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…And Oceans

Sonhos e cataclismos

Do sonho etéreo ao cataclismo avassalador: eis o percurso que os finlandeses … And Oceans nos propõem neste seu novo álbum, misteriosamente intitulado «As in Gardens, so in Tombs», a sair pela Season of Mist em janeiro de 2023.

Entrevista: CSA | Fotos: M. Laakso

Saudações! Espero que esteja tudo bem contigo e com a banda. Timo – Saudações! Por aqui está tudo muito bem. Estamos ansiosos por lançar o álbum para que todos o possam ouvir!

Vi a ilustração que o Adrien Bousson fez para a capa do vosso álbum e esta imediatamente chamou a minha atenção. É absolutamente maravilhosa, faz-me sonhar e lembra-me arte bizantina. Tem tudo a ver com a vossa música, não é verdade? Como a relacionam com o tema central do vosso álbum? Que papel desempenhou a banda na sua criação?

Procuramos relacionar sempre a capa com a música, tanto quanto possível.

Quando lançámos o álbum anterior, o Adrien começou a fazer a capa inspirando-se na arte de um pintor russo. Aliás, fomos nós que lhe mostrámos um quadro desse pintor. Depois, quando o Mathias viu essa capa, sentiu-se inspirado e começou a escrever as letras. De seguida, o artwork e o livrinho que acompanha o álbum foram feitos tendo em conta essas letras. Portanto, está tudo ligado entre si.

Neste álbum que vai sair agora, toda a arte decorreu das letras. O Adrien começou a fazer a ilustração para a capa e os outros elementos inspirando-se nestas letras. O Mathias explicou-as um pouco como fez no álbum anterior, mas não revelou tudo, nem entrou em demasiados pormenores. Portanto, o Adrien esteve à vontade para interpretar o tema à sua maneira.

Depois fui ouvir o vosso primeiro single e a fascinação tornou-se ainda mais forte. Adoro a forma como a vossa banda combina violência com melodia na sua música. As partes violentas fazemme pensar na realidade e as partes melódicas funcionam como formas de nos evadirmos dela. Concordas comigo?

Tenho a impressão de que ouvi essa interpretação em todas as entrevistas sobre este álbum que demos até agora. Concordo contigo em absoluto. É bom ouvir isso, porque esse era um efeito que pretendíamos obter e trabalhámos para ele: criar contrastes entre material agressivo e melancólico/ melódico. Pessoalmente, gosto muito de ambos os estilos, mas, quando ouço um álbum, pode ser difícil ouvir durante 50 minutos só material altamente agressivo ou só material melódico. Gosto de misturar os dois estilos. Isto não acontece necessariamente em cada canção, nem foi algo em que estivéssemos a pensar expressamente quando as escrevemos. Só nos apercebemos disso, quando temos material para um álbum. Então podemos ouvir o material focando-nos no álbum na sua totalidade.

É curioso notar que, embora a vossa música seja realmente muito sinfónica, se ouve perfeitamente a bateria, às vezes a adensar a atmosfera do álbum, outras vezes a contrariá-la. Como é que este efeito se manifesta nas diferentes canções incluídas neste álbum?

É sempre difícil ouvir alguma coisa, quando temos muitas camadas de teclados. Tens um fundo constituído por uma massa sonora de teclados e depois tens também uma linha melódica. Depois ainda tens a guitarra principal. Desta vez, penso que conseguimos fazer isso tudo muito bem, graças ao excelente trabalho de mistura e masterização de Tore Stjerna/ Necromorbus Studio. Isto é algo que torna a música interessante. Tens variação, tens contraste. Há imensas coisas a acontecer em simultâneo, mas sem excessos. Portanto, é tudo uma questão de equilíbrio.

O que significa o misterioso título do vosso álbum – «As in Gardens, so in Tombs» – do ponto de vista da banda?

O Mathias é que seria a pessoa indicada para responder a essa pergunta. Vou reproduzir um comentário que ele incluiu na nova bio da banda: “O que quer que seja que aconteça, quando quer que seja que isso aconteça, nada faz diferença. Nós sempre fomos e sempre seremos um elemento de um círculo de energia eterna.”

Que tópicos são tratados nas letras das várias canções que o álbum inclui? [Eu sei que foi o Mathias que as escreveu, mas certamente ele consultou-vos.]

Na realidade, organizámo-nos sempre de forma a que as letras e os temas fossem escolhidos pelo vocalista. É claro que eu gosto de saber de que tratam as letras e, pelo menos, leio-as, quando estão prontas, haha. Portanto, compete sempre ao vocalista escolher o tema e escrever as letras. Eu nunca escrevi letras para nenhuma das bandas de que faço parte. Sempre confiei nos vocalistas, tal como eles confiam em nós. Portanto, desta vez, tal como das outras, ninguém foi consultado. Li as letras quando o Mathias as apresentou à banda, no momento em que lhe pareceu que estavam prontas. No entanto, não me lembro de nada. Terei de as ler novamente, quando tiver nas minhas mãos o produto final. Por conseguinte, não tenho muita coisa a dizer sobre os tópicos das canções. Os títulos devem ajudar. Geralmente, o Mathias pensa muito no que vai escrever. Não se limita a juntar palavras e fazer rimas, sem se preocupar com o que elas significam.

Serão capazes de replicar a atmosfera onírica do álbum no palco?

Sem dúvida. Se precisarmos de usar muitas camadas de teclados ou algo desse género, teremos material de reserva. O Anti não pode tocar muitos teclados ao mesmo tempo, por muito talentoso

“ que seja, haha. É claro que as luzes, etc. também serão relevantes para criar uma certa atmosfera e isso vai depender do local onde tocarmos e do equipamento e pessoal disponíveis para nos apoiar. Não poderemos transportar connosco esse tipo de material.

[…] toda a arte decorreu das letras. […] O Mathias explicou-as um pouco […] mas não revelou tudo […] Portanto, o Adrien esteve à vontade para interpretar o tema à sua maneira.

E agora uma curiosidade minha: por que escolheram o nome de … And Oceans para a band? [É um nome imponente.]

Nos anos 90, faziam-nos essa pergunta muitas vezes. Costumávamos responder que competia ao leitor/ouvinte completar o nome como quisesse e interpretá-lo à sua maneira. O nome parecia fazer as pessoas pensar. A ideia que presidiu à escolha desse nome foi apenas o facto de não querermos um nome típico de uma banda de Black Metal. Hoje em dia, parece-nos um bocado ridículo, mas na altura pareceu-nos muito original. Às vezes soava bem e outras vezes causou problemas por parecer demasiado provocante, haha.

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