Live Versus#45

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Deep Purple Vagos Metal Fest Sepultura

Wave-Gotik Treffen VOA Laurus Nobilis


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DEEP PURPLE + UHF 04/07/2017 - MEO Arena - Lisboa Reportagem: Nuno Lopes (& Eduardo Ramalhadeiro) Fotos: Nuno Lopes

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The Long Goodbye Tour será, ao que tudo indica, a última oportunidade de ver os gigantes Deep Purple em cima do palco e, Portugal teve a oportunidade de testemunhar o adeus da banda naquele que foi o último concerto da primeiro parte desta digressão. No entanto, a banda nunca viveu, apenas, de êxitos do passado, por isso mesmo, promete vir a sair de cena pela porta grande, existindo um disco tremendo de nome Infinite, como despedida ás edições. Foram sete anos de ausência. Sendo o sete um número mágico e sendo os Purple verdadeiros Magos na sua arte, outra coisa não seria de esperar do que um concerto soberbo, sem qualquer ponto negativo que possa ser apontado. A banda, liderada como sempre por Ian Gillane Roger Glover, trouxe até um Meo Arena (que não esgotou!) um espetáculo competente onde os novos temas, desde logo com Time for Bedlam a abrir, intercalaram com os temas clássicos da banda, cujo primeiro grande momento surgiu na quarta canção, Strange Kind of Woman. Claro que a mobilidade nunca poderia ser a mesma, mas a música dos Deep Purple é destinada aos sentidos, é feita para toldar o espírito e, claro que a banda teve sempre o público não mão, reservando, inclusivamente, uma versão de Cheira a Lisboa, cortesia de Don Airey. De inicio ao fim esta despedida foi sempre em crescendo de Bloodsucker a Highway Star, de Lazy a Perfect Strangers que não poderiam faltar. Claro que, o momento alto surgiu nos últimos momentos do concerto com a inevitável Smoke on The Water, a mais mítica música dos britânicos, que levou a sala lisboeta ao rubro para não mais regressar e, já em encore Hush e Black Night que colocou um ponto final na actuação dos britânicos. Duas horas depois do inicio os Deep Purple despediram-se do público português, talvez para sempre, quem sabe até um dia. Se esta foi mesmo a despedida da banda ficará, para sempre, registada na memória dos muitos que se deslocaram à arena de Lisboa. A história do rock fecha um capítulo com esta digressão e, os Purple continuaram a ser uma banda que vai marcar todas as gerações vindouras. Na primeira parte os UHF vieram recordar os tempos em que abriram para os Deep Purple, no concerto do Campo Pequeno e, no tempo que lhes foi dado a banda de Manuel Ribeiro, apreciou cada momento e aqueceu, muito bem, um público que também era deles e, como tal, a banda usufruiu do momento e deixou o público preparado para o que viria a seguir. O Rock fez história com estas duas bandas e este espetáculo foi um pedaço de história de um rock que um dia existiu e que sempre irá ser recordado.

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04-06/08/2017 - Corroios Reportagem: Nuno Lopes Fotos: Vera BeleizĂŁo

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DIA 1 04/08/2017 Um copo meio cheio Pelo segundo ano consecutivo Corroios recebeu a edição do VOA Fest. Se no ano anterior a curiosidade residia em saber como seria o evento fora da sua casa mãe, este ano a curiosidade seria a confirmação do evento para o futuro, dissipando todas as dúvidas em relação ao mesmo. Claro que num evento destes existem sempre opiniões divergentes. no entanto, confesso que, ao entrar no recinto gostaria de ter visto um pouco mais de sombra, sendo que o calor apertava na Quinta do Marialva quando os Process of Guilt abriram as hostilidades perante o pouco público que ia entrando no recinto, que bela forma de começar as festividades, porém a falta de público foi sentida e, apesar de a banda ter mostrado o porquê do, cada vez maior, burburinho em seu redor. A banda tenta agarrar o público que se ia amontoando na sombra e a banda toca, quase, ao desconhecido. Uma pena! Depois veio o primeiro sobressalto, os horários do Palco Loud! tinham sido alterados, deixando assim espaço para os holandeses The Charm And The Fury brilharem no Palco Principal. Desconhecendo a banda por completo, deu para se perceber que existe uma base de seguidores em Portugal, apesar do som se esgotar ao final de pouco tempo, apesar de competentes e terem, ao leme Caroline Westendorp , uma competente entertainer, no entanto, apesar das reacções do público serem positivas, começamos a remar até ao Palco Loud! onde, finalmente os Névoa nos vão trazer o seu Post-Rock, porém, aqui surge a desilusão, o palco demasiado pequeno para bandas e, permitam-me um reparo, os artistas deveriam ter sombra, pois foi visível, de forma constante nos 3 dias do evento, o efeito temperatura nos músicos, isto em espaço de 30min, em que dura a actuação fria dos Névoa, podemos dizer que a banda actua para curiosos que se deitam na relva e assistimos a crianças a fazer o pic-nic ao ritmo psicosuicida dos lisboetas. Para primeira impressão ficou a sensação de um palco que merecia mais, ou talvez a curiosidade e expectactiva que gerava em torno deste palco fosse em demasia. Quanto aos Névoa, cumpriram o seu papel na perfeição e, serviram de bandeja aos Insomnium, que se preparavam para atacar o Palco Principal e, sobre os finlandeses recaía alguma expectactiva, podendo mesmo dizer que só após a actuação da banda, o motim festivaleiro, começava, efectivamente a acordar. Apesar de ter perdido o inicio da actuação da banda, ficaram na memória temas como Ephemeral ou Revelation, que fizeram pare de um alinhamento eficaz e que iniciou, definitivamente o VOA2017. Já os Épica foram o que se esperava deles e o concerto foi um misto de pirotecnia, sensualidade e, claro, Power Metal. Sempre liderados por Marc Jensen e, claro Simone Simons, os Épica provam que são uma banda de palco, muito mais do que em disco e foi perante um público que, percebia-se bem, era o deles, a banda soube aproveitar e divertir-se com o algum público, escassas centenas, para ver que os holandeses são hoje, uma melhor banda e isso fez-se sentir em temas como Dancin in a Hurricane, The Essence of Silence ou Cry For The Moon. Chegamos ao final da noite, isto, após no Palco Loud! termos assistido ao concerto dos Earth Drive, que serviu para um pic-nic na relva e para um momento de descanso e de uns Black Wizards que, por motivos alheios não foi possivel assistir. Neste momento a expectactiva recaía nos Carcass e ficou provado, uma vez mais que os britânicos sabem como agradar a todos fans, numa actuação que pecou escassa, isto apesar do Mosh estar animado. Não faltou o regresso ao passado em temas como Keep on Rotting in The Free World ou a seminal Heartwork que, continua a ser o hino dos Carcass. a banda mostrou que não veio até Corroios para passar o tempo e continuam a ser uma máquina bem oleada. Assim terminou o primeiro dia de VOA2017, em registo ameno, em que o público, apesar de simpático, não acorreu à Quinta do Marialva, deixando toda a expectactiva para o dia seguinte.

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DIA 2 05/08/2017 O Despertar O dia amanhece com algumas dores no pescoço, como seria de esperar, a dormida foi curta porém o cansaço não aperta. Apesar das condições atmosféricas se manterem inalteradas, corre uma brisa no palco principal onde os conimbricenses Terror Empire aproveitam ao máximo a oportunidade e tocaram o seu Thrash Old School perante algumas dezenas de festivaleiros que se começavam a aventurar no Moshpit. Quanto aos Terror Empire, que se preparam para o lançamento de Obscurity Rising, e de onde retiraram cinco malhas, deu para perceber a evolução da banda e cujo disco promete ser uma das sensações do ano. Mesmo com alguns dissabores pelo meio, em que Rui Alexandre fica sem som na sua guitarra e, num elevado nível de profissionalismo, o show continuou com Ricardo Martins a ajudar o companheiro enquanto debita a sua voz grave. Este foi um concerto de uma banda que mostrou serviço e que foi o mote para o que seguiria, foi aí que entraram em cena os espanhóis Childrain que mantiveram o consumo de cerveja e o Thrash bem altos no Marialva, porém, ficam aquem da expectactiva e o concerto é ameno, no entanto, a banda não apresenta nada de novo e segue as regras com respeito, e fazem-no bem. Arrancam as hostilidades no Palco Loud! e somos abrilhantados pelos Adamantine, uma das novas coqueluches do metal nacional e que aproveitou a oportunidade para apresentar o mais recente Heroes and Villians e que mostrou uma banda cada vez mais oleada e entrusada, isso fazendo com que o concerto dos Adamantine tenha sido um belo aperitivo para o que se lhe seguiu, pois no Palco Principal os Death Angel começavam a partir a loiça toda, a meio da actuação destes veteranos Norte-Americanos fico a pensar porque raio as bandas americanas falam tanto? O que é que isto quer dizer que, os ritmo foi subindo e descendo conforme os discursos, mais ou menos óbvios de Mark Oseguda, fiel comandante destes reis do Thrash Underground. Este foi um concerto de perseverança e onde ficou provada a vitalidade dos Death Angel. Por esta altura já se respira um outro ar em Corroios, existem já mais alguns festivaleiros que, sabe-se agora, tinham algo em mente, o concerto dos Venom. Não sei antes se regressar ao Palco Loud! para um pouco de Cruz de Ferro com o seu Metal Lusófono a pedir uma boa coesão e, claro, cerveja. Da relva os Cruz de Ferro são imponentes e Portugal é grande! Regressemos aos Venom, como seria de esperar este foi um concerto incendiário, literalmente, a banda fez-se acompanhar de um setlist que é uma «babada» e o público esteve na sua mão durante todo o espéctaculo, os Venom não criaram o Black Metal, os Venom são os Venom e foi de língua afiada que os veteranos voltaram a Portugal. Mas, este segundo dia está animado e, no palco secundário, os Rasgo prepararam-se para partir o pouco que partir. A banda encontra-se numa rampa de sucesso e em grande forma. Temos por aqui um Paulo Gonçalves a partir tudo, gigante no palco, provocando o público sem excepção enquanto vocifera as mágoas do dia a dia, os Rasgo serão um caso sério e para ser levados a sério. A última coisa que ouço do público é: «Caga nos violinos», numa alusão clara aos cabeça-de-cartaz deste segundo dia, os finlandeses Apocalyptica que traziam consigo os Metallica de há 20 anos, ou seja, um regresso ás raízes mas com bateria. O que é bom neste concerto, para além da mestria com que os músicos atacam o seu instrumento é o facto de se estar a ouvir Metallica, ou seja, é uma espécie de banda de versões cujo vocalista é o público. Por entre os clássicos, para a «novidade» Battery os Apocalyptica fizeram-se acompanhar do quarto cavaleiro, o homem que gravou o disco, que também fez a magia. Pelo meio uma bateria desconcertante e, os mais torcedores do nariz quebram com a intensidade de um concerto que já se estava à espera e pudemos todos brincar aos clássicos.

