Versus#57

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Blues Pills Uada Thundermother Petrus Castrus

Continuidade e progresso “Todas as mĂşsicas representam uma face da nossa arte de compor existente num dado momentoâ€?


EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

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D IR E C Ç Ã O

Carta aberta a um senhor “crítico” Q u a n do se e screve uma crítica tem-se d e ter em men te q u e a pont uação numérica não po d e s er d i s s o c i a d a d a s palavras. Já pensámo s, aqu i n a Ve r s u s , em d es i s ti r d a pont ua ção. No en tan to, para as b a n d a s e ed i to ra s e s t ra ng e iras é impo rtante e é uma fo rm a d e d i v u l g a ç ã o e pr o m o çã o - j á que, duvido, se dêem ao tra b a l h o d e tra d u z i r o s tex t os e m português. Po rtanto , e c o m o vemo s c o m m u ita f re quê ncia: “ ban daxpto [9/10] on Ver s u s M a g a z i n e”. S im p le s. No e nt anto , deparei-me com u m a c r í ti c a a u m á lb u m nacional, recente, onde o “crític o” n ã o g o s to u d a c a pa (e af ins) e escreveu o segu in te: “Tu d o c o n ta p a ra a po n t ua ção”. Ou seja, ju lga a música p el a c a p a . In j u s to , pa ra a banda , no mín imo. Como crític o s d evem o s tec er a n o s sa s opiniões n o que à mú sica diz r es p ei to . S ó . É d e m ú s ica , do e sf or ço do músico(s) e da b a n d a q u e s e tra ta a n o s sa e scrit a. A capa é co lateral, po d em o s g o s ta r, o u n ã o g ost ar, ma s não penalizar a ban da p o r es s e f a c to . E d e r epe nt e le mbrei-me de três discos: d o i s c u j a s c a p a s s ã o t ot a lme nt e bran cas e u m em qu e a c a p a é (q u a s e) t o ta lme nt e pr e t a. Co mo é que, o lh and o p a ra o «W h i te Alb u m» dos T he B eatles, o « Nu de» dos R a m p o u o «Bl a c k Alb u m» dos Me t allica eu adivin h aria o q u e l á es tá d en tr o ? J u lg a r a música de uma ban da pela cap a q u e n ã o es tá d o a gra d o do “crít ico”, está errado e é al g o ex tr ema men te r e d u tor. Ag o ra, o a no e st á a fin dar - a pandem i a , a o q u e p a r ec e, t a m b é m - os conc ertos vão aparecendo e j á tem o s v á r i o s a ge n dados: Se pu ltura, A rch E n emy, B ehemo th e Ca r c a s s , E pic a pa ra 2 0 2 2 , Flesh go d A po calypse e o s f es ti v a i s l á v ã o a nunciando as bandas. Vamos espera r q u e tu d o c o r ra b em . De s alie nt a r, a remessa de bo as ban d a s p o r tu g u es a s q u e nos che g ara m às mãos n estes últim o s temp o s : Jo ã o Va ir inhos, Basalto, Inhuman, Revolut i o n W i th i n e u m ext ra o rdiná r io álbu m do s Miss Lava q u e s ó c h eg a rá em J a n eir o de 2 0 2 1 (Já não falta mu ito) - só p a ra c i ta r a l g u n s . D e r e sto , to d o o staff da Versus de s e j a a o s n o s s o s l e i t o re s u m ex traordi nári o ano de 20 2 1 e n ã o j u l g u e m “o l i v ro pe la capa”, se faz favor. Eduardo Ramalhadeiro

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Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Lopes e Victor Alves

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U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O uti l i zador não pode al terar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.


WOBBLER

C O N T E ÚDO Nº57

6 8 E N D O F M A N K IN D

0 4 N O T ÍCIA S

39 NUNO L O P E S

0 5 T R I AL B Y FIR E

40 BLUES P IL L S

0 6 F O RG O TTE N TO MB

44 EM ANU E L R O R IZ

1 0 P E TR U S CA S TR U S

45 PLAYL IS T

7 6 D E C E M B R E N O IR

1 6 H O ME M DA MO TOSERRA

55 M ELH O R E S D O A N O

7 8 AV E R S IO H U M A N ITAT I S

1 8 MANU E L CA R D O SO

56 UADA

8 0 PA L E T E S D E M E TA L

2 2 T H UNDE RMOTH E R

61 GRÊLO S D E H O RT E L Ã

2 6 C R IT ICA S VE RS U S

62 ANTRO D E F O L IA

3 6 A R MA D A LU S A

66 ARSTID IR L IF S IN S

3 8 A L BU M V E RS U S

MOSH

7 2 IV O B .|E D U A R D O R . A C U L PA É D O C E M I T É R I O

CANSEI-ME

O C I NE M A T R A D I C I O NA L E O S T E M P O S M O D E R NO S

7 5 G A B R IE L S O U S A

94 GARAGE POWER

POS TAS DE PE SCADA

(SU)POSIÇÕES

Z U R R A PA

98 DÉLUGE 1 0 0 D O D IC I C IL IN D R I

LO M B A S , Q U E M D I S S E L O MB A S ?

AC/DC

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Foto: Michael Johnsen

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Notícias O regresso dos Miss Lava Os Miss Lava, Stoners Portugueses, regressam às edições com o novo longa-duração «Doom Machine», que será editado em Janeiro de 2021 pela editora norte-americana Small Stone. Já é possível espreitar a primeira amostra do novo disco através do videoclip para o tema “Fourth Dimension”, realizado por José Dinis. Este que é o quarto álbum da banda, sucede ao EP «Dominant Rush» de 2017 e é apontado como o seu registo mais intenso até à data. Prometem o regresso aos palcos para o ano de 2021. Cinco anos após a morte de Lemmy Fez no passado dia 28 de Dezembro 5 anos desde o desaparecimento de Lemmy Kilmister. O legado e a música continuam. “Se você acha que está velho demais para o Rock and Roll, então está” Jonathan Hultén abandona Tribulation Depois de 16 anos de participação nos destinos de Tribulation, Jonathan Hultén decide abandonar a banda com a qual viveu momentos dourados da sua carreira. Esta decisão foi anunciada num post do Facebook a 6 de dezembro. Era inevitável, dado o guitarrista, desde 2016, ter embarcado numa nova aventura: uma one man band em nome próprio, que tem amplamente publicitado nas redes sociais nomeadamente no Facebook e que lhe deve ocupar muito do seu tempo. Certamente, estará a ser um êxito. Entretanto, juntou-se aos Tribulation o guitarrista Joseph Tholl, que poderá também ser uma boa ajuda para a composição dos futuros álbuns da banda. A propósito: a banda já disponibilizou no youtube um single intitulado “Hour of the Wolf”, integrado no seu novo álbum «Where the Gloom Becomes Sound», a ser lançado pela Century Media a 29 de janeiro de 2021. Que os dois projetos continuem a prosperar para satisfação dos seus mentores e participantes e também dos respetivos fãs. Nightwish em espetáculo virtual Os Nightwish são uma das principais bandas de metal sinfónico e preparam-se para lançar uma requintada experiência interativa, em Março de 2021. O evento chama-se “An Evening with Nightwish in a Virtual World”, onde a banda se apresentará em concerto no The Islanders Arms, uma taverna construída em

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realidade virtual. O evento acontecerá em duas noites, sexta e sábado, de 12 a 13 de março de 2021. Melodeath Alliance 2020 Os Melodeath Alliance nasceram para ajudar a mitigar os efeitos da Covid19. O projecto reúne muitos músicos de bandas internacionais, como sejam os nacionais Dark Oath, os Mexicanos Aetherevm ou Nightrage de terras de sua majestade - só para citar alguns. Podem dar uma vista de olhos neste link Fleshgod Apocalypse lançam “No” Os Italianos Fleshgod Apocalypse que têm concerto agendado para o Porto e Lisboa em 2021, acabam de lançar o novo single “No”, produzido por Jacob Hansen. Toda a arte gráfica dos single foi criada por Travis Smith que também criou os desenhos para o mais recente trabalho acustico «The Day We’ll Be Gone” Sepultura no Rockin Rio 2021 com a Orquestra Sinfónica Brasileira Os Sepultura foram recentemente confirmados no Rock in Rio Brasil e preparam algo que se espera grandioso - uma selecção especial serão interpretados em conjunto com a Orquestra, logo no primeiro dia do evento. Vamos esperar que este registo tenha direito a uma edição em CD/BluRay. RIP Leslie West

Leslie West foi o vocalista e guitarrista dos Mountain, uma extraordinária banda do qual foi fundador em 1969. West também formou um super-grupo com o lendário baixista Jack Bruce e o colega de grupo Corky Laing - West, Bruce and Laing. Bandas e artistas como Ozzy Osbourne, W.A.S.P., Ministry ou Zakk Wylde fizeram covers dos seus temas e guitarristas como Alex Skolnick foram altamente influenciados por West. Morreu no dia 23/12 vitima de paragem cardíaca. Se não conhecem o trabalho deste senhor, ainda vão a tempo. Foto: Tom Miner / The Image Works


Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforรงado

3

Esperado

2

Bรกsico

1

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

Hugo Melo

JP Madaleno

Nuno Lopes

3

4

2.5

4

3,5

1,5

3.5

3

4

3,2

3

4

4

3,5

2,5

4

3

3,5

-

3,4

3.5

3,5

4

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4

3

3.5

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-

3.6

3

2

3

4

3,5

2

3

3,5

4

3.1

2

2

1.5

3

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2

3

2,5

2,5

2.3

Mร DIA

ANAAL NATHRAKH E nd a rke nme nt (Metal Blade)

BLUE S PIL L S Holy Moly! (Metal Blade)

DEREK SHE RINIAN The Pho en ix (Inside Out)

NAPAL M DE ATH

T h ro e s Of Jo y In T h e J a w s Of D efe a ti sm

(Century Media)

SI X F E E T UNDE R

N i g h t m ares Of T h e D e c o mp o se d

(Metal Blade)

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Evitando o mundo É este o mote de «Nihilistic Estrangement», o último álbum de Forgotten

Tomb e primeiro de uma nova trilogia em que se ouve uma mistura subtil de Black Metal… e Rock! Entrevista: CSA

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Saudações! Espero que estejam todos bem. A banda anunciou que este álbum será o primeiro de uma nova trilogia, muito diferente do que fizeram anteriormente. - Que opções fizeram no que diz respeito aos aspetos musicais? - E no que se refere às letras do álbum? - Que papel desempenhou cada elemento da banda na criação de

«Nihilistic Estrangement»? - E o que é este «Nihilistic Estrangement»? Ferdinando Marchisio – É verdade! Todos os nossos álbuns são organizados em trilogias. Isso começou por acaso, mas acabou por se tornar uma espécie de tradição. Em cada trilogia, o som assemelha-se de álbum para álbum, apesar de querermos sempre que sejam diferentes uns dos outros.

«Nihilistic Estrangement» inaugura a quarta trilogia, portanto os próximos devem seguir as suas pisadas, pelo menos na abordagem geral. Mas com Forgotten Tomb, podes contar sempre com surpresas, visto que eu sou o primeiro a nunca saber onde o próximo álbum me vai levar. Gosto de encontrar um nicho que ainda esteja relativamente por explorar, portanto tento sempre agitar

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Todos os nossos álbuns são organizados em trilogias. Isso começou por acaso, mas acabou por se tornar uma espécie de tradição.

um pouco as coisas para ter um som bastante fresco e diferente das outras bandas. Gosto de ter um som que seja uma imagem de marca, mas que, ao mesmo tempo, vá sempre mudando. Desta vez, compus o álbum como se estivesse a escrever uma peça de Rock clássico, com a preocupação de escrever canções boas com bons arranjos, mas sem complicar demasiado as coisas, porque os álbuns anteriores já eram mais complexos e eu estava a sentir um pouco a necessidade de reduzir tudo à sua essência e de me focar mais na atmosfera “rock” das faixas. Portanto, basicamente temos aqui um álbum de Black Metal tocado como se fosse um disco de Hard Rock/Blues, apesar de poderes ouvir aqui e ali elementos saídos de toda a nossa discografia. É um compromisso entre elementos fortes e partes mais atmosféricas, melancólicas. Também optámos por uma produção estritamente analógica para reforçar a tónica posta no som de orientação Rock bem puro. Não queríamos um som de álbum dos anos 2000. Decidi ser eu próprio a produzir o álbum e escolhi pessoalmente microfones para todos os instrumentos usando o mesmo equipamento dos anos 60 e 70 a que recorriam bandas como

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AC/DC (e outras dessa época) nos três álbuns lançados entre 78 e 80, e também tocámos usando instrumentos e amplificadores do início dos anos 80. Gravámos tudo em cassetes analógicas. Queria que o desempenho dos músicos sobressaísse do som ambiente para se assemelhar mais ao que fazemos nos concertos. Cada banda deve ter um som próprio nas gravações, ao contrário do que acontece na época atual, em que tanto os álbuns como as bandas soam todos mais ou menos da mesma forma. Depois fizemos a mistura com o Alex, o nosso baixista, e fizemos a masterização na Enormous Door, no Texas, porque eles também têm equipamento analógico e o Jack Control trabalhou com bandas que tinham uma abordagem semelhante como Darkthrone ou Poison Idea. O resultado final soa mais quente e ligeiramente menos polido do que as gravações atuais, mas tem garra e carácter destacando-se das produções genéricas que são tão populares atualmente. Vamos continuar a seguir este caminho no futuro, com alguns ligeiros ajustes. O processo de gravação, mistura e masterização de «Nihilistic Estrangement» durou entre 10 a 15 dias ao todo, incluindo uma sessão principal e alguns dias

aqui e ali, visto que usámos dois estúdios e ainda um outro para a masterização. Eu escrevi o álbum todo: letras e música. A faixa que deu o título a este novo álbum fala de alcançar um afastamento niilista em relação ao mundo moderno e à humanidade, vivendo num mundo só seu. “Iris’ House” (partes I e II) refere-se ao cancro ou a qualquer outra doença terminal: a primeira parte refere-se ao momento em que descobres que tens apenas mais alguns meses de vida e a segunda descreve os últimos dias numa cama de um hospital antes de morreres. Inspirei-me na situação de pessoas que conheci que adoeceram e/ou morreram e o título é o nome de um hospital que fica perto do sítio onde eu vivo. “Distrust3” (que significa “desconfiança elevada ao cubo”) refere-se logicamente à minha extrema repugnância pelas pessoas e pelas relações. “Active Shooter” é uma espécie de narrativa cinemática em que alguém está farto de tudo, decide pegar em armas e deixa-se levar por um frenesim assassino. “RBMK” evoca uma catástrofe global que faz soçobrar a humanidade. O título refere-se ao reator de Chernobyl, mas poderia ser qualquer outra coisa, até o COVID 19. Mas a


canção foi escrita antes de a doença aparecer. Adoro a capa deste álbum da autoria de Paolo Girardi. - Há alguma ligação entre esta pintura e o famoso episódio dos Hebreus a atravessarem o Mar Vermelho? - E de que forma se pode relacionar esta pintura com o tema central do álbum? A ideia para a capa foi tirada de um sonho recorrente que tive. A pintura tem de ser vista dessa perspetiva. No meu sonho, eu estava a andar num caminho ladeado por essas cataratas gigantes, com a água a subir lentamente por baixo dos meus pés, enquanto ao longe via uma terra selvagem e hostil desprovida de qualquer vestígio de civilização humana. Dei um esboço ao artista Paolo Girardi e expliquei-lhe o meu sonho e ele apareceu com esta pintura, que é fantástica. Queríamos um artwork que evocasse o que aparecia nos discos do início dos anos 90, naqueles álbuns que tu compravas só pelas capas maravilhosas com arte de Dan Seagrave, Kristian Wahlin ou Andreas Marschall. Aqui em Itália temos um grande artista como o Paolo, que já está a alcançar o merecido reconhecimento internacional, por isso não era preciso ir bater a outra porta. Trabalha muito depressa e é uma pessoa de convívio fácil, portanto entendemo-nos muito bem. Já várias pessoas me apresentaram a interpretação “bíblica” do artwork da capa, mas acho que tem a ver com a cultura religiosa, porque a água nas cataratas está a descer, não a subir. Além disso, detesto tudo o que tem a ver com religião e o mesmo acontece com Girardi, portanto nunca nos passaria pela cabeça escolher um tema religioso, nem que fosse apenas remotamente. A pintura relacionase com o título do álbum, porque é uma espécie de visualização do meu “estranhamento” mental, representa o lugar para onde o meu subconsciente vai, quando eu me

fecho ao mundo exterior. O álbum foi lançado há algumas semanas. - O que fizeram para comemorar o lançamento? - Como reagiram a imprensa e os fãs? Não estamos com grande vontade para festejos. Além disso, os membros da banda vivem todos em cidades e regiões diferentes e estivemos confinados, portanto nem sequer nos podíamos encontrar. Na verdade, não os vejo desde o nosso último concerto no fim de fevereiro. O álbum está a ser melhor recebido que os últimos e muitas pessoas parecem gostar dele. Há mesmo muitos a dizer que é o melhor que fizemos em 10 anos e a encará-lo como uma espécie de “regresso à forma”, apesar de eu considerar que nunca fizemos um álbum mau, haha. É claro que há sempre a famosa crítica má, mas foi sempre assim praticamente desde os primeiros álbuns, que agora são vistos como clássicos intocáveis, por conseguinte não costumo dar muita importância aos maldizentes. São snobs maçadores, mas já se sabe que não vais escapar a esse tipo de pessoas, quando decides ser um músico ou um artista em geral. Promover um álbum está a tornar-se cada vez mais difícil. Como estão a banda e a Agonia Records a prepararse para promover «Nihilistic Estrangement»? Estamos a fazer a promoção com a Agonia Records, a nossa editora, nas redes sociais, no Youtube, por streaming e fazendo entrevistas. Tínhamos previsto digressões na Europa e na América para 2020, mas devido a esta trapalhada do vírus, tivemos de as cancelar e adiar tudo para 2021. Portanto, se tudo correr bem, continuaremos a promover o álbum no próximo ano com tantos concertos quanto pudermos fazer.

Não propriamente, porque foi composto e gravado antes desta cena do Covid-19 ter começado. No entanto, apareceu na altura certa, tendo em conta toda esta situação e os temas de que trato nas letras. Ao longo de toda a discografia da banda, sempre explorei mais ou menos os mesmos temas de perspetivas diferentes. Logo, de um modo geral, sempre fui muito crítico em relação à raça humana e agora o meu desprezo pela humanidade aumentou ainda mais. O caminho que o mundo está a seguir nos últimos 20 anos é autodestrutivo, portanto a humanidade teria de pagar o preço mais tarde ou mais cedo. Depois a forma como o vírus se espalhou no mundo inteiro gerou reações retardadas da parte de alguns grupos de pessoas, que mais uma vez me fizeram desejar a imediata extinção da humanidade. Realmente, a estupidez humana não tem limites. Tento evitar ver TV e ler informação nas redes sociais, porque eles apenas conseguem aborrecer-me. Obrigado pela entrevista e espero estar de volta a Portugal para alguns concertos, logo que possível. Passámos sempre bons momentos aí e eu adoro o país. Podem apoiar a banda e a editora comprando o álbum em qualquer ponto de venda ou distribuidor e podem apoiar diretamente a banda comprando material na nossa página do BandCamp: officialforgottentomb. bandcamp.com Facebook Youtube

Uma última pergunta: este álbum pode ser visto como uma resposta aos tempos que estamos a viver?

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Petrus Castrus Mestre(s) 1 0 / VERSUS MAGAZINE


Dico e Eduardo - Olá, antes de mais obrigado pelo vosso tempo e espero que esteja tudo bem com vocês e a vossa família. Eduardo - Os Petrus Castrus foram formados em 1971. Podes contar-nos um pouco como foi formar a banda em plena ditadura? Pedro: Nada de dramático. Ninguém andou atrás de nós a dizer que era proibido ter ou formar uma banda rock. Aconteceu com naturalidade. Fundei a minha primeira banda rock aos 13 anos (os Sharks). José: Lembro-me disso. Os Sharks começaram por tocar temas dos Shadows, mas depois tocavam sobretudo Beatles. Eu só me iniciei na música bem mais tarde, quando os nossos pais alugaram um piano, nos finais dos anos sessenta. Passado algum tempo, começámos a produzir originais, o que levou à criação dos Petrus Castrus. Enquanto éramos adolescentes, nossos pais sempre nos apoiaram na música. Mas também sempre nos aconselharam a procurarmos outras soluções de vida.

A

carreira dos Petrus Castrus foi efémera. No entanto, nem tudo foi um “Marasmo”, pois o legado deixado é dos mais importantes na música portuguesa. Nesta entrevista, Pedro e José respondem às “Cândida(s)” questões de dois “Agente(s) Altamente Secreto(s)” ao serviço da Versus Magazine e falam um do pouco do que foi a “Ascensão e (não) queda” da banda. Para quem não conhece (mas deveria) os Petrus Castrus não são só uma das bandas mais importantes do Rock Progressivo português, são “Tudo Isto, Tudo Mais”. Agentes Altamente Secretos: Dico & Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Petrus Castrus

Eduardo -… e vocês sofreram na pele as acções do “lápis azul”, como é que lidaram com isso? Pedro: Claro que sim, pois desde sempre pretendíamos demonstrar o nosso desalinhamento com o regime. José: A censura era uma realidade absurda, e sentimos de facto alguma dificuldade em fazer passar alguns temas. Mas notese que nunca nos ameaçaram ou prenderam. Creio que esse tipo de perseguição intensa tinha mais a ver com a evidente filiação e activismo político dos artistas visados - tivemos alguns com grande coragem, e que nem é preciso nomear - do que com a sua obra musical e poética. Eduardo - Porque é que vocês escolheram tão ilustres figuras – só para os nossos leitores perceberem: Bocage, Sophia, O’Neill, Ary, Caeiro e Pessoa –

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sabendo que iriam sofrer censura? José: Foi mais a temática bastante contestatária dos poemas que nos trouxe problemas. Não creio que os nomes desses poetas, só por si, nos f ariam sofrer a censura. Na verdade, foi uma sugestão da editora musicarmos alguns poetas portugueses mais consagrados. A editora pensou que isso daria mais respeitabilidade à ousadia de cantar rock progressivo em português. No início dos anos 70 isso parecia uma i deia assaz disparatada, sem qualquer aceitação em Portugal. E a verdade é que nunca vendemos muito. A escolha dos poemas específicos foi nossa, e a editora não se opôs a temas tão contestatários como o País Relativo (do Alexandre O’Neil), ou o SARL, este com a letra do poema adaptada expressamente para o tema do Pedro pelo próprio Ary dos Santos. Podíamos ter escolhido coisas bem mais pacíficas dos mesmos autores, e não teríamos tido problemas com a censura. Note-se que alguns outros temas que mais vieram chamar a atenção da censura foram o Pátria Amada, com um poema do meu desconhecido pai. Outro foi o Mestre - que dá nome ao álbum com letra minha. E até a História do Azul Ultramar, com letra surrealista dum colega do liceu (António Sena), acabou por ser vista como uma música de protesto contra a guerra ultramarina. Mas isso deveu-se ao contexto histórico em que estávamos inseridos, e ao tom geral de crítica ao status quo que permeava todo o álbum. Pedro: Encontrámos nesses poetas material literário que casava excelentemente com as nossas ideias contestatárias Eduardo - Quem escolheu – e porquê – estes escritores? José: Simples questão de gosto e oportunidade. Meu pai tinha milhares de livros em casa, embora não muita poesia. Foi nos livros que tínhamos à mão que procurámos, escolhendo alguns poemas que nos pareceram mais relevantes para a situação do país em que vivíamos.

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Eduardo - Uma rápida consulta na Wikipédia e vemos que o vosso período de actividade nunca foi contínuo. A que é que se deveram estes interregnos? José: Nunca nos profissionalizámos, e as próprias exigências de estudos e trabalho determinaram essas interrupções. Mas nunca deixámos de tocar e criar novas músicas. Eduardo - Vocês só têm dois LP’s. «Mestre» é sublime e ainda por cima adornado com a participação de Júlio Pereira, José M. Branco, entre outros. Como foi, em 1973, compor e lançar um álbum que se viria a tornar referência na música portuguesa? Pedro: Foi uma luta terrível para conseguirmos que uma editora de prestígio apostasse e financiasse um projecto que era demasiado inovador e provocador. Quanto às composições, elas brotavam de dentro de nós como se de seiva ou respirar se tratasse... Eduardo - Quais as melhores e piores recordações desse tempo? Pedro: A melhor foi ter conseguido ir gravar no Château d’Hérouville, com um excelente engenheiro de som. As piores foram o habitual sectarismo político e musical das rádios, e a consequente falta de divulgação do nosso trabalho. Eduardo - Vocês tinham a noção que estavam a construir algo assim tão bom? Pedro: De totalmente diferente, sem qualquer dúvida. José: Apesar de não sofrer da síndrome do impostor, quando comparo o meu ideal de perfeição com aquilo que depois consigo realizar, surge-me sempre um sentimento de frustração. Não consigo ouvir um trabalho sem lhe notar os defeitos. Os outros é que depois me consolam, dizendo que aquilo afinal é bom... Eduardo - Porque foi «Mestre» gravado em França? Pedro: Esse foi um objectivo primordial: Ir gravar para um

estúdio de elevada qualidade técnica. A Sasseti tinha em França exactamente o que nós pretendíamos Eduardo - Já disse que este álbum é soberbo, eximiamente orquestrado e a parte que me chamou mais a atenção foi o cuidado dedicado à harmonia das vozes. Quem é que produziu o álbum e como foram gravadas as vozes? Pedro: Este álbum aconteceu de forma muito espontânea. É verdade que trabalhámos muito antes de ir para França, mas muitas ideias só podiam ser testadas e refinadas em estúdio, sendo que quer o Zé quer eu tínhamos noções bem claras do que pretendíamos como formato final. O contributo do Zé Mário Branco foi ser uma espécie de filtro para que nós não nos perdêssemos em busca do “Graal”, e não rebentarmos com o orçamento. Mas poderia dizer que, de certa forma, fui eu que assumi o papel de produtor, para podermos conservar a nossa identidade sonora. Eduardo - Que bandas é que vos influenciaram a compor «Mestre»? Pedro: A nossa cultura musical sempre foi variada, e de certa forma a nossa cabeça estava repleta de sonoridades extraordinárias. Mas nunca quisemos imitar alguém. Eu ouvia Emerson Lake & Palmer, Yes, Santana, Moody Blues, Beatles, Pink Floyd, Chicago, Traffic, and so on.. José: Pessoalmente, acho um pouco difícil, e até ilusório, referir nomes. Eu posso gostar duma certa passagem numa obra específica, e não gostar da obra do autor no seu todo. Sinto isso claramente na música. Faço música porque muito frequentemente a música que oiço já não me preenche a alma. Criamos música a partir do que somos em dado momento. O que somos nesse momento resulta duma história de vida, que inclui toda a música que de algum modo nos agradou e impressionou,


Eduardo - Depois de «Mestre» veio «Ascenção e Queda» um álbum que conta, também, com a participação de grandes nomes como Lena d’Água e Fernando Girão mas que, musicalmente, foi muito diferente de «Mestre». O que é que contribuiu para vocês mudarem a direcção e estilo musical de um álbum tão bem-sucedido para o outro, este completamente diferente? José: Sempre detestei fazer mais do mesmo, mesmo sabendo que isso seria uma garantia de sucesso e aceitação.

Foi uma luta terrível para conseguirmos que uma editora de prestígio apostasse e financiasse um projecto que era demasiado inovador e provocador. (Pedro)

ficando gravada na nossa memória. No meu caso, sempre foi uma vasta manta de retalhos, sempre em evolução, desde a música clássica até à música moderna, em todos os estilos. Essas influências dispersas vão muito para além das bandas ou

artistas que mais se escutavam na altura em que realizámos o álbum Mestre. Por isso os Petrus Castrus nunca foram uma banda muito monocórdica.

Eduardo - «Ascenção e Queda» não vendeu muito n’altura e a crítica não gostou. Vocês estavam preparados para este “revés da medalha”? O que é que acham que aconteceu para não ter sido assim tão bem recebido? José: No plano musical, não me lembro de ler críticas ferozmente negativas. O que aconteceu é que, durante aqueles anos do PREC, o lápis azul foi substituído pelo pincel vermelho. Nunca nos demos bem com a ordem estabelecida, quer antes quer depois do 25 de Abril. Pedro: É curioso que, na altura da negociação da gravação com a editora Sasseti, a AR de então estava tomada pela côr vermelha e tinha-se transformado numa editora panfletária. Chegou a propor-nos certas alterações do texto, por forma a estarmos mais em consonância com a 5ª divisão e o Aparik de então…. Naturalmente recusámos, e fomos gravar o álbum com a Valentim de Carvalho, que não nos colocou qualquer exigência ou entrave. Apostou totalmente em nós. Eduardo - Depois veio o fim da banda até 2007, salvo erro. Por que é que os Petrus terminaram? José: Em 1981 fui para o Brasil dois anos como missionário, e o Pedro ficou sozinho. Sempre trabalhámos em equipa, e nunca mais voltámos a organizar um núcleo de músicos que fosse suficientemente estável para voltarmos à estrada ou ao estúdio. O panorama alterou-

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Dico - Vocês têm lançando alguns temas inéditos no Facebook – os dois últimos “Comei, Bebei, diverti-vos” e “Faça-se luz”, entre outros. Qual é a actual situação da banda? Os Petrus encontram-se no activo? José: Depende de como se define “no activo”. Ideias e projectos não faltam, que vamos fazendo e gravando em casa. O problema é o fosso que se criou entre músicos profissionais, hoje de alta qualidade mas cada vez mais uberizados, e a criatividade e liberdade de quem faz porque ama. É um fosso que se ultrapassa com dinheiro. Muito dinheiro. Não tenho. E o Pedro também não. se muito com o surgimento da tecnologia digital, e também porque chegámos a um ponto em que nada se consegue fazer sem um algum financiamento. Os melhores músicos da nossa praça chegam, perguntam o que é que há para tocar, tocam, cobram-se, e vão-se embora para fazer outros serviços. Sem alguma compensação financeira, não estão dispostos a gastar tempo n a busca de originalidade para um projecto alheio. O tempo do amadorismo idealista já passou. Para um músico que tem que pagar as contas a o fim do mês, entende-se perfeitamente. Como diz no primeiro capítulo de João, no princípio era a verba, e sem ela nada do que foi feito se fez... Eduardo - Em 2020, e um pouco no underground, os Petrus Castrus são uma banda de culto. Vocês têm a noção disso? José: Não, de todo. Onde está o ouro, o incenso, e a mirra? Nunca vi... Pedro: É de facto surpreendente! Eduardo - Num site de referência de venda de música – discogs – uma versão original de «Mestre» está à venda por 450€ e o «Ascenção e Queda» o preço mais alto é cerca de 280€. Como é que vocês se sentem ao saber que a

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vossa música é muito cobiçada… e cara? (risos) José: Ainda bem que não tenho de a comprar... Pedro: Aconteceu o mesmo ao Van Gogh, ao Rembrandt, ao Picasso... Como diria o Guterres.., “É a Vida!” Eduardo - Na versão mais recente de «Mestre» - mesmo assim, já de 2007 - vem incluída a «Morte de um taxista obeso» Em termos de dinâmica sonora qual a diferença entre a versão original e esta de 2007? Pedro: Houve uma pequena e subtil remasterização onde tentámos valorizar os conteúdos sonoros. Eduardo - De que é que se trata a «Morte de um taxista obeso»? José: É uma compilação de temas inéditos, gravados em casa. O Nuno Rodrigues achou que seria uma bonita demonstração de que não estamos mortos, apesar de mais obesos, e que ainda temos coisas interessantes para dizer. Dico - Existem gravações áudio ou em vídeo dos espectáculos do Café Império ou do Auditório Municipal do Seixal que possam um dia ser editados como CD e / ou DVD? Pedro: Existe esse propósito, mas o responsável da não edição sou eu, por ainda não me ter obrigado a tal!

Eduardo - Com tantos e bons temas originais lançados no SoundCloud e no Facebook, o que vos falta para lançarem um novo álbum? José: É verdade que já publiquei mais de cinco horas de música inédita no SoundCloud, acessível gratuitamente a todos (https:// soundcloud.com/jfcpetruscastrus). E tenho muitas mais horas de boa música inédita para publicar. Entretanto, ir para um estúdio para produzir e lançar CDs é hoje uma actividade sem racionalidade financeira. Os CDs servem basicamente como cartões de visita, e o streaming só compensa para quem tem milhões a querer ouvir. Dum modo geral, se não considerarmos a actividade lectiva, ou a participação num projecto de estúdio pontual, voltámos hoje ao modelo dos trovadores medievais: É tocando para um público que um músico profissional ganha a sua vida. Eduardo - Que influência teve/ tem o vosso pai na música dos Petrus Castrus? José: Na música, quase nenhuma. Na poesia e nas ideias, foi determinante. É como se fosse um membro fantasmagórico da banda. Ele nunca buscou fama ou reconhecimento, nunca publicou nada, e até preferia não


ser referido como autor dos poemas. Escrevia porque sentia necessidade de escrever, e só lia para a minha mãe. Eduardo - Quem faz as letras destes temas mais contemporâneos? José: Gosto muito de musicar os poemas do meu pai, que ele produziu aos milhares. Doutro modo, eu mesmo escrevo as letras.

Dico - Como analisam o enorme impacto que a crise do Covid-19 regista e continuará a registar na sociedade como um todo mas concretamente no sector das artes em geral? Que futuro vaticinam pra o sector? José: Não está fácil para um artista viver da sua arte. Se essa possibilidade for totalmente destruída, resta a pureza do amadorismo. Mas perde-se o nível de qualidade que só a profissionalização permite atingir.

Eduardo - Um exercício de imaginação: Se os Petrus Castrus tivessem nascido ou tido oportunidades em países como os EUA ou UK, poderiam ter o mesmo reconhecimento como os Jethro Tull, Camel ou Gentle Giant (por exemplo)? Pedro: Sem qualquer imodéstia, tenho a absoluta certeza de que, se tivéssemos acontecido num desses territórios, e com a precocidade com que abordámos a música, certamente o nosso destino musical teria sido outro, e porventura de grande sucesso. José: Creio que o valor duma obra não se mede pelo número de pessoas que a reconheceram em dado momento, mas pela intemporalidade. A verdade permanece. O resto dissolve-se nas brisas do tempo. Quanto às possibilidades de reconhecimento noutros países, acho que isso

cresci a ouvir música com todos os meus sentidos alerta! José: Nem tudo é mau, vejo na internet trabalhos muito originais e interessantes, feitos entre nós, que procuram alguma visibilidade. Pareceme que a dificuldade que estas tentativas enfrentam para abrir (José) novos caminhos é um problema global. Para alguém manter os streams a render alguma coisa que se veja, tem de produzir constantemente, explorando os filões musicais de maior sucesso. Pela própria lógica do sistema, a imitação e a banalidade que isso acarreta deixam de ser uma preocupação. Hoje é possível construir músicas a partir de pequenos trechos gravados, como se fosse um Lego. Isto melhora extraordinariamente a relação custo/rendimento. Talvez por isso nunca tantos tocaram (e cantaram) tanto e tão bem para dizer tão pouco. Mas ninguém é culpado de isto estar a funcionar assim. É a internet… O risco que eu vejo nestas soluções repetitivas é o desaparecimento de compositores humanos, vantajosamente substituídos por algoritmos de inteligência artificial. Também importa notar que o talento musical abre algumas portas, mas não todas. Há portas que só se abrem com uma dose saudável de narcisismo e descaramento, o que nem todos têm. Outras abrem-se com a dimensão visual do artista ou do espectáculo. Na era do audiovisual isso é de tal modo importante que até pode por vezes compensar uma dimensão musical medíocre.

