou o seu nome do termo musical "arsis and thesis", em que "arsis" se refere à parte não acentuada de uma medida. A origem do nome não é nenhuma surpresa, considerando a formação clássica em música de James Malone, que por sua vez anuncia uma nova camada na maneira como os ARSIS soam. E o som é poderoso. ARSIS faz death metal que é justamente tingido com influências de black & thrash, mas é dedicado a expandir os alcances do melodicíssimo e tecnicismo no género. (Agonia Records)

Blaze Bayley - «The Redemption Of William Black» (Inglaterra, Heavy Metal) Tendo começado a carreira musical profissional com os WOLFSBANE em 1984, a sua carreira elevouse ao patamar global quando se juntou aos IRON MAIDEN. Depois de deixar os Iron Maiden, Blaze embarcou numa carreira a solo. Ele lançou 10 álbuns e desfrutou de uma reputação invejável como um dos artistas mais trabalhadores. Em 2016 lançamou «Infinite Entanglement» - uma trilogia de lançamentos de baseados em um conceito de ficção científica. A Parte I foi «Infinite Entanglement»,

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a Part II «Endure and Survive» e a conclusão, Parte III, é «The Redemption of William Black». (Independentes)

Alkymist - «Alkymist» (Dinamarca, doom metal) ALKYMIST é uma nova força no Doom Metal - uma força que, à sua maneira, procura trazer a esperança da mudança para um período de turbulência. A música no álbum de estréia dos ALKYMIST pode ser definida como doom metal progressivo uma espécie de “art metal”, que compartilha uma comunidade de espírito com música clássica e rock progressivo dos anos 70. A música é esmagadoramente pesada como também melódica e cativante, mas é igualmente composta de dinâmicas, pausas, texturas e experimentação social, que evoca uma expressão simultaneamente estranha, bela e aterradora. (All Noir) The Order Of Apollyon - «Moriah» (França, Death/Black Metal) The Order Of Apollyon foi formada em 2008 pelos membros dos então Aborted. Ao longo de dois álbuns de estúdio, «The Flesh» (2010) e «The Sword And The Dagger» (2015), a banda forjou um caminho distinto através do death e paisagens de black metal, que evocam Behemoth ou Mgla. Depois de uma reconfiguração de formação, as raízes francesas da banda ganharam vantagem. O novo álbum «Moriah» é uma prova da nova formação, que introduziu

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estabilidade e evocou níveis mais profundos de trabalho em equipe dentro da banda. É, sem dúvida, o trabalho mais coerente, maduro e criativo que a banda lançou. (Agonia Records)

This Will Destroy You - «New Others» (EUA, Instrumental/postrock) Agora composto pelos membros principais Jeremy Galindo e Christopher King com a adição do baterista Robi Gonzalez. «New Others» capta a banda num etos familiar, mas evoluído, em que o memorável componente melódico presente nos seus primeiros trabalhos, são mais uma vez elevados a novos territórios sonoros. (Earsplit) Omnium Gatherum - «The Burning Cold» (Finlândia, Melodic Death Metal) Omnium Gatherum estão apenas a começar a reconhecer a enormidade de seus poderes. «The Burning Cold» cumpre a promessa de Vanhala de mais peso e mais melodia, com maturidade na composição do guitarrista e o peso emocional por trás desses hinos de metal, criativos e vitais, que fazem disso muito mais do que apenas outro disco robusto. Da ardente erupção da abertura de «The Burning Cold» e as suntuosas profundezas e drama do majestadoso death metal, este é um tour-de-force para um dos conjuntos mais consistentemente e fascinantes da era moderna. (Century Media)

Terrorizer - «Caustic Attack» (EUA, Grindcore) Os TERRORIZER estão de volta com «Caustic Attack», o seu álbum mais pesado e eclético até hoje. TERRORIZER começou a trabalhar no Caustic Attack em 2014, mas antes que eles pudessem estabelecer uma única faixa de música, Sandoval teve que se certificar de que ele estava bem o suficiente para trabalhar num novo álbum - o que estava longe de ser uma coisa certa. Hoje, a estreia mundial do grupo em 1989 com «World Downfall», ainda é considerada um pináculo para death metal e grindcore, apresentando blastbeats incrivelmente rápidos e bateria dupla, junto com uma guitarra de ataque blitzkrieg. (Earsplit)

Sacral Rage - «Beyond Celestial Echoes» (Grécia, Speed Metal) «Beyond Celestial Echoes» é o aguardado terceiro álbum dos SACRAL RAGE! Melhor definido como um cruzamento entre Coroner, Helstar e Voivod, o fluido de Sacral Rage, é a marca técnica de combate ao death do thrash, num espetáculo em si mesmo onde não existem limites no reino incessante que é o espaço sideral. SACRAL RAGE puxou-o para tal ponto em «Ilusions...» que o metal underground não teve escolha senão tomar conhecimento. (Cruz del Sur) Void - «Jettatura» (França, Black N’Roll)


V? ID significa VOID, e é uma banda de black metal formada em Nantes (França) em 2012. Eles tocam black metal e rock n 'roll, misturando tremolos com riffs cativantes e agressivos. A maioria das músicas lida com fenómenos profanos, rituais ocultos e conjuração de divindades ocultas geradas pelo Grande Vazio. Esse é um álbum bastante original na atual cena do Extreme Metal. (LADLO)

Chthonic - «Battlefields Of Asura» (Tailândia, Heavy Metal) A banda de heavy metal tailandesa CHTHONIC, finalmente apresenta o seu novo álbum «Battlefields of Asura». Nos últimos cinco anos, os cinco membros da banda viraram novas páginas das suas vidas. Desta vez, convidaram a diva de Hong Kong, Denise Ho, para produzir um metal pesado de bom estilo tailandês. As 11 novas músicas são uma aventura. (Independentes) Lucifers Child - «The Order» (Grécia, Black Metal) Banda de black metal grega com membros de Rotting Christ, Nightfall e Choastar. Lucifers Child tem na sua música uma ponte para o mundo do black metal atmosférico, e um caminho para a autoexpressão espiritual através das letras. Nascida de uma parceria entre dois talentosos músicos, a dupla rapidamente expandiu e entregou o seu álbum de estréia, «The Wiccan», em 2015. LUCIFER’S CHILD regressam numa

toada mais escura, mais extrema e sombria. (Agonia Records)

Clone Culture - «Clone Culture» (Itália, Post-punk / Dark Wave) O grupo italiano, fundado no outono de 2017, resolve o seu estilo de jogo entre o pós-punk e a dark wave. A estreia dos músicos de Milão, em particular, transmite um clima sinistro e uma atmosfera melancólica. CLONE CULTURE estão cientes da conhecida tradição de sua cidade natal. Na década de 1980, o Milan foi um dos epicentros para exatamente esse tipo de música. Com esta sua estreia, CLONE CULTURE assume esta tradição. (Lifeforce Records)

e a natureza estão passando por um processo de mudança. Nem tudo é sempre como parece à primeira vista. O mesmo se aplica à música de DÉCEMBRE NOIR. As músicas de «Autumn Kings» são todas melódicas, mas também melancólicas. As oito faixas do terceiro álbum da banda alemã da Turíngia transmitem uma profunda emotividade e peso holístico. DÉCEMBRE NOIR apresentou uma sua mistura melancólica e melódica de Death and Doom Metal nos dois anteriores álbuns. Com «Autumn Kings», a banda está evoluindo ainda mais o seu som já de si característico. (Lifeforce Records)

Helrunar - «Vanitas Vanitatvm» (Alemanha, Black Metal) Fundados em 2001, os instigadores alemães de black metal Helrunar, foram-se fortalecendo e estabeleceram as bases dos temas nórdicos com cérebros. Enquanto seu sexto «Niederkunfft» (2015) marcou o início de uma nova era com o recurso à morte arcaica e doom metal refletindo a superstição medieval no rosto do Iluminismo, o sucessor «Vanitas Vanitatvm» mostra mais uma abordagem, embora dentro de um quadro estilístico similar. (Prophecy Productions)

Darkness - «First Class Violence» (Alemanha, Thrash Metal) O comando de thrash metal DARKNESS vem de Essen (Altenessen), Alemanha, que foi um dos pontos mais criativos do thrash, tirando o da Bay Area, nos anos 80. Formada em 1984, a banda fez nome com as demos «Evil Curse», «Titanic War» e «Spawn Of The Dark One». De 1987 a 1989, DARKNESS lançou três álbuns de estúdio. A estréia, «Death Squad», é considerado um clássico do thrash e ajudou a banda a ganhar status de cult na cena do thrash. (Massacre Records)

Decembre Noir - «Autumn Kings» (Alemanha, doom metal) Após os dias de verão, o outono marca um ponto de virada. A luz está desaparecendo. A escuridão assume o protagonismo. O homem

Author & Punisher - «Beastland» (EUA, Industrial doom metal) O visionário de metal industrial AUTHOR & PUNISHER oferece o sexto LP. Este álbum tem música mais agressiva e dinâmica. Estes

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dispositivos são compactos e poderosos, feitos de componentes robóticos, destinados a alta repetição de energia. (Relapse Records)

