Versus#44

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D RE A M TH EAT ER L I V E

FERNA NDO RIB E IRO

ILL NIÑ O L I V E

TRIAL

KA MPF A R L I V E

L UNAR SHADOW

H IM L I V E

S IX F E E T U N DER


EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E

vErSUS MAGAZINE

Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

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D IR E C Ç Ã O

Para vocês... Co m grand e Es forço, Dedi c ação, Devoç ã o. . . e a Gl óri a f i c a p ara vo cês dec i di rem se merece m os , ou n ã o, e s t á la n çad a mais u ma edi ção da Versus. A ca pa é de di ca da a o Bla ck Metal, com um di gno represent a nte : Fa rs ot , cuj o á l bu m « Fa il-Lu re» ac aba de ser lançado n os e s ca pa rate s . O temp o d o s fest i vai s de verão e s t á à port a e n ós

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

F O T O G R A F IA

te nt are mo s e s t ar nos doi s mai s i m port a nte s eve ntos

Créditos nas Páginas

li g a do s a o Met al: O VOA - Corroi os e Va gos Met a l Fe s t

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Bo a s le itu ra s, Eduardo Ramalhadeiro

S O B A S S E G U IN T E S C O N DI ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i za dor deve dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

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2 / VERSUS MAGAZINE


74 C O NTE Ú DO

FARSOT

Nº44 Maio/Junho 2017

0 4 T R IA L B Y FIR E

35 PLAYL IS T

1 0 4 G A R A G E P O WE R

0 5 R E DE S SO C IA IS

36 DARK ESSENCE/KARISMA RECORDS

1 1 2 F E R N A N D O R IB E IR O

0 6 C H RIS CO R NE LL

39 SOLST ÍC IO

1 1 8 S IX F E E T U N D E R

1 0 T H E MU TE G O D S

40 GROG

1 2 2 H E AV Y M E TA L V S F U TEBOL

1 2 F I REC U M R E CO R DS

44 REUBEN BHATTACHARYA VISUAL AM NESIA

1 2 6 D IC O

1 6 C O RR O D E D

52 CORP U S C H R IS T II

1 3 2 T IM E L U R K E R

1 8 A X EL R U D I PE LL

58 ÁLBUM V E R S U S T H E N I G H T F L I G H T O R C H E S T R A

1 3 4 O H O M E M D A M O T O S ERRA

2 1 G R ÊL OS DE H O RTELÃ

60 CRÍTIC A S V E R S U S

1 3 6 V E R S U S L IV E !

2 2 ME TA L R O C K CITY

68 LUNAR S H A D O W

2 4 B A RO C K PR O J E CT

80 TRIAL

3 0 WA IT UNTIL D A R K

86 ANTRO D E F O L IA

3 4 MOS H

88 PALETE S D E M E TA L

A D R EA M O F P O E

HIM + Kandia Inthyflesh + Decayed Pharmakon + pä Kampfar - Morte Incandescente Dream Theater Ill Niño

1 4 8 V E R S U S 45

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Trial by Fire AU-DESSUS

BODY COUNT

CARACH ANGRE N -

E nd O f Ch a p te r

B l oodl ust (Century Media) MÉDIA: 3,8

Laug h Am ong s t The R o t t e n

(LADLO)

MÉDIA: 2,8

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

Dance And

( Season of Mist) MÉDIA: 3,2

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

CORPUS CHRISTII

EARTH ELECTRIC

GOD DETHRONED

Delus ion (Folter Records) MÉDIA: 3,0

Vol 1 Sol ar (Season of Mist) MÉDIA: 2,8

The Worl d A blaze (Metal Blade) MÉDIA: 3,2

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

OBITUARY

SÓLSTAFIR

STEVE HACKETT

O b it uar y (PZP) MÉDIA: 2,5

B erdreymi nn (Season of Mist) MÉDIA: 3,9

The N i ght Si re n (InsideOut Records) MÉDIA: 4,0

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

WOL FH E ART Ty hjy y s (Spinefarm Record) MÉDIA: 3,0

C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. HUGO M.

Obra - Prima Excelente Esforçado Esperado Básico

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Redes Sociais Corroded

Mord’A’Stigmata

(Entrevista: Nuno Lopes) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/corroded-estado-de-graça/1341767712526804/

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/mordastigmata-o-lado-negro-da-esperança/1342743979095844/

“Estado de graça”

“O lado negro da esperança”

Harlott

Goath

(Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/harlott-jarda-australiana/1341791745857734/

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/goathrituais-ao-vivo/1342738819096360/

“Jarda Australiana”

“Rituais ao vivo”

Au-Dessus

Ormyst

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/audessus-um-devir-musical/1342711582432417/

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/ ormyst-a-conquista-do-universo/1342758172427758/

“Um devir musical”

Clouds of Dementia “Devagar se vai ao longe”

“A conquista do universo”

Mosaic

“Música multifacetada”

(Entrevista: CSA) (Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/clou- https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/mosaic-música-multifacetada/1342747529095489/ ds-of-dementia-devagar-se-vai-ao-longe/1342721385764770/

Demonic Resurrection

Thormesis

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/demonic-resurrection-falando-de-avatares/1342727882430787/

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/thormesis-sempre-a-crescer/1348566651846910/

“Falando de avatares “

“Sempre a crescer”

Helioss

Patria

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/ helioss-um-brilhante-eclipse/1342732659096976/

(Entrevista: CSA) https://www.facebook.com/notes/versus-magazine-official/patrialigações-ancestrais/1342762519093990/

“Um brilhante eclipse”

“Ligações ancestrais”

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chris cornell (20/07/1964 - 18/05/2017) Passaram pouco mais de 24 horas sobre o desaparecimento de Christopher John Boyle, mais conhecido como Chris Cornell. Estranheza primeiro, tristeza depois. Estas foram as emoções que senti ao saber do trágico acontecimento. A morte de Chris Cornell é mais uma estocada na «Geração Rasca» que cresceu com os dissabores, com a revolta que viu em bandas como Nirvana, Alice in Chais, Pearl Jam e, claro, Soundgarden o elixir perfeito para a explosão. Enquanto Nirvana e Pearl Jam lutavam para se manter no pódio, os Soundgarden seguiam com uma forte legião de seguidores, mesmo que isso não lhes valesse mais que um lugar no pódio. Bad Motherfinger apresentou-nos os Soundgarden e Chris Cornell. A mistura foi explosiva e a voz de Cornell ecoava pelas colunas em canções imortais. Com a partida de Cornell não se perde, apenas, uma banda, perde-se uma voz, perde-se uma parte dos que cresceram ouvir Jesus Christ Pose, Spoonman ou Rusty Cage, entre tantas outras, perde-se um pedaço de história que faz história, duas décadas após o seu surgimento, na fria e cinzenta Seattle. E a história faz-se assim, duas décadas depois, os mesmos heróis que despertaram consciências, desfizeram as regras do Rock e mudaram a forma como o Rock era visto. No meio deste turbilhão Cobain foi a primeira vitima, Stanley depois e, agora Cornell, uma vitima (quase improvavel), das cinzas do grunge. Com este desaparecimento o grunge começa a ser uma ténue memória nas mentes de quem o viveu, restando alguns (poucos) nomes, sendo que aqui surgem Vedder, Corgan ou Patton. Se olharmos para o que se faz hoje, ouvimos muito de Soundgarden, ouvimos muito de Seattle anos 90. Esta perca é, a nível pessoal, irreparavel, insubstituivel. Nunca vi Cornell ao vivo, vá-se lá saber porquê, ou apenas por «eles hão-de voltar». Eles não vão voltar. Cornell irá viver nos discos para sempre, nas memórias. A memória de Cornell perdurará, não só na sua música, abrilhantada pela sua voz, ora doce, ora amarga, mas sempre brilhante, desconcertante. Sem Cornell e a cena de Seattle não teria existido o New Metal, não teria existido o Stoner e, talvez, o Rock fosse outro. Sem se ter essa noção, Cornell nunca teve medo de arriscar, nunca teve medo de fugir da zona de conforto e, foi o primeiro artista a norte-americano a ser a música de James Bond. Querendo-se, ou não, Chris Cornell foi (e será) uma das maiores inspirações no Rock e, hoje, 24 horas do se desaparecimento, podemos dizer que Cornell viverá eternamente e, de cada vez que The Day I Tried To Live ecoar pelo mundo, ele regressa à vida, imortal. Christopher John Boyle morreu a 18 Maio. Faça-se Rock, faça-se justiça a uma das vozes mais carismáticas. Preste-se homenagem à pessoa, ao músico, à música, ao talento. Christopher John Boyle junta-se ao panteão dos imortais, onde tantos nomes estão. Obrigado Cornell. Nuno Lopes

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Um dos músicos mais talentosos do panorama rock decidiu pôr termo à sua vida. A notícia da sua morte apanhou de surpresa todo o mundo, e a consternação subiu de tom quando se tornou pública a causa da morte: suicídio. Desorientados e incrédulos todos nos perguntámos como seria possível? Não proponho uma viagem pela história dos Soundgarden, ou pela carreira eclética de Chris Cornell. Proponho sim um exercício diferente, embora de difícil execução: tentar conhecer o homem por detrás da voz inconfundível. Nascido com o nome de Christopher John Boyle a 20 de Julho de 1964 no berço de uma família Irlandesa Católica com seis filhos, desde cedo mostrou o seu talento para as artes musicais. Os Beatles foram provavelmente a primeira das suas influências, e que por volta dos seus nove anos a banda de Liverpool era dissertada com a maior das atenções pelo jovem Chris. Nas aulas de piano, imprescindíveis para um jovem Irlandês católico que se preze, começou a trabalhar o enorme talento que o seu jovial aspeto não deixava ainda transparecer. A professora terá ficado impressionada com a sua capacidade de aprendizagem, mas acima de tudo por apresentar uma refinada e desenvolvida capacidade de composição. Levá-lo a um recital à Universidade de Washington foi no ponto de vista da sua tutora um merecido prémio. Porém, apesar dos seus progressos e incentivos, desistiu das aulas de piano, apostando mais tarde na bateria. Curiosamente o período em que se dedicou mais à bateria coincidiu com os anos mais conturbados da vida do agora Chris Cornell, pois adotou o nome de solteira da mãe após o divórcio dos pais. Este mesmo divórcio, à semelhança do que aconteceu com outra malograda estrela do grunge, Kurt Cobain, também lhe deixou marcas profundas, sendo talvez o principal catalisador de uma grave depressão. Sabe-se que começou a usar drogas ilegais e a cometer pequenos delitos. O jovem adolescente Chris aos 15 anos de idade sucumbiu tanto à sua condição psicológica, como à necessidade de ajudar monetariamente a família, desistindo assim dos estudos e focando-se na música com esperança que esta lhe desse tanto estabilidade material como emocional. Claro que um aposta destas nunca dá frutos a curto prazo, o que o “obrigou” a trabalhar como cozinheiro enquanto tocava em várias bandas de Seattle. Esta sua primeira incursão semiprofissional no mundo da música tê-lo-á ajudado socialmente, pois graças à sua presença em várias bandas, entre elas os The Stemps, onde conheceu Kim Thayil e Hiro Yamamoto, com os quais veio posteriormente a formar os Soundgarden, desenvolveu as suas capacidades sociais, tornando-o menos solitário. Porém, o fantasma da depressão tornou-se muito mais do que isso. Materializou-se novamente e segundo consta de uma forma bastante profunda. O jornal britânico “The Guardian” refere num artigo que Chris Cornell praticamente não saía do quarto, e que as melhorias coincidiram com a formação dos Soundgarden em 1984. A partir daqui é História na verdadeira aceção da palavra. A sua função na formação original dos Soundgarden era a de baterista e vocalista. Por não ser tarefa fácil, cedo perceberam que o melhor caminho seria dar-lhe outro papel de forma a potenciar o enorme talento que se estava a desenvolver. A bateria foi então entregue a outro músico, possibilitando a Cornell focar-se nas vozes e guitarra ritmo. Daí ao sucesso mundial o caminho foi relativamente curto, isto cronologicamente falando, claro. Foram aliás a primeira das bandas oriundas de Seattle da sua geração a assinar por uma grande editora em 1989, ano do lançamento do álbum “Louder than Love”, um ano após terem chamado as atenções com “Ultramega Ok”, trabalho que lhes valeu inclusivamente a nomeação para um grammy. “Badmotorfinger” confirmou-os como uma das maiores bandas do género, e “Superunknown” transformou-os em ícones. Criaram para este álbum músicas que são autênticos hinos de uma geração, com “Black hole sun” como inevitável cabeça de cartaz, entre tantas outras. Apesar deste enorme sucesso de vendas, o álbum que se seguiu, “Down on the Upside ”, não obstante possuir alguns singles de muita qualidade, não teve a mesma aceitação do público, o que se traduziu uma desilusão comercial. Curiosamente, um ano depois em 1997, é anunciado o fim dos Soundgarden. Findado o primeiro capítulo da saga “Soundgarden”, eis que começa o capítulo “Audioslave”. Para grande surpresa de todos, em 2001 Chriss Cornell junta-se aos músicos dos Rage Against the machine, para um ensaio. Ficaram tão impressionados que quiseram “dar pernas” ao projeto. Apesar das guerras que se fizeram sentir entre “managers” e editoras, conseguiram levar avante o seu desejo, e em 2002 o álbum homónimo (“Audioslave”) viu a luz do dia. Todo o interesse que suscitou esta reunião entre dois estilos aparentemente tão diferentes repercutiu-se de uma forma muito positiva em termos comerciais, sendo o trabalho de estreia muito bem recebido. E os seguintes? Nem tanto. Não obstante, estes anos em que deu voz aos Audioslave foram marcantes tanto a nível pessoal como profissional. Após o nascimento da sua filha em 2000 divorciou-se, voltou a casar-se com Vicky Karayiannis que era até à trágica data de 17 de Maio a sua mulher, teve mais dois filhos, e foi, juntamente com os restantes Audioslave, a primeira banda Norte Americana a tocar em território Cubano, em 2005. Pelo meio, aquele que se pensava ser o passo mais importante: Uma reabilitação em 2003. Segundo a biografia no site oficial do próprio “a sofrer de depressão, fobias sociais e abuso de drogas há anos, Cornell mantevese alegadamente sóbrio após a sua reabilitação”. Quando o site oficial nos “alegadamente”, é inevitável não

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ficarmos com dúvidas. O fim dos Audioslave chegou em 2007 por, e passo a citar, "conflitos de personalidade impossíveis de resolver e também diferenças musicais”. Seria este o primeiro sinal da sobriedade de Chris Cornell? E deixo esta pergunta no ar porque numa das ocasiões que os Audioslave pisaram o território nacional, tal como todo o público ouviu-o claramente dizer: “Que me perdoem os meus antigos companheiros de banda, mas eu estou-me a divertir muito mais com estes rapazes”. Com outro capítulo encerrado, reabriu outro ao anunciar uma decisão de ano novo. A 31 de Dezembro de 2009, os Soundgarden ressuscitam através de comunicado oficial, ao que seguiu mais tarde o álbum “King Animal”. Mas mencionar a carreira de Chris Cornell a apenas duas bandas é insultuosamente redutor. Há que frisar o projeto sobejamente conhecido “Temple of the Dog”, há uma enormíssima carreira a solo que não pode ser olvidada e que teve muitos pontos altos, como ser dos poucos compositores não britânicos a ser escolhido para escrever uma música para um filme de James Bond. Chris Cornell era sem dúvida um músico de elite. Uma voz de um alcance invejável, um timbre irrepetível, e uma flexibilidade que lhe permitia estar perfeitamente à vontade tanto em músicas mais pesadas, como nas melódicas canções que compunha a solo. O seu talento como compositor permitiu-lhe quase que saltar de género em género com uma facilidade assustadora, e ninguém ficará indiferente à sua capacidade de tocar vários instrumentos, inclusive (e eu próprio fui chamado à atenção para este facto e nem queria acreditar) ser ambidextro com a guitarra! Esta abrangência de estilos que conseguia executar como mais ninguém, juntamente com as suas capacidades vocais e talento inapto para a composição, valeu-lhe a admiração de um público bastante eclético. Prova disso é que a sua fama rapidamente extravasou o universo grunge. Sendo uma estrela nascida dentro do género, se é que se pode chamar género, facilmente se descolou do rótulo. Não morreu uma estrela do grunge. Morreu uma estrela da música. Os ecos de consternação vieram dos protagonistas mais variados: desde o seu amigo Eddie Vedder até ao nem sempre sociável Dave Mustaine, passando por outros pesos pesados dos anos 90, como os Metallica e os Guns ‘n’ Roses. Até Hollywood chorou por Chris Cornell. Muitos dizem que morreu um génio. Eu faço parte desse grupo. Entre “Badmotofinger” e por exemplo “Euphoria Morning” vai quase um mundo de distância em termos de estilo musical, e no entanto ele dominava com mestria os dois. A voz ora sofrida, ora imponente marcou certamente todos que algum vez o ouviram, sendo apreciadores da sua música ou não. E gostem ou não, não se pode negar a influência que teve em toda uma geração. E num ápice ficámos todos privados do seu imponente talento. E não tinha de ser assim. A notícia da sua morte apanhou todo um mundo desprevenido. A hipótese de suicídio, deixou-nos incrédulos, e a sua confirmação a uns desapontados, a outros revoltados. Enquanto Kurt Cobain, por exemplo, deixava transparecer todo o sofrimento que o afetava, Chris Cornell, à primeira vista não. Só depois, quando paramos para analisar a sua obra e dar mais atenção às letras, percebemos que ele sempre esteve lá. Ora escondido, ora mascarado, ora até como ator principal ao qual nunca prestámos a devida atenção. Títulos de temas como “Like Suicide”, “Fell on black days” ou mesmo “The day I tryed to live” são esclarecedores do que se passava, pela mente do seu autor, nem que muito ocasionalmente. Embora o significado de “Black Hole Sun”, o seu tema porta-estandarte, tenha sido desvalorizado por Cornell, hoje em dia podemos encontrar referências à sua luta com a depressão, e a espera de algo que nem o próprio sabe bem, venha e mude o que de perturbador está à sua volta. Mas a história de Chris Cornell pode ser a história de qualquer um que enfrente estas situações. Esta contudo, teve o pior final de todos. E assim, a 17 de Maio de 2017, consternados, recebemos a notícia da sua morte. Mais que a morte do músico há que lamentar acima de a morte do homem. Alguém envolvido em projetos de caridade, nomeadamente em ajudar crianças a lidar com algumas situações com as quais ele próprio teve de ultrapassar. Não há “Black Hole Sun” que venha lavar as lágrimas que se derramaram por ele. Já tinha imortalidade assegurada, e repito, não tinha de acabar assim. Ivo Broncas

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A condição humana Estivemos mais uma vez à conversa com Nick Beggs sobre o segundo álbum dos The Mute Gods. Como sempre directo e incisivo, contrastando com a inteligência e complexidade de música e todo o conceito que a rodeia. Desta vez a temática centra-se nas fragilidades humanas e na destruição da vida como a conhecemos. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Hugo Melo

«Tardigrades Will Inherit The Earth»… nome porreiro. Porquê esta espécie em particular e não a familiar barata? Esta espécie também é bastante resiliente… Nick Beggs - Este é um levantamento da bemaventurança de Jesus Cristo. Ele é citado dizendo “os submissos irão herdar a Terra”. Eu simplesmente “abastardei” esta citação com a minha visão do mundo. Na música, os tardígrados têm mais direito a governar a Terra que o homem e estão destinados a fazê-lo, assim que nós nos autodestruamos. Os tardígrados são um organismo mais resiliente que as baratas. Podem ser reanimados após serem reidratados.

“A religião é uma fraude. Mentenos relativamente ao nosso passado e ao nosso futuro. “

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Quando te entrevistei no seguimento do lançamento do «Do Nothing Till You Hear From Me», afirmaste que não existia nenhuma linha condutora na composição dos álbuns e que as letras eram focadas em aspectos sociopolíticos, relações e em questões ecológicas. No entanto este álbum é mais focado nos problemas ambientais. Poderemos considerar este conceito como a sequela do vosso último álbum? Não concordo com a tua observação. A temática do segundo álbum é a fragilidade humana. Lida com a nossa inevitável queda, e aborda as diversas formas em que, caso continuemos o mesmo caminho, poderemos ser removidos da face do planeta. A consistência deste conceito é, no entanto, quebrada por cartas fora do baralho. A faixa «Hallelujah» fala-nos sobre a religião. És uma pessoa religiosa? Não.


Achas que a religião deveria (ou poderia) ser uma via para marcar a diferença relativamente a estes aspectos? A religião é uma fraude. Mente-nos relativamente ao nosso passado e ao nosso futuro. Quer-nos fazer crer em algo que não existe. Nomeadamente a “vida para além da morte”. Que utilidade tem essa merda para uma civilização racional? Eu acredito que no futuro a religião seja julgada devido à sua natureza contraditória. Quando mais depressa rejeitarmos sistemas de crenças, mais depressa poderemos sair da idade média e começarmo-nos a comportar como seres sencientes. É a minha opinião relativamente à religião. É minha opinião que, relativamente às letras, este álbum é mais denso. Cada música contém em si mesma um conceito e conta-nos uma história. Como é que tiveste a ideia para as letras? Depois de muito pensar. A minha filosofia de vida é representada no álbum. Inspirada na erosão permanente da biosfera e na minha fúria pela visão limitada e pela ignorância do homem. É um álbum de raiva. Na minha opinião, «Tardigrades...» é mais pesado (ou talvez menos suave) que o «Do nothing...». A música está de algum modo ligado aos problemas que descreveste ou é independente destas? Não sei. Qual foi a extensão da contribuição do Roger e do Marco para a composição deste álbum? Eu compus as músicas. O Marco tem a liberdade para fazer aquilo que quer, para além de adicionar guitarras. O Roger escreve as aberturas e produz o material. É um bom arranjo. «Do Nothing…» teve vários distintos convidados especiais, no entanto para este álbum optaste por manter a banda como um trio. Porquê esta escolha? Quis consolidar o trio. E tinha

uma ideia clara relativamente ao caminho que queria seguir. Vocês não têm guitarrista, pelo que as guitarras foram tocadas por vocês. Quem tocou os solos? Eu toquei os solos. Não precisamos de guitarrista porque é um instrumento que todos dominamos. O Roger também tocou algumas malhas melódicas. À semelhança do anterior, este álbum também foi criado em quartos de hotel e nos bastidores dos concertos? Sim. Na nossa primeira entrevista questionei-te relativamente a «Father/Daughter» e tu afirmaste que era a faixa mais importante do álbum. Neste álbum, dedicaste à tua esposa a «Stranger Than Fiction». Neste sentido pergunto-te se esta é a faixa mais importante neste álbum? Certamente é o raio de esperança num monólogo desesperante. Se é a música mais importante deste álbum? Possivelmente. Representa a minha felicidade apesar de viver num mundo que se está a tornar uma merda. As capas dos dois álbuns captaram-me a atenção. Para mim eles representam o mesmo homem, com uma espécie de caixa na cabeça, e uma tocha (ou o sol). Qual é o significado e o que é que representam estes elementos? O homem reflectido (Mirror Man) é uma metáfora visual e representa a religião. Tem cinco lados que reflectem de volta ao observador o seu próprio ponto de vista.

Cinco pessoas podem olhar para a mesma coisa e verem cinco coisas diferentes. A questão é, Deus é real e não é susceptível de ser representado, devido às suas posições culturais, por nenhuma das suas agências na Terra. No entanto, se Deus for representado de forma real por alguma dessas agências na Terra, eu não quero ter nada a ver com ele. Sonoramente acredito que o álbum é excelente. Até usei um plug-in para aferir o alcance da dinâmica das músicas. O Roger fez um trabalho exemplar. Como é trabalhar sobre as indicações de Roger King? O Roger é um produtor fantástico e eu adoro trabalhar com ele. Ele tem muitas habilidades alicerçadas em muitos talentos escondidos. Trabalhámos de perto nas linhas gerais do álbum. Ele compreende o conceito dos «The Mute Gods». Qual é a tua opinião relativamente à musica que é sobre-produzida e perde a dinâmica para o volume? A música que é demasiado produzida pode perder dinâmica. Claramente apenas uma produção equilibrada pode resultar num bom trabalho final. https://www.facebook.com/themutegods/ https://youtu.be/SyjNard5ers

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Um verdadeiro Plano B Como diz o ditado: “Quem quer faz, quem não quer manda.” Eles resolveram fazer, já que ninguém ia fazer por eles! Entrevista: CSA

Olá, Pedro! Desta vez, não vamos falar de Booby Trap, mas sim da tua editora. O que te levou a envolver-te nesta aventura? Pedro Junqueira – Tudo começou com uma conversa de “tasca” com um amigo de longa data, o Vasco Reigota, meu sócio e parceiro nesta aventura. Estávamos a falar sobre a possibilidade de editar em CD a demo da antiga banda dele – os Deification – e concordámos sobre a ideia de que seria fixe haver uma editora que se dedicasse a estes tipos de lançamentos. Aquela ideia andou-me ali a “moer o juízo” durante uns dias até que eu pensei: “E porque não criarmos nós uma editora que se dedique a lançar antigas demos nacionais em CD?” Informei-me sobre preços de fábrica e tracei um plano de trabalho, apresentei a proposta ao Vasco e decidimos avançar com isso na hora. A ideia original era mesmo só relançar antigas demos em CD, mas deparámo-nos com imensos problemas, desde músicos que tinham “vergonha” dos seus trabalhos a músicos “desaparecidos” e questões de direitos autorais, dai termos partido para o lançamento de originais, além das referidas reedições de demos. Tens alguém a apoiar-te? Se sim, o que fazes tu mesmo e o que delegas nessa(s) pessoa(s)? A estrutura da Firecum é muito simples. Tanto eu como o Vasco fazemos contactos com os

músicos/bandas e discutimos planos de edição. Geralmente, sou eu que trato da parte da produção e o Vasco é responsável pela distribuição. Temos ainda o apoio da Pn Undergroundesigns no que diz respeito ao artwork e design, tanto das edições em si como da publicidade. Onde foste buscar o nome da editora? Isso é uma história engraçada! Queríamos um nome curto e simples com um imaginário ligado ao Metal e com algum humor à mistura. O nome em si foi inspirado num tema dos Dethklock: “I Ejaculate Fire”. Que bandas/artistas contas no catálogo (para além de Booby Trap, é claro)? Nestes 3 anos de Firecum, já lançámos nomes como Deification, Downthroat, Firstborn Evil, Agonizing Terror, Booby Trap, Pussy Vibes, Brutal Brain Damage, Buried Alive, Elision Of Animus, Godvlad, Miss Cadaver e In Vein. O que pedem a quem assina contrato convosco? Na realidade, não pedimos absolutamente nada. Nós somos uma pequena editora que acima de tudo faz lançamentos essencialmente com o intuito de disponibilizar material que hoje em dia já não é fácil de adquirir (no que se refere às reedições de demos) e de ajudar as bandas a colocar os seus trabalhos no

mercado (no que diz respeito aos novos lançamentos). Não imagino fazer isto de outra forma, até porque, como músico que sou, sei bem o que é ter uma editora que nos ajude, apoie e acredite em nós. Assim sendo, não posso ver este trabalho de edição como uma forma de fazer dinheiro, mas antes como forma de enriquecer o meio underground nacional, dando todas as ferramentas necessárias às bandas, para que os seus trabalhos sejam divulgados. E o que estás disposto a oferecer? Acima de tudo ofereço as ferramentas de que as bandas precisam para lançar um álbum. Regra geral os músicos não têm os contactos necessários para assegurar o fabrico e a distribuição dos seus álbuns. A Firecum faz precisamente essa ponte entre as bandas e o público em geral. Por outras palavras, tratamos da produção dos CDs e fazemos o material chegar a um vasto leque de público através de parcerias de distribuição, tanto nacionais como estrangeiras, coisa que raramente as bandas por si só conseguem fazer. Como geres o lado gráfico? Geralmente damos total liberdade às bandas para expressarem a sua arte da forma que bem entenderem. Podemos dar algum apoio no que diz respeito ao produto final, mas deixamos que a linha de grafismos seja decidida pelos artistas. É claro que, no

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“[Vejo este trabalho] como forma de enriquecer o meio underground nacional, dando todas as ferramentas necessárias às bandas, para que os seus trabalhos sejam divulgados.”

final, passa sempre pela nossa mão, mas essencialmente por questões de organização gráfica e nunca por direcionamento de linhas editoriais. Como fazes para ir avaliando o sucesso dos álbuns cujo lançamento asseguras? Felizmente ou infelizmente, tudo hoje em dia é avaliado pelo sucesso comercial: uma edição que dê lucro é considerada uma edição de sucesso. Mas não avaliamos as nossas edições apenas por esse prisma. Para mim, ver uma banda a ganhar visibilidade devido a um álbum que nós ajudámos a pôr cá fora é extremamente gratificante. Uma outra forma de avaliar o sucesso de um álbum é através das críticas: um bom leque de reviews é sinónimo de que estamos a apostar bem nos nossos lançamentos. Colaboras com outras editoras como distribuidor? Sim. Tanto a nível de edição, como de distribuição, temos parcerias com editoras como a Vomit Your Shirt, NBQRecords, Non Nobis Productions, SASG Records, Martelo Pneumático ou Raising Legends. Vai sair também em breve um lançamento em parceria com a Zerowork Records e com a Raiging Planet. Este trabalho de parcerias faz com que os nossos discos cheguem a um público muito mais vasto. Manténs o teu antigo emprego? Como consegues gerir tudo? Isso é uma conversa que dava pano para mangas. Entre a minha família, o meu trabalho, a minha vida com os Booby Trap e o trabalho com a Firecum, mal tenho tempo para me coçar, mas, com vontade e a dedicação com que me entrego em tudo o que faço, arranjo maneira de conciliar tudo… Se eu viesse a entrevistar-te daqui a 20 anos, o que gostarias de poder dizer-me? Acima de tudo, gostaria de te dizer que, de alguma forma, ainda estou ligado à música, seja como artista, editor ou promotor de eventos. Esta ligação ao Metal/Punk/Rock já vai com 30 anos de muita devoção e penso que se vai manter até ao fim dos meus dias. Tenho muito orgulho em tudo o que consegui fazer em prol do underground nacional e espero manter essa ligação por muitos mais anos. Qual é a tua maior ambição para Firecum? Acho que seria chegar um dia à internacionalização, à imagem de uma Earache, talvez. Lançar bandas que venham a ser mais tarde uma referência internacional e ser reconhecida como uma das mais importantes editoras underground. Mas isso são sonhos e eu não lido com sonhos, apenas com o trabalho do dia-a-dia. Por isso, resta-me continuar com o meu trabalho e ir lidando com tudo da melhor forma possível. Contacto:

Firecum Records - Underground music for underground people https://www.facebook.com/firecumrecords http://www.firecum.com/

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Cinco anos após State of Disgrace os suecos estão de regresso com, o muito aguardado, novo registo e com uma nova abordagem na sua sonoridade. A Versus em conjunto com a HellHeaven aproveitou o lançamento do disco para falar com o simpático e acessível Tomas Andersson, guitarrista dos Corroded para fazer um resumo da matéria dada e perceber o rumo dos Corroded. Entrevista: Nuno Lopes

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Os Corroded estão de regresso após um longo período de silêncio, como é que se sentem ao estar de regresso e qual o vosso sentimento sobre Defcon Zero? Tomas Andersson - Estamos muito felizes por estar de volta e com o facto de Defcon Zero estar um disco fantástico. Foi muito tempo sem lançar discos e ter, finalmente, o disco nas lojas é um alívio e algo que sabe muito bem.

estamos mais conscientes em relação ao que queremos fazer.

A que se deveu este período de silêncio? Sobretudo devido a questões com a nossa anterior editora e com o anterior produtor que, aparentemente, não achava os Corroded uma prioridade, daí também o facto deste disco ter sido produzido por nós.

Após estes cinco anos quais são as expectactivas em relação ao disco e à forma como as pessoas vão olhar para o disco? Acho que as pessoas vão ficar surpreendidas com o disco devido à direção que seguimos. Desta vez deixámos que as nossas influências viessem ao de cima, o que faz com que este disco seja mais Thrash. Comparo muitas vezes este disco com o Cowboys From Hell, na altura que saiu apanhou toda a gente de surpresa e, acho que Defcon Zero é um disco que podia perfeitamente ter saído nessa altura e esperamos que as pessoas gostem de Defcon Zero da mesma forma que nós gostamos.

Defcon Zero foi, como disseste, produzido pela banda, consideras que esta foi a melhor opção para os Corroded? Desta vez sentimos que tínhamos que fazer as coisas desta forma, ninguém melhor que nós para saber como queremos soar, além do mais, esta foi a opção mais barata. Estamos muito satisfeitos com a forma como o disco soa e como tudo se encaixa. Agora os tempos estão mais calmos e

Este disco tem, também, algumas das canções mais fortes dos Corroded, achas que Defcon Zero marcará a vossa carreira e esta segunda vida da banda? As canções de Defcon zero são canções muito fortes e isso, só por si, já está a marcar a nossa carreira, aliás, este disco já é um marco na nossa carreira (risos!) Não havia outra forma destas canções soarem e, quisemos fazer diferente, quisemos marcar uma posição e

vincar a nossa sonoridade, daí todo o disco ser poderoso e marcar a carreira dos Corroded. A Suécia tem muitas bandas, é dificil para os Corroded entrar no mercado? Como é que olhas para a cena sueca e qual a maior dificuldade? Na Suécia é tudo muito dificil, há muitas bandas! No entanto, os Corroded não se encaixam na «cena sueca», pois não temos um som de Gotemburgo, aliás, nem somos de lá (risos), mas existe um mercado para os Corroded e temos tido sempre oportunidades para tocar! A banda nunca esteve em Portugal, será que é agora que vamos ter essa oportunidade? Como é que estão os planos de tour? Nunca estivemos em Portugal! Sabemos que temos seguidores devotos por aí e queremos muito ir aí, vamos fazer tudo para conseguir esse feito! (risos) Para já temos muitos concertos na Suécia e vamos ver o que se passa a seguir. O que podemos esperar no futuro dos Corroded? Vamos ter de esperar mais cinco anos para ter novidades? Não vamos ter de esperar tanto tempo para um novo disco, as coisas estão mais calmas e estamos numa editora que nos compreende e que compreende o nosso som e isso é muito bom, por isso, os tempos nos Corroded prometem ser muito activos. Queres deixar uma mensagem para Portugal… Sabemos que estão há espera há muito tempo, porém, não desesperem, tentaremos ir aí o mais depressa possível. Até lá, ouçam o novo disco e esperamos que gostem. https://www.facebook.com/corrodedsweden/ https://youtu.be/kRCsGwdQl3o

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Eclipse total… do coração Axel Rudi Pell é conhecido pela sua faceta mais rockeira, no entanto, por trás de um grande artista de Rock existe sempre um coração mole. «Ballads V» é a quinta compilação “baladeira” que mostra o lado mais meloso do grande artista. Enrevista: Eduardo Ramalhadeiro Transcrição/Tradução: Hugo Melo

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Olá Axel, obrigado pelo tempo que dedicaste à Versus Magazine. O álbum «Ballads IV» entrou para a posição 24 da tabela alemã, achas que este quinto volume vai ter o mesmo sucesso? Axel Rudi Pell - Eu acho que vai ser maior. Em termos de divulgação este está a ter bastante mais apoio, desde anúncios na televisão, posters espalhados por toda a Alemanha, passa na rádio. Estamos esperançados que este álbum entre no top 10. Começo esta segunda questão com o primeiro single «Love’s Holding On”.». Este single é simplesmente fantástico. Quando é que te passou pela cabeça que um dueto com a Bonnie Tyler era possível. Foi no ano passado que pensei que era tempo de ter uma vocalista feminina. Pensei logo na Bonnie Tyler porque adoro a voz dela. Passei os anos 70 e 80 a ouvi-la e a voz dela ainda é óptima. Contactei agente dela por email e perguntei se a Bonnie estava disponível para uma colaboração ao que ele afirmou que ela apenas o faria se gostasse da música. Foi a única condição. Conheci a Bonnie no ano passado quando ela deu um concerto perto da minha casa e nessa altura dei-lhe a demo ao que ela respondeu que depois o agente dela me daria uma resposta. No dia seguinte, na parte da tarde, recebi um telefonema do agente dela a dizer que a Bonnie tinha adorado a música e que aceitava fazer o dueto. Compuseste esta musica com a voz da Bonnie em mente. Qual é a diferença entre compor para um single em particular, e com uma voz em mente, e para um álbum de Axel Rudi Pell e para a voz de Johnny Gioeli. Não é uma diferença assim tão grande porque sei em que nota o Johnny se sente à vontade e até que nota é que ele consegue ir, etc. Mas quando compus esta musica pensei na nota musical do Johnny e quando a Bonnie ouviu a musica

disse que estava perfeito para ela. Neste álbum tens duas covers fantásticas. A «Hey Hey My My» de Neil Young, e uma surpreendente versão da «See Fire» de Ed Sheeran. A de Neil Young consigo compreender pela influência que ele é, mas porquê Ed Sheeran? Em 2013 ele tinha uma música que surgia no final de um filme, creio que era o Hobbit, e eu adorei essa musica, porque tinha uma grande melodia e muito sentimento. Na altura vi que era uma óptima oportunidade mas não queria fazer uma versão de guitarra, porque a guitarra já lá estava e era a de Ed Sheeran, então criámos uma versão em piano, adicionando vários elementos. Todos na banda adoraram a melodia da música. Ele gostou da tua versão? Sim, claro. És um artista que gosta de fazer várias covers. Num dos álbuns de Def Leppard, Joe Elliott, escreve no booklet, “se fores fazer uma cover, tens duas escolhas ou a fazes igual ou então torna-a completamente diferente”. Concordas com esta afirmação? Como te disse quando oiço uma faixa que gosto, não a vou tocar exactamente igual, na minha cabaça altero sempre os arranjos. Quais são as tuas principais influências e que critérios usas quando escolhes que covers fazer. Não tenho critérios. Quando faço a cover a original tem de ter uma grande melodia, tem de falar contigo. Partilhaste a produção até «Kings and Queens» com o Ulrich Poesselt e depois com Charly Bauerfeind. Porque que é que nunca o fizeste sozinho? Eu faço-o. 95% do trabalho de produção sou eu que o faço. O Charly faz apenas a parte técnica, ou seja quando quero este som mais alto, ou aquela bateria com um som um pouco diferente. Ele

trabalha com o pro-tools e ele é perfeito nesse trabalho. Conheço o trabalho do Charly com Helloween, Rage, Gammaray. Li algures que ele tem uma personalidade muito forte em estúdio. Sendo o mentor da banda, tens ideias muito fortes relativamente àquilo que queres. Como é que duas personalidades tão fortes funcionam tão bem estúdio? É óptimo. Ele faz o que eu lhe mando (risos). De facto, ele tem uma personalidade forte, mas por outro lado ele sabe exactamente aquilo que eu quero. Eu podia gravar as guitarras todas em minha casa, mas eu não gosto. Quero ter alguém a me dizer tenta isto, tenta aquilo. Ele é perfeccionista, mas 95% concordamos em tudo. Dás espaço aos teus músicos para contribuir com ideias para as tuas musicas? Desde que eu goste, tem todo o espaço (risos). Eu digo-lhes o que eu gosto de ouvir. Muitas vezes o Johnny diz que gostava de experimentar uma linha diferente e eu permito, normalmente até estamos de acordo. O Johnny é um grande cantor e vai estar em Portugal com a banda dele Hardline, espero o conseguir ver. O Johnny está contigo há imenso tempo e num mundo que está em constante mudança, tens conseguido manter a tua formação praticamente a mesma. O mesmo se aplica ao teu estilo musical. Deves ser um tipo muito simpático. Sim, sim muito simpático!! (risos) O bom, e que acaba por ser a verdade, é que nós não nos vemos assim tantas vezes. Vivemos em diferentes partes do mundo. Estamos juntos quando gravamos, no estúdio ou quando estamos em tour. Não nos vemos muito e isso é bom. Como te manténs motivado para fazer boa musica? Acho que sou um gajo com sorte,

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sabes. Às vezes a magia está no ar. Passo os dias a compor, não componho para os álbuns e, no mesmo de tanta composição às vezes compões algo que dizes epá é isto mesmo, isto soa mesmo bem. Já que passas o tempo a compor quando tens uma ideia, e como nem sempre tens o estúdio disponível que equipamento usas para gravar essas ideias? Muitas vezes tenho as ideias a tocar numa guitarra acústica e quando tenho uma boa ideia uso um gravador, depois trabalho essa em casa no equipamento digital. Estamos a viver numa era digital, no entanto começaste na era analógica. Como vês esta evolução? E muito mais fácil agora gravar as coisas. Muito mais rápido. Antes entravas num estúdio e estavas sempre a gravar a mesma coisa, vezes e vezes sem conta. Agora quando estás a gravar um riff, só levas um minuto, se te enganas consegues alterar a nota e não tens de tocar tudo outra vez. Este álbum é uma espécie de compilação. Para quando podemos esperar um novo álbum? Como te disse eu estou a compor e conto entrar em estúdio lá para o Outono. Provavelmente lá para Março haverá um novo trabalho. Ultima questão. A press release que acompanha o álbum, começa

por te caracterizar por «hardshell, soft core (…)», o que é algo cliché. Com qual te identificas mais? Não sei o que isso é (risos)… … Creio que que seja uma referência à tua parte mais rock («hardshell») e às baladas («soft core»). Qual preferes? Ambas, depende do estado de espírito em que estou na altura. Adoro as baladas, mas também adoro as musicas mais rápidas. Muito obrigado por falares com a Versus e espero ver-te em

Portugal. Muito obrigado e espero ir aí breve. https://www.facebook.com/axelrudipellofficial/ https://www.axel-rudi-pell.de/ https://youtu.be/fB19LCpsrpI

“Foi no ano passado que pensei que era tempo de ter uma vocalista feminina. Pensei logo na Bonnie Tyler porque adoro a voz dela.”

