Versus#41 Set Out 2016

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VA G O S M ET AL F E S T L IV E

A MPL I FEST LIV E

N OT H IN G L I VE

PETER M URPHY LIV E

PURO VENENO

D ARK R IVE R S ID E T RA N Q U I L IT Y

MA TA - RATOS

SAB ATON

JOHN WESL EY

INSO MN IU M


EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E

vErSUS MAGAZINE

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D IR E C Ç Ã O

... NOVIDADES

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Es te ú ltimo tr i mest re tem si do profí cuo e m gra n de s

Eduardo Ramalhadeiro

la n çame nto s: Test ament e In Flames (que s e rã o a n a l i s a dos

COLABORADORES

n ovo d o s Metalli ca: «Hardw i red...To Se l f-De s t ruct » . No

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Miguel Ribeiro (Hintf), Nuno Kanina (Hintf) e Victor Alves

u n i verso d igital j á cor rem doi s tema s e com o s e mpre

F O T O G R A F IA

n a próx ima ed ição), Insomni um, Ri vers i de , etc. s ó pa ra c i ta r a lgu ns. No ent anto, “ mei o mun do” j á e s pe ra pe l o

s e rá escalp eliz ado e anali sado até ao t ut a n o.

Créditos nas Páginas

Peterso n q u e nos fala sobre «Brot her h ood of t h e Sn a ke » ,

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ce r tame nte u m dos álbuns do ano. Dos con ce rtos a o

O U T IL IZ A D O R P O D E :

Es ta e d iç ão co nt a com uma exceletente e nt rev i s t a a Eri c

vi vo d estacamos duas Mega repor t a ge n s : Va gos Met a l Fe s t - De sd e já o nosso obrigado à org a ni z a ç ã o; (Por m otivo s d e saúde do nosso j ornali st a e m Li s boa n ã o n os fo i p o ssível reali zar a repor t agem ao Va gos Ope n Ai r ma s f i c a o no s s o agradecimento à organi z a ç ã o), Am pl i fe s t e Peter Mu rp hy. Dest aque ai nda para os i nfâ m e s Mat a Ratos q u e re g ressam com um novo ál bum . Bo a s le itu ra s, Eduardo Ramalhadeiro

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copiar, distribuir, exibir a obra

S O B A S S E G U IN T E S C O N DI ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i za dor deve dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S. O uti l i zador não pode al terar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.


66 TESTAMENT

C O NTE Ú DO Nº41 SETEMBRO / OUTUBRO 2016

0 4 T E MPO D E MU D A NÇA ( B O B D Y LA N )

50 REVOC AT IO N

1 0 2 O H O M E M D A M O T O S ERRA

0 6 T H E MISS IO N

52 KRUCYAT O R P R O D U C T IO N S

1 0 4 PA L E T E S D E M E TA L

1 2 J O H N WES L EY

56 ANTR O D A F O L IA

1 1 0 L IV E V E R S U S

1 6 I N S O MNIUM

60 DARK T R A N Q U IL IT Y

AMPLIFEST

1 9 P L AYL IST

65 GRÊLOS D E H O RT E L Ã

NOTHING + RICARDO REMÉDIO

2 0 S A MUE L LU C A S

74 RIVER S ID E

PETER MURPHY

2 8 D E ADL IGH T ENTE RTAINM ENT

81 TRIAL B Y F IR E

VAGOS METAL FEST

3 2 C R ÍTIC A VE RS U S

82 SABAT O N

144 COLOSSO

4 0 P É NITE NCE O NIR IQUE

88 ORPHANED LAND & AMASEFFER

1 4 6 D E M E N T IA

4 4 H E AV E NWOO D

94 M ATA- R AT O S

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Tempos de Mudança? Por: Helder Mendes Quando, a 13 de Outubro, após o adiamento por uma semana, foi anunciado o nome do vencedor do Prémio Nobel da Literatura, a surpresa só foi igualada pela polémica: pela primeira vez, um músico era alvo de distinção. Nas horas e nos dias que se seguiram, abriram-se trincheiras e trocaram-se argumentos a favor e contra tal atribuição (por exemplo, o também nobelizado Mario Vargas Llosa criticou a escolha; entre nós, Alice Vieira foi das vozes mais sonoras do lado dos não-convencidos, o que de resto lhe valeu a vandalização da sua página na Wikipédia – “cabra amarga”, acusava-se...). E não se deve esquecer a premonição do escritor Alberto Olmos, que em 2014 escreveu um romance, Alabanza, onde a morte da literatura começava pela conquista do Nobel por parte de alguém fora do mundo literato. Nesta obra, o prémio era atribuído a... Bob Dylan, o que nos leva a parafrasear Woody Allen: a vida não imita a arte, imita a má ficção! Crê-se que até os próprios membros da Academia se dividiram, o que faz deste um dos Nobeis menos consensuais de sempre no domínio da literatura. O próprio Bob Dylan ajudou ao festim: não se manifestou sobre o Prémio nem – pasme-se – atendeu os telefonemas do Comité Nobel, que acabou por desistir de tentar contactar o artista. Polémicas e surpresas à parte, talvez o mais avisado seja pegar na justificação dada pela Academia Sueca para distinguir o autor de Lay Lady Lay: “criou novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana”. Esta frase é todo um programa. Não apenas reconhece os méritos do compositor norte-americano e o papel que ele desempenhou na renovação da música norte-americana, como, e acima de tudo, assume que a escrita de canções não é o parente pobre da lírica. Na verdade, e talvez não intencionalmente, o que este prémio revela é a capacidade de as letras sobreviverem à música. Dylan é, prima facie, um músico, mas é também um letrista/poeta/escritor de excepção. Exemplos? Leia-se ou escute-se Blowin’ In The Wind: “How many roads must a man walk down/Before you call him a man?(...) The answer, my friend, is blowin’ in the wind/The answer is blowin’ in the wind”. Ou Mr. Tambourine Man, já alvo de “hermenêutica” (assim, entre aspas) no filme Dangerous Minds: “Take me on a trip upon your magic swirlin’ ship/My senses have been stripped, my hands can’t feel no grip/My toes too numb to step, wait only for my boot heels/To be wanderin’”. É esta segunda componente, a da ímpar escrita de Bob Dylan, que a Academia Sueca acaba por premiar e, consequentemente, imortalizar, inaugurando talvez uma nova era em que a canção, quando se trata de boa literatura, tem o valor de um poema, de uma novela, de um ensaio. E para os detractores ou velhos do Restelo, talvez a melhor resposta esteja em The Times They Are A-Changin’: “Come writers and critics Who prophesize with your pen And keep your eyes wide The chance won’t come again And don’t speak too soon For the wheel’s still in spin And there’s no tellin’ who That it’s namin’ For the loser now Will be later to win For the times they are a-changin’ (...) Come mothers and fathers Throughout the land And don’t criticize What you can’t understand Your sons and your daughters Are beyond your command Your old road is rapidly agin’ Please get out of the new one If you can’t lend your hand For the times they are a-changin’”

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UMA QUEDA NA GRAÇA DOS FÃS Entrevista: Adriano Godinho e Hintf Transcrição e Tradução: Adriano Godinho

Os The Mission não deixam muita gente indiferente, que seja no mundo do rock gótico como na pop mais alternativa ou até para alguns fãs de metal ou outros géneros. A sua capacidade em criar músicas com qualidade vem mais uma vez de ser demonstrada com este novo trabalho “Another Fall From Grace” que conta com o regresso do Simon Hinkler nas guitarras, com quem tivemos uma agradável conversa por telefone, desde a sua residência em Inglaterra. The Mission é um nome que anda connosco há já bastante tempo, significa muito para muita gente. Quais são, a teu ver as diferenças e semelhanças entre os The Mission dos anos 80 e hoje? Bem, estamos mais velhos (risos). Na altura eramos loucos, tínhamos o mundo aos nossos pés. Entretanto casamos, tivemos filhos, a vida muda. Mas no fundo é muito igual, é algo que fazes porque gostas de fazer. Então ainda gostam de ser músicos como no princípio? Sim, claro, senão não continuaria a fazê-lo. Sabes, quando és assim novo vives muito através dos instintos e torna a comparação muito complicada. Mas o que importa é que continuo a gostar do que faço. Como colocarias este novo trabalho na vossa discografia? Bem, é algo diferente para mim. Sabes trabalhei nos primeiros 5 álbuns da banda e agora os 2 mais recentes,Houve ali uns no meio aos quais não participei. A tecnologia mudou a forma de trabalharmos; para este álbum compomos tudo de forma remota, vivemos todos afastados uns dos outros e traba-

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lhos nos nossos estúdios em casa, vivemos no norte e sul de Inglaterra, Brasil e Estados Unidos. Nunca trabalhamos assim dantes e é algo que consome muito mais tempo. Não tens uma reacção imediata com as outras pessoas, tens de gravar, enviar e perguntar o que acham. Quando escrevem novas músicas, pensam num tema global ou trabalham uma música de cada vez? A forma como quase sempre trabalhamos é: Wayne traz ideias, com variações dos temas (por exemplo no álbum anterior ele quase não compôs, limitou-se a tocar guitarra acústica e cantar), mas geralmente é ele que começa e depois juntamo-nos para trabalhar as músicas. Após estes anos todos, dirias que compor música tornou-se mais fácil ou mais difícil para ti? É algo que vem e vai. Até agora nunca tive problemas em compor música. Hoje em dia posso passar os dias a tocar guitarra, tenho várias ideias mas escolher o que guardar é que se tornou difícil (risos). Como vês a cena gótica actual na Europa? Porque haveria eu de estar interessado nisso? Há pessoas que gostam de estar atentos ao que se faz no resto do mundo... Oh não, não vejo isso dessa forma. Isto não é nenhuma competição para mim, é algo que se faz para si-próprio, porque se quer e gosta de fazer. E se os outros são assim, bem, boa sorte para eles. ...Pensando nisso até me custa pensar ter uma perspectiva competitiva sobre a música que se faz.

Óptimo, significa que te preocupas com a tua música e não na das outros. Sim, porque chegou uma altura em que nem ouço a música dos outros. Quando comecei ouvia muita música, é normal, e agora é cada vez menos. Música tornou-se algo que faço, não algo que oiça. Captei esta outra perspectiva. Engraçado, porque acontece a muita gente. Sim, conheço muita gente a quem também aconteceu. Este ritmo constante de um álbum cada 3 anos dá-nos a ideia da banda estar mais constante, é essa também a visão que têm? Bem, geralmente quando passa algum tempo sem fazeres álbuns, vem uma altura em que sentes a necessidade de compor mais música e gravar um álbum. Sentem-se plenamente realizados após um álbum ou ficam logo a pensar no próximo? Bem, mais ou menos. Penso que sim, começas a pensar no que vem a seguir. A verdade é que quando tocas a músicas ao vivo, elas ficam melhor. Então nos sets ao vivo colocamos músicas novas aqui e ali para ver como funcionam e então trabalhar sempre em novas músicas. Pensas que as pausas que tiveram na banda acabou por ser algo de positivo ou negativo de um ponto de vista mais recuado? Estás a perguntar se estou arrependido de ter saído? (risos) Não, não estou. Esta banda é principalmente o projecto do Wayne e quando nos juntamos em 2011 para voltar a tocar a ideia era só tocar ao vivo mas acabou por correr tão bem que quisemos gravar novas músicas.


“A TECNOLOGIA MUDOU A FORMA DE TRABALHARMOS; PARA ESTE ÁLBUM COMPOMOS TUDO DE FORMA REMOTA, VIVEMOS TODOS AFASTADOS UNS DOS OUTROS E TRABALHOS NOS NOSSOS ESTÚDIOS EM CASA”

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Há algumas músicas ou partes especiais para ti neste trabalho? Bem, sim há partes que compus neste trabalho que gosto e acho que ficaram muito bem, nomeadamente em “Bullets and Bayonets” onde tenho um solo que gostei bastante. Consegui criar partes que trouxeram algo de interessante para as músicas. Após 30 anos de carreira, tens algum conselho para jovens que estão a começar hoje? Sim, a razão de ser músico tem de ser por gostar de o ser, nunca por dinheiro. Se estão a fazer música por dinheiro, é pela razão errada! Tens de estar pronto a tocar por uma ninharia e ter a recompensa pelo amor de o fazer. Se fizeres assim, serás feliz, senão: nunca serás feliz. Este álbum conta com a participação de vários outros músicos, como aconteceram estas parcerias? Sim, são todos cantores e todos amigos do Wayne, conheceram-se porque tocaram juntos por outros projectos e acabaram por contactarem-se e colaborar nas vozes.

Há um interlúdio neste álbum, uma música um tanto quanto isotérica, podes nos contar onde a foram buscar? Não a fomos buscar a lado nenhum, fui eu que a compus e o Wayne acrescentou-lhe o texto e a voz. Agora estão prestes a começar uma nova enorme tour, estão a planear algo de especial? Bem, estamos a planear trazer sets interessantes para o público. Temos claro as músicas deste álbum, mais 4 do anterior, mais 5 por cada álbum mais os clássicos, ao todo temos 43 músicas a ter prontas para tocar, por isso é muita coisa. Há temas que temos de tocar, é obrigatório, tipo “seventh kiss”, “behind the pale” ou “severina”, depois metemos uma aqui outra ali o que torna a lista muito grande. E a maior digressão que já tivemos desde que nos reunimos em 2011 tinha sido de 4 semanas, esta é de 7 semanas.

tamos de tocar juntos ao vivo e é algo que nos atrai imenso por isso é sempre bom. E ainda te lembras da primeira vez que tocaram ao vivo? Sim, nunca fui uma pessoa muito nervosa num palco, é algo que cresce em ti...e não tens te preocupar com nada porque és tu que estás a fazer todo o barulho e estão todos a olhar para ti (risos). Para este trabalho há uma versão “Deluxe” com montes de extras, vídeos, músicas ao vivo... a banda participou na escolha deste material todo? Não participei, não; e para te ser sincero é algo que prefiro manter-me afastado, torna as coisas mais complicadas e então mantenho-me à parte e concentro-me na música.

Após tantas digressões, de ter tocado em todos os continentes do mundo, ainda há algo interessantes em tocar ao vivo? Absolutamente, sim. Sempre gos-

“ESTÁS A PERGUNTAR SE ESTOU ARREPENDIDO DE TER SAÍDO? (RISOS) NÃO, NÃO ESTOU.“

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O SOM DA MUDANÇA É uma importante referência no meio musical mais progressivo e um músico de excelência. «a way you’ll never be» representa uma mudança e é uma excelente mescla entre o lado mais acústico e as guitarras mais pesadas Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA

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Olá John! É um prazer encontrarme contigo virtualmente. Tenho andado a ouvir «a way you’ll never be» e parece-me excelente. Apesar de o lançamento do álbum estar previsto para 17 de outubro, já tens algumas reações? John Wesley – Tenho tido críticas fantásticas, parece que as pessoas estão a gostar realmente do álbum e das canções. É uma nova direção que resolvi seguir e, aparentemente, está a ter sucesso. Quando recebi o material promocional a primeira coisa que me chamou a atenção foi a capa – parece-me muito forte. O que significa aquele homem imolado? John: Essa imagem tem muitos significados. Penso que todos temos um “homem a arder” dentro de nós, de vez em quando. Uma paixão ardente, um desejo intenso de sermos algo mais do que aquilo que somos, o ardor desagradável do desapontamento… é uma imagem que liga todas as personagens que aparecem nas canções e que me considero muito poderosa. O título do álbum também é muito curioso. Por que razão este título e os das canções estão todos escritos em letras minúsculas? John: Quando estava a escrever as letras, fiquei com a impressão de que o uso de maiúsculas dava mais ênfase a partes que eu não queria destacar. Além disso, a falta de maiúsculas parece deixar as palavras assumirem diversas camadas de sentido. Todas as canções têm mais de um tema… pelo que podem significar várias coisas. Depende de cada ouvinte. Mudaste a formação da tua banda desde que lançaste o álbum anterior. Escolhes os músicos em função da música que pretendes fazer? John: O baterista é o mesmo. O Sean já nos acompanhava nos concertos, portanto pareceu-nos natural escolhê-lo para tocar as partes de baixo no álbum. … Conheço bem o Sean Malone – sobretudo por causa do seu trab-

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alho com Cynic. E é verdade que já trabalhou contigo em 94 e 95. Ele contribuiu para a música deste álbum? John: Sim, escreveu as linhas de baixo e demos-lhe total liberdade para interpretar as canções à sua maneira. Penso que tocou maravilhosamente nas gravações e que levou as canções a lugares que eu nem tinha imaginado existirem. Ele é simplesmente fantástico. Neste álbum usou um Chapman Stick? John: Acho que só usou esse instrumento numa canção: “the silence in coffee”. Nas restantes, usou o seu baixo habitual. Concordas comigo que este é o teu trabalho mais desafiador, por teres combinado as tuas letras introspetivas com música mais agressiva? John: Sim, este é mesmo o meu trabalho mais desafiador até ao momento… Trabalhei loucamente na escrita e nos arranjos ainda antes de terem começado as gravações. O Mark e eu repetíamos imenso as canções, para levar a nossa criatividade ao máximo no processo de lhes darmos vida. Passei dias sem conta só a burilar as letras… por vezes, semanas. Não demos nada por terminado, enquanto não atingiu exatamente o ponto que queríamos. Consideras a tua música como emocional, sensível e dinâmica? John: Esses três atributos descrevem perfeitamente a minha música. Sempre fui atraído por música que me comovia, logo, quando escrevo a minha música, tento fazê-lo de um modo muito pessoal, na esperança de atrair os fãs e de lhes proporcionar verdadeiras emoções. Entre outros artistas – Fish, o excelente Sound of Contact, Flying Colours, etc. – tocaste com Porcupine Tree (durante nove anos) e depois com Steven Wilson. Como é trabalhar com o Steven e quais são as melhores recordações que

tens desses tempos? John: Trabalhar com o Steven era fantástico. Ele tem uma noção muito clara dos sons e das partes necessários para fazer com que as canções resultem. É muito exigente, mas, ao mesmo tempo, deixa-te seres tu próprio. Sabe que todos nós temos algo a dar à música e é exímio a extrair isso de ti. Logo, conseguia sempre que o meu estilo pessoal sobressaísse nas partes que eu ia tocar e cantar. O que preferes e o que te parece mais desafiador: fazer digressões e tocar com outras bandas ou apostar na tua carreira a solo? John: Foi muito desafiador trabalhar com as bandas com as quais fiz digressões e gostei de todos os concertos. Adoro tocar ao vivo e senti muito prazer em tocar com outros artistas e bandas. Mas, da mesma forma, também gosto muito de escrever canções e de trabalhar na sua gravação, de dar vida à minhas ideias. Portanto, é difícil para mim responder a essa pergunta. No fundo, sinto que preciso das duas coisas para me sentir realizado. Preciso de fazer várias coisas em termos musicais para me sentir verdadeiramente feliz. És um guitarrista maravilhoso. Que conselho darias a quem quiser tentar aprender a tocar guitarra? John: Encontrem a vossa própria “voz”, toquem a música de que gostam, não se preocupem com o que os outros pensem sobre a forma como tocam e o que devem tocar, façam-no para se sentirem felizes. Ouçam todo o tipo de música, aprendam com outros instrumentistas e concentrem-se… pratiquem muito, façam exercícios. E, quando estiverem a treinar as escalas… vão-nas trauteando, ajuda-nos a ajustarmos o nosso ouvido aos tons. Guitarra acústica ou elétrica? Porquê? John: Adoro as minhas guitarras acústicas e as canções em que as uso, mas a guitarra elétrica foi sempre o meu primeiro amor.


Fazer solos de guitarra foi a minha primeira “voz”, porque eu não cantava quando era novo. Portanto, a guitarra elétrica e os solos que nela faziam foram sempre as minhas principais formas de expressão. Li uma entrevista muito boa contigo na “Music Radar” e achei muito interessante a história da “guitarra feita à mão”. Ainda tens

essa guitarra? John: Ainda tenho essa guitarra… Faço muitos concertos acústicos a solo, quando estou em casa, e uso sempre essa guitarra. Tenho centenas de horas de trabalho com ela, mas continua a fascinar-me.

John: Obrigado, Eduardo. Ciao!

Obrigado pelo tempo que consagraste a esta entrevista. Espero ver-te um dia ao vivo!

“[...]este é mesmo o meu trabalho mais desafiador até ao momento“

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O INVERNO DO SEU CONTENTAMENTO Entrevista: CSA

Ao contrário da personagem de Shakespeare, os membros de Insomnium têm todos os motivos para enfrentar o inverno que se aproxima com otimismo. Este álbum é verdadeiramente surpreendente. É claro que li integralmente o conto que o inspirou, enquanto o ouvia. Sou uma grande fã de artes gráficas, portanto começo por perguntar se não pensaram em fazer um filme (talvez de animação), cuja banda sonora seria constituída pela única canção deste álbum. Niilo Sevänen: Obrigado! Seria fantástico fazer um filme para o álbum, mas o problema é que fica muito caro. Adoraria poder dispor de uma adaptação desta narrativa em cinema de animação com uma duração de 40 minutos. Se houver alguns artistas portugueses na área que se sintam capazes de fazer, estejam à vontade para nos contactar! A narrativa é realmente muito interessante. Podes falar-nos um pouco do mito nórdico subjacente a ela? Niilo: A narrativa é uma combinação de ficção e fantasia/ fantástico. Começa com uma história sobre Vikings que viajam para pilhar povoações, mas, no fim, converte-se numa história mais ou menos fantástica. Os nomes e os termos que os Vikings usam assentam em factos históricos. Os elementos fantásticos inspiram-se no folclore nórdico, embora, na sua maioria, tenham sido inventados por mim. [Nota: Niilo Sevänen é o autor da narrativa.]

e a Noruega. Niilo: De facto, os Finlandeses não são Vikings, mas, na história, há um finlandês, que faz parte do grupo e a quem chamam Pirkka, the Bear. Os Finlandeses lutaram contra os Vikings, que pilhavam as suas costas, a caminho da Rússia. Acabaram por construir fortalezas de madeira no litoral para se defenderem deles. Foi o pintor finlandês que ilustrou uma das versões de «Winter’s Tale» que fez a capa para o vosso álbum? É maravilhosa. Niilo: Sim, foi o pintor finlandês Teemu Tähkänen. Fez um trabalho excelente para a nossa capa, que assenta que nem uma luva tanto ao álbum e à história como à banda. Adorar esta capa – deve ser uma das melhores dos nossos álbuns! Como conseguiram escrever uma canção tão longa? De que forma os quatro membros da banda combinaram os seus esforços para chegar a este resultado? Niilo: O Ville Friman, o Markus Vanhala e eu escrevemos partes e depois juntámo-las para fazer os arranjos. O Ville escreveu praticamente metade da primeira

parte da canção, o Markus compôs a maioria da segunda parte e eu acrescentei alguns elementos da minha autoria. O Aleksi Munter, de Swallow the Sun, fez os arranjos épicos para teclados, que soam maravilhosamente bem. No texto de promoção do álbum apresentado pela vossa editora, Dan Swäno elogia a incrível mistura de elementos progressivos e de Doom, Death e Black Metal que podemos encontrar neste álbum. Onde foram buscar a inspiração para a criar? Niilo: Quem sabe? Penso que, de forma inconsciente, nos inspirámos no Death e Black Metal dos anos 90, que adorávamos ouvir quando éramos adolescentes: bandas como Emperor, Dissection, Edge of Sanity, Opeth e quejandas. Portanto, este álbum tem uma vibração que mergulha as suas raízes nos anos 90. Pensaram em fazer uma espécie de “peça das quatro estações” (como acontece, por exemplo, no famoso concerto de Vivaldi) usando narrativas curtas inspiradas na mitologia finlandesa, como esta?

“A narrativa [que serve de base ao álbum] é uma combinação de ficção e fantasia/fantástico. […]”

Podemos incluir os Finlandeses nos povos designados por Vikings? Geralmente, associamo-los a países como a Dinamarca, a Suécia

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Niilo: Não, mas até parece ser uma boa ideia. Como se vão organizar para tocar este álbum ao vivo? A projeção do filme de animação que referi na primeira pergunta desta entrevista, acompanhada pela vossa música (como se fazia no cinema mudo) seria espetacular. Niilo: Neste momento, estamos precisamente a planear a forma como vamos dar uma atmosfera épica aos nossos concertos. Já fizeram planos para o futuro da banda (para além de promoverem este álbum)? Niilo: Pretendemos viajar o mais possível. Espero que possamos ir

a Portugal em 2017, pois a nossa última visita já foi há muito tempo. E, como não gosto do inverno no sul da Finlândia, estou a pensar em mudar para o vosso país assim que puder. E como fazem para combinar carreiras profissionais como ser diretor da cultura e de um festival etnográfico na Finlândia ou investigador na Inglaterra com a tarefa de manter viva Insomnium e ainda tocar noutras bandas (como Omnium Gatherum, que também já entrevistei duas vezes)? Niilo: Pois. Isso é o mais difícil de fazer e já o fazemos há vários

anos. Neste momento, estou a gozar uma looongas férias no meu trabalho, para me dedicar exclusivamente à música (e à escrita). Vamos ver o que o futuro nos traz e se é ou não possível viver só da atividade da banda. Estamos a viver tempos empolgantes! Obrigado pela entrevista! http://www.insomnium.net/ https://www.facebook.com/insomniumofficial/ https://youtu.be/uXglsFRVPes

“[…] este álbum tem uma vibração que mergulha as suas raízes nos anos 90.”

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Playlist Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeuro

Amorphis - Under The Red Cloud

Riverside - Eye of the Soundscape

Orphaned Land - All is One

Fates Warning - Theories of Flight

John Carpenter - Lost Themes

Dark Tranquility - Atoma

John Carpenter - Lost Themes II

Testament - Brotherhood of the Snake

Wolf Hoffmann - Headbangers Symphony

Sonata Artica - The Ninth Hour

Debauchery vs Blood God-Thunderbeast

Insomnium - Shadows of a Dying Sun

Miracle Flair - Angels Cast Shadows Aeternitas - House Of Usher

Helder Mendes

Allegaeon - Proponent For Sentience

Sinistro - Semente Opeth - Sorceress

Cristina Sá

Anathema - A Fine Day To Exit

Imperium Dekadenz – Dis Manibus

The Doors - L.A. Woman

Insomnium – Winter’s Gate

Dream Theater - Six Degrees Of Inner Turbulence

Pensée Onirique – V.I.T.R.I.O.L. Thy Catafalque – Meta

Hugo Melo

Tribulation – The Children of the Night

Devin Townsend Project-Transcendence

Moonspell – Irreligious

Lockup - Pleasures Pave Sewers Rage - The Devil Strikes Again Megadeth - Dystopia Leafblade - The Kiss of Spirit and Flesh

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Um grafismo punk? Entrevista: CSA

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Este pensamento ligado ao punk decorre da preferência dada por Samuel Lucas a bandas deste quadrante e – podemos também dizêlo – vice-versa. Olá, Samuel! Cá estou a entrevistar-te, como combinado. Aliás, quando fui analisar o teu portefólio, constatei que já conhecia alguns dos teus trabalhos (por exemplo, o que fizeste para Revolution Within.) Quando foi a tua estreia no mundo das artes gráficas associadas à música extrema? Quem foram os teus primeiros clientes? Samuel: Há mais ou menos 8 ou 9 anos atrás, projetos ligados à música em que estava envolvido e a necessidade de se fazer cartazes e várias peças de comunicação levaram-me a começar a mexer em programas de edição de imagem e vetoriais. Daí nasceu uma enorme paixão pelo design gráfico e pela ilustração, que me levou a explorar coisas novas e a querer saber mais e mais sobre este mundo. Como tal, conheci bandas e fiz alguns contactos que me permitiram começar logo muito rápido a trabalhar para eles e, de certa forma, a mostrar o meu trabalho. Destaco bandas como os Angry Odd Kids, The Band Apart, ApplyZii, Devil In Me, Hills Have Eyes, Eleven Miles Apart, Oozie Aboozie e Before The Torn, entre outras, que foram bastante importantes para mostrar e divulgar os meus primeiros trabalhos e que, de alguma forma, me fizeram crescer enquanto ilustrador ou designer gráfico. Onde aprendeste a tua arte? Tens alguma formação específica? Não tenho qualquer formação nesta área, sou formado em Marketing. Tudo o que aprendi e tenho vindo a aprender tem sido fruto de muitas horas a explorar coisas novas, a ver tutoriais, a ler e a

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aprender com os erros. Faltam-me algumas bases, não o escondo. Teria sido muito mais fácil, se tivesse tido formação neste campo das artes. No entanto, gosto de aprender, de ver e explorar coisas e, para mim, tem sido um desafio enorme o de aprender tudo sozinho.

soluções possíveis, para que o trabalho corresponda às ideias iniciais. Por vezes, os clientes não têm uma ideia precisa do que querem, logo é essencial que eles acompanhem de mais perto o processo criativo e que se sintam com total liberdade para participarem no trabalho.

Como encontras os teus clientes? Numa fase inicial do meu trabalho, tentava mostrar o que fazia às bandas e às marcas de roupa. Enviava inúmeros mails com os meus trabalhos, pulicava mensagens nas redes sociais, propunha trabalhar sem receber qualquer cêntimo por isso, também porque nessa fase estava mais interessado em poder ajudar as bandas que faziam parte do meio musical que frequentava do que propriamente em ganhar dinheiro. Ainda hoje o objetivo não é o de ganhar dinheiro, de todo. No entanto, há muito tempo despendido para fazer o que faço, há contas para pagar… Felizmente, agora não me preocupo muito em encontrar clientes, são as pessoas que me procuram e, graças a deus, tem havido trabalho todos os dias, o que é ótimo.

Do que vi, parece-me que os teus cartazes são uma boa montra da tua arte. Por exemplo, apercebemo-nos facilmente de que tens preferência pelo negro, combinado com branco e/ou algumas manchas de cor. Concordas com esta afirmação? Sim, é verdade que tenho uma certa preferência pela cor negra e que gosto muito de a combinar com o branco. Há muitos trabalhos que só resultam bem a preto e branco. Em muitas peças de merchandising procuro usar mais estas cores simples, movo-me entre os cinzas, preto e branco. No entanto, geralmente, nos cartazes, onde não existem limitações de cores, gosto de explorar cores vivas, cores que estejam na “moda” e que acrescentem alguma vida aos desenhos. Mas, de facto, normalmente uso o negro como cor de fundo.

E que espaço lhes dás na tua arte (ou seja, até que ponto dos deixas participar nos trabalhos que fazes para eles)? Normalmente, gosto que os clientes participem em todo o trabalho e acompanhem todo o processo criativo. É mais fácil de chegarmos ao produto final, se assim for. Por isso, gosto que tenham a liberdade total para darem a sua opinião e para experimentarmos todas as

Também me pareces que privilegias o desenho, ao invés de outros artistas, que trabalham sobretudo com fotos. Há alguma razão em especial para que isso aconteça? Sempre direcionei o meu trabalho mais para a ilustração e para os vetores, mas é verdade que também sempre tive uma enorme paixão pela fotografia e pela manipulação de imagem. Acontece que a maio-

“Projetos ligados à música em que estava envolvido […] levaram-me a começar a mexer em programas de edição de imagem e vetoriais.”