Korpiklaani - «Kulkija» (Finlândia, Folk Metal) O finlandeses do Folk Metal KORPIKLAANI lança o seu 10º álbum intitulado «Kulkija». Do primeiro ao último tom, uma atmosfera única guia os ouvintes por uma longa jornada. «Kulkija» é o álbum mais longo, mas também o com o som mais natural até à data. Além disso, instrumentalmente, a banda continua o caminho que já começaram a partir de «Manala» (2012). (Nuclear Blast) MaYaN - «Dhyana» (Holanda, Symphonic death metal) MaYaN foi concebido no início de 2010 pelo versátil músico e mentor dos EPICA Mark Jansen com o seu velho amigo Jack Driessen, ex-AFTER FOREVER, com o objetivo de escrever um álbum no estilo que eles sempre quiseram. Evoluindo de um projeto para uma banda de verdade, MaYaN precisava dos músicos perfeitos para ajudar nisso, e como resultado lógico, o baterista dos EPICA, Ariën van Weesenbeek e o guitarrista Isaac Delahaye entraram. Como MaYaN sempre teve um profundo amor por bandas sonoras de filmes épicos, o próximo passo lógico foi gravar um novo álbum com uma orquestra sinfónica. (Nuclear Blast)

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Born To Murder The World - «The Infinite Mirror Of Millennial Narcissism» (Inglaterra, Death Metal/Grindcore) Combinando peças de grindcore furioso e death metal, a nova música “Brutality Alchemist” fornece uma ideia do que esperar quando o álbum de estréia «The Infinite Mirror Of Millennial Narcissism». O resultado final é um dos registros mais empolgantes e destrutivos da memória recente dos Born To Murder The World. (Pioneer Music) The Vintage Caravan «Gateways» (Islândia, Rock psicodélico) A lista de bandas que influenciam o trabalho criativo dos THE VINTAGE CARAVAN é inegável, mas a banda ainda coloca sua marca em cada uma das faixas. O passeio de 48 minutos começa com um choro de guitarra quase ameaçador, que marca «Gateways». 10 faixas, 10 acessos. Eles simplesmente não conseguem falhar a composição de músicas intensas que se reúnem novamente neste coquetel de rock clássico intitulado «Gateways», no qual a banda canta e também refina o seu próprio estilo. (Nuclear Blast)

Oberon - «Aeon Chaser» (Noruega, Black Metal) Fundados em 1994 por Bard Oberon como um veículo para seus estudos e interesses ao longo da vida em hermetismo e rosacrucianismo, espiritualidade gnóstica, magia natural e as forças

que movem a civilização, Oberon é um projeto destinado a explorar o processo interno do destino humano. Profundamente filosófico por natureza, a música de Oberon pode ser melhor classificada como Rock Gnóstico. Somos seduzidos a entrar no mundo sombriamente romântico de Oberon misturando ondas escuras, rock bombástico e elementos neo-folk em um som majestoso, assombroso e melancólico que não conhece fronteiras. (Prophecy Productions) Eye Of Nix - «Black Somnia» (EUA, avant-garde black metal) Eye of Nix foram formado em 2012 com a intenção de conjurar música que é ameaçadora, bonita e dura. O álbum é uma exploração das forças do medo e controlo, respostas a esses poderes insidiosos e invisíveis, o espectro que permanece quando despertamos de sonhos misteriosos e assustadores. Ideia foram trabalhadas para preservar os elementos mais ruidosos de som e criar camadas atmosfericas. (Prophecy Productions)

Windhand - «Eternal Return» (EUA, Stoner/Doom Metal) O pesado quarteto psicodélico da Virgínia WINDHAND lança aqui o seu novo álbum «Eternal Return». Este representa uma nova era para o grupo, um momento de crisálida que os leva a alturas novas e imprevistas. Igualmente informados por um psicótico pesado e confuso, junto com os ícones grunge / grupos alternativos


do final dos anos 80 e início dos anos 90, WINDHAND criou um LP brilhante em escopo, poderoso em execução e perfeito para era actual. (Relapse Records)

afiarem o seu estilo death metal, adicionando elementos de prog, thrash e black metal para torná-lo mais interessante e diversificado. (Season of Mist)

Be The Wolf - «Empress» (Itália, Hard N' Heavy) Be The Wolf é uma moderna banda de Hard Rock formada em 2011. «Empress» é o terceiro álbum da banda, inspirado nas fortes vibrações do Heavy Metal dos anos 80 e algumas influências AOR. A fórmula da banda inclui faixas de alta velocidade, com riffs pesados ​​ e melódicos e solos de guitarra de bom gosto, com algumas baladas de energia ocasionais (embora constantemente mantendo um ritmo consideravelmente rápido durante toda a duração do álbum). 80 inspirou o Hard 'n' Heavy! (Scarlet Records)

Skald - «Vikings Chant» (França, Nordic Viking Metal) SKÁLD é um projeto único em música inspirado na mitologia nórdica. Desenvolvido ao longo do tempo por um grupo de entusiastas, o projeto surgiu quando o produtor-compositor Christophe Voisin-Boisvinet encontrou um trio de cantores talentosos cujas vozes tinham timbres atípicos. Juntos, eles decidiram dar nova vida à poesia dos antigos skalds, cuja antiga linguagem - Old Norse - contava histórias dos vikings e seus deuses. SKÁLD mergulha num conto distante, que toma sua origem numa era primitiva, enquanto os reis dos mares do Norte fizeram os impérios tremerem... (Solstice Promotion)

Esben And The Witch «Nowhere» (Alemanha, Expansive Primal Goth-Punk) ESBEN AND THE WITCH de Berlim / Reino Unido, com base no Reino Unido, metodicamente caminharam por seus próprios caminhos; um destino que lhes permitiu ser inventivamente colaborativo, furtivamente prolífico e ferozmente independente. No máximo, o quinto disco da banda, «Nowhere», atesta isso e simultaneamente celebra o décimo aniversário dos ESBEN AND THE WITCH. Com assombrações, passagens tranquilas, uma ferocidade primal expressa em riffs distorcidos e influenciados pelo punk e a voz sedutora da vocalista Rachel, as extremidades da beleza, do barulho e do poder foram testadas na última década. (Season of Mist) Prophetic Scourge - «Calvary» (França, brutal death metal) Nascido das cinzas de Scars em Murmansk e Alshamath, Prophetic Scourge é um grupo jovem do sul da França que toca death metal progressivo, mas numa veia extremamente brutal. «Calvary» vê os franceses aperfeiçoarem e

Bald Anders - «Spiel» (Alemanha, Progressive rock/metal) BALD ANDERS da Alta Baviera, Alemanha, volta com uma explosão neste segundo álbum! Muitas comparações foram feitas, mesmo sugerindo que o quarteto soa como “uma mistura estranha entre Sólstafir e Helge Schneider”, um famoso comediante alemão. «Spiel» ("jogo"), no entanto, mostra a banda num modo mais agressivo. BALD ANDERS transcende fronteiras estilísticas com muita paixão e imaginação. Raízes

de black metal retorcidas são escavadas no momento seguinte. (Trollmusic) Atreyu - «In Our Wake» (EUA, Metalcore) ATREYU têm o prazer de anunciar o lançamento do seu sétimo álbum de estúdio, «In our Wake». Atreyu reagrupou-se no sul da Califórnia e começou a compartilhar ideias sobre o que viria a ser o número sete. Cerimoniosamente, todos concordaram que seria o momento certo para se reunir com o produtor John Feldmann. (Spinefarm Records) Slaegt - «The Wheel» (Dinamarca, Black/Heavy Metal) Desde a sua fundação em 2011, os SLAEGT encontraram um estilo único e próprio de tocar heavy metal. As influências são tiradas de um amplo espectro de movimentos tão diversos como o NWOBHM, a (s) cena (s) black metal dos anos 80 e 90 e tudo entre e além. SLAEGT toca um heavy metal enegrecido épico, mas sem nenhum tipo de limitação quando se aproxima do estilo. «The Wheel» é um álbum que mostra uma banda que cresceu sem esquecer, de onde veio. (Ván Records)

Rising - «Sword And Scythe» (Dinamarca, Sludge/Groove Metal) Metal épico dos RISING dá um salto ambicioso com o quarto álbum, «Sword And Scythe«, um álbum conceitual sobre a história da humanidade visto sob

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a perspectiva da circularidade cósmica, onde todo o potencial da visão musical da banda se desenrola numa coleção de canções de ambas visões progressista, domínio melódico e agressão feroz. Musicalmente, o álbum mostra um conjunto movendo-se em direção a uma onda mais progressiva, enquanto opera confiança dentro de uma ampla gama de dinâmicas e facetas de sua própria capacidade de composição e execução. (All Noir) Vouna - «Vouna» (EUA, funeral doom Metal) Os vocais cantados com tristeza e as melodias cinematográficas são combinadas com baterias de doom, enquanto camadas de sintetizadores digitais primitivos dos anos 90 evocam uma paisagem sonora exuberante e acidentada. A música foi inspirada e influenciada pelo funeral finlandês, pelos mestres ingleses My Dying Bride, pelo black metal do leste europeu e pela música folclórica grega. (Artemisia Records) Monuments - «Phronesis» (Inglaterra, Progressive metalcore) Os iluminados do metal progressivo, Monuments, estão de volta com o seu trabalho mais inovador, «Phronesis». A oportunidade de consertar mentes e curar as feridas não apenas fortificaram Monuments, mas também permitiram ao compositor John Browne o espaço para criar o melhor o material até hoje. (Century Media) Vitja - «Mistaken» (Alemanha, Experimental Groove Metal) Os pesos pesados ​​alemães VITJA - que se traduz em "vencedor" de russo - já percorreu um longo caminho desde 2017. VITJA regressa ao seu estado livre com o seu terceiro LP, onde os compositores estão abertos para explorar, descobrir e criar sem noções preconcebidas do que deveria ou poderia ser. «Mistaken» é o registro aventureiro, descarado, barulhento, pouco ortodoxo,

