Versus#54

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Tarja

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MĂŁo Morta

|

Suzi Quatro

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Persefone

Mike Patton and Jean-Claude Vannier

Metal OnĂ­rico


V E R S U S M A G A Z IN E

EDITORIAL

Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

vErSUS MAGAZINE

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D IR E C Ç Ã O

Fim do ano O f i m d o ano a p roxi ma- se e com i sso um a refl exã o s obre o s m elho res - o u pelo menos, os prefe ri dos - i m põe -

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES

d i ze r. Cinemu e rte, Best a ou os “ vetera n os” Mã o Mort a

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

la n ça ra m á lb u ns de c ategor i a. 2019 ai n da n ã o fi n do e a s

F O T O G R A F IA

s e . A s e sco lhas são di fi ci es Opet h, Sa baton , Dre a m Th e ate r, So en ou Dev i n Townsend m a s os Wi l de run , q ua i s outside rs i ndependentes terão um a pa l av ra a

p ro m oto ras já p reparam nos respect i vo s fe s t i va i s : Un de r th e Do o m, Vago s Met al Fest ou VOA He av y Rock Fe s t j á s e e n co ntram e m andamento... Ai n d a vo ltand o aos Wi lder un, estes Am e ri ca n os de

Créditos nas Páginas | Capa: Rocío Montserrat Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

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Bo s ton são a p rova de que não é prec i s o prom otora s ou

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S O B A S S E G U IN T E S C O N D I ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i za dor deve

Se n ã o no s virmos, Feli z Sat ur náli a!

dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

Bo a m ú sica, Eduardo Ramalhadeiro

U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O uti l i zador não pode al terar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.

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FOSCOR Foto: Rocío Montserrat

C O N T E ÚDO Nº54 11/19

0 4 N O TÍC IA S

35 NUNO L O P E S

0 6 W OL CE NSMEN

34 ALBUM V E R S U S

1 0 T R IA L B Y FIR E

36 CRITIC A S V E R S U S

7 0 Á R S T ÍÐ IR L ÍF S IN S

1 2 P E RS E FO NE

43 CURTA S V E R S U S

7 3 G R Ê L O S D E H O RT E L Ã

1 8 D A NIEL G O U D E LIS

46 TARJA

74 MORD’A’STIGMATA

2 3 H O ME M DA MO TOSERRA

57 PLAYL IS T

7 6 G A B R IE L S O U S A

2 4 MIKE PATTON & JE A N - C LA U D E VA N N IER

58 M ÃO M O RTA

7 8 PA L E T E S D E M E TA L

2 8 R I CA R D O PE RE S TATU A G E N S

62 POSTA S D E P E S C A D A

6 5 M IG U E L T IA G O

MOSH

WILDERUN

IVO B. | EDUARDO R.

S EM PA S S A D O S E R E T O R N A A O PA S S A D O

6 6 S U Z I Q U AT R O

92 GARAGE POWER

TA L C O M O T U

(SU)POSIÇÕES

MEN ON THE COUCH

3 0 T H E NIGH T T IME PROJECT

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NOTÍCIAS Vila Metal

23.11.20 - Ashes in the Ocean + Whales Don’t Fly - Woodstock 69, Porto 23.11.19 - Flatten - TreBARuna, Lamego 30.11.19 - Serrabulho + Goatvermin + Burning Flesh + Dismorphism + ABRI160 - Onomatopée, Lausanne, Suíça 06.12.19 - Ticks + Francisco Maia DJ sets - Club de Vila Real, Vila Real 14.12.19 - Avulsed + Serrabulho + Theriomorphic + Alcoholocaust + Grindead + Homicídio + Divine Ruin - Butchery at Christmas Time XX, Centro Cívico, Vila do Carvalho, Covilhã 18.12.19 - The Black Wizards, Café-Concerto, Teatro de Vila Real, Vila Real 21.12.19 - Apotheus - TreBARuna, Lamego 28.12.19 - Filii Nigrantium Inferalium + Atlas Pain + Synlakros + EnChanTya + Cavemaster + Dawn of Ruin + Nematomorphos - Assembleia do Metal, Salão dos Bombeiros, Pindelo dos Milagres, São Pedro do Sul https://vilametal.blogspot.com/

Malcolm Young No dia 18 de Novembro faz dois anos que desapareceu um dos maiores guitarristas (rítmicos) que o mundo do Rock já conheceu. A revista Guitar Player afirmou que o segredo de Malcolm envolvia acordes abertos através de uma série de amplificadores Marshall, configurados com baixo volume e sem alto ganho. Depois de superar um cancro de pulmão, Malcolm foi diagnosticado com demência, tendo vindo a falecer no dia 18 de Novembro de 2017. Curiosamente, George Young o irmão mais velho, tinha falecido duas semanas antes.

O fim dos Children of Bodom? Parece que a carreira dos Children of Bodom está prestes a terminar. Os três membros-fundadores Henkka (baixo), Janne (teclados) e Jaska (bateria) estão de saída da banda finlandesa e ao que parece Alexi Laiho fica sem o direito do nome da banda. Aviznha-se uma disputa, ou não, pelo legado do nome «Children of Bodom»

Mötley Crue de volta Enquanto uns se separam, outros reunem-se! Os Mötley Crue confirmaram, oficialmente, que estão de volta. Isto devido à crescente popularidade, muito devido ao facto do filme «Dirt», diponível na Netflix e que, de alguma forma, conta a história da banda. Para já sabe-se que em 2020 haverá uma digressão por estádios juntamente com os Def Leppard e Poison. A ver vamos se Portugal estará incluido.

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Com a cabeça nas nuvens Mas sem que isso signifique ausência de concentração. Assim vive Dan Capp, a “alma” de Wolcensmen, uma banda britânica que promete dar que falar. Entrevista: Cristina Sá

Saudações, Dan! Este álbum é mesmo BELO! Dan Capp – Muito obrigado. Fico muito feliz por seres dessa opinião. A Indie afirma – na informação sobre o álbum – que escreveste uma narrativa para acompanhar o álbum e até apresenta um resumo da sua intriga. - Por que te pareceu que tinhas de escrever esta história? Depois de ter reunido as ideias essenciais para a história, os pormenores continuavam a surgir na minha mente. Uma parte da razão pela qual decidi fazer um álbum concetual prendese com o facto de querer usálo para apresentar ao ouvinte determinadas filosofias e energias. O simbolismo e os detalhes dessas filosofias eram demasiado pesados para serem expostos apenas nas letras e eu percebi que a única maneira de poder incluir essas reflexões no álbum era escrever essa narrativa. - Que mensagem querias transmitir através dela? A principal mensagem corresponde à ideia de que o crescimento pessoal não acontece a não ser que nos aventuremos em território não mapeado, que deixemos a nossa zona de conforto. Todos temos um potencial a concretizar nesta vida, algo a atingir relacionado com a nossa natureza individual, mas poucos o desenvolvem, devido a excesso de complacência ou de

receio. Procurei transmitir outras mensagens, mas esta é a principal. - Que relação existe entre essa narrativa e as letras das canções deste álbum? É muito próxima. As letras representam momentos-chave da história e mantêm uma relação íntima com o texto mais extenso. As letras foram escritas na 1ª pessoa e, de um modo geral, estão focadas nas emoções que perpassam na história. A narrativa está escrita na 3ª pessoa e é mais funcional, como é apanágio das histórias escritas. - Os fãs que comprarem o álbum têm acesso a essa narrativa? Ela está incluída na edição do álbum em vinil, mas não na versão em CD. Discuti muito esta questão com a editora e decidimos que era melhor deixarem-me tratar do livro autonomamente. Portanto, em vez de lançar uma edição especial livro-CD, fizemos uma bela edição com o CD e depois eu produzi o livro com capa dura, que pode ser encomendado junto com o CD, se o fã quiser. Os livros esgotaram muito, muito rapidamente, portanto estou a equacionar a possibilidade de mandar imprimir mais cópias para os fãs que tiverem perdido a oportunidade de adquirir o seu exemplar. Também és membro de Winterfylleth, uma banda que faz Black Metal tratando temas como a antiga história britânica,

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sociais, enquanto Wolcensmen se preocupa sobretudo com a interpretação esotérica das runas, dos deuses e das deusas e das energias invisíveis que existem na natureza. Em termos musicais, é saudável para mim ter um projeto sobre o qual tenho controlo absoluto e em que não tenho de fazer cedências. Compor com os meus companheiros de Winterfylleth é muito agradável, mas acabámos sempre por ter de encontrar um meio termo.

[…...] Uma parte da razão pela qual decidi fazer um álbum concetual prende-se com o facto de querer usá-lo para apresentar ao ouvinte determinadas filosofias e energias. […...]

a literatura anglo-saxónica, o mundo natural e paisagens. O que podes fazer com Wolcensmen que não podes fazer com essa outra banda? Eis uma boa pergunta, para a qual eu tenho uma boa resposta. Mas a primeira coisa a referir é que Wolcensmen existia antes de eu me ter juntado aos Winterfylleth (no início de 2015). Portanto, não posso dizer que tenha criado

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Wolcensmen para exprimir algo que não podia fazer em Winterfylleth. Wolcensmen é mais espiritual e mística do que Winterfylleth, no que diz respeito aos temas. Winterfylleth é composta por quatro homens que têm perspetivas diferentes da religião e da espiritualidade. De um modo geral, Winterfylleth interessase mais por temas históricos e

Como descreverias a música que fazes para Wolcensmen? No que diz respeito a este álbum, chamar-lhe-ia “Mithological Dark Folk”. Esta designação evoca, em parte, uma das minhas bandas de Metal favoritas – Absu – que considera que faz “Mythological Occult Metal” e se foca no folclore esotérico dos Celtas e da Mesopotâmia. Eu sei que é difícil para as pessoas descobrir como vão descrever Wolcensmen, porque este projeto incorpora aspetos de Neo Folk, neoclássicos, cinemáticos, de Darkwave e também a grandeza heroica do Pagan Metal. A Metallum diz-nos que tu fazes tudo nesta banda. Mas convidaste vários músicos para este álbum. - Como escolheste essas pessoas? Eu escrevi quase tudo. Há algumas pequenas partes que foram compostas pelos convidados, tais como as passagens de flauta e sintetizador. Os músicos em questão são todos amigos, cujo talento admiro. Sabia à partida que poderiam trazer energia vital ao álbum, logo voei até aos seus países, ajoelhei-me perante eles e supliquei-lhes que me emprestassem o seu talento… em termos metafóricos. - Discutiste com eles as suas partes ou decidiste tu o que cada um iria fazer no TEU álbum? Um pouco de ambas as ideias! A alguns pedi que tocassem algo que eu tinha composto especificamente para eles. A outros pedi que fizessem algo


que pudesse ser integrado numa canção. No que diz respeito ao piano, por exemplo, eu fiz a base, mas pedi ao Mark para tocar o que eu tinha sugerido com mais estilo. - Podes descrever de forma breve cada um dos artistas chamados a contribuir para este álbum? Com certeza. Os convidados são: Jo Quail, no violoncelo; Jake Rogers (Visigoth, Gallowbraid), no sintetizador; Aslak Tolonen (Nest/ Syven) a tocar kantele; o já referido Mark Deeks (Winterfylleth) no piano; Chris Naughton (Winterfylleth) e Julie Russell, nas vozes secundárias. O produtor John Rivers e o seu assistente Eddy Hewitt também ajudaram em alguns detalhes. A capa do álbum é magnífica e tão onírica como este. Faz-me pensar em William Morris e em capas para coletâneas de contos como os que os irmãos Grimm recolheram. E há uma possível referência ao Santo Graal no cálice que ocupa o centro da ilustração. - Como negociaste com o David Thiérrée para obter esta magnífica obra de arte?

Fico contente por ver que gostaste do estilo e do simbolismo da capa. Já conheço um pouco o David pessoalmente e é claro que estou bastante familiarizado com o seu trabalho há vários anos. Depois de o conceito de base para a capa se ter formado no meu espírito, tornou-se evidente que só poderia ser o David a convertê-lo num objeto artístico. Felizmente, ele estava interessado em trabalhar comigo. Apresenteilhe uma ideia geral da história e alguns fragmentos da música e sugeri uma lista de símbolos e de cenas que gostaria que ele representasse. Ele fez tudo na perfeição.

- Porque o escolheste entre tantos artistas gráficos que atualmente trabalham para bandas a fazer música extrema?

Porque não conheço outro artista que tenha um estilo

gráfico que consiga evocar tão bem o lado tenebroso dos contos de fadas. Em muitos aspetos, o David é o sucessor moderno de Theodor Kittelsen, que é conhecido de muitos fãs de Black Metal (já que tantas bandas norueguesas usaram os seus quadros). O David é um verdadeiro ilustrador, não apenas um artista. É capaz de dar vida a histórias e a letras.

isolados. A primeira vez que me apresentei ao vivo com esta banda foi em 2017 e constituiu uma boa oportunidade de aprendizagem. É muito diferente tocar acusticamente de o fazer usando meios elétricos. Hoje em dia, é algo que levo muito a sério e, por conseguinte, só aceito convites com as características certas. Esta música tem de ser apresentada da maneira adequada. - De que forma os itens Como é que tu e a Indie que figuram na capa estão Recordings pretendem relacionados com as canções do promover este álbum? álbum? Já estamos a fazê-lo: com Bem. Os cisnes fazem alusão entrevistas, críticas, publicações a “The Swans of Gar’s Edge’, nas redes sociais. Gravei uma que corresponde a um dos série de entrevistas curtas momentos-chave da história. Estão lá também: um misterioso em vídeo para o Facebook e o Youtube, em que falo do ancião, três donzelas, quatro making of do álbum e dos temas personagens semelhantes abordados na sua história. Ao a duendes e, claro, a “pedra que parece, agradaram muito a branca” que é o fulcro de certos fãs. Como Wolcensmen tudo. A ilustração que o David é uma banda difícil de catalogar, criou inclui todos os símbolos também é difícil de promover, importantes que figuram na o que eu compreendo minha história. - Uma das coisas que mais aprecio perfeitamente. No fim de contas, tenho de esperar que as neste desenho é ausência de cor. pessoas que são apaixonadas Quem teve essa ideia? por este tipo de música e a Tenho de agradecer ao David Thiérrée essa ideia. Inicialmente, filosofia subjacente a ela gostem de «Fire in the White Stone». No sugeri-lhe que não usasse cor, fundo, foi esse o compromisso mas, mais tarde, comecei a que assumi desde o início: fazer pedir-lhe que usasse alguma a melhor música que me for cor e ele dissuadiu-me de o possível dentro deste estilo e fazer limitando-se a ignorar dar alguma alegria às pessoas o meu pedido. E tinha razão! que têm gostos e interesses Este álbum tem uma estética semelhantes aos meus. Mas sei muito intemporal, muito à que não será nunca uma banda Tolkien. O tom sépia usado na mainstream. capa evoca essa atmosfera na perfeição. Se a observares com E vamos para a última pergunta atenção, verificas que a “pedra branca” é de um branco virginal nascida de uma grande comparado com o tom usado curiosidade: o que significa o em todos os outros elementos nome da tua banda? “Wolcen” é uma palavra do da ilustração. Temos aqui um Inglês arcaico que significa detalhe muito significativo, “céus” ou “nuvens”. Logo, mas subtil, uma ideia que saiu “Wolcensmen” significa inteiramente do espírito do “homens dos céus” ou “homens David. das nuvens” Fazes concertos?

Sim, já fiz alguns: uma curta digressão em 2019, que correu muito bem, e alguns concertos

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Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

2

Básico

1

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Hélder Mendes

JP Madaleno

MÉDIA

3,5

3.0

4,5

4.5

1.5

3.5

3.5

3.4

3,0

3.0

4.0

3.0

2.5

4.0

3.5

3.3

4.0

3.0

2.0

3.5

2.0

3.0

4.0

3.2

3.5

2.5

2.5

2.5

2.0

4.0

2.5

2.9

0.5

1.5

1.5

1.0

2.5

2.0

2.0

1.6

BLUT AUS NORD H allucino ge n (Debemur Morti Productions)

CULT OF LUNA A Dawn To F e a r

(Metal Blade)

ENTOM BED A D B owels Of Ea r th (Century Media)

ESOTERI C A P yrrhic Existen ce (Season of Mist)

S ONATA A RCTICA

Talv iy ö

(Nuclear Blast)

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Com alma Descobrimos os Persefone graças às redes sociais, no entanto, já participaram no SWR Barroselas Metalfest XVI. Gostámos tanto que não poderíamos deixar passar a oportunidade para vos dar a conhecer uma banda fantástica. Como bónus ficámos a saber que Filipe Baldaia é um Português de Marco de Canaveses. Vale muito a pena ouvir. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro & João Paulo Madaleno

Eduardo & João – Olá, muito obrigado pelo vosso tempo e disponibilidade para responder às nossas perguntas. Recentemente, descobrimos a música de Persefone e gostamos tanto que tivemos que agendar uma entrevista com vocês. Portanto, para nós e os nossos leitores, quem são os Persefone? Bobby: Olá malta, muito obrigado por terem entrado em contacto connosco. É um prazer. Os Persefone são uma banda de Andorra, um pequeno principado escondido nas montanhas dos Pirenéus. Somos seis amigos que tocam música juntos: o Marc Martins na voz; o Carlos Lozano e o Filipe Baldaia nas guitarras (na verdade, Filipe é de Marco de Canaveses, mas mudou-se para cá aos quinze anos!); o Miguel “Moe” Espinosa nos teclados e vocais limpos; Toni Mestre no baixo; e Sergi “Bobby” Verdeguer na bateria. Eduardo – Como se definem como músicos? Eu diria honestos e de mente aberta. Eduardo – A música dos Persefone é muito impressionante e complexa.

- Vocês têm formação musical e transcrevem a música para as partituras? Sim, estamos constantemente a tentar aprender. Alguns de nós, são professores de música aqui em Andorra e todos sabemos ler e escrever música. Acho que isso é importante para o tipo de música que fazemos, já que pensamos muito sobre o que fazemos quando escrevemos música, cada nota tem um propósito e passamos muito tempo a decidir o que fazer, nada é aleatório ou improvisado. - Como funciona o vosso processo criativo? Não escrevemos música no local de ensaio, de improviso, porque se tocas de improviso, só fazes coisas que já sabes como tocar ou que te sentes confiante a fazer. Portanto, na escrita de música, começamos com uma ideia, falamos muito sobre o conceito do álbum, sobre a música, a estrutura e, depois, desenvolvemos essa ideia no nosso estúdio em casa, que é apenas uma pequena sala, mas é realmente assim que trabalhamos. - Em relação aos vossos concertos: a vossa música é cheia de tempos e riffs complexos; como é que vocês se sincronizam? Usam um metrónomo?

Sim, ensaiamos com um metrónomo, apenas para sincronizar tudo nos ritmos muito lentos, e, às vezes, dispensamos o seu uso. Ao tocar ao vivo, como usamos backing tracks, tudo tem de estar perfeito e sincronizado. Também temos as luzes sincronizadas com um computador. É muito bom quando está tudo a funcionar, mas não confiamos muito nos computadores, pois podem avariar durante um concerto(risos). Eduardo – Vocês vêm de um pequeno Principado e, para ser sincero, só conheço uma banda de Andorra: Vocês! Então, nós gostaríamos de saber: - Como é que é ser uma banda que nasceu e cresceu em Andorra ao longo de 20 anos? É fantástico, adoramos morar aqui. O Carlos e o Moe são de Albacete, uma cidade da Espanha, e começaram a tocar música lá, ainda muito jovens. Então, aos dezoito anos, o Carlos mudou‑se para Andorra, criou uma primeira versão da banda e, depois, o Moe também se mudou para cá. E sim, a banda tem 20 anos agora, o nosso primeiro álbum faz quinze anos este ano… Como deves calcular, 20 anos

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“Aathma“ é uma palavra em sânscrito que significa Alma.

é muito tempo, imagina isso num relacionamento e adiciona mais pessoas com ideias e personalidades diferentes. Estamos muito felizes por estarmos juntos e sermos amigos. Parece piroso, mas é verdade. - Quais são (ou foram) as dificuldades que encontram ao longo desses 20 anos? Tocar numa banda de metal nunca é fácil. No começo, foi muito difícil tocar fora de Andorra. Aqui não existe nenhuma cena de metal, nem concertos, nem com quem se relacionar ou aprender. Aprendemos muito durante esses anos, tudo sozinhos. Por volta do lançamento do nosso terceiro disco é que pudemos tocar em alguns festivais fora de Andorra, fazer uma digressão, etc. - Ainda se lembram do vosso primeiro concerto fora do vosso país? Claro! O primeiro concerto internacional foi o Dong Open Air, na Alemanha. Divertimo-nos muito e adoramos. Passados uns anos, voltamos lá e tivemos as mesmas boas vibrações.

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Eduardo – Vi no vosso web site que Persefone é membro da Patreon, mas não para financiar o próximo álbum. - Qual a necessidade desse tipo de financiamento? (Tomando talvez um pouco da pergunta anterior...) É assim tão difícil para uma banda sobreviver em Andorra? É difícil sobreviver neste ramo, com certeza, não sabemos se, hoje em dia, o sermos de Andorra tem influência, mas tudo neste ramo é caro: gravar um álbum, realizar uma digressão e o respectivo transporte, gravar um vídeo, fazer o design de produtos comerciais, etc. Há alguns anos, antes de gravar o «Aathma», decidimos lançar um financiamento colectivo para financiar o álbum e foi um enorme sucesso. Não esperávamos ter tido tanto apoio, foi esmagador. Pudemos fazer duas digressões europeias, tocamos no Japão, fizemos uma digressão por EUA, México e Canadá, e também tocamos em grandes festivais. No entanto, terminamos essa fase com uma dívida enorme.

Portanto, para poder gravar um novo álbum num prazo razoável (não nos 4 anos habituais) e fazer digressões, decidimos aderir ao Patreon, para poder pagar o empréstimo que contraímos. Relativamente ao Patreon, até agora tem sido incrível, temos os fãs mais adoráveis e solidários do mundo, sentimo-nos realmente abençoados. É isso mesmo, se querem saber mais detalhes, acedam ao web site do Patreon! - Dito isto, vocês tiveram esse tipo de dificuldade para gravar os vossos álbuns? Penso que já respondi a esta questão na resposta anterior. João – Ao longo destes anos, os Persefone têm sofrido diversas alterações na sua formação. O Carlos Lozano Quintanilla era vocalista. Actualmente, ainda participa nas vocalizações ou dedica-se apenas a tocar a guitarra (o que faz de forma brilhante)? Esse foi o começo da banda. Não conseguimos encontrar um cantor, pelo que o Carlos decidiu


gravar as vocalizações sozinho. Então, no primeiro concerto que demos, tocamos o nosso álbum e algumas covers, e na multidão havia um rapaz que gritava mais alto do que o Carlos, (risos). Obviamente, esse rapaz era o Marc e acabou por juntar-se à banda! Nos últimos anos, trocamos de baterista algumas vezes e um guitarrista (Jordi) deixou a banda para dedicar-se à sua filha. Apesar disso, actualmente, a banda tem a formação mais incrível que já tivemos, importamo-nos uns com os outros como loucos e sentimos que vai ser assim por muito tempo. João – Os Persefone já contam com quase 20 anos de existência e uma discografia bastante significativa, essencialmente, composta por álbuns conceptuais. Quais as principais influências musicais dos Persefone? Apenas de a banda ter 20 anos, nós sentimo-nos muito jovens. O que quero dizer é que não fomos reconhecidos na Europa até ao aparecimento dos álbuns «Spiritual Migration» e «Aathma». Por isso, gostamos de pensar que a banda é mais jovem do que isso! E assim, sobre as influências, pode passar da música para uma pintura, um livro ou uma conversa. Ou seja, tudo o que nos rodeia influencia a nossa vida e usamos as nossas experiências para escrever música, certo? Nós ouvimos muitas músicas diferentes e, honestamente, é uma lista muito longa das bandas que nos influenciam! Eduardo & João – O vosso último álbum, «Aathma», saiu em 2017, e, no ano passado, editaram um EP In Lak’Ech. - Qual o significado de «Aathma»? Este é um álbum conceptual? Aathma é uma palavra em sânscrito que significa Alma. Com «Spiritual Migration», o nosso álbum anterior, houve uma profunda mudança na abordagem lírica da banda, pois queríamos usar a música que estávamos a escrever para compartilhar uma mensagem, uma

mensagem sobre a maneira como vivemos as nossas vidas espirituais. Sentimos que a espiritualidade é algo que, às vezes, é esquecido nos dias de hoje e na época em que vivemos. Vivemos de uma maneira muito materialista, tudo é tão rápido e não temos tempo para fazer questões importantes a nós próprios, e não temos tempo para meditar sobre o que é essa vida; quem sou eu; o que sou eu; existe alguma relação entre mim e tudo o resto; ou, apenas, afinal o que significa EU? Parece óbvio, mas queríamos escrever sobre isso, sobre o que sentimos e transmitir a essa mensagem acompanhada pela melhor música que conseguimos fazer. Todo o álbum é sobre estes conceitos e gostamos sempre de resumir com algumas letras da música Prison Skin, começamos o álbum dizendo ao ouvinte “…. Tu não és o teu rosto, não és o nome que te foi dado, quebra essas barreiras e vê a luz, transcende os teus sentidos, sê...” (“…. you are not your face, you are not the name you have been given, break this walls and see the light, transcend your senses, be…”). A música Aathma (que dá nome ao álbum) resume toda a jornada, por isso era realmente obrigatório encerrar o álbum com ela, já que as últimas palavras são o encerramento de todo este conceito lírico. - Quando poderemos esperar um novo álbum? Estamos a trabalhar nisso. Provavelmente, teremos um novo álbum no Verão de 2020. Eduardo – Algumas perguntas atrás, falamos das vossas dificuldades, mas em «Aathma» conseguiram um convidado especial: Paul Masvidal. Como surgiu essa oportunidade de trabalhar com ele? Ora bem, nós conhecemos o Paul em 2015 no festival Euroblast. Persefone e Cynic tocaram aí, nós éramos cem por cento fãs deles e acabamos por trocar uns e-mails. Então, quando estávamos

a escrever o álbum, contactámo-lo e tínhamos a esperança de que ele as pudesse ler ou até cantá-las. No entanto, o Paul foi tão amável e tão fixe que lhe propusemos que cantasse e que também tocasse um solo de guitarra. Foi simplesmente incrível, sabias? Nós somos grandes fãs dos Cynic. Tê-lo a trabalhar connosco foi realmente incrível. Paul é tão humilde e talentoso. Quando recebemos as partes dele gravadas ficamos tão empolgados que nem imaginas. Paul também escreveu algumas partes da letra de Living Waves. É mesmo incrível tocar a música ao vivo e ouvir a sua voz! Eduardo - … e também com uma cantora. Quem é ela? O nome dela é Merethe Soltvedt. É uma das principais cantoras da Two Steps From Hell, empresa de Los Angeles especializada em música para trailers de filmes. Há alguns anos, Thomas Bergersen, um dos principais compositores da empresa, lançou uma música chamada Children of the Sun, que apresentava Merethe e, pela primeira vez, pudemos saber o nome dela, pois foi incluído no nome da música. Então, procuramo-la e tentamos conversar com ela. Ficamos surpresos com o quão agradável e acessível ela é. Rapidamente concordou em entrar no nosso projecto, apesar de não sabermos exactamente o que ela iria fazer. De qualquer forma, ficou claro que tinha que cantar o tema Outro (do álbum «Spiritual Migraton»). Ficámos realmente surpresos quando recebemos os ficheiros com a voz dela gravada e, simplesmente, adoramos. Eduardo – Se tivessem hipótese de apresentar um músico convidado no próximo álbum, quem é que escolheriam? Certamente, gostaríamos muito de ter alguns músicos convidados para o novo álbum, mas não podemos mencionar nomes neste momento. Normalmente, ao escrever músicas para um álbum, dizemos dois ou três nomes de pessoas que

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Não escrevemos música no local de ensaio, de improviso, porque se tocas de improviso, só fazes coisas que já sabes como tocar ou que te sentes confiante a fazer.

