Versus#39 Mar/Abr 16

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BORKNAGAR CI RCUS MA X I M US

BAR ONESS L I V E L AS T I N LIN E

REPORT

DICO - BHMP O M N IU M G A T HERU M


I´ N D I C E

EDITORIAL

vErSUS

Nº39 MARÇO / ABRIL 2016

vErSUS MAGAZINE

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V E R S U S M A G A Z IN E

36

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EDITORIAL

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D IR E C Ç Ã O

O(S) CONCERTO(S) DO ANO? J á fe z c o r re r mu i ta ti nta d esd e que a notícia saiu: Axl Ro s e s u b sti tui B ri a n Joh n son. Agor a e após o c o n c e r t o a ti nta c o n ti nu a a jor r ar. Axl Rose c o n t i n u a a d i vi d i r op i n i õe s, n o e ntanto, as cr íticas m a n i f e s t a d a s p o r q u e m assi sti u ao concer to é c o n s i d e r a r q u e a su a p re sta ç ã o foi excelente. Ap ó s a n o t í c i a d e q ue o V OA ir ia de ar m as e ba g a g e n s p ara C orro i os, e i s que a Câm ar a M u n i c i p a l d e Va g os an u n c i a “q u e ir á cr iar um novo f e s t i v a l , f i r m an d o uma p a rce ri a com um ‘consórcio de p re s t í g i o ’ n ã o re ve l ad o. C e r to é que a 13 e 14 de A g o s t o s e i rá rea l i za r u m festival na Quinta do E g a , e m Va g os, cu j os d e ta l hes e car taz ser ão po s t e r i o r m e n te a n u n c i ad os.” Va m o s l á v e r o q u e esta “g u e rra” nos ir á tr azer, o m e s m o s e r á d i ze r q u e a c o munidade m etaleir a a gu a rd a a n s i osa men te p el a d i vu lgação do car taz. Eduardo Ramalhadeiro

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O

Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES

F O T O G R A F IA

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2 / VERSUS MAGAZINE

HAKEN

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Hugo Melo, Ivo Broncas, Miguel Ribeiro (Hintf) e Nuno Kanina (Hintf)

C ON TE ÚDO 04 05 06 08 12 14 16 17 18 24 28 44 48 66

NOTÍCIAS VE RSUS TRIAL BY F IRE BORKNAGAR CIRCUS MAXIMUS VARG GRE L OS DE HORTE L Ã MOSH PL AYL IST VE RSUS MISS CADAVE R ANTRO DE F OL IA L AST IN L INE OMNIUM GATHE RUM B REVE HI STO RI A METAL PORTU GUÊS

MARCE L O VASCO

72 74 78 80 84 88

E -AN-NA HORNWOOD F E L L GARAGE POWE R

90 92 94 96 98

CANTIQUE L E PRE UX SE LVANS PAL E TE S ÁL BUM VE RSUS

#

Monolith Moon

SOTO CANTE RRA TOTAL HATE

#

Sinistro - «Semente»

CRÍTICAS VE RSUS

106 GRABAK 110 REFLEXÃO SOBRE

O LIVRO BREVE HIST ORIA METAL PORT UGUÊS

114 LAUGHBAN GI N G 118 LI VE VERSUS # Baroness entrevista

# # # # #

Correia entrevista Dead Lord entrevista Sinistro Van Canto The Watch

136 SULPHUR 138 M I A

# Nirvana

142 VORKREI ST 144 T HE DEM ON ST EALER 3 / VERSUS MAGAZINE


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NOTICIAS

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TRIAL BY FIRE

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ANTHRAX

HEAVENWOOD NA MASSACRE! Os portugueses HEAVENWOOD voltam a assinar com a Massacre Records e irão lançar o seu novo álbum “The Tarot of The Bohemians - Part 1” no 24 de Junho de 2016. O vocalista Ricardo Dias adiantou: “A Massacre é uma das maiores editoras de metal da Europa que ajudou a desenvolver o metal mundial durante vários anos. É com alegria, esforço e lembrança que os Heavenwood voltam para a sua segunda casa: a Alemanha!”

SEBADELHE METAL FEST EM MAIO O Sebadelhe Metal Fest (em V. N. de Foz Côa) divulgou o seu cartaz para a edição deste ano. As bandas a actuar serão: SWITCHTENSE (Moita), DEMENTIA 13 (Porto), FOR THE GLORY (Lisboa), RAW DECIMATING BRUTALITY (Guarda), TALES FOR THE UNSPOKEN (Coimbra), EXTREME R ​ ETALIATION (Braga), WITHOUT F ​ ACE (Braga). Página do evento: http://sebadelhemetalfest.weebly.com/.

C R EMAT O RY

For All kings (Nuclear Blast) MÉDIA: 2,8

D E S TR O Y E R S O F A L L B le a k F ra gme n t s (Mosher Records) MÉDIA: 3,3

M onum ent (Steamhammer SPV) MÉDIA: 2,7

C A R L O S F.

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EDUARDO R.

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F R E D E R I C O F.

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ADRIANO G.

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HUGO M.

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EN T O MB ED A D

H EA D S PA C E

Dead Dawn (Century Media) MÉDIA: 3,2

A l l That You Fear i s Gone

IH S A H N

A rk t is (Spinefarm Records) MÉDIA: 3,0

(InsideOut Records) MÉDIA: 3,4

C A R L O S F.

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EDUARDO R.

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ADRIANO G.

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HUGO M.

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Entrada livre.

O C EA N S O F S LU MB ER

OPETH LANÇAM “COMMUNION PALE ALE” A Northern Monk Brew Co. acaba de lançar a “Communion Pale Ale”, a segunda cerveja em colaboração com os Opeth. Trata-se desta vez de uma pale ale onde se poderá esperar aromas a pinho, especiarias e citrinos. Excelente para se refrescar durante concertos, segundo a marca. O preço deve rondar os 4 euros (£2.69) e poderão obter mais informações no link http://honestbrew.co.uk/product-category/opeth/

O C T O B ER T I D E

Wint er (Century Media) MÉDIA: 3,2

VA N C A N TO

Winged Walt z (Agonia Records) MÉDIA: 3,0

T h e B a rdc a ll (EAR Musi) MÉDIA: 2,

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

F R E D E R I C O F.

F R E D E R I C O F.

F R E D E R I C O F.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

HUGO M.

HUGO M.

HUGO M.

ZA K K W Y LD E

RANDY BLYTHE COOPERA NA ESCRITA DE UM GUIÃO PARA UM FILME COM BILLY BOB THORNTON O vocalista dos Lamb of God não presta apenas voz aos Lamb of God mas também a pena, ao colaborar com o realizador Rob Fenn na escrita do filme “You, Me And a ‘63”, que segue Fenn através dos estados unidos no seu Ford Thunderbird de 63 (daí o nome) e onde a história é narrada pelo Thornton. Blythe já tinha revelado o gosto pela escrita, onde já editou um livro sobre o que passou na prisão checa, chamado “Dark Days”.

Book of Shadows (Spinefarm Records) MÉDIA: 1,9

C A R L O S F.

Obra - Prima Excelente Esforçado

EDUARDO R. F R E D E R I C O F.

Esperado

ADRIANO G.

Básico

HUGO M.

(Imagem tirada de http://www.overdrive.ie)

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BORKNAGAR COM O ESPECIFICA OYSTEN, ES T E Á L B U M E V O C A A N E V E E O F R IO , M A S A S SUAS PALAVRAS SOBRE ELE E S T Ã O C H E IA S D O C A L O R H U M A N O D E 2 0 A N O S PARTILHADOS COM O S C O M PA N H E IR O S D A B A N D A . Entrevista: CSA PODES COMENTAR PARA NÓS A MAGNÍFICA CAPA DESTE ÁLBUM? É DO MESMO AUTOR DAS DE «UNIVERSAL» [2010] E «URD» [2012]? O ESTILO GRÁFICO É SEMELHANTE.

QUE PAPEL DESEMPENHA «WINTER THRICE» NA HISTÓRIA DA BANDA?

QUANDO LI A INFORMAÇÃO SOBRE ESTE ÁLBUM QUE A VOSSA EDITORA DISPONIBILIZOU, FIQUEI SURPREENDIDA PELO FACTO DE BORKNAGAR SER UMA BANDA COM UMA HISTÓRIA DE 20 ANOS. PARA MIM, VOCÊS SEMPRE ESTIVERAM AQUI, TALVEZ POR TODOS OS ELEMENTOS DA BANDA SEREM GRANDES NOMES DA CENA METAL MUNDIAL (COMENTÁRIO EXTENSIVO AO NOVO E MAIS JOVEM ELEMENTO, QUE VEIO DE LEPROUS). VISTO 2016 SER O ANO DE UM ANIVERSÁRIO IMPORTANTE PARA BORKNAGAR, PODES DIZER-NOS COMO TENCIONAM COMEMORÁ-LO? TÊM ALGUNS PLANOS ESPECIAIS? OYSTE N : Na realidade, eu pus a banda em ação em 1994, apesar de o primeiro álbum só ter sido lançado em 1996. Portanto, é mais o 20º aniversário do lançamento do álbum do que da criação da banda. Mas, as estrelas parecem estar num alinhamento positivo para nós este ano, já que, 20 anos depois, estamos a lançar o nosso 10º álbum. Não pretendemos fazer nada de excecional, mas vamos tocar em bastantes festivais no verão e temos planos para fazer uma curta digressão europeia. Portanto, vamos aguardar e ver o que acontece. Para mim, lançar este álbum é, de longe, a melhor maneira de celebrar a nossa história e essa ideia também fez parte da motivação para a sua gravação. Queríamos que fosse especial, talvez mesmo mais do que os anteriores.

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O Y S T EN : É sempre importante para mim lançar um novo álbum, no contexto da nossa “história musical”. Dado o contexto em que este álbum surge (acima referido), de certo modo, representa para nós o culminar das nossas aventuras musicais. Portanto, de muitas formas, é um marco para nós como banda e esperamos que também seja para os nossos fãs.

QUE ELEMENTOS PODEMOS ENCONTRAR NESTE ÁLBUM DE UMA BANDA QUE AFIRMA TER COMO PRINCIPAL PROPÓSITO MISTURAR NA SUA MÚSICA TUDO O QUE APARECER À MÃO? PARA MIM, «WINTER THRICE» PARECE UM ÁLBUM MUITO ÉPICO. O Y S T EN : Hmm… Para mim, é sempre importante fazer música que esteja em sintonia com a minha perspetiva sobre a vida em geral e a vida humana em particular. A vida é complexa. É difícil contemplar todos os aspetos que cabem no seu espetro: os lados bons e maus, as coisas mais próximas e as mais afastadas, etc. Por conseguinte, vais encontrar uma grande diversidade de elementos neste álbum, mas, de facto, a sua faceta grandiosa e épica é inegável.

COMO FAZES PARA GERIR TODOS ESSES ELEMENTOS E FAZER DELES UM ÁLBUM? E TAMBÉM PARA DIRIGIR OS OUTROS ELEMENTOS DA BANDA (MESMO QUE O FAÇAS COM GENTILEZA)? O Y S T EN : Isso é facilitado pela nossa paixão incansável pela criação de música. Já faço isto – compor

OYST EN: Sim, mais uma vez, convidámos o “mago” brasileiro – Marcelo Vasco – para a fazer. Como não se trata de algo muito concreto – como um sinal de trânsito – recorremos a uma abordagem abstrata. Queríamos que a capa do álbum pudesse funcionar como uma representação visual da música que nele figura: a atmosfera, a profundidade, a vastidão, etc. música – desde os 15/16 anos. Em breve, terei 41. Portanto, acho que já tivemos tempo de encontrar a nossa maneira própria de lidar com tudo isso, a fim de concretizar as nossas “visões musicais”. Neste caso, a rotina parece ajudar. No fim de contas, o que nos permite criar a música que fazemos é a nossa persistência, o trabalho duro que fazemos desde o início. Não há magia no mundo da música.

PORQUE CHAMARAM A ESTE ÁLBUM «WINTER THRICE»? OND E ESTÃO OS TRÊS ELEMENTOS QUE O TÍTULO EVOCA? O Y S TE N: O título refere-se a uma crença da mitologia nórdica. De acordo com esta, vai haver três invernos de seguida, sem pausa (fimbulvinter) antes do fim dos tempos, do mundo (Ragnarok). Foi daqui que saiu a ideia que deu origem a este título. Por outro lado, num dos nossos álbuns anteriores – «The Olden Domain» [o segundo álbum, lançado em 1997] – tínhamos uma canção intitulada “The Dawn of the End”, de cuja letra fazia parte o seguinte verso:

“Autumn twice, winter thrice”. Por conseguinte, este álbum é uma espécie de referência à nossa história musical anterior.

PODE-SE DIZER QUE OS MÚSICOS DE METAL ACHAM O INVERNO FASCINANTE? OU HÁ ALGUMA OUTRA RAZÃO PARA A POPULARIDADE DE UMA ESTAÇÃO DO ANO QUE, DE UM MODO GERAL, É VISTA COMO POUCO AGRADÁVEL. (ACRESCENTO QUE NÃO TENHO ESSA OPINIÃO SOBRE O INVERNO.) OYST EN: Para nós, este título é filosófico, não é para ser entendido à letra. O tema escolhido evoca imensa neve (haha), mas o título e as letras do álbum têm um sentido mais profundo do que isso. É um álbum mais pessoal, mais ligado a questões existenciais, como a vida e a morte, o círculo da vida e outras questões dessa natureza. Mas, acima de tudo, não queremos dar lições sobre nada, preferimos dar liberdade ao ouvinte para forjar a sua própria interpretação do significado da nossa mensagem musical.

PODEMOS CONSIDERAR QUE ESTES ÁLBUNS FUNCIONAM COMO UMA ESPÉCIE DE TRILOGIA? OYST EN: Não, não era essa a intenção. Mas percebo por que fazes essa pergunta.

JÁ RECEBERAM ALGUMAS REAÇÕES A ESTE ÁLBUM? OYST EN: Sim e, até ao momento, foram mais que positivas. Pelo que pude ver, as críticas são muito boas. Foi escolhido para “álbum do mês” por várias revistas, está nos tops da Alemanha, da Suíça e da Finlândia. E, neste preciso momento, está no Official Billboard Charts. Portanto, está numa situação extraordinária.

PARA TERMINAR, VOU FAZER UMA PERGUNTA SOBRE UM PORMENOR QUE ME DEIXA CURIOSA. NA MINHA PRIMEIRA ENTREVISTA A BORKNAGAR (FEITA QUANDO SAIU «UR», EM 2012), O JENS FALOU DO FACTO DE OS MEMBROS DA BANDA TEREM FILHOS. COMO REAGEM ELES AO FACTO DE

OS SEUS PAIS SEREM MÚSICOS DE METAL? TENCIONAM SEGUIR O VOSSO EXEMPLO, OU CONSIDERAM O VOSSO ESTILO DE VIDA UM TANTO ESTRANHO? OYST EN: Bem, os meus filhos cresceram com esta situação em curso, portanto não conhecem outra forma de vida. Estão habituados à ideia de que o pai viaja muito, passa muito tempo no estúdio, etc. Penso que a minha filha de 13 anos acha tudo isso porreiro, às vezes até usa t-shirts de Borknagar na escola, etc. É engraçado. O meu filho de 8 anos anda a aprender a tocar guitarra, portanto, de vez em quando, até temos sessões juntos, ao serão, o que é fixe, muito fixe mesmo. Para já, os meus filhos ainda são demasiado jovens para saberem ao certo o que querem ser no futuro. De qualquer modo, tenciono apoiá-los, independentemente da profissão que escolherem. Mas não tenciono “empurrá-los” para a música, eles têm de fazer as suas escolhas.

TENS ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL A DEIXAR AOS FÃS PORTUGUESES? OYST EN: Obrigado por todo o apoio que temos recebido dos fãs e amigos portugueses. Esperamos passar um dia por aí, para um concerto e algum convívio. Saudações a todos! www.facebook.com/borknagarofficial/ y o u t u . b e / Z o a 9 w 7 W B _ Xo?list=RDNDrrKv2wjvk

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“9”+1 = Havoc “ N i n e ” f o i um d o s grande álbuns de 2012. Este f ac t o a c a r r e t a mais responsabilidade quando chega a ho r a d e p a r t i r p a r a o u tr o registo. «Havoc», tal como o n o m e i n d ica é pura destruição. Calma... destruiç ã o m as da boa! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Adriano godinho


Olá Michael, parabéns por este extraordinário album! Conseguiram novamente, fizeram um bom trabalho e só tenho lido coisas muito positivas sobre este «Havoc». Olá Eduardo, muito obrigado. As impressões recolhidas até agora têm sido muito boas, por isso pode-se dizer que estamos mais do que apenas satisfeitos. Começando pelo título, «Havoc» pode ter vários significados: devastação, destruição, massacre, entre outros; Porquê um nome com tal significado como título? Haha, bem era suposto ter sido “Flames” mas tivemos alguns comentários de colegas e amigos que nos disseram que o título e gráficos da capa teriam demasiados elementos parecidos com a banda de sueca “In Flames” por isso procuramos pelos nomes dos títulos e achamos que o nome «Havoc» tinha um toque especial; por isso aí tens. Presumo que o título está de alguma forma relacionado com as letras das músicas. Trata-se de alguma forma de um álbum conceptual? Não, não é um álbum conceptual, apesar de haver uma linha de continuidade ao longo do álbum. O ouvinte é levado por experiências de vida tais que amor, ódio, morte, etc. O vosso símbolo é igualmente novo. Qual o significado e de quem foi a ideia da capa? A verdade é que varremos todo o tipo de ideias para o símbolo que hoje vês. Como foi dito, era suposto o trabalho ser chamado “Flames” e se pesquisares “fire and flames” surgem vários triângulos. Por isso a parte gráfica tem muitos triângulos sobrepostos; o produto final faz lembrar uma cabeça de robôt que viria dos “Transformers”, fez-nos pensar num possível “Mr. Havoc”, um super-herói de morte e destruição, tipo o “Eddie” dos Iron Maiden.

Musicalmente falando, o anterior “Nine” (que achei dos melhores álbuns de 2012) soa-me agora mais fácil de ouvir, muito directo e melódico. No entanto «Havoc» requereu algumas audições para apreciar. Um quanto tanto estranho, mas depois de algum tempo não conseguia largar! (o que não ajudou, tenho muitos outros álbuns para ouvir). Concordam com a minha percepção? O que mudou entre «Nine» e «Havoc»?

aproximar tanto do micro que tocava com os lábios da rede, para sussurrar as palavras. Na ponte em “Loved Ones” podes perfeitamente ouvir quão suave é a voz. É como se estivesse perto do ouvinte, a sussurrar-lhe ao ouvido. Adoro isso.

Haha, uma coisa é certa, quem comprar um album dos Circus Maximus não vai conseguir digeri-lo tão rápido quanto um hambúrguer de um qualquer restaurante fast-food (rápido a entrar e rápido a sair). O álbum leva o ouvinte a uma viagem, abrindo novas perspectivas a cada nova audição. Isto não é algo que temos como objectivo mas é o resultado do nosso trabalho árduo e apaixonado pela criação musical. Como disseste, o álbum cresce em nós; tivemos fãs a queixarem-se de quão maus o single era; e mais tarde voltarem atrás com a opinião e dizer que a música que ao princípio não gostaram era agora a sua preferida. Fico contente de saber que também gostaste do «Nine».

Como falado antes, o Mats tem ouvido para tudo. Ele sabe o que quer e tem toda a nossa atenção quando diz precisar de algo para uma música. Ele escreve tudo até ao ínfimo detalhe, tanto para a bateria, as teclas ou as vozes.

Esta mudança foi intencional? Quando estávamos a compor tentamos sempre seguir as ideias que temos nessa altura das nossas vidas. Em 2010/11 quando escrevemos o «Nine» ouvíamos outra, para «Havoc» foi diferente. Portanto se a música soa diferente significa que também somos diferentes; mas como regra quando compomos é sempre o que queremos e o que gostamos. No álbum anterior, «Nine», a maioria das músicas foram compostas pelo Mats. Também foi o caso para este trabalho? (Eu quase que me atrevo a perguntar: “The Songs Remain the Same”?) (risos) Mats é o principal autor nos CM e será sempre assim. Em «Nine» todos contribuímos com ideias enquanto que em «Havoc» ele foi “abandonado” para criar o que bem entendesse. Pode-se dizer que confiamos-lhe as nossas vidas (risos) O pessoal contribuiu com partes aqui e ali, e também nas letras. Estamos muito orgulhosos do resultado final. Como é para ti interpretar textos escritos por outra pessoa? Acrescentar os teus sentimentos em palavras de outra pessoa? Revemos sempre o significado dos textos quando tentamos estudar a melhor forma de os cantar. Durante a gravação das vozes, por vezes tive de me manter fora da cabine de gravação para poder utilizar toda a força da minha voz; e por vezes tive de me

O album tem uma muito boa produção, conseguida pelo Mats. Como é ter como colega, o produtor do vosso trabalho?

Numa escala de 0 a 10, sendo 10 correspondente a “chato-mor”, como o descreverias como produtor? Haha, ele é o meu guia, por isso não quereria alguém além dele no estúdio comigo. Confio nas suas decisões. Achas que com este trabalho conseguem dar mais um passo em se tornarem uma referência na música progressiva? Certamente, mas haverá sempre pessoas resistentes à mudança. Preferem que as “suas” banda soem ao mesmo, sempre. Isto porque procuram nos novos álbuns, as emoções que sentiram nos trabalhos anteriores; mas isso é simplesmente impossível. O meu álbum favorito de sempre é dos Def Leppard, o “Hysteria” e a meu ver não é possível voltarem a alcançar o mesmo nível que esse álbum; porque atingiu-me no momento certo da minha vida. Ainda ouço outros trabalhos deles, mas esse foi o que teve impacto. Estou a ver o vosso novo vídeo “Remember” https:// youtu.be/D5YZmYFJ86I e ao ler os comentários dos vossos fãs, parecem estar divididos sobre se este trabalho é “pesado”. Achas que um dia vão ter álbuns mais pesados, como se pode ouvir em “Havoc”, “Used”, “Wither”, deste trabalho, ou “Sin” do álbum anterior? Temos tantas ideias guardadas de outras sessões de composição que poderíamos facilmente lançar um novo álbum de metal progressivo, rock progressivo ou então prog neoclássico. Temos montes de ideias por isso fiquem atentos que a viagem apenas agora começou! (risos) Em relação ao vídeo, parece-me ser algo pessoal visto mostrar fotos tuas quando pequeno, qual é a história deste vídeo? E qual é o significado do símbolo na testa das pessoas? Sim, o video é tão fenomenal que nos tocou a todos. As fotos são reais, da nossa infância, juventude e até termos sido pais. O refrão revela tudo: “Remember when it all caves in the marks we bare that makes us win”. Cada um de nós tem a sua história, que nos torna nós-próprios e ninguém nos pode tirar isso.

Em 2012 gravei um video da minha filha a fazer headbanging ao som da música “Used”. Esta semana ela pediu: “Mete música que eu goste!”; pensei que talvez o novo dos CM fosse já demasiado pesado mas tentei, ela começou a tocar air drums! Raios parta, penso que agora vou ter de montar a minha bateria na garagem para ela tocar! (risos) Agora ela pede-me para tocar a “Used” mas também a “Loved Ones”. Podes nos dizer algo sobre estas duas músicas? (risos), é bom saber da tua filha, agora vai lá buscar a bateria para ela! (risos). Penso que essas duas músicas têm aquele típico som “CM”, por isso é proválvel que agrade a fãs de mais longa data. Sobre a letra não posso revelar demasiado, até porque gostamos que o leitor faça a sua interpretação. Lembro-me uma vez de ter interpretado a letra de uma música que tinha ouvido e gostava, e que quando ouvi a explicação dos músicos estragou a música para mim, porque eu tinha uma ideia completamente diferente. Truls deixou a banda temporariamente, como está a correr a sua recuperação? Bem, ele nunca deixou a banda, ele magoou-se no joelho e não pôde seguir-nos na digressão europeia. Ele ainda está a aguardar pela cirurgia, estamos todos a apoiar e esperamos que corra tudo bem. Ele foi pai novamente recentemente (parabéns) e na nossa última entrevista (em 2012) disseste que foi fácil organizar tudo graças a isso. Ainda achas isso? (risos), bem, é mais fácil agora porque todos nós temos crianças e todos sabemos o que requer criar filhos. Não podes simplesmente deixar tudo pra trás para ir tocar com a banda, tudo precisa de ser gerido. Como está o novo baterista, Frank Norden Røe a adaptar-se à banda e à música? O Frank já tinha tocado conosco previamente noutras ocasiões por isso conhece a nossa música. É muito dotado um dos melhores bateristas noruegueses de música progressiva. Ele fez um óptimo trabalho durante a digressão, sem dúvida. Muito obrigado e esparamos ver-vos por Portugal em breve! Muito obrigado Eduardo e keep rockin’! E vai montar a bateria! (risos) Tudo de bom. https://www.facebook.com/circusmaximusband/ http://www.circusmaximussite.com/ https://youtu.be/D5YZmYFJ86I


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ENTREVISTA

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VA R G

LOBISOMENS REVOLUCIONÁRIOS

JÁ TENTEI ENTREVISTAR VARG POR «ROTKÄPCHEN», O VOSSO LANÇAMENTO ANTERIOR. HÁ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ESSE EP E «THE END OF ALL LIES»? MANA GARM : A única ligação entre os dois decorre da presença, em «Rotkäppchen» de duas canções que ainda não tinham sido publicadas. Foram criadas durante o processo de composição de «The End of All Lies». Pareceu-nos que ficavam melhor nesse EP do que no álbum.

OS DITADORES PARECEM GOZAR DE GRANDE POPULARIDADE JUNTO DAS BANDAS DE METAL. DE FACTO, RECENTEMENT ENTREVISTEI UMA BANDA FRANCESA QUE LANÇOU UM ÁLBUM INTITULADO «AUTOKRATOR». ÉS CAPAZ DE EXPLICAR AS RAZÕES DESTA “SIMPATIA”? MANA GARM : Não me pronuncio sobre os outros. Mas penso que, de um modo geral, as bandas de música extrema (Metal, Rock e Punk) sempre foram constituídas por mentes críticas. Sempre procuraram fazer uma revolução, não te parece? 1 2 / VERSUS MAGAZINE

T IM O S C H WÄ MM LEIN ( A K A M A NA G A R M ) E L U C ID A -NO S S O B R E «T H E EN D O F A LL LIE S » , U M Á L B U M E M Q U E O S VA R G T R ATA M V Á R IO S A S P E TO S D A M E NTIR A , E NTR E O U T R O S T EMA S . Entrevista: CSA

COMO É QUE A VOSSA MÚSICA ILUSTRA O CONCEITO QUE CRIARAM PARA ESTE ÁLBUM? M A N A G A R M : É bem mais pesado, tenebroso e sinistro do que qualquer um dos nossos álbuns anteriores. Portanto, está mesmo adequado ao tema escolhido (apesar de, na realidade, não termos propriamente criado um conceito para este álbum). Há faixas que tratam diversos temas que nada têm a ver com ditadores, política e mentiras. Na realidade, no álbum só há duas canções sobre esses tópicos.

SERÁ QUE A FANTÁSTICA CONJUGAÇÃO DE VOZES QUE SE HOUVE EM MUITAS PARTES DO ÁLBUM

TRADUZ A COLABORAÇÃO EXISTENTE ENTRE OS MEMBROS DE VARG? M A NA G A R M : Os vocais estão principalmente a cargo do Freki. Eu faço as rosnadelas baixas. Para os coros, convidámos alguns amigos, que nos ajudam de vez em quando. E também contámos com a colaboração de Anna Murphy (dos Eluveitie), que nos emprestou a sua magnífica voz para a canção intitulada “Dance of the Dead”. Neste álbum, temos uma grande variedade de vocais, de estilos diferentes. Pode-se dizer que essa diversidade representa os diferentes membros de Varg, porque somos também diferentes uns dos outros e ouvimos estilos de música muito variados.

POR QUE USARAM UMA FOTO DA BANDA PARA A CAPA DO ÁLBUM, QUANDO TINHAM UM DESENHO EXTRAORDINÁRIO NA CAPA DO EP QUE O PRECEDE [O CAPUCHINHO VERMELHO REPRESENTADO COMO A MORTE A AMEAÇAR O POBRE LOBO]? MANAGARM: Nunca tínhamos feito nada assim antes, apesar de eu, pessoalmente, sempre ter querido fazer uma capa deste género. Pareceu-nos que eram o momento e o lugar certos para o fazermos. O álbum é muito pessoal, apesar de não falarmos de nós diretamente. Portanto, pareceu-nos adequado figurarmos na capa. De certo modo, cada um de nós reencontrou-se a si próprio depois da experiência

de «Guten Tag» [o álbum anterior, lançado em 2012] e todos nos sentimos mais confiantes e fortes do que nunca.

SEMPRE FIZERAM TODOS AQUELES CONCERTOS QUE SÃO REFERIDOS NA INFORMAÇÃO DADA PELA VOSSA EDITORA SOBRE O EP? COMO CORRERAM? MANAGARM: Esses concertos fazem parte do Wolfsfest Tour, que vai decorrer na Alemanha e na Suíça em março/abril deste ano. Portanto, ainda não fizemos nenhum deles. Mas tenho a certeza de que vão ser um êxito estrondoso, porque nós temos os melhores fãs do mundo. Nem mais!

QUE PLANOS TÊM PARA PROMOVER «THE END OF ALL LIES»? MANAGARM: Fazer o Wolfsfest Tour e depois espero que possamos também fazer algumas digressões mundiais. Estou impaciente por levar as novas canções a um palco. E devo começar a escrever novo material em breve. Tenho a sensação de que esta é uma boa altura para o fazer.

TENCIONAM VIR A PORTUGAL APRESENTAR A VOSSA MÚSICA? MANAGARM : Espero que sim. Já estivemos por toda a Europa e até na América do Norte, mas nunca visitámos Portugal. É uma pena. Gostávamos muito de ir aí. Não conheces nenhum promotor que nos pudesse contratar, haha? Nós íamos logo e acho que vocês iam adorar ouvir o nosso metal “lupino”!

E AGORA UMA PERGUNTA SOBRE UM PORMENOR QUE SUSCITOU A MINHA CURIOSIDADE: CHAMAM-SE VARG POR CAUSA DE VARG VIKERNES? MANAGAR M : Não, de modo nenhum. Nunca nenhum de nós foi grande fã de Burzum, para dizer a verdade. Somos apenas obcecados por lobos: Varg significa “lobo”. ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ VargO f f i ci al / ht t ps: / / yout u. be/ 7 Z _ 4 xTJ - K gs

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GRELOS DE HORTELA

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ESTRANHO E NADA VIOLENTO Por: Victor Alves

PARTE DOIS

A morte do poeta Perdido às margens do prazer Ritual Mágico E exótico Onde os nossos lagos maternos e profundos nos acolhem

Quantas pessoas são precisas para abrir um buraco e quanta mágoa para ocupa-lo? É dolorosa a loucura do nosso terror Quantos cães são precisos para uma caçada E quantos dias de raiva para criar ódio? Quantas pessoas vão andar mergulhadas no mesmo pesadelo?

É o mundo a vítima dos nossos erros O pai a causa do esquecimento O amigo sem acção O pobre o rico e o mendigo Todos juntos num abrigo Todos mortos pelo mesmo tiro

É dolorosa a loucura do nosso terror

Só o sonho tira-nos desta realidade cruel Quando mergulhados no verdadeiro e belo sonho

Uma sombra Um ser Um corpo Um cérebro e tudo se transformam

Alguém matou o puro som que andava pelo reino

Os teus olhos já não mentem mais perante os meus

Lamento as minhas conclusões Ter que condenar e julgar algo vivo Fazendo de mim Ser do mesmo fardo

Eis o fruto da nova lei arcaica Espectáculo de uma nova dor Pessoas agarradas ao ruído pelo silêncio desprezado Sem a fragrância da flor abundante Agarrados à letra Do rosto sem forma

Lamento as minhas conclusões A respeito do homem que se faz cego Mouco Tolo Sendo parvo Lamento o meu espelho Lamenta comigo amigo Lamenta a presença de dois homens Uma guerra Mil soldados Mil buracos abertos O autor sobe ao palco E com ele as marias de sempre Esquecem a paz Começa o horror No ar a cabeça No chão a sombra do carrasco

Alimentamos o ciclo de um círculo de idiotas

Quero-te amar com uma arma apontada à cabeça Fazer guerra para que te possas sentir em paz Ser guerreiro homem duplo Filho do feiticeiro maldito Senhor eterno louco entre espantalhos Ser guerreiro perante seres de porcelana Que se partem num pensamento meu Despreza o silêncio e flores te prometem Quantos assassinos são precisos para uma guerra E quanto tempo para morrerem todos?

Correspondemos a um grupo de doidos Lunáticos Perdidos num mar sólido Que por vezes nos escapam dos pés Navegamos pela revolta Com os olhos virados ao passado Lutamos numa viagem longa Sobre um barco furado Tudo muito estranho mas nada violento Nascemos numa bola Andamos à deriva

É o homem do palco que dá a acção É no voar de um cérebro que a morte sorri 1 4 / VERSUS MAGAZINE

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ARTIGO

PLAYLIST VERSUS

MAGAZINE

C A R LO S FI LI P E

ADRIANO GODINHO

ORPHANED LAND - Mabool

CRIMINAL - Fear Itself

PA N T E R A - C o w b o y s F ro m H e l l

FUBEAR - III

NILE - Legacy Of The Catacombs

G O S T B AT H - M o o n l o v e r

HALFORD - Live InsurrectioN

MISTUR - In Memoriam

PA R A D I S E L O S T - S y m p h o n y F o r T h e L o s t

NORTH - Light the way

AMORPHIS - Under The Red Cloud MISANTHROPE - IMMORTEL

FR ED ER I C O FI G U EI R E D O

O QUE TEM VAGOS E AXL ROSE EM COMUM? Por: Nuno Lopes «Kanina»

Ah! Este tempo em que vivemos. É tudo electrizante, tude é adrenalina. E, quem melhor que a industria do Rock para aproveitar isso. Por estes dias os rumores passaram a certezas e, o que julgávamos ter terminado te, pelos vistos, direito a muma segunda vida. No primeiro caso, temos um Axl Rose a pretender recuperar os anos perdidos em quezílias já muito descritas e parece, finalmente estar em paz, suficiente, para lidar com os outros. Fruto de uma casualidade (ou talvez não!) Axl tem sabido ressurgir das cinzas, e sabemos que isso acontece porque Slash voltou à sua vida e tudo parece uma espécie de segunda vida. É claro que a discussão faz sentido e é legitimo olhar para a entrada do vocalista com algum desdém, no entanto, que outra pessoa? Basta olhar em redor e ver o que existe. Axl tem tudo o que os AC/DC precisam nos tempos que correm e, tudo parece andar sobre rodas, literalmente. Nós, por cá temos a felicidade de sermos os primeiros a receber, na Europa, ao funcionamento da máquina Rock e, em vez de apreciarmos os momentos únicos que vão acontecer em Algés, estamos indignados pela presença de um músico. Entendo a frustração, mas, o que é tudo isto senão Rock’n’Roll. A vida é isto, o Rock é isto, há bem pouco tempo todos os vimos o que sucedeu em Cuba. Estes são os eventos que fazem parte do que o Rock de facto é... união. E, convenhamos, quantas vezes os AC/DC nos deixaram ficar mal? Axl, esse porém, renasce das cinzas em formato TNT, como sempre. Veremos, a história fala por si. Axl Rose é, para já o homem do ano. Por falar em cinzas, parece que a Câmara de Vagos pretente fazer o mesmo. A mudança não caiu bem a ninguém e parece que as coisas se vão proporcionar a um renascer de um festival, veremos o que aí vem. Mas, parece que a noticia foi recebida com algum desdém, mesmo pelos defensores do festival em Vagos. Mas porque será? Nós já sabemos que queremos tudo, mas, será que estamos mesmo preparados para isso? Isto faz com que ambos os casos se toquem de forma, quase, cirurgica pois, neles conseguimos ver tanto daquilo que somos enquanto portuguêses, aquela nossa insatisfação, aquele desagrado e aquela vontade de apenas dizerque não só porque sim. No entanto, como em quase tudo na vida, só poderemos saber o resultado final após a realização dos eventos e, aí, ou foi muito bom, ou muito mau. Não há volta a dar. Em ambos os casos, a máquina tem de rolar, tem de existir sangue, a terra tem de girar. Tudo muda e o que hoje é, ontem não o era e amanhã não será. A vida é isto, segundas oportunidades, segundas vidas. E tudo recomeça ao acordar com uma recordação... 1 6 / VERSUS MAGAZINE

ED U A R D O R A MA LH A D EI R O

SONIC YOUTH - S i s t e r KLIMT1918 - J u s t I n C a s e W e ’ l l N e v e r

AIRBAG - Disconnected

Meet Again

DYNAZTY - Titanic Mass

ONLY LOVERS LEFT ALIVE - B a n d a S o n o r a

M I S S L AVA - S o n i c D e b r i s

SINISTRO - S e m e n t e

BURDEN OF LIFE - In Cycles

SWANS - To B e K i n d LANA DEL REY - ULTRAVIOLENCE

H U G O MELO SINISTRO - Semente

ED U A R D O R O C H A

HAKEN - Affinity

ENSLAVED - I n T i m e s

M E TA L L I C A - A n d J u s t i c e f o r A l l

MOONSPELL - E x t i n c t

U LV E R - L o s t i n m o m e n t s

SLAYER - W o r l d P a i n t e d B l o o d

G O N Ç A L O P E R E I R A - Tr i c o t N o P a í s D a s

ABBATH - A b b a t h

Maravilhas

VAN CANTO - V o i c e s o f F i r e

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A VERSUS PROCURA NOVOS COLABORADORES! SE ESTÁS INTERESSADO EM FAZER PARTE DA NOSSA EQUIPA ENTRA EM CONTACTO PELO ENDEREÇO:

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CASTIGO DIVINO O homem dos sete instrumentos e dos mil projetos está de regresso e mais furioso do que nunca… e com toda a razão! Rui vieira (Machinergy, Baktheria, Bicéfalo, Cisne Negro) não perde tempo, talvez porque a condição humana lhe fornece matéria infindável de reflexão e extravasamento de sentimentos. No entanto, o músico não quer deixar-se ficar agarrado ao negativismo que a realidade quotidiana imprime às nossas vidas. As gravações do segundo álbum do projeto Miss Cadaver terminaram, pelo que a VERSUS foi saber um pouco mai s acerca daquilo que Deus Castiga (ainda sem editora no horizonte) nos reser va. Como presente adicional, Vieira faz uma antevisão do registo, tema a tema. Entrevista: Dico


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ENTREVISTA

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O NOVO ÁLBUM FOI REGISTADO NO VOSSO PRÓPRIO ESTÚDIO, O 15 STEPS UP, EM ARRUDA DOS VINHOS, SENDO QUE TE ENCARREGASTE DE GRAVAR AS VOZES, AS GUITARRAS E O BAIXO. FOI UMA OPÇÃO TUA OU NÃO ENCONTRASTE OS EXECUTANTES COM AS CARACTERÍSTICAS QUE PRETENDIAS PARA DESEMPENHAREM A TAREFA? RUI VI E I R A: Depois de alguns anos de adiamento, o novo álbum do projeto Miss Cadaver está finalmente a ver a luz do dia. Antes de mais, devo referir que estas músicas andavam na minha cabeça há vários anos e estava ansioso por as registar, já era altura de fazer um novo manifesto! Desta foi de vez e, graças a um tempo disponível na preenchida agenda de Hélder Rodrigues (produtor e baterista “por amizade” nos Miss Cadaver), o segundo longa-duração está a ser “cozinhado”. Neste projeto, a questão dos executantes não se coloca, exceto a do baterista, não só porque é o Hélder [o músico acompanha Rui Vieira também nos Machinergy] mas também porque a bateria é um instrumento que não domino. Tudo o resto foi criado e executado por mim. Não preciso de mais ninguém, nem quero. Este é um projeto pessoal e intransmissível.

SUPONHO PORTANTO QUE A OPÇÃO DE TERES OPTADO PELO HÉLDER PARA TOCA R BATERIA E FAZER A MISTURA TENHA SIDO NATURAL, DADO O LONGO PERCURSO DE AMIZADE E PARTILHA DE BANDAS QUE TÊM TIDO. RUI V I E I RA: Sem o Hélder este trabalho não seria, de todo, possível. Todas estas ideias não seriam concretizáveis sem a

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sua preciosa ajuda, paciência e também contributo na bateria e nas músicas em geral, sempre com bons e oportunos inputs. O Hélder é parte de Miss Cadaver, embora queira permanecer na “sombra”.

SEGUNDO OS POSTS QUE PUBLICASTE NO FACEBOOK, AS GRAVAÇÕES CORRERAM BEM E DE FORMA CONTÍNUA, MAS O PROCESSO DE GRAVAÇÃO FOI DISTINTO DO HABITUAL, COM A BATERIA A SER O PENÚLTIMO INSTRUMENTO A SER CAPTADO. PODES FALAR-NOS UM POUCO ACERCA DESTA ORIGINAL OPÇÃO, BEM COMO DOS TRABALHOS DE ESTÚDIO NO GERAL? R U I V IEIRA : O meu processo de gravação poderá surpreender os mais incautos (ou não) mas a bateria foi realmente o penúltimo elemento a ser registado. Ao contrário do usual, em que a bateria, o baixo e as guitarras são as três primeiras pistas a serem geradas, este processo teve de ser, digamos, inverso ao convencional. E isto porque existe um artefacto chamado metrónomo, esse “bichopapão” (que também o foi para mim) mas que hoje é impossível viver sem ele. Comecei por criar as pistas de guitarra-ritmo, seguindose a pista de baixo. Após o baixo, voltei às guitarras - registei os solos, leads e as passagens acústicas. Em seguida veio a bateria e, finalmente, a voz.

LÍRICA E MUSICALMENTE COMO CARACTERIZAS ESTE ÁLBUM POR COMPARAÇÃO AO PRIMEIRO [AO MORTE AO FADO]? VISLUMBRAS MUITAS DIFERENÇAS OU NEM POR ISSO? R U I V IEIR A : Neste disco quis dar um novo fôlego ao projeto e

subir mais um degrau em termos de composição e consistência. Depois de uma demo, um álbum e um EP/split, o Thrash/Crossover/ Punk corrosivo e “straight to the point filha da mãe” está de volta! A dado momento ainda equacionei a possibilidade de “aligeirar” o discurso, mas não. Miss Cadaver é foda, Miss Cadaver é porrada, Miss Cadaver é enfiar o dedo no cu! Esforcei-me por criar melodias que ficassem na cabeça, bons ganchos e frases marcantes. Afinal, música é isso, é ficar na cabeça. Com este álbum pretendia, acima de tudo, criar um manifesto abrangente sobre este país e este mundo!

e gostava que ele chegasse longe, não o escondo. Estou muito contente e orgulhoso com tudo [o que nele foi feito].

UMA VEZ O ÁLBUM EDITADO, O QUE É QUE SE SEGUE? RUI VIEIRA: As pessoas perguntam-me muitas vezes quando é que Miss Cadaver sobe a um palco e a minha resposta é sempre... Bem, não tenho resposta. Sinceramente, não sei. Já pensei, já desisti, já pensei outra vez... Enfim, para mim, é bastante difícil essa decisão. Tocar ao vivo poderá quebrar uma certa magia que sinto que Miss Cadaver possui, talvez por só ter existência em estúdio. Quando um projeto deste género chega à fase de subir aos palcos vulgariza-se. Mas não sei, se o disco tomasse boas proporções, seria um caso a pensar. Após a edição seguir-se-á a divulgação, a promoção, a distribuição, etc.

DISSESTE TAMBÉM NO FACEBOOK QUE “ESTE DISCO SERÁ DEDICADO A ALGUÉM SEM O QUAL MISS CADAVER NÃO EXISTIRIA E ESTAS MÚSICAS TAMBÉM NÃO”. QUERES DISSERTAR UM POUCO SOBRE ESTA HOMENAGEM? RUI VIEIRA: Eu gosto de agradecer. Gosto de encontrar os “responsáveis” pelos meus actos. Em relação a Miss Cadaver, o João Ribas [malogrado fundador dos Ku de Judas, Censurados, Kamones e Tara Perdida] é um dos principais (se não o principal) responsáveis pela existência deste projeto e por isso, dedico-lhe este álbum. O João será sempre uma grande fonte de inspiração, não só a nível musical mas, acima de tudo, lírico. Sempre admirei as suas letras, [são] das melhores de sempre. A sua morte, infelizmente um pouco previsível, deixa um grande vazio na música portuguesa em geral e no Punk em particular. Acho que o grande reconhecimento virá mais tarde, como é habitual.

NO MOMENTO EM QUE FALAMOS, O ÁLBUM AINDA NÃO TEM EDITORA DEFINIDA. JÁ TENS CONTACTOS ESTABELECIDOS NESSE SENTIDO? RUI VIEIRA: Na altura em que respondo a esta entrevista ainda não há qualquer editora na calha. Após ter tudo concluído irei envidar esforços para arranjar uma boa parceria, que dê a este álbum aquilo que ele merece. Deposito grandes esperanças neste disco 21 / VERSUS MAGAZINE


STUDIO REPORT

MISS CADAVER - DEUS CASTIGA

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(Antevisão do álbum) Por: Rui Vieira Edição: Dico

Para nos falar em primeira mão do novo álbum, pedimos a Rui Vieira que descrevesse um a um os petardos de pura raiva nele incluídos. Os tempos que se vivem não estão para falinhas mansas e quem melhor do que o experimentado músico para transmitir de forma genuína os sentimentos que o atual estado do mundo e do País suscitam em todos nós? «Carrascos de Serviço» é dono de um enorme groove (presente ao longo de todo o disco) e poder ameaçador, entre os riffs cheios e a voz, emerge um eletroacústico que dá ao tema um tom contrastante, diferente, meio jazzístico. «Carrascos...» elabora sobre o poder esmagador do sistema sobre as pessoas comuns, sobre o mal que nos fazem, numa condenação sem apelo nem agravo. O mote do disco está lançado. «Conformados» vai beber a Tara Perdida, sinto isso. As mudanças de tempo, as letras cantadas de forma rápida, a construção, podiam ser Tara Perdida. Mas é Miss Cadaver, embora com alma do Ribas. O título diz tudo. É um «call to arms», um incitamento a levantar o cu do sofá, a agir. «FFF» é o bom e velho chavão, «Fado, Fátima e Futebol» e dura apenas 5/7 intensos segundos.

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«Ao Ponto que Isto Chegou», é um milagre. Esta música soa exatamente como a imaginei. Aliás, superou as minhas melhores espectativas. Todas as «layers» de guitarra ao longo dos quatro minutos e tal, o refrão incisivo, o final, a letra, tornam «Ao Ponto...», uma das minhas favoritas, não vou negá-lo, e, indubitavelmente, das melhores composições que criei até hoje. «Cão Raivoso» é mais um tema compassado com um lead psicológico sempre presente lá ao fundo. Encerrando um duplo significado, a interpretação da letra fica ao critério de cada um. «Morto» aborda a pirâmide financeira, os grandes faraós dos nossos tempos, que arruínam tudo e todos e, no fim, saem sempre impunes, ilesos. Este é o nosso funeral, daí usar a marcha fúnebre de Chopin para fechar a música. «Solução» bem podia ser um tema dos Censurados, pela altura de «Confusão» ou «Sopa». Penso sempre nisso quando o oiço. Da estrutura à letra, é inspirado nessa grande banda. Uma mensagem de interrogação mas de soluções, de procura e de esperança, tal como João Ribas gostava de escrever.

«Cultura do Medo» é o tema ideal para ocupar a terceira posição. Não sei porquê, mas sinto-o. É um tema muito ao estilo compassado de «Plasmagórico» (de «Morte Ao Fado»). O argumento é sobre um lugar à beira-mar plantado... «Narcopunk» é da família de «Rattvs Velhus» [do álbum Morte ao Fado] e ”NPMP” [da split-tape com os Konad]. Repete exaustivamente o título até ficar bem colado na cabeça. «Parasitas» faz-me lembrar o «Friggin' In A Riggin'» (versão dos Anthrax). Aliás, acho que vem daí a ideia para esta música. «Fake World» é uma cover para o tributo à lenda do Crust nacional, os Simbiose, que comemoram 25 anos de existência em 2016.

«Esperança Mutilada» é mais uma ferida, mais um atentado. O que eles [os políticos, o sistema em geral] nos fazem.

