E SP E C I A L C I N E MA : A NT RO DE FOLIA E FANTASPO RTO
LIV E V E RSUS
D AVI D BOW I E
C R ÍT IC A S V ER S U S
M ETA L P E R S U IT
THE MUT E GODS SOL BARONESS AMORPHIS
I´ N D I C E
EDITORIAL
vErSUS
Nº38 JANEIRO / FEVEREIRO 2016
vErSUS MAGAZINE
V E R S U S M A G A Z IN E
Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com
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EDITORIAL
MAGAZINE
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D IR E C Ç Ã O
MULTIDÃO ISOLADA Nã o é f á c i l s er mú si co mas ta mb ém não é fácil ser o rga n i z a d o r d e e ve n to s mu si ca is nesta pseudoe x p a n s ã o u t óp i c a d o e x-co n d ad o Por tucalense. M u i t o s e f a l ou d a re -al oc a ç ã o do festival Vagos O pe n A i r p a r a os arre d ores d ’ Olissipo; nada se c o n c l u i , c l a ro, e n a d a se p od e m uito- conseguir ao t e n t a r p e rc e b er mé ké p óssí vel !
Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins
G R A F IS M O
Eduardo Ramalhadeiro
COLABORADORES
Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Hugo Melo, Ivo Broncas, Jorge Ribeiro de Castro, Paulo Guedes, Pedro Remiz, Victor Hugo, Miguel Ribeiro (Hintf) e Nuno Kanina (Hintf)
Nã o s o m o s f u nd a men ta l i sta s, nã o s om os par tidár ios e m u i t o m e no s somos re si stentes à m udança; n a d a d i s s o . Mas d ó i ve r tu d o ser sugado par a um a c a p i t a l q u e n a d a d ei xa a o o u tros.
F O T O G R A F IA
Po r t u g a l é c r ue l e o s se u s h a b i tantes m uito bem o re p re s e n t a m ; ho j e o V O A re p re senta o ceder aos c a p r i c h o s c a pi ta l i sta s e c o mod i stas da sociedade qu e c r i á m o s .
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O U T IL IZ A D O R P O D E :
Nã o s e i q u a l a ra zã o , na verd a de, que levou isto a a c o n t e c e r ; ma s a c red i to q ue há um a per feita e x p l i c a ç ã o , a p en a s n ã o a c o n h e c em os. Quase nem imp o r t a ; n a v e rd a d e q u e m fi co u a perder som os t o do s n ó s , n ão a p en a s o s fã s d e m úsica extrem a. Adriano Godinho
copiar, distribuir, exibir a obra
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dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pelo aut or ou l i cenci ante.
U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S . O uti l i zador não pode al te r ar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.
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TOBIAS SAMMET’S AVANTASIA
C ON TE ÚDO 02 04 05 06 10 16 18 20 22 24 26 32 36
NOTÍCIAS VE RSUS NOTÍCIAS VE RSUS TRIAL BY F IRE AMORPHIS ADRIE N BOUSSON DE STROYE RS OF AL L GRE L OS DE HORTE L Ã OL D F ORE ST VARATHRON MOSH MOL L L UST WINDFAE RE R F L ASH RE VIE WS
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THE M UTE GODS AVANTASIA SOL BARONE SS ÁL BUM VE RSUS
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GE HE NNAH M E TAL PE RSUIT PL AYL IST VE RSUS ME L HORE S 2015
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BARONESS - «PURPLE»
CRÍTICAS VE RSUS BRE AKNE CK NYX
78 L I VE VERSUS # # # # # # # #
Symphony X Marching Church Grabak Deafheaven Machine Head Under the Doom Blues Pills The Vintage Caravan
92 D AVI D BOW I E 94 A UT OKRAT OR 96 M O RTE IN C A N D E S C E N TE 98 A N T RO DE FOLI A 100 FAN TASPORT O
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NOTICIAS
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TRIAL BY FIRE
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RIP RIVERSIDE A notícia caiu que nem uma bomba! Piotr Grudzinski, guitarrista dos polacos Riverside, faleceu no dia 21 de fevereiro. As causas da morte foram divulgadas há poucos dias no site da banda: Piotr faleceu de causas naturais - súbita paragem cardio-respiratória. Os Riverside cancelaram todos os concertos para este ano mas os teremos os lançamentos programados para o final da primavera e final de 2016.
BREVE HISTÓRIA DO METAL PORTUGUÊS PRIMEIRAS DATAS DE APRESENTAÇÃO Já estão confirmadas as duas primeiras apresentações do livro Breve História do Metal Português, com a obra à venda: - 11/03/16 - RCA Club, Lisboa (no âmbito do Lusitanian Metal Batlle II)
AVA N TA S I A
O LD FO R ES T
G host light s (Nuclear Blast) MÉDIA: 2,3
R O TTIN G C H R IS T
R it u a ls (Season of Mist) MÉDIA: 4,2
Dagian (Avantgarde Music) MÉDIA: 3,0
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O MN I U M G AT H ER U M
BORKNAGAR
G rey Heaven (Lifeforce) MÉDIA: 3
Wint er Thr ice (Century Media) MÉDIA: 3,5
EXUMER
T h e R a gin g T ide s (Metal Blade) MÉDIA: 2,5
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ERNESTO M.
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- 29/04/16 - Oktanas Bar (Agualva, cacém) - no âmbito do Paws & Claws Fest 6 (c/ a presença de Anabela Ventura, da marca Cakes by Anabela Ventura)
P R I MA L FEA R
H EMELB ES T O R MER
Rulebreaker (Frontiers) MÉDIA: 3
BARONESS
Aet her (Debemur Morti) MÉDIA: 2,8
Pu rple (Abraxan Hymns) MÉDIA: 3,8
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BEHEMOTH
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F R E D E R I C O F.
F R E D E R I C O F.
Os ícones polacos do black/death metal regressam a Portugal, no dia 25 OUT 2016 @ PARADISE GARAGE para um concerto intimista.
ADRIANO G.
ADRIANO G.
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ERNESTO M.
ERNESTO M.
ERNESTO M.
https://www.facebook.com/primeartists/ http://www.primeartists.eu/
ABYSSIC
A Wint er ’s Tale (Osmose Productions) MÉDIA: 5
LÖBO LÖBO (banda de doom/sludge/rock psicadélico de Setúbal) preparam-se para nos assaltar os sentidos num conjunto de atuações ainda por anunciar. Destas, destaca-se a participação no Sound Bay Fest a ser realizado no Incrível Almadense nos dias 29 e 30 de abril, contribuindo a banda para a panóplia de cores, sons e vibrações deste evento dedicado ao rock psicadélico.
CORREIA Os manos Poli e Mike (conhecidos pelo seu cadastro nos Devil in Me, Men Eater, Sam Alone e More Than a Thousand ) encontram-se em fase de finalização do seu último projeto, desta vez com o sobrenome de família. De título “Act One”, o álbum a ser lançado em breve, adivinha-se (a avaliar pela última prestação ao vivo como banda de abertura para Baroness), ser uma brutal cacetada de rock/stoner. 4 / VERSUS MAGAZINE
C A R L O S F.
Obra - Prima Excelente Esforçado
EDUARDO R. F R E D E R I C O F.
Esperado
ADRIANO G.
Básico
ERNESTO M.
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ENTREVISTA
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tocamos.
ISSO É MUITO BOM. ACHAS QUE ESTAS DIGRESSÕES, COM BANDAS MAIORES, SÃO UMA BOA OPORTUNIDADE PARA MOSTRAREM A VOSSA MÚSICA? NICLAS: Esta é provavelmente a única maneira de mostrarmos a nossa música a novas pessoas. Porque se tocarmos sempre nos mesmos sítios, estarão lá sempre as mesmas pessoas (risos). Esta digressão vai ter, segundo me disseram, cerca 117.000 pessoas a assistir aos concertos.
OS AMORPHIS TÊM UMA CARREIRA BASTANTE LONGA COM BASTANTES ANOS NA CENA. COMO ESCOLHEM OS TEMAS PARA O VOSSO SET-LIST? HOJE TOCAM CERCA DE 40 MINUTOS. É-VOS DIFÍCIL ESCOLHER TEMAS? SUPONHO QUE HOJE SE FOQUEM MAIS NO MATERIAL MAIS RECENTE.
“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HAVEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”
AMORPHIS DEBAIXO DE UMA CRIATIVA NUVEM OS AMORPHIS SÃO DAS MAIS RECONHECIDAS EXPORTAÇÕES DA FINLÂNDIA. A PAR DOS NIGHTWISH E OUTROS, OS AMORPHIS TÊM UMA CARREIRA COM MAIS DE 20 ANOS E COM ÁLBUNS LENDÁRIOS NA SUA CARTEIRA. DE FACTO, “TALES FROM THE THOUSAND LAKES” OU “SKYFORGER” FORAM ÁLBUNS MARCANTES PARA TODA UMA CENA QUE ASSISTIU A UMA EVOLUÇÃO MUITO INTERESSANTE POR PARTE DESTE SEXTETO FINLÂNDES. O MAIS RECENTE “UNDER THE RED CLOUD” TEM SIDO OBJECTO DE INTENSIVA PROMOÇÃO ATRAVÉS DE UMA EXTENSIVA TOUR COM OS NIGHTWISH E OS ARCH ENEMY. E FOI NUMA DESTAS DATAS, MAIS CONCRETAMENTE EM LEIPZIG, NA ALEMANHA, QUE UM DOS NOSSOS CORRESPONDENTES SE SENTOU NO TOUR BUS COM O BAIXISTA NICLAS ETELÄVUORI PARA CONVERSAR ACERCA DO MAIS RECENTE ÁLBUM E DESTA EXCELENTE TOUR EM CONJUNTO COM OS NIGHTWISH E OS ARCH ENEMY. Por: Eduardo Rocha
OLÁ NICLAS. OBRIGADO PELA TUA DISPONIBILIDADE. ESTÃO EM DIGRESSÃO COM OS NIGHTWISH E OS ARCH ENEMY. COMO ESTÁ A CORRER A DIGRESSÃO ATÉ AGORA?
fora da digressão, só com os Arch Enemy, em França e também alguns concertos em que fomos os headliners. Portanto, estamos a tocar quase todos os dias já há um mês.
NICLA S: Estamos em digressão já há um mês e está a ser muito bom. Também tivemos concertos
E COMO TEM SIDO A RECEPÇÃO POR PARTE DO PÚBLICO?
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NIC L A S : Tem sido verdadeiramente fantástica. Quando deixamos a Finlândia para vir para esta digressão, pensávamos que a maioria das pessoas estaria a entrar enquanto nós tocámos mas, em quase todos os concertos, cerca de 90% das pessoas já estão dentro dos concertos quando nós
portanto a competição foi alta (risos). Estamos muito contentes com o álbum.
E COMO DIFERENCIARIAS O ÁLBUM EM RELAÇÃO AOS ANTERIORES? NICLAS: Este foi o primeiro que fizemos com o Jens Brogen na Suécia. Os métodos de produção dele são bastante diferentes dos métodos dos anteriores. Desta vez, acabamos por gravar as vozes antes de entrarmos em estúdio e foi a primeira vez que fizemos isso. Normalmente, começamos por gravar a música e depois decidimos depois como ficam as linhas vocais.
MUSICALMENTE, O QUE NOS PODE DIZER RELATIVAMENTE AO “UNDER THE RED CLOUD”? PODES FALAR UM POUCO SOBRE O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO?
músicas. Queríamos que todos os temas fossem bons, até os temas bónus (risos). Daí, quando começamos a tocar o material vimos que alguns temas não resultavam e acabamos por alterar algumas coisas. Com o “Circle” (N.R. – álbum anterior) tocámos o álbum por inteiro no primeiro concerto. Agora, não tivemos a oportunidade de fazer isso.
VOCÊS TÊM SIDO BASTANTE REGULARES, EM TERMOS DE LANÇAMENTOS, DESDE QUE O TOMI (N.R. - VOCALISTA) SE JUNTOU À BANDA. ESTIVE A VER E OS AMORPHIS TÊM LANÇADO UM ÁLBUM A CADA 2 ANOS. A JUNTAR ISSO, VOCÊS FAZEM BASTANTES DIGRESSÕES E FIZERAM TAMBÉM A DIGRESSÃO DE ANIVERSÁRIO DO “TALES FROM THE THOUSAND LAKES”. ISSO É BOM SINAL DA ESTABILIDADE DA BANDA E DE QUE SE CONHECEM. ACHAS QUE CHEGARAM A UM ESTADO EM QUE TÊM UM LINE-UP ESTÁVEL?
“ESTA É PROVAVELMENTE A ÚNICA MANEIRA DE MOSTRARMOS A NOSSA MÚSICA A NOVAS PESSOAS.”
NICLAS: Sim, temos que fazer isso. No ano passado, fizemos a digressão do “Tales from the Thousand Lakes”. Portanto, quando tocámos só 40 minutos, metade do set-list é do novo álbum e a outra metade de álbuns mais antigos.
VI QUE ANUNCIARAM RECENTEMENTE UMA DIGRESSÃO COMO HEADLINERS. PODES DAR MAIS DETALHES SOBRE A DIGRESSÃO? QUAIS VÃO SER AS BANDAS DE SUPORTE? NICLAS: Ainda não sabemos quem vão ser as bandas de suporte. Há algumas opções mas ainda não está nada decidido (N.R. – entretanto foi anunciado que os Textures serão a banda de suporte). E vamos tocar um set completo.
E ACABARAM DE LANÇAR O VOSSO ÁLBUM MAIS RECENTE, “UNDER THE RED CLOUD”. COMO TEM SIDO A RECEPÇÃO AO ÁLBUM? NICLAS: Tem sido bastante boa. Na Alemanha foi álbum do mês na Metal Hammer. Saiu no mesmo dia que o álbum dos Iron Maiden,
NICLAS: Há um ano atrás, todas as pessoas tinham algumas ideias gravadas em demos. Depois tivemos a digressão do “Tales” e depois disso começamos por ensaiar as demos e tínhamos 23 músicas ou qualquer coisa do género. Em Fevereiro, o Jens veio à Finlândia durante uma semana e resumimos o material para 17 músicas e depois acabamos por rearranjar algum material. Depois continuamos a ensaiar e acabamos por ter 13 músicas. E estivemos 60 dias no estúdio, também para gravar e misturar o álbum.
E QUANDO COMPÕEM, PENSAM EM COMO VAI SOAR O MATERIAL AO VIVO? COMPÕEM EM PARTICULAR PARA TOCAR AO VIVO? NICLAS: Não, desta vez tínhamos bastante material e o Jens também tinha uma opinião muito positiva. Foi bom ouvir isso por parte de alguém de fora da banda e depois queríamos ter um álbum bom, que não tivesse apenas 1 ou 2 boas
NICLAS: Sim, temos este lineup já há 10 anos. A crew também tem sido a mesma e portanto, sabes, cada um sabe o seu sítio e é bastante fácil hoje em dia irmos em digressão.
QUANDO MUDARAM DE VOCALISTA, ESTAVAM PREOCUPADOS COM O QUE IRIA ACONTECER? POR CURIOSIDADE, TODAS AS BANDAS DESTA DIGRESSÃO MUDARAM DE VOCALISTA E CRESCERAM. NICLAS: Sim, os Nightwish mudaram de vocalista e cresceram cada vez que o fizeram (risos). Lembro-me quando estávamos à procura de um novo vocalista, de pensarmos que podíamos demorar bastante tempo até encontrar a pessoa certa. E foi bastante difícil encontrar o Tomi, apesar de ele viver na Finlândia. Ele não concorreu à vaga e ouvimos falar dele através de outra pessoa. E depois ele veio experimentar e ficou.
OS AMORPHIS ESTÃO NA CENA HÁ BASTANTES ANOS. COMO COMPARAS 7 / VERSUS MAGAZINE
ENTREVISTA
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ENTREVISTA
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enquadrar em nenhum estilo. Só queremos tocar a nossa música e estamos muito felizes com o facto de que as pessoas reconhecem o nosso som. Não precisamos de ser colocados em nenhuma categoria porque mudámos bastante o nosso estilo.
OS DIAS DE HOJE COM A ALTURA EM QUE COMEÇARAM? NICLA S: Não sei. Tem havido bastantes bandas e as bandas que são da mesma altura que nós, cresceram a ouvir a mesma música. São todos nossos amigos e isto tornou-se numa grande comunidade. Relativamente às bandas mais novas, não conheço muitas, mas as pessoas com que temos estado em digressão nas últimas décadas são como uma grande família.
MAS É BASTANTE CURIOSO PORQUE OS AMORPHIS EVOLUÍRAM DE UM DEATH-METAL PARA ALGO MAIS FOLK E AGORA SÃO MAIS PROGRESSIVOS. QUERES FAZER ALGUM COMENTÁRIO EM RELAÇÃO A ESTA EVOLUÇÃO? N IC LA S : Acho que toda a gente evoluí e como músicos queremos experimentar coisas novas. A banda está tão sólida que podemos experimentar tudo e as coisas acabam por funcionar de alguma maneira (risos). No início tens que
E COMO VÊS ESTE REVIVALISMO? NICLA S: Não sei. Há sempre alguém que consegue aparecer com algo novo. Mesmo que sejam estas coisas retro. Mas a grande maioria das bandas copiam-se umas às outras. Provavelmente, uma banda que comece acaba por soar como algo já conhecido. Mas pode ser que daqui a 5 anos encontrem o seu caminho.
fazer as coisas de acordo com a tua técnica.
E COMO É A CENA NA FINLÂNDIA? SEI QUE OS NIGHTWISH SÃO MUITO GRANDES AÍ. COMO É QUE OS AMORPHIS SE SAFAM NA FINLÂNDIA?
EU DIRIA QUE OS AMORPHIS CHEGARAM A UM NÍVEL EM QUE SÃO BASTANTE PRODUTIVOS E OS VOSSOS ÁLBUNS TÊM UMA LINHA EM COMUM, EM TERMOS SONOROS, DESDE QUE O TOMI SE JUNTOU À BANDA. FOI-VOS DIFÍC IL ATINGIR ESTE NÍVEL?
N IC LA S : Tem sido bom. Quando o álbum saiu, lançamos no mesmo dia que os Iron Maiden, Ghost, Motörhead e os Maiden foram para primeiro lugar do top e nós ficamos em segundo lugar durante muitas semanas. Depois, nós descemos mas os Iron Maiden desceram ainda mais (risos). Claro que eles venderam milhares de álbuns mas acho que houve uma altura em que o top 10 na Finlândia tinha só bandas de metal. Um mês depois, éramos só nos e algumas banda de Hip-Hop.
NICLA S: Acabou por vir por si próprio porque nós nunca nos tentamos
FIZERAM UMA DIGRESSÃO DE ANIVERSÁRIO PARA O “TALES FROM
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NIC L A S : Não planeamos ainda nada mas claro que é possível. Vamos ver quanto tempo vamos estar agora em digressão. Mas o “Tales...” fazia 20 anos e muitas pessoas perguntavam por uma digressão de comemoração e nós decidimos fazer a digressão. E só tocamos temas desse álbum, não tocamos nada de recente. E agora só tocamos temas novos.
E TOCARAM EM PORTUGAL NESSA DIGRESSÃO. TENS ALGUMA MEMÓRIA EM ESPECIAL DO CONCERTO? NIC L A S : Sim, tocamos em Vagos. Foi bastante bom. Tivemos um dia de folga em Aveiro e é uma cidade lindíssima.
UMA PERGUNTA QUE FAÇO SEMPRE, COMO VÊS OS SERVIÇOS DE STREAMING E O QUE ACHAS QUE VAI ACONTECER NO FUTURO? ACHAS QUE É FÁCIL SOBREVIVER NESTE AMBIENTE?
ACHAS QUE, EM TERMOS MUSICAIS, É MAIS DIFÍCIL PARA AS BANDAS NOVA S TRAZEREM ALGO DE NOVO PARA A CENA? ÀS VEZES ACHO QUE JÁ ESTÁ TUDO FEITO SABES? NICLA S: Sim, às vezes as bandas têm que aparecer com algo bastante antigo para que as pessoas não se lembrem. A Finlândia agora está a regressar à moda do glam-rock.
THE THOUSAND LAKES”. COMO FOI A DIGRESSÃO E PORQUÊ O “TALES...”? ESTÃO A PLANEAR ALGO SEMELHANTE PARA O “ELEGY”?
NIC L A S : Não sei, passou-se de uma coisa para outra. Agora fazes álbuns para promoveres as digressõess. E antes fazias as digressões para promoveres os álbuns. Os serviços de streaming dão jeito mas não faz nenhum sentido porque acabaram por matar o conceito de álbum. As pessoas mais novas só ouvem uma música e não ouvem o álbum por inteiro.
NICLAS: Não gosto muito de como o modelo funciona porque eles pagam às editoras e não às bandas. E depois eles dividem de alguma maneira para as bandas e, para nós, acaba por sobrar nada. Pode ser uma boa oportunidade para algumas pessoas, mas para outras não sei. A qualidade do som é má (risos).
E COMO ACHAS QUE VAI SER COM OS AMORPHIS? VOCÊS ESTÃO EM DIGRESSÃO REGULARMENTE. ACHAS QUE CONSEGUEM SOBREVIVER DAS VENDAS DOS ÁLBUNS? COMO É QUE UMA BANDA COMO OS AMORPHIS SOBREVIVE? NICLAS: Temos que estar em digressão e vender material durante os concertos. Não é fácil mas basicamente, tens que estar sempre na estrada.
TU ESTÁS NA BANDA HÁ BASTANTES ANOS E OS AMORPHIS TÊM UMA CARREIRA BASTANTE LONGA. PODES-ME DIZER UM MOMENTO ESPECIAL EM PARTICULAR? HOUVE ALGUMA ALTURA EM QUE ESTIVERAM EXCITADOS COM ALGO EM PARTICULAR? NICLAS: Quando o Tomi se juntou à banda, deu-nos uma nova esperança. Antes de ele entrar, acho que foi o ponto em baixo dos Amorphis porque todas as pessoas na banda estavam fartas. Tivemos que fazer a mudança de line-up e agora temos todos os membros motivados e é estranho porque acho que, agora, já fizemos mais álbuns com este line-up do que com o anterior. Antes, em cada álbum havia sempre alguém diferente.
na Europa. Estamos com a Nuclear Blast há tanto tempo e conhecemos todas as pessoas. Eles não vêm com merda para cima de nós e nós podemos fazer o que queremos.
TENS UMA LIGAÇÃO BASTANTE FORTE COM PORTUGAL UMA VEZ QUE GRAVASTE DOIS ÁLBUNS COM OS MOONSPELL. ACHAS QUE UMA DIGRESSÃO CONJUNTA PODERIA SER POSSÍVEL? NICLAS: Foi assim que nos conhecemos. Fizemos uma digressão nos Estados Unidos no ano em que me juntei à banda e os Moonspell estavam a tocar connosco. Depois eles começaram a vir gravar os álbuns na Finlândia. O Sérgio tinha saído da banda e eles perguntaram-me se eu podia gravar o álbum. Depois, encontraram o Aires mas o Mike telefonoume e pediu-me para vir gravar outro álbum. Eles são tipos espectaculares e provavelmente vou visitá-los a Portugal em breve.
A VERSUS É DE PORTUGAL. TENS ALGUMA MENSAGEM EM PARTICULAR PARA OS FÃS PORTUGUESES E PARA OS LEITORES DA VERSUS? NICLAS: Estamos a planear ir a Portugal sempre que vamos em digressão. Nesta digressão, não vamos tocar em Portugal nem em Espanha. Estamos à espera da oportunidade certa para ir aí tocar. Tem sido sempre um prazer tocar em Portugal.
OS AMORPHIS TÊM ESTADO SEMPRE NA NUCLEAR BLAST. COMO SE SENTEM COM A EDITORA?
ht t p: / / w w w. amorphi s. net /
NICLAS: Os primeiros álbuns foram com a Relapse mas a Nuclear Blast era quem tinha a licença de distribuição
https://www.facebook.com/amorphis/
https://youtu.be/oiOX2axSWvg
E ACHAS QUE ESTES SERVIÇOS ABREM OPORTUNIDADES A NOVAS BANDAS? ACHAS QUE O MODELO DE NEGÓCIOS É JUSTO?
“ACHO QUE TODA A GENTE EVOLUÍ E COMO MÚSICOS QUEREMOS EXPERIMENTAR COISAS NOVAS. A BANDA ESTÁ TÃO SÓLIDA QUE PODEMOS EXPERIMENTAR TUDO E AS COISAS ACABAM POR FUNCIONAR DE ALGUMA MANEIRA (RISOS).” 9 / VERSUS MAGAZINE
ADRIEN
BOUSSON
ENTRE O PROFISSIONALISMO E O “DILETANTISMO”
A R T I S T A G R A´ F I C O
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OLÁ, ADRIEN! A PRIMEIRA CONSTATAÇÃO QUE FIZ AO ANALISAR O TEU PORTEFÓLIO FOI QUE TU JÁ TRABALHASTE PARA BANDAS BEM CONHECIDAS DA CENA METAL. ESTOU A PENSAR, POR EXEMPLO, NOS AMERICANOS SAINT VITUS. FOI ASSIM DESDE O INÍCIO DA TUA CARREIRA OU TIVESTE QUE COMEÇAR COM BANDAS MAIS UNDERGROUND? ADRI E N BOUSSON : Olá, Cristina! De facto, não comecei logo a trabalhar com bandas de nomeada da cena Metal. O início da minha carreira foi muito “clássico”: trabalhava para amigos meus, com bandas muito locais. Depois, tive a oportunidade de trabalhar, pela primeira vez, com uma banda conhecida da cena internacional, quando participei num concurso para fazer a capa para o quarto álbum de uma banda, que, ainda por cima, era uma das minhas preferidas: «Animosity», dos The Berserker, da Austrália. Fui o vencedor e, assim, fiz a capa para esse álbum e ainda para o seguinte: «The Reawakening». Nessa altura, era autor de banda desenhada e só trabalhava como artista gráfico nos meus tempos livres. Nunca me passou pela cabeça vir a fazer carreira na área do grafismo para bandas de música extrema.
PARECES-ME SER UM “GLOBETROTTER”: OS TEUS CLIENTES VÃO DOS ESTADOS UNIDOS (COM BANDAS COMO OS SAINT VITUS) À EUROPA E NESTA DO SUL DOS GREGOS ROTTING CHRIST AO NORTE DOS SUECOS NECROPHOBIC. COMO EXPLICA ESTE “POLIGLOTISMO ARTÍSTICO”? ADRI E N : O meu poliglotismo artístico é muito terra-a-terra: acabei por me tornar o gráfico oficial da editora francesa Season of Mist. Portanto, muitas das bandas com que trabalho atualmente têm contratos assinados com essa editora. São essencialmente bandas que não têm um artista gráfico à mão, quando acabam de gravar o álbum. A editora envia-lhes o meu portefólio e, se eles gostarem do meu trabalho, fico encarregado do artwork do seu álbum.
A TUA ARTE É SOMBRIA E TENEBROSA. USAS PRINCIPALMENTE 1 2 / VERSUS MAGAZINE
O NEGRO COMBINADO COM MANCHAS BRANCAS. ISSO ACONTECE APENAS PARA ESTARES EM CONSONÂNCIA COM O ESTILO MUSICAL DOS TEUS CLIENT ES OU TRATA-SE TAMBÉM DE UM GOSTO PESSOAL? A D R IEN : As minhas criações são sombrias e tenebrosas, quando a música que devo ilustrar o exige. Trabalho sobretudo para bandas de Metal extremas, que, nas suas letras, abordam temáticas bem afastadas da felicidade e da serenidade. Portanto, muito simplesmente, esforço-me por adaptar o meu estilo gráfico aos universos sonoros extremos que tenho de ilustrar. Mas, se um trabalho exige um artwork mais luminoso, eu adapto-me, como fiz, por exemplo, para a compilação «One and All, Together, For Home» (reunindo bandas como Drudkh, Primordial, Kampfar...). No entanto, também é verdade que gosto de trabalhar aquilo a que eu chamo as “Trevas”, uma palavra que, para mim, tem conotações diferentes daquelas que lhe são normalmente associadas. De facto, a palavra é muito frequentemente ligada a algo negativo. Mas, para mim, essa obscuridade total, essa ausência de luz dá acesso a um outro mundo, onde impera o mistério absoluto, o inconsciente: um mundo em que a razão fraqueja, mas que amplia os sentidos, as sensações e muito mais coisas, que podemos descobrir. São essas Trevas que eu quis representar nas ilustrações que fiz para «Lillie: F-65» dos Saint Vitus, em que a personagem feminina aparece perdida num asilo abandonado, mergulhada na mais absoluta escuridão. Mas não me parece que se possa dizer que o meu trabalho se baseia essencialmente no negro, apesar de reconhecer que essa cor é uma importante componente do que faço. Basta ver os trabalhos que fiz para Menace, Necroverdose, Khonsu, … Não podemos esquecer que se trata de trabalhos encomendados e que o meu universo gráfico está bem longe de se limitar ao que eu faço para os meus clientes. Tenho ilustrações bem mais luminosas, humorísticas, noutros trabalhos que nada têm a ver com o Metal extremo e nas minhas criações pessoais.
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se cria, tudo se transforma…
NAS SUAS PALAVR A S , A ESS ÊNCI A DA ART E DE ADR I EN B O U S S O N C O NSI S TE EM M ANTER O EQ U I LÍ B R I O ENTRE AS EXIGÊNC I A S D O S C LI ENTES D A SEASON OF MI S T – EDI TO R A D E Q U EM É O GRÁFIC O O FI C I A L – E AS D A S U A IDENTI DA D E ESTÉTI C A . Entrevista: CSA
ALGUMAS DAS TUAS ILUSTRAÇÕES PARECEM FEITAS A PARTIR DE FOTOS (POR EXEMPLO, AS CAPAS PARA «ANIMOSITY», DOS THE BERSERKER), OUTRAS PARECEM DESENHOS FEITOS À PENA E TINTA-DA-CHINA (POR EXEMPLO, A CAPA PARA «WOMB OF LILITHU», DOS NECROPHOBIC) E OUTRAS AINDA PARECEM ESTAR A MEIO CAMINHO ENTRE A FOTO E O DESENHO (COMO A CAPA DE «LILLIE : F-65» DOS SAINT VITUS). VI BEM? PODES COMENTAR ESTAS IDEIAS? A D R IE N: Não, infelizmente não acertaste. Todas essas criações foram feitas a partir de fotos. Mas, de certo modo, tens razão, porque é esse efeito que pretendo criar: que, em cada um desses trabalhos, usei uma técnica diferente! Mas, na realidade, trata-se de variantes no uso de uma mesma técnica, muito inspirada pela “matte painting”. É a que eu uso mais frequentemente, por várias razões: por um lado, é uma das que domino melhor e, por outro, de modo mais racional, como os prazos de entrega dos trabalhos são sempre muito apertados, tenho de optar pelo que é mais fácil para mim. Gostava de fazer mais trabalhos recorrendo a técnicas tradicionais, que não fossem digitais, feitos à mão, mas, de facto, os prazos e a sobrecarga de trabalho que tenho na Season of Mist não me permitem faze-lo, infelizmente.
A CAPA PARA «ANOMALIA», DOS KHONSU, LEMBRA-ME OS FILMES DO ALIEN. ESSE TIPO DE CINEMA INSPIRA-TE? A D R IE N: Sou um grande fã de cinema, que, de facto, é uma inspiração para mim. Por exemplo, sou um obcecado pelos trabalhos de Tarkovski, Terry Gilliam, Cronenberg, Hanneke, Carpen, Miyazaki... Contudo, não me parece que essa obraprima de Ridley Scott tenha alguma coisa a ver com a ilustração que fiz para essa capa. Foram as palavras-chave apresentadas pela banda que me levaram a criar uma personagem meio submersa num mar encapelado, acorrentada a essa prisão “interior” composta de esqueletos mutantes, que se digladiam como harpias, como abutres sobre uma carcaça, à semelhança de uma consciência atormentada. Os filmes que me marcaram provavelmente também me influenciam de forma inconsciente. Afinal, tudo o que nos marca acaba por aparecer – digerido, assimilado, transformado, sob outra forma, num outro nível. Nada se perde, nada
ADORO AQUELA “COISA” – A MEIO CAMINHO ENTRE O INSETO E A MÁQUINA – QUE SE VÊ NA CAPA DE «YOUR GODS, MY ENNEMIES» DOS ETERNAL GRAY. PODES EXPLICAR-ME QUE RELAÇÃO ESTABELECESTE ENTRE O CONCEITO DO ÁLBUM E ESTE SER BIZARRO? ADRIEN: Nunca tinha sido pensado no facto de que esse ser tem realmente um aspeto “insetóide”. muito simplesmente porque consiste numa transcrição arquitetónica de tipo industrial de um símbolo ligado à banda. Tratase de um símbolo que representa um olho, cuja córnea é o “E” de Eternal e a pupila o “G” de Gray. Este olho é omnisciente, composto opor elementos arquitetónicos, inspirado sobretudo pelos altos-fornos de uma indústria completamente decrépita, cujas ruínas representam bem a queda desse grande deus – o Progresso – associado à Arrogância, ao Consumo levado ao absurdo, à negação da natureza, …
PODES EXPLICAR-ME QUE ESTRATÉGIAS UTILIZAS PARA FAZER O LAY OUT E O ARTWORK PARA ÁLBUNS CUJA CAPA NÃO CRIASTE? ADRIEN: A principal estratégia a que recorro é manter-me o mais próximo possível do estilo gráfico do artista escolhido para fazer a capa, sem o copiar, para não me negar como artista. Essa proximidade tem de existir, tanto ao nível temático como visual, cromático, para que exista uma unidade gráfica entre a capa feita e o meu artwork. Foi o que eu fiz para os álbuns de Inquisition e de Septicflesh, por exemplo. Criei uma espécie de miscelânea a partir das minhas influências gráficas e das suas, procurei estabelecer uma ponte, uma ligação entre os nossos estilos visuais.
TAMBÉM FAZES ILUSTRAÇÕES PARA MERCHANDISING? ADRIEN: Fiz alguns trabalhos dessa natureza para a Season of Mist: uma para Morbid Angel, outra para Abbath, algumas para Inquisition, The Berzerker. A maior
parte do trabalho que faço para o merchandising de Season of Mist não consiste em criações puras e duras, mas em adaptações de artworks doutros gráficos às restrições de tamanho e de cor impostas pela impressão numa t-shirt, num hoodie, etc.
FIZESTE ALGUNS ESTUDOS APRENDER A TUA ARTE?
PARA
ADRIEN: Estudei Arte Aplicada, mas fiz uma especialização em banda desenhada! Aprendi os elementos base de técnicas que são a essência da minha arte atualmente. Mas o essencial do que aprendi e dos progressos que fiz resultou de muita prática, observando, experimentando, explorando diversas técnicas e horizontes gráficos.
ESTÁS À ESPERA DE GRANJEAR UMA BELA REPUTAÇÃO FORA DO UNIVERSO DO METAL? ADRIEN: Gostaria muito de fazer capas para bandas que não tenham nada a ver com o universo do Metal. No que toca à reputação… estou sobretudo à espera de progredir sempre, devagar, não quero estagnar, ficar fechado numa técnica, num universo visual, pretendo explorar cada vez mais horizontes gráficos. Gostaria mesmo muito de granjear uma boa reputação – mesmo pequena – no domínio da banda desenhada. Por isso, estou a esforçar-me por concluir um grande projeto nessa área, que comecei e publiquei há 10 anos e que entretanto tive de pôr em stand by por falta de tempo para lhe dar seguimento.
SUPONHO QUE ÉS UM FÃ DE MÚSICA EXTREMA. PODES DIZER-ME O QUE ANDAS A OUVIR NESTE MOMENTO? ADRIEN: Sim, sou um grande fã de música extrema. Nesse aspeto, a cena francesa é particularmente fascinante e viciante: Spetrk, Aluk Todolo, Murmuüre, TAOS, Situs Magus, Neo Inferno 262, Igorrr, The Algorithm, Blut Aus Nord, Deathspell Omega, Glaciation, 6:33, Miserable Failure, Pensées Nocturnes, Haemoth são entidades incrivelmente intensas, inventivas, totalmente únicas. De um modo 13 / VERSUS MAGAZINE
geral, gosto das bandas que não se assemelham a nenhuma outra, que fazem o seu caminho sem se preocupar com a opinião dos outros, com tendências ou códigos, imersas a 200% na sua Arte – com um imenso A maiúsculo. São bandas como essas que fazem avançar a música e que a tornam apaixonante para além do racional: por exemplo, Solefald, Ulver, The Berzerker, Estradasphere, Darkspace, Menace Ruine, Thy Catafalque, Ice Ages... Por outro lado, neste momento, como é costume, estou a ouvir um pouco de tudo: Klause Schulze, Venetian Snares, Tom Waits, Sigur Ros, Le Klub des Loosers, Angellore, Dubmood, Leonard Cohen, Khonsu, Carpenter Brut e Babymetal!