gostaríamos que participassem, mas até que a música esteja escrita, especificamente, para essa pessoa, não a informamos ou contactámos. O que quero dizer é que é importante tê-los no álbum, se a colaboração deles melhorar a nossa música, o que normalmente acontece. Isso aconteceu quando escrevemos ao Tim, dos Ne Obliviscaris. Tínhamos a introdução da música pronta e, em seguida, pensamos: “Uau, o violino de Tim seria incrível aqui!” O clima era perfeito, parecia que aquela parte foi escrita para ele. É claro que ele teve um desempenho incrível. (risos). João – Sei que, em 2013, estiveram em Portugal, presentes no SWR Barroselas Metalfest XVI. - Para quando o vosso regresso a Portugal? (Penso que deviam entrar em contacto com a

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organização do Vagos Metal Fest…) Gostaríamos muito de tocar novamente em Portugal e, claro, em Vagos também! Conhecemos o festival há alguns anos, espero que um dia! SWR Barroselas também foi óptimo! Como eu já disse, o nosso guitarrista é de Marco de Canaveses. Portanto, voltar a Portugal está na nossa lista de afazeres! - O que podemos esperar da Persefone num futuro próximo? Estamos a trabalhar arduamente no novo álbum e, para nós, será o maior lançamento de todos os tempos. Alguns meses atrás, alguns de nós decidimos concentrar-nos ainda mais na banda, deixamos alguns de nossos trabalhos diários e agora temos mais tempo para cuidar de tudo relacionado com Persefone. Queremos fazer mais digressões e mais longas, e tocar em países

que nunca tocamos antes. Anteriormente, era realmente difícil, por causa de nossos outros trabalhos, mas agora sei que parece que tudo está a encaixar-se na perfeição. Estamos realmente empolgados, esperamos entrar numa nova etapa de Persefone em 2020! Eduardo & João – Mais uma vez, obrigado pelo vosso tempo e esperamos, sinceramente, vê‑los em Portugal! Muito obrigado, pessoal! Esperamos poder tocar em Portugal em breve! Sabemos que temos alguns fãs por lá, seria realmente incrível! Se querem conversar sobre nós com alguns festivais, estejam à vontade! : D Obrigado!! Facebook Youtube


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Daniel Goudelis 1 8 / VERSUS MAGAZINE


Humor e contrastes Parecem ser estas as linhas de força do trabalho deste artista gráfico grego. Entrevista: CSA

S

audações, Daniel. Fiquei a conhecer o teu trabalho através de uma pintura que fizeste para o Nick Marinos de God in a Cone. Para começar, gostaria que te apresentasses (origem, estudos, trabalho profissional, outros tópicos que te possam parecer relevantes para os nossos leitores). Daniel – Antes de mais, olá a todos. E obrigado à Versus Magazine por esta oportunidade. A criação artística underground independente é uma estética em si mesma, que não conhece limites e é fantástico conhecer pessoas que fazem trabalho sério sobre esta forma de expressão e têm vontade de a promover. Nasci e fui criado numa pequena cidade perto de Atenas, na Grécia. Não havia grande coisa a fazer por ali, mas eu tinha um bom círculo de amigos espantosos, que constituía uma espécie de culto, Hahaha! Estávamos sempre a trocar ideias artísticas e criativas relativas a tudo o que nos parecesse bizarro e interessante, da música ao cinema, à banda desenhada, aos livros, etc. De facto, já na minha infância, eu sentia uma grande atração pela banda desenhada e pela música. Mais tarde, depois de concluir a escolaridade obrigatória, estudei

artes gráficas e layout design, mas as minhas grandes paixões foram sempre o desenho e a pintura. Quando fui viver sozinho, no início dos anos 2000, comecei a trabalhar na maior loja de música do centro de Atenas. Tive a sorte de aí conhecer muita gente interessante e a oportunidade de participar ativamente na cena Metalcore, que na altura estava no seu auge na Grécia. Foram tempos maravilhosos, que deram a muita gente a chance de partilhar o seu trabalho e de tomar parte na modelação da cena da música extrema. Cartazes, capas para álbuns, anúncios para revistas, colaborações com grupos ambiciosos e independentes de gente assombrosa. Tanta adrenalina, tanta animação! Quando estava a analisar o portefólio que me enviaste, reparei que balanças entre o uso de muitas cores bem alegres e trabalhos muito sombrios (quase inteiramente a sépia ou cinza). Como decides que paleta de cores vais usar num dado trabalho? Na minha opinião, cada situação tem as suas cores. Basta deixarme levar, para elas se revelarem. Portanto, não perco muito tempo a pensar, quando tenho de criar algo

para mim ou para outrem. Procuro sobretudo descobrir como vou reagir a determinada situação. Quando era mais novo, usava cores berrantes para coisas animadas e tons sombrios para a escuridão, mas tudo isso agora parece-me muito maçador, monótono. Gosto de usar uma paleta psicadélica, mesmo para coisas que são violentas ou que suscitam pessimismo ou até assustam. Pensa no filme “Suspiria” de Dario Argento ou nos trabalhos alucinantes de Alejandro Jodorowsky, que foi sempre uma grande influência para mim. Também me habituei a cultivar o humor e tenho tendência para o incluir no meu trabalho. Penso que, se o usares de uma forma sensata, até podes fazer a noite perder as suas estrelas e a tristeza tornarse suportável. Acima de tudo, acho que não sou uma criatura tenebrosa, até diria que sou antes um ser da luz atraído pelas trevas. Hehe! Os contrastes violentos tornam tudo mais ousado ou até acabam por anular as oposições e é nessa interação que eu encontro a minha zona de conforto. Também pareces usar várias técnicas (tinta da China, aguarelas, acrílico).Vi bem? Depende muito da textura que

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quero obter. A maioria dos meus trabalhos de pintura também inclui escultura. Portanto, altero o meu “arsenal”, como me parece mais adequado, sempre numa atitude experimental. Às vezes, funciona, outras vezes, é uma catástrofe e, em algumas – raras, mas esplendorosas – ocasiões, é uma “calamidade que funciona”, uma espécie de “desastre performativo”. Hahaha. Também balanças entre o desenho com contornos pretos (a tinta da china) e a pintura. Como decides o que vais usar para um determinado cliente? O meu verdadeiro objetivo – do ponto de vista do estilo gráfico – é colmatar o espaço entre pulp/old school e surrealismo/ impressionismo. A minha perspetiva é um tanto rude e críptica, mas tenho tendência para contar sempre uma história, nem que o faça só com uma imagem. Portanto, o método tem de servir essa história. É a história a contar que comanda, não eu. Já alguma vez fizeste banda desenhada? Alguns dos teus trabalhos recordam-me banda desenhada moderna. Penso poder dizer com muita certeza que o que mais me inspira é a banda desenhada e as novelas gráficas: europeias, americanas, japonesas, de ficção científica, eróticas, de fantasia, de superheróis, independentes. Sempre colecionei esse tipo de material. Portanto, tentei várias vezes e desde muito cedo fazer um trabalho completo dessa natureza. Posso dizer que conseguir atingir esse objetivo três vezes! De facto, neste preciso momento, estou a trabalhar numa que espero terminar a tempo do próximo Comicdom de Atenas. Onde encontras a inspiração para a tua arte? O campo é muito lato… Já referi algumas fontes de inspiração. Mas posso dizer ainda que tudo o que tudo o que apresenta uma forma

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criativa tem chances de afetar nem que seja só um pouco a minha forma de compreender o mundo. Apaixono-me facilmente por tudo o que considero interessante. De certo modo, tenho uma adoração quase religiosa por tudo o que me parece importante. Mas as alegrias e as agruras do dia-adia dão forma aos modos de expressão, portanto não devem ser encaradas de forma ligeira, despreocupada. Mesmo de forma subconsciente, desempenham um papel de destaque no produto artístico. Além disso, sobretudo nos últimos anos, tenho tendência para explorar as várias condições que podem afetar o corpo humano: da dor à dormência/indiferença, ao êxtase erótico. As sinapses do cérebro podem afetar o corpo da mesma forma que a estimulação da carne afeta o cérebro. Que tipos de trabalhos fazes? Capas para CDs e LPs? Cartazes para concertos ou outras finalidades? Merchandising? Ao longo de todos estes anos de interação criativa, tenho tido a oportunidade de fazer tudo isso. De onde vêm os teus clientes? Como trabalho sobretudo com produtos relacionados com a música, os meus clientes são essencialmente músicos/bandas. Como trabalhas com eles? És “mandão”? Queres que eles te revelem as expetativas que alimentam em relação ao teu trabalho? Tenho sempre presente o facto de que eles também são criadores, logo não sou “mandão”. De um modo geral, não sou autoritário, porque me parece que não é a melhor forma de abordar o trabalho artístico. Quero que todos se sintam à vontade para exprimir o que lhes vai na mente, para revelar as suas ideias. A verdade é que a maior parte das vezes as pessoas me contactam por conhecerem o meu trabalho e gostarem do que eu faço. Por conseguinte, parece-me que não


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s vezes, funciona, outras vezes, é uma catástrofe e, em algumas – raras, mas esplendorosas – ocasiões, é uma “calamidade que funciona”, uma espécie de “desastre performativo”. 2 1 / VERSUS MAGAZINE


há necessidade de me mostrar muito autoritário. Estatisticamente, os melhores resultados surgem quando eu ajo espontaneamente e não penso demasiado no que estou a fazer. Já alguma vez expuseste o teu trabalho? Recentemente, participei com 9 peças narrativas relacionadas com banda desenhada numa maravilhosa exposição no festival de narração de histórias de Atenas. Também participei em várias convenções de banda desenhada nessa cidade. Um dos momentos mais importantes da minha carreira (que eu recordo com muita emoção e espero que se repita) foi a participação no “Still Frames/Animated Music”. Foi uma espantosa exposição de banda desenhada e ilustração de oito autores com três bandas a tocar ao vivo ao mesmo tempo e no mesmo espaço. Ali estavam em interação duas das coisas de que mais gosto. Neste momento, estou a colaborar com a equipa responsável pela organização da 2ª edição deste evento. Talvez possamos fazer dele um festival regular, se as nossas rotinas diárias nos permitirem ter tempo para chegar a esse resultado, para concretizar esse sonho.

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E já alguma vez estiveste numa banda? Daniel – Haha! Na verdade, toco, sobretudo guitarra. Portanto, sim! A minha primeira banda chamavase Innermost e esteve em ação mais ou menos entre 1999 e 2005. Tocávamos experimental Deathcore. De 2007 até à atualidade, tenho tocado com SuperPuma, que é uma banda Grungy/Blues/Rock’n’Roll. Os lançamentos dessa banda são sempre acompanhados por histórias de banda desenhada, cujo protagonista é uma criatura cósmica, uma espécie de deus, que usa esse nome. Ele e a sua corte amaldiçoada vivem num planeta estéril e tenebroso. No interim, tenho também estado a trabalhar num projeto novo que combina igualmente a banda desenhada e o som, mas ainda é muito cedo para falar sobre isso. O que faria sentires-te realizado no momento presente? Daniel – Essa é fácil… A liberdade decorrente de poder viver exclusivamente de fazer o que mais me agrada. Para acabar esta entrevista: gosto muito da ilustração em que se pode ver um trompete representado como se fosse um cão, cujo dono o leva pela trela. Podes comentar esse teu trabalho

para nós? Também é um dos meus trabalhos favoritos e incluo-o sempre nos meus portefólios ou apresentações. Foi criado para um compositor grego muito interessante e verdadeiramente original – Manolis Galiatsos – para ilustrar a sua colaboração com um trompetista também ele excecional – Sokratis Anthis (num trabalho lançado pela Puzzlemusic sob licença de Manolis Galiatsos). O Manolis tinha a ideia de que tudo nesse trabalho devia ser influenciado pelo filme “2001: Odisseia no espaço” (um dos meus favoritos de sempre). E assim surge o lado humorístico que já referi… Tudo é minimalista e pesado, muito sério, situado num espaço que recorda o monólito do filme e o destino da humanidade, em que o trompete se apresenta como algo divertido, brincalhão mesmo, como se fosse um cão que os músicos levam pela trela e que – como todos os cães – alça a pata em cada esquina. Essa imagem recorda-nos que não podemos ser mais sérios do que aquilo que a natureza admite. Para mim, representa a ideia de que as nossas fraquezas é que definem a nossa força. Facebook Daniel Goudelis


O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Eleições - Quem vota assim não é gago!...ou então é. Eis que temos novo governo, novos ministros, novos deputados e até mais minorias representadas no parlamento! Todo uma lufada de ar fresco para o panorama político Nacional! Sim, para quem está a ler, eu tentei abordar o tema “eleições” como se um conto de fadas se tratasse, ao invés de o retratar como é na realidade, uma espécie de episódio final de Game of Thrones. O PSD saiu derrotado provavelmente porque o seu líder é, e penso que vou utilizar o termo técnico correto, um xoninhas. Não foi capaz de capaz de enfrentar ou abalar a máquina popularista do PS de António Costa. Resultado? Tal chamuça picante que primeiro se repudia, mas depois se entranha, Costa ficou retido no palato (e não só) dos eleitores, ganhando assim as eleições. Desta vez, porém, fê-lo sem recurso a batotas, não houve birras, e nem foi preciso consultar o VAR! Se quisermos perceber a razão por que Rui Rio não teve mais votos, penso que talvez lhe tenha faltado andar à porrada. Sim, literalmente! Não à bulha, à luta, em quezílias ou outro sinónimo mais polido. À porrada mesmo! Mas para ganhar! Se é para andar, que seja para sair de lá de cabeça erguida! Tomem o exemplo da Assunção Cristas: levou uns calduços, teve um péssimo resultado. O Costa por sua vez ia arrancando ao supapo a fralda e o pacemaker de um cidadão sénior, e ganhou! Que isto sirva de lição aos governantes nas próximas campanhas. Não se metam é em aventuras na Cova da Moura… O Marcelo vai lá numa de paz e selfies e tal, mas se forem lá para andarem às cabeçadas…. Pensando bem, experimentem! Quem sabe? Para nós espetadores será sempre divertido. Podemos já tirar uma conclusão: regra de ouro para ganhar as eleições? Andar à porrada para ganhar. Quanto mais indefeso o oponente melhor! Dos 15 aos 90 vale tudo. Não deixa de ser curioso também que a esquerda unida, se antes já era uma geringonça, agora é uma peça de mobília do Ikea montada por crianças de 3 anos depois de uma overdose de açúcar. Confesso que não percebi exactamente onde cada um se posiciona, e com certeza eles também não. O próprio PAN não sabe de há de entrar, ou sair da casota. Mas depois de festinhas, cafunés e algumas promessas de ir à rua, lá entrou na brincadeira. Mas sempre com a ameaça que se forem contra os animais, fazem xixi na carpete! E isto, segundo consta, irritou e de que maneira o Primeiro Ministro, até porque os tapetes são difíceis de limpar. Pelo menos o caril não sai assim tão facilmente. A sorte é que o Bloco de esquerda continua sob o efeito de cogumelos, o que dá ali uma paz muitaaaa tranquilaaaa…… men……... e então continuam…tipo….zen, estás a meu? Men… tipo… isso tudo. O PCP ainda não saiu da pirâmide, por isso, tudo pode acontecer. Estejam atentos. Foi, contudo, divertido ver a chegada dos “pequeninos” ao Parlamento. Poses confiantes, trajados a preceito e com um pomposo discurso estudo ao pormenor. Alguns levaram até a roupa da mulher porque iam convencidos que não tinham roupa de cerimónia suficientemente boa para a ocasião, e as mulheres têm sempre aquela saia especial que levam para um evento mais formal e que lhes fica a matar. Por isso…. Porque não? Nem será tema de conversa, com certeza! O Livre é um caso interessante. Se fosse um homem caucasiano, hetereosexual e com uma gaguez tão acentuada, partido algum o colocaria à frente das eleições, e seria até politicamente correcto gozar com a sua situação. Como se trata de uma mulher de origem Guineense, se fizer brincadeiras sou uma besta, racista e machista. Porém, como de besta não passo, ainda pensei em dizer algumas coisas. Mas não. Fico-me por aqui. Estou inclusive curioso para ver os seus discursos, mas sempre em fast foward!! Só espero é que esteja sempre o INEM presente na assembleia, porque nunca se sabe quando é que aqueles olhos vão efetivamente saltar das órbitas. Por três ou quatro situações jurei que ia acontecer. Não sei que futuro terá na política, mas a palavra “no bairro”, é que “dá-lhe bué no beatbox”, logo espero que finda a carreira política

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abrace a carreira musical e nos dê muitos e bons êxitos. História curiosa: o PAN ficou algo aborrecido quando viu o assessor de Joacine Katar Moreira, pois se soubesse de antemão as regras do jogo, teria levado o Piruças, um caniche anão com cinco anos como assessor, ao invés de um reles humano com estudos superiores. Outra “minoria” eleita foi o Chega. Sim, esse mesmo que representa aqueles que falam mal dos ciganos mas depois vão lá comprar as camisas e os polos da Lacoste que estes têm escondidos dentro da carrinha. Aquele que tão depressa diz “barbaridades” com que todos concordam, embora não o admitam, como diz de facto barbaridades que nada mais são de que estrume sonoro. O livre também elegeu um deputado, mas quanto a isso pouco sei e até agradecia que me falassem mais sobre este partido. É que ver a Joacine falar era já bastante exaustivo… Faltam, para minha pena, mais minorias. Gostaria muito que o PURP elegesse um deputado! Um cidadão sénior que desse (literalmente) luta a António Costa. Ou o primeiro ministro pensa que faz farinha com este que até esteve na Guiné?! Gostaria de ver também o Tino de Rans a debater com fervor temas fracturantes da sociedade como por exemplo, o direito à cabidela, o qual o PAN acha que não devemos ter, entre tantos outros. Faltará talvez um Sérgio Conceição que diga nos debates: “Estou-me a cagar. EU ESTOU-ME…. A CAGAR”, ou quiçá uma Lili Caneças que no debate sobre a saúde inicie o seu discurso com: “Estar vivo é o contrário de estar morto”, entre tantos outros. E depois claro, para a panóplia ser completa faltaria um coxo refilão, um marreco histérico, um zarolho psicótico e a lista podia continuar. Apesar do elenco não ser tão diversificado como gostaria, acho que temos trama e matéria prima suficiente para passarmos tardes animadas em frente ao canal Parlamento. No entanto, parece-me que vai ser apenas como ouvir pela primeira vez uma música original do Tony Carreira: Sabemos já ouvimos algo semelhante, mas não nos lembramos onde foi. Despeço-me com Ammmmmmm…..mmmmmm….mmmmmi……..zzza….zzza…zaaa…. Fosga-se, xau!

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Mike Patton

é um autêntico

“camaleão”, homem de mil e um projectos, tão díspares quanto o dia e a noite. Desta vez juntou-se ao compositor francês

Vannier

Jean-Claude

para um disco diferente,

poesia em forma de notas musicais. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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Saudações, Jean-Claude, e obrigado pelo tempo que dedicaste a esta entrevista. Conheço praticamente toda a obra do Mike [Patton], mas não a tua… até hoje. É completamente diferente de tudo o que estou habituado a ouvir. «Corpse Flower» já está na minha playlist, assim como «L’Enfant Assassin des Mouches» (mas só pude ouvir o primeiro álbum referido). Alguns comentários que li fizeram-me compreender que tu és um músico/compositor muito avant-garde. Parece-te que «Corpse Flower» merece este elogio? Jean-Claude Vannier - Não tenho a mínima intenção de ser avantgarde. Pretendo ser fiel a mim próprio. Tal como a nossa canção “Insolubles” indica, não tenho jeito nenhum para exercícios de estilo na moda, antes me sinto bem incapaz de o fazer. Não sou minimamente solúvel em tudo e os meus limites condicionam-me. Tiro partido dos meus defeitos. Os nossos leitores devem estar com curiosidade de saber como é que tu e o Mike se encontraram e como foi trabalharem juntos neste projeto. Pode-nos falar um pouco da sua génese? Vimo-nos peala primeira vez na Hollywood Bowl em 2011, por ocasião de um concerto em que eu apresentei música que compus para Serge Gainsbourg. Detestei Los Angeles e fui a San Francisco, onde vive o Mike. Fomos juntos visitar a livraria City Lights do mítico editor de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, onde ele comprou um livro de Prévert e eu uma coletânea interdita de Ginsberg, pelo que foi a poesia nos aproximou. O Mike falou em fazermos um álbum juntos, mas eu ainda não estava pronto para embarcar nessa aventura. Sete anos depois, ele enviou-me um mail a lembrar-me essa ideia e eu aproveitei logo a oportunidade. Durante a elaboração desse álbum, nunca nos encontrámos. Fizemos tudo através da internet, com

contactos quase quotidianos, por vezes interrompidos por semanas de reflexão. Há bandas que associámos logo a um dado género musical. Apesar de apenas ter ouvido «Corpse Flower» algumas vezes, a sua música lembrou-me logo Frank Zappa. - Faz parte das vossas influências musicais? Adoro Frank Zappa, mas ele não faz parte dos meus “mestres”. Sou mais propriamente fã de Ravel, Stravinsky, Satie, Jimmy Hendrix, Ray Charles, Gil Evans e influenciado pela música cigana, o tango, Oum Khalsoum e muitos outros. - Como podemos definir «Corpse Flower» em termos musicais? Sou incapaz de definir o que componho. “Falar de música” parece-me tão disparatado como “dançar filosofia”. - Tens uma discografia de excelente qualidade. Podemos encontrar elementos dos teus trabalhos anteriores neste lançamento? Ou decidiste fazer um trabalho completamente diferente para te articulares melhor com as características do Mike? Vasculhei todos as minhas ideias – anteriores ou não. Tenho a impressão de que componho sempre a mesma peça, apesar dos esforços que faço para inovar. Mas tenho de dizer que trabalhar com alguém dotado de uma tal voz, de uma tão grande personalidade e de um estilo único, como é o caso do Mike, tem forte influência no trabalho de composição. A foto que está na capa do álbum é magnífica. Que relação existe entre esta ilustração e os temas das letras das canções? Podemos dizer que se trata de um álbum concetual? A foto é de Kenro Izu. Durante muito tempo, hesitámos entre várias possibilidades até que o encontrámos. A foto tem qualquer coisa a ver com o conceito de “corpse flower”

(“flor cadáver”). É uma ideia do Mike. Este álbum conta com a participação de um conjunto de excelentes músicos que vivem em dois continentes (incluindo o Mike). - Como foi trabalhar com músicos à distância? Não tivemos nenhuma dificuldade em fazê-lo, porque estávamos todos muito motivados e entusiasmados pela ideia e as partituras desafiavam as fronteiras. - Foi fácil trabalhar com o Mike? Também contribuiu com ideias para a música ou limitou-se a interpretar os temas que lhe enviavas? Eu enviava-lhe canções enquanto ele estava a dormir, ele registava a voz e os efeitos enquanto eu dormia e, de cada vez, ao acordar, era a surpresa, como se as canções tivessem levantado voo, abandonando a terra firme. Sem ele, as canções não existiriam. Ele escreveu muitas letras em Inglês, compôs uma melodia, arranjou outra e adaptou alguns dos meus textos em Francês. Reparei que trabalhaste com dois artistas intemporais e imortais: Elis Regina e Astor Piazzolla. Chegaste a conhecê-los pessoalmente? Lembras-te do que fizeste com eles e de como correu a colaboração? Sim. Encontrei a Elis Regina em Paris, por acaso, em estúdios, e gravei com ela uma canção, cujo título esqueci. Também encontrei o Astor Piazzola, no Rio de Janeiro, durante um concerto. Mais tarde ele pediu-me para eu dirigir a sua orquestra durante uma emissão para a TV em Paris. Facebook Youtube

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Uma tattoo barata não é boa Uma boa tattoo não é barata Por: Ricardo Pires

Existem vários fatores que diferenciam uma boa tattoo de uma má, e o preço, como em tudo na vida é um deles. Quando nos oferecem um orçamento baixo para um trabalho personalizado como uma tatuagem devemos questionar o porquê de termos sido contemplados com tamanha sorte. Pois é, há coisas que são boas demais para ser verdade e na maior parte das vezes damo-nos mal quando não damos ouvidos à voz da razão. Porque razão é que qualquer outro produto que é confecionado especialmente para um cliente, seja ele uma peça de vestuário, uma joia ou uma peça de imobiliário, custa mais do que aquele que é produzido em massa e uma tattoo não merece esse tipo de qualificação? Não se iludam, um tatuador é um artista mas é essencialmente um artesão que confeciona e apresenta in loco um produto especifico a um cliente especifico, mas o caminho para obter uma boa tattoo é bem mais complexo do que somente a parte monetária. Para mim o resultado final é tudo, e quando me refiro a resultado final não falo do momento em que tiramos foto com a luz perfeita e o plano ideal mas sim se, depois de cicatrizada, tudo o que o tatuador fez se mantem. As tattoos têm de ser feitas para durar. É claro que como se trata de pele, não podemos esperar que aquele brilho inicial da tinta se mantenha para toda a eternidade, é impossível. E claro é, que está completamente fora da responsabilidade do tatuador a maneira como as pessoas tratam da sua tatuagem. É importante sermos cuidadosos tanto no processo de cicatrização como na manutenção da mesma. Se formos atendidos por um profissional competente, ele saberá indicar o melhor processo para o tratamento da tatuagem e, com toda a gama de produtos existentes hoje em dia não vejo a razão para termos tattoos mal cicatrizadas. É do conhecimento geral de que quando damos uma vista de olhos no portefólio de um artista estamos a ver imagens de tattoos acabadas de fazer, nem sempre é possível para o artista obter registo do seu trabalho depois de cicatrizado. Uma tattoo pode ser imponente no aspeto geral mas depois de analisada ao pormenor pode apresentar alguns defeitos. Eu pessoalmente dou relevância a cinco pontos: qualidade do traço, aplicação de cor ou sombreado, localização, história e originalidade. Acho deveras importante um tatuador saber “dar uma linha”. De que vale um trabalho altamente realista se num detalhe desse mesmo trabalho existem traços mal feitos, sem consistência ou tremidos. Muito mais importante se tornam quando se trata de um estilo onde as linhas são o que o define. Uma cor bem aplicada ou um sombreado coeso faz magia numa peça. Todo o volume de uma imagem depende de como se utilizam estas duas técnicas. A maioria das tattoos que vemos têm linhas e preenchimento, logo, a meu ver, para ser um bom trabalho não podemos ter uma disparidade entre os mesmos. O próximo ponto é por vezes descurado. A localização é muito importante para excelência do trabalho. Por vezes aquela imagem simplesmente não encaixa naquela parte do corpo. Dou muita importância ao “flow” da peça no corpo. Quando olhamos para uma peça de arte qualquer ela tem de nos dizer algo, nas tatuagens eu considero que é igual. É óbvio que nem todas as tattoos têm de ter grande história por trás delas, mas quando é esse o objetivo do artista, ela tem de estar explicita sem se tornar numa confusão de imagens super detalhadas só com o objetivo de demonstrar técnica. Por último mas muito importante temos a originalidade. A internet veio facilitar em muito, todo o trabalho de pesquisa e veio nos proporcionar o facto de podermos estar, constantemente, a par do trabalho de todos os artistas que quisermos. Portanto, a meu ver , toda a gente segue toda a gente. Todos nós corremos o nosso feed nas redes sociais diariamente e muitas vezes deparamo-nos com a mesma imagem tatuada vezes e vezes sem conta, imagem essa que nem é ou representa algo icónico. Não há razão para isto acontecer mas também não há problema nenhum, se as imagens existem, podem e devem ser utilizadas, somente cabe ao artista decidir se tatua aquela imagem gasta ou perde um pouco mais de tempo na sua pesquisa.

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A pensar na vida

Entrevista: CSA

Fredrik Norrman e Alexander Backlund responderam às nossas perguntas afirmando que «Pale Season», o segundo álbum da banda, é – acima de tudo – uma reflexão sobre a vida – tão sombria e melancólica, quanto inevitável. Quase 10 anos de carreira e dois álbuns! Quais foram os principais momentos desta viagem musical? Fred – Provavelmente o lançamento dos álbuns. A jornada antes de o álbum ser lançado é muitas vezes simultaneamente longa e intensa. Tantas horas de trabalho para cada álbum! Se fôssemos pagos à hora, seríamos milionários agora. Ficamos também preocupados com o que vão pensar as pessoas. Tanta pressão… Portanto, o lançamento dos álbuns é mesmo o momento mais importante. Por que chamaram a esta banda The Night Time Project? Será porque trabalham nele à noite, como eu faço para as minhas entrevistas? Fred – Sim, houve um período durante o qual eu só tinha tempo de compor música ao fim da

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tarde ou mesmo à noite. Por conseguinte, começou como uma piada entre amigos dizer que fazer música se tinha convertido num projeto noturno. Ao fim de algum tempo, começou a parecer que seria um bom nome para a banda. De Katatonia a este projeto com o mesmo gosto por música tenebrosa e melancólica. De que forma este projeto satisfaz as tuas mais íntimas aspirações musicais? Fred – A minha ideia era que este projeto servisse para fazer música tenebrosa combinada com Pop Rock, pondo de parte as guitarras pesadas e distorcidas. Também queria tentar fazer algum material mais ambiental e experimental como a canção “Oneiros”, incluída no primeiro álbum. A influência de Katatonia pode ainda estar presente, mas estamos bem longe do que eles andam a fazer.

