AMON A M A R TH L I V E - L E IP Z IG
MOONS PE LL L I V E
W REKMEI STER HARMONIES LIV E
OAT H B RAK E R L I VE
M E T A L L I C A E S P E C IA L R E V IE W H A RD W IR ED . . . TO S E LF - D E STR UCT RH AP S O D Y R EU NION
S E PULTURA
SEPUL TURA ESPE C IA L RE VIE W MACHINE M ESS IAH THY CATAFAL QUE
HO RIS ON T
Foto: David Helman-Hans Lucas
Sombra esplendorosa
EDITORIAL
V E R S U S M A G A Z IN E
vErSUS MAGAZINE
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D IR E C Ç Ã O
Mais um ano
Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins
G R A F IS M O Co m a Versu s 42 chegámos ao fi n a l de 2 0 1 6 . Como
Eduardo Ramalhadeiro
s e mp re te nta mos fazer o nosso melh or pa ra que você s ,
COLABORADORES
Es te nú mero tivemos a honra de cont ar com a col a bora ç ã o
Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Miguel Ribeiro (Hintf), Nuno Kanina e Victor Alves
d o Emanu e l Lei te Júni or que ent rev i stou An dre a s K i s s e r,
F O T O G R A F IA
le i to re s, p o ssam di sfrut ar da mús i ca , da s pa l av ra s , o p i niõ es e id ei as.
j á qu e o s Sep ult ura lançaram «Machin e Me s s i a h » . Al i á s ,
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Meta l, The Great Old Ones.
O U T IL IZ A D O R P O D E :
b a n d a q u e e stará em amplo dest aque n e s t a e di ç ã o. A
O a no q u e te rmi nou foi especi alme nte “s a n gre nto” n o q ue d iz resp eito à par t i da para o alé m de ge nte l i ga da a e s ta a rte: Prince, Leonard Cohen ou Dav i d Bow i e s ã o a l g u ns d o s exemplos. Ne s ta ed iç ã o t ambém uma resenha por pa rte do n os s os co lab o rad o re s dos melhores e men os bon s á l bun s de 2 01 6 . Bo a s le itu ra s, Eduardo Ramalhadeiro
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Foto: Valerie Cridelause
THE GREAT OLD ONES
C O NTE Ú DO Nº42 Dezembro/JANEIRO 2017
0 8 A C RO S S T HE B U RNING SKY
48 THY CATA FA L Q U E
94 RHAPSODY
1 4 H A IL SP IR IT NOIR
54 URFAUS T
1 0 2 P L AY L IS T S
1 8 H O RIS O NT
56 GARAG E P O W E R -
2 2 C R ÉATU R E S
62 TRIAL B Y F IR E
110 NOCTEM
2 4 I M PER IU M D E KA DENZ
64 ALTOS E B A IX O S 2 0 1 6
1 1 2 O H O M E M D A M O T O S ERRA
2 6 I N TH E WO O D S
66 DISCO V E R S U S
1 1 6 PA L E T E S
2 8 MOS H
68 CRÍTIC A S V E R S U S
THE 9TH CELL
PA I N O F S A LVAT I O N
3 0 L A DL O
74 CRÍTIC A
3 6 N E ST ÓR AVA L ÓS
76 ESPEC IA L - S E P U LT U R A Triunfo pela persistência
4 2 A N TR O DE F OL IA 4 6 G R ÊL OS DE H O RTELÃ
M ETALLICA
Entrevista Crítica - Machine Messiah
1 0 4 C A M E R A M A N M E T Á L I CO
1 2 4 V E R S U S L IV E ! Amon amarth + Testament Heavenwood Moonspell Oathbreaker + Wife Truckfighters + We Hunt Buffalo Wrekmeister Harmonies
1 4 6 V E R S U S 4 3 - O V E R K I LL
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Leonard Cohen O “homem caleidoscópio” Era canadiano, mas frequentemente identificado como americano. Era judeu, mas poucos se aperceberam disso (apesar do nome). Era visto como um cantor romântico… porque muitos não se lembravam do seu começo, em que, a par de músicos como o vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2016 ou Joan Baez, uma mulher algo olvidada, “falava” sobre os problemas da vida. Assim passou no mundo um homem que, tendo morrido aos 82 anos, nos deu música – durante 50 ano ou perto disso – porque já antes “pensava na vida” escrevendo poesia e romances. Da nostálgica “Suzanne” à romântica “Dance Me to the End of Love”, passando pela popular “Hallelujah”, este homem esteve sempre lá, a fazer-nos pensar em tantas facetas da vida, que nos cativam a todos e que, tal como as figuras de um caleidoscópio, se vão aglomerando diante dos nossos olhos e formando padrões mais ou menos dotados de significado. RIP Leonard Cohen! Texto: CSA
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George Michael Desconcertante! A primeira imagem que Georgios Kyriacos Panayiotou – conhecido como George Michael – passou ao mundo foi a de um rapaz com um penteado um tanto estranho, que interpretava canções situadas algures entre o romântico e o bem-humorado, mas dotado de uma voz que convidava a levá-lo a sério. Acabam os Wham, surge a carreira a solo e tudo muda: afinal o jovem aparentemente “meloso” aparece no centro de polémicas que abalaram os anos 80 e 90 e convertido numa espécie de “enfant terrible”! George Michael será recordado por duas particularidades que marcaram a sua vida para sempre: uma voz maravilhosa – que recordo particularmente em “Freedom” (https://youtu.be/diYAc7gB-0A) e numa interpretação de uma canção do malogrado Freddy Mercury que adoro (“Somebody to Love” - https://youtu.be/yPJiuqp1LS4) – e a sua luta para sobreviver à reprovação social, que afetou a sua carreira, mas – felizmente – não a destruiu! Uma curiosidade: começou a salientar-se – ainda como vocalista dos Wham – com a canção “Last Christmas” (https://youtu.be/E8gmARGvPlI) – que foi “recuperada” precisamente no Natal em que morreu! Texto: CSA
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Bem longe do fim Lançaram um álbum intitulado «The End Is Near», mas, na realidade, este marca o início de um novo ciclo. Entrevista: CSA
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Saudações, Aki! Este álbum é mesmo sensacional! Francamente adorei ouvi-lo!!! Fala-nos um pouco de Across the Burning Sky (tanto quanto for possível, tendo em conta o facto de que, de acordo com informação prestada pela vossa editora, os membros da banda não querem revelar quem são). Aki: Olá, Cristina! Ficamos muito contentes por saber que gostas do nosso álbum. Agradecemos muito os comentários entusiastas e – claro – esta entrevista. Across The Burning Sky é uma banda constituída por músicos que têm tocado noutras bandas, umas vezes com muito êxito, outras nem tanto. Já gravámos demos e álbuns com diversas bandas e projetos, participámos em imensos concertos, partilhámos o palco com uma grande quantidade de bandas… em suma, divertimo-nos muito. E agora lançámos um novo álbum, há algumas semanas, com uma nova editora. E, como já deves ter reparado, não revelamos a nossa identidade, porque pensamos que não interessa quem está por detrás deste álbum e de onde vimos nós. O que importa mesmo é a música, quer gostes dela, quer não. Infelizmente, os nomes são, por vezes, um bom argumento para venda, no negócio da música, embora não sejam eles que fazem com que um álbum ou uma canção sejam melhores ou piores. O que interessa mesmo são os sentimentos subjacentes a eles. Criaram ATBS como uma extensão do trabalho artístico que fazem há 20 anos ou porque queriam fazer algo diferente? Aki: Nem uma coisa, nem outra. Trata-se antes de um regresso às raízes. Quando começámos a fazer música, no início dos anos 90, estava-se no meio da vaga de Death Metal que surgiu nessa altura. Esse tempo deixou uma marca perene em todos nós. Estávamos a viver as primícias da nossa juventude. Apesar de termos passado os últimos 20 anos a fazer algo semelhante a isso, sentimos a necessidade de regressar às raízes, agora que nos
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aproximamos do “fim dos nossos dias”. Portanto, não se trata de nenhuma extensão, nem de nada desse género. Trata-se muito simplesmente de um ciclo que se está a fechar. Trata-se basicamente de fazer o que sempre fizemos e gostamos de fazer. Quando começámos a escrever as primeiras canções, fizemo-lo sobretudo para nos divertimos, para nós mesmos. Que parte da experiência resultante de 20 anos de carreira podemos encontrar neste álbum de ATBS? Aki: Uma parte enorme! O álbum nunca teria existido sem essa experiência. Das primeiras gravações até ao fim da produção, beneficiámos dessa experiência de 20 anos na estrada. Nunca tínhamos produzido um álbum completo sozinhos, mas gravámos muitos álbuns ao longo desses anos. Assim, beneficiámos de uma longa experiência de estúdio. Como queríamos fazer isto principalmente para nós próprios, compusemos as nossas canções calmamente, sem sentir a necessidade de alcançar o sucesso. Sem medo de falhar! Como já referi, já nos divertimos e já vivemos o nosso tempo. Portanto, não temos de nos preocupar com ninguém. Trata-se de um luxo e de uma abordagem a que uma banda verdadeiramente nova, sem a nossa carreira e a nossa experiência, não se pode dar. Tínhamos uma ideia clara do que queríamos fazer e tentámos concretizá-la da melhor maneira possível. É claro que há sempre algo que podias ter feito melhor, mas estamos muito satisfeitos com o resultado final. A vossa música é realmente “old school”. Mas, ao mesmo tempo, sente-se uma certa “frescura” ao ouvi-la. Que ingredientes da vossa forma de compor dão origem a estas sensações contraditórias? Aki: O lado “old school” deve-se certamente ao facto de uma boa porção das nossas personalidades estar enraizada nos anos 90. Crescemos com essa música e continuamos a gostar dela atualmente.
Mas é evidente que não deixamos de ouvir música e bandas novas. Somos essencialmente metalheads, que absorvem tudo o que acontece no universo do Metal. Quanto à nossa “frescura”, como tu dizes, parece-me que decorre de termos estado inativos durante algum tempo. Eu, que sou o principal compositor, não toquei guitarra durante 2 ou 3 anos e também não escrevi música. Durante esse tempo, deram-se mudanças importantes na minha vida e eu fui acumulando sentimentos, que precisavam de uma válvula de escape musical. Penso que é devido a esta pausa que «The End Is Near» surge como um álbum que espalha prazer e frescura, apesar de ser simultaneamente muito “old school”. Recorda-me o lado épico de Bathory, uma das minhas bandas favoritas da cena Black Metal. Concordas com esta ideia? Aki: Uau. Preciso primeiro de digerir esse elogio. É fantástico. Nunca nos passaria pela cabeça que alguém nos compararia a Bathory. Nem era nossa intenção criar esse “parentesco”, porque, apesar de sermos todos grandes fãs dessa banda, não nos temos inspirado nos seus álbuns nestes últimos tempos. Mas é claro que fazem parte da nossa juventude. Curiosamente, em quase todos os comentários ao álbum de que tivemos conhecimento até agora faz-se referência à proximidade com o Black Metal. E também todos mencionam o lado épico. Deve ser sobretudo por causa das melodias, da tristeza e melancolia que as caracterizam. Embora haja outras intenções subjacentes às nossas canções, ficamos encantados com todas as associações que as pessoas que ouvem o nosso álbum conseguem fazer. Nada há de mais excitante para mim, como músico e compositor, do que ver a minha música a impressionar tanta gente de formas tão variadas. Isso deixa-me muito honrado e é algo que não me passava pela cabeça que fosse acontecer a Across The Burning Sky.
Vocês são uma espécie de “exército musical”. Que papel desempenha cada um nele? Aki: Se nós fôssemos um “exército musical”, provavelmente seríamos os “diplomatas”. O nosso lema seria “Vive e deixa viver”. Francamente, não nos vemos como guerreiros prontos a ir para a frente de batalha ou como missionários sempre a defender uma causa a todo o custo. Não nos vemos como defensores de nenhuma forma de purismo, que querem impor os seus valores aos outros. Quem não ouve Metal já é suficientemente castigado. Não há razão para fazermos parte de um exército. Nem uma só. Ouvi o vosso álbum numa noite de outono. Vejo-o como um “álbum outonal”. Que vos parece esta ideia? Aki: Agrada-nos muito. E, de facto, o outono é a melhor estação do ano para saborear a atmosfera deste álbum, todas as emoções que ele veicula, a sua melancolia, as suas melodias. Poderás senti-lo de forma ainda mais intensa, se o ouvires ao fim do dia, bem aconchegada diante de uma lareira, enquanto a tempestade e a chuva reinam lá fora. Por coincidência, o álbum também foi lançado no outono, mas gostámos logo da ideia, quando, na primavera, fomos contactados pela MDD para marcar a data para este lançamento. Adoramos esta estação, Em nen-
huma outra se manifestam desta forma as contradições entre as forças brutas da natureza e a beleza indescritível que caracteriza, por exemplo, as folhas das árvores da floresta vistas à luz do fim do dia. O outono é tempestuoso, agitado e comovente. Tal e qual como o nosso álbum. Como foi gravar o álbum na tua cave? Como se organizaram para fazer esse trabalho? Aki: Há algum tempo, transformei a minha cave num espaço para me dedicar aos meus hobbies e uso-a sobretudo como uma sala de ensaios. Havia espaço suficiente para o equipamento necessário, guitarras e um computador para fazer as gravações. Portanto, o nosso álbum foi gravado num ambiente muito íntimo e descontraído. Inicialmente, não tínhamos previsto criar um longa duração, não sentíamos nenhuma pressão para o fazer. Limitávamo-nos a tocar juntos e depois resolvemos gravar tudo. Como não tínhamos nenhum prazo para cumprir, correu tudo às mil maravilhas. As gravações duraram quase 2 anos. As primeiras canções foram gravadas em maio de 2014. Depois do verão de 2015, tivemos de fazer um intervalo de alguns meses, por razões pessoais. Mas, nessa altura, já tínhamos gravado tudo o que dizia respeito à bateria, às guitarras e ao baixo. No início de 2016, escrevi as letras e gravei
“[...] Nada há de mais excitante para mim, como músico e compositor, do que ver a minha música a impressionar tanta gente de formas tão variadas. [...]”
a voz na primavera. Uma vez que agora temos vidas perfeitamente normais, havia momentos em que só podíamos dispor de 1 ou 2 horas por semana para nos ocuparmos da produção do álbum. Só nos preocupámos com horários a partir do momento em que a MDD nos propôs lançar o álbum. Por conseguinte, os últimos 2 ou 3 meses foram muito cansativos e trabalhosos. Entre maio e o fim de Agosto, passei mais tempo na cave do que com a minha família. De um modo geral, foi um trabalho muito agradável, tudo aconteceu no seu devido tempo e penso que a atmosfera descontraída em que decorreu contribuiu para que as nossas ideias e emoções pudessem passar para a música. Suponho que «The End Is Near» conta uma história. Como é ela? Aki: Não é bem uma história, no sentido de um álbum concetual, pelo menos no que toca às letras. Mas já o é, em termos musicais. Todas as melodias e emoções se foram acumulando numa fase da minha vida que vivi muito intensamente. Da primeira à última canção, o álbum exprime esse tempo muito intenso da minha vida pessoal e a forma como o processei. Quando o ouves, canção a canção, na ordem original, consegues sentir essa história. Trata-se de uma espécie de dramaturgia musical, tal como acontece numa boa história. Tens uma entrada espetacular, uma parte em que as coisas começam a aquecer, sentimentos maravilhosos e honestos e um grande fim. E se ouvires o CD várias vezes sem parar, constatarás que não há nenhum corte. O fim da nossa “outro” liga-se de forma quase impercetível à “intro”. Fecha-se um ciclo e começa tudo outra vez. Como é que isso se reflete nas letras das canções? E quem as escreveu? Aki: É claro que se reflete em algumas das letras. Fui eu que as escrevi todas, assim como grande parte das canções. Mas não é meu hábito apresentar de forma evi-
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dente temas pessoais nas minhas letras. Prefiro recorrer a imagens ou símbolos, o que tem a vantagem de permitir às pessoas encontrar diversas interpretações para elas. Gosto que o ouvinte possa ver as letras à sua maneira, porque as torna mais pessoais e lhe permite viver a música de uma forma mais intensa. Em algumas das canções, fui influenciado pelos meus pensamentos, sentimentos e experiências e ainda pelas minhas opiniões sobre a vida e a morte. Noutras, conto histórias fictícias inspiradas pela religião ou pela mitologia. No fim de contas, sou apenas um metalhead, que (por vezes) também adota alguns clichés do Metal. Isto também se reflete nos temas das letras. Foram a última parte das canções a ser escrita. Em várias ocasiões, deixámo-nos absorver pela música e pela atmosfera de uma canção, para depois escolher um tema que fosse adequado a ela. Podemos ver isso no maravilhoso livrinho que acompanha o álbum? Aki: Sim, claro. Mas nunca de forma direta. No entanto, quando escolhemos as imagens para ele, tivemos muito em conta a atmosfera que queríamos criar com a música, o álbum e as letras. A seleção foi feita de acordo com uma perspetiva muito pessoal, funcionando as imagens como um espelho que reflete os nossos pensamentos e as nossas almas. E, quando folheias o livrinho, podes visionar a “história” subjacente à música. Podes seguir as emoções e a atmosfera de cada canção, quando olhas para as respetivas páginas. Quem foi o artista que deu ao vosso álbum esta bela envolvente gráfica? Aki: Lies Maria, uma artista gráfica alemã (www.brushnroll.de). A capa do álbum e o crânio que foi usado na rodela do CD e no merchandising foram especialmente desenhados para nós. Neste caso, demos-lhe inteira liberdade para criar algo adequado à atmosfera do álbum, ao seu título e às letras.
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“[…] não revelamos a nossa identidade, porque pensamos que não interessa quem está por detrás deste álbum […] O que importa mesmo é a música, quer gostes dela, quer não. […]” E pensamos que ela fez um trabalho excelente! Gostamos muito dele. Além de fazer grafismo com a técnica de airbrush, ela também faz design, esboços e desenhos usando técnicas mais convencionais. Fomos autorizados a selecionar ilustrações e desenhos do seu portefólio (que podes ver em www.liesmaria.de), para usar como pano de fundo para as fotos do nosso livrinho. Até tivemos autorização para usar apenas partes das imagens, para as apresentar num contexto diferente e mudar a cor para a adequar à atmosfera que lhes queríamos dar. Em suma, as ilustrações do livrinho não foram feitas expressamente para o álbum e inicialmente tinham propósitos muito diferentes, mas gostámos tanto delas que também as usámos. Previram algo especial para os concertos? Por exemplo, uma espécie de cenário para a vossa história? Aki: Para ser franco, não previmos fazer concertos. Mas a verdade é que, no início, também não tínhamos planeado lançar um álbum, portanto tudo pode acontecer. Se chegarmos a fazer algum concerto com Across The Burning Sky, não haverá nenhum conceito especial. Se fosse possível, usaríamos luzes e cores adequadas ao espírito de cada canção. Mas basicamente iríamos para o palco, agitaríamos tudo e todos e teríamos o gozo das nossas vidas. Seria certamente um concerto de Metal enérgico, emocionante e autêntico. Nada mais, nada menos do que isso.
Onde vão encontrar-se com os vossos fãs? Aki: Como ninguém sabe quem somos, ainda não estivemos com ninguém. De momento, vamos vendo as reações ao nosso álbum pelo número crescente de visionamentos dos nossos vídeos no Youtube, de vezes que ouvem as nossas canções no Spotify e de “gostos” que põem na nossa página no Facebook. Por vezes, alguém deixa uma mensagem. Mas isso acontece muito raramente. Vocês aí, se gostam da nossa música, enviem-nos um mail ou deixem um comentário. É a melhor forma de vermos que há gente que gosta de nós. Como é que a MDD vos descobriu? E o que tencionam fazer pela vossa banda? Aki: Já conhecemos a MDD e alguns dos seus lançamentos mais ou menos desde os anos 90. O Markus manteve-se sempre muito ativo na cena, muito para além das fronteiras da Alemanha. Depois de todos estes anos, aconteceu muito simplesmente que temos amigos comuns ou que os nossos caminhos se cruzaram de outras formas. Deixas um comentário no Facebook, inicias uma conversa, falas de amigos comuns e, palavra puxa palavra, acabas a falar do que fazes. Por essa altura, as nossas gravações estavam quase terminadas e já tínhamos decidido que iríamos lançar o trabalho de alguma forma. Provavelmente, no Bandcamp ou em lojas online. Então, da MDD, perguntaram-nos se podiam ouvir algo do que tínhamos gravado até àquela altura. Mandámos-lhes
um link que dava acesso a alguns MP3s. Algumas semanas depois, o Markus perguntou-nos se queríamos lançar o álbum pela MDD. Ficámos sem palavras. Pareceunos que, no seguimento de uma crise de nostalgia, o homem tinha enlouquecido! Então, o que íamos fazer? Íamos explorar a “insanidade” do “velhote”? Sim. Antes que ele tivesse tempo de mudar de opinião ou de nos comunicar que tinha havido uma confusão, aceitámos a sua proposta - haha. Fora de brincadeiras, o Markus é um sujeito muito honesto e dissenos que tinha gostado imenso das canções. Faziam-lhe lembrar belos tempos, já passados, e, além disso, o catálogo da MDD não tinha uma banda de Melodic Death Metal assim. Acreditava firmemente que haveria mais gente por aí que seria capaz de apreciar o nosso género de música, mas não podia garantir nada. Foi muito franco connosco. E nós queríamos mesmo avançar. O
que pretende a MDD fazer com a banda? Acho que eles não iam ficar descontentes se algumas pessoas se lembrassem de comprar o CD, para reaverem algum do dinheiro empatado na sua impressão. Mas penso que este aspeto é secundário, no nosso caso. Nós só queríamos lançar o álbum e eles também. Apesar dos interesses e constrangimentos comerciais, a MDD ainda mantém um espírito muito do género “os outros fazem negócios, nós fazemos Rock n’ Roll”. E, para fechar a entrevista, diz-nos como vês ATBS daqui a 20 anos. E obrigada pelas tuas respostas. Aki: Se acreditássemos num universo paralelo “metaleiro”, responderíamos: daqui a 20 anos, estaremos certamente no palco, a abanar o cabelo, talvez na nossa segunda digressão de despedida, mas ainda a agitar a bandeira do Metal. Mas, na realidade, devemos
mas é estar sentados em sofás, a tentar curar-nos de uma hérnia discal, a falar aos jovens dos belos dias passados com eles a ignorarem-nos por completo. Vão-se rir das nossas palavras e não vão compreender a que nos referimos. Mas estaremos orgulhosos do que fizemos e que vai morrer connosco um dia destes. Obrigada a ti e à Versus Magazine por esta entrevista entusiasmante. Adorei responder a estas perguntas. Aos leitores, pedimos que visitem a nossa página no Facebook e nos deixem um “gosto” ou um comentário, que ouçam a nossa música e – se gostarem – que comprem um CD. Continuem a mexer e deixem arder o fogo do Metal! https://youtu.be/c19M4RpEJR4 https://www.facebook.com/acrosstheburningsky/
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Hail Spirit Noir
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"Espírito de contradição" Não se trata de contradizer tudo e todos, mas de jogar com opostos e torná-los… conciliáveis! Entrevista: CSA
Vocês são Gregos e escolheram para a vossa banda um nome que combina palavras inglesas e francesas numa saudação muito obscura. O que justifica essa escolha? Theoharis: Na verdade, escolhemos este nome, porque queríamos homenagear dois aspetos importantes na nossa vida. Um é o nosso amor pelo cinema negro italiano e as suas bandas sonoras e ainda pelo Rock Progressivo dos anos 70. O outro é o lado tenebroso da psique humana, a força que está por detrás de todas as mudanças significativas neste mundo. Embora possa não parecer assim à primeira vista, a verdade é que é esta dualidade do espírito humano que mantém o mundo em movimento. É um nome muito forte e uma descrição perfeita do nosso som e também da nossa forma de ver o mundo. A vossa música é mesmo diferente. É negra, desesperada, vociferante, na primeira faixa deste álbum, mas cheia de pequenos detalhes intrigantes (por exemplo, os efeitos suaves da bateria e as melodias bizarras produzidas pelos teclados) nas outras faixas. Na vossa opinião, o que é que estes efeitos dão à vossa música? Theoharis: Todos esses detalhes que mencionaste são, para nós, a alma do nosso som. Também nos ajudam a contar as diferentes histórias presentes nas nossas canções. Dão sabor à nossa música e são importantes para lhe conferirem diversidade, mas também para ajudarem a contar
histórias. Sem esses pequenos detalhes que as embelezam, as canções ficariam muito diferentes. De facto, desta vez ainda fizemos variar mais os instrumentos usados, para obtermos sons ainda mais bizarros e acentuarmos a teatralidade da nossa música. Todas essas diferentes marcas que referiste resultam dos nossos árduos esforços no campo da experimentação musical, explorando variados sons e instrumentos. Também reparei na grande variação dos vocais: da rosnadela à voz limpa, passando por uma data de estádios intermédios. De que forma estas variações na voz se articulam com as grandes finalidades do vosso projeto musical? Theoharis: Antes de mais, deixa-me clarificar alguns pormenores. Os vocais limpos são da responsabilidade do cantor que aparece nos dois nossos álbuns anteriores: Dimitris Dimitrakopoulos. Assentou que nem uma luva no nosso projeto musical logo da primeira vez que o ouvimos, quando estávamos a compor «Pneruma». Desde essa altura, ele ainda não deixou de adaptar a sua voz a tudo o que é exigido pelo nosso material, de uma forma verdadeiramente assombrosa. Se ouvires com atenção, vais detetar pequenas nuances quase impercetíveis em cada um dos nossos álbuns. Eu tenho-me responsabilizado pelas rosnadelas, o que aconteceu inicialmente de forma puramente acidental. Mas foi um acidente feliz! As canções ditam o tipo de vocais que vamos usar. Nada do que pusemos numa canção, seja ela qual for, até agora está ali porque nós teimámos que havia de ser assim. Todos os detalhes que elas contêm estão lá, porque as canções assim o exigem, doutro modo ficaríamos eternamente descontentes com o resultado final. Curiosamente, as passagens mais sombrias das letras correspondem ao uso da voz limpa, muito
simplesmente porque nos parece que uma voz dessa natureza com nuances adequadas ao que essas partes das letras dizem é bem mais ameaçadora do que uma rosnadela alguma vez poderá ser. Por outro lado, algumas das partes ferozes do nosso som requerem rosnadelas, não só pelo toque de loucura que conferem a cada canção, mas também porque contribuem para conferir ainda maior diversidade ao nosso som. Além disso, a minha voz é uma francamente má, enquanto a do Dimitri é perfeita. Porque havíamos de prescindir de um tal talento? Hehe! Pode-se considerar que a vossa música apresenta traços de folclore grego? Estou a pensar, por exemplo, na canção deste álbum cujo título é homónimo. Theoharis: Somos Gregos, não é? Hehe! É natural que apareçam vestígios da música popular grega no nosso som. Mas não é algo intencional. Uma das nossas maiores influências (sobretudo do Haris, o nosso principal compositor) é Manos Hadjidakis. «Pneuma» foi dedicado à sua memória. É um compositor extremamente importante para a música grega. Não é propriamente um compositor de música folclórica, mas é muito apreciado na Grécia. De qualquer modo,
“Todos esses detalhes que mencionaste são, para nós, a alma do nosso som. Também nos ajudam a contar as diferentes histórias presentes nas nossas canções. [...]”
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não é na música folclórica grega que podes encontrar as origens de nenhuma das nossas canções. Aparece como uma influência em algumas, mas antes de mais somos uma banda de Metal. Podemos diferir muito da norma do universo do Metal, mas somos inspirados pelo Metal e pelo Rock Progressivo. Por vezes, a vossa música parece muito mimética: por exemplo, em “Riders to Utopia”, o ritmo faznos pensar que estamos mesmo a ouvir o som de cavaleiros e dos seus cavalos a dirigirem-se a qualquer lado. O que tens a dizer sobre este comentário? Theoharis: Penso que a nossa música tem um lado muito cinematográfico, portanto vejo esse comentário como um elogio. Muito obrigado. Gostamos que os ouvintes da nossa música
possam criar a imagem mental que quiserem, enquanto se aventuram no álbum. Esses padrões, que aparecem aqui e ali, funcionam como um pequeno empurrão para a sua imaginação. Mas eles é que sabem o que encontram nela, é uma responsabilidade sua. Sei de pessoas que ficaram assustadas por causa de algumas partes e de outras que se se reveem na blasfémia que temos para lhes oferecer. Essa variedade de reações agrada-nos muito! Adoro a capa do álbum. Para dizer a verdade, fiquei com os olhos presos nela. O que significa? Tem alguma coisa a ver com alguma cerimónia grega antiga? (Para mim, está cheia de elementos simbólicos: a forca, as figuras cujas roupas fazem pensar nos trajes dos médicos no tempo em que a Peste Negra lavrava, o
mar e o sino, ambos elementos importantes em culturas marítimas como a tua e a minha.) Theoharis: Bem, o próprio título do álbum é uma grande antítese, que se refere à espiral de decadência em que o mundo mergulhou nesta última década. O mesmo acontece com a capa do álbum. Ninguém vê o mar imediatamente encapelado ao pensar nele. Imaginamo-lo sempre pacífico, sereno. Mas dele emergem essas figuras, que anunciam o mal que está para vir. Os sinos foram sempre usados para reunir as pessoas, em momentos de crise. Portanto, como vês, esta imagem representa, de forma inequívoca, uma antítese gerada pela sobreposição do caos a uma paisagem calma. O mar sempre foi uma parte importante do folclore grego. Muitos dos nossos costumes derivaram da adoração do mar em tempos antigos, porque
“[...] o álbum é uma grande antítese, que se refere à espiral de decadência em que o mundo mergulhou nesta última década. [...
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e
.]”