QUAL É A TUA MAIOR AMBIÇÃO PARA A TUA CARREIRA? ADRIEN: Trabalhar com Solefald, cujo último álbum é, mais uma vez, uma obra-prima inclassificável, dotada de uma incrível capacidade inventiva! De um modo geral, trabalhar com as minhas bandas favoritas! E terminar o meu projeto de banda desenhada, que fala de uma demanda metafísica, focada no absoluto e situada num cenário fantástico. Trata-se de um projeto a que tenho um enorme apego e que representa algo de muito, muito importante para mim… h t t p s : / / w w w. f a c e b o o k . c o m / a d r i e n . bousson.1
“(...) A PALAVRA [TREVAS] É MUITO FREQUENTEMENTE LIGADA A ALGO NEGATIVO. MAS […] ESSA AUSÊNCIA DE LUZ DÁ ACESSO A UM OUTRO MUNDO, ONDE IMPERA O MISTÉRIO ABSOLUTO (…)” 1 4 / VERSUS MAGAZINE
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
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PRIMEIRO ÁLBUM, DEPOIS DE UM EP («INTO THE FIRE», 2013). FORAM AS REAÇÕES A ESSA PRIMEIRA OBRA QUE VOS ENTUSIASMARAM A APOSTAR NO ÁLBUM? FILIPE: Do nosso ponto de vista, o álbum era a coisa mais lógica a fazer após um EP que teve, em geral, boa receção por parte do público. Um EP é uma apresentação, uma demonstração do potencial que qualquer banda apresenta. Um álbum é algo completo, mais trabalhoso e complexo de criar, o que obriga a que sejamos mais exigentes e dedicados. As reações que recebemos motivamnos para continuar a fazer aquilo que gostamos mais de fazer: criar música e partilhá-la com quem nos apoia.
“DO NOSSO PONTO DE VISTA, O ÁLBUM ERA A COISA MAIS LÓGICA A FAZER APÓS UM EP QUE TEVE, EM GERAL, BOA RECEÇÃO POR PARTE DO PÚBLICO.”
O QUE TÊM EM COMUM E O QUE OS DISTINGUE?
DESTROYERS OF ALL TOCAR PARA QUEBRAR! PEGANDO NUM EXPR ESSÃO CORRENTE NO PORTUGUÊS DO BRASIL (E MUITO VIVA, COMO COSTUMAM), OS DESTROYERS OF ALL ESTÃO AÍ PARA “BOTAR PARA QUEBRAR”! Entrevista: CSA EM DESTROYERS OF ALL, FOMOS ENCONTRAR ALGUÉM COM QUEM JÁ NOS CRUZÁMOS: GUILHERME BUSSATO, EX-TALES FOR THE UNSPOKEN (E, SEGUNDO NOS PARECE, UM DOS FUNDADORES DA BANDA). É ASSIM, GUILHERME? GUI LH E R M E : Primeiramente, obrigado pela oportunidade de divulgar um pouco mais sobre os Destroyers of All e parabéns pelo vosso trabalho. Sim, é verdade, sou um dos fundadores juntamente com o Filipe Gomes e o Alexandre Correia. Decidimos retomar um projeto que já havia começado há uns bons anos, mas que depois acabou por ficar em standby. E, quando decidimos retomar, prometemos a nós mesmo que era para ser com a força toda desta vez. E cá estamos nós!
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O QUE TE LEVOU A ABANDONAR TFTU? G U ILH ER M E : Foi uma saída meio que decidida em conjunto, tanto por mim, como pelo resto da banda. As ideias já não batiam em termos musicais e, a nível de gerenciamento de banda, nossas ideias não convergiam muito, eu tinha uma visão oposta à deles. E não valia a pena remar contra a maré. E pronto, assim foi, mas a amizade continua e, sempre que podemos, estamos em concertos um dos outros a curtir. Desejo todo o sucesso a eles!
O APARECIMENTO DE DESTROYERS OF ALL TEM ALGO A VER COM ESSA SAÍDA? G U ILH ER ME : Sim e não! Quando surgiu os Destroyers of All eu estava a 100% em TFTU e a minha ideia era continuar a trabalhar
com as duas bandas. Mas, como já expliquei, a certa altura as ideias já não se encontravam, e os Destroyers of All era a banda que eu queria, a nível musical e de visão de trabalho. Quando dei por mim, os Destroyers of All eram o meu projeto principal. Foi muito melhor poder me dedicar a 100% para algo que realmente estava a me motivar.
FILIPE: Em comum, têm a força dinâmica dos cinco elementos, que conjuntamente compuseram um disco que representa aquilo que melhor fazíamos naquela altura. Têm também a mesma vontade de conseguir chegar mais além, bem como a motivação que nos faz continuar a fazer os sacrifícios que fazemos para conseguirmos fazer o que fazemos. Alguns dos fatores que distinguem o «Bleak Fragments» do «Into The Fire» são o aumento da capacidade criativa, da capacidade de execução e tudo o que isso engloba. Neste novo álbum, há também mais coragem para sair da nossa “zona de conforto” sob a forma de apostas em elementos
e passagens imprevisíveis, que fazem parte dos temas do álbum.
LOGO AOS PRIMEIROS ACORDES, PERCEBE-SE QUE A MÚSICA DE DESTROYERS OF ALL TEM MUITAS INFLUÊNCIAS. OUVIR A SEXTA FAIXA RECORDA-NOS O SAMBA BRASILEIRO (EM ALGUNS MOMENTOS) E NÃO FALTA A GUITARRA DO FADO DE COIMBRA, NA OITAVA FAIXA. AFINAL O QUE PUSERAM NO CALDEIRÃO DA POÇÃO MÁGICA QUE DEU ESTE ÁLBUM? FILIPE: Vontade de criar algo que cause impacto, que fique na memória de quem ouve, apesar de sermos complexos. Ganhámos mais vontade e menos receio de desafiar os limites da nossa criatividade. Pusemos o ingrediente “E porque não?” hahaha! Gostamos de criar passagens nos temas de maneira a que cada música seja uma viagem, e não apenas a fórmula super batida “verso, ponte, refrão”. É por isso que temos alguns momentos totalmente inesperados, que fazem as pessoas franzir a sobrancelha e exclamar “Hã? WTF?”.
E, POR FALAR DE BANDA DESENHADA, VAMOS PASSAR AO LADO GRÁFICO DO ÁLBUM. ADOREI A CAPA, QUE É MESMO “BLEAK”. QUEM A FEZ? É O MESMO ARTISTA QUE CONTACTARAM PARA O EP? FILIPE: A capa foi desenhada à mão, cortesia do lápis e papel de um artista da Indonésia que contratámos para a criação do nosso artwork. Chama-se Adi Kalingga, mais conhecido por
O PRIMEIRO SEMESTRE DE 2016 MARCA O LANÇAMENTO DO VOSSO
Silencer8. A arte do EP foi feita pelo Guilherme Busato, guitarrista da banda.
«INTO THE FIRE» FOI UM LANÇAMENTO DA BANDA, MAS, PARA O ÁLBUM, TÊM O APOIO DA MOSHER RECORDS. FALEM-NOS UM POUCO DA FORMA COMO ENCONTRARAM A VOSSA EDITORA E DO QUE ESPERAM DELA, TENDO EM CONTA AS SUAS CARACTERÍSTICAS. FILIPE: Quando terminámos o álbum, procurámos uma editora para nos ajudar no lançamento do disco. Tivemos algumas propostas tentadoras, porém decidimos aceitar a da Mosher Records, não só porque foi justa e respeitadora, mas também por acreditarmos que crê em nós e nos pode ajudar a alcançar um público mais vasto. Somos sérios naquilo que fazemos e sabemos que o Rui, que é quem está por detrás do selo Mosher Records, também o é, tem os pés assentes no chão, mostrase empenhado e nutre paixão por aquilo que faz.
NA INFORMAÇÃO DADA PELA EDITORA, AFIRMA-SE QUE A BANDA ESTÁ DISPONÍVEL PARA CONCERTOS. ENTRETANTO, JÁ CONSEGUIRAM ALGUNS? FILIPE: Já temos algumas datas em cima da mesa, que iremos revelar assim que pudermos. Mas podemos anunciar que o concerto de celebração do lançamento decorrerá em Coimbra, no States Club, no dia 19 de Março, pelas 21:00 (horários para respeitar).
HÁ ALGUMA MENSAGEM EM ESPECIAL QUE QUEIRAM DEIXAR AOS NOSSOS LEITORES? FILIPE: Sim, há. Queremos agradecer a todos os que acreditam no nosso trabalho e nos apoiam, seja de que forma for. Sem vocês não somos nada. Vemo-nos por aí nos concertos!
ONDE SE ENCONTRARAM O S VÁRIOS ELEMENTOS DESTA BANDA? EM COIMBRA? EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS? G U IL H E R M E : Estamos todos a viver, trabalhar e a estudar em Coimbra, estamos várias vezes por semana juntos a ensaiar, compor e a trabalhar para a banda. Isso ajuda muito!
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h t t p s : / / w w w. f a c e b o o k . c o m / g u i l h e r m e . busato
“ALGUNS DOS FATORES QUE DISTINGUEM O «BLEAK FRAGMENTS» DO «INTO THE FIRE» SÃO O AUMENTO DA CAPACIDADE CRIATIVA, DA CAPACIDADE DE EXECUÇÃO (…)”!
https://youtu.be/eA0KTy8PSJo
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GRELOS DE HORTELA
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ESTRANHO E NADA VIOLENTO Por: Victor Alves
PARTE UM
Algo habita pelos cantos E persiste em demasia Fazendo questão de aparecer mais pela noite dentro
Na cidade Nas avenidas Nos cafés Algo instala-se E nos consome de corpo inteiro
És a culpada de tudo Mãe-natureza Puta de um raio que me fascinas com tanta beleza Eles chamam-me de violento Mas cada vez mais são curtos os passos dados pela humanidade Alimentar um Deus É fazer crescer a receita da maior obra de arte
Na casa de Deus o desespero é um quadro por nós pintado De forma grave a mente das pessoas são feridas A uma eterna demência
Eles chamam-me de violento Por negar a pele de um adulto Do homem que tanto me envergonha E da mulher que lamento
Nas grandes caixas de cimento A estranha forma de ser é constante Sujando mesmo até o amor mais sólido Que passa pela mutação da rotina
Quero destruir a obra Quero apagar de vez com essa imagem que ninguém entende E só chamamos por ela na hora da desgraça
Pelo tédio e pelo mistério Criamos a fonte que sustenta a sede Às novas gerações Tencionava dar-te tudo E fazer do poder a nossa melhor forma de estar amor Correr com os políticos e os administradores da nova forma de vida Fazendo logo de seguida Amor no altar de uma igreja Depois Mais tarde Fazer amor nas correntes fortes da religião Onde seriam muitos os Deuses abater No nosso regresso Até os próprios anjos saltavam de alegria São demasiadas as horas violentas no nosso meio São demasiadas as crianças por nós assustadas Estipulamos tarefas uns aos outros Onde muitos se prendem em fardas E outros tantos em escravos sem elas Sendo ambos povo do mesmo saco 1 8 / VERSUS MAGAZINE
Somos caçadores que disparam sempre duas vezes Uma munição para o corpo Outra para o espírito Como uma tradição A do criminoso O palco arde Boleia para a morte Pudesse ser eternamente jovem Uma força permanente em horas e horas confusas de prazer Sem ter a necessidade de as decifrar A beldade ilude muitos tolinhos Sabem vocês que somos engordados pelo apetite sexual E que cada acto, gesto ou pensamento tem sempre a ver com sexo? Procuramos sempre um buraco para enfiar a cabeça Com medo e vergonha de ficarmos velhos Todo o corpo deveria ser vítima do prazer grandioso
Ouçam as grandes mensagens acerca dos sete dias e do grande fim Venham ver os enormes dias e as míseras noites Dar sorriso a quem o perdeu Ouvir a lenda do homem morto A lenda do homem forte que morre pelo sopro leve do tempo Ouvir gritos fechados numa caixa louca E ver a morte do poeta Perante mil raparigas Mil formas de mulher Mil razões por vezes De desistir de amar 19 / VERSUS MAGAZINE
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
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nesta minha má descrição…
PARECEM FASCINADOS PELOS BOSQUES. PODES COMENTAR O SENTIDO DE TAL VASSALAGEM?
“(...) OLD FOREST É UMA BANDA DE BLACK METAL, CUJO CONCEITO DE BASE CORRESPONDE À IMAGEM DO BLACK METAL QUE OS MEDIA CRIARAM (…)”
OLD FOREST SONHO E CRUELDADE: UMA COMBINAÇÃO FASCINANTE…E VERDADEIRA! KOBOLD, LÍDER DA BANDA QUE EXPLORA O SIGNIFICADO DA FLORESTA DESDE 1997, FALA-NOS DA ÚLTIMA ENCARNAÇÃO DESTE CONCEITO, NA ÓTICA DOS SEUS MEMBROS. Entrevista: CSA TEMOS AQUI UM ÁLBUM FANTÁSTICO, COMBINANDO BLACK METAL E METAL ATMOSFÉRICO. A VOSSA EDITORA, NA INFORMAÇÃO RELATIVA A ESTE LANÇAMENTO, AFIRMA QUE «DAGIAN» É UM ÁLBUM MUIT O DIFERENTE DOS ANTERIORES. SUBSCREVES ESTA AFIRMAÇÃO? KOBOL D: Old Forest foi formada para celebrar o nosso amor pela imagem que os media criaram do Black Metal dos primórdios dos anos 90, assim como pela música dessa época. Portanto, Old Forest é uma banda de Black Metal, cujo
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conceito de base corresponde à imagem do Black Metal que os media criaram, não é meramente uma descrição do nosso estilo musical. De certa forma, tens aqui uma definição da ideia de base do Pós-Modernismo. Nunca vi nenhuma outra banda adotar uma tal abordagem. Embora Old Forest tenha uma produção bastante original, isso não é completamente intencional. Na nossa ótica, um elemento essencial da banda (desde o início, em 1997) é a intenção de dar vida ao cliché [do Black Metal] – tanto na imagem como na música. Ao
tentar plagiar outros – desde o início – acabámos por criar, de forma indiscutível, o nosso som único. Este processo culminou no nosso novo álbum – «Dagian» – que tem muito pouco em comum com o nosso álbum de estreia, lançado em 1998, ou a cena Black Metal “comercial” que existe atualmente. Contudo, continua a ser Black Metal, na sua intenção de base e na sua execução. Trata-se de algo difícil de explicar e que se percebe bem melhor quando se ouve o álbum, o que te aconselhamos vivamente a fazer, antes de passares a assunções baseadas
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KOBOLD: A cada era de Old Forest que passa, procuramos reanalisar o nosso intento, incluindo a justificação para o nome que escolhemos. Quando fizemos as demo tapes iniciais, o nome vinha de Tolkien e da sua obra. Aí pelo terceiro álbum – «Tales of the Sussex Weald» – referia-se à floresta antiga da zona de onde somos oriundos (o Sussex Weald). À partida, a floresta parece um lugar vazio e silencioso, mas, se a examinares com mais atenção, vais verificar que é completamente diferente do que imaginas A vida e a morte mantêm-se à margem de sentimentos e emoções – limitamse a fazer parte de um ciclo natural. Para a mente homogeneizada dos humanos do séc. XXI, a vida na floresta é essencialmente algo desconhecido, perigoso e brutal. A Natureza é uma senhora cruel.
O QUE SIGNIFICA O NOME DO ÁLBUM? TEM ALGO A VER COM O REINO VEGETAL EXISTENTE NA TERRA? KOBOLD: Com «Dagian», procuramos descrever a vida numa floresta desabitada, completamente abandonada às leis da Natureza. Cada canção/movimento representa uma parte do dia na floresta, cujas características se refletem na música e na letra respetivas. “Dagian” é a palavra anglo-saxónica para “dia” e o álbum trata do ciclo do dia: M o r w e n / N o n / Tw e o n e l e o h t / N e a h t ( M o r n i n g / N o o n / Tw i l i g h t / N i g h t ) [Manhã ou Amanhecer/Meio Dia/ Crepúsculo ou Pôr-do-sol/Noite]. As letras falam do nascer e do pôr-do-sol, do surgimento e do desaparecimento da vida, do medo e excitação constantes que a caça, a perseguição gera nos animais, matando-se e consumindo-se uns aos outros, da majestade e terror associados à brutalidade da Natureza… Optámos pelo AngloSaxão, porque era a língua do Sussex de antes do Cristianismo, que foi sendo gradualmente destruída durante os 400 anos que se seguiram. Também poderíamos dizer que este conceito reflete a
verdadeira natureza da sociedade humana…
A CAPA PARECE UM VELHO QUADRO DO SÉC. XIX OU DO INÍCIO DO SÉC. XX. ACERTEI? KOBOLD: Trata-se de um quadro original, escolhido expressamente para figurar na capa do nosso álbum. O autor é um conterrâneo nosso, que também vive na zona do Sussex Weald: Richard Smythe. Todos os seus quadros são representações muito dramáticas do campo do Sussex, completamente desprovidas de vida animal ou humana. É o artwork perfeito para «Dagian». Foi pintado em 2013, se não estou em erro…
QUEM FAZ O QUÊ EM OLD FOREST? KOBOLD: Desde o início, Old Forest sempre incluiu três membros – todos dotados de pseudónimos, tal como reza o cliché que descreve a tradição do Black Metal: Kobold (eu próprio), que contribuo com a voz e os teclados; Beleth, nas guitarras e no baixo; Grond, na bateria. Passámos dois anos a escrever «Dagian» e terminámos as gravações em 2015, apostando numa produção muito low-fi – mas o som da bateria soava talvez um tanto excessivamente low-fi, por causa do ambiente em que estávamos e do equipamento que usámos. O meu amigo Anders Kobro (baterista de Carpathian Forest/In The Woods) tinha ouvido as misturas demo e ofereceu-se para regravar a bateria no seu estúdio na Noruega, para obter um som mais limpo. Como o Grond é um grande fã do Anders, aceitou que isso acontecesse (por coincidência, graças a isso também ficou livre para completar o trabalho que tinha em mãos na sua banda de Black Metal inspirada na obra de Tolkien – Orcrypt).
COMO CONSEGUES TRABALHAR NAS TUAS DIFERENTES BANDAS? SEI QUE A EXPERIÊNCIA NOS AJUDA A FAZER ESSE TIPO DE COISAS, MAS COMPREENDO QUE DEVE SER DIFÍCIL. KOBOLD: Cada um dos meus vários projetos é servido por uma personalidade completamente diferente. Trata-se de personae totalmente distintas umas das
outras, com filosofias diferentes. Por exemplo, neste momento, quem está a responder às tuas perguntas é Kobold – que não tem nada a ver com James Fogarty. É uma situação complexa e confusa, para algumas pessoas, e uma grande oportunidade para qualquer psicólogo que se interesse pelo estudo das perturbações mentais associadas a múltiplas personalidades…
VÃO FAZER CONCERTOS PARA PROMOVER «DAGIAN»? SE SIM, ONDE E QUANDO? KOBOLD: Um conceito central em Old Forest é a ideia de que os concertos são bons para gente exibicionista, que quer passar por pequenas rock stars. Nós criámos música anticomercial para fãs de música anticomercial. Tudo o que queremos fazer está no álbum. Quem quer ver três gajos de meiaidade a usar corpse paint num palco? Eu não, de certeza, e penso que – na verdade – nenhum de vocês o quer também. Contudo, como é apanágio de quem tem várias personae, isto contradiz por completo a ideologia de James Fogarty de In The Woods (que vai tocar em vários festivais em 2016) ou Jaldaboath (que, neste momento, estão a gravar o seu terceiro álbum).
QUAL SERIA O CENÁRIO IDEAL PARA TIRAR O MÁXIMO PROVEITO DESTE ÁLBUM, NA TUA OPINIÃO? KOBOLD: O cenário ideal para ouvir «Dagian» é a floresta de Sussex: podes ouvi-lo vagueando nesses bosques numa tarde ensolarada com alguma Harvey’s Pale Ale na bolsa, atingindo o cume do Devil’s Dyke lá pelo pôr-do-sol e desfrutando do da viagem de terror psicadélica que corresponde à última faixa – “Neath” – antes de prosseguires a tua vagabundagem, já de regresso a casa, ao longo da estrada rural, acabando por morrer atropelado por um carro que vai a passar… https://www.facebook.com/ oldforestofficial/ https://youtu.be/CnWzYPJnlt0
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ENTREVISTA
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ÁLBUM RECEBIDO PELOS FÃS? ST EFAN: Fizemos alguns espetáculos exclusivos pelo mundo inteiro e ainda vamos fazer mais nos próximos meses. É formidável ver amigos e admiradores de Varathron
de 1926. Consideramo-lo como uma espécie de reflexo do título do nosso EP. Representa um ritual blasfemo aos olhos dos que não reconhecem a força do último arcano de Deus! Bendito seja Ele! Desta vez, não convidámos
“(…) QUEREMOS QUE O NOVO ÁLBUM SEJA (…) UM MANIFESTO DAS TREVAS!!!”
“(...) OLD FOREST É UMA BANDA DE BLACK METAL, CUJO CONCEITO DE BASE CORRESPONDE À IMAGEM DO BLACK METAL QUE OS MEDIA CRIARAM (…)”
VARATHRON OFICIANTES DE TENEBROSOS RITUAIS MAIS UMA VEZ, CONTACTÁMOS O LÍDER DER VARATHRON, PARA O INQUIRIR SOBRE O LANÇAMENTO DE UM EP, S IGNIFICATIVAMENTE INTITULADO «THE CONFESSIONAL OF THE BLACK PENITENTS. Entrevista: CSA
OLÁ, STEFAN, O GRANDE! STEFA N N E C ROABY S S IO U S : Olá, Cristina. Grato pelo teu apoio a Varathron.
COMO ESTÁ A VIDA NA GRÉCIA, POR ESTES DIAS, EM QUE O TEU PAÍS ESTÁ SOB O ESCRUTÍNIO ATENTO DA UE? STEFA N : Bom, devo dizer que a nossa situação é muito má. A crise económica trouxe muitos problemas inesperados. Arrasta as pessoas para o ciclo da pobreza e rapidamente afeta a nossa personalidade de forma negativa e baralha a nossa vida diariamente. Sentimo-nos como fantoches! Éramos um povo orgulhoso, que há muito tempo lutava pelos seus direitos! Na minha modesta opinião, a culpa não é só dos EUA ou de qualquer outra potência. O maior “inimigo” são os bancos. Muitos de nós foram escravizados
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por essa ponderosa organização. O “deus do dinheiro” governa o nosso mundo e domina as nossas mentes. A salvação só pode vir do mundo das artes. Tudo o que está a acontecer tem sido uma grande inspiração para bandas, realizadores de cinema, pintores, escritores, poetas e outros
“ESTAMOS MAIS FORTES DO quejandos. Esta vaga artística indomável vai certamente contribuir para instaurar uma revolução de mentalidades, fazer despertar as consciências. Chegou o momento em que isso vai acontecer!
E COMO VAI VARATHRON? CALCULO QUE MANTIVERAM A ESTABILIDADE
QUE CONQUISTARAM EM 2013, UMA VEZ QUE ESTÃO A LANÇAR ESTE EP UM ANO DEPOIS DO VOSSO ÚLTIMO ÁLBUM. S TE FA N: Estamos mais fortes do que nunca! Temos um novo EP a sair: «The Confessional…». Neste momento, já estamos a compor o nosso novo álbum. Estamos a trabalhar em QUE NUNCA!” algumas faixas – ainda incompletas – e a desenvolver riffs fantásticos. Queremos que o novo álbum seja ainda mais tenebroso e malévolo do que os nossos lançamentos anteriores. Pretendemos ser um manifesto das trevas!!!
FIZERAM MUITOS CONCERTOS PARA PROMOVER «UNTRODDEN CORRIDORS OF HADES»? COMO FOI O VOSSO
a adorar a nossa música. Recebi tanto apoio e elogios de toda a gente que veio aos concertos que aproveito a ocasião para saudar os nossos fãs! Depois de cada concerto, costumo falar com todos os que encontro. Recebemos muitos cumprimentos pelo nosso último trabalho, que também teve críticas sensacionais. Indubitavelmente, considero «UCOH» como um álbum magnificamente sombrio, autênticos hinos blasfemos ao nosso Senhor das Trevas!
O QUE PODEMOS ENCONTRAR NESTE NOVO LANÇAMENTO? ST EFAN: O mini LP «Confessional of the Black Penitents» contém sete faixas. Três são completamente novas e encerram o capítulo aberto por «Untrodden...». As restantes quatro são faixa clássicas do nosso passado sombrio. Foram tocadas ao vivo e gravadas em Larissa, na Grécia, em maio de 2015. De momento, não sei dizer-te se, neste novo lançamento, há algo que anuncie o nosso próximo álbum. A única promessa que posso fazer é que Erebus conquistará o mundo.
Mark Riddick para fazer a capa. Reservamo-lo para os lançamentos de longa duração. Além disso, neste momento, ele está ocupado a criar o logo da minha nova banda – Zaratus – e a fazer a capa para a sua primeira demo, que será lançada dentro de alguns meses. Protejam-se!
COMO ESTÁ A CORRER A INTERAÇÃO COM A AGONIA RECORDS? TENHO UMA EXCELENTE OPINIÃO SOBRE ESSA EDITORA E AS BANDAS QUE PROMOVE. ST EFAN: Bem, Filip e toda a equipa da Agonia estão a trabalhar arduamente para apoiar Varathron da melhor forma possível. A banda está certa de que a sua editora faz tudo o que está ao seu alcance para publicitar e distribuir todos os seus lançamentos. A melhor prova desse facto é que tanto «Untroddden…» como «The Confessional…» estão disponíveis em vários formatos, alguns com edições limitadas.
SEI QUE TU PRÓPRIO CRIASTE UMA EDITORA. JÁ COMEÇASTE A TRABALHAR COM ALGUMA BANDA?
só posso afirmar que algo novo vai aparecer em breve!
ISSO SIGNIFICA QUE VARATHRON ESTARÁ A TRABALHAR COM A ORDER OF THE BLACK DOG NUM FUTURO MAIS OU MENOS PRÓXIMO? ST EFAN: É possível, mas isso não vai acontecer para já.
E, PARA TERMINAR, QUERIA SABER SE JÁ TIVERAM A OPORTUNIDADE DE TOCAR COM WARRIOR E OS SEUS COMPANHEIROS? EM AGOSTO PASSADO, TIVE A IMENSA SATISFAÇÃO DE ASSISTIR A UM CONCERTO DE TRIPTYKON NUM FESTIVAL QUE TEM LUGAR PERTO DA CIDADE ONDE VIVO: O VAGOS OPEN AIR. FOI UM GRANDE MOMENTO PARA MIM. TG CAUSOU UMA GRANDE IMPRESSÃO, NÃO SÓ PELA QUALIDADE DA BANDA QUE LIDERA ATUALMENTE – DA QUAL SÓ FAZEM PARTE GRANDES MÚSICOS - , MAS TAMBÉM DEVIDO À CORTESIA COM QU E SE DIRIGIU AOS SEUS (E DOS TRIPTYCON!) FÃS PORTUGUESES. ST EFAN: Os meus cumprimentos a Tom Warrior, um grande músico e uma influência inesquecível para Varathron. Adoraria partilhar o palco com ele, sem sombra de dúvida. A sua nova banda – Triptykon – é colossal. Ele trouxe-lhes elementos da era de Hellhammer e os álbuns são fantásticos! Espero que, um dia, possamos tocar juntos! E desde já o saúdo!!! https://www.facebook.com/ VarathronOfficial/ https://youtu.be/-z5sgybgbI8
“(…) A ÚNICA PROMESSA QUE POSSO FAZER É QUE EREBUS CONQUISTARÁ O MUNDO. [NO NOSSO PRÓXIMO ÁLBUM] ” SÃO VOCÊS OS OFICIANTES FIGURAM NA CAPA DO EP?
QUE
ST EFAN: Não. Trata-se de um quadro maravilhoso da autoria de Carlos Schwabe, um pintor extremamente bizarro, que nasceu a 21 de julho de 1866 e morreu em 22 de janeiro
ST EFAN: Ainda não. A minha editora chama-se “Order of the Black Dog” e, para já, só tem um lançamento. Trata-se do primeiro álbum da banda, o lendário «His Majesty at the Swamp», que saiu em LP, incluindo um poster. Não faço a mínima ideia do que se vai seguir,
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ARTIGO
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A IMPORTÂNCIA DE UM NOME Por: Nuno Lopes
Ainda mal o ano começou e as novidades já caiem que nem bombas de hidrogénio, sendo que a maior delas tem a ver com o maior festival cá do burgo, sim, esse mesmo… O Vagos Open Air (VOA) muda de localização e, pelo que vê, muda de estratégia. Como é óbvio, e natural, esta alteração no paradigma, e não só, acaba por entrar no campo da discussão, mais ou menos, publica. Porém, nenhuma decisão como esta é recebida a bem por todas as partes, no entanto, acredito que a organização tenha pensado nas consequências imediatas desta ação. Ao longo dos anos o VOA tornou-se algo mais que um festival de Verão. O VOA tornou-se um evento de renome internacional e, principalmente tornou-se no Nosso local de confraternização. Muito mais que a música. Muito mais que as cervejas (?). O VOA era o nosso canto. Ou seja, existe como que uma espécie de cordão umbilical que nos liga a Vagos. Existe um sentimentalismo que, em alguns casos se pode tornar irritante. São os impulsos de quem perde algo. É como a morte de um artista. Não é a primeira vez que algo assim nos acontece, lembrem-se da Ilha do Ermal. No entanto, o caso Vagos é diferente devido a, não só a deslocação do evento, como também pelo facto de manter o nome. Aí sim, podemos de facto discordar. É certo que o VOA é, nos tempos de hoje, uma marca viável, no entanto, o evento tem como nome Vagos Open Air o que quer dizer que Vagos é de Vagos, e, existe o lado emocional, ligado às pessoas, aos locais de Vagos. No fundo é, por exemplo, dizer que se vai a Paredes de Coura em Viseu. Não faz sentido, simplesmente não faz. Esta passagem para Corroios é algo que já aconteceu, com a aproximação dos eventos mais perto dos grandes polos, olhemos para o SBSR. Não saberemos o que aí vem, veremos o que a organização tem preparado e, talvez mais importante, tentar perceber para onde o evento quer seguir. Para já, e pelas primeiras confirmações, o cartaz está a seguir um caminho seguro, provando uma vez mais conhecer bem o publico com que lida. Veremos que mais vem. Este Vagos em Corroios é um risco, principalmente, para a marca VOA, é um teste que veremos como terminará. É um risco, é certo, mas veremos como corre. O VOA talvez queira, de facto, VOAr. Entretanto, o mundo do Rock continua a fervilhar com más noticias e, David Bowie partiu. Ainda mal refeitos da morte de Lemmy, e eis que mais uma génio parte. Bowie foi um grande amigo, com Bowie aprendi que tudo é possivel. Bowie ouvia-me e eu escutava. Bowie era uma companhia. Era o nosso ET. O nosso ser imaginário. Como tal, basta que se continue a olhar a lua e Bowie irá atravessar a lua numa qualquer bicicleta, ou a pé… Até sempre Bowie. Vemo-nos no VOA… em Corroios. 2 4 / VERSUS MAGAZINE
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A M IST URA DO CLÁS S I C O COM O M ETAL OBRIGADO PELO VOSSO TEMPO. VOCÊS ACABARAM DE REGRESSAR DE UMA TOUR ACÚSTICA COM OS ORPHANED LAND. PODEM-ME CONTAR ALGO SOBRE A TOUR? ALGUMAS IMPRESSÕES COM QUE TENHAM FICADO?
OS M O L L L U ST SÃO U M A B A N D A O R IU N D A D E LEIP Z I G E B ASTA N T E IN FLU EN C IA D A P O R T O D A A ATM OSF E RA M USI C A L Q U E S E V IV E N ES TA C ID A D E AL E M Ã . DE FACTO , C O M U MA FO R MA Ç Ã O MU S IC A L CL Á SSI C A, OS M O L L LU S T IN T EG R A M A IN FLU ÊN C IA DE VÁRI O S C OM P O S IT O R ES C LÁ S S IC O S N A S U A MÚSI C A B E M C OMO A B ELA V O Z D A J A N N IK A . A J UN TA R A I STO T U D O , ES T Ã O O S T ÍP IC O S ELEM E N TOS D E META L Q U E T O R N A M ES TA BAN DA E M AL G O Q U E N Ã O S E C O S T U MA O U V IR . RE G RE S SADOS R E C EN T EMEN T E, D E U MA T O U R COM O S O RPHAN E D LA N D . A V ER S U S S EN T O U - S E À ME SA DE C AF É CO M A J A N N IK A G R O S S ( V O Z) E FRAN K SCHUM A CHER ( G U ITA R R A S ) PA R A FA LA R ACE R CA D E S TA D I G R ES S Ã O , D A B A N D A E N Ã O S Ó . . . Entrevista: Eduardo Rocha
JANNIKA: Para nós foi uma excelente experiência porque nunca tínhamos levado a nossa música para fora da Alemanha e foi a primeira oportunidade para
“METAL-ORIENTED”. FOI DIFÍCIL PARA VOCÊS CONVERTEREM AS VOSSAS MÚSICAS DE UM FORMATO ELÉCTRICO PARA UM FORMATO ACÚSTICO? JANNIKA: Eu tenho formação clássica e portanto sou uma compositora clássica de raiz. Sou eu também que componho as músicas e o meu problema, inicialmente, foi até entrar no mundo do metal. Portanto, voltar ao formato acústico foi como regressar às raízes. Também
“A MAIORIA DAS PESSOAS NÃO OUVEM SÓ UM ESTILO DE MÚSICA E HÁ MUITAS PESSOAS COM UM GOSTO MUSICAL MUITO VARIADO. PORTANTO, NÃO TEMOS QUE NOS FOCAR APENAS NUM TIPO DE AUDIÊNCIA.”
nos apresentarmos ao vivo noutros países. As pessoas estavam muito abertas e também os Orphaned Land são pessoas impecáveis. Fizemos coisas juntos e podemos ver novas pessoas e públicos fantásticos e foi muito divertido tocar tantos concertos seguidos. FRANK: Para nós, este é o sítio em que queremos estar. Tocar muitos concertos e este foi um excelente início para nós. Foi a nossa primeira tour em que tocamos 4 semanas seguidas e claro que queremos voltar a fazer mais tours mas talvez no nosso formato normal.
POR FALAR NISSO, VOCÊS SÃO MAIS
adicionei coisas como percussões acústicas e arranjei as linhas do baixo acústico e senti-me muito confortável. Tive que me adaptar à guitarra acústica mas, no geral, não foi muito diferente do ponto de vista de composição. FRANK: As composições dos instrumentos clássicos foram bastante fáceis porque as linhas principais já estavam compostas. Foi mais ver como adaptar o “feeling” quando usamos uma guitarra acústica e sem a bateria típica do metal. O feedback que tivemos das pessoas foi de que gostaram bastante das versões
acústicas e muitas delas não sabiam se gostavam mais das versões acústicas ou das versões normais dos nossos temas. Portanto, acho que fomos bem preparados para esta tour.
A VERSUS É UMA REVISTA DE PORTUGAL E VOCÊS TOCARAM EM LISBOA. ALGUMA MEMÓRIA ESPECIAL OU ALGO QUE QUEIRAM CONTAR ACERCA DO SÍTIO AONDE TOCARAM? JANNIKA: Sim. Tocamos no cinema de S. Jorge. Foi muito bom e o clube era muito bonito. Estavam bastantes pessoas e todas elas bastante entusiasmadas e portanto, divertimo-nos bastante no palco. Sabes que é sempre mais fixe tocar num concerto em que público está bastante entusiasmado do que quando tocas em frente de 10 pessoas que estão à espera que o teu concerto acabe (risos). Havia também uma rapariga muito simpática à frente do palco que estava sempre a apoiar-nos o que foi bastante fixe. FRANK: Eu também diria que foi um dos melhores concertos que tivemos. Não tocas num teatro frequentemente e especialmente, com as raparigas da banda com os seus vestidos clássicos que se enquadram com a atmosfera. Sentimo-nos bastante à vontade a tocar no palco e todo o “feeling” que recebíamos da audiência foi bastante bom.
CONTEM-NOS UM POUCO ACERCA DOS MOLLLUST. DA VOSSA HISTÓRIA E DE COMO SE JUNTARAM? E QUAL É
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JANNI K A: Eu comecei bastante nova quando ouvia coisas como Therion ou Nightwish e, como já disse, sou uma compositora clássica e foi como a entrada no mundo do metal. Gosto bastante quando se combinam os arranjos clássicos com os arranjos típicos do metal. Mas eu sentia sempre a falta da possibilidade de ter mesmo uma música mais clássica dentro do mundo do metal. Portanto, andei à procura de bandas a fazerem este tipo de música mais clássica. E então pensei, bem, vamos tentar fazer isto! Depois demorei algum tempo até encontrar as pessoas certas e claro que também tive que trabalhar a minha voz para me sentir mais confortável. Sabes que uma rapariga de 15 anos não tem a típica voz de ópera (risos). Finalmente, quando encontrei os outros elementos as coisas começaram a crescer. Nós gravamos o nosso primeiro álbum e depois um EP dedicado a um compositor da nossa cidade, Johan Sebastian Bach. O segundo álbum com a tour e claro, tocamos bastante concertos. FRANK : Nós estamos num pequeno nicho com a música que fazemos mas também é uma oportunidade porque as pessoas podem dizer que nunca ouviram algo como nós. Portanto, acho que é bom tentar fazer algo novo e estamos sempre a tentar manter o balanço entre a música clássica e o metal e podemos tentar trabalhar a força de ambos os estilos musicais e misturá-los sem que um esteja mais presente do que o outro. Até agora, acho que temos sido bastante bem sucedidos com o que fazemos mas podemos sempre fazer mais. Queremos tocar mais concertos, gravar mais álbuns mas sempre um passo a seguir ao outro.