«Pale Season» é mesmo melancólico. Como constroem este som tão angustioso? Quem é o responsável pela composição? Alexander – Camadas e camadas que se sobrepõem umas às outras e se intercetam ao passarem umas pelas outras até que acabam por se desvanecer e fundir com a paisagem sonora e já não há nada. Há aqueles momentos verdadeiramente intensos, pesados, que é preciso equilibrar com uma nudez frágil, que, na minha opinião, ajuda o álbum a respirar. O Fredrik compõe a maior parte da música e eu escrevo as linhas vocais e uso alguma magia na produção. - Que estação é esta? O outono? Um período específico na vida do ser humano? Quem foi o poeta que descreveu esta “estação” nas letras que acompanham as canções? Alexander – No que diz respeito ao nome do álbum, a resposta simples é que este se refere a memórias particularmente sombrias. Independentemente do número de anos que tenhamos vivido neste planeta, penso que todos nós acabamos por


sentir, de vez em quando, que podíamos ter feito muito mais. Tanta vida desperdiçada por causa de ninharias, num permanente estado de comprometimento e sacrifício, trocando o nosso tempo e liberdade por algo que vemos como um nível mínimo de conforto. Não te estou a aconselhar a abandonares o teu emprego, a fumar ganza ou a esmurrar alguém – apenas a afirmar que a mente tem tendência para dar mais ênfase – negativa – a coisas que não fizemos do que a valorizar o que fizemos. Portanto, quer faças, quer não, quando chegarem os teus momentos finais, vais lamentar o que ficou para trás. Sentimos sempre muita melancolia, quando olhamos para trás, para os anos que desperdiçamos e as oportunidades que perdemos. A resposta complicada (que – só agora o vejo – até é a mais simples) é que a palavra “season” vem da palavra “saison”, que, no Francês arcaico, significava “o momento certo” ou “o tempo apropriado”. Muitas vezes, sinto que desperdicei a minha juventude em coisas sem interesse, portanto temos aqui um duplo significado. Por que convidaram uma amiga (Heike Langhans) para uma participação especial em “Signals in the Sky”? Esta distinção não deveria ter sido dada à canção com o título do álbum? [Também ficaria bem, porque a voz dela

é simultaneamente poética e melancólica.] Alexander – A Heike tinha aceitado participar neste álbum como convidada, antes mesmo de eu me juntar à banda. Portanto, não sei bem explicar como isso aconteceu. Mas posso dizer que estou muito contente que tenha acontecido. Não a conhecia bem antes disto, mas quando ouvi a sua voz na demo, fiquei rendido. Era como se a Amy Lee e a Chelsea Wolfe tivessem tido uma filha. Ela escreveu a letra para a canção, que inicialmente se chamava “Circles”, título esse que, no último minuto, mudou para “Signal in the Sky”, porque assentava que nem uma luva no artwork e estava perfeitamente adequado ao tema geral do álbum. Na minha maneira de ver as coisas, a canção que dá o título ao álbum deve estar nos antípodas da distinção – ela é a essência do álbum. Denis Forkas fez um trabalho maravilhoso para a capa do vosso álbum. Como a ilustração é tão pálida como a estação a que se refere o título do vosso álbum, só consigo ver nela alguns vultos e uma espécie de pendão com uma caveira de bode. - Como relacionam esta pintura com o tema central de «Pale Season»? Têm várias ilustrações para usarem também nos cartazes para os concertos e no merchandising?

Alexander – O Denis Forkas estudou as nossas letras – sobretudo a de “Hound” – e encontrou um paralelo entre elas e a Divina Comédia de Dante. O homem é muito meticuloso e mandou-nos uma lista de citações que tinha usado para se inspirar, com indicação das páginas e tudo. O artwork intitula-se The Charriot e representa uma versão romântica de uma das cenas mais intrigantes e grotescas do Purgatório, em que o carro sagrado se converte na Besta do Apocalipse, no Canto 32. Como o trabalho do Denis demora muito tempo a fazer e implica muita investigação, só temos esta ilustração para este álbum. - A paisagem da parte da Suécia de onde vêm é inspiradora para pessoas que gostam de música melancólica? Alexander – A paisagem daqui é maravilhosa, devido às florestas profundas e às colinas onduladas. Há uma certa mística nela que nos influencia, sem dúvida. Passo muito tempo em comunhão com a natureza e a solidão e o silêncio são um santuário ideal para a reflexão. Estão na véspera de lançar o álbum (evento previsto para o 28 de junho). - Planearam algum concerto de lançamento com a Debemur Morti? Fred – Não planeamos nada disso. Penso que haverá só um churrasco, para o qual vamos convidar elementos de outras bandas. Não temos muitos amigos. - E concertos ou até digressões? Fred – Estamos a preparar alguns espetáculos, mas, de momento, não temos um agente. Estamos à procura de um novo e temos esperança de que – uma vez esse problema resolvido – regressaremos à liça. - Já têm reações a «Pale Season»? Fred – Até agora, todas as críticas que li eram realmente boas. Que continuem a vir assim! Facebook Youtube

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O METAL VAI NU Por: Nuno Lopes

Não há muitos fui convidado por uma banda do nosso panorama para uma noite diferente. Uma noite em que público, banda e jornalismo se iriam fundir num só em torno de algo muito maior...a música! Contudo o que ficou dessa noite foi a memória de um público que não quer saber! O que fica é um público que exige respeito mas que teima em não respeitar os músicos, um público desapegado de informação ainda que seja ávido da mesma. Ficou a noite, ficaram as perguntas e respostas e ficou uma sensação de ter contribuído para algo a que se deu o nome de undeground. Agradece-se o risco da banda em questão e anseiam-se por mais momentos destes. Mas o que chateia é mesmo o metaleiro! Sim, aquele que faz um barulho tremendo quando vê o cartaz pedidos outros nomes que não os confirmados. Aquele que quase nada diz, quando dias mais tarde se confirmam duas datas de duas das maiores instituições do Metal e que, um dia, foram tão relevantes como o Nu-Metal! Chateia-me o metaleiro que já vezes sem conta se perdeu em concertos das bandas que, tendo a sua história, já nada de relevante mostram, tal o oldschool que são! O NuMetal já não é assim tão Nu-Metal! Aliás, até podemos dizer que existe um novo género, que vos parece Oldschool Nu Metal? É que foi, através deste género que, muito do metaleiro actual cresceu! E esse é o grande feito de um género e, não me venham com tretas, todos curtiram em algum momento. O Nu Metal colocou a palavra Metal numa MTV que começava a apodrecer, e trouxe uma lufada de ar a um Metal que se começava a tornar enfandonho, muito por culpa do Grunge. Não sou um defensor do género, mas há discos de Nu Metal que ouço e que são/foram importantes. Mas eu não sou defensor de nada, apenas observo. E o que vejo é que, seja em que vertente seja, o Metal continua a estar vivo! Aquilo que falta é deixar de ser «fuçureira» e apreciar o que de bom se vai passando! Até para o ano!

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ALBUM VERSUS WILD ER U N

«Veil of Imagination» (Independente)

Aqui há uns anos fiquei abismado com uma banda australiana chamada Ne Obliviscaris – tendo sido, inclusive, capa da Versus. Nessa altura lançaram «The Portal of I». Nos diversos périplos de leitura por essa internet fora, chamou-me à atenção uma crítica dos Wilderun. Bem… no fundo, foi também a capa do disco que imediatamente associei a bandas como The Flower Kings e o facto de Dan Swano ter misturado o álbum e Jens Bogran ter masterizado. Aguçado pela curiosidade comecei logo pelo tema épico com 14m32s que abre o álbum – “The Unimaginable Zero Summer”. Este tema começa com um excerto de “Ode on the Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood” de William Wordsworth, seguindose uma voz suave, acompanhada de guitarra acústica. Antes dos três minutos pensei que fosse (mais) uma banda de Rock Progressivo e ainda bem que o volume estava, ele também, suave, porque o que haveria de chegar teria sido péssimo para a minha reputação como vizinho: descomunal e operático blast beat! … e ainda não surpreendido, uma gutural e cavernosa voz! WOW! O que se segue é puro deleite! A dinâmica, a grandiosidade, a cinemática, as várias dicotomias melódicas... Pensem em «Veil of Imagination» como a transcrição de um filme em notas musicais, um sítio onde o Folk escandinavo abraça o Metal Progressivo Sinfónico, um sítio por onde os Opeth poderiam ter ido. Se «In Cauda Venenum» é um excelente álbum, que não restem dúvidas, mas… (há sempre um mas…) não será algo que nos deixem realmente espantados. No entanto, estes rapazes de Boston, apesar de se terem formado em 2008 e IMAGINE-SE são INDEPENDENTES, conseguem “restaurar a fé na Humanidade”. As orquestrações, cortesia de Dan Müller e Wayne Ingram, são fantásticas, épicas quando devem ser, suaves, introspectivas e discretas quando a música assim o exige… o equilíbrio perfeito! Uma palete de sons, instrumentos e estados de espírito que eleva a Alma – para quem a tem e ainda não a vendeu ao Diabo – e o espírito a dimensões nunca antes atingidas. Um imenso “mar” de descobertas. Sim, há muito mais para descobrir em «Veil of Imagination» e sim, os Wilderun são mesmo uns mestres e não querendo ser mauzinho, são uns Opeth Ver. 2.0. Não me posso alongar mais nas palavras, será o álbum do ano. [10/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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CRITICA VERSUS

A E ON WIN DS

AT L A N T E A N K O D E X

«Stormveiled»

«The Course of Empire»

«Nug So Vile»

(Avantgarde Music)

(Ván Records)

(Season of Mist)

Herdeiros da segunda fornada do black metal, os eslovacos Aeon Winds mostram em «Stormveiled» como foram capazes de beber da fonte inesgotável que é a Noruega, em particular em bandas como Emperor (especialmente da fase «Anthems To The Welkin At Dusk» e «IX Equilibrium»), Limbonic Art ou até mesmo os Dimmu Borgir dos seus primórdios. Carregando, pois, no pedal atmosférico e sinfónico do black metal, os Aeon Winds não fazem propriamente má figura, mas pressente-se que caso «Stormveiled» tivesse sido bafejado por uma produção mais competente os temas teriam ganhado outra força e impulsionariam este segundo duração da carreira dos eslovacos para um nível mais elevado. Não sendo isso que estava escrito nos astros, temos aqui apenas um disco a baloiçar entre o mediano e o interessante, destacando-se, como de resto é habitual neste subgénero, o diálogo travado por guitarras e teclado. No entanto, uma palavra deve ser dada também ao baixo, cheio quanto baste para se fazer notar e conferir a faixas como “Legacy of the unconquered sun” ou “Beyond all empty places“ um peso “extra” que não lhes assenta mal. Daí que, sendo injusto comparar os Aeon Winds às incontornáveis referências escandinavas, não deixa de ser verdade que possuem os seus méritos e o tempo gasto a ouvir «Stormveiled» não será completamente perdido. Ou seja, ainda que longe de ser arrastado numa tempestade, o ouvinte não deixará de sentir, aqui e ali, ventos com alguma intensidade. [6.5/10] HELDER MENDES

“Empires rise, empires fall/The moral of all human tales”, canta-se a dada altura em “The course of empire (All thrones in earth and heaven)”. A História assim o diz. O que ainda não diz é que o Império dos Atlantean Kodex está em franca ascensão, revelando ao terceiro longa-duração dominar completamente o seu som épico e tradicional. O segredo, se assim podemos dizer, dos Atlantean Kodex está na capacidade espantosa que têm em pegar em melodias que, noutras mãos, podiam soar pirosas (ouçase o coro em “People of the moon”) mas, e quase fintando as leis da Física, com estes germânicos funcionam que é uma maravilha! E depois há esse som apetecivelmente cheio, denso (é pegar no início de “Chariots”, por exemplo, ou em “A secret Byzantium”), com o baixo de Florian Kreuzer impondo-se e servindo de contraponto à voz de Markus Becker que, não obstante alguns exageros quando se lembra de prolongar as notas, tem mais um desempenho francamente positivo, sendo inevitavelmente uma das marcas d’água dos Atlantean Kodex. «The Course of Empire» é um grande disco de heavy metal, com todos os tropos que associamos ao género: boas guitarras, boa voz, boa secção rítmica, letras com temáticas simbólicas e fantasiosas… até a ilustração da capa (nitidamente inspirada no clássico «Blood Fire Death» dos Bathory) transpira metal por todos os lados. Daí que tanto os que têm acompanhado a carreira dos Atlantean Kodex como aqueles que apreciam sonoridades heavy/doom podem mergulhar à vontade neste «The Course of Empire»: dificilmente sairão decepcionados. [8.5/10] HELDER MENDES

O successor de «Left Hand Pass» está aí, e desta feita a “homenagem” do título recai sobre os Cryptopsy e o seu «None So Vile». Como vem sendo norma, o core-business dos Cannabis Corpse está em destilar, através de um alambique forrado com folhas de marijuana, um death metal que respeita os cânones do género. As estruturas musicais cannibalcorpsescas (afinal a grande referência destes outros C.C.) são usadas e abusadas para efeitos de humor pateta, e já sabemos de outros tempos (ou melhor, outros colectivos…) que os Cannabis Corpse, particularmente Landphil (Municipal Waste), levam a sua versão tonta do humor muito a sério. «None So Vile» é, na verdade, só mais um charro na já considerável pedrada que é a discografia dos Cannabis Corpse, não nos surpreendendo faixas como “Blasphemy made hash”, “Dawn of weed possession” ou “The cone is red (long live the cone)”, com os já costumeiros trocadilhos inspirados (ah ah!) em títulos de clássicos do death metal. Tudo muito bem, é isto que fazem e sempre fizeram, mas «Nug So Vile» padece de, pelo menos, dois problemas que já começam a ser recorrentes. O primeiro é a produção, o segundo é de teor mais filosófico e, por isso, deveria ser debatido enquanto se passa o charro entre amigos: a mesma piada repetida ad aeternum continua a ter graça? Ou os Cannabis Corpse precisam urgentemente de mudar de fornecedor e aparecer com outro material?! [6/10] HELDER MENDES

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C A N N A B IS C O R P SE


CRITICA VERSUS

C O F FINS

C O R R O S IV E

D IS IL L U S IO N

«Beyond the Circular Demise»

«Nourished by Blood»

«The Liberation»

(Relapse Records)

(MDD Records)

(Prophecy Productions)

Meninos e meninas, juntem-se: gostam de guitarras bem lá “em baixo”?! De secções rítmicas que batem sem misericórdia?! De vocalizações ultraguturais?! E de bom death metal, daquele mesmo old school, com piscadelas de olho ao doom?! Se responderam “SIM” de modo enfático a todas estas perguntas, então, petizada, não vão mais longe: peguem no novo disco dos japoneses Coffins e divirtam-se a dar cabo dos vossos lindos pescocinhos. «Beyond the Circular Demise» é um óptimo disco de death metal e pode muito bem consolidarse como o melhor trabalho da carreira dos nipónicos. A tareia que se inicia em “Terminate by own prophecy” e termina com “Gateways to dystopia” é intensa, furiosa, e mesmo que fiquemos com um “olho à Belenenses” não descansamos enquanto não voltarmos à refrega. E isto – o desejo de voltar a escutar um disco que acabou de ser tocado – é um daqueles pormenores que fazem a diferença entre ser bem e mal sucedido. Ora, os Coffins deste «Beyond the Circular Demise» foram muito bem sucedidos, sabendo quando colocar o pé no acelerador e quando o tirar. E mesmo quando se dedicam à mui nobre tarefa da imitação, como por exemplo no primeiro minuto de “Hour of execution”, que é puro Obituary, é tudo tão bem feito que não há lugar para reclamações. Portanto, miúdos e graúdos: este é um dos grandes discos de death metal do ano. É aproveitar, pois já não há muitos assim. [8.5/10] HELDER MENDES

Os germânicos estão de regresso dois anos após «Lucifer Gave the Faith» que marcou uma nova era neste quinteto que iniciou a sua carreira em 1995, sendo este o seu terceiro LP. Começando, talvez pelo final, com uma surpreendente versão de «Ghostbusters» (sim, é o tema do filme com o mesmo nome!), este é um disco de puro Death Metal, sem qualquer subgénero e sem qualquer medo de se assumir como tal. Até chegar a esse tema somos fustigados por onze temas em que o sangue e a devastação nos arrasam por completo e sem qualquer tipo de perdão. Apesar de alguma semelhança que possa existir entre os temas há por aqui ingredientes suficientes para nos fazer saltar as órbitas, seja em temas como “Bleeding by the beast” (logo a abrir) ou “The holy priest”. Há por aqui alguns momentos em que a voz de Andy se aproxima de um Chris Barnes dos tempos modernos, mas, o que importa sublinhar, é que o trabalho da banda se revela eficaz no geral, fazendo um trabalho interessante e inspirado na cruel realidade em que vivemos. Aliás, como os próprios dizem, “War is my inspiration”. Uma coisa é certa, neste nova era os germânicos estão mais ameaçadores que nunca, ainda que não tragam nada de novo ao género. [7.5/10] NUNO LOPES

Gravaram apenas dois discos antes de desaparecerem, mas deixaram saudades mais por causa do marcante «Back to Times of Splendor», de 2004, que, com o tempo, viria a adquirir um estatuto de culto na cena internacional. Curiosamente este novo «The Liberation» remete mais para esse seminal primeiro álbum do que para qualquer outra coisa que a banda de Leipzig tenha feito posteriormente. Sem repetir nada, é um retorno às raizes prog/death e às longas composições envolvidas e orgânicas que se espraiam numa vasta gama de sonoridades e estados de espírito. Com quase uma hora, o disco inclui, em sete faixas, um pouco de tudo, desde linhas vocais memoráveis capazes de resistir à passagem do tempo (“Time to let go” e A shimmer in the darkest sea”), ganchos melódicos galvanizantes (“The liberation”), arranjos trabalhados até ao ínfimo detalhe com trompete, violoncelo e piano (“In waking hours e “The mountain”), e até passagens difíceis de digerir, presentes pontualmente nos três temas mais longos, com cerca de doze minutos de duração cada. Tal como no álbum de estreia, há claros traços de influência Opethiana, agora da fase «Watershed», embora isso não diminua o valor artístico do trabalho. «The Liberation» é o resultado de um ambicioso processo de composição que custou ao líder da formação alemã, Andy Schmidt, dois anos de trabalho full-time, financiado pelos próprios fãs através de uma campanha de crowdfunding conseguida após o lançamento do single «Alea». Um esforço que se vê compensado, com um resultado final pleno de criatividade que, pode dizer-se, preenche as elevadas expectativas depositadas neste disco. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

ENF OR C ED

E S S E N C E O F D AT U M

EXHORDER

«At the Walls»

«Spellcrying Machine»

«Mourn The Southern Skies»

(War Records)

(Season of Mist)

(Nuclear Blast Records)

A exposição à descarga de crossover que o recente Vagos Metal Fest proporcionou, despertou em mim uma irresistível busca por aquele velho prazer primitivo, quase animalesco, aquela reacção física inexplicável que só uma thrashalhada desenfreada é capaz de induzir. O encontro com este disco dos Enforced não podia, pois, ser mais oportuno, uma vez que é disso mesmo que se trata: thrash/crossover directo e despretensioso, daquele que nos faz perder facilmente o controlo da cervical como nos tempos em que este género era rei no universo do Metal. «At the Walls» reune remasterizações de todo o material que este quinteto norteamericano criou desde a sua formação em Richmond, em 2016, nomeadamente os quatro temas divulgados originalmente na demo que gravaram em Março de 2017, e as três faixas da promo «Retaliation» de Dezembro do mesmo ano. A somar a estes, o álbum inclui ainda as novidades “Reckoning force” e “Skinned alive”, que se evidenciam como os números mais infecciosos, mostrando que a banda se encontra actualmente numa fase criativa muito promissora. Como já deu para perceber a música faz-se apenas dos condimentos essenciais do thrash mais aditivo, fazendo-se acompanhar, também, pelo registo vocal insano de Knox Colby, que, não menosprezando os restantes músicos, é uma peça essencial no resultado colectivo. Os temas são furiosamente rápidos e curtos de acordo com a tradição no género, mas o estilo de composição da banda parece contemplar mais musicalidade. Ficamos à espera de mais. [8/10] ERNESTO MARTINS

Metal progressivo, extremo e apenas instrumental, é ainda uma combinação que poucos ousam explorar. O guitarrista Dmitry Ramanouski e o baterista Pavel Vilchytski já o fazem desde 2011, no âmbito dos Essence of Datum. Depois do notável «Event Horizon», um disco de estreia fortemente inspirado nos guitar-heroes de pendor neoclássico, o dueto de Minsk enveredou, no trabalho seguinte, «Nevermore», por uma abordagem mais pessoal e aventureira que passou até pela inclusão de um saxofone em várias das composições. Este terceiro registo vê a banda explorar território sónico mais extremo, com aquele riffing característico do black metal e uma atitude tipicamente mais ameaçadora. “Synthetic soul extractor” e “Spellcryer” são os temas que melhor evidenciam esta nova abordagem. Além da sonoridade extrema, as composições apresentam-se também mais maduras e variadas, com muitos ganchos e momentos cativantes, tornando a audição num verdadeiro festim para os sentidos. “Shikari algorithm” e “Pendulum”, por exemplo, enchem, garantidamente, as medidas a qualquer fã de prog metal. Já o excelente interlúdio acústico “Vitality”, de ambiência algo soturna, permite perceber até onde vai a criatividade eclética e o virtuosismo de Ramanouski. Apesar do peso omnipresente, a melodia está sempre à espreita entre as malhas elegantemente articuladas da música. «Spellcrying Machine» acaba por ser uma excelente revelação, proveniente do ponto mais improvável do globo, e um disco que promete uma experiência compensadora para quem procura algo refrescante no extremo mais agressivo do espectro metálico. [9/10] ERNESTO MARTINS

Não tiveram tempo para atingir o estatuto e o reconhecimento merecido de uma grande banda de thrash mas ainda assim conseguiram, com apenas dois álbuns, «Slaughter in the Vatican» (1990) e «The Law» (1992), alcançar, com o tempo, um estatuto de culto entre os fãs, que nunca perdeu fulgor nos 27 anos em que nada mais gravaram. Ora isso ocorreu porque esses dois discos, principalmente o «SitV», encerravam uma raiva tão genuína e uma bujarda de uma sonoridade tão inédita, que arrasou, literalmente, quem julgava ter ouvido já, por essa altura, tudo o que o thrash tinha para oferecer. A torrente caótica de riffs técnicos de Vinnie LaBella e Jay Ceravolo, a propulsão insana da bateria de Chris Nail e a adrenalina transbordante da voz de Kyle Thomas simplesmente não pareciam deste mundo. Após dissoluções e reagrupamentos intermitentes desde 1994, a formação norte-americana decidiu finalmente voltar às gravações, produzindo agora um trabalho confiante, que contém, talvez, a “melhor” música de sempre produzida pela banda, facto que não deve ser alheio ao contributo de músicos experientes como Marzi Montazeri, Jason VieBrooks e Sasha Horn que se vieram juntar aos dois únicos resistentes: LaBella e Thomas. Mas a questão essencial, que os fãs mais aguerridos da formação quererão saber, é se este “melhor” reflecte de alguma forma a crueza e os atributos caóticos, brutais e psicóticos que nos fizeram saltar da cadeira ao ouvir os supra referidos discos de 1990 e 1992? A resposta é, claramente, não! Aqui as composições são bastante lineares e consistentes, exibindo permanentemente um trabalho de guitarra de primeira classe e refrões de encher o ouvido. Nos seus próprios termos é, sem dúvida, um disco com tudo para agradar a quem acabou agora mesmo de descobrir a banda. Para os velhos fãs de Exhorder, isto definitivamente não basta. [6.5/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

ISO L E

LUNAR SHADOW

«Dystopia»

«The Smokeless Fires»

«Veritas»

(Hammerheart Records)

(Cruz Del Sur Music)

(LADLO Productions)

Se houvesse um prémio para a categoria “Melhor banda a fazer um som semelhante ao dos Candlemass”, os Isole levariam sempre o troféu para casa. Desde «Forevermore», o disco de estreia, que os suecos têm caminhado pelo trilho aberto pelos compatriotas; o novo «Dystopia» não muda um passo que seja, pois composições como “Written in the sand” ou “Forged by fear“ poderiam perfeitamente constar de um disco dos Candlemass, ou de qualquer um dos vários projectos em que Leif Edling se envolveu. Mas se a originalidade dos Isole nunca foi uma força motriz, o mesmo não se pode dizer da qualidade, e aí «Dystopia» também não foge ao padrão elevado a que os Isole já nos habituaram. Daniel Bryntse, em particular, continua a brilhar, ele que também pode ser escutado este ano no mais recente dos Ereb Altor, assim como o guitarrista Crister Olsson. Há gente que nasceu para ser workaholic, e neste caso ainda bem. «Dystopia» é, pois, um álbum sólido, sendo que nem mesmo “Galenskapens land”, um épico de 8 minutos cantado na língua materna e, devido a isso, opaco a quem não percebe lhufas de sueco, destoa do restante que é aqui apresentado. Finalizando com a forte “Nothingness” e o seu refrão “I am all I was ever meant to be/I am nothing – king of emptiness/Doomed to be a hollow shell/I am empty – king of nothingness”, é caso para dizer que o nada deve ser um estado bastante recomendável quando permite criar obras desta natureza. [8/10] HELDER MENDES

A vida é cheia de surpresas e nem todas elas são boas. Parece ter sido isso que aconteceu a este quinteto germânico que tem em Max Birbaum a sua força criativa, após o lançamento de «Far From Light». Além de perder o vocalista o guitarrista viuse a braços com algumas situações que o levariam à criação deste «The Smokeless Fires». Assim, o que temos neste disco é uma experiência dolorosa, densa mas, ao mesmo tempo romântica (como se comprova desde logo na capa). Este é um disco que comprova que o ser humano ultrapassa tudo e é capaz de se alimentar da sua dor para se voltar a erguer. Produzido por Maxx Herrmann nos Glooven Studios, este disco é uma mistura de melodias que nos remetem para o Heavy Metal tradicional adornado, aqui e ali, por momentos mais pesados e onde sobressai o enorme talento do novo vocalista Robert Röttig. Há por aqui pianos selvagens na faixa-título, há refrões que nos secam a alma e que podem iluminar o caminho nem sempre fácil. «The Smokeless Fires» é um disco que nos obriga a sentir, que nos faz entender que existe algo mais que a vida e que, apesar de pensadores, os Homens são também seres emotivos. Ao segundo disco os Lunar Shadow apresentam algo que é uma surpresa agradável e que surpreende por uma frescura que em muitos casos peca por escassa. Veremos o que aí vem a seguir, a bonança essa está à vista. [8/10] NUNO LOPES

«Veritas» é mais uma demonstração da vitalidade que o metal gaulês está a atravessar. E, igualmente, da qualidade dos lançamentos com carimbo da Les Acteurs de l’Ombre, cujo trabalho em prol do underground está cada vez mais a sair das sombras. Ao segundo álbum, os Maïeutiste já não revelam muitas dores de crescimento, incontornáveis em quem ainda está à procura de consolidar o seu som. O colectivo está definitivamente instalado naquela zona muito difusa do black metal progressivo, cruzando-se aqui e ali com o death metal, pincelado acolá com motivos eruditos, como é evidente nos dois minutos de “Spiramus”. O que se ouve aqui é produto de uma banda madura, sobretudo em termos técnicos, que soube evoluir desde o seu álbum de estreia homónimo, o tal que finalizava com a excelente “Death to Socrates”. E se neste «Veritas» faixas como “Veritas I”, “Vocat” e “Infinitus” recordam Enslaved e Opeth (e, já agora, o riff de “Universum” lembra de modo suspeito a “Mein teil” dos Rammstein), à tessitura dos Maïeutiste não falta também um cunho próprio, que se espera vir a ser reforçado no futuro. Será, decerto, uma carreira a acompanhar com atenção durante os próximos tempos, aguardando-se que continuem a progredir. «Veritas» deixa bons apontamentos nesse sentido. Apenas eram escusados os cerca de 8 minutos de silêncio em “Veritas II”, que dotam a última faixa do álbum de um certo anticlímax. [8/10] HELDER MENDES