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agressivo e abatido. (Century Media)

Voivod - «The Wake» (Canadá, Progressive Metal) A única coisa previsível sobre os guerreiros canadianos de metal cósmico Voivod, é que eles serão para sempre imprevisíveis. Eles literalmente mudaram a cara do thrash metal nos anos 80, forjaram novo campo de metal progressivo nos anos 90, e acompanharam os tempos e line-ups em mudança nos anos 2000 com música nova e inspirada. Em 2018, o 14º álbum de estúdio do Voivod, «The Wake», está aí. «The Wake» conduz os Voivod através de um enredo tortuoso e tentador, entremeado na experiência musical mais envolvente que a banda embarcou desde os dias inebriantes do final dos anos 80. (Century Media)

Lethean - «The Waters Of Death» (Inglaterra, Epic Heavy Metal) LETHEAN cruza caminhos doomicos com heavy metal épico

deste duo único do Reino Unido! LETHEAN lançou seis canções de doom triste e cheio de nuances com metal clássico sob o título «The Waters of Death». O álbum apresenta uma infinidade de estilos e influências, com melodias tristes e riffs clássicos complementando a entrega apaixonada e cheia de alma de Paavana. (Cruz Del Sur Music)

Septagon - «Apocalyptic Rhymes» (Alemanha, Speed/Thrash Metal) Thrash e power metal unemse como nunca antes numa tempestade sócio-política que testa a mente e bate a cabeça! SEPTAGON ultrapassa os limites dos subgéneros com músicas técnicas, ainda que cativantes, em «Apocalyptic Rhymes», repletas de melodias arrojadas e interação vocal estelar. Imaginando que eles poderiam melhorar a sua estreia, SEPTAGON logo escreveu e gravou dez músicas que se tornariam o seu segundo álbum, o apropriadamente intitulado «Apocalyptic Rhymes». (Cruz Del Sur Music) Slegest - «Introvert» (Noruega, black metal and classic heavy rock) «Introvert» vê SLEGEST verdadeiramente solidificando a mistura de black metal e rock pesado clássico que é o seu som característico. Preenchido com riffs saborosos e ganchos acutilantes, a sensação dos anos 80 faz-se sentir sutilmente no novo álbum. A música de Slegest sempre se


alimentou de humores interiores, sentimentos, nostalgia e rock pesado. (Dark Essence Records) Rauhnåcht - «Unterm Gipfelthron» (Austria, Pagan Black Metal) Com um sussurro de tempos esquecidos, algo surge na atmosfera austríaca. RAUHNÅCHT regressa à luta com seu maior trabalho, «Unterm Gipfelthron». Ultrapassando os limites do som frio do black metal, este apresenta um novo nível de profundidade e evolução. Riffs de black metal furiosos, gritos e batidas explosivas colidem com melodias vitoriosas, instrumentação folclórica e mística, sintetizadores misteriosos e cânticos sobrenaturais que evocam os tempos esquecidos e as paisagens típicas alpinas. (Debemur Morti Productions) Akula - «Akula» (EUA, progressive/psychedelic heavy rock) Composto por quatro faixas emersamente pesadas tanto em tom, como em ressonância emocional, AKULA roda uma gama atmosférica liderada pelo riffing ondulante e espaçoso do guitarrista Chris Thompson e Sergei Parfenov e as melodias emotivas do vocalista Jeff Martin. AKULA apresenta um ambiente que apaga a linha entre o heavy rock progressivo e o pós-metal. (Earsplit) Hissing - «Permanent Destitution» (EUA, Death Metal) Composto pelo baixista / vocalista Zach Wise, o guitarrista Joe O’Malley e o baterista Sam Pickel, HISSING envolve em death metal obscuro, dissonante, cacofónico e invertido, encharcado de ruídos, e com «Permanent Destitution» a banda criou uma visão niilista de desordens auditivas sobrenaturais. (Earsplit) Myopic - «Myopic» (EUA, progressive post-metal) O álbum homônimo de estreia da banda de pós-metal progressivo MYOPIC. Com oito faixas e mais

de cinquenta e cinco minutos de material expansivo, o aguardado álbum cumpre a progressão que os MYOPIC fizeram como banda, variando amplamente do death metal ao black metal, ao pósmetal e ao doom, num momento reminiscente de Krallice e próximo de Yob. (Earsplit)

Slasher Dave - «Frights» (EUA, Instrumental Horror/Exploitation) SLASHER DAVE, o formidável frontman do Acid Witch de Detroit, e 20 Buck Spin uniram forças para trazer um tratamento especial. Em «Frights», o quarto álbum solo, SLASHER DAVE apresenta um lado mais pesado para o mundo do álbum instrumental de sintetizadores. Ritmos industriais aterrorizantes pulsam através de uma paisagem sonora eletrizante de sintetizadores analógicos, baixo forte, guitarras distorcidas. Estes doze pesadelos de um sintetizador de terror desordenado certamente espalharão arrepios na espinha de qualquer Halloween. (Earsplit) Serocs - «The Phobos 2Fdeimos Suite» (México, Brutal Technical Death Metal) «The Phobos / Deimos Suite» reaviva o estilo tech-death do final dos anos 90 / início dos anos 2000 e inclui dez faixas devastadoras! O combo internacional Serocs é puro ecstasy neural! O álbum inspirase em The Divine Comedy / A Christmas Carol e contos similares. (Everlasting Spew Records)

Snakes In Paradise - «Step Into The Light» (Suécia, Hard rock) Imagine uma combinação de hard rock britânico dos anos 70 e American AOR, interpretada por um vocalista de blues, com quatro músicos excepcionais que estabelecem a estrutura musical. Isso é o que Snakes In Paradise é. Melodias fortes e refrões que ficarão para sempre na sua cabeça e uma atitude rock ‘n roll são os ingredientes que chamam a atenção da banda. (Frontiers Music) Treat - «Tunguska» (Suécia, Melodic Rock, AOR) Com base no sucesso de seus dois últimos álbuns, o retorno de TREAT tem sido bem recebido, lançando aqui o seu novo álbum, repleto de momentos rock fascinantes e músicas de rock melódico sedutoras, numa onda de criatividade e grande antecipação. Mas o que é “Tunguska”? O título do álbum é uma referência a uma misteriosa grande explosão que ocorreu na Sibéria em 1908, mas representa a última peça do quebra-cabeça a ser colocada desde o reencontro da banda. (Frontiers Music) Uriah Heep - «Living The Dream» (Inglaterra, Progressive Rock) Uriah Heep lança finalmente o seu aguardado novo álbum de estúdio - o 25º da célebre carreira - que é intitulado, «Living The Dream». há 47 anos e com muitas bandas indo e vindo, então, na verdade, Uriah Heep ‘Still Living The Dream’

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– continua a viver o sonho, foi o título perfeito para o novo álbum. A banda está muito animada com o material escrito para o novo álbum, que inclui algumas adições épicas ao imenso catálogo da banda. (Frontiers Music) Azusa - «Heavy Yoke» (Internacional, Progressive Extreme Metal) Um carnaval de contraste, Azusa faz música cativante com nervos não convencionais. Unindo as habilidades complementares de seus membros, o som dos Azusa é um tour de force thrash-fusion. Imagine Kate Bush defrontando o Slayer? Incomumente experimental, a abordagem Azusa é a de mostrar os pontos fortes de cada membro como uma reação aos esforços produzidos anterioremente. Desafiando expectativas ao abraçar a contradição, Azusa encontra força na vulnerabilidade, harmonia na dissonância e melodia na discórdia. (Indie Recordings)

Ljungblut - «Villa Carlotta 5959» (Noruega, alternative rock) Ljungblut começou originalmente como um projeto a solo do baixista e letrista do Seigmen / Zeromancer, Kim Ljung, em 2005. Ele precisava de uma saída para as músicas que não se encaixavam nas suas principais bandas. Depois de três álbuns a solo em inglês, o projeto evoluiu para um quinteto. «Villa Carlotta 5959» é o sexto álbum dos Ljungblut, e o último de uma trilogia de álbuns com letras

