Versus Magazine #33 Janeiro / Fevereiro '15

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Nยบ 33 Janeiro / Fevereiro 2015

TRI AL BY FIRE ! BAT E R I A : A F I N A C, O ES ! GA R AGE P OW E R ! R E P ORTAGE M : A M O N AM ARTH

E N T R E V IS T A

COM

DAVE LOMBARDO Jร VIRAM ESTE PHILM!?

MAIS

TETEMA SOEN NE OBLIVISCARIS NIGHTINGALE MANES

CARACH ANGREN

CODE

N.K.V.D.

SAILLE





EDITORIAL V E R S U S M A G A Z IN E

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EDITORIAL

D IR E C Ç Ã O

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

RESPEITO So m o s a m a d o res e nã o faze mos d a VERSUS o nosso ga n h a - p ã o . Trata -se d e u m p a ssa tem po m uito sér io e é c o m m u i to g osto q ue e sta equipa – pequena n o n ú m e ro , m a s i n c o men su rável na vontade de t ra b a l h a r – se esfo rça p o r vo s apresentar um a re vi s t a c o m co n te ú d o h o n e sto , fr uto do nosso t ra b a l h o . Tra b a l h a m o s na p ro moç ã o d as bandas e fazem olo d e u m a for ma ab sol uta men te gr atuita, sem qu a l q u e r t i p o d e g ra ti fi c a ç õ e s por par te das e dito r a s , b a n d a s ou ar ti sta s. Fa zem os tudo isto só po r a m o r à m ú si ca . P o r c o n se guinte, penso que n ã o é d e m a i s p e d i r q u e a s b an d as tam bém sejam h o n e s t a s c o n no sc o e , ac i ma d e tudo, respeitem os n o s s o s L E I T OR E S . Ne s t e n ú m e ro, p od erão l er entrevistas bem in t e re s s a n t e s e a b ra n g en te s, d as quais destaco a f e it a c o m D AV E LOMB A R D O e tetem a ( escreve- se m e s m o a s s i m). Ap ro v e i t a m o s p a ra a n u n c i ar q ue a equipa tem a go r a u m n o v o me mb ro – P au l o Guedes – que ser á c e r ta m e n t e u ma mai s val i a p ara a VERSUS. Sê b e m - v i n d o! \m/

G R A F IS M O

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IL U S T R A Ç Ã O Nídia Ideias

COLABORADORES

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Ernesto Martins, Hugo Melo, Jorge Ribeiro de Castro, Ruben Chamusca, Paulo Guedes, Victor Hugo

F O T O G R A F IA

Créditos nas Páginas

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dar crédi to ao autor or iginal, da for ma especi fi cada pelo aut or ou l i cenci ante.

Eduardo Ramalhadeiro

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N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O

uti l i zador não pode al te r ar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.

5 / VERSUS MAGAZINE



I´ N D I C E Nº33 JANEIRO / FEVEREIRO 2015

38

PHILM JÁ VIRAM ESTE PHILM!?

E N T REV I S TA S

CON T EÚ D O 08 09 12 14 17 28 48

N O T Í C I A S V E RS U S T R I A L B Y F I RE AFINAÇÕES T RY FA R G R E LH O S DE H O RT E L Ã C O S T I N C H I OR E AN U G A R A G E P OW E R # Clutter

58 T H O M A S G I L E S

10 18 20 26 32 34 36 42 46 50 52 54 56

A U D R EY H O R NE C A R A C H A NG R EN < C O D E> G A LA R M A NES NE OBLIVISCARIS T E TEMA S O EN N IG H TING A LE R ES I S TA NC E S A ILLE WAY FA R ER N .K . V. D .

2 2 FLA S H R EV IEWS 6 0 A LB Ú M D O MÊS # TETEMA - Geocidal

6 1 C R ITI C A V ER S US 6 7 P LAY LIS T V ER S US 7 0 LI V E V ER S U S # Amon Amarth # Feed Me Fest

7 4 A G END A V ER S U S

7 / VERSUS MAGAZINE


NOTICIAS

RAGE PEAVY E SMOLSKY SEGUEM CAMINHOS DIFERENTES. Após 15 anos de parceria, em comunicado conjunto, Peavy Wagner e Victor Smolsky informam os fans do fim do actual lineup dos Rage. Deixando claro que foi uma decisão mútua, e que não se separaram zangados, declararam que já há algum tempo que não estavam satisfeitos com a evolução dos Rage. Se por um lado Smolsky informa que vai continuar o trabalho iniciado em LMO, continuando a trabalhar com a Orquestra Filarmónica de Barcelona, Peavey foi obrigado a emitir um comunicado a garantir a continuidade de Rage informando que de momento está focado no projecto Refuge, curiosamente projecto que junta os 3 membros da considerada melhor lineup do Rage, para uma série de concertos para tocar musicas dos álbuns desse período.

BRUCE DICKINSON BA TA L H A C O N T R A O CANCRO Detectado por alturas do Natal, durante um checkup de rotina, o cancro foi diagnosticado ainda numa fase inicial, levando a um prognóstico positivo. Dickinson iniciou os tratamentos de quimioterapia e radioterapia, prevendo-se a evolução favorável até mês de Maio. Após este período serão necessários mais uns meses para a total recuperação do vocalista.

8 / VERSUS MAGAZINE


TRIAL BY FIRE JORN LANDE

CO R O NATUS

& TR O ND HO LTER

Swing of Death

I F T H E S E T R E E S COULD TALK Above The Earth, Below The Sky

Cantus Lacidus (Massacre Records) MÉDIA: 2,1

(Frontiers) MÉDIA: 3,8

(Metal Blade) MÉDIA: 3,6

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

HUGO M.

HUGO M.

HUGO M.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

VICTOR H.

VICTOR H.

VICTOR H.

V I S I G O TH

FINSTERFORST

The Revenant King (Metal Blade) MÉDIA: 3,3

C I NEMU ERTE

Mach Dich Frei (Napalm Records) MÉDIA: 3,3

D hi st (Viral Propaganda) MÉDIA: 3,3

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

HUGO M.

HUGO M.

HUGO M.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

VICTOR H.

VICTOR H.

VICTOR H.

C A R A C H ANGREN

VENOM

This Is No Fairytale (Season of Mist) MÉDIA: 4,0

P ER I P H ERY

From The Very Depths (Spinefarm Records) MÉDIA: 3,5

Juggernaut(Alpha & Omega)

( Century Media ) MÉDIA: 3,4

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

HUGO M.

HUGO M.

HUGO M.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

VICTOR H.

VICTOR H.

VICTOR H.

N A PA L M DEAT H

MO O NSP ELL

Extinct (Napalm Records) MÉDIA: 3,5

Apex Predator - Easy Meat

(Century Media) MÉDIA: 3,5

Obra - Prima Excelente

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

HUGO M.

HUGO M.

Esperado

ADRIANO G.

ADRIANO G.

Básico

VICTOR H.

ADRIANO G.

Esforçado

9 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] DEIXEI-ME FASCINAR PELA IDEIA DA EXISTÊNCIA DE UMA LUZ INTELIGENTE, SENCIENTE. […]”

AUDREY HORNE DELIGHTS AND ANGERS MO R E A N , V O C A LISTA DOS DARK FORTR ES S E C R I A D O R D E H I S TÓ R I A S D E H O R R O R “N A S HORAS VAGAS” E COM POS I TO R C LÁ S S I C O DE P R O FI S S Ã O , FALA -NOS DO Ú LTI M O Á L B U M DA BANDA - «VENEREA L D AW N» - E D A S A LEG R I A S E TR I S TEZA S , D A S A MB IÇ Õ E S C O N CRET IZADAS E DAS IDEI AS A A G U A R D A R R EA LI ZA Ç Ã O A ELE A S S O C I A D A S . D A Í Q U E T E N H A MOS PEDIDO EM PRESTADO A U MA O U TR A B A NDA O TÍ TU LO D E U MA MÚS I C A S U A Q U E MU IT O A P R ECIAM OS PARA T RADUZIR O ES S ENCI A L D ES TA B ELA ENTREV I S TA. BO M PR O V EI T O ! Por: Eduardo Ramalhadeiro

PARAB É N S POR E S TE N O V O Á LB U M . É MESM O… VI C I A N TE !

T EM A LG U M A C O IS A A V E R C O M “TWIN P EA K S ” ?

TOSCHIE :

T O S C H IE: Quando começámos a banda,

Muito obrigado. Fico muito contente por saber que gostas dele e que o achas viciante, porque isso significa que vais precisar de mais uma “dose”… e outra…

AGORA SOBRE O N OME D A B A N D A . P O R QUE ESCOL H E R AM A UDR EY H O R N E? 1 0 / VERSUS MAGAZINE

tínhamos várias ideias para o nome, mas nenhuma nos pareceu verdadeiramente boa. De facto, fizemos o nosso primeiro com o nome de “Paradogs”. Antes de formar esta banda, eu tocava numa outra que se chamava “Sylvia Wane”. Quando falámos sobre um nome para esta banda,

os outros disseram que achavam esse nome engraçado, sobretudo por ser um nome de mulher. Portanto, queriam algo semelhante. Como estávamos a pensar em nomes de ficção e um de nós (acho que foi o IceDale) estava a seguir a série “Twin Peaks”, alguém sugeriu “Audrey Horne”. Pareceu-nos adequado ao tipo de música que fazemos, dado tratar-se de uma personagem misteriosa e imprevisível. Também era um nome que não dava logo a entender de que tipo era a nossa


“[…] ESTAMOS A FAZER O NOSSO MELHOR PARA EXPRIMIR POR ESSA VIA VISUAL OS MUNDOS PRESENTES NA NOSSA MÚSICA. […]” banda e também gostámos disso, para além do facto de haver pessoas que já nos tinham ouvido (mesmo que não se lembrassem disso), que iriam pensar: “Parece-me que já conheço esta banda”. Isso seria útil para o lançamento da banda.

NORMA L M E N TE , AS S O C IA MO S OS NORUE GUE S E S À MÚ S IC A EX T R EMA . CONTUDO, V OCÊ S TOC A M R O C K E EU LI EM ALG UM L A DO Q UE O M ELH O R R O C K AMERI C AN O É N O RUEG U ÊS : O V O S S O . COMO SE S E N TE M FA CE A IS T O ? TOSCHIE : (Risos) Também li isso! Como a

nossa música se baseia no rock clássico americano e inglês, deve ser um elogio. A Noruega é famosa pelo seu Black Metal, mas também faz muitoPop, Rock e Hard Rock de boa qualidade. A cena Black Metal é que se tornou tão conhecida por aspetos que nada têm a ver com a música que os europeus pensam logo nesse subgénero, quando ouvem as palavras Noruega e música. É claro que temos uma das cenas Black Metal mais importantes, mas também temos muitas outras coisas para oferecer em termos musicais. Penso que as pessoas gostam do nosso Hard Rock “americano”, precisamente porque, bem lá no fundo, tem um “gostinho” escandinavo. Afinal de contas, põe em contacto duas culturas diferentes: nós adicionámos a frieza nórdica a esse tipo de Rock.

nos vejam como uma banda digna de fazer parte da história do Rock.

U MA C O IS A Q U E M E PA R E C E Q U E FA Z E M M U IT O B E M É C O M B INA R TO D A S A S IN FLU ÊN C IA S D A S D É C A D A S D E 7 0 E 8 0 D O S ÉC U LO PA S S A D O C O M U M “C H E IR INH O “ D E MO DE R NID A D E . É IS S O M E S M O Q U E P R ET EN D EM FA Z E R , IND E P E ND E NTE M E NTE D A S V O S S A S P R Ó P R IA S P R E F E R Ê NC IA S , O U IS T O É P R E C IS A M E NTE U M R E S U LTA D O D ES S A S INF L U Ê NC IA S ? T O S C H IE: Como já referi, misturamos essas

duas influências (passado e presente), mas, para ser franco, mais uma vez, muito simplesmente fazemos música que nos próprios gostemos de ouvir. Procuramos não “pensar” muito, quando estamos a compor e gravar e deixar-nos guiar mais pelo nosso instinto. A melhor música é sempre a que é feita de forma honesta, vem do coração, não aparece quando te pões a tentar adivinhar o que os outros querem ouvir. Como já disse, nunca quisemos ser uma banda “retro” e nunca tentámos copiar ninguém, nem sequer o som e o visual desses tempos. Há bandas que fazem isso muito bem: por exemplo, Rival Sons, Kadaver e Graveyard. Todos as respeitam, mas não é esse o caminho que queremos seguir.

NO V OSSO PAÍ S , É D IFÍC IL S ER U M A BANDA ROCK, E M VE Z D E FA ZER MÚ S IC A EXTRE M A ? HÁ OUTR A B A N D A D O V O S S O GÉNER O QUE VAL H A A P EN A R EFER IR ?

V O C ÊS T ÊM U M E X C E L E NTE S E NTID O D E H U M O R , C O M O P O D E M O S V E R E M “TA L E S FR O M T H E C RY P T”, P O R E X E M P L O ( É C U R IO S O Q U E A “INTR O ” M E L E M B R A A LG O D E D E F F L E P PA R D , P E NS O E U ) . D E O N D E V O S V E M E S S E S E NTID O D E H U M O R ?

TOSCHIE : De modo nenhum. A cena Black

T O S C H IE: Quando se faz este tipo de Hard

Metal é muito maior nos países do sul e este da Europa. Para ser franco, até me parece que é mais fácil ter muitos fãs na Noruega, se tiveres uma banda de Hard rock/Hardcore/Rock. Temos por aqui algumas bem boas: por exemplo, Turbonegro, Kvelertak, Wolves Like Us, Gluesifer, Oslo S, Kaizres Orchestra, El Caco….

PENSO Q UE VOCÊ S T ÊM U M G R A N D E LEGADO PARA PRE S ERVA R . P ES S O A S COMO E U COM PARAM -V O S A “ MO N S T R O S ” COMO TH I N L I Z Z Y, VAN H A LEN O R IR O N MAI DEN ? E S TÃ O DI S P O S T O S A A R C A R COM ESSA RE S PON SAB ILID A D E? TOSCHIE : Se somos assim, será uma

grande honra arcar com esse peso. Espero que façamos parte desse legado, mas também quero que nos vejam como uma banda que acrescentou algo a essa herança. Gostamos de todas essas bandas “clássicas”, mas nunca pretendemos ser uma banda “retro”. Deixamo-nos influenciar por elas, mas depois procuramos fazer a nossa própria música combinando essas influências e um som atual. Além disso, essas bandas tiveram impacto em muitas mais vidas do que as que nós esperamos influenciar. Mas, com algum caminho já feito e alguns álbuns na nossa história, esperamos que

Rock, é muito importante ter sentido de humor. Fazemos isto, porque é algo de que gostamos muito e nos diverte imenso. Levamos a nossa música muito a sério, mas gostamos de brincar connosco mesmos. Somos apenas um bando de gajos a viverem os melhores tempos das suas vidas e queremos participar a alegria de fazer este tipo de música com quem quer que a queira ouvir. Somos uns gajos muito divertidos.

O S V O S S O S C O NC E RTO S TA M B É M S Ã O A S S IM D IV E RTID O S O U L E VA M -NO S M A IS A S ÉR IO ? T O S C H IE: (Risos) Penso que os nossos

álbuns são muito sérios comparados com os nossos concertos. É aí que damos largas à nossa vontade de nos divertirmos. Os nossos espetáculos baseiam-se na interação entre a banda e o público, portanto procuramos incluílo ao máximo no que se está a passar. Muitas vezes interpretamos uma ou duas canções entre a multidão, outras vezes trazemos pessoas para o palco. Vimos as coisas da seguinte forma: se fores para casa com a sensação de que fizeste parte de uma experiência, em vez de te limitares a assistir, sentes-te muito melhor. Estamos lá para satisfazer a audiência e vocês estão lá para nos satisfazer a nós. É isto que nos torna os nossos concertos

tão agradáveis.

A Ú LTIM A C A NÇ Ã O D O Á L B U M É A MAIS S É R IA . Q U E M É E S TE “B O Y WONDER” ? T O S C H I E : Essa canção tem, de facto, um

lado mais sombrio. Penso que o lado humorístico dos nossos álbuns não é o que predomina. Afinal, não somos os Steel Panther. Esta canção trata das dificuldades que a indústria musical está a enfrentar atualmente e da forma como isso afeta os músicos, logo refere-se a um assunto muito sério para todos nós. As rápidas mudanças ocorridas e o facto de que, hoje em dia, é fácil aceder a tudo em qualquer momento priva-nos da sensação de fazer parte de algo e do respeito pela arte que custou a alguém tanto tempo, energia e dinheiro. É algo muito difícil de enfrentar. Mas, ao mesmo tempo, a internet tornou a indústria musical mais democrática. Bandas pequenas têm mais oportunidades de verem a sua música publicada e de se promoverem. Nem tudo é negativo, no panorama atual.

« P U R E H E AV Y » NÃ O TE M NENHUMA B A L A D A . P O R Q U Ê ? P O D IA M T ER FEIT O U M A D O TIP O H E AV Y O U P O WE R… T O S C H I E : Isso acontece, porque nunca escrevemos nenhuma. Mas estamos a preparar uma para o próximo álbum. Vai ser épica… ou do tipo Power ballad.

“O U T O F TH E C ITY ” É U M D OS VÍDEOS M A IS E NG R A Ç A D O S Q U E J Á VI. AS M A R IO NE TA S S Ã O H IL A R IA NTE S E VOCÊS C O NS E G U IR A M R E C R U TA R O J OHAN HEGG D O S A M O N A M A RTH . D E O NDE VEIO A ID E IA D E O C O NV ID A R E M ? U M MAT ULÃO D E U M A B A ND A D E D E ATH M E TAL A FAZER U M V ID E O C L IP PA R A U M A B A NDA DE ROCK C O M U M G R U P O D E … M A R IO NETAS? T O S C H I E : Há já uns anos que usamos o

tema do genérico do “The Muppet Show” como “intro” para os nossos concertos e isso deu-nos a ideia de usar marionetas no vídeo. Encontramos na Alemanha uma empresa que faz marionetas personalizadas, portanto conseguimos arranjar umas que eram parecidas connosco. Um aspeto que fez o sucesso do Muppet Show era a aposta na interação entre as marionetas e pessoas a sério. Eles sempre tiveram convidados célebres nos seus programas. Por isso, pensámos em fazer o mesmo. O Johan e a sua mulher (Maria) são nossos amigos de longa data, logo pareceu-nos que seria fácil integrálos num vídeo nosso e decidimos convidálos. Ficaram encantados com a ideia e acho que se divertiram imenso a fazê-lo. Adorei o resultado. O Johan e a Maria são muito cómicos e do mais simpático que pode haver.

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11 / VERSUS MAGAZINE


ARTIGO VERSUS

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AFINACOES , AO ENTREVISTAR UMA DAS PERSONALIDADES MAI S IMPORTANTES DO METAL, UM DOS BATERISTAS MAIS RESPEITADOS E ACLAMADOS, UMA DAS PERGUNTAS DEZ-ME DESPOLETAR ALGO QUE JÁ ANDAVA A PENSAR HÁ MUITO. ESCREVER ALGO SOBRE O PEDAL DUPLO, AFINAÇÕES, ETC. NO ENTANTO, DEVEM VOCÊS ESTAR A PERGUNTAR: “QUEM É ELE?” BEM, SÓ VOS POSSO DIZER QUE NÃO SOU ALGUÉM IMPORTANTE, SEI LER MÚSICA MAS NÃO PAUTAS DE BATERIA – NESSE ASPECTO SOU AUTO-DIDACTA – NÃO TENHO ENDORSEMENTS, ISTO É, APOIOS POR PARTE DAS GRANDES MARCAS, SIMP LESMENTE TOC O BATERIA HÁ MAIS DE VINTE ANOS EM BANDAS DE GARAGEM – COM MAIS OU MENOS CONCERTOS. Por: Eduardo Ramalhadeiro E N T ÃO, AI NDA DE VE M E S TA R A P ER G U NTA R : “ SE N ÃO É AL GUÉ M I MP O RTA NTE, NEM C O M N O M E OU CRÉ DI T OS FIR MA D O S P O R Q U E DE V E R E I E STAR A L E R I STO ? “ B EM, P O R Q U E SI M P L E SME NT E NÃO DE VO NA D A A NING U ÉM, AS M ARCAS NÃO ME A P O IA M, P O RTA NTO , N Ã O T E NHO NADA A PE R D ER O U G A NH A R E T UDO O QUE CONSE GUI FO I C O M O S U O R D O M EU T RABAL HO. T E NHO A LG U MA O P INIÃ O F O RM A DA E AL E M DI SS O , 9 0 % D A MA LTA QUE TOCA BAT E RI A É CO MO EU . S E C A LH A R UM A O PI NI ÃO DE UM NÃ O P R O FIS S IO NA L É O QUE E STA MALTA P R EC IS A . P O S TA A APRE S E NTAÇÃO DE L ADO A Q U I VA I O MEU ARTI GO. . .

1 2 / VERSUS MAGAZINE

Neste edição, estive à conversa com Dave Lombardo e uma das perguntas que fiz foi: “Como afinas o teu pedal duplo”. Baseado nesta premissa decidi partilhar a minha opinião, sobretudo com a malta com menos experiência – os outros acho que não aprendem nada... Sendo assim e antes de mais, existem três tipos de pedais: Sistema de Corrente única ou dupla; Sistema de Fita; Sistema Direct Drive.

Qual o melhor sistema? Nenhum! Antes de comprar experimentem o máximo que puderem. Todos eles têm características diferentes: Resposta do pedal, controlo, força de impacto do batente e robustez sistema. Só uso Direct Drive mas o que pode ser ideal para mim, poderá não ser para outro. Já usei um sistema de corrente e o que noto é uma maior resposta do pedal e maior dificuldade em controlá-lo – nada que a prática não resolva. Mais uma vez... NUNCA deixem de experimentar o máximo de pedais e diferentes sistemas que possam.


ARTIGO VERSUS

Sendo assim, como afino o pedal? Bem... basicamente, como vocês quiserem. Depende muito do estilo que toquem. Devem ter em atenção que há 4 importantes factores: distância do batente à pele, tensão da molas, altura da placa e força na pernas. Quando o meu pedal chegou de fábrica fiz-lhe, somente um ajuste: tensão das molas quase ao máximo, os batentes ficaram sensivelmente a 45º e a altura da tábua um pouco mais alta. No entanto, na conversa que tive com Lombardo ele disse que a sua forma de afinar o pedal era a seguinte: Molas esticadas ao máximo, batente mais afastado da pele e a placa um pouco mais levantada. Experimentei esta afinação e como já desconfiava, não me dei nada bem. O principal problema era o batente bater na canela e a força exagerada com que tinha de tocar. Se estava potente, se estava, oh se estava. Mas o reverso da medalha era a parte física... cansei-me muito mais depressa. Se esticarem as molas ao máximo vão precisar de mais força e resistência física mas a pancada fica mais potente. Se precisarem de tocar muito mais rápido têm um problema: à medida que a velocidade aumenta

a força tende a ser (muito) menor - e por isso é que alguns bateristas usam triggers para compensar – o pedal, como é óbvio também responde mais depressa. Se afinam as molas com menos tensão, conseguem tocar mais rápido, o esforço desenvolvido é menor mas não têm potência na pancada e o pedal não responde tão depressa – como tem menos tensão, demora mais tempo a volta atrás. Podem ainda jogar com a distância do pedal à pele, mas têm outra vez o problema da potência: quanto mais longe estiver da pele e mais tensão tiver, maior será a força da pancada, o reverso, como já disse é a parte física e a velocidade. Então, cada um tem de achar o seu compromisso: força VS resistência física VS velocidade. Não vale a pena copiar: Bobby Jarzombek toca descalço, Gene Hoglan toca com botas e pesos nos pés. Afinem quantas vezes for preciso até se sentirem confortáveis: A regra de ouro é que os pedais têm de ficar à mesma distância. Se forem dois pedais simples, conseguem com relativa facilidade; se for pedal duplo com extensão, não me parece que o consigam fazer dada a configuração

do pedal (extensão). Portanto, após experimentar afinal o meu pedal à Dave Lombardo voltei mais ou menos ao que tinha: tábua ligeiramente mais levantada, molas com a tensão no máximo mas desta vez não deixei os batentes a 45º mas antes um pouco mais atrás. Isto para dizer que cada um tem a sua configuração e não vale a pena escolher um pedal ou afinação porque este ou aquele baterista é melhor. Gene Hoglan usa Camco Chaindrives (single chain) com batentes de madeira; Mike Mangini usa o Demon Drive da Pearl (Direct Drive) e também o P2002B Eliminator (Fita); Mike Portnoy usa os Iron Cobra mas já usou DW e Neil Peart usa DW serie 9000. Ainda há pedais excelentes Yamaha, Gibraltar, Axis, etc. Se forem pesquisar net vão encontrar pessoal a dizer bem de todos, vão encontrar pessoal a dizer que só se adaptam ao sistema de corrente, outros que não trocam a “fita” por nada e ainda que o Direct Drive é que é bom. Experimentem todos os que puderem, pois não é o pedal que vos vai fazer tocar melhor se não tiverem pernas e técnica. Orçamentem e criem prioridades, não vale a pena gastar 600€ euros num pedal e ter um kit dos “chineses”. 13 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] SOU UM GRANDE FÃ […] DE MÚSICA EXTREMA […] TENEBROSA […] E CONSUMIDOR DE LITERATURA E CINEMA [COM] TEMAS PROFUNDOS E OBSCUROS […]”

TRYFAR ENTRE O ETÉREO E O REAL D E F IN E -S E E M POUCAS PALAVRAS: O S EU P ENSA MENTO É TÃ O B ELO C O MO A S U A A RT E! Por: CSA ANALI SE I CUIDADOSAME NT E O S T R A B A LH O S QUE CONSTAVAM DO T EU P O RT EFÓ LIO N O DI RAMAZ IONI E RE PARE I Q U E U S A S U MA GRANDE VARIE DADE DE T ÉC N IC A S E A S COM BINAS DE F ORMA MU IT O C U R IO S A . COM ECE I L OGO POR RE PA R A R N A S C O R ES : PRETO E BRANCO, VÁRIOS T O N S D E C IN ZEN T O E VERME L HO, F UNDOS AMA R ELA D O S . A P R EEN D I BEM A TUA PAL E TA DE CO R ES O U ELA É MA IS ALARGADA? VI E STAS CO R ES , P O R EX EMP LO , NOS TRABAL HOS QUE F IZES T E PA R A A S O FY (UM A DAS TUAS BANDAS) , D Y S T O P IA N A O U THE HOWL ING VOID.

TRYFA R: De um modo geral, gosto de

cores não saturadas, cores que não sejam muito vivas, e tenho preferência por uma paleta de cores restrita. Gosto sobretudo dos tons esverdeados, embora o uso que 1 4 / VERSUS MAGAZINE

faço da cor dependa do trabalho que tenho em mãos: quando trabalho para músicos, é o input sonoro que me inspira (principalmente se não houver nenhuma indicação dada pela banda), que me sugere que cor usar e de que forma.

P O R Q U E U S A S U M A PA L E TA S O M B R I A ? É U M A O P Ç Ã O T U A? O U É P O R Q U E T R A B A L H A S PA R A B A N D A S Q U E FA Z E M M Ú S I C A E X T R E M A ?

T RY FA R : Não é tão simples como pode parecer à primeira vista: sou um grande fã e ouvinte de música extrema (sobretudo da mais tenebrosa, como Black Metal e Doom Metal) e consumidor de literatura e cinema, em que também privilegio os temas profundos e obscuros e os subtextos.

Portanto, as imagens que crio são influenciadas pelo uso da cor que é feito nestes campos artísticos. Apesar de eu saber que a cor, a luz, são coisas do domínio da perceção, logo sem conotações definidas, também tenho consciência de que podemos darlhes diferentes significados, ao ponto de a mesma cor ou tonalidades poder representar ideias opostas. Por exemplo, o negro, em certos casos, pode ser uma cor “elegante” ou surgir como a cor que usas quando pretendes dar um tom dramático ao teu trabalho. Por outro lado, reconheço que, ao longo dos séculos, a cultura humana (atualmente globalizada) codificou o sentido das cores, de certa forma, pelo que, de vez em quando, nos sentimos agradavelmente surpreendidos, porque alguém as usou de


“PORTANTO, AS IMAGENS QUE CRIO SÃO INFLUENCIADAS PELO USO DA COR QUE É FEITO NESTES CAMPOS ARTÍSTICOS. […]” uma forma bizarra, aparentemente fora de contexto. Independentemente disto, em muitas situações, dá muito jeito recorrer ao valor simbólico que o código corrente atribui a cada cor.

TAM BÉ M ME PARE CE U Q U E U S A S T EX T U R A S (POR EXE MPL O, NOS TRAB A LH O S Q U E FIZES T E PARA GRIM F UNE RAL O U X H A S T U R ) E/ OU JO GAS COM “GRÃO” N A IMA G EM ( C F. O ARTW O RK PARA ASOF Y E TA MB ÉM PA R A G R IM FUNERAL ) . COMO FAZ E S IS T O ? Q U E EFEIT O PRETENDE S PRODUZ IR?

TRYFA R: Sim, gosto muito de efeitos que

dão um ar “manchado e sujo” às imagens, um aspeto de coisa arruinada pelo tempo, danificada. É uma opção estilística, frequentemente usada e que agora até é fácil de conseguir. Mas, para conseguires resultados ótimos, tens mesmo de recorrer ao material adequado, original (livros velhos, negativos danificados, materiais recuperados) e dar-lhe o devido tratamento. Encontras tudo isto com facilidade em feiras de velharias ou locais abandonados (casas velhas, fábricas). Por vezes, uso simplesmente aguarelas para dar à imagem uma espécie de “grão” e obter efeitos específicos. O melhor é começar por escolher uma textura adequada ao tema que pretendo ilustrar. Por exemplo, para o álbum de Thaclthi intitulado «...Erat Ante Oculos», pareceu-me adequado usar areia e pó, já que ele me faz pensar em atmosferas antiquadas, arruinadas.

POR VE Z E S, RE CORR ES A MO T IV O S GEOM É TRICOS ( ASOF Y) , Q U E C O N T R A S TA M COM O USO DE F O T O S , G ER A LMEN T E SOBRE POSTAS, NOUTR O S T R A B A LH O S (DYSTO PIA NA, THE HOWLIN G V O ID ) , C R IA N D O UM A ESPÉ CIE DE HOL OGRA MA ( G R IM FU N ER A L) OU UMA PAISAGE M E TÉ RE A ( H O R N WO O D FELL) , OU COM MOTIVOS ROMÂ N T IC O S , Q U E FA ZEM LEM BR AR PE RSONAGE NS A N T IG A S , S A ÍD A S DO FOLCL ORE OU DO PAG A N IS MO ( C O MO N O S TRABAL HOS AL USIVOS A O S B O S Q U ES , Q U E PODEMOS VE R NO TE U P O RT EFÓ LIO ) . O Q U E SI GNI F ICAM E STAS DIF E REN Ç A S ?

TRYFA R: Interessa-me, particularmente,

que haja uma grande consonância entre o som e a imagem. Portanto, tento encontrar na música sentimentos e relações, que me possam sugerir a abordagem expressiva adequada àquele trabalho. É claro que se trata sempre de uma interpretação pessoal de uma dada atmosfera. Na minha opinião, é por esta razão que, às vezes, o trabalho agrada, outras vezes, nem por isso. Asofy é o meu projeto musical. Aproveito esta oportunidade para dizer que o artwork que criei para ele está intimamente ligado ao sentido da música e que fiz algumas opções estilísticas pouco funcionais: a capa é intencionalmente discreta, sem nada que chame a atenção, que dê nas vistas, porque o que interessa realmente está no livrinho que acompanha o álbum e (de acordo com a minha intenção) deve revelar a natureza das canções quando as ouves.

Por outras palavras, exijo ao ouvinte um esforço: o de abrir esse livrinho, enquanto ouve a música, para compreender melhor as imagens que nele figuram, relacionando-as com a música, e a música, relacionando-a com as imagens. De qualquer modo, gosto de esconder os símbolos: muitas vezes seguindo a vontade da banda, outras vezes, de acordo com uma ideia minha. Esses símbolos estão sempre relacionados com a música ou um texto ou título, que me parece mais significativo. A ideia é tentar seguir ou sublinhar a atmosfera musical. No álbum de Hornwood Fell, a floresta desempenha um papel de relevo, quer porque faz referência a álbuns famosos («Bergtatt», dos Ulver, ou «Borknagar», da banda do mesmo nome), quer porque é uma presença afetiva, atávica, para os membros da banda.

TA MB ÉM ME PA R E C E Q U E J O G A S M U I T O C O M O S EN T ID O D A P R O F U N D I D A D E . E S T O U A P E N S A R N A ES P ÉC I E D E M E D A L H Ã O D O S É C . X V I I I E NOUTROS PORMENORES QUE SE ASSEMELHAM A C O IS A S R I S C A D A S Q U E P O D E M O S V E R N A C A PA D O Á L B U M D E X A S T H U R , O U À I L U S Ã O D E T R ID IM E N S I O N A L I D A D E P R E S E N T E N U M A IMA G EM D O A RT W O R K PA R A D Y S T O P I A N A . POR QUE PRECISASTE DE CRIAR ESSES EFEITOS N ES S ES T R A B A L H O S ?

T RY FA R : Como já expliquei, são ideias

mais difícil é reconhecer algo, mais enigmática a coisa parece e mais apela para o nosso inconsciente. Essa ideia veio à baila, quando estava a discutir com os Hornwood Fell o teor da capa para o seu álbum. A banda queria inserir nesta uma figura representando uma bruxa, uma feiticeira (uma presença endémica da floresta perto da qual os elementos da banda vivem) e, de acordo com essa indicação, criei uma figura demasiado definida, explícita, que nada tinha de arcano. Depois, em conversa com eles, percebi que era preciso criar uma atmosfera diferente: algo que revelava a natureza da figura, mas, ao mesmo tempo, não era muito definido, não estava tão definitivamente integrado na floresta. Ao invés, para Manii, o trabalho pretendido era muito diferente: a banda apresentou apenas uma vaga sugestão e deu-me toda a liberdade para criar um artwork inspirado pela audição do álbum. Como o achei cheio de camadas, impenetrável, decidi fazer uma pintura intensa, tão densa que parece feita com argamassa, na qual inseri várias camadas de manchas. Na versão final, encontras-te frente a frente com uma figura que grita, mas é impossível determinar de onde vem ela, se é real, se saiu de um sonho/ pesadelo, se esconde algo.

O N D E A P R E N D E S T E A D E S E N H A R A SSI M?

que me surgem a partir da música, do que ela exprime. O meu trabalho nem sempre consiste apenas em ilustrar ou criar algo a partir do nada. Por vezes, exige que eu refaça, adapte, trabalhe material que a banda me deu e que lhe parece apropriado (e nem sempre esses materiais são de boa qualidade). Para Xasthur tive de trabalhar a partir de uma série de fotos que o Scott queria que eu usasse: alterei o layout, as cores, a coordenação das várias fotos. Como nelas havia uma velha caixa, tive a ideia de usar madeira como material principal, para servir de mote a todo o artwork. Inversamente, para o trabalho de Dystopia Na, foi-me pedido que me inspirasse numa pintura (que figurava no livrinho que acompanha o álbum) baseada num tema urbano. Logo, esse trabalho foi fácil de fazer: limitei-me a ajustar as imagens ao que a música me sugeria, ou seja, algo apocalítico, mas também misterioso e, acima de tudo, algo que não evocasse apenas o Black Metal, visto que o álbum é muito progressivo e acolhe muitas outras influências musicais. Por outras palavras, às vezes, tenho de ter em conta algumas restrições ou pedidos específicos.