NO VOSSO SITE DO FACEBOOK, VOCÊS DEFINEM-SE COMO SENDO “OPERA METAL”. COMO VÊM A CENA E COMO VÊM AS OUTRAS BANDAS E COMO SE DIFERENCIAM? E COMO SE APROXIMAM A OUTRAS AUDIÊNCIAS DENT RO DO METAL?
FR A N K : Não temos um estilo definido mas acho que estamos a chegar a pessoal dentro de vários estilos do metal tal como o folk metal. Somos pessoas com uma mentalidade bastante aberta. Há bastante ouvintes de música clássica que gostam de ouvir coisas novas. Portanto, estamos a tentar chamar a atenção dos ouvintes destes estilos musicais que são mais abertos a coisas novas. Tocamos aqui na praça do mercado em Leipzig e a nossa audiência foi desde crianças com 3 anos de idade até pessoas mais idosas e acho que conseguimos chamar a atenção de ambas. Foi bom ver as crianças aos saltos e no fim do concerto as pessoas mais idosas falaram com a Jannika e disseram-lhe como se sentiram emocionadas com a nossa música. Foi uma experiência muito boa. J A N N IK A : A maioria das pessoas não ouvem só um estilo de música e há muitas pessoas com um gosto musical muito variado. Portanto, não temos que nos focar apenas num tipo de audiência. FR A N K : É claro que isto torna as coisas mais difíceis...conseguir chegar a estas pessoas porque têm gostos muito diferentes. Acho que a música tem que ser divertida e nós gostamos bastante de tocar este estilo. J A N N IK A : Basta olhar para a tour...os Orphaned Land não são uma banda de “opera metal”. Eles combinam a música mais oriental com metal e nós juntamos a música clássica aos elementos típicos de metal. Eles, de algum modo, fazem o mesmo que nós só que com estilos musicais diferentes. Às vezes até é melhor tocar com bandas de diferentes estilos musicais o que torna um concerto mais variado.
E COMO É O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO? E A OUTRA QUESTÃO, QUAL É O VOSSO CONCEITO EM TERMOS DE LETRAS? J A N N IK A : Na maioria das vezes, eu tenho uma ideia de como a música deve soar. FR A N K : Bem, na verdade é a Jannika que escreve todas as músicas. Não
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é como uma banda de rock. Ela faz “SIM.todaTOCAMOS NO CINEMA mesmo a composição.
era mais importante, para mim,
instrumentos. Depois escrevo as letras mas está tudo na minha mente quando escrevo uma música, qual será o tópico e que emoções vão estar presentes nesse tema. É só que as palavras aparecem mais no fim da composição. A música e as letras estão sempre muito ligadas.
DO PONTO DE VISTA GEOGRÁFICO, PARECE-ME QUE ESTÃO NUMA BOA CIDADE. O BACH VIVEU CÁ E TAMBÉM É UMA CIDADE COM BASTANTES INFLUÊNCIAS DA MÚSICA CLÁSSICA.
DE S. JORGE. FOI pessoas MUITO BOM E O que mais percebessem a mensagem. Também temos CLUBE ERA MUITO BONITO. ESTAVAM BASTANTES PESSOAS E TODAS J A NNIK A : Eu sento-me no um tema em Francês e um outro computador e escrevo asENTUSIASMADAS músicas. em que há algumas palavras em ELAS BASTANTE E PORTANTO, DIVERTIMO-NOS Tal como os compositores Italiano. BASTANTE NO PALCO.” clássicos e escrevo para todos os
É DIFÍCIL PARA TI DEPOIS ADICIONAR OS ELEMENTOS TÍPICOS DO METAL? ESCREVES PARA TODOS OS INSTRUMENTOS ACÚSTICOS? J A NNIK A : Eu escrevo também as linhas de guitarra e os riffs. Quando acabo a composição, eu envio aos outros elementos da banda e cada um olha para o que escrevi para eles. Depois tocamos juntos e todos me dão feedback ou ideias que têm para melhorar os temas.
RELATIVAMENTE AO CONCEITO DA BANDA, HÁ ALGUM TEMA ESPECÍFICO OU FALAS DE TUDO? Jannika: Na verdade mudou um pouco. Nos primeiros álbuns, estava bastante concentrada na composição da música. Mas no início falei mais de como os Humanos funcionam. Frank: Acho que no primeiro álbum, não nos focámos muitos nas letras. Mas no novo álbum, a Jannika fala mais de temas pessoais mas também falamos de mudar o mundo e não acusando alguém mas dizendo que vamos começar por mudar a nós mesmos para tornar o mundo num sítio melhor. Jannika: Também olhando para a língua das letras, no primeiro álbum as letras estão escritas em Alemão. No segundo álbum, abrimo-nos a outra Línguas porque temos na banda uma pessoa italiana e francesa. E claro, o Inglês porque é o idioma que falamos na sala de ensaios. Mantive a língua alemã nos temas em que falo de coisas mais pessoais porque me senti mais natural a falar destas temas em Alemão. Para os outros temas, escolhi a língua Inglesa porque
Jannika: É uma cidade com uma herança muito grande e cheia de música, não apenas da música clássica mas também com uma cena gótica bastante boa. Temos sempre o Wave-Gottik Treffen com pessoas com uma mentalidade muito aberta e que se interessam pela nossa música. Há um pouco de cada estilo musical aqui.
ACABARAM A TOUR AGORA, QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS AGORA? FAZER MAIS TOURS OU GRAVAR UM ÁLBUM? Frank: Vamos definitivamente continuar a tour porque adorámos tocar e é o que queremos fazer. Tocar concertos todas as noites com um bom público mas primeiro vamos tentar arranjar mais concertos com o nosso “metalset”. Foi bom tocar em formato acústico mas depois de alguns concertos é bom ter uma guitarra eléctrica. Depois vamos ver o que é possível...talvez gravar um álbum e também estamos a pensar em fazer algumas covers. Jannika: Ainda temos que planear mas a prioridade é tocar mais concertos (risos).
QUE DESAFIOS VÊM PARA UMA BANDA COMO VOCÊS? QUAL É A VOSSA OPINIÃO ACERCA DO MODELO DE NEGÓCIOS EM QUE AS BANDAS TÊM QUE LANÇAR ÁLBUNS OU ACHAM QUE AS BANDAS TÊM QUE TOCAR MAIS? O SPOTIFY TAMBÉM APARECEU COM ESTE MODELO DE STREAMING A MUDAR O MODELO DE NEGÓCIOS. COMO É QUE MÚSICOS COMO OS MOLLLUST SOBREVIVEM E QUE OPORTUNIDADES VÊM NESTE MODELO DE NEGÓCIOS?
“SIM. TOCAMOS NO CINEMA DE S. JORGE. FOI MUITO BOM E O CLUBE ERA MUITO BONITO. ESTAVAM BASTANTES PESSOAS E TODAS ELAS BASTANTE ENTUSIASMADAS E PORTANTO, DIVERTIMO-NOS BASTANTE NO PALCO.”
O VOSSO OBJECTIVO EM TERMOS DE COLECTIVO?
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Jannika: De um ponto de vista financeiro, é muito difícil. Tens um conjunto de coisas que tens que pagar. Começa quando queres gravar e depois também precisas de um técnico de palco. Se tens um equipamento de merda não consegues fazer o que queres no palco. E estar em tour também custa dinheiro e receber isto tudo de volta, de um ponto de vista financeiro, é muito difícil. Acho que é uma tarefa bastante difícil para qualquer artista que esteja a começar a aparecer. A segunda coisa é que agora com a Internet tens acesso a todo o tipo de música. Mas isto tem que ser de alguma forma organizado. Tu és um de entre milhões e as pessoas têm que te conhecer a ti. Frank: Também a atenção que possas receber de alguém nos dias de hoje, é algo de curta duração. Acho que ainda não descobrimos como usar estas coisas porque tens que ser um bom músico, tens que saber muito sobre negócios, tens que ter muitos contactos e nós estamos apenas a tentar encontrar o nosso caminho. O novo álbum tem 70 minutos o que, de um ponto de vista financeiro, é uma coisa estúpida. Quando tentas vender no iTunes, tens que vender por 9.99 Eur e são 70 minutos de música. JANNIKA: Nem consegues fazer as tuas próprias decisões em termos de negócios porque muitas plataformas só te colocam lá dentro e tu só podes dizer que sim ou que não. Tens que aceitar as condições deles. Isto torna as coisas mais difíceis. E como a música já não vende tanto, as bandas maiores fazem mais tours o que torna as coisas mais difíceis quando tens uma banda pequena porque se alguém toca na tua cidade é complicado para ti.
NESTE ASPECTO, AS TOURS TAMBÉM SÃO IMPORTANTES. VOCÊS FORAM COM OS ORPHANED LAND QUE SÃO UMA BANDA RECONHECIDA E PORTANTO, TIVERAM OUTRAS CONDIÇÕES DO QUE SE FIZESSEM A TOUR SOZINHOS. FRANK: Acho que esta é uma das melhores maneiras de fazeres que com a audiência oiça a tua
música quando tocas com bandas maiores. Como disse, tivemos muitas pessoas no público a dizernos que nunca nos tinham ouvido mas que gostaram muito. E se não tivéssemos tocado com os Orphaned Land, essas pessoas nunca nos teriam ouvido. Acho que o que interessa é fazer com que as pessoas te oiçam e também para que as pessoas te possam dar a oportunidade de tocares para elas.
VI ALGUNS VÍDEOS VOSSOS NO YOUTUBE E PARECE-ME QUE O VOSSO SOM É BASTANTE DIFERENTE DAQUILO QUE OUVI ATÉ AGORA. QUANDO OLHO PARA OS MOLLLUST, TENHO A TENDÊNCIA DE PENSAR EM THERION E NIGHTWISH MAS PELO QUE OUVI, VOCÊS SOAM BASTANTE DIFERENTES COM A VOZ DA JANNIKA E COM OS OUTROS VOSSOS ELEMENTOS. VOCÊS USAM ISSO PARA VOS DIFERENCIAREM? FRANK: Claro. Acho que nos dias de hoje é importante dares às pessoas a oportunidade de ouvirem algo de novo. E pode ser que fiquem connosco. Também acho que o ponto principal é o facto de nós usarmos os instrumentos clássicos e os instrumentos de metal de um modo igual. Eu tenho que dar espaço à guitarra mas também tenho que dar espaço aos instrumentos clássicos e acho que o som da banda também fica diferente. O nosso produtor, Andy Schmidt dos Dissilution, é muito bom e ficamos bastantes satisfeitos com o facto de ele ter criado este som especial para nós. Decidimos investir e fazer uma gravação a sério. Acho que isto é muito importante...ter um bom som.
E COMO ESTÃO EM TERMOS DE EDITORAS? JANNIKA: Para o álbum, mantivemos os nosso olhos abertos e estávamos a pensar em algumas cooperações mas até agora, ainda não encontramos ninguém. FRANK: Fizemos tudo sozinhos. O problema com as editoras é que elas estão com bastantes dificuldades e os esforços em termos administrativos aumentaram
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“TAMBÉM ACHO QUE AS EDITORAS PODEM VER QUE ACREDITAMOS MESMO NAQUILO QUE FAZEMOS, O QUE AUMENTA AS HIPÓTESES DE VIRMOS A TER UMA EDITORA.” bastantes com todas estas coisas de streaming e de download. As editoras têm mesmo que fazer coisas que sabem que funcionam e quando apareces com um novo som, é muito difícil. JANNI K A: É muito difícil convencer uma editora. Elas têm medo dos riscos. FRANK : Também quisemos lançar o álbum para a tour e quando fazemos nós as coisas, conseguimos fazelas mais rápido. JANNI K A: Foi mais trabalhoso para nós lançar o álbum antes da tour do que talvez lançar no próximo ano com uma editora. E achamos que não valia a pena porque queríamos tocar as novas músicas e decidimos fazer as coisas agora. Se não encontrarmos alguém com a mesma paixão que nós temos, então não vale a pena esperar. FRANK : Também queremos tocar mais e agora temos algo para mostrar às
pessoas. Temos a tour e o álbum e por isso, há mais razões para uma editora trabalhar connosco. Se não der, continuaremos a fazer coisas nós mesmos. Também acho que as editoras podem ver que acreditamos mesmo naquilo que fazemos, o que aumenta as hipóteses de virmos a ter uma editora. J A N N IK A : Também acho que somos mais como um produto pronto, em termos de negócios, porque temos um álbum e temos uma base de fãs. Também somos uma banda que sabe dar concertos e não tens que pensar se as pessoas vêm aos concertos. Enquanto não tiveres sucesso nestes pontos, não consegues arranjar uma editora.
PARA ALÉM DOS MOLLLUST, ESTÃO ENVOLVIDOS EM MAIS ALGUM PROJECTO MUSICAL? J A N N IK A : Eu canto nos Haggard desde Novembro de 2013. Para além disso, também faço algumas
jams mas nada de sério. F R A NK : Para mim, também é bastante semelhante. Também estou com os Haggard desde o ano passado e toco baixo e também sou o Tenor. Para além disso, não há muito espaço para mais coisas.
PARA FECHAR, ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL PARA OS FÃS PORTUGUESES? J A NNIK A : Nós adoramos tocar para o público Português porque foi uma excelente experiência e queremos regressar assim que pudermos. F R A NK : Para mim, o importante é que as pessoas reajam à música e em Portugal isso foi muito forte. No palco isto é uma excelente experiência. https://www.facebook.com/molllust/ https://youtu.be/9jrY31IgBhg
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mais a língua. Preciso de imergir num ambiente em que ela seja falada correntemente. Mas, de facto, estou a pensar seriamente em começar a escrever letras em Português. Só que ainda não chegou o momento ideal. Poderá acontecer em futuras canções.
DE ONDE SÃO OS DOIS OUTROS ELEMENTOS DA BANDA E COMO SE CONHECERAM? JOHN PAUL ANDRADE VEM DO ECUADOR. O APELIDO, QUE PARECE PORTUGUÊS, RESULTA DO FACTO DE A SUA FAMÍLIA TER VINDO DA GALIZA. CONHECEMO-NOS NO ENSINO SECUNDÁRIO E JÁ TOCÁMOS EM VÁRIAS BA NDAS E PROJETOS, ANTES DE NOS ENCONTRAMOS EM WINDFAERER. MICHAEL: Conheci Benjamin Karas, quando andava à procura de um violinista para gravar o primeiro álbum de Windfaerer: «Tribus». Entrámos em contacto através dos Hellhound Rehearsal Studios, onde as nossas respetivas bandas ensaiavam. Nessa altura, eu tocava em várias outras bandas e o Benjamim estava numa banda de Black Metal chamada Mjollnir. Desde que gravou connosco em «Tribus», tornou-se um membro de Windfaerer.
POR QUE SENTISTE QUE PRECISAVAS DE TER UM VIOLINISTA NA BANDA? TENHO DE RECON HECER QUE O VIOLINO DÁ UM “SABOR” MUITO ESPECIAL À MÚSICA DE WINDFAERER. MICHAEL: O violino estava presente nas duas canções da nossa primeira demo: «Glorybound». Sempre gostei do som do violino e queria ouvi-lo a acompanhar música pesada. Portanto, em vez de deixar para trás esse instrumento depois dessa primeira gravação, incluí-o novamente em «Tribus». Atualmente, graças à arte e ao génio do Benjamin, o violino assumiu uma dimensão absolutamente inovadora em Windfaerer, tendo deixado de ser um mero acompanhamento da nossa música.
MODERNOS ATLANTES? O ATL Â N TI CO Q UE , AO M ES MO T EM P O , U N E E S EPA R A (NOM E A DAM E N TE A EU R O PA E O S EU A ) E FO I PA LC O DE “VAGABUN DAGE M ” E MIG R A Ç Ã O : EIS O MO T E PA R A «TENEB ROSUM » , O SEG U N D O Á LB U M D E WIN D FA ER ER , NAS PAL AVRAS DE M IC H A EL G O N Ç A LV ES , O LÍD ER D A BAN DA . A N Ã O P ER D ER ! Entrevista: CSA SEI Q UE ÉS DE ORIGEM PORTUGUESA. DE ONDE ÉS? NASCESTE NOS EUA OU EM PORTUGAL? MICHAE L G ON ÇALV E S : Obrigada por nos teres contactado. Eu nasci nos EUA. O meu pai é português e a minha mãe é cubana e a sua família veio da Galiza.
QUE PAPEL DESEMPENHA A CULTURA PORTUGUESA NA IDENTIDADE DE 3 2 / VERSUS MAGAZINE
WINDFAERER? M IC H A EL: A banda começou por ser uma homenagem às minhas origens ibéricas. Sinto que a história da Celtibéria e da Lusitânia ainda não foi tratada com o interesse que merece na cena metal. Muitos dos símbolos que uso em Windfaerer vêm das minhas visitas a Portugal e Espanha. Admiro as paisagens e a rica história desses dois países.
A primeira canção desta banda – “In the Wake of War” – é sobre a revolta dos Lusitanos contra os Romanos.
FALAS PORTUGUÊS? PÕES A HIPÓTESE DE ALGUM DIA VIRES A ESCREVER LETRAS PARA AS VOSSAS CANÇÕES NA MINHA LÍNGUA MATERNA?
“A BANDA COMEÇOU POR SER UMA HOMENAGEM ÀS MINHAS ORIGENS IBÉRICAS. (…)” QUEM É RESPONSÁVEL PELA MÚSICA E PELAS LETRAS EM WINDFAERER? MICHAEL: Esse fardo está assente nos meus ombros. Fui eu que escrevi a maior parte da música. Mas, durante a gravação do nosso álbum anterior – «Solar» – aceitei intervenção externa. O Benjamin Karas começou a incorporar na nossa música o violino distorcido e a tratar esse instrumento de uma forma mais adequada ao Metal, o que valorizou imenso o nosso som. «Tenebrosum» segue as mesmas linhas. Agora temos uma formação estável e estamos a compor novo material. Até ao momento, também tenho sido responsável pelo conceito e pelas letras e não penso que isso vá mudar tão cedo.
POR QUE DECIDIRAM COMPOR UM ÁLBUM SOBRE O MARE TENEBROSUM? TERÁ SIDO PORQUE O OCEANO ATLÂNTICO UNE AS TUAS DUAS CULTURAS? MICHAEL: É claro que esse é um aspeto fundamental. Quando escrevo e concebo um álbum, procuro dar-lhe várias camadas de sentido. Há aqueles que o ouvinte pode apreender e os que se relacionam com aspetos pessoais diretamente ligados às minhas emoções e ideias. O Oceano Atlântico é muito importante para o nosso povo e igualmente para mim. Está na base da proeminência da Península [Ibérica] como uma força global, mas também constitui uma barreira que separa dois mundos por uma grande distância. Além disso, a minha família atravessou o Atlântico e, por isso, cá estou atualmente na outra margem. A obscuridade e o mistério do Mare Tenebrosum estão associados ao tema da “vagabundagem”, da migração, presente neste álbum. «Mare Tenebrosum» trata do exílio em águas desconhecidas e de potenciais descobertas a que este pode conduzir.
ADOREI A MÚSICA DESTE ÁLBUM. SENTE-SE QUE INCLUI UMA GRANDE VARIEDADE DE “INGREDIENTES”. O QUE TE INFLUENCIOU, QUANDO COMPUSESTE ESTA OBRA?
M IC H A E L : Cresci a falar Português, mas sinto que preciso de praticar 33 / VERSUS MAGAZINE
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MICHAE L : Na sua maioria, as nossas influências são sempre as mesmas, mas, em cada álbum, adquirem um “sabor” diferente, levando-nos a procurar inspiração na obra de outros artistas. «Tenebrosum» foi muito influenciado pelo Metal dos anos 90, tanto na composição como na produção. Desta vez, inspirámo-nos em clássicos como Dissection, Dawn e Immortal e ainda nos primeiros álbuns de In Flames e Katatonia. Queríamos que este álbum provocasse uma sensação de regresso ao passado. Pretendíamos criar Metal atmosférico, mas, ao mesmo tempo, pesado.
NÃO SERIA DE ESPERAR QUE O ÁLBUM TIVESSE UMA CAPA MAIS TENEBROSA? QUEM A FEZ E COMO FOI CONCEBIDA? MICHAE L : Esta capa foi feita a partir de uma foto tirada na Tailândia pelo nosso antigo guitarrista, Peter Lloyd. Eu criei o símbolo que nela aparece, que representa o tridente de Poseidon (logo tem um tema náutico) e, ao mesmo tempo, o nome da banda (através da sua inicial – W). Por trás do nosso logo e por cima do sol, aparece o escudo celtibérico, que atravessa a escuridão para nos guiar. Não quis dar a impressão de que há algo malévolo ligado à nossa banda. Embora o som de Windfaerer seja “malévolo”, terá sempre uma réstia de esperança a animá-lo e é essa ideia que pretendo transmitir através da capa que criei para este álbum.
COMO ESTÃO A PROMOVER O VOSSO «TENEBROSUM»? A HAMMERHEART ESTÁ A DAR-VOS UM APOIO EFICAZ NESSE CAPÍTULO? Na realidade, começámos por lançar uma edição limitada do álbum, que pagámos do nosso bolso e divulgámos através do Bandcamp. Depois acabámos por chegar à fala com a Hammerheart, que resolveu fazer uma reedição de «Tenebrosum» em formato digipack. Têm estado a fazer um bom trabalho, pelo que temos grandes expetativas relativamente a esta sociedade. Além disso, temos andado a fazer concertos na nossa região.
JÁ PENSARAM EM V IR A PORTUGAL E TOCAR PARA OS TEUS COMPATRIOTAS? MICHAE L : Isso seria um sonho convertido em realidade. É realmente um dos meus objetivos. Felizmente, estamos a contar, num futuro mais ou menos próximo, ter os meios necessários para atravessar o oceano e reunirmo-nos ao meu povo.
CONHECES ALGUMAS BANDAS PORTUGUESAS? COM QUAL OU QUAIS DELAS GOSTARIAS DE PARTILHAR O PALCO? MICHAE L : Infelizmente, raramente contacto com bandas portuguesas e poucas conheço. Eis um assunto de que tenho de tratar. Sou todo ouvidos! ht t ps://w w w.facebook.com/w in d fa e r e r / ht t ps://yout u.be/U 6 SjEQLN5Gw
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ANT ROPOM ORP H I A
D EV I N T O W N S EN D P R O J EC T
CONAN
FI FT H T O I N FI N I T Y
«Necromantic Love Songs» (Metal Blade) Death Metal old-school ao melhor nível, com influencias de Autopsy, Death e Bolt Thrower, é o que temos nesta reedição, absolutamente merecida, do EP de apresentação da formação holandesa, lançado originalmente em 1993, que traz como bónus a demo «Bowel Mutilation», de 1992. Os indefectíveis do Death mais bafiento que não conhecem ainda esta besta de sonoridade pútrida, têm aqui uma boa dose de malhas esmagadoras bem carnudas para morder, e uma mão cheia de bonitas odes de amor necrófilo que vieram mesmo no timing perfeito para o dia dos namorados. [ 7,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS
«Revengeance» (Napalm Records) Conan investem no factor “peso” com riffs que poderiam rachar uma parede de betão. Neste quarto disco da banda, somos atordoados com uma sonoridade que se assemelha a Neurosis com uma pedrada neolítica. Trata-se de stoner com groove e arrastanço suficientes para satisfazer os requisitos do género. Embora o foco nessa fórmula sedentária deixe pouco espaço para a criatividade, Conan constituem uma das apostas mais seguras no domínio em que se inserem. Um forte pontapé de saída para 2016... até os Church of Misery lançarem o próximo álbum. [ 8,0 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO
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«Ziltoid Live at the Royal Albert Hall» (InsideOut Music) São poucos os artistas que se podem dar ao luxo de, num período de três anos, lançarem dois álbuns ao vivo. Depois de «The Retinal Circus», em 2013, eis que surge o lançamento do concerto «Ziltoid Live at The Royal Albert Hall» incluído na tour de divulgação do álbum Z2. Este concerto difere do primeiro quer pelo facto de terem tocado o álbum Z2 na íntegra, quer porque incluíram na setlist as músicas mais votadas pelos fãs. Foi a oportunidade de se ouvir algumas músicas que provavelmente nunca mais serão tocadas ao vivo. [ 8,0 / 10 ] HUGO MELO
«Omnipotent Transdimensional Soulfire»» (Avantgarde Music) Surgiram em 1997 pelas mãos do baterista Martin Lopez, logo antes deste integrar os Opeth e, mais tarde, os Soen. E parece que foi mesmo a indisponibilidade de Lopez que atrasou este primeiro álbum, um trabalho de Death/Black Metal melódico e sombrio, ao estilo de bandas como Secrets of the Moon e Eudaimony, com um front-man cujo registo angustiado e sinistro se confunde com o de Mortuus dos Marduk. A composição é atraente e, em alguns aspectos, agradavelmente invulgar. “The fall of the seven” e “The will to harm” têm mesmo potencial para se tornarem clássicos. [ 8,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS
CONT RARIAN
«Polemic» (Willowtip Records) Projecto impressionante e muito acima da média no panorama Death Metal de vanguarda mais tecnicista, que tem como pontos fortes os característicos leads espaciais de Leon Macey (Mithras) e a percussão do George Kollias (Nile). Apesar da composição muito à frente e dos detalhes técnicos fascinantes, o álbum nunca é uma montra de excentricidades, pautando-se pela dose certa de melodia e agressão e muito espaço para os músicos brilharem individualmente. A influência Schuldineriana é evidente, não sendo por acaso que o disco inclui uma cover de “Nothing is everything”. [ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS
N EC R O S AVA N T
«Aniara MMXIV» (Kolony Records) Constituído por uma única faixa, este é o ambicioso álbum de estreia do projecto a solo de Jonas Martinsson (dos Majalis): Death Metal arrojado feito de ritmos electrizantes, num estilo entre Behemoth e Decapitated, com coerência e variedade em dose q.b. para nos manter atentos em todos os 45mins da sua duração. Os vozeirões de Tobias Netzell (In Mourning) e Alexander Högbom (October Tide) são um valor acrescentado, e o poema sci-fi em que se baseia, “Aniara”, de 1956, do prémio Nobel Harry Martinson, confere-lhe uma dimensão épica. [ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS
CRIPPLED BLACK PH O ENI X
«New Dark Age Tour EP 2015 A.D.» (Season of Mist)
Um EP da banda do multi-instrumentista Justin Greaves (ex-Electric Wizard) que vale mesmo pela preciosa cover de 38 mins do clássico “Echoes” dos Pink Floyd. A primeira parte soa relativamente fiel ao original mas a segunda conta já com o traço de autor distintivo da formação britânica. Os últimos 5 mins são, de facto, uma outra versão: “Childhood’s end”, do álbum «Obscured by Clouds». Os dois inéditos incluídos acabam ofuscados pelo impacto das covers, embora o melancólico “New dark age” revele algum apelo.
[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS
DELUGE
W I N D FA ER ER
«Tenebrosum» (Hammerheart Records) Segundo álbum de uma formação norte-americana (com dois luso-descendentes) que complementa um potente Death/Black Metal reminiscente da primeira fase do som de Gotemburgo, com belas melodias folk protagonizadas por um melancólico violino. Embora a abordagem não seja nova, a composição criativa e diversificada dos sete temas fazem desta uma proposta cativante para os fãs do género. A coesão dos instrumentos, os solos rasgados e o vozeirão diabólico ao jeito de John Haughm (Agalloch) contribuem adicionalmente para uma experiência sónica viciante. [ 8,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS
«Aether» (LADLO Productions)
Depois de múltiplas e penosas audições, o que nos fica na mente deste disco são, sobretudo, as ferozes rajadas de blast-beats passadas a papel químico de um tema para o outro, e os longos interlúdios atmosféricos feitos de acordes soltos, abstractos e sem sentido, ou as melodias pobres, desligadas de tudo o resto e tão maçadoras quanto o incessante ruído da chuva que se ouve em todo o disco. “Klartraumer” e o segmento inicial de “Vide” salvam «Aether» de um desastre ainda maior, mas o resultado fica, ainda assim, longe da estreia auspiciosa que muitos auguravam para esta jovem formação gaulesa.
[ 6,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS 3 6 / VERSUS MAGAZINE
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... EM FORMA DE VELUDO J Á TO C O U C O M U M S E M NÚ M E R O D E A RTIS TA S : JOHN PAUL J O NE S , R IC K WA K E M A N, S TE V E H A C K E TT O U M A IS RECENT EMENT E S TE V E N WIL S O N E A IND A , C E RTA M E NTE , S E D E V EM RECORDAR D O S K A J A G O O G O O … S Ó PA R A C ITA R A L G U NS . NICK BEGGS É UM M E S TR E NA A RTE D O C H A P M A N S TIC K E NÃ O S Ó . «DO NOT HING TIL L Y O U H E A R F R O M M E » É O P R IM E IR O Á L B U M A SOLO DO SEU M A IS R E C E NTE P R O J E C TO A S O L O , TH E M U TE G O DS. POR ISSO E M U ITO M A IS J U S TIF IC O U -S E U M A C O NV E R S A C O M A VERSUS. IST O É M Ú S IC A E M F O R M A D E V E L U D O Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Ernesto Martins
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
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«DO NOTHING TILL YOU HEAR FROM ME» FOI LANÇADO HÁ APENAS ALGUNS DIAS. SERÁ DEMASIADO CEDO PARA PERGUNTAR COMO ESTÁ A SER RECEBIDO? Nick Beggs: De uma forma geral,
penso que as reacções têm sido favoráveis e as reviews têm sido boas.
O ÁLBUM PARECE SER BASEADO INTEGRALMENTE NUM CONCEITO. QUE CONCEITO É ESTE? NB: Não se trata propriamente de
um álbum conceptual embora haja alguns temas recorrentes. O disco tem uma faceta socio-política, uma atitude ecológica e algumas referências a relações pessoais em geral Mas não existe um conceito central. O nome da banda é que é, conceptualmente, uma reacção ao fundamentalismo religioso, visando nomeadamente as acções radicais e o facto de os deuses se manterem estranhamente mudos.
QUANTO TEMPO PASSOU DESDE O MOMENT O EM QUE SURGIRAM ESTAS IDEIAS E A CONCEPÇÃO DO DISCO? NB: Num espaço de três anos,
compus este álbum três vezes e deitei ao lixo tudo o que compus por duas vezes. Mas acabei por ficar com excertos escritos em cada uma das três tentativas. Algumas das coisas que não ficaram neste disco poderão ser usadas mais tarde.
COMO É QUE SE EXPLICA QUE UM MÚSICO TALENTOSO COMO TU ESCREVA, ENTRE 2013 E 2015, UM TRABALHO COMO ESTE EM QUARTOS DE HOTEL, CAMARINS E BACK STAGES POR ESSE MUNDO FORA? FOI UMA ESCOLHA OU APENAS FRUTO DA FALTA DE TEMPO? NB: Um tipo que é freelancer tem de ter a capacidade para se automotivar. Quer sejas um pintor, um músico ou um assentador de tijolos, ninguém vai planear o dia para ti. Tens de ser pro-activo e aproveitar
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os momentos que surjam se queres de facto atingir algum sucesso com a tua carreira. Ao fim de trinta e dois anos a fazer isto, acabei por me tornar um perito no que toca à gestão do meu tempo. Foi assim que geri a gravação deste disco e é assim que trabalho com outras pessoas. Ao fim de tantos anos de experiência não achas que seria capaz de trabalhar assim?
JÁ PASSARAM DEZASSEIS ANOS DESDE «THE MAVERICK HEL MSMAN». QUANDO TE APERCEBESTE QUE ESTAVA NA ALTURA DE FAZER UM ÁLBUM A SOLO? NB: Aconteceu depois de ter recebido ofertas de contrato de duas editoras. Antes destas ofertas nunca me pareceu que houvesse um mercado para mim. NÃO SOU MUITO DE ROTULAR A MÚSICA MAS PENSO QUE É SEMPRE BOM CONSEGUIRMOS DAR UMA IDEIA, POR PALAVRAS, DO QUE OUVIMOS. COMO DESCREVERIAS «DO NOTHING TILL YOU HEAR FROM ME» USANDO UMA ÚNICA FRASE? NB: Penso que não me cabe a mim
esse exercício. Não tenho qualquer motivo para categorizar a minha música e tenha a certeza que haverá muita gente por aí mais do que disponível para o fazer.
O TEMA “FATHER/DAUGHTER” É INTERPRETADO EM DUETO COM A TUA FILHA. SENDO EU TAMBÉM PAI DE UMA MENINA GOSTAVA DE SABER MAIS SOBRE ESTA CANÇÃO ESPECIAL, NOMEADAMENT E SOBRE AS DIFICULDADES EMOCIONAIS QUE UMA CANÇÃO DESTAS ACARRETA. NB: Bem, penso que escolheste o tema certo. É certamente o mais importante para mim neste disco. Já andava há anos para escrever esta canção mas para só agora surgiu a oportunidade. Acho que é um tema com o qual muitas pessoas se poderão identificar, quanto mais não seja pelo facto da paternidade ser uma das maiores
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responsabilidades que um homem pode abraçar na vida. Divorciei-me da minha mulher em 1987 e vivi na altura um período muito doloroso por causa do esforço que tive de empreender para manter uma bom relacionamento com a minha filha mais velha. Apesar de toda a boa vontade do mundo, eu era o pai ausente. A canção foi escrita nessa perspectiva.
PELA LISTA DE COLABORAÇÕES QUE APARECE NO DISCO, VEJO QUE TRABALHASTE COM UM NÚMERO SUBSTANCIAL DE ARTISTAS DE EXCEPÇÃO. SERÁ QUE AS RAÍZES DA TUA MÚSICA, ESPECIALMENTE EM «DO NOTHING…», SÃO UM RESULTADO DA INTERACÇÃO COM ESTES MÚSICOS? NB: Penso que somos influenciados
por tudo o que ouvimos. A minha resposta à tua pergunta é portanto afirmativa.
UM DOS NOMES NESSA LISTA É STEVEN WILSON - UM DOS MEUS MÚSICOS FAVORITOS. COMO É TRABALHAR COM ELE? NB: Ele gosta de tudo o que funciona e é totalmente aberto a novas ideias. Por isso é que o bombardeio com tudo. Por vezes ele não usa nada do que proponho; outras vezes aceita as minhas ideias. TENHO DE ADMITIR QUE NÃO CONHEÇO O TEU TRABALHO COM O JOHN PAUL JONES (QUE TAMBÉM CONSTA DA LISTA DE COLABORAÇÕES NO NOVO DISCO). COMO É TOCAR AO LADO DE UMA LENDA DO ROCK DESTA ENVERGADURA? NB: Aprendi mais com ele do que com qualquer outro artista. É
um músico muito generoso e um grande mestre.
SERÁ QUE JÁ ESTÁ PLANEADA UMA DIGRESSÃO DE SUPORTE AO NOVO ÁLBUM? PORTUGAL ESTÁ INCLUÍDO? NB: Ainda não temos planos mas
nunca se sabe.
ENTRE 1993 E 1994 TRABALHASTE PARA A PHONOGRAM COMO A&R. SE EU TE APRESENTASSE A MINHA BANDA NESSA ALTURA, QUE ASPECTOS É QUE EU DEVERIA DAR MAIS ATENÇÃO DE FORMA A SUSCITAR O INTERESSE DA EDITORA? NB: Em 1994 terias de apresentar uma canção pop baseada em guitarras apelativas ou numa melodia intensa e radio-friendly. A industria não valorizava nada que tivesse raízes em estilos antigos e a verdade é que nada mudou muito desde então. O importante era teres um refrão forte e um som original que apelasse às rádios - ou seja, a treta corporativa do costume. COMO A&R O QUE PROCURAS NUMA BANDA OU ARTISTA? NB: Originalidade. Boas canções.
Juventude é um critério no topo da lista. As editoras não estão interessadas em pessoas velhas e olham para artistas com mais de 25 anos como alguém que já deu o que tinha para dar. Mas há uma saída para isto: não ligues para o que dizem e faz as coisas à tua maneira qualquer que seja a tua idade. Afirma-te com convicção e paixão e talvez tenhas sorte. Mas ter sucesso na indústria discográfica é como ganhar a lotaria. Boa sorte.
AO LADO DO TONY LEVIN, TU ÉS UMA REFERÊNCIA NO QUE DIZ RESPEITO À EXECUÇÃO DO CHAPMAN STICK. PARA
QUEM ESTEJA DECIDIDO A APRENDER A TOCAR O ESTE INSTRUMENTO TÃO BEM COMO TU, QUAIS SÃO OS TEUS CONSELHOS? QUANTAS HORAS DE PRÁTICA DIÁRIA RECOMENDARIAS? NB: Dependendo das tuas aptidões naturais, precisas de ter entre 1000 a 10000 horas de prática para te tornares competente no instrumento. Se já tiveres uma experiência de base com outro instrumento, isso vai-te ajudar a aprender um segundo instrumento. O Chapman Stick é particularmente exigente e o segredo reside em aprenderes onde ele fica bem. Porque o stick não se adapta a todas as situações, pelo menos segundo a minha experiência. Ou então esta ideia pode resultar das minhas próprias limitações com o instrumento. PELA QUE LI EM ARTIGOS E ENTREVISTAS, ÉS UMA PESSOA MUITO HUMILDE. EMBORA SEJAS CLARAMENTE UM MESTRE NO QUE CONCERNE AO BAIXO, VEJO-TE A DIZER FREQUENTEMENTE QUE APRENDES COM OS OUTROS MÚSICOS. O QUE ACHAS QUE GANHAS DO CONTACTO COM OUTROS MÚSICOS? QUAIS FORAM OS QUE TE INFLUENCIARAM MAIS? NB: Penso que foi o Chris Squire
que me iniciou nesta viagem. É uma das minhas maiores influências. Mas também fui influenciado por outros grandes músicos. De todos o Pat Metheny é o meu artista favorito e o seu espírito inspirame sempre a lutar por padrões de qualidade mais elevados. Ele é fabuloso. ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ t hemut egods/ ht t ps: / / yout u. be/ w H Z 0 Q 5 t P X TM
“É CERTAMENTE O MAIS IMPORTANTE PARA MIM NESTE DISCO. (...) ACHO QUE É UM TEMA COM O QUAL MUITAS PESSOAS SE PODERÃO IDENTIFICAR, QUANTO MAIS NÃO SEJA PELO FACTO DE A PATERNIDADE SER UMA DAS MAIORES RESPONSABILIDADES QUE UM HOMEM PODE ABRAÇAR NA VIDA.”