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Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves Ilustração: Ana Ramalhadeiro

O Nascimento Mãe-natureza – Sou o resultado do que mais estudais durante a vossa vida. Maltratada e exposta a todas as vossas necessidades. Sou a terra que vos suporta, a água que vos sustenta, o vento que vos embala e o fogo que vos aquece. E vós fazeis da terra e da água a vossa guerra e do vento e do fogo a vossa arma. O vosso desejo de vida seria a imortalidade mesmo sabendo que ela tornarse-ia numa sucessão de tormentos. Por cá passaram uma serie de loucos… Camus no absurdo. Nietzsche alienado e radical. Morrison no excesso ridículo. E claro está, Cristo na cruz. Homens cuja o conhecimento em nada surtiu. Homens que falaram para nações mudas, tornando-se todos os seus registos um momento lúdico, um estatuto qualquer estúpido de se estar nesta sociedade, comunidade, humanidade. Inventores que salvaram o homem, invenções que me destroem em massa a minha existência. Não fosse eu a melhor das criações.

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https://www.facebook.com/ MetalRockCity/ http://worldtv.com/metal_ rock_city_tv metalrockcity.pt@gmail.com

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O facebook ficou disponível para todos (maiores de 13) a partir de 26 de Setembro de 2006 mas a grande explosão em termos de utilizadores em Portugal deu-se maioritariamente a partir de 2009. Com o advento desta rede social surgiram muitas páginas pessoais, de grupos, de instituições, de clubes de fãs, de foruns, lojas, etc. Foi neste clima de euforia de criação de páginas no facebook que surgiu a página Ballads & Stuff em Abril de 2011 e que haveria de estar na genese da Metal Rock City. A Ballads & Stuff era um projecto de uma só pessoa e que diarimente, sempre às 21:00 horas, emitia uma espécie de show que consistia na divulgação de videoclips, mormente baladas, acrescentando sempre a cada um deles algum conteúdo informativo. Nestes shows promovia-se a interacção com os seguidores que frequentavam assiduamente este espaço. A exigência diária do Ballads & Stuff era enorme pois os shows eram preparados com antecedência e critério e cada post recheado com informação relevante associada à música, à banda ou ao tema. Aquilo que no início começou por ser um passatempo rapidamente passou a uma obrigação saudável dado o interesse manifestado pelos seguidores do “B&S” e o tempo exigido para preparar os shows era cada vez maior. Foi precisamente a falta de tempo que levou à tomada de decisão de abdicar da Ballads & Stuff para iniciar um novo projecto que fosse construído por mais que uma pessoa para assim garantir maior diversidade, qualidade e longevidade. O conceito foi sendo amadurecido pelo seu criador e a 25 de Julho de 2011 foi fundada a Metal Rock City. Os fundadores são Paulo Jorge (Maia), Gabriel Sousa (Maia), Elisabete Ferreira (Gondomar) , Márcio Guedes (Porto), Emanuel Roriz (Braga), Marta Susana (Lisboa) e Carla Ferreira (Ovar). Mais tarde viria a juntar-se o Paulo Rodrigues de Viseu. O conceito inicial da Metal Rock City era implementar uma espécie de rádio / televisão com um show diário às 21:00 e em que cada dia da semana tinha o seu responsável cujo ‘show’ não poderia durar mais de 120 minutos ou um limite máximo de 20 posts de videoclips onde todas as publicações eram numeradas e precedidas pelas iniciais do seu autor. Era uma espécie de rádio onde a locução era substituída pela escrita e o audio era substituído pelo vídeo. Os shows diários eram temáticos e a escolha do tema era da responsabilidade do apresentador de serviço. A Metal Rock City é uma página sólida que abrange todos os estilos de Rock e Metal tais como rock, hard rock,

nwobhm, heavy metal, power metal, symphonic metal, gothic metal, death metal, black metal, doom metal, speed metal, thrash metal, etc.... O grande objectivo da MRC é promover a música pesada e a união de todos os metalheads onde o principal lema é “The city of all nations united”. A página ainda que portuguesa foi concebida para ser internacional pelo que desde o início a lingua utilizada é o inglês, mas por vezes também já se usou francês, espanhol e até italiano. Com alguma naturalidade a aderência foi considerável e rapidamente se chegou aos milhares de seguidores em todo o mundo, tendo actualmente cerca de 27000 seguidores, não sendo mais porque as políticas do facebook restringiram certos limites. Actividades Para além dos shows temáticos diários a MRC promoveu e apoiou várias actividades e iniciativas não só nacionais mas internacionais: - Realização de passatempos com a entrega de prémios - Produção de t-shirts - Gravação de um CD (em mp3) intitulado “Downtown” cujo principal objectivo foi divulgar e promover o metal lusitano por esse mundo fora. - Programas de rádio apoiados e realizados por fundadores da MRC - Criação de uma página de televisão online “MRC TV” - Divulgação de bandas nas páginas da MRC e programas de rádio - Promoção de editoras que nos enviam os trabalhos das suas bandas - Cobertura de concertos com posterior divulgação de videos do mesmo - Promoção e divulgação de concertos e outros eventos - Patrocínio a bandas para o lançamento dos seus discos. Actualmente tanto a Ballads & Staff como a Metal Rock City estão numa fase de pouca actividade em virtude da manifesta falta de tempo dos seus colaboradores. Acredito que com a adesão de alguns membros da MRC à revista Versus a primeira possa voltar a emitir em força sobretudo na divulgação dos artigos da revista e principalmente das editoras e outras parcerias que nela colaboram. Paulo Jorge

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“Estaremos a ir longe demais?” Os Italianos Barock Project são já um dos grande valores emergentes do Rock Progressivo Europeu. O sucessor de «Skyline» está a dar muito que falar. Será que Luca Zabbini e companhia foram longe demais? Entrevista: Ivo Quintas

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Olá, temos estado a ouvir o vosso último album, e gostaríamos de saber da reacção quer dos vossos fans, quer da comunicação social em geral, ao “Detachment” Luca Zabbini - Posso dizer que, estou até, um pouco surpreendido com a reação dos ouvintes. Sempre que faço um novo álbum, não me quero repetir, então tento “empurrar” a minha composição um pouco mais longe. Quando chegou a hora de lançar este disco, tive alguns momentos de pânico em que me perguntava: “Estarei a ir longe demais?” De certa forma, é exatamente o que eu queria fazer, mas tens sempre que te colocar no lugar do ouvinte e naqueles que estão acostumados a identificar a tua música de uma determinada maneira. Eu acho que também tem havido um verdadeiro "distanciamento" (detachment) aqui, estilisticamente falando. Eu estava, e estou ainda, assustado com as reações dos fãs que vão ouvir este disco pela primeira vez. Mas devo dizer que tenho ficado espantado com a unanimidade dos ouvintes em apreciá-lo tanto. Honestamente, não esperava isto. É um álbum extremamente diferente dos anteriores, muito mais focado no estilo canção e nas emoções, do que em “desenvolvimentos” e virtuosismo. O que importa para mim no final, é comunicar o que sinto e se tiver sucesso com isso, fico mais do que feliz. Musicalmente falando, quais as principais diferenças entre o «Skyline» e o «Detachment»? É uma continuação ou uma evolução, (ou ambas)? Eu acho que são ambas as coisas. Enquanto no "Skyline" as canções foram concebidas separadamente, em "Detachment" há um tipo de ligação entre as músicas e, embora eu não o considere um álbum conceptual, ainda assim é uma história. É o resultado de uma necessidade pessoal, do desejo de comunicar algo tão complexo quanto possível. Eu não queria escrever suites longas e intrincadas

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com um sabor muito 'prog', por isso foi natural a abordagem mais ao estilo da “canção”. Comunicarme dessa maneira é algo muito "visceral", vem mais do ventre do que da cabeça, não sei como explicá-lo melhor. E eu divertime muito no processo de escrita, porque senti-me muito mais livre para expressar o que vivi na época e dessa forma senti-me honesto comigo próprio, livre de possíveis preconceitos por parte de alguns membros da banda e do fato de que a música não fosse suficientemente "prog" ou "orientada à técnica". Além disso, eu tinha que construí-las à volta da minha voz, e cantá-las deu-me a oportunidade de expressar a 100% o que eu tinha em mente. Enquanto no passado, gravei as minhas “demos”, e mesmo que elas fossem cantadas por mim, quem as cantava depois nem sempre as gravava com a intenção inicial. … e ao nível das letras, algum conceito por trás? Genericamente, “Detachment” é sobre as fases mais importantes do despreendimento, emocional, mas também físico. Esse distanciamento pode ser devido ao abandono de um lugar ou de um objeto querido, que inicialmente nos causa muito sofrimento, e por isso faz-nos refletir. O nosso cérebro entra num estado de auto-proteção e preservação, e depois de fases de desespero, incompreensão, raiva e culpa, vem a aceitação, começando a fazer-nos ver tudo a partir de uma perspectiva diferente. Simplificando, depois da dor, crescemos e aprendemos automaticamente a ser mais sábios, retratando os eventos mais objetivamente, com uma mente crítica, longe do modo destrutivo. De alguma forma, as alterações na constituição da banda, influenciou o «Detachment»? A única diferença é a ausência do vocalista, Luca Pancaldi. Para o resto, o “line-up” é mais ou menos o mesmo que no álbum

anterior: Eric Ombelli na bateria, Mazzuoccolo nas guitarras elétricas. Entretanto, este é o primeiro álbum de estúdio com Caliendo no baixo (o anterior era o álbum ao vivo "Vivo"). Fui capaz de persuadir Ombelli a inserir uma música neste álbum, intitulado "Promises". Eu considero uma bela peao de um ponto de vista técnico e eu acho que faz um contra-equilíbrio ao humor "sonhador" do disco. Muito mudou desde a nossa última conversa. Podes falar sobre essas mudanças e apresentar os novos membros BP? As mudanças dentro dos Barock, foram ditadas pelas necessidades individuais de cada um dos seus membros. Posso dizer-te que agora o relacionamento é de amizade, mas antes de tudo somos profissionais. Isto é o que faz a diferença. Existe um respeito recíproco entre todos e o ambiente de trabalho musical é definitivamente mais sereno para mim. Com Francesco, o baixista, tenho um relacionamento que já vem antes de ele se juntar à banda, há anos tocámos juntos na Sardenha durante as épocas de verão. A sua chegada, juntamente com o novo vocalista Alex, foi a melhor coisa que poderia acontecer à banda e estou muito feliz com isso. Depois que o Marco e o Eric decidiram “embarcar” em fazer música em cruzeiros, o Andy (bateria) e o Giacomo (guitarra elétrica) vieram. São dois bons profissionais que gostam de trabalhar construtivamente. Infelizmente isso não aconteceu no passado, e os concertos ao vivo ressentiam-se um pouco. Vocês (segundo sabemos), estão a conseguir algum “buzz” no Japão. Esse é um Mercado “central” para os BP? Eu acho que o público japonês tem um grande respeito pela música e músicos em geral. Isso fez aumentar a minha estima por eles. Dito isto, eu estou imensamente feliz que o Japão preste especial


“Eu estava, e estou ainda, assustado com as reações dos fãs que vão ouvir este disco pela primeira vez. “ 2 7 / VERSUS MAGAZINE


atenção a esta banda, mas ao mesmo tempo eu acho que os Barock Project merecem-no. Uma coisa que nos chamou a atenção (comparando o «Detachment» com o «Skyline») foi o “artwork”. Pareceu-nos que houve intenção de tornar este último mais simples. Se sim, por algum motivo? Eu vi um rascunho desta imagem/ retrato enquanto trabalhava no disco. Gostei, eu senti que combinava bem com os temas e histórias das canções, especialmente o detalhe das folhas mortas sobre a jovem. Tanto que escolhi como símbolo do “Detachment”, a separação de uma folha da sua própria árvore. Eu gosto porque é de fácil comunicação. Acho que é muito direto. Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Peter Jones? As músicas foram criadas com ele já em mente? A colaboração com o Peter começou quando eu já tinha escrito e gravado todas as músicas. Havia três temas sem letras e o nosso “manager” contatou-o para trabalhar neles. Estiveram em alguns festivais fora de Itália. Como reagiram esses públicos aos BP? Sabes, é estranho. Todas as vezes que toquei no exterior, não apenas com os Barock Project, senti muitos sentimentos diferentes. A maior diferença foi que não senti nenhuma competição dos colegas (músicos). Há sempre uma enorme colaboração de todos e um sentimento de "fraternidade". No exterior, os fãs e o público em geral são muito mais receptivos e entusiastas, mas acima de tudo respeitadores dos artistas. Esta é a coisa que mais está a faltar em Itália e é algo muito sério. Os membros dos BP não são (parece-nos) “vizinhos” (Francesco está na Holanda, por exemplo). Como fazem para ensaiar? Usam

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alguma tecnoclogia de forma a “eliminar a distância”? A única tecnologia que usamos para nos encontrar são os aviões, combóios e carros. Na realidade, ainda não há maneira de fazer ensaios baseados na Internet devido aos problemas da latência. No entanto, posso dizer-te que agora, apesar das distâncias, conseguimos ensaios muito mais produtivos do que no passado com o antigo alinhamento, quando todos éramos vizinhos. Podíamos fazer vinte ensaios por mês, mas muitos eram frustrantes e inconclusivos. Agora trabalho com músicos profissionais e, apesar das distâncias, quando nos reunimos para ensaiar, fazemos isso seriamente. Falando sobre Tecnologia, a indústria mudou imenso. Como vês o futuro para as bandas neste negócio? Eu acho que, tecnologicamente falando, seria bom que no futuro, cada banda tivesse a hipótese de ser capaz de se expressar tanto ao vivo como nos álbuns de estúdio. Demos grandes passos nos últimos anos. Estou-me a referir ao fato de que enquanto há uns tempos, poucos se poderiam dar ao luxo de gravar um disco de qualidade em grandes estúdios, agora isso pode ser feito num estúdio em casa praticamente com os mesmos resultados. O ponto é que há demasiada música ao nosso redor e nem sempre é qualitativamente bem orientada. Gostaria que esses enormes avanços tecnológicas feitos no campo da gravação em casa, se aplicassem cada vez mais a diversas situações da vida. Por exemplo, falando em situações como grandes festivais, onde as bandas (incluindo nós) não têm o tempo, o material para verificar e ajustar o volume, ouvir e definir os instrumentos, aumentando assim o risco de um desempenho mau. Sabes, hoje em dia a tecnologia é 50% do desempenho ao vivo, já não é apenas o quão bem estás a tocar. Depende de quanto tempo tens para preparar tudo

o que precisas, para maximizar o teu desempenho. Se adicionares a ansiedade e os pensamentos de que algumas ferramentas diabólicas te vão abandonar no palco, pode-se tornar um pesadelo. Posso-te dizer que desde que me livrei do computador no palco, toco muito mais relaxado! Os BP têm agora 10 anos. O que esperam e querem que aconteça nos próximos 10? Desculpa corrigir-te, mas os Barock Project farão 14 anos no inverno. Foram anos intermináveis para mim, muitos dos quais sentime como que a bater a cabeça diversas vezes contra uma parede. A minha determinação em levar adiante este projeto resultou nos dois últimos álbuns, caso contrário eles nunca teriam aparecido. Para o futuro eu gostaria de ter a oportunidade de espalhar a nossa música ainda de forma mais profissional. Agrada-me a idéia de uma equipa que cuida de tudo por trás da máquina dos BP e adoraria apenas me preocupar com a música que escrevo e as notas que tenho que tocar no palco. Neste momento ainda não chegámos a esse ponto. Por favor, completa as seguintes frases: “Eu morreria feliz se partilhasse o palco com…” (músicos ou bandas no activo) Ian Anderson “Eu adorava ter tido parte no álbum … “ Qualquer um dos Beatles. https://www.facebook.com/barockproject/ https://youtu.be/3wj1ghguu8c


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Wait Until Dark Emoção Vs Razão

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Os Wait Until Dark são mais uma banda que tenta despertar na música em Portugal. Um estilo diferente daqueles que costumam povoar o universo da Versus mas não terá sido por isso que não gostámos do que ouvimos. Tomam a palavra André Ferreira e Gustavo Liberdade Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro

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“Sem dúvida que queremos contaminar ao máximo, o maior número de terráqueos. A Antena 3 foi um bom início [...]”

Quem são os WUD? De onde vêm e para onde vão? Essa é uma pergunta que ainda nos colocamos a nós mesmos… Ainda não sabemos bem quem somos nem de onde viemos. Contudo, sabemos e sentimos, que cá chegámos com um propósito. Qual, concretamente? Essa será a busca que faremos ao desfilar o avanço do que criamos. Sentimos contudo, que o estamos descobrir um pouco mais, a cada dia que convivemos com esta complexa e curiosa raça os humanos. Como é que surgiu a oportunidade de se juntarem os dois e criar os WUD? Na realidade somos três. O terceiro elemento, o menos sociável dos três, responsável pelos Live Visuals que são uma orgânica importante da nossa galeria de ideias e que, em cada concerto, enfatiza a experiência sensorial que pretendemos transmitir a todos, sempre que vos convidamos a conhecerem um pouco melhor tudo aquilo que expomos. Não foi propriamente uma oportunidade que surgiu para nos juntarmos. Achamos sim, que existe algum lado de predestinação, misturado com o facto de, como espécie, termos de arranjar um escape e uma forma de catarse e comunicação com quem nos rodeia. Sabemos à priori, que a música e as artes visuais, que aliamos narrativamente, são a nossa combustão, e com elas, tentamos ainda descobrir o que pretendemos dizer e partilhar

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convosco. O que significa o nome da banda e do álbum? WUD estará intimamente ligado com a música e/ou letras? Wait Until Dark representa, efetivamente, as motivações da nossa estirpe. É no escuro onde encontramos o nosso maior conforto. E é por ele que esperamos, sempre, para formalizar tudo aquilo que fazemos, através da música e das história que pretendemos contar. Se o nome está, de alguma forma, interligado com a música que concebemos? Sentimos que sim. É música para ser ouvida, sentida e dissecada na intranquilidade da noite… Relativamente às letras, essas são um reflexo direto do que sentimos, ao confrontar-nos com a condição humana e com o que ela nos transmite, no seu estado mais bruto e concreto. São pensamentos dispares mas, dubiamente interligados entre si, contando varias histórias que se debruçam sobre os sentimentos e condutas que assolam quem neste globo vive. Digamos que é uma interpretação nossa, disso mesmo. «Heart x Cortex» é o primeiro álbum, o single «Higher» teve estreia exclusiva na Antena 3. Como é que está a ser a recepção à vossa música? Sabemos à priori, que o nosso estilo musical não é, à primeira vista, muito consensual ou confortável ao ouvido humano. Contudo, achamos que está a

ter uma receptividade positiva. Somos seres que ainda precisam de ser melhor compreendidos para que haja uma maior abertura de quem nos ouve. Sem dúvida que queremos contaminar ao máximo, o maior numero de terráqueos. A Antena 3 foi um bom início… ou um bom presságio. … Heart x Cortex: emoção x razão? Emoção x pensamento? Esta dicotomia do título está presente na música ou nas letras ou em ambos? Esta dicotomia é sobretudo, o que melhor vos caracteriza enquanto humanos. É sobre ela que pretendemos atingir a vossa condição. Muitos de vocês são movidos pela razão, mas também pela emoção. Ambas podem tornar-se armas letais. Nós preferimos caracterizar esta dicotomia através das artes que desenvolvemos e chegar até vós da forma mais harmoniosa e agregadora possível. Sendo simultaneamente curioso que, contaminados por vós ou misteriosamente concebidos com semelhantes opostos, exista também em nós, tão estimulante dicotomia. No que aos WUD diz respeito, vocês pensam mais com a cabeça ou com o coração? Acreditamos que é com a emoção que conseguimos ir mais longe, mas não descuramos a importância e pertinência da razão, é ela que nos dá as ferramentas que precisamos para chegar até vós.


Qual é a relação entre os temas: “Higher”, “Helical” e “Basorexia”? Vocês falam numa trilogia em animação… A relação entre estes três temas é muito ténue. Estas três músicas constroem uma pirâmide que sustenta o nosso storytelling, através de uma trilogia que vos parecendo animação, é na verdade, a mais real das imagens da nossa espécie em movimento. A “Higher”, latente no primeiro vídeo que já foi lançado, mostra-vos a nossa primeira intervenção, “às claras”, junto dos humanos. A “Helical” e a “Basorexia” seguem um consequente padrão, onde mudam as circunstâncias e as motivações humanas aliadas a determinados contextos. Fiquem atentos… vai valer a pena seguir (risos). Como disse este não é o tipo de música que ouça todos os dias, no entanto, para um gajo que está mais virado para o metal, vocês conseguiram cativá-lo ao ponto de preparar ume entrevista. (risos) Eu defino «Heart x Cortex» como Industrial/Electrónico. Mas estou a correr o risco de estar a ser algo redutor e me parece que a vossa música vai muito para além disso. Sendo assim, para os leitores da Versus, ajudem-me a definir, musicalmente, os WUD. (risos) Como te entendemos (risos). Não é fácil definir o nosso território musical. Sobretudo, por deambular em vários ambientes e texturas. Na verdade, até ficamos muito satisfeitos por um amante e seguidor de metal como tu, tenha sido cativado pela nossa sonoridade. “Heart x Cortex” tem uma forte carga industrial e electrónica, sem dúvida. Mas também consideramos ter uma orgânica e uma gênese pura de rock, onde procuramos trabalhar melodias e harmonias que caracterizam intensamente o nosso habitat, através de um dark wave que nos é tão característico. Nunca seremos um projeto de um só estilo. Somos uma espécie agregadora, e talvez seja por essa

razão que tendemos em colocar na nossa música mais do que uma vertente específica musical. Até porque, não conseguimos com esta leitura não humana, compreender ao certo as balizas onde tantas vezes a expressão musical dos homens é rotulada.

propositadamente, produzida para esse efeito. Sentimos que seria um bom cartão de visita para nos aproximar de vós. Mas se atentarem à grande maioria das restantes faixas, esse lado melódico e estrutural nunca desaparece.

Quais são as influências musicais em que vocês se apoiaram para compor «Heart x Cortex»? Do pouco tempo que temos contacto com o que ouvimos feito por vós, já deu para ver e sentir algumas bandas/artistas que nos enchem do peito às garras. Podemos dar alguns exemplos, tais como, Crosses, Gary Numan, Nine Inch Nails, Iamx, Moderat, Depeche Mode, entre muitos outros humanos que fascinam este agregado de estranhos e subterrâneos bichos…

A Raising Legends é uma excelente editora… como é que surgiu esta colaboração e o que esperam deles? O André Matos foi dos primeiros seres da superfície por quem nutrimos uma empatia imediata. Na verdade, ele entendeu logo que a nossa complexidade podia surtir alguns frutos. Desde já, aproveitamos a oportunidade para demonstrar não só o nosso apreço pela Raising Legends, como o esforço impresso pelo André, na procura de plataformas, contactos e espaços que esta espécie de toupeiras mutantes precisa para vos atingir.

É a primeira vez que pergunto isto a um duo… como é o vosso processo de compor os temas? É muito simples, direto e conciso. Tudo o que queremos dizer e fazer em termos musicais, já está previamente definido. Basta sentar-nos e formalizar tudo isso em canções. A juntar a isso, auxiliamo-nos de quando em vez, de variados néctares espirituosos com que regamos o coração, em alturas de maior contenção. Voltando ao primeiro single “Higher”. Este destaca-se por ser mais… chamem-lhe comercial, melódico – deve ser por isso que é o meu preferido. (risos) Isto foi feito com essa intenção? … de ser o primeiro e mais “amigável” para apresentar nas rádios? Já descobrimos convosco, que o Marketing tem um poder muito especial sobre a forma como vocês humanos consomem e sentem a música. A “Higher” surgiu-nos como a música mais “redonda” do ponto de vista estrutural. A mais fácil de interpretar… talvez por isso vos seja mais aprazível. É a menos “aparentemente” complexa. Contudo, não foi

Ainda não vos consegui ver e ouvir ao vivo. Como é que são os vossos espectáculos e como reage o público quando ouve WUD? Há um certo desconforto inicial, na verdade. Mas garantimos-te que é um desconforto agradável. Não sabemos fazer as coisas sem intensidade. E é essa intensidade que sentirás, indo a um concerto nosso. Sobretudo, queremos oferecer uma nova experiência sensorial a quem nos vê ao vivo. Acho que vale a pena testemunhares esse momento. Estás mais do que convidado a conhecer fisicamente, uma espécie estranha mas amistosa e sempre com um espírito de comunhão e partilha. Obrigado pelo vosso tempo! Obrigado nós, pela oportunidade. Saudações :) https://www.facebook.com/waituntildark. project/ https://youtu.be/k8eFX-Xn1T8

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Os Media e o Público Por: Nuno Lopes (https://www.facebook.com/hellheavenmetalmusic)

Desde o inicio dos tempos que a relação entre público e media nunca foi a melhor, por todos os motivos e mais algums, mas por norma, devido a linha ténue que nos define como seres pensantes, e esse é o livre arbítrio. E é aí que, muitas vezes, tudo se desmorona. Quase que existe uma batalha épica entre aquilo que é a análise e a opinião jornalisticica e aquilo que é a opinião do público. Porém, num factor estamos de acordo, sem qualquer um de nós não haveria bandas de culto, bandas mainstream ou underground e, acima de tudo e no limite, não haveria música e motivo de conversa. Com isto, quero aplaudir o Louder Than All, organizado pela Songs For the Deaf, que veio mostrar que estamos todos errados e todos certos. Quero aplaudir aquilo que tem sido o caminho destes colegas na divulgação do nosso género. Da mesma forma que, aplaudo o esforço que tem sido feito para levantar a SuperFM. Eventos que, acima demonstram que, afinal, não existem assim tantos graus de separação entre nós e fazer o mundo girar. Fica assim provado que esta é uma guerra sem quartel, sem sentido porque, uma vez mais, juntos somos um só e que, afinal, até somos muitos. Deixem-se de Merdas, quem fica a beneficiar somos todos nós, media, público, bandas, promotores, e isso é que é espectacular porque, afinal o Metal move multidões e paixões.

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Playlist Carlos Filipe

Helder Mendes

Testament Live at the Fillmore WASP - Live... in the raw Amorphis - Under The Red Cloud Tour Edition Bonus An Evening With Friends At Huvila My Sleeping Karma - Mela Ananda - Live Sollertia - Light Body Count - Bloodlust Ex Deo - The Immortal Wars

Carcass - Necroticism: Descanting the Insalubrious Psychedelic Witchcraft - Magick Rites and Spells Paatos - Breathing Emperor - In The Nightside Eclipse Paradise Lost - Icon

Cristina Sá Au-Dessus – End of Chapter Lunar Shadow – Far From Light Merrimack – Omegaphilia Mord’A’Stigmata – Hope Mosaic – Old Man’s Wyntar Time Lurker – Time Lurker Fäulnis – Antikult

Ivo Broncas Gojira - Magma Lamb of God - Resolution Mastodon - Emperor of sand Soundgarden - Superunknown Korn - The Serinity of Suffering

Hugo Melo

The Night Flight Orchestra - Amber Galactic Alestorm - No Grave But The Sea Harem Scarem - United Next to None - Phases

Body Count - Bloodlust Sepultura - Roots Anneke Van Giersbergen and Danny Cavanagh - In Parallel The Moon and the Night Spirit - Of Dreams Forgotten And Fables Untold Khaos Dei - Opus II- Catechism

Emanuel Roriz

Paulo Freitas Jorge

Bent Knee - Land Animal Guns ‘n Roses - Appetite for Destruction Inquisition - Invoking the majestic throne of Satan Iberia - Much higher than a hope Stoned Jesus - Seven thunders roar

Hell’s Crows - Hell’s Crows Iced Earth - Incorruptible Sunless Sky - Doppelganger White Skull – Will Of The Strong Andadarius – Between The Shadows Fogalord – Masters of War Tankard – One Foot in the Grave

Eduardo Ramalhadeuro

Frederico Figueiredo Johnny Cash - American Recordings Necromantia - Crossing the Fiery Path Raison d’Être - Prospectus I Heroin & Your Veins - Lovely Bone Structure Om - Conference of the Birds Cradle of Filth - Dusk... and her Embrace The Original Sin

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A editora bicÊfala Satisfaz, em simultâneo, os amantes do Rock Progressivo e os de Black Metal: dois em um!!! Entrevista: Ernesto Martins e CSA

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CSA e Ernesto – Olá, Martin. És detentor de uma espécie de dupla entidade: representas a Dark Essence, para o Metal extremo, e a Karisma, para o Rock Progressivo. Antes de mais, gostaríamos de um resumo da tua vida com esta “editora de duas cabeças”. Martin – Tudo começou em 2003, com a Karisma Records, que começou por ser uma editora Indie/Pop. Eu e o Vgandr (de Helheim) associámo-nos à editora e decidimos que queríamos fazer alguns lançamentos de Metal. Portanto, para não haver confusões com bandas, fãs ou distribuidores, decidimos ter duas editoras. Depois de vários anos a trabalhar em coisas diferentes com a Karisma Records, decidimos mudar de direção em 2009. Como somos grandes fãs do Metal Progressivo dos anos 70, sentimos que éramos mais eficientes a trabalhar com esse estilo e que queríamos dedicar-nos exclusivamente ao Prog Rock e às bandas que o faziam, ao mesmo tempo que íamos construindo a Dark Essence Records. E este esquema funcionou muito bem. Os fãs de Prog Rock e de Metal estão atentos ao nosso trabalho relacionado com as duas cenas e sempre à procura de nova música. E ainda compram álbuns, o que é importante para ambas as editoras. Queremos lançar álbuns e não apenas um amontoado de singles apresentados na internet, como fazem muitos artistas e editoras nos tempos que correm. CSA e Ernesto – Quais são os aspetos que mais vos interessam na música de uma banda, para cada uma das editoras? Para ambas as editoras, procuramos bandas boas dentro do seu estilo e género específicos. Têm de apresentar a atitude que nos parece adequada e criar música do estilo que nos interessa (isto é, Thrash, Death, Black, Prog dos anos 70, Jazz/Prog Rock), de um modo perfeito, ou então têm de apresentar algo original. Pessoalmente, prefiro bandas que não soam como qualquer outra, ou seja, que têm um som especial e único. CSA e Ernesto – O que tem cada editora para oferecer aos seus “filhos musicais”? Vemos a nossa relação com as bandas com quem trabalhamos sob a forma de uma cooperação que nos envolve a nós e também aos seus membros e queremos crescer ao mesmo tempo que elas. Fornecemos bons serviços de distribuição, promoção e meios para fazerem chegar a sua música a qualquer possível fã. Além disso, damos-lhe total liberdade do ponto de vista artístico. Ernesto – Muitas bandas do catálogo da Karisma vêm da Noruega. Trata-se de uma coincidência ou favorecem as bandas nacionais? É uma coincidência. Não procuramos só bandas norueguesas, mas acontece que, no ano passado, surgiram muitas bandas novas no nosso país, com

características Prog e um bom perfil, como, por exemplo, Seven Impale, D’accorD e Shaman Elephant. Eu acredito que somos um bom lar para estas bandas e que as ajudamos muito a dar a conhecer a sua música a um grande número de ouvintes. Mas, se tropeçarmos em bandas boas fora da Noruega, é claro que nos mostraremos logo interessados em ver o que podemos fazer por elas. Ernesto - Magic Pie, Seven Impale, Ossicles e Airbag são bons exemplos que comprovam que o talento musical na Noruega ultrapassa largamente as fronteiras do Black Metal. Que retorno estão a receber sobre os vossos lançamentos com bandas desta natureza? A reação aos lançamentos da Karisma Records é muito boa. A comunidade Prog não é muito diferente da do Metal e o Rock Progressivo tem muitos fãs. Ambos os álbuns de Seven Impale têm estado na lista dos Top 10 na Progarcives.com e Airbag é provavelmente a nossa banda que mais vende, tendo em conta as duas editoras. Portanto, há muito gosto por este tipo de música e o interesse das bandas nórdicas pelo Rock Progressivo é considerável. CSA e Ernesto – E que staff tem a editora? Geralmente, há poucas pessoas que desempenham uma série de funções em simultâneo. É esse o caso de Dark Essence/Karisma? Mais ou menos. Ao todo somos 6 desempenhando várias funções para a Karisma Records e a Dark Essence Records. CSA – Eu gostava especialmente de saber se têm um artista gráfico da casa encarregado de criar as capas e de fazer o lay out para os lançamentos das vossas bandas. Mais ou menos. As bandas têm a liberdade de trabalhar com quem escolheram, mas um dos donos da Karisma Karisma & Dark Essence Records é artista gráfico e faz muito trabalho. Também trabalhamos muito com o H’grimnir de Helheim, que é igualmente um artista gráfico. E também já trabalhámos muito com o Costin Chioreanu da Twilight 13 Media para capas. CSA e Ernesto – Que banda do catálogo vos deu a maior sensação de sucesso? E porquê? Essa é uma pergunta difícil. Não foi só uma, há várias. Mas, pessoalmente, devido a uma amizade de longa data e por ser fã da banda há imenso tempo, adorei lançar o último álbum de Virus. Na minha opinião, eles são a banda mais progressiva e focada no futuro que possa existir. Mas também é sempre agradável descobrir uma jovem banda (como Seven Impale, por exemplo) e ver a reação que obténs ao dá-la a conhecer ao mundo,

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“[...] Eu e o Vgandr (de Helheim) associámonos à editora e decidimos que queríamos fazer alguns lançamentos de Metal. Portanto, para não haver confusões [...] decidimos ter duas editoras. [...]”

CSA – Já estiveste nalguma banda? Se assim foi, até que ponto ser/ter sido um músico ajuda, quando estás aos comandos de uma editora musical? Sim, há muitos anos atrás. Portanto, compreendo bem a situação das bandas. Além disso, o meu caro colega Bjørnar Nilsen é a alma de bandas como e Black Hole Generator, logo, entre os dois, temos uma noção muito clara das necessidades de uma banda e isso ajuda-nos a compreender a sua perspetiva. CSA – E já foste entrevistado para uma revista de música? Que revista era e quando aconteceu isso? Sim. Não me lembro das datas precisas, mas, ao longo dos anos, fui entrevistado por várias: por exemplo, PROG Magazine, Terrorizer, Eternal-Terror.com, Heavymetal. Mas houve outras. CSA – Tiveste a sensação de que isso deu maios projeção à editora, de que era uma

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forma de a promover e também aos artistas com quem trabalhas? Qualquer coisa centrada nas editoras ajuda, é claro, e eu também gosto de ler artigos sobre as pessoas que trabalham nos bastidores. Dá-te uma melhor compreensão da forma como as coisas funcionam na indústria musical. E penso que sim., que é uma boa maneira de promover a editora e as bandas. CSA – imagina que podias ter acesso a qualquer coisa que quisesses relacionada com a editora. O que pedirias? Hmmm, estamos sempre pressionados pelo tempo. Portanto, acho que pediria mais tempo para tratar de cada um dos lançamentos que passam pelas nossas mãos e que estes recebessem ainda mais atenção do público. Está tudo a correr muito bem actualmente, mas mais tempo e recursos ajudariam. Obrigado pela entrevista. https://www.facebook.com/darkessencerecords/ https://www.facebook.com/KarismaRecords/


solstício Miguel Tiago [2017]

tivemos um solstício curto ao contrário dos que vivem as horas independentemente da época umas sobre as outras sem distinção uma noite curta um dia não tão longo quanto a translacção do planeta parecia permitir traídos por uma precessão própria quem sabe isto de a terra ter dois pólos acaba por influenciar os nativos de todos os signos poemas madrugadas poemas meia noite e tanto o sorriso se esvai em lágrimas como os pulsos latejam sangue pressuroso para escorrer sob as unhas dos que sem saber da estrela polar se desorientam por mais que gritem ao vento tivemos um solstício curto disso nada sabem os sãos para quem os dias e as noites e as horas e os minutos têm todos, uns atrás dos outros, para sempre, o mesmo comprimento de uma cobra que se alimenta da cauda sem princípio nem fim que começa e acaba no espectro do audível na vibração perceptível de todas as partículas menos as de si próprios que passaram a barreira do som e já só os gatos as ouvem tivemos as mãos atadas por uma guita fina chamada vontade ou falta dela tivemos as mãos libertas por uma faca romba do mesmo nome ou falta dele. eu nunca serei o cheiro da chuva no chão porque não cheguei a nuvem eu nunca serei foz porque me afoguei na nascente.

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O

s lusitanos Grog são um dos colectivos de maior longevidade no panorama Death/Grind nacional e, no ano em que comemoram o 25º aniversário provam, uma vez mais, o porquê desta longevidade com um novo registo, «Ablutionary Rituals» é mais um passo em frente não apenas na sonoridade mas, também, na forma como os Grog se mantêm fieis a um género que ajudaram a criar. A HellHeaven esteve à conversa com Pedro Pedra, o eterno líder dos Grog que, como sempre não teve meias mediadas. Entrevista: Nuno Lopes

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25 anos de Grog e a coisa não parece querer parar! Como é que conseguem manter o espirito Grog ao longo do tempo? Pedro Pedra: Penso que não há uma fórmula para explicar a longevidade dos Grog. Creio tratar-se mais de uma combinação de factores. Já passamos por fases menos boas e soubemos ultrapassá-las, por isso talvez arrisque dizer que a persistência seja um deles, associado com a vontade de continuar a fazer a nossa música. Tudo o resto acontece com muita dedicação, esforço e trabalho. Ainda se lembram dos primeiros tempos? O que mais recordam? Os primeiros anos são sempre marcantes pois definem a estrutura da banda e a sua música. Eramos todos adolescentes e queríamos arriscar fazer o que muitos já faziam, mas seguindo sempre as nossas ideias musicais. Tínhamos talvez mais dependência dos nossos ídolos e, sem margem para dúvida, todos nós estávamos num processo de descoberta das nossas habilidades instrumentais. Havia muita ingenuidade, mas esta pureza também nos ajudou a crescer em todos os processos de criação e maturação não só enquanto pessoas, mas também enquanto músicos. Havia um convívio mais descontraído

pois as responsabilidades eram menores na altura, mas os ensaios, os concertos, o tape trading, as fanzines, os encontros com os amigos que também tinham bandas, o Bairro Alto e o Cais do Sodré (Gingão e Lusitano) tinham uma outra mística. Não digo que eram tempos melhores ou piores que os actuais, mas foram tempos com uma magia muito singular que hoje já não se vive ou vive-se de forma muito diferente. «Ablutionary Rituals» é o presente, e é um disco que, podemos dizer, marca uma viragem na sonoridade da banda, o que mudou neste disco? Não sei se há uma viragem assim tão demarcada, contudo há uma clara intenção de fazer coisas que ainda não tínhamos feito e aperfeiçoar outras que eram necessárias. Este trabalho é o primeiro que é totalmente composto por esta formação, ou seja, desta vez não fomos tirar temas do baú para recuperá-los. Começamos um processo criativo do zero e definimos algumas metas para chegar ao resultado que é conhecido. Por outro lado, também gravamos este disco com a nossa nova afinação, mais pesada, mais bruta, porém sem deixar de lado a melodia que queríamos deixar vincada na nossa abordagem. A nossa referência

era o Scooping the Cranial Insides e houve vontade de transcender esse trabalho para outros níveis de percepção a nível instrumental, vocal, temático e de produção. Tudo isso foi levado em conta durante estes últimos 6 anos e estou em crer que conseguimos alcançar esses objectivos sem deixarmos de ser os Grog. Por vezes parece existir um elo de ligação entre as malhas, como se o disco tivesse sido pensado como um acto contínuo de agressão, consideras que existiu um maior cuidado na forma como quiseram que o disco soasse? Absolutamente! Sabíamos o que queríamos atingir apenas precisámos de tempo para organizar e arrumar as ideias para tal. Este disco funciona muito mais como um todo coeso e harmónico e não se trata apenas de uma questão musical. Desde à música, às letras ao artwork tudo está mais unificado e, como tal, retrata bem a conexão com a nossa intenção inicial. Consideram que este disco é «O» disco de Grog e que é o vosso melhor registo até ao momento? O «Ablutionary Rituals» é o disco que os Grog queriam para esta altura. É óbvio que há sempre qualquer coisa que não fica totalmente como desejamos, mas,

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“Tínhamos talvez mais dependência dos nossos ídolos e, sem margem para dúvida, todos nós estávamos num processo de descoberta das nossas habilidades instrumentais. “ e falo pessoalmente, considero este disco o mais forte de Grog até à data. Conseguimos dar um passo em frente na nossa sonoridade, explorámos novos patamares, expusemo-nos ao risco do desconhecido e desafiamos novos limites enquanto indivíduos e músicos. Acredito que é esta vontade de fazer algo diferente que nos enriquece e que nos permite continuar a fazer a nossa música. Falem-nos um pouco sobre as letras, de onde é que elas surgiram e onde encontram essa mesma inspiração? O processo de escrita deste trabalho marca uma viragem na nossa abordagem ao lado sombra do ser humano. Nos discos anteriores havia uma necessidade de recolher os desvios, as perturbações, os desequilíbrios inerentes ao comportamento humano, tudo era elevado para uma dimensão fictícia na tentativa de alertar para

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a existência desta negritude mais externa. Com o passar do tempo, esta prioridade deixou de fazer sentido e em sua substituição vieram questões como qual a origem desta escuridão? Qual a sua função? O que nos ensina? Precisaremos mesmo dela…? E este foi o ponto de mudança pois para responder a estas perguntas tivemos, necessariamente, que nos virar para dentro do mesmo Ser. Foi a partir daqui que houve muita leitura, muita investigação por campos mais orientados para o esoterismo humano que foram essenciais para adquirir novas perspectivas sobre este tema. Naturalmente que muito deste conhecimento foge aos domínios mais comuns da ciência, mas importa destacar que a ciência não explica tudo e muitas vezes é forjada por influência de grupos dominantes com interesses ocultos. A vantagem de todo este enquadramento é que permite desenvolver aspectos muito mais naturais e próximos da intuição e

essência humanas. Uma outra diferença pretendese no artwork, quem foi o responsável e qual a ideia por trás da capa? Tendo em conta tudo o que foi mencionado anteriormente, é natural que a abordagem do artwork tivesse que ser diferente. Primeiramente, houve claramente uma vontade de fugir à imagem típica e chocante que nos tem acompanhado desde sempre, pois não fazia sentido continuar nesse registo. Uma outra necessidade, sem desprimor para os profissionais de Photoshop, adveio da libertação da exclusividade artística de um conceito totalmente trabalhado a nível informático. Considero este disco muito humano e orgânico pelo que se tornou essencial catalisar isso no artwork. Seguindo esta lógica procurei alguém que conseguisse desenhar a interligação entre o nosso mundo físico, a sua relação com a morte e com a dimensão


etérea/divino. O Samuel Malaia fez o resto, de forma exemplar, criando um desenho fantástico que posteriormente foi magistralmente transformado pelo Hélder Soares no que agora podem ver como sendo a arte final do nosso mais recente trabalho. Há 25 anos o Metal não era o que é hoje. Por cá parece estar a existir uma segunda wave do Metal português. Consideramse parte da história? Qual consideram ser o vosso papel? A história é o passado, mas nós ainda somos o presente e, enquanto tivermos ideias, vamos continuar a fazer parte do dia de amanhã. Ouvir o passado hoje também é uma celebração do presente logo tudo se funde no agora independentemente do que foi feito ou do que ainda vai ser realizado. O nosso papel foi, é e sempre será fazermos a música de que gostamos. É essa a melhor representação dos Grog. Ainda assim sabemos o que fazemos

e isso deixa-nos descontraídos relativamente ao nosso papel. Sermos fiéis a nós mesmos! Consideram que hoje o Metal é mais aceite e compreendido do que era há 25 anos, ou há 10, como é que olham para este fervilhar do Metal por estes dias? O que acham que mudou? O Metal continua a ter os mesmos estigmas que tinha no passado, embora hoje seja muito mais mediático por inerência da multiplicação dos seus agentes criativos/editoriais/promocionais. Se analisarmos bem, continuamos a ter acesso aos podres, aos extremos e à evolução das bandas e dos seus integrantes. A grande diferença é que no passado tínhamos uma realidade composta, por exemplo, por 100 daqueles agentes e agora temos acesso facilitado a 10000 dos mesmos. A opção de escolha, de variedade é muito maior, mas tal também não significa que a qualidade seja prolífera.