este sempre foi uma fonte de rendimentos para os Gregos. A Grécia precisa do mar para sobreviver, em termos culturais, mas também económicos. Quando leres as letras que fizemos para o álbum, vais compreender que cada canção está relacionada com a capa de algum modo. É um jogo em que o ouvinte tem de se envolver. Há uma conexão lógica, que não tem a ver com o pesadelo ecológico conotado pela faixa homónima do álbum. Pensa de onde veio a civilização humana, a rastejar, e no que a humanidade anda a fazer nestes últimos tempos. A si, ao planeta. Digamos que está a comer-se a si própria literalmente, hehehe. Como é que a banda e Olia Pishchanska combinaram os seus esforços para produzir uma imagem tão fascinante? Theoharis: Foi um golpe de sorte! Andávamos à procura de alguém a quem encomendar a arte deste álbum e encontrámos o perfil desta artista. Começámos a analisar o seu portefólio e deparámonos com esta imagem. Ficámos assombrados. Era exatamente o que nós precisávamos! As letras já estavam escritas e tudo o que queríamos estava nesta imagem. Orientámo-la numa pequena reformulação e obtivemos exatamente a imagem da capa do álbum que estava nas nossas mentes. Ela fez um trabalho maravilhoso e estamos muito orgulhosos desta capa. Tem algo de maléfico e de muito, mesmo muito perturbador. E o que significa o título «Mayhem in Blue»? Theoharis: Como já referi, representa uma grande antítese, associada à ideia de como um ambiente calmo pode exsudar vibrações maléficas e um sentimento de terror. Parece-me uma descrição fidedigna do mundo atual. A vossa editora comparavos a algumas bandas muito
experimentais. Lembro-me de referências a Arcturus e Oranssi Pazuzu. Estão de acordo com esta forma de vos apresentar? Com que bandas se sentem relacionados (nomeadamente na Grécia)? Theoharis: Como podemos ficar descontentes quando nos comparam com Arcturus? Como o nosso som é mesmo bastante experimental, é natural que nos comparem com bandas dessa natureza. Contudo, parece-me que a comparação com Oranssi Pazuzu se baseia mais no facto de termos influências semelhantes. Mas eles seguiram numa direção e nós noutra. Por isso, não posso dizer que nos sintamos muito relacionados com essas bandas. Sem dúvida, atualmente há bandas que estão no seu melhor e efetivamente levam o Black Metal cada vez mais longe. Estou a pensar em Oranssi Pazuzu e Tribulation, entre outras. No que toca às bandas gregas, há umas poucas que realmente nos inspiram e que tu devias ouvir: Aenaon, Thy Darkened Shade, Awe, Agnes Vein, Until Rain, Wardrum, entre muitas outras. A cena grega evoluiu muito nestes últimos anos devido a músicos que levam a sua arte cada vez mais a sério. O resultado final é música intransigente abrangendo todos os géneros do Metal. Já vieram a Portugal? Têm consciência do facto de que os nossos dois países estão unidos pela atual crise económica (infelizmente), mas também por importantes traços civilizacionais? Theoharis: Bem, eu estive em Lisboa uma vez, quando tinha nove anos, Portanto, não explorei a cidade da forma que o faria agora. Lembro-me de ter ficado muito impressionado com a arquitetura! Sei que o vosso país tem sofrido muito devido à crise, tal como nós. Para ser franco, não vejo nenhuma luz ao fundo do túnel. Os túneis em que nos embrenharam parecem ser intermináveis. A União Europeia precisa de reavaliar o seu papel e redefinir as suas bases concetuais. Ainda por cima, o
euro, em vez de unir mercados, acentuou as divisões entre os países. Infelizmente, não consigo congeminar nenhuma solução para esta situação. Na Grécia, o partido de esquerda eleito há pouco tempo deu uma volta de 180º e todas as promessas das eleições se esfumaram no ar. Vivemos numa loucura total, com os impostos a subirem constantemente em nome da estabilidade. A situação relacionada com os imigrantes não está a ajudar nada. Portanto, não é de surpreender que os partidos de direita e as vozes mais conservadoras estejam a ganhar terreno. A situação de Portugal tem melhorado? Confesso que me desliguei de toda essa loucura, para no futuro poder analisar a situação de uma forma mais objetiva e esclarecida. Como se a crise financeira não chegasse para nos inquietar, agora temos de suportar o Trump durante quatro anos. Oxalá não venham a ser oito! Tens alguma mensagem especial para os headbangers portugueses? Podemos contar ver-vos no nosso país com alguma brevidade? Theoharis: Obrigado pelo vosso apoio e vão-se aguentando por aí. Um dia virá, em que as coisas vão mudar. Tem mesmo de ser. Já temos as nossas canções prontas para subirem ao palco e gostaríamos muito de visitar Portugal. Ponham os vossos promotores a pensar em nós e juntem-se a Spirit Noir enquanto nós lançamos o caos. https://www.facebook.com/Hail-SpiritNoir-260062670728238/ https://youtu.be/nQ1oop-wvjs
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ROCK SEM IRONIA Deixem crescer o bigode e sacudam o pó às calças boca de sino. Os Suecos Horisont tiveram a amabilidade de nos transportar numa máquina do tempo, rumo ao horizonte musical dos anos 70. A Versus esteve à conversa com Magnus Delborg e Charles Van Loo sobre a música… sem ironias. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA
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“AS INFLUÊNCIAS FORAM MUDANDO AO LONGO DOS CINCO ÁLBUNS, MAS SEMPRE GOSTAMOS DOS VELHOS SCORPIONS, UFO, DEEP PURPLE E THIN LIZZY. “
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Olá! Não conhecia Horisont e ouvir «About Time» foi uma bela surpresa. O álbum vai sair em Fevereiro, já vos posso dizer que é excelente! Já têm alguma reacção dos media? Magnus Delborg: Ficamos contentes por sabermos que gostas do álbum. Nós próprios estamos muito contentes com os resultados e, de acordo com os comentários que temos recebido, as pessoas parecem gostar dele. Como é que cinco gajos de Gotemburgo acabaram a fazer um retro rock tão bom? Charles Van Loo: Todos nós convivemos com esse tipo de música desde que éramos miúdos. A mim, atingiu-me em cheio da primeira vez que ouvi “Black Night” dos Deep Purple. Depois dessa experiência, era natural que me dedicasse a explorar cada vez mais profundamente a música dos anos 60 e 70 e há muito para explorar! E quando exploras este estilo de música, acabas por entrar em contacto com pessoas que têm gostos semelhantes e foi assim que nos encontrámos para formar Horisont. Eu e o Pontus (o baterista) conhecemo-nos há mais de 15 anos e sempre tocámos juntos e inspirados pelo rock dos anos 70. Magnus: Sempre ouvimos esse tipo de música. Todos nós somos verdadeiros fãs especialmente da música dos anos 60, 70 e 80. Quando fazemos as nossas canções, muito naturalmente sai esse tipo de música. Não me parece que possamos alguma vez fazer um álbum com som moderno, pelo menos se não se parecer com algo de que todos gostemos. Vocês têm realmente muita influência dos anos 70: as roupas, os bigodes e, claro, a música. Onde arranjaram o vosso guarda-roupa? Charles: Haha! Gostamos do visual das velhas estrelas do rock. A maior parte das nossas roupas vem de lojas de artigos em segunda mão, mas os jeans são novos. Só tens de olhar à tua volta, para encontrares
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calças de ganga à boca de sino. Magnus – Encontras coisas interessantes aqui e ali. Em Gotemburgo, há umas poucas de lojas de artigos usados que não são nada más. A maioria das minhas t-shirts vêm de outras bandas com quem fizemos digressões ou foram compradas na internet. Quais são as vossas principais influências e como as misturam nas vossas canções? Charle: Como todos nós sempre ouvimos quase exclusivamente esse tipo de música há muito tempo, sempre que compomos uma canção nova, não nos preocupámos em fazê-la soar “retro”, mas acaba sempre por sair assim, porque foi assim que aprendemos a tocar os nossos instrumentos. As influências foram mudando ao longo dos cinco álbuns, mas sempre gostamos dos velhos Scorpions, UFO, Deep Purple e Thin Lizzy. Magnus: Em «Odissey» e «About Time», fizemos algo mais progressivo parecido com Rush, Gamma, Eloy e outros que tais. Procuro não pensar muito nas minhas influências, quando começo a escrever uma canção, mas, ao fim de algum tempo, já dá para ver em que direcção ela vai seguir. Ou então, escrevo um riff e toco-o para os outros e eles dizem: “Oh! Soa como Judas Priest!” e depois tu mudas alguma coisa e passa a soar como Thin Lizzy. Acontece-nos muito isto. Por que é que, na vossa biografia, escreveram “Isto é música feita sem ironia,”? Charles: Não reparei nisso, mas calculo que se trata de um comentário para pessoas que não nos levam a sério. Nesta digressão que está a terminar, tocaram algumas canções de «About Time»? Como reagiu o público? Como é que o público dos EUA reage, quando vê cinco gajos da Suécia a tocar retro rock? Charles: Tocámos o nosso primeiro
single – “Electrical” – todas as noites. Eles adoram, porque a cena musical do RockN’Roll, neste momento, na América, não está propriamente no seu auge. A banda que nos acompanhava na digressão – Electric Citizen – só conhecia duas outras bandas do seu próprio estado – o Ohio – que tocavam esse estilo de música. Em Gotemburgo, na Suécia, temos mais de 30 bandas ou perto disso. E em toda a Suécia, há um ror de bandas deste estilo, algumas boas, outras más. Magnus: Havia lá muitas pessoas que estavam há imenso tempo à espera de nos ver tocar, logo foi espectacular! A maior parte das bandas da cena retro rock de lá (e de todos os outros lados) é mais influenciada pelo stoner rock. Penso que foi por isso que as pessoas gostaram tanto da nossa banda. Não nos limitamos a tocar repetidamente um riff de Black Sabath, como acontece com muitas bandas actualmente, penso eu. Quem é a “ela” de “Electrical”? Charles: A música fala de um trólei, um transporte público parecido com um comboio, que atravessa a cidade e nos leva aos lugares onde vivemos: mais concretamente, o nº 3, que vai até Majorna, uma parte de Gotemburgo. Portanto, nessa canção, jogamos com as palavras como os Deep Purple fizeram em “Highway Star” e os Saxon em “Princess of the Night”. No vosso 10º aniversário, assinaram contrato com uma grande editora – a Century Media. Onde e quando isto aconteceu? Charles: Antes disso, tivemos um contracto para três álbuns com a Rise Above e sentimos que precisávamos de experimentar algo diferente. A Century Media fez-nos uma boa oferta e mostraram que gostavam de Horisont, portanto pareceu-nos lógico alinharmos com eles. Começámos a procurar alternativas, assim que lançámos
“NÃO ME PARECE QUE POSSAMOS ALGUMA VEZ FAZER UM ÁLBUM COM SOM MODERNO [...]“ «Odyssey», o nosso último álbum com a Rise Above. Como se sentiram, quando souberam do interesse dessa editora pela vossa banda? Magnus: Ficámos muito, muito contentes, claro! E tivemos um começo maravilhoso com eles, com digressão nos EUA e tudo. Portanto, estamos a contar dominar o mundo muito em breve! Como pensam que esse contracto vai influenciar a vossa carreira? Têm Liberdade para fazerem as coisas à vossa maneira? Charles: A Century Media não
interfere minimamente na nossa forma de compor, enquanto a nossa música for boa, haha. Tem muita influência e ligações em todo o mundo, o que facilita muito a marcação de espectáculos, os bons concertos e a promoção. Para terminar, gostaria que me falassem de uma das minhas faixas favoritas: “Boston Gold”. Charles: Obrigado! Foi umas das canções de que nos rimos, quando a fizemos, porque se assemelhava um tanto a disco rock dos anos 80, o que soava estranho. Mas parámos de rir, quando chegámos
ao estúdio, e agora também é uma das nossas favoritas. Foi muito inspirada pela vibração AOR do fim dos anos 70, de bandas como Gamma e Boston, daí o nome. Obrigado pelo tempo que dispenderam a responder a esta entrevista. Espero poder ouvir-vos tocar ao vivo um destes dias! Magnus e Charles: Nós também agradecemos! https://www.facebook.com/horisontmusic https://youtu.be/itiipGePr5E
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CRÉATURES UMA IMAGINAÇÃO PRODIGIOSA É este o principal traço do criador de Créatures, uma one man band que acaba de lançar o seu primeiro álbum intitulado «Le Noir Village». Entrevista: CSA
Este álbum é verdadeiramente intrigante e tenebroso… logo super interessante. Onde foste descobrir esta aldeia aterradora? Existe mesmo ou é uma invenção de Créatures ? Sparda: Obrigado pelo elogio! A aldeia saiu inteirinha da minha imaginação. Inventei os nomes dos locais e nem sequer especifico em que país se situa a aldeia. Tendo em conta a época e arquitetura, dá apenas para perceber que se trata de uma povoação na Europa Ocidental. O que representa esta aldeia aterrorizada por monstros ? E que monstros são estes? Apenas criaturas lendárias ou símbolos dos males que afligem as pessoas na atualidade? Sparda: Le Cloaric (nome que dei à povoação) é uma aldeia de camponeses do séc. XII. Os monstros que a atormentam são figuras de horror provenientes do folclore ou da religião e que marcaram a literatura, o cinema, os jogos de computador, etc. Delas fazem parte um lobisomem, um
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morto-vivo, um fantasma, um vampiro e um demónio. A capa do álbum é fantástica, porque nos mergulha de imediato em todo o horror do cenário em que se desenrola a narrativa. No entanto, ao mesmo tempo, a povoação tem um ar pacífico. Quem a fez? Parece banda desenhada de horror. Sparda: Trata-se de um quadro de um amigo muito talentoso: Simon Hervé. Pedi-lhe que me fizesse uma vista panorâmica da aldeia, sem vida, com um ambiente glauco. De um modo geral, ele inspirou-se na pintura naïf. Conseguiu transcrever para a sua imagem exatamente o que eu tinha na minha cabeça, parece que conseguiu entrar no meu cérebro. Foi o mesmo artista que fez a pintura e os seis desenhos incluídos na edição digipack ? Sparda: Sim, o Simon fez também os seis desenhos, um para cada canção (bem como um mapa). Imitou o estilo das gravuras em madeira do séc. XV, como se se tratasse de imagens alusivas
às lendas da aldeia. O logo e o design do digipack e do livrinho foram feitos por Roy de Rat, um outro artista excelente com quem trabalho há vários anos, nos meus outros projetos. Fizeste algum livreto para a tua ópera de Black Metal? É esse o conteúdo do livro de 16 páginas que também está no digipack? Sparda: De modo nenhum. O livro apenas conta a história da aldeia. Não exprime propriamente um conceito. Por vezes, comparam Créatures a uma ópera, porque as personagens da história são interpretadas por cantores diferentes, que se exprimem na primeira pessoa. Dado Créatures ser um projeto a solo, és tu que fazes tudo. De que forma colaboraram contigo os artistas que convidaste para o álbum (segundo informação dada pela tua editora)? Sparda: Em Créatures, eu asseguro a composição, a escrita, as guitarras, o baixo, o piano, o órgão, alguns instrumentos folclóricos os vocais de Lothaire (na canção
“[...] Por vezes, comparam Créatures a uma ópera, porque as personagens da história são interpretadas por cantores diferentes, que se exprimem na primeira pessoa”
“L’Horreur des Lunes Pleines”). Convidei amigos para tocarem os instrumentos que eu não domino e para fazerem os vocais relativos às outras personagens da história. Quem convidaste? Sparda: Ehrryk (de Gotholocaust) gravou a bateria, que eu compus. Sha’ Ilùm, Cam.L, LeksyK e Lazareth gravaram respetivamente os instrumentos de percussão orientais, o violoncelo, o violino e o trompete. Os outros nove convidados interpretaram nove habitantes ou monstros da aldeia. Pode-se dizer que há momentos irónicos no álbum (apesar do horror)? Estou a pensar na canção “Martyr d’un Tanneur”, por exemplo. Sparda: Essa história tem uma faceta um tanto « kitsch », porque nela figuram as seis figuras de horror que eu reuni na aldeia. Mas essa canção não pretende ser irónica. Fala-nos um pouco das bandas que te inspiram. Sparda: No que toca ao lado
concetual, tenho King Diamond como principal referência. Adoro o seu hábito de escrever histórias para cada álbum (que se vão desenrolando junto com as canções), de interpretar as personagens de modo teatral e de compor música que acompanha o guião do álbum. Foi exatamente isso que eu tentei fazer com Créatures. No que diz respeito à música, apesar de Creátures ser influenciada por grandes nomes do horror como Notre Dame, Tartaros, The Vision Bleak ou Gloomy Grim, eu ouço muito pouco essas bandas. As minhas influências são múltiplas e abrangem numerosos estilos de Metal e mesmo de outros tipos de música. É por isso que «Le Noir Village» é tão variado. Gosto sobretudo de bandas experimentais: The Ruins of Beverast, Krallice, Dodheimsgard, Ved Buens Ende, Arkha Sva… Vais dar concertos para dar a conhecer a tua aldeia assustadora? Sparda: De momento, não tenho nada previsto, mas, se encontrar músicos de sessão motivados,
terei muito gosto em preparar isso. Seriam live grandiloquentes, com figurinos, cenários e encenação. Já tens novas histórias em mente? Estou interessada nelas. Sparda: O próximo álbum tratará de um só monstro, para tornar a história mais credível. Será uma espécie de thriller medieval. O que distingue Créatures dos outros projetos em que estás envolvido ? Sparda: O facto de ser um projeto a solo dá-me liberdade total na composição. Quando tenho uma ideia, não tenho de negociar com ninguém, de fazer cedências para levar outros músicos a aceitá-la e isso agrada-me muito. E por isso que este álbum de Creátures é tão doido, aborda tantas direções: não me impus nenhuns limites, nenhuma restrição. https://www.facebook.com/creatures. horror/ https://www.youtube.com/ watch?v=zQL83Vbx5YI
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Imperium Dekadenz
À procura das raízes… entre os mortos! Para Horaz (e, certamente, Vespasian concorda), «Dis Manibus» é uma viagem às origens da banda. Entrevista: CSA Foto: Severin Schweiger Salve, Horaz e Vespasian! Morituri vos salutant! Aqui temos mais um álbum fabuloso de Imperium Dekadenz. Vocês são realmente uma das minhas bandas de referência no universo do Black Metal. Horaz: Ave! …Obrigado! Como se sentem depois de cinco álbuns e quase 15 anos de carreira? Horaz: Velhos, mas mais sensatos, hehehe… Não lamentamos nada do que fizemos e podemos olhar para trás e ver que foram anos bons para a banda. É um aspeto que te deixa feliz, quando fazes uma síntese do que tem sido a tua vida. É agradável constatares que, na tua vida, há algo mais do que o trabalho quotidiano e os teus deveres, algo que cresce, te dá uma oportunidade de te exprimires e de passares momentos agradáveis com os teus colegas da banda. É um marco de permanência numa época caracterizada pela efemeridade. Quais foram os momentos mais sensacionais e os mais terríveis
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destes anos? Horaz: Bem, houve gente que morreu… ou adoeceu, algo que te faz pensar na forma como estás a levar a tua vida… Realmente não posso dizer que o que me aconteceu de melhor e de pior nestes anos. Apenas sinto que houve muitos momentos únicos e que estou feliz por eles fazerem parte da minha vida. E a quem agradecem, quando pensam no sucesso que têm tido? Horaz:… Aos deuses e aos fantasmas da Floresta Negra. Já tiveram a oportunidade de tocar em grandes festivais e nas salas que enchiam os vossos sonhos quando vos entrevistei sobre «Meadows»? Horaz: Depois do lançamento de «Meadows of Nostalgia», tocámos no Partysan Festival e no Summerbreeze. Esses concertos foram muito, muito bons e passámos aí uns dias maravilhosos. Continuamos a sonhar com uma digressão na Europa e na América. Ainda não tivemos a sorte de concretizar essa aspiração, ao
longo destes anos, mas não vamos desistir até que esse sonho se torne realidade. Vocês já sobreviveram a uma tempestade, ultrapassaram a nostalgia e agora – pelo menos aparentemente – estão perdidos entre os mortos. Há alguma relação entre os conceitos subjacentes a estes três álbuns pelos quais vos entrevistei ou apenas decidiram fazer música sobre um tema que agradava a ambos? Horaz: Não, não há nenhum concerto global que abranja os três álbuns. Estamos sempre a mudar de personagens, que correspondem a variados gostos, preferências e interesses. Como poderíamos nós em 2008, quando começámos a trabalhar em «Procella Vadens», saber que tipo de pessoas seríamos em 2016? Penso que nos sentiríamos acorrentados, privados da nossa liberdade criativa, se tivéssemos que nos ater atualmente a uma ideia que tivéssemos tido há anos atrás. Para nós, um álbum é uma espécie de testemunho contemporâneo, que nos revela
os nossos estados mentais e espirituais. Nunca prescindiríamos de um aspeto tão essencial da nossa arte. O que distingue «Dis Manibus» dos outros álbuns de ID? O que é totalmente fresco nele? Horaz: A sua largura e a sua profundidade combinadas com um poder de vanguardismo que é único para nós até ao momento. A “largura” corresponde à veracidade das emoções e a “profundidade” ao pico que estas atingem. É um passo em frente absolutamente lógico, dando seguimento ao trabalho que iniciámos em 2004. Mas, basicamente «Dis Manibus» é tipicamente um álbum de Imperium Dekadenz, que não renega os pilares que sustentam o império. Posso dizer que o sabor a Black Metal é ainda mais intense neste álbum? Será que isso resulta do tema que escolheram abordar nele? Não. Queríamos dar um passo atrás, regressar às nossas raízes, porque estamos fartos do material pós-Black Metal que anda por aí atualmente. Procurámos criar momentos o mais diretos que fosse possível, para traduzir emoções mais agressivas e primitivas, em vez de uma letargia inultrapassável. Somos muito influenciados pelo Black Metal dos anos 90 e queremos manter esse espírito através da nossa música. O que simboliza a capa do álbum? É diferente da de «Procella Vadens» (que me lembrava pintura romântica inglesa) e da de «Meadows of Nostalgia» (que era, simultaneamente, muito simbólica e muito figurativa). Horaz: Representa a morte. Tudo aquilo de que tens medo, quando pensas nela, ou de que tens de aprender a ter medo. Não se trata de uma estrada luminosa, que leva à libertação, à esperança, à epifania. É uma espécie de monstruosidade que te persegue durante toda a vida e que está cada vez mais perto de ti, a cada
segundo que passa, de que não podes esconder-te ou fugir. E quem a criou? Horaz: Francesco de Luca, um artista italiano que descobrimos por casualidade. Estávamos à procura de um estilo novo, de ideias inovadoras. Ultimamente tenho entrevistado bandas que associam os seus álbuns a estações do ano. Eu vejo o vosso «Procella Vadens» como um álbum de inverno, «Meadows of Nostalgia» como música de outono e «Dis Manibus» como uma nova reflexão sobre a parte triste do ano. Que pensas destas ideias? Horaz: Concordo com a forma como vês os dois primeiros, mas, para mim, «Dis Manibus» é um álbum de verão, pelo poder de que se reveste. Se tivesse de criar uma imagem para o ilustrar, pintaria algo anunciando a chegada de uma daquelas fortes tempestades de uma tarde do fim do verão a pairar sobre uma floresta… com um grande contraste, por exemplo nuvens muito negras sobrepondose a um pôr-do-sol vermelho e dourado. Tu e o Vespasian estão juntos em ID desde o início, mas têm personalidades muito diferentes. Posso saber qual é a tua canção favorita neste álbum e porquê? Horaz: A minha favorita é “Only Fragments of Light”. Vejo-a como a libertação de algo, como deixar para trás um tempo que transformou a tua vida de uma forma que te fazia sentires-te preso impedindo-te de seguires o teu caminho. A canção é muito dinâmica, contém muitas emoções diferentes e um contraste forte, que representa esse tempo que puseste de parte. Os membros de Vargsheim estiveram convosco nos concertos de promoção deste álbum? Convidaram outros músicos para partilharem o palco com ID? Reparei que há coros neste álbum e outras passagens difíceis de
reconstituir no palco. Horaz: Não, usámos samples para os coros, as partes ambientais, etc. Há algumas semanas atrás, tocámos em Würzburg e pedimos ao Seuche, de Fäulnis, para cantar comigo em “Schwarze Wälder”, do nosso primeiro álbum. Foi muito engraçado, porque ele estava muito embriagado, mas também muito motivado. Hahahaha… Por falar de coros e das partes de orquestração incluídas neste álbum, contaram novamente com a colaboração do Stefan Dittrich? Horaz: Sim, ele ajudou-nos a construir alguns elementos ambientais, especialmente o interlúdio de “Seikilos”. Gostariam de vir a Portugal fazer concertos nas nossas salas mais importantes? E que bandas portuguesas quereriam ter convosco? Horaz: Ficaríamos muito felizes de ter a oportunidade de tocar em Portugal com qualquer banda nacional. Como já disse, queremos muito fazer concertos fora da Alemanha. Se calhar até nem gostas, mas a minha banda portuguesa favorita é Moonspell. Sou fã principalmente dos seus primeiros álbuns. Já “armazenaram” alguns riffs para o vosso próximo álbum? De que vai tratar? Como vês, sou curiosa como um gato. Horaz: É claro, hehehe… Sim, já temos novos riffs e ideias. Falámos disso precisamente no fim-de-semana passado. Queremos que contraste com o atual («Dis Manibus»), que seja mais introspetivo, menos épico e baseado em factos históricos. Queremos faixas com estruturas mais minimalistas, um humor mais negro, uma composição mais fechada. Isto é a teoria, vamos ver o que dá na prática. Obrigado pela entrevista! https://www.facebook.com/ ImperiumDekadenz/ https://youtu.be/eXKkkhjNfs8
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TEMPO DE SUPERAÇÃO É mais ou menos desta forma que a banda vê este álbum lançado ao fim de 17 anos de silêncio. Entrevista: CSA Salve, grandes veteranos! É um grande privilégio poder entrevistar-vos! Obrigado pelo apoio! Ficamos honrados por vermos que os nossos fãs se lembram de nós com tanto carinho. Regressaram à vida com um álbum verdadeiramente magnífico. Como foi realizar uma tal proeza? «Pure» já foi lançado e, até agora, tivemos uma reação positiva e entusiástica por parte dos fãs. Sentimo-nos realmente compensados por termos voltado a produzir com o nome de In The
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Woods… e por podermos partilhar este novo trabalho. E como se sente o mais “jovem” membro da banda, que também vem de um país diferente? Como é que o James Fogarty (de Ewigkeit e Old Forest) veio a fazer parte de In The Woods? É fantástico ter sangue novo na banda. O James traz-nos imensas ideias novas e faz o trabalho de três pessoas (voz, guitarra e teclados), portanto estamos logicamente contentes por o termos connosco. Começámos por nos apercebermos do seu trabalho
em Ewigkeit. Depois, o Anders [Kobro] e ele dialogaram durante algum tempo antes de decidirmos ressuscitar ITW. Inicialmente, estava previsto que o James se ocuparia dos teclados, mas o trabalho que fizemos juntos correu tão bem que acabámos por lhe confiar também os vocais e uma das guitarras. Os gémeos Botteri ficaram muito agradavelmente surpreendidos pela sua voz, porque não sabiam que ele também era vocalista de uma banda. De que tipo de pureza trata «Pure»? É a pureza desejada por
“[...] Este álbum podia ter sido tão facilmente gravado em 1990 como em 2030. É uma sonoridade intemporal originada pela criatividade.”[...]” alguém que pretende começar tudo de novo? Esse título andava na cabeça do Christian Botteri, que escreve o essencial de todas as canções que gravámos com ITW desde 1992. É um artista muito calmo e introspetivo, portanto nunca sabemos ao certo em que anda a pensar. Mas parece que se refere à criatividade pura, sem qualquer influência de tendências vindas da cena musical. Este álbum podia ter sido tão facilmente gravado em 1990 como em 2030. É uma sonoridade intemporal originada pela criatividade. Que sentimentos vos invadiram/ invadem, quando compuseram/ tocam «Pure»? A música e as letras deste álbum foram escritas num período muito tenebroso para todos nós. O Oddvar, nosso amigo e antigo membro da banda, tinha morrido há pouco tempo, assim como o pai do James. Portanto, o álbum lida muito com a morte – mas também é feito de esperança e de procura de um caminho positivo que nos ajude a ultrapassar isto. Quem compôs a música? Como decidiram que estilo iria ser usado em cada canção? Toda a nossa música nasce na mente do Christian Botteri. Depois ele trabalha-a com o seu irmão Christopher. A seguir os gémeos e o Anders escrevem o núcleo das canções e definem as suas estruturas. Por fim, o James acrescenta a sua guitarra, os lead riffs, a voz e os teclados. Este esquema funcionou muito bem em «Pure» e, provavelmente, iremos continuar a usá-lo. Quem escreveu as letras? Contam uma história, cujos momentos
mais marcantes representam juntamente com a música? Ou as canções são independentes umas das outras, embora ligadas por um dado tema? Todas as canções funcionam separadamente, mas de uma forma cronológica. Representam uma jornada, que começa com os primeiros sons da faixa 1 e acaba com as derradeiras notas da faixa 10. O Christian escreveu duas das canções (“Blue Oceans” e “This Dark Dream”), que são mais pessoais e introspetivas. O James escreveu o resto das letras do álbum, mais etéreas e filosóficas. As canções são independentes, mas funcionam como um todo que corresponde ao álbum. A capa é tão maravilhosa como o álbum. Lembra-me quadros medievais representando eremitas. O que simboliza o homem idoso retratado? O estádio final da vida humana. Contudo, está a preparar-se para a transição para a forma seguinte de consciência e espírito. Quem teve a ideia para esta capa: a banda ou o artista? E quem a fez? O Anders contactou o Max Winter e falou-lhe do conceito do álbum, assim que nos apercebemos de que íamos mesmo gravá-lo. Os ITW fizeram algo durante os 17 anos que separam «Strange in Stereo» de «Pure»? Nesses anos, estivemos ocupados com outros projetos musicais, mas nenhum deles tinha a ver com ITW. «Pure» é o produto de trabalho que fizemos apenas nos últimos 2 anos. Vão fazer uma digressão para promover este álbum? Que bandas tocarão convosco?
Já tocámos em vários festivais na Europa desde que concluímos as gravações (terminaram em janeiro de 2016) e, recentemente, fizemos uma digressão com 10 datas acompanhados por Sigh (Japão), que foi espetacular. Estão ainda a marcar-nos alguns concertos, mas a principal prioridade de ITW é escrever e gravar música. Deixamos a outros o estilo de vida “Rock N’ Rol”. Que expetativas tem a banda para este regresso? Como reagiram os fãs antigos? Esperam ganhar novos adeptos para a vossa música? Até ver, atraímos a atenção de muitos dos antigos fãs e também de alguns mais recentes (e novos) que ainda não tinham nascido quando ITW surgiu (há 24 anos!). Isto é ótimo, porque não só demonstra que continuamos fiéis a nós próprios como o facto de que a música se sobrepõe às tendências, às “modas”, e vale por si mesma.
“[…] A música e as letras […] foram escritas num período muito tenebroso […] o álbum lida muito com a morte – mas também é feito de esperança […] que nos ajude a ultrapassar isto.” “ [A capa simboliza] O estádio final da vida humana. Contudo, está a preparar-se para a transição para a forma seguinte de consciência e espírito.” https://www.facebook.com/ inthewoodsomnio/ https://youtu.be/oX5S2ZU4P-U
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Disco do ano? Em que ano?! Por: Nuno Lopes
É impossível! É totalmente impossível! Este é o meu pensamento de cada vez que chega aquela altura do ano! Chega a altura em que começamos a olhar para trás e vemos o tempo que passou. É impossível! Simplesmente não dá! Como é que se consegue sintetizar o que foi um ano de discos, de concertos, de vida que passou? É uma tarefa árdua, exigente e, muitas vezes, é parvo e ridículo. O que me impede a mim de descobrir um disco de há 30 anos atrás neste momento e nele ver o disco do ano? Ou o que me impede de achar que o que antes não era o é hoje? E se eu quiser que o meu disco do ano seja o mesmo do ano que passou? É um ritual, sim, todos o sabemos, tal como é fazermos um balaço quando fazemos anos ou, simplesmente, quando recordamos. Sintetizar 365 dias e as outras centenas de discos que nos passaram pelo canal auditivo em apenas algumas coisas é uma tarefa tão herculiana como viajar ao centro da Terra. O que é engraçado nesta coisa dos balanços é que conseguimos perceber que determinado disco ou artista, nos leva a (re)descoberta de outro(s). Obviamente que este foi o ano do regresso dos Meshuggah e de Dark Tranquility que fizeram dois discos de salivar e salivar por mais, no entanto, estes são, apenas, dois exemplos, pois, para mim, ainda não percebi se o Tired of Everything, dos Nothing ou Pronounce This! dos Salem’s Pot são discos do ano, tal a frescura e honestidade com que os seus discos se imposeram. E o que dizer de Kodama, dos Alcest? E The End is Near, dos estreantes Across The Burning Sky? Não é uma tarefa fácil, é uma tarefa ingrata, tal como dizer o descontentamento pelo caminhos dos Hammerfall ou falar do regresso (há grande forma?!) dos Metallica, compensação, talvez! Talvez o melhor disco deste ano só o ouça em 2058, quem sabe! Uma coisa eu sei, e não preciso de balanços para isso, é que discos como Black Star (Bowie) ou You Want it Darker (Cohen) ou o Purple Rain (Prince), ganharam uma aura mítica a que só os grandes discos podem ter e só por isso ganham o estatuto de menção honrosa a grandes artistas que nos deixaram e são discos do ano. Quando me questionam qual o disco do ano, a questão será sempre, de que ano falas tu? Falas para mim ou para a globalidade? Não existe uma só lista, não existe um só ano. A música é isto e este é o poder do disco... e o poder do tempo que passa. Como uma bela garrafa de vinho do Porto.
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LADLO
Les Acteurs de l’Ombre Discretos mas eficazes Podem trabalhar na sombra, mas há muito tempo que chamaram a atenção dos fãs de Metal extremo. Entrevista: CSA
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Para começar, gostaria que me falassem dos momentos mais importantes da história da vossa editora. Gérald – Tudo começou em 2001, quando eu criei a associação Les Acteurs De l’Ombre com dois amigos. No início, tínhamos um webzine, mas depressa comecei a organizar concertos em Paris, incluindo três festivais anuais: Black Metal, Pagan Metal e Doom Metal (durante cerca de 10 anos). A equipa aumentou rapidamente e já fizemos perto de uma centena de concertos para mais de 500 bandas. Aliás, desde 1996 que eu organizava os concertos das bandas de Black Metal onde cantava. Hoje em dia, só existe o Cernunnos Pagan Fest e o webzine mal sobrevive. Em 2009, deixei a presidência da associação por motivos profissionais e foi nessa altura que propus montar uma editora para a nossa associação. Comecei sozinho, mas depressa encontrei muito quem me ajudasse. Em 2009, lancei o primeiro álbum de Pensées Nocturnes, que teve um excelente acolhimento do público e da crítica, reação que se repetiu aquando da saída do segundo. Em 2011, foi a vez do álbum de Cult Of Erinyes. O lançamento dos álbuns de The Great Old Ones, em 2012, e de Regarde Les Hommes Tomber, em 2013, representou uma reviravolta para a editora. A receção excecional que estes álbuns tiveram foi um verdadeiro trampolim para a LADLO. Estas bandas foram tocar no Hellfest, no Roadburn… Contudo, há 3 ou 4 anos, não dava grande coisa pela editora. A minha situação familiar evoluiu e eu pensei em “pô-lo de pousio” por uns tempos. Já não tenho tempo para me ocupar dela 6 a 8 horas por dia, depois do meu trabalho. Não me via a continuar a fazer isto sozinho. Os meus novos acólitos apareceram, de modo mais ou menos providencial, investiram na editora e apropriaram-se dela. Foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido e estou-lhes muito grato. Permitiram que a atividade se prolongasse e ad-
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quirisse maior qualidade. Deste modo, em 2015, pudemos criar uma divisão da LADLO – Émanations – exclusivamente destinada a descobrir bandas francesas a partir de tiragens muito limitadas. Assim, ela vai servir sobretudo para criar cassetes e alguns CDs em formato demo e álbum. Em 2015, conseguimos também lançar 4 álbuns ao mesmo tempo: «Exile», de Regarde Les Hommes Tomber, «Maïeutiste», álbum homónimo, «Pillars of Detest», de Moonreich, e «Æther», dos Déluge. Isso representou um trabalho imenso para toda a equipa. Para 2016 e 2017, decidimos reduzir um pouco a velocidade, a fim de manter a qualidade do nosso trabalho. Tivemos de desistir de lançamentos de bandas de que gostámos muito, porque estava fora de questão fazermos um trabalho apressado e mal acabado, que seria péssimo, quer para os músicos, quer para a editora. Para já, o grande marco de 2016 é o lançamento do álbum «Mystical Future», de Wildernessking, a nossa primeira banda estrangeira, já que esta banda – que aprecio imenso – vem da África do Sul. E não podemos esquecer o nosso último lançamento, em setembro de 2016: o primeiro álbum de Pénitence Onirique, que já suscitou reações extremamente positivas. Isto é, sem dúvida, uma grande alegria para toda a equipa. E como encontraram o nome da editora? Gérald – É um produto da minha imaginação. «Acteurs» [«Atores»], porque somos ativos. «De l’Ombre» [«Da Sombra»], devido ao lado underground do nosso trabalho. Trabalhamos na sombra, para os que vivem na obscuridade, a cena underground. Portanto, este nome refere-se a nós, mas também àqueles para quem trabalhamos. De qualquer modo, no Metal extremo, somos todos “atores da sombra”. Que critérios têm em conta para escolher as bandas que vão fazer parte do vosso catálogo?
Gérald – Como já referi, criámos uma divisão da editora que se limita a descobrir bandas completamente desconhecidas graças a edições limitadas em cassete ou CD, isto é, que apenas lançaram demos: a Émanations. Para assinar com a LADLO (Les Acteurs De L’Ombre), antes de mais, a banda tem de agradar à maioria da equipa. Temos gostos variados, mas todos têm direito a dar a sua opinião. Como podes comprovar, se analisares o nosso catálogo, as nossas bandas pertencem todas à cena Black Metal, mas têm uma identidade própria e uma forma diferente de abordar este subgénero. Além disso, queremos que seja fácil contactar a banda e esta deve ter perspetivas semelhantes à nossa. Vemos cada colaboração como um trabalho em equipa, uma emulação coletiva, e esperamos da banda uma implicação total. O seu conceito artístico deve ser coerente – em termos de artwork e de música – e o conjunto não deve apresentar nenhuma falha que os nossos olhos e ouvidos possam detetar. Apoiamos as nossas bandas em todos os momentos em que têm de tomar decisões e queremos que tenham um papel preponderante nos aspetos que as podem valorizar (box, objetos artesanais, edições limitadas…). Fazemos muito poucos lançamentos por ano, portanto temos de apostar em bandas de qualidade. E, por fim, preferimos bandas que toquem ao vivo, porque isso contribui para dar a conhecer a editora. Quem está à frente da LADLO ? Vocês também são músicos? Blandine – Só o Romain e o Gérald fizeram ou fazem parte de bandas. O Romain faz parte de In Cauda Venenum. Os outros membros da equipa são apenas fãs fervorosos de música extrema. Os nossos papéis estão muito bem definidos: o Gérald é o gestor, impulsiona as nossas ações e garante que vão ter seguimento, tem uma visão global da atividade da editora. O Jean encarrega-se das encomen-
das dos clientes e da gestão dos stocks. A Noemy e eu trabalhamos na promoção/comunicação. O Romain é o nosso diretor artístico/ infográfico/webmaster e assegura o contacto com as fábricas que imprimem o nosso material. O Alexandre é o nosso tradutor para o Inglês e também se ocupa da produção. A Virginie juntou-se à equipa, para nos ajudar a dinamizar as nossas páginas nas redes sociais. Por último, temos a Sarah, que se ocupa do equipamento e da preparação dos stands da editora nos festivais. Desde há algum tempo, pedimos voluntários através de uma newsletter e temos tido muitos candidatos. Esperamos poder reforçar a nossa equipa, para que cada um de nós possa continuar a investir no que mais lhe agrada, sem que isso prejudique demasiado a sua vida profissional e pessoal. A propósito de músicos, que regras regem as relações entre a vossa editora e os que contrataram? Gérald – De momento, não assinamos contratos escritos com as bandas, o compromisso é apenas moral. Mas isso vai mudar em
breve: as nossas bandas são cada vez mais populares e nós temos de nos proteger. Por exemplo, os The Great Old Ones vão lançar o seu próximo álbum pela Season of Mist. Por sorte, somos amigos há 20 anos e não pusemos problemas, mas não vai ser sempre assim. Estamos sempre em contacto com as nossas bandas e pedimos-lhes um investimento à altura do nosso, ou seja, responder às entrevistas em prazos adequados, encontrar datas para os concertos… Queremos que a nossa relação seja sempre cordial e honesta. Pela força das circunstâncias, os laços entre nós vão ficando cada vez mais fortes, à medida que o tempo passa. Como fazem as capas e o artwork? Têm um artista da editora (como acontece com o Adrien Bousson para a SoM, por exemplo)? Blandine – O Romain trabalha faz o layout dos digipacks, LP e cassetes. Depois cada banda tem a liberdade de escolher o seu artwork e um artista a seu gosto. Nós estamos lá para as aconselhar e lhes dar apoio financeiro, se for preciso. Mas a última palavra pertence sempre à
banda. Gérald – Mas damos sempre a nossa opinião. E raramente sofremos desilusões. Escolhemos as nossas bandas com muito cuidado. De facto, se uma banda apresenta um conceito e uma música de qualidade, é raro que proponha grafismo sem interesse. É um conjunto, requer uma inteligência global. Qua mais faz a LADLO? Blandine – Temos imenso trabalho a acompanhar as bandas. Já organizámos várias release parties e um concerto privado, uma grande festa pagã na Bretanha apenas para os fiéis seguidores da editora, nomeadamente clientes e associados. Tivemos 450 pessoas. O preço era livre, cada um dava o que podia e conseguimos pagar as despesas com esses contributos. Vamos repetir este evento em 2017 e já estamos a preparar o cartaz, porque não convidamos só bandas da nossa editora. https://youtu.be/pUztzbcKhIA Gérald – Não somos uma editora que se limita a lançar um CD, a enviar o que deve à banda e que os deixa sem notícias depois disso. Como disse a Blandine, empenha-
“[...] Trabalhamos na sombra, para os que vivem na obscuridade [...]. Portanto, este nome refere-se a nós, mas também àqueles para quem trabalhamos. [...]” 33 / VERSUS MAGAZINE
mo-nos em cada saída, mantemos um contacto quase quotidiano com as bandas do momento (entre 6 meses a 1 ano após a saída do álbum). Usamos o mail e também o chat do Facebook. Sempre que temos a possibilidade de o fazer, ajudamos qualquer banda do nosso catálogo. Fazemos, em simultâneo, produção, distribuição, gestão e tratamos das reservas. Que nicho vos cabe na cena editorial francesa e até europeia? Blandine – Procuramos ter uma identidade própria e manter um
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lado artesanal. Por esse motivo, lançamos regularmente serigrafias, edições limitadas… Gostamos dessa relação com o objeto. Tornou-se quase a nossa imagem de marca. Tendemos para um Black Metal atmosférico, cheio de marcas de outros estilos, como o sludge, o post-hardcore. É neste nicho de Metal extremo que nos situamos atualmente. Também preferimos as bandas francesas, não por chauvinismo, mas porque a cena nacional de Black Metal é muito rica e queremos contribuir para que se mantenha assim.