TRY FA R :

TA MB ÉM M E PA R E C E Q U E B A L A N Ç A S E N T R E U MA G R A N D E N I T I D E Z ( S E M E L H A N T E À D A S G R AVA Ç Õ ES F E I TA S E M M A D E I R A , Q U E M E FA ZEM P EN S A R N A S I L U S T R A Ç Õ E S D E D O R É ) E U MA ES P ÉC I E D E F I G U R A S E N E V O A D A S ( C O M O A S Q U E FIZ E S T E PA R A M A N I I O U T H A C LT H I ) . Q U A L É A INT E N Ç Ã O ?

TRY FA R :

T RY FA R : A ideia é suscitar a curiosidade, criar um mistério. Normalmente, quanto

Desenho desde a minha infância. Costumava desenhar à mão, mais do que faço agora. Frequentei uma escola de artes (ensino secundário) e depois especializei-me em ilustração. De qualquer modo, penso que o meu estilo resulta mais da minha vontade de criar do que dessa formação, abre-me vários caminhos.

Q U E M S Ã O O S T E U S M E N T O R E S A RTÍ S TI C OS?

TRY FA R : Adoro fotografia e uso-a muito

na minha arte. No entanto, sinto-me mais influenciado pelo cinema do que pela fotografia (que conheço pouco). Agradamme muito os primeiros trabalhos de Fincher, os filmes de Jeunet, as animações dos irmãos Quay e de Svankmajer, que me parecem ter influenciado muito um dos meus ilustradores favoritos: Dave McKean. Também aprecio muito, muito, pintores simbolistas (Redon, Bocklin, Blake, Delville, Kupka, Malczewski, Pellizza da Volpedo…). E muitas coisas mais…

T E N S O U T R O S C L I E N T E S , PA R A A LÉM D E B A N D A S D E M E TA L ? Sim, Com o meu sócio (Vocisconnesse), também trabalho como ilustrador para publicidade. Fazemos, sobretudo, capas e ilustrações interiores para livros. Por exemplo, recentemente, criamos juntos a capa e as ilustrações interiores para um livro pop-up para adultos: “The illustrated Edgar Allan Poe” – Literary pop-up (um trabalho encomendado por um editor do Reino Unido). Também fazemos design gráfico e layout para vários tipos de clientes. Mas 15 / VERSUS MAGAZINE


“INTERESSA-ME [A] CONSONÂNCIA ENTRE O SOM E A IMAGEM. […] É CLARO QUE SE TRATA SEMPRE DE UMA INTERPRETAÇÃO PESSOAL DE UMA DADA ATMOSFERA. […]” gostava de trabalhar mais com músicos.

COM O RE AGE O PÚBL ICO ITA LIA N O A MA D O R DAS BEL AS ARTE S AO TE U T R A B A LH O ?

TRYFA R: Não sei. Para ser sincero, não

tenho grandes reações. Não me parece que haja muita gente interessada no que eu faço e, atualmente, não é fácil um artista impor-se, porque há imenso material a sair a toda a hora, no mundo inteiro. Talvez haja mais oportunidades, mas também há menos espaço para conquistar.

SEI QUE É S TAMBÉ M UM MÚ S IC O . C O MO C O R R E ESSA PARTE DO TE U TRAB A LH O ?

TRYFA R:

É verdade, sou um músico preguiçoso. Preciso de muito tempo para fazer seja o que for, talvez porque também há cada vez mais lançamentos atualmente. Por isso, estou cada vez mais lento. Neste momento, estou a tentar organizar algumas ideias para o próximo álbum de Asofy.

QUE PAPE L TE M A MÚS IC A N A T U A A RT E GRÁFI C A?

TRYFA R: A música influencia-me muito. É

talvez a minha principal influência criativa. Ouço imenso material todos os dias e durante muito tempo. Acima de tudo, aprecio tudo o que haja de mais estranho e obscuro na cena metal. Não consigo imaginar como seria a minha vida sem música.

SE ALGUMA E NTIDADE MÁG IC A T E C O N C ED ES S E TRÊS DE SE JOS, O QUE PE D IR IA S ?

TRYFAR: Mas que pergunta! Provavelmente, pensaria em três coisas disparatadas, ou três coisas muito sérias, mas não é fácil responder. Vou tentar chegar à média dos meus desejos: gostaria que as religiões organizadas desaparecessem todas, que se desacelerasse a produção de tudo (música, filmes, fones, carne… sistemas operativos… atualmente, ainda nem tivemos tempo de aprender a usar algo e a coisa já está antiquada e desatualizada) e, por fim… que Dolorian lançasse um novo álbum (e que me pedissem para fazer o artwork, se possível). Obrigado pelo teu interesse e pela entrevista profunda!

W WW. D IR A MA ZIO N I. IT WWW. DIRA MA ZIO N I. IT / T RY FA R

1 6 / VERSUS MAGAZINE


~

GRELOS DE HORTELA HÁ MUITO, MUITO, MUITO TEMPO, DO GÉNERO HOJE, UMA FADA CHEGA À CIDADE. UMA CIDADE BEM ORGANIZADA E VISTOSA A NÍVEL EUROPEU. ONDE OS PRÉDIOS TINHAM JANELAS E PORTAS COM CORES DE GRAFITE DA ETERNA IMPOTÊNCIA SOCIAL. OS JARDINS ERAM DE RELVA SINTÉTICA E OS ANIMAIS ANDAVAM TODOS DE TRELA AO PESCOÇO. APARENTEMENTE, ERAM TODOS INTELIGENTES, A POPULAÇÃO DESSA CIDADE ERA TODA SIMBOLICAMENTE FELIZ. DE CARROS RÁPIDOS E APARATOSOS, DESLOCAVAM-SE A UMA VELOCIDADE ESTONTEANTE PARA O VAZIO DA ETERNA MANIPULAÇÃO FASCISTA. E CADA VEZ MAIS ERAM MAIORES OS GRUPOS DE ESTÔMAGO DESGUARNECIDO. MAS ISSO POUCO INTERESSAVA, PORQUE A CIDADE ERA UM MODELO DE UM PROGRAMA OUTRORA DE PAZ, QUE SE TORNOU NUM INTERESSE DE RICOS ENGORDADOS COM A ESCASSEZ DE UMA GRANDE PARTE. Nídia Ideias

A Fada tinha um plano que ainda não sabia como por em prática. Então suavemente, interpelava os habitantes com simples perguntas: - Diga-me. Como operário, o que é que mais o aborrece?

A ROTA DE UMA FADA POR: VICTOR ALVES

No qual ele respondia: - Ganho pouco mas dou graças a Deus por ter trabalho! - Que ideias tem para mudar essa percepção? - Tenho casa e carro para pagar e os meus filhos andam na escola, por isso vou-me limitando a trabalhar no que tenho, graças a Deus! - Mas sendo assim já reparou que o seu filho anda a estudar para mais tarde dar graças a Deus por um emprego mal pago? Se houver! - Penso que não… estas medidas eram necessárias para o desenvolvimento de uma nova era! - Mas já reparou que foi uma classe social que tem pago essas medidas? - Quem, a classe média?! Esses tinham muitas regalias!

- Sim, mas sendo você pequeno acaba por levar por tabela pela perda dessa classe, não? - Desculpe, mas tenho que ir para casa ver o jogo de futebol! A fada cada vez ficava mais aborrecida com os resultados da sua intervenção. Não passavam de uma tentativa frustrada de chamar atenção às pessoas mais distraídas, que pouco tinham capacidade já para elaborar este diálogo. Pois isto já era o sonho da grande Fada que dormia num banco de jardim. Andam os inteligentes e os estudiosos na corda bamba da sucessão fascista, disfarçada em pura democracia que de democrático, só tem o acto do voto do réptil e do verme da cidade global.

“Portugal é um bom exemplo de que o programa de ajustamento resulta. Pois foi a coesão social o efeito positivo à política de austeridade” A Fada só se lembrava das inúmeras manifestações contra que não surtiram qualquer efeito! Aborrecida e incapaz, com um toque da sua varinha pôs-se andar para um país onde apenas se vive um pouco melhor. Este é programa que envolve muitos países europeus, só que uns engordam, outros comem restos. Então, com mais algum dinheiro lá vai ela caminhando em linha, só que, Longe dos seus!

Um dia a Fada, colada com os olhos ao ecrã de uma televisão ouve alguém dizer:

17 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] ANDÁVAMOS A PENSAR EM ESCREVER UM ÁLBUM RELATIVO A (PARTES DE) FÁBULAS. ESTE ÁLBUM CORRESPONDE À CONCRETIZAÇÃO DESSE PROJETO. […]”

CARACH ANGREN MÚSICA, HORROR, NARRATIVA, DRAMA SÃO E S T E S O S IN GR E DI E N T E S DO UN I V ER S O D E C A R A C H A NG R EN, U MA B A ND A Q U E SURGIU NAS P Á G I N A S D A VE RS U S PO R OC A S I Ã O D O LA NÇ A MENTO D O S EU S EG U ND O ÁL BUM . O T E R C EI R O - « T H I S I S N O FA I RY TA LE» - LEVA - NO S A VISITAR UM MUNDO NORMALMENTE ASSOCIADO À INFÂ NC I A . MA S TODOS SAB E M O S Q UE OS C O N T O S D E FA D A S U S A M E A B U S A M D O H ORROR! Por: CSA É A SEGUNDA VEZ QUE ENTREVISTO CARACH ANGREN E TENHO MUITO PRAZER EM FAZÊ-LO, PORQUE O VOSSO NOVO ÁLBUM É SENSACIONAL. ARDEK: Obrigado. Também temos gosto em responder às tuas perguntas.

QUE CONCEITO TE INSPIROU PARA COMPORES A MÚSICA DESTE ÁLBUM E AO SEREGOR PARA ESCREVER AS LETRAS? 1 8 / VERSUS MAGAZINE

A R D EK :

Já há algum tempo que andávamos a pensar em escrever um álbum relativo a (partes de) fábulas. Este álbum corresponde à concretização desse projeto. Não gostamos de nos repetir, portanto temos de ser inovadores a cada álbum, sem contudo perdermos a nossa identidade própria. Pensamos que os nossos fãs merecem uma história fabricada por nós e que consiga surpreende-los. A certa altura, o Seregor contactou-me e disse-me que tinha tido uma ideia para uma canção. Contou-me a sua história

e eu fiquei maravilhado. Disse-lhe logo que a história dele era o ovo de onde sairia todo o álbum! Foi assim que comecei a trabalhar na composição das canções, enquanto ele desenvolvia aquela história. Foi daqui que saiu o produto final que agora apresentamos.

O QUE FIZESTE PARA TE IN SPIRARES DESTA VEZ? A R D E K : Nós temos tendência para


“[…] VEMOS FILMES, DISCUTIMOS CONCEITOS E TEMAS SUSCETÍVEIS DE SEREM ASSUSTADORES E ASSIM VAMOS DESENVOLVENDO O ÁLBUM […]” falar muito sobre o que pretendemos fazer. Vemos filmes, discutimos conceitos e temas suscetíveis de serem assustadores e assim vamos desenvolvendo o álbum que temos em mente. A própria história dá-nos muitas pistas sobre como deve soar a música. Por exemplo, numa das canções deste álbum, há uma parte em que as crianças estão a fugir de casa. Como deve ser a música que corresponde a essa parte? Senteime ao piano e tentei imaginá-la. Que emoções experimentam as crianças e que som pode traduzi-las? Este tipo de atitude geralmente permite-me chegar à música adequada para uma canção, à melodia necessária.

passagens orquestrais, mas estão subjacentes ao resto. Se ouvires com atenção e mais do que uma vez, aperceber-te-ás de que os diversos “ingredientes” da música estão misturados de uma forma muito equilibrada. Estamos muito orgulhosos do resultado dos nossos esforços.

GOSTAM DE CONTOS DE FADAS? OU APENAS QUERIAM USAR A EXPRESSÃO COMO CONTRAPONTO PARA O SENTIDO DA MENSAGEM QUE O VOSSO ÁLBUM PRETENDE TRANSMITIR?

«THIS IS NO FAIRYTALE» TEM UMA CAPA QUE NÃO É UMA FOTO DA BANDA. O QUE VOS FEZ MUDAR DE ESTILO NESTE ASPETO?

ARDEK: Sim, gostamos de contos de

fadas e de todo o tipo de histórias de horror. Ao mesmo tempo, pretendíamos transferir esse tema para o universo particular de Carach Angren e penso que conseguimos fazê-lo. De facto, este álbum pode confundir-te. Quando pensas que estás a viver um conto de fadas, não estás e vice-versa. Esse mecanismo cria a tensão de que precisamos. Além disso, situámos a história nos tempos modernos, que o ouvinte pode sentir como próximos de si. Quando sentimos que o universo do álbum está muito próximo da nossa realidade, este transforma-se novamente num mundo de conto de fadas e isso dá ao ouvinte algum tempo para respirar. É esta a estratégia que usámos para manter o ouvinte preso aos seus fones, às colunas.

SERVIRAM-SE DE ALGUNS CONTOS DE FADAS EM PARTICULAR PARA FAZER ESTE ÁLBUM? ARDEK: Sim, mas queremos que sejam

os ouvintes a descobrir quais foram. Quando o álbum sair, não faltarão pistas para encontrarem a resposta para essa pergunta.

DESTA VEZ, PARECE-ME QUE A ATMOSFERA DO ÁLBUM SE APROXIMA MENOS DO MUNDO DE DRÁCULA. A BATERIA É MAIS PESADA, A GUITARRA MAIS FORTE E OS VOCAIS MAIS AGRESSIVOS. CONCORDAS COMIGO? ARDEK: Sim, este álbum baseia-se numa abordagem diferente. Pareceu-nos que a história o pedia. O que é interessante é que na sua música há muitas

CONHECES PORTA NIGRA, UMA JOVEM BANDA ALEMÃ? CARACH ANGREN FAZ-ME PENSAR NELES, NO QUE TOCA AOS CONCEITOS SUBJACENTES À VOSSA MÚSICA. A R D EK : Nunca ouvi falar deles.

A R D EK : Já fizemos duas capas com fotos

da banda e a ideia para a ilustração deste álbum surgiu naturalmente, quando estávamos a trabalhar nele. Lembro-me de eu e o Seregor discutirmos ideias que tínhamos para a respetiva capa, quando regressávamos de um concerto. De repente, surgiu-nos esta imagem!

EXEMPLO, EM DIMMU BORGIR, CRADDLE OF FILTH, MAYHEM, DARK FUNERAL, THE VISION BLEAK. VÃO FAZER CONCERTOS COM ELES PARA PROMOVER ESTE ÁLBUM? A R D E K : Na realidade, não admiramos

propriamente essas bandas. É verdade que a cena Black Metal nos inspirou em tempos, mas agora sentimos que encontrámos o nosso som e caminho, tanto na música como na invenção de histórias. Inspiramo-nos muito mais em obras de arte ligadas ao horror: bons filmes, livros, bandas sonoras. Geralmente, dão-nos ideias espantosas, que desenvolvemos em conjunto, haha. Temos a intenção firme de promover este álbum, mas até agora não temos nada de concreto planeado. Vamos fazer um concerto de lançamento do álbum aqui na Holanda em breve e contamos fazer muitos concertos sozinhos.

TENCIONAM PASSAR POR PORTUGAL EM 2015? ARDEK:

Como já disse, ainda não temos nenhum plano delineado, mas esperamos ir brevemente conhecer Portugal.

QUEM FOI O FELIZ ELEITO PARA CONCRETIZAR A VOSSA INTUIÇÃO? A R D EK : Como sempre, trabalhámos com

o talentoso Erik Wijnands, da Negakinu Photography. Juntos, encontrámos forma de criar esta imagem, recorrendo a fotografias e à sua edição.

COMO É QUE ELE INTERPRETOU O CONCEITO SUBJACENTE AO VOSSO ÁLBUM PARA CHEGAR A ESTA IMAGEM ESPANTOSA? FAZ-ME LEMBRAR AQUELE FAMOSO DETALHE DE UMA PINTURA DE MIGUEL ÂNGELO EM QUE DEUS DÁ VIDA AO HOMEM. A R D EK : Sim, já nos disseram isso. Mas

não tínhamos a mínima intenção de criar um paralelismo com essa imagem. Se olhares com atenção para a nossa imagem, repararás que nela há uma mão de mulher que está a oferecer um doce a uma criança, simbolizada por outra mão. Esta ilustração capta a essência da história subjacente ao nosso álbum. O facto de que a mão da criança nunca chega a alcançar o doce também te pode dar algumas pistas importantes…

JÁ CONSEGUIRAM PARTILHAR O PALCO COM AS BANDAS QUE TANTO ADMIRAM? ESTOU A PENSAR, POR

“INSPIRAMO-NOS MUITO [ … ] E M O B R A S D E A RT E LIGADAS AO HORROR: […] FILMES, LIVROS, BANDAS SONORAS. […] DÃO-NOS I D E I A S E S PA N T O S A S [ … ] ” W W W. FA C E B O O K . C O M / C A RACHANGREN H T T P : / / Y O U T U . B E / _ W E M2 W F3EAM

19 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] «MUT» […] REVELA MUITO A NOSSA VONTADE DE NÃO NOS SENTIRMOS LIMITADOS POR GÉNEROS MUSICAIS OU PELO NOSSO PASSADO. […]”

<CODE> AS INFINDÁVEIS POSSIBILIDADES NO FIM DA ESTRADA PARA AORT, ESTE PARADOXO É A ESSÊNCIA DE «MUT», O NOVO ÁLBUM DE <CODE>. O USO ( PROPOSITADO!!!) DAS MIN Ú S C U LA S S IMB O LIZA A H U M I LDADE COM QUE A B A N D A EN FR EN TA ES S A S IT U A Ç Ã O . Por: CSA

JÁ EN TRE VISTE I <COD E>, A Q U A N D O D O LANÇA ME NTO DE « AUGU R N O X ». T IV ER A M SORTE COM E SSE ÁL BUM? Q U E R EC EÇ Ã O T EV E? AORT: A experiência associada a «Augur

Nox» foi muito complexa. Tentámos respeitar o legado de <code>, apesar da grande mudança no line up. Foi o álbum em que nós os cinco começámos mesmo a perceber como trabalhávamos e quais eram os nossos pontos fortes (e fracos). Dedicámo-nos a ele de alma e coração, mas acabou por não ser uma experiência fácil de viver. Exercemos uma grande pressão sobre nós próprios e, assim, o processo tornou-se muito stressante. 2 0 / VERSUS MAGAZINE

O álbum tem muitas coisas boas, mas não penso que o resultado final tenha sido o almejado, no que toca a alguns aspetoschave. A receção foi também variável, o que acontece a toda a gente de vez em quando. Uma coisa é certa: nenhum de nós ficou com vontade de repetir a experiência.

O N D E FO R A M T O C A R PA R A P R O M O V E R E S S E Á LB U M? V I E R A M A P O RT U G A L ? A O RT: Todos nós temos empregos a tempo

inteiro, portanto as nossas hipóteses de tocar ao vivo são muito limitadas. Temos de as encaixar no que anda a acontecer nas

nossas vidas. Que me lembre, fizemos concertos em Inglaterra, na França, na Holanda, na Roménia, mas não conseguimos ir a Portugal, nem a muitos outros países onde gostávamos de ter tocado. Para dizer a verdade, nunca houve a perspetiva de tocar em Portugal. Talvez isso um dia venha a acontecer, mas não podemos esquecer que o tempo não dá para tudo.

O Q U E H Á D E « A U G U R N O X » E M «MUT»? QUE R E L A Ç Õ E S E X I S T E M E N T R E O S D O I S ÁLBUNS? A O RT: Muito pouco, penso eu. Diria até mais: em «mut», há muito pouco de qualquer um


“[…] MUT» É UMA ESPÉCIE DE YIN, EM OPOSIÇÃO AO YANG MAIS ELABORADO QUE NOS CARACTERIZOU NO PASSADO.” dos nossos álbuns anteriores. Este álbum revela muito a nossa vontade de não nos sentirmos limitados por géneros musicais ou pelo nosso passado. Sinto que, pela primeira vez, compusemos em absoluta liberdade. «Augur Nox» deu-nos a oportunidade, enquanto banda, de nos adaptarmos uns aos outros, de criar uma harmonia que <code> nunca tinha tido, desde a sua formação, de compor sem entraves. Francamente, vejo «mut» como o culminar de tudo o que <code> tem vivido, desde que a banda foi formada, há 13 anos.

A PROPÓSITO, O QUE SIG N IFIC A O T ÍT U LO D O ÁLBUM? AORT: “mut” é uma palavra da antiga língua

semita do Egito, que significa “perder a vida”. Tal como sempre aconteceu com as nossas letras/títulos, o seu sentido está aberto a outras interpretações. Desta vez, demos muito importância à estética, porque queríamos que tudo fosse o mais forte e livre de elementos supérfluos que fosse possível garantir. É por isso que só usámos minúsculas e que os títulos da maioria das canções só têm uma palavra. «mut» é uma espécie de yin, em oposição ao yang mais elaborado que nos caracterizou no passado.

PARA MIM, E STE ÁL BUM É T Ã O D ES O LA D O E BELO COMO AS PRAIA S EM Q U E A B A N D A TI ROU AS F OTOS PROMO C IO N A IS Q U E ME ENVI ARAM. COMO VE E M ES T E V O S S O Q U A RT O LONGA DURAÇÃO? AORT:

É um prazer tomar conhecimento dessa tua opinião. Obrigado. Tal como o título do álbum e das respetivas faixas, todos os aspetos gráficos a ele associados tinham de ser forte e despojados. Assim, quando começámos a pensar nas fotos promocionais, pareceu-nos que uma praia desolada seria o cenário ideal. Para mim, tem conotações dicotómicas, já que me faz pensar em finitude, no fim da estrada, mas, ao mesmo tempo, abre-me infinitas possibilidades de expansão. E, por coincidência, é precisamente essa dicotomia que este álbum representa para mim. Vejo «mut» como uma espécie de alinhamento de muitas estrelas e penso que, com ele, levei <code> ao destino que sempre visei, sem me aperceber disso.

A AGI TAÇÃO RE PRE SE NTAD A N A C A PA D O Á LB U M ASSEN TA ÀS MIL MARAVIL H A S À S U A MÚ S IC A , EM BORA E STE NÃO SE JA PA RT IC U LA R MEN T E VI OLENTO ( ANTE S PE L O C O N T R Á R IO ) . C O MO É QUE O T HOMAS [ NE UL INGE R ] T EV E ES S A ID EIA ? AORT: A capa mostra mesmo a forma como

ele interpretou as nossas letras e títulos e a nossa música. Demos-lhe toda a informação que conseguimos reunir, incluindo alguns temas a que queríamos que a arte do álbum se referisse e o resultado é o que tu pudeste ver. Conseguiu na perfeição interpretar em imagens o que nós criámos usando música e palavras. Nessa imagem, está presente a dicotomia de base do álbum. Nela podes ver agitação e poder, mas também pressentir uma beleza e humildade que – espero eu – também se sente na música.

vida, essa é a tua verdade relativamente a ele e ninguém a pode contestar. Do meu ponto de vista pessoal, é o melhor álbum que podíamos fazer, neste momento do nosso percurso, mas acho que dele emana um sentimento de transcendência espiritual tangível. Pela primeira vez, sinto que criámos algo maior que a soma das suas partes, que tivemos muita sorte. Não sabíamos muito bem para onde íamos e o álbum manifestouse como uma espécie de entidade que se nos impôs.

J Á T ÊM MAT E R I A L PA R A U M Q U I N T O Á L B U M ? C O MO S ER Á E L E ?

“ [ … ] E S TA M O S NAQUELA PRAIA […] Q U E R E P R E S E N TA , A O MESMO TEMPO, O FIM DA ESTRADA E O CONFRONTO COM UMA INFINIDADE DE POSSIBILIDADES.” W W W. FA C E B O O K . C O M / C O D E BLACKMETAL H T T P : / / Y O U T U . B E / 7 S 2I PHKHP90

A O RT: Neste momento, nem sequer temos

planos para um quinto álbum. Nem sei se essa ideia vai mudar. Não queremos entrar numa espécie de turbilhão, em que nos sintamos obrigados a fazer coisas só porque temos obrigação de as fazer. Não estamos a tentar construir uma carreira ou enriquecer depressa, portanto só temos de respeitar a nossa própria integridade artística e, neste momento, não sentimos nenhuma necessidade de nos precipitarmos e de fazer algo. Estamos naquela praia de que falávamos algumas perguntas antes desta e que representa, ao mesmo tempo, o fim da estrada e o confronto com uma infinidade de possibilidades.

S EN T EM- S E MUITO “ROQUEIROS” AT U A LMEN T E ? O S V O S S O S D I A S D E B L A C K META L P E RT E N C E M AO PA S S A D O EM A B S O LU T O ? A O RT: Não vejo a situação dessa forma tão

radical. «mut» é o álbum que aconteceu, quando conseguimos criar música de forma tão livre quanto possível. Terei sempre tempo para ouvir álbuns de Black Metal. Posso dizer-te que ainda não deixei de ouvir o último de Archgoat, desde que o obtive, há algumas semanas atrás. Portanto, como vês, esse “vício” não me vai abandonar. Mas reconheço que a vida (musical) se torna bem mais interessante, quando deixamos de nos preocupar com restrições associadas a géneros musicais claramente definidos… pelo menos, é isto que eu sinto. Por que havemos de fazer/tocar um certo tipo de música, só porque é isso que esperam de nós, ou porque é a esse clube que tens de pertencer? Isso é exatamente a antítese do credo do Black Metal.

S EN T ES Q U E , A O A B A N D O N A R O B L A C K M E TA L , ES T Á S A D A R P R O VA S D E M AT U R I D A D E ? A O RT: De modo nenhum. Não há nada de

imaturo no Black Metal e, da mesma forma, também não há nada de particularmente maduro no estilo de música que fizemos para «mut». É só algo diferente. Há 25 anos que ouço Black Metal e não tenho a mínima intenção de deixar de o fazer. Imaturidade a sério seria pensar que, ao abandonar essa música tenebrosa e bestial, estaria a tornarme mais maduro, de alguma forma. Aos meus olhos, a chave para a realização pessoal passa pela aceitação do que tu és e do que tu aprecias.

PODE-S E DIZ E R QUE « MUT » R EP R ES EN TA U MA REFLEXÃO SOBRE A VIDA?

ES FR EG A A L Â M PA D A D E A L A D I N O E F O R M U L A T R ÊS D ES EJ O S PA R A 2 0 1 5 .

AORT: Se o vês como uma reflexão sobre a

A O RT: Viagens seguras, amizades duradouras e um novo álbum de Iron Maiden.

2 1 / VERSUS MAGAZINE


FLASH REVIEWS ADRENALINE M OB

«Dearly Departed» (Century Media) Os Adrenaline Mob estão de volta com um EP que é uma mescla de versões, um tema não editado do álbum anterior, temas deixados de fora que foram novamente gravados e temas acústicos. As covers são excelentes: “The Devil Went Down to Georgia” da Charlie Daniels Band, com muito gás!!!!!! Um medley de Black Sabbath, “Tie Your Mother Down” dos Queen e “Snortin’ Whiskey” de Pat Travers. Devo confessar que não esperava algo tão bom mas os Adrenaline Mob, não fizeram este EP só porque sim... aprimoraram-se! [ 8,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

APHONIC T HRENOD Y «When Death Comes» (Doomentia Records)

Quatro músicos de quatro diferentes países uniram-se para prepararem um Funeral Doom Metal bem arrastado, cinzento e com algum ambiente proporcionado por teclados e por um violoncelo, e o resultado é o primeiro longa duração «When Death Comes». Os músicos já andam nestas andanças há algum tempo (bandas como Arcana Coelestia, Mar de Grises) e as composições comprovam o currículo. Encontrarão por aqui Funeral Doom Metal bem interessante. [ 7,5 / 10 ] VICTOR HUGO

DARK FLOOD

«Inverno» (Haunted Zoo Productions)

Vêm da Finlândia e este é já o seu terceiro álbum. Death Metal melódico que não nos traz nada de novo nem tão pouco original. As vocalizações são divididas entre o limpo e agressivo, havendo, no entanto alguns pormenores bastante interessantes e progressivos. Deixando de lado a falta de originalidade, centro-me somente, noutros aspectos, produção, musicalidade, etc., aí os Dark Flood são bons. [ 7,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

GODFLESH

«A World Only Lit By Fire» (Earache Records)

Num acto tão simples como o de compor música para afectar as pessoas de epilepsia emocional, onde a razão não opera sem culpa, a ordem das coisas nem sempre bate certo com o que se espera. Godflesh destoa da realidade, não deixa o terno travo a manipulação de tantos outros. Só critico os 13 anos de separação; que nos deixou sem poder sentir o que hoje nos é dado. [ 9,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

HOODED M ENAC E

«Gloom Immemorial» (Doomentia Records)

Todos os amantes de Death/Doom Metal de certo que conhecerão estes finlandeses Hooded Menace, pois são um dos nomes sonantes dentro do estilo. Entre três álbuns, eles foram lançando splits e EPs, agora talvez difíceis de os encontrar. Algum desse material está agora reunido nesta compilação, que agradará os coleccionadores, já que a edição box trás alguns bónus. Um compilação interessante, que representa um apanhado da carreira dos Hooded Menace. [ 7,0 / 10 ] VICTOR HUGO 2 2 / VERSUS MAGAZINE


FLASH REVIEWS HORN OF T HE RH I NO

«Summoning Deliverance» (Doomentia Records)

Estes espanhóis são bem conhecidos pela sua música, pela sua mistura de Sludge e Thrash Metal com pitadas de Doom, e ao quarto álbum a situação é positiva. Podem esperar um álbum com músicas bem esgalhadas e na sua maioria intensas, com a voz do Javier Gálvez bem heavy. Tudo a justificar a bem porreira capa do disco que ilustra um cenário pós-apocalíptico. [ 7,0 / 10 ] VICTOR HUGO

IRON REAGAN

«Tyranny of Will» (Relapse Records)

25 temas de Hardcore misturados com Thrash Metal muito bem esgalhado? Um feliz cruzamento, com pessoal que percebe do assunto. Podem esperar com este «Tyranny of Will» momentos com grande power, ritmos rápidos e muito Thrash. Este segundo trabalho dos Iron Reagan merece ser escutado bem alto, em casa, no carro ou numa qualquer festa com amigos. Diversão garantida! [ 7,5 / 10 ] VICTOR HUGO

LAT IT UDE EGRESS

«To Take Up The Cross» (Art Of Propaganda)

Estamos perante um álbum de estreia, todo trabalhado somente pelo seu mentor, Niklas, e que oferece um Doom com laivos de progressivo e ambientes bem interessantes proporcionados por um certo Shoegaze. Assim soa este «To Take Up The Crosss» que ganha contornos épicos e majestosos com a voz de Niklas, que consegue ecoar em todas as nossas células. [ 8,0 / 10 ] VICTOR HUGO

NU: N

«NU:N» (Black Genesis Records)

Álbum homónimo de estreia dos Portugueses NU:N que nos apresentam uma excelente proposta de Rock Gótico na sua vertente mais obscura e electrónica. A sonoridade, como não poderia deixar de ser, abrange várias influências que povoaram a minha “infância” musical: Sisters of Mercy ou The Mission. Os NU:N fizeram-me recordar bons velhos tempos. A ouvir e seguir com muita atenção. [ 8,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

NERO DI M ART E

«Derivae» (Prosthetic Records)

Último trabalho dos italianos, este «Derivae» dá o seguimento ao excelente «Nero di Marte» de 2013, com o mesmo prisma, mesma mestria técnica, conseguindo criar momentos muito profundos e estruturados. As texturas aqui são tão ou quase tão complexas com o que nos habituaram, sem realmente ultrapassar o seu antecessor que tanto nos marcou, na VERSUS. Um excelente trabalho, no entanto. Recomendado a fãs de progressividade em música sombria, caso não conheçam ainda. [ 7,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO 23 / VERSUS MAGAZINE


FLASH REVIEWS RESISTANCE

«The Seeds Whithin» (Pavement Entertainment) Com um porte bem mais importante do que poderia parecer a primeira vista, este monstro “The seeds Whithin” não se deixa tomar de forma simples e portanto não será para todo e qualquer consumidor de carnes frias. O peso, técnica, energia; tudo indica que a banda belga está com a saúde que sempre mereceu, mesmo depois de tantas mudanças de configuração. Um trabalho imperdível para fãs de metal bem definido e executado. [ 8,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

… T RAIL OF DEATH «IX» (Superball Music)

No mundo da música dita/etiquetada independente e de consumo algo instantâneo, o nome “And you’ll know us by the trail of death” está presente nos que procuram algo mais profundo e íntegro do que passos de danças num movimento de moda. Desde há uns anos que os “...Trail of Death” nos deixam a prova de serem especiais. Mesmo assim este novo “IX” surpreendeu-me. Melodias envolventes, vozes que entranham na pele, ritmos sempre presentes. Destaque a “Lie Without a Liar”. [ 8,0 / 10 ] ADRIANO GODINHO

USURPRESS

«Ordained» (Doomentia Records)

Ao segundo álbum os Usurpress mostram um álbum com melhor som, mas também com melhores malhas. Embora o estilo seja muito idêntico ao que eles têm vindo a tocar, nota-se na musicalidade dos temas uma evolução, com malhas mais interessantes de Death Metal com pitadas de Sludge. Pena não terem tempinho para alguns solos de guitarra que decerto dariam um ar mais fresco ao «Ordained». Vale pelas malhas interessantes. [ 6,5 / 10 ] VICTOR HUGO

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FLASH REVIEWS ZOM BIEFICAT ION

«Procession Through Infestation» (Doomentia Records) Terceiro longa duração deste duo Mexicano que se dedica ao Death Metal (versão muito Dark) e a uma temática lírica de Voodoo, morte e... Zombies!!! Apesar de não ser dos meus géneros de eleição, é com relutância que às vezes ouço estas bandas brutais. (Uma questão de gosto pessoal, somente) No entanto, falando numa linguagem pouco coloquial, “Que raio, estou a curtir isto à brava!!” São raros os CD’s que ouço mais que as vezes necessárias para uma boa review mas este vai manter-se a “rolar”! [ 8 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

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ENTREVISTA

“ACHO FASCINANTE A FORMA DRÁSTICA COMO A PAISAGEM VAI MUDANDO AO LONGO DO ANO. [EM TEMPOS PODIA] SIGNIFICAR A VIDA OU A MORTE. […]”

GALAR INEBRIADOS PELO VINHO DA POESIA É O QUE NOS EXPLICA ARE B. LAURITZEN (AKA FORNJOT), AO REFERIR-SE À MÚSICA DE GALAR, A PRO P Ó S I T O DO ( M AR AVI L H O S O ) ÚLTI MO LA NÇ A MENTO D A B A ND A : «D E G J ENLEVE NDE » . MAI S PA L AV R A S PAR A QU Ê ? Por: CSA TÊM AQUI UM ÁL BUM PODER O S O , C O MB IN A N D O ELEM EN TOS TE NE BROSOS E B ELA S MELO D IA S . JÁ O OUVI PE L O ME NOS T R ÊS V EZES D E U MA PONTA À OUTRA. ARE: Tomo esse comentário como um elogio e agradeço!