Com novo disco pronto, como será o ano de 2017? Estão a planear algo para as bodas de prata? Estamos a agendar, para já, as datas necessárias para promovermos o Ablutionary Rituals, temos novo merch e queremos aproveitar a oportunidade de irmos onde ainda não fomos. Não somos pessoas que vivam da música e as nossas vidas são bastantes preenchidas pelo que iremos apostar mais na qualidade do que na quantidade. Querem acrescentar algo… O nosso agradecimento pela disponibilidade e apoio aos Grog, esperamos ter a oportunidade de nos cruzar convosco num palco muito em breve. Entretanto podem entrar em contacto connosco via facebook/grogpt ou atráves do nosso email grogpt@gmail.com. Até lá, keep on grinding! https://youtu.be/0yntDzC1ppU https://www.facebook.com/grogpt/

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Reuben Bhattacharya Visual Amnesia Um artista cheio de avatares É a ideia que nos fica desta “conversa” com este artista gráfico indiano. Entrevista: CSA

“All image rights reserved ©Visual Amnesia and respective bands/labels”

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Olá, Reuben. Foi o Sahil que primeiro chamou a minha atenção para o artwork que fizeste para o último álbum de Demonic Resurrection - «Dashavatar». Como se conheceram? Já tinhas trabalhado antes para a banda? Reuben Bhattacharya – Olá, Cristina. Obrigada por me fazeres aparecer na Versus. Sim, o Sahil e eu conhecemo-nos há muito tempo e eu já tinha trabalhado para ele no design do último álbum de Demonstealer – «This Burden Is Mine». Já tínhamos falado várias vezes de eu fazer algum artwork épico para Demonic Resurrection, mas era preciso reunir várias condições (incluindo uma ideia e um orçamento adequados). Portanto, fiquei radiante quando me chamaram para fazer a arte do novo álbum. Penso que se atingiu um novo patamar com esta colaboração. Que relação estabeleceste entre o título/conceito do álbum e as imagens que criaste para este? A minha reação imediata, quando o Sahil me descreveu a ideia subjacente ao álbum, foi pensar que os Demonic Resurrection estavam a fazer uma grande aposta em termos de inovação da sua orientação musical e que a arte do álbum tinha de a justificar e suportar. Foi uma grande responsabilidade que caiu sobre os meus ombros. A arte não só tinha de se adaptar à identidade de «Dashavatar» – 10 canções que descrevem 10 avatares de Vishnu – mas também tinha de ter referências mitológicas bem estabelecidas, sem descurar o elemento “demoníaco” da banda, ao mesmo tempo que assumia as dimensões de uma peça icónica. O meu trabalho consistiu essencialmente em encontrar um equilíbrio entre todos estes pontos extremos e reinventar a ideia de uma forma que fosse aceitável para os fãs de Metal. Usaste as várias versões que fizeste? Só uma? Ou combinaste partes das várias ilustrações que criaste para este álbum? Comecei por fazer estudos sobre

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cada um dos avatares: face, armas, poderes e características específicas, tais como são descritas nas letras do álbum. Depois, decidi ligar a ilustração diretamente ao título do álbum, criando uma única entidade, uma espécie de híper deus, que contivesse os 10 avatares e várias das ideias gráficas que os representavam. Adoro inventar criaturas e desenha-las. Portanto, foi muito agradável fazer este trabalho, apesar da enorme pressão derivada da necessidade de justificar todos os aspetos de um conceito tão complexo. Agradeço ao Sahil por me ter dado uma tão grande liberdade criativa e por ser uma pessoa com quem é tão bom trabalhar. Pude dar largas à minha imaginação. Onde encontraste a inspiração necessária? A maior parte do material foi-me entregue pelo Sahil e consistia em calendários antigos, escritos e pinturas representando deuses semelhantes a super-heróis. Tratei de desenvolver essas ideias gráficas a partir de uma nova perspetiva, inserindo-as num novo contexto. Também me inspirei muito na arte característica de álbuns de Death e Power Metal dos anos 80. Que técnicas usaste para criar esta arte? Como obtiveste aquele brilho metálico que aparece em algumas das ilustrações? Como sempre, comecei por fazer desenhos a lápis e depois usei técnicas tradicionais e digitais para as cores e tratei tudo no Photoshop. O teu desenho tem tendência para ser elaborado, cheio de pormenores. Porquê? Mesmo quando ainda estava a estudar arte e design, já tinha tendência para produzir formas artísticas elaboradas e complexas. Sempre que observas uma obra de arte elaborada, encontras algo novo, como se estivesses a retirar camadas. Muitas vezes, tenho de lutar contra este amor pelo detalhe, especialmente quando o trabalho em questão não o

requer. É indispensável saber quando parar e começar a editar o trabalho. Como dizia Picasso, “A Arte nunca está verdadeiramente acabada, limitamo-nos a abandonála.” Portanto, temos de saber exatamente em que ponto é que vamos abandoná-la. Aprendi isto à minha custa, sobretudo falhando prazos de entrega de trabalhos. Isto deve acontecer a todos os artistas. Mas só conseguimos encontrar o equilíbrio entre estas necessidades contraditórias ao fim de anos de experiência. Como decides se vais usar só preto e branco ou recorrer também a uma ou várias cores? Que cores e quanto de cada uma? (Adoro os teus desenhos a preto e branco – como, por exemplo, aquele com muitos lobos para a banda de Thrash Metal chamada Chaos – e também os que têm cores muito sombrias – como os que fizeste para os Twelve Foot Ninja – em que se pode ver algum vermelho e vários tons de azul e cinza misturados com preto branco.) Neste caso [capa de «Dashavatar»], era indispensável inserir na ilustração alguns elementos indianos relativos a ornamentos, armas e roupagens dos deuses: daí a presença de manchas de cores brilhantes entre elementos sombrios. É preciso ter uma ideia preconcebida do produto final, para saber como se vai orientar a arte. Nunca é igual, não há duas ideias similares. Trato cada peça de arte que produzo como algo de inteiramente novo, quer requeira muito simplesmente o uso do preto e branco, quer exija o uso de uma combinação de cores complexa. Trata-se de ver que tipo de “sentimento” a arte tem de despertar, que história tem de contar. A finalidade para que a peça vai ser usada também desempenha um papel fundamental na escolha das cores e técnicas: na sua conceção, temos de ter em conta fatores como os produtos em que vai figurar e que tipo de técnicas de impressão vai ser usado.


“[…] Trato cada peça de arte que produzo como algo de inteiramente novo […]”

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“[…] a minha cultura pessoal foi influenciada por várias subculturas e crenças. E ainda há que contar com os livros, as bandas desenhadas, os filmes e a música […]”

De acordo com o que vi no teu portefólio, tens tendência para transferir os teus desenhos feitos à mão para o computador para continuar a trabalhar neles. (Tenho muita curiosidade em saber como criaste os “pincéis” para desenhar o pelo dos lobos no trabalho para Chaos.) É verdade que faço isso. Ando a tentar chegar a um ponto em que consiga fazer desenho semelhante ao que produzo com meios tradicionais recorrendo a técnicas digitais. Mas a verdade é que uso o que quer que seja para desenhar, desde aplicações disponíveis no telemóvel até desenho em papel. Não me repugna a ideia de desenhar com um pau em terra, se isso servir para concretizar o projeto que tenho em mente. Usar “pincéis” digitais também pode decorrer das características de um trabalho em particular e da forma como interpretei a ideia a que tenho de dar corpo. Mas também pode derivar da necessidade de tornar mais fáceis alguns aspetos do trabalho que tenho em mãos:

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seria uma loucura tentar pintar individualmente o pelo dos quase 30 lobos que figuram na capa de «All Against All», dos Chaos. És oriundo da Índia, um país multicultural. Qual é a base da tua cultura pessoal? O que é essencialmente indiano nela? Fui essencialmente criado na parte Nordeste da Índia, que é católica e ocidentalizada, e estudei numa escola de missionários irlandeses. Também viajei muito no meu país e vivi e trabalhei em muitas cidades e vilas. Logo, a minha cultura pessoal foi influenciada por várias subculturas e crenças. E ainda há que contar com os livros, as bandas desenhadas, os filmes e a música que me chegaram do mundo inteiro. Hoje em dia, vivo praticamente online, contactando com gente dos lugares mais díspares. Não vejo TV, nem leio jornais, porque estão cheios de politiquices e espalham o medo. Só vejo a Índia real, quando saio de casa. Ao longo dos anos, fui criando uma espécie de realidade flutuante, onde só cabem pessoas

de mentalidade semelhante à minha. Não consigo sair e sentir-me confortável no meio do caos e da multidão, como acontece à maioria das pessoas, que parecem adorar isso. O que é essencialmente indiano é a capacidade de compreender bem os contrastes e o domínio da arte da sobrevivência. Ser flexível, para fazer face aos desafios da vida, em vez de resistir à mudança inevitável. Estudaste arte? Onde? Sempre vivi rodeado de arte, desde a mais tenra idade: o meu avô, a minha mãe, o meu pai, o meu irmão e muitos tios e tias sempre se dedicaram à arte e à música e eu aprendi muito a observá-los. Era um modo de vida. Depois da escolaridade obrigatória, fiz estudos de comércio, comunicação, design, arte comercial e design de moda sucessivamente, durante 6 anos. Se tivesses de te converter noutro artista, quem escolherias? E porquê? Eis uma pergunta difícil. Há tantos a


considerar. Mas acho que escolheria ser Pablo Picasso. Era um homem louco, que se estava nas tintas para os outros e que era ele próprio, sem pedir desculpa a ninguém. Sempre fez o que lhe deu na real gana, sem se preocupar minimamente com o que os outros pensavam dele. Só se interessava pela sua arte, era esse o único foco da sua atenção. Fez verdadeiramente arte com a sua mente e não apenas com as suas mãos. Quando descobriste que estavas predestinado ser um artista gráfico? Costumava desenhar e fazer o design das cassetes para os meus amigos, quando andava na escola, nos anos 90, e sempre achei que as capas dos álbuns eram verdadeiras narrativas. Esses hábitos foramse mantendo e, depois de várias experiências, acabaram por me revelar a essência da minha carreira. Portanto, agora faço capas para álbuns e desenhos para t-shirts para ganhar a vida. Já trabalhei para grandes marcas de jeans como Rifle Jeans Italy e Lee Cooper, para uma companhia de fardas militares, numa oficina de impressão, para a primeira revista de Rock da Índia – Rock Street Journal – durante 4 anos, como Diretor Criativo e Editor, e também fui Diretor Artístico de uma agência de publicidade. Pelo caminho, fui pondo de parte tudo o que não se enquadrava na minha perspetiva pessoal e artística, até que resolvi passar a ser ilustrador e artista gráfico freelancer. Podia ter feito centenas de coisas, mas foi isto que eu escolhi. Acredito que precisamos de passar por uma grande variedade de experiências para aprender verdadeiramente e depois saber aplicar esse conhecimento em causas singulares a que nos dedicamos. És um jovem artista, mas já tens um estilo bem amadurecido. Quais foram os momentos mais memoráveis da tua carreira até agora (pela positiva e pela negativa)? Boa pergunta. Na minha opinião, a

maturidade artística só vem com o tempo, decorre do que enfrentas ao longo da tua vida. Aprendes com as vitórias e com as derrotas. Tive muitos momentos positivos, ganhei medalhas na escola e na universidade pela minha arte, recebi prémios pela minha carreira, venci desafios de design e conquistei projetos prestigiosos. Mas também tive de fazer face a momentos muito negativos e soçobrei em muitas ocasiões, na minha vida. O meu pai morreu, quando eu era um adolescente, e eu e o meu irmão tivemos de trabalhar duramente para ganharmos a nossa vida. Eu saí de casa e fui para a universidade com uma bolsa de estudos de design e vivia num quarto num edifício onde viviam muitas outras pessoas. Enfrentei motins, fui vítima de violência racial, perdi amigos para o álcool e as drogas e tive de lutar pessoalmente contra a depressão e a droga. Mas encontrei amor e amizade nos lugares mais improváveis. Agora tenho amigos no mundo inteiro, pessoas que nunca vi na minha vida a elogiar a minha arte e vivo numa bela casa com a minha mulher e o meu cão. Estou muito grato por tudo isto, porque o que vivi me ensinou a não julgar e a não me enfurecer com o mundo como um adolescente. Sei o que é viver o inferno na Terra, mas também cá encontrei o céu. Por isso, tanto consigo desenhar a luz como as trevas, foi isso que fez de mim um artista. Porque, nessa qualidade, tenho de saber interpretar o Bem e o Mal, nas mais variadas circunstâncias, de compreender que a rejeição e a aceitação são faces da mesma moeda. No fim de contas, apenas posso tentar fazer o meu melhor, quando me é possível fazê-lo, com o que tenho à mão e o que aprendi ao longo da minha vida. Francamente, penso que toda a gente enfrenta coisas boas e más na vida, tal como acontece aos artistas. O que difere é a capacidade de retratar a realidade. Apenas desejo que a minha arte ajude alguém a ser o melhor que puder.

O que prevês para 2017? Estão a acontecer muitas coisas neste momento. Tem sido um ano fantástico até agora. Fiz a arte para os álbuns de Demonic Resurrection, Chaos e Kaihon, estou a fazer trabalhos para outros projetos e a preparar alguns lançamentos verdadeiramente importantes. Fiz algumas ilustrações bem especiais, por exemplo para Twelve Foot Ninja, que também me encomendaram o design para o álbum deles. Também estou a fazer uma série de cartazes para Hollywood, relativos a filmes alternativos e séries de culto, para marcas que têm sede em países como Israel e os EUA. Tenho igualmente trabalhado na minha loja online e na preparação de uma marca de design com a minha mulher. Penso que há uma procura cada vez maior do meu género de arte, o que é uma bênção, e sintome muito grato por poder fazer isto e ganhar a vida com algo que é para mim uma paixão. Já fizeste alguma exposição? Não exponho nada, desde que saí da universidade, porque a minha arte agora é sobretudo comercial. Mas também não tenho tido tempo para planear uma exposição, seja ela de que tipo for. Talvez isso venha a acontecer algum dia, quem sabe. De momento, uso o instagram para dar a conhecer a minha arte. Qual é a tua maior ambição neste momento? Tenho concentrado todos os meus esforços na expansão da Visual Amnesia e em trabalhar com mais bandas, marcas e editoras. Também quero aumentar a variedade de produtos disponíveis no meu espaço online, a que as pessoas podem aceder e onde podem comprar a minha arte sob uma forma física. Estou constantemente a aprender para tornar a minha arte melhor, a atualizar o meu material, as ferramentas do meu ofício. A minha única ambição é continuar a evoluir e a amadurecer como artista. www.facebook.com/visualamnesia

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Eterna demanda Tenho de confessar que este álbum é verdadeiramente surpreendente, em muitos aspetos. Começando pelo título, a que tipo de ilusão se refere? NH – Não se trata de uma ilusão, ou digamos, um sonho, uma utopia reconhecida pelo autor. A vivência por dentro do espectro do Black Metal e sua Ideologia utópica. O seu meio cada vez mais desintegrado e cadente, num papel cada vez mais entrelaçado por entre o mundo dos infiéis e aqueles que querem nada ter a ver com esse mundo. Permanecer no vácuo, vazio e puro que outrora mantinha a aura inalcançável que nenhum outro meio. A angústia do sonhador eterno, que luta em prol de uma causa perdida, mas que sente que mais vale lutar que render-se. Nem a música, nem a voz são tão violentas como em lançamentos anteriores. Mas há nelas uma carga de quase amargura, que resulta bastante agressiva. Concordas com este “diagnóstico”? Acho que este álbum vai em busca

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Os Corpus Christii prosseguem a sua jornada na senda de uma utopia negra!

de muitos "eus", de todos os meus álbuns de Corpus Christii. De todas as minhas participações em bandas de Black Metal, de alguma forma ou outra. Então sim, é variado, é vasto, é um todo do meu eu dentro dos meus "eus". Que nem uma lente bem focada, mas partida, em que pode sair uma foto desfocada, mas bela. Noto no álbum uma toada obsessiva, marcada pela bateria e pela guitarra. Podes comentar esta ideia? Black Metal é obsessivo, se o seu autor não o for, não será efetivo. Ou estás totalmente (digamos)"demente", dentro do que fazes, mesmo de corpo e alma, ou nem vale a pena o empenho. Tudo é dado, sempre, sem qualquer arrependimento. A demência é pura e saliente pelo soar dos ecos cintilantes dos riffs e bateres cardíacos da bateria. Tudo é pretendido de certa forma, e não ao acaso. Tem de o ser assim, tem de ser. A capa é absolutamente intrigante. Sei que foi concebida

Entrevista: CSA

pelo Pedro Daniel (aka Phobos Anomally) a quem também tenciono fazer algumas perguntas sobre ela. Como a relacionas com o tema central do álbum? A capa, ou aliás, a pintura é de um pintor obscuro chamado Francisco de Holanda, pessoa essa que merece o reconhecimento do povo português. Faz parte do passado de Portugal e deixou uma marca intrigante, de relevo. O Pedro Daniel fez o embelezamento/enquadramento do resto, sim, tal como tem feito sempre com os meus álbums de Corpus Christii, desde o dia um. Como ele sempre tem feito de forma incrível. Por isso, tanto, mas tanto lhe sou grato. Onde foi feito o trabalho de gravação? No teu estúdio? Como se organizaram, tendo em conta todos os vossos compromissos? A pré-produção foi feito nos S.A.T.H.R. originais, o meu "estúdio" caseiro. Basicamente uma cave húmida com muita história do Black Metal. Nacional, internacional e não só. O álbum em si foi gravado nos


“[...] este álbum vai em busca de muitos "eus", de todos os meus álbuns de Corpus Christii. De todas as minhas participações em bandas de Black Metal [...]” Generator Estudios com o Vegeta, para os lados de Sintra. Numa terriola no meio do nada, onde pudemos ter todo o sossego do mundo e fecharmo-nos para o mundo dias a fio. Foi perfeito! Fizemos o mesmo com o "PaleMoon". Será que podemos considerar que «Luciferian Frequencies» (2011), «PaleMoon» (2015) e agora «Delusion» representam uma espécie de nova trilogia na jornada musical de Corpus Christii? Por outras palavras, como relacionas «Delusion» com os seus antecessores? Não, são 3 álbuns distintos. Relaciona-se com eles, porque é um álbum de Corpus Christii e há sempre um seguimento. E este retira uma parcela de cada álbum anterior. Corpus Christii deixou de ser uma one man band (pelo menos de acordo com a informação divulgada na Metallum). - A que se deve essa decisão da parte de alguém que sempre esteve sozinho neste projeto?

Esta banda começou entre mim e o Ignis Nox. Então, nem sempre estive sozinho. Mais tarde, fui eu e o Necromorbus. Tive longas fases eu sozinho, mas nunca foi sempre uma banda a solo desde o dia um. - Que parte dás ao J Goat na composição da música e escrita das letras? A que for necessária, em prol da grandeza da música. Tudo o que possa contribuir para melhorar, seja em que aspeto for. - Gostávamos de saber como é que ele se vê na banda. Isso terá de ser perguntado a ele. Sei que vão fazer um concerto de apresentação do álbum. Podes falar um pouco do que está previsto para esse evento? Vamos apresentar a grande maioria do álbum: é esse o desafio, a nossa ideia. Não teremos fogo de artifício. Têm a intenção de fazer alguma digressão? Onde irão, quando irão? Não há mais nada planeado em Portugal, esta data será o que temos para este ano. Não

contamos fazer mais, não vejo acontecer mais por terras lusas. Lá fora, temos já alguns planos a ser desenvolvidos: mini tours a serem programadas. O que esperam da Folter Records em relação a este álbum? Nada, sinceramente. Hoje em dia, uma editora resume-se a pouco… ou nada. É tudo sobre o hype de pessoas chave na Net. Reparei que CC está quase a completar 20 anos de carreira. Há planos para comemorar esta data tão especial para o Metal português (nomeadamente para a cena Black Metal)? Não temos nada planeado. Isso é um clichê que não me diz muito. Cada ano é uma celebração e acho que lançar um álbum – um bom álbum – é mais importante do que adicionar um ano aos já imensos anos de banda que tem Corpus Christii. https://www.facebook.com/corpuschristii/ https://youtu.be/3AIJC4GkTyg

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Olá, Pedro! Gostaria que nos falasses um pouco do artwork que fizeste para «Delusion» dos Corpus Christii. Adorei o álbum e penso que o teu trabalho gráfico se integra nele às mil maravilhas. - O que fizeste exatamente para este álbum de CC? Pedro – Em termos práticos, o trabalho consistiu em compor o layout do álbum a partir do De Aetatibus Mundi Imagines, um caderno de desenhos e esboços deixado por Francisco de Hollanda, uma das mais importantes figuras do Renascimento português. Colocando o devido mérito onde ele deve estar, a ideia base para o artwork partiu do NH e a mim coube a tarefa de tentar dar corpo e forma a essa “visão”. - Como relacionas a tua criação (nomeadamente a capa) com o tema central do álbum? A imagem central da capa foi aquela com que o NH me abordou inicialmente, quando se pensou em usar o trabalho de Hollanda como fonte para o artwork – se bem me recordo, ainda antes de o álbum ter nome definido. Mas foi um daqueles casos raros em que houve um clique imediato: sem qualquer dúvida, seria um caminho interessante a seguir. Como tudo o que foi deixado por Hollanda, a imagem está carregada de simbolismo esotérico dualista – Céu e Inferno, Alfa e Omega – muito adequado à temática do disco. - Como te organizaste com a banda para produzires este magnífico trabalho? Corpus Christii são uma das raras bandas com quem trabalho onde tudo acontece de forma muito intuitiva. Têm uma noção muito clara do que pretendem alcançar e isso facilita muito o meu trabalho. A banda conseguiu a proeza de encontrar uma versão digital completa e em alta resolução do De Aetatibus Mundi Imagines, de Francisco de Hollanda, e foi a partir daí que todo o artwork foi construído. Para o miolo, determinadas ilustrações foram escolhidas para ilustrar determinados temas e, tendo em conta a riqueza e diversidade da obra, o processo revelou-se muito orgânico e fluído. O maior desafio – se assim se pode chamar – foi encontrar uma forma de encaixar as ilustrações no formato, de modo a permitir-lhes “respirar”, e, por outro lado, deixar espaço de leitura suficiente para as letras. O resto foi business as usual :) Sei que consideras este teu trabalho como uma homenagem a Francisco de Hollanda. - Queres dar-nos a tua versão deste grande humanista português? Aquilo que conheço da obra de Hollanda divide-se essencialmente entre a clássica temática religiosa da época e desenhos ou pinturas de índole esotérica e cabalista, carregadas de simbolismo e mistério, em que impera o uso de figuras geométricas para representar o inatingível e o incorpóreo. No seu conjunto, são extremamente pioneiros para a época onde viveu. Em certos aspetos, podem-se encontrar muitos paralelismos com aquela que viria a ser a obra de William Blake, vários séculos mais tarde. - Em que medida relacionas a criação da tua autoria para a capa do álbum com a obra desse eminente renascentista · Em termos gráficos? Do ponto de vista visual, os Corpus Christii têm conseguido evitar os clichês que se podem encontrar nas bandas desta sonoridade e percorrido um caminho que me parece bastante mais interessante, e este «Delusion» não constitui uma exceção. Como já disse, o meu papel neste trabalho em particular foi conseguir que as peças de Hollanda se adaptassem ao formato, mantendo ao máximo a integridade dos desenhos originais. Quando se fala em homenagem, é no sentido literal, pois todas as ilustrações presentes no disco, incluindo a imagem de capa, foram criadas pela mão e mente de Francisco de Hollanda. · Em termos concetuais? Na maior parte dos casos, faz-se um grande esforço para tentar traduzir o conceito de um disco para um contexto visual. Bandas menos experientes têm normalmente tendência para complicar as coisas, por motivos que raramente entendo. Com Corpus Christii, como já disse, o processo é normalmente muito orgânico e fluído. O NH tem uma visão global, que unifica de forma perfeita o sonoro com o visual, e sabe muito bem transmitir o que pretende. Como também já referi, a peça central da capa foi escolhida ainda numa fase em que o disco não estava “batizado”, nem gravado. Não existiam letras sequer e isso apenas prova o impacto e importância que o trabalho de Hollanda teve no processo (pelo menos na minha posição). De certo modo, és o gráfico oficial de CC. Queres comentar? Acho que só a banda pode responder a isso. Para todos os efeitos, colaborei com Corpus Christii em praticamente todos os seus lançamentos – salvo raras exceções – e temos uma facilidade em comunicar e trabalhar que não encontro, nem vou conseguir encontrar, noutras bandas. Mas se sou o gráfico oficial ou não… só a banda pode responder :)

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Álbum Versus

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The Night Flight Orchestra «Amber Galactic» (Nuclear Blast) Hoje em dia dada a incomensurável quantidade de música que povoa o nosso “Universo” é-me cada vez mais difícil ficar surpreendido com algo diferente. «Amber Galactic» é um projecto liderado por Björn Strid, juntamente com o seu colega dos Soilwork, David Andersson e Sharlee D’Angelo dos Arch Enemy. Bem... mas para quem não conhece a banda seria de esperar estar perante algo ligado ao Death Metal Melódico. No entanto, basta olhar para a capa do disco para se perceber o quão errado estamos. «Amber Galactic» é o terceiro álbum desta joint venture e é uma autêntica máquina do tempo; uma máquina do tempo que nos leva numa viagem inter-galáctica. Sentem-se, apertem os cintos e... divirtam-se. Ah, se quiserem também podem adornar o “esquema” com uma roupa da época, anos 70/80, talvez umas calças à “boca de sino”. Instrumentalmente ecléctico e atmosfericamente misterioso, «Amber Galactic» suga-nos para um buraco negro de emoções; a música é despida de qualquer tipo de efeitos... “nua e crua”. É realmente um dos melhores discos do ano e que tive oportunidade de ouvir nos últimos anos. Rock (muito) Melódico, Retro, conceptual, viciante. A espaços a música vai-me lembrando, por exemplo, os Survivor – “Something Mysterious”, Queen – “Jennie” e “Domino” com o seu estilo Disco Sound. Ou então, “Space Whisperer” cuja melodia do piano faz o tema ser digno dos seus conterrâneos Abba. Mas há muito mais para descobrir, atrever-me-ia a dizer que prefiro o registo vocal de Strid neste projecto, do que nos Soilwork. Mas por falar em vozes, os coros estão excelentes, conferindo vá… uma veia mais sexy aos temas, veja-se por exemplo “Josephine” - (Por mais estranho que esta frase possa parecer). Strid referiu: “Queríamos criar mais do que uma experiência auditiva; queríamos criar e estar numa realidade alternativa. Queremos que depois de ouvirem fiquem espantados, entusiasmados e ligeiramente embriagados.” Ora nem mais, definição perfeita do que é Amber Galactic»! Façam um favor a vocês mesmos e não deixem passar isto em claro! [10/10] - Eduardo Ramalhadeiro

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CRITICA VERSUS

AU -DE SSUS «End Of Chapter» (LADLO)

C IR IT H U N G O L

CORRODED

«King Of The Dead (Ultimate Edition)» (Metal Blade)

«DefCon Zero» (Despotz Records)

Segundo capítulo da história do quarteto lituano Au-Dessus, “End Of Chapter” sucede ao EP “AuDessus”, e é mais um lançamento da vaga postblack metal, esse espectro que, parafraseando o Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels, assola não apenas a Europa mas o mundo inteiro, dada a profusão de bandas a praticar este sub-subgénero nos tempos que correm. Iniciando-se com “VI” (revelando continuidade com o referido EP, cujas cinco faixas estavam numeradas à romana), numa toada a fazer recordar os recentes trabalhos de uns Enslaved, “End Of Chapter” depressa revela a personalidade muito própria dos AuDessus, onde se conjugam elementos black metal, avantgarde, post-metal e também – pasme-se – sludge, estes últimos presentes um pouco por todo o álbum mas em particular nas faixas “IX” e “XI”, instrumentalmente e nas vocalizações de Mantas Gurksnys. Se há, todavia, defeito a apontar a este longa-duração, talvez o mais evidente seja a insistência em ter demasiadas ideias numa mesma faixa, nem sempre beneficiando as canções – se é que em post-black metal se pode falar de “canção”. De qualquer forma, o balanço final cai indiscutivelmente para o lado bom da força: “End Of Chapter”, não sendo perfeito, possui qualidades mais do que apreciáveis para justificar a sua audição. Espera-se que os AuDessus possam assim continuar a evoluir, e que nos apresentem novos capítulos da sua promissora carreira. ado apenas a quem tem a mente aberta. [8/10] HELDER MENDES

Vindos de um tempo em que o metal tradicional reinava, os Cirith Ungol vêem em 2017 ser reeditado, e aumentado, o seu clássico de 1984, “King Of The Dead”. Sendo verdade que os Cirith Ungol nunca explodiram em termos de mercado, não é menos certo que lhes foi consagrado um merecido culto, facto que desde logo serve para justificar esta reedição. Ao (re)ouvir este disco, não se pode negar que a música dos Cirith Ungol está temporalmente circunscrita (o que é um eufemismo para “datada”, que por sua vez é um eufemismo menos cínico para “cheira a mofo”), indicando, de caras, que o impacte deste tipo de sonoridade é, hoje em dia, menos intenso do que nos anos 80 do século passado. Porém, a boa música não precisa de apresentar bilhete de identidade; contas feitas, é isto que verdadeiramente importa e nesse aspecto “King Of The Dead” assemelha-se àqueles cinquentões beras: ainda é capaz de armar uma zaragata no bar, aviar três ou quatro mânfios com metade da idade e sair da espelunca acompanhado de uma louraça voluptuosa e de uma Jack Daniels já quase no fim. Desde “Atom Smasher” até “Cirith Ungol”, passando por “Master Of The Pit” ou pela bachiana “Toccata In Dm”, o que os norte-americanos mostram é uma lição de bom metal, independentemente do subgénero. Enriquecido com faixas ao vivo e versões alternativas, “King Of The Dead” é um trabalho que vale a pena descobrir ou recordar. [8/10] HELDER MENDES

Quando surgiram os Corroded foram considerados uma das esperanças no Hard Rock sueco, porém, a banda viu-se, muito cedo, envolvida num turbilhão de situações eu acabou por atrasar a progressão da banda. Cinco anos passaram desde o lançamento do último registo, (...), e os suecos estão de regresso com DefCon Zero e numa nova casa que os acolhe, neste caso estamos a falar da (...). DefCon Zero foi produzido pela própria banda e os suecos voltam, novamente, a ser uma esperança, se bem que, desta vez, com um cariz mais efectivo e com uma certeza maior no futuro. Talvez fruto das experiências e «traumas» do passado, DefCon Zero é um disco mais pesado e mais agerrido que nos traz uns Corroded mais fortes que nunca e que os aproxima de um som mais Thrash e os afasta (quase por completo!) da vertente mais Hard Rock que vinham demonstrando nos registos anteriores. Muito mais que um regresso há muito aguardado, este é um disco que nos relembrará outros tempos e nomes como Pantera ou Machine Head irão ecoar nos nossos ouvidos e na memória colectiva, no entanto, os Corroded mantém-se fieis a si mesmos e o tempo volta a ser o deles. DefCon Zero é um (re)começo de uma banda que volta a estar em altíssima forma. Estes são os Corroded conforme nos lembrávamos deles. Maiores e melhores. [8/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

D E AD BY APRIL «Worlds Collide» (Spinefarm Rercords)

DEAD SEASON

EX DEO

«Prophecies» (Solstice Promotion)

«The Immortal Wars» (Napalm Records)

Estando em 2017, torna-se difícil acreditar que a sonoridade apresentada pelos Dead By April ainda valha a pena editar, e muito menos que “Worlds Collide” seja já o quarto álbum de originais de uma carreira cujo primeiro lançamento, o homónimo “Dead By April”, data de 2009. O metalcore aproximado de numetal destes suecos é, na ausência de melhor definição, completamente genérico, seguindo quase à letra os princípios dos dois estilos, em particular a alternância entre vocalizações rasgadas e melódicas, ou os refrões simplistas cujo único objectivo é ficarem no ouvido. Acrescente-se o uso, por parte de Pontus Hjelm, de teclados que muito devem aos Linkin Park e não é preciso descrever mais o que os Dead By April executam. Nestas 11 faixas que compõem “Worlds Collide” não há nada de importante a destacar pela positiva, salvo talvez a curiosa participação do cantor popular Tommy Körberg (que até já representou a Suécia no Eurofestival da Canção) em “For Every Step”, a última faixa; na sua grande maioria, o que temos aqui são momentos bastante confrangedores, como por exemplo “Perfect The Way You Are”, uma música comercialona cuja letra parece ter sido escrita por um miúdo de 13 anos acabado de se apaixonar no secundário: “You’re beautiful/ You’re beautiful/Don’t ever listen to what they say about you/You’re perfect just the way you are”. Álbum irrelevante e dispensável, só a ser consumido pelos indefectíveis do género. [3,5/10] HELDER MENDES

Os Dead Season apresentam-nos em “Prophecies” um registo bastante interessante. Com várias influências, desde o death-metal até mesmo ao progressivo, “Prophecies” é um álbum pesado, melódico e muito bem executado. “The New Man” é a faixa de abertura e mostra todas as influências dos Dead Season, criando uma tema pesado aonde a voz gutural e limpa de Julien Jacquemond brilham mas aonde toda a banda também mostra o seu nível técnico. Com riffs e solos bastante bem executados, uma bateria complexa e um baixo presente e pujante, os Dead Season demonstram todo o seu potencial ao longo do disco. “Blood Link Alienation” é um tema mais experimental e complexo aonde toda a banda demonstra um nível elevadíssimo de complexidade técnica e de composição, criando um tema bastante original. Aliás, o mesmo pode ser dito acerca da maioria dos temas que compõem este álbum. “Prohibition of God”, “Homogenetic” e “Guidestones”, bastante rápido e técnico, confirmam que estamos perante um excelente disco. “Endless War”, com um início acústico bastante belo, desenvolve-se rapidamente num tema brutal e com bastante groove. “Mind Entertainement” e “Sexual Begging” demonstram as influências mais Thrash da banda enquanto que “The Dissident Part I” e “The Dissident Part II” encerram o disco com uma toada mais progressiva. A nível de produção, “Prophecies” tem um som poderoso em que todos os instrumentos estão bem balançados e aonde se pode perceber toda a complexidade das músicas aqui apresentadas. Um excelente e original disco que merece ser ouvido. [9/10] EDUARDO ROCHA

Como podem verificar na nossa secção do “paletes de metal”, a quantidade de oferta que nos chega é vasta, e, raramente um álbum vindo do nada me faz completamente saltar de regozijo da cadeira e dos meus auscultadores. Ex Deo «The Immortal Wars» é um destes álbuns. Uhau! Que música mais bombástica, que temática mais apropriada e espetacular, a do Império Romano, de tal forma que cola na perfeição à música destes Canadianos, Ex Deo - Banda que desconhecia completamente. Pois, só falta mesmo referir de que estilo estamos a falar: Symphonic Death Metal. Aos primeiros acordes de “The Rise of Hannibal” somos completamente imersos no universo antigo de Roma e na excelência sinfónica destes legionários. Como é que até hoje ninguém se lembrou deste período da história para construir uma banda de metal? Incrível! Ainda bem que os Ex Deo o fizeram. A caracterização assenta que nem uma luva, pois se retirarmos a componente sinfónica, o que fica é mesmo Death Metal puro e bruto, mas o sinfónico, aliado a uma vertente claramente épica dá-lhe uma roupagem extraordinária e original para o género base. Ou seja, não há mais nenhuma banda neste registo sinfónico + death. A minha alegria foi tal que não pude deixar de ir ouvir os dois primeiros álbuns dos Ex Deo - este é o terceiro - e verificar a enorme evolução musical dos Canadianos. O estilo, a imagem, os temas estão lá desde o início, tenho evoluído de forma evidente a sua produção, refinamento e qualidade das músicas. «The Immortal Wars» vale pelo seu todo com músicas que são autênticos hinos. Ad victoriam! [9.5/10] CARLOS FILIPE

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CRITICA VERSUS

H E L L’S C R O W S

IN A RT IC U L O M O RTI S

«The World Ablaze» (Metal Blade)

«SHell’s Crows» (Valery Records)

«Testament» (Solstice Promotion)

Schattenseitem é o segundo registo para o God Dethroned é um nome muito seguro na cena Death, muito coeerente, com um ritmo de lançamentos estável: aproximadamente um álbum a cada um ou dois anos. Digo isto, até agora. Pois para este «The World Ablaze» passaram sete anos desde que foi lançado o anterior «Under the Sign of the Iron Cross». Período que só se equipara aos 5 anos que levaram para editar o «The Grand Grimoire», em 1997, quando se mudaram para a Metal Blade (e nunca mais se mudaram). Por isso há algumas espectativas para os fas; o que esperar deste trabalho? Nos tempos que correm (nao que haja muita diferenca de anteriormente) 7 anos leva a muita mudança; e para músicos/pessoas que nao sao iniciantes, a própria vida deve alterar ou atrasar o processo de composicao musical. A meu ver o som da banda sofreu uma ligeira transformacao, que denuncia um sentimento de maior reflexao e introspeccao (ou será a minha impressao?) sendo os temas menos agressivos (mas energéticos na mesma, nao falta aqui peso ou velocidade) - parece-me que as faixas sao mais reflectidas, mais estudadas; mas sem perder a capacidade que God Dethroned sempre teve de nos por a mexer ao ouvir as suas músicas, com riffs energéticos e melodias gritantes. Penso que o facto deste ser o décimo longa-duraçao também deve ter o seu peso e demonstra que o processo de criacao nao é inexperiente. Destaque para as tres primeiras faixas: “On the Wrong Side of the Wire”, “The World’s Ablaze” e “Annihilation Crusade”. Tratase de um album conseguido, sem remexer muita a poeira mas que demonstra uma qualidade de uma banda veterana de guerra. [8/10] AG