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ria dos meus clientes e pessoas com quem trabalho sempre procuraram mais a vertente do desenho do que propriamente a manipulação de imagens ou simplesmente a fotografia. No entanto, tenho vindo a querer explorar cada vez mais a manipulação de imagem, para complementar o que já faço e de forma a conseguir servir outro tipo de clientes, que procuram mais este tipo de trabalhos. É o caso deste meu último trabalho, para o novo álbum dos Revolution Within, que me dá muito orgulho e serve de muito boa montra para esta nova vertente que quero explorar. Existem também mais trabalhos em que envolvi a fotografia como elemento principal como, por exemplo, o ultimo álbum de For The Glory («Lisbon Blues») ou o «Tougher Than Leather», de Sam Alone. A que técnicas recorres nos teus desenhos? Não tenho qualquer técnica de base para os meus desenhos. Geralmente, começo a fazer esboços, tanto no papel como na mesa gráfica, depois digitalizo-os e passo a limpo os desenhos para começar a fazer os traços finais no computa-

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dor. É só dar asas à imaginação. Noto nos teus trabalhos algumas afinidades com o mundo da banda desenhada. Estou a pensar, por exemplo, nos cartazes para festivais de Metal em que aparecem dois dinossauros ou figuras semelhantes às que vemos nas igrejas medievais ou ainda na capa para «Anihilation», dos Revolution Within. Reconheces esta influência? Sim, eu gosto de desenhar de tudo um pouco e não quero ficar apenas cingido a um certo estilo ou tipo de desenho. Cresci a ver e a ler muita banda desenhada, então é normal que procure ter algum traço semelhante ao mesmo. Mas, essencialmente, eu gosto de desenhar tudo: algo mais aproximado

a banda desenhada, algo mais real ou algo mais abstrato ou com mais pormenores. Os meus desenhos têm muita fantasia pelo meio, também devido às cores que procuro usar nos trabalhos. A capa de «Anihilation» foi feita somente com recurso a edição e manipulação de imagens: tudo foi feito e pensado ao pormenor para que a capa ficasse o mais real possível. Noto também o recurso a temas que fazem pensar na ficção científica (por exemplo, o continente perdido da Atlântida) ou no esoterismo (por exemplo, o ouroboros, símbolo que podemos encontrar num dos teus desenhos). Podes falar-nos um pouco sobre onde vais buscar as ideias para os teus trabalhos e como os adaptas ao


Fazes logos também? Que princípios adotas, para nortear a sua criação?

que cada banda pretende? Existe muita simbologia antiga em que gosto de pegar e experimentar nos meus trabalhos. O outoboros é algo que tem sido bastante utilizado por muitos artistas e que funciona muito bem. Por vezes, quando penso nas ideias ou me inspiro em temas, procuro encontrar um elo de ligação com o significado de várias peças antigas. Gosto de pegar em coisas que têm uma presença forte graficamente. Este tipo de bandas para quem desenvolvo os meus trabalhos têm que ter uma imagem forte e que crie impacto. Então, tento criar e pegar em coisas que vão de encontro a esse estilo. Mas, principalmente, tenho como inspirações muitos artistas de variados estilos. Inspiram-me o mar, a vida ao ar livre, a vida selvagem, o imaginário e a sociedade e temáticas do nosso quotidiano.

Quando fazes merchandising (caso das t-shirts e hoodies que aparecem no teu portefólio), produzes desenhos específicos para essas peças, ou preferes adaptar um desenho já existente (por exemplo, a ilustração que fizeste para a capa do álbum da banda que se pretende promover)? Tudo depende daquilo que cada cliente quer. Normalmente, quando um álbum é feito, existe um tema e conceito que é explorado. Para manter esse conceito, algumas peças de merchandising são adaptadas com base no design que foi feito para o álbum. O mesmo acontece se for feito um desenho para uma t-shirt, que depois, caso se justifique, pode ser aplicado em outras peças. Mas sim, existe um misto entre trabalhos que são feitos especificamente para esta ou aquela peça e outros que são feitos com o objetivo de terem várias aplicações. Por exemplo, para o novo álbum dos MataRatos, foram feitas duas versões diferentes do artwork (para o CD e para o vinil) e o design de cada uma dessas versões deu vida a todo o merchandising, comunicação e cartazes dos concertos.

Sim também faço logotipos. Criar a imagem de uma banda, de uma editora ou de uma marca é sempre uma tarefa que exige alguma preparação, já que o logotipo é a cara dessa marca ou banda e, portanto, nada pode ser feito ao acaso. Normalmente, tenho que fazer uma pesquisa acerca do nome do cliente ou da sua história, valores, ideias e do seu target. Isto acontece sobretudo quando o cliente não tem qualquer ideia do que quer. Depois disso, é começar a criar. Por vezes, recorro a fontes, para elaborar o lettering, mas muitas outras vezes gosto de desenhar também o lettering, quando o conceito ou ideia assim o permite. Se te dessem a oportunidade de formular três desejos, o que pedirias? Gostava que valorizassem mais o Punk, Hardcore e Metal que se faz em Portugal. Gostava que valorizassem mais artistas das mais variadas áreas no nosso país e gostava de poder acabar com a guerra e com a pobreza no mundo!!! Obrigado.

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NEGÓCIOS Para Alex Martinez, o criador desta

palavras-chave que definem a sua a

Entrevis

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S E PRAZER jovem editora, estas são as duas

acção.

sta: CSA

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Olá, Alex! Por favor, fala-nos um pouco da tua editora. Alex Martinez – Olá, Cristina. Obrigado pela oportunidade de divulgação que esta entrevista representa. Deadlight nasceu no início de 2008, depois de eu ter tido uma ligeira e curta experiência numa editora. Quis criar uma editora que refletisse os meus gostos e a minha visão. Não foi certamente a melhor ideia do mundo, tendo em conta o estado lamentável em que se encontra o mercado do disco. Quais são os principais objetivos dessa empresa? A primeira coisa que fiz foi lançar o álbum dos South Impact, com quem tinha mais ou menos assinado um contrato, antes de sair da minha antiga editora. Ao mesmo tempo, estabeleci linhas de trabalho bem simples: lançar artistas que eu aprecie.

Que critérios tens em conta para escolher as bandas que vão fazer parte do catálogo da tua editora? É “amor à primeira vista”. É preciso que tudo na banda me agrade e que esta pareça motivada e íntegra. O que faz a tua editora (além de lançar os álbuns das bandas que assinam contrato contigo)? Faço distribuição para outras editoras, mas numa escala muito pequena. O staff da editora resume-se a ti? Assim é. E está muito bem assim. Arranjo quem me ajude, quando participo em festivais com o meu stand. Aproveito para agradecer ao Cam e ao Olivier pela sua ajuda. Qual foi para ti o melhor momento do teu percurso com a Deadlight Entertainment até agora? O início e ter conseguido um contrato com uma das minhas

influências musicais Peter Dolving, vocalista dos The Haunted, cujo álbum a solo foi lançado por mim. Também és músico? Se é esse o caso, conta-nos o que houver de importante a dizer sobre essa parte da tua vida professional/ artística? Toquei guitarra durante alguns anos numa banda de Black Metal chamada Fornication. Comecei, quando tinha 18 anos. Fizemos várias demos e um álbum. Aliás, foi nessa banda que conheci o Fred, o frontman de Witchthroat Serpent, que era o nosso baixista. Antes e depois disso não aconteceu nada de interessante. Ah! Quando tinha 16 anos, toquei com um futuro campeão de pesca, que praticava a autofelação. O que gostas de ouvir/ler/ver? O que fazes nos teus tempos livres? E que importância têm esses passatempos para a tua editora?

“[…] Quis criar uma editora que refletisse […] a minha visão. […] estabeleci linhas de trabalho bem simples: lançar artistas que eu aprecie.”

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Brinco com o meu filho, ouço muita música (porque estou sempre a comprar discos), vejo filmes e leio muito. Sou muito eclético, no que toca à música: sou mais fã dos artistas do que dos estilos. E passo a vida a ouvir os clássicos. Neste momento, ando a ler a obra «Le coffre», de François Picca, um jovem autor francês muito talentoso, que recebeu o Prémio Sigrid. É preciso saber respirar, dar-se algum tempo para pensar. Atualmente, estou a fazer uma pausa na atividade de conseguir novos contratos e lançar nova música. Na verdade, já há muito tempo que não recebo nada que me pareça verdadeiramente interessante. A última banda que me agradou foi Nuisible, que já faz parte do catálogo da minha editora. Segui com atenção, no Facebook, a reportagem sobre a tua viagem à Noruega. Foi uma viagem de negócios? Turística? As duas

coisas? Apenas turística. Tinha necessidade de ver outro país, de ouvir uma nova língua. Além disso, como vivo numa zona de montanha, perto da Natureza, nunca me senti muito fora de contexto, no que diz respeito à paisagem! Quais foram os momentos mais importantes dessa “peregrinação” a um dos lugares mais grandiosos do universo do Black Metal europeu? Como ouço Black Metal há 20 anos, achei que já tinha direito ao gosto de visitar a Noruega. Nessa altura, esse género musical infundia terror, logo não víamos aparecer cruzes invertidas por todo o lado, como aconteceu com as fotos de Che Guevara e o logo CBGB noutras épocas. Passei anos a adiar esse projeto (houve uma altura em que ia aos EUA de 3 em 3 meses) e, finalmente, tive a oportunidade de o concretizar no

passado mês de abril. Limitei-me a satisfazer um desejo meu. A estadia foi curta, mas cheia de bons momentos. Mas, se me pedes para selecionar um só momento, escolho o encontro (fortuito) com Fenriz, dos Darkthone, a oprtunidade de conversar um pouco com ele e de tirar uma foto com essa personagem. O momento tornou-se ainda mais importante para mim, porque me fez reencontrar o amor da minha vida. Mas isso é outra história. O que aprendeste de importante nessa viagem? Que toda essa história [associada ao Black Metal] era verdadeira. Qual é a tua maior ambição neste momento? NEVER STOP THE CATNESS! https://www.facebook.com/Deadlight.fr/

“[Para fazer parte do meu catálogo] É preciso que tudo na banda me agrade e que esta pareça motivada e íntegra.”

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INSOMNIUM «Winter’s Gate» (Century Media) Os países nórdicos estarão, porventura, ligados à proliferação de alguns estilos muito particulares da música mais extrema. Por exemplo, se deambularmos pela Noruega temos a negritude do Black Metal mas se seguirmos um pouco mais para Este, deparamo-nos com a Suécia e Finlândia, países de uma génese mais melódica. Os Death Metal melódico é muito associado aos Suecos e a bandas como Dark Tranquility ou In Flames – só para citar dois exemplos. Este género está já um pouco estagnado, havendo cada vez mais bandas a fazer “mais do mesmo”. «Winter’s Gate» e os Insomnium não encaixam nesta categoria. Por detrás deste conto está um génio criativo de seu nome Niilo Sevänen e após «Shadows of the Dying Sun» a banda queria um desafio à altura. Desta ambição nasce a música que ilustra o conto (ou será ao contrário?!) guardado na gaveta de Sevänen há dez anos. «Winter’s Gate» torna-se assim, um álbum e um livro e ao mesmo tempo o trabalho mais ambicioso até à data dos Insomnium. Musicalmente, vai muito para além do que é o típico Death Metal Melódico: está cheio de melancolia e emoções que povoam as diferentes, ricas e acolhedoras atmosferas. No meio destas desventuras líricas e musicais, somos por vezes “arrastados” para as profundezas negras mas progressivas do Doom ou do Black. Toda esta versatilidade musical segue o conceito lírico, resultando daqui uma excelente magistral obra musical. A cereja no topo do bolo é, como sempre, o excelente trabalho de masterização de Dan “The Man” Swanö. Nada foi deixado ao acaso, mesmo ao nível gráfico e artístico. Se procuram algo do género que vos deixe “colado” por muitas horas a ouvir (e a ler) não podem deixar escapar «Winter’s Gate» [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

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CRITICA VERSUS

A E T E R N ITAS «House of Usher» (Massacre records)

A LTER BR I D G E

BR U J ER I A

«The Last Hero» (Napalm Records)

«Pocho Aztlan» (Nuclear Blast)

Quem diria, que os alemães Aeternitas já vão no seu quarto álbum e uma existência de quase 18 anos. É claramente pouco, mas congratulo-me pela perseverança desta banda de metal sinfónico. Penso que estão a ir no bom caminho com «House Of Usher», sendo este uma excelente mostra de evolução da banda desde os dois primeiros álbuns do início do Millennium. Está longe de ser perfeito, havendo aqui algumas arestas para limar mas os Aeternitas estão longe do diamante em bruto que foi o seu primeiro álbum «Requie». «House of Usher» é totalmente distinto do seu antecessor, uma metal opera sinfónica «Rappacinis Tochter» (vejam o espetáculo no youtube Tag: Rappacinis), equilibrando as diferentes componentes musicais que definem o seu som, isto é, o gótico, o sinfónico sempre bem presente e a pitada de pop metal que acrescentam aqui e ali como na faixa «Buried Alive». As músicas são catchy, empolgantes, agradando de imediato à primeira audição. A maior parte das músicas têm na voz a Alma Mathar e em grande parte faz dueto com o Oliver Bandmann, numa espécie de beauty&beast mas sem o “beast”. O lado que sobressaiu ligeiramente pela negativa é a produção do álbum que podia ser bem melhor e dar aquele som maior consistência e trazer para a frente o lado bombástico das músicas (em especial nas partes orquestrais e guitarras). Os Aeternitas são uma daquelas banda que não acrescentam nada de novo e fresco ao género(s), podendo ser bastante penalizador na luta constante em evidenciar-se da multidão, mas que o que mostram aqui é interessante e agradável, merecendo bem o título de banda a ter debaixo de olho nos próximos trabalhos. [7/10] CARLOS FILIPE

Que jarda! Bem… nem sempre de metal mais pesado e mais extremo vive o Homem. Muitos dos leitores devem conhecer os Alter Bridge de temas mais comerciais como “Open Your Eyes” ou “Broken Wings” ou então, pelo facto de resultarem da desagregação de Scott Stapp dos Creed. De facto, após a separação de Scott os três restantes membros formaram os Alter Bridge. Desde a sua criação em 2005 que a banda tem vivido intermitente, no sentido de que, entre álbuns, o trio se voltou a juntar a Scott Stapp para algumas digressões. Em 2016 regressam com «The Last Hero», como sempre com o excelentíssimo Myles Kennedy aos comandos das palavras. No entanto, esta banda é tudo menos comercial e é garantido que, musicalmente falando, irão levar umas valentes bofetadas… bem, diria talvez uns valentes murros no estômago. Esqueçam a parte comercial ou lamechas, «My Champion» será o tal tema mais acessível aquele que é escolhido para a apresentação nas rádios, mas os Alter Bridge vão muito para além disto. Tremonti domina as guitarras como um mestre, com um som musculado, potente, solos bem a rasgar e muito técnicos, demonstrando que será um guitarrista muito sub-valorizado. Myles Kennedy é o vocalista perfeito para a sonoridade que os Alter Bridge incutiram neste álbum, a sua voz mais rockeira contrasta com o som muito pesado e energético do resto da banda, fornecendo um bom ponto de equilibrio. O único senão, será mesmo o facto de os temas me soarem demasiado altos, necessitando talvez de uma mistura diferente, mais dinâmica. Em jeito de resumo: têm o hit para as rádios, a pseudo-balada (mais pesada que o habitual... diga-se) e o resto são murros no estômago! BAM, BAM!!! [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

Quando uma banda atravessa um hiato tão prolongado entre discos como aconteceu com os Brujeria, o ouvinte não pode evitar pensar: “será que continuam em forma ou perderam o tino e o jeito?” Quem contacte com o recente “Pocho Aztlan” terá logo a resposta, que pode perfeitamente surgir depois de um suspiro de alívio: sim, sem dúvida que estão aí para as curvas. Se Hugo Chávez fosse vivo e escutasse heavy metal, de certeza que lançaria um “Vayanse al carajo, pendejos de mierda” aos Brujeria: é que não há direito de uma banda desta craveira ficar tanto tempo sem lançar álbuns de originais! Os Brujeria de 2016 continuam, pois, demolidores (“Pocho Aztlan”, “Plata o Plomo”, ou “Satongo”, por exemplo) e divertidos (“México Campeón”, onde se delira com uma hipotética conquista mexicana do Campeonato Mundial de Futebol...). As habituais vocalizações ríspidas de Juan Brujo e as guitarras de Shane Emb... aham, Hongo, dominam o cenário e constituem o postoavançado perfeito de resposta, em espanhol, às parolices debitadas pelo candidato republicano às presidenciais norte-americanas, senhor que de resto já foi visado pelos Brujeria no single de antecipação “Viva Presidente Trump!”. Para usar uma imagem futebolística tantas vezes glosada (e gozada) este ano, pode dizer-se que os Brujeria batem bem. De facto, “Pocho Aztlan” é um óptimo regresso e constitui a banda-sonora ideal para acompanhar, de preferência com uns shots de tequila, qualquer filme onde entre o Danny Trejo. [8/10] HELDER MENDES

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CRITICA VERSUS

D A R K T R A N QUILIT Y

DEBAU C H ERY VS BLO O D GO D

EA RTH SH I P

«Atoma» (Century Media)

«Thunder Beast» (Massacre Records)

«Hollowed» (Napalm Records)

São das bandas mais carismáticas e respeitadas no mundo do metal. É seguro dizer que é sempre com agrado que se recebe a notícia de um novo álbum dos Dark Tranquility. Tal como escrito na review dos Insomnium este é um género que tende a estagnar. Mas tal como «Winter’s Gate», «Atoma» segue a direcção oposta. Por mais paradoxal que possa parecer, «Atoma» é diferente e é muito mais do que aquilo que aparenta. As diferenças não são logo percetíveis, o que nos obriga a uma aprendizagem e a um constante descobrir de novas sonoridades, pormenores e emoções. No fundo há quem lhe chame evolução, bem visível em temas como “Forward Momentum”, “Force of Hand” ou “Our Proof of Life. Musicalmente será quase como um best of, mas em forma de novos temas, do melhor que os Dark Tranquility nos deram ao longo da sua carreira. (Sendo que a sonoridade do baixo está de morte, cortesia de Anders Iwers). A versão que recebemos inclui dois temas que fogem um pouco à ideia pré-concebida do Death Melódico. Um desvio curto a um introspectivo (quase) épico Post Rock, fazendo sobressair ainda mais o lado melancólico de Mikael Stanne - Pela conversa que tivemos com Mikael, não é algo que se possa vir a transformar num álbum e os Dark Tranquility continuarão a manter-se fiel à sua personalidade musical. Tal como os Insomnium, os Dark Tranquility souberam mudar e evoluir, mantendo ao mesmo tempo a sua personalidade musical. «Atoma» é um grande álbum e representa o virar de uma página. A aprendizagem, essa, será libertadora. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

A carreira destas duas bandas pode ser vista de várias formas, no entanto, ambas seguem um percurso paralelo, mesmo apesar de todas as diferenças que, ao fim ao cabo, não são assim tantas como isso. Para além de partilharem, praticamente, os mesmos músicos, estas duas bandas tem partilhado palcos, não só entre eles mas com bandas como Six Feet Under ou Destruction. Para este «The Thunder God» as bandas optaram por fazer o mesmo disco, sendo um tocado pelos Debauchery e outro pelos Blood God sendo que, na edição em digipack, encontramos uma terceira rodela com um tributo a Motörhead, abrindo, ainda mais, o apetite para a escuta deste registo. No fundo, o que aqui temos é um disco épico, é uma batalha por terrenos tão distantes como próximos, se por um lado temos a furia do Death Metal através dos Debauchery, pelo lado dos Blood God temos uma visão mais tradicional, ou seja, Heavy Metal com pitadas de Hard Rock. Para além de se mostrarem bandas competentes no que fazem e como fazem, ambas as bandas tem o condão de nos oferecer uma viagem pelo tempo e espaço, regada com bons riffs e com melodias que não se esgotam na primeira (nem na segunda ou terceira) audição. No final, podemos dizer que os vencedores desta batalha são os ouvintes, pois é simplesmente delicioso ouvir e, acima de tudo, sentir a honestidade e a pureza do Metal que corre no sangue destes dois projectos. Um disco que, certamente, irá abrir mais umas portas quer aos Debauchery quer aos Blood God, sendo, igualmente, um disco que agradará a gregos e a troianos. Simplesmente delicioso. [7/10] NUNO LOPES

Hollowed marca o regresso dos germânicos Earth Ship aos discos, sendo este o quarto longa-duração da banda em apenas seia anos, o que diz muito sobre a forma como a banda encara o seu trabalho e a sua forma de estar no mercado. Com selo da Napalm Records este Hollowed é um disco poderoso de Sludge, sendo que o Stoner aqui não entra, ou vai entrando a espaços (ténues) , sendo, por isso, mais fácil encontrar influências de Kylesa ou Mastodon do que nomes do Stoner ou Doom. No entanto, os Earth Ship não vão em cantigas e usam essas influências a seu favor, com um equilibrio sonoro e com uma sonoridade, também ela, muito própria. Sem hipótese de tréguas os Earth Ship depressa nos encostam à parede, e logo na primeira malha (Reduced To Ashes), serviundo-nos um banquete do que melhor se vai fazendo no género, se dúvidas restem, continuem a escutar e sintam o poder da faixa-título ou Conjured. Sem nunca fugir às regras estabelecidas pelo género os Earth Ship fazem de Hollowed um disco poderoso e um disco que não se esgota nas primeiras audições. Numa altura em que o género começa a perder alguma visibilidade e onde começam a faltar ideias, os Earth Ship podem ser a resposta a podem, muito bem, ser uma banda a ter em conta para o futuro. Se estão tristes com o período sabático dos Kylesa podem sempre prestar atenção a estes alemães, certamente não ficaram desagradados. [8/10] NUNO LOPES

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EPICA «The Holographic Principle» (Nuclear Blast)

GO D V LA D

I N THE W OO D S …

«Dark Streets of Heaven» EP (Firecum Records)

«Pure» (Debemur Morti)

Este é o sétimo álbum de estúdio dos Epica, guiados por um carismático mentor Mark Jensen e uma diva da música Simone Simmons. A carreira começou de forma acutilante, tendo nos álbuns seguintes conseguido manter o nível até ao «Requiem for the Indifferent», que para mim é o trabalho menos conseguido até hoje, apesar da potência das músicas, tendo vindo a recuperar desde então, chegando hoje a este «The Holographic Principle». O que os Epica nos têm mostrado é que os seus trabalhos ou funcionam ou não, não tendo nada a ver com a música que escreveram, até pode estar brutal, simplesmente não funciona como um todo. Mas, quando acertam na fórmula, há um passo de mágica e a sua música atinge a estratosfera. Felizmente para todos nós, é o caso de «The Holographic Principle», o melhor trabalho desde o fabuloso «Consign to Oblivion», para não falar do álbum de estreia! Este é o álbum que já esperava há anos, que tem tudo o que faz os Epica: grandes músicas e grandes momentos sinfónicos e guturais. Uma das melhores músicas é sem dúvida “Once upon a Nightmare”, o qual faz bem jus ao facto de começar por “Once Upon a...” o que para mim casa de imediato com “...in the West”, o grande western Sphagetti de Sergio Leone com a icónica banda sonora de Ennio Morricone, do qual a banda é fã. Esta música presta uma magnífica homenagem, constituindo no seu todo, um dos grandes momentos deste álbum, sendo uma das melhores que já escreveram. Este é o pico de um álbum que mantem sempre um alto nível. Outro dos pontos altos é a música final de título igual ao álbum. «The Holographic Principle» é um dos melhores trabalhos dos Epica até hoje, repleto de grandes momentos à Epica, que só eles sabem fazer. [9.5/10] CARLOS FILIPE

Os aveirenses Godvlad estão de regresso, quer dizer, mais ou menos. Dois anos após o Bipolar, a banda surge agora com este Dark Streets of Heaven e o resultado acaba por ser dúbio, isto dito no bom sentido. Durante este par de anos a banda tem acumulado experiência e tem deixado o seu som crescer e respirar, deixando assim, que a evolução da banda seja sentida a todos os niveis. A fórmula é a que já nos fomos habituando nos Godvlad, com Vanessa Cabral e Sérgio Carrinho em confronto constante, onde as vozes limpas de Vanessa se encontram com uma parede de betão. Algo que já existia mas que a banda insiste em estar cada vez melhor, tem a er som o uso de sintetizadores, aqui magistralmente tocados por Paulo Martins, levando a que, algumas vezes, o som Godvlad se aproxime de situações mais dançáveis. Dark Streets of Heaven não deve ser visto como algo para «encher», pois o que aqui temos é uma banda que sabe os terrenos que pisa, que sabe onde quer ir e para onde vai. Este é apenas um apeadeiro para o disco que está prometido. Até lá, este é um registo fiel ao que a banda nos habituou e que marca os passos para o que será o futuro. O grande problema deste disco é que sabe tão a pouco... [7/10] NUNO LOPES

In The Woods... O simples pronunciar deste nome basta para abrir um sorriso a quem acompanhou o desenvolvimento do metal durante os anos 90. Um dos mais originais e refrescantes projectos surgidos da vaga do black metal norueguês, os In The Woods... notabilizaram-se pela inserção de elementos avantgarde e “Omnio” é sem sombra de dúvida um dos marcos do género. Regressados em 2016, quase duas décadas depois do último álbum de originais (“Strange In Stereo”), os In The Woods... já não são mais aquela pepita de ouro que se poderia encontrar no rio, fascinante tanto pela raridade quanto pela beleza. Para começar, “Pure” é um disco mais acessível comparado com os anteriores (uma ou outra linha de guitarra poderia ter sido composta pelos Sentenced e o jogo guitarra/teclados em “Cult Of Shining Stars” quase remete para os The Gathering da era “Mandylion”); depois, a mistura de ingredientes progressivos e vanguardistas num cozinhado metal já não constitui propriamente uma novidade, havendo hoje em dia bastantes grupos a fazê-lo, e com qualidade. Dito isto, pode parecer que “Pure” é um trabalho menor. Sê-lo-ia, se os intérpretes não se chamassem In The Woods... “Pure”, não sendo – nunca poderia ser! – um novo “Omnio”, é uma lufada de ar puro e um disco que esbanja talento musical e lírico (mesmo que uma das melhores faixas seja a instrumental e transcendente “Transmission KRS”), embora provavelmente venha defraudar os fãs que ainda sintam falta dos elementos black metal. Um disco muito consistente, a ouvir (e redescobrir) vezes sem conta do princípio ao fim. “There was a black hole in my life”, canta-

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se em “Blue Oceans Rise (Like A War)”... “not anymore”! [9/10] HELDER MENDES


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MATA R AT OS

O P ETH

«Banda Sonora do Apocalipse Anunciado»

«Sorceress»

(Rastilho Records)

(Nuclear Blast)

A infâmia está de regresso. Nove anos após o último registo, os Mata-Ratos anunciam agora a banda sonora para o que aí vem e, o que se pode retirar deste disco é que há coisas que não mudam (ainda bem!), e os Mata-Ratos são um desses exemplos. Se olharmos para a história do Punk nacional iremos encontrar a banda como uma das mais influentes do género. Após trinta anos a química da banda está lá e Miguel Newton parece ter sempre algo a dizer. Com uma escrita, quase sempre, coesa e corrosiva, são vários os temas do apocalipse, Nação Ficção, Os Bois Pelos Nomes e Donos Disto Tudo são temas, demasiado óbvios e são, também alguns dos bons momentos do disco, de onde sai, também, a homenagem a António Sérgio, através de Som da Frente, um dos temas mais rápidos do disco. Com a consciência de que somos um povo e, já se sabe, o Punk é união, e o auto-retrato Jihad Islâmica é uma definição do que é o português. Já sabemos que a diversão faz parte do carisma da banda, e é isso que a banda faz, de forma exímia. O Punk pode estar diferente, mas os Mata-Ratos serão sempre os Mata-Ratos, e isso por si já vale muito. [7/10] NUNO LOPES

Criticar um lançamento de Opeth começa a tornar-se uma tarefa cada vez mais ingrata. Ninguém duvida da qualidade dos músicos, em especial de Mikael Akerfeldt, mas será que hoje a banda mantém a relevância que detinha por alturas de “Blackwater Park”, “Deliverance” ou “Damnation”? Os últimos anos, se alguma coisa fizeram, foi estilhaçar o quase consenso que rodeava os suecos, e escrevemos “quase” porque não há nenhum colectivo, por mais respeitado e adorado que seja, capaz de agradar a gregos e troianos. Foi com “Heritage” que se sentiu essa clivagem, pois muitos torceram o nariz à abordagem mais setentista, em detrimento do peso que ainda se fazia sentir no trabalho dos Opeth. E mesmo que “Pale Communion” seja um excelente disco, o mal já está feito: dificilmente os Opeth voltarão a recuperar os ouvintes da ala death metal. De death os Opeth já não têm nada; de metal ainda vão tendo um pouco: na nova obra, faixas como “Sorceress” ou “Chrysalis” são capazes de puxar ao headbanging, mas muito do que aqui se escuta é prog, planante e exploratório (por exemplo, a belíssima “Strange Brew” e a “oriental” The Seventh Sojourn”). Os fãs mais puristas, mais die hard, aqueles que continuarão a seguir fielmente toda e qualquer criação de Akerfeldt vão pensar que esta crítica é injusta e a nota dada deveria ter sido mais alta. Já aqueles outros que abandonaram os Opeth a partir do “Heritage“ vão pensar que esta crítica é generosa e a nota dada deveria ter sido mais baixa. Mas quanto a nós nada há a fazer. “Sorceress” é um bom e variado disco, mas já (ou)vimos os Opeth fazer melhor. [8/10] HELDER MENDES

P ENI TENC E ONI RI Q U E «V.I.T.R.I.O.L» (LADLO Productions) Nunca um álbum de estreia me surpreendeu tanto como este «V.I.T.R.I.O.L» dos franceses Penitance Onirique, que traduzido significa penitência onírica. Esta banda e este seu álbum são uma lufada de ar fresco no marasmo de bandas que vão surgindo sem nada acrescentarem de verdadeiramente interessante – Qualquer que seja o género. Nunca um nome de uma banda colou tanto à sua música, dado que somos “embalados” e levados espiritualmente neste som esotérico, onírico, numa estrada pavimentada de um excelente black metal. Daí, os Penitance Onirique se descreverem como uma banda de Black Metal Esotérico. Esta é obra de dois únicos músicos, Bellovesos, que assina todos os instrumentos e Diviciacos na voz e escrita das letras, letras estas que abraçam de corpo e alma a morte, questionando-a, numa viagem inaugural e multidimensional. A música é sombria e intensa, num black metal que equilibra perfeitamente o lado mais cru que pode caracterizar o black metal mais tradicional e o black metal mais moderno, mais melódico, criando assim uma atmosfera única e exemplar. A faixa “le sel” é um excelente exemplo disto. Este é um black metal deveras original. «V.I.T.R.I.O.L» são 5 faixas de pura e intensa música, que perfazem 40 minutos, levado a um extremo de savoir faire e mestria. Até na produção estes franceses marcam pontos, com um som cuidado e profissional, sem aquele característico senso de amadorismo, por vezes bem presente nos primeiros álbuns. Super! [9.5/10] CARLOS FILIPE