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norueguesas. Aqui, várias músicas têm referências históricas. O álbum tem uma ampla gama de tempos e dinâmicas, mas ao mesmo tempo um som coeso e humor melancólico. (Karisma Records) Dragony - «Masters Of The Multiverse» (Austria, Symphonic Power Metal) O Projeto Dragonslayer causou um alvoroço na cena austríaca. O que começou simplesmente como um projeto, rapidamente se tornou numa banda estabelecida. A banda mudou o nome para o DRAGONY, para ficar mais simples. Seis anos depois, DRAGONY apresenta o seu terceiro álbum de estúdio intitulado «Masters Of The Multiverse». As dez novas faixas são bem equilibradas e cobrem todo o espectro de monstros riffs a bombardeiros de alta velocidade a baladas épicas. Entre riffs martelados e partes temperadas, mas complexas, melodias cativantes e refrões substanciais desempenham um papel significativo no som de metal sinfónico geral do novo álbum. (Limb Music)

Blood Of The Sun - «Bloods Thicker Than Love 2018» (EUA, Stoner Doom) BLOOD OF THE SUN vem apresentando um hard rock super cativante ao longo de seus 4 álbuns, produzindo hits dos anos 70 com tanta facilidade e convicção marcante. Reconhecidamente retro, mas com tanta determinação e grande

entusiasmo, os BLOOD OF THE SUN forjaram um som identificável tornando as suas influências uma parte original e integrante de seu som característico. O novo álbum «Blood» é mais espesso que o processo de composição. (Listenable Records)

Commonwealth - «Everyone Around Me» (EUA, Ambient Alternative Rock) Commonwealth (n): uma organização, política ou social, fundada para o bem comum. Descrevendo-se como “música honesta para a alma desgastada”, COMMONWEALTH usa um estilo sutil e etéreo de alternativo pósrock com lirismo caprichoso e melancólico, numa entrega vocal pungente como meio de pura catarse. Enérgico o suficiente para permanecer cativante e envolvente, enquanto sombrio e sóbrio o suficiente para falar com a alma do ouvinte. (Nuclear Blast) Eisregen - «Fegefeuer» (Alemanha, Extreme Metal) Nos 23 anos de existência da banda, as lendas alemãs de metal extremo EISREGEN, entregam o seu 13º álbum de estúdio chamado «Fegefeuer» - e é um de seus melhores álbuns até agora! Os dois líderes da banda, M. Roth e Yantit, passaram meses trabalhando nos 11 novas músicas. Do ponto de vista musical, a EISREGEN permaneceu fiel a si mesmo - a banda nunca se esquivou da diversidade e M. Roth mais uma vez traz letras controversas,


macabras e geniais que algumas pessoas vão considerar desagradáveis e ​​ outras vão adorar. (Massacre Records) Radiant - «Radiant» (Alemanha, Hard Rock) A ideia principal que alimentou o processo de gravação do álbum «Radiant» foi a de criar um hard rock honesto e sem frescuras! É essa interação íntima que é uma das razões pelas quais o som único dos RADIANT saiu do jeito que é. Uma das marcas registradas dos RADIANT é a voz poderosa e variada do excepcional vocalista Herbie Langhans. Outras das marcas registradas incluem um baixo virtuoso, uma bateria poderosa, guitarras ricas e solos de alta qualidade. RADIANT toca um rock honesto, poderoso, melódico e cativante. (Massacre Records) Seita - «Maledictus Mundi» (Holanda, Death/Thrash Metal) «Maledictus Mundi» dos SEITA combina elementos de death, thrash, hardcore e groove metal, para formar um som de terror esmagador que muitas bandas não podem rivalizar! Numa época em que o metal dirigido pela raiva parece ser uma espécie de raridade, «Maledictus Mundi» impõe-se sobre essa ira e indignação, muitas vezes, direcionadas às injustiças da sociedade. De grooves pesados ​​a batidas explosivas de metralhadora, «Maledictus Mundi» é uma viagem frenética e visceral que o leva a um reino de peso puro! (Massacre Records) Nothgard - «Malady X» (Alemanha, Epic Melodic Death Metal) Arranjos épicos, ganchos fascinantes e um padrão técnico à procura de seus pares. NOTHGARD, a banda fundada pelo cantor e guitarrista Dom R. Crey em 2008, está agindo neste sentido. «Malady X» abre uma nova era para Nothgard. Enquanto eles mantêm os seus elementos estilísticos, contam sempre com as

suas características musicais únicas e um som sábio. As composições em «Malady X» colocam a barra mais alta e o caminho a seguir a níve3l de som. (Metal Blade)

Dodsrit - «Spirit Crusher» (Suécia, Black Metal/Crust) Dödsrit consegue uma mistura de estilos que os coloca num lugar no meio termo entre a desolação da negritude e o esmagamento de melodias crostosas e edificantes dos riffs punks. Dödsrit não é necessariamente um assumir de tantos estilos, talvez limitando-os ao black metal, crush, d-beat e pósmetal, embora como é evidente em «Spirit Crusher», o segundo álbum de Öster como Dödsrit, encontrou o equilíbrio perfeito para fundir e criar um Opus desconcertante. (Prosthetic Records) Outer Heaven - «Realms Of Eternal D» (EUA, Death Metal) Conjurados no interior da Pensilvânia, os recém-chegados do Death Metal, OUTER HEAVEN, lançam o seu tão aguardado álbum de estreia, «Realms of Eternal Decay». Em 10 faixas de death metal grotesco e cheio de grooves de Death Metal, os OUTER HEAVEN imediatamente elevam o padrão da nova geração de bandas radicais. (Relapse Records)

de sangue e letras. Preparese para uma enorme onda de Metal Headbanging Clássico. Musicalmente, é mais desafiador tecnicamente que os anteriores, há mais melodia nos vocais e tem um som mais definido nas guitarras. (Scarlet Records)

Sadist - «Spellbound» (Itália, Progressive Death Metal) «Spellbound» é o novo álbum dos veteranos do Progressive Death Metal, Sadist. «Spellbound» é centrado em torno da vida e obra do influente cineasta Alfred Hitchcock. Cada uma das 11 músicas incluídas no álbum traça o enredo de um filme de Hitchcock, incluindo obras como “Frenzy”, “Notorius”, “The Birds” e, claro, “Psycho”, todas com um toque sádico muito distinto que as destacam. Musicalmente, «Spellbound» é um dos álbuns mais pesados ​​e mais sombrios da banda até hoje, onde as influências Progressive e Death Metal estão intactas. (Scarlet Records)

My Regime - «Peek Through The Pines» (Suécia, Swedish Thrash Metal) O álbum é infundido com frenesi e mudanças de humor. Escuridão e luz solar metálica. Riffs cheios

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Festivais a norte Por: Emanuel Roriz

A norte do país a tradição festivaleira assume contornos de primordialidade. Viajemos até ao Vilar de Mouros ’71 e lembremo-nos daquele que foi apelidado de Woodstock português. Bem perto deste, nascia anos mais tarde, em 1993, o Festival Paredes de Coura, aquele que é nos dias de hoje um festival com carisma único e com referências além-fronteiras. Para além dos grandes nomes que pisaram os seus palcos, sempre houve um sentimento de bom acolhimento e bem-estar dos festivaleiros em comunhão com a atmosfera envolvente. Estas são características que perduram até aos dias de hoje e que parecem ter contagiado outras organizações que despontaram neste canto litoral.

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XXII SWR Barroselas Metalfest (26 a 28 Abril) No final do mês de Abril, voltar a entrar na Vila de Barroselas tem sabor a regresso a casa. Depois do primeiro posto de segurança, atinge-se o cimo da estrada e desce-se em direção ao festival. A largura da estrada nacional é tudo o que separa a zona de campismo do recinto do SWR – Barroselas Metalfest. Arranjar uma sombra, ou abrigo para a chuva, nunca é problema. Depois de “devidamente” instalados, os festivaleiros estão mais do que prontos, e desejosos, de mergulhar no caldeirão de música extrema que cada edição do SWR nos tem vindo a servir. A 22ª edição que acontece este ano nas datas de 26 a 28 de Abril volta a surpreender, mesmo os mais atentos, com a variabilidade de bandas e estilos que irão subir aos 3 palcos do evento. A área de concertos não tem parado de evoluir desde a primeira vez que me desloquei até Barroselas, por altura da 10ª edição, para ver especialmente o concerto dos germânicos Dew-Scented. Nessa mesma noite, a última da décima edição, assistiu-se ainda à divertida celebração que foi o concerto da banda de tributo aos Metallica - Mongollica – com um alinhamento perfeito para um concerto dos compositores de «Master Of Puppets». A identidade do festival está perfeitamente definida e quem lá vai sabe que irá encontrar bons concertos, revelações, caras conhecidas, amigos, cerveja, convívio…futebol. Para os próximos dias 26 e 28 de Abril está reservado um dos cartazes mais ambiciosos do SWR Barroselas Metalfest. As propostas continuam a primar pela variedade, que se estende desde o registo industrial dos Godflesh até ao speed/black metal dos Midnight. Não posso deixar de enumerar outros actos que por lá acontecerão, e acredito que os furiosos The Black Dhalia Murder, os clássicos Saint Vitus e Benediction, a presença inédita das brasileiras Nervosa e o lote de coqueluches da cena underground nacional, são razões mais do que suficientes para vos fazer rumar à singela vila de Barroselas.