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DIA 3 06/08/2017 O final apoteotico O VOA2017 entra no último dia com os rostos já cansados. este é o dia pelo qual todos esperavam, não se ouvia outra coisa, era o dia de Trivium, ou seria de The Dillinger Escape Plan? Desde a abertura das portas que alguns seguidores mais acérrimos se sentavam junto à grade (grande erro, mas já lá vamos!). A abrir os Colosso atacam sem o sol com a poeira que destilam com o seu Post-Apocaliptic, Messhugah Metal. Os Colosso estão no pico da forma e sobrevivem ao calor de Corroios, para os que preferiram ficar nas tendas ou nas praias, perderam aqui uma boa oportunidade de ver uma das melhores bandas nacionais. Também os Killus, banda vinda da Catalunha, o caso mudou de figura e o Freak Show Horror Punk Metal tomou conta do palco principal. Fazendo em algunas momentos lembrar Wednesday 13 ou Murderdolls os Killus surpreenderam com um som e uma presença em palco supreendente, sendo que a ajudar a isso os Killus aliam uma boa imagem, fazendo daqueles 60minutos um turbilhar de corpos dançantes e de alguma poeira no ar. No palco Loud! os Don’t Disturb My Circles fizeram-se acompanhar de um som que não agradou a muitos dos presentes, demasiado hardcore, demasiado qualquer coisa que não se percebe o que, para além de muita energia pouco mais há acrescentar a uma banda que não encheu as medidas certas para os Obituary que, como seria de esperar, ganharam o Prémio de Moshpit de todo o VOA Fest. Fazendo jus ao nome os Obituary tiveram uma exibição coesa onde intercalaram temas do passado, com a inconfundível Slowly We Rot paro final apoteótico, com temas do mais recente disco homónimo. Os irmãos Tardy continuam a ser a força motriz, embora acompanhados e muito bem, por um guitarrista que arranha o português e um baixista que não parece estar ali, apesar de tudo. Quase 30 anos depois os norte-americanos teimam em não tirar o pé e fazerem Death Metal. Como já vem sendo hábito existiram momentos em que John Tardy deu o protagonismo aos restantes membros. Existiu tempo para Circle Pits, Mosh Pits e muito, muito pó. Penso como é que .Tardy consegue ter aquele cabelo enquanto abano a cabeça e o aroma a cannabis vem de todos os lados. Após Slowly We Rot, os norte-americans demoram a sair do palco, o público quer mais, mas não há tempo. Para o jantar somos fustigados por 30min de grind nacional com os Grog, nome maior e pioneiro do género, no Palco Loud!, uma vez mais Pedro Pedra e os seus rapazes deram um concertaço, daqueles a que a banda já nos habituou, deixando no ar a sensação de que os Grog poderiam, perfeitamente, ocupar o palco principal. Já merecem. O VOA2017 entra na sua recta final, por estas alturas, os mesmos seguidores que se juntaram nas grades ao inicio da tarde, já não devem andar por lá, se andarem vão ser brindados com a esquizofrenia, com as despedidas e com um concerto irrepreensível dos The Dillinger Escape Plan, num concerto que era ansiado por muitos, pois, como é sabido os Dillinger estão a despedir-se dos fans, não se pense que este foi um concerto «lamechas», longe disso, os The Dillinger apresentaram um set que percorreu a sua discografia e que os colocou como uma das bandas mais influentes do virar do século. Explosivo, instrospectivo, grandioso. Este foi um dos momentos mais marcantes do evento e Corroios soube despedir-se dos norte-americanos. Virando a antena para o fecho do Palco Loud! onde a escuridão se abateu e o demónio desceu à terra, cortesia dos Omnious Circle, quarteto terrorista que faz com que o fogo desca à terra e o cheiro a enxonfre se penetre nos nossos pulmões. Os The Omnious Circle fazem do palco o seu altar e são uma banda a ter em conta no futuro, desde a imagem a uma sonoridade que oscila entre um Black e um Dark Metal, a banda acabou por surpreender e fechou o palco em grande. Também em grande foi o fecho do festival, com a passagem dos Trivium, que eram abanda mais esperada do dia, a pisarem o palco e, como seria de esperar a banda, liderada por Matt Heafy esteve à altura dos acontecimentos e mostrando uma banda segura de si mesma e onde não existe espaço para a critica negativa, pois por muto que sejam criticados, os Trivium são a última banda de Metal do Mundo, mesmo não sendo os Metallica. Com uma coesão e com uma réplica exacta do registo em disco, a banda fechou o cartaz com chave de Ouro, deixando, talvez de proposito In Waves para o final apoteótico, sem faltarem, claro está, temas como Strife, Rain e, claro Dying in Your Arms debitados entre juras de amor e fidelidade ao nosso país. Esta foi a melhor forma de terminar um festival que, apesar de não ter sido grandioso e de, como sempre, existirem coisas a melhorar, fica a certeza, ou quase, de um VOA2018. até lá, ficam as recordações e o tempo de espera.

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ESPECIAL LEIPZIG

02/06/17 – 05/06/17

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Wave-Gotik Treffen Elegância Gótica O Wave-Gotik-Treffen é um festival único. De facto, nenhum outro festival, tão negro como o WGT, consegue tomar por inteiro posse de uma cidade e de todas as suas salas de concertos. A cidade de Leipzig é a vítima escolhida e providencia as salas mais requintadas e negras, tão apropriadas para um festival como o WGT. Entre os vários eventos, que incluem concertos (tal como expectável), somos também presenteados com um Pic-nic Victoriano, um espectáculo de uma beleza esmerada num dos maiores parques da cidade, festas Fetish em palácios, leituras de livros e exposições dentro de igrejas, galerias e museus. Reportagem: Eduardo Rocha


Uma Sinistra Ascendência Os Sinistro surpreendera muitos quando anunciaram que o seu álbum de originais “Semente” iria ser lançado pela Seasons of Mist. Digo muitos porque outros tantos estariam à espera que isto acontecesse. E, de facto, “Semente” é um álbum brilhante que tem sido aclamado por toda a crítica e por uma vasta audiência. Prova disso são as imensas presenças em festivais europeus e o anúncio de uma digressão europeia com os Paradise Lost. E foi no fim do excelente concerto que os Sinistro deram no prestigiado festival alemão Wave-Gotik Treffen, aonde tiveram honras de headliners num dos palcos do festival, que a Versus conversou com a banda. Fernando (baixo) e Patrícia (vozes) contaram-nos um pouco da história da banda bem como acerca dos seus planos futuros. Entrevista: Eduardo Rocha

Acabaram de tocar no Wave-Gotik Treffen. Como é que foi o concerto e o que acharam deste festival que é um pouco diferente dos outros? Patrícia: Nós já conhecíamos o WGT porque existem Portugueses a virem regularmente a este festival e, portanto, já tínhamos a referência de ser um festival particular. Para nós, foi uma boa experiência. Senti que o público é mais específico e mais direcionado mas penso que conseguimos cumprir as expectativas. E tiveram honras de serem os headliners. Fernando: Eu só me apercebi de que íamos encerrar

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o palco há menos de uma semana atrás. Pensava que iria ser um concerto normal em que iríamos tocar um set com a duração habitual. Quando começamos a analisar a folha informativa do festival é que nos apercebemos de que iríamos tocar o nosso maior set. Não temos mais música preparada para além da que tocamos hoje. Foi fixe (risos)! E entraram com o som perfeito sem intro. Como é que está a correr a vossa experiência de internacionalização? E acabaram de anunciar uma digressão com os Paradise Lost.