A censura era uma realidade absurda, e sentimos de facto alguma dificuldade em fazer passar alguns temas.

também dependeria da viabilidade duma profissionalização da banda. Em Portugal sabemos que não há espaço para muita gente conseguir viver da música. Resulta da nossa pequena dimensão e dos nossos modestos rendimentos. Por isso nunca enveredámos por uma profissionalização, e nunca me arrependi dessa decisão. Em outros países, não saberia dizer. Sei, no entanto, que entre vários músicos profissionais portugueses da nossa geração existe algum reconhecimento - e até admiração - pelo muito trabalho que fizemos como simples amadores para abrir caminhos na música portuguesa. Eduardo - Eu tenho uma opinião muito particular relativamente ao momento que se vive na música portuguesa, pois acho que está pejada de mediocridade e é estupidamente difícil alguém com talento singrar. Como é que vocês vêem a música portuguesa em 2020? Pedro: Relativamente desinteressante. Mas, tal como na literatura, a malta gosta de “gato em vez de lebre”. O facto é que hoje em dia, exceptuando as salas de concerto, a música transformou-se em algo que se consome enquanto fazemos “jogging” ou andamos nos transportes públicos. Perdeu-se o culto de estarmos sentados numa sala com todos os sentidos atentos e vibrantes para ouvirmos uma qualquer obra ou peça musical. Eu

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Olha a vacinaaaaaaaa f’esquinha!!!! O ser Humano tem sobrevivido e proliferado devido, espantosamente direi eu, ao seu intelecto. Os avanços na saúde e tecnologia têm sido, ao longo da História da Humanidade, recebidos com júbilo. A vacina para o Covid parece ser um desses avanços, pois promete devolver-nos a nossa “normalidade”. Porém, há uma fração de mentes ignóbeis e menos diferenciadas intelectualmente, os habituais “maluquinhos da conspiração” que vê este avanço científico com cautela e até desconfiança. Mentes tacanhas com raciocínios surreais que parecem saídas de um filme “B” de Hollywood e….. Sim! Eu sou uma dessas pessoas! Antes de mais, e quero que fique aqui bem claro, eu não acho que a terra seja plana. Posto isto, e provavelmente por ser um leigo na matéria, a ideia que tenho em relação ao desenvolvimento da vacina é de uma investigação intensa, sim; séria, sim; mas apressada. Faz-me lembrar os fabulosos trabalhos que têm de ser entregues à meia noite, e às 23.50 ainda nem se fizeram as conclusões. E depois de um trabalho extenso, e apertados pelo tempo, no meio de incontáveis palavrões e um esgotamento nervoso, escrevemos um brilhante capítulo conclusivo com três frases, das quais duas e meia mal construídas. Portanto, uma eloquência gramatical só à altura de grandes personalidades, tal como Jorge Jesus. “Não se consegue preservar acima de -80C? Não faz mal, ninguém vai dar por isso! Achas mesmo que alguém vai reparar nesse pormenor?? Efeitos secundários? É verdade… isso pode dar chatices daqui a uns anos… Só se dermos a um grupo de risco do tenhamos a certeza que não vão apresentar efeitos daqui a 5 ou 10 anos…. Como se chama mesmo a tua avó?” E assim foi. Siga! Andor, Vamos embora! Toca a lançar isto rapidamente, pois é para o bem da humanidade….e uma boa oportunidade de negócio, é certo, mas as empresas Farmacêuticas não pensam nisso, claro… Todos vivem do que a terra lhes dá. Enchem os seus SUV da Porsche com legumes e galinhas para as vender no mercado mais próximo. A pesca com o único intuito de sobrevivência, é feita ela num humilde iate de 50 metros com heliporto. Servindo o heliporto para secar bacalhau, lá está! Estarei a ser, provavelmente a ser maldoso, e quiçá até demasiado exigente. Também tenho consciência que vou ser criticado e acusado de extremo perfeccionismo pelo o que vou dizer a seguir, mas não me sinto seguro em levar uma vacina, cujo plano de administração a nível nacional é apresentado por um alcoólico! Sim, eu admito: gosto de ter no meu país, pessoas sóbrias a decidir sobre questões importantes de saúde pública. É uma mariquice como qualquer outra. Alcoólico por alcoólico, tragam o Jorge Palma! Sempre dá mais espetáculo. Ou não…. Pensando bem, deixem-no lá estar sossegado. Apesar de não haver certezas quanto à segurança da vacina nem quanto ao plano de vacinação nacional, a sorte é que a vacina é de fácil administração: Chegam a -80ºC e só se podem abrir as caixas por 60 segundos. Antes de as tirar há que benzer a caixa e o profissional que vai dar a vacina, deixar depois repousar a mesma, proceder à diluição em exactamente 5,7s, com o operador colocado, como é óbvio, de cabeça para baixo durante todo o processo. Voltar a colocar no frio após agitação com 3 cambalhotas, sendo uma delas para trás, não podendo este processo demorar mais do que

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4,89s. Depois é mais fácil. É só extrair o líquido durante 7decimas de segundo a 45 graus, depois 48 graus em 3,49s, e finalmente administrar no paciente. Paciente este que não precisa de preparação específica, apenas ter comido um dente de alho ao ar livre durante a última lua cheia, seguido de um banho de urtigas do japão e de cápsulas de óleo de fígado de bacalhau, seguido de anti-histamínico, anti-inflamatório, analgésico, pelo sim pelo não um antibiótico. Ah, e um testamento. Aparentemente é necessário ter um testamento feito. A simplicidade do processo é absolutamente estarrecedora, logo, parece-me que há todas as hipóteses desta campanha correr bem! Só falta talvez a questão do transporte. Porque parece que não, -80ºC ainda é assim um bocado a dar para o briol. Não tão frio como algumas ex sogras que conheço, é um facto, mas ainda assim, frio! Mas a empresa já anunciou que vai distribuir as vacinas numas caixas desenhadas para o efeito, com um gelo do também especial. Ou seja, suponho que seja qualquer coisa parecida com o que vemos na imagem. Há telenovelas venezuelanas com um enredo bem mais fácil de seguir. O Dallas comparado com este processo, era uma história básica de crianças. Mas eu consigo perceber quem quer ser já vacinado. E eu até dou, de bom grado, a minha vez. Por isso, ide. Ide em meu lugar levar essa vacina. Pelo sim não, e se fosse eu, claro, levava um saco com gelo, não fosse o braço cair-me. E sinceramente, acho que se fosse o braço a cair, já era um mal menor, ao invés da….. Despeço-me em fuga da vacina O Homem da Motoserra.

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Manuel Cardoso O mestre do Progressivo 1 8 / VERSUS MAGAZINE

(Tantra, Artnat)


Figura incontornável do Rock Progessivo nacional, Manuel Cardoso levou, no final dos anos 70, o nome dos Tantra a todo o mundo, fazendo ascender os primeiros dois álbuns do grupo a clássicos absolutos do género a nível mundial. Já neste milénio reativou a banda, para depois encerrar em definitivo o trajeto do nome maior das sonoridades progressivas feitas em terras lusas. O presente e o futuro passam pelos Artnat (cujo nome é nada menos que o vocábulo “tantra” de trás para a frente) e é a esta nova banda que o músico e produtor se encontra dedicado em corpo e alma. A VERSUS traçou com Manuel Cardoso uma retrospetiva do seu percurso. Entrevista: Dico| Fotos: Cedidas pelo entrevistado

Desde a sua formação que os Tantra elevaram a fasquia artística em Portugal a um patamar elevadíssimo, devido não só à proficiência técnica e composicional, mas também ao equipamento usado (quer a nível de instrumentos musicais quer de material de produção). Tudo isto se refletia em espetáculos muito frequentados, de que é exemplo o Coliseu dos Recreios esgotado. Como foi a experiência de formar um grupo com a dimensão dos Tantra no Portugal pós-Revolução, num período política e socialmente conturbado? Foi muito natural. Eu ambicionava fundir música sinfónica com uma sonoridade Rock bastante elaborada, por isso convidei o [teclista] Armando Gama para formar um grupo e os músicos ideais para chegarmos ao nível idealizado chegaram nas pessoas do Américo Luís (guitarra) e do Tó-zé Almeida (bateria). Depois, atravessámos uma longa fase de trabalho árduo, algo à parte da conturbação social, dado que ensaiávamos e compunhamos música diariamente das 10h00 às 19h00, 21h00 ou até mesmo 22h00, incluindo fins-de-semana. Para mim, a agitação do período pós-Revolução constituiu meramente um dos vários sintomas da conturbação social que há anos se fazia sentir mundo fora, inspirando-me a compor música e a escrever letras, o que se refletiu numa inspiração ainda maior para me dedicar à música. O mais difícil foi montar a estrutura de apoio ao grupo e obter o necessário investimento para o efeito. Após mais de um ano de um intenso processo de composição e de ensaios, apresentámos o nosso espetáculo aos meus pais e aos do To-zé Almeida que, reconhecendo

o valor do grupo, aceitaram ser fiadores de um empréstimo bancário que contraímos (e lhes pagámos sem ajudas externas) para aquisição da aparelhagem e luzes necessárias. Na realidade, fui eu quem mentou o sistema e pesquisou as necessidades elétricas, eletrónicas e de potência necessárias ao funcionamento do nosso equipamento. Em simultâneo, constituímos uma equipa técnica de dois elementos (som e luz) e começámos a dar espectáculos. Para se perceber a entrega e o esforço exigido pela nossa produção, posso dizer-te que nos primeiros concrtos, com a ajuda dos técnicos, nós, os músicos, carregávamos o piano acústico (vertical) do 4º andar da casa do Armando Gama até ao camião, descarregávamo-lo e levávamolo até ao palco no local do espetáculo. Após o final dos concertos, o processo repetia-se no trajeto inverso. Além disso, carregávamos e montávamos o restante equipamento! Para os espetáculos no Coliseu [de Lisboa] os procedimentos foram semelhantes. Organizámos esse concertos com o apoio de um agente experiente no meio. Por essa altura, a nossa equipa técnica já estava completa. Incluia roadies e um técnico de efeitos explosivos que eu próprio formei, dasdo que os efeitos eram desenvolvidos por mim. Foram tempos duros e loucos, embora magníficos! O conceito do grupo, desde o nome às letras dos temas, remete para a filosofia Hindu, que apenas mais tarde seria descoberta por algumas sociedades ocidentais como forma de ultrapassar a opressão emocional, espiritual e física que o estilo de vida

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(...) apresentámos o espetáculo dos Tantra aos meus pais e aos do To-zé Almeida que, reconhecendo o valor do grupo, aceitaram ser fiadores de um empréstimo bancário que contraímos (e lhes pagámos sem ajudas externas) para aquisição da aparelhagem e luzes necessárias.

moderno viria a impor-nos. Ainda sem 1/4 do ritmo de vida atualmente vivido, e numa época em que tudo ainda “acontecia lá fora”, ao adotar este conceito e filosofia para a banda sentiste-te um alien — social e musicalmente? Da tua perceção, os fãs apreendiam a mensagem das letras? Ao longo da minha vida senti-me quase sempre algo alien relativamente não aos seres humanos cuja filosofia de vida positiva ia ao encontro dos meus valores, mas em relação à sociedade em geral. A minha busca por valores menos inferiores e imperfeitos que nortevam a vida dos que me rodeavam levou-me a aprofundar todas as filosofias que considerei interessantes. Assim, acolhi de braços abertos conceitos, caminhos e perspetivas diversas, independetemente da sua origem. Portanto, as diferentes culturas não eram mais do que partes de um todo, aglomerando distintas visões de uma assombrosa Existência. Quanto à segunda parte da questão, encontrei sempre na maioria dos fãs dos Tantra uma grande recetividade à nossa/minha filosofia humanista e espiritual (não confundir com religiosa, pois não o era), independentemente de se reverem nas ideias que veiculávamos. Também senti que as nossas letras faziam todo o sentido para os fãs.

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A imagem era também algo essencial no conceito da banda. Essa produção estética gerou estranheza ou a recetividade foi boa? Tivemos sempre uma excelente reação à nossa abordagem estética e de encenação de palco. O vosso concerto de estreia foi gravado e, em 2003, após reformares o grupo, editaste-o em CD, sob a designação Live Ritual — The First Concert of the Band in 1977. Sempre tiveste os masters na tua posse ou vieste a encontrá-los mais tarde? Tive-os sempre comigo, mas já nem me lembrava que os possuía. Quando os encontrei na minha cave foi um autêntico flashback. Ao ouvir a fita viajei no tempo, foi como que uma celebração do passado. Decidi então reativar os Tantra e depois editámos o álbum Terra, já com a nova formação. Antes disso, ainda, o terceiro álbum, Humanoid Flesh, editado em 1981, assinalou a mudança das letras para Inglês, uma alteração significativa na sonoridade do grupo a favor da New Wave e o “Dedos-tubarão” (Pedro Ayres Magalhães) a substituir o Américo Luís. Apesar destes esforços em desenvolver a carreira dos Tantra, os fãs preferiram a banda como era dantes e 1981 vê o grupo chegar


ao fim. Como viveste esse período? Entendo os fãs, e que nem sequer discordo deles. Todavia, para nós, naquela época, a alteração de sonoridade constituiu um passo lógico, pois tencionávos ir para o estrangeiro. Nessa medida, a evolução operada afigurava-se natural após termos percorrido Portugal de lés a lés. Aliás, essa mudança de género musical adveio da oportunidade de entregarmos ao Peter Gabriel [ex-vocalista dos Genesis] uma maquete do Humanoid Flesh, dado haver a possibilidade de abrirmos os concertos dele numa tour europeia. Um amigo dele nos viu atuar ao vivo em Portugal e falou-lhe de nós. Cheguei mesmo a entregar ao Peter Gabriel, em mão, a demo do Humanoid Flesh, mas posteriormente recebi uma carta dele a informarnos que, embora gostasse da banda, escolhera os Simple Minds para o acompanhar na digressão. Em 2002 os Tantra regressaram ao ativo com o álbum Terra, gravado por uma formação renovada e editado de forma independente. Fala-me desta decisão. Presumo que os membros da primeira encarnação da banda não se hajam mostrado disponíveis para voltar a tocar. Por outro lado, como surgiu a decisão de editares tu próprio este álbum e o seguinte, Delirium? Efetivamente, convidei os membros originais, mas por razões pessoais e profissionais não se mostraram disponíveis. A decisão de editar estes álbuns de forma independente (o que constituiu um enorme risco financeiro), deveu-se ao facto de a Musea Records [discográfica francesa especializada em Rock Progressivo], que se revelara interessada na edição, não ter querido pagar os masters, o que eu achei, e ainda acho, um absurdo, dado que despendi imenso dinheiro na produção do álbum. Apesar de as vendas se terem revelado surpreendentemente boas, sobretudo no estrangeiro, ainda não cobri totalmente as despesas de produção e edição do Terra. Por curiosidade, só para uma loja no Japão vendi mais exemplares do álbum do que em Portugal inteiro. Atualmente os Tantra encontram-se inativos. A gravação de um futuro álbum ou um concerto comemorativo de uma efeméride constituem uma possibilidade? Não. Os Tantra não vão juntar-se novamente. Agora é a era dos Artnat, a minha nova banda, que prossegue o espírito e a linha musical dos Tantra, mas com algo novo e personalizado! É por, de certa forma, darem seguimento ao conceito musical e espiritual dos Tantra, que demos ao álbum de estreia o título The mirror Effect! Estás neste momento a masterizar o álbum, que tem lançamento previsto para o início de dezembro. Fala-nos do The mirror Effect, desde os músicos que te acompanham até ao processo de composição,

passando pelo conceito. Os Artnat formaram-se na primavera de 2018 com o espírito de fazer Rock Progressivo na linha dos Tantra, mas explorando o seu cunho muito pessoal, dado que somos uma banda formada por músicos diferentes. O álbum incluirá 11 canções e três pistas-extra de jam sessions, das quais resultaram três temas. Cerca de metade das músicas foram compostas por mim, tendo as restantes resultado de improvisações em grupo. As letras são minhas e da Sara Freitas, a nossa vocalista, à exceção do tema «View from Above», cuja letra são excertos de textos de Fernando Pessoa. Os músicos que me acompanham são o Paulo Bretão no baixo elétrico, o João Samora na bateria e percussão, o Guilherme da Luz nos sintetizadores e percussão, o André Hencleeday no piano e sintetizadores, além, obviamente, da Sara. Eu encarrego-me de todas as guitarras e, ocasionalmente, de algumas vozes. Prevês realizar algum concerto presencial e / ou via streaming para lançamento do álbum dos Arnat? Não. De momento torna-se difícil ensaiar temas tão complexos e levá-los a palco. Aguardamos por melhores dias. Enquanto músico e produtor como é que te tens adaptado a esta situação em que a pandemia nos colocou? A pandemia não me afetou particularmente, dado que eu já passava o dia a trabalhar no meu estúdio. A única diferença foi a ausência de ensaios e de improvisos, tão do nosso gosto! Facebook Youtube

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Onda de Calor Como dizem os AC/DC: “It's a Long Way to the Top (If You Wanna Rock 'N' Roll)”. As Thundermother são apelidadas dos AC/DC de saias e o caminho até ao topo vai-se construindo. O mais recente trabalho chama-se «Heat Wave» e é puro Rock ‘N’ Roll. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Franz Schepers

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“ É

a única maneira de ter um verdadeiro espírito de equipa e é isso que temos agora. Somos uma grande equipa e trabalhamos muito para chegar onde queremos, todas nós.

Olá, Filippa! Obviamente, antes de mais nada, espero que esteja tudo bem contigo, tua família e amigos. Filippa - Oi! Estamos todos bem! Obrigado! O vosso objectivo é dominar o Rock ‘n’ Roll em todo o mundo – Depois de quatro álbuns, como é que está a evoluir esse domínio? Estamos a progredir a cada ano que passa. Este ano tem sido um pouco mais difícil, mas fizemos 4 digressões, por isso, estamos muito orgulhosas! Também lançamos um novo álbum chamado “Heat Wave”. O álbum foi lançado no dia 31 de Julho, bem no meio da pandemia e criado durante cerca de três semanas. – Qual foi a reacção dos fãs e dos media? Foi óptima, quero dizer, recebemos tantas críticas boas e encontramonos em tantas listas de melhores álbuns deste ano, ou seja, foi uma grande conquista para nós. Estamos orgulhosas. E se alguém ainda não ouviu o álbum, precisa dar-lhe uma olhadela! – Como é que estes tempos (complicados) afectaram a vossa

música? Estávamos numa digressão com a banda australiana Rose Tattoo e esgotamos todos os recintos em Março (cerca de 1000 pessoas), mas tivemos de cancelar a digressão a meio e regressar a casa. Essa foi a última vez que tocamos para tantas pessoas. Depois disso, tentamos transmissões ao vivo e decidimos lançar o álbum, de qualquer maneira, no Verão. Alugamos um camião de bombeiros que foi reconstruído como um palco móvel e viajamos com o rótulo “Corona-Safe”. Na verdade, fizemos 2,5 digressões pela Europa, embora mais nenhuma banda estivesse a tocar. Realmente, lutamos para chegar lá! A banda passou por duas mudanças importantes: – Depois de todos estes anos, porque decidiste abrir a música de Thundermother ao resto da banda? É a única maneira de ter um verdadeiro espírito de equipa e é isso que temos agora. Somos uma grande equipa e trabalhamos muito para chegar onde queremos, todas nós. Somos todas talentosas e eu também quero chegar a algum

lugar. As músicas estão realmente boas. A maníaca pelo controlo em mim fez uma pausa. Sabe bem. – Como é que se desenvolveu o processo criativo? Tentamos de tudo, desde escrever com outras pessoas e viajar para escrever. No final, percebemos que nós próprias temos muito conhecimento e podemos fazer músicas tão boas como qualquer um. No entanto, conectamonos com o Soren Andersen, da Dinamarca, depois de o ter conhecido numa festa e, a seguir, também levei as garotas para o conhecer. Ele tem a visão sobre nós com a qual nos identificamos. É um óptimo compositor. Escreveu 6 das canções do álbum connosco. Nós conectamo-nos instantaneamente e, quando estivemos juntos, as músicas saíram-nos naturalmente. – Também mudaram de editora discográfica, da Despotz para a AFM. Como é que essa oportunidade se tornou realidade e o é que esperas da AFM? Quando as pessoas ouviram partes do nosso álbum, recebemos muitas propostas diferentes. A AFM apresentou a melhor proposta para trabalhar connosco e pareceu-nos que poderia fazer mais por nós do

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que qualquer outra. Estamos muito felizes por tê-los na nossa equipa. A primeira vez que os encontramos foi num festival na Suécia e ficaram expectantes até ouvirem as músicas em que estávamos a trabalhar. “Heat Wave” é “a expressão musical do estilo de vida dos hard rockers”, consideras que o Rock ‘n’ Roll é uma forma de viver? Sim. Tens que colocar o teu despertador matinal às 12h e fazer o teu trabalho, ah ah ah! Bem, na verdade foi isso que fiz esta manhã, por isso, não é completamente falso. Para viver este estilo de vida, não podes estar muito interessado em dinheiro, trabalho, família... podes, claro, mas é, principalmente, sobre viver livremente e fazeres o que amas. Tocar Rock’ n’ Roll é um estilo de vida, e tens de adorar isso. Muitas viagens, esperas, falta de sono, músculos doridos e, às vezes, levar um estilo de vida nómada na estrada tem o seu preço. Não é tão glamoroso e não te deixará rico. Mas é uma vida incrível e não posso mais viver de outra maneira! O primeiro single do álbum é “Driving in Style” e isso é o mais Rock’ n’ Roll que podemos conseguir. Óptimo refrão, riffs cativantes, óptimo desempenho de Guernica e um vídeo muito porreiro e divertido. – O que há de tão especial nesta música que levou a ser escolhida como primeiro single? Quando estávamos sentados no estúdio a trabalhar no álbum, cada vez que esta música começava, aumentávamos sempre o volume... e gritávamos sempre porque era incrível. O riff cru na introdução, a voz maldosa da Guernica quando começa a cantar... apenas seguimos o nosso instinto, dissemos à gravadora que queríamos esta música como primeiro single e, felizmente, deixaram-nos escolher. – E o vídeo divertido? Fizeste algumas coisas desagradáveis aos tipos... lol! Claro! É hora dos meninos terem uma luta de travesseiros. Se

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quisermos, também podemos montar um touro de rodeio, podemos arrasar, podemos ser desagradáveis. Vocês têm algumas letras muito fixes, quem é o compositor principal? As letras resultam de uma colaboração. Frequentemente, tenho a visão de um álbum inteiro e normalmente começo antes de termos a ideia de um título de música ou algo assim. Então, a Guernica escreve algo que possa cantar, com a nossa ajuda. Neste álbum, a composição é, especialmente, da Emlee e minha. Penso sempre que as letras são o mais difícil. Estou feliz por ajudarmo-nos umas às outras. “Back in 76” é uma boa melodia de groove. O que é que aconteceu em 76? Muitas das músicas que foram lançadas em 77 foram escritas nesse ano. E um monte de músicas de rock clássico. Os dois primeiros álbuns de AC/ DC, “High Voltage” e “TNT”, emitidos apenas na Austrália, foram lançados em 1976 num álbum único chamado “High Voltage”. E Heart, Thin Lizzy e Kiss também tiveram lançamentos nesse ano. “Back in 76” é a nossa pequena homenagem e como todo a gente canta sobre 1977, então escolhemos o ano anterior, ah ah ah! Voltando atrás alguns anos, em “Rock´N´Roll Disaster” escreveste – presumo que sim – que “Tenho tentado ganhar a vida com o Rock N Roll. Mas, simplesmente, parece não acontecer, ainda que seja o meu objectivo.” Em 2020 ainda estás a tentar? É difícil viver no Rock’ n’ Roll? Obrigada pela pesquisa. Sim, era assim que me sentia nos primeiros tempos de Thundermother. Estava a lutar com essa banda demo por anos. Agora, sinto-me tão abençoada e sortuda por tudo que nos correu bem. Agradeço todos os dias por ter uma equipa que

trabalha para Thundermother e uma grande e sólida banda que luta pelo Rock’ n’ Roll. Podemos fazer o que quisermos em digressão, esse sempre foi o meu sonho. É incrível!! Sois quatro lindas garotas que tocam Rock’ n’ Roll num mundo masculino. Nestes 10 ou mais anos, achas que ainda há países, cidades ou mesmo promotores que estão “fechados” para receber uma banda feminina? Nunca recusamos por sermos mulheres. Por esse mundo fora, podemos ser maltratadas e recebemos muitas abordagens masculinas condescendentes. No entanto, temos sorte de sermos meninas, porque podemos espalhar a consciência de que o Rock’ n’ Roll é para todos. Penso que alguns clubes de motocicleta poderão estar fechados para nós, mas já tocamos em alguns grandes clubes. Existem óptimas pessoas em todos os lugares e onde tocamos, encontramos essas pessoas. Daqui a 10 anos, acho que será muito mais fácil. As pessoas vão precisar de se abrir porque as bandas maiores estão muito velhas e não vão existir para sempre. Portanto, continuaremos a sua herança em nome do Rock, porque os saudamos na nossa música. Fiz esta pergunta à Elin Larson, de outra grande banda sueca, Blues Pills: no Metal/Rock ainda existe o estigma de chamar bandas lideradas por mulheres de “bandas lideradas por mulheres”. (Isso não acontece quando a banda é liderada por um homem.) Qual é a tua opinião? Acho que isso significa que é uma voz feminina na música. Ainda são poucas bandas com cantoras. Acho que é por isso que as pessoas ainda fazem essa referência. Também explica como soa. Mas, no melhor dos mundos, seremos todos “bandas”. Temos uma palavra em sueco que é realmente paternalista para as bandas de Rock femininas e ainda há muitas pessoas que a usam. Reajo mal todas as vezes que a ouço e desejo que nalgum


“ momento possamos ser apenas uma louca banda de Rock’ n’ Roll. O álbum já está disponível no YouTube. Porquê essa... (podemos apelidá-la?) abordagem de marketing? Sim, colocamos muito esforço para que todos ao redor do mundo (em tempos Corona) possam participar do que fazemos. Colocamos a música, vídeos de cada espectáculo e contratamos um cinegrafista para nos acompanhar nas digressões. Temos todo o ano o nosso canal do Youtube ThundermotherTV, onde podem acompanhar o nosso estilo de vida louco. Li que algumas pessoas rotularam a vossa banda como “AC/DC em

Para viver este estilo de vida, não podes estar muito interessado em dinheiro, trabalho, família...

saias” ou “garotas AC/DC” (risos). – O que pensas sobre isto? É uma honra estar na mesma frase que AC/DC! É a melhor banda do mundo. Realmente, queremos fazer uma abertura para os AC/DC em 2022. PORTANTO, se alguém tiver contactos, SAQUE-OS! Além de AC/DC, quais outras bandas te influenciaram e a tua música? Tudo que eu amo. Escrevo músicas de todos os géneros musicais. Steve Miller Band, Dylan, Zeppelin, Creedence Clearwater Revival, BB King, Ozzy, Hendrix, Stevie Ray Vaughan, Airbourne... e até mesmo reggae. Uma óptima música é tudo o que preciso! E muitas guitarras!

Por último, mas não menos importante, já têm alguma programação de espectáculos. Como te sentes ao pegar a estrada, tocar música e lidar com essa coisa pandémica? Fico triste se continuar em casa porque queremos os espectáculos de volta! Os festivais e os locais. Sentimos falta deles e sentimos por todas as pessoas nesse sector que não têm nada para fazer agora. Nós de Thundermother vamos continuar a lutar e fazer o que pudermos e esperamos ver-vos a todos, novamente, em breve!

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CRITICAS VERSUS ANAAL NATHRAKH

«Endarkenment» (Metal Blade) Se 2020 tivesse uma banda sonora, ela teria de ser composta pelos Anaal Nathrakh. Isto é o que de mais óbvio se pode dizer do novo álbum do duo britânico e da sua marca registada de agressão e nihilismo. Mantendo felizmente o ritmo de um longa-duração a cada dois anos, «Endarkenment» calhou aparecer no ano mais “fora-do-comum” da recente memória colectiva, e a verdade é que é das poucas coisas que aparenta encaixar como uma luva nos tempos em que vivemos. Mantendo a alta fasquia a que o projecto de Dave Hunt e Mick Kenney nos habituou, o assalto sónico começa com a faixa-título e a partir daí é (quase) sempre a bombar. Embora tenha os seus pontos fracos, como “The age of starlight ends” ou “Feeding the death machine”, que soam um tanto ou quanto gastas e pouco inspiradas, «Endarkenment» é daqueles discos que pedem para rodar incessantemente uma e duas e três e mais vezes, recordando-nos que os Anaal Nathrakh ocupam uma muito merecida posição de destaque dentro dessa categoria tão difusa e difícil de explicar chamada “metal extremo”. Destaque-se ainda o modo como “Requiem” fecha o disco, inspirando-se na Messa da Requiem de Verdi (e sim, é curioso ouvir a rendição à “Dies irae”), completando mais um capítulo da história nihilista que vem sendo narrada pelos Anaal Nathrakh. Poderá não ser um candidato à inevitável lista dos “melhores do ano”, mas «Endarkenment» muito provavelmente será o disco que com mais exactidão reflecte 2020. [8/10] HELDER MENDES

ARROGANZ

«Morsus» (Supreme Chaos Records) No activo desde 2008 os germânicos Arroganz são uma lufada de ar fresco, face o eufemismo do elogio, no espectro Death Metal, e «Morsus», lançado há alguns meses, é um exemplo perfeito do que é feito este trio. Composto por treze temas, a banda percorre o intimo profundo da condição humana, nao deixando qualquer assunto perdido no tempo. Mas, mais do que entender o trio e o disco, convém dizer que a sua música não se deixa manusear pelas leis do género e há, ao longo de todo o disco, um certo groove com aroma a enxofre que ganha uma nova dimensão quando a voz cavernosa de R (que também se ocupa do baixo e da guitarra) nos entra pelos ouvidos. São canções que da morte transportam a vida e vice versa. Nada é bonito neste disco tal a humanidade que apresenta. Quem nunca se viu preso no negrume? Quem nunca desejou ser outro alguém? Quem nunca pensou em fazer um pacto com o demónio (mesmo o interior)? Pois bem, é isso mesmo que encontram em temas como “Pain & light”, “Sleepless forever” ou “Inside suicide”, para citar alguns exemplos de um disco que vai muito além do Death Metal e não se desiludam se rótulos como Stoner ou Doom vos vier a cabeça. «Morsus» é um grande disco de 2020 e o melhor desempenho deste trio. [9/10] NUNO C. LOPES

BENEDICTION

«Scriptures» (Nuclear Blast) Foi um dos discos mais aguardados neste final de 2020, não só por ser o primeiro de originais num espaço de doze anos, mas mais por marcar o regresso do histórico Dave Ingram, vozeirão indissociável da identidade sónica dos Benediction da década de 90 e um dos urradores mais agressivos do metal extremo, a par de Karl Willets e “Barney” Greenway. Mas o atractivo deste oitavo álbum não se fica pelo regresso de Ingram, que, diga-se, continua em grande forma aos 51 anos de idade. Depois dos discos gravados com Dave Hunt, onde as influèncias punk foram mais notórias (em «Organized Chaos», de 2001) e a sonoridade death parecia, por vezes, vir algures da escandinávia («Killing Music», de 2008), «Scriptures» recupera o som primordial, massivo e brutal dos álbuns «The Dreams You Dread» (1995) e «Grind Bastard» (1998) deixando-nos aquela sensação única de ter levado uma chapada bem em cheio nas fuças. O estilo de composição é também reminiscente desse período: o mais básico possível face aos padrões actuais praticados no género, com escassos leads e sem modernices – apenas uma adesão religiosa e sem contemplações aos cânones mais ortodoxos do death metal e ao estilo vintage dos Benediction. Os refrões catchy e as malhas memoráveis de “Scriptures in scarlet”, “Stormcrow” e “Neverwhen” têm o dom de despertar em nós o que há de mais bestial e primário. Pelo meio há também material genérico e indiferenciado que pode, eventualmente, afastar quem não tenha qualquer ligação emocional com a banda. Mas qualquer que seja o caso, muita atenção à cervical pois está perante

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uma potencial ameaça que pode deixar marcas dolorosas. Headbanging sim, mas moderado, são as recomendações da DGS! [7.5/10] ERNESTO MARTINS

BENIGHTED

«Obscene Repressed» (Season of Mist) Ao longo de pouco mais de duas décadas estes franceses foram maturando e evoluindo o seu som à mesma velocidade com que sofria alterações na formação. «Obscene Repressed» é o nono longa-duração do quinteto e, como já seria de esperar, é um disco de pura devastação. É certo que comparar este registo com, por exemplo, «Psychose» (2004) é mera perda de tempo, pois desses tempos já pouco resta, facto comprovado por Julien Truchan ser o único resistente da formação que gravou esse disco. Curiosidades à parte, «Obscene Repressed» é um disco para ouvidos de aço e sangue. Um disco em que a banda, que conta agora com elementos que já passaram por bandas como Winds of Torment ou Svart Crown, ruma ao obsceno e desafia o ouvinte para trinta e oito minutos de puro Grind/Brutal Death. Quando se pensa que os Benighted poderiam abrandar, eles fazem exactamente o oposto e fazem-no sem perdão e sem mácula. «Obscene Repressed» é, por isso mesmo, um grande disco destes franceses. [7.5/10] NUNO C. LOPES

BLACK CROWN INITIATE

«Violent Portraits of Doomed Escape» (Century Media) O quarteto originário da Pensilvânia decidiu fazer uma exposição de retratos violentos de uma fuga condenada. Este é o terceiro álbum e começa com um convite (“Invitation”) enganadoramente suave e acústico que inesperadamente se transforma numa tempestade de diferentes cadências de ritmos vincados pelo baixo do Nick “Bass” Shaw, riffs “groovados” e acordes rasgados das guitarras de Andy Thomas e Ethan McKenna. Ao longo do álbum, a alternância entre a voz límpida de Andy e as vocalizações distorcidas de James Dorton resultam num constante diálogo, consentido e subtilmente adornado pelo instrumental progressivo, harmonioso, equilibrado e inteligente, suportado num vasto reportório de recursos de estilos musicais. Gosto (muito) de todos os temas e do seu alinhamento, mas tenho de destacar “Son of war”, “Trauma bonds” e “Holy silence”. Em termos de conceito faz lembrar um pouco Opeth na sua fase mais melódica de death metal progressivo, mas Black Crown Initiate tem a sua identidade musical muito bem definida, traduzida por ideias e uma sonoridade muito próprias. [9/10] JOAO PAULO MADALENO

CARNATION

«Where Death Lies» (Season of Mist) Depois da surpresa que foi o disco de estreia, o quinteto belga está de regresso com «Where Death Lies», novamente lançado pela Season of Mist. Vistos por muitos como a sensação do Death Metal belga, o que se entende ao longo destes nove temas é que os Carnation estão mais crescidos e são já uma certeza no que toca ao género. Encontrando as suas influências em bandas como Asphyx, Pestilence (com quem andaram em digressão) ou Bolt Thrower, os belgas acrescentam ainda uma pitada de grotesco e outros elementos que nos vão entrando na pele como pregos, ainda que permitindo ao ouvinte alguns momentos (curtos) para respirar. Além de ser catastrófico (no bom sentido) e ser um devaneio visceral (também no bom sentido) «Where Death Lies» tem todos os ingredientes que transformam os Carnation numa certeza e embelezam (ainda mais!) o catálogo de uma editora que parece não ter limites. No meio de tanta devastação sónica, destaque para o trabalho de Yarne Heylen cujo baixo é o alicerce de um disco sem momentos de destaque e que vale por um todo. Num género cujas regras estão bem definidas, o quinteto segue-as na perfeição e, tem ainda tempo para ser ousado e refrescante. [7/10] NUNO C. LOPES

CELESTIAL SEASON

«The Secret Teachings» (Vic Records) Outrora um dos grandes nomes do death/doom europeu, os Celestial Season acabaram por derivar para outras sonoridades – não foram os únicos… –, mas em 2020 a banda holandesa mostra-se interessada em recuperar o espírito que deixou imortalizado em discos como a estreia «Forever Scarlet Passion» e o seu follow-up «Solar Lovers». E aqui está simultaneamente a

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maior qualidade e o maior defeito de «The Secret Teachings»: qualidade porque este álbum realmente faz justiça ao som que os Celestial Season propunham nos inícios dos anos 90 do passado século, transportando o ouvinte para o período de ouro do death/doom, mas defeito porque pouco ou nada de novo acrescenta. A melancolia, o uso dos violinos, os vocais grunhidos… tudo é executado como era há quase 30 anos, e mesmo a produção deste CD tem aquela patine típica dos anos 90, mas lá está: não vai além disso. Perante estes factos, poder-se-á pensar que «The Secret Teachings» é um álbum dispensável. Não, não é. Sendo a qualidade do álbum igual ao seu defeito, deve dizerse que está tão, mas tão bem engendrado enquanto reconstituição do início de carreira dos Celestial Season que é muito recomendável quer a quem acompanhou desde sempre estes holandeses como aos que com eles só agora contactam. Porque aqui o “algodão” não engana: as músicas são óptimas, os executantes sabem da poda e com tudo isto, praticamente 20 anos passados desde o seu último longa-duração, os Celestial Season conseguem em «The Secret Teachings» um bem sucedido regresso. [8/10] HELDER MENDES

CHROM E WAVES

«Where We Live» (Disorder Recordings) Apareceram em cena em 2010, pela mão do guitarrista e ex-Nachmystium Jeff Wilson, na altura ainda membro dos Wolvhammer e Abigail Williams, mas só publicaram o primeiro álbum, «A Grief Observed», em 2019. Este segundo longa duração segue de perto o estilo do primeiro, situando-se sonicamente entre o post-metal e uma abordagem alternativa, mantendo a ligação ao blackgaze primordial demonstrado em 2012 no EP homónimo, por via do característico registo áspero de James Benson que reveste toda a performance da banda de uma enorme carga emotiva de tons negros e frios. No entanto, «Where We Live» é um trabalho bem mais conseguido. “Hallow dreams” e “New skin” fazem-se de guitarradas muito catchy, em nada comparáveis ao que ouvimos até aqui dos Chrome Waves. As linhas vocais limpas de Benson e Wilson, extremamente melódicas e relaxantes, são um elemento chave a destacar no disco. “Gazing into obivion” e “On the precipice” incluem ecos dos elementos rock mais pegajosos dos Nachmystium, e o violino do convidado Christopher Brown (dos Kakophonix) enriquece sobremaneira a atmosfera de muitas passagens. Contando agora com o baterista Dustin Boltjes (dos Demiricous) no lugar de Bob Fouts (dos The Gates of Slumber), que faleceu em Abril passado, «Where We Live» marca uma etapa decisiva na evolução artística do trio norte-americano. É até um álbum de fácil audição, mas daqueles que se gosta à primeira... ou não se gosta de todo! [8/10] ERNESTO MARTINS