Gostariam de se tornar sócios de uma outra editora? Talvez uma maior? Blandine – Nem por isso, porque gostamos de fazer tudo nos projetos que temos em mãos. Já fizemos algumas coproduções com editoras como a Those Opposed Records, francesa como nós, que mantem relações cordiais connosco, além de ter um excelente catálogo. Recentemente, lançámos com eles os álbuns de Darkenhöld em LP. Gérald: De facto, fazer reedições com uma outra editora exige muito menos trabalho do que uma banda
que é preciso fazer evoluir. Temos a nossa maneira própria de trabalhar, de assegurar a promoção e poucas editoras investem tanto nisso como nós. Tivemos uma experiência, não queremos repeti-la. Qual é a vossa maior ambição atualmente? Blandine – Ver as nossas bandas a progredir cada vez mais, levá-las a participar em numerosos festivais e a fazer digressões na Europa e até na América do Norte e no Japão. O nosso sonho é ver as nossas bandas a tocar na Noruega, um
objetivo que acaba de ser atingido, porque Regarde Les Hommes Tomber e Déluge vão estar no Blastfest 2017. Moonreich vai tocar no Canadá em novembro. Também há elementos da equipa que querem apostar no Doom Metal. Estamos a pensar nisso. Seria um novo desafio. Gérald – Mas a nossa maior ambição é mantermo-nos no ativo o maior tempo possível. Devido à sua natureza associativa e não lucrativa, a editora está numa situação precária, porque todos temos empregos e vida familiar, não
fazemos só isto, o que representa um grande sacrifício para todos nós. Cada um tem um papel de destaque a desempenhar no funcionamento da editora, qualquer imprevisto pode pôr em causa um projeto. Uma paragem de qualquer um de nós seria ainda mais problemática, pois seria muito difícil encontrar alguém com a mesma capacidade de investir nesta associação, de forma autónoma e rigorosa. Confiamos todos cegamente uns nos outros. A editora é uma entidade que nos pertence a todos.
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´ Avalos ´ Nestor Uma cicatriz na epiderme da eternidade É assim que o artista resume o propósito da sua arte. Entrevista: CSA
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Nestór Avalós: Bem, a minha língua materna é o Espanhol e sou de nacionalidade mexicana. Tenho orgulho em ser Mexicano, apesar de a imagem do meu país no exterior estar manchada pela clássica política, demente e gananciosa, pelo narcotráfico (que é um fenómeno muito complexo, decorrente de uma política catastrófica, de uma sociedade sem honra, da má gestão dos recursos do país, da falta de oportunidades, etc., etc., etc.). Tudo culpa da preguiça e da corrupção… Mas, bem lá no fundo, o meu país está cheio de coisas boas que o mantêm vivo.
Olá, Nestór. Sendo mexicano, és originário de um país onde se cruzam muitas culturas, em constante interação. De que forma essa realidade transparece na tua obra? Nestór Avalós: O meu primeiro contacto com a arte e a espiritualidade ocorreu através da religião católica, dominante no México. Nasci numa cidade muito pequena, em que a prática religiosa era – e continua a ser uma, até certo ponto – uma parte importante da vida quotidiana. A minha arte reflete as minhas crenças espirituais, pelo que está em constante evolução. Não sou capaz de te dizer se espelha ou não a totalidade da riqueza multicultural do México. Não mantenho grandes relações
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com as minhas raízes précolonização. Delas só retive a ideia de MORTE, que figura obsessivamente na minha arte: uma entidade que caminha através do mundo dos vivos e dos mortos, atravessa universos para além de todos os tempos, personifica a justiça e a sabedoria absolutas, que nos revela os mistérios do desconhecido. No fim de contas, tudo influencia a arte, tem consequências em cada ato de expressão artística, desde a criação na natureza até ao conceito mais profundo e abstrato que se possa manifestar nas nossas mentes, do amor ao ódio, da alegria à tristeza, do nascimento ao falecimento. Que língua vês como materna? Em que cultura te situas?
Analisei o teu portefólio e reparei que adoras a combinação preto/ branco, embora uses alguma cor também (nomeadamente o vermelho). Que critérios te permitem decidir que opção vais escolher em cada situação? Nestór Avalós: De forma inconsciente, apostei na monocromia, que gera uma atmosfera sinistra criada por artwork old school associado ao Heavy Metal. Mas a minha paleta vai mudando, ao sabor das alterações que afetam a minha mente e a minha alma, tendo em conta as minhas crenças espirituais e o contacto com a magia. O uso do preto e branco exige conceitos mais abstratos e profundos, para conseguir ter algum significado, representa a luta entre a luz e as trevas e a forma como este eterno combate gera lampejos de horror e beleza (neste caso, traduzidos em imagens), evoca a conversão do Profano no Sagrado, o dia e a noite. É a chama da luz negra que brilha orgulhosamente nas trevas. Neste preciso momento, ando a experimentar jogos de cores. Comecei a inserir toques vermelhos em algumas ilustrações, porque me pareceu necessário fazê-lo em certos projetos, e decidi usar sangue, porque eleva o processo de criação a um nível diferente. Usar sangue é como fazer uma oferenda de
“[…] a […] MORTE […] figura obsessivamente na minha arte: uma entidade que […] personifica a justiça e a sabedoria absolutas […]
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vida às obras, às forças que nelas se manifestam. Assim, o mundo das minhas cores expandiu-se e comecei também a fazer pintura a óleo. Foi um passo importante e bem ponderado, que me permitiu evoluir, abrindo novas possibilidades à minha arte. Que técnica usaste em trabalhos como a capa de «The Obedience to Authority», dos Autokrator, ou «The Throne of Armageddon», dos Soulburner? As ilustrações em questão assemelham-se a fotos, mas, ao mesmo tempo, distinguem-se destas. Nestór Avalós: Combinei vários meios: manipulação de fotografias e desenho, entre outros. Essas obras são totalmente digitais. Também reparei que usas diversos materiais para pintar. O que é que já usaste? Com que finalidades? Quais são os teus materiais favoritos? Nestór Avalós: É verdade. Já usei acrílico, tinta de óleo, sangue, lápis, etc. A finalidade destas técnicas gráficas depende do conceito subjacente à obra em questão. A maior parte das vezes, no campo editorial, preferem ilustrações totalmente feitas à mão, que evoquem o aspeto dos livros antigos e revivam a atmosfera a eles associada. No caso dos projetos musicais, a preferência recai sobre as técnicas digitais. Mas tudo depende da ideia de base do projeto. Ao analisar o teu portefólio, usei a designação “referências cruzadas” para um grupo de trabalhos. Quando os observo, vejo neles uma amálgama de iconografia cristã, incluindo a sua expressão na arte religiosa popular (representada, por exemplo, pelo «The Torment of Sophia» ou por «Qayin Vessel» ou ainda por uma ilustração que apresenta uma cabeça coroada de espinhos), arte do séc. XVII («The Fall of Man» or «Murderer of Elohim»), marcas de arte fantástica nomeadamente vinda de filmes (por exemplo, em « Qayin»). Concordas comigo? Nestór Avalós: Sim. O meu primeiro contacto com a arte ocorreu nas igrejas, repletas de iconografia artística, inspirada nas narrativas da Bíblia, em conceitos como a luxúria, o inferno, o demónio, o apocalipse, a condenação, tudo mitos que distinguem o sagrado do profano e definem basicamente o que é visto como “sagrado”. Procuro manter esta atmosfera religiosa, porque, na minha arte, quero materializar algo intocável, que escapa às palavras, o DIVINO ou o mundo interior, que é algo que eu vejo como divino. Adoro os teus estudos sobre a morte. Estás fascinado por este tema? Ou decorrem de encomendas dos teus clientes? É uma consequência do espírito da minha arte. Como já referi, esta representa a minha própria espiritualidade, o mundo do desconhecido e a morte desempenha um papel muito importante neste contexto religioso. Eu abordo-a de diferentes perspetivas: ressurreição, destruição, o fim e o início
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de ciclos que modificam a forma como eu percebo a “realidade”. Na tua página oficial, também vi fotos de merchandising que criaste (t-shirts, sweats, hoodies). Usas as ilustrações que criaste para o álbum correspondente ou fazes algumas especiais para essa finalidade? Nestór Avalós: Depende da banda. Às vezes, contratam-me como designer, outras vezes fazem-nas eles mesmos. Já expuseste o teu trabalho? Nestór Avalós: Há dois anos, fiz uma exposição relativa a todo o meu trabalho. Era pequena e patrocinada por uma galeria. Mas continuo a sonhar com novas exposições. Penso que a arte que vemos com os nossos próprios olhos cria ligações mais fortes e provoca uma troca de energias. Onde aprendeste? Que percentagem de autodidatismo há no teu trabalho? Nestór Avalós: Iniciei-me a mim próprio. Depois, na universidade, frequentei disciplinas, em que estudei várias técnicas. Mas eram sempre muito superficiais. Recentemente, fui frequentar aulas de pintura a óleo e continuo a aprender a usar diferentes técnicas nos meus projetos, que deem novas asas à minha arte. Qual é o teu maior sonho neste momento? Nestór Avalós: Tenho muitos sonhos, hehe. Alguns mais materiais e outros mais mentais, mais espirituais. Gostaria de levar a minha arte a todos os cantos do mundo, deixar uma cicatriz na epiderme da eternidade, alcançar a transcendência física (Arte), explorar o mundo editorial (ilustrações para livros, revistas, etc.), conceber uma linha de roupas. Em suma, continuar a criar, expandir os horizontes da minha arte. Como imaginas que será a tua vida daqui a 20 anos? Nestór Avalós: Espero ser um homem realizado, a fazer o que gosto rodeado pelas pessoas que amo, ter a minha própria família, continuar a conhecer pessoas admiráveis que me inspiram todos os dias com o trabalho das suas vidas, tais como artistas, escritores, músicos, pais, mães, irmãos e irmãs, seres superiores que vivem a sua vida de acordo com as suas opções pessoais. No fim de contas, só quero ser feliz. https://www.facebook.com/nestor.avalos.90 https://www.behance.net/NestorAvalosOfficial https://pt.pinterest.com/nestoravalos616/pins/ http://nestoravalosofficialblackartssit.tumblr.com/
“[…] na minha arte, quero materializar algo intocável, que escapa às palavras, o DIVINO ou o mundo interior, que é algo que eu vejo como divino.”
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ANTRO DE FOLIA
Por: Carlos Filipe
A saga de John McTiernan, na sua ascensão e queda em Hollywood, tal imperador romano, ainda tem muito para contar. Se a primeira parte foi pautada pela acensão ao sucesso e estatuto de grande realizador de Acão, esta segunda parte, será pautada pela sua queda, e no presente caso, descida tal, que só parou no inferno, a qual hoje, infelizmente para todos os fãs de bom cinema de ação, ele ainda não conseguiu sair, levantarse, e erguer-se das cinzas. Mas vamos por partes. Deixamos John com o seu filme pessoal, Os últimos dias do paraíso (Medecine Man), que foi um fracasso ao olhos de Hollywood, tendo recolhido pouco mais do que custou – valores brutos, isto sem contarmos os famosos custos promocionais que nos dias de hoje podem ser abismais e custar tanto como o filme. Como eu disse anteriormente, o “reset” ao sucesso estava feito e agora, o caminho só podia ser um: entregar novamente pelo menos mais 3 grandes sucessos. Infelizmente, não foi isso que aconteceu, não por incompetência ou maus argumentos, mas mais por questões de incompreensão ou timming, já que dois dos seus próximos filmes são hoje filmes de culto e um outro é mais um clássico dos filmes de ação, neste caso dos 90, não fosse este uma sequela do grande sucesso de ação dos 80. O senhor que se seguiu foi mais uma vez Arnold Schwarzenegger, no papel de Jack Slater, no filme de culto que dá título a este antro, O Último Grande Herói (Last Action Hero). Este é um filme que ou se odeia, ou se adora. Não há meio termo. Já devem ter adivinhado que estou no grupo dos que adoram, sendo um dos meus filmes preferidos, quer de John McTiernan, quer de Arnold Schwarzenegger. Este é um filme para se ver com outros olhos dos de um mero filme de ação, é um filme com inteligência, humor sarcástico e que parodia de forma nua e cura com o próprio género – o de Acão – e todos os seus intervenientes, a começar pelo herói em si. Esta foi a oportunidade que Schwarzenegger teve para “destruir” literalmente a sua imagem de herói de ação que até à data construi durante os anos 80. Foi esta incompreensão dos Americanos que deitou tudo a perder em terras do tio Sam, esta falta de sentido de humor que levou ao seu fracasso. Também tiveram o azar de estrear na mesma altura que um tal Parque Jurássico… Ao invés, no resto do mundo e em particular na Europa, o filme foi de certa forma compreendido e salvou por pouco a pele do Schwarzenegger. Mas o que tem este filme assim de especial? O Último Grande Herói conta a história do jovem Danny Madigan, um fã de Jack Slater, o qual um dia, em que em vez de ir para a escola vai para o cinema, devido a um bilhete mágico que pertenceu a Harry Houdini, dado pelo projecionista do cinema, se vê projetado dentro do grande ecrã do filme a fazer parelha com o seu herói do cinema – Isto é o 1º ato. No segundo ato, Danny tenta em vão convencer o seu herói, Jack Slater, que isto é um filme e ele não é mais do que uma personagem fictícia, enquanto no 3º ato, a coisa vai tornar-se mais feia quando os maus da fita conseguem vir para o nosso mundo, o mundo real, e o nosso herói, além de finalmente ter noção de quem é, descobre que o mundo real é bem mais cruel que o mundo da ficção, o
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O último grande herói de Acção (segunda parte)
seu mundo. Esta ideia de combinar personagem de ficção com reais não é nova. Woody Allen já o tinha feito em A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo), onde uma das personagens sai do filme e apaixona-se por uma das espectadoras presentes no cinema. O filme seguinte foi um regresso ao filão que o tornou famoso: Die Hard. Aqui, acrescentaram-lhe “com vingança”, ficando na nossa terra com o título Die Hard a Vingança (Die Hard with a Vengeance) que fez as delícias dos fãs no ano de 1995 quando chegou às salas. Desta vez, John McLane estava a correr em casa, na sua terra New York, onde, novos pressupostos terroristas têm um plano bem delineado para fazer o assalto do século. Foi um bocado o regresso às origens de Die Hard, com um novo cenário, Nova York, e puseram um parceiro negro forçado a trabalhar com John McLane, o fabuloso Samuel L. Jackson num papel talhado para ele. Grande filme que para mim só quebra nas cenas finais um bocado à lá ação de filme de série B. O filme tem o condão de dar a conhecer um “grande” automóvel de leste: o Yugo. Apesar de uma realização eficaz, um ritmo alucinante de cortar a respiração, o filme ficou à quem na América tendo sido um mega sucesso no resto do mundo. O problema é que o que verdadeiramente conta são as contas americanas e não as do resto do mundo. O Último Viking (The 13th Warrior) com António Banderas depois de uma adaptação de um livro de Michael Crichton – Eaters of the Dead - foi o filme que se seguiu e que inicia os verdadeiros problemas de John McTiernan. O Último Viking conta-nos a história de um poeta Árabe que se vê exilado do seu país depois de se apropriar indevidamente da filha do Califa, vendose este enviado para terras do norte onde é acolhido pelos vikings. Estes combatentes lendários, têm como missão combater uma tribo guerreira antropologista comedores de mortes. A dupla McTiernan/Banderas permite fazer desta história épica umas das obras mais bem conseguidas e ímpares de John McTiernan apesar dos problemas que surgiram com o autor da história. Este filme foi o primeiro verdadeiro grande fracasso, pois recolheu apenas 1/5 do que custou. Um desastre financeiro apesar de ser considerado pelos fãs de John um dos seus melhores trabalhos. Por outro lado, este filme teve grandes divergências artísticas quanto à visão da história, principalmente entre John McTiernan e Michael Crichton, tendo mesmo levado o filme a sair 1 ano de pois de estar concluído. Diz-se que a versão que saiu – a única, e que está disponível em DVD - tem o dedo final de Michael Crichton, pois John McTiernan já à muito tinha saído de cena. Outro problema foi a extrema violência e os sucessivos cortes que o filme teve que sofrer para ter uma classificação que não o prejudicasse no box office Americano. No entanto, dizem as más línguas que chegou a haver uma versão Director’s cut – A versão do realizador – que nesse ano de pós-produção que passou, perdeu-se para sempre. É pena, pois hoje seria interessante ver esta versão do realizador. É que este tipo de coisas pode transformar por completo um filme.
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ANTRO DE FOLIA Em seguida John atacou um remake: O caso Thomas Crown ( The Thomas Crown Affair ). A história de um multimilionário playboy (Pierce Brosman) que rouba arte só pelo simples prazer do ato em si. A coisa muda de figura quando uma sedutora detetive (Rene Russo) se mete no seu caminho. Um filme simpático, que na altura aquando do meu visionamento no cinema, em 1999, achei delicioso, tendo gostado bastante. Um filme barato para os standard hollywoodescos que teve um excelente retorno, sendo uma lufada de ar fresco na carreira de John depois do pesadelo que foi o Último Viking. Só passados 3 anos é que John tem a oportunidade de realizar outro filme, desta feita mais um remake do filme futurista Rollerball. É aqui que a descida aos infernos começa. Rollerball é uma sátira sobre a televisão e a violência. Enquanto que Last Action Hero criticava abertamente a própria Hollywood, desta vez John ataca os média, em particular as televisões, levando o filme a ser fortemente cortado na montagem, principalmente no fim aquando da ascensão revolucionária dos cidadãos – Para quem viu o filme. O próprio McTiernan pressentiu a coisa, quando revelou que este é daqueles projetos que à partida está amaldiçoado, mas no qual, no decorrer do desenvolvimento e produção achava que podia dar a volta e remar contra a maré. Claro, enganou-se redondamente. Depois, no desenvolvimento da produção, tiveram que cortar a parte final do Argumento por razões económicas, simplesmente, não havia dinheiro para fazer o filme que estava no papel. McTiernan reconhece que neste momento devia ter abandonado o projeto. Mas não o fez, infelizmente para todos nós e em particular para o próprio. No decorrer da produção de Rollerball, John McTiernan desconfiado que o produtor Charles Roven andava a sabotar a rodagem do filme, este contrata um detetive privado das estrelas de Hollywood, Anthony Pellicano, para tira as dúvidas. Alguns anos mais tarde, Pellicano mudou os seus métodos de investigação para algo condenável, a chantagem e a intimidação, levando-o a ser condenado a 15 anos de prisão, com várias acusações das quais escutas ilegais, intimidação de testemunhas e corrupção de funcionários do sistema hollywoodesco. Este é o background. No fim da investigação de Pellicano, John McTiernan é acusado de ter recorrido a este detetive sem escrúpulos. John nega as acusações e mente ao FBI, acabando mais tarde sobre pressão por admitir tudo e declarar-se culpado. O problema é que mentir ao FBI, isto é cometer perjúrio é um crime mais grave do que aquele que ele se viu envolvido, sendo condenado a alguns meses de prisão. Mas, em vez de John selar a coisa, não, foi de recurso em recurso acabando por cumprir a pena em agosto de 2012, ou seja, dez anos depois dos factos. Evidentemente, durante todos estes anos de recursos, John não pode realizar mais nenhum filme, dado a condenação, tornando-se assim uma persona non grata em Hollywood, um sistema impiedoso. Ainda antes de este caso eclodir, logo a seguir a Rollerball, McTiernan ainda conseguiu fazer um último filme, Básico (Basic) com John Travolta e Samuel L. Jack-
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son. Um filme decente de investigação do desaparecimento de um sargento e os seus cadetes num exercício militar. John McTiernan foi o preso 43029-11 da penitenciária federal de Yankton durante 328 dias. Cumpriu a sua pena e agora, segundo o imdb (Internet Movie Database) espera por nova oportunidade de realizar o seu próximo filme, um lacónico “Untitled John McTiernan Project”. Não sei se irá haver mais algum filme do mestre da ação, mas sem dúvida o cinema necessita destes realizadores “old fashion”, i.e., à antiga, para nos potenciar uma lufada de ar fresco no género que há muito se tornou digitalmente inconsistente. Entretanto, tal como muito outros grandes realizadores do passado, só me resta, só nos resta rever os seus magníficos filmes.
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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves Ilustração: Ana Ramalhadeiro
APURADO Apurei o meu ouvido Para escutar o teu dormir E quando suspiras sinto a tua invasão sobre o meu ser apurado Apurei a minha visão Só para te proteger Só não apuro o meu tacto Porque não quero invadir o teu ser Por ti apuro todas as minhas virtudes Porque adoro ver-te sorrir... Afinal, A vida é um poema Que por vezes rima, E por ti, Rimo vezes sem fim
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Vagabundagem perpétua Eis a essência de «Meta», o novo álbum de Thy Catafalque, nas palavras do seu criador. Entrevista: CSA Fotos: Gyongyi Kudlik
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Esta é a nossa terceira entrevista sobre os te «Meta». O que significa este título) (Em Port Tamás: Este meta vem do Grego e significa at algo. A ideia de base do título de «Meta» é qu vidas derivadas do carbono andam a vaguear formas de vida depois da morte de cada uma É uma espécie de ciclo sem fim, a última aven
E que relação existe entre a capa do álbum – a ele? Por que podemos ver nela um veado e lar? Tamás: A capa do álbum baseia-se na iconogr ser mais preciso, num ícone bizantino clássico Helena. No lugar das suas cabeças, pusemos a raposa são personagens habituais no meu u meu quarto álbum – «Róka Hasa Rádió» – sig sa”. Além disso, o veado e a raposa também a artwork é uma referência direta ao conteúdo no seu estado mais puro, sendo representado a santidade da vida em todas as suas formas. aves que dormem no chão, as montanhas e o infelizmente, precisas de dominar o Húngaro destes símbolos.
És tu o autor desta capa? Parece bastante d Tamás: Eu criei o conceito e pedi a uma artist Kessiakova – que pintasse a imagem correspo para fazer este trabalho, porque a maioria de viço da religião ortodoxa, cuja iconografia tem a infringir. De facto, esta capa é realmente muito difere desde o início e sempre quis ter uma capa co farto das ilustrações digitais que aparecem co álbuns em CD e vinil. Atualmente a maioria d chés totalmente desprovidos de bom gosto e idos.
O que distingue entre si «Rengeteg», «Sgùrr Tamás: «Rengeteg» ficava no ouvido, «Sgùrr» acolhedor. Para mim, representa um resumo em termos musicais, com alguns elementos n este álbum, sinto-me como se tivesse chegad
Usaste o teu velho Korg para o fazer ou tive vez que te entrevistei, disseste que os seus Tamás: Usei o Korg em alguns momentos, ma sintetizadores virtuais. O N5 funciona bem, a
Que músicos convidaste para «Meta»? Algu Tamás: Fui eu próprio que compus a música, artistas tem um grande impacto no álbum. Atti ção (que, na realidade, foi gravada em 2010, Ágnes Tóth, outro nome dos velhos tempos, vocalistas: Gyula Vasvári, de Perihelion, Lamb kona, Mörbid Carnage e Orsolya Fogarasi. Há de Casketgarden, algumas passagens de violo Luci Holland. O álbum está cheio de contribu do que eu.
“[...] A ideia de base [...] de «Meta» é 5 0 / VERSUS MAGAZINE
todas as vidas derivadas do carbono a tes corpos
[...] É uma espécie de ciclo
eus novos álbuns. Desta vez, trata-se de tuguês, a palavra meta significa objetivo.] través de, por cima de algo, para além de ue as mais ínfimas partículas de todas as r através de diferentes corpos, diferentes a das vidas, das formas de que fazem parte. ntura.
– de sabor medieval – e o tema subjacente e uma raposa? Simbolizam algo em particu-
rafia da Igreja Ortodoxa Oriental ou, para co representando São Constantino e Santa s as cabeças desses dois animais. O veado e universo artístico. Por exemplo, o nome do gnifica algo como “rádio do ventre da rapoaparecem nas letras de «Meta», pelo que o o do álbum. Para mim, eles simbolizam a vida os como santos porque também simbolizam . A capa apresenta ainda outros símbolos: as o moinho. São descritos nas canções, mas, o para conseguires captares todo o sentido
diferente das dos teus álbuns anteriores. ta búlgara, ligada à iconografia – Agnessa ondente. Não foi fácil encontrar alguém estes artistas estão exclusivamente ao serm regras muito rígidas, que eles se recusam
ente das outras, mas era assim que eu a via om uma verdadeira pintura. Estou a ficar onstantemente nas capas das edições dos das capas dos lançamentos de Metal são clie estúpidos. Ainda mais do que em tempos
r» e «Meta»? era hostil e «Meta» é mais amigável, mais de tudo o que tenho feito até ao momento novos. Mas nada drasticamente novo. Com do ao fim de um ciclo,
este de recorrer a outro material? Da última botões estavam à beira do colapso final. as a maior parte dos teclados foi feita com ainda o posso usar.
um deles te deu uma ajuda na composição? mas é claro que a participação de outros ttila Bakos está de regresso para uma candurante as sessões relativas a «Rengeteg»). também está presente. E há ainda mais três bert Lédeczy de Ahriman, Tyrant Goatgaldraá ainda um solo de guitarra de Balázs Tóth, oncelo de Judit Csere e de oboé tocado por utos de outros músicos, todos bem melhores
é que as mais ínfimas partículas de
andam a vaguear através de diferen-
o sem fim
[...]”
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Gostei particularmente da voz feminina na m naste tão bem guitarras pesadas com melod Tamás: Em “Sirály”, canta Ágnes Tóth, dos The garo]. Já tinha cantado em «Róka Hasa Rádió
A propósito de géneros musicais, que influê segunda faixa é francamente bucólica, mas para sagas cinematográficas. Tamás: Ora bem, acho que há demasiadas infl meus álbuns são tão ecléticos e difíceis de cl influência de Rock dos anos 70, com aqueles fim, mas o violoncelo e a suave voz feminina ser franco, raramente penso nisso, limito-me mente, tenho um mundo bastante rico na mi
És supersticioso? Pensas que este álbum ser ores, por ser o sétimo da banda? Qual é a tu Tamás: Não me vejo como uma pessoa super «Meta». Fi-lo porque senti que tinha de o faz na altura em que o criei. Nada mais. Não esto álbum, isso é assunto que diz respeito à edito almente é sentir-me contente com as cançõe ambição está concretizada.
Qual é a situação de TC na Hungria? Será qu afeta a receção da tua música lá? Tamás: Não me parece. O facto é que, de aco mais fãs no estrangeiro do que na Hungria, m receção de TC na minha pátria. Penso que a m Muitas pessoas gostam do que faço e eu não faço concertos, em termos práticos não inter que isso não afetaria em nada a minha situaç Catafalque.
Parece-te que TC tem algo a ver com bandas parte da cena Black Metal e agora faz algo b Tamás: Há uma infinidade de bandas com raí noutras direções. A razão de isso acontecer e livre, que pode ajudar-te a dar largas a uma in gente criativa foram atraídas pelo Black Meta criarem o seu estilo próprio. Se calhar, já nem importa isso? De certo modo, importa sim. M
E como vai indo a tua carreira de artista gráfi Tamás: Haha, não vai a lado nenhum, porque para mim próprio. E já é muito bom para mim
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“[...] Para mim, [os animais da cap santidade da vida em todas as sua
maravilhosa segunda faixa, em que combidias bucólicas que fazem o ouvinte sonhar. e Moon And The Nightspirit [duo folk húnó» e «Rengeteg».
ências podemos encontrar neste álbum? A a terceira já me faz pensar em música épica
fluências na minha arte. Por isso, é que os lassificar. Na segunda faixa, podes sentir a s grandes riffs, o órgão, o solo de guitarra no não têm nada a ver com essa época. Para e a tocar o que me vem à mente. E, felizinha cabeça.
rá um sucesso ainda maior que os anteriua maior ambição para «Meta»? rsticiosa e não tenho grandes ambições para zer e porque ele representa o que eu era ou preocupado com o valor comercial do ora. A única coisa que me interessa pessoes. Estou bastante satisfeito, logo a minha
ue o facto de já não viveres no teu país
ordo com as estatísticas do Facebook, tenho mas não tenho motivo para me queixar da minha música é respeitada e apreciada. o podia desejar mais do que isso. Como não ressa onde vivo. Podia até estar no Alasca, ção. Pelo menos, no que diz respeito a Thy
s como Alcest, que começou por fazer bem diferente desse género? ízes no Black Metal, que depois evoluíram está no facto de se tratar de um género nfinidade de fluxos criativos. Multidões de al e usaram-no como ponto de partida para m existe Black Metal, a bem dizer. Mas que Mas, de outro ponto de vista, nem por isso.
fico? e não existe. Limito-me a fazer o artwork m. https://www.facebook.com/thycatafalque/ https://youtu.be/IM0l0Aa8FPk
pa do álbum] simbolizam [...] a as formas. [...]"
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Este álbum é diferente dos seus predecessores. Podes dizer-nos onde reside a diferença e o que a tornou necessária para a banda? Jim Dokter: Não sei bem como responder a essa pergunta. Por um lado, o álbum representa um passo em frente e é mesmo diferente: basicamente, as canções dão corpo a um conceito, que conta uma história e tudo nele está muito intimamente relacionado entre si, o que nunca aconteceu anteriormente… além disso, também juntámos alguns elementos novos à nossa música! Por outro lado, este novo álbum é 110% puro Urfaust e, na realidade, resulta de uma grande amálgama construída a partir de tudo o que fizemos antes… Não queremos, de modo nenhum, fazer o mesmo álbum duas vezes, repetirmo-nos. Mas também não queremos perder o som e o sentimento que são a identidade de Urfaust… de qualquer modo, não estamos preocupados com essa questão. As canções também são bastante diferentes umas das outras: a segunda faixa parece-me muito Black Metal, enquanto a terceira e a quarta são muito atmosféricas, a quinta é quase Doom Metal e, na sexta, ouvimos algo que evoca melodias orientais. Por que deram esta estrutura ao vosso «Empty Space Meditation»? Jim: Na realidade, essas canções deviam ser uma só… Podes vê-las como um livro, composto por diversos capítulos: podes saltar um deles ou lêlos numa ordem diferente da prevista, mas ficarás com uma visão deformada ou incompleta da história… Tínhamos previsto que este álbum só teria uma música, mas depois decidimos, com a Ván Records, cortá-la em seis faixas, para não baralhar o ouvinte… é precisamente porque tínhamos previsto uma só canção com 44 minutos que demos o mesmo título às seis que podes encontrar no álbum, usando números para as distinguir, como se fossem capítulos… e é assim que o álbum deve ser ouvido. Por outro lado, cada faz como bem entender, nós não podemos controlar a forma como as pessoas vão ouvir o álbum. Fazem como quiserem… A vossa meditação está imbuída de desespero, de ansiedade. É este o tema principal do álbum? Jim: Sim. Pode-se dizer que é mesmo assim. Entre outras coisas…
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DESTRUIR PARA CRIAR É esta a pedra de toque em «Empty Space Meditation», em toda a música de Urfaust, na arte em geral… Entrevista: CSA
Acho a capa absolutamente fascinante – e imagino que deve estar intimamente relacionada com o conceito subjacente ao álbum. Quem a fez? Que controlo teve a banda sobre esta criação gráfica? Jim: A capa foi pintada pela ThornyThoughts Artwork & Tattoo. Pensamos que ela fez um trabalho maravilhoso e pintou uma imagem que retrata de forma perfeita a atmosfera deste álbum. Demos-lhe algumas instruções e apresentámos-lhe algumas ideias, ela ouviu muitas vezes o álbum, mas basicamente teve carta branca para fazer o seu trabalho. Nessa imagem, podemos ainda ver elementos da ideia de partida, mas, como sempre acontece, no processo criativo surgem alterações. Adorámos as alterações e subscrevemo-las a 110%! Por que podemos ver nela uma espécie de personagem divina? Jim: E por que não? Talvez um guia espiritual? Na arte da maior parte dos nossos lançamentos, há personagens divinas, por que haveríamos de mudar isso? Podemos dizer que representa a solidão do criador/da criadora, enquanto está a dar vida à sua ideia? Jim: Ele é aquele que perdeu tudo e que está a criar tudo. O que esperam do vosso «Empty Space Meditation»? Jim: Provavelmente muito amor e ódio, ao mesmo tempo! A única maneira de criar é destruir! Não faço ideia nenhuma de como as pessoas vão reagir, mas espero que a sua resposta seja forte! O pior que poderia acontecer seria os fãs dizerem “Está bem!”, porque isso significaria que o álbum não proporciona ao ouvinte emoções fortes, logo teríamos falhado… bem, não teríamos falhado, mas, aos meus olhos, a arte (música, livros, pintura, o que quer que seja) que não provoca um impacto forte (amor ou ódio) é redundante e não me faz falta… https://www.facebook.com/urfaustofficial/ https://youtu.be/ncvGH0-Yw4w
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Gar
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rage Power
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COCKTAIL EXPLOSIVO O trabalho de David Pais, que até há não muito tempo era um ilustre desconhecido, tem despertado cada vez mais atenções. A prova disso mesmo são as suas participações com os Low Torque, no disco a solo de Tó Pica, entre outras. O seu talento, tanto como vocalista como compositor, torna-o já numa certeza da música pesada Portuguesa, e irá certamente catapultálo para voos mais elevados. A Versus teve uma conversa muito interessante com aquele que é o cérebro por detrás do eclético e explosivo projeto denominado “The 9th Cell”. Entrevista: Ivo Broncas
Antes de mais, parabéns pelo teu trabalho. Tive a oportunidade de ouvir “Karma” e fiquei impressionado. Para quem não está familiarizado com este projeto, podes falar um pouco sobre ele? Como o descreverias musicalmente? David Pais: Antes de mais, obrigado pelo elogio. Este projecto sempre foi um grande caldeirão de influências musicais, onde exploro a minha musicalidade em várias vertentes. Eu diria que musicalmente é um cocktail de rock com elementos progressivos aliados à música electrónica, com pitadas orquestrais embebidos em momentos de metal. Ao ouvir “Karma” é flagrante apercebermo-nos que incluíste muitas influências diferentes nas músicas que fazes, resultando num álbum bastante eclético. Tinhas à partida o intuito de fazer isso mesmo, ou foi algo que surgiu naturalmente? David: Confesso que é algo que me surge naturalmente e nunca penso muito nisso. A verdade é que me aborreço facilmente se estiver a criar algo linear, e então sinto a necessidade de viajar musicalmente para outros géneros e juntá-los num todo. Quando crio um álbum, tento fazer com que
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os temas sejam colocados de uma forma dinâmica, em que existem altos e baixos no que toca a vários factores como a agressividade, a melodia e o mote das canções, para que o próprio álbum tenha uma identidade para que possa ser escutado como se fosse uma peça dividada em vários actos, de forma a que não me canse – nem ao ouvinte - e que seja interessante de um ponto de vista musical e estético. Cada vez que perguntamos a razão dos músicos optarem por um projeto a solo, obtemos sempre respostas muito variadas. No teu caso, porque é que optaste por esta via para dar a conhecer a tua música? David: Sempre tive a necessidade de criar música, fosse com bandas ou sozinho. Ter um projecto a solo dá-me a possibilidade de criar temas que de outra forma não seriam feitos, porque mesmo apesar de trabalhar com músicos de alto calibre e cantar em temas muito interessantes nos meus projectos, há sempre aquele bichinho criativo que me impulsiona a criar coisas que me agradam pessoalmente sem intereferir com outras pessoas. Acaba por ser masturbatório, mas acaba por se tornar mais
uma necessidade criativa do que qualquer outra coisa. Quais foram as principais dificuldades que tiveste de ultrapassar para que “The 9th Cell” visse a luz do dia? David: Lidar com o medo e o criticismo. O pior passo foi lançar o primeiro álbum. A partir daí, tudo se tornou mais fácil. Há sempre aquele nervosismo porque eu sempre tive a ideia de que os meus álbums nunca foram devidamente terminados, e fico sempre com a sensação de que poderia ter feito melhor e de que errei em vários aspectos técnicos. Já fiz coisas boas e coisas muito más, e é sempre um desafio ultrapassar esse medo de pensar que não me estou a desafiar o suficiente a nível criativo e lidar com a ideia de que não me quero repetir, mesmo
“SEMPRE TIVE A DE CRIAR MÚSIC BANDAS OU
sabendo que inevitavelmente isso acaba por acontecer. Sei que cometi erros em todos os álbums e se tivesse a paciência, refazia-os e remisturava-os todos. Mas também tenho a noção de que fazem parte de um percurso evolutivo que é obrigatório a qualquer pessoa criativa. É sempre um passo em frente ao que foi feito anteriormente. Se sentir que não foi, então é um falhanço abismal que tem de ser rectificado no próximo trabalho. É interessante ver que nas tuas músicas procuras passar uma mensagem e de uma forma bastante ativa. Não só através da letra. É algo com que preocupas? Que as músicas não tenham apenas um aspeto lúdico mas também quase educacional? David: Sim. A Arte sempre foi um veículo de informação e na minha opinião, deve desafiar sempre qualquer convenção seja ela política, moral ou simplesmente ideológica, e se for possível transmitir ensinamentos através da mesma, tanto melhor. O que gosto de provocar é a necessidade de pensar no que se passa à nossa volta, e invoco sempre esse factor em todos os álbums que crio. É necessário olharmos em volta, percebermos o que se passa no nosso mundo e se possível, agir sobre isso. Em 2015, creio eu, disseste que estavas finalmente a ter reconhecimento pelo teu trabalho. Sentes cada vez mais isso? David: Cada vez mais, o que é bom. Contudo, ao mesmo tempo
A NECESSIDADE CA, FOSSE COM U SOZINHO.”