P: Podemos dizer que antes de haver o EP “Cidade” comigo, aquilo que eu entendi é que Sinistro seria uma banda de estúdio. F: Sim! Nós todos tínhamos outros projectos. Eu estava mais ligado ao estúdio e entretanto conheci o Paulo e o Ricardo. Estávamos a gravar o álbum dos Atentado e numa das malhas eles pediramme para fazer uma orquestração. Tipo “põe aí algo orquestral, algo sinistro...” (risos). Até é daí que vem o nome. Eles gostaram e o Ricardo depois disse-me que tínhamos que fazer uma banda só deste género. E depois acabou por acontecer. Em 2012, fomos para o estúdio e compusemos logo bastantes coisas. Foi algo bastante espontâneo. E depois do primeiro álbum, que é só experimental, decidimos fazer algo com esta moça. E chegamos logo à conclusão de que tínhamos que continuar todos juntos. Foi aí que começou a surgir mais interesse pela banda. E foi isso que acabou por desencadear o que está a acontecer agora. É surpreendente para nós a maneira como as coisas se começaram a desencadear. Mas sentimonos entusiasmados e prontos para chegar quão longe quanto nos for possível. Com o álbum e com a digressão bastante extensiva com os Paradise Lost, como é que se sentem sendo uma banda que só canta em Português? F: O que sinto é que é precisamente o facto de termos a Patrícia a cantar em Português que torna a coisa única. Ficamos surpreendidos pelas pessoas gostarem de ouvir este estilo de música cantado na nossa Língua. Foi inesperado e estávamos na nossa vidinha normal a lançar discos pela Raging Planet e estávamos completamente satisfeitos. E depois começaram a aparecer mais pessoas interessadas pela banda e olha, siga! Como é que estando em Portugal a fazer a vossa vidinha calminha, conseguem dar o salto? F: Para nós foi completamente inesperado. Nós todos tínhamos outras bandas e não é que puséssemos menos empenho nessas bandas no passado. Foi esta que começou a resultar. Não sei explicar porquê. Talvez pelo facto de ser uma mistura de doom e com a voz da Patrícia em Português... E agora vamos falar da Patrícia. Como é que consegues esta presença hipnotizadora em cima do palco? P: Não sei! Não te consigo explicar o que faço. Sinto e acho que todos em cima do palco sentimos aquilo que tocamos. E ao sentir, pode não ser perfeito mas é único. As letras com a música encaixam perfeitamente e acho que temos uma química gigante. Como é que aconteceu a assinatura com a Seasons of Mist? F: Começamos a trabalhar com o Aisen, do nosso management, e ele lançou-nos o desafio de termos

um álbum em 9 meses. E assim que lhe apresentamos o produto final, ele disse-nos “OK, vou bater a umas portas”e apareceu com a Season... Como é que estão a preparar a tour com Paradise Lost? P: Para já, Paradise Lost é uma referência e pensando em todo o historial dos Sinistro, em como tudo foi acontecendo muito inesperadamente, esta digressão também acaba por ser um pouco surpreendente. F: Também houve algumas ligações porque o Nick gosta da banda e também porque partilhamos o mesmo agente. Quando nos disseram que isto podia acontecer, nós dissemos “Ok. Quando é? Digam-nos aonde e nós estamos lá”. É daquelas propostas que não podes recusar. Houve tantas bandas em Portugal e vendo as poucas bandas que conseguiram sair, como é que sentem que isto acontece? F: Acho que isto é um pouco imprevisível. Acho que o facto de isto não acontecer muitas vezes com bandas portuguesas não tem a ver com o facto não haver bandas de qualidade em Portugal. Existam bastantes bandas de qualidade que poderiam estar a fazer o mesmo que nós. Não sabemos responder a essa pergunta mas temos que estar à altura do desafio. Já estão a planear o próximo álbum? F: Nós vamos começar o gravar na próxima semana! E vão tocar algo novo na tour? F: É provável. Ainda temos que escolher os temas e que os preparar. E o que podemos esperar do novo álbum? F: É estranho porque é mais pesado, mais lento, mais melancólico e mais doce. Não faz sentido nenhum o que estou a dizer mas é verdade (risos). Não estou a clarificar nada mas vai ser algo assim. E como vai ser com gravações? F: Nós gravamos sempre no nosso estúdio que foi aonde todos nos conhecemos e por isso acaba por ser lá que fazemos tudo. E que conselhos dariam a alguém com uma banda? F: Acho que o melhor conselho é fazerem as coisas com autenticidade e não procurar ir atrás de uma moda. E eu já fiz disto e acho que acaba por ser uma coisa natural, fazeres música à imagem dos teus ídolos. Acho que o que acabou por resultar foi o experimentarmos sem reservas e não nos limitarmos. Não temos que respeitar nenhuma regra para cabermos num certo estilo para um determinado público alvo. Tudo o que nos agrada acaba por integrar a nossa música.

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DIA 1 02/06/2017 Quanto aos concertos, os números são impressionantes: mais de 200 artistas invadiram a cidade em mais de 50 diferentes palcos. E todos os estilos estão incluídos com um foco bastante forte na cena gótica, mas também com muitos concertos de música folk, ambientais e de metal. E foi no metal que nos focámos! O primeiro dia começou, para nós, de uma forma bastante tranquila com alguns concertos e algumas bebidas no Heidnisches Dorf. Este é um parque um pouco afastado da cidade aonde se pode encontrar a aldeia medieval do festival. A verdade é que a primeira banda em palco após a nossa chegada não ajudou nada a esse início calmo. A tocar aquilo que a própria banda chama de “Rag’N’Roll”, testemunhamos uma performance verdadeiramente selvagem dos Ragnaröek, durante a qual a banda foi gentil o suficiente para partilhar um pouco das suas bebidas com o público através de uma garrafa e uma mangueira que era passada por entre os presentes. Os Ragnaröek tocam uma espécie de metal industrial misturado com algum folk o que proporcionou um bom começo do festival. Metusa foi a banda seguinte sendo que nos eram uns completos desconhecidos. Também não ficamos muito impressionados com o seu rock misturado com algumas influências folk, sendo que os Metusa nos pareceram completamente fora de lugar para um festival como o WGT. Isso deu-nos a oportunidade de irmos beber umas cervejas enquanto escutávamos as restantes músicas desta banda. Os Romuvos foram quem finalmente nos deram o que tanto queríamos: um bom concerto de folk-metal com uma atitude séria, que é algo que às vezes falta neste género, e grandes músicas. O concerto iniciou-se com a excelente melodia de “Under the Glaciers of the Baltijos”, sendo que a música dos Romuvos se adapta completamente ao ambiente medieval do local aonde tocaram. Uma influência óbvia destes lituanos é Falkenbach, o que atesta a qualidade da sua música. “Beyond the Gates of Ouroboros” e “Romuvan Dainas” foram outras músicas tocadas e ficou claro que o público estava a gostar do concerto. Depois chegou a hora de sair desta bela vila e rumar para o Kohlaribizirkus para ver o concerto mais esperado do dia (pelo menos para nós...). Os Portugueses Sinistro eram os headliners e o excelente álbum “Semente” dá todas as indicações de um grande concerto. E foi exatamente isso o que aconteceu! A banda entrou discretamente no palco, com o som perfeito, e abriu com a bela faixa “Partida” e os seus riffs devastadores. O público foi imediatamente hipnotizado pelo som dos portugueses e pela requintada e elegante presença da vocalista Patrícia Andrade. A banda domina o palco e transporta o público para o seu próprio mundo, onde os seus riffs arrastados e a bela e encantadora voz de Patrícia moldam todas as paisagens. Músicas como “Estrada”, “Corpo Presente”, “Semente”, “Relíquia” e “Cidade” foram tocadas com tal garra que qualquer alma presente no local simplesmente não conseguia desviar os olhos do palco, tal era a intensidade da performance da banda. Um excelente concerto e a digressão anunciada recentemente com os Paradise Lost irá certamente ajudar os Sinistro a divulgar a sua bela música.

Foto: Eduardo Rocha 2 2 / VERSUS MAGAZINE


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DIA 2 03/06/2017 O segundo dia teve alguns headliners interessantes e o local escolhido foi novamente Kohlrabizirkus. O programa desta noite foi caracterizado por uma constante mudança de estilo dentro do nosso amado género, o que nos gerou alguma confusão. A abrir as hostilidades tivemos uma banda alemã chamada Stahlmann. Apenas vimos alguns temas destes senhores, mas isso foi suficiente para concluir a enorme influência (talvez mesmo imitação...) de Rammstein. Os Stahlmann limitam-se a misturar essa influência com algumas batidas e ritmos mais góticos e, talvez assim, se explique a sua presença neste palco, sendo que alguma originalidade seria benéfica a esta banda. Ainda assim, um bom espectáculo visual e uma boa presença em palco convenceram todos os que assistiram ao concerto (menos nós...). De seguida, os Xandria subiram ao palco para uma mudança um pouco radical de estilo. Ainda assim, eram muitos os presentes para assistir ao concerto destes ícones do metal gótico alemão e os Xandria não decepcionaram ninguém. O início do concerto deu-se com a melodia de “Where the Heart is Home” e ficou evidente a qualidade desta banda. A bela voz de Dianne van Giersbergen ecoou pela sala (literalmente devido a alguns problemas sonoros) sendo que a restante banda é bastante poderosa. Apesar de não ser nosso estilo preferido, devemos admitir a qualidade e a força dos Xandria em palco. A banda mudou várias vezes de vocalista e Dianne parece ser a escolha final e acertada. “Death to the Holy”, “Ravenheart” e “Valentine” fecharam um excelente concerto com uma sala completamente repleta de fãs. Os In The Woods ... são uma banda que não toca regularmente e, portanto, um concerto deste lendário colectivo norueguês é algo a não perder. Foi um concerto interessante, mas a qualidade do som durante o mesmo não ajudou a banda. Algumas das músicas tocadas eram algo lentas e repetitivas o que prejudicou o concerto. De seguida, outra mudança de estilo com os gregos Rotting Christ a tomarem conta do palco. Desta feita, a mudança foi para algo mais negro e aprimorado com um excelente concerto por parte dos gregos. O tema Fotos: Silvio Pfeifer Fotografie/ youngspeech.de 2 4 / VERSUS MAGAZINE