Laurus Nobilis Music (25 a 26 de Julho) Em pleno pico do Verão surge um festival emergente, que tem lugar em Famalicão na freguesia do Louro. É do Laurus Nobilis Music que falo. Festival que nos últimos anos se fez notar junto do público adepto da música de peso com a presença de nomes como Amorphis, Moonspell, Bizarra Locomotiva, Septicflesh ou Dark Tranquillity. A Versus Magazine já por lá passou em edições anteriores e em 2019 não posso deixar de ficar empolgado ao ver novamente um cartaz em que se aposta na promoção do som nacional; Sinistro, Peste e Sida, Miss Lava, Analepsy, Toxikull, a par de nomes de circuito mundial como Samael, Fleshgod Apocalypse e do contingente sueco de luxo, Hypocrisy, Soilwork ou Entombed .A.D.. Em 2018 assistiu-se à afirmação deste festival com a sua edição mais concorrida até à data. O modelo de organização do espaço, com um palco de acesso grátis à porta do campismo e zona da alimentação, demonstram ser parte importante do sucesso desta organização. O Laurus Nobilis Music é mais um projecto de gente da terra e que se apoia nas instituições empresariais da zona para juntos mediatizarem este evento. Para o sucesso de mais uma edição “Só faltas tu…”

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Sonic Blast Moledo (8 a 10 de Agosto) O Verão adensa-se com a sonoridade rock/stoner/sludge/doom, prato principal do festival Sonic Blast. É junto à praia de Moledo, em Caminha, que desde 2011 se tem vindo a erguer este festival que já conquistou o seu lugar e identidade no mapa de festivais nacional, e além fronteiras, se olharmos à variedade de nacionalidades que se encontram pela plateia. O cenário é mais do que convidativo. A praia, o místico Forte da Ínsua e o monte de Sta. Tecla como pano de fundo, são o deleite essencial que complementa na perfeição a simbiose entre esta sonoridade pela qual nos apaixonámos e o copo de cerveja fresca que seguramos na mão. Ao longo das várias edições trouxeram até Portugal nomes raros de ver por cá e ajudaram a que alguns deles se tornassem verdadeiros fenómenos de popularidade à escala no nosso país. Da Islândia vieram os The Vintage Caravan, da Ucrânia os Stoned Jesus, os Blues Pills da Suécia, os The Atomic Bitchwax de Nova Jérsia e da Alemanha os já tradicionais Kadavar. A lista poderia continuar, mas estes serviram-se seguramente da passagem pelo Sonic Blast para solidificar a sua base de seguidores. Na edição deste ano regressam os Graveyard e Orange Goblin, a par de várias estreias a não perder. E nesta praia há sempre espaço para os projectos nacionais, embora em 2019 o contingente nacional ainda se encontre reduzido aos Jesus the Snake.

Rodellus (18 a 20 de Julho) E por falar em cenários convidativos, não poderia deixar de fora o festival para quem não tem medo do Campo. Acontece em Braga, na freguesia de Ruílhe, e a quinta colheita do festival Rodellus está agendada para os dias 18, 19 e 20 de Julho. Deixar-se surpreender pelo ambiente rural, verdadeiramente campestre, e os vários espaços onde o festival se desenrola é uma grande valia do evento. Nas últimas edições, os espetáculos estenderam-se até à freguesia vizinha, em Cunha, com concertos na paz do parque de merendas. Sendo muito mais do que um festival de rock, no Rodellus cultiva-se também a mensagem ecológica e da sustentabilidade. Em virtude disso foi já distinguido pelo Fundo Ambiental com o galardão “Sê-lo Verde” e na edição de 2019 dos Iberian Festival Awards venceu na categoria de “Melhor Festival de Pequena Dimensão”. Para a edição deste ano está já confirmada a presença de nomes como Paraguai, Bee Bee Sea, Gator The Alligator e Solar Corona. E para que nos situemos no âmbito musical desta organização, relembremos que por lá já passaram nomes como The Vintage Caravan, Ecstatic Vision, Slift, The Quartet Of Whoa, Filho da Mãe, Madrepaz, Fugly, entre muitos, muitos outros. Quem pode poda, e quem pode vai ao Rodellus.

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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

Não haja dúvida Sou um fora daqui! Cada vez mais gosto da terra e das árvores e os animais fazem-me sorrir. A sociedade é das coisas mais estranhas que conheço: Uns não têm cultura ou formação e são demais. Outros têm um pouco de tudo e são criticados. Aparências Sensações Materialismo O absurdo tem piada O ridículo ganha vida Falta-me a coragem de fugir daqui Porque tenho sempre a esperança de te encontrar. Andar no mundo Como eu ando Préviligiado com amigos bons e interessantes, não chega. Sinto-me sozinho O mundo é belo cheio de gente estranha! Melhor sozinho Assim a morte nos leva também. Quais palavras de paz Partilha Ou afecto? Traz-me sensações fáceis e rápidas O segredo da felicidade está no desfile hipócrita deste palco. Mostra que és actual Mostra que és um ser de sucesso sendo escravizado e esventrado por aqueles que eleges Mostra tudo o que é futil E faz de conta que te importas com a fome, a guerra, e toda a desigualdade do mundo, e não te esqueças disto Nós os ditos desenvolvidos somos o cancro dos países do terceiro mundo. Assim houvesse um deus... Nem que fosse minorca, mas que fosse um deus. Um deus como se costuma dizer Com eles no sítio... Coisa de macho que as mulheres gostam de usar por vezes, quando se referem a coragem. Que se foda a inteligência E o conhecimento Não é preciso neste mundo em que vivemos

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Fantasia citadina O nome de Flak é, obviamente, associado de imediato aos míticos Rádio Macau, visto ter sido um dos seus principais compositores, e como tal, “culpado” pelo seu enorme sucesso. A Versus foi saber mais sobre a sua “Cidade Fantástica”, o seu mais recente álbum de originais, a sua participação no Festival da canção, e como não poderia deixar de ser, revisitar episódios épicos do seu passado musical. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Emanuel Roriz | Ivo Broncas Fotos: Vitorino Coragem

Ivo - Li numa entrevista tua uma afirmação curiosa: “Acho que a realidade é apenas uma projecçãoque eu posso manipular.” A tua «Cidade Fantástica» é isso mesmo? Pores em música tudo aquilo que gostarias que te rodeasse? Flak - Houve uma fase da minha vida em que nos meus sonhos ia parar recorrentemente a um mundo estranho em que tudo se passava de uma forma um pouco desagradável. Eram tantas as vezes que passava por lá que pus em causa qual deles seria o real. Sim, quando estou a compor a música transportame. Por isso é que para mim é essencial escrever canções. É viajar noutra dimensão. Ivo - Este álbum apresenta uma faceta do Flak diferente daquela que fãs de rock mais puro, mais desatentos à tua evolução musical, estariam possivelmente à espera. Queres tentar explicar brevemente como esta se processou? Este disco foi construído lentamente em estúdio. É mais uma experiencia sónica do que um disco de banda. Foi um processo muito intuitivo. Todos, o Benjamim o António Vasconcelos Dias e eu demo-nos total liberdade para experimentar tudo aquilo que nos apeteceu na altura. E quando assim é o resultado torna-se único e diferente. Ivo - Após um longo e brilhante percurso na música Portuguesa, que sonoridades ainda tens vontade de explorar? E o Rock? É a base de tudo, ou um caminho já trilhado ou poderá ser percorrido um dia mais tarde? Curiosamente, acho que o único disco de rock puro e duro que gravei foi o Palma’s Gang no Johnny Guitar. Os Rádio Macau também faziam rock mas sempre dispararam em muitas direcções.Prometi a um amigo de longa data que fazia um disco de rock com

muitas guitarras e agora não posso falhar. Está na lista de tarefas. Emanuel - Sendo o Festival da Canção e a Eurovisão momentos onde a música assume a dimensãode representatividade de uma nação, sentes algum tipo de responsabilidade ao seres compositor de uma das canções participantes? Quando apresento uma canção a responsabilidade é sempre a mesma. Tenho de gostar do que faço senão não estou a ser honesto comigo próprio. Emanuel - Guardas algumas recordações especiais da história do Festival da Canção, que te tenham servido, ou ainda sirvam, de inspiração? Guardo uma boa recordação dos dias que lá passei. É bom saber que os comentários odiosos que lemos nas redes sociais fica com quem os escreve. Emanuel - Quais são para ti os ingredientes essenciais para uma canção de Festival da Canção? Não sei. Já ganharam canções tão diferentes por critérios tão diferentes que penso sinceramente que a música em si desempenha apenas uma pequena parte de todo o processo. Temos o caso do Conan Osiris. Seria impensável há alguns anos uma canção assim sequer concorrer ao festival. Agora já todos sabíamos à partida que ia ganhar. O Salvador Sobral também não seria à partida uma escolha óbvia. Os tempos estão sempre a mudar. Eduardo – Numa breve pesquisa pela net li uma entrevista da Xana – datada de 2016 - em que ela diz: “Há. A vontade nunca se perdeu. [Reunião dos Radio Macau] Eu não estou zangada com a música. Muito menos com os Rádio Macau. Continuam a ser os meus melhores amigos, são meus irmãos. Temos mesmo uma relação fraterna.”

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Este disco foi construído lentamente em estúdio. É mais uma experiencia sónica do que um disco de banda.