é de certa forma aterrador porque começo a sentir o peso da responsabilidade no que toca ao trabalho que faço quer a nível de interpretação vocal como de composição. Tiveste a hipótese de trabalhar com alguns bons músicos da nossa praça, nomeadamente os Low Torque, Tó Pica, entre outros. Penso que estas experiências devem ter sido também uma ótima aprendizagem. Aplicaste algo do que absorveste com estas colaborações a “The 9th Cell”? David: Absolutamente. Aprendi muita coisa com todos eles, quer a nível técnico como a nível criativo, e é uma benção eu ter a possibilidade de trabalhar com estas pessoas realmente talentosas e acima de tudo com um bom coração, e que não se deixam embeber pelo excesso de ego. Obtive muitas lições de vida com esta gente e espero poder continuar nas suas vidas, assim como a trabalhar com todos eles no futuro. Segundo li o ano de 2016 ia ser extremamente agitado para ti. Com mais projetos, aulas de canto… Agora que chegamos ao final do ano, que balanço fazes? E já agora, o que tens planeado para 2017? David: Este ano foi muito enervante a nível criativo porque quis terminar o “Karma”, de The9thCell, com a máxima urgência. Era um trabalho que já estava parado há demasiado tempo porque estive muito ocupado com Low Torque e o Tó Pica. Ainda não tive a possibilidade de ter aulas de canto, mas estará equacionado para uma futura oportunidade. No geral, foi um bom ano. Consegui terminar um álbum duplo e terminar algumas versões para o lançamento do “Metamorphic – Vol III”, e trabalhei com músicos extraordinários. Para 2017, tenho planeado o início de Steelfall com o Sérgio Melo, em que planeamos o lançamento do álbum para o primeiro trimestre do ano. De
resto, tenho outros projectos na calha que irão ser trabalhados a seu tempo. Conhecendo bem o meio, gostávamos de saber a tua opinião em relação a uma questão sempre pertinente: é possível viver exclusivamente da música em Portugal? David: É, se viveres exclusivamente de bandas de covers ou se tiveres a oportunidade de ser exposto aos media nacionais ao criar música mais convencional. Sabes que o mal geral é precisamente a opinião que os media geram sobre as massas, e a influência voraz com que os promotores nacionais lançam sobre os seus artistas acaba por definir tendências. Se não estás dentro dessas tendências, não vais conseguir viver da música. A não ser que te desdobres em cinco de ti mesmo para fazeres bandas de covers e dares aulas de música. E aí acabas por não ter vida própria. O que é mau. Eu continuo a ter um trabalho normal para além da música, como a maior parte dos músicos que conheço. Penso que a realidade das bandas e artistas milionários com um single não existe mais porcausa da Internet. Mas não me queixo. Desde que possa continuar a fazer música, estou bem. Numa entrevista que deste em 2015 li que ainda não tinhas conseguido ver os R.A.M.P. ao vivo. Já conseguiste colmatar essa “falha”? David: Já! Finalmente! Fui vê-los quando toquei com eles num concerto de Low Torque! E foi espectacular. Adorei. Quero mais. Sabemos que música nacional tem excelentes bandas e músicos de elevada qualidade. Na tua opinião, o que lhe falta para ser mais consumida interna e externamente? David: Promoção e agentes com bastante dinheiro para injectar a música nas rádios e na televisão. De resto, não acho que haja muito mais que se possa fazer, visto que
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“A ARTE SEMPRE FOI UM VEÍCULO DE INFORMAÇÃO [...] DEVE DESAFIAR SEMPRE QUALQUER CONVENÇÃO, SEJA ELA POLÍTICA, MORAL OU SIMPLESMENTE IDEOLÓGICA [...] a mentalidade portuguesa é dura. E algo retrógrada. Achei bastante curioso não só teres como hábito lançar “álbuns de Natal”, ou pelo Natal. Alguma razão em especial? David: É só porque nunca gostei muito do Natal. Mas como esta época é vista pela maioria como algo excepcional, decido lançar “presentes” a quem gosta de me ouvir. Mas é só por isso. Sabemos que no dia 25 de Dezembro lançarás um novo álbum, desta vez com versões. Extremamente interessante é a escolha de músicas. Tens versões de bandas e artistas que provêm dos mais diferentes géneros musicais: desde o eterno David Bowie, a Rage Against the Machine, passando por Guano Apes, e até de Bandas Portuguesas como os R.A.M.P. e os Pluto. Sabemos que os R.A.M.P. entram no rol das tuas bandas preferidas. Quanto às restantes, são também influências tuas, ou a escolha das músicas teve outra razão que não essa? David: Sim… todas estas bandas influenciaram-me de alguma forma em algum ponto da minha vida e este é mesmo um tributo muito especial. Primeiro, porque perdemos o mestre Bowie logo no início do ano, e mais uns quantos mestres ao longo deste tenebroso 2016 como o Prince. Depois porque estou a colocar um ponto final em The9thCell e quis pegar em versões que ficaram esquecidas ao longo dos anos e trazê-las de volta à luz. As minhas influências são realmente muito dispares, e nunca tive medo nenhum de admitir isso nem tão pouco de lhes prestar tributo. A mais recente influência foi a de The Pineapple Thief, que a minha Cristiana me mostrou e me apanhou completamente desprevenido, e mesmo sendo uma influência recente, teve poder suficiente para que lhes prestasse uma singela homenagem a um tema que nos diz muito. Outra versão que tive mesmo de fazer foi a da “Supercrush”, do grande Devin. Sempre adorei o trabalho dele tanto em Strapping Young Lad como a título pessoal, e acho-o uma pessoa absolutamente genial, e é alguém com quem me identifico bastante. Quanto a R.A.M.P. e Pluto, para mim são duas das maiores referências nacionais que temos – ou tivémos, visto que os Pluto já não estão no activo – e não poderia deixar passar esta homenagem ao seu trabalho e pelo facto de me terem inspirado tanta vez. Se tivesses que publicitar o este teu projeto The 9th Cell, o que dirias para suscitar a curiosidade dos ouvintes? David: Estejam preparados para embarcar numa viagem ruidosa, com força e melodia, mas que não se prende a um só género e não é propriamente fácil de ser catalogada. Não é recomendado a elitistas do metal. Ou a elitistas de qualquer espécie. De todo. Mas são todos bem-vindos a escutar e se gostarem, tanto melhor. Obrigado pelo teu tempo, e parabéns pela tua música! David: Muito obrigado! https://www.facebook.com/the9thcell/ http://9thcell.tk/
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Trial by Fire A M A R A N TH
ANAA L NATHR A K H
M A x im alis m
The W hol e Of The Law (Metal Blade) MÉDIA: 3,3
(Spinefarm Records)
MÉDIA: 1,5
C A R L O S F. EDUARDO R. ADRIANO G. HUGO M.
ASPHYX Incomi ng D eat h (Century Media) MÉDIA: 3,3
C A R L O S F.
C A R L O S F.
EDUARDO R.
EDUARDO R.
ADRIANO G.
ADRIANO G.
HUGO M.
HUGO M.
BENIGHTED
DIABULUS IN MUSICA
Necrob re e d (Season of Mist) MÉDIA: 3
LAMB OF GO D
D i rge For The A rchons (Napalm Records) MÉDIA: 3,2
The D uke (Nuclear Blast) MÉDIA: 2
C A R L O S F.
C A R L O S F.
C A R L O S F.
EDUARDO R.
EDUARDO R.
EDUARDO R.
ADRIANO G.
ADRIANO G.
ADRIANO G.
HUGO M.
HUGO M.
HUGO M.
MASCHINE Nat ur alis (InsideOut Records) MÉDIA: 3,7
ROOT
TES TAMENT
Kar g er as - Retur n From Ob l i v i on
B ro t h e r h o o d O f T h e Sn a ke
(Agonia Records) MÉDIA: 3,0
(Nuclear Blast) MÉDIA: 4,2
C A R L O S F.
C A R L O S F.
C A R L O S F.
EDUARDO R.
EDUARDO R.
EDUARDO R.
ADRIANO G.
ADRIANO G.
ADRIANO G.
HUGO M.
HUGO M.
HUGO M.
VA D E R The E m p i re (Nuclear Blast) MÉDIA: 3,5
Obra - Prima
C A R L O S F.
Excelente
EDUARDO R.
Esforçado
ADRIANO G.
Esperado
HUGO M.
Básico
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Altos
e
Baixos
- 2016
Carlos Filipe
Frederico Figueiredo
Altos:
Altos:
Nacionais: Morte Incandescente - O Mundo Morreu! Destroyers Of All - Bleak Fragments
Nacionais: Sinistro - Semente
Baixos:
Helder Mendes
Testament - Brotherhood Of The Snake Epica - The Holographic Principle Penitence Onirique - V.I.T.R.I.O.L Rotting Christ - Rituals Thy Catafalque - Meta
Opeth - Sorceress
Cristina Sá Altos:
SOL – The Storm Bells Chime Cantique Lépreux – Cendres Célestes Dementia – Dreaming In Monochrome Pénitence Onirique – V.I.T.R.I.O.L. Omnium Gatherum – Grey Heavens Nacionais: Morte Incandescente – O Mundo Morreu Heavenwood – The Tarot of the Bohemians Sinistro – Semente
Eduardo Ramalhadeiro Altos:
Testament - Brotherhood Of The Snake Dark Tranquility - Atoma Riverside - Eye of the Soundscape Witherscape - The Northern Sanctuary Avantasia - Ghostlights Baixos:
In Flames - Battles
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King Dude - Sex Swans - The Glowing Man Tim Hecker - Love Streams Downfall of Gaia - Atrophy Oathbreaker - Rheia
Altos:
Sinistro - Semente In The Woods - Pure Anaal Nathrakh - The Whole of The Law The Vision Bleak - The Unknown Abbath - Abbath Baixos:
Elupia - Clock O’Desert
Hugo Melo Altos:
Ihsahn - Arktis Rotting Christ - Rituals Megadeth - Dystopia Neurosis - Fires Within Fires Thy Catafalque - Meta Nacionais: Sinistro - Semente Baixos:
Opeth - Sorceress
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(InsideOut)
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Nós escritores, opinadores de música, perdemos (ou melhor, ganhamos…) muito do nosso tempo a escrever e a ouvir – não necessariamente por esta ordem – música. Tentamos escolher as melhores palavras, os melhores adjectivos para que vocês, leitores, fiquem com uma “imagem” da música que ouvimos. Há dias em que nos custa escrever, há dias em que escrevemos tudo mas não dizemos nada mas depois há a música que nos impele e reclama urgentemente por palavras, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte ou como se as palavras nos fugissem da mente para a ponta dos dedos, com medo de serem esquecidas. Sobre «In the Passing Light of Day», as palavras gritam na ponta dos dedos para serem libertadas. Isto torna-se pessoal, a música entranha-se e as palavras fluem. Daniel Gildenlöw esteve às portas da morte - precisamente da mesma doença que vitimou Jeff Hanneman (Slayer). «In the Passing Light of Day» é um relato extraordinário dos conflitos e sentimentos que emergiram da experiência de quem se ergueu perante a morte. Mas a música e as letras não são só sobre a tristeza ou escuridão. Há também a esperança do dia seguinte, a esperança da mudança por mais frágil que essa esperança ou mudança possa ser. Tudo isto… esta “amálgama” de sentimentos, os bons e os maus, a esperança e a escuridão, são passados para as músicas, para a voz, para os instrumentos de uma forma tão sublime, tão pessoal e tão intrínseca que é impossível ficar indiferente. Escrevi grande parte deste texto ouvindo o tema que dá o nome ao disco – “In the Passing Light of Day”, 15m30s de puro extravasar de sentimento! Falei da música? Descrevi os temas? Escrevi tudo mas disse nada? Não é preciso, falei de sentimento, porque a música é isto mesmo: sentimento. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro
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CRITICA VERSUS
A IR B O U RNE «Breakin’Outta Hell» (Spinefarm Records)
ANAA L NATHR A K H
ASPHYX
«The Whole Of The Law» (Metal Blade Records)
«Incoming death» (Century Media)
Numa altura em que o final dos AC/DC começa a ser algo mais que uma miragem, talvez fosse bom começar à procura de alguém que ocupe o lugar, sabendo, claro, que o legado dos australianos nunca desvanecerá. No entanto, os Airbourne, também eles australianos, mas de Melbourne, parecem respirar o mesmo espirito e a mesma ambição dos criadores de «Highway to Hell». Talvez tenha algo a ver com a qualidade da água, ou do ar que se respira para aqueles lados, não interessa, o que interessa é que os Airbourne, sem nunca colocarem de lado a influência dos AC/DC, a banda consegue ter dois efeitos no ouvinte, a saudade dos tempos áureos dos vizinhos de Sidney e a certeza de que há Rock para além de qualquer banda. O Rock é de todos e, para os mais desconfiados e que vão torcer o nariz a «Brekin’ Outta Hell», a banda dá-lhes 11 motivos para prestar atenção ao disco. Simples, directo, sem Pós, sem Neos, sem tretas e, principalmente, fazendo-nos lembrar que o Rock é uma forma de estar na vida e uma celebração da vida. Aqui não há nada de novo, mas isso não é, necessariamente, mau e, no caso dos Airbourne, o caso é exactamente o oposto. O Rock australiano prova que os AC/ DC podem acabar, pois já existem sucessores. [8/10] NUNO LOPES
Mais uma embalagem de terrorismo sónico entregue por Mick Kenney e Dave Hunt (na encarnação V.I.T.R.I.O.L.), “The Whole Of The Law” não traz particulares surpresas, excepto talvez a decisão de arriscar covers para “Powerslave”, dos Iron Maiden, e “Man at C&A”, dos The Specials, como faixa-bónus – e bem boas, diga-se; a última, aliás, já tinha sido lançada em single aqui há uns anos. O caminho traçado pelos Anaal Nathrakh é um do qual não há lugar para desvios: o que fazem é música extrema, um black metal arraçado de industrial e grind, pesado, potente, ultra-rápido, alucinado e muito, muito sujo, tudo embrulhado em letras negativistas e nihilistas. Enfim, o que há aqui para não gostar?! Este disco de 2016 é a prova de que, não se podendo ou não querendo inovar (já lá vai o tempo em que os Anaal Nathrakh podiam ser vistos como inovadores), ao menos que se mantenha a competência e se faça bem aquilo que é costume. “The Whole Of The Law”, neste aspecto, não defrauda minimamente. Os típicos traços dos Anaal Nathrakh estão cá: vocalizações insanas e – porque é inevitável recordar os Emperor em certos momentos – “ihsahnas”?! Check! Solos trucidantes?! Check! Bateria implacável?! Check. A sensação de que o mundo está prestes a desabar?! Também check! Mal a intro “The Nameless Dead” começa a rodar, o que espera os ouvintes está bem ilustrado na capa deste CD, tão ou mais explícita que “Vulgar Display of Power” dos Pantera: brutalidade sem compromisso nem tempo para descanso. Banda sonora apocalíptica, “The Whole Of The Law” está uns bons furos acima do anterior “Desideratum” e constitui mais uma bomba pronta a rebentar na nossa cara, despedaçando-a, e os cães vadios que aproveitem os restos. [8,5/10] HELDER MENDES
Caso os Asphyx nunca tivessem regressado hoje seriam uma banda de culto apenas venerada por alguns, no entanto, quis o destino (e os restantes elementos da banda) que a banda tivesse regressado ao activo e, assim, os Asphyx transformaram-se numa banda de culto que, por acaso, nunca pareceu desaparecer e, no que diz respeito a Incoming Death, é mais uma prova de que os holandeses estão a viver uma «segunda juventude». Este disco marca a estreia do novo baterista da banda, nada mais nada menos que Stefen Huskens ( Carnal Ghoul), que parecer acrescentar algo mais à sonoridade da banda, sem nunca fazer esquecer Bob Bagchus. A fórmula apresentada é a que já se sabe, os Asphyx ora são Thrash, ora são Black, mas, sobretudo os Asphyx são uma banda que mistura, como ninguém Punk e Doom. Sem nunca comprometer a sua génese e o seu passado os holandeses conseguem, ainda, surpreender o ouvinte, com composições que se encarregar de fluir umas nas outras, muito graças ao trabalho vocal de Van Drunnen, que apresenta aqui um dos seus melhores registos. Incoming Death é o disco que se espera de uma das bandas mais influentes do género e um disco que nos mostra uns Asphyx a respirar confiança, isto depois de um passado feito de revolta. Assim, podemos concluir ao ouvir faixas como Candiru ou a estranhamente deliciosa The Grand Denial, que os Asphyx continuam a ser o que sempre foram e estão acima de qualquer suspeita quando se fala de reuniões ou de regressos. Pois, Incoming Death é um disco que enche as medidas e, certamente, agradará a todos. [8/10] NUNO LOPES
6 8 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
«Tao of the Devil» (Napalm Records)
CR O W B A R
D O W NFA LL OF GA I A
«The Serpent Only Lies» (Steamhammer/SPV)
«Atrophy» (Metal Blade Records)
Olhar em 2016 para Brant Bjork é uma espécie de nostalgia de um passado que já não o é, enfrentado com o sorriso lacónico de quem fez uma travessia do deserto mergulhado em mezcalina ou, simplesmente em boa erva, que o músico faz, uma vez questão, de prestar a devida homenagem (atente-se na capa) ao consumo de cannabis. Aliás, até mesmo olhando e sabendo de quem é o músico, chegaremos à conclusão de que não poderia ser de outra forma. Brant Bjork é um músico de corpo, um hippie na alma, o que faz dele um Rock Star revivalista. A sonoridade de Tao of the Devil, o mais recente registo é isso mesmo, um disco soalheiro, quente e caloroso, que nos embarca para paisagens descontraídas. Pensar nos nomes clássicos do Rock não é, de todo, uma miragem. Esse é o espirito de Bjork e dos músicos que o acompanham e a quem se deve tirar o chapeu. Com um misto de pacatez com laivos de puro (e bom!) Rock Sulista, quase que podemos olhar para o veterano como se tivesse ultrapassado a guerra do Vietname com um charuto nos lábios, a promover o espirito Woodstock. Com experimentalismo qb e com uma, enorme dose de bom senso, o músico é capaz de construir paisagens feitas de serpentes e de assassinos em serie, que palminham o deserto em busca de algo. Brant Bjork não esquece, nunca, as suas origens, o músico é de uma pureza cristalina e, o melhor de tudo é que a honestidade faz das suas neste registo. Luvin, The Green Heen ou Humble Pie, são meras referências de um disco que funciona como um todo. [7,5] NUNO LOPES
Muito provavelmente o maior nome, dir-seia mesmo instituição, do sludge metal, os Crowbar têm com o seu novo disco mais uma proposta carregada de riffs sujos e pesadões, mas verdade seja dita que “The Serpent Only Lies” denota alguma desinspiração e falta de dinâmica. Não é um mau disco, e com certeza mantém a identidade da banda, mas – sejamos claros – não oferece ao ouvinte aquele factor “uau” que se pode encontrar noutros lançamentos do grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Kirk Windstein. É um dado adquirido que a imagem de marca de Windstein (aquele prolongar das sílabas, sobretudo no final de cada verso) torna, junto com os atrás citados riffs, os Crowbar facilmente identificáveis, mas ao mesmo tempo apresenta um risco: como é uma fórmula repetida quase ad nauseam, o cérebro de quem se encontra a escutar o álbum rapidamente “desliga” caso não haja motivos bastos para prender a sua atenção. Infelizmente, é o que acontece em algumas faixas deste “The Serpent Only Lies” e não é isso que se espera poder suceder em 45 minutos de música. Trata-se, pois, de um disco que podia ter ido um bocadinho mais além, principalmente no que à variedade diz respeito. Porém, talvez já não se possa pedir a uma banda com quase 30 anos de carreira, os quais foram passados a dar forte e feio no pedal da distorção, que introduza grandes novidades no seu som. [6,5/10] HELDER MENDES
Downfall of Gaia são a face mais invernosa do pós-black metal. Os dois álbums que precederam “Atrophy” elevaram a banda a um patamar de intocável genuinidade e este último trabalho cimenta a sua posição na dianteira deste subgénero. “Brood” inicia com uma dança de ruído a abrir lugar para distantes notas de um piano desolado, por sua vez dilacerado pelo rompimento de desesperados brados, vindos dos recantos de uma alma em agonia. As composições da banda centramse essencialmente na força das guitarras, e embora o presente albúm marque a mudança de um dos guitarristas (assumindo Marco Mazzola o novo lugar), o exercício continua tão ágil e sentido como anteriormente. O turbilhão invasivo de riffs ocasionalmente deixa transparecer laivos de serenidade e gloriosa libertação, sarando os sentidos de uma forma compensada e equilibrada. “Woe” marca o tom épico da escalada na falésia escarpada da solidão e “Ephemerol” é a cruel constatação da assolação que nos espera no topo. A nova aurora é-nos revelada no interlúdio de “Ephemerol II”, que prontamente cede lugar ao tema título do álbum, uma convicta luta por um sentido face ao absurdo da vida. “Petrichor” encerra o álbum com distorção, dissonância e o regresso do solitário piano, revelando a depressiva circularidade de um ciclo. A nível técnico, faz-se notar mais variação nos riffs das guitarras, sem que a identidade da banda se tenha contudo perdido. Por sua vez, a produção coroa o álbum, açoitando-nos com uma saraivada de ruído, completamente adequado à qualidade lamacenta e lúgubre das composições. Metal hipertrófico para a nova vanguarda. [10/10] FREDERICO FIGUEIREDO
BRANT BJORK & THE L OW D ES ERT P U N K B A N D
69 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
IN F L A M ES
KI NG DU D E
LUC A S TUR I LLI ’ S RH A P S O D Y
«Battles» (Nuclear Blast)
«Sex» (Van Records)
«Prometheus» (Nuclear Blast)
Aos In Flames tenho de lhes gabar a coragem de mudar o seu ADN musical. Como fã da banda (?) aprecio muito os discos do primeiro terço da vida dos Suecos enquanto banda… digamos até «Clayman». Na primeira década do novo milénio a mudança surgiu, não sendo para mim, muito consensual, culminando com uma espécie de “abandonando”. No entanto, em 2011 surge um excelente álbum, talvez o pináculo da mudança: «Sounds of a Playground Fading». Um álbum que despertou sentimentos contraditórios entre os mais acérrimos fãs. Dois mil e dezasseis vê a chegada de «Battles» e tudo aquilo que conhecia dos In Flames ficou, definitivamente, enterrado. «Battles» mais me parece uma vã tentativa de agradar a geração (ou o estilo) mais “Emo”, havendo somente um ou dois temas que por ventura se possam destacar mas que mesmo após várias audições não vos consigo dizer de cor – não há mesmo nada para lembrar. A utilização dos coros adolescentes nos temas “The End”, “Like Sand”, e “The Truth” chega a ser enervante porque não acrescenta rigorosamente nada aos temas. O disco nem tão pouco chega a ser agridoce. Após algumas audições as músicas não parecem ficar no ouvido e por mais paradoxal que possa parecer, a vontade de ouvir deve-se à ânsia de querer gostar, achar uma mais-valia, uma desculpa para aceitar «Battles». Mas não… Nada! Desisti, apaguei e esqueci. A juntar a isto tudo, a produção é horrível demasiado alta, sem dinâmica, inclusive há uma diferença considerável entre temas, obrigando a um ajuste do volume – parece mesmo haver duas produções. «Battles» não me deixa saudades. Querem um excelente álbum? Ouçam o último de Dark Tranquility [5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO
Uma sombria figura feminina, prostrada em negro anonimato diante da alvura de um altar, revela-nos a familiar dicotomia que caracteriza o universo de T.J. Cowgill. As mãos (único elemento exposto) repousam no seu ventre e o que é ocultado pelo negro mistério desta mulher, amplia o potencial provocativo de sua vulnerável sensualidade, coroada com a cruz do martírio. Desejo e culpa, amor e morte, luz e treva, marcam o compasso desta oratória envultada em Rock ‘n’ Roll. A promiscuidade de géneros musicais (que se tornou mais marcante a partir do álbum “Fear”), tem vindo a conferir complexidade e transversalidade às composições e “Sex” revela-se o trabalho mais completo até à data. Desde a rispidez do PostPunk de “Sex Dungeon (USA)” ou “Swedish Boys”, passando pela sensibilidade Pop em “The Girls” e eficácia gótica de “Who Taught You How To Love”, T.J. diversifica as matizes que coloram o álbum. A alma do Blues não se encontra contudo olvidada, como atesta a febrilidade de “I Wanna Die at 69”, nem tão pouco a lamentosa melancolia em “Our Love Will Carry On”. Cada venérea faixa reflete um caráter ofuscante e evidencia a genialidade de um dos mais carismáticos compositores da atualidade. Um ponto alto na ilustre carreira de King Dude, tão contagiante como qualquer DST. [10/10] FREDERICO FIGUEIREDO
Este novo trabalho de Luca Turilli Rhapsody é algo confuso, principalmente na versão 2CD mais bluray, ficando no ar que o disco extra é o concerto ao vivo. Longe disso. Apesar do extenso título evidenciar algo de complexo, que o é, e distinto, este duplo CD+Bluray - depende da versão - não é mais do que um álbum ao vivo gravado durante a tournée “Prometheus cinematic” de suporte ao álbum de mesmo título. Tem algo de único que é a inclusão de um terceiro disco – bluray - com o álbum de estúdio «Prometheus» misturado em Dolby Atmos – Uma estreia, e disponibilizando igualmente as pistas sonoras Dolby Digital 5.1 e DTS, estas em especial para aqueles que não têm o sistema Dolby Atmos em casa. Como devem esperar, não tive a oportunidade de ouvir o álbum em Dolby Atmos, primeiro porque não nos chegou essa versão, segundo, porque também o meu home cinema não suporta esse formato, teria que fazer um upgrade para poder disfrutar de tal pérola. Quanto aos dois cds ao vivo, não há nada a dizer quanto à performance e qualidade musical apresentada, é Luca Turilli Rhapsody no seu melhor, tal como podemos encontrar nos álbuns originais, proporcionando-nos uma experiência similar à dos originais, pelo que resta-me somente partilhar o universo das músicas escolhidas, que num álbum ao vivo é o que acaba por importar realmente, onde se misturam as novas canções dos últimos álbuns do Luca com as dos álbuns do início de carreira como «The Ancient Forest Of Elves», «Demonheart» ou «War of the Universe», passando por as de Rhapsody. Resumindo, este é um duplo ao vivo essencial para qualquer fã, que vem com um “disco extra” misturado num formato áudio que é uma estreia mundial. [8,5/10] CARLOS FILIPE
7 0 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
M E S H U G GAH «The Violent Sleep of Reason» (Nuclear Blast)
MO NKEY 3
O B I TU A RY
«Astral Symmetry» (Napalm Records)
«Ten Thousands Way to Die» (Relapse Records)
O ar que se respira em Umea, Suécia, deve ter propriedades que não existem em mais lugar algum, porém isso não vem aqui ao caso, até prova em contrário. Ora, o que se sabe, desde há muito, é que os Meshuggah são vistos como uma das mais influentes bandas dentro do Metal e, para muitos, os criadores do que se chamou djent e que influenciou bandas como, por exemplo The Dillinger Escape Plan. Posto isto, já se pode perceber o que esperar deste «The Violent Sleep of Reason», mas, nada nos prepara para o que temos neste registo, pois, ao que parece, a banda não sabe fazer as coisas de outra forma que não seja genial. Desde a faixa inicial Clockworks até à final Into Decay somos fustigados e assombrados por riffs demolidores e, sabiamente, intricados entre si e que nos fazem de tal forma exorbitante que somos empurrados contra uma parede de betão, sem piedade. É claro e obvio que nem todos compreendem o som dos Meshuggah e, há quem teime em não reconhecer a ferocidade com que os músicos encaram a sua arte, quanto a dúvidas, não as existam e, nesse ponto, os Meshuggah fazem a coisa como deveriam fazer, como uma long jam. Puro deleite. Claro que há temas que sobresaiem mais que outros, e aí Clockworks, Nostrum, ou Violent sleep of Reason, porém, tudo isso são apenas passagens de um estado letárgico a que os suecos nos vetam. Será, uma vez mais, um disco incompreendido, mas é, também, um dos melhores disco da história da banda e um dos, sérios, candidatos a discos do ano. Estranha água esta, a sueca! [10/10] NUNO LOPES
A carreira dos Monkey 3 tem-se pautado por um crescimento qualitativo e quantitativo que e, de facto, assinalável. Com este quarto disco, e após a saída de um dos elementos, transformando, assim, o outrora quinteto num quarteto e que fez com que a banda...não alterasse nada no processo. Podemos dizer, isso sim, que a sonoridade da banda largou, quase, totalmente o rótulo stoner (que não lhe ficava nada bem, por sinal) e se aproximasse mais de bandas comos os Long Distance Callig, apesar deste registo se aproximar ao que se fez no passado ao nivel psicadélico/ progressivo. Posto isto, podemos dizer que Astral Symmetry é um disco para a alma onde a banda opta, pontualmente, pela presença do instrumento voz. Astral Symmetry é um disco repleto de paisagens que nos remetem, até pela imagem, para sonoridades mais orientais e por uma sonoridade mais contemplativa e absorvente. Com tudo isto dito, podemos dizer que este trabalho em nada belisca o percurso da banda e pode, de alguma forma, alargar o número de seguidores da banda, não querendo dizer que é mais do mesmo, podemos dizer, isso sim, que é o disco mais conseguido dos Monkey 3. Astral Symmetry é um disco que embarca e embala ao ritmo do nosso pensamento, e isso só por si, é o melhor elogio que se pode fazer a este registo. [7/10] NUNO LOPES
«Ten Thousands Way to Die» não é o novo disco de originais dos Obituary, no entanto, é uma forma de nos abrir o apetite para o registo prometido para 2017. As novidades deste registo são Loathe e a faixa-título que nos apresentam as coordenadas que a banda irá seguir, no entanto, esta edição fica marcada pelas captações feitas ao vivo durante a digressão americana de Inked in Blood, o último registo da banda, e que provam que os Obituary são uma banda talhada para os palcos e, nesse aspecto, os Obituary comprovam a intensidade das malhas. Captadas em 11 cidades diferentes, não faltam os temas que fizeram dos Obituary uma das referências no Metal Extremo, não faltam aqui temas como Don’t Care ou, a inevitavel, Slowly We Rot. No entanto, o maior destaque será para os temas de Inked in Blood, com destaque para Visions in My Head ou Centuries of Lies. Com uma captação exemplar e com a sensação de que a banda deu o litro, como sempre dá, este é um registo que nos consegue levar, apesar de leviamente, para um concerto da banda. Intenso, bruto e com a mestria com que só os maiores conseguem ter. Este é um registo que, acima de tudo, serve para aguçar o apetite e, principalmente, para relembrar que os Obituary são, como sempre, uma força do Metal. [8/10] NUNO LOPES
7 1 / VERSUS MAGAZINE
CRITICA VERSUS
P E S S IM IST «Call To War» (MDD records)
RED SU N R I S I NG
SU B R O S A
«Polyester Zeal» (Spinefarm Records)
«For This We Fought The Battle Of Ages»
Call To War foi o primeiro registo dos Pessimist. Um disco que foi amaldiçoado por um enecrramento da editora que o lançou e que, porventura, atrasou o (re) conhecimento destes germânicos no panorama underground, elevando o estatuto da banda a um estatudo de meros deconhecidos. No entanto, a banda não desistiu, provando que de pessimistas apenas tem o nome e, talvez, a forma como olham para o mundo. 2016 vê Call to War ser relançado pela MDD, a nova casa da banda e a sensação que fica é que a banda conhece bem os caminhos que trilha, com um Thrash furioso, que nos pode lembrar uns Kreator ou Destruction, no entanto, o que fica dos Pessimist neste registo, é o de uma banda que encara o Thrash como uma forma de vida, prova disso mesmo são temas como Infernal Death, Call to War ou Son of Satan que são em 2016 tão actuais como o eram em 2010, afinal, o Mundo não deu assim tantas voltas. O problema acaba por ser mesmo a produção e o som demasiado sujo e cru, devendo-se, talvez, ao fraco orçamento da banda, que decidiu não mudar nada para o relançamento, mostrando assim a tenacidade e o orgulho de um trabalho feito, quem sabe, antes do tempo. Como extra, os Pessimist incluiram os temas da demos Nuclear Holocaust, que se encontra há muito for a do circuito e que sãso guardadas como objectos de culto, sendo por isso, uma forma de adicionar valor ao registo e que, sem dúvida, mostra que osPessimist nunca mudaram, nem vão mudar. O que temos, no geral, nesta nova vida de Call to War é um punhado de riffs intensos e canções furiosas que são uma delicia para qualquer seguidor de Old School Thrash Metal. Não se esperava mais deste registo, mas é certo que a fasquia acabou de subir para os Pessimist [6,5/10] NUNO LOPES
Apostando num rock ao mesmo tempo melódico e alternativo, os norte-americanos Red Sun Rising vêem agora o seu disco de 2015, “Polyester Zeal”, lançado na Europa via Spinefarm. Não estamos perante maus músicos, deve-se reconhecê-lo. Em particular, o vocalista/guitarrista Mike Protich tem predicados mais do que suficientes, e é a sua prestação (nomeadamente no que à voz diz respeito) o item de destaque no som dos Red Sun Rising, beneficiando ainda da boa produção do disco, cortesia de Bob Marlette. Porém, não há muito mais para apontar. Este é um trabalho igual a tantos outros que são lançados todos os anos e cujo destino é o mercado das high schools e dos colleges americanos. A coisa até não começa mal, na verdade: a primeira faixa, “Push”, é um cartão de visita interessante, num registo não muito afastado daquele que os Stone Temple Pilots praticavam, mas depressa se abandona essa via para se firmar num registo insosso que não mais larga o álbum até ao seu final, com poucos momentos capazes de prender a atenção do ouvinte. Mesmo quando se tenta algo um bocadinho diferente (a título de exemplo, “Emotionless” poderia ter sido composta pelos Tool... se os Tool se dedicassem a fazer rock alternativo de gosto duvidoso!), os resultados não convencem. É provável que a melhor maneira de definir “Polyester Zeal” seja reformular uma típica tirada assinada por Sheldon Cooper (A Teoria do Big Bang): não é que os Red Sun Rising não sejam bons no que fazem. Simplesmente o que fazem não vale a pena ser feito. [5/10] HELDER MENDES
Tendo estado recentemente em digressão europeia com os nossos Sinistro, os Subrosa no fundo pertencem à mesma família musical, o doom metal (e a afinidade sai reforçada pela presença de vocalizações femininas), mas um doom vincadamente norte-americano: basta escutar os primeiros sessenta segundos de “Despair Is A Siren”, seguramente uma das melhores músicas da carreira dos Subrosa, para se perceber que esta banda não poderia ter criado raízes noutro solo, cujos nutrientes aparentam ter sido fornecidos pelos Swans e também, a espaços, por Chelsea Wolfe. Nem mesmo o recurso a violinos afasta os Subrosa deste território, pois o modo como este instrumento é utilizado aproxima-se mais da folk americana e do experimentalismo à la Laurie Anderson do que, por exemplo, de uns My Dying Bride. “For This We Fought The Battle Of Ages” é já o terceiro disco do colectivo e mostra um Subrosa bem amadurecidos. Inspirandose num dos grandes romances distópicos modernos, “Nós”, do escritor Evgueni Zamiatine (editado em Portugal pela Antígona), os Subrosa criam um disco conceptual, onde desencanto e fatalismo predominam: “We love the taste of false perfection – the more the lies, the more we laud”, observa-se em “Black Majesty”; “To feel is the enemy/To be a dead tomb is a mercy”, em “Killing Rapture”; “Like paper dolls we’re linked here/Homesick for chains”, na já mencionada “Despair Is A Siren”. Certamente dos melhores lançamentos doom metal de 2016, “For This We Fought The Battle Of Ages”, é um álbum riquíssimo e requintado, com muitas camadas, que deve ser apreciado com a devida calma, saboreando-se cada momento dos seus sessenta e quatro minutos de duração. [8/10] HELDER MENDES