M A ÏE U T IS T E

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CRITICA VERSUS

ME MO R IAM

OPETH

P E L IC A N

«Requiem for Mankind»

«In Cauda Venenum»

«Nighttime Stories»

(Nuclear Blast Records)

(Nuclear Blast Records)

(Southern Lord)

Apesar de contarem com uma média de idades que passa já dos 50 anos, os Memoriam não param de bulir desde que se formaram em 2016. Às digressões consecutivas somam-se nada menos do que três álbuns de originais, e uma qualidade que segue em crescendo. Se o álbum de 2018, «The Silent Vigil», denunciava ainda uma indisfarçável colagem estética aos Bolt Thrower (recorde-se que a banda em questão inclui dois músicos dessa extinta formação de Coventry: o frontman Karl Willets e o baterista Andrew Whale), «Requiem For Mankind» parece inaugurar uma fase de clara emancipação desse passado. Aqui os característicos andamentos a meio tempo, marcados por riffs espessos e esmagadores, surgem agora entrecortados frequentemente por ritmos mais rolantes e thrashy - um dos aspectos mais salientes duma composição inspirada e eficaz, com resultados evidentes por exemplo no groovy “Undefeated”, que convida a acompanhar de punho em riste, em “Never the victim” que inclui um trabalho de bateria especialmente criativo de Whale, na memorável progressão de riffs do titulo-tema, ou ainda no discurso inflamado de resistência que sai do vozeirão de comando de Willets, em “Refuse to be led”. E estes são apenas alguns dos muitos pontos de interesse. Além disso, o som ficou também bem mais definido, sem comprometer em nada o poder destrutivo e a atmosfera opressiva a que o colectivo britânico já nos habituou, graças à gravação, desta vez, nos estúdios Parlour, sob a direcção de Russ Russell (Napalm Death, Amorphis). Em suma: o melhor momento até agora dos Memoriam. [8/10] ERNESTO MARTINS

«In Cauda Venenum» antes de mais, e se o quiserem enquadrar, é um regresso à Era do Prog Rock, algo a que os Opeth vêm seguindo mas de formas diferentes. Desde os tempos mais primitivos e guturais da banda que Åkerfeldt tem vindo a levar a banda e a sonoridade por alguns caminhos até à data desconhecidos, já lá vão 20 anos. Chamemos-lhe … Evolução. Bem…. Mas de que forma e em que aspectos «In Cauda Venenum» se enquadra na discografia ou nessa evolução (musical)? Não podemos falar do “melhor de dois mundos”, porque os Opeth já se tornaram num autêntico universo criativo. No entanto, é fantástico em termos de composição, nunca deixando antever o que nos espera; aparentemente simples… mas só aparentemente, porque serão poucos músicos que conseguem igualar a mestria de Åkerfeldt (e os Opeth) neste aspecto da composição. No seu âmago, «In Cauda Venenum» é complexo – …e qual o álbum de Opeth que não é? - no entanto, o que deixa transparecer é uma estranha simplicidade melódica. Quase trinta anos depois, não se trata (apenas) de “(re)descobrir a pólvora“ mas sim, de uma nova descoberta criativa a cada álbum que sai ou música que é composta. Terão conseguido? Bem… em parte. Uma grande ajuda foi a versão do álbum em Sueco, algo que, por acaso, já os Sabaton tinham feito com «Carolus Rex» ou então, a orquestração em “The Next of Kin”. «In Cauda Venenum», provavelmente, não agradará aos fãs mais antigos mas teriam que ser muito “quadrados” para não apreciar e ouvir… pois no fundo e entre o deve o haver, «In Cauda Venenum» é muito mais que isto… é música… é Opeth. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

Nascidos como um projecto paralelo de elementos dos Tusk os norte-americanos Pelican cedo se transformaram numa banda de culto, não só para os apreciadores de Rock pesado mas também em outras franjas de melómanos. A fórmula parece simples escrita em papel, guitarras desenfreadas que se fundem com uma bateria e um baixo transcendentais, que nos fazem perder a memória. Nomes como Mogwai pairam sobre “WST” e sobretudo no single “Midnight and mescaline”, algo que se vai sucedendo ao longo do disco, pese embora o talento da banda em baralhar e voltar a dar. Há Stoner, há Sludge, há Rock de barba rija. Destacase ainda as guitarras plenas de harmonia e simplicidade no meio de um caos controlado. Ah! Quase me esquecia: este é o primeiro disco da banda sem Laurent Schroeder-Lebec, mas mal se sente dado o talento de Dallas Thomas. «Nighttime Stories» apenas será uma surpresa para quem desconhece os Pelican. [9/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

RAVE NSIRE

S O N ATA A R C T IC A

S T E P IN F L U ID

«A Stone Engraved in Red»

«Talviyö»

(Cruz del Sur Music)

(Nuclear Blast Records)

«Back in Business» (Klonosphere Records/Season of Mist)

Terceiro longa-duração para os lisboetas Ravensire que assim também estreiam a nova formação neste formato, com as entradas de Alex (Midnight Priest, Flageladör) e de Mário (Bleeding Display) para a guitarra e bateria, respectivamente. Se existe um mito na industria musical é o do terceiro disco e, aí, o quinteto manda tudo isso às urtigas, ou melhor, atira tudo isso para a batalha e para o suor que escorre ao longo destes oito temas que apenas pretendem ser Heavy Metal, sem géneros ou subgéneros! «A Stone Engraved in Red» é um disco maduro de uma banda que conhece, como ninguém, os terrenos que pisa. Há por aqui um esforço de criar um conjunto de temas que, mesmo seguindo as regras do género, conseguem trazer boas ideias e com detalhes que acabam por trazer boas surpresas ao longo do disco, mostrando que, mesmo old school, há sempre espaço para algo mais. Destaque, ainda, para a evolução de Rick Thor que tem, neste disco, uma prestação de respeito e onde o vocalista apresenta um maior conforto na posição que ocupa. O Heavy Metal não é para meninos. [8/10] NUNO LOPES

Sensaborão, julgo ser este o melhor adjectivo para descrever «Talviyö» - isto “nem é carne, nem é peixe”. Chato e aborrecido como o raio… Outrora uma excelente banda de Power Metal, os Sonata Arctica foram experimentando outros (maus?) caminhos… A «Talviyö» falta-lhe uma definição clara, estando ali numa zona “cinzenta” entre o Rock e o Power Metalzinho, ou algo parecido… meh… falta-lhe força, poder… falta aquela “bofetada” sonora, velocidade. Mesmo as músicas rápidas (que são duas)… desculpem, “rápidas” não despertam interesse algum – no entanto, e através de um comentário de um utilizador no Youtube, descobri que «Talviyö» ganha outra “alma” quando tocado a uma velocidade de 1.25x. Experimentem! Dois temazitos sobressaem no meio dos restantes demasiados melosos – “Message From the Sun” e o instrumental “Ismo’s Got Good Reactors”. De resto, por muito que tente ouvir este álbum não haverá aqui interesse suficiente para o manter, sequer, no disco a ocupar espaço. Mesmo a banda não querendo voltar aos anos 2000 e (voltar a) tocar Power Metal, poderia ao menos compor algo muito mais interessante. [5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

Este disco tem a sua génese há precisamente dez anos, quando o guitarrista dos franceses Trepalium, Harun Demiraslan, fascinado com algumas das peculiares técnicas de execução dos Meshuggah, se propôs a explorar uma estética instrumental de fusão, combinando várias culturas musicais desde o metal ao funk, passando pelo progressivo e pelo jazzrock. O primeiro resultado dessa experiência, descrita como mutant jazz-core, surgiu em 2011 com o titulo «One Step Beyond», tendo contado com a participação essencial do baterista Florent Marcadet (dos Hacride e Klone) e de mais dois músicos, num colectivo identificado como Step in Fluid. Este «Back in Business», o muito aguardado segundo registo da formação originária de Poitiers, é um trabalho que, desta vez, não se limita aos padrões rítmicos inspirados nos Meshuggah, aproximando-se, talvez, mais do objectivo traçado por Demiraslan, de fusão de vários elementos num todo coerente, em particular o heavy com o exotismo do jazz. Para isso foi fundamental a integração de um quinto elemento, o teclista Gérald Villain, que veio dar uma nova dimensão à sonoridade da banda, com teclados muito mais preponderantes e musicalmente ricos, bem como a participação de alguns convidados como Matthieu Metzger no saxofone e Rémi Dumoulin no clarinete. O que resultou foi um disco fácil de ouvir, surpreendente, groovy mas com uma secção rítmica poderosa e divertida, com um trabalho de guitarra irrepreensível e uns teclados deliciosamente jazzy. Trinta minutos que sabem a pouco, mas suficientemente consistentes para fazer este disco figurar desde já no meu ranking dos melhores de 2019. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

TR O NO S

WO R M W IT C H

X E N T R IX

«Celestial Mechanics»

«Heaven That Dwells Within»

«Bury The Pain»

(Century Media)

(Prosthetic Records)

(Listenable Records)

O Homem é o único ser vivo que tem consciência da sua mortalidade, contudo existe a questão de para onde vamos quando esta jornada termina. Foram questões como esta que levaram a que Shane Embury (Napalm Death) e Russ Russel, reconhecido produtor cujo trabalho pode ser escutado em discos de bandas como At The Gates, Amorphis ou, os já citados Napalm Death, a criar estes Tronos ao qual se junta, ainda, a presença do baterista Dirk Verbeuren, reputado músico que já trabalhou com Megadeth, Warrel Dane, entre muitos outos. Se estes ingredientes ainda não serão suficientes para despertar a curiosidade sobre «Celestial Mechanics», que tal acrescentarmos a presença de ilustres convidados como Dan Lilker, Snake ou Troy Sanders ou Billy Gould? Ora pois bem, com esta constelação de estrelas pouco há a dizer sobre a qualidade instrumental deste disco de estreia que é, acima de tudo, uma viagem sensorial sobre a vida, sobre onde estamos, quem somos ou para onde vamos. Por vezes denso, outras vezes bélico mas, em muitos momentos, de uma estranha aura que nos faz perder perante um céu limpo e estrelado permitindo ao ouvinte ter o espaço para respirar e questionar sobre a condição humana. Poderemos olhar para «Celestial Mechanics» de muitas formas, mas não podemos, em nenhum momento, colocar em causa a missão destes terráqueos. Aqui estão todos os ingredientes que fazem um disco ser um grande disco e, mais importante do que tudo, «Celestial Mechanics» é um disco feito para libertar e nos fazer questionar sobre o que está para lá da vida, a anos luz do que se passa na Terra. [7/10] NUNO LOPES

Relativamente desconhecidos, os Wormwitch começaram de imediato a surgir nas playlists dos apreciadores ferrenhos daquele death/ black melódico ao estilo de Dissection e Watain, desde que este segundo álbum saiu, em Abril passado. A fantástica reprodução da magistral obra de 1888 de J. W. Waterhouse, que adorna a capa, até pode ter sido um primeiro motivo inconsciente de atracção, mas é, de facto, pela música que a banda canadiana se faz valer. Depois de uma estreia pouco auspiciosa, em 2017, com «Strike Mortal Soil», um disco onde fundiram desalmadamente um thrash enegrecido com algum punk, a banda surpreende agora com um trabalho polido e aprimorado, marcado fortemente pela supra citada estética de origem escandinava. Para quem não se cansa do género, estão aqui contemplados todo os trejeitos de manual: os riffs melódicos, as atmosferas gélidas, os tremolos, e uma composição que equilibra diferentes intensidades, com alguns ganchos que tornam o disco agradável logo à primeira audição. Por vezes o colectivo desvia-se um pouco da direcção referida, como acontece no folky “Dancing in the ashes” e em “Iron woman”, mas tais derivações não vão ao ponto de ferir a consistência do álbum como um todo. Cada um dos dez temas exibe, aliás, traços que lhes conferem uma identidade muito própria. No entanto a verdade é que, passado o eventual deslumbramento inicial, a ideia que persiste é a de um trio de músicos competentes a repetir ideias exploradas e ouvidas várias vezes no passado. Enfim, um disco meritório que é um verdadeiro regalo para saudosistas, mas não mais do que isso. [7/10] ERNESTO MARTINS

Formados em 1988 os Xentrix são um dos nomes do Thrash Metal europeu e um dos nomes cimeiros do undeground britânico. Contudo, a banda nunca se afirmou como uma força do Metal muito por culpa das divergências internas e a uma carreira pautada por diversas encarnações sendo que, por estes dias, esta é já a terceira fase da carreira dos britânico e «Bury The Pain» o disco que marca um silêncio de 23 anos. Ao quinto disco estes britânicos, que estreiam a nova formação com as entradas de Jay Walsh na voz e de Chris Shires no baixo e que se juntam aos fundadores Dennis Gasser e Kristian “Stan” Havard, apresentam um disco poderoso e, principalmente furioso, atacando sem qualquer perdão o sistema em vigor. Claro que o que temos aqui é um olhar mordaz, sarcástico mas com pés bem assentes na terra. Há por aqui temas que nos ficam na retina, como são os casos de “There will be consequences” ou “Let the world burn”, contudo o que marca mesmo este registo é a voz de Jay Walsh que lembra (e de que maneira) uns Testament ou as bandas saídas da Bay Area. No fundo, mesmo ao fim de três décadas, os Xentrix continuam fiéis ao género e «Bury The Pain» é um belo disco de Thrash. [7/10] NUNO LOPES

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CURTAS ARENA DRIFT «Beneath the Surface - EP» (Independente) Os Aren Drift auto-denominam-se como uma banda de Rock progressivo, “comandados” por uma senhora de seu nome Radka Nemcova. No entanto, não sei se o epíteto “progressivo” se encaixará muito na música dos Aren. Para uma banda independente, e ao contrário de muitos EP’s que temos recebido, a sonoridade e produção estão muito bem trabalhadas, assim, como a musicalidade que está muito coerente com o timbre da voz de Radka. Me parece, no entanto, que como os Aren Drift existem “milhentas” bandas e este EP não terá o suficiente para ser um grande destaque ao nível do Rock progressivo (competente, sim) e que se possa exclamar: UAU! Resta esperar pelo álbum de estreia. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

CINEM UERTE «O Refúgio»

(Raging Planet) Não há nada como o regresso a casa! Aquele ponto em que nos permitimos a ser nós mesmos. Muitos concordarão que não há sitio como casa! Para os lisboetas Cinemuerte esse local é o estúdio e este novo disco, com o singelo nome de «O Refugio» é mera dedicatória a mais de duas décadas de carreira. «O Refúgio» é um disco em que a banda, mais madura que nunca, assume o risco assumido há muito, e, como tal, é um registo maduro, de que sabe os terrenos que pisa e arrisca num disco que deve tanto ao Doom como, porque não dizê-lo, erudita. Guiados pela voz de Sofia Vieira, há por aqui uma certa saudade de tempos que já foram e uma nostalgia que nos aquece a alma, como que embrulhados num manto secreto. Feito de canções (não malhas) os Cinemuerte voltam a reinventar o seu som e apreciar este disco como Metal, Rock ou algo do género é estar a retrair muito do que é a música, na verdadeira essência da palavra. [8.5/10] NUNO LOPES

DIRTY OL’ CROW «Strangers’ Nest – EP»

(Independente) Mais um curioso EP Independente que nos chegou às mãos. Os Dirty Ol’ Crow parecem ter saído de uma qualquer cidade Texana mas o seu núcleo duro começou por ser formado na Alemanha, tendose estabelecido em terras de sua majestade. Aí nasce «Strangers’ Nest» um típico EP (NOT – este EP tem quase 27 minutos, é quase um mini-álbum…) de seis temas, muito rockalhados, irreverentes e carregadinhos de groove, com especial destaque para o seu primeiro single “Sex Dictator” que nos remete para o típico rock dos anos 80. É mais um EP de estreia feito e produzido com grande maturidade. Está aqui algo catita de se ouvir… [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

FORGOTTEN REM AIN S «Morbid Reality - EP»

(Independente) Apraz-me dizer: Até que enfim um EP em condições. «Morbid Reality» é um EP já de 2016 mas só há pouco tempo nos chegou às mãos. No entanto, achámos que valeria a pena tecer algumas considerações sobre os Forgotten Remains. Aqui vai uma descrição algo clichet mas estes Britânicos descarregam um furioso Thrash Old School, misturado com Death Metal, assim muito ao estilo mais negro dos Testament, ali pelos anos do «Low» e «Demonic». São 6 murros no estômago e é caso para exclamar: Que jarda! «Morbid Reality» é só o terceiro EP da banda e o antecessor, do ainda sem nome, álbum de estreia, no entanto, já me deixou com a curiosidade aguçada. É uma banda a ter em conta. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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CURTAS JACK AND SALLY «Who We Become – EP»

(Engineer Records) Os Jack and Sally chegam-nos directamente de Londres e são mais uma banda que começa a dar os primeiros passos neste “mudo cão”. «Who We Become» foge um pouco ao que normalmente abordamos na Versus, mas… temos orgulho em ser uma revista bastante ecléctica. Portanto, este EP segue directamente para aquele pessoal que gosta de uma boa mistura de Rock Alternativo e Indie Rock, “salpicados” aqui e ali por “pitadas” de Punk Rock, bastante melódico e pouco irreverente, assim muito ao estilo de Gin Blossoms ou Goo Goo Dolls – bandas estas que deram algumas cartas ali pela década de 90 mas depois caíram um pouco no esquecimento. Este EP, por incrível que pareça, é conceptual e o tema gira à volta de uma personagem de seu nome “Macy”, cuja final da estória é deixado à imaginação do ouvinte. Interessante… «Who We Become» foi uma agradável surpresa e para quem gosta do estilo (nem que seja para desanuviar) será uma banda a descobrir. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

KINGBÉAST «Straps of Wrath»

(MDD Records) Depois de uma bem sucedida demo em 2014 os germânicos Kingbéast lançam agora «Straps of Wrath», marcando assim a estreia pela MDD Records. O que aqui temos é um disco de Groove/Thrash que nos faz lembrar uns Machine Head de «Burn My Eyes» quando encontraram os Mastodon. Depois de uma intro acústica somos empurrados para o meio de uma muralha sonora com muito Groove mas, também, servindo de exorcismo para um passado tóxico de Heiko Jesenek. Se a isto juntarmos, talvez, alguns elementos do Sludge, onde Mastodon se destacam, o que temos aqui é um disco que, não sendo de conceito leve, nos faz abanar a cabeça em temas como “Numb the pain” ou “A soul demise”, além do destaque para “V strede srdciach od Európy” (esta cantada em eslovaco». «Straps of Wrath» é uma surpresa sem o ser, mas é um belo passo em frente de um trio a ter em conta. [8/10] NUNO LOPES

LACRIM AS PROFUN D E R E «The Bleeding Stars»

(Steamhammer/ Oblivion) Quando se pensa em Death Doom provavelmente o nome de Lacrimas Profundare não surgirá logo à cabeça, não sucedendo assim com o Rock Gótico. Na figura dos manos Schmid, os Lacrimas Profundere tiveram os seus grandes momentos em discos como «Memorandum» ou «Burning: A Wish, que colocaram a banda sob um manto de culto que lhes permite uma carreira de mais de duas décadas. «The Bleeding Stars» é um disco “maduro” e tem um glamour escrito a um vermelho que sangra. Denso e diverso o suficiente, o trio, agora com Julian Larre na voz, mistura muito bem o antes e o depois. Desde “I knew and I will forever know” (a abrir), passando por “Mother of doom” ou “Father of fate” e terminando em “A sleeping throne”, este «The Bleeding Stars» é, sem dúvida o melhor disco de uma banda que teima em avançar, arrastando a solidão e a melancolia perante o caos citadino. Obrigatório. [9/10] NUNO LOPES

PARASITIC TWINS/T H E C A R N IVA L R E J E C T S «The Parasitic Rejects - EP»

(Man Demolish Records) Um relativo e curioso Split de duas bandas inglesas, dedicadas ao Punk – puro, duro e cru – que nos chegou às mãos. Se os The Carnival Rejects nos trazem três temas de um Punk mais rockeiro e melódico, assim… digamos, quase ao género dos The Offspring, já os Parasitic Twins descarregam três Punk temas na sua vertente mais crust e crua e com uns laivos quase doomescos. Não é um split que faça suspirar ou me obrigue a descobrir mais sobre as bandas mas talvez se arranje um pouco de curiosidade para ouvir um pouco mais de The Carnival Rejects – ou então, isto cai mesmo fora do meu gosto musical. Fica o registo e as palavras para quem quiser descobrir um pouco mais destas bandas. [6/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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CURTAS SKØV «Skøv»

(Independente) Quem diria que directamente da Polónia viria uma banda de Punk? Os Skøv formaram-se em 2017 e passados dois anos lançaram o seu primeiro álbum homónimo. Uma mescla interessantíssima de Rock, Punk e Black Metal – pois, não se esqueçam… vêm da Polónia. Uma rápida pesquisa e as caras “larocas” não deixam enganar: estes gajos são uns putos irreverentes. No entanto, o que não falta a esta gente é maturidade suficiente para que, apesar de ser um lançamento independente, ter já uma qualidade de produção e musicalidade muito adulta. Vá lá, malta… os Skøv merecem uma audição atenta e com o volume no máximo, mais que não seja para rebentar com a paciência dos vizinhos! É o que está a acontecer neste momento! Estes putos vão longe! [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

THE BLACK WIZARD S «Refections»

(Raging Planet) Terceiro disco de originais para os lisboetas, numa altura em que passam também 50 anos de Woodstock. O que é que isso tem a ver com «Reflections»? Simples, a música da banda que nos envolve por ambientes febris e quentes dos ácidos e da liberdade de uma guitarra psicadélica envolvida em vozes ora Joplin, ora mais perto do Blues Rock mais clássico, com aproximações ao country onde por vezes, sem ter nada a ver, surgem uns Filter. Ao terceiro disco os The Black Wizards afastam a mitologia e apresentam um disco de Rock eficaz e que é a garantia de uma banda que vê reconhecido o seu trabalho. Isto é só Rock, não chega? [7.5/10] NUNO LOPES

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Pessoal e intransmissível «In the Raw» não é só mais um álbum… (bem lá no fundo, nunca um

trabalho de Tarja foi “só mais um”) é o álbum mais pessoal da Diva até à data. Desta vulnerabilidade sai, ainda, uma sofisticação orquestral que só Tarja sabe fazer. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Tim Tronkoe

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Hoje em dia tenho a liberdade de me poder expressar sem correntes à volta do meu coração.

Olá Tarja, uma vez mais muito obrigado pelo teu tempo e por nos responderes. O álbum é para ser lançado no final de agosto. Qual é a tua expectativa quanto à reacção das pessoas? Já tiveste oportunidade de tocar as músicas ao vivo? Até ao lançamento do álbum apenas tocámos o primeiro single, a «Dead Promises», e aconteceu na Europa durante um festival de verão. A reacção foi fantástica o que me deixou bastante ansiosa em relação ao seu lançamento. Estou bastante contente com a reacção dos meus fãs em relação ao meu novo trabalho. Estou desejosa para começar a rockar o mundo com as minhas novas músicas e receber o feedback das minhas bonitas audiências. Tens três distintos convidados neste teu trabalho. Como é que surgiu a oportunidade de ter estes vocalistas a cantar contigo e quando é que percebeste que era tempo de os convidar? Na realidade, é uma história engraçada, quando acabei de escrever as músicas para este álbum senti, embora sempre tenha gostado de colaborar com outros vocalistas, que não haveria duetos. Desta forma, as músicas que acabaram como duetos no «In the raw», não foram escritas como tal. Aconteceu que, quando se iniciou a produção, começaram a soar assim. O

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meu manager contactou os managers deles, ou por vezes, contactou-os diretamente. Sou uma miúda cheia de sorte por ter amigos tão talentosos nesta indústria pelo que todos os vocalistas que desejei que participassem neste álbum, acabaram mesmo por participar. Woohoo! Presumo que as faixas foram gravadas em estúdios diferentes. Como foi trabalhar com estes vocalistas à distância? Estou a produzir os meus álbuns. Hoje em dia todos os profissionais têm em sua casa estúdios que adoram e onde se sentem livres para trabalhar. Eu também os tenho e supervisionei o processo de produção para o meu álbum à distância, mas a tecnologia de hoje tem grandes ferramentas que o torna possível. A «Railroads» é sobre a viagem do Paulo Coelho para encontrar a sua própria condição espiritual. Vou assumir que a tua viajem é/está na tua música. Assim, já encontraste… ou… tens a necessidade de encontrar a tua própria condição espiritual através da música? Claro! A música deu-me vida e estou eternamente grata por poder trabalhar com o primeiro amor da minha vida! Actualmente sou uma cantora/


compositora mais sensível, apaixonada e expressiva. Para mim é absoluto e importante que escreva músicas que tenham significado para mim.

O David Bowie é uma influência para ti? Não particularmente, mas gosto do trabalho dele e tenho os seus trabalhos na minha coleção.

O conceito para «In the Raw» com todos os seus aspectos, elementos e dicotomias que envolvem a música e as letras soam bastante “complicadas”. Por exemplo, se por um lado temos uma combinação de sofisticação orquestral, coros e a tua voz clássica, por outro lado temos aquela base obscura e crua do heavy metal. Qual foi a dificuldade em combinar todas estas diferenças e elementos enquanto criavas este «In the Raw»? Assim como a música ainda hoje me desafia, eu gosto de desafiar os meus ouvintes. Mas isso é quem eu sou. Hoje em dia tenho a liberdade de me poder expressar sem correntes à volta do meu coração. Não há ninguém a dizer-me que tipo de música escrever ou dar-me indicações sobre o que fazer. Sou chefe de mim mesma. Adoro uma carreira versátil com todas as suas mudanças e oportunidades. Contudo, claro que não é fácil para mim lidar com isso tudo. Por isso é que estou sempre a trabalhar! Mas, ao ser diferente dos outros, tenho estado a quebrar barreiras desde o início da minha carreira no rock. Não tenho receio de fazer o mesmo. Não consegues tirar o amor que sinto pelo metal ou pela música clássica. Fazem parte de mim.

Costumas inspirar-te em filmes? As bandas sonoras dos filmes, ainda hoje, continuam a ser a minha maior inspiração quando falamos em compor música.