AO QUE PARE CE , O CONC EIT O S U B J A C EN T E A ESTE ÁL BUM RE L ACIONA- S E C O M A ES TA Ç Ã O DO A NO QUE E STAMO S A AT R AV ES S A R PENOS AME NTE : O INVE R N O . ES C O LH ER A M ESTE T E MA, PORQUE GO S TA M D ES TA ÉP O C A DO AN O OU PORQUE VIVEM N U M PA ÍS O N D E O I NVE RNO É MUITO DUR O , LO G O N Ã O PA S S A DESPERCE BIDO?

2 6 / VERSUS MAGAZINE

A R E: Acho fascinante a forma drástica

como a paisagem vai mudando ao longo do ano. Ainda não vai há muito tempo que as mudanças associadas às estações do ano eram mais do que fascinantes: muito simplesmente, podiam significar a vida ou a morte. Um verão chuvoso e frio seguido de um inverno longo e duro levavam à fome, de que se morria. Por isso, penso que o tempo (meteorológico) continua a ser muito importante aqui na Escandinávia. Talvez porque faça parte da memória coletiva, ou seja algo profundamente entranhado no nosso ADN. Fomos agricultores e pescadores durante tantas gerações que é natural para nós seguirmos essa tendência e continuarmos a seguir as alterações sazonais da natureza significa provavelmente aceitar

algo que nos transcende e tomar consciência das nossas limitações, ao mesmo tempo que reconhecemos o poder dos elementos.

O V O S S O I N V E R N O E S T Á R E A L M ENTE C HEI O D E V I D A . E S TA I D E I A E S T Á DI RETAMENTE R E L A C I O N A D A C O M O T Í T U L O D O ÁLBUM? A R E : “De gjenlevende” significa “os que estão

de luto” e refere-se aos que sobreviveram à dureza do inverno e podem assistir ao reaparecimento do sol, ao renascimento da vida. Portanto, de um certo modo, a ideia contida no texto é exatamente o oposto dessa que avançaste. O inverno corresponde a uma hibernação sonolenta, durante a qual a natureza, os animais e as pessoas repousam para preservar a sua energia. Se não te


“’DE GJENLEVENDE’ SIGNIFICA ‘OS QUE ESTÃO DE LUTO’ E REFERE-SE AOS QUE SOBREVIVERAM [AO] INVERNO E PODEM ASSISTIR […] AO RENASCIMENTO DA VIDA. […]” preparaste para ele de forma adequada, vais muito simplesmente ter azar e é muito provável que não sobrevivas até à chegada da primavera.

posso falar por mim, mas os grandes mestres neste contexto parecem-me ser a dedicação, a aceitação e exploração dos nossos erros e a experimentação.

QUE SUBTÓPICOS TRATAM N A S V Á R IA S FA IX A S E DE QUE MODO E STE S S E R ELA C IO N A M C O M AS NUME ROSAS INF L UÊ NC IA S MU S IC A IS Q U E SE FAZ E M SE NTIR NE STE Á LB U M?

P EN S A S Q U E A E D U C A Ç Ã O B Á S I C A N O R U E G U E S A IN C LU I U M A Q U A N T I D A D E D E E S T U D O S MU S IC A IS Q U E J U S T I F I Q U E O FA C T O D E S E R E M T Ã O B O N S E M TA N T O S E S T I L O S ?

ARE: Já te disse de que tratava a primeira

A R E: Estudar música dá-te uma certa base

faixa: “De gjenlevende”. Vou passar a citar o Blutaar (Drautran), responsável pelas letras dos nossos álbuns: “Não pode haver primavera (vida) sem inverno (a estação do ano que traz consigo a dor e a morte).” “Natt ... og taust et forglemt liv” é um verso do poema “Abend im Lans” do austríaco Georg Trakl. Do ponto de vista lírico, assemelhase a uma pintura romântica representando a natureza, que levanta questões existenciais, evocando imagens assustadoras e tenebrosas, mas que, ao mesmo tempo, nos fazem sonhar. É uma espécie de conto de fadas misturado com pesadelos que desperta em nós sentimentos melancólicos. “Bøkens hymne” é uma metáfora para uma elegia (poema associado ao luto) que se ouve na catedral de madeira (a floresta). “Gjeternes tunge steg” fala dos pastores que seguem as estações no seu trabalho diário. Suspiram pela primavera, tal como os seus animais, porque encontrar comida no inverno é muito difícil. Nos contos populares, um texto desta natureza é “uma jornada melancólica”. “Tusen kall til solsang ny” refere-se ao ato de invocar uma divindade. É uma saudação ao mais importante símbolo de vida e renascimento, presente em todas as culturas: o sol.

ESTE ÁL BUM TE M UMA A B O R D A G EM MU IT O BLACK ME TAL , NÃO TE PA R EC E? LEMB R A -ME UM A BANDA AL E MÃ DE Q U E G O S T O MES MO M UI TO : IMPE RIUM DE C A D EN Z. É MU IT O DI FERE NTE DOS ANTE RIOR ES ? ARE: No que toca ao estilo, mantemo-nos

nas mesmas linhas, o que é ótimo, porque significa que encontrámos um som e um estilo únicos, que todos reconhecerão como sendo Galar. Ao mesmo tempo, crescemos em termos musicais. As pessoas vãose aperceber de que este álbum é mais complexo, que contém faixas mais longas e compostas de forma mais precisa e uma maior variedade de elementos, mudanças ousadas de tempo, harmonias e cores. Parece-me que vivemos no reino do Black Metal melódico, com ramificações que nos ligam ao Folk e Pagan Metal, sendo tudo isto temperado com elementos sinfónicos, que aparecem de vez em quando. Pessoalmente, parece-me que, quanto mais difícil é categorizar a música, melhor esta é.

PORVENTURA E STUDAST E C O MP O S IÇ Ã O O U UM I NS TRUME NTO NUMA ES C O LA D E MÚ S IC A ? GOSTE I PARTICUL ARME NT E D A S PA S S A G EN S DE PI ANO. ADORO A COM B IN A Ç Ã O D E META L E M ÚSICA CL ÁSSICA QU E A PA R EC E N ES T E ÁLBUM. ARE:

Estudei música clássica – particularmente fagote – no Conservatório de Música de Bergen (Noruega). Depois, fiz um mestrado em música no Royal College of Music de Estocolmo (Suécia). É evidente que esses estudos modelaram fortemente a natureza do meu contributo para a música de Galar. Para além disso, penso que o método de tentativa e erro e um profundo interesse pela música vêm reforçar esse contributo. Só

académica, que pode ser útil. Há alguns géneros mais ou menos institucionalizados – por exemplo, música clássica ocidental e jazz – e, se tiveres acesso a esse manancial de conhecimento armazenado ao longo dos tempos, isso vai-te dar uma ideia do que se tem feito ao longo das épocas passadas da história da música. Se o que pretendes com a tua pergunta é dizer que a forma como nos expressamos através da música depende da nossa educação musical, a minha resposta é: sim, parcialmente.

A B AT ER I A N E S T E Á L B U M É TA M B É M FA N T Á S T IC A . N Ã O E S T Ã O A P E N S A R E M P R O P O R A O V O S S O B AT E R I S TA Q U E PA S S E A S ER U M MEM B R O D A B A N D A A T E M P O I N T E I R O ? A R E: O Phobos tem sido o nosso fiel baterista

e já tocou em dois dos nossos álbuns, além de nos acompanhar nos concertos. Há muito tempo que não tem mãos a medir, porque toca em várias outras bandas (Aeternus, Gravdal). A partir desta altura, decidiu que vai passar a focar-se apenas em alguns desses projetos musicais. Portanto, teve de nos deixar, o que muito lamentamos. Felizmente para nós, conseguimos encontrar um novo baterista – Tomas Myklebust (ex-Emancer, que toca ao vivo com Vulture Industries e Vried) – que faz agora parte da nossa formação e está mais que apto para desempenhar as funções que lhe atribuímos.

P O R Q U E T Ê M U M L E T R I S TA Q U E N Ã O FA Z PA RT E D A BA N D A ?

E C O M O A R E L A C I O N A M C O M A E SSÊNCI A D O VOSSO TRABALHO? A R E : Mais uma vez, recorremos a Robert

Høyem, da Overhaus, tanto para a arte como para o design. Queríamos algo que evocasse, em simultâneo, as profundezas e a atmosfera do álbum e penso que o Robert conseguiu obter esse efeito. É um desenhador hábil e com um imenso talento para captar os sentimentos transmitidos pela nossa música.

C O M O V Ã O R E P R O D U Z I R N O PALCO OS M A R AV I L H O S O S P O R M E N O R E S M U SI CAI S Q UE P O D E M O S O U V I R N O V O S S O Á L B U M? ARE:

Vamos usar uma combinação de samples, instrumentos adicionais presentes no álbum (como o fagote, por exemplo) e fazer novos arranjos para tentar recriar o espetro de cor (musical) que criámos no estúdio.

E O N D E V Ã O A P R E S E N TA R « D E G J E NLEVENDE»? VA I S E R U M A E S P É C I E D E I N V E R N O CRAVA DO N A P R I M AV E R A O U AT É N O V E R Ã O. ESTARI A N A P R I M E I R A F I L A , S E P U D E S S E I R A U M D OS V O S S O S C O N C E RT O S . A R E : O nosso novo álbum vai ser apresentado no Inferno Festival, em Oslo, a 1 de abril.

A G O R A , PA R A S A C I A R A M I N H A CURI OSI DADE ( Q U E M AT O U O M E U AVATA R , O G ATO): O QUE SIGNIFICA GALAR? A R E : Na mitologia nórdica, Galar é um duende

que, com o seu irmão Fjalar, assassinou Kvasir, que era tão sábio que era capaz de responder a qualquer pergunta. Depois, os dois duendes misturaram o sangue da vítima com mel e assim criaram o vinho da poesia, que dava poderes poéticos a quem o bebesse. Obrigado pelas perguntas!

A R E: Galar foi sempre um projeto a dois, no

que toca a compor a música. É assim que gostamos de trabalhar e, para já, vamos manter este sistema. O nosso letrista – Blutaar – está connosco desde o nosso segundo álbum – «Til alle heimsens endar» - e é um grande amigo do Marius e meu também. Colaborar com ele torna-nos mais flexíveis e a nossa “sociedade” funciona muitíssimo bem.

AT É Q U E P O N T O L H E D Ã O L I B E R D A D E PA R A ES C R EV ER A S L E T R A S PA R A O S V O S S O S Á LB U N S ? A R E: Blutaar é sempre o cérebro por trás

do conceito do álbum. Normalmente, vai buscar as suas ideias à nossa música, às estruturas que compusemos. As letras vão dialogando com a música, inclusive quando estamos a gravar os vocais. No entanto, não tem limites no que toca à sua criatividade. Desde o momento em que decidimos qual vai ser o conceito subjacente ao álbum até escolhermos títulos para as faixas, passando por todos os pormenores de cada verso, vive-se um diálogo em que a última palavra é sempre dele. Portanto, temos de nos regozijar por ele ser um talentoso “artesão de palavras”.

“NO QUE TOCA AO ESTILO, MANTEMO-NOS NAS MESMAS LINHAS […] PORQUE […] ENCONTRÁMOS UM SOM E UM ESTILO ÚNICOS […]” WWW.GALAR.N O WWW.FACE BOOK.COM /G ALAROFFI CI AL

A C A PA D O Á L B U M TA M B É M É FA S C I N A N T E D Á - ME A R R E P I O S ( P O R Q U E E V O C A O F R I O E A MO RT E , A O M E S M O T E M P O ) , M A S N Ã O C O N S IG O T I R A R O S O L H O S D E L A . Q U E M A F E Z

2 7 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

COSTIN CHIOREANU/TWILIGHT13 UM FILÓSOFO BEM HUMORADO É UM HOM E M MU LT IFA C ETA D O , QUE C O MB INA P E NS A M E NTO S M U ITO P R O F U ND O S COM UM GRANDE SENTI D O DE HUM O R . É P ER FEC IO N IS TA E INTR O V E RTID O , MAS TA M B É M C A PA Z DE ID E IA S H ILARIANT ES. A CO N VE R SA QUE TI V EM O S C O M ELE P ER M IT IU - N O S C O M P R E E ND E R D E O ND E V Ê M E S TA S C A R A C TE R ÍS TIC A S D IS CREPANT ES, MAS N Ã O C ON CI L I Á -LA S … A P ES A R D E C O S T IN C ONS ID E R A R Q U E A S U A A RTE NA D A TE M A V E R C O M O INESPERADO.

Por: CSA A TUA CAPA PARA «R ED EEMIN G FILT H », O ÚLTIMO ÁL BUM DE C EN T IN EX , FEZ- ME SENTI R VONTADE DE TE C O N TA C TA R PA R A UM A E NTRE VISTA. COMO P O D E U M D ES EN H O EXPRI MIR A IDE IA DE Q U E A S U J ID A D E É REDENTOR? COSTI N: Boa pergunta. Esse trabalho é um

dos meus favoritos, por isso estou muito feliz por te ter dado vontade de me contactar. Eu analiso sempre os conceitos e os títulos dos álbuns de todos os pontos de vista que a minha mente consegue conceber e, a maior parte das vezes, quando ponho mãos à obra, não escolho o sentido literal. Por exemplo, cada conceito ou título tem uma antítese. Na ilustração que fiz para esse álbum, o termo “redentor” é visto como algo quase 2 8 / VERSUS MAGAZINE

impossível, dado que as personagens retratadas são feitas de pedra e, na realidade, correspondem a figuras de monumentos fúnebres, que representam a forma como a Humanidade gosta de estandardizar a realidade com recurso a dogmas. Isto surge como algo bastante sujo, pelo menos aos meus olhos. A principal personagem da ilustração é uma espécie de mocho, que simboliza algo como a morte, a religião, o controlo. É uma metáfora para o facto de o mocho ser um devorador de aranhas, sendo estas vistas como os verdadeiros espíritos criadores. Até os ramos, que também são feitos de pedra, evocam a forma como a Humanidade trata a compreensão da natureza, usando instrumentos limitados e a perceção. Portanto, neste meu trabalho,

o termo “redentor” é tratado ironicamente. Não acredito na Redenção através da sujidade, nem de qualquer outra forma clássica de lavagem ao cérebro inventada pelos humanos. Há muitas pessoas que encontram a felicidade na religião, nas regras, na repetição, mas, ao mesmo tempo, também há quem não consiga sentir que isso o completa e continue a procurar algo mais. Esses escolhem o caminho mais difícil, o do sofrimento, mas que lhes dá a possibilidade de encontrarem a evolução espiritual no fundo do túnel. Pode acontecer ou não, mas, pelo menos, não é algo a que possamos chamar sujidade, lixo.

E S T I V E A E X A M I N A R O T E U P ORTEFÓ LI O E C O N C L U Í Q U E A S C A R A C T E R Í S T I C A S DESTA


“[…] ANALISO […] OS CONCEITOS […] DOS ÁLBUNS DE TODOS OS PONTOS DE VISTA […] E, A MAIOR PARTE DAS VEZES […] NÃO ESCOLHO O SENTIDO LITERAL. […]” I LUSTR AÇÃO RE PRE SE NTA M A ES S ÊN C IA D O TEU ESTIL O GRÁF ICO. CON C O R D A S ? V ER IFIQ U EI TAM BÉ M QUE GOSTAS D E C O R ES S O MB R IA S USADAS NUM MATE RIAL Q U E PA R EC E PA P EL CRAFT E QUE AS COMBIN A S C O M P EQ U EN A S M ANCH AS DE CORE S MA IS A LEG R ES , MA S ESM AE CIDAS ( TURQUE SA , V ER D E, UM PI GM ENTO AMARE L ADO, A LG U M V ER MELH O ) . QUE TE PARE CE E STA MIN H A LEIT U R A D A T U A ARTE? COSTI N: É verdade que tenho uma grande

preferência por cores sóbrias. Mas tenho várias formas de me exprimir. Portanto, o que dizes descreve apenas uma parte da minha obra. Talvez a maior parte, mas, mesmo assim, apenas uma parte. Gosto de recorrer às combinações que referiste no teu comentário, porque me ajudam a alcançar a sensação e o toque que quero dar ao meu trabalho e uso-as sempre que me parece que servem o conceito que pretendo ilustrar. Tenho a minha “assinatura” pessoal, mas estou sempre a procurar torna-la mais expressiva, a fazê-la evoluir.

PARECES-ME INF L UE NCIADO P O R U MA G R A N D E VARI EDADE DE RE F E RÊ NCIA S . ES T O U A P EN S A R , POR EXE MPL O, NA BANDA D ES EN H A D A O U EM I LUSTR ADORE S DO SÉ C. X IX C O MO WILLIA M M ORRIS. CONCORDAS COMIG O ? COSTI N: Não gosto de falar de influências e

passo a explicar porquê: o mundo à minha volta afigura-se-me focado neste aspeto de forma sufocante, quando, na realidade, ele não é nada importante, se tivermos em conta a nova direção, o novo significado, a novas dimensões que um jovem artista pode apontar, mesmo que tenha sido influenciado por outros mais velhos. Atualmente, as pessoas estão obcecadas pela identificação das fontes de inspiração e nas diferenças entre elas e o trabalho em análise, em vez de se preocuparem com o que é verdadeiramente importante: o que significa foi criado, O QUE É VERDADEIRAMENTE. Pegando novamente na tua ideia, diria que há trabalhos meus que são bastante influenciados pela forma como os músicos me apresentam o que querem. Por vezes, muito simplesmente, ao discutirmos as nossas ideias, chegamos a algo que pode traduzir o que se pretende. Trata-se de algo que é sentido, não de copiar a arte de outrem ou de ser influenciado. Nunca poderia inspirar-me em William Morris, porque ele influenciou muito os ilustradores americanos, cujo estilo não me suscita grande interesse. Sou realmente influenciado pela banda desenhada, mas sobretudo por PIF, a revista francesa, e por Rahan, porque eram as únicas a que tive acesso, durante a minha infância, vivida na Roménia comunista. Mas essas influências estão diluídas na minha memória…

PODE-S E DIZ E R QUE AL G U MA S D A S T U A S COM POSIÇÕE S SÃO DOMIN A D A S P O R U M PRI NCÍPIO GE OMÉ TRICO ( P O R EX EMP LO , N O POSTE R QUE F IZ E STE PA R A «AT WA R WIT H REALI TY» DOS AT THE GAT ES ) ? COSTI N: Algumas sim, outras nem por isso. Tenho uma tendência crescente para usar elementos geométricos nas composições de índole geométrica. Não sei dizer por que é que isso acontece: é assim, pronto. De qualquer forma, não gosto da simetria, não sinto qualquer fascinação por ela.

QUE TÉ CNICAS USAS MAIS FR EQ U EN T EMEN T E NA TUA ARTE ?

C O S T IN :

Lápis e papel, tinta-da-china e papel, aguarela ou tempera e papel... combinados com texturas, que produzo recorrendo ao computador. Faço questão de desenhar e pintar sempre à mão e depois passo-os individualmente pelo scanner e uso o Photoshop para finalizar a composição. Portanto, recorro a uma mistura de meios de expressão. O meu estilo é orientado por um pensamento antecipatório. Quer isto dizer que raramente há “acidentes”, acasos, no que eu faço, nada de particularmente inesperado… Assim que tenho a ideia de base definida, começo a pensar na melhor forma de a concretizar, que peças vou criar, como as vou articular, e depois passo à ação. Por conseguinte, a parte mais difícil para mim corresponde ao momento em que estou a delinear a lápis a vista geral da composição que pretendo criar.

A S T ÉC N ICA S Q U E U S A S V Ê M D E E S T U D O S Q U E T EN H AS F E I T O ? O U É S U M C O M P L E T O A U T O D ID ATA ? C O S T IN : Fui um autodidata durante a minha

infância, mas, assim que concluí o ensino secundário, passei um ano a preparar-me para estudar artes. Tirei uma licenciatura de quatro anos na Universidade Nacional de Artes de Bucareste (variante de Design Gráfico) e depois ainda fiz um mestrado em Design Gráfico. Portanto, ao todo, tenho sete anos de estudos intensos de arte, com uma perspetiva profissional.

C O MO FA ZE S PA R A A RT I C U L A R A T U A F O R M A D E V ER U M P R O J E T O PA R A U M A B A N D A C O M A S IN T U IÇ Õ E S D O S T E U S C L I E N T E S ? C O S T IN : Bem, isso varia muito de projeto

para projeto. Por vezes, as bandas dãome instruções muito precisas, outras vezes nem por isso. Agrada-me muito poder dizer que, nos últimos anos, tem havido cada vez mais músicos a escolher-me e a darme carta branca para trabalhar. Preciso que depositem esta confiança em mim para fazer um trabalho cada vez melhor, procurando o equilíbrio entre o sabor da sua música e a minha forma estranha de a digerir e de ilustrar os conceitos subjacentes a ela. É um processo mágico, porque nunca me deixo obcecar pela ideia de ter O MEU PRÓPRIO estilo. Ajo como um médium, que procura a melhor estratégia para compreender o que é oculto na obra dos músicos que me escolheram para ilustrar o seu trabalho. Adoro essa sensação de conseguir captar a essência da banda e materializa-la nas formas que me vão permitir convertê-la numa imagem coerente. Detesto que queiram impor-me estereótipos do Heavy Metal ou que me façam vítima de frustrações relativas ao que é visual. Continuo a acreditar que os artistas são permanentemente capazes de crescer, independentemente da pressão que a “cultura” exerça sobre nós. Afinal, quem sabe dizer o que é a qualidade, o que é bom, como se mede isso? Se te habituares a ires buscar ideias a um sistema de valores desatualizado, a que chamamos “cultura”, buscando aquilo a que se chama “inspiração”, não consegues evoluir. A inspiração não tem nada a ver com a forma como uma ilustração é feita, ou com o aspeto que tem quando a dás por terminada. Para mim, a inspiração deve vir diretamente do tema que pretendes tratar, por muito abstrato que este seja. Caso contrário, em 2100, ainda estaremos a pintar mulheres nuas, bodes ligados ao fogo e maçãs e a comparar tudo isso com esquissos datando da Idade

Média para medirmos o valor da nossa arte. Isso não passa de uma perda de tempo e impede o progresso da expressão.

V I N O T E U P O RT E F Ó L I O Q U E J Á PARTI C I PASTE E M V Á R I A S E X P O S I Ç Õ E S . P O DES FALARN O S U M P O U C O S O B R E E S S A PA RTE D A TU A CARREIRA? C O S T I N : Sim, isso aconteceu quando eu

andava na universidade. Mas, para mim, as mais importantes foram as que fiz a partir de 2011, com “Where Purgatory Ends”. O meu trabalho é composto por projetos. Cada um deles tem um tema próprio e meios de expressão adequados a ele. O material usado, o tipo de arte, o tamanho, o formato, tudo depende do conceito subjacente ao projeto em questão. Portanto, não estou agarrado a uma dada forma de expressão. Posso ir da impressão em papel ao desenho em papel, às colagens feitas em papel reciclado ou às imagens animadas. A minha principal e primeira preocupação é encontrar a melhor forma de fazer passar a mensagem do meu projeto. Geralmente, faço uma série de ilustrações para dar corpo a uma só ideia. Independentemente da forma de expressão que escolha, faço sempre a minha própria música para os meus projetos. Sempre gostei de acrescentar esta dimensão à minha arte gráfica, porque acho que a torna mais completa. O meu processo de criação começa por uma longa reflexão. Apesar de ter sido sempre muito elogiado pelo meu professor de filosofia na Universidade de Artes, nunca me aventurei muito longe nesse campo, em termos académicos. Portanto, trata-se de algo que nasceu comigo. Fui sempre assim, desde criança, portanto agora estou mais que bem treinado. O fim da infância, as memórias da vida passada, a procura de um significado para os segredos da vida, a evolução espiritual, a descoberta da nossa verdadeira natureza, que implica pôr de parte o ego e os “valores” deste mundo decadente, são apenas alguns dos temas que atravessam a minha arte. Até ao momento atual, tinha mais projetos centrados na crítica ácida da sociedade atual, indo tão longe quanto possível. O mais agressivo intitulava-se “The Clay Is People” e foi apresentado no festival de Bergen, na Noruega. Há ainda o filme de animação “Outside The Great Circle”, que foi exibido no Roadburn Festival de 2013 e no Transilvania International Film Festival de Cluj Napoca. Outros projetos estavam ligados ao oculto, às trevas, à morte, à vida depois da morte… como “Where Purgatory Ends” (apresentado em Nova Iorque, Helsínquia, Tilburg, Bucareste, Alba Iulia) e “The five phases of Ioh” (Bucareste). Outros ainda diziam respeito à penosa verdade da hipocrisia humana, como, por exemplo, “There Are No Shadows On Our Maps”. Nestes últimos meses, comecei a trabalhar em algumas ideias novas, que estão longe destes temas, e estou muito entusiasmado com o tipo de tópicos que estou a abordar. Portanto, o que se vai seguir poderá ser francamente inesperado.

O Q U E FA R I A D E T I U M A RT I S TA GRÁFI CO C O M P L E TA M E N T E R E A L I Z A D O ? COSTIN:

Viver num mundo em que a expressão fosse mais importante que o detalhe. Viver num mundo livre de dogmas visuais. Talvez isso corresponda a viver num mundo em que as pessoas tenham mentes abertas e… sejam felizes.

2 9 / VERSUS MAGAZINE


“[…] TENHO A MINHA “ASSINATURA” PESSOAL, MAS ESTOU SEMPRE A PROCURAR TORNA-LA MAIS EXPRESSIVA, A FAZÊ-LA EVOLUIR.”

E AGORA UMA CURIOSIDA D E: P O R Q U E D ES T E O NOME DE TWIL IGHT 13 À T U A EMP R ES A GRÁFI C A? COSTI N: Em tempos idos, a faixa “Twilight”

da obra-prima dos Edge Of Sanity que é “Purgatory Afterglow” era uma das minhas favoritas… e continua a ser. Alguns anos depois, tomei consciência de que a palavra “twilight” representava bem o que estava a pensar e a começar a construir. Esse termo assenta que nem uma luva no meu trabalho (talvez até melhor agora que no passado). Além disso, o 13 é um número muito especial para mim: é o dia do meu aniversário. A partir do momento em que percebi que não tinha nada a ver com azar, que, na realidade, era um número mágico e dava sorte, a minha vida mudou por completo. Tive esta revelação em 2002, um ano antes de criar a Twilight13Media. Este sou eu...um Twilight13 (Risos).

“O MEU ESTILO É O R I E N TA D O P O R UM PENSAMENTO A N T E C I PAT Ó R I O . Q U E R I S T O DIZER QUE RARAMENTE HÁ “ACIDENTES”, ACASOS, NO Q U E E U FA Ç O [ … ] ”

HT T P : / / T W I L I G H T1 3 MED IA . C O M/ D ES IG N/ H T T P : / / YO U TU . B E/ P S A L- K ZWLA U

3 0 / VERSUS MAGAZINE


www.etherealsoundworks.com


ENTREVISTA

“NUNCA TENTAMOS VIVER DE MANES, LOGO, NÃO TOMAMOS PARTE DA INDÚSTRIA DA MÚSICA COMO ENTERTAINERS DE QUALQUER ESPÉCIE.”

MANES SER TUDO, SEM BARREIRAS É COM GRAND E E N TUSIASM O QUE A VE RS U S M A G A Z I N E C O N V E R S O U C O M T O R S T E I N , B A I X ISTA DA BANDA, TENDO COMO MOTE O NOVO LANÇAMENTO DOS MANES, «BE ALL END ALL». CONSTITUÍDA POR SRS. DA CENA NORUEGUESA, OS MANES SÃO OLHADOS COM RESPEITO E OUVIDOS COM ESPANTO. «BE ALL END ALL» PROMETE DAR QUE FALAR E QUISEMOS SABER MAIS SOBRE ESTE MOMENTO DA BANDA E DO S E U P E R C U R S O . Por: Lisa Zigue e Victor Hugo É A PR IME IRA VE Z QUE S Ã O EN T R EV IS TA D O S PARA A VE RSUS MAGAZIN E E C O MEÇ A MO S POR DIZ E R QUE TE MOS V IN D O A S EG U IR ENTUS IASTICAME NTE O V O S S O T R A B A LH O , QUE ACHAMOS INTE RES S A N T E E Ú N IC O . COM EÇARAM COM B L ACK ME TAL NO “U N D ER EIN B LO D R A U D M AANE“. “BE AL L E ND A LL” É O V O S S O QUART O ÁL BUM ATÉ À D ATA E O P R IMEIR O DESDE 2007 COM “HOW T H E WO R LD C A ME T O AN END”. E M 2011 L ANÇ A R A M U M COM UN ICADO OF ICIAL NO V O S S O S IT E 3 2 / VERSUS MAGAZINE

IN FO R MA N D O Q U E S E I A M S E PA R A R , O Q U E , FELIZMEN T E , N Ã O A C O N T E C E U U M MIX D E M E TA L , J A Z Z , T R I P H O P, M Ú S I C A ELET R Ó N IC A E O U T R A S E X P E R I Ê N C I A S N U M LA R G O ES P E C T R O D E D A R K E G O S TA R Í A M O S D E S A B ER C O M O D E S C R E V E M A V O S S A C A R R E I R A AT É A G O R A , U M A V E Z Q U E T Ê M V I N D O A EX P LO R A R TA N T O S E S T I L O S D I F E R E N T E S , S O N S E EM O Ç Õ E S ? T O R S T EIN: Bem, é difícil dizer. Não é como

se fosse um percurso que tenhamos deliberadamente seguido... talvez seja mais uma espécie de jogo de ligar os pontos. São apenas pontos. Saltamos de ponto em ponto sem qualquer tipo de frequência ou sistema. Somos quatro gajos (na essência de Manes), e todos temos experiências passadas diferentes, ouvimos coisas diferentes (com algumas interseções) e sacamos inspiração de sítios diferentes... Trazemos toda essa bagagem para aquilo que criamos. A meu ver, não exploramos estilos, nem sons, e nem foi uma decisão consciente aventurarmo-nos na “terra do jazz”, ou seja o que for. As cenas acontecem.


“A MEU VER, NÃO EXPLORAMOS ESTILOS, NEM SONS, E NEM FOI UMA DECISÃO CONSCIENTE AVENTURARMO-NOS NA “TERRA DO JAZZ”, OU SEJA O QUE FOR.” COM O É QUE SE COL OC A M N A IN D Ú S T R IA M USI C AL ? TORSTE IN:

Fora dela. Nunca tentamos viver de Manes, logo, não tomamos parte da indústria da música como entertainers de qualquer espécie. Fazemos a música que queremos, e – como extensão disso – fazemos lançamentos, aqueles que nos parecem fixes (e aqui, porventura, outros concordem). A indústria musical parece dar bem continuidade à sua espiral descendente sem nós.

PORQUE É QUE E SCOL HE RA M O N O ME MA N ES PARA A BANDA? TORSTE IN: Wow, isso já foi há muito tempo

atrás e antes do meu tempo na banda. Uma altura diferente e, em várias maneiras, uma banda diferente. Não sei porquê, mas – como o vosso nome e o meu – é um nome, não um título, não um significado, nem outra coisa. Um nome. Significa “sangue menstrual” em algumas línguas, e “almas dos mortos” noutras, mas isso é mais na ordem das trivialidades.

DE ON DE VE M TODA ES TA C R IAT IV ID A D E E ATMOSF E RAS PROF UN D A S N O V O S S O TRABAL HO? QUAL É A V O S S A FO N T E D E I NSPI RAÇÃO? TORSTE IN:

Inspiramo-nos com as mais variadas coisas. O processo musical é normalmente um longo percurso para o ajuste das músicas, arranjos, etc. sob várias influências repetidamente. No início, é uma espécie de faísca algures, que dá azo a uma melodia curta ou a um padrão de bateria, por exemplo. Depois é disposto em camadas sem qualquer foco no tempo. Foi assim durante muitos anos com “Be all end all”. A inspiração? Músicas e outras coisas como filmes, livros, arte, etc. é inspirador, tal como todos os outros aspetos da vida em geral. E da morte.

PODES FAL AR UM PO U C O D O S V Á R IO S TALENT OSOS ARTISTAS C O M O S Q U A IS T ÊM COLABORADO NOS VOSSO S LA N Ç A MEN T O S ? TORSTE IN: Oh, lançamentos no plural? Bem,

no “Be all end all” somos quatro pessoas centrais para a criação do álbum, e foi sempre assim, do início ao fim. Sem sermos nós, tivemos ajuda de Asgeir Hatlen e Rune Folgerø nas vozes e Morten Schrøder na trombeta. Asgeir tem colaborado connosco nas vozes quase sempre desde “Vilosophe” até agora. Adoramos a voz dele e a abordagem dele à melodia. Rune canta em Atrox e Drontheim, ambas bandas relacionadas com Manes, e também adoramos a sua voz e estilo, e estamos muito satisfeitos com o que ele trouxe a “Be all end all”. Nas colaborações mais antigas, não vou mencionar todas aqui. No álbum anterior a “Be all end all” chamado “How the world came to an end” tivemos 18 colaboradores que contribuíram para a música. Gostamos muito deste tipo de partilha.

ACHAS QUE É POSSÍV EL A LG U MA V EZ REGRESSARE M ÀS RAÍZ ES D E META L? IS S O SEQUER INTE RE SSA? TORSTE IN: Nunca digas nunca, mas não me parece que voltaremos a um álbum com

covers de Tankard. De facto não falamos muito desse género musical, ou instrumentação ou parecido. Mas, e depois? Um de nós tem uma fuzzbox, por isso, depois de beber uns copos quem sabe o que pode acontecer?...

P O D ES FA L A R - N O S D O S V O S S O S P R O J E T O S PA R A LELO S ? T E M O S A C E RT E Z A Q U E O S N O S S O S L E I T O R E S G O S TA R I A M D E S A B E R MA IS . T O R S T EIN: São tantos... C A LMC O R D E R: Este é o projeto a solo do nosso

baterista Rune Hoemsnes. Descreveria-o como uma espécie de eletrónica dark / triphop / ambiente... Ele tem um álbum lançado, experimentem ouvir!

LET H E: Colegas de editora de Manes na Debemur Morti e o projeto-colaboração de Tor-Helge Skei de Manes e Anna Murphy dos Eluveitie. Não estão distantes de Manes na vibe, mas com a voz da Anna. Muito bom!

mesmo vir a crescer e a tornarem-se grandes e consistentes.

O Q U E D E S E J A M E X P R E S S A R A OS V OSSOS S E G U I D O R E S C O M A V O S S A M Ú S I CA , OU NEM P E N S A M N I S S O ? A L G U M A M E N S AGEM PARA ELES? T O R S T E I N: Nós passamos a bola e esperamos

que as pessoas marquem os seus próprios golos... O Multiball Endgame Extravaganza! Basicamente pretendemos que as pessoas pensem por elas próprias. E em termos de significados e mensagens, todo o nosso trabalho está aberto a interpretações. Pensamos e esperamos que qualquer coisa seja encontrada se a procurarem…

A Q U I E M P O RT U G A L , R E C O N H E C E MOS O V OSSO PA Í S C O M O S E N D O U M A B O A F O N T E DE MÚ SI CA D E Q U A L I D A D E , C R I AT I VA E C O MO ESTANDO S E M P R E À F R E N T E N O Q U E T O C A À I NO VA ÇÃO, M A S E V Ó S ? O Q U E É Q U E N O S P ODERI AS D I Z E R S O B R E A V O S S A P R Ó P R I A P ERCEÇÃO R E L AT I VA M E N T E À M Ú S I C A N O R U E GU ESA?

D R O N T H EIM: Com Vind e eu próprio de Manes (e Rune Folgerø). Um som dark com muita guitarra, um toque de industrial e talvez um certo tom gótico (old-school). Temos três singles / vídeos editados, por isso procurem Drontheim no YouTube!