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“FAZ PARTE DA NATUREZA HUMANA AVALIAR E DIZER QUE ESTE É MELHOR ESTE É PIOR. NÃO FAZ SENTIDO, É ARTE. É O MESMO QUE AVALIAR SE UMA PESSOA É MELHOR OU PIOR, NÃO É POSSÍVEL, SÃO INDIVÍDUOS. SÃO COMO NOSSOS FILHOS, NÃO DÁ PARA AVALIAR.”
CONTADOR DE HISTÓRIAS
É UM E X ÍM IO C O N TA D OR DE HIST ÓRIAS. NO M EIO D E UMA A G E N D A H Í P E R -OCUPADA, T OBIAS SAM MET, O G É NI O P O R D E T R Á S DOS AVANTASIA CONSEG U I U DI S P E N S A R U M P O UCO DO SEU T EM PO PA R A CO N V E R S A R C O M A VERSUS M AGAZINE E A SU A MA I S R E C E N T E C O L A BORADORA. A ENT REVISTA FO I DI F E R E N T E E A N IM A DA, COM O É GRANDE PARTE DA M Ú S I C A P O R SI CRIADA. «GHOST LIGH TS » ES TÁ A S E R U M S U CESSO E T EREM OS AINDA A PA RTI C I PA Ç Ã O N A S ELIM INAT ÓRIAS NO FEST IVA L D A C A N Ç ÃO, NA ALEM ANHA. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro (... e Ana Transcrição e Tradução: Hugo Melo
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Sofia)
ANTES DE MAIS AGRADEÇO A TUA DISPONIBILIDADE. SEI QUE ESTÁS BASTANTE OCUPADO COM A PROMOÇÃO, PELO QUE TENTAREI FAZER ESTA ENTREVISTA UM POUCO DIFERENTE. A PRIM EIRA QUESTÃO É COLOCADA PELA ANA SOFIA QUE TEM 10 ANOS. UMA DAS SUAS MÚSICAS FAVORITAS É «DEATH, IS JUST A FEELING» CANTAD A POR TI E O JON OLIVA E QUANDO SOUBE QUE IA FALAR CONTIGO PEDIU-ME PARA TE FAZER UMA QUESTÃO. ASSIM A PRIMEIRA QUESTÃO POR ANA SOFIA É: O QUE TE LEVOU A SER CANTOR? Tobias Sammet: Provavelmente
não é uma questão que deveria responder a crianças que estão a frequentar a escola. Eu simplesmente não queria fazer mais. Eu adoro música e claro como todos os cantores adoro a atenção e, na altura, para mim, Paul Stanley, Gene Simmons e Bon Scott eram as pessoas mais porreiras do planeta, mais tarde Dee Snider. Estas pessoas andavam com roupas estranhas a andavam a fazer coisas que eram condenadas pelos adultos e, segundo constava, faziam montes de dinheiro com isso. Para mim isso era muito tentador e para mais, abominava a ideia de trabalhar para alguém. Enquanto pai, creio que é melhor dizeres à tua filha para não cantar tanto (risos). 45 / Ava n ta s i a
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ENTREVISTA
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ELA ESTÁ AQUI A OUVIR, MAS COMO NÃO PERCEBE INGLÊS, VOU-LHE SÓ DIZER AS PARTES BOAS. A MINHA PRIMEIRA QUESTÃO É AQUELA QUE TODA A GENTE QUER SABER, MAS QUE NINGUÉM TEM A CORAGEM DE PERGUNTAR. COMO VAI A CAÇA AOS COELHOS NA TERRA D AS COELHINHAS? N O TA : H T T P S : / / Y O U T U . B E / A HG4L2GS-A
DESDE O «METAL OPERA PART I», E PARA MIM ESTE É O ÁLBUM MAIS VICIANTE.
Eu sou um filho dos anos 70 e, principalmente, dos anos 80. Se vires a minha colecção de música é desse período. Nessa altura nem 5% das bandas eram lideradas TS: (Risos) Claro que não vou por vozes femininas. Eu tenho discordar de ti. Agradeço. muitos poucos álbuns com vezes femininas, e não é por não gostar, AVANTASIA SERÁ A CAPA DA PRÓXIMA simplesmente não havia. Era quase EDIÇÃO DA VERSUS. GOSTEI TANTO DO todas lideradas por homens, desde ÁLBUM QUE ELE FARÁ A CAPA E NÃO Maiden , Queensrÿche, Twisted QUIS DESPERDIÇAR A OPORTUNIDADE Sisters and Alice Cooper, Pretty Maids, Magnum, AC/DC, Judas DE FALAR CONTIGO. TS: (Risos) Bem essa foi numa Priest e, de vez em quando, surgia ideia estranha, mas divertimouma Lita Ford. Se escolheres TS: Muito, muito obrigado. nos imenso a fazer esse vídeo. 50 álbuns da minha coleção, 49 Não me lembro com surgiu a deles terá um vocalista masculino. ideia, mas creio que hoje seria Assim não tem a ver considerada chauvinista. com o facto de gostar Simplesmente achei de vozes femininas, imensa piada fazê-lo e porque gosto, mas o andar de um lado para meu background não “SEMPRE GOSTEI DAS MÚSICAS ÉPICAS, o outro a filmar filmes é esse. estúpidos.
AINDA BEM QUE NÃO SE LEMBRARAM CAÇAR GATAS (PUSSYCATS), CASO CONTRÁRIO A TERRA CHAMAR-SE-IA PUSSYVILLE (RISOS) TS: (Risos)
O QUE NÃO GOSTO É DAS BANDAS QUE COLOCAM PARTES ÉPICAS PARA COMPENSAR OUTRAS FALHAS, COMO QUANTO TEMOS MELODIAS DE MERDA E COLOCAMOS GRANDES COROS PARA TENTAR DISFARÇAR”
TODO S OS ÁLBUNS DE AVANTASIA LEVANTAM ALGUM REBOLIÇO. LI NO FACEBOOK E NA NEWSLETTER DA NUCLEAR BLAST QUE O ÁLBUM ENTROU PARA A SEGUNDA POSIÇÃO NA TABELA ALEMÃ. PERGUNTO-TE COMO TEM SIDO A ACEITAÇÃO E SE CONCORDAS QUE É O TEU MELHOR ÁLBUM.
ESTAMOS HABITUADOS A VER TEMAS LONGOS COMO TEMAS DE ABERTURA DE ÁLBUM, MAS NESTE A MÚSICA DE ABERTURA «MYSTERY OF A BLOOD RED ROSE» TEM APENAS QUATRO MINUTOS. PORQUE É QUE FOI ESCOLHIDO ESTE TEMA E NÃO UM MAIS ÉPICO?
TS: Não sei se é o melhor álbum.
TS: Aconteceu assim, eu nunca
Tento não pensar as coisas nesses termos. Eu abordo a questão da qualidade e avalio a questão de o álbum ser ou não bom para mim. E para mim é um excelente álbum, mas nunca diria que é melhor que o «Mystery of Time» ou o «Scarecrow» porque simplesmente não há melhor ou pior. Eu agosto deles todos. Faz parte da natureza humana avaliar e dizer que este é melhor este é pior. Não faz sentido, é arte. É o mesmo que avaliar se uma pessoa é melhor ou pior, não é possível, são indivíduos. São como nossos filhos, não dá para avaliar.
PARA MIM É UM ÁLBUM VICIANTE. ACOMPANHO-TE DESDE O TEMPO EM QUE TINHAS O CABELO COMPRIDO, 46 / A v a n t a s i a
faço grandes planos nesse sentido. Este tema fez-me sentido em termos de introdução à história. Sinceramente nunca pensei na escolhe nesse sentido.
ENTRE OS CANTORES CONVIDADOS APENAS TENS A SHARON DEN ADEL, COMO VOZ FEMININA, A CANTAR NUMA BALADA. PORQUE É QUE NÃO CONVIDASTE MAIS VOZES FEMININAS? TS: A resposta é simples. Avantasia
sempre foi um reflexo do que eu sou em termos de música, idade.
ESTAVA A OLHAR PARA A MINHA COLECÇÃO E SÓ TENHO DOIS ÁLBUNS COM VOZES FEMININAS. NIGHWISH E WITHIN TEMPTATION. PORTANTO, NÃO ESTÁS SOZINHO.
TS: Tu és um chauvinista!! (Risos) RELATIVAMENTE AOS TRABALHOS ANTERIORES, SOBRESSAI O TRABALHO DESENVOLVIDO AO NÍVEL DOS COROS. O SINGLE, «MYSTERY OF A BLOOD RED ROSE», É UM BOM EXEMPLO, MAS ESSE TRABALHO SOBRESSAI DE IGUAL FORMA NAS RESTANTES FAIXAS. PORQUE É QUE LEVARAM
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TANTO TEMPO A TRABALHAR OS COROS. TS: Tentamos dar sempre às músicas a aquilo que elas precisam. Já no «Mystery of Time» também temos grandes coros, basta ouvir a música título. Sempre gostei das músicas épicas, o que não gosto é das bandas que colocam partes épicas para compensar outras falhas, como quanto temos melodias de merda e colocamos grandes coros para tentar disfarçar, matando dessa forma a melodia. Para mim os coros são um complemento às melodias, e é para fazer as melodias brilharem ainda mais. Sempre o fizemos, mas neste caso em concreto e, por exemplo, na «Mystery of a Blood Red Rose», deu-nos a oportunidade de colocar imensas backing vocals. Eu tento ver sempre as músicas de forma individual e de facto a «Mystery of a Blood Red Rose» permitiu-nos isso. Cada vez adicionávamos mais e mais coros e nunca arruinávamos a música. Perdemos tanto tempo e tivemos tanto cuidado em não tornar a música pesada, e por isso gosto tanto deste tema, porque ela tem tanta coisa que não é óbvia nem imediata. PARA AS ELIMINATÓRIAS DO FESTIVAL DA CANÇÃO, COMO VAIS TRANSPORTAR ESTE ASPECTO ÉPICO PARA O PALCO E DE QUE FORMA? VÃO TODOS OS VOCALISTAS OU SÃO APENAS OS TRÊS MÚSICOS? TS: Não, não! Irá o Olie (Oliver Hartmann), o Herbie (Langhans),
a Amanda (Somerville). Só haverá playback na música e as vozes serão todas interpretadas ao vivo.
NO ÁLBUM QUEM FAZ OS COROS? TS: Cloudy Yang, Herbie Langhans,
e eu. Somos três pessoas. Ah, e uma rapariga que canta num tema.
NA MINHA OPINIÃO PODEMOS DIVIDIR OS AVANTASIA EM TRÊS PERÍODOS, THE METAL OPERA PARTS, THE WICKED TRIOLOGY, MYSTERY OF TIME E AGORA GHOSTLIGHT. ONDE OBTÉNS AS IDEIAS E A INSPIRAÇÃO PARA ESCREVER ESTAS HISTÓRIAS? TS: É uma boa questão, não sei bem, acho que já lá está… Eu adoro ser criativo, para mim é terapêutico e é como um hobbie. Não o considero um trabalho, é um hobbie. Depois de um dia de trabalho, vou para a minha cave, bebo um copo de vinho tinto, às vezes sete (risos), e depois escrevo músicas. É sempre entusiasmante ouvir no dia seguinte aquilo que escrevi na noite anterior. A sério, não sou alcoólico, nem sempre escrevo com vinho, mas às vezes vou para a minha cave e adoro compor musica, para mim é como terapia e ser criativo é uma bênção e as histórias são influências pela vida e pelas questões que tenho na vida. Tento criar contos de fadas, mas essencialmente são baseadas na realidade, estão cheias de metáforas. E a música simplesmente surge… escrevo aquela música que gostaria de ouvir enquanto fã. Sento-me no teclado e tenho grandes ideias, às vezes não tão grandes ideias e rescrevoas ou descarto-as. Eu adoro o que faço e não o faço por obrigação, nem porque preciso do dinheiro, nem por pressões da editora, não há razões eu simplesmente adoro o que faço. O QUE FAZES PRIMEIRO, A MÚSICA OU AS LETRAS? TS: Acontece de mão dada, mas para mim, gosto de ter boas letras, porque é o que mantem o conceito. Músicas de merda com grandes letras não seria considerado um bom álbum, mas um álbum com grandes músicas e letras de merda já seria considerado um bom
álbum. Eu tento fazer as letras tão importantes como música, mas claro que é a música que une tudo. Ninguém diz que não compra o álbum porque não gosta da história, mas todos dizem que é uma boa história, mas a música é uma merda. Eu considero-me mais um músico que um compositor de letras.
QUANDO COMEÇAS A COMPOR PENSAS APENAS NESSE ÁLBUM, OU PENSAS PARA ALÉM DESSE ÁLBUM? TS: Sabia a direção que iria levar desde o início, mas não sabia os detalhes, não sabia como iria lá chegar e como as coisas iam acontecer. Tinha uma ideia do que queria, mas não sabia como se iriam desenvolver.
O QUE PODEMOS ESPERAR DO AVANTASIA PARA O FUTURO? HAVERÁ TS: Honestamente, num concerto
de heavy metal, uma orquestra completa não faz sentido. Visualmente é interessante ver os violinos, os trompetes e as trompas, mas ao nível do som é uma confusão. Tenho uma teoria que é que as bandas que os estão a fazer ao vivo, metal e orquestra, essas bandas estão a fazer playback para orquestra, porque o som de palco é uma grande confusão. Esse não é o meu sonho. Se calhar estou completamente errado e um dia vou fazê-lo, mas para já acho que não faz sentido. Com o Miro (Michael Rodenberg) temos a melhor orquestra que poderíamos ter em palco. Ele usa os mesmos samples que o Hans Zimmer nos seus trabalhos para as bandas sonoras de Hollywood. É um teclista fenomenal e, em palco, é uma orquestra fenomenal.
ESPERO QUE POSSAM TOCAR EM PORTUGAL E ESPERO EM BREVE PODER VER-VOS AO VIVO. FOI UM GRANDE PRAZER FALAR CONTIGO. OBRIGADO PELO TEU TEMPO. TS: Muito obrigado pelo vosso tempo também e espero estar brevemente em Portugal. Um bom fim de semana e uma olá para a Ana Sofia.
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Spellbound!! Fomos buscar ao título de um famoso filme de Hitchcock esta palavra para qualificar o último álbum de SOL. O “empréstimo” não se deve ao facto de a palavra não existir
no nosso dicionário, mas sim à ideia de que este álbum evoca a atmosfera onírica e ameaçadora desse filme, gerando uma grande dose de ansiedade a partir de música quase divina. Entrevista: CSA
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OLÁ, EMIL. NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE ÉS UM MÚSICO E COMPOSITOR DE MÚLT IPLOS TALENTOS. ESTE ÁLBUM É VERDADEIRAMENTE SOFISTICADO. Emil Brahe: Muito obrigado! ONDE APRENDESTE A TOCAR PIANO DE UMA FORMA TÃO SUBTIL, TÃO DELICADA? EB: Na realidade, em «The Storm
Bells Chime» (Avantgarde Music, 2016), é o meu grande amigo Tor que toca piano. Ele tem uma forma muito intuitiva de abordar a música. Também é responsável pelos vocais do estilo canto gregoriano que podes ouvir no álbum.
TENS CERTAMENTE UMA LARGA EXPERIÊNCIA NO MUNDO DA MÚSICA. PODES FALAR-NOS UM POUCO SOBRE ESTE ASSUNTO? EB: Desde o início da adolescência que senti um imenso fascínio pela música, que me levou a tocar em inúmeras bandas. Nessa altura, estava ligado à música extrema, ouvia muito Death e Black Metal. No início dos anos 2000, passei a dedicar-me a outros estilos musicais: Neofolk, Dark Ambient, Noise e Lo-Fi Doom Metal. Sempre me esforcei por alargar os meus horizontes musicais. No fim de contas, há uma grande quantidade (e variedade) de boa música obscura à nossa volta à espera de ser descoberta. COMO ORGANIZAS O TEU PROCESSO DE COMPOSIÇÃO, UMA VEZ QUE TENS IMENSOS ASPETOS PARA GERIR EM SOL? EB: Isso depende do álbum. Nos meus primeiros álbuns – «Let There Be a Massacre» (Van Records, 2007) e «I Am Infinity» (Van Records, 2008), comecei por gravar as partes de guitarra. Fiz primeiro todos os arranjos de cada faixa para a guitarra, acrescentei camadas e depois gravei o baixo, a bateria e, por fim, os vocais. Outros álbuns – como, por exemplo, «Offer Thy Flesh to the Worms» (Van, 2011) e «Where Suns Come to Die» (Cold Spring, 2015) – foram sobretudo construídos a partir de samples: antigas melodias clássicas do início do século 5 0 / VERSUS MAGAZINE
passado ou canções velhas ou que ainda não tinham sido lançadas e que eu tinha gravado para outros projetos musicais. Portanto, nesses álbuns apostei sobretudo nos arranjos e, mais uma vez, a voz foi a última coisa a ser gravada. Outros ainda foram escritos seguindo os processos habituais nas outras bandas e depois gravados. Por conseguinte, penso que a composição de cada um dos álbuns de SOL depende muito das pessoas com quem trabalho e do conceito subjacente a ele.
COMO DESCREVES A MÚSICA QUE CRIAS? EB: Hm … Essa é dura, haha. O meu amigo Danny (da
editora online Drowning.cc), que também participou em «The Storm Bells Chime», considera que a música de SOL é “True Jutlandian Doom Metal and Esoteric drones”. Quando me fazem essa pergunta, costumo responder que SOL é um projeto de Doom Experimental e Drone. Mas a resposta também depende de quem faz a pergunta. Uma vez, a minha querida avozinha perguntou-me que tipo de música eu tocava e respondi-lhe que era uma espécie de “Rock lento”. HAHA!
SENTES-TE PARTICULARMENTE ALGUM MÚSICO/BANDA?
INFLUENCIADO
POR
EB: É uma lista longa: Nico, Darkthrone, Einstürzende Neubauten, The Fall, Current 93, Père Ubu, Burzum, Mayhem, Tom Waits, Scott Walker, Toadliquor, Townes van Zandt, Arvo Pärt, Vond, Saturnus, Johnny Cash, Black Sabbath, Hank Williams, Leonard Cohen, Pink Floyd, OM, Sunn O))), Michael Gira, Neurosis, Jan Toftlund e muitos, muitos outros.
“[O álbum está] ligado à infância e à perda e ainda à forma como esses dois temas interagem.”
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TENCIONAVAS FAZER DESTE TEU ÁLBUM UMA ESPÉCIE DE VIAGEM AO REINO SOMBRIO DA ANSIEDADE OU SOU EU QUE O SINTO ASSIM?
A miséria/o sofrimento têm muitos cambiantes, mais ou menos profundos. O mesmo se pode dizer da alegria, penso eu.
EB: Não diria que a ansiedade é o principal tema do álbum. Do meu ponto de vista, está mais ligado à infância e à perda e ainda à forma como esses dois temas interagem. EB: É claro que nele surgem elementos de ansiedade, mas eu apostei mais na tristeza, na perda, nas paisagens que cercavam a casa em que vivi na minha infância. E ainda há referências ao omnipresente apocalipse e à morte.
E COMO RELACIONAS A CAPA DO ÁLBUM COM A SUA MENSAGEM?
QUAL É O SIGNIFICADO DESTA TEMPESTADE ANUNCIADA POR SINOS? EB: Quando andava a planear o álbum, estava a ler
Dommedags Bog, de Ernesto Dalgas, além do habitual Nietzsche, que me ajuda sempre a desenvolver uma disposição mental favorável à criação do conceito (especialmente Assim falava Zaratrusta e Dionysus Dithyrambs). Na minha ideia, a tempestade referese à amargura e à aproximação de uma perturbação/ doença mental. Quando és uma criança, não tens consciência desses problemas, mas vais ouvindo o que os anuncia. O título foi-me inspirado pelo livro de Ernesto Dalgas, onde ele fala de algo semelhante a isto, em Dinamarquês. Senti imediatamente o poder desta expressão e apressei-me a traduzi-la para Inglês, o melhor que pude.
TEM ALGUMA COISA A VER COM O PRINCIPAL TÓPICO DO TEU PROJETO MUSICAL, DE ACORDO COM A INFORMAÇÃO DADA PELA ENCYLOPAEDIA METALLUM (A DECADÊNCIA HUMANA)? EB: Esse tópico está mais presente no que fiz entre 2004 e 2010. Andava muito dececionado/irado com tudo e sentia que a Humanidade merecia desaparecer da face da Terra. Mas, à medida que cresces e envelheces, desenvolves uma certa indiferença à realidade. Começas a perceber que nem tudo é simplesmente branco ou preto.
EB: A capa é uma foto que a minha querida mãe me tirou, em que estou com o meu cão. Eu devia ter 10 ou 11 anos, nessa altura. Muitas das letras que escrevi para este álbum falam de atmosferas e emoções dessa época da minha vida. Portanto, na minha humilde opinião, essa imagem está perfeitamente adequada ao que eu pretendo transmitir. O logo de SOL, que também aparece na capa, foi desenhado pelo meu querido pai para «Let There Be a Massacre» e também me parece adaptado à atmosfera de «The Storm Bells Chime». Portanto, fui eu que concebi a capa do álbum e a boa gente da Avantgarde acrescentou alguns elementos e tratou dos retoques finais. FAZES CONCERTOS AO VIVO? QUEM CHAMAS PARA SEREM TEUS MÚSICOS DE SESSÃO? EB: Sim. SOL tem músicos de sessão que fazem parte de diversas bandas dinamarquesas. Há lá de tudo, desde Punk Rock a Black Metal, passando pelo Folk e pela Música Eletrónica.
COMO VAIS PROMOVER ESTE FANTÁSTICO ÁLBUM? PARECE-TE QUE PODES CONFIAR PLENAMENTE NA AVANTGARDE PARA TE AJUD AR NESSA PARTE? EB: Até aqui, a Avantgarde tem feito um trabalho
sensacional. Já tive muitas críticas – boas – e esta é a segunda entrevista a que estou a responder. O meu amigo Danny – que também gere a página de SOL no Facebook – tem sido igualmente um grande apoio, no que toca à promoção na Dinamarca. Se tudo correr bem, o álbum há de chegar a muitas pessoas, tantas quanto possível. Que a sorte favoreça os idiotas! http://avantgardemusic.bandcamp.com/album/the-storm-bellschime
“(…) há uma grande quantidade (e variedade) de boa música obscura à nossa volta à espera de ser descoberta.” 51 / VERSUS MAGAZINE
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A COR DA TRANSFORMAÇÃO Viveram-se tempos conturbados e a tragédia (quase) se abateu sobre a banda. Durante algum tempo cores cinzentas povoaram o universo multicor dos Baroness. Roxo, púrpura, violeta, lilás, magenta. Por aí diz-se que o roxo transmite a sensação de tristeza e introspecção. Estimula o contacto com o lado espiritual, proporcionando a purificação do corpo e da mente e a libertação de medos e outras inquietações. É a cor da transformação. Nada melhor para definir… «Purple» Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Transcrição e tradução: Adriano Godinho
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
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JÁ PASSOU ALGUM TEMPO DESDE O LANÇAMENTO DO NOVO “PURPLE”, COMO TEM SIDO A SUA RECEPÇÃO PELO PÚBLICO? Sebastian Thomson: Penso que tem sido muito bem recebido. É engraçado porque sabes, a banda tem estado mais ou menos em pausa desde a saída do álbum, por isso não temos falado muito entre nós sobre isso. Mas tudo o que vejo online ou nas revistas indica que tem sido uma recepção muito positiva; e pode parecer um pouco estranho mas como novo membro na banda, tenho sofrido um pouco mais de ansiedade sobre a saída deste trabalho; saber se as pessoas me aceitam, sabes? Mas parece que está a correr muito bem. PENSO QUE “YELLOW & GREEN” TENHA SIDO O ÁLBUM DOS BARONESS COM MAIOR SUCESSO… Sebastian: Até agora! (risos) SIM, ATÉ AGORA! ACHAS QUE ESTE “PUR PLE” É UM PA SSO EM FRENTE RELATIVAMENTE AO “Y&G”? Sebastian:
Em termos de sucesso? Bem a recepção está a ser boa mas vamos ver como corre nos próximos tempos. Em termos musicais penso que o “Red” e o “Blue” são muito pesados, técnicos, trabalhos mais Metal. Com o “Y&G” John tentou explorar uma componente mais musical. Com “Purple” encontramos uma síntese dessas duas componentes. Tem alguma da agressividade dos primeiros trabalhos mas também a capacidade melódica dos últimos álbuns. Por isso penso que foi um passo em frente, sim.
A REVISTA “ROLLING STONE” NOMEOU “PURPLE” COMO #7 NA LISTA DOS ÁLBUNS DE METAL PARA 2015. COMO MEMBRO DA BANDA, O QUE ACHAS QUE FAZ DE “PURPLE” UM ÁLBUM TÃO BEM RECEBIDO? Sebastian: Bem, não ouvi os outros
álbuns para poder comparar; sabes, questionamos por vezes se será Baroness uma banda de metal? Penso que é uma pergunta muito pertinente. Como disse, penso que conseguimos manter
a energia, manter as melodias e também com uma produção algo diferente, um pouco artístico; algo que falta por vezes no metal; se é metal extremo é rápido, técnico e impressionante; se é metal com mais de estrutura, torna-se num desafio em ser diferente, criar um género. Muita gente é específica no que faz; consegue-se identificar a influência no som de algumas bandas. Pode ser algo de positivo, não digo que seja negativo. Mas “Purple” não é isso, é um álbum estranho, soa diferente do resto. Mas não acho que seja metal, não sei o que é na verdade (risos).
O PRIMEIRO SINGLE QUE OUVI FOI “CHLORINE & WINE”, PARA O QUAL FIZERAM UM VÍDEO QUE É MUITO BOM. VÊ-SE O ÓDIO DE JOHN A EXPLODIR; QUAL É O SENTIMENTO DE ALGUÉM QUE NÃO VIVEU O ACIDENTE (DE AUTOCARRO EM INGLATERRA, 2012) E JUNTA-SE A UMA BANDA PARA EXPRIMIR O QUE SENTEM? Sebastian: Pois, eu e o Mick
não vivemos esse acidente, mas tornámo-nos amigos com o John e o Pete durante estes 3 anos e claro falamos muito e vivemos juntos em digressões; tenho de perceber o que significa para eles; e significa duas coisas diferentes para cada um deles. A forma como analisaste a música é muito interessante porque isso é como um modelo para todo o álbum. O John e o Pete estavam tão desmoralizados com o que se passou, quase morreram, a banda quase terminou, John quase perdeu um braço, o receio de não conseguirem encontrar com quem tocar... Mas depois começamos a tocar e aconteceu esta coisa boa: o “Purple” saiu! Foi como uma celebração, conseguimos! Finalmente! (risos) Por isso é um trabalho que tem partes mais obscuras, especialmente nas letras, mas também tem esta componente de celebração; triunfo será talvez a palavra mais correcta.
CONSIDERAM ESTE “PURPLE” COMO UM ÁLBUM CONCEPTUAL? Sebastian: Liricamente penso que
sim, John escreveu as letras, devido ao acidente e às consequências disso; mas musicalmente de uma certa forma é o oposto. Rodeia
toda a ideia do triunfo que falamos antes. No que toca a mim mesmo, também sinto esse triunfo de uma forma mais pessoal devido à minha banda anterior “Trans AM” se ter tornado num projecto part-time; fiquei menos ocupado como músico e odiei isso. Agora com Baroness tenho uma segunda oportunidade para voltar a fazer bons álbuns. E tudo isto vem ao encontro do que os outros membros também estavam a viver.
É INEVITÁVEL RELACIONAR “PURPLE” COM O ACIDENTE QUE A BANDA SOFREU EM 2012; COMO FOI ENTRAR PARA A BANDA DEPOIS DO QUE ACONTECEU? Sebastian: Eles facilitaram imenso o processo, passamos muito tempo juntos; não apenas a trabalhar nas
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ACONTECEU ANTERIORMENTE? Sebastian: Penso que sim. De
forma pessoal, para o John e Pete. E de forma artística fica a nossa afirmação. Para o próximo álbum estarão os traumas todos limpos. (risos) Ya, para o próximo álbum vamos ter novos escrever músicas sobre novos problemas (risos).
JOHN TEM A REPUTAÇÃO DE SER METICULOSO, COMO É TRABALHAR COM ELE? CONTRIBUEM NA COMPOSIÇÃO DAS MÚSICAS? Sebastian: Todos contribuímos; o John escreve as letras e a maioria das progressões de acordes mas todos contribuímos. Muitas músicas começam com o John e eu tentar decidir que tipos de ritmos queremos para este trabalho. Por
(...) questionamos por vezes se será Baroness uma banda de metal? Penso que é uma pergunta muito pertinente. músicas mas também a passar tempo juntos, a conhecermo-nos. Uma coisa interessante no facto de ser músico e diferente em relação a outras formas de arte é que por causa da natureza do que fazemos temos de ser pessoas sociáveis. Não como um pintor, por exemplo. Tens de te dar e falar com as pessoas. A menos que tenhas um projecto a solo, claro. Por isso, quando comecei a tocar com eles, parte da audição não foi apenas tocar, foi saber se podíamos darnos bem como pessoas. E foi muito fácil, temos amigos em comum; e por outro lado eles todos cresceram juntos e passaram mesmo muito tempo juntos; penso que também houve um certo entusiasmo por parte do John e do Pete por agora trabalharem com duas pessoas novas. (risos)
PENSAS QUE ESTE TRABALHO É A PONTE QUE A BANDA PRECISAVA PARA PASSAR POR CIMA DO QUE
exemplo, o ritmo na música “If I had to wake up” é calma e com midtempo; foi algo que sugeri porque não tínhamos aquele género de ritmo. Gosto da forma como John trabalha. Na minha outra banda era o oposto; íamos para o estúdio com algumas ideias e fazíamos tudo lá, quando ouves uma música de Trans AM aquela era a minha quarta vez a tocar a música! (risos) Com Baroness é o oposto, entramos nos detalhes sobre as partes. Claro as coisas mudam no estúdio mas foi bom chegar ao estúdio e sentir que sabes tudo sobre as músicas. John é muito meticuloso (ainda mais do que eu)! Gozamos com ele disso, quando gravamos ele aparecia de manhã com o plano detalhado do que fazer nesse dia, com todos os detalhes e gráficos! Parecia um louco. (risos). Mas a verdade é que temos de ser organizados quando se grava um álbum por isso é positivo.
POR CURIOSIDADE, PORQUÊ OS NOMES DE CORES PARA OS TÍTULOS DOS VOSSOS ÁLBUNS? E O NOME “PURPLE” TEM ALGO A VER COM O FACTO DE PETE SER VETERANO E TER UMA CONDECORAÇÃO “PURPLE HEART”? Sebastian: Sim, o Pete tem um “Purple Heart” mas não penso que esteja relacionado com isso. As cores é um desafio, o John é artista gráfico e tem uma visão especial sobre as capas dos nossos álbuns. Houve uma altura em que pensaram que seria altamente ter uma série de álbuns com cores diferentes; e quando fizemos este novo trabalho pensamos em parar com isto das cores, temos dois novos elementos por isso vamos dar-lhe um nome diferente! Procuramos durante muito tempo mas não conseguimos encontrar nada de jeito, por isso concluímos: “esta ideia das cores até parece boa ideia” por isso continuamos (risos). A CAPA DO ÁLBUM É FEITA PELO JOHN, O QUE SIGNIFICA CADA ELEMENTO? AS FLORES, MULHERES E ANIMAIS? Sebastian: O John é muito simbólico, sabes? Tudo significa algo para ele; no global gosto muito do resultado final mas só ele poderá responder a essa questão. SOBRE O TEU KIT, REPAREI QUE TENS VÁRIAS MARCAS DE PRATOS, É COMUM FAZERES ISSO? Sebastian: Sim, já toco há tanto
tempo que aconteceu. Quando comecei usei Paiste, depois mudei para Zildjian, depois a Paiste 2002 como o do John Bonham, tenho o set completo. Depois passei a usar só o prato de choques e dois chinas misturados com outros pratos partidos, apenas isso. Nada de crash nem ride. Quando vim para Baroness, havia muitos pratos da Meinl (Allen era patrocinado) que nunca tinha usado, muito bons para rock pesado por isso usei alguns. Por isso não tenho qualquer problema em misturar pratos.
OS BARONESS VÃO TOCAR EM LISBOA EM MARÇO. O QUE PODEMOS ESPERAR DE VÓS E O QUE ESPERAM VOCÊS DO PÚBLICO PORTUGUÊS?
Sebastian: Sabes já toquei muitas
vezes em Portugal, no Porto, Coimbra e Lisboa. Os Baroness também já tocaram. Eu gosto muito do público latino e do ambiente que é criado (sou originalmente da Argentina e vivi alguns anos no Brasil). Estás em Lisboa?
NÃO, AINDA ESTAMOS LONGE. SOU DE UMA CIDADE SITUADA ENTRE AVEIRO E PORTO… Sebastian:
Ok, gosto imenso de ir para Portugal, começamos a tocar em 2013 que foi para substituir o “Yellow & Green” por só tocamos temas desse álbum, agora podemos tocar músicas dos outros álbuns, vai ser muito mais interessante. Podem esperar muita energia e um óptimo momento. Adoro tocar com esta malta ao vivo.
ESTE TRABALHO FOI PUBLICADO ATRAVÉS DA SUA PRÓPRIA EDITORA, COMO É LANÇAR O SEU PRÓPRIO TRABALHO? Sebastian: Bem, tenho a sorte de não ter de me envolver nesses assuntos (risos). O John trata disso tudo; trabalhamos com uma empresa que gere os nossos assuntos, a QPrime, que é uma empresa muito boa. Têm experiencia para ajudar editoras independentes. Antigamente as editoras tinham gente com experiência, equipas de gente para o marketing, contactos e outros. Mas com esta empresa eles fornecem essa vertente de gestão. É muito trabalho para o John, mas é culpa dele; (risos) ele adora estar ocupado e fica todo contente de se envolver em tudo, como uma vez que nos disse que passou um dia inteiro a re-formatar as imagens! Respondemos “mas porque é que fazes isso, não há uma equipa de editores para isso?” (risos) OBRIGADO PELA ENTREVISTA E FOI UM PRAZER FALAR CONTIGO! Sebastian: Obrigado nós e vemonos em Lisboa!
http://yourbaroness.com/ https://www.facebook.com/YourBaroness/ https://youtu.be/DnYO7iQfQDQ
álbum
vErsUs
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ABYSSIC
A N TIM ATTE R
«Us and the Night»
«A Winter’s Tale»
«The Judas Table»
(Republic Records)
(Osmose Productions)
(Prophecy)
Nem só do metal vivem as revistas e em particular a VERSUS. Por aqui vai passando, cada vez mais, música “mais acessível”. Uma dessas bandas são os 3 Doors Down que certamente devem conhecer por ouvir nas rádios mais generalistas. Estes americanos são daquelas bandas cujos temas mais antigos me fazem lembrar pessoas, lugares e anos vividos. Estávamos em 2002 e rodava pelas rádios o single “Here With You”, “Looser” ou “Kryptonite”. De qualquer das formas, há sempre mais para descobrir para além destes temas mais comerciais. Tal como dizia o poeta: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e os 3 Doors Down caíram um pouco no esquecimento e por isso, foi com um misto de curiosidade e saudosismo que recebi «Us and the Night». É um pouco paradoxal mas este último registo revela um esforço para voltar às raízes misturado com algum experimentalismo – sim, também pode existir. Por isso o álbum diferente, menos duro, mais melódico e alegre que os anteriores. Brad Arnold disse que este álbum precisava que as pessoas o ouvissem mais que uma vez… e está certo. Não o interiorizei à primeira porque me pareceu demasiado “meloso”. Após alguma insistência o álbum como que brotou a alegria tímida e escondida, sendo muito agradável de ouvir. «Us and the Night» poderá, por ventura, ser considerado demasiado comercial… talvez. Para mim não deixa de ser um excelente álbum de Rock que me fez despertar algumas saudades de uma época… intemporal que jamais será esquecida.