“A Tarja nua, vulnerável…” Como é que esta “nudez” ou “vulnerabilidade” reflecte-se na tua música? Com um suspiro, iniciei uma viagem dentro de mim mesma e esta auto-descoberta tornou este álbum o mais pessoal até à data. Definitivamente, neste álbum, sinto-me mais vulnerável e frágil, especialmente nas letras. Estando “nua e vulnerável” pressupõe que este trabalho é de alguma forma mais pessoal. Onde é que este álbum entra na tua fantástica discografia? É o álbum mais pessoal da minha carreira e, sendo assim, é um álbum muito importante para mim. Com este trabalho deixei as minhas inseguranças para trás e isso foi fantástico. A introdução «Tears in Rain», mesmo antes de começares a cantar, recorda-me a introdução da “Let’s Dance” do David Bowie e o título, claro, do monólogo daquela cena épica do Ruger Hauer de Blade Runner. Pode-nos contar um pouco mais sobre esta música? Escrevi esta música juntamente com um amigo de longa data, o Johnny Andrews. Queria compor uma música energética cuja história se tornasse algo importante para os meus ouvintes. Realcei o início à “Let’s Dance” de propósito por isso agora soa como uma música de David Bowie. Pareceu-me uma boa ideia (risos)

Se pudesses fazer a banda sonora para um filme, que filme seria? Teria de ser um filme histórico e emocional. Li recentemente que o Livro «New Jersey» de Bon Jovi foi o primeiro livro de rock a entrar na Rússia… Falamos de 1988, se não me engano. Em Outubro vais dar 10 concertos na Rússia. Não sei se será a tua primeira vez na Rússia, mas sendo um país tão diferente qual é a tua expectativa para estes concertos? Estou neste momento em digressão pela Rússia. Já estive na Rússia várias vezes e é um território muito importante para mim. Acolheram-me quer como cantora de rock quer como cantora clássica, por isso já actuei aqui muitas vezes no passado. Está a correr super bem! Todas as salas estão cheias de fãs russos aos gritos. Estou muito feliz. Já tiveste digressões por tantos países, sentes que ainda existem países de alguma forma resistentes ao rock/metal, e no teu caso ao facto de ter uma vocalista feminina? Sei que nunca poderei actuar em alguns países islâmicos, como o Irão, mas nunca fui negligenciada ou incomodada durante as minhas digressões pelo facto de ser mulher. Com os teus anos de experiência achas que o metal ainda tem problemas com bandas que tenham mulheres como líder? Nunca senti quais quer problemas pelo facto de ser mulher. As audiências ligadas ao metal, assim como os meus colegas, sempre me aceitaram. Talvez por a minha voz ser única no meio das vozes femininas, ou pela minha presença… quem sabe? Nunca tive de pretender ser algo que não sou. Sempre fui muito franca quanto às minhas raízes e o facto do meu passado ser na música clássica, por isso o público metaleiro aceitou-me com as minhas diferenças. Acredito que nunca teria chegado tão longe se tal não tivesse acontecido. Obrigado e espero ver-te brevemente em Portugal. Irei vermos em breve, no dia 7 de março do próximo ano. Obrigado pelo amor e pelo apoio. Facebook Youtube

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Educação sentimental Veio-me à mente este título de um romance do escritor francês Gustave Flaubert (o imortal autor de “Madame Bovary”) ao refletir sobre o que Fiar nos diz acerca do percurso da banda catalã, nesta entrevista sobre o segundo álbum da sua nova era. Ambos tratam de crescimento espiritual. Entrevista: CSA | Fotos: Rocío Montserrat

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Saudações, Fiar Já te entrevistei sobre «Les Irreals Visions», que era um álbum fantástico. Estou de regresso (sempre de negro :-) ) para “falar” contigo sobre «Els Sepulcres Blancs». Fiar – Saudações, Cristina! É um prazer poder passar novamente algum tempo a conversar contigo sobre o nosso interesse comum – a música – e o novo álbum de Foscor, que torna este momento particularmente importante, porque estamos apenas a algumas semanas do seu lançamento oficial. Para começar, tenho de dizer que estou muito intrigada com o título do álbum. Em Português, usamos a expressão “sepulcros caiados” para designar pessoas que não são bem aquilo que aparentam ser. Há alguma relação entre esta expressão portuguesa e o vosso título? O título pode ser traduzido por «Os Túmulos Brancos» e foi tirado de uma das obras do dramaturgo catalão Jaume Brossa, datada de 1900. Desempenhou um papel de destaque no movimento cultural e artístico designado por Modernismo que se afirmou no campo da literatura. O conteúdo do álbum não está especificamente relacionado com este livro, mas

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baseia-se nessa bela metáfora que faz alusão ao ato de sonhar. Para esses artistas (revolucionários numa era e sociedade em que não se sentiam integrados), o mundo devia ser poetizado como uma espécie de primeiro passo para a sua transformação. Foi influenciado ao mesmo tempo por Nietzsche ou Ibsen e pela luta dos trabalhadores pelos seus direitos que se vivia na sua época e nota-se, no seu discurso, um sentido de renovação. Por outro lado, encontrámos algumas similaridades entre a sua época e a que estamos agora a viver a nível cultural e social. Estas pareceram-nos boas razões para construir um novo ciclo inspirado no nosso background cultural. Aparentemente, não há nenhuma relação entre as duas expressões, mas o facto de se lidar com aspetos anómalos da realidade que afetam cada indivíduo e a forma como os ideais podem mudar isso poderiam constituir uma espécie de ponte entre as duas relacionada com um tópico universal baseado no humanismo. Como és tu que escreves as letras, gostaria que nos explicasses de que forma declinaste o tema central deste álbum nas sete canções que fazem parte dele.


Antes de compor o álbum de 2017 – «Les Irreals Visions» – a principal preocupação da banda era construir um discurso coerente, em termos musicais e concetuais, mas também estéticos. Sabes quanto gostamos de construir coisas sólidas, quando se trata de criar e encetar um diálogo com o mundo. Mas, no que se refere ao álbum anterior, só conseguimos ir anotando tudo, sem chegar a concretizar as nossas ideias, Só depois de ter lido algumas obras sobre História da Arte consegui perceber como tínhamos estado ligados a esse movimento cultural do passado, sem, no entanto, termos conseguido aprofundar suficientemente as suas raízes para tomarmos consciência da sua riqueza e extensão a fim de deixarmos a nossa música embeber-se nele transpondo-o para os nossos dias. Como já referi, estes artistas surgiram num momento de forte renovação dos papéis culturais e sociais vividos no século XIX, pondo de lado um modelo já ultrapassado e dando ênfase às pessoas e aos poderes económico, social e cultural numa época de anarquismo, etc. Precisaríamos de mais provas e justificações relativas à atualidade e amplitude de algo

expressão do estado/da identidade do indivíduo, um nível em que as barreiras morais não podem afetar os nossos ideais e podemos imaginar livremente como será um mundo melhor. Trata-se, obviamente, de uma metáfora… mas é bonita, sobretudo por surgir numa era de extremos, em que os humanos parecem precisar de referências e de se relacionarem uns com os outros de forma diferente. Este álbum tem novamente na capa uma foto artística (da autoria da fotógrafa irlandesa Deborah Sheedy). Podes dizer-nos que relação existe entre essa foto e o título/tema do álbum? Em cada álbum, temos por objetivo que haja coerência entre todos os elementos criativos que o constituem. O artwork tem de ser uma extensão do que a música expressa e as letras transmitem. Mais uma vez, traçámos uma linha que define de que vão tratar os próximos álbuns da banda e pareceu-nos que a fotografia seria o meio ideal para relacionar a realidade com o nível de alucinação que queríamos atingir. Temos consciência de que o facto de cantarmos em

[Neste álbum] o mundo dos sonhos surgiria como […] um nível em que as barreiras morais não podem afetar os nossos ideais e podemos imaginar livremente como será um mundo melhor […]

que tínhamos usado em termos meramente estéticos até ao momento? Não. Portanto, nesse momento em que conseguimos finalmente compreender até que ponto esse movimento cultural e artístico estava relacionado com o nosso país, o nosso background e até a época em que vivemos, decidimos traçar uma linha dividida em 3 capítulos. Esses capítulos estariam baseados nos seguintes princípios: - As coisas corriqueiras têm de adquirir um significado novo; - Aos elementos visuais será conferida uma nova aparência, imbuída de secretismo; - A tudo o que já é conhecido será conferida a dignidade do desconhecido. Estes 3 princípios têm de ser vistos com olhos poéticos, mas aplicam-se a elementos banais num mundo globalizado. Assim que decidimos que seria esta a direção a dar aos nossos 3 álbuns que surgiriam depois de termos assinado com a Season Of Mist, ficou determinado que o novo – «Els Sepulcres Blancs» – exploraria o segundo princípio, em que o mundo dos sonhos surgiria como a mais completa

Catalão limita as possibilidades de sermos plenamente compreendidos por muitas pessoas, mas afinal de contas o que pretendemos é expressar emoções e instaurar um diálogo entre pares. Ao contemplar o artwork as pessoas podem ficar com a ideia de que somos mais uma banda sonhadora que tenta escapar à realidade através da música e da fantasia, mas o nosso caso é bem mais complexo do que isso. Para a fotografia da Deborah (tal como aconteceu com a da Nona Limmen no álbum anterior), estabelecemos alguns parâmetros que condicionariam a forma como ela desenvolveu a cena. Intimidade, monumentalidade, um ideal nebuloso e uma vaga realidade deveriam servir para descrever a ação e fazer parte da excitação dos sentidos que procurávamos, à semelhança dos artistas de há um século atrás. A cena passa-se num quarto, o teu lugar por excelência, onde estás longe do mundo social ameaçador. Esse lado do mundo torna-se mais evidente, quando é visto pelos olhos de uma mulher e essa é mais uma das razões pelas quais temos uma figura feminina numa foto criada pela câmara de um fotógrafo feminino.

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Tu compões toda a música para a banda. Pareceme que este álbum se assemelha muito ao seu predecessor, mas tenho a certeza de que há diferenças entre eles. Podes dizer-nos que elementos separam «Les Irreals Visions» de «Els Sepulcres Blancs»? Desde o álbum anterior que estou encarregado de escrever as linhas vocais para a música e as letras e de gerir o conceito geral, o que eu posso desenvolver graças a entrevistas como esta. O Falke e o Albert encarregam-se da música e os três juntos formamos a melhor equipa que Foscor teve até à data para concretizar o que pretende criar. As diferenças entre os dois álbuns são demasiado profundas para se tornarem evidentes a partir da mera comparação entre elementos gerais. Continuamos a usar o Catalão e voz limpa e a combinar momentos subtis com passagens ferozmente explosivas, mas a forma como as canções foram construídas e estruturadas é diferente de um álbum para o outro. Trabalhamos durante muito com demo songs até conseguirmos atingir o nosso objetivo: produzir a coleção mais concreta de canções que fosse possível criar. Pareceu-nos que menos elementos e estruturas mais claras poderiam facilitar a abordagem do álbum pelo ouvinte, a sua receção e dar origem a uma linguagem (musical) bem mais sólida. Atenta na produção, que já não usa distorção e reduz o impacto das guitarras, ao mesmo tempo que aumenta a sensação de espaço (“areja” as canções). Digamos que retomámos os momentos mais memoráveis do nosso álbum anterior e tentámos fazer uso deles na totalidade deste álbum, tornando-o mais curto, mais forte, mais suave… mas também mais sólido e coerente. No álbum anterior, tinham o Alan Averill (dos Primordial) a cantar contigo e desta vez é o sG (de Secrets of the Moon). Como aconteceu isso? Estou em contacto com o sG há vários anos. O que começou como uma abordagem pessoal, para lhe comunicar o meu apreço pelo seu trabalho e das suas bandas, acabou por se converter numa relação

Pareceu-nos que menos elementos e estruturas mais claras poderiam […] dar origem a uma linguagem (musical) bem mais sólida. 5 6 / VERSUS MAGAZINE

mais pessoal e gerar a possibilidade de partilhar experiências musicais. Adoro a forma como esses senhores fizeram evoluir a sua música em termos de transcenderem fronteiras e falarem ao mundo com a sua própria voz, absolutamente única. Esta foi a principal motivação que me levou a pedir-lhe que colaborasse no nosso álbum com uma participação vocal. Ele aceitou o desafio de cantar em Catalão, apesar de falar uma língua tão diferente da nossa, o que revela o seu estofo como artista. Foi um privilégio e uma experiência sensacional, que ligou indivíduos e realidades diferentes num mesmo tempo e espaço. A Season of Mist informa quem ler a informação promocional sobre este álbum de que se trata da segunda parte de uma trilogia. - Já têm o título para a terceira parte? Sim, já tenho… mas peço-te o favor de me deixares guardar essa informação para uma futura ocasião. Até já tenho um rascunho dos títulos das canções e tópicos a abordar nesse terceiro lançamento. Estamos a pensar em desenvolver a ideia de que “o que é já conhecido deve adquirir a dignidade do desconhecido”. - Qual é o tema central que une todas as partes da trilogia? Enquanto o primeiro capítulo – «Les Irreals Visions» – se centra no mundo, criando uma trama de lugares, caminhos, redes e margens para as nossas emoções, como faz a cidade detetando as ameaças e fraquezas com que lidamos, o segundo e presente capítulo – «Els Sepulcres Blancs» – estabelece as condições ideais para imaginar a mudança recorrendo à metáfora do sonho. No fundo, o tópico central é a criação de um novo equilíbrio com a Natureza, o agora e o além, logo o terceiro capítulo vai exigir uma ação. A mudança será atingida através de uma ação e é disso que vai tratar o futuro terceiro álbum desta trilogia. Nós, enquanto sociedade, estamos a viver momentos muito stressantes devido aos problemas locais e globais que, até certo ponto, estão a modelar a nossa personalidade e a forma de reagirmos face a eles. Não estamos aqui para pedir uma solução, mas, pelo menos, para tentar exprimir as nossas ideias e estabelecer o diálogo acima referido num nível emocional. Já estão a apresentar «Els Sepulcres Blancs» aos fãs nos vossos concertos? A primeira data ao vivo para apresentar o novo álbum ocorrerá em Barcelona durante um dos 4 dias do AMFEST, onde tocaremos ao lado de bandas como Alcest, Deafheaven, Zeal & Ardor, Pelican, Touché Amoré e muitas outras. Temos aqui o ambiente perfeito para esta proposta pessoal, que não está comprometida com nenhum outro objetivo que não seja criar música emocional usando qualquer


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Estamos a responder a várias entrevistas e a participar em sessões aqui e ali, que se irão tornando cada vez mais visíveis à medida que a data de lançamento do álbum se for aproximando. Os 3 singles são acompanhados por 2 vídeos musicais, filmados e editados por nós (o Flake trabalha como produtor de vídeo e o Esteban ajudou-o na edição desta vez). Penso que já há material suficiente para se poder ter uma visão geral do conteúdo do álbum. Temos a coleção de fotografias criada pela Deborah Sheedy, que – para além de figurarem no layout do álbum – nos vão permitir apresentar a nossa música de uma maneira diferente da que temos adotado até agora. Trata-se de um percurso artístico que já dura há muito tempo e a riqueza e realidade multifacetada deste álbum permitem-nos apresenta-lo de diversos pontos de vista, de modo a dar a conhecer o seu significado e o seu conteúdo. É isto que temos previsto até agora para este álbum.

instrumento ao nosso alcance. Definem a nossa música como Atmospheric Dark Metal, mas, na realidade, cada um pode ver nela o que quiser. Depois, vamos tocar em Brighton, no Reino Unido, e posso já dizer-te que temos muitas hipóteses de arranjar datas para tocar novamente em Portugal antes do fim do ano. Adoraria tocar de novo em Portugal, já que não conseguimos fazê-lo quando andávamos a apresentar o álbum anterior. 2020 será o ano das datas europeias e talvez consigamos ir aos EUA. O tempo o dirá. Como está a ser recebido (também comparando com «Les Irreals Visions»)? As primeiras impressões relativas aos três singles que já lançámos (tem em conta o facto de que o álbum só vai ser lançado oficialmente no dia 6 de setembro e que ainda estamos no período promocional) foram extraordinárias. Parece que as pessoas compreendem bem melhor o que lhes propomos nestes 2 álbuns. Espero uma confirmação da adequação da linguagem musical que conseguimos construir há 2 anos atrás e que, pouco a pouco, a banda se torne conhecida por essa razão. Não tenho medo das reações, mas tenho a certeza de que conseguir que a banda toque mais ao vivo do que aconteceu aquando do lançamento do álbum anterior vai ajudar-nos a concretizar as nossas expetativas. Isto é um trabalho árduo, feito de constância, insistência. Felizmente para nós, estamos agora a trabalhar com a Doomstar Bookings, que pode completar o trabalho espantoso feito pela Season of Mist através dos seus escritórios na Europa e nos EUA. Que planos têm para promover este álbum até ao fim do ano?

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Gostariam de tocar no Vagos Metal Fest (que tem lugar perto da cidade portuguesa onde eu vivo)? A próxima edição vai decorrer entre 30 de julho e 1 de agosto de 2020. Eles gostam de apresentar ao publico todos os tipos de música. Conheço esse festival há muito tempo e adoraria participar nele um dia, visto que dá atenção a uma grande variedade de bandas e línguas. Já tivemos a sorte de tocar no Under The Doom Festival (onde apresentámos «Those Horrors Wither») e no SWR Barroselas Metal Fest (com «Groans to the Guilty»), mas nunca ninguém nos contactou durante esta nova era da banda. Penso que precisamos de mostrar aos promotores locais de que forma lidamos com a experiência de tocar ao vivo através da participação em eventos de menor projeção antes de pensarmos em nos apresentarmos nos de maior monta. Vamos ver se conseguimos alcançar esse nosso objetivo tocando novamente em Portugal nos próximos meses. E agora uma curiosidade: ainda tocam algumas canções da vossa era de Black Metal nos concertos que fazem? Embora todos os álbuns e ciclos passados tenham feito de Foscor a banda que é atualmente, estamos apenas concentrados na era atual e não faz sentido para nós darmos atenção a essas canções. O nosso coração está noutro momento da vida da banda. Dito isto, a era Black Metal da banda pertence-nos da mesma forma que nós pertencemos a essa linguagem, cuja liberdade forjou a nossa música. Agora sentimos que precisamos de exprimir essa liberdade conquistada da forma revelada nestes nossos 2 últimos álbuns (incluindo «Els Sepulcres Blancs», que ainda vai ser lançado) e assim continuarmos vivos e a viver. Facebook Youtube


Playlist Carlos Filipe

Gabriel Sousa

E-L-R - Manad Atlantean Kodex - The Course Of Empire Sons Of Apollo - Live With The Plovdiv Psychotic Symphony Jean Michel Jarre - Destination Docklands Alcest - Spiritual Instinct Helloween - United Alive In Madrid Nile - Vile Nilotic Rites Thy Catafalque - Naiv Lacuna Coil - Black Anima

Slade – Slayed Tony Mills – Beyond The Law Dio – Holy Diver Cactus – Black Dawn Beast In Black – From Hell With Love

Cristina Sá Denial of God – The Hallow Mass Foscor – Els Sepulcres Blancs Lunar Shadow – The Smokeless Fires Mgla – Exercises in Futility Sarke – Gastwerso Total Hate – Throne Behind a Black Veil

Eduardo Ramalhadeiro DAD - No Fuel Left for the Pilgrims Opeth - Pale Communion Opeth - In Cauda Venenum Wilderun - Veil of Imagination Pretty Maids - Undress Your Madness

Emanuel Roriz Tool - Fear Inoculum Stone Sour - Stone Sour The Parkinsons - The shape of nothing to come Baroness - Gold & Grey Sepultura - Schizophrenia

Ernesto Martins

João Paulo Madaleno Disillusion - The Liberation Inner Missing - Ghostwriter Insomnium - Heart Like a Grave Konkhra - Nothing is Sacred Epica - Design Your Universe

Helder Mendes Faith No More - King For A Day... Fool For A Lifetime Queen - On Fire: Live At The Bowl Voices - London Raised By Owls - Dreadful ThanatoSchizO - Zoom Code

Ivo Broncas Tool - Fear inoculum Korn - The nothing Slipknot - We are not your kind Gojira - Magma Devil Driver - Trust no one

Nuno Lopes Illdisposed - Reveal Your Soul For The Dead Cult of Luna - A Dawn To Fear Mayhe - Demon Cannabis Corps - Nug So Vile The Great Old Ones - Cosmicism

Disillusion - The Liberation Ted Nugent - Double Live Gonzo Anacrusis - Reason Kayo Dot - Blasphemy Opeth - In Cauda Venenum

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Mão Morta ... no princípio foi o verbo

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Olá Adolfo! Antes de mais muito obrigado pelo teu tempo a responder às nossas perguntas. Ainda tenho o fantástico concerto do Hard Club entranhado algures na mente e n’alma e pela reacção de quem encheu a sala e depois no local do merchandising «No fim era o frio» está a ser um sucesso. Ainda sentes algum tipo de receio ou nervosismo quando lanças um álbum pelos Mão Morta? Adolfo: Quando lanço um disco não sinto nem nunca senti qualquer tipo de receio ou de nervosismo. Quando muito – e isso acontece sempre que se trata de um disco novo – sinto alguma expectativa para saber como será o seu acolhimento, tanto maior quanto mais confiante me sinto em relação a ele. Os Mão Morta têm uma discografia riquíssima, quanto a mim, bastante eclética no que torna ao género e ambiente criado. Poderia citar algumas bandas portuguesas bastante conceituadas onde… bem, basicamente, é “mais do mesmo”. No entanto, e quanto a mim, vocês nunca se acomodaram “à receita”. Como é, para ti, trabalhar num novo álbum e fugir por completo ao “marasmo” musical? Para estar a fazer mais do mesmo não vale a pena fazer. O que nos move é a vontade de experimentar e de descobrir, de aprender, de fazer o que ainda não fizemos e ver se e como o conseguimos. É a única coisa que nos importa, esta possibilidade de reinvenção permanente, de aventura e deslumbramento. Porque é que «No fim era o frio»? Porque ‘no princípio era o verbo’. Este frio é o da falta de calor humano, numa época de cada vez maior atomização e relacionamento tecnológico, mas também o frio cosmológico, a que a narrativa do disco nos reenvia. Em que medida é que a capa, e porque não, a arte que estava exposta no Hard Club, se

Realidade distópica …e se a poesia pudesse ser escrita em forma de música? …e se as palavras pudessem ter uma relação umbilical e intrínseca com as notas de música? Os Mão Morta serão, talvez, a banda portuguesa que melhor sabe unificar esta dicotomia. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Patrícia Martins

relaciona com a temática do álbum? A capa transmite o profundo desolamento e desamparo que atravessam a narrativa do disco. Já a arte exposta no Hard Club, da Oficina Arara, não tem nada a ver com o disco – a sua utilização remetia para a segunda parte do concerto, centrada no repertório dos Mão Morta, e aí fazia todo o sentido, uma vez que acentuava o lado bruto, medonho e mágico do rock’n’roll da banda.

Como é que enquadras «No fim era o frio» na vossa discografia? Podemos vê-lo como um passo em frente ou uma evolução comparativamente aos anteriores? Todos os novos discos são uma evolução, embora não no sentido de continuação de algo anteriormente feito. São uma evolução porque são sempre mais uma etapa da nossa aprendizagem enquanto músicos e enquanto criadores, apesar de se apresentarem continuamente

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Este frio é o da falta de calor humano, numa época de cada vez maior atomização e relacionamento tecnológico, mas também o frio cosmológico, a que a narrativa do disco nos reenvia.

como a antítese do disco imediatamente anterior. Mas no fim há sempre um crescimento de saber. Musicalmente «No fim era o frio» me parece um pouco mais melódico (“mais acessível”, até com alguns laivos electrónicos, como é o caso de “A minha amada”) do que, por exemplo, «Pelo Meu Relógio São Horas de Matar». - Concordas com esta análise? São discos diametralmente opostos, mas a questão da acessibilidade depende muito mais do ouvinte do que do criador – para um amante de música pesada, de doom ou stoner, o disco anterior é muito mais acessível; para um amante de krautrock ou de música electrónica, este disco é muito mais acessível… - Por falar em «...Horas de matar», e particularmente no single/vídeo com o mesmo nome, este foi recebido com alguma polémica. Penso que n’altura vocês foram acusados de incitarem à violência. Como é que vocês lidaram com este tipo de acusações?

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Dando-lhes o devido desprezo. Não é a estupidez alheia que vai definir o que fazemos ou como nos comportamos, ou que vai determinar o que dizemos ou o que pensamos, e muito menos que nos vai obrigar a justificar as nossas criações artísticas. Fui com um amigo meu ao Hard Club, obviamente fã da banda e teceu dois comentários que até achei pertinentes: - “30 anos depois ainda surpreendem”. Isto é verdade? Concordas? Quando partiram para este álbum foi um objectivo vosso… surpreender? Não, o nosso objectivo é sempre o mesmo: a vontade de experimentar e de descobrir, de aprender e de fazer o que ainda não fizemos, a ver se e como o conseguimos. - Depois de saber que poderias responder às minhas perguntas, disse-me logo: “Tens de lhe perguntar que livros é que lê porque as letras são fenomenais” [Penso que também te baseias em grandes obras obscuras(?)] – referindo-se a algumas passagens do novo álbum. William

Burroughs, Allen Ginsberg (Geração beat) ou Ducasse foram alguns dos autores que te inspiraram em álbuns anteriores. «No fim era o frio» houve alguém que te inspirou? Não. Foi uma narrativa que nem eu próprio controlei, que se me impôs consoante eu ia escrevendo para as músicas do Miguel Pedro e só mesmo quase no fim é que me dei conta da sua existência. Depois, aí sim já sob controlo meu, foi só terminá-la, dar-lhe um remate, com a ajuda dos dois temas do António Rafael. Mas não houve qualquer autor ou livro que a tenha inspirado ou cujo universo eu visasse visitar. - Que conceito está subjacente a este álbum? É um conceito estritamente musical, depois conceptualizado de uma forma mais global: o da composição por módulos – típica da música electrónica e dos sintetizadores modulares – transposta para a música eléctrica, mais especificamente para o rock. É este conceito que está na base de toda a composição, depois alargado à própria estrutura dos temas e do disco e finalmente ao processo como a narrativa ganha forma. … inclusive, vocês têm um álbum em que os títulos dos temas são retirados de filmes pornográficos. - Lembras-te o que te levou a escrever sobre tão nobre assunto? A falta de outro assunto, à época. Algumas (muitas) das letras têm uma conotação sexual - inclusive neste álbum. Em Portugal, isto é raro, sei que esta temática está no vosso ADN mas gostaria de saber como é transformar algo que pode ser polémico em poesia dos Mão Morta? Não tem qualquer segredo em particular, o sexo faz parte do nosso quotidiano, não é nenhum tabu, e escrever sobre ele é tão poético como escrever sobre qualquer outro assunto, sobre a violência ou a fome ou qualquer outra coisa…


É a única coisa que nos importa, esta possibilidade de reinvenção permanente, de aventura e deslumbramento.

- Como é o teu processo da criação e escrita das letras? Actual? Normalmente escuto a música, vejo onde podem entrar palavras ou o sítio que o compositor do tema pensou para as palavras, se há ou não um padrão rítmico e/ou melódico a respeitar, e deixo que as coisas aconteçam – às vezes é imediato, outras vezes é demorado e penoso, com muita reescrita e muitas ideias a serem jogadas fora. O Adolfo Luxúria, poeta, é diferente do Adolfo Luxúria, músico? Não. A música, para ti, é uma forma (estranha) de estar na vida? Não, é uma forma de apreciar a vida. A tua vida não é só os Mão Morta. Participaste em dois projectos, pelo menos: Mécanosphère e uma colaboração com Pedro Oliveira (Krake) - Num futuro próximo tens planos para participar nestes ou noutros projectos fora dos Mão Morta? Eu participei já em muitas dezenas de projectos alheios e nunca sei quando cai mais um convite – está sempre a acontecer, mas nem sempre tenho disponibilidade para

dizer sim. Projectos musicais que implicam um outro envolvimento, porque a sua concepção é também da minha lavra, tenho apenas dois: Mécanosphère e Estilhaços. Mécanosphère está, de momento, em repouso. Estilhaços, depois de dois anos de interregno, está outra vez a funcionar e temos alguns planos, ainda secretos, para o futuro… - Tu transportas influências, líricas ou musicais, entre os teus projectos e os Mão Morta? Sim, acaba sempre por acontecer, há uma aprendizagem que acontece enquanto lido com outros músicos que acaba sempre por ser uma mais-valia no meu labor com os Mão Morta. E isto também acontece com o Miguel Pedro ou com o António Rafael, que trazem sempre para os Mão Morta o que descobrem enquanto se envolvem noutros projectos. Quase para terminar, houve um outro amigo que vos considerou – e eu concordo – das melhores bandas de Rock Alternativo do mundo e Portuguesas. Concordas com esta nossa opinião? Vocês vêem-se como os melhores – se assim vos podemos considerar – ou pelo menos das bandas mais importantes e influenciadoras no nosso panorama musical?