Hoje em dia, e após muitos anos a ouvir Heavy Metal e suas variantes, é difícil uma banda surpreender-me de forma tão categórica como hoje aconteceu ao ouvir os Hell’s Crows. Este quarteto de necrófagos do inferno apresenta um heavy metal muito poderoso e muito versátil sendo este longa duração uma montra de temas muito diversificados provando desde logo uma tendência musicalmente eclética. Efectivamente podemos encontrar 11 belíssimos temas com características diferentes entre si onde se evidenciam as suas influências de heavy, speed, power e progressive metal. Nota-se claramente neste álbum que para além de gostarem de música, os Hells Crows gostam de fazer música e primam pelos arranjos, pela técnica, pelo virtuosismo, pela força e pela melodia. As comparações há muito que deixaram de ser inevitáveis quando se comenta um trabalho e fazemo-las não para insinuar qualquer tentativa de decalque mas sim para que o leitor possa enquadrar melhor o relato nas suas referências auditivas. Começando pela voz, digo que em muitos momentos me faz recordar o malogrado e saudoso Midnight dos Crimson Glory e noutros momentos notamse tiques com influência de Bruce Dickinson. A secção rítmica não foge muito do estilo Maiden, enquanto nos riffs, solos e melodia temos uma agradável semelhança com o bom estilo ‘Priestiano’ com as suas twin guitars onde ora agora solo eu, ora agora solas tu e no fim solamos os dois. Podem-se inferir ainda sonoridades que nos levam até Helloween, Stratovarius e Symphony X. Este é daqueles trabalhos onde cada vez que o ouvimos descobrimos sempre coisas diferentes. Vai rodar muitos Kms no leitor de CD do meu carro. [9/10] PAULO FREITAS JORGE

Os In Articulo Mortis são aquilo que nunca chegaram a ser… Infelizmente. Com algumas excepções, são raras as vezes que me debruço sobre lançamentos de Black Metal, porque simplesmente, não aprecio. E de todos aqueles em que me sinto confortável a ouvir, gosto de opinar um pouco. Voltando à frase inicial, os Franceses IAM lançaram duas demos nos anos 90 e supostamente, gravaram «Anthems of the Sons of Dusk» em 97. Nos entretantos, a banda deixou de fazer parte da cena metaleira francesa e este material nunca chegou a “ver a luz do dia”… vá… até hoje. «Anthems of the Sons of Dusk» ressurge agora sob a forma de «Testament» e deixa transparecer todo o seu Black Metal no seu estado e espírito mais melancólico. Esta edição passados todos estes anos foi a forma que a banda encontrou de deixar em testemunho os anos idos e prestar um tipo de homenagem ao modo de vida n’altura. O álbum foi remasterizado entre 2012 e 2013 e nele encontram-se alguns temas novos e outros retirados e melhorados da demo de 1995. O que me chama mais a atenção e o que me faz apreciar «Testament» é a qualidade sonora em geral, que para temas gravados nos anos 90 e mais tarde retocados soa incrivelmente bem. Para um não apreciador de Black Metal só o facto de ouvir e gostar de «Testament» já é dizer muito. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

GO D DE T HRONED

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CRITICA VERSUS

L ÂMIN A

M IS S C A D AV E R

M Y S L E E P IN G K A R M A

«Lilith» (Raging Planet)

«Mänifestvm Raivus» (FireCum Records)

«Mela Ananda - Live» (Napalm Records)

As costas de Electric Wizard são largas, mas não têm amplitude para suportar a gigante falácia que é a tentativa de equiparar os portugueses Lâmina à referida banda. São ténues e pouco identificáveis as características de stoner/doom no álbum em apreciação, aproximando-se a sonoridade da banda de um estilo de hard rock melhor enquadrado nos anos 90, próximo talvez de uns Soundgarden ou White Zombie. “Cold Blood” cedo revela os elementos mais marcantes: o protagonismo do baixo e a insipidez das vocais, sendo que mais se poderiam equiparar a um Robert Plant em convalescença. As guitarras têm um desempenho interessante, em saudável diálogo com o baixo; cada instrumento mantendo a sua “voz”, o que torna o desempenho vocal ainda mais desanimado e neutro, tentando a pouco custo encontrar o seu lugar no mix. A forma como as etiquetas nos são enfiadas goela abaixo num contexto de marketing cada vez mais agressivo e indiferente é aviltante, sendo que passei “x” vezes pelos 53 minutos deste álbum franzindo tudo o que é músculo facial à procura de referências a Sleep bem como dos já citados Wizard, referidos como influências da banda. Dito isto, existe uma relativa variedade nas tonalidades que definem o álbum, desde a taciturnidade doom de “Maze”, passando pelo contagioso ritmo arraçado de stoner de “Psychodevil” até ao romanticismo de embalar de “In the Embrace of Lilith”, mas seria um esforço imaginativo adjetivar “Lilith” de “negro”, “oculto” ou “psicadélico”. A linha perigosa entre rotulagem e identidade é, de facto, sensível, e muitas vezes pode assumir o risco de hipotecar o processo de maturação de uma banda. [5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

Rui Vieira é conhecido pelo seu trabalho nos Machinergy e Baktheria, porém, é em Miss Cadaver que o músico se completa, sendo este o «seu filho». Ora bem, neste registo Rui atirase a tudo, ou quase tudo, o que mexe. Acima de tudo Mänistum Raivus é um disco citadino, um disco cinzento de uma sociedade petulante que teima em calar, basta ouvir Cultura do Medo ou Conformados para perceber do que estamos a falar. O destaque maior vai para a prestação vocal de Rui Vieira, que atinge uma densidade que pode ser comparada a Adolfo Luxuria Canibal, o que só abona a favor num disco cantado em português. Bem escrito, bem trabalhado, bem conseguido. Este é o salto maior de Miss Cadaver, um disco feito num tempo que o tempo vale tudo, até mesmo o breve momento em que Ribas é homenageado, 0,36seg de uma sentida homenagem ao músico. Este é um disco Punk, é Rock, é Metal. Mas o que fica deste registo é a natureza de ser português, de ser raivoso e, porque não dizêlo, ser mais um na poeira do tempo em que vivemos. Estes são os nossos dias. [8/10] NUNO LOPES

Esta é mais uma banda do qual travo conhecimento só agora, apesar de já andarem por aí há quase 10 anos. Os germânicos My Sleeping Karma são categorizados como uma banda de rock psicadélico… Bem se calhar o seu espetáculo ao vivo transmite isso, mas a sua música, na minha opinião, nem por isso, bem pelo contrário. Penso que estamos perante mais uma banda instrumental, as quais nos nossos dias parecem surgir de todos os lados, banda esta que nada tem a ver com as bem conhecidas “Guitar Hero” e que está mais próxima de um rock progressivo do melhor que se faz com um caracter distinto e sem frontman. Aqui, a música é entregue como um todo, com uma execução exemplar e um tecer musical que evidencia mestria musical de todos os seus elementos. «Mela Ananda» é o culminar dos cinco lançamentos feitos até hoje pelos My Sleeping Karma, sendo um álbum ao vivo com um som muito bem conseguido, potente e distinto dos álbuns para melhor - comme il faut – no qual o quarteto de Aschaffenburg mostra-nos todo o seu virtuoso potencial musical e visual. Esta é uma banda a descobrir e seguir de perto, pois não é todos os dias que aparece uma com este nível e qualidade, que se distingue por si próprio e que não é fácil encaixar nos demais estilos existentes, ou seja, com caracter e textura musical muito próprio. Ainda por cima, como o próprio nome evidencia, e o grafismo da letra utilizado para a banda confirma, tem uma certa áurea esotérica associada ao Karma espiritual que lhes dá mais um nível de abstração sensorial que combina na perfeição com a música que estamos a ouvir, alias, basta ouvir a faixa “Ephedra” para sentir isso mesmo. A pontuação é mais pela música do que o álbum ao vivo em si. [9.5/10] CARLOS FILIPE

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CRITICA VERSUS

OR MYST

PAT R IA

P R AY E R S O F S A N I TY

«Arcane Dreams» (Solstice Promotion)

«Magna Adversia» (Soulseller Records)

«Face of the Unknown» (Rastilho Records)

Recentemente li na Rolling Stone que «Once» dos Nightwish foi considerado um dos melhores álbuns de metal de todos os tempos – Obviamente que estas listas são sempre muito discutíveis – até porque prefiro o «Oceanborn» mas sempre podemos ver isto por outro prisma: é um estupendo álbum e uma referência no género. «Arcane Dreams» é o álbum de estreia dos Franceses Ormyst e como já podem ter depreendido pela introdução tocam Metal Sinfónico. E aqui reside o problema, porra que isto é fraquinho. Muitas vezes ouve-se algo cuja influência em certo artista ou disco é demasiado evidente mas dá gosto ouvir, apesar da falta de originalidade. Isto fica bem patente desde o primeiro tema de «Arcane Dreams», parece uma cópia “mal amanhada” dos Nightwish ou Epica. A voz não é tão operática e teatral como Tarja nem tem a força de Simmons. No global «Arcane Dreams» é enfadonho, parece que fica a meio caminho de tudo o que deveria ser um bom álbum de Metal Sinfónico. “Lady Shalott” foi dos poucos temas que me chamou a atenção porque o solo de guitarra começa de uma forma espectacular, um “tapping” a rasgar mas depois parece que o solo acaba a meio… até nisto. Enerva. Há tanto álbum incomensuravelmente melhor que «Arcane Dreams» que podem ouvir e largar este... tipo «Once». Garanto que os vossos ouvidos vão sentir o paraíso! [4/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

A dupla que dá pelo nome Pátria está de regresso com Magna Adversia, o sexto registo da dupla brasileira que tem vindo a cimentar o seu nome na cena Black Metal. ao longo de cinco registos a banda tem sabido geir as expectactivas e, sobretudo, tem mantido intacta a sua identidade, sem que para isso tenha de vender a alma ao diabo. Magna Adversia é, por isso mesmo, um grande disco de Black Metal que, tanto bebe na frieza do género feito na Escandinávia como nas paisagens mais quentes do Brasil. Para os Patria não existe limite na misantropia e, para ajudar neste caos instalado, nada melhor que contar com uma equipa de luxo. Magna Adversia é um registo que mostra que o género não começa e termina nos anos 90 e que há mais vida e morte do que se imagina. Este é um grande disco, daqueles que vai elevar, ainda mais, a fasquia dos Patria no espectro Black Metal. [7,5/10] NUNO LOPES

Começo esta opinião sobre os Prayers of Sanity e o seu mais recente álbum por dizer o seguinte: Na minha mui humilde opinião, o Thrash Metal poderá ter um grande defeito se não for tocado condignamente – Monotonia. Se os músicos forem medíocres na composição, corremos o risco de estarmos perante “mais do mesmo” e portanto, o álbum torna-se uma seca e facilmente cai no esquecimento ou num qualquer balde do lixo. (Os mais incautos já devem estar a perceber do que se trata «Face of the Unknown» - Não, não é mediocridade mas sim, THRASH METAL OLD SCHOOL). Os Algarvios Prayers of Sanity já andam por estas andanças desde 2007 e «Face of the Unknown» é uma estupenda forma de comemorar uma década de existência. Sou um particular fã deste género, especialmente, a dourada época dos anos 80, Testament, Overkill… Portanto, esperem encontrar nove temas que fazem, de alguma forma, recuar no tempo, quer seja no magnífico som de baixo que me faz lembrar principalmente D.D. Verni ou nos riffs de Tião que “respiram” muito de Alex Skolnick. Como é óbvio, não esperem grande diversidade musical, à excepção do pequeno instrumental “In Between” e será por isso que sinto o álbum um pouco monótono à medida que nos aproximamos do final. No entanto, isto é quase uma reminiscência dos anos 80 e “entre o deve e o haver” sabe bem recordar o Thrash Metal Old School. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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CRITICA VERSUS

SKYCLAD

S INH E RESY

S IN L U S T

«Domino» (Scarlet Records)

«Sea Black» (Solstice Promotion)

«Forward Into The Past» (Listenable Records)

Tendo tido a oportunidade de os descobrir ao vivo aquando do últim concerto das Tarja e de pesquisar a sua discografia até então, os Sinheresy, e utilizando a futubolística, chegaram com grande mérito à segunda liga com este seu novo trabalho «Domino». O Symphonic/Melodic Heavy Metal que apresentam não acrescenta nada de novo ao panorãma, a não ser a de acrescentar mais uma opção de audição/ seguimento de uma banda neste estilo musical. Os fãs desta música abarcarão com agrado e respeito, mas duvido que este trabalho capte mais do que estes fãs para a causa. É um álbum honesto e bem conseguido com uma malhas bem esgalhadas, e, um “beauty and the beast” (sem gutural) dinâmico e coerente. Uma coisa é certa e deve ser referida, com este «Domino», os Sinheresy mostram uma evolução evidente e penso que no próximo trabalho, se evoluírem nas mesmas proporções que demonstram aqui, chegarão facilmente à primeira liga. Têm potencial para isso. O que falta a «Domino» é uma direção musical mesmo dentro deste estilo que consiga caracterizar o som dos Sinheresy, e assim conseguir deixar de lado as referências evidentes às grandes bandas do género. A mais evidente de todas são os conterrâneos Lacuna Coil. Também gostava de uma maior profundeza do sinfónico, pois elevaria a sua música e deixar de lado as tendências mais pop metal. Definitivamente uma banda e um álbum a ser descoberto pelos demais destes géneros mais sinfónicos e melódicos com a conotação “femeal band”. Os demais, abstenham-se. [7.0/10] CARLOS FILIPE

Os Sinlust, Franceses de origem, apresentamnos um black metal com algumas influências fora deste espectro que permitem à banda criar um álbum bastante negro, ritmado e, ao mesmo tempo, bastante pesado. Cedo se percebe que os Sinlust gostam de fugir àquilo que é tipicamente black metal, recorrendo a riffs bastante ritmados e até mesmo um pouco progressivos. A abertura do álbum dá-se com “Red Priestess”, um tema inicialmente calmo e negro que depois se desenvolve numa pesada malha com alguma complexidade. Os temas são todos eles bastante longos e percebe-se que a banda gosta de o fazer para mostrar todas as suas facetas. “Sea Conquerors” é uma malha rápida que, de seguida, toma uma direcção mais ritmada e técnica. “Dawning of the Volcano God” começa com uma simples melodia de guitarra e de seguida apresenta um riff bastante ritmado com passagens um pouco progressivas. A voz de Firefrost tem um tom único mas também um pouco repetitivo ao longo do disco. Toda a banda apresenta um nível técnico bastante elevado o que permite tornar “Sea Black” em algo complexo e com excelentes melodias. [7.0/10] EDUARDO ROCHA

No inicio dos anos 90 os Skyclad colocaram o Folk Metal no radar de muitos melómanos e entusiastas de música mais erudita, muito graças a discos como The Wayward Sons of Mother Earth ou Jonah’s Ark, que são, ainda hoje, referências no género, no entanto, quase três décadas depois, o mundo Skyclad está diferente, isto porque, após a saída de Martin Walkyier e tudo o que isso gerou, os britânicos viram-se obrigados a repensar a sua carreira, o que levou a algumas alterações na sonoridade, sem que para isso os Skyclad alterassem a sua génese. Quer isto dizer que este Forward Into The Past não vem trazer nada de novo à discografia da banda mas que, mantém o mesmo interesse na mesma e (re)lembrar os valores que a banda sempre defendeu. Tal como a árvore rrepresentada na capa, os dias de hoje dos Skyclad contam a história do que um dia foram e do que são, sendo que este registo é um equilíbrio (quase) perfeito entre o que a banda fez e o que quer fazer, daí que temas como Words Fail Me, Unresolved ou The Measure nos façam ainda lembrar os Skyclad de outros tempos. Forward Into The Past é um registo para seguidores, mesmo para aqueles que deixaram de acreditar na banda. [7/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

TH O R MESIS

T R IA L ( S WE )

U LS EC T

«Trümmerfarben» (MDD Records)

«Motherless» (Metal Blade)

«Ulsect» (Season of Mist)

Há dois anos atrás, Freier Wille- Freier Gest foi recebido de forma grandiosa por media e público, colocando assim os Thormesis nas bocas (negras!) do Mundo. Para este quarto registo a banda não se sentiu impressionada com o sucesso nem utilizou a mesma fórmula, isto quer dizer que os Thormesis continuam a ser Black Metal e continuam a usar o Paganismo se bem que, neste patamar, o Pagan Metal passa, e de que maneira para segundo plano. Trümmerfarben é um registo negro, carregado de soturnidade, porém, a banda intercala com momentos de pura subtileza. A forma comos os músicos incorporam as melodias entre o caos das palavras vociferadas em alemão, que nos caiem das trevas com a força de mil homens. Entre alguns destaques ficam os 8minutos de Waheelas Fährte ou Verblasst, no entanto, este é um digno sucessor de Freir Wille- Freier Geist eouvi-lo pode criar alguns níveis de adição. Pode o Black Metal ser quente em vez de frio? [8/10] NUNO LOPES

Os Trial, que agora assinam como Trial (Swe), entregam, dois anos após o surpreendente “Vessel”, mais uma dose de heavy metal tradicional com este terceiro longa-duração, “Motherless”. E, resumindo muito sucintamente, é um disco menos conseguido do que o seu antecessor. Há aqui boas ideias, boas faixas, mas o álbum no seu todo não se destaca ao ponto de provocar um permanente “UAU” na cabeça do ouvinte. A prestação vocal reforça esta opinião: a voz de Linus Johansson, que vai beber muito em Bruce Dickinson e cujo timbre por vezes recorda Tim Aymar (Pharaoh e Control Denied), é um dos pontos que mais chama a atenção na sonoridade dos Trial (Swe), porém nem sempre pelos bons motivos. Forte no registo médio, e extremamente versátil, Johansson nem sempre cativa quando procura atingir notas mais altas – menos pela técnica, que está lá e é elevadíssima, e sim pelo seu uso exagerado em algumas faixas (tome-se como exemplo “Juxtaposed”). Ademais, a sua dicção também merecia aprimoramento. Instrumentalmente, no entanto, o colectivo apresenta-se bem oleado, com destaque para dupla de guitarras, cortesia de Alexander Ellström e Andreas Johnsson. Um disco muito interessante, mas ao qual falta “um bocadinho assim” para poder atingir outro patamar. Os apreciadores do metal mais tradicional, no entanto, terão aqui motivos mais do que suficientes para passar um bom bocado a auscultar “Motherless”. [7,5/10] HELDER MENDES

Bom, isto nos últimos tempos parece que com a Season of Mist é “cada tiro, cada melro”. O número de lançamentos de altíssima qualidade com o carimbo da editora francesa não cessa de crescer: recorde-se o excelente “kwintessens” dos holandeses Dodecahedron, um dos grandes discos de início de 2017. Os Ulsect são mais uma aposta ganha, e o rótulo post-death metal que se lhes atribui não é nada desajustado, pois aos elementos típicos do death metal juntam-se o experimentalismo (que vai beber a uns Meshuggah, por exemplo), a estrutura não convencional das músicas e a repetição de acordes que se podem encontrar nos projectos designados por post“qualquercoisa”. Em boa verdade, os Ulsect estão para o death metal um pouco como os já citados Dodecahedron estão para o black metal, e a afinidade não se pode estranhar, dado que ambos os conjuntos provêm de Tilburg e partilham membros, o guitarrista Joris Bonis e o baterista Jasper Barendregt. Alguma coisa se está a passar na Holanda, aparentemente, e nada tem a ver com futebol, drogas leves ou bicicletas. Enquanto álbum de estreia, pouco mais se poderia pedir a este “Ulsect”, quer quanto à produção quer quanto à composição: trata-se, efectivamente, de um disco muito capaz, coeso e envolvente, associando brutalidade e vanguardismo em doses acertadas. Muitíssimo recomendável e espera-se que seja um colectivo que tenha vindo para ficar. [8/10] HELDER MENDES

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O Heavy Metal no estado puro

Eis a ambição de Max “Savage” Birbaum, que dá a cara pelos Lunar Shadow. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

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Eduardo – Olá. Max! Parabéns por «Far From Light», o primeiro álbum de Lunar Shadow! Foi fantástico ouvi-lo e escolhemo-lo para “Álbum do Mês”. Como conseguiram fazer algo tão maravilhoso logo para começar? Max – Ave, Eduardo. Antes de mais, gostaria de agradecer-te e a todos os que estão envolvidos nisso por terem escolhido o nosso trabalho para “Álbum do mês”. Esse tipo de apoio agrada-me sempre. Também reparei logo que não economizaste no tempo para fazer uma crítica ao álbum, o que eu respeito muito. Estou orgulhoso deste álbum. Ficou tal e qual como eu queria e soa como tinha sido previsto. Algumas das canções de «Far From Light» já estavam escritas, quando lançámos o nosso EP intitulado «Trumphator», em 2015. Para esse EP, escolhi propositadamente canções um pouco mais curtas e mais diretas. Era claro para mim que, no álbum, iríamos enfrentar o desafio de gravar canções mais longas, épicas e complexas. A principal diferença, no que toca ao processo de gravação, foi que precisámos de muito mais tempo, para gravarmos tudo como deve ser. Quando fizemos o EP, estávamos sempre com pressa, o nosso baterista teve de tocar as faixas todas de seguida e tivemos frequentemente de fazer tudo bem à primeira vez. E o nosso vocalista – o Alex – nessa altura era novo na banda. Com «Far From Light», foi tudo diferente. Eu estive presente em quase todas as sessões de gravação para me certificar de que o álbum soava tal e qual como eu queria. Há muito mais detalhes pequenos para o ouvinte descobrir. A harmonia da guitarra ou uma certa passagem de bateria podem engrandecer uma canção. São aspetos que não se devem descurar. Também houve coisas que aconteceram espontaneamente. Quando começámos a gravar a voz para “‘Hadrian Carrying Stones”, trabalhámos com várias pistas, que combinámos, de tal modo que

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obtivemos um estilo quase folk, à Simon and Garfunkel, que me conquistou de imediato. Penso que encontrámos um som bastante original e que não há muitas bandas que soem como nós. Foi um processo longo e exaustivo. Depois das gravações terem acabado, passei sete meses sem tocar nas minhas guitarras, porque sentia um imenso vazio. Estava vazio e cansado. Mas, quando foi lançado, tivemos um retorno tão incrivelmente positivo que me leva a dizer que tudo valeu a pena e que é por causa disto que eu faço música. Para criar algo que seja apreciado pelos outros. Eduardo – como reagiu a malta da Cruz del Sur, quando vocês lhes mostraram o álbum? O Enrico e eu tínhamo-nos mantido mais ou menos em contacto depois do lançamento do EP. Ele disse-nos que preferia esperar por um álbum. Então enviei-lhe algumas gravações préproduzidas e tivemos uma longa conversa no Harder Than Steel Festival, em Dittigheim. Quando ele nos perguntou se queríamos assinar contrato com a Cruz del Sur, eu não hesitei um segundo. Tenho muito orgulho em fazer parte desta editora, que representa tudo o que é importante para mim: dedicação, paixão e ardor. Eduardo – Na minha opinião, não escolheste um caminho fácil para o vosso começo. À exceção de uma, todas as canções deste álbum são longas… têm mais de seis minutos, culminando em “Hadrian Carrying Stones”, um hino épico de quase dez minutos. Foi fácil fazêlas? Quem está encarregado de compor a música? Sou em que faço as canções de Lunar Shadow: componho a música toda e escrevo as letras. É a única forma de esta banda funcionar e sinto-me feliz por os meus companheiros aceitarem esta maneira de fazer. Lunar Shadow representa a minha forma pessoal de ver o Heavy Metal e quero mantê-la pura, preservada de

qualquer influência que não venha de mim. Muitos dos membros da banda têm projetos paralelos, onde podem dar corpo às suas próprias ideias. Isso parece-me muito bom, embora Lunar Shadow seja a banda principal e também a “maior”. Como já referi, o processo de gravação teve momentos muito difíceis. Tivemos muitas sessões de gravação, que duraram 12 horas e mais. Chegas a um ponto que já nem consegues tocar guitarra ou bateria como deve ser, nem cantar. Aí tens de parar mesmo e voltar noutro dia. Eu sempre tive este problema: como sou o principal compositor, tenho de estar presente em todo o trabalho de gravação e acabo por odiar a minha própria criação. Antes do álbum estar pronto, eu ouvi as canções incessantemente, em vários estádios diferentes. É por isso que basicamente nunca ouço a minha própria música. É o preço que tenho de pagar. Eduardo – E quem escreveu as letras? Eu próprio. É muito importante paras mim não ter limites no que diz respeito às letras em Lunar Shadow. Quero poder escrever sobre tudo o que me agradar, seja lá o que for. Quando as bandas – para preservarem a sua imagem só se ocupam de freiras e Satã ou cerveja e motas, eu aceito. Gosto de cerveja e freiras, mas esses temas não me agradariam. Sentirme-ia como se estivesse enjaulado. Eu quero escrever sobre Tolkien, Robert E. Howard, a morte, o fogo, a luz do amor, as trevas, a fúria, monstros, feiticeiros, espadas, conflitos íntimos, tragédia, depressão, desgosto, chamas e cinza. O que quer que seja que me venha à cabeça. Quando disse aos outros, durante um ensaio, que tinha escrito uma canção sobre um Kraken gigantesco, eles só sorriram, mas sabiam que eu estava a falar a sério, porque me conhecem muito bem. É muito importante fazer apenas o que te parece certo, sem te preocupares com o que os outros vão pensar. Se


“[…] Era claro para mim que, no álbum, iríamos enfrentar o desafio de gravar canções mais longas, épicas e complexas. […]”

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começas a preocupar-te com essas coisas, vais falhar de certeza. Na minha opinião, este é o problema de muitas “jovens” bandas de Heavy Metal. Pensam que têm de soar de uma certa maneira para serem aceites. E é por esse motivo que a maioria das “jovens” bandas de HEavy Metal soam como imitadores e não têm nada de único ou individual. Pelo menos, é assim que eu vejo as coisas.

nenhum humano pode ver. Para outras letras – por exemplo, as de “Cimmeria” ou “Frozen Goddess” – inspirei-me no grande Robert E. Howard, que também adoro. A letra de “The Kraken” baseia-se no poema do mesmo nome da autoria de Alfred Lord Tennyson, um dos meus poetas favoritos. Apenas acrescentei alguns versos da minha lavra, as suas palavras poderosas não têm rival.

Eduardo – Este álbum é concetual? Sim. «Far From Light» trata da morte. Cada canção aborda este tópico, sempre de uma maneira diferente. No primeiro dia de gravação, o nosso produtor estava ótimo, mas, passadas algumas horas, começou a sentir-se tonto, ficou febril e acabou por ter de ir para o hospital. Ainda não sabemos o que aconteceu. Se calhar, foi por causa do fedor a putrefação que este álbum exala. Nele não há lugar para a esperança. A minha obsessão pela morte não é muito salutar. O título do álbum pretende exprimir o que eu sentia quando estava a escrever estas canções. Desprovido de esperança, sem nada bom à vista e com um futuro negro como breu à minha espera. Mors omnia vincit, meus amigos...

Eduardo e CSA – A capa do álbum chamou imediatamente a nossa atenção. Quem a fez e de que forma ela representa o tema dominante de «Far From Light»? É um quadro de Thomas Cole, um pintor Anglo-Americano do séc. XIX. Intitula-se “Expulsion – Moon and Firelight”. Eu interesso-me muito pela arte. Quando vi este quadro, soube logo que tinha de ser a capa de «Far From Light». Para mim, representa a queda, a aniquilação de tudo. A morte da vida, a perda do amor e a solidão devastadora que nos assola, quando nos afastam de tudo o que é luminoso e bom.

Eduardo – sou um grande fã do universo de Tolkien. A última canção deste álbum intitula-se “Eärendil”, uma personagem de The Silmarillion. Foste buscar a tua inspiração a essa obra? Sim. Tolkien foi sempre uma das minhas maiores influências. Escapismo na sua forma mais pura. E, na minha opinião, o escapismo é a raison d’être da literatura. A história de Earendil é uma das mais interessantes metáforas do universo de Tolkien. O marinheiro navega para oeste, a fim de pedir conselho e ajuda ao imortal Valar, mas, em consequência disto, tem de abandonar a sua existência terrena, de deixar para trás aqueles que ama e sulcar os céus para sempre, porque atravessou uma fronteira que não é deste mundo, porque viu coisas que

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Eduardo e CSA – E quem fez o vosso fabuloso logo? Raoul, de View From The Coffin. Ele é um artista absolutamente incrível e, entretanto, ficamos amigos. Eduardo e CSA – Quando o vimos, percebemos logo que algo negro e extremo nos aguardava. E o álbum tem realmente algumas partes obscuras, mas também tem momentos muito luminosos. Quais são as tuas principais influências musicais? Gosto de baralhar e irritar as pessoas. Muitas pessoas tomamnos por algo mais extremo, por causa do logo, mas era mesmo isso que nós queríamos que acontecesse. Não queria o tradicional logo de Heavy Metal. Acho-os muito sensaborões e são todos muito parecidos uns com os outros. Uma das minhas grandes influências é In Flames dos primórdios, especialmente

no que toca às guitarras, e outras bandas desse género como At The Gates ou Unanimated. Tenho de referir Dissection, uma influência gigantesca. E é claro que não posso esquecer bandas mais clássicas dos anos 80 – como Manowar, Bathory, Solstice – ou dos anos 70 – como Blue Öyster Cult, Rainbow ou Wishbone Ash. Eduardo – Na vossa página no facebook, li uma “declaração” dizendo que só tocavam Heavy Metal. Na minha crítica ao vosso álbum, afirmei que me recordavam o início de bandas como Iron Maiden, Saxon ou Juda’s Priest. (é a minha opinião, claro…). Concordas comigo? Está correto. Escrevi isso, porque já nos associaram a imensas coisas de que não gostei nada: Metal Progressivo, Melodic Power Metal, Epic Doom, etc. Não gosto de nenhum desses termos. Tocamos Heavy Metal, vamos reduzir a vossa aldeia a cinzas e os nossos carros de guerra transformar-vosão em pó. É isto que nós fazemos. É sempre difícil para mim comparar o nosso som com o de outras bandas. Estou demasiado envolvido. Consigo perceber a relação com os Maiden, porque também usamos muito contraponto, mas, pessoalmente, não os vejo como uma grande influência. Sou um fã acérrimo de Priest. Saxon e Priest são bandas que adoro, mas não tenho a certeza de que soemos como elas. Mas é fantástico ser comparado com essas bandas, portanto estou muito satisfeito. CSA – Como te sentes por vos compararem a bandas tão diferentes umas das outras como Dark Forest, Manowar dos primórdios, Bathory, Dissection? Sentes-te relacionado com todas elas, só com algumas? E até que ponto? Ser comparado com outras bandas é sempre algo que me parece extremamente abstrato. Por vezes, até compreendo essas comparações, outras vezes


não. Quando Lunar Shadow é comparada com uma banda de que eu gosto, reconheço a influência e respeito o comentário. Mas não me importo grandemente com isso. Para mim, é apenas mais uma tentativa de descrever o nosso som. Para mim, basicamente, o que fazemos soa como Lunar Shadow. Eduardo – Outra coisa que captou a minha atenção foi o facto de terem escolhido uma sonoridade que nos remete para os anos 60 e 70, aquele som quase cru a que algumas pessoas chamam “Regressive Metal”. Nesta altura, em que a maioria das bandas e/ou editoras e/ou produtores optam por sobreproduzir a música, é

refrescante ouvir algo como «Far From Light». O que vos levou a escolher este tipo de produção? Quem produziu e misturou o álbum? Na verdade, eu tinha em mente uma certa produção e um determinado som, quando começámos a gravar. Queria um som quente, natural e um tanto “reduzido”. E foi isso que fizemos. Desde o lançamento que a produção foi provavelmente o grande pomo de discórdia, quando se fala deste álbum. Uns adoram, outros pensam que é muito ténue e não gostam. Respeito todas essas opiniões. É impossível agradar a todos, algo que aprendes depressa, quando és um músico.

A única coisa que posso dizer é que se assemelha ao que eu imaginei para este álbum e que estou contente com o resultado final. Foi produzido e misturado pelo S, um membro do malévolo clã tentacular de SULPHUR AEON. É uma pessoa muito paciente, calma e simpática. Fizemos uma grande escolha. Eduardo e CSA – Obrigado pelo teu tempo! O mesmo para vocês. Gracias mais uma vez. Morte à Vida. https://www.facebook.com/lunarshadowband/ https://youtu.be/nh2eIyt7MQc

“[…] Lunar Shadow representa a minha forma pessoal de ver o Heavy Metal e quero mantê-la pura, preservada de qualquer influência que não venha de mim. […]”

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Uma visão sarcástica da vida É assim que a banda apresenta a forma como vê os temas tratados nos seus lançamentos. CSA esteve à conversa com X.XIX e XX.VIII Entrevista: CSA

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Já vos entrevistei sobre «Insects» e, talvez por isso, ao ler a informação da vossa editora, reparei logo na observação sobre as diferenças entre este álbum e o seu antecessor. Parece-vos que com «FAIL·LURE» voltaram a «||||», o vosso primeiro longa duração? Sim, talvez. Mas não estivemos preocupados com isso durante o processo de composição das canções. Aconteceu assim. Depois de «Insects», que tinha mais groove, estávamos provavelmente desejosos de fazer canções mais rápidas e dinâmicas. Supostamente «FAIL·LURE» seria mais old school e melódico em comparação com o lado cru e tenebroso de «Insects». Foi também principalmente por esse motivo que voltámos a trabalhar com o V. Santura na gravação e na mistura. O material deste novo álbum é mais atmosférico e segue mais de perto as tendências lançadas pelos antigos mestres do Black Metal. Basta ouvires “With Obsidian Hands”, que constitui um tributo a algumas das bandas dos anos 90. Não tínhamos previsto isso à partida, mas, à medida que avançávamos na composição, apercebemo-nos de que a nossa música neste álbum se aproxima de «||||», ao mesmo tempo que retoma algumas das estruturas de «Insects». De qualquer modo, vemos «FAIL·LURE» como um progresso, não como um retrocesso. A Prophecy afirma que «FAIL·LURE» trata da relação entre os dois sexos. Como veem esta complexa problemática social? Trata-se mais propriamente do fosso entre os sexos. Há diferenças, sem dúvida, mas também há pelo menos algumas semelhanças. Atualmente, a perceção dos dois sexos é bastante diferente, o que resulta do facto de as mulheres terem sido sempre tratadas de forma diferente dos homens ao longo de milhares de anos. O primeiro impulso para repensar os papéis atribuídos a

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cada um deles data do início do século passado. Mas era muito pobre. Penso que, hoje em dia, o género é mais uma construção mental do que há 50 anos atrás. As pessoas tornaram-se mais sensíveis, mais compreensivas. As mulheres e os homens são (quase) iguais. Mulheres e homens podem fazer tudo o que quiserem. Devemos estar orgulhosos de ter atingido este ponto, pelo menos numa grande parte da Europa. Mas, infelizmente, não é assim em todo o mundo. É uma constatação triste, mas verdadeira. Há ainda muitas paragens (por vezes, não muito distantes), onde as mulheres continuam a ser oprimidas e a ter menos direitos que os homens. Mas não é esse o tema do nosso novo álbum. Por que escolheram esse tema para o vosso terceiro álbum? Têm algumas questões a resolver com as mulheres? Neste nosso trabalho, não nos debruçamos sobre problemas entre os géneros. Nem temos nenhuns problemas a resolver com mulheres, de certeza absoluta (haha). O conceito deste álbum baseia-se no filme “Drowning by Numbers”. Trata-se de algo mais abrangente do que as relações entre mulheres e homens (no fim, ninguém vence, posso assegurarte). Resumir a história do filme pode ajudar a compreender a minha ideia. O filme trata de três mulheres que afogam os seus maridos sucessivamente. Para esconderem os seus crimes, procuram a ajuda da autoridade local, representada por um indivíduo lascivo. Ele ajuda-as e espera obter em troca alguns favores (sexuais). Não quero revelar toda a história, para o caso de quereres ver este filme (o que eu recomendo). Esta é a base da sua história. Depois há várias intrigas secundárias, que levam a história até ao seu desfecho. Em suma, o filme fala de vingança, de traição, de fingimento, de egoísmo, de atração/sedução e de repugnância. O seu propósito é levar-te a

pôr em causa os teus próprios pensamentos sobre os papéis habituais e a forma como lidas com eles no dia-a-dia. Tal como no nosso álbum anterior, tentamos levar o ouvinte a empreender uma jornada de exploração dos abismos das almas humanas e apresentarlhes uma posição crítica em relação aos seus comportamentos. Não tem qualquer intenção feminista ou antifeminista. Portanto, não temos medo de sermos vistos como defensores de quaisquer ideias preconcebidas. Queremos sim apresentar-nos como pessoas de mente aberta, que se sentem felizes por serem livres, por poderem ter a sua própria perspetiva sobre o mundo. Não têm medo que alguém vos veja como impertinentes defensores da ideia de que o Metal é só para os homens? De modo nenhum. O filme – e, consequentemente, o nosso álbum – defende precisamente a ideia contrária. Pretende mostrar que as mulheres não devem ser traídas, nem mostrar-se vingativas e os homens não podem ser tão regidos por certos instintos. Trata-se de um jogo de sentidos construído a partir do empolamento de um estereótipo evidente, mas idiota. Esta “separação” entre homem e mulher deve ser antes compreendida no sentido de Pars pro Toto. Significa que cada indivíduo vive à sua maneira, desligado da dita “comunidade”. Além disso, «FAIL·LURE» trata do egoísmo e da cegueira que afetam a nossa sociedade e de que até as crianças são vítimas. Toda a gente age como se se tratasse de ganhar um jogo. As pessoas portam-se como personagens de um jogo irracional. Cada um por si, divorciados uns dos outros. Não importa o que se está a fazer. O filme apresenta uma visão sarcástica da nossa sociedade. Da mesma forma, o nosso álbum apresenta uma visão crítica da nossa sociedade. Penso que a maioria das pessoas que


[…] apercebemonos de que a nossa música neste álbum se aproxima de «||||», ao mesmo tempo que retoma algumas das estruturas de «Insects». […]

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se interessam realmente pelo conceito subjacente a «FAIL·LURE» depressa notará que se trata de algo muito mais profundo do que discutir a questão do género. Como é que as mulheres que fazem parte das vossas vidas (mães, irmãs, namoradas, amigas, etc.) reagiram à vossa visão do género feminino? Parece-me que essa pergunta deriva de uma visão superficial das letras do nosso álbum. Portanto, é difícil responder-te. Farsot não pretende produzir música e letras que sejam fáceis de ouvir e compreender. As mulheres que fazem parte das nossas vidas não costumam pôr em causa a nossa forma de ver o seu género. Se isso acontecer, é uma questão que pode ser discutida e explicada. Ou então basta que se sintam seguras de si mesmas e que confiem em quem as rodeia. Podes explicar o jogo de palavras contido no título do álbum? O título representa um resumo do conceito de base do álbum. O ser humano tem tendência para falhar devido à sua atitude essencial (“allure”): a tentação de ser o melhor e o maior… Quem escreveu as letras deste álbum? De que forma relacionam as características da sua música com a vossa perspetiva sobre este tema? O conceito lírico foi criado sem qualquer preocupação sobre a forma como seria expresso musicalmente. Como já tinha acontecido com «Insects», pensei num tema em particular. Depois, comecei a escrever as letras sobre os vários tópicos e a relacionálas de forma harmoniosa com as canções. Por exemplo, “Vitriolic”, que é provavelmente a faixa mais dura do álbum, trata da vingança e do desprezo. E a áspera e perturbadora “The Anatgonist” põe a questão de saber quem eu sou e chama a atenção para a mascarada…

Onde encontraram a maravilhosa escultura que ilustra a capa deste álbum? Como persuadiram o seu criador a deixar a banda usá-la? [É uma obra de arte verdadeiramente extraordinária. Eu era capaz de passar horas a contemplá-la.] Isso aconteceu durante uma viagem à Alsácia (Leste da França). O conceito já estava criado e algumas das letras já tinham sido escritas. Lá existe um pequeno castelo. As esculturas (há duas – uma maior e uma mais pequena) estão expostas no seu pátio. Depois de inúmeras tentativas frustradas para fazer uma capa adequada para este álbum, fiquei profundamente abalado por ter finalmente encontrado a imagem ideal. Esta escultura representa na perfeição o espírito do álbum. Enviei um mail ao artista. Ele foi muito simpático e ficou encantado por partilhar a sua arte connosco. Inserimos uma foto fantástica do artista na edição limitada. Fizeram muitos concertos para promover «Insects»? Alguns, sim, aqui e ali. Também tocámos em alguns festivais, pequenos e grandes. Infelizmente os nossos planos para fazer uma digressão falharam por completo. Mas, no fim de contas, não somos uma banda que possa realmente passar meses na estrada. Temos as nossas famílias, que estão sempre em primeiro lugar, e os nossos empregos, já que não conseguimos viver apenas da nossa música.