7 2 / VERSUS MAGAZINE
(Profound Lore Records)
CRITICA VERSUS
T E S TA M ENT
THY CATA FALQ U E
TR U E W I DO W
«The Brotherhood of the Snake» (Century Media)
«Meta» (Season of Mist)
«Avvolgere» (Relapse Records)
Na edição passada tivemos como convidado muito especial Eric Peterson e nessa conversa falou-se sobre «The Brotherhood of the Snake». Eu diria que os Testament nunca defraudaram as minhas expectativas enquanto banda, nem mesmo quando fizeram um desvio ao Death Metal pela altura de «Demonic», diferente… sem dúvida. Os tempos mudaram e para terminar dois mil e dezasseis em beleza a irmandade teve a honra de nos conceder «The Brotherhood of the Snake». Isto é quase um best of, quais reminiscências do passado e nele podemos encontrar muitas referências aos temas e álbuns mais emblemáticos da banda. De referir que será esta a melhor formação dos Testament: Hoglan, DiGiorgio, Peterson, Skolnick e Chuck. Após trinta anos, os Testament continuam com a mesma personalidade e mantêm bem viva a chama do Thrash. Como curiosidade e liricamente falando, o álbum é de alguma forma conceptual mas no que diz respeito à música “Seven Seals” pareceme o único tema um pouco desenquadrado no contexto em que o álbum está envolvido – uma curva numa recta onde é suposto os limites serem quebrados e ultrapassados. À medida que o álbum avança os temas vão-se tornando mais melódicos mas sempre com aquela identidade que fez dos Testament uma referência do Metal. A voz de Chuck Billy contínua feroz e agressiva, aliás, como sempre. Tal como os Overkill que nos presentearam com “The Grinding Wheel” (Entrevista e review na próxima edição da Versus), os Testament não fazem algo de verdadeiramente novo ou original mas o que fazem... é certo e sabido: fazem-no cheio de personalidade e agressividade. É sempre uma viagem vertiginosa ouvir algo feito por estes monstros sagrados do Metal Mundial. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO
Nos primeiros momentos de Meta, o novo e sétimo registo do húngaro Tamás Kátai sob o nome de Thy Catafalque, remete-nos para paisagens que nos fazem recordar o saudoso Quorthon e, em particular, algumas nuances daquilo a que os Therion nos habituaram. No entanto, a forma como o multi-instrumentista nos apresenta neste registo vai muito mais além que referências ou comparações, podendo mesmo ser comparado com os seus registos anteriores e, é exactamente nesse ponto que está a maior qualidade de Tamás Kátai, é que o músico, mesmo a solo, após a saida de Juhász János, mantém a mesma sede criativa e leva a sua trilha sonora muito além do que simples Avant-Garde, pois, por muito que tente, o húngaro não esquece as suas raízes Black Metal. Em resumo, Meta é um disco espiritual qb e um disco que, uma vez mais, vale pelo seu todo e por tudo o que a carreira dos Thy Catafolque sempre nos ofereceram. Um disco que revela a maturidade do músico e que prima pelo brilhantismo emocional a que nos dispõe. [8/10] NUNO LOPES
Ouvir True Widow é como, figurativamente, escutar o som de um baloiço sob o compasso constante e sereno da nostalgia. À mente vêm imediatas recordações de Sonic Youth e Slowdive, com pronunciadas e graves notas herdadas do Stoner Metal. As vocais pairam alienadas no éter, em sintonia com guitarradas emprenhadas de fuzz. A banda caracteriza-se pelo espírito de abandono do shoegaze sob o peso magnético do doom metal, configurando uma atmosfera espessa, mastigável e melancólica. O ambiente conjurado oscila entre o fantasmático e o angélico, destilado através de estruturas composicionais de riffs minimalistas repletos de groove. A destreza com que têm vindo a cruzar o psicadelismo do shoegaze com a corpulência do stoner tem sido notável, ganhando particular ênfase em “Avvolgere” (sobretudo na faixa “The Trapper & The Trapped”). Embora o shoegaze seja atualmente um dos estilos mais reciclados por bandas de metal extremo, True Widow segue o caminho inverso, absorvendo as influências “de peso” numa sonoridade eminentemente orelhuda e “radio-friendly”. A conjugação destas influências, que já se havia notado subtilmente no excelente “Circumambulation” (primeiro registo da banda a ser lançado pela Relapse Records), atingem perfeito equilíbrio neste último trabalho, revelando-se um dos mais assimiláveis álbums do ano. Música para nos prender, ou perder, em sublime monotonia. [8,5/10] FREDERICO FIGUEIREDO
7 3 / VERSUS MAGAZINE
METALLICA Hardwire…to Self-destruct (Blackened Recordings) [8/10] IVO BRONCAS
Cada trabalho novo do Metallica é sempre entusiasticamente antecipado, cria expectativas muito altas, e é sujeito a um escrutínio impiedoso, tanto por parte dos fãs, como por quem não tem grande afinidade com a sua música. No fundo, é sempre um acontecimento, não fossem eles, provavelmente a maior banda de Metal do mundo. Como fã que sou, também eu esperava impacientemente por um novo álbum que fizesse jus à sua história. Foi num contexto de fã crítico e exigente que analisei “Hardwire…to Self-destruct”. O seu início é efusivo! Uma batida quase marcial que nos parece convidar a participar numa batalha sangrenta. Contudo, e mesmo sabendo as possíveis consequências nefastas desta nossa decisão, aceitamos de bom grado e sem reservas! Deixamo-nos levar por uma canção com ritmo muito elevado, curta, direta, sem muitas
7 4 / VERSUS MAGAZINE
alterações de melodia, o que não tem sido habitual nas músicas que os Metallica têm composto nos últimos anos. Por isso mesmo somos irremediavelmente remetidos às suas raízes “trash metal”. Podemos ainda usufruir de um solo sem um uso exagerado do “Wah-wah pedal”, coisa que todos os fãs terão decerto saudades. As primeiras impressões deixam a fasquia muito elevada e aumentam as nossas expectativas e grau de exigência. Após este que foi o seu single de apresentação o ritmo baixa ligeiramente em “Atlas Rise”, mas não o suficiente que deixe um amargo de boca, pelo contrário. A agressividade continua, desta vez com uma música mais trabalhada, mais longa e com secções intermédias bastante interessantes. Poder-se-á dizer que se trata de uma composição que vai mais ao encontro do que tem sido característico na banda. E eis que, chegados à terceira faixa e após um início fulgurante e auspicioso, somos retirados do campo de batalha e direcionados, um pouco contra vontade para uma montanha russa de sons e emoções que nem sempre se parecem interligar. “Now that we’re dead” baixa-nos o estado de alerta e leva-nos para sons mais melódicos com alguma influência de blues. Como é impossível não estabelecer paralelismos, alguns álbuns menos consensuais virão certamente à memória quando ouvimos esta canção. Não que seja má, atenção. Ficamos sim com a sensação de estarmos na presença de uma música de um outro álbum, afastado temporal e criativamente daquele estamos a ouvir, e esta quebra deixa-nos algo desapontados. Contudo, como é característico de uma montanha russa, “The four Horsemen” voltam a elevar-nos a moral quando “Moth in to the flame” começa a ressoar nos nossos tímpanos sequiosos de mais adrenalina. Possui uma excelente introdução e podemos finalmente ouvir de uma forma mais clara a contribuição de Robert Trujillo no baixo. Apesar de não ter uma toada frenética, não deixa os créditos do conjunto de São Francisco em mãos alheias, sendo inclusivamente um dos melhores temas do álbum. Uma vez terminada, entramos naquele que será o período mais polémico, ou quiçá menos inspirado de “Hardwire… to Self-destruct”. Em “Dream no more” voltam a um estilo mais groove e uma melodia diferente. A prestação vocal não é tão furiosa mas sim mais melódica, polvilhada com secções mais pesadas. Apesar de interessante, no âmbito geral não deslumbra. O mesmo sucede em “Halo on fire”, em que o som límpido das guitarras tenta convier com a distorção, mas parece faltar um forte elo de ligação que torne a composição coerente. Ao colocarem as suas mais variadas influências musicais neste mesmo tema, o resultado não foi marcante, mas sim algo confuso. E por falar nisso: a abertura de “Confusion” não faz em tudo lembrar “Am I evil”, ou serei só eu que estou a fazer, passe a redundância, confusão? Tentaram presentar-nos com um tema mais emotivo, algures pelo caminho a mensagem perde-se. E eis que surge “ManUnkind” e o belíssimo solo que baixo que serve de introdução à mesma. Sendo o mesmo inspirado em Cliff Burton e a fazer recordar a forma muito peculiar do malogrado génio do baixo tocar, fica-se à espera que a continuação seja épica. Infelizmente tal não acontece. Muito pelo contrário, e, embora seja subjetivo, talvez tenha o “riff” de guitarra mais desinspirado do álbum. “Here comes revenge” não vinga as músicas que lhe precederam. A ideia de ter dois ritmos completamente diferentes parece à partida interessante, mas mais uma vez o resultado final não está ao nível do esperado. Felizmente, quando prevemos o pior desfecho possível para este álbum de regresso dos Metallica, surge “Am I savage?”. Agora sim uma música mais eclética e bem interligada, que nos devolve alguma esperança. “Murder one” parece ser apenas um prelúdio para o indispensável “Spit out the bone”. Podemos afirmar que estamos na presença de um ciclo, em que a música final nos traz de volta a agressividade inicial, fechando assim este trabalho com chave de ouro. É quase clássico instantâneo dos Metallica, com um som que pensámos não voltar a ouvir neste álbum. Trata-se de um tema contagiante e muito bem elaborado. Todas as mudanças de ritmo que possui, todas as melodias adicionais, todas as pausas… tudo cirurgicamente planeado. Robert Trujillo preenche muito bem os “vazios” contribuindo assim para manter a intensidade da música. Surgem guitarras em uníssono seguidas de uma interpretação vocal mais emocional, voltando depois ao core pesado da canção, terminando com um final épico, apanágio destes monstros sagrados da música. “Hardwire…to Self-destruct” assemelha-se muito a uma viagem à história musical da banda. Após um começo fulgurante o ritmo é progressivamente reduzido, e a dada altura deparamo-nos com uma fase menos inspirada. No final há a tentativa de tentar reproduzir aquilo que foi feito inicialmente, mas com mais complexidade. Embora globalmente esteja longe daquilo que os Metallica nos presentearam na sua fase áurea, a verdade é que é polvilhado com algumas excelentes canções que merecem ser premiadas. Infelizmente entre elas existe todo um hiato que mancha o que poderia ser um álbum de enorme qualidade. Numa banda que não tem por hábito apresentar muitas canções num álbum de longa duração, penso que seja pertinente perguntar porque não apostaram mais em certos temas e lapidá-los com o profissionalismo que lhes é inerente, ao invés de lançarem um imenso rol de músicas que não têm a chancela de qualidade que os caracterizou? Mas a música é uma forma de arte, e a arte nunca é interpretada da mesma forma por duas pessoas diferentes. Por isso nada melhor que tirarem as próprias conclusões. Correndo o risco de me repetir, e como admirador assumido, não posso deixar de premiar algumas canções que podem-se tornar rapidamente em clássicos, mas tenho também de mostrar desilusão por no global não ser o álbum que os fãs esperavam, e que poderiam fazer.
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Triunfo pela persistência Texto: Ivo Broncas
Os Sepultura são sem sombra de dúvida uma das maiores referências na música pesada das décadas de 80/90. Contudo, e apesar de continuarem em atividade, a saída de um dos seus membros fundadores, Max Cavalera, coincidiu com um declínio em termos de popularidade, e segundo alguns, de criatividade da banda. Contudo, em abono da verdade, a carreira a solo do carismático músico, também ficou aquém do que os fãs esperavam. Este não é um artigo de história, crítica, nem de certezas. Tenciono sim convidar-vos num exercício de reflexão. Os Sepultura estão de facto “desaparecidos em combate”? Max Cavalera era a fonte criativa que marcava a diferença na banda, ou é um caso em que a soma é claramente melhor que as partes? As terras de Vera Cruz viram nascer algumas das maiores bandas de rock que cantam em Português, e não só. Os Sepultura foram talvez o expoente máximo de um país que nos trouxe os Raimundos, Ratos do Porão, Garotos Podres, Angra, entre muitos outros. Na cidade de Belo Horizonte, os irmãos Max e Igor Cavalera, impulsionados numa primeira fase pelo som de bandas de rock/heavy como Black Sabbath, Iron Maiden, Motörhead, entre outras, decidem fundar uma banda. Foi curiosamente uma música do mítico Lemmy e dos seus Motörhead, “dancing on your grave” que inspirou o nome “Sepultura”. Mais tarde,
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após uma viagem a São Paulo, tomam conhecimento numa loja de discos de todo um novo som que esse sim, iria influenciar determinantemente o som da banda. Celtic Frost, Kreator, Exodus, Venom, só para mencionar algumas, foram a faísca que detonou a explosão de energia que caracterizava a música dos Sepultura nos seus primórdios. Ainda na sua adolescência, e após terem participado num Ep intitulado “Bestial Devastation”, chamaram atenções suficientes para, em 1986 gravarem aquele que é tido como um dos primeiros álbuns de Death Metal: “Morbid Visions”. Andreas Kisser, que já se havia cruzado anteriormente com os irmãos Cavalera e com o baixista Paulo Jr, junta-se em definitivo aos Sepultura em 1987, ano em que lançam também “Schizophrenia”. Este seu segundo trabalho de longa duração, com uma sonoridade mais “Trash metal”, obteve críticas extremamente positivas, e começaram desde logo a chamar a atenção da indústria musical Norte Americana. Não querendo perder o que seria uma oportunidade única, diz-se que a editora Roadrunner propôs um contrato ao jovem quarteto Brasileiro, sem nunca os ter visto pessoalmente. O Sepultura aproveitaram a oportunidade de ter uma editora capaz de os tornar visíveis internacionalmente. Lançaram dois dos melhores álbuns da sua carreira, e porque não dizer, do género: Beneath the Remains
(1989) e Arise (1991). Embora estes dois trabalhos os tenham catapultado para o estrelato e os tenham tornado uma referência na música pesada internacional, a sua música só chega ao “mainstream” em 1993 com o que será o seu álbum mais bem-sucedido em termos de vendas: “Chaos A.D.” Agora com uma sonoridade menos “trash” e talvez mais “groove”, à qual juntaram outros elementos que não faziam, até então parte do seu reportório. A realidade é que, conseguiram um álbum que embora possua um ritmo mais lento, a atmosfera que o rodeia torna-o um álbum pesado, conseguindo assim inovar e não se afastando demasiado da sua sonoridade típica. Após este enorme sucesso comercial, as experiências continuaram no álbum “Roots”, desta vez com muitos elementos tribais. A banda deslocou-se ao Amazonas onde conviveu com tribos indígenas, e absorveu as suas influências musicais. “Roots” teve a produção daquele que foi um dos grandes impulsionadores do chamado “Nu-metal”, Ross Robinson. Produtor que, como é bem sabido, ajudou a lançar, os Korn, Slipknot (embora estes cedo se tenham afastado do rótulo “numetal”), Deftones, entre outros. Talvez por isso mesmo o quarteto brasileiro tenha apresentado um som que não agradou a muitos fãs. Embora os tenha aproximado de um público mais jovem, causou polémica entre os seguidores mais antigos, e continua hoje em dia a não ser um álbum consensual.
Os desentendimentos começaram a fazer parte da rotina diária dos Sepultura. Segundo consta, o principal motivo era o facto de que os restantes elementos não estavam satisfeitos como a banda estava a ser gerida pela sua empresária, que era também esposa de Max Cavalera. Talvez por isto mesmo em 1996, o carismático vocalista escolheu abandonar aquela que foi a banda que fundou, o seu projeto de sempre, e onde investiu grande parte da sua vida e toda a sua energia. Tanto vital como artística. Desde aí, a carreira dos Sepultura teve um grande revés. A conturbada saída de umas das suas principais forças criativas foi um rude golpe. Sem um dos elementos fundadores e um novo vocalista que não fez esquecer Max Cavalera, viram a sua popularidade, receitas e influência musical a decrescer. Os álbuns apresentados não fizeram esquecer os Sepultura na era Max. Por outro lado, este lançou-se num projeto a solo intitulado “Soulfly”. Durante os primeiros anos, e piscando o olho ao novo género de música pesada que estava a afirmar-se, o “nu-metal”, convidou diversos músicos ligados às mais bandas mais populares do género. Durante algum tempo, com a visibilidade que trazia do Sepultura e com estas participações, os Soulfly foram populares e tiveram muito tempo de antena. Os Sepultura por sua vez, com novo vocalista, viram a sua popularidade decrescer. Derrick Green, o escolhido para desempenhar o difícil papel de substituir Max Cavalera, não se revelou escolha consensual. Embora não esteja em causa a sua qualidade enquanto músico, a verdade é que existiam grandes diferenças entre esta nova formação e a formação original. Esta era mais notória nos espetáculos ao vivo, em que a guitarra rítmica de Max fazia toda a diferença. Sem esta, a robustez das
músicas ficou aquém do esperado. Tornava-se por demais evidente que a chama dos Sepultura já não era tão vibrante como outrora. Porém, sempre persistentes e perseverantes, continuaram a sua carreira, e até a saída do outro membro fundador em 2006, Igor Cavalera, não abalou os restantes elementos. Como o próprio Andreas Kisser disse: “A gente estava esperando isso acontecer.” E ao invés de ser considerado trágico, foi apenas mais um percalço na longa batalha que a banda vem travando. Depois de alguns álbuns menos conseguidos, a crítica aplaudiu o álbum de 2011 “Kairos”, e mais tarde o trabalho denominado “The mediator between head and hands must be the heart”. Podem não ter deslumbrado as massas, mas foram essenciais, pois a sua qualidade criou expectativas em relação ao próximo álbum, que poderá ser um importante ponto de viragem. Parece agora unânime: Os Sepultura estão no bom caminho para voltar à ribalta. Pelo contrário, a influência de Max Cavalera parece estar a diminuir. Soulfly deixou de entusiasmar os amantes de música como havia feito anos atrás. Há quem diga que, apesar de continuar a estar rodeado de bons músicos, a sua capacidade se reinventar perdeuse ao longo do caminho que vem trilhando a solo. Ao juntar-se com o seu irmão na banda que viriam a chamar Cavalera Conspiracy, houve, talvez inadvertidamente, uma tentativa de recriar o som clássico dos Sepultura adaptado aos dias de hoje. E muito embora sejam álbuns divertidos de se ouvir, enérgicos e com a participação de alguns músicos importantes, sendo Joe Duplantier do Gojira o nome mais sonante, não cativaram completamente os fãs. Inclusivamente, o último trabalho de longa duração dos irmãos Cavalera não teve a melhor aceitação tanto por parte do público, como por parte da crítica especializada.
Naquela que é agora uma não declarada batalha pela sobrevivência musical, temos Max e Igor Cavalera nuam frente, e Andreas Kisser e Paulo Jr na outra. Se por um lado os membros fundadores dos Sepultura carregam ainda consigo o carisma dos tempos áureos da banda, não se pode ignorar o facto que parecem ter estagnado em termos criativos. Os músicos que continuaram na banda têm lutado para reerguer o seu nome, e após anos menos conseguidos estão, ao que tudo indica, prestes a voltar aos grandes palcos. Mas, conseguirão? Voltando novamente agora a atenção para o outro lado da “barricada”, será que o formato “Max Cavalera” se esgotou? A realidade é que juntos formaram uma banda de referência ainda hoje reverenciada. Separados, e após um pico de popularidade dos Soulfly, foram incapazes de se manterem na ribalta. Por isso, fica a pergunta à qual eu gostava de saber responder: Estaremos num caso em que o todo é claramente melhor que as partes? Não se pode discutir a influência que Max tinha, mas hoje em dia, com o seu formato já considerado por muitos “gasto”, seria ele a injeção de criatividade que os Sepultura necessitam? Ou será que Andreas Kisser, por força das contingências, se tornou melhor músico do que alguma vez seria se a formação original se tivesse mantido até aos dias de hoje, e que por isso mesmo o regresso de Max e Igor não iria ser benéfico? Uma reunião parece altamente improvável, como quase todas aliás. Por isso as hipóteses de podermos esclarecer estas dúvidas parecem muito remotas. Porém, da última vez que foi feito um MIA sobre uma banda que estava ainda em atividade, os Guns ‘n’ Roses, houve pouco tempo depois uma reunião. Por isso… quem sabe?
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Ao longo de seus 32 anos de existência, os brasileiros do Sepultura tiveram como marca a vanguarda na música pesada mundial. Incansáveis, seguem rompendo a barreira inexorável do tempo. Levantando a voz contra um mundo que vai se tornando robotizado e automatizado, alertando para a necessidade de mais concretude como combate a relações humanas cada vez mais líquidas e vituais. «Machine Messiah» chega em janeiro como o mais novo manifesto de resistência desta lenda do metal mundial. Entrevista: Emanuel Leite Jr.
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«Machine Messiah» é o 14º álbum de estúdio dos Sepultura. O oitavo com Derrick Green e o segundo com Eloy Casagrande. E nota-se claramente que a banda chegou a um nível de maturidade musical com a atual formação. É o melhor trabalho do grupo na era Derrick. Qual o teu nível de satisfação com este disco? Andreas Kisser: Satisfação total. Pode ser considerado um dos melhores trabalhos da nossa história. É um momento muito positivo para a banda. Com a reestruturação que tomou um tempo até chegar a este momento, com uma gravadora forte e de conceito, que nos dá apoio. Eloy trouxe possibilidades para a banda de fazer música mais técnica, mais musical mesmo. Acho que este é o disco mais musical que nós já fizemos. Uma banda com 32 anos fazer um álbum como este mostra que ela não está acomodada, na sua zona de conforto. O Sepultura sempre respeitou muito o presente e nós mostramos que somos movidos a desafios e queremos sempre quebrar os nossos próprios limites. Conseguimos. Fizemos um disco diversificado, com músicas com identidade própria, mas que uma música puxa a outra, elas se completam em uma narrativa musical. A volta do vinil nos influenciou na composição. Escrevemos música para abrir o lado A, fechar o lado A, abrir o lado B, entende? Isso realmente ajudou
a formatar o disco. Enfim, acho que a banda vive o seu melhor momento na história. Apesar de todo o sucesso comercial no «Chaos AD» e «Roots», a banda passava por um momento muito difícil nos bastidores. Hoje, não. Falaste em maturidade. Mas não apenas a maturidade musical. Hoje temos uma maturidade empresarial, de ter condições de não precisar pensar em burocracias enquanto tem que gravar um disco ou compor. Nós pudemos nos focar realmente na música. Depois de terem voltado a trabalhar com Ross Robinson no “The Mediator…”, a banda escolheu Jens Bogren para o “Machine Messiah”, com quem nunca haviam trabalhado. Como se deu esta escolha? E como avalias a participação do Jens neste processo? Andreas: Conversamos com várias bandas para termos referências sobre o Jens. Falamos com o pessoal dos Moonspell, daí de Portugal, que falou muito bem sobre ele. Os Kreator, Opeth, Angra... E todas as referências foram muito positivas. A nossa relação com ele foi muito tranquila. Desde o primeiro dia que conversamos com ele, a química já estava rolando. Ele estava muito feliz por fazer parte de um disco dos Sepultura. E desde então as coisas fluíram. Ele foi muito profissional, muito
focado. No fim das contas, é um trabalho em equipa. Quando o Jens entra no processo em estúdio, tem que ser o quinto elemento da banda, falar o que ele pensa, indicar direcionamentos e temos que chegar a um acordo. Todos os detalhes que procuramos dar para cada música e montar este álbum. E a mixagem e masterização estão fantásticas! Conceitualmente, “Machine Messiah” aborda a robotização da sociedade. O primeiro single, “I Am the Enemy” fala da necessidade de nos reunirmos e reconectarmos a nós mesmos. O primeiro vídeo-clipe é da faixa “Phantom Self”, que também discute a busca pelo “eu mesmo” em meio a um meio cada vez mais desumanizado. Curiosamente, o álbum anterior, cujo título foi inspirado no filme Metropólis, já trazia o alerta para a necessidade do indivíduo despertar como ser racional e consciente. Preocupamte os rumos desta era da “indústria 4.0” que tem criado um ambiente cada vez mais virtual e automatizado? Andreas: É muito preocupante. Ao invés de os robôs estarem aí para nos ajudar a desenvolvermos o nosso intelecto, o que tem acontecido é o contrário. Estamos cada vez mais preguiçosos, deixando que a tecnologia faça tudo para a gente. Vais a um restaurante e está toda a gente com seus smartphones. Em uma conversa, por exemplo, se perguntarem qual é a população do Porto, a pessoa vai ao Google e responde. Perdeu-se aquela coisa de buscar interagir para chegar a uma resposta. As pessoas vão perdendo a interação humana. O olhar no olho. Mesmo nos concertos, vemos pessoas a filmar, perdendo aquele momento de estar lá, vendo a banda se apresentar. As pessoas não sentem mais o momento. Elas querem registrar em um aparelho e deixam de experimentar a sensação
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de estarem vivendo aquele momento. Andreas: Exatamente! Eles já estão no futuro. Não estão no momento. Criam algo que não está ali, não está no real. E enquanto as pessoas acham que os robôs podem resolver tudo, nós vamos perdendo nossa capacidade de questionamento, de protesto, de falar o porquê das coisas e não apenas aceitar uma informação e agir de acordo com ela, como os robôs. O robô recebe uma informação e age sem pergunta, sem questionamento. O “Mediator” já falava disto. É não perder o coração, o mediador que nos torna humanos. E o que eu penso é que estamos perdendo a oportunidade de desenvolver o nosso cérebro, de modo que possamos utilizá-lo mais, conectarmos a energias do universo e criamos um mundo mais natural e melhor. Musicalmente, os Sepultura sempre foram uma banda que buscou romper as amarras dos padrões do heavy metal. “Machine Messiah” é mais um passo neste constante processo criativo que a banda procura trazer. Vocês trazem novos elementos sonoros à vossa música, como em “Phantom Self”, com participação de um grupo de violinos da Tunísia. Outra faixa interessante é “Sworn Oath”, com suas orquestrações, dando uma roupagem épica nunca ouvida anteriormente nos Sepultura. De onde tiraram a ideia para estas experimentações? Jens Bogren teve alguma colaboração neste direcionamento? Andreas: Foi o Jens quem trouxe a ideia de usar os violinos da Tunísia, coisa que ele já tinha feito com os Moonspell. Mas é que a música pedia isso. Nós gravamos as demos no Brasil e sempre trabalhamos na intenção de deixar ao máximo tudo pronto, mas sempre com espaços para improvisos, como os violinos. O Jens ao escutar as demos e a cada bateria que íamos gravar, conversávamos detalhadamente sobre cada música, ao trocamos
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ideias e sugestões, uma delas foi a dos violinos. E encaixou muito bem. Já a “Sworn Oath” já tinha essa pegada, o riff já tinha essa intenção. Na verdade, esta é uma música foi uma homenagem que eu quis fazer ao Metal, porque tem todos os elementos, como a parte instrumental no meio, os solos e a forma épica como termina, como se fosse ao vivo, com a ‘porrada’ no fim. Os violinos e o quinteto de sopro, comandado pelo maestro Renato Zanuto, encaixaram muito bem também. Eu sempre argumentei que Derrick Green possibilita aos Sepultura uma amplitude musical muito maior do que o seu antecessor. Andreas: Sem dúvida alguma! Na minha opinião, o “Machine Messiah” não seria possível sem um vocalista com a versatilidade do Derrick. Concordas que este é o melhor registo dele? Andreas: Sim! Não só pelo trabalho do Jens, que foi fantástico. Mas, acho que sem aquela passagem com o Ross Robinson, no “The Mediator”, o Derrick não teria capacidade de fazer este disco. O Ross é muito duro e vai sempre tirar o melhor de você. Principalmente com os vocalistas. Se falares com quem já trabalhou com ele, como o Max, Corey Taylor, Mike Patton, por exemplo, vão falar que o vocalista é a principal ‘vítima’ do Ross. O que o Derrick passou com o Ross foi muito produtivo para a carreira dele. E isso se mostrou nesta relação que ele teve com o Jens. E, lógico, o Jens com todo o seu know-how e sua maestria levou o Derrick ainda mais além. E também acho que o Derrick escreveu suas melhores letras, procurando as melhores palavras e sentenças para cantar e gritar. Também se percebe um Eloy Casagrande cada vez mais orgânico. Além de uma nítida evolução do Paulo Xisto. Andreas: Foi um disco muito difícil
de gravar, porque fizemos coisas que nunca havíamos feito antes. Em relação a tudo. Acho que todo mundo da banda subiu um patamar. O Paulo, por exemplo, fazendo os arranjos antes, com computador, algo que nunca tinha feito. Ele realmente se preparou, testou algumas coisas diferentes. E na hora de trabalhar com o Jens, ele tinha várias possibilidades ao invés de apenas tentar uma coisa. Neste disco precisávamos de mais possibilidades, de estarmos preparados para fazer mudanças em um ou outro arranjo. E estávamos bem preparados para isto. A capa do álbum ficou por conta da artista filipina Camille Dela Rosa. Como vocês chegaram até o trabalho dela e por que escolheram aquela obra específica? Andreas: Eu já tinha o título “Machine Messiah” desde o início do processo de composição. Desde o fim de 2015, quando começamos a organizar as demos, já tinha passado este conceito da robotização para a banda. E fui pesquisar um artista novo, alguém fora do circuito. A gente conhece muita gente que faz capas. Inclusive aqui no Brasil, como o Marcelo [Vasco], que já fez Slayer, Hateebreed e várias bandas. Conversei com ele, que se ofereceu e tudo. Mas eu queria alguém novo. E achei esta pintura, esta obra de arte que se chama “Deus Ex-Machina”. É incrível que a Camille Dela Rosa tenha feito este quadro em 2010… Parece ter sido feito sob encomenda. Andreas: Pois é. Parece que foi. É incrível a conexão que tem. Houve só um lapso temporal. Muitos fãs fizeram uma associação à capa do “Arise”. Andreas: Até essa referência com o Arise, que muita gente fez, como as patas dos caranguejos. Inclusive, é algo que eu ainda não perguntei a ela se tem alguma referência com
“MAS, ACHO QUE SEM AQUELA PASSAGEM COM O ROSS ROBINSON, NO «THE MEDIATOR», O DERRICK NÃO TERIA CAPACIDADE DE FAZER ESTE DISCO. “
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o Arise ou não. Muitos fãs fizeram esta conexão. E isso é do caralho! Porque é algo que faz parte da nossa história. Sobre a obra, eu entrei em contato com a Camille e ela ficou muito feliz de fazer parte, super humilde. E é uma mulher das Filipinas, que está totalmente fora do eixo Europeu e Americano, traz uma influência nova, um estilo novo. Pois. Vocês têm um álbum que, musicalmente, mais uma vez mostra uma evolução criativa da banda. Ao mesmo tempo, esteticamente, traz algo novo, com bastante cores. Andreas: É uma capa bem colorida. Bastante diferente do “Mediator”, por exemplo. Acho que pelo álbum que fizemos, representa muito bem. E se torna mais uma opção para outras bandas. A Camille é uma artista fantástica, que tem quadros incríveis, com muita influência de Salvador Dalí. 2017 vai ser um ano cheio para os Sepultura. Lançamento do “Machine Messiah” em janeiro, turnê europeia em fevereiro e março com os Kreator, e em abril com os Testament na América do Norte. E ainda vai haver a estreia do filme que conta a história da banda. Sei que o filme vai ser exibido nos cinemas no Brasil. Há a possibilidade de distribuição na Europa? Andreas: Espero que sim. Estamos em comunicação com vários festivais pelo mundo. A O2 Play vai fazer a distribuição aqui no Brasil. Temos planos para o festival South by Southwest, no Texas. E outros festivais pela Europa também. Espero que haja essa opção de estar nas salas de cinema e que possamos participar das sessões, trocar ideias com os fãs, o que acho bem interessante. Principalmente por ser um filme que mostra a nossa história, o porque de a banda ainda estar aqui depois de mais de 30 anos. Vai ser um filme interessante não só para o fã dos Sepultura ou do Metal, mas para o cidadão em
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“FOI UM DISCO MUITO
PORQUE FIZEMOS C
HAVÍAMOS FEITO ANTES
geral. Pois mostra uma profissão que exige muita dedicação, que viajar o mundo, como temos essa oportunidade, é interessante, mas também é um trabalho muito duro, que requer muito preparo físico e mental para estar no palco todos os dias, na estrada.
No Brasil, inclusive, para que o brasileiro conheça mais a história de um grupo que saiu do país e conquistou o mundo, tornando-se referência em seu cenário. Andreas: Sem dúvida. O filme vai mostrar um pouco destas nossas conquistas. Aonde fomos. São 32 anos. Nossa intenção não é
Tierra. Mas o De La Tierra é um pouco mais tranquilo, pois os quatro são compositores. O Andrés é grande parceiro, escreve muito bem e tem várias possibilidades na voz, passou por todo este processo com o Ross Robinson. Estou muito feliz. Sinto que o De La Tierra é uma banda de verdade agora, depois dos concertos que fizemos, a turnê com os Metallica, vários festivais, tudo isto nos deu estrada. E também o Ross Robinson, que trouxe muita vida para o De La Tierra. Também estou cantando um pouco mais em português do que no primeiro. É um disco que tem sido muito bem recebido. Espero ter a oportunidade de ir para a Europa. O grande problema são as datas, pois todas as nossas bandas estão sempre ocupadas. Só organizando as agendas conseguimos fazer tudo acontecer.