«Deus Castiga». Adoro este título... Sempre quis usar este género de expressão, que traduz a ideia de castração do ser humano logo na infância. É o tipo de lengalenga com que muitas crianças são massacradas todos os dias. O ideal é sermos meninos bem comportados, caso contrário... É uma sátira ao melhor estilo Miss Cadaver, uma malha com power filha da mãe, sem rodeios, sem misericórdia. «Noiva Raiva» é a minha costela Therapy? a funcionar. Esta música carrega muito desta banda, uma das minhas favoritas. À boa maneira «Troublegum [álbum dos irlandeses] nesta composição descarrego, liricamente e de forma atroz, sentimentos frequentes do dia-a-dia. Fala daquele que te vai lixar no emprego, do gajo que não fez nada mas que te vai tramar, dos chamados “culambistas”, dos filhos da puta. «Ribas» é um interlúdio de guitarra. Constitui uma homenagem a quem foi peça fundamental nos três estágios do Punk português. Daí a guitarra estar em escada e com três «layers». Não só dedico este pequeno instrumental ao João Ribas, como todo o álbum. Sem ele, sem as suas bandas (os Censurados, principalmente), Miss Cadaver nunca teria existido. Obrigado por isso, João, estejas onde estiveres. «Guerreiro do Asfalto» fala de quem luta, de quem está do lado de cá da barricada. É sobre quem não muda de posição consoante a oportunidade e os ventos. É sobre integridade, é sobre o Homem na sua pureza de carácter e nobreza. É a “quase balada” do álbum. 23 / VERSUS MAGAZINE


ANTRO DE FOLIA Por: Carlos Filipe "Os Canibais" não é um filme de terror ou alguma homenagem aos filmes temáticos realizados por Ruggero Deodato ou Umberto Lenzi nos anos 70 e 80. Estes "Canibais" são os do Mestre do Cinema Português, Manoel de Oliveira. Sim, leram bem, não é nenhum engano. Este filme tem tanto de surpreendente - pelo menos passado uma boa hora de filme - como de difícil acompanhamento e consequentemente visualização, dado que todo o filme é cantado em opereta, ou seja, os personagens em vez de falaram, cantam que nem os grandes cantores de ópera. É algo de genial e único no mundo do cinema, mas pouco convencional e acima de tudo pouco cinematográfico dentro daquilo que a maioria de nós está habituado, daí sua a visualização ser de extrema dificuldade, não sendo mesmo para qualquer um. Confesso que não sou grande fã do cinema de Manuel de Oliveira. Nutro alguma simpatia, pois constitui o expoente maior a nível internacional do cinema Português até à data, mas acima de tudo, tenho uma grande curiosidade pelo seu cinema, compreendendo eu, daquilo que vi até hoje, a ideia base preconizada pelo Mestre que está subjacente à realização deste ou daquele filme. Cinematicamente falando, no que respeita a filmes sou bastante eclético desde que o filme tenha algum interesse ou qualidade, podendo ir desde o cinema nórdico até ao da Indonésia ou Tailândia. Começo a não ter pachorra para os filmes da Marvel e companhia, comédias parvas e fenómenos mediáticos do momento onde vão todos atrás. Os meus realizadores de referência são John Carpenter, James Cameron, Paul Verhoven, Quentin Tarantino, Oliver Stone, Steven Spielberg, Neil Blomkamp, Woody Allen, Peter Jackson, Joe Dante, George Miller, Michael Mann, Ridley Scott, Stanley Kubrick, Alejandro G. Iñárritu, Christopher Nolan, Caro e Jeunet, os irmãos Cohen, e por aí fora só para citar alguns... No inico deste ano, um dos canais do cabo teve a brilhante ideia de fazer uma homenagem a Manoel de Oliveira, e deu num dos seus canais, um fim de semana inteiro de cinema non-stop do mestre, desde sexta-feira até domingo de madrugada. A quantidade foi tanta que a minha box rebentou pelas costuras e começou a deitar fora outros filmes que já lá andavam à bastante tempo. Para mim, foi uma excelente oportunidade de poder tomar conhecimento desta vertente cinematográfica que me passou quase completamente ao lado. Eles até os “souliers de satin” passaram (7 horas!), imaginem um filme começar às 22h00 e acabar às 5h00! Bem, em abono da verdade, aquilo foi feito para ser uma minissérie que virou filme. Gravei 23 filmes dos para aí 30 que deram, fiz um excelente teste de carga da box - gravação non-stop de mais de 24 horas - e ainda não os vi todos, porque alguns que vi entretanto, até já parecia um castigo. Um destes filmes foi "os canibais". Já me tinham falado deste filme, mas esqueceram-se de me dizer que era cantado. Primeiros vinte minutos, o choque total! O que é isto? Isto é completamente indigesto. Parei o visionamento para ver outro dia, afim de também assimilar o choque. "Isto assim, não se percebe nada destes diálogos", dizia eu. Entretanto, comecei a pensar que aquilo que vi não era assim tão descabido mas sim genial. E lá retomei o visionamento, e desta vez, foi até ao fim. "Os Canibais - Les Cannibales" é um filme-ópera de 1988. Toda a acção se desenvolve em torno da música interpretada pelos actores que representam a alta sociedade aristocrática do séc. XIX. Margarida, é uma jovem bela que se apaixona pelo Visconde de Aveleda. Uma paixão impedida por D. João que odeia o Visconde e não descansa enquanto não o derrubar. Apaixonada pelo belo e misterioso conde d'Aveleda, Margarida desdenha a corte de Don João, que queria casar com ela. Na noite de núpcias o conde revela o seu terrível segredo. Horrorizada, Margarida atira-se pela janela. O conde deita-se no fogo da grande lareira. Na manhã seguinte, os pais da noiva, ignorando tudo, comem os restos do conde "assado" na lareira durante a noite. Quando se dão conta, querem fugir dali desesperados, mas a notícia de uma 'fabulosa herança' reconcilia-os com a vida. O filme tem como cenário o palácio de Queluz e conta com os actores fetiche do mestre, Leonor Silveira no papel de Margarida, Luis Miguel Cintra como Visconde de Aveleda e Diogo Dória no papel de D. João. Os Canibais começa com a chegada dos convidados ao palácio do conde para um banquete aristocrático. As personagens principais vão-se desgarrando eruditamente uns com os outros, desenvolvendo de forma segura a trama dramática do triângulo amoroso, tal como descrito anteriormente. A grande diferença deste para outros filmes de Manoel de Oliveira é este sentido de narrativa cinematográfica que muitas vezes não está presente noutras suas obras, por não se encaixar na ideia base - geralmente genial - subjacente ao filme – É como o Não ou a Vã glória de mandar, a ideia de enaltecer as derrotas da nossa História é excelente, mas depois o filme deixa muito a desejar. Até á hora de filme, temos um filme com história, interpretado de forma peculiar mas convincente, que o torna único e bem conseguido. Até nos enquadramentos e duração dos planos o mestre acertou no tom para esta sua obra. Tudo "pacifico" e natural até que chegamos à cena de Margarida com o descobrimento do segredo do Visconde de Aveleda, a qual me deixou boquiaberto por uns bons 5 minutos. A partir desta cena - que não vou descrever mais do que o dito no parágrafo anterior - o filme ganha outra dimensão, corpo, transformando-se num magnífico e surpreendente filme até ao final, onde todo o sentido do título ganha alma e uma canção que ficou famosa de “Come-os a todos”. Os Canibais de Manoel de Oliveira é para mim, seguramente, o melhor filme de sempre do cinema português até à data. Jamais haverá algo que consiga suplantar esta obra exemplar


Uma das novas referências do Rock Progressivo Italiano acaba de lançar VIVO - Live in Concert. Podem ouvir um pouco deste excelente concerto: https://youtu.be/OPsLzc_rG4o - ou do último álbum «Skyline»: https://youtu.be/y8VI9j5BN-A Mais informações sobre como adquirir este duplo CD pelo nosso email: versusmagazinept@gmail.com


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L E G A D O E M B O A S M ÃO S Não é fá c i l ! R o n n i e J a m e s Di o p a r t i u em 2 0 1 0 e deixou uma herança m usical. Não é, nem n unc a se r á p a r a q u a l q u e r u m p e g a r n o legado e de algum a f orma dar um segui mento que n ão d e tu r p e o q u e f o i f e i t o , n e m q u e ao f az er i sso caiam no ri dí culo. D e ent re todos, o s La s t i n Li n e s e r ã o o s q u e m e l h o r sabem interpretar e carregar este legado: estão lá tr ê s – a g o r a do i s c o m o f a l e c i m e nto de J im m y B ain - da f orm ação ori gi nal dos Dio ( qu a tr o p r i m e i r o s á l b u n s ) . An i m o s i d ades postas de l ado e R J D estari a orgul hoso do que a qui f o i fe i to . Te m a p a l a v r a Vi v i a n C ampbel l. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA 3 0 / Last in Line

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ENTREVISTA

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ENTREVISTA

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OLÁ, VIVIAN! OBRIGADO PELA ENTREVISTA. A PR IMEIRA E MAIS IMPO RTANTE PERGUNTA (QUE ATÉ TENHO MEDO DE FAZER) É SOBRE A TUA SAÚDE. COMO VAI ESSA BATALHA? NO ANO PASSADO, LI ALGURES QUE O TEU CANCRO TINHA REAPARECIDO. ESPERO SINCERAMENTE QUE FIQUES BEM MUITO, MUITO RAPIDAMENTE. Vivian Campbell – Sim, o cancro

voltou a aparecer, mas não estou nada preocupado com a minha saúde a longo prazo. Vejo isso como uma parte do processo de viver e já aprendi algumas lições preciosas com essa situação. Neste momento, ando a fazer um tratamento chamado “imunoterapia”. Trata-se de uma nova forma de abordagem, que ainda está a ser testada e tem menos efeitos secundários que a quimioterapia. Para mim, o mais

importante é que me permite continuar a trabalhar. Poder fazêlo é, sem dúvida, uma parte muito, muito importante da minha cura.

ESTA BANDA TEM 3/4 DA FORMAÇÃO DOS TRÊS PRIMEIROS ÁLBUNS DA IDADE DE OURO DE DIO. POR QUE RAZÃO CHAMASTE A ESTA NOVA BANDA LAST IN LINE? Vivian - Quando começámos, a

ideia era apenas fazer um projeto em part-time e divertido, portanto não me preocupei muito com o nome. Na altura, Last In Line pareceu-me bem: o Ronnie tinha morrido há um ano e tal e nós éramos mesmo os últimos em linha. Além disso, o Vinny, o Jimmy e eu tínhamos escrito e gravado essa canção com o Ronnie. Penso que demasiadas pessoas olham para os primeiros álbuns e canções de

Dio como sendo apenas criações do Ronnie. É um erro pensar assim. De facto, algumas canções eram apenas dele, mas a maioria foi criada pela banda toda. De certo modo, este projeto é também uma forma de reclamar a herança coletiva, que nos pertence: ao Jimmy, ao Vinny e a mim próprio.

A PROPÓSITO, LAST IN LINE É UMA VERDADEIRA BANDA OU PROJETO ALTERNATIVO? Vivian - Como já disse, começou

por ser como um projeto em parttime, para nos divertir. Mas, quando lançámos «Heavy Crown», estava a desempenhar um papel sério nas nossas vidas e tinha um propósito bem importante. Por isso, a morte do Jimmy comprometeu bastante o nosso futuro a longo termo, ainda não sabemos até onde poderemos ir.

NA MÚSICA, HAVERÁ SEMPRE PESSOAS QUE ODEIAM OU CRITICAM “SÓ PORQUE”… O RONNIE JAMES DIO E TU TÊM UM LUGAR MUITO IMPORTANTE NO ROCK. QUANDO ESTAVAM A ESCREVER «HEAVY CROWN», ALGUMA VEZ PENSASTE NAS REAÇÕES DESFAVORÁVEIS QUE, PROVAVELMENTE, OS FÃS MAIS ORTODOXOS PODERIAM TER? Vivian - Como também já referi, há muita confusão sobre a história da música de Dio. Até se podia escrever um livro sobre os meandros e as meias verdades dessa história. Mas a verdade é que só há quatro pessoas que sabem a verdade: Ronnie, Jimmy, Vinny e eu. Parece-me que o facto de o Jimmy e o Vinny terem aceitado fazer parte deste projeto musical fala por si. ENTÃO, LAST IN LINE COMEÇOU COMO UMA REUNIÃO CASUAL E DIVERTIDA EM QUE TU, O VINNY AP PICE E O JIMMY BAIN PARTICIPAVAM. QUANDO COMEÇARAM A SENTIR QUE AFINAL ISSO PODIA SER O INÍCIO D E ALGO… GRANDE? Vivian - Assim que começámos

a tocar novamente, a magia e a química fizeram-se sentir instantaneamente. A partir daí, apercebemo-nos todos de que

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queríamos fazer algo mais do que tocarmos juntos.

TU E O RONNIE JAMES DIO TINHAM AS VOSSAS DIVERGÊNCIAS (QUE NADA TÊM A VER COM ESTA ENTREVISTA E FIZERAM CORRER RIOS DE TINTA), MAS EU PENSO QUE, INEGAVELMENTE, PODEMOS CONSIDERAR LAST IN LINE COMO UMA HERDEIRA DE DIO. SENTES QUE O RJD TERIA APROVADO A VOSSA MÚSICA, ESPECIALMENTE NO QUE TOCA AO ANDREW FREEMAN? Vivian - Sim, penso que o Ronnie teria aprovado este álbum e o contributo que o Andrew traz à banda. Também me parece que, se o agente do Ronnie lhe tivesse dado essa oportunidade enquanto ele estava vivo, a banda original poderia ter sido reformada e gravar

Acontece que o Andrew vive aqui perto e é amigo do Vinny. Portanto, ele ligou-lhe e pediu-lhe para vir tocar connosco. Se o som do Andrew se parecesse com o do Ronnie, eu teria desistido logo. O facto de ele ter uma voz muito diferente da do Ronnie, mas também tremendamente ponderosa, fez dele algo de interessante para mim: o som inconfundível dos primeiros tempos de Dio, mas com um vocalista diferente. Muitas pessoas se interrogam sobre por que razão não procurámos um clone do Ronnie, mas, para mim, isso seria completamente estúpido. Cada músico é único e ninguém o pode substituir.

A MORTE DO JIMMY FOI MESMO UMA GRANDE PERDA. O QUE VAI ACONTECER A LAST IN LINE SEM ELE?

Vivian - Concordo com o Vinny. Penso que há mesmo uma grande alegria, química e facilidade nesta banda. Quanto ao futuro? Acho que ainda é muito cedo para sabermos o que se vai passar. HÁ 27 ANOS QUE TOCAM JUNTOS. O QUE MUDOU NA FORMA COMO FAZEM MÚSICA? ENQUANTO FAZEMOS ESTA ENTREVISTA, O ÁLBUM VAI SER LANÇADO. DE AGORA EM DIANTE, O QUE PO DEMOS ESPERAR DA BANDA, EM TERMOS DE DIGRESSÕES E CONCERTOS? TÊM PLANOS PARA VIR A PORTUGAL? Vivian - Não temos nada previsto, para além dos dois concertos de que já falei. Foi há 27 anos que nos juntámos pela primeira vez

“MAS A VERDADE É QUE SÓ HÁ QUATRO PESSOAS QUE SABEM A VERDADE: RONNIE, JIMMY, VINNY E EU. PARECE-ME QUE O FACTO DE O JIMMY E O VINNY TEREM ACEITADO FAZER PARTE DESTE PROJETO MUSICAL FALA POR SI.” um novo álbum. Infelizmente, quase sempre são as influências externas – os que vivem do trabalho dos artistas – que destroem as maiores bandas.

COMO CORREU O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DESTE ÁLBUM? AS CANÇÕES SAÍRAM DE SESSÕES EM QUE TOCAVAM JUNTOS? Vivian - Sim, foi tão fácil escrever e gravar este álbum como quando fizemos «Holy Diver». Aliás, abordámos «Heavy Crown» com o mesmo espírito. Às vezes, um de nós tinha uma ideia que punha tudo em ação. Mas, a maior das vezes, começávamos a tocar e daí saía uma ideia para uma canção. DEPOIS DA PRIMEIRA SESSÃO, RESOLVERAM CHAMAR O ANDREW, QUE FEZ UM TRABALHO ESPANTOSO. POR QUE O ESCOLHERAM A ELE? Vivian - Não foi premeditado.

Vivian - Para ser rápido, não

sabemos. Íamos começar uma digressão, mas decidimos não o fazer, porque nos pareceu que seria uma grande falta de respeito para com a memória do Jimmy. Mas devemos-lhe a ele – e a nós próprios – a obrigação de promover este disco. O Jimmy tinha um grande orgulho neste álbum – tal como todos nós – pelo que continuaremos a promover «Heavy Crown». Vamos tocar em dois festivais, para os quais fomos contratados: o Frontiers Festival, em abril, e o Rocklahoma Festival, em maio. Não sabemos quem vai tocar o baixo nesses dois concertos.

VINNY APPICE DECLAROU QUE ESTA ERA A MELHOR BANDA EM QUE TINHA TOCADO. TAMBÉM SENTEM ISSO? PARECE-VOS QUE A QUÍMICA SE VAI MANTER DEPOIS DA MORTE DO JIMMY?

para tocar. Atualmente – em 2016 – passaram 31 anos sobre o último álbum de Dio que fizemos juntos. Muita coisa mudou nesse tempo e penso que agora encaramos a música com muito menos ansiedade e muita mais alegria genuína. Fazer da música uma carreira é um imenso privilégio, o que se acentua muito quando o fazes com amigos, que o apreciam tanto como tu. Nisso somos todos homens cheios de sorte.

PARA A GERAÇÃO DOS ANOS 90 E 2000, ÉS SOBRETUDO O FAMOSO GUITARRISTA DE DEF LEPPARD. QUAL É A MAIOR DIFERENÇA ENTRE UMA DAS MAIORES BANDAS DE ROCK DA EUROPA E ESTE TEU PROJETO “RECÉM-NASCIDO”? Vivian - É muito agradável estarmos ligados a duas grandes bandas, mas são muito diferentes uma da outra e trabalham músculos 33 / LAST IN LINE


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diferentes em mim. Em Leppard, o desafio prendia-se sobretudo com cantar e compor e eu tornei-me bem melhor como cantor e compositor devido aos 24 anos que passei com essa banda. Em Last In Line – assim como em Dio – trata-se essencialmente de tocar guitarra e de escrever riffs (mais do que escrever canções inteiras). Mas tenho de ser justo e dizer que adoro ambas as experiências.

EM QUAL DAS DUAS BANDAS SENTES SER MAIS FÁCIL TRABALHAR E EXPRIMIR-TE COMO MÚSICO?

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Vivian - “I Am Revolution” nunca teria sido escrita, se o Andrew não tivesse acompanhado passo a passo o processo de composição de «Heavy Crown». Ele tem influências de Rock clássico, mas também do Punk, portanto foi ele que sugeriu que acelerássemos tão dramaticamente o que saiu da ideia original. Quanto às canções de Dio que referes, foram e são todas muito especiais, cada uma à sua maneira. “Rainbow in the Dark” era uma velha canção de Sweet Savage, que nós reescrevemos para o «Holy Diver». O Jimmmy trouxe a melodia tocada em teclados e também foi ele que a tocou para o disco. Esse solo foi o primeiríssimo que eu gravei. Aconteceu muito simplesmente – eu não tinha pensado previamente no que ia fazer, mas saiu-me muito bem. Por vezes, temos momentos maravilhosos assim. MUITO OBRIGADO PELO TEU TEMPO. FOI UM GRANDE PRAZER ENTREVISTAR-TE. ESPERO QUE MELHORES DEPRESSA E PODER VER-TE EM PORTUGAL EM BREVE! Vivian - Obrigado. Gostei muito das tuas perguntas e espero poder levar LIL a Portugal um dia destes.

Vivian - As duas têm públicos diferentes, mas eu diria que

é mais fácil ser criativo com Last In Line. Mas isso também acontece, porque esta banda não procura ser tão abrangente, em termos musicais, como Def Leppard. Em LIL, só fazemos uma coisa: Rock. Def Leppard cobre muitos géneros musicais diferentes.

O ANDREW FOI CHAMADO PARA “SUBSTITUIR” O RJD OU, PELO MENOS, PARA CANTAR AS MÚSICAS ORIGINARIAMENTE FEITAS PARA ELE. ACONTECEU-TE ALGO SEMELHANTE, QUANDO FOSTE CHAMADO PARA SUBSTITUIR O STEVE CLARK. O QUE FICOU DESSES DIAS NA TUA MEMÓRIA? COMO FOI PASSAR A FAZER PARTE DE DEF LEPPARD DEPOIS DO LANÇAMENTO DE DOIS DOS MAIORES SUCESSOS DA BANDA («HYSTERIA» AND «ADRENALIZE»)? Vivian - Sempre me pareceu fácil integrar-me em Def Leppard. Fui sempre um fã da banda e estava muito familiarizado com a música deles e isso ajudou muito. Além disso, nessa altura, já tinha estado em várias bandas, logo também estava habituado a enfrentar novas situações e a fazer com que tudo corresse bem. Mesmo assim, nunca é fácil entrar numa banda para “substituir” alguém. Como já referi, ninguém pode ser verdadeiramente substituído. Todos somos indivíduos e cada um de nós traz algo diferente ao mundo. Tal como aconteceu ao Andrew, tive de aprender de encontrar o equilíbrio entre a necessidade de fazer justiça ao original e o desejo de impor a minha própria personalidade à música. Fiquei muito contente por o Andrew ter agora a oportunidade de mostrar ao mundo a sua perspetiva sobre a música com o seu contributo para «Heavy Crown». Sei que, de certo modo, isso também tornou mais fácil para ele o trabalho de interpretar as canções do Ronnie. O TEU ESTILO EM LAST IN LINE É BEM MAIS PESADO DO QUE EM DEF LEPPARD. QUE MATERIAL USASTE EM «HEAVY CROWN»? Vivian - Nos Def Leppard, o meu material é muito complexo. Em LIL, é o mais simples possível. Tenho um sistema simples e muito direto, sem efeitos e um sistema wireless, que apenas liga a guitarra ao amplificador através de um cabo.

PARA TERMINAR AS MINHAS ENTREVISTAS, FAÇO SEMPRE O ENTREVISTADO FALAR SOBRE UM OU DUAS DAS MINHAS CANÇÕES FAVORITAS. NESTE ÁLBUM, ESCOLHI “I AM REVOLUTION”, PORQUE O CONTRIBUTO DO BAIXO DO JIMMY É SENSACIONAL! MAS TU ÉS VERDADEIRAMENTE ESPECIAL! TOCASTE EM ALGUMAS DAS MINHAS CANÇÕES FAVORITAS: EM “RAINBOW IN THE DARK”, LEMBRO-ME DAS MELODIAS DOS SINTETIZADORES E DO SOLO; TAMBÉM DO PRINCIPAL RIFF EM “WE ROCK” OU DO GRANDE CARISMA DE “LAST IN LINE”, ETC. CRESCI A OUVIR ESSAS CANÇÕES, POR ISSO É MUITO, MUITO DIFÍC IL PARA MIM PEDIR-TE QUE FALAR DE UMA EM PARTICULAR. ESCOLHE UMA, DUAS OU TRÊS OU NENHUMA DAS ACIMA REFERIDAS E REVELA-NOS ALGO SOBRE ESSAS CANÇÕES. 34 / Last in Line

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Já o tinha dito na primeira entrevista que fiz, aquando da saída de «The Mountain»: Os Haken serão os próximos Reis do Rock/Metal Progressivo. No meio de tantos shredds, tempos complexos e contra-tempos, sabe tão bem ouvir algo... novo. Se o anterior foi excelente, «Affinity» não lhe fica atrás e ainda vos consegu surpreender. Como é óbvio, não poderíamos deixar escapar esta oportunidade e estivemos numa animada conversa com Diego Tejida. (Depois de saber que eramos portugueses, Diego, a título de curiosidade, diz-nos que o seu apelido é originalmente português. Devido a uma má transcrição no notariado em vez de Teixeira, ficou Tejida.) Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Transcrição e tradução: Hugo Melo Fotos: Isabell Etz


NOVOS ARQUITECTOS EM 2012 “THE MOUNTAIN” FOI O MEU SEGUNDO MELHOR ÁLBUM DO ANO. NA ALTURA ENTREVISTEI O RICHARD E ELE DEU-ME UMA EXCELENTE ENTREVISTA ONDE FRISOU A BOA ACEITAÇÃO DO ÁLBUM. COM ESTE NOVO TRABALHO TÊM SENTIDO A MESMA ACEITAÇÃO? Bem , é dif ícil com par ar os dois, m as at é agor a t em os t ido boas cr ít icas da indust r ia, ao nível da edit or a, de am igos, et c. Tem os t ido um a boa respost a, m as est am os a f alar de níveis dif erent es. Q uando f izem os o “The M ount ain”, est ávam os a encont r ar m onos enquant o banda e o f act o de t er a aceit ação que t eve abr iu- nos m uit as por t as. M as est am os m uit o cont ent es com a aceit ação que est am os a t er.

AO OUVIR ESTE “AFFINITY”, O QUE MAIS SOBRESSAIU FOI A MUDANÇA NA SONORIDADE. SE O “THE MOUNTAIN” ME CATIVOU LOGO NA PRIMEIRA AUDIÇÃO, ESTE LEVOU-ME ALGUMAS AUDIÇÕES ATÉ ASSIMILAR A MUSICA E A AMBIÊNCIA EM TORNO DESTE TRABALHO. PORQUÊ ESTA MUDANÇA NA SONORIDADE?

> “Tentamos sempre que o som soe novo para nós e tentamos evitar fórmulas. Podíamos (...) usar a fórmula do “The Mountain”, (...) mas procuramos sempre novos sons e novas fórmulas.” 3 8 / HAKEN

Não f oi algo conscient e. Se ouvires o que f izem os no passado em “Aquar ius” ou em “Visions”, eles t êm sonor idades dif erent es. O m esm o acont eceu com o “The M ount ain”, que é com plet am ent e dif erent e dos ant er iores. Tent am os sem pre que o som soe novo par a nós e t ent am os evit ar f ór m ulas. Podíam os t er cont inuado a usar a f ór m ula do “The M ount ain”, que f uncionou, m as procur am os sem pre novos sons e novas f ór m ulas. Já f azem os ist o há m uit o t em po e é possível encont r ar elem ent os com uns nos vár ios t r abalhos, m as t ent am os cr iar, de álbum par a álbum , algo novo. Est á t udo ligado a

um a sensação nat ur al porque quando gr avam os os álbuns nunca est am os no m esm o espír it o, quer prof issional quer pessoalm ent e. O f act o de t e t er levado algum as audições at é o ent enderes é um a coisa boa. No m eu caso quando um a coisa leva algum t em po a assim ilar, signif ica que t e obr iga t er algum a paciência e leva- t e a out ro ent endim ent o do que est ás a ouvir, e isso f ica- t e par a sem pre.

PARECEU-ME NOTAR, NESTE “AFFINITY”, ALGUMAS INFLUENCIAS DOS ANOS 80. QUAIS SÃO AS VOSSAS PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS E COMO É QUE SE PREPARAM MUSICALMENTE? Tem sido com um a lavagem cerebr al. A m aior par t e dos m em bros da banda são f ans da m usica dos anos 80. Est ão sem pre a ouvir m usicas dos anos 80 no aut ocar ro banda. No início não gost ava nada, depois f oi- se t or nando um gost o adquir ido. Claro que conhecia as m usicas, m as nunca as t inha ouvido, se é que m e ent endes. M as sim , há m uit a inf luência dos anos 80 nest e álbum , nom eadam ent e nos t eclados. Na com posição t am bém se sent e est a inf luência ao nível da ut ilização de sint et izadores. O Char lie ( Char les G r iff it hs) é gr ande f ã dos “Tot o”, por exem plo, e isso acaba- se por m anif est ar. Pessoalm ent e a f or m a de m e prepar ar f oi ouvir m uit a m usica dessa década e t ent ar perceber o que a car act er iza e a f az soar e per t encer a esse per íodo.

O QUE SENTI FALTA, RELATIVAMENTE AO “THE MOUNTAIN”, FOI A AUSÊNCIA DOS COROS E DAS HARMONIAS NAS VOZES. QUAL FOI A RAZÃO PARA EXCLUÍREM ESTE ELEMENTO DA VOSSA MÚSICA? Se

ouvires

com

at enção

exist em mu it a s , ma s me s mo m uit as v o z e s s e c u n dá ria s , e ar r anjo s v o c a is . Pro v a v e lme n t e at é ma is do qu e a lgu ma v e z f izem o s em a lgu m á lbu m. Provav e lme n t e e s t á s -t e a ref er ir à s pa r t e s “ à c a pe la ” qu e exist ia m n o “ T h e Mo u n t a in ” . Tam bé m t e mo s u ma s e c ç ã o com o e s s a n o “ R e s t o ra t io n ” . Com o re f e ri a n t e rio r me n t e lá porque e s t a f ó r mu la f u n c io n o u bem nã o s ign if ic a qu e a v a mo s per petu a r, e s pe c ia lme n t e porque o “ T h e Mo u n t a in ” f o i m uit o in f lu e n c ia do pe la mu s ic a dos an o s 7 0 e ba n da s c o mo “G ent le G ia n t ” , po r e x e mplo , que e ra m c o n h e c ida s pe la ut ilizaç ã o de s t a t é c n ic a . Ne s t e caso, n ã o s e in c lu ía n o c o n c e it o que pro c u rá v a mo s , n ã o f o i consci e n t e , s imple s me n t e não de c idimo s n ã o a u s a r po r não s e in s e rir n a qu ilo qu e quer ía mo s . Es t e á lbu m já é bast an t e e c lé c t ic o , n ã o s ó inf luên c ia s do s a n o s 8 0 , c o mo ref er is t e , ma s t a mbé m o u t ra s inf luên c ia s . To c á mo s po r ouvido e s a iu o qu e s e n t imo s .

LEVARAM QUASE UM ANO A ESCREVER E A DESENVOLVER ESTE MATERIAL. PORQUE É QUE LEVARAM TANTO TEMPO NO DESENVOLVIMENTO DESTE “AFFINITY”? Essenc ia lme n t e de v e -s e ao f act o de t e r mo s e s t a do mu it o t em po e m t o u r. Embo ra gra n de par t e do s e le me n t o s e s t e ja m em Lon dre s o u de n t ro do R e in o Unido, o Co n n e r (G re e n ) e s t á nos Es t a do s Un ido s e e u e s t o u no M éx ic o , e a c a ba mo s po r n ã o nos en c o n t ra r mo s . Pa re c e a lgo com ple t a me n t e do ido e mu it a s vezes qu e s t io n a -me c o mo conseg u imo s , ma s qu a n do n o s junt am o s t ra ba lh a mo s ime n s o . Houve mu it a t ro c a de e ma ils com id e ia s e ra s c u n h o s do qu e poder i a s e r, ma s a ma io r pa r t e do t r ab a lh o o rgâ n ic o a c o n t e c e quando e s t a mo s t o do s ju n t o s . Par t e do t ra ba lh o f o i f e it o 39 / HAKEN


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no a ut ocar ro d u ra n te a to u r. Embor a em t er mo s te m p o ra i s tenha s id o um ano , n a re a l i d a d e terá s id o cerca d e me i o a n o , ou m es m o uns me s e s . P o r outro lad o, t am b é m l e v o u m a i s tempo p orq ue te n tá m o s u ma abord ag em c o mp l e ta m e n te di fe rent e na ex e c u ç ã o d e s te ál bu m . Com o s ab e s o p ri m e i ro ál bu m f or am as i d e i a s d o Ri chard com a rra n j o s de cada elem ent o. E l e c ri a v a a l i nha d e t om b a s e q u e e ra , poster ior m ent e, d e s e n v o l v i d a por cad a elem en to d e a c o rd o com a s ua sensibilidade. Neste álb um t od o s e s ti v e m o s envo lv id os em to d o s os aspe ct os d a com p o s i ç ã o , d e s te o i ns t r um ent al à p a r te l í ri c a . Natur alm ent e f e z c o m q u e ti ves s e lev ad o m a i s te m p o . Ma s depois d e nos t er m o s a d a p ta d o a e s t e es t ilo d e c o m p o s i ç ã o tor nou- s e t ud o b a s ta n te fl u í d o .

O QUE É PREFERES? O RICHARD A COMPOR A BASE E DEPOIS CADA UM ADICIONA O SEU TOQUE OU COMO FIZERAM PARA ESTE ONDE ESTÃO TODOS ENVOLVIDOS? C o m o fazemos agora e por d i v e rs a s razões. Pri mei ro é u ma s e nsação natural . Quando c o me c ei com “ A quari us” era o Ri c h a rd que fazi a tudo. N a a l tu ra e u e o C harl i e eramos o s n o v os el ementos e quando tu é s novo numa banda não q u e re s estar a passar por c i m a de ni nguém, fi cas a trá s e anal i sas a di nâmi ca do fu n c i o n amento da banda. C om o s a n o s fomo-nos envol vendo c a d a vez mai s em ter mos de c o mp o si ções e arranj os. Para o “ Vi s i ons” , o R ay (R aymond H e a r n e ) e eu envol vemo-nos n o s a rranj os do quar teto de c o rd a s bem como para as s e c ç õ e s de metai s. Para o “ The Mo u n tai n” aconteceu o mesmo e e n v o l vemo-nos ai nda mai s n a c o m posi ção e nos arranj os. A s s i m, em “ A ffi ni ty” embora p a re ç a que tenha havi do uma

grande mudança, na realidade foi a extensão do que tem vindo progressi vamente a acont ecer. Todos sabí amos qual a nossa especi al i dade. N o i ni c io leva mai s tempo, mas depois de entrar mos na ambi ência do ál bum tudo decorre m ais depressa e as i dei as f luem de uma for ma mai s rá pida e di nâmi ca.

ACHEI CURIOSO QUE OS ELEMENTOS SINTETIZADOS QUE USARAM NAS MÚSICAS “1985” E “RED GIANT” TRANSPORTOU-ME PARA O SOM DAS BANDAS SONORAS DOS FILMES DOS ANOS 80. PORQUE É QUE USARAM TANTOS ELEMENTOS ELECTRÓNICOS? EM ÁLBUNS ANTERIORES NÃO HOUVE UM USO TÃO GRANDE DESTES ELEMENTOS, ESTOU CORRECTO? B em, a “ R ed Gi ant” é um dos temas mai s experi men t ais do ál bum e, para mi m, foi ex celent e ter mos ti do a possi bi l i dade de trabal har em al go que explorou a par te mai s psi cadé lica da musi ca si nteti zada. Fui m uit o i nfl uenci ado por uma banda chamada “ Infected Mushroom ” (N .T.: banda i srael i ta) que se encontra num espect ro compl etamente di ferent e do rock progressi vo, rock , m et al

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> “Se te dissesse quem é o arqu i t e c t o então, tirava-te a piada toda.” ou m esm o m usica de dança, um a vez que t êm alguns t em as de m usica t r ance. G ost o im enso de explor ar est e t ipo de som e quando ouvi o pr im eiro esboço dest a m usica pensei logo em seguir esse cam inho, m as não f oi conscient e, f oi algo que evolui dessa f or m a. Q uando est am os a exper im ent ar coisas nunca sabem os se vai f uncionar, só m esm o quando as exper im ent am os e, m uit as vezes, só o sabem os quando a m usica est á com plet a.

RELATIVAMENTE ÀS LETRAS, QUEM É O RESPONSÁVEL? EXISTE ALGUM CONCEITO ADJACENTE ÀS LETRAS DE “AFFINNITY”? Há um t em a recor rent e, sim … M as não gost am os de nos m anif est ar m uit o a esse nível, porque querem os que as pessoas f açam o seu pr ópr io julgam ent o e t enham a suas pr ópr ias exper iencias. Por isso apenas digo que exist e um t em a t r ansver sal e que f az t odo o sent ido par a nós. É com o um f ilm e, quer inst r um ent al quer lir ico, m as querem os que cada ouvint e t enha a sua exper iência.

OUTRA COISA QUE MUDARAM DE FORMA DRAMÁTICA FOI O LAYOUT, ESPECIALMENTE NO VOSSO WEBSITE. ESTEVE ESTA MUDANÇA LIGADA À MUSICA E/OU AO TEMA DAS LETRAS? Absolut am ent e sim , sem dúvida. O nosso webm ast er f ez um ópt im o t r abalho e est á t udo relacionado. M esm o o vídeo est á t udo relacionado com a m usica e com as let r as.

GOSTO SEMPRE DE EXPLORAR COM O ENTREVISTADO UM ASPECTO 40 / HAKEN

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DE UMA MUSICA ESPECÍFICA. NESTE “AFFINITY” PARA MIM A MUSICA QUE ESTÁ NO TOPO É A “THE ARCHITECT”. PERGUNTAVA-TE ENTÃO QUEM É ESTE ARQUITECTO? Se t e dissesse quem é o arquit ect o ent ão t ir ava- t e a piada t oda. Digo- t e que pode ser um a m et áf or a, com o o arquit ect o no f ilm e “The M at r ix”, não est ou a dizer que est á relacionado, est ou a usálo com o t er m o de com par ação. Não quero t ir ar o gozo de descobr ir aos ouvint es, desculpa.

COMO É QUE CHEGAM A UMA MUSICA DE QUASE 16 MINUTOS? Bem… não sei, para ser sincero o t em po é relat ivo, sim plesm ent e acont eceu. M uit as vezes é m ais dif ícil escrever um a m usica de apenas 4 m inut os que um a de 16. É o que é, sent im os que nos poder íam os expandir em algum as secções e f oi o que acont eceu. Não é inédit o, ao longo dos nossos álbuns, t er m usicas longas. Est as acabam por nos per m it ir explor ar vár ios hum ores dur ant e a m usica. Se a m usica f osse sem pre igual dur ant e 16 m inut os t or nava- se enf adonha. É com o que f osse um ciclo de vida que evolui e conseguim os t er, por exem plo, um a secção que se repet e no f im , e depois t em os um m om ent o t enso, depois out ro calm o, é com o t er um a hist ór ia dent ro de out r a hist ór ia, que é o álbum . Per gunt as- m e com o é que conseguim os com por um a m usica de 16 m inut os e a m inha respost a é que não sei, acont eceu. Foi onde a m usica nos levou.

TIVERA M A PARTICIPAÇÃO DE EINAR SOLBERG DE “LEPROUS”, UMA BANDA QUE GOSTO IMENSO E QUE TIVE A OPORTUNIDADE DE VER O ANO PASSADO AO VIVO. COMO É QUE SE DESENVOLVEU ESTA COLABORAÇÃO? PARTIC IPOU NA COMPOSIÇÃO OU APENAS CANTOU? Ele f ez u ma e x c e le n t e t ra ba lh o na g ra v a ç ã o da s vozes. Q uando e s t á v a mo s a gra v a r a “The A rc h it e c t ” s e n t imo s a necess ida de de o u t ro t ipo de vozes e le mbrá mo -n o s lo go de Einar. Ele é u m gra n de , gra n de vocalis t a . O Ch a rlie e n t ro u em co n t a c t o c o m e le e de u lhe as ide ia s qu e t ín h a mo s e ele simple s me n t e a rra s o u . O que e le f e z f o i t o t a lme n t e da aut or ia de le . L e mbro u -me qu e quando o u v i a mis t u ra pe la pr im eira v e z f iqu e i e s t u pe f a c t o pela qu a lida de e e n t re ga . Ele é excele n t e .

TENHO MAIS DUAS QUESTÕES. VOUME ATREVER A DIZER QUE A “THE ARCHITECT” É O VOSSO MELHOR TEMA DE SEMPRE. ACHAS QUE DEFINE MUSICALMENTE OS HAKEN? Se co n c o rdo qu e a “ T h e Archit e c t ” de f in e a mu s ic a de Ha k e n ? Ne m po r is s o . O bviam e n t e tem mu it o s elem en t o s de Ha k e n , c o mo a par t e o rqu e s t ra l, a pa r t e pesada , a pa r t e a mbie n t a l, t em to do s e s s e s e le me n t o s , m as n ã o me pa re c e qu e s e ja def inid o ra da n o s s a mu s ic a . Se a c o mpa ra re s c o mo o u t ra s f aixas lo n ga s qu e t e mo s nos o u t ro s t ra ba lh o s , t o da s elas e mbo ra c o mpo s t a s e executa da s pe la me s ma ba n da t êm u m s o m c o mple t a me n t e dif eren t e u ma s da s o u t ra s , por t an t o n ã o c o n c o rdo , n ã o .

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PORQUE É O NOME DO ÁLBUM É LOGO A PRIMEIRA FAIXA QUE É UM INSTRUMENTAL DE CERCA DE MINUTO E MEIO? Be m , is s o posso re v e l a r. Re fer is t e q ue o w e b s i te ti n h a uma t em át ica co m p u to ri z a d a , l i gad a aos anos 8 0 e p o r a í . Isso es t á lig ad o a o s te m a s e às l et r as d e “A ff i n i ty ” . O te ma é com o q ue o ar ra n q u e d e u m si ste m a op er at iv o d o s a n o s 8 0 . Fui q ue eu f iq uei e n c a rre g a d o dess a f aix a. Li u m a r ti g o q u e fal a v a d e p rojec to s d e rá d i o s fantas m a q ue, d u ra n te a guer r a f r ia, us av a m a b a n d a de r ad io p ar a a tra n s m i s s ã o de m ens ag ens e n tre e s p i õ e s . Era um a cois a a s s u s ta d o ra . Houv e um p rojec to ru s s o , q u e não m e record o, d e m o m e n to , do nom e, creio qu e e ra U V B 76, ond e t od a a e m i s s ã o é u m al a r m e q ue d ur a du ra n te m e s e s ou anos , e d ur an te a e mi s s ã o , por v ez es um a v o z , e m ru s s o , tra ns m it e núm ero s e n o me s q u e ni n g uém s ab e o qu e s i g n i fi c a m . Havi a p es s oas ob c e c a d a s c o m

i s s o e gravaram as emi ssões, que podes encontrar no y o u tu b e (ex: https://youtu. b e /-2 E K W gTN EYU ). Procurei tra n s p o r esta i dei a e cri ar uma mu s i c a que transmi ti sse i sso. A p re s e n tei a i dei a ao pessoal q u e d i sseram que era uma e x c e l e nte i dei a e assi m nasceu “ A ffi n i ty” .

UMA ULTIMA QUESTÃO. SENDO MEXICANO, COMO É QUE ACABAS A TOCAR NUMA BANDA DE ROCK INGLESA? P o rq u e aos 18 mudei -me para o R e i n o U ni do para estudar, o q u e fe z com que tenha estado n o R e i no U ni do durante cerca d e 7 a nos, mas, por vári as ra z õ e s , ti ve de regressar. To c o c om el es desde 2009 e re g re s sei ao Méxi co em 2006. P ro v a v el mente se ti vesse fi c a d o no R ei no U ni do não to c a ri a com el es, mas ti ve s o r te de os conhecer quando a i n d a e studava e como só há u n s a nos ti ve de regressar,

agora ando para trás e par a a frente por causa das t our s e das gravações.

CONHECES ALGUMA MEXICANA QUE NOS APRESENTAR?

BANDA POSSAS

Exi ste uma banda mui to por reir a chamada “ A ni ma Tem po” que l ançaram agora um EP, chamado “ C aged i n Mem or ies”. São mui to porrei ros, procur aos.

VOU FAZÊ-LO, OBRIGADO. MUITO OBRIGADO PELA TUA DISPONIBILIDADE. FOI UM PRAZER FALAR CONTIGO E ESPERO VER OS HAKEN BREVEMENTE EM PORTUGAL. Eu é que agradeço, Eduardo. Obri gado. ht t p://w w w.hakenm u s ic . c o m / ht t ps://yout u.be/-7 pEXGCtn n k ht t ps://w w w.facebo o k . c o m / H ake n Offic ia l

> ( S o b r e “ A f f i n ity) Li um artigo que f a l a v a d e p r o j e c tos de rádios fantasma q u e , d u r a n t e a guerra fria, usavam a b a n d a d e r a d i o para a transmissão de m e n s a g e n s e n t r e espiões.”

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I N F I N I TA

G R A ÇA !

D e s t a v e z , f o m o s b uscar o tí tul o de um cânti co religi oso para a t e r c e i r a e n t r e v i s t a de O mni um G atherum , já que é assi m que a sua m ú s i c a e m « Gr e y H e avens» é qual if i cada pela edi tora. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA

CSA: NA INFORMAÇÃO SOBRE ESTE LANÇAMENTO, A VOSSA EDITORA AFIRMA QUE A BANDA FAZ MÚSICA COM “GRAÇA SUPERIOR”, UM CUMPRIMENTO QUE ME PARECE MUIT O MERECIDO. COMO É QUE CADA UM DOS MEMBROS DA BANDA CONTRIBUI PARA ESSE EFEITO? Joonas Koto: Seis personalidades

diferentes normalmente deveriam criar uma grande confusão. Mas, no nosso caso, como temos a sorte de as nossas estrelas estarem alinhadas de modo favorável, completamo-nos uns aos outros de uma forma muito especial. Cada um de nós tem a sua perspetiva sobre a nossa música, o que, neste caso, só contribui para a tornar mais rica. Como é natural, uns contribuem mais do que outros. Nenhuma banda vive numa total democracia. É sempre necessário que alguém fique com a última palavra sobre o assunto em questão.

CSA: E COMO INTEGRAM A VOZ AMARGA (MAS FANTÁSTICA) DO JUKKA NESSAS DOCES MELODIAS? Joonas

Koto: Não há beleza que fique completa sem a sua contrapartida: a besta. Não há luz sem escuridão. Não há princípio sem fim. Os rugidos do Jukka são únicos e, especialmente em «Grey Heavens», ele atingiu o seu melhor. O nosso forte reside precisamente na capacidade de combinar passagens musicais cheias de belas melodias com a voz brutal do nosso vocalista. É uma espécie de Yin e Yang.

CSA: POR QUE ESTÁ O VOSSO HORIZONTE TURVADO COM “SOMBRAS CINZENTAS”?

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Joonas Koto: Estará mesmo? O que eu vejo são “Grey Heavens” sobrepostos à paisagem invernia coberta de neve do nosso país. E, por vezes, precisas de ver sombras cinzentas entre o branco e o preto para descobrires onde anda a realidade. Pela minha parte, penso que as ameaças que se perfilam no nosso horizonte podem ser convertidas em oportunidades, se pusermos em ação a nossa força de vontade e determinação. Às vezes, encontras um amigo num vilão e vice-versa. CSA: ESTE LANÇAMENTO VAI MESMO AJUDAR-VOS A LIVRAREM-SE DESSAS “SOMBRAS CINZENTAS”? Joonas Koto: Da maneira como

o mundo está atualmente, há ameaças e sombras cinzentas iminentes que não podem ser simplesmente removidas ou arredadas. Todos e tudo mudam. Umas vezes para melhor, outras para pior, mas sempre por alguma razão. Este novo álbum vai ajudar os Omnium Gatherum a ocupar novos territórios no mundo. Vai satisfazer algumas das nossas necessidades musicais e criativas, nos próximos tempos. Uma mente criativa está sempre em movimento. Se o álbum vai ou não ter um grande impacto é algo que ainda não podemos dizer.

CSA: POR QUE RAZÃO O ARTISTA QUE CONCEBEU A CAPA PARA O VOSSO ÁLBUM USOU UM OLHO COMO ELEMENTO DE DESTAQUE NO SEU DESIGN? Joonas Koto: Estou a ver onde pretendes chegar com essa pergunta e digo-te já que não tem nada a ver com os Illuminati. Esta capa foi feita pelo mesmo artista

“(...) O NOSSO FORTE RESIDE PRECISAMENTE NA CAPACIDADE DE COMBINAR PASSAGENS MUSICAIS CHEIAS DE BELAS MELODIAS COM A VOZ BRUTAL DO NOSSO VOCALISTA. (…)” que contratámos para o artwork de todos os outros lançamentos de Omnium Gatherum, sem exceção, desde o início. Podemos dizer que é o nosso “sétimo elemento”. Chama-se Olli-Pekka Lappalainen e a sua arte é uma parte essencial do trabalho desta banda. Eu interpreto o artwork de «Grey Heavens» como um jogo de contrapartidas, de opostos. O Céu e o Inferno, a escuridão e a luz, o sol e a lua. O olho representa um poder superior, que supervisiona tudo. Cada um de nós tem a sua opinião sobre esse poder e, para mim, isso não põe problemas.

CSA/ER: COMO DESC REVERIAS O CAMINHO QUE A BANDA TEM PERCORRIDO DESDE 2011, QUANDO LANÇARAM «NEW WORLD SHADOWS», PELO QUAL FORAM ENTREVISTADOS PARA A VERSUS MAGAZINE PELA PRIMEIRA VEZ? AINDA TÊM AQUELE SENTIMENTO DE “NOVIDADE”, DEPOIS DE 20 ANOS DE CARREIRA? PARECE-NOS QUE ESTE ÁLBUM É O VOSSO LANÇAMENTO MAIS ADULTO E MADURO. Joonas Koto: Crescemos muito

desde 2011, como banda e como seres humanos. Eu continuo a pensar que «New World Shadows» é um álbum muito bom e o mesmo acontece com o seu sucessor «Beyond». Pessoalmente, ainda me sinto maravilhado pela capacidade que o Markus Vanhala tem de escrever canções espantosas, uma atrás da outra, e muito orgulhoso de

poder fazer parte desse processo criativo. Esta é uma das qualidades que fazem com que umas bandas sejam melhores do que outras. Não estar sempre a pensar em mudar tudo ao mesmo tempo, mas ir acrescentando e removendo componentes – gradualmente e aos poucos – para manter o som original fresco e interessante, mesmo depois de muitos anos.

ER: A CRISTINA ENTREVISTOU-VOS SOBRE «NEW WORLD SHADOWS» E EU SOBRE «BEYOND». NESSA ENTREVISTA, EU DIZIA QUE «THE NEW WORLD SHADOWS» ERA MAIS PESADO NÃO TÃO MELÓDICO COMO «BEYOND». PREFIRO OUVIR «BEYOND», QUANDO ME SINTO MAIS CALMO E RELAXADO… O QUE DISTINGUE «GREY HEAVENS» DESSES DOIS OUTROS ÁLBUNS DE OG? Joonas Koto: Penso que «Grey Heavens« é um pouquinho mais agressivo e afirmativo que os seus predecessores. Os elementos suaves e agressivos foram levados um pouco mais longe neste novo álbum. São mais evidentes e cativantes que antes. Mesmo que estejas na parte mais brutal da música, podes sempre cantá-la e levantar o teu punho no ar. Por momentos, até me parece que se pode identificar alguns elementos Pop nos arranjos. A composição está bem mais amadurecida em «Grey Heavens» do que antes. A atenção dada aos arranjos foi superior ao habitual.