K K O A G U LA A: Uma colaboração intensa e de conceção diferente, essencialmente com TorHelge e P. Emmerson Williams (Choronzon).

AT R O X: Ativos desde 1988 e já lançaram

muitos álbuns. Tor-Helge deixou Atrox em 1992 e formou Manes. Vind ainda está ativo nos Atrox e as cenas novas deles estão absolutamente fantásticas! Espreitem o álbum “Binocular” (Season of Mist).

C H T O N: Toco guitarra na banda de death

metal dark’n’brutal Chton. Não estamos muito ativos de momento, mas estamos a trabalhar em coisas novas... Espreitem o nosso último álbum”The Devil builds” (Godeater Records).

MA N II: Uma extensão da primeira era de

Manes de black metal com Tor-Helge (na altura Cernunnus) e vocalista de Sargatanas. Dark, atmosférico de toque lento e sombrio. The third and the mortal: A defunta banda com Rune Hoemsnes na bateria. Pioneiros naquilo que acabou por se formar num género de metal atmosférico com voz principal feminina. Uma das muitas inspirações de Nightwish, dizem eles! (Risos)

H ELS IN K I H O R I Z O N:

Vind nas guitarras.

Post-rock fresco com

É tudo o que me lembro neste momento...

2 0 1 4 T EM S I D O U M A N O I N T E N S O PA R A V O C ÊS . O N D E P L A N E I A M I R A PA RT I R D A Q U I ? T O R S T EIN: Para 2015... Nah, vamos continuar

como até agora. Já temos algum material novo, por isso penso que entretanto teremos coisas novas a chegar à superfície... “Be all end all” já é “velho” para nós há algum tempo, no entanto, alguns toques e viragens pelo caminho deram-nos algumas abordagens frescas ao material. Estamos já a sentir que podemos começar algo novo, e já temos algumas ideias e esboços que poderão

T O R S T E I N: É como com qualquer outro país;

diverge entre merda e surpresas positivas. Concordo que temos grandes bandas e artistas aqui na Noruega, mas não é que haja uma espécie de poço sem fundo de onde brota a grandeza. Sobre o metal, as coisas sofreram uma mudança de rumo por volta de 1993, quando os jornais noruegueses alimentaram, consecutivamente nas primeiras páginas, o pânico Satânico. Nada de bom saiu daí. Mas temos artistas de eletrónica muito bons, e outros géneros também. Talvez até mesmo de metal…

E S TA M O S C U R I O S O S , Q U E M Ú S I C A C OSTU MAM OUVIR? T O R S T E I N: Eu? Bem, eu oiço as mais variadas

coisas, mas não posso falar por mais nenhum membro da banda. Recentemente andei a ouvir o álbum de Fever Ray outra vez, e é tão bom como me lembrava. Sem ser isso tenho ouvido Odd Nosdam, Archive, Die Antwoord, Austra, Crippled Black Phoenix, Boards of Canada, etc., etc., e tenho uma playlist no Spotify com alternative country / twangy southern gothic a passar algumas músicas de Wovenhand, Gillian Welch, The Handsome Family, Isobel Campbell/Mark Lanegan, etc.

U M A S Ú LT I M A S I N F O R M A Ç Õ E S PARA O S FÃ S: O N D E É Q U E E L E S V O S P O D E M E N CONTR AR NA I N T E R N E T E P E R M A N E C E R E M ATUALI ZADOS SOBRE O VOSSO TRABALHO? T O R S T E I N: Atualizados? Wow, já não chega a

informação básica agora? Podem ir a Manes.no, mas não está atualizado. Ficará eventualmente, mas depois voltará a ficar desatualizado, por isso, ok... Tentem o Twitter ou o Facebook e encontrarão algumas novidades frescas, divulgações aleatórias e abraços virtuais. Poderá sair um vídeo em breve, por isso vejam também o nosso canal no YouTube.

M U I T O B E M , É T U D O ! V I TA K K E R F O R D I N TI D & T I L B A K E M E L D I N G E R ! E S P E R A M O S MESMO VÊL O S E M B R E V E A AT U A R A Q U I E M PORTU GAL. T O R S T E I N: Sydentur! Ainda não temos datas

agendadas, mas veremos o que acontece. Obrigada. WW W.M AN ES.N O HTTP://YOUTU.BE /DX5VYX0BL5W 33 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“PENSO O QUE VIVER AS PESSOAS TÊM “NUNCA QUE TENTAMOS DE MANES, DE ESPERAR DE NE PARTE OBLIVISCARIS É O LOGO, NÃO TOMAMOS DA INDÚSTRIA INESPERADO. SEMPRE A CRIAR DA MÚSICA ESTAMOS COMO ENTERTAINERS DE DESAFIOS NÓS PRÓPRIOS E PARECEQUALQUERPARA ESPÉCIE.” ME QUE ISSO É EVIDENTE EM «CITADEL».”

NE OBLIVISCARIS PARA LÁ DA PORTA A VERSUS FOI UMA DAS PRIMEIRAS REVISTAS A TER OS NE OBLIVISCARIS COMO BANDA DE CAPA. «PORTAL OF I» FOI UMA ESTREIA DE ARROMBA – ÁLBUM INCRIVELMENTE MADURO FEITO POR MÚSICOS COM ENORME TALENTO. «CITADEL» É UMA CONTINUAÇÃO SEGURA DO QUE FOI UM DOS MELHORES ÁLBUNS DE 2012 E LHES VALERAM O CONTRACTO COM A SEASON OF MIST. Por: Cristina Sá e Eduardo Ramalhadeiro

E.R.: O L Á , TI M ! M AI S U M A V EZ, T EN H O O ENORM E P RAZ E R D E T E EN T R EV IS TA R . PENSO Q UE A V E R SU S FO I U MA D A S PRI MEI RAS RE V I S TA S A T ER U M A CAPA COM A V OSSA B A N D A ( P EN S O QUE E M PORTU GAL FO M O S M ES MO OS P RI M E I ROS… ). ES T O U M U IT O ORGUL H OSO P OR V OS T ER D ES C O B ERT O . (E MUI TO F E L I Z POR TE R U M C D A S S IN A D O POR T O DOS OS E L E M E N T O S D A B A N D A ! ) PARAB É N S POR « C I TAD EL». É T R EMEN D O , 34 / VERSUS MAGAZINE

TA L C O M O « P O RTA L O F I» ! T IM C H A R L E S : Muito obrigado pelo vosso apoio! Ficamos encantados por termos tido a oportunidade de aparecer na capa da Versus Magazine e muito contentes por estar novamente a falar convosco sobre o nosso novo álbum.

E. R . : PA R E C E -M E Q U E , E M TE R M O S M U S IC A IS, « C ITA D E L » É A C O NTINU A Ç Ã O D E «P O TA L O F I» , À E X C E Ç Ã O D A V E RTE NTE

M A IS A G R E S S IVA D O X E NO Y R , QUE PARECE A IND A M A IS F U R IO S A E D E S ESPERADA. TO D A S A S V O S S A S INF L U Ê NCIAS EST ÃO L Á : A S V O Z E S L IM PA S , O F L AMENCO E A L G U NS TO Q U E S D E J A Z Z , E T C. O QUE P O D E M O S E S P E R A R D E NE O B LIVISCARIS D O R AVA NTE ? E S TÃ O A P ENSAR EM M U D A R A L G O NA V O S S A M Ú S ICA? T. C .: Penso que o que as pessoas têm de esperar de Ne Obliviscaris é o


“A CIDADELA ESTÁ SUBJACENTE À CAPA E É O TEMA LÍRICO DO ÁLBUM. XEN FEZ TODO O TRABALHO ARTÍSTICO, ESCREVEU AS LETRAS E ARQUITETOU TODA A PARTE CONCETUAL ” inesperado. Estamos sempre a criar desafios para nós próprios e pareceme que isso é evidente em «Citadel». Há detalhes sonoros que as pessoas vão reconhecer, mas combinados com novos aspetos. Xenoyr realmente inseriu novos tipos de vocalizações agressivas neste álbum e todos nós tentamos alargar ao máximo a forma como exploramos os nossos instrumentos, para criarmos o melhor álbum possível. Estamos muito orgulhosos de «Citadel» e, por isso, é muito excitante ver o álbum recebido com tanto entusiasmo.

E.R.: D A ÚLTI M A VE Z Q U E “ FA LA MO S ” , ESTAVAM N UM A E D IT O R A M EN O S CONHE CI D A. A GORA E S T Ã O N U M A M U IT O MAI OR – S E A SON O F MIS T. Q U A IS S Ã O AS P RI N C I PAI S DI F ER EN Ç A S EN T R E AS D UAS SI TUAÇÕE S ? EN C O N T R A R A M ALGUM A RE S I S TÊ N CI A P O R PA RT E D A EDI TORA E N QUAN TO ES T IV ER A M A ESCRE V E R « CI TADE L » O U D EIX A R A M- V O S À VON TADE ? T. C.: A grande diferença de estar numa editora maior corresponde às oportunidades acrescidas de ter muita gente a ouvir a nossa música, devido à sua maior capacidade para dar a conhecer o álbum. E é mesmo aquilo de que nós precisamos. Só queremos que as pessoas nos dêem uma oportunidade, que ouçam a nossa música. Deste modo, haverá cada vez mais fãs a apreciar o que ouvem. No que toca à criação do álbum, temos total liberdade artística para fazermos o que nos aprouver, o que, para nós, é fundamental, uma vez que fazemos arte e não queremos comprometer-nos a fazer o que os outros querem, em detrimento do que nós queremos.

E.R.: N Ã O TE N HO I N F O R MA Ç Ã O S O B R E QUEM PRODUZ I U O ÁL B U M, M A S , D A D A S AS SE M E L HAN ÇAS D E «C ITA D EL» C O M O ÁL B UM AN TE RI O R N ES S E A S P ET O , PRESUM O QUE F O STE TU Q U E FIZES T E ES S E TRABA L H O. QUE TAL É S ER O “ PAT R Ã O ” DOS T E US COL E GAS DE B A N D A ? T. C. : É verdade: «Citadel» foi produzido por mim e pelo Troy McCosker, tal como «Portal of I». Não me sinto como o patrão de ninguém. Preocupo-me apenas em tirar o máximo proveito das qualidades e competências de cada um dos membros da banda. Por conseguinte, quando se trata de algo em que eu sou bom, assumo a liderança, mas se se tratar de aspetos em que outros são melhores, passo a chefia a um dos outros. Todos têm um papel a desempenhar e todos são vitais para as criações de Ne Obliviscaris.

E.R.: UM A C OI S A Q U E M E C H A M O U A ATENÇÃO F O I O FA CTO D E T ER EM A B ERT O UMA S UBSCRI Ç ÃO PARA FIN A N C IA R EM

U MA D IG RE S S Ã O INTE R NA C IO NA L . P O R Q U E É T Ã O D IF ÍC IL S A IR D A A U S TR Á L IA ? É P O R C AU S A D A D IS TÂ NC IA ? A S O M AJUDOU-VOS? T. C . : Sim, tivemos a sorte de juntar $86,132AUD (cercar de 60000€)! O maior problema de bandas como a nossa é que nos pagam muito pouco, quando estamos a fazer a nossa primeira digressão. Como a Austrália é muito, muito longe, bandas como a nossa perdem muito dinheiro, quando se dispõem a fazer digressões mundiais. Queríamos ir visitar o máximo de países possível e, por conseguinte, pareceu-nos que esse processo era o melhor para conseguirmos concretizar o nosso intento de tocar para o máximo possível de pessoas. A SoM apoiounos ao máximo na nossa campanha para arranjar fundos para a digressão e encontrou-nos alguns grandes concertos: por exemplo, no Hellfest, em França, no próximo mês de junho.

E. R . : A P R O P Ó S ITO , P O RTU G A L E S TÁ NA V O S S A LI S TA D E PA ÍS E S A V IS ITA R ? S E A S S IM FO R , Q U E R O E NTR E V IS TA R -V O S E M P ES S O A . E U PA G O A P R IM E IR A , S E G U ND A E T ER C EIR A C E RV E J A S ! T. C .: Já anunciamos que iremos tocar no Resurrection Festival, em Espanha, em julho, e, como fica muito perto de Portugal, esperamos poder dar uma saltada aí e fazer também um concerto no vosso país! Ainda não temos nada confirmado, mas gostaríamos muito de o fazer, até porque já me disseram que Portugal é um país maravilhoso.

E. R . : NA S M INH A S E NTR E V IS TA S , N O R MA LM E NTE P E Ç O À B A ND A PA R A C O M EN TA R U M A FA IX A E M E S P E C IA L . Q U ER IA Q U E C O M E NTA S S E S U M A PA RTE D E “ P Y R R H IC ”, A Q U E L E M A R AV IL H O S O IN T ER LÚ D IO NO M E IO D A C A NÇ Ã O , M U ITO M ELÓ D IC O , INTR O S P E TIV O E C H E IO D E S EN T IM E NTO , Q U E A C A B A C O M O S V O C A IS ÁS P E R O S E D E S E S P E R A D O S D O X EN O Y R . PA R A M IM , É A M E L H O R PA RTE D O Á LB U M . T. C . : Muito obrigado por essas amáveis palavras! Também gosto muito dessa secção. Essa parte da canção surgiu de modo muito natural, num dia em que estávamos a ensaiar. Veio-me a cabeça a ideia de que o Benji podia fazer a parte do trémolo, que se vai lentamente construindo e depois morre, o Matt juntou a guitarra lenta, o Dan acrescentou alguns efeitos de bateria, o Benji o maravilhoso tapping e depois eu fiz um improviso no violino e, de repente, em pouco tempo, tínhamos feito algo de verdadeiramente especial. Essa secção é um belo exemplo do que pode acontecer espontaneamente, quando compomos juntos durante os ensaios.

C .S .A .: O Q U E S IG NIF IC A A CAPA E X TR E M A M E NTE C O M P L E X A E CHEIA DE C A M A D A S S O B R E P O S TA S D E «CITADEL»? E O ND E E S TÁ A C ID A D E L A DE QUE O V O S S O Á L B U M FA L A ? NÃ O ACREDIT O Q U E S E J A A P E NA S R E P R E S E NTADA PELAS M U R A L H A S Q U E P O D E M O S VER NUM P L A NO A FA S TA D O D A IL U S TR A ÇÃO. T. C .: A Cidadela está subjacente à capa e é o tema lírico do álbum. Xen fez todo o trabalho artístico, escreveu as letras e arquitetou toda a parte concetual e gosto mesmo do que ele fez para «Citadel». Cada faixa do álbum está relacionada com este conceito de uma forma diferente. Deixo aos fãs a tarefa de explorar as letras, se quiserem fazelo, porque sei que o Xen gosta de as deixar abertas à interpretação, em vez de revelar tudo.

C .S .A .: C O M PA R E I E S TA C A PA COM A D O Á L B U M A NTE R IO R E A PRESENTAM B A S TA NTE S S E M E L H A NÇ A S , M AS TAMBÉM A L G U M A S D IF E R E NÇ A S . TR ATA-SE DO E S TIL O G R Á F IC O D E X E NO Y R OU ESTAS C A R A C TE R ÍS TIC A S TÊ M A V E R COM AS L IG A Ç Õ E S E NTR E O S D O IS Á L B UNS? T. C . : Penso que o Xen continua a progredir como artista gráfico e que a banda tem muita sorte por poder dispor dos seus serviços para a parte gráfica do nosso trabalho. Parece-me que a arte dos dois álbuns tem semelhanças, tal como acontece com a música, mas que também há uma progressão entre eles, já que a música também é um tanto diferente neste álbum.

C .S .A . & E .R .: M U ITO O B R IGADO POR E S TA E NTR E V IS TA E E S P E R A M OS VER-VOS E M P O RTU G A L ! T. C . : Agradecemos a quem comprou «Citadel» até agora. O vosso apoio significa muito para nós e, se tudo correr bem, havemos de nos ver em 2015!

“A GRANDE DIFERENÇA D E E S TA R N U M A E D I T O R A MAIOR CORRESPONDE À S O P O RT U N I D A D E S A C R E S C I D A S D E T E R M U I TA GENTE A OUVIR A NOSSA MÚSICA, DEVIDO À SUA M A I O R C A PA C I D A D E PA R A DAR A CONHECER O ÁLBUM. E É MESMO AQUILO DE QUE NÓS PRECISAMOS.” WWW.FACE BOOK.COM /NE OBL IV I SCARI SBAN D HTTP://YOUTU.BE /Y _ I CW JGRT PK

35 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“O ISOLAMENTO AJUDA-ME A MANTER A CONCENTRAÇÃO, ENTÃO, OS PRIMEIROS 10 DIAS AJUDARAM-ME A CRIAR A MAIOR PARTE DAS IDEIAS RÍTMICAS.”

TETEMA DUO FANTÁSTICO TE TE M A É U M PROJECT O FORM ADO P ELO S MULTI -FA C ETAD O S MI KE PATTON E O P I A N I S TA E C O M P O S IT O R AUST RALIANO ANT HON Y PATERA S . «GEO C I D A L» FO I G R AVAD O EM V Á R I O S PA Í SE S ; É E S T RANHO E M UIT O PARTI C U LA R . A CO MEÇA R PELA FOR MA CO MO FO I C O N S T R U ÍD O E INT ERPRETADO. UM DISCO D I FER ENTE, D O MUNDO E PAR A O MUNDO . Ú N I C O ! Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ, O BRIGADO PE L A E NTREV IS TA . «G EO C ID A L» É EXCE L E NTE , UM DOS MA IS MA LU C O S E ESQUI S ITOS QUE OUVI E ST E A N O . ANTHONY PATE RAS: Obrigado, só espero que seja algo único na tua colecção.

PARA «GE OCIDAL » TU RE F U G IA S T E-T E S O ZIN H O NUM E X-CONVE NTO E M FR A N Ç A . P O R Q U Ê ESTA N E CE SSIDADE DE F I C A R ES S O ZIN H O . S Ó FI ZEST E ISTO PARA E STE P R O J EC T O ? ANTHONY PATE RAS: O isolamento ajuda-me a manter a concentração, então, os primeiros 10 dias ajudaram-me a criar a maior parte

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das ideias rítmicas. Foi como antigamente: caneta e papel, rascunhos, pequenos mapas, planos… Eu queria ver como seria antes de introduzir os computadores, tentando desafiar o meu cérebro sobre desejos e direcções. Eu acho que faço sempre isto, sento-me e escrevo uma nova parte para a orquestra, percussão ou outra coisa qualquer… é muito bom aplicar estas estratégias às canções.

TETEMA É MUITO ESTRANHO E PARTICULAR - NO BOM SENTIDO!! - EU ACHO QUE ÀS VEZES É ESQUIZOFRÉNICO, DESESPERANTE, ALGO INSANO E ENVOLTO N’ALGUM TIPO DE MISTÉRIO. QUANTO TEMPO DEMOROU A CRIAR ESTE TIPO DE AMBIENTE E ENVOLVIMENTO?

A N T H O N Y PAT E R A S: Eu comecei mais a sério

em Setembro de 2012 e o disco foi acabado em Setembro de 2014. Não trabalhei nele o tempo todo mas esteve sempre comigo, em corpo e em espírito. Quando tudo começou a tomar forma, quis ir o mais profundo possível e tentar chegar a algo que eu e o Mike (Patton) nunca tivéssemos ouvido antes. Quer dizer, isto requer tempo, arranjar todos os pormenores e nuances, a melhor forma de misturar, não sei quantas horas foram no total mas no fim senti que este disco é uma extensão de nós próprios.

J Á D I S S E A L G U M A S V E Z E S Q U E O MI KE PATTO N É U M D O S G É N I O S M A I S L O U C O S QUE ANDA


“QUANDO TUDO COMEÇOU A TOMAR FORMA, QUIS IR O MAIS PROFUNDO POSSÍVEL E TENTAR CHEGAR A ALGO QUE EU E O MIKE (PATTON) NUNCA TIVÉSSEMOS OUVIDO ANTES.” POR AÍ. E U ACHO QUE FO I O H O MEM C ERT O PARA O L UGAR. COMO É Q U E T E S U R G IU A I DEI A DE TRABAL HAR COM ELE? ANTHONY PATE RAS: Bem, na realidade Mike

ligou-me quando estava em Melbourne. Em 2008 enviei à Ipecac algumas gravações de piano/bateria de uma banda minha grindcore chamada PIVIXKI e ele gostou, no entanto, nunca estive com ele até os Fantômas aparecerem em Melbourne. Nessa altura ele ligou-me. Falámos e tivemos uma grande conversa sobre música, ele disse-me que queria fazer um álbum comigo. Fiquei deveras surpreendido, é claro, mas foi um processo natural para ambos.

ESTE ÁL BUM É NOTÁVE L , MES MO N A FO R MA COM O F OI F E ITO. . . F OI GR AVA D O EM T O D O O M UNDO : ME L BOURNE , B ER LIM, R O T ER D Ã O , ETC. P ORQUE É QUE F IZ E S T E IS S O ? P O R Q U E NÃO N UM SÓ L UGAR? ISS O D EV E S ER MU IT O DI FÍ CI L ( E CARO) DE SE FAZER . . . ! ANTHONY PATE RAS : Foi por duas razões: a primeira é que eu queria ver que efeito tinha na produção e sonoridade do disco. A questão era: se tens várias formas de produzir, em diferentes estúdios, o que acontece à sonoridade? Fica infundada e sem “casa”, sem um “lar”, e a música que Mike e eu queríamos fazer inseria-se nesse espírito. Nós queríamos fazer algo que desafiasse o que já tínhamos feito, criar um novo universo, novas regras, novos contextos e combinações.

Segundo, eu não tenho um estúdio! Eu trabalho no meu apartamento e alugo diferentes salas à medida que vou precisando delas, então, eu viajo baseado no que eu preciso para gravar. Como eu queria criar um universo sonoro que seria muito difícil de definir, eu entrei numa missão para encontrar o som mais original que conseguisse. Ouvi falar num estúdio de música electrónica em Roterdão chamado WORM, que tem sintetizadores raros, tais como o ARP 2500 e entrei em contacto com eles para ver se conseguia fazer algumas gravações. O meu amigo Marcus Schmickler tem um estúdio em Colónia chamado Piethopraxis, que também tem muito equipamento e fui lá para “sacar” alguns sons que não conseguia em lado nenhum. Muito do pessoal com que trabalho é de Melbourne ou mudaram-se para San Diego, então, fizemos essas sessões por Skype… a estratégia foi trabalhar com quem e com aquilo que eu queria gravar e não porque tinha de andar em aviões e comboios o tempo todo

COM O É FAZ E R UM ÁL B U M T Ã O D EN S O E COM PLE XO COM TANTAS C A MA D A S MU S IC A IS E I NST RUME NTAIS? COMO É O T EU P R O C ES S O DE COMPOSIÇÃO? ANTHONY PATE RAS:

Bem, para mim esta música não parece complexa ou densa! A subjectividade da música é mesmo estranha, ninguém ouve a mesma coisa. Isto foi o que saiu de mim, eu não faço as coisas com intenção de serem difíceis de ouvir e, estranhamente, é muito surpreendente que as pessoas pensem que isto é avant-garde ou música experimental, quando a mim me soa a música pop. As camadas, para mim, são parte da minha “linguagem de criação” e muito deste disco foi sobre isso. Nós começámos pela bateria

e as camadas instrumentais e vocais foram sendo adicionadas: sintetizadores sobre a bateria, depois as cordas, clarinetes e percussão sobre os sintetizadores, mais alguma electrónica em cima disso. Por fim foram as vozes que levaram várias “camadas” - algumas das sessões vocais que misturei foram ridículas - especialmente o tema de abertura “Invocation of The Swarm” - deve haver algumas 50 pistas vocais, só para criar o efeito do coro… soa a Scelsi ou algo do género! Eu nunca começo com planos ou regras, eu deixo que música me diga o que fazer, não ao contrário. Eu sei que parece algo abstracto mas geralmente as respostas aparecem quando estou a trabalhar em qualquer coisa. Se faço um plano rigoroso e faço A-B-C, não soará muito bem, antes forçado. Com esta música não tivemos uma data limite, só tentámos fazer o melhor que podíamos, tentando criar o nosso mundo e o tempo que demorou não importa. Sendo assim, podemos ser rigorosos, picuinhas e espero que a música tenha mais integridade por causa disso mesmo.

NÃO COSTUMO OUVIR MUITO ESTE TIPO DE MÚ S IC A E L E C T R Ó N I C A , C O M E X C E P Ç Ã O D E MA S S IV E AT TA C K . D E Q U A L Q U E R D A S F O R M A S V EJ O A LG U M A S I N F L U Ê N C I A S E M “ T E N Z ” . . . Q U A IS S Ã O A S T U A S P R I N C I PA I S I N F L U Ê N C I A S QUANDO CRIAS ESTE TIPO DE TRABALHO? A N T H O N Y PAT E R A S : Eu não sei o que me

influenciou, especificamente, mas a ideia principal que me guiou foi uma frase que utilizei no meu sexteto de percussão: “Beauty Will be Amnesiac or Will Not Be At All”. Isto é um manifesto para dizer, se a sonoridade for qualquer coisa que me posso lembrar, se a puder associar a alguma coisa que já ouvi antes, não era bonito para mim, então, ou mudava ou punha de lado. Quero dizer, quando temos tudo ao mesmo tempo, nada é especial, certo?

“ D EAT H IN TA N G I E R S ” É MUITO C IN EMAT O G R Á F I C O , LEMBRA-ME ALGUNS FILMES D O H I T C H C O C K , M U I T O N E G R O E MIS T ER IO S O . P O D E S D I Z E R - N O S U M P O U C O MA IS S O B RE E S T E T E M A ? Q U E M M O R R E U E M T Â N G ER ? A N T H O N Y PAT E R A S: Bem, eu gosto muito

de Bernard Hermann, claro, mas nunca tentei fazer “cinemático” de uma forma intencional… Eu acho que a música feita para o cinema teve um efeito negativo em como as pessoas entendem a sonoridade musical. A narrativa significa estar intimamente ligado com ideias musicais muito particulares e isso diminui a “flexibilidade” em como a música deve ser interpretada e experimentada. Eu tento manter-me aberto e longe de atribuir significados aos sons ou acordes, porque a música pode ir em várias e diferentes direcções, é assim que encontras novas constelações de ideias. Quem morreu em Tânger? Eu acho que parte de mim! A única coisa que posso dizer acerca do tema é que apresenta o melhor trecho de violino alguma vez tocado num disco, cortesia do meu grande amigo Erkki Veltheim. É uma peça intimista, eu queria reduzir tudo a um espaço claustrofóbico depois da ampla densidade de tudo o resto… queria finalmente respirar.

O N Ú M E R O D E M Ú S I C O S E N V O LV I D O É ÚNI CO E E X T E N S O . A V E R S AT I L I D A D E É I N C RI VELMENTE G R A N D E E N Ã O U S A S Q U A L QUER TI PO D E S A M P L E S . TA M B É M P R O DUZI STE A O R Q U E S T R A ? F O I A P R I M E I R A V E Z QU E TOCASTE C O M E S TA Q U A N T I D A D E D E M Ú S I C OS ? A N T H O N Y PAT E R A S : Sim, eu produzi a orquestra.

Fico contente por teres gostado! Na maior parte da minha vida musical fui compositor - Escrevo para muitos instrumentos, tenho sido felizardo em escrever para peças de orquestra de cordas, sopro e percussão, por isso já trabalhei com grupos numerosos. Foi muito interessante para mim criar muitos contextos musicais para a voz do Mike - o disco está em constante mutação sonora, sempre com este elemento em comum por cima de tudo, e isso foi um grande desafio. Na realização deste disco eu descobri que a produção e mistura são uma extensão da orquestração - é uma extensão electro-acústica da própria orquestra porque molda a forma como sentes a sonoridade, que perspectiva tens da música enquanto ouvinte. A única diferença é o aparato, quando fiz as coisas no passado, o maestro estava na mesa de mistura, eu andava fora e dentro a decidir a velocidade e profundidade do som. Gosto de interagir com diferentes períodos de prática musical - é uma boa maneira de evitar modas e tendências inúteis – só se trabalha com os aspectos técnicos e não estilísticos.

« G E O C I D A L » É S U P O S T O S E R S OMENTE U M Á L B U M D E E S T Ú D I O O U T E N S P LANOS PARA T O C A R E S A O V I V O ? S E F O R O C A S O S ERÁ COM O M I K E PAT T O N E T O D O S O S M Ú S I C OS? A N T H O N Y PAT E R A S : É certo que queremos

tocá-lo ao vivo mas ainda não temos uma ideia concreta de como aplicá-la… será provavelmente baseado no que acontecerá no segundo álbum!

T U T E N S U M A D I S C O G R A F I A BASTANTE I N T E R E S S A N T E , Q U A L F O I O T E U TRABALHO MAIS DESAFIANTE? (... E PORQUÊ?) A N T H O N Y PAT E R A S: É sempre desafiante! O Q U E P O D E R E M O S E S P E R A R D E T I N O PRÓXI MO P R O J E C T O ? Q U E M É A P E R S O N A LI DADE QUE G O S TA R I A S M A I S D E T R A B A L H A R ? A N T H O N Y PAT E R A S:

Agora que «Geocidal» está pronto, eu irei lançar algumas coisas na minha editora - Immediata - da minha outra banda Thymolphthalein, um álbum a solo de piano, algo com violino/piano com o Erkki, um DVD (surround) com o Chris Abrahams dos The Necks que usa oito pianos e uma gravação especial de uma peça com instrumentos de percussão de Xenakis. Enquanto tudo isto estiver a acontecer irei trabalhando no próximo álbum dos tetema e escrever algo estranho para uma grande banda e alguma música electro-acústica para alguns festivais em Lille e Paris. Com quem gostava de trabalhar mais? Bem, isso está sempre a mudar, mas claro que tetema é uma preocupação permanente!

O B R I G A D O P E L A E N T R E V I S TA . E S PERO OUVI R ( A I N D A ) M A I S D E T I . I S T O É M E S M O BOM. A N T H O N Y PAT E R A S : Obrigado por ter tirado tempo para ouvir a minha música!

HTTP://ANTHONYPATE R AS.COM / BLOG HTTP://YOUTU.BE / LD2N LERSEEE

37 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“DEFINO (PHILM) COMO UMA BANDA QUE POSSUI VÁRIOS ESTILOS, PODEMOS TOCAR FUNK, THRASH, PUNK OU BLUES, (...). CLASSIFICO-A COMO MÚSICA, MÚSICA VERDADEIRA E HONESTA, PORQUE É FEITA POR MÚSICOS LIVRES DE QUALQUER RESTRIÇÃO.”

PHILM EXPERIMENTALISMO DAV E LOMB A RDO É U M DOS MA IS P R ES T IG IA D O S E A C A R IN HA D O S BATERI STAS CON TE M P ORÂN EO S . A P Ó S A S A ÍD A D O S S LAY E R , L O M BARDO, JUN TA M E N TE C O M FR A N C IS C O T O MA S ELLI E G E R RY NE S TLER FORM A RAM O S PHILM . O T H R A S H META L A G R ES S IV O F O I POSTO UM P O UCO D E L ADO, D A N D O LU G A R A O EX P ER IMEN TA LIS M O . A V ERSUS C ON VE R SOU C OM D AV E LO M B A R D O S O B R E O S P H IL M , MEGADETH, ARTS CE N E , A F I N A Ç Õ ES E O U T R A S C O IS A S Q U E TA IS . Por: Eduardo Ramalhadeiro HTTPS://WWW.FACE BOOK.COM/P HI LM OFFI CI AL HTTP://YOUTU.BE /G N B13M LG1JI

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“ESTE SEGUNDO TRABALHO É O SINCERO RESULTADO DA EVOLUÇÃO DA BANDA, PROCURAMOS FAZER ALGO UM POUCO MAIS PESADO, ALGO QUE UM FÃ DE THRASH PUDESSE GOSTAR MAIS.” OLÁ DAVE, MUITO OBRIGADO POR ESTA ENTREVISTA. ANTES DE MAIS, DESCULPA SE O MEU INGLÊS NÃO É PERFEITO. DAVE L O M B ARDO: Não há problema, eu não falo português, por estás melhor que eu.

«FIRE FROM THE EVENING SUN» É DIFERENTE E TENHO ALGUMA DIFIC ULDADE EM CLASSIFICAR QUAL É O SEU ESTILO – O QUE PARA MIM É EXCELENTE. COMO DEFINES PHILM? DAVE L O M B ARDO: Defino-a como uma banda que possui vários estilos, podemos tocar funk, thrash, punk ou blues, podemos seguir vários caminhos. Classifico-a como música, música verdadeira e honesta, porque é feita por músicos livres de qualquer restrição.

TENS VÁRIOS PROJECTOS E PHILM É O MAIS RECENTE. COMO NASCEU ESTA IDEIA E PORQUÊ? DAVE L O M B ARDO: A ideia surgiu quando conheci Gerry (Nestler), provavelmente uns 15 anos atrás. Ele influenciou-me a mudar o meu set da bateria e tinha uma guitarra muito especial, de rock clássico, uma Gibson Les Paul... lindíssima. Eu senti que tínhamos de fazer música juntos, música que fosse pesada mas de forma diferente.

“HAR MONIC” É MAIS CRU, MAIS NA BASE DO IMPROVISO E TAMBÉM O TEU PRIMEIRO ÁLBUM COMO PRODUTOR. ESTE SEGUNDO ÁLBUM DOS PHILM, NO ENTANTO, É MAIS PESADÃO. PORQUÊ UMA MUDANÇA DE DIRECÇÃO NUM SEGUNDO TRABALHO? DAVE L O M B ARDO: Este segundo trabalho é o sincero resultado da evolução da banda, procuramos fazer algo um pouco mais pesado, algo que um fã de thrash pudesse gostar mais. No entanto, penso que há mais elementos pesados e thrash nas músicas do primeiro álbum mas com uma intenção diferente. No entanto este trabalho tem mais desse ambiente thrash.

COMO FOI DITO , «HARMONIC» CONTÉM MUITO MAIS IMPROVISO. COMO SURGIU A IDEIA DE UM ÁLBUM DESTES?

NÃO É DEMASIADO ARRISCADO? COMO SE PRODUZ UM ÁLBUM COM IMPROVISO? D AV E LO M B A R D O : Há apenas três ou quarto músicas improvisadas em «Harmonic», as outras são estruturadas e muitas delas são músicas pesadas, apenas foram misturadas de forma diferente e por isso soam diferente. Elas não foram misturas de uma forma “trash” ou pesada e por isso acabam por soar diferentes. Não foi muito arriscado, porque sinto que nesta área temse de arriscar sempre um pouco, senão como poderia uma banda como Slayer ser o que foi sem arriscar um pouco que seja? Se não tivessem agarrado a oportunidade de serem diferentes. Na música tens de ser diferente e arriscar a ser original, caso contrário não serás mais do que qualquer outra banda, certo?

ESTES DOIS ÁLBUNS FORAM OS PRIMEIROS QUE PRODUZISTE. ENTRE ESTES, QUAL FOI O MAIS DIFÍCIL E DESAFIANTE? D AV E LOM B A R D O : Penso que o segundo tenha sido mais difícil porque teve alguns obstáculos. Primeiro com a editora mas também outras dificuldades durante o projecto que tornaram as coisas mais complicadas do que para o primeiro álbum. Mas acabas por aprender com os erros e penso que as coisas serão bem mais fáceis para a próxima.