inicial, “Ze Nigmar”, do último álbum “Rituais”, mostrou que a banda se encontra na melhor das formas, com todos estes longos anos de experiência, que lhes permite o à-vontade para nos mostrar como se dá o concerto perfeito. E assim o fizeram! Com um som, atitude e presença em palco irrepreensíveis, a banda presenteounos com um ritual sombrio e negro que surpreenderia os mais incautos. A rápida “Elthe Kyrie”, “Athani Este” e a emblemática “The Sign of Evil Existence” foram algumas das faixas executadas com um tal perfeccionismo que a todos impressionou. “Grandis Spiritus Diavolos” e “Non Serviam” fecharam um óptimo concerto e, possivelmente, o melhor de todo o festival. Por fim, é chegada a vez dos headliners e de mais uma mudança de estilo da escuridão e agressividade dos Rotting Christ para o metal progressivo e a elegância dos Amorphis. A sala estava completamente cheia para ver este concerto e podemos dizer que os Amorphis deram um grande espectáculo. O colectivo finlandês iniciou o concerto com a faixa-título do seu último álbum “Under the Red Cloud” e é impressionante ver como os Amorphis se tornaram uns verdadeiros gigantes de palco. “Sacrifice” continuou o tom do último álbum enquanto “Sampo” e “Silver Bride” nos levaram aos tempos do álbum “Skyforger”. “Hopeless Days”, com os seus riffs pesados, lembrou-nos do brilhante disco “Circle” enquanto que “Bad Blood” nos trouxe de volta ao álbum mais recente. Com o regresso do baixista original, os Amorphis usaram este pretexto para tocar algumas músicas mais antigas, tais como “ Thousand Lakes”, “Into Hiding” e “Against Widows” para o deleite dos fãs dos primeiros tempos da banda. De seguida, foi a vez de alguns clássicos mais recentes que têm obrigatoriamente que ser tocados: “The Smoke” e “House of Sleep” foram recebidos euforicamente e a banda estava bastante satisfeita com tal reacção. Para terminar o concerto, os Amorphis apresentaram-nos mais uma surpresa ao tocar o antigo, mas lendário tema “Black Winter Day”.

Fotos: Silvio Pfeifer Fotografie/ youngspeech.de 2 5 / VERSUS MAGAZINE


DIA 3 04/06/2017 Ao terceiro dia, mudamos local e fomos para o Felsenkeller para um conjunto muito interessante de bandas. A primeira foram os Unlight, que nos apresentaram um black-metal muito cru e rápido com algumas influências thrash. Os Unlight andam nisto desde 1997 e têm algumas histórias para contar ao público. Também ficou claro o estatuto de culto entre o público, enquanto a banda tocava músicas como “Create and Annhilate” e “Sulphurblooded”. Um excelente concerto com um som muito bom. Posteriormente, foi a vez de outra banda de culto e os The Vision Bleak não ficaram aquém da sua reputação: um concerto muito intenso repleto de grandes músicas de terror. O concerto iniciou-se com o tema “From Wolf to Peacock”, de seu mais recente “The Unknown”, e toda a atitude em palco da dupla Schwadorf (guitarras) e Konstanz (vocalista) é de sintonia com o público. Konstanz gritava constantemente para todos os presentes na sala, interagindo constantemente, o que tornou o concerto ainda mais interessante. Os riffs pesados de “Carpathia” e de “The Night of the Living Dead” fizeram com que muitos iniciassem um frenético head banging. Konstanz deambula pelo palco como uma criatura do submundo cantando todas essas músicas de terror com a sua tão sombria voz. Um belo concerto com um som perfeito. Os Arcturus são uma banda que não toca regularmente ao vivo e cuja música é um pouco excêntrica e requintada. Para isso, muito contribui a voz única de Simen “ICS Vortex” Hestnaes sendo que os Arcturus precisam de um som muito particular que, se não for obtido, pode comprometer seriamente o concerto. E foi exatamente isso o que aconteceu. Enquanto os The Vision Bleak tiveram um som perfeito, os Arcturus lutaram para obtê-lo e as guitarras pareciam muito baixas e distantes, enquanto a voz de Simen estava demasiado alta para seu próprio bem. A começar o concerto com o belo tema “Evacuation Code Deciphered”, toda a presença da banda no palco é única e, às vezes, um pouco confusa. Mas isso faz mesmo parte do espectáculo e o público parecia gostar disso mesmo. “The Arcturian Sign” e “Archer”, do mais recente “Arcturian”, foram os temas seguintes e “Hibernation Sickness Complete”, do álbum “Sideshow Symphonies”, levou-nos um pouco atrás no tempo. “Alone” e “The Chaos Path”, do lendário “La Masquerade Infernale”, são temas não podem deixar de ser tocados e o público recebeu ambos de forma entusiástica. Todo o concerto demonstrou a voz única de Simen enquanto Jan Axel “Hellhammer” Blomberg, dos lendários Mayhem, mostrava porque é considerado dos melhores bateristas do género. Os elementos restantes passeavam pelo palco, enquanto imagens espaciais eram projetadas no fundo do palco. “Crashland” foi outra música tocada enquanto chegou o momento de sair para ir ver o concerto dos Alcest naquele que é possivelmente a sala mais bonita do WGT: o Volkspalast. Este é o mesmo palácio aonde decorre a obscena festa fetish do WGT, de modo que se pode imaginar a atmosfera que esse local invoca. Quando chegamos, os Alcest já estavam no palco a tocar a música “Kodama”, do álbum com o mesmo nome. A sala principal do Volkspalast tem uma acústica perfeita e os Alcest souberam exatamente como usá-la para tornar o seu concerto inesquecível. As guitarras estavam bastante presentes e bem definidas enquanto a voz de Neige estava perfeitamente colocada acima de todos os instrumentos. “Là où naissent les couleurs nouvelles”, do álbum “Les Voyages de l’âme” foi outra música tocada enquanto “Oiseaux de proie” e “Eclosion” trouxeram-nos de volta para o álbum mais recente. “Ecailles de Lune Pt.2”, “Abysses” e “Percées de Lumiére”, do álbum “Écailles de Lune”, foram as últimas músicas para o deleite de todos os presentes naquela sala.

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DIA 4 05/06/2017 No quarto e último dia, já sentíamos o efeito de todos os dias anteriores. Tanto o estômago como as pernas queixavam-se da quantidade de álcool ingerida e da quantidade de tempo de pé. Portanto, a nossa atitude foi um pouco mais relaxada enquanto assistíamos aos concertos. O local escolhido foi o mesmo que da noite anterior, o Felsenkeller, e, desta feita, o dia iria começar com algum black-metal épico e sinfónico, cortesia dos Welicoruss. Oriundos da República Checa e da Sibéria, os Welicoruss presentearam-nos com alguns bons temas de black-metal, tais como "Sons of the North" e "Az Esm", sendo que eram notáveis as muitas influências de Dimmu Borgir. Ainda assim, os Welicoruss foram uma excelente banda de abertura e todos gostaram do seu concerto. De seguida foi a vez dos Finterforst nos mostrarem o seu Forest-Black Metal e temos que dizer que ficamos bastante bem impressionados. Músicas pesadas, com excelentes riffs e uma voz poderosa foram os ingredientes perfeitos para um excelente concerto. A abertura do concerto foi ao som "Nichts als Sache", do mais recente álbum "Rastlos", e desde cedo que os Finterforst mostraram que são uma excelente banda em palco. "#Yolo" e "Botlle Gods" foram algumas músicas mais felizes, enquanto o longo "Fremd" concluiu aquilo que foi um grande concerto. Os headliners desta noite foram os alemães Equilibrium cuja popularidade cresceu imensamente nos últimos anos. Na Alemanha, os Equilibrium gozam mesmo de um estatuto de culto e a prova disso mesmo foi um Felsenkeller completamente repleto de fãs. Depois de uma introdução épica, "Erwachen" foi a música de abertura e todo a sala foi imediatamente avassalada por uma enorme confusão típica dos grandes concertos. "Prey" e "Heimat", também do último álbum "Armageddon", provaram que o mesmo é bem conhecido entre o público. Mais uma vez, um som excelente foi crucial para garantir que o público pudesse ouvir distintamente tudo o que a banda nos queria mostrar. Depois chegou a hora de sermos relembrados de alguns temas mais antigos e "Waldschrein", do álbum "Erdentempel", foi tocado sem falhas e algumas danças por entre os presentes podiam ser vistas. O mais lento "Karawane”, do mesmo álbum, levou o público a um head-banging intensivo. "Zum Horisont" e "Helden" levaram-nos de volta ao álbum mais recente e ficou evidente que os Equilibrium apostam bastante nesse mesmo álbum. Algumas músicas mais antigas, tais como "Uns'rer Flöten Klang" e "Unbesiegt", "Frei Flug" e "Eternal Devastation" encerraram um excelente concerto no qual os alemães mostraram seu poder no palco rodeados por uma multidão entusiástica.