ER: EM QUE LUGAR DA ESCALA DEVEMOS SITUAR «GREY HEAVENS»? ATREVO-ME A DIZER QUE É A “TEMPESTADE PERFEITA” ENTRE O PESO DE «NEW WORLD SHADOWS» E A MELODIA TINGIDA DE MELANCOLIA DE «BEYOND». CONCORDAS COM ESTA ANÁLISE? Joonas Koto: Penso que puseste o dedo na ferida! Era mesmo isso que queríamos fazer e, pelos vistos, a nossa mensagem fez-se ouvir alto e bom som. CSA: A PRIMEIRA VEZ QUE OUVI ESTE ÁLBUM ESCREVI A UM DOS “CHEFES” DA VERSUS DIZENDO QUE OMNIUM GATHERUM NUNCA DESILUDEM. O QUE TENCIONA A BANDA FAZER PARA CONTINUAR A CUMPRIR O COMPROMISSO QUE ASSUMIU COM OS FÃS? Joonas Koto: Depois de «Grey Heavens» chegar às lojas, vamos fazer digressões durante uns dois anos, como para «Beyond». Mal consigo esperar pela oportunidade de levar estas canções novas para a estrada! Afinal de contas, Omnium Gatherum é ainda melhor ao vivo que nas gravações. A energia que fornecemos à audiência e a cada um de nós no palco é quase mágica. Fizemos cerca de 150 concertos em 3 continentes para divulgar «Beyond» e o nosso objetivo é fazer ainda mais na digressão mundial para promover «Grey Heavens». Se tiverem oportunidade de ver Omnium Gatherum ao vivo, não a percam! CSA: PLANEARAM ALGO ESPECIAL PARA O 20.º ANIVERSÁRIO?

Joonas Koto: Na versão em vinil de «Grey Heavens», há uma canção intitulada “Son’s Thoughts 2015”. É uma nova versão de um clássico de OG, que apareceu pela primeira vez na demo intitulada «Wastrel», lançada em 2001, e, mais tarde, em «Steal the Light», o nosso EP de 2002, e ainda em «Spirits and August Light», em 2003 [o primeiro álbum da banda]. Somos capazes de acrescentar essa “canção de aniversário” ao set que vamos tocar ao vivo. Quem sabe! Ou talvez nos limitemos a fazer um bolo e a observar o Markus a comê-lo todo. CSA: PORTUGAL ESTÁ NO MAPA DO MUNDO DE OMNIUM GATHERUM ESTE ANO? Joonas

Koto: Portugal esteve sempre no nosso mapa do mundo. Estamos realmente à espera da oportunidade de ir fazer uns concertos a Portugal, na nossa próxima digressão mundial. Tivemos a oportunidade de trabalhar com alguns cavalheiros portugueses, muito talentosos e profissionais, nas nossas anteriores digressões, e mal podemos esperar por levar este novo espetáculo ao vosso país!

CSA/ER: MUITO OBRIGADOS PELA ENTREVISTA. ESPERAMOS VER-VOS EM BREVE EM PORTUGAL! Joonas Koto: Obrigada também e até um dia destes. Mantenham adeptos da música pesada! ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ omni umgat herumband/ ht t ps: / / yout u. be/ ubmuU i ozK yo

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BREVE HISTÓRIA

DO METAL PORTUGUÊS

O metal nacional acabou de ser enriquecido com uma obra que nos coloca numa página da história, nos identifica – ou pelo menos nos descreve – de forma a completar-nos com algo que nos fazia imensa falta: a nossa história. Muitas bandas de metal têm nos seus versos, rimas ensopadas em temas como a história e a sociedade. Este livro tem esse mesmo intuito: falar do que aconteceu em Portugal desde os primeiros passos do rock português até ao metal dos nossos dias. Estivemos à conversa com o autor da obra, Dico e falamos de Portugal, música, bandas, história e como as nossas bandas nacionais conseguiram marcar várias gerações ao longo do tempo. Entrevista: Adriano Godinho 48 / VERSUS MAGAZINE

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INSPIRAÇÃO Como nasceu a ideia de escrever este livro? A ideia foi evoluindo naturalmente, sem que me apercebesse, e de início nada tinha nada a ver com este conceito. Em 2000 pensei organizar em livro uma extensa lista de sites de bandas, webzines, editoras e outros agentes underground nacionais, mas não existia material suficiente que justificasse a concretização do projeto. Mais tarde, planeei editar em livro uma enciclopédia com biografias de bandas portuguesas, mas à época não consegui financiamento, pelo que me limitei a criar uma enciclopédia online, intitulada A a Z do Metal Português. Comecei então a redigir textos sobre a história do Metal luso, década a década, e a publicá-los no site Soundzone. A dada altura percebi que já tinha material suficiente para compilar num livro, pelo que escrevi ainda mais. A edição original da obra ficou disponível para download gratuito em dezembro de 2012, tendo a edição física surgido em fevereiro do ano seguinte. Agora, após numerosos pedidos de leitores e fãs, está finalmente disponível a versão revista e aumentada do livro.

Quanto tempo te levou? Como conseguiste tempo para escrever tal obra? Até à edição original foram dois os anos investidos na investigação e na escrita, mas se contabilizarmos todo o tempo decorrido até ao lançamento da edição revista e aumentada estamos a falar de cinco anos de trabalho. Apesar de algumas fases pessoais algo complicadas que venho atravessando nos últimos anos, fui conseguindo avançar no processo. Sou trabalhador independente, portanto consigo gerir o meu tampo com maior flexibilidade. Ainda assim não foi fácil. De qualquer forma, nos períodos mortos, em que há menos trabalho, aproveito ao máximo para desenvolver os meus projetos. Foi o que se verificou com o livro.

Foi complicado encontrar fontes de informação? Quais foram as tuas fontes? (isto é, vê-se uma extensa bibliografia no livro mas questiono-me como o fizeste: através de membros de bandas, conhecidos teus, ou pessoas relacionadas com o metal - sem ser claro as pessoas referenciadas no teu livro)

"Se contabilizarmos todo o tempo decorrido até ao lançamento da edição revista e aumentada estamos a falar de cinco anos de trabalho" exagero se disser que nos últimos cinco anos mais de 80% da música que ouvi foi nacional) me forneceram imensa matéria de trabalho.

Fiz umas rápidas pesquisas para saber se existe algum livro semelhante nos países vizinhos (Espanha, Franca, UK) e não consegui encontrar nenhum livro sobre a sua historia do metal. Será que és o pioneiro nesta iniciativa? Tens conhecimento de algum livro semelhante a este? Livros que retratem unicamente a generalidade da cena metálica de um dado país só conheço o meu e Espíritus Rebeldes – El Heavy Metal en España, de Fernando Galicia Poblet, publicado em 2005. Em 1993 já fora publicado Historia del Heavy Metal: 25 años de Hard Rock, do também espanhol Mariano Muniesa, que relata a história da música pesada em geral mas dá algum enfoque ao cenário espanhol. De resto, existem várias enciclopédias, outros livros sobre as raízes e a história do Metal (que invariavelmente falam com algum pormenor de países como Inglaterra, Alemanha e os Estados Unidos) e estudos históricos, antropológicos e sociais. Existem igualmente livros que abordam movimentos específicos (Suzie Smiled… The New Wave of British Heavy Metal, de John Tucker) ou subgéneros concretos (Black Metal: Evolution of the Cult, de Dayal Patterson; Swedish Death Metal, de Daniel Ekeroth; etc.), pelo que não falta literatura acerca destes temas. "Aos 13 anos comecei a gravar álbuns dos AC/DC, Iron Maiden, Saxon, Motoerhead, Scorpions ou Deep Purple nas cassetes do Marco Paulo e do Duo Ouro Negro do meu pai e oferecia-as aos amigos"

As fontes mais complicadas de encontrar foram periódicos antigos, mas algumas visitas à Hemeroteca solucionaram a questão. Houve também alguns músicos com quem foi impossível contactar, mas de resto nada de assinalável. Além de todas as entrevistas que fiz especificamente para o livro, houve mais algumas dezenas que tinha em arquivo. São entrevistas que fui realizando ao longo dos anos e que acabaram por me ser muito úteis. Nada é por acaso, ainda bem que as guardei durante todo este tempo. Aliás, algumas delas nem sequer chegaram a ser publicadas. É engraçado que em muitas dessas entrevistas coloco aos entrevistados questões genéricas e de contextualização acerca do Metal português, que me forneceram bastante material importantíssimo para o livro. É como se, no meu íntimo, soubesse que havia uma razão oculta para fazer aquelas perguntas e preservar as gravações das entrevistas. De resto, consultei largas centenas de fanzines e revistas, bem como diversos livros. Também as centenas de discos e demos nacionais que ouvi ao longo de todo o processo (não 5 0 / VERSUS MAGAZINE

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AUTOR

“Assumidamente, [na edição original do livro] o meu objetivo foi revelar a verdadeira génese do Metal português, que reside no final dos anos 60”

Podes nos dizer de onde és, onde cresceste? (Apenas para contextualizar o autor e a obra)

assisto a concertos com alguma regularidade e adquiro merchandise. Neste momento, a par do livro, são estas as minhas formas de apoiar o Metal português.

Sou alfacinha de gema. Nasci a 1 de agosto de 1970 no Hospital de Stª Maria, em Lisboa. Até casar, aos 29 anos, sempre residi na freguesia do Lumiar, na capital.

Ouves outros géneros de música (nacional/internacional) ou só metal?

Qual foi o teu primeiro contacto com o Metal?

Nesse aspeto sou extremamente fechado, confesso - praticamente só oiço Metal. De resto, por vezes oiço Música Clássica (gosto bastante) e bandas como Pink Floyd, Dire Straits ou Xutos & Pontapés. Pontualmente oiço alguma coisa de Punk, Hardcore, Blues (em especial Hard Blues), mas pelos 95% do tempo é ao Metal que entrego os meus ouvidos. (Risos)

Foi em casa. O meu irmão e a minha irmã sempre ouviram Rock e a primeira recordação que tenho de ouvir sonoridades mais pesadas remonta a 1977, quando ouvi o «Bohemian Rhapsody», dos Queen, pela primeira vez. Mais tarde, o «Eye of the Tiger», dos Survivor, também me marcou, mas em 1982 o meu irmão mostrou-me o álbum “The Number of the Beast”, dos Iron Maiden, e deu-se o “click” definitivo.

Cresceste num meio onde tinhas amigos que ouviam metal? ou eras “diferente dos outros meninos”? Era diferente dos outros miúdos. Basicamente, era o freak de serviço, o “esquisitóide”. (Risos) Desenhava logótipos das bandas na carteira da escola, forrava os cadernos com fotos dos Iron Maiden e “cantava” a plenos pulmões no recreio da escola uma das primeiras letras que escrevi. Chamava-se «Alta Foda Infernal» e como deves imaginar pelo título, os meus colegas (rapazes, claro) adoravam ouvir-me “cantar” aquela letra. (Risos) Previsivelmente, os professores e as empregadas da escola é que não achavam graça. Portanto, mais do que ser influenciado pelos amigos nos meus gostos musicais, acabei eu por os influenciar. Aos 13 anos comecei a gravar álbuns dos AC/DC, Iron Maiden, Saxon, Motoerhead, Scorpions ou Deep Purple nas cassetes do Marco Paulo e do Duo Ouro Negro do meu pai e oferecia-as aos amigos. (Risos) O pior era quando o meu pai queria ouvir as cassetes e me perguntava o seu paradeiro. (Risos) A minha casa estava sempre cheia de miúdos aos quais passava tardes inteiras a mostrar os discos de Hard Rock e Heavy Metal que possuia.

“Foi um enorme risco financeiro, que uma vez mais decidi correr”

Qual é a tua relação com a música? Ao ler a tua obra percebemos que participaste em bandas mas hoje em dia, produzes música ou és consumidor? Atualmente, e desde há 17 anos, anos, sou um participante ativo no que respeita ao jornalismo musical. Tenho escrito sobre Metal em numerosos blogues, sites, revistas e fanzines, especialmente a nível de crónicas, artigos de opinião, elaboração de entrevistas e críticas a discos. Sou também um divulgador ativo, não apenas em termos do jornalismo especializado, mas também nas redes sociais. Várias bandas me procuram, também, a fim de as aconselhar a diversos níveis. No entanto, acima de tudo, gosto de me considerar um fã e um consumidor ativo. Compro bastantes CD’s (nos últimos anos, 4/5 dos discos que tenho adquirido são de bandas nacionais), 5 2 / VERSUS MAGAZINE

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CONTEXTO

“Os fãs receberam (a primeira edição) do livro de braços abertos, pois nada existia em Portugal sobre a história da música pesada aqui produzida”

Esta obra é uma revisão e extenção da versao anterior. Qual foi a razão?

Contactaste alguma editora para uma possível edição/apoio?

Logo aquando da edição original do livro, em 2013, muita gente me perguntou porque razão não tinha relatado toda a história até àquele momento. Assumidamente, [na edição original do livro] o meu objetivo foi revelar a verdadeira génese do Metal português, que reside no final dos anos 60, com prolongamento por toda a década seguinte. Muitos fãs não conheciam esse percurso da música pesada nacional anterior aos anos 80, portanto dei maioritariamente enfoque a esse período histórico. Foi na primeira metade da década de 80 que a genuína sonoridade heavy metal emergiu em Portugal, mas nos anos anteriores surgiram grupos praticantes de um Rock mais pesado, nas vertentes do Heavy Rock e do proto-Hard Rock, com influências pscadélicas. Foram essas sonoridades que estiveram na base do Heavy Metal e respetivos subgéneros. Portanto, e respondendo diretamente à tua pergunta, várias pessoas me pediram para fazer um segundo volume que retratasse a história a partir de 2000. No entanto, não fazia sentido publicar um volume independente em que apenas relatasse os últimos 15 anos da história do Metal nacional (2000/2015), quando o primeiro englobava um período substancialmente maior (1966/1999). Seriam duas obras desproporcionais em termos de abrangência temporal. Assim, a decisão mais lógica foi preparar uma edição revista e aumentada.

Sim, contactei uma editora ainda no verão de 2013 mas passados dois meses de intensas negociações percebi que não ia dar bom resultado. Além disso, eles ficavam com os direitos do livro durante 5 anos e não me dispus a isso. No final de 2015 contactei uma pequena editora nacional de CD’s na área do Heavy Metal cujo responsável se mostrou desde logo interessadíssimo em participar na edição. Inclusive, manifestou a intenção de criar uma joint-venture com outras duas etiquetas nacionais, para que o investimento fosse distribuído por quatro partes – eu e as três editoras, sendo que cada parceiro ficaria na posse de 100 exemplares do livro. No entanto, a pessoa que me fez essa proposta acabou por não mais falar no assunto, apesar das minhas interpelações nesse sentido. Não tenho tempo a perder com empata-fodas, portanto não perdi tempo e uma vez mais atireime de cabeça, sozinho, na concretização do livro. Como sempre, parti da premissa de que ninguém melhor do que o próprio autor sabe aquilo que é melhor para a sua obra. No final, fiquei extremamente orgulhoso desta edição, inclusive a nível da apresentação do livro. Tive a sorte de encontrar uma excelente gráfica, com uma relação qualidade/preço absolutamente imbatível. A qualidade de impressão e do papel é fantástica. O produto final ficou incomparavelmente melhor do que milhares de livros publicados por editoras de renome, mas que apresentam uma qualidade de papel e de impressão miseráveis.

Como foi a recepção da primeira edição/versão do livro? No geral foi muito boa. Os fãs receberam o livro de braços abertos, pois nada existia em Portugal sobre a história da música pesada aqui produzida. Houve muitas reações entusiastas. A nível da comunicação social, das mais underground à mais mainstream, também se verificou uma boa repercussão do livro, com muitas entrevistas e notícias a serem disponibilizadas nos órgãos de informação. No lado oposto, obviamente que os energúmenos que nada fazem mas tudo criticam quando surgem os produtos feitos não perderam tempo a denegrir o livro, mas somos um país moralmente miserável, de deita-abaixo, de invejosos e de frustrados, portanto não há muito a fazer.

Sei que nao tiveste qualquer apoio financeiro para este trabalho. Pensas que teria sido diferente ou mais fácil caso tivesse acontecido? Sim, teria sido diferente, quanto mais não fosse por não ter de financiar o livro a 100%, como aconteceu, novamente. Como deves imaginar, foi um enorme risco financeiro, que uma vez mais decidi correr. Por vezes, acho que preciso de ser internado. LOL A nível promocional não faço ideia se seria melhor ou pior, mas em termos financeiros a sobrecarga não teria uma dimensão deste nível. De qualquer forma, o livro foi novamente publicado - para gáudio de uns e frustração de outros - e só isso me interessa. Felizmente, estou praticamente a atingir o break-even.

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Vai haver algum evento para divulgação do livro? Como vais promover o livro? Sim, desta vez a estratégia promocional é bastante mais ambiciosa do que em 2013, quando a edição original ficou disponível. Estou a levar a cabo diversas apresentações da obra, umas no âmbito de concertos, outras em lojas de música especializadas. No momento em que respondo à entrevista já fiz quatro apresentações – duas em Lisboa (no RCA e na Glam-O-Rama), uma em Viseu (na Old Skull Inn) e outra em Leiria (no Texas Bar). Segue-se o Oktanas, no Cacém, a 29 de outubro; a Bunker Store, no Porto, a 7 de maio; o 3º Encontro de Metaleiros do Litoral Alentejano, em Vila nova de Milfontes, a 4 de junho; e o Metalpoint, também no Porto, a 2 de julho. Encontro-me em negociações para apresentar o livro em Coimbra, no Algarve e em outras zonas do país. Quero fazer o maior número de apresentações possível. Tenho tido a sorte de receber diversos convites e tenciono aproveitá-los todos. Por outro lado, encontro-me a fazer a divulgação normal – enviar press-releases, responder a entrevistas e fazer divulgação através das redes sociais.

Quando se vêem os tops de vendas de livros percebe-se que existe algum gosto por livros de história, achas que este livro poderia ser apreciado por um não fã de metal? Sim, principalmente se for fã de Rock em geral. Por outro lado, há melómanos que, mesmo não sendo apreciadores de Metal, gostam de absorver todo o conhecimento possível sobre música, independentemente do estilo em causa. Aliás, à semelhança do que verificou em 2013, já vendi alguns livros desta mais recente edição a profundos conhecedores de Rock mas que não são fãs de Metal. 55 / VERSUS MAGAZINE


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A comunidade metal é algo de muito vasto e complexo; Os fãs criam webzines, bases-de-dados, enciclopédias, organizam todo o tipo de eventos; e a literatura não nos escapa: até há um livro que alia a cozinha com o heavy metal (“Mosh Potatoes”); Agora temos a nossa história documentada (desde a primeira versão, claro) com todos os detalhes que faz de nós o que somos. Como é que, a teu ver, explicas o facto de fazermos tudo isto? Porque no fundo, somos vistos como elementos à parte da sociedade global - mas no entanto fazemos tudo para nos comportarmos como “animais sociais”. Existe, com efeito, uma miríade de projetos com as mais diversas origens e objetivos, mas que ainda assim apresentam-se em quantidade irrisória. No Underground nacional está quase tudo por fazer. Há imensos projetos a acontecer em permanência, mas que acabam por ser quase todos mais do mesmo. Chapa cinco. É fulcral emergirem novas ideias, como por exemplo o jogo de tabuleiro Metal Pursuit, o documentário em curso sobre o Metal nacional ou o meu próprio livro. Por exemplo, porque é que não se escrevem obras sobre as cenas locais? Poderia perfeitamente escrever-se um livro sobre a “cena” metálica no Algarve. Ou no Porto. Ou em Lisboa (embora saiba que está em curso a realização de uma tese de mestrado sobre a música pesada na capital e uma de licenciatura que já foi concluída há alguns anos, pelo Kampino, vocalista dos Konad, sobre o underground metálico em Vila Franca Xira). Ou em Almada, onde nos anos 80 surgiram bandas importantíssimas. Tudo isto está por fazer. Como também está por fazer um festival de cinema independente cuja programação se dedique por inteiro aos documentários e filmes-concerto sobre Metal. É preciso inovar, colocar em prática ideias originais, projetos “fora da caixa”. Festivais já existem às dezenas, faça-se alguma coisa de diferente. No que se refere à questão da socialização, esta é indissociável da comunidade metálica, pois é no contexto social que tudo tem origem – seja presencialmente ou à distância. Por definição, os concertos são rituais sociais e intracomunitários por excelência da nossa subcultura, são o fator último de convivência social entre pares. No fundo, fazendo nós parte da sociedade global, nunca poderemos dissociar-nos da mesma, tendo antes de encontrar formas eficazes de nela nos integrarmos para, em última instância, sobreviver. Não é possível viver com qualidade sem uma integração social plena ou, no mínimo, satisfatória. Contudo, é na comunidade metálica que nos sentimos plenamente integrados. Encontramo-nos entre pares, sentimo-nos efetivamente entre os ”nossos”. Em suma, estamos no nosso meio natural. Portanto, a socialização é absolutamente fulcral entre a comunidade metálica.

“Tive a sorte de encontrar uma excelente gráfica (...). A qualidade de impressão e do papel é fantástica. O produto final ficou incomparavelmente melhor do que milhares de livros publicados por editoras de renome” 5 6 / VERSUS MAGAZINE

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LIVRO Ao ler o livro fiquei com a sensação que há duas partes na estrutura do livro; a primeira parte que abrange os anos 70 e 80 tem uma forte componente histórica, descritiva; ao estilo puro de um livro de história. A segunda parte, que abrange os 90 e 00 tem uma visão mais descritiva do que é a musica, o público, a cobertura mediática e a internacionalização. Esta visão foi premeditada? Ou achas que ainda não há uma visão histórica/ distante do que aconteceu nessa altura? Sim, foi premeditada. Relativamente ao período compreendido entre 1966 e 1982 optei de facto pela abordagem mais puramente histórica, pois era essencial revelar as origens da música pesada nacional para que os leitores pudessem conhecer mais profundamente todo o trajeto percorrido. Esse processo implicava falar das bandas que se formaram nessa época, mas dado que as gerações mais novas não tinham conhecimento das mesmas, tornou-se imperativo elaborar as respetivas biografias. Esta abordagem foi usada na primeira parte do livro. Na segunda parte tive obrigatoriamente de optar por uma narrativa mais genérica, dado ser impossível biografar todas as bandas formadas desde 1983 em Portugal. No âmbito da tese em curso A Beast of Many Faces - Identidades, Pertenças e Apropriações do Metal em Portugal (1980-2015), o sociólogo portuense André Aleixo identificou cerca de 1800 bandas nacionais praticantes de Metal fundadas entre 1980 e 2015. Portanto, seria impossível biografá-las todas. Quero dizer…impossível não seria, mas para que esse projeto se tornasse realidade alguém teria de me pagar 1500€ limpos/mês durante três ou quatro anos (no mínimo) para que pudesse trabalhar nele a tempo inteiro. Se conheceres alguém disposto a isso dá-lhe o meu número de telefone, se faz favor. (risos) Mas voltando a responder diretamente à pergunta, daqui a uns anos poderemos certamente analisar o período compreendido entre, digamos, 2000 e 2015 com mais distanciamento. Isso é normal. A passagem do tempo confere-nos sempre outros ângulos de análise e perspetivas distintas. É bom que assim seja.

Existe alguma parte da história do metal em que tiveste mais dificuldade em escrever? Qual? E qual foi a parte mais fácil para ti? As dificuldades não se registaram ao nível da escrita, mas em termos de comprovar a fiabilidade de muita da informação disponível. Inclusive, por vezes músicos da mesma banda forneciam-me versões de forma a que que eles “sejam” como gostariam que fossem. Nenhuma parte foi fácil, mas os anos 70 foram um período histórico que me ocupou imenso tempo, dado ter sido bastante difícil obter algumas informações. Mas curiosamente, a parte que me deu mais trabalho, sem qualquer dúvida, foi o período compreendido entre 2000 e 2015. Não parava de me lembrar e de descobrir aspetos relevantes que deveriam ser contemplados, o que implicava falar com mais pessoas, ler mais informação e confrontar mais dados. Essa parte do trabalho foi extremamente cansativa.

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“Na década de 90 (...) começou a haver estúdios profissionais tendencialmente dirigidos às bandas mais pesadas (...), registaram-se as primeiras internacionalizações dignas de nota (...), organizaram-se mais festivais marcantes (...), o circuito de espetáculos expandiu-se, verificou-se a realização de digressões verdadeiramente profissionais (...) e as bandas portuguesas começaram a captar mais a atenção de selos internacionais.” 59 / VERSUS MAGAZINE


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[NDR: Sobre o passado] A nível lírico muitos desses temas encontram-se igualmente atuais - algumas das críticas que tecem à sociedade são intemporais, portanto uma parte da mensagem não perdeu validade.” A tua obra deixa a sensação que a internet foi algo de positivo para o metal; Qual é a tua opiniao pessoal? Pensas que foi tudo positivo? Preferias descobrir o metal em 1988 ou em 2008? A este respeito, há dois conceitos que se torna necessário distinguir: a Internet e os sistemas de partilha de ficheiros. Julgo que a tua pergunta dirá essencialmente respeito a este último. Mas para começar do início posso dizer sem qualquer dúvida que a Internet constituiu uma ferramenta determinante na evolução do Metal, assim como para qualquer outra forma de arte. Aliás, a rede mundial conferiu um inusitado impulso à sociedade como um todo, nas suas múltiplas facetas. Das artes à política, passando pela ciência, pelo comércio e pela cultura, todas as áreas da vida humana, sem exceção, beneficiaram incomensuravelmente com o advento da Internet. As irreversíveis e profundíssimas mudanças que a World Wide Web, o e-mail e outras ferramentas tecnológicas associadas operaram na sociedade revelaram-nos toda uma nova forma de viver. Portanto, o Metal também beneficiou imenso com a Internet, especialmente em termos promocionais. Todavia – e é esse o ponto a que te referes, julgo eu – as redes peer-to-peer (P2P), de partilha gratuita de ficheiros, vieram destruir a indústria musical como a conhecíamos. De um momento para o outro, a partir do final da década de 90, qualquer um podia descarregar gratuita mas ilegalmente para o computador todos os álbuns que entendesse. Ora, esta realidade veio prejudicar sobremaneira os megagrupos, que vendiam milhões de discos. As receitas provenientes dos royalties caíram vertiginosamente, pelo que passar mais tempo na estrada e fazer investimentos megalómanos em merchandise foram as principais estratégias encontradas para compensar as perdas. Por outro lado, as bandas de pequena dimensão, cujos elementos não vivem da música, encontraram nas redes de partilha de ficheiros mais uma forma de se promover, na medida em que um público mais vasto passou a ter acesso facilitado aos seus registos. Todavia, para estes grupos, as redes de partilha não serão necessariamente mais eficazes na promoção do seu trabalho do que o Youtube, o Facebook ou outras plataformas tecnológicas. Aliás, para estas bandas, a possibilidade de disponibilizarem gratuitamente as suas gravações nestas plataformas constitui uma possibilidade irrecusável de se darem a conhecer a um público mais vasto (e, dessa forma, obterem mais convites para a realização de espetáculos ao vivo). Surge aqui outra questão: “mas disponibilizando gratuitamente as suas gravações as bandas não subvalorizam a obra que desenvolvem?”. Bom, isso depende da perspetiva e seria matéria para um vasto debate, com certeza. Além disso, mesmo que as bandas não tomem a iniciativa de colocar a sua obra gratuitamente disponível na internet haverá sempre quem o faça. Essa realidade é impossível de controlar, não obstante os prós e contras que a si tem associados.

Achas que o metal que se fez em Portugal tinha qualidade suficiente para ser internacionalizado? Durante os anos 80 e na primeira metade da década seguinte eram pouquíssimo os grupos nacionais com inegável qualidade para se internacionalizarem: Ibéria, Tarantula, Mortífera, Ramp, Alkateya, Moonspell, Sacred 6 0 / VERSUS MAGAZINE

Sin, Gangena, Thormenthor; Braindead e mais meia-dúzia.. A partir da segunda metade dos anos 90 começaram finalmente a juntar-se mais nomes a esta elite: Heavenwood, Inhuman, Hate Over Grown, entre outros. Todavia, foi no início do novo milénio que as bandas nacionais começaram a revelar todo o seu potencial. Deixa-me dizer-te que, no entanto, já no final dos anos 60 e toda a década de 70 havia nomes com qualidade mais do que suficiente para encetarem carreiras internacionais de sucesso, caso a realidade do país fosse outra. The Playboys, Xarhanga, Beatnicks, Renovação, Hosanna, Arte & Ofício, Heavy Band e Ferro & Fogo apresentavam qualidade mais do que suficiente para vingar no cenário internacional (aliás, os Heavy Band tiveram bastante sucesso em Angola). Esta reflexão poderá no entanto fazer emergir a pergunta: “mas se durante os anos 70 houve vários grupos portugueses de dimensão internacional, porque é que na década seguinte se contaram pelos dedos das mãos os coletivos com qualidade suficiente para fazer carreira fora de portas”? A resposta é simples: apesar das dificuldades, nos anos 70 a maioria dos agrupamentos que referi eram profissionais ou semiprofissionais (dedicavam-se, portanto, totalmente, ou quase, à execução e aos espetáculos, atuando muito regularmente em bailes, festas, etc.) e nos anos 80 nenhuma das bandas surgidas no contexto Underground o era. Todas as bandas eram amadoras. Portanto, só os mais dotados musicalmente e que reuniam melhores condições técnicas se distinguiam.

Ainda ouves álbuns que se gravaram há 30 ou 40 anos atrás em Portugal? Aos dias de hoje, parecem muito envelhecidos ou ainda estão actuais? Sim, oiço. Oiço muito os singles dos Xarhanga, as gravações dos NZZN, temas que os Hosanna gravaram mas não editaram, o álbum dos Vasco da Gama, o Kingdom of Lusitania dos Tarantula, as gravações mais pesadas e progressivas do José Cid, temas dos Alarme, entre outras coisas. Em termos de musicalidade muitas destas gravações encontram-se perfeitamente atuais, dada a contínua emergência de grupos que nos últimos anos recuperam a sonoridade pesada, suja e orgânica típica da década de 70 (essencialmente manifestada no Stoner Rock e no Doom de herança Black Sabbath). A nível lírico muitos desses temas encontram-se igualmente atuais - algumas das críticas que tecem à sociedade são intemporais, portanto uma parte da mensagem não perdeu validade. Mas também há registos datados, principalmente no que respeita à sonoridade, como o álbum dos Vasco da Gama, o primeiro dos Tarantula e as gravações dos Alarme, Roxigénio ou NZZN.

Ao longo do livro há uma forte conotação entre o potencial/qualidade das bandas nacionais e o seu sucesso – deixa entender que a internacionalização é o sucesso; Sendo o metal um movimento underground, porque achas que a aceitação do público é tão importante? 61 / VERSUS MAGAZINE


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Num mercado tão diminuto como o português facilmente se explora tudo o que existe para explorar. Portanto, a conquista de mercados internacionais é o passo mais lógico para as bandas que ambicionam expandir-se. Em Portugal existe pouco público para os nossos grupos underground, e essa realidade fica bem patente nas salas de espetáculos praticamente vazias. Há alguma tendência para associarmos a internacionalização artística ao mainstream, mas uma coisa nada tem a ver com a outra, até porque existem diversos graus de internacionalização. Encontramos inúmeras bandas underground em todo o mundo que por via da edição e/ou licenciamento dos seus registos, bem como da realização de concertos ou digressões, se encontram devidamente internacionalizadas, mas à sua própria escala. Por exemplo, os Ironsword são um grupo cujo nível de internacionalização aumentou consideravelmente por via do último álbum (todos os meses dão dois ou três concertos no estrangeiro), mas permanecem um coletivo underground. Os Corpus Christii são outro exemplo de internacionalização. Os Switchtense também. Ou os Heavenwood, entre muitos outros. Estas bandas encontram-se em plena construção de uma carreira internacional, mas não enchem por si só salas com cinco mil pessoas. Portanto, sendo por definição um movimento menos visível para a sociedade em geral, o Underground não deixa, ainda assim, de se alimentar do público. Sem fãs, sem empreendedores, sem pessoas que tomassem nas mãos a promoção dos projetos existentes o Underground extinguir-se-ia, pura e simplesmente. Como disse, existem vários níveis de exposição no Underground (e também no mainstream, obviamente – por exemplo, os Dimmu Borgir não apresentam o mesmo grau de reconhecimento dos Iron Maiden). A questão central reside no facto de cada banda ter de saber em que nível de exposição pretende enquadrar-se. Num grau de exposição análogo ao do Black Metal mais primitivo, cujos pressupostos limitam as tiragens das demos a 100 exemplares e os músicos se recusam a dar entrevistas? Questiono-me se valerá a pena criar bandas nessas condições. Ou seja, apenas interessa fazer o melhor possível e divulgar o trabalho realizado com todas as ferramentas à disposição. Quando um grupo reúne 200 pessoas num concerto alguns puristas não perdem tempo a classificá-la de “vendida”, mas isso é fanatismo cego. Quem pugna por um Underground limitado em termos de exposição simplesmente não gosta do movimento, caso contrário defenderia a sua expansão que, por princípio, será sempre limitada. Mas se se der o caso de uma banda underground ascender ao mainstream não vem daí mal ao mundo, a não ser que perca totalmente a sua dignidade e renegue os seus princípios.

Ao longo das décadas houve uma escalada da agressividade, velocidade mas também da técnica e da qualidade do som; a teu ver, para onde irá evoluir o metal enquanto música? É difícil dizer. Não me parece possível formarem-se bandas mais extremas que os Napalm Death do From Enslavement to Obliteration, e estamos a falar de um álbum editado no já longínquo final dos anos 80. Aos grupos que surgiram posteriormente a gravar temas de um microssegundo não contam. Isso é ser extremo só porque sim, só para dizer que são ainda mais extremos que os Napalm Death. Não são. Portanto, não é fácil dizer. Julgo que haverá sempre novos subgéneros a emergir, a maioria deles perfeitamente disparatados, na esteira da ultra-segmentação estilística a que temos assistido na última década e meia. Já faltou mais para alguém 6 2 / VERSUS MAGAZINE

"[NDR: Sobre o futuro] Julgo também que poderão acentuar-se ainda mais duas tendências opostas em plena evolução nos últimos anos – por um lado, o Metal revivalista nas suas múltiplas vertentes (Thrash, Doom, Heavy, Hard Rock e Stoner Rock/Metal) e, por outro, uma forma de Metal mais electro-Industrial, ou maquinal, na esteira dos Rammstein e envolta na tendência Cyber Metal.”

criar algo como o Brutal Hard Noise Rock Underground Extreme Destructive Metal. (risos) É um perfeito absurdo, uma completa estupidez, uma tentativa artificial de “criar algo novo e diferente”, mas que não é uma coisa nem outra. É, simplesmente, ridículo. Mas admito que surjam novos subgéneros legítimos e genuínos, claro. Isso irá certamente acontecer. Julgo também que poderão acentuar-se ainda mais duas tendências opostas em plena evolução nos últimos anos – por um lado, o Metal revivalista nas suas múltiplas vertentes (Thrash, Doom, Heavy, Hard Rock e Stoner Rock/Metal) e, por outro, uma forma de Metal mais electro-Industrial, ou maquinal, na esteira dos Rammstein e envolta na tendência Cyber Metal.

Vamos jogar um jogo; qual é para ti a diferenca no metal entre os anos 70 e 80; 80 e 90; 90 e 00; e finalmente entre os anos 00 e 10. Partindo do princípio que me colocas essa questão relativamente ao cenário nacional, as diferenças entre os anos 70 e 80 são essencialmente, nessa última década, o surgimento do Underground e, portanto, da emergência de uma “cena” organizada, embora ainda em plena definição. Ou seja, verificou-se uma organização a nível da música pesada que não havia, de todo, nos anos 70. Surgiram ainda os fanzines, o tape-trading, a figura da demo-tape comercial, desenvolveu-se um mini- circuito de concertos, surgiram os primeiros festivais e registou-se uma explosão de bandas a nível dos vários subgéneros. Na década de 90 todas estas bases se expandiram bastante. Começou a haver estúdios profissionais tendencialmente dirigidos às bandas mais pesadas (os Rec’n’Roll, 63 / VERSUS MAGAZINE


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“No âmbito da tese em curso A Beast of Many Faces (...), o sociólogo portuense André Aleixo identificou cerca de 1800 bandas nacionais praticantes de Metal fundadas entre 1980 e 2015” dos irmãos Barros, constituíram o paradigma perfeito), registaram-se as primeiras internacionalizações dignas de nota (Sacred Sin, Moonspell, Inhuman, Anger), organizaram-se mais festivais marcantes (Ultra-brutal de Penafiel, Hard Metal Fest, Steel Warriors Rebellion, entre outros), o circuito de espetáculos expandiu-se, verificou-se a realização de digressões verdadeiramente profissionais (Procyon, Afterdeath, Ramp, Tarantula, Heavenwood, Moonspell, Sacred Sin) e as bandas portuguesas começaram a captar mais a atenção de selos internacionais. Surgiram ainda mais bandas (na sua maioria muito mais competentes a nível técnico e de composição do que as dos anos 80) e, no final da década, a demo-CD substitui a demo-tape como formato preferencial de as bandas amadoras mostrarem o seu trabalho. As webzines começam a substituir os fanzines e as newsletters em papel, formatos que desaparecem. A realização de espetáculos internacionais passou a ter uma frequência absolutamente inédita em solo português. Nos anos 00 verifica-se a existência de mais bandas nacionais com influência internacional (mas, ainda assim, em pequeno número: Sirius, Oratory, Re:Aktor, Holocausto Canibal, Icon & the Black Roses ou Classic Rage. O advento da internet e a democratização do acesso às novas ferramentas tecnológicas permitiu que as bandas passassem a gravar profissionalmente em casa e a promover-se mais eficazmente. O acesso às referidas tecnologias possibilitou uma evolução incomensurável por parte dos músicos, que passaram a denotar uma qualidade técnica e composicional absolutamente inédita. A emergência de infraestruturas várias (salas de ensaios, estúdios, salas de espetáculos, etc.) resultou num enorme desenvolvimento do meio, que teve continuidade na década de 10, quando surgiu uma miríade de novos festivais, mais grupos assinaram por editoras estrangeiras e começaram a tocar com mais frequência noutros países (nomeadamente realizando digressões), projetos inovadores surgiram (Hardsound TV, Metal Pursuit, documentários, etc.)…Poderia prosseguir por muito tempo, há muito mais para referir.

Concluíste o livro com a sensação de ter atingido o teu objectivo? Ou pensavas fazer algo diferente? Quem cria nunca fica totalmente satisfeito com o resultado final. Sejam pintores, músicos, escritores ou escultores, haverá sempre algum detalhe que se poderia acrescentar, mudar ou eliminar. Algo que se poderia ter feito de maneira diferente. Assim sendo, posso dizer que nesta edição fiz 95% daquilo que pretendia, da forma que desejava. Estou quase plenamente realizado com esta versão do livro, não só em termos de conteúdo mas também a nível de apresentação. Como já referi, fiz absoluta questão que a obra tivesse um papel de elevada qualidade e uma impressão irrepreensível. Esses objetivos foram plenamente atingidos. Queria também proporcionar aos meus leitores/fãs a melhor experiência possível e oferecer-lhes um produto requintado, daí também ter incluído as badanas e o separador. São detalhes que fazem toda a diferença e que revestem o livro de uma aura verdadeiramente profissional. A cereja no topo do bolho foi a compilação online para download gratuito Breve História do Metal Português – Banda Sonora Infernal, que acompanha o livro.

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Dico vai apresentar o livro pelo país fora, estejam atentos e não percam uma boa oportunidade de poder falar sobre metal. “Breve Tour do Metal Português” vai estar em: 07/05/16 - Bunker Store, Porto 04/06/16 - 3º Encontro de Metaleiros do Litoral Alentejano - Associação Cultural, Desportiva e Recreativa das Brunheiras - Vila Nova de Milfontes 02/07/16 - Metalpoint, Porto

LINKS: http://dico-bhmp.weebly.com/ - (Página oficial) https://www.dropbox.com/sh/az5nuxggdsrk886/AABzxIuFBcvbOUw9dlzF_w82a?dl=0 (Compilação) https://www.facebook.com/DicoLivroBreveHistoriaDoMetalPortugues (Facebook do Livro) livrobhmp@yahoo.com (e-mail de contacto)

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MARCELO VASCO

UM NÓRDICO DO HEMISFÉRIO SUL

OLÁ, MARCELO! É MUITO GRATIFICANTE ESTAR A ENTREV ISTAR UM ARTISTA GRÁFICO LUSÓFONO, QUE GOZA DE UM ENORME PRESTÍGIO NO MUNDO DA MÚSICA EXTREMA. M A R C E L O VA S C O : O prazer é todo meu! Obrigado pelas palavras e pelo interesse em conhecer meu trabalho mais a fundo.

ANTES DE MAIS, COMEÇO POR TE PERGUNTAR COMO É QUE UM CIDADÃO BRASILEIRO (PORTANTO, SUL AMERICANO) CONSEGUIU CONTACTOS TÃO PROFUNDOS COM UM PAÍS NÓRDICO COMO A NORUEGA AO PONTO DE SE TORNAR O RESPONSÁVEL PELO DEPARTAMENTO DE ARTE GRÁFICA DA INDIE RECORDINGS. TRATANDO-SE DE PAÍSES TÃO DISTINTOS UM DO OUTRO, ESTE FACTO SURGE COMO ALGO DE INESPERADO. M A R C E L O VA S C O : Paralelo a música, acho que essa é uma das grandes belezas do mundo do Heavy Metal. É como se fosse uma grande “tribo”, sem fronteiras, unidos e interessados por um mesmo estilo de música, atitudes e ideais. Sei que soa um tanto romântico da minha parte falar dessa forma, mas lá no fundo tem uma pontinha de verdade. Sempre estive envolvido com música desde cedo e dediquei minha vida a isso. Fiz muitos contatos no Brasil e no mundo, ainda através de cartas ali no começo dos anos 90. Com o surgimento da internet as coisas ficaram bem mais fáceis e possibilitaram reduzir ainda mais essas fronteiras. O mundo ficou pequeno! Tenho um apreço enorme pelo Black Metal e pelas bandas da Escandinávia, principalmente Noruega. Então com os contatos e amizades que fui conquistando através dos anos, as coisas começaram a acontecer aos poucos. Quem me indicou para o pessoal da Indie Recordings foi o “King” Tom Visnes (atual Abbath, ex-baixista do Gorgoroth). Devo muito a ele por isso, pois foi uma espécie de divisor de águas na minha carreira. Nós tínhamos bastante contato, eu fiz alguns trabalhos para ele, minha banda na época saiu numa pequena tour com o Gorgoroth aqui no Brasil e ficamos amigos. No início trabalhei apenas em poucos projetos para a Indie Recordings, mas o volume de trabalho foi aumentando e acabamos entrando em um acordo para que eu fosse um membro efetivo na equipe, onde fui Head of Graphic Department de 2008 a 2015, mesmo trabalhando no meu escritório no Brasil.

O QUE TE LEVOU A ABANDONAR ESSA POSIÇÃO? MARC E L O VASCO: Não foi bem um abandono, pois trabalho para eles até hoje diariamente, só não mais em tempo integral como foi nos anos anteriores. É um selo fantástico e com uma equipe de pessoas incríveis. Sou muito grato pela oportunidade que me deram de fazer parte daquela equipe. Aprendi muito! Infelizmente meu tempo hoje também é bastante escasso, pois estou sempre com a agenda cheia, o que é muito bom, claro, não posso reclamar, hehe Eu faço muitos trabalhos freelance e essa é sem dúvida minha prioridade, onde eu me encaixo melhor e onde eu me sinto mais feliz e realizado.

QUE PAPEL DESEMPENHOU ESSA TUA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NOS CONTACTOS QUE TENS MANTIDO COM BANDAS NÓRDICAS? (NO TEU PORTEFÓLIO, ENCONTREI TRABALHOS FEITOS PARA BANDAS PRESTIGIADAS COMO 1349, BORKNAGAR, DARK FUNERAL, DIMMU BORGIR, EINHERJER, ENSLAVED, GEHENNA, GODSEED, GORGOROTH, KEEP OF KALESSIN, MANEGARM, OV HELL, RAGNAROK, SATYRICON, SHINING, TAAKE, WARDRUNA, ALGUMAS DAS QUAIS JÁ ENTREVISTEI.) MARC E L O VASCO: Foi de extrema importância, sem dúvida. Pois foi trabalhando para a Indie Recordings que eu conheci muita gente e fiz muitas amizades por lá. Trabalhei para diversas bandas da Noruega e Escandinávia em geral, e a partir disso os contatos foram aumentando, um foi-me indicando para o outro e tudo foi crescendo. Ainda no começo de 2009 eles me levaram para conhecer o escritório em Oslo, durante o Inferno Festival, foi minha primeira viagem para lá, então foi mágico. Eu adoro aquele lugar e desde então viajo para Noruega quase todo ano ou sempre que dá, hehe Praticamente já me sinto em casa. É um povo muito acolhedor e educado. Difícil não se apaixonar por aquele lugar, sem contar a cultura, a própria atmosfera do Black Metal, e obviamente sua natureza e paisagens de tirar o fôlego.

E COMO CONSEGUISTE TER COMO CLIENTES GRANDES BANDAS DO CONTINENTE AMERICANO (TAIS COMO SLAYER, MACHINE HEAD, SOULFLY, CAVALERA CONSPIRACY, OBITUARY, GRAVE, MALEVOLENT CREATION)? MARC E L O VASCO: Tudo foi se desencadeando naturalmente… Como eu fiz muitos trabalhos para bandas de grande prestígio da cena norueguesa, bandas de outros países começaram a me procurar. Ainda antes eu já havia feito trabalhos para nomes como o Vader e Lord Belial, que ajudaram a divulgar o meu nome como artista gráfico ao redor do mundo. Então foi uma mistura de tudo isso, eu acho. O Soulfly, por exemplo, naquele momento tinha o baterista Dave, que ao mesmo tempo era baterista do Borknagar. E como já éramos amigos e eu já havia trabalhado para o Borknagar, ele me indicou para o Max Cavalera. O Max gostou do meu estilo de arte e acabamos trabalhando juntos no álbum “Enslaved”. Ficamos amigos e trabalho para o Soulfly e Cavalera Conspiracy até hoje. O Slayer e o Machine Head foi através da Nuclear Blast e do meu amigo Gerardo Martinez, presidente da NB USA. Conheci ele quando fiz trabalhos para o Enslaved, se eu não me engano. Uma pessoa fora de série e que sempre abriu grandes portas pra mim! Confiou imensamente no meu trabalho e me deu ótimas oportunidades de mostrá-lo para as bandas. Ele é outro enorme divisor de águas na minha carreira!

TAMBÉM ENCONTREI NO TEU PORTEFÓLIO OUTRAS BANDAS EUROPEIAS E AMERICANAS UNDERGROUND (COMO É O CASO DOS AMERICANOS ABSU, OU DOS FRANCESES AD HOMINEM). FORAM AS BANDAS QUE TE CONTACTARAM, TENDO EM CONTA O TEU PRESTÍGIO COMO ARTISTA GRÁFICO? MARC E L O VASCO: Sou muito fã do Absu e do Ad Hominem. No caso do Absu, se me lembro bem já tínhamos algum contato e o Proscriptor (bateria e vocal), sabendo que eu era artista gráfico, se interessou por alguns serviços. Mas naquela época meu nome ainda não era muito conhecido eu acho. E com o Ad Hominem o interesse partiu de mim, pois eu era sócio de uma editora brasileira e estávamos interessados em licenciar um de seus álbuns em território brasileiro. Nós lançamos o álbum “Dictator” no Brasil e coloquei eles em contato com produtores de shows daqui, o que ajudou a trazê-los para sua primeira tour na América do Sul, junto com o Marduk. Consequentemente, acabei fazendo alguns trabalhos para eles. 6 6 / VERSUS MAGAZINE

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SENDO UM ARTISTA GRÁFICO LIGADO AO MUNDO DO METAL, TENS UMA NÍTIDA PREFERÊNCIA PELAS CORES SOMBRIAS E PELOS TEMAS TÉTRICOS. COMO FAZES PARA ADAPTAR O TEU ESTILO A BANDAS TÃO DIFERENTES COMO, POR EXEMPLO, 1349 E DARK FUNERAL (CLARAMENTE BLACK METAL) OU SLAYER E MACHINE HEAD (MAIS CONOTADAS COM O THRASH METAL)? MARCE L O VASCO: É difícil de explicar, mas acredito que seja uma questão de discernimento e bom senso. Cada proposta exige um caminho e abordagem diferentes, mesmo eu sempre tentando manter o meu estilo presente. Eu me considero uma pessoa bastante eclética e aprecio todo tipo e estilos de arte, o que de certa forma me permite ter uma visão mais ampla na hora de estar definindo um conceito e direção. Outra coisa interessante é que eu cresci lendo quadrinhos do Conan e do Drácula, vendo filmes sci-fi/horror, e babando pelas capas dos discos de Heavy, Thrash e Death Metal dos anos 80 e 90, ainda antes do surgimento do Black Metal escandinavo e toda aquela atmosfera ímpar. Então tudo isso colaborou e é algo que se desenvolveu na minha cabeça de uma maneira muito positiva. Estou sempre observando e tentando captar a essência das coisas, é um constante aprendizado e a cada dia ajuda na minha evolução como artista gráfico. Acho que não é somente o equipamento ou a técnica que faz o artista, antes disso deve vir o desenvolvimento dessa visão, dessa sensibilidade… A coisa toda precisa ter alma!