Uma proposta interessante de Doom Metal sinfónico assinada por um projecto idealizado há quase duas décadas por Memnock, o baixista dos Susperia. Foi, no entanto, só em 2012 que o músico norueguês reuniu a massa crítica necessária, na figura do teclista Andre Aaslie (dos Images at Twilight e Gromth), que lhe permitiu finalmente dar corpo a este primeiro registo, gravado com o baterista Asgeir Mickelson (Spiral Architect, ex-Borknagar) e o guitarrista Elvorn (também dos Susperia). A fusão entre o arrastado e pesaroso do Doom e a grandiosa, por vezes pomposa, componente orquestral, tem na faixa de abertura, “A funeral elegy”, o seu resultado mais impressionante – as melodias de teclados que irrompem a solo, sem acompanhamento (por vezes com o som do mar por detrás), parecem ter sido tocadas pelo condão mágico dos Summoning. “The silent shrine” é um número de estrutura base Doom tradicional, que tem também o seu foco de atracção nas ornamentações orquestrais que dão sentido aos riffs relativamente genéricos. O trabalho sinfónico sintetizado de Andre Aaslie é, de facto, o aspecto mais notável em todo o disco. A faixa título, com 28’ de duração, é a mais longa das quatro em oferta e a única que conta com os gritos demoníacos de Aaslie a secundar o vozeirão gutural poderosíssimo de Memnock. Os riffs remetem para Evoken e algumas linhas lembram o estilo dos My Dying Bride, mas nem por isso o tema tem substância para tão longa duração, acabando por se repetir fastidiosamente. No final fica a ideia de uma abordagem promissora, com muito potencial em aberto para explorar em futuros trabalhos.
Desde a saída de Duncan Patterson (exAnathema, Alternative 4), que Mick Moss tem vindo a marcar os Antimatter com o seu cunho pessoal. Podemos caracterizar «The Judas Table» como sendo uma versão mais calma do seu predecessor «Fear of a Unique Identity». Mais uma vez encontramos neste trabalho os sentimentos de Mick Moss explanados de uma profunda tristeza. Quando um autor caracteriza o seu trabalho afirmando que “qualquer pessoa que tenha sofrido por traição, pode reconhecer-se neste álbum”, está lançado o mote para o que podemos encontrar, um reflexo das suas experiências com os outros e que, de forma progressiva o deixaram em depressão. Novamente encontramos a oposição entre a música, aparentemente calma, e as letras carregadas de dor. Particularmente, este trabalho é marcado de um tom acusatório. Sendo a base deste trabalho a guitarra acústica, não deixam de existir algumas faixas pesadas, como a «Stillborn Empires» ou a «Can Of Worms» que conseguem elevar o poder do instrumental ao poder das palavras. Na minha opinião o ponto forte do álbum encontra-se nas primeiras músicas, onde a intensidade e a simbiose entre o instrumental e as letras é mais harmoniosa e alcançada de uma forma que não torna a audição tão cansativa, o risco existente em trabalhos com este tipo de sonoridade. Basicamente este trabalho segue a linha que Mick Moss vem trilhado ao longo dos últimos álbuns, um ambiente pessoal e próximo de si, havendo uma sensação de continuidade que fará com que quem goste da sua melancolia, aprecie este «The Judas Table».
3 DOORS DOWN
(Abraxan Hymns) “Purple” é a segunda investida da banda pelas cores secundárias e a escolha não poderia ser mais adequada, dada a conotação da cor roxa ao mundo místico e à instrospeção. Baroness são uma banda sensorial e seus trabalhos são cores que se ouvem, provam e sentem. As atribulações que recentemente acompanharam a trajetória da banda são catalisadas num transcendente ato de libertação. A aproximação a uma sonoridade mais etérea e emotiva é espelhada em temas como “Fugue” ou “Chlorine & Wine”. “Kerosene” constitui a fermentação de rock progressivo, metal independente e pop psicadélico que definem a banda. A componente mais pesada não é, no entanto, descurada, encontrando-se em pleno vigor com “Morningstar”, “The Iron Bell” e “Desperation Burns”. “Shock Me” por outro lado, revela-se uma das composições mais memoráveis do álbum. Camadas de som taticamente elaboradas e clinicamente entrelaçadas, contribuem para uma verdadeira jornada intergaláctica. Os solos de guitarra e efeitos explorados evitam a ostensividade, sendo utilizados de forma cirúrgica, com a mestria de uma banda na plenitude da sua maturidade artística. Trata-se de um álbum esculpido para se juntar ao panteão dos trabalhos que têm redefinido o metal/rock nestes últimos anos, como o “The Hunter” dos Mastodon ou o “Spiral Shadow” dos Kylesa. Num contexto em que o metal e o rock parecem passar pelo que se adivinha ser um ressurgimento da Era de Aquário, Baroness geram um álbum com guelras. Clássico.
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CRITICA VERSUS
[9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO
[7/10] HUGO MELO
[8/10] ERNESTO MARTINS
[ 10 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO
5 8 / VERSUS MAGAZINE
59 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
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CRITICA VERSUS
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CH R I S TI A N D EATH
C H R I S TI A N D EATH
«Ghostlights»
«Atrocities»
«The Scriptures»
(Nuclear Blast)
(Season of Mist)
(Season of Mist)
Qualquer disco saído da mente fértil e sonhadora de Tobias Sammet, especialmente os Avantasia, com todo um universo fantástico que rodeia e envolve o projecto, desde os músicos e vocalistas convidados, passando pelas histórias gera sempre algum alvoroço e desperta grande curiosidade junto do público e comunicação social. Sammet é um criador de histórias nato, quer seja nas palavras ou na música, fazendo sonhar, ou pelo menos, de nos transportar para o seu mundo. Tem sido assim desde 2001, altura em que nasceu para o mundo «The Metal Opera». «Ghostlights» é mais um disco, é mais uma história contada, sendo que a música se mantém no estilo Rock/Power Metal épico e “sinfónico”. No entanto, desta vez Tobi afasta-se um pouco do estereótipo musical criado nos álbuns anteriores, um pouco mais direccionados para o típico Power Metal germânico. Desta vez a mudança é tendencionalmente mais rockeira, com coros excepcionais, a orquestração sintetizada e como é apanágio, os vocalistas de topo: Michael Kiske, Jorn Lande ou Geoff Tate, entre outros. Apesar disso, ainda temas um par de temas que cavalgam a toda a velocidade e ao sabor de Kiske. Para bom entendedor… O único ponto que acho menos positivo é a balada interpretada por Sharon den Adel. Menos positivo no sentido em que vamos completamente embalados ao som da música e “Isle of Nevermore» é uma “curva apertada”, a viagem volta depois à velocidade normal. Ainda assim, Sammet conseguiu-me surpreender, tal como disse na entrevista, foi o álbum que mais me viviou nos últimos anos. Estamos pois perante mais uma “Rock Opera” de audição obrigatória.
Christian Death são, para além de uma das bandas fundadoras do deathrock (subgénero emergente do movimento gótico), também os responsáveis pelo “Only Theatre of Pain” (1982), um álbum de presença mandatória na discografia de qualquer aficionado de tendências musicais obscuras. Em crítica encontra-se porém, a reedição limitada em formato de vinil do primeiro disco de longa duração, datado de 1986, com Valor Kand a assumir a liderança da banda. A saída de Rozz Williams, figura icónica do movimento gótico, e a subsequente continuidade dos Christian Death, mantêm ainda hoje a sua controvérsia. “Atrocities” marca a transição de uma expressão de hermetismo poéticoesotérico para uma abordagem conceptual assente na nudez do valor de choque. São aqui exploradas as experiências médicas conduzidas por Josef Mengele (o “Anjo da Morte”) em Auschwitz durante o Terceiro Reich. A revisitação dos traumas da 2ª Guerra Mundial é feita com a indulgência de língua em ferida aberta e com a teatralidade característica da banda. Embora Valor Kand não seja substituto para Rozz Williams como vocalista, a sua capacidade criativa evidencia-se na riqueza dos riffs que abundam em “Atrocities”. Não menos meritória é a contribuição de Gitane Demone na densidade emotiva que imprime às vocais em parte das composições. É no entanto, a comiseração de faixas como “Tales of Innocence”, “Strange Fortune” ou a versão da notória “Gloomy Sunday” (a canção húngara do suicídio) que nos fazem contemplar os corpos emaciados, em vigília, na orla do silêncio do tempo.
À semelhança de “Atrocities”, o disco “The Scriptures”, originalmente lançado em 1987, é mais um álbum conceptual desenvolvido por Valor Kand, desta vez em torno do tema da Religião, o qual passaria a ser recorrente em posterior discografia. Um estudo comparativo de religiões, como conceito para um disco, é um projeto no limiar da megalomania; não obstante, a verdadeira façanha está na diversidade de ambientes e destreza de composições que se encontram aqui tecidas. O profetismo que acompanha a temática deste disco é adequadamente veiculado pela dramaticidade declamatória de Valor Kand. Guitarradas imbuídas de pneuma pervadem o álbum e revestem-se de particular fulgor na versão de “1983” de Jimi Hendrix, onde Gitane Demone assume o cargo das vocais, exibindo o seu inquestionável talento. “Song of Songs” é um clássico instantâneo e tão infeccioso como o tema a que alude. O albúm progride do post-punk de “Vanity” e “Four Horsemen”, passando pela quase emulação de Nick Cave na gravidade de “Omega Dawn”, até ao gospel de “Golden Age”. Do som militarista de “Spilt Blood” até à singela e pensativa atmosfera de “Reflections”, somos levados ao desfecho em nota reflexiva. “The Scriptures” vê a banda a reassumir a sua identidade e Valor Kand a ganhar autenticidade como vocalista, libertando-se um pouco do estigma da sucessão a Rozz Williams. Uma reedição limitada em vinil a ser redescoberta, ou descoberta por fãs de Beastmilk e bandas análogas.
AVA N TASIA
[9.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO
[8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO
[8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO
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C O S T I N C H I O R EA N U
DE S TR O Y E R S O F A L L
«Manifestation»
«The Quest For a Morning Star»
«Bleak Fragments»
(Crucial Blast)
(Avantgarde Music)
(Mosher Records)
Maurice de Jong/Mories (Gnaw Their Tongues, Seirom, Aderlating, Mors Sonat, De Magia Veterum...) apresenta-nos o mais recente produto de um dos seus múltiplos projetos a solo. Em consonância com a discografia desenvolvida, o presente álbum assenta num processo criativo que se aproxima de um conluio esquizofrénico de pulsões contra a realidade. No contexto do black metal industrial, “Manifestation” enquadra-se melhor no tipo de trabalho alucinogénico desenvolvido pelos Aborym, do que na padronização de estilo “martelo pneumático” dos Mysticum. Atmosferas cinemáticas intercalam-se com a revoltosa expressão do black metal, mantendo-se subjacentes subreptícias camadas de inquietação presentes nos vários samples a que Maurice de Jong faz recurso para elaborar este sinistro opus. As abruptas alterações rítmicas e desarmonia das composições colaboram para uma geral descoordenação dos sentidos e aumento gradual de ansiedade que caracteriza a bad trip que é este álbum. A própria sugestividade do nome do projeto apela às tonalidades de negrume que se encontram camufladas entre as texturas sonoras, tonalidades estas que aguardam forma e conteúdo concedidos pela nossa perceção. Não atingindo a extravagância dos Sigh ou dos Dodheimsgard, “Manifestation” constitui contudo um álbum com coerência interna e também transversal aos restantes projetos de Maurice de Jong.
Costin Chioreanu, reputado ilustrador com trabalho gráfico frequentemente figurado em capas de álbums de bandas como At The Gates, Arcturus, Darkthrone, Ulver, entre outros, apresenta-se na sua faceta de compositor humanitário. Os lucros provenientes do presente trabalho reverterão para um fundo de apoio às vítimas de um incêndio provocado pelos efeitos pirotécnicos usados num concerto dos Goodbye to Gravity no Club Collectiv em Bucareste, em que 60 pessoas faleceram e 151 ficaram feridas. “The Quest for a Morning Star” é uma elegíaca trilha sonora de um filme cujo guião é entregue ao nosso imaginário. O álbum inicia com um dobrar de sinos como que a indicar o começo de uma procissão. A abrangência emotiva desta obra é refletida ora pela sugestão de desvanecimento marcada pelo uso dos sintetizadores, ora pelo dueto entre a melancolia de um violino e o som esmorecido de uma guitarra. Existe um sentimento de inocência perdida que acompanha as composições, induzindo-nos a um estado de submersão emocional, por vezes interrompido por momentos de súbita distorção, apenas para nos devolver a uma queda lenta para uma quietude crepuscular. Os tenebrosos sussuros de Attila (Mayhem) em “Outside the Great Circle” contrapostos com o tilintar dos sintetizadores, precipitamnos para esse dormente abandono, onde somos acolhidos pela gentil eloquência das palavras de David Tibet (CURRENT 93). Para além da participação das personalidades referidas, o álbum conta igualmente com a contribuição de Rune Eriksen “Blasphemer” (ex-guitarrista de Mayhem) e Mirai Kawashima (SIGH). Um trabalho genial na sua simplicidade e genuíno na sua sinceridade.
Thrash Metal no melhor da sua vertente técnica e progressiva, é como se pode definir, em poucas palavras, este álbum de estreia da formação conimbricense. Mas há mais pois «Bleak Fragments» não se confina aos parâmetros de um só género, cruzando um largo espectro de outras influências que vão do Death ao Groove e do Heavy ao Progressivo. Mais importante é que se trata de um cocktail preparado com talento invulgar e servido com a proficiência técnica de músicos de excepção que fazem deste uma das melhores estreias em solo nacional dos últimos tempos. O instrumental de abertura dá desde logo uma ideia da categoria de Metal que o resto do disco nos reserva. E não engana. As nove faixas seguintes são em si uma mostra do melhor que o Thrash pode oferecer, pautando-se por composições bem conseguidas cheias de riffs infecciosos, variações rítmicas inesperadas, divagações progressivas e rasgos de verdadeiro virtuosismo. Todos os temas têm os seus atractivos mas tenho de destacar aqui a demolidora “Hate through violence” pelas mudanças de tempo e pelo trabalho de guitarra notável, e “Speed of mind” que inclui um refrão memorável sendo também a faixa mais progressiva em oferta. “The pain that feeds” salienta-se pela ambiência galvanizante, surpreendendo a meio com uma estimulante incursão por territórios mais extremos, e “Tormento” resulta numa experiência bem sucedida protagonizada pelo som da guitarra portuguesa e pelo incontornável espírito fatalista do fado. «Bleak Fragments» revelase no seu todo como mais do que um mero disco de Metal. É música com substância e um acontecimento que a cena nacional há muito ansiava.
C LO A K O F A LT ER I N G
[7.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO
[9/10] ERNESTO MARTINS
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LATI TUD ES
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MA I EU T I S T E
MO LLU S T
M O U R N IN G B E L O V E TH
«Blot – Ilt - Taut»
«To the Svmmit»
«Old Sunlight»
«Rust & Bone»
(Cyclone Empire)
(Debemur Morti Productions)
«Maieutiste»
«In Deep Waters»
(Ván Records)
(LADLO Productions)
(Independente)
(Ván Records)
“Ereb Altor são simplesmente os verdadeiros herdeiros do Viking Metal preconizado por Quorthon e os grandes Bathory.” Escrevi eu aquando da crítica de «Fire Meets Ice» em 2013. «Blot - Ilt - Taut» quer dizer simplesmente “blood, fire, death” em Sueco antigo, não fosse este lançamento um tributo à música genial de Bathory e uma forma de pagar tributo a Quarthon, ou melhor, a Thomas Börje Forsberg, pela magnânima contribuição musical e influência que teve em inúmeras bandas, das quais Ereb Altor é o seu herdeiro principal - Pelo menos no que respeita ao Viking Metal. «Blot - Ilt Taut» é um excelente álbum de covers de Bathory. São 7 verdadeiros hinos, tocados e arranjados a fim de soarem a Ereb Altor. Ragnar, Mats, Tord e Mikael conseguiram dar-lhes uma áurea própria sem com isso descaracterizar o original, ou seja, o trabalho realizado faz com que estes 7 hinos pudessem bem ter sido 7 “novas” músicas, não fosse estas terem mais de 25 anos. A abrir temos ‘A fine day to Die’ retirado do álbum «Blood Fire Death», tal como a canção que o finaliza ‘Blood Fire Death’, seguido de ‘Song to hall up high’ que originalmente apareceu no álbum «Hammerheart», tal como a que se segue ‘Home of once Brave’. A fechar o ‘Lado A’ vem ‘The Return of Darkness and Evil’ que saiu originalmente numa compilação Escandinávia. Do ‘Lado B’ temos ‘Woman of Dark Desires’ do «Under The Sigh Of The Black Mark», a já referida ‘Blood Fire Death’ e para ser sincero a minha preferida de Bathory: ‘Twilight of the Gods’ do mesmo álbum do título da canção. Monumental!
O álbum arranca com um ilusivo prelúdio que nos remete para o catálogo da Cold Meat Industry, porém rapidamente nos apercebemos que estamos em domínio de bandas como Incantation, Winter, Blasphemy e Autopsy. Death/black metal cavernoso marcado por vocais guturais e som de guitarras afinadas uns tons abaixo do convencional. A banda investe num ambiente denso e pantanoso com ocasionais e adequadas quebras no ritmo, de modo a manter o interesse do ouvinte. A produção é bastante limpa, privilegiando um som grave e geralmente equilibrado. As composições enfatizam a componente mais atmosférica e abissal, embora esta não seja tão impenetrável como a gerada pelos seus congéneres Encoffination. Ao longo de cerca de 30 minutos a banda recaptura o espírito de um subgénero que em larga medida se perdeu para os extravagantes tecnicismos que caracterizam grande parte do death metal. Poderíamos imaginar o presente trabalho no contexto embrionário em que o death metal fazia jus à sua denominação e nos oferecia clássicos como “Altars of Madness”, “Dawn of Possession” ou “Onwards to Golgotha”. A estrutura composicional do álbum é sintética, coerente e eficaz, sem grande aparato. “To the Svmmit” é uma reissue da demo originalmente lançada em 2014 que, de resto, constitui uma válida adição ao notável catálogo da Ván Records.
Formados em 2006 e tendo inicialmente os Neurosis como principal influência, os Latitudes cedo expandiram a sua música a vários outros quadrantes estilísticos, evoluindo gradualmente no sentido de um post-Metal progressivo que, a julgar pelo conteúdo deste terceiro LP, atingiu já um avançado estado de amadurecimento. A rotulagem pode evocar, é certo, nomes como Isis ou Intronaut, no entanto a música – essencialmente instrumental – desta formação britânica é bastante diferente. A sonoridade é massiva e sludge, radicando num negrume que remete para o Black Metal sem nunca o ser. A referência subtil a este género está, aliás, patente nas linhas melódicas em tremolo que sobressaem em “Ordalian”. Mas a alusão ao Black Metal acaba aqui. «Old Sunlight» é um trabalho centrado num post-metal pleno de musicalidade e atmosfera, cheio de guitarras vibrantes, riffs encorpados, e uma composição criativa que mantém os temas cativantes ao longo de todos os 6 a 9 minutos da sua duração. A voz invulgarmente suave e etérea do vocalista/ teclista Adam Symonds contrasta com o peso do som mas adapta-se perfeitamente no contexto, brilhando particularmente no interlúdio proggy de espírito 70s que surge a meio de “Body within a body”. Entre outros momentos altos contam-se a referida “Ordalian”, a soberba “Amnio” que não contém percussão sendo conduzida por uma inquietante melodia cíclica e misteriosa sobre uma ambiência pesada, e ainda “Altarpieces” que deixa no ouvido as suas belas linhas rítmicas e fraseados recorrentes. Em suma, um trabalho a assinalar, absolutamente obrigatório.
Não gosto nada de generalizações, mas a verdade é que, quando se trata de Black Metal, o que é francês é geralmente bom e este sexteto originário de Saint-Étienne não é excepção. É isso, pelo menos, que me ocorre inferir deste disco de apresentação, que se revela uma agradável caixinha de surpresas em praticamente todas as suas onze faixas e quase oitenta minutos de duração. Pouco na música dos Maieutiste é previsível graças sobretudo a uma forma de compor que favorece padrões rítmicos e estruturas bastante invulgares que fazem toda a diferença. Além disso a banda explora com fluidez múltiplas estéticas que fazem do rótulo Black Metal uma descrição muito redutora. Ouçam-se, por exemplo, os andamentos doomy integrados em “...in the mirror” e “Lifeless visions”, os ambientes fantasmagóricos com cantos litúrgicos de “Purgatoire”, os segmentos jazzy de “Absolution”, os acordes de inspiração erudita presentes no brilhante “The eye of the Maieutic art” ou o psicadelismo de contornos progressivos patente em “Death to free thinkers” e “Annonciation”. Dito assim o disco até pode parecer uma desconcertada manta de retalhos, mas não é. Na verdade toda esta panóplia de elementos distintos surge perfeita e harmoniosamente integrada, pelo que «Maieutiste» é na verdade uma experiência multi-dimensional, sofisticada e difícil de classificar que requer, contudo, mais do que uma mão cheia de audições para se revelar.
O primeiro comentário aos Molllust e o seu 2º álbum de originais é de indignação. Como é que este álbum não tem a chancela de uma editora? Porquê tão extraordinario trabalho não conseguiu o interesse das demais editoras da nossa praça? «In Deep Waters» é um álbum com tanto de surpreendente como de original. Sim, Opera Metal não é nenhuma novidade… a não ser que a abordadgem diferente, numa nova variação da mesma veia musical. Mollust é Metal Opera como nunca ouvi, mais erudito do que épico, mais clássico do que power metal, mais sinfónico do que épico. Para tal, contribui claramente a voz da soprano/ teclista Janika, da violonceilista Lisa e das violonistas Luisa e Sandrine e o tom claramente mais clássico da música destes germânicos de Leipzig, liderados pelo guitarrista Frank Schumacher. Como tudo o que é novo carece sempre de comparação, eu diria que os Molllust são uns Haggard com a veia metálica dos Therion (sem a cabala e afins...). Ainda por cima, «In Deep Waters» não é só originalidade, é também um punhado de músicas bem compostas e arranjadas que nos entram de imediato pelo ouvido a dentro, tal como «Voices of the Dead» - o verdadeiro hino deste álbum, «Lampedusa» ou «Konig der Welt». Este é um dos melhores trabalhos deste género na verdadeira essencia da palavra opera - que já tive o prazer de ouvir. Os Molllust arrancaram fortíssimos e com um longo caminho evolutivo pela frente, que espero eu com o suporte de uma editora. Se este é o seu segundo trabalho, com a evolução musical natural que existirá, imagino o que serão os próximos.
“Ouve-me, que o dia te seja limpo e a cada esquina de luz possas recolher, alimento suficiente para a tua morte.” (Al Berto, “Recado”). Um ominoso som de guitarras, emprestado dos Doors, anuncia a disposição do álbum antes de nos remeter, subitamente, para a familiaridade de um doom metal fúnebre e plangente. Os Mourning Beloveth não desvirtuam como autênticos portadores do fogo de Prometeu, deixado pelos trabalhos iniciais dos “Peaceville Three” (Paradise Lost, My Dying Bride e Anathema). “Godether” é um belíssimo tributo à era “Serenades” dos Anathema, entrecortado por fatigados prantos, num crescendo que culmina em tom irascível de black metal. “The Mantle Tomb” traz à memória o movimento compassado dos conterrâneos Primordial, com um assombroso exercício de clean vocals que não seria desmeritoso para Bruce Dickinson. Das cinco faixas que compõem “Rust & Bone”, duas são interlúdios, sobressaindo “Rust” como uma exalação de áridas preces por uma alma enferma. O álbum termina, apropriadamente, com a melancolia da balada “A Terrible Beauty Is Born”. A noção de composição e a forma exímia como a relativa diversidade de elementos é medida e posta em prática, reforça a solidez da posição da banda no contexto do death doom metal. Face à qualidade das composições, a brevidade deste sexto trabalho dos Mourning Beloveth, é criminosa, não chegando a atingir os quarenta minutos. “Rust & Bone” revela-se contudo, um sublime e miserável exercício musical, pelo qual semelhantes trabalhos serão medidos em 2016.
[9.0/10] CARLOS FILIPE
[9/10] FREDERICO FIGUEIREDO
[9.5/10] CARLOS FILIPE
[7.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO
[8.5/10] ERNESTO MARTINS
[9/10] ERNESTO MARTINS
6 2 / VERSUS MAGAZINE
63 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
vErSUS
CRITICA VERSUS
MAGAZINE
NEW KE E PE R S OF THE WAT ER T O WER S
NI LE
R A MLEH
vErSUS MAGAZINE
ROTTING CRIST
S ELVA N S
S P E K TR
«Infernal Machine»
«What Should Not Be Unearthed»
«Circular Time»
«Lupercalia»
«The Art to Disappear»
(Nuclear Blast)
(Crucial Blast)
«Rituals»
(Listenable Records)
(Season of Mist)
(Avantgarde Music)
(Agonia Records)
Depois de ter passado pela experiência de ouvir o extraordinário álbum anterior desta banda sueca – que me arrancou uma rara mas merecida pontuação de 9.5/10 –, este era, para mim, um dos discos mais aguardados deste início de 2016. «Infernal Machine» não é, no entanto, uma sequela de «The Cosmic Child». Para minha surpresa (e desaire inicial) é até um disco bastante diferente. Se o álbum de 2013 era essencialmente um disco de Metal progressivo pautado por influências rock dos anos 70 e por um psicadelismo negro fortemente reminiscente dos Pink Floyd da fase «Meddle», este quarto registo de originais é marcado mais por uma espécie de space rock maioritariamente instrumental que já não denuncia tanto as influências supra. O toque característico dos King Crimson continua nas composições e as guitarras psicadélicas Floydianas emergem inequívocas aqui e ali. No entanto este é um trabalho menos dinâmico e mais minimalista ao ponto de soar em muitas partes como uma banda sonora. Confesso que senti a falta da excitação e do imediatismo presente em «The Cosmic Child», muito embora o talento dos músicos continue aqui patente em temas como o ondulante “Tracks over Carcosa”, nas estruturas tribais e nos solos etéreos de “Tachyon deep” ou no enérgico “Escape aleph minor”. «Infernal Machine» é, em comparação, um disco mais singular que requer persistência para se tornar natural. Conceptualmente baseado no romance sci-fi “The Forever War” de Joe Haldeman, o álbum é uma odisseia musical audaciosa que proporciona uma experiência única, embora no cômputo geral não tenha resultado tão brilhante como o trabalho anterior.
Sou um grande apreciador e seguidor dos Americanos Nile. O seu Death Metal técnico embebido no universo do antigo Egipto é do melhor que tive o privilégio de descobrir há mais de uma década – Alias, deram-me a conhecer. Pelo que, é-me cada vez mais difícil fazer uma crítica de um novo trabalho dos Nile, pois já quase utilizei todos os adjetivos abonatórios à sua música e sólida carreira. O que mais é que se pode dizer destes Americanos da Carolina do Sul? Por isso, pelo última vez, escrevo sobre os Nile: Já não há mais nada para dizer! Este é mais um grande pedaço de música como só os Nile o sabem fazer. Karl Sander e companhia, estão sempre em auto-desafio a puxar os seus limites da tecnicidade. Este é um álbum que segue na mesma linha artística dos anteriores, sem se desviar um milímetro que seja, quer a nível de ambiente, quer a nível musical, e acima de tudo a nível da qualidade geral das músicas que o compõem. É caso para dizer “em música que ganha, não se mexe”. A única comparação que faço é com a sua mega masterpiece de 2002: «In Their Darkened Shrine». E... não, ainda não foi desta que foi destronado. Lá no fundo, «What Should Not Be Unearthed» são mais 11 novas músicas para juntar ao enorme legado dos Nile. Dado este álbum ser claramente uma aposta na continuidade, podia aqui sugerir que os Nile tentassem algo de novo. Mas para quê inventar? Quando aquilo que fazem está colado que nem uma lapa ao topo da cena metálica, qualquer género em geral incluído, e em particular do Death Metal.
Ramleh, no seu experimental trajeto discográfico, têm-se afastado das raízes do power electronics na direção de um noise rock de contornos psicadélicos adoptada por bandas como The Cosmic Dead ou Dead Skeletons. Apesar da distinta abordagem que marcou o início do seu percurso, mantem-se o núcleo duro de indução hipnótica que acaba por ser transversal à discografia apresentada. “Circular Time” demonstra o princípio de elevação de consciência associada ao trance e psicadelismo eletrónico, aqui tranfigurada num estilo particular de free rock. A fosforescente aura que irradia do sol niger, representado na capa do presente trabalho, simboliza o dinamismo de dissolução que caracteriza o albúm. Subsiste um mecanicismo herdado do power electronics que contamina a fórmula de rock em exercício, colocando a capacidade comunicativa das composições em navegação pelos túneis do nosso cérebro reptiliano. A viagem é sinuosa e repleta de influências: desde o tribalismo post-rock de “Re-entry” e “Incubator”, passando pelo krautrock de “Liberty Bell”, até às mais recentes deambulações meditativas de fuzz e distorção dos Swans em “St John of the Cross”. Através de sucessivas estações, esta máquina do tempo faz-nos revisitar o desalento de uns Joy Division em faixas como “The Ascent” ou “The March”, prosseguindo com um híbrido de Hawkwind e Burzum na ambiência de “Entropy” e “Weird Tyranny”. “Renaissance” é a versão alienígena da faixa que os Darkthrone não gravaram para o “Transylvanian Hunger”. O círculo é encerrado num pináculo de cristalinos e lamentosos solos em “Never Returner”. Uma incursão audaciosa em território inóspito.
Confesso que até este álbum «Rituals» de 2016 praticamente só conheço os Gregos Rotting Christ pelo seu nome, apesar dos seus 27 anos de existência e 12 álbuns na bagagem. Por isso, a primeira audição de «Rituals» causo-me um impacto profundo, pois não estava à espera de tamanho álbum tão bem conseguido e monumental. Penso que é esta a palavra que melhor o descreve. Vê-se mesmo que este foi escrito por veteranos. Os Rotting Christ já nos têm habituado a um som muito particular e deveras interessante, mas aqui penso que conseguiram ir muito mais além, tendo a sua música ganho outro aurea, uma mais épica, num perfeito balanço entre o seu clássico e estilo único com partes renovadas e novas. Ainda por cima, os convidados são uns quantos, indo desde Nick Holmes (Paradise Lost) a narrar em “A Voice of Thunder” até Vorpth (Samael) a sitar Charles Baudelair em “Les Litanies de Satan” ou agus (Necromantia) em “In Nomine Dei Nostri”. Todo o álbum funciona muito bem como um todo, sempre em grande nível do primeiro ao último minuto, com grandes momentos de metal de todos os géneros e estilos, mas sem nunca destoarem ou beliscarem a veia artística que os alimenta, o Dark Metal. Cada uma das dez músicas que compoêm «Rituals» têm tanto potencial criativo que por si só davam para fazer um álbum inteiro. Que grande maneira de começar o ano oferecida pelos irmãos Sakis e Themis Tolis.
Black metal sinfónico com grandiloquência e pompa orgiástica. Em tom celebrativo, embarcamos numa viagem iniciática aos mistérios telúricos. As referências mais imediatas na caracterização de “Lupercalia” remetem para os Emperor na altura do “In the Nightside Eclipse”, Cradle of Filth em “Cruelty and the Beast”, Anorexia Nervosa e Nokturnal Mortum. O espírito faustoso é celebrado com a magnificência dos teclados, à qual é acrescescida uma forte componente folk pela participação de vários instrumentos tradicionais. O elaborado trabalho das guitarras está em perfeita conjugação com os sintetizadores, porém, o fraco desempenho da percussão programada apresenta-se como menos notável, ofuscando a glória das restantes componentes. As vocais por seu lado, revelam igualmente alguma esterilidade na entrega e falta de projeção. Estes aspectos, conjugados com uma desequilibrada produção, que relega a percussão e as vocais para o plano de fundo (o que de certa forma até é compreensível, dada a respetiva prestação), impedem o presente álbum de atingir a excelência. As composições são de teor selvático, com uma apropriada alternância de cadências, que por sua vez ajudam a inflamar a sua grandiosidade. Destaca-se a faixa “O Clitumne!” com o seu estilo de valsa embriagada. Selvans apresentam-nos o álbum que deveria ter sucedido a “Midian” na carreira dos Cradle of Filth.
[10/10] CARLOS FILIPE
[8/10] FREDERICO FIGUEIREDO
Quem conhece o nome Spektr já sabe que é sinónimo de Black Metal industrial de contornos vanguardistas e em versão instrumental. Em linhas gerais, a música deste misterioso dueto parisiense é caracterizada por segmentos extremos feitos de riffs dissonantes e percussões maquinais, intercalados por enigmáticas passagens electrónicas e industriais, ruídos de fundo que emergem de ambiências fantasmagóricas, e samples declamatórios que sugerem temáticas filosóficas ou sociais. A isto há que juntar uma composição variada e criativa, aspecto que já sobressaiu em «Cypher», o disco anterior de 2013, e que é um traço ainda mais saliente neste quarto registo de longa duração. Comparativamente, «The Art to Disappear» é, no entanto, um disco mais cativante e bem conseguido, o que pode ser atribuído à presença de estruturas ligeiramente mais progressivas (“The day will definitly come” é o exemplo paradigmático) e com mais groove (e.g. riffs infecciosos do aditivo “Through the darkness of future past”), que, não obstante, não ferem a identidade experimental e avant-garde que são imagem de marca do colectivo. O tema de fecho que dá o título ao álbum (inclui samples da letra de “(A new) Society treaty” dos Die Krupps) é talvez o mais característico dos Spektr. Em outras faixas são audíveis citações retiradas da famosa série dramática Twin Peaks e samples do filme Animatrix. «The Art to Disappear» é mais um portal que se abre sobre o universo sombrio e multidimensional do grupo francês, que se recomenda pelo menos por duas razões: por constituir uma saudável fuga ao Metal extremo mais preso a formulas, e por ser, claramente, um caso raro no seu género.
[8/10] ERNESTO MARTINS
[9.5/10] CARLOS FILIPE
[8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO
6 4 / VERSUS MAGAZINE
[9/10] ERNESTO MARTINS
65 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
vErSUS
R B S U L P HUR
TH E MU TE GO D S «Do nothing till You Hear from Me»
«Pink Lion»
(Dark Essence Records)
(InsideOut Music)
(Noizegate)
Em 2007, com o lançamento do álbum de estreia «Cursed Madness», foram considerados por muitos como uma das melhores revelações do ano. Na altura, a banda norueguesa liderada pelo guitarrista e teclista Øyvind Madsen, dos Vulture Industries, e pelo ex-baterista dos Aeternus e Gorgoroth, Erik Hæggernes, fazia um Black/Death maduro e algo personalizado, mas com claras raízes na segunda vaga de Black Metal do seu país natal. Nove anos volvidos com mais um disco pelo meio (o álbum de 2009, «Thorns in Existence»), e ei-los chegados a este terceiro registo de originais que, embora se mantenha fiel à sonoridade extrema do estilo original, acaba por ser um trabalho substancialmente diferente e bastante mais interessante. Da negritude básica das composições sobressaem, desta vez, elementos estruturais característicos do Heavy tradicional e até do Hard Rock, laivos pontuais de prog e, mais importante, um trabalho de guitarra contagiante. Na verdade, este último aspecto é o que melhor define «Omens of Doom» – um disco para quem gosta de metal extremo adornado com boas linhas melódicas de guitarra e solos tradicionais, em lugar do mero guitar shredding. “The force of our fall”, “Gathering storms” e sobretudo “Rise of the mushroom clouds” encerram as melhores demonstrações do que acabei de referir. A propósito, esta última faixa denuncia de forma mais objectiva as influências de Enslaved sugeridas em outros pontos do disco, nomeadamente, mas não só, pelas vocalizações limpas entoadas nos refrões. E já que citei os Enslaved, se os têm entre as vossas bandas preferidas, então é bem provável que gostem também destes seus conterrâneos de Bergen.
Um dos mais conceituados músicos da senda Pop/Rock Progressiva deixou por “alguns momentos” as colaborações e dedicou-se ao seu mais recente projecto musical. «Do Nothing…» foi gravado entre 2013 e 2015, entre digressões de Steve Hackett e Steve Wilson, em vários hotéis ou nos bastidores dos concertos. Face às condições era de esperar algo… banal, já que nem sempre um punhado de músicos faz boa música (há inúmeros exemplos por esse mundo fora…) mas engane-se quem pensa assim. Nick Beggs rodeou-se dos melhores músicos, sendo o “trio maravilha” constituído ainda, por Marco Minnemann, Roger King e entre as participações especiais contam-se as Adam Holtzman ou Nick D. Virgilio. Beggs foi inteligente na forma como elaborou todo o conceito visual – na música, apesr de não haver um conceito per se, tem temáticas que se interligam – e o próprio nome da banda. Pelas palavras há muito para descobrir, interpretar e discutir. A música, essa, é universal. Quem conhece o trabalho de Beggs encontrará muitas influências das suas colaborações, desde Steven Wilson a Kajagoogoo. Por isso e como não poderia deixar de ser, «Do Nothing…» é sonicamente muito agradável, dinâmico, como que aveludado e dono de um certo requinte. Vejam o fabuloso vídeo gravado a 260º do tema que dá título ao álbum. Será difícil falar num tema em particular que sobressaia de alguma forma, no entanto, “Father Daughter”, por razões sentimentais será o tema que destacaria.
Groovenom é um projecto alemão (de Dresden) que se auto-caracteriza como fazendo um Modern Death Pop. O som que podemos ouvir é uma mixórdia de tudo o que se pode considerar de “moderno”, a meu ver. A componente electrónica, as guitarradas com o formato típico de géneros metal pós-muitacoisaquejáfoifeito. A intenção deve rodar a mesmerância capilar e o então sub-género escluído da sociedade que deveria fazer mal a todos mas afinal é um bonzinho (ver vídeo destacado no tubas com o título “Pink Lion”). A voz mistura o grunhido com o supermelódico (que nos faz lembrar Killswitch Engage) a parte instrumental tem muito de agressivo - tentando talvez fazer o balanço entre o “mello” e o estranho. A componente electrónica - um dos membros trabalha full-time nos samples, scratchs e afins dá uma componente mais exótica ao que poderia ser apenas uma formação mais tradicional. Por vezes esta componente é complementar do que se ouve no geral (voz e instrumetal) mas várias vezes parece não conseguir trazer muito às composições. No entanto penso que o resultado final é algo que irá agradar aos fãs do género (ou simplesmente de música com este tipo de irreverências; misturas de géneros e junção dos extremos: doce e amargo). Para quem não é fã, não será com este trabalho que conseguirá ser conquistado.