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CRITICA VERSUS

R IV E R S I DE «Eye of the Soundscape» (InsideOut Music) Este não é aquele típico álbum que esperaríamos de uma banda que rapidamente se transformou numa das maiores referências do género progressivo. No dia vinte e um de Fevereiro a tragédia bateu à porta com a morte de Piotr Grudzinski. A banda tremeu mas não caiu e terminado o período de Nojo, a banda lançou a magnífica edição de «Love, Fear and the Time Machine». Esta edição é uma versão 5.1 misturada pelo grande mestre Bruce Soord e com mais alguns bónus à mistura. No dia vinte e um de Outubro foi o término de uma Era com a chegada de «Eye of the Soundscape», precisamente oito meses após o desaparecimento de Piotr. São treze temas altamente experimentais e atmosféricos de material extra, lançado pelas alturas de «Shrine Of New Generation Slaves» e «Love, Fear and the Time Machine», assim como algumas raridades e quatro novos temas. Não há espaço para guitarras distorcidas ou a voz amargurada e melancólica de Duda. Em vez disso temos, por exemplo, o saxofone em “Night Session – Part Two”, os efeitos criados e os excertos quase electrónicos são uma forma de nos transportar para uma outra dimensão musical… Quase parecendo um universo paralelo onde Pink Floyd e Steven Wilson se encontram numa simbiose quase perfeita. Isto vai parecer estranho para alguns fãs mas os mais atentos percebem que os Riverside sempre experimentaram este tipo de música ambiental, electrónica e progressiva. Isto é diferente… maravilhosamente diferente, talvez único… por aquilo que foram, pelo que são e o que serão! (Vou quebrar a convenção que utilizamos para, de alguma forma, classificarmos os álbuns – se é que alguma vez estes números possam ser dissociados das palavras…) Esta edição vem com um duplo CD e 3 LP’s mas seria tão maravilhoso termos uma edição em 5.1 o qual estenderia, ainda mais, a grandiosidade sonora de «Eye of the Soundscape». [9.9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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STEV E’ N’ SEA G U LLS

TH E LEGI O N: GH O S T

«Brothers in Farms» (Spinefarm Records)

«...Two for Eternity» (Noizgate Records)

Depois do sucesso (inesperado?!) em 2014, o colectivo sueco regressa agora com mais um conjunto de versões que, de uma forma ou de outra, irão apanhar os ouvintes de surpresa. Com escolhas, mais ou menos, óbvias, os Steve’n’Seagulls trazem consigo a boa disposição e, acima de tudo, trazem uma nova perspectiva de clássicos como «Aces High», «Sad But True» ou «You Could be Mine», mas também nos refrescam a memória com faixas como «Self Esteem» ou «In Bloom», mostrando a versatilidade e o bom gosto deste grupo. «Brothers in Farms» é, por isso mesmo, um disco cheio de alegria e que vem provar aos mais cépticos que o grupo é algo mais que um acaso, fazendo com que os temas clássicos assumam uma nova dinâmica e um novo rumo, ouça-se, por exemplo, a deliciosa «November Rain» ou a mais «recente» The Pretender e retiremos as nossas próprias conclusões. Apesar de serem uma banda que não pretende ser mais do que é, os Steve’n’Seagulls são um grupo capaz de satisfazer os desejos de requinte do mais metálico dos metálicos. Eles dizem que são irmãos nas quintas, e nós dizemos que os Steve’n’Seagulls são a companhia perfeita para uma tarde no campo. [8/10] NUNO LOPES

Os The Legion: Ghost acabaram de nascer para a música. De facto, este quinteto alemão liderado por Kevin Kearns formou-se em dois mil e quinze e já este ano assinaram pela Noizgate. Portanto, «… Two for Eternity» é o álbum de estreia destes alemães que se propõem a apresentar algo dentro do metal moderno. Musicalmente falando, os The Legion: Ghost suportam a música em rendilhados melódicos de guitarra e contornos composicionais facilmente identificáveis, que no entanto se perdem na indefinição do “metal contemporâneo”. A natureza “naif” das letras revela um forte contraste com a sonoridade “brutal” que procuram atingir. A alusão ao ciclo da água espelha-se de forma confluente na imagética do álbum, bem como no conteúdo metafórico das letras, sonoridade ondulante das guitarras e timbre choroso das vozes limpas. O efeito de síntese de tendências acaba, paradoxalmente, por tornar o som redundante, ao contrário do que seria expectável de uma banda que se define como “contemporânea”. Ainda têm muito a aprender, portanto. [4/10] FREDERICO FIGUEIREDO


CRITICA VERSUS

T H E W O U N D ED KINGS

UR FAU S T

ZO D I A C

«Visions in Bone» (Candlelight Records)

«Empty Space Meditation» (Ván Records)

«Grain of Soul» (Napalm Records)

Falar dos The Wounded Kings é um exercício de dificuldade extrema. Sendo catalogados como sendo uma banda Doom, os britânicos tem vindo a singrar numa vertente mais experimental e, porque não dizê-lo, psicadélica. No entanto, Visions in Bone deixa um sabor agridoce, pois a banda anunciou, recentemente, a sua separação. Porém, ao contrário de outros registos, os The Wounded Kings não se mostram, em todo o disco, como uma banda desmotivada ou uma banda sem rumo, isto apesar de todas as diferenças perante os discos anteriores. Feito de camadas e como uma sensibilidade a que os britânicos já nos habituaram, este é um registo que os afasta, de certa forma, do Doom normal e entrega a banda a uma estrutura mais Stoner, em alguns casos, Sludge. O que podemos dizer é que Visions in Bone é um disco que resume uma carreira que sempre manteve o seu crescimento. Tecnicamente irrepreensível. Criativamente belo. [7.5/10] NUNO LOPES

Uma cavernosa encantação tibetana ascende pelos chakras, devorando-os, como uma sulfúrica kundalini. Esta prece de desintegração cedo nos liberta numa orquestral magnitude de teclados com a contraposição de agonizantes brados. “Meditatum II” revela-se uma soberba composição, elevando o patamar de excelência da banda. O território trilhado denuncia a clara influência de Varg Vikernes na capacidade hipnótica com que somos conduzidos ao vórtice interno. “Meditatum III” abranda a cadência com o característico som da bateria de VRDRBR a assumir o protagonismo. A reverberação asfixiante produzida num bunker é particularmente eficaz na criação de texturas de ansiedade. As deambulações lunáticas de IX incrementam este efeito, como uma sinistra corrente energética a percorrer as recônditas alas de um manicómio. A predominância do elemento atmosférico caracteriza o presente trabalho, justificando com precisão o seu título. Ainda subsiste, contudo, ritmo suficiente para aliviar a carga de torpor emocional nas batidas de “Meditatum V”. O álbum encerra com a estranheza de sons orientais, como alucinadas exalações de um antro de ópio. Urfaust, para além da tipificação do black metal ou da fácil etiquetagem de “occult rock”, criaram o seu nicho e a presente elaboração é uma épica e tortuosa viagem por seis estações de amargura. [9/10] FREDERICO FIGUEIREDO

O Rock não tem ciência, não existe nenhuma forma química para o Rock e para a forma como se sente e se ouve Rock, aliás, pergunte-mos a qualquer guru melómano e ele dirá que o Rock é feito de sentimento e de virtudes. Serve isto para dizer que os germânicos Zodiac são um desses casos, desde a sua fundação, em 2010, que a banda teima em seguir os mandamentos do Soul e do Rock mais puritano, que é como quem diz, o rock dos idos anos 70, que muitos afirmam ser a golden age do Rock. Grain of Soul, o quarto registo da banda, é isso mesmo, Rock, nada mais, nada menos. Para este disco a banda colocou de lado os elementos psicadélicos que se encontravam em Sonic Child, o disco de 2014, e fez um disco de Rock, na sua verdadeira ascensão da palavra. O que temos aqui é um disco de Rock puro, feito de vertigem, onde todos os instrumentos (voz incluida) confluem num único sentido, o da liberdade. Faixas como Rebirth by Fire, Animal ou Faithless são, apenas, exemplos daquilo que é um disco de Rock, um misto de virtuosismo que se confunde com vertigem, feito de pó e de cinzas que renasce como uma Fénix. Um disco recomendável, ainda mais agora que o saudosismo do verão começa a surgir. [8/10] NUNO LOPES

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Pénitence Onirique Uma jornada de autoconhecimento Entrevista: CSA

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Fiquei muito intrigada pelo nome que escolheram para o vosso projeto musical. Podes explicar-nos como aconteceu essa escolha? Diviciacos: Queríamos dar à nossa banda um nome muito significativo. A ideia de uma penitência, de uma via-sacra, que percorremos dentro de nós mesmos para nos conhecermos, para combatermos as nossas imperfeições, uma espécie de luta invisível e etérea, pareceu-nos adequada ao que queríamos exprimir não só na nossa música, como nas nossas letras. As duas palavras juntas soavam muito bem juntas. Além disso, queríamos ter um nome francês.

É assim que Diviciac bros desta dupla, defi da jovem banda franc

Sinto o mesmo em relação ao logo de Pénitence Onirique. Que significa a figura escolhida? Quem a criou? Diviciacos: No que diz respeito ao logo, queríamos algo de muito sóbrio e, simultaneamente, explícito, sem termos de escrever o nome todo. Fui eu que desenhei esse P.O. como uma espécie de brasão, que me parece bastante elegante e sóbrio, longe do estilo habitual do Black Metal (de que gostamos muito, note-se). Adoro o vosso Black Metal denso, sinistro, verdadeiramente onírico. O que dá esse tom à vossa música? De que forma esse género musical de adapta melhor à mensagem do que outras possíveis escolhas? Diviciacos: Antes de mais, obrigada pelo cumprimento. São as nossas vidas e os nossos percursos que dão esse tom à vossa música. Ela adapta-se perfeitamente às nossas intenções, porque tanto o Bellovesos como eu usamos o género musical que dominámos melhor para nos exprimirmos. A música de P. O. é forjada por nós, depende dos nossos sentimentos e dos nossos temperamentos. É a vantagem de sermos só dois, principalmente porque cada um de nós pode exprimir-se como lhe parece melhor. A quem querem lançar vitríolo (ácido sulfúrico)? Por que deram um nome tão ácido ao vosso primeiro lançamento? Diviciacos: A muita gente, hehe. Mas não é a isso que se refere a mensagem do álbum. Esse título deve ser interpretado de uma perspetiva de alquimia. De acordo com as fontes, “Visita Interiora Terrae Rectificando Occultum Lapidem” pode-se traduzir por “Visita ao interior da Terra em que encontrarás a pedra sagrada se te purificares”. De acordo com a nossa interpretação, a pedra oculta é a paz interior. Se eu percebi bem, o Bellovesos ocupa-se da música e tu das letras. Que critérios vos levaram a fazer esta partilha? Não são tentados, de vez em quando, a “meter o nariz” nos assuntos do outro ? Diviciacos: É isso mesmo. No início, P. O. era um projeto a solo do Bellovesos, em que não haveria

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“[…] A ideia de uma p via-sacra, que percorre mesmos […] pareceuqueríamos exprimir nã como nas nossas letras


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penitência, de uma emos dentro de nós -nos adequada ao que ão só na nossa música, s. […]”

vocais. Quando ele me deu a conhecer o seu trabalho, propus-lhe associar a minha voz ao seu projeto musical. Como já referi, cada um de nós faz o que lhe apraz, mas tem o direito de dar opinião. Isso faz com que sejamos uma banda, apesar de cada um ser senhor no seu domínio. Como fazem nos concertos ? Tu podes cantar, mas duvido que o Bellovesos possa tocar todos os instrumentos. Diviciacos: Não fazemos concertos de momento. É impossível, uma vez que somos só dois. Mas ainda não desistimos da ideia de subir ao palco. Estamos a organizar-nos nesse sentido, tentando criar uma formação especial para os futuros concertos. E de onde vêm os vossos pseudónimos ? Que relação existe entre eles e o universo Black Metal ? Diviciacos: Somos de Chartres, uma cidade francesa em que se encontram vestígios romanos, uma catedral gótica mística e ligada à alquimia. Bellovesos e Diviciacos são personagens históricas, mais ou menos ligadas a essas culturas, que nos passam ao lado todos os dias. Na minha opinião, têm muito mais a ver com o universo Black Metal que nomes de demónios obscuros e aleatórios, saídos de uma miscelânea de clichês religiosos sem pés nem cabeça. Com que bandas (francesas ou estrangeiras) gostariam a partilhar o palco? Ou, por outras palavras, quem admiram na cena atual? Diviciacos: Há muitas bandas que respeitámos, novas e antigas. Na cena atual, destaco Blut Aus Nord, The Ruins of Beverast, The Great Old Ones, Urfaust, Darkenhöld, Der Weg Einer Freheit, Hyperion, Wolf In The Throne Room, entre muitas outras. Como encontraram a LADLO ? O que esperam da vossa editora ? Diviciacos: Digamos que esse encontro resultou muito simplesmente de conversações entre nós e pessoal da LADLO. Esse diálogo não tinha propriamente como objetivo assinar contrato com a editora, mas acabou por acontecer e está muito bem. Não precisamos que façam por nós mais do que já fazem agora. Têm-nos acompanhado e promovido e fizeram imenso trabalho que nós nunca poderíamos ter feito. Estamos muito gratos pelo seu apoio. Querem deixar uma mensagem especial aos vossos fãs portugueses (presentes e futuros)? Diviciacos: Antes de mais, agradeço a ti e a todos os que nos apoiam. Se gostam da nossa música, por favor divulguem-na. Espero que tenhamos um dia a oportunidade de nos encontrarmos com os nossos fãs, em Portugal e noutros países. Sejam retos, cultivem-se o mais que puderem e continuem a apoiar as bandas de que gostam.

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OCULTISMO EXTREMO No seu último álbum, os portugueses Heavenwood demandam as praias do ocultismo. Aguarda-se com imensa curiosidade o segundo volume desta aventura musical. Entrevista: Adriano Godinho, CSA e Frederico Figueiredo

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Adriano: O nome Heavenwood é mítico para muitos, principalmente em Portugal. É um enorme prazer ver que continuam com muita força e lançaram este ano um novo trabalho. Foi algo fácil de conseguir? Como foi compor, gravar e realizar todo o trabalho envolvido no lançamento deste álbum? Ernesto Guerra: Algo que aprendemos durantes todos estes anos, é que não há nada que se consiga, se não existir trabalho árduo e, acima de tudo, persistência. Aliás, foi a perseverança que nos fez chegar a 2016 com um novo trabalho. Não somos uma banda que faça lançamentos discográficos com regularidade, mas isto não significa que estejamos a hibernar. Dada as circunstâncias profissionais dos elementos da banda, o processo de criação de álbuns, tais como «Redemption», «Abyss Masterpiece» e agora «Tarot of the Bohemians?, foge ao paradigma de composição da grande maioria das bandas. Penso que os Heavenwood descobriram e desenvolveram a sua própria metodologia de trabalho, que passa por fases “complicadas” e mesmo “estranhas”, mas cujo

resultado final deixa uma sensação de objetivo alcançado. O Ricardo Dias, o grande timoneiro dos Heavenwood, leva sempre o nosso barco a bom porto, atravessando as imensas tempestades que vão surgindo. É este o nosso método e penso que resulta em pleno. Adriano: O que significa este «The Tarot of the Bohemians» para a banda? Já agora, qual é o significado do título? Ernesto Guerra: Acima de tudo, este último trabalho tem um significado especial. Apesar de todas as adversidades com que nos deparámos, o resultado está espelhado neste novo registo. Pessoalmente, acho que é o registo mais arrojado desenvolvido até hoje pelos Heavenwood. Um álbum concetual é algo que exige sempre mais, visto que permite alargar as capacidades musicais da banda. A existência de um fio condutor desde o início até ao fim do álbum permite também ao ouvinte realizar uma viagem auditiva e experimentar um misto de emoções que estão, intrinsecamente, ligadas a cada tema. Relativamente ao significado, o título do nosso novo

álbum baseia-se na obra de Gérard Encausse aka Papus: “O Tarot dos Boémios”. O Ricardo Dias, sempre apaixonado pelos grandes mestres do oculto, decidiu abraçar o Tarot dos Boémios e prestar uma homenagem a Papus. Cada tema é uma interpretação das várias cartas que constituem o tarot. Este novo registo (Parte 1) implica que existirá uma Parte 2 para breve. Adriano: Todo o álbum tem tesouros aqui e ali. No tema "The Chariot", podemos ouvir um "prérefrão" bastante rítmico, que dá uma cadência muito engraçada à música. Como surgiu essa ideia? (É a "malha" de que me lembro logo, quando penso neste álbum.) Ernesto Guerra: Ao longo de todos os registos já lançados pelos Heavenwood, conseguimos criar uma marca sonora nos nossos temas. Juntámos agressividade e melodia, graças às misturas vocais (eu/Ricardo Dias), bem como aos refrões “catchy”. O “Chariot” é um tema que não foge a esse paradigma sonoro. Nos momentos de composição, nunca estabelecemos limites musicais. Para os Heavenwood, não existe o preconceito

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de música extrema ou música comercial. Olhamos para o tema final e temos de gostar. Algo que valorizamos na nossa sonoridade é o facto de tentarmos sempre criar algo dinâmico, mesmo que, por vezes, seja previsível, de forma a não tornar o tema monótono. O caso referido da ponte para o refrão no tema “The Chariot” é um, entre vários exemplos. A métrica é algo que os Heavenwood levam muito a sério, pois, grande parte das vezes, é o segredo para que um tema simples possa ter uma maior projeção. Adriano: A faixa "The Hermit" contém cânticos árabes ou os coros em "Frithiof's Saga". O que vos motiva para trazer diferentes

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elementos desta forma? Ernesto Guerra: Tal como referi anteriormente, não sofremos de qualquer tipo de preconceito nos momentos de composição. Achamos que o tema “The Hermit” ficaria melhor com um cântico árabe. A voz do Fadi Al Shami encaixou na perfeição. O resultado final enriqueceu bastante o tema. Falando no “The Hermit”, falo também no “The Hanged Man”, onde a voz da Sandra Oliveira veio dar o brilho que faltava ao tema. Sempre que possível, tentamos incluir em cada tema tudo aquilo que achamos que possa enriquecê-lo e que está ao nosso alcance. Adriano: Também na faixa "The Hanged Man", podemos ouvir uma

voz feminina muito melódica. Que músicos convidaram para este trabalho? Como nascem estas participações? São propostas durante a produção ou são decisão vossa através de amigos/conhecidos de concertos? Ernesto Guerra: Neste álbum, temos o Daniel “Brother in Arms” Cardoso (Anathema), o Franky Constanza (Dogba), a Sandra Oliveira (Blame Zeus) e o Fadi Al Shami (Aramaic). Aquando da composição, por vezes, comentamos que o músico A ou B ficaria bem em determinada parte. É a partir dessa mesma ideia que estabelecemos contacto. Poderemos levar um Não como resposta, mas essa é sempre certa se nunca tentarmos. Há quem diga que fazemos isso


“[...] Um álbum concetual é algo que exige sempre mais, visto que permite alargar as capacidades musicais da banda. [...]”

por uma questão de marketing... Talvez sim, talvez não, mas não são os convidados que fazem o álbum ter qualidade, pois são participações mínimas. Saber se o «Tarot of the Bohemians Parte 2» terá convidados? É uma hipótese sempre em aberto. Adriano: O vosso line up tem apenas três elementos e recorrem a músicos de estúdio para o baixo, bateria e outras vozes. Isso acontece por decisão vossa, porque não encontram membros que queiram/consigam manter-se no projeto ou por outras razões? Ricardo Dias: Os Heavenwood regressaram ao formato tradicional de banda com os devidos elementos/músicos. No passado,

não sentimos essa necessidade e, por essa razão, trabalhávamos com músicos de sessão. Em termos de line up, a banda encontrou no Eduardo Sinatra (bateria) e no André Matos (baixo) duas forças motoras, impulsionadoras e com as características e traços de personalidade necessários para fazerem parte desta Família! Adriano – Qual é o tema que te diz mais, pessoalmente e porquê? Ernesto Guerra – Pessoalmente, “The Lovers”. Musical e liricamente, está divinal. Demonstra sentimentos antagónicos, tudo aquilo que o amor é na sua verdadeira essência e tem um refrão muito “catchy”.

Frederico: As composições têm uma forte componente cinemática. Se tivesses a possibilidade de compor música para um realizador, qual seria escolhido? Ernesto Guerra: Sem qualquer margem para dúvidas, seria o Michael Hirst. CSA: «Abyss Masterpiece» girava em torno do universo poético e sociopolítico ligado à Marquesa de Alorna, uma figura da cultura portuguesa do séc. XVIII que muito admiro. Podemos encontrar uma “dedicatória” semelhante neste vosso quinto álbum? Ricardo Dias: Sim, este álbum é dedicado a e inspirado no ocultista francês Papus, que, além de se

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dedicar às ciências ocultas, foi um excelente médico e filantropo. O novo álbum dos Heavenwood é justamente inspirado na sua obra “ The Tarot of the Bohemians “. Trata-se de um ocultista provavelmente desconhecido para muita gente, mas que, no fundo e de facto, foi uma espécie de “pilar “ ou tema de estudo para muitos ocultistas modernos. CSA: Como sou responsável pela rubrica da Versus consagrada aos artistas gráficos que põem a sua arte ao serviço da música extrema, reparei logo na magnífica capa deste novo álbum de Heavenwood. Que relação estabeleceu Olivier Dzo entre o seu artwork e o conceito subjacente a este «The Tarot of the Bohemians»? Ricardo Dias: A edição exclusiva e limitada para Portugal do Digipack «The Tarot of the Bohemians – Part I», editada via Raising Legends Records, tem o grafismo do que considero ser um dos melhores ilustradores da atualidade, especializado e dedicado ao mesmo tema que os Heavenwood focaram neste novo álbum. Na edição internacional editada pela Massacre Records, a opção recaiu sobre a arte do bem conhecido Gustavo Sazes. Relativamente ao Olivier Dzo, foi-lhe feito um convite e, simultaneamente, proposto um desafio, tendo em conta as mais variadas paixões comuns dentro do universo da Arte e do Oculto. O resto fica no segredo dos Deuses (risos) CSA: Como participou a banda na criação desta imagem que irá representar o álbum? Ricardo Dias: Os Heavenwood concederam total liberdade artística ao Olivier Dzo, o contrário não faria sentido, não seria Arte na sua mais pura forma e expressão de o ser. CSA: Como encontraram este artista e há quanto tempo trabalham com ele? Ricardo Dias: Eu já acompanhava o trabalho do Olivier Dzo, que, para além de ilustrador, é um excelente

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profissional na área de Design de Produtos e colaborou inclusive numa edição do Hellfest. Francamente tive mais noção do impacto e importância da sua Arte numa das edições da COMIC COM PORTUGAL, quando tive oportunidade de conversar com alguns ilustradores Portugueses que estavam a expor as suas obras e que me confidenciaram que o Olivier Dzo é um ilustrador internacionalmente reconhecido e muito respeitado. De certa forma, até ficamos admirados com o facto de ele ter colaborado connosco. Adriano: O que vos preocupa mais quando compõem música nova? Tentam sempre chegar a um forte refrão, ou começar com um bom riff de guitarra ou outro elemento? Ernesto Guerra: O processo de composição, tal como já foi referido, foge aos paradigmas comuns de composição. Tudo surge através de uma “visão musical” do Ricardo Dias e, a partir daí, tudo é “composto mentalmente” até chegar à fase de fusão dos instrumentos. Tem sido assim desde 2008 e penso ser uma fórmula simpática que a banda encontrou para composição. Devo salientar que, embora seja pouco comum, devemos ter em conta o facto de a estrutura da banda ser diferente da grande maioria das bandas. Foi esta a fórmula encontrada para modelar todo o processo de composição dos temas dos Heavenwood. Adriano: Este «The Tarot of the Bohemians» vem 5 anos depois do anterior álbum. Os fãs estão habituados a esperar: 10 anos passaram entre o «Swallow» e o «Redemption». O que mudou nos Heavenwood desde o anterior «Abyss Masterpiece»? Ernesto Guerra: Dada a situação profissional dos elementos da banda, não sentimos a pressão ou mesmo a obrigação de edição regular de álbuns. A nossa paixão pela música e a nossa resiliência fazem com que a edição de álbuns seja sempre uma realidade. Podemos, desde já, prometer que

“[...] Um álbum é algo que ex mais, visto qu alargar as cap musicais da b


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não será necessário esperar 5 anos pelo «Tarot of the Bohemians Parte 2». O processo de composição já teve início e penso que os novos elementos (André e Eduardo) contribuirão, certamente, para uma maior rapidez em todo o processo. Adriano: O reconhecimento dos Heavenwood ocorreu bem cedo, pois assinaram com uma grande editora logo para o primeiro álbum. Como foi viver esse início e como vês com os olhos de hoje o que tem vindo a acontecer à banda desde então? Ernesto Guerra: Recordo-me perfeitamente desse momento. Em outubro de 1995, o Filipe Marta, nosso manager, pede reunião das “tropas” para falar sobre um fax recebido. A Massacre Records, que, naquela altura, estava muito bem cotada graças aos Crematory, tinha ouvido a demo «Emotional Wound» e queria assinar a banda. Os 18 anos de idade dos elementos rapidamente se transformaram em 5 anos de idade: uma alegria imensa e a sensação de objetivo alcançado. (Relativamente a isto, gostaria de referir um pequeno ponto. Para todos aqueles que acharam que foi apenas uma questão de sorte, o que consta na história é que poucas bandas nacionais, até aos dias de hoje, conseguiram algo parecido. Penso que retirar mérito às bandas que conseguem algo deste género apenas demonstra mesquinhez. Respeito as opiniões, mas não posso aceitar algo sem grande fundamento.) Atualmente, vejo que a banda amadureceu, os seus membros também cresceram e a idade permite ter uma visão mais objetiva sobre determinados temas que contribuem para que os Heavenwood possam estar no lugar onde, atualmente, se encontram.

música, certamente e falando pessoalmente sobre isso, ouvimos boa música, sem olhar a estilo ou género musical. Adriano: O que aconselham às bandas portuguesas que têm qualidade para serem destacadas internacionalmente mas que não conseguem sair da sombra? Ernesto Guerra: Desde sempre que Portugal mostrou que tem valor musical dentro deste género. É um facto que poucos conseguiram vingar internacionalmente. Também é verdade que toda a cena nacional, muitas vezes, vive do chamado “bluff”, pois fazem coisas para olho português ver que, no fundo, não passam de coisas banais e sem grande exposição. Cada banda é livre de ter a política que acha que é a melhor, mas não podem esquecer que, atualmente, a internet expõe tudo e, no final, o retrato fica manchado, sem necessidade. As bandas têm de manter o seu rumo, aceitar ou não ideias de outras bandas com mais maturidade, trabalhar com um objetivo traçado. Devem evitar inundar o mercado com tudo aquilo que realizam em estúdio, escolhendo apenas o que acham que tem mais potencial para exposição e, acima de tudo, serem humildes. Se alguém que já mostrou provas de qualidade tecer um comentário construtivo menos bom, por que razão irei ficar “amuado” e começar uma guerra? Penso que vivemos numa época onde todas as pessoas são omniscientes... Erro tremendo, já que todos estamos em constante aprendizagem. https://www.facebook.com/HeavenwoodOfficial/ https://youtu.be/DYtqOAD5_WA

Frederico: A nível da cena musical atual com que artistas/géneros se identificam? Ernesto Guerra: Relativamente a essa questão, todos os membros da banda têm gostos muito diversificados. Entre a má e a boa

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Uma das “joias da coroa” Para Dave Davidson, o Death e o Black Metal podem não ser os géneros extremos mais cultivados nos EUA, mas os seus adeptos não deixam os seus créditos por mãos alheias. Entrevista: CSA

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Olá, Dave! A vossa editora produziu um texto excelente para apresentar a banda e este álbum, onde encontrei muitos tópicos interessantes. Antes de mais, temos a citação de Charles Darwin que deu o nome ao álbum. Como a encontraste e de que modo a relacionas com a sociedade atual? Dave Davidson: Encontrei essa citação, quando andava a ler um livro de Tavis Smiley e Cornel West intitulado “The Rich And The Rest Of Us”. Impressionou-me bastante, tanto mais que, na minha opinião, tem muito a ver com a sociedade atual. Vivemos num mundo distópico, subjugado pela ganância e pela corrupção, que envenenaram a sociedade. O título do álbum também reflete essa ideia, bem como a loucura que tem afetado a Humanidade ao longo da História. Tu pareces ser o centro da banda e estar a fazer um bom trabalho no que toca a manter os outros membros concentrados no que realmente interessa, apesar da distância que vos separa. Como consegues fazê-lo? Realmente é preciso muito talento. Todos nos dedicamos muito à banda e ao nosso trabalho como músicos. Confio nos outros para fazerem a sua parte e ensaiar entre as digressões e nos tempos mortos. Por conseguinte estou sempre tranquilo e certo de que ninguém falhará. Parto do princípio de que és tu que escreves a maior parte da música e das letras. Como é que os outros membros da banda participam nesse esforço?

É verdade, eu componho a maior parte da música e escrevo todas as letras, mas o Dan [Gargiulo] faz sempre algumas canções para cada álbum. O seu processo de escrita é muito semelhante ao meu, portanto eu deixo-o trabalhar, mas, de vez em quando, dou-lhe sugestões para algumas partes das músicas que está a compor. Quando sou eu que componho os temas, idealizo as partes de todos os outros instrumentos, mas deixo sempre os outros exporem as suas ideias, para que o trabalho seja mais colaborativo. A capa do álbum é excelente: por um lado, inspira repulsa (por causa das bestas que estão a devorar uma carcaça e de todos os vermes que se veem nela), mas, por outro, é atraente (pelo facto de captar a atenção ao atrair o olhar). Quem teve a ideia e quem a concretizou? A capa foi criada por Tom Strom, um pintor incrivelmente talentoso e meu amigo há muitos anos. Usámos o skype para discutir as suas características. Eu enviei-lhe as letras e pedi-lhe para se inspirar nelas. Também falámos da arte de Hieronymus Bosch, que nos pareceu a ambos uma boa referência para este trabalho. Na minha opinião, as capas dos álbuns de Death Metal são quase irónicas, devido à sua intensa brutalidade. Concordas comigo? Eu penso que os membros das bandas de Death Metal no geral são gajos porreiros, logo é irónico que usem uma iconografia tão brutal no artwork e nos temas líricos que criam.