CULTUS PROFANO

«Accursed Possession» (Debemur Morti Productions) Os Cultus Profano são um culto de existência recente, sendo que «Accursed Possession» corresponde ao seu segundo longa-duração. Compõem um black metal de inspiração nórdica, no qual aqui e ali se notam referências a Immortal ou a Ancient, por exemplo. À curiosidade de serem uma banda norte-americana a praticar uma sonoridade que mais facilmente se associa ao norte da Europa, soma-se o facto de a formação se limitar ao duo Advorsus e Strzyga. Colocando isto de parte, passemos a outros factos, mais directamente ligados à música em si: os Cultus Profano, mostrando proficiência no seu ofício, não evitam produzir aquela sensação de “ora aqui está mais uma banda de black metal”. Ou seja, continua a faltar aqui aquele tão desejado factor extra, aquele “zing” que pudesse destacar os Cultus Profano da molhada de lançamentos mais ou menos similares. Percebe-se, em particular, que a guitarrista Strzyga é ultra-competente na palhetada alternada, mas não há assim muitos mais motivos que nos façam regressar aos três quartos de hora de duração de «Accursed Possession». Daí ser tarefa algo difícil citar um momento assumidamente digno de realce; talvez se possam mencionar as duas últimas faixas, “Tenebris venit” e “Crown of hellfire”, sobretudo aquela pelo seu riff, mas numa apreciação global este segundo álbum dos Cultus Profano apresenta-se demasiado monolítico. [6.5/10] HELDER MENDES

DEREK SHERINIAN

«The Phoenix» (InsideOut Music) Depois de um extenso interregno na sua carreira a solo – período durante o qual se focou nos novos Sons of Apollo, entre outros projectos – Derek Sherinian está de regresso aos registos em nome próprio com entusiasmo renovado. É possível que este «The Phoenix» soe menos metal do que, por exemplo, «Molecular Heinosity» (2009), mas, em contrapartida, é um disco mais espirituoso e diversificado do que o último álbum «Oceana» (2011), facto que pode dever-se ao naipe particular de grandes músicos que o teclista norte-americano reuniu desta vez. Diria que é um trabalho onde o jazz de fusão está

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mais presente, como é notório, por exemplo em “Temple of Helios”, inspirado nos Return to Forever de Chick Corea, onde o timbre e a melodia dos teclados lembra o violino de Jean-Luc Ponty; ou em “Dragonfly”, executado apenas em piano, com o acompanhamento da percussão de Simon Phillips, co-autor em todo os temas e seu baterista de longa data nestas andanças a solo, e do delicioso baixo do grande Ernest Tibbs. Em linha com este espirito está também a notável cover de “Them changes”, o clássico de Buddy Miles, aqui actualizado com um condizente solo hendrixiano de cortar a respiração da mão de Joe Bonamassa (que também canta). Num registo mais agressivo destaca-se “Pesadelo”, que conta com os riffs e a guitarra acústica de Kiko Loureiro (Megadeth) e o baixo de Tony Franklin (velho companheiro em todos os outros discos), e o incrivel titulo-tema do álbum onde os rendilhados das teclas de Sherinian emulam na perfeição a exuberância das cordas de um Satriani. Sem sombra de dúvida, um dos discos mais interessantes de Derek Sherinian a solo. [9/10] ERNESTO MARTINS

DOGM A

«Mallevs Maleficarvm» (Ethereal Sound Works) Desde que regressaram ao activo em 2014 os lisboetas parecem apostados em recuperar o tempo perdido. Depois do sucesso de «Reditum» (2017) a banda apresenta agora o seu segundo LP, onde também refresca o seu line-up com a entrada de João Ribeiro (My Enchantment) para as guitarras que adensa ainda mais as palavras de Isabel Nascimento e Gonçalo Nascimento. Cantado na nossa língua e incorporando todas as leis do Gótico/Doom, o sexteto apresenta um disco maduro e revelador do investimento que a banda parece ter, cada vez mais, na produção - veja-se a presença do ‘guru’ Fernando Matias. O único senão deste conjunto de temas acaba mesmo por ser a duração do disco que, dada a sua extensão, torna-se difícil de estar atento numa primeira ou segunda audição, o que também não é mau, convenhamos. Os Dogma em 2020 estão mais maduros e mais certos do caminho que querem seguir, prova disso mesmo é este disco. [7.5/10] NUNO C. LOPES

END OF M ANKIND

«Antérieur à la Lumière» (Mallevs Records/Solstice PR) O confinamento tem sido, para muitas bandas, uma oportunidade para mais composição e trabalho de estúdio, tendo sido essa, basicamente, a razão porque os End of Mankind conseguiram publicar este novo álbum, apenas um ano depois do lançamento do notável disco de estreia «Faciem Diaboli». «Antérieur à la Lumière» segue de perto o discurso black metal frio e old-school do trabalho anterior, rico em descargas desenfreadas de blast beats e ainda com algumas das influências iniciais de punk/crust. As composições contam com alguns momentos interpretados em francês e tendem a incluir diferentes andamentos dentro do mesmo tema, mas, claramente, a banda parisiense não foi bafejada, desta vez, pelo mesmo nível de inspiração que norteou a criação do álbum anterior. Faltam aqui aquelas passagens memoráveis que fazem o ouvinte voltar para mais. Estou a referir-me, concretamente, a malhas catchy do tipo que ouvimos em “Howlings and lurid figures” ou em “Drowning in solitude”, ambas do primeiro disco. Os artifícios melódicos e/ou etéreos, já usados anteriormente, também não produzem aqui a ambiência adequada. O segmento atmosférico na segunda metade de “Temporary flesh suite” não faz grande sentido, o solo de saxofone na parte final de “Opponent deity” passa facilmente despercebido e o instrumental alegremente pateta “Le boël” não tem nada que ver com o espírito do disco. Não sei se este défice de criatividade se deve ao abandono de dois elementos chave da banda – o baixista Sagoth (que entretanto ressuscitou os Eternal Majesty) e o baterista Thoron, seu companheiro de armas do passado nos Antaeus e Aosoth – mas é bem provável que sim. [5.5/10] ERNESTO MARTINS

EXIST

«Egoiista» (Prosthetic Records) Este é o terceiro álbum desta banda estado-unidense de Baltimore que, assim, celebra uma década de existência. A maior parte do material apresentado em «Egoiista» foi criada durante a concepção do álbum anterior – «So True, So Bound». O elemento mais sonante da banda é o vocalista e guitarrista Max Phelps, pelas suas participações ao vivo com Cynic e Death To All (um tributo aos emblemáticos Chuck Schuldiner e Death). O seu estilo musical é, essencialmente, Metal Progressivo moderno de conceito minimalista, com umas escapadelas pelo Technical Death Metal e outros estilos mais pesados e excêntricos. São nove temas que se prolongam por mais de uma hora de contrastes de voz e instrumentais suaves e muito harmoniosos, e de uma sonoridade mais agressiva e a vocalização mais enraivecida, sem que se perca a sua

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identidade. Cada instante sonoro não é deixado ao acaso, assim como as letras. A temática principal das letras é a fragilidade e a natureza finita do ser humano. Isso terá resultado de uma reflexão da própria vida de Max Phelps por causa dos problemas de saúde que o têm atormentado nos últimos dois anos. Uns dos melhores temas do álbum é “Through suffering he paints the universe”, a primeira faixa do álbum. Com mais de dez minutos de duração, começa com uma voz límpida e um dedilhado minimalista a fazer lembrar Cynic. Este tema é dedicado a Sean Reinert, que faleceu no passado dia 24 de Janeiro, baterista que integrou diversas bandas, nomeadamente, Death, Cynic e Aghora. O tema termina com estas palavras: “Resting in a place | Where its brilliant light extends so far away | To warm us when he’s gone | A soul long gone | Let love of its fate die today”. [7.5/10] JOAO PAULO MADALENO

FATES WARNING

«Long Day Good Night» (Metal Blade Records) Precursores do metal progressivo há mais de trinta anos e detentores de um legado recheado de discos emblemáticos, os Fates Warning são, ainda hoje, uma das formações mais relevantes do género. Este novo de originais não difere muito, na sua essência, dos trabalhos mais recentes gravados com o line-up Matheos/Alder/Vera/Jarzombek, incluindo um conjunto de composições orgânicas repletas da musicalidade e dos ganchos melódicos que já lhes conhecemos, que percorrem uma vasta gama de intensidades e estados de espírito, desde os momentos mais quentes e contemplativos até aos segmentos mais dinâmicos e pesados. Mas o álbum número 13 traz também alguns momentos inusitadamente salientes que não vão passar despercebidos aos fãs mais atentos (para o bem ou para o mal). O mais interessante ocorre no longo “The longest shadow of the day”, que inclui os cinco minutos mais osgásmicos que qualquer fã de prog pode desejar, cortesia do baixo jazzy de Vera e da destreza acrobática da bateria de Jarzombek. No polo sónico oposto, “Begin again” surpreende pelo caracter easy listening mas acaba por se revelar numa experiência bem sucedida. O mesmo já não pode ser dito de “Under the sun” e “Now comes the rain”, esta última reminiscente das melosas baladas AOR dos 80s. Mesmo não sendo um disco conceptual, estranha-se também a ausência de alguma coesão entre os temas. No cômputo geral, «Long Day Good Night» fica, claramente, uns furos abaixo do anterior «Theories of Flight» que viu a banda norte-americana regressar ao seu melhor. Deverá, contudo, proporcionar uma audição tanto mais agradável quanto mais indefinidas forem as expectativas. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

GRAVE CIRCLES

«Tome II» (LADLO Productions) O passado mês de Maio ficou marcado pelo auge destrutivo da primeira vaga da pandemia COVID-19, mas também pelo lançamento do melhor álbum (até agora) de black metal de 2020. É mais um resultado do apurado olho de lince da francesa LADLO, que assim reedita um registo valioso lançado no final de 2019, apenas em versão digital, de uma obscura banda ucraniana mas já com ligações ao hexágono gaulês, nomeadamente através do vocalista Baal que integra também os Peste Noir. As influências de Deathspell Omega e Blut Aus Nord são outro ponto de contacto com o metal francês (ouça-se, por exemplo, “Faith that fades”), muito embora os Grave Circles submetam as fórmulas do black metal a um tipo diverso de subversão. Esse carácter singular revela-se na composição rica que mantém o ouvinte interessado ao longo de audições sucessivas, apesar de recorrer a frequentes passagens devastadoras de inspiração mardukiana. Segmentos lentos também os há com fartura bem como a dissonância característica do post-black. Mas mais importante é o excelente trabalho de guitarra de Virus e os seus bem afiados riffs oblíquos que não deixam escapar influências evidentes de thrash (e.g. “Predominance” e “Abstract life, abstract death”). De assinalar também a excelente performance laríngica de Baal, ora profundamente grave e ritualista, ora crispadamente diabólica, reminiscente de Mortuus. Com um som invulgarmente bem definido e adornado com uma arte de capa carregada de simbolismo, «Tome II» soa como a continuação lógica de «Tome I», o EP lançado em 2017, sendo disco para colocar os Grave Circles ao lado de outros talentos ucranianos com os Drudkh ou Nokturnal Mortum. [9.5/10] ERNESTO MARTINS

IHSAHN

«Pharos» (Candlelight) Um EP denominado «Pharos» para uma label chamada Candlelight. Demasiada luz para um dos grandes nomes da cena black metal. E luminosidade é o que não falta a estas composições. Ihsahn está aqui no seu registo mais suave e as músicas, quer originais quer covers (as duas últimas faixas deste EP), soam límpidas, claras, “bonitinhas” até. Aliás, a título de exemplo, os

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teclados que introduzem “Spectre at the feast”, ou as linhas vocais da faixa-título seriam desde logo impensáveis nos Emperor, e também estão distantes q.b. dos primeiros discos de Ihsahn a solo. Isto já para não falar de se fazer versões para Portishead e (ah ah) A-ha, pois, esses mesmo, os famosos popstars responsáveis pelo hit “Take on me”. Não, não é essa (felizmente) a canção versionada e sim “Manhattan skyline”, mas já dá para perceber quais os caminhos – e os riscos – traçados por Ihsahn neste «Pharos». E diga-se que, para cover de uma música pop pirosa, “Manhattan skyline” na versão Ihsahn não soa nada mal. Gabe-se, portanto, a coragem do músico norueguês, mesmo que pareça ter ido demasiado longe aqui e ali. Mas já se sabe que alguns artistas são mesmo assim, fazem o que lhes dá na real mioleirinha sem se preocuparem minimamente com a opinião alheia. É com essa atitude que se criam coisas por vezes surpreendentes e «Pharos» dá corpo a essa surpresa, correspondendo apenas a um lado do frontman dos Emperor, talvez um lado que não esperávamos ver neste polígono verdadeiramente irregular que dá pelo nome de Ihsahn. [7/10] HELDER MENDES

IN FLAM ES

Clayman (20th Anniversary) (Nuclear Blast) Há coisas que às vezes me custam a compreender. Por exemplo, o rumo que os In Flames deram à sua sonoridade - obviamente discutível - e esta cena de lançar álbuns remisturados e “enriquecidos”... com o quê é que ainda não percebi. «Clayman» é o último álbum da Era dourada, ou se lhe quiser chamar, da Era mais consensual da banda. No entanto, a banda decidiu comemorar as duas décadas de «Clayman» e fazer uma cagada em 3 actos. A edição é composta pelo álbum, com a tal remistura, que à primeira vista está mais comprimido, mais alto e por isso menos dinâmico - mas ouve-se; um tema novo “Themes And Variations In D-Minor” e o pináculo das cagadas: uma nova gravação dos temas “Bullet Ride”, “Pinball Map”, “‘Only For The Weak” e “Clayman”. Bem… “cagada” não será bem o termo mas sim, lixo. Meus caros, por muito que goste de «Clayman»… que gosto, prefiro deitar o meu dinheiro ao lixo ou comprar as versões originais em segunda mão - estas novas versões “não têm ponta por onde se lhe pegue”. LIXO! Este conceito de lançar algo para comemorar um aniversário é tudo aquilo que NÃO se deve fazer. Não desta forma. Em vez de lançar esta miséria sonora, não seria mais coerente e de certeza que iria agradar aos fãs - lançar mais umas cópias do álbum original? Edições em CD, vinil e/ou cassete? Agradava a “gregos e troianos” e a malta comprava e ficava contente? Fujam disto ou tentem arranjar a versão original de «Clayman» em segunda mão! [3/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

N ECROPHOBIC

«Dawn of the Damned» (Century Media Records) Dois anos após «Mark of the Necrogram» os veteranos Necrophobic estão de regresso com aquele que é o nono LP de uma carreira iniciada em 1989. Poderíamos aqui reflectir sobre a importância destes suecos no panorama Black Metal, contudo isso é fútil quando temos em mãos um disco com esta qualidade e poder. «Dawn of the Damned» agarra no que já foi feito no antecessor e traz novos ingredientes ao som da banda que, por estes dias, transmite uma maturidade e uma confiança invejáveis, mesmo a quem já anda nisto há muitos anos. Não se remetendo aos ideais do costume, o quinteto alia de forma sábia riffs simples e próximos do Heavy Metal mais clássico, com o negrume que assombra estes dias e, é aí que entra o génio de Sebastien Ramstedt, que tem aqui, porventura, o seu melhor e mais desafiante trabalho de guitarra. «Dawn of the Damned» é um disco de puro Black Metal feito por quem, há muito tempo, ditou as regras e, por isso, pode baralhar e voltar a dar. Em 2020 os Necrophobic continuam a ser tão essenciais como eram em 1989. [8/10] NUNO C. LOPES

PAIN OF SALVATION

«Panther» (InsideOut) Os Pain of Salvation são umas das bandas que mais aprecio e espero que este facto não me tolda a visão que tenho acerca de «Panther». Há bandas que sabem evoluir e que demonstram uma paixão sincera por levar a música que fazem sempre mais além, mantendo, ainda assim, uma inteligência lírica acutilante. Este é o caso dos Pain of Salvation. Obviamente fazem-se sempre comparações, «Panther» nada tem a ver com “Falling Home”; “In the Passing Light of Day” é uma continuação de “Remedy Lane”, um álbum muito pessoal sobre a doença que afectou o Daniel, emotivo, por vezes duro, cru e pesado, outra vezes melódico… esté é diferente. À medida que nos embrenhamos no ambiente, sempre num processo de descoberta e envolvidos por uma “bruma” musical, damos por nós como que absortos do mundo

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real e aí, o “animal” nasce, cresce e desenvolve… «Panther» é um álbum conceptual~, meticulosamente pensado e construido, que lida com os conflitos e contradições entre as chamadas pessoas normais e aquelas que estão “programadas” de maneira totalmente diferente; uma perfeita dicotomia entre o tradicional e o futuro, uma evolução e um epítome de que é o Rock Moderno Progressivo - se assim lhe quiserem chamar. Tal como é apanágio de Daniel Gildenlöw, a música e as palavras saem directamente do âmago do seu Ser, numa incessante, honesta e sentimentalista procura por novas sonoridades. O que poderá saltar mais à vista é a inclusão de alguns elementos electrónicos que encaixam na perfeição nos temas e na sonoridade geral. Mas não desesperem, caríssimos leitores e ávidos ouvintes da banda, «Panther» é mais magnífica obra dos Pain of Salvation [9.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

PANZERFAUST

«The Suns of Perdition - Chapter II: Render Unto Eden» (Eisenwald) Este é o segundo de uma série de quatro discos conceptualmente unidos por uma reflexão Orwelliana sobre algumas das maiores barbaridades ocorridas no século passado. Enquanto que o trabalho inaugural, «The Suns of Perdition – Chapter I: War, Horrid War», lançado em 2019, se limitou à Segunda Guerra Mundial, este segundo tomo da tetralogia alarga a outros assuntos a visão pessimista do clássico “1984”, celebremente ilustrada pela proverbial bota a pisar a face humana. Desde logo um desafio intelectual ambicioso mas que a banda canadiana em causa consegue levar de vencida fruto dos textos inusitadamente inteligentes de Brock “Kaiser” Van Dijk, e muito graças à qualidade da música. Este «Chapter II» expande literalmente a abordagem tendencialmente (post) black metal exibida no «Chapter I», agora com mais segmentos lentos e sombrios que contrastam com as tiradas devastadoras feitas de desconcertantes texturas melódicas invulgarmente criativas. A escuridão do abismo sente-se logo a abrir com o lento “Promethean fire”, que adquire tons ainda mais desolados assim que a voz de Masha dos Arkona se faz ouvir. Os ritmos aceleram para não deixar pedra sobre pedra com a complexa malha de riffs presente em “Faustian pact”, um dos momentos altos do disco, apenas igualado mais à frente em “The Snare of the fowler”, que evidencia um trabalho rítmico deslumbrante e transições impressionantes de uma fluência ímpar. Os restantes números regem-se por parâmetros semelhantes, evitando sempre as fórmulas mais gastas do black metal, o que faz deste «Chapter II» uma experiência marcante, que se prolonga para além da duração do disco. Ficamos à espera do próximo capítulo. [9/10] ERNESTO MARTINS

PROFANITY

«Fragments of Solace» (independente) Na psicologia, o viés da complexidade define-se como a tendência para sobrevalorizar os conceitos e as soluções complexas em detrimento das simples. Esta propensão - inata e ubíqua - para o complicado, estende-se muitas vezes aos domínios da arte: as estéticas simples são consideradas enfadonhas e as complexas é que têm valor. É esta a lógica infalível que está, possivelmente, na génese do death metal técnico, estilo que tem nos Obscura, Beyond Creation e Necrophagist alguns dos seus expoentes máximos. Os alemães Profanity enveredaram também por este caminho a partir do terceiro álbum (2017), explorando níveis tão exacerbados de complexidade, técnica e brutalidade que parecem inacessíveis ao comum dos mortais. «Fragments of Solace», o novo álbum, reitera, com um pouco mais de apuro, uma fórmula caracterizada por uma incessante metralha rítmica de riffs rombudos cuspidos a mil à hora, com frequentes solos dissonantes e outras acrobacias alucinantes nas seis cordas, tudo executado com minuciosa precisão cirúrgica capaz de nos deixar boquiabertos. A audição não é fácil (nunca é neste género), mas traduz-se numa experiência desafiante, especialmente por causa da estrutura nada ortodoxa, muitas vezes caótica, das composições. Depois de alguma familiarização começam a sobressair, por exemplo, as influências progressivas presentes nos nove minutos de “Where forever starts”, os elementos recorrentes e as mudanças de tempo infecciosas de “Progenitor of the blaze” e os riffs inspirados no death sueco de “Reckless souls”. Apesar dos momentos galvanizantes «Fragments of Solace» é, ainda assim, um trabalho que soa para lá dos limites razoáveis da complexidade, e, por isso, um disco para poucos. [6.5/10] ERNESTO MARTINS

RED M OON ARCHITECT

«Emptiness Weighs the Most» (Noble Demon) Formados em 2011, os doomsters Red Moon Architect chegam-nos dum ponto do globo – o país dos mil lagos – de onde emergiram algumas formações históricas, exactamente desse género mais lento do metal, como os Thergothon, Skepticism e Dolorian. Depois da extravagante aventura (e mostra de grande versatilidade) que foi o álbum «Kuura», em 2019, onde mergulharam de

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cabeça, para surpresa geral, na mais obscura e rastejante versão de funeral doom, o colectivo retoma aqui o filão doom/death melancólico que moldou os três registos publicados anteriormente. E ainda bem que o fez pois é neste nicho que a banda revela talento evidente na construção de hinos memoráveis com tanto de penoso como de belo. Aos essenciais riffs arrastados e esmagadoramente pesados, juntam-se ambiências sonhadoras de teclados e excertos contemplativos de piano que são muitas vezes elemento chave na música. Fundamentais também são a voz feminina de Anni Viljanen e o rugido tortuoso de Ville Rutanen. A primeira não é propriamente uma performer com qualidades operáticas, mas o seu registo frágil acaba por cativar, brilhando mesmo em temas como “Rise” ou nas fantásticas linhas de “Muse”. Já o vozeirão rosnado de Rutanen (tão grave e desalmado como o sub-woofer Bo Summer, dos Illdisposed), parece emanar de profundezas abissais, sugerindo, contudo, mais introspecção do que propriamente agressão. Mais acessível que «Return of the Black Butterflies», de 2017, este quinto de originais da banda finlandesa fica-se exclusivamente pelos pergaminhos do doom mas é, ainda assim, um trabalho cheio de bons momentos que parecem soar melhor a cada nova audição. [8/10] ERNESTO MARTINS

SOULBURN

«Noa’s D’ark» (Century Media) Há males que chegam por bem. Pelo menos assim o diz o povo e o quarteto holandês bem o pode dizer. «Noa’s D’ark» surge quatro anos depois de um bem recebido «Earthless Pagan Spirit» e com um novo baterista (Mark Verhaar, Graceless) após a saída de Bob Bagchus. Todo ele realizado durante o ano de 2020 e com todos os efeitos e consequências da pandemia «Noa’s D’ark» é um disco demasiado próximo da realidade. É certo que o título pode ser encarado como ironia, humor negro mas, lá no fundo, há uma luz de esperança. Essa mesma esperança que nos segue e persegue e, feitas as contas e desafios, este é o melhor disco de Soulburn. Claro que o som da banda é pautado pela memória de Bathory, contudo Van Geel (Legion of The Damned) e companhia trazem aqui algo de novo. Há por aqui um baixo que nos crepita na mente, cortesia de uma mistura de JB (Dool) e que não deixa o disco ir por aí abaixo, sustentando o que são temas como “Anarchrist” ou “The morgue of hope”. Este não é só um disco de Death Metal e consegue ir mais além principalmente nas esquizófrénica “Anointed - blessed – and born for burning”, com Martin Van Drunen, ou “From archeon into oblivon” a encerrar o disco. «Noa’s D’ark» é um disco pensado e conceptualizado no tempo, tão actual como a história que ironiza e, talvez seja aí que está a beleza de tudo isto, há de facto uma luz ao fundo do túnel. Este é o melhor Soulburn! [8.5/10] NUNO C. LOPES

T HE OCEAN

«Phanerozoic II: Mezosoic: Cenozoic» (Metal Blade) Infelizmente (já) não é muito usual ser surpreendido em novos lançamentos de bandas cujo percurso já vai longo. Contudo, tal como em tudo, há as excepções e é aí que poderemos incluir os The Ocean. Agarrando no conceito iniciado no anterior capítulo, o sexteto volta a baralhar e a voltar a dar as cartas num jogo labiríntico em que o colectivo faz o ouvinte perder-se e encontrarse em temas que se perdem e se encontram numa espiral de texturas, melodias, sentimentos e, com uma mensagem assumidamente humana. «Phanerozoic II...» é desafiante, não se deixa embalar pelo sucesso dos seus antecessores e a banda assume todos os riscos. Não existe uma sonoridade definida para o colectivo, podemos mesmo dizer que, por estes dias, os germânicos são um estranho encontro entre o Progressivo de Steven Wilson e a visceralidade de uns Cult of Luna ou Poison The Well, mas com uma outra identidade e, sobretudo, a maturidade de quem dá os passos certos no percurso correcto. Este é um disco (quase) perfeito e é nestas profundezas oceânicas que o colectivo encontra a imensidão da sua música. Este é, sem dúvida alguma, um dos discos do ano e será sempre, independentemente do ano em que seja escutado. Brilhante! [10/10] NUNO C. LOPES

UADA

«Djinn» (Eisenwald) Desde a sua formação há uns meros seis anos, a evolução artística dos Uada tem sido meteórica. «Cult of a Dying Sun», de 2018, já foi um álbum impressionante, mas este terceiro registo eleva a formação norte-americana a um patamar francamente superior. O black metal melódico com claras referências ao estilo Dissection e, por vezes, Dawn (e.g. “Forestless”), não mudou muito, mas a música apresentada em «Djinn» é mais vistosa e colorida graças ao trabalho de mestre de James Sloan e Jake Superchi, dois guitarristas com créditos firmados numa série de outros colectivos. “Djinn” e “The great mirage”, as

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duas primeiras faixas do disco, superam tudo o que a banda apresentou até aqui. Isto é praticamente heavy metal tradicional com algumas inclinações pontuais para o folk, só que num registo mais extremo. Quem gosta de heavy metal e tolera um pouco mais de peso ficará certamente seduzido pelas melodias e pelos riffs pegajosos que se sucedem nestas duas faixas. Prolongando-se por dez ou mais minutos, “No place here” e “In the absence of matter” (onde se ouve o inconfundível Vincent Price, num sample do filme de 1964 “Mask of the Red Death”), intercalam catadupas recorrentes de blast beats com passagens muito catchy. É possível argumentar que há aqui uma certa repetição excessiva de algumas passagens, mas isso é compensado pela fluência incrível das composições e pelo equilíbrio exemplar entre agressão e melodia. Claramente «Djinn» não tem a pretensão de expandir o léxico do black metal. É apenas um exercício refinado – o melhor até agora! - naquilo que os Uada sabem fazer bem: um festim desenfreado de riffs fantásticos e tornados de blast beats que vale a pena ouvir. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

URFAUST

«Teufelsgeist» (Ván Records) O sexto álbum de originais do duo holandês é comemorado com o lançamento de uma edição especial de gin, resultante da colaboração do baterista VRDRBR com a Hoos London Gin. Tal parece apropriado para aplacar cerca de meia hora de fatigante ruminação ambiental, que acentua os elementos “etéreos” do “Empty Space Meditation” até ao ponto da intolerância. O título do álbum traduz-se em “espírito do diabo” (diabo = teufel; espírito = geist), remetendo o vocábulo “espírito” (não incidentalmente) para a natureza das bebidas alcoólicas destiladas e estados de inebriação a elas associados. A primeira faixa assalta os sentidos com uma cintilante sonoridade de sintetizadores, não indigna de participação num festival como a Eurovisão. Composta essencialmente para teclas e voz, “Offerschaal der Astrologische Mengvormen” continua a vertente mais ambient da banda, marcando um claro desvio em relação à densidade opressiva do prévio trabalho «The Constellatory Practice». Embora esta faceta tenha vindo a ser um dos aspetos mais explorados pela banda, desta vez foi empurrada a um extremo de pungente “luminosidade”, conseguindo mesmo superar o «Celestite» dos Wolves in the Throne Room. Ao longo do álbum, o registo cotinua em modo doom, com a procissão a ser arrastada pela bateria, alternada entre a guitarra baixo e exaustivos efeitos sonoros, sendo a presença da guitarra largamente ignorada. O álbum é fechado com o seu tema mais sombrio, “Het godverlaten leprosarium”, que nada mais é que a revisitação da aura de ritualísmo tenebroso dos Phurpa, já explorada pela banda anteriormente. «Teufelsgeist» revela-se assim um álbum que, para além de não ser minimamente inebriante, é ainda capaz de provocar uma valente ressaca. [3/10] FREDERICO FIGUEIREDO

VENOM OUS CONCEPT

«Politics Versus The Erection» (Season of Mist) 2020 ficará para sempre na memória da Humanidade como um dos mais terríveis do século XXI. No entanto há sempre uma outra face na mesma moeda e, não fosse esta estranheza mundial, talvez este disco não existisse. Neste novo registo que, note-se, tem uma das mais mordazes capas do ano, o supergrupo ataca em todas as frentes com o seu Punk Hardcore Grind e, como é óbvio, outra coisa não se poderia esperar quando se junta a genialidade de Shane Embury e a ferocidade de Kevin Sharp a uma secção rítmica composta por John Cooke e Danny Herrera, que encaixa que nem um «martelo pneumático» nas letras mordazes, satíricas e, porque não dizê-lo, tremendamente actuais. Em pouco mais de trinta minutos o quarteto faz recordar os Black Flag, Poison Idea ou GBH, mas fá-lo com a certeza de que tem o seu cunho pessoal, sem nunca desmantelar o aspecto oldschool da sonoridade. «Politics Versus the Erection» é um disco de época, um daqueles que nos fará lembrar o que tem sido este ano e o futuro que aí vem. Como diriam os Discharge: “Life is like an erection, the more you think about it the harder it gets”. [7/10] NUNO C. LOPES

VOID PARADIGM

«Ultime Pulsation Demain Brûle» (Avantgard Music) Ora aqui está um pedaço de black metal vanguardista bastante interessante, mais um que provém de terras gaulesas. Sendo já o terceiro álbum, «Ultime Pulsation Demain Brûle» surpreende por se compor apenas de duas faixas, “Ultime pulsation” e “Demain brûle”, cujas designações não deixam esconder o lado negro presente nas letras vocalizadas em francês. Em termos musicais, o trio formado por Payan, Théry e Damien reclama-se da música dodecafónica, inserindo assim mais um ingrediente de estranheza sónica a um género já de si “fora dos eixos” como é o black metal. Em boa verdade, porém, o

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vanguardismo dos Void Paradigm não é assim tão bizarro, pois há aqui uma certa dose de controlo que impede estas duas faixas de escaparem para territórios absolutamente tresloucados capazes de fazer qualquer ouvinte perder o norte. O que se passa ao longo quer de “Ultime pulsation” quer de “Demain brûle” (cada uma com quase 20 minutos de duração!) é suficientemente “normal” (tome-se este termo com a devida cautela quando se fala de black metal e de avantgarde…) mesmo para os ouvidos menos habituados. Uma analogia possível é olharmos para a música dos Void Paradigm como uma viagem feita numa terra desconhecida mas da qual temos um GPS que nos vai orientando aqui e ali. Não se trata, pois, daqueles projectos vanguardistas que não só nos deixam sozinhos à noite no meio de uma floresta como nos roubam a bússola ou qualquer outro sistema de orientação. E nisto parece residir talvez a maior virtude dos Void Paradigm, que conseguem em «Ultime Pulsation Demain Brûle» um óptimo disco que orgulha o underground gaulês. [8.5/10] HELDER MENDES

VÖLUR

«Death Cult» (Prophecy Productions) Um álbum de doom metal com uma forte componente folk, embrenhado no espírito de misticismo pagão. A temática baseia-se na obra etnográfica de Tácito, intitulada “Germânia” (sobre as tribos germânicas que habitavam as zonas limítrofes do Império Romano). «Death Cult» é conduzido por linhas serpenteantes de violino, marcadas por uma tonalidade medieval, em contraponto com a grave pulsação da guitarra baixo. O violino desconstrói-se numa multiplicidade de expressões, assumindo o protagonismo usualmente destinado à guitarra. “Freyjan death cult” é uma faixa exemplificativa deste registo, onde o referido instrumento alterna entre cadências tétricas capazes de traduzir uma ambiência mais cinemática, e rasgos eletrizantes que poderiam rivalizar os mais usuais solos de guitarra elétrica. O espírito do álbum é essencialmente pesaroso, enquadrando-se bem no âmbito emotivo do doom metal. As vocais variam entre o “clean singing” e prestações mais guturais, sendo asseguradas, à vez, pelo baixista (Lucas Gadke) e pela violinista (Laura C. Bates). Embora o álbum revele alguma riqueza e habilidade na articulação de influências musicais (desde a música clássica ao free jazz, passando pelos géneros antes mencionados), o resultado revela-se pouco arrojado, com a predominância dada às habilidades da violinista, as quais acabam por ofuscar, em larga medida, a componente mais grave da guitarra baixo. Um projeto ambicioso, mas ainda não totalmente concretizado. [5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

WYRM WOODS

«Gamma» (Inverse Records) Black metal lisérgico na veia de Aborym e Dodheimsgard. O terceiro disco de longa duração do finlandês Nuurag-Vaarn apresenta a frieza dos riffs de black metal, pincelados com laivos psicadélicos e excêntricas passagens de sintetizadores. Uma tendência que, apesar de remeter para a vertente mais avant-garde do universo do metal extremo, não é inteiramente fresca, trilhando territórios já desbravados pelas bandas atrás citadas e sem chegar ao grand guinol de inspirada estranheza de bandas como Sigh. A reptiliana marcialidade da caixa de ritmos denota um certo caráter artificial nos padrões que dispara, apesar de as bruscas combinações destes acabarem por fazer um bom serviço de descoordenação sensorial. As vocais, por sua vez, oscilam entre o registo de black metal e os tons guturais do grindcore. O álbum emana, ao todo, uma hiperatividade experimental, que o torna frenético e remete para uma experiência potencialmente imersiva. Nota-se sobretudo um esforço de individualismo na conjuração de um ambiente que tanto remete para o rock psicadélico/progressivo (numa acepção intoxicada de referências como King Crimson, por exemplo), como para o cariz cavernoso do black metal. Faixas como “Subterrane” são um convite envenenado para vislumbrar a extravagância do pavimento criativo de Nuurag-Vaarn. Um palco em que, patinando na franja do inconsciente, abandonamos o instinto às dimensões onde a razão hesita em entrar. [6/10] FREDERICO FIGUEIREDO

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ARMADA LUSA BASALTO

«Cólera» - EP (BoneSaw Entertainment & Doomed Records) Os Basalto são uma banda oriunda de Viseu e foram a primeira proposta da, acabadinha de criar, Gruesome Records - O segundo álbum da banda, «Doença» será reeditado com nova remistura e remasterização, numa edição limitada a 100 unidades. Bem mas este texto diz respeito a «Cólera», um EP com dois temas… dois singelos temas. Os Basalto, para quem não conhece, deambulam ali pelo Doom/Stoner - muito bem feito, por sinal - com a voz bem cavernosa, sonoridade “crua” mas bem produzida. Segundo António Baptista, “...este EP, basicamente, foi lançado para tentar aproveitar este ano perdido em termos de música ao vivo, sendo um formato novo de entre tudo o que os Basalto já lançaram. Além disso, também conseguimos fazer uma edição em vinil pela primeira vez, que era algo que ainda não tínhamos tido oportunidade.” Apressem-se porque estas edições são limitadas. A quem se interessar pela classificação: são só dois temas e soube a pouco. Agora, há que esperar por novo material, algo que nas palavras de António Baptista já se encontra em andamento - “Neste momento vamos voltar à composição e começar a talhar o próximo álbum, mas nada ainda está decidido.” Resta esperar. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