QUE TÉCNICAS USAS HABITUALMENTE NOS TEUS TRABALHOS GRÁFICOS? MARCE L O VASCO: Gostei imenso de um efeito que encontrei nas capas que fizeste para os três últimos álbuns de Borknagar: todas três retratam objetos como se estes fossem feitos de metal. Como o produzes? Meu trabalho é quase sempre feito através de uma mesma técnica, que mistura manipulação de imagens/fotos com o desenho digital. Gosto disso pois consigo desenvolver melhor minha própria identidade, mesmo através de conceitos e propostas

diferentes. Estou a cada trabalho tentando progredir mais e tenho estado muito feliz com os resultados que eu tenho alcançado. Mesmo em 99% das vezes o trabalho sendo executado digitalmente, estou alcançando um resultado mais orgânico, que me agrada bastante. Claro que a tendência é que o tempo passe e eu comece a achar defeitos nos meus trabalhos anteriores, olhando com outros olhos, e isso é muito normal de acontecer. Eu sou extremamente autocrítico, mas isso mostra que estou indo em frente, crescendo. Eu sinto que dessa forma eu consigo evoluir e desenvolver cada vez mais minha identidade como artista, que é o que eu sempre busquei. Isso que citou das capas do Borknagar na realidade é uma mistura da manipulação com esse trabalho mais intenso na texturização. É algo que vem depois da criação e composição da peça. É exatamente através dessa texturização que eu tenho alcançado essa abordagem mais orgânica que comentei. E na realidade não foi só com o Borknagar. É uma tendência em todos os meus últimos trabalhos de 2 ou 3 anos pra cá. Em alguns deles isso se mostra em menor intensidade, claro, mas você pode notar isso muito bem na capa do Slayer «Repentless», na nova capa do Hatebreed «The Concrete Confessional» e no último do Borknagar «Winter Thrice», por exemplo.

E ONDE VAIS BUSCAR A TUA INSPIRAÇÃO? CERTAMENTE A FONTES BEM VARIADAS, JÁ QUE, NO GRUPO DE TRABALHOS TEUS QUE VI, ENCONTRO REFERÊNCIAS A ALGO QUE ME PARECE PINTURA ESPANHOLA DO SÉC. XVII (POR EXEMPLO, A CAPA DE «REPENTLESS», DOS SLAYER), BANDA DESENHADA MODERNA (POR EXEMPLO, A CAPA PARA «WINTERTHRICE», O ÚLTIMO DOS BORKNAGAR, FAZ-ME PENSAR NA SÉRIE “WORLD OF WARCRAFT”, QUE COSTUMAVA LER HÁ ANOS ATRÁS), PINTURA SIMBOLISTA (POR EXEMPLO, A ARTE DE «REPTILIAN», DOS KEEP OF KALESSIN), O UNIVERSO DA HERÁLDICA (NA CAPA DE «BLOODSTONE & DIAMONDS», DOS MACHINE HEAD) OU ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA ESTÉTICA GRÁFICA ASSOCIADA AO BLACK METAL (POR EXEMPLO, EM «NAIL THEM TO THE CROSS», DE DARK FUNERAL). MARCE L O VASCO: Como eu disse anteriormente, sou uma pessoa eclética e admiro todo tipo de arte, então de fato é uma gama variada de inspirações. E, de certa forma, como artista, absorvo um pouco disso para mim mesmo e posso colocar essas influências indiretamente ou inconscientemente nos meus trabalhos. Mas para fechar um pouco o cerco e irmos direto ao ponto… Sou fã incondicional daquela atmosfera lírica e visual dos filmes de sci-fi e horror mais antigos, HR Giger, H.P. Lovecraft, Stanley Kubrick, Stephen King, das capas de discos de metal, especialmente Death Metal… artistas como Dan Seagrave, Michael Whelan, Larry Carroll, Ed Repka…, o surrealismo de Salvador Dali, pinturas renascentistas de séculos passados, Hieronymus Bosch, heráldica como você mesmo citou, o Line Engraving de Gustave Doré, Albrecht Dürer, entre muitos outros…

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TENS ALGUM DIPLOMA DE ESTUDOS ARTÍSTICOS, ÉS AUTODIDATA, OU COMBINAS ESTAS DUAS TENDÊNCIAS? M A R C E L O VA S C O : Combino as duas coisas. Sou graduado em Design Gráfico, onde tive uma experiência muito interessante através da vivência com meus professores, colegas e projetos acadêmicos. Porém não foi na faculdade que aprendi a fazer o que faço, apenas serviu como um ótimo complemento. Até porque eu já me aventurava com as minhas artes profissionalmente antes mesmo de começar a cursá-la. Acredito que minha visão artística ganhou muito com ela, isso sim. Além de todo conhecimento adquirido lá. Mas todo o resto, a prática e a parte técnica/manual, foi algo que eu fui desenvolvendo através da minha própria curiosidade e dedicação com o passar dos anos.

LI, NA PÁGINA OFICIAL DA P2RDESIGN, QUE OS TEUS TRABALHOS TÊM SIDO PUBLICADOS EM OBRAS CONSAGRADAS À ARTE GRÁFICA ASSOCIADA AO METAL E QUE JÁ PARTICIPASTE EM DUAS EXPOSIÇÕES COLETIVAS (A PRIMEIRA, NA NORUEGA, E A OUTRA, NO BRASIL). QUERES FALAR-NOS UM POUCO DESSA T UA EXPERIÊNCIA E DIZER-NOS SE TENS MAIS ATIVIDADES DE DIVULGAÇÃO DO TEU TRABALHO DESSA NATUREZA PREVISTAS PARA OS PRÓXIMOS TEMPOS? M A R C E L O VA S C O : Existem dois projetos em andamento… Um deles ainda é um embrião, que é minha vontade de lançar um livro de artes meu, também com algumas histórias relacionadas, algo em que eu tenho trabalhado por algum tempo mas ainda sem qualquer previsão de lançamento. E outro projeto é uma exposição de artes coletiva chamada ARTE NAS SOMBRAS, onde eu juntamente com outros três artistas brasileiros (Raphael Gabrio, Rafael Tavares e Edu Nascimentto), exibimos nossos trabalhos ligados ao mundo do Heavy Metal em galerias, espaços culturais, convenções de tattoo etc. Inauguramos a primeira edição dessa exposição no Rio de Janeiro no começo desse ano, na maior convenção de tattoo da América Latina, a Tattoo Week. Foi muito legal e um fantástico primeiro passo. Agora estamos planejando o mesmo para a edição da mesma convenção em São Paulo, que é ainda maior, agora no meio do ano. E também esperamos poder levar para outras cidades do Brasil e quem sabe outros países. Mas ainda temos um longo caminho pela frente.

JÁ EXPERIMENTASTE O MUNDO DA BANDA DESENHADA (OU DAS “HISTÓRIAS EM QUADRINHOS”, COMO SE COSTUMA DIZER NO BRAS IL)? MARCELO VASCO: Infelizmente ainda não tiver o prazer, mas seria interessante, com certeza.

E QUE PODES DIZER-NOS DAS TUAS VIVÊNCIAS COMO MÚSICO DE METAL? NA ENCYCLOPAEDIA METALLUM, ÉS REFERIDO COMO MEMBRO DE VÁRIAS BANDAS . MARCELO VASCO: Na minha vida uma coisa sempre acompanhou a outra, música e arte. Não sei nem mesmo dizer muito bem o que veio primeiro… Mas desde muito cedo me envolvi com a música, por eu ser parte de uma família muito musical. Meu bisavô era compositor e violonista e meu tio idem, e foi ele quem me ensinou os primeiros acordes quando eu tinha só

8 ou 9 anos de idade. Já tive muitas bandas e estou sempre envolvido com projetos musicais, a maioria sem muito compromisso e nas horas vagas, mas atualmente faço parte de duas bandas, o Patria e o Mysteriis. O Mysteriis está parado desde 2012 na realidade, mas já está chegando nos seus quase 20 anos de existência. Minha banda mais ativa hoje e minha prioridade musical é o Patria. Inclusive estamos gravando nosso novo álbum que está planejado para sair por volta de Outubro/Novembro desse ano. Para quem estiver interessado em conhecer mais sobre o Patria, só acessar nossa página no Facebook: fb.com/blackmetalpatria. iAlém disso estou trabalhando em um álbum solo instrumental, ainda sem previsão, mas que é um sonho meu antigo. Recentemente me tornei um artista oficial da Epiphone USA, o que também foi imensamente positivo na minha carreira musical. Então as coisas estão indo muito bem…

PARA TERMINAR: QUAL É A TUA MAIOR AMBIÇÃO NESTE MOMENTO? MARCE L O VASCO: Se você me fizesse essa mesma pergunta no começo do ano passado, eu diria claramente que minha maior ambição seria assinar uma capa para o Slayer. E surpreendentemente este foi um feito que eu já alcancei, mesmo as vezes ainda não acreditando, hehe. O Slayer é a minha banda preferida desde que eu era muito jovem, então é uma conquista gigantesca para mim. E nenhuma ambição estaria além dessa, tanto no meu âmbito pessoal como profissional. Costumo dizer que eu nasci de novo. E é realmente essa a sensação. Mas obviamente tenho outras ambições, não seria nada mal se eu tivesse a oportunidade de trabalhar para artistas como o Metallica, Rush, Dream Theater ou Steve Vai. E além disso tenho muita vontade de trabalhar na área do cinema, colaborando com a minha arte para filmes, especialmente sci-fi e horror. Quem sabe no futuro!

“(...) ESSA É UMA DAS GRANDES BELEZAS DO MUNDO DO HEAVY METAL. É COMO SE FOSSE UMA GRANDE “TRIBO”, SEM FRONTEIRAS.”

https://www.facebook.com/marcelovascoarts/

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ENTREVISTA

ENTREVISTA

“E-AN-NA’’ (…) REFERE-SE A UM MUNDO COMPLETAMENTE NOVO, EM QUE TUDO O QUE AFETA NEGATIVAMENTE ESTE MUNDO NÃO EXISTE. (…)”

E-AN-NA METAL UTÓPICO DA ROMÉNIA VÊM OS E-AN-NA, QUE FAZEM DA SUA MÚSICA UM MEIO DE CELEBRAR UMA NOVA UTOPIA. Entrevista: CSA ENCONTREI A TUA BANDA NO FACEBOOK E LOGO PENSEI QUE VALIA A PENA ENTREVISTAR-VOS. ANTES DE MAIS, GOSTAVA DE SABER O QUE SIGNIFICA E-AN-NA.

limites, pode-se adaptar facilmente às nossas necessidades.

ANDREI O LTE A N : Fico contente por termos despertado o teu interesse. É sempre um prazer ver que alguém descobriu a nossa música e, sobretudo, que gostou dela. ‘’E-anna’’ é uma expressão proveniente da antiga língua suméria, que pode ser traduzida por “casa/lar dos céus”. Usavam-na para designar o tempo de Ishtar. Mas, para nós, tem outro significado: referese a um mundo completamente novo, em que tudo o que afeta negativamente este mundo não existe. É algo concetual, um tanto indefinido, logo, dentro de certos

A N D R EI OLTE A N: Ovidiu Ban e Alex Giurgeca (guitarras), Dragos Bertia (baixo), Paul Bucataru (bateria) e Edwin Marc (acordeão e backing vocals).

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QUEM SÃO OS MEMBROS DA BANDA (ALÉM DE TI, É CLARO)?

COMO TIVERAM A IDEIA DE FORMAR UMA BANDA DE METAL CENTRADA NO FOLCLORE ROMENO? JÁ TINHAM ALGUMA EXPERIÊNCIA NESSA ÁREA? A N D R EI O LTE A N: Comecei a trabalhar a partir de algumas ideias minhas há já alguns anos, mas ainda eram um tanto vagas. Tornaram-se mais

concretas quando o Ovidiu se juntou a mim e pusemos mão à obra de forma mais séria e precisa. Pouco depois, apareceram o Alex e o Dagos e começámos a ensaiar usando uma drum machine e a gravar. Depois de termos lançado o nosso primeiro single – “Jiana” –, encontrámos o Paul. Aconteceu por um mero acaso: eu e o Ovidiu tínhamos previsto fazer um concerto com Prometheic, o nosso projeto Post Rock, para apoiar as vítimas da tragédia do Colectiv e ele juntou-se a nós. Nessa altura, falámos-lhe deste nosso projeto principal e, em breve, ele tinha saltado para bordo. E, por fim, há muito pouco tempo (sem que isso o faça perder importância), entrou o Edwin. Eu e o Alex já tínhamos estado com ele numa

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banda chamada WarChant (que ainda tenciona fazer lançamentos) e somos bons amigos, logo ele foi muito bem-vindo. Atualmente, não podia estar mais feliz, porque toda esta gente talentosa me vai ajudar a fazer deste sonho uma realidade. No que diz respeito à experiencia, a resposta é: sim e não. Já estive em bastantes bandas, mas só duas faziam Folk Metal (WarChant e God) e eu era só músico de sessão. Aliás, de vez em quando, ainda toco com elas. Também tive uma banda de Avant-Garde Folk Metal (decidimos designar assim a nossa música), chamada Ansis, mas as coisas não correram de acordo com as nossas expetativas e eu pus-lhe fim. Os outros membros têm histórias semelhantes à minha: todos têm estado noutras bandas. Mas nunca nenhum de nós esteve envolvido num projeto tão sério como E-na-na, logo o nosso empenho e determinação são agora muito superiores.

O QUE LANÇARAM ATÉ AGORA? ANDREI OLT EAN: Apenas dois singles: ‘’Jiana’’ and ‘’Tinca Popii’’.

QUEM FAZ O QUÊ NA BANDA? COMO SÃO SEIS, TÊM MUITO POR ONDE ESCOLHER. Para começar, eu componho as partes principais e depois discutoas com os outros e vemos o que é preciso alterar, acrescentar, remover e tudo o resto que caracteriza o processo criativo. Como se trata de um projeto artístico, não há lugares fixos para ninguém. A única obrigação que todos temos é praticar.

COMO COMBINAM FOLK E METAL EXTREMO NAS VOSSAS COMPOSIÇÕES? ANDREI OLT EAN: Combinamos o que nos vem à cabeça e da forma que nos soar melhor. Cada um de nós tem estilos e influências muito diferentes, portanto os resultados finais são sempre interessantes. Infelizmente, não penso que estes dois singles cheguem para se compreender a verdadeira natureza de E-an-na. Aliás, francamente considero que nem um álbum inteiro chegaria para atingir esse objetivo. Mas, à medida que formos

fazendo lançamentos, os ouvintes ficarão cada vez mais próximos da realidade da nossa música, que vive da conjugação de múltiplas orientações.

Não faço ideia nenhuma se se pode encontrar influências de outras bandas romenas na nossa música. Mas admito que tal pode acontecer.

QUE TEMAS LÍRICOS TRATAM NAS VOSSAS CANÇÕES?

LI ALGURES QUE O VOSSO FANTÁSTICO LOGO FOI CRIADO POR MOGA ALEXANDRU DA KOGAION ART. O QUE SIGNIFICA/REPRESENTA?

ANDREI OLT EAN: Os meus companheiros costumam brincar comigo, dizendo que eu sou um “gajo esotérico” e que é preciso ser um bocado maluco para perceber realmente as minhas letras. É claro que eu não concordo (pelo menos, na totalidade). Tudo depende da canção de que estejamos a falar. Geralmente, faço algo associado ao conceito subjacente a E-an-na, logo relacionado com as causas que nos levam a precisar deste novo mundo, ainda não poluído. “Jiana”, por exemplo, fala de um homem (que também pode ser visto como uma entidade coletiva) dilacerado pelo mundo demoníaco em que vive e da sua viagem catártica, que o leva a evoluir e a converterse num ser melhor, finalmente apto para viver no mundo superior associado ao conceito de E-nana. A letra pode parecer um tanto pretensiosa, mas não é essa a intenção, de modo nenhum. Tento sempre, na medida do possível, deixar ao ouvinte/leitor algum espaço para uma interpretação pessoal, sem atraiçoar o sentido de base do que escrevi. Penso que, deste modo, a narrativa (a mensagem) será mais facilmente compreendida (apreendida) por todos.

SENTEM-SE INFLUENCIADOS POR BANDAS DO VOSSO PAÍS OU ESTRANGEIRAS? ANDREI OLT EAN: Como já expliquei, temos imensas bandas, compositores, etc. a influenciarnos, quer como membros de uma banda, que como indivíduos. Esforçamo-nos por não nos deixarmos levar demasiado pelo que já foi feito no Folk Metal (embora reconheçamos algumas influências pontuais vindas de bandas como Arkona e Eluveitie), mas não é essa a nossa maior preocupação. O que queremos realmente é que a nossa música seja tão boa quanto pode ser, que todas as suas potencialidades se concretizem.

ANDREI OLTE A N : Sim. Moga é um amigo da banda e um gajo porreiro. O logo representa o nome da banda, num alfabeto que nós próprios criámos. Quisemos fazer acompanhar a nossa música e honrar o conceito a ela subjacente com algo mais muito pessoal, usado só para essa finalidade. Podes encontrar esses carateres nos nossos vídeos e usálos-emos sempre que lançarmos algo provido de uma dimensão visual.

QUEM CRIOU OS VÍDEOS QUE PODEMOS VER NO CANAL DA BANDA NO YO UTUBE? E COMO FORAM FEITOS? ANDREI O LTE A N : São da autoria de Isabella Ienciu, o herói que se esconde nos bastidores. Nós contribuímos para a sua elaboração com ideias e ela fez a magia (“magick” com um “k” propositado).

JÁ TOCARAM AO VIVO? ANDREI O LTE A N : Ainda não, mas tencionamos fazê-lo e estamos a preparar um calendários dos nossos concertos.

QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS PARA O FUTURE DE E-AN-NA? ANDREI OLTE A N : Muitos. Num futuro próximo, queremos lançar mais algumas canções, talvez mais um single e, a seguir, um EP com quatro canções. Esperamos ter um álbum pronto lá para o fim deste ano. Podes juntar a isto os concertos e tudo o que estas atividades implicam. De qualquer modo, até lá, continuem a ouvir os nossos lançamentos. https://e-an-na.bandcamp.com/ https://youtu.be/PgReQ0d_qlk

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ENTREVISTA

ENTREVISTA balho ele teve de se retirar, por motivos pessoais. Em «Yheri», pelo contrário, procuramos investigar mais a partir de um nosso projecto anterior “Kailash”. Neste trabalho pode-se ouvir alguns componentes ambientais e vanguarda, que melhor nos caracteriza.

MUDARAM A VOSSA FORMA DE COMPÔR PARA ESTE VOSSO SEGUNDO TRABALHO DE LONGA DURAÇÃO?

FOI ALGO INTENCIONAL PARA FUGIR UM POUCO AO BM TRADICIONAL, OU É ALGO PARA TORNAR A VOSSA MÚSICA MAIS INTERESSANTE? Adicionamos diferentes elementos para melhor contar a história e neste trabalho também quisemos tornar o som com uma base mais intrigante.

O QUE INFLUENCIA A VOSSA MÚSICA? NA MÚSICA MAS TAMBÉM NA VIDA.

“PESSOALMENTE PREFIRO TEMAS MAIS INTROSPECTIVOS. A MÚSICA TEM A VER COM EMOÇÕES, A NOSSO VER” “«YHERI» É UM ÁLBUM CONCEPTUAL, A MÚSICA SEGUE PASSO-A-PASSO A NARAÇÃO DA HISTÓRIA.”

HORNWOOD FELL ENRAIZADOS NA FLORESTA ITALIANA OS HORNWOOD FELL SÃO UM PROJECTO ITALIANO DE BLACK METAL QUE SE TORNOU MUITO MAIS DO QUE APENAS ISSO. MESMO ESTANDO AS INFLUÊNCIAS BEM PRESENTES JÁ SE TORNA DIFÍCIL CLASSIFICA-LOS COMO BLACK METAL. PARA ESTE TRABALHO «YHERI» DECIDIRAM CRIAR UM TRABALHO COCEPTUAL, LIGADO A UMA HISTÓRIA COM UMA MÚSICA CHEIA DE DIFERENTES CORES E TEXTURAS. ESTIVEMOS À CONVERSA COM O VOCALISTA E GUITARRISTA MARCO BASILI QUE NOS DESVENDOU UM POUCO MAIS SOBRE O PROJECTO. Entrevista: Adriano Godinho

PODES NOS DIZER QUEM SÃO OS HORN WOOD FELL E QUAL É O VOSSO INTUITO ORIGINAL? COMO SE CONH ECERAM E COMO COMEÇARAM AS COISAS PARA VÓS? Olá! Em 2013 eu e o meu irmão Andrea decidimos deixar os projectos em que estávamos envolvidos e dedi7 4 / VERSUS MAGAZINE

car-nos ao que gostávamos mais de tocar, dentro do género metálico. Nós tocávamos black metal já nos anos noventa com o nome “Hastur Evocation”. Depois dedicámos-nos a projectos que se tornaram completamente nossos, por exemplo “Krom”, que depois evoluiu para “Kailash” e até “Hastur”. Após alguns anos decidimos que precisávamos de voltar às nos-

sas origens. O que nos agrada mais é a junção dos sons mais sujos com a crescente imaginação do black metal, que muitas vezes ultrapassa a barreira criada pela componente instrumental e técnica da música. No primeiro álbum decidimos voltar a trabalhar com o nosso amigo Andrea Vacca, com quem partilhamos muitas histórias no passado. Infelizmente, após o primeiro tra-

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«Yheri» é um álbum conceptual, a música segue passo-a-passo a naração da história. Sentimos a vontade de adicionar elementos às músicas para criar algo mais colorido que o nosso trabalho anterior; também porque a narração requeriu um envolvimento diferente por parte da música, em vários momentos.

OUVIR «YHERI» FAZ-NOS VIAJAR POR VÁRIOS SÍTIOS E MOSTRA-NOS UMA GRANDE VARIEDADE DE CENÁRIOS MUSICAIS E DE PENSAMENTOS; FOI ALGO VOLUNTÁRIO? OU FOI ALGO QUE CALHOU CHEGAR A ESTE PONTO? A narração requeriu várias nuances musicais; a música acompanha as imagens descritas na história. Não foi por acaso, mas sim, existem muitas mais “cores” neste último trabalho, musicalmente falando.

A MELODIA ESTÁ OMNI-PRESENTE NESTE VOSSO TRABALHO; ANTES E APÓS MOMENTOS DE FORTE ENERGIA. EXISTE MUITA VARIAÇÃO ENTRE MELODIA E AGRESSIVIDADE, ACRESCENTANDO COMPLEXIDADE E FLEXIBILIDADE À VOSSA MÚSICA.

Em relação à música, bandas como Darkthrone, Ulver, Emperor, Ved Nuens, Ende, Kvist, o som mais Trad do BM Nórdico, que ainda se pode notar neste nosso segundo trabalho. Há, de certo, mais experimentalismo e criação de ambientes neste álbum, mas podes ouvir um antigo trabalho dos «Kailash» chamado «Past Changing Fast» para perceber as ligações que existem. Neste «Yheri» a narração levou-nos a utilizar uma imagética de forma intensa, que até nos ajudou na construção de toda a estructura do álbum.

LI UMA ANTERIOR ENTREVISTA VOSSA DA ALTURA DO ÁLBUM «HORNWOOD FELL» ONDE TRANSPARECE UMA FORTE LIGAÇÃO AO BLACK METAL DOS 90; ACREDITO QUE A INFLUÊNCIA SE FAÇA SENTIR MAS DIRIAM QUE HOJE ESSA É O VOSSO PRINCIPAL FOCO? PORQUE HONESTAMENTE, ESTE TRABALHO É MUITO MAIS DO QUE APENAS ISSO, MAIS DO QUE APENAS UM SOM CRU, FRIO E CHEIO DE ÓDIO. Exactamente! Este trabalho já não é apenas black metal. Tem de facto várias facetas, tem momentos de atmosferas diabólicas que rodeiam o

ouvinte, disparando contra uma densa e escura floresta, mas como também tem momentos de reflexão musical. É, sem dúvida, mais do que um álbum de black metal, pelo bem e pelo mal.

QUANDO SE JUNTARAM PARA COMEÇAR A TRABALHAR PARA ESTE NOVO TRABALHO, JÁ SABIAM O QUE QUERIAM FAZER E QUAL A DIRECÇÃO A SEGUI R? Os primeiros esboços foram muito mais simples, soavam muito mais a Black Metal. A ideia original era fazer algo mais directo, comparado com o primeiro, algo mais podre. Mas depois, aquando da composição, realizamos que não estávamos a curtir assim tanto o que estava a sair, então o meu irmão sugeriu tentar algo diferente, mais crepitante, mais arrojado, de forma a criar mais possibilidades para a secção rítmica. Daqui nasceu a vontade de criar um conceito, escrever uma história. Através das palavras foi mais fácil criar os arranjos e até o juntar e o misturar das várias peças que podes ouvir em «Yheri».

COMPARADO COM O SEU ANTECESSOR «YHERI» SOA MAIS DINÂMICO, VASTO E CONSCIENCIOSO. PARECE QUE A BANDA TENTOU IR MAIS LONGE PARA NOS TRAZER ALGO. ESTOU ERRADO? COMO COMPARAS OS VOSSOS DOIS TRABALHOS? QUANDO ACABARAM A GRAVAÇÃO E OUVIRAM O RESULTADO, ESTE SOAVA EXACTAMENTE AO QUE ESPERAVAM? Quisemos apresentar um album que desvendasse algumas peculiaridades nossas. Sempre narramos a música de uma forma ecléctica; não sei se é bom ou mau, válido ou não, prefiro que sejam outros a dize-lo; nós apenas gostamos que seja assim. Nós tínhamos uma ideia precisa do que queríamos que o álbum soasse; o que não foi planeado foram as vozes nesta gravação: é a primeira vez que eu e o meu irmão trabalhamos em nuances nas vozes. Adoramos experimentar e descobrir novas possibilidades; uma surpresa que não estávamos à espera.

A FLORESTA AINDA É VOSSA FONTE DE INSPIRAÇÃO? PODEMOS NOS DIZER MAIS SOBRE ISSO E O QUE VOS TRAZ ESSA INSPIRAÇÃO ENQUANTO PESSOA S E À VOSSA MÚSICA? 75 / VERSUS MAGAZINE


Eu e o meu irmão crescemos numa vila nos montes Cimini. Ele vive agora na cidade, em Roma mas vem cá muito frequentemente. Nesta parte do país a natureza é o protagonista: encerca-nos. Vou com alguma frequencia caminhar para os bosques; ajuda-me a encontrar a paz interior. Vaguear pela floresta mexe muito comigo, surgem-me imagens inspiradoras, para a minha vida, no geral. O mundo de sons traz à superfície as sensações e imagens da minha vida.

PODES NOS FALAR MAIS SOBRE A MÚSICA “THESE TREES ARE WATCHING”? COMO SUR GIU A IDEIA DE UMA MÚSICA DESTAS? QUEM A ESCREVEU E QUEM A TOCA? NÃO É UMA MÚSICA MUITO CONVENCIONAL NUM ÁLBUM DE BLACK METAL. Compus essa faixa e sou eu que a toco.Gostei da ideia de “aliviar” um pouco as coisas a certa altura da obra; tipo um parêntesis, tanto do ponto de vista musical como narrativo. Outras entidades tiveram de estar envolvidas, de formas diferentes, além do protagonista “Yheri”. Imaginei a audiência sendo árvores, para poder dar outra ênfase em termos de ambiente.

QUAIS SÃO OS OUTROS TEMAS QUE PODEMOS ENCONTRAR NAS VOSSAS LETRAS? ACHAM QUE SERIAM CAPAZES DE ESCREVER SOBRE TEMAS CONTEMPORÂNEOS COMO POR EXEMPLO OS RECENTES ATAQUES DO ESTADO ESLÂMICO? OU ESTÃO COMPLETAMENTE FOCADOS NOS VOSSOS TEMAS? Pessoalmente prefiro temas mais introspectivos. A música tem a ver com emoções, a nosso ver. No fundo, esta estrapolação de sentimentos pessoais não é algo muito diferente da nossa realidade do mundo actual.

OUVI DIZER QUE CANTAM EM ITALIANO MAS INVERTENDO AS PALAVRAS. USARAM ESSA MESMA TÉCNICA PARA ESTE ÁLBUM? ACHAM QUE A LÍNGUA UTILIZADA NA MÚSICA FAZ DIFERENÇA? No primeiro álbum, ambos demos mais valor aos sons do que às palavras. Os texto eram apenas uma forma de construir os sons das vozes. Depois precisamos de algo mesmo demoníaco para completar o estilo do álbum. Por essa razão decidimos que eu iria contar em italiano mas de trás para a frente, o que resultou bem no tipo de som que procurávamos. Para este segundo trabalho, seguindo um conceito, os textos eram de muita importância e ainda mais importante é os ouvintes poderem seguir a narração, o que ajuda na compreensão da música. Por isso, usamos o inglês.

NESTE TRABALHO PODEMOS O UVIR DIFERENTES VOCALIZES; UMA MAIS AGRESSIVA E OUTRA MENOS (NÃO PODEMOS DIZER QUE SE TRATA DE UMA VOZ LIMPA) MAS TAMBÉM COROS (I.E. “THE REBELLION”). COM QUAL GÉNERO DE VOZES TE SENTES MAIS À VONTADE? O USO DE FORMAS DIFERENTES DE VOZES É POR PREOCUPAÇÃO MUSICAL DA MELODIA OU POR OUTRAS RAZÕES? Senti-me mais à vontade em gravar “Them” porque as vozes eram limpas e naturais, e sim, foi o mais fácil de gravar. Além disso, as vozes seguem os eventos da história, para dar ênfase as diferentes fases. Nada está lá por acaso! Muito obrigado por nos dar este “espaço”.

“É, SEM DÚVIDA, MAIS DO QUE UM ÁLBUM DE BLACK METAL, PELO BEM E PELO MAL.” 7 6 / VERSUS MAGAZINE

https://www.facebook.com/hornwoodfell/ https://youtu.be/lWiyR3T9NS4

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GARAGE POWER

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amos que o facto de Portugal ser um país pequeno torna mais difícil criar uma base de fãs num estilo musical como o nosso, com características tão próprias, pois à partida teremos um menor número de possíveis fãs. Mas de qualquer forma, estamos a apostar no mercado internacional da mesma forma que apostamos na cena musical nacional.

AGORA QUE LANÇARAM «LEYLINES» COMO MUDOU A VIDA DA BANDA? DIOGO: Um CD com gravações profissionais era o passo que nos faltava dar enquanto banda. A maior diferença que sentimos agora é ver o nome da banda presente em artigos de blogs e sites de música um pouco em todo mundo, e ver o nosso trabalho ser avaliado pela crítica, algo que sempre tivemos curiosidade em experienciar.

DIZEM NA VOSSA BIOGRAFIA QUE ESTE EP FOI O RESULTADO DE ANOS A COMPOR E TOCAR AO VIVO. PORQUE NÃO PARTIRAM LOGO PARA O ÁLBUM? COMO É COMPOSTO O VOSSO SET-LIST? DIOGO: Durante os primeiros anos, focámo-nos em compor material para começarmos a tocar ao vivo, e foi com essa atividade que nos ocupámos principalmente. Com as mudanças de formação que tivemos, as influências gerais da banda mudaram, com os novos músicos, e a surgiram certas questões quanto ao tipo de som em que queríamos assentar a nossa identidade. Isto fez-nos reescrever algumas músicas de forma a dar-lhes uma roupagem com a qual a nova formação se identificasse, o que demorou o seu tempo. Até uma certa altura, o nosso espetáculo era constituído por alguns dos temas antigos e temas do “Leylines”. Agora, tocamos o EP completo e acrescentamos temas do próximo CD.

VOCÊS DEFINEM-SE COMO UMA BANDA DE METAL PROGRESSIVO E ISSO DESPERTOU-ME A ATENÇÃO E CURIOSIDADE. NO ENTANTO, ACHO O GÉNERO PROGRESSIVO MUITO PARTICULAR E POR ISSO, PERGUNTO-TE: PORQUE NÃO SE DEFINIRAM DENTRO DUM ESTILO MAIS ABRANGENTE?

T E N DO E M C O NTA A M EDIOCRIDADE QUE IM PERA N O “ E S PA Ç O A S T R A L N A C IO N A L ” A S B O A S B A N D A S N A CI ON AI S C O MO O S MONO L ITH M OON M ERECIAM M AIS O P O RT U N ID A D E S E R E C O N H E C IM E N T O . S Ã O U M A E N T R E TAN TAS O UTR A S À PR O CURA DO SEU ESPAÇO E NÓS V E R S U S E S TA M O S C Á PA R A A J U D A R A Q U E IS S O A C O N TEÇA. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ DIOGO, PARABÉNS PELO LANÇAMENTO DO EP! COMO É QUE ESTÁ A SER RECEBIDO POR PARTE DOS MEDIA? DIOGO: Olá! Antes de mais, obrigado pela oportunidade que nos dão para divulgarmos o nosso trabalho! Diríamos que está a ser positiva. Há uma certa estranheza expressada pelos “reviewers” que, ao ouvir o nosso álbum, têm uma certa dificuldade em associá-lo a outras bandas conhecidas, usando-as como referência. Para nós, isso é um objectivo cumprido no que toca à criatividade!

IMPO RTA ANTES DE MAIS SABER COMO SURGIRAM OS MONOLITH MOON? (O NOME DA BANDA TEM ALGO A VER COM O FILME 2001 – ODISSEIA NO ESPAÇO?) DIOGO: As palavras “Monolith Moon” surgiram na cabeça do nosso guitarrista Diogo Ferreira espontaneamente. Ao sugerir esta designação para o projecto aos restantes membros, houve aceitação geral. A verdade é que o Diogo já conhecia e admirava esse grande filme de Stanley Kubrik, e não nega que pode ter sido essa a influência inconsciente para juntar as duas palavras. Hoje, cada um de nós tem a sua própria interpretação do nome da banda…

VOCÊS COMEÇARAM EM 2009 MAS SÓ PASSADOS SEIS ANOS É QUE LANÇARAM O EP DE ESTREIA. PORQUÊ TANTOS ANOS ENTRE O INÍCIO E ESTA GRAVAÇÃO? DIOGO: Este EP é constituído pelo nosso segundo grupo de músicas. Os primeiros temas foram os nossos primeiros passos na composição de metal progressivo, e andávamos ainda à descoberta da nossa identidade, à procura dos ingredientes que mais nos satisfaziam. Apesar de termos a preocupação em criar uma assinatura pessoal sonora para o projeto desde as primeiras ideias musicais, foi inevitável que as primeiras músicas acabassem com sonoridades distintas, o que não nos favorecia. Nos anos seguintes, entre dezenas de concertos (o que acabou por nos ocupar bastante tempo) concluímos um segundo grupo de músicas, mais coeso estilisticamente e com uma maior maturidade.

UM EXERCÍCIO MENTAL – ACHAM QUE SE FOSSE NO ESTRANGEIRO TERIAM CONSEGUIDO COM MAIS FACILIDADE? DIOGO: Na nossa experiência de banda de metal progressivo com voz feminina, sentimos que há várias oportunidades que não podemos agarrar, no que toca a participação em certos eventos nacionais que se restringem muito a 3 ou 4 subgéneros. Pens7 8 / VERSUS MAGAZINE

DIOGO: Desde os primeiros passos deste projecto que foi decido que era nesse registo que queríamos escrever os nossos temas, que era com essa sonoridade que queríamos ser associados. Estávamos obcecados com aquele estilo musical tão surpreendente e novo para nós, ao descobrirmos os trabalhos de bandas como Dream Theater, Opeth e Symphony X, que nem pensámos em tentar outra coisa…

A SARA ESTEVE MUITO BEM NA CONCEPÇÃO DAS LETRAS E PENSO QUE O EP SEGUE UM CONCEITO – O QUE ME AGRADA :-) - QUE TIPO DE HISTÓRIA É QUE ESTÁ SUBJACENTE A «LEYLINES»? DIOGO: Obrigado. Diria que, assim como o nome do EP, também as letras transmitem a ideia de linhas que unem diversos pontos de interesse dentro de uma temática. Haverá uma só história? Serão várias? Depende da liberdade a que cada ouvinte se dá, não só para interpretar a letra sob uma perspetiva diferente, como também conjugá-la com as diversas paisagens instrumentais. (Mas a título de curiosidade, posso dizer que escrevi a letra do tema “Degeneration” de uma assentada após ter visto o filme “The Amazing Spider-Man” e ter ido para casa a refletir acerca de vilões incompreendidos, mutações genéticas e células cancerígenas… :)

COMO ESTÁ A SER FEITA A PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO DO EP? DIOGO: Desde que lançámos o EP estamos a contactar todas as rádios, webradios, magazines e blogs de música com que nos deparamos. É muito importante estarmos presentes em todas essas plataformas para podermos chegar a apreciadores da nossa sonoridade em todo o mundo.

HÁ PLANOS PARA SE LANÇAREM NO ESTRANGEIRO? JÁ AGORA, ESTÁ A SER FEITA PROMOÇÃO FORA DO PAÍS? NESTE CASO COMO ESTÁ A SER RECEBIDO? DIOGO: Por enquanto, fora de Portugal vamos apenas promovendo o nosso trabalho online. Mas tocar no estrangeiro é um sonho que queremos concretizar, e para o qual vamos procurando oportunidades. A recepção tem sido positiva para nós. Entre todos os elogios que vamos recebendo, certas críticas também nos ajudam a perceber que tipo de coisas o ouvinte poderá estranhar. O nosso objectivo sempre procurar provocar uma sensação de “surpresa agradável” no ouvinte, e é por este princípio que nos continuaremos a guiar.

QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS FUTUROS? O PRÓXIMO REGISTO SEGUIRÁ O MESMO CONCEITO? DIOGO: De momento, estamos a trabalhar para organizar concertos para os meses de verão, e a compor um próximo CD longa-duração. Com este segundo álbum, planeamos continuar a explorar certos aspetos da sonoridade que presenteámos no EP de estreia, e procurando novos horizontes para os quais a poderemos estender. https://www.facebook.com/monolithmoon/ https://youtu.be/zFRqbyRku14 79 / VERSUS MAGAZINE



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ENTREVISTA

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INDOMÁVEIS ROCKEIROS

Jeff Scott Soto é, sem dúvida, um incontornável da cena Rockeira internacional. De entre trabalhos a solo tem integrado também uma série de outros projectos importantes. «divak» é um regresso às origens e um dos seu trabalhos mais pesados. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA Fotos: Natalia Britt OLÁ JEFF! FICO FELIZ POR TER A OPORTUNIDADE DE CONHECER (MESMO QUE SEJA APENAS DE MODO VIRTUAL). ESTE ÁLBUM FOI LANÇADO NO DIA 1 DE ABRIL. COMO TE PARECE QUE AS PESSOAS VÃO REAGIR A ESTA VERTENTE MAIS PESADA DA TUA MÚSI CA? JEFF S C OTT SOTO : Bem, já tenho essa resposta para o primeiro álbum: «Inside The Vertigo». É claro que as reações variaram, porque os fãs estavam habituados a verem-me fazer Hard Rock melódico há tanto tempo que muitos achavam de que eu deveria regressar às minhas origens, associadas a música mais pesada… e eu acabei por fazerlhes a vontade!

O QUE SIGINIFICA «DIVAK», O TÍTULO QUE DESTE AO NOVO ÁLBUM? JEFF: A minha mulher e os seus dois filhos todos os anos passam as férias de verão na Bulgária, porque esse é o seu país de origem. No ano passado, quando foram pôr o lixo ao contentor e alimentar os gatos vadios – que, nesse país, são uma verdadeira epidemia – encontraram um gatinho preto minúsculo e trouxeram-no para casa. Ele não era como os outros gatos vadios, que, desde a nascença, tinham aprendido a desconfiar das pessoas. Este sentia-se tão feliz na nossa companhia que decidimos alimentá-lo, porque estava esquelético de tão faminto. Pareceu-nos que seria fácil encontrar um dono para ele, porque só devia ter aí uns quatro meses e havia de aparecer alguém que quisesse adotar uma Rock star feline. À medida que se 8 2 / VERSUS MAGAZINE

aproximava a altura de regressar a LA, apercebemo-nos que ninguém ia querer ficar com o gatinho, não tínhamos coragem de o mandar outra vez para a rua e que não havia um gatil onde o levar (como acontece nos EUA). Portanto, tivemos de lhe tirar um passaporte e de o levar connosco de avião para LA! Entretanto passou-se quase um ano e o anjinho, de vez em quando, converte-se num diabinho e, quando ele se porta mal, a minha mulher insulta-o em búlgaro, chamando-lhe “divak”, Pergunteilhe o que significava essa palavra e ela disse que é qualquer coisa como “rebelde”, “selvagem”, “louco”… palavras essas que podem ser todas associadas à nossa música! Por conseguinte, pareceu-me que dava um nome ideal para o álbum… Também já deves ter percebido por que razão aparece uma pantera negra na capa: é uma versão ampliada do “divak” lá de casa!!!

TENS ALGUNS ÁLBUNS A SOLE EM NOME DE “JEFF SCOTT SOTO”. ESTES ÚLTIMOS TAMBÉM FORAM LANÇADOS A SOLO, MAS MUDASTE O NOME PARA “SOTO”. PORQUÊ? J EFF: É claro como o dia: este NÃO é um álbum a solo. Se observares os dois últimos álbuns, constatarás que têm fotos de uma banda: uma nova banda, chamada SOTO. Nos meus álbuns a solo, só aparece a minha foto. Não queria ter mais um nome de banda associado ao meu, por isso simplifiquei, de modo a que as pessoas compreendessem que eu sou o vocalista, mas que agora é uma banda.

AFIRMASTE QUE COMEÇASTE NO “HEAVIER SIDE OF THE FORCE”

Não queria ter mais um nome de banda associado ao meu, por isso simplifiquei, de modo a que as pessoas compreendessem que eu sou o vocalista, mas que agora é uma banda. (EMBORA NÃO TIVESSES USADO EXATAMENTE ESTAS PALAVRAS). POR QUE RAZÃO SÓ EM 2015/16 DECIDISTE REGRE SSAR ÀS TUAS ORIGENS PESADAS? PODEMOS AFIRMAR PERANTE OS NOSSOS LEITORES QUE ESTE É O ÁLBUM MAIS PESADO NA TUA CARREIRA A SOLO? J E F F : No meu último álbum a solo – «Damage Control» – eu decidi que ia voltar a fazer música mais pesada, mas a minha editora da altura não me deixou. Só queriam material melódico e disseram-me terminantemente que não, quando lhes propuys este novo som. Tive de inserir outras canções nesse álbum, para contrabalançar as mais pesadas. Mas, no fim de contas, há já alguns anos que eu estava a seguir nesta direção. Em parte, isso aconteceu porque a banda JSS estava a tocar em muitos festivais e algumas das bandas de que eu gostava, as mais pesadas, tinham uma vibração e um som que já me andava a fazer falta. Eu queria voltar a este som agressivo, duro… o que consegui fazer com SOTO!

A LEITURA DA TUA BIOGRAFIA NO SÍTIO DE SOTO LEVA-NOS A PENSAR QUE «INSIDE THE VERTIGO» FOI “ALIMENTADO” PELA TUA RAIVA E FRUSTRAÇÃO. O QUE TE LEVOU A ESCREVER AS CANÇÕES QUE PODEMOS OUVIR EM «DIVAK»? QUE ELEMENTOS NUTREM A MÚSICA E AS LETRAS DESTE ÁLBUM? J E F F : Nas letras de «Divak», sente-se que as minhas questões estão mais resolvidas, que já encontrei algumas respostas para as minhas inquietações. Recentemente, um jornalista usou a expressão “outside de vertigo” para descrever este álbum e eu concordo plenamente com essa ideia.

NESSE ÁLBUM – «INSIDE THE VERTIGO» - PEDISTE A ALGUNS MÚSICOS MUITO EXPERIENTES (PARA ALÉM DOS QUE FAZEM PARTE DA BANDA) PARA COLABORAREM CONTIGO NA COMPOSIÇÃO E NA INTERPRETAÇÃO: GUS G, JASON BIELER, MIKE ORLANDO AND JOEL HOEKSTRA, PARA REFERIR APENAS ALGUNS. NESTE ÁLBUM – «DIVAK» – SÓ TE OUVIMOS E A TI E AOS OUTROS ELEMENTOS DA BANDS. PORQUÊ? OS OUTROS PARTICIPARAM NO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DO ÁLBUM? J E F F : «Inside the Vertigo» começou por ser um álbum a solo e, nessas circunstâncias, costumo rodear-me de colegas que respeito e que me podem dar o som de que preciso. A meio da construção do álbum, já se tratava de uma banda, mas eu não quis voltar atrás e obrigar toda a gente a aprender e reproduzir todas aquelas atuações maravilhosas. Portanto, ficou assim, embora nos focássemos cada vez mais na ideia da banda. Para

«Divak», era muito importante para mim que os elementos da banda começassem a receber o devido reconhecimento pelos seus contributos como compositores e intérpretes. Deram-me material maravilhoso para trabalhar e estou muito orgulhoso do que conseguimos fazer juntos,

JEFF: TSO é muito teatral, algo de que nunca fui muito fã… W.E.T é grande, mas nele sentem-se mais as ideias do Erik e as conceções da editora. Portanto, nenhum deles tem a dose certa da minha pessoa, o que acontece em SOTO. Por conseguinte, ponho-os ao mesmo nível!

ENTRE O LANÇAMENTO DE «INSIDE THE VERTIGO» E DE «DIVAK» DECORRERAM APENAS 15 MESES. PORQUÊ?

PENSANDO AINDA NESSES DOIS PROJET OS, TENS PLANOS PARA UMA FUTURA COLABORAÇÃO?

JEFF: Fiquei um tanto desapontado pela pouca atenção dada a «Inside The Vertigo». Penso que isso aconteceu devido a fatores como uma má gestão do processo de lançamento e a inexistência de um plano de promoção adequado, ambos falhas da editora. Pareceume que não era correto culpar os fãs e, assim, decidi voltar ao trabalho e fazer um novo álbum que fosse incrível, que deveria sair o mais cedo possível. Os rapazes lançaram-se logo ao trabalho de escrever a música, no fim do verão de 2015. Eu escrevi as letras e as melodias lá pelo início do outono e o álbum estava todo gravado e misturado em janeiro. O single “FreakShow” foin lançado no fim desse mês.

JEFF: Não! Neste momento, estou a 1000% em SOTO. Trabalho com TSO todos os invernos, nos EUA, mas não sei se já há alguns planos relativos à Europa. Com WET, o hiato vai ser mais longo.

TENS TIDO UMA CARREIRA ESPANTOSA. ENTRE OS TEUS NUMEROSOS PROJETOS, ATREVERME-IA A DESTACAR DOIS: TRANSSIBERIAN ORCHESTRA (QUE FOI SEMPRE UM DOS MEUS FAVORITOS) E W.E.T. ESTÃO SITUADOS EM PÓLOS OPOSTOS. QUAL DOS DOIS PREFERES OU TE PARECE MAIS DESAFIADOR: O CLASSICISMO E GRANDEZA DE TSO OU O HARD ROCK MAIS MELÓDICO E DIRETO DE W.E.T.?

VÃO TOCAR A 3 DE ABRIL EM LISBOA. O QUE PODE O PÚBLICO PORTUGUÊS ESPERA R DE VOCÊS E JÁ AGORA, COMO ACHAS QUE VAI REAGIR A AUDIÊNCIA PORTUGUESA? JEFF: Procuro sempre que as pessoas se apercebam de que estão a ouvir uma banda, não um artista a solo. Também não se trata de um concerto com os maiores êxitos de WET, Winery Dogs, Black Country Communion, etc. Já temos dois álbuns lançados, logo é preciso mostrá-los aos fãs. É claro que há sempre surpresas no set, mas a única forma de as pessoas nos levarem a sério, nos verem como uma banda, é centrarmo-nos nesse material. ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ J ef f S cot t S ot o/ ht t ps: / / yout u. be/ L L dW D t hA bP U

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ENTREVISTA

ENTREVISTA ESCREVE EM CASA, OU JUNTAM-SE NO ESTÚDIO E COMPÕEM? T OM: É um pouco diferente. O Harri, o nosso guitarrista principal, é o principal compositor da banda. Ele vem ter connosco com as suas ideias iniciais e depois a Corinna escreve as letras para estes temas e depois os temas desenvolvem-se naturalmente. KORINNA: Sim, é como o Tom diz. Há algumas músicas que são escritas completamente pelo Harri e há outras que são feitas em conjunto pela banda. Os temas mais recentes são como no último caso. Há temas em que o Tom tem uma ideia de uma boa melodia e normalmente eu escrevo as letras, mas o Harri também escreve boas letras, especialmente uma em alemão.

“A MENSAGEM PRINCIPAL NA NOSSA MÚSICA É QUE SINTAM A MÚSICA E VÃO A CONCERTOS PORQUE SE NÃO FORMOS, A MÚSICA MORRE. VIVAM A VIDA E VIVAM A MÚSICA E CONFIEM NO QUE QUEREM FAZER E TENTEM!”