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Fotos: Silvio Pfeifer Fotografie/ youngspeech.de Foto: Eduardo Rocha

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Um dia com os Sepultura no Porto 04/07/2017 - Porto Reportagem: Emanuel Leite Jr. & Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

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O relógio marca quase o meio-dia da terça-feira 4 de julho. O sol a pino e o calor que se faz sentir nas ruas do Porto, a propósito, evidenciam que o dia se aproxima de sua metade. Foi a esta hora que chegamos, eu e minha esposa, ao hotel onde os Sepultura se encontravam hospedados desde o dia anterior, chegados de Barcelona, onde haviam se apresentado no domingo anterior. No hall de entrada, malas e cases de instrumentos deixam claro que se encontra uma banda. No bar do hotel, Andreas Kisser está fazendo sua primeira refeição do dia. É o primeiro a descer antes de o grupo fazer o checkout. Cumprimentamo-nos, falamos da vida, dos vários problemas que assolam o Brasil contemporâneo e de futebol, grande paixão do guitarrista. O baixista Paulo Xisto chega não passa muito tempo. Junta-se à conversa, conta ao Andreas como fora a noite anterior em Matosinhos e comenta sobre o calor. Pouco tempo depois aparece Derrick Green, que nos cumprimenta, pergunta como vamos e senta-se um pouco mais ao lado. Para onde vai também, logo a seguir, o baterista Eloy Casagrande. Enquanto esperamos Eduardo Ramalhadeiro, editor da Versus Magazine, juntar-se a nós, a tour manager Cat Cooke explica a que horas Andreas Kisser e Paulo Xisto devem estar no Hard Club. Isso porque do hotel, enquanto Derrick Green e Eloy Casagrande vão seguir com o resto da crew para o local do concerto, o guitarrista e o baixista vão fazer uma visita para a qual foram especialmente convidados. Ramalhadeiro chega quando o restante do pessoal já havia partido para o Hard Club. Seguimos, então, ao nosso primeiro destino do dia. Às 12h28, dois minutos antes da hora combinada, deixamos o carro na Alameda das Antas. Caminhamos algumas centenas de metros, comentamos o calor que faz, Paulo até menciona que no dia anterior a sensação térmica era ainda pior, e chegamos ao local da visita: Museu do FC Porto. Aproveitando a passagem da icónica banda brasileira por terras portuenses, os Dragões não perderam a oportunidade de os convidar a uma visita guiada para conhecerem o museu do clube, bem como o Estádio do Dragão. Fanáticos por futebol, Andreas e Paulo representaram os Sepultura neste passeio. O clube presenteou os quatro músicos com uma camisola da temporada 2017/18, com seus respectivos nomes e também os números por eles escolhidos - Andreas ficou com a 10, enquanto Paulo pediu a 69 (seu ano de nascimento, explicou). Em quase duas horas e um quarto de visita, os músicos puderam conhecer com mais detalhes a gloriosa história do FC Porto, um dos clubes mais vencedores de Portugal e da Europa, além de verem os recantos do Dragão, como o balneário dos visitantes e o camarote presidencial. “O museu do Porto foi sensacional! O guia foi muito importante para entender a história e a grandeza do clube na Europa”, afirmou Kisser. “É legal ver, também, a participação fundamental de brasileiros nas grandes conquistas do clube. Ver o time de todos os tempos com vários brasileiros foi uma surpresa, principalmente o Branco”, acrescentou o guitarrista. Mais tarde, já durante o concerto, o músico dedicaria a canção “Under My Skin” aos portugueses dos Moonspell e também ao FC Porto, agradecendo ao clube pela visita proporcionada. A hora previamente combinada com Cat se aproximava e tínhamos que ir para o Hard Club. Os músicos escreveram no livro de visitas do Museu, agradeceram aos anfitriões pela hospitalidade e fomos para o carro.

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O Eduardo, que não conhece bem as ruas do Porto, meteu a morada no GPS e partimos. Entretido a conversar com o Andreas, o condutor esqueceu-se de olhar para o GPS e, quando demos por conta, já nos havíamos desviados do trajeto correto. Apesar dos contratempos, já que ninguém no carro sabia bem o caminho que estávamos a fazer, conseguimos chegar a tempo ao Hard Club. No local, já esperavam pela banda dois fãs que se tornaram amigos dos músicos ao longo dos anos e que haviam viajado de Lisboa de propósito para o concerto. Paulo queria comer francesinha. Ainda quando estávamos no Dragão, ele havia manifestado este desejo. Eduardo ficou receoso com os possíveis efeitos da famosa iguaria portuenses. Mas, Paulo não se preocupou. Afinal, todo mineiro que se preze já é calejado com a farta culinária de Minas Gerais, bem como com a cachaça mineira. De qualquer modo, devido ao calor que ainda se fazia sentir e as ladeiras - elas também famosas na cidade - que seria preciso subir para irmos a um bom local para se comer francesinha, decidiu-se ficar por ali mesmo, pelo bar/restaurante do Hard Club. Sentamo-nos à mesa. Daniel “Portuga”, um dos amigos, diz que o local tinha uma francesinha engraçada, com massa de piza no lugar de pão. Resolvemos, eu e o Paulo, arriscar. Para nosso lamento, o bar não servia grande parte do menu entre as 15h e 19h. Tivemos que pedir alguns “petiscos” como se diz no Brasil. Entre um fino e outro e a meio da conversa, os músicos foram abordados por alguns fãs que haviam chegado mais cedo e se surpreendiam com a presença de seus ídolos à sua frente. Solícitos como sempre - já estive com eles inúmeras vezes, em diversas cidades brasileiras e sempre trataram a todos com enorme simpatia -, atenderam aos fãs e tiraram as selfies solicitadas. Já se aproximava das 18h, o tempo já havia mudado completamente - um vento frio veio soprando da direção do Atlântico e trouxe consigo as nuvens que encobriram o sol e baixaram drasticamente a temperatura (e ainda bem!) - e os músicos seguem cada um para um lado. Paulo, Eloy Casagrande, alguns membros da crew e Daniel e Nuno Moura, os amigos de Lisboa, foram ao Instituto do Vinho do Porto, do outro lado da rua. Andreas ficou pelos bastidores do Hard Club. Por volta das 19h30 banda e crew jantaram no restaurante da casa de espetáculos e, a seguir, os músicos se recolheram ao backstage, para se preparem para a apresentação, que estava marcada para as 22h. Após o grande espetáculo proporcionado, o grupo ainda permaneceu no backstage do Hard Club por mais de hora e meia. No backstage, os músicos do Equaleft, que fizeram a primeira parte da noite, conversavam com Derrick, enquanto Paulo recompunha a energia comendo pão com manteiga. Aproveite o momento para pegar os autógrafos no meu Machine Messiah, único álbum que ainda não tinha assinado por eles. O Andreas me pergunta se eu vi quando o Derrick ia falando o nome de Lisboa ao invés do Porto, antes de anunciar a última música da noite, Roots Bloody Roots. Todos riem, incluindo o próprio Green. Andreas ainda brinca - “tem que colocar no artigo, viu?”. O vocalista tenta explicar a confusão, mas admite que depois de pronunciar o “Lisb” percebeu que era tarde demais e já não havia volta a dar. Depois que a crew tratou de todos os equipamentos e os músicos já haviam descansado, era hora de partir. Já passava da uma hora da madrugada do dia 5 de julho quando se dirigiram para o autocarro, no qual partiriam para Viveiros, na Galícia, onde se apresentariam, na noite da quarta-feira, no Resurrection Fest. Cerca de duas centenas de fãs esperavam pelo grupo no lado de fora, entre a saída lateral do Hard Club e o autocarro. Apesar de cansados e do adiantar da hora, todos eles pararam para um último “papo” com os fãs e para as últimas selfies na cidade invicta.

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Despedem-se de nós. Agradecem pelo dia. Entram no autocarro. E seguimos. Nós para casa, eles para a estrada, que é quase como uma segunda casa nestes quase 33 anos de carreira dos Sepultura. Até a próxima! Texto: Emanuel Leite Jr.

04 de Julho, um dia que provavelmente não vou esquecer… A escolha era difícil: Deep Purple ou passar um dia com o pessoal dos Sepultura? Ainda sou do tempo em que as redes sociais eram as casas e as garagens, uma aparelhagem, CD’s, vinis, K7´s, amigos e muitos sonhos. A minha banda de garagem chamava-se GRINDER, algo, segundo rezam as lendas, devido ao estilo de música… Grind Core. No entanto, e por mais paradoxal que possa parecer, tocávamos tudo menos isso. Vá… com excepção de um tema que gravámos dos Napalm Death para um concurso qualquer da Earache e que ainda hoje estou para saber como se chamava o raio do tema. Mas banda de garagem que se prese tem de ter uma cover… ou duas… uma dessas covers era a “Troops of Doom” dos Sepultura, contra a minha vontade, visto preferir o “Arise”. Isto para dizer que os Sepultura viveram desde essa altura no meu universo musical e também como uma das principais influências. Portanto, a resposta à pergunta feita em cima é demasiado óbvia. O carro que serviu tantas vezes para o transporte do material, nesses tempos da banda de garagem, teve agora o seu pináculo da criação ao transportar Andreas Kisser e Paulo Xisto numa visita pelo principal clube da cidade do Porto, apesar de achar que ficariam melhor vestidos com umas camisolas listadas de verde e branco; mas com grande desportivismo lá fomos todos numa visita muito bem organizada pelo Emanuel. A viagem foi aproveitada para conversar sobre as mais variadíssimas coisas, desde o concerto dos Deep Purple e como os Sepultura se davam em palco com um público que não seria o deles, por assim dizer; até à separação dos irmãos Cavalera, de como foi sair do Brasil para o estrangeiro; o enorme salto dado do «Beneath the Remains» até ao «Arise» e ainda, a biografia e documentário da banda e todos os problemas em que se viram envolvidos.