Nós somos sempre os melhores! Dito isto, não acho que a música seja uma competição, com melhores ou piores. Há diferentes interesses e diferentes propostas musicais, que me podem interessar mais ou menos em função da minha sensibilidade e dos meus objectivos, mas não há melhores ou piores. O que mais me interessa e que vai mais ao encontro daquilo que procuro é, obviamente, o que faço e as pesquisas musicais que encetamos – daí sermos os melhores! Mas só nesse sentido… Aqui há uns anos foste mandatário da CDU por Braga e nem a propósito, entrevistámos o Miguel Tiago numa das edições passadas e faço-te duas perguntas que também lhe fiz: Como vês a cena musical portuguesa? Muito centrada em Lisboa. Aliás, parece que Portugal voltou a ser só Lisboa, como no tempo do fascismo… Tudo o resto – e é quase tudo o que musicalmente se faz de mais interessante no país – é como se não existisse! Se eu te pedisse para “ilustrares” os diversos partidos e/ou líderes políticos com um tema ou álbum quais seriam as tuas escolhas? Não associo música a partidos ou a políticos. Facebook

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Postas de pescada “Postas de Pescada: devaneios de dois energúmenos sobre personalidades da música” será um espaço partilhado, entre dois “jornalistas”, onde se falará sobre músicos, bandas, acontecimentos e outras coisas que tais... Para abrir as hostilidades, nada melhor que falar sobre o “Steve Jobs do Thrash Metal”: Lars Ulrich. Uma vez que temos aqui muita “madeira para baquetas” isto vem dividido em pelo menos duas partes... Para a próxima edição escreve o outro

Lars Ulrich: “Steve Jobs do Trash Metal”?? - Parte 2 Por: Ivo Broncas | Eduardo Ramalhadeiro

O megalómano baterista do Metallica nunca foi, nem será, uma figura consensual. Nem entre os fãs, e segundo alguns rumores que circularam, nem mesmo no seio da banda que ele próprio formou. A sua qualidade enquanto músico, ou falta dela, tem sido exaustivamente debatida. Não obstante todas as polémicas, o seu estatuto de liderança dentro dos “the four horsemen” parece imune a todas estas questões. Afinal, porque é que um músico cujas habilidades e algumas decisões são tão criticadas, continua a ter um papel tão preponderante numa das maiores bandas de Metal do mundo? Creio que não há uma resposta concreta, mas vou procurar fornecer algumas ferramentas para que possam vocês próprios tentar responder a esta questão. Parte 2: A ténue linha entre a ascensão e a queda. Após a histeria do Black Album, o trabalho de originais que o seguiu, “Load” esteve envolto em grandes expectativas. Tanto esse como o seu sucessor “Re-load”, ficaram gravados na memória dos fãs…. pelas piores razões. Foram um desastre em termos comerciais, muito mal recebidos pelo público afecto à banda e amplamente criticados pela imprensa especializada. James Hetfield veio anos mais tarde afirmar que esta nova mudança de sonoridade foi uma decisão de Lars Ulrich e Kirk Hammett. “Eu não concordava 100% com aquilo que estávamos a fazer (…) Disse: ‘Vou confiar na visão do Lars e Kirk. Vocês estão a fazer isso com tanta paixão, que eu vou ‘entrar na onda’, porque se nós 4 estivermos em sintonia, o álbum vai ficar melhor’. Não ficou. Pelo menos para o standard que Metallica nos tinham vindo a a habituar. Outra qualquer banda de rock poderia ter um sucesso enorme com estes discos. Mas não os Metallica. Após este rude golpe, seguiu-se a polémica do Napster. Ulrich comprou uma guerra contra o serviço de partilha de músicas online. Numa época em que a internet estava a desabrochar, este tipo de serviços tiveram um enorme impacto na comunidade de fãs de música. De repente tiveram a hipótese de descobrir novas bandas, ouvir novas músicas e redescobrir álbuns sem que isso signifique um esforço económico da sua parte. Esta possibilidade de acesso gratuito à música levou a uma enorme popularidade deste programa. A hipótese de o ver extinto suscitou uma ira quase generalizada. Lars tornou-se no homem mais odiado da indústria. Mesmo apesar do serviço ter continuado activo, o bloqueio de utilizadores que tinham feito download de músicas dos Metallica também não foi bem-recebido. Principalmente porque, se bem me recordo, surgia uma mensagem que dizia “You have been banned by Metallica”. Embora actualmente outros artistas já tenham

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vindo a concordar com ele, nomeadamente o seu amigo de longa data Scott Ian dos Anthrax, a verdade é que a popularidade dos Metallica baixou para níveis históricos após este episódio. Ainda mal a banda se tinha recomposto desta polémica, e antes de ter a chance de se redimir com o seu público, surgiu outra página negra na história dos Metallica: a saída de Jason Newsted da banda. Para agravar a situação, a meio das gravações de “St. Anger”, e ainda sem um novo baixista oficial, James Hetfield entra em reabilitação. Quem viu o filme “Some kind of Monster” recorda-se decerto dos momentos de extrema tensão em que Lars e James protagonizaram, com Kirk a procurar desempenhar sempre um papel apaziguador. Quem não se recorda de momentos marcantes como a saída abrupta de James da sala de ensaios ao que se seguiu a sua entrada em reabilitação, e ainda de Lars a queixar-se que o seu vocalista e principal força criativa da banda tem uma necessidade patológica em controlar tudo. Uma das condições que estipulou aquando do seu regresso foi de que a banda não deveria trabalhar, nem ouvir nada do material que estivesse gravado se o próprio não tivesse presente, o que levou a uma reação violenta, em que o baterista de 1, 66m grita alto e em bom tom literalmente na cara do seu colega de 1.85m, saindo, curiosamente ou não, incólume da situação. Vou abrir um parêntesis para procurar fazer um pequeno resumo: Pouco após a polémica Napster, com a memória da desilusão de “Load” e Re-Load” bem fresca na memória, vêm-se a braços com a maior crise interna da banda. A continuidade dos Metallica estava em risco, situação tomada como impossível num futuro não muito distante. Dar a volta a esta situação foi, muito provavelmente, a tarefa mais difícil que teve de levar a cabo enquanto “líder” da banda. A ideia de aproveitar a situação, fazer e lançar comercialmente um documentário foi no mínimo arriscada. Quem viu “Some kind of monster”, chega facilmente à conclusão de que uma das principais intenções do “destemido líder dos The four Horsemen”, era sem dúvida redimir a sua imagem. Publicitar um Lars que sofre, injustiçado, que luta até contra elementos internos para manter os Metallica no activo para trazer até nós, os fãs, a música que tanto apreciamos (ou apreciávamos). Como é sabido, “Some kind of monster” teve um impacto muito positivo, mas não pelo efeito esperado pela mente que esteve por detrás do conceito. O facto da maior banda de metal, e talvez de sempre, se mostrar tão “nua” e vulnerável perante o público, aproximou-o novamente da banda e permitiu-lhes inclusivamente ganharem um Grammy que premiou um dos piores álbuns que já lançaram: “St Anger”. Uma decisão arriscada, que através de razões que poderiam não estar inicialmente planeadas, relevou-se mais uma vez, espetacularmente eficaz. Estatuto de líder: Reforçado. Importa extrair de todo este episódio algumas ilações: quão seguro se sentia, nesta fase conturbada, Lars na liderança? Talvez não tanto. Na famosa cena (já aqui referida) em que grita na cara de James, é dito pelo Dinamarquês: “Eu não quero acabar como o Jason, ok?! Não quero ser afastado! Não quero que isso aconteça duas vezes.” A corroborar que esta posição de liderança não é tão segura como nos dão a parecer, surge outra declaração interessante de James Hetfield à Rolling Stone: “Lars age da seguinte forma: ’Tenho que fazer tudo, senão está errado!’ Ele sente o peso da responsabilidade sobre os seus ombros ele. ‘Atlas, Rise!’ (música de ‘Hardwired to self-destruct’) começou com o seguinte discurso da minha parte: ‘Deixa-me ajudar, tu não precisas de carregar esse peso todo’. Acho que ele gosta dessa carga. Precisa de um drama que o faz trabalhar. Todos temos isso. Ele quer ter o controle, mas não o tem de verdade. No fim do dia, percebemos que esta fórmula funciona: tenho 800 riffs, estão todos aqui, você os edita e pega os melhores’” Toda esta informação história e factual não nos traz, obviamente, uma resposta concreta. Tal como disse no início deste já longo artigo, esta provavelmente não existirá, e a razão para Lars Ulrich continuar a liderar os “gigantes” Metallica está aberta a várias interpretações. A meu ver, houve momentos chave em que a sua personalidade controladora e megalómana,

Fonte: link

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juntamente com uma inteligência que não é descurar (eu sei que muitos irão discordar, mas pensem bem se não posso ter alguma razão), lhe permitiram “agarrar” o lugar. Foi o fundador da banda. Foi quem manipulou editores a darem aos Metallica um espaço numa coletânea quando apenas existia um nome e um projecto a músico. Recrutou as pessoas certas e idealizou um estilo de música que serviu, serve e servirá de inspiração a inúmeras gerações vindouras e que criou o que ainda hoje é um forte movimento na “cena Metal”. Agarrou o lugar com autoridade, e aquando da morte de Cliff Burton foi quem sacudiu a banda e os obrigou a reagir. Sempre foi um dos mais activos e mais esclarecidos dentro do estúdio, ao ponto de James lhe confiar com a escolha e edição dos seus riffs. Um autêntico maestro em todos os álbuns, sempre com o consentimento dos restantes elementos. Ajudou a trazer o metal até às massas, enriqueceu colegas e ex-colegas, e de uma forma não intencional e retorcida, encontrou maneira de ressuscitar e fazer prosperar os Metallica depois de uma fase de quase rutura da banda. E eis se não quando, e anos após a primeira grande crise interna, e numa fase em que a liderança e as críticas a Lars se voltavam a fazer sentir de uma forma cada vez mais intensa…. James Hetfiled entra novamente em reabilitação. Estatuto de líder: novamente reforçado. Contudo, e embora ache que esta afirmação é tão óbvia que nem precisava de ser escrita, não há ninguém no mundo que tenha ouvido falar dos Metallica que não concorde que a banda terá o seu término como, quando e onde James Hetfiled quiser.

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sem passado se retorna ao passado

eis o ciclo venenoso da serpente que não matámos no ovo as falsas bandeiras soprando ódio pelo túnel de vento construído com os tijolos das nossas escolas e os salários dos professores contratados os medos alastrando como uma doença pele afora contaminada pelo ar infecto dos esgotos construídos com o cimento dos nossos hospitais a falta de tudo sentida assim no âmago de quem nunca teve nada e essa voz que exige o fim da democracia mascarada de fim da corrupção que anda pelas ruas de mão em mão sem morada fiscal mas sempre domiciliada no paraíso fiscal do aldrabão eis um veneno que se injecta nas veias da ignorância uma passadeira vermelha caminhada por ilusão um livro de estante dos destaques do hipermercado um imposto demasiado caro para um serviço que só apetece pedir o livro de reclamações uma escola fechada um hospital com direito de admissão um teatro igreja universal e um actor de esmola na mão uma ciência terraplanada e um doutor de bolsa não será possível agradecemos a sua compreensão um polícia raivoso na fábrica ocupada e em auto-gestão e detectives brandos a ajudar a esconder as contas do patrão uma mão na massa enquanto milhões amassam o pão é nesse pântano que se torna ténue sem que nos apercebamos a luz e ao contrário do que se passa com as igrejas os museus iluminam bem mais quando não ardem.

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Supercontrolada Aos 50 anos de carreira, a lendária norte-americana Suzi

Quatro, que nos anos 70

e 80 fez sucesso global, mantém-se determinada na sua visão musical. Sempre na estrada e já com uma longa discografia, acabou de lançar o novo álbum, «No control», bem representativo das suas raízes e influências. Parca nas palavras, avessa à política e conformada acerca do atual estadoda indústria musical, a diva falou à Versus numa entrevista que muito nos honra. Entrevista: CSA & DICO

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Dico – Ouvi pela primeira vez a tua música em 1977, com apenas 7 anos. O álbum em causa foi o teu primeiro longaduração, homónimo, que me deixou sem palavras. Alguns anos mais tarde, tocar os temas desse álbum na bateria ajudoume a evoluir enquanto músico e quatro décadas depois estou a entrevistar-te, o que é uma enorme honra. Como te sentes relativamente a estas cinco décadas de carreira musical (incluindo os primórdios com os Pleasure Seekers e os Cradle)? Suzi: Quando entrei no negócio da música fi-lo para toda a vida, portanto nunca foi algo em que pensasse muito. Tive a sorte de encontrar o meu caminho ainda muito jovem. Tocar nos Pleasure Seekers e nos Cradle foram

experiências sem preço para o meu desenvolvimento artístico. Eram bandas de palco, pesadas, que faziam jamms e compunham os seus próprios temas. Não mudaria nada. CSA – Olá, Suzi. Também eu ouvi os teus discos na minha juventude, mas sou mais velha do que o meu colega (tenho menos 10 anos que tu). Gostaria de saber como foi, para uma rapariga, encetar uma carreira musical nos anos 70 e 80? Antes de mais, não faço distinções de género, nunca pensei em mim como uma “miúda música”. Sou apenas uma música profissional, nunca dei importância ao género. Mas sim, efetivamente fui a primeira rapariga a ter sucesso no Rock, não posso negá-lo.

E orgulho-me por ter aberto algumas portas às mulheres. Sempre me levei a sério, portanto nunca fui objeto de negativismo. Basicamente recebes aquilo que dás. Dico – «Macho Man», um dos temas do mais recente álbum, No Control, soa a manifesto. É um tema pessoal ou apenas uma forma de afirmares que ainda há muito por fazer no que respeita à igualdade de género? É uma canção acerca “daquele género” de homem, com efeito… Que está bem à vista! Conheci alguns e esta canção é a forma como os vejo, mas a questão é que os machistas são vítimas do seu próprio machismo. Em palco, este tema soa particularmente bem [risos].

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[...] efetivamente fui a primeira rapariga a ter sucesso no Rock, não posso negá-lo. E orgulho-me por ter aberto algumas portas às mulheres.

CSA – Li na tua biografia que Portugal exerceu um importante papel no início da tua carreira. Lembras-te disso? Como poderia não me lembrar? O meu primeiro lançamento através da Rak Records foi um tema intitulado «Rolling Stone», que compus com o Errol Brown [NR: conhecido cantor e compositor britânico, já falecido]. Apesar do vasto airplay que obteve nas rádios não vendeu, exceto em Portugal, onde chegou a número 1 do top. O mais estranho é que nunca mais aí tive um grande êxito [risos]. Dico – Ao longo de todos estes anos sempre te mantiveste devota ao Rock N’ Roll, embora sem esquecer as tuas raízes bluesy, como os temas «Easy Pickin’s» e «Going Bown Blues» ilustram. Esta é uma forma de defenderes as tuas raízes numa época de música descartável? Estou no negócio da música há muitos anos e venho de uma família musical, portanto as minhas influências são vastíssimas. Não tento compor um tema especificamente Rock, Blues ou de outro género musical. Ao trabalhar neste álbum, insisti meramente para que fosse orgânico. Limitámo-nos a compor o que nos apeteceu, independentemente da abordagem, daí o álbum apresentar uma ampla diversidade musical. Ao compor, tudo se resume a tocar e “sintonizar” muito bem os ouvidos, com o apoio e influência do meu filho [NR: o compositor e produtor Richard Tuckey] nas misturas. No fundo, é como voltar sempre ao mesmo lugar [mas de forma positiva]. Todas as influências musicais absorvidas nas minhas viagens [digressões] influenciamme. Nenhum tema foi forçado,

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todo o processo de composição decorreu muito naturalmente. Dico – Recuperando o tema da música descartável, como vês a partilha de ficheiros, fenómeno que vem destruindo a indústria musical nas duas últimas décadas? A quem devemos afinal atribuir as culpas? À própria indústria, ao Napster e às plataformas que lhe seguiram os passos ou aos fãs? É essa a forma como o mundo funciona…agora há o streaming, os downloads, tudo isso… Já ninguém quer pagar pela música que ouve. Sinceramente não sei de quem é a culpa, é apenas a realidade. Dico – A maioria dos artistas são agora forçados a fazer incessantes digressões para mitigar as perdas ao nível das vendas de álbuns. Atualmente, o seu rendimento provém essencialmente das digressões e das vendas de merchandise. Como te adaptaste a esta nova forma de permanecer na indústria musical? Esses fenómenos não me afetaram muito, para ser sincera, porque, na verdade, sempre fiz imensas digressões. Essa sempre foi a minha principal forma de ganhar dinheiro, os royalties são apenas bónus. Espero continuar na estrada por muito mais tempo, gosto imenso. E antes que perguntes, desde há alguns anos que não preciso de o fazer pelo dinheiro. Faço digressões porque adoro tocar ao vivo. CSA – Qual é a sensação de estares em palco frente aos teus fãs após 50 anos de carreira? Absolutamente fantástica. Estou orgulhosa e maravilhada por ainda ter os meus fãs originais e todos

aqueles que vou conquistando. Amo aquilo que faço. Dico – Nos últimos 15 anos, mais ou menos, a política tem mudado bastante no globo. Fenómenos, na Europa, como o Brexit [NR: Suzi Quatro reside atualmente em Londres] e a ascenção do populismo e da extrema-direita, bem como a eleição de Trump nos Estados Unidos, trouxeram grandes preocupações ao mundo. De que forma vês estas mudanças políticas, sociais e económicas? Não me envolvo na política, foi uma decisão que tomei bastante cedo na carreira. Não quero aproveitar-me do meu estatuto. Que sejam os políticos a fazer política. No que respeita concretamente ao Brexit, houve um referendo e as pessoas decidiram. O resultado deveria ser respeitado. Acredito na Democracia. Acerca de política, a canção «Strings» [NR: incluída em No Control] é o melhor comentário que posso tecer. Independentemente da etnia ou credo, todos somos apenas humanos. Oiçam a letra desta canção. CSA – Por favor deixa algumas palavras às raparigas que ambicionam enveredar por uma carreira musical-. Certifiquem-se de que é isso que desejam. Nada mais importa a não ser concentração total no vosso trabalho, muita energia despendida e, obviamente, talento. Mantenham-se fortes e confiantes. Conseguirão fazer qualquer coisa se programarem a vossa mente no sentido de cumprir os objetivos que se propõem alcançar. Sigam o vosso sonho! Youtube

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E

ra uma vez uma grande banda…

Saudações, Stefan! Cá estamos para uma segunda entrevista sobre um novo magnífico álbum de Árstíðir Lífsins \m/ Stefán Drechsler – Muito obrigado por mais uma entrevista. Fico muito contente por ver que o nosso último álbum te agradou. O título – apesar de obscuro para quem não conhece a língua antiga da Islândia – é suficientemente claro para se perceber que o álbum trata de uma antiga saga. - Por que escolheram esse tema? O tópico deste álbum não corresponde propriamente a uma simples repetição dos factos históricos ligados ao rei Óláfr helgi Haraldsson. Corresponde antes a uma narrativa sobre uma família, que inclui referências a esse rei e aos seus feitos. Essa narrativa surgiu com o nosso primeiro álbum e ainda perdura. Cada um dos nossos álbuns trata de uma nova geração dessa mesma família. No presente álbum, aconteceu que chegou a altura de fazer referência à história da Noruega do tempo do rei Óláfr helgi Haraldsson. - Podes dizer-nos qual é a essência dessa história? Gira em torno de um jovem que é resgatado por um navio que pertence ao rei Óláfr. Essa

Assim juntamos a propensão de Árstíðir Lífsins para a narrativa e uma apreciação da sua música. Entrevista: CSA

personagem começa a apoiar de alma e coração as tentativas do rei para unir e cristianizar a Noruega. Depois do primeiro falhanço dessa tentativa, o rei Óláfr e os seus soldados tiveram de fugir para Garðariki (que faz parte do reino medieval Kiew Rús, na Rússia). Quando regressaram do exílio, o rei e os seus apoiantes granjearam mais apoio, mas ele acabou por morrer em 1020, na famosa batalha de Stiklastaðir, a sul da atual Trondheim. A história baseia-se essencialmente em versões vernáculas da vita do rei, a chamada Óláfs saga helga, assim como em alguns poemas anónimos do séc. XI relacionados com o rei. A história do jovem é fictícia. - E a que partes dessa narrativa se refere cada canção do álbum? Não vou descrever cada uma das canções do álbum, porque o seu conteúdo é demasiado complexo para poder ser tratado aqui. A quem estiver interessado nesse aspeto, recomendo a aquisição da versão do álbum em vinil ou CD, porque inclui todas as letras, assim como as respetivas traduções em Inglês. Aliás, temos seguido esta política desde o lançamento do nosso primeiro álbum, em 2010. - Usaram os textos originais tal como eles se apresentam

na antiga saga ou tiveram de os adaptar para poderem ser cantados? Como já referi, baseiam-se em várias fontes antigas, que incluem poemas anónimos, versões desses poemas e ainda textos que fazem parte das sagas e que, neste caso, dizem respeito a esse rei. Pessoalmente, evito usar termos como “sagas antigas”, porque podem dar a impressão de que se está a tratar de um mito centrado nessa parte da literatura nórdica antiga. - Como decidiram em que momentos o Marsél se converteria num contador de histórias? Aparecem tanto nas letras como na música. Escolhemos sempre de forma muito criteriosa as partes em que queremos que a voz do Marsél seja usada para narrar partes da história. A música das canções deste álbum apresenta uma larga gama de variações dentro do mesmo estilo. - Trata-se de uma estratégia adotada para exprimir os vários sentimentos evocados pelas canções, não é? Sim. A música e as letras foram escritas ao mesmo tempo e devem ser “consumidas” em simultâneo.

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Pretende-se que aconteça o mesmo com o layout, já que geralmente investimos tanto tempo no design dos nossos álbuns como na música. Portanto, podese mesmo dizer que temos aqui uma forte estratégia, cujo objetivo é evocar vários sentimentos nas canções. - Que parte desempenhou cada um dos membros da banda na sua composição? A distribuição do trabalho para compor a música de Árstíðir lífsins já se converteu, de certo modo, num modus operandi estandardizado. Eu componho a maioria das partes de Metal – nomeadamente as que dizem respeito à guitarra e ao baixo – enquanto o Árni se ocupa da bateria e dos arranjos clássicos, com destaque para os coros. Os arranjos vocais são depois feitos pelos três. ­- E qual foi a sensação de gravar a vossa música com o Markus Stock dos The Vision Bleak? [Calculo que fazer esse trabalho com alguém que também é um músico deve fazer toda a diferença.] O Markus é um amigo de longa data e gostamos muito de trabalhar com ele, tanto no nosso álbum mais recente, como nos outros. Como deves saber, o Markus também faz as gravações para a outra banda do Marsel – Helrunar – há anos. Já em 2013, Árstíðir lífsins gravou com ele os vocais da sua parte do split que fez com Helrunar. Desde essa altura, ele fez a mistura e masterização dos nossos dois últimos álbuns e do EP

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intitulado «Þættir úr sǫgu norðrs». O Markus não só é um músico extraordinário, como também um produtor muito criativo. De facto, é vital trabalhar com alguém que realmente compreende a música. Passando agora à capa do álbum, o Christopher Duis usou uma imagem preexistente ou criou-a ele? De que forma essa ilustração se relaciona com a saga de que o álbum trata? No que diz respeito à capa, ele usou duas imagens, que foram alteradas de modo a adaptaremse melhor aos fins em causa. A ornamentação cinzenta em torno da pedra dourada com a runa foi tirada do portal de uma igreja de Lomen, na Noruega, que data do séc. XII. Como é considerada como uma das mais antigas no seu género, pareceu-me adequado usá-la neste álbum, porque data mais ou menos da época do rei Óláfr (com uma diferença de cerca de 150 anos). A runa no meio foi tirada de uma pedra sueca do séc. XI. Tem finalidades inegavelmente cristãs e o mesmo acontece com a escrita em carateres rúnicos que rodeia a parte interior. Foi tirada de partes da letra do credo cristão do miles christianus descrito nos textos do álbum. Essa intenção também se reflete no uso do dourado no layout. A Ván Records já está a anunciar um novo álbum, que se seguirá a este. - A história conta outra parte dos feitos do rei Óláfr? O álbum anunciado está estreitamente relacionado com este. De facto, juntos constituem um álbum duplo. O segundo conta a história da irmã do jovem que aparece no primeiro. Foi criada na parte não cristã da Noruega e, por conseguinte, tem uma perspetiva completamente diferente em relação às tentativas do rei Óláfr para cristianizar o território. - Vai seguir o modelo musical proposto pelo seu predecessor? Como narram a mesma história e tratam da mesma família, seguirão

o “modelo musical” de todos os outros álbuns, se é que se pode usar essa expressão. - Por que não optaram por fazer um super álbum, em vez de apostarem em dois lançamentos? A ideia original era fazer um álbum duplo, que seria lançado de uma só vez e efetivamente os dois foram escritos e gravados com essa perspetiva. São como as duas faces de uma mesma moeda. Contudo, surgiu um problema: é economicamente impossível lançar um álbum com 160 minutos, porque a manufatura do LP seria extremamente dispendiosa, entre outros aspetos. Contudo, estamos muito satisfeitos com a situação, já que os dois álbuns, embora muito intimamente ligados um ao outro, vão surgir como duas obras de arte. E que novidades sobre concertos? Não temos nada previsto de momento. Podes deixar aos nossos leitores uma mensagem que os entusiasme a ouvirem este álbum de Árstíðir Lífsins e o seguinte? Como já referi, o próximo álbum – «Saga á tveim tungum» – é a segunda parte deste que acabámos de lançar. Devem ser vistos como uma unidade, em termos líricos e musicais. Uma última pergunta: sentes-te de algum modo ligado a bandas como Bathory e Wardruna que procuram fazer reviver as sagas? É claro que foi em parte devido à dita “era viking” de Bathory que eu decidi tocar este tipo de (Black) Metal, mas, à parte essa inspiração inicial, sinto-me muito pouco ligado ao trabalho dessa banda. Wardruna é uma banda que alcançou grande celebridade logo desde o início, mas nunca me senti particularmente inspirado por eles. No entanto, penso que Wardruna e nós temos em comum uma abordagem muito semelhante da velha poesia nórdica. Youtube

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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

Tal como tu Tal como tu, sinto uma dor que não chega sequer a ser alguma coisa. Ligo a Tv e sou abafado, tenho vergonha do que me aborrece. Ando à volta pelas grandes cidades e questiono a nossa evolução o nosso desenvolvimento. Tenho vergonha meu caro. Tenho vergonha! Mais uma vez crio a montanha e isolo-me, sempre à procura dos mesmos mimos que dás com as mãos, ansioso pelos mimos que não me dás pela boca. ... Agora o outrora só os ponteiros de um relógio os têm! É tão gratificante ser como sou O mesmo louco de sempre 7 5 / VERSUS MAGAZINE


A tranquilidade da não existência

É este o tema central do novo álbum dos polacos Mord’A’Stigmata intitulado «Dreams of Quiet Places». Entrevista: CSA Saudações! Como correram as coisas com o vosso álbum anterior («Hope», 2017)? Golem XIV – A receção do álbum foi muito boa. É mais um marco na nossa carreira. Mas, para dizer a verdade, cada álbum apresentase-nos como mais um avanço em muitos aspetos. «Hope» foi muito difícil para nós, como banda. O Static escreveu sozinho uma grande parte do álbum e dá para perceber que tanto a música como as letras são muito íntimas. Sei que o que vou dizer pode parecer estranho, mas é difícil para mim compreendê-lo plenamente. Fico quase com a sensação de que estou a invadir a intimidade de outra pessoa. E como foi recebido este Dreams of Quiet Places»? [Como saiu em

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abril, já devem ter tido tempo para recolher reações a esse álbum.] Até ver, a receção foi ainda melhor do que a dada ao seu antecessor. As críticas têm sido muito positivas. Eu sei que todos os músicos dizem isto, mas para mim este álbum é o melhor (ou, pelo menos, o melhor desde «Ansia»). A vossa editora afirma que se trata de uma espécie de sequela de «Hope», mas eu não vejo muita esperança nele. Concordas comigo? Mas em «Hope» também não há esperança, a bem dizer. Era ilusório e cruel e não trazia nenhum conforto a quem o ouvia. No que diz respeito às letras, encontro muitas semelhanças entre este álbum e «Hope». Contudo, como não fui eu que as

escrevi, tenho de chamar a atenção para o facto de que te estou a dar apenas a minha perspetiva pessoal. Quais são estes “lugares tranquilos” com que sonham? Já encontraram algum lugar assim? [às vezes, também me apetecia ir para um lugar tranquilo.] Os “lugares tranquilos” correspondem à Morte. Referemse à “não existência”. Portanto, este álbum trata da contemplação da Morte. E é claro que ainda não encontramos nenhum lugar assim. Algumas das letras – por exemplo, o curto parágrafo escrito para “The Stain” – parecem muito kafkianas. Há alguma verdade nesta minha ideia? É uma interpretação interessante, logo não me parece pertinente


“ impor-te a minha forma de ver as coisas. Cabe a ti decidir se é assim ou não. Quem escreveu as letras para este álbum? O autor teve alguma inspiração especial? Foi o Static e – tanto quanto eu sei – inspirou-se na vida, que é sempre muito inspiradora.