[7.5/10] ERNESTO MARTINS
CK
GR O O V ENOM
«Omens of Doom»
[9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO
K
A E
MAGAZINE
NE
[5/10] ADRIANO GODINHO
A VIDA DO ROCK’N’ROLL NÃO É SÓ MARAVILHAS. MUITAS VEZES NÃO PENSAMOS NAS MALEITAS FÍSICAS QUE A VIDA NA ESTRADA GERA. LESÕES NA COLUNA, PERDA DE AUDIÇÃO, PROBLEMAS NAS CORDAS VOCAIS OU ARTROSES NOS PULSOS SÃO APENAS ALGUMAS DAS LESÕES ASSOCIADAS À PROFISSÃO DE MÚSICO. E SÃO, TAMBÉM, TEMA-TABU, ESPECIALMENTE NUM PAÍS PRECONCEITUOSO COMO PORTUGAL, ONDE PARECE MAL UM AMANTE DE MÚSICA LEVANTAR ESTAS QUESTÕES. MAS É PARA ALERTAR CONSCIÊNCIAS QUE O FAZEMOS. SOBRE ESTES TEMAS IREMOS FALAR NESTA RUBRICA, ADEQUADAMENTE DESIGNADA BREACKNECK, DESTA EDIÇÃO EM DIANTE. AQUI ENTREVISTAREMOS EM CADA NÚMERO DA VERSUS UM MÚSICO NACIONAL OU INTERNACIONAL QUE DE ALGUMA FORMA HAJA DESENVOLVIDO PROBLEMAS DE SAÚDE DECORRENTES DA SUA PROFISSÃO. NUNO LOUREIRO, DOS IGNITE THE BLACK SUN E QUE JÁ MILITOU EM BANDAS COMO EXILED, SQUAD, GROG OU PAINSTRUCK QUIS SER A PRIMEIRA VÍTIMA. Entrevista: DICO Foto: Igor Ferreira (Cedida por Nuno Loureiro) HÁ ALGUNS ANOS RECEBESTE O DIAGNÓSTICO DE QUE TINHAS PÓLIPOS BENIGNOS NAS CORDAS VOCAIS. OBTIVESTE ESTE DIAGNÓSTICO NO ÂMBITO DE TESTES MÉDICOS DE ROTINA OU PERCEBIAS QUE ALGO NÃO ESTAVA BEM E PROCURASTE UM ESPECIALISTA?
Nu n o Lo u r e ir o : Apercebi-me que algo não estava bem quando a voz começou a sofrer alterações e frequentemente ficava rouco e com a voz cansada.
QUE RAZÕES APONTOU O MÉDICO PARA QUE TENHAS DESENVOLVIDO ESTA PATOLOGIA?
Nu n o Lo u r e ir o : Na verdade, o médico referiu que a minha técnica e postura física eram boas, mas faltava-me aquecer [antes de cantar em ensaios, gravações e concertos]. Esse facto, aliado à pouca hidratação das cordas vocais, originou os pólipos.
PORTANTO, QUER ENQUANTO VOCALISTA QUER ENQUANTO GUITARRISTA NÃO ERA MUITO HABITUAL AQUECERES ANTES DOS ENSAIOS, DAS GRAVAÇÕES E DOS CONCERTOS.
Nu n o Lo u r e ir o : Depois desta situação passei a aquecer a voz e todo o corpo antes das atuações e de facto senti melhorias a todos os níveis durante e depois dos concertos.
TIVESTE DE FAZER EXAMES, ANÁLISES OU TRATAMENTOS ESPECÍFICOS? EM CASO AFIRMATIVO, QUAIS?
Nu n o Lo u r e ir o : Fiz exames de rotina e também às cordas vocais. Em termos de tratamento alterei hábitos alimentares, especialmente antes de me deitar. Comecei a evitar gorduras e passei a beber mais água, a hidratar mais o corpo. Felizmente fui melhorando e os pólipos regrediram.
UMA VEZ ULTRAPASSADA ESSA FASE, O MÉDICO FEZ-TE RECOMENDAÇÕES ESPECÍFICAS, QUER EM TERMOS DE TERAPÊUTICA FUTURA QUER A NÍVEL PREVENTIVO? EXISTE ALGUM PROCESSO QUE TENHAS DE CUMPRIR EM PERMANÊNCIA (POR EXEMPLO, A TERAPÊUTICA OU A REALIZAÇÃO DE EXAMES/TESTES/ANÁLISES REGULARES?).
Nu n o Lo u r e ir o : As recomendações foram mais no sentido de manter os novos hábitos, para evitar o regresso dos sintomas e, caso tal se verificasse, voltar a fazer exames. Felizmente, tudo permanece bem.
A NÍVEL AUDITIVO, JÁ DETETASTE ALGUM PROBLEMA? PRECAVES-TE DE ALGUMA FORMA A ESSE NÍVEL?
Nu n o Lo u r e ir o : Já fiz exames auditivos (e repito-os sempre que possível) e até à data nada há de significativo a reportar. Sempre que posso, uso protetores auriculares.
QUE CONSELHOS DARIAS AOS JOVENS MÚSICOS QUE INICIAM AGORA O SEU PERCURSO?
Nu n o Lo u r e ir o : Usem sempre protetores auriculares. Aqueçam sempre as articulações antes de tocar e a voz antes de cantar. Álcool só no fim da atuação, ensaio ou gravação. O álcool seca as mucosas e as cordas vocais, podendo originar vários problemas. Para hidratar as cordas vocais a água é a melhor solução.
6 6 / VERSUS MAGAZINE
67 / VERSUS MAGAZINE
vErSUS
ENTREVISTA
vErSUS
ENTREVISTA
MAGAZINE
MAGAZINE
pessoas que trabalham muito bem juntas e nem sequer escolhemos tocar Black Metal. Nem sequer pensamos que a nossa música seja desse estilo. As pessoas criativas provavelmente compreendem que a nossa música é só aquilo que nós criamos. Naturalmente. E não perdemos um minuto do nosso tempo a interrogarmo-nos sobre géneros musicais, antes de começarem a fazer-nos esse tipo de perguntas em entrevistas.
BLIT Z: Neste momento, não somos influenciadas por nenhuma banda. Pelo menos de forma tão evidente que nos possamos aperceber desse facto. É claro que nos integramos numa certa história da música, mas é-nos muito difícil especificar bandas que condicionem o que estamos a fazer atualmente.
“(…) AS PESSOAS CRIATIVAS PROVAVELMENTE COMPREENDEM QUE A NOSSA MÚSICA É SÓ AQUILO QUE NÓS CRIAMOS. NATURALMENTE. (…)”
NYX HOMENS, MULHERES, MÚSICA E MAMUTES! S Ã O U MA B A N D A FEM ININA NUM UNIVERSO VI S TO CO MO ESS ENCI A LMENTE MA S C U LI NO (!! ! ), MA S E N C O N T R A R A M N ELE O SEU LUGAR, HÁ M UI TO TEMP O . Entrevista: CSA
VINTE R BARN : Sinto-me muito simplesmente como um músico integrado num universo povoado de música. Que mais havia de sentir? BLI TZ: Estou plenamente de acordo.
POR QUE ESCOLHERAM O BLACK 6 8 / VERSUS MAGAZINE
METAL COMO FORMA DE EXPRESSÃO? HÁ QUEM PENSE QUE É UMA OPÇÃO MASCULINA. [PELA PARTE QUE ME TOCA, RECUSO-ME A ACEITAR TAL IDEIA.] V IN T ER B AR N: Pois! Mas, um belo dia, aconteceu que todos os homens andavam a caçar mamutes. Os tempos eram negros e todos sentiam a necessidade de algo como o Black Metal. Portanto,
E O QUE SIGNIFICA O NOME DA BANDA? EQUIVALE A “NADA”? BLIT Z: Hehe, de facto, em alemão, usamos a palavra “nix” com o
QUE BANDAS INFLUENCIAM NYX?
COMO É PERTENCER A UMA BANDA FEMININA NUM UNIVERSO ESSENCIALMENTE MASCULINO?
tentámos dar-lhe corpo. Vinterbarn faz a maior parte do trabalho. Escreve as linhas de guitarra e de baixo. Eu ocupo-me da bateria. Fazemos as letras juntas. Não quer dizer que nos sentemos juntas num canto para pensar nisso, mas estamos sempre em contacto enquanto trabalhamos nelas.
nós [as mulheres] tivemos de tratar disso. E como a Blitz e eu já estávamos cansadas de colher bagas selvagens, achámos que era boa ideia tentarmos essa via… Esta é a lenda. Na realidade, já estamos na música há imenso tempo. Tocámos em bandas muito diferentes, no Metal e fora dele. E também com homens. É perfeitamente normal. E, quando decidimos ter a nossa própria banda, foi porque somos duas
BLIT Z: Não fazemos cálculos estatísticos sobre quem ouve a nossa música. E não queremos saber disso para nada, desde que quem nos ouve tira daí algo de gratificante.
COMO DIVIDEM BANDA?
AS
TAREFAS
NA
BLIT Z: Temos vários tipos de tarefas a realizar. Suponho que estás a pensar no domínio musical. Quem faz o quê na nossa música. Trabalhamos juntas. Para compor o nosso último álbum, partimos de uma ideia ou visão e depois
VINT ERBA R N : Sim, somos nós. E não quero falar demais do sentido do álbum. A Blitz já explicou o conceito lírico subjacente a ele. A foto da capa foi tirada numa fábrica abandonada e completamente decadente, na Bélgica, precisamente no dia em que foi demolida. Deixo a quem contemplar a foto a responsabilidade de construir a sua própria interpretação do que está a ver.
E QUEM TIROU ESSA FOTO? VI N TE R B A R N : Nós levámos a nossa ideia sobre o tema do álbum a um grupo de artistas fantásticos da cena belga. A foto foi tirada por Leslie VDM, muito conhecido pelos seus trabalhos de fotografia e vídeo. Para a parte gráfica contámos com a ajuda de Olivier Lomer-Wilbers, que também é um pintor, com obras que vão muito além das capas de álbuns. Para preparar a sessão fotográfica, tivemos o apoio de Nele Vereeke, estilista de roupa, maquilhagem e cenários.
QUE TIPO DE PESSOAS ASSISTE AOS VOSSOS CONCERTOS? QUEM COMPRA OS VOSSOS ÁLBUNS? VINT ERBARN: No fundo, o que queres saber é quem ouve a nossa música. E só posso responder: como queres que eu saiba isso? Tanto quanto podemos ver, são pessoas muito diferentes umas das outras. E também é assim que quero que seja. E não me parece justo referir especificamente seja quem for. Se alguma banda cuja música ouço fizesse isso, eu acharia isso estranho.
IMAGEM?
sentido de “nada” e pronunciase mais ou menos como NYX, o nome da nossa banda. Mas não era essa a ideia que tínhamos, quando escolhemos este nome. NYX é o nome da deusa grega da noite, que nasceu do caos.
POR QUE DERAM O TÍTULO DE «HOME» A ESTE ÁLBUM? DE QUE TRATA? BLIT Z: Exprime o anseio de nos sentirmos em casa dentro de nós. Quando começámos a escrever as letras, a palavra “home” ganhou um novo sentido, que nós queríamos exprimir e pelo qual lutámos. Não é aquele lugar agradável, confortável, que habitualmente se associa à ideia de lar. É uma espécie de lugar ideal, que ninguém pode ver, porque só existe dentro de ti, dentro de cada um de nós, e que é muito difícil de atingir.
QUAL É A MAIOR AMBIÇÃO DE NYX NESTE MOMENTO? BLIT Z: Tudo e nada. Esperamos poder fazer alguns concertos num futuro próximo. Além disso, estamos a preparar a nossa nova sala de ensaios. Esperamos que nos sirva para criar algo que nos permita impressionar-vos. Agradecemos-te pela entrevista, Cristina, e também aos futuros leitores da mesma pelo interesse. h ttp: / / w w w. met al - archi ves. com/ l abel s/ A goni a_ R ecords/ 6 0 ht t ps: / / yout u. be/ X 2 Z kV w O i l - E
SÃO VOCÊS QUE APARECEM NA CAPA DO ÁLBUM? O QUE SIGNIFICA ESSA 69 / VERSUS MAGAZINE
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“(…) CONTUDO, A PRIMEIRA VAGA DE BLACK METAL CONTINUA A SER A NOSSA MAIOR FONTE DE INSPIRAÇÃO. (…)” primórdios da banda. Mas é claro que cada álbum que fazemos tem o seu próprio som. No caso de «Too Loud to Live, Too Drunk to Die», encontrarás mais influências de Heavy Metal do que nos seus antecessores.
HÁ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE A VOSSA EVOLUÇÃO E A DE DARKTHRONE, QUE AGORA FAZEM UMA ESPÉCIE DE BLACK N’ROLL? MR. VIOLENCE: Que eu me aperceba, não. No entanto, devo dizer que acho fantástico o que eles fazem agora. Darkthrone vai ter de fazer muito para ser acusada de lançar um mau álbum. O Black Metal deles é arrasador e o mesmo acontece com a música atual, com influências de Rock’n’roll.
(…) VAMOS BUSCAR INSPIRAÇÃO A MUITOS TIPOS DE MÚSICA, MAS, QUANDO CHEGAMOS À NOSSA SALA DE ENSAIOS, TUDO ADQUIRE O SOM TÍPICO DE GEHENNAH.”
GEHENNAH UMA BANDA EXPLOSIVA S E R D IS C R E T O N ÃO É UM DOS SEUS APANÁ G I O S ! Entrevista: CSA NA VERDADE, O MEU GÉNERO FAVORITO É O BLACK METAL. MAS, COMO TENHO MAIS DE 50 ANOS DE IDADE, CRESCI A OUVIR BANDAS COMO QUEEN, SAXON, LED ZEPPELIN, AC/DC, MÖTLEY CRÜE, GUNS N’ ROSES, MOTÖRHEAD, METALLICA, MEGADETH, SEX PISTOLS E MUITAS OUTRAS, QUE ME DERAM A CAPACIDADE DE APRECIAR ALGO MAIS “STREETY” COMO O TIPO DE META L QUE VOCÊS FAZEM. COMO SE RELACIONAM COM ESTES REIS DO META L, ROCK E OUTROS ESTILOS? MR. VI O L E N CE : Gostamos de muitas das bandas que referiste 7 0 / VERSUS MAGAZINE
e algumas delas figuram entre as nossas influências diretas. Tanto eu como o Hellcop somos antigos fãs de Saxon, por exemplo. Toda a banda nutre o maior respeito pelo material antigo de AC/DC. E é claro que Motörhead é uma das nossas maiores influências. Mas eu não diria que Queen é uma grande inspiração para nós, haha. De facto, não nos restringimos a nada em particular, gostamos de muito Metal, Rock e Punk dos anos 60, 70, 80, 90 e até da atualidade. Vamos buscar inspiração a muitos tipos de música, mas, quando chegamos à nossa sala de ensaios, tudo adquire o som típico de
Gehennah.
PODEM DIZER-NOS COMO PASSARAM DO BLACK METAL ESTA MÚSICA QUASE HARDCORE? M R . V IO L E NC E : Continuamos a ter o mesmo tipo de inspiração que no início e não penso que a nossa música seja hardcore. É claro que sempre nos deixámos influenciar pelo Punk. Chegámos mesmo a gravar algumas covers dos Misfits lá por 96, por exemplo. Contudo, a primeira vaga de Black Metal continua a ser a nossa maior fonte de inspiração. Fomos sempre beber a essa fonte, desde os
O QUE ACONTECEU A GEHENNAH ENTRE 1997 E 2016, QUE VOS IMPEDIU DE LANÇAR UM ÁLBUM? O QUE ANDARAM A FAZER DURANTE ESTES LONGOS ANOS? MR. VIOLENCE: Não fizemos grande coisa. E não é nada difícil para nós entrar nessa onda, porque somos uns grandes “baldas”. Não tínhamos nenhum contrato, depois de gravarmos os dois álbuns para a Osmose, e não nos esforçámos por arranjar um. Contentávamo-nos com fazer alguns concertos por ano e beber alguma cerveja de borla. Mas, quando o Knuckleduster se juntou à banda, tivemos de estugar o passo.
POR QUE RAZÃO 2016 PARECEU SER UMA BOA ALTURA PARA LANÇAR «TOO LOUD TO LIVE, TOO DRUNK TO DIE»?
MR. VIOLENCE: Nunca há uma altura certa para um lançamento de Gehennah, é sempre demasiado cedo ou demasiado tarde. Mas tínhamos canções suficientes para um álbum e um contrato recente com a Metal Blade, portanto achámos que era hora de pôr as mãos à obra. Assim fizemos e, ao que parece, as pessoas gostaram mesmo do nosso trabalho. Pelo menos, as pessoas fixes!
REALMENTE, EU GOSTO MUITO DESTE VOSSO ÁLBUM. ESTÁ BEM FEITO, BEM TOCADO, AS CANÇÕES SÃO INTERESSANTES, NUM ESTILO QUE COMBINA METAL E ROCK. QUEM COMPÔS A MÚSICA? AS LETRAS FORAM ESCRITAS PELA MESMA PESSOA? MR. VIOLENCE: Obrigado, esse cumprimento agrada-nos muito! Os riffs foram escritos pelo Knuckleduster e pelo Stringburner. Tanto quanto eu sei, cada um escreveu metade das canções do álbum. As letras foram escritas por mim e pelo Knuckleduster. Portanto, algumas das canções foram escritas inteiramente pelo Knuckleduster (música e letra). Isso significa que os restantes elementos da banda tiveram mais tempo livre para beber cerveja e ver maus filmes de horror, o que foi nos agradou muito!
GOSTO IMENSO DO TÍTULO, PORQUE É UMA VERDADEIRA PROVOCAÇÃO. CORRESPONDE MESMO A UM IDEAL DE VIDA OU DESTINA-SE APENAS A ABORRECER ALGUMAS PESSOAS?
MR. VIOL E N C E : Exprime bem o espírito da banda. Muitos pensaram que estávamos mortos, porque não gravámos nada durante muitos anos, mas afinal essa situação até funcionou como uma espécie de inspiração. Foi por isso que pusemos na capa do álbum uma campa a explodir. As capas explosivas são sempre porreiras! Se o título aborrecer um certo tipo de pessoas, isso para nós é uma espécie de bónus.
QUE PAÍSES VÃO PARA PROMOVER ESTE “ULTRAJANTE”?
VISITAR ÁLBUM
MR. VIOL E N C E : Esperamos que sejam mesmo muitos. Estamos a angariar concertos para nos ocuparem o ano todo. Mas, de momento, não há nada previsto para Portugal. Estivemos quase para ir aí nos últimos dois anos, mas houve sempre uma bronca qualquer a estragar tudo. Oxalá possamos ir este ano! h ttp s : // w w w. f acebook. com/ gehennah. met al / ht t ps: / / yout u. be/ l Y Z E C H Tzl oU
“(…) MUITOS PENSARAM QUE ESTÁVAMOS MORTOS, PORQUE NÃO GRAVÁMOS NADA DURANTE MUITOS ANOS, MAS AFINAL ESSA SITUAÇÃO ATÉ FUNCIONOU COMO UMA ESPÉCIE DE INSPIRAÇÃO. (…)” 71 / VERSUS MAGAZINE
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ENTREVISTA
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FERNANDO REIS (METAL PURSUIT) O P ER C U R S O D E FERNANDO REIS NA M ÚSICA PO RTU G U ES A EM GER A L E NO UNDER G R O U ND MET Á LI C O E M PA RT IC U L A R DIFICILM ENT E PODERIA SER MA I S PR O FÍ C U O , DI V ER S I FI C A D O E REVOLUCIONÁRIO. JORNALISTA, MARKTEER E EDITOR, JÁ ESTEVE E NV O LV I D O E M FA NZINES ( FEEDBACK, T ENSER E S O U TH O F H E AV E N ), N E WSLET T ERS ( ODIOSIOUS LARVAE), B L O G U E S (G IA N T SELECT ION E M ISANTR O P I A E X TRE MA ), E D IT ORAS ( MISDEED RECORDS E MAJO R L A B EL IN D U S T R IES) E REVISTAS PROFISSI ONAI S ( R I F F E L O U D !). A T UDO IST O PODEM OS S O MAR O C A R G O D E C O O RDENADOR DO DEPARTAM ENTO D E P R O M O Ç Ã O E MARKET ING DA M EGAM ÚSI C A E D E D I R E T O R C O ME R CIAL NA FIOM ÚSICA. SÓ LHE FALTA M E S MO T O C A R N UM A BANDA, M AS REIS PR EFER E I N O VA R (S E M P R E!) E SURPRENDER OS FÃ S . FOI C O M B A S E N E S S E PRESSUPOST O QUE CRI OU META L P U R SU IT, O IN O VADOR JOGO DE TABULEI R O A O Q U A L O S ME T Á LICOS PORT UGUESES SE REND ER A M. S E G U IR -S E - Á U M A CONQUISTA IBÉRICA, EUR O P EI A O U ATÉ M U N D I A L ? NUM A ENT REVISTA ESCLAREC ED O R A , O E M P R E E N D E D O R FALA-NOS DA GÉNESE DESTE PR O J ETO D E T R I V I A , A N A LISA-O RET ROSPET IVAM ENTE E AI NDA L H E P R O S P E T IVA O FUT URO.
REI DO EMPREENDEDORISMO com quem é muito fácil trabalhar: rápido na execução, honesto nos prazos e simples na articulação de ideias. No que respeita à área de copy, regras e comunicação do produto tive a ajuda do meu bom amigo Miguel Cipriano. Algumas variações mais arrojadas das regras do jogo, assim como a maior parte das frases que integraram a campanha de marketing e publicidade, são de sua autoria. E também é um osso duro de roer quando as cartas começam a sair também. [risos].
BENEFICIASTE DE ALGUM APOIO FINANCEIRO PARA TORNAR ESTE PROJETO REALIDADE OU ATÉ A ESSE NÍVEL TUDO SE PASSOU À BOA E VELHA MANEIRA
dado que o mercado em Portugal é muito pequeno e a edição ia ser à sua medida, não foi necessário um investimento assim tão avultado. Juntei dinheiro com alguma facilidade, de modo a não expor a ideia ao público antes de o jogo estar, efetivamente, pronto a ser comercializado.
EM TERMOS DE DISTRIBUIÇÃO E PONTOS DE VENDA, O JOGO PODE SER ENCONTRADO NO SITE DA RASTILHO, NA AMAZON.CO.UK E EM LOJAS ESPECIALIZADAS, MAS QUE OUTRAS PLATAFORMAS DE ESCOAMENTO DO PRODUTO EXISTEM OU PLANEIAS QUE HAJA? AS BANCAS DE MERCH DOS FESTIVAIS, POR EXEMPLO, TERÃO À DISPOSIÇÃO EXEMPLARES DO JOGO PARA VENDA?
Entrevista: Dico
JÁ MUITO SE FALOU ACERCA DO METAL PURSUIT E EM DIVERSAS OCASIÕES TIVESTE A OPORTUNIDADE DE EXPLICAR OS FUNDAMENTOS DO JOGO. APESAR DISSO, PODE DIZERSE QUE ATRAVÉS DESTE PROJETO QUISESTE INOVAR, TRAZENDO ALGO DE REALMENTE DISTINTO AO UNIVERSO METÁLICO, EM QUE MUITA DA OFERTA NÃO PASSA DE “MAIS DO MESMO” (CD’S, CONCERTOS, DVD’S, ESQUECENDO-SE A COMPONENTE CULTURAL NUMA ACESSÃO MAIS AMPLA)? FERNA N DO RE I S: O objetivo não era
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inovar por inovar, até porque sou um ávido colecionador de música e continuo a achar que o mercado e a “cena” se movimentam com base nessa intensa atividade editorial e cultural. Apenas queria levar todo o imaginário e iconografia do estilo um pouco mais longe, mexer neles de outra forma. Não encontrei nada do género do Metal Pursuit que pudesse proporcionar-me essa experiência. Por isso, fi-lo eu. É tão simples quanto isso. E, já que o ia fazer, porque não disponibilizá-lo para outras pessoas também? Não foi nada incrivelmente ponderado – pelo menos na essência da ideia – e foi mais uma reação a uma
necessidade pessoal do que outra coisa.
TIVESTE O AUXÍLIO DE PARCEIROS NO SENTIDO DE MATERIALIZAR O CONCEITO OU ENCARREGASTE-TE DE FAZER TUDO ATÉ À PROD UÇÃO DO METAL PURSUIT? F E R NA ND O R E IS : Tive dois parceiros cuja ajuda foi essencial. No departamento gráfico o Pedro Daniel, da Phobos Anomally, foi mais do que um mero executante: criou o logotipo, o design das cartas e a caixa do produto. É uma pessoa incrivelmente criativa e
“DO IT YOURSELF”? FERNANDO REIS: Não existiu qualquer tipo de fonte de financiamento exterior. Apesar de ter apresentado a ideia a uma editora discográfica bastante conhecida na cena nacional, naquela altura a situação financeira da mesma impossibilitou que o proprietário visse o projeto em todo o seu potencial. Por isso, recorri a financiamento próprio, após ter ponderado a possibilidade de usar plataformas como o Kickstarter. No entanto,
FERNANDO REIS: Além da rede de distribuição mencionada, existe a possibilidade de encomendar o jogo n a s lojas Fnac. Embora a generalidade das lojas não o tenha fisicamente em stock, é possível fazer um pedido de cliente e, passados alguns dias, receber um aviso através de SMS informando que o jogo já se encontra na loja, pronto a ser levantado. A questão de o disponibilizar nas bancas de merchandise dos concertos é muito importante, pelo que
temos parcerias firmadas com a TheDEADstore e com a Mosher, de modo a que o Metal Pursuit esteja disponível nos espetáculos em que essas entidades estão presentes. A própria Rastilho tem frequentemente presença com banca de merchandise em concertos, nomeadamente dos Moonspell, e o jogo estará sempre lá disponível, também.
AS PRÉ-ENCOMENDAS SUPERARAM AS TUAS MELHORES EXPECTATIVAS. PASSADOS ESTES MESES, TENS UMA IDEIA BEM CONCRETA DO NÚMERO DE UNIDADES JÁ TRANSACIONADAS? FERNANDO R E I S : Devido a ter algumas unidades consignadas em alguns dos pontos de venda e distribuição, não consigo neste momento ter uma ideia exata do número de cópias vendidas até agora. Em stock, das 750 unidades produzidas, restam-me pouco mais de 100, pelos que imagino que, com as que estimo que restem nos pontos de venda, tenham sido até agora comercializados perto de 550 exemplares do jogo.
NESTE MOMENTO, A PROCURA E OS NÚMEROS DE VENDAS EFETIVAS FAZEM PREVER A EVENTUAL PRENSAGEM DE UMA SEGUNDA EDIÇÃO OU FACE AOS DADOS DISPONÍVEIS ESTA POSSIBILIDADE AINDA NÃO SE COLOCA? FERNANDO R E I S : Para já, julgo que uma segunda edição do jogo será inviável, uma vez que o mercado é bastante pequeno e a primeira edição ainda não esgotou. Podem, no entanto, trabalhar-se alguns produtos paralelos para quem já adquiriu o Metal Pursuit, como um tabuleiro dedicado e também alguns boosts com uma quantidade limitada de cartas com novas questões, que possam ser acrescentadas às que as pessoas já têm. Neste momento 73 / VERSUS MAGAZINE
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são possibilidades em aberto que estamos a estudar com toda a calma.
E NESSE CASO, HAVERÁ DIFERENÇAS NO JOGO? FERNA N DO RE I S: O tabuleiro, por exemplo, implica todo um conjunto de novas regras que estamos neste momento a testar. Coisas que visam tornar o jogo mais ágil, rápido e divertido, tanto para dois jogadores como para quando é jogado por mais gente. Por exemplo, uma das regras que estamos a testar é, na versão com mais de dois jogadores ou equipas, haver a possibilidade de eliminar adversários a qualquer altura da partida. Uma espécie de morte súbita. Mas a base do jogo – as categorias, a sua essência de jogo de trivia de Heavy Metal – manter-se-ão intactos.
AGORA, OLHANDO PARA O METAL PURSUIT COM ALGUM DISTANCIAMENTO, E TAMBÉM JÁ COM O FEEDBACK DOS FÃS/UTILIZADORES, GOSTARIAS DE MUDAR ALGO? NESSE CASO, O QUÊ? FERNA N DO RE I S: Boa questão. Não creio que mudasse nada. Se me perguntares se gostaria de ter lançado logo o jogo completo, com tabuleiro, cartas, peças e dado, claro que gostaria. No entanto, 7 4 / VERSUS MAGAZINE
isso implicaria um custo de produção que encareceria brutalmente o Metal Pursuit que, numa fase de implantação da ideia, poderia fazer as vendas r e s s e n t i r e m se devido à sensibilidade das pessoas ao preço. A forma que encontrámos para penetrar no mercado, que foi lançar primeiro as cartas com um preço mais acessível, temse mostrado eficaz e acertada, por isso não mudaria nada. Claro que temos agora recebido algum feedback com pequenos erros em algumas questões pontuais, mas isso era algo que já esperávamos.
NÃO SÓ PARA EFEITOS DE PROMOÇÃO AO JOGO, MAS TAMBÉM PARA DINAMIZAR AINDA MAIS O CONVÍVIO METALEIRO, JÁ PONDERASTE A HIPÓTESE DE ORGANIZAR UMA ESPÉCIE DE CAMPEONATO NACIONAL COM SECÇÕES REGIONAIS EM QUE ESTIVESSEM ENVOLVIDOS FÃS ANÓNIMOS E FIGURAS DE DESTAQUE DO METAL LUSO EM EQUIPAS MISTAS, POR EXEMPLO? FER N A N D O R E IS : Estamos a considerar a hipótese de um campeonato nacional, sim, embora a logística e a mecânica da competição ainda esteja por decidir, uma vez que implica algumas parcerias que precisam de ser trabalhadas. Mas com maior ou menor dimensão, julgo que será algo que irá mesmo acontecer. E já este ano. A ideia de ter figuras de destaque do Metal nacional envolvidas não nos tinha ainda ocorrido mas é boa e, quem sabe, poderá ser mesmo ser uma realidade.
O QUE É QUE SE SEGUE? UMA VERSÃO MAIS “UNIVERSAL” DO JOGO? FER N A N D O R E IS : Como referi, estamos a testar um tabuleiro exclusivo.
A sua versão final, assim como as regras que o acompanham e a forma de comercialização ainda estão a ser decididos, por isso não me posso alongar muito mais sobre ele. Edições para outros países estiveram e estão no nosso pensamento e planos, claro, mas tem de ser algo muito bem planeado, estruturado e executado, porque este tipo de jogos funciona muito melhor na língua dos países em que é editado e não numa linguagem mais universal, como por exemplo o inglês. Não acredito que se aproveitasse todo o potencial de uma versão alemã, por exemplo, se o jogo estivesse em inglês. Além disso, uma versão em inglês para o Reino Unido teria de ser necessariamente diferente de uma versão em inglês para os E.U.A., porque a popularidade das bandas diverge e teriam de ser feitos alguns ajustes, inclusivamente nas categorias de questões do jogo. Posto isto, vamos dar um passo de cada vez e procurar que a caminhada seja sólida e em linha reta.
E RELATIVAMENTE A OUTROS PROJETOS, O QUE É QUE ESTÁS A PREPARAR? A TUA CABEÇA NÃO PARA, PORTANTO TENHO A CERTEZA QUE ESTARÁS CONGEMINAR ALGO [RISOS]. F E R NA ND O R E IS : Não para mesmo, por isso é uma questão de filtro e de tempo. Uma coisa que a minha experiência me ensinou é que temos de pensar no médio prazo. E por mais motivante e entusiasmante que seja criar um projeto novo, temos de antever a continuação do mesmo, numa altura em que a rotina se instala e em que a motivação inicial se esvai. E, aí, ou damos continuidade ao projeto apesar de nos parecer mais um trabalho do que um hobby, ou começamos outra coisa qualquer e entramos numa espiral de novos projetos que não vão a lado nenhum. Já tive a minha quota-parte destes últimos, por isso refreio-me um pouco sempre que me surge uma daquelas ideias que ao início me parece genial e entusiasmante. Acontece-me muitas vezes que vou à casa de banho. [risos].
Já se encontra disponível para pré-encomenda a edição revista e aumentada do livro Breve História do Metal Português, escrito por Dico. Originalmente editada em 2013, a obra aborda agora a história do Metal luso até 2015, beneficiando de um significativo aumento de páginas. A edição revista e aumentada de Breve História do Metal Português incluirá no mínimo 320 páginas (a anterior tinha 200), sendo que todas as décadas, à exceção da de 60, incluem agora bastante texto novo, que vem aprofundar vários fenómenos e factos relatados na edição original, por um lado; e abordar outros não incluídos em 2013, por outro. “O objetivo da primeira edição era sobretudo mostrar que houve todo um percurso a nível de Rock pesado em Portugal antes dos anos 80. Portanto, centrei-me mais nas décadas de 60 e 70, tendo abordado os anos 80 e 90 mais subtilmente”, explica o autor. Na edição de 2015 o objetivo é o contrário. “Nesta nova edição relato o percurso do Som Eterno em Portugal até 2015. A primeira terminava em 1999, mas esta abrange factos até ao final de 2015”, esclarece Dico. A nova edição, revista e aumentada, inclui também novos testemunhos de numerosas figuras importantes no âmbito do Underground nacional. Além disso, Breve História do Metal Português, novamente editada pelo próprio autor, inclui agora um guia de registos essenciais do Metal luso desde os anos 70 até 2015, abrangendo demo-tapes, demo-CD’s, singles, EP’s, álbuns e DVD’s. Ao todo, são mais de 100 itens organizados por década. Mas as novidades acerca desta obra não se restringem aos conteúdos escritos. Breve História do Metal Português tem agora imagem renovada, desde a capa até à paginação, passando pelo logótipo. Em pré-encomenda a obra custa 17 euros (portes de correio incluídos), após o que o término da fase de pré-encomenda poderá adquirir-se por 19,50 euros (também com os portes de correio incluídos). As encomendas podem ser efetuadas para o email livrobhmp@yahoo.com Site oficial: http://dico-bhmp.weebly.com/ Página Facebook oficial: https://www.facebook.com/DicoLivroBreveHistoriaDoMetalPortugues Logótipo: Luís Pinto (http://www.facebook.com/logotomydesigns/) Foto da capa: Carina Martins (http://www.carinamartins.co.uk/)
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PLAYLIST VERSUS
MELHORES 2015
C A R L O S F I L IP E
AD R I A NO GO D I NHO
M O L L U S T - «I n D e e p W a t e r s »
BARONESS - Purple
DRACONIAN - Svoran
F L E S H G O D A P O C A LY P S E - K i n g
AMORPHIS - Under The Red Cloud
ANCIIENTS - Heart of Oak
NILE - What Should not Be Unearthed
NINA SIMONE - Sings The Blues
S L AY E R - R e p e n t l e s s
PORTICO QUARTET - Isla
JUDAS PRIEST - Defenders of Faith
C A R LO S FI LI P E
ER N ES T O MA RT I N S
1. AMORPHIS - Under The red Cloud
1 - T H Y C A TA F A L Q U E - S i g ù r r
2 . T H Y C A TA F A L Q U E - S g u r r
2 - A B N O R M A L T H O U G H T PAT T E R N S - A l t e r e d
3. TEMPEL - The Moon Lit Our Path
States of Consciousness
4 . S L AY E R - R e p e n t l e s s
3 - B A R R E N E A R T H - O n L o n e l y To w e r s
5 . PA R A D I S E L O S T - T h e P l a g u e W i t h i n
4- AHAB - The Boats of the Glen Carrig
------------------------
5 - A F O R E S T O F S TA R S - B e w a r e t h e S w o r d Yo u C a n n o t S e e
30th Anniversary
Á LB U N S N A C I O N A I S
------------------------
E D U A R D O R A MA LHADEIRO
FRED ER I C O FI GU EI R ED O
1. SERRABULHO - Star Whores
CAMEL - The Snow Goose
JESSICA 93 - R i s e
2 . B I Z A R R A L O C O M O T I VA - M o r t u á r i o
CAMEL - Moonmadness
ALLEN HALLOWEEN - H í b r i d o
1- B I Z A R R A L O C O M O T I V A
A V A N TA S I A - G h o s t l i g h t s
ANNA VON HAUSWOLFF - T h e M i r a c u l o u s
2- S E R R A B U L H O
3 DOORS DOWN - Us and The Night
WHATEVER NEVERMIND - N i r v a n a Tr i b u t e
PORCUPINE TREE - In Absentia
MY DYING BRIDE - F e e l t h e M i s e r y
Á LB U N S N A C I O N A I S - Mortuário
- Star Whores
DEPECHE MODE - P l a y i n g t h e A n g e l
FR ED ER I C O FI G U EI R ED O
H U G O MELO
H U G O ME L O
CR I S TI NA SÁ
1. KING DUDE - S o n g s o f F l e s h & B l o o d - I n
1. SULPHUR AEON
ROTTING CHRIST - Rituals
SOL - T h e S t o r m B e l l s C h i m e
the Key of Light
sphere
A B Y S S I C - A _ W i n t e r s _ Ta l e
IVARBJORNSON & EINARSELVIK - S k u g g s j
2. CHELSEA WOLFE - A b y s s
2. BELL WITCH - Four Phantoms
M AY H E M - D e M y s t e r i i s D o m S a t h a n a s
ABBATH - A b b a t h
3. UNDERSMILE - A n h e d o n i a
3. GHOST -
U LV E R - T h e m e s f r o m W i l l i a m B l a k e ’ s
OLD FOREST - D a g i a n
4. DEAFHEAVEN - N e w B e r m u d a
4 . S L AY E R - R e p e n t l e s s
The Marriage of Heaven and Hell
MORTE INCANDESCENTE - … o m u n d o m o r r e u
5. THY CATAFALQUE - S g u r r
5 . N A PA L M D E AT H - A p e x P r e d a t o r - E a s y
------------------------
Meat
BRUCE DICKINSON - The Chemical Wedding
- G a t e w a y To T h e A n t i -
Meliora
------------------------
Á LB U N S N A C I O N A I S
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ÁLBUNS NACIONAIS DE 2015
2. VAEE SOLIS - A d v e r s a r i a l L i g h t
1 . B I Z A R R A L O C O M O T I VA - M o r t u á r i o 2. ALLEN HALLOWEEN - HÍbrido
CRISTINA SÁ
.PT
A VERSUS PROCURA NOVOS COLABORADORES! SE ESTÁS INTERESSADO EM FAZER PARTE DA NOSSA EQUIPA ENTRA EM CONTACTO PELO ENDEREÇO:
VERSUSMAGAZINEPT@GMAIL.COM 7 6 / VERSUS MAGAZINE
1. ALLEN HALLOWEEN - H í b r i d o
1. THY CATAFALQUE
– Sgürr
2. MORD’A’STIGMATA – O u r H e a r t s S l o w D o w n 3. BONJOUR TRISTESSE – P a r U n S o u r i r e 4. DECLINE OF THE I – R e b e l l i o n 5. TEMPLE OF BAAL - M y s t e r i u m
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LIVE VERSUS
LIVE VERSUS
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matar e decididos a aquecer o publico e, para isso, contaram com uma sensual bailarina de ventre, que levou ao rubro e elevou a testosterona dos presentes. A banda vai buscar muito ao Power Metal, no entanto, inclui na sua sonoridade toadas do seu país de origem e, graças ao vocalista, conseguem atrair as atenções para tudo o que rodeia e banda. Ambas foram bons fios condutores para os Symphony X e ajudaram a fazer desta noite algo especial. Será que vamos ter de esperar mais quatros anos?