- Existe, também, da tua parte este sentimento de fraternidade para com os Radio Macau? Existe essa fraternidade entre os Rádio Macau e continuamos a estar juntos regularmente em outras situações para além da música. Crescemos juntos e passamos a maior parte da nossa vida juntos existe uma ligação muito forte. - Sendo assim, estará nos teus planos dar asas a este sentimento de fraternidade e voltar a reunir, um dia… quem sabe… os Radio Macau? Não me sinto nada nostálgico ou revivalista. Ainda tenho imensas coisas que quero fazer e nesta altura são para mim a prioridade. Ainda agora convidei a Xana para cantar num concerto que tenho agendado em Julho no Olga Cadaval. Tocamos juntos desde muito novos e a ligação é muito forte. Agora voltar a por a banda na estrada como antigamente com todo o esforço estrutural que isso implica acho que já ninguém está muito nessa. Eduardo – Um dos meus projectos favoritos é (foi?) o Palma’s Gang. - Tu lembras-te como surgiu a oportunidade de integrares esse projecto? A ideia partiu do Zé Pedro. Juntar os sócios do Johnny Guitar com o Jorge Palma para formar uma banda e gravar um disco. Os sócios eram o Kalu o Alex e o Zé. Só que fazia falta mais uma guitarra visto tanto o Jorge com o Zé não serem solistas. E aí entrei eu. - … e depois veio o mítico concerto Johnny Guitar. Guardas alguma memória ou históriasdesse dia? Claro. Os nossos ensaios eram passados no café ao lado do estúdio a beber imperiais. Ao vivo, compensávamos a falta de ensaios com muita energia. Na verdade foram três dias de concertos. Depois escolhemos takes dos dois primeiros. No terceiro já

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estávamos esgotados. Tivemos de pagar umas férias no Algarve à vizinha de cima do Johnny Guitar. Quando tocávamos a vibração era tanta em casa dela que as loiças começavam tremer e a cair das prateleiras. Era uma sensação incrível. Eu e o Zé Pedro tocávamos lado a lado com uma parede de colunas Marshall. As guitarras fundiam-se numa só. Depois com a energia do Kalu do Alex e do Palma era avassalador. Uma banda de rock a sério. - Tal como o Johnny Guitar em Lisboa, o Porto tinha o (antigo) Hard Club. Fazem falta salas destas, com este carisma, em Portugal? Muita falta! Passei muitos bons momentos tanto numa como noutra. E antes no Rock Rendez-Vous. Eram pontos de encontro tanto de músicos como de quem gostava de mergulhar na onda. O Palma’s Gang também fez concertos memoráveis no Hard-Club. - O que dirias se o Jorge Palma voltasse a querer reunir o Palma’s Gang? Ou melhor, na tua opinião, fará sentido haver Palma’s Gang sem o Zé Pedro? Reunimo-nos este ano no festival Super-Bock na homenagem ao Zé Pedro e a energia estava lá. Mas só faz sentido assim pontualmente e em homenagem ao Zé Pedro o criador da banda. Eduardo – Bem… tenho um amigalhaço que é fã do Jorge Palma e, obviamente, Palma’s Gang. No alto do meu altruísmo disse-lhe que te ia entrevistar e se queria saber alguma coisa em particular sobre esse concerto. Sendo assim, o que ele gostaria de saber é: nesse dia, chegaste a temer pela vida do Palma? O Palma tem sete vidas. É mais fácil temer pela vida dos que o rodeiam. É feito de uma massa especial. Facebook Youtube


(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

Covers A (Su)Posição deste mês tem a ver com vários temas sobre covers que pululam na minha mente há muito tempo. Para começar convém fazer uma pequena distinção (esta distinção é aquela que eu faço e não nenhuma regra universal) entre cover e versão, porque muitas vezes fala-se de covers mas está-se a falar de versões. Para mim, uma cover é uma música original de alguém (seja banda, artista solo, projecto) que é tocada por outrem tentando ser o mais fiel possível ao original. Por outro lado, uma versão também é uma música que já existe mas neste caso quem a toca coloca na sua performance a sua alma, as características do seu próprio som podendo ou não ser parecido com o original. Quando Children Of Bodom “pega” em “Ups! I Did It Again” de Britney Spears, é claramente uma versão porque são artistas de mundos musicais totalmente diferentes e a música original é totalmente diferente da versão dos Children Of Bodom, no entanto quando os Poison “pegaram” na música “Rock & Roll All Nite” dos KISS e fizeram a sua versão, é claramente uma versão que é uma cover porque são 2 bandas do mesmo mundo musical e os Poison foram o mais fiel possível à música original. Outro ponto interessante que quero referir é a situação das bandas (especialmente as de abertura) que nos seus concertos tocam covers/ versões. Os grandes clássicos são sempre uma forma de animar o público mas têm um ponto negativo pernicioso, ao tocarem músicas que não são deles (na maioria do público) o foco desaparece, as músicas originais acabam quase sempre por ser ofuscadas por essas covers/versões, por exemplo em 2007 vi The Fire, no Coliseu do Porto, foi um concerto brutal, com uma enorme energia, Rock & Roll do início ao fim mas o público (a grande maioria) só se animou na última música, uma cover de AC/DC e isto meus amigos pode ser bastante desmotivador para uma banda. O último ponto que eu quero abordar prende-se com um fenómeno recente, produto das redes sociais e da facilidade com que se propaga material musical na actualidade, é aquele fenómeno de “pegar” numa música de grande sucesso (do Pop, do mainstream) e fazer uma versão de forma a transformar totalmente a música em algo que os fãs do estilo (que não os fãs do mainstream) possam gostar, um exemplo claro disto são as versões instrumentais Rock e Metal que pululam de músicas como “Despacito”. Estas “brincadeiras” de internet têm um efeito muito negativo que é espalharem ainda mais, algumas músicas (pavorosas na minha opinião) que não chegariam a quem está desligado do mainstream, ao contrário do que podem pensar estas versões não vão projectar o nome de quem as fãs mas vão projectar ainda mais o original que muitas vezes é uma música totalmente dispensável. Muito mais haveria a dizer, mas isso terá que ficar para uma próxima (Su)Posição. Rock On

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Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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GARAGE POWER

Odisseia Vibrante Os Cosmic Mass chegam directamente da terra dos ovos moles, a Veneza de Portugal – Aveiro. Sobre «Vice Blooms» dizem que é uma espécie de Rock… energético e vibrante. Sonoridade muito interessante que merece a vossa maior atenção. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Marcelo Baptista

Para começar, parabéns pelo vosso álbum e a pergunta para a gente nova: Quem são os Cosmic Mass? De onde vêm e para onde vão? Cosmic Mass: Muito obrigado! Os Cosmic Mass são o André, o António, o Miguel e o Pedro, todos de Aveiro. Vamos até onde nos deixarem ir, só queremos tocar e dar a conhecer a nossa música cá dentro em Portugal, mas também pelo estrangeiro. Como é que vocês se definem enquanto músicos e (visto por vocês que estão dentro) como definem a música dos Cosmic Mass? É sempre difícil essa definição, todos nós temos gostos músicas bastante semelhantes, mas com uma divergência aqui e acolá, o que acaba por resultar na sonoridade do grupo. Também é complicado enquadrar a nossa música num género específico, penso que vagueamos por alguma variante do Rock mas há quem já tenha definido o nosso estilo como Happy Stoner, nós gostámos. O álbum saiu a 1 de Março. Como está a correr a recepção e como está a correr a digressão de apresentação de «Vice Blooms»? Até ver podemos dizer que o balanço é bastante positivo, estamos quase a completar os concertos neste primeiro mês de Março e a adesão tem sido muito boa. Temos sido sempre muito bem recebidos e as pessoas que aparecem nos nossos concertos e nos

veem pela primeira vez têm feito comentários muito simpáticos. Aproveitando a pergunta anterior: o que esperam poder vir a fazer em termos de digressões? Qual a exposição que esperam vir a ter no circuito nacional de espectáculos? E perspectivas de internacionalização, há algumas? Nesta fase o que pretendemos é dar-nos a conhecer o máximo possível. Esta digressão do Vice Blooms passa um pouco por todo o país e estamos já fazer planos para um conjunto de concertos lá fora. Uma pergunta que costumo fazer a muitas bandas novas que me vão passando pelas mãos: Vocês esperam marcar, de alguma forma, o panorama musical em Portugal? Apesar de não ser uma preocupação ou objetivo que colocamos em primeiro plano, é sempre uma ambição nossa ter algum tipo de impacto no mundo da música e se assim for, é sinal de que estamos a fazer bem o nosso trabalho. Aproveitando esta temática, o que é que vocês acham da mediocridade da muita música portuguesa que passa na TV – Festival da canção, por exemplo e em muitas rádios generalistas? Acham que o facto do Conan Osiris ter ganho o Festival reflecte o gozo dos Portugueses e o desdém por este tipo de certame ou somos mesmos iletrados musicalmente?