PORQUE DIZES QUE A EDITOR FOI UM OBSTÁCULO? D AV E LO MB A R D O : A IPECAC foi a nossa primeira editora, quando apresentei o segundo projecto, eles já tinham completado a lista de álbuns a lançar no ano. Devia ter apresentado o projecto mais cedo, para eles contarem com ele e assim publica-lo mas como foi demasiado tarde, a gestão não permitia mudar a lista e o meu álbum, infelizmente, não estava lá.

QUAL É O MAIS COMPLICADO: PRODUZIR OU SIMPLESMENTE TOCAR NO ÁLBUM? D AV E LOM B A R D O : Penso que é produzir porque quando produzes

tens de gerir os músicos, criar horários e ver disponibilidades para quem pode compor ou tocar. Há muito a fazer até finalizar o trabalho, tens de controlar tudo, acabar o projecto e apresenta-lo à editora com todo o grafismo, letras, agradecimentos. Requer mais de ti mesmo.

DADOS OS ULTIMOS ACONTECIMENTOS RELATIVAMENTE AO TEU DESEJO DE TE JUNTARES AOS MEGADETH, COMO FICA O PROJECTO PHILM, SE ISSO ACONTECER? NÃO É PHILM O TEU PROJECTO PRINCIPAL? D AV E L O M B A R D O : Ninguém me contactou para trabalhar com Megadeth. Portanto não estou a pensar nisso, não me preocupo nem estou á espera de um telefonema. Faço o que tenho a fazer e se o tempo e as agendas o permitirem, pode ser que algo aconteça. Até lá, a questão não se põe.

DADO A TUA ENORME INFLUÊNCIA, DEVES SABER QUE APÓS TERES DITO A UM FÃ QUE QUERIAS TRABALHAR COM OS MEGADETH, CRIASTE UM TSUNAMI DE INFORMAÇÃO, COMENTÁRIOS E NOTÍCIAS. BASICAMENTE, PUSESTE O MUNDO DO METAL EM CHAMAS. TIVESTE ALGUM CONTACTO OU FEEDBACK DO MUSTAINE? D AV E L O M B A R D O : Não, primeiro, eu nunca disse que queria trabalhar com os Megadeth, apenas disse que o Mustaine tinha o meu número de telefone.

ENTÃO, MUSTAINE AINDA NÃO TE CONTACTOU? D AV E L O M B A R D O : Não e não estou à espera que o faça. Por isso…

EU ACHO QUE AS PESSOAS NÃO PERCEBEM QUE ÉS UM MÚSICO PROFISSIONAL, FAZES ISTO PARA VIVER. PORTANTO, SE TE JUNTARES AOS MEGADETH É COMO PROFESSIONAL, CERTO? PODEMOS DIZER QUE O FAZES NUMA PRIMEIRA FASE PARA TER UM SALÁRIO E EM SEGUNDO PLANO PELO DESAFIO DE TOCAR NOS MEGADETH. POR VEZES PODES SER APENAS MÚSICO DE ESTÚDIO, ÉS PAGO PELO TRABALHO E SEGUES PARA O PRÓXIMO. ISTO É SER UM PROFISSIONAL. 39 / p h i l m


ENTREVISTA

“ESTE SEGUNDO TRABALHO É O SINCERO RESULTADO DA EVOLUÇÃO DA BANDA, PROCURAMOS FAZER ALGO UM POUCO MAIS PESADO, ALGO QUE UM FÃ DE THRASH PUDESSE GOSTAR MAIS.”

DAVE L OM B ARDO: As pessoas não compreendem o que está inerente a ser um músico. Há muita coisa a considerar quando se começa a trabalhar com outra banda: agendas, salário,… mas a principal é o facto de gostar ou não do que estás a fazer. Penso que é o mais importante e é o que mais pesa na balança quando me propõem uma nova colaboração. Ouço a música. Gosto? Se não, então não toco com eles. Outro ponto é o salário. Não posso ser o músico que sou e não estar a gostar de tocar com quem toco. Se não me sinto bem, saio do projecto.

quis fazer mas nunca tive a oportunidade. Adoro arte, sob todas as suas formas, e isto foi algo mais a acrescentar ao nome “Dave Lombardo” e senti que era importante fazê-lo. Gostei muito, gosto do resultado e acho muito interessante.

ESCREVESTE NO TEU SITE QUE É UM “MOVIMENTO CRIADO PELOS MELHORES BATERISTAS VIVOS”. QUEM SÃO ELES? D AV E LO M B A R D O : São o Bill Ward, Bill Bruford, Chris Adler, Dave Weckl entre outros.

PARECES SER ALGUÉM ECLÉCTICO, POIS TAMBÉM TRABALHAS EM OUTR AS FORMAS DE ARTE. COMO SURGIU A IDEIA DE COLABORAR COM SCENEART E PRODUZIR ESSAS FANTÁSTICAS IMAGENS?

OUTRO TIPO DE QUESTÕES PARA ACABAR A NOSSA ENTREVISTA, QUAL É O TEU SETUP PARA OS PHILM? É MUITO DIFERENTE DO QUE USAS PARA OS SLAYER, POR EXEMPLO?

DAVE L O M B ARDO: Ouvi, através de amigos que Bill Ward dos Black Sabbath estava a fazer algum artwork e a empresa estava interessada na minha colaboração, portanto aceitei. É algo que sempre

D AV E LO M B A R D O : Sim! O set é muito mais pequeno do utilizado para Slayer, porque sinto que em Philm, menos é melhor. Neste momento a banda é um trio e uso um set mais pequeno, com 4 elementos e

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apenas um bombo mas penso usar um pedal duplo pela primeira vez neste projecto. Utilizei para as gravações, mas estou a pensar usar de forma definitiva, porque não consigo estar sempre a transportar dois bombos comigo. Portanto vou utilizar o pedal duplo, um bombo, um timbalão e um timbalão de chão. Vou tocar este set tipo Trash/Punk.

ACHAS QUE HÁ MUITA DIFERENÇA ENTRE O BOMBO DUPLO E O PEDAL DUPLO NUM ÚNICO BOMBO? D AV E L O M B A R D O : É uma impressão estranha, parece diferente. Por vezes, depende das circunstâncias, é preciso usar só um bombo com um pedal duplo. Não gosto mas vou utilizar.

NÃO SEI SE ALGUMA VEZ USASTE OUTRA MARCA, MAS SEI QUE HOJE USAS PRATOS DA PAISTE. EU TAMBÉM E GOSTO BASTANTE. QUAL FOI O TEU CRITÉRIO PARA ESTA ESCOLHA? OUVI DIZER QUE A SÉRIE RUDE FEZ 35 ANOS RECENTEMENTE.


ENTREVISTA

“NÃO FOI MUITO ARRISCADO, PORQUE SINTO QUE NESTA ÁREA TEM-SE DE ARRISCAR SEMPRE UM POUCO, SENÃO COMO PODERIA UMA BANDA COMO SLAYER SER O QUE FOI SEM ARRISCAR UM POUCO QUE SEJA?”

DAVE L OM B ARDO: Sim, uso Paiste muito antes de ter entrado para os Slayer em 82 ou 83. Penso que comecei com 15 anos, para mim eram os melhores disponíveis. Costumava alugar pratos para concertos ou para experiências, quando era puto achava que eram as que soavam melhor. Além de que alguns dos meus bateristas favoritos usavam Paiste, principalmente o John Bonham. Por isso tudo, sim, escolhi a Paiste.

OUVI DIZER QUE NÃO GOSTAS MUITO DE TOCAR NAS CLINICS E ENCONTROS DE BATERISTAS QUE FAZES POR ESSE MUNDO FORA. A MINHA PRIMEIRA PERGUNTA É: O QUE TE DESAGRADA? ACHAS QUE HÁ ALGUMA COMPETIÇÃO NESSES ENCONTROS? DAVE L O M B ARDO: Não, não gosto de participar em clinics, prefiro tocar num concerto com uma banda, é o que mais gosto. Para mim, pessoalmente, não há competição, vou lá e faço o que gosto, sei o que tenho a fazer e não presto atenção ao que os outros fazem. Vejo se o que fazem é interessante, mas não me intimida. É porreiro ir e lá e

fazer o que gosto, mas prefiro tocar em concertos com uma banda, não gosto de tocar num palco sozinho.

D AV E L O M B A R D O : É algo que tem de ser mostrado pessoalmente, é realmente impossível de explicar por palavras.

TENHO DE PERGUNTAR ISTO, NUNCA USASTE A AJUDA DOS CLICKS NOS ALBUNS DE SLAYER, COMO CONSEGUISTE?

POR OUTRO LADO, COMO AJUSTAS O TEU PEDAL DUPLO?

D AV E LO MB A R D O : Sou baterista! É suposto estares no ritmo, se não o consegues sem os clicks, significa que tens de trabalhar isso. Comecei a usar clicks, provavelmente algures com os Grip Inc., mas só um pouco, não as músicas completas. Foram os primeiros 18 compassos e depois desligaram e continuei sem eles.

FALANDO EM GRIP INC., HÁ PLANOS DE RETOMAR O PROJECTO? D AV E LO M B A R D O : Não, não. Como, infelizmente, o Gus Chambers faleceu, acho que ninguém o pode substituir.

UMA QUESTÃO QUE É MUITO DEBATIDA É COMO UM BATERISTA AFINA A SUA BATERIA. PODES NOS DIZER COMO O FAZES?

D AV E LOMBARDO: Fiz algumas alterações quando recebi o pedal. Eu coloco o batente mais para trás, a tensão das molas está ligeiramente mais alta do que o normal e a footboard está ligeiramente mais levantada.

NASCESTE EM CUBA E FOSTE CRIADO NA CALIFORNIA. LI QUE FOSTE AUTODIDACTA COMO 95 OU 99 POR CENTO DOS MÚSICOS. SEI MÚSICA MAS NÃO LEIO PAUTA. EM MOMENTO ALGUM SENTISTE QUE ISSO ERA UM HANDICAP? QUE NÃO CONSEGUES TOCAR CERTAS MÚSICAS POR CAUSA DO TEU PERCURSO? D AV E L O M B A R D O : É um desafio, sei música e ler pautas mas é algo que pede mais tempo, não trabalho dessa forma. Mas se é um handicap? Não, não é, porque é uma mais-valia saber sem ter sido ensinado por um professor. É bom saber música, o que sei levou-me a ser quem sou. Não é mau. 41 / p h i l m


ENTREVISTA

“TELLURIAN SIGNIFICA “HABITANTE DA TERRA” E PRETENDEMOS ALCANÇAR A SENSAÇÃO DE LIGAÇÃO COM AQUELES QUE NOS OUVEM, (...); ENALTECER AQUILO QUE NOS APROXIMA UNS DOS OUTROS E A NATUREZA QUE NOS RODEIA.”

SOEN TELLURIANOS S O E N S Ã O H ABITANT ES DA T ERRA MAS FA ZEM MÚS I C A DE UM O U TR O MU N D O . S O N I C A ME N T E É UM A VIAGEM PELA I MENS I D Ã O U NI VER S A L Q U E É A MÚS I C A . C O MPA R ES E O U N Ã O A OS T OOL, «T ELLURIAN» É TUD O MENOS UMA CÓ P I A – TEM O SEU Q U Ê D E O R I GIN A L , M IS T ERIOSO E AT É T RANSCEND ENTA L. O S SO EN S Ã O AG O R A UM ENTRE M U I T O S . Por: Eduardo Ramalhadeiro ANTE DE MAIS PARA B ÉN S P O R ES T E “TELLU RIAN”QUE E STÁ N O MEU T O P 5 D ES T E ANO E F OI CONSIDE RADO O MELH O R Á LB U M DOS L ANÇAME NTOS DES T E MÊS . G R A N D E ÁLBUM! – DE VO CONF E SS A R Q U E ME C R IA R A M AQUI UM PROBL E MA DOS D IA B O S , P O IS T EN H O AI NDA DE FAZ E R OUTRAS EN T R EV IS TA S E N Ã O CONSI GO PARAR DE OUVIR IS T O !

BANDA A TEMPO INTEIRO? MA RT IN LO P E Z : Soen é uma banda a tempo

M ARTI N L OPE Z : Obrigado.

inteiro e a única em que actuamos. Não sei bem o que dizer acerca das expectativas que tínhamos… Trabalhamos arduamente para fazer a melhor música que nos é possível e depositávamos esperanças elevadas no «Tellurian». O nosso público parece satisfeito com o resultado do álbum, pelo que estamos optimistas quanto ao nosso futuro.

QUANDO VOCÊ S INICIA R A M O P R O J EC T O SOEN, E SPE RAVAM VIR A T ER T O D A ES TA REPERCUSSÃO E ATING IR ES T E N ÍV EL D E ACLAMAÇÃO? PODE DIZ E R- S E Q U E S O EN É U M

N O IN ÍC IO , Q U A N D O F O R M A R A M A B A N D A , V O C ÊS T IVE R A M U M H I AT O D E S E I S A N O S . P O R Q U Ê TAN T O T E M P O E N T R E O N A S C I M E N T O D E S O EN E O L A N Ç A M E N T O D E “ C O G N I T I V E ” ?

42 / VERSUS MAGAZINE

M A RT I N L O P E Z : Foi por falta de tempo. Na

altura eu estava nos Opeth e depois, quando abandonei, fui viver uns anos no Uruguai. Desta forma Soen era mais uma ideia do que propriamente uma banda. Tínhamos algumas músicas, mas nada mais do que isso. Tudo se tornou mais a sério quando o Joel integrou a banda, antes de «Cognitive».

Q U A N T O A O N O M E , P O R Q U Ê “ TELLURI AN”? Q U E T I P O D E M E N S A G E M P R E T E N D E M PASSAR? M A RT I N L O P E Z : Tellurian significa “habitante

da Terra” e pretendemos alcançar a sensação de ligação com aqueles que nos ouvem, independentemente de quem são ou onde


ENTREVISTA

O ÁLBUM F OI PRODUZ IDO P O R P LAT B A R ZD IS . É DI FÍ CIL PARA VOCÊ S TER EM A P R O D U Ç Ã O D E UM M EMBRO DA BANDA?

EM T ER MOS A C Ú S T I C O S , « T E L L U R I A N » É IN C R ÍV EL! P O R Q U E É Q U E S E A P R E C I A M E L H O R O Á LB U M C O M U M PA R D E A U S C U LTA D O R E S N U M Q U A RT O E S C U R O ? ( E U A I N D A N Ã O EX P ER IMEN T E I A S E N S A Ç Ã O ; E M V E Z D I S S O , LIMIT O - ME A I N C O M O D A R O S V I Z I N H O S )

M ARTI N L OPE Z : Não é nada difícil. O Kim tem

MA RT IN LOP E Z : Não sei se é preciso estar

estão; enaltecer aquilo que nos aproxima uns dos outros e a natureza que nos rodeia.

tomado conta das nossas gravações desde que começámos e ele é excelente no que faz.

DEVE SE R DIF ÍCIL CONVIVER C O M A S C R ÍT IC A S QUE DIZ E M QUE VOCÊ S SÃO MU IT O PA R EC ID O S COM T OOL . PORÉ M, A PRIMEIR A B A N D A Q U E M E OCORRE É OPE TH, NA FA S E “ D A MN AT IO N ” . NADA CONTRA, ATÉ PO R Q U E ES TA S D U A S – E AGORA TAMBÉ M SO EN – S Ã O B A N D A S ENORME S E TÊ M UM L UG A R MU IT O ES P EC IA L NA M ÚSICA. NO E NTANTO , A C H O Q U E V O C ÊS TRAZEM AL GO RE F RE SCAN T E A ES T E G ÉN ER O . SENTEM DIF ICUL DADE EM P R O S S EG U IR QUANDO O PÚBL ICO VO S C R IT IC A P ELA S SEM ELHANÇAS DE E STIL O , S EN D O Q U E O Q U E QUEREM É APE NAS FAZ E R MÚ S IC A ? M ARTI N L OPE Z : Não, na realidade sinto-me

bastante orgulhoso por sermos comparados a duas das minhas bandas favoritas, e aqueles que as ouvem podem também acabar por gostar de Soen. Creio por isso que a comparação pode ser benéfica. Também não sinto a necessidade de nos destacarmos de alguma forma ou de trazermos algo de novo. Limitamo-nos a produzir a nossa arte tal como a queremos e não damos importância ao resto.

num quarto escuro com auscultadores, isso fica ao critério de cada um. Acredito, no entanto, que quanto mais uma pessoa se consiga desligar do resto e se concentre apenas em ouvir a música, mais profunda será a sensação. Mas a música tem de ser interpretada e sentida individualmente, por isso é uma questão de gosto.

U MA D A S C O I S A S D E Q U E E U M A I S G O S T O É A D ELIC A D E Z A D A V O Z D O J O E L . Q U A N D O FO R MA R A M A B A N D A , P R E T E N D I A M Q U E S O E N T IV ES S E U M A V O Z C O M O A D E L E ?

J Á A G O R A , C O M O É Q U E C O MPÕEM AS M Ú S I C A S ? T O D O S O S E L E M E NTO S S ÃO E N V O LV I D O S ? M A RT I N L O P E Z : Mais ou menos. Normalmente

eu escrevo o esqueleto da música em casa e a seguir encontro-me com o Joel para escrever as letras e ver se tem qualidade para ser trabalhada. Depois fazemos a gravação e todos contribuem, dando-lhe os retoques finais.

Q U A N T O A E S P E C T Á C U L O S A O V I VO, A VOSSA M Ú S I C A É M U I T O T É C N I C A E C HEI A DE M U D A N Ç A S R Í T M I C A S . C O M O É Q U E V OCÊS SE S I N C R O N I Z A M ? U S A M A L G U M A ‘ C LI C K TR ACK’ O U M E T R Ó N O M O N O S V O S S O S A U RI CULARES, O U T U D O N Ã O PA S S A D E M U I TA D I SC I PLI NA?

MA RT IN LOP E Z : Eu queria uma voz limpa, mas

não tinha uma ideia clara quanto ao tipo de voz que melhor nos serviria. No entanto, mal ouvi o Joel a cantar, soube imediatamente que aquela era a voz de Soen.

L O P E Z : Nós não usamos ‘click tracks’, ‘backing tracks’ ou qualquer gravação. A nossa música está muito ligada ao coração e à alma, pelo que temos de estar suficientemente livres para conseguirmos acelerar ou abrandar, conforme as sensações do momento, além de que existem ainda os ensaios.

T IV E G R A N D E D I F I C U L D A D E E M E S C O L H E R A MIN H A FA I X A FAV O R I TA , M A S O B A I X O E M “ V O ID ” É… C A R A M B A ! … B R U TA L ! Q U E M É Q U E C O MP ÔS I S T O ?

A C A PA D O Á L B U M É B A S TA N T E I NV ULGAR. H Á A L G U M A R E L A Ç Ã O C O M A M Ú S I CA/LETRA? Q U A L É O S I G N I F I C A D O E Q U E M É O ARTI S TA RESPONSÁVEL PELA CRIAÇÃO?

MA RT IN LOP E Z : Fui eu. O Kim criou o riff final

M A RT I N L O P E Z : O significado da capa está à

e o Stefan também teve alguma colaboração nessa música.

M A RT I N

mercê dos olhos de quem a vê, pronto para ser descoberto. O autor chama-se Jose Luis Lopez Galvan e trata-se de um fantástico pintor mexicano.

4 3 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“NO ENTANTO, MAL OUVI O JOEL A CANTAR, SOUBE IMEDIATAMENTE QUE AQUELA ERA A VOZ DE SOEN.”

TI VE OPORTUNIDADE DE V O S V ER A C T U A R AQUI E M PORTUGAL . O C O N C ERT O FO I EXTRAORDINÁRIO, BAS TA N T E IN T IMIS TA , DI RI A. TÊ M PL ANOS PARA V O LTA R ? M ARTI N L OPE Z : Sim, temos. Os nossos

concertos no Porto e em Lisboa fazem parte dos primeiros espectáculos de Soen ao vivo, por isso têm um lugar especial no nosso livro de história. Voltaremos assim que tenhamos oportunidade.

M UI TO OBRIGADO PE L A E N T R EV IS TA ! M ARTI N L OPE Z : Eu é que agradeço!

“NÓS NÃO USAMOS ‘CLICK TRACKS’, ‘BACKING TRACKS’ O U Q U A L Q U E R G R AVA Ç Ã O . A NOSSA MÚSICA ESTÁ MUITO LIGADA AO CORAÇÃO E À ALMA, PELO QUE TEMOS DE E S TA R S U F I C I E N T E M E N T E L I V R E S PA R A C O N S E G U I R M O S ACELERAR OU ABRANDAR, CONFORME AS SENSAÇÕES DO MOMENTO (...).” H T T P S : / / W W W. FAC EB O O K . C O M/ S O ENMU S IC HT T P : / / YO U TU . B E/ TK NV K D G T5 TC

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ENTREVISTA

“«RETRIBUTION» ALIMENTA O MEU EGO, SEM DÚVIDA NENHUMA! ESCREVER UMA TAL QUANTIDADE DE MATERIAL TORNOU REALMENTE POSSÍVEL PARA MIM “COZINHAR” O ÁLBUM À MINHA MANEIRA, AJUSTÁ-LO AO MEU PRÓPRIO GOSTO”

NIGHTINGALE SIMPLES DAN SWANÖ É UMA DAS PESSOAS MAIS VERSÁTEIS NO MUNDO DA MÚSICA. MULTI-INSTRUMENTISTA, PRODUTOR, MASTERIZADOR, ABARCA PARA ELE VÁRIOS GÉNEROS MUSICAIS E SEMPRE COM GRANDE QUALIDADE E COMPETÊNCIA. DESTA VEZ ESTIVEMOS À CONVERSA COM ELE SOBRE O SEU MAIS RECENTE PROJECTO – NIGHTINGALE. «RETRIBUTION» TEM TANTO DE SIMP LES COMO DE EFICAZ E COMPETENTE. É A PROVA QUE NEM SEMPRE A MÚSICA TEM DE SER COMPLICADA PARA SER.. BELA. Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ, DAN. CÁ E STAMOS N O VA MEN T E, D ES TA VEZ PARA FAL AR UM POU C O D E N IG H T IN G A LE. PARABÉ NS POR « RE TRIB U T IO N », U M D O S M ELHO RE S ÁL BUNS DE 20 1 4 . Dan Swanö: Obrigado, Eduardo. Fico feliz com essa opinião.

NI GHTINGAL E SURGIU COM O U MA ES P ÉC IE D E PROJE ÇÃO DO TE U E GO. A IN D A O A LIMEN TA , AO FI M DE TODOS E STE S A N O S ? Dan Swanö: «Retribution» alimenta o meu

ego, sem dúvida nenhuma! Escrever uma tal quantidade de material tornou realmente possível para mim “cozinhar” o álbum à

46 / VERSUS MAGAZINE

minha maneira, ajustá-lo ao meu próprio gosto. Mas não foi nada planeado de antemão. O que aconteceu foi que o meu irmão tinha um bloco de notas com alguns apontamentos para Nightingale, tal como eu tinha na período pré-White Darkness. Atualmente, Nightingale é uma democracia musical e, embora os outros membros da banda não tenham escrito grande coisa para este álbum, preocupei-me sempre em não pisar o risco e não incluir riffs que eu sei de fonte limpa que não agradam ao Dag, por exemplo. Portanto, de certa forma, saber o que agrada ou não à minha banda ainda orienta muito a minha composição. É importante para mim ter a sensação de que há uma grande chance de que eles gostem da maior parte do material e de o tocar, embora não tenha sido composto por eles!

P O R Q U E M U D A R A M O T Í T U L O D O Á LBUM D E « B R AVA D O » PA R A « R E T R I B U T I O N » ? Dan Swanö: Ora bem, antes de mais,

«Bravado» não estava destinado a Nightingale. Era para ser o título da sequela de «Moontower», que nunca chegou a existir. Gosto dessa palavra, logo pareceu-me que seria uma boa hipótese de título para um álbum de NG. Mas nunca consegui encontrar um conceito que se adequasse à palavra e ao seu significado. Portanto, ao fim de algum tempo, decidi pôr esse título de parte e pensei em substituí-lo por qualquer coisa como «7» ou «Nightingale»… então, um belo dia deu-me para observar atentamente uma ilustração que está numa parede do nosso quarto de dormir. Chama-se «Retribution»


“É VERDADE QUE JÁ ESCREVI MATERIAL MAIS COMPLICADO, MAS, DE FACTO, PREFIRO FAZER MÚSICA MAIS SIMPLES, COMO É O CASO DA MÚSICA DE «RETRIBUTION»” e mostra o oceano. Isso fez-me pensar e, assim, consegui organizar todas as peças do puzzle, que foi maravilhosamente ilustrado pelo Travis Smith. Foi assim que tudo aconteceu.

NA M I NHA RE VIE W – E M Q U E V O S D EI 9 / 1 0 – ESC RE VI QUE NÃO É FÁ C IL FA ZER U M EXCELENTE ÁL BUM A PA RT IR D E S IMP LES RI FFS. APE SAR DE « RE T R IB U T IO N » PA RT IR DESSA BASE , É TAMBÉ M U M Á LB U M MU IT O ESPON T|ÂNE O E CRIATIVO, D EV ER A S V IC IA N T E. PARA UM HOME M COMO T U , H A B IT U A D O A ESCREVE R MÚSICA MA IS “ C O MP LIC A D A ” , COM O F OI COMPOR E STE Á LB U M? Dan

Swanö:

Muito

obrigado!

9/10

é

fantástico!!! É verdade que já escrevi material mais complicado, mas, de facto, prefiro fazer música mais simples, como é o caso da música de «Retribution». O material novo que escrevi para Witherscape também não é assim tão difícil de tocar… mas tocá-lo de forma precisa, exactamente como deve ser, com o sentimento certo, a estrutura correta e por aí adiante pode converter-se num verdadeira provação. O Ragnar que o diga! O meu processo de composição teve como base eu escrever um riff ou improvisar algo no teclado e gravar o material obtido no meu telemóvel. Ao longo dos anos, sempre consegui destrinçar o material destinado a Nightingale do que se adequava a Witherscape. Depois, comecei a analisar o material de NG e a experimentar tempos diferentes para os riffs e, ao fim de algum tempo, torna-se claro, na minha mente, o que vai dar um verso, o que vai ser um refrão, etc. E, a maior parte das vezes, é preciso escrever mais material para “agregar” as várias partes. Cortas um fragmento de uma faixa, que se converte na génese de uma nova canção. É o caso de “Voyage of Endurance”, que começou por ser uma parte do final de “On Stolen Wings”. Depois de essa canção ter sido simplificada, sobrou esse riff, mas o meu irmão gostou tanto dele que eu decidi convertê-lo no ponto de partida para fazer uma nova música.

POR QUE ATRIBUÍSTE AO ER IK O S K A R S S O N E AO TOM BJÖRN A RES P O N S A B ILID A D E D E ESCREVE R AS L E TRAS? Dan Swanö: Eles não escreveram tudo. Eu

também escrevi uma boa parte delas. Mas eu adoro a forma como o Eric e o Tom escrevem as suas letras. Ajustam-nas sempre muito bem às características da voz e eu só preciso de fazer umas alterações mínimas para me sentir confortável quando as canto. Têm sempre ideias fantásticas e não se ensaiam nada para deitar a lixo algo que escreveram e começar do zero, para inventarem algo novo, em termos fonéticos!

É M UI TO DIF ÍCIL PARA T I C A N TA R A LG O Q U E TENHA SIDO E SCRITO POR O U T R O S ? Dan Swanö: Às vezes, sim. Tenho dificuldade

em cantar na primeira pessoa, quando não fui eu que escrevi as letras… Por isso, pedi-lhes para escreverem na terceira pessoa e assim sinto-me mais como se estivesse a contra algo sobre alguém que não tem nada a ver comigo. Isso facilita as coisas. Se tenho de cantar na primeira pessoa, é melhor ser eu a escrever as letras, porque assim encarno mais facilmente a personagem, deixa de ser algo tão abstracto. É o que acontece em “Divided I Fall”, em que me sinto como se

estivesse a cantar do ponto de vista da velha alma dentro da segunda parte agonizante de um gémeo siamês.

H O U V E A LG O Q U E D I S S E S T E Q U E M E C H A M O U A AT EN Ç Ã O : “ C O M P R E I A L G U N S I N S T R U M E N T O S Q U E ME IN S P I R AVA M E O S R I F F S C O M E Ç A R A M A EMP ILH AR - S E . E S TAVA A R E S E RV Á - L O S PA R A A LG O Q U E I R I A S E R U M Á L B U M D E D E AT H META L, M A S A L G U N S A C A B A R A M P O R S E C O N V ERT ER E M M AT E R I A L Q U E P O D E R I A S E R U S A D O PA R A U M F U T U R O L A N Ç A M E N T O D E N IG H T IN G AL E . ” A C H E I E N G R A Ç A D O , P O R Q U E , A PA R EN T EM E N T E , E S TAVA S A E S C R E V E R R I F F S D E D EAT H M E TA L E A C A B A S T E C O M U M Á L B U M D E A O R /R O C K Á L B U M . O N D E F O R A M PA R A R O S R IFFS D E DE AT H M E TA L ? Dan Swanö: Estão mesmo aqui, na minha

secretária. ahah Há quase uma década que ando a coleccionar riffs para um álbum desse género e espero conseguir “dá-lo à luz” até ao fim de 2016. Nunca fiz um álbum de Death Metal completamente sozinho, por isso vai ser de arrasar!

P EN S O Q U E T E N S D A Q U E L E S F Ã S “ C O R I Á C E O S ” E ES TA ES T E L A N Ç A M E N T O N Ã O É N A D A T Í P I C O D A P R O D U Ç Ã O M E TA L S WA N Ö . T E N S M U I TA G EN T E A D I Z E R - T E Q U E E S T E Á L B U M N Ã O P R ES TA ? ( R E C O R D O - T E Q U E , PA R A M I M , É U M D O S MELH O R E S D E 2 0 1 4 . ) Dan

Swanö: De modo nenhum! Até agora parece que toda a gente adorou «Retribution»! É verdade que também já tínhamos feito material mais suave antes, portanto, por esta altura, os fãs de NG já estão habituados à ideia de que isso nos acontece de vez em quando. Afinal, este álbum também só tem um pouco mais de material AOR do que é costume. A pior review que tivemos até agora deu-lhe 3/5 e foi de uma revista de guitarra. Como me disseram que eles raramente dão 5/5, parece-me que afinal até gostaram bastante! A S V O S S A S I N F L U Ê N C I A S S A LTA M À V I S TA : A S IA , FO R E I G N E R O U J O U R N E Y ( S E I D E FO N T E LIM PA Q U E O U V E S A S I A ) . T E N S M A I S A LG U MA S I N F L U Ê N C I A S PA R A A L É M D E S TA S , NO QUE TOCA À MÚSICA DE NIGHTINGALE? Dan

Swanö: A maior influência de Nightingale é… surpresa: Nightingale. Quase todas as canções do novo álbum têm um irmão/uma irmã num outro lançamento. Gosto de dar família às minhas músicas. No que diz respeito à composição, nunca deixo uma canção de Nightingale ser tão inspirada por outra banda que isso salte à vista. No entanto, não escondo o facto de que queria que algumas canções deste álbum lembrassem aos ouvintes êxitos como “Shadowman”, “Glory Days” e outro material desse estilo. Mas também não quero comentários do género “Uau, esta canção parece-se mesmo com “Cold as Ice” ou “Heat of the Moment”.” Não gosto nada disso. Algumas das canções lembram outras a quem eu queria render homenagem, mas a composição está longe de se confundir com elas… Por exemplo, “Echoes of a Dream” tem um verso inspirado em “Blackbird” dos Alter Bridge. O refrão é algo que eu escrevi para o meu projeto “em coma” Second Sky e que ligava às mil maravilhas com esse verso. O ultimo riff de “Echoes..,” é quase uma cópia do final de “Alive again”, ms também tem um pouco do primeiro riff de “Crimson”, que, por

sua vez, foi “roubado” de “Eye for an Eye” de... Nightingale :) A canção “The Maze” tem três partes, cada uma das quais faz subir um pouco a clave. O verso é em D#, a parte intermédia (ponte) em F e o refrão em F#.., nunca tinha feito isso antes… e queria que soasse tal e qual como “Killing Machine” dos Judas Priest ou “Burnin’ Up” Aquela música arrepiante e cheia de groove que se chama “Divided I Fall” traz à memóira ecos de “Entangled”, dos Genesis, misturados com “June”, dos Spock’s Beard, mas, mesmo assim... são apenas melodies que eu e o meu irmão vamos apanhando aqui e ali..

U M A D A S M I N H A S FA I X A S FAVORI TAS É “ C H A S I N G T H E S T O R M AWAY ” . P ENSO QUE C O N C E N T R A E M S I T O D A S A S I NFLU ÊNCI AS A O R – E E S S A C A N Ç Ã O É T Ã O P O RREI RA!!! A O M E S M O T E M P O , PA R E C E Q U E P R OVA QUE, DE FA C T O , É P O S S Í V E L FA Z E R U M A BOA C ANÇÃO A PA RT I R D E S I M P L E S R I F F S . E STA C ANÇÃO TA M B É M É A M E L H O R D O Á L B U M PARA TI ? FA L A - N O S U M P O U C O D I S S O . Q U EM ES TÁ A P E R S E G U I R A T E M P E S TA D E E P O R QUÊ? Dan Swanö: É a única que foi feita pelo meu

irmão e, realmente, eu queria que ela tivesse um lugar de destaque neste álbum, porque, tal como tu, também a adoro! Tem uma atmosfera AOR completamente diferente da do meu material. Algumas pessoas disseram que fazia pensar em Dire Straits (!!) e eu acho que ela evoca “Road to hell”, de Chris Rea. É mesmo uma canção clássica. É mesmo antiga e eis o que o meu irmão tem a dizer sobre ela; tal como a maior parte das minhas canções para Nightingale, esta recua bem no passado, para ser exato a 1982. Toquei esta música, “Hunger”, com a minha banda Original alguns messes antes de acabarmos. Não tenho nenhuma gravação dela, mas penso que é bem parecida com esta que fiz agora. Também acho que não posso esquecer que os meus companheiros de banda me ajudaram nos arranjos. Reutilizei a canção, com outra letra, em 1991 e lancei-a numa cassette (retro). Era uma canção de amor intitulada “Det är ett nöje att få gömma sig med dig”. Uma das minhas. Quando chegou o momento do rock para o novo álbum de Nightingale, encontrei-a e reescrevi a parte intermédia (era demasiado soft, mesmo para NG). Nessa altura chamavase “Car driving songs”. Como sempre, cantava uma letra em quase Inglês com muitas palavras indecorosas. Erik conseguiu usar algumas delas na versão final da letra (as decentes). Um belo trabalho! E aqui está ela. Com um video sexy… ainda chega a hit!

E C O M O A N D A M A S C O I S A S COM AS E D I T O R A S ? C O N T I N U A M A T E R O MES MO TI P O D E C O M P O RTA M E N T O ? Dan Swanö: Por esse lado, corre tudo

bem. Quando eu substituo níveis de som insanos por um DR6 ou DR7, eles mantêmse calmos. Mas baixar até um DR10, etc. não vai acontecer tão cedo. Há sempre uma boa percentagem de clientes que vai querer saber que problema tem o seu CD para fazer tão pouco barulho… está-se mesmo a ver…

O B R I G A D O P E L A E N T R E V I S TA ! Dan Swanö: Não tens de quê! WWW.DA N SWAN O.COM HTTP://YOUTU.BE / SN - DT T N CEPO 4 7 / VERSUS MAGAZINE


GARAGE POWER

“PODEMOS DIZER QUE ESTAMOS OPTIMISTAS PARA O QUE AÍ VIRÁ. ESTAMOS COM VONTADE DE TRABALHAR O QUE É ESSENCIAL PARA QUE AS COISAS CORRAM BEM.”