Crowbar e (sem dúvida) Cannibal Corpse são bandas sensacionais no mundo do Metal e, sobretudo, na cena Death Metal. Há outras bandas com as quais gostariam de tocar, agora que têm um álbum novo para promover? Sim! Adoraríamos tocar com Gorguts, Carcass, Meshuggah e King Diamond, nas digressões relacionadas com este álbum. Os meus estilos favoritos são Black e Death Metal. No entanto, já reparei que as versões norte americanas são bastante diferentes das europeias. Podes explicar por que razão isto acontece? Nos EUA, dominam o Metalcore e o Deathcore, provavelmente devido à enorme popularidade do Hardcore nessas paragens. Contudo, há muitas bandas underground de Death e Black Metal. Só tens de escavar um pouco para encontrar essas gemas. Queres deixar alguma mensagem às jovens bandas de Death Metal em Portugal e/ou aos fãs portugueses? Aconselho as bandas a que tentem ser únicas e encontrar a sua própria voz. Não procurem copiar outros, abram a vossa própria senda. Aos fãs, agradeço o apoio, esperando que possamos passar por Portugal numa das próximas digressões. https://www.facebook.com/Revocation/ https://www.youtube.com/watch?v=JioegV9YtY

“[...]Vivemos num mundo distópico, subjugado pela ganância e pela corrupção, que envenenaram a sociedade. O título do álbum [...] reflete essa ideia [...]” 5 1 / VERSUS MAGAZINE


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DORMIREI QUANDO MORRER! Loïc F., o “patrão” da Krucyator Productions, faz-nos lembrar o título de uma música dos Bon Jovi, ao resumir a forma como vive a sua vida. Entrevista: CSA

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É a quarta vez que « conversamos » nas páginas da Versus. De facto, já te entrevistei como frontman de N.K.V.D. e Autokrator e agora vamos falar da tua atividade na Krucyator Productions. Como te veio à mente a ideia de pôr de pé uma editora? Loïc F.: Era uma ideia em que eu andava a ruminar há muito tempo, desde que me estreei na música. Não é propriamente uma vocação, mas antes uma consequência da vontade de dominar algo que também faz parte da minha música. Atualmente, não preciso de ninguém, a não ser dos meus músicos, uma vez que sempre gravei, misturei e masterizei os meus lançamentos. Ao longo dos anos, acabei por me dedicar ao design e agora faço também o layout (caso do último álbum de Autokrator) e tenciono fazer igualmente as bolsas dos meus próximos trabalhos. A necessidade de criar uma editora resultou ainda de eu precisar de encontrar algo que me desse os proventos que me permitiriam custear os meus álbuns. Durante muito tempo, não dei a devida importância ao lado económico da minha música, pedia sempre muito poucas cópias, que distribuía a torto e a direito. Assim, cada vez que lançava algo, perdia dinheiro. Concordo que o ideal é ter um especialista que se encarregue de cada tarefa, mas, como o dinheiro está no centro da questão, não se pode adotar essa solução. Por outro lado, também me agrada muito assegurar a distribuição da música das bandas de que gosto…

te organizares, verás que é um trabalho que se faz bem, dado que se trata de uma microestrutura.

bandas para contratar, avaliarei a originalidade, a personalidade e o extremismo da sua música.

Sei que ainda não tiveste tempo de fazer muito na tua editora, mas mesmo assim gostava de saber o que já fizeste e quais são os teus projetos para o futuro. Loïc F.: Neste momento, já gravei as guitarras para o próximo álbum de Autokrator. Demorei seis meses a fazê-lo. Já comecei também a gravar a voz e a bateria estará pronta até ao fim do ano. Além disso, estou a fazer masterização para dois ou três projetos. Reeditei o último N.K.V.D. em cassete e também estou a ocupar-me de reedições em CD de trabalhos dessa minha banda.

Que artista(s)/banda(s) gostarias de ver assinar contratos com a tua editora ? Loïc F.: Ninguém, dado não ser esse o meu objetivo. Mas, se viesse a constituir um catálogo para a Krucyator, queria ¾ das bandas de Noevdia [Norma Evangelium Diaboli, a editora de bandas como Antaeus, Deathspell Omega e Funeral Mist]. Eles lançam poucos trabalhos, mas todos os seus produtos arrasam.

O que fazes na tua empresa ? Tens alguém a ajudar-te? Loïc F.: Faço tudo sem ajuda alguma. Está fora de questão ter alguém a trabalhar comigo em Krucyator. O trabalho consiste essencialmente em gerir o envio das encomendas, fazer a promoção, o design, tratar da contabilidade, importar discos/ CDs, distribuí-los, manter os sites. Nada de muito complicado. Se

O que deve uma banda mostrar para poder assinar um contrato com a Krucyator Productions? Loïc F.: Criei a editora apenas para lançar a minha música, logo não ando à procura de bandas para contratar. Apesar disso, acabo de fazer uma proposta a uma banda, porque me apercebi da qualidade na sua música, logo não podia ter outra atitude em relação a eles. Se alguma vez vier a procurar

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És capaz de nos dizer qual é a divisa da tua editora? Loïc F.: Não, de momento ainda não tenho nenhuma.

A tua editora está sediada na província. Esse facto constitui um trunfo ou é antes um inconveniente? Loïc F.: Passei dez anos em Paris e sinto-me muito melhor na província. Não faz diferença nenhuma. Aliás, as melhores editoras francesas estão todas na província: Osmose Productions, Season of Mist, Debemur Morti, Listenable, Noevdia... Tens um emprego a gerir ao mesmo tempo que a música e os negócios? Como fazes para conciliar tudo o que tens de fazer? Loïc F.: Sim, tenho trabalho e família. Mas a música é a minha paixão, não é uma obrigação, dedico-me a ela por prazer. Digamos que, para me organizar, decidi sacrificar duas horas de sono por noite, que consagro à editora. Quando estiver no caixão, não terei mais nada a fazer senão dormir.

http://krucyator.com/ https://www.facebook.com/ krucyatorproductions https://www.discogs.com/user/Krucyator


“Criei a editora apenas para lançar a minha música, logo não ando à procura de bandas para contratar. [...]”

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

A primeira questão que vos veio à cabeça, foi certamente a de “Quem foi o último herói de Acção?”. Para todos aqueles que conhecem ou já viram o filme o “Último grande herói”(Last Action Hero), a resposta só poderá ser uma de duas: O é o Arnold Schwarzenegger ou é o realizador John McTierman. Parabéns para os que pensaram John McTierman! Ele foi o último herói dos filmes de Acção de Hollywood, ou como diria Láureo Dérmio, “madeira sagrada”, em português, antes de ter caído em desgraça e tornar-se persona non grata na meca do cinema.

John McTierman ficou amplamente conhecido pelos 3 grandes sucessos da segunda metade da década de 80, em especial pela realização de Die Hard, mais conhecido cá no nosso burgo por Assalto ao Arranha-céus, com Bruce Willis no papel principal e um tal de Alan Rickman no icónico papel do mau da fita Hans Gruber. O hit foi tal, que não é possível declarar o Natal enquanto não virmos na TV o Hans Gruber a cair aterrorizado da torre Nakatomi Plaza – O actor caiu mesmo de costas, isto é, fez a proeza de duplo de cinema, e aquela expressão do ator é genuína, dado que nenhum duplo foi autorizado a cair de costas sem ver onde ia aterrar.

O Assalto ao Arranha-céus, juntamente com o Predador e a Caça ao Outubro Vermelho, perfazem a trilogia de ouro deste realizador da velha escola, da escola em que eles tinham algum poder para incutir a sua visão pessoal num filme de estúdio – sempre híper controlado pelos produtores e executivos, e que no início dos anos 2000 caiu em desgraça, não se tendo recomposto desde então, tenho mesmo caído no esquecimento.

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O último grande herói de Acção (primeira parte)

No entanto, tudo começou com um filme completamente esquecido chamado “Nomads“, em português Nómadas, escrito e realizado por John McTierman que relata a história de um antropologista francês, um tal “desconhecido” chamado Pierce Brosnan (James Bond 007), que vem para Los Angeles e é perseguido pelos espíritos de uma tribo que estudou outrora. É um filme decente para primeira obra, confuso e que como seria de esperar não teve grande sucesso comercial nem crítico, mas, que teve a chama suficiente para chamar a atenção da já estrela Arnold Schwarzenegger, que convenceu o produtor a o contratar para fazer o Predador. Estávamos em 1987.

O Predador é um daqueles filmes que na altura teve um sucesso relativo e que atingiu o estatuto de filme de culto muito rapidamente. É hoje um dos grandes filmes de acção/ficção cientifica, onde John McTierman conseguiu transformar uma simples história de caça ao monstro num grande espetáculo de inico ao fim, não havendo quase nenhum momento para respirar, à exceção daquela cena em que Mac está a meditar em voz alta antes da “matança do porco”. Evidentemente, há outros elementos que fazem o sucesso deste filme, a começar pelo predador em si, um conseguimento visual ímpar do mago dos efeitos visuais Stan Winstom, o casting em geral e a música bombástica de Michael Kamen que aumenta o suspense do filme em 200%, em especial no confronto final entre Schwarzie e o predador. Para a maioria das pessoas, este filme é considerado um monumento. Um filme modelo que à medida dos anos que passam, se vê sempre com um enorme prazer.

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ANTRO DE FOLIA A partir daqui, isto é o ano de 1988, John McTierman tinha aberto de vez a porta do sucesso e do reconhecimento de todos em Hollywood como um dos melhores realizadores do cinema de acção, isto apenas com dois grandes filmes de referência do género de acção. Na obstante, para terceiro filme a realizar, não foi a sequela do Die Hard que lhe foi oferecido – Foi oferecida sim, a um jovem realizador Finlandês em ascensão Renny Harlin – mas sim a adaptação do technothriller do primeiro romance de Tom Clancy: Caça ao Outubro Vermelho (Hunt For Red October). Entretanto John já se tinha divorciado do grande produtor da saga Die Hard, Joel Silver. Caça ao Outubro Vermelho conta a história da deserção de um comandante de um submarino nuclear russo, interpretado pelo sempre impecável Sean Connery, perfeito no papel, em plena guerra fria, onde as manobras do comandante põem Washington e a CIA em alerta máximo, pois estes desconheciam a razão última do comandante Remius. O contrabalanço da tensão presente no filme foi a teoria aparentemente desconcertada de um jovem analista da CIA, Jack Ryan, aqui na pele de Alec Baldwin mas que nos capítulos seguinte vestiu a pele de Harrison Ford. Este filme completa a trilogia de sucesso de John McTierman e prova que o podia fazer igualmente noutra casa e noutro registo fora do filme de acção.

O comum hoje a todos estes filmes, é que estes não envelhecem apesar de o tempo implacável continuar a passar. A razão pelo qual isto acontece, é que John McTierman redefiniu os códigos do filme de acção, filmando filmes de série B que são elevados à serie A. Estes códigos, ainda hoje, são aplicados nos mais recentes filmes de acção. Em especial, Die Hard é um caso paradigmático.

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Adoro estes três filmes e os dois primeiros estão entre os meus favoritos. Não vos vou dizer quantas vezes os vi até hoje, até porque já perdi a conta há muito. O Die Hard não sei, mas o Predador já lá vão no mínimo umas 60 vezes ao longo de 26 anos desde a 1ª vez que o vi. Infelizmente não fui ver nenhum destes filmes ao cinema, pior ainda, mesmo apesar de terem passado aqui no cinema Orion da terra na devida altura, cinema que entretanto já fechou há 8 anos. Lembro sim de duas coisas: Ter visto no mesmo cinema a trailer do Predador e ter ficado de tal impressionado e incomodado, que jurei não querer ver o filme – Esta hoje é de rir! Depois quando o vi em VHS pela primeira vez no final do ano de 1989, arrependi-me de imediato não o ter visto no big screen. Algo semelhante, num claro julgamento errado, levoume a deixar o Die Hard igualmente para o VHS. Lembro-me perfeitamente de passar pela vitrine do cinema Orion onde estava exposto o cartaz e uns quantos cartões A3 com fotos do filme, como era de bom grado outrora encontrar em qualquer cinema, e achar quem é que queria ir ver um filme de um assalto a um arranha-céus – É verdade que isto soa muito série B – com o Bruce Willis, aquele gajo do modelo e detetive. “O que é isto?” – Pensei eu. – “deve ser uma treta de filme”. Como diria o Jack Slater do “Último Grande Herói”: “Biiiggggg mistake!”.

Hollywood faz jus aquela expressão que utilizamos muito por aqui: Depois de darmos um boi, dão-nos um chouriço. Ora foi assim que John McTierman conseguiu realizar um projeto fora do âmbito do género de acção e mais pessoal: Os Últimos dias no Paraíso (Medecine Man). Igualmente interpretado por Sean Connery, este filme passado na floresta amazónica conta a história de um excêntrico cientista que trabalha para uma multinacional e a hipotética cura do cancro, entretanto, a chegada de uma assistente e a destruição da floresta vão complicar as coisas a este cientista. Nada de especial como filme. Evidentemente, foi um grande fracasso. Mas, como era uma espécie de prenda de consolação, tipo: Pronto, ganhámos 50, toma lá 5 e faz o teu filme e ficamos com 45, os estúdios estavam-se nas tintas para se o filme tinha sucesso ou não. Se sim, melhor, se não, paciência não perdemos tudo. O problema para John McTierman é que agora tinha feito reset ao sucesso. Sim, isto é tudo muito bonito, o sucesso cinematográfico, mas se não for perpetuado, o realizador, ator ou produtor que se preze, por mais famoso que seja, vai vestir a famosa T-shirt do “Preço Certo” – Já Foste – enquanto o diabo esfrega um olho. To be continued…

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NOVO COMEÇO Estes últimos tempos têm sido profícuos em grandes lançamentos. Os Dark Tranquility estão de volta com um dos mais desafiantes álbuns da sua discografia. Estranha-se (um pouco) mas depois entranha-se (muito). Mikael Stanne diz-nos que «Atoma» é um novo começo. Entrevista: CSA e Eduardo Ramalhadeiro Transcrição e Tradução: Adriano Godinho

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Qual o significado do título do álbum "Atoma"? Mikael: Surgiu, depois de conversas com o Niklas, é sempre difícil arranjar um nome para um álbum, passa-se tanto tempo a escrever e compor que é algo muito difícil arranjar títulos, é algo que não gosto muito. Então enviei os textos ao Niklas, analisamos do que falamos no texto, e até depois trabalhar na capa. Os textos falam da essência da humanidade e como não conseguimos altera-la; e "Atoma" é como um novo começo; e gostei do nome, de como soa. Depois até ajudou para a desenhar a capa do álbum. Em termos dos textos, "Atoma" segue um conceito onde as músicas são independentes. Certo? Mikael: Sim, mas há um tema geral. Em como fazemos as coisas, porque desde há uns anos reparei que as pessoas tendem a ser cada vez mais agressivas, seguem apenas o que querem e desejam; há uma resistência à mudança e as pessoas ficam mais agressivas para resistirem a isso. Tenho reparado que tem vindo a ser cada vez mais intenso nas pessoas que nos rodeiam e não sei se haverá uma solução. Qual é a diferença entre este trabalho e os anteriores? Mikael: Há várias coisas, sim. Conseguimos uma progressão interessante anteriormente, como banda e penso que agora conseguimos ser mais criativos, ter outras possibilidades em termos de ideias e sons. Criamos alguma pressão sobre nós-mesmos para ter algo de bom, e acabamos por viver algo de estranho, onde puxamos por nóspróprios de uma forma intensa. Li na vossa bio que o baterista e o Martin escreveram 20 músicas para este álbum, é verdade? Como funcionou? Mikael: Sim, eles compuseram as melodias no piano. Para este trabalho conseguiram criar as músicas no PC, em piano, onde fizeram a melodia e acabou por ser material

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para umas 20 músicas, sim. Gostei bastante das duas primeiras faixas do segundo CD, apenas têm vozes limpas e possuem uma componente bastante post-rock, qual é a tua opinião em relação a estas músicas? Mikael: Bem, são diferentes do resto. Após ter gravado as músicas para o álbum, quisemos tentar algo completamente diferente. O que fizemos foi perguntar à banda que estava lá no estúdio, a trabalhar numa sala ao lado - tocam algo tipo retro rock - se alinhavam em compor duas músicas para nós. Achamos isso bastante libertador sem pressão, apenas divertimento. Trabalhamos as músicas, com os teclados analógicos, amplificadores antigos... E gostamos do resultado. Por serem músicas tão diferentes achamos que não poderiam fazer parte do álbum em si, daí estarem na versão deluxe do álbum. Vês-te a ti próprio fazer um álbum completo nesse género de música? Mikael: Hum..penso que não, soa muito bem, foi uma experiência espectacular mas não sei... Talvez um dia, não sei (risos) Como é a vossa relação com a editora, caso quisessem avançar para um álbum diferente, eles apoiariam? Mikael: Penso que sim, estão abertos a orientações musicais diferentes, apoiam qualquer decisão que a banda decide seguir. Pergunto porque por vezes as editoras impõem condições às bandas, apoias este tipo de atitude? Mikael: Não, não apoio. Nem sei como isso pode acontecer, talvez há vários anos e com editoras enormes; mas hoje em dia as editoras e os músicos são mais focados na qualidade e integridade dos artistas, não tem tanto a ver com vendas. Nós conseguimos fazer tudo o que queremos da forma que pretendemos e no metal, em geral, é muito assim.

Nos anos 80 e 90 vendiam-se mais CDs, mas era mais difícil chegar a tanta gente. Hoje em dia é o contrário. Qual altura achas a melhor para a música? Mikael: Bem, há uns anos tinha tudo a ver com fazer dinheiro. Hoje em dia não é tanto assim - vive-se mais dos concertos. Não é fácil fazer digressões nem toda a gente consegue. Hoje em dia há mais informação, muitas formas de chegar às bandas, gosto disso - mas também gosto do facto dos artistas serem compensados com isso; Por isso penso que os estúdios e as editoras deveriam ser menos caras, mas ninguém concorda comigo (risos) Sabem de algum feedback da imprensa sobre este novo trabalho? Mikael: Ainda não muito, o álbum ainda não está disponível (NDR: na altura da entrevista) mas já ouvimos alguns comentários pelas entrevistas que fizemos e são todas muito positivas. O que vos inspirou para a capa do álbum? É influenciado pelo título, músicas, letras ou algo de outro? Mikael: Bem, tentamos criar algo de muito orgânico relacionado com o nome, o tema e que criasse um ambiente estranho. O nome da banda não está na capa, apenas o "DT", não receiam que seja demasiado subtil para os fãs? Mikael: Bem, na altura perguntei se não seria melhor ter o nome da banda mas o Niklas achou que assim seria muito melhor e que os fãs iriam perceber perfeitamente (risos). Pode nos dar algumas razões não evidentes para ouvir este vosso novo álbum? Mikael: Wow (risos) Bem, penso que para compreender como a banda soa agora, ver a diversidade da banda e como evoluiu. Se eu tivesse de recomendar um álbum dos Dark Tranquility a um amigo, qual achas que deveria


“«ATOMA» É COMO UM NOVO COMEÇO; E GOSTEI DO NOME, DE COMO SOA.”

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sugerir? Mikael: Eh pah! (risos) Sei lá, depende da pessoa, penso que muita gente iria sugerir "The Gallery" - porque foi quando começamos; talvez "Projector" - porque mudamos bastante ou talvez "Pictures" porque foi quando nos tornamos mais coesos. Bem, não falaste do meu primeiro álbum dos DT - "The Mind's I" e ainda é dos meus favoritos. O que nos podes dizer deste trabalho? Mikael: Bem, é uma boa continuação do "The Gallery", mais pesado, mais técnico. Foi quando percebemos que tínhamos qualidade. A minha música favorita da banda, é "Therein" do "Projector" (1999), o que nos podes dizer sobre esta faixa? Mikael: Bem, lembro-me de ter sido uma música mais desafiante e emocionante para nós. Tivemos algum receio das pessoas não perceberem a intenção da música.

mento que ele usa? Mikael: Eh pah, não sei; Sei que tem baixos da Fender e da PBS, montes de pedais..tem muito equipamento e soa mesmo muito bem neste álbum. O Martin (guitarra) decidiu sair da banda em Março deste ano, podes nos dizer algo sobre a razão da saída? Mikael: Bem, foi uma decisão honesta que teve - perdeu o entusiasmo e interesse; preferiu seguir o caminho da produção - é o que gosta de fazer. Já conseguiram um substituto? Mikael: Não, ainda não; vamos ter convidados para tocarem ao vivo connosco nas digressões americanas e europeias. A tour europeia passa por Portugal? Mikael: Sim

No refrão dessa música dizem "So I starve myself for energy", o que significa? Mikael: Procurar uma fonte de energia vital, para continuar a tua vida e evitar as más energias que te desviam da verdade.

Boa! Vi-vos há uns anos no Porto; por acaso lembram-se da cidade, do concerto? Mikael: Claro, fomos várias vezes a Portugal, Porto e Lisboa, temos conhecimentos aí (um dos elementos da nossa equipa vive em Portugal) e tratam-nos muito bem, a levar-nos aos bons sítios.

Vendo o vídeo de promoção do álbum percebe-se que o baixo é muito bom, sabes qual o equipa-

O Anders e outros são considerados como elementos de sessão, isto é verdade?

“PENSO QUE AGORA CONSEGUIMOS SER MAIS CRIATIVOS, TER OUTRAS POSSIBILIDADES EM TERMOS DE IDEIAS E SONS.”

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Mikael: Por enquanto só está previsto estarem connosco durante este verão. Como te sentes após tantos anos nos DT? Desde o início dos anos 90? Mikael: Sinto-me muito bem, estamos sempre a evoluir. Ainda temos alguma criatividade por usar (risos). O que achas mais difícil: Uma banda tornar-se mais conhecida nos anos 80 ou 90 ou agora? Mikael: Bem, na altura não havia muita gente que conhecia o metal; hoje em dia pode-se fazer o que se quer. Existem milhares de bandas, torna-se mais competitivo, logo muitas bandas ficam na sombra. Mas penso que é mais interessante agora. É fácil conciliar a vida pessoal e a banda? Mikael: Bem, temos feito isto há tanto tempo (desde os meus 14 anos de idade) - é difícil mas tentase gerir e fazer o melhor. Consideras-te o frontman da banda? Mikael: Claro! (risos) Existe ainda alguma coisa que sonhas fazer na vida? Mikael: Na música? Claro. Há sempre coisas a fazer, crescer, evoluir, fazer coisas novas. DT e Inflames são muito próximos; qual é a vossa relação? É alguma sociedade secreta? Mikael: Não, é só amizade! (risos) Crescemos juntos musicalmente e somos grandes amigos. http://www.darktranquillity.com/ https://www.facebook.com/dtofficial/ https://youtu.be/suhuQlYZwtE


Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves Ilustração: Ana Ramalhadeiro

Numa noite em que degustava o silêncio na procura eterna do derradeiro Prazer Montei no cavalo branco Napolitano

Pensava ser aquele que galopava na tua direcção Espumando pela boca a secura da jornada infernal

Passei na residência das belas mulheres Sem lhes dar grande importância ou popularidade Continuando a viagem com os olhos trasladados

Pelo caminho Bati castanholas com os cascos E puxei as rédeas para ilustrar as ideias Para que não me afogasse na emoção

Montado naquela criatura Pensava ser apenas o brilho de uma força antiga chamada Esperança

À minha volta todos os cavalos ladravam novos cânticos E há muito que a nossa população é Repululada

Mesmo assim Fico deste lado à espera que um dia sejas o oposto do erro que fui para ti

Fui castrado pelo momento que achava perfeito

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VÍBORAS São, talvez, a mais alta representação do Thrash Metal mundial! Do mais puro e letal veneno fez-se uma tenebrosa víbora, sedenta por vos arrastar às profundezas do inferno e devorar as vossas almas. Outubro vê nascer «The Brotherhood of the Snake»… e os Testament estão de volta! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Transcrição e Tradução: Hugo Melo Fotos: Gene Ambo

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“ACHEI QUE ERA IMPORTANTE TERMOS UM ÁLBUM QUE FOSSE PESADO O SUFICIENTE, MAS QUE TAMBÉM TIVESSE ALGUMA MELODIA. É O QUE NOS CARACTERIZA [...]”


Como é que descreverias o álbum «The Brotherhood Of The Snake»?

Eric Peterson: Bem, é o nosso novo álbum que irá sair a 28 de Outubro. Para já foi retirado um single, a faixa título, que é uma música que cai que nem uma bomba, implacável e realmente agressiva. Conforme o álbum avança vai-se tornando mais melódico e com um twist mais trash, ao estilo de Testament. «The Brotherhood Of The Snake» fala de temas actuais como, por exemplo, a legalização da canábis para fins medicinais. Temos algumas músicas old school, anos 80, como a «Black Jack» que fala do jogo e da sorte. Há realmente algumas coisas que não estão relacionadas com uma sociedade secreta, mas a maioria de facto entra nesse conceito.

A minha próxima questão era sobre quem escreveu as letras e qual o conceito, mas já respondeste à questão do conceito. Quem foram os responsáveis pelas letras?

Eric: Na maioria foram escritas pelo Chuck. Ajudei-o em alguns arranjos, mas foi essencialmente ele. A faixa título, por exemplo, foi escrita por ambos. Todas as músicas foram escritas por mim, salvo algumas partes em que tive a colaboração dos outros membros.

Musicalmente falando que caminho seguiram depois de «The Formation of Damnation» e «Dark Roots of the Earth»? Eric: Temos estado muito tempo em digressão e tocamos muitas coisas, tanto novas como clássicos e isso acaba por nos influenciar. Oiço vários estilos de música, mas para os Testament e nesta altura, com tanta coisa a acontecer, achei que era importante termos um álbum que fosse pesado o suficiente, mas que também tivesse alguma melodia. É o que nos caracteriza, fazemos o melhor que conseguimos com a solidez da nossa música. Este é o nosso 11.º álbum e, dito isto, não é fácil, quando

usamos a mesma fórmula, não nos copiarmos, e arriscamos, com isso, a que os álbuns se tornem repetitivos. Creio que não foi isso que aconteceu com este, conseguimos torná-lo fresco, mais ainda, com o estilo de Testament.

Neste primeiro single o que salta logo à vista é que não há solos. Existe uma espécie de solo após o primeiro refrão, mas daqueles solos que estamos habituados em Testament, não existem. Isto significa que andam à procura de um novo som? Eric: Funciona, é música, não tem obrigatoriamente de ser de uma determinada forma. Esta música, quando a oiço não me incomoda que não tenha solos. Há faixas, que depois do refrão, não voltas para o início mas sim para um novo segmento. Quando ouves a «The Pale King», após o refrão a música segue numa direção completamente diferente. Quando fechas um ciclo, como acontece com os Testament, e com muitas outras bandas, após o terceiro, quarto álbum, e dizes “ok, agora já sei como se compões uma canção”, começas a ser influenciado quer pela editora, quer pelo facto de começares também a ouvir a rádio, e abres o horizonte para outro género de música, percebes que esta não tem regras. Há claramente influências tradicionais, afinal tens a intro, o verso, o bridge, o verso, o refrão, o solo, e por aí fora, e funciona, mas não queremos estar limitados a esta fórmula.

E relativamente à voz do Billy, é mais do estilo demoníaco ou mais suave e melodiosa?

Eric: Creio que é um pouco de ambos. A primeira música que ouviste, a «The Brotherhood Of The Snake» é mais agressiva, mas à medida que o álbum vai avançando, vai tornando-se mais aguda, mais jovem, mas ainda assim, mantendo elementos graves para dar profundidade.

Existe alguma música do género da «The Legions of the Dead»?

Eric: «The Legions of the Dead»… essa música é o máximo. Para compor algo desse género a responsabilidade recairia sobre mim, seria algo que eu comporia. Não tive a oportunidade de escrever algo assim tão louco, mas temos algumas músicas como «The Number Game» ou a «Black Jack», embora esta tenha um vibe muito anos 80, mas ainda assim é bastante rápida. Para comparar as duas diria que, entre elas, existem séculos de sofrimento. Tem influências da banda G.B.H. ou punk rock, e aqueles riffs à «The Legions of the Dead». Diria que metade do álbum é trash.

Referi a «The Legions of The Dead» porque tocaram-na no concerto em Portugal, no antigo Hard Club, quando o Chuck Billy anunciou que iam tocar esse tema eu fiquei a questionar como é que aquele gajo consegue andar aos saltos e tocar com àquela velocidade. Eric: É o que acontece quando és possuído pelo “holy ghost!”

Não sei se o Steve DiGiorgio e o Gene Hoglan podem ser considerados membros da banda. Eles tiveram alguma participação na composição do álbum?

Eric: Não. Depois das músicas estarem escritas chamei-os e ensineios a tocar as músicas. É claro que eles colocaram o seu cunho. Todos aquelas ligações nas malhas de baixo, é tudo do Steve DiGiorgio, mas claro que manteve estrutura base. Em relação ao Gene Hoglan é basicamente a mesma coisa, os padrões da bateria foram criados por mim, mas o Gene Hoglan tornou-a sua.

Na tour ambos vão tocar com a banda? Eric: Sim.

Li numa entrevista do Chuck que este foi o álbum


mais difícil que fizeram. Porquê?

Eric: Acho que estava a falar sobre ele. Creio que para ele foi mais difícil no sentido de ter tido alguma dificuldade em compor e desenvolver as suas partes. Obviamente não posso falar por ele, mas visto de fora, ele estava a lutar sobre o que fazer, mas assim que se deixou ir, e nisso trabalhámos juntos, especialmente após a «The Pale King», tudo se tornou mais fácil e fluído.

Este álbum foi produzido por Juan Urteaga juntamente contigo e o Chuck. Porquê o Urteaga?

Eric: Juan foi o engenheiro, tratou das gravações. Quem o produziu fui eu, o Chuck tratou da parte dos negócios. Podes dizer que foi um trabalho a três. Formamos uma boa equipa, todos contribuímos para que a produção acontecesse. Para a mistura escolhemos o Andy Sneap porque trabalhamos com ele desde «The Gathering». Falámos em trabalhar com outras pessoas e realmente tentámos, mas acabámos sempre por voltar ao Andy. Gostamos do som dele, já nos conhece e sabe o que fazer com a nossa música.

Na capa é possível ver duas cobras, já nos álbuns «The Gathering» e «Dark Roots of Earth» este elemento também estava presente. Qual é a relação dos Testament com este réptil? Eric: É uma conspiração. É a nossa sociedade secreta e tu desmascaraste-a. (Risos)

És o responsável pela parte gráfica do álbum. És um artista gráfico ou a contribuição é ao nível das ideias? Eric: Mais as ideias, mas os esboços são meus porque até desenho relativamente bem. Não faço nada a nível profissional, mas esboço as ideias base.