B OOBY TRAP | PITCH BLACK | B U R IE D A L IV E

«Bastards United» Split-CD (Firecum Records) … e os bastardos uniram-se! Este split CD editado pela Firecum Records conta com três bandas do underground nacional: Booby Trap, Pitch Black e Buried Alive. Há variadíssimos pontos de interesse, desde já salientar que «Bastards United» marca o regresso dos Pitch Black onze depois de «Hate Division» ou os Buried Alive apresentam-se com algumas mudanças na formação. A génese deste lançamento é demonstrar que o underground nacional está ligado através da música. Sendo assim, este split abre com a irreverência agressiva punk dos Booby Trap, algumas vezes deambulando pelo thrash crossover, havendo ainda uma versão dos The Exploited - “Dead Cities”. Banda muito simples e directa mas com uma intensidade que nos deixa quase sem respirar. Os Pitch Black já são bastantes conhecidos nos meandros do underground e nada os define melhor como o título do primeiro álbum: «Thrash Killing Machine». Em «United Bastards» estreiam uma nova formação e só Álvaro Fernandes e Daniel Silva se mantêm desde «Hate Division». Como dito em cima, «Bastards United» marca o regresso aos originais após onze anos de paragem. No entanto, os Pitch Black continuam, como sempre, concisos e directos, são cinco murros no estômago… assim, puro e duro. Sem piedade! A fechar há ainda uma versão dos Dove - “Innocent Birth”. Sejam bem-vindos, rapazes! A terminar o split temos os Buried Alive que também estão de regresso às novas gravações. Isto quer dizer mais Thrash Metal de boa qualidade, mais murros no estômago… ao fim ao cabo, neste split é só levar porrada! Não há cá tempo para intervalos entre combates. Em jeito de conclusão, «Bastards United» cumpre muito bem com a premissa a que se propôs, com a vantagem de contar com o regresso de duas grandes bandas. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

IRONSWORD

«Ironsoword & Return of the Warrior» (Alma Mater Records)

Nada melhor do que terminar o ano com um conjunto bastante variado de Metal Português. E dado que a velhice é um posto, começamos pelos Ironsword. A banda, através da Alma Mater Records, acaba de lançar os dois primeiros álbuns - «Ironsword» e «Return of the Warrior» sob a forma de duplo CD. Considerados por muitos fãs como a verdadeira essência dos Ironsword, esta edição chega-nos com um design renovado e ainda estará disponível em duplo LP. «Ironsword» foi, pois, o início de uma épica viagem desta banda de culto nacional que teve muito recentemente mais uma “batalha” denominada “Servants of Steel”. Sempre com uma ligação estreita a Robert E. Howard (ou HP Lovecraft) os Ironsword respiram metal, fantasia, aço, espadas e batalhas… Os Manowar portugueses… sem ofensa aos Ironsword. Heavy Metal sem muitas merdas, puro, duro e sincero! Já me sinto com vontade de combater Conan - O bárbaro! Absolutamente obrigatório - “If you live by the sword, you die by the sword”. [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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JOÃO VAIRINHOS

«Vénia» - EP (BoneSaw Entertainment & Doomed Records) Deixando um pouco o metal mais puro e duro para darmos uma saltadinha à música ambiente e electrónica. Artistas como o João Vairinhos são os que mais depressa me despertam a atenção. Se tiveram tempo para ouvir o novo álbum dos Inhuman - «Contra» reparam que Vairinhos é o baterista e, no entanto, estou aqui a comentar algo totalmente diferente. «Vénia» é um EP com três temas, que perfazem um total de quase vinte e cinco minutos. O que podem esperar? Música electrónica, antes de mais, por vezes com influências industriais e depois uma mescla de elementos e texturas, que vão desde as “guitar drones” ou sintetizadores. Estes elementos estão distribuídos por várias camadas que ajudam a criar um ambiente, ainda assim, “visualmente” rico e cinematográfico que nos elevam a um qualquer filme distopiano de ficção científica do mestre Kubrick. E eis por que até gostei de «Vénia», não é demasiado electrónico no sentido de estes elementos estarem conjugados de forma a tornarem a música… suave. Digo-vos já que há muito para descobrir de João Vairinhos [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

MISS LAVA

«Doom Machine» (Small Stone) «Doom Machine» será lançado em Janeiro de 2021 e mostra-se, desde já, um digno sucessor de «Sonic Debris». Será, porventura, o trabalho mais conseguido da banda. Deambulando por entre alguns extravagantes e bem groovescos riffs, passando pelo mistério e hipnótico psicadelismo que emana de quase todos os temas, «Doom Machine» é denso, emotivo e fruto da tragédia que se abateu na banda. Devido a este facto, ou não, é muito fácil nos deixarmos absorver e levar pelo conforto e envoltura proporcionado pela música… é estranho. Pena que este lançamento só esteja previsto para o próximo ano, porque seria, certamente, um dos álbuns do ano em Portugal. Estes rapazes já partilharam o palco com Queens of the Stone Age, Slash ou Graveyard, portanto, são já uma certeza no panorama rockeiro em Portugal. A ter muito em conta. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

REVOLUTION WITHIN «Chaos»

(Rastilho Records)

Os Revolution Within são outras das grandes bandas portuguesas que lançaram um novo álbum. «Chaos» é o quarto registo e como sempre… grandes malhas! «Chaos» é o resultado de tempos difíceis e conturbados, por isso, tornou-se um disco muito pessoal. Mantendo a mesma fórmula dos álbuns anteriores e apesar de algumas mudanças de formação entre «Chaos» e «Annihilation», a competência e a fúria não só se mantiveram, como evoluíram e o resultado são nove faixas de puro e potente manifesto ao Thrash Metal. Isto quer dizer, caríssimos leitores e ouvintes, que quando esta fúria e energia puderem ser libertadas, não restará nas salas de concertos deste país, pedra sobre pedra. Os Revolution Within voltaram a trabalhar com Miguel Tereso, isto é sinal que «Chaos» é uma bomba, será, provavelmente, o melhor trabalho da banda, não só em termos musicais como também ao nível da produção. Este disco conta, ainda, com nuestros hermanos Guillermo Izquierdo dos Angelus Apatrida e Juli Bazooka dos Crisix. [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

ZURRAPA

«Lambe-me o CUbo» (Independente)

Os Zurrapa são um trio de Punk ‘n’ Roll de Viseu e este é já o seu quarto álbum de originais… e que originais. «Lambe-me o CUbo» é mais um lançamento independente e como é apanágio da banda, a música é simples, divertida, directa e sem merdas! PUMBA! As letras, sempre em Português, têm uma conotação social e são da autoria do poeta António Fonseca. Os Zurrapa fazem música com gosto e por gosto, são sinceros, mas irreverentes, é impossível não nos divertirmos com estes Visienses e no final é isso que interessa. Se pudermos destacar alguns “hinos” de «Lambe-me o CUbo» estes serão o “tocador de flauta”, o tema bónus “Fica em casa ou levas nos cornos” e a respectiva Intro – “O sangue dji Jêsus tem podÊÊÊÊ”, “Fui às putas com o teu pai” e “Rosa Grilo é inocente”. [7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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Image credit: Columbia Records

ALBUM

VERSUS A C/DC

«Power Up» (Sony Music Entertainment)

Os problemas de audição de Brian Johnson, o seu afastamento do grupo e o desaparecimento do mentor Malcolm Young, eram factos, mais do que suficientes, para nos fazer acreditar que não voltaríamos a ver os AC/DC juntos, ou em plena forma. Estávamos completamente enganados. Sem grandes avisos, começam a surgir os primeiros rumores e sem demoras o mundo fica a saber que Brian Johnson está de volta à banda, assim como Cliff Williams e Phil Rudd. O lançamento do primeiro single “Shot In The Dark” prometeu uns AC/DC em excelente forma, iguais a eles próprios, a oferecerem exactamente aquilo que o mundo precisava de ouvir: rock ‘n roll feito com toda a atitude que lhes poderíamos pedir. Apesar de tudo isto, acredito que uma vez mais, vai ser inevitável ouvirem-se comentários sobre continuarem a fazer música igual à que sempre fizeram, ou até, que este disco não traz qualquer novidade. Mas a verdade é que para além de os AC/DC disponibilizarem aqui, algo que qualquer fã do grupo deseja, que é precisamente música tal e qual eles sempre foram implacáveis a criar, ainda foram perspicazes ao ponto de introduzirem pormenores com cheiro a novo. Reparem bem na subtiliza do lead de guitarra nos primeiros versos de “Realize”, ou da também subtil mudança de timbre momentânea de Brian Johnson em “Rejection”. Mas claro, a imagem de marca está mais do que presente e este não seria um bom disco de AC/DC se não nos deixasse ficar com alguns riffs e refrões colados no cérebro. O primeiro single de avanço, muito bem escolhido, é um excelente exemplo disso e a sequência “Through The Mists Of Time” / “Kick You When You Are Down” é de bradar aos infernos. Neste PWR UP há muitos bons momentos que vão ligar à corrente milhares e milhares de rockeiros, desencadeando entusiasmantes sessões de air guitar, saltos de braços no ar em plena sala de estar ou momentos a abanar o capacete ao volante, enquanto não for possível receber a descarga de energia suprema que será a próxima oportunidade de ver estes senhores subirem a um palco diante dos nossos olhos.

[9/10] EMANUEL RORIZ

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Confinamentos e Vacinas! Por: Nuno Lopes

Começa a chegar ao fim o ano que, para sempre ficará preso nas nossas memórias! Será um alívio chegar a um final de um ano que não traz muito de positivo para ser recordado e, serão muito poucas as memórias individuais que iremos guardar, contudo, agora que podemos, talvez, olhar para o 2021 com uma esperança redobrada do regresso à normalidade, é preciso lembrar o que fica deste ano. Se por um lado este foi um ano, praticamente sabático no que diz respeito a eventos, concertos ou festas. Por outro assistiu-se ao que pode ser chamada de «Revolta das Causas», com muitos momentos de contestação e outros de uma desmesurada consternação, poderemos dizer, ainda assim, que 2020 foi um ano de excessos. George Floyd foi o rosto daquilo que já se sabe há muito, que a violência racial é uma realidade que, nos EUA assume uma realidade tão quotidiana como beber água. Graças a essa morte pareceu ter existido um despertar Global para esse flagelo que é o racismo e a xenofobia, contudo, também se deve salientar que isso sempre aconteceu e, desta feita com o empolamento das Redes Sociais e fruto do confinamento atingiu (ainda bem) um maior número de apoiantes de uma causa que, nem deveria existir em pleno séc. XXI. O racismo e a xenofobia há muito deveriam ter sido erradicados, mas enfim, se por cá o Senhor Ventura consegue ter a atenção dos media e, ao mesmo tempo, de um público ignorante, é plausível que a morte de Floyd (RIP) tenha sido vã. Veremos. Num ano atípico encontraram-se novos rostos «atirados às feras», e é impossível não pensar em nomes como Graça Fonseca, Graça Freitas ou Marta Temido. Se no primeiro caso a critica foi feroz e fez sentido, dado que a Senhora Ministra rebentou com a Cultura em Portugal, já nos outros pareceu ter existido uma critica fácil, o gozo fácil e, principalmente um desligamento de alguém que, como todos nós, enfrentava o mesmo inimigo desconhecido. Se erros possam ter ocorrido podem, muito bem, não ter sido causados pela Ministra da Saúde ou pela Directora da DGS. Nunca saberemos e a história falará por si. Falando de música e músicos, este que foi um ano (praticamente) para esquecer fica, ainda assim a perseverança de músicos, promotores e resistentes que, com todas as dificuldades lutaram uma batalha desigual e, ainda sobreviveram. Mais do que (talvez!) nunca, sentiu-se um ar diferente, em especial na comunidade Rock/Metal. Quem sabe até quando dura esta paz, pois aos primeiros concertos confirmados lá vieram os «suspeitos do costume» destilar o «choradinho» de sempre e com os mesmos argumentos que, sinceramente, já poucos têm paciência para ouvir. Esperamos um 2021 com um regresso à normalidade, ou algo que se assemelhe mais. E aí, saúda-se as confirmações de eventos que vão regressar, concertos que vão acontecer e outros que, talvez nem por isso. Cá estaremos para ver mas os sinais positivos. Num 2020 sem grandes acontecimentos, ficam as causas, as memórias, os confinamentos e, acima de tudo a esperança que carregamos a cada dia da nossa vida. Em 2021 cá estaremos para mais 12 meses que, como novidade vão ter uma vacina e, muitos outros momentos que vamos levar para 2022. Até lá e como diziam os Monthy Phyton: Always Look at the Bright Side of Life»!

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Um grande “vai-te foder”! «Holy Moly!» é mais um “comprimido” de rock‘n’roll e blues que garante umas boas horas de boa disposição. Elin Larsson é uma “Proud Woman”, irreverente, dona de uma soberba simpatia e dotada de uma voz “dourada”. A Versus esteve à conversa sobre o lançamento do novo álbum. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro| Fotos: Patric Ullaeus

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Antes de mais, espero que esteja tudo bem convosco e com a vossa família e amigos. Tudo bem, obrigado. Em Junho o álbum «Holy Moly!» foi adiado, estando agora confirmado o seu lançamento daqui a umas semanas. Qual a vossa espectativa relativamente à reacção por parte das pessoas? Elin - Bem, não sei (risos). Espero que gostem dele. Eu ouvi o álbum e é bastante bom. Obrigado. Este trabalho tem onze músicas e está organizado quase como o lado rápido e o lado mais lento. O que é que nos podes dizer desta dicotomia, isto é, o porquê desta escolha? Não sei. Fizemos as track lists e foi a forma que gostámos mais. É bom no inico ter as músicas mais upbeats. Por exemplo para mim a música «Song From a Morning Dove» é bastante pesada, embora pareça uma balada. O mesmo se aplica à «Bye Bye Birdy». Houve alterações desde o «Lady in Gold», nomeadamente ao nível do lineup da banda. Esta foi consequência das dificuldades na banda nestes últimos 4 anos ou sentiram que era altura de fazer estas alterações? Tivemos algumas dificuldades depois do «Lady in Gold». Sentimos algum cansaço que culminou com a saída do Dorian Sorriaux. Como cada um de nós estava a trabalhar em projectos paralelos, sentimos que era importante, com este álbum, mostrarmos que não estávamos dependentes de ninguém, como produtores, estúdios, membros da banda. Basicamente desde 2011 tenho sido eu e o Zach a compor e a escrever as músicas, e isso não mudou. Creio que somos melhores compositores e sentimos que nos álbuns anteriores havia uma falta de força na sua composição. Este álbum é como um grande “vai-te foder” para quem não acreditava.

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Fico extremamente orgulhosa de ser comparada com ela, mas não seria capaz de levar isso muito a sério. [...] Agradeço, mas não me posso comparar com essas mulheres a esse nível.


Naturalmente uma das grandes alterações foi a saída do Dorian. Porque decidiram não manter o Zach no baixo? Creio que não quisemos procurar outro guitarrista e a verdade é foi sempre o Zach a criar todos os riffs. Como te disse, desde o início fui eu e o Zach a criar as músicas, o Dorian fazia os solos porque é um grande solista, mas creio que o Zach precisava de ter mais confiança e acabou por aprender, durante as gravações, a tocar a guitarra principal. Como foi a adaptação do Kristoffer à banda? Muito boa, ele é frontal, algo que gosto muito. Já era nosso amigo, o que ajuda para quando andarmos em digressão. É importante contar, para além de um bom instrumentista, com a disponibilidade a dedicação e ele, felizmente, é ambos. Neste terceiro álbum a banda já regressou às origens, como quando te referes ao som cru, rock ‘n roll e blues. Porquê este retorno ao passado e não manter uma abordagem mais moderna mantendo ainda assim a vossa identidade? Creio que este também é moderno. Fomos influenciados tanto pelos «Black Keys» e «White Stripes», como também mesmo pelos «No doubt» e «Artic Monkeys». Creio que não colocámos fonteiras relativamente a um espaço no tempo e deixámo-nos influenciar por tudo, desde o country ao jazz, hard rock, metal, punk e mesmo pop. O álbum foi gravado digitalmente e foi produzido pelo Andrew Scheps que também lhe dá um toque mais moderno. Este álbum começa com uma música forte «A Proud Women», que é também o primeiro single. Esta música é uma afirmação, correcto? Sim, é o quiseres que seja (risos). Claro que somos feministas e todos acreditamos na igualdade de género em todas as áreas. Não

foi para gerar polémica, é o que sempre sentimos. É interessante que se tenha tornado tão político, porque temos uma música que se chama «Devil Man» e tem uma parte que diz “you soul is gonna burn, you got what you deserve” e as pessoas desataram a insultar. Depois temos «A Proud Women» onde digo “I am not the only one” e a pessoas ficaram incomodadas... É interessante. Pensas que no metal, assim como na música rock, ainda há o estigma de uma banda ser liderada por uma mulher? Sim, e somos bem mais escrutinados. Já tive várias situações em não me senti confortável. E quando era mais nova e mais ingénua achava que as pessoas só queriam ajudar. Este conceito de uma banda liderada por uma mulher faz sentido para os Blues Pills? Não. É uma banda de rock, apenas isso. Passando para a música que deixou pasmado, a «Califórnia», podes nos dizer algo sobre esta música? É uma música de amor. Todos passámos por uma depressão neste hiato desde «Lady in Gold» e falando por mim pessoalmente, quando estamos no ponto mais baixo, lembramo-nos dos tempos felizes e como esta banda foi criada na Califórnia, por mim e pelo Zach, é uma música a lembrar esses tempos. A razão pela qual adorei esta música, é porque sou um grande fã da Janis Joplin e, acabei por vos comparar. Como te sentes quando te fazem esta comparação? Chateia-te? Sentes que tens mais responsabilidade? Como te faz sentir? Fico extremamente orgulhosa de ser comparada com ela, mas não seria capaz de levar isso muito a sério. Ela, como a Aretha Franklin, foi um ícone. Mas falamos dos anos 60, uma altura em que os homens

[...] sentimos que era importante, com este álbum, mostrarmos que não estávamos dependentes de ninguém, como produtores, estúdios, membros da banda.

dominavam. Agradeço, mas não me posso comparar com essas mulheres a esse nível. Na minha opinião quanto mais tristes e negros os tempos mais fácil é de compor músicas. Concordas? Sim, de certeza. Tiveram tempo para construírem o vosso estúdio com material analógico. Quão analógico é este álbum? Ele é digital, mas tem vários inputs análogos que passaram pela gravação em fita e depois para a mesa de mistura, mas provavelmente sou a pessoa errada para falar do nosso equipamento (risos), mas sim, começámos a sua construção em 2014 e terminámos em 2018. Este álbum foi escrito por ti, pelo Zach e pelo André. Qual foi o contributo do Kristoffer para as músicas? Nenhum. Ele nem toca no álbum. Ele era para ter ido em digressão connosco. Quem toca o baixo no álbum é o Zach. Muito obrigado pelo teu tempo e espero vos ver brevemente em Portugal Muito obrigado.

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A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

Depois de vos ter contado a história de como o heavy metal chegou até mim, nos tempos em que se desconhecia o streaming ou até o download ilegal, vou voltar novamente atrás no tempo e relembrar o primeiro encontro com obras que deixaram marcas até aos dias de hoje.

Foi demasiado alarmante quando nos falaram que o Marilyn Manson dizia palavrões nas músicas dele. Na capa do CD vinha até um autocolanteaviso por causa disso!! Se o objectivo era prevenir, apenas acabou por nos aumentar a curiosidade. O disco Mechanical Animals chegou ao mundo, ou ao Planeta Terra, estávamos nós na transição entre a infância e juventude. Acho que senti o perigo de pôr o disco a rodar e à segunda música já estava com náuseas. De certeza que não o ouvi de uma ponta à outra na primeira audição. Isto era música “pesada”. No entanto, visto aos dias de hoje, a verdade é que este é um disco de rock sereno na sua maioria, falando da música em si. As palavras e a imagem acabam por ser mais inquietantes que a sonoridade. Depois da fase sociopolítica e da transformação em super-estrela, este foi o seu período sex, drugs & rock ‘n roll. Odiado por muitos, adorado por outros tantos, estes últimos podiam defendê-lo dizendo que a sua arte era um reflexo da sociedade em que se movimentava. Faz-me pensar que se o Marylin Manson tivesse nascido no Alto Minho, este disco poderia versar sobre Bitches & Green Wine. Ou se vagueasse pela Cidade Berço, para lá das Taipas, podia bem ter ficado com a fama de um bruxo de Fafe. Não serão as linhas do refrão de «Coma White» um momento didático? A meu ver podiam estar numa qualquer campanha contra o consumo de estupefacientes. Os temas controversos mostraram ser bons aliados do seu processo de criativo, pois foi com essa base que compôs os hits e discos mais marcantes. Pensando sobre isso, alguns álbuns depois, o homem lá começou com a escrita de histórias de amor e isso parece têlo atirado para o banco de trás da sua carreira. Mais uma vez, se por cá andasse, até diria que o mestre Quim Barreiros se tinha inspirado em Manson para a escrita do refrão de «Erva do Campo». Mechanical Animals é muitas vezes referenciado nessas listas dos melhores 50 ou 100 melhores álbuns da década, de rock, dos mais influentes, etc. Com todo o mérito. Para quem se achar com estômago, esta é uma viagem que pode valer bem a pena. Caution!!!: Pode causar náusea, enjoo, tonturas…

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Playlist Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Derek Sherinian-The Phoenix Death Stranding - OST Enslaved - Utgard

Thundermother - Heat Wave Oz - Forced Commandments Marenna Meister - Out Of Reach Artic Rain - The One Bon Jovi - Keep The Faith

Carlos Filipe Old Mother Hell - Lord Of Demise Lik - Misanthropic Breed Gotthard - Steve Lee - The Eyes Of A Tiger - A Gotthard tribute to our unforgotten friend! Bruce Dickinson - Scream for me Sarajevo Bill McClintock youtube mashups Zombi(feat. Steve Moore) - 2020

João Paulo Madaleno

Cristina Sá

Helder Mendes

Décembre Noir – The Renaissance of Hope Insomnium – Heart Like a Grave Mayhem – De Mysteriis Dom Sathanas Mors Principium Est – Seven Uada – Djinn

The Gathering - How To Measure A Planet? Vallenfyre - Fear Those Who Fear Him Khemmis - Hunted Enslaved - Utgard Black Sabbath - Black Sabbath

Eduardo Ramalhadeiro

Hugo Melo

Amorphis - Under the Red Cloud AC/DC - Power Up Cinderella - Heartbreak Station Witherfall - Time I Pain of Salvation - Panther

Mors Principium Est - Seven Devin Townsend - Order of Magnitude (Empath Live Volume 1) Pharmakeia - Pharmakeia Accuser - Accuser Endezzma - The Archer, Fjord and the Thunder

Emanuel Roriz Napalm Death - Throes Of Joy In the Jaws Of Defeatismm Deftones - Ohms ACDC - Power Up Cripled Black Phoenix - Ellengaest Incantation - Sect of file divinities

Swallon the Sun - Hope Mors Principium Est - Seven Allegaeon - Elements Of The Infinite Airbag - A Day at the Beach Benediction - Scriptures

Ivo Broncas Lamb of God - Lamb Of God Deftones - Ohms Machine Head - Through the ashes of empires Mr Bungle: The Raging Wrath Of The Easter Bunny Demo

Ernesto Martins

Nuno Lopes

Profanity - Fragments of Solace AC/DC - Power Up Fates Warning - Long Day Good Night Rick Wakeman - The Red Planet

UADA - Djinn Arroganz - Morsus The Ocean - Phanerozoic II - Mezonic Cenozoic Obsidian Kingdom - Meat Machine Necrophobic - Dawn of The Damned

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Progresso arrojado 46 / VERSUS MAGAZINE


Em 2017 os Wobbler lançaram «From Silence to Somewhere», um dos melhores álbuns desse ano, no que diz respeito à música progressiva. Agora, em 2020 lançaram «Dwellers of the Deep» um dos melhores álbuns no que diz respeito à música progressiva. Estão a ver aqui um padrão? Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Karisma Records

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Eu entrevistei-vos em 2017 aquando do lançamento da «From Silence to Somewhere» e nesse ano foi votado um dos melhores álbuns. Achas que este novo álbum irá superar o anterior? Andreas - Pessoalmente sinto que «Dwellers of the Deep» é um álbum mais coerente e, relativamente à produção, foi do melhor que fizemos até hoje. Em ambos os álbuns a escrita e composição dos temas é muito forte e diferentes temas têm diferentes qualidades. Então, é difícil de os comparar e colocá-los frente a frente. Mas como agora temos uma maior audiência, acredito que este novo álbum irá atingir mais pessoas rapidamente Uma vez mais vocês lançaram um álbum com poucos temas somente quatro - e quarenta e cinco minutos. Qual a razão deste (arrojado) hábito de lançarem poucos temas?

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Andreas - Tem muito haver como o tempo disponibilizado no disco de vinil. Simplesmente não há muito mais espaço, a não ser que façamos um álbum-duplo. Também não pensamos muito em termos do tamanho dos temas, elas como que se revelam no processo criativo. Alguns temas precisam de ser mais longos para que se encontre a sua conclusão e outras são encurtadas. Nós somos cinco músicos criativos e experimentamos muitas ideias. Se essas ideias forem boas e relevantes, então, o tema ficará mais longo. Kristian - Também poderíamos dizer que há mais músicas escondidas dentro dessas quatro composições. A mais longa contém várias partes que davam, por si só, músicas mais curtas. Embora sejamos defensores de um certo desenvolvimento nas nossas músicas, algo que leva tempo, de início, e na maioria dos casos, não partimos do princípio de que vamos

compor músicas longas. As músicas têm de se desenvolver até à sua conclusão, independentemente da sua duração. Martin - O que acontece, acontece. Creio que acabou por se ter tornado um hábito bem como parte do ADN da banda. Seria interessante, no futuro, compor músicas mais curtas. Eu gosto muito das faixas mais lentas de «Rites at Dawn». Musicalmente falando, este «Dwellers of the Deep» é continuação ou uma evolução dos álbuns anteriores? O que é que fizeram de diferente de um álbum para o outro? Andreas - Acredito que, em «Dwellers...», encontras quer continuidade quer progresso. As dinâmicas estão mais arrojadas, embora os Wobbler sempre tenham sido uma banda dinâmica. A fluidez das músicas é mais natural e flui melhor de secção para secção,


Pessoalmente sinto que «Dwellers of the Deep» é um álbum mais coerente e, relativamente à produção, foi do melhor que fizemos até hoje. Andreas

para além das nossas letras serem mais maduras. Kristian - Todas as músicas dos Wobbler representam uma face da nossa arte de compor existente num dado momento, portanto, haverá sempre evolução. Nós damos o nosso melhor para compor algo que seja interessante para nós. Isto não significa que exista uma regra para a forma como devemos soar no futuro. Um dia podemos surgir com material que apenas nós consideramos que tem valor e os nossos fãs, não. Martin - Acho que o processo criativo de «Dwellers...» é baseada, ao contrário do «From Silence to Somewhere», nas jams, pelo menos a «Merry Macabre», cujo processo criativo foi muito divertido. As letras são uma parte importante de todo o universo musical de Wobbler. No último álbum, tentaram investigar

a metamorfose, a alquimia, o crescimento individual num nível psicológico, etc., e um pouco disso começou em «Rites at Dawn». Em «Dwellers of the Deep», as letras seguem o mesmo conceito das anteriores? Andreas - A maioria dos temas subjacentes começou em «Rites...» e foram desenvolvidos e contrastados em «Silence...». A investigação continua, mas a perspectiva ou o ponto de vista, desta vez, é mais pessoal e introspectivo. Enquanto «Rites...» tem um tom mais optimista e aventureiro, «Silence...» invoca mudanças, alquimia e metamorfose e batalhas de Dwellers e incorpora os lados ocultos e sombrios da psique. Os três álbuns utilizam as ferramentas da fenomenologia hermenêutica lírica e tematicamente e, de certa forma, é tudo um esforço humano muito perceptivo.

Mais uma vez, as ilustrações são fabulosas, mas desta vez foi feito pelo Athanasius Kircher. Por que escolheram outro artista para este álbum? Como é que as ilustrações se relacionam com a música? Andreas - Enquanto fazia pesquisas para os temas e para as letras, também estive envolvido na concepção de alguns esboços de uma possível capa. Gosto de tentar visualizar o que estou a trabalhar, de descobrir mais peças no quebracabeça e, realmente, colocá-lo sob minha pele. Quando encontrei esta velha gravura, sabia que tinha encontrado ouro e só precisava de alguns ajustes para se encaixar perfeitamente. A imagem foi tirada do tratado “Mundus Subterraneus” de Athanasius Kircher, de 1665, e retrata todos os corpos d’água da Terra ligados por canais subterrâneos. O tema lírico do álbum é o que está dentro de nós humanos na forma de sentimentos, instintos e do desconhecido. O

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mundo subterrâneo físico de Kircher serve como uma metáfora para o que há de mais profundo em nós como seres humanos. A bela imagem na parte interior foi tirada por um velho fã e fotógrafo de Wobbler, Dvir Barkay, e ficou mais do que feliz por queremos usá-la. Estou muito feliz pela forma como a capa e a a parte interior transmitem a mesma sensação. É um pouco micro/macro do mesmo tema. Junto com Kristian e o designer gráfico Thomas Kaldhol, que também nos ajudou com a arte da capa de «Silence...», o produto final foi bem conseguido, e acho que é nossa melhor capa até agora. Kristian - Eu acho que todos nós sentimos que cada álbum deveria representar um novo sabor de Wobbler. Alguns elementos tendem a ter uma essência semelhante porque somos quem somos, mas em cada álbum tentamos alcançar outros aspectos do nosso universo musical. Portanto, também faz sentido ter uma nova capa.

A imagem foi tirada do tratado “Mundus Subterraneus” de Athanasius Kircher, de 1665, e retrata todos os corpos d’água da Terra ligados por canais subterrâneos. Andreas

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Podemos verificar no site de Wobbler que este álbum foi gravado entre 2013 e 2019. Por que precisaram de seis anos para compô-lo? Então, se estavam a trabalhar em «Dwellers of the Deep» desde 2013, esse processo sobrepõese à criação de «From Silence to Somewhere» que foi lançado em 2017. Podemos interpretar isto desta forma? Lars - A estrutura principal do «By the Banks» foi feita em 2011 e deixada sozinha para «fermentar» até por volta de 2017. Penso que trabalhamos o resto das músicas entre 2016 e 2018. O álbum foi gravado e misturado entre Junho de 2019 e Julho de 2020. Kristian - «By the Banks» foi parcialmente composto em 2011. As restantes músicas foram compostas entre 2017 e 2019. «Naiad Dreams» foi elaborado em Maio de 2020. Portanto, a maioria das músicas são relativamente


novas. O momento tem que ser certo e penso que o Lars pegou, novamente, em «By the Banks» porque sentiu que combinava com o resto das músicas de «Dwellers...». A vossa música é muito parecida com o rock progressivo dos anos 70, assim como toda a produção. Vocês usam algum equipamento analógico? Lars - Todos os instrumentos são vintage e analógicos, sem samples, etc., como sempre. O que tu ouves é real, não há nenhuma imitação barata de um Chamberlin, de mellotron, de cravo ou de piano de cauda. Muito do trabalho é feito apenas para deixá-los prontos para gravar. No Youtube, vê os vídeos do “making of”, onde podes conferir alguns dos “desafios” deste equipamento antigo. Martin - Com certeza! Tal como acontece com os teclados, não há samples na bateria. Também não há equipamento digital na guitarra e no baixo. Para além daquele som maravilhoso do Hammond, gosto especialmente da harmonia das vozes. Seguiram alguma influência em particular para produzir o álbum dessa forma? Andreas - Quando ouvi «By the Banks» pela primeira vez, foi praticamente todo instrumental. Tinha presente aqueles lindos momentos de música folk escandinava em muitas das melodias tocadas pelos instrumentos. Fiquei muito inspirado por esta sonoridade e, por isso, tentei incorporá-la nas harmonias vocais. Também era importante para mim que o que gravei fosse algo que devíamos ser capazes de reproduzir ao vivo. Portanto, são basicamente três partes de harmonias nas diferentes secções e músicas. Quando sou criativo não sigo nenhum livro de regras ou fórmula. Em vez de apenas registar uma harmonia de três partes mais ou menos padrão, tento descobrir a melhor forma de materializar o

sentimento ou emoção que está a acontecer. Às vezes, é um vocal ou um sussurro. Outras vezes, é cheio de barbershop-style ou algo parecido com uma obra coral barroca. O trabalho que fiz em «By the Banks» criou a base para o que estava para vir, já que foi a primeira música que comecei a trabalhar e gravar adequadamente. Quanto à inspiração, as influências são muitas para falar, mas o mais importante é descobrir o que a música realmente precisa, como fazer acontecer e fazê-la com o teu cunho pessoal. Kristian - O Andreas é um vocalista muito talentoso e parte de forma como se expressa é fazer harmonias vocais complexas. Ele é influenciado por toda a história musical, da música antiga ao rock moderno, bem como jazz e música coral contemporânea. Mas, antes de mais nada, a abordagem vocal, incluindo a harmonia, em cada música é o Andreas tentando alinhar as letras com a música. As músicas são produzidas por ti, toda a banda e Lars. Porquê da opção por esse tipo de abordagem? Andreas - Ao longo dos anos, Lars misturou e produziu todos os álbuns do Wobbler, ainda que recebendo muitos comentários e sugestões do resto da banda. Mais uma vez, fez um trabalho fantástico gravando, produzindo e misturando o álbum como um todo. No entanto, todos nós também contribuímos para as diferentes etapas do processo e, talvez, mais do que nos álbuns anteriores. Mas antes, todas as faixas vocais do Marius, Åsa e minhas foram gravadas no meu retiro: Vilthagen Studios. A música “Naiad Dreams”, com excepção dos teclados, também foi tocada lá. Normalmente, vou ao estúdio do Lars para fazer os retoques finais, mas desta vez uma praga “trocou-nos as voltas”. Foi muito Decaemronesco: Fomos enviando novelas uns para os outros como

se fossem histórias de frente de batalha. Era agora ou nunca e isso tornou-nos mais resilientes, versáteis e de certa forma mais co-produzidos. Mas Lars ainda faz todos aqueles ajustes que demoram “tempos infinitos” a fazer e que são as fundações para estrutura principal. Martin - É importante que todos tenham algo a dizer sobre o som do Wobbler. Isso conecta-nos como um grupo e, assim, é mais fácil para todos investir tempo e esforço na banda. Lars - Andy produziu “Naiad Dreams”, o resto foi produzido por mim no meu estúdio. Foi uma situação especial por causa do COVID-19, mas os arquivos foram compartilhados e todos contribuíram e opinaram sobre tudo, desde níveis de mistura até aos vários elementos nas músicas. Em que estado está o teu projecto paralelo, The Chronicles of Father Robin? Já lançaram a caixa? Andreas - Está tudo gravado e está a ser misturado! Mas a vida, com suas reviravoltas desafiadoras, aconteceu, como aconteceu várias vezes com este projecto. O tipo que deveria estar a misturar está doente há algum tempo. Só podemos esperar pela sua rápida recuperação e que, em breve, possamos concluir a colectânea e apresentá-la ao mundo. Depois de trabalhar nisto durante 25 anos, provavelmente, devemos fazer isso acontecer em breve… Esperamos que em 2021 seja lançado o primeiro single, seguindo-se a caixa. Actualmente, o foco principal está em Wobbler e «Dwellers of the Deep». Estamos maravilhados com a boa recepção que recebemos. Desta vez, parece que também conseguimos capturar o interesse dos fãs mais jovens, o que é uma notícia muito boa para todo a música progressiva. Facebook Youtube

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Melhores do Ano Carlos Filipe

Emanuel Roriz

Helder Mendes

Internacionais

Internacionais

Internacionais

My Dying Bride - The Ghost Of Orion Lik - Misanthropic Breed Master Boot Record - Floppy Disk Overdrive Paradise Lost - Obsidian Carach Angren - Franckensteina Strataemontanus

Kvelertak - Splid Anaal Nathrakh - Endarkenment Napalm Death - Throes of joy in the jaws of defeatism Deftones - Ohms AC/DC - Power Up

Igorrr - Spirituality and Distortion Paradise Lost - Obsidian Enslaved - Utgard Vredehammer - Viperous Oranssi Pazuzu - Mestarin Kynsi

Nacionais

Nacionais Gaerea - Limbo Thrashwall - Thrashwall Attick Demons - Daytime Stories, Nightmare tales

Gaerea - Limbo Irae - Lurking in the depths Earth Drive - Helix Nebula

Ironsword - Servants Of Steel Gaerea - Limbo

Cristina Sá Internacionais Crimson Moon – Mors Vincit Omnia Denial of God – The Shapeless Mass Forgotten God – Nihilistic Estrangement Old Forest – Back Into the Old Forest Thy Catadalque – Naiv Uada – Djinn

Nacionais

Ernesto Martins Internacionais Grave Circles - Tome II Igorrr - Spirituality and Distortion Oranssi Pazuzu - Mestarin Kynsi Mekong Delta - Tales of a Future Past Panzerfaust - The Suns of Perdition Chapter II: Render Unto Eden

Nacionais

João Paulo Madaleno Internacionais Black Crown Initiate - Violent Portraits of Doomed Escape Mekong Delta - Tales of a Future Past Mors Principium Est - Seven Descend - The Deviant Welicoruss - Siberian Heathen Horde

Nacionais Earth Drive - Helix Nebula Gaerea - Limbo Ironsword - Servants of Steel

Gaerea – Limbo Irae – Lurcking in the Depths A Forest of Dreams – Sacrum Terram

Nacionais

Eduardo Ramalhadeiro

Gabriel Sousa

Nuno Lopes

Internacionais

Internacionais

Internacionais

Pain of Salvation - Panther Sepultura - Quadra AC DC - Power Up Wobbler - Dwellers of the Deep Mekong Delta - Tales of a Future Past

Marenna Meister - Out Of Reach H.E.A.T. - II Thundermother - Heat Waves Biff Bifford - School Of Hard Knocks Ayreon - Transitus

Nacionais

Nacionais

The Ocean - Phanerozoic II - Mesozoic/ Cenozoic Sepultura - Quadra Igorrr - Spirituality and Distortion Body Count - Carnivore Paradise Lost - Obsidian

Gaerea - Limbo Inhuman - Contra Ironsword - Servants Of Steel

Attick Demons - Daytime Stories... Nightmare Tales Wanderer - Awakening Force Reverent Tales - Visceral

Emanuel Leite Jr.