QUAIS SÃO OS CONCEITOS SUBJACENTES ÀS LETRAS?

CANTERRA DE LEIPZIG PARA O MUNDO OS CANTERRA SÃO U MA BANDA DE METAL GÓTICO ORIUNDA DE LEIPZIG, NA ALEMANHA. COM O OBJECTIVO DE CRIAR UMA BANDA COM MELODIAS FORTES, QUE TOQUEM NOS SEUS OUVINTES, OS CANTERRA ACABARAM DE GRAVAR RECENTEMENTE O SEU NOVO ÁLBUM “FIRST ESCAPE”. A JUNTAR A ISTO, AINDA FARÃO PARTE DA DIGRESSÃO ALEMÃ DOS LACRIMOSA. PORTANTO, MUITAS NOVIDADES E MUITOS MOTIVOS PARA UMA ENTREVISTA COM KORINNA (VOCALISTA) E TOM (BAIXISTA) COM UMAS CERVEJAS Á MISTURA. Entrevista: Eduardo Rocha

OBRIGADO PELO VOSSO TEMPO. PODERIAM CONTAR UM POUCO ACERCA DA HISTÓRIA DOS CANTERRA E DE COMO SE JUNTARAM? KORIN N A: Acho que devo começar eu porque sou um dos membros mais velhos da banda, juntamente com Harri, o nosso lead-guitar. Conhecemo-nos há muitos anos atrás e começamos com algo que não era muito sério e só a tentar fazer música. Na altura, ele estava numa banda que fazia o mesmo tipo

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de música, mas com outro nome e outras pessoas. Depois, eu disse que ia tentar ser a vocalista desta banda sendo que os restantes membros da banda saíram algumas semanas depois (risos). E depois decidimos continuar com a banda os dois e começamos a escrever música. Descobrimos muito rápido que conseguíamos escrever temas juntos, o que foi uma surpresa para mim. T O M: Eu juntei-me à banda há 5

anos, certo? K O R INNA : Não sei, tenho que ir procurar as datas (risos)! Tom: Ok, 4 anos. Antes de entrar nos Canterra toquei numa banda punk. Depois conheci os Canterra. Foi um momento muito bom em que tocamos num festival de beneficência.

QUAIS SÃO AS VOSSAS INFLUÊNCIAS QUANDO COMPÕEM? É UM PROCESSO SOLITÁRIO, EM QUE CADA UM

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KORINNA: Não há nenhum conceito em que dizemos que escrever sobre isto. Apenas sai naturalmente de nós e a pessoa que escreve as letras, que normalmente sou eu, fala das coisas que estão à sua volta na altura em que estou a escrever. Há medida que o tempo passa, acabo por reconhecer que acabam por ser temas mais privados do que deveria ser. É sempre um pouco misturado e não dá para ver à primeira análise mas normalmente é o que me vai no coração ou problemas que temos. E quando juntamos os temas todos para o álbum, reconhecemos que está tudo relacionado com a procura pela razão e significado da vida e, no fim, tem sempre uma mensagem positiva. Também há temas, como a “As One”, que é um pouco mais política e a “The Hunt” que fala acerca do tempo, na Idade Média, em que as bruxas eram queimadas. Mas hoje é o mesmo, há bruxas que são queimadas de outra maneira.

...FALARAM DO ÁLBUM. GRAVARAM ALGO? O QUE NOS PODEM DIZER ACERCA DISSO? KORINNA: Sim! Há dois anos atrás, perdemos o nosso anterior

baterista e nessa altura, já tínhamos decidido gravar esta álbum. Mas acabávamos sempre por adiar porque não tínhamos um baterista ou dinheiro. E depois dissemos “não interessa, vamos gravar”. E procuramos um baterista de sessão o que é muito mais fácil. Decidimos que músicas íamos gravar e eles tocou esses temas. Depois foi a nossa vez, o que demorou bastante mais tempo do que estávamos à espera, porque foi a primeira que vez que gravamos algo. As guitarras foram gravadas em casa e não no estúdio. E depois acabamos por gravar tudo. E agora está pronto! Estamos bastante orgulhosos sabes?

A PROPÓSITO, AONDE GRAVARAM E QUEM FOI O PRODUTOR? T OM: Os primeiros passos no estúdio foram com a bateria. Depois gravámos as guitarras e vimos que não estava tão perfeito como queríamos. Depois gravamos as vozes com um bom amigo da Corinna, o Andy dos Disillusion (N.R. – uma banda também de Leipzig), e decidimos pedir-lhe para nos ajudar. No próximo álbum será ele a tratar de tudo (risos). KORINNA: Acabámos por reconhecer que precisávamos da ajuda de um profissional que sabe como as coisas funcionam. Não só apenas dos aspectos musicais mas de tudo o que rodeia a gravação de um álbum. Como já nos conhecemos, foi ele que gravou as vozes e a bateria. E ele misturou o álbum, o que é uma grande influência em como as músicas acabam por soar. E antes de começarmos a masterização, decidimos adicionar alguns samples mas nada de demasiado.

VOCÊS TÊM EDITORA? E JÁ AGORA COMO É QUE SE VAI CHAMAR O ÁLBUM? KORINNA: Sim, decidimos trabalhar com uma editora local chamada Kick the Flame. Eles publicam outras bandas e vai ser lançado a 17 de Fevereiro que será o primeira dia da digressão que estamos a planear agora. O título do álbum vai ser “First

Escape” e estávamos a pensar no conteúdo das letras e decidimos escolher este título. Adequa-se, é o nosso primeiro álbum e é a nossa “first escape”. E no álbum, há um tema que se chama “Escape” que o Harry escreveu há muito tempo e gostámos muito deste tema. E depois pensamos no artwork e o Tom conhece um tipo muito bom. Depois falamos com ele e tivemos a ideia de um labirinto em que tu tens escapar.

OK! PODEM-ME CONTAR ALGO ACERCA DA DIGRESSÃO? KORINNA: Sim, sim (risos)! Estamos muito felizes que o Tillo dos Lacrimosa nos tenha ouvido o nosso álbum, em segredo, e eles gostou muito. Depois convidounos para irmos em digressão com os Lacrimosa o que é algo de grande para nós. Estamos muito agradecidos a ele por nos dar esta oportunidade. Vamos tocar em todas as datas na Alemanha e uma data na Bélgica. Para nós, como somos uma banda pequena, é um início perfeito. E estamos a planear isto (risos).

E ENTRETANTO, O QUE ANDAM A FAZER PARA ALÉM DESTE PLANEAMENTO? KORINNA: Agora precisamos de todo o tempo para lançar o álbum. O artwork está quase pronto e temos que fazer tudo para a imprensa. Temos que fazer algum trabalho de promoção e preparar o nosso novo site. Portanto, há muitas coisas que temos que fazer.

QUAIS SÃO AS VOSSAS INFLUÊNCIAS EM TERMOS MUSICAIS? KORINNA: Variam muito de pessoa para pessoa na banda. São muito diferentes! Talvez em possa falar pelos outros membros. Hannes é um rapaz punk e o Harry é mais gothic-metal mas também gosta de death metal. T OM: E as minhas influências são mais rockabilly, punk! KORINNA: Dá para ver (risos). T OM: Sim (risos). Também gosto de gothic! Enfim, rockabilly. 85 / VERSUS MAGAZINE


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ENTREVISTA

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E TU, CORINNA? QUAIS SÃO AS TUAS INFLUÊNCIAS? KORIN N A: Tenho muitas influências. De diferentes tipos de música menos hip-hop e techno. Só tem que me dizer algo mas acho que foi um momento muito importante para mim quando fui ao WaveGottik Treffen pela primeira vez. Na altura, os HIM e Liv Kristine não eram conhecidos e fui uma altura em que eles tocaram nesse festival. Foi o primeiro momento em que disse “isto é o que eu gosto”. Foi muito impressionante para mim.

COMO É QUE VOCÊS ESPERAM SER DIFERENTES E COM ISSO DISTINGUIREM-SE EM TERMOS MUSI CAIS? KORIN N A: Eu acho que as nossas melodias são muito fortes e ouço muitas bandas do nosso estilo, porque é o que gosto, mas acho que preciso disso. De melodias fortes. Não deve ser aborrecido mas cada um ouve as coisas à sua maneira. Quando eu ouço o nosso álbum, ouço coisas bastante diferentes. As músicas não são iguais e há algumas que até são estranhas. No fim, espero que a nossa música tenha algum significado para as pessoas. Não temos um plano. Apenas fazemos música que gostámos.

COMO OLHAM PARA A CENA ACTUAL? QUAIS SÃO OS DESAFIOS QUE UMA BANDA TEM QUE SUPERAR?

K O R IN N A : O problema é que não temos dinheiro na música nos dias hoje. E precisas de dinheiro para fazer boa música. Até a tour... Ninguém financia isto. Tens que ser tu a pagar e precisas de dinheiro. E nós estamos muito felizes por termos recebido algum dinheiro da Wacken Foundation. Isso foi muito bom. Todas as bandas deviam tentar isto. Não as bandas grandes, claro, mas as bandas pequenas sim! Acho que na maioria dos casos o problema é o dinheiro.

SIM, CLARO. DEPOIS AINDA TEMOS OS SERVIÇOS DE STREAMING COMO SPOTIFY QUE FAZEM COM QUE AS PESSOAS NÃO PRECISEM DE COMPRAR MÚSICA. COMO ACHAM QUE AS BANDAS PODEM SOBREVIVER? K O R IN N A : Acho que os serviços de streaming dão-nos uma oportunidade. Para uma banda pequena, tens que ser ouvido. Portanto, acho que estes serviços têm que ser usados.

E CLARO, TOCAR AO VIVO. K O R IN N A : Sim. O nosso objectivo é tocar. Claro que não é perfeito, porque é ao vivo. Foi interessante fazer o álbum, mas para mim, como vocalista, eu adoro tocar ao vivo. No estúdio podes fazer algo de muito bom mas eu não sou uma grande fã do estúdio. É uma atmosfera estranha. T O M:

No estúdio, temos muitas

oportunidades para fazer a gravação correta. Mas ao vivo, só tens uma oportunidade para fazer as coisas certas.

FINDA A DIGRESSÃO, QUAIS SÃO OS PLANOS DOS CANTERRA?

The following artists already promised their appearance:

K O R INNA : Primeiro temos que tocar mais concertos durante este Verão e no próximo Inverno. E esperamos que com a tour com os Lacrimosa, as coisas cresçam. E pode ser que dê para tocar em festivais que são difíceis de conseguir. E sei que o Harry já está a compor e eu tenho muitos temas em que cantei bêbada no sofá (risos). Há muitas coisas que vamos juntar mas não sei quando.

ABNEY PARK (USA) G AESTHETIC PERFECTION (USA) G AGONOIZE (D) G AMBER ASYLUM (USA) G AMNISTIA (D) G AND ALSO THE TREES (GB) – with two different sets G ANGELIC FOE (S) G ANNA VON HAUSSWOLFF (S) G ARGYLE GOOLSBY & THE ROVING MIDNIGHT (USA) G ÁRNICA (E) G ARTWORK (D) – 30th anniversary show G AURELIO VOLTAIRE (USA) G AUTUMNAL (E) G BACKWORLD (USA) G BALZAC (J) G BANANE METALIK (F) G BESTIAL MOUTHS (USA) G BIFRÖST (A) G BIOMEKKANIK (S) G BLACK MOON SECRET (D) G BLITZMASCHINE (D) G CARACH ANGREN (NL) G CHAINREACTOR (D) G CHRISTINE PLAYS VIOLA (I) G CHRIST VS. WARHOL (USA) G CINEMA STRANGE (USA) – worldwide exclusive show in 2016 G COPPELIUS (D) G CREMATORY (D) – 25th anniversary show G CULT CLUB (D) G CULTURE KULTÜR (E) G CULTUS FEROX (D) G CUT HANDS (GB) G DARK FORTRESS (D) G DARKHAUS (D/USA) G DARKHER (GB) G DAS ICH (D) G DERNIÈRE VOLONTÉ (F) G DESTIN FRAGILE (S) G DEUTSCH NEPAL (S) G DIARY OF DREAMS (D) G DIE KRUPPS (D) G DIE WILDE JAGD (D) G DIODATI (D) G DIRK IVENS (B) G DORNENREICH (A) – with two different sets G ENDLESS ASYLUM (E) G ENSLAVED (N) G ERIC FISH AND FRIENDS (D) G ESPLENDOR GEOMÉTRICO (E) G ESTAMPIE (D) G FAUN (D) G FUCHSTEUFELSWILD (D) G GERNOTSHAGEN (D) G GIRLS UNDER GLASS (D) – 30th anniversary show G GOLDEN APES (D) G GOTHMINISTER (N) G GRAUSAME TÖCHTER (D) G HANTE. (F) G HAR BELEX (E) G HARPYIE (D) G HAUJOBB (D) G HEARTS OF BLACK SCIENCE (S) G HEIDEVOLK (NL) G HENRIC DE LA COUR (S) G IN THE NURSERY (GB) – 35th anniversary show and european premiere of the silent movie score “The Fall Of The House Of Usher” G IRDORATH (BY) G IRFAN (BG) G JAMES RAYS GANGWAR (GB) G JESSICA93 (F) G JOACHIM WITT (D) G KARI RUESLÅTTEN (N) G KAUAN (RUS) G KIRSTEN MORRISON (GB) G KOMMANDO (D) G KRAYENZEIT (D) G KUROSHIO (FIN) G KYOLL (D) G LACRIMOSA (A) G LAMENT (D) G LAST LEAF DOWN (CH) G LEÆTHER STRIP (DK) G LEAVES’ EYES (D/N) – WikingerSchau / Viking show G LEGEND (IS) G LENE LOVICH BAND (USA) G LORD OF THE LOST (D) G MACHINISTA (S) G MASCHINENKRIEGER KR52 VS. DISRAPTOR (D) G MESH (GB) G MY DYING BRIDE (GB) G NÄO (F) G NEKROMANTIX (DK) G NEUROTICFISH (D) G NORDVARGR (S) G NULLVEKTOR (D) G OF THE WAND AND THE MOON (DK) G ONE I CINEMA (D) G ORANGE SECTOR (D) G OTHER DAY (D) G PATENBRIGADE WOLFF (D) G PETER MURPHY (GB) – exclusive BAUHAUS-set G PETER YATES (GB) G PINK TURNS BLUE (D) G PLASTIC NOISE EXPERIENCE (D) G POSITION PARALLÈLE (F) G PRIDE AND FALL (N) G PSILOCYBE LARVAE (RUS) G REAPER (D) G ROGER ROTOR (CH) G RUINED CONFLICT (USA) G SAELDES SANC & ERNST HORN (D) G SANGRE DE MUERDAGO (E) G SCHÖNGEIST (D) G SCHWARZER ENGEL (D) G SIECHTUM (D) – exclusive reunion show G SIGNAL AOUT 42 (B) G SIGUE SIGUE SPUTNIK (GB) G SKÁLMÖLD (IS) G SOLAR FAKE (D) G SOMATIC RESPONSES (GB) G SONAR (B) G SUICIDE COMMANDO (B) G SUNSET WINGS (RUS) G SUPERSIMMETRIA (D) G SWALLOW THE SUN (FIN) G TANZ OHNE MUSIK (RO) G TE/ DIS (D) – World premiere G THE AERDT (D) G THE ANGINA PECTORIS (D) – first show in 15 years G THE DEADFLY ENSEMBLE (USA) G THE FRIGHT (D) G THE HOUSE OF USHER (D) G THE LEGENDARY PINK DOTS (NL) G THE MARY ONETTES (S) G THE PROTAGONIST (S) G THE SEXORCIST (D) G THE UNDERGROUND YOUTH (GB) G THE VISIT (CDN) G THOROFON (D) – 25th anniversary show G TRAGIC BLACK (USA) G TREHA SEKTORI (F) G TRIARII (D) G TROLLFEST (N) G ULTRANOIRE (H) G UNZUCHT (D) G VALHALL (S) G VELVET ACID CHRIST (USA) G VERSENGOLD (D) G VRIL JAGER (DK) G WE ARE TEMPORARY (USA) G WINTERKÄLTE (D) – 25th anniversary show G WINTER SEVERITY INDEX (I) G XENO & OAKLANDER (USA) G XTR HUMAN (D)

PARA FECHAR, TÊM ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL PARA OS LEITORES DA VERSUS. SEI QUE NUNCA TOCARAM EM PORTUGAL. K O R INNA : Que pena! Esperámos tocar em Portugal em breve. Sei que algum dia iremos aí, mas vocês também podem vir cá para ver a nossa digressão (risos). A mensagem principal na nossa música é que sintam a música e vão a concertos porque se não formos, a música morre. Vivam a vida e vivam a música e confiem no que querem fazer e tentem! https://www.facebook.com/ canterrametal/ https://youtu.be/BYC2iWsVr98

“O PROBLEMA É QUE NÃO TEMOS DINHEIRO NA MÚSICA NOS DIAS HOJE. E PRECISAS DE DINHEIRO PARA FAZER BOA MÚSICA.”

© goeart 2016

Furthermore we recommend to you: Grand opening party at the amusement park “BELANTIS” on Thursday, 12th May 2016 G WGT-MusikKammer G Concerts in the course of “Max-Reger-Festival 2016” G opera performances G readings G live adventure role playing G autographshows G museums & exhibitions G motion pictures G Victorian picnic G concerts in sacred venues, e.g. Wachau church ruin G guided tours through Leipzig‘s largest cemetery G concerts at the Gewandhaus G theatre & variety G Aftershow parties with well known DJs G WGT scenefair in the agra exhibition hall No.1 G WGT nail studio G medieval mile “Celebrant 2016” G pagan village G horse-drawn buggy rides G knight performances G medieval acrobats G fashion shows G fetish party “Obsession Bizarre” G fire and light performances G esotericism and much more G More details will be published soon!

The following tickets, including the below listed range of services, you can acquire in advance sale. Ticket-Order at www.wave-gotik-treffen.com or call **49.341.2120862

Treffen-Event-Ticket:

Obsorge-Karte:

The Treffen-Event-Ticket includes free using of public transport (tram, city-busses, regional trains, suburban trains) within the zone 110 of MDV (“Mitteldeutscher Verkehrs Verbund”) from 13th of may, 8.00 am to the 17th of may, 12.00 am (except for special routes)

Limited up to 9999 Tickets for 25,- € each (excl. advance sale charges), contains the following service-package: • Camping at the Treffen-Campingground (agra-fairground) • “Pfingstbote” (“Whitsun-herald”) - the Treffen-programbook

Please note:

Entrance and usage of the campingsite is not possible without the “Obsorgekarte”. The “Obsorgekarte” is only valid in connection with the Treffen-Event-Ticket.

5-Days-Ticket for all events within the 25th Wave-Gotik-Treffen Whitsun 2016, 120,- € each in advance ticket sale (excl. advance sale charges).

Parking Vignette:

For car parking at the Treffen-area you have to purchase a Parking Vignette for 15,- € (excl. advance sale charges). Please note: Parking at the Treffen-area (agra-fairground) is definitely not possible without a Parking Vignette.

Treffen & Festspielgesellsaft für Mitteldeutsland mbH

Fernruf: 0341/2120862 G Weltnetz: www.wave-gotik-treffen.de G Elektronise Post: info@wave-gotik-treffen.de


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ENTREVISTA

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DE ACORDO COM O NOME DA BANDA, ODEIAM TUDO. MAS O QUE ODEIAM REALMENTE ACIMA DE TUDO? Adrastos: Bem, Total Hate foi fundada há 15 anos e, nessa altura, eu realmente sentia ódio de forma quase permanente contra tudo e contra todos. Mas agora, estou a ficar mais velho e o ódio converteuse em insensibilidade. Tento viver a minha vida à minha maneira, da melhor forma possível, dedicandome à música e às artes tenebrosas, sem me preocupar em fazer parte desta sociedade doentia, que é o que eu odeio acima de tudo. Todas as coisas que são importantes para o vírus a que chamamos Humanidade não são mais do que tretas superficiais e maçadoras com pseudo sentido moral. De facto, já não me importo em absoluto com o que esses animais gregários estão a fazer. Abaixo o mundo e os seus ocupantes. Esse não é o meu modo de vida e tenho a certeza de que o planeta em breve vai estar praticamente destruído, mais do que já está. A única coisa que quero é uma casa escondida nas profundezas dos bosques, bem longe desta sociedade, é isso!

A BANDA DESAPARECEU DURANTE 5 ANOS E REGRESSOU COM UM NOVO ÁLBUM E UMA NOVA EDITORA. O QUE ACONTECEU ENTRETANTO? Adrastos: Depois do lançamento do nosso segundo álbum – «Necare Humanum Est» – fizemos alguns concertos cuidadosamente selecionados em vários países, como a Áustria, a Holanda e, é claro, a Alemanha. Devido à distância que separa os vários membros da banda, infelizmente não é possível ensaiar de modo regular e foi por isso também que o novo álbum demorou tanto tempo a sair. Até começarmos a trabalhar nele, fui eu que escrevi sempre todas as nossas canções, mas, em «Lifecrusher», há três faixas da autoria do Aer, que era o baixista e agora é guitarrista. Temos um novo baixista – o Lykos – e eu deixei de tocar guitarra nos concertos e agora só contribuo com os vocais, como na minha antiga banda. Quando o álbum estava gravado, começámos a procurar uma boa 8 8 / VERSUS MAGAZINE

editora e encontrámo-la mais uma vez: é a Eisenwald. Foi isto que aconteceu nos últimos anos. Além do trabalho com Total Hate, andei também ocupado com outras bandas de que faço parte, a gravar e a fazer o máximo de concertos que foi possível arranjar.

NÃO ME SURPREENDE QUE QUEIRAM ESMAGAR ALGO. É UM SENTIMENTO FREQUENTE ENTRE OS MÚSICOS DE BLACK M ETAL E UM DESEJO BASTANTE COMUM, QUANDO SE OLHA PARA A SOCIEDADE DO SÉC. XXI. CONCORDAS COM ESTAS AFIRMAÇÕES?

TOTAL HATE UM CULTO AUTÊNTICO, SÉRIO E HONESTO É ESTA A I MAG EM OLD S C H O O L Q U E A D R A S T O S , O FR O N T MA N D E T O TA L H AT E, NO S DÁ DA SU A BA NDA , A P R O P Ó S I T O D O LA N Ç A MEN T O D E «LI FEC R U S H ER ».

O QUE DÁ UM SABOR ESPECIAL AO VOSSO BLACK METAL? Adrastos: Não sei se a nossa música tem realmente um sabor especial. Nunca classifico a nossa música ou sequer penso se as pessoas, as revistas, etc. gostam dela ou não. Limitamo-nos a tocar Black Metal inspirado pelas bandas dos primórdios dos anos 90. Afinal de contas, criei a minha primeira banda em 1997 e esta ainda é uma grande inspiração para mim, assim como os primeiros lançamentos de bandas como Mayhem, Darkthrone, Marduk, Dodheimsgard, Gorgoroth, Emperor, Throne of Ahaz, Fimbulwinter, entre outras. Ainda são estas bandas que ouço, depois destes anos todos, para além de algumas que surgiram durante a segunda vaga do Black Metal. Não queremos criar nada novo, apenas render homenagem aos dias gloriosos, em que o Black Metal era fazia parte da cultura underground e era um culto autêntico, honesto e sério. Há muitas bandas que fizeram dele algo ridículo, nestes últimos anos, mas, felizmente, ainda há bastantes para manter acesa a chama do culto underground.

Entrevista: CSA

Adrastos: É claro que há muitas coisas das quais estamos fartos, como já referi. Imagino que isso deve acontecer também com muitos outros músicos de Metal ou até de Punk. Há muita coisa errada a acontecer neste planeta, hoje em dia, prolongando erros do passado. Isso nunca vai parar, a escumalha não se vai acalmar, logo haverá cada vez mais pessoas indignadas e fartas deste “alegre mundo moderno”. O Black Metal também é uma espécie de revolta, sempre foi!

VOCÊS SÃO DE NUREMBERGA E A IMAGEM NA CAPA DE «LIFECRUSHER» REPRESENTA UMA CIDADE EM RUÍNAS. TEM ALGUMA COISA A VER COM A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL? TAMBÉM ENCONTREI UM VÍDEO NO YOUTUBE ASSOCIADO À VOSSA BANDA, QUE ME FEZ LEMBRAR DOCUMENTÁRIOS SOBRE ESSA GUERRA QUE VI NA MINHA ADOLESCÊNCIA. Adrastos: De facto, a foto da capa retrata Nuremberga durante a Segunda Guerra Mundial. O vídeo foi feito por um fã e eu só o vi uma vez. Refere-se à nossa canção que fala de uma capela em chamas [“Chapel In Flames”, do álbum «Depopulating Planet Earth»] e, francamente, não tem nada a ver com a sua letra. Não me ocupo da Segunda Guerra Mundial, nem nunca o farei. Total Hate foi sempre uma banda misantrópica, anticristã e satânica. Gosto de cidades em ruínas e de outros locais destruídos e em cinzas, daí a escolha dessa imagem para a capa do álbum. Além disso, também está

Mundial. É claro que, mais tarde, foi reconstruída. É um edifício imponente, como muitas igrejas que estão nas mãos das pessoas erradas. Como já referi, também temos uma canção intitulada “Chapel In Flames”, que surge como um tributo aos gloriosos incêndios de igrejas, que ocorreram na Escandinávia, nos anos 90.

POR QUE HÁ TANTAS BANDAS DE BLACK METAL A ASSINAR PELA EISENWALD? ESPERAM ALGO DE ESPECIAL DA VOSSA EDITORA?

perfeitamente ajustada ao título. O Aer é que teve a ideia e todos concordamos em usá-la.

ESSA FOTO REFERE-SE A ALGUM MONUMENTO EM ESPECIAL NA ALEMANHA? HÁ UMA BANDA PORTUGUESA DE BLACK METAL,

QUE TEM UMA CANÇÃO INTITULADA “FÁTIMA EM RUÍNAS”, ALUDINDO A UM SANTUÁRIO CATÓLICO DO NOSSO PAÍS FAMOSO NO MUNDO INTEIRO. Adrastos: Trata-se de uma grande igreja de Nuremberga, chamada Lorenzkirche, que sofreu enormes danos durante a Segunda Guerra

termos assinado contrato com eles e estou certo de que muitas outras bandas da Eisenwald partilham o meu ponto de vista.

QUE PLANOS FIZERAM PROMOVER «LIFECRUSHER»?

PARA

Adrastos: Não temos planos nenhuns, a não ser fazer concertos. Parece que vão ter lugar em países que ainda não visitámos. Talvez apareçamos em Portugal, um dia destes. De momento, estou a responder a entrevistas, tal como é costume acontecer, quando se lança um novo álbum.

CONHEC ES ALGUMAS BANDAS PORTUGUESAS? AS DE BLACK METAL SÃO PARTICULARMENTE TENEBROSAS. SE ALGUM DIA VIEREM TOCAR NO NOSSO PAÍS E TIVEREM DE ESCOLHER ALGUÉM PARA TOCAR CONVOSCO, QUEM SELECIONAM? Adrastos: Só tenho dois álbuns de Corpus Christii, os dois primeiros lançamentos de Moonspell e algumas coisas de Decayed. É tudo o que conheço da cena portuguesa. Mas estamos abertos a trocas, portanto, se nos puderem apresentar uma oferta séria, basta contactarem-me. Estou sempre interessado em conhecer novas bandas, mas sou demasiado preguiçoso para as procurar. Tocar em Portugal com Decayed e Corpus Christii seria fantástico, mas não se isso vai acontecer alguma vez. h ttp s : //w w w. f acebook. com/ vorkrei st ht t p: / / deci bel magazi ne. com/ b lo g /201 5 / 1 2 / 3 / st reami ng- vorkrei st l osi ng- sani t y- key

Adrastos: Hmmm, será que há assim tantas bandas de Black Metal com a Eisenwald? Penso que essa editora trabalha com muitos outros estilos de Metal extremo. A Eisenwald é uma editora bem conhecida, com boas bandas e uma promoção de qualidade, os lançamentos são de alta qualidade e a comunicação é excelente. Estas são razões de sobra para 89 / VERSUS MAGAZINE


HINOS DE AMOR À PÁTRIA NÃO VÃO ENCONTRAR, NA SUA MÚSICA E LETRAS, HINOS CONTRA OUTROS POVOS E CULTURAS, MAS ANTES UMA EXPRESSÃO MUITO PRÓPRIA E SENTIDA DA SUA FORMA DE VIVER A CULTURA DE QUE FAZEM PARTE. Entrevista: CSA PARA COMEÇAR, O TEU PSEUDÓNIMO TEM ALGUMA COISA A VER COM O FACTO DE SE UTILIZAR UM FUMO BRANCO PARA ANUNCIAR QUE O NO VO PAPA JÁ FOI ELEITO?

BLANC F E U: Mas que interpretação curiosa, nunca teria pensado nisso! Não. Na realidade, o meu pseudónimo é bastante literal. Um fogo muito intenso, a certa altura, fica mais branco que vermelho. Pareceu-me que essa imagem traduzia bem a minha paixão pela música e pela criação.

A CENA BLACK MÉTAL DO QUEBEQUE É GRANDE? E NA PARTE ANGLÓFONA DO CANADÁ?

“DO NOSSO PONTO DE VISTA, O ÁLBUM ERA A COISA MAIS LÓGICA A FAZER APÓS UM EP QUE TEVE, EM GERAL, BOA RECEÇÃO POR PARTE DO PÚBLICO.”

BLANC F E U: Há um certo número de bandas de Black Metal no Quebeque, mas é preciso ver que muitos projetos estão ligados aos mesmos músicos. Por exemplo, na cidade de Quebeque, bandas como Forteresse, Monarque, Délétère, Chasse-Galerie e Eos partilham músicos. É uma cena de que fazem parte pessoas apaixonadas, em que todos se ajudam e creio que é isso que faz as nossas bandas diferentes das outras. Também é preciso que se diga que nem todas as bandas cantam na sua língua materna. De facto, há muito poucas bandas de Death Metal a cantar em Francês no Quebeque. No que diz respeito ao resto do Canadá, não sei dar grande informação. Procuro manter-me atualizado, mas a maior parte das bandas canadianas não me despertam grande interesse. No entanto, sei que há umas bandas interessantes lá para os lados de Toronto… De qualquer modo, devo dizer que não me sinto muito capaz de falar desse tópico.

POR QUE MOTIVO ENCONTRAMOS UMA REFERÊNCIA TÃO MARCADA À IDADE MÉDIA, NO NOME DA BANDA, SE A HISTÓRIA DO CANADÁ DATA DO SÉC. XVI OU XVII? É UM TEMA QUE FASCINA OS MEMBROS DE CANTIQUE LÉPREUX? BLANC F E U: A lepra não tem nada a ver com a Nova França ou o Quebeque. Não faz parte da nossa história. Tratase de uma doença particularmente antiga e, por esse motivo, dá assim uma espécie de aspeto intemporal muito interessante. A imagem de Cantique Lépreux, com o seu aspeto surreal, faz pensar num canto religioso malsão, decadente. Uma verdadeira maldição. Se quisermos mesmo associar esse termo ao nacionalismo do Quebeque, ideia que nos é muito querida, apesar de não ser o tema central dos nossos textos, temos de nos lembrar do facto de que lepra faz quem dela sofre cair aos bocados literalmente. É o que acontece com a identidade do Quebeque e o interesse pela sua soberania de há uns anos para cá.

PODES CONTAR COMO SURGIU A BANDA? TIVERAM OUTRAS EXPERIÊNCIAS NA CENA METAL ANTES DE CANTIQUE LÉPREUX? BLANC F E U: A banda nasceu oficialmente em 2014, mas algumas das nossas músicas datam de 2009. Os três membros da banda têm uma experiência musical bastante boa e um currículo musical bem abonado. Conhecemonos todos em 2006, quando fazíamos parte de uma banda que já não existe chamada Culte d’Ébola e, desde essa altura, trabalhámos juntos em vários projetos e lançámos uma boa dezena de álbuns. Para evitar alongar demasiado esta resposta, eis os nomes dos projetos em que os membros desta banda participam: Chasse-Galerie (Metal Negro do Quebeque), Chaos Catharsis (Death Metal Brutal), Forteresse (Metal Negro do Quebeque) Au-delà des Ruines (Death/Black Metal Surreal) e Mêlée des Aurores (Metal Negro Onírico).

QUE PARTE DA CULTURA DO QUEBEQUE PASSOU PARA A VOSSA MÚSICA?

BLANC F E U: Agrada-me muito que te refiras a esse aspeto, porque me parece que os estrangeiros associam muito a nossa cultura à ideia de Independência, limitando-a muito. É muito importante que quem não é de cá saibam disso, graças a bandas como Forteresse e Brume d’Automne, mas é preciso compreender que, por detrás desse aspeto, há uma história, a nossa vida quotidiana, etc. Não posso aqui referir tudo aquilo em que nos inspiramos, mas começarei por mencionar a nossa forma de falar, que é diferente da de França, depois a literatura do Quebeque. De seguida, também tenho de mencionar as paisagens do Quebeque, que são um dos vetores da nossa criação. As nossas montanhas arredondadas, erodidas há biliões de anos, um milhão de lagos e vários milhares de rios, um território acidentado, selvagem, onde as cidades não se sobrepõem ao resto, as nossas florestas mistas, o líquen, os verões verdejantes e quentes, os outonos coloridos, os invernos brancos, o odor do gelo… em suma, esta natureza grandiosa, cuja influência as pessoas esqueceram, porque estão demasiado centradas nas vidas superficiais que levam nas cidades! A nossa música recusa esse urbanismo. Procuramos exilar-nos em paragens longínquas, inexploradas. O Quebeque não é só a nossa casa é também a nossa pátria espiritual. Aliás, a história do Quebeque está estreitamente ligada à natureza. As pessoas viviam do comércio de peles, da agricultura, da exploração das florestas e das minas, enquanto outros eram grandes exploradores. Alguns dos nossos antepassados iam trabalhar para o campo, eram lenhadores durante todo o inverno e regressavam na primavera, navegando nos rios cheios de água, em jangadas improvisadas… Todas estas imagens fazem parte daquilo que queremos dar a conhecer através da nossa música.

ELA EVOCA REALMENTE O FRIO E A DESOLAÇÃO DE UMA PAISAGEM COBERTA DE NEVE, MAS TAMBÉM A SUA BELEZA. QUE ELEMENTOS UTILIZAM PARA PRODUZIR ESTE EFEITO QUASE SOBRENATURAL? 9 0 / VERSUS MAGAZINE

BLANC FEU: : Não se pode limitar a nossa composição a um aspeto musical. Eu e o Cadavre fazemos muitas caminhadas na floresta e, durante a criação de «Cendres Célestes», deixámo-nos verdadeiramente impregnar pelas paisagens de inverno do Quebeque. Aconteceu-nos muitas vezes partirmos a esquiar com as nossas raquetes e, de regresso ao nosso local de criação, improvisar e completar material. Do ponto de vista técnico, apostámos em alguns opções de mixagem e masterização: escolhemos um som claro, nítido e relativamente distorcido. E claro que não podemos esquecer as nossas influências. Neste primeiro álbum, encontram-se, por vezes, linhas melódicas à moda de Sargeist, outras agudas e dramáticas como na música de Forteresse, enquanto outros momentos farão pensar em Emperor antes de «In the Nightside Eclipse» ou ainda no primeiro álbum de Immortal. Por fim, Darkthrone dos anos 90 é uma influência maioritária para nós. Riffs saborosos, associados a uma produção que impõe ao ouvinte um estado de espírito propício à melhor apreciação da sua música…

QUEM COMPÕE A MÚSICA? E QUEM ESCREVE OS POEMAS PARA AS CANÇÕES DE CANTIQUE LÉPREUX?

BLANC FEU: Eu escrevo as partes de guitarra e levo-as à sala de ensaios para as testar com o Cadavre, que também forneceu alguns riffs. Procuramos só guardar os riffs mais intuitivos, os mais sentidos. Aliás, é de referir que a maior parte das nossas sessões começam com improviso. Dessa forma, criamos um banco de riffs que nos servirão para completar algumas peças, mas esse hábito também nos ajuda a delimitar a nossa criação. Em suma, o Cadavre e eu trabalhamos no terreno, para, de seguida, enviarmos as partituras ao Matrak, que escreve as linhas de baixo. Dos poemas, ocupo-me eu.

QUE HISTÓRIA CONTA ESTE ÁLBUM, O PRIMEIRO DA BANDA?

BLANC FEU: «Cendres Célestes» é mais uma coletânea de poemas do que uma narrativa. Todos os textos falam dos invernos, mas adotando perspetivas diferentes. A introdução é instrumental, portanto não me vou referir a ela. A primeira peça (“Le Froid Lépreux”) descreve o inverno usando palavras que se referem a essa doença [a lepra]. A segunda (“L’Adieu”) é uma curta história, relativa ao luto. A terceira (“La Meute ”) leva-nos a uma tempestade selvagem, a que temos de sobreviver. A quarta (“Tourments des Limbes Glacials”) aborda um aspeto mais espiritual da experiência hibernal. Quem já contemplou uma planície varrida pela neve e pelos ventos há de ter reparado que é impossível fixar o olhar, como acontece quando olhamos para a água dos rios. A quinta (“Transis”), centrada no isolamento, é também uma metáfora alusiva à situação da independência do Quebeque e dos laços que estão a dissolver-se na alma do nosso povo. Por fim, a última (“Le mangeur d’os”) apresenta o inverno como um predador.

GOSTO SEMPRE DE SABER QUEM FEZ A CAPA DOS ÁLBUNS. FOI UM DOS TRÊS MEMBROS DA BANDA, CONVIDARAM UM ARTISTA GRÁFICO, OU LIMITARAM-SE A SEGUIR AS INDICAÇÕES DA EISENWALD ? É UMA FOTO? BLANC FEU: Fui eu próprio que criei todas as imagens deste álbum. A foto da capa foi tirada durante uma caminhada em janeiro de 2015. Só afinei os contrastes e o enquadramento. O efeito da neve em suspensão, que dá a ideia de uma porta que se abre para uma outra dimensão está na foto original. Foi um momento mágico, que, provavelmente, não teremos o privilégio de ver outra vez.

E, A PROPÓSITO DA VOSSA EDITORA, A EISENWALD É A PRIMEIRA COM QUEM TRABALHAM?

BLANC FEU: Já lançámos vários álbuns através de uma editora daqui, chamada Hymnes d’Antan, que é dirigida pelo Matrak (o nosso baixista). Mas a nossa relação com a Eisenwald é diferente. Tem sido uma experiência verdadeiramente enriquecedora e estamos muito satisfeitos com os resultados.

COMO VÃO FAZER A PROMOÇÃO DE «CENDRES CÉLESTES»? CALCULO QUE NÃO VAI SER FÁCIL, PORQUE O QUEBEQUE FICA LONGE. TENCIONAM VIR À EUROPA MOSTRAR A VOSSA ARTE AOS FÃS DE BLACK METAL? BLANC FEU: Não gosto de me ocupar da promoção, portanto estou muito contente por termos a Eisenwald para tratar dos aspetos mais importantes. No caso deste álbum, o sistema de passar palavra revelou-se muito eficaz. Queremos fazer concertos, mas temos de completar a formação, para podermos subir ao palco, portanto ainda vai demorar algum tempo. Neste momento, a nossa prioridade é escrever um segundo álbum. É verdade que o Quebeque fica longe, mas há muitas bandas de qualidade com quem podemos tocar. A seu tempo, faremos espetáculos na província e, tanto quanto possível, aqui à volta (Ontario, EUA). Mas, sem dúvida, gostaríamos muito de poder ir à Europa.

https://youtu.be/oUf0kBbGsIE https://www.facebook.com/Cantique-L%C3%A9preux-1508635429464649/


ENTREVISTA TEMOS AQUI UM FANTÁSTICO ÁLBUM DE ESTREIA DE SELVANS. PARECE-ME TER UMA FORTE COMPONENTE DE FOLK METAL COMBINADO COM BLACK METAL ATMOSFÉRICO. O QUE PENSAS DESTE COMENTÁRIO? Selvans Haruspex: Obrigado, Cristina!

Mas parece-me incorreto descrever a nossa música como “Folk Metal”. É certo que nela se pode encontrar instrumentos musicais do folclore italiano datados de várias épocas da nossa história, mas não aparecem nenhuns cânticos de exaltação do álcool, canções de taverna ou coisas dessa natureza. Na realidade, o que prevalece é o lado atmosférico.

S E LVA N S B O N S A U G ÚR I O S

A proveitando o i nteresse da banda pela Roma antiga e tendo em conta a qual idade do seu primeiro álbum, parece que esta ideia se i m põe. Entrevista: CSA

COMO SE ORGANIZAM PARA RECRIAR NO PALCO ESTA MÚSICA CHEIA DE VIDA? Selvans Haruspex: Escolhemos uma

formação “clássica” para os concertos, com vocais, duas guitarras (lead e rhythm), baixo e bateria. Usamos samples para os teclados e os instrumentos folclóricos. Somos uma banda de metal, não um grupo etnográfico.

QUE INSTRUMENTOS POPULARES TOCAM NEST E MARAVILHOSO ÁLBUM? Selvans Haruspex: Tibiae (uma flauta

dupla romana), vários outros tipos de flauta, cítara, sistro, “mute harp” [uma harpa transformada], acordeão, chocalhos e muitos outros, que fabriquei com as minhas próprias mãos.

ESTE ÁLBUM TEM ALGO A VER COM LOBOS (CANIS LUPUS)? Selvans Haruspex: Sim, há duas canções

que se referem a lendas relacionadas com lobos… O lobo é um dos animais 9 2 / VERSUS MAGAZINE

Selvans Haruspex: Obrigado por esse elogio. Fui que que fiz o design da capa e a E.B.A. executou o artwork, seguindo as instruções detalhadas que lhes passei. A figura da capa inspira-se nos tais sacerdotes da Roma antiga chamados “Luperci” e “Augurs” (áugures”). Sou eu que represento essa figura na primeira impressão e o Sethlans, na segunda. Ou é ao contrário, já não sei bem… Ou talvez não seja nenhum de nós.

produzo toda a música, o Sethlans ajudame a criar alguns dos riffs de guitarra e é a alma de todo o fantástico trabalho de guitarra que podes ouvir nas canções de Selvans.

contra Dimmu Borgir, mas sentimo-nos muito mais influenciados por bandas como Emperor, Limbonic Art ou Lux Occulta.

temas estão presentes nos nossos dois lançamentos. O folclore e o Surrealismo aparecem em canções como “Scurtichìn” e “Clangores Plenlinuio” [do EP com o mesmo título], as lendas e a magia em “Versipellis” e “Hirpi Sorani”; A Natureza é o principal tema de canções como “O Clitumne!” e “Lupercale” [do EP intitulado «Clangores Plenlinuio»], enquanto a história está presente em “N.A.F.H.”.

MAGAZINE

COMO DIVIDEM OS DEVERES DE COMPOSIÇÃO ENTRE OS DOIS ELEMENTOS DA BANDA? Selvans Haruspex: Eu componho e

SENT EM-SE INFLUENCIADOS POR BANDAS QUE FAZEM BLACK METAL SINFÓNICO COMO DIMMU BORGIR, POR EXEMPLO? Selvans Haruspex: Não temos nada

A INFORMAÇÃO SOBRE A VOSSA BANDA DISPONIBILIZADA PELA ENCYCLOPAEDIA METALLUM INDICA QUE OS VOSSOS TEMAS ESTÃO RELACIONADOS COM FONTES CULTURAIS DE ORIGEM POPULAR (FOLCLORE, HISTÓRIA ORAL, NATUREZA, TRADIÇÃO), MISTICISMO E ARTE (NOMEADAMENTE O SURREALISMO). QUE TÓPICOS DESTES TRATAM EM «LUPERCALIA»? E NOS OUTROS LANÇAMENTOS DA BANDA? Selvans Haruspex: Todos esses

vErSUS

«LUPERCALIA» FOI LANÇADO EM OUTUBRO. COMO REAGIU O PÚBLICO AO PRIMEIRO ÁLBUM DE SELVANS? EU ESTOU FRANCAMENTE IMPRESSIONADA. Selvans Haruspex: As reações foram

“[NA NOSSA MÚSICA] O QUE PREVALECE É O LADO ATMOSFÉRICO.” totem da nossa área e uma figura recorrente da iconografia de Selvans. Podes encontrá-lo no nosso logo, nas fotos da banda e também no artwork com ela relacionado. Sentimo-nos atraídos por esse animal, tanto que o título do nosso álbum se refere a um antigo rito de purificação de Roma, em que sacerdotes (chamados Luperci) dançavam envergando uma pele de lobo.

EU DIRIA QUE A VOSSA MÚSICA É BASTANTE FRENÉTICA, EMBORA CHEIA DE MELODIA E COM PAUSAS. DE QUE FORMA MÚSICA COM ESTAS CARACTERÍSTICAS SE ADEQUA À MENSAGEM DESTE ÁLBUM? Selvans Haruspex: A nossa música é uma espécie de corrente guiada pelas forças da natureza. Imagina uma clareira iluminada por

uma luz ténue: ao longo do tempo, as suas cores e aparência alterar-se-ão, porque a Natureza é algo vivo! O mesmo acontece com a nossa música: é influenciada por vários impulsos que regulam a sua atmosfera e são imprevisíveis, mesmo para nós que a fazemos!

COMO DESCREVERIAM A VOSSA EXPERIÊNCIA MUSICAL ANTES DA FORMAÇÃO DESTA BANDA? Selvans Haruspex: Foi uma espécie de “estágio”: aprendi muito sobre composição, como estar em palco e como fazer parte de uma banda (claro). Isto significa que fui capaz de decidir como ia dirigir a minha banda.

QUEM FEZ A BELA CAPA DO ÁLBUM? É UMA FOTO DE UM DOS MEMBROS DA BANDA VESTIDO COMO UMA ESPÉCIE DE ESPÍRITO DA FLORESTA?

muito para além do que esperávamos. Foram fantásticas! A edição com uma caixa de madeira (que só tinha 100 cópias) esgotou em 60 horas e a primeira impressão da edição standard, em dois meses! A Avantgarde Music já está a vender a segunda impressão (com uma capa diferente) desde dezembro. Em algumas das reviews feitas a «Lupercalia» li várias críticas construtivas, que vão ajudar muito a melhorar os nossos próximos lançamentos. É disto que um projeto a sério precisa.