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No entretanto, deu-se a visita ao museu do FCP e a conversa só poderia girar em torno de futebol. O dia com Andreas Kisser e Paulo Xisto acabou com o “jantar” junto ao Hard Club e, sem eu saber, a ter o “jantar” pago. Logo após ainda deu para cumprimentar Eloy Casagrande que se via aborrecido por bebe café em… copo de plástico. No meio disto tudo destaco a HUMILDADE com que Andreas e Paulo nos receberam; o contrário muitas vezes destrói o que julgamos ser uma banda, como que um castelo de cartas que se desmorona com o vento. Os Sepultura continuam a povoar o meu universo musical, como uma das bandas que mais influenciaram, não só musical, como agora pessoalmente! Texto: Eduardo Ramalhadeiro

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SEPULTURA + EQUALEFT 04/07/2017 - Hard Club - Porto Reportagem: Emanuel Leite Jr. Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

(Agradecimento especial à Prime Artists)

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A noite em que o Porto se curvou aos Sepultura Costuma-se dizer que à terceira é de vez. Não foi bem o caso dos Sepultura, que apenas em sua 13ª passagem por Portugal, com quase 33 anos de carreira e 25 anos depois da estreia em solos lusitanos, é que, finalmente, subiram a um palco na cidade do Porto. Os ares do Norte não lhes eram desconhecidos, já que haviam tocado em Vilar de Mouros (duas vezes) e Ilha do Ermal, mas jamais haviam se apresentado na cidade invicta. Passados pouco mais de três anos desde seu último concerto no país, em Lisboa, o Hard Club abriu suas portas na noite do dia 4 de julho a estes icónicos brasileiros, servindo de cenário para que apresentassem seu mais recente álbum, Machine Messiah, o 14º full lenght de sua já longa e persistente história, ao público português. A primeira parte do evento coube aos Equaleft. Faltava pouco para as 21h quando estes tripeiros começaram a abrir as hostilidades. À medida que o público adentrava o recinto, Miguel Inglês e companhia destilava todo o peso de seu metal com bastante groove e ia aquecendo os ânimos de uma noite que desde logo já se revelava bastante contagiante. Ao longo de cerca de 35 minutos de concerto, os Equaleft apresentaram temas como "New False Horizons", "Human", "The Chameleons", "Denial", "Uncover the Masks" e "Tremble". A explosiva "Maniac", com direito ao primeiro grande circle pit da noite, encerrou a apresentação, fechando um ciclo do grupo portuense, que se despede do baterista Marcos Pereira e inicia os trabalhos para o sucessor de Adapt & Survive. Já passava das 22h quando, envolto ao fumo que encobria todo o palco, os músicos entravam no palco ao som de uma intro com melodia de sintetizador, emprestando uma atmosfera misteriosa e soturna, quebrada logo em seguida pelos riffs acelerados e as batidas frenéticas da bateria da potente “I Am the Enemy”, que, com sua pegada thrashcore noventista, foi responsável por um grande circle pit e teve seu refrão cantado por muitos. Assim como em Machine Messiah, seguiu-se “Phantom Self”, canção que mostra toda a versatilidade dos Sepultura, com sua intro de maracatu e os violinos do quarteto tunisiano. Mostrando toda a pujança da atual fase do grupo, os brasileiros completaram a “trinca” de abertura com “Kairos”, do álbum homônimo de 2011, que com o peso de seu groove, passagens mais aceleradas e um refrão simples e pegajoso, explica porque encaixa tão bem ao vivo. A cada novo lançamento, vai ficando difícil para os Sepultura definir seu setlist. Afinal, são mais de 30 anos de estrada e dezenas de clássicos que não apenas marcaram a história do heavy metal, como, em alguns casos, mudaram os rumos deste gênero musical. Os clássicos não tinham como ficar de fora. E o primeiro da noite foi “Desperate Cry”, do Arise. Já estive em mais de 15 concertos dos Sepultura e posso assegurar que jamais havia visto uma versão tão brutal desta música como a que foi apresentada no Hard Club, com especial destaque para Eloy “o monstro” Casagrande. E o público presente não ficou indiferente, reagindo com bastante entusiasmo, cantando do início ao fim. Após “Sworn Oath”, do Machine Messiah e talvez a mais épica canção da história da banda, Andreas Kisser diz ao público que o “velho Sepultura” não vai ser deixado de lado e anuncia, para êxtase de todos, a icónica “Inner Self”, do hino do thrash metal Beneath the Remains. Depois de quase deitarem o Hard Club abaixo, os brasileiros deram uma acalmada nos ânimos e, liderados por Andreas Kisser e Eloy Casagrande, esbanjaram técnica, executando com maestria a espetacular faixa instrumental “Iceberg Dances”, do Machine Messiah. Na sequência vieram “Choke” (do Against); a pesada e sombria “Dialog” (Kairos), que com Eloy Casagrande ganhou ainda mais velocidade e brutalidade; e “Alethea” e “Resistant Parasites”, as duas mais progressivas do recente Machine Messiah. A partir daí, foi praticamente uma volta ao passado com uma sucessão de clássicos que moldaram muito do que se fez na música pesada mundial a partir dos anos 1990. Do Chaos AD, o medley “Biotech is Godzilla / Polícia” preparava o terreno para que “Territory” e “Refuse/Resist”, cantadas em uníssono, fizessem estremecer as estruturas do Hard Club. E como se estivessem ali para testar os requisitos de segurança do recinto, os Sepultura emendaram a lendária “Arise”, do não menos lendário álbum homônimo. Após uma breve pausa, já que todos nós precisávamos respirar num Hard Club, que não estando sold out estava bastante cheio e a transpirar de energia e emoção, os brasileiros retornaram ao palco. “Under My Skin”, composta em homenagem aos fãs que têm os Sepultura eternizados em suas peles, foi dedicada aos amigos dos Moonspell e também ao FC Porto, que havia recebido Andreas Kisser e Paulo Xisto horas mais cedo. Para fechar a noite, duas canções do álbum que o Los Angeles Times resumiu como “o reinventar da roda”, Roots. “Ratamahatta” colocou toda a gente para pular e dançar ao som de seu groove e batidas tribais. Ao se

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despedir do público, uma gafe de Derrick Green arrancou apupos e risos dos fãs. O vocalista ia agradecendo a “Lisbo…” quando se deu conta do grave equívoco cometido na cidade invicta. Pediu desculpas, agradeceu ao Porto e os Sepultura executaram o hino “Roots Bloody Roots”, para delírio de todos. Mais cedo, Andreas Kisser havia nos dito que os Sepultura viviam o melhor momento de sua história. Quem os viu ao vivo no Porto há de compreender o sentimento e entusiasmo do guitarrista. Os brasileiros sempre se notabilizaram pelas suas apresentações enérgicas e contagiantes. Mas a atual formação tem conseguido elevar a fasquia. Cada vez mais coesos e mostrando prazer no que fazem, Andreas, Paulo, Derick e Eloy mostraram aos portugueses porque ainda têm muito a mostrar pelos palcos mundo afora.

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Desta vez vamos ter de apresentar os nossos pedidos de desculpa a Grunt (que atuou no primeiro dia), Implore (presente no segundo dia) e a Cough (que fazia parte do cartaz do terceiro dia), porque, devido a condicionantes pessoais e profissionais, não estivemos presentes aquando das suas atuações. DIA 1 11/08/2017 Neste dia, depois das formalidades da praxe (no balcão da imprensa e na entrada do recinto), chegámos no momento em que os Tale for the Unspoken estavam a entrar no palco. Esta banda é particularmente cara à Versus Magazine, porque a nossa publicação os entrevistou no tempo em que ainda estavam a afirmar-se, há quase dez anos atrás. Dado o conhecimento que temos de TFTU, não foi surpresa nenhuma para nós constatarmos que a 2ª edição do Vagos Metal Fest abriu da melhor maneira, com o público a aderir de forma entusiástica aos apelos de Marco Fresco, o vocalista da banda. Imperaram o groove e a boa disposição, durante a primeira atuação do dia e de todo o festival. Seguiram-se os And Then She Came, vindos da Alemanha. “She” veio mesmo, personificada por Ji-In Cho, a vocalista da banda, alemã de origem asiática, dotada de uma voz exótica, como a sua aparência. Trouxeram ao Vagos Metal Fest um Rock matizado por várias influências e muito ritmado, em que se destacou a percussão, assegurada pelo baterista, que não se limitou ao seu instrumento principal. Não seria o momento mais Metal do programa, mas foi certamente agradável, como se pôde depreender dos aplausos do público. Já para o meio da tarde, foi a vez dos Revolution Within, vindos do distrito de Aveiro e autores de um harmonioso Trash Metal, que atraiu muito público. Temos de concordar que os concertos mais concorridos foram os de Thrash e Power Metal e ainda os de Harcore. Rui Alves, o vocalista, “fez as honras da casa”, além de ter cantado e encantado (com o indispensável apoio dos outros membros da banda, é claro!). Destacamos o interessante dueto com Marco Fresco, o vocalista dos TFTU, a assinalar a camaradagem entre bandas, que é uma das características da cena Metal (na generalidade). O momento seguinte pautou-se pelo humor, que – por incrível que pareça – é um dos temas da banda irlandesa (de Belfast, no Norte, pertencente ao Reino Unido) que dá pelo nome de Gama Bomb. Philly Byrne causou sensação desde o início por envergar uma espécie de pijama de um amarelo vivo, com um padrão de tesouras, mais que inusitado no Metal. A sua indumentária deu tanto nas vistas que, a meio do concerto, lhe entregaram um dístico em papelão, onde estava escrito I love your dress, o que o músico agradeceu alegremente. Apesar de toda a descontração típica desta banda, ficou claro para todos que Byrne está ali para cantar e os seus colegas para tocar e que pretendem fazê-lo com qualidade. Por esta altura, já o cão amarelo, responsável pelo dogbanging (um exclusivo do Vagos) tinha feito a sua entrada em cena. Os senhores seguintes eram os italianos Rhapsody, esperados por muita gente, já que se viam na multidão muitos metalheads envergando t-shirts desta banda. Apesar de Luca Turilli (guitarras e teclados) ser o “patrão” da banda, a interação com o público é assegurada por Fabio Leoni, o vocalista (como seria de esperar), que fez questão de falar em Português (com sotaque do Brasil, como também seria de esperar). Este primeiro momento do género mostrou logo que o Power Metal seria, sem dúvida, uma das estrelas do certame. Mas essa simpatia pré garantida não tira o mérito, nem a Rhapsody, nem às outras bandas do mesmo género que atuaram nesta segunda edição do Vagos. Desta vez, também se viu aparecer, acima das cabeças dos metaleiros fãs desta banda, um entusiástico dragão verde, que alguém agitava ao som da música que levou o público ao delírio. Os Arch Enemy fizeram-se esperar, devido a problemas no som, ao que parece. Também foram a única banda a atuar no festival que não teve imagens projetadas nos ecrãs que ocupavam ambos os lados no palco (não sabemos se por sua escolha ou em consequência de algum problema técnico). Apesar de o som estar demasia-