Setlist:
Overture Nevermore Underworld Kiss of Fire Without You Charon To Hell and Back In My Darkest Hour Run With the Devil Swan Song The Death of Balance / Lacrymosa Out of the Ashes Sea of Lies Encore: Set the World on Fire (The Lie of Lies) Legend
Fotos e reportagem: Vera Baleizão e Nuno Lopes (Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)
SYMPHONY X + MYRATH + MELTED SPACE PARADISE GARAGE – LISBOA 28.02.2016
SYMPHONY X PESADA SINFONIA Aotação esgotada para receber, quatro anos depois, os norteamericanos Symphony X que, desta feita, andam a promover o mais recente «Underworld», o nono registo de originais e, se duvidas existissem em relação à banda, como lideres do movimento Power / Progressivo, elas ficaram desfeitas logo no inicio, não dando espaço para apanhar o folego. Com uma actuação enérgica q.b, podemos dividir a actuação da banda em duas partes. Numa primeira parte, a banda atirou-se ás novidades, de onde se destacam Nevermore, Underworld, Without you e To Hell and Back, esta última com Allen a assumir várias identidades com uma constante troca de máscaras. Por esta altura o público estava já rendido, não só à voz de Allen como também aos restantes sinfónicos, pois de facto, a banda 7 8 / VERSUS MAGAZINE
consegue, com um elevado profissionalismo, entreter e, como já se previa a banda também gostar de ser entretida e, o povo do Garage retribuiu de braços e goela abertos, a despedida de Underworld foi feita com um In My Darkest Hour, pois os Symphony X acharam por bem, e o público também, atirar-se ás memórias e, foi aí que Allen abriu o coração e a alma para uma, muito sentida, Swan Song, após este momento, a banda «soltou a franga» e pareceu divertir-se enquanto se atirava a The Death of Balance ou Out of Ashes, com o vocalista frenético, sem parar de saltar e de puxar por uma multidão que já se encontrava no limite, Sea of Lies terminou o concerto, porém, os Symphony X não podiam sair assim de Lisboa, eles sabiam que tinham de voltar e, para o encore e como seria de
esperar, ficaram a Set The World on Fire, antecidida por um momento de comunhão entre banda e audiência, onde Allen puxou os seus galões de entertainer e, para final de noite, após um discurso familiar e de amor a Lisboa e ao Metal, os Symphony despediramse com The Legend, para um final de noite que, para muitos será memorável. Antes, os franceses Melted Space iniciaram as hostilidades com um som que se aproxima de bandas como Dark Moor, Serenity ou Tears of Martyr. Sendo bem recebida pelo publico, embora sem momentos que se possam recordar num futuro. Não que a banda não tenha qualidade, mas, o som é demasiado «batido». Com os Myrath a conversa foi outra. Os tunisinos entraram a 79 / VERSUS MAGAZINE
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MARCHING CHURCH + PAPAYA CLANDESTINOS MAUS HÁBITOS – PORTO 27.02.2016
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Face ao Coliseu do Porto situa-se um parque de estacionamento em altura. No topo da torre adjacente encontra-se uma penthouse de pretensa (e polida) clandestinidade. Um contracultural espaço de convívio e refúgio de moderados inconformistas, adequadamente denominado de “Maus Hábitos”. Este restaurante/galeria de arte/ sala de espetáculos, serviu esta noite, como palco para a apresentação do álbum “This World Is Not Enough”, a mais críptica manifestação do génio esquizóide de Elias Bender Rønnefelt (líder dos Iceage), sob a forma dos Marching Church. Esta nova encarnação continua o trilho dos Iceage no sentido de um post-punk de arestas irregulares, com mesclagem de música soul, ambient e restantes tendências psicosso(noro)máticas. A introdução do evento ficou à responsabilidade dos portugueses Papaya, os quais nos serviram uma dose caprichada de radio friendly noise rock, limpinho, sem caroço. Menos “amigável” revelou-se no entanto, a sonoridade do acto principal. Os Marching Church deambulam num espaço sideral afastado do registo que notabilizou os Iceage em início de carreira (marcado pelo casamento da frieza dos Joy Division com a ira dos Discharge). Com a introdução de trompetes, violino, sintetizadores e demais efeitos, foi criada uma espécie de metalinguagem sobre a raíz post-punk, como veículo de uma inefável auto-procura e descoberta. Embora estruturalmente ainda se consigam reconhecer traços de minimalismo do subgénero referido, a identidade da banda surge como algo convoluto e pouco cimentado. Apesar de se ter assistido a uma performance ofegante e impetuosa, não deixou de se notar uma certa alienação subjacente à sobrecarga de influências e variações temáticas. De todo o modo, o carismático líder da banda (portador da ébria fragilidade de um Stiv Bators e da sombriedade desdenhosa de um Nick Cave) fez com que o calor melancólico da prestação, nos abrigasse da indiferença gélida da noite que nos aguardava lá fora. Reportagem e fotografia: Frederico Figueiredo
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EMINENZ MORITZBASTEI – LEIPZIG 29.01.2016
DEAFHEAVEN + MYRKUR
Quem leu a e ntre vis t a dos G r abak des t a edição, s a b e a r a z ã o p e l a q u a l o c o n c e r t o d e s t a n o i t e é e s p e c i a l . Qu e m n ã o leu, fica a go ra a sa ber que os G r abak decidir am c e l e b r a r o s s e u s 2 0 a n o s d e e x i s t ê n c i a c o m e s t e c o n c e r t o q u e c o n ta com co nvida do s muit o es peciais . E de f act o, há q u e c e l e b r a r t a l f a c t o p o i s s ã o p o u c a s a s b a n d a s q u e s o b re vi ve r a m at é ao s dia s de h oje . E f oi um a noit e recheada de b o a s b a n d a s d e b l a c k m e t a l m a s o f o c o e s t a v a , c o m o é ó bvi o , n o concer to dos Grabak . Concer t o es s e que f oi div id i d o e m 3 p a r t e s e m q u e 3 l i n e - u p s d i f e re n t e s d a b a n d a s u bi r a m a o p alco. Mas já lá vam os pois há que f alar pr im eiro s d a s b a n d a s q u e a b r i r a m a s h o s t i l i d a d e s n o l e n d á r i o M o r i tzba ste i em Le ipzig, Ale man ha.
Em c a r ta z e sta n o i te ti ve m o s du a s da s ba n da s m a i s “ a te m o r i za n te s” n o c o n te xto do bl ack metal atual. O q ue será qu e n e l a s fa z va c i l a r o m a i s e m pe de r n i do do s a do r a do re s de sa tã ? O qu e fa z c o m qu e a mesma comunid ad e q ue a c o l h e u Al c e st e L i fe l o ve r ( n ã o i n te i r a m e n te di sse m e l h a n te s de M yr ku r e D e a fh e a ven), hesite em consid erar a l e gi ti m i da de de ste s c o n j u n to s? A re spo sta po de r á , e ve n tu a l m e n te , re si di r n o fa c to de a mb as b and as serem lid erad as po r vo c a l i sta s qu e po de r i a m te r sa í do do s c a tá l o go s da C a l vi n Kl e i n . O de se n qu a dr a mento d esta ap resentação na e sté ti c a gro te sc a qu e ti pi c a m e n te a c o m pa n h a o m o vi m e n to de bl a c k m e ta l , é pa r a m uitos, “aviltante” ou mesmo, i n to l e r á ve l . N ã o o bsta n te , o qu e e sta s ba n da s tê m pa r a n o s o fe re c e r n ã o é bl a c k m e ta l , mas d reamp op com riffs d e u m a fr i gi de z e spe c tr a l ( M yr ku r ) e u m e sti l o de sh o e ga ze sa tu r a do de a n fe ta m i n a s ( D e afheaven). Ap esar d e tod a a te n de n c i a l i da de e fu n da m e n ta l i sm o a c o n ta m i n a r a a n te c i pa ç ã o de sta s a tu a ç õ e s, o RC A foi p alco d e um verd ad eiro e ve n to . M yr ku r ( vo c á bu l o i sl a n dê s de “ e sc u r i dã o ” ) re ve sti u - se de u m a pe r fo r m a n c e m a rc ad a p ela livid ez, não ap enas de su a fro n tw o m a n , c o m o i gu a l m e n te da so n o r i da de m a rc a da po r e fe i to s de de l a y/re verb , os q uais conferiram uma a m pl i a ç ã o do e spí r i to de fo l k fa n ta sm a gó r i c o qu e c a r a c te r i za a ba n da . A a tu a ç ã o n ão d eixou nad a a d ever ao a m bi e n te ge r a do pe l a s gr a va ç õ e s e m e stú di o , te n do a ba n da pro va do qu e , a pe sa r d a controvérsia associad a à pl a u si bi l i da de da su a pe r te n ç a n o c o n te xto de bl a c k m e ta l , c o n se gu e fa ze r a te m pe r a tu r a d a sala d escer uns q uantos gr a u s. O e n c o re e m pi a n o do h i n o “ So n g to H a l l u p H i gh ” do s Ba th o r y, fo i su fi c i e n te mente louvável p ara d issip ar qu a l qu e r dú vi da re l a ti va m e n te a o c o m pro m e ti m e n to de Am a l i e Br u u n c o m o pr i n c í pi o “ vital” d o b lack metal. Tend o j á a ssi sti do à a tu a ç ã o do s D e a fh e a ve n n a e di ç ã o de 2 0 1 3 do Am pl i fe st, a e xpe c ta ti va encontrava-se elevad a. Devo c o n fe ssa r qu e po u c a s ba n da s c o n se gu e m a ti n gi r o n í ve l de c o m pro m i sso ( a n í ve l de pro dução e entreg a) d este g rup o. A a pre se n ta ç ã o do á l bu m “ N e w Be r m u da ” ( qu e , pe sso a l m e n te , fo i u m do s po n to s a l to s de 2015) foi d e um d inamismo i m a c u l a do . D e a fh e a ve n c o n se gu e m a r re m e ssa r a i n te n si da de do bl a c k m e ta l , c o m a delicad eza d o shoeg aze, d e u m a fo r m a tã o i n tr i c a da , qu e fa ze m c o m qu e u m sl a m da n c e pa re ç a u m a br a ç o c o l e tivo. E sta amb ivalência, q ue a c a ba po r se r c a r a c te r í sti c a de m u i ta s da s ba n da s de n o m i n a da s de po st- bl a c k m e ta l, encontra-se p er feitamente c o n su bsta n c i a da , te n do - se m a n i fe sta do e m pl e n o n a a tu a ç ã o de sta n o i te . Pa r a a l é m d a ap resentação d o último á l bu m , a ba n da a i n da n o s fo i c a pa z de m a ta r sa u da de s c o m du a s va l e n te s c h a pa das (em for ma d e encore) d o á l bu m “ Su n ba th e r ” . U m a e xc e l e n te c o m bi n a ç ã o de ba n da s qu e re su l to u n u m c o n c e r to é pico, ind ep end entemente d as c a r a c te r i za ç õ e s qu e qu e i r a m a sso c i a r a qu a l qu e r u m a de l a s.
RCA CLUB – LISBOA 04.03.2016
A p rime ira ba nda a s ubir ao palco f or am os Ad - H o c q u e n o s a p re s e n t a r a m u m e x c e l e n t e b l a c k - m e t a l c o m a l gu n s ap on ta men tos a va nt - garde. O s Ad- Hoc apres ent a r a m - n o s u m s e t b a s e a d o e m t e m a s m a i s re c e n t e s b e m c o m o e m temas ma is an tigo s, s endo que f oi percept ív el a s u a e v o l u ç ã o , e m t e r m o s d e c o m p o s i ç ã o . A i n d a c o m p o u c o pú bl i c o p rese nte n a sala , os Ad- Hoc cons eguir am conv enc e r o s p re s e n t e s n a m e s m a e a t é m e s m o f a z e r c o m q u e a s a l a fi c a sse mais c he ia du ran te a s ua act uação. Apes ar de não t e r o m e l h o r s o m d a n o i t e , a s u a p e r f o r m a n c e e m p a l c o f o i ba sta n te convin ce nte e fic am os a aguardar por m ais conce r t o s . D e se gu ida , fo i a vez dos Sado Sat hanas que nos a p re s e n t a r a m u m b l a c k - m e t a l b a s t a n t e a m a d u re c i d o re c h e a do c o m excele nte s a po nta m ent os orques t r ais . Des t a f eit a , a s a l a e s t a v a m a i s c o m p o s t a e o p ú b l i c o d e i x o u - s e h i p n o ti za r pe l a p rese nç a fria e do m inador a do v ocalis t a. Com alg u n s p ro b l e m a s n o s o m , q u e p re j u d i c a r a m b a s t a n t e a s u a a c tu a ç ã o , os S ado Sath an as for am capaz es de conv encer o s p re s e n t e s c o m u m a a c t u a ç ã o b a s t a n t e f o r t e . F o r m a d o s e m 1 9 9 6 e oriun do s de Dre sd en, na Alem anha, percebe- s e a r a z ã o p e l a q u a l o s G r a b a k d e c i d i r a m c o n v i d a r e s t e s s en h o re s a junt arem-se a esta celebr ação. Um bom concer t o q u e n o s d e i x a e x p e c t a n t e s p e l o s l a n ç a m e n t o s f u t u ro s d e s ta ba n da . Os E mine nz sã o ta m bém um a banda com bas t ante s a n o s d i s t o . D e f a c t o , j u n t a m e n t e c o m o s G r a b a k , o s E m in e n z sã o d as ban da s ma is a nt igas da cena black - m et al a l e m ã . O q u e f o i n o t á v e l e m c i m a d o p a l c o p o i s a p re s e n ç a de ste s senhore s be m c omo t oda a s ua act uação s ão dig n a s d e q u e m h á b a s t a n t e s a n o s n i s t o . C o m a s a l a j á b a s t a n te c h e i a e t ambém a jogar e m cas a, os Em inenz apres ent a r a m - n o s o s e u b l a c k - m e t a l r á p i d o , c o m u m a n o t á v e l p re se n ç a po r p ar te do s te cla do s, e com bas t ant e m om ent os c o m b a s t a n t e g ro o v e . C o m t e m a s t a i s c o m o “A r m y o f I m mo r ta l s” e “I nfer na l Ma jesty” , o s Em inenz prov ar am o porqu ê d e e s t a re m h á m a i s d e 2 0 a n o s a c t i v o s n a c e n a e c e r t a me n te qu e vão co ntin ua r a e sta r.
Reportagem e Fotografia: Frederico Figueiredo
P or fim, foi a ve z dos prot agonis t as da noit e s u b i re m a o p a l c o . C o m o f o i a c i m a m e n c i o n a d o , e s t e c o n c e r to se r vi u p ara c ele bra r o s 20 anos de ex is t ência des t a b l a s f e m a b a n d a . F o i t a m b é m m e n c i o n a d o q u e e s t e c o n c e r to te ve 3 set -lists dife ren tes. A r az ão par a t al f oi que os G r a b a k d e c i d i r a m c o m e ç a r o c o n c e r t o c o m o s e u l i n e - u p o r i gi n a l ter mina ndo o mesm o, com o s eu line- up act ual. P e l o m e i o , p a s s a r a m p e l o p a l c o o s re s t a n t e m ú s i c o s q u e fi ze r a m p ar te da ba nda n os anos int er m édios . Tenho que a d m i t i r q u e é b o m a s s i s t i r a e s t e t i p o d e h o m e n a g e n s u m a ve z qu e é frequ en te a s ban das es quecerem os s eus m em b ro s m a i s a n t i g o s q u a n d o c e l e b r a m a l g o . C o m e ç a n d o a n o i te c o m temas ma is an tigo s, t ais com o “ Bey ond a Black H o r i z o n ”, o s G r a b a k m o s t r a r a m e m p a l c o a r a z ã o p e l a q u a l c o n ti n u a m activos e bastan te res peit ados na cena. Foi int e re s s a n t e a s s i s t i r à s m u d a n ç a s d e l i n e - u p s e n d o q u e a c tu a ç ã o da b and a se mpre se m ant ev e cons t ant e a um ex cele n t e n í v e l , t í p i c o d e q u e m a n d a n i s t o h á b a s t a n t e t e m p o . O pú bl i c o també m a gra de ce u es t a celebr ação, s endo que f o i b o m p a r a o s p re s e n t e s re v e r c a r a s c o n h e c i d a s e m c i m a do pa l c o . E os Gra ba k to ca ram , de f act o, t em as de t odos o s s e u s á l b u n s t a i s c o m o “A g a s h D a e v a ” e “S i n ” s e n d o q u e a qu i fo i també m no tável a lgum a ev olução em t er m os de c o m p o s i ç ã o . O f i m d o c o n c e r t o c h e g a e f i c a m o s c o m a p e t i te pa r a o q ue virá no s pró xim os t em pos . Com o J . K. ( v ocalis t a ) c o n f i r m o u à Ve r s u s , “S i n ” s e r á re l a n ç a d o s e n d o q u e a ba n da j á se enc on tra ta mbé m a com por m at er ial nov o. Fiqu e m a t e n t o s p o rq u e v a l e a p e n a !
Reportagem: Eduardo Rocha
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A épica “Davidian” terá sido, como habitualmente, o ponto alto do concerto. Impressionantes os momentos em que todo o Coliseu cantou (muito) alto e a uma só voz as célebres palavras “Let freedom ring with the shotgun blast”. E foram de tal forma inesquecíveis que o próprio Robb Flynn fez questão de os imortalizar ao partilha-los na sua conta pessoal do “Instagram”. A partir de agora o desafio seria manter a elevadíssima fasquia que traçaram, pois, querendo fugir ao “deja vu” não terminaram o concerto com aquele que foi o seu primeiro single, o mesmo que os catapultou para o sucesso e que é uma das suas músicas mais emblemáticas. Desafio….superado! Com uma escolha de músicas muito feliz e com a sua capacidade motivar o público, Robb Flynn e os restantes Machine Head ofereceram um excelente final de espetáculo. Dimebag Darrell foi recordado e homenageado antes de “Aesthetics of Hate”, e mais tarde “Old” fez as delícias dos fãs mais “experientes”. Finalmente “Halo” foi muito bem recebido e proporcionou um final adequado para nossa “evening with Machine Head”. Uma palavra para o novo baixista, Jared MacEachern, que tem uma excelente presença em palco, e para o baterista Dave McClain que faz parecer que é muito fácil tocar bateria. Com duas horas e meia de concerto a sensação que deu foi que apenas denotou algum cansaço a….dez minutos do final. E sem que se desse por tal, o serão com os Machine Head tinha terminado. Como foi referido, penso que a falta da banda de suporte tenha proporcionado um início menos entusiástico, e isto para mim talvez seja o calcanhar de Aquiles do conceito da tournée. Contudo, com o decorrer do tempo, mostraram que são uma das referências no que a performances ao vivo diz respeito, e presentearam os fãs portugueses com uma atuação extremamente bem conseguida. Fica a dúvida se serão capazes de dar um mau concerto. Reportagem e Fotografia: Ivo Broncas
MACHINE HEAD
COLISEU DOS RECREIOS - LISBOA 08.02.2016
Setlist:
MACHINE HEAD ...QUE MÁQUINAS
Imperium Beautiful Mourning Now We Die Bite the Bullet Locust From This Day Ten Ton Hammer Elegy The Blood, the Sweat, the Tears This Is the End Phil Harmonic Solo Darkness Within
Drum Solo Bulldozer Killers & Kings Davidian Descend the Shades of Night Now I Lay Thee Down Aesthetics of Hate Game Over Old Halo
Um coliseu dos Recreios praticamente lotado esperava por mais um concerto dos Machine Head em terras lusas. De um lado podia-se ver o entusiasmo contagiante e quase palpável dos fãs mais novos, por estarem em vias de assistir àquele que seria, provavelmente, o seu primeiro contacto ao vivo com a banda. De outro, os seguidores mais antigos, apresentavam-se menos ansiosos, mas não por isso menos ávidos de ouvir e sentir toda energia que os veteranos Californianos transmitem em todos os seus espetáculos ao vivo. Diferenças à parte existia um sentimento que todos partilhavam: curiosidade em ver como resultaria o conceito que Robb Flynn idealizou e colocou em prática para esta tournée. Relembre-se que tem o nome de “An evening with Machine Head”, e consiste precisamente nisso: uma noite só com Machine Head, sem banda de suporte. Atrever-me-ia a dizer que será uma tentativa de levar a cabo um concerto de metal intimista, tanto quanto é possível dado o estilo de música, e procurando ao mesmo tempo chegar ao máximo número de fãs possível. Pouco depois da hora marcada, e após se ouvir uma gravação de “Diary of a Madman” de Ozzy Osborne, a atuação propriamente dita começa com “Imperium” e “Beautiful Mourning”. Nesta fase, e embora não se questione a qualidade das músicas ou a performance dos músicos, existia alguma apatia por parte da assistência. Inclusive a própria banda, que tem um dos “frontmans” mais comunicativos do meio, não interagiu com a audiência como esperado. Talvez a falta de uma banda de suporte, juntamente com a escolha das músicas inicias, tenha resultado num acolhimento inicial menos efusivo por parte do público, e daí o início menos prometedor do espetáculo. Porém, essa sensação rapidamente se desvaneceu e a partir da 3ª músca, “Now we die”, a tendência já se tinha começado a inverter. Quando “Locust” e “From this day” entram em cena o marasmo inicial já era uma recordação remota, a energia começou a crescer e chegou a proporções dignas da reputação, não só da banda em si, como também do sempre entusiasta público português. Estamos agora perante um concerto completamente diferente. Os Machine Head são uma das mais competentes bandas ao vivo e provaram-no durante as duas horas e meia de concerto. Robb Flynn já a fazer pleno uso dos seus dotes de comunicador começou a funcionar como um maestro de emoções. Alimentava a energia dos fãs portugueses quando a música assim o pedia (bastava-lhe dizer “circle of death” para quase instantaneamente se formasse um “mosh pit”), e canalizava-a para momentos que se pretendiam mais intimistas, caso por exemplo da parte acústica da excelente “Darkness Within”. 8 4 / VERSUS MAGAZINE
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UNDER THE DOOM
UNDER THE DOOM FESTIVAL - RCA CLUB (LISBOA) - 12/13.02.2016 O “Under the Doom Festival” trouxe-nos mais duas noites celebratórias de fatalismo subharmónico. Embora o doom metal fosse o eixo do festival, em oferta encontrou-se um cardápio com suficiente ecleticismo para abranger uma amplitude razoável de preferências. A abertura das hostilidades ficou a cargo dos Névoa, um conjunto portuense que apresentou a sua interpretação de black metal atmosférico. Embora fosse uma forma curiosa de começar um festival dedicado ao doom metal, a banda não se mostrou excessivamente descompassada com o teor do festival, investindo sobretudo no ambiente, ao invés da generosidade de b.p.m.’s características do black metal. Apesar de terem demonstrado uma competente prestação, a banda transpareceu, na sua essência, uma certa falta de domínio da semiótica do black metal, balançando-se num limbo indefinido de post-rock com uma ligeira infusão do género no qual se pretendem enquadrar. Os espanhóis Foscor, por seu lado, demonstraram mais maturidade, embora (à sua maneira) se balancassem na mesma corda que os seus precedentes. Assistimos a um estilo progressivo de black metal em que se encontrava uma fusão de elementos exageradamente familiares, resultando num paradoxo em que o total foi inferior à soma das suas partes. As clean vocals ao vivo não desvirtuaram em relação ao produto gravado; no entanto, em ambos os casos a entrega revela-se demasiado nivelada e insípida. Curiosamente, a banda que se seguiu incorre no mesmo erro. Painted Black, apresentam aptidão para atingir níveis superiores de composição musical, porém, a monotonia das vocais limpas, bem como a identificável proximidade a bandas como My Dying Bride ou October Tide, remetem-nos para o campo da redundância. Para além das faixas do seu álbum de originais “Cold Comfort”, foi-nos apresentado um tema do seu próximo trabalho. A prestação foi bastante convincente, mesmo com os exibidos maneirismos ao estilo de Aaron Stainthorpe. Por melhor consideração que as anteriores atuações pudessem ter, a antecipação estava destinada aos cabeça de cartaz, os irlandeses Primordial. Após o fecho da prévia atuação, as hostes foram-se reunindo (previsívelmente), à medida que se aproximava a meia-noite. A entrada da banda em palco e sobretudo, a figura do vocalista Nemtheanga, amortalhado pelo sangue e cinza do campo de batalha, arrebatou a audiência. Finalmente subia ao palco alguém que, dotado do liricismo de um bardo, porta na sua voz a gloriosa alma pagã dos celtas. Lamentavelmente, porém, devido a problemas técnicos, a prestação vocal perdeu-se na estridência do som das guitarras, tendo levado a banda a uma interrupção abrupta no início da sua atuação. A situação, apesar de embaraçosa, foi rapidamente contornada, tendo-se feito seguir o que, indiscutivelmente, foi a atuação da noite. A setlist foi abrangente e a prestação de Nemtheanga, imaculada, demonstrando este as suas inegáveis capacidades como performer. Numa atitude de proximidade e constante interação com o público, inflamou, com o tema “Autumn’s Ablaze”, o saudosismo dos que assistiram à banda, aquando da digressão do “Journey’s End” por terras lusas. O incontornável “Empire Falls” levou a sala ao rubro, fazendo a audiência render-se às letras da música, que foram fielmente devolvidas à banda. Temas do mais recente “Where Greater Men have Fallen”, como “Babel’s Tower” e “The Alchemist’s Head” tiveram igualmente o seu lugar. Um dos pontos altos foi contudo o tema “As Rome Burns”, anunciado por Nemtheanga, a inflingir mimicamente no seu corpo as chagas de Cristo. Em resposta, a adesão do público foi notável, com um acompanhamento vigoroso do chorus: “Sing to the slaves as Rome burns”. Clássicos como “Traitor’s Gate” e sobretudo “Coffin Ships” mantiveram o alento dos presentes, com o vocalista saciando, entre faixas, a sua sede numa garrafa de litro e meio de coca-cola (clarificando que o seu conteúdo não correspondia ao líquido que, tradicionalmente, acompanha a sinuosa garrafa). Durante uma prestação de cerca de duas horas, foram igualmente revisitados álbums como “Spirit the Earth Aflame” com o “Gods to the Godless”, bem como “Storm before Calm” (já em fase de encore) com o “Sons of the Morrigan”. Este último encorajou um incipiente slam dance que teve, no entanto, uma prestação abreviada. Ao fim ao cabo, tratava-se de um festival de doom metal... o qual, incidentalmente, não teve uma única banda do género na sua primeira noite.
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Depois da doomless night do dia 12, foi altura de sair na noite chuvosa de sábado, com intenção de saciar, de vez, o nosso espírito sorumbático. Este propósito não teve porém, força suficiente para combater o espírito de hibernação invernal. Deste modo, um almoço tardio (19h) acentuado pelo júbilo de um extraordinário “bife à pirilampo” num restaurante situado nas imediações, contribuiu para um atrasado acesso ao espetáculo em oferta nesta noite. A chegada ao festival coincidiu assim com a atuação dos gregos Shattered Hope. Apesar da contribuição formulaica da banda no panorama do death doom metal, a atuação serviu como um acerto de agulhas com o teor do festival, levando sobretudo em linha de consideração as atuações da noite anterior. Seguiram-se os Carma, oriundos de Coimbra, com um funeral doom grave e contundente, sintetisando aquilo que supostamente constitui a essência do festival. Esta banda, com apenas um trabalho de originais, já se afigura como séria candidata a usurpar o trono dos Desire; porém, enquanto não o fazem, continuam sentados nos seus ombros. Os Mourning Dawn, um pouco na tradição dos Forgotten Tomb (os quais já marcaram presença em passada edição do festival), conciliaram, eficazmente, o suicidal black metal com o funeral doom metal... e também com um par de ténis reebok pump calçados pelo vocalista, que trouxeram tanto de nostalgia quanto os acordes que se desprenderam da banda. Os espanhóis Orthodox constituíam, a título pessoal, uma das bandas mais antecipadas do festival. Estes, no contexto do bestiário em exibição, afiguravam-se, em potência, como uma autêntica curiosidade. O recente álbum “Axis” encapsulou o conceito de “bizarro” no contexto do stoner, tal como os trabalhos dos Master’s Hammer ou Necromantia no contexto de black metal no início da década de 90. Não obstante, a exibição ao vivo manifestouse desapontadamente minimalista, subtraindo as camadas de excentricidade que tornaram o referido álbum único, em favor de um duo de baixo/bateria demasiado encostado aos Sleep/Om. Chegámos então ao pináculo do festival: a atuação de uma das bandas mais antigas e incomuns dentro do funeral doom metal. Esoteric, pioneiros britânicos de uma extravagante alquimia de lamento e alucinação, apresentaram uma tragédia lisérgica elevada a um paroxismo de terror. Ao anúncio das vocais, desprendeu-se como que um manancial de almas em transiência aquerôntica. A detonação de sinapses tornou-se eminente, na ciclicidade febril das orquestrações conjuradas pela banda. A frieza com que libertou o seu arsenal alucinatório, aproximou-se mais de uma execução que de uma atuação. Implacável. Deste modo, ainda com os sentidos alienados por este derradeiro acto, se encerrou apropriadamente mais uma edição do “Under the Doom Festival”. Reportagem e Fotografia: Frederico Figueiredo
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BLUES PILLS + PRISTINE HARD CLUB - PORTO 04.03.2016
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A noite estava fria e chuvosa. Depois de um bom repasto numa casa típica do Porto lá avançámos com os pés molhados para a sala 2 do Hard Club. Há muito que os Blues Pills eram aguardados e a prova disso foi a sala esgotada. Quando os Pristine entraram em cena, estava cerca de meia sala e não pudemos deixar de reparar na malta muito jovem que já povoava o recinto. O Blues Rock com laivos de psicadelismo dos Noruegueses liderados por Heidi Solheim, aqueceram a sala. Com três álbuns na sua ainda curta existência, apresentaram o seu mais recente «Reboot» ao público português que correspondeu à energia emanada pela banda. No entanto, a sala estava cheia para os Blues Pills… Elin deu o mote com uma entrada energética ao som de “Black Smoke” que durou até ao fim do concerto. Os Blues Pills têm somente um álbum lançado mas já são representados por uma das maiores editoras do Rock/Metal – Nuclear Blast. Além disso, pelo concerto e pela reacção dos fervorosos fãs começam aos poucos a transformarse numa banda de culto. Poderá parecer exagerado mas a qualidade e o carisma da banda é já tão grande que só posso augurar um grande futuro. O setlist é composto maioritariamente por temas do primeiro e único álbum e também duas versões: “Gypsy” de Chubby Checker” e “Elements and Things” de Tony Joe White. O som estava do melhor que já ouvi no Hard Club, quer tenha sido na sala 1 ou na 2. Junto ao placo ouvia-se o som directamente dos Combos, impecável. Mas mesmo assim, o que mais me impressionou foi a som do baixo Rickenbacker, tocado com os dedos! Brutal! Dorian é discreto na postura mas na arte de tocar guitarra é soberbo e Cory Berry “malha” na bateria como se o mundo fosse acabar no fim do concerto. Elin tem uma voz quase como reencarnada de Janis Joplin e o carisma que emana em palco ajudou a ferver a noite que estava fria.
THE VINTAGE CARAVAN
O público correspondeu cantando em alta voz temas como “Little Sun” ou “Devil Man”. No encore um tema semiacústico com Elin e Dorian. O concerto acabou em apoteose com o magnífico “Devil Man”. No fim o público saiu satisfeito, alegre e ainda houve tempo para um sinal de humildade da banda ao autografar discos e CD’s mesmo antes de sair do palco. Sempre sorridentes, sempre simpáticos! Um dos melhores concertos a que tive oportunidade de assistir no Hard Club. Subliminal!