JÁ ESTÃO A PREPARAR UM NOVO ÁLBUM OU OUTRO TIPO DE LANÇAMENTO QUE DÊ SEGUIMENTO A ESTE? Selvans Haruspex: Sim, sem dúvida. Um

novo álbum e um lançamento peculiar: temos muitas composições interessantes a divulgar. Mas não podemos esquecer que há um tempo certo para tudo na vida. https://www.facebook.com/templeofselvans/ https://youtu.be/ESHCLMGrBmA 93 / VERSUS MAGAZINE


PALETES VERSUS Bloodiest - «Bloodiest» (EUA, Sludge Metal/Post-Rock) Segundo álbum de orquestrações ritualísticas pesadas. (Relapse Records)

Gehennah - « Too Loud To Live, Too Drunk To Die» (Suecia, Heavy Metal) Os Gehennah estão de volta para apimentarem a cena mais uma vez com o seu quarto álbum. (Metal Blade)

Lycus - «Chasms» (EUA, Funeral Doom Metal) Chasms é um intenso, poderoso e emotivo doom metal fúnebre. (Relapse Records)

Amoth - «Revenge» (Finlândia, Progressive Metal) Com um novo vocalista e as experiencias realizadas no 1º álbum, agora tudo parece se encaixar no seu devido lugar. (Inverse Records)

Opprobrium - «Serpent Temptation (Reissue)» (EUA, Death/Thrash Metal) Relançamento do álbum de 1988. (Relapse Records)

Fireleaf - «Behind The Mask» (Alemanha, Power Metal) O álbum conceptual de estreia dos Alemães de Stuttgart. (Massacre Records)

Borknagar - «Winter Thrice» (Noruega, Progressive Viking/Folk Metal) 10º álbum da banda Norueguesa. (Century Media) Primal Fear - «Rulebreaker» (Alemanha, Heavy Metal) «Rulebreaker» combina os melhores momentos de sempre dos Primal Fear com um típico bem balanceado riffvibe, o qual constitui o trademark dos Primal fear e alguns ambiciosos momentos musicais. (Frontiers Records) Mourning Beloveth - «Rust Bone» (Irlanda, Doom/Death Metal) «Rust & Bone» é um álbum transacional, elementar, representando a vida e decadência , a batalha entre o orgânico e o industrial, e, qual o nosso lugar no grande jogo da vida. (Van Records) Eleventh Hour - «Memory Of A Lifetime Journey» (Itália, Symphonic Metal) Eleventh Hour nasceu em 2014 da necessidade do guitarrista Aldo Turini de expressar algumas das suas ideias musicais que manteve guardadas na gaveta durante anos. (Independente)

Hardholz - «Herzinfarkt» (Alemanha, Old School Heavy Metal) Primeiro álbum ao fim de uma hibernação de 17 anos! (Massacre Records) Inglorious - « Inglorious» (Inglaterra, Hard Rock ) Os Inglorious são 5 jovens músicos com um amor e respecto comum pelo Hard Rock clássico com grandes riffs e uma voz com alma. As suas influências advém do rock and roll mais icônico dos 70. (Frontiers Records) Last In Line - « Heavy Crown» (EUA, Heavy Metal) Este é o álbum de estreia dos Last In Line. O que começou como uma sessão de jam casual e por puro divertimento em 2011, transformou-se nos anos seguintes num sólido projecto que tomou vida própria. Last In Line, a banda, retirou o nome do segundo álbum de Dio lançado em 1984. Vinny Appice, Jimmy Bain e Vivian Campbell eram Ronnie Dio’s co-conspiradore e co-compositores nos álbuns “Holy Diver”, “Last In Line” e “Sacred Heart” – Os discos que definam a era clássica de Dio. (Frontiers Records)

Hexvessel - «When We Are Death» (Finlândia, Psychedelic Forest Folk Rock) HEXVESSEL é rock , mas sem roll. Equilibrando uma melodia simples com um fio condutor psicadélico, que faz lembrar Captain Beefheart, King Crimson ou mesmo os The Beatles. (Century Media)

Rick Springfield - « Rocket Science» (Australia, Pop/Rock) Rick Springfield disse “Rocket Science é o meu 18º álbum de estúdio. Tem elementos country de que gosto mas ainda assim contem uma varieadade de momentos pop/rock.” (Frontiers Records)

Nordic Union - «Nordic Union» (Melodic Hard Rock) Nordic Union é o nome de uma nova colaboração musical, composta pelo presidente da Frontiers Records Serafino Perugino, vocalista Ronnie Atkins da lendária banda Hard Rock Dinamarquesa Pretty Maids e a nova revelação sueca, o produtor e compositor Erik Martensson dos Eclipse e W.E.T. (Frontiers Records)

Adept - « Sleepless» (Suécia, hardcore / metalcore ) Estes Suecos andam por aí desde 2004 e com o seu diversificado repertório de post hardcore / metalcore eles conseguiram ser a referência escandinâvia deste estilo. (Napalm Records)

Resurrection Kings - «Resurrection Kings» (EUA, Classic Hard Rock) Ressurrection Kings está centrado à volta do talento de Crag Goldy, antigo guitarrista de DIO. (Frontiers Records) Imperial Age - «Warrior Race - EP» (Russia, Symphonic Metal) Imperial Age é uma banda de Metal Sinfónico de Moscovo fundada em 2012 por Alexander " Aor " Osipov . Christofer Johnsson dos Therion: ""Estou orgulhoso de acolher os Imperial Age como a primeira banda a assinar pela Adulruna Records." (Adulruna Records) One Morning Left - «Metalcore Superstars» (Finlândia, Metalcore) One Morning Left lança aqui o seu terceiro álbum. Depois de fazer esperar os fãs 3 anos por um novo trabalho, agora com um metalcore melódico mais agressivo e com um travo de dance music eletrónica. (Inverse Records) Product Of Hate - «Buried In Violence» (EUA, Thrash Metal) Álbum de 5 músicas que honra o mais brutal e groovy thrash som / NWOAHM. (Napalm Records) Seven Sisters Of Sleep - «Ezekiels Hags» (EUA, Sludge Metal) Os SSOS não se contentam a se encaixarem numa só categoria. Eles misturam componentes de doom, death, black, d-beat, grind, etc... Em geral, SSOS escreve música que engloba todas as formas de Metal que os influenciaram ao longo de todos estes anos. (Relapse Records) Antropomorphia - «Necromantic Love Songs» (Holanda, Heavy Metal) Reedição de material extremamente raro. CD-Digipak limitado a 1000 copias e vinil a 666 copias. (Metal Blade)

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Delain - « Lunar Prelude» (Holanda, Melodic/Symphonic Metal) Lunar Prelude é um EP que oferece duas novas canções na mesma linha do catchy ‘Suckerpunch‘ e o melancólico ‘Turn The Lights Out‘. Há ainda uma nova versão de ‘Don`t Let Go‘ e 4 gravações ao vivo tal como uma versão orquestral de ‘Suckerpunch‘. (Napalm Records) Mammoth Mammoth - « Mammoth Bloody Mammoth» (Australia, Stoner Rock/Metal) Recentemente, o LP “Volume IV – Hammered again” deixou-nos sedentos de mais, pleo que, Os filhos de Melbourne decidiram saciarnos o nosso santo apetite com este EP Mammoth bloody Mammoth (Napalm Records) Diminished Men - « Vision In Crime» (EUA, Experimental) Este último trabalho é a terceira peça de uma longa aventura que vem aflorando o jazz e outros territórios como as bandas sonoras, bem como os limites extremos de géneros mais experimentais, mantendo o caráter inconfundível da banda, mas ao mesmo tempo, evocando uma premonição mais sinistra do que nunca . (Abduction Records) Redwest - « Crimson Renegade» (Itália, Spaghetti Western Metal) Este é o álbum de estreia, o qual cruza o deserto mais inóspito do farwest na companhia da música de Ennio Morricone. Se procura fortes vibrações de rock’n’roll, Redwest é o que precisa. (Bakerteam Records) Sinphobia - « Awaken» (Itália, Death Metal) Musicalmente, Sinphobia pode facilmente ser descrito como uma mistura de um moderno Death Metal Americano com um estilo mais Trash Metal old school da linha Europeia, com uma característica única, com a dose certa de energia , groove e performances ao vivo cativantes . “ Awaken “ , é o álbum de estreia dos Sinphobia. (Bakerteam Records)

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«Semente» (Season of Mist) Os deuses do rock morreram e precisam de ser erguidos novos gigantes desse leito calcinado. Sinistro reconstróem géneros musicais já exaustos, com a destreza de uma criança com um cubo mágico nas mãos. Uma esfera de silêncio que lhe escorre nas palmas e lhe abre as linhas. Somos surpreendidos com uma improvável combinação da enternecedora voz de açucar queimado e benzodiazepinas de Lena d’Água, em estado de revisitação de temas de Mão Morta. Neste melting pot promiscuem-se o compasso gradual de trip hop dos Massive Attack e Portishead, com o tom ríspido dos Swans em início de carreira e a embrenhante cinemática do doom jazz dos Bohren & der Club of Gore. Trata-se no fundo, de uma decadente versão de lounge music cruzada com doom metal, para bares clandestinos e vícios que aí deambulam, fora de horas. A sonoridade é desesperançada e densa, com ataques fulminantes de saxofones, notas ameaçadoras de piano, acordes massivos de guitarra, uma soporífera subliminaridade de sintetizadores... e a nefasta e transgressiva inocência da voz de Patrícia Andrade. Uma façanha transgenérica, completamente contaminada pelo negativismo português. Poucas bandas portuguesas conseguem ser “portuguesas” ao ponto de fazer germinar semelhante “Semente” com o grau de compromisso exibido. Já com presença confirmada no reputado Roadburn Festival (antes do próprio lançamento do álbum), Sinistro elevam, exponencialmente, a melancolia da alma lusa na “retórica” desta estranha forma de... música. [10/10] Frederico Figueiredo

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CRITICA VERSUS

vErSUS

CRITICA VERSUS

MAGAZINE

A N T H RAX

C A NTERR A

vErSUS MAGAZINE

CR EMATORY

C R I MI N A L

C T U LU

F ILTE R

«For All Kings»

«First Escape»

«Monument»

«Fear Itself»

«Sarkomand»

«Crazy Eyes»

(Nuclear blast)

(Kick the Flame Music)

(Steamhammer)

(Metal Blade Records)

(MDD Records)

(Spinefarm Records)

As expectativas são sempre enormes quando estamos a falar de um álbum novo de um dos pesos pesados do Trash Metal. Embora tenham estado arredados dos grandes palcos, parecem estar lentamente a recuperar o estatuto que outrora tiveram. Este seu último trabalho de originais, não tendo a toda a energia e agressividade do seu antecessor, “Worship Music”, acaba por ser um álbum mais complexo. À medida que é consumindo a nossa perceção das música e do conceito do álbum em si vai-se modificando. Em termos puramente comerciais, “For all kings” foi extraordinariamente bem pensado. É como que uma viagem às diferentes sonoridades que a banda apresentou ao longo da sua carreira. Apresenta canções que têm toda a energia característica dos seus primeiros trabalhos e outras com um som mais groove semelhante àquele que foi da apanágio da época John Bush, aqui e ali polvilhadas com elementos que tornam algumas delas em possíveis hits radiofónicos. Aliás, algumas delas terão sido escritas propositadamente com esse fim. Contudo, mesmo nessas, o gene Anthrax está lá: os riffs característicos de Scott Ian acompanhados por uma secção rítmica brilhantemente liderada pelo baterista Charlie Benante tornam impossível a existência momentos monótonos. Joey Belladonna que foi em tempos afastado da banda por o seu timbre ser considerado datado, mostra que a decisão de o trazer de volta foi acertada. Estamos perante uma versão renovada dos Anthrax que mantém o ADN original. Houve inovação nas secções intermédias e em transições dentro das músicas, que só pecam por soarem semelhantes a algo que já é feito por outra banda dos “the big four”. Diz-se: “não julguem um livro pela capa”. Neste caso direi: não julguem o álbum pela primeira audição. Não sendo talvez a obraprima que os fãs esperavam, é um álbum que se vai relevando a cada audição, e que por isso se tona muito interessante.

Os Canterra apresentam-nos aqui o seu segundo álbum que nos apresenta uma excelente produção, bem como temas com bons riffs e melodias. E de facto, os Canterra apostam num metal gótico cheio de melodias, seja pelos leads de guitarra, cortesia de Harry, ou pela bela voz de Korinna. Notam-se aqui bastantes influências, a mais notória Nightwish, e os Canterra não se envergonham de as demonstrar. Se isto, por um lado, resulta na falta de alguma inovação ou ousadia, por outro, satisfará seguramente os fãs do género. O álbum abre com “Child of Destiny” que nos apresenta um excelente riff e bons apontamentos melódicos nas guitarras. “Hurt” é o primeiro tema em que se juntam os famosos guturais, numa mais clara influência do género, e fecha com um belo arranjo de guitarra acústica. Nota-se que os Canterra sabem compor bons temas de metal gótico. Em “My Heart”, o tema mais suave do álbum mas também o mais belo, Korinna brilha com uma voz bastante emotiva e com um excelente melodia que certamente se tornará um dos temas mais reconhecidos da banda. “Broken” começa de uma forma bastante suave mas cedo se desenvolve para um pesado riff com bons leads de guitarra. Outro tema de destaque será “Save my Life”, o tema mais ousado deste álbum e em que os Canterra mostram que também sabem compor algo de diferente. Em geral, “First Escape” é um excelente álbum de metal gótico, sendo prova disso a recente tour que a banda fez com os Lacrimosa. No entanto, ficamos curiosos com o que os Canterra poderiam fazer se se demarcassem um pouco das suas influências e explorassem novos terrenos.

Os Crematory estão de volta mais uma vez com o seu mais recente trabalho intitulado «Monument». No seu 13º álbum de estúdio notam-se algumas mas poucas diferenças com os anteriores. O seu som tem 8evoluído ao longo do tempo, podendo mesmo dizerse que eles ficaram mais perto de bandas como os seus compatriotas Rammstein. Contam com dois novos guitarristas, sendo um deles a nova voz “limpa”. Antes da sua audição, apetece perguntar se a magia dos Crematory, que estávamos habituados a ouvir, ainda está presente, mas desde logo com o tema “Misunderstood” mostram que pouco mudou. Destacamos temas como “Die So Soon” ou “Ravens calling”. «Monument» vagueia entre as músicas que soam a Rammstein( “Eiskalt”, “Falsche Tränen”) e outras que soam como os Crematory típicos,”Nothing” e “Before I Die”. “Everything” é uma música que poderia ter aparecido em qualquer álbum anterior dos crematory. A voz de Felix Stass ainda está lá bem presente no seu máximo esplendor podemos dizê-lo. Consideramos «Monument» um título perfeito para este novo álbum, dado este ano os alemães celebrarem o seu 25º aniversário. Apetece-nos também dizer que após tantos anos de carreira, os crematory não têm nada a provar mais. Excepto, talvez, o facto da banda continua a fazer um excelente trabalho e é isso que faz Crematory no álbum «Monument».

Criminal é uma banda especial para mim. Descobri-os numa fase em que descobri imensas bandas em pouco tempo (a era do encanto) e que as bandas tinham de ter algo de muito especial para serem ouvidas durante mais tempo. Na altura em que as novas tecnologias proposcionaram-nos o acesso a demasiadas coisas ao mesmo tempo. Ouvi o «No god no Masters» destes chilenos, publicado em 2004 pela Metal Blade; Só mais tarde vim a descobrir que eram uma banda do Chile; nada na audição do álbum deixa entender serem uma banda sul-americana; o que traz algo “mais” ao conceito; mostram serem alguém que se mexe paa conseguirem a sua música - saírem do Chile, mudarem-se para UK e espanha. O álbum ficou como um dos meus favoritos na altura, no que toca a death/thrash metal. Desde então tenho acompanhado a banda. Editaram mais 3 álbuns até 2011, o que prova terem muito para dizer e mostrar. Desde então tem havido um pequeno silêncio de 5 anos pois agora em 2016 trazem este «Fear Itself». Claro não se pode comparar com o álbum de 2004, as coisas mudam e é normal não se ouvir a mesma coisa; O som é mais maturo (e com o que isso traz de positivo e negativo) - menos irreverência ou espontaneidade mas mais organização e controlo no que é criado. A meu ver, penso que as composições estão bem estruturadas e contêem momentos interessantes, mas gostaria de ver mais variações, mais “desvios do caminho certo”, pois numa carreia longa e com uma já horde de fãs, há sempre a dificuldade de ter de ser diferente mas não demasiado diferente de si-mesmo.

Sarkomand é o segundo registo dos alemães Ctulu que vê agora o merecido relançamento. Esgotado há muito este é um registo (a)guardado por muitos, sendo por isso objecto de culto. Como curiosidade, talvez fruto das trevas, este relançamento é lançado nas mesmas circunstâncias, com a banda a tocar no Ragnarök. Com isto dito podemos olhar para Sarkomand como a joia de uma coroa que os Ctulu desenterram do passado, mantendo tudo conforme está, ou seja, o que temos aqui é um disco de Black Metal como deve ser feito, aqui existe a frieza do género, as vozes cavernais e infernais que caracterizam o género, a questão é que os Ctulu assumem o seu ponto extremo neste registo, sendo fácil de perceber que as leis que os movem são de bandas como Mayhem ou Marduk, e isto cantado em alemão. Ao ouvir este registo, cinco anos depois, é um banho de sangue e uma estranha sensação de deja-vu. O que foi não volta a ser e, nesse aspecto, Sarkomand é um registo que marca a história dos Ctulu e, quem sabe, do Black Metal. Black Metal servido frio, sem acompanhamento e com muito sangue há mistura...gelado até osso, por favor. Como extra esta reedição traz a versão acustica de «Nachtwind» que, claramente, mostra um outro lado da banda e acaba por ser uma boa surpresa. Ou seja, este é um disco que nada vem trazer, mas, é um disco obrigatório para qualquer apreciador do género.

Eis que nos surge uma paisagem musical em que tudo se tornou saturado com acordes cativantes e seguros com composições brandas.O meu contato com esse tipo de música tem sido relativamente pouco. Não costumo ouvir muito este tipo de som, bandas como Rob Zombie, Nine Inch Nails ou Marilyn Manson foram das poucas a quem eu dei alguma da minha atenção. Estarei eu errado? Esta foi a minha mais recente incursão no rock industrial / metal em mais de uma década. Álbum produzido pelo vocalista e guitarrista Richard Patrick. É um álbum pesado. O tema de abertura “Mother E” tem um começo fácil depois explodindo em gritos de angústia, com melodias inquietantes. “Nothing In My Hands” tem um refrão muito cativante e uma vibe alternativa de metal. “Pride Flag” apresenta reminiscências bem patentes dos Muse. Há claras influências pop-punk na faixa “Kid blue from The Short Bus”, seguindo-se uma dose de rock alternativo “Your bullets”. O álbum fecha com uma balada atmosférica consideramos que este novo trabalho os Filter deve ser ouvido com a devida atenção.

[8/10] IVO BRONCAS

[7/10] EDUARDO ROCHA

[7.5/10] MIGUEL RIBEIRO

[7/10] AG

[9/10] NUNO LOPES KANINA

[8/10] MIGUEL RIBEIRO


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G R AV E S AT SEA

HEX V ES S EL

LAC U NA CO I L

«The Curse That Is»

«When We Are Death»

«Delirium»

(Relapse Records)

(Century Media Records)

(Century Media)

Foi preciso esperar mais de uma década para ter em mãos o longa-duração de estreia dos norte-americanos Graves At Sea. Existentes desde 2002 e com uma período sabático pelo meio, a banda andou meio perdida entre Splits e Eps que foi lançando enquanto o line-up sofria alterações, mais ou menos cirurgicas mas que, em certa medida, criou uma aura em torno da banda que a transformou numa banda de culto e que transforma este «The Curse That Is» num disco um objecto há muito aguardado. Dito isto e olhando para o resultado final, podemos dizer que a espera acabou, quase, por ser compensada. E o «quase» acaba por surgir porque os Graves At Sea, apesar de serem excelentes músicos e de terem grandes malhas, acabam por fazer um disco que soa a agridoce. É claro que podia estar a comparar a sonoridade da banda com muitas outras, porém, torna-se desnecessário ter muletas para definir o Sludge que a banda pratica, isto apesar de «The Curse That Is» ser bem melhor do que inumeros discos que surgem no mercado e de os Graves At Sea mostrarem neste disco o motivo pelo qual são a banda de culto e uma referência no género. Este é um disco musculado, coeso e, acima de tudo, um disco que não belisca nada a carreira dos Graves At Sea. No entanto, a duraçao das malhas (raras são as que não passam os 5min) acaba por ser o calcalhar de Aquiles deste registo, pois em muitos momentos ficamos com a sensação de estar a ouvir o disco em repeat, o que pode provocar algum cansaço e aquele estranho feeling de Deja-Vú. Talvez a culpa seja da espera e da expectactiva, no entanto, «The Curse That Is», sem ser um tiro no pé, é um disco que nos deixa com um amargo de boca e do qual se esperava mais, o que transforma este LP de estreia um objecto obrigatório para fans de Doom/ Sludge ou para curiosos do género.

Os hippies contra atacam com cornucópias de som e delírios fractais. Na esteira de clássicas recriações da sonoridade dos anos 60 (como o “The Weirding” dos Astra ou o álbum homónimo dos Jex Thoth), Hexvessel vêm polinizar o panorama musical com mais paz e amor. Neste terceiro registo da banda de Mat McNerney (vocalista dos Grave Pleasures/Beastmilk), é-nos transmitido o ensinamento da migração da alma como experiência holística e multidimensional. Ação cíclica da Mente Eterna. Ao contrário da usual abordagem fantasmática da morte, esta é aqui percepcionada como portal de metamorfose e fusão universal. Uma reflexão sobre o equilíbrio derivado da aniquilação dos opostos - o estado de nirvana. Esta espiritualidade é adequadamente sincronizada com a vertente sonora. A componente folk que caracterizava o primeiro registo da banda, tem sido progressivamente relegada em favor de uma ênfase marcadamente psicadélica, a qual se revela na sua magnitude em “When We Are Death”. Este é o tipo de rock em que o usual protagonismo das guitarras é substituído pela chorosa voz de McNerney (dotado de um dos mais ilustres e genuínos estilos vocais no contexto musical atual) e uma impressionante variedade de instrumentos e efeitos. O resultado põe-nos a navegar em lume brando num oceano estelar. Alucinação e consciência universal em igual medida, transformam este registo numa obra transcendental.

Eis que desta vez nos chegam os italianos Lacuna Coil com o seu mais recente cd intitulado «Delirium», com edição via Century Media. Com edição prevista para 27 de maio, o álbum contém 11 temas e conta com o baterista Ryan Folden que faz a sua estreia com a banda. O que dizer mais sobre Delirium? Posso mesmo dizer que me sinto um pouco suspeito ao escrever esta review dado ser fã da banda e apreciador deste genero de musica. Mas mesmo assim aqui fica uma pequena apreciação sobre este novo trabalho. Consideramos este novo álbum dos Lacuna Coil como sendo mais pesado do que os álbuns anteriores que a banda fez, talvez até se possa considerar um pouco surpreendente, porque maior parte das bandas estão a seguir caminhos mais suaves e de certa maneira mais acessíveis. Encontramos vocalizações mais pesadas e agressivas por parte de Andrea Ferro que contrastam e muito bem com a voz limpa e cristalina de Cristina Scabbia, assim como riffs de guitarra com bastaste peso mesmo. Desde já depois das primeiras audições destacamos temas como “Downfall”,”Delirium”,”Ghost In the Mist” ou “The House of Shame”. Um bom álbum no seu todo, bastante homogéneo e equilibrado, aconselhamos a fãs da banda e do género, assim como também a fãs de outros de metal sejam eles mais pesados ou não.

[10/10] FREDERICO FIGUEIREDO

[8.5/10] MIGUEL RIBEIRO

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LI FES T R EA M

LI K E R AT S

LO N G D IS TA N C E C A L L IN G

«Post Ecstatic Experience»

«II»

«Trips»

(Les Acteurs de l’Ombre)

(Southern Lord)

(InsideOut Music)

Oriundos de terras Francesas, os «Lifestream» tiveram a sua génese em 2012 sendo este «Post Ecstatic Experience» o primeiro trabalho deste colectivo, tendo visto originalmente a luz do dia em Abril de 2015, com a edição limitada de 100 cassetes. Sim, isso mesmo, as velhinhas cassetes que se retrocediam com uma caneta para poupar as pilhas do walkman. O som destes «Lifestream» pauta-se por um ambiente negro e de características melódicas. O álbum inicia-se com uma atmosfera obscura acompanhada por guitarras limpas a evoluir, em crescendo, para uns blast beats à black metal, adornados por uma voz sussurrada e, por vezes, pincelada por alguns grunhidos. Com uma boa produção, apresentamnos presenteiam-nos, ainda assim, com um som cru, onde algumas influências do black metal nórdico são notórias. De realçar as faixas «Parasite Glory» e «Two Faces» com cerca 10 minutos cada onde estes «Lifestream» conseguiram o feito de não as tornar enfadonhas, evitando a sequência monótona de riffs, tornando a musica embora longa, una e vibrante. De um modo geral, as músicas cheias de tecnicismo, blast beats, e mudanças de tempo, são (e bem) complementadas com letras de base metafísica, debitadas numa alternância de vozes sussurradas, guturais e outras simplesmente narradas e tornam este «Post Ecstatic Experience», uma proposta coesa, bem estruturada, e, especialmente para os seguidores do género, um trabalho a não perder.

Depois da surpresa que foi o disco homonimo, lançado em 2012, os Like Rats voltam à carga com este «II» e podemos dizer que a banda de Chicago vem para rebentar com quem se meter com eles, é que, além de terem bom gosto musical os membros dos Like Rats são eximios executantes das suas armas, também conhecidas como instrumentos. «II» é um disco que baralha as cartas e as volta a dar, sendo este um registo mais poderoso e mais diverso que o seu entecessor que, já por si, transbordava criatividad e ambição, aliás, ambição é o que não falta ao conjunto liderado por Andy Nelson (baixo e encarregue, também da produção). Ouvir este disco dos Like Rats ficamos com a sensação de termos sido atropelados por um comboio Alfa Pendular, pois a vertigem com que passamos de uma sonoridade Sludge para um Grindcore, Hardcore, ou qualquer Core que queiram, ou até um Death Metal, apenas faz com que fiquemos mais agarrados ao disco. Imaginemos que os Obituary se cruzam com os Celtic Frost, estranho, ou nem tanto, o que é certo é que a influência da banda dos manos Tardy se faz ouvir, de forma constante, na vos de Daniel Shea, que tem aqui uma prestação inigualável. Ao segundo disco os Like Rats provam a todos que o sucesso do primeiro disco não foi fruto do acaso e que a banda não deixa os seus créditos por mãos alheias e a coisa promete não ficar por aí, esperamos. «II» é um belo cartão de visita para quem não conhece a banda e é, para os que já conheciam, uma forma de redescobrir uma banda que pode muito bem ser o futuro do Metal. Este é o primeiro disco dos Like Rats pela Southern Lord e é a prova de que a editora tem os ouvidos bem abertos, e é um sinal de reconhecimento da banda. Um disco obrigatório de uma aposta ganha.

«We all have our time machines, those who take us back are memories an those who carries us forward are dreams». Esta frase do interlúdio «Presence» reflecte de forma, quase perfeita «Trips» e, também, os germânicos Long Distance Calling (LDC) que, ao quinto disco trazem o seu disco mais equilibrado, coeso e, talvez, mais forte. «Trips» foi um disco construido entre vida e morte, sendo o saldo natalício muito inferior. No entanto, os LDC agarram nas emoções, pensam na perda e, fazem com que Trips seja um disco mental, um disco que deve ser ouvido como uma viagem temporal. Sabemos que algo irá acontecer a partir do momento que «Getaway», imaginem um cenário «Fuga de Los Angeles, sendoeste o ponto de partida de um disco coeso, poderoso e, porque não dizer, que os LDC mostram um poder criativo que, apesar de conhecido, está aqui num nível arrebatador. Falar de algo que esteja menos bom neste disco é tarefa dificil, pois tudo parece ter sido levado ao pormenor. Falar do peso de Trauma para a esperança de «Lines» (primeiro single) e não falar de «Reconnect» ou «Rewind» é tarefa injusta. «Trips» é muito mais do que um disco dos Long Distance, o que aqui temos é um disco para pessoas, um disco para pensar e usufruir. No fim, o que fica é um sentimento arrebatador, é algo que devemos apreciar e chama-se vida. Com as nossas máquinas do tempo. Arrebatador...

[7.5/10] HUGO MELO

[8,5/10] NUNO LOPES

[9/10] NUNO LOPES

[7.5/10] NUNO LOPES

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MI STU R

L U M B E R HEAD

MORTE I NC A NDES C EN T E

«Woodcutting Madnesss»

«In Memoriam»

«... O Mundo Morreu»

(Independente)

(Dark Essence)

(War Arts Productions)

Os Lumberhead apresentam-nos aqui o seu EP de estreia «Woodcutting Madnesss». E que EP! De facto, é raro encontrar uma banda que logo na sua estreia nos apresenta uma maturidade e definição de som impressionante. As influências são muitas: desde os Black Label Society, Mastodon passando pelos Lamb of God. E este EP de estreia é algo que nos põe a fazer um head-bang frenético do início ao fim. A abrir com “The Hammer”, com um riff que nos entra pela cabeça a dentro e não sai, os Lumberhead demonstram também um nível técnico de se invejar. “Sleep with Open Eyes” é também uma faixa que nos põe a abanar a cabeça sem parar. De notar a voz de Rich Lumberhead que coloca uma força descomunal à música deste quinteto. “Real Man” começa com uns belos apontamentos de guitarra que mostram as influências blues e Southern rock com que este colectivo nos presenteia. “Fat Fairy”, uma faixa mais rápida, e “In the End”, que tem um belo solo de guitarra, fecham este EP e deixam-nos a salivar por mais. E os Lumberhead também gostam de mostrar que sabem tocar, com alguns arranjos bastante interessantes. De notar que os Lumberhead andam muito activos pela zona da Alemanha a espalhar o caos por todos os palcos que pisam. Ouçam isto que é bom. E esperem pela sua visita a Portugal!

Qualquer pessoa que tenha acesso a notícias sobre música, atento ao que sai para as bancas todas as semanas deve ter bem em conta a quantidade enorme de música que é lançada a nível mundial. A Europa e os E.U.A só eles somam milhares de títutlos anualmente; pode dar a parecer que a composição e gravação algo fácil e rápido. Com os noruegueses Mistur não é o que se passa; o projecto começou em meados de 2003 e o primeiro trabalho apenas foi lançado 6 anos depois, em 2009 com o nome «“Attende”». O segundo trabalho é hoje aqui apresentado, este «In Memoriam» que se distancia 7 anos do seu antecessor. O processo criativo parece ser algo sofrido quando se atenta às datas, mas nada disso é sentido quando se ouvem as 6 faixas deste álbum de Sognametal; composições longas (média ronda os 9 minutos), com variações/evoluções, sons de sintetizadores envolventes, partes melódicas sempre presentes (mas sem ser possessivo como se tornam em tantos trabalhos de death-metal melódico); aqui a melodia faz parte da sensação da música, não da projecção do imperativo metal/melo. Há uma componente obscura (black?) algo leve que traz riqueza, subtileza ao som. As faixas passam sem que se note cansaço na audição; aqui o trabalho é limpo e flúido. Os destaques/momentos altos são a melodia de introdução em “Downfall”, o riff intermédio em “Firstborn Son”, o crescendo e finalização em “Matriarch’s Lament” e finalmente o sentimento com que ficamos ao ouvir “Tears of Remembrance”, que nos impossibilita de não voltar a ouvir o álbum de novo imediatamente!

Apesar do black metal estruturalmente se pautar pelo princípio lo-fi do movimento punk, a mera regurgitação de fórmulas batidas não é fator de remissão. Na pletora de bandas que seguem o rotulismo fácil de “true” e “cult” (ou “kult”, se preferirem), é tarefa árdua separar o brilhantismo da inépcia. A sobrecarga de imagética satânica e referências mórbidas não revestem, necessariamente, a sonoridade de um caráter nocivo. Tal é o caso do presente trabalho. São-nos servidos todos os clichés do género, sob pretexto de regresso às origens do movimento, no entanto falta a magia que nos intrigava, o indescritível desconforto... o “unheimlich” de Freud. Isto é substituído por uma espécie de sátira inadvertida. Os gritos “limpos” a simular as recentes tendências dos Darkthrone são embaraçosos, faltando a mordacidade para fazer com que tal façanha resulte. Aliás, a amplitude vocal é capaz de levar o espírito mais aberto a um estado de apoplexia (desde a simulação da soturnidade de Adolfo Luxúria Canibal até aos falsetos ao estilo de Rob Halford... tudo em versão “scary movie”). O recurso às letras em português tornam os conteúdos - infelizmente - mais inteligíveis. É verdade que nem todas as bandas podem ter o metaforismo libidinoso dos Filii Nigrantium Infernalium ou a brutalidade caricatural dos Comme Restus, porém, as letras parecem uma verdadeira demonstração de síndrome de tourette. O facto de ser uma banda com 13 (?!!) anos de cadastro, faz com que o registo seja ainda menos desculpável. A banda tenta ser tão má... que consegue.

[9/10] EDUARDO ROCHA

[8.5/10] AG

[2/10] FREDERICO FIGUEIREDO

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O C T O B ER T I D E

R ITU A L C H A M B E R

«Advent of the Human God»

«Winged Waltz»

«Obscurations (To Feast on the Seraphim)»

(Season of Mist)

(Agonia Records)

(Profound Lore Records)

Os canadianos Necronomicon estão de volta com aquele que é quinto disco de uma carreira iniciada em finais da década de 80 e que, ao longo dos anos, colocou os canadianos na pole position no que ao Black Metal diz respeito. Advent of the Human God é um disco de puro Black Metal, cujas regras são seguidas ao milimetro, ainda que os Necronomicon sigam as suas regras, o que também ajuda a entender o motivo da sua ascenção aos infernos. Enquanto muitos dos pares optaram por caminhos seguros, que muitos chamariam de «sell outs», os Necronomicon optaram por se aventurar e por engrandecer e enfurecer a sua música, sem que, com isso, perdessem identidade, aliás, este será, talvez, o disco mais completo e majestoso do trio. Claro que podemos destacar as partes sintetizadas, mas isso seria retirar o mérito ao restante trabalho. Ouvir Advent of the Human God tem o condão de nos levar ao céu, mas, tem acima de tudo, o poder de nos atirar ao inferno e deixarnos a arder por uma infinidade de tempo. É claro que podemos encontrar algumas aproximações a bandas como Behemoth ou Dimmu Borgir mas a forma como a banda destila o seu Black Metal faz-nos esquecer qualquer comparação. Aqui há espaço para blastbeats, para solos e ganchos de guitarra que nos fazem delirar. Aliás, Advent of The Human God não é, de todo, o tipico disco do género, é um disco rápido, com malhas que não ultrapassam, na generalidade, os 5min de duração. Numa altura em que o Black Metal já viveu o seu auge, talvez fosse bom colocar os ouvidos numa banda que leva o género muito a sério e que teima em não desarmar.

É bom sabermos que as portas do albergue “Brave Murder Day” estarão sempre abertas e que, para o efeito, poderemos contar com o caloroso acolhimento da família October Tide. A banda, composta por membros dissidentes dos Katatonia, construiu como mote de carreira a dedicação a manter vivo o espírito do referido álbum. A tarefa revela-se assaz digna, dada a magnitude do trabalho em apreço. Neste sentido, dois clássicos registos foram lançados no final da década de 90, tendo-se seguido um hiato de 11 anos, no qual o fundador, Fredrik Normann, se ocupou de exercer funções de guitarrista nos Katatonia. Ao fim deste período (e após o abandono dos Katatonia), a banda produziu mais dois trabalhos, que fielmente seguiram o trajeto dos seus antecessores. Com maior ou menor grau qualitativo, o que este conjunto agora nos apresenta, não se desvia do padrão estabelecido. Assim, continuamos a aquecer o espírito na lareira desta languidez emocional, que tão bem os caracteriza. A recaptura do “Gothic” dos Paradise Lost, imiscuido na onda sueca de death metal, contínua vivo e de “boa” saúde. Porém, apesar desta promissora premissa, jaz o fulcro de um problema: a banda tornou-se refém de si própria, sendo que, sinteticamente, poderíamos compilar toda a sua discografia num só volume e pouca variação se evidenciaria. Perguntarão: “E isso é mau?” Nem por sombras... mas também não é nada de novo.

Imaginem um álbum que, depois de expelido, fosse deixado num bafiento fumeiro, para de seguida estagiar em tumulares cascos de carvalho, nas caves de um casebre abandonado nos confins de uma tenebrosa brenha. Estamos a falar de death/black metal infestado de uma aura sulfúrica e bolorenta. Ritual Chamber (tal como os Encoffination ou os Kosmokrator) pertencem à matilha de necrófagos que avidamente predam na carcaça dos Incantation. Se tal constituisse descrédito, este seria compensado pela capacidade de recriação de uma excruciante atmosfera de asfixia sepulcral (com o acídico odor da morte a abrir fissuras no espírito). Bandas como Ritual Chamber, Beherit, Thergothon, Wormphlegm ou Evoken forjaram o seu metal no escatológico magma dos cultos ctónicos, celebrados num fétido submundo de entranhas catacumbais, onde discípulos são iniciados e entidades nefastas invocadas. Numinas (fundador dos Ritual Chamber), com currículo feito nos referidos Evoken, bem como nos Funebrarum, Infester e bandas afins, absorveu influências que se transfixam, de forma notável, no presente trabalho. Grunhidos esmagados nas paredes da laringe, acompanhados de linhas de guitarra que se insinuam como pesadelos tentaculares, transformam esta experiência auditiva numa punição incessante. “Obscurations” traz assim mais uma tétrica nuance de negro para a palette de um subgénero que se recusa em permanecer morto.

N EC R O N O MI C O N

[6.6/10] FREDERICO FIGUEIREDO

[8/10] FREDERICO FIGUEIREDO

[8/10] NUNO LOPES «KANINA»

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SAM ALONE & THE GRAVEDIGGERS

SP I R I TU A L BEG G A R S

«Tougher Than Leather»

«Sunrise To Sundown»

«Phenotype»

«Voices of Fire»

«Sonic Debris»

«In Cycles»

(People Like You Records)

(InsideOut Records)

(Nuclear Blast)

(Ear Music)

(Small Stone Records)

(Noizgate Records)

Sam Alone é um homem só, pelo menos é o que ele diz, no entanto anda acompanhado por, uns tais, The Gravediggers e traz-nos «Tougher Than Leather» que é um poderoso manifesto, mas já lá iremos, pois aqui Sam Alone veste a pele de Springsteen ou Neil Young e «Thougher Than Leather» é um disco de atitude, no fundo, é um disco sobre nós. Numa altura em que o mundo, parece, girar ao contrário, e todos parecemos inertes, Sam acorda-nos com sinais de esperança e que, de facto nos agarro. Este é um disco puro disco Rock com cheiro a óleo de motor e brilhantina. Quanto aos Gravediggers (Guru, Pedro Matos, joão Ricardo, Ricardo Cabrita e Roy Duke) enchem estas canções com harmonias simples, riffs catchy qb e que dão a Sam Alone uma hipótese de respirar mais um pouco e soltar, ainda mais a força das palavras. Sam Alone (Apolinário Corrreia), Devil In Me ou, mais recentemente, Correia, mostra aqui a sua devoção ao Rock Simples, feito de palavras. Talvez seja isso que faz de Sam Alone um homem sozinho, mas para nós está tudo bem, estamos juntos. É música para ser escutada várias vezes. Do simples e do honesto, Sam Alone dá, neste disco, um sinal de vitalidade, criatividade e, acima de tudo honestidade. Se dúvidas existam sobre o estado do Rock em Portugal, ele está vivo e recomenda-se. Este disco é a prova dissso e destacar uma faixa neste disco é tarefa árdua, pelas boas razões. Não deixem o Sam Alone.

Michael Amott não nessecita de qualquer introdução, aliás, este é um nome que consta em muito do bom Death Metal que se tem feito...desde sempre. No entanto, o músico nunca escondeu o seu fascinio por sonoridades mais oldschool e foi com esse propósito que nasceram os Spiritual Beggars, já lá vão mais de duas décadas e este é já o nono registo. Poderá existir que a banda é um supergrupo, no entanto, o que aqui ouvimos é um grupo de músicos que nutrem o mesmo gosto por sonoridades mais próximas do Blues, do Rock ou do Psicadelisno, o melhor disto tudo é que o fazem com uma qualidade e com integridade suficiente para meter inveja a muitos novos músicos. Para aqueles que esperam aqui ouvir sonoridades mais pesadas ou riffs capazes de despertar os mortos, tirem o cavalinho da chuva. Com um conjunto de canções de fácil audição e cujo destino será, sem dúvida, o botão de repeat, os Spiritual Beggars seguem o seu caminho poeirente e febril. A nível de destaque podemos destacar «Diamonds Under Pressure» e a deliciosamente maliciosa «What Doesn’t Kill You». Podemos dizer que a banda mantém o espirto Flower Power bem vivo, olhe-se para a capa e, com isso, manter a chama do Rock acesa. Muitos não irão entender o resultado, principalmente, se a mente estiver, demasiado fechada, no entanto, o mal será só para essas pessoas, pois os suecos estão numa forma surpreendente. Deslumbrante. Um disco obrigatório para o calor que se aproxima a olhos vistos.

Os holandeses Textures não precisam de provar nada ao mundo, no entanto, a banda teima, em cada disco, surpreender a sua audiência e este Phenotype será, talvez, o disco mais desafiador que a banda já fez, começando logo desde o inicio pelo seu conceito. O que aqui temos é uma canção de 60min que é repartida em 9 malhas de elevadissimo nivel, o que seria de esperar, tendo em conta o tempo de concepção de Phenotype. Sente-se o cuidado que a banda teve na construção do disco, criando camadas por cima de camadas, sem nunca parecer excessivo e que agarra em tudo o que a banda já fez ao loongo da sua carreira. Este registo marca também a estreia de dois novos elementos, Uri Dijk (synth) e Joe Tal (guitarra) que elevam, também eles, o som dos Textures a um patamar mais harmonioso, groovy ou, até mesmo, mais catchy, nunca deixar cair por terra as suas raízes Metalcore, no entanto, os Textures são hoje muito mais que uma banda Metalcore, mordiscando, por vezes, uma tendência Progresssiva (experimental, se preferirem!) que só fica bem. Esta é a primeira parte de um conceito para dois discos que os Textures urão lançar, e cumpre o seu propósito, pois este disco é um disco que sabe bem ouvir, um disco em que a nossa capacidade auditiva e mental é posta em prova e onde cada audição nos parece mostrar um disco diferente. Restanos absorver este impacto de «Phenotype» e aguardar que «Genotype» veja a luz do dia.

Os Van Canto são umas das mais inovadoras bandas saídas da cena Alemã. E o novo álbum mostra uns Van Canto ainda mais ousados. De facto, os Van Canto quiseram apresentar-nos algo de inovador, até mesmo para uma banda que junta a-Capella com heavy metal. Este novo álbum conceptual, que nos conta a história de Bardos que lutam contra dragões com o poder da sua voz, é lançado em conjunto com o livro “Feuerstimmen” escrito pelo reconhecido autor alemão Christoph Hardebusch. A nível musical nota-se também uma vontade por parte da banda em se lançar em novas áreas e apresentar algo de inovador. A começar com a presença da London Metro Voices, a dar um revestimento ainda mais majestoso à música deste sexteto, passando pela presença de John RhysDavies, conhecido actor, que narra partes da história no início de cada faixa. De resto, nota-se um álbum mais homogéneo, como que se os Van Canto quisessem criar uma única faixa e reparti-la ao longo de 11 temas. A abrir com “Clashings on Armour Plates”, nota-se o som típico dos Van Canto ao mesmo tempo que se assiste à incorporação destes novos elementos. “Dragonwake” é uma bela música mas mais compassada sendo ao mesmo tempo uma das mais belas faixas deste álbum. “Time and Time Again” é um tema aonde Sly volta a mostrar os seus dotes vocais e talvez a que mais se aproxima ao que os Van Canto nos habituaram. Por seu lado, Inga brilha em faixas como “All My Life” e “The Oracle” enquanto que os restantes elementos proporcionam as conhecidas RakaTakka vocals. Nota-se o esforço por parte dos Van Canto de tornar este álbum no acompanhamento musical do livro. “The Bardcall” é uma das faixas de destaque deste álbum enquanto que a ausência da tradicional cover também é de se notar. Um álbum ousado que merece ser ouvido.

Os Miss Lava já se afirmaram desde há uns anos a esta parte como uma das bandas mais importantes dentro do panorama Rock Nacional. Os chamados “Pais do Stoner Rock Português” apresentam com este novo trabalho uma outra face do projeto. Não descurando a sonoridade que lhes é característica, “Sonic Debris” apresenta também aos fãs um lado mais experimental. Arranjos melódicos e psicadélicos coexistem em harmonia com alguns riffs que nos transportam para o universo musical criado por Tommy Iommi e os seus Black Sabbath. A guitarra (que dá a sensação de se multiplicar), ao alternar entre a técnica e a “força” oferece-nos variações de som e de estilo que, cirurgicamente inseridas nas canções, lhes dão uma profundidade muito interessante. A perfeita combinação desta com os restantes instrumentos dá origem a canções muito equilibradas e bem conseguidas. O resultado final é um álbum extremamente variado, coeso, com uma linha condutora bem marcada e que consegue por vezes até ser intimista. Num álbum mais eclético sente-se por vezes falta de uma prestação vocal também ela mais diversificada. Um maior arrojo vocal poderia ser benéfico não só para algumas músicas, como para o álbum no seu todo, no sentido em que desta forma seria também ela mais coerente com toda a dinâmica apresentada. Não obstante este pormenor é um álbum muito bem conseguido que nos dá a sensação que este chamado “lado mais experimental” fez sempre parte do ADN da banda, tal não é harmonia com que foi inserido nas suas composições. “Sonic Debris” apresenta-se como um álbum maduro, bem trabalhado, bem conseguido, e que implora para ser explorado.

Isto de ouvir algo que nos chega rotulado de Death Metal Melódico tem muito que se lhe diga. Ou não. Vamos lá ver, este estilo, tal como o Power Metal já não tem muito por onde se expandir e qualquer lançamento que surja, arrisca-se a ser mais do mesmo e a ficar perdido num manancial de tantos outros. Bem, quando recebi uma cóp... (bem, não recebi a cópia porque a esta hora andará perdida pelos correios... ou não.) ... os mp3, óbvio que esse estigma do “mais do mesmo” veio à tona. No entanto, «In Cycles» é mais que um álbum de Death Metal Melódico. A minha surpresa logo com o tema de abertura, “Amour Fou”, uma balada em dueto com uma voz feminina - Klara Truong – e um solo de violoncelo. (Aqui os sentido apuraramse e a desconfiança apoderou-se sobre algo que poderia ser diferente) Logo a seguir, tudo a partir com o blast beat de «In Cycles» e duas surpresas: os coros muito bem realizados e produzidos (São doze os contribuintes) e o quarteto de cordas que vai povoando e enriquecendo a maior parte dos temas. Este classicismo enriquece de sobremaneira a sonoridade e o ambiente. O destaque a todos os níveis vai, sem sombra dúvida para o tema que fecha este ciclo: “At the Heart of Infinity”. Um tema que se calhar define bem os Burden of Life, uma mescla de Death Metal Melódico/Progressivo, ainda com a contribuição de Klara Truong. Não esperem a típica monotonia que povoa e define este estilo. Isto é diferente e arriscaria a dizer uma lufada de ar fresco neste género, excepcionalmente bem trabalhada. Ouçam também “Kafkaesque”, os coros e a volta de 180º que dá algures a meio do tema - Mas há mais para descobrir. É pois, altamente recomendado para quem quer fugir do marasmo em que vive o Death Metal Melódico.

[8,5/10] NUNO LOPES «KANINA»

[8.5/10] NUNO LOPES

TEXTU R ES

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[7/10] NUNO LOPES

VA N C A N T O

MI S S LAVA

[8/10] IVO BRONCAS

B U R D E N O F L IF E

[8.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

[9/10] EDUARDO ROCHA

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ENTREVISTA

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MAIS ESPECÍFICO EM RELAÇÃO À CENA ALEMÃ.

nesta cena de que fazemos parte há 20 anos.

DA INTERNET E DE COISAS COMO O SPOTIFY?

J. K. : Não, vamos falar no geral. A primeira coisa que gostaria de dizer é que o espírito da cena mudou completamente. Estamos a falar de 20 anos. Há 20 anos atrás, só havia poucas bandas como Immortal, Dark Funeral e Emperor e havia o pessoal da Escandinávia. Também havia algum pessoal da Itália, Áustria e havia algumas bandas alemãs tais como os Eminenz. A principal diferença é que antes esperavas um ou dois anos até que o próximo álbum saísse. Isso criava um espírito quando tinhas o álbum nas tuas mãos. E hoje, lanças álbuns em cada meio ano só para estar presente na cena.

COMO VIRAM AQUELAS COISAS QUE ACONTECERAM NA NORUEGA NOS ANOS 90 COM AS IGREJAS A SEREM QUEIMADAS E OS HOMICÍDIOS?

J. K. : Para nós, isto nunca foi para ganhar dinheiro. É uma forma de viver e de nos expressarmos. É caro, definitivamente. Só com uma profissão e com uma vida normal. Tens que desistir do teu trabalho e sacrificar a tua vida pessoal para fazeres as coisas de outra maneira.

J. K. : Sim, claro. Houve algumas bandas entre 1989 e 1991 ou algo assim. O ponto principal das bandas era a cena de queimar as igrejas. A cena Escandinávia ficou bastante em foco na altura e isso deu uma chama inicial à cena alemã também.

E TAMBÉM É BOM VER QUE ALGUMAS BANDAS DESSA ALTURA AINDA CONTINUAM ACTIVAS. OS

ESTÃO A CELEBRAR 20 ANOS. ESTÃO A PLANEAR LEVAR ESTA CELEBRAÇÃO A MAIS CIDADES NA ALEMANHA? J. K. : Não. Leipzig é a nossa cidade e decidimos celebrar nesta cidade dentro destas paredes porque tocámos aqui 3 ou 4 vezes e tudo se enquadra. É em pedra e é velho e o

“A PRINCIPAL DIFERENÇA É QUE ANTES ESPERAVAS UM OU DOIS ANOS ATÉ QUE O PRÓXIMO ÁLBUM SAÍSSE. ISSO CRIAVA UM ESPÍRITO QUANDO TINHAS O ÁLBUM NAS TUAS MÃOS.”

“ESTAMOS A FALAR DE BLACK METAL E ÀS VEZES SINTO A FALTA DO PASSADO”

GRABAK BLASFEMA EXISTÊNCIA OS GRABAK CELEBRARAM RECENTEMENTE 20 ANOS DE EXISTÊNCIA. PARA TAL, DERAM UM CONCERTO BASTANTE ESPECIAL, NA P ROFÍCUA CIDADE DE LEIPZIG, NA ALEMANHA, COM TRÊS SETS DIFERENTES SENDO QUE CONVIDARAM MEMBROS ANTIGOS PARA SE JUNTAREM À CELEBRAÇÃO. PARA ALÉM DISSO, OS GRABAK IRÃO TAMBÉM RELANÇAR O SEU ÚLTIMO ÁLBUM, SENDO QUE JÁ SE ENCONTRAM TAMBÉM A COMPOR MATERIAL NOVO. MAIS DO QUE MOTIVOS SUFICIEN TES PARA UMA ENTREVISTA ANTES DO CONCERTO COM O VOCALISTA J.K. QUE NOS CONTOU MAIS DETALHES SOBRE A HISTÓRIA DESTA BLASFEMA BANDA. A ENTREVISTA FOI BASTANTE INTERESSANTE E O CONCERTO DEMONSTROU O PORQUÊ DE OS GRABAK AINDA CONTINUAREM NA CENA. Entrevista: Eduardo Rocha ESTÃO A CELEBRAR 20 ANOS DE EXISTÊNCIA. QUANDO COMEÇARAM A BANDA, IMAGINAVAM QUE PASSADOS TANTOS ANOS ESTIVESSEM AQUI? J.K.: Bem...não. Na verdade, nunca pensei que este tipo de música durasse tanto tempo. Tentamos ao longo dos anos e espero que continuemos aqui por mais alguns anos (risos).