Inhuman - Contra Gaerea – Limbo

NacionaisGaerea - Limbo Inhuman - Contra Earth Drive - Helix Nebula

Internacionais Sepultura - Quadra My Dying Bride - The Ghost of Orion Paradise Lost - Obsidian Pallbearer - Forgotten Days Sólstafir - Endless Twilight of Codependent Love 5 5 / VERSUS MAGAZINE


Possessão Jake Superchi, mentor dos Uada, aponta este conceito como o tema central do último álbum da banda americana, que reflete sobre a sociedade em que vive através do seu Black Metal cheio de melodia. Entrevista: CSA

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Saudações, Jake! Espero que estejam todos bem. É a segunda vez que entrevisto Uada. Da outra vez “falámos” de «Cult of a Dying Sun», o vosso segundo álbum, de que gostei muito. Como foi recebido pela imprensa e pelos fãs? Jake – A reação ao nosso segundo álbum pareceu-nos boa. A imprensa falou bastante dele e isso ajudounos a ganhar fãs em todo o mundo. Fizeram muitos concertos para promover esse álbum? De facto, fizemos muitos concertos para esse álbum e tantas digressões quantas foi possível fazer. Calculo que fizemos entre 250 a 300 concertos nos últimos dois anos. É estranho pensar nisso, sobretudo em 2020. E agora temos «Djinn» prestes a ser lançado. Este álbum está relacionado com os génios da cultura árabe? Sim, embora eu acredite que se trata apenas de uma outra designação dada às entidades a quem chamamos anjos e demónios na cultura ocidental. Penso que, sendo nós uma banda americana, é interessante termos usado a palavra “Djinn”, que, numa versão romantizada mais tardia (“genie”), designava entidades que tinham o poder de conceder desejos. Tive muitas experiências com fenómenos que não consigo explicar que incluem o facto de alguns desejos serem atendidos imediatamente e outros demorarem bastante tempo a concretizar-se. Não sei dizer se foram de facto djinn que intervieram na minha existência para me ajudar a travar algumas batalhas, mas a ideia atrai-me. É claro que isto podia também ser uma forma superior do “eu” ou então trata-se de entes que vivem num mundo paralelo ao nosso e que gostam de interagir connosco ocasionalmente. Sejam lá eles quem forem, sinto-me feliz pela sua presença, orientação e dons. Esses djinn são bons. Malévolos, as

duas coisas em simultâneo? Tal como os humanos, não são bem uma coisa, nem bem a outra. É claro que alguns podem ser uma coisa ou a outra, mas foram sempre descritos como não sendo nem bons, nem maus. Partindo deste princípio, queríamos captar essa essência no nosso álbum. Portanto, em termos musicais, procurámos estabelecer o equilíbrio entre um som que evoca a bondade e um som que evoca a malevolência, ou pelo menos tentámos. No entanto, eu penso que este álbum, tal como o anterior, mantém um equilíbrio entre a luz e as trevas. Quem teve a ideia central deste álbum? E quem escreveu as letras para as canções? Que temas tratam? E quem compôs a música? Sou eu que concebo os conceitos, temas e letras de todos os álbuns. Como as minhas letras são muito pessoais e espelham uma experiência que eu vivi, têm de ser coesas e consistentes. A música em todos os álbuns é composta por mim e pelo James. Enquanto eu escrevo as estruturas, a base e a maioria dos riffs, o James encarrega-se de tudo o que diz respeito à lead guitar e aos seus solos. Também compõe riffs. Trabalhamos muito bem juntos, porque ele compreende perfeitamente quais são os nossos objetivos e do que queremos transmitir através da nossa

música. A composição é algo que me dá muito prazer e tenho uma longa experiência nessa área, que desempenha um papel muito importante na fluência e no estilo da música. O tema central das letras das canções é a possessão em todas as suas formas: física, metafísica, espiritual, emocional, social, material, etc. Como estamos numa fase da nossa carreira em que esta praticamente nos possui, decidi focar-me no que estava a acontecer à minha volta e no que possui os humanos, de forma consciente ou subconsciente. Tenho vivido uma boa parte da minha vida afastado da sociedade e das pessoas em geral, portanto os últimos seis anos têm sido muito interessantes e, com esta expedição lírica, queria aprofundar a reflexão sobre tudo isso. Muitos desses temas são coisas que eu nunca tinha pensado em abordar nos meus escritos, mas era tão pouco habitual uma banda de Black Metal americana escrever sobre a sociedade americana em vez de apresentar as habituais letras anticlericais que não resisti à tentação. Afinal era isso que estávamos a viver, quando procurávamos encontrar o ponto certo para a nossa secção rítmica e não conseguíamos chegar lá, porque tudo se tornava declaradamente político e enfadonho. Sempre fui um indivíduo de mente aberta e a

[…] a palavra “Djinn” […], numa versão romantizada mais tardia (“genie”), designava entidades que tinham

o poder de conceder desejos. […] foram sempre

descritos como não sendo nem bons, nem maus.

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favor de ouvir os outros, de discutir as coisas, de aprender sobre vários temas, mas aqui no noroeste do Pacífico (e na maior parte da América) parece que aqueles que se querem mostrar mais puros do que os outros estão apenas a tentar esconder algo. Quando começas a viver com pessoas num autocarro que roda pelas estradas, depressa ficas a conhecê-las por dentro e por fora e a perceber onde querem chegar. Infelizmente, a coisa resume-se à ideia de que, se não és a meu favor, estás contra mim, e, se não quiseres alinhar por esse padrão, passas a ser o inimigo. É fascinante de um certo ponto de vista e triste de outro. E, menos de um ano depois de essas letras terem sido escritas, estamos a ver tudo isso a acontecer nas nossas ruas e perante os nossos próprios olhos. A primeira vez que vi no Facebook a canção que tem o mesmo título que o álbum, chamou-me logo a atenção e fiquei à espera da oportunidade de vos entrevistar também pelo vosso lançamento. Por que escolheram esta faixa para apresentar o vosso álbum? [Na verdade, permite a quem a ouve ficar com uma imagem precisa do álbum.] Bem, parece-me que a faixa de abertura (com o mesmo título do álbum) é a mais polarizadora de todo o álbum. É muito diferente do que lançámos anteriormente (embora semelhante em alguns aspetos). Pareceu-nos que a introdução à canção e ao álbum apanharia as pessoas desprevenidas. Embora haja outras partes do álbum que produziriam o mesmo efeito, esta pareceu-nos melhor. Também tivemos em conta a letra da canção. Contém um apelo que teria produzido menos efeito, se não a tivéssemos usado. São apresentados como uma banda de Black Metal. Mas a vossa música parece estar cheia de luz… uma luz ESCURA criada pela conjugação da voz áspera e das guitarras melódicas. Pode-

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se dizer que esta é a imagem de marca de Uada? Parece-me uma maneira bem precisa de descrever a nossa música. Sempre adorei o contraste entre a luz e as trevas, sobretudo tendo em conta o mito de Lucifer, o que traz a luz, que as religiões abraâmicas teimam em considerar como o “senhor das trevas”. Às vezes, as aparências iludem e frequentemente são o oposto do que nos ensinaram. A escuridão é algo que está mal interpretado na nossa sociedade e que eu exploro profundamente na minha vida, porque sou essencialmente uma criatura noturna. Sempre gravitei em torno da noite, porque é calma e tranquila e estimula a minha mente. Aliás, se pensarmos bem, constatamos que é dela que sai toda a vida. Os nossos primeiros movimentos surgiram na escuridão, as raízes de tudo que cresce no solo estão mergulhadas na escuridão. O que é escondido das nossas mentes pode tornar-se muito poderoso, quando nos é revelado. Portanto, penso que a escuridão pode ser algo belo, apesar de muitos terem feito dela uma coisa feia. Pessoalmente, gosto de explorar este contraste na música que componho. Acredito que gera uma força emocional mais forte do que quando nos limitamos a focar-nos em sentimentos como a ira e o ódio. É preferível incorporarmos na nossa música a melancolia, a esperança, o deslumbramento, o desespero, a mania, etc. Talvez nos tenhamos apenas cansado rapidamente ou temos gostos ecléticos no que diz respeito à música, mas eu não consigo imaginar-me a focar-me apenas num tipo de som ou emoção e não sair daí. Sentir-me-ia desonesto, porque, na vida real, sou uma pessoa cheia de altos e baixos. Devo dizer que, quando vi o single no Facebook, fui imediatamente atraída pelas belas cores e pela arte e reconheci o estilo bem característico de Kris Verwimp. - Como negociaram com ele para obter esta arte maravilhosa para

o vosso novo álbum? Quando penso no conceito para um álbum, forma-se sempre uma representação visual na minha mente. Vejo-a em imagens ou animação. A arte do álbum contém sempre uma narrativa adequada ao tema e ao conceito/mensagem global do álbum. Portanto, quando chega a altura de o Kris começar a produzir a sua arte, eu limito-me a anotar por escrito a ideia que tenho na cabeça e depois deixo-o criar a sua própria visão a partir daí. Se, por acaso, as coisas não estão alinhadas com o que eu quero ou é preciso fazer algum ajustamento, falo com ele durante as sessões de esboço, mas geralmente o que o Kris apresenta está muito acima e muito além das nossas expetativas. - As tonalidades azuis que predominam têm algum significado especial? No início, não havia nenhum plano elaborado, mas, quando ficou pronto a combinar com a fotografia da banda, apercebemo-nos de quão americana é a aparência da imagem. Vermelho, branco e azul. Se reparares nos djinn de cada lado da figura informe, notarás a polaridade do vermelho e do azul, assim como a gerada pelo facto de estas figuras serem diferentes representando opostos/oposições. - O que esperas que os fãs que apreciam o artwork nos álbuns vejam nesta capa? A ausência de medo de sermos nós próprios num mundo que nos exige que sejamos tudo menos isso. Alguém que deseja chamar e acordar os seus demónios para os enfrentar de cara levantada antes de passar para uma nova dimensão ou reino, tal como a simbologia anteriormente referida. Os humanos são todos iguais, só não querem admiti-lo. Focam-se no que torna alguém diferente e exploram essas pequenas diferenças para se sentirem mais importantes ou melhores. Embora devamos cortar as amarras quando as ações começam a causar estragos, eu sinto que muitos humanos o fazem antes de poderem ver a reação dos outros, porque são muito rápidos


Portanto, em termos musicais, procurámos estabelecer o equilíbrio entre um som que evoca a bondade e um som que evoca a malevolência, ou pelo menos tentámos.

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a encontrar um inimigo. Pode ser um penteado, a cor da pele, um problema na fala, um gosto em arte, etc. No fim de contas, são todos iguais, mas são incapazes que compreender que o julgamento que fazem sobre outros vai recair sobre eles pouco depois. Mas não vale a pena referires isto no meu país, porque aqui há muita gente mentalmente incapaz de aceitar a crítica (mesmo que seja positiva) e preferem ganhar uma medalha de ginástica mental a fazer alguma introspeção e combater as suas próprias falhas ou, como já referi, os seus demónios. - O Kris fez capas para outros álbuns vossos? Sim. Já trabalho com o Kris Verwimp há muitos anos, há mais de 16, para ser preciso. Ele tem feito muito trabalho para numerosos projetos meus e fez as capas todas para Uada até agora. Tornei-me um grande fã dele, quando vi o trabalho que fez para os primeiros álbuns de Absu, Marduk, Enthroned e Moonblood (entre outros) nos anos 90. Foi isso que me levou a começar a trabalhar com ele em 2004. O seu estilo foi sempre tenebroso, mas épico e nunca fugiu da cor. Penso que a tradicional foto a preto e branco na capa de um álbum de Black Metal está muito bem, mas provavelmente já está muito vista. Compreendo por que razão as bandas enveredam por esse caminho e pensam que essa escolha se adequa perfeitamente à sua estética. No entanto, eu sentir-meia preguiçoso e pouco inspirado, se seguisse essa linha e também quero que a arte conte a sua própria história. Quero que as capas dos meus álbuns inspirem outros do mesmo modo que eu fui inspirado pelos primeiros trabalhos do Kris e que também os transportem para outro mundo. Quanto mais não seja, que desviem a sua atenção da miséria que reina neste mundo, nem que seja apenas por um momento. E agora têm um grande problema para enfrentar e resolver:

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a impossibilidade de fazer concertos para apresentar o vosso novo álbum. - Pensaram em fazer concertos em streaming pagos ou grátis como outras bandas já fizeram desde que a crise gerada pela pandemia começou? Tínhamos feito planos que queríamos pôr em ação depois de lançarmos este álbum (pré-COVID), mas, devido a estas circunstâncias, tivemos de os pôr de parte. O nosso guitarrista principal, o James, viaja sempre para a Colômbia, na América do Sul, para passar algum tempo com a mulher entre digressões. Está na Colômbia, desde o início do confinamento, impedido de voltar de voltar aos EUA depois do bloqueio das viagens internacionais. O nosso baixista Nate regressou à Pensilvânia, no outro lado do país, para se sentir a salvo até podermos retomar as atividades. Embora isso nos impeça em absoluto de ensaiar ou de fazer concertos em streaming, há muitas outras coisas que podemos fazer nos bastidores agora. Há certos aspetos que desaceleraram, mas abriram-se outras oportunidades de criação mesmo nestas circunstâncias. - A Eisenwald propôs à banda um plano para promover este álbum? Estamos a fazer tudo e o que quer que seja que possamos fazer para o promover o melhor que pudermos. Embora o live stream pareça ser o novo “normal” ou a nova tendência, sabemos que não é o mesmo que um concerto. Contudo, quando o tempo certo chegar, também faremos coisas dessa natureza. Mas agora estamos a dar a conhecer o álbum de outras formas artísticas. Parece estar tudo a correr bem até agora e, aconteça o que acontecer, continuaremos a promovê-lo. Se pudessem vir a Portugal e tocar com bandas nacionais, quem escolheriam? Sou fã dos Moonspell há muito tempo, desde os anos 90, e seria fantástico poder um dia partilhar o palco com eles. Quando penso em Metal português, Moonspell

O tema central das letras das canções é a possessão em todas as suas formas: física, metafísica, espiritual, emocional, social, material, etc.

é o primeiro nome que me vem à cabeça. «Irreligious» pareceume um álbum fantástico, quando o descobri lá por 96/97, e desde então tenho gostado de quase todos os seus trabalhos e já assisti a vários concertos deles. Outra banda portuguesa com quem gostaria de partilhar o palco é Corpus Christii. Penso que os nossos estilos se complementariam muito bem e que juntos faríamos um concerto explosivo. Se pudéssemos tocar com as duas na mesma ocasião, seria algo verdadeiramente especial para o público. Três bandas com um espetro bem largo, mas que combinam bem. Querem deixar alguma mensagem especial aos vossos fãs portugueses? Queremos agradecer aos nossos apoiantes em Portugal. Ainda não visitamos o vosso país, mas temos tentado encontrar uma boa ocasião para o fazer. Quando esta pandemia tiver acabado, esperamos poder tocar na vossa pátria. Até lá, sejam prudentes, mantenham-se fiéis ao Metal e, sobretudo, continuem a sentir-se assombrados.

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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

Cansei-me

Agora sim cansei-me de de falar do sistema e do que nos abala. O poder não quer mudar, e ninguém quer o segundo lugar Vou-te contar uma estória de um rapazinho que usava botas feias e duras nos seus pés, porque tinha os pés tortos. Vou-te contar a estória de uns pais que faziam das suas tripas coração para que o seu filho ficasse bem, mesmo que durante o mês não houvesse dinheiro para passear. Lá em casa tinhamos sempre de comer e uma família à mesa, sem T. V. a ouvir as estórias de seu pai e sua mãe. Um rapazinho rebelde que nem sempre ía à escola e que mesmo assim passou sempre. Um rapazinho que olhava à sua volta e escrevia sátiras, fazendo os outros meninos e meninas rir e aplaudir com alegria estampada no rosto. Um rapazinho que chamava atenção principalmente as raparigas bonitas quando achava que elas estavam mal. Um rapazinho que também foi vítima da brutalidade infantil, como todos éramos devido à pouca capacidade natural da idade inocente. No fundo é a estória de um rapazinho que já naquele tempo por vezes preferia brincar sozinho, porque o que lhe rodava lhe parecia estranho. Um rapazinho que cresceu e que cada vez mais tudo lhe parece um absurdo por falta de cuidado e bondade. A estória de um rapazinho que anseia encontrar alguém com o mesmo registo, nem que isso seja a última coisa que faça na vida. Sim. É a estória de alguém que te procura. - olá 61 / VERSUS MAGAZINE


ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

O cinema tradicional, aquele que é mostrado numa qualquer sala escura a que apelidamos de “sala de cinema”, com um enorme pano branco de forma rectangular, onde é projectado um filme em celuloide para um público que se desloca, para ver aquele filme que acabou de estrear ou simplesmente ir ao cinema, aquele cinema que existe há mais de 100 anos, e que na base continua o mesmo desde aquele dia em que passou o primeiro filme comercial “L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat” no cinema Eden em La Ciotat no remoto ano de 1899, este cinema, está em perigo com o desafio global provocado pela pandemia que enfrentamos hoje. Sim, o cinema tradicional também poderá vir a ser uma vítima a longo prazo do COVID-19. A industria cinematográfica tem sido no mundo das artes, e não fosse esta considerada “a Sétima Arte”, um veiculo motor de evolução no campo do som e da imagem, tendo conseguido adaptar-se à sua própria evolução e à revolução em seu redor – como a televisão ou o Vídeo – tendo conseguido escapar sempre à morte anunciada – Quantas vezes eu ouvi isto? O cinema tal como o conhecemos hoje, faz filmes para serem mostrados ao grande público numa sala de cinema, tentando com a sua imaginação e sonho, que vende, atrair o maior números de pessoas às salas, e assim, conseguir o expoente máximo do seu objectivo primordial, que arte á parte é e sempre será de ressarcir os seus investidores. Assim tem sido desde o início até aos dias de hoje. Por exemplo, quando um filme cheira a fracasso, nem sequer sai em cinema e passa directamente ao vídeo é o chamado “direct to Video”, desqualificando e expurgando o objecto filme do seu valor intrínseco. Alias, no lançamento de um filme, o sucesso ou fracasso é medido com as entradas pagas pelos espectadores nas primeiras 2-4 semanas de exibição, sendo este axioma um dos pilares mais fortes da estreia em sala. Tudo se joga ou se perde aqui, na exibição física. Assim, foi com naturalidade que do cinema mudo passamos ao sonoro, do preto e branco ao a cores, do som mono ao stereo e posteriormente ao som Dolby digital 5.1, 7.1, ATMOS; dos efeitos visuais físicos aos efeitos digitais, os famosos CGI (Computer Generated Images), do 2D ao 3D, e a sua evolução 4DX, e mais recentemente o aparecimento das plataformas de streaming, para assim acrescentar mais um veiculo comercial de exploração de um filme. E como já referi no seio da música, o streaming é um veiculo poderosíssimo no meio do audiovisual actual, que até da pirataria digital dá cabo, funcionando como um autêntico vírus global que aniquila todo e qualquer sistema tradicional, quer hoje o de música, quer amanhã o de cinema de sala. Enquanto a música já está numa fase bastante avançada na utilização do suporte streaming, o cinema só recentemente começou a entrar a sério com a chegada dos novos players, como a Amazon Prime ou a HBO – A razão pelo qual o TVSeries desapareceu dos TVCines - mas sobretudo a Netflix, que tem feito uma aposta enorme em oferecer conteúdos cinematográficos para além das clássicas séries que estiveram na génese do surgimento destes novos estúdios de conteúdos, pois são isso mesmo, estúdios tradicionais com controlo total

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O cinema tradicional e os tempos modernos da distribuição com o streaming. É verdade que o aparecimento destes players tem constituído uma lufada de ar fresco no panorama audiovisual, pois dão a oportunidade a filmes e séries de terem luz verde e assim oportunidade de serem produzidos sem as mesmas exigências financeiras que o clássico, em que nos estúdios de cinema tradicional nunca na vida teriam oportunidade. O problema vem quando esses mesmos estúdios tradicionais começam a olhar para o streaming como uma oportunidade de mudarem as regras do jogo e ganharem mais dinheiro com o seu produto – Vulgo filme - eliminando o poderoso homem do meio que é o dono da sala de cinema, a distribuição clássica, que tem grandes custos associados, quer com a distribuição, quer com publicidade e marketing. É aqui que a “porca torce o rabo” ou o busílis da questão, pois pode significar em meia dúzia de anos o fim da experiência cinematográfica tal como o conhecemos. O “ir ao cinema” é um dos actos mais sociáveis que temos hoje em dia. Quem não gosta de sair para ir ao cinema ver um filme com a família ou amigos e comer umas pipocas. Eu confesso que na última década pouco ou nada fui ao cinema. Pensando um pouco, acho que fui duas vezes, uma pela questão de socialização que referi - até acabamos por ver um filme qualquer - e outra porque não podia deixar escapar o último filme do Rambo, e lá fui marcar o ponto num dia de semana depois do trabalho. Afinal, dos Rambos só falhei o primeiro no cinema. Alias, foi interessante do ponto de vista técnico do cinema de hoje versus o de ontem, pois verifiquei que, ao nível da experiência, nada mudou na projecção dos filmes. Nem me apercebi se o que estava a ser projectado era em pelicula ou digital – Era digital, evidentemente – e pude comparar a experiência com as minha idas ao cinema dos anos 90 e 2000. A verdade é que o cinema de sala em si não evoluiu, o contraste da imagem continua desregulada, as cores esbatidas e o som estridente, muito ao invés do cinema em casa que passou de uma resolução miserável de 240 linhas (do VHS) para as 3840 linhas do 4K e do som Stereo Surround dos 90 para o Dolby Atmos de hoje, levando a que em casa temos uma experiencia cinematográfica muito superior ao nível da imagem e do som – se estivermos equipados para tal! O único elemento técnico que continua imbatível é o tamanho da imagem, e é aqui que a magia do cinema nos arrebata em todo o esplendor e faz esquecer aquilo aos aspectos negativos. O que achei um grande retrocesso na experiencia, foram o tempo que estive à seca antes do filme começar, a partir da hora anunciada – foram 20 minutos! – e o facto de haver intervalo. O intervalo está como o outro mas os 20 minutos de publicidade é que são desnecessários. O COVID-19 veio baralhar as cartas e acelerar o streaming no cinema em detrimento do cinema tradicional. Os confinamentos e lotação limitada dos espaços foram um travão de mão que os estúdios grandes puxaram com toda a força para adiarem a saída dos seus filmes, pois estes vivem das receitas das primeiras semanas, e sem publico para ir ao cinema, todas projecções de bilheteira vão falhar e o sucesso do filme fica comprometido logo à partida. É assim que a estreia do novo “007 – No time to die” tem sido sucessivamente adiada e outros filmes estão há espera de como a evolução desta pandemia irá evoluir nos

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

próximos meses. Tal como muitos eventos da música, muitos filmes dos grandes estúdios estão a ser adiados para 2021. É assim que aparece o streaming. A Disney já tem a sua plataforma, Disney+, a Warner Brothers têm a HBO Max e outra virão com certeza para a FOX e a Paramont. O próximo “Matrix 4” e remake de “Dune” irão estrear em exclusivo nestas plataformas de streaming. Os estúdios ainda tentam estar nos dois lados da barricada, como a Warner. O novo “Mulher-Maravilha 1984” irá estrear simultaneamente em sala e em streaming, penso, mais como uma experiencia comercial mais do que outra coisa. E aqui é que está o cerne da questão. Os estúdios estão nas tintas para qual o meio de distribuição que utilizam, eles querem é maximizar os proveitos, e o meio audiovisual que o conseguir assegurar sairá vencedor, reduzindo o outro a uma mera insignificância. Se o business model do streaming funcionar sobre o cinema de sala, já estou a ver este último a ficar como ficou o vinil para a música ou irá ficar o som do motor a combustão interna para o eléctrico e a caixa manual para as CVTs e DCTs no mundo automóvel: Um item nostálgico. Para já, a aposta de estrear “Tenet” de Christopher Nolan em plena crise de COVID-19 não funcionou e as receitas mundiais foram modestas onde numa situação normal seriam monumentais. E qual é o business case? É criar um serviço premium de aluguer de filmes que acabam de estrear – Não esquecer que o aluguer tradicional só é possível 90 dias depois da estreia – por XX euros sobre a subscrição. O exemplo que tenho é da Disney+ que pensa cobrar $30 pelo aluguer de um filme de estreia, o que se for para ver em família até fica barato mas se formos ver sozinhos é bem mais caro – referencia do custo de bilhete nos Estates, $20 – Obrigado Woody! Feitas as contas de merceeiro, com 50% dos abonados da Disney+ a alugarem este filme daria $900 milhões contra uma projecção de $250 Milhões de uma saída em sala, ou seja, renderia 3x mais com custos de distribuição praticamente nulos. Uma coisa é certa, tudo isto será gradual e está subjacente a inúmeras variáveis. Vamos ver como ficará o negócio do cinema depois desta pandemia passar(Mas quando?) e qual o resultado da utilização da plataforma de streaming sobre o cinema tradicional. Poderá ser um game changer ou no final tudo ficar na mesma e isto não passará de uma experiencia - Não me parece. As coisas já estão a mudar. Há filmes que não consigo ver pelos meios habituais (excluindo a clássica pirataria) a não ser se subscrever essas plataforma de streaming, tal como ainda não vi “Roma” ou o “The Irishman” e estes não irão sequer passar nos canais habituais que subscrevo ou do pacote do cabo. Uma coisa é certa, se o streaming for bem sucedido, preparem-se para abrir mais um bocado os cordões à bolsa para subscrever essas coisas todas que já temos hoje em dia no audiovisual, alias, como já todos nós o fazemos em praticamente tudo hoje em dia, tudo é economia, tudo é negócio.

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Guerras religiosas É este o tema global dos dois últimos álbuns da banda islandesa que já entrevistámos várias vezes e que deixa sempre uma impressão memorável. Entrevista: CSA

Saudações, Stefan! Aqui temos mais uma narrativa musical de Arstidir Lifsins. Stefan – Saudações e obrigado por esta entrevista. Podes explicar-nos de que forma este álbum está relacionado com o seu predecessor no que diz respeito à história que narra? E como criaste as letras para ele? [Suponho que usaste elementos da poesia nórdica arcaica.] «Saga á tveim tungum», o título comum aos dois álbuns significa “uma história contada em duas línguas”. Os dois álbuns contam duas histórias de ficção diferentes baseadas em acontecimentos históricos. De um modo geral, os dois álbuns estão ligados à história contada nos nossos álbuns anteriores. Depois do fratricídio com que termina o nosso álbum «Aldafoðr ok munka dróttinn», a mulher de um dos dois irmãos e os seus dois filhos fogem para a Noruega num barco. Este afunda-se, a mãe afoga-se e os irmãos são separados. O irmão quase se afoga também, mas é salvo por um dos barcos do rei cristão e santo Óláfr Haraldsson (995-1030). É criado com o pessoal do rei e convertese ao Cristianismo. Depois de uma derrota numa batalha no leste da Suécia, o rei tem de fugir para o Rús. Depressa regressa à Noruega e acaba por morrer na batalha de Stiklastaðir – perto da atual Trondheim

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– em 1030. O protagonista do primeiro álbum também morre nessa ocasião. A segunda parte conta a história da sua irmã. Esta sobrevive ao naufrágio e cresce num ambiente maioritariamente não cristão no vale de Guðbrandsdalr, na Noruega. As tensões políticas e religiosas da época atingiram essa região e ela tem de fugir. Antes disso, já tinha descoberto que o irmão estava vivo e decide ir procura-lo. A fugir dos sequazes do rei, vagueia na floresta selvagem. O seu objetivo era aproximar-se do local da batalha de Stiklastaðir. Aí acaba por encontrar o irmão, que morre nos seus braços. «Vápn ok viðr», o título da primeira parte, pode ser traduzido por “arma e madeira”. “Madeira”, ou “árvore”, é a palavra usada na poesia escáldica scaldic para designar o guerreiro que é “cortado” e morto no fim da sua vida violenta. Uma vez que o primeiro álbum trata da vida de um miles christianus, um seguidor do rei Óláfr, pareceu-nos apropriado usar este título simples, mas igualmente violento. O título da segunda parte – «Eigi fjoll né firðir» – significa “nem montanhas, nem fiordes” e é algo mais complexo. Tanto com o título principal como com o título do segundo álbum, queríamos chamar a atenção para as mudanças sociais e religiosas referidas nas letras: a longa cristianização da Noruega nos séculos X e XI, motivada por razões políticas. Nem montanhas, nem fiordes,


os locais onde as pessoas viviam, são simbolicamente poupados por essas alterações. O caráter rural da sociedade norueguesa do século XI é um dos principais elementos presentes nos textos. Visto que este álbum se refere sobretudo ao interior da Noruega, enquanto o primeiro se passava na zona marítima, pareceu-nos importante mostrar isso no título. De um modo geral, desde o nosso primeiro álbum, temos usado muito os poemas escáldicos e edaicos nas nossas letras. Devido à orientação cristã de «Vápn ok viðr», usámos sinónimos (heiti) e paráfrases (kennings) tirados da língua nórdica cristã arcaica e poemas escáldicos e descrições correspondentes do famoso corpus de sagas vernaculares dos reis da Escandinávia medieval. Em «Eigi fjoll né firðir», usámos sobretudo poesia e paráfrases pagãs, que deram origem à poesia edaica e escáldica e estão profundamente enraizadas no pensamento mitológico da sociedade escandinava (pré-cristã) daquele tempo. Isto também confere ao álbum um certo ar religioso de pré-cristianismo. Há alguma relação entre estes álbuns e a tua investigação? Não, não há nenhuma relação imediata entre a investigação que estou a fazer atualmente e os conceitos e letras dos nossos álbuns. Como estão os dois álbuns relacionados a nível musical? Tal como acontece com os textos, a música de ambos os álbuns está relacionada. No entanto, pretende-se sobretudo que contrastem um com o outro. Podemos referir como exemplo a primeira canção: em «Vápn ok viðr», começa com um áspero riff de (Black) Metal. A letra da canção refere- se à experiência de quase morte por afogamento do protagonista. Inversamente, a primeira canção de «Eigi fjoll né firðir» começa de forma muito calma e pacífica e fala do nascimento de um potro, que aparece de novo no fim do álbum, fechando o ciclo. Podes explicar-nos a runa que aparece na capa do álbum? A inscrição rúnica na capa de «Eigi fjoll né firðir» reflete parte das letras. É uma praga em nórdico arcaico – «Leiðisk lofða stríði landáss, þann er vé grandar.» – que se pode traduzir em Inglês por «May Þórr the land-god be angered at this foe, the defiler of his holy place» [«Que May Þórr, o deus da terra, se vire contra este inimigo, o profanador deste lugar sagrado.»]. Faz parte do Lausavísur 28 do famoso Egils saga Skallagrímssonar. A praga é atribuída à protagonista feminina e rogada ao já referido rei norueguês Óláfr Haraldsson. Há partes em que a música e os sons ambientes me lembram os álbuns épicos de Bathory. [Estou a pensar concretamente na segunda faixa do álbum.] O que pensas desta afirmação?