CLUTTER ENERGIA PROGRESSIVA H O J E E M D I A É DIFÍCIL DIST INGUIR AS B A NDA S D E G A R A G EM DE TO D A S A S O U TR A S . S E A N TE S E L A S REFERÊNCIAVAM -SE PELO SO M CA S EI R O E P ELO S FR A C O S R EC U R S O S , H O J E E L A S A P R O X IM AM -SE M UIT O DAS OUTR A S , E PO D EM ATÉ MOS TR A R MA I S QU A LI D A D E E O R I GIN A L ID A D E . O CASO DOS CLUT T ER APR O X I MA-S E DA S I DEI A S NA S PR EMI SS A S ANTE R I O R ES , E P OR E S S A S E POR OUT RAS A VERSUS MAG A ZI NE OU V I U TALENTO E B O A S P R O MESS A S D E F U TU R O , N U M « O BSIDIAN» CHEIO DE BOA S O NOR I D A D E. O G O NÇA LO , GU I TAR R I S TA E FU N D A D O R D A B A N D A , E O SÉRGIO, BAT ERISTA, FALA M-NO S EM TRA B A LH O E NOU TR A CO I S A : A C R ED I TA R . Por: Victor Hugo O S C LU T T E R N AS C E RA M E M 2 0 1 1 , E EM 4 A NO S A L C A N Ç A R A M E ST E « OB S I DI A N», S EM ES Q U EC ER O V O S S O E P D E 2 0 1 2 , « E MER G ENC E». C O MO FO I C H EG A R A O « OB S I DI AN » A S S I M NU M C U RTO ES PA Ç O D E T EMP O ?

GONÇAL O:

Clutter iniciou-se de uma forma um pouco diferente quando comparada com a maioria dos projectos, que na maioria, começam com um grupo de amigos a tocar numa garagem. Objectivamente tudo começou quando eu comecei a gravar uns riffs em casa, um pouco por influência de artistas como Keith Merrow e Bulb que usufruiam

48 / VERSUS MAGAZINE

das novas tecnologias para gravar tudo pelas próprias mãos. A facilidade que existe actualmente em gravar riffs e programar baterias permitiu que tudo isto tomasse um rumo mais sério. Entretanto juntei alguns amigos e foi aí que realmente se formou Clutter. Fomos gravando grandes quantidades de material o que proporcionou o lançamento dos 2 trabalhos num espaço de 4 anos, o que na minha perspetiva foi um longo espaço de tempo. Era suposto termos lançado mais material, ou pelo menos, ter lançado o “Obsidian” muito mais cedo. Tal não se sucedeu devido às mudanças profundas de line-up e outros fatores condicionantes (escola, trabalho etc.) que se fizeram sentir depois do lançamento do EP “Emergence”.

O VOSSO ÁL BUM SAIU E M JANE IRO , HÁ POUCO TE MPO, PORTANTO. ATÉ E NTÃO, COMO T ÊM SI DO AS RE ACÇÕE S?

SÉRGIO:

As reações têm sido bastante boas! Arriscaria a dizer que 95% do feedback é positivo, o que para nós é muito bom mesmo. Apesar de termos boas expectativas quanto ao álbum, estavamos um pouco reticentes quanto ao feedback que este ia ter e quanto ao número de pessoas que conseguiriamos alcançar. Tudo isto devido ao facto da banda ter estado em”stand-by” durante uns bons tempos. No entanto estamos, sem dúvida, muito satisfeitos com


GARAGE POWER as reações e comentários que o álbum tem recebido até agora.

A C H E I B A S TAN T E C U R I OS O O FA C TO D E NÃ O TO C A R EM C O M U M B A I XI STA. E M V E Z D IS S O TO C A M C O M TR ÊS G U I TA R R I STAS . P O R Q U Ê E STA P R EFER ÊNC I A ?

GONÇAL O:

Quanto ao facto de não termos baixista, posso dizer que foi a consequência das profundas alterações de line-up. Depois das mesmas chegamos a um ponto em que até pensamos em usar baixo nas backing tracks, mas acabámos por desistir dessa ideia. Podemos divulgar que já temos baixista. É algo muito recente, mas a pessoa que irá ocupar esse cargo além de ser um bom músico e amigo é alguém em quem depositamos total confiança. Quanto aos 3 guitarristas, a explicação mais simples é que assim evitamos “playbacks”. O álbum tem muitas faixas e muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo. Desta forma, ao vivo, evitamos usar faixas adicionais nos backing tracks para reproduzir o que se ouve nas músicas, pois temos mais um guitarrista que fará esse trabalho.

«O B S I D IA N » É UM ÁL BU M C O NC EP TU A L Q U E TEM C O M O F I GU R A C E N T RA L UM A R A PA R I G A Q U E LU TA P E LO S SE US D I RE I T OS . QU ER EM FA LA R U M P O U C O M A I S SO B R E A HI ST ÓR I A QU E O Á LB U M C O NTA ?

GONÇA L O :

O álbum começa com a nossa heroína, de um futuro não muito distante, a ser presa, condenada a ser adormecida, petrificada num sonho induzido para toda a eternidade. É neste sonho induzido que ela procura, por pistas, em como se libertar do mesmo. Entretanto depara-se com uma figura sombria, figura essa que representa uma parte dela que sabe todas as respostas para as perguntas que ela tanto tem colocado. Este profeta (figura sombria) diz-lhe que esta tem de morrer pois é essa a solução para a sua libertação. A narrativa do álbum passa pelo processo de aceitação do seu destino cruel até à sua libertação. Para quem quiser ler a história minuciosamente consultem a nossa página de bandcamp! Eu sou um consumidor assíduo de séries e filmes, e desta forma posso dizer que fui um bocado influenciado por várias coisas que vi, sendo que a maior inspiração talvez tenha sido a saga dos livros de “The Hunger Games”, cujos filmes me desiludiram um bocado!

A H I S T Ó R I A É BA S TAN T E P O R R EIR A , A MEU V ER , E E N C O N T RE I N O S E U R E SU MO A LG U MA S ID EIA S I N T ER ES SA N T E S, C O M O A P R EO C U PA Ç Ã O P ELO P L A N E TA E PE L A HU M A N I D A D E, O U MES MO Q U ES TÕ ES M A I S É T I C A S . H Á AL GU M A M ENS A G EM, O U V Á R I A S , Q U E Q U E I R A M T R A N SM I T I R? NO FU ND O , H Á A L G U M P R O P Ó S I T O VO S S O A O ES C R EV ER EM ES TA H I S T Ó R I A?

GONÇAL O:

Apesar de ter certamente a ver com uma certa preocupação pela forma como o nosso planeta é gerido de forma egoista, a historia por trás do disco, desde o momento em que a heroína é presa até que ela se liberta, tem a ver com a força de vontade para superar uma situação adversa, por mais sinistra que esta possa parecer. Desde há muito tempo que tinha intenções de escrever um álbum conceptual. É sempre interessante que haja uma história que possa conduzir o progresso de um disco. Achei que o “Obsidian” era a altura ideal para o fazer e então fui construindo a história ao longo do processo de gravação do álbum.

A C A PA DO ÁL BU M I L US T RA , C LA R O , A H IS TÓ R IA Q U E EL E R ES E RVA . Q U E M F OI O AU TO R D A C A PA ?

SÉRGI O :

Sou eu o autor da capa. O Gonçalo, consoante a temática do álbum, explicou-me os elementos que ele chava que a capa deveria apresentar e assim, consoante os mesmos, elaborei um esboço desses elementos que mais tarde, depois de algumas alterações, se tornaram na capa.

FA LA N D O U M P O U C O S O B R E A P R O D U Ç Ã O D O Á LB U M. O G U I TAR R I STA G O N ÇA L O C R ES P O É O R ES P O NS Á V EL P E LA P R O D U Ç Ã O E M I S T UR A . IS S O FA C I LI TO U - V O S ,

C A LC U LO , E M ATINGIR A SONORIDADE F INAL DO Á LB U M? P ENSARAM E M TRABAL HAR COM OUTRO P R O D U TO R ?

G O N Ç A LO :

Posso dizer que de certa forma sim e de certa forma não. Sim porque sendo só uma pessoa por trás deste processo facilita um pouco o mesmo. A ideia de como tudo tem de soar está presente somente na cabeça de quem está envolvido, e sendo só uma pessoa ajuda a que não haja dispersão de ideias havendo assim uma linha recta entre o início de produção e a meta a atingir. Não porque sou perfeccionista por natureza e, mesmo sendo só uma pessoa, tive de combater os meus próprios demónios no que diz respeito à procura intensiva do som ideal para o álbum. Foi nesta fase que o Diogo (Diogo Barbosa - Guitarrista) me ajudou e apoiou bastante pois eu já não sabia para que lado me virar. Somos apologistas do “Do it Yourself”, e como tal nunca pensamos em trabalhar com outro produtor; mas não pomos essa hipótese de lado para futuros lançamentos.

ganhar alguma coisa ao contratar uma banda mas o que não falta por aí são relatos de “falsos” contratos que acabaram por correr mal. É preciso ter cabeça fria e não cair nas tentações de qualquer proposta de contrato que aparece.

HTTPS://CL UTTE RPT.BA N DCAM P.COM WWW.FACE BOOK.CO M / CLUT T ERPT HTTP://YOUTU.BE /C EM QT O7I CQK

TR A B A LH A R AM COM AL GUNS CONVIDADOS NA LG U NS TE M AS. QUE RE M FAL AR SOBRE E SSAS PA RTI C I PA Ç ÕE S?

S ÉR G IO :

Estas participações foram tudo parte do longo processo que foi a gravação do álbum. Optamos por ter estas participações pois achamos que encaixavam e complementavam as músicas. Para além disto todos os colaboradores são exmembros de Clutter e amigos/as.

C O MO P R ETENDE M PROM OVE R O VOSSO ÁL BUM ? TÊ M MU ITO S C O N CE RTOS AGE NDADOS?

S ÉR G IO :

A promoção do álbum passa um pouco por trabalho próprio no que diz respeito a redes sociais e a todas as plataformas inerentes às mesmas. Depois, claro, tentar ter o máximo de ajuda externa possivel como as revistas, webzines, review etc. para que possamos alcançar o máximo de pessoas possivel. Neste caso, agradecemos desde já à Versus Magazine pela oportunidade que nos deram de aqui expor o nosso trabalho. Esta ajuda externa é uma mais-valia e sem dúvida que é um dos pilares da promoção do álbum. Tudo isto pertence à fase de laboratório da promoção. Entretanto há a fase de exposição do trabalho do forma “vívida”que consiste nos concertos e na venda do formato fisico do álbum, algo que estamos de momento a preparar! Temos um concerto agendado (Dia 25 de Abril no Beat Club, em Leiria com The Year e Iodine) e estamos a negociar outros de momento. O objetivo é tocar o máximo possivel, pois essa é, também, uma parte fulcral da promoção do Obsidian.

C O NS EG U EM OL HAR PARA O VOSSO F UTURO E D I ZER EM- NO S O QUE VÊ M ? COISAS BOAS PARA OS C LU TTER ?

S ÉR G IO :

Podemos dizer que estamos optimistas para o que aí virá. Estamos com vontade de trabalhar o que é essencial para que as coisas corram bem. Esta é uma formação nova e estamos ansiosos para tocar ao vivo juntos. Além disto, até aqui, o Gonçalo tem sido a base fulcral de Clutter, foi ele que compos 95% ou mais do álbum e foi ele que o produziu e tal como ele diz, o futuro da banda passa por ser mais Clutter e menos Gonçalo. Isto torna o futuro de Clutter num desafio que estamos prontos a enfrentar com todo o gosto!

ATI NG I R U M CONTRACTO DISCOGRÁF ICO COM UM A ED ITO R A É UM DOS GRANDE S OBJE CTIVOS DE UMA B A ND A . ES TÁ NA VOSSA L ISTA E SSE OBJE CTIVO? C O MO O LH AM AGORA, NO NOSSO TE M PO, PARA ES S A S R ELA ÇÕE S E NTRE BANDA E E DITORA? QUAL A V O S S A O P I NIÃO SOBRE O ASSUNTO.

S ÉR G IO :

Sem dúvida que é um dos nossos objetivos, mas hoje em dia é cada vez mais dificil atingir um contrato discográfico “digno”. O mundo da música sempre foi um negócio mas ao longo dos tempos este interesse pelo negócio aumentou exponencialmente. Como eu costumo dizer, actualmente a maioria das editoras olham só para o seu umbigo e pretendem crescer à custa das bandas e não trabalhar em conjunto para o sucesso das mesmas. Obviamente que as editoras têm que

C L U TTE R «Obsidian» (Edição de Autor) Não foi dificíl assimilar a música dos Clutter nesta estreia em longa-duração, até que musicalidade é o que melhor poderá adjectivar o «Obsidian». Além disso, o que nos faz ficar agarrados ao álbum é a sua harmonia, que curiosamente é um resultado da diversidade que ao longo dele abunda. Poder-se-ía colocar os Clutter no saco das bandas que tocam aquele Metal moderno, por assim dizer, mas seria muito redutor e injusto. Para além do Djent, estilo meshuggahniano que se destaca pelos acordes pesados e cheios das guitarras, podemos ouvir neste «Obsidian» um balanço entre a agressividade e a melodia, facetas que ao longo do álbum comunicam entre si. As vozes ora berradas, ora surpreendentemente melodiosas fazem uma fusão perfeita ora com os acordes cheios e pesados, ora com as linhas melódicas e ambientais muito bem proporcionadas pelas guitarras - sem esquecer os solos que são muito bem conseguidos. Quanto ao ritmo, há também por aqui muita harmonia. Desta feita, podemos encontrar tanto ritmos acelerados, como ritmos cadenciados, muito bem arranjados por uma bateria que não consegue ser monótona. Em suma, estamos perante um álbum com bastantes elementos do Progressivo. Além de toda esta musicalidade, como já referi, podemos encontrar uma história a par dela. Os Clutter contam uma história que vale a pena prestar atenção, até que eles têm uma mensagem para transmitir. O resultado disto tudo só pode ser muito positivo. Estou muito surpreendido com este trabalho, e posso afirmar, sem reservas, que mal 2015 começou já estou a listar os melhores do ano - a começar com Clutter. Espero mais trabalhos deles.

[ 1 0 / 1 0 ] V I CTO R HUGO

4 9 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[...] A QUÍMICA QUE SE SENTE NA BANDA NUNCA FOI TÃO FORTE.”

RESISTANCE A SEMENTE DA EVOLUÇÃO DA BÉLGICA CHEGA-NOS O NOVO TRABALHO “THE SEEDS WITHIN” DESTA BANDA DE DEATH METAL TORTUOSO, C O M A IN T E N Ç Ã O DE M OST RAR QUE CHEGARAM À ESTAB I LI D A D E E EV O LU Í R A M NO QU E HO J E CO NSI D ER A M SER O SEU PONTO DE REFERÊNCIA. ESTIVEMOS À CONVERSA COM JONAS SANDERS, BATERISTA DO QUINTETO. Por: Adriano Godinho

Q U E M SÃ O O S R E SISTANCE E COM O D E S C R E VE RIA S A SUA M ÚSICA? JONAS

S AN DE R S:

Resistance é constituído por cinco pessoas. Shaun VC e Oli Dris nas guitarras, Ben Sizaire que é elemento fundador da banda, toca baixo, Zerus nas vozes e eu, Jonas Sanders, na bateria. Resistance é, na sua essência, uma banda de death metal. Além disso, como todos os elementos vêm de meios diferentes, acabas por ouvir melodias mais black mas também 5 0 / VERSUS MAGAZINE

partes mais hardcore aqui e ali.

O QUE S IG N IF IC A E S T E SEEDS WIT H IN ” PA R A T I?

“THE

J O N A S S AND E R S : Este é o nosso quinto

álbum e é o primeiro onde todos os elementos estiveram envolvidos em todos os aspectos da sua criação (escrita, layout, etc.). Tentamos fazer o que melhor fazemos, escrever músicas eficientes com componentes melódicas. Foi nosso desejo fazer

deste álbum algo mais fácil de ouvir, comparado com os trabalhos anteriores. A química que se sente na banda nunca foi tão forte e estamos todos desejosos de tocar estas novas músicas ao vivo. É brutal, intenso e rápido; tudo o que gostamos.

E S T E Á L B U M E S T Á C A RREGADO D E E N E R G IA , D IR IA S Q UE É O IN G R E D IE N T E P R IN C IPAL DA V O S S A M Ú S IC A ?


“[...] (O ÁLBUM) É BRUTAL, INTENSO E RÁPIDO; TUDO O QUE GOSTAMOS!” DIRIAS QUE A M ELODIA O U INTR O S P E CÇ ÃO É ALGO S A C RIF ICA D A PARA ENTREGAR S E M PRE MA IS E MAIS ENERGIA, O U AC H A S Q U E CONSEGUEM UM E Q U I LÍBR IO ? É PR EM EDITADO OU É A S S I M, C O MO É? JONAS

SAN DE R S: É premeditado porque gostamos de coisas agressivas e intensas. A energia é a base e partimos daí á procura das melodias para fazer variar a intensidade na evolução da música. O contraste pode ser menos óbvio que no álbum anterior. Passamos por uns momentos duros nos últimos anos e isso transparece na música deste trabalho. Não planeamos muitos quais riffs, melodias ou mudanças de tempo vamos usar, limitamo-nos a escrever musica que gostamos. Consideramos o acto de composição como algo de espontâneo e fazemos coisas que dos dá gozo tocar.

A P Ó S TANTA S ALTERAÇÕES NOS E L E ME NT OS DO PROJECTO, A C R EDITO Q U E NÃO SEJA FÁCIL MA N T ER C O NC E ITO INICIAL DO P R O JE CTO . PO D ES EXPLICAR A O S NOS S O S LE ITORES O QUE R E A L ME NT E MUDOU DURANTE ESTE T EMPO , ACHAS QUE C O N SEG U E S H O J E PERCEBER A C A U SA ? JONAS SAN DE R S: De facto sofremos

algumas mudanças ao longo do tempo, mas penso que deve-se às relacções que se criam entre as pessoas com quem tocas e fazes digressões. Resistance fez 10 anos em 2014, é bastante tempo. Ao passar dos anos, as pessoas evoluem, por vezes mudam e decidem focaremse noutras prioridades. Hoje, o actual lineup tem 4 anos, estabilizou e estamos muito satisfeitos com a forma como as coisas evoluíram na banda. Além de que, claro, com novos elementos, novas influencias foram trazidas e o conceito mudou, claro. Mas queremos acreditar que foi para melhor.

F O I F ÁC IL C R IA R E GRAVAR MÚ S IC A PAR A ES TE ÁLBUM ? JONAS

S AN DE R S: A composição levou á volta de um ano e meio, mas fluentemente. Não nos pressionamos a nós mesmos, não tentamos

despachar-nos para poder entregar a música mais honesta possível. As gravações correram muito bem, porque toda a pré-produção foi feita no meu estúdio e no do Shaun antes de começar as gravações finais. Além que todos nesta banda foram muito profissionais, cada um sabe o seu papel e o que tem a fazer. As gravações duraram cerca de duas semanas, a edição e masterização seguiu durante o mês seguinte.

QUAIS S Ã O , PA R A T I, O S M ELHORE S M O M E N T O S D E S T E “THE SEE D S W IT H IN ” ? J O N A S S A ND E R S : Na minha opinião,

acho a faixa de abertura “Cross the River” um sucesso. É muito in-yourface e é bem representativa de todo o álbum. No entanto, pessoalmente, a “Darkness Arise” é a minha favorita. Acho-a a que tem um melhor primeiro contacto; é uma soma de várias influências, tem várias mudanças de ritmo e boas melodias.

QUAIS S Ã O O S T E M A S Q U E M A IS INFLUEN C IA M A V O S S A M Ú S IC A ? J O N A S S A ND E R S : Diria que são as mais comuns no death metal, isto é, a morte, o céu e o inferno, os defeitos do ser humano, só coisas muito positivas (risos).

somos face ao que se pode abater sobre nós, a passagem por momentos duros na vida e o nosso comportamento auto-destrutivo enquanto seres humanos.

A Q U A L ID A D E D A P R O D U Ç Ã O N ESTE T R A B A L H O E S T Á M U ITO BOM , P O D E S N O S C O N TA R M A I S COM O E O N D E G R AVA R A M , P R O DUTORES E E Q U IPA E N V O LV ID A ? FORAM E S C O L H ID O S P O R V Ó S ? J O NA S S A ND E R S : Gravamos o álbum

na Bélgica, no estúdio Noise Factory, com o Gerald Jans como engenheiro de som. Fomos para lá porque alguns dos membros da banda já tinham trabalhado com ele previamente. O equipamento e espaço disponível eram o que procurávamos. Utilizamos o mesmo material que nos sets ao vivo para criar o som “Resistance”. O Shaun optou por um som de guitarra mais crunchy e definido, misturamolo com o som mais desenvolto do Oli. O som do baixo é redondo e com um toque de drive para preencher os espaços na música. Para o som da bateria, nós quisemos algo muito “espalhado” mas tentamos obter o som mais natural possível. A masterização e edição tiveram a cargo do Zack Ohren, no estúdio “Castle Ultimate” em Oakland, na Califórnia, e fez este monstro deste álbum, soar muito poderoso.

QUEM F E Z A C A PA D O Á L B U M ? TEM ALG U M S IG N IF IC A D O ? J O N A S S AND E R S : O artista por detrás

de toda componente gráfica é Olivier Lomer. Já trabalhamos com ele para o álbum “To Judge and Enslave” e como gostamos muito do que ele fez, voltamos a pedir os seus serviços para este álbum. Trabalhamos da seguinte forma: mostramos-lhe as letras e a música, a partir daí ele constrói um conceito á volta disso. O trabalho dele é obscuro, intenso e encaixa perfeitamente na nossa visão das coisas!

QUEM ESC R E V E A L E T R A PA R A A BANDA E Q U A IS S Ã O O S T E M A S PRINCIPA IS N E S T E “ T H E S E E D S WITHIN”?

“ [ . . . ] E S TA M O S M U I T O S AT I S F E I T O S C O M A FORMA COMO AS COISAS EVOLUÍRAM NA BANDA.”

W W W. R E S I S TA NCE666.NET W W W. B L A C K O U TS TU DI O.BE W W W. C A S T L E U LT I MATE.COM H T T P : / / Y O U T U . B E / F BFZR _YYUNY

J O N A S S AND E R S : Neste trabalho, eu e o Shaun é que escrevemos as letras. Mas o vocalista (Xe) teve sempre a sua palavra a dizer. As letras sao pesadas e depressivas. Mostra metaforicamente quão impotentes

5 1 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“[…] FOI ESSA IDEIA – GRAVAR ALGO BELO – QUE ME AGRADOU TANTO QUE ME FEZ ADOTAR ESSA PALAVRA PARA DESIGNAR A MINHA BANDA. […]”

SAILLE ARQUITETOS DE PONTES É O QUE SE PODE DI Z E R DE U M A B A N D A Q U E , C U R I O S A M E N T E , U N E DOIS ESTILO S M USICAIS QUE O SE N S O C O M U M C O S T U M A V E R C O M O S I T UADOS NOS ANTÍP ODAS UM DO OUTRO: A M Ú S I C A C L Á S S I C A E O B L A C K ME TAL . M AS S E R Á M E S M O A S S I M ? Por: CSA POR QUE ESCOLHERAM O NOME DE UMA LETRA PARA A VOSSA BANDA? ESSA LETRA TEM ALGUM VALOR SIMBÓLICO QUE PRETENDAM EXPLORAR NA VOSSA MÚSICA E RESPETIVAS LETRAS? DRIES:

Todas as letras deste alfabeto arcaico irlandês eram representadas sob a forma de árvores. Assim, “saille” significa “salgueiro” (“salix”) e não era escrita, mas sim gravada, escavada em árvores ou pedras. Foi essa ideia 5 2 / VERSUS MAGAZINE

– gravar algo belo – que me agradou tanto que me fez adotar essa palavra para designar a minha banda. Por outro lado, é um nome curto, que se adapta às mil maravilhas à música que fazemos.

GOSTO DO BLACK METAL FEROZ E OBSCURO, MAS TAMBÉM MELÓDICO QUE SAILLE FAZ. NA TUA OPINIÃO, QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA VOSSA BANDA, QUE SE INSERE NUM UNIVERSO

MUSICAL QUE SE VEM A AFIRMAR HÁ MAIS DE TRÊS DÉCADAS? D R IE S : Acho que fazemos música de um

modo equilibrado. Tocámos Black Metal rápido e melódico, cheio de pequenos detalhes. Recorremos a teclados e instrumentos clássicos, mas não abusamos desses recursos. Além disso, esforçamonos ao máximo por fazer música de qualidade para quem quer ouvir os nossos álbuns, assistir aos nossos concertos, comprar o nosso merchandising. O segredo está nos pormenores!


“[…] RECORREMOS A TECLADOS E INSTRUMENTOS CLÁSSICOS, MAS NÃO ABUSAMOS DESSES RECURSOS. […] O SEGREDO ESTÁ NOS PORMENORES!” QUE TIPO DE MÚSICA ANDAM OS MEMBROS DA BANDA A OUVIR NESTE MOMENTO? TEVE ALGUMA INFLUÊNCIA NA CRIAÇÃO DE «ELDRITCH»? DRI ES:

A banda conta com seis membros, todos com gostos musicais diferentes. É claro que, até certo ponto, isso influencia o nosso trabalho, mas é muito difícil dizer em que aspeto influenciou a composição deste álbum, já que «Eldritch» foi escrito a partir da perspetiva de um guitarrista e tanto o Jonathan [Vanderwal] como o Reinier [Schenk] – os dois guitarristas da banda – ouvem ziliões de bandas. Baseia-se numa amálgama de Black e Death Metal.

QUE OBRAS DA LITERATURE DE HORROR ESTÃO PRESENTES NESTE ÁLBUM? DRI ES: “Emerald” baseia-se no “Estudo

em Esmeralda, de Neil Gailman, que, por sua vez, foi inspirado pelo “Estudo em vermelho”, uma história de Sherlock Holmes escrita por A.C. Doyle. “Walpurgis” baseia-se no “Fausto”, de Goethe (mais propriamente em notas que o autor tomou acerca do festival blasfemo chamado ”walpurgis nacht” de que pretendia tratar. “The Great God Pan” deriva da novela do mesmo nome da autoria de Arthur Machen. “Aklo” baseia-se nas novelas gráficas “The Courtyard” e “Neonomicon, com texto de Alan Moore e desenhos de Jacen Burrows. “Cold War” saiu do brilhante “Who Goes There?”, de John W. Campbell, que também deu origem ao filme “The Thing”. “Eater of Worlds” é a nossa versão do “It”, de Stephen King. “Red Death” baseia-se no conto “The Masque of the Red Death”, de Edgar Alan Poe. “Dagon” vem da obra “The Shadow over Innsmouth”, de H.P. Lovecraft (não do conto homónimo, embora se trate da mesma entidade). Por fim, “Carcosa” corresponde ao texto integral da Cena 2 do Ato1 de uma peça de teatro citada em “The King in Yellow”, de Robert Chambers.

E QUAL DESSAS REFERÊNCIAS FOI ESCOLHIDA PARA A CAPA DO ÁLBUM? DRI ES:

Nenhuma. Essa imagem saiu por inteiro da mente do artista, a quem demos total liberdade para interpretar as nossas histórias à sua maneira.

MANTÊM ALGUMA RELAÇÃO COM O UNIVERSO DA MÚSICA CLÁSSICA? A VOSSA EDITORA REFERE O FACTO DE USAREM INSTRUMENTOS CLÁSSICOS NOS VOSSOS ÁLBUNS. QUEM OS TOCA? D R IES :

Eu toco trompete desde os seis anos de idade e fiz estudos de piano, órgão (de igreja) e teoria da música em várias escolas oficiais. Portanto, relacionar entre si os meus dois géneros musicais favoritos (Black Metal e música clássica) era inevitável, natural e lógico. Efetivamente, decidi usar instrumentos clássicos nos nossos álbuns, que acrescentam detalhes interessantes à nossa música. Em «Eldritch», aparecem o oboé, o violino, o violoncelo e o piano de cauda). Como conheço muitos músicos clássicos, que são meus amigos, não tenho dificuldade em encontrar quem nos ajude nesse aspeto.

“[…] «ELDRITCH» FOI E S C R I T O A PA RT I R D A P E R S P E T I VA D E U M G U I TA R R I S TA [ … ] ” W W W. FA C E B O O K . C O M / SAI LLEMETAL H T T P : / / Y O U T U . B E / B V WNGVT6 Q1C

AO QUE PARECE SAILLE TEM PRESENÇA HABITUAL EM FESTIVAIS DE METAL. COMO FAZEM PARA MANTER AS PARTES ORQUESTRAIS DA VOSSA MÚSICA QUANDO TOCAM AO VIVO? D R IES :

Investimos em equipamento que permite fazê-lo. O nosso baterista é guiado por um clicktrack e as partes orquestrais vão aparecendo, à medida que são necessárias.

SAILLE JÁ TOCOU COM BANDAS FANTÁSTICAS, QUE ADMIRO MUITO E QUE ATÉ JÁ ENTREVISTEI: POR EXEMPLO, THE TRUE MAYHEM E CARACH ANGREN. QUANDO PREPARAREM A VOSSA DIGRESSÃO PARA PROMOVER «ELDRITCH», QUEM VÃO CONVIDAR PARA TOCAR CONVOSCO? D R IES :

Normalmente, acontece o inverso. Dado que somos uma banda menos prestigiada, temos de esperar que nos convidem para participar numa digressão de uma banda mais famosa. Neste momento, estamos a trabalhar duramente para participarmos em vários concertos. Em breve, daremos notícias da nossa atividade!

E QUEM CONVIDARAM PARA FAZER ESSE TRABALHO PARA A BANDA?

QUAL É O VOSSO DESEJO MAIS ÍNTIMO, NO QUE SE REFERE A ESTE ÁLBUM, O TERCEIRO DA BANDA?

DRI ES:

D R IES :

Colin Marks, da Rain Song Design, no Reino Unido.

álbum, que consigamos chegar a mais pessoas e até – quem sabe – ir tocar a Portugal.

Espero sinceramente que consigamos mostrar ao mundo que evoluímos e crescemos. E, já que nos esforçamos tanto para fazer este

5 3 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“(…) NORMALMENTE DIZEMOS QUE FAZEMOS ALGO COMO “METAL ATMOSFÉRICO” (…) FAZEMOS MÚSICA GRANDIOSA, PESADA, DRAMÁTICA.”

WAYFARER SUBINDO A ESCADA PARA O CÉU! C O M E Ç A R A M H Á POUCOS ANOS ( 2011) E ESTÃO AG O R A A LANÇA R O SEU ÁLB U M D E ESTR EI A , MAS J Á T ÊM MU I T O S T R U N F O S NA M ANGA: M ÚSICA QUE SE DES TAC A , U MA BO A EDI TO R A , P LA NOS PAR A UM S EG U N D O ÁLBUM, PRESENÇA NUMA CENA EM ASCENSÃO (EUA) E UMA VONTADE DE VENCER E OTIMISMO INVEJÁVEIS. É ES T E O R E TRAT O DOS WAYFARER Q U E S A I D A ENTREV I S TA D A V ER S U S MAG A ZI N E, A QUE R E S P ONDEU SHANE M C C A RTH Y, UM DOS FUNDA D O R ES DA BANDA. Por: CSA É UM PRAZER ENTREVISTAR UMA BANDA RECENTE COMO WAYFARER. ADOREI O VOSSO PRIMEIRO ÁLBUM. É NEGRO, TENEBROSO, DESPRETENSIOSO MAS CHEIO DE BONS MOMENTOS INSTRUMENTAIS, EM SUMA MUITO EQUILIBRADO. COMO DESCREVERIAM O PROGRAMA DO VOSSO PROJETO MUSICAL? SHANE M C CARTH Y : Se pretendes saber

que rótulo queremos aplicar à nossa música, vai ser muito complicado, porque nos deixamos influenciar por 5 4 / VERSUS MAGAZINE

tanta coisa que é quase impossível arranjar uma etiqueta adequada. que fazemos algo como “Metal Atmosférico” para resolver o problema e deixamos cada um vê-lo como quiser. Mas estamos conscientes de que mesmo esse rótulo se refere a algo que não está exatamente relacionado com a música que compomos. Fazemos música grandiosa, pesada, dramática. Se pretendes saber quais são os objetivos da banda, dir-te-ei que se trata de apresentar as nossas vozes como algo que faz parte de uma geração jovem e cheia de esperança, que exprime uma emoção intensa e

conta uma história que vale a pena ouvir. O significado dessa “história” provém das nossas próprias crenças, mas estamos abertos a outras interpretações. Em termos musicais, queremos criar algo que seja, ao mesmo tempo, belo e inevitável, caminhar entre algo desenvolvido e explorado e algo básico e humano.

COMO VÊS A CENA METAL DOS EUA? E QUE LUGAR QUER A VOSSA BANDA OCUPAR NELA? S H A NE M C C A RTH Y :

Neste momento,


“O ÁLBUM ESTEVE ‘NO ESTALEIRO’ DURANTE MUITO TEMPO E SENTIMOS QUE FIZEMOS O QUE PRETENDÍAMOS FAZER (…) ALGO GRANDE, AVENTUREIRO, PESADO.” é uma cena muito ativa, mas não me parece que seja tão unida como a cena europeia. Infelizmente, nunca estive na Europa, mas creio que estão a acontecer coisas únicas nos Estados Unidos. Aqui o que vende bem raramente é bom, mas a cena underground produz, de vez em quando, material sensacional. Com base na minha experiência de vida em Denver e nas nossas primeiras digressões, diria que esta cena tem a dose certa de “faz tu mesmo” para permitir que aconteçam coisas verdadeiramente interessantes. A cena do Colorado, de que Wayfarer faz parte, inclui algumas grandes bandas e conta com pessoas sensacionais para a manter viva. Penso que somos uma banda jovem, nascida de um solo fértil, que produz excelente música underground, e estamos ansiosos por agarrar as oportunidades que nos aparecerem de levar a nossa música onde quer que queiramos apresentá-la.

COMO ESPERAM CONVERTER-SE NUM CONCORRENTE LEAL, MAS TEMÍVEL PARA O METAL EUROPEU? SHANE

M CCARTH Y

:

Somos influenciados por inúmeras bandas europeias e sabemos perfeitamente que há muito mais bandas como a nossa para além dos nossos mares. Estamos à espera de chegar lá e tocar para outros públicos e também queremos tocar com mais bandas europeias nos EUA. Não vejo nenhuma necessidade de divisões entre as cenas, visto que temos um objetivo único: tocar boa música e usufruir dela.

QUEM/O QUE VOS DEU A VONTADE DE FORMAR UMA BANDA DE METAL? SHANE M C CARTH Y :

Todos nós somos metalheads desde muito novinhos e tornamo-nos músicos ao mesmo tempo. Portanto, a vontade de fazer algo como o que temos agora esteve sempre lá, só não era tão forte como agora. Vamos buscar inspiração a muitas fontes e estamos sempre a encontrar mais coisas inspiradoras, tanto para a nossa carreira de músicos, como para a nossa vida pessoal. A minha conceção de música pesada foi expandida, quando eu era muito jovem, por bandas como Opeth e os In Flames do início e também Death e, pouco depois, por bandas como Neurosis, Primordial, Godspeed You! Black Emperor e algumas mais tiveram sobre mim um efeito duradouro. Sempre me deixei fascinar por pessoas que têm vistas largas sobre como criar algo que nunca existiu, que querem levar tudo o mais longe possível e que estão sempre a reinventar-se. É isso que queremos fazer com a nossa própria música.