Os “lugares tranquilos” correspondem à Morte. Referem-se à “não existência”. Portanto, este álbum trata da contemplação da Morte.

da nossa parte. Aconteceu naturalmente. Durante os ensaios, apercebemo-nos de que o álbum estava a seguir nessa direção e muito simplesmente deixamo-nos levar.

Curiosamente, parece-me que a música neste álbum é mais violenta e desesperada, menos contemplativa do que nos outros. O que pensas disto? O Ygg juntou-se à banda pouco depois de «Hope». A sua presença, o seu grande fluxo musical e a sua personalidade alteraram muito o equilíbrio da banda. Foi uma verdadeira lufada de ar fresco. De certa forma, ele é responsável pelo lado mais vivo e violento de «Dreams». Também considero que este álbum é mais direto e menos “Post Rock”, o que me parece francamente bom, porque já estou um tanto cansado desse género.

O artwork é assombroso, mas um tanto diferente do que escolheram para o vosso álbum anterior. [A princípio, pensei que era um quadro de algum artista do séc. XIX que tinham selecionado. Lembra-me romances dessa época como, por exemplo, «Nana», de Émile Zola.] Escolheram outro artista desta vez? Queriam algo diferente para este álbum? E afinal o que representa? E como relacionam esta imagem com a essência do vosso álbum? Escolhemos uma fantástica pintura da autoria de Łukasz Gwiżdż, porque nos parece que assentava no álbum como uma luva. De facto, estávamos à procura de algo “diferente” e esta imagem pareceunos perfeitamente adequada às letras e também à música de «Dreams».

Dir-se-ia que os vossos tempos de Black Metal passaram à história, ias eu sinto que voz neste álbum é mais desse estilo. Concordas? Mord’A’Stigmata é uma banda de Black Metal, mesmo que não soe assim à primeira vista. É verdade que «Dreams» é mais violento e vibrante, mas não foi propositado

Já fizeram uma digressão para apresentar este álbum à imprensa e aos fãs. Como correu? Muito bem mesmo. As novas canções foram muito bem recebidas. O concerto de que gostei mais foi o que demos no Roadburn Festival. É um dos melhores festivais da

Europa. Não consigo imaginar um cartaz e uma organização melhores. Gostaria de poder ir a esse festival como fã. E Dark Easter também foi muito bom. Os Imperial Triumphant foram uns ótimos cúmplices. Portanto, correu tudo pelo melhor nesta digressão. Com certeza previram fazer outros concertos depois de abril. Onde e quando estarão a tocar a vossa música durante este verão? Na realidade, só temos mais um concerto previsto para este ano. Vai ter lugar esta sexta, no Castle Party Festival em Bolków, na Polónia. Depois vamos fazer uma pausa mais longa, no que toca a concertos. Vão fazer mais um álbum como este ou «Dreams» representa o fim de um ciclo da vida musical de Mord’A’Stigmata? Não sabemos o que o futuro nos reserva. Nunca fazemos planos ou determinamos previamente como vai soar o nosso próximo álbum. Ainda não sabemos onde nos vai levar a nossa música para o próximo lançamento. É isso que é verdadeiramente excitante no que diz respeito a fazer parte de Mord’A’Stigmata. É um caminho cheio de surpresas. Facebook Youtube

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(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

Rock & Roll Hall Of Fame

Hipocrisias

Todos os anos é a mesma coisa, vários nomes são nomeados para serem homenageados por esta “instituição”. Mas tudo não passa de uma grande hipocrisia a vários níveis, quer a nível da instituição, quer ao nível das próprias bandas. Para começar a minha crítica deixo só o exemplo de vários nomes que não têm qualquer ligação ao Rock & Roll que foram homenageados: The Temptations, The Platters, Bob Marley, Madonna, Tupac Shakur, entre outros, se a instituição se chama Rock & Roll, os homenageados deviam ter a mínima ligação com o mundo do Rock. Outra das críticas que eu faço é a falta de critério que existe na nomeação, para mim é inconcebível que nomes como Thin Lizzy, Motorhead, Iron Maiden, Scorpions ainda não terem sido homenageados e nomes como Metallica, Bon Jovi, Def Leppard já terem sido homenageados. Acho também ridículo nomes como Deep Purple, Cheap Trick, KISS, Rush terem entrado no Rock & Roll Hall Of Fame depois de bandas como Guns N Roses ou Pretenders por exemplo. Outra situação que eu não percebo é o critério para os membros das bandas serem homenageados ou não, por exemplo, os Metallica entraram para o Rock & Roll Hall Of Fame em 2009 e Robert Trujillo, que tinha entrado na banda em 2003 e à data da homenagem só tinha lançado um álbum com a banda “Death Magnetic” foi homenageado, por outro lado quando os Deep Purple foram homenageados em 2016, o guitarrista Steve Morse que estava na banda 1994 e tinha lançado 5 álbuns com a banda não foi homenageado. Do lado das bandas também existe alguma hipocrisia porque até serem homenageados o Rock & Roll Hall Of Fame não tem grande importância, dão sempre declarações a desvalorizar mas depois quando são homenageados já levam a homenagem como algo importante, neste caso o exemplo dos KISS é esclarecedor. A última crítica que quero deixar aqui é o forte cariz Norte-Americano do “Rock & Roll Hall Of Fame” o que leva a que as bandas deste país entrem 1º, só assim se percebe que Metallica tenha entrado 1º que Motorhead,Iron Maiden (que ainda não entraram) e do que Deep Purple. Em resumo, o Rock & Roll Hall Of Fame, usa do nominativo Rock & Roll para se promover mas mais valia chamar-se Music Hall Of Fame.Convém também fazer a referência que nos últimos anos, houve uma maior democratização e uma melhor percepção de critérios quando foram levados em linha de conta também as votações populares.

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PALETES Por: Carlos Filipe

Beheaded - «Only Death Can Save You» (Malta, Death Metal) A maior banda de death metal de Malta, BEHEADED, estão de volta com o seu sétimo álbum de estúdio «Only Death Can Save You». Forjado nas profundezas mais sombrias, este respira violência e marcha sem medo pelo caminho do death metal, convocando o clássico visceral e a extremidade cáustica death, espalhando um punitivo horror auditivo com grande precisão. Os BEHEADED ganharam vida em 1991, com Malta como pano de fundo das suas raízes cáusticas do death metal. (Agonia Records) Dreadnought - «Emergence» (EUA, progressive doom) Para o seu quarto músico, DREADNOUGHT acompanhou sua aclamação de 2017, A Wake In Sacred Waves, Com um álbum que leva o som multiplex e pictórico dos DREADNOUGHT a novos domínios sónicos, ainda com maior textura, mais complexos e amplamente projetados. «Emergence» vê os quatro músicos mergulhar num território sónico mais pesado e sombrio, num aspecto que ficou evidente com «A Wake ...» mas ficou totalmente realizado com «Emergence». (Earsplit) Duel - «Valley Of Shadows» (EUA, Occult Doom Metal) Os roqueiros ocultistas do Texas, DUEL, evocam outra dose pesada da velha escola do doom metal com «Valley of Shadows». Mais sangue espalhado em contos de magia negra, sexo, maldições antigas e demónios nas ruas. Oito estripadores épicos e infecciosos, mostrando uma ampla variedade de habilidades de composição, desde hinos psicodélicos do heavy metal até guitarras de duelo no estilo Thin Lizzy e trituração motorhead a todo vapor. (All Noir) Aphyxion - «Void» (Dinamarca, Melodic Death Metal) Os APHYXION não são os únicos a aceitar as definições de género. Isso foi comprovado pelo seu aclamado álbum «Aftermath», que alternou entre o death metal e o metalcore, criando algo que elevaria a banda a um novo nível. APHYXION empurrou e aperfeiçoou o seu som com «Void», com músicas que aquecem os músculos do pescoço, perder a voz e pressionar a repetição várias vezes. «Void» apresenta uma composição mais contemporânea e alternativa afastando-se da herança do death metal. (All Noir) Thermate - «Redshift City» (Finlândia, Heavy Metal Stoner Rock) Os THERMATE evocam os sons da era do heavy metal dos anos 70, para refiná-lo com a glória do stoner rock clássico dos anos 90. Thermate está muito animado para revelar o seu primeiro LP! As músicas são verdadeiros épicos pesados, ainda com muita dinâmica e variedade. Eles forçaram os limites do stoner rock, não se limitando apenas à música de género. (All Noir)

organizado através do som. (Earsplit)

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Glassing - «Spotted Horse» (EUA, Progressive Avanguard Rock) Areia fria em um litoral árido. Escuridão espectral. Noites sem Deus. A calma da água imperturbável. A ilusão de pertencer. Morte como um presente. Estas são apenas uma ilustração minuciosa da vasta gama de temas e explorações apresentadas pelo trio GLASSING, no seu segundo trabalho, «Spotted Horse». Unindo texturas densas, batidas explosivas e atmosferas iminentes, os GLASSING destacam-se pela arte do caos


PAK - «Bestial» (EUA, math/prog/experimental Metal) Combinando o poderoso avant metal, a complexidade do prog rock e momentos inspirados de improvisação, a música dos PAK é única. O fundador Ron Anderson está de volta à guitarra com um som mais poderoso e pesado, enquanto os novos recrutas, ajudam a explorar os limites da banda, levando os PAK a novas direções sonoras. O novo álbum é uma experiência surreal e cerebral. Sete músicas expansivas e explosivas imersas de rock experimental e metálico, muitos dos quais permanecem principalmente instrumentais. (Earsplit) Sick Gazelle - «Odum» (EUA, Experimental Jazz) A ideia de músicos em jam session num estúdio e pressionando “gravar” é algo que muitas vezes é romantizado na indústria da música, mas quase nunca acontece, bem, pelo menos não com resultados positivos. A banda, SICK GAZELLE, é a mais estranha nesse caso, tendo feito exatamente isso no seu álbum de estreia, «Odum». (Earsplit) Thonian Horde - «Downfall» (EUA, Blackned Thrash Metal) Descritos como “black & roll”, a banda combina perfeitamente o groove rock com vocais contundentes arrancados diretamente da tundra de black metal. Mas o que os diferencia é o trabalho de bateria de death metal altamente acrobático que perfura a mistura desde a gravação do seu segundo álbum, «Inconnu». «Downfall» é o terceiro álbum dos THONIAN HORDE desde 2016. (Earsplit) Stormhammer - «Seven Seals» (Alemanha, Modern Power Metal) STORMHAMMER está de volta com um som e composição mais modernos! Após a adição do atual vocalista da banda, Matthias Kupka, os STORMHAMMER decidiram que era hora de mudar o conceito, o som e a imagem da banda. Sons pesados ​​e modernos estão em rota de colisão em «Seven Seals». Podem esperar thrashy power metal, bem como músicas melódicas com refrões cativantes. Os riffs agressivos encontrarão melodias e solos sofisticados. (Massacre Records) Nervochaos - «Ablaze» (Brazil, Thrash/Death Metal Crossover) O melhor álbum Crossover entre Thrash e Death Metal, gravado pelos heróis brasileiros do underground! «Ablaze» dos NervoChaos é uma oferta muito forte da cena Death Metal, onde os sons são reduzidos aos seus elementos básicos, apresentados de uma maneira que os torna sérios candidatos ao trono da “brutalidade pela simplicidade”. (Hammerheart Records) Glare Of The Sun - «Theia» (Austria, BLACKENED DOOM, PROGRESSIVE) Os cinco austríacos criam esferas sonoras holísticas entre rock e metal. Todas as músicas oferecem muito mais substância do que parece à primeira vista. Possuem um valor sublime que os ouvintes descobrem quando embarcam na sua viagem musical. «Theia» é caracterizado por uma criatividade de espírito livre, que busca os seus próprios padrões de solução, com riffs maciços e diretos. (Lifeforce Records) Seelenwalzer - «Totgeglaubt» (Alemanha, NDH/Metal) Chegou a hora de fazê-lo novamente, dance o SeelenWalzer connosco! Como o buraco negro mais sombrio, SeelenWalzer esvazia a sua alma enquanto o arrasta através da transgressão da vida e da morte, culpa e expiação, sofrimento e compaixão, religião e abuso. Os SeelenWalzer estão de volta com uma nova obra de arte lírica e musical: «totgeglaubt»! (Massacre Records) Abnormality - «Sociopathic Constructs» (EUA, ultra-technical death metal) O quinteto de Marlborough, Massachusetts, criou um disco tão violento, complexo e instigante quanto qualquer outro que está nos escaparates. Atacando em todas as frentes, o caos das suas estruturas de canções é uma marca registrada da banda, agitando ritmos, desencadeando riffs vertiginosos e empurrando as coisas ao extremo, sem deixar o ouvinte confortável demais, mas sem nunca perder a visão central que mantém tudo unido. (Metal Blade Records) This Gift Is A Curse - «A Throne Of Ash» (Suécia, Black Metal) A experiência que é «A Throne Of Ash» consiste em sangue envenenado, carne moribunda e cinzas escuras do corpo carbonizado do homem - tanto no plano físico quanto no astral com a noção subjacente de que

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nada que transparece no que chamamos de ‘realidade’ tem um significado maior. Os suecos demonstram apaixonadamente que o black metal permanece terreno fértil para novos sons. Combinando elementos de hardcore e Sludge com influências do ocultismo do black metal e do drone, «A Throne of Ash» estabelece um novo marco para a crueldade vitriólica e o massivo ataque sónico. (Season of Mist) Lefutray - «Human Delusions» (Chile, Groove/Thrash Metal) Com nove músicas de puro peso e um som bruto, o novo LP dos LEFUTRAY é a continuação no caminho traçado por «Oath». Para «Human Delusions», a banda aumentou a agressividade e a intensidade em todas as faixas, criando novas atmosferas psicóticas. (Massacre Records) Vortex Of End - «Ardens Fvror» (França, Black Death Metal) Nascido no nordeste da França no início dos anos 2000, os Vortex Of End são uma dessas bandas totalmente intransigentes que surgiram e aterrorizaram uma cena de black metal. Os anos tornaram a sua música mais rica, violência e mais difícil; a banda tornou-se a ponta de lança do que o Black Metal Francês nunca deveria deixar de ser: uma mistura de escuridão totalitária, uma elevação pela dor, coragem pela destruição, inteligência pela violência, realização no sangue. (Osmose Productions) Arrival Of Autumn - «Harbinger» (Canadá, Metalcore) Os dias ficam mais curtos durante o outono e a escuridão dura mais. Quando as folhas se transformam, a vida também. Essa mudança anual inaugura outra temporada e todas as suas possibilidades inerentes. Esse contraste alimenta a banda de metal de Alberta, Canadá Arrival Of Autumn. Sonoramente, os golpes metálicos precisos compensam os ganchos altos e altos, enquanto as imagens tematicamente apocalípticas minam um vislumbre de esperança. (Nuclear Blast Records) Eluveitie - «Ategnatos» (Suiça, Folk/Melodic Death Metal) Todos nós passeamos por arquétipos. Todos nós somos arquétipos. Ecos distantes de uma vida primitiva e nobre. ELUVEITIE chamam de «Ategnatos» e usando a maior diferença entre dois álbuns de Metal para ganhar impulso. Nascida no misticismo rural dos Alpes suíços e desde muito cedo, profundamente enraizada na mitologia celta, na história gaulesa e na cultura proto-européia, os ELUVEITIE tornaram-se há muito tempo os pioneiros e mestres legítimos de seu ofício. (Nuclear Blast Records) Pristine - «Road Back To Ruin» (Noruega, Rock) O quinto álbum da banda norueguesa PRISTINE mostra o desenvolvimento consistente da banda e influências cada vez mais diversas. Heidi Solheim, a vocalista da banda e a mente criativa de Tromsø, abrangeu uma ampla variedade musical e lírica para escrever onze músicas para «Road Back To Ruin». (Nuclear Blast Records) The Damned Things - «High Crimes» (EUA, rock ’n roll) THE DAMNED THING - o que são? Por que são eles? Essas são perguntas que ninguém nunca faz. E, no entanto, aqui estamos… 9 anos atrás, Scott Ian - guitarrista, barba e co-fundador do lendário grupo de thrash metal, ANTHRAX - reuniu-se com o humilde Joe Trohman. Enquanto Joe não tinha barba, ele e Scott começaram a fazer músicas juntos. Estranho, certo? Bem, ambos amam a música cativante e suja do rock’n roll! (Nuclear Blast Records) Heilung - «Futha» (Dinamarca, Pagan Folk) «Ofnir» foi um álbum muito masculino. Para criá-lo, HEILUNG pegou grande parte das letras das inscrições de runas preservadas em armas e armaduras. «Futha» é a contraparte, o ponto de equilíbrio, o lado feminino. Aqui, a letra é originária da antiga poesia islandesa, na qual as mulheres santas cantam feitiços e oferecem as suas bênçãos. Portanto, as vozes femininas são mais proeminentes em «Futha». HEILUNG significa “cura” no idioma alemão e isso também descreve o núcleo do som da banda. Os HEILUNG remontam à era do ferro e ao período viking do norte da Europa para criar sua experiência sonora. (Season of Mist)

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Ulvedharr - «World Of Chaos» (Itália, thrash / death Metal) A banda descreveu este seu trabalho como o mais maduro e groovy até agora, perfeitamente equilibrado entre as influências primordiais do death metal da velha escola e as soluções modernas de thrash / death com interferências dissonantes do black metal. Pela primeira vez em sua carreira, deixam para trás o conceito lírico medieval / mitológico para abraçar uma visão moderna da existência humana, controlada pelas regras do caos. (Scarlet Records) Stormlord - «Far» (Itália, Symphonic Black/Power Metal) Stormlord está pronto para voltar à cena com o sexto álbum, «Far», que inclui dez novas músicas entre as mais rápidas e agressivas já compostas pela banda. Com atmosferas épicas e solenes e as melhores orquestrações que eles já conceberam, o conceito lírico é enriquecido com novas nuances de mito e glória antiga, fazendo deste o álbum mais rápido e agressivo até hoje, com atmosferas épicas e grandes orquestrações! (Scarlet Records) Nekrasov - «Lust Of Consciousness» (Austrália, Atmospheric Black Metal/Ambient) A banda australiana NEKRASOV continua em órbita entre os dois pólos da Power Electronics e Black Metal, e, embora a experiência seja desafiadora ao máximo, também é gratificante. Por mais de 20 anos, Nekrasov conseguiu produzir um som furioso e maníaco enquanto experimentava um amplo espectro de técnicas de vanguarda. Com elementos ambientais e industriais colidindo contra as raízes black metal junto com vocais abstratos que se aproximam do barulho da guitarra, Nekrasov esculpiu e criou o seu próprio nicho e culto. (Prosthetic Records) Suzi Quatro - «No Control» (EUA, Hard Rock) Mesmo nos negócios da música altamente estimulados pela adrenalina, é raro encontrar um pacote de energia equivalente a Suzi Quatro. O vocalista de rock americano trabalha com sucesso como músico há mais de cinquenta anos. Suzi Quatro apresenta onze novas músicas a maioria do qual consiste em colaborações com o filho Richard Tuckey. (Steamhammer SPV) 1782 - «Self-Titled» (Itália, Doom Metal) Em 1782, Anna Göldi foi condenada, torturada e morta. Este foi o último julgamento de bruxaria na Europa. Neste álbum de estreia, 1782 lida com temas macabros: de feitiços a torturas cruéis, do prazer do sexo à vingança mais perdidosa. Sete faixas de som puro do Doom Metal com intervalos de mega-riff do Stoner Doom, acompanhados por uma secção rítmica de bateria poderosa, baixo intenso e guitarras super difusas. (All Noir) Pound - «••» (EUA, Mathcore) De riffs de híper carro com cafeína excêntrica, a sulcos terrivelmente pesados que ​​ balançam e tremem como terremotos reais. Pound é composto pelo guitarrista Ryan Schutte e pelo baterista David Stickney. Nas palavras de Schutte, o par é conduzido “pela mesma missão de sempre - melhorar nossos instrumentos e nos esforçar como músicos”. O novo álbum •• é um documento impressionante dessa missão em ação. (All Noir) Belzebubs - «Pantheon Of The Nightside Gods» (Escandinávia, Melodic Blackened Death Metal) Vindos das florestas abismais do norte místico, os BELZEBUBS possuem um status de culto furtivo ao longo de toda a sua existência. Originalmente convocados em 2002, a banda conseguiu criar uma emocionante mistura de death metal enegrecido melódico, rosnados guturais e solos extravagantes, forjados com reviravoltas progressivas e paisagens sonoras cinematográficas. (Century Media) Martyrdöd - «Hexhammaren» (Suécia, crust-metal) «Hexhammaren”» será o sétimo álbum de estúdio dos MARTYRDÖD. Gravado no Studio Fredman com uma mistura implacável de metal, punk hardcore cru e o toque único de melodias nórdicas que caracterizam o som

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dos MARTYRDÖD. Este lançamento, certamente, impulsionará ainda mais o continuum de crossover art da banda. (Century Media) Lunar Shadow - «The Smokeless Fires» (Alemanha, Heavy Metal) Da mente exploradora de Max Birbaum vem «The Smokeless Fires», o segundo LP dos LUNAR SHADOW, uma banda que ultrapassa os limites do metal clássico, explorando temas de paixão e condição humana. Os sete cortes em «The Smokeless Fires» são o resultado da ética de trabalho incessante de Birbaum e do compromisso de produzir um álbum que apresentasse novos elementos. (Cruz Del Sur Music) Thenighttimeproject - «Pale Season» (Suécia, Gothic Metal) THENIGHTTIMEPROJECT foi formado em 2010 em Avesta, Suécia, pelo guitarrista Fredrik Norrmann como uma saída para composições ousadas e melancólicas, imbuídas de sentimento. O segundo álbum, «Pale Season», mistura uma assombrada progressiva e pós-Rock, Metal neogótico, doom e psicadélica subtil num conjunto que garante músicas repletas de gancho das profundezas do tumulto interno. (Debemur Morti Productions) The Lord Weird Slough Feg - «New Organon» (EUA, Heavy Metal) O décimo álbum dos bastiões do metal de São Francisco, SLOUGH FEG, «New Organon» combina metal cru e primitivo com as façanhas líricas filosóficas de Mike Scalzi. As composições para «New Organon» descobriram que os SLOUGH FEG descartam de bom grado ideias de composições que não se encaixavam na imagem geral, deixando várias músicas de fora no processo. (Cruz Del Sur Music) Port Noir - «The New Routine» (Suécia, Progressive Metal) O trio de rock alternativo Port Noir combina rock old school com pop contemporâneo, R&B e hip-hop de maneira criativa e minimalista. A paisagem sonora direta, energética e intensa agarra o ouvinte desde o primeiro segundo. (InsideOut Music) Bethlehem - «Lebe Dich Leer» (Alemanha, Black/Doom Metal, Experimental Rock/Metal) Bethlehem é lendária. O álbum combina o tipo clássico de black metal e death metal de Bethlehem com influências do início do Wave e do industrial, sem sacrificar a sua estética e som. Um trabalho tão único quanto tradicional, «Lebe dich leer» chocará e admirará os ouvintes de todos os tipos de música ousada. O caos está ao virar da esquina! (Prophecy Productions) Uivo Bastardo - «Clepsydra» (Portugal, Rock bruto e visceral) As estruturas e ideias iniciais que existiam encontraram um terreno fértil no trabalho de produção de David Jerónimo, ajudando a criar um som intenso, orgânico e visceral, que coloca Uivo Bastardo num lugar entre o rock pesado e o metal; com elementos eletrónicos e industriais que acrescentam um pouco mais diversidade ao seu som. O álbum de estreia da banda, «Clepsydra», mostra uma jovem e faminta banda determinada a destacar-se com um som eclético e abrasivo que combina elementos do rock pesado, metal e industrial. (Independentes) Valborg - «Zentrum» (Alemanha, Progressive Doom/Death Metal) Os Valborg são mestres incontestáveis do ​​ primitivismo sofisticado. Valborg prova mais uma vez que a força musical contundente pode ser usada de uma maneira refinada e até emocional. (Prophecy Productions) v Jack Slamer - «Jack Slamer» (Suiça, Modern 70’s Rock) Velho e enferrujado? Tanto faz! JACK SLAMER toca Rock dos anos 70 como se tivesse sido inventado hoje e esta banda de cinco elementos está apenas a começar. Inspirados no melhor do Rock’n’Roll, guiados pelos espíritos antigos e energizados por sua própria diversão sem limites, eles estão colidindo com o seu género como um trem de carga imparável. (Nuclear Blast)

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Banco Del Mutuo Soccorso - «Transiberiana» (Itália, progressive rock) «Transiberiana» é o primeiro álbum de estúdio com do lendário italiano do rock progressivo Banco del Mutuo Soccorso desde mais de duas décadas. Depois da perda de dois ex-membros históricos, a banda está de volta para confirmar o seu lugar na cena internacional da música progressiva. «Transiberiana», o Banco del Mutuo Soccorso oferece um álbum conceptual, altamente pessoal e intrincado que não apenas define o futuro artístico do grupo, mas também reflete musical e liricamente a carreira do Banco. (InsideOut Music) Stille Volk - «Milharis» (França, pagan folk Metal) Desde 1994, os stalwarts pagãos franceses Stille Volk lançaram seis álbuns impecáveis, estabelecendo um estilo único de música acústica com uma atmosfera arcana e rústica que invoca a natureza pagã primitiva. Dessa forma, eles foram um dos pioneiros de uma cena musical e, de facto, uma subcultura inteira que venera tradições antigas. Com «Milharis», o quarteto comemora o seu 25º aniversário em estilo, convidando-o para uma jornada musical pelos antigos mitos da cordilheira dos Pirenéus. (Prophecy Productions) Employed To Serve - «Eternal Forward Motion» (Inglaterra, alternative metal) Com «Eternal Forward Motion», os Employed To Serve optaram por aguçar o seu impacto, refinar os elementos que os tornaram tão reverenciados, tais como o groovy, os contra-ritmos frenéticos, as pistas discordantes, os desvios melódicos e os riffs pesados ​​e agitados. (Prostethic Records) Possessed - «Revelations Of Oblivion» (EUA, thrash/death metal) Houve um tempo em que um poder genuíno foi sentido a emergir da paisagem sonora que agora é apelidada de death metal “old school”. Foram os poderosos POSSESSED que inicialmente deram vida a esse novo e emocionante género com a escrita iniciada em 1982. A primeira banda oficial de death metal criou o agora clássico álbum »Seven Churches« e estabeleceu a face do género permanentemente. (Nuclear Blast) Tanith - «In Another Time» (EUA, vintage hard rock) Com o nome de um personagem do clássico Hammer Horror ‘The Devil Rides Out’, os Tanith de Nova York tocam hard rock vintage que remonta aos dias de glória de Blue Oyster Cult, Thin Lizzy e Uriah Heep. No entanto, embora essas influências ressoem através de suas músicas, elas nunca são derivadas, tendo uma forte identidade musical e forjando o seu próprio som. (Metal Blade) Lonely Robot - «Under Stars» (Inglaterra, Crossover Prog / Progressive Rock) «Under Stars» é o álbum final de uma trilogia dos LONELY ROBOT, o projeto musical visionário de John Mitchell. Tudo começou em 2015 com «Please Come Home» e foi seguido dois anos depois pelo «The Big Dream». (InsideOut Music) Imminence - «Turn The Light On» (Suécia, Metalcore/Post-Hardcore) O terceiro álbum dos IMMINENCE, «Turn The Light On», incorpora a diversidade e a vastidão da identidade de emoções emocionantes dos IMMINENCE. Um marco significativo na discografia do grupo e uma composição excepcional de força e fragilidade absolutas que não temem limites ou restrições. (Nuclear Blast) Nekroi Theoi - «Dead Gods» (EUA, Brutal Death Metal) Os Nekroí Theoí combinam elementos de brutalidade gutural, atmosferas opressivas e doom destruidor, fundindo influências de Defeated Sanity, Deathspell Omega e Neurosis. Com a herança de death metal na Florida, Nekroí Theoí mira alto no final das artes de bom gosto sobre o tecnicismo por si só. (Prostethic Records) Nebula - «Holy Shit» (EUA, Stoner Rock/Metal) 22 anos após o seu primeiro lançamento e 10 anos após o seu último álbum, os Nebula estão de volta. Leads e loops e efeitos de feedback foram feitos ao vivo por Glass e Davies enquanto eles gravavam as faixas básicas, da maneira que eles faziam em palco, e os overdubs seguiam depois, conforme necessário. Um excesso de material foi produzido e reduzido ao âmago do que se pode encontrar no sexto álbum dos Nebula. (All Noir)