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[...] é complicado enquadrar a nossa música num género específico, penso que vagueamos por alguma variante do Rock [...]

de forma a contar uma história. Existem duas personagens sobre as quais o disco se foca, uma personagem principal que pode ser entendida como uma pessoa com uma vida normal mas que acaba por se deixar influenciar por Vice, a personagem que é representada pelos vícios e pela má vida. Já agora, há algum conceito subjacente às vossas letras? O conceito acabamos por explicar na questão anterior. Ao longo do disco vai se assistindo à decadência gradual da personagem principal que se deixa levar pelos conselhos de Vice, acabando os dois por ter um fim dramático. Quem é o/a Baby Cosmic? É o nosso Miguel, é Baby porque ele é o mais baixo e novo de todos. Geralmente peço aos entrevistados para falar sobre um tema em particular. Vocês não serão excepção. “Vice Blooms” tem um riff excelente que dá vontade partir o que está à volta, inclusive o pescoço! (risos) Conta-nos um pouco mais sobre este tema… quem compôs este tema? E já agora, porque não foi este o primeiro tema/single a ser lançado? A ideia inicial para este tema veio do Miguel e na verdade poucas alterações foram feitas. É sempre difícil justificar a escolha de um single, este Vice Blooms é um tema um bocado complexo comparativamente à I’ve become the sun, que por sua vez é muito mais fácil de assimilar numa primeira audição.

Bom, acho que o Festival da Canção não é o melhor exemplo e não representa o panorama atual da música que se faz em Portugal. No que toca as rádios, existe uma oferta grande e não penso que varie muito em relação a outros países, há de tudo. O Conan Osiris parece ser já um tema tabu, não somos propriamente fãs da música dele mas penso que todos o respeitamos e na verdade o tema dele é bem melhor do que muitos que são apresentados nesse concurso. Gostei muito da vossa sonoridade, o baixo a fazerse ouvir, sem grande compressão, muito bom dinamicamente. Quem produziu e masterizou «Vice Blooms»? O nosso disco foi gravado, produzido e masterizado pelo Hugo Ribeiro e pelo Alexandre Braga da Adega Records. No vosso CD dizem que todas as personagens do álbum são ficcionais. Quem são essas personagens? Bom, este disco é de certa forma um álbum de conceito e todas as músicas estão interligadas

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Vocês não têm editora. Está nos vossos objectivos serem representados por uma? Não o consideraria um objectivo. Até agora temos trabalhado com o Luís Dixe Masquete da Tago Mago, que tem tratado do nosso agenciamento e está a fazer um ótimo serviço. Sendo edição de autor, quão difícil foi chegar até ao dia 01 de Março? Passámos sem dúvida por uma fase mais complicada em que ouvíamos a mistura /masterização vezes sem conta e encontrávamos sempre algo que não estava ao nosso gosto até chegarmos um ponto em que deixou de ser saudável. Como é óbvio, tivemos que ultrapassar esta fase e posso dizer que ficámos todos muito satisfeitos com o produto final. Para terminar, o que poderemos esperar dos Cosmic Mass num futuro próximo? Muitos concertos e esperamos ainda este ano começar a pensar num 2º disco, pois temos já algum material guardado para esse efeito. Facebook Youtube


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[‌] Palavras e alegorias significativas para as minhas letras aparecem-me muitas vezes assim de repente.

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LUGARES ESPIRITUAIS É a eles que Stefan Traunmüller vai buscar a inspiração para a música de Rauhnåcht. Entrevista: CSA

Saudações, Stefan. É a segunda vez que entrevisto Rauhnåcht e estou muito curiosa por ver as tuas respostas. O que significa a expressão que serve de título a este álbum («Unterm Gipfelthron»)? [Desculpa, mas não compreendo o Austríaco.] Stefan Traunmüller – Significa “por baixo do trono do pico da montanha”. Mais tarde acabei por me interrogar sobre por que razão tinha incluído a referência ao trono no título da canção, mas aconteceu. Palavras e alegorias significativas para as minhas letras aparecem-me muitas vezes assim de repente. Como relacionas este título com os temas das letras das canções? A canção que deu o título ao álbum constitui uma homenagem às montanhas que tanto amo. Quando vou fazer as minhas caminhadas, essa viagem representa simbolicamente a própria vida. Trata-se de encontrar o caminho certo, avançando progressivamente e sentindo-se cada vez mais próximo do objetivo, qualquer que seja. Mas a própria viagem é simultaneamente a recompensa. Entrar em contacto com a floresta, entrar em uníssono com a natureza, é esta toda a inspiração de que preciso para a minha música. O vento outonal, que varre tudo, a neve que cobre as coisas sujas que não queres ver, o ciclo infindável do crescimento e da decadência – é a natureza que me dá toda a inspiração e todas as metáforas de que preciso para as minhas letras. Por conseguinte, todo o álbum fala da natureza. Este álbum parece-me muito Folk. Concordas comigo? Concordo que há uma componente Folk em todas as canções, mas não é forçosamente Alpine Folk. Costumo estar sempre a fazer desfilar paisagens

alpinas na minha mente, quando ouço música de Rauhnåcht, mas esse efeito pode ser obtido de várias formas. Na faixa de início, tinha a melodia principal na minha mente e sabia que ia dar origem a uma canção de Folk Metal, mas, para as outras canções, comecei por criar alguns riffs na minha guitarra e tocar alguns acordes nos teclados. Podes falar-nos um pouco dos instrumentos exóticos que usaste neste álbum e explicar-nos como e por que os usaste? Tomo sempre a liberdade de usar samples e instrumentos de variadas origens. Por exemplo, gosto muito do Duduk, um instrumento peruano, mas também uso instrumentos da Mongólia ou da Índia como a Caixa Sutri. Tenho uma Sansula, um instrumento semelhante à kalimba africana. E também comprei um harmónio, que se usa muito em alguma música indiana. Parece que estou a descrever um projeto de World Music, mas, na realidade, eu tento sempre usar estes instrumentos de modo a reforçar a “Alpine vibe” da minha música. Também é interessante constatar que todas as culturas ancestrais de regiões onde há grandes montanhas apresentam similaridades, no que diz respeito aos mitos e à forma de fazer música. Fazes investigação específica para cada um dos teus álbuns tendo em conta os detalhes culturais e folclóricos? Não. Entro em contacto com a energia dos povos e das paisagens ancestrais. Acredito que todas as informações, logo todos os pensamentos, sentimentos e ações que alguma vez existiram estão registados na “matriz” e, como todos fazemos parte dela e o tempo é mais ou menos uma ilusão de um ponto de vista que se pode chamar quântico, é possível ligarse de forma absoluta ao campo de informação dos Celtas ao de qualquer outro povo. Nalguns lugares da

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[…] Parece que estou a descrever um projeto de World Music, mas, na realidade, eu tento sempre usar estes instrumentos de modo a reforçar a “Alpine vibe” da minha música.

Natureza, essa conexão é facilitada pela forte energia que emana do local e devido ao facto de terem existidos pessoas e povos que aí realizaram rituais. Por conseguinte, lido com as culturas ancestrais de uma forma muito intuitiva e natural. Além disso, também sinto essa energia a emanar de antigas sagas e narrativas. Cada montanha ou rocha imponente tem a sua história. Por exemplo, perto de minha casa, existe a “Bruxa adormecida”, uma formação rochosa que se assemelha a uma bruxa, o que deu origem a uma lenda sobre uma bruxa que amaldiçoou e matou muitos cristãos até ao dia em que a cruz de um santo a derrotou e a transformou numa pedra, que se converteu no pico desta montanha. Já pensaste em fazer uma brochura para acompanhar cada um dos teus álbuns onde revelarias os elementos da cultura austríaca que o ouvinte pode encontrar neles? Seria uma boa ideia. Mas, como já referi, preferiria

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tratar das sagas e da sua ligação à Natureza. Ando a pensar em produzir um áudio livro sobre a saga de Untersberg, registada por Lazarus Gitschner, que poderia converter-se num álbum combinando textos declamados e música. Poderia até vir a ser um lançamento de Rauhnåcht. Ouvir este álbum dá-me a sensação de estar perdida me tempos tenebrosos e mágicos, como num filme de fantasia. O que pensas disto? É uma associação que me agrada. A música deveria realmente fazer referência a uma época em que as fronteiras entre o mundo da matéria e o da energia não eram tão marcadas como são atualmente e a magia nos rodeava. Essa era ainda está presente em algumas partes remotas da Natureza, nomeadamente perto da zona onde vivo. Já me aconteceu mais de uma vez, deparar-me com fenómenos estranhos no decurso das minhas viagens solitárias nas montanhas e não poder discernir se o que eu tinha