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do alto (o que acabava por o tornar dificilmente audível), foi possível apreciar devidamente a prestação desta banda veterana (na cena Metal e no festival de Vagos), que brindou o público com material antigo e algumas canções do novo álbum – «Will to Power» – que sairá em no início de setembro, pela Century Media. A vocalista Alissa White-Gluz teve um rival, no interesse do público: Jeff Loomis, que muitos conhecem como guitarrista dos Nevermore. Também os Wintersun foram vítimas de um som demasiado alto, o que não impediu os fãs de apreciarem o seu Symphonic Melodic Death Metal, apresentado por Jari Mäenpää, dissidente de Ensiferum e fundador da banda. Nem o facto de o tema central da banda ser o inverno – a opor-se ao calor que se fazia sentir durante o dia – desanimou o público interessado, até porque o último álbum da banda – «The Forest Seasons», saído em julho pela Nuclear Blast – estava adequado à paisagem próximo do recinto do Vagos Metal Fest. A nossa reportagem sobre este dia termina com o concerto de Therion ansiosamente esperado pelos numerosos fãs dos veteranos suecos. Com um visual em que se destacavam o estilo vitoriano (adotado por Christofer Johnsson e Thomas Vikström) e gótico (representado por Linnéa Vikström, filha de Thomas, e Chiara Malvestiti, as duas vocalistas femininas), a banda deu um extraordinário concerto, cheio de poder e originalidade, mostrando – como várias outras que pudemos ver nos três dias do Vagos – que a idade tira algumas coisas (sem dúvida), mas pode também ser uma mais-valia, para quem não se deixar intimidar pela sociedade do séc. XXI, que parece ter esquecido que todos ganham cabelos brancos, a não ser que morram prematuramente. Chamou-nos também a atenção o grande dramatismo da banda, a que a carreira do vocalista principal (filho de um ator e pai de um cantor de ópera) no teatro musical pode não ser alheia.

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DIA 2 12/08/2017 Neste dia, predominou o ecletismo. Assim, começámos por assistir ao concerto de Brutality Will Prevail, banda Hardcore/Punk originária do País de Gales (Reino Unido), seguido pelo dos portugueses Hills Have Eyes (cujo nome deve ser certamente uma homenagem ao filme de terror de 2006), associados ao Metalcore. Não são géneros da nossa preferência, mas reconhecemos valor a quem os representa – no país ou lá fora – e pudemos constatar que havia muitos elementos do público – nem todos na primeira juventude – a saudar e a aplaudir as duas bandas. A terceira banda do dia foi Metal Church, mais um grupo de “cinquentões” (norte-americanos), que puseram a malta nova a mexer, ao som da sua mistura de Heavy, Thrash e Power Metal, mostrando que “velhos são os trapos”. A avaliar pelo número de t-shirts associadas ao seu último álbum - «XI», editado em 2016 – adquiridas no stand de merchandising, houve muita gente que se rendeu aos seus “encantos musicais”. Depois, passámos para um registo muito diferente, com os irlandeses Primordial (da República do Eire). O exotismo de Alan Averill contrastava com a sobriedade dos restantes elementos, ajudando o público a concentrar-se na atuação verdadeiramente dramática do carismático vocalista, que assim promove um Black/ Celtic Metal que não se pode encontrar noutros lados. Para nós, foi um dos melhores concertos do festival e pensamos que o público era do mesmo parecer, porque se juntou uma multidão diante do palco, que brindou a banda com uma grande ovação, quando esta se preparou finalmente para abandonar o palco. A longa fila que se formou, na hora em que os seus elementos se disponibilizaram para conviver com o público confirma este veredito. Em mais uma grande reviravolta em termos de género musical, foi a vez de atuarem os Korpiklaani, que trouxeram da Finlândia o seu animado Folk Metal. Destacaram-se Tuomas Rounakari, com o seu violino, e Sami Perttula, a tocar acordeão, instrumentos que dão um sabor especial a este subgénero do Metal. O folclore finlandês agradou aos presentes, que mostraram a sua alegria dançando animadamente. Entretanto, chegou um dos grandes momentos do dia (e de todo o festival): Max Cavalera, à frente dos Soulfly, deu entrada no palco, agora decorado com uma bandeira do Brasil, “aquecendo” o coração dos portugueses. O seu “saber de experiências feito” e a sua alegria deram-lhe o poder de desencadear o maior mosh pitt que pudemos ver neste festival, onde não faltaram pretextos para o fazer. O concerto foi longo, mas os fãs não arredaram pé, enquanto os músicos não deram a sua prestação por terminada. Brilhou Zion Cavalera, na bateria, deixando o seu pai extremamente orgulhoso e certamente muito feliz, por ver que as tradições familiares têm pelo menos um seguidor. Aliás, entre os fãs, contavam-se bastantes jovens acompanhados pelos seus pais.

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Powerwolf também arrastou muita gente, para assistir à sua “missa de Heavy Metal”, segundo a expressão usada por Karsten Brill (aka Attila Dorn), para apresentar o concerto à multidão. À medida que este ia avançando, punha em ação o seu bom humor, para ir conduzindo os “fiéis” através dos vários momentos da “celebração religiosa”, acolitado pelo teclista, que ia incitando a multidão a cantar os refrões ensinados pelo vocalista. Cantaram homens só, mulheres isoladas, todos juntos, numa grande alegria, que seguiu pela noite dentro. E assim, já pelas três da manhã, fomos envolvidos numa nova celebração religiosa – desta vez, ortodoxa – protagonizada pelos polacos Batushka (palavra que significa pai e é usada para designar os sacerdotes ortodoxos). Não é com certeza o fervor religioso que move esta banda, o que não impede os seus elementos de atuarem num cenário altamente conotado com a religião: pano de fundo apresentando um ícone que representava a Virgem e o menino (motivo escolhido para a t-shirt branca que faz parte do merchandising da banda), púlpito escondendo o microfone (onde o vocalista oficiou, assumindo atitudes características da missa como mostrar objetos sagrados e incensar o público), coro (colocado à esquerda), vestes eclesiásticas para todos os presentes no palco. Ao contrários dos seus antecessores, não convidaram ninguém para se juntar a eles: aliás, não pronunciaram uma única palavra, para além das que faziam parte das letras das canções, saídas do único álbum da banda: «Litourgiya», lançado em 2015. É de referir que Batushka conta apenas com três elementos, mas atua sempre com vários músicos de sessão. A fim de proteger o desejado anonimato, todos atuam com a cara coberta por um pano. Fatores como a (geralmente) fraca adesão ao Black Metal, a estranheza dos ritos ortodoxos (incluindo os cânticos, que “tingem” o género predominante), a falta de interação, a obscuridade (apenas cortada por uma luz vermelha, que mais ocultava do que revelava o que se passava no palco), a hora tardia e o cansaço levaram muita gente a abandonar o recinto. Mas os fiéis que restaram aguentaram sem um suspiro até às quatro da madrugada.