É evidente que os álbuns icónicos de Bathory – «Hammerheart», «Blood Fire Death» e «Twilight of the Gods» – me influenciaram. Por conseguinte, não é de admirar que se encontrem traços da sua música na nossa música. Mas, tendo em conta a segunda faixa do nosso álbum mais recente, eu pensaria antes na versão atual de Ulver em álbuns como «Shadows of the Sun». A voz do Marsel é sempre profunda e dramática. Podes falar-nos da importância deste elemento no novo álbum de Arstidir Lifsins? A voz do Marsel foi sempre uma parte importante dos nossos lançamentos e continua a sê-lo. Já no nosso segundo álbum – «Vápna lækjar eldr» – começámos a integrar nas canções partes destinadas a fazer ouvir a sua voz de narrador. Esta característica continua a estar presente no nosso mais recente álbum e também condicionou a forma como eu escrevo partes das letras. Como foi a reação a «Saga I»? Esperam uma reação similar para este álbum? A reação ao nosso álbum anterior foi muito entusiástica e, do que pude ver nas críticas recentes, este novo álbum está a suscitar uma reação semelhante. Estou muito feliz por ambos os álbuns estarem a ser igualmente bem recebidos, tanto mais que o seu conteúdo musical (e também o lírico) muda drasticamente de umas canções para as outras. Enquanto «Vápn ok viðr» tem um tom mais brutal e metaleiro, «Eigi fjoll né firðir» é bem mais calmo e provavelmente mais exigente. Mas a atmosfera global é a mesma em ambos os álbuns e é assim que devem ser vistos. E vão fazer uma trilogia dando-nos um «Saga III»? Não. Como o próprio nome sugere («Saga á tveim tungum» significa “[uma] história [contada] em duas línguas”), apenas previmos fazer dois álbuns. Nestes tempos de pandemia que estamos a viver o facto de a vossa música ser uma espécie de espécie de espetáculo dramático acaba por ser uma espécie de bónus, não é? Os ouvintes podem vê-la assim, mas não é essa a intenção da banda. Queres deixar uma mensagem especial relativa a este lançamento? Obrigado pela entrevista. A Ván Records lançou recentemente um split intitulado «Aldrnari», de Árstíðir Lífsins com Carpe Noctem, uma banda islandesa de Black Metal. Na minha humilde opinião, ambas as bandas criaram canções muito intensas e bem escritas, com uma duração superior a 20 minutos. Sugiro que ouçam também «Aldrnari». Facebook Youtube

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End of Mankind Inspirando-se na obra pictórica de Pierre Soulages, os franceses End of Mankind lançaram «Antérieur à la Lumière», onde procuram exprimir a ideia de que das trevas mais negras sai sempre alguma luz. Mas não se trata propriamente de uma mensagem de esperança! Entrevista: CSA

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Saudações! Espero que estejam todos bem. End of Mankind é uma banda recente formada em 2015 a partir de uma outra banda. - Podes falar-nos um pouco desse processo de reencarnação? Goulax – End of Mankind é uma banda de Black Metal oriunda de Paris e formada em 2015 por cinco pessoas vindas de universos diferentes. O espetro das influências da banda é muito alargado. Podemos dizer que nos situamos algures entre os Ramones e Dissection, passando por Tribulation e Alcest. Fui contactado por Thorgon e Sagoth, que tinham o objetivo de reconstituir uma banda francesa dos anos 90 chamada Eternal Majesty, para fazer uma série de concertos. Pediram-me para tocar a segunda guitarra para eles nessas datas. Afinal, o projeto não se pôde concretizar, mas os dois irmãos Sagoth e Thorgon estavam muito motivados para voltar a fazer Black Metal e pusemo-nos logo a compor música dessa natureza. Quatro meses mais tarde, já tínhamos escrito o nosso primeiro EP e, nessa altura, recrutámos o Anxiferath para ser o nosso vocalista. Um mês depois, já tínhamos aprontado «Faith Recoil»! Foi um período bastante intenso, em que tudo aconteceu muito depressa. Para completar a equipa, o Sagoth e o Thorgon propuseram ao Nesh (Azziard, Nydvind, The Negation) para se juntar ao nosso projeto. - O que aconteceu de particularmente interessante durante estes 5 anos de vida? A banda compôs um primeiro EP intitulado «Faith Recoil», que saiu em 2016, e um split em cassete com Katacombes, em 2017. O primeiro álbum da banda, intitulado «Facem Diaboli», foi lançado a 8 de novembro de 2019 pelas Maleficarum Records e Mallevs Records em CD e em versão cassete apenas pela Mallevs Records. Atualmente, estamos a preparar o lançamento do nosso segundo álbum de estúdio – «Antérieur à la Lumière» – que

É em grande parte a ele [Volodia, o baterista] que se deve esta efervescência criativa que nos levou a escrever um álbum inteiro em tão pouco tempo.

sairá no dia 20 de novembro pela Vomit Records e pela Mallevs Records e em cassete pela Delusive Production. Em 5 anos, a formação da banda sofreu várias alterações. O Volodia juntou-se a nós em novembro de 2019, substituindo o Thorgon na bateria. A sua chegada deu origem a uma verdadeira osmose, uma vez que ele começou logo a participar ativamente na composição. É em grande parte a ele que se deve esta efervescência criativa que nos levou a escrever um álbum inteiro em tão pouco tempo. Recentemente, acolhemos o Gasha, que substitui o Sagoth no baixo. A sua chegada foi oficializada com a foto promocional de «Antérieur à la Lumière», publicada no passado mês de outubro. São ambos músicos experientes e confiamos plenamente na sua competência! Esta mudança de formação permitiu-nos insuflar uma nova dinâmica na composição e na escrita. A banda só existe há 5 anos, mas os trabalhos multiplicam-se. Já vão no vosso segundo álbum, que estava pronto para ser gravado 7 meses depois do primeiro. Como aconteceu uma tal proeza? 2020 tem sido realmente um ano muito especial… No que diz respeito ao nosso segundo

álbum, começámos a gravar em fevereiro de 2020, trabalhando a partir de 4 maquetes que já tínhamos composto na altura em que saiu «Faciem Diaboli». Mas, em meados de março, o confinamento generalizado imposto em França bloqueou-nos. Nessa altura, a nossa ideia era lançar um split de 4 títulos com uma banda grega. Como se tornou muito complicado levar a cabo essa ideia, o projeto acabou por não se concretizar. Mas como já estávamos lançados no processo de composição e o confinamento nos deixou com muito tempo disponível, acelerámos o ritmo e, em breve, tínhamos escrito uma dúzia de faixas. Selecionámos 9, que aperfeiçoámos cada um em sua casa. Seguiu-se uma fase de préprodução completa do álbum e, 10 dias depois de o confinamento ter terminado, voltámos a confinarnos durante 1 mês com o Étienne Sarthou no Hemlig Studio, em Saint Ouen, para gravar «Antérieur à la Lumière». Eu diria que «Antérieur à la Lumière» é uma espécie de deslumbramento, visto ter sido composto e gravado num lapso de tempo muito curto. No entanto, nada foi deixado ao acaso. Trata-se de uma evolução deliberada e de uma abordagem mais atmosférica, até mais etérea, que se manifesta

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O bode, animal que simboliza o poder da génese, a força vital e a fecundidade, aqui representado por um fragmento de crânio desenterrado, assinala o fim da jornada da humanidade em direção à agonia. 7 0 / VERSUS MAGAZINE


nas nossas composições. É claro que tudo isso aparece a par de intensas passagens de Black Metal mais clássicas e épicas., animadas por blast beats. O título deste segundo álbum não surpreende, se o associarmos à obra pictórica de Pierre Soulages. De facto, para esse novo álbum, procurámos criar uma unidade estética que ligasse as composições entre si. Pareceu-nos interessante pôr em música o paralelo entre as suas criações artísticas e a natureza do Homem. Mesmo na escuridão profunda é possível encontrar zonas de luz. Foi o que tentámos exprimir através deste álbum. Daí o contraste entre uma certa violência cega e uma doçura contemplativa que se pode ouvir nas várias faixas, à imagem e semelhança da dualidade proposta na obra de Pierre Soulages e associada ao seu conceito de “outrenoir” [“para além do negro”]. A ideia de transpor este conceito para a esfera humana veio-me à cabeça, quando fui ver uma exposição ao museu do Louvre destinada a comemorar os 100 anos desse artista. Fiquei impressionado pela luminosidade que emergia do negro tão intenso da sua obra. - Quem vos fez esta capa tão bela e tão sinistra? Pedimos ajuda a um amigo nosso, que é fotógrafo: Enzo Lucia. Produz clichés fotográficos em placas de vidro segundo um processo que data de há 150 anos atrás. Portanto, trabalhámos com ele para encontrar o objeto que mais se adequasse à temática do álbum. O bode, animal que simboliza o poder da génese, a força vital e a fecundidade, aqui representado por um fragmento de crânio desenterrado, assinala o fim da jornada da humanidade em direção à agonia. - Como escolheram os temas para as canções? Estão relacionados com os quadros de Soulages? A canção “Outrenoir” está obviamente associada à obra de Soulages. Mas é sobretudo na literatura

que vamos procurar as temáticas abordadas por EOM. Por exemplo, para «Faciem Diaboli», o nosso álbum anterior, foi na obra de Jean Teulé intitulada “Je, François Villon” que tomámos conhecimento da existência das “reclusas” na Idade Média, essas mulheres que eram enclausuradas em pequenos cubículos à entrada das cidades e dos cemitérios, impossibilitadas de se moverem e que só de lá saíam já cadáveres. A sua missão era estar em comunhão com Deus, para proteger a cidade de todos os males (guerras, fome, epidemias). Nessa época, o sofrimento era visto como essencial para obter recompensas celestes. Esta aspiração ao sacrifício fez proliferar este fenómeno. O tema da faixa “La Peste Dansante”, integrada neste novo álbum, também provém de um livro de Jean Teulé. Trata de um episódio de histeria coletivo ocorrido em Estrasburgo no século XIV. Os habitantes começavam a dançar de modo incontrolável e errático. Este mal afetou centenas de homens e mulheres e até crianças, que dançavam até desfalecerem de fadiga, mas que continuavam a mexer-se mesmo deitados no chão. O seu suplício durava dias até sucumbirem. Para compor “Golgotha”, deixámonos influenciar por um dos livros mais conhecidos no mundo, para descrever o caminho da cruz que levou um jovem judeu ao monte do Calvário. A literatura ocupa um lugar verdadeiramente central no nosso universo criativo. Tiveram de alterar o vosso estilo musical para se adaptarem à estética de Soulages? Por outras palavras, que distância separa este novo álbum do seu antecessor? Diria muito simplesmente que a obra pictórica de Soulages se infiltrou no nosso processo de composição, mas de forma insidiosa e não forçosamente voluntária. «Faciem Diaboli», o álbum anterior, é muito direto,

intenso e faz alternar partes calmas e contemplativas, inclusive com vestígios de Electro em algumas canções. A orientação mais atmosférica e luminosa representa a maior evolução ocorrida entre estes dois álbuns. Em «Faciem Diaboli», procurávamos uma emoção muito Punk Rock. No novo álbum, queremos levar o ouvinte à contemplação através de sonoridades e de ambientes de dimensões superiores. Como já referi, «Antérieur à la Lumière» foi gravado no Hemlig Studio por Étienne Sarthou, que fez um trabalho soberbo, tanto ao nível da captação do som e da mistura como ao nível da direção artística. Os seus conselhos ajudaram-nos muito a atingir os objetivos que tínhamos formulado. Encomendámos a masterização ao Magnus Lindberg (Cult Of Luna, Tribulation, Refused, Alcest, ...), que é um amigo do Étienne, o que nos permitiu criar uma verdadeira sinergia entre a mistura e a masterização. Estamos muito satisfeitos com o resultado. E que pode End of Mankind dizernos acerca da pandemia que nos precipitou numa espécie de pântano onde toda a vida parece afundar-se? Parece-me que escolhemos bem o nome da banda! Com a atual pandemia, o clima intenso de atentado e as catástrofes naturais que se repetem por todo o mundo, temos a sensação de que poucas vezes, na História moderna recente, a humanidade esteve tão empenhada na sua destruição. Em termos de projetos e de ambições relativos a EOM, tendo em conta o novo confinamento imposto em França e as incertezas no que toca a concertos, festivais, digressões, etc., decidimos concentrar-nos na composição do nosso terceiro álbum, ao mesmo tempo que procuramos assegurar a promoção e difusão de «Antérieur à la lumière». Facebook Youtube

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Postas de pescada “Postas de Pescada: devaneios de dois energúmenos sobre personalidades da música” será um espaço partilhado, entre dois “jornalistas”, onde se falará sobre músicos, bandas, acontecimentos e outras coisas que tais... Como devem ter reparado, o “outro” ainda não “mandou as postas”. Para a próxima edição não há a Parte 3 e depois, talvez o “outro” contribua...

Dividir para conquistar - Parte 2 Por: Ivo Broncas | Eduardo Ramalhadeiro

Para uma banda conquistar um lugar no difícil mercado da música há todo um longo e difícil caminho pela frente, e claro, há que fazer com que as suas composições sobressaiam no meio da infindável oferta que temos actualmente. A competição entre bandas é por isso uma realidade transversal a várias culturas e gerações. Mas até que ponto esta é favorável? E se o é, de que forma o pode ser? P foram analisados movimentos musicais que tiveram sucesso comercial A competição é, quer queiramos quer não, é uma presença constante nas nossas vidas. Desde cedo aprendemos que temos de competir, mais ou menos acerrimamente, para atingirmos os nossos objectivos. No difícil mundo da música isto não será obviamente em excepção, ainda mais na música “Metal” ou no rock pesado, nem sempre conseguem atingir o sucesso comercial de outros géneros. É portanto normal, sob este ponto de vista, assistirmos a uma competição entre bandas para conquistarem o seu lugar no mercado. Mas de que forma esta competição deve ser encarada pelas bandas? A própria palavra tem para muitos uma conotação hostil. Logo, o conceito de uma competição saudável que seja favorável para as partes envolvidas, é considerado completamente uma utopia se não completamente aberrante. Contudo, caso se conseguisse pôr em prática, não beneficiaria muito mais não só algumas bandas em particular, como, num sentido mais lato, todo um movimento em si? Na edição passada foi apresentado o peculiar caso das bandas de Thrash metal que nasceram na Bay Area de São Francisco na década de 80, e como a interajuda entre as mesmas catapultou o género para o estrelato. Existiu cerca uma década mais tarde um outro movimento, também ele circunscrito a uma área geográfica, e que conseguiu com muita “culpa” dos meios de comunicação social e do marketing feito pelas empresas discográficas, um sucesso comercial absolutamente estratosférico. Estou a falar, como é óbvio do grunge de Seattle. Na minha opinião, o Grunge, mais do que um estilo, foi um movimento. Se pensarmos na música das bandas referência de Seattle, percebemos que embora estejamos a falar de rock mais ou menos pesado, as semelhanças ficam por aí. A abordagem punk dos Nirvana em nada é semelhante ao estilo mais pesado e até soturno dos Alice in Chains, e bastante diferente da direção musical escolhida por Soundgarden e Pearl Jam, também eles díspares entre si. Não houve, tal como aconteceu com o Thrash Metal de São Francisco, uma convergência de músicos até Seattle procurando vingar num estilo musical muito específico. Houve sim um sucesso comercial, do que se pode considerar um elevado número de bandas, todas provenientes da área, o que foi convenientemente encarado

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pelos media e empresas discográficas como o surgimento de um novo estilo. Para melhor fazer ver o meu ponto de vista relativamente à importância da colaboração entre bandas, vou fazer uma divisão entre Nirvana e o resto, divisão esta que tem a ver com o percurso até ao estrelato. A banda de Kurt Cobain tinha uma relação interessante com os Melvins. Não só eram a sua banda preferida, como era também amigo de todos os elementos. Esta amizade sobreviveu, inclusive, ao término da banda que Kurt Cobain tinha com os outros elementos dos Melvins - Fecal Matter. Após o término deste projecto, surgiram então os Melvins e os Nirvana. Foi aliás o baterista dos Melvins que recomendou Dave Grohl aos restantes elementos, recomendação essa que parece ter sido o catalisador para o fenómeno que todos conhecemos. Quando a popularidade estratosférica dos Nirvana lhes bateu à porta, não esqueceram as amizades e convidaram-nos para serem a sua banda de suporte numa digressão. Isto resultou numa maior visibilidade para os Melvins e, inevitavelmente, numa mudança de empresa discográfica e contrato melhorado. De repente, o punk/grunge de Seattle ganhou mais um representante cuja dimensão extravasou a cidade, ajudando assim a cimentar o movimento. Os Soundgarden foram a primeira banda oriunda da cidade que obteve um contrato discográfico, e lançaram, sem o saberem, a base sob a qual uma boa parte do Grunge se viria a assentar. Aliás, numa fase inicial, muito girou em sua órbita. Chris Cornell era, como sabemos, um bom amigo de Eddie Vedder. O vocalista dos Pearl Jam foi acolhido em Seattle pelo Frontman dos Soundgarden. Deu-lhe apoio e ajudou-o, e até lhe concedeu um lugar de destaque na célebre canção de Temple of the dog, “Hunger strike”. Visto que outros elementos da banda que se viria mais tarde a chamar Pearl Jam também faziam parte do projecto, tiveram notoriedade antes sequer de se apresentarem em nome próprio, e mesmo os Soundgarden, já com álbuns editados, viram a sua popularidade crescer.

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Fica-se com a ideia de que uma música, com uma colaboração que à partida nem iria existir, pois Eddie Vedder não era suposto cantar com Temple of the dog, catapultou duas bandas do mesmo movimento. Também os Alice in Chains também beneficiaram, de alguma forma, do apoio dos Soundgarden. Não só foram uma grande influência para Jerry Cantrell, como podem ter tido influência directa no seu som. Conta-se um episódio em que Cantrell pergunta a Kim Thayil como é que tocava algumas das suas músicas, uma vez que ele não as conseguia reproduzir. Em resposta, o parceiro de banda de Cornell ensinou-lhe uma coisa ou outra sobre afinações alternativas que uma guitarra pode ter. Para além desta cooperação mais ou menos directa, há um facto muito interessante que foi contado por Jerry Cantrell recentemente à revista “Ultimate Guitar”. Segundo o mesmo, o apoio entre bandas era de tal forma sólido, que existia quase que uma redistribuição de riqueza. Quem se apresentava com mais desafogo financeiro, ajudava as menos afortunadas com algum equipamento, ou com o que fosse necessário. Não posso afirmar com certeza que foi algo inédito, mas que é de um altruísmo extraordinário, é. Ainda o Grunge não tinha dito a sua última palavra, já um novo movimento estava em marcha na Califórnia. Estou a falar do inevitável “Nu-Metal”, esse género, se é que o podemos classificar desta forma, que a muitos agradou….e tantos outros irritou profundamente. Este metal alternativo que continha elementos de outros géneros musicais, como o hip hop, foi beber influências a bandas como Faith no More, Rage Against the machine, entre outras, e até “obrigou” veteranos como os Machine Head e os Sepultura a repensarem por uns tempos o seu som, de modo a não perderem a corrida e manterem o seu mercado. A cena tem início, quase indubitavelmente, com os Korn. Com produção de Ross Robinson, o “Sr. Nu Metal”, conseguiram atingir o estrelato logo em 1994 com o seu álbum de estreia. A amizade com os Deftones deu-se pouco tempo depois do seu início de carreira, e chegaram a fazer músicas juntos, como “Wicked” do álbum “Life is peachy”. Ajudaram também a promover bandas como os P.O.D. e os Limp Bizkit, facto pelo qual já pediram desculpas (relativamente aos Limp Bizkit, claro).. Assim, um pouco como todos os outros movimentos já referidos, houve uma interajuda numa fase inicial, o que foi determinante para o seu sucesso comercial, e posteriormente, uma guerra aberta entre Slipknot e Limp Bizkit também ajudou, à semelhança do que aconteceu anos antes com Metallica e Megadeth, a que os olhares da imprensa e do público em geral ficassem presos nesta nova geração de bandas de Metal. Contudo, a enorme quantidade de bandas de má qualidade a ver a luz do dia, mais uma vez devido à sede que as empresas discográficas tinham em aproveitar esta maré, teve um efeito nefasto. Talvez por isso mesmo, pelo talento dúbio de muitos conjuntos, tenha ganho uma conotação tão pejorativa. Mediante todos os factos descritos, não posso deixar de me sentir perplexo quando há relatos de bandas, nacionais ou internacionais, que encaram a competição que existe neste mercado de uma forma tão ostensiva. Em última análise, estas atitudes deixarão os músicos quase isolados, o que resultará em mais desvantagens do que benefícios. Penso que a história da música rock/metal até à data provou que esse não será o caminho correcto. Será sempre saudável o clima de competição, desde que este sirva para os profissionais, enquanto músicos que são, irem constantemente testando os seus limites e melhorando as suas capacidades técnicas e de composição. Pegando no exemplo do Thrash Metal, procurando serem cada vez mais rápidos, mais técnicos… melhores. Para além disso, uma cooperação entre bandas parece ser um factor determinante para dar mais visibilidade a um movimento, e consequentemente aos conjuntos que dele fazem parte. E pasme-se: todos têm o seu mercado. Em Portugal, onde lutamos constantemente para sermos notados internacionalmente, penso que será contraproducente uma competição hostil, num clássico “cada um para o seu lado”. Nós, que olhamos lá para fora com desejo de sermos reconhecidos pelo o que fazemos cá dentro, devíamos parar e olhar para estes exemplos nada modestos de sucesso. Ou iremos desconsiderar esta fórmula por questões de orgulho pessoal? A humildade não é uma fraqueza, e será aquilo que nos permite reconhecer e corrigir os nossos erros. Não existe nada que nós, portugueses, não consigamos fazer. Desde que não estejamos em luta entre nós, claro.

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(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

O Hard Rock e as bandas novas II Ao longo dos últimos anos muitas bandas novas de Hard Rock/Heavy Metal têm surgido e não têm a recepção (nem mediática, nem mesmo dos fãs do estilo) que a qualidade do seu som mereceria. Por isso e porque me apetece, quero neste pequeno textinho, destacar 3 bandas recentes com lançamentos em 2020. A primeira banda que eu quero destacar nesta (Su) Posição é a banda Lucifer. Formados em 2014, os Lucifer já lançaram 3 álbuns de estúdio, sendo que o álbum “III” foi lançado em 2020. Esta banda de Hard Rock/Heavy Metal com som retro, calcado na influência clara de medalhões dos anos 70 como Black Sabbath ou Alice Cooper, é liderada pela bela Johanna Sadonis e tem um som sedutor, negro, cru mas ao mesmo tempo polido e com as tecnologias de gravação actuais e apesar de serem perceptíveis as influências, ninguém poderá dizer que são uma mera cópia. O segundo destaque que quero fazer são os Húngaros Stardust. A grande influência desta banda é o Hard Rock dos anos 80, as guitarras com som limpo e belo, as vocalizações com coros de alta qualidade misturados com algum ritmo dançante do AOR dos anos 80. Para quem gosta de Bon Jovi, Journey ou Danger Danger pode procurar e ter uma excelente experiência auditiva. Em 2020 eles lançaram o seu 1º álbum, “Highway To Heartbeat”. O meu último destaque vai para os Italianos Speed Stroke. Já com 10 anos de história esta banda também tem o seu som influenciado pelos anos 80 mas neste caso é por bandas mais sujas, mais pesadas e Sleazy como Motley Crue ou Guns N’ Roses. Embora tenha estas influências, o som dos Speed Stroke é mais consistente e trabalhado do que alguns contemporâneos Sleazy, em especial da Escandinávia. Em 2020 eles lançaram o seu 3º álbum, o bombástico “Scene Of The Crime”. Por agora, estas são as 3 bandas que eu quero destacar, se eu fizesse este texto amanha, provavelmente seriam outras as bandas que eu destacaria, isto para dizer que há muitas bandas novas muito boas que merecem ser destacadas.

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Morte e esperança Este binómio estranho constitui a ideia-chave de «The Renaissance of Hope», o quarto álbum os alemães Décembre Noir. Entrevista: CSA

Saudações. Espero que estejam todos bem. Sebastian – Saudações a vocês todos e aos leitores da Versus! Estamos todos bem, obrigado. Esperamos que vocês também estejam bem. Temos aqui um grande álbum. A primeira coisa em que reparei foi a capa. Fiquei surpreendida, porque aponta para que algo que parece um assassínio penoso. Depois vi o fragmento relativo à eutanásia no texto da editora sobre este álbum (um tema que me parece muito interessante). - Podes falar-nos um pouco deste assunto? Sim, o álbum é sobre a eutanásia, mas não se trata de discutir a aceitação ou a recusa. Tanto o álbum em si como o seu título e as letras das canções transportamnos ao mundo dos sentimentos que experimentam as pessoas que se amam, mas que têm de lidar com o desejo de morrer. A eutanásia está presente na representação visual do álbum. Pensámos muito nesse tema e em como uma pessoa se deve sentir quando a pessoa que ama deseja morrer. Numa situação destas, a palavra “esperança” fica ligada ao lado penoso da vida. A esperança de uma pessoa é ao mesmo tempo a coisa pior que pode acontecer a outra, que fica para trás.

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- É esse o tema representado na foto que constitui a capa do álbum? É curioso que a foto te tenha surpreendido, porque a cena Metal lida muito frequentemente com símbolos da morte e todo o tipo de coisas relacionadas com a dor, o terror, a depressão e a violência no artwork e nas letras. Realmente a situação parece penosa, mas é-o apenas para a pessoa que está prestes a ajudar o ser amado a morrer. A nossa demanda chegou a esta conclusão assustadora: a dor é só para o que fica vivo. E queríamos tratar dessa situação e da dor da pessoa que está a caminho de acompanhar o ser amado nessa situação. - A propósito, quem fez a capa do álbum? Resultou da colaboração de várias pessoas, que trabalharam a partir da ideia do chefe da banda: eu, Sebastian, o guitarrista. As fotos são da autoria do grande Marco Grossmann. A edição, a gradação e o trabalho de lay out para o CD e o vinil foram feitos pelo Stephan, o nosso baixista. - Quais são os outros tópicos que tratam neste álbum? Muitos desses tópicos têm a ver com experiências pessoais do nosso vocalista Lars, que teve de lidar com a doença e subsequente falecimento de um membro da


sua família. Esta situação, demasiado trabalho e stress que parecia não acabar causaram e despoletaram um período da vida dele em que o sentimento de vazio e o humor soturno imperaram. Foi da mente dele que veio o tema global do álbum: a esperança. Com renovado entusiasmo, iniciou o processo de reconciliação com o passado escrevendo as letras. A maior parte das letras foi escrita pelo Lars e algumas pelo Martin, o nosso guitarrista. Por exemplo, a letra de “Wings Of Eschaton” foi escrita pelo Martin. O processo de escrita e ajustamento das letras foi acompanhado por muitas discussões em reuniões, no estádio de pré-produção, e também mais tarde com o produtor Alexander Dietz (Heaven Shall Burn, Gruppe Planet, etc.), durante o processo de gravação. Não se pode dizer que há uma contradição entre o título do álbum («The Renaissance of Hope») e o seu conteúdo lírico e musical? Cada um de nós define esperança de uma maneira ligeiramente diferente, dependendo das situações reais com que tem de lidar. Estas diferenças são levadas ao extremo na capa do álbum, em que os termos esperança e morte subitamente se encontram no mesmo lado da balança. Por outro lado, para recuperar a esperança tens de saber lidar com o lado escuro da tua vida para determinares em que reside a tua esperança. A vossa música é realmente impressionante, cheia de pequenos detalhes combinando as guitarras, o baixo e a bateria com a voz ou criando uma espécie de tensão entre eles. Podes explorar este comentário? Agradeço-te muito os comentários sobre a nossa música. Tudo o que ouves no nosso quarto álbum é o resultado do processo de aprendizagem que vivemos durante a criação dos últimos três álbuns. Desenvolvemos uma ideia muito precisa do que gostamos, do que queremos atingir, do que não nos agrada, do que queremos evitar a todo o custo, etc. Começámos com pequenos detalhes, como a seleção das peças da bateria. Mais tarde, tomámos decisões sobre o equipamento para gravar as guitarras e, ao fim de 10 segundos estávamos a olhar uns para os outros, porque sabíamos precisamente se o tom era o que queríamos ou se íamos ter de mudar coisas incluindo o amplificador da guitarra. O nosso principal objetivo é fazermos avançar a banda e evitarmos repetirmonos, ao mesmo tempo que mantemos o som único de Décembre Noir. É mais instinto que outra coisa, mas com tudo controlado. Isto também inclui os detalhes da música que referiste. Fomos sobretudo eu, mas também o Martin noutras partes, que definimos os aspetos das canções em termos de guitarras. Era uma coisa já quase definitiva, quase os arranjos das canções já acabadas. Depois foi a vez do Kevin, o nosso baterista, explorar a parte relativa ao seu instrumento. Como sempre, foi um processo sem restrições, que

lhe permitiu desenvolver as partes da bateria à sua maneira, mas depressa descobríamos os elementos que não ficavam bem ou que não beneficiavam a canção. Desta forma, as canções não ficam exatamente iguais ao que Décembre Noir já fez, mas mantêmse no campo da banda. Mais tarde, as letras foram arranjadas com a mesma liberdade. O Lars e o Martin encarregaram-se dessa parte da pré-produção e apresentaram os arranjos que lhes pareceram mais adequados às canções. Depois de algumas sessões de discussão e alteração durante a fase de pré-produção, chegou a vez de se tratar da voz. Nesta parte, mais uma vez, a experiência do Alexander Dietz ajudou o nosso vocalista a alcançar o maior desempenho possível, modulando o som e ajustando as letras para se obter o nível final de eficiência e tensão. No que diz respeito à tensão, aconteceu frequentemente que as linhas do baixo trouxeram à tona uma atmosfera especial, que não esperávamos encontrar nessas partes das canções. Por vezes, o baixo funciona como uma espécie de cadeia que liga entre si os outros elementos, antes que o trecho da canção que se segue os deixe dispersaremse novamente, outras vezes o baixo é o motor que faz sobressair a força dos outros elementos. Por falar de esperança, pensam que poderão ainda fazer alguns concertos até ao fim de 2020? Por um lado, a saúde de todos é a coisa mais importante, mas, por outro, ainda esperamos que venha algum alívio para as bandas, artistas, trabalhadores, empresas e fãs que sofrem em consequência do confinamento e das possibilidades muito limitadas existentes neste momento. Estou a responder a estas perguntas nos meados de outubro e a banda tem dois concertos de lançamento previstos para os dias 6 e 7 de novembro na nossa cidade natal – Erfurt – que respeitarão todas as medidas de segurança oficialmente exigidas. Além disso, temos um concerto em Munique marcado para o dia 13 de novembro. Esperamos que a situação se mantenha estável. Se assim for, teremos a sorte de podermos fazer três concertos em 2020, depois do lançamento de «The Renaissance of Hope». A vossa banda parece francamente fascinada por palavras e expressões francesas. Por que disseram chamar-se Décembre Noir? Por acaso, o nome francês é uma das peças mais antigas do puzzle que constitui Décembre Noir. Data dos primórdios da banda em 2008. O objetivo era encontrar um nome que evocasse logo ideias de uma certa natureza, mas que, ao mesmo tempo, deixasse espaço para interpretações pessoais. Desde o início que tínhamos a intenção de fazer música obscura e poética, situada algures entre o Doom e o Death Metal. Imaginar um dia frio de inverno combinado com a ideia enevoada de poesia e cultura francesas muito sofisticadas levou-nos a este nome. Facebook

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Autofagia Talvez esta palavra agressiva possa traduzir de forma clara o sentido profundo deste segundo álbum dos espanhóis Aversio Humanitatis. Entrevista: CSA

Saudações. Espero que estejam todos bem! Gostaria que nos contasses a história desta banda. [Reparei que a banda tem o seu quartel general em Madrid, mas também que alguns dos seus membros nasceram na Venezuela. E que tu tens um apelido português.] S.D. – Sim, nascemos todos em países diferentes, mas vivemos em Espanha mais de metade das nossas vidas, portanto estamos muito bem instalados aqui e este também é o nosso país. Quanto ao apelido português, vem do lado do meu pai. Os meus avós paternos eram madeirenses e emigraram para a Venezuela nos anos 50, como milhares de outros Espanhóis e Portugueses. Como o mundo mudou… Mas trata-se apenas de ciclos que se vão repetindo. Basicamente, conhecemo-nos os três em Madrid há 14 ou 15 anos atrás e temos tocado juntos em várias bandas desde essa altura. Aversio Humanitatis é o nosso principal projeto. Também reparei que este é o vosso segundo álbum desde 2011. Contudo, fizeram outros lançamentos no intervalo (dois splits e um EP). Foi uma opção

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assumida pela banda? Aconteceu assim. No primeiro álbum – em 2010-2011 – foi tudo muito improvisado e ingénuo. Eu escrevi as canções em casa e pedi aos outros para gravarem a voz e a bateria mais tarde. Como ficou tudo muito bem, decidimos fundar uma banda. Nos anos que se seguiram, aconteceram muitas coisas e acabámos por não ter tempo para compor mais um álbum, portanto decidimos concentrar os nossos esforços na criação de grandes canções, privilegiando a qualidade em detrimento da quantidade. Recentemente, entrámos numa fase de estabilidade, que nos permitiu criar «‘Behold the Silent Dwellers». Todos os títulos neste álbum apontam para personagens simbólicas: the Silent Dwellers, the Weaver, the Presence, the Sculptor, the Wanderer, the Watcher, the Scribe. O que significam estes nomes? Que papel desempenham no álbum? Podemos encará-lo como uma narrativa? É isso mesmo. As letras constituem uma narrativa, até porque a maioria constituía inicialmente um só texto longo, que depois foi dividido e estruturado


de modo a ajustar-se a cada uma das canções. Os títulos das canções referem-se a entidades abstratas, que representam elementos-chave do conceito. São monstros que nós próprios criámos e cadeias com que nos prendemos a nós mesmos. A vossa música é muito agressiva (bateria, baixo, voz), mas muito melódica ao mesmo tempo (guitarras). De que forma este esquema serve os vossos propósitos? Acontece assim naturalmente. Eu componho os riffs e o A. e o J. acrescentam a voz e a bateria, respetivamente. Nunca combinámos nada antecipadamente sobre como vai soar. Todos ouvimos música e bandas diferentes, somos inspirados por coisas diferentes. Somos amigos, mas muito independentes uns dos outros, cada um tem a sua vida, portanto quando juntamos todas essas ideias e sensibilidades diferentes sai sempre algo grandioso – pelo menos na nossa opinião. Soa original, porque não somos três gajos que ouvem as mesmas bandas sem parar e depois vão para a sala de ensaios copiar essas mesmas bandas.

menosprezado. Portanto, decidimos trabalhar com o artista da Tumulus Design, para criar não apenas um novo logo, mas um conjunto de logos e sigilos que pudéssemos usar dependendo do formato e do que quiséssemos transmitir em diferentes momentos. Portanto, temos dois logos (um deles que ainda nem sequer foi usado) e três versões do sigilo (só, com o nome da banda a rodeá-lo ou só com uma cercadura). Também para as t-shirts, um outro designer – da Sophia Designs – fez alguns arranjos e outra versão do sigilo. Estou a gostar muito desta ideia de alterar o logo e ter diferentes versões dele, em vez de ter um definitivo. Se calhar, vamos continuar a fazer isto em álbuns futuros. Quanto ao sigilo, não tem um significado específico. Trata-se apenas de jogar com formas para transmitir o que quer que seja que quisermos dizer com Aversio Humanitatis. Tudo é vazio, nada tem sentido. Estiveram com várias editoras e agora fazem parte do catálogo da Debemur Morti. Como aconteceu isso? Que planos têm para a promoção da banda? [Parece que a pandemia não vai desaparecer nos

A editora informa-nos de que A. (para além das letras) é responsável por toda a arte gráfica para Aversio Humanitatis. A foto da banda incluída no promo kit é impressionante. Onde a tiraram? E a capa é também uma foto que representa uma cidade. De que forma representa o conceito subjacente deste álbum? Sim, ele tratou de todos os aspetos visuais do álbum. Toda a arte foi feita a partir de fotos que ele tirou de várias citiescapes – sobretudo de Madrid, mas também de alguns outros lugares. A ideia era criar imagens perturbadoras que transmitissem um sentimento implícito de desumanização, opressão e decadência. Esses edifícios representam a criação a virar-se contra os seus criadores, a cidade a devorar-nos. Quanto à foto da banda, a magia está na visão do A. e na aparência que ele lhe deu. Foi tirada num sítio normalíssimo em Madrid. Vi que a banda tem dois logos e que um deles é um sigilo. Acertei? E o que representa? Tens razão em parte. Para este álbum, queríamos alterar o nosso logo anterior e valorizar mais os aspetos estéticos da banda, que tínhamos sempre

próximos meses.] A Debemur Morti contactou-nos depois de termos lançado o nosso EP intitulado «Longing for the Untold», em 2017, e disse-nos que queria estar connosco quando lançássemos o nosso próximo álbum. Portanto, aproveitámos a oportunidade para trabalhar com esta maravilhosa editora e tem sido um gosto até agora. Na verdade, o vírus não parece disposto a desaparecer independentemente das quarentenas e das proibições sem sentido e contraditórias. Por conseguinte, pareceme que vamos ter de esperar até toda a gente se fartar de fazer coisas disparatadas – ou ficar na falência – e aceitar a morte como algo que faz parte deste mundo. Até lá, vamos continuar a promover o álbum online, trabalhar noutros projetos como gravações de estúdio ao vivo, novas composições… ainda há muitas coisas que podemos fazer. Mas é claro que ter lançado um álbum e não poder fazer um único concerto é uma situação muito frustrante. Facebook Youtube

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PALETES Por: Carlos Filipe

Acherontas - «Psychic Death The Shattering Of Perceptions» (Grécia, Black Metal) Misticismo, magia, artes ocultas e rituais, factores que impulsionam ACHERONTAS. Estas são também as palavras mais adequadas para descrever a imagem, o som e a letra da banda. A banda é considerada um dos principais representantes da New Wave of Greek Black Metal, fortemente influenciada pela cena original do metal helênico, o rock retro dos 70 e a filosofia oriental. (Agonia Records) Gomorra - «Divine Judgement» (Suiça, Thrash / Heavy Metal) GOMORRA agita a cena do Heavy Metal com seu álbum de estreia «Divine Judgment». Uma fera furiosa e implacável de Riffs incrivelmente rápidos e groovy de pura perfeição, dinâmicos e energéticos, um acto de equilíbrio impressionante de heavy-, power e thrash metal. (All Noir) Megatherium - «God» (Itália, Sludge/Doom Metal) Com base em Verona, heavy sludge and doom maniacs, MEGATHERIUM, estão prontos para lançar o seu segundo álbum de estúdio intitulado GOD. Seguindo o álbum de estreia de 2016, Superbeast, os MEGATHERIUM oferecem uma ampla arena aberta, cheia de riffs e ritmos intensos, vocais excelentes e um som apocalíptico apoiado pelo uso inteligente de teclados. Esta é uma mistura sombria de sludge e doom, com poderosos vocais crus, mas limpos, riffs de guitarra graves escaldantes, baixo esmagador e grooves. (All Noir) Ocean Chief - «Den Tredje Dagen» (Suécia, Doom Metal) Os OCEAN CHIEF lançam o seu sexto álbum de estúdio, intitulado «Den Tredje Dagen». Após 5 anos, esta é uma jornada pesada pelas raízes sonoras da banda, que oscila entre o psicodélico e o doom. O quarteto, formado em 2001 por Björn Andersson e Tobias Larsson, evoluiu o seu som até à perfeição, em longas faixas eu combinam as suas ideias eletrónicas e riff pesado,apresentando um lado ainda mais duro e sombrio da banda. Existem passagens assustadoras no álbum que quase nos deixam com medo de nós próprios. (All Noir) Ockra - «Infinite Patterns» (Suécia, Progressive Doom Rock) A banda, que tem as suas raízes no oeste da Suécia e no sul da Alemanha, toca uma mistura de doom metal e rock progressivo com uma grande devoção a melodias dramáticas, grandes riffs e arranjos vocais cativantes. OCKRA evoluiu das suas origens musicais e terminou as gravações de seu EP de estreia, intitulado «Infinite Patterns». A primeira produção da banda mostra o peso de um rolo compressor doom steam esmagando ouvidos e mentes numa mistura diversificada de uma vibração de rock progressivo e pesado. (All Noir) Lucifer - «Lucifer Iii» (Suécia, Heavy/Doom Metal/Rock) Lucifer é definido pelo seu pesado som Hard Rock dos anos 1970, temperado com uma boa dose de Proto Heavy Metal e Doom Rock. Com uma mudança de constelação dentro da banda em 2016 e a mudança de Johanna Sadonis de Berlim para Estocolmo, Lucifer está pronto para o capítulo dois da sua carreira. (Century Media) Wolf - «Feeding The Machine» (Suécia, Heavy Metal) Os mestres suecos do heavy metal, WOLF, apresentam o seu 8º álbum de estúdio «Feeding The Machine», oferecendo hinos de headbanger intensos e viciantes, cobrindo o ataque directo e veloz, os ganchos infecciosos, a melódica sombria e galopantes, um autêntico riff-fests! Apresentando uma obra de arte gloriosamente mórbida do lendário Thomas Holm, os WOLF sabem como entregar as mercadorias depois de deixar os fãs esperarem por uma nova obra desde «Devil Seed» em 2014. Os WOLF foram originalmente formado em 1995 e pertence às primeiras bandas ressuscitadas e rejuvenescidas do som tradicional do heavy metal durante os anos 90. (Century Media)