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Mammoth Storm - «Alruna» (Suécia, Doom Metal) Nomeado após a mítica planta Mandragora, «Alruna» é a sequela enigmática do muito apreciado álbum de estreia «Fornjot». A produção tem um raro golpe mortal que anima a progressão do MAMMOTH STORM para uma nova experiência de tremor de terra. O silêncio enganador cessou, a tempestade está a aproximar! (All Noir) Varaha - «A Passage For Lost Years» (EUA, atmospheric dark metal) A música de Varaha é uma jornada cinematográfica que desafia os limites de género e nos mergulha num humor sugestivo, dinâmico e melancólico. As 9 faixas de «A Passage for Lost Years» incluem 4 iniciativas orquestrais compostas e conduzidas por Fabio Brienza. (Prostethic Records) Morass Of Molasses - «The Ties That Bind» (Inglaterra, Stoner Metal/Rock) O trio afinado cria o tipo de pesado e pesado riffs de blues que induzem a cabeça involuntariamente; finalmente, MORASS OF MOLASSES acorda de um breve sono e surge das sombras para entregar sua mais recente oferta musical, «The Ties That Bind»! Assumindo uma aparência totalmente mais terrena, este álbum é enquadrado por temas de conexão humana. (All Noir) Paladin - «Ascension» (EUA, Heavy Power Metal) Rápido, melódico e técnico, os PALADIN estão numa missão para trazer um pouco de sabor europeu à cena metal de Atlanta. O quarteto mistura vocais crescentes, grosas ásperas, melodias cativantes e um violento trabalho de guitarra que lembra os melhores dos anos 80 do power metal para criar sua própria marca de thrashy power metal. (Prostethic Records) Pelican - «Nighttime Stories» (EUA, Experimental/Post Metal/ Progressive Rock) Tem sido uma longa jornada para os Pelican, desde o seu início reducionista até sua passagem como precursores para a crescente comunidade internacional de artistas que fundem o melodicismo dramático do pós-rock com o metal do homem pensante e sua ascensão ao cânone dos estadistas mais velhos no reino inteligente e musculoso do mundo do rock underground. Os Pelican sempre se destacaram em vacilar entre os sons selvagens de vários nichos de metal underground e os sons mais delicados e sutis da comunidade indie cerebral do Centro-Oeste através da arte do contraste. (Southern Lord) Savage Messiah - «Demons» (Inglaterra, Thrash/Power Metal) Poucas bandas modernas incorporam o verdadeiro espírito do heavy metal, bem como os Savage Messiah, cuja perseverança, paixão e convicção remetem ao duro enxerto dos antigos mestres do metal. As influências vintage dos cinturões de bala em «Demons» encontram aqui um metal moderno com músicas que apelam ao mosh-pits. (Century Media) Green Oracle - «S T» (Itália, Doom and stoner rock) A filosofia por trás dos GREEN ORACLE é explorar os fluxos de som primordiais através de um combo clássico baseado em linhas de baixo pesadas, licks de guitarra e grooves de bateria com a adição de várias vozes e uma variedade de outros instrumentos que enfatizam a evocação de harmonias naturais. (All Noir) Sadness - «Circle Of Veins» (EUA, Depressive Black Metal) «Circle Of Veins» continua a exploração todas as perspectivas possíveis do blackgaze e do black metal depressivo: muitos efeitos shoegaze e estruturas pós-rock misturam-se com os sons glaciais típicos do black metal. As variações típicas de género cruzado de Ojeda, desta vez voltam-se um pouco mais para alguns elementos eletrónicos, e os sintetizadores estão mais presentes do que nunca aqui, a par de alguns refrões e efeitos vocais e amostras limpos, que enriquecem consideravelmente o padrão de som dos Sadness. (Avantgarde Music)

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Akantha - «Baptism In Psychical Analects» (Grécia, Black Metal) Old School Black Metal que traz de volta as memórias de 1991-1993! Riffing afiado, padrões básicos insanos e composições de quebrar o pescoço! Vindos da Grécia, Akantha tem muito mais em comum com seus irmãos noruegueses do que Rotting Christ. O segundo lançamento da dupla, «Baptism in Psychical Analects», apresentando violões perfurantes, tambores que tocam cada vez mais e vocais consistindo de coaxes ao estilo imortal. Embora a produção corresponda ao padrão de lo-fi bruto, aparentemente sem um objetivo final, não se pode acusar a banda de musicalidade desleixada. (Hammerheart Records) Tenebrae In Perpetuum - «Anorexia Obscura» (Itália, Black Metal) Após uma década de silêncio, os TENEBRAE IN PERPETUUM retornam do túmulo com a sua quarta obra, «Anorexia Obscura». Apresentando quarenta minutos de Black Metal, místico e congelado, espalhados por sete hinos diabólicos, este álbum brilha sobre as atmosferas sombrias, estruturas equânimes e dissonância bruta que se pode encontrar no seu interior. Um simulacro sombrio, composto por riffs discordantes nítidos, eletrónicos frios e uma voz absolutamente desequilibrada. (Debemur Morti Productions) Faerie Ring - «The Clearing» (EUA, Heavy Rock) Os FAERIE RING combinam sem esforço várias influências dos panteões do stoner rock numa visão singular. Expandindo a neblina verde do sono e os sulcos agitados e desertos de Kyuss, os FAERIE RING estão claramente enraizado na arte da adoração ao riff. (Earsplit) Dreamslave - «Rest In Phantasy» (França, Symphonic Metal) «Rest In Phantasy», é o álbum de estreia da banda francesa de metal orquestral DREAMSLAVE. O ecletismo, tanto em termos de música quanto em termos de letra, é a assinatura da banda, tendo os DREAMSLAVE conseguido criar o seu próprio universo. (Massacre Records) Vulture - «Ghastly Waves Battered Graves» (Alemanha, Speed/Thrash Metal) o novo LP captura os golpes contundentes de um padrão que os coloca frente-a-frente com o melhor em seu género. «Ghastly Waves Battered Graves» é também um avanço dramático em termos de composição e execução. o quinteto não tinha interesse em escrever uma dúzia ou mais de músicas e fazer a sua escolha, concentrando-se em criar oito cortes matadores. (Metal Blade) Gygax - «High Fantasy» (EUA, Heavy Metal/Hard Rock) GYGAX lançou o seu terceiro LP, «High Fantasy», encharcado de influência de artistas como Dungeons & Dragons e Thin Lizzy, o álbum mostrou a musicalidade de alto nível da banda através de um ataque ardente de ranhuras infecciosas e ganchos intocados. (Earsplit) Hate - «Auric Gates Of Veles» (Polónia, Blackened Death Metal) Desde 1991, os Hate são responsáveis por alguns dos álbuns de death metal mais irritados e implacáveis que ​​ foram lançados no mundo. Com «Tremendum» de 2017, eles deram um passo em direção a um estilo mais obscuro, mais atmosférico e voltado para o black metal, começando a explorar o misticismo eslavo. O novo álbum «Auric Gates Of Veles», corajosamente, continua nessa direção. (Metal Blade) Death Angel - «Humanicide» (EUA, Thrash Metal) Ascendendo das profundezas, o todo-poderoso DEATH ANGEL retorna para oferecer a sua mais recente obraprima, alimentada por energia: «Humanicide». Os DEATH ANGEL produzem sons e símbolos que apontam as verdades de tentar existir com segurança nos dias atuais. (Nuclear Blast) Pinkish Black - «Concept Unificat» (EUA, experimental rock) «Concept Unificat» dos PINKISH BLACK é o álbum mais aventureiro da banda até hoje. Cada uma de suas seis faixas explora as profundezas do rock do futuro, enquanto tons psicadélicos colidem com um peso escuro e esmagador. «Concept Unificat» é uma besta própria, pontificando temas de ansiedade, futilidade e vazio, e

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tornando os PINKISH BLACK tão vitais para a cena independente actual. (Relapse Records) Moonlight Haze - «De Rerum Natura» (Itália, Symphonic/Power Metal) Moonlight Haze é uma banda de metal de Power Symphonic que inclui membros e ex-membros de Temperance, Elvenking, Sound Storm, Teodasia e Overtures. Esse grupo de músicos talentosos e experientes, reuniram-se para escrever e tocar músicas poderosas, porém melódicas, com refrões cativantes e elementos folclóricos que lhes dão uma sensação muito distinta. (Scarlet Records) Magic Pie - «Fragments Of The 5Th Element» (Noruega, Progressive 70s Rock) Magic Pie tornou-se um nome familiar para os fãs de prog com a sua mistura de prog clássico e hard rock dos anos 70. Com o maestro de guitarra Kim Stenberg, a banda é conhecida pelo seu prog rock épico, energético, melódico e às vezes pesado, com esplêndidas harmonias vocais e óptima musicalidade. (Karisma Records) Royal Republic - «Club Majesty» (Suécia, Rock N’ Roll) Os Royal Republic não acreditam em “prazeres culpados” - apenas prazeres, livres de compromisso. Desde que se conheceram na Academia de Música de Malmö, em 2007, tornaram-se uma exportação de rock&roll das mais viciante da Suécia; misturando guitarras riffy, músicas king-size e batidas a jacto com os seus próprios gostos ecléticos e inimitável de joie de vivre. (Nuclear Blast) Suicide Forest - «Suicide Forest» (EUA, Atmospheric/Depressive Black Metal) Da biografia oficial dos Suicide Forest, ‘Aokigahara’, também conhecido como Mar das Árvores, é uma floresta de 35 quilômetros quadrados, localizada a noroeste do Monte do Japão. Fuji. É o segundo lugar mais popular do mundo a se suicidarem depois da Ponte Golden Gate. Suicide Forest é o resultado artístico do multiinstrumentista Austin Kruger, músico de 24 anos de Tucson, Arizona. Definindo a sua música como depressive black metal, Suicide Forest é propenso a longas peças atmosféricas, onde sintetizadores e guitarras se fundem e vocais gritos assombram incansavelmente o ouvinte incauto. (Avantgarde Music) Moon Far Away - «Athanor Eurasia» (Russia, Neo Folk Metal) Desde a sua fundação em 1994, os Moon Far Away, vindo de Arkhangelsk, na Rússia, desenvolveu um estilo único a partir dos tropos neo-populares estabelecidos do mundo ocidental e da herança musical de sua terra natal - o norte da Rússia. Com influências tão diversas quanto os seus antecedentes, eles envolveram-se numa onda negra neoclássica e world music , permanecendo uma pedra preciosa relativamente desconhecida até hoje. (Prophecy Productions) Crom Dubh - «Firebrands And Ashes» (Inglaterra, Black Metal) Os CROM DUBH foram formado em Londres em 2003 e lançaram duas demos e um EP de segunda onda black metal, que canalizou mitos e lendas antigas numa meditação sobre a ascensão e queda das civilizações. Seguindo o mesmo caminho de «Heimweh», «Firebrands and Ashes» aprofunda a mistura dos CROM DUBH pelo épico black metal, inspirado no pós-rock e nas tradições populares da Europa e do Oriente Médio. (Ván Records) Chrome Waves - «A Grief Observed» (EUA, blackgaze/post-black metal) Nascido em 2010 da mente de Jeff Wilson e Bob Fouts, os Chrome Waves dedicaram o seu tempo para produzir o seu primeiro álbum «A Grief Observed», um lançamento fino de blackgaze / pós-black metal, cuidadosamente elaborado. Graças à adição cuidadosa de violoncelos e sintetizadores, os Chrome Waves conseguiram criar uma atmosfera única, gritos e vocais limpos, arpejos e riffs, músicas longas e humor sombrio que fazem a nova arma de arremesso «A Grief Observed». (Avantgarde Music) 3Teeth - «Metawar» (EUA, Industrial Metal) Na vanguarda do metal industrial, «Metawar», é exatamente isso - um ataque sónico aos sistemas de gestão de percepção que atualmente dominam os nossos mundos. É uma contra-medida na guerra dos 3Teeth de

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ideologia invisível do silício, que constantemente move peões de avatar no campo de batalha de nossas plataformas sociais. (Century Media) Darsombra - «Transmission» (EUA, psychedelic/experimental) os DARSOMBRA são uma experiência transcendental e emotiva. As características psicadélicas e transcendentais são transferidas para registrar o mais próximo possível. A transmissão consiste numa faixa contínua que proporciona mais de quarenta e um minutos de felicidade extensa e expansiva. Variando de implacável, carregada e cinematográfica, a efêmera, transcendente e delicada, a música abraça as suas muitas qualidades ao se envolver numa saga temática e intransigente, com um milhão de interpretações diferentes disponíveis. (Earsplit) Darkend - «Spiritual Resonance» (Itália, Ritual Black Metal) DARKEND é uma arte ritual extrema: sinfonias misteriosas exaltando cânticos cerimoniais antigos perdidos em lembranças noturnas, riffs sulfúricos gravados em padrões de black metal e liberdade progressiva. «Spiritual Resonance» é o quarto álbum da banda italiana de cult black metal. (Dark Essence Records) Crimson Moon - «Mors Vincit Omnia» (EUA, Black Metal) Os lendários CRIMSON MOON retornam com o quarto LP «Mors Vincit Omnia» (a morte vence tudo), oito faixas épicas de grandeza oculta, construídas em homenagem a Azrael: Anjo da Morte, Destruição e Renovação. Este novo conjunto de hinos místicos é habilmente construído a partir de riffs enérgicos, hooks do tamanho de catedrais, paisagens sintéticas cósmicas, adornos de órgãos e encantamentos rituais de coral, tão cativantes quanto enigmáticos. (Debemur Morti Productions) Detach The Islands - «The Burden To Become Fact» (EUA, Hardcore / Powerviolence / Skramz) DETACH THE ISLANDS «The Burden To Become Fact» assalta os sentidos com um trabalho de guitarra técnico e emotivo que muitas vezes evita normas de género. Baixo adiantado e imundo que cola a banda, gritos desesperados, catárticos e brutos, com uma base de precisão mortal , bateria vertiginosa e expressiva. Momentos de beleza e libertação impedem o ouvinte de se cansar da batalha das músicas predominantemente discordantes. (Earsplit) Ungfell - «Totbringaere» (Suiça, Black Metal) Originalmente composto em 2016 por Menetekel, o álbum de estreia dos UNGFELL, «Totbringaere», trouxe a pestilência mais hedionda na forma de riffs frenéticos e melodias de morte medieval. O álbum narra uma antologia de horror, sujeira e bruxaria sinistra de uma época que pode parecer estranha ao homem moderno, tornando o trabalho ainda mais imersivo. (Eisenwald) Walking Bombs - «Sphinges Sibling» (EUA, stoner rock) WALKING BOMBS é a criação de um Morgan Y. Evans, um projeto de género cruzado que combina groove alternativo dos anos 90, hinos populares, anti punk furioso e pedaços de tudo o mais, o acto propaga mudanças sociopolíticas, defendendo o pensamento livre e a igualdade de direitos. (Earsplit) Costin Chioreanu & Sofia Sarri - «Afterlife Romance» (Roménia, Avantgarde Metal) A estreia deste projeto pelo devoto avant-garde romeno Costin Chioreanu e pela cantora grega Sofia Sarri é um exemplo absoluto do inesperado. Desde a primeira audição, «Afterlife Romance» abre a mente para a nostalgia de uma época que nunca aconteceu. Aparentemente imitando uma interpretação de lo-fi, esse registro pega o toque e o fantasma que se assemelham às bandas sonoras de terror dos anos 70 e 80 e as coloca num reino recém-criado entre uma peculiaridade de culto e experimentos encantados. (Dark Essence Records) Total Hate - «Throne Behind A Black Veil» (Alemanha, Black Metal) Mantendo-se fiel às formas antigas, os Total Hate lança o seu quarto álbum misantrópico «Throne Behind A Black Veil», onde a banda francónia mais uma vez a caminho do som feroz e frio das dolorosas altitudes do black metal dos anos 90. Muito parecido com os resultados anteriores, os Total Hate - conhecido por seus luminares e fanáticos na esfera do black metal antigo - continuam o caminho estabelecido e seguro. Os Total Hate unificam a essência do verdadeiro som do black metal da Escandinávia. (Eisenwald)

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Havens - «On The Verge Of Collaps» (EUA, atmospheric black metal) Filadélfia, Pensilvânia, tornou-se conhecida por sua alta pobreza, uso de drogas e taxas de crimes violentos. É na beira deste vale onde HAVENS, o projeto solo de black metal atmosférico de Daniel Donahue, nasceu. No novo álbum, «On The Verge Of Collapse», essa dualidade é imediatamente reconhecida, fazendo a transição entre black metal e passagens de pós-rock. (Earsplit) Nad Sylvan - «The Regal Bastard» (Suécia, Crossover Prog / Progressive Rock) Agora chegamos à conclusão de uma incrível trilogia de vampiros de Nad Sylvan com o álbum «The Regal Bastard». Mais uma vez, Sylvan reuniu uma enorme variedade de talentos musicais para trazer a sua inspiração para a vida. (InsideOut Music) Isole - «Dystopia» (Suécia, Doom Metal) Os fãs do clássico Doom Metal devem imperativamente colocar as mãos em «Distopia». Este é um grande álbum, com grandes músicas e um grande som! Os seus primeiros lançamentos, os Isole conseguiram garantir uma excelente reputação no meio doom metal underground. Então, com «Bliss of Solitude» e «Silent Ruins», eles elevaram o seu status ainda mais. Agora, com «Dystopia», Isole garante um merecido lugar na cena do doom metal. (Hammerheart Records) Deemtee - «Flawed Synchronization With Reality» (Espanha, experimental black metal) Enquanto os projetos estão embebidos numa sensação de melodia e atmosferas obscuras, aqui, o multi-instrumentista explora um caminho mais bizarro e psicadélico, mergulhando em tons dissonantes e abstratos, black-metal não linear e às vezes avant-garde. «Flawed Synchronization With Reality» é uma compilação de experiências psicológicas, de psicologia humana, de imensidão do universo, de insignificância do ser humano. (Independentes) Interstitia - «Ever Onward Ever I» (EUA, instrumental ambient/electronic) INTERSTITIA é o trabalho a solo de Graham Scala. Instrumental, eletrónico e de natureza verdadeiramente mundana, o álbum é uma peça coesa que certamente elevará o espírito e inspirará produtividade. (Earsplit) Those Darn Gnomes - «Calling Whitetails To A Tuned Bow» (EUA, Avant-Garde Metal, Avant-Garde Jazz) «Calling Whitetails To A Tuned Bow» é o terceiro LP dos THOSE DARN GNOMES de San Diego. A mistura descontrolada, imprevisível e totalmente explosiva do coletivo de experimentação free-jazz, noise e metal ultrapassa os limites de sanidade e segurança a cada minuto. Aqui, o grupo explora os limites externos do metal progressivo, improvisação livre e design de som de vanguarda através da incorporação de técnicas de composição algorítmica. (Earsplit) Dreamarcher - «The Bond» (Noruega, blackened progressive metal) Com o seu extenso conjunto de vocais melódicos e gritos, e uma mistura de escuridão contígua, Dreamarcher habilitam o equilíbrio ou abrasão com a beleza e a sensibilidade. O nome Dreamarcher prepara o palco para sua música; misturando o romantizado, sonhador, ambiente e bonito com o escuro, industrial, concreto e hediondo. (Indie Recordings) The New Death Cult - «The New Death Cult» (Noruega, Heavy Rock) Nas margens da galáxia de Andrômeda, uma nova força de luz desesperada no escuro e espaço interminável sideral. Os habitantes humanóides do planeta alienígena distante de Netuluna observam o planeta Terra em decomposição. Numa tentativa desesperada de unir todos os humanos sob a causa de salvar seu planeta e seus mesmos, um novo meio é formado. Uma força mais poderosa que qualquer coisa no universo: HEAVY ROCK MUSIC. (Indie Recordings) Pattern-Seeking-Animals - «Pattern» (EUA, Progressive/art-rock) Pattern-Seeking-Animals é o novo grupo que apresenta os talentos dos atuais e ex-membros da Spock’s Beard, Ted Leonard, Jimmy Keegan e Dave Meros. Como a banda estava obviamente intimamente associada aos Spock’s Beard, John estava consciente de explorar diferentes caminhos com o Pattern-Seeking Animals, explorando arranjos de Vocais, Sintetizadores ou Texturas Emocionais. (InsideOut Music)

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The Holeum - «Sublime Emptiness» (Espanha, Doom, Post Metal e Dark Ambient) Black nem sempre é black. Também na escuridão há categorias e uma ampla variedade, que dificilmente se considera possível no princípio. Os HOLEUM elevam a elaboração musical da escuridão em diferentes manifestações de forma de arte. A tensão entre os filhos do pós-metal e do rock, doom / downtempo, dark ambient, drone e cineastic pode ser apenas uma aproximação ao grupo espanhol que está a refinar uma abordagem holística. (Lifeforce Records) Brocelian - «Guardians Of Broceliande» (Alemanha, Symphonic Metal) A banda sinfónica de metal BROCELIAN está de regresso com o seu segundo álbum «Guardians Of Brocéliande». Aqui, podemos esperar faixas épicas, hinos diretos do power metal, mas também esmagadores e cativantes mid-tempos! As cordas adicionam algo especial às músicas de BROCELIAN sem as transformar em kitsch. Com uma brilhante produção de Alexander Krull, todos os arranjos foram organizados perfeitamente e o álbum acabou por ficar mais pesado que o anterior lançamento da banda! (Massacre Records) Hatriot - «From Days Unto Darkness» (EUA, Thrash Metal) Os HATRIOT estão de volta com um novo álbum com letras mais sombrias e nefastas. Os HATRIOT sentem que o som deste álbum mudou um pouco em relação aos lançamentos anteriores devido à saída de Steve “Zetro” Souza dos vocais. (Massacre Records) The Trigger - «The Time Of Miracles» (Sérvia, Heavy Metal) Depois de uma década de álbuns feitos para o mercado doméstico e gravados apenas no seu idioma nativo, os THE TRIGGER passaram três anos de trabalho meticuloso para apresentar o seu primeiro álbum em inglês. A sua música combina guitarras pesadas com linhas de vocais sofisticadas. O foco está nos riffs cativantes e nas melodias memoráveis. THE TRIGGER entrelaça as suas influências musicais num tecido sólido de hard rock e metal. (Massacre Records) Immortal Bird - «Thrive On Neglec» (EUA, Black/Sludge Metal) As bandas que misturam subgéneros no metal underground geralmente fazem-no com resultados mistos e inconsistentes. O mesmo não acontece com os IMMORTAL BIRD, que exercem a sua selvageria eclética com coesão meticulosa e ferocidade aguçada. Com um som em várias camadas, variando do death metal a metal dissonante enegrecido, ruído angular e hardcore complexo, os IMMORTAL BIRD desafiam uma simples categorização. (Earsplit)

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men on the couch

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Foto: Diogo Silva


GARAGE POWER Soltar a anca até morrer Os Men

on the Couch acabam de nascer no panorama musical nacional. Nados

e criados na ilha da Madeira, trazem-nos uma sonoridade leve e bastante fácil de “digerir”. Mais uma boa proposta de uma banda independente e que começa agora a procurar o seu espaço. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

Para começar, parabéns pelo vosso álbum e a pergunta da praxe para a gente nova: Quem são os Men on the Couch? De onde vêm e para onde vão? MotC: Os Men On The Couch são uma banda da nova geração de música vinda da Madeira. Eramos apenas 4 amigos a fazer o que quer que os miúdos daquela altura faziam, até que um dia sentiram a eletricidade dos seus primeiros acordes na obscuridade do sofá da cave da Dona Zita, e desde aí nunca mais parámos. Estamos agora a lançar o nosso primeiro álbum, e queremos mostrar a nossa música a Portugal inteiro. Como é que vocês definem a vossa música e, já agora, como se definem como músicos? Nós apresentamos um som leve, fácil de digerir, que tanto consegue pôr a malta a soltar a anca, como a reflectir sobre temas que nunca tinham pensado antes. Que influências musicais se fazem sentir na vossa música? Tentamos ouvir um pouco de tudo, mas as bandas que mais moldaram o nosso som foram os Radiohead, Arctic Monkeys, Los Hermanos,

Tom Jobim, Beatles e Capitão Fausto «Senso Comum» saiu no princípio de Outubro e, por isso, como está a ser recebido pelos média e pelos fãs? Até agora a recepção tem sido muito positiva. Temos recebidos vários elogios tanto das pessoas que já nos ouviam há algum tempo, como de pessoas que nos descobriram depois do lançamento do álbum. Vocês são Madeirenses e se a minha opinião é que, se no continente já é difícil para uma nova banda singrar, eu pergunto: quão difícil foi, ao fim de cinco anos, ver o vosso primeiro álbum cá fora? Não foi fácil, mas sentimos que foi um processo natural e tudo aconteceu quando tinha de acontecer. Decidimos esperar até termos mais maturidade para avançar para estúdio e não estamos nada arrependidos. Aproveitando a pergunta anterior: o que esperam poder vir a fazer em termos de digressões? Qual a exposição que esperam vir

a ter no circuito nacional de espectáculos? Com este álbum esperamos tocar por Portugal fora e fazer com que a nossa música chegue ao maior número de pessoas possível. O vosso artwork é uma mescla de desenhos (infantis). Em que medida é que eles se relacionam com a vossa música e com a temática das letras? Cada desenho corresponde a uma canção do álbum, e naturalmente as ilustrações estão associadas ao tema/letra da respetiva canção. Vocês recorreram ao financiamento, via crowdfunding. Porquê essa necessidade de recorrer a este tipo de financiamento? Infelizmente todo o processo de produção e promoção do álbum é muito dispendioso e nós, como jovens de 23 anos que somos, não tínhamos a capacidade para financiar o projeto. Então decidimos lançar uma campanha de crowdfunding que nos surpreendeu pela positiva. Conseguimos ultrapassar o objetivo inicial da campanha (2500€) por uma grande margem,

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Decidimos esperar até termos mais maturidade para avançar para estúdio e não estamos nada arrependidos.

o que nos permitiu realizar este projeto. … vêem este tipo de estratégia como o futuro das bandas, por assim dizer? Claro. É uma excelente estratégia para bandas pequenas e independentes poderem-se aventurar neste meio dispendioso sem apoios de editoras. O primeiro single é “Se eu morresse amanhã” e tem uma premissa leviana e irónica. É assim que vocês vêem a (vossa) morte? É assim que a tentamos ver. Independentemente do facto de morrermos amanhã ou daqui a 50 anos, só temos uma certeza: o mundo vai continuar a girar. Podemos olhar para isso de uma forma leve irónica, ou de uma maneira negra e azeda.

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Nós escolhemos a primeira. …e agora, porque é que eu acho que a letra de “clickbait” define na perfeição o que a maior parte das bandas e música representam hoje em dia? - É assim que vocês vêem o panorama musical: “Tem de ter clicks, tem de ter likes”? A letra da música é mais direccionada aos influencers e aos youtubers, no entanto é transversal a outras profissões no meio do entretenimento. As redes sociais são um fator muito importante para o sucesso na música hoje em dia, e para alguns até o mais importante. Infelizmente alguns artistas abdicam da sua personalidade para passarem uma imagem mais agradável ao grande público e consequentemente fazem música “pré-fabricada” com

menos conteúdo. No entanto, as redes sociais vieram também dar voz a pessoas cheias de talento e paixão que provavelmente nunca iriam ter essa oportunidade se não fosse tão fácil partilhar conteúdo. - Acham que com a proliferação das redes sociais a música começa a ser feita mais pelos (e para os) aspectos que vocês mencionam, do que com o simples prazer de fazer e sentir a música? O mercado é tão grande e variado que conseguimos encontrar de tudo. Em geral talvez seja verdade, no entanto continua a haver muito boa música a ser feita hoje em dia com pessoas cheias de paixão. Para terminar, o que poderemos esperar dos Men on the Couch num futuro próximo? Muitos concertos por aí ;) Facebook

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