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E ESTÃO AQUI COM BASTANTES CONVIDADOS. PODEM-NOS CONTAR O QUE VAI ACONTECER ESTA NOITE? É UMA NOI TE ESPECIAL. J.K.: Conhecemos as outras bandas há bastante tempo. Já tocamos com os Eminenz, Sado Sathanas e com os Ad Hoc e pedimos-lhe que viessem cá esta noite e eles disseram claro que sim. Eles irão tocar os seus sets normais e nós iremos tocar um set

com três partes. Alguns temas vão ser tocados com o line-up original, a segunda parte será com um lineup intermédio e, por fim, a terceira parte será com o line-up actual.

20 ANOS NA CENA É MUITO TEMPO. DEVEM TER VISTO MUITAS COISAS A MUDAR. COMO COMPARAS A CENA METAL EM GERAL, OU A CENA BLACK-METAL SE PREFER IRES, DE HÁ 20 ANOS ATRÁS COM OS DIAS DE HOJE? SE QUISERES PODES SER

EM RELAÇÃO AO ESPÍRITO DA CENA, DISSESTE QUE MUDOU BASTANTE. PODES FALAR UM POUCO ACERCA DISSO? J. K. : Estamos a falar de black metal e às vezes sinto a falta do passado. Mudou de um sentido mais espiritual para algo mais técnico, tipo produção.

SIM, TAL COMO SATYRICON E DIMMU BORGIR QUE TRAZEM CENAS MAIS MAINSTREAM PARA O BLACK METAL. J. K. : Não só. Estava também a falar dos Behemoth que não eram uma banda de black metal no início e são uma das maiores bandas hoje. Se olhares para a performance deles, é só entretenimento o que é ok. Eles devem fazer isto porque vivem do dinheiro da música e nós não (risos). E nós vamos continuar

IMMORTAL SEPARARAM-SE MAS O ABBATH LANÇOU UM NOVO ÁLBUM RECENTEMENTE. OS MAYHEM E OUTRAS BANDAS AINDA CONTINUAM BASTANTE ACTIVAS. J. K. : Para mim é difícil comparar as bandas como eram nessa altura e como são nos dias de hoje. Ainda que haja alguns membros originais dessas bandas que criaram coisas como “Pure Holocaust” ou “Battles in the North”.

NORMALMENTE FAÇO ESTA PERGUNTA: VOCÊS VIRAM O VINYL A APARECER E DEPOIS O CD A DOMINAR NOS ANOS 90. AGORA O VINYL ESTÁ A VOLTAR A APARECER ENQUANTO QUE O CD ESTÁ A DESAPARECER. COMO VÊM ISTO, ENQUANTO BANDA, E COMO ACHAM QUE PODEM SOBREVIVER QUANDO O CD JÁ NÃO VENDE TANTO POR CAUSA

som é extremo e decidimos vir aqui. Vamos gravar em vídeo também só para colocar no YouTube.

E COMO VÊS LEIPZIG PARA UMA BANDA COMO OS GRABAK? J. K. : Quando começamos éramos a primeira banda de black-metal em Leipzig. Começamos em 1995 e antes disso tivemos algumas tentativas de fazer algo mais ou menos bem sucedidas. Quando começamos só havia uma banda e depois apareceram mais uma ou duas bandas. Depois disso, as bandas cresceram como cogumelos. Mas acho, que somos a banda original e vamos continuar a ser.

O VOSSO ÚLTIMO ÁLBUM, “SIN”, DE 2011 VAI SER REEDITADO. PODES CONTAR-NOS ALGO ACERCA DISSO? 107 / VERSUS MAGAZINE


ENTREVISTA

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J.K.: Em 2011 lançamos o nosso último álbum “Sin” e tivemos bastantes problemas com a editora porque eles faliram alguns meses depois do lançamento. E fizemos poucas entrevistas e houve poucas reviews do álbum. Um álbum inteiro foi completamente desperdiçado por causa da falta de público e de impacto. E decidimos reeditar o álbum que vai ser remisturado porque acho que se queres lançar algo outra vez, tens que mudar algo no álbum. A capa e o som estão diferentes e vai ser um lançamento bastante interessante.

VAMOS FALAR UM POUCO SOBRE O CONCEITO DOS GRABAK. J.K.: O conceito lírico vem de mim. Eu escrevo todas as letras e tenho muitas inspirações que vêm de coisas blasfemas tais como a Bíblia e John Milton. Gosto de histórias de horror, Lovecraft e gosto de criar algo blasfemo. Pegar em algo normal e mudar um detalho e acabar com algo blasfemo.

E COMO É COMPOSIÇÃO?

O

PROCESSO

DE

J.K.: Um dos nossos guitarristas e o nosso baixista normalmente

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entram na sala de ensaios dizem para experimentarmos isto e aquilo. Depois acabamos por juntar todas estas peças e temos uma música nova. Todo o processo de composição pode demorar uma semana ou meses mas não há um ponto de início e de fim definido.

FALAMOS DA REEDIÇÃO DO “SIN” E DE PROBLEMAS COM A EDITORA. QUEM É QUE VAI RELANÇAR ESTA REEDIÇÃO? J . K . : É a Black Blood Records.

E QUAIS SÃO OS PLANOS FUTUROS PARA OS GRABAK? J . K . : A ideia por detrás deste lançamento é de fazer uma marca e dizer que estamos aqui. As pessoas vão ver que estamos de volta e depois vamos ver o que acontece. Mas vai haver um novo álbum. Estamos a escrever material novo e espero que nos próximos meses já haja um novo álbum. Temos 5 ou 6 temas novos e vai haver mais 3 ou 4. Vamos também regravar algum material antigo.

A VERSUS É DE PORTUGAL. JÁ TOCARAM NO NOSSO PAÍS? J .K .: Nunca tocámos em Portugal mas eu já estive aí. Espero que toquemos aí em breve. O problema é sempre viajar e tem que haver algum promotor que esteja disposto a pagar e trazer-nos aí. Somos 5 tipos que têm que viajar até Portugal com o material e isso é caro. Isto não é um problema só de Portugal. Mas nós estamos numa boa situação aqui na Alemanha porque os promotores têm dinheiro para pagar. Nós não somos caros, não somos profissionais e estamos algures no meio. Não somos uma banda amadora que toque num bar por 50 euros. Estamos no meio e esse é o problema (risos).

PARA FECHAR, ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL PARA OS FÃS PORTUGUESES E PARA OS LEITORES DA VERSUS? J .K .: Sim, claro. Eu espero que toquemos aí em breve. Até lá, stay tuned e ouçam o novo material. https://www.facebook.com/ Grabak-153273291385544/ https://youtu.be/piEKc9b5-mo

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REFLEXÃO SOBRE A BREVE HISTÓRIA DO METAL PORTUGUÊS Por: Adriano Godinho

Após leitura do livro “Breve história do Metal Português” fomos influenciados a disertar sobre a obra, não só em tom de crítica literária mas também de análise de qual o momento este para tal livro; o que é a história do metal mas também reflectir sobre nós próprios: o que é a comunidade metaleira?

Contexto musical - o metal e a história A história está cheia de obras que retratam todo o tipo de acontecimentos decorridos em todo o tipo de momento da história. As obras sociais tentam cobrir toda uma panóplia de assuntos. As obras sobre música focam bandas, estilos ou eventos; mas sempre virando-se para géneros mais acessíveis pelas mass/maiorias, não sub-culturas. O assunto "heavy metal" nunca foi muito prendado no que toca a obras marcantes; claro há biografias de grandes bandas ou músicos que têm a sua importância, mas são muito escassas as obras como a que Dico aqui consegue. O metal sempre foi uma esclusão às regras da generalidade, sempre ostracizado pela sua velocidade, peso e violência. Mas os fãs sempre se destacaram como uma das mais fiéis e dedicados aos seus ídolos e às regras da comunidade.

Primeiras páginas O que aqui a obra «Breve História do Metal Português» (BHDMP) nos mostra é a evolução do movimento e que tudo isto tem uma razão de ser, que o género é o caminhar natural do que aconteceu no rock que se ouviu anteriormente. Rock que possui uma forte componente de intervenção, revolucionária, até. Evolui num formato mais cru para acompanhar a sociedade e a revolta, tornando-se como esta: mais rápida, mais agressiva, mais pesada! Nasce o heavy metal e Portugal não o deixa escapar: também temos a nossa palavra a dizer! Então os capítulos do livro sucedem-se, contando esta história, descrevendo os primeiros complicados e precários momentos do rock em terras lusas - que não têm muito para dar a esta nova expressão mas que consegue ter um público que mostra estar interessado e irá levar o género a interessantes níveis de originalidade.

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O rock ganha outras texturas e dá-se a luz O rock dos primeiros momentos evolui para se tornar mais complexo, com camadas sobre camadas, ganhando tonalidades progressivas, mais tarde experimentais (estou talvez a adiantar-me), o rock torna-se mais obscuro/negro, com guitarras mais distorcidas, ritmos mais velozes; e começa a aventura do rock pesado: que advém do rock psicadélico, rock progressivo. Nomes como "Pentágono" ou "Beatnicks" surgem. Xharanga marca uma geração e estão aqui os primeiros (conhecidos) passos para o que iremos chamar hard-rock português. A estrutura do livro é eficaz e o ritmo da obra é muito bem conseguido, seguindo a evolução da história de forma natural sem nunca diminuir o interesse no acompanhamento da obra. Todos os componentes que redeiam este movimento são bem documentados (se bem ligeiramente veloz, mas compreende-se pela falta de informação de uma época já tão distante e tão pouco documentada) e ficamos a perceber de forma mais clara os acontecimentos que rodearam esta evolução do género.

Hail Metal! Numa possível identificável segunda parte desta obra, que dá início nos relatos dos acontecimentos nos anos 80, a forma da obra muda, onde não temos já uma obra descritiva com estrutura histórica, mas sim um estilo mais descritivo do que se apresenta ao ouvinte/fã de metal em Portugal; quais as bandas mas também as editoras, promotoras, dificuldades em publicar; precariedade de meios técnicos, etc. Sente-se uma decepção de não haver uma capacidade em promover o sucesso em Portugal. Sucesso este que posto em palavras; definido como reconhecimento, internacionalização e venda de álbuns. Algo que aconteceu a muitas poucas formações lusas e que é sub-entendido que quem o conseguiu é porque fez por isso; assim como quem fica por cá não vencerá/furará no mercado. Mercado esse que é composto por mass-medias e sociedades anti-metal; os quais são tão ferozmente criticados pelo metal nas suas letras; paradoxal, não é?

O apogeu dos anos 90 Há vários pontos de vista no que toca a decidir quando o metal teve/terá o seu ponto alto; ao ver de muita gente, os anos 90 (e fins de 80) foram os mais interessantes a nível mundial, do ponto de vista de bandas, álbuns e comunidades de fãs. Portugal não foi excepção, pois os anos 90 viram nascer imensas bandas (muito bem listadas no livro) que marcaram todos nós (que ouvimos metal nessa altura). Pois a música era mais que música, as pessoas mais que simples pessoas (isto faz-me lembrar a expressão "when music was music and men were men!"); o impacto social e psicológico da música nas pessoas era, a meu ver, mais intenso que hoje. Talvez o metal seja hoje uma estrutura mais complexa que outros géneros, porque é um género hoje maduro - deve rondar os 30 anos - e que a quem bateu em cheio, nunca mais deixa de ouvir os seus "clássicos". Na opinião do autor (disponível na nossa entrevista) a fase mais interessante foram os anos 2000s onde as bandas revelaram todo o seu potencial; O metal é um género tão (demasiado?) vasto que cada fã terá a sua percepção do que é/foi mais importante no género.

O virar do milénio Os anos 2000 trouxeram muita diversidade a um género que se caracteriza por usar instrumentos tradicionais (de forma muito geral, claro – um comentário de quem compara música feita com guitarra/baixo/bateria e música feita através de novas tecnologias). O metal deixou de ser apenas meia dúzia de estilos para ser muitos mais (que gostaria de ter visto descrito/analisado nesta obra no contexto do metal nacional). Deixa de ser heavy metal, trash, death ou black; para serem acompanhados pelos:


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metal alternativo, metal influenciado pelo punk (hardcore), metal influenciado pelo hip-hop (Nu-metal), formas experimentais, o progressivo ganha outro folgo, há também o metalcore, deathcore, grind, metal sinfónico, post-tudo-e-mais-alguma-coisa e o mais interessante é a mistura de géneros onde bandas se tornam inclassificáveis. Algo que sempre caracterizou as bandas de metal é nunca gostarem de ser etiquetadas a um género. No livro fala-se dos anos 2000 como sendo mesmo isso, um número muito elevado de bandas que surgem, com as quais as editoras não se conseguem envolverem de forma contractual mas que, segundo uma entrevista a um músico/produtor, já não é tão decisivo e que uma banda pode fazer esse trabalho por si mesma.

Gravar e arrangar concertos A forma de ganhar a vida para os músicos muda de forma drástica na era das novas tecnologias. Os fãs são tão limitados financeiramente quanto os seus ídolos e a compra de CDs torna-se ainda mais escassa quando se dá a possibilidade de ouvir a música de forma grátis (e ilegal) através da internet. Os concertos e merch tornam-se as formas de rendimento das bandas e as editoras mudam o seu modus operandi. Quando uma banda é formada o principal objectivo é gravar um EP e começar a dar concertos. A realidade em Portugal limita um pouco essa vertente pelo oconfinamento dos sítios onde bandas de metal possam actuar – excepto as cidades como Lisboa, Porto e suas cidades satélite. No estrangeiro, países com mais oferta destacam-se com uma muito mais elevada amostra de bandas a nascerem, onde se “puxam” umas às outras no que toca à qualidade e originalidade, para poderem destacarem-se dos outros.

O Metal hoje O metal mudou imenço. O género evoluiu e hoje vemos bandas criarem o seu próprio estilo e outras que não inovam, continuando a tocar o que se tocava há 20 anos - mas não é forçosamente negativo. Há formas de revivalismo onde bandas tocam música com base em estilos mais antigos mas com um “toque” actual, como diz o autor Dico: "Julgo também que poderão acentuar-se ainda mais duas tendências opostas em plena evolução nos últimos anos – por um lado, o Metal revivalista nas suas múltiplas vertentes (Thrash, Doom, Heavy, Hard Rock e Stoner Rock/Metal) e, por outro, uma forma de Metal mais electro-Industrial, ou maquinal, na esteira dos Rammstein e envolta na tendência Cyber Metal." Devido a uma característica actual (ou humana, pura e simplesmente) a volatilidade das bandas é uma realidade acentuada no metal e projectos de um só trabalho inundam a lista de projectos abandonados. Desde o virar do milénio, o número de bandas cresceu exponencialmente e os fãs de metal são conhecidos por não gostarem de ouvir o que todos os outros ouvem; têm fama de falarem de bandas que nunca ninguém conhece; e caso essa banda comece a ser conhecida, então já deixam de a ouvir. Graças a uma certa consciência por parte de alguns fãs a venda da música através das novas tecnologias não morreu, mas mudou – também através de um diferente envolvimento das bandas com editoras – e plataformas como o bandcamp e/ou soundcloud permitem os fãs comprarem música que sabem (havendo excepções) que o dinheiro que derem vai directamente para os músicos - e não uma percentagem ridícula como antigamente, onde os músicos eram pagos após editoras, distribuidoras, promotoras se cobrarem.

Desfecho No entanto e apesar de décadas de evolução continuamos a ser uma sub-cultura e continuamos a ser underground. Pessoalmente vejo isso com bons olhos pois não considero a “maioria” ou até mesmo a humanidade - como grupo social - uma entidade que tenha particular interesse no que não seja de consumo imediato. Em qualquer que seja o assunto, não apenas música, o ser humano geral irá dedicar uma porção muito limitada da sua capacidade cognitiva ou mesmo de concentração. O metal não é algo que se adora no primeiro contacto (ou não); a quem nunca aconteceu ter detestado a primeira vez que ouviu um álbum que hoje adora?


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agora estamos mais ativos e com muitas ideias. PAULO RODRIGUES: O Laughbanging acabou por surgir de forma natural. À medida que escrevíamos mais piadas, íamos diversificando os assuntos com que parodiávamos. Daí a chegarmos a temas mais pessoais, como o Heavy Metal, foi um instante. O blog foi a forma inicial que encontrámos de exteriorizar as nossas ideias. Depois, foi o Facebook e, mais recentemente, o podcast. Quanto aos “10 anos de carreira”, não é mais do que um bom nome para um espetáculo de cantor saloio [risos].

INSPIRARAM-SE DE ALGUMA FORMA EM PROJETOS ESTRANGEIROS ANÁLOGOS PARA CRIAR O BLOG OU SIMPLESMENTE ENTENDERAM QUE, DEVIDO À SERIEDADE QUE TRADICIONALMENTE TRANSPORTA, O METAL DEVE ENCERRAR UMA PARTE DE HUMOR, QUE AJUDE OS MÚSICOS E OS FÃS A DESCOMPRIMIR NUM MUNDO QUE NÃO É PARTICULARMENTE DIVERTIDO?

RIR E “MOSHAR”

GUSTAVO VIEIRA: Não nos inspirámos em nada. Foi simplesmente a vontade de não deixar as piadas que tínhamos sobre Heavy Metal “guardadas na gaveta”.

HUMOR E METAL NÃO COMBINAM! SERÁ MESMO ASSIM? QUER A NÍVEL NACIONAL QUER INTERNACIONAL NÃO FALTAM EXEMPLOS DE PROJETOS MUSICAIS E OUTROS QUE CONTRADIZEM ESTA IDEIA FEITA, INSTITUÍDA POR CABEÇAS RETRÓGRADAS E ULTRAPURISTAS. O PROJETO NACIONAL LAUGHBANGING, QUE EM DEZEMBRO PASSADO CELEB ROU UMA DÉCADA DE EXISTÊNCIA, É O EXEMPLO ACABADO (SALVO SEJA) DE QUE HUMOR E METAL PODEM COEXISTIR, SIM SENHOR, E COM ÓTIMOS RES ULTADOS. AGORA DISPONÍVEL EM MAIS FORMATOS, O PROJETO ENCONTRA-SE EM PLENA FASE DE EXPANSÃO, PELO QUE FOI O MOMENTO IDEAL PARA FALARMOS COM OS SEUS MENTORES. GUSTAVO VIEIRA E PAULO RODRIGUES.

PAULO RODRIGUES: Eu acho o Heavy Metal bastante divertido, mas depende da forma como o vês. Por exemplo, há pessoal que nos concertos gosta de fazer cara de mau e gritar. Isso para mim não é um concerto. É uma reunião de condóminos [risos].

Entrevista: Dico

COMO É QUE ANALISAM A ACEITAÇÃO DO LAUGHBANGING POR PARTE DO PÚBLICO NOS PRIMÓRDIOS DO BLOG?

O PROJETO LAUGHBANGING CHEGOU EM D EZEMBRO PASSADO À PRIMEIRA DÉCADA DE EXISTÊNCIA, FACTO QUE JUSTIFICA PLENAMENTE UMA ANÁLISE RETROSPETIVA. CORRENDO O RISCO DE OBTER UMA RESPOSTA TRESLOUCADA, PERGUNTO-VOS: QUEREM FAZER UMA REFLEXÃO ACERCA DESTES DEZ ANOS, POR UM LADO, MAS, ANTES DISSO, RELEMBRAR AOS LEITORES DA VERSUS A GÉNESE DO PROJETO, QUE SURGIU EM PLENA EMERGÊNCIA DA

EMERGÊNCIA DO STAND-UP COMEDY EM PORTUGAL? G U S TAV O V IE IR A : De facto, o Laughbanging foi criado numa época muito fértil em termos de comédia. Havia programas de standup-comedy na televisão, muitos novos comediantes a aparecer, bares para atuar e os blogs eram a melhor forma de expressão e de mostra de criatividade, até porque o mIRC já não dava muito jeito para essas coisas. Foi nessa altura, em 2005,

que eu e o Paulo Rodrigues, sendo comediantes, fãs e músicos de Heavy Metal, e inventando muitas vezes piadas sobre esse género musical, decidimos criar um espaço para expormos as nossas ideias, pensamentos e devaneios humorísticos sobre o Metal. Estes 10 anos têm tido alguns altos e baixos em termos de trabalho no projeto, visto que fizemos muito pouco no início da primeira década deste século (especialmente por preguiça e pelo raio da procrastinação), mas

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GUSTAVO VIEIRA: Teve um pouco de tudo - desde pessoal que aceitava as piadas, até quem ficasse ofendido por gozarmos com a banda favorita, o que ainda hoje acontece. Mas confesso que, por um lado, julgava que ia haver mais gente ofendida, e, por outro, esperava que recebêssemos mais feedback (estou a referir-me a comentários e mensagens, não ao ruído que as guitarras fazem junto às colunas) [risos].

PAULO RODRIGUES: A primeira piada que colocámos no blog foi “Há quem leve o nome da sua banda demasiado a sério. Veja-se o caso de Chuck Schuldiner” [referindose ao facto de o músico norteamericano fundador dos Death ter falecido no início do século]. Logo aqui, houve “problemas” na caixa de comentários. Por outro lado, sabemos que há pessoal que gosta, mas não se manifesta. Preferem guardar energias para escreverem noutros sítios coisas do género “Vendidos! Morram todos! Nem que me paguem vou a Corroios! [alusão ao facto de o festival Vagos Open Air se ter deslocalizado para Corroios].

JÁ ENTREVISTARAM IMENSAS BANDAS, MÚSICOS E OUTRAS FIGURAS DO METAL PORTUGUÊS. HÁ ALGUMA ENTREVISTA OU ASPETOS CONCRETOS DE VÁRIAS ENTREVISTAS QUE GOSTASSEM DE DESTACAR PELA ORIGINALIDADE, IMPREVISIBILIDADE OU ESTRANHEZA? GUSTAVO VIEIRA: Pessoalmente, fiquei surpreendido pela disponibilidade e a forma como o escritor José Luis Peixoto respondeu à entrevista, tendo-se enquadrado no espírito do projeto. Gostei também do bom humor do Dico, dos desabafos do João Sérgio dos Ibéria e da disponibilidade das brasileiras Nervosa, a nossa primeira banda internacional a ser entrevistada. PAULO RODRIGUES: A entrevista ao Jorge Caldeira (Pal FM) também ficou muito boa, o que não é de estranhar, não fosse ele uma espécie de Júlio Isidro do Heavy Metal.

EM GERAL, DE QUE FORMA SÃO VISTOS OS VOSSOS CONVITES PARA A REALIZAÇÃO DE ENTREVISTAS, DADO QUE SÃO ENTREVISTAS HUMORÍSTICAS E QUE, PORTANTO, FOGEM ÀS CONVERSAS TRADICIONAIS? ESSE PROCESSO REQUER BASTANTE NEGOCIAÇÃO OU OS CONVIDADOS ACEITAM O DESAFIO SEM MUITA RESISTÊNCIA? GUSTAVO VIEIRA: Aceitam todos facilmente e de forma positiva. Até ficam aliviados por poderem responder a perguntas diferentes.

PAULO R O D R I G U E S : Já imaginaste o que seria perguntar a uma banda com 10 anos ou mais “Então, como é que vocês se formaram?”

JÁ HOU VE CONVITES DE ENTREVISTA REJEITADOS? GUSTAVO V I E I R A : Houve só uma personalidade que nos disse não estar interessada, mas tinha uma explicação bastante plausível, até porque não costuma dar entrevistas. Entendemos perfeitamente. E, pelo menos respondeu-nos. Há quem nem isso faça. PAULO R O D R I G U E S : Há bandas que primeiro dizem estar interessadas em ser entrevistadas, mas depois não respondem. Parecem aquelas gajas que deixam de responder às nossas SMS… eu sei bem daquilo que falo [risos].

INCLUSIVE, COMO JÁ DISSESTE, GUSTAV O, VOCÊS ENTREVISTARAM A BANDA BRASILEIRA DE THRASH METAL NERVOSA, UNICAMENTE CONSTITUÍDA POR MULHERES. PORQUÊ, SEUS TARADOS? PORQUE NÃO ENTREVISTAR UMA BANDA MEXICANA SÓ CONSTITUÍDA POR GAJOS GORDOS COM 1,50M DE ALTURA? GUSTAVO V I E I R A : Cada um tem a sua noção de beleza. Se achas que mexicanos gordos é bonito, isso é contigo [risos]. A escolha das Nervosa não foi difícil. Bom som, boa onda e mulheres bonitas. Tínhamos aqui um bom pretexto para as conhecermos. Se lhes tivéssemos enviado um e-mail a dizer: “Olá, somos dois portugueses e queremos conhecer-vos” elas teriam enviado aquilo para a Reciclagem instantaneamente. E com bloqueio para futuras mensagens. PAULO ROD R I G U E S : Sempre quisermos entrevistar bandas estrangeiras. Já tentámos outras, mas até agora não foi possível. Quanto à banda mexicana de que falas, por acaso até teria piada entrevistar os Brujeria, mesmo que as nossas cabeças acabassem na capa do próximo álbum.

RECENTEMENTE DERAM PASSO DETERMINANTE

UM NO


ENTREVISTA

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DESENVOLVIMENTO DO PROJETO, AO CRIAR O PODCAST LAUGHBANGING. COMO SURGIU A IDEIA DE CRIAR O PODCAST E COMO A TORNARAM REALIDADE? GUSTAVO V I E I R A: O blog e Facebook já não eram suficientes para as ideias que pretendíamos concretizar. Além disso gostamos de podcasts, e dado que este formato se encontra em alta, porque não fazer um para este projeto? Bastou-nos discutir os fundamentos do mesmo, obter algum equipamento adicional, frutos secos e álcool e pronto [risos]… criámos um podcast semanal! PAULO R ODRI G UE S : É como se o podcast fosse a nossa rádio-pirata.

COMPILAÇÃO ONLINE. TU (GUSTAVO) GRAVASTE VOZES E A BATERIA, O TEU IRMÃO (PAULO) COCOMPÔS O TEMA, GRAVOU AS GUITARRAS E PRODUZIU «METALEIROS»; E O PAULO TAMBÉM CANTOU. COMO É QUE DECORREU TODO O PROCESSO? G U S TAV O V IE IR A : Eu tinha mais ou menos a ideia do assunto a tratar e do género de música. Dado que o Laughbanging pretende associar humor e Heavy Metal, pretendi transmitir essa ideia também na música. O Paulo [Rodrigues] escreveu a letra e eu dei-lhe um “toque final”. Depois, foi mais fácil compor o tema que, com a ajuda do meu irmão Paulo Vieira, saiu esta obra-prima do Thrash Metal.

O PODCAST ENCONTRA-SE DISPONÍVEL EM VÁRIAS PLATA FORMAS, COMO O ITUNES E O YOUTUBE. EM QUE OUTR AS OS EPISÓDIOS SE ESTÃO ACESSÍVEIS?

PA U LO R O D R IG U E S : O objetivo era compor uma espécie de hino à cultura do Heavy Metal, em especial aos seus clichés. Acho que transmitimos eficazmente essa ideia.

GUSTAVO V I E I R A: O podcast também pode ser ouvido no Mixcloud e no Internet Archive. Quem sabe um dia não estaremos numa rádio perto de si?

NO GERAL, DE QUE FORMA ANALISAM ESSA EXPERIÊNCIA E O QUE É QUE ELA VOS TROUXE, NOMEADAMENTE EM TERMOS DE FEEDBACK E EVENTUAIS OPORTUNIDADES?

PAULO R ODRI G UE S : Os teus dias então contados António Freitas, AHAHAH (riso diabólico)

G U S TAV O V IE IR A : Foi uma boa experiência. Era algo que queria fazer há algum tempo e que de vez em quando faço com a “banda de infância” que tenho com o meu irmão, os D.O.M. No entanto, achei que esta ideia faria mais sentido no contexto do Laughbanging. O pessoal tem gostado, se bem o tema é um chamado “one-off”, ou “one-hit wonder”, porque não estamos a pensar fazer mais. Bem, eu digo isto hoje, mas se calhar amanhã pensarei de outra forma. E na companhia de um copo de vinho tinto ainda mais [risos].

QUE FEEDBACK TÊM TIDO OS EPISÓDIOS DO PODCAST, QUER EM TERMOS DE ACESSOS E DOWNLOADS EFETUADOS QUER DE FEEDBACK POR PARTE DOS FÃS/OUVINTES? GUSTAVO VI E I R A: O feedback tem sido bom. As pessoas estão a gostar, mas ainda não temos muitos acessos e downloads, principalmente no iTunes. O projeto ainda é novo e não me parece que haja muitos metaleiros que gostem de estar registados no iTunes. PAULO R ODRI G UE S : Contudo, aos poucos vamos habituando as pessoas a todas as segundasfeiras ouvirem um novo episódio, e sabemos que já existem ouvintes regulares.

ENTRETANTO, A CONVITE, COMPUSERAM E GRAVARAM O TEMA «METALEIROS» PARA UMA

PA U LO R O D R IG U E S : Às vezes, quanto tentamos por uma ideia em prática, o resultado final fica aquém do esperado. Acontece a todos. Mas desta vez conseguimos fazer exatamente o que tínhamos em mente.

O PROJETO LAUGHBANGING EXPRESSA-SE ATRAVÉS DA ESCRITA, NO BLOG; ATRAVÉS DO ÁUDIO, VIA PODCAST; E AINDA ATRAVÉS DA MÚSICA, COM O TEMA «METALEIROS».

CONSIDERAM A REALIZAÇÃO DE SKETCHES EM VÍDEO, COMO ALIÁS TU COSTUMAS FAZER A SOLO, GUSTAVO? G U S TAV O V IE IR A : Sim, claro. Para isso temos nós ideias, faltanos é abandonar a preguiça e termos uma atitude de “antiprocrastinação” (que, por acaso, é uma excelente música dos S.O.D.) [o artista refere-se ao tema «Antiprocrastination Song», do mítico álbum Speak English or Die, editado pelos norte-americanos em 1985]. Aliás, temos um sketch no nosso canal do Youtube há um ano e meio com 75 visualizações, só para veres o enorme sucesso da página [risos].

DE FORMA DIRETA OU INDIRETA JÁ VOS CHEGARAM OPORTUNIDADES DE TRABALHO (PAGAS!) RES ULTANTES DO PROJETO LAUGHBANGING? G U S TAV O V IE IR A : [gargalhada geral] Eu sabia que também poderias ser um excelente comediante. Realmente essa é uma boa piada. PA U L O R O D R IG U E : “Dinheiro” e “Heavy Metal” não fazem sentido na mesma frase. Até o processador de texto me está a dizer que existe aqui um erro qualquer.

PARA FINALIZAR, O QUE É QUE VOS APRAZ DIZER AOS NOSSOS LEITORES? G U S TAV O V IE IR A : Gostava que dessem uma ajudinha a este projeto, principalmente no podcast. Só pedimos que partilhem o podcast e, muito importante, para os utilizadores do iTunes, que classificassem o programa. Parece que o iTunes gosta de podcasts em que as pessoas os classifiquem com estrelinhas. E comentem, enviem ideias para melhorar o podcast e tal... PA U L O R O D R IG U E S : Não vamos desistir enquanto não destronarmos a Rádio Comercial. Por isso, isto é coisa para durar. Subscrevam-nos também no YouTube. Temos faturas para pagar… https://www.facebook.com/laughbanging/


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assimilaram bem as regras do Rock e, com isso, fazem um som que bebe tanto no Blues, como no Rock, Metal ou Sludge, sem nunca, mesmo nunca, tirar o pé do acelerador. Uma banda a ter em atenção e um dos melhores momentos da noite. Fotos e reportagem: Figueiredo e Nuno Lopes

Frederico

Setlist:

Kerosene March to the Sea Morningstar Shock Me Board Up the House Green Theme The Iron Bell Little Things A Horse Called Golgotha If I Have to Wake Up (Would You Stop the Rain) Fugue Sea Lungs Chlorine & Wine The Gnashing Try to Disappear Desperation Burns Eula Encore: Isak Take My Bones Away

BARONESS + CORREIA

PARADISE GARAGE – LISBOA 06.03.2016

BARONESS MEMORÁVEL... OU NEM POR ISSO? Depois de uma ausência dos palcos nacionais os norte-americanos Baroness voltaram, desta vez com uma Tour em nome próprio, algo que já, para muitos, deveria ter acontecido e, talvez, devido a essa situação, a sala respirava ansiedade e algum nervosismo, e estava uma bela sala, note-se. No entanto, aquilo que podia ter sido uma noite memorável, para muitos pode mesmo ter sido, acabou por ficar um pouco aquém das expectactivas. Não pela entrega dos músicos, deve-se sublinhar, mas seria de esperar uma maior coesão entre a banda e, talvez, menos falhas a nivel musical, os tão conhecidos «pregos» que, por si só, mostram que os novos elementos, apesar de já estarem na banda a algum tempo, ainda denotam algumas fragilidades. Outra situação, esta talvez mais 1 1 8 / VERSUS MAGAZINE

desagradavel tem a ver com o som que saía, estando deveras desiquilibrado, em especial na voz de John Baizley que esteve praticamente inaudivel em todo o concerto e no baixo de Nick Jost, este em comparação estava demasiado alto, existindo mesmo malhas em que o mesmo ecoava muito mais tudo o resto. O público, esse, reagia efusivamente a cada malha como se todo o mundo dependesse daqueles momentos, o que fez com que todos estes pormaiores acabassem por passar despercebidos. Em nenhum ponto da actuação, que foi longa, se pode colocar em causa a energia e a vontade da banda. Aliás, temas como A Horse Called Golgotha, If I Have to Wake Up (Would You Stop The Rain) ou Shock Me levaram ao rubro um Garage muito bem composto. Claro que não faltaram

os hinos Chlronie & Wine ou Try To Disappear, mas ficou sempre a sensação de que estava a faltar algo. Para o encore ficaram Isak e Take My Bones Away, com a promessa de um regresso. Fica a esperança de quando voltarem o fazerem em melhor forma, pois neste concerto saimos com a sensação de que faltou algo, ou que algo saiu do controlo da banda, ficando, por isso, uma sensação agridoce no final da noite. Antes, os portugueses Correia abriram a noite e arrancaram uma prestação poderosa que apanhou a muitos de surpresa. Com um disco pronto a sair, com data a definir, a banda aproveitou a oportunidade para se mostrar a um publico mais vasto. Em algumas palavras podemos dizer que os manos Poli e Miguel Correia para além de acumularem experiência, 119 / VERSUS MAGAZINE


baroness - John Baizley em entrevista irá transparecer. Isto é mais poderoso que recorrer a truques. Existem truques em todos os estilos de música. São fáceis de aprender se dispendermos de tempo para isso...

Nuno Lopes: É muito bom ter-vos de volta em Portugal! John Baizley: Ainda bem! É apenas a segunda vez que estamos em Portugal e está a ser ótimo para nós. Nuno Lopes: Do que te recordas da primeira atuação no Milhões de Festa?

Nuno Lopes: Sem barreiras...

John Baizley: Lembro-me de piscinas e de uma série de pessoas a divertirem-se num palco coberto de lama.

John Baizley: Sim. Sem barreiras. Assim, com todos os álbums temos que conseguir duas coisas: em primeiro lugar, fazer algo que não tenhamos feito no álbum anterior; em segundo lugar, temos de nos manter interessados, envolvidos e excitados sobre a descoberta de novas músicas.

Nuno Lopes: O que nos tens a dizer sobre “Purple”? “Purple” é o vosso quarto álbum - outra cor, outro excelente álbum. Qual o significado do mesmo para a banda? John Baizley: Significa que ainda existimos. Por pouco nos vimos impossibilitados de continuar a tocar. Metade dos membros decidiu abandonar a banda depois de 15 de agosto de 2012. Encontrámos dois novos músicos para continuar e escrevemos um álbum sobre a experiência por que estávamos a passar, que entretanto foi lançado e agora estamos em digressão.

Nuno Lopes: Ainda trabalham com a Relapse Records?

Nuno Lopes: Relativamente à digressão, estão a gostar da experiência?

John Baizley: Não. Este álbum foi lançados por nós.

John Baizley: Claro. Não estaria em digressão se não gostasse.

Nuno Lopes: Tinha a impressão de que tinhamos recebido a promo pela Relapse...

Nuno Lopes: Mas existem melhores digressões que outras. Esta está a correr melhor do que esperavas?

John Baizley: Temos uma boa relação com eles. Demoslhes a licença para venderem alguns exemplares, mas fomos nós que lançámos o álbum.

John Baizley: Sim! Não existe um dia em digressão que corra da forma como antecipas. Os espetáculos têm sido surpreendentes. Estamos a divertir-nos imenso e isto é apenas o início. Estamos a começar a familiarizar-nos com a nossa música em palco. Muitas das faixas do novo álbum não tinham sido estreadas até iniciarmos esta digressão, portanto, estamos a assimilar o tipo de vida que levamos.

Nuno Lopes: O que sentem em relação a isso? Foi o primeiro?

Nuno Lopes: Qual o conceito que tentaram abordar em “Purple” tanto a nível lírico como imagético? John Baizley: Se tivesse que dar uma resposta simples, seria: nós criamos música e compomos sobre as nossas experiências, refletindo a forma como absorvemos a vida que nos rodeia. Quando atuamos, refletimos isto para uma audiência. Um aspecto importante é que, enquanto músicos, não somos diferentes, superiores ou inferiores em relação a qualquer pessoa que esteja a assistir. No entanto, temos o fogo interno para gravar os nossos pensamentos e ideias, e eu tenho uma motivação e ambição para criar imagens que têm a ver com a minha experiência. Parte da razão que nos leva a concretizar estas coisas é de contarmos a história que todos têm. Existem elementos que nos ligam à audiência, elementos que em qualquer época, cultura, género, raça, faixa etária, estatuto social, conseguem ser entendidos: stress, ansiedade, medo, angústia, excitação, alegria... Nuno Lopes: Consideras então que Baroness é uma banda de que qualquer pessoa poderá gostar? John Baizley: Não diria que todos possam ou devam gostar de Baroness. O que digo é que existem tipos de música e tipos de músicos que, intencionalmente, excluem pessoas através da música que tocam. Isto é muito simples de conseguir. Se quisesses excluir pessoas que gostam de hip hop, podes tocar música brutal e rápida. Se quisesses excluir pessoas que ouvem metal, compunhas baladas harmoniosas. Mas nós não queremos excluir ninguém. Nós vimos de um meio musical, mas não precisamos de ter as limitações desse meio, porque somos indivíduos. Assim, na melhor das hipóteses, compomos música não facilmente categorizavel. Desta forma, o facto de não nos inserirmos facilmente numa categoria musical, é uma forma de realização. Isto acaba também por ser complicado, pois por vezes não sabem exatamente o que nos chamar, mas de todo o modo, isto é um problema intencional. Se fossemos criar música enquadrável nos padrões de um determinado género ou estilo, isso iria entediar-nos e o tédio é a morte da arte. Assim, compomos música para nos mantermos excitados e interessados no que fazemos. Compomos música que reflete o nosso crescimento como seres humanos, que significa mudança e adaptação, percepção do mundo numa perspetiva diferente e progressiva e este é o conceito. Mas não podes verbalizar isso e escrever a música, tens que senti-lo primeiro. Tens que equilibrar todos estes elementos em simultâneo. A forma como a tua mente assimila, a forma como o teu coração assimila, a forma como fisicamente somos capazes de tocar ou compor... estes são os fatores que deves equilibrar.

John Baizley: Sim, foi o primeiro. Foi mil vezes mais trabalhoso, mas mil vezes mais satisfatório. Se tivermos sucesso, sentiremos o sucesso mais de perto. Se falharmos, só temos a nós próprios para nos culpar. Nuno Lopes: Nesse caso, é uma experiência positiva? John Baizley: Sim, porque não tens que dar satisfações a ninguém. Nuno Lopes: Que outras bandas tens para além dos Baroness? John Baizley: Apenas os Baroness. Já é trabalho suficiente. Nuno Lopes: Agora estás em Lisboa. Onde vais estar amanhã? John Baizley: Amanhã vamos estar em Barcelona. Temos um dia de folga, depois tocamos em Barcelona, de seguida em França, depois em Milão na Itália e seguidamente em Zurique. Nuno Lopes: Relativamente às novas musicas e novo material de 2015...

Nuno Lopes: Podemos então considerar que os Baroness (num ponto da sua carreira) poderão compor um álbum de metal progressivo?

John Baizley: Escrevemô-lo em 2014/2015 e agora estamos em 2016...

John Baizley: Isso para mim não é significativo. Sabemos que faz sentido quando nos sentimos bem a fazê-lo, se for genuíno, sabemos. Como artistas, tocamos música há 15 anos e temos que confiar nos nossos instintos. Não precisamos de fazer nada para satisfazer a multidão. O que temos de fazer é mais complicado que isso, nós temos de nos satisfazer a nós próprios e se o conseguirmos, sentindo-nos genuinamente satisfeitos com algo, isso

Nuno Lopes: Já pensaram em que cor irão utilizar para o próximo álbum?


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ENTREVISTA

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John Baizley: Sim, já cheguei à conclusão que não irei escolher nenhuma cor para o próximo álbum. Nuno Lopes: Consideras que a ideia já não é viável?

Correia em entrevista

John Baizley: É uma ideia que já concluímos.

Nuno Lopes : Começando pelo inicio, como é que nasceu o projecto Correia?

Nuno Lopes: Já pensaste que tipo de conceito irás explorar?

Mike Correia: Correia começou por volta de 2009 se não estou em erro, eu e o Poli fomos para um estúdio no Algarve e gravamos cerca de 5 musicas, que na verdade não eram nada disto que gravamos agora, mas na altura com Devil In Me a tocar constantemente e Men Eater ainda a promover o segundo disco, tivemos de meter de lado as musicas que gravamos. Passados estes anos todos voltamos a falar em CORREIA e que agora seria a altura certa para levar o projecto para a frente e na verdade, não foi algo pensado ou traçado, não tínhamos nada na manga, simplesmente ir para estúdio e gravar o que nos fosse saindo da cabeça. sabíamos que iria ser muito influenciado pelas nossas raízes, Rock, Blues, Psicadelico e por ai…agarrar nas bandas que tocavam em casa enquanto crianças e entender que isto somos nos, isto são os CORREIA, foi com isto que crescemos e é com isto que vamos passar o resto dos nossos dias.

John Baizley: Não preciso de pensar num conceito ou ideia. Apenas os vejo depois de se materializarem. Se pensares demasiado, vais deixar com que a tua mente faça a maior parte do trabalho e não podes deixar que a tua mente faça tanto trabalho, tens que deixar que o teu corpo e o teu coração façam o resto. A música flui bastante melhor dessa forma. Nuno Lopes: Queres deixar uma mensagem final para os fãs portugueses? John Baizley: Sim. Já estamos ansiosos por voltar. Temos vindo a perceber ao longo destes 7 ou 8 anos que temos bastantes fãs em Portugal, mas infelizmente ainda não tinhamos conseguido atuar como cabeças de cartaz até hoje, mas não faremos disso um hábito e voltaremos assim que pudermos.

Nuno Lopes : Estando vocês envolvidos em muitos outros projectos como é que foi arranjar tempo para mais uma banda?

John Baizley: Obrigado.

Mike Correia: Creio que para nos as coisas não são vistas dessa maneira, eu somente tinha More Than A Thousand e na altura que CORREIA voltou ás nossas vidas, MTAT já estava decido acabar, logo eu somente tenho CORREIA, quanto ao Poli com SAM ALONE e DEVIL IN ME, tudo não passa de gerir o tempo, existem prioridades e essas mesmas têm de ser respeitadas, não existe, nem pode existir qualquer problema com isso, tendo isso em conta é somente saber gerir o tempo e saber o que é prioridade dada a fase que ambos estamos.

Entrevista: Nuno Lopes Transcrição, tradução e fotografia: Frederico Figueiredo

Nuno Lopes : O nome da banda parece ser óbvio, tendo em conta que são irmãos, quem são os restantes elementos dos Correia e qual foi o motivo para a escolha dos mesmos?

Nuno Lopes: Obrigado.

Mike Correia: O principal motivo que pensamos foi que teriam de ser membros que estivessem no Algarve, por uma questão de logística e para nos faz todo o sentido, tenho em conta que somos Algarvios e a base da banda esta toda no Algarve, por isso decidimos chamar o Ruben Azevedo (Mofo / The Mirandas) para a bateria, que na verdade é nosso amigo há mais de 10 anos, no baixo temos o Braulio Alexandre (Keep Razors Sharp), que também é nosso amigo a muito tempo.

Foto: Frederico Figueiredo


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ENTREVISTA

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Nuno Lopes: Podemos dizer que os Correia são, como que, um escape dos vossos principais projectos e, também, uma forma de fazerem algo em familia? Mike Correia: Na verdade CORREIA não é um escape, é mesmo um projecto e uma banda, levada tão a serio como qualquer outra, simplesmente como ja referi acima, existem prioridades e existe uma enorme facilidade em gerir tudo isso, já o fazer algo em família sempre existiu, eu e o Poli sempre estivemos ligados a quase todos os projectos/bandas que faziamos parte, o Poli esteve presente nas gravações de Men Eater sempre que possível, e eu nas gravações de Devil In Me e Sam Alone sempre que possível. CORREIA simplesmente foi uma maneira de passarmos mais tempo juntos e desta vez em palco, somos irmãos, crescemos na mesma casa a ouvir as mesmas coisas, não podia ser de outra maneira se não esta e desta maneira. Nuno Lopes: Em termos de sonoridade o vosso som afasta-se um pouco daquilo a que estamos habituados em vocês, o que difere na composição e nas influências nos Correia em relação aos outros projectos e, no seguimento, como sabem se uma malha é para Correia e não para outra banda? Mike Correia: As nossas influencias sempre foram rock, blues e por vezes musica africana, claro que se formos falar no nosso percurso é óbvio que apareceram bandas punk/hardcore quando éramos adolescentes e isso mostrou nos um sitio onde éramos aceites, onde podias ser quem eras, ambos somos putos do punk/hardcore como sabem, Devil In Me, For The Glory, What Went Wrong, Rat Attack e por aí…mas na verdade nos ensaios volta não volta la estávamos nos no meio de uma Jam com o Poli a tocar guitarra e eu na bateria, Jimi Hendrix, Led Zeppelin e por ai e enquanto membros de bandas punk/hardcore sempre continuamos a ouvir o que o meu pai metia a tocar na aparelhagem e, eventualmente outros artistas que fomos descobrindo enquanto crescíamos. CORREIA é somente um apanhado das nossas influencias. Nuno Lopes: Que situações foram o dinamite que despoletou estas composições e qual a mensagem que tentam passar? Mike Correia: As situações ao certo não sei dizer quais foram se não, a maneira como vemos as coisas, a vida, a maneira como se leva a vida, o que somos como seres humanos e o que conseguimos ser enquanto seres humanos e, tudo aquilo que existe dentro de nós como seres humanos. Acreditamos em muitas coisas, coisas essas, que vivemos pessoalmente, coisas essas das quais temos experiência própria e não apenas por dados científicos ou especulações, queremos passar uma mensagem de paz e amor, liberdade de espírito e de consciência aberta, existe muito mais para lá do que os nossos olhos veem e o nosso espírito sente. Existe muita informação que passa para fora que é alterada para fins que não os reais que, por vezes não são mesmo reais, é bom ter uma opinião, mas se essa opinião simplesmente for defendida pelo que se escuta e se lê como se pode ter a certeza, é bom ter um fundamento pessoal, viver as situações, estar presente em acontecimentos e acima de tudo ter experiência própria para ai sim, criar uma opinião, somos muito mais do que nos dizem e bem capazes de muito mais para alem daquilo que nos dizem, falo do ser humano em geral. Nuno Lopes: O disco de estreia, ao que parece, já se encontra concluído, o que está a criar alguma expectactiva nas pessoas, a que se deve este tempo na disponibilização do disco e quando estará disponível? Mike Correia: Sim, o disco já esta gravado e pronto a editar. O tempo somente se deve ao tempo e nada mais, se tudo correr como planeado em Maio o disco estará cá fora. Nuno Lopes: Já que falamos de público, como é que olham para a o publico nacional e como é que tem sido a reação ás vossas actuações e sobre a vossa música? Mike Correia: Apenas demos 4 concertos, dois em nome próprio e dois suportes, correram todos muito bem e tivemos uma boa resposta do publico, e sabe sempre bem saberes que estas no teu pais e que as pessoas se deslocam para celebrar aquela noite contigo, porque gostam de musica e do que se faz por cá. Acreditamos que o rock esta a crescer outra vez, parece que as pessoas estão a ficar um pouco cansadas de mastigar tanta pastilha elástica. (risos) Nuno Lopes: Para alguém que não vos conheça, qual seria a melhor forma de descrever os Correia? Mike Correia: CORREIA é uma celebração com rock a mistura, existem momentos eufóricos e momentos de calma, sempre com sorrisos e expressões que mostram que somos todos iguais, não é o palco que nos fz ser diferentes do espectador, somos todos humanos. Nuno Lopes: Querem deixar alguma mensagem ou acrescentar algo que não tenha sido falado... Mike Correia: Somente um muito obrigado por esta entrevista, por nos darem este tempo de antena, e para quem estiver interessado vamos estar dia 21 de Abril no Stairway em Cascais, no dia 22 de Abril na Galeria do Desassossego em Beja e dia 23 de Abril no Bafo De Baco em Loulé para mais três dias de celebração Obrigado pelo vosso tempo! Até breve! Entrevista: Nuno Lopes

Foto: Maria João Andrade


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DEAD LORD

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ALMADA – CINE INCRIVEL 20.02.2016

Aquando da digressão com os The Vintage Caravan, Hakim esteve à conversa com a VERSUS, desvendando um pouco do que são os Dead Lord, da digressão e não só...

