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Melodia enfeitiçante

Depois de um interregno de seis anos, Ne Obliviscaris apresenta o seu quarto álbum: «Exul», a ser lançado pela Season of Mist. Tim Charles – uma das vozes da banda e também responsável pelo violino – fala-nos da odisseia que foi criar e gravar este álbum, que está aí para enfeitiçar os fãs e a crítica.

Entrevista: CSA

Saudações, Tim! Espero que esteja bem contigo e com os outros membros da banda! E desejo a todos um maravilhoso 2023. Este álbum é espetacular. A faixa de abertura – “Equus” – já diz tudo: voz limpa e áspera, Metal progressivo, aquele violino enfeitiçador! E ainda se pode ouvir um piano noutras faixas. Que mais poderíamos querer!

- Como vos veio à ideia esta forma poderosa de criar música?

Tim – Não é uma questão de “pensar”. A música que criamos sempre emergiu naturalmente de uma criatividade aberta ligada à nossa identidade musical.

Procuramos sempre explorar diferentes sonoridades, para determinarmos que tendências musicais cada um de nós apresenta e trazê-las para a luz do dia de formas interessantes e inovadoras.

- Parece-te que a vossa música é angustiante (especialmente por causa do violino)?

Às vezes isso acontece! O adjetivo que me vem à cabeça é: “intensa”.

O tipo de emoções que se associa à música depende do indivíduo e da sua interpretação pessoal. Mas se as pessoas conseguem sentir essa intensidade emocional que se manifesta na nossa música, isso é maravilhoso.

- Como se organizaram para criar este álbum?

A escrita do álbum começou em maio de 2019, quando nos encontrámos uma semana antes de darmos início à nossa digressão pela Austrália. Durante essas sessões de composição, delineámos várias canções que foram incluídas no álbum e depois continuámos o trabalho online. Todos temos estúdios em casa para gravar as nossas ideias e ir construindo as canções, visto que vivemos em 3 países diferentes atualmente.

- E para o gravar?

Este álbum é bastante diferente dos anteriores. O Dan foi para Nashville (EUA) para gravar as partes de bateria com o Mark Lewis em março de 2020. Quando regressou, lá por meados de março, supostamente seria seguido pelo nosso produtor – o Mark Lewis (EUA) –, o guitarrista Benjamin Baret (França) e o baixista Martino Garattoni (Itália), mas a pandemia instalou-se e as fonteiras foram fechadas. Isso pôs termo a todos os nossos planos para a gravação. Acabámos por ter de gravar o álbum em 4 países, em 9 estúdios diferentes durante mais de 2 anos devido a todas as complicações decorrentes da pandemia. Para ser franco, em muitas ocasiões o processo converteu-se numa verdadeira tortura e houve mesmo momentos em que receámos nunca vir a acabar este álbum. O que me ajudou a aguentar até ao fim foi a ideia de que estas canções eram realmente especiais e que, por isso, tínhamos mesmo de encontrar uma forma de concluir a gravação para podermos partilhá-las com o mundo. Estou animadíssimo, porque esse momento finalmente chegou.

O exílio parece ser o tema principal deste álbum (tendo em conta o título).

- Algum de vocês se sente exilado? Decidimos chamar «Exul» ao álbum, porque essa palavra encerra em si o sentimento geral do álbum e das letras. Quanto à forma como nos sentimos, penso que realmente, durante 2020/21, no meio da pandemia, muitos de nós se sentiram exilados, afastados da nossa forma normal de levar a vida. O sentimento de estarmos separados dos outros, de estarmos proibidos de contactar com as outras pessoas da forma habitual foi algo que muitos viveram com muita dificuldade, incluindo eu. O álbum não trata exatamente esse tema, mas acaba por estar muito relacionado com o que se tem passado no mundo nestes últimos tempos.