espero que assim seja… Que planos fizeram para promover este álbum? Gostaríamos muito de vos ver em Portugal. É claro que queremos fazer muitos concertos. Seria maravilhoso poder fazer uma digressão, talvez com outras bandas que combinassem bem com a nossa. Também planeamos participar em alguns festivais. Temos esperança de conseguir chegar a mais países europeus desta vez. Ir a Portugal seria realmente fantástico. Se nos fizerem uma oferta interessante, não perderemos essa oportunidade. Mas esperamos que não tenhamos de tocar só para homens… haha. Têm alguma mensagem especial a deixar às mulheres, principalmente às que gostam de Metal? Não é nosso costume deixar mensagens a nenhum grupo específico. O pensamento estereotipado é algo que procuramos evitar. Mas estamos certo de que até algumas mulheres gostarão do nosso novo álbum. As nossas namoradas e amigas adoram-no. https://www.facebook.com/farsot.official/ https://youtu.be/ZRrbtwcP-LA

Parece-vos que «FAIL·LURE» será tão bem recebido como esse álbum? As reações são muito diferentes. Nos seis anos que decorreram desde que lançámos «Insects», os modos de fazer a promoção mudaram de forma drástica. «FAIL·LURE» parece chegar às pessoas de uma forma mais furtiva, enquanto o lançamento do seu antecessor foi mais impactante. Portanto, acho que só vamos poder responder de forma adequada a essa pergunta daqui a meio ano. De momento, é difícil fazê-lo. Mas

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À moda antiga Uma das grandes surpresas deste ano. Após um excelente «Vessel» os Trial assinaram pela MetalBlade e não se fizeram rogados: «Motherless» é um excelente “prémio de assinatura” para uma das mais importantes editoras ligadas ao Metal. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Eduardo Ramalhadeiro & Hugo Melo

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Eduardo & CSA - Olá! Parabéns pelo vosso novo álbum, está a ser uma excelente experiência ouvilo. Alexander: Obrigado! Espero que continue a crescer. Eduardo - «Vessel» recebeu muitos e bons elogios, por isso, como é que está a ser recebido «Motherless»? Até agora os comentários têm sido excelentes! Há muita gente que parece manifestar as mais variadas opiniões sobre «Motherless». As críticas que temos recebido falam sobretudo em termos absolutos e na forma em como não soamos como antigamente. As expectativas de certas pessoas em como o álbum deveria soar, centram-se na tese de que nós não deveríamos desenvolver a nossa sonoridade. As pessoas que acreditam que repetiríamos alguma coisa que já fizemos (ou qualquer outra banda nessa matéria) não sabem quem são os Trial. Nós nunca fomos assim e aqueles que não percebem isso é que ficam a perder. Eduardo – Obviamente “um pequeno passo para o Homem mas um grande salto para os Trial” foi a assinatura do contracto com a MetalBlade Records. Como é que surgiu esta oportunidade e como é que vocês receberam esta notícia de ser possível juntaremse a esta grande editora? Muito simplesmente, nós entrámos em contacto com a Metal Blade através de um amigo. Eles gostaram do que fizemos em «Vessel» e ficaram muito interessados em nos ter na lista deles. Claro que ficámos muito entusiasmados poder assinar com esta editora lendária que é a Metal Blade Eduardo – O que é que esperam da Metal Blade? Exactamente o que eles se propuseram fazer. CSA – A editora continua a dizer que vocês se reinventam a cada lançamento. Podes dar-nos a

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essência dessa vossa jornada, desde a criação dos Trial até estes dias? Pode-se dizer que começámos por ser uma banda de metal mais tradicional. Mas a influências foram mudando de disco para disco e, de alguma forma, acabámos por fazer «Motherless» que é um álbum que inclui muitos elementos diferentes. A nossa sonoridade muda ao longo do tempo, como o tradicional «The Primordial Temple» até ao sinistro EP «Malicious Arts», passando pelo escuro e sombrio «Vessel» e agora com o multifacetado «Motherless». CSA - … então, e o que é que vocês faziam antes dos Trial? Todos tocávamos Black, Death e Thrash Metal noutras bandas e constelações. Alguns de nós tocávamos juntos e alguns… nem por isso mas antes dos Trial todos se conheciam. Eramos muitos jovens nessa altura por isso… não há assim muito para dizer. Eduardo – Em que medida estas mudanças influenciaram a música de «Motherless»? Nós vamos buscar a inspiração a todo o lado e na maior parte das vezes nem sabemos de onde vem Procuramos sempre novas formas dentro da nossa música e, desta vez, apareceram muitos novos caminhos que nos guiaram até «Motherless» Eduardo – Antes do Linus se juntar à banda vocês lutaram com algumas dificuldades. O que é que ele trouxe à banda de tão importante que resultou nesta união dos restantes membros à volta deste projecto? Nós já conhecíamos o Linus antes, mesmo do tempo em que estávamos a começar. No entanto, nessa altura não tínhamos a certeza se era aquele tipo de voz que queríamos e se encaixava no nosso estilo, apesar de sabermos que tinha uma grande voz. Quando ele se juntou aos Trial deu-nos a identidade que estávamos à procura porque ele realmente tem uma voz distinta. Só percebemos

isso quando gravámos uma demo do ensaio de “The Sorceress Command” com o Linus e aí percebemos que era a escolha perfeita. CSA & Eduardo – O Linus faz-nos lembrar uma mistura de Bruce Dickinson e Geoff Tate (The old one… (risos)) O que pensas da nossa análise? Concordas? O Linus admira ambos os vocalistas e por isso, são uma grande influência para ele. Antigamente, porém, a voz era um pouco mais crua do que é agora. Ele costumava cantar numa banda de Death Metal e fazia muitos “Growls”, então, ele não estava habituado a cantar limpo. Mas agora ele transformouse num grande vocalista e acredito que «Motherless» é um bom exemplo e o culminar dessa evolução. Eduardo – Quando estava a preparar esta entrevista depareime com uma crítica que dizia, à primeira vista «Motherless» seria um álbum previsível de Power Metal (Ri-me bastante, no entanto, a crítica no geral até foi bastante positiva). Sendo assim, como é que te defines enquanto músico e como defines Trial como banda? O Power Metal parece representar e ter um significado diferente nos EUA, do que aqui na Europa. Não somos uma banda de Power Metal, nem nada do que se pareça, até porque nunca foram uma das nossas influências. Nós tocamos Heavy Metal e de alguma forma música progressiva em geral mas nem sequer nos definimos dessa forma, no entanto para o homem comum, que necessita de rotular tudo, creio que é uma descrição correcta do tipo de música que praticamos. É uma música que se se conseguia identificar em qualquer género. Eduardo: Os riffs, ao longo de todo o álbum, estão constantemente a mudar de uma forma que dá à música uma progressão suave. Como é


As críticas que temos recebido falam sobretudo em termos absolutos e na forma em como não soamos como antigamente.

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que o teu processo criativo se desenvolve? Como é que funciona o experimentalismo na criação de um álbum. Tendo a ser periodicamente criativo. Entre outros textos, escrevo muita poesia. Outras vezes focalizo-me em tocar guitarra. Não consigo controlar a criatividade, ela simplesmente proclama os seus poderes sobre mim sem eu ter qualquer escolha. A criação da maioria das nossas músicas, estendem-se ao longo do tempo e passam por muitas transformações até estarmos completamente satisfeitos com o resultado. Eduardo – No EPK enviado pela editora, podemos ler “Condenados pela inquietude da juventude, muitas músicas foram escritas nos seus princípios humildes, no entanto poucas aguentaram o teste do tempo.” Que músicas estavam condenadas e que músicas aguentaram o teste do tempo? As músicas que aguentaram o teste do tempo são as que acabam nos nossos álbuns. As que estão condenadas são, essencialmente, aquelas que escrevemos no início dos ensaios e que não se demostraram como boas o suficiente, caso contrario tinham acabado nos lançamentos. Temos um par de músicas antigas, que não foram lançadas, que usamos para ensaiar, mas duvido que venham a ser incluídas num próximo lançamento. Eduardo – Falando das letras, «Motherless» segue algum conceito? Não foi completamente intencional, mas num determinado sentido sim, seguem. Obviamente a trilogia está interligada mas o resto das músicas não o são da mesma forma. Quando te sentes obrigado a exprimir, basicamente colocas as tuas emoções por escrito. As letras são muito especiais e ocupam um lugar especial no meu coração cada vez mais negro.

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Eduardo – Para o Martin. Como baterista, gostei do som cru de «Motherless». Simplesmente odeio a compressão excessiva que se ouve nos recentes álbuns. Que setup é que utilizas? Como foi gravar e produzir as partes de bateria? Martin: Estávamos atrás de um som de bateria orgânico, e essa foi uma das razões pela qual escolhemos este estúdio (Studiomega), para além de ser uma sala de gravações fantástica e enorme. O truque foi usar os microfones da sala com um reverb natural, em vez de o adicionar posteriormente de forma digital, através de plugins. Adicionalmente colocámos um segundo bombo em frente ao que utilizei para tocar, por forma a encher mais o som da sala. Gravámos as baterias com o som das guitarras e baixo prégravados na nossa pré-produção, trabalhado antes de entrarmos em estúdio, pelo que me sentia bastante confortável a tocar com as faixas como fundo. Tornou todo o processo mais simples. Claro que em estúdio trabalhámos em diferentes variações e ideias criativas, mas a maioria das partes de todas as músicas já estavam escritas e prontas a ser gravadas. Não sei que detalhe procuras pelo que usa o que precisares. O meu setup é um kit 90s Premier Genista (bombo de 22", timbalões de 10,12,14,16") com uma tarola Gretsch Steve Ferrone Signature Aluminum 14x6,5", que tem um balanço perfeito entre um tom amadeirado e um som metálico. Em vez de lado a lado, uso o timbalão de 14” à minha esquerda e o de 16” à minha direita de forma a conseguir um som mais dinâmico, e em stereo quando toco os dois ao mesmo tempo. Os pratos que utilizei nas gravações foram: Sabian AA Metal-X 15" Hi-hat Paiste Signature 22" Powerslave Bell Ride Paiste 2002 16" e 18" Crashes Sabian Paragon 20" Crash Paiste Twenty 16" China Paiste 2002 18" Novo China

Zildjian Avedis 18" Pang China Sabian AAX 8" Splash UFIP Class Series 10" Splash CSA – A capa do vosso álbum foi realizada por Costin Chioreanu. Eu reconheci o estilo dele porque entrevistei-o para a Versus, e sigo o trabalho dele no Facebook. É um artista fantástico. Porque é que ele preencheu a capa de «Motherless» com tantos símbolos maternais? Como foi trabalhar com ele? Costin é um artista talentoso que deveria ser reconhecido pelo seu trabalho. Para além de profissional, trás outra dimensão à experiencia, porque ele entende o que procuramos expressar com a nossa arte. Vê-lo a tornar isto realidade nas suas pinturas é impressionante, e é algo que não é fácil de encontrar. O grafismo está repleto de referências maternais porque ele é uma interpretação das letras do álbum. As letras usam este imaginário e simbolismo porque é uma forma de examinar as coisas de uma outra forma. Com isto quero dizer que tudo o que experiencia, ou é o que o outros chamam de “real” ou é parte da minha realidade. CSA – Vocês são jovens, e as vossas mães devem ter sensivelmente a minha idade (cinquentas). Elas não ficaram zangadas dos rapazes não terem mães (“motherless”)? «Motherless» não é sobre ficar sem a mãe que deu à luz o teu corpo físico, que é meramente um recipiente. Ficar “sem mãe” é algo mais profundo que isso, e podes experienciar isso se olhares para o abismo o tempo suficiente. Eduardo & CSA: Obrigado pelo teu tempo! Obrigado pela entrevista e espalhem o evangelho de “MOTHERLESS”. https://www.facebook.com/TrialHeavyMetal/ https://youtu.be/V9dG6Yc1_zg


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ANTRO DE FOLIA

Por: Frederico Figueiredo

Dale Cooper, parido pelo canal digestivo de uma corrente elétrica, materializa-se numa poça de regurgitação. De seguida, o protagonista, conduzido por um embaraçoso portal luminoso de comunicação com o black lodge, dirige-se a um casino a fim de capitalizar nas slot machines. Este e outros exercícios de contrição de narrativa, subvertem qualquer vontade de desambiguação e transformam os habitualmente geniais artifícios herméticos de David Lynch num labor de um demiurgo perdido na convexidade de um labirinto de espelhos. A personagem de Dale Cooper, representada pela figura do Mago, do conjunto de cartas de Tarot recentemente publicadas em dedicação à série, acaba por paralelizar Lynch num esforço de tirar sucessivos coelhos da cartola sem qualquer tipo de preocupação com enredo ou fio condutor, repousando nos louros do passado. Cooper, que seria a ligação entre as três temporadas de Twin Peaks, encontra-se decomposto numa multiplicidade de doppelgängers (sendo que um deles já por si se assemelha a um sósia de Steven Seagal) que apenas servem o propósito de subtração à essência da personagem, ao ponto desta parecer irreconhecível. Um quarto de século esfolou camadas de coerência e põe familiares personagens em ação num verdadeiro esforço de mimética, como um conjunto de marionetas sem alma nem conteúdo, enclausurando-as numa metanarrativa que se desmarca do campo do intrigante para o meramente despropositado. Nesta lógica, ainda não foi cauterizada a ferida que constituiu a 2ª temporada a partir da descoberta do assassino de Laura Palmer, tendo nessa altura o afastamento do criador da série bem como a abreviação do mistério que, em boa verdade, constituía o cerne da ação, absorvido qualquer tipo de coerência e antecipação na intriga. Entre a autofagia inteletual do autor e a embolia cerebral dos espectadores, três quartos da acção passam-se curiosamente longe da cidade de Twin Peaks, perante um desfile infindável de intérpretes e uma amálgama de pontas soltas sob forma de trama. Não se verifica qualquer filtro nos excessos surrealistas de Lynch, o que paradoxalmente à natureza da própria expressão do surrealismo, apenas contribui como constrangimento do argumento.

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Quem matou Twin Peaks?

A tonalidade desta terceira temporada inclina-se de forma perigosa para o grotescamente cómico, tendência já verificada no segundo segmento da segunda temporada, sendo que os elementos que tornam Lynch visionário se enquadram no tipo de indulgência seguida no registo de Inland Empire. O facto de o conjunto dos episódios vistos até à data terminarem com a atuação de uma banda distinta no Bang Bang Bar tresanda a estratégia comercial para promoção da banda sonora, sendo que seria verdadeiramente mais interessante colocar o talento de Angelo Badalamenti em cena, o qual, de forma bizarra, à exceção talvez do tema título, parece ter sido grosseiramente negligenciado. Em suma, o maior truque que (a cerca de um terço do andamento da série), se tem conseguido nesta terceira temporada de Twin Peaks, foi desmarcar aquilo que constituía há 25 anos atrás um fenómeno televisivo, num enfadonho esforço de amontoação de cenas e situações inusitadas que parecem ter transformado o seu visionário criador em míope.

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Deranged- «Struck By A Murderous Siege» (Suécia, Technical/Brutal Death Metal) Com mais de vinte anos no negócio e nove álbuns completos, os DERANGED permanecem como uma banda de culto do death metal sueco. Formado em 1991 por um casal de adolescentes entediados inspirados pelas bandas mais violentas e sangrentas do período (como Carcass, Napalm Death, Impetigo e Suffocation) e até mesmo filmes de terror mais sangrentos, eles começaram a moer a coisa. O fascínio inicial mostrou-se particularmente duradouro e frutífero, com uma pequena pausa entre 2007 e 2009. DERANGED é liderado pelo baterista Rikard Wermén, o mentor da banda e único membro restante da formação original de 1991. (Agonia Records) Truckfighters- «V» (Suécia, stoner rock) Se estiverem interessados em hard rock groovy, stoner-influenciado, progressivo e melódico, provavelmente já sabe sobre os Truckfighters já. Caso contrário, deve ir à sua procura e descobrí-los na sua magnitude. (Century Media)

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Usurpress- «The Regal Tribe» (Suécia, Doom/crust/prog-infused Death Metal) OS USURPRESS são uma banda de death metal na onda doom / crust / prog formada em Uppsala (Suécia) em 2010. Eles sempre escreveram músicas curtas e agressivas baseadas em riffs de death metal dissonantes e batidas cruas de d-beat, temperadas com punhados de progrock e Psicodelia. «The Regal Tribe» é o seguimento de «Ordained» (2014), que viu USURPRESS deixar o caminho inicial de deathcrust para territórios mais inexplorados. (Agonia Records)

sueca do Norte de Norsjö no final de 2003 pelo vocalista David Nilsson e baixista Viktor Eriksson, FERAL mais tarde mudou-se para a cidade vizinha de Skellefteå e formou um line-up completo junto com o guitarrista Petter Nilsson eo baterista Rickard Lundmark (ZONARIA) antes de eventualmente completar o seu lineupcom a adição do guitarrista Markus Lindahl. Com a programação completa, a banda logo começou a escrever e tocar em torno de sua Suécia nativa. Agora, há o novo EP «From The Mortuary» chegou! (Cyclone Empire)

Asphyx- «Incoming Death» (Holanda, Death/Doom Metal) It’s definitely a 100% ASPHYX album, but there’s much more to it. I think we are the only ones that can and are able to deliver a monster like this. SPHYX is ready to unleash another dose of merciless brutality on the masses, with 2016’s “Incoming Death.” (Century Media)

Revel In Flesh- «Emissary Of All Plagues» (Alemanha, Old School Death Metal) Em 2014, REVEL IN FLESH lançou vários split-7 “EPs e tocou shows maiores com ENTRAILS, HOLY MOSES, FLESHCRAWL ou KATAKLYSM e festivais como IN FLAMMEN. Depois de cumprir o seu antigo contrato, REVEL IN FLESH assinou um novo acordo e lançou o seu 3º álbum «Death Kult Legions», altamente aclamado, em dezembro de 2014 trouxe um grande impulso à sua reputação

Feral- «From The Mortuary Ep» (Suécia, Old School Death Metal) Formado na pequena cidade


dentro da comunidade mundial do Death Metal. REVEL IN FLESH seguiu seu grande caminho de morte, lançou mais alguns split-7 “s e agora os REVEL IN FLESH estão de volta com seu 4 º e provavelmente mais melódico «Emissary Of All Plagues» é o próximo passo lógico em combinar a atmosfera, o groove e a pura brutalidade do Death Metal executada em sua própria maneira Revelish! (Cyclone Empire)

Juntamente com a cena dos EUA, a cena U.K. e a cena sueca, reinam os holandeses. E quando todos decidem ir mais rápido e mais brutal, há sempre a exceção para ir de encontro ao córrego. (Hammerheart Records)

e harmoniosos e derivações reverberantes são nostálgicos e estridentes em igual proporção, combinando-se perfeitamente com uma orquestração em camadas para convergir na revelação climática emotiva. (Debemur Morti Productions)

Black Hole Generator- «A Requiem For Terra» (Noruega, Black Metal)

Formado em 2009, o Black Hole Generator é a ideia do homem principal de Vulture Industries e produtor de longa data de Taake e produtor dos Helheim Bjørnar E. Nilsen, que tem sido uma espera de dez anos desde o primeiro lançamento da banda, o «Black Karma». Mas agora a espera finalmente acabou e Black Hole Generator está pronto para desencadear sua tão esperada segunda excursão. (Dark Essence Records) Beyond Belief- «Rave The Abyss» (Holanda, Doom/Death Metal) Doom / Death Metal Holandês é reeditado. É no início dos anos 90, que os melhores anos do Death Metal são relembrados e comemorados, o género é jovem, fresco e inventivo. E a cena holandesa está atingindo o seu pináculo, uma banda após a outra assina e lança álbuns clássicos.

Thy Shade- «The Last Goodbye» (EUA, Symphonic Metal) Álbum épico de estréia da banda de música Symphonic Metal THY SHADE! THY SHADE é uma banda de metal sinfónico baseada em Denver, CO (EUA), centrada e liderada pela soprano clássica / crossover Diana Shade. Foco em obter melodias fortes e coros cativantes, enquanto estão sempre tentando criar uma experiência de audição agradável e mantendo uma vibe de metal neoclássico / sinfónico fresco. (Massacre Records) Arkona- «Lunaris» (Polónia, Black Metal) Os notáveis ARKONA - pioneiros da segunda onda Black Metal polaca desde 1993 - iniciar a parceria com a Debemur Morti Productions em grande estilo através do magnífico «Lunaris», a expressão mais plenamente realizada da sua visão singular. Consolidando e atualizando a grandiosidade terrena, aperfeiçoando o clássico início de 1996 «Imperium», ARKONA criou a síntese perfeita do Pagan Black Metal, o melodismo neoclássico obscuro, o romantismo corrompido e o poder existencial enraivecido. Riffs de tremolo meticulosos

My Darkest Hate- «Anger Temple» (Alemanha, Death Metal) O novo e 5º álbum de estúdio dos alemães Comando do Death Metal MY DARKEST HATE! (Massacre Records) Death Fetishist- «Clandestine Sacrament» (EUA, Blackened Death Metal) MATRON THORN, artistacriador do bestial AEVANGELIST lança agora o seu trabalho mais impressionante até à data: «Clandestine Sacrament», o álbum de estreia abrangente de DEATH FETISHIST. A criação revela-se na catarse através da hauntologia: extremidade incrivelmente insólita, construída sobre a beleza sublimada, o caos, a dissonância e um sentimento de desespero existencial sempre presente, quase palpável, quase esmagador. DEATH FETISHIST enredam cascatas de frases agitando e alienantes dentro da música claustrofóbica, inspiradora da hipnose sombria. (Debemur Morti Productions) Operation- Mindcrime«Resurrection» (EUA, Progressive Metal/Rock) Operação: Mindcrime é uma banda de metal progressiva que é liderada

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pelo ex-vocalista de Queensrÿche, Geoff Tate. (Frontiers Music) Tarnkappe- «Winterwaker» (Holanda, Black Metal) Black Metal do jeito que é sup+osto ser tocado, bruto, agressivo, frio e com atitude underground! Grim & Cold Black Metal do solo holandês! Se apreciam Black Metal com um som orgânico, natural, Tarnkappe estará no vosso menu. Diríamos que Tarnkappe revive o velho espírito escandinavo dos anos 90, mas isso não justificaria o que essa banda conseguiu aqui. Eles são originais o suficiente para ter seu próprio som. Grandes músicas, riffs de guitarra, vocais acutilantes e uma produção topnotch, é o que recebe. (Hammerheart Records)

Across The Burning Sky- «The End Is Near» (Suécia, Melodic Death Metal) Melodic Death Metal com o Melodic Death Metal pode ser! Com “The End Is Near” em Across The Burning Sky encontrarão um álbum onde melodias e o Death Metal se cruzam. Rápido. Lento. Agitação. Pungente. Mas sempre Metal. Sempre honesto. Neste álbum a banda capturou a sensação do início deste género dos anos noventa. Uma produção áspera e honesta atende ao encanto de uma gravação ao vivo. Sem pretender ser impecável, mas sempre com a atitude in your face! Álbum de estreia. (MDD Records)

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Teethgrinder-- «Nihilism» (Holanda, Grindcore) Teethgrinder enfatiza os contrastes substanciais de seu estilo extremo de um tocar forte. “Nihilism” é um álbum ainda mais impiedoso. Isto é puro ódio. Os músicos holandeses operam com frustração sem filtro e desilusão chocante. Nesse entendimento, o “niilismo” é um reflexo de seu tempo. (Lifeforce Records) Bornholm- «Primaeval Pantheons» (Hungria, Occult/ Pagan Black Metal) O quarto álbum do oculto / pagan black metal BORNHOLM da Hungria! (Massacre Records) Anaal Nathrakh- «The Whole Of The Law» (Inglaterra, Industrial Black Metal/Grindcore) Anaal Nathrakh foi criada para um propósito - ser a banda sonora do Armageddon, a essência auditiva do mal, do ódio e da violência, o verdadeiro espírito do necro levado aos seus extremos musicais. Originalmente marcado pela ferocidade musical, inventiva e amplitude, casado com inteligência mercurial, intensamente misantrópica e afiada, o som de Anaal Nathrakh está imbuído de uma sensação palpável de ameaça que é praticamente inigualável em metal. (Metal Blade) Destrage- «A Means To No End» (Itália, Progressive Metalcore) Podem tentar colocar Destrage numa caixa, mas nunca terão sucesso. Palavras como “progressivo”, “cinematográfico”, “mathcore”, “técnico” e “grooveladen”, poderia ser atirado a eles, mas realmente o único que precisam é Destrage, porque eles estão numa categoria à parte. Levam o ouvinte através de um labirinto emocionalmente carregado de complexas e cativante melodias com músculo, seguindo as regras de ninguém, destacando-se como um dos verdadeiramente lançamentos dos últimos anos. (Metal Blade)

Wovenwar- «Honor Is Dead» (EUA, Heavy Melodic metalcore Metal) Com o seu segundo lançamento, «Honor Is Dead», Wovenwar está de volta com um álbum impulsionado por um tema lírico muito mais obscuro do que a da sua estréia de 2014 e autointitulado, batendo com força devastadora e existente em uma faca. A emoção derramada em cada música é o tipo que não pode ser falsificado. (Metal Blade)

The Answer- «Solas» (Irlanda do Norte, Hard Rock) “Eles vão ser imensos”, a revista britânica Kerrang uma vez predisse - oh, quão bem eles estavam! Enquanto isso, os roqueiros duros do norte da Irlanda, The Answer, nos deram cinco álbuns finos e diversificados, que só agora afundam com a beleza exuberante que é Solas - um passo audacioso na evolução para a banda e limites de géneros passados. Este não é o típico álbum de rock clássico, musical e líricamente a banda progrediu e entregou um álbum de rock contemporâneo com influências gaélicas. Solas é a palavra gaélica para “luz” (Napalm Records) Sonata Arctica- «The Ninth Hour» (Finlândia, Power Metal) A banda mais uma vez se concentrou em escrever 11 hinos épicos com melodias enérgicas e impactos poderosos. (Nuclear Blast Records)


Pelander- «Time» (Suécia, Folk rock) Homem principal de WITCHCRAFT, projeto de solo de PELANDER de Magnus Pelander. (Nuclear Blast Records)

Khaos-Dei- «Opus Ii- Catechism» (França, Black Metal) Depois de ter golpeado duramente por surpresa em 2015 com «Tell Them Lucifer Was Here», KHAOS-DEI está de volta com o seu segundo opus, «Catechism». Entre os melhores que a França tem para oferecer, um Black metal pensativo, distante das unhas enferrujadas e dos cintos em branco, KHAOS-DEI ensina-nos uma lição sobre o que o satanismo deve ser. Fiel às crenças do Left Hand Path, a banda decidiu ir ainda mais longe, soprando os códigos e abraçando ainda mais o Caos. Com a música como meio maduro de sua ideologia, KHAOSDEI fortalece as muralhas de seu templo sagrado para alcançar um espírito superior. (Osmose Productions) Liber Null- «I, The Serpent» (Internacional, Black Metal) LIBER NULL encarna a vontade destruidora do dogma de se opor à denigração da dimensão terrena da existência - que os peões da doutrina religiosa, passada e presente, desejam apagar da consciência humana, em uma busca para aniquilar o Eu. O hino implacável, impenitente e afrontador de LIBER NULL pinta um universo de autodeterminação, apesar de seis acusações musicais negras contra a visão teísta distorcida da Criação, do Homem e do caminho espiritual. Álbum de estreia. (Osmose Productions)

Mithras - «On Strange Loops» (Inglaterra, Experimental Brutal Death Metal) Como o primeiro álbum da banda “adequado” em quase dez anos, «On Strange Loops» vê MITHRAS elevar a barra para um outro nível. O seu som de assinatura está presente nos 56 minutos do álbum: os solos de Leon Macey, moles e estéreos entrando e saindo quando você menos espera deles, insanos e rápidos blastbeats e bateria esmagadora sustentam os vocais do outro mundo de Rayner Coss e o baixo lurking; em essência «On Strange Loops» oferece tudo o que pode - e talvez deveria ser esperado de uma banda de MITHRAS ‘estatura, e muito mais! (Pioneer Music)

Mystic Prophecy- «Vengeance Rerelease» (Alemanha/Grécia, Power/Heavy Metal) MYSTIC PROPHECY - tocando música na veia de bandas como Accept, Judas Priest, Exodus, Prohibed ou Testament - tornou-se uma das maiores surpresas da cena global do metal nos últimos anos, representando o metal poderoso e dinâmico no seu melhor! Agora, a re-lançar o seu álbum de estréia «Vengeance». (Massacre Records)

Dool- «Oweynagat» (Holanda, Dark rock) Apresentando membros da aclamada banda de dark rock The Devil’s Blood e death rock do grupo Gold, DOOL é uma força explosiva e desenfreada. A banda holandesa irradia uma inegável energia bruta que mistura rock clássico, pop gótico e metal psicodélico para criar seu próprio som dinâmico. (Prophecy Producions) Glare Of The Sun- «Soil» (Austria, Doom Metal) Afogue-se no mar profundo de guitarras largas e celestiais. Sonhador, shoe-gazy, épico. Mas espere por ele - o enorme martelo do doom vai arrebatá-lo de vez. Inesperado, despreparado, impiedoso. O GLARE OF THE SUN é bonito e brutal ao mesmo tempo. Prometedor e melancólico, marchando na borda dos sentidos, entre a queda e a elevação, luz e obscuridade, noite e dia. Sempre criando espaço, deixando-o até escolher o lado que deseja. (Lifeforce Records)

Victorius- «Heart Of The Phoenix» (Alemanha, Power Metal) O novo álbum apresenta os pontos fortes da banda: melodias fortes, ritmos pesados e rápidos e vocais afiados. O novo e adiante álbum de estúdio das estrelas cadentes do power metal alemão. (Massacre Records) Akoma- «Revangels» (Dinamarca, symphonic metal)

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AKOMA, o metal sinfónico dominante da Dinamarca há mais de uma década, acabou de lançar o seu primeiro álbum, «Revangels». Com o novo álbum, AKOMA mostra um novo lado da banda, mantendo-se fiel ao seu antigo som. De peças atmosféricas para vocais de soprano, cornos de batalha épicos e riffs de guitarra duros, “Revangels” tem tudo! (Massacre Records)

Benighted - «Necrobreed» (França, Brutal Death Metal) «Necrobreed» é o resultado da violência moderna combinada com uma subcorrente do sentimento da velha escola. BENIGHTED mantem as suas influências de grinding mas death clássico claramente mostra através do tecido. Esses grunhos de porcos insanos são respaldados por um enorme rosnado. Crushing riff e baterias nucleares vão ao encontro de melodias sutis e ganchos escondidos alimentam a fúria. (Season of Mist) Emptiness - « Not For Music» (Belgica, Black/Death Metal) A música extrema sempre foi atraída para o lado negro da expressão artística. Isto conduziu frequentemente a uma raça sempre crescente de tentar empurrar os limites apenas tornando-se mais duramente, mais rapidamente, e de algum modo mais ruidosamente. EMPTINESS e o seu novo álbum «Not for Music» deixa bem claro até que ponto os exploradores belgas dos tenebrosos estão dispostos a ir.

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(Season of Mist) Warpath- «Bullets For A Desert Session» (Alemanha, Thrash/Hate Metal) WARPATH, originalmente formado em 1991, reuniu-se em 2015 depois que eles entraram em hiato em 1996. WARPATH permaneceu fiel a si mesmo, oferecendo uma mistura de assinatura entre o hardcore / thrash / doom e death metal. malhas de alta velocidade como “Reborn” ou “Unseen Enemy”, canções groovy como “Believe” e “I Do not Care”, bem como músicas pesadas como “Crossing” ea faixa-título oferecem uma seção transversal de um álbum que é tanto espontâneo, bem como bem pensado, e que combina marcas de old-school com um som moderno! (Massacre Records) Vipassi - «Sunyata» (Australia, Instrumental Progressive Metal) A música instrumental, tradicionalmente, tem um tempo mais difícil no metal como em outros géneros. Com demasiada frequência, os músicos virtuosos têm usado seu talento principalmente para acariciar egos massivos. No entanto, bandas como ANIMALS AS LEADERS demonstraram que habilidades ambiciosas e canções apaixonadas podem ser fundidas em algo maior, o que atrai muito além do relutante respeito dos colegas. Com o «Sunyata», VIPASSI oferece um álbum tão raro que combina o virtuosismo técnico extático com o amor pela criação de paisagens sonoras atmosféricas, melodias espumantes e passagens cativantes. VIPASSI nasceram em 2009 pelo guitarrista Ben Boyle e membros de estrelas filmaras australianas NE OBLIVISCARIS, que marcou o início de uma longa jornada de escrita e ensaio (Season of Mist) Au Champ Des Morts - « Dans La Joie» (França, Black Metal) O impressionante primeiro comprimento total da AU

CHAMP DES MORTS é uma manifestação ricamente emotiva e multi-faqcetada das melhores canções de Black Metal contemporâneas. Musicalmente, este é diversificado, este álbum esterlino melhora a orquestração primordial dos predecessores ANOREXIA NERVOSA com um núcleo abundante de influências atmosféricas, incluindo o olhar negro, o pós-rock, a onda fria e o metal pós-Black. Os vocais apaixonados do guitarrista Stephan Bayle e o baixista Cecile G são assombrados pelos fantasmas das guerras internas e externas, trazendo ares de desânimo, cânticos de insurreição e litanias limpas de fragilidade pessoal em meio a uma herança corrompida. (Debemur Morti Productions) Once Human- «Evolution» (EUA, Melodic Death Metal) A «Evolution» não é apenas o título do 2º álbum dos Once Human, é uma declaração blindada. Tendo feito ondas com a sua estréia em 2015, com «The Life I Remember», a banda progrediu dramaticamente além do som melódico do death metal dessa versão em algo mais complexo, emocional, distinto e devastadoramente pesado. (EAR Music) Code - «Lost Signal» (Inglaterra, Progressive Post-Rock) O EP apresenta três músicas do seu mais recente álbum “Mut” (2015), realizadas com uma forte abordagem metálica. Ele também apresenta três músicas


adicionais, uma de cada um dos três primeiros álbuns realizados em um estilo mais sutil e introspectivo semelhante ao observado no álbum “Mut”. O resultado é um lançamento que, alternativamente, enfatiza a sutileza e o peso do som da banda e oferece a chance de ouvir essas músicas de forma completamente nova. A ideia era voltar a visitar trabalhos passados de um ângulo diferente e «Lost Signal» é o resultado. (Agonia Records) Gloson- «Grimen» (Suécia, Doom/ Sludge/Post-Metal) A compreensão de GLOSON de sludgy, às vezes, pós-metal sinistro desmentia os seus jovens anos como uma banda. Em «Grimen», os extremos sugiram subtilmente com «Yearwalker» abertos e criam uma experiência ainda mais dinâmica do que o antecessor de curta duração não-despretensível. GLOSON já teve uma inclinação para o épico nesse EP, e mantém o rumo em «Grimen». E, no entanto, esse “curso” engloba tanto a escuridão quanto a luz - e até mesmo cinza, especialmente - tanto o peso do movimento terrestre quanto a austeridade, a densidade e a deriva. (Art Of Propaganda) Helheim - «Landawarijar» (Noruega, Viking/Black Metal) «LandawarijaR» contém sete faixas, todas as quais apresentam as características do património nórdico tradicional da HELHEIM. Um Património do qual estão justamente orgulhosos e para o qual eles permaneceram verdadeiros, evitando a tentação de se transformarem em paródias vikingas que tantas bandas abraçaram. Com “landawarijaR”, HELHEIM usa suas letras para expressar a necessidade de incluir o património nórdico na vida moderna, enfatizando a importância, o mistério e a maravilha nunca cambiante das Runas. (Dark Essence Records) Helioss- «Antumbra» (França, Symphonic Black/Death Metal)

Apenas dois anos após o seu opus anterior «One With The Sun», a dupla francesa Helioss está de volta com um novo álbum «Antumbra»! Este apresenta 11 novas faixas misturando mais uma vez a brutalidade e a escuridão que definem o black metal e a luz que acompanha o metal melódico e sinfónico. Ainda com D.M (Wrath From Above) na voz ao seu lado, Nicolas Muller escreveu mais uma vez uma hora de música agressiva e melancólica, onde partes de piano, peças de orquestra e riffs de guitarra afiada se juntam. (Apathia Records)

Havok- «Conformicide» (EUA, Thrash metal) Superlativos são geralmente usados para descrever novos álbuns. Optimo. Maior. Melhor. Thrash metal está cheio de álbuns superlativos. Com base no valor de uma década a governar firme em pontos altos, parece que a geração mais jovem do thrash metal está a tocar para lá se manter. Mas há sempre um superlativo. Um farol entre faróis. O próximo nível acima do tipo de coisa. Bem, os thrashers, os moshers, e os maniacs do circle pit o grande do grande chegaram no novo álbum de Havok, «Conformicide». Mais rápido, mais irritado, e burlier, «Conformicide» beneficiou significativamente de mais sessões de escrita colaborativa. Os fãs de Hardcore Havok não precisam de se preocupar. «Conformicide» não é um show bass-driven. Há uma abundância - uma quantidade

insana, na verdade - de riffs inteligentes e trabalhados para morder. (Century Media) Svart Crown- «Abreaction» (França, black/death metal) A última vez que os franceses black/death metal Svart Crown exploraram os terríveis cantos do mundo com seu terceiro álbum de originais «Profane», as coisas do fim do tempo estavam acontecendo. Não se enganem, «Abreaction» é a soma de «Profane», «Witnessing the Fall» and «Ages of Decay’s». Embora possa ser mais medido - usando os nove círculos do Inferno de Dante como um padrão - em seu ataque, o mais novo de Svart Crown é mais ameaçador em todos os níveis. “Este álbum permanece muito extremo”, promete Le Bail. “Quero dizer, o início de uma música como “Sobre essa loucura íntima “ é talvez um dos começos mais loucos que já fizemos. Total selvageria. Os membros da banda são mais experientes como músicos e, obviamente, um pouco mais velhos. Para isso, a nova música da Svart Crown é muito mais pessoal. “A inveja ainda é a mesma”, diz Le Bail. “Mas não temos a mesma intensidade em nosso jogo em comparação com oito anos atrás. Mesmo se a Abreação ainda é realmente violenta e brutal, há um filtro nele. Nossa música é menos complicada. Há mais sentimento e atmosfera. A dinâmica ainda está lá. E isso é o mais importante. (Century Media) Artificial Brain- «Infrared Horizo» (EUA, sci-fi death metal) ARTIFICIAL BRAIN é uma viagem ao reino sónico onde a música se tornou mais brutal e dissonante, técnico, atmosférico, e apenas em geral mais do outro mundo. Os temas líricos mergulham em conceitos dentro de um futuro distópico em que os robôs e os cyborgs sobreviveram aos seres humanos e que acreditam não serem da criação dos seres humanos extintos há muito tempo, mas uma evolução mais perfeita

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majestosas e gloriosas, a sua música mágica uma chave para outra dimensão. Cinco anos após o grandioso “Imperator”, o Anjo da Morte da Noruega retorna agora com um novo e completo álbum “Interequinox” - um monstruoso turbilhão de Black Metal eclético e teatral misturado com insinuações de horror extático, psicodelia e pura beleza. (Debemur Morti Productions) deles. (Earsplit) Vitja- «Digital Love» (Alemanha, Experimental Groove Metal) “Digital Love” sounds utopian on the surface, but scratch it and Beule exposes its dark side. The vocalist and lyricist pulls no punches in his assessment of what we’ve become, how we’ve become, and why we’ve become merely desperate and isolated parts of our respective sum. We’ve detached from humanity. Yet, now more than ever, we’re longing for connectivity, to feel and be human again. “He calls VITJA’s music “metal-rock”. No more descriptors or sub-categories given or asked. VITJA’s fortunate 2013 inception can be traced to four different bands. But it’s not the past that’s exciting about the Germans. It’s the present and what VITJA will bring in the future. Based in Cologne, the quartet, whose name is Russian shortform for ‘Viktor’, which translates to ‘Victor’ or ‘Winner’ in English. (Century Media) Dodsengel- «Interequinox» (Noruega, Black Metal) No mundo fascinante da música underground, a palavra culta é tão frequentemente usada e mal utilizada ... mas o poderoso DØDSENGEL é o seu epítome. Autêntica, respeitada e renomada pela qualidade encantadora da sua abordagem única ao Black Metal, esta enigmática banda tem assombrado discretamente a cena do metal extremo durante uma década, espreitando nas sombras,

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Connoisseur- «Over The Edge» (EUA, Sludge Metal) “A maioria das bandas de stoner quer fazer sentir fuzzy e hot com seus groovy hippie doom riffs, mas nós sempre procuramos fazer o oposto, e com este registro realmente sentimo-nos mais perto de alcançar o nosso objetivo final: tornar a marijuana uma ameaça novamente!” - - CONNOISSEUR. CONNOISSEUR, colega de violência da West Coast stoner, lançará o seu tão aguardado «Over The Edge» via Tankcrimes. Com quatorze queimadores revestidos de resina, este é o seguimento do aclamado «Stoner Justice». «Over The Edge» é um álbum de vinte e quatro minutos de brutalidade vindo da Costa Leste, combinada com a sua mentalidade, todos enrolados com ervas cósmicas crescidas no espaço, entregues por uma raça alienígena conhecida como The Doctors. (Earsplit) Hideous Divinity- «Adveniens» (Italia, Death Metal) O grupo de death metal italiano HIDEOUS DIVINITY, com suas atuais e ex-integrantes da Hour Of Penance e Aborted, lança aqui o seu terceiro LP. Intitulado «Adveniens», o acompanhamento do leiloado vocal Cobra Verde foi gravado, mixado e masterizado no 16º Estúdio de Stefano Morabito (Hour Of Penance, Fleshgod Apocalypse etc.) durante o outono de 2016, inclui uma interpretação de Sinister “Embodiment Of Chaos”, e encontra HIDEOUS DIVINITY a lançar o seu material mais escuro ainda. (Earsplit)

In The Company Of Serpents«Ain Soph Aur» (EUA, Doom Metal Experimental) O duo de Doom Metal de Denver IN THE COMPANY OF SERPENTS vai lançar o seu tão aguardado novo álbum. «Ain-Soph Aur» tem o seu nome nos três véus da existência negativa que precedem a manifestação do universo material na filosofia da Qabalah hermética, uma tradição esotérica ocidental envolvendo misticismo e ocultismo. IN THE COMPANY OF SERPENTS tráfego em catarsis sónica. Sua música habita as franjas estranhas entre o Sludge metal e as contagens ocidentais spaghetti alastrando, esforçandose constantemente para o poder visceral e a intensidade crua, contrastada com as passagens instrumental deléveis, estranhas. (Earsplit) Isenordal- «Shores Of Mourning » (EUA, Black funeral doom/ neofolk) A ISENORDAL tem em «Shores Of Mourning» o seu álbum de estreia. Este é o sucessor da demo da banda de 2014, «Imbolc MMXIV». Produzido em 2016 como um testamento para o sofrimento e uma exploração do purgatório, num momento em que o próprio grupo estava em mudanças de formação, «Shores Of Mourning» é um monumento à camaradagem de ISENORDAL com membros passado e presente e uma exploração da mudança de orientação. É um estudo de perda e um grito por um longo e ausente


nascer do sol sobre um plano triste e caótico. Misturando influências de black metal de Cascadian com funeral doom, metal Viking e neofolk. (Earsplit) Nathaniel Shannon- «And The Vanish» (EUA, Instrumental) Nathaniel Shannon e o Vanishing Twin apresentaram uma arrebatadora e cativante coleção de músicas compiladas a partir de uma década de gravações no último outono com a Tresspasses. Os vocais falados de Shannon em estilo de palavras sobre assombrosos instrumentais minimalistas proporcionaram uma atmosfera assustadora ao disco. (Earsplit)

Saille- «Gnosis» (Bélgica, Epic Black Metal) “Gnosis” é o quarto álbum da banda Epic Black Metal Saille, um concept album que explora o mundo do ideal Promethean e sua contraparte luciferiana. Sail ou Saille é o nome da quarta letra do alfabeto irlandês Ogham, que significa “salgueiro”. Pronúncia: [sahl-yeh]. O guitarrista do SAILLE, Reinier Schenk: “Nosso cd anterior” Eldritch “foi um bom álbum, mas sentimos que tinha que ser mais escuro, tivemos que trazer a SAILLE para outro nível. O logotipo foi modificado como uma declaração, os ‘cachos’ foram removidos, Tanto no estilo como na música. O ouvinte pode esperar um SAILLE mais definido, com uma identidade própria. (FuturePR)

The Crawling- «Anatomy Of Loss» (Irlanda do Norte, Death/Doom Metal) Formado no inverno de 2014 contra o pano de fundo de concreto sombrio da cidade de Lisburn, Irlanda do Norte, The Crawling vieram um longo caminho desde seus humildes começos. Influenciado por Paradise Lost, Katatonia e Bolt Thrower, The Crawling usa uma voz gutural para combinar a melancolia com o peso, produzindo um pesado conjunto doom / death. O vocalista / guitarrista Andy Clarke comenta: “Anatomy of Loss é um álbum inspirado em eventos verdadeiros, que examina as experiências da banda em primeira mão e o que vemos na vida cotidiana. Em suma, é uma coleção de histórias sobre a perda, o arrependimento e o desânimo. O processo de gravação consistiu de diversão, desespero, raiva e, posteriormente, imensa satisfação. (FuturePR) Faulnis- «Antikult» (Alemanha, Depressive Post-Black Metal) Terceiro lançamento dos Faulnis «Antikult», que inclui com certeza as suas canções mais feias e duras até agora. Espere uma mistura suja de Black Metal e Punk! A banda descreve sua música como “SickBlackArt” ou “BlackDoomPunkRock”. (Grau Records) The Monolith Deathcult- «Versus 1» (Holanda, Atmospheric Death Metal with Electronic influences) “Versus 1” é entregue como uma arma secreta e nova, The Monolith Deathcult estão percorrendo um caminho único! Um álbum conceitual sobre o lado oculto do nazismo. Este mundo é um lugar absurdo e obsceno. Não há dúvida sobre isso. E a música (se você pode chamar isso) de The Monolith Deathcult é projetado para refletir isso. Querem riffs maciços, saw-toothed capazes de morder através do betão? Estão aqui! Querem blastbeats capazes de nivelar edifícios? Bem, então vamos a isso! Ripping solos?