Qual é a tua opinião relativamente à dicotomia entre

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a mistura com a vertente no volume do som e a que defende a dinâmica daquele, como a que encontramos no vinil?

Eric: Eu acho que o som geral é um pouco de ambos. Definitivamente é alto, mas o som é claro. Não há nada que seja demasiado carregado, nada fica abafado. Não são 4 ou 6 guitarras como muitos fazem, são apenas duas guitarras como se fosse ao vivo, mas com boa produção. A esperança é que ao vivo soe exactamente igual.

Ainda relativamente à parte gráfica, neste último trabalho, o conceito foi teu. E a ideia? Eric: Para este álbum o Chuck arranjou o título, de resto é uma colaboração entre o Eliran (Kantor) e eu, sendo que a ideia inicial, dos humanóides a segurar as serpentes, foi dele. Assim que vi a ideia sugeri mais alguns elementos. Se no «Dark Roots of Earth» o título foi ideia minha e a parte gráfica partiu igualmente de mim, neste álbum o trabalho é quase todo dele. Esta vai ser a primeira vez que, se comprares os CD, o livro terá cerca de 20 páginas e cada uma delas terá arte abstracta referente a cada música. Por isso para além da capa há mais 10 peças de arte. Esta pertence a Marcelo Vasco (https:// www.facebook.com/marcelovascoarts/) numa colaboração com o Eliran. Foi a primeira vez que tivemos a colaboração de dois artistas.

Os Testament têm excelentes power ballads, a «Dark Roots of Earth» tem a «Cold Embrace». Existe alguma neste «The Brotherhood Of The Snake»?

Eric: Por mim havia uma em cada álbum, mas às vezes é difícil convencer o Chuck a cantá-las. Embora ele soe muito bem, não gosta muito delas. Eu escrevi uma para este trabalho, mas por causa do timing já não foi possível adicionála. Por isso, posso-te garantir que o próximo álbum terá uma balada fantástica. E nós não gostamos de

as chamar de baladas, elas não são baladas, são apenas músicas mais lentas. Chamemos-lhe slow atmospheric song.

Li num site que antes de lançarem o álbum «Low», a vossa editora da altura, a Atlantic, vos pediu para fazerem um álbum mais alternativo. É verdade?

Eric: Creio que não estivemos muito longe de quando nos pediram um álbum alternativo. Pensa no que a palavra alternativo significa... Alternativo significa pensar fora da caixa, em algo diferente. A pop culture da altura, quando se falava em alternativo, significava tocar o mesmo que todos os outros e, na altura, o que todos tocavam era música grunge, por isso fomos sarcásticos e dissemos que iríamos ser alternativos e lançámos o primeiro single «Dog Faced Gods». Portanto naquela janela temporal fomos alternativos.

E a seguir saíram da Atlantic…

Eric: Sim, foi o nosso último álbum com eles. Mas divertimo-nos muito e é uma boa editora.

Uma última questão, vocês vão tocar no dia 10 de Novembro numa sala muito porreira no Porto - Coliseu. O que poderemos esperar de vocês?

Eric: Podem esperar os Testament no seu melhor. Vamos ter um óptimo set, de um pouco menos que uma hora, o suficiente para mostramos o nosso metal à audiência. Vamos tocar clássicos bem como músicas novas. Esperemos que seja um bom concerto. Gostamos do país e gostamos de tocar no Porto. E estamos ansiosos por beber vinho do porto.


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Início de uma nova Era

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Dois mil e dezasseis foi trágico para os Riverside: Piotr Grudziński partiu. Musicalmente, os Riverside viram o nascimento de «Eye of the Soundscape». Mariusz Duda concedeu-nos vinte minutos do seu tempo, afável, simpático, comunicativo e eu fiz uma das melhores entrevistas desde que trabalho para a Versus. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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Olá, Mariuz. É um prazer conhecerte, ainda que seja apenas de forma virtual. É a segunda ou Terceira vez que tento entrevistar-te e, finalmente, consegui. Parabéns por estes dois lançamentos e sobretudo por «Eye of the Soundscape». Antes da entrevista propriamente dita, gostava de dar a minha opinião (pessoal) sobre alguns aspectos da mensagem que deixaste no facebook. Primeiro: penso que a minha opinião é semelhante à de quase toda a gente em Portugal… e também no resto do mundo (risos): Sim, vocês têm de fazer uma digressão! Riverside é uma banda muito especial e os fãs precisam de vos ouvir ao vivo e, nestes tempos difíceis, estou certo de que vos acolherão de braços abertos. Segundo: a história de Riverside não acaba aqui e eu penso que está para começar um novo capítulo da mesma. As pessoas vão apoiarvos incondicionalmente e adorar a vossa música, independentemente do seu grau de experimentalismo. (risos) Penso que a música que criam é muito autêntica. Portanto, terão todos o meu apoio e também o da Versus Magazine. Mariusz Duda: Muito obrigado. Isso é muito importante para nós. Passemos agora à entrevista. Tenho andado a ouvir «Eye of the Soundscape» e, embora não consigamos dissociar as palavras dos números, dou-vos 9.9 em 10. A reacção dos media é semelhante à minha? Mariusz: Ainda não sei! Essa é a tua opinião pessoal. Este álbum não é “amigável”, surge como uma colecção de canções velhas e novas. Para nós é muito importante, porque, dadas as circunstâncias, representa o fim de uma era para a nossa banda. A razão pela qual vos dou 9.9 é a seguinte: por que não há um 5.1 Mix como «Love, Fear and Time Machine»? Mariusz: Não tivemos tempo para o fazer (risos). Essa mistura de «Love,

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Fear and Time Machine» era uma espécie de experiência para nós e queríamos tentar ver como isso funcionava, quando começámos a fazer «Eye of the Soundscape». Dadas as circunstâncias, foi muito difícil para mim acabar este álbum. Num futuro próximo talvez a gente volte a esta experiência do 5.1. Neste álbum têm quatro faixas novas. São músicas que já tinham feito mas que ainda não tinham sido lançadas ou foram gravadas expressamente para este álbum? Mariusz: Sim, é verdade. Mas, antes de falar sobre isso, preciso de dizer algo sobre este álbum novo. Quando fizemos a primeira faixa instrumental como bónus para «Rapid Eye Movement» e a canção que corresponde ao título, divertimo-nos imenso e apostámos na improvisação, sem ultrapassar barreiras. Sentimos que não precisávamos de ser uma banda Prog ou de Rock para fazer isso, limitámo-nos a usufruir do que fazíamos. Foi muito porreiro! E quando começámos a fazer o mesmo com «Shrine of the New Generations Slaves», por exemplo, com as «Night Session» e, mais tarde, com «Love, Fear and the Time Machine» com as «Day Session», percebemos que precisávamos de fazer um álbum com essas faixas, sob a forma de compilação, porque muitas pessoas nem sabem que temos músicas assim. Com base nesta ideia, já se pode olhar para a nossa música de pontos de vista diferentes…agora tornámo-nos um pouco maiores por nos ocuparmos de influências, de estilos… géneros, como quiserem. Mas eu não queria lançar algo que seja igual ao que fizemos até agora. Portanto, tivemos que adicionar algo novo e estas quatro canções vieram preencher os espaços, suprimir uma lacuna. É muito fácil, quando fazes um álbum instrumental, em que tens 20 ou 25 minutos e faixas separadas. Mas, quando ouves o álbum todo, precisas de ter um princípio e um fim… e algo entre eles que te ajude a ficar “acordado” ou a achar a música uma seca Queríamos fazer algo que

melhorasse o espírito do álbum, do princípio ao fim. A capa do álbum também é fantástica. Adorei os “desenhos infantis” do Travis Smith. Por que usou esse recurso? É um rio ou um cisne? Umas vezes vejo um e outras vejo o outro… Mariusz: …às vezes o pacman (risos). O que representa a capa? Mariusz: Antes de mais e principalmente, temos de ver a expressão «Eye of the Soundscape»… o título… há em Inglês a palavra “landscape”, que se refere aos campos. Com base nela, quisemos cunhar uma outra palavra que traduzisse a mesma ideia, mas aplicada à música… ao som… Tínhamos andado a discutir o artwork para o álbum com o Travis e dissemos-lhe que queríamos seguir o caminho iniciado com «Love, Fear and the Time Machine», porque nesse álbum havia coisas que pareciam feitas por mãos de crianças, que se assemelhavam a desenhos infantis e gostávamos delas. Eu sempre vi a nossa música como algo cheio de cor, não como algo escuro. Quando fizemos a música, gostámos muito deste aspecto. Eu sei que muitas pessoas ficaram surpreendidas quando viram as cores na capa do álbum, porque estavam à espera que fossem escuras. Mas a nossa música não é tenebrosa, muito menos em «Eye of the Soundscape». Foi isso que o Travis teve em conta ao criar a capa. Ele é um artista extraordinário, tão bom a fazer material metaleiro para bandas como Opeth e Katatonia como a fazer “desenhos infantis” para Riverside (risos). Quando sentiram que tinha chegado a altura de lançarem um álbum como este? Mariusz: A quantidade de faixas instrumentais era realmente enorme! (risos) Quando começámos dizíamos vinte minutos aqui, vinte e cinco ali. Boa, podemos fazer um álbum a partir disto. Ficámos verdadeiramente abismados. Mas depois… pareceu-nos que era


“ESTE ÁLBUM NÃO É “AMIGÁVEL”, SURGE COMO UMA COLECÇÃO DE CANÇÕES VELHAS E NOVAS. PARA NÓS É MUITO IMPORTANTE, PORQUE, DADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS, REPRESENTA O FIM DE UMA ERA PARA A NOSSA BANDA.

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preciso acrescentar algo, para dar às pessoas a certeza de que era algo de boa qualidade (risos). Este álbum tem muitos elementos, ou seja, aquilo a que eu chamo “camadas”. Muitas partes eletrónicas, muito som ambiente, até um saxofone (por exemplo, em «Night Session – Part 2»). Quem escreveu e programou essas partes, quem toca o saxophone? Há outros instrumentos diferentes no álbum? Mariusz: Quem tocou o saxofone foi o Marcin Odyniec, que também está no «Shrine of New Generation Slaves», na faixa intitulada “Deprived (Irretrievably Lost Imagination)”. Parece-me que foi uma ideia genial chamá-lo novamente, porque

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ele é um músico extremamente talentoso. Música com tantas partes electrónicas, sons ambientes e efeitos… “insensitiva”. No entanto, vocês conseguem fazer com que o álbum soe muito orgânico, de tal modo que eu me sinto muito confortável ao ouvi-lo. Como é fazer canções assim? Mariusz: É tal e qual como dizes. Porque quisemos lançar este álbum? Não só porque o criámos e gravámos, mas também porque sentimos que era algo novo, pouco usual. Sentimos que podíamos ultrapassar os limites associados aos nossos outros álbuns. Se fazemos parte de um mundo Rock, temos de nos guiar por regras ligadas ao Rock.

Aqui podemos improvisar durante cinco minutos e isso parece-nos fantástico. Mas atenção: isto não é música electrónica pura. Não sou grande fã de música electrónica moderna. Penso que o que é original em «Eye of Soundscape» é o facto de termos feito experiências com instrumentos electrónicos e outros. Há nele muitos baixos, guitarras acústicas, a minha voz, vocais bizarros. Parece-se com algo como o que Mike Oldfield ou Boards of Canada fizeram. Também fomos muito influenciados por Dead Can Dance, Jean-Michel Jarre e outras coisas que eu costumava ouvir no passado. E foi toda esta mistura que deu ao álbum um cunho tão original.


O que é o Amor (“Love”) para ti? Mariusz: Ó meu deus! (Risos) Se ao menos as questões mais simples não tivessem as respostas mais complicadas… (Risos) O amor é algo que não pode ser expresso por palavras, apenas por sentimentos e, para mim, é aquilo de que mais precisamos. De que tens mais medo (“Fear”)? Mariusz: Tenho a certeza de que morrerei sozinho, rodeado pelos meus discos. Quem ou o que gostarias de levar contigo na máquina do tempo (“Time Machine”)? Mariusz: (Risos) Todas as pessoas que já não estão comigo. Ou então usava-a para as trazer de volta.

Vocês são da Polónia e tenho a certeza de que posso dizer que são a banda que melhor representa o vosso país (talvez com Vader e Behemoth). Como é para uma banda nascer e crescer até se tornar numa das mais importantes da cena Prog? Achas mesmo que somos uma das bandas mais importantes? Eu não nos vejo assim tão representativos… … Tenho de discordar de ti. Penso mesmo que são uma das bandas mais importantes na cena Prog (risos). Mariusz: Obrigado (risos)! És muito simpático. Sinto-me muito feliz, porque isso me vai dar a oportunidade de gravar um álbum como «Eye of the Soundscape», mas

vou ter medo do público. Vão dizer: “Ui! Mas que coisa maçadora! Onde está o Metal neste álbum?” (risos). Não penso que isso vá acontecer… Mariusz: Digamos que estamos mais maduros, mais velhos (risos). Mas isso é formidável! É bestial ser uma banda assim! https://www.facebook.com/Riversidepl/ http://riversideband.pl/en/ https://youtu.be/poAk9XgK7Cs

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O QUE FOI NÃO VOLTA A SER (But the Memory Remains) Por: Nuno Lopes De há uns anos a esta parte a carreira dos Metallica tem sido alvo de um esmiframento a todos os niveis e nem sempre pelos melhores motivos. É sabido, e escusado, voltar a falar dos feitos do passado, das vitórias e derrotas desta superbanda, no entanto, para se seguir em frente é sempre necessário refletir sobre o passado. Não sendo um acérrimo seguidor da banda, posso dizer, sem qualquer receio que discos como Ride The Lightning ou Master of Puppets tiveram um impacto muito maior, na minha pessoa, anos mais tarde da sua saída, talvez até devido à exposição do álbum negro e, porventura, ao meu crescimento enquanto melómano. Assisti, impávido e sereno aos anos seguintes e ao «apedrejamento» público ao qual a banda sobreviveu após o lançamento de Load e Reload, que ainda hoje considero serem bons discos, apesar de toda a diferença. Talvez esse seja, de facto, o maior feito dos Metallica, o de saberem levar água ao seu moinho, e serem, acima de tudo uma máquina bem oleada, não só a nivel criativo, como a nivel empresarial, porque, no fundo, os Metallica são mais que uma banda de Metal ou de Rock. Claro que foram precisos mais alguns tiros nos pés e algumas vicissitudes, porém, a força continua lá, mesmo quando lançamentos como St Anger ou Lulu (com o malogrado Lou Reed) não enchem, de forma alguma, as exigências dos seguidores. Convenhamos que eles fazem porque, efectivamente, podem. Por estes dias foi ouvido Hardwired e o mundo voltou a falar dos Metallica. Eu voltei a falar de Metallica. Desta vez, a surpresa foi generalizada, pois, ao fim de muitos anos, parece que a banda está finalmente a recomporse, sendo essa malha muito melhor de muitas que foram ouvidas nos anos recentes. A vida nos Metallica parece voltar a ter sangue na guelra. Se o tempo é o certo não o saberemos, no entanto, sabemos que é bom tê-los de volta. Após a tempestade vem a bonança. Parecer ser esse o lema dos Metallica, isto apesar de, tantas vezes, parecer que os Metallica brincam com eles e brincam com o público e, aí, poucos sabem fazer as coisas como eles. Talvez hoje se compreendam melhor discos como Load ou Reload. Talvez hoje se compreendam as saídas de Newson e Mustaine. Talvez hoje se continue sem perceber os Metallica. Mas a memória do que fizeram vive no que fazem hoje e, a verdade, é que os Metallica nunca deixarão de ser os Metallica.

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Trial by Fire R I V E R S IDE

OP ETH

EPI C A

E y e of t he S o u n d s c a p e

Sorceress (Nuclear Blast) MÉDIA: 2,9

T h e H o l o g r a p h ic Pr i n c i pl e

(InsideOut Records)

MÉDIA: 3,2

C A R L O S F. EDUARDO R. ADRIANO G. HUGO M.

(Nuclear Blast) MÉDIA: 3,0

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

HUGO M.

HUGO M.

P E R IP H E RY

THY CATA FALQ U E

C H A R R E D WA L L S O F T H E D A M N E D

S elect Di ffi c u l ty (Century Media) MÉDIA: 2,6

Meta (Season of Mist) MÉDIA: 3,3

C reatures Watchi ng Ov er The D ead

(Metal Blade) MÉDIA: 3,0

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

HUGO M.

HUGO M.

HUGO M.

ALCEST

FI NSTER FO R S T

K od am a (Prophecy Productions) MÉDIA: 3,5

O R P H A N E D L A N D & AMASEFFER

K na an (Century Media) MÉDIA: 2,8

#Yol o (Napalm Records) MÉDIA: 2,3

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

ADRIANO G.

HUGO M.

HUGO M.

HUGO M.

D E V IN T O WNSEND Tr ans cend e n c e (Century Media) MÉDIA: 4,0

Obra - Prima

C A R L O S F.

Excelente

EDUARDO R.

Esforçado

ADRIANO G.

Esperado

HUGO M.

Básico

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LIÇÃO DE HISTÓRIA Os Sabaton continuam a surpreender pela sua originalidade e energia. «The Last Stand» é mais uma lição de História numa carreira sempre em ascensão e estes Suecos não param… aliás, ainda estão só no início. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

Antes de mais, parabens pelo novo álbum. Li algures que foi número um na Suécia Pär Sundström: Sim! Muito obrigado! Em primeiro lugar estou muito orgulhoso do novo álbum, parece que todos os jornalistas e amigos o apreciam. É número 1 na Suécia e em muitos outros países também. Até agora é definitivamente o nosso grande sucesso e eu apenas olho para a frente para ver o que acontece, quantas pessoas vão gostar mas com certeza, estarei muito orgulhoso. Uma coisa que nos Sabaton (acho eu) é talvez mais importante do que a música é a letra e os conceitos subjacentes. Qual é o tema ou conceito que suporta este álbum? Pär: Em primeiro lugar, acho que somos uma banda de metal e a música vem primeiro, é assim que escrevemos. Nós vemo-nos mais como pessoas ligadas ao heavy metal, do que historiadores, professores, médicos ou algo assim. Mas é claro que temos que cantar sobre alguma coisa, e em vez de cantar sobre algo que realmente não nos importamos ou não sabemos muito sobre o assunto, preferimos fazer letras sobre conceitos ligados à História. Isto encaixa na nossa

música e nos nossos interesses pessoais. O novo álbum, “The Last Stand” é obviamente sobre as últimas batalhas e segue o «Heroes». De alguma forma, «The Last Stand» é muito semelhante ao anterior, já que algumas das músicas eram, precisamente, tópicos no álbum «Heroes”. Até agora foi uma evolução natural; é bom para nós e torna tudo mais interessante porque podemos decidir sobre o tema que queremos. Os dois primeiros temas foram encontrados quase imediatamente: A última batalha do Samurai - «Shiroyama» - e a batalha de Thermopylae - «Sparta». Isto ficou logo decidido e depois tínhamos dois séculos e meio de Grécia antiga para escolher o que nos interessasse mais. Somos livres e muito abertos para decidir e escrever sobre qualquer coisa e foi isso que fizemos. Como e onde é que vocês pesquisam estas histórias? Pär: Bem, a maior parte das ideias recebemos dos nossos amigos e fãs. Se ouvirmos uma história que, mesmo assim, não nos possa interessar escrevemos algumas palavras e guardamos para um momento em que achamos que devemos escrever sobre isso e compor. Então, vamos para a biblioteca e é lá que começamos

a ler muito sobre isso. Não lemos história todos os dias. Na minha opinião, “Caroulous Rex” foi um épico com temas muito directos e incisivos, mas com “The Last Stand”, acho que vocês pegaram em alguns elementos do álbum anterior. Porquê “reciclar” algumas ideias? Pär: Na realidade não pensamos muito nisso e não temos nenhuma fórmula. Nós fazemos as melhores músicas que podemos e elas acabam por ser assim. Às vezes podemos retirar algum que soe muito semelhante a outro mas não planeamos que tipo de temas vamos escrever. Contrastando com este facto, vocês adicionaram alguns elementos novos nunca antes ouvidos nos Sabaton: uma “Gaitade-foles” e um órgão Hammond. Quem teve essa ideia e quem tocou esses instrumentos? Pär: Na verdade... já tínhamos usado um pouco o Hammon no passado, mas não foi regra e nem sequer fazemos solos com ele! Joakin é originalmente quem toca mas o Hammond é o nosso advogado; ele disse que se arranjasse-mos alguns temas onde o pudesse incluir, então, ele levava o dele. E isso aconteceu. Dissemos-lhe que tínhamos um

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tema onde o podia encaixar. O Hammond B3 é um instrumento clássico, muito antigo e de alguma envergadura. No estúdio houve um problema eléctrico e pegou fogo, o que até foi engraçado mas depois levantou uma série de problemas quando tivemos de arranjar as peças de substituição. Na Suécia há só uma ou duas pessoas aptas para o fazer; falamos com uma delas e tudo se resolveu. Mas isto para nós foi uma novidade. Quanto à “Gaita-de-foles”, foi uma escolha natural adicionar logo após termos feito a letra para “Blood of Bannockburn” e ficou fantástico. Fazem planos para tocar estes temas com estes instrumentos ao vivo? Pär: Por agora vamos nos mantendo como os teclados pré-gravados. Mas não estamos a planear trazer um tocador de “Gaita-de-foles” connosco na digressão só por causa de um tema. (risos) Outra coisa que gostei muito e não consigo ver nos álbuns anteriores - pelo menos tão pronunciada - são os solos de guitarra. Em alguns temas eles são muito clássicos. Quem fez os solos? Pär: Os solos são feitos pelo Thobbe e o Chris. Acho que eles realmente evoluíram com os Sabaton. Além disso, é extraordinário ver e ouvir o que fazem e como trabalham no estúdio. Ambos fazem os solos para todos os temas e estão sempre na brincadeira, a ver quem faz o melhor riff. (risos) Eles tornaram-se cada vez mais clássicos porque nenhum está interessado em fazer solos rápidos, somente deixarem-se levar pelos sentimentos e emoções. Peter é considerado o sexto elemento da banda. Em que álbuns é que ele contribuiu? Pär: Na realidade ele tem vindo a colaborar desde o «Primo Victoria» porque ele esteve sempre connosco para nos ajudar, quer seja no som

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das guitarras, bateria, etc. Para ser considerado o sexto elemento é porque é extremamente competente e vocês estão muito satisfeito com o trabalho desenvolvido. De que forma podemos ver a influência dele neste álbum? Pär: A sua maior tarefa é ajudarnos no som. Quando chegamos ao estúdio os temas já estão quase terminados e totalmente produzidos, não há espaço para grandes mudanças porque já sabemos o que queremos. No que diz respeito ao som, aí nós não nos metemos no trabalho dele. Infelizmente, a banda como um todo é estável e tu e o Joakim são os únicos membros fundadores ainda na banda. Recentemente, Thobbe saiu. O que aconteceu? Pär: Bem, ele explicou bem isto na mensagem. Ele tem vontade de tocar temas mais longos, improvisar, tocar quando sentir que deve tocar e não em constantes digressões. Como é óbvio respeitamos isso. Nós sabemos como ele é e nos Sabaton não há muito espaço para improvisos. O público merece toda a nossa dedicação, quer ouvir a nossa música e nós temos um compromisso com eles, além de que esperam sempre que os Sabaton soem a… Sabaton. Podemos dizer que ele foi vítima do vosso sucesso? Pär: Não, na verdade não foi. Mais do que não estar dentro daquilo que é a banda, por exemplo, os Sabaton são rigorosos, trabalham arduamente e andam muito em digressão enquanto que Thobbe é mais um “espírito livre”, que faz as coisas dele quando acha que deve fazer e isto não se coaduna com um membro dos Sabaton (risos) Ele tem de ir para o palco, todos os dias, independentemente do seu estado de espírito. Tommy Johansson é o novo guitarrista, o que é que vocês esperam dele?

Pär: Tommy foi logo a primeira escolha e já tinha sido da primeira vez há cinco anos quando procurávamos novos guitarristas. Já o conhecíamos e sabíamos que era (e é) um grande fã de Sabaton, além de que é um excelente músico e um tipo porreiro. N’altura disse que não porque estava envolvido em projectos pessoais e não nos foi possível contar com ele. Mas agora, quando lhe liguei a perguntar se queria juntar-se a nós, ele aceitou. Foi um processo bastante simples e ele já conhecia muitas músicas e quase não teve de ensaiar; tenho a certeza que as pessoas vão gostar dele e que ele contribuirá para a música dos Sabaton. Ontem demos o primeiro concerto com ele e correu lindamente. Olhando para estes anos mais recentes, depois de «Caroulos Rex» vocês lançaram o «Swedish Empire Live» - um tremendo concerto em Woodstock. Mas pouco antes de «The Last Stand”, lançram “Heroes on Tour live” no Wacken Open Air. O «Swedish Empire Live» foi absolutamente incrível e vocês foram os cabeças de cartaz. Porquê do lançamento destes dois álbuns ao vivo e quais foram as principais diferenças entre eles? Pär: Com o «Swedish Live Empire», na Polónia, foi um passo natural porque tínhamos membros novos e n’altura era uma banda completamente diferente e foi uma forma de mostrar ao mundo que eram os Sabaton. O último ao vivo - «Heroes on Tour» - nós tivemos tão boas críticas e muita gente sempre a perguntar porque não fazíamos outro álbum ao vivo que pensámos: “Porque não?” … E queríamos também mostrar alguns sítios da nossa terra natal, do género: “Isto é o que fazemos depois de uma digressão”. Foi um concerto em Wacken e outro na nossa cidade: Sabaton Open Air. Os fãs pediam e nós fizemos. (Risos) É provável que também façamos um DVD depois desta digressão


“Nós vemo-nos mais como pessoas ligadas ao heavy metal, do que historiadores, professores, médicos ou algo assim.“

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(Não sei se concordas, mas ...) «Caroulos Rex» foi o álbum que definitivamente impulsionou a vossa carreira que por agora culminou com «The Last Stand». Está a ser uma carreira sempre em crescendo e você já tocaram com Iron Maiden e os Accept estão a fazer as primeiras partes dos vossos concertos. Lembro-me daquela multidão no Woodstock e o palco principal no Wacken. A última vez que tocaram em Portugal foi numa pequena sala, agora vocês vão tocar no Coliseu – uma excelente sala de espectáculos. Quando começaram, alguma vez pensaste chegar onde estás agora? Pär: Quando nós começámos nunca pensei nisto; foi algo que foi crescendo. Tens razão quando dizes que foi com o «Caroulos Rex» mas não foi só o álbum… foi também, a mudança de line-up que aconteceu em 2012 que nos permitiu elevar a música a um outro nível. Em 2011 estávamos numa luta para tentar levar toda a gente nas exigentes digressões porque nem todos estavam dispostos a ir nessas condições. Como disse, em 2012 tudo mudou e pudemos, então, fazer melhores concertos, apesar de eu já estar confiante que poderíamos levar a banda a este nível. Para mim já não é nenhuma surpresa porque fizemos isto nós próprios; não

temos empresários ou gestores, somos nós que tomamos todas as decisões. Quais foram as maiores dificuldades que encontraste? Pär: Bem… quando mudámos 4 membros, em 2012, de alguma forma foi muito complicado; foi difícil explicar à editora que pensaram que os Sabaton tinham acabado. Eu tive de explicar que eles não compuseram nenhum tema, Joakim compôs a música, eu e ele fazíamos as letras e eu tratava da gestão da banda. Basicamente, o núcleo da banda estava intacto e depois dos novos membros se juntarem ficou ainda melhor. Ah… e em 2005 quando lançámos o nosso primeiro álbum: Na Alemanha pensaram que eramos Neonazis (risos) música de propaganda Neonazi e tive que falar com todos os distribuidores e dizer-lhes para lerem as letras porque não eramos Neonazis. As pessoas pensaram que foi fácil mas não… já lá vão 17 anos o que é mais de metade da minha vida! (risos) O que é que podemos esperar dos Sabaton no futuro? Pär: Podem contar que vamos continuar o nosso trabalho e a fazer o que temos vindo a fazer. Nem por longe estamos fartos de fazer isto. Na realidade, só agora nos começámos a sentir muito bem com o que temos vindo a fazer,

“Na realidade não pensamos muito nisso e não temos nenhuma fórmula. Nós fazemos as melhores músicas que podemos e elas acabam por ser assim.”

porque actualmente podemos fazer os concertos que queremos, temos os nossos profissionais e, portanto, o som é do melhor. Também já não estamos excessivamente cansados quando subimos ao palco e não entramos em festas tantas vezes (risos), logo não acordamos de ressaca (risos). Estamos a levar isto muito seria e profissionalmente e estamo-nos a sentir melhor do que nunca. Portanto, não há que ter medo dos Sabaton! Na Suécia vocês têm um festival com o vosso nome… Pär: Sim, Sabaton Open Air Como é organizar um festival com o vosso nome? Pär: (risos) No próximo ano vamos fazer 10 anos de festival, portanto, já fazemos isto há nove! Tudo começou com um pequeno festival num recinto fechado e já vai num de três dias em recinto aberto, com dois palcos e trinta e três nacionalidade. É extraordinário e emocionante mas já não estou tão envolvido directamente só faço algumas reservas de bandas e promoção. É emocionante estar lá todos anos e ver a felicidade dos fãs que vêm de toda a parte para nos ajudar a construir o recinto, são três dias onde há muito convívio. É realmente um sítio muito especial. Como disse, em Janeiro vão estar em Portugal. O que é que o público pode esperar de vocês? Pär: Todos vocês podem esperar uns Sabaton em forma e desde que tocámos pela primeira vez em Portugal, que foi em 2006 com Edguy, que gosto muito do público português e vocês vão-nos fazer muito felizes. Não tenho dúvidas que vai ser uma grande noite e que vai ser divertido tocar no Coliseu. Ouvi muitas coisas boas acerca dessa sala. http://www.sabaton.net/ https://youtu.be/7jTgkTEDDog https://www.facebook.com/sabaton/

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ORPHANED LAND

& AMASEFFER Este é um projeto especial de duas bandas israelitas, que tocam o mesmo universo de música e se juntaram para dar corpo a uma banda sonora de uma peça teatral. Uma bem conhecida de todos nós, os Orphaned Land, e a outra, uma completa revelação, os Amaseffer. «Kna’an» é um projeto nascido da cabeça do encenador Walter Wayers, que escreveu uma peça de teatro com uma abordagem atual da história bíblica familiar de Abrão e a sua partida para Canaã. Walter Wayers queria alguém que escrevesse a música e encontrou em Kobi Farhi (Orphaned Land) e Erez Yohanan (Amaseffer) as pessoas certas para coproduzirem a banda sonora da sua obra. Assim nasceu «Kna’an». A Versus teve o prazer de conversar com Chen Balbus dos Orphaned Land e Erez Ciro Yohanan dos Amaseffer. Entrevista: Carlos Filipe

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“ … Nós tentamos clarificar ao máximo que isto é só um projeto paralelo e não tem nada a ver com o próximo álbum dos Orphaned Land, o qual o seu desenvolvimento está em progresso. “ Este projeto é a ideia de uma só pessoa, o encenador Walter Wayers, que escreveu uma peça que está na base deste álbum conceitual «Kna’an». Deixando de lado o tema comum à peça e ás bandas, como é que as duas bandas se viram envolvidas neste projeto? Chen Balbus: Bem, como somos bons amigos à anos e já trabalhamos juntos antes, foi facílimo juntarmo-nos e cada um contribuir com a sua música. Seguimos uma guideline específica do que cada canção devia ser, basicamente utilizamos, aquilo que denominados da técnica do ping-pong. Um envia uma ideia e cada um

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ouve e sente à sua maneira, respondendo com algo completamente novo. Quanto difícil foi o desenvolvimento, coprodução e sincronização entre ambas as bandas e Walter Wayers? Chen: Foi o primeiro álbum em conjunto, mas temos a química a rolar entre nós já faz bastante tempo. Claro que não é nada fácil ter múltiplas opiniões todo o tempo, mas posso afirmar que o álbum veio de uma forma bastante suave. Porque puseram o nome das bandas neste projeto paralelo e não algo não

necessariamente relacionado, como por exemplo, simplesmente “Kna’an” ou “Walter Wayers’s Kna’an”? Chen: Nós estamos muito orgulhosos de toda a ideia de colaboração, pelo que, conseguimos levar ao máximo de nós todo o esforço possível, quer na composição musical, quer na arte de fazer música, que não nos parecia bem, simplesmente chamar o álbum de ‘Kna’an’ e não colocar o nome das nossas bandas. Neste projeto, podemos sentir mais Orphaned Land que Amaseffer, mas, de qualquer forma o álbum parece bem balançado.


este projeto? Chen: Definidamente não é o típico álbum da banda sonora ao bom estilo de um Hans Zimmer [NR: Compositor de inúmeros filmes de Hollywood] ou outro que tal. Primeiro, quando recebi a chamada de que íamos fazer isto e seria tempo para escrever música… honestamente, eu só esperava vir a fazêlo simplesmente com uma orquestra, só quando cheguei ao estúdio, depois de “lançarmos” algumas ideias e sons uns aos outros, com a orientação do Walter Wayers, é que as músicas começaram a ter relevância em si para a peça.