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Dark Forest - «Oak Ash Thorn» (Inglaterra, Heavy/Power Metal) Veneráveis v ​​ erdadeiros metaleiros britânicos estão de volta com nove canções de heroísmo épico do metal e narrativas monumentais! Com o seu primeiro álbum de estúdio em quatro anos, DARK FOREST une a glória do metal tradicional com contos do longo e histórico passado de Inglaterra. O membro fundador, guitarrista e compositor dos DARK FOREST, Christian Horton, estava na metade da criação do quinto álbum de estúdio da banda quando encontrou uma cópia da fantasia de Rudyard Kipling de 1906, Puck of Pook’s Hill. Esta é o trabalho mais conciso e sólido dos FOREST até hoje, sem sacrificar a natureza inerentemente épica de suas canções. A marca registrada da banda com melodias de guitarra continua com espírito e vigor renovados, enquanto o vocalista Josh Winnard canta com confiança refrões emocionantes e apaixonados, capazes de despertar o coração de todos que os ouvem. (Cruz Del Sur Music) The Wizard’d - «Subterranean Exile» (Austrália, Doom Metal) Os Australianos THE WIZAR’D, há muito tempo que são um dos segredos mais bem guardados do doom. Em «Subterranean Exile», a banda lança um feitiço diabólico de magia arcana do metal para agradar aos fãs do clássico doom metal. Para a criação de seu quarto álbum de estúdio, os metalúrgicos ocultistas australianos THE WIZAR’D empregaram um processo alquímico de áudio chamado “Arcane Metal Magick”. É onde a energia sinistra é convertida por transmutação para uma forma de frequência que pode ser mantida num plano inferior. Para o grande público do metal como um todo, é a porta de entrada para o doom metal, que é tão místico quanto vintage. (Cruz Del Sur Music) Aara - «En Ergo Einai» (Suiça, Atmospheric Black Metal) Apenas um ano após a sua estreia, os suíços AARA atacam enquanto o ferro está quente com o lançamento de seu segundo disco hipnotizante, «En Ergô Einai». Inspirando-se na Idade do Iluminismo na Europa do século 18, «En Ergô Einai» serve como um tributo à dualidade na busca do homem pela perfeição e a futilidade encontrada nela. Como toques de inspiração, melodias requintadas de guitarra tecem uma infinidade fluente de humores e emoções, apresentando uma influência clássica pesada. Batidas explosivas ondulantes e gritos cortantes servem como contraponto a atmosferas primitivas e coros etéreos, uma lembrança obstinada da natureza finita do homem e de suas criações. (Debemur Morti Productions) Pathogens - «Soiled Cogs Forever» (EUA, Death Industrial Metal) PATHOGENS é A. D. Carter usando amostras manipuladas, sintetizador distorcido, objetos encontrados e gravações de microfone de contacto, bateria eletrónica e percussão, guitarra elétrica, voz e garganta. O reflexo de um mundo agonizante, PATHOGENS existe apenas para servir como um lembrete inflexível das influências negativas da espécie humana que habita este planeta. Levando as primeiras influências do Swans a extremos ainda mais sombrios e torturantes, A. D. Carter combina distorção de sintetizador, ritmos mecânicos primitivos, samples profundamente perturbadores e vocalizações agonizantes de pesadelo para criar um doom industrial semelhante a suas influências, mas mais única e singular. (Earsplit) Anders Buaas - «The Witches Of Finnmark Iii» (Noruega, Guitar Hero) «The Witches of Finnmark» - uma trilogia de álbuns instrumental, escrita e produzida por Anders Buaas. Os julgamentos e perseguições às bruxas em Finnmark nos séculos 16 e 17 foram alguns dos piores que a humanidade já viu. Agora, finalmente, será lançado o terceiro episódio, completando a trilogia de Buaas. As partes I e II foram lançadas em 2017 e 2018. A música contém elementos de folk, blues, rock progressivo, jazz e clássico. (Independentes) tetema - «Necroscape» (Austrália, Rock) «Necroscape» é o segundo álbum da proposição de rock eletroacústico modernista de Mike Patton e Anthony Pateras, tetema. Enquanto Geocidal foi vagamente baseado em distopias pós-coloniais futurísticas, o sucessor ainda mais alegre é esculpido em torno do isolamento na era da vigilância; e embora soe alto, do alto de um conceito, esta ainda é uma audição intensamente divertida e pesada. Os Necroscape sintetiza muito território: rock de época ímpar, musique concrète, grooves de outro mundo, soul, ruído industrial, psicoacústica. Aglutinam-se 13 canções que desafiam de forma divertida as nossas noções de som lógica. (Independentes) Shaman Elephant - «Wide Awake But Still Asleep» (Noruega, psychedelic progressive rock) Quando o álbum de estreia dos Shaman Elephant «Crystals» chegou às ruas no final de 2016, os fãs de Prog sentaram-se e notaram uma banda que foi capaz de demonstrar uma habilidade incrível na arte de misturar psicadélica dos anos 60 e 70 com rock progressivo, e que soou impressionante, não apenas no estúdio, mas também no palco. E agora, depois de aprimorar essas habilidades ainda mais, Shaman Elephant está de volta com

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«Wide Awake but Still Asleep», um álbum que demonstra o quanto a banda amadureceu como compositores e músicos, sem perder nenhum daquele considerável charme característico. (Karisma Records) Mountaineer - «Bloodletting» (EUA, DARK METAL / POST ROCK) Como o álbum anterior, «Bloodletting» é uma espécie de álbum conceptual, com todas as músicas reunidas sob uma única ideia abrangente. Artisticamente, os Mountainer davam um passo numa direção mais sombria. Todas as conversas sobre o álbum sempre pareciam centrar-se em temas de desapego, rejeição de coisas não físicas que pesam. À medida que cada um dos membros envelhece, temos tendência a tornar-nomos versões melhores de nós próprios. (Lifeforce Records) Ivanhoe - «Blood And Gold» (Alemanha, Progressive Metal) Ivanhoe está de volta com o seu 8º álbum de estúdio! Comparado com os lançamentos anteriores, «Blood And Gold» oferece músicas mais cativantes, mas também mais curtas e compactas. As guitarras estão um pouco mais presentes, dando ao álbum um som geral mais pesado, sem ignorar o estilo característico da banda. As letras tratam de tópicos críticos, históricos e fictícios. O álbum também inclui a primeira cover da banda. (Massacre Records) Macbeth - «Gedankenwaechter» (Alemanha, Heavy Metal) Macbeth mais uma vez juntou-se a Patrick W. Engel para as gravações de seu 5º álbum, porque sendo ele próprio um ex-membro da banda, sabe o que faz a mesma funcionar. As letras tratam de temas como fanatismo religioso, atrocidades de guerra, propaganda e o impacto que tudo isso tem na humanidade. Do ponto de vista musical, Macbeth seguiu o caminho que começou com o álbum «Gotteskrieger»: o ritmo das músicas ainda varia, mas no geral «Gedankenwächter» acabou sendo um pouco mais rápido do que os lançamentos anteriores. (Massacre Records) Almanac - «Rush Of Death» (Internacional, Symphonic Power Metal) Poucos artistas deixaram a sua marca no emparelhamento de guitarra elétrica e orquestra como Victor Smolski. Por mais de 15 anos, o mago da guitarra da Bielo-Rússia moldou a tapeçaria sonora de RAGE antes de finalmente iniciar o seu próprio projeto ALMANAC. Aí, continuou o trabalho de construir uma amálgama perfeita de metal e música clássica. Depois de estabelecer os ALMANAC como uma força do metal em ascensão com os seus dois primeiros álbuns «Tsar» (2016) e «Kingslayer» (2018), Smolski corajosamente reformulou a banda e recomeça na pole position. (Nuclear Blast) Gotthard - «#13» (Suiça, hard rock) Quando se trata de Swiss Rock, GOTTHARD é o primeiro nome que vem à mente. GOTTHARD não mostra nenhum sinal de exaustão e anuncia o seguimento do seu álbum acústico de sucesso «Defrosted 2». Um novo álbum, que prova que esta banda ainda tem muito Rock’n’Roll para oferecer. O seu 13º álbum de estúdio é simplesmente intitulado «# 13», um título deliberadamente sutil para um álbum que não precisa de mais explicações. (Nuclear Blast) White Stones - «Kuarahy» (Suécia, Death Metal ) De Martin Mendez, baixista do onipresente OPETH, vem WHITE STONES, um projeto a solo que rapidamente se tornou muito mais do que isso. Baptizado com o nome da sua cidade natal no Uruguai, «Kuarahy» representa um retorno às suas raízes, tanto familiares, quanto musicais - explorando os caminhos esquecidos de seus ancestrais por meio do estilo de música que continua sendo o seu verdadeiro amor - death metal. (Nuclear Blast) Glaciation - «Ultime Eclat» (França, Black Metal) Depois de duas obras conceituadas - o EP «1994» (2012) e «Sur les Falaises de Marbre» (2015), os GLACIATION imprimiram a sua marca singular no género, com a sua mistura de Black Metal bruto e romantismo misterioso. Beneficiando duma formação totalmente nova, a banda recriada em torno de seu vocalista Hreidmarr, tem em «Ultime Eclat» (“Ultimate Sparkle”) o seu caminho com ainda menos concessões e um renovado senso de autenticidade. A música desenvolve e enriquece as texturas atmosféricas pelas quais a banda é conhecida, com um senso mais radical de agressividade e septicidade, enquanto enfatiza os vocais possuídos e as evocativas letras cantadas em francês. (Osmose Productions) Ols - «Widma» (Polónia, dark neofolk) “Widma” (que se traduz em “Spectres” do polonês) é o novo álbum de Ols, um projeto neofolk obscuro de uma

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mulher só da Polônia, que explora os reinos mágicos de florestas enevoadas e pântanos misteriosos. As canções de Ols são baseadas em harmonias vocais polifônicas , complementado com partes instrumentais que constroem um caráter ritual e hipnótico. Embora a música de Ols muitas vezes tenda a ser rotulada como dark neofolk, o projeto une vários estilos e géneros, como folk, música ambiente, música alternativa e fragmentos inspirados no black metal atmosférico. O novo material é mais sombrio e mais ambicioso em comparação com as gravações anteriores de Ols. (Pagan Records) Wuw - «Rétablir L’Eternité» (França, Instrumental French metal / post metal) A dupla fraterna parisiense WuW está de volta com seu segundo álbum «Rétablir L’Eternité», um convite para desacelerar e mergulhar na oferta de missivas instrumentais experimentais e progressivas. Mais uma vez, WuW utilizou vários instrumentos percussivos para construir as camadas de sua música; com ambos os músicos sendo percussionistas com formação clássica e contemporânea, eles conseguem extrair sons únicos de instrumentos especiais, como tigelas tibetanas e pequenos sinos africanos. As suas paisagens sonoras cinematográficas são mais pesadas no ambiente drone e nos elementos de metal, mas as faixas em «Rétablir L’Eternité» mantêm uma qualidade majestosa e purificadora. (Prosthetic Records) Wvrm - «Colony Collapse» (EUA, Death Metal/Grindcore) Uma coleção inflexível de 14 choques curtos e agudos, «Colony Collapse» é um produto de seus arredores, uma antologia de seu ambiente e um registro detalhado da vida das pessoas que o fizeram. Ao longo de suas três divisões anteriores, quatro EPs e dois LPs, WVRM experimentou empurrar os seus limites pessoais e musicais; «Colony Collapse» captura a evolução de seu som e política num lançamento violento e implacável. O isolamento nativo criativo é apenas uma das forças motrizes por detrás da forte agressão dos WVRM. (Prosthetic Records) Trick Or Treat - «The Legend Of The Xii Saints» (Itália, Power Metal) 2 canções épicas para 12 cavaleiros lendários, uma para cada signo do zodíaco! Desta vez, Trick or Treat estava em busca de algo novo e diferente, algo que eles nunca tinham feito antes: um álbum-conceito livremente inspirado no anime «Saint Seya», e mais precisamente na saga da Lenda dos 12 Cavaleiros de Ouro do Zodíaco . Cada música é um trabalho monográfico que investiga a personalidade dos cavaleiros e a trama envolvente que liga todos os personagens à deusa Atenas. Em seu tão esperado sexto álbum de estúdio, os felizes cruzados do metal conseguiram mais uma vez forjar um conto sonoro épico e divertido, enriquecido por orquestrações majestosas, arranjos refinados e refrões cativantes. (Scarlet Records) Green Carnation - «Leaves Of Yesteryear» (Noruega, Gothic/Progressive Metal/Rock) O grupo norueguês de prog / vanguarda GREEN CARNATION anunciou o regresso à cena internacional do metal para o aniversário de seu clássico «Light of Day, Day of Darkness» em 2016. O álbum é parcialmente uma retrospectiva da carreira da banda, já que a banda de metal progressivo homenageia o seu passado e os seus heróis com a regravação da música clássica ‘My Dark Reflections of Life and Death’ e o cover do BLACK SABBATH ‘ Solidão’. (Season of Mist) Medico Peste - «The Black Bile» (Polónia, Schizophrenic Black Metal) Nos últimos anos, muitas bandas de black metal polacas encontraram o seu caminho para a vanguarda da cena. Compartilhando músicos ao vivo com os titãs de Mgła, o MEDICO PESTE aborda narrativas comuns no black metal de um estado de espírito mais sombrio e distorcido do que os seus contemporâneos. As cinco peças envolvem num olhar diferente sobre a morte, a religião, o Diabo e a sua obra, explorando as visões distorcidas de um sujeito neurótico e atormentado e das suas visões esquizofrénicas. (Season of Mist) Revenge - «Strikesmotherdehumanize» (Canadá, Chaos Black Metal) Os extremistas canadianos do Chaos Black Metal, REVENGE, estão de volta com «Strike.Smother.Dehumanize», uma sequela do seu álbum de 2015 «Behold.Total.Rejection». Com o lançamento de «Behold.Total.Rejection», eles provaram que todos os que haviam questionado a aliança inesperada, estavam errados. Sendo chamados de ruído completo por alguns, e génio total por outros, estas visões polarizadas continuam a ser usadas pela banda como um emblema de honra. (Season of Mist) The Spirit Cabinet - «Bloodlines» (Holanda, Heavy Metal) Com «Bloodlines», THE SPIRIT CABINET consolida o seu poder e paixão pela performance, invocando uma série de artes visionárias e gravações clássicas. Contratenores emocionantes da era moderna, cuidadosamente construídos pela companhia chefiada pelo musicólogo Sr. Hällström e enfatizando a interação do artista com

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o seu repertório e os livros de partituras. Em «Bloodlines», o Sr. Hällström apresenta os seus trabalhos de guitarra, o Dr. Vilsmeier executa as suas linhas de baixo assombrosas, o Sr. Fleedwood hipnotiza na percussão e o conjunto é complementado pelo Sr. McRuffkin na voz de barítono. (Ván Records) Forgotten Tomb - «Nihilistic Estrangement» (Italia, Black/Doom/Sludge Metal ) «Nihilistic Estrangement», é o décimo álbum de estúdio dos FORGOTTEN TOMB, e abre um novo capítulo na história duradoura da banda, ao mesmo tempo que celebra-o com uma tracklist estilisticamente eclética, que inclui acenos para todo os álbuns da banda; desde as suas primeiras raízes depressivas do black metal até passagens assustadoramente dark de blues / rock e finalmente explorando diferentes tons de extrema destruição. O álbum é enriquecido pela elegância retro graças às técnicas analógicas vintage que foram usadas no estúdio durante o processo de gravação, dando-lhe um apelo atemporal. «Nihilistic Estrangement» é um álbum altamente refrescante que captura perfeitamente a própria essência de FORGOTTEN TOMB. (Agonia Records) Alkymist - «Sanctuary» (Dinamarca, doom metal ) Os doomers progressivos dinamarqueses ALKYMIST entram no vazio entre o céu e o inferno com o lançamento de seu novo álbum «Sanctuary». Apenas um ano e meio após o seu aclamado álbum de estreia autointitulado, ALKYMIST, parte mais uma vez numa viagem que os leva muito além deste mundo e num reino estranho e esmagadoramente pesado de paisagens sonoras brutais, mas lindas e grandiosas ao mesmo tempo. (All Noir) Sinistral King - «Serpent Uncoiling» (International, Black Metal) Finalmente, SINISTRAL KING está pronto para lançar o seu primeiro álbum de estúdio, intitulado «Serpent Uncoiling», um magnum opus de cinco majestosas peças ocultas de death-black metal, que são combinadas com os elementos obscuros da música clássica. Divertido, envolvente, cheio de diversidade e atmosfera, e sempre comprometido com as raízes tradicionais da banda na arte mais sombria do metal. (All Noir) Witchcraft - «Black Metal» (Suécia, doom metal) Magnus leva a Bruxaria numa nova e corajosa direção, entrando num território inteiramente novo! Exibindo a emoção pura que sempre viveu no cerne do trabalho da banda, avançando sozinho: o primeiro novo álbum da banda em quatro anos, intitulado «Black Metal», é um caso inteiramente acústico. Quando se trata de misturar doom com rock clássico e floreios de um ambiente de mestre, ninguém poderia tocá-los a não ser eles. (All Noir) Shrapnel - «Palace For The Insane» (Inglaterra, Thrash Metal) «Palace For The Insane», é o terceiro álbum dos Shrapnel, fazendo jus ao título com a sua ferocidade heroica. É uma enxurrada implacável de riffs insanos, pistas retalhadas, ritmos intensos e vocais selvagens. A agressividade extrema de marca registrada de Shrapnel continua a ser uma parte fundamental de seu som, mas desta vez, com muito mais dinamismo, versatilidade e habilidades de composição recém-refinadas. Aqueles que gostam mais do lado mais rápido desta forma mais pura do género amado – Death Metal - serão pavimentados pela velocidade e magia técnica destes senhores. (Candlelight) Winterfylleth - «The Reckoning Da» (Inglaterra, Acoustic, Atmospheric, Folk) Dois anos depois de seu álbum acústico / folk aclamado pela crítica, «The Hallowing of Heirdom», os reis do black metal do Reino Unido, Winterfylleth, regressam às hostilidades em 2020 com o seu novo visceral álbum, «The Reckoning Dawn». São oito novas canções de black metal vibrante, atmosférico e emotivo, que adornam os registros de quase 60 minutos de duração e servem para destacar a força e a profundidade do material no cânone Winterfylleth. (Candlelight) Funeral Leech - «Death Meditation» (EUA, death/doom Metal) «Death Meditation» vomita quarenta e cinco minutos de death/doom na contemplação de nossa fragilidade mortal. FUNERAL LEECH evoca a sua própria marca sombria e taciturna que encontra o triunfo na depressão e no sofrimento através da ressonância pútrida da «Death Meditation». Os FUNERAL LEECH acreditam que Death é um novo começo! (Earsplit) Gnaw Their Tongues - «I Speak The Truth, Yet With Every Word Uttered, Thousands Die» (Holanda, Black Metal/Noise/Experimental) « I Speak The Truth, Yet With Every Word Uttered, Thousands Die» é o décimo quarto LP dos Gnaw Their

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Tongues, contendo frequências nojentas absolutas e desespero absoluto. Gnaw their Tongues é um dos muitos projetos de Maurice de Jong, também conhecido como “Mories”. Ainda vomitando um ruído penetrante sobre o mundo, este trabalho é um reflexo do mundo em geral. Este álbum gira em torno da morte, fracasso humano, depressão e ódio e, como resultado, é totalmente violento e macabro. (Independentes) Ulveblod - «Omnia Mors Aequat» (Holanda, Black Metal) Desde 2006, Vitriol e M. têm elaborado a sua própria versão única de black metal como Nihill. Reconhecida internacionalmente como uma das principais bandas a combinar influências da velha escola com experimentação de vanguarda, numa repetição quase irritante e hipnótica, o culto a Nihill chegou a um impasse. No seu lugar surge Ulveblod, um puro caos, que canaliza uma raiva interior e um sentimento de falta de sentido na sua música. Este é o primeiro álbum da banda, «Omnia Mors Aequat». (Independentes) Pure Reason Revolution - «Eupnea» (Inglaterra, progressive rock) Pure Reason Revolution inovou implacavelmente a cada lançamento. «Amor Vincit Omnia» e «Hammer and Anvil», levaram-nos para o território eletrónico, ao mesmo tempo em que mantinham um fio comum de rock progressivo. É apropriado então que «Eupnea», o tão esperado retorno da banda, vê-os regressar aos seus primeiros dias, enquanto rolam nos experimentos musicais e experiência que eles reuniram nos anos seguintes. (InsideOut Music) Airbag - «A Day At The Beach» (Noruega, Neo-Prog / Progressive Rock) Inspirado pelo ressurgimento da música eletrónica dos anos 1980, new wave e bandas sonoras de filmes, os Airbag criaram um som poderoso que combina paisagens sonoras etéreas com o seu rock progressivo de guitarra. O resultado é uma seleçcão impressionante de músicas que revelam uma banda madura que olham para o futuro, com um legado impressionante. É o quinto álbum do Airbag. (Karisma Records) Arabs In Aspic - «Madness And Magic» (Noruega, progressive rock) Vindos de Trondheim, na Noruega, os Arabs In Aspic têm sido os líderes do rock progressivo e proto-hardrock inspirado na própria Noruega nos últimos 15 anos. Eles foram descritos como uma doce mistura de guitarras e bateria fortes e pesadas, acústica de 12 cordas, baixo funky e percussão, órgãos Hammond agudos, Rhodes suaves, Mellotrons e sintetizadores dos anos 70, com abundantes harmonias vocais - e isso também é o que eles dão no seu sétimo álbum. «Madness and Magic» continua de onde pararam em «Syndenes Magi», mostrando mais o lado acústico da banda sem perder nada de seu peso. (Karisma Records) Hyems - «Anatomie Des Scheiterns» (Alemanha, Black Metal) Desde 1997, os HYEMS celebram o Black Metal, que, oscilando entre hinos e desarmonias, é repetidamente frustrado por uma atitude punk arrogante. A banda resiste às tentações comercialmente promissoras dos estilos modernos e reflete isso nas sua música, o que antes balançou a balança de sua fundação: o fascínio pelo Black Metal dos anos 90. Com «Anatomie des Scheiterns» a banda apresenta o seu nono lançamento, que “pertence de longe o melhor que já fizemos”, como enfatiza o vocalista AEJ. O álbum impressiona com sua autenticidade musical, sem descuidar um conteúdo sofisticado. (MDD Records) Cirith Ungol - «Forever Black» (EUA, Heavy/Doom Metal) Poucas bandas na história do heavy metal underground têm uma história tão notável, improvável ou edificante quanto a de Cirith Ungol. É um conto de inovação pioneira, decepção esmagadora, exílio auto-imposto, fervor populista e, em última análise, redenção global. «Forever Black» é uma prova da vitalidade contínua de Cirith Ungol e da primazia duradoura no panteão do metal clássico, mais de quatro décadas após o início da banda. É uma continuação da mitologia Cirith Ungol, uma adição valiosa e bem-vinda ao seu legado musical assustador. (Metal Blade) The Black Dahlia Murder - «Verminous» (EUA, melodic death metal ) «Verminous» é a versão mais dinâmica, estimulante e emocional de The Black Dahlia Murder até hoje, e consegue isso sem comprometer um pingo de peso. The Black Dahlia Murder é aparente quando a faixa-título de abertura irresistivelmente suja ganha vida, e o álbum continua emocionante para cada uma das nove faixas que se seguem. «Verminous» tem algumas partes realmente grandes que ressoarão muito e adicionará outra dimensão ao som da banda, expandindo a sua paleta sónica obscura com a qual eles pintam. (Metal Blade)

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Two Face Sinner - «Spiritual Nemesis» (Peru, Black/death metal) TWO FACE SINNER é uma banda de black / death metal de Lima, Peru, composta por membros do ANAL VOMIT, entre outros. Two Face Sinner é uma espécie de arquétipo, que usamos para nos desenvolvermos nesta sociedade. É como ser o indivíduo mais inteligente no meio de toda a sociedade religiosa padronizada comum que reina em toda a América do Sul. (Non Serviam Records) Irist - «Order Of The Mind» (EUA, Groove/Post-Metal/Hardcore) IRIST. Uma palavra que não é uma palavra. Contidos dentro, no entanto, estão as verdadeiras palavras - rist, iris e stir - que contêm não apenas um significado pesado, mas são igualmente descritores poderosos que definem o potencial ilimitado do mais novo do metal extremo. Rist é esculpir uma runa (ou símbolo) na pedra. O conceito de permanência e longevidade está presente em todo o álbum de estreia do IRIST, «Order of the Mind». (Nuclear Blast) Perchta - «Ufang» (Austria, Atmospheric Black Metal) Tendo o nome de uma deusa pagã reverenciada entre o povo no Alto Alemão e nos Alpes austríacos, Perchta do Tirol, na Áustria, foi fundada em 2017 e canaliza a essência da divindade para manter vivas as tradições regionais que foram banalizadas ao longo do tempo, para se adequar às conveniências modernas. Perchta tem muitos rostos e disfarces, ao mesmo tempo beleza radiante e velha bruxa enrugada, tanto punidora implacável quanto guardiã nutridora, destruidora assombrada e criadora que recompensa. «Ufång», o primeiro álbum da banda, é igualmente multifacetado, com as quatro canções principais representando os elementos terra, vento, fogo e água, totalmente entoadas no vernáculo local. (Prophecy Productions) The Mystery Of The Bulgarian Voices Feat Lisa Gerrard - «Shandai Ya Stanka» (Internacional, Folk) Os vocais femininos sobrenaturais de artistas extraordinários sempre foram a marca registrada do grupo coral mundialmente famoso, The Mystery Of The Bulgarian Voices (anteriormente conhecido como “Les Mystères Des Voix Bulgares”). Após um hiato de quase 20 anos devido à morte do produtor Marcel Cellier, o coro lançou o aclamado «BooCheeMish» em 2018, junto com a estimada vocalista convidada Lisa Gerrard (Dead Can Dance), combinando magníficos vocais de várias origens estilísticas e instrumentos tradicionais búlgaros com elementos modernos como beatboxing. (Prophecy Productions) Werewolves - «The Dead Are Screaming» (Austrália, Technical Black/Death Metal) O álbum de estreia de WEREWOLVES, uma espécie de supergrupo, que sem dúvida argumentaria que raramente há algo de super neles, WEREWOLVES é Dave Haley (Psycroptic, Ruins, King), Matt Wilcock e Sam Bean (ambos de The Bezerker). Há um caso sólido para eles serem a verdadeira personificação do heavy metal em 2020 - impulsionados apenas pelo ódio cego e pelos ataques explosivos. (Prosthetic Records) Moonlight Haze - «Lunaris» (Itália, Symphonic/Power Metal) Segundo LP de uma carreira em rápido crescimento dos Moonlight Haze, «Lunaris» consiste em onze faixas que o levarão numa jornada atemporal, o suficiente para ficar preso entre sulcos frenéticos, letras poderosas e melodias viciantes. A banda continuou experimentando samples eletrônicos, música folk e elementos sonoros ainda mais imprevisíveis; uma pesquisa musical mais profunda e uma exploração interior cuidadosa para um sonho prateado, nas profundezas da névoa do luar. (Scarlet Records) Cryptex - «Once Upon A Time» (Alemanha, Crossover Prog / Progressive Rock ) É um facto bem conhecido que a música é mais poderosa quando desperta a nossa curiosidade, em vez de simplesmente nos fornecer respostas pré-fabricadas. Os CRYPTEX combinam todas essas qualidades em «Once Upon A Time». O terceiro álbum da banda do Norte da Alemanha é seu trabalho mais emocional, mais profundo e intransigente até então, prendendo em sua propensão para a escuridão. Um álbum com canções que vão desde o rock (progressivo) ao metal, do calmo ao violento, do cativante ao virtuoso. (Steamhammer SPV) Arstidir Lifsins - «Saga II» (Islândia, Pagan Black Metal) «Saga á tveim tungum» é uma história bilateral construída em torno do período posterior do rei e santo norueguês, Óláfr Haraldsson (995-1030). Os álbuns retratam a vida de dois irmãos e suas experiências individuais durante os tempos turbulentos da Noruega no início do século XI. Totalmente cantada em islandês antigo e geminada com seu álbum irmão “«aga á tveim tungum I: Vápn ok viðr» de 2019, Árstíðir lífsins prova com «Eigi fjoll né firðir» mais uma vez todas as suas capacidades de produzir qualidade sonora: Do folclore arcaico a ambiente de paisagens sonoras, apoiadas por cantos dark e instrumentos clássicos, aos elementos do Black Metal moderno e clássico, as habilidades musicais projetam um artesanato genuíno. (Ván Records)

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Centinex - «Death In Pieces» (Suécia, Swedish Death Metal ) Os veteranos do death metal CENTINEX estão mais fortes seis anos após o seu reencontro, trazendo os dias dourados do death metal, voltando aos riff com força total. «Death In Pieces», é o terceiro álbum de reunião dos long-runner (e o décimo primeiro desde 1990), está repleto de uma poderosa dose de death metal ao estilo de Estocolmo, e leva os riffs pesados ​​da banda a um nível totalmente novo de intensidade. (Agonia Records) Naxen - «Towards The Tomb Of Times» (Alemanha, Black Metal) Em «Towards the Tomb of Times», os NAXEN consolidam sua própria visão contemporânea do black metal, mantendo-se fiel à sua herança escandinava e incorporando a contrapartida atmosférica de USBM e melodias do leste europeu. Com quatro faixas com mais de 47 minutos, o álbum explora a fraqueza da humanidade, a perda inevitável e o fracasso inevitável de nossa espécie. Reconhecendo que toda esperança está perdida e permanece redundante no final. (All Noir) Asofy - «Amusia» (Itália, Black/doom metal) Asofy é o projeto a solo do multi-instrumentista italiano Tryfar, um designer gráfico profissional baseado em Milão. «Amusia» é o quarto álbum de estúdio e encontra as suas raízes nas páginas de Musicophilia de Oliver Sacks, um livro onde o falecido neurologista descreve vários distúrbios e suas conexões com a música. Asofy expande tal conceito explorando as implicações numa escala social, questionando relações e percepções sensoriais. (Avantgarde Music) Drought - «Trimurti» (Itália, Black metal) A Drought é uma entidade gerada para canalizar a energia criativa de seus criadores numa forma de black metal. O conceito tântrico foi adotado para transformar essa energia num conto de sublevação e elevação, usando o fogo como metáfora para celebrar a transformação espiritual por meio da limpeza, extraindo pureza da impureza. Depois de um promissor EP, Drought caiu em vários anos de silêncio, a partir do qual finalmente se levantam para lançar aqui o seu primeiro LP, «Trimurti». (Avantgarde Music) Nexion - «Seven Oracles» (Islândia, Black/Death Metal) Nexion é uma banda de black metal da Islândia e ganharam atenção como uma potência ascendente na cena do metal islandês, tocando uma variante do black metal muito agressiva e brutal que os seus conterrâneos, e com letras impregnadas de ocultismo niilista e pessimista. (Avantgarde Music) With The End In Mind - «Tides Of Fire» (EUA, Atmospheric black metal) With The End In Mind é uma entidade musical em constante mudança. Inicialmente concebido como um projeto a solo, WTEIM cresceu ao longo dos anos para conseguir muitos colaboradores únicos e talentosos. Aproveitando o poder primordial do black metal, bem como elementos de dark folk, drone / ambient e psicodelia clássica, With The End In Mind dedica-se à exploração sonora desses supostos tempos finais e todas as possibilidades de novas formas de ser que vai renascer das cinzas. «Tides Of Fire», é o segundo álbum, sendo uma elegia carbonizada por um mundo à beira do precipício. (Avantgarde Music) Havok - «V» (EUA, Thrash metal) Os thrashers Americanos do Colorado HAVOK, estão de volta! Depois de um ciclo turbulento, mas gratificante para o lançamento de 2017, « Conformicide», a banda de alta octana saiu do estúdio vitorioso com o seu novo álbum, «V». Este exalta as virtudes do passado de HAVOK e ainda comemora com brilho staccato onde o grupo está hoje. De fato, o quarteto está mais refinando, escrevendo canções melhores e mais cativantes que empurram o envelope sonoro da banda sem sacrificar a agressão, a atitude, a inteligência e a intensidade. O thrash sempre precisou de um proverbial tiro no braço. (Century Media) Naglfar - «Cerecloth» (Suécia, Melodic Black Metal) Formado em 1992, os niilistas de black metal suecos NAGLFAR, foram bastante prolíficos em toda a sua existência. Entre a sua estreia clássica em 1995, «Vittra», e »Téras» de 2012. Foi um longo período de oito anos entre os lançamentos de NAGLFAR, mas apesar desta espera, a banda não tem descansado sobre os louros. Como qualquer fera adormecida, os NAGLFAR voltaram do seu descanso feroz e faminto com o seu sétimo álbum «Cerecloth». Gravado e mixado pelo guitarrista Marcus Norman e masterizado por Dan Swanö, os temas musicais e líricos subjacentes de «Cerecloth» foram sucinta e confiantemente descritos como uma morte e destruição habitual. (Century Media)

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Blackqueen - «The Destructive Cycle» (EUA, Atmospheric Black Meta) «The Destructive Cycle», o novo álbum dinâmico dos BLACKQUEEN, um grupo de avant metal de Seattle, desencadea uma amálgama assustador e intrigante de metal infundido com uma ampla gama de elementos. «The Destructive Cycle» é escrito com base na teoria dos cinco elementos taoísta. A banda esforçou-se para escrever músicas que criem paisagens sonoras sombrias e poderosas, enquanto ao mesmo tempo abraça o profundo conhecimento esotérico de muitas culturas. (Earsplit) Paralysis - «Mob Justice» (EUA, Thrash Metal/Crossover) Enquanto se deu um renascimento ambicioso do thrash metal, as novas bandas forjaram uma nova época para o género. Uma parte do novo movimento começa com o segundo LP dos PARALYSIS, «Mob Justice». Combinando as sensibilidades do thrash metal com a força cinética e gigantesca do hardcore old-school da Costa Leste e a selvageria implacável do death metal da área de Tampa, PARALYSIS equilibra brevidade com abundância, mesclando estruturas musicais não ortodoxas com acordes poderosos e rápidos e riffs de pit bulls. (Earsplit) Professor Tip Top - «Tomorrow Is Delayed» (Noruega, Progressive retro Rock) PROFESSOR TIP TOP é um grupo que toca boa música progressiva com um som retro e toque lisérgico, que serve uma aura muito psicadélica. O seu novo álbum, «Tomorrow Is Delayed», o 6º e constitui um álbum de transição, pois marca uma significativa mudança na formação. (Independentes) Pattern Seeking Animals - «Prehensile Tales» (EUA, Progressive/art rock) Pattern Seeking Animals, a banda californiana com Ted Leonard (vocalista e guitarra), Jimmy Keegan (bateria e vocal), Dave Meros (baixo) e John Boegehold (teclados), está prestes a lançar o seu segundo álbum de estúdio em menos de um ano. «Prehensile Tales» continua no mesmo caminho estilístico da estreia, com algumas novas curvas ao longo do caminho. Para as seis músicas do álbum, a banda expandiu a sua pegada sonora introduzindo violino, flauta, trompete, violoncelo, sax e pedal steel à paleta de som. (InsideOut Music) Eisregen - «Leblos» (Alemanha, Gothic/Black/Death Metal) A bandas de culto da Turíngia, Eisregen comemora o seu 25º aniversário com o lançamento de seu 14º álbum de estúdio intitulado «Leblos». Este pretende fazer o mesmo e entrega brutalmente o que as pessoas esperam dos turíngios: arte musical radical e letras mórbidas por excelência! (Massacre Records) Fairyland - «Osyrhianta» (França, Symphonic Power Metal) O novo álbum dos Fairyland, «Osyrhianta», é o quarto de uma série conceiptual e actua como uma prequela da trilogia anterior. Narra a criação do mundo de Osíria, apresenta as suas terras e pessoas que lá as habitam e, em última análise, trata do aparecimento de Cenos, enviado Osíria para ensinar, mas levado ao ciúme e à ganância pelas criações que permitiu os Osírios inventar. Acontece cerca de 3000 anos antes dos eventos do primeiro álbum. (Massacre Records) Goblins Blade - «Of Angels And Snakes» (Alemanha, Power Metal) O álbum de estreia dos GOBLINS BLADE traz power metal na veia do Metal Church, Judas Priest, Omen e Savage Grace! Preparem-se para uma secção de ritmo de condução, riffs rápidos, vocais poderosos e letras cativantes! Este não é um álbum conceiptual, mas muitas canções tratam do conflito entre o bem e o mal. (Massacre Records) Sinister - «Deformation Of The Holy Realm» (Holanda, Death Metal) Os ícones do Death Metal, SINISTER, estão de volta com o seu 14º (!) álbum de estúdio «Deformation Of The Holy Realm», oferecendo tudo o que um entusiasta de death metal espera! Músicas equilibradas com old school e estruturas reconhecíveis cheias de riffs e ganchos cativantes, bem como um som extremamente brutal, levam a banda ainda mais adiante! A deformação começa agora. (Massacre Records) Sorcerer - «Lamenting Of The Innocent» (Suecia, Epic Doom Metal) Desde que eles começaram, os Sorcerer têm sido rotulados de ‘Epic Doom’ - uma etiqueta que se encaixa, mas não os define, e isso nunca foi mais evidente do que com o seu terceiro trabalho «Lamenting of The Innocent». Tudo isso se juntou para fazer o álbum Sorcerer mais rico, apaixonado e intenso até hoje, e abre as portas para o próximo capítulo emocionante para uma das melhores exportações da Suécia. (Metal Blade) Volturian - «Crimson» (Itália, Alternative/Melodic Metal)