Verifica! Humongous grooves? Dupla verificação! Vocais que se enfurecem e rugem como uma fornalha aberta? Tripla verificação, tal como a cereja em cima do bolo! Ostentosas orquestrações Wagnerianas? Bem ... Pulsing, throbbing electronica? Espere um segundo ... Coros cantados, vocais robóticos ameaçadores, vozes pretensiosas, e uma infinidade de citações de filme tiradas descontroladamente fora de contexto? Ok, agora você acabou de ir longe demais ... (Hammerheart Records)

Steve Hackett- «The Night Siren» (Inglaterra, Progressive Rock) Há um monte de músicos celebres e experientes que ficam presos nos seus caminhos e se recusam a sair da zona de conforto. Isso nunca pode ser dito de Steve Hackett. «The Night Siren» pode ser o seu 25º álbum a solo de estúdio de uma carreira distinta e longa, mas oferece ampla evidência do desejo desse talentoso homem, de empurrar a si mesmo e às suas visões para novas aventuras. Levou um ano ou mais para Hackett nos trazer esse ambicioso álbum. Ao fazê-lo, ele demonstrou uma tremenda capacidade de seguir os seus instintos e inclinações, evitando o caminho fácil de ir numa direcção musical directa à caixa. O que isso significava era que Hackett teve uma oportunidade única de reunir tanto um senso detalhado e construtivo de composição, com a noção de permitir que a alma musical para

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tomar vôo. (InsideOut Music)

sangrar! (Ketzer Records)

Cloven Hoof- «Who Mourns For The Morning Star» (Inglaterra, Old School Heavy Metal) O grupo de Midlands CLOVEN HOOF deve classificar-se como uma das bandas mais lendárias de todo o movimento New Wave Of British Heavy Metal. As origens do grupo remontam ao ano de 1979, quando se formaram sob o nome de Nightstalker. Musicalmente, “Who Mourns For The Morning Star” continua onde “Resist Or Serve” parou. » Who Mourns For The Morning Star « combina todas as melhores qualidades da marca CLOVEN HOOF, mas é tocada melhor e a entrega vocal está fora da escala. A largura de banda total da banda é explorada e existem faixas épicas ao lado de números mais difíceis de bater que constroem e cobrem todo um espectro de humores e atmosferas. (High Roller Records)

Rimthurs- «Gravskrift» (Suécia, Black Metal) Originário da província de Hälsingland, na Suécia, a banda de um só homem, RIMTHURS cria música moldada a partir da obscuridade e melancolia. Concebido como uma celebração para a morte, a noite fria e eterna, e com inspiração da poesia e da música da tradição popular sueca e da herança dos noruegueses, o black metal puro escandinavo é criado. A filosofia de Rimthurs é a absoluta inutilidade da existência e odiar a vaidade da humanidade. Em um universo frio e indiferente, a humanidade acredita ser a coroa da criação quando, na realidade, não passa de micróbios numa pedrinha infinitamente pequena num oceano sem fim de escuridão. A morte é a verdadeira jornada para a iluminação, quando tudo termina e o eterno nada abraça nossas almas desvanecidas e nada além de poeira fica …. (Ketzer Records)

Womit Angel- «Impaling Force Of Satan» (Finlândia, Sado-Black Metal) WÖMIT ANGEL é um pacote violento de black metal finlandês com influências punk / crust. Este é o seu terceiro álbum, «IMPALING FORCE OF SATAN». Não cedendo no vender-se ao som HIFI produzido, esta banda prospera a partir de puro metal orgânico da forma como deve ser tocado! Com um estilo e som intransigente, uma capa artística assinada por Ritual at Nucleart, a santíssima Trindade profana está completa. É hora de

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Au-Dessus- «End Of Chapter» (Lituania, Post Black Metal) Nas margens do mar Báltico, na encruzilhada entre mundos, mais escuros do que a noite, mais hostis do que o inverno mais rigoroso, este álbum desses lituanos empurra as fronteiras de metal pós-negro. “End of Chapter” sopra um vento gelado com atmosferas cheias de ondas negativas para levar o ouvinte a terras desconhecidas, onde os elementos são retirados da música

Sludge ou da tortura mental, reabre todas as feridas da alma. Com uma enorme maturidade para um primeiro álbum, você vai encontrar nada mais etéreo, nada mais aterrorizante, porque este é Au-Dessus (acima) tudo o resto. E a história acaba de começar ... (LADLO) Time Lurker - « Time Lurker» (França, Atmospheric Black Metal) “Time Lurker” reúne os dois EPs lançados unicamente em formato digital. TIME LURKER é tão intenso que cada audição leva a um sentimento muito diferente e percepção da música, dependendo este do seu estado emocional no momento. É bom dizer que trazemos algo novo para a paisagem do Black Metal francês, mesmo sabendo que a música do Time Lurker é muito exigente e não pode ser apreciada por todos. (LADLO) Mountaineer- «Sirens Slumber» (EUA, DARK METAL / POST ROCK) Triste, mas ainda assim de alguma forma bonito - esta poderia ser uma descrição aproximada de “Sirens & Slumber”. Bay Area’s MOUNTAINEER apresentam-se com um álbum de estréia que é construído sobre opostos e supostas contradições. Ao mesmo tempo, as nove canções tocam os ouvintes no mais íntimo. O grupo segue um caminho sutil e direto, usando padrões claros de ação. No entanto, a composição é surpreendente e emocionante. Na primeira escuta, nunca espera que o fator de recall, “Sirens & Slumber” se desenvolva. Com apenas pouca entrada, os MOUNTAINEER criam música magnífica - uma paisagem sonora orgânica de beleza arrebatadora e formidável profundidade. (Lifeforce Records) Cut Up - « Wherever They May Rot» (Suécia, Grind Death Metal) Com um passado coletivo impressionante no lado extremo do metal e a ambição de acender


a trilha da violência musical, Cut Up veio para reivindicar o trono. Combinando o Grind Death Metal com uma aproximação moderna e uma musicalidade elevada, contudo sempre com foco principal na brutalidade, estes suecos são notórios para trazer o gore onde quer que vão. (Metal Blade Records)

Cirith Ungol - « King Of The Dead (Ultimate Edition)» (EUA, Heavy/ Doom Metal) Em conjunto com o primeiro concerto ao vivo de Cirith Ungol em solo europeu no festival Keep It True em Lauda-Konigshofen, Alemanha, A Metal Blade Records lançará a edição final do álbum de King Of The Dead, de Cirith Ungol. King Of The Dead (Ultimate Edition) apresenta uma re-masterização completa por Patrick W. Engel no Temple Of Disharmony com cinco faixas bónus. (Metal Blade Records)

Harlott - « Extinction» (Austrália, Old School thrash metal) Forjado nos subúrbios orientais de Melbourne, Austrália, Harlott são o melhor exemplo do género thrash metal nos últimos anos. Tomando sua influência da cena do thrash da área da baía dos anos 80, e misturando-a com a melodia e o grit teutonic, focalizam na música alta da energia, acima do tempo com influência lírica da guerra, da religião, do caos, e da condição humana. Concertos ao vivo inigualáveis, um som agressivo e reconhecível, uma musicalidade clássica e um senso de humor “Aussie” clássico fizeram da Harlott uma base de fãs forte e dedicada, que continua a crescer dia a dia. (Metal Blade Records) Trial (swe)- «Motherless» (Suécia, Heavy Metal) Os membros do Trial uniram forças em 2007 na Suécia, colocando seus esforços musicais anteriores para descansar para criar algo juntos. Perdidos pela inquietação da juventude, muitas canções foram escritas durante seus humildes começos, mas poucos resistiram à prova do tempo. (Metal Blade Records) Warbringer- «Woe To The Vanquished» (EUA, Thrash Metal) Warbringer continuou a evoluir ao longo de seus 4 álbuns para a banda mais letal em thrash, e entrega um 5 º registro monumental em «Woe to the Vanquished». Tomando as inclinações mais progressivas e ambiciosas dos Impérios Colapso e temperando-os com violência pura e implacável. O resultado é uma linhagem híbrida única de thrash e metal extremo que varia de assaltos de velocidade total, como “Woe to the Vanquished” e “Shellfire” para a maior canção que a banda já fez, o 11-minute “When the Guns Caiu Silencioso. Warbringer faz um triunfante passo adiante neste disco, é uma obrigação absoluta para qualquer pessoa no metal hoje. (Napalm Records)

Amorphis - « Under The Red Cloud Tour Edition Bonus » (Finlândia, Melodic Heavy Metal/Rock) Fundada em 1990 em Helsínquia, os mestres do metal melancólico, com base na Finlândia, AMORPHIS escreveram a história da música. Em agosto de 2016, a banda apresentou algo novo: eles fizeram um setlist muito especial com músicos e amigos convidados! Esses shows agora fazem parte da nova edição da turnê! Este pacote inclui todo o álbum »Under The Red Cloud« com duas canções de bónus, bem como as faixas ao vivo em Helsínquia (Nuclear Blast) Double Crush Syndrome - « Die For Rock N’ Roll» (Alemanha, Rock N’ Roll) Diferente é o que Double Crush Syndrome foram, quando surgiram em 2013, liderada pelo cantor e guitarrista Andy Brings (exSODOM, ex THE TRACEELORDS). Sem um rótulo ou qualquer tipo de promoção, mas armados com um CD de autor numa capa de papelão, eles começaram a conquistar as etapas dentro e fora da Alemanha, começando um verdadeiro Rock n Roll rampage. O espectro de canções chega de bombas poderosas, como os hinos da banda “Die For Rock N’Roll” e “Gimme Everything” para mais sofisticadas bolas de demolição como’Can’t You Be Like Everyone Else’ e’Revolution’. (Nuclear Blast) Emmure - «Look At Yourself» (EUA, Deathcore) «Look At Yourself» representa uma maturação para EMMURE, um novo capítulo em uma autobiografia agressiva que remonta ao primeiro álbum da banda, lançado quando Palmeri estava mal fora de sua adolescência. É infundido com um auto-exame brutal e observação, equilibrando ódio, bilis e perseverança, com a experiência temperada de uma vida passada em busca de auto-confiança e respeito, de dentro e de fora. É expressa em uma cacofonia

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esmagadora de riffs que nunca deixam de super-servir o sulco de movimento para a frente de EMMURE. (Nuclear Blast)

Alunah - «Solennial » (Inglaterra, Doom/Stoner Metal) Por 10 anos, desde a primeira reunião em Midlands Inglês em 2006, Alunah têm traficado em uma mistura do terreno e do sobrenatural. Ao longo de seus três álbuns - Call of Avernus de 2010, White Hoarhound de 2012 e Awakening The Forest de 2014 - as quatro peças têm sido uma força constante de progressão em uma tomada individualizada de peso psicodélico e orgânico. Seu material nunca faltou estrutura ou groove, mas com os vocais melódicos do guitarrista Sophie Day sempre na frente, eles mantêm um olho para o stereo também. (Napalm Records) Memoriam - «For The Fallen» (Inglaterra, Death Metal) Enquanto o silenciamento indesejado de armas de fogo longo demitido levou à formação de MEMORIAM, a história de origem também tem um lado mais prosaico. Por 20 anos, Healy e Willetts sempre sonharam em ter uma banda juntos. Uma banda que não era BENEDICTION nem BOLT THROWER, mas que se baseava nos mesmos ideais da velha escola que os dois músicos compartilhavam. Desde o momento em que MEMORIAM se tornou uma realidade, o quarteto recém-formado estava pronto

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para a ação. Levou apenas seis meses para as duas músicas “The Hellfire Demos” para bater cera. A introdução de MEMORIAM ao mundo - sob a forma de “War Rages On” e “Resistance” - era extraordinariamente poderosa e voluntariamente selvagem. As músicas, mesmo depois de alguns meses de jamming, tornaram-se duro e rápido. (Nuclear Blast)

The Charm The Fury - « The Sick, Dumb Happy» (Holanda, Metalcore) Este novo álbum é uma espantosa laje de metal ultra-moderno, mas absolutamente distinto, que astuciosamente e honestamente redefine o que o CHARM THE FURY são tudo. Não espere nenhum tique-taque de caixas de subgénero da moda aqui: este é um álbum de metal bolasout com uma personalidade poderosa e alguns dos hinos mais esmagadores que o mundo tem ouvido em um longo tempo. »The Sick, Dumb And Happy« apresenta uma banda no auge de seus poderes, impulsionada por uma paixão coletiva por fazer música que vai para a jugular e exige o headbanger. Mostrando uma escala do canto melódico e íntimo, ao grito gutural full-force, a cantor Caroline Westendorp procura demonstrar que um vocalist fêmea do metal pode ser muito mais do que uma ferramenta do marketing para satisfazer as massas. Adequadamente, seus companheiros de banda clicaram em uma engrenagem mais alta

e fornecer o cantor com o mais vibrante, vicioso e alegremente metálico de cenários. (Nuclear Blast) Pallbearer - «Heartless» (EUA, Doom Metal) O terceiro álbum de PALLBEARER, “Heartless”, é uma coleção inspirada de música rock monumental. A banda oferece uma complexa arquitetura sónica que entrelaça os espaçosos elementos exploratórios do clássico prog, de 90-alt rock e trechos de blacklit e proto-metal. Letras sobre mortalidade, vida e amor são definidas para melodias afiadas e harmonias pristine de três partes. O disco, que funciona como um único movimento de doom de 49 minutos, uniu sons vintage perfeitos com uma triunfante sensibilidade moderna que fez canções sobre a morte ea perda sentir-se alegremente extática. PALLBEARER possuía o que muitos outros grupos de metal mais recentes não tinham: tom de guitarra perfeito, ganchos clássicos e um cantor que pudesse realmente cantar. (Nuclear Blast) Bereft- «Lands» (EUA, Doom/ Post-Black Metal) O que começou como uma expressão firme da condição humana, avança com ímpeto para Madison, WI’s atmospheric doom metal banda, BEREFT. Fundada por Zach Johnson e Alex Linden em 2011, a banda é composta ainda por Cade Gentry no baixo e Jerry McDougal na bateria. BEREFT tecem elementos de doom e black metal em músicas exaustivas e dinâmicas. Liricamente, eles extraem de suas opiniões sobre religião, política e injustiça social. É neste espírito que eles criam seu próprio estilo de metal poderoso, desvinculado de qualquer género e totalmente consciente da impressão. (Prosthetic Records) Junius- «Eternal Rituals For The Accretion Of Light» (EUA, Rock) JUNIUS está entusiasmado por revelar sua primeira música nova


em mais de três anos com seu novo álbum completo “Eternal Rituals for the Accretion of Light”. O álbum marca a conclusão de sua trilogia conceitual que começou em 2009 com o seu evocador LP “The Martyrdom of a Catastrophist”, descrito por Rolling Stone como “a perfect hybrid of Neurosis and The Smiths” seguido de 2011 “Reports From The Thresholds of Death”. O lançamento mais recente do JUNIUS, o EP “Days of the Fallen Sun”, premiado em 2014, foi premiado pela Pitchfork como o “trabalho mais forte e mais sensível até à data”. (Prosthetic Records)

Anewrage- «Life-Related Symptoms» (Itália, alternative metal, rock, post-grunge) A banda também é conhecida por uma abordagem visual muito original, que permitiu que fossem premiados entre os finalistas no SXSW Design Award em Austin (Texas), com hittres pesados como Pacific Rim, The Lego Movie, The Last of Us e outros Grandes projetos. ‘Life-Related Symptoms’, o novo álbum da banda. O álbum foi descrito como um álbum muito diverso, complexo, mais emocional e mais escuro do que nunca. Os direitos de produção foram mais uma vez tratados por Matteo Magni. (Scarlet Records) Without Waves- «Lunar» (EUA, Post-Prog, Metal, Experimental, Rock, Progressive) A música varia de metal extremo a fusão de jazz a rock atmosférico, mostrando riffs ofuscantes e

assinaturas de tempo pouco ortodoxo emparelhado ao lado de melodias sonhadoras e estruturas de acordes poéticos. Eles não se inscrever em qualquer gênero particular ou sub-gênero, e eles gostam dessa maneira. Formada em 2010, Sem Ondas começou a escrever música com uma abordagem aberta para escrever canções. Seu som diverso deu a Sem Ondas uma chance de compartilhar o palco com uma seleção igualmente diversa de bandas. (Prosthetic Records) Ofermod- «Sol Nox» (Suécia, Black/Death Metal) Em 1998, um EP que viria a remodelar toda a paisagem de metal negro surgiu: “Mystérion Tés Anomias”, por um novo e sueco novo chamado OFERMOD. Enquanto a banda voltou à obscuridade por mais uma década antes de lançar uma estréia, seu legado já tinha começado a assumir uma vida própria. Agora, quase vinte anos depois de tudo começar, nos encontramos no alvorecer do sol noturno. Contemple o olhar radiante de “Sol Nox”, o tão esperado terceiro álbum de OFERMOD. (Regain Records) Cryonic Temple- «Into The Glorious Battle» (Suécia, Heavy/ Power Metal) Heavy Metal / Heavy Metal Cryonic Temple foi fundada em 1996 em Dalarna, na Suécia. Juntamente com o Orphan Gypsy e Sabaton, eles são considerados os criadores da nova onda do Power Metal no início dos anos 2000. Depois de 9 anos de silêncio, a banda finalmente vai lançar seu 5º álbum no Scarlet Records. ‘Into The Glorious Battle’ é o primeiro álbum-conceito de Cryonic Temple, uma história emocionante no futuro, composta pelas músicas mais dinâmicas que a banda já compôs, ainda profundamente enraizada no gênero Power Metal, mas também aberta a novas influências e Sons, incluindo baladas mind-blowing. Com este álbum Cryonic Temple encontrar-

se no topo do seu jogo. (Scarlet Records)

Carach Angren- «Dance And Laugh Amongst The Rotten» (Holanda, Horror Metal) Os mestres holandeses do horror estão de volta com seu álbum mais extravagante até agora. Em “Dance and Laugh Among the Rotten”, CARACH ANGREN está pintando quadros musicais que combinam facilmente a grandiosa profundidade de um Rembrandt com o turbilhão de Van Gogh de cores girando ea loucura absoluta de Bosch. Esta linda e sedutora danse macabra vai arrastá-lo para dentro e nunca deixar ir. CARACH ANGREN empregou todas as cores sônicas em sua paleta para efeito deslumbrante. Sua marca registrada chicotear guitarras estão tecendo melodias duras e sons paisagens sinistras, que são belamente contrastados por teclados opulentos e orchestrations majestoso. (Season of Mist) Foscor- «Les Irreals Visions (New Version)» (Espanha, Dark Atmospheric Metal) FOSCOR prometeu “algo mágico” para seu próximo quinto LP. Os catalães têm mantido a palavra e esculpiu uma jóia multifacetada de profundo desejo, a melancolia característica do seu país e um pesadelo sombrio, que eles chamaram descritivamente de “Visões Les Irreais”. Este álbum convida o ouvinte a uma viagem cinematográfica através de

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paisagens de sonho criadas por delícias sonoras cuidadosamente organizadas e torções inesperadas. O FOSCOR é oriundo da Catalunha, que ainda é parte ainda pouco disposta da Espanha moderna. Com Barcelona como sua capital, esta região tem uma longa tradição artística com o estilo fin de siècle do Modernismo - um desenvolvimento paralelo para a Art Nouveau e Jugendstil entre outros - formando uma das suas principais realizações. A Catalunha também deixou uma marca audível na cena musical extrema da Espanha nos últimos anos. (Season of Mist) Merrimack- «Omegaphilia» (França, Black Metal) Músicos como todos os artistas podem ser categorizados em grupos diferentes por sua abordagem à composição. Há aqueles, por exemplo, que vêm com almas inquietas e sempre tentam encontrar novos caminhos e invadir territórios inexplorados. Outros preferem evoluir dentro de um determinado gênero, impulsionado por um desejo de aprimorar suas habilidades e se esforçando para trazer sua arte à perfeição. MERRIMACK como black metal tradicionalistas, obviamente, pertencem ao último círculo e seu quinto completo com o título apocalíptico ‘Omegaphilia’ é uma impressionante demonstração de quão longe a banda francesa amadureceu. MERRIMACK estão respirando vida fresca em um gênero esgotado, não por acumular epítetos como progressista, pós-e avant-garde, mas por canções afiadas canção, cativantes melodias e perto de arranjos perfeitos. ‘Omegaphilia’ atinge a excelência através do trabalho árduo e experiência que mostra através de cada única canção. (Season of Mist) Solstafir- «Berdreyminn (New Version)» (Islândia, Post-Metal/ Rock) A música será sempre inspirada pelo ambiente em que é criada.

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Com a sua incrível variedade de paisagens variadas que vão desde geleiras brancas através de bizarros volcânicas, campos de bolhas verde-musgo, fiordes profundos e montanhas geladas até praias negras, a Islândia moldou uma série de bandas surpreendentemente originais e ferozmente individuais como SIGUR RÓS, BJÖRK e SÓLSTAFIR. Emoldurando a roda das estações com a luz, a escuridão e as cores, o clima extremo do Norte, os contrastes, a proximidade da beleza e as forças mortais da natureza, os cenários impressionantes que têm os ossos de deuses antigos consagrados neles como Quase nenhuma outra banda em todos os aspectos de sua existência. (Season of Mist)

Wolfheart- «Tyhjyys» (Finlândia, Melodic Death Metal) A abelha mais ocupada e subavaliada na cena de metal finlandesa, Tuomas Saukkonen enterrou todos seus projetos anteriores da música do metal Before The Dawn, Black Sun Aeon, Dawn Of Solace e RoutaSielu no favor de uma entidade nova, Wolfheart. O terceiro esforço e turnê de força de Wolfheart até hoje, Tyhjyys (Vacuidade) traz uma dimensão dramática e cinematográfica à música e transforma o Winter Metal em uma experiência abrangente. (Spinefarm Records) Ulsect- «Ulsect» (Holanda, PostDeath Metal) É difícil imaginar Tilburg como o

coração das trevas. No entanto, em termos musicais, esta expressão qualifica-se como uma descrição para a cidade que gerou tais atos como DODECAHEDRON extremistas enegrecidos e texturas progressivas rítmicas. Fora deste círculo, ULSECT surgiram. ‘Ulsect’ encarna implacável pós-death metal estética repleta de padrões de mudança e tonalidade escura. As forças primitivas desencadeadas por pioneiros como GORGUTS e DEATHSPELL OMEGA são violentamente aproveitadas para servir a um sinistro propósito musical. Pesadelos transformados em matéria sónica. (Season of Mist) Axel Rudi Pell- «The Ballads V» (Alemanha, Heavy/Power Metal) Casca dura, núcleo macio. Claro que é um clichê, só que neste caso não é, porque os tipos com as guitarras altas fazem sempre vir ao de cima a maioria Músicas macias, certo? AXEL RUDI PELL não é excepção. Não só a sua compilação impressiona, como a sua excelente qualidade. (Steamhammer-SPV)

Night Demon- «Darkness Remains» (EUA, Old School Heavy Metal) Sob o folheado tranquilo da pitoresca vila de Ventura, na Califórnia, algo perigoso se esconde nas sombras ... Night Demon irrompeu na cena underground de heavy metal com seu auto-intitulado EP de quatro canções em 2012. Esta gravação mostrou um som forjado por uma Profunda paixão pela


Nova Onda de Heavy Metal britânico carregado com notas inconfundíveis de músculo americano e swagger. Night Demon está no precipício de seu maior álbum e ciclo de turnê ainda. Com seu segundo fulllength, apropriadamente intitulado Darkness Remains, os verdadeiros defensores da noite estão prestes a trazer o seu palco voláteis show e punho bombeamento, pescoço destruindo, Heavy Metal som para o público em todo o mundo. (Steamhammer-SPV) Dautha- «Den Foerste» (Suécia, Epic Murky Medieval Doom Metal) Paralelamente à composição do material para o segundo álbum de GRIFTEGÅRD, o seu principal compositor / letrista / guitarrista Ola Blomkvist deu início à DAUTHA, canalizando a inspiração que obteve ao ler a história e a tradição medievais europeias e do consumo de Folk e Neo Folk, Música. Ola queria que DAUTHA estivesse imerso em estética e temas mundanos médios, evitando o heroísmo usual de reis poderosos usando espadas de dragões lutando aço ou outros reis poderosos ... Lúricamente e visualmente DAUTHA se concentraria na sujeira e na sujeira, no sofrimento e na Dificuldades do comum, pisoteado homem medieval enquanto atravessando pontes do passado escuro para o presente abominável. (Van Records) Below- «Upon A Pale Horse» (Suécia, Epic Doom Metal) Em 2011, Below foi formado na Suécia, eles decidiram começar uma banda doom que iria prestar homenagem aos estilos mais épico, pesado e escuro do doom. Abaixo vai lançar seu segundo álbum, Upon A Pale Horse. Enquanto se mantém fiel ao núcleo da música que está abaixo (riffs pesados, melodias assombrando e ambientes enormes), Upon A Pale Horse também oferece uma variedade mais ampla para

as músicas, com a música mais lenta da banda até à data, bem como a mais rápida, o mais curto, eo mais longo. Além disso, o álbum apresenta várias aparições convidados. (Metal Blade) God Dethroned- «The World Ablaze» (Holanda, Blackened Death Metal) God Dethroned deu uma grande volta nos campos de death metal. Este álbum é uma excelente combinação de todos os tipos de tempos e estilos que o género tem para oferecer, cada um executado com perfeição esmagadora, e coros cativantes e memoráveis ganchos melódicos. O álbum foi misturado por Dan Swanö e masterizado por Sander van der Heide. (Metal Blade) Dead Season- «Prophecies» (França, Dark Progressive Metal) Este é o segundo álbum “Prophecies” foi misturado por Jaime Gomez Allerano (Ghost, Paradise Lost, Primordial ...) no Orgone Studio e deve permitir que a banda revele seu verdadeiro potencial. «Prophecies» contém doze faixas mais escuras do que a banda já escreveu. Um monte de cuidado e trabalho foi colocado nessas canções ea produção atende aos mais altos padrões. A banda sonora de Oblivion. The Dead Season já começou. (Solstice Promotion) Entropia Invictus- «Human Pantocrator» (França, Symphonic Black Death) ENTROPIA INVICTUS é uma banda de death metal preto sinfônica francesa. Desde 2006 a banda desenvolve a sua música dentro de 2 álbuns e 2 mini-EP, avançando metal extremo com parte sinfônica. Para seu novo álbum chamado “Human Pantocrator”, ENTROPIA INVICTUS convida profissionais como Tower Studio (Devin Townsend, SepticFlesh ...) para masterização e Above Chaos (Melechesh, Tsjuder, Inquisition, Loudblast ...) para trabalhos de arte. Com este álbum distribuído

em França e em todo o mundo, ENTROPIA INVICTUS está pronto para conquistar novo horizonte. (Solstice Promotion)

In Articulo Mortis- «Testament» (França, French melodic black metal) “Testament” é o álbum que devíamos lançar na década de 90, nos levou dois anos de trabalho para lhe trazer esse pedaço de black metal. Muitas coisas aconteceram desde então, já não somos parte da cena, mas queríamos lançar este testemunho de nossos primeiros dias na cena, mas também pagar uma homenagem à cena francesa do Black metal dos anos 90 e todas as pessoas que conhecemos Durante esses anos. Este registro fechará este capítulo de nossas vidas, embora a música Metal sempre permanecerá em nossas almas. Esperamos que vocês gostem do nosso Testamento tanto quanto tivemos prazer em gravá-lo. (Solstice Promotion) Sinlust- «Sea Black» (França, Epic Black Metal) Somos os Sinlust, uma banda épica de black metal localizada na Bretanha (França) e fundada em 2008 por Chris In Lust. Depois de muitas horas de trabalho duro e dedicação à nossa arte negra, lançamos nosso primeiro álbum, ‘Snow Black’, em 2011 (autoprodução). É um álbum conceitual relacionando uma história de fantasia escura. Esta história foi escrita por nosso cantor, Firefrost, sob o

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pseudonímo de Nicolas Skinner. (Solstice Promotion)

Ormyst- «Arcane Dreams» (França, Symphonic Prog Metal) Ormyst é uma banda de música sinfónica francesa. As suas composições apresentam vozes femininas clássicas, que fazem lembrar bandas como Nightwish ou Epica, juntamente com partes rítmicas rápidas e poderosas, distintivas de power metal. Os riffs técnicos, numa veia progressiva que alude a Dream Theater ou Stratovarius, preencher a imagem com o virtuosismo, ocasionalmente ecoando música clássica. A sonoridade dos teclados, que por vezes são acústicos, mas muitas vezes eletro, moldam uma ampla gama de atmosferas coloridas. Este é o seu primeiro álbum «Arcane Dreams», misturado e masterizado por Kristal Cross (Solstice Promotion) Pryapisme - «Diabolicus Felinae Pandemonium (2017)» (França, Experimental / Avantgarde Metal / Electronic) Terceiro álbum de Pryapisme, “Diabolicus Felinae Pandemonium”, é definitivamente o álbum da imaturidade: mais de três anos de trabalho, 10 músicas, 57 minutos, 88 GB de áudio, 861 faixas e cerca de 99% da sobrecarga do processador. É o primeiro álbum de Pryapisme a Ser gravado com a formação real que actua ao vivo (cinco membros em vez de três). O álbum é mais quente, com o uso de várias guitarras e

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muitos sintetizadores analógicos. Há também alguns convidados notáveis, tais como Adrien Daguzon (Zibeline) tocando saxofone, Mathieu Halberstadht (Por favor, perca a batalha) no contrabaixo e alguns gatos reais no backing vocals. (Apathia Records) Wrath From Above - «Beyond Ruthless Cold» (França, Black Metal) Wrath From Above é uma banda de Black Metal com uma temática War&Soviets de Nantes, na França. Inspirado pelo culto do Black Metal, atenta a falar de frio e panzers, com peças maciças do Death Metal que traem a origem dos membros, o seu álbum de estréia «Beyond Ruthless Cold» é uma descarga de ódio espontâneo, explosões dominadas e composições ferozes. (Apathia Records)

Nicole Saboun- «Miman» (Suécia, Post-punk, new wave, indie rock, goth, art rock) Nicole Sabouné foi introduzida na cena musical sueca quando lançou seu álbum de débito “Must Exist” em 2014. Ela já desenvolveu e criou seu próprio universo atmosférico com o próximo novo álbum “Miman” The dark and post-punk influenciou a estética musical deste o início, a qual ainda pode ser notada, mas foi formada e reformada em “Miman”. Sabouné produziu e compôs seu novo material e foi o centro da produção em torno de “Miman”. Como resultado, encontramos um álbum

que ocorre em um mundo sombrio e submerso, e um álbum no qual Sabouné se desafiou a encontrar novos caminhos musicais não descobertos e um som novo e mais pessoal. (Century Media) Firewind - «Immortals» (Grécia, Melodic Power Metal) Já faz cinco anos que o melodico grego Power Metallers FIREWIND lançou o sétimo álbum “Few Against Many” (2012), aclamado pela crítica, mas, entretanto, a banda e os seus membros individuais estiveram extremamente ocupados com várias atividades. Ao longo das 10 novas faixas no disco, o som FIREWIND é mais fresco e mais determinado do que nunca, mostrando não só um nível de qualidade de habilidades instrumentais individuais, mas também uma habilidade de escrita de música de bom, fazendo o tempo de reprodução de 44 minutos do álbum uma montanha-russa energética entre os reinos do heavy metal tradicional, as influências épicas de Hardrock, bem como o artesanato extremamente melódico Power / Speed Metal. (Century Media) Krokus - «BIG ROCKS» (Suiça, Hard Rock) Não há nada mais poderoso do que uma música forte ‘. Então, diga Krokus no folheto para o seu novo CD, BIG ROCKS - As raízes de Krokus. A partir de seu terceiro álbum, o emblemático suíço da power rock começou a gravar material por outros artistas, incluindo músicas como ‘Stay Awake All Night’ ou a melhor música de rock ‘American Woman’ e mais tarde ‘Help’. Eles sempre se certificaram de que nunca criaram uma cópia chata do original. Em vez disso, eles criaram as músicas próprias, mostraram as músicas originais em uma luz completamente nova e, em alguns casos, melhoraram nelas. O vocalista parece uma reencarnação vocal do defunto Bon Scott dos AC DC. (Century Media)



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“Para a frente! Lutar, batalhar pelo passado imortal. No futuro a luz semear, de um povo triunfal.” Natália Correia

(Quase) orgulhosamente sós É assim que devem sentir-se os A Dream of Poe (sem as conotações políticas desta expressão). Este é mais um projecto nacional que nos chega directamente do nordeste do atlântico e que vive um pouco na “sombra” do conhecimento, conhecimento esse que cada vez mais é povoado pela mediocridade. E por isso cá está a Versus para vos chamar à atenção: A Dream of Poe. Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

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CSA – Para começar, seria interessante conhecermos um pouco a história de A Dream of Poe. Miguel Santos – A Dream of Poe (ADOP) é um projecto de Doom Metal açoriano, que nasceu em 2005 pela minha vontade de criar um projecto onde pudesse escrever os meus temas, tendo controlo quase absoluto sobre os mesmos. Guitarras, baixo, bateria, teclados, gravação, mixagem e masterização são da minha responsabilidade, exceptuando um caso ou outro onde músicos convidados dão o seu contributo, especialmente nos solos de guitarra. ADOP no fundo é um projecto de duas pessoas; eu, Miguel Santos (aka Spell) e Paulo Pacheco, que é responsável por todo o aspecto lírico e temático de cada trabalho. Em 2006, foi lançado, em formato digital, o primeiro trabalho de estúdio: a Demo CD «Delirium Tremens». Nessa introdução da banda ao mundo, os temas foram escritos por mim. Contudo, como ainda estava a tentar dominar a guitarra, foi o Antonio Neves (In Peccatum/Spank Lord) a gravar as guitarras e baixo. Eu fiquei encarregado da gravação das vozes, bateria e teclados. Este primeiro trabalho serviu para começar a definir e moldar o som e o rumo de ADOP. Em 2009, depois de um álbum gravado ao vivo no festival October Loud 2008, intitulado «For a Glance of the Lost Lenore», foi lançado o EP «Sorrow for the Lost Lenor», que contou com a participação especial de vários músicos. As vozes foram da responsabilidade do Paulo Pacheco, que, por sua vez, já tinha participado nos dois concertos ao vivo: October Loud

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2007 e 2008. 2010 surgiu como ano de transição, porque o João Melo dá início à sua participação em ADOP como vocalista no EP «Lady of Shalott», que serviu também para atrair potenciais editoras para a edição do álbum «The Mirror of Deliverance», que foi lançado em 2011 pela editora ucraniana ARX Prod. Foi este o álbum que catapultou ADOP para o reconhecimento a nível internacional, como é comprovado pelas muitas reviews extremamente positivas e pela pequena tour europeia com epicentro no Dutch Doom Days X 2011, em Roterdão. Em 2014, dois anos após a minha vinda para o Reino Unido, por razões profissionais, por uma questão financeira e por maior facilidade, optei por procurar um vocalista em Edimburgo (onde resido actualmente). Kaivan Saraei foi então o meu escolhido para gravar as vozes para os álbuns «An Infinity Emerged» (2015) e «A Waltz for Apophenia» (2016), ambos os álbuns lançados pela editora russa Solitude Productions e bem aceites pela crítica especializada. Ainda em 2016, foi disponibilizado digitalmente o álbum «The Deliverance», gravado ao vivo no Dutch Doom Days X 2011, em Roterdão. Actualmente estou a trabalhar num novo trabalho que, espero eu, será lançado ainda neste ano de 2017. CSA – Quem faz parte da formação da banda atualmente? Como já disse, a banda é composta apenas por Miguel Santos e Paulo Pacheco. Contudo, quando se trata de tocar ao vivo, tenho de recorrer a músicos convidados. Assim sendo, o line up actual para os concertos ao vivo é o seguinte:

Kaivan Saraei, vocalista; Miguel Santos, guitarra; James Skirving, guitarra; Ewen Cameron, baixo; Euan McPherson, bateria. CSA – Quais são as responsabilidades atribuídas a cada membro de A Dream of Poe? Apesar de oficialmente a banda ser composta apenas por Miguel Santos e Paulo Pacheco, considero que há uma família ADOP que vai além destes dois elementos. Quando se trata de gravações em estúdios – e tomando por exemplo o álbum «A Waltz for Apophenia», há uma grande variedade de músicos envolvidos. Paulo Pacheco esteve, como sempre, encarregado de todo o conteúdo lírico e temático dos álbuns, enquanto eu escrevi e gravei o instrumental. Guitarras, baixo, bateria, teclados e guturais (exceto em “A Valsa dos Corvos”, faixa em que foram criados e gravados por João Melo, vocalista no «The Mirror of Deliverance») foram da minha responsabilidade. O mesmo se passa com todo o processo de produção, captação, mixagem e masterização. Kaivan Saraei foi e é responsável por criar e gravar as linhas vocais. A nível de solos de guitarra, este estiveram e estão normalmente entregues a Paulo Bettencourt (Morbid Death), Nelson Felix (Spank Lord) e Antonio Neves (In Peccatum). Na guitarra acústica, também tivemos a participação de Jenny Clifford. Kostas Panagiotou (Pantheist) participou com algumas linhas de teclados. CSA – Pelo que li, «A Waltz for Apophenia» é o último elemento de uma trilogia. Podes falar-nos um pouco sobre: - O tema da trilogia?