Quanto difícil foi manter este equilíbrio entre o som característico de ambas as bandas e não ter uma a sobrepor-se à outra? Chen: Quando escrevemos juntos, temos todas as múltiplas opiniões de uma vez só. Acho que o truque é trabalhar isso e encontrar o ponto intermédio onde todos podemos concordar e aferir se a música soa bem ou não. No que respeita às bandas, estamos nisto para compor grandes músicas, as quais, nos parecem bem a nós. Ao ouvir «Kna’an», não me parece a típica banda sonora de um filme? Como categorizas musicalmente

De acordo com a Press Release que acompanha o álbum [NR: E descrito na lead desta entrevista], «Kna’an» é uma banda sonora desenvolvida para uma nova peça de teatro escrita pelo ensaísta Walter Wayers. Como a música presente no álbum se encaixa com a peça? Isto é, serão necessários novos arranjos ou o que está encaixa na perfeição? Chen: Na prática, eu nem sequer ainda vi a peça! Ouvi dizer que é fantástica e está alinhada com a música e com a performance dos atores. E onde e quando poderemos ver a peça “Kna’an” com a música dos Orphaned Land e Amaseffer? Chen: Neste momento, a peça só estreou na Alemanha. Vamos ver o que o futuro nos trás (risos). À primeira vista, pensei que estava perante um novo álbum dos Orphaned Land em colaboração com os vossos conterrâneos Amaseffer. Vocês conseguiram enganar-me por

momentos e só com a press release é que percebi do que se tratava. Pode o nome “Orphaned Land” à cabeça deste projeto confundir os vossos fãs, levando-lhes a acharem que este é um novo vosso álbum? Chen: Bem, uma vez que colocamos “Novo Álbum” nas nossas páginas pessoais, as pessoas seguramente interpretarão tudo isto ao contrário. (risos) Nós tentamos clarificar ao máximo que isto é só um projeto paralelo e não tem nada haver com o próximo álbum dos Orphaned Land, o qual, o seu desenvolvimento está em progresso. Como atalho de foice, como vai o desenvolvimento do vosso próximo álbum de estúdio? Chen: Está quase feito ao nível do processo de escrita e composição. O que falta agora é gravá-lo, o qual será feito logo que tenhamos encerrado as tournées de 2016. O que podemos esperar musicalmente e criativamente do vosso próximo trabalho? Chen: À medida que o álbum se vai definindo, construindose, tudo o que posso dizer neste momento é que podem esperar um álbum conceitual. Os “growls” estão de volta e estamos a esforçarmo-nos ao máximo para que seja algo arrasador. Vamos assistir a mais projetos paralelos nos próximos anos ou este é um acontecimento único? Chen: Neste momento, os nossos olhos estão focados unicamente no novo álbum dos Orphaned Land. Mas nunca se sabe, se alguma coisa surgir e pudermos colocar o nosso cunho, nós

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"[…] Os Orphaned Land nunca foram uma banda de um só músico, mas sim uma banda que cria em conjunto algo que se sobrepõe a um homem só.”

fazermos-lho com todo o gosto! Como toda a gente já sabe, Yossi Sassi deixou a banda em 2014. Além das tournées, em 2 anos não lançaram nada de novo e têm as baterias todas apontadas para o álbum do próximo ano. Yossi era um dos principais elementos na definição musical dos Orphaned Land. Vejo a sua saída como algo de audacioso e só é comparável se, e sublinho o se, um Steve Harris abandonasse os Iron Maiden ou um Glen Tipton Judas Priest ou até um Dave Mustaine os Megadeth, isto no campo das hipóteses absurdas. Como tem sido para vocês manter o leme do barco Orphaned Land e levá-lo a um porto “musical” seguro todos estes 2 anos que se passaram? Chen: Bem, para ser honesto, a sua saída não afetou os Orphaned Land de todo. Evidentemente que nunca é bom quando os nossos amigos vão embora – Mas sustentamos plenamente

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a sua decisão e já temos o Idan [Amsalem] em linha para tomar o seu lugar. Estamos muito satisfeitos com o lineup atual e acreditamos piamente que Orphaned Land está no seu melhor, mais do que nunca. Os Orphaned Land nunca foram uma banda de um só músico, mas sim uma banda que cria em conjunto algo que se sobrepõe a um homem só. O que é que o público pode esperar da vossa tournée comemorativa “25 Years - The Anniversary & Very Best Tour 2016” com os convidados especiais Voodoo Kungfu (China) & Imperial Age (Rússia). E, porque razão não há nenhuma data em Portugal ( Nem sequer em Espanha)? É sempre um prazer vê-los ao vivo em Portugal! Chen: Infelizmente, vamos sentir a vossa falta desta vez. Mas, vamos fazer o melhor para ir aí com o próximo álbum! Esta tournée agrega os 25 anos de atividade da banda, celebrando e dando

as boas vindas ao novo e melhorado Orphaned Land. Tal como eu, a maior parte dos leitores da Versus magazine vão descobrir os Amaseffer com este projeto especial. Podes presentar a tua banda aos nosso leitores metaleiros? Erez Ciro Yohanan: Amaseffer é mais uma banda normal que tenta trazer as suas visões musicais ás pessoas que apreciam boa música. O nosso álbum de estreia, «Slaves for Life» ( a 1ª parte de uma trilogia ), tem sido retratado como uma jornada musical bíblica que reconta a história de Moisés e do seu êxodo do Egipto. Amaseffer é uma banda que partilha a mesma base musical que os Orphaned Land, fazendo sentido a sua coprodução em «Kna’an». Não há qualquer dúvida aqui. Mas, olhando com outra perspetiva, isto é uma oportunidade de ouro para os Amaseffer levarem a sua música e temas a uma audiência mais vasta. Qual é


o teu comentário? Erez: Não fazemos projectos com propósitos promocionais. Fazemos projectos baseados somente em níveis artísticos e naqueles que vai ao encontro das nossas visões musicais, independentemente das considerações publicitárias. Porque não faz os Amaseffer parte da tournée 2016 de aniversário dos Orphaned Land? Erez: Amaseffer é um projeto unicamente de estúdio, mas… “nunca digas nunca”.

Podemos afirmar que Amaseffer toca “Middle Eastern metal”? Erez: Não, não somos uma banda desse particular estilo. Nós contamos uma trilogia bíblica musical e temos como decisão artística manter a nossa composição musical fiel aos tempos em que os acontecimentos se deram, no antigo Egipto do Médio Oriente. No nosso próximo projeto, nós iremos fazer as corretas e necessárias modificações musicais afim de contar a história da melhor forma possível.

http://www.orphaned-land.com/ https://www.facebook.com/OrphanedLandOfficial/ https://www.facebook.com/OfficialAmaseffer/ https://youtu.be/r3muysKTuwI

“… Amaseffer é mais uma banda normal que tenta trazer as suas visões musicais às pessoas que apreciam boa música.”

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O regresso dos infames

Foto: Tiago Petinga

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Depois de um longo jejum os Mata-Ratos regressaram aos discos com «Banda Sonora do Apocalipse Anunciado» que, como sempre, é um disco caustico e corrosivo. Ao fim de 35 anos a banda mantém a sua firmeza e, como é óbvio, a corrosão e infâmia de sempre, provando que o Punk não está morto e que a validade da banda não termina. Com o novo disco como pano de fundo, a Versus falou com Miguel Newton, o líder da matilha. Entrevista: Nuno Lopes

Foto: Tiago Petinga

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“O nível de loucura da humanidade e dos portugueses, que é o que nos inspira, mantem-se o mesmo.”


Bem, 30 anos de mata ratos… mais… Miguel Newton: Mais, para o ano já são 35. Qual é o balanço que fazes? Miguel: Não sou muito de fazer balanços porque até não gosto muito de olhar para trás. A única maneira da banda continuar, é estar sempre no presente. O percurso teve altos e baixos, mas estamos cá. É preciso é continuar. Esta pergunta é quase óbvia, mas tendo em conta as primeiras recordações que tenho… Já te dás bem com a tua sogra ou não? Miguel: Não, nem tenho sogra neste momento e, na altura em que a música foi escrita, nem sogra tinha (risos). Era já uma previsão. Há certas letras que parecem que um gajo já está a adivinhar que as coisas acontecem. (risos) E achas que essa malha, principalmente, foi algum estigma? Miguel: Obviamente que foi o tema que nos ajudou a ficar mais conhecidos e ainda hoje o pessoal quer é ouvir a Sogra. O estigma que é a Sogra é o do pessoal nos chatear para a tocar a Sogra e não nos apetecer. Mas já devem estar um bocado fartos, não? Miguel: Sim, aliás falámos já muitas vezes em não tocar a Sogra. Mas foi só agora, com estes concertos de lançamento que não tocámos a Sogra. Já demos dois e não tocámos a Sogra, hoje também não vamos tocar de certeza, porque temos mais músicas, sei lá… para cima de cem músicas e temos muito por onde escolher e não nos prendemos a isso. E falando agora do «Banda Sonora do Apocalipse Anunciado» que apocalipse é este? Miguel: Eu sou um firme crente que o mundo vai acabar, e pode ser daqui a cem, cinquenta, já para o ano, e o fim do mundo prende-se muito com o que o homem faz no

planeta, ou seja cada vez vamos ter mais… quer dizer o fim do mundo pode ser também qualquer coisa que venha aí e embata com a Terra, mas estou a ver mais o ser impossível de viver. Portanto o homem caminha para a destruição e o que estamos a fazer são hinos para partimos em folia. E achas que agora, olhando à distancia, é mais fácil para vocês escreverem musicas e editarem do que quando começaram? Miguel: É mais fácil tocar, conseguir concertos e mais fácil também gravar, não só para nós, mas para toda a gente porque até em casa consegues gravar um álbum se for preciso. Tens condições para o editar que era coisa que não acontecia quando começámos, ou pelo menos não sabíamos como o fazer, e agora tens tudo, com a internet é muito fácil fazeres chegar tua musica a todo o lado, não é. Quando falo em escrever falo em termos de conceitos, sendo vocês uma banda cáustica. Miguel: O nível de loucura da humanidade e dos portugueses, que é o que nos inspira, mantemse o mesmo. Ou seja, não muda nada?... Miguel: Não, a estupidez é a mesma, temos sempre fonte de inspiração. (risos) Como é que uma banda como os Mata Ratos olha para aquilo que está a acontecer com o FMI e estas tretas todas? Miguel: Curiosamente quando começamos o FMI estava cá, se bem me lembro foi no início dos anos 80. Pessoalmente acho que nunca deveria ter acontecido termos cá o FMI. O mal é de facto a bipolarização da vida política e as pessoas não saírem desse circulo. Andam-nos sempre a roubar, continuam-nos a roubar, não muda nada, não há contenção, o caminho vai ser sempre este. Contenção até ao fim.

Até um dia quando Portugal acabar, que vai ser com o fim do mundo. Achas que faz falta uma mudança na sociedade? Miguel: Sim, dos políticos. Termos gente séria na política, outras maneiras de fazer política, outro tipo de democracia que não esta que existe. As pessoas não são sérias, o problema é esse. É assim, as pessoas que deviam fazer serviço publico não fazem, os políticos deviam ser escuteiros, mas são ladrões. Achas que há muito interesse envolvido por trás? Miguel: Sim, a Maçonaria, Opus Dei, o que quiseres, o Quinto Império (risos). De onde surgiu a alcunha de infames? Miguel: Não surgiu, fomos nós. A nossa má fama é grande, sempre fomos encarados com maus olhos quer por algumas pessoas quer pela imprensa, por jornais como o Blitz, que nos fizeram um boicote encapotado durante décadas. Neste momento a editora já nem se dá ao trabalho de mandar CD’s para o Blitz porque já sabe que nem os vão ver. Mas sei, porque houve pessoas que eu conheço que trabalharam no nessa publicação, e, pelo menos há uma década a trás, diziam que não se pode falar dos Mata Ratos. Não deixa de ser um contra censo pois é uma publicação única, tirando as outras todas pequeninas como a Versus e as outras webzines, é um bocado estúpido e ridículo… Miguel: Por acaso acho que essa parte com o Blitz já está ultrapassado, porque saiu uma cena sobre o punk e eles falam em nós, mas não tem interesse em nos entrevistar, em fazer críticas dos nossos discos, não tem grande interesse nos Mata Ratos, mas é como tudo, nós assumidos que somos uma banda do underground não somos uma banda pop.

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(...) Anda ho perguntar s e já vai pas

Vocês nunca quiseram ser grandes? Miguel: Não, fazemos sempre questão quando as coisas começam a escalar demais, fazer qualquer coisa desagradável para voltarmos à escada zero, ou menos um. Neste disco tem uma quantas malhas que me chamaram à atenção. Nomeadamente duas, a «Donos disto Tudo» e a homenagem a António Sérgio. Qual é a importância do António Sérgio para vocês? Miguel: É assim, para o pessoal actual dos Mata Ratos, o resto da banda, pouca porque na altura em que o António Sérgio tinha aqueles grandes programas que marcaram a rádio, eles ou ainda não tinham nascido ou andavam a gatinhar. Para mim foi muito importante

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porque foi por aí que comecei a ouvir musica, porque não ouvia só a rádio, fazia questão de ficar a ouvir os programas. Gravava, o meu pai tinha um gravador de fitas e depois passávamos a semana a ouvir aquilo. E o António Sérgio tinha, provavelmente na altura do Som da Frente, uma hora em que passava um álbum inteiro. Era uma maneira, na altura em que não se tinha acesso a tantos discos, a não ser que tivesses dinheiro, de ouvir as coisas. Foi importante quer ele quer o Luís Filipe Barros com o Rock em Stock, para começar a gostar de música e para começar a tocar música. Para mim, e obviamente para quem fundou os Mata Ratos também foi importante e toda a gente refere isso. A radio marcava, hoje em dia não me diz nada. Se queres que te diga, já nem ouço rádio. Aliás, roubaram-me a

antena do carro, agora se ligar a rádio aquilo só apanha a antena 2. Ando a ouvir sonatas e minuetos… (risos) Achas que esses programas, nomeadamente o do António Sérgio, teve impacto naquilo que fazem hoje? Miguel: Sim, porque houve bandas que ouvi aí, teve um grande impacto. Tive a felicidade de conhecer pessoalmente o António Sérgio. Demos duas entrevistas ao longo destes 35 anos e é uma pessoa excelente que influencia não só para o pessoal do punk, como do metal. Para quem goste de musica alternativa. Os «Donos Disto Tudo», o que queres dizer com isto? Miguel: Os donos disto tudo são aqueles que o pessoal sabe. É


oje vai lá um que contactou a se podia levar o filho com 10 anos, ssando gerações. o pessoal que está impune, dos banqueiros e dos políticos que lixam e saem sempre por cima. Se tu fores ao supermercado e roubares uma lata de sardinhas vais preso, há gajos que roubam milhões e andam aí, metem-lhes uma pulseirinha, se calhar nem andam com ela, é tanga, apenas para inglês ver. E achas que são eles a Jihad Lusitana? Miguel: Não, a Jihad Lusitana é o português típico, o pessoal de palito no dente, que cospe no chão, assobia às gajas. (risos) É o que temos criticado ao longo dos anos. Também não deixamos de ser nós, aquilo que criticamos quando estamos a criticar os estereótipos portugueses. Há pessoal na banda que é assim. Fazemos uma autocrítica, quando estamos a criticar os portugueses não é só dizer que é uma merda, é dizer que se calhar há merdas piores e os ingleses e os alemães também têm os tipos ranhosos deles. Ao longo da vossa carreira os Mata-Ratos nunca mudaram, a filosofia é a mesma, a estética é a mesma. Onde é que vocês se baseiam, para além de vocês mesmos? Poorque quando olho para vocês vejo muito de Ramones, talvez de Xutos até, falando a nível nacional. Miguel: Sim, gostamos de punk e o punk influenciou-nos, como também os Xutos. Por exemplo quando comecei a ouvir, a primeira banda que me fez ter a noção de

que cantar em português de facto é fixe, porque um gajo consegue ser desagradável e chocar as pessoas, foram os Xutos com a «Sémen» ou a «Mãe» ou a «Avé Maria», que eram musicas que quando levei o disco para casa a minha ia lá ao quarto dizer “tira isso, o que é que estás a ouvir?” porque achava aquilo escandaloso. Se colocasse Sex Pistols, ou os Ramones podia não gostar da musica, mas não dizia nada, apesar de ela saber inglês. Não é o fuck off ou o anarchy que causa, mas agora “mãe, mãe quero matar o pai”… causa frissom. Já havia, no inicio dos anos 80, com o boom do rock português os UHF e outras bandas. Ouvia tudo e gostava, mas os Xutos têm essa crítica e essa coisa que choca e isso marcoume profundamente para começar a escrever letras e tudo mais. A coerência é basicamente… básico porque gostamos de punk e nunca quisemos evoluir muito. Quando quisemos evoluir saiu disparate, como no álbum anterior. Temos musicas onde queremos fazer muita coisa e muita variação e acabam-se por tornar longas e isso chateia-nos. O que é que acontece? Chegamos ao vivo e não queremos tocar as musicas porque começam a ser demasiado complicadas. O que aconteceu neste álbum é que voltamos a simplificar as coisas. As coisas têm de ser mais básicas, os álbuns não podem ser muito longos, tem de ser… punk. E sempre foi isso que quisemos. É ser básico.

Li não sei onde, que vinhas de uma família conservadora. Isso é verdade? Miguel: Sim é verdade, os meus pais são ultra católicos, ainda hoje continuam a ir à missa, são da classe média, o meu pai esteve na mocidade portuguesa e adorou, teve na guerra colonia, tem todo esse background e visão das coisas. Claro que foi difícil, ter não um, mas dois filhos punks, foi o descalabro, mas pronto foi uma luta constante. Damo-nos bem, mas foi um período complicado. Como foi chegar a casa e dizer “mãe pai tenho uma banda de punk?” Miguel: Antes disso já era punk, eles já tinham o problema e a banda já encaixou. Eles até acham graça que as pessoas gostem da banda e vem que a banda é reconhecida e foi tudo ultrapassado. Sabem que sou um ateu convicto e um caso perdido, portanto, já não há muito a fazer. Vocês já andam na estrada, como está a correr? São conhecidos pelas vossas actuações causticas. Miguel: Sim é sempre um bocado caótico, como o Chico (Francisco Esteves, baixo) disse uma vez, é uma roleta russa. Tu nunca sabes como é que um concerto dos Mata Ratos vai acabar. Qualquer um pode ser a estrela da noite, basta estar mais bêbado. Ou o público e a banda ou a banda e o público, nunca se sabe. É assim, mal nunca corre, pode é correr mais acidentado, mas é a festa tribal. E consegues ver malta mais nova com malta mais velha? Miguel: Sim, consigo. Já há filhos, daqui a um bocado há-de haver netos, há pais que vão com filhos. Anda hoje vai lá um que contactou a perguntar se podia levar o filho com 10 anos, e já vai passando gerações. O pessoal mais novo, havendo mais diversidade entre o punk, não há tantos a gostar de Mata Ratos, como haveria. Mas o engraçado é que no que toca a fans de Mata Ratos que se

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mantêm, conseguem transmitir isso os filhos. E notas diferença no público, na energia daquilo que havia nos anos 80? Eu noto que quero ver o concerto e há pessoal que está lá com a história do telemóvel… Miguel: Isso do telemóvel acontece muito. Em termos de energia o público antes era um bocado diferente e havia coisas irritantes que foi bom terem deixado de acontecer, como por exemplo, quando começámos a tocar no início dos anos 80 o pessoal tinha a mania de cuspir para cima das bandas nos concertos de punk. Era uma coisa horrorosa. Era uma coisa que o pessoal ouvia que se fazia em Inglaterra e fazia-o, mas obviamente que isso rapidamente passou. Em termos de energia acho que se mantem, o pessoal diverte-se. O que é bom é que sais de Lisboa e o pessoal não precisa de andar vestido à punk, ou andar com etiquetas para gostar das coisas e têm altos níveis de energia e divertem-se. Em Lisboa é mais complicado, acho que o público de Lisboa é o que é mais do telemóvel e das misturazitas. Eu não gosto muito de tocar em Lisboa por causa disso, porque as pessoas vão lá é para olhar para os sapatos, como eu digo. É olharem uns para os outros para ver como estás vestido e a tirar o talho uns aos outros. Tu sais de Lisboa e isso não acontece e os níveis de energia e participação são muito

Foto: Cameraman Metálico

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“[...] no início dos anos 80 o pessoal tinha a mania de cuspir para cima das bandas nos concertos de punk.” maiores. Em Lisboa tens muita oferta e as pessoas não se mexam. Fora de Lisboa a oferta é menos e as pessoas aderem de uma maneira muito maior. Ao nível do punk em português, vocês são líderes, se é que falar de liderança e punk não joga bem, mas vocês são a voz maior… Miguel: Não, não acredito nisso porque nós somos fora do rebanho dentro do punk. Não somos muito alinhados, não nos damos muito bem com as outras bandas punk. Damo-nos melhor com bandas de metal, por exemplo, tocamos mais com bandas de metal. Basicamente, actualmente o que é que vês de bandas punk? Há bandas anarco-punk que obviamente não gostam de nós, porque há muita gente que acha que nós somos fascistas. Depois tens as bandas de punk que eu chamo de hardcore de

praia, que são bandas de punk melódico, lálálá. É que não temos muita paciência quer para ouvir quer para estar. Por isso não nos consideramos líderes de coisa nenhuma. Mas achas de neste momento há uma cena punk? Miguel: Há, obviamente essa diversidade, e é bom que haja essa diversidade. Há outras bandas que já não têm muito a ver com isso e eu até as considero engraçadas e boas como Clockwork Boys ou os Esquizofrénicos, que é a banda com quem vamos tocar agora, são bandas que tem outra postura. Há diversidade e há bastantes bandas, não há é muito público para o punk. Acho que nós somos beneficiados nesse aspecto pelo facto de sermos transversais, não é só pessoal do punk que gosta de Mata Ratos, é desde o pessoal do metal, betos, skinheads, pessoal

Foto: Fátima Inácio Gomes


que não tenha coisa nenhuma, é pessoal que vai aos concertos e gosta de nos ouvir. Não somos tão específicos e não nos falta público. Punks, não vejo aí muitos.Também mudou um bocado, os punks muitos tornaram-se naquilo que eu digo freaks e andam para aí com os cães e os malabares. Também não vão aos concertos porque também não tem dinheiro para entrar ou então se for de graça vão dizer que é uma merda. Há quem considere que o movimento punk era um grupo de meninos ricos e mimados que não tinham nada para fazer na vida. Miguel: Em certa medida é, e isso continua a existir desde dos anos 80. Eu, por exemplo, sou da classe média alta como tu dizes e pode-me perfeitamente servir essa carapuça, mas também, quer nessa altura quer agora, também há pessoal que é mais trabalhador e pessoal que trabalha em fábricas. Por exemplo o Punk Mangualde trabalha na Citröen a montar carros. Há de tudo, mas sim mesmo quando nasceu o punk em 77 eram meninos que andavam em escolas de arte e vem daí, não há que negar. Não vejo necessidade de criar o mito que o punk veio da classe trabalhadora. Não é uma coisa de classes, há quem se sirva disso e diga que somos muito da working class, e não é verdade. E muita da gente que tem necessidade de dizer isso são essas pessoas que referiste que

tem o papázinho e andam todos bem cheirosos e cheios de picos e depois tem o telemóvel e andam a mandar o selfie e a porcaria toda. Epá, é como tudo, cada um é como cada qual. Isto é um saco tão grande que no punk cabe tudo. E toda a gente tem o direito a ser punk. Quem sou eu para julgar. É punk quem quer, isto não há juízes, nem júris nem carrascos, e eu não sou nem juiz, nem júri nem carrasco dessas coisas. Cada um é como cada qual. (risos) Em jeito de terminar, «Banda Sonora do Apocalipse Anunciado», achas que, entretanto, ainda há tempo para mais um disco de Mata Ratos? Miguel: Sim, já estamos a trabalhar nisso. O próximo vai ser um bocado diferente. A ver se sai para o ano, já estamos a trabalhar e já temos temas. Vai ser um bocado diferente porquê? Porque acabou por ser um desafio que colocámos a nós mesmos por causa do pai do Pedro (Charneca, guitarra) que é de uma aldeia ao pé de Tomar, a Cem Soldos, e o pai dele gosta de copos e não sei quê. Gosta de Mata Ratos e disse: “Eu leio as letras, identifico-me com as vossas letras, mas vocês fazem uma barulheira do caraças e quando estão a cantar eu não percebo nada…”. Então vamos fazer uma coisa mais acústica, que seja Mata Ratos mas que o pai do Pedro consiga perceber.

Foto: Fátima Inácio Gomes

É um Mata Ratos unplugged? Miguel: Mais ou menos, estamos a ver como a coisa vai funcionar a esse nível. Ou pelo menos não vai haver tanta distorção, ou seja o que for. Então estamos a fazer isso e vamos dar também uma toada mais popular, entre aspas, mas sem ser pimba. Então estamos a magicar como isto vai sair… E vai sair engraçado. Já estamos secretamente a trabalhar, só eu e o Pedro, agora o resto da banda vai ler a entrevista vai ficar todo lixado, mas está a caminho, depois é gravar e está aí. (risos)

Mensagem para a malta que vai ler, vai ouvir e vai ver Mata Ratos? Miguel: A mensagem é que continuem a ouvir e a fazer musica alternativa. A ouvir não necessariamente Mata Ratos, é o do que gostarem, mas que se mantenham independentes e que pensem antes de votar porque temos de acabar com este circo. Bebam uns copos, curtam a vida. Medronho é bom, Bravia também, é feita pelo Chico, o nosso baixista e é uma maravilha.

Foto: Cameraman Metálico

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O HOMEM DA MOTOSERRA Pensamentos e crónicas

Salvem os nossos taxistas!!!!

A crispação entre taxistas e serviços como a Uber, como bem sabemos, já durava há muito. Contudo, nada melhor que uma boa sessão de pancadaria e destruição da propriedade alheia para dar alguma notoriedade à causa .ou à falta dela! Se uns estão ilegais, se os outros não sabem aceitar concorrência, se é desleal ou não, meus amigos, não me podia estar mais a marimbar! Como sou um pseudo esquerdista de centro/direita, ou talvez um indivíduo de classe baixa que gostava de ser burguês, ou talvez ainda (e é a hipótese mais provável), sou um teso e não tenho capital para ser transportado por táxis e afins, toda esta problemática me tem passado ao lado até há poucos dias atrás! Tal como nos jogos de futebol, o que nos fica retido na memória, não são os lances, os golos ou o fair-play. É a porrada! E o que nós Portugueses gostamos de porrada! E durante a última manifestação de taxistas foi um verdadeiro “fartote” para quem aprecia tal espetáculo. E meus amigos e minhas amigas que espetáculo que foi! Insultos, pugilato, frases polémicas, quedas de viadutos, e no final, segundo o que sei, até um ternurento aperto de mão como que para sarar e dizer: “ok, agora vamos embora, até já tenho fome e a telepizza não faz entregas aqui, mas daqui a uns dias voltamos ao mesmo. Só precisamos de uma pomadinha para dores, para depois podermos voltar novamente aviar e ser aviados.” O meu receio é que, depois desta polémica toda, que a classe “Taxistas” entre em extinção. Sim, é verdade que ontem houve alguém que disse: “as leis são como as virgens, são feitas para serem violadas”. Mas infelizmente todas as classes têm as suas ovelhas negras. Segundo fontes me asseguraram o taxista em questão não só não tem filhas, como também perdeu a ereção devido a uma pancada da cabeça durante sofrida durante uma batalha campal num jogo do Benfica para a taça de Portugal em 1976. Perdeu a ereção, e como se pôde verificar, cerca 85% da massa encefálica. Os taxistas são na sua maioria, pessoas ternas, compreensivas e com imensa compaixão. Dou-vos um exemplo muito prático: Nas poucas vezes que usufruí de um serviço de táxi, houve um encontro com um outro condutor que utilizava a faixa “bus” para fugir ao trânsito. O taxista que me conduzia com cautela e cordialidade ao meu destino, ao deparar-se com tal infração, coloca-se lado a lado com esse mesmo condutor e grita em alto e bom som, fazendo uso dos seus enormes pulmões: “PARTO-TE OS DENTES TODOS DESSA BOCA COM UMA BARRA DE FERRO!” (história verídica).