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Sentem a vontade de ir para o palco? É isso que vos move? Sim, é essa a razão pela qual tocamos, quer dizer não tem piada estar sentado num estúdio sem janelas durante uma semana e tocar, gravar, ouvir e bater com a cabeça nas paredes. É um processo criativo tem o seu mérito, mas tocar ao vivo e ir a lugares e ver coisas, isso é que tem piada. Sendo vocês de um país onde o número de bandas por metro é enorme, como achas que os Dead Lord se estão a sair no mercado, quer o vosso, o sueco, quer no europeu, ou mesmo internacional? Estamos a tentar, damos um passo de cada vez, para já é a Europa, que é a nossa cena, na Alemanha correu muito bem. Na suécia raramente tocamos, porque é um país muito pequeno, e preferimos tocar pelo continente europeu. Ainda não tocámos em Inglaterra, mas vamos lá neste outono. Basicamente queremos ir a todo o lado, desde a América do Sul, Rússia, Japão, e talvez América do Norte, se nos deixarem. Agora com a Century Media, será mais fácil. Acreditamos que com o terceiro álbum…

Qual é a história dos Dead Lord até agora? Existimos à cerca de quatro anos e meio, temos 2 álbuns e 3 7”(EP’s). Tentamos tocar o máximo possível. Este ano vamos estar em tour durante cerca de seis semanas, vamos descansar, e depois vamos tocar em alguns festivais e uma nova tour, provavelmente pela Europa. A seguir vamos para o estúdio gravar o novo álbum. Como tem corrido a tour com os Vintage Caravan? Está a correr como previsto? Vi algumas fotografias e as pessoas parecem eufóricas. Tem sido agradável. É bom estar num autocarro grande e assim evitarmos andar sempre em hotéis e afins. Também temos uma excelente banda norueguesa e tem sido porreiro. Temos todos o mesmo sentido de humor e já todos tinham estada em tour, por isso, sim, tem sido uma experiência bastante agradável. Já adormeci umas vezes em cima da bagagem e isso não terá sido tão popular… Ahahah. Creio que o pior tem sido a comida. Onde comemos pior foi em França. E que tal a comida portuguesa? Gostaram? A portuguesa tem sido excelente, boa mesmo. Comemos um género de guisado vegetariano que era óptimo. Relativamente à vossa musica, ao ouvi-la, transportou-me para os anos 70 ou 80. Como é que caracterizam a vossa música? Basicamente ouvimos muito rock clássico dos anos 70 e para mim os clássicos dos anos 70, na fase mais prolífera, tem um som muito próprio e não é possível tocar rock clássico e fazer com que este soe de outra forma. Se usares mais reverb, ou as baterias, por exemplo, se forem mais complexas, então já começas a soar aos anos 80 e deixas de ter a sonoridade do rock clássico, passas a ter uma coisas mais AOR (NT: album oriented rock). O som ser assim, para nós, não é ser retro, mas sim termos um som temporal, que se enquadra numa época.

Ou com o quarto (risos) (risos) Sim, ou com o quarto, dependendo da qualidade dele… Tem corrido tudo bastante rápido. Somos uma banda há cerca de quatro anos e temos visto as coisas a progredirem, o que é bom. Não sei, acho que quando me meti nisto não percebi bem o que estava a fazer. Recordas-te do porquê? Sim, lembro-me do porquê e adoro-o. A dada altura sentei-me em casa, numa pequena localidade na Suécia, estava aborrecido com tudo e despedi-me do meu trabalho, da minha antiga banda e fui para Estocolmo. E de repente há managers, contratos com editoras, pessoas a dizerem-nos o que fazer, tem sido óptimo. Realmente gosto. O que podemos esperar da vossa actuação, hoje à noite? Sólidas guitarras gémeas de rock n’ roll e amplificadores fumegantes. E o que esperam do publico português? Por acaso fomos dar uma volta pela cidade e as mulheres portuguesas são muito bonitas. Esperamos que apareça gente simpática, sejam homens, mulheres, não interessa. Desde que se divirtam. Entrevista: Nuno Lopes Transcrição: Hugo Melo Fotos: Vera Alexandra Baleixao

Posso então dizer que as vossas influências se encontram nesse período? Sim, claro. Mas ouvimos imensa coisa desde a coisas mesmo pesadas a outras estranhas. Mas claro que o que gostamos mesmo foram os trabalhos de Kiss e Alice Cooper, etc. É esta mentalidade que levamos para o som e para a produção deste. Não é que não gostemos de outros géneros, mas para o nosso som, gostamos mais dele assim. Enquanto falavas estava a pensar que vossa produção é muito crua e oldschool. Foi de propósito? Sim, claro. Hoje há o protools e outras coisas onde podes “quantizar” e comprimir, mas a verdade é que não é o teu som quando tocas. E nós queremos que o som que gravamos seja fiel ao que tocamos ao vivo. Por acaso é algo que nunca foi discutido. Desde o inicio que o som ficou definido desta forma, juntamos todos em estúdio e gravamos tudo ao mesmo tempo. Todos tivemos outros projectos onde gravámos de uma forma individual cada faixa e sinceramente, não me vejo a fazer isso outra vez. Não é nada espontâneo. Muitas bandas defendem que o terceiro álbum é o mais desafiante, e o que define uma banda. Sentem essa pressão para o terceiro álbum? Não sei… Se por acaso o terceiro não correr bem, ou não soar bem acho que temos de fazer um quarto (risos). Temos tempo mas claro que tentamos fazer o melhor que sabemos. Temos algumas ideias para o novo álbum, mas ainda não ensaiámos nada são apenas ideias. Quanto mais tocamos juntos mais nos conhecemos e confiamos uns nos outros no que diz respeito à composição e às letras. No primeiro álbum as musicas foram escritas apenas por mim, o segundo já soou mais a “nós”, como banda, e acredito que este terceiro ainda soe mais a “nós”. Claro que vamos compor umas musicas brutais. 1 2 6 / VERSUS MAGAZINE

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SINISTRO + WILDNORTHE SABOTAGE CLUB - LISBOA 08.02.2016

SINISTRO ...QUE MÁQUINAS No cais do sodré, ao fim da rua cor de rosa existe uma zona de confluência de bares mal afamados, recriações artístico-culturais de inclinação nostálgica e corpos de plástico que se permeabilizam nas esquinas. Abandono, prazer e decadência formaram o plano de fundo que se volatilizou na noite e a sua banda sonora foi assinada pelos Sinistro. Embora a adequação cénica fosse mote de inspiração, a limitada capacidade da sala anfitriã deixou a desejar, fazendo com que o recurso às escadas de acesso à pista de dança servisse, a certa altura da noite, como um dos pontos mais estratégicos para assistir ao concerto. O ato de abertura esteve a cargo dos Wildnorthe, um sucedâneo de coldwave pautado pela mecânica pulsação de ritmos criogénicos. Embora não se trate de um género marcado pelo arrebatamento da entrega, a astenia nas vocais de Sara Inglês e Pedro Ferreira em conjugação com a esqualidez do som das guitarras, remeteram o público para um estado de sonambulismo. O ligeiro desajuste sincrónico entre os ritmos programados e a prestação orgânica denunciaram igualmente uma certa inexperiência. A noite estava porém, reservada à apresentação do álbum de estreia dos Sinistro. A voz de Patrícia Andrade entrou em cena e toda a ação na sala se tornou periférica. O canto de sereia abriu-nos o sangue e arremessou-nos contra uma parede entorpecida de som, marcada pela austeridade das cordas em simbiose umbilical com programações cinemáticas. A luminosa presença da vocalista em palco em contraste com o anónimo silêncio de luz do resto da banda, não pode deixar de servir como símbolo visual para a canção de cisne que constitui o álbum “Semente”. Toda a efusividade mímica de Patrícia Andrade acrescentou uma dimensão dramática a um trabalho que constitui um dos pontos altos a nível de produção nacional de metal/rock alternativo. Digna de nota (pessoal) foi igualmente a gratificação com dois beijos por ter comprado o primeiro exemplar da versão do álbum em vinil nessa noite. Após ter assistido a uma prestação tão memorável, posso afirmar sem reserva, que o prazer foi todo meu. Reportagem e Fotografia: Frederico Figueiredo 1 2 8 / VERSUS MAGAZINE

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VAN CANTO (+ GRAILKNIGHTS + LEIPZIG - HELLRAISER 18.03.2016 1 3 0 / VERSUS MAGAZINE

VICTORIUS)

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LIVE VERSUS

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VOZES DE FOGO

Os Van Canto escolheram a cidade de Leipzig, na Alemanha, para o arranque da tour europeia de apresentação do seu novo álbum “Voices of Fire”. De destacar que no mesmo dia, na feira do livro da mesma cidade, foi apresentado o livro que acompanha o álbum. A banda também esteve presente, sendo que foram apresentados alguns dos temas do novo álbum na sua versão a-capella pura. Como suporte para esta tour, os Van Canto escolheram uma banda curiosa: os Grailknights. E curioso foi também o concerto a que assistimos. Os elementos da banda apresentaram-se em palco vestidos de super heróis e contaram-nos a história da sua luta pelo Graal. De facto, ao início pareceu-nos um pouco difícil levar este conjunto a sério mas fomos bastante surpreendidos pela qualidade da sua música bem como pela sua performance. O mesmo se sucedeu com o restante público que aderiu massivamente a esta festa. Durante o concerto algumas coisas interessantes aconteceram entre as quais a oferta de um copo gigante de cerveja a um fã enquanto um outro fã de idade mais tenra recebeu um CD da banda. Quanto à música, os Grailknights apresentaram-nos um power metal bastante bem executado. A abrir o concerto com “Dead or Alive”, single de avanço ao seu álbum de estreia, os Grailknights apresentaram-nos temas tais como “Morning Dew” ou “Rise of the Black Knight”. Interessante foi também o fim do concerto no qual apareceu o Dr. Skull com o Graal no seu poder, sendo que de seguida desenrolou-se uma épica batalha entre o vocalista da banda e o dito monstro. O desfecho, como era previsível, terminou com a vitória da banda sendo que o público ficou bastante surpreendido e agradado com esta batalha. De seguida era a vez dos cabeças de cartaz. E dá para perceber a reputação dos Van Canto na Alemanha uma vez que a sala estava praticamente cheia. O concerto iniciou-se com a subida ao palco por parte do autor do livro “Feuerstimmen” que acompanha este álbum. Christoph Hardebusch leu-nos uma passagem do mesmo livro, sendo que de seguida a banda subiu ao palco para nos apresentar os temas de abertura do novo álbum: “Clashing on Armour Plates”, “Dragonwake”, “Time and Time Again” e “All My Life”. Ficava então óbvio que os Van Canto se orgulham deste álbum e grande parte do reportório desta noite foi assente no mesmo. Os Van Canto também nos apresentaram alguns dos temas mais reconhecidos da sua discografia. A entrega da banda em palco é impressionante, sendo que os elementos raramente estiveram quietos por um segundo que fosse. A banda interagia constantemente com o público, notando-se uma enorme cumplicidade entre os mesmos. Talvez seja esta uma das razões da enorme popularidade da banda, uma vez que os seus concertos são uma autêntica festa. De destacar as rendições de clássicos como “Kings of Metal”, “Rebellion”, “Wishmaster”, “Batery” “The Bard’s Song” aos quais o público aderiu com bastante entusiasmo, tentando até imitar as famosas RakkaTakka vocals. Temas originais de registos anteriores, tais como “To The Mountains” e “To Sing a Metal Song”. De facto, este foi um dos melhores concertos a que assisti com uma entrega total por parte da banda. Em jeito de conclusão, se puderem ver os Van Canto ao vivo, não deixem escapar a oportunidade! Reportagem: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian

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back your hair… why don’t you touch me… now”, excelente interpretação também muito fiel á versão do «GENESIS LIVE» embora com algumas variantes no solo de guitarra, “Firth Of Fifth” completamente fiel à versão do “Selling England By The Pound” foi a continuação, com grande classe, dos primeiros temas. De seguida aproveitou a banda para tocar um seu original ”Shining Bald Heads” do álbum «Vacuum» de 2004, grande tema a fazer lembrar sem qualquer dúvida o som dos GENESIS («Trespass», «Nursery Crime» e «Foxtrot») podendo muito bem ser até um tema de qualquer um destes álbuns. Por isso mesmo a minha admiração pelos THE WATCH precisamente por serem, para mim, a continuação natural dos GENESIS e o facto de terem cá vindo tocar é para mim um milagre. A música seguinte foi acompanhada por todos, “Carpet Crawlers” cover fiel à versão do «The Lamb Lies Down On Broadway», um grande e especial momento da noite. Seguiu-se o desastre “In The Cage”, a causa: o som que de repente ficou mau, muito mau. Confesso que até saí da sala. Depois da tempestade… o tema seguinte fez esquecer o anterior de forma categórica, “The Cinema Show” foi o momento alto da noite, grande interpretação, um cover que quase me soou ao original, de olhos fechados eram os GENESIS que ali estavam. “In The Rapids/It” os temas seguintes voltaram a ser prejudicados pelo som e penso que haveria melhores temas como opção, não gostei. “Supper’s Ready” foi o tema anunciado como fim, excelente interpretação fiel à versão do «Seconds Out», grande tema em tempo e qualidade. No desejado encore, “Behind The Lines”, “Duchess”, “Guide Vocal” e “Duke´S Travel”, foram os temas escolhidos pertencentes ao álbum «Duke» já sem Peter Gabriel, e que na minha opinião estiveram a mais. Não se enquadravam na tónica do concerto que focava os GENESIS com Peter Gabriel, além disso muitos temas, que ficaram por tocar, poderiam ter sido uma alternativa bem mais razoável. Resumindo foi um excelente concerto, com uma excelente banda de onde destaco a semelhança da voz de Simone Rossetti com a de Peter Gabriel, o que torna ainda mais apetecível de ouvir. Penso que noutro local (Aula Magna, Coliseu) com um palco maior, com outro cenário, com outras condições e outros cuidados com o som, seria muito diferente e para muito melhor. Mas, é como já disse anteriormente, só o facto de terem cá vindo tocar foi um milagre. Reportagem e Fotografia: Fernando Mateus e Luís gonçalves (Agradecimento especial a Manuel Mello Breyner)

LISBOA - PARADISE GARAGE 22.04.2016

Numa meia sala de espectadores, na grande maioria “cotas” tal como eu, apresentaram-se os THE WATCH ( Simone Rossetti – vocalista/flauta , Giorgio Gabriel – guitarra , Marco Fabbri – bateria , Mattia Rossetti-viola baixo/ guitarra e Valerio de Vittorio – teclados/guitarra ) para um concerto com base na música dos GENESIS era Peter Gabriel, que prometia. Prometia e não desiludiu. Alguns senãos porém quero destacar: A irritante e desrespeitosa conversa de café, como alguém já escreveu, e que bem podia ter ficado do lado fora, algumas falhas de som que tornaram difíceis de ouvir alguns dos temas e por fim as músicas que não foram incluídas e que certamente muitos esperavam ouvir. Mas falemos da música, esquecendo o resto, foi um excelente concerto para mim e certamente para quase todos, “Watcher Of The Skies” foi o início e começou bem, um grande cover muito fiel à versão do «GENESIS LIVE», seguiu-se “The Fountain Of Salmacis” ligeiramente prejudicada pelo som, “The Musical Box” outro momento alto da noite com os presentes a acompanharem o vocalista na parte final da música “ she’s a lady, she’s got time, brush 1 34 / VERSUS MAGAZINE

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ENTREVISTA

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(...) O FIM ESTÁ PERTO, MAS, FELIZMENTE, NÓS OS HUMANOS AINDA PODEMOS USAR A POUCA SANIDADE QUE NOS RESTA PARA FAZER ALGO PARA RESOLVER ESSE PROBLEMA. ØYVIND: O Vegard escreve as linhas de baixo para as canções. O Erik faz as alterações necessárias, para que a bateria soe como ele quer e o Martin também contribui com os seus fantásticos solos de guitarra. Quando eu apresento aos outros uma nova canção, eles têm sempre uma palavra a dizer sobre o resultado final, portanto acabamos por fazer juntos arranjos para as músicas que eu componho.

O QUE DIZEM OS PRESSÁGIOS SOBRE A VIDA NA TERRA ATUALMENTE?

“(…) SE MAIS PESSOAS VIREM ESTE LANÇAMENTO COMO UMA OBRA-PRIMA, ENTÃO ESTAR DE VOLTA VAI SER MESMO BOM. (…)”

SULPHUR MAUS PRESSÁGIOS VS ESPERANÇA A P E S A R D O T Í T U LO PESSIM ISTA DO SEU TER C EI R O ÁLB U M, OS SU LP H U R DE 20 1 6 PAR EC EM C H EI O S D E E SP E R A N Ç A N O FUT URO! Entrevista: CSA ESTE ÁLBUM É FANTÁSTICO, SEM SOMBRA DE DÚVIDA. ALGO ME DIZ QUE 2016 VAI SER UM ANO EXCELENTE PARA O METAL! COMO SE SENTEM POR ESTAREM DE REGRESSO COM TAL OBRA-PRIMA APÓS ALGUNS ANOS DE “REFORMA”? THOMA S: Olá e obrigado por essas gentis palavras. Se mais pessoas virem este lançamento como uma obra-prima, então estar de volta vai ser mesmo bom. Passaramse demasiados anos desde que lançámos material novo e demorámos bem mais do que prevíamos para compor «Omens of Doom». Aconteceu muita coisa nas nossas vidas privadas durante estes últimos anos, portanto não tivemos tempo suficiente para fazer tudo o que queríamos, mas 1 3 6 / VERSUS MAGAZINE

agora estamos de volta e isso faznos sentir melhor que bem!

podemos dizer que a nossa banda prefere a qualidade à quantidade.

QUE CONDIÇÕES VOS PERMITIRIAM FAZER LANÇAMENTOS DE FORMA MAIS REGULAR?

FOI O ØYVIND QUE SE ENCARREGOU DA COMPOSIÇÃO, COMO DE COSTUME? TAMBÉM ESCREVEU AS LETRAS?

T H O M A S : Para lançar álbuns de forma mais regular, precisamos apenas de trabalhar mais e de forma um pouco mais estruturada. É claro que o nosso objetivo é compor e lançar duas vezes mais álbuns no tempo que demorámos a compor este último. Mas também não se trata de “cuspir” música que não tenha a qualidade que nos pareça adequada ao nosso estatuto como banda. Compor e criar um novo álbum é um processo difícil e nós queremos sempre fazer algo que ultrapasse o que fizemos anteriormente. Penso que

Ø Y V IND : Sim, ainda sou eu quem compõe Mas parece-me que, se fosse eu a escrever as letras, seria um desastre. Não tenho imaginação, nem criatividade para algo dessa natureza. Continua a ser o Thomas a escrever as letras e a pensar nas capas e nos conceitos de base para a música que eu faço.

E COMO CONTRIBUÍRAM OS OUTROS MEMBROS DA BANDA PARA O RESULTADO FINAL?

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T HOMAS: Hehe. Que posso eu dizer? O mundo parece que enlouqueceu por completo. Quando ouvimos as notícias, ficamos com a impressão de que o fim está perto, mas, felizmente, nós os humanos ainda podemos usar a pouca sanidade que nos resta para fazer algo para resolver esse problema. Foi esta situação caótica e desesperante que me inspirou, quando estava a escrever as letras para este álbum. «Omens of Doom» foi, para mim, uma espécie de viagem a um mundo apocalítico. Um mundo abalado por guerras nucleares, desastres naturais, doenças, fome. Quando observas um mundo assim, a extinção de toda a vida na Terra parece-te muito plausível.

E COMO RELACIONAM A CAPA DO ÁLBUM COM A SUA MENSAGEM GLOBAL? É SÓ UMA DECORAÇÃO, OU FOI FEITA COM A INTENÇÃO DE TORNAR O SEU CONCEITO DE BASE MAIS CLARO PARA OS FÃS? T HOMAS: O artwork para a capa é da autoria de Costin Chioreanu. Não lhe demos quaisquer indicações, limitámo-nos a passar-lhe a música e as letras do álbum. Penso que se deve dar ao artista a liberdade de criar arte como lhe parecer melhor. Parece-me que, se leres as letras das canções, vais perceber que a capa do álbum corresponde a uma fantástica interpretação do seu tema subjacente. Se tivesse de explicar o seu sentido, diria que nela vejo um olhar humano contemplando algo com um ar de desespero num

céu vermelho como sangue. As asas com faces monstruosas nela representadas são um símbolo do carácter divino que a Humanidade atribui a si própria, apesar de os seus pensamentos não serem certamente tão bons e divinos como gostaríamos que fossem. O crânio “invertido” situado dentro da sua cabeça representa o seu lado sombrio, que vai consumindo a sua própria alma. As chamas por baixo referem-se aos fogos que, no fim dos tempos, acabarão por nos consumir a todos, quando a Mãe Terra tiver acabado connosco ou nós com ela. Para mim, a mensagem implícita nesta ilustração é: cuidado com os presságios porque eles são «Omens of doom». De um modo geral, penso que esta capa se adapta perfeitamente à música, ao título e ao tema do álbum e que devemos muitos agradecimentos a Costin Chioreanu pelo incrível talento de que fez prova na sua conceção e execução. Creio e acredito que os fãs vão gostar dela e mesmo – talvez – compreender o que eu quero dizer com a minha interpretação do artwork do álbum.

PODEM COMPARAR ESTE ÁLBUM DE SULPHUR COM OS ANTERIORES? COMO SÃO TODOS MÚSICOS EXPERIENTES E SE PASSARAM 7 ANOS DESDE O LANÇAMENTO DO «THORNS IN EXISTENCE», HAVERÁ CERTAMENTE ALGUMAS MUDANÇAS A REGISTAR. ØYVIND: Sim, muitas coisas mudaram desde o nosso álbum de estreia: «Cursed Madness». Sinto que a maneira como penso, quando estou a compor a minha música, se modificou muito ao longo dos anos. O que me inspira em termos musicais também se alterou. Atualmente, ouço todo o tipo de música (Pop, Rock, Metal), desde que me pareça de boa qualidade. Não me preocupo com géneros. Dantes, ouvia muito Rock Progressivo dos anos 70. Bandas como Jethro Tull, Camel e Genesis eram – e ainda são – grandes fontes de inspiração para mim. Além disso, a verdade é que, quanto mais música compões, mais aprendes

e desenvolves as tuas aptidões como músico. Hoje em dia, tenho mais consciência do que faço, sinto-me mais cético, mais crítico em relação ao meu trabalho. No «Cursed Madnes», usámos todas as canções que eu tinha composto na altura, porque não tínhamos mais nenhumas disponíveis. Neste novo álbum, tínhamos aí 10 canções e 3 não foram usadas, porque não nos pareceram suficientemente boas.

FAZEM MUITOS SULPHUR?

CONCERTOS

COM

T HOMAS: Ultimamente, nem por isso. Mas essa situação vai mudar. É claro que gostaríamos de tocar em todo o mundo e divulgar a nossa música junto das massas, mas trata-se de algo que é mais fácil de dizer do que de fazer. As digressões ficam caras para uma banda da nossa categoria, Todos temos empregos, no nosso país, tal como toda a gente, e não podemos muito simplesmente tirar férias para ir para a estrada, porque temos contas para pagar e também precisamos de dinheiro para financiar as digressões. Provavelmente, o melhor para nós seria sermos convidados para tocar em festivais e depois talvez viajar um pouco na nossa zona, durante alguns dias, para fazer mais alguns concertos, Digressões longas têm de ser muito bem planeadas e feitas durante as nossas férias e temos de as pagar do nosso próprio bolso. Se alguém nos quiser contratar para tocar em festivais que organize, em bares ou em salas de espetáculos, só tem que nos contactar Teremos muito gosto em concretizar esse desejo.

COMO VÃO PROMOVER FANTÁSTICO ÁLBUM?

ESTE

ØYVIND: Obrigado por esse grande elogio. Bem, é claro que confiamos na Dark Essence para nos ajudar nesse propósito, da melhor forma possível. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para o levar ao maior número possível de pessoas. Mas penso que a melhor forma de o fazer é mesmo viajar e tocar ao vivo tanto quanto pudermos. ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ SULPHURBAND ht t ps: / / yout u. be/ S t Q t - Z B i pY Q 137 / VERSUS MAGAZINE


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NIRVANA Assinalou-se em Abril o desaparecimento de uma das personalidades mais marcantes na história da música contemporânea. Génio para uns, sobrevalorizado para outros, a verdade é que Kurt Cobain e os seus Nirvana marcaram uma década, e talvez mesmo todo o panorama musical da atualidade. O seu legado não se limitou aos três álbuns de originais que lançaram. Várias gerações foram, e continuam a ser direta ou indiretamente marcadas pela sua música. Neste MIA, vinte e dois passados o trágico suicídio do seu “frontman” e principal compositor, vamos recordar a banda e tentar explicar porque é o “Grunge” dos Nirvana não foi um fenómeno limitado temporal e espacialmente, mas sim um fenómeno global e que influenciou vários estilos musicais, o metal incluído. Natural da pequena cidade de Aberdeen o jovem Kurt Cobain não teve uma infância fácil. Marcado pelo divórcio dos pais, algo ainda pouco usual na época e na América em que vivia, com o passar dos anos a sua rebeldia foi crescendo exponencialmente o que o levou a um constante alternar de custódias e lares. A sua personalidade depressiva cedo se manifestou e há quem aponte, segundo a leitura dos seus diários, que terá havido uma tentativa de suicídio na adolescência. Encontrou na música, um refúgio, um escape, no fundo uma forma de vida. Influenciado não só pelo Punk e Protopunk, hard rock dos 70, o som alternativo de Sonic Youth e REM, e mais tarde por bandas como os Pixies e Melvins, só para enumerar algumas, Kurt Cobain desde cedo mostrou um enorme desejo em compor, fê-lo afincadamente, e trabalhou muito para desenvolver ainda mais essa capacidade. Conheceu Krist Novoselic na escola secundária, mas apenas se tornaram amigos quando começaram a frequentar o local de ensaio dos Melvins. Apesar de Kurt o ter convidado por diversas para formar uma banda, apenas três anos depois é que o baixista concordou em juntar-se ao estranho jovem que gostava de punk. Juntamente com o primeiro baterista, Aaron Burckhard, foram alternando entre nomes até se decidirem por “Nirvana”. Segundo o mentor do projecto “eu queria um nome que fosse agradável e bonito em vez de um nome punk rock mesquinho, obsceno como Angry Samoans” Em 1989 foi lançado o álbum “Bleach”. Embora não tivesse o sucesso comercial dos seus outros trabalhos, a sonoridade foi suficientemente distinta para chamar a atenção da crítica especializada. Relativamente a este primeiro trabalho de longa duração da banda, Novoselic numa entrevista de 2001 à Rolling Stone referiu que que a banda tinha na carrinha onde anteriormente se deslocava, uma saudosa cassete que tinha gravada de um lado um álbum do The Smithereens, e do outro um álbum da banda de black metal Celtic Frost. Segundo o mesmo esta combinação teve influência na sonoridade de “Bleach”. As bases estavam lançadas, os olhares começaram a cair sobre a banda, e após uma dança de bateristas, Buzz Osborne dos Melvins apresentou-os ao agora astro do Rock Dave Grohl. Segundo Novoselic, “em dois minutos soubemos que era o baterista certo”. Umas das conclusões a que podemos já chegar é que os Melvins foram cruciais para o nascimento e afirmação dos Nirvana como os conhecemos. Possibilitaram não só o local de contacto entre os membros fundadores, apresentaram-lhes o elemento que faltava para estabilizar a banda em termos artísticos e emotivos, e foram também grande influência musical. 1991 foi o ano de Nervermind. Não há muito mais que se possa dizer deste álbum que não tenha sido já dito e re-dito. É tido como um marco da história do rock e como um dos discos mais influentes de sempre. No documentário sobre Kurt Cobain fica retida na memória a cena em que a mãe relata o momento quando 1 3 8 / VERSUS MAGAZINE

este lhe mostra uma demo deste álbum. Recorda que chorou, mas não de tristeza. Chorou devido a misto de emoções: entusiasmo e receio. Disse ao filho que ele não iria estar preparado para as consequências. O que estava a ouvir era diferente de tudo o que tinha sido feito até então, e temia que Kurt não conseguisse lidar com a pressão do sucesso que poderia alcançar. Provar-se-ia mais tarde que tinha razão. Tornaram-se astronómicos, maiores que eles próprios, maiores que própria música que faziam. Ajudaram, juntamente com os Metallica e Guns and Roses a trazer o Rock de volta ao mainstream. Construíram em poucos anos o que outros levaram uma década a construir. Com um som cru, um look casual, completamente diferente do “Hair Metal” que era até então rei e senhor, ganharam a empatia de toda uma geração por transmitirem a sensação de “serem um deles”. Afinal, não era preciso laca no cabelo, roupas de cabedal e um aspeto de estrela de cinema para singrar no mundo da música. Desprovidos de poses teatrais e roupas glamorosas, eram uma banda sem pretensões, autêntica, com uma música crua e agressiva que continha influências tão diversas que conseguiu agradar a fãs de vários estilos. Foram para muitos uma lufada de ar fresco, e o próprio James Hetfield em Dezembro de 2004 incluiu “Smells like teen Spirit” como uma das suas músicas preferidas aquando de uma entrevista que cedeu à “Rolling Stone”. Justificou a sua escolha da seguinte forma: “Quando toda aquela cena Hair Metal dos anos 80 estava a ser começou a ser demasiado exagerada, vieram os Nirvana com um empolgante som de garagem. Foi como um valente soco em toda a cena musical. Era o que a música precisava”. E provavelmente, dado o contexto em que se inseriram, foram exatamente o que a música precisava. O estado de graça, como sabemos, não é eterno. E, coincidência ou não, as tensões começaram a surgir quando o agora ídolo de uma geração Kurt Cobain iniciou uma relação amorosa com Courtney Love, ou Courtney “Yoko Ono” Love, como também é conhecida. Em 1992 Kurt exigiu uma maior percentagem dos lucros, uma vez que a sua contribuição como compositor era bastante superior aos restantes elementos. Kris e Dave concordaram. A crispação maior aconteceu quando disse que queria aplicar esta medida retroativamente. Ou seja, aos lucros obtidos com “Nervmind”. Apesar de tudo isto, a banda continuou aparentemente unida e lançaram em 1992 Incesticide. Um álbum de canções inéditas e outras previamente lançadas, mas, em sua maioria, difíceis de serem obtidas. “In Utero” chegou às lojas em 1993, e para o perceber há que o contextualizar na vida pessoal de Cobain. Os problemas crónicos de estômago estavam já exacerbados e causavam-lhe dores difíceis de suportar. Esta condição aliado a um vício cada vez mais problemático em heroína e com uma esposa que partilhava esse mesmo vício, a situação física e psicológica começava a degradar-se a um ritmo desesperante. De recordar que segundo um familiar direto a Kurt Cobain foi-lhe diagnosticado doença bipolar. Nem o nascimento de sua filha, em 1992, lhe veio trazer alguma paz, pois com apenas duas semanas de idade foi retirada da custódia dos pais. Seguiu-se uma sangrenta e mediática batalha legal. Foi neste contexto que “In Utero” foi escrito. Um álbum mais pesado, nem sempre pelo ritmo das músicas, mas por ser mais sombrio, que segundo os elementos da banda foi o álbum que sempre quiseram fazer. Porém, o sucesso comercial esteve longe do atingido pelo seu antecessor, e o reino encantado dos Nirvana começava a tremer. Apenas um mês após ter sofrido uma overdose e ter sido admitido numa clínica de desintoxicação, Kurt Cobain, numa sexta-feira dia 8 de abril de 1994, foi encontrado morto na sua habitação. A razão para este suicídio foi amplamente discutida, culpas atribuídas, teorias elaboradas, mas a verdade é que a música ficou sem um génio. A palavra génio 139 / VERSUS MAGAZINE


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pode soar exagerada, mas quando mitos vivos como o Rob Halford aplicam esse termo a Kurt Cobain, faz-nos pensar se não será a designação correta. O mítico vocalista dos Judas Priest e um dos maiores músicos de metal de sempre referiu-se ao malogrado Cobain da seguinte forma: “Ele foi um génio. Em termos de lendas do Rock ele está ao nível de Hendrix, Lennon, Joplin e Morrison. Um ser humano incrivelmente inspirador e controverso que ficará para sempre na memória. Para mim desde os Nirvana nunca houve nada tão grande ou inspirador, no sentido em que a sua música abalou o mundo.” Para além de Rob Halford, muitos outros conhecidos músicos de metal manifestaram a sua admiração pela banda. Vinne Paul, ex-Pantera, prestou também a sua homenagem: “Os Nirvana foram uma enorme banda. Eu gostava deles, tal como toda as pessoas que conheci. Não conheço ninguém que tivesse dito que não era fã da banda.” “Ele (Kurt Cobain) era simplesmente maior que a vida”. Admiração partilhada também por Monte Pittman dos Prong: “Quando os Nirvana apareceram, tudo mudou!”. Embora à primeira vista possa não ser óbvia a relação entre os Nirvana e a música Metal que ouvimos hoje em dia, a verdade que é será provavelmente mais íntima do que parece. Desde logo porque o próprio Kurt Cobain era fã também de metal. Kirk Hammet dos Metallica em conversa recordou um episódio interessante: “Ele veio a um dos nossos concertos em Seattle, na digressão do Black Album”. “Lembro-me de, a certa altura, quando estávamos a tocar ‘Whiplash’ e de ele olhar para mim e estar a dar murros no ar com o punho, como que a dar-me a entender que estava a gostar. E tentei dizer: ‘boa. Kurt, sei que adoras esta canção, portanto esta é dedicada a ti!’”. O músico dos Metallica explica ainda que conhecia bem Kurt Cobain. “Passei algum tempo com ele. Era um grande fã dos Metallica. Fiquei surpreendido com o quão nosso fã ele era. Adorava o Ride the Lightning. Adorava esse álbum”. A boa índole de Kurt Cobain foi também elogiada pelo guitarrista dos Alice in Chains, Jerry Cantrell. “Eu não passei muito tempo com ele, mas nos poucos momentos que passámos juntos são momentos dos quais nunca me irei esquecer. Ele era uma excelente pessoa e uma alma gentil, e claro, um artista incrivelmente talentoso.” A música dos Nirvana foi, indubitavelmente, um fenómeno global ao qual ninguém ficou indiferente. Para algumas pessoas pode ter sido inclusivamente o primeiro contacto que tiveram com Rock pesado, o que fez com que posteriormente procurassem ouvir outros estilos, outras bandas, desenvolvendo assim o seu gosto musical por sonoridades mais pesadas. Ajudaram em muito a que toda uma geração alargasse musicalmente os seus horizontes. Uma geração de fãs, entre os quais estavam, inevitavelmente, músicos que formaram bandas de sucesso e são agora referências para tantos outros. Embora diga a sabedoria popular que gostos não se discutem, a verdade é que o chamado “pós-grunge” não foi muito bem recebido. Contudo, este fugaz estilo musical, não foi de forma alguma o verdadeiro legado que os Nirvana deixaram. Nesse sentido fica a pergunta: será possível que muitos de nós após termos absorvido uma influência musical tão marcante na juventude, ela não se repercutir de alguma forma no futuro? A resposta parece-me um óbvio “não”. As composições de Kurt Cobain foram um resultado de uma fusão das suas influências musicais às quais acrescentou uma autenticidade muito característica da sua personalidade. A verdade é que, após o fenómeno Nirvana, muitas bandas assumiram o seu estilo próprio em detrimento de um mais glamoroso. Por coincidência ou não, os Pantera abandonaram o look “glam rock” e adotaram outro mais semelhante ao grunge, com um som também ele mais “cru”, em 1990, um ano após o lançamento de “Bleach”. A música pesada atual foi sem dúvida influenciada pela banda de Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl, ora diretamente pelos riffs agressivos e melodias que compuseram, ora pelo carácter genuíno da sua música. De alguma forma transmitiram a todo um universo de amantes da arte musical que não só era desejável, como também imprescindível ser autêntico. Tanto como indivíduos como enquanto banda. Isso permitiu que, sem receios e sem intenções de se querem afirmar por algo que na realidade não são, os músicos colocassem mais de si próprios nas suas composições. Com a multidimensionalidade intrínseca do ser humano a ser transposta para canções, os fãs podem agora apreciar toda uma imensidão de diferentes estilos musicais, o que só enriquece o panorama em questão. Se isto tudo aconteceria sem o sucesso dos Nirvana? Provavelmente sim. Mas se perguntarem se os Nirvana deram um precioso contributo? Com certeza que sim. Por: Ivo Broncas 1 40 / VERSUS MAGAZINE


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ENTREVISTA

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“(…) GUARDÁMOS OS ELEMENTOS CATCHY, MUITO DEATH METAL, DO NOSSO INÍCIO, MAS ACRESCENTÁMOS-LHES UMA ATMOSFERA SUPLEMENTAR DE MAU ESTAR, DE DOENÇA, DE SUJIDADE. (…)” O QUE PROCURAM EM VORKREIST OS MEMBROS QUE TAMBÉM FAZEM PARTE DE OUTRAS BANDAS ? A TI JÁ TE CONHEÇO [AK], PORQUE TE ENTREVISTEI COMO MEMBRO DE DECLINE OF THE I. ACHEI CURIOSO DESCOBRIR QUE TOCASTE COM CORPUS CHRISTII, UMA DAS BANDAS MAIS PRESTIGIOSAS DA CENA BLACK METAL EM PORTUGAL.

VORKREIST

AK: É verdade, tive a sorte de tocar com Corpus Christii durante um ano. O NH continua a ser um bom amigo, apesar de já não nos vermos com frequência, o que, aliás, é uma pena. O facto de fazerem parte da nossa banda elementos que têm outros projetos musicais permite a Vorkreist não ficar fechada em si própria. Nenhum dos nossos álbuns é exatamente idêntico ao que o precedeu, porque, apesar de Vorkreist ser uma entidade bem delimitada, os seus membros têm influência no crescimento da “besta”!

UMA SENTIDA HOMENAGEM

E, A PROPÓSITO, VORKREIST JÁ VEIO A PORTUGAL?

(…) INICIALMENTE, QUERÍAMOS FORMAR A BANDA, CUJA MÚSICA GOSTARÍAMOS DE OUVIR (...)”

AK: Sim, duas vezes, mas já foi há muito tempo. Tanto quanto me lembro, a primeira vez foi em 2006, para participar num festival perto do Porto, e a segunda, em 2008, foi para tocar com Corpus Christii e Merrimack, perto de Lisboa.

COMO DESCREVERIAM ESTE INTITULADO «SACRIFICE»?

EP

AK: Antes de mais, trata-se de uma homenagem. Eu escrevi “Losing Sanity Key », quase de um fôlego, no dia a seguir à morte de LSK, que era uma grande amiga. Quando acontece algo assim tão trágico, não sabemos bem o que fazer: no meu caso, foi a música que me ajudou. Os sentimentos tinham de ser expressos, de alguma forma. É por isso que o baixo está tão presente nessa faixa, como já deves ter reparado. O St Vincent escreveu as letras e também compôs a música para “Lower”. Eu só compus a música para “Low Sanity Key”.

E QUEM FEZ A CAPA (UM EXEMPLO « CLÁSSICO » DA ESTÉTICA GRÁFICA ASSOCIADA AO BLACK METAL)?

AK: Brianvdp, que trabalha muito para a cena Black Metal. Queríamos algo que estivesse próximo da nossa identidade visual, mas que incluísse alguns elementos associados ao conceito do disco: a morte e o misticismo, que se conjugam na ideia de sacrifício.

ESTE EP ANUNCIA UM ÁLBUM A SER LANÇADO EM BREVE PELA AGONIA? AK: Ainda é muito cedo responder a essa pergunta!

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VÃO PROMOVER ESTE EP? SE SIM, COMO VÃO FAZÊ-LO? AK: Neste momento, estamos a procurar marcar concertos. Se tiveres contactos em Portugal, regressaríamos ao teu país com muito gosto! h ttp s : //ww w. f acebook. com/ vorkrei st ht t p: / / deci bel magazi ne. com/ b lo g /20 1 5 / 1 2 / 3 / st reami ng- vorkrei st l osi ng- sani t y- key

O N O V O E P D E VORKREIST SURGE COM O U MA HO MENA G EM À MA LO G R A D A LSK , Q U E FEZ PART E D A B A N D A , E MO S T RA T ODA A QUALIDADE DO GR U P O FRA NCÊS . Entrevista: CSA DE ACORDO COM O QUE LI SOBRE A BANDA NA METALLUM, CONCLUÍ QUE FOI FUNDADA PELO ESX, DADO SER O ÚNICO QUE NÃO TOCA NOUTRA. ACERTEI? AK: De modo nenhum. O EsX chegou em 2007, para substituir o Silmaeth. Nessa altura, também fazia parte de Merrimack. O único membro que está desde o início é o AK, ou seja, eu próprio.

QUAL É O CONCEITO DE BASE DE VORKREIST? AK: Inicialmente, queríamos formar

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a banda, cuja música gostaríamos de ouvir, era essa a nossa principal motivação. Mas essa ideia original evoluiu muito depois. Parece-me sobretudo que a chegada de St Vincent, em 2009, fez com que a banda ganhasse profundidade/ maturidade, tanto em termos concetuais como musicais. Foi a partir desse momento que o nossos estilo se tornou bem mais pessoal, específico. Guardámos os elementos catchy, muito Death Metal, do nosso início, mas acrescentámos-lhes uma atmosfera suplementar de mau estar, de doença, de sujidade. Nos nossos dois primeiros álbuns, falávamos

muito de Satã, mas, a partir do terceiro – «Sickness Sovereign» – foi como se ele tivesse finalmente encarnado na nossa música. Desde aí, nunca mais nos abandonou.

E QUE SIGNIFICA O NOME ESCOLHIDO PARA ESTE PROJETO MUSICAL? A K : Vorkreist é um nome tortuoso, cheio de sentidos ocultos. Tens de o encarar, antes de mais, como algo que se apresenta como uma oposição, algo que vai funcionar como um obstáculo para um percurso até aí bem definido. É uma espécie de vitória ao contrário, de “a-vitória”. 14 3 / VERSUS MAGAZINE


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ENTREVISTA

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OLÁ, SAHIL (AKA THE DEMONSTEALER). O QUE “ANDAS A ROUBAR AOS DEMÓNIOS” DESTA VEZ? DS: Olá! Estou a raptá-los e a fazer

deles membros do meu exército de mortos-vivos.

COMO PERSUADISTE O GEORGE KOLLIAS A TOCAR A BATERIA NO TEU ÁLBUM? [PARA DIZER A VERDADE, PENSO QUE NÃO DEVE TER SIDO DIFÍCIL CONVENCÊ-LO.] DS: Tive o prazer de o conhecer

THE DEMONSTEALER UM FURACÃO HUMANO ESTA EXPRESSÃO DES C R EV E NA PER FEI Ç Ã O SA H I L M AKHIJA, A ALM A DE THE DEMONSTEA LER (E TA MBÉM D E DEM ONIC RESURRECTI ON). Entrevista: CSA

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pessoalmente em 2011, quando a companhia para a qual trabalho o convidou para uma oficina de bateria na nossa loja local. Já o tinha entrevistado no meu programa de culinária – Headbanger’s Kitchen – e tínhamos mantido o contacto desde essa altura, ficando bons amigos. Portanto, quando senti que estava pronto para gravar o álbum, escrevi-lhe e perguntei-lhe se estava disposto a tocar nele, dei-lhe a conhecer as canções e ele ficou muito satisfeito com o convite. Foi mais ou menos assim que tudo aconteceu.

HÁ ALGO ESPECIFICAMENTE INDIANO NO TEU ÁLBUM? SERIA DIFERENTE, SE TIVESSES NASCIDO NOUTRO PAÍS? DS: Para ser franco, a única coisa

indiana no meu álbum sou eu próprio. Não faço a mínima ideia de como seria a minha música, se eu tivesse nascido noutro sítio. De qualquer modo, cresci num ambiente “ocidental”, os meus pais ouviam sobretudo música inglesa, eu estudei numa escola secundária inglesa, etc. Para mim, a cultura da Índia é demasiado lata, para poder ser apreendida, dado que cada parte deste país tem a sua própria língua e cultura.

NA INFORMAÇÃO SOBRE O ÁLBUM, PODE LER-SE O SEGUINTE: “DEMONSTEALER, ON THE NEW ALBUM, CREATES MUSIC THAT SURPASSES SIMPLE GENRE CATEGORIZATION, FOR THIS IS A NEW BLEND OF STYLES […] FROM DEATH METAL TO THRASH METAL, LACED WITH ELEGANT AND STUNNING ATMOSPHERIC PARTS, PROPELLED BY THE WORLD CLASS DRUMMING OF THE LEGEND GEORGE KOLLIAS. […] THE ALBUM SHOWCASES RARE MATURITY, WITH DEMONSTEALER INDULGING IN

MELODIC SOLOS AND ACCENTUATING THEM WITH MOMENTS OF CLEAN VOCALS. […]”. REVÊS-TE NESTAS AFIRMAÇÕES? DS: Hahaha, isso são coisas da

promoção. Eu limito-me a compor música e, neste álbum, não me impus quaisquer limites no que diz respeito ao que queria exprimir. Se me tivesse parecido adequado acrescentar mais vocais, não me teria preocupado nada em ver se não eram Death Metal ou o inverso. Sempre escrevi música sem me preocupar minimamente com o género. Só sei que é Metal.

DE QUE TRATAM AS LETRAS? CALCULO QUE FOSTE TU QUE AS ESCREVESTE. DS: Sim, fui eu que as escrevi

e lidam com as minhas lutas pessoais ao longo dos anos. A música sempre foi a minha forma de expressão.

COMO FIZESTE PARA GRAVAR O ÁLBUM COM PESSOAS QUE ESTAVAM NOUTRAS PARTES DO MUNDO? DS: Até foi fácil. Escrevi as canções

e enviei-as ao George pela internet. Ele gravou todas as partes de bateria no seu estúdio de Atenas e enviou-me os ficheiros. Depois, eu gravei tudo o resto no meu estúdio com o Ashwin, o Nishith e o Daniel. Portanto, foi mesmo muito fácil. Atualmente, gravar tornou-se tão fácil que as pessoas podem estar todas em partes diferentes do mundo sem problemas.

TIVESTE A SORTE DE PODER CONTAR COM O MAGNÍFICO XAAY PARA FAZER O ARTWORK PARA O TEU ÁLBUM. JÁ O ENTREVISTEI – COMO ARTISTA GRÁFICO E COMO MÚSICO – E TAMBÉM SOU UMA GRANDE FÃ DO SEU TRABALHO. COMO É QUE VOCÊS OS DOIS SE ARTICULARAM PARA PRODUZIR A ILUSTRAÇÃO DA CAPA DESTE ÁLBUM? DS: Para dizer a verdade, não

tinha ideia nenhuma sobre como deveria ser o artwork do álbum. Foi ele que começou a fazer algo e passámos alguns meses a discutir esse material, mas eu não estava realmente satisfeito com o trabalho. Portanto, pensei melhor no assunto e escrevi mais algumas ideias e enviei-lhas. A partir delas, o Xaay criou este artwork, que é ligeiramente diferente do que eu

tinha imaginado, mas me parece fantástico. Já tínhamos trabalhado juntos no artwork de três álbuns, logo estamos habituados a comunicar as nossas ideias um ao outro e isso permite-nos criar arte com muita facilidade.

A CAPA FAZ-ME PENSAR NUM MITO CLÁSSICO DA CULTURA OCIDENTAL: A HISTÓRIA DE ATLAS, O TITÃ QUE FOI CONDENADO A TRAZER ÀS COSTAS TODO O PESO DO CÉU. HÁ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ESTA HISTÓRIA ANTIGA E A CAPA DE «THIS BURDEN IS MINE»? DS: Penso que o Michal tirou a

ideia daí, mas, na minha cabeça, não havia nada disso. Quando olhei para a ilustração que ele fez, apreendi logo o seu significado e fez sentido para mim.

ONDE TERÃO DE SE DESLOCAR OS FÃS PARA TE OUVIREM TOCAR MÚSICAS DESTE ÁLBUM AO VIVO? DS: Ainda não sei quando e como

vou fazer a digressão para este álbum, mas é claro que farei alguns concertos na Índia. Não faço ideia se terei fundos ou capacidade para fazer uma digressão na Europa para promover este álbum. No entanto, gostaria mesmo muito de o fazer.

QUANDO TOCARES AO VIVO, QUEM VAI ACOMPANHAR O GRANDE DEMONSTEALER? OS TEUS AMIGOS TAMBÉM LÁ VÃO ESTAR? DS: Para os concertos aqui,

serão quase sempre os meus companheiros de Demonic Resurrection. Portanto, estarei mesmo entre amigos.

ÉS UMA PESSOA QUE ADMIRO MUITO, PORQUE ESTÁS SEMPRE A FAZER ALGO NOVO, ÉS UM HOMEM MUITO EMPREENDEDOR. COMO CONSEGUES FAZER TODAS ESSAS COISAS AO MESMO TEMPO? DS: Tenho de agradecer à empresa

onde trabalho – Furtados Music – porque me trabalhar a partir de casa e não me dão demasiado que fazer, para eu poder passar algum tempo a fazer as coisas que mais me agradam. https://www.facebook.com/ demonstealerOfficial https://youtu.be/hQ4QMaHtka4


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