THE VINTAGE CARAVAN
+ DEAD LORD + TIEBREAKER + DOLLAR LLAMA
Reportagem: Bruno Manarte (com Eduardo Ramalhadeiro) Fotografia: Eduardo Ramalhadeiro - (Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)
CINE INCRÍVEL - LISBOA 20.02.2016
Quando os Dollar Llama sobem ao palco da mítica sala de Almada são poucos os que ainda se juntam na frente do palco para assistir à prestação dos lisboetas, perdendo assim mais uma oportunidade de assistir a uma banda que tem crescido em cada actuação e em cada registo. Numa altura em que promovem o mais recente «Grand Union» a banda agarrou o publico e, apesar da hora madrasta a que actuaram, foi uma actuação poderosa e que nos deixa a salivar por palcos maiores. Quanto aos noruegueses Tiebreaker a conversa é outra. Para muitos os que se encontravam a banda era uma ilustre desconhecida, porém, conseguiram reverter a situação e cativar o público com um concerto feito de Rock à antiga. Podemos dizer que o som dos noruegueses vagueia entre o Rock dos anos 70/80, porém, com uma atitude mais Stoner. Com um vocalista que revele ter multiplas personalidades que sucumbem a seus pés e que explodem no publico que se começa a juntar no Cine Incrivel. Foi uma actuação que decerto granjeou novos fans para os norugueses. Também em estreia por terras nacionais estavam os suecos Dead Lord, trazendo na bagagem dois discos e muita vontade de se mostrar, com uma atitude muito positiva e uma mão cheia de riffs poderosos e malhas poderosas, os suecos provaram o motivo pelo qual são apostada Century Media e, mostraram que o palco é o seu habitat natural, sem duvida que aqueceram o publico, já em maior número que se aglomerava à frente do palco, para o que viria a seguir. Para fechar uma noite de Rock estiveram os The Vintage Caravan que fizeram a temperatura subir. Trazendo consigo os temas do último registo Arrival a banda fez o que melhor sabe fazer… Rock puro e duro, com pitadas de Stoner, Psicadélico e Blues e que bem o sabem fazer. O trio liderado, como sempre, Óskar Ágústsson passou por todos os registos sem nunca tirar o pé do acelerador. Temas como Shaken Believes, Let it Be ou Crazy Horses levaram o público ao rubro e provaram que a oportunidade, a primeira, de encabeçarem uma tour não seria desperdiçada e que a banda não estava ali para brincadeiras. Os islandeses são uma máquina bem oleada e que, pode muito bem, ser temida. Podemos dizer que os The Vintage Caravan estão melhores que nunca e que já se pode esperar tudo da banda. Se numa palavra se pudesse descrever o concerto essa seria, sem dúvida, energético. Foi uma noite em que o Rock foi dono e senhor da mítica sala almadense que, verdade seja dita, é uma das casas do Rock e ficou provada a qualidade acustica da sala, com todas as bandas a beneficiarem de um som claro e equilibrado, mostrando que não é preciso muito para se ter qualidade. No que as bandas diz respeito, todas elas estão de parabéns, assim como o público que enfrentou o frio para se deslocar até ao Cine Incrível. Reportagem e Fotografia: Nuno Lopes 9 0 / VERSUS MAGAZINE
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´ do Art Rock, coroado Rei na Pop Bowie – O Principe Desde o dia 10 de Janeiro do corrente ano, que quase tudo terá sido dito e escrito sobre David Robert Jones (nome que em meados dos 60, foi “trocado” por David Bowie de forma a não ser confundido com Davy Jones dos The Monkees). O que não facilita a tarefa de escrita do presente texto, sobre um dos nomes maiores da música contemporânea. Começando com uma pequeníssima e abusivamente sintética biografia (para tão extensa obra): Nascido em 8 de Janeiro de 1947, em Brixton – Londres, escolhe e aprende saxofone aos 13 anos e começa por tocar em bandas como The Kon-Rads, The King Bees, The Mannish Boys e Lower Third. Em 66 já é David Bowie, mas após vários singles sem sucesso relevante, apenas em 1969 atinge os tops com o mítico Space Oddity. The man who sold the world (1970) seguiu-se com muito boa crítica, mas sem grande sucesso comercial. Sucesso que obtería no ano seguinte com Hunky Dori, que mostrou ao mundo os intemporais Changes e Life on Mars. Em 1972 surge The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars, um album conceptual sobre uma estrela rock andrógena de Marte, que é destruído pelas drogas, sexo e em última análise pelos fans. 1974 é marcado por Diamond Dogs, outro álbum conceptual acerca de outro personagem messiânico (inspirado pelo universo Orwelliano do 1984), o “The Candidate”, num mundo pósapocalíptico. Neste período, o uso excessivo de drogas começam a ser um problema, e na tentativa de se “recompor”, vai para Berlim e surge o trabalho com Brian Eno (Berlin Trilogy – Low -77, Heroes - 77, Lodge - 79). A década de 80 marca decisivamente a “comercialização” do seu som, após mais de uma década de Art-Rock, Pop-Art, Glam, Experimentation, Avant-Garde. Com Scary Monsters (and Super Creeps)(80), Let’s Dance (83), Tonight (84), Never Let me Down (87) e Tim Machine (89), ganha diversos ouros e platinas e torna-se um dos nomes mais reconhecidos da Pop mundial. Os anos 90 marcam, sobretudo após 93(e após o Tim Machine II em 91), o regresso de Bowie ao som industrial e electrónico e algum experimentalismo no som Dance, com o Black Tie White Noise (93), e um novo projecto de colaboração com Brian Eno, que consistiria num conceito multi-album (5 albuns a serem lançados anualmente até 1999), mas de que apenas 1.Outside (95) vería a luz do dia. Entretanto, as experimentações pela Electrónica, continuaram com Earthling (97), com um som Techno e Jungle. Hours (99), Heathen (2002), Reality (2003), são as seguintes produções, sem um compromisso sonoro tão evidente, e passando pelo melódico, ao rock mais puro. Temos um hiato temporal de praticamente uma década até The Next Day (2013) e já no presente ano surge Blackstar. Desenhar e pintar o percurso de alguém a quem o epíteto de “o Camaleão” tão bem cola, exige uma paleta de cores muito extensa, que a restrição de espaço na presente publicação por certo não permite utilizar com propriedade. No entanto, se quisermos definir sumariamente este percurso, parece-nos que o traço fundamental nesta obra, é o seu carácter progressivo. Progressivo no sentido de “não estanque”, progressivo na exacta medida da fusão de uma estética artística com os elementos mainstream da pop e rock. Muito provavelmente, há quem ache que Bowie não será prog, porque este conceito faz aquilo que é a antítese do progressivo: coloca fronteiras aos elementos prog, definidas, estabelecidas nos anos dourados do prog, os anos 70. No entanto, iremos mesmo mais longe ao considerar que Bowie é um dos fundadores do movimento. Desde a metade da década de 60, que as suas composições evidenciaram elementos tão “queridos” do progressivo: histórias contadas de forma narrativa e álbuns conceptuais, o ecletismo musical e recurso a diversos estilos de forma a suportar essas mesmas histórias, estruturas não lineares nas suas canções, um imaginário recriado visualmente quer em palco quer nos discos, personagens que vão e voltam ao longo da carreira como Major Tom ou Ziggy Stardust, experiências sonoras e instrumentais (com Brian Eno), vozes (formas de cantar) muito distintas com muita teatralidade, etc, etc. Para além de, ao longo de toda a sua obra ter recorrido e colaborado com diversos expoentes e génios do Progressivo. Rick Wakeman que antes mesmo de se juntar aos Yes, foi o responsável pelo Mellotron em Space Oddity (pelo qual terá recebido 9 libras), e depois pelos arranjos de piano no hino maior de Bowie, Life on Mars. O álbum Heathen em 2002, foi repleto de colaborações de gigantes como Tony Levin (King Crimson, Peter Gabriel, Wakeman, etc, etc), o mágico e virtuoso das teclas Jordan Rudess (Dream Theater), Pete Thownsend (The Who). As colaborações recorrentes com Brian Eno (e no período de Berlin, também com Robert Fripp), Tony Visconti, e diversos et cetera’s… Se a utilização do rótulo progressivo é muitas vezes mal aceite (por razões já atrás referidas), uma nomenclatura alternativa para o termo, o Art-Rock é pacífica. Bowie foi e é nome maior do Art-Rock, um príncipe do género que conseguiu alcançar o “Mainstream”. Blackstar, o último álbum lançado em vida (ainda que 2 dias antes do seu desaparecimento físico), é outro trabalho visionário, mais uma obra Art-Rock e neste caso em fusão com o Jazz, resultando por certo, num dos momentos mais fortes do ano, e quem sabe de um espaço temporal bem mais alargado. Com a produção (mais uma vez) de Tony Vosconti, Bowie recorreu desta feita, a um novo conjunto de músicos, com percurso mais ligado ao Jazz, de onde destacamos o absolutamente extraordinário Mark Guiliana. O desaparecimento físico de David Bowie, foi uma triste notícia para o mundo da música, mas por certo mais uma oportunidade para a (re)descoberta da sua obra e genialidade. Nós por cá, ficaremos a aguardar pela concretização dos rumores que dão conta que trabalhos do Camaleão, não editados, serão lançados postumamente. Texto: Ivo Quintas
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híper ninfomaníaca. “Act 8: Optimus Princeps », que fecha o álbum, fala de Trajano, da sua grandeza, das suas conquistas.
COMO SERIA DE ESPERAR, TOMEI COMO REFERÊNCIA A TUA OUTRA BANDA – N.K.V.D. – DE QUE ÉS O ÚNICO MEMBRO. POR QUE TENS NECESSIDADE DE PARTILHAR AUTOKRATOR COM OUTROS MÚSICOS? LOÏC F. : Nunca cantei em N.K.V.D. e o mesmo acontece com Autokrator. Queria ter um verdadeiro baterista neste álbum, portanto contratei o Oleg. Também queria ter alguém com uma perspetiva diferente do sampling, logo confiei essa parte ao Markian. Trabalhar com outras pessoas permite-me atingir um nível musical superior, prefiro atribuir aos outros a responsabilidade pelos aspetos em que eu sou menos bom. Essa colaboração também me permite alargar os meus horizontes musicais, que são um tanto
“(…) NESTA BANDA, NÃO ENCONTRAS A FIBRA “POLITIZADA” QUE É A ESSÊNCIA DE N.K.V.D. (…)”
AUTOKRATOR REFLEXÕES SOBRE A HUMANIDADE E I S O P R IN C I PA L OBJET IVO DE AUT OKRAT OR , U MA BA NDA QU E LOÏ C F. (D E N.K.V.D .) PARTI LH A C O M O U TR O S M Ú S IC O S E QUE EST Á A AGORA A LA NÇA R O SEU PR I MEI RO ÁLB U M (HO MÓNI MO ). Entrevista: CSA TENDO EM CONTA O NOME DESTA TUA BANDA, SOU LEVADA A PENSAR QUE A DI TADURA TAMBÉM É UM TEMA ESSENCIAL PARA AUTOKRATOR. CONCORDAS COMIGO? LOÏ C F. : Não. Autokrator não tem a ver com a ditadura. Nesta banda, não encontras a fibra “politizada” que é a essência de N.K.V.D. “Autokrator” é uma palavra grega que significa “Imperador”. Na realidade, no Grego antigo, designava uma espécie de ditador. O nosso álbum trata dos vícios e da decadência dos mais terríveis 9 4 / VERSUS MAGAZINE
imperadores romanos. O tema de base é a natureza perversa do ser humano, no que toca ao poder e ao sexo. O próximo álbum terá como tema a dominação física e psicológica e será baseado nas obras de autores como Milgram, Hubbard e Beria.
PODES FALAR UM POUCO SOBRE OS TEMAS DAS VÁRIAS FAIXAS ? LO ÏC F. : “Act 1: The Tenth Persecution” é uma canção sobre Diocleciano e as perseguições aos cristãos. “Act 2: Exsuperator”
refere-se ao imperador Cómodo e está na primeira pessoa, para assinalar uma espécie de identificação. “!Act : The Filthy Pig of Rome” é uma canção sobre aquele que é considerado como o pior dos imperadores romanos: Calígula. “Act 4: Autokrator » corresponde a uma faixa instrumental. “Act 5: Qualis Artifex Pereo » fala do imperador Nero, que cantava enquanto Roma ardia. “Act 6: Sit divus, modo non vivus » diz respeito ao imperador Caracala, que era cruel até para a sua família. “Act 7: Imperial Whore » versa sobre a famosa Messalina,
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(DA MÚSICA E DAS LETRAS). NÃO COSTUMAS DAR ALGUM ESPAÇO AOS TEUS COMPANHEIROS NESTA PARTE? LOÏC F. : De facto, eu componho tudo, porque tenho uma visão global do que se pretende com Autokrator. Depois explico aos outros quais são as grandes linhas a seguir e cada um interpreta a sua parte segundo o seu estilo. Se algum não convém, altero, se algum deles tem uma ideia que me parece melhor que a minha, adoto-a. Desde que soe bem, são livres de interferir. É sobretudo isso que me interessa, no que diz respeita à colaboração com os outros: que cada um dê à música de Autokrator o seu toque pessoal, a sua interpretação, o seu estilo.
QUAIS SÃO AS GRANDES DIFERENÇAS ENTRE N.K.V.D. E AUTOKRATOR NO QUE TOCA À ESTÉTICA MUSICAL? ACHO A TUA SEGUNDA BANDA MAIS AGRESSIVA QUE A OUTRA, QUE JÁ NÃO É NADA SUAVE.
“(…) O TEMA DE BASE É A NATUREZA PERVERSA DO SER HUMANO, NO QUE TOCA AO PODER E AO SEXO. O PRÓXIMO ÁLBUM TERÁ COMO TEMA A DOMINAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA (…)” limitados e “monolíticos”.
TANTO QUANTO PERCEBI, OS MEMBROS DESTA BANDA VÊM DE PAÍSES DIFERENTES. COMO SE ENCONTRARAM? LOÏC F. : São músicos com que mantenho contacto já há algum tempo. Como Autokrator é essencialmente um projeto de estúdio, a distância geográfica não constitui um grande problema. Oleg é um fã de N.K.V.D. que tinha proposto os seus serviços, se eu algum dia precisasse de um baterista. Por conseguinte, nem pensei mais no assunto. Os outros músicos vieram de bandas em que eu já tinha reparado. O Markian faz música ambiental industrial, o David toca muitos estilos diferentes e o Brandon é um músico de estúdio.
AO QUE PARECE, ÉS O ÚNICO RESPONSÁVEL PELA COMPOSIÇÃO
LOÏC F. : Como já referi, Autokrator não tem a dimensão política. E isso faz toda a diferença em termos estéticos e musicais. No que concerne à agressividade, Autokrator não está ao alcance de todos os fãs de Metal. Mesmo alguns fanáticos acham que é demais. É a nossa imagem de marca, tal como acontece com N.K.V.D. Francamente e sem querer gabar-me, se pegares no primeiro EP de N.K.V.D. – «Diktatura? – vais encontrar um tempo de 330 bpm, um nível sonoro de DR 1 e quatro ditadores na capa. É difícil fazer mais extremo…
particular, único. Também vai ser ele a fazer a capa do nosso próximo álbum. Podes ver o seu trabalho em https://www.facebook. com/Somos essencialmente uma banda de estúdio. Mas, depois da saída do próximo álbum, sou capaz de juntar alguns músicos locais e tentar fazer alguns concertos. Mas só o futuro o dirá…
SE ISSO ACONTECER, NÃO VAIS CAIR NA TENTAÇÃO DE APRESENTAR ALGUNS TEMAS DE N.K.V.D., JÁ QUE TERÁ UM PÚBLICO À MÃO? LOÏC F. : Pode acontecer sim. Estou a pensar nisso, até porque posso usar praticamente os mesmos músicos nas duas bandas. Mas, primeiro, preciso de arranjar um baterista que aguente a cadência de N. K. V. D.
NÃO TENS MEDO DE LEVAR AS TUAS BANDAS À RUÍNA A DIVULGAR A SUA MÚSICA NA NET? LOÏC F. : Este álbum é o nosso primeiro registo, não fizemos nenhuma demo antes, como é costume. Logo, o nosso primeiro objetivo é dar a conhecer o som de Autokrator. Por isso, decidi que a versão digital seria grátis. De qualquer modo, de um modo geral, podes encontrar qualquer álbum numa versão mp3 pirateada, mesmo antes do seu lançamento. Isso não impede que muitas pessoas comprem a versão digital, para apoiar a banda. A nível financeiro, com as vendas digitais e físicas, já recuperámos o dinheiro que investimos nele e isso é ótimo. https://www.facebook.com/ autokratormetal https://youtu.be/feYY-TApSmM
E AGORA, VAMOS CHEGAR A UM PONTO QUE ME INTERESSA MUITO: O ARTWORK DO ÁLBUM. QUEM O FEZ? LOÏC F. : Néstor Ávalos, seguindo as minhas instruções. Já trabalhou para Bloodbath, Blut Aus Nord, Hecate Enthroned e muitas outras bandas. Tem um estilo muito
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“O MESMO DE SEMPRE, CADA UM FAZ OU TOCA O QUE CALHAR NO MOMENTO. […] TUDO ESPONTÂNEO E DO CORAÇÃO […] PARA A MÚSICA SER PRIORITÁRIA ACIMA DE TUDO. (…)” NH: O mesmo de sempre, cada um faz ou toca o que calhar no momento. Mesmo a compor é esse o processo. Tudo espontâneo e do coração, o que sentir correto, apropriado para a música ser prioritária acima de tudo.
“(…) É DEFINITIVAMENTE GRIM BLACK METAL. NÃO VALE A PENA COMPLICAR. (…)”
MORTE INCANDESCENTE BLACK METAL SEM MAIS!!! PA L AV R A S PA R A QUÊ? VULT URIUS E NOCTU R NUS H O R R ENDU S V Ã O D I R ETO S A O A S S U NTO, JÁ Q U E O E S S E N C I A L É A M ÚSICA. Entrevista: CSA MORTE INCANDESCENTE COMBINA HUGO LEAL (AKA VULTURIUS) E ALEXANDRE MOTA (AKA NOCTURNUS HORRENDUS). COMO SE CONHECERAM? O QUE VOS UNE? E O QUE VOS PODE SEPARAR? V: Conhecemo-nos na noite lisboeta, quando muitos metaleiros paravam no Bairro Alto em 98/99 e eu estava nos Flagellum Dei. O que nos une é a paixão pelo Black Metal, pelo submundo e Satanás. Já tivemos as nossas chatices e separámo-nos durante cerca de dois anos. Mas agora estamos mais 9 6 / VERSUS MAGAZINE
velhos e lidamos com as coisas de maneira diferente. N H : Já nos separámos, nada de novo.
PODE-SE DIZER QUE O VOSSO NOVO ÁLBUM É UMA COMBINAÇÃO DE BLACK METAL OLD SCHOOL E OUTROS RITMOS? COMO REAGEM A ESTA APRECIAÇÃO? N H : Não sei o que isso quer dizer. É definitivamente Grim Black Metal. Não vale a pena complicar.
V: É um álbum de Morte Incandescente, tem um pouco de todo o nosso passado musical que é precisamente o que continuamos a fazer. É Black Metal e penso que não vale a pena arranjar outras definições.
COMO DIVIDIRAM AS TAREFAS NA SUA CRIAÇÃO? V: Usámos a mesma fórmula do costume: cabeça fodida, percalços, álcool e vontade de fazer algo novo para Morte Incandescente.
O QUE VOS DISSERAM OU O QUE ESCREVERAM SOBRE «…O MUNDO MORREU»?
ONDE FORAM GRAVÁ-LO? COMO ARRANJARAM A PRODUÇÃO “SUJA” QUE O CARACTERIZA?
NH: Ainda só recebemos uma, e foi hoje, 16.5 em 20 pontos, de uma review francesa. Portanto ainda não muito a dizer, mas começa bem. Mas sinceramente pouco me interessa. Estou satisfeito e só isso me interessa.
NH: Gravámos na nossa sala de ensaio, a sala S.A.T.H.R., gravador de 8 pistas, sem orçamento, os microfones que tínhamos disponível (poucos e podres), muita Sagres e vontade de fazer algo novo. Foi sem dúvida 3 dias de intensidade e negritude.
V: Já vi algumas, em vários países. E, sinceramente, não me interessa muito a questão da pontuação, interessa-me mais que as pessoas oiçam o álbum, que o curtam e que o compreendam, que vejam nele um pouco de si. Mas as reacções têm sido boas.
V: Não tínhamos qualquer budget, apenas vontade de criar. Levei o meu gravador de oito pistas e tínhamos uns microfones podres na sala de ensaio. E a parte instrumental foi toda gravada assim. Depois, gravámos as vozes em casa do J.A. de Decayed, e a primeira mix foi feita lá. Mais tarde, depois de ter andado um pouco às voltas com o som do álbum, o João Galrito acabou por nos fazer a mistura final.
GOSTO IMENSO DA CAPA (COM O ESTILO “ESBORRATADO” DE UM FANZINE FEITO EM CASA E FOTOCOPIADO) E DAS FOTOS PROMOCIONAIS (A PRETO E BRANCO E EM CEMITÉRIOS DO MAIS TRADICIONAL QUE POSSA HAVER). QUEM A CONCEBEU E PORQUE ESCOLHEU ESTA ESTÉTICA? NH: Fizemos duas sessões fotográficas, uma nos S.A.T.H.R. e outra no cemitério, e depois as coisas compuseram-se, foi fluido. Nem sabemos ao certo como ocorreu. Sabíamos sim que queríamos algo mais old school e com colagens. Pode ter demorado mais mas valeu a pena.
JÁ RECEBERAM ALGUMAS CRÍTICAS?
QUE PLANOS TÊM PARA PROMOVER ESTE ÁLBUM? V: Vamos dar concertos, basicamente é isso. Toda a promoção do álbum está a ser feita pela War Arts.
QUANDO DEREM CONCERTOS, VÃO ESTAR APENAS OS DOIS OU TENCIONAM CONTRATAR MÚSICOS DE SESSÃO? NH: Teremos o J Goat de Corpus Christii no baixo, quando lhe for possível. Ele tem sido o nosso baixista de sessão e tem sido uma grande ajuda mesmo no artwork e mais coisas.
JÁ TÊM BANDAS PREVISTAS PARA “CONTRACENAR” CONVOSCO? NH: Na Alemanha, temos os AIN e Weiran, não sabemos de mais nada. Mas ainda é cedo para termos certezas. Com sorte teremos mais propostas.
CONCERTOS. NH: Já falei o suficiente sobre isso, especialmente com o Black Metal. Se acham difícil arranjar sítios para tocar com bandas de Metal, tentem então com uma banda de Black Metal old school, isto dizendo com o devido visual/filosofia. Fuck post Black Metal! V: A cena do metal em geral está muito dispersa, com muitas ramificações em todos os géneros. E depois ainda há os hypes e trends. Existem bares e locais onde se pode tocar, mas também é preciso público e apoio. As bandas precisam de fazer o mínimo de dinheiro para ensaiarem, para terem material e para terem como se deslocarem para os concertos. E é isso que nós fazemos. Só tocamos, se existirem condições para isso.
QUE PODEM DIZER-NOS SOBRE A SOLIDARIEDADE QUE EXISTE ENTRE ALGUMAS BANDAS DE METAL PORTUGUESAS, QUE FAZ COM QUE, COM P OUCOS MEIOS, SE POSSAM ORGANI ZAR PEQUENOS FESTIVAIS MUITO DO MEU AGRADO? NH: Há bons e maus festivais, há bons e maus promotores, há bons e maus fãs, etc. etc. Nada mais a dizer. V: A solidariedade só existe entre amigos.
HÁ ALGUMA MENSAGEM EM ESPECIAL QUE QUEIRAM DEIXAR AOS NOSSOS LEITORES? NH: Viva Santa Muerte! V: Obrigado à Versus Mag por esta entrevista. …O mundo morreu! https://www.facebook.com/ MorteIncandescente/ https://youtu.be/e-aXccmTQG8
QUE TÊM A DIZER-ME SOBRE O RECENTE “ENCOLHIMENTO” DA CENA METAL NOS ÚLTIMOS ANOS? PARECE QUE CADA VEZ HÁ MENOS SÍTIOS ONDE SE POSSA ASSISTIR A 97 / VERSUS MAGAZINE
ANTRO DE FOLIA
Olhando para o que foi feito até hoje, é mais do que evidente que o mundo do cinema/ TV nunca nos foi muito favorável, havendo muito poucos filmes baseados em figuras do Heavy Metal ou em todo o díspar universo criado pelas bandas da chamada “cena metálica”, não passando muitas das vezes do Rock. Alias, foi com enorme surpresa que a nova série “Billions” de 2016, incluído os Metallica no episódio 4 da primeira temporada – actualmente em exibição, tendo, imaginem, dada a oportunidade ao próprio James Hedfield de contracenar com um dos dois protagonistas da série. Este género de “publicidade” é de uma raridade, tal que quando aparece, regurgitamos de alegria. Esta cena claramente suplanta a “participação” fugaz dos Judas Priest no episódio 9 da temporada 25 dos “Simpsons”, o qual até causa, depois um pedido de desculpas do Bart, por ter dito que eram uma banda de Death Metal… “Respecting the law, respecting the law”. Falando de séries, não posso deixar de mencionar aqui o momento alto do Death Metal nos “Mythbusters”, quando Adam and Jamie decidem testar o mito que a música ajuda ao crescimento das plantas. Uma das estufas era alimentada por… Death Metal… e não é que foi a que obteve o maior dos crescimentos! Inesquecível. Foi por acaso das minhas leituras mensais que descobri o filme Neozelandês Deathgasm, o meu ponto de partida para esta crónica. Não me lembro de ver um filme tão imerso no nosso universo musical, indo desde as personagens principais, um bando de metaleiros falhados e completamente renegados pelos restantes pares ( e até da família) que decidem formar uma banda, adivinhem, chamada Deathgasm. Já agora excelente nome, até à história em si de evocação demoníaca – tem tanto de inocente como de infantil – através de uma velha pauta musical descoberta num sotão de uma casa velha, história que poderia ser a letra de qualquer banda de black metal ou death metal. Deathgasm é a primeira obra de Jason Lei Howden (conhecido mais por ter participado nos efeitos visuais da trilogia The Hobbit), e é um filme quase underground, que tem circulado essencialmente pelos festivais do género, dos filmes de terror, gore e fantástico. Deathgasm não é um grande filme, está repleto de clichés e está claramente mais virado para um público mais adolescente, mas tem um bom punhado de pontos positivos. O primeiro é o gore visceral que atinge proporções “apocalípticas” e a forma aligeirada, como tal contrabalanço equilibra magnificamente o tom ultra sangrento. Não via tanto gore com tanta displicência da terra dos Kiwis, desde os filmes de culto do Peter Jackson “Bad Taste” (Carne Humana Precisa-se) e “Braindead” (Morte Cerebral). O segundo ponto positivo é a forma eficaz e funcional como foi realizado e a terceira é o tom bem vincado Heavy Metal que só nos leva a aumentar a simpatia. Se forem ao IMDB – a bíblia web o cinema – e fizerem uma pesquisa por “Heavy Metal”, dos 338 títulos que nos aparece, depois de esmifrado a procura, sobra uma parco punhado de filmes realmente ancorados no Heavy Metal. A maioria são documentários/ concertos de bandas de metal, outra grande parte ou nada tem haver ou enquadram-se mais no rock. Restam os verdadeiros filmes realmente que têm alguma coisa a ver – mesmo que pequena – com metal. O primeiro que destaco é “Uma Estrela de Rock” (2001) com Mark Walhberg, baseado na história da descoberta de Tim “Ripper Owens” pelos Judas Priest. Todos os nomes e referências são fictícios, o “timeframe” foi condensado por razões cinematográficas, mas os momentos chave da realidade estão lá. Até o vocalista da banda que sai na hora para o “puto novo” entrar é “gay”! Seguidamente temos um filme que nunca vi mas que é uma referência, por se tratar de um falso documentário sobre uma banda fictícia chamada Spinal Tab. O filme, evidentemente, só se poderia chamar “This is Spinal Tap”. Decorria o ano de 1984, também por essa altura surgiu um filme de animação de culto, precisamente intitulado “Heavy Metal” que em Portugal acrescentaram-lhe no título “Universo em Fantasia”. Ainda hoje é um título de culto mas não se deixem enganar pelo título, já que as histórias são uma antologia de fantasia e ficção científica, baseados na revista, igualmente famosa, de mesmo nome, 9 8 / VERSUS MAGAZINE
sendo mais fácil ter influenciado o Heavy Metal do que o contrário. Mais recentemente apareceu uma comédia do Adam Sandler no papel de um (mais um ) desalinhado social que gosta de Heavy Metal… e é o filho do diabo. Penso que se enquadra na ala mais satânica do metal, mas o facto de ser uma comédia com conotação “mainstream” acaba mais por ser um filme mais pejorativo do que abonatório à nossa causa. Depois há aqueles filmes que nada ou pouco têm a ver com metal mas lá pelo meio há algo relativo. É o caso da referência aos Iron Maiden no clássico dos 90 “Billy & Ted’s Excellent Adventure” (1989) (A Fantástica Aventura de Bill e Ted), quando numa das viagens temporais para concluir o trabalho de história, trabalho este que pelos vistos é de vital importância para o futuro dos protagonistas, já que no futuro, o Heavy metal será universalemtne reconhecido e é o rei. Na idade média, um carcereiro, diz para os colocar, o Billy e o Ted (Keanu Reeves), na “Iron Maiden”. Por último resta-me referir o Airheads (1994) (Cabeças Ocas), onde 3 membros de uma banda decidem à força passar a sua demo tape na rádio local acabando por sequestrar a própria rádio. O feito torna-se viral – sem redes sociais! - e lá no fim conseguem até dar um concerto de arromba, onde aparece em forma de “cameo” o falecido Lemmy Kilmister dos Motorhead, a dizer que não tem vergonha de partilhar o que foi “o editor do pasquim do secundário”. Aliás, este é mais um simpático filme que hoje o único interesse que tem é o facto dos “desconhecidos” atores que entram, hoje, deixaram de o ser (Adam Sandler, Steve Buscemi, Chris Farley, David Arquette e Brendan Fraser). Evidentemente, não abordei todas as referencias ao heavy metal. É impossível, mas penso que foquei as principais, e, estas são escassas para 3 décadas e meia de filmes e series. Penso que isto se deve à natureza mais underground de todo o meio cinematográfico e outros como o jornalistico,em relação a outros estilos fora do mainstream, o que se reflete nas pessoas que estão neste meio, levando a que, como não lhes dizem nada, não são referenciadas e utilizadas. Ou seja, para o argumentista ou realizador ou mesmo o produtor incluir os Metallica na série “Billions” é porque são fãs em particular e do Metal em geral, caso contrário, teríamos outro artista de outro género qualquer. No média passa-se a mesma coisa, acabando por ignorarem completamente alguns eventos de referencia. Por exemplo, alguém já viu uma reportagem do Vagos Open Air? Eu não, nem nos canais informativos. Por acaso, com morte do Lemmy, fiquei surpreendido com qualidade da reportagem que passaram na RTP. Foi a excepção que confirma a regra. Mas por outro lado, fizeram um programa sobre “a arte elétrica em Portugal” – 5 estrelas! Que fique claro - e nem um referencia ao lado mais pesado do rock. No fundo, falta ao metal, metaleiros em lugares de decisão onde quer que seja, para “meterem a sua colherada”. Para concluir, apenas me resta reproduzir uma das frases emblemáticas de Deathgasm: “The road to hell is paved in metal” [Tradução: A estrada para o inferno é pavimentada com Metal] . Texto: Carlos Filipe
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Dia 28 de fevereiro
TA LVE Z P E L A P REVISÃO DE INT EM PÉRIE PAR A O FI M DE S EMANA, OU P O S S I V ELMENT E P ELA C R E S C E N T E A F LUÊNCIA DO PÚBLICO A O S FES TI VAI S D A C O NCO R R ÊNCI A , ESTA 3 6 ª ED I Ç Ã O D O FA N TA S P O RT O APRESENT OU UM PANOR A MA A LG O D ES A NI MA D O R . JÁ LÁ V Ã O O S T EMP O S D O S B I L H E T E S ESGOTADOS, DOS APLAUS O S D U R A NTE A EX I B I Ç Ã O D O S FI LMES, DO S S TA N D S D E VE N D A D E MERCHANDISING, ET C. DE TO D O O MO D O , O FESTI VAL CO NTI NU A A SER U MA I N S T I T U IÇ Ã O E O QUE INT ERESSA, NO FU NDO , SÃ O O S FI LMES. PO RTANTO, “CÁ VAI A LH O ! ” . Texto: Frederico Figueiredo
Dia 27 de fevereiro “The Lesson” (UK) contou com a apresentação da realizadora Ruth Pratt, a qual caracterizou o filme como um “anti-torture porn”, contrapondo-o à expressão cruel de filmes como o “Funny Games” de Michael Haneke. Partindo desta introdução, imaginei que se encontraria em exibição uma narrativa que relegasse a exploração da violência e crueldade em prol de uma análise mais súbtil e contemplativa. Enganei-me, pois o filme continua a ser uma demonstração gráfica de tortura sob um cínico véu de moralismo. Neste caso, a crueldade é aplicada por um prostrado docente a um grupo de bullies, seus alunos. Esta inflexão acaba por ser legitimizadora da crueldade, tornando o filme, paradoxalmente, mais imoral. Cinema marcado por filmes como “Salò”, “Funny Games”, “Irreversible” ou “Martyrs” é relevante pois explora os conceitos de violência e crueldade por aquilo que são: exercícios gratuitos. Existe uma “inocente” transparência na forma como a temática é abordada, sendo transmitida como incompreensível e portanto desprovida do factor de redenção. “The Lesson” por outro lado, apresenta a crueldade como forma reativa de frustração. A veleidade de dignificar a violência subtrai-nos qualquer hipótese de reflexão, oferecendo-nos “gratuitamente” conclusões já mastigadas. A violência não é menos gratuíta por ter uma razão... de qualquer forma, até preferiria que tivesse sido completamente gratuita, pois sempre teria poupado os 5 euros do bilhete. Com o cansaço a morder-me as pálpebras, tentei assistir a um filme húngaro sobre insónia - “My Night Your Day”. A atenção ao filme foi derrotada por personagens saídas de uma loja de manequins, um fraco enredo e, sobretudo, a péssima exploração cénica da intrigante cidade de Budapeste. Algo desencorajado, voltei para um terceiro round. Desta vez contra um adversário argentino de nome “Francesca”. Agora sim! Um adversário condigno. O Fantas voltou a presentear-nos com um filme revivalista dos gialli italianos da década de 70 (à semelhança de filmes apresentados em edições anteriores, como “The Strange Color of Your Body’s Tears” ou “Berberian Sound Studio”). Como fã do género, não pude deixar de ser arrebatado pelo fetishismo dos tons garridos, o voyeurismo dos close-ups, a sensualidade da banda sonora, o protagonismo das típicas luvas de cabedal do assassino e a inventividade das formas de homicídio. Este produto de dobragens mal amanhadas e efeitos rudimentares, redimiu as exibições prévias e saciou, satisfatoriamente, a sede de um genuíno filme de terror à moda antiga. Dei o dia por terminado no Rivoli e fui revisitar um dos principais pontos turísticos desta saudosa cidade: “Pedro dos Frangos”. Um tasco em que o lema é: “mais vale fazer mal que sobrar” (a qualidade da comida é inquestionável, tal como o preço dos pratos e atenciosidade dos seus funcionários). Mais do que tomar uma refeição, o balcão providencia uma verdadeira experiência etnológica. Após ter depenado meio frango, segui para outro ponto de referência: Maus Hábitos (para atividades narradas algures nesta edição).
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“Hellions” (Canada) apresentou-nos mais uma entediante revisitação da temática do Halloween. A recorrência aos estereótipos do género, cada vez mais se torna um atalho para a criatividade. Nem todos os medos e angústias têm de ser enquadrados em padrões sobrexplorados e estilizados, sendo a falta de espontaneidade o maior garrote na expressão do cinema de terror. Uma vez que esta 36ª edição incidiu no Cinema da América Latina, seguiu-se uma dose dupla de cinema argentino. Desta feita, com dois filmes de Ivan Noel. “The Returned” abordou a temática de experiências médicas em crianças e a saciação de vingança (pós-morte) nos respetivos malfeitores. Um filme marcado por um “liricismo” visual melodramático, com alguns pontos de interesse. Porém, este acabou por ser sabotado por um enredo tão ténue quanto a profundidade de campo dos planos que aí proliferaram. “Children of the Night”, igualmente populado de crianças, resulta de uma mistela de síndrome de Peter Pan e vampirismo, em que uma (de muitas) comunidades de crianças vampiros se preparam para dominar o mundo. O filme é tão desinteressante quanto a sua premissa e como bónus, tivemos direito ao mesmo tipo de indulgência sentimental do filme anterior (parcialmente redimido por pequenos apontamentos de humor, como o recurso à barriga de um caçador de vampiros como pipa de sangue). Em suma: um filme que conseguiu ser mais pueril que o elenco que empregou.
Dia 29 de fevereiro “Anti Social” (UK) refletiu uma espécie de ensaio sociológico – baseado em factos reais – sobre os condicionamentos do meio suburbano numa juventude desencantada. Uma história de dois irmãos que seguem o seu percurso à margem da lei. Um, pela via artística de rua (refiro-me ao estilo de Banksy, e não do tipo que faz malabarismos nas passadeiras de estrada quando o sinal fecha para o trânsito); o outro, pela via mais convencional do crime: assalto à mão armada, tráfico de droga, agressão... enfim, um criminoso à moda antiga. Tratou-se de um filme de mediano entertenimento, cujo único aspecto fantástico foi o facto de se encontrar a concorrer neste festival. Por falar em fantástico, “The Lure” revelou-se o filme mais nipónico do festival (pelo menos, dos que eu assisti...), com a particularidade de ter sido realizado por uma polaca. Duas sereias dão à costa e, por portas e travessas, vão ter a um bar de striptease, aparentemente esquecido na década de 70. De entre as inúmeras curiosidades desta película, aprendemos – graficamente – que as sereias, quando se transformam em humanas, perdem os orifícios abaixo do ventre. Aprendemos também – graficamente – a localizá-los quando regressam à sua anatomia original. Intrigados? Posso-vos garantir que a partir daqui, é sempre a escalar. Um dos momentos marcantes sucede aquando da salvação das nossas heroínas, de desidratação, sendo as mesmas atiradas para uma piscina (olímpica), convenientemente localizada nas traseiras do referido strip club. Outra pérola de indignação remete-nos para um diálogo entre a senhora do bengaleiro e uma das jovens sereias, perguntandolhe a primeira (no meio de um discurso de incitação tabagística) se a moça quer, ou não, ter uma vagina! Eh pá... mais fantástico que isto, é difícil (a menos que houvesse algum filme do Takashi Miike em exibição).
Dia 1 de março Antes de dar a odisseia cinematográfica como terminada, decidi retomar o meu percurso turístico. Estabelecimentos como o “Catraio – Craft Beer Shop” deveriam portar a advertência dantesca: “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança...” de permanecer sóbrios. Condeno (da forma mais amigável e benevolente possível) o casal Ricardo e Bea, por me terem seduzido a perder duas sessões do Fantas. Em boa verdade, a julgar pela qualidade da oferta desta 36ª edição, o efeito persuasivo não necessitaria de ser particularmente acutilante. Após apreciação de uma refinada “barrel aged imperial stout”, de uma exclusiva “black IPA” da casa e de uma “pilsner” Lindinha (na companhia de seu autor – Diogo), segui o caminho de volta ao Rivoli, para assistir a um dos filmes da rúbrica “Orient Express”. Os filmes que se enquadram nesta categoria subdividem-se em dois grupos: os frenéticos (marcados pela exuberância dos efeitos especiais) e os ultrajantes (caracterizados pela capacidade de desinquietar). Infelizmente, “I am a Hero” (Japão) é marginal, não sendo propriamente gratuito na generosidade de gore, nem retorcido ao ponto do desconforto. Tratou-se de (mais) uma interpretação do “Dawn of the Dead” de George Romero, desta vez produzido pelos célebres estúdios Toho. Para além de efeitos especiais convincentes e do mérito de (finalmente) fazer soar aplausos nos pontos altos da carnificina, não trouxe nada de entusiasmante.
Desta forma, dei como encerrada uma maratona - muito tépida - de cinema fantástico, ansiando por uma 37ª edição do festival com uma escolha mais cuidada.
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