[…] o tema geral é a integração do mundo

interior da personagem

com o mundo físico. […]

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Paulo Pacheco – O tema geral da trilogia é a transformação: neste caso, a passagem de uma personagem de um estado de ignorância para um de autoconhecimento. - O tema principal deste último álbum e o título que escolheram para ele? No «A Waltz for Apophenia», o tema geral é a integração do mundo interior da personagem com o mundo físico. É uma descrição do que acontece depois de a personagem atingir um estado de iluminação e do regresso ao seu mundo para convertê-lo a um novo estado de consciência. No entanto, isto só acontece através da destruição do mundo físico e interior para criar um novo estado. Quanto ao título, surge do termo apofenia. Advém do facto da personagem da história procurar padrões na realidade física, de modo a unificar toda a existência por relações de causalidade. - As relações entre os três álbuns (em termos musicais e líricos)? Estão ligados por uma mesma personagem, que procura atingir um novo estado de consciência. Esta começa a sua viagem como um neófito, com muito conhecimento intelectual mas pouco experiencial, no «The Mirror of Deliverance». No «An Infinity Emerged», a personagem apercebe-se de que esse novo estado de consciência não pode ser intelectualizado: terá de trabalhar para que a sua transformação pessoal ocorra. Durante esse álbum, a personagem desintegra-se: todas as suas crenças, ideias, conhecimento e padrões de comportamento são destruídos. Finalmente, no «A Waltz for Apophenia», a personagem é reintegrada num novo estado, numa nova pessoa, que se torna numa figura messiânica e escatológica do seu mundo.

Miguel Santos – Grande parte da promoção, pelo menos no que se refere no envio de CDs para review, é da responsabilidade da editora. Da parte em que tenho controlo, por forma a promover e aguçar o apetite, foram disponibilizados, através do nosso canal youtube, vários vídeos em forma de “studio report” e de apresentação dos músicos que participaram na trilogia. Foram gravados dois vídeos oficiais: o lyric video “La Mort Blanche” e o vídeo “World’s End Close”. Também como forma de promoção atuamos, em novembro passado, no Doom Over Bucharest II. O vídeo da nossa actuação foi também disponibilizado no nosso canal do youtube. Era minha intenção fazer vários concertos em 2017, contudo, apesar de todos os emails enviados, promotores contactados, ninguém mostrou interesse. Assim sendo, 2017 é um ano em que me estou a concentrar exclusivamente no novo trabalho de estúdio. Pensava que 2017 seria o ano em que iria finalmente tocar em Portugal Continental… fica para 2018, ou 19, ou 20… De certeza que, quando estiver a morar em Lisboa, será mais fácil conseguir concertos em Portugal.

CSA – O álbum foi lançado em 2016. O que têm podido fazer para o promover, até ao momento?

Eduardo – Este último álbum – «A Waltz for Apophenia» – foi gravado em Edimburgo, através da Solitude Prod. Pode-nos explicar

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Eduardo – Este projecto não tem editora uma editora fixa, por assim dizer. Isto é algo que procures avidamente? Não necessariamente. Os contratos que temos tido com as editoras passam apenas pela edição do álbum a título individual e não numa versão global, em que é assinado um contrato para a edição de X albums. Neste sentido, «The Mirror of Deliverance» esteve licenciado à ARX Prod. durante dois anos, enquanto que «An Infinity Emerged» e «A Waltz for Apophenia» estão licenciados à Solitude Prod. por três anos cada um.

porque é que o próximo álbum será uma edição de autor? O álbum foi gravado em Edimburgo por mim próprio nos meus SPS Studios. A Solitude Prod. apenas serviu como editora e distribuidora do álbum. A minha intenção de editar o próximo álbum através de uma edição de autor prende-se com o facto de poder ter controlo sobre a data de lançamento, o formato da edição e a promoção do mesmo. Tomo, como exemplo, os dois primeiros factores. Nos álbuns, «An Infinity Emerged» e «A Waltz for Apophenia», entre o término das gravações e o seu lançamento, houve uma espera de quase 6 meses, isto porque a editora não tinha disponibilidade para fazer o lançamento mais cedo. Compreendo a parte da editora, mas, para mim, acaba por ser um período de espera muito longo, principalmente quando fazes e partilhas diversos vídeos durante as gravações. Como continuo com a promoção e divulgação do álbum durante esse espaço de tempo para atrair a curiosidade das pessoas? Umas das formas seria através de reviews. Consegui que fossem feitas duas ou três reviews durante esse tempo, gostava que tivesse havido mais durante esse período, mas já foi difícil convencer a editora a deixar-me enviar os temas para as duas ou três entidades responsáveis pelas reviews. No caso do formato de lançamento, devo confessar que sou um grande fã do digipack. Para além de ter um aspecto fenomenal, muito mais premium do que o jewel case, é também muito mais fácil o seu envio, pois não corremos o risco de a caixa do CD chegar danificada ao destino. Também o artwork, da autoria de Augusto Peixoto (IronDoomDesign), que é sempre fenomenal, é transportado para outros níveis, quando apresentado em digipack. Infelizmente, a Solitude Prod. ja não edita CDs em formato digipack. Eduardo – Falando em edição de autor… porque é que abandonaste


l pecia s e o t i ia mu r e S ltar a ] o v [… r de m po . i m a riano o ç par a palco m u r a pis

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(?) a Solitude e abriste uma campanha no Indiegogo? Não considero que haja um abandono da Solitude Prod, isto porque não há um acordo para lançamento de X álbuns. Os álbuns anteriores foram apresentados à Solitude Prod. para saber se havia interesse por parte deles em fazer a edição do mesmo. Estes álbuns estão assim licenciados a Solitude Prod. por 3 anos. Se não for lançado como edição de autor, o próximo álbum poderá ser lançado pela Solitude Prod. ou outra qualquer editora que manifeste interesse por ele. A minha intenção é mesmo ter controlo sobre a data de lançamento, o formato e a promoção do álbum. Para isso, a única forma é ir pela via da edição de autor. A campanha no Indiegogo serve para cobrir parte dos custos que uma edição de autor acarreta. Actualmente, com os álbuns editados pela Solitude Prod., a nível financeiro, tenho de suportar os custos de gravação, artwork, publicidade paga no facebook entre outros. Com uma edição de autor, os custos aumentam muito significativamente. A duplicação dos CDs não é propriamente barata, especialmente em digipack. Depois há o custo com a promoção do álbum através do envio do álbum para reviews. Lembro que, em 2011, aquando do lançamento do «The Mirror of Deliverance», a promoção ficou a meu cargo. Na altura, enviei mais de 120 CDs para review, o que ficou relativamente caro. Cobrir todos estes custos na sua totalidade é-me totalmente impossível, daí a campanha no Indiegogo. Pessoalmente prefiro pensar na campanha como uma pré-encomenda do álbum. Eduardo - … e já agora, o que é a Indiegogo e como podemos contribuir? Indiegogo é uma plataforma online que permite apresentar um projeto e divulgar através de diversos canais. Depois, quem tiver interesse no projeto contribui com o montante mínimo previamente definido ou, se preferir, pode

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contribuir com mais de que o mínimo. Basta seguir este link https://www.indiegogo.com/projects/adream-of-poe-help-me-release-this-newalbum-metal#/ e clicar em “Back It”.

Quem apresenta o projeto, tem duas opções: ou coloca um valor total fixo, o que implica que o projecto só avança se atingir esse mesmo valor, ou então opta por um valor flexível. Eu optei por flexivel, pelo que, se não atingir o valor pretendido, posso decidir se, com o dinheiro angariado, será possível o lançamento ser efetuado sem redução drástica da qualidade ou se será cancelado. A campanha terá o seu término no dia 13 de Julho, mas 2 semanas antes dessa data, tendo em conta o dinheiro angariado até lá, decidirei se a campanha continua até ao fim, ou se a cancelo a campanha e efectuo os reembolsos a quem deu o seu apoio. Sendo muito sincero, a campanha não está a correr lá muito bem, pelo que o mais certo será ser cancelada e partirei então para um plano B ou C, que poderá resultar em o álbum ser lançado apenas digitalmente. De qualquer das formas, independentemente do resultado, o álbum será lançado, de uma forma ou de outra. Eduardo – Qual a diferença entre trabalhar (e/ou viver da música) em Portugal e na Escócia? Sem falar dos ordenados, que à partida são sempre mais altos que em Portugal, aqui há mais e melhores perspetivas de progressão na carreira. Na música, em relação ao Doom Metal – e nomeadamente ao estilo de Doom Metal praticado por ADOP – é uma treta. Aqui a malta quer é Sludge e Stoner Doom, um pouco de Doom tradicional e está feito. Doom/ Death e Gothic/Doom estão quase completamente postos de parte. Eduardo – O novo álbum já está a ser preparado. Podes dar-nos mais algumas informações para aguçar o apetite? O novo álbum, na minha opinião, é mais agressivo, pesado e melódico do que qualquer um

dos lançamentos anteriores. Continua a ser ADOP, apenas peguei no que de melhor fiz no passado e trabalhei para que fosse possível apresentar um álbum mais robusto, mas sem perder a minha identidade. Grande parte deste álbum foi escrita inicialmente em teclado, o que representa um regresso às minhas origens. Quando me iniciei nestas andanças, comecei como teclista tocando em Sacred Tears e In Peccatum. Assim sendo, este álbum terá uma forte componente a nível dos teclados, principalmente no que toca a orquestrações. No passado, usamos tecladosmas nunca ao nível deste novo trabalho. Devido ao seu cariz mais agressivo, é também mais recorrente o uso de guturais. Eduardo – Quanto ao nome da banda: porquê A Dream of Poe? Está de alguma forma relacionada com Edgar Allan Poe? Quando senti a necessidade de criar um projeto a solo, tocava teclados na banda açoriana Sacred Tears. Nós tínhamos um tema intitulado “Amadeo (The Return of Winter)”, que acabava com o seguinte verso: It is now time to grow Without looking, looking back One of us must go Into a dream – a dream of Poe Na altura, fazia todo o sentido: era o que desejava e refletia aquele momento na minha vida musical. Este verso, escrito pelo Paulo Pacheco, levou-me então a criar os A Dream of Poe. Está também ligado a Edgar Allan Poe, pois tanto eu como o Paulo Pacheco somos apreciadores do mesmo. CSA & Eduardo – Em tempos, li na LOUD uma série de artigos sobre a cena Metal nos Açores, que, na altura (há cerca de 10 anos), me pareceu muito ativa. Ainda é assim atualmente? Aliás, o metal feito nos Açores


já foi capa da Versus; convidote a ler em https://issuu.com/ versusmagazineoficial/docs/ versus_34_mar_mai_15 Actualmente – e infelizmente – a cena Metal açoriana é quase inexistente. Para além de ADOP, continuam em actividade os incontornáveis Morbid Death, In Peccatum, Spank Lord, Crossfaith e pouco mais. Oportunidades para concertos são quase nulas, pois o mercado está todo tomado pelas bandas de cover. Os poucos bares que, no passado, ainda

apoiavam as bandas de Metal, hoje em dia quase que não o fazem. Por isso, é normal, pela notável dificuldade em tocar ao vivo, que as bandas de Metal deixem de existir ou trabalhem de forma muito mais lenta ou esporádica. Isto entristece-me, pois sou do tempo em que havia uma grande quantidade e variedade de bandas ativas, isto para além de haver também muito público e locais onde realizar concertos.

A Dream of Poe neste momento? Neste momento, seria mesmo conseguir lançar o novo álbum da forma que pretendo e conseguir tocar mais vezes ao vivo, especialmente em Portugal Continental e nos Açores. Seria muito especial para mim poder voltar a pisar um palco açoriano. https://www.facebook.com/dreamofpoe/

CSA – Qual é a maior ambição de

https://youtu.be/HGKUSIeeM9w https://youtu.be/Q5nLc3l_syI

“O novo álbum [sucessor de «A Waltz for Apophenia»], na minha opinião, é mais agressivo, pesado e melódico do que qualquer um dos lançamentos anteriores. […]”

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Um homem (in)tranquilo O frontman dos Moonspell deixanos espreitar para a sua maneira de ver o mundo na atualidade.

Entrevista: CSA e Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Paulo Mendes

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CSA – Olá, Fernando! Já foste entrevistado para a Versus Magazine (por mim e pelo Victor Hugo, que saiu entretanto) como frontman de Moonspell. Agora vai ser em nome pessoal e a pensar noutras atividades a que te dedicas. Como vai a tua carreira como escritor? Como começou essa aventura e porquê? Tens algum escrito na forja neste momento? Fernando Ribeiro – Não vai. Para ser sincero adoro escrever mas não vejo isso como uma carreira. Até reconhecer que os Moonspell tinham efetivamente uma carreira, demorou a processar, fará com a escrita. Continuo a entreter-me com blogues, escritos diversos, mas sem nada em concreto para publicar. Estou mais interessado agora na edição, através da Alma Mater Books, e aí sim tenho muitos projetos que me entusiasmam. Mais do que escritor, sou leitor. A minha aventura começou por vaidade, talvez. Tinha discos que corriam bem, mas não me sentia validado por nunca ter lançado um livro. Quando o fiz, foi muito bom, mas nunca tive disponibilidade para o fazer a sério, com regularidade. Tenho alguns projetos iniciados sim, mas vão levar tempo. Agora estou a auxiliar na biografia dos 25 anos de Moonspell o mais que posso e a traduzir os meus poemas todos para Inglês para editar pela Alma Mater.

CSA – Tu vives com a Sónia Tavares, outra personalidade ligada à música e vocalista dos The Gift. Como é viver com uma pessoa que também se dedica à música, mas a um género bastante diferente? [Devo dizer que sou fã dos The Gift, embora tenha sempre seguido a carreira deles de modo irregular.] Amo a Sónia por isso é excelente. Nós somos um para o outro muito mais que os vocalistas de X ou Y. Viver com alguém do mesmo meio e de outro estilo permite um entendimento diferente e uma aceitação plena, mas o que une mesmo é o amor. Eduardo – Vocês opinam sobre/criticam a música um do outro? Ajudamo-nos mutuamente. Como vocalista, só tenho de aprender com a Sónia. E quando ela não gosta, é para mim um desafio a superar, o que me tem tornado melhor cantor, acho eu. Musicalmente ou vocalmente, eu não tenho nada a ensinar à Sónia, mas dou-lhe grandes dicas sobre outras coisas como promo, merch, tours, etc. Eduardo – Li numa notícia que tu e a Sónia são o casal português mais poderoso do Spotify. Como te sentes, com este título e o que é isso de ser o casal mais poderoso do Spotify? Nessa qualidade gostava de pedir ao Spotify que se deixasse de tretas e melhorasse a remuneração paga aos músicos que tão gentilmente partilham, a peço da uva mijona, a nossa arte e investimento. Fora isso, foi como a Sónia disse: Somos o Jay Z e a Beyoncé em pobre. Ainda bem, que quanto a mim bem prefiro.

CSA – Como descreves as relações entre Moonspell e a literatura portuguesa? Estou a pensar, por exemplo, no facto de terem canções inspiradas em poetas portugueses (como “Opium”, ligada a Álvaro de Campos, o meu heterónimo favorito de Fernando Pessoa) e de música criada para textos de escritores (como aconteceu com «Antidote» e José Eduardo – Como é que vocês Luís Peixoto). conciliam a vossa vida quando Gratidão. Portugal pode ter mil em digressão? “Não vai. Para ser sincero andam e um defeitos, mas, a nível de As pessoas espantam-se muito Letras, somos número um em adoro escrever mas não me como conseguimos. É simples: muitas coisas. É verdade que o muito, construímos vejo isso como uma carreira. planeamos Eça não tem o reconhecimento de uma rede familiar e de amigos, um Victor Hugo ou Balzac, mas [...] Mais do que escritor, sou somos pacientes e adaptamo-nos isso não tem a ver com a escrita, às situações. Educámos o Fausto leitor. [...]” mas provavelmente com a nossa assim e tivemos sorte, porque sem sempiterna baixa-estima. Colaborar a colaboração dele, nada funcionaria. com o JLP foi dos pontos altos da nossa carreira, lá em Sermos músicos traz-nos um domínio da logística cima com tocar em festivais importantes. Há um certo muito superior ao de outros pais. Demorámos 2 horas magnetismo na História e Literatura portuguesas que a organizar a festa de aniversário do Fausto. nos atrai irremediavelmente. CSA e Eduardo: Foste pai há relativamente pouco tempo e, por isso, parece pertinente perguntar-te

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como convives com a paternidade e em que medida esta mudança se reflete na música (ou na escrita). Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. E a paternidade é isso: uma transformação. Não deixei de escrever o que sinto nem me pus a acreditar de repente em Deus, mas os meus níveis de filiação, proteção e amor ficaram ao rubro. Há uma luta que todos os pais têm consigo próprios: até que ponto se anulam para que os filhos estejam bem. É uma luta perdida e viciada: os filhos ganharão sempre, mas a escolha é nossa entre sermos pais de verdade ou tratadores ou facilitadores. A escrita continua o seu caminho e a música também, não se separam da vida assim tão facilmente, é verdade, mas tem sido possível, desafiante e uma aventura muito feliz. CSA/Eduardo – Um dia destes, o teu filho vai ser um adolescente e tem ambos os progenitores ligados a estilos de música completamente diferentes. Como é que pensas lidar com esta situação? Achas que vai ser cada um a “puxar a brasa à sua sardinha” ou vais deixar seguir o rumo natural das coisas? Outro dia pediu-me para ouvir Agir. Como ele tinha um “trabalho”, que era escolher uma profissão, e ele disse ou cantor ou médico, eu mostrei-lhe, em vez do Agir, Freddy Mercury, Dio e a mãe Lady Gaga e Bowie. Educar é orientar ;) Quando ele reunir as suas ferramentas todas, então pode ouvir o que quiser, mas com certeza lhe ensinarei as virtudes da musica independente ;) CSA – Como reage esse tipo de público à música de Moonspell? Que tipo de público? O adolescente? Temos muitos adolescentes a ouvir-nos, por causa dos pais e da curva de geração que já fizemos. Já conheci muitos e pareceram-me bem diferentes dos que se acotovelam para ver o Michael Carreira. São adolescentes que escolhem um caminho mais musical, mais profundo por assim dizer, não sei. A música para eles é mais que sucesso ou dar nas vistas e cantar sobre “cenas”. Olha, são bem-vindos, o fator sangue novo é importante para qualquer banda. Eduardo – Se o Fausto um dia chegar ao pé de ti e dizer que quer fazer uma tatuagem, o que dirás? Já ensaiaste o discurso? (risos) Fernando Ribeiro – Não ensaiei nada, é apenas uma questão de telefonar a uns amigos. Eduardo – Como vês a cena metaleira em Portugal? Depende. Continuo a achar que muitas bandas ainda fazem mais do mesmo, outras são fantásticas, uns queixam-se, outros fazem, uns são fixes, outros mandam bocas. Se somar tudo, tenho de dizer que

estamos melhores, mas que podíamos ainda estar mais melhores bons ;) Mas isso ainda é work in progress comparado com as outras cenas europeias, mesmo as mais pequenas. Eduardo: Não vou dizer que os Moonspell serão a melhor banda portuguesa (porque é sempre muito subjetivo e, além disso, a Sónia deverá ter uma outra opinião), mas é justo dizer que são a banda mais representativa. Quando começaram algures (certamente, numa garagem), em meados dos anos noventa, imaginavas que os Moonspell pudessem chegar onde chegaram? Ha, ha. Não sei se a Sónia não pensa isso mesmo. E também há quem pense exatamente o contrário, que de transversal nada temos. Para mim, o segredo é ir vivendo, deixando viver, atacando e defendendo o que é preciso e, acima de tudo, sentirmo-nos confortáveis na nossa pele. Há muitos artistas portugueses que dão a impressão de que alguém lhes deve alguma coisa. Nunca imaginei nada, fui indo com a corrente ou contra ela. Eduardo – Com a tua visão e experiência, achas que, se formasses os Moonspell em 2017, terias a vida mais facilitada? Impossível saber. Os tempos são todos diferentes e penso que fomos recomeçando várias vezes, exatamente atualizando várias coisas. Por isso, talvez tenhamos feito isso mesmo, mas sem uma rotura radical ou paragem. Eduardo – Quando é que te apercebeste de que era possível para vocês viverem da música lá fora? Como é que isso aconteceu? Quando já não tinha tempo para mais nada: ir às aulas, ter odd jobs, namoros, amizades. Foi um pouco como uma saída do armário para algumas pessoas. Nós não tínhamos nenhuma noção do que valíamos, para nós era um pouco mais que nada na altura, mas, como não fazíamos mais nada e trabalhávamos no duro, fizemos essa mudança psicológica que nos ajudou a enfrentar muitas coisas. Eduardo – Que conselhos darias às bandas nacionais que querem dar o salto para o estrangeiro?

“[...] Temos muitos adolescentes a ouvir-nos, por causa dos pais e da curva de geração que já fizemos. [...] são bemvindos, o factor sangue novo é importante para qualquer banda.”

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Vão até lá. Portugal é fértil em palmadas nas costas, mas quem anda sempre por aqui prejudica-se. Não há um segredo, há vários. Mas começa por sabermos sermos nós próprios, por muito vago que seja dizer isto. Eduardo – Vocês fizeram uma digressão nos EUA que não foi muito bem-sucedida em termos monetários, assim como o concerto na China. Depois disso, já voltaram a esses dois países? Sim, acontece. Tocar nos EUA é um luxo para bandas como nós. Tudo é caro, complexo e muito além das expectativas. A China foi diferente, fomos super bem recebidos, apesar da censura, dos vistos supercomplicados de obter. Realidades que passam despercebidas, mas que condicionam a nossa vida e carreira. Já voltámos aos EUA, mas este ano não vamos lá. Vamos dar tempo ao tempo. No que diz respeito à China, temos várias propostas até para a China inteira, mas sinceramente não estamos em altura de explorações, mas sim de consolidações, na minha opinião. Não vou passar um mês à China, para tocar cinco concertos. Prefiro ficar com a minha família. CSA/Eduardo – CR7 e Moonspell: duas formas de dar a conhecer Portugal no estrangeiro. Como vês a promoção do país através destas duas formas de cultura? Acho que vocês são as únicas pessoas que alguma vez utilizarão essas duas marcas ou palavras na mesma frase. O que os Moonspell fazem ou fizeram é profundamente desconhecido e não está no radar das coisas que atraem pessoas para a nossa cultura. Acho que temos todas as provas disso. Mas, tal como as bruxas, essas pessoas não são credíveis, mas que existem, existem. Eduardo – Quando se fala em Metal português no estrangeiro, só se refere Moonspell. Mas, em Portugal, temos outras excelentes bandas, como sabes. O que achas que lhes falta para poderem dar o salto – já que aqui quase não se pode viver da música? Sinceramente já disse tanta coisa e já trabalhei com bandas de perto e, apesar de tudo, repetiram-se erros antigos. Por isso decidi expandir a Alma Mater Records, para começar a editar bandas e artistas portugueses (não só metal). Estou farto de dizer, vou antes fazer. Em 2018. Eduardo – Eu venho da época dourada dos anos 80 (e 90) e, como adolescente que se prezava, tive uma banda de garagem. Penso que, nessa altura, havia muito “romantismo” na forma de fazer música. Pela visão que tens da música e desta nova era, achas que a malta ainda se junta com esse mesmo “romantismo”, ou fazem-no porque julgam que vão ser os novos Metallica (ou Moonspell, neste caso)? A haver romantismo na música hoje em dia, será

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bastante diferente do que era antigamente. Passouse da obscuridade para a comunicação total e hoje a pressa é um fator que não era preciso ter em conta antigamente. Por isso, quer-se mostrar serviço mais cedo e isso, mais cedo ou mais tarde, paga-se em desgaste. Acredito que há pessoas que amam a música de verdade, mas, como em todas as áreas, há pessoas dispostas a ver tudo e a pagar por palhaçadas no Youtube. Eu continuo a preferir estar numa sala com os cabeludos e ler sobre terramotos. Há quem esteja melhor em casa a fazer tutoria de make up, it’s a free world. Eduardo – Antigamente, vivia-se muito da K7, do passar palavra, do pagar para ouvir música e vocês, artistas, ganhavam a vossa massa… Hoje em dia, está tudo diferente: partilhas nas redes sociais, bandas a fazer a própria promoção – algo que acho que deveria ser feito pelas editoras, etc. Compra-se muito menos música, mas a divulgação é mais fácil. Achas que isto foi uma evolução? Foi mais uma mutação. Os músicos ficaram a perder mais do que as pessoas pensam. Dinheiro, mas principalmente respeito. Agora toda a gente nos acena com teorias, mas, na verdade, enquanto as pessoas


roubavam (porque não era partilhado), nós sofríamos e o pior para mim foi a moralização, essas pessoas a darem lições de moral online aos Metallica, etc. Foi no mínimo curioso e aí sim as pessoas começaram a meter preços nas bandas. Foi e é triste e a história está super mal contada. A divulgação é até mais complicada, acreditem, porque há muita gente com quem falar e a quem chegar. Não sei, habituei-me a sobreviver com o que há, mas, na verdade, acho que um fã compra legalmente. O resto são teorias. Eduardo – Tu destruíste a minha adolescência (risos) Quando arranjei a K7 do «Wolfheart», devorei aquilo de princípio a fim. Mais tarde li, numa entrevista, que este álbum não foi perfeito e que mudavas muita coisa. Fiquei destroçado! (risos) O que é que mudavas no Wolfheart? Nada. Aliás já o pudemos regravar e não aceitámos a oferta. As bandas fazem isso, é tipo floresta que arde: um minuto na vida, a vida num minuto. O que nos ficou por fazer ou mudar no Wolf, foi feito logo a seguir no Irreligious. Eduardo – Este foi o álbum que vos projetou, na minha opinião. O que recordas desse tempo?

Que diferenças há entre o Fernando Ribeiro do «Wolfheart» e o Fernando Ribeiro do «Extinct»? A diferença de 21 anos. Eduardo - Em 2012, deste voz a uma personagem do filme “Madagáscar 3”. Como é que surgiu este convite? Foi fácil fazer esse trabalho? Quem fez o trabalho foi a Sónia, a de Capitã. Eu apenas disse 3 frases e sim foi fácil, mas acho como pai que as dobragens estão bem entregues se bem que pense que eu dava um bom Batman Lego ;) Eduardo – Em 2014, envolveste-te numas declarações polémicas sobre a imigração, Fernando Tordo, etc. e, na altura, disseste que “toda a gente luta em Portugal e não são só os artistas. Vale a pena lutar por este País. É duro? É. Tornou-se mais duro? Sim.” Ainda manténs essa opinião? Então não vale? Desistir não é uma opção, muito menos culpabilizá-lo pelas nossas frustrações. Eu não penso assim, nada pessoal. Aliás, depois da polémica, que não mandei vir, conheci o darkside dos Portugueses e aprendi muito. Eu continuo a pensar o mesmo e a fazer por isso, à minha maneira. Duvido que muitas pessoas que me criticaram tanto façam o mesmo ou não estejam agora à coca para ver o que é que o Nuno Markl publica. CSA – E que dirias da possibilidade de te encontrares com Marcelo Rebelo de Sousa? Uma das piores coisas que fiz na minha vida foi (nos Amália Hoje) ter de apertar a mão ao Cavaco Silva, uma pessoa de trato horrível. Por isso, gostava de apertar a mão ao Presidente Marcelo para ficar “purificado”. Eduardo – Como coautor da entrevista ao Miguel, perguntei-lhe que temas ou álbuns escolheria para descrever os partidos políticos. Mas tu és músico, pai, marido, escritor... Portanto, aqui vão os temas para ti: Fausto: MEPHISTO – MOONSPELL Paternidade: THE FUTURE IS DARK – MOONSPELL Sónia Tavares: THE MIRACLE OF LOVE – SWANS Casamento: ANEL DE NOIVADO – TRIO ODEMIRA The Gift: MY LOVELY MIRROR – THE GIFT Moonspell: WOLFMOON – TYPE O NEGATIVE Wolfheart: THE PRINCIPLE OF EVIL MADE FLESH – COF Álvaro de Campos: DISSASSOCIATIVE – M.MANSON

“Vão até lá [ao estrangeiro]. Portugal é fértil em palmadas nas costas, mas quem anda sempre por aqui prejudica-se. [...]”

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A tormenta continua... Entrevista: Nuno Lopes Transcrição/Tradução: Adriano Godinho Fotos: Stephanie Cabral

Os Six Feet Under dispensam apresentações, os norte-americanos, liderados pelo Senhor Chris Barnes, tem sabido gerir a sua carreira de forma exímia e sem nunca perder a identidade e a «teimosia» saudável em evoluir. «Torment» é o novo, e décimo segundo registo da banda. Aproveitando este lançamento, estivemos à conversa com o Sr. Death Metal e fizemos uma viagem ao passado, presente e futuro.

O vosso novo álbum «Torment» está agora nas lojas, como se sentem? Chris Barnes: Estamos muito satisfeitos, é muito entusiasmante, com todo o trabalho que investimos os fãs podem apreciar o novo material. Após estes anos todos e tantos discos de sucesso, ainda sentem algum nervosismo ao lançar um novo trabalho? Sim, claro, sempre. Cada novo trabalho é como se fosse o primeiro. Há uma grande antecipação e é muito mais stressante agora comparando com antigamente porque agora há muitos mais olhos postos em ti. Portanto ainda existe entusiasmo e nervosismo. O que acham do resultado final? O que esperam deste trabalho? Estamos muito contentes com o resultado final, conseguimos fazer com que soasse da forma que queríamos e como sentíamos a coisa. Todos fizeram muito bem a sua parte, foi fácil gravar e a produção correu muito bem. Espero fazer muitas digressões e voltar a lugares que já não tocamos há muito tempo. O primeiro contacto com o disco foi através do artwork, tão diferente do que fizeram previamente, tanto branco e simplicidade. Qual a ideia? Sim, as pessoas pensam que o artwork é muito simples por causa do fundo mas tem de ser observado melhor. Depende da pessoa que és e como observas as coisas e absorves as coisas que vês. Podes olhar

para a capa e dizer que parece com um videojogo. Mas se calhar a perceção das letras em conjunto com a capa pode levar-te a perguntar-te porque estão ali dois corpos, qual é a forma disto? Porque um fundo branco? Isto são questões que podes questionar a ti próprio ou apenas ver a capa. Muita gente escolhe ficar-se pelo valor superficial das coisas. Neste disco também pareces voltar a um tipo de escrita mais próximos do início de carreira, foi algo propositado? Trabalho uma música de cada vez, primeiro o cantar e depois adapto a música com o conteúdo do texto, o tom da voz. Depende muito da música mesmo. Sei que pessoas dizem que certas cosias não deveriam ser feitas como faço mas eles não percebem quem sou ou o que faço. É muito estranho que pessoas tenham uma visão tão básica do que faço. (risos) Sentes que, de alguma forma, és mal compreendido? Bem, mal compreendido penso que... não sei. (risos) Várias coisas foram ditas sobre mim e pensam estar certas. Sei que gosto da forma como sou tratado pelos meus fãs. Penso que as pessoas que não me compreenderam nunca conseguirão compreender, porque são como são. Eu gosto do que faço, acho altamente, e o que dizem não me afecta. Eu apenas não gosto de mentiras, penso que ninguém gosta. Quando alguém mente sobre mim, não gosto nada mas não me altera. Porque tenho uma ideia muito solida sobre a minha vida.

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“O que me chateia é que me critiquem com o que faço hoje, comparando o que fazia na altura [...]” 1 2 0 / VERSUS MAGAZINE


Acreditas, então, que se deve investir em cada um dos discos em vez de estar a pensar nos outros? Sim, nunca me preocupei com outros. Eu crio coisas que gosto e não me interesso em ganhar um milhão de dólares, algumas pessoas procuram isso mas eu vejo música como uma conexão espiritual para outro lugar.

minhas distâncias. Algumas pessoas querem julgarme por isso, dizem que eu tenho um grande ego, mas apenas pretendo ser eu mesmo, Quero manter-me uma pessoa real, não quero estar envolvido nessa confusão. Estou interessado em criar algo que gosto e que seja importante para mim. Respeito as pessoas que percebem isso e ignoro as outras.

Achas que as pessoas, ao fim destes anos, ainda te relacionam com os Cannibal Corpse? Não me incomoda isso, tenho muito orgulho nisso. O que me chateia é que me critiquem com o que faço hoje comparando o que fazia na altura, quando não existe uma visão racional e objectiva sobre o que faço, são opiniões sem fundamentos que podiam ser facilmente desmentidas, se quisesse! (risos). Algumas pessoas pensam saber do que falam baseandose sobre os seus sonhos e do que pensam saber, querendo promover algo que não é real. Isso é o que me chateia mas está tudo bem, porque para mim, se o Chris Barnes não fosse tão importante para as pessoas, não estaria a receber essa energia agora.

És conhecido pelo teu envolvimento na política e na luta pela legalização das drogas leves, como é que vês toda esta agitação com Donald Trump na presidência? Consideras ser um passo atrás? Estás com receio do futuro? Sim, esta é uma altura muito má para nós. É uma enorme vergonha. Não temos vergonha do nosso país mas temos vergonha dos nossos líderes. Porque estão a destruir o que nos levou tanto tempo a construir no que toca a compaixão pelo próximo que foram as bases da nossa nação, por isso é muito duro viver estes tempos e ver a nossa liberdade a ser comprometida. O futuro não sei, vamos ver como corre! (risos)

Sabendo dessa importância e do legado que tens, como te sentes ao ser tão «mimado» pelos teus pares e seres considerado um dos grandes nomes do Death Metal? Hum... Penso que não. Colocar um travão nos sonhos de outros não significa nada para mim. O que eles me consideram, não me diz respeito, guardo as

De volta a Six Feet Under, a banda nunca esteve em Portugal, será a altura certa para vos receber? Já tentámos mas fomos cancelados quando chegámos. Tem sido uma luta, adoraríamos ir aí. Gosto de tudo relacionado com a cultura portuguesa, adoro a história, comida, vinho, vocês uma atitude fantástica perante a vida, a arquitectura, o interior do país. Sim, adoraria ir aí, encontra aí uma promotora que nos arranje uns concertos, dá-lhes o meu número, e nós aparecemos! (risos) Já há planos para promover Torment na Europa? Sim, estamos a trabalhar nisso, muita gente está a ver as reacções e evolui-se a parir daí. O que podemos esperar dos Six Feet Under no futuro? Há muita coisa a acontecer, temos um novo guitarrista, o meu amigo Jack Owens, voltamos a ser um quinteto com duas guitarras. Muita gente vai perceber como esta banda é importante no Death Metal. Alguma mensagem que queiras deixar para Portugal... Espero ver-vos em breve, como disse, adoro o vosso país e seria óptimo ir cantar metal, comer boa comida, beber bom vinho (risos) https://www.facebook.com/sixfeetunder/ https://youtu.be/rpv1WIO46LA

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Heavy Metal vS Futebol

Por: Emanuel Leite Jr.

“O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”. Não se conhece a autoria dessa frase. Há quem a atribua ao treinador italiano Arrigo Sacchi. Outros dizem que foi o Papa João Paulo II que a proferiu. No Brasil, já a associaram ao dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues (um dos responsáveis por alçar o dérbi Fla x Flu à categoria do épico no futebol brasileiro). A verdade é que, independente de quem tenha sido o autor, a afirmação resume aquilo que pesquisadores apontam há algum tempo. O futebol é uma das grandes instituições culturais, que forma e consolida identidades nacionais no mundo inteiro, como assegura Richard Giulianotti, um dos mais proeminentes sociólogos do desporto. Ideia corroborada pelo historiador britânico Eric Hobsbawm, que escreveu que “a imaginária comunidade de milhões parece mais real na forma de uma equipa de onze pessoas com um nome”. Não por acaso, o escritor uruguaio Eduardo Galeano considerava o campo de futebol “sagrado”, no qual a “única religião que não tem ateus exibe suas divindades”. Mas, o que isso tem a ver com o heavy metal? - deve se estar a indagar o leitor que não desistiu do texto nas suas primeiras linhas. Ora! Tem tudo a ver. Sendo também uma manifestação cultural, o mundo do heavy metal não fica ileso ao grande “catalisador de identificação grupal” (Hobsbawm) que é o futebol. E o objetivo desta coluna é de apresentar as relações entre o desporto mais popular do planeta e o mais pesado dos gêneros musicais. A ideia é retratar a paixão de músicos por seus clubes e trazer algumas curiosidades sobre estes mesmos clubes ou a relação do artista com a bola. Como se sabe, por exemplo, Fernando Ribeiro dos Moonspell é um assumido adepto do FC Porto, tendo, inclusive, cantado o hino dos Dragões nas comemorações de 120 anos do clube portuenses. Mas e outros músicos pelo mundo metálico à fora? Quais são fanáticos por futebol? Por qual clube são apaixonados? Vamos, então, conhecer um deles com um pouco mais de detalhe. Steve Harris e o West Ham Nada mais natural do que estrear a coluna a falar sobre a relação do baixista Steve Harris com o futebol, em especial com o clube do Leste de Londres. Não apenas por se tratar do líder de um dos maiores ícones da história do estilo, mas também porque o futebol e o metal são “conterrâneos”, afinal ambos “nasceram” na Inglaterra. O futebol, em sua forma moderna, foi codificado em 1863 com a criação da Football Association, enquanto a história aponta o primeiro álbum dos Black Sabbath, de mesmo nome, lançado numa sexta-feira 13 de fevereiro de 1970 como o pioneiro do metal. Fanático por futebol, Steve Harris sonhava em ser jogador profissional antes de se decidir pela música. Quando criança, jogou em clubes amadores de Londres, até que foi recrutado para o seu clube do coração pelo ídolo do West Ham, Wally St. Pier. O rock and roll soou mais alto e Harris terminou deixando o sonho de infância de lado para se tornar um rockstar. O West Ham, contudo, jamais foi abandonado, nem deixado em segundo plano na vida do baixista. Até hoje, o músico ostenta com orgulho o emblema dos Hammers em seu Fender levando o símbolo do clube para todo o mundo. O baixista também costuma usar munhequeiras com as cores do West Ham e nos primórdios dos Iron Maiden, o grupo costumava tocar uma versão mais pesada de “Bubbles”, um cântico entoado pelos adeptos dos Hammers. Sendo o adepto mais icónico do clube, Harris já participou de alguns jogos festivos no antigo estádio Boleyn Ground. Sobre o West Ham Surgindo em 1895, o West Ham United Football Club tem sua origem na classe operária do Leste de Londres. Seu primeiro nome foi Thames Ironworks Football Club, tendo sido fundado por trabalhadores de um estaleiro

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localizado no rio Tâmisa, que margeia a capital britânica. Em 1900, o clube passaria a se chamar West Ham. Os Hammers jamais conquistaram o título de campeão inglês. Sua melhor colocação na liga inglesa foi o terceiro lugar na temporada 1985/86. O clube se orgulha de jamais ter caído para além da segunda divisão inglesa desde a fundação da Football League, em 1919. De lá para cá, disputou 59 das 91 edições da divisão de elite do futebol inglês - incluindo Division 1 e Premier League. O West Ham jogou no Boleyn Ground, também conhecido como Upton Park e que tinha capacidade para 35 mil pessoas, de 1904 até 2016. Atualmente, tem como casa o moderno London Stadium, que havia fora construído especificamente para ser o Estádio Olímpico de Londres em 2012. O novo palco Hammer comporta 60 mil espectadores. Títulos Embora nunca tenha sido campeão inglês, o West Ham tem alguns títulos em seu palmarés, dos quais destacam-se: 3 FA Cups (Taça da Inglaterra) - 1964, 1975, 1980 1 Taça das Taças - 1965 The Academy O clube também é conhecido como The Academy of Football isto por conta da sua academia que revelou grandes jogadores na história do futebol inglês. Três campeões do Mundo de 1966, no único título Mundial da Seleção Inglesa, saíram da formação do West Ham: o mítico Bobby Moore, além de Martin Peters e Geoff Hurst. Já nos anos 1990, foram revelados pelos Hammers Rio Ferdinand, Frank Lampard, Joe Cole e Michael Carrick Rivalidades Dentre os clubes de Londres, o West Ham nutre maior rivalidade com o Tottenham - protagonizando o dérbi do Leste vs. Norte de Londres - e com o Chelsea (Leste vs. Oeste de Londres). Porém, nada supera o antagonismo com o mais antigo e mais feroz oponente, o Millwall. Se o West Ham não é um clube grande - embora tradicional -, o Millwall é ainda menor em expressão e conquistas. Entretanto, as origens históricas dos clubes explicam tamanha e ríspida rivalidade. Ambos foram fundados na mesma região de Londres e têm suas ligações primárias a empresas locais. Esta proximidade fomentou o confronto que foi sendo alimentado ao longo de décadas até que o recrudescimento do hooliganismo elevou a rivalidade a patamares de violência elevados, tornando este o mais perigoso embate entre grupos hooligans rivais.