- Como relacionam esse tema central com os tópicos abordados nas canções? [Estou a pensar especialmente em “Equus”, porque a relação com as outras canções é mais fácil de perceber. Li os comentários sobre essa canção que acompanhavam a versão divulgada no YouTube e fiquei muito impressionada, porque gosto muito de animais. E também porque houve pessoas que perderam a vida nesses incêndios.] Costumam fazer canções sobre acontecimentos específicos?

Quando compomos, o que surge sempre primeiro é a música. Geralmente começámos por escrever toda a música sem qualquer tema em mente para aquela canção. Queremos criar algo dotado de intensidade emocional, que depois possa ser relacionado com temas variados que vão ser abordados nas letras. Assim que a canção está alinhavada, o Xen começa a pensar nos temas que lhe parece que podem ser associados à emoção que a música exprime. No caso de “Equus”, sinto que o tema escolhido se adapta perfeitamente à música e eu sou um apaixonado pelo tema da destruição do nosso planeta e do papel que o ser humano tem desempenhado nesse processo.

Nesse vídeo, deixei um comentário sobre as partes de violino que são realmente extraordinárias.

- Onde aprendeste a tocar esse instrumento?

Toco violino desde os 6 anos. Dos 6 aos 17 anos, estudei com muitos professores de violino seguindo o método Suzuki e depois também estudei violino clássico e composição na Universidade de Melbourne, na Austrália. Somando tudo foi um processo que durou bem 20 anos.

- Por que tiveste a ideia de tocar esse instrumento numa banda de Metal que não se dedica ao Folk Metal?

Na realidade, inspirei-me em bandas como Apocalyptica, que tocam violino de uma forma muito Metal. A primeira vez que os ouvi a tocar violino com distorção foi realmente um momento espetacular para mim. Mas de facto não tinha muitos violinistas para me servirem de modelo, porque somos um grupo pouco numeroso na cena Metal, especialmente na categoria de membros das bandas. E, geralmente, os violinistas são membros de bandas de Folk Metal. Quando me tornei membro de Ne Obliviscaris, sentia-me especialmente influenciado por músicos como Jeff Loomis ou John Petrucci ou até John Coltrane e queria fazer um trabalho semelhante ao deles, mas a tocar violino num contexto de Metal. Penso que foi o facto de me inspirar em músicos que não são violinistas que me levou a desenvolver um estilo diferente de muitos outros violinistas da cena Metal.

A capa do álbum é magnífica. Foi o Marc (Campbell aka Xenoyr) que fez a arte para este álbum. [Parece-me ser o estilo dele e já o entrevistei como artista gráfico há alguns anos atrás.] Sim, o Xen criou a arte e o trabalho dele é realmente extraordinário! Estou felicíssimo por ter um artista tão maravilhoso na nossa banda.

Este é o quarto álbum da banda e vai ser lançado seis anos depois do seu antecessor.

- Precisaram de fazer uma pausa? Ou foi por causa da pandemia? [Desde esta crise mundial em 2020, tudo o que aconteceu antes desse ano parece que se passou há séculos atrás.]

Não tínhamos planeado fazer uma pausa e o atraso, tal como já referi, foi causado pela pandemia. Mas penso que esse tempo extra teve algumas consequências positivas. Sinto que ficámos revigorados e mais ansiosos do que nunca para retomar o contacto com o mundo e os nossos fãs.

- Já têm o quinto álbum na forja? Bem, sim e não. Já temos ideias para esse álbum, mas primeiro temos de nos concentrar no lançamento deste antes de avançarmos para o próximo. - E como tencionam promover este álbum?

Com uma grande digressão mundial! Incluindo os nossos primeiros concertos como cabeça de cartaz em Portugal! Vamos andar em digressão na Europa e no Reino Unido entre 5 de maio e 3 de junho. Estaremos no Mystic Festival, na Polónia, a 7 de junho. Vamos ser cabeça de cartaz em concertos nos EUA e no Canadá entre 5 de outubro e 13 de novembro. E queremos fazer o mesmo na Austrália, na Ásia e na América Latina. Queremos partilhar a nossa música com a maior audiência possível!

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