O DIFÍCIL DE GRAVAR,
COISAS QUE NUNCA
S. EM RELAÇÃO A TUDO.”
“lavar roupa suja”, mas mostrar o que os Sepultura são. Estamos aqui, representando este espírito aventureiro, artístico, fazendo a nossa música. Além do “Machine Messiah”, também gravaste, em 2016, o segundo álbum dos De La Tierra,
“II”. Conta-nos como foi este processo de composição quase que paralelo. Andreas: Foi muito trabalho. Mas, organizando as agendas com antecedência, tudo é possível. No primeiro álbum foi a mesma coisa. Eu estava gravando o “The Mediator” e mixando o De La
Como já mencionado, em fevereiro os Sepultura voltam à Europa para uma turnê com os alemães do Kreator, além dos Soilwork e Aborted. Porém, não vêm a Portugal. Entretanto, a banda já tem anunciado as primeiras datas em festivais de Verão no continente europeu. Os fãs portugueses vão ser contemplados com alguma data a ser anunciada em breve? Andreas: Espero que sim. Infelizmente, nesta turnê com os Kreator nós não vamos a Portugal. As primeiras datas dos festivais de Verão estão a ser anunciadas e ainda temos várias possibilidades em aberto. E a nossa intenção é mais para o fim do ano voltar à Europa com uma turnê headliner, apresentar nosso palco novo, fazer um show nosso realmente. Então, se a gente não tiver a possibilidade de ir a Portugal nestes festivais do Verão, é passar por aí no fim do ano. https://www.facebook.com/sepultura/ http://www.sepultura.com.br/ https://youtu.be/pCEe44CgyAM
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SEPULTURA «Machine Messiah» (Nuclear Blast) [9.5/10] EMANUEL LEITE JT
Poucas são as bandas no mundo que influenciaram tantos gêneros musicais quanto os Sepultura. Thrash metal, death metal, black metal, groove metal, nu metal, hardcore e metalcore. A lista é quase infindável. Isto porque ao longo de seus 32 anos de existência, estes mestres do metal sempre tiveram como característica a impressionante capacidade criativa de se reinventar. Sem amarras, os Sepultura nunca tiveram receio de inovar. Com “Chaos AD” e “Roots”, romperam as barreiras do metal. Mas não se mantiveram presos ao passado. Empurrando o tempo sempre para o adiante, estes brasileiros mantiveram a incrível capacidade de ser, ao mesmo tempo, história e futuro. Sempre em busca de sua constante evolução. E é assim mais uma vez. Em janeiro, estes ícones da música pesada dão a conhecer ao mundo seu 14º álbum de estúdio. “Machine Messiah”
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é um disco que mostra um grupo que, respeitando seu passado, vive um presente modernizado e poderoso. Visceral, virulento, sombrio e, ao mesmo tempo, melódico e épico, “Machine Messiah” é a prova inequívoca de que a chama dos Sepultura é inextinguível e segue a se propagar. O álbum foi produzido pela banda e por Jens Bogren (Moonspell, Kreator, Opeth, Katatonia, Amon Amarth, Soilwork) no Fascination Street Studios, em Örebro, na Suécia. O futuro já chegou. O que antes só era possível na literatura e no cinema de ficção científica é cada vez mais uma realidade do cotidiano humano. Vivemos os tempos da “quarta revolução industrial” ou “indústria 4.0”. As novas tecnologias atingem níveis cada vez mais da esfera privada. Smartphones, tablets, notebooks, Google Glasses, gadgets vão nos mantendo, supostamente, conectados e integrados em tempo real. E nada escapa a este mundo virtual, que avança a passos largos em sua conectividade, que já é capaz de analisar cada um de nossos passos, nosso corpo, nosso cérebro e bens de uso cotidiano, como roupas, automóveis. “Machine Messiah” aprofunda o conceito apresentado em seu antecessor, “The Mediator…”. Os Sepultura buscam chamar a atenção para uma sociedade cada vez mais robotizada e automatizada. As pessoas com seus aparelhos tecnológicos vão perdendo a capacidade de estabelecerem os laços consigo mesmas, com as outras e com a natureza. É neste contexto de relações cada vez mais virtuais e líquidas, que a arte lírica se completa com a arte visual. O quadro “Deus Ex-Machina”, da artista filipina Camille Dela Rosa, com seu surrealismo, transmite também a mensagem icônica da crítica a uma sociedade que, obcecada pelas máquinas, vai morrendo como humanidade e se deixa dominar pelo “deus-máquina”. A faixa-título, “Machine Messiah”, abre o álbum de forma sombria e arrastada, lembrando um pouco as composições do Andreas Kisser/Sepultura para a série brasileira “Dupla Identidade”, que tinha bastante passagens soturnas. Derrick Green explora sua versatilidade com seu vocal limpo e Andreas Kisser traz um solo de guitarra curto, porém bem encaixado. Logo em seguida, “I Am the Enemy” – primeira música revelada ao público - chega rasgando tudo com seu thrashcore bem noventista, rápida e agressiva, um convite ao headbanging. “Vandals Nest” é outra faixa que vai te fazer bater cabeça do início ao fim. Com seus riffs rápidos e uma bateria frenética e colérica, esta música poderia figurar facilmente em qualquer clássico do thrash metal dos anos 1980: um petardo! “Phantom Self” cujo vídeo-clipe foi lançado pouco antes do natal - apresenta um Sepultura que não tem medo de inovar. Após a breve intro com percussão de maracatu (um gênero musical do estado brasileiro de Pernambuco), entram os violinos do quarteto tunisiano, uma sugestão do produtor Jens Bogren, e que dão uma nova dimensão sonora à música dos Sepultura – uma característica mediterrânica nunca dantes ouvida. O refrão é pegajoso, daqueles que basta escutar uma vez para se pegar cantando mentalmente logo a seguir. O diálogo das guitarras de Andreas com os violinos é um detalhe imperdível. Andreas, por sinal, havia prometido uma faixa instrumental relembrando os clássicos do thrash e heavy metal dos anos 1980. “Iceberg Dances” esbanja técnica, com seus elementos tão diversificados que vão desde o progressivo dos anos 1970 ao blues, passando pelo violão clássico e Eloy Casagrande em grande performance. A viagem de “Iceberg Dances” nos leva até aquela que é a música mais espetacular de todo o disco. “Sworn Oath” é assombrosa! De longe, a canção mais inovadora do álbum, ela surpreende ao mostrar um Sepultura sinfônico e épico que jamais se ouvira em 32 anos de carreira. A perfeita harmonia com as orquestrações dão um peso estrondoso a esta música, que com sua linha melódica se transforma em uma das mais belas de toda a história da banda. Simplesmente sensacional. “Resistant Parasites” é uma das faixas mais pesadas e complexas do álbum. Um verdadeiro paredão sonoro formado pela combinação do groove que os Sepultura tão bem sabem fazer com as linhas do quinteto de sopro, sob o comando do maestro Renato Zanuto, mas que é complementando com mais uma passagem com influência do Médio Oriente que engrandece ainda mais a composição. A influência do progressivo que se nota um pouco por todo o álbum fica evidenciado na última canção, “Cyber God”. Uma música muito interessante, com linhas de baixo muito bem elaboradas por Paulo Xisto, Derrick Green urrando como uma besta, Eloy Casagrande abusando da técnica e um solo de guitarra fantástico. Por sinal, este é um álbum em que, definitivamente, todos os integrantes estiveram em seu melhor. Sem sombra de dúvida, é a mais bem acabada performance de Derrick nos vocais dos Sepultura. Sem sua capacidade de ir do barítono aos vocais limpos, passando pelos urros e guturais, um álbum como “Machine Messiah” jamais seria possível de existir. Paulo Xisto também apresenta, pela primeira vez em seus 32 anos de grupo, linhas de baixo mais complexas e bem elaboradas. Eloy Casagrande, cada vez mais orgânico, confirma seu estatuto mundial com um desempenho arrebatador. Andreas Kisser se mostra inspirado, com um belo conjunto de riffs e alguns de seus melhores solos. Por fim, mas não menos importante, de se destacar o excelente trabalho de Jens Bogren. Além de contribuir com sugestões que enriqueceram as composições, o sueco conseguiu deixar tudo muito bem mixado, soando equilibrado e natural. “Machine Messiah” não é apenas o melhor trabalho dos Sepultura com Derrick Green. É um dos melhores álbuns da já longa história destes ícones do metal mundial.
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É o que podemos dizer so jogando com o título da que se inspirou o s
Entrevis
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obre esta banda francesa, novela de Lovecraft em seu último álbum!
sta: CSA
Foto: Valerie Cridelause
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Eis-nos em nova “conversa” virtual. Já vos entrevistei sobre o vosso primeiro álbum lançado pela LADLO. Como é que a Season of Mist vos encontrou? Benjamin Guerry – Penso que já nos conheciam ou, pelo menos, já tinham ouvido falar de nós. Depois de uma digressão com Shining, Mika « Bleu » (RIP), que se ocupava do seu merch, falou de nós ao Michael [Berberian], o “patrão” da Season of Mist. Aprofundámos o contacto e lá assinámos com eles! E que pensa a vossa antiga editora desta mudança ? Benjamin Guerry – É claro que ficaram desiludidos por nos ver partir… Mas as nossas relações foram sempre excelentes, portanto eles compreenderam a nossa atitude. O vosso Black Metal continua a ser furioso. Mas a banda quer sem dúvida aproveitar cada álbum para ir mais longe. Em que novas direções levaram a vossa música desta vez? Benjamin Guerry – Uma vez que o nosso objetivo não é fazer sempre o mesmo álbum, logicamente procuramos fazer evoluir a nossa música. Desta vez, queríamos fazer um álbum mais sombrio, mais poderoso. Essa intenção implicou a mudança de estilo de composição e de produtor. É claro que o lado atmosférico se mantém, mas o produto final é um pouco mais brutal que os nossos dois primeiros álbuns. No entanto, quando compus EOD, não disse para mim próprio “Tem de ser violento aqui, calmo acolá.” Aconteceu tudo de forma muito natural. Mas custou muito trabalho, como é óbvio. Acontece o mesmo com o conceito subjacente ao álbum. Tinha escrito textos que contavam histórias diferentes para «Al Azif», depois fiz outra história para «Tekeli-li» e, portanto, escrever letras que correspondem a uma sequela de uma das novelas de Lovecraft pareceu-me uma evolução lógica para este terceiro álbum.
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Podem explicar-nos por que razão a formação da banda compreende nomes que não fazem parte da lista dos músicos que gravaram o álbum? Benjamin Guerry – Um pouco antes de passarmos à gravação do álbum, o Xavier Godart e o Sébastien Lalanne comunicaram que queriam sair da banda por razões diferentes. Mas, como ambos tinham trabalhado imenso para aprender as partes que lhes diziam respeito, pareceu-nos lógico que ainda participassem no trabalho de gravação, para fechar o ciclo. Depois foram substituídos pelo Aurélien Édouard (na guitarra) e o Jérôme Charbonnier (no baixo). O ambiente na banda é excelente e temos uma equipa realmente forte e bem unida. Podes falar-nos um pouco do conceito subjacente a este « EOD: A Tale of Dark Legacy»? Benjamin Guerry – Este álbum constitui uma sequela da novela «A sombra de Innsmouth», de Lovecraft. Não quero fazer aqui grandes revelações, para não estragar a surpresa para as pessoas que desejem viver a história à sua maneira. Posso apenas dizer que, para o protagonista da história, a viagem a Innsmouth não tem finalidades recreativas, o que vai certamente agradar aos apreciadores de Lovecraft e de histórias de horror. A propósito: o que significa a sigla EOD pela qual começa o título do álbum? Benjamin Guerry – EOD significa «Esoteric Order of Dagon». Tratase de um culto maldito, que desempenha um papel essencial na novela. Portanto, tem mesmo de estar presente nesta sequela. E que representa a misteriosa capa do álbum ? Benjamin Guerry – Deixo aos ouvintes o trabalho de a interpretar. Mas posso adiantar a ideia de que ela pode representar um monstro tipicamente lovecraftiano, diante de uma cidade incendiada ou uma aglomeração de rochas. Ambas
as interpretações se adequam ao álbum. Esta imagem tem um lado caótico e infernal, que descreve perfeitamente a sua ambiência. Foi feita por Adrien Boussoun ? Ou é da autoria de Jeff Grimal? Benjamin Guerry – É uma obra de Jeff Grimal (guitarra e voz). Ele é um artista muito talentoso, tanto na pintura a óleo como no desenho a lápis. É tão bom e prolífico, que não vemos necessidade de pensar noutro artista para o grafismo dos nossos lançamentos. Aliás, para este álbum, ele fez 14 ilustrações! Estão todas incluídas na edição limitada em formato digibook, que está disponível no sítio da Season of Mist (em quantidade limitada, é claro). Com certeza, cada um de vocês tem uma opinião diferente sobre as canções que fazem parte do álbum. Peço-vos que escolham uma e que façam um pequeno comentário sobre ela. Jeff Grimal – Eu escolho “In Screams and Flames”. Penso que é o título que melhor representa a história e também é a canção mais extrema, em termos musicais. Sublinho o seu início, muito rápido e muito agressivo, que me faz vibrar cada vez que a ouço, a passagem intermédia, muito Doom, que é muito épica, e o solo que a encerra. Aliás, esse solo é tocado pelo nosso novo guitarrista e o Aurélien fez um trabalho notório, do ponto de vista da harmonia. O Ben, que compôs todas as letras, conseguiu nesse título a osmose perfeita entre os textos, que contam as (des)aventuras do protagonista, e a música, sombria e opressiva. Aurélien Edouard – Eu escolho “The Shadow over Innsmouth”, porque, desde o início da canção, sentes que te chocas com uma parede. Para mim, é um dos trechos mais conseguidos, em termos de composição. A combinação das passagens violentas e aéreas é perfeita e cada parte articula-se de forma perfeita com a que se lhe segue. Sobretudo, é excelente para tocar ao vivo!
“[...] Desta vez, queríamos fazer um álbum mais sombrio, mais poderoso. [...] É claro que o lado atmosférico se mantém, mas o produto final é um pouco mais brutal [...]”
Foto: David Helman-Hans Lucas
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“[…] escrever letras que correspondem a uma sequela de uma das novelas de Lovecraft pareceu-me uma evolução lógica para este terceiro álbum.”
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RHAPSODY A Reunião
Há muito que os fãs de Rhapsody sonhavam com uma reunião dos membros originais da banda. Pois bem, o próximo ano vai trazer pela última vez - Será? - a banda para os palcos da ribalta com uma tournée comemorativa do aniversário dos 20 anos e igualmente de despedida, daí se apelidar de “20th Anniversary Farewell Tour”. À exceção de Alex Staropoli, estarão todos em palco. Esta tournée, que passará no próximo ano pelo nosso país, foi o mote para falarmos com Luca Turilli sobre este e outros assuntos de tudo o que tem o toque do universo Rhapsody. Entrevista: Carlos Filipe (com Eduardo Ramalhadeiro)
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Como é que a ideia de fazer uma tournée de Rhapsody surgiu e como esta evoluiu para uma tournée de despedida? Luca Turilli: A principal razão, foi que muita gente nos propôs que fizéssemos algo para comemorar estes vinte anos. Podia ter sido a passagem dos 10 anos, 15, 25 ou 30 anos, mas para mim, não há nada mais especial do que comemorar os 20 anos. É uma data emblemática para qualquer banda, os 20 anos de carreira. Queremos fazer algo de verdadeiramente especial e não uma simples reunião comemorativa, tornando-o num evento ímpar e especial, algo mesmo histórico, porque será a última vez que as pessoas terão uma oportunidade de me ver a mim, ao Fabio e aos outros num mesmo palco, juntos, a tocar as músicas antigas de Rhapsody. Daí, nos termos nomeado a tournée como uma de despedida. É a forma musical de dizer adeus a todas estas canções e composições que fizemos com Rhapsody. É o fechar em grande de uma carreira, dado que além de Lucas Turilli’s Rhapsody, eu e igualmente o Fabio temos projetos importantes para o próximo ano.
À parte do Alex Staropoli, todos os elementos dos Rhapsody estão aqui. Porque é que não conseguiste o Alex? Luca: Eu falei com ele acerca deste projeto, mas ele preferiu não o fazer, declinando, dado que está a apresentar o novo vocalista da sua banda e quer focar-se nos Rhapsody of Fire. Ficamos com pena de não o ter connosco nesta tournée mas as razões são totalmente compreensivas. No entanto, consegui todos os outros membros dos Rhapsody incluindo o Fabio Leone, o qual aceitou de imediato, pelo que estou muito contente
oportunidade de tocar músicas ao vivo que nunca tocamos até hoje, como “Beyond the Gates of Infinity”, “Wings of Destiny” ou “The Dark Tower of Abyss”, canções pedidas por muitos dos fãs. Evidentemente, estou a falar de concertos em que podemos tocar quase 2 horas, o que não é o caso de muitos festivais, mas, se for o caso de termos o tempo necessário, tocaremos o álbum por completo mais muitos outros clássicos, e teremos igualmente surpresas com famosas canções que não tocámos assim tantas vezes até agora. Será um setlist muito especial.
O que é que podemos esperar do concerto que estão a preparar? O que é que podes partilhar connosco? Luca: A primeira ideia da qual concordamos todos de imediato foi tocar o álbum «Symphony of Enchanted Lands» por completo, porque este foi o melhor nosso best seller e trouxe os Rhapsody para a ribalta. Este álbum é também um dos que contem mais clássicos dos Rhapsody, alias, todas as músicas neste álbum são clássicos! Também será uma
Vocês vão atuar em Portugal no próximo ano, no Vagos Metalfest. Vão tocar a setlist toda ou dado que é um festival, vão ter que tocar uma versão reduzida? Luca: Não sabemos. Tudo ainda tem de ser acordado. Mas para esse festival estamos bem posicionados para tocar mais músicas do que o normal de um festival. Esperamos trazer um concerto longo! Sabes, temos uma setlist para duas horas, mas, temos de a modificar a cada passo consoante o festival em
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que tocamos, dado que em certos festivais não somos os cabeça de cartaz dado a presença de outras bandas maiores. Temos de adaptar a setlist ao festival. Lançaram no decorrer deste ano o Luca Turilli’s »Prometheus, Symphonia Ignis Divinus« pela Nuclear Blast, e agora estão a lançar um álbum ao vivo com a versão do álbum de estúdio «Prometheus» apresentado em Dolby Atmos, «Prometheus:The Dolby Atmos Experience and Cinematic and Live», sendo o primeiro álbum de estúdio misturado nesta tecnologia. O que pensas disto e o que podemos esperar? Luca: Para nós foi como sair a lotaria! [Risos]. Foi uma experiência fantástica. Tivemos o engenheiro de som/produtor Chris Heil (DAVID BOWIE, BRYAN ADAMS, SCORPIONS), que é um apoiante do Dolby Atmos e descobriu a música dos Rhapsody por acaso com uma música que veio de outro estúdio, e para ele, foi um “wow! Esta é a melhor música para apresentar o Dolby Atmos”. Ele falou com o pessoal da Yamaha, os donos atuais da tecnologia Dolby, e ficou bastante excitado com a música que lhe foi parar às mãos, “King Solomon And The 72 Names Of God”. Recebi um email a explicar esta tecnologia áudio Dolby Atmos e o quanto a nossa música se encaixava nesta mistura áudio, até porque ele já tinha trabalhado previamente com Roger Water, Metallica e outros, mas só tinha testado a tecnologia num par de músicas. Eles decidiram investir bastante dinheiro para misturar o «Prometheus» todo, isto levou 3 meses a concretizar, e no fim fui à Alemanha para ouvir o resultado final, onde descobri este fantástica tecnologia que representa a evolução do Dolby Surround, o qual representa uma forma de viver a música de uma forma tridimensional. Esta já se encontra disponível em todo o mundo através dos filmes e brevemente entrará no mundo
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dos vídeo jogos. É uma tecnologia realmente especial. Este álbum não é só por causa do Dolby Atmos, pois também incluiu um muito importante CD duplo ao vivo, o primeiro que lanço em 20 anos, pelo que sinto-me muito orgulhoso. É um álbum que vale muito mais do que o que oferece e contem músicas dos meus últimos trabalhos, músicas novas e igualmente dos meus álbuns iniciais como Luca Turilli. O Dolby Atmos, como o Luca disse, a última evolução do Dolby Surround, não estará acessível a todos. Isto é, para tal é necessário um sistema AV com Dolby Atmos, 10 colunas de som, um espaço home cinema em casa para dispor todas estas colunas numa dada configuração, um blu-ray, conteúdo em Dolby Atmos… É muita coisa. Quantos fãs do Luca Turilli terão o sistema completo para ouvir o concerto em Dolby Atmos? Luca: O concerto qualquer um pode ouvir num sistema tradicional, já que é disponibilizado em dois CDs. Este é o que constitui o duplo CD ao vivo. A segunda parte do conteúdo, o bluray, as pessoas de qulaquer forma poderão sempre disfrutar desta segunda parte com a mistura em Dolby Surround do «Prometheus:The Dolby Atmos Experience». Posso dizer que por algumas centenas de euros é possível hoje adquirir um sistema destes. Podemos transformar um sistema normal home cinema 5.1 e configurá-lo em Dolby Atmos, acrescentando-lhe apenas 4 colunas, para ter a configuração mínima. “Left-Front”, “RightFront”, “Left-Back”, “Right-Back”, e devem estar orientadas para a parede ou então ainda melhor no tecto, direcionadas para baixo, para o chão, o que aumenta a dimensão sonora. De qualquer forma, esta nova tecnologia é compatível com os sistemas anteriores. Uma coisa é certa, soa muito melhor que uma mistura normal estéreo, e consegue ter
mais profundidade que um sistema 5.1. Evidentemente o ideal é ter o sistema completo mas mesmo com um sistema 5.1, já temos 50% dos efeitos sonoros que se conseguiria ter com o Dolby Atmos, que é representado como um 5.1.4. Como projeto paralelo aos Rhapsody, o Luca no passado desenvolveu os seus propríos projetos pessoais, um simplesmente chamado Luca Turilli, com o qual lançou 3 excelentes álbuns e outro na sequência deste apelidado de Luca Turilli’s Dreamquest. Como vês estes projetos hoje no seio da tua carreira? Poderemos nós esperar algo num futuro próximo ou estes pertencem ao passado? Luca Turilli: À parte de Dreamquest, que é um assunto diferente, pois o segundo álbum estava praticamente pronto para ser lançado um ano depois do primeiro, que tinha sido um sucesso, isto em 2007 ou 2008, mas não saiu devido aos problemas legais que tive com o manager e a tournée planeada e ficou por aí. Ficou em standby. No que respeita Luca Turilli, eu sempre afirmei que era uma trilogia, está mesmo escrito no booklet, pelo que ficouse mesmo por estes 3 álbuns. Olhando para trás, como é que vês estes trabalhos hoje? Luca: Bem, é por isso que este álbum ao vivo é muito importante, pois inclui muitas músicas desses álbuns, tais como «War Of The Universe», «Demonheart», «The Ancient Forest Of Elves» entre outras, porque ainda hoje estas músicas ainda soam bastantes modernas e o Alessandro [Conti], o meu fantástico vocalistas, foi capaz de cantar estas canções numa toada bastante mais alta do que o vocalista que utilizei na altura para estas álbuns a solo. É porreiro hoje, poder utilizar estas canções, não de uma forma nostálgica, mas de uma forma que acrescenta corpo a este duplo CD, pois há canções que considero um excelente e bem vincado particular estilo de
“...A primeira ideia da qual concordamos todos de imediato foi tocar o álbum «Symphony of Enchanted Lands» por completo.”
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música, pelo que eu queria-as ter por ainda estarem atuais passados todos estes anos. Estou bastante orgulhoso destas músicas. Tens alguma história do Christopher Lee que possas compartilhar do tempo em que ele colaborou com Rhapsody? Luca: Claro que sim, claro que sim… Como já tive oportunidade de afirmar inúmeras vezes, essa colaboração foi um dos momentos mais importantes da minha carreira, evidentemente que esta colaboração com a Yamaha e o Dolby é um dos grande momento da minha carreira pelo aquilo que representa para o futuro da banda, mas sem dúvida, o segundo grande momento foi a colaboração com Christopher Lee. Foi uma experiência fantástica desde o momento dos contactos por email através do nosso manager e o seu agente até sentirmos que podia vir a ser realidade, que o seu agente estava a considerar seriamente a
nossa proposta, até porque eu e o Alex já tínhamos tentado sem sucesso [risos], ainda por cima, na altura, estávamos a disfrutar dos filmes do Senhor dos Anéis, onde descobrimos a grande e incrível voz de Christopher Lee na versão original do filme [NR – Em Itália, os filmes de Hollywood são na sua maioria dobrados em italiano], pelo que tentamos e o que aconteceu foi um milagre [risos]. Encontramolo na altura, em 2003, em Londres, é foi um momento magistral, wow! Imagina conheceres em pessoa um ídolo, um ícone. Durante 20 minutos foi uma atmosfera estranha e constrangedora para nós, pois estávamos sem saber o que dizer, mas passados estes vinte minutos inicias, ele começou a falar e não parou, contando-nos todos os segredos dos bastidores dos filmes em que ele entrou, em especial do Senhor dos Anéis, dos atores, do Peter Jackson [NR: O realizador], mudando por completo a atmosfera, e no final do dia já era
um bom amigo. E mesmo depois destes anos todos ficamos mais do que simples amigos, ele passou a fazer parte da família, ficando uma espécie de avô amado [risos]. Todos conhecemos a história. Rhapsody teve de mudar de nome para Rhapsody of Fire por causa de questões legais, o Luca saiu em 2011 e começou Lucas Turilli’s Rhapsody, a tua interpretação dos Rhapsody. Como é que vês a evolução destas duas bandas e os diferentes caminhos que tomaram? Eu referi “duas bandas” porque ambas partilham o mesmo legado nos seus nomes, a palavra “Rhapsody”. Luca: No momento em que nos separamos depois do fim da saga [Da Fantasia iniciada com Legendary Tales], todos queriam fazer coisas diferentes, afinal depois de uma longa saga como esta, foram 10 álbuns, fomos uma das poucas bandas da história a fazer algo assim tão duradouro.
“... investimos tanto do nosso dinheiro, eu e o Alex [Staropoli], para construir a banda e manter o nome, não seria correto se pedíssemos um ao outro para renunciar ao nome Rhapsody.”
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Depois de completado o circulo, onde investimos tanto do nosso dinheiro, eu e o Alex [Staropoli], para construir a banda e manter o nome, não seria correto se pedíssemos um ao outro para renunciar ao nome Rhapsody. Pelo que seguimos um caminho da amizade. Eu nem sequer era suposto seguir com Rhapsody porque no momento da separação eu tinha outros planos em mente, era suposto fazer algo na onda de Avantasia, isto sugerido por uma editora, também me propuseram fazer algo fora do âmbito do Heavy Metal, para vídeo jogos e cinema. Tinha muitos diferentes planos mas depois descobri o Alessandro Conti [NR: O vocalista da banda] graças ao meu amigo Fabio Leone, e então verifiquei que a sua voz, na forma díspar como ele consegue cantar, dei-me conta que eu também podia continuar com Rhapsody. Falei com o Alex e comuniquei-lhe que iria manter o nome Rhapsody, mas que ia colocá-lo em letras mais pequenas logo a seguir ao meu nome, devido aos problemas que tivemos no passado, ele até me deixou usar o nome Rhapsody sozinho para eu lançar outros produtos artísticos. Ele manteve o nome Rhapsody of Fire, que para mim estava ok. Foi uma decisão muito amigável e agora, ano após ano, lançamento após lançamento, as pessoas estão mais cientes das diferenças entre as duas bandas. No início era muito confuso, até mais do que esperávamos, mas agora, quanto mais lançamentos houver mais nos diferenciamos e os antigos fãs seguirão a banda que gostarem mais, ou ambas. Penso que há espaço para as duas bandas existirem e haverá ainda mais espaço no futuro. No passado, tiveram problemas com a editora Magic Cirlce Records, que levou a uma disputa jurídica, acabando por continuarem como Rhapsody of Fire. Passados quase 10 anos, como é que vês hoje este particular e horrível momento? Luca: O problema é que nunca
podemos falar sobre isto porque há acordos jurídicos a respeitar. Infelizmente não te posso dizer nada sobre o assunto [riso]. Não é só à Versus Magazine mas a todos os jornalistas que me perguntaram todos estes anos, não posso, infelizmente, dizer nada [risos]. És um guitarrista muito talentoso. Se alguém quiser começar a aprender a tocar guitarra, tu que és um guitarrista experiente, o que é que recomendarias, que conselhos daria a alguém que está a começar? Luca: Primeiro, porque não subscrever o meu curso de guitarra “neoclassical revelation guitar course” (risos). Estou a brincar, este curso é específico para pessoas que gostam de tocar guitarra da forma neoclássica. Eu comecei a tocar guitarra porque estava apaixonado com guitarristas como Jason Becker, Marty Friedman, Yngwie Malmsteen, todos os clássicos… por exemplo, para mim, há dois álbuns ímpares no neoclássico que são, o do Jason Becker «Perpetual Burn» e dos Cacaphony «Speed Metal Symphony» com ele e o Marty Friedman. Estes são álbuns revolucionários no género quando foram lançados nos anos 80 e mudaram a minha vida para sempre, como guitarrista claro está, pois deram-me a energia para mudar de direção. Hoje, ainda continuam a ser os meus álbuns favoritos. Se as pessoas ouvirem bem estes dois álbuns e tentarem tocá-los - basta procurar pelas partituras na internet - no inicio vai ser difícil mas depois quando entrarem na coisa vão ficar satisfeitos e perceber o quanto fantásticos estes dois álbuns são. Infelizmente hoje, não tenho muito tempo para tocar guitarra, este é o meu grande problema, acho que nos últimos 5, 6 anos só toquei um par de semanas em cada ano, o que é muito mau para mim dado que é algo que gosto de fazer. Tive de colocar de lado porque escolhi a composição. A composição é o elemento mais
importante, é o que absorve o meu tempo, e só toco guitarra quando componho algumas partes ou para o álbum ou quando toco o vivo. Tenho sido capaz de tocar só um mês num ano. O tempo é limitado e eu escolho compor para bandas de rock, bandas de metal, para orquestras, eu é que faço os arranjos orquestrais, mas aumenta a satisfação daquilo que gosto de fazer. É preciso definir um compromisso. Mencionaste o Jason Becker. Chegaste a conhecê-lo? Luca: Infelizmente não tive essa oportunidade. Tens alguma formação musical. Isto é, quando compões, escreves a música numa pauta? Luca: Não, não, não. Absolutamente, não. Para mim, é uma absoluta perda de tempo. Crio tudo, toco tudo com o meu teclado, algumas músicas toco no piano, outras na guitarra, mas a maioria é no teclado até porque tenho o meu estúdio em casa, o qual é um dos mais importantes da europa no que respeita à composição, não sou um engenheiro de som, pelo que de tempo a tempo necessito de alguém de fora para fazer as misturas. Tenho um poderoso estúdio no que respeita à composição e arranjos musicais, o que é fantástico porque quando me levanto de manhã posso ouvir o que compus, e como os computadores estão todos ligados em rede, tenho todos os sons de todos os instrumentos disponíveis à minha frente. É um estímulo incrível para compor ou arranjar música todos os dias.
Site official: http://ltrhapsody.com/
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Playlist Carlos Filipe
Frederico Figueiredo
John Carpenter - Lost Themes
Tony Conrad with Faust - Outside the Dream Syndicate
John Carpenter - Lost Themes II
Downfall of Gaia - Atrophy
Epica - The Holographic Principal
Howlin’ Wolf - The Chess Box
ACDC - Back in Black
King Dude - Sex
Judas Priest - Priest...Live!
True Widow - Avvolgere
Judas Priest - In Concert 91: Live At Irvine Meadows
Amusement Parks on Fire - Amusement Parks on Fire
12-07-1991 (full concert pro-shot) Testament - Brotherhood Of The Snake Thy Catafalque - Meta
Helder Mendes Anaal Nathrakh - The Whole Of The Law In The Woods... - Pure
Cristina Sá
Darkthrone - F.O.A.D.
Imperium Dekadenz – Dis Manibus
Morbid Angel - Covenant
Insomnium – Winter’s Gate
Janes Addiction - Ritual De Lo Habitual
Pensée Onirique – V.I.T.R.I.O.L. Thy Catafalque – Meta Tribulation – The Children of the Night Moonspell – Irreligious
Hugo Melo Carach Angren - Lammendam Ghost - Popestar Vader - The Empire
Eduardo Ramalhadeuro
Metallica - Hardwired to self destruct
Pain of Salvation - In the Passing Light of Day
Mystic Prophecy - Vengeance
Metallica - The Black Album Death - The Sound of Preserverance Tool - Lateralus Tool - Aenima Overkill - The Grinding Wheel
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CAMERAMAN METÁLICO: Uma Instituição António Melão, mais conhecido como Cameraman Metálico, fez em 2016 trinta anos de carreira. Três décadas dedicadas à fotografia e à música. A VERSUS não poderia deixar passar esta efeméride de um dos metaleiros mais queridos do panorama musical nacional. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Capa da entrevista: Cameraman Metálico
António, 30 anos de carreira! Parabéns! António Melão/Cameraman Metalico: Obrigado! Para quem ainda não te conhece: Quem és? De onde vens e para onde vais? AM/CM: Quero ser lembrado por ter sido um fotojornalista nascido em Serpa no Alentejo em 1955 e que a dada altura da sua vida se interessou por fotografia e música rock/heavy metal, e juntou as duas paixões, e começou a divulgar esse género, visto por alguns como “barulho”... por acaso o rock e o heavy metal tem muitas vertentes e eu nem gosto de todas. Para onde vou e quando vou parar só Deus sabe... Quando começaste julgaste chegar tão longe ao ponto de seres uma referência nacional? AM/CM: Quando se começa algo, nunca se sabe se vamos singrar, se é a atitude correta, também se soubessemos não tinha piada nenhuma... a vida nem fazia sentido. O importante é fazer e fazer bem... Se achas que sou uma referência é porque fiz bem... agradeço.
Lembras-te do dia em que decidiste que querias ser fotógrafo profissional? AM/CM: Deve ter sido quando o arquivo começou a crescer e mandei uma carta ao Director do “Diário Popular”, a perguntar se estariam interessados num colaborador... Mas não foi estalar os dedos e já está... deu luta! Não sei se a carta estava bem escrita, mas aceitaram-me... Que balanço fazes dos 30 anos do Cameraman Metálico? AM/CM: Ainda estou na dúvida que passaram 30 anos... A dada altura a vida parece um fósforo... Mas estou contente ter chegado a este porto... nem todos chegaram. Fiz muitos amigos, viajei, fotografei, escrevi, afinal fiz o que gosto e ainda me pagavam... Em 3 décadas dedicadas à música e fotografia passaste por algumas dificuldades: Visto agora a esta distância, valeu a pena todo este esforço? Passaste por sérias dificuldades económicas - espero que já esteja tudo resolvido - e por isso te pergunto: como foi chegar à decisão
que terias de vender grande parte do teu material fotográfico? Inclusive tiveste que recorrer à “Comunidade Metaleira…” AM/CM: Claro que valeu... O heavy-metal está aí para as curvas, deixou de ser moda, mas ser moda tinha aspectos negativos, a meu ver. Passei por dificuldades como qualquer um, a diferença entre o meu caso e o dos outros é que eu era conhecido no meio musical, valeu-me isso e agradeço. Pensei em vender o espólio mas as ofertas foram sempre muito baixas... desisti e conservei o espólio. Recebi ajuda de pessoas que não tinham nada a ver com heavy-metal. Quando eu morrer o meu espólio passa para a Camara Municipal de Serpa se o quiserem... A vida só fica resolvida quando se morre... é ir aproveitando um dia de cada vez, até que Deus queira. Achas que no teu caso as tuas oportunidades poderiam ter sido outras se estivesses num país mais desenvolvido? AM/CM: Não me parece, o nosso país é pequeno mas tem uma mentalidade muito diferente dos outros. Olhando para a cena de
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“Recordo as 17 vezes que vi Metallica e 11 vezes os Motörhead...” 1 0 6 / VERSUS MAGAZINE
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metros de filme... até que aprendi. Vi muita foto e sempre tentei fazer o que gostava... Ainda não sei tudo... Venho de uma familia pobre, os cursos que havia na altura IADE ou ARCO eram caros... 100% autodidacta. Achas que agora a malta tem a vida facilitada devido às máquinas digitais? AM/CM: Certamente, mas faltalhes as bases... muitos nem sabem o que é o ISO... Fazem-se fotos muito boas com um iPhone... Importante é conseguir fazer sabendo o que se está a fazer, em M por ex. Como é óbvio, hoje em dia os fotógrafos recorrem ao software digital para tratar as fotografias eu inclusive. És a favor? Contra? Fazes mas contrariado? AM/CM: O photoshop é uma ferramenta, não faz sentido ter uma ferramenta e não a utilizar... é o mesmo que ter um martelo e bater nos pregos com uma pedra... Eu utilizo claro, mas tudo tem limite, não gosto muito de “colagens” nem de fotos muito elaboradas.
outros países não trocava pela nossa... Sou muito nacionalista, e orgulho-me de ser um fotógrafo português. Tu e eu temos algumas coisas em comum: somos barbudos, gostamos de música e fotografia: Como vês o panorama musical em Portugal? Quais são as principais diferenças que encontras para a época em que começaste a tirar fotografia? … e a fotografia? Faz-se boa fotografia em Portugal? AM/CM: O panorama está bom, o pessoal anda nas ondas, ora é hiphop, ora dance music, ora kizomba... mas os verdadeiros experts sabem que existe HEAVY-METAL. Agora é muito mais fácil fotografar, o problema é encontrar a vocação. Claro que se faz, a pessoa que goste da arte vai bebendo influên-
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cias, há fotógrafos muitos bons em Portugal, conheço uns quantos. Tu passaste pela Era Analógica e Digital, qual a que preferes e porquê? AM/CM: Sim tive metade da carreira de cada lado... Até nisso tive sorte. O analógico era muito bonito, slides, côr e preto e branco, o problema era o preço das boas máquinas e a revelação/ampliação. Agora no digital desde que se domine o photoshop, é muito mais fácil... o problema é saber o que se vai fazer com as fotos, já que jornais e magazines são cada vez menos... Tens alguma formação académica em fotografia ou, tal como eu, és um autodidacta? AM/CM: Costumo dizer que a minha formação foram metros e
Neste momento, qual o equipamento que utilizas? AM/CM: Continuo ligado à marca OLYMPUS, apesar da máquina ser fraca, é o que há e serve: Olympus E400 e duas objectivas zoom. Utilizo Olympus desde 1994. Tens alguma técnica especial que usas para fotografar nos concertos? AM/CM: Por acaso tenho, como a minha máquina é fraquita, comecei a usar o flash sempre que é permitido. Arranjei maneira de usar um ISO certo, e uma velocidade de obturação baixa... Muitos já me disseram que é a minha marca. Muitos também detestam por causa do flash... mas lá está o flash é uma ferramenta, convem saber usar. Todos os grandes fotojornalistas usaram flash... Se tivesse uma full frame onde o ISO não fosse problema, se calhar não usava, não sei...