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Volturian é uma banda de metal moderno fundada pela cantora Federica Lanna (Sleeping Romance) e pelo compositor Federico Mondelli (Frozen Crown), baseada no enorme contraste entre vocais femininos suaves e sonhadores, e guitarras pesadas e afinadas, com uma infusão maciça de música eletrónica. Os vocais cristalinos e etéreos de Lanna movem-se fluentemente entre canções groovy de ritmo lento e hinos de inspiração industrial rígidos, mantidos juntos pelos riffs de guitarra orientados para o death metal sueco de Mondelli e por uma bateria poderosa e precisa. Os teclados adicionam uma camada fundamental à música de Volturian, variando de New Wave a Europop dos anos 90 para obscuras atmosferas góticas. (Scarlet Records) Mora Prokaza - «By Chance» (Bielorrússia, Extreme Avant Guarde Metal) Bem-vindo ao mundo enervante e cheio de raiva de MORA PROKAZA, onde a loucura reina! Assim como MORA PROKAZA, a próxima nova obra «By Chance» não pode ser contida nem colocada numa única categoria musical. Uma mistura entre Avant Garde Black Metal e New School Trap, integrado com as raízes das artes bielorrussas que estão tão profundas. A agressão subjacente na sua forma mais pura ou talvez o olhar filosófico em direção ao crescimento espiritual. (Season of Mist) Hail Spirit Noir - «Eden In Reverse» (Grécia, Psychedelic Progressive Black Metal ) A banda grega de prog metal psicadélico HAIL SPIRIT NOIR lança o seu quarto álbum de estúdio intitulado «Eden In Reverse». HAIL SPIRIT NOIR é uma intrigante banda de prog metal psicadélico, com fortes influências de rock progressivo e experimental, recomendada para fãs de Oranssi Pazuzu, Ulver, Borknagar ou Ghost, mas com uma identidade própria. Um opus de black metal progressivo psicadélico de melodias trippy e aura satírica. (Agonia Records)

Noir)

Fugitive - «Multiverso» (Itália, Heavy Instrumental Rock / Prog Metal) No seu mais recente lançamento, «Multiverso», os Fugitive exibem a sua mistura instrumental em constante evolução de rock, metal, prog, post-rock e stoner-rock, num toque psicadélico representado com precisão, o conceito multidimensional e a arte desenhada por Matteo Lescio. As faixas são habilmente mixadas e deram ao projeto características muito distintas e uma base sólida para o trabalho de guitarra muito diversificado e às vezes etéreo. Este quarto disco apresenta vocais, uma peça de guitarra de concerto e até uma faixa puramente drone pela primeira vez na discografia de Fugitive. (All

My Own Private Alaska - «Amen» (França, Avantgarde/Piano Post-Metal) Entre a desproporção estética e o minimalismo formal, My Own Private Alaska assume o viés da autenticidade. Evocando os fantasmas de Chopin e os crescendos de Envy, sua música é cativante, sombria e alegre ao mesmo tempo. O fascínio deste grupo francês desdobra-se num espaço assombrado por melancólicos acordes de piano, gritos catárticos e o pulso hipnótico de uma identidade coletiva. Um êxtase manchado pela loucura, beleza e desespero. (All Noir) Atavist - «III Absolution» (Inglaterra, Sludge/Drone/Doom Metal) Reformado em 2017 após um hiato de 10 anos, ATAVIST, o defensor de Death / Doom mais esmagador do Reino Unido, retorna triunfantemente em 2020 com um novo álbum de estúdio. O álbum, intitulado «III: Absolution», é o terceiro LP da banda e surge quase 13 anos após seu aclamado álbum de 2007, «II: Ruined». «III: Absolution» é composto por quatro gigantescas faixas de death / doom metal pesado, emotivo e atmosférico, reminiscentes do início da história da banda, mas também incorporando a progressão de uma banda que cresceu como músicos e escritores na última década. (Candlelight) Horisont - «Sudden Death» (Suécia, Heavy Rock) Mais de uma década de trabalho artístico chega ao auge, com o sexto álbum dos grandes mestres do rock suecos, HORISONT. «Sudden Death» sobrecarrega a ascensão montanhosa numa explosão imediata de canções ricas e intrincadamente criadas, mas que na sua concepção perfazem um trabalho artístico consistente de 3 anos. A recompensa pelo trabalho dedicado dos HORISONT é um álbum confiantemente, suntuoso de coros de rock monumentais do tamanho de um estádio, harmonias twinguitar e rock sinfónico carregado de piano. (Century Media) Bleed From Within - «Fracture» (Inglaterra, Metalcore) O aclamado equipamento de metal moderno, BLEED FROM WITHIN, deixou o passado para trás e postulou um estado de espírito renovado com o seu novo álbum, «Fracture». Pela primeira vez na história da banda, a participação no álbum anterior (“Era”) está representada no acompanhamento (“Fracture”). A abordagem,

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entretanto, era a mesma. Experimentação com vocais, andamento, grooves e melodias, que ajudou a dar forma de como as músicas acabariam por sair. Dito isso, «Fracture» não e tão direto e pouco exigente como seria esperado. (Century Media) Pale Divine - «Consequence Of Time» (EUA, Doom Metal) PALE DIVINE estão a comemorar os 25 anos com uma declaração mais definitiva até o momento, «Consequence Of Time»! Este é o som de uma banda, cuja evolução sonora está a todo vapor, com oito canções de composição encantadora e diversidade metálica incomparável. As bandas raramente procuram reinventar-se quando atingem a marca de 25 anos. É um marco que vale a pena comemorar e talvez, acima de tudo, um indicador de uma fórmula em vigor que não precisa de ajustes. «Consequence of Time» carrega a marca de uma banda alavancando a sua ampla gama de influências para um álbum que vai além do que podem esperar dos PALE DIVINE. (Cruz Del Sur Music) Stygian Crown - «Stygian Crown» (EUA, Doom Metal) Com o seu álbum homônimo de estreia, os STYGIAN CROWN apresentam o som de “Candlethrower” ao mundo: uma combinação devastadora de doom e death metal, culminada por vocais com treinamento clássico! Eles chamam isto de “Candlethrower”: A fusão de Candlemass e Bolt Thrower! Considerando o histórico e o currículo considerável de seus membros, não foi por acaso que STYGIAN CROWN veio com este som. STYGIAN CROWN oferece algo que poucas bandas têm no seu arsenal: um álbum afinado em B, com um bombo de 26 “e um vocalista que não precisa de auto afinação. Um álbum excelente e pesado, capaz de mover céus e terras, a estreia autointitulada de STYGIAN CROWN é uma classe de composição e peso desenfreado. A destruição o aguarda! (Cruz Del Sur Music) Aversio Humanitatis - «Behold The Silent Dwellers» (Espanha, Black Metal) «Behold the Silent Dwellers» é um abismo de dissonância de ébano rodopiante usando floreios de psicadélica desanimada e brutalidade implacável para acentuar um núcleo de Black Metal ameaçador. A manifestação áudia de pathos megalopodia, horizontes de concreto e paisagens urbanas distópicas frias. “Behold the Silent Dwellers” é o resultado pungente de uma execução habilidosa e visão descomprometida. (Debemur Morti Productions) Close The Hatch - «Modern Witchcraft» (EUA, doom/atmospheric metal) Independente de uma classificação estrita, mas obediente à linhagem do metal conceiptual, CLOSE THE HATCH caminha com confiança nos passos de pesos pesados do doom metal como Neurosis e Isis, mas ainda assim se emociona com uma convicção que é distintamente sua. Com seis álbuns de estúdio na bagagem, CLOSE THE HATCH mostra uma evolução contínua num som e estrutura próprios, explorando avenidas mais sombrias de riffs violentos enquanto mescla perfeitamente as atmosfera, melodia e elementos etéreos ao longo de sua produção musical. (Earsplit) Gridfailure - «Sixth Mass Extinction Skulduggery Ii» (EUA, Experimental, Dark Ambient, Power Electronics, Dark Hardcore) Contendo material que abrange toda a vida de quatro anos dos GRIDFAILURE, o «Sixth Mass-Extinction Skulduggery II» infunde muitos estilos de percussão analógica e digital, guitarras acústicas e eléctricas, baixo, ukulele, muitos tipos de teclas e sintetizador, acordeão, trompete, theremin, powerelectronics, gaita , didgeridoo, gravações de campo e muito mais, algumas das quais foram gravadas ao ar livre, incluindo em eventos climáticos extremos. (Earsplit) Fellwarden - «Wreathed In Mourncloud» (Inglaterra, Atmospheric Black/Folk Metal) A génese dos FELLWARDEN começou em 2014 - inspirado nas paisagens criativas e na majestade tranquila e discreta das colinas do noroeste da Inglaterra, o vocalista do Fen, The Watcher, embarcou numa busca para incorporar o ambiente da região através do black metal épico e crescente. Concebido desde o início como um projeto apenas de estúdio, FELLWARDEN permite que The Watcher realmente ultrapasse os limites da expressão criativa - adicionando camada sobre camada a cada peça e construindo vastas texturas dentro de ambientes sonoros de metal extremo. «Wreathed in Mourncloud» oferece uma jornada em tela ampla através de reinos acidentados mergulhados em contos antigos, com ondas de guitarras e teclados bombásticos impulsionados pelas batidas inventivas da bateria especializada de Havenless. Enquanto isso, The Watcher adota uma miríade de vozes para dar vida a essas cinco histórias - gritos ásperos, berros orgulhosos, rugidos desesperados e coros tristes falam de perda, arrependimento, determinação e tragédias há muito dissolvidas nas brumas do tempo. (Eisenwald)

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Fatal Fusion - «Dissonant Minds» (Noruega, progressive rock ) Fortemente influenciado pelo rock progressivo dos anos 60 e 70 como King Crimson, Pink Floyd, Yes, Led Zeppelin etc. - mas também bandas mais recentes dos anos 80 e 90, como Marillion, Dream Theater, Iron Maiden etc. Fatal Fusion tem uma ampla paisagem musical, combinando muitos estilos musicais de jazz, blues, rock, metal, funk, psicadélica, ambient, latina e música clássica em uma mistura. «Dissonant Minds» é o quarto álbum da banda. (Independentes) Thyrant - «Katabasis» (Espanha, Melodic Death/Groove Metal) Nascido do nada - apenas riffs e uma ideia musical foram a base do que viria a ser Thyrant - a história é uma de amizades duradouras, coincidências de sorte e estar no lugar certo na hora certa. A banda tem em «Katabasis» o seu novo trabalho que nasceu de uma situação muito semelhante à da própria banda. Este é um disco conceptual que conta a história de alguém que passa por momentos difíceis e os conquista. Uma situação que também se refletiu nas experiências pessoais da banda nos últimos anos. (Indie Recordings) Poltergeist - «Feather Of Truth» (Suiça, Speed/Thrash Metal) As lendas suíças do speed / thrash, POLTERGEIST, estão de volta com um novo álbum! As músicas de «Feather Of Truth» carregam muitos arranjos exclusivos que os fãs de POLTERGEIST esperariam, mas por outro lado, também é um álbum bastante diversificado com várias velocidades, harmonias, melodias e influências técnicas. O novo álbum parece mais um esforço da banda em comparação com os lançamentos anteriores. (Massacre Records) Pessimist - «Holdout» (Alemanha, Old School Thrash Metal) Depois de «Death From Above», o último álbum dos German Thrash Metallers, Pessimist, foi há 7 anos. É hora de um novo sinal de vida do quinteto com «Holdout», que o deixará quebrar em 9 faixas com um tempo de reprodução de 55 minutos. Com «Holdout», Pessimist sem dúvida consegue consolidar e expandir seu lugar na cena Thrash Metal alemã e internacional e ser um verdadeiro mimo para todos os fãs do género! (MDD Records) Soul Grinder - «Chronicles Of Decay» (Alemanha, Death Metal) «Chronicles of Decay» contém 11 faixas do melhor Death Metal que se pode oferecer em 45 minutos, de Blast Speed A ​​ ttacks a rolos movidos a vapor e hinos místicos. Sem se afastar muito do núcleo do death metal brutal, a banda oferece uma enorme variedade nesta estreia, e portanto, um primeiro álbum variado e emocionante. A arte da capa que define o estilo é do artista americano Riddick Art, que é conhecido em toda a cena desde 1991 com vários designs de logotipo e capa. (MDD Records) Eye Of Nix - «Ligeia» (EUA, avant-garde black metal) Desde a sua formação em 2012, os Eye of Nix de Seattle estabeleceram-se como mestres da justaposição. Eles conseguiram unir beleza e dureza e criar um som característico que mescla doom fervoroso, black metal eruptivo e rock psicadélico. Ao longo da jornada sónica de «Ligeia», Eye of Nix eleva a aposta em todos os aspectos. O terceiro álbum do quinteto é um vórtice escuro e sedutor girando em torno de uma luz inextinguível, arrastando os ouvintes para cima e para baixo através de picos e vales de ruído cacofônico. (Prophecy Productions) Kall - «Brand» (Suécia, Black Metal/Depressive Rock) Kall - “o Velvet Underground do black ‘n’ roll - percorreu um longo caminho. Já se passaram seis anos desde que os sucessores dos depressivos pioneiros do black metal, Lifelover, lançaram seu primeiro álbum autointitulado, o seu segundo álbum «Brand» é um hino à auto-capacitação e individualismo rigoroso. Nesse sentido, o álbum é uma chamada para superar o sofrimento, usando as expressões do black metal escandinavo, pós-rock obsessivo, psicadélica movida a saxofone e o pop mais triste para passar a mensagem. (Prophecy Productions) The Moon And The Nightspirit - «Aether» (Hungria, Folk) Ao longo dos seus 17 anos de existência, a dupla húngara The Moon And The Nightspirit, nunca deixaram de cativar os amantes da música folclórica mítica. Com traços de paganismo e tribalismo, a dupla existiu em seu próprio mundo de contos de fadas ao longo de seis álbuns. Como precursores de uma nova geração de música folk celestial, eles filtram uma mistura consagrada de sons rica em camadas, cantos xamanísticos e instrumentos múltiplos de diferentes períodos, mantendo sua delicadeza graciosa e inventividade incomparável. (Prophecy Productions)

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CURIOSIDADESPALETES Países

Géneros

Géneros

EUA

30

20,69%

Black Metal

20

13,79%

Alemanha

16

11,03%

Doom Metal

14

9,66%

Death Thrash Metal

1

0,69%

Suécia

14

9,66%

Atmospheric Black Metal

9

6,21%

Folk Metal

1

0,69%

Inglaterra

11

7,59%

Black Death Metal

7

4,83%

Acustico

1

0,69%

Noruega

10

6,90%

Progressive Rock

6

4,14%

Death Industrial Metal

1

0,69%

Itália

8

5,52%

Thrash Metal

4

2,76%

Old-School Death Metal

1

0,69%

Holanda

7

4,83%

Progressive Metal

4

2,76%

Acoustic / Atmospheric

1

0,69%

Suiça

6

4,14%

Death Metal

4

2,76%

Pagan Black Metal

1

0,69%

França

6

4,14%

Avant-garde

4

2,76%

Alternative Metal

1

0,69%

Austrália

5

3,45%

Heavy Power Metal

3

2,07%

Blackened Heavy Metal

1

0,69%

Polónia

4

2,76%

Symphonic Power Metal

3

2,07%

Heavy Rock

1

0,69%

Finlândia

3

2,07%

Melodic Death Metal

3

2,07%

Dark Ambient

1

0,69%

Grécia

3

2,07%

Power Metal

3

2,07%

Sludge metal

1

0,69%

Canadá

2

1,38%

Gothic Doom Metal

3

2,07%

Psychedelic Black Metal

1

0,69%

Espanha

2

1,38%

Heavy Metal

3

2,07%

Speed/Thrash Metal

1

0,69%

Islândia

2

1,38%

Rock

2

1,38%

1

0,69%

Internacional

2

1,38%

Post Metal

2

1,38%

Psychedelic progressive rock

Africa do Sul

1

0,69%

Thrash Heavy Metal

2

1,38%

Symphonic Death Metal

1

0,69%

Austria

1

0,69%

Folk

2

1,38%

Roménia

1

0,69%

Progressive Rock

2

1,38%

Bielorrússia

1

0,69%

Black Doom Metal

2

1,38%

Bélgica

1

0,69%

Gothic Metal

2

1,38%

Italia

1

0,69%

Sludge metal

2

1,38%

Portugal

1

0,69%

Death Doom Metal

1

0,69%

Dinamarca

1

0,69%

Avant-garde Black Metal

1

0,69%

Suecia

1

0,69%

Blackened Thrash Metal

1

0,69%

Hungria

1

0,69%

Guitar Hero

1

0,69%

Ucrânia

1

0,69%

1

0,69%

Nova Zelândia

1

0,69%

Psychedelic Progressive Metal

Peru

1

0,69%

Hard Rock

1

0,69%

Metalcore

1

0,69%

International

1

0,69%

1

0,69%

Grand Total

145 100,00%

145 100,00%

9 2 / VERSUS MAGAZINE

Doom Atmospheric Metal 1

0,69%

Sludge Doom Metal

1

0,69%

Dark Metal

1

0,69%

Death Metal

1

0,69%

Horror Metal

1

0,69%

Swedish Death Metal

1

0,69%

Industrial Metal

1

0,69%

Symphonic Epic Metal

1

0,69%

Blackened Death Metal

1

0,69%

Thrash Crossover Metal

1

0,69%

Melodic Death Metal

1

0,69%

Dark neofolk

1

0,69%

Death Grindcore Metal

1

0,69%

Old School Death Metal

Heavy Dom Metal

1

0,69%

Grand Total

Old School Thrash Metal

1

0,69%


93 / VERSUS MAGAZINE


Punk sem merdas nem tretas... mas por vezes flatulento Formados em 2017, os Zurrapa devem ser a única banda do mundo que lançou dois ál-buns em plena pandemia. Descritos pelos próprios como um Punk ‘n’ roll directo e hones-to, a Versus esteve à conversa com a banda. Como é apanágio desta publicação, a dada altura a música serviu como rampa de lança-mento para assuntos fracturantes da sociedade, tais como o (des)Governo de Portugal e até flatos. Entrevista: Zurrapa do Alentejo & Zurrapa do Norte

9 4 / VERSUS MAGAZINE


esde o início que somos bastante activos quer em estúdio, quem em concertos. Vai daí e o nosso percurso, felizmente, não foi maioritariamente vivido em tempos pandémicos, bem pelo contrário.

Zurrapa do Alentejo & Zurrapa do Norte - Olá, antes de mais obrigado pelo vosso tempo e espero que esteja tudo bem com vocês e a vossa família. ZdN - Os Zurrapa foram formados em 2017, em Abril de 2020 lançaram o primeiro álbum «(Des) Governo No País Das Maravilhas» e agora temos esta pérola. Bem… vocês devem ter sido a única banda no mundo a lançar dois álbuns durante a pandemia. - De que forma é que esta pandemia influenciou a vossa música, se é que influenciou? Nuno - Efectivamente a banda foi formada em 2017, mas o “(Des) Governo No País Das Maravilhas” não foi o nosso primeiro álbum, antes já tínhamos lançado um Ep chamado “Na Taberna do B.A.” em 2017, e outro álbum chamado “Zurrapa Som Sistema” em 2018. Penso que mesmo que indirectamente esta pandemia influenciou não só a nossa musica, mas as nossas vidas. É inevitável que a quarentena, o confinamento, as regras e mais regras que nos vão sendo impostas tenham um impacto na forma como vemos o mundo. Tudo mudou, até a forma como interagimos uns com os outros. Por isso, inconscientemente, é provável que tenha influenciado a nossa música.

- Como é que vocês esperam obter o retorno financeiro destes dois álbuns? O retorno financeiro nunca foi nem será a nossa maior preocupação. Nós trabalhamos de forma independente e consciente e temos noção do que podemos fazer. Tentamos fazer as coisas de forma a que a banda se pague a si própria. Não entramos em loucuras nem em grandes sonhos , fazemos isto por gosto e é por gosto que vamos continuar a fazê-lo. - Neste álbum vocês falam tudo menos do COVID, porquê? De facto, o COVID não é abordado no disco, porque na verdade... já não podemos ouvir falar do bicho! Mas não quer dizer que não possa vir a ser um assunto abordado no futuro! Mas sinceramente nesta fase em que gravamos tudo o queríamos era não pensar no COVID, nas medidas da DGS, etc. Ainda assim, incluímos a “Fica Em Casa Ou Levas Nos Cornos” que está directamente ligada à coisa. ZdN - Vocês quase que podem ser considerados “filhos do COVID” – como está a ser o vosso percurso maioritariamente vivido em tempos pandémicos? Felizmente não somos, não queremos, nem podemos ser considerados “filhos do COVID”! A banda existe desde 2017 e

ZdA - Vi a vossa música de consciencialização para o covid, com o brilhante título: “Ficas em casa ou levas nos cornos.” Achei um slogan muito interessante e marcante. Lá falam em dois garrafões de vinho para nos entretermos em casa. Já pensaram, numa altura que nos encaminhamos para outro confinamento, em escrever um álbum só com sugestões para o que se pode fazer em casa nestes tempos de pandemia? Poderia ser uma ideia... mas na verdade não temos ideias assim tão boas para aconselhar ninguém! A música do “Fica Em Casa Ou Levas Nos Cornos” foi uma brincadeira que surgiu mesmo porque estávamos fechados em casa, fodidos da vida por não termos feito o concerto de lançamento e... deu para ali. Mas de qualquer forma, abrir 2 garrafões de vinho continua a parecer-nos uma ideia bastante interessante para quando não se pode sair de casa! ZdA - Dada a proibição de eventos com público, como pensam em promover a vossa música? Concertos dentro de casas de peep show, com um máximo de 5 pessoas por cabine, parece-vos bem? De facto, quando nos reparávamos para lançar o nosso 3º registo (“(Des)Governo No País Das Maravilhas”) fomos obrigados a cancelar o concerto que tínhamos preparado para a apresentação do disco e aí ficamos uns dias “à deriva” sem saber o que fazer. Mas decidimos fazer o lançamento na net e funcionar apenas com vendas via Ctt. E a coisa fez-se... tanto se fez que decidimos repetir e agora com o “Lambe-me o CUbo” penso que vai funcionar maioritariamente da mesma forma.

95 / VERSUS MAGAZINE


ZdN - Ora bem, de forma a dar uma ajuda na promoção e divulgação do álbum como é que vocês definem «Lambe-me o CUbo» e o que podem dizer aos nossos leitores que os faça comprar o álbum? (Já agora, onde e como o podem comprar?) O “Lambe-me o CUbo” é um disco de Punk ‘n’ Roll sem merdas e sem tretas. É directo e honesto. Como tudo o que gravamos até hoje, é feito com gosto e por gosto. E pela primeira vez decidimos tratar de toda a parte de áudio e produção. Fomos nós que fizemos a captação, a mistura e a masterização e estamos satisfeitos com o resultado. Para o comprarem é só mandarem mensagem para a página da banda e combinamos isso! ZdA - O punk tem por tradição a crítica social. No nosso (des) Governo, o que acham que podia ser feito pela cultura e pela música Portuguesa? Acho que há muito que podia ser feito pela cultura e pela música portuguesa. E se antes da pandemia já havia muito para fazer, agora então nem se fala. É triste perceber que a cultura continua a ser vista e pensada como uma área secundária... como um divertimento. Mas quando temos uma ministra da cultura que se preocupa é com drinks de fim de tarde... o que é que posso eu fazer? É manda-los foder todos. ZdN - …por falar em crítica social, quem foi o “poeta” que escreveu as letras? As letras são sempre da responsabilidade do nosso vocalista, o António Fonseca, um verdadeiro poeta, sem dúvida. ZdN – O álbum abre logo com “Intro I” e para os nossos leitores e ouvintes quem toca tão bem aquela passagem de trompete e quem se cagou para a música (… e para os ouvintes)? Todos os instrumentos tocados nas Intros são execuções de músicos

9 6 / VERSUS MAGAZINE

anónimos! Bem como o peido... que não deixa de ser também um instrumento!! Mas não, ninguém se cagou nem para a música nem para os ouvintes. É mesmo só uma necessidade fisiológica que ocorre frequentemente quando andamos de volta das letras... talvez por haver demasiadas referências (óbvias ou não) à nossa classe política. ZdN - Não acham que um peido logo nos primeiros segundos do álbum e logo de seguida um tema que se chama “Sentença de Morte” é uma verdadeira sentença de morte para as aspirações do álbum? Sim, poderíamos pensar nisso... mas na verdade não temos aspirações nenhumas para o álbum. Vai daí e o peido até poderá ser considerado como um bom prenuncio. Mas já começo a pensar que ficaram ofendidos com o peido.... ZdN - … há ainda o tocador de flauta na “Intro V”. Ele toca na flauta dele ou numa flauta emprestada? Pois, isso não sei. Não o vi a tocar vez nenhuma, por isso não vou especular. Ainda assim, tendo em conta esta merda do vírus, espero que ele tenha tocado na sua flauta. ZdN - O álbum chama-se «Lambe-me o CUbo» e uma dúvida existencial surgiu na minha mente: por que raio não chamaram, simplesmente, «Lambe-me o cu»? É uma dúvida existencial legitima. Mas o “CUbo” aí faz sentido para nós. Talvez seja uma piada nossa... e que só nós é que percebemos... mas o disco também é nosso! Mas é só um pormenor. ZdA - Tendo em conta a vossa experiência, que conselhos dariam a uma banda que está agora a começar e tem o sonho de lançar trabalhos de originais? Não há grandes conselhos. Sejam realistas, façam a coisa com gosto e se o fizeram com cabeça e sem querem ficar ricos e famosos,

Pode não parecer, mas quando trabalhamos, trabalhamos a sério. E essa tarde foi um bom exemplo, comemos e bebemos a tarde toda e gravamos meia hora.

fazem-no na boa. O grande problema é que ainda há pessoal que acha que vai lançar um disco ou dois e ficar rico. E logo aí é um mau princípio. O essencial é serem honestos e fazerem-no porque realmente gostam de o fazer. Se for só para encher chouriços não vale a pena... façam uma banda de tributo que sempre ganham dinheiro. ZdN - No fundo, no fundo…. Não me interessa saber se «Rosa Grilo é inocente» quero é saber quem bebeu aquelas cervejas todas que aparecem no vídeo? No fundo, no fundo... também não me poderia estar a cagar mais para a Rosa! Mas as cervejas foram o fruto de uma tarde de muito trabalho. Pode não parecer, mas quando trabalhamos, trabalhamos a sério. E essa tarde foi um bom exemplo, comemos e bebemos a tarde toda e gravamos meia hora. ZdA - Se a Rosa Grilo pedir para tocarem no seu julgamento, estão disponíveis? Ora aí está algo em que nunca tinha pensado. Era capaz de ser giro... se bem que por outro lado ela ainda nos abafava. Não sei, mas pelo preço certo (e com bar aberto) não descartamos nenhuma possibilidade! ZdN & ZdA - Mais uma vez, obrigado pelo vosso tempo! Obrigado nós! Pela disponibilidade e pelo apoio! É sempre um gosto! (mas acho que não nos voltam a contactar...) Facebook Youtube


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Déluge Sinceridade e melancolia

9 8 / VERSUS MAGAZINE


François-Thibaut Hordé, frontman de Déluge, apresenta estas duas palavras-chave para caracterizar a música desta excelente banda francesa. Entrevista: CSA | Foto: Simon Grumeau

Saudações! Espero que estejam todos bem. FT – Tão bem quanto possível nestes tempos conturbados. Obrigado. Entrevistei-os quando lançaram o vosso primeiro álbum («Æther», 2015). Na altura, faziam parte do catálogo da LADLO. O que vos fez mudar de editora? Eu queria mesmo que Déluge se tornasse uma banda conhecida na cena internacional e, apesar de a LADLO fazer parte da nossa lista de opções para o segundo álbum, a Metal Blade fez-nos uma oferta muito mais interessante em termos de apoio, estratégia e recursos para podermos divulgar a nossa obra junto de um público mais alargado. Quais foram os momentos mais importantes da vida de Déluge durante estes cinco anos? Ver o projeto desenvolver-se foi fascinante e tocar diante de audiências cada vez mais numerosas, ver o público em França a acompanhar cantando as nossas letras. O apoio incrível que nos foi dado pela nossa agência (The Link Productions) permitiu-nos elevar a fasquia cada vez mais alto, tornar mais profissional a nossa maneira de tocar ao vivo, participar em numerosos festivais como é o caso do Hellfest. Eis-vos de volta com «Ægo Templo». - De que trata este álbum? Para simplificar, da (re)construção pessoal, de métodos que temos de pôr em ação para fazer face às provas a enfrentar na vida. - Há alguma relação entre os dois álbuns (para além dos títulos em Latim)? Há um fio condutor que os une e

que estará sempre presente nos nossos trabalhos: a sinceridade e a melancolia. «Æther» era uma obra bruta, necessária e urgente à sua maneira. «Ægo Templo» conta outra coisa. De certo modo, de numerosos pontos de vista, é uma resposta ao nosso primeiro álbum, que abre uma janela para o próximo. - Essa relação – se existe – passa também pela música? Sem dúvida. As influências diversificaram-se, mas não tanto que essa relação desapareça. Esta tem a ver com o espetro de emoções transmitidas que eu quis que fossem agora mais alargadas. - Como distribuíram os papéis desta vez? Sou sempre eu que componho sempre tudo, mas, neste novo álbum, usei o Thomas Desrosiers, o nosso designer de iluminação, como amigo crítico. No primeiro álbum, escrevi as letras em colaboração com o Maxime Febvet, mas neste são quase todas da minha autoria, à exceção da letra de «Baïne», que foi escrita com o Maxime Keller, o novo membro da banda. - Vê-se que a capa foi feita pelo mesmo artista (Valnoir/ Metastazis). Podes falar-nos um pouco do processo que levou à sua criação? O Valnoir não é o tipo de pessoa a quem se possa ensinar a fazer o seu trabalho. Falei-lhe da temática a abordar, de certos elementos que queria ver no artwork e deixei-o fazer o seu trabalho artístico. Calculo que a reação da imprensa e dos fãs ao vosso primeiro álbum foi muito boa. E como estão a reagir a este segundo? A resposta ao primeiro álbum foi muito boa, de facto. No que diz

“[Trata] da (re) construção pessoal, de métodos que temos de pôr em ação para fazer face às provas a enfrentar na vida.” respeito a este, ainda é cedo para dizer. Ainda só saiu há uma semana, mas para já parece que atingimos plenamente os nossos objetivos. E agora, uma pergunta quase inevitável: como ultrapassaram o marasmo cultural em que estamos mergulhados atualmente para lançar e promover este álbum? Muito sinceramente, tivemos a sorte de terminar o processo de composição e a maior parte do de gravação antes que a situação sanitária atual se impusesse no nosso país. A presença de Tetsuya Fukagawa de Envy quase não acontecia devido ao confinamento bastante duro que tinha sido imposto no Japão nessa altura, mas andando depressa conseguimos concretizar essa maravilhosa colaboração. Também tive de terminar a mistura e a masterização do álbum à distância com o Thibaut Chaumont (Deviant Lab) e passámos noites em claro no Skype a trocar ficheiros, mas não descurámos nada e estamos muito orgulhosos da produção de «Ægo Templo». Obrigado pelas tuas perguntas. Facebook Youtube

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Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

Lombas, quem disse lombas? Já todos nós que conduzimos tivemos de nos confrontar com essa praga que nasce como cogumelos no meio da estrada, e não me refiro ás rotundas, quer aqui no burgo, quer pela Europa fora, quer no resto do mundo onde existe pelo menos um metro de estrada alcatroada, refiro-me as malditas lombas, ou como “carinhosamente” são apelidadas por aqui há muitos anos, “quebramolas”, que o são mesmo. Uma moda que está para ficar e mesmo expandir desde que haja um metro de alcatrão. O problema é ainda maior quando as lombas não são uma moda de segurança rodoviária ( serão mesmo? ) portuguesa mas sim mundial, inquestionável, que ninguém ousa por em causa, porque estamos a falar de segurança, certo? A meu ver, as lombas são uma falsa segurança rodoviária para os peões e uma inquestionável insegurança para os condutores, que mesmo indo a cumprir o limite de velocidade, podem não se aperceber de uma lomba e ter um acidente, alias, basta relembramos do acidente em São Mamede de Infesta em Janeiro 2019 com um autocarro que segundo a imprensa, “numa lomba mal sinalizada na estrada e uma falha mecânica são as possíveis causas do acidente, dizem testemunhas no local”. Tenho dito. Eu próprio estou sempre a passar por isso, pois com um dos meus carros sedan de “meccanica delle emozioni” é baixinho tenho mesmo quase parar, se não quiser que a frente bata na lomba. Uma vez mesmo em Torres Novas, numa avenida onde até ia devagar, só muito tarde reparei no monte de alcatrão que estava à frente de uma passadeira e não consegui abrandar o suficiente, e catrapus, lá bateu a frente na lomba, deta fez com mais acutilância que o habitual. Já o outro que tem um motor F.I.R.E., é uma maravilha para passar as lombas, excepto as das fotos de uma famosa subida aqui perto – A ladeira do Bandarra – que tem uns execráveis e ilegais lombas a meio da subida, em que tenho mesmo quase que parrar para passar, quer com um ou o outro carro. Alias, com toda esta moda dos SUVs, só há bem pouco tempo que descobri que afinal tenho um SUV!, há quase 30 anos e não o sabia. Grand’a máquina este Uno! Na minha opinião, as lombas são uma forma cobarde e avarenta de limitar a velocidade em zonas de velocidade limitada, quando se o quisessem efectivamente fazer, colocavam um semáforo vertical e no máximo aqueles redutores sonoros pintados no pavimento, mas não, vão sempre pela opção mais barata e colocar um monte de m… alcatrão a fazer de lomba que em muito dos casos nem sequer cumpre a legislação, que define o standard de uma lomba com 3 metros e 7,5 cm máximo de altura no topo da lomba, podendo no máximo ir excepcionalmente até aos 10 cm. Há duas vertentes da legislação: A sua colocação e volumetria, para o qual existe mesmo uma formula matemática que

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depende do comprimento do ressalto, da sua altura e rampas de acesso. Está tudo detalhado no documento da Autoridade Nacional Segurança Rodoviária LRV actualizado.pdf (link). Quantas lombas cumprem esta legislação? Há casos em que a lomba é mais alta que o passeio. Em muitos casos, as lombas são mesmo contra procedente e anti ambientalistas. Vamos a cumprir a velocidade, numa toada constante e lá temos de abrandar para passar a lomba, passar a lomba, e depois acelerar até regressarmos à velocidade a que íamos, o que do ponto de vista ambiental é contraproducente. Uma coisa é certa, o ambiente agradecia uma solução melhor! Pois, é aqui que esta história das lombas consegue ir um passo mais além da simples questão de eficiência na segurança rodoviária, dado que também são uma questão ambiental. O facto de termos de travar/ abrandar para passar uma lomba e depois aceleramos, só estamos a emitir mais CO2 desnecessariamente, a gastar mais combustível, quando ao invés, se não houvesse lombas ou essas fossem sonoras, podíamos manter a nossa velocidade legal contante todo o longo do percurso. E isto também é válido para a poluição sonora, pois se vamos acelerar depois vamos produzir mais poluição sonora. Por isso, quando vierem com a conversa habitual da poluição dos carros, se calhar era melhor começarem pela erradicação das lombas, tenho a certeza que no final do ano poupar-se-ia muitas emissões de CO2. E não me venham com o eléctrico e a falácia do “Zero Emissions”, pois este também tem de abrandar – recuperando energia – e igualmente acelerar depois da lomba gastando igualmente o seu “combustível” que emitiu igualmente CO2 na sua produção. Eu agora “compreendo” porque os SUVs são tão populares... Com tal proliferação de lombas, estes são a forma ideal para passa-las, quer as que cumprem a legislação, quer as que não a cumprem. Existe também os casos caricatos, como o youtuber Vilebrequin, que há uns anos decidiu lançar um Peugeot 205 a 130 km/h (link) com ele ao volante numa lomba improvisada e o resultado só podia ser um: Capotamento da viatura. Um acto verdadeiro de serviço publico, pois agora já não é necessário algum energúmeno tentar ir experimentar a mesma façanha, ou o caso do Ferrari que raspou ao passar uma lomba duma freguesia em frança, que por sinal não cumpria a legislação e a coisa acabou em tribunal com a freguesia a ter que indemnizar o proprietário em 2.000 € por uma raspadela no para-choques dianteiro. Já agora, dica na compra de um super-hyper-desportivo, o sistema de levantamento do carro (front lifting) que levanta a frente de uns usuais 4 cms é opção obrigatória. Infelizmente as lombas estão para ficar e felizmente ainda não chegamos o nível de alguns países que em algumas estradas em recta colocam lombas de x em x metros para não permitir o carro andar, numa atitude de verdadeiro quer posso e mando e os outros que se lixem. Penso que a maior parte das nossas lombas são ilegais por estarem fora do que a lei determina, pelo que se por causa de uma deles estragar o seu automóvel, por qualquer coisa que seja, pode sempre processar a entidade responsável pela estrada pelos danos causados.

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