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Capa do “Somewhere in Time” Na arte da capa do “Somewhere in Time”, dos Iron Maiden, há uma referência ao West Ham. No passeio, acima do relógio, há um letreiro eletrônico onde se lê “Latest Results West Ham 7 Arsenal 3” (uma provocação a outro clube de Londres). Vitória sobre Andreas Kisser Em 2008, numa das passagens dos Iron Maiden pelo Brasil, Steve Harris comandou a equipa do crew da banda em uma goleada humilhante de 8x0 sobre um combinado de brasileiros - chamado The Brazilians. Na equipa derrotada alinhou o guitarrista dos Sepultura, Andreas Kisser. Derrotado pelo Benfica 10 anos antes de humilhar a equipa que contava com Andreas Kisser, Steve Harris sentiu o gosto amargo da humilhação. Em maio de 1998, o baixista foi o único músico dos Iron Maiden a entrar em campo pela equipa que representava o crew da banda em partida contra ex-jogadores benfiquistas. O jogo, disputado no Estádio da Luz, terminou com o placar de 10x1 para os encarnados, que tinham em campo nomes como Mozer, Chalana, Hêrnani e Bento. Força Jovem A claque - torcida organizada no Brasil - Força Jovem do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, tem o mascote Eddie the Head dos Iron Maiden como um de seus símbolos. Vários elementos de coreografia e símbolos da Força Jovem têm a imagem icónica da figura que aparece em todas as capas dos álbuns do grupo britânico.

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Enquanto houver estrada para andar... O nome Eduardo José Almeida pode não ser reconhecido à primeira vista, porém, se falarmos em Dico já algumas luzes se acendem. Figura de destaque no Metal nacional, seja através dos seus projectos musicais ou através da sua escrita para diversas revistas e webzines, no entanto, nos últimos anos, Dico tem dedicado o seu tempo aos livros e a descobrir o Metal português, mostrando-nos um outro lado. Depois do sucesso de Breve História do Metal em Portugal o autor apresenta um novo trabalho, A Portuguese Rock and Metal Route, que desvenda os maiores segredos do Portugal metálico. Estivemos à conversa com o autor para encontrar um rumo. Entrevista: Nuno Lopes/HellHeaven

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Depois do sucesso da reedição da Breve História estás de regresso aos livros, com Portuguese Rock and Metal Route. De onde te surgiu a inspiração para este livro? Surgiu-me literalmente durante a noite. Acordei às 3 ou 4 da manhã, lembrei-me de uma notícia que tinha visto na TV sobre o crescente desenvolvimento do turismo em Portugal e de repente surgiu-me do nada todo o conceito do livro, parecia que estava a visualizar tudo em esquema. Foi estranho. Percebi logo que género de materiais tinha de desenvolver para obter as informações necessárias, que categorias deveria criar, etc. Levantei-me e fui escrever tudo para não me esquecer. No fundo, com este livro de bolso o meu objetivo é aliar uma das minhas paixões - o Metal - ao turismo, fornecendo um modestíssimo contributo à nossa Economia. Este livro acaba de sair em inglês e em formato de bolso, porque optaste por este formato em vez de uma continuação do Breve História? Consideras que os dois livros se complementam? O livro ainda não se encontra disponível, a gráfica irá entregarmo no dia 7 de junho. Embora os conceitos e os objetivos de ambos os livros sejam muito distintos, é possível que Breve História do Metal Português e A Portuguese Rock and Metal Route – The Underground Guide se complementem, sim. Não tinha pensado nas coisas dessa forma, mas de facto acabam por funcionar como peças de um mesmo puzzle. No entanto, esta obra vai para além do Metal (embora este predomine), abordando o Rock, o Punk e o Hardcore. De facto, tudo isto é Rock N’Roll, e, no fundo, é do estilo de vida associado ao Rock N’Roll que trata este livro. Mas regressando um pouco atrás, nesta fase não faria sentido escrever uma continuação do Breve História do Metal Português, pois tal implicaria abordar apenas o ano de 2016, já que o livro termina oficialmente em 2015, embora inclua alguns factos

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do ano seguinte. Assim, optei por fazer algo completamente diferente, já que não existe em Portugal nenhuma obra do cariz deste livro/guia turístico. Tanto num livro como no outro tiveste, certamente, de fazer pesquisa e deixar muita coisa de lado, houve alguma coisa que quisesses ter colocado no livro que não o fizeste? No A Portuguese Rock and Metal Route – The Underground Guide deixei muita informação de lado não por opção, mas por fatores alheios à minha vontade. Convidei diretamente mais de 250 entidades nacionais, entre bares, organizações de festivais, estúdios de tatuagens, estúdios de gravação/salas de ensaios, concentrações motard, lojas de discos, salas de concertos e lojas de merchandise e a grande maioria esteve literalmente a borrifar-se para o meu convite, daí que o livro inclua pouco mais de 80 referências. Contactei a grande maioria dessas pessoas e entidades através de vários meios – email, página Facebook da entidade em causa e página Facebook do respetivo responsável – e não exagero se te disser que contactei 5 ou 6 vezes algumas dessas entidades, tendo 90% delas pura e simplesmente ignorado esses contactos. Nem sequer se deram ao trabalho de me responder! Noutros casos, “engonharam” ao longo de meses, embora afirmassem que gostariam de constar no livro. Apesar disso, nunca enviaram a informação. O português gosta muito de transmitir a ideia de que é atarefadíssimo, mesmo quando não faz um caralho! É uma questão de imagem, de estatuto. Gostamos de viver de aparências! Devo ainda referir que originalmente a minha ideia não era ver-me obrigado a contactar diretamente as entidades, convidando-as a constar do livro. Com efeito, a minha estratégia inicial foi publicar posts nos vários grupos do Facebook explicando

o projeto e incentivando as pessoas a contactarem-me para lhes enviar um formulário que deveriam preencher com toda a informação necessária. Julguei que os responsáveis/organizadores/ empreendedores/empresários/ proprietários dos negócios/ projetos iriam interessar-se e que receberia algumas dezenas de expostas, mas apenas 5 ou 6 entidades manifestaram interesse em participar! Foi na sequência desse flop de respostas que me vi obrigado a implementar uma estratégia alternativa, que passou precisamente por fazer o convite direto e individual a cada uma dessas pessoas/entidades. Ao mergulhares na cena Metal nacional deves ter encontrado muita história e muitos locais perdidos em Portugal, o que mais te surpreendeu nessa pesquisa? Não sei se te referes ao novo livro. Conheço vários locais, lojas e festivais referidos no livro, mas não todos, é claro, não só por razões geográficas, como logísticas, financeiras e por em alguns casos não se ter proporcionado. Tratase do país todo (só Portalegre e a Madeira não estão representados em A Portuguese Rock and Metal Route – The Underground Guide, uma vez mais não por minha vontade), o que representaria muitas viagens e dinheiro investido. Ou seja, neste livro interessa-me sobretudo divulgar todo o género de espaços físicos e festivais associados ao Rock e ao Metal, bem como à cultura alternativa a si inerentes. Mas ao longo de todos estes anos, quer inicialmente, como músico, quer posteriormente, como jornalista, o que mais me agradou (não vou dizer que me surpreendeu) foi constatar que somos efetivamente um povo que sabe receber as pessoas, sejam elas portuguesas ou estrangeiras. Nos locais onde toquei com as minhas bandas ou onde apresentei o livro, ou simplesmente onde assisti a concertos, fui sempre muito bemrecebido e a típica hospitalidade


[...] a grande maioria esteve literalmente a borrifar-se para o meu convite, daĂ­ que o livro inclua pouco mais de 80 referĂŞncias. [...]

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Existe e existirá sempre, julgo, um certo grau de estigmatização e de marginalização, ou de estranheza, mas nada comparável ao que era dantes.

portuguesa foi uma constante. Esse é um dos maiores trunfos que Portugal apresenta no que se refere ao setor do turismo – somos hospitaleiros, simpáticos (mas há sempre alguns burgessos, não é?), acessíveis, sabemos receber as pessoas, não temos dificuldade em falar línguas e somos desenrascados. Depois de tantos anos dedicado às sonoridades mais pesadas, como é que olhas para o estado actual da cena nacional e para esta segunda wave do Rock/Metal nacional com tantas bandas a aparecerem em todos os estilos?

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Nunca houve tantas e tão boas bandas nacionais. A qualidade geral é irrefutável, a crescente exposição das bandas também e tudo isso se reflete na forma como os outros países começam a olhar para o Metal e para o Rock feitos em Portugal. Por sua vez, essa nova perspetiva, essa descoberta das nossas bandas pelos fãs e pelas entidades estrangeiras, traduz-se num aumento do número de grupos nacionais a realizar digressões europeias, do Metal ao Punk, passando pelo Rock e pelo Hardcore. Inclusive, há casos de bandas que não os Moonspell a tocar nos EUA e no

Brasil, como Besta, Holocausto Canibal ou Simbiose. Portanto, e mais concretamente em relação ao Metal, é cada vez mais uma inevitabilidade que a “cena” portuguesa “expluda” no estrangeiro e ganhe uma dimensão e uma visibilidade inusitadas. O desenvolvimento do nosso underground tem caminhado lenta mas sustentadamente no sentido de, mais tarde ou mais cedo, o Metal português assumir uma influência análoga à das cenas finlandesa ou sueca. Acredito piamente que tal acabará por se verificar.


Consideras que existe uma maior aceitação e que isso leva ao surgimento de mais e melhores salas e condições para as bandas? No contexto da sociedade em geral o Metal já não tem associado um estigma tão evidente como nos anos 80 ou 90. Existe e existirá sempre, julgo, um certo grau de estigmatização e de marginalização, ou de estranheza, mas nada comparável ao que era dantes. Hoje é perfeitamente banal ver indivíduos tatuados, com cabelo comprido e “trajados a rigor” sem que as pessoas manifestem receio, pelo menos como dantes o faziam. No fundo, hoje o Metal é perfeitamente tolerado na sociedade, para não dizer aceite. Mas também te digo que essa parcela que ainda resta de estigma ou de marginalização associada à música extrema acaba por ser algo salutar, pois está enraizada na sua identidade. Afinal, que sentido tem o Metal se não preservar um certo grau de “perigo”, de insubordinação, de irreverência, de contestação, de choque? Tendo começado como músico, acabaste por deixar a parte prática e dedicaste-te aos livros e ao jornalismo, qual foi o ponto de viragem e porque decidiste optar pelas letras? Sempre gostei de escrever e lembro-me que já no ensino primário as professoras elogiavam as minhas composições, que tinham sempre notas elevadas. Por outro lado, aos 13 anos comecei a escrever letras de músicas, algumas em Inglês, outras em Português. Andava sempre com a máquina de escrever e os dicionários de Português-Inglês e Inglês-Português debaixo do braço. Depois, no final dos anos 80, elaborei com um amigo o projeto de uma fanzine, intitulada No More Denial, mas que nunca chegou a sair do papel e em 1991 escrevi pela primeira vez para uma zine. Redigia críticas a álbuns e artigos de fundo. Nada mais se passou na área da escrita

até 1997, quando, estando eu na faculdade, comecei a escrever artigos sobre a Internet para uma revista da especialidade. Esses textos abriram-me as portas para frequentar um curso de jornalismo e de ingressar na profissão. Portanto, apesar de, desde cedo, manifestar apetência para as letras, a minha incursão no jornalismo foi casual. Simplesmente aconteceu, embora de certa forma esta profissão me estivesse destinada. Por outro lado, em 2011, se não estou em erro, comecei a escrever textos, década a década, sobre o Metal nacional, que acabariam por dar origem ao livro Breve História do Metal Português. Aliar a minha paixão pelo Metal e pela escrita foi algo que surgiu naturalmente. Com um curriculum tão vasto e eclético, existe algo que ainda queiras ou te falte fazer? Adorava fazer um programa de rádio, mesmo que fosse apenas em formato de podcast, mas acho que não tenho voz para isso nem grande paciência para explorar as tecnologias hoje em voga para a manipulação de áudio. Não sei, talvez um dia. É uma questão de ter mesmo vontade de o fazer. Por outro lado, gostava de voltar a atuar ao vivo e gravar um álbum, mas não toco bateria de forma consistente há mais de 20 anos, pelo que tal implicaria um assinalável investimento de tempo a ensaiar e a recuperar a técnica perdida, além de envolver custos a nível de aquisição de material, etc. Nada é impossível, mas este cenário revela-se altamente improvável, pelo menos a curto/ médio prazo. O livro terá edição de autor, onde e como se pode obter uma cópia do livro? Vais fazer como o Breve História e encetar numa tour literária? O livro pode ser adquirido através de encomenda para o mail rock.metal.projeto.2017@ gmail.com e também estará disponível em algumas lojas que serão conhecidas brevemente.

Neste momento, estou na fase de estabelecer parcerias. No que se refere a uma eventual tour, ainda não sei responder-te, mas essencialmente por uma questão financeira (já que sou eu a financiar a 100% o livro e tudo o que lhe diz respeito) a tendência será para fazer apresentações próximas da minha área de residência, ou seja, na Grande Lisboa. No entanto, adoraria apresentar a nova obra em alguns locais onde apresentei o Breve História e deslocar-me a outros onde não consegui ir o ano passado (como Coimbra). A estratégia passa também por aproveitar algumas deslocações profissionais e de lazer, conciliando-as com apresentações nos locais visitados. Vamos ver o que acontece. Qual a melhor palavra que gostarias que se dissesse do Portuguese Rock and Metal Route? Mais do que uma palavra será uma frase – “graças a este guia, fiz um memorável circuito alternativo em Portugal, que não só nunca esquecerei, como vou repetir!” Queres deixar alguma mensagem para os Metalheads… Pensem pelas vossas cabeças, ajudem o próximo, marquem as vidas dos outros pela positiva, não se deixem dominar por pessoas tóxicas e façam a cada momento o melhor que podem, seja na esfera profissional, privada ou de lazer. Só faz sentido darmos o melhor de nós próprios. Entretanto, aproveitem para visitar o site oficial do novo livro em http://portuguese-rock-andmetal-route.weebly.com/ e a página do Facebook em https://www.facebook.com/ APortugueseRockandMetalRoute. Mosh it up!

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Time Lurker Escondido, mas não muito! Para grande satisfação dos fãs de Black Metal, que vão certamente apreciar muito este lançamento. Entrevista: CSA Fiquei muito impressionada com o teu Black Metal atmosférico. É tenebroso e extremamente belo em simultâneo. Concordas com esta descrição da tua arte? Mick – Antes de mais, obrigado pelo elogio. Tendo em conta a quantidade de excelentes bandas deste género que surgem constantemente, fico muito sensibilizado por ver que gostaste do meu projeto. Concordo contigo, na medida em que procuro combinar as minhas diferentes influências, todas provenientes da cena USBM [Black Metal dos EUA), DSBM [Depressive Suicidal Black Metal]… Nestes últimos tempos, tenho sido sobretudo influenciado por bandas como Krallice, Yellow Eyes, Castevet, Altar of Plagues, Ash Borer. Quem te ajudou a construir o teu percurso musical? Em primeiro lugar, a minha família. A minha educação musical foi promovida pelo meu tio e pela minha tia, que, nos anos 90, fizeram ambos parte de uma banda de Death Metal chamada Catacomb. Portanto, cedo mergulhei na cena metal underground. Aliás, Time Lurker

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começou por ser uma homenagem a essa banda: o nome corresponde ao título de uma canção do EP «In the Maze of Kadat». Para eles, Time Lurker saiu diretamente do universo de Lovecraft. Significa “os que escondem no tempo”. Escolhi esse nome para o meu projeto precisamente pelo seu significado. Também pude contar com o apoio de amigos de longa data: os membros da banda Paramnesia. São uma das minhas principais influências. Trata-se de pessoas dotadas de uma cultura e de um conhecimento enormes no domínio do Black Metal e da música em geral. Conta-nos o essencial da tua história musical. Não tenho nenhuma história musical no que diz respeito à prática, porque nunca estive em nenhuma banda (se excluirmos alguns “delírios” da adolescência). Time Lurker é o meu primeiro projeto musical concreto e sério. Comecei em 2014, tendo como única ambição gravar uma ou duas canções que reuniam todas as minhas influências, a fim de me tornar mais credível e mais eficaz na minha pesquisa. Acabei

envolvido na dinâmica de um projeto a solo. Reparei que vens de Estrasburgo, uma cidade que eu conheço muito bem (ou conhecia, há 10 anos atrás). Esse facto tem alguma influência na tua música? Não penso que Estrasburgo tenha alguma influência direta na minha música. Só vivo aqui há 6 anos e vim para cá essencialmente por motivos profissionais. É uma cidade com uma cena musical muito rica e variada e que apresenta a vantagem de dar acesso direto à Europa, o que é muito vantajoso, para ir a concertos, fazer digressões, etc. Penso que vou ficar por aqui mais uns tempos. Por que te pareceu que este era o momento adequado para fazer um lançamento que combina os dois EPs do teu projeto musical? Apenas porque Les Acteurs de l’Ombre e Monotonstudio Records me deram a chance de o fazer. A segunda empresa vai lançar o álbum em cassete. É verdade que tudo aconteceu muito depressa, mas, quando me surgiu esta oportunidade, eu ainda estava


“[…] Tendo em conta a quantidade de excelentes bandas deste género que surgem constantemente, fico muito sensibilizado por ver que gostaste do meu projeto. […]”

completamente mergulhado no projeto. Dado que foi necessário remisturar e depois masterizar todo o material, tive de entrar em ação de forma rápida e eficaz. Quem é o artista que usa o pseudónimo Jo Mot Rot e fez a arte para o teu lançamento? É o meu irmão mais novo: Jonathan Moreau (https://www.facebook. com/jomotrotart). Também faz tatuagens. Foi ele que se ocupou de todo o lado visual desta aventura, desde a arte até ao logo. E como é que a LADLO te descobriu? Entrevistei-os para a nossa secção consagrada às editoras e sei que eles são exigentes. Aconteceu depois do lançamento digital do EP intitulado «1», em novembro de 2016. Com grande espanto meu, esse EP foi muito divulgado nos blogs e foi muito bem recebido pelos fãs de Black Metal e não só. Recebi propostas de várias editoras para o lançar em diferentes suportes. Comecei por aceitar a da Mallevs Records, que conta com o Cédric, que participou no EP como vocalista convidado. Queriam lançar o EP

em cassete, numa edição limitada de 30 exemplares. De seguida, as ofertas multiplicaram-se, o que me fez pensar que o projeto merecia ir mais longe. Portanto, atrevime a contactar a LADLO, para ver se estavam interessados no lançamento. A proposta agradoulhes (mais uma grande surpresa para mim) e foi assim que eu acabei a responder à tua entrevista!

Black Metal a um género que já quase nem é Metal (como aconteceu com bandas como Alcest e Lantlös, que também já entrevistei)? Já tenho bastantes gravações prontas e posso dizer-te que é tudo muito diferente destes 2 EPs. Mas a mudança não vai ser feita no sentido que referes, antes pelo contrário.

Que planos tem a LADLO para Time Lurker? Para já, vamo-nos ficar pelo lançamento dos 2 EP sob a forma de um álbum, o que já é maravilhoso para mim. Vou aproveitar para descansar um pouco da azáfama musical, porque tenho de confessar que a parte final do trabalho no lançamento me custou muita energia.

Queres deixar uma mensagem especial aos leitores da Versus? Aproveito para agradecer publicamente aos amigos que me “emprestaram” as suas vozes nos 2 EPs e também para os apresentar. São todos vocalistas maravilhosos, que fazem parte de bandas fantásticas: Thibo (Paramnesia/ Jeanne), Cédric (End of Mankind/ Pyrecult), Tony (Rance) e Clément (Le Mal des Ardents). Também te agradeço por esta entrevista, assim como a todas as pessoas que me têm apoiado.

Devemos estar prontos para a saída de um álbum no fim do ano? Não me parece. Como já disse, de momento, estou a fazer uma pausa. No entanto, estou a considerar a hipótese de contactar pessoas para fazerem parte da banda.

https://www.facebook.com/timelurker/ https://youtu.be/bP68l9AUwpk

E como será um futuro álbum? Vamos assistir à passagem do

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Jonas, Papa, Salvador. (Ui!! Isto dito fora do contexto…)

Ah! Gloriosos tempos para Portugal e para os Portugueses! Vitória no campeonato da Europa de Futebol, na Eurovisão, o Papa fez o delírio dos católicos ao vir visitar aquele que é a maior fonte de receitas da Igreja, o Santuário de Fátima, e até o Benfica foi tetra campeão! Claro que este último acontecimento apenas fez as delícias a quem é Benfiquista, e embora tenha as minhas preferências clubísticas, tenho 1904 razões para não divulgar o clube do meu coração, nem mesmo se ameaçarem os meus animais de estimação: dois milhafres chamados Eusébio e Coluna. Por todas estas razões este foi sem sombra de dúvida um fim-de-semana de festa! Mas tanta, tanta festa, que se o António Costa subisse na segunda-feira dia 15 o IVA para 30%, ninguém iria notar! Estamos efectivamente cegos, e porque não dizer, lobotomizados de tanto festejar. Mas queremos lá saber! Eu incluído!!! Venha a festa! O resto que f%&#!!!!! Mas… terá sido assim tão grande a festa, perguntam vocês? Eu penso que sim, muito embora muitas pessoas não concordem comigo, e não por uma questão futebolística, religiosa ou de gosto musical. É que nós Portugueses, mórbidos e soturnos por natureza, fomos estabelecendo e aplicando ao longo dos anos, sem nunca a assumir como oficial, uma medida para quantificar a intensidade de festividades: o número de pessoas que falecem na sequência dos festejos. Confusos? Acham que estou a fazer uma piada de mau gosto com a desgraça alheia? Estão com vontade de me incendiar vivo ou de me crucificar? Tenham calma. “Oiçam-me” até ao fim, e guardem por enquanto fósforos, gasolina, pregos, e mesmo outros objectos rombos ou bicudos capazes de aleijar. Prometo ser o mais breve que conseguir. Infelizmente não são as boas notícias que prendem um telespectador à televisão, ou um leitor aos jornais. Bem sabemos que, pelo contrário, são as más notícias aquelas que mais vendem, e que mais atenção chamam. Primeiro ouvimos “Mais de 200mil pessoas no Marquês”, ou “mais de 5 mil pessoas a receber Salvador Sobral”, e pensamos “eh lá. Muita gente sim sr”. E agimos com mais ou menos indiferença, conforme o assunto nos toque ou não pessoalmente. Mas se for difundido pela comunicação social que alguém faleceu, aí a conversa é outra. Imaginemos um casal na sua rotina diária quando tal sucede: “O quê? Alguém faleceu? Deixa lá ver! Ehhhhhhhh granda festa!! Oh Umbelina! Anda cá ver a festa!” “Festa? Agora não posso ver! Ver cá festas nem meias festas… Raios parta o homem sempre com o cu gordo sentado… Já não levanta nada, para nada, e agora quer que vá ver festas. Festa queria eu!” “Alguém morreu!” “O quê!?!? Deixa lá ver! Ehhhh! Grande festa…. Meu Deus… Foi mesmo grande festa! Até morreu uma pessoa!”

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E ali ficam ainda grudados à televisão, com um misto de fascínio pelo mórbido e alegria pela celebração, momento apenas quebrado ocasionalmente quando é necessário retirar um chamado “macaco” do nariz, ou quando a zona púbica exige alguma atenção a nível de unhas, devido ao prurido que lá se faz sentir. E é isto. E não conseguem negalo, certo? E não somos apenas nós Portugueses. Quem não se riu com o filme “Um fim-de-semana com o morto”? Sou só eu que acho muita coincidência que esse filme tenha tido tanto sucesso? Junta tudo aquilo que o ser humano mais aprecia: Festas e tragédias. E mulheres bonitas em bikini… Isso também é apreciado por muitas pessoas. Cada vez mais por ambos os sexos. Podem estar centenas de pessoas a celebrar o fim de uma hipotética guerra civil da Mongólia em Lisboa, que ninguém liga nem à notícia, nem à festa! Uma delas é atropelada, e de repente é notícia de abertura de telejornais, e todos deitam uma lágrima de alegria pelo fim do conflito que nem sabiam existir. A CM Tv estaria inclusivamente no local quando se deu o atropelamento, e, por grande coincidência, até teriam imagens exclusivas do acidente filmadas a partir do interior da viatura; isto claro que se o Cristiano Ronaldo não pusesse antes as mãos na dita, e a tivesse atirado Tejo adentro! E que bela imagem seria um carro da CM Tv a voar tal e qual como o “Kitt” em direção ao rio enquanto se ouvia à distância um “SIIIIIIiiiiiii!” Talvez seja demasiado pedir ao ser humano para apreciar a festa pela festa, tal como pedir a um homem que faça duas coisas ao mesmo tempo, ou ao Pedro Guerra e ao António Serrão para fazerem dieta. Por isso espero que as festividades tivessem sido fraquiiiinhaaaaas… Assim muito fraquiiinhaaaaaas, até porque posso querer fazer parte (outra vez) de alguma no futuro. Nunca se sabe. Despeço-me rumo ao 37. Com amizade: O Homem da Motoserra P.S. Já agora, alguém sabe o horário do 37? Se calhar já não vou a tempo….

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HIM + KANDIA 17/06/2017 - Hard Club - Porto Reportagem: Bruno Manarte & Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

A noite estava quente e o concerto à muito esgotado. Os HIM trouxeram ao Porto a “Him Farewell Tour” e, por isso, terá sido a derradeira oportunidade que os fans portugueses tiveram de ver a banda finlandesa. Os portugueses Kandia abriram as hostilidades, não precisando de “aquecer” o público já que o ambiente, por si só estava abafado. Mas o pessoal que encheu a sala estava lá para a “Sua Infernal Majestade” e à hora marcada o quinteto subiu ao palco, abrindo a noite com “Buried Alive by Love”, o primeiro “hino” a ser entoado. O som estava excelente, não excessivamente alto e dava para perceber todos os pormenores, com excepção da voz de Ville Valo quando este falava – pelo menos atrás da sala. Mas isso era o “de menos”. O ambiente estava quente e abafado com a decisão sensata de deixar uma porta aberta para o pessoal poder “respirar” um pouco. No entanto, isso não impediu de um fã sair desmaiado. Bem… mas o concerto continuou e foi um descarregar dos melhores êxitos da banda, qual best of de despedida. Os pináculos aconteceram logo aos primeiros acordes de “Wicked Game” e “Join Me in Death”. Isto, claro, a julgar pela quantidade de gritos e de telemóveis no ar, já para não falar no aumento de garotas nos ombros dos seus “cavaleiros andantes”. Foi um concerto que por vezes me parecia intimista mas que era facilmente quebrado com os temas mais conhecidos e o delírio do público que enchia por completo a sala. Nenhum fã saiu com as expectativas defraudadas, estava lá tudo, o carisma de Ville Valo, as excelentes guitarradas, o excelente jogo de luzes e estava também… a despedida. Vinte e quatro temas depois, os Him despediram-se do público português. Com muita pena minha/nossa. (Agradecimento especial à Prime Artists)

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INTHYFLESH + DECAYED 14/04/2017 - Caffé Origens – Ponte de Vagos – Aveiro Reportagem: CSA Fotos: Lino Gomes

POUCOS MAS BONS! Este ano tivemos o prazer de ver retomada a tradição da Páscoa Negra (um minifestival de Metal – geralmente Black Metal – que coincide com a Sexta Feira Santa). Paulo Perdiz, da Blindagem, brindou-nos com mais uma inestimável iniciativa de apoio ao Metal – em geral – e ao Metal nacional – em particular. Desta vez, o lugar escolhido foi o espaço do Caffé Origens, em Ponte de Vagos, perto da pequena cidade onde decorreu em tempos o Vagos Open Air e que agora acolhe o Vagos Metal Fest (pelo que está no mapa do Metal português desde agosto de 2008). No cartaz figuravam apenas duas bandas, ambas portuguesas: Decayed, uma relíquia (no bom sentido da palavra), e Inthyflesh, um clássico (que já ouvimos numa das edições deste minifestival que teve lugar no auditório da Associação Mercado Negro, em Aveiro, sobre o qual fizemos uma reportagem para a Versus já há uns anos atrás). Não sei se simbolicamente, as hostilidades tiveram início por volta da meia noite, com a atuação de Decayed. A acompanhar José Afonso, guitarrista e fundador da banda, estavam Tormentor, na guitarra, e Vulturius (Irae, Morte Incandescente), que acumula o baixo e a voz). De uma forma despretensiosa, mas segura, de quem já anda nisto há uns largos anos e sabe que pode contar com o apoio dos fãs (mesmo que sejam os poucos e bons a que se refere o nosso título), a banda veterana apesentou uma série de temas, que não deixaram o público indiferente. Foram desde “Fuck Your God” («Resurrectiónem Mortuórum», 1996) até “Son of Satan” e “Cravado na Cruz” («The Burning of Heaven», 2015), passando por “Black Metal Onslaught” e “Hell Witch” («Nockthurnaal», 2001), “Spikes. Leather and Bullets” («Hexagram», 2007) e “Martelo do Inferno” («Chaos Underground», 2010). A faixa “Drumas of Valhala” («The Conjuration of the Southern Circle«) foi dedicada a Quorthon. Achámos curioso que o vocalista ostentasse uma t-shirt que fazia referência a Thin Lizzy, uma banda de Hard Rock dos anos 70, que muito admirávamos, na nossa adolescência. Depois de um breve intervalo, destinado ao sound check, entraram em ação os membros de Inthyflesh, que tornaram claro aquilo a que vinham ostentando o já tradicional corpse paint. As melodias – umas vezes semelhantes a monocórdicas melopeias, outras bem furiosas e marcadas por blast beats – contrastando com a voz bem áspera de Sataere mantiveram a atenção da sala bem presa, de tal modo que uma hora de concerto decorreu sem que o interesse dos fãs fenecesse. Os presentes puderam ouvir alguns temas mais antigos – como “Worship Darkness Rising” e “Death Claiming for Release” («Crawl Beneath Our Shadow», 2004) – e outros bem recentes – por exemplo, “The Sinister Herald of Death”, “Forever Insanity”, “Sorrowful Moonlight – Part 1” e “Beyond What Eyes Can See” («The Flaming Death», 2016) – passando por alguns intermédios – como “Wicked Mother Fornication” («Lechery Maledictions», 2007). Infelizmente, os músicos não puderam demorar-se, porque imperativos de diversa índole – inclusive de natureza profissional, porque não é fácil viver exclusivamente do (Black) Metal, muito menos em Portugal – os chamavam a outras paragens. Mas, mesmo assim, os músicos de cada uma das bandas aproveitaram bem a atuação da outra para conviver com os assistentes, criando aquele bom ambiente que – contrariamente ao que muitos pensam – costuma caracterizar estes espetáculos. Sugerimos que, no próximo ano, se faça mais publicidade – até no facebook, pedindo aos amigos para partilharem – porque temos a certeza que, se isso acontecer, aparecerão certamente mais pessoas. Mas não podemos deixar de agradecer ao Paulo Perdiz (da Blindagem) e aos que o acompanham estas iniciativas, que contribuem para manter acesa a chama da cena portuguesa.

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PHARMAKON + PÄ 03/05/2017 - Galeria Zé dos Bois – Lisboa Reportagem e Fotos: Frederico Figueiredo

A Galeria ZDB foi anfitriã de mais uma extraordinária sessão dedicada ao experimentalismo musical de inclinação monofónica e submelódica. Desta feita, tratou-se da apresentação de “Contact”, álbum de Pharmakon - projeto de Harsh Noise/Industrial de Margaret Chardiet - presente pela terceira vez em Portugal (anteriormente no Amplifest 2014 e Primavera Sound 2015). O ambiente foi instaurado por pä, com Filipa Campos e Paulo da Fonseca a calibrar a dormência do público com a capacidade entorpecedora do drone. A atuação apresentou-nos texturas de som em bruto como uma forma de terapia de ruído, com o duo a manipular engenhos eletrónicos, canalizando subharmonias como ondas de confortável magnitude. A sensação de recolha e dissolução promovida pelo primeiro ato, serviu como um adequado sedativo para a belicosidade que se aproximava. Pontuando a ansiedade pela atuação da noite, a colocação da “mesa de autópsia” no centro do palco em paralelo com os testes de som inflingidos pela cândida figura, engrandeceram o prenúncio da atuação com uma chapada de solenidade. O compasso marcado pelo bater do avultado salto das robustas botas de Chardiet abriu as hostilidades com “Transmission” num batimento rugoso e áspero, revelando uma sonoridade ampliada ao ponto de fazer vibrar o recinto com trepidações nevrálgicas. Embora fosse notável a dimensão gargantuana desta fornicação aural através da manipulação de estática como condutor de um exorcismo, confundido com o êxtase de um parto, a atuação revelou-se pouco espontânea. O poder da interação com o público e capacidade comunicativa e empática das atuações ao vivo, que serviu como tema para o álbum em apresentação, assumiu contornos demasiado balizados e compostos (tal como a figura da sua protagonista), não se refletindo uma coreografia adequada à irascibilidade do contraponto sonoro. A performance cénica aproximou-se da birra de uma criança em quarto escuro, procurando esta, a interatividade com um público que pouca resposta lhe dava (à exceção de um espetador que portou Chardiet às costas, fazendo-a girar ao longo da sala lotada). As voltas em torno do palco e as deambulações pela audiência não deram azo a surpresas ou improvisos. O público esperava e merecia ser chocado. Era uma promessa espectável que, lamentavelmente, ficou por concretizar. Uma pena, dada a extraordinária violência do som que nos fez reciclar a consciência pela gravitação dos sentidos, em visões que se camuflavam e transfiguravam nas teias de ruído. O agradável desconforto pouco durou entre Transmission e No Natural Order, numa ritualização que merecia ser mais explícita, transgressiva e estocástica como o próprio género exige.

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KAMPFAR + MORTE INCANDESCENTE + PESTIFER 08/04/2017 - RCA CLUB - LISBOA Reportagem e Fotos: Nuno Lopes

Finalmente a máquina Kampfar aterrou no nosso país. Uma espera que durou umas meras décadas mas que surge num momento em que os noruegueses atravessam, talvez, o seu melhor momento de forma, daí talvez a expectactiva que se sentia na sala lisboeta, porém, tudo isso foi ultrapassado com um concerto avassalador e demoníaco. Os noruegueses não se amedrontaram e puxaram dos seus galões provando aquilo que se ouve em disco. Dolk, o frenético vocalista foi estrela, com uma presença em palco irrepreensível, o músico mostrou que é um dos melhores frontman da actualidade, não se cansado de louvar o público lisboeta e mostrandose rendido ao mesmo, entre palavras de redenção e revolução a banda lá mandou um grande «fuck you» ás agências e promotoras. Destaque, ainda, para Jon Bakker, o imponente baixista e para Ole Hartvigsen, o guitarrista, que provocaram momentos de beleza crueldade. Este foi um concerto que pecou, talvez, por curto, ou então fomos nós que não demos por ele passar. Claro que temas como Inferno, Ravenheart, Swarn Norvegicus e Mylder, este já em encore, não poderiam deixar de comparecer. Um último destaque para o som, o melhor da noite e que foi proporcionado por Nuno Loureiro, o mesmo de Ignite The Black Sun e um dos mais creditados artistas portugueses que assim viu também nesta noite um pouco de redenção. Esperemos que os Kampfar regressem em breve. Antes dos noruegueses subirem ao palco, as hostilidades foram asseguradas pelos Morte Incandescente que trouxeram o seu Black Metal frio, misantrópico e destrutivo. Com um som menos limpo e com algumas falhas, a banda conseguiu, mesmo assim, provar porque é um dos bastiões do Black Metal made in Portugal, no entanto, este foi um concerto desinspirado e menos conseguido. Já os Pestifer aproveitaram para trazer à capital o seu Black-Thrash e que apanhou muitos desprevenidos, sendo por isso, a surpresa da noite. Com uma actuação curta mas eficaz, os portuenses arrancaram os primeiros aplausos da noite e conseguiram juntar a malta na boca do palco, tarefa por norma difícil para primeira banda do evento, mas fica a ideia que a banda tem mais do que mostrou mas o caminho está a ser feito. Em suma, ninguém terá saído insatisfeito do RCA.

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DREAM THEATER 30/04/2017 - COLISEU - PORTO Reportagem: Victor Alves c/ Eduardo Ramalhadeiro Fotos: Eduardo Ramalhadeiro Após 3 anos de ausência no nosso país, os Dream Theater regressaram para comemorar o vigésimo quinto aniversário de «Images and Words» Talvez o álbum que os tenha catapultado para o sucesso. Este concerto insere-se digressão europeia de «Images, Words & Beyond». Dos Dream Theater não se esperam simplicidades; o concerto dividiu-se em dois actos – três se se considerar o encore. A primeira parte foi, então, como que um best of constituído por sete temas de vários álbuns, com especial relevância para os editados nesta última década. Pelo meio uma homenagem a uma das grandes influências de Myung e, certamente, para muitos baixistas: “Portrait of Tracy”, um original do grande Jaco Pastorius. “As I Am” ainda incluiu um interlúdio de “Enter Sandman” dos Metallica, levando o Coliseu, quase cheio, ao delírio. Pelo meio o espectáculo chamado Jordan Rudess, com os seus teclados High Tech. Mas diria que os fãs estariam à espera do segundo acto… Após um intervalo, já que o pessoal precisava de descansar e beber uma cervejinha, a tão ansiada oportunidade para ouvir «Images and Words» tocado na íntegra. LaBrie estava especialmente comunicativo, havendo ainda tempo e espaço para algumas histórias… “Take the Time” trouxe o solo de Petrucci, retirado do tems “Glasgow Kiss” e como é óbvio, Mike Mangini que siderou a malta durante “Metropolis Pt. 1”. Se os fãs que encheram o Coliseu já dariam por bem gasto o dinheiro do bilhete, eis que os Dream Theater não facilitam e terminam o encore com “A change of Seasons – pt. I a VII”. Foi um concerto que andou à volta de 3 horas, cansativo mas que valeu cada cêntimo do bilhete. Não vale a pena falar da prestação e presença em palco porque… são os Dream Theater. Venham mais 3 horas! (Agradecimento especial à Prime Artists)

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ILL NIÑO + EKTOMORF + XTORTYA + INCITE + THE ROYAL BLASPHEMY 19/04/2017 - RCA - LISBOA Reportagem e Fotos: Nuno Lopes

Depois de um adiamento inesperado esta passagem dos ill Niño por Portugal revestiu-se de ansiedade e, porque não dize-lo, nm dos momentos aguardados do ano. O sexteto que anda a recuperar os temas de Revolution / Revolución, que celebra os 15 anos de existência não se deixou atemorizar pelos eventos recentes e apresentou-se na sala lisboeta disposta a fazer esquecer esses momentos e não deixou os seus créditos por mãos alheias. Numa sala que (des)esperava pela banda era normal sentir-se a energia positiva e a ansiedade que a banda fez questão de ultrapassar, isto sem esquecer alguns problemas iniciais ao nivel do som, mas isso não interessava, o importante é que os ill Niño continuam a ser uma banda competente e Revolution / Revolución continua a ser tão actual como há quinze anos atrás. Machado continua com uma presença imponente e não se coíbe de puxar pelo público (que insiste num fervoroso mosh e stage diving), porém, o músico parecia estar a sofrer de um problema de temperatura, sendo a sua companhia a enorme ventoinha que se encontra no palco. Porém, não podemos resumir os ill Niño apenas ao seu vocalista, já que todos os elementos se mostram entertainers e a querer dar espetáculo. Tocado na íntegra, Revolution / Revolución ganha uma nova vida com a vida que se seguiu ao seu lançamento e as canções ganham uma nova amplitude, até mesmo quando Ritchie Cavalera (Incite) entra em cena para «ajudar» em No Murder. Divino. Para o encore a banda deixou How Can I Live e, claro está, a obrigatória This is War que levou o público que enchia a sala a um furioso Mosh. Um concerto que ficará na memória e que serviu para provar que há vida para além do Nu-metal. Antes dos ill Niño os Ektomorf «partiram» a casa toda num concerto em regime «best of» e onde não faltou a energia e a revolta, sendo que não faltaram temas como Fuck You All, Black Flag ou Show Your Fist e que mostrou uma banda húngara cada vez mais demoníaca e provocaram movimentações hostis, no bom sentido, no público. Algo que já não se pode dizer dos australianos Xtortya que se mostraram, talvez, uma banda fora do contexto, não que isso coloque em causa a banda, mas que nesta ocasião se mostrou estar «fora» do contexto. Canções simples, de amor e luxuria, num misto de Hip Hop com Metal, ao género de uns Crazy Town e que não deixa grandes recordações. Sobre os Incite recaíam algumas expectactivas, muito por causa da presença de Ritchie Cavalera na voz que mostrou que filho de peixe sabe nadar. Com canções pesadonas e sem muitoespaço para respirar o músico mostrou-se competente e com uma energia, que muitos chamariam possessão, e que mostrouo que a banda segue o seu caminho e não precisa de cunhas para se mostrar, um concerto intenso e que provocou as primeiras movimentações no público. Foram a surpresa da noite. Já antes os nacionais The Royal Blasphemy iniciaram as hostilidades e forma «vitimas» da hora madrugadora do concerto, mesmo assim, nos 25min que a banda teve direito ficou a sensação de uma banda competente e cujo futuro deverá ser promissor e que se encontra talhada para outros voos! Mais uma noite de celebração de outros tempos, com os olhos postos no futuro. Fica a recordação e a memória de uma noite memorável para muitos e nostálgica para outros.

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