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DIA 3 13/08/2017 Apesar do 13, este dia não deu azar a ninguém: antes pelo contrário. A única pena é que muita gente teve de ir embora antes do fim da jornada, porque teria de trabalhar no dia seguinte. Talvez por ser domingo e se estar a contar com muita gente mais nova, foi maioritariamente consagrado a géneros mais divulgados: o Deathcore dos americanos Chelsea Grin e Whitechapel (estes últimos com uma bela prestação) e o Thrash Metal dos também americanos Havok e dos catalães Reaktion (apenas com um álbum no ativo, até ao momento). Houve headbanging e moshes a testemunhar do agrado do público. Mas da “ementa musical” também constavam “pratos” para outros “paladares”. Os portugueses Attik Demons tiveram a oportunidade de mostrar a sua combinação de Heavy e Power Metal (a lembrar os Iron Maiden) e os igualmente lusos Miss Lava puseram cabeças e cabelos a abanar com o seu Rock de sabor alternativo, nas primeiras horas da jornada. Mas as estrelas da noite foram os HammerFall, com Joacim Cans a liderar, enfatizando a importância da longa carreira da banda de Gotemburgo e congratulando-se pelo regresso a Portugal depois de longos anos e pela presença de muitas mulheres no público. Aliás, cada vez mais se comprova que o Metal não é música só para homens, mesmo que algumas mulheres apareçam nos concertos pela mão dos seus companheiros, de recente ou longa data. O público dançou, cantou, riu, agitou os braços, ao som da música dos suecos, que fazia pensar em videojogos, filmes de ficção científica e fantasy novels. A banda seguinte – Gorguts – rivalizou com Batushka na capacidade de desconcertar o público: o que os suecos que os precederam tinham de coloridos, extrovertidos, interativos contrastava violentamente com a escuridão monocrómica, a circunspeção e a contenção dos canadianos. Também se pode dizer que o seu Death Metal muito técnico era quase diametralmente oposto ao alegre Power Metal dos seus predecessores. Que mais podemos dizer sobre a segunda edição do Vagos Metal Fest? MUITO!!! Para começar, queremos elogiar a logística: recinto maior, mais barracas de comes e bebes (com uma pizza vegetariana a contemplar uma parte das novas tendências alimentares), mais tendas de artigos de artesanato ligados à música extrema (que os festivaleiros invadiram à procura daquela recordação que vai ajudar a esperar pela terceira edição), uma barraca de venda de merchandising muito bem situada e assinalada (onde os fãs puderam satisfazer o seu desejo de apoiar as suas bandas favoritas), um ponto de confraternização entre as bandas e o público (que, infelizmente, só foi usado pelos Metal Church e pelos Primordial, com Alan Averill a destacar-se pela simpatia, seguido de perto pelos seus companheiros de banda); seguranças e bombeiros atentos, para prevenir acidentes e resolver problemas que surgissem, ainda apoiados por elementos da GNR local, para que todos se sentissem bem enquadrados. Depois queremos deixar uma nota de agrado face à atitude da população local, cada vez mais aberta e recetiva, apesar de nem todos quererem envergar o negro característico dos metaleiros. Estes também merecem elogios, por terem mostrado, de um modo geral, que se pode ser um amante da música extrema sem se adotar comportamentos marginais, perigosos para os outros e também para si próprio.

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Para ficarmos com ainda mais saudades depois da terceira edição, pedimos: mais uns pontos de repouso (bancos), mais WC femininos (porque a igualdade é muito bonita, mas não é fácil de manter em alguns aspetos, e ainda porque há cada vez mais mulheres nestes certames, no palco e fora dele) e uma maior variedade de bebidas não alcoólicas (ouvimos dizer que um chá quente dava jeito, porque, depois de o sol se pôr, a temperatura baixava muito e a humidade aumentava na proporção inversa). Parabéns a todos os que fizeram com que o 2º Vagos Metal Fest fosse um grande êxito! Estamos a contar com a vossa dedicação e eficácia para o próximo ano.

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À terceira edição o Laurus Nobilis Music parece ter encontrado o seu propósito e o modelo de festival que deve seguir! Com uma ideologia diferente das edições anteriores, onde o cartaz se dividia por dias com estilos musicais estanques, em 2017, o LNM vira tudo para o mesmo o lado e abraça o rock e o heavy metal como imagem de marca, continuando a valorizar a presença dos artistas nacionais. Logisticamente o festival encontrou também um molde bastante funcional e que congrega em áreas adjacentes, estacionamento, campismo, palco principal, zona de alimentação e palco secundário. Reportagem: Emanuel Roriz Fotografia: António Melo

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Dia 28 de Julho – Heavy Metal No dia dedicado aos ambientes mais pesadões as descargas sonoras iniciaram-se no palco secundário com os Stucker, o death metal furioso dos Skinning e com a visita dos espanhóis In.Verno. As honras de abertura do palco principal estiveram a cargo dos Final Mercy. Esta é uma tarefa que nem sempre é fácil, ainda para mais numa altura em que o público ia chegando aos poucos para compor a plateia deste fim de tarde. No entanto, nada disso foi entrave para este colectivo, que se manteve consistente de início ao fim. Tal como nos confidenciaram os Urban War, esta é uma excelente oportunidade para bandas emergentes se mostrarem a um público mais vasto e com excelentes condições à sua disposição. Estes que foram os segundos a pisar o palco principal, apresentaram canções com uma identidade já bem vincada e que reflete a mensagem do grupo. Das bandas emergentes passámos às bandas de créditos já bem cimentados e recebemos os Heavenwood para mais uma sessão de cartomancia. Apesar do espetáculo de suporte ao seu mais recente trabalho “Tarot Of The Bohemians”, os temas icónicos da banda não ficaram de fora desta celebração. Após um início um pouco atribulado, com as condições de som a levarem algum tempo a estabilizar, o concerto foi uma escalada montanha acima num crescendo de força e emoção. Mais uma vez atestaram o estatuto de grande valor no cenário da música pesada nacional, mostrando que são perfeitamente adequados para palcos destas dimensões. Da Finlândia chegava a grande atração da noite! Os Amorphis estavam em Famalicão e o público nacional respondeu em massa naquele que foi o momento onde se registou o maior aglomerado na plateia do Palco Porminho (3000 pessoas, segundo a organização). Sem rodeios, este foi também o grande concerto do Laurus Nobilis Music 2017. A postura de Tomi Joutsen robusta, icónica, segura, espelha aquilo que os Amorphis são realmente em cima de palco. Uma banda completamente entrosada que faz correr todo um espetáculo de forma bastante dinâmica e com uma combinação de momentos muito bem estudada. O som esteve sempre em excelentes condições, audível e percetível, apesar de terem entrado de certa forma a medo com o volume por baixo, algo que corrigiram rapidamente. O alinhamento percorreu grande parte da sua discografia, com vários temas do mais recente “Under The Red Cloud”, não esquecendo os clássicos incontornáveis de “Tales From a Thousand Lakes”, assim como o belo momento que sempre foi “My Kantele”. A serenidade deixada no ar pelos finlandeses foi brutalmente cuspida do recinto com a entrada em palco dos nacionais Holocausto Canibal. Com os níveis de intensidade a colar ao vermelho durante toda a sua atuação, a banda fustigou a plateia com toda a sua impetuosidade acutilante. Incisivos e coesos. Pena mesmo as condições de som conseguidas não terem permitido apreciar cada detalhe das malhas do coletivo. Com um som demasiado alto e por vezes confuso, tornou-se difícil dissecar este cadáver.

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Dia 29 de Julho – Rock Alternativo O palco secundário voltou a dar as boas vindas aos que se deslocaram até Famalicão para a última noite do festival. Logo às primeiras actuações do dia, protagonizadas pelos Scream Of The Soul, Tears In Rain e New Mecanica, foi possível verificar que o público presente ia ser, na maioria, diferente da noite anterior. Os bracarenses GrandFather’s House encarregaram-se de atrair os presentes para o palco principal e trataram de nos hipnotizar com a sua sonoridade rock/pop alternativa. Apesar da plateia ainda pouco numerosa, os três músicos criaram ambientes que preencheram, e terão até superado, as expectativas de quem os estava a ver pela primeira vez. Os Killimanjaro apesar de jovens já há muito que arrancam boas palavras a quem sobre eles fala. Começo já por lhes chamar os Motorhead à portuguesa. A energia que o trio gera em cima do palco é absolutamente contagiante enquanto nos guiam por momentos bem agitados alternados com passagens a roçar o doom rock, numa digna homenagem aos primórdios dos Black Sabbath. O lugar deles é em cima do palco e não há nada que os possa intimidar. Logo de seguida os PAUS tomaram conta do centro do palco com a sua bateria siamesa partilhada por Hélio Morais e Joaquim Albergaria. O baixo e a excentricidade de Makoto, aliado às ambiências tecladas por Fábio Jevelim, ajudam ainda a aumentar o centro de gravidade deste colectivo ímpar no panorama da música rock alternativa. As alternâncias rítmicas de tema para tema provocam a reação instantânea do público. Não se fica indiferente perante esta originalidade e nem nos coibimos de arriscar movimentos dançantes quando assim a música o ordena. Contagiantes e surpreendentes a cada viragem. Assim é PAUS. Do reino unido vieram os Neon Animal prontos para dar e vender rock ‘n roll. Apesar de toda a vontade e agitação em palco as suas canções não foram suficientes para apanhar o público pelos colarinhos. Contudo, é de louvar a entrega da banda, a qualidade na execução e a persistência com que tentaram conquistar a plateia durante o espetáculo. O fecho desta edição estava entregue a boas mãos. Os Linda Martini chegam a Famalicão para uma interessante jogada de sirumba. Sobre os Linda Martini parece até ser possível dizer que são diferentes de si mesmos! As interpretações dos seus temas parecem estar sempre à mercê da emoção de cada um dos músicos, tornando tudo ainda mais único e verdadeiro. Todos eles dispostos em linha, lado a lado, na frente de palco, sempre prontos a disferir um golpe que é bem provável que nos acerte. A discografia da banda já é mais que suficiente para um concerto bem preenchido e até para deixar algumas das importantes de fora. Um término de festival intenso e com promessa de regresso no próximo ano com mais Rock!

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