visto era um animal, um espírito ou apenas o vento. Lembro-me que, numa ocasião, quando ia a descer por um caminho de cascalho na minha bicicleta, ao lusco-fusco, ter avistado uma silhueta que caminhava à minha frente. Fui-me aproximando e vi a silhueta na curva a seguir e cheguei a um lugar onde supostamente a ultrapassaria – mas tinha desaparecido. Olhei para trás, mas vi que as bermas do caminho eram íngremes e não havia nenhum sítio onde a personagem se pudesse esconder. Seria um protetor espiritual daquele lugar? Um morto que não conseguia libertar-se deste mundo e continuava a vaguear na floresta? Não faço ideia nenhuma. Experiências deste género são o núcleo das sagas. Foi o Moga que fez o artwork para este novo lançamento de Rauhnåcht? Lembra-me um filme que vi há cerca de 30 anos (“The Never Ending Story”). Foi sim. Como eu queria manter o estilo dos dois primeiros álbuns, contratei novamente o Moga. Inicialmente, pensei em lhe pedir que desenhasse umas criaturas feéricas a dançarem por cima do lago, mas como todas as tentativas feitas não resultaram convincentes, decidimos converter a luz que vinha do firmamento num elemento fora deste mundo. Para mim, era importante que a imagem tivesse alguma cor, não fosse feita a preto e branco, porque me parece que a música deste álbum é realmente colorida. Convidaste alguém para te ajudar nas gravações? Primeiro, fiz tudo sozinho, incluindo a programação da bateria e os coros. Depois convidei vários cantores para fazerem os coros. O Vittorio dos Dawn of a Dark Age (uma banda italiana de Black Metal Progressivo muito interessante, cujo novo álbum estou a misturar neste momento) tocou clarinete nas duas primeiras canções e o Hyvermors, das bandas Hanternoz e Grylle, tocou flauta. Por fim, substituí a bateria programada pela interpretação do Yurii, que conheço dos Schattenfall, um projeto para o qual contribuí como vocalista. Portanto, uso os meus contactos para arranjar músicos que toquem instrumentos cujas partes eu já compus. Também me acontece começar o processo de composição usando samples – um fragmento de uma interpretação Folk, um fragmento de “yodelling”, seja o que for que me inspire e me sirva

como base para construir um arranjo. É frequente, no fim do processo, suprimir por completo o sample inicial, desde que a nova versão produza o mesmo efeito. Fizeste alguns concertos para promover o teu álbum anterior? Vais fazer para este? Fiz dois concertos nos primórdios da banda, mas a colaboração com os músicos de sessão correu muito mal. A forma como tocaram não atingiu os padrões que eu almejava, mas, pior do que isso, foi a sua atitude. Esperava que sentissem a música de uma forma semelhante à minha e que partilhassem das minhas ideias sobre a forma de representar a banda. Quando penso em futuros concertos, só me imagino a trabalhar com músicos internacionais, logo seria necessário que todos ensaiássemos em casa e só haveria um ensaio conjunto. Isto não é um processo fácil de gerir e, portanto, só vai acontecer se houver alguma oferta interessante para vários concertos. Só o tempo dirá, se isso vai acontecer. Como te sentirias se alguém te convidasse para participar num festival de música (do género do que a cidade onde vivo e a universidade onde trabalho organizam no outono, onde podes ouvir música clássica e jazz e outros estilos combinados)? Seria maravilhoso! Por que não! Penso que seria capaz de arranjar a minha música de modo a adaptar-se a esse ambiente sem perder a sua identidade. Gosto mesmo de arranjar as coisas de modos variados. Por isso me diverti tanto a fazer o split intitulado «Zur Ew’gen Ruh». Ainda consegues arranjar tempo para outras bandas como Wallachia? Colaboraste com o Lars no seu ultimo lançamento? Sim. Misturei e masterizei algumas orquestrações. Tenho o meu próprio estúdio de gravação e gosto de trabalhar com bandas de todos os tipos de países. A maior parte das vezes, gravo a bateria com os bateristas de sessão, faço todo o trabalho de edição, a mistura – tudo isto sem a presença dos protagonistas, recorrendo à transferência de ficheiros e à discussão usando ferramentas da internet. Hoje em dia, a maioria dos músicos tem a possibilidade de fazer as suas próprias gravações em casa, bastando-lhes mandar fazer fora a gravação da bateria e a mistura. Metal archives Youtube

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Dodici Cilindri porque o barulho dos motores também é música Por: Carlos Filipe

Maserati Shamal O Maserati Shamal foi um desportivo desenvolvido pela Maserati em 1989, em plena era “Biturbo”, numa época em que era liderada pelo Argentino Alejandro DeTomaso e atravessava grandes dificuldades. O Shamal, como era apanágio na marca, apelidado com um nome de um vento quente que sopra em largas zonas da mesopotâmia, “Shamal” (norte em árabe), foi produzido com o intuído de trazer algo de novo e moderno aos V6 biturbo que equipavam a gama da Maserati. Para esta tentativa de renovação da marca, foi desenvolvido um motor completamente novo, com 8 cilindros em V de 90 graus e, claro está, 2 turbos IHI inerentes à época Biturbo e 4 válvulas por cilindro que produzia 326 CV às 6000 rotações e que viu serem desenvolvidos 3 interações deste motor até que o 4.2 litros V8 Ferrari o “arrumou” para sempre na prateleira, cedendo lugar ao 4.2 atmosférico que iniciou uma nova era na Maserati, agora sobre o domínio da Ferrari. Produzido de 1990 a 1996, apenas 369 unidades foram produzidas oficialmente devido à fraca procura e à conjuntura de mercado dos desportivos e supercarros que se instalou nos anos 90 e perdurou quase até ao fim da década, fazendo com que muitos modelos hoje icônicos tenham sofrido do mesmo problema de vendas que o Shamal, tornandose verdadeiras raridades, como foi o Bugatti EB110 ou o icônico McLaren F1. Estilizado por Marcelo Gandini, que tem a sua assinatura vincada na forma da cava das rodas traseiras, o Shamal em termos estruturais, não é mais do que um Maserati Karif alargado, sendo este por si um encurtamento da distância entre eixos de um Biturbo 2.24V coupé, tal como um alargamento abismal das vias laterais – bem visível nas alas laterais do carro – e uma mala completamente redesenhada para melhorar a aerodinâmica, que lhe conferem um caracter musculado e único. A isto tudo, juntaram uma faixa em vinil preto para escamotear o reforço que fizeram na estrutura do carro e também para lhe dar caracter. Para mim, este pormenor estético não é mais do que uma forma de identificar o Shamal à distância e não confundi-lo com um Biturbo 2.24V ou mesmo o Ghibli II, que lançaram na mesma altura, o qual apresenta formas muito similares, pois o design foi claramente inspirado no Shamal. O Maserati Shamal é para mim um carro especial. Foi precisamente este que me fez ser um fã da Maserati. Sempre adorei este carro desde o dia em que saiu, apesar de não ser logo à nascença o mais rápido e potente desportivo que aquele tempo viu nascer. As suas formas têm algo de especial, de brutal, que lhe conferem alma e agressividade. Hoje, as suas formas encaixam-se perfeitamente no design moderno automóvel,

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onde regressamos a formas bem vincadas e designs bem vincados ou mesmo acutilantes. Nos 90, era o oposto, o design padecia da chamada “forma do ovo”, onde cada modelo que saiu apresentava formas cada vez mais arredondadas, fazendo dos Maserati dos anos 90 uma contra natura automóvel. Hoje, como pude pela primeira vez ver ao vivo e a cores no ano passado, as suas formas são espectaculares, fazendo deste um raro e monumental carro de colecção. O seu sucesso foi mitigado por vários factores. Os 369 exemplares anunciados, não o são por ter sido uma qualquer série limitada da Maserati, mas sim, porque não houve mais compradores para o Shamal. Há quem diga mesmo que na realidade só foram mesmo produzidos 250 exemplares, tendo os 369 sido um número proferido apenas por questões de objectivo de venda/marketing da marca. Há mesmo uma página na internet que faz tracking de todos os modelos produzidos (The Maserati Shamal Register) o qual apresenta apenas 35% dos carros supostamente produzidos. Apesar de só haver neste site um Shamal “português”, eu tenho conhecimento de pelo menos dois mas a informação que tenho é que haverá 3 Shamal com matricula portuguesa. Um dos factores preponderantes foi a situação pouco abonatória da Maserati nos anos 90. Vinha de uma década difícil com os diferentes problemas de fiabilidade dos Biturbos e a dos 90 não mostrava produtos com a qualidade que acompanhava o preço pedido, acabando a marca a ser resgatada pela FIAT e posteriormente recolocada debaixo da alçada da Ferrari, mas aquando disto a única coisa que tinha sobrevivido do Shamal foi o V8 biturbo. Outro dos factores foi o design que era contraproducente ao que se fazia na época, acompanhado pelo facto de o Shamal não ter prestações por aí além apesar de atingir os 270 km/h e fazer o 0-100 m em 5.3s. Mas, o factor decisivo para o insucesso do Shamal foi o seu preço de venda. Simplesmente, era caro de mais. Isto é válido para todos os países onde foi vendido, e Portugal não fugiu à regra. Em Portugal, em 1992, o Shamal custava 22.485 contos. Ora, um Honda NSX que era o supra-sumo tecnológico da altura, obrigando mesmo a Ferrari a mexer-se – Fizeram o mítico F355 – custava 17.500 contos! Um Ferrari 348 só custava mais 2.348 contos e um Porsche 911 Turbo 24.130 contos. Um BMW 850i com o seu imponente V12 atmosférico custava 23.500 contos. Como dá para ver, a vida do Maserati Shamal não era fácil, só mesmo um “coup de coeur” é que levava alguém a comprar este carro. Hoje é um carro de colecção dado a sua raridade e o preço só pode é subir. Lembro-me de ver há poucos anos um a 39.000 €, o qual hoje pedem 95.000 €!

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