POR QUE DECIDIRAM CHAMAR-SE

WAYFARER? CHEGAR?

ONDE

PRETENDEM

S H A N E MC C A RTH Y :

Eu e o outro guitarrista fundador da banda – Tanner Rezabek – andamos a fazer música com esse nome há muito tempo. Pareceme ser um bom nome, para alguém que forjou o seu próprio caminho, que procura descobrir o mundo por si próprio. Provavelmente, estou a apresentar um pensamento romântico clássico.

O QUE EXISTE EM «CHILDREN OF THE IRON AGE» QUE PÕE EM AÇÃO O VOSSO PROGRAMA MUSICAL? E O QUE FALTA NO VOSSO ÁLBUM INICIAL, NA VOSSA OPINIÃO? S H A N E MC C A RTH Y :

O álbum esteve “no estaleiro” durante muito tempo e sentimos que fizemos o que pretendíamos fazer. Andávamos à procura do nosso som específico, da nossa direção, e estamos muito felizes com o que conseguimos produzir: é algo grande, aventureiro, pesado. Não estamos preocupados com o que poderíamos ter feito neste álbum e não fizemos. Preferimos pensar em novo material, que iremos provavelmente usar na composição do segundo álbum, ainda mais focado no estilo específico da banda, assim o esperamos. São estas as cartas que lançámos.

POR QUE EVOCAM A IDADE DO FERRO? VEEM ALGUMA LIGAÇÃO ENTRE ESTA ÉPOCA E A BANDA, O NOSSO TEMPO?

ao mesmo tempo belas e agressivas. Se olhares com atenção, verás que, no centro da imagem, aparece a formação dos continentes norte e sul americano. Trata-se de uma fascinante metáfora para a ideia de que a Terra vai ser retirada da alçada do Homem.

QUEM FAZ PARTE DA VOSSA DIGRESSÃO PARA NOS EUA PARA PROMOVER ESTE ÁLBUM? S H A NE M C C A RTH Y : No verão passado,

fizemos uma digressão com os Dreadnought, que são bons amigos e uma excelente banda. Fazem uma mistura eclética de Prog, Black Metal, Post Rock, combinada com tendências melódicas, e recorrem a uma larga variedade de instrumentos e vozes. Por altura do lançamento do álbum, organizámos uma digressão de 9 dias na Costa Oeste por nossa conta e risco, em que tocámos com grandes bandas. Temos mais concertos previstos para este ano.

ONDE GOSTARIAM DE IR TOCAR FORA DOS EUA? E COM QUE BANDAS GOSTARIAM DE PARTILHAR O PALCO? S H A NE M C C A RTH Y :

Gostaríamos de ir a todo o lado: à Europa, tão cedo quanto possível, e tocar no maior número possível de países. Há muitas bandas com quem gostaríamos de tocar, mas Primordial está no topo da lista. Tocaríamos com eles em qualquer sítio, em qualquer altura.

QUE FUTURO WAYFARER?

PREVEEM

PARA

S H A N E MC C A RTH Y :

O título referese a nós, porque todos nascemos nesta época, que deixou para trás a Idade do Ferro. São estas as cartas que lançámos e pretendemos definir o que vamos fazer com esta nova era da humanidade.

O ÁLBUM TEM UMA CAPA FANTÁSTICA. QUEM A CRIOU? S H A N E M CC A RTH Y :

A capa foi feita por Sam Nelson, que usa o pseudónimo Stigma para os seus trabalhos tenebrosos e surreais. Toda a sua arte é sensacional, portanto aconselhote a dares uma vista de olhos ao seu trabalho.

QUE RELAÇÃO MANTEM ESSA IMAGEM COM O TEMA DO ÁLBUM?

S H A NE M C C A RTH Y :

Ainda só agora começámos e sentimo-nos sem limites. Lutamos para nunca nos tornarmos complacentes, para fazermos música cada vez melhor, para que valha a pena ouvir-nos numa época em que há tanta música disponível. Havemos de fazer digressões pelo mundo inteiro e tocar em todos os sítios onde haja gente que nos queira ouvir tocar. Queremos progredir sempre.

“ ( … ) A C A PA D O Á L B U M [ É ] U M A FA S C I N A N T E M E T Á F O R A PA R A A I D E I A D E Q U E A T E R R A VA I S E R RETIRADA DA ALÇADA DO HOMEM.”

S H A N E M C C A RTH Y :

Já percebemos que isso não é evidente para todos, mas a capa do álbum corresponde a uma representação da Terra a ser engolida por formas que se assemelham a raízes,

W W W. FA C E B O O K . C O M / WAY FA R ER COLORADO H T T P : / / Y O U T U . B E / T YEZG D5W KZK 5 5 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“AS CANÇÕES DE N.K.V.D. TRATAM TEMAS COMO O PODER, A OPRESSÃO E O TOTALITARISMO, QUE APARECEM NA HISTÓRIA DE TODOS OS PAÍSES.”

N.K.V.D. A APOSTA NA NEUTRALIDADE L O Ï C F., Ú N IC O M EM BRO EFET IVO DE N. K. V. D ., A FI A NÇA Q U E, AP ES A R D O NOME CH EI O D E C O NOTA Ç Õ ES ( H I S T Ó R I C A S , P O LÍT ICAS, IDEOLÓGICAS, ETC .), A S U A B A NDA É O MAI S NEUTR A L P O S S Í V EL. SÓ A S S I M P O D E R Á T R ATA R COM A DEVIDA SERIEDADE E I SENÇÃ O TEMAS TÃ O I MPO RTANTES C O MO A D I TA D U R A E A O P R E S S Ã O , QUE SEM PRE SE ALIM EN TAR A M D A CR U ELD A D E HU MANA E A MA NTI VER A M V I VA . Por: CSA POR QUE RAZÃO UMA BANDA FRANCESA DECIDIU TRATAR TEMAS RELACIONADOS COM A MALOGRADA UNIÃO SOVIÉTICA? LOÏ CF:

Os temas abordados por N.K.V.D. não estão relacionados com a União Soviética. As canções de N.K.V.D. tratam temas como o poder, a opressão e o totalitarismo, que aparecem na história de todos os países. Já escrevemos canções sobre a URSS, a Segunda Guerra Mundial, a guerra na 5 6 / VERSUS MAGAZINE

Chechénia, a Ocupação francesa, os senhores da guerra islâmicos… A N. K. V. D. era a polícia secreta dos soviéticos, que mais tarde se converteu na KGB e, atualmente, é a FSB. Era uma organização cruel, daí usarmos a sigla para designar a banda. É importante para nós que a música que fazemos se baseie em factos históricos.

POR QUE ESCOLHERAM O INDUSTRIAL BLACK METAL PARA PASSAR A VOSSA MENSAGEM?

L O ÏC F :

Desde o início da banda que tinha uma ideia precisa sobre como deveria ser a nossa música e trabalhei até conseguir obter o resultado desejado. Nunca decidi que ia fazer Industrial Black Metal, aconteceu naturalmente. Não há mensagens subliminares na música de N. K. V. D. As canções da banda podem ser consideradas como reportagens musicais. Tratamos os nossos temas de uma forma neutra. Não estamos associados a qualquer


“A N. K. V. D. ERA A POLÍCIA SECRETA DOS SOVIÉTICOS […] UMA ORGANIZAÇÃO CRUEL, DAÍ USARMOS A SIGLA PARA DESIGNAR A BANDA.” ideologia. De certo modo, revelamos o que está oculto. Falamos de coisas que aconteceram. Alguns ouvintes e jornalistas catalogaram-nos sob a designação Black Metal Comunista ou Black Metal Nazi. Estão completamente enganados.

A VOSSA EDITORA REFERE ABORYM (QUE EU JÁ ENTREVISTEI) E MYSTICUM COMO BANDAS SIMILARES A N. K. V. D. CONCORDAS COM ESTA ASSOCIAÇÃO? LOÏ CF:

Sim. Ambas são bandas lendárias na área do Industrial Metal e é natural que sejam mencionadas, quando se trata de classificar a nossa música. Quando tens de descrever a música de uma banda para levar as pessoas a descobri-la, tens de lhes dar termos de comparação. Mas essas bandas têm pouca influência na música de N. K. V. D. A nossa inspiração vem de bandas mais old school como Morbid Angel, Immortal, Marduk, Type O Negative, Godflesh ou Laibach.

O VOSSO ÁLBUM TEM UM TOM REALMENTE AMEAÇADOR. O QUE HÁ NA MÚSICA QUE LHE CONFERE ESSA CARACTERÍSTICA? LOÏ CF:

Cada instrumento é misturado para reforçar todos os outros, da mesma forma que um soldado, que pertence a um batalhão, apoia os seus colegas durante a batalha. De um modo mais geral, tentamos compor e gravar a melhor versão do que nos vai na mente.

FUI VER O SIGNIFICADO DA PALAVRA “HAK MARRJA”. QU E RELAÇÃO HÁ ENTRE ESSA TRADIÇÃO E O CONCEITO SUBJACENTE AO VOSSO ÁLBUM? LOÏ CF:

Hakmarrja ou “Gjakmarrja” é uma tradição albanesa. Uma vingança. Esse tema pareceu-nos muito interessante. Vivemos numa época em que a justiça é, por vezes, posta em causa, sobretudo em França, onde favorece o autor do crime em detrimento da vítima. A tradição albanesa determina que o que fizeres a outros recairá sobre ti e a tua família. Esse conceito é adotado por outros povos: por exemplo, no Cáucaso (na Rússia), onde se chama “krovnaya mest”. Se perscrutares a História, verás que a maioria dos conflitos decorre da sede de vingança.

Como esta ideia nos pareceu cativante, adotámos o termo que designa o conceito como título do nosso álbum.

W W W. FA C E B O O K . C O M /NKVDMETAL H T T P : / / Y O U T U . B E / O L NA OJYW UJK

A CAPA DO ÁLBUM É VERDADEIRAMENTE FASCINANTE. COMO SE RELACIONA COM ESTE? LO ÏC F:

São ambos tenebrosos, intrigantes e orientados para o totalitarismo. Essa fotografia reveste-se de uma certa sofisticação, é misteriosa.

QUEM É O SEU AUTOR? QUE PAPEL DESEMPENHOU A BANDA NA SUA CRIAÇÃO? LO ÏC F:

É uma obra do artista finlandês Juha Arvid Helminen. Era um trabalho que ainda não tinha publicado e que ele nos cedeu para ser a capa deste álbum. O trabalho de Helminen em geral – e particularmente a série “O Império invisível” – é muito obscuro e denuncia a ditadura e o poder. Quando o descobri, percebi logo que tinha de ser ele a fazer a capa para o nosso álbum. Temos uma abordagem semelhante da realidade, porque sabemos tratar os temas sem nos envolvermos neles. Pessoalmente, penso que a liberdade e a paz são os valores mais importantes da sociedade moderna. Mas acontecem e aconteceram coisas que os comprometem, devido à crueldade humana. É isso que queremos denunciar.

VÃO FAZER CONCERTOS PROMOVER O VOSSO ÁLBUM?

PARA

LO ÏC F:

N.K.V.D. é um projeto de estúdio, não tocamos ao vivo. Eu sou o único membro permanente da banda e recruto músicos diferentes para cada álbum. Desta vez, contactei Cod.5111, um maravilhoso vocalista italiano, que pertence a uma banda de Industrial Metal chamada Al Ard. Fui também ajudado por um outro artista italiano – Zhaan – que faz música ambiental industrial e marcial. Estou-lhes profundamente grato pelo maravilhoso trabalho que fizeram para este álbum e pela sua dedicação ao projeto.

“ É I M P O RTA N T E PA R A NÓS QUE A MÚSICA QUE FA Z E M O S S E B A S E I E E M FA C T O S H I S T Ó R I C O S . AS CANÇÕES [SÃO] R E P O RTA G E N S M U S I C A I S . ” 5 7 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

“EU PENSO MUITO NO QUE FAZEMOS AQUI E NO QUE IREMOS DEIXAR… NO NOSSO LEGADO. ENTÃO, CADA MOMENTO QUE REGISTO FAZ PARTE DA MARCA QUE VOU DEIXAR NA TERRA.”

THOMAS GILES (NÃO É) RUÍDO MODERNO THOMAS GILES É O CÉREBRO POR DETRÁS DOS BETWEEN THE BURIED AND ME. PELO MEIO VAI-SE DEDICANDO A ALGUNS PROJECTOS MUSICAIS PARALELOS. MUDAM OS PSEUDÓNIMOS MAS O TALENTO CONTINUA O MESMO. DE «PULSE» PARA «MODERN NOISE» MUDOU APENAS A BATERIA PORQUE DE RESTO THOMAS GILES CONTINUA A TRATAR DE TUDO. O LEGADO QUE DEIXARÁ NA TERRA NÃO SERÁ, CERTAMENTE, RUÍDO MODERNO. Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ, THOMAS. OBRIGADO PELA ENTREVISTA E PARABÉNS PELO GRANDE ÁLBUM! COMO ESTÃO OS FÃS A REAGIR «MODERN NOISE»? THOMA S GI L E S :

Obrigado! Tem sido uma experiência gira, sem dúvida. A resposta foi para além das minhas expectativas, por isso não me posso queixar.

O QUE É «MODERN NOISE»? POR QUE ESCOLHESTE ESTE TÍTULO PARA O 5 8 / VERSUS MAGAZINE

ÁLBUM? T H O MA S G IL E S :

Primeiro que tudo, achei que encaixava muito bem no álbum. Eu penso muito no que fazemos aqui e no que iremos deixar… no nosso legado. Então, cada momento que registo faz parte da marca que vou deixar na Terra.

EM «PULSE», TOCASTE TODOS OS INSTRUMENTOS, MAS, EM «MODERN NOISE», CONVIDASTE WILL GOODYEAR PARA TOCAR BATERIA. PORQUÊ?

COMO MULTI-INSTRUMENTALISTA, QUANTAS HORAS PRATICAS POR DIA E QUAL O INSTRUMENTO EM QUE TENS MAIS DIFICULDADES? (TU TENS VIDA PARA ALÉM DISTO?) TH O M A S G IL E S :

Precisava de um “verdadeiro” baterista. Sou muito desastrado a tocar bateria, portanto era importante para mim encontrar alguém que pudesse encarar o material da perspectiva de um baterista. O Will ajudou-me mesmo a dar vida às canções. Tens de ter consciência dos


“EU SABIA QUE, SE QUERIA TER UM ÁLBUM MELHOR, TINHA DE ENCONTRAR UM BATERISTA A SÉRIO. TAMBÉM ME AJUDOU A GERIR O MEU NÍVEL DE STRESS: DETESTO GRAVAR A BATERIA.” teus pontos fortes e fracos. Eu sabia que, se queria ter um álbum melhor, tinha de encontrar um baterista a sério. Também me ajudou a gerir o meu nível de stress: detesto gravar a bateria. hahaha Francamente, não pratico muito. Mas gosto de pegar na guitarra, quando me apetece, ao longo do dia. É por isso que componho muitos riffs. Vou tocando por aí e, quando me surge uma ideia, filmo, para depois a dissecar. No que toca à minha competência para tocar instrumentos, alinhá-los-ia da seguinte forma, de modo decrescente: guitarra, teclas, baixo, bateria. A voz fica no topo da lista. É claro que tenho uma vida para além da música. Tenho um filho de 2 anos, portanto passo o meu tempo a fazer de pai e a compor música. Não me sobra tempo para muito mais. Mas não trocava isto por nada no mundo.

T H O MA S G IL E S :

FAZES OS TEUS ÁLBUNS DE MA MANEIRA MUITO INTELIGENTE. SÃO MUITO REQUINTADOS A TODOS OS NÍVEIS! NESTE LANÇAMENTO, PARECE-ME QUE INTRODUZISTE ALGUMAS ALTERAÇÕES: MENOS ELEMENTOS ELECTRÓNICOS (?) E MAIS PERCUS SÃO E SONS AMBI ENTAIS. CONCORDAS COM ESTA APRECIAÇÃO? VÊS «MODERN NOISE» COMO UMA EVOLUÇÃO EM RELAÇÃO A «PULSE»?

T H O M A S G IL E S : Nunca escrevo material

THOMA S GI L E S :

Obrigado! Concordo que há mais momentos ambientais melancólicos neste álbum e vejo-o como o resultado de uma evolução. Francamente, em «Pulse», eu não sabia bem o que estava a fazer. Ainda estava a tentar perceber o que estava a compor para este projecto e como pensava fazê-lo. Com «Modern Noise», percebi logo tudo desde o primeiro dia e, portanto, tudo aconteceu de forma muito natural.

E AQUI VAI A QUE IRIA SER A MINHA PRIMEIRA PERGUNTA: O QUE É JBVJÂ?¥ËOEÂ^+Ë?NNNJMKJIJM”? THOMA S G I L E S : (Risos) Fiz essa canção para o meu filho. O título corresponde à primeira coisa que ele escreveu no meu portátil.

DESDE 2004, TENS TIDO VÁRIOS PROJECTOS COM NOMES DIFERENTES – GILES, THOMAS GILES, JACOB ROGERS E NOVAMENTE THOMAS GILES. POR QUE MUDAS DE NOME COM TANTA FREQUÊNCIA? ESCOLHES O NOME DE ACORDO COM A NATUREZA DO PROJECTO?

Sim, o nome é escolhido em função do projecto. Mas é fácil de explicar… o meu segundo nome é Giles, portanto usei-o para as gravações eletro-bizarras. Usei Jacob Rogers, quando estava com o Jake Troth… aproximamos os nossos nomes. Pareceu-me que Thomas Giles era um bom nome para um projecto a solo “adulto”, por isso o adoptei. Dá assim um ar distinto, apesar de eu não ser nada assim. (Risos)

É CLARO QUE «MODERN NOISE» É MUITO DIFERENTE BTBAM. COMO ESCOLHES AS CANÇÕES PARA OS TEUS PROJECTOS? DEDICAS-TE A ISSO A 100% OU, POR VEZES, FICAS COM A SENSAÇÃO DE QUE UMA DADA CANÇÃO ATÉ FICAVA MELHOR NOUTRO PROJECTO? a solo, quando estou a trabalhar para BTBAM e vice-versa. Cada projecto implica um estado de espírito diferente e é muito importante para mim manter os dois separados, quando estou a compor.

A MÚSICA É MUITO DINÂMICA E APRESENTA MUITAS BOAS COMBINAÇÕES: ROCK, POST-ROCK, ELECTRÓNICA E, DE VEZ EM QUANDO, UMA PITADA DE BLUES – POR EXEMPLO, EM “I APPEAR DISAPPER” OU “BLUEBERRY QUEEN”. DE ONDE TE VÊM TODAS ESTAS INFLUÊNCIAS? PARECE QUE ESTAMOS A OUVIR FRAGMENTOS DE RADIOHEAD OU SMASHING PUMPKINS... T H O M A S GIL E S : Adoro música. Sempre

adorei… portanto, sempre estive exposto a muita música, ao longo dos anos. Quando componho, faço cada canção de raiz e elas acabam por sair todas diferentes umas das outras. Não planeio nada. Escrevo um punhado de músicas e fico com uma perspectiva mental de como quero que elas se integrem no álbum.

em fazer o que está adequado a cada canção. Não me pareceu que nenhuma destas canções precisasse de gritos. Achei que estariam fora de contexto. Não os abandonei de propósito, apenas me pareceu que não faziam lá falta nenhuma.

NA TUA PÁGINA NO FACEBOOK – H T T P S : / / W W W. FA C E B O O K . C O M / THOMASGILESMUSIC – DIZES QUE VAIS PUBLICAR MUITAS ACTUALIZAÇÕES (INCLUSIVE RELATIVAS A BTBAM ). O QUE PODEMOS ESPERAR PARA 2015? TH O M A S G IL E S :

Algo novo de BTBAM, digressões. Vou também compor uma partitura para uma longa metragem intitulada “Dutch Book”. Ainda não tenho um prazo estipulado para esse lançamento, mas tem sido fantástico tomar parte nesse projecto. Eu e o Dan também estamos à espera de lançar um musical que escrevemos. O tempo o dirá. E, quem sabe, talvez comece a escrever mais algum material novo.

MAIS UMA VEZ, MUITO OBRIGADO POR ESTA ENTREVISTA. OUVI O ÁLBUM VÁRIAS VEZES E VOU DAR-LHE 9/10. ESPERO VER-TE EM PORTUGAL UM DIA DESTES. TH O M A S G IL E S : Foi um prazer! Adorava regressar a Portugal! Fica bem!

“¥ËOEÂ^+Ë?NNNJMKJIJM F I Z E S S A C A N Ç Ã O PA R A O MEU FILHO. O TÍTULO CORRESPONDE À PRIMEIRA COISA QUE ELE ESCREVEU N O M E U P O RT Á T I L . ” W W W. FA C E B O O K . C O M / T H O M A S G I LESMUSI C H T T P : / / Y O U T U . B E / E TW I A JTP P14

«MODERN NOISE» TAMBÉM TEM VOCAIS MUITO DINÂMICOS, COM UMA GRANDE MISTURA DE SENTIMENTOS. NELE CANTAS DE FORMA NATURAL, SEM RUGIDOS. ACHO ESTA MÚSICA MUITO EMOCIONAL, MAS ESTAVA À ESPERA DE ALGUNS VOCAIS ÁSPEROS PELO MEIO, PARA AJUDAR A “DESCREVER” OS TEUS SENTIMENTOS. POR QUE OS PUSESTE DE PARTE? T H O M A S GIL E S :

Acredito piamente 5 9 / VERSUS MAGAZINE


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ALBUM DO MES

TETEMA «GEOCIDAL»

(Ipecac Recordings)

Esqueçam tudo o que ouviram até agora. Duvido que encontrem algo do género. tetema é um projecto saído da mente australiano Anthony Pateras e do genial Mike Patton, dos Faith No More. Pateras poderá ser desconhecido do público mas é um artista que já conta com dezoito álbuns na última década. Antes de lerem esta review vale a pena lerem a entrevista e tudo o que está por detrás da sua concepção. E para ser sincero, não sei como vos posso descrever a música, não sei como posso descrever a música de forma a que vocês fiquem com uma ideia ou um “retrato”. Mas vou tentar...

6 0 / VERSUS MAGAZINE

Na entrevista, Pateras descreve «Geocidal» como sendo pop. Talvez por ele a ter concebido ou por estar completamente embrenhado nos sons. Para mim, é tudo menos pop. Tudo isto vai de encontro ao que ele diz: “A subjectividade da música é mesmo estranha, ninguém ouve a mesma coisa.” Muitos elementos electrónicos, sintetizadores a voz de Patton é... Patton – genialmente louco. A diversidade instrumental é, também, algo fora do normal: baixo, contra-baixo, clarinete, violoncelo, violino, viola e mais, muito mais. A música só a consigo descrever como, esquizofrénica, negra, às vezes desesperante e angustiante. “Pure War” é um desses exemplos. O que diz Patton? Não sei! Mas o tema desespera – no bom sentido! Quando este sentimento é levado ao limite “Irundi” leva-nos a um estado

zen e “Death in Tangiers” transportanos para a “Quinta dimensão” além de ser misteriosamente negro, consegue criar um ambiente de absoluto suspense. O tema mais “normal” é mesmo “Tenz” e fazme lembrar os Massive Attack. A variedade instrumental é magnifica, a versatilidade musical que conseguem criar é estupenda. Todos os temas estão umbilicalmente ligados Ainda não consigo descrever bem o que ouço e aqui reside a beleza e subjectividade da música. liguem-se vocês também à genialidade sonora do tetema.

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO


CRITICA VERSUS A N G E L US APAT RIDA Hidden Evolution (Century Media) Os Espanhóis Angelus Apatrida são uma banda que vai crescendo e evoluindo a olhos vistos a cada lançamento. Só mesmo para contrariar o título do álbum “Hidden Evolution”, tendo em conta que é uma evolução notória. Gravado no UltraSound Studios Moita, este álbum que sucede a “The Call” abre 2015 e com a certeza que será um dos melhores do ano. Sem tempo a perder “Hidden Evolution” abre logo a rasgar com “Immortal”, uma faixa rápida e bem agressiva bem ao estilo destes «nuestros hermanos». “First World of Terror” é, talvez, o primeiro grande momento do álbum, com passagens mais pesadas e outras mais groovie, resultando numa faixa que de certeza teria lugar num bestof da banda! Impossível também não destacar “Tug Of War”, certamente uma das melhores músicas de toda a sua discografia, tem tudo para se tornar num clássico instantâneo e um daqueles momentos que, ao vivo, vai provocar intensos mosh-pit e dores de garganta provocadas pelos gritos que nos vão fazer acompanhar o vocalista Guillermo Izquierdo. “End Man” também será presença obrigatória nas setlist dos futuros concertos, faixa violentíssima que foi a escolhida para o primeiro videoclip deste álbum. A faixa título fecha o álbum da melhor maneira, uma autêntica obra de arte que mostra toda a qualidade da banda, com uma parte instrumental sublime a meio da música. É um álbum forte em que se destaca claramente “Tug Of War” como a melhor e que dificilmente se consegue destacar a pior ou menos boa. Perfeita sintonia entre agressividade e melodia, com momentos ultra-violentos e outros mais mid-tempo, solos demolidores e o mesmo adjectivo se pode usar para qualificar o trabalho de bateria. A banda referiu numa entrevista que este era o seu melhor álbum, talvez seja cliché, mas neste caso têm razão. “Hidden Evolution” consegue superar todo o anterior (e excelente) trabalho dos Angelus Apatrida. Disco obrigatório para fãs da banda e amantes do thrash.

[ 9,0 / 10 ] PAULO GUEDES

B E A R D FISH +4626-Comfortzone (InsideOut Records) Quem disse que dos países escandinavos só vem Black/Death Metal? Sigo estes Suecos desde os tempos de «Mammoth», álbum lançado em 2011. Rock Progressivo excepcionalmente bem tocado, no entanto, o estilo musical assemelha-se as bandas clássicas dos anos 70, tais

como Yes ou Genesis. As harmonias vocais são uma constante, conferem à música um tom enigmático e muito “Zapiano”, como podem ver em alguns laivos de “Hold On”. Muito sóbrio; o tema “Comfort Zone” que dá o nome ao álbum, envolve-nos nos primeiros minutos num manto de tranquilidade e segurança, qual redoma protectora e para isso contribui o som do mellotron e a gentil suavidade da guitarra. No entanto, o tema cresce e quando damos por isso estamos fora da nossa zona de protecção e conforto. O álbum tem ainda um tema, divididos em três partes – Uma pequena introdução, que abre o álbum, “My Companion Through Life” a meio do álbum (ou da história), um bonito tema semi-acústico e termina com “Relief”, exactamente onde terminou a parte anterior – com a mesma melodia mas com outra roupagem. Pelo meio algo que me intriga e talvez possamos saber um pouco mais se for possível a entrevista: “Daughter/Whore” - é o tema mais pesado e feroz do álbum. Por isso talvez sobressaia dos demais por esse aspecto. Os Beardfish inovam e inventam de álbum para álbum. Portanto, esta é uma excelente oportunidade para saírem da vossa zona de conforto, entrarem na maquina do tempo, viajarem até aos anos 70 e apadrinharem um excelente álbum de Rock Progressivo. [ 9,0 / 10 ] EDUARDO

RAMALHADEIRO

C A LL OF THE VO I D Ageless (Prosthetic Records) A força a energia em foco neste novo trabalho dos “Call of the Void” (antigamente conhecidos por “Ironhorse”), dois anos pós ter largado o “Dragged Down a Dead End Path”, não deixa ninguém indiferente. Um álbum claramente virado para o som grosso, duro e feio; a ideia aqui não é embelezar as qualidades do mundo, é mais largar bombas em tudo o que mexe. A recomendação irá portar, portanto, para fãs de grind e/ou hardcore; nomes como Napalm Death, Converge, Nails ou Trap Them. Os americanos de Denver conseguem com o “Ageless” um trabalho de música extrema que nos arrebate sempre (ou quase sempre) o mesmo encaixe mortífero de agressividade. A proliferação consecutiva das mesmas rajadas poderá obstruir o consenso dos não mais acérrimos fãs do género, sendo que se sente algum cuidado para algumas variações de perspectiva ou de espectro em partes mais avançadas do trabalho (notar a faixa “I”). Os destaques vão para “The Sun Chaser”, “Black Ice” e “Honor Among Thieves”. A integridade do trabalho não é posta em causa e os fãs do género e principalmente do “Dragged Down a

Dead End Path “ poderão encontrar em “Ageless” um bom álbum que vale a pena conhecer. [ 6,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

ECLI P S E Armageddonize (Frontiers Records) Já há muito que esperava um álbum destes, devo confessar. Hard Rock melódico, simples. Os Eclipse são uma banda sueca cujo frontmans Erik Mårtensson e Magnus Henriksson já foram por aqui falados, aquando do excelente álbum ao vivo dos W.E.T., juntamente com Jeff Scott Soto. Em 2014 estão de volta com o sucessor do aclamado «Bleed and Scream» e o duo não deixou os seus “créditos por mãos alheias” continuando com a responsabilidade de escrever e produzir. «Bleed and Scream» foi o melhor trabalho até à data destes suecos, recebendo excelentes críticas por parte do publico e comunicação social. Resta saber se «Armageddonize» estará à altura do seu predecessor. Às primeiras impressões «Armageddonize» é mais melódico, emotivo e mais “moderno” do que «Bleed and Scream» - este é muito mais Hard’n’Heavy (puro e duro – “in your face”) e musicalmente mais complexo. De qualquer das formas o mais recente trabalho não tem falhas. Simplesmente impecável. A estrutura dos temas poderá ser simples, obedecendo sempre à mesma regra mas é assim que o Hard’n’Heavy melódico é suposto ser. Certo? E por isso, torna-se-à mais difícil fazer música que sobressaia e cative. Os Eclipse conseguem-no de uma forma deveras cativante e ainda com excelente técnica. Coros que ficam de imediato no ouvido - “I Don’t Wanna Say I’m Sorry”, “Stand On Your Feet ou “Caught Up In the Rush”, solos ou entradas de guitarra - “Blood Enemies” ou aqueles riffs mid-tempo que nos fazem fazer cara de mau “All Die Young”. Tudo isto sem parecer demasiado clichet. No entanto, só lhe retirava a (emotiva) balada “Live Like I’m Dying” (É o único tema que avanço pois quebra um pouco o ambiente e a fluidez do álbum). De qualquer das formas já estava a precisar de ouvir algum assim...! [ 9,0 / 10 ] EDUARDO

RAMALHADEIRO

FOR EI G NER The Best of 4 And More (Frontiers Music) Não sendo de todo o meu género de eleição, o Rock&Roll vertente mainstream anos 80, não pude deixar de reconhecer alguns hits que fizeram dos Foreigner uma lenda vida do género musical que fiz os gloriosos anos 80, 61 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS a dita música “comercial”, comprovando-o com os seus 16 hits e múltiplas platinas conquistadas então. É aqui que este disco ao vivo em forma de best of ganha o seu interesse, e onde os hits ganham outra dimensão. Igualmente, não há aqui nada de novo no conceito e que os “velhinhos” da nossa praça - isto é do metal não andam a fazer há anos: Tocar os “hinos” (hits) da carreira e assim encher concerto com a música que realmente queremos ouvir. Assim não fugiram os Foreigner da regra, desde as músicas mais conhecidas “I Want To Know What Love Is” e “Waiting For A Girl Like You” até à melhor performance do disco de “Urgent” (igualmente um hit) com um solo estrondoso de saxofone por parte de Tom Gimbel ou passando por “Woman In Black” e a mais arocalhada “Jukebox Hero” a fechar o álbum. Com este álbum ao vivo os Foreigner presentem-nos com um concerto exemplarmente tocado e com uma dinâmica musical que enaltece as músicas, ou seja, como um álbum ao vivo deve ser. O único ponto criticável é alguma falta da presença do público em certos momentos sem ser entre músicas. «The Best of 4 And More» é um trabalho ao vivo repleto de nostalgia para os nostálgicos dos 80 e não só, do metal ou nem por isso. [ 8,0 /

10 ] CARLOS FILIPE

IS S A Crossfire (Frontiers Records) Issa é uma senhora Norueguesa que conta já com quatro álbuns no seu historial. Vem rotulada como rainha de Rock Melódico. Não sei como. A senhora só tem boa voz, mais nada. «Crossfire» é uma mistura de Heart com Roxete e Romeo’s Daughter. A música não consegue sobressair, é banal. Não há aqui nada que nos agarre, e nos faça ouvir mais uma vez, os coros nem sequer ficam no ouvido. Isto é simples... demasiado simples. O que me parece é que o álbum está demasiadamente centrada na voz e tudo o resto é secundário. Outra coisa que não gosto e passa um pouco pelo gosto pessoal é a utilização dos sintetizadores, algumas partes enervam e até acho que ficam despropositadas. Pela biografia houve algum trabalho – 5 anos – na criação dos temas – de certo não foi a tempo inteiro – e o álbum é produzido a meias por John Greatwood e James Martin e conta com uma série de músicos convidados, entre os quais: Daniel Palmqvist (Xorigin), Alessandro Del Vecchio (Hardline) ou Robert Sall (Work of Art), entre outros. Há um coro de vocalistas convidados onde se incluem Pete Newdeck (In Faith/Tainted Nation), Matt Black (Fahran) e Michael Kew (Vega), no entanto, como já 6 2 / VERSUS MAGAZINE

escrevi a voz da sra, assim como os sintetizadores sobrepõem-se às restantes vozes. Com esta panóplia de músicos convidados era de esperar algo mais cativante. Isto está... bah... insonso! Se calhar seria altura para fazer algo mais espontâneo e não perder cinco anos de vida. Vale a voz e alguns solos. Não perdem nada se não ouvirem! Shif+del! [ 5,5 / 10 ] EDUARDO

RAMALHADEIRO J O R N L A N D E & T R O N D H O LT E R Dracula – Swing of Death

(Frontiers Records) Eu devo confessar que sou um ávido consumidor de tudo o que Jorn Lande faz. Desta vez juntou-se com também Norueguês Trond Holter para nos contar uma história sob a forma de uma Opera Rock. O conceito gira à volta do Conde Vlad III, Principe de Wallachia, conhecido como Vlado, O Empalador ou ainda Vlad Dracul(a). Toda a história explora a luta interior dentro do carácter multifacetado que é esta personagem do século quinze. Quem mais para dar voz ao Conde Vlad? (Pois, não preciso de escrever...) O Conde não está sozinho e o seu primeiro amor - Mina - é interpretado por Lena Fløitmoen Børresen em dueto nos temas “Under the Gun”, “Into the Dark”, “Save Me” e “River of Tears”. «Swing of Death» é tudo o que podem desejar de uma Ópera Rock, no entanto, não esperem narrações ou longos temas. Tal como o conceito deixa antever, musicalmente está centrado no Rock com alguns elementos de Hard Rock, muito acessível e até um pouco comercial, isto quer dizer muita melodia e harmonia. “Walking on Water” é sem dúvida o melhor tema do álbum e um dos melhores interpretado por Lande.... Fabuloso. Portanto, é aqui que poderão estranhar o álbum não ser mais... épico, um pouco mais trabalhado, já que é muito simples e directo, não esperem muitos “floreados” ou grandes orquestações, apesar de haver alguns excelentes rasgos por parte de Holter na guiitarra como é o caso do instrumental “True Love Through Blood” – é obviamente um álbum bipolar. Isto não me impediu minimamente de adoptar o álbum como um dos meus favoritos neste inicio do ano. [ 9,0 / 10 ]

EDUARDO RAMALHADEIRO

LEV EL 10 Chapter 1 (Frontiers Records) Parece que as alianças entre músicos estão na moda. Desta vez Russel Allen (SymphonyX/Adrenaline Mob) e Matt Sinner (Primal Fear/Sinner) juntaram-se

para formar os Level 10. A ideia foi criar um projecto que juntasse o metal mais contemporâneo dos Adrenaline Mob (… e porque não dos SymphonyX) e o Power Metal tradicionalmente europeu dos Primal Fear. Para isso Matt Sinner juntou na mesma banda os colegas dos Primal Fear, Randy Black para a bateria e Alex Beyrodt para a guitarra. Para completar a formação nada mais nada menos que Roland Grapow (exHelloween) e o hard rocker Alessandro Del Vecchio (Hardline, Voodoo Circle). Além disso, também as composições dos temas tiveram contribuições de Magnus Karlsson, Ralf Scheepers ou Amanda Somerville. No entanto, nem sempre um conjunto de músicos de categoria fazem boa música. Para vos sossegar, não é o caso. «Chapter 1» foi gravado entre compromissos e combina muito bem as influências descritas atrás, Allen está mais poderoso que nunca e o resultado é um potente álbum de Heavy Metal, bem tocado e produzido; pesadão mas melódico e bastante técnico. A balada lamechas parece-me algo desnecessária. Allen e Sinner conseguem extrair o que de melhor tem o metal contemporâneo e tradicional. A mescla é excelente. Porém, o que começou sendo uma “bomba” - o álbum de forma excelente – e continua até à balada mas depois acalma um pouco com excepçao de “Demonized” um tema mid-tempo mas agressivo, sendo talvez um dos melhores temas do álbum. De qualquer das formas, este conjunto de bons músicos faz um álbum muito bom. Espero que o primeiro capítulo não seja o último e no futuro possamos ver mais alguns álbuns. Temos aqui o “melhor de dois mundos”.

[ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

LONELY RO B O T Please Come Home (InsideOut Records) De vez em quando recebemos estes lançamentos que não sabemos (quase) de onde aparecem... parece que caem do céu, directamente no nosso “colo”. Por acaso já tinha lido, algures pelas notícias da InsideOut, que Lonely Robot seria um excelente álbum de Rock Progressivo e tudo aquilo que as editoras escrevem para promover – Muitas vezes são balelas. Como sou um ávido consumidor e sempre curioso de tudo o que nos chega desta editora, agarrei o álbum e coloquei-o na playlist. No entanto, a primeira vez pareceu-me banal... só mais um. Como sempre não podemos ficar só pela primeira audição para formar uma opinião honesta. Agora tenho um grave problema: Como vou deixar de ouvir isto? Isto é excelente e vai já para a minha lista dos préseleccionados para o álbum do ano! John Mitchell é o mestre por detrás de


CRITICA VERSUS Lonely Robot e com ele trouxe mais alguns convidados que por si só engrandecem ainda mais «Please Come Home»: Nik Kershaw que devem conhecer do hit dos anos 80 “I Won’t Let the Sun Go Down on Me”, Steve Hogarth, vocalista dos Marillion ou Peter Cox dos Go West – lembram-se de “We Close Our Eyes”? A inclusão de algumas personalidades dos anos 80, no entanto, está bem “disfarçada” já que estamos perante um álbum de Rock Progressivo bastante moderno. «Please Come Home» é um álbum conceptual e como nada foi deixado ao acaso, outra contribuição significante é a do actor Lee Ingleby que tem a seu cargo a narração da história. Destacaria algum tema ou aspecto? Talvez “The Boy in the Radio” interpretado por Kershaw, um tema muito Rock mas, no geral está tudo tão... perfeito, a música é fluída, tão coesa, tão sonicamente... bela.

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

M O O N S PELL Extinct (Naplam Records) O novo Moonspell configura-se como o álbum mais híbrido da sua carreira, pois agrega os dois estilos caros a eles, o gótico e o metal. Ao invés de «Alpha Noir / Omega White», com o qual fomos “brindados” com dois CDs, aqui, os Moonspell optaram por colocar tudo num só CD. O resultado é globalmente positivo, conseguindo harmonizar os dois estilos musicais todo o longo das 10 faixas que o compõem, numa proporção de 50-50 e debaixo do mesmo interessante tema da extinção. Penso que foram um bocado longe com o tema single “The last of Us”, que de tão mainstream que é, acaba por destoar pela negativa, desarmonizando o resto. Musicalmente, há aqui para todos os gostos e ainda somos presenteados com uma partitura mais sinfónica, em especial com a presença de um violino bem presente aqui e ali, alias bem audível em «medusalem», que confere um cheirinho de Médio-oriente à música, muito na onda do «Under Satanae». Esta novidade está bem presente nas músicas mais pesadas. A voz gutural do Fernando esta presente em doses mínimas e bastante dissimulada pelo equilíbrio conseguido no geral. Penso que aqui ficaram aquém, dado que queríamos mais. A fechar «Extinct» temos mais uma novidade com uma música cantada toda em francês, «La Baphomette». «Extinct» é mais um álbum à Moonspell, só como eles sabem fazer, que na sua forma não se assemelha com nada que já fizeram até hoje, mas que constitui uma cartada arriscada ao querer agradar a todos no mesmo espaço musical. A verdadeira mais-valia de «Extinct» está na afirmação dos Moonpsell como uma

das bandas mais importantes da cena metálica mundial. [ 8,5 / 10 ] CARLOS FILIPE

MUC K Your Joyous Future (Prosthetic Records) Largados há já meia dúzia de anos na cena independente, influenciados pelos universos tão distintos que são o indie rock, o experimental e o hardcore, vemos como chegam a consolidar um projecto tão cruzado e encruzilhado, mantendo uma sonoridade com uma qualidade e performance invejável, apenas num segundo longa-duração. Devemos ser sinceros e confessar que o estilo mais presente é o hardcore, o toque de indie é subtil e o experimentalismo é apenas em certas partes empregue. A intensão que fica deste trabalho é a da componente “in your face”, com energia, gritos colectivos e toma-lá-morangos. Não deixa de ser um som de putos endiabrados, mas que têm aqui uma amostra selvagem da qualidade que são capazes de debitar. “Blind and Bent” deixou-me interessado, “Here Comes The Man” alivia-me a vontade que eu tinha de ouvir algo mais “alastrado” no trabalho, e “Waiting” fica no ouvido. Mas as bombas que são “Provoke Me”, “Blástí mig” e “Blissless” mostram a natureza do conjunto islandês e fazem bem a quem precisa de descarregar energia. A discografia dos Muck fica-se por um longa «Slaves» de 2012 e dois EPs desde 2009. É recente e veio para ficar. Pelo menos espero.

[ 7,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

NAPALM D EATH Apex Predator – Easy Meat

(Century Media) Os Napalm Death precisam de apresentações? Uma das bandas fundadoras do movimento Grindcore está de volta em 2015 com «Apex Predator – Easy Meat». Tecnicamente irrepreensíveis e como seria de esperar, nada de grandes experimentalismos. A não ser alguns efeitos na voz – Não parece mas idade já pesa... e voz limpa, por exemplo no tema “Hierarchies”. Sonicamente nota-se alguma variedade, logo a começar pelo tema introdutório e que dá nome ao álbum, “How the Years Condemn”, cujo coro não sairá da cabeça com tanta facilidades ou ainda a versatilidade de “Cesspits”. No fundo o que interessa é a competência e a fina arte de fazer álbuns brutais. «Apex Predator – Easy Meat» é sufocante, a descarga de adrenalina e os riffs incisivos, aliados aos temas muito directos que quase não nos deixam respirar. Imaginem que tentam correr a toda a velocidade,

sem ar; quando já estão perto do limite têm hipótese de dar uma golfada de ar fresco... e é só! Depois fazem o mesmo, catorze vezes! É isto, aqui não temos quase tempo de absorver o tema, pois já estamos a levar com outro! Os Napalm continuam a ser uma das mais brutais e ferozes bandas, aliando uma suprema e coesa técnica e velocidade; genuínos e sempre conduzidos por uma feroz inteligência. As letras continuam, como sempre, incisivas e críticas relativamente à agitação política, questões sociais, etc. «Apex Predator -Easy Meat» é brutal e inteligentemente... Napalm! Quem não ouvir, bem... “Metaphorically Screw You”. [ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

T H E N E A L M O RSE BAN D The Grand Experiment (InsideOut Records) Para quem escreve sabe que às vezes a inspiração custa a aparecer. Nas reviews temos alguns factos, opiniões, gostos pessoais, etc e porque não, alguma inspiração. No que a mim me diz respeito, tento fazer passar para o leitor uma “imagem” daquilo que estou a ouvir, usando palavras. Isto é, ao lerem o que escrevo espero que fiquem com uma ideia da música. Às vezes podemos dizer tudo, sem dizer nada e mesmo assim, vocês conseguem ter uma ideia de quão bom (ou mau) é um determinado álbum, artista ou música e com base na minha “imagem” criada decidem se vão ouvir ou não. Há reviews que custam a escrever, as palavras são escolhidas e apagadas, as ideias não saem e a inspiração custa a aparecer. Por outro lado, há outras que se escrevem de uma forma tão natural como o respirar. Escrever uma review de Neal Morse é das coisas mais naturais do mundo, porque a música para este Sr. é algo de inato e intrínseco à sua existência. Sobre este álbum, posso dizer tudo sem dizer nada ou então, posso apresentar só os músicos: Mike Portnoy na bateria – com um trabalho muito sóbrio mas de enorme classe! - ou Randy George no baixo, ou então, dizer que The Neal Morse Band já tem mais de vinte álbuns, incluindo espetáculos ao vivo ou então, dizer que demorei cerca de dez minutos a escrever estas palavras ou então, que parece não haver um fim para a criatividade, paixão e magia na musicalidade que flui da mente e mãos de Morse ou acabar por dizer que ouvir The Neal Morse Band é uma grande, grande experiência!

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

OB I TU A RY Inked In Blood (Relapse Records) 63 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS Se com os Napalm tivemos o regresso de um dos percursores do Grindcore, os Obituary serão um dos pioneiros do Death Metal, graças a álbuns como «Slowly We Rot» ou «Cause of Death», curiosamente os dois primeiros da banda. Sendo assim, estará «Inked In Blood» à altura dos dois primeiros? Atreveria-me a dizer que será, porventura, o álbum menos conseguido dos Obituary. Para já, falta-lhe força – é quase como levar uma palmada de um bebé. Não há aqui nada, na minha mui modesta sinceridade, que vos fará exclamar: “UAU!!!” A bateria ilustra bem esta “apatia” musical. A composição é demasiado banal, sem correr riscos e a música é “pastosa”, lenta, quando deveria ser irreverente, “sempre a abrir”, nada de vozes guturais. São poucos os momentos que os Obituary espevitam um pouco e depertam algum (pouco) interesse: “Century of Lies”, “Violence” ou “Minds of the World”. Após seis anos de interregno pareceme que os Obituary jogaram pelo seguro, tanto assim é que «Inked in Blood» chega a ser algo aborrecido e enfadonho. Estes momentos não chegam sequer para manter o álbum na playlist, infelizmente. Pelo que fizeram eu queria mesmo gostar disto, descobrir algo que me despertasse, mas... népia! É com muita pena minha mas não perdem nada se evitarem este disco. Se quiserem experimentar algo mais recente podem “perder” tempo com «Darkest Days». Apaguem a tinta e limpem o sangue, não há nada para ver aqui. Toca a circular!

[ 6,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

PAT T RAVERS BAND Live at the Iridium - NYC (Frontiers Records) Nem a propósito. Nesta edição já falamos de Pat Travers aquando da review do álbum de Adrenaline Mob e agora estou perante «Live at the Iridium», um álbum ao vivo cheio de energia e Rock and Roll!!! Pat Travers já é um veterano nestas andanças, um guitarrista reputado e conceituado. «Live at the Iridium» foi gravado durante a tournée de apoio ao último álbum «Can Do». O setlist é um autêntico best of que percorre quase todos os singles desde 76/77, além de alguns temas da discografia mais recente. Este é um disco que vos vai deixar bem dispostos, alegres, porque o Rock tocado é assim mesmo. Não vão ficar indiferentes, aliás, não se pode ficar indiferente a Pat Travers. É notório que foi uma grande noite para quem assistiu ao concerto. Como é óbvio não podia 6 4 / VERSUS MAGAZINE

faltar o Blues – excelente cover de “I’ve Got News For You” de Ray Charles – e “Lone Wolf Red House”, o Blues Rock com Jon Paris como convidado na harmónica em “If I Had Possession Over Judgment Day” e “Spoonful”. A secção rítmica está de categoria com alguns mini-solos por parte de Sandy Gennaro na bateria e o baixo Rodney O’Quinn possante mas ao mesmo tempo “claro como água”. O disco só tem um defeito: 1h04m de duração? Músicos, ambiente e sonoridade com esta qualidade merecia o dobro da duração. Acredito que tenha durado mais tempo e o setlist tenha sido maior. No entanto, nem isto belisca minimamente a qualidade do álbum. Para ouvir com boa disposição e alegria! [ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

P H I LM Fire From the Evening Sun

(UDR Music) Se viram a capa desta edição e leram a entrevista já sabem um pouco do que se trata «Fire From the Evening Sun». Provavelmente nunca ouviram nada assim. Dave Lombardo na entrevista define a música como sendo honesta. E realmente... é. Sem qualquer tipo de restrição – Funk, Thrash, Punk ou Blues. Eu acrescentaria fúria.... uma fúria por vezes desmesurada, aliada a um certo tipo de mistério e “escuridão” enigmáticas. Eu não queria dizer que para isso só contribui a soberba forma de tocar de Lombardo mas quase tudo o que emana deste CD é furioso – Ah, não esperem o demoníaco pedal duplo de Lombardo mas o resto que o consagrou como um dos melhores está presente. Não pensem, porém, que ao lerem que Dave Lombardo está atrás do kit que estamos perante algo parecido a Slayer... Como disse na entrevista tenho dificuldade em catalogar ou definir um estilo para os Philm. O que saltará mais à vista é o experimentalismo. Parece música despida de qualquer tipo de produção, nua e crua, o que para mim é um factor extra pois ouvimos todos os pormenores, por exemplo em “Silver Queen” o respirar de Nestler quando pronuncia as palavras e os pormenores dos pratos são excelentes. O baixo de Pancho Tomaselli confere um peso extra; muitas vezes escondidos na produção ou mistura mas Dave Lombardo que produziu fez um trabalho excelente. Aos fãs mais acérrimos do trabalho de Lombardo nos Slayer eu digo para ouvirem Philm com mente aberta. Ainda tenho dificuldade em definir «Far From the Evening Sun», o que para mim é

excelente, no entanto, nada como fazer minhas as palavras de Lombardo: é “música honesta”.

[ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

SU MAC The Deal (Profound Lore Records) Com um crescendo de sons especulativos cresce em nós este «The Deal», ligeiramente tomado por incentivos de uma presença fora do comum, talvez até de domínio do som, enquanto tal. A subtileza dos sons e arranjos são de cortar o fôlego; nem a pressa do comum dia-a-dia nos tira a sensação de presenciar uma viragem, um certame de ocorrências que definem uma personalidade encontrada e desenvolvida na presença dos instrumentos que o produzem. A sonoridade deste primeiro trabalho dos canadianos bebe a sua força na profundidade e multi-folhagem sonora, camada sobre camada. A força e energia não travam o avançar da envolvência que nos cria a «Hollow King», que nos é tomada após sons arrastados de pianos misturados com feedback de guitarras da «Thorn In The Lion’s Paw». O alcance a que chegam os momentos criados é sem alcance visual, mesmo que interrompidos por descargas energéticas sem controlo, que dão um ritmo e ânimo imperdível a este trabalho. A dimensão das obras pedem mais de nós do que outros, de mais fácil consumo, sustendo o ar por vezes, além do que seria esperado de um movimento destes. O peso acrescido nos momentos mais centrais da obra deixa-nos confortáveis quanto á solidez do suporte. «Blight’s End Angel» e «The Deal» dão esse suporte. Quais pilares deste sentido; pilares desta terra. Deste todo.

[ 8,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

SW EET & LYN C H Only to Rise (Frontiers Records) Quantos hard rockers old school haverá por aí? Os Sweet & Lynch vão fazer renascer ou manter vivo o glorioso espírito dos anos oitenta – aqui com um toque mais moderno. Quem aprecia um bom hard rock, as típicas “hair bands” e não tem vergonha de o admitir - olhando para trás e face aos padrões actuais, este visual poderá ser considerado... vá... azeiteiro – bandas essas que povoaram a nossa vida nessa gloriosa década, vai ter aqui uma oportunidade de ouro. Este projecto é constituído por Michael Sweet, dos rockers cristãos Stryper e George Lynch que dispensa apresentações. Lynch foi só considerado um dos mais


CRITICA VERSUS influentes e famosos guitarristas na década de oitenta. Estilo e sonoridade muito própria fazem-no um dos cinquenta melhores guitarristas pela “Guitar World Magazine” e um dos dez pela Gibson. Mas nem só Sweet e Lynch vive este projecto que é complementado por excelentes e competentes músicos: James Lomenzo e Brian Tichy. É, pois, uma excelente combinação de rock com uma das melhores vozes do rock, bom gosto nas composições, melodias e coros apelativos. Como é óbvio, um dos pontos de interesse, é, e será sempre Lynch. Ouvi-lo tocar, é qualquer coisa de extraordinário, os riffs, solos, as passagens... apesar dos sessenta anos as capacidades estão intactas. Não serei capaz de destacar algum tema em especial, antes todo o álbum. Há pormenores para descobrir em todos os temas. Até parece uma brincadeira mas é divertido ouvir isto que se farta e com um nível máximo de profissionalismo. Geralmente nestes álbuns com grande ênfase em duas vertentes (guitarra/ voz) tende-se a esconder um pouco o resto dos músicos, no entanto, Sweet e Lynch não deixaram isso acontecer e Lomenzo e Tichy estão bem vivos e nada escondidos. Impecável!

[ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

V IS IG O T H The Revenant King (Metal Blade) Aos primeiros acordes de «The Revenant King» ficamos de imediato com a sensação de estarmos prerante mais uma banda de viking epic metal - Apesar de querem categoriza-los como heavy metal ou power metal e dado que não existe um visigoth epic metal! - Que não acrescenta grande coisa. No entanto, temos de dar algum crédito a estes Visigoth e deixá-los “tocar” e “riffar” até ao fim. De facto, o som aqui e ali faz lembrar quase todas as bandas Europeias deste estilo, mas eles conseguem dar-lhe uma roupagem própria e arremessar-nos com 9 portentosas e bem conseguidas músicas. No topo, claro está, só podia estar «Iron Brotherhood», um hino daqueles imensuráveis que será obrigatório em qualquer concerto dos Visigoth para sempre, mais ainda, feito à medida da participação do público. Que estrondosa música. Outra música a destacar é «Mommoth Rider», com um riff acutilante que faz jus à parte “Rider”(cavalgada) do nome da musica e o tema de fecho com 10 minutos «From the Arcane Mists of Prophecy», que acentua o estilo viking da banda. Há ainda duas coisas a referir: Os Visigoth são originários de Salt lake City - Utah, América, e este trabalho é o de estreia. «The Revenant King» não deslumbra plenamente, mas também não desilude. É portentoso. É um álbum

de estreia consistente e agradável que se ouve mais do que uma vez, o ideal para fazer headbanger ao som do viking epic metal ou lá o que quiserem categorizar. Os fãs do género vão adorar. [ 7,5 / 10 ] CARLOS FILIPE

NAC H TB LU T Chimonas (Napalm Records) Tudo envolto com Nachtblut respira Alemanha, desde o nome da banda até ao facto de ser totalmente cantado em alemão. A única coisa que não é alemã é a música, a qual se configura como um dos melhores black metal que ouvi nos últimos tempos. Simplesmente brilhante. E o facto anterior da língua, não atenua em nada esta qualidade latente que só enaltece a música dos Nachtblut. Os mais sépticos dirão que aqui ou ali soa à Cradle of Filth dos 90, ou que a componente melódica e por vezes transmuta-se em sinfónica faz-nos lembrar outras bandas Norueguesas de renome, mas, toda a textura musical é aqui exemplarmente combinada e entrelaçada. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Este «Chimonas» é uma magnífica proposta de um black metal “comme il faut” que bebe no melhor que se faz (ou já se fez), dando-lhe uma roupagem mais moderna (melódica) e atual. Já faz tempo que não me aparecia algo tão interessante neste género. Abstenhamse os black metalistas mais radicais e puristas. [ 9,5 / 10 ] CARLOS FILIPE

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65 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

6 6 / VERSUS MAGAZINE


PLAYLIST VERSUS C A R LO S F I L IP E

ERNESTO MA RTI NS

T R I S TA N I A

R I C K WA K E M A N « T h e S i x W i v e s o f H e n r y V I I I »

«Illumination»

A M O R P H I S « Ta l e s

M Y D Y I N G B R I D E « Tr i n i t y »

From The Thousand Lakes»

W O LV E R I N E « C o m m u n i c a t i o n L o s t »

THIN LIZZY «Life Live»

E D U A R D O R A MA LHADEIRO

DI C O

LED ZEPPELIN «Physical Grafitti»

A W A I T I N G T H E V U LT U R E S « A w a i t i n g t h e V u l t u r e s »

ECLIPSE

B I Z A R R A L O C O M O T I VA « M o r t u á r i o »

«Armageddonize»

L O N E LY R O B O T

YA N N T I E R S E N « L e ENSIFERUM

S P A R TA C U S « I m p e r i u m L e g i s »

«Please Come Home» fabuleux destin d’Amélie Poulain

»

MIDNIGHT PRIEST «Midnight Steel» D E E P P U R P L E « Deepest

«One Man Army»

A D R I A N O G O D I N HO

P u r p l e : T h e Ve r y B e s t o f D e e p P u r p l e

»

H U G O MELO

... THE TRAIL OF DEAD

«IX»

CARACH ANGREN

«This Is No Fairytale»

AT T H E G AT E S « A t W a r W i t h R e a l i t y »

RAGE «Perfect Man»

DIABOLICAL MASQUERADE «Nightwork»

MENDELSSOHN «Piano Concerto No.1 & 2»

REFUSED «The Shape of Punk to Come»

M AY H E M « O r d o A d C h a o »

T H E B E AT L E S « R e v o l v e r »

RAMP

«... Live»

VICTOR HUGO CLUTTER

«Obsidian»

STEVE ROACH «New Life Dreaming» TO/DIE/FOR «Wounds Wide Open»

BREVEMENTE .PT

A VERSUS PROCURA NOVOS COLABORADORES! SE ESTÁS INTERESSADO EM FAZER PARTE DA NOSSA EQUIPA ENTRA EM CONTACTO PELO ENDEREÇO:

VERSUSMAGAZINEPT@GMAIL.COM 67 / VERSUS MAGAZINE


BEST OF 2014 ADRIANO GODINH O INTERNACIONAL

LOUDBLAST

«Burial Ground»

E OBLIVISCARIS SEPTICFLESH

«Citadel»

«Titan»

TRIPTYKON «Melana Chasmata» VA L L E N F Y R E

VICT OR HUGO

«Splinters»

NACIONAL

A TREE OF SIGNS

«Saturn»

SLEEPING PULSE «Under The Same Sky» WE ARE THE DAMNED «Doomvirate»

VICT OR HUGO

PIORES DO ANO

ANGELICA

«Thrive»

ASTRA

«Broken Balance»

INDICA

«Shine»



LIVE VERSUS

AMON AMARTH + HUNTRESS + SAVAGE MESSIA HARD CLUB – PORTO 11.02.2015

© Sérgio Teixeira

AMON AMARTH VIKINGS INVADEM O HARD CLUB E TRAZEM COMPANHIA Na última quarta-feira (11 de fevereiro de 2015), os Amon Amarth vieram ao Porto “invadir” o Hard Club, juntamente com os britânicos Savage Messiah e os americanos Huntress, para apresentar o álbum «Deceiver of the Gods», editado em junho de 2013. E a Rock & Metal Worshipers esteve presente, com o apoio da Hintf Webzine. Os Savage Messiah deram início à noite, mostrando um Heavy Metal old school à sua maneira, com riffs rápidos e fortes, como foi o caso de “Hellblazer”, uma música “inspirada no Diabo”, segundo explicação dada pelo vocalista Dave Silver, e “Scavenger of Mercy” não fugiu à regra, envolvendo um heavy extra e satisfatório. Pudemos ver que havia alguns fãs na sala, mas também se ouvia o apoio de pessoas que não conheciam o trabalho dos ingleses e que, com certeza, ganharam o gosto pela sua música. Num concerto de cerca de meia hora, os Savage Messiah fecharam com “Minority of One”. A banda teve uma prestação em grande e a reação do público foi bastante positiva. Sabendo quão difícil é iniciar a noite e animar o público, os britânicos fizeram um excelente trabalho. 7 0 / VERSUS MAGAZINE

De seguida entraram os californianos Huntress, que contam com dois álbuns: «Spell Eater» (2012) e «Starbound Beast» (2013). Assim que tocaram os primeiros acordes de “Senicide”, alguns ansiavam pela chegada da vocalista. Foi uma performance com energia, tanto da parte da banda como dos fãs. Pelo que pude ver, alguns dos presentes não ficaram muito contentes com a sua performance. Os Huntress tocaram “Destroy Your Life”, “Starbound Beast” e ainda “I Want to Fuck You to Death”, dedicada a Lemmy Kilmister, dos Motörhead, talvez a música mais apreciada nesta altura do concerto (risos). Posso dizer que gostei mais dos solos que ambos os guitarristas partilharam. Eli Santana e Blake Meahl mostraram sintonia entre eles, apoiandose mutuamente. Antes de os Amon Amarth pisarem o palco, o público pôde aquecer as vozes ao som de “Run To The Hills”, dos Iron Maiden. Após este clássico, ouviu-se o instrumental que anunciava a chegada da banda e, logo de seguida, “Father of the Wolf” e “Deceiver of the Gods” abriram o concerto dos suecos, que foram acompanhados pela plateia do início ao

fim. Johan Hegg deu as boas vindas em Português. Grandes clássicos passaram nesta noite épica, tais como: “For Victory or Death”, “As Loke Falls” e “Death Fire”, que foram recebidas com força e vontade, algo que nunca tinha visto antes. Antes de se ausentarem por breves momentos, os Amon Amarth tocaram “Victorious March”. Durante a breve ausência da banda, ouvia-se o som de uma tempestade e de um mar bravo: era o teaser de “Twilight of the Thunder God”, uma das malhas mais esperadas da noite, seguindo-se “The Pursuit of Vikings”. Este encore teve full support da plateia que cantarolava o instrumental com força e vontade. Foi uma noite de festa e boa disposição, que ultrapassou as minhas expectativas, apesar de estar a contar com uma performance espetacular da parte dos Amon Amarth,. E penso que falo por todos os presentes e fãs quando digo “Voltem depressa ao nosso país!”

Reportagem: Paulo Guedes Fotografia: Sérgio Teixeira


LIVE VERSUS M.O.R.G

/ BLACK BURN HATE / CLAIM YOUR THRONE / ABOVEMEN METALPOINT – PORTO 28.02.2015 UMA N OI TE SOL I DÁRI A

No passado sábado, 28 de Fevereiro, os nossos amigos Bulldozer ON Stage festejaram o seu 3º aniversário, um evento que teve como finalidade ajudar a Associação Midas, um movimento de defesa dos animais que recolhe, trata e abriga. Por conseguinte, o preço estipulado para o bilhete foi 2kg de ração/pessoa. Após o sucesso da edição do ano passado do “Feed Me Fest” – que juntou no total 253 kg de alimentos para animais – para este evento solidário juntaram-se Abovemen, Claim Your Throne, Black Burn Hate e M.O.R.G. Os Abovemen, que abriram a noite, apanharam um público difícil, mas conseguiram superar o desafio. A cada música que tocaram mostravam mais rapidez e mais peso e muita energia em palco. “I don’t care” e “Abovemen” foram dois dos temas que pudemos ouvir e que estarão presentes no EP que estão a preparar. Claim Your Throne, uma banda já mais conhecida, que mistura Hardcore com Metal, fez-se notar com muito peso do início ao fim. Pudemos ouvir alguns

temas do álbum que se espera para o final do ano, o que deixou o público ansioso por este novo trabalho dos portuenses. A terceira banda a subir o palco foi Black Burn Hate, formada em 2008. Vieram de Guimarães e contam com um EP intitulado «A Theory Of Justice». Abriram com “Lost in The End” e, com a reputação que têm granjeado ao longo do seu percurso, conseguiram um espetáculo à sua maneira que pôs toda a gente a mexer. De facto, fizeram a frente toda acompanhar as suas músicas com muito headbanging durante a sua performance. Para fechar este evento, foram escolhidos os M.O.R.G., de Aveiro, que deixaram o público boquiaberto com o seu Thrash e excelente prestação. A banda tocou temas como “War Machine” e “Devil Inside”, este último conhecido de muitos dos presentes, que cantaram o refrão junto com a banda. Este mini-festival contou com a presença de cerca de 200 pessoas e permitiu angariar cerca de 500 kg de ração para animais. Parabéns à Bulldozer ON Stage pelo seu aniversário e pela grande organização e à Associação Midas pelo excelente trabalho. \m/

Reportagem e fotos: Paulo Guedes

M.O.R.G

/ BLACK BURN HATE / CLAIM YOUR THRONE / ABOVEMEN METALPOINT – PORTO 28.02.2015

Reportagem e fotos: Victor Hugo

M.O.R.G

/ BLACK BURN HATE / CLAIM YOUR THRONE / ABOVEMEN METALPOINT – PORTO 28.02.2015

Reportagem e fotos: Victor Hugo

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AGENDA VERSUS MOONSPELL

[ 27 / 28 DE MARÇO ]

MARÇO

A B R IL

01 -

MOURNING BELOVED + PAINTED

02 -

BLACK

- Metalpoint, Porto TERROR EMPIRE + REVOLUTION

03 -

01 -

WITHIN + DESTROYERS OF ALL - Salão Brasil, Coimbra 06 / 07 - WAKO + CORPUS CHRISTII + UANINAUEI + MIDNIGHT PRIEST + GÖATFUKK + BORDERLANDS (...) Arena De Évora, Évora Metal Fest 2015 07 - SWITCHTENSE + TERROR EMPIRE + STUBBORM - D.R.AC., Figueira da Foz 07 - AMANTES & MORTAIS + HOURSWILL

-

Republica da Musica, Lisboa 14 - FEAR FACTORY + INTRONAUT + CHABTAN - Hard Club, Porto 15 - FEAR FACTORY + INTRONAUT + CHABTAN - Paradise Garage, Lisboa 20 - FINNTROLL + HATESPHERE + PROFANE OMEN

-

Hard Club, Porto

20 / 21 -

XII EXTREME METAL ATTACK Side B, Benavente

-

MOONSPELL + SEPTICFLESH Coliseu dos Recreios, Lisboa 27 / 28 - MORE THAN A THOUSAND + ONSLAUGHT + GROG + SWITCHTENSE + IBERIA + WEB + MISS LAVA + WAKO + TERROR EMPIRE + ALBERT FISH + KARNAK SETI + CROSSED FIRE + ANALEPSY + BIZARRA LOCOMOTIVA + COLOSSO + DESTROYERS OF ALL +

27 -

JACKIE D + BORDERLANDS - Sociedade Filarmónica Estrela Moitense, Moita Moita Metal Fest 2015

28 -

MOONSPELL + SEPTICFLESH Club, Porto

-

Hard

ARCH ENEMY

SWR METALFEST [ 30-02 DE ABRIL-MAIO ]

M A IO

ROYAL BLOOD + BAD BREEDING Coliseu dos Recreios, Lisboa

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CHRIST AGONY + WITCHMASTER RCA Club, Lisboa 03 / 04 - SIMBIOSE + VIRALATA + STONERUST + BURN DAMAGE + FOR THE GLORY + LIBER MORTIS + A CHAMA + OS SUSPEITOS DO COSTUME + ARTIGO 21 + CAELUM’S EDGE - Odemira, Mira Fest 2015 04 - OVERCOME THE SKY + SHORYUKEN + INVOKE + INNERSIGHT + BRUMA OBSCURA + MASS DISORDER + ANALEPSY + BLEEDING DISPLAY + NEOPLASMAH + MINDTAKER + AFTER DJ ESPIGA - Soc. Instrução e recreio de Elvas, HELLVAS METAL FEST III 15 - HEART IN HAND + HAND OF MERCY + LIFERUINER + CREATE TO INSPIRE Hard Club, Porto 16 - HEART IN HAND + HAND OF MERCY + LIFERUINER + CREATE TO INSPIRE Republica da Musica, Lisboa

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BIZARRA LOCOMOTIVA - Hard Club, Porto 30 - PRIMORDIAL + ENTOMBED AD + SHINIG + IMPALED NAZARENE + FLESHGOD APOCALYPSE + ENTHRONED + GUTALAX + SKULL FIST + BENIGHTED + AHAB + SKYFORGER + BONG + INTERNAL SUFFERING + NIGHTBRINGER + SUMA + ZOM + INCINERATE + ZATOKREV LVCIFYRE + RDB + CLAUSTROFOBIA + BLEEDING DISPLAY + MIDNIGHT PRIEST + EMPTINESS + KILIMANJARO + GRIME

25 -

+ NEUROMA + EQUALEFT + OROK Barroselas, XVIII SWR Metalfest

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01 / 02 -

PRIMORDIAL + ENTOMBED AD + SHINIG + IMPALED NAZARENE + FLESHGOD APOCALYPSE + ENTHRONED + GUTALAX + SKULL FIST + BENIGHTED + AHAB + SKYFORGER + BONG + INTERNAL SUFFERING + NIGHTBRINGER + SUMA + ZOM + INCINERATE + ZATOKREV LVCIFYRE + RDB + CLAUSTROFOBIA + BLEEDING DISPLAY + MIDNIGHT PRIEST + EMPTINESS + KILIMANJARO + GRIME + NEUROMA + EQUALEFT + OROK Barroselas, XVIII SWR Metalfest 09 - CANCER + BLEEDING DISPLAY + DERRAME + SHORYUKEN - RCA Club, Lisboa 15 / 16 HOLOCAUSTO CANIBAL + BASEMENT TORTURE KILLINGS + SWITCHTENSE + FOR THE GLORY + PRIMAL ATTACK + SERRABULHO + CROSSED FIRE + EVIL IMPULSE + PUSH + IRAE + CHALLENGE + EXTREME RETALIATION + GENNOMA + DIABOLICAL MENTAL STATE + IODINE + TABERNA + GATOS PINGADOS - RCA Club, Lisboa 19 - EMMURE + CALIBAN + THY ART IS MURDER + SWORN IN Lisboa

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21 -

ARCH ENEMY + TBA Garage, Lisboa

22 -

RCA Club,

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Paradise

ARCH ENEMY + UNEARTH + DRONE

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Hard Club, Porto 29 - BLAME ZEUS; + MOONSHADE + DEBUNKER + ASHES REBORN Metalpoint, Porto 30 - SONNEILLON BM + FURCAZ + HUMANPHOBIC + REPTILE Porto

PRÓXIMA ABRIL | 2015

ENSIFERUM | SHINNING MOONSPELL SEGUE A VERSUS MAGAZINE NO FACEBOOK facebook.com/versusmagazinepage versusmagazinept@gmail.com

7 2 / VERSUS MAGAZINE

[ 21 / 22 DE MAIO ]

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Metalpoint,




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