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Ora bem, eu desconheço as leis e códigos de ética pelos quais se regem os taxistas, mas se usar a sua faixa é punida com o arrancar da dentição, esta alma bondosa iria-a fazê-lo da forma mais humana possível. E é nesta fase que eu oiço desse lado: “este gajo é doido”. Sim! Isso é certo, mas reparem, essa seria a forma mais rápida, e quiçá indolor, de extrair todos os dentes do condutor que cometeu aquele crime horrendo. Ele poderia fazê-lo de várias formas: com um alicate um a um, com uma chave fendas, com um pau aos 2 e 3 de cada vez, enfim, deem asas à imaginação. Mas ele não! Fá-lo-ia de uma só vez e de uma forma rápida. Como não gostar de indivíduos tão altruístas e tão preocupados com o bem-estar de terceiros? Andar de táxi é sempre uma experiência para mais tarde recordar. Desde os diálogos de piropos, como: “- Oh estrela! Queres cometa? - Vai à merda seu porco! - Aquela está doida por mim!” Se os taxistas temem pelo seu trabalho, transformem-no! Façam tours por Lisboa, que, entre insultos e piropos se tornará certamente numa forma divertida de conhecer a cidade. E quem diz Lisboa, diz outra qualquer. Quem não gostaria de entrar no Táxi da Maria Rueff?! Por isso peço-vos, salvem os taxistas! São umas das profissões do nosso imaginário, e, se lhes for restrito o acesso a alguns objectos, como por exemplo, barras de ferro, acho que podem um papel importante na nossa sociedade, às vezes séria demais. Despeço-me enquanto espero que o telefone faça o download da aplicação da Uber.

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Paletes Angarthal- «Uranus And Gaia» (Itália, Progressive Power Metal) Angarthal é o novo projeto do metal do virtuoso guitarrista Steve Angarthal. ‘Urano e Gaia’ é o álbum de estreia que mistura na perfeição melodias de metal épico com estruturas progressivas, extravagantes partes de guitarra e um forte sentimento Hard Rock dos Setenta, com Steve a assumir múltiplos papéis tais como principal compositor, cantor e guitarra. (Bakerteam Records) Moonsorrow- «Jumalten Aika » (Finlândia, Pagan Metal) Sétimo álbum de estúdio da banda chamado de “Jumalten Aika” - o que significa ‘The Age Of Gods’ em Inglês. “Há muito mais influências da música popular do que antes”, comenta Henri Sorvali (guitarras, teclados e vocais). “Enquanto o álbum anterior era mais comparável a um urso, lentamente esmagando seu caminho, “Jumalten Aika” pode ser comparado a um lobo que circula à volta da sua presa e ataca quando menos espera .A música é a agressão desencadeada, profundos mistérios da bruxaria do Norte e trovejando combinados em uma forja fundido dos Deuses e lembra-nos todos de algo que nunca deixou o nosso sangue e solo “. (Century Media) Behexen- «The Poisonous Path» (Finlândia, Black Metal) Nomen est omen ... a nova versão “infetada” da banda finlandesa BEHEXEN, o qual oferece nada mais do que autentico, pútrido e verdadeiro Black Metal. “The Poisonous Path” é uma besta feroz, um trabalho direto e monstruoso das infernais profundezas que destila um clima profundamente mefítico num viciante veneno.

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A produção é enorme, o riffing intenso, a atmosfera sufocante e as melodias viciosas e sedutoras - puro alquimia sonora obscura. (Debemur Morti Productions) Mštterlein- «Orphans Of The Black Sun» (França, Haunted Rock) Conduzido pelo talentoso compositor e intérprete Marion Leclercq, apoiado por Christophe Chavanon, MÜTTERLEIN - com seu excecionalmente álbum de estreia - apagado todos os códigos habituais, referências e clichês para criar algo totalmente único. “Órphans of The Black Sun” é uma peça incrivelmente sombria de Rock assombrado. Um poderoso ar fresco de música que vai tecendo histórias fascinantes de vidas danificadas, neuroses profundas e insanidade. (Debemur Morti Productions) Sol Sistere- «Unfading Incorporeal Vacuum» (Chile, post/atmospheric black metal) Grande álbum de estreia do mais bem guardado segredo do Black metal da América do Sul Sol sistere! A sua música é uma mistura de força, melodias melancólicas e emoções, que reúne influências de bandas clássicas dos 90 de Black Metal e inovadoras modernas atmosferas, afim de criar uma atmosfera de tal forma imergente que vai abraçar a maioria dos entusiastas de black metal. (Hammerheart Records) Merciless Death- «Taken Beyond Mp3Bundle» (EUA, Thrash metal) Merciless Death são tudo exceto o habitual retro-old school. Merciless Death não são apenas uns nostálgicos que pretendem

prestar homenagem aos heróis antigos. Death Merciless são acima de tudo sobre a onda inicial da onda do metal extremo na onda de Possessed, Death, Slayer do inico, Morbid Angel ou Obituary. (High Roller Records) The Levitation Hex- «Cohesion Mp3Bundle» (Australia, Avantgarde/Progressive Death Metal) A estreia dos Hex levitation não era algo para os tradicionalistas de metal, e o mesmo é verdade para o seu segundo álbum “Cohesion”. É mais um daqueles caso da música extraordinária que vai apelar principalmente para as pessoas que não colocam quaisquer restrições ao seu gosto musical. “Cohesion” transborda uma variedade de sons e sentimentos que normalmente não se obtém de um registro de metal mais “run-ofthe-mill”. Também inclui mellotron e partes de órgãos, mas não é um álbum de sintetizadores. (High Roller Records) Spiritual Beggars- «Sunrise To Sundown» (Suecia, Hard Rock, Stoner Rock/Metal) O guitarrista Michael Amott ri enquanto fala, refletindo sobre seus Spiritual Beggars 20+ anos de carreira. Ele é mais conhecido como o guitarrista e fundador dos ícones Arch Enemy, mas o seu estilo vintage hard rock já vem de longa data. Amott pode ser o fundador dos Spiritual Beggars, mas a composição de Sunrise to Sundown foi um esforço colaborativo. (InsideOut Music) Thraenenkind- «King Apathy» (Alemanha, Vegan straight edge post metal) Os membros compartilham interesses nas ideias do


anarquismo, o veganismo e a crítica do capitalismo e da civilização industrial. (Lifeforce Records) Jaded Heart- «Guilty By Design» (Alemanha, Melodic Metal) 12º LP de estúdio da instituição alemã / sueca de metal melódico. Da cabeça aos pés, este álbum é uma obra-prima do metal melódico, repleto de energia, emoção e atitude! (Massacre Records) Ctulu- «Sarkomand» (Alemanha, Extreme Metal) O nome da banda descreve uma das criaturas mais terrificantes e famosa de H.P. Lovecraft, a criatura polvo divina que governou a Terra há milhões de anos atrás e ainda é reverenciado como um deus, enquanto o sono eterno da morte adormecida nas profundezas do mar, na cidade submersa de R ‘lyeh, sempre esperando o dia do despertar. (MDD Records) Desaster - « The Oath Of An Iron Ritual» (Alemanha, Black/Thrash Metal) Os Desaster remontam a 88, quando dois jovens maníacos de metal de Koblenz, Alemanha, decidiu seguir o caminho pavimentado por bandas como Hellhamer ou Destruction. Uma parede de metal, sem compromissos que irá facilmente rachar crânios. Prepare,-se para riffs cortantes, bateria acutilante, um baixo a rosnar e gritos infernais. (Metal Blade)

Good Tiger - « A Headful Of Moonlight» (Internacional, Some kind of rock) A base desta banda consiste em algumas personalidades de metal muito bem conhecidas: exTesseract vocalista Elliot Coleman, ex-The Fire Safety guitarristas Derya Nagle e Joaquin Ardiles, ex-The baterista Faceless Alex Rudinger e o baixista Morgan Sinclair. O resultado é uma música rock pesada repleto de dinâmico, interpretada por músicos talentosos. (Metal Blade) Sourvein - « Aquatic Occult» (EUA, Sludge/Doom Metal) T-Roy conseguiram ao longo de duas décadas construir uma banda sustentada numa força respeitada na cena do metal, doom, sludge e underground. “Aquatic Occult”, promete ser mais pesado do que uma âncora de duas toneladas que caiu numa banheira de antiga porcelana. (Metal Blade) Nemesea- «Uprise» (Holanda, Gothic Rock) A banda feminina holandesa, Nemesea, famosos por combinar rock com música eletrônica, afinou esta combinação musical na perfeição com o seu quarto álbum ‘Uprise’. O álbum oferece intensidade e alma de rock alternativo completo com uma respiração sutil de gótico. (Napalm Records) Visions Of Atlantis- «Old Routes - New Waters» (Holanda, Symphonic Metal) Visions Of Atlantis decidiu

definir novas rotas para águas desconhecidas em 2013: Thomas Caser - membro fundador único remanescente - remodelou completamente o line-up, apresentando agora um duo vocal, Siegfried Samer e Clémentine Delauney, mais os veteranos Chris Kamper, Werner Fiedler e Mike Koren. Agora, esses gigantes do power metal sinfónico, renascido, têm apenas uma coisa em mente: Ressuscitar o glorioso som dos três primeiros álbuns da banda. (Napalm Records) Abhomine- «Larvae Offal Swine» (EUA, Death Metal) Apesar de uma «nova» entidade no nome, ABHOMINE é a mais recente criação de Pete Helmkamp (ANGELCORPSE, Order From Chaos, Revenge, Terror Organ), e seu primeiro verdadeiro projeto a solo. (Osmose Productions) Dead Eyed Sleeper - « Promo Epk» (Alemanha, Progressive Death Metal) Um exame ao mais novo álbum dos DEAD EYED SLEEPER revela-nos um trabalho difícil. Gomorrh, vê a banda a testar os limites da sua estirpe excecionalmente obscura e complexa de death metal, emparelhando o seu som pesado e atmosférico com intensas letras em alemão pela primeira vez. (Platinum PR) Cobalt- «Slow Forever» (EUA, Extreme metal) “Slow Forever” é o resultado final dos COBALT, isto depois de anos

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lidando com turbulência pessoal, tragédia, contemplação, e até mesmo confusão. OS COBALT regressam triunfantes e focado como nunca. Com Wunder a formular o som, e o novo vocalista a potenciar um novo caráter e sentido de selvageria e violência, o qual é sinônimo de som dos COBALT. (Profound Lore Records) Schammasch- «Triangle» (Suiça, Avant-garde/Dark/Black Metal ) Uma obra-prima de 100 minutos em três movimentos distintos Parte I: O processo de morrer, Parte II: Metaflesh e Parte III: A Suprema limpa luz do vazio. Raramente uma proeza musical e estética é conseguida dentro dos limites do metal extremo. (Prosthetic Records) Megascavenger- «As Dystopia Beckons» (Suécia, Death Metal / Industrial) Ao contrário do que anteriormente, Rogga Johansson, que dirige este projecto com autoridade e confiança, usa sons industriais para marcar este álbum com uma imagem futurista e ousada, ao qual poucas bandas se atrevem a ir. (Sefmadegod Productions)

vem praticando desde 1990! (Sefmadegod Productions) Like Rats- «Ii» (EUA, Sludge Metal/ Hardcore) LIKE RATS oferece oito novas canções, com trinta e três minutos de selvageria pura. A banda luta com uma abundância de ameaçadoras ações disciplinares de mid-tempo, esfregando seu mau ritmo com uma camada de brita, afim de formar uma mais eficaz trituradora de opositores da sua selvagem abordagem do metal. (Southern Lord)

Ace Frehley- «Origins Vol 1» (EUA, Rock N’ Roll) Rock and Roll Hall of Fame Ace Rot- «Nowhere» (Brasil, Grindcore) Frehley anunciou Origins Vol. 1, Depois de quase uma década um LP de covers com alguns dos de silêncio, os veteranos de São maiores nomes do rock and roll. Paulo estão de volta com um (Steamhammer SPV) novo trabalho de estúdio. 12 músicas novas e inéditas gravadas Crematory- «Monument» durante o verão de 2015, que (Alemanha, Gothic Metal) marca o retorno da “podridão” e Tempo de aniversário! São 25 anos old school grindcore que a banda a liderar o metal gótico Germânico, o qual têm encantado os seus inúmeros fãs, quer em casa, quer no exterior. Infinitamente mais forte do que no seu antecessor “Antisoro” (2014), as doze faixas de “Monument” são baseados em riffs de guitarra brutos e duros, uma batida groove, repleto de hooks de teclado sinistros com uma mistura de rosnados e claro vocais - alguns em Inglês, alguns em alemão que é tão típico desta banda. (Steamhammer SPV)

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Funeral Moth- «Transience» (Japão, Doom Metal) O 1º trabalho da banda de doom metal japonesa, Funeral Moth, não tem apenas o dono da editora Makoto Fujishima a assumir as funções de lançamento, mas também assina os vocais e guitarras. Lindamente intitulado Transience’, este é quase uma nova visão sobre o gênero, abandonando o melodrama opressão direta, em favor do minimalismo, que instalo a encontrar significados mais profundos da vida. (Transcending Obscurity) Slave One- «» (França, Technical Death Metal) A editora underground francesa Dolorem Records, traz-nos mais outra revelação com os Slave One, que tocam um extravagante e vertiginoso Death Metal. Enquanto a maioria das bandas neste estilo são previsíveis, os Slave One misturam influências mais exóticos, para apresentarem um som mais cativante e rítmico do death metal. (Transcending Obscurity) The Zenith Passage- «Solipsist» (EUA, Death Metal) O álbum é rápido, pesado, épico e bastante catchy. Ao longo de quarenta minutos de música, THE ZENITH PASSAGE examina a ideia do solipsismo, uma teoria filosófica que o eu é tudo o que pode ser conhecido a existir, e onde qualquer outra coisa fora da própria mente é incerto. (Unique Leader Records)


Conceitualmente sábio, Sundown (The Flock That Welcomes) vai sufocá-lo com a escuridão e a luz, tanto recheadas pela sua garganta como a mesma raiva que podia ser ouvido em registros anteriores de GLORIOR Belli. (Agonia Records)

Ides- «Sun Of The Serpents Tongue» (Holanda, Doom Metal) IDES é uma nova banda de doom metal da Holanda que toca old school death metal tal como os Paradise Lost no início. (Vic Records) Infernal Majesty- «Nigrescent Years Of Chaos» (Canadá, Technical thrash metal) O álbum de compilação ‘Nigrescent Years Of Chaos’ contém todos as três demos dos Infernal Majesty (1986, ‘88 e ‘91’) e foi totalmente remasterizada. Contém raras fotos e notas lineares do vocalista Chris Bailey. (Vic Records) Graveyard- «For Thine Is The Darkness» (Espanha, Death Metal) Estejam prevenidos, sombras da obscuras estão circulando em torno da capela sombria os veteranos do death metal espanhol, GRAVEYARD desenterraram a sua mais recente sepultura ... For Thine Is the Darkness. Provavelmente o nosso álbum mais maduro e pessoal. É mais atmosférica, épico, grandioso e majestoso do que qualquer coisa que tenhamos feito até hoje. (War Anthem Records) Glorior Belli - « Sundown (The Flock That Welcomes)» (França, Black Metal) A produção é de longe um dos melhores que GLORIOR BELLI já teve. Drums & Bass são absolutamente diabólico e colocado sob os holofotes.

In Mourning - « Afterglow» (Suécia, Melodic Death/Doom Metal) Aclamado por muitos como o herdeiro do trono melodeath dso Opeth. Musicalmente, o grupo combina um amplo espectro de influências tendo como base o death metal melódico. Repleto de metal-riffs doomy, blasting drumbeats e vocais Growling para acalmar brisas de limpas melodias fluentes e harmoniosas. (Agonia Records) Aborted - « Retrogore» (Belgica, Death Metal) Ao longo de nove LPs, do qual “Retrogore” é o mais recente, o intimidador frontman dos Aborted grunhiu, grunhiu e rugiu sobre um jateamento de death metal intransigente, com temas líricos incrustados no gore, nos horrores da religião, da pornografia, da gangrena, dos assassinos em série, dos Cenobitas , e muito mais. Aborted é um mergulho profundo na sede de sangue, mas é igualmente também um reflexo direto da humanidade. (Century Media) Warfect - « Scavengers» (Suécia, Swedish Thrash Metal) Acutilante e avassalador terceiro

álbum dos sueco do Thrash Metal, Maniacs. (Cyclone Empire) Blut Aus Nord / Aevangelist - « Codex Obscura Nomina» (França/ EUA, Atmospheric Black Metal/ Black Death Metal) Split CD. Como é seu costume, BLUT AUS NORD sucessor de 2014 do classicista “Memoria Vetusta III” - um álbum verdadeiramente icônico do Black Metal épico, belo e atmosférico - com uma viagem dicotômica ainda mais em reinos insondáveis do Black Metal avant-garde. Numa transição suave da mente febril, em sonho febril, AEVANGELIST produziu possivelmente a mais forte faixa da sua obra em rápida ascensão - 20 minutos de black metal experimental , sepulcral intimidante, assombrada e horrendo. (Debemur Morti Productions) Terra Tenebrosa - « The Reverses» (Suécia, Avant-garde Metal) Nascido das cinzas dos BREACH, banda de culto sueco PostHardcore, desde 2009 a entidade enigmática que é TERRA TENEBROSA criaram misturas imponentemente sulfurosas, Black Metal atormentado e demoníaco. (Debemur Morti Productions) Throane - « Derriére Nous La Lumiére» (França, Black Metal) “Derrière Nous La Lumière” é uma onda gigante de desespero, um edifício colossal de guitarras dissonantes e uivos devastador construídas em ritmo mid-paced e

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industrias. Agora, a formação da banda é composta por 2 vocalistas. (Inverse Records)

opressivo, que lembra Godflesh, a Neurosis ou Blut Aus Nord. O peso venenoso desta insana obra de arte, verdadeiramente uma fusão mental, é perigosamente viciante, inteligentemente repetitivo e hipnótico. (Debemur Morti Productions)

Airbag - « Disconnected» (Noruega, Neo-Prog / Progressive Rock ) O álbum conta com seis canções com um tema comum. Da faixa de abertura, ‘Killer’, até ao tema de treze minutos, o ouvinte é levado numa viagem sonora de sons e arranjos exuberantes, sublinhado por crescentes de guitarras e vocais com alma. (Karisma Records) Virus - « Memento Collider» (Noruega, Experimental rock) Sendo uma das bandas mais originais da Noruega, Os Virus construíram um vasto conjunto de

Diamond Head - « Diamond Head» (EUA, Heavy Metal) Os fãs europeus comemoraram a release do novo álbum da icónica banda de heavy metal DIAMOND HEAD. o álbum apresenta o novo vocalista Rasmus Bom Andersen e termina um silêncio de oito anos para as lendas do New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM). (Dissonance Productions) Kratos- «Arlechino» (Romania, Gothic Metal) Kratos retorna com um estilo mais incisivo, mas com vozes mais sinfônicas, bombástica e teatrais que podem ser ouvidas oficialmente neste álbum. (Inverse Records) Subliminal Fear- «Escape From Leviathan» (Itália, Melodic Death Metal) Depois de 2 anos e meio a trabalhar em estúdio, o terceiro álbum está finalmente pronto, com 10 faixas e um sem não de várias inovações sobre o estilo musical de então com uma maior atenção para as melodias e som moderno. O som cedo evoluiu num “c yber metal” com vocais extremos e melódicos, guitarras, um enorme groove e com sintetizadores

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seguidores tanto na cena do metal e na do rock em todo o mundo. O som é ainda muito experimental e progressivo, no verdadeiro sentido da palavra, mas, ao mesmo tempo cativante e melódico. (Karisma Records) Illdisposed- «Grey Sky Over Black Town» (Dinamarca, Death Metal) O 14º álbum de estúdio dos pioneiros do death metal europeu. O álbum também marca o 25º aniversário da banda. (Massacre Records) Lonewolf- «The Heathen Dawn» (França, True Heavy Metal) O novo e 8º álbum dos verdadeiros líderes do Heavy Metal francês. (Massacre Records)

Abnormality - « Mechanisms Of Omniscience» (EUA, Atmospheric Death Metal) Nós gostaríamos de continuar a evoluir a nossa marca musical de agressivo, técnico, na obstante mantendo a atmosférica death metal,e explorar novos territórios. A máquina que é Abnormality ficou mais forte e mais barulhenta ao longo dos anos. (Metal Blade) Devildriver - « Trust No One» (EUA, Groove/Melodic Death Metal) Três anos após o exuberante «Winters Kills», surge o nascimento de uma nova versão da banda na forma de «Trust No One». Um título sem remorso que reforça o facto de que Dez Fafara e companhia compactaram energias. (Napalm Records) Satyricon - « Nemesis Divina» (Noruega, Black Metal) “Há, no máximo, um punhado de álbuns e um punhado de canções que realmente definem o black metal moderno. «Nemesis Divina» é definitivamente um desses registros, e ‘Mother North’ é definitivamente uma daquelas canções,” afirma Satyr corajosamente (e legitimamente). Para anunciar o 20º aniversário da mais ilustre peça da arte obscura, esta reedição recémremasterizada pelo próprio Satyr, com um atualizado e remodelada embalagem, é digna do álbum que teve um impacto enorme e marcante. (Napalm Records)


Fallujah - « Dreamless» (EUA, Progressive/Technical Death Metal/Deathcore) “Eu acho que a cena metal está incomensuravelmente em falta de bandas que oferecem um material emocional e atmosférico”, diz Fallujah vocalista Alex Hofmann. (Nuclear Blast Records) Mantar - « Ode To The Flame» (Alemanha, Sludge Metal) Desde a sua criação no início de 2013, os MANTAR tem sido reconhecidos como uma das bandas que mais trabalharam no underground do metal extremo. Misturando os diferentes elementos mais sinistros do black metal, doom e punk através de uma lente não filtrada de fúria primal pura, os MANTAR rapidamente provam que tocam duas vezes mais alto e feroz do que a maioria das bandas. (Nuclear Blast Records) Surgical Meth Machine - « Surgical Meth Machine» (EUA, Industrial Metal/Rock) SURGICAL METH MACHINE é o álbum bipolar, uma montanharussa através de sonhos de febre dementes, melodias assustadoramente morosas e acelerações vertiginosa em direção ao impossível, tudo a partir da mente sempre deliciosamenteterrível-a-gosto do MINISTRY Al Jourgensen. (Nuclear Blast Records) The 69 Eyes - « Universal Monsters» (Finlândia, Gothic Rock) “Soamos mais frescos do que nunca, a música leva-nos a caminhos e paisagens sonoras desconhecidos. Como o álbum se transformou em o que se tornou apenas nos surpreendeu e poderão realmente ouvir a criatividade florescer, sem deixar de ser The 69 EYES”, afirma o vocalista Jyrki 69 ao descrever o místico processo de gravação. (Nuclear Blast Records) Sektemtum - « Panacea» (França, Black Metal)

Único, original, e inspirado por todas as coisas que os influenciaram durante todos estes anos: sem quaisquer limites ou limitações, em «Panacea» poderão ouvir o punk rock desde os primeiros anos da banda, o hard rock que ouvem, e o black metal das suas origens ... «Panacea» é uma combinação subtil de ociosidade, sofrimento, solidão e uma atmosfera noturna. (Osmose Productions) Graves At Sea - « The Curse That Is» (EUA, Doom/sludge Metal) GRAVES AT SEA revelam o seu álbum de estreia muito aguardada, «The Curse That Is» é um tour de force de magnitude incrível. (Relapse Records) Defiled - « Towards Inevitable Ruin» (Japão, Brutal Death Metal) Estes reverenciados “Samurais” do crush death metal através do gânglio espiral com um som mais cru do que um sushi. Sem dúvida, a produção low-fi deste quinto álbum «Towards Inevitable Ruin» deve tanto ao punk como ao caminho seguido pela banda do metal extremo. (Season of Mist) Assassin - « Combat Cathedral» (Alemanha, Speed Thrash Metal) Às vezes é necessário dar um passo atrás para poder dar dois à frente. ASSASSIN, dá dois passos para a frente. A banda está altamente motivada, e o álbum apresenta um lado diferente de ASSASSIN, com fases mais lentas mas mantendo o mesmo nível de intensidade. (SPV Steamhammer)

Glam, Punk, Heavy Metal, Blues e Rock ‘n’ Roll no ano da bruxa de 1970 no norte da Inglaterra. Nunca perderam de vista os tons melódicos, acompanhados de sensibilidades inerentes as suas primeiras influências. O som Hard Rock de VARDIS manteve sempre um groove pesado, único e realmente original. (SPV Steamhammer) First Fragment - « Dasein» (Canadá, Technical Death Metal) Banda Canadiana neoclássica com influências tech death, FIRST FRAGMENT, tem aqui o seu álbum de estreia há muito aguardada. (Unique Leader Records) Katalepsy - « Gravenous Hour» (Rússia, Death metal) KATALEPSY adverte o mundo do seu segundo esforçado LP, «Gravenous hour». Um ataque de death metal implacável do outro lado, rastejando na nossa existência com intenção assassina, em onze faixas de dizimação absoluta. Segundo álbum da banda. (Unique Leader Records) Winterhorde- «Maestro» (Israel, Progressive Extreme Metal) Reunindo a sua experiência musical maior e visão, os veteranos orquestraram um poderoso conto épico de música clássica e loucura divina, enquanto afogavam-se profundamente nas garras do submundo. Podem ter a certeza que WINTERHORDE desencadeou a sua potência mais forte e emotiva até à data. (ViciSolum Productions)

Stonewall Noise Orchestra - « The Machine, The Devil The Dope» (Suécia, Rock) Suécia sempre foi um solo fértil para bandas de clássic rock e uma atitude especial. Os ingredientes do seu power rock resultam de mais de 40 anos de história do rock e metal. (SPV Steamhammer) Vardis - « Red Eye» (Inglaterra, Hard Rock) VARDIS foram forjados a partir do

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10 anos de Amplific dos Neurosis e, pos taz de sempre do A

Reportagem

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casom, 30 anos de carreira ssivelmente, o melhor carAmplifest! ESGOTADO!

m e fotos: Frederico Figueiredo

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Dia 19 Sexta-feira fomos tratados, em nota celebratória, com uma atuação na Cave 45 por parte dos Aluk Todolo. Um espetáculo de certa forma intimista, que serviu igualmente como anteaudição do álbum dos Mono “Requiem for Hell”. Chegados ao recinto, o público já estava de entrada, entre os quais, membros de Mono, Aluk Todolo e... um bêbado de aldeia, que insinuando a sua entrada, foi, amavelmente, convidado pelo baterista de Aluk Todolo, que, com confiança, indicou ao porteiro: “He’s with me”. O palco encontrava-se marcado pela ominosa presença de uma lâmpada suspensa do tecto, que, como uma espécie de mestre de cerimónias, esperava que ao seu silêncio se juntasse o silêncio do público, para anunciar a banda. Esta, entra em cena, como um conjunto de personagens camufladas pela escuridão. Foi então libertada a vociferada estridência da guitarra, disciplinada pela sincronia da percussão e pendular gravidade do baixo. Uma contínua sessão de post-rock com a irreverente indisciplina do black metal. O baterista revelou-se como o protagonista deste desfiladeiro sonoro, exprimindo durante a atuação, uma espécie de cumplicidade entre o êxtase e o ataque epiléptico. A lâmpada encabeçava a banda, refugiando-se esta na penumbra que rodeava o centro luminoso, numa prestação circunspecta. Como factor de dissidência, encontrava-se o novo groupie da banda (o cavalheiro da entrada), com o seu chapéu de palha, brandindo, orgulhosamente... uma garrafa de água de 20 cl. Dado o contexto, podemos assumir que se trata de uma postura de valor. Finalizado o concerto, as hostes concentraram-se na rua em socialização, deixando a rotação do novo ópus dos Mono para um punhado de fiéis.

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Dia 20 Após um atraso de cerca de 20 minutos, justificado por questões de ordem técnica, iniciou-se oficialmente o festival com a rodagem do filme “The Melvins across the USA in 51 days: The movie!”. Um “cut and paste” estilo MTV de uma tour dos Melvins narrada aos soluços e arrotos. Uma “handheld camera” exibiu uma viagem interestadual pelos Estados Unidos, com curtos excertos das atuações. A primeira atuação esteve a cargo dos portuenses Redemptus, com um estilo bastardo de metal e hardcore na tradição dos Helmet, em cadência mais lenta, linhas de baixo pronunciadas e vocais arranhadas em exasperada rouquidão. Uma prestação sentida, marcada pela convicção imprimida na oratória do vocalista. Seguiram-se os Minsk, com uma mescla de elegantes arranjos de psicadelismo post-rock em contraponto com riffs troglodíticos de doom. A dualidade de atmosfera e peso revelou-se bem conciliada, conferindo alguma grandiosidade à atuação. As figuras encapuçadas que entre o fumo e as trevas ocuparam a Sala 2, entregaram-nos ao equivalente sonoro à descida tortuosa de almas a um abismo sob a forma de vagina dentata. Altarage, de Bilbao, apresentaram a sua mecânica versão de death metal, marcada por lamosas guitarras e atmosfera gargantuana. A atuação foi lacrada com as palavras “NO HOPE”, exibidas na traseira do corpo do baixo, desdenhosamente erguido para a audiência. Kowloon Walled City (ou: os Codeine interpretados pelos Converge), no seu estilo peculiar de (s)lowcore, substituiram a ira por um timbre de fragilidade capaz de fazer prostrar muitas bandas de Doom Metal. A tocha para incendiar a pira funerária, foi então passada a um dos atuais gigantes da cena de metal nacional, os Sinistro. Depois de termos assistido ao concerto de apresentação de “Semente” no Sabotage, fomos novamente gratificados com uma memorável atuação. Patrícia Andrade levou a sua lívida presença a um novo nível de nudez, apresentando-se parcialmente em lingerie. A banda marcou a diferença pela envolvente sonoridade cinemática, combinada com a representação teatral da vocalista, que cimenta a sua posição como uma das mais emblemáticas líderes de banda em contexto de metal atual. Em adequada continuidade, a sueca Anna Von Hausswolff, trouxe-nos a sua versão de música de câmara em compasso fúnebre. A protofonia introdutória em conjunção com a forma como os projetores adornavam os membros da banda com um véu de ténue luminosidade, remeteu para a aura miraculosa, alusiva ao título do mais recente trabalho. Composições soturnas e introversivas, conduzidas de forma austera a partir de uma tribuna, evocaram temas de rendição e redenção. A gravidade do som orquestrado pela musa (com a face oculta numa balaclava de cabelo louro), fazia retumbar o fosso dos fotógrafos. Como encore, a vocalista assumiu o palco descalça, projetando a sua voz com a intensidade de uma banshee em clímax. Kayo Dot, fizeram-nos viajar num carrossel de transformismo musical, levando a audiência a disfrutar desde o dançável até ao passível de headbanging, com a nostalgia do synthpop misturada com a assertividade do metal.