Tens alguma referência ao nível da fotografia? Portuguesa ou estrangeira? AM/CM: Como sou autodidacta tenho muitas referências claro, nos estrangeiros gosto do Ross Halfin, da Anna Maria Disanto, do Marcos Hermes, do Juan Cuevas e da Annie Leibowitz, nos portugueses gosto do Eduardo Gageiro, Anibal Sequeira, António Fazendeiro, Paulo Pimenta, Rui Palha e Rui M. Leal. Além dos concertos, dedicas-te a mais algum outro género de fotografia? AM/CM: De momento só faço concertos e fotografo pessoas. Já fiz casamentos e batizados... Mas só quando me pedem. Quando estava no Diário do Alentejo cheguei a fazer futebol da 3ª divisão. Hoje em dia vê-se pessoal a trabalhar com equipamento razoáveis a obter resultados excelentes. (... e muita gente com equipamento de topo mas com resultados fracos) Achas que é o equipamento que faz o fotógrafo? AM/CM: Não faz mas ajuda muito... Um mau músico com uma grande guitarra não toca melhor... é igual... Eu até com uma polaroid me safava... As minhas primeiras fotos foram com uma máquina de plástico e filme 120, e eu gosto de as mostrar... A primeira vez que te vi, foi no segundo Super Bock Super Rock, estávamos no dia 21 de Julho de 1996, no Passeio Marítimo de Al-
cântara - Delfins, Xutos & Pontapés, Paradise Lost, Nefilim, D:A:D, Moonspell. Já n’altura eras uma referência no mundo metaleiro. A pessoa que estava ao meu lado perguntou-te qual o artista mais difícil para fotografar - Não necessariamente com estas palavras. Tu disseste que era o baixista dos D:A:D porque nunca parava quieto. Lembras-te alguma coisa deste concerto? Aproveitando a deixa… qual o concerto ou artista que tiveste mais dificuldade em fotografar? Da mesma forma, quem te deu mais prazer a fotografar e quem concerto ou banda/artista gostarias de tirar “umas chapas”: vivo ou já desaparecido AM/CM: Por acaso tenho facilidade em lembrar-me de situações. Os DAD são das minhas bandas preferidas, e esse baixista só com 2 cordas no baixo é especial. Como deves calcular em 30 anos passaram-se muitas peripécias, algumas nem posso contar... Vou tentar escrever as minhas memórias, há histórias hilariantes, viagens aos EUA, à Holanda, à Alemanha, a Itália, a Marrocos... corri mundo. Dou graças a Deus por isso. O mais dificil foi sem dúvida Marylin Manson porque o pass dizia “spit on me”... Mas na Holanda vi-o ser bombardeado com bolas de lama... Recordo as 17 vezes que vi Metallica e 11 vezes os Motörhead... Trabalhei para os Scorpions e para os HIM... o baixista dos HIM tocou no Vilar de Mouros com uma cami-
“Acho que o ponto alto foi fotografar o Lemmy... várias vezes. “
sa feita de uma bandeira da Super Bock, pela minha companheira... Se pudesse gostaria de ter fotografado o Jimi Hendrix. Na tua opinião, o que é preciso para, por exemplo, fotografar os Metallica em Portugal? Foi este o teu ponto alto como fotógrafo? AM/CM: Acho que o ponto alto foi fotografar o Lemmy... várias vezes. Se não estiveres ligado a um meio de comunicação, esquece, não te dão o photo-pass. Pesquisei um pouco e tu tens uma “carrada” de blogues, alguns já um pouco desactualizados. Dois chamaram-me a atenção: “Os discos que marcaram a história” e “Tickets and Phot Passes” Aqueles discos são os que marcaram A história ou os que marcaram a TUA história. Ainda manténs a colecção de bilhetes e photo passes? AM/CM: Sempre gostei de escrever e de mostrar o que tenho feito. Sou é muito preguiçoso. Alguns ainda mantenho, outros deixei de escrever... Sim tenho uma boa coleção de bilhetes, photo-passes, palhetas e set-lists... Junto set-lists há 30 anos... tenho uma do Iggy Pop escrita pela mão dele... Os discos marcaram a história da música segundo a minha perspectiva... Gostava de escrever os 100 melhores discos... vou no 43º Para terminar: Que conselhos dás ao pessoal que está a tentar entrar neste mundo da fotografia? AM/CM: Sejam voces mesmos, sejam humildes e não atropelem ninguem para singrar... É muito chato se forem famosos, haver vozes discordantes sobre voces... Ajudem-se, olhem pelos filhos, pais e avós, estudem, e sejam felizes... vemo-nos num pit! http://olhares.sapo.pt/CAMERAMAN https://www.flickr.com/photos/ metalcamera/
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A banda afirma que «Haeresis» é um l anteriores. Podes referir essas diferen A diferença está em todo o álbum. Não mas alterámos por completo as linhas característico dos nossos lançamentos diretamente em Cubase, o que nos dá que as faixas deste álbum sejam muito que em qualquer um dos nossos outro
HEREGES IBÉRICOS Hereges ou vítimas de heresia? Noctem é apresentada como uma banda de Black Metal ibérica. O que é tipicamente ibérico em vocês? Beleth – Foi a imprensa que nos atribuir essa designação, quando lançámos «Exilium», há uns anos atrás, tendo em conta o tipo de melodias que usámos nas composições e passagens instrumentais, nomeadamente o recurso a guitarras acústicas tipicamente espanholas. Todos estes ingredientes deram origem ao som de Noctem, que se vai afirmando em cada um dos nossos lançamentos, destacando-se cada vez mais do som escandinavo.
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A Santa Inquisição é um tema excelen Onde foram pesquisar a informação n Hoje em dia, é fácil encontrar qualque Podes descarregar livros online e repo outro lado, a Santa Inquisição sempre é difícil encontrar bom material sobre Adicionei a este tema central informaç ocultismo e magia negra, os autos-da-
Quem compôs a música e quem escre guitarra bem espanhola no início da t A música é composta por todos os me o Exo começa e depois o Voor, o Varu Quando toda a música está composta, voz.
Li na informação dada pela vossa edit terminou a ilustração para a capa do á imagem original e de onde veio a insp Foi ele que fez todo o artwork. Nós só
lançamento muito diferente dos nças? o perdemos a essência da banda, vocais, abandonando o estilo Death s anteriores. Fizemos a composição mais margem de manobra e levou a o mais obscuras, rápidas, agressivas os discos.
nte para um álbum de Black Metal. necessária? er tipo de informação na internet. ortagens sobre qualquer tema. Por atraiu os historiadores, pelo que não esse tema. ção sobre instrumentos de tortura, -fé e a corrupção na Igreja.
eveu as letras? Adorei a passagem de terceira faixa. embros da banda no local de ensaios: e o Ethel tiram as suas partes. , eu escrevo as letras e as linhas de
tora que Seth Siro (de Septicflesh) álbum. Gostaria de saber quem fez a piração para ela. ó indicámos a temática a abordar e
demos-lhe algumas ideias. Seth é um grande profissional, com provas dadas há muito anos, e trabalhar com ele é sempre uma garantia de êxito. E que tipo de colaboração mantêm com o Christos? Trabalhamos juntos há anos. Em 2009, colaborou no nosso álbum «Divinity». Este ano, tínhamos a intenção de gravar o «Haeresis» no seu estúdio, mas acabou por não ser possível fazê-lo. Estou muito impressionada com as bandas europeias que Noctem tem acompanhado em digressão, Quem escolheriam para um concerto em Portugal? As minhas bandas portuguesas favoritas são Switchtense e Holocausto Canibal. Já tocámos com eles num festival e gostaríamos muito de repetir a experiência. Uma última pregunta: o que seria para Noctem uma verdadeira heresia? Uma Heresia é que em Espanha se subsidie a duvidosa “arte de tourear” com financiamento europeu e que não haja qualquer apoio para os músicos. Que as bandas de toda a Europa (com destaque para a Escandinávia) recebam ajuda para gravar álbuns e fazer digressões e que os músicos espanhóis e portugueses não sejam apoiados de modo algum, desperdiçando-o grande potencial artístico existente nestes dois países. Querem deixar uma mensagem especial aos fãs portugueses? Um grande abraço para todos os leitores da Versus Magazine e fãs da nossa banda. Esperamos ver-vos em breve em concertos e festivais, a aplaudir ruidosamente. Stay Brutal, Hermanos!!! https://www.facebook.com/noctemofficial/ https://youtu.be/YB-SA1BQeJw
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O HOMEM DA MOTOSERRA Pensamentos e crónicas
Morte ao Acordo Ortográfico
Bom dia, boa tarde ou boa noite conforme a hora em que estejam a ler isto. Se quando estiverem a ler isto não souberem em que altura do dia estão confirmem por favor! Faz-vos bem à vossa sanidade mental. Se mesmo assim não conseguiram descobrir….bem vindos! Este bonito texto é para vocês! Venho hoje desta forma manifestar o meu apoio aos criadores do acordo ortográfico que ainda está em vigor. Apoio para: mudarem de carreira, ingerirem grandes quantidades de laxantes, cortarem os pulsos com uma colher de sobremesa, verem uma maratona da casa dos segredos.... O que for mais penoso para eles. De facto o título exprime bem aquilo que sinto em relação ao novo acordo ortográfico. Ver certas palavras escritas com este novo acordo é algo que se me entra pelos olhos, fá-los inchar e raiar de sangue, segue para o cérebro onde me faz despertar uma fúria assassina. Pelo caminho passa pelo intestino onde me dá gases e uma diarreia profusa, e acaba nos pulmões provocando um grito de raiva estilo Rocky IV, com boca ao lado e tudo. Sem baba contudo. E sei que não é só comigo. Por isso, e para bem de todos, acho que devemos acabar com esta...como dizer... paneleirice, que é o novo acordo ortográfico, e passo a explicar porquê. Segundo fontes oficiais, a criação deveu-se maioritariamente a duas razões, as quais passo a transcrever: “A primeira razão é de natureza histórica. De facto, torna-se imperioso pôr cobro a uma deriva ortográfica de quase um século.” Pff... putos (atenção brasileiros, putos em Portugal não é um palavrão. Esses vêm a seguir) vocês podem fazer 10 acordos ortográficos por ano! Vai haver sempre uma deriva ortográfica! Eu, que nunca corrijo aquilo que escrevo, vejo com cada coisa... Vai lá vai! “A segunda razão é de âmbito lusófono e internacional. Sendo a língua portuguesa um instrumento de comunicação de oito países, de quatro continentes, com mais de duzentos milhões de falantes, e língua oficial ou de trabalho de mais de uma dúzia de organizações internacionais, torna-se urgente que disponha de uma só ortografia unificada.” Ok... muito bem, certo e correCto e tudo o mais. Mas....somos nós Portugal que temos de mudar a forma como escrevemos?! A língua é nossa car@#ho! (vêm? Já chegaram os palavrões!) Nós é que ensinámos a falar A NOSSA LÍNGUA! Os Ingleses mudaram a ortografia por causa dos Americanos? Claro que não! Os Espanhóis mudaram a ortografia por causa dos países da América do Sul? Deve ser deve! E nós mudamos porquê?! Que mania que nós temos! O Brasil quer escrever de uma forma? Faz muito bem! Nós continuamos a escrever da nossa forma! Os brasileiros e Angolanos também não iriam querer começar a escrever palavras de outra maneira, só porque
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nós não o fazemos como eles. Certo? Portanto logo à partida a razão de existir deste novo acordo ortográfico baseia-se em paneleirices. E quando algo se cria baseado em paneleirices não vai dar bom resultado, de certeza absoluta. Outra coisa. Antes, correcto, sem “c” era considerado erro ortográfico. Directo sem esse mesmo “c” era também um erro ortográfico. Agora, com este “c”, já é considerado erro! Nada confuso portanto! Nada meus amigos! A teoria da relatividade é menos confusa que este acordo meus amigos! A teoria da relatividade comparada com este acordo são amendoins! (peaners) Já descascados!!! Mas assim sendo, porque é que algumas palavras que anteriormente eram consideradas “pontapés na gramática” não podem ser consideradas, agora, e à luz deste novo acordo, como estando escritas de uma forma correcta? Se é para pôr cobro a uma deriva ortográfica, ah vamos lá então pegar em palavras que se escreviam muitas vezes de uma forma errada, e incluí-las neste novo acordo ortográfico! Logo à partida vêm-se à cabeça este mesmo “À”. Quantas vezes não viram escrito À Caracóis, à pipis, à moelas? Se este “à” é tão popular, devia certamente ser adoptado. Afinal de contas é mais utilizado que o “Há”. Afinal de contas de o “c” de correcto sai por ser mudo, este “H” não sai porquê? Ah e tal porque é do verbo Haver. Azar!!! Ninguém o usa pelos vistos!!!!
Vamos lá então começar a escrever bem! À algum tempo também me apercebi que no norte os “v” não são assim tão importantes. Se não vejamos: Bende-se, Biana, Bamos... Está-me a parecer que à muito tempo que debiamos ter abolido os “v”. Estão claramente em sobrebalorizados e claramente em desuso. O mesmo parece suceder com os “z”. Se não bejam lá: Ora lá está. E isto realmente uma imagem bale mais que mil palavras e não à nada que nos consiga conbencer melhor do que uma bisualisação desta enbergadura! Quanto ao “n” no meio, admito que desconhecia, esta regra. Mas lá está! No sentido de suprirmos essa deriba ortográfica, passaremos também a utilizá-lo! Estalações, aqui sim, quer-me parecer que à um erro ortográfico grabe.... Não podemos fechar os olhos a esta tão grande ebidência! É claramente um reabrir dos olhos que à muito fazia falta!
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E os “x” caros amigos? concordam com a utilisação desta letra no nosso alfabeto? Será “xi xi” a forma correcta de escreber esta palabra? Talbes não. Se não bejamos! Ora bem, cuidado! Esecutão-se!!! Nada de deribas ortográficas! Os “x” serão trocados por “s”, e os ridículos “am” no final das frases têm se ser substituídos por uns bem mais credíbeis “ão”, à boa maneira Alentejana! Atenção a tudo isto! Anotem todos estas nobas formas de esecutar a escrita Portuguesa que à muito debiam ter sido implementadas. Depois quero ver como se portão! E atenção escreberse-á assim?..... Claro que não! Só proba que não prestarão átensão! Eu próprio me equiboquei!
Despresível esta falta de átensão! Explicações Precisão-se! Como?! Então é com dois SS?!?! Colapso nervoso.... Tensão arterial a subir... Auto-controlo precisa-se! Conculsão: Evitar derivas ortográficas não é fácil! É aliás, e atrevo-me a dizer, ridículo, como tentei ilustrar. Mudar A NOSSA LÍNGUA por politiquices também não terá sido louvável. E fazerem-nos escrever com erros ortográficos dizendo que agora é a forma correcta de escrever, só me apetece dizer: Portanto urge que os Portugueses se revoltem contra esta aberração que é este novo acordo ortográfico. Bem sei que, de quando em vez, surgem aqui erros ortográficos. Falta de atenção, de revisão, de paciência e dicionário levam a tal. Mas são reconhecidos como tal! Não irei escrever conscientemente uma palavra de forma incorrecta por causa de politiquices. Matar a nossa língua é matar um pouco de nós. E nisso o Passos Coelho leva já um grande avanço. Por isso imaginem o Empire State building. Imaginem o topo! O topo de tudo! Mesmo lá em cima onde nem o King Kong conseguiu chegar. Estão a ver bem? Pois é daí que me estou a cagar para este acordo ortográfico. Despeço-me de uma forma correCta, porque de faCto, e embora nunca tenho ido ao EgiPto nem tenha estado em direCto na televisão, também tenho uma opinião. (Que vale ponta, mas é mais do que vale a de muitos deputados. CorreCto?! O Homem da Motoserra
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Paletes Cypecore- «Identity» (Alemanha, Melodic Death Metal) Cypecore é a encarnação desse cenário apocalíptico. A sua música é brutal, marcial, mas ainda na linha do melódico Sci-Fi Metal. Os riffs são pesados, o baixo assombrador, vocais únicos, juntamente com os elementos eletrónicos e os arranjos são o combustível para a maquinaria Cypecore... (Adulruna Records) Clark Ashton Smith- «Inferno [Read By St Joshi, Sound By Theologian]» (EUA, Dark ambient/ industrial) A editora Spoken Arts, Cadabra Records, anunciam o lançamento do Inferno, um lançamento incrivelmente ominoso de 7 “, com a poesia horrorífica do célebre escritor norte-americano CLARK ASHTON SMITH. O Inferno EP marca a primeira vez que qualquer um dos trabalhos de CLARK ASHTON SMITH foi adaptado para áudio, trazendo cinco de seus poemas, intensamente visceral e pictóricos. Para este empreendimento macabro, as palavras do autor são entregues com emocionante convicção através da voz do renomado horror erudito literário S.T. Joshi, que aqui entrega a sua primeira de tais leituras. A liberação ficou marcada com tons adequadamente horripilantes por dark ambient / industrial teólogo. (Cadabra Records) Avatar- «Feathers Flesh» (Suécia, Melodic death metal) Os Avatar lançam aqui o seu mais recente esforço, Feathers & Flesh, e a promessa que é dada, é que nada será o mesmo nunca mais. “Fizemos um álbum conceitual”, declara Eckerström. “É uma fábula sobre uma coruja que vai à guerra
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para impedir que o sol se levante. Trata-se de uma história trágica de alguém que é programado para falhar. Ela vai aprender muitas lições e encontrar muitas outras criaturas com ideias próprias. No final, no entanto, deve-se perguntar se alguma coisa foi realmente aprendida.” (Century Media) Infestdead- «Satanic Serenades» (Suécia, Death Metal) “Satanic Serenades” é uma compilação oficial de mais de 40 faixas de antologia dos INFESTDEAD, as quais vão assombrar o santo novamente ! Banda do lendário vocalista / multi-instrumentista / produtor Dan Swanö. Ativo desde o início dos anos 90, a sua carreira é muito mais profunda do que este quarteto reverenciado, tendo produzido aparentemente inúmeras bandas de todo o espectro de metal. Desde o primeiro EP “Killing Christ”, vocalista Dread (Tormented, ex-Marduk) e Dan tinha apenas um objetivo em mente: Criar um clássico Europeu inspirado no death metal dos Deicide, Morbid Angel etc! O resultado foi surpreendente e, na sua forma remasterizada, soa ainda mais convincente, e, é abençoado pelo incrível talento de Swann. (Century Media) Zoax- «Zoax» (Inglaterra, Rock) Com riffs pesados o suficiente para inclinar a terra fora do eixo e mais hooks do que uma noite com Mike Tyson, os rockers ZOAX de Londres construíram uma reputação desde a sua formação em 2013. Tendo conseguido um contrato de gravação para dois EPs, o quinteto deu os últimos retoques no seu álbum de estreia
autointitulado. (Century Media) Troller- «Graphic» (EUA, darkwave, doom, metal, synth) Depois de quase quatro anos de espera, os TROLLER, finalmente regressaram com o seguimento da sua aclamada estreia epónima. Foi aí que a banda introduziu o seu som luxuriante e lúgubre, combinando sintetizadores pesados, ritmos ultra lentos e melodias vocais assustadoras, tecidas em explosões infeciosas e penetrantes de perfeito darkpop; As canções pareciam emanar de alguma câmara subterrânea cavernosa, encharcada de reverb e cercada por pedaços mais curtos de ambiente sombrio e ruído de moagem. (Crucial Blast) Au Champ Des Morts- «Le Jour Se Lève» (França, French Black Metal) “Le Jour Se Lève” é uma surpreendente primeiro trabalho, um começo inesquecível de uma banda verdadeiramente dotada: a cena francesa do Black Metal tem sido uma rica piscina de puro talento à anos e não há dúvida de que AU CHAMP DES MORTS vai crescer e tornar-se num dos mais importantes deste género. (Debemur Morti Productions) Monolithe- «Zeta Reticuli» (França, Progressive Doom Metal) Neste novo opus colossal, a banda - mais poderosa do que nunca transpõe a abordagem audaciosa e exploratória de grandes nomes como MAGMA ou UNIVERS ZERO para o universo místico da música pesada cósmica. “Zeta Reticuli” é um monstro: uma explosão estelar de som,e emoção, alimentado por um groove maciço e avalanches de riffs esmagadores. (Debemur Morti Productions)
com seu espírito intrépido. Isto é particularmente verdadeiro para os aclamados instrumentistas de If These Trees Could Talk, cujos sons maravilhosos e coruscantes captaram não apenas legiões de fãs adoradores, mas também a atenção do célebre chef Chris Santos. (Metal Blade)
Phantom 5- «Phantom 5» (Alemanha, Hard Rock) Álbum de estreia da superbanda Alemã. Anteriormente conhecido como Supremacy decidiram mudar o seu nome para PHANTOM 5, afim de evitar qualquer confusão com outras bandas usando o moniker anterior. (Frontiers Records) Ted Poley- «Beyond The Fade» (EUA, classic AOR/melodic rock ) O terceiro lançamento a solo de Ted Poley.É um álbum de rock AOR / melódico otimista e clássico. Ted é o atualmente o cantor de Danger Danger e este registro é uma obrigação para todos os fãs dos Danger Danger, apelando ao mesmo tempo para os fãs de AOR e rock melódico em geral. (Frontiers Records) Elm Street- «Knock Em Outwith A Metal Fist» (Australia, Traditional Metal) O novo e segundo álbum da banda de música tradicional australiana ELM STREET! -True metal na veia de Iron Maiden, Judas Priest, Savatage, Manowar, Megadeth & Grim Reaper. Se Heavy Metal é o seu gênero de eleição ou está na necessidade de alguma música mais energética, então, “Knock ‘Em Out ... With A Metal Fist” vai tocar no seu media nos próximos anos! (Massacre Records) If These Trees Could Talk- «The Bones Of A Dying World» (EUA, Post-rock instrumental) Os tempos mudaram, mas os Akronitas continuam a avançar
Jim Breuer And The Loud Rowdy«Songs From The Garage» (EUA, n.a.) Se os It’s Spinal Tap gloriosamente perderam o enredo, as escapadas de Tenacious D levou-os a estarem em apuros, ou o fenômeno que é Dethklok, o qual rebemtou com a tabela de álbuns, comédia e música pesada. Jim Breuer é um homem que entende isso, e com Songs From The Garage, o seu primeiro LP de apoio a The Loud & Rowdy, oferece aqui o seu estilo inimitável. (Metal Blade) Poison Headache- «Poison Headache» (EUA, Hardcore) De matador de gado a Autor & Punisher e além, a cena crescente de San Diego está a desenvolver um novo calibre de música agressiva. O ímpeto continua com os recentemente formados e modernos crossover Poison Headache. (Metal Blade) Six Feet Under- «Graveyard Classics Iv The Number Of The Priest» (EUA, Death/Groove Metal) Graveyard Classics é o regresso numa quarta encarnação não autorizada! Desta vez, Chris Barnes e companhia, homenagem duas das mais famosas e lendárias
bandas do metal: Iron Maiden e Judas Priest! Graveyard Classics IV: The Number of the Priest é composto de cinco covers de Judas Priest e seis dos Iron Maiden. (Metal Blade) Candlemass- «Death Thy Lover» (Suecia, Epic Doom Metal) Os CANDLEMASS estão de volta para celebrar 30 anos de Doom com um novo EP! O lançamento especial aniversário chamado «Death Thy Lover» apresenta quatro faixas de estúdio com Mats Levén nos vocais. (Napalm Records) Mortillery- «Shapeshifter» (Canadá, Thrash Metal) Os Mortillery estão numa missão de entregar o verdadeiro thrash metal, destacando-se com os seu riffage esmagador, energia crua e vocais feminino dinâmico. Com influências de uma vasta gama de artistas como Judas Priest, Death Angel, Detente, Warfare e Holy Moses, a força imparável de Mortillery é uma reminiscência dos dias de glória da cena Thrash da Bay Area, bem como a agressão primordial de hardcore / punk. (Napalm Records) Nervosa- «Agony» (Brasil, Thrash Metal) O trio mais poderoso do Brasil voltou: Nervosa entregouse a um implacável thrash metal feminino neste seu segundo álbum, «Agony», que combina quase sem esforço a energia dos gloriosos anos 80 com a refinada agressão deste milénio. (Napalm Records)
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Suns Of Thyme- «Cascades» (Alemanha, Heavy-psych Rock) É difícil de imaginar que algo chamado Krautgaze possa crescer em qualquer outro lugar que em Berlim. Na sua escuridão cintilante, a cidade é um terreno fértil e perfeito para uma banda como os Suns of Thyme: Os cinco pedaços juntam space rock, shoegaze, psych e Velvet Underground no seu segundo álbum «Cascades». (Napalm Records) The Order Of Israfel- «Red Robes» (Suecia, Doom Metal) Folk e o NWOBHM desempenham um grande papel na Order of Israfel universo, mas esses também têm um talento especial para Thin Lizzyismos. O resultado é uma peça maravilhosa e mística da arte que caracteriza vocais inesquecíveis e riffing de dez toneladas que assombrarão os eons! (Napalm Records) Stortregn- «Singularity» (Suiça, Black/Death metal) STORTREGN é um álbum de 4 peças, banda de metal Extremo que explora uma variedade de estilos dentro dos gêneros do Black e Death Metal, oferecendo uma mistura refinada de melodias obscuras, crushing riffs, percussão técnica, teclas dramáticas e uma narração poética de contar uma história... (Non Serviam Records) Destruction- «Under Attack» (Alemanha, Thrash Metal) Faz quatro anos que a lendária banda Destruction lançou o seu último
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se limitam a ficar no meio do palco, misturando-se com a escuridão em redor. (Pagan Records)
álbum «Spiritual Genocide» e, 2016, vê Schmier, Mike e Vaaver retornar à cena com um grande estrondo! (Nuclear Blast Records) Grand Magus- «Sword Songs» (Suecia, Heavy/Doom Metal) O sucessor do álbum, «Triumph And Power» (2014), tem na continuidade deste trio, uma inexorável vitória e, finalmente, fundamentando o seu estatuto de deuses de riffs (Nuclear Blast Records) Hatebreed- «The Concrete Confessional» (EUA, Hardcore) Uma instituição na qual podemos confiar. As suas fundações não tremem devido aos ventos de mudança ou marés de tendências - não importa o quão volátil, onipresente, ou tênue. Nós não precisamos incorporar qualquer que seja a tendência actual. Nós podemos apenas ser HATEBREED. Há alguns novos destaques que vão a jogo, mas você sabem que somos nós. (Nuclear Blast Records) Above Aurora- «Onwards Desolation» (Polónia, atmospheric Black doom Metal ) Essas seis faixas derivam da destruição atmosférica para o black metal propulsivo. O fluxo e refluxo da sua escuridão é hipnótico; Ele acalma o ouvinte num estado onde a banda pode lançar as suas imagens mais sinistras na mente. As guitarras criam um ambiente místico com uma seção de ritmo comandada pela direção de contra melodias e percussões, e entre a malgada intimidatória do som, os vocais não
Germ- «Escape» (Australia, Depressive Black Metal) Germ é atualmente a principal esfera de atividade de Tim Yatras, ele estabeleceu um estilo único que adequadamente descreveu como “Experimental Depressive Black Music” - uma construção sônica com uma fundação de Depressive Black Metal, aumentada por elementos eletrônicos e quase acessibilidade poppy. (Prophecy Productions) Woeljager- «Van T Liewen Un Stiaewen» (Alemanha, Dark Folk/Neofolk) Wöljager é a ideia de Marcel Dreckmann e está conceptualmente e firmemente enraizada na sua terra natal, a região de Münsterland no noroeste da Vestfália, na Alemanha. Além disso, com o folclore e dialeto rural entretanto desaparecido, o chamado “Münsteran Platt”. (Prophecy Productions) Gutter Instinct- «Age Of The Fanatics» (Suécia, Death Metal) O álbum de estreia do death metal caustico, de flesh-ripping da Suécia GUTTER INSTINCT: ‘Age Of The Fanatics’ leva o legado do death metal sueco em territórios mais escuros. (Prosthetic Records) Heavens Cry- «Outcast» (Canadá, Progressive Rock ) O álbum continua onde «Wheels of Impermanence» ficou,
of Mist)
empurrando-os para a vanguarda da cena moderna do metal progressivo de hoje. (Prosthetic Records) Yuth Forever- «Skeleton Youth Forever» (EUA, downtempo/ groove ) “Skeleton Youth Forever” marca o segundo esforço da banda, após a aclamada estreia de 2015, «Freudian Slip», MacGillivary: “Eu acho que esta é uma boa combinação de nossos lançamentos anteriores com muita inovação em termos do que fizemos com as músicas . Há um monte de partes estranhas ou funky que eu escrevi porque eu estava realmente absorvido na ceda disco da época.” (Prosthetic Records) Secret Rule- «Machination» (Itália, Melodic Heavy Metal) Liderada por uma vocalista. Não é que não haja algumas notas sinfônicas, mas estas são mínimas. Mais ainda, Secret Rule é uma banda melódica de heavy metal igualmente infundida com o groove do hard rock e da velocidade do power metal. (Scarlet Records) Adx- «Non Serviam» (França, Heavy/Speed Metal) O culto francês ADX está de volta com um novo álbum! A banda foi formada em 1982 e rapidamente ficou notado pelo seu brilhante e original speed metal (que estava crescendo naqueles dias) e letras inspiradas em particular pela história da França e a sua literatura clássica. Cantado todo em francês. (Season
Numenorean- «Home» (Canadá, Post-black Metal) Nunca julgue um livro pela sua capa - este ditado também pode ser aplicado à capa de um álbum e, em particular, ao LP de estreia dos NUMENOREAN. A banda canadiana pós-black metal criou uma obra-prima musical que abraça a beleza, dureza, brutalidade e melancolia em igual medida e transforma esses ingredientes em melodias e riffs de tirar o fôlego. (Season of Mist) Helhorse- «Helhorse» (Dinamarca, Nordic rock/metal ) HELHORSE posicionou-se no Nordic rock / metal como uma força a ter em conta. Como um dos maiores jornais da Dinamarca disse: “Helhorse soa como o filho bastardo de Black Sabbath e Black Flag”. (Spinefarm Records) Purson- «Desires Magic Theatre» (Inglaterra, Psychedelic Rock) A mais recente banda vinda do Reino Unido, representa uma viagem tecnicolor através do olho da mente da cantora / vocalista / guitarrista Rosalie Cunningham, misturando a complexidade progressiva e cabaret num atraente, multifacetado rock N ‘roll show. (Spinefarm Records) Pro-Pain- «Foul Taste Of Freedom» (EUA, Groove/Thrash Metal) O quarteto de Nova York Pro-Pain requer pouca introdução. Desde o seu álbum de estreia «Foul Taste Of Freedom», que foi nomeado para
um sem número de prémios no início dos anos 1990, a banda ao redor do vocalista / baixista Gary Meskil ganhou o carinho e respeito de inúmeros fãs em todo o mundo e é justamente considerado uma verdadeira Lenda do metal incondicional. Cada álbum ProPain é um modelo de intensidade, inspiração, honestidade e falta de compromisso. (SPV) Pro-Pain- «The Truth Hurts» (EUA, Groove/Thrash Metal) idem (SPV) Comet Control- «Center Of The Maze» (Canadá, Psychedelic space rock) COMET CONTROL reentra na atmosfera com seu segundo álbum «Center Of The Maze». Inundado de sintetizadores, vocais fantasmagóricos e guitarras de fuzz-bomb que explodem em chamas de forma eletrizante, o registro combina sem esforço o etéreo e o terrestre. (Tee Pee Records) Deceptionist- «Initializing Irreversible Process» (Itália, Tech/ industrial-influenced Death Metal) Para a banda, death metal é o género mais completo do metal; Impulsivo, feroz, emocional, de algum modo primitivo, mas tão calculado, lógico, por vezes experimental. O coletivo avançou fortemente nos domínios do tecnicismo e da velocidade, ao mesmo tempo que permaneceu leal aos elementos radicais: groove, brutalidade, catchiness. (Unique Leader Records) Infernal Majesty- «Nigrescent
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H P Lovecraft- «The Hound The Music Of Erich Zann» (N/A, N/A) Na prática, este lançamento é um AudioBook com uma camada de música atmosférica em pano de fundo. Nesta nova peça de coleção sinistra, o leitor Andrew Leman traz para as histórias de vida «The Hound» e a música de Erich Zann. (Cadabra Records)
Years Of Chaos» (Canadá, Extreme Metal) Infernal Majesty é uma banda de metal extremo canadiana, formada em Vancouver no início de 1986. Eles são mais conhecidos pelo seu álbum de estreia «None Shall Defy», lançado em 1987. O álbum de compilação «Nigrescent Years Of Chaos» contém todos as três Infernal Majesty Demos (1986, ‘88 e ‘91’) e é completamente remasterizado, apresentando igualmente raras fotos e notas do vocalista Chris Bailey. (Vic Records) Ggu:ll- «Dwaling» (Holanda, Doom Metal) GGU: LL (pronuncia-se “ghoul”) é um banda de doom na vertente quarteto que saia da sua maneira de fazer a música intensa e pesada. GGU: LL, como uma força criativa, está sempre esculpindo e moldando para chegar ao núcleo (nihilistico) de sua inspiração. (Van Records) Centinex- «Doomsday Rituals» (Suécia, Swedish Death Metal) CENTINEX originou em 1990 como uma parte riff-oriented do movimento de death metal sueco clássico e dispersaram em 2005 depois de liberarem o seu oitavo álbum. Agora a banda não quer que os fãs fiquem esperando mais uma década para um novo álbum. Heavy riffing, vocais brutalmente profundos, este álbum tem tudo, desde do lento para o mid-tempo para coisas mais rápidas, uma combinação perfeita do início da década de 90 da cena da Flórida e som de Estocolmo. (Agonia Records)
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Dark Funeral- «Where Shadows Forever Reign» (Suécia, Black Metal) Um novo aeon está prestes a começar com o lançamento do sexto álbum de estúdio dos DARK FUNERAL. O primeiro álbum de DARK FUNERAL com o novo vocalista Heljarmadr (Grá). (Century Media)
Lacuna Coil- «Delirium» (Itália, Gothic Metal ) Com o seu 8º álbum de estúdio, os góticos italianos decidiram que era hora de subir a parada, mudar para um modo pesado e finalmente assumir o controle criativo sobre todos os aspectos de «Delirium». Há um sanatório velho nas colinas no norte de Itália. Uma velha fortaleza, abandonada e deteriorada cujos corredores estão cheios de fantasmas de mil espíritos torturados e almas penantes. (Century Media) Frost - «Falling Satellites» (Inglaterra, Progressive Rock ) Depois de um silêncio de 8 anos, 2016 finalmente vê o lançamento do tão aguardado 3º álbum de
Frost *, «Falling Satellites». A criação do teclista Jem Godfrey. (InsideOut Music) Assignment- «Closing The Circle» (Alemanha, Progressive Power Metal) O novo e 4º álbum de estúdio da banda de power metal progressiva ASSIGNMENT! Primeiro álbum com o vocalista argentino Diego Valdez da banda Helker. Comparado aos álbuns anteriores, «Closing The Circle» é mais riff-oriented com melodias épicas e grandes coros. A poderosa voz de Diego Valdez - muitas vezes comparada à voz do falecido Ronnie James Dio - acrescenta um toque de metal clássico ao pacote total. (Massacre Records) Debauchery Vs Blood God«Thunderbeast» (Alemanha, Death Metal / Hard Rock) Death Metal encontra o Hard Rock no novo disco de DEBAUCHERY vs. BLOOD GOD! ‘Monster Voice’ contra ‘Demon Screeching’. Há uma coisa que a banda oferece para todos que ainda estão lá: Death Metal diretamente na cara! BLOOD GOD é o ramo Heavy Metal / Hard Rock de DEBAUCHERY. Dois CDs com os mesmos temas com “sabores” diferentes. (Massacre Records) Heavenwood- «Redemption Rerelease » (Portugal, Occult Emotive Metal) A reedição do 3º álbum da banda portuguesa Occult Emotive Metal HEAVENWOOD, pela primeira vez disponível fora de Portugal! (Massacre Records)