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Contemplativos e cabisbaixos, os japoneses Mono envolveram-nos no ambiente excelso dos seus arranjos musicais. A baixista ocupava o centro do palco, de pé, oscilando ao som da cadência, enquanto a névoa de fumo bruxuleava na silhueta dos focos de luz. A atmosfera gerada pela banda fez com que qualquer som que emanasse da sala parecesse, embaraçosamente, intrusivo. “For my Parents” foi um momento particularmente pungente numa sublime atuação. Roly Porter serviu-nos a última bebida da noite: um cocktail de música eletrónica, ambient, noise e industrial, induzindo-nos à hipnose com inconvencionais e sinuosas rotas rítmicas.

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Dia 21 O dia começou com sessão de cinema, desta feita, assistimos a um documentário sobre a realidade artística longe das luzes do palco. Bandas como Sleep e Melvins, entre outros, mostraram em “Backstage” o que é fazer vida de “underdog”. Um conjunto de reflexões e perspetivas de um conjunto de bandas na viragem do cansaço. A dimensão cinemática prosseguiu com a primeira atuação do dia. As paisagens sonoras no post-rock são uma constante, porém, os Tiny Fingers enfatizaram-nas com uma conjugação rítmica que misturou batidas de música eletrónica, sons futuristas e um subliminar groove funk. Uma curiosa alternativa dentro do estilo. De seguida, continuámos a bater o pé ao mesmo ritmo, com mais post-rock... Os Tesa são mais uma banda a tecer cenários familiares, com uma ligeira componente

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Stoner, notabilizando-se por manifestar, de forma pontual, um dos melhores recursos ao feedback de guitarra desde os Eyehategod. The Black Heart Rebellion, com o devocional timbre de Pieter Uyttenhove (tenuemente reminiscente de David Tibet) embrenharam-nos na mística dissonância de cordas orientais, reverberantes sinos e bizarras percussões, numa atuação marcada por uma aura de extravagância sagrada. Uma das bandas mais independentes e surpreendentes do cartaz. Continuando a onda de experimentação (a um nível, contudo, menos arrojado), os portuenses Névoa apresentaram o seu recente “Re Un”. O conjunto apresentou uma inclinação para uma sonoridade mais ritualista, manifestada na estranha forma de percussão num conjunto de paus, ou na exploração da gravidade do som da guitarra baixo com um arco de violino. Embora não me considere particular adepto de post-rock, acredito que seja um género que ganha a sua verdadeira dimensão em palco. Tendo passado pela experiência que foi a atuação dos Mono, a expectativa para a prestação de Caspian não era particularmente elevada. Posso afirmar que, à exceção da agressão estroboscópica de flashes de luz que irradiavam do palco, a forma coreografada como a banda se articulou em palco e a riqueza composicional foi surpreendente, tendo tornado o evento ímpar. O encore foi marcado pela totalidade dos membros da banda de volta da percussão, elevando a sonoridade ao nível de uma pulsação cataclísmica. Hope Drone, Oathbreaker e Downfall of Gaia deram-nos um enxerto de porrada em três atos. Falamos de bandas que fundem a extremidade do Crust, Sludge, Hardcore e Black Metal da forma

mais selvática e crua concebível. Em boa verdade: o equivalente a decapante sonoro. Hope Drone agrediram-nos com uma versão animalesca de post-black metal, de forma incondicional e imparável. Oathbreaker, uma besta de banda encabeçada por uma figura feminina de postura fantasmagórica (versão belga da rapariga endemoniada do filme nipónico “The Ring”), contrastou a negritude desta presença poltergeist com a violência luminosa da entrega sonora. Devastador! Downfall of Gaia, por seu lado, já haviam estado presentes na 3ª edição do Amplifest, tendo desta vez apresentado o seu mais recente trabalho, “Aeon Unveils the Thrones of Decay”. Excetuando o som menos audível da guitarra de Dominik Gonçalves dos Reis em parte da prestação, podemos afirmar que se tratou de uma atuação absolutamente colérica e memorável. Apesar da atuação dos Neurosis estar anunciada para as 23h, às 22h já o público se agregava à entrada da Sala 1, muitos sentados ao longo das paredes, sendo, de certa forma, negligenciada a atuação de CHVE. A multidão foise aglomerando continuamente ao fim da atuação dos Downfall of Gaia, até ao ponto de, eventualmente, entupir as artérias do recinto. A celebração dos 30 anos de carreira da banda (que incitou o início de muitas das bandas presentes em sucessivos cartazes do Amplifest), era ansiosamente antecipada. Às 23h foi-nos dada permissão para invadir a Sala. O momento era solene e a energia contagiante, fotógrafos organizavam-se fervorosamente no fosso pelas posições mais estratégicas. A entrada da banda em palco emanou solenidade, sendo esta quebrada pelos primeiros anúncios de “Times of Grace”, imediatamente reconhecida por um público recompensado com um porradão de riffs titânicos. A progressão

para o trance épico de “Given to the Rising” foi sensatamente encadeada, tendo, de seguida, o contemplativo público sido levado ao rubro pela corrosiva rudeza do clássico “Lost”, composição em que assistimos Steve Von Till, em completa entrega, a arrastar a voz pelo labirinto primitivo da angústia. O ponto alto da noite! Sem ser dada hipótese de libertação, o icónico “Locust Star” continuou a esfolar os nossos sentidos, contando igualmente com a gutural prestação das vocais de David Edwardson. Seguiu-se a nova faixa “Broken Ground”, em clara consonância com a restante setlist, anunciando um futuro e promissor álbum. Steve Von Till, Scott Kelly e David Edwardson aproximaramse então em compasso lento, dos microfones, com a austeridade de três carregadores de caixão, para acartar com o ultraje de peso de “Takeahnase”. A procissão continuou com a melancolia de “At the Well”, tendo assistido o público, ao trio de cordas a fazer headbanging rotativo em completa sintonia coreografada, ao som dos acordes finais da faixa. A atuação terminou em nota amarga com uma atuação sentida do “Stones from the Sky”, alongando-se as sombras nas concavidades da face de Von Till, enquanto este forçava, ameaçadoramente, o microfone para a frente com o lábio superior, com a força de uma voz coletiva que se tenta libertar de uma jaula milenar. Prurient (projeto de noise do proeminente Dominick Fernow), fechou a noite com uma atuação marcial a todos os níveis, repleta de irascíveis golpes de microfone em ataque a espectros invisíveis, e hábil recurso à cacofonia eletrónica, como gelo seco sobre as feridas abertas. Espasmos de melodia num leito de ruído e palavras de ordem filtradas por ressonância estática, serviram para cauterizar os nervos e encerrar uma década da promotora Amplificasom. PARABÉNS!

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NOTHING + RICARDO REMÉDIO MusicBox, Lisboa - 07/10/2016 Reportagem: Nuno Lopes Fotografiqa: Vera Beleizão

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A noite no MusicBox pode ser descrita como a redenção de uma estranha melancolia. Isto porque somos absorvidos pela absolvição de Domenic Palermo que, depois de um passado que fala por si, parece mostrado a mostrar o que realmente é. Isto porque o homem é uma ao onda, olhar momentos antes do concerto e ver o que temos em cima do palco. As canções dos Nothing ganham uma nova vida, quando em momentos ecoam vozes de Cobain, algo que fica bem patente nas canções do mais recente, Tired of Tomorrow. Um concerto simples, intenso, em que o público se deixou levar. Do infortúnio de uma corda partida, à companhia de uma garrafa de vinho, a banda mostrou-se competente perante as cerca de 100 pessoas que absorviam tudo o que a banda fazia.

Não faltou Dick a encerrar a noite dos Nothing, perante um público rendido ás mais recente ACD Fever Queen ou Vertigo Flowers. A certeza de uma banda que de Nothing não tem nada. Antes já Ricardo Remédio, o mesmo que faz parte de bandas como, por exemplo, os regressados Löbo que, neste caso apresentou os temas do registo de estreia, Natureza Morta. Sózinho, Ricardo enche o palco e, convenhamos, o Musicbox é uma sala boa para a electrónica e isso pareceu dar ao músico a liberdade para absorver o público entre sons ora cosmopolitas, ora espaciais. Imaginamos, talvez, um encontro entre John Carpenter, Sanford Parker. Foi uma noite de supresa, onde o único senão será, porventura o custo na sala.

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PETER MURPHY Casa da Música (sala Suggia), Porto - 16/10/2016 Reportagem: Eduardo Ramalhadeiro & Victor Alves Fotografias: Eduardo Ramalhadeiro

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A noite estava chuvosa, triste e algo melancólica. O típico fim de semana para se ficar "enrolado" no sofá a ver um qualquer filme de acção, a lamentar a proximidade da segunda feira. À hora marcada a maravilhosa sala Suggia estava lotada para ouvir um dos mais icónicos artistas britânicos. Depois de Vilar de Mouros Peter Murphy presenteia os fãs portugueses com "Stripped", uma série de concertos intimistas, semi-acústicos, somente acompanhado por John Andrew, na guitarra e Emilio Zeff China no baixo e violino. É demasiado óbvio que Murphy jamais poderá ser dissociado dos Bauhaus e a noite foi agraciada com os ambientes góticos de “Hollow Years”, “King Volcano” ou “Bela Lugosi is Dead”, assim como temas da discografia a solo do britânico: “Cuts You Up”, “Strange Kind of Love” ou “Indigo Eyes”. O espectáculo foi minimalista, povoado com alguns elementos cénicos, principalmente, nos temas dos Bauhaus, destacando-se, no entanto, Emilio China no violino. No final ficámos com um sabor agridoce, 90 minutos de música soube a pouco – talvez a única pecha do espectáculo – já que numa carreira recheada de tantos e tão bons êxitos, haveria espaço para mais uns bons e largos minutos de Peter Murphy. No fundo e entre o “deve e o haver”, valeu bem a pena sair de casa numa noite triste e chuvosa. A segunda-feira irá parecer mais fácil.

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Começamos por saudar todos os que se empenhar evento em Vagos, no mês de agosto. O nome a ret criação, pouco tempo depois da desilusão decorre (uma rima que corresponde à verdade), foi uma su passando para o fim-de-semana a seguir ao habitu recuperar a duração habitual: três dias.

Reportag

Fotografias: Eduar

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ram em proporcionar aos fãs de Metal o habitual ter agora é Vagos Metal Fest. O anúncio da sua ente da mudança do VOA para os lados de Lisboa urpresa maravilhosa. As datas também mudaram, ual. Certamente, com mais tempo, será possível

gem: CSA

rdo Ramalhadeiro

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Os Correia tiveram a responsabilidade de abrir o festival começaram por aquecer o ambiente, perante um número de fãs ainda relativamente reduzido, mas já simpático. Apesar de não dispormos de informação sobre esta banda, apreciámos o seu Heavy Rock bem ritmado e a sua atitude em palco, pelo que temos a certeza de que nos iremos cruzar com eles mais vezes.

DIA 1

Embora não estivesse previsto no cartaz, após os portugueses, subiram ao palco os franceses Betraying the Martyrs, que atraíram à parte da frente do recinto os fãs mais jovens (e alguns mais maduros), para apreciar a sua intervenção enérgica, com destaque para o vocalista, que dá pelo nome de Aaron Matts. Foi, então, que detetámos o regresso do “dogbanging”, assinalado nas nossas reportagens de 2014 e 2015. Ao que parece, os fãs habituais não desertaram Vagos!

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Mantendo o estilo enérgico, mas mudando de género e de continente (neste caso, do Deathcore ao Thrash Metal e da Europa à América), passámos a ouvir os Vektor, que agradaram a novos e velhos. Foi um bom momento para os apreciadores do género (que deviam abundar, neste primeiro dia, já que se viam muitas t-shirts de Metallica). Há que reter o nome destes americanos, que vão no seu terceiro longa duração (mas têm muitos outros lançamentos, incluindo um live album) e são já um caso sério de popularidade.

O ambiente aqueceu a valer (embora a temperatura tivesse baixado consideravelmente, o que apanhou alguns desprevenidos) com a chegada dos RAMP, que muitos esperavam. Foi um concerto memorável, com Rui Duarte a puxar valentemente pelos fãs e a gerar movimentos tumultuosos na parte da frente do recinto, levando alguns mais calmos a afastarem-se. Costuma-se dizer que quem sabe, sabe e os RAMP sabem (sem dúvida alguma) fazer concertos e compor música. Ficamos à espera do novo álbum – anunciado na despedida, antes da última música – que vai certamente enriquecer o património nacional na área do Thrash Metal. 131 / VERSUS MAGAZINE


A quarta banda – Fleshgod Apocalypse – dificilmente poderia ser mais diferente dos seus antecessores e parecia ser também esperada com impaciência, a avaliar pelo número de t-shirts que circulavam pelo recinto. Num estilo bem pesado, mas também muito melódico, com um visual situado algures entre os sécs. XVII e XVIII e uma imagem de fundo a fazer referência ao séc. XIX (correspondendo à capa do seu último álbum), acompanhados pela soprano Veronica "ValchiRea" Bordacchini (que faz parte dos In Tenebra), os italianos focaramse em «King», lançado este ano pela Nuclear Blast. Os comentários do vocalista – entre as músicas apresentadas neste concerto – revelaram que o propósito era refletir sobre ideias profundas como a imperfeição inerente a tudo o que é vivo, relegando a perfeição para a morte. Foi um momento muito teatral, profundamente dramático, que pareceu impressionar bastante o público presente, a esta hora já bem numeroso.

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Este primeiro dia encerrou em beleza com um concerto fantástico protagonizado pelos invulgares Bizarra Locomotiva, com Rui Sidónio a passar muito tempo entre o público, chegando inclusive a ceder o microfone a fãs mais entusiasmados. É curioso como estes portugueses conseguem dar uma aura inegavelmente poética a um estilo francamente industrial. Fazem pensar na poesia futurista de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, que, sendo um engenheiro, queria celebrar a poética da tecnologia do séc. XX. Aqui celebrou-se – sem dúvida – a boa música, a excelente conjugação desta com mensagens vigorosas e obsessivas, a capacidade de envolver o público e uma fantástica atitude em palco (que parecia marcada por uma coreografia envolvendo o vocalista e o guitarrista). Inesquecível!!!

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Após um intervalo um p anteriores, foi a vez do representantes do Blac seus lugares, para um d deste festival. Lord Ahr um público inverso do inando os fãs mais mad alguns ainda bem verde faziam lembrar filmes d o habitual corpse paint mente – ou quase – tem 90 e do seu último long Forever Reign», lançado De vez em quando, algu álbum, da autoria de Kr Ao que parece, a atuaç pelo facto de a compan nórdicos ter perdido as substituí-las apressada vivido frequentemente

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pouco mais longo do que os os membros de Dark Funeral – ck Metal sueco – ocuparem os dos concertos mais esperados riman e companhia atraíram das primeiras bandas, predomduros (embora não faltassem es). Envergando couraças que de ficção científica e adotando t, apresentaram alternadamas dos seus álbuns dos anos ga duração: «Where Shadows o este ano pela Century Media. uém projetava a capa desse ristian Walin (aka Necrolord). ção foi um tanto prejudicada nhia aérea que transportou os s suas guitarras, obrigando-os a amente. Eis um tipo de percalço e pelos viajantes do séc. XXI.

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No segundo dia (14 de agosto), parecia haver mais público presente, talvez atraído por um cartaz menos pesado, mais festivaleiro. As atividades abriram à hora prevista, com um concerto dos Godvlad, a tocar em casa (ou quase). Sérgio Carrinho e Vanessa Cabral conjugaram-se nos vocais, com os restantes membros da banda a proverem a necessária música. O público presente fez questão de apoiar a banda com ruidosos incitamentos e aplausos, apesar de ainda não ser muito numeroso.

DIA 2 Quando chegou a vez dos Heavenwood – este ano com novo álbum a promover – já havia bastante mais fãs, para acolher a banda do Porto, capitaneada por Ricardo Dias e Ernesto Guerra. Em ano de aniversário (os 20 anos do lançamento de «Diva»), incluíram no set alguns temas do seu primeiro longa duração e ainda de «Swallow» (1998). Foi um momento muito festejado pelos presentes, que acompanharam com manifesto entusiasmo a madura prestação dos “velhinhos” Heavenwood.

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Da maturidade dos portugueses passou-se para a juventude dos suecos Tribulation, que combinam a dose certa de peso e melodia num Death/Black Metal progressivo que fica mesmo no ouvido. A solidez dos vocais de Johannes Andersson foi acompanhada pela discreta – mas muito eficiente – presença de Adam Zaars, na guitarra, e de Jacob Ljungberg, na bateria, e sublinhada pela exuberância do também guitarrista Jonathan Hultén, que compensou os problemas de som da sua guitarra com um frenético bailado, seguindo o ritmo da música. Os nórdicos deixaram o público muito bem impressionado e certamente à espera de receber a notícia de um sucessor de «The Children of the Night» para breve.

Quase sem tempo para respirar, seguiu-se Discharge, veteranos britânicos de Hardcore Punk e Heavy/ Thrash Metal, aqui a insistir mais na primeira vertente, para grande alegria da juventude presente, que aproveitou para gastar algumas energias em correrias e num moshpit – ao som dos riffs da banda e da bateria – e em animados gritos, com que saudavam as vociferações do vocalista Jeff Jarniak (aka JJ). Para os mais velhos, foi a ocasião de recordar o Punk dos anos 70, que abalou a Europa e o mundo, num protesto veemente contra a sociedade da época.

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A seguir, foi a vez do Metal finlandês, representado por Finntroll. Verth e companhia puseram a multidão a dançar ao som do seu Folk Metal, evocando a música popular do seu país. Eles próprios tocaram, dançaram, cantaram, rugiram, num animado alvoroço, que contagiou todos os presentes e abriu o apetite para o jantar. Nem faltaram orelhas de Troll a dois dos músicos, numa engraçada evocação das criaturas míticas que figuram no nome da banda.

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Tal como no primeiro dia, a organização houve por bem encerrar a jornada com uma banda portuguesa, tendo essa honra cabido aos Moonspell, também em ano de aniversário, a celebrar os 20 anos de lançamento do inesquecível «Irreligious». Foi este o pretexto que Fernando Ribeiro evocou para pôr a multidão presente (em nada inferior à que se apresentou para o concerto de Helloween) a recordar temas como “Opium”, “Ruin and Misery”, “Mephisto” e “Raven Claws” (este último em dueto com Mariangela Demurtas, vocalista dos Tristania e – para os fãs da bisbilhotice – esposa de Ricardo Amorim), “Vampiria” (do «Wolfheart», de 1995), “Everything Invaded” (do célebre «Antidote», de 2003), para além de faixas do recente «Extinct» (de 2015). Lembrando a necessidade de celebrarmos o facto de sermos membros de um povo que tanto se tem distinguido e combatendo a depressão associada à crise social que tanto nos tem afetado, a veterana banda encerrou o seu concerto – e o primeiro Vagos Metal Fest – com um verdadeiro hino – “Alma Mater” – com o público a fazer coro com o vocalista. No encore, a banda interpretou ainda dois dos seus “clássicos”: “Ataegina” e “Full Moon Madness”. 139 / VERSUS MAGAZINE


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Depois de toda a gente ter feito uma rápida passagem pelas barracas de comes e bebes (ou aberto o farnel trazido de casa), estava tudo pronto para receber as estrelas da noite: os alemães Helloween. Aos 50 anos, Andi Deris mostrou que, como diz o povo português, “velhos são os trapos”. Com uma alegria, um entusiasmo e um empenho sem par, o vocalista arrebatou o público de todas as idades que estava a assistir ao concerto da sua banda e, revelando-se um magistral entertainer, levou-o a (re)conhecer temas da banda, que puseram a multidão a fazer headbanging, a acompanhar com palmas, gritos, etc. Houve ainda espaço para belos solos de bateria, de Dani Löble, e de guitarra, de Sascha Gerstner, as mais recentes aquisições da banda.

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E, para encerrar esta reportagem, queremos, mais uma vez, agradecer à organização e deixar-lhe os nossos sinceros parabéns por ter conseguido em tão pouco tempo pôr de pé um novo festival, que rapidamente mobilizou os fãs do VOA. Assim, é possível continuar a chamar a atenção para aquele pontinho, no mapa de Portugal, que representa Vagos, o coração de uma bela região do nosso maravilhoso país, onde ainda vai sendo bom viver, apesar dos muitos percalços que nos têm amargurado. Queremos mais, em 2017!!!

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GLOBALMENTE DISSONANTES

CONSIDERAM-SE UMA BANDA MARCADA PELA GLOBALIDADE E ACREDITAM QUE A DISSONÂNCIA É UMA DAS TRAVES-MESTRAS DA SUA MÚSICA. Entrevista: CSA

Podemos dizer que Colosso é uma jovem banda, já que data de 2011, logo está no seu quinto ano de atividade. O que fizeram antes de formarem esta banda? Max Tomé: Aprendemos a tocar os nossos instrumentos, ahahah :) Quais foram os momentos mais importantes da vida da banda ao longo destes cinco anos? Max: O lançamento do primeiro ál-

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bum («Abrasive Peace») e as gravações do segundo («Obnoxious»). O primeiro, porque significou o início do projecto, e o segundo, porque a banda finalmente atingiu o formato idealizado desde o início. Vocês são homens do Norte. Parece-vos que estar no Porto, em Lisboa ou em qualquer outra parte do país pode afetar o percurso de uma banda de Metal em Portugal?

Max: Na minha opinião, a localização do projeto não afecta em nada a sua carreira, uma vez que o mundo é cada vez mais global e dinâmico. Nós, por exemplo, temos um membro de Lisboa e outro de Braga, o que indica isso mesmo. Na apresentação da banda, na Encyclopaedia Metallum, referem que o vosso género é “Experimental Death Metal”. Concordam?


“[…]A LOCALIZAÇÃO DO PROJETO NÃO AFECTA EM NADA A SUA CARREIRA, UMA VEZ QUE O MUNDO É CADA VEZ MAIS GLOBAL E DINÂMICO. […]” Como caracterizam a vossa música? Gosto muito da combinação de vocais agressivos, bateria furiosa e guitarras “arranhadas”, que lhe dão um ar tão tenebroso e desesperado. Max: Recentemente surgiu a descrição “Dissonant Death Metal”, que creio adequar-se a nós como uma luva. Também já fomos caracterizados como “Ambient Death Metal”... enfim... a única componente em comum é mesmo o Death Metal, apesar de o fazermos de uma forma moderna. Lançar três álbuns em cinco anos é uma grande proeza. O que mudou entre cada um deles? Max: Muita coisa! Para começar, a formação foi mudando (crescendo e não trocando) a cada lançamento. Depois, gostamos de fazer com que cada lançamento seja o mais único possível, por isso evitamos ao máximo repetir-nos... Enquanto o «Abrasive Peace» encaixava num Death Metal moderno com alguns (poucos) apontamentos experimentais, o «Thallium» era mais experimental, com poucos apontamentos Death Metal. «Obnoxious» é um pouco mais dissonante do que os dois anteriores e traz de volta a agressividade de «Abrasive Peace»... Onde foram buscar a capa para «Obnoxious»? Max: O “black-hole” foi desenhado pelo nosso vocalista André Macedo

e depois eu fiz o “encaixe” dos elementos no artwork. André Macedo – A capa segue a mesma linha que o álbum: um tanto dispersa e obscura, reflexo da sociedade atual. Como um buraco negro que suga a luz, este é o buraco da realidade em que vivemos. Alimentado pela ganância e procura exacerbada do poder, consome tudo de valor que lhe convém. Destrói tudo o que de valor se constrói. Vivemos num mundo fraturado, fracionado, e nós, o povo, não fazemos parte da equação. As capas e o artwork dos outos álbuns também são da vossa autoria? Max: À exceção da capa de «Thallium» (por Miguel Ministro) e de «Obnoxious» (por André Macedo), todas as outras capas dos nossos lançamentos foram feitas por mim. E de onde vem o título deste álbum? O que significa ele para a banda? Max: Representa o extremo vazio da sociedade actual, criado pelo seu ego, ganância e caos. É o tema no qual o álbum se foca. O que têm feito em matéria de espetáculos? Max: Não temos tocado ao vivo, pois não nos têm sido apresentadas as condições adequadas.

Que planos tem a vossa editora para a promoção do vosso último álbum? Max: Não temos, nem nunca tivemos, editora. «Obnoxious» é um álbum de autor. Tencionam continuar a fazer lançamentos de autor ou, pelo contrário, andam à procura de uma editora? Que características deve esta ter para trabalhar convosco? Max: Gostaríamos de ter o apoio de uma editora, mas esta teria que ter a mesma paixão que nós pelo nosso trabalho... obviamente. Até ao momento, ainda não encontramos uma editora com essa característica, pelo que os planos a curto prazo são de continuar com edições de autor. Apresentem-me três argumentos para apoiar a ideia de que Colosso é uma banda colossal! Max: Não tenho nem sequer um. A ideia de nomear o projecto Colosso derivou de sentirmos que é um nome pesado e gigante e não de querermos comparer-nos com as demais bandas... :) Obrigada por esta entrevista. Max: Nós é que agradecemos :) www.colossometal.com www.facebook.com/colossometal https://youtu.be/45xBYn1jZDc

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DEME

SONHOS NOITE DE

O sonho é a pedra d desta entrevista, em guitarrista dos alemãe pouco do quinto long

Entrevis

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ENTIA

S DE UMA E VERÃO

de toque do álbum e m que Martin Müller, es Dementia, fala um ga duração da banda.

sta: CSA

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“Continua a ser o prazer de criar música em conjunto. […] Penso que não é possível encontrar um trabalho mais compensador.” A vossa carreira começou em 1993. Qual era o vosso objetivo no início? Martin Müller: Como éramos grandes fãs de Metal, começámos a tocar instrumentos, no fim da década de 80. Basicamente, queríamos fazer a nossa própria música, gravá-la, ouvi-la e fazer concertos. E o que anima a banda atualmente, depois de mais de 20 anos passados? O que mudou entretanto? Martin: Continua a ser o prazer de criar música em conjunto. Não temos esperança de enriquecer com este tipo de música, movemnos o divertimento, o prazer de ter um hobby artístico. Todos temos os nossos empregos a tempo inteiro, famílias, etc., portanto é apenas uma oportunidade para nos encontrarmos na sala de ensaios

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às sextas à noite, para fazermos barulho juntos e esquecermos os problemas do dia-a-dia por algum tempo. Penso que não é possível encontrar um trabalho mais compensador. Como veem a situação da música extrema na Alemanha atual? (Estou a pensar concretamente em Death e Black Metal.) Martin: Penso que é mesmo boa. Muitas bandas alemãs conseguiram ser reconhecidas e temos muitas. Talvez não atinjam a fama das bandas alemãs de Thrash Metal dos anos 80 como Destruction, Sodom, Kreator, etc., mas temos algumas bastante célebres como Sulphur Aeon, Ketzer, Deserted Fear, Chapel of Disease, Der Weg Einer Freiheit ou Secrets of the Moon. Parece-me que as bandas alemãs nunca tiveram tantas oportunidades de se tornarem famosas.

Há alguns anos atrás andava no Facebook uma notícia que suscitou uma grande celeuma: o vocalista de uma banda alemã de Death Metal teve de deixar de exercer a profissão de professor porque as pessoas não conseguiam aceitar a coexistência das duas carreiras. O que pensas disto? É uma situação habitual, ou trata-se de um caso excecional? Martin: Pessoalmente, acho essa história muito estranha, porque quatro dos membros da banda são professores. Eu vou para o trabalho de cabelo comprido e t-shirts de bandas de Metal todos os dias. Até ao ano passado, usava o cabelo mesmo muito comprido e ninguém se importava com isso… Mas a verdade é que nós não somos tão conhecido como Debauchery (a banda a que te estás a referir), nem aparecemos em fotos cobertos de


sangue, acompanhados por mulheres nuas, etc. Parece-me que o diretor dessa escola considerou que se tinha ido longe demais… Porque deram o nome de «Dreaming in Monochrome» ao vosso álbum? Esse título intrigou-me muito, porque os meus sonhos de que me lembro são sombrios, mas não completamente monocromáticos. Faz-me lembrar uma canção dos suecos Dark Tranquillity de que gosto mesmo muito intitulada “Monochromatic Stains”. Martin: Antes de mais, o álbum não tem nada a ver com Dark Tranquillity, apesar de eu também ser um grande fã dessa banda. Demos-lhe esse título por causa da canção homónima, que se refere a uma história de fantasmas passada num cinema abandonado, do tempo em que os filmes eram a preto e branco. Como relacionam a música deste álbum – assaz “colorida” – com um conceito tão monocromático? Martin: Penso que é um nome interessante por causar uma forte impressão visual. Além disso, a própria música do álbum tem uma conotação “cinemática”. Tal como acontece quando se está a ver um filme, o ouvinte é arrastado para uma jornada em que acontecem imensas coisas, pelo que a música muda frequentemente, com momentos calmos a alternar com passagens poderosas. Esperamos ter criado algo intemporal, um álbum que se pode ouvir vezes e vezes sem conta, sempre a descobrir coisas novas, como acontece com alguns filmes a preto e branco. A capa do álbum é realmente sombria. O que significa? Martin: Está diretamente relacionada com a história subjacente ao álbum, em que um jovem penetra num cinema abandonado. Quem convidaram para fazer a capa e a arte do álbum e porquê? Martin: Como acontece com todos os nossos CDs, tudo foi pintado pelo meu pai: Wolfgang Müller. É

um grande pintor e é fantástico ter alguém na família que de pode encarregar desta parte do trabalho. Discutimos o estilo global do artwork e ele passou à ação! E, é claro que foi grátis, haha. O verão é uma boa época para as bandas (incluindo as de Metal). O que têm andado a fazer para promover este vosso álbum “monocromático”? Martin: Na primavera, fizemos alguns concertos na Finlândia. Depois tivemos a festa de lançamento do álbum. Infelizmente, não vamos participar em nenhum festival. Faltam-nos contactos e/ou um agente. Conhecem Portugal ou algumas bandas portuguesas com quem gostassem de tocar? Martin: Tenho vergonha de o dizer, mas, apesar de ter uma grande coleção com cerca de 6000 peças, conheço muito poucas bandas portuguesas: os Moonspell (não podiam faltar), Sirius, Sonic Pulsar,

Sacred Sin, Heavenwood e Ravensire. Mas já fui uma vez passar férias a Portugal e não esqueci a paisagem maravilhosa, as raparigas bonitas e – é claro – o vinho tinto… Se tivessem a oportunidade de fazer o concerto das vossas vidas, onde seria, o que tocariam, quem vos acompanharia? Martin: Essa pergunta é mesmo difícil. Certamente escolheríamos uma sala de concertos lendária, como o Royal Albert Hall, o Hammersmith Odeon ou o Madison Square... Tenho o sonho de tocar um dia com King Diamond, um dos meus favoritos de sempre. E, sendo o concerto das nossas vidas, ensaiaríamos uma canção de cada um dos nossos lançamentos até ao momento. https://www.facebook.com/dementedmetal/ https://youtu.be/gUAKEnnQH3o

“[…] é um nome interessante por causar uma forte impressão visual. […] a própria música do álbum tem uma conotação “cinemática”. […]”

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