Dementia- «Dreaming In Monochrome» (Alemanha, Progressive Melodic Death Metal) Desde 1993 que os DEMENTIA fazem firmamento no underground metálico. O agora sexteto é um dos veteranos da cena alemã de death metal e sempre colocou o seu próprio trabalho criativo no centro ao longo dos anos. Os álbuns anteriores são verdadeiras gemas de sua arte. Longe do mainstream, com muito gosto para o detalhe, como artigos reais do coleccionador. (MDD Records) Nocte Obducta- «Mogontiacum (Nachdem Die Nacht Herabgesunken )» (Alemanha, Black Metal) O anúncio do próximo Nocte Obducta enche de entusiasmo todas as plataformas. Os alemães são uma espécie de precursor de uma cena, não menos importante através de sua imprevisibilidade musical e experimentação. Conceitualmente, o novo álbum é baseado em material que foi planejado como o sucessor de «Nektar». (MDD Records) Death Angel - «The Evil Divide» (EUA, Thrash Metal) Três décadas de carreira, os DEATH ANGEL continuam tão famintos como sempre. Como resultado, a urgência e a imprevisibilidade intransigentes definem o oitavo álbum do Quinteto de Thrash da Bay Area. (Nuclear Blast Records) Black Fucking Cancer- «Black Fucking Cancer» (EUA, Black Metal) Nascido em MMX. Black Fucking Cancer é intransigente, enferrujado, caótico black metal dos EUA. Influenciado por um ódio e nojo para com o cancro humano. Black Fucking Cancer empurra implacavelmente a atitude in your face em toda a feiura e sujeira que este mundo tem para oferecer. MORRAM OVELHAS! (Osmose Productions) Psalm Zero- «Stranger To Violence» (EUA, Industrial Rock) Uma experiência musical
monolítica, cinematográfica e de início-a-fim com imenso potencial de cruzamento, que difunde limites de género a cada passo, tão demente quanto socialmente relevante, «Stranger To Violence» promete reunir fãs de diferentes cenas e orientações e ainda, provar que não há nada lá fora, como PSALM ZERO. (Profound Lore Records) Dark Suns- «Everchild» (Alemanha, Progressive Metal) Quando Dark Suns abordam a escrita de um álbum, eles nunca fazem as coisas por metades. Depois de abraçar o mundo com os braços abertos numa postura vale tudo com o anterior álbum «Orange», o grupo de Leipzig mergulhou no reino do sono com «Everchild», procurando eterna infância - escapismo alegórico. (Prophecy Productions) The Vision Bleak- «The Unknown» (Alemanha, Gothic Metal) Com “Witching Hour” (2013), The Vision Bleak voltou às suas raízes musicais e conceptuais. Completaram um ciclo - Schwadorf e Konstanz chegaram ao final de uma viagem que abrangeu cinco álbuns. Eles sabiam exatamente que o próximo passo da banda tinha que marcar um novo começo, um avanço no... desconhecido. (Prophecy Productions)
Depois de explodir para a cena do death metal em 2015 com a estreia inspirada em Leprosy, Savage Land, e a equipa de demolição de death metal GRUESOME (com membros atuais e ex-Exhumed, Possessed, Malevolent Creation e Derketa) retorna em 2016 com um novo EP Intitulado «Dimensions Of Horror». (Relapse Records) Baptism- «V The Devils Fire» (Finlândia, Black Metal) BAPTISM entrega outro álbum que está firmemente enraizado na ortodoxia finlandesa do black metal. Mais uma vez, a sua ferocidade musical crua e não vinculada, é contrabalançada por melodias épicas enterradas sob um ataque de retalhamento monumnetal e atmosferas majestosas. (Season of Mist) Inquisition- «Bloodshed Across The Empyrean Altar Beyond The Celestial Zenith» (EUA, Black Metal) A composição da canção de INQUISITION foi contida e parece mais focada, sem na obstante perder a marca épica. Cada faixa atinge sua marca, não há aqui enchimentos. Este álbum representa o culminar e o pico de uma evolução a longo prazo gradual. (Season of Mist)
Zirakzigil- «Worldbuilder» (EUA, Progressive Stoner/Sludge Metal) ZIRAKZIGIL - assim nomeado após o pico de montanha enevoado do senhor dos anéis - têm vindo lentamente a conquistar o noroeste pacífico desde a sua formação em 2013. Fortemente influenciado pela música clássica e o rock progressivo dos anos 70, ZIRAKZIGIL mistura estes elementos com sludge e doom para criar um som como nenhum outro: um ataque de crushing heavy riffage fundido com esporádico florescimento de insanidade progressiva. (Prosthetic Records)
Anderson Stolt - «Invention Of Knowledge» (Internacional, Progressive rock ) Anderson / Stolt, a nova dupla do lendário vocalista e cantor / compositor Jon Anderson e do roqueiro veterano Roine Stolt (The Flower Kings, Transatlantic). Dois mestres de épocas distintas, trabalhando juntos? Essa é uma maneira de ver a combinação de Jon Anderson e Roine Stolt. Mas não se trata apenas de dois gigantes do mundo progressivo unindo pelos seus consideráveis recursos pessoais. Mas um projeto com um som fresco, no processo de fazer música que abrange todas as idades. (InsideOut Music)
Gruesome- «Dimensions Of Horror» (EUA, Death Metal)
Ayreon - «The Theater Equation» (Holanda, Progressive Rock/Metal
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) Em setembro de 2015, ao longo de quatro shows esgotados, o lendário álbum de rock progressivo de Ayreon ‘The Human Equation’ foi criado como uma produção musical no Nieuwe Luxor em Roterdão. Este é um álbum ao vivo destes concertos únicos. (InsideOut Music) GLORYFUL- «End Of The Night» (Alemanha, Heavy Metal/ Power Metal) O 3º álbum dos esperançosos alemães de heavy metal GLORYFUL e o próximo capítulo da lenda de Sedna e a história do Capitão McGuerkin e sua equipa. (Massacre Records) TOTENMOND- «Der Letzte Mond Vor Dem Beil» (Alemanha, CrustCore/Punk) O 8º álbum da banda alemã de crustcore / punk TOTENMOND! (Massacre Records)
saudável de crudeza escandinava vai-se transformar em melodia, mas, nos últimos dois anos esses alemães começaram a conquistar novos “mercados”. (Napalm Records) DEADLOCK - «Hybris» (Alemanha, Melodic Death Metal/Alternative/ Groove Metal) Deadlock sempre foram sobre extremos - e sempre o serão! Os fãs adoram esses alemães por cada força emocional que percorre nas profundezas do death metal, exibindo proeza técnica, melodias limítrofes, melodias clássicas e um raspar casual de transe e batidas. (Napalm Records) DUST BOLT - «Mass Confusion» (Alemanha, Thrash Metal) Faz
BELAKOR - «Vessels» (Australia, melodic Death Metal) Seus olhos devem iluminar-se consideravelmente quando alguém casualmente menciona o nome Be`lakor! Estes 5 filigranos de melodias sofisticadas de Melbourne têm o potencial de atrair massas com esta produção absolutamente fantástica de death metal melódico australiano! (Napalm Records) DAWN OF DISEASE - «Worship The Grave» (Alemanha, Death Metal) Não é segredo que os Dawn Of Disease tem sido altamente influenciado pela velha escola do Swedish Death Metal: uma dose
apenas cinco anos que os alemães do sul, Dust Bolt, ganharam o W:O:A Metal Battle 2011. Cinco foram os anos que a banda necessitou para se transformar de hot newcomers em heróis thrash nacionais [Alemães] com o seu álbum de estreia Violent Demolition! Depois de “Awake the Riot” este é a nova arma de destruição massisa dos Dust Bolt. (Napalm Records) EARTH SHIP - «Hollowed» (Alemanha, Sludge/Doom Metal) Contemple o poder do riff em todas as formas e tamanhos: seria uma subavaliação séria, até mesmo uma ignorância limítrofe, simplesmente dividir o Earth Ship com o resto do gênero sludge rock
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- um tag horrivelmente abusado e indefinido. (Napalm Records) Doro - « Strong And Proud» (Alemanha, Heavy Metal) A Rainha do metal está de volta com mais um álbum acutilante. (Nuclear Blast Records) Nails - « You Will Never Be One Of Us» (EUA, Grindcore/ Powerviolence/Hardcore) “You Will Never Be One Of Us” diz tudo, realmente. O título do álbum para o terceiro LP de NAILS (e primeiro para Nuclear Blast) é diretamente apontado para bandwagoners e sicofantes, dois tipos de pessoas para o qual Todd Jones tem pouca paciência para. “You Will Never Be One Of Us” é um título sobre as pessoas que tentam agarrar-se a algo que você faz e se dedicou a fazer uma paródia com isso. (Nuclear Blast Records) Wolf Hoffmann - « Headbangers Symphony» (Alemanha, Instrumental Symphonic Metal) Wolf Hoffmann tem uma paixão. Seu amor ao longo da vida e dedicação à música heavy metal está documentado em dezenas de álbuns ao longo de quatro décadas com sua longa banda de heavy metal ACCEPT. Mas além do heavy metal, Wolf tem um desejo incessante pelos clássicos, sim, os escritos décadas e séculos atrás. (Nuclear Blast Records) GlerAkur- «Can t You Wait» (Islândia, Dark ambient tones with atmospheric experimental metal)
Quando o compositor e designer de som Elvar Geir Sævarsson teve algum tempo fora de seu trabalho no Teatro Nacional da Islândia, ele gravou pedaços de música só para si, os quais um seu amigo achou tão atraente que furtivamente os arrebatou para uma transmissão única na Rádio islandesa. Estas ricas camadas de som, felizmente, encontraram o seu caminho para a Prophecy Productions, que não hesitou em oferecer ao artista um contrato ... sobre a força desta única faixa. (Prophecy Productions) Vemod- «Venter Pa Stormene» (Noruega, Black Metal) Vemod de Trondheim / Noruega é uma das bandas mais promissoras e visionárias do vibrante e eclético metal contemporâneo underground e já causou bastante impacto em círculos bem informados. (Prophecy Productions) Family - «Future History» (EUA, Progressive Groove Rock) O grupo de rock progressivo FAMILY, do Brooklyn, tem impressionado as plateias desde 2011 com sua mistura única e séria de rock clássico com peso moderno, além de uma saudável dose de groove behind-the-beat de Nova Orleans e padrões rítmicos progressivos. (Prosthetic Records) INTER ARMA- «Paradise Gallows» (EUA, Blackened Sludge/Southern/Post-Metal) A música de INTER ARMA resiste à generalização e categorização, mas se há uma coisa que é consistentemente verdadeira, é que o quinteto VA possui um senso incomparável de dimensão. Poucos artistas hoje transmitem com precisão a complexidade que INTER ARMA (latim para “em tempos de guerra”) faz - a banda cria retratos terríveis e muitas vezes assombrosamente bonitos da humanidade através de músicas que são profundamente orgânica, mas ainda assim mística e moderna. (Relapse Records)
BARISHI - «Blood from the Lions Mouth» (EUA, Progressive Death Metal) Há uma inegável influência progressiva numa abordagem moderna da música baseada no violão, mas ao mesmo tempo, os americanos mergulham no lado mais sombrio de um som extremo que desafia o alegre fingimento que muitas vezes empregam seus colegas. Este álbum não vai mostrar os seus tesouros escondidos numa superficial audição, exige sim dar tempo para crescer e descobrir as suas pérolas. (Season of Mist) Colosso - «Obnoxious» (Portugal, Experimental Death Metal) Tocando um death metal com uma nova visão, o seu som está a derrubar barreiras no estilo, inovando e envolvendo elementos dissonante e industriais. Enquanto a maioria das bandas usa o modelo do Black Metal, Colosso mescla os sons abstratos num modelo de death metal coerente, que com tons de escuridão. (Transcending Obscurity PR) GraceDisgraced«LastingAfterdeaths» (Russia, Progressive/Semi-Technical Death Metal) Grace Disgraced é uma banda ambiciosa e em constante evolução da Rússia. Enraizados no clássico som Death, eles têm sido bastante esquecidos o tempo todo, lutando para encontrar editoras com redes de distribuição adequadas. (Transcending Obscurity PR) INTERNAL SUFFERING «Cyclonic Void Of Power» (Colombia, Technical Brutal Death Metal) Brutal death Metal metallerse de carreira, INTERNAL SOFERING, vai lançar o seu tão aguardado quinto álbum. Um álbum conceitual dividido em três capítulos, «Cyclonic Void Of Power» segue a «the mystical, mythological and magic chaotic universe», onde a banda tem explorado o seu som, mas agora levado a um nível muito mais complexo (e cósmico). (Unique
Leader Records) UNMERCIFUL - «Ravenous Impulse» (EUA, Brutal Death Metal) O esquadrão da morte do Kansas, UNMERCIFUL, deixará cair os frutos desviantes de seu esperado novo álbum. Intitulado «Ravenous Impulse», o disco apresenta a bateria demolidora de John Lonstreth (Dim Mak, Origin, ex-Gorguts etc.). (Unique Leader Records) Castle - «Welcome To The Graveyard» (EUA, Heavy/Doom Metal) Composto de 8 faixas escritas durante o ano passado, «Welcome To The Graveyard» vê CASTLE fundir o seu doom alimentado de riffing com o rock ascendente dos 70. (Van Records) Eerie - «Eerie» (EUA, black metal / hard rock hybrid) O esqueleto do som da banda sobe do caixão de Black Metal tradicional, mas EERIE injeta o cadáver pútrido com uma sólida espinha dorsal progressiva dos anos 70, dando vida a músicas monstruosas como as que o mundo nunca ouviu antes! Venha um, venha todos experimentar o horrível e fantástico som dos EERIE! (Van Records) Tarja- «The Brightest Void» (Finlândia, Symphonic Metal/ Rock) Tarja e earMUSIC orgulhosamente anunciam o lançamento da prequel do novo álbum «The Brightest Void». «The Brightest Void» dá mais do que uma primeira amostra de «The Shadow Self»; É um álbum cheio de 9 canções! (EAR Music) Tarja- «The Shadow Self» (Finlândia, Symphonic Metal/ Rock) Diz Tarja. “ «The Shadow Self» está cheio de canções que são muito queridas para mim. Eu não posso esperar para você ouvir o disco que eu acredito que é um dos meus álbuns mais pesados até à data. (EAR Music)
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AMON AMARTH + TESTAMENT + GRAND MAGUS 23/11/2016 – Haus Auensee, Leipzig, Alemanha Reportagem: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian
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Devastação Viking A cidade de Leipzig, na Alemanha, recebeu mais uma visita dos Vikings Amon Amarth na sua mais recente digressão europeia. Desta vez, os Suecos vinham acompanhados por duas não menos interessantes bandas: os Grand Magus e os lendários Testament. E foram os primeiros a abrir as hostilidades para um Haus Aueensee relativamente vazio mas com os presentes bastante interessados nestes Suecos que apresentavam o seu novo álbum “Sword Songs”. Com uma excelente abordagem ao mais típico Heavy Metal, os Grand Magus conseguiram convencer os presentes com uma excelente actuação. Com temas como “I, the Jury” e “Sword of the Ocean”, que têm riffs que nos obrigam a um headbang furioso, e a voz poderosa de JB, combinados com o baixo bem definido de Fox e com a bateria segura de Ludwig, foram uma excelente abertura para uma noite promissora. Com uma sala bastante mais cheia, os Testament vieram provar porque ainda aqui andam e porque ainda há muito a aprender com eles. A abrir com “Brotherhood of the Snake”, do seu mais recente álbum com o mesmo nome, seguido do mais compassado “Rise Up”, o público estava de imediato rendido. “The Pale King” foi apresentado de seguida antes de um regresso ao passado com “Disciples of the Watch” e “The New Order” do já longínquo álbum com o mesmo nome. “Dark Roots of the Earth” trouxe um regresso a material mais recente da banda sendo que o público respondeu da mesma forma que tinha respondido ao material mais antigo. É de realçar a energia e a forma como os Testament executam os seus temas enquanto debitam temas demolidores mantendo um nível de execução irrepreensível. A fechar a noite, mais um regresso ao passado com “Into the Pit” e “Over the Wall”, antes do mais recente “The Formation of Damnation”. Um excelente concerto a demonstrar que os Testament continuam na sua melhor forma. Por fim, é chegada a vez da banda mais esperada da noite, e isso reflecte-se na quantidade de pessoas presentes na sala. É notório o crescimento dos Amon Amarth, em termos de audiência, em cada tour em que tenho oportunidade de ver um concerto. Desta feita, o palco também apresenta uma escultura de um capacete Viking numa demonstração de que os Amon Amarth continuam a apostar mais também no lado cénico dos seus concertos. A primeira faixa da noite foi uma pequena surpresa: “The Pursuit of Vikings”, do álbum “Fate of Norns”, sendo que toda a sala iniciou um headbang frenético ao som compassado desta pesada malha. “As Loke Falls”, do excelente “Deceiver of the Gods”, foi o tema de seguida num início de concerto em que a banda aposta em temas mais antigos e conhecidos do público. A primeira incursão no novo álbum, “Jomsviking”, dá-se com a faixa de abertura do mesmo: “First Kill” sendo esta uma malha rápida que obrigou a algum mosh por entre os presentes. O mais calmo “The Way of Vikings” foi o tema de seguida sendo este recebido euforicamente pelo público, mostrando que o novo álbum é já bem conhecido dos seus seguidores. “On a Sea of Blood” e “Destroyer of the Universe” foram as malhas seguintes numa clara demonstração de que os Amon Amarth não pretendem abrandar o ritmo deste concerto. Com Vikings a subirem ao palco e a lutarem enquanto a banda desfila as suas malhas brutais, este concerto teve tudo para ser um dos melhores deste ano. A lendária “Death in Fire” foi recebida efusivamente antes da mais lenta a ritmada “One Thousand Burning Arrows” do mais recente álbum. “Father of the Wolf”, “Runes to My Memory” e “War of the Gods” foram os temas tocados antes de a banda se retirar para de seguida apresentar o seu encore que se iniciou com a excelente “Raise Your Horns” que obrigou o público a entoar o belo refrão deste tema. A fechar os não menos excelentes “Guardians of Asgaard” e “Twilight of the Thunder God” em mais um grandioso concerto destes Vikings. É notável a perfeição desta banda em palco e é de realçar a perfeita integração de Jocke Wallgren, que assumiu recentemente o lugar atrás do kit de bateria. De resto, o line-up da banda é o mesmo de há muitos anos o que demonstra uma profunda coesão entre os restantes elementos em cima do palco. Os Amon Amarth demonstraram novamente porque são considerados os porta-estandartes da cena Viking. Para além disso, a regularidade com que têm lançado excelentes álbuns e com que tocam ao vivo torna-os uma das mais importantes bandas da actualidade.
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HEAVENWOOD + IGNITE THE BLACK SUN 29/12/2016 - RCA Club - Lisboa Reportagem e fotos: Nuno Lopes
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Venham mais 20...
Tantas vezes falamos da hora de inicio de concertos que, tantas vezes o inicio ultrapassa a data marcada que, desta feita, podemos dar já os parabéns à Notre Dame pelo inicio, praticamente, à hora marcada desta festa que visava celebrar os vinte anos de Diva, o disco que deu a conhecer os Heavenwood e que marcou (marca!) a história da banda e do Metal nacional. Com as hostes a serem abertas pelos Ignite The Black Sun, projecto que junta Paulo Gonçalves (ex-Shadowsphere) e Nuno Loureiro (ex-Painstruck) que, por estes dias se completam com membros que passaram pelos extintos Ava Inferi, podemos dizer que a banda tem todo o potêncial para vir a dar frutos no futuro, não muito distante. Com o EP Vermin debaixo do braço, a banda não deu a oportunidade por desperdiçada e, em pouco mais de 30minutos destilou o seu Metal musculado e pesado. Com Paulo Gonçalves em grande forma e com um Nuno Loureiro pragmático, os ITBS mostraram que estão em crescimento e que a máquina se encontra, quase afinada e provaram isso mesmo em temas como Relied on Liars, Here We Go Again ou, claro, Vermin, arranjando ainda «coragem» para um novo tema Built Upon The Walls of Sound, que nos mostrou uma banda motivada e, principalmente, com ganas de conquista. Para o final ficaram guardadas Angels e Struggle of Perspective. Ainda vamos ouvir falar dos Ignite The Black sun em 2017, e ainda bem. No entanto, os senhores da noite eram outros e, os Heavenwood apresentaram-se no RCA prontos para a festa e para rebentar com a sala lisboeta. O quinteto nada tem a provar e, isso ficou bem demonstrado neste concerto dividido em duas partes, se numa primeira recebemos Diva na integra, para a segunda parte ficou guardado o «Best of» da banda. Com um som, talvez, demasiado alto, a banda cedo mostrou as suas credências, Emotional Wound, Flames of Vanity ou Moonlight Girl continuam, duas décadas depois, com uma vitalidade que nos faz pensar terem sido lançadas ontem. Liderados, como sempre, por Ricardo Dias e Ernesto Guerra, a banda ganhou um novo alento com a entrada de André Matos para o baixo, um autêntico «monstro» em cima do palco. Para a segunda parte do concerto, os Heavenwood foram alternando temas antigos com algumas incursões pelo, excelente, The Tarot of Bohemians PT. 1, claro que nao faltaram temas como 13th Moon ou Suicidal Letters que, apesar de diferentes, encaixam muito bem com os novos temas, aliás, The High Priestess foi um dos momentos altos da noite. Nas palavras de Ernesto Guerra, vinte anos passaram a correr, assim como o tempo do concerto. Fica a festa, fica a celebração e, principalmente, a certeza que os Heavenwood são parte da história do nosso Metal.
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MOONSPELL 2/12/2016 – Pavilhão Multiusos de Guimarães Reportagem: Eduardo Rocha fotos: Emanuel Ferreira
A ousadia eterna Em 2016 cumpriram-se 20 anos do lançamento de um dos mais importantes, senão mesmo o mais importante, álbum de metal lançado por uma banda Portuguesa. Este mesmo álbum colocou os seus escritores na ribalta da cena metal-Gótica Europeia e contou com digressões com bandas como Type 0 Negative ou presenças nos palcos dos maiores festivais Europeus da altura. O disco é o “Irreligious” e os seus autores, os Moonspell, foram, na altura, os responsáveis por finalmente colocar Portugal no mapa do metal Europeu. O disco mostrou uns Moonspell mais góticos, eloquentes e com uma composição mais focada e homogénea. Importa relembrar este contexto uma vez que os Moonspell decidiram presentear os seus fãs nacionais com mais um concerto especial em que comemorariam os 20 anos do lançamento deste seminal álbum. Para tornar esta celebração ainda mais especial, os lobos Lusitanos decidiram também tocar na integra outros dois importantes discos da sua carreira: o não menos relevante “Wolfheart” e o mais recente e excelente “Extinct”. O local escolhido para esta celebração foi o pavilhão Multiusos de Guimarães, um espaço com capacidade para acolher os numerosos devotos que se decidiram juntar a esta comemoração. O concerto iniciou-se com uma entrada discreta da banda em palco. Sem grandes intros, cada elemento da banda dirigiu-se para o seu espaço em cima do palco e Ricardo Amorim deu início às hostilidades com os famosos primeiros acordes de “Wolfshade”, a faixa inicial do disco “Wolfheart”. O entusiasmo era geral numa sala repleta de fãs old-school mas foi também aqui que se notaram os problemas sonoros que viriam a afectar todo o concerto. Nada que a banda pudesse evitar uma vez que estes problemas são recorrentes nesta sala. A entrega e a força da banda em cima do palco, essa parece aumentar com o passar dos anos numa demonstração de que o palco não satura estes senhores. “Love Crimes” e “...Of Dream and Drama” foram as faixas apresentadas de seguida sendo estas raramente tocadas ao vivo. De seguida, apenas Ricardo Amorim e Pedro Paixão permanecem em cima do palco para uma rendição da icónica “Lua D’Inverno” para depois, já com toda a banda em cima do palco, se evocarem as duas divindades Lusitanas homenageadas no disco: “Trebaruna” e “Ateagina”. Aqui houve focos de dança e cantos entre o público e ficou, mais um vez, evidente o quanto este álbum marcou toda uma geração. “Vampiria”, presença habitual nos set-lists da banda, não deixou ninguém indiferente e a hipnotizante “An Erotic Alchemy”, o primeiro momento calmo da noite, foi um tema recebido também com bastante euforia. A fechar a primeira parte deste concerto, a eterna “Alma Mater” na qual as fãs vibraram e berraram a pulmões cheios, como sempre fazem nesta icónica música.
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Tempo para o primeiro intervalo e mudança de palco para uma temática alusiva ao disco que celebrava os mencionados 20 anos. Com a famosa capa de “Irreligious” como tema central do palco, a banda dá a sua entrada ao som da intro “Perverse...Almost Religious” para depois a sala delirar com a sempre presente “Opium”. “Awake” e “For a Taste of Eternity” foram as faixas seguintes para depois a banda apresentar “Ruin & Misery”. Era notório que o público tinha saudades de ouvir estes temas e de os ver incluídos nos reportórios da banda. Seguindo a ordem do disco, “A Poisoned Gift” foi tocado irrepreensivelmente com destaque para os belos solos de Ricardo para depois se fazer uma pequena pausa ao som da batida de “Subversion”. “Raven Claws” contou com a já habitual convidada especial Mariangela Demurtas para de seguida “Mephisto” ser executada com a mesma brutalidade de sempre. “Herr Spiegelmann”, faixa raramente apresentada ao vivo, foi recebida também efusivamente e, desta feita, Fernando Ribeiro tinha, nas suas mãos, uns lasers verdes com o quais recriou os jogos de espelho que fazia na digressão da altura. Para fechar esta segunda parte do concerto, nada mais nada menos do que um eterno clássico sempre presente nos concertos dos Moonspell: Full Moon Madness! Destaque para o belo solo de guitarra de Ricardo Amorim a para todo a pirotecnia que tornou este fim ainda mais memorável! Chega então o segundo intervalo e tempo para mais uma mudança de palco. Desta feita, a temática e todo o stage-set é à imagem de “Extinct”, o último álbum da banda. A começar com a faixa “La Baphomette”, a banda entra em palco para depois debitar a também já clássica “Breathe” e a sempre brutal faixa título “Extinct”. O momento mais exótico desta parte do concerto chega com “Medusalem” e as suas influências árabes, num tema que também é já quase um clássico. “Domina” convida para um descanso e para um momento mais calmo, que é sempre bem-vindo, enquanto “The Last of Us” debita uma dinâmica típica de quem sabe escrever grandes canções. “Malignia”, “Funeral Bloom” e “A Dying Breed” são executadas com a mesma força e dinâmica que as músicas dos álbuns anteriores para, depois, os Moonspell fecharem a noite “The Future is Dark” em que Ricardo Amorim brilha, uma vez mais, com um belo solo. Um noite memorável! São poucas as bandas que se podem orgulhar de terem editado discos como “Wolfheart” e “Irreligious” e, desta forma, marcar toda uma cena musical. São também poucas as bandas com a ousadia dos Moonspell: tocar três discos de um só assentada não é para todos e os Moonspell mostraram uma vez mais que nunca deixarão de ser desafiarem a si próprios e de dar algo de novo aos seus fãs. A escolha de “Extinct” para último disco da noite foi também ousada, sendo que a banda até poderia acabar por tocar o mesmo disco para uma sala vazia. O que não aconteceu e o que mostra que os fãs também gostam do material mais recente da banda. Destaque para toda a dinâmica e força dos Moonspell em palco, algo que só se atinge com muitos concertos e muitas digressões, e também para todo o espectáculo com pirotecnia que proporcionaram aos seus fãs. Mais uma noite memorável graças aos Moonspell! Se puderem ir ao concerto em Lisboa, vão!
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OATHBREAKER + WIFE 27/11/2016 - Musicbox – Lisboa Reportagem e fotos: Frederico Figueiredo
Anunciar que se vai a um concerto de Metal cada vez soa mais falacioso, uma vez que a identidade do género não é mais do que um esboço da sua caracterização. Colocando de parte quaisquer apreciações, a mudança de paradigma poderá implicar coerência num discurso que coloca em paridade, bandas como Darkthrone, The Smiths e Massive Attack. O conceito de desconstrução de um género foi bem aplicável na atuação desta noite. Wife, projeto eletrónico de James Kelly (líder dos Altar of Plagues), serviu como um confortável preâmbulo para a angústia galopante do blackgaze apresentado pelos Oathbreaker na apresentação do mais recente “Rheia”. Ritmos de trip hop estilhaçados sob o morno dialeto do sono, conferido pelas ternas vocais, caraterizou o ato de abertura. O ritmo vacilante do estilo musical em palco, desafiava o “headbanging” na sua tentativa de acertar compassos improváveis, enquanto o palpitar da iluminação queimava a silhueta do performer como um fantasma saído de um filme de expressionismo alemão. Esta presença, distante e centrada, quebrou o seu registo com um agradecimento ao público português pelo seu respeito pelo silêncio, em contraponto com a postura de “nuestros
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hermanos”. O estado letárgico com que nos deixou esta massagem sonora, acalmou a antecipação da atuação da banda responsável por um dos álbums mais referenciados de 2016, “Rheia”. Da garganta do palco (ao fim da sequência de arcadas, qual gigante traqueia), emergiu a frágil voz de uma figura que se procurava ocultar no negro de suas vestes e na vastidão do seu cabelo. Estas “clean vocals”, no entanto, facilmente se desvaneceram na estonteante vaga de som produzida pelo resto da banda. A intensidade da atuação não se fez, porém, esmorecer, encontrando o público compensação na indulgência histérica dos gritos e atitude irrascível a traduzir o espírito do hardcore. Estilos bem patentes como black metal e shoegaze expeliram uma descarga ímpar e coesa, cimentada na melodia das guitarras, profundidade do baixo e dinâmica da bateria, por sua vez intervaladas por momentos de contemplação vocal da líder da banda. As composições refletiram em palco um caráter melancólico e inquietante que dificilmente escapa a comparações com seus congéneres Deafheaven. Uma libertação emotiva e poderosa, que desafiou as limitações do género e ampliou suas potencialidades.
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TRUCKFIGHTERS + WE HUNT BUFFALO + WITCHRIDER 05/11/2016 - Stairway Club - Lisboa Reportagem e fotos: Nuno Lopes
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Depois de uma passagem pelo festival minhoto de Moledo, o Sonic Blast, os trio sueco Truckfighters apresentou-se novamente em terras portugueses, desta feita para uma data dupla, com o Porto no dia seguinte, como cabeças de cartaz para apresentarem, em nome próprio, os temas do mais recente V. Com a sala esgotada e com um ambiente quente, que contrastava com o frio que fazia lá fora, o trio, liderado pelo intrépido e hiperactivo Niklas «Dango», e com Ozo mais tranquilo, depressa soltou as amarras e elevou a noite a um espçao a que só um certo tipo de música o consegue e que os suecos sabem como o fazer. Com um alinhamento de luxo, com uma sala rendia a seus pés, literalmente, a banda arrancou com Mind Control, do anterior Universal e, desde aí não mais parou. Com um som tremendo, e definido, apesar de algumas incontâncias inicias, a banda nunca retirou o pé e nunca parou de servir o seu propósito. Kick Down e In Seacr of (The) antecederam a primeira incusão pelos novos temas, onde Calm Before The Storm é single e, ao vivo, atinge contornos épicos. Do novo registo houve tempo para escutar The 1 e Hawkshaw. O que fica é a recordação de uma banda poderosa, que controla todos os momentos do concerto, apesar da insanidade de Niklas que salta e esperneia como um doido, enquanto saca riffs e ganchos da sua guitarra. O público esse está de braços abertos e recebe cada nota como se fosse a última. Com muito experimentalismo, como se uma trovoada se tratasse a banda chegou, viu e venceu. Para o final ficou a extenuante e viciante Desert Cruiser, aquela que é já o clássico da banda e que deitou o Stairway abaixo. O concerto termina com Ozo no meio do público e com público no palco, numa celebração única do espirito Rock. Se dúvidas existissem eles foram dissipadas e, os Truckfighters são a melhor banda Rock ao vivo, a julgar por este concerto. Antes os We Hunt Buffalo trouxeram a energia caracteristica da banda e as suas canções sujas e feitas de óleo. Com um concerto que valeu pela intensidade e pela entrega dos músicos e, cujo tempo pareceu passar rápido demais, ficou a amostra de uma banda competente e que segue os caminhos do Stoner mais arrojado, em alguns momentos fazendo lembrar os Midnight Ghost Train. Uma banda a ter em conta. Já os Witchrider, austríacos, tiveram honras de abertura e foram uma supresa agridoce. Praticamente desconhecidos, a banda tomou o palco como sua casa e apesentou algo que os aproxima de um Grunge com pitadas Southern Rock. Fica a impressão de que ainda há algum trabalho pela frente, no entanto, foram capazes de levar algumas almas até à boca de palco. Uma banda a ter em conta, mas não já. O Stairway esgotou e todos os que se deslocaram viram a força do Rock e viveram o Rock de outros e de novos tempos. São estes momentos que nos fazem acreditar que o Rock não morreu! (alguém acredita)
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WREKMEISTER HARMONIES 25/11/2016 - Galeria Zé dos Bois – Lisboa Reportagem e fotos: Frederico Figueiredo
As arestas de frio marcavam o prenúncio invernal e empurraram-nos para o asilo térmico de uma pequena sala de espetáculos no coração de Lisboa. Em oferta encontrava-se uma lenta combustão de tendências neofolk, doom, psicadélico, drone, coral, bem como alguns vestígios de familiar adn musical para apurar uma mística amalgama. Tratava-se da apresentação de “Light Falls”, o mais recente trabalho do projeto liderado pelo compositor JR Robinson, líder deste experimental coletivo, que agrega membros de Godspeed You! Black Emperor. Após a recolha do bilhete, acedemos ao simpático pátio alfacinha que já reunia os mais pontuais. À abertura de portas o público confluiu para o recinto, que ao som da rudeza de uns Delta Blues, se concentrou em frente do palco, promovendo a mutualidade do calor humano. Embora a Galeria se insinuasse para o exterior através de parte das suas vitrines, não conseguia captar a curiosidade dos transeuntes. A entrada da banda em palco, evidenciou de imediato a presença do seu dignitário. Solene, sereno e carismático. Com a nossa atenção já magnetizada, o espírito tornou-se poroso à consternação das melodias que se desvendavam em crescendos de distorção, assim como à assertividade das vocais que transpiravam o calor de uma febre iminente. A teia de sibilantes dissonâncias instrumentadas por Esther Shaw, através do uso alternado de violino e sintetizador, puxavam à memória os “Four Violins” de Tony Conrad. O público foi-se avolumando como um feto embrenhado na quietude impenetrável das composições que irradiavam do palco. A qualidade musical em prática, nem com a sarcástica referência à situação política dos Estados Unidos da América, perdeu o seu caráter cerimonioso, contrapondo a efemeridade inconsequente da estupidez e fome de poder com a magnitude da transiência do ciclo da vida. O encore foi marcado pela reflexão de JR Robinson, aludindo metaforicamente à capacidade comunicativa da música e sua expressão em palco, como experiência partilhada e colaborativa: “se batermos palmas numa galeria de arte, os quadros não se reproduzem”.
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