Versus#45 Ago/Set

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S UPL EMEN T O ESP E C I AL V E R S US

LIV E

AN T RO D E F O LIA

HO M E M D A M OTOSER R A

Uma viagem no tempo

OS C ULUM INF AM E EXIT EDEN

IG O R R R NEXT TO NONE

D I A M O N D HEA D F OSCOR


EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E

vErSUS MAGAZINE

Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal

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P U B L IC A Ç Ã O B IM E S T R A L

EDITORIAL

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D IR E C Ç Ã O

Até para o ano...

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O

Ne s ta e d iç ão da Versus as repor t agen s a o v i vo exi ge m

Eduardo Ramalhadeiro & Marco Anes

u m su p le mento especi al: VOA2017, Va gos Met a l Fe s t ,

COLABORADORES

L a u ru s No b ilis e só para ci t ar t rês do s m a i s i mport a nte s fe s tivais nacio n ai s, Sepult ura - numa re port a ge m e s pe ci a l - o s mítico s Deep Pur ple e o Wave- Got i k Treffe n , o ma i or fe s tival d e mú si ca gót i ca reali zado em Le i pz i g, Al e m a n h a .

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

F O T O G R A F IA

C l a ro q u e há ai ndas as ent rev i st as e h a bi t ua i s a rt i gos ,

Créditos nas Páginas

s e rá p o rtanto , uma edi ção espec i alí ss i ma .

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A e q u ip a d a Versus aprovei t a para dar a s boa s v i n da s a o Pa u lo Freita s Jorge e Gabr i el Sousa n a e s cri t a e Ma rco An es no g raf ism o Bo a s le itu ra s, Eduardo Ramalhadeiro

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60

VINTERSORG

C O NTE Ú DO Nº45 Agosto/Setembro 2017

0 4 N O TÍC IA S

29 PLAYLIS T

88 MOSH

0 5 T R IA L B Y FIR E

30 PALET E S D E M E TA L

9 2 O H O M E M D A M O T O S E RRA

0 6 C H ES TE R BE NNINGTON

42 M IKE

9 8 E X IT E D E N

0 7 C E N OTÁ F IO

48 IRRWIS C H

1 0 4 A N T R O D E F O L IA

0 8 B E N T K NE E

56 SEKTARISM

108 FOSCOR

1 2 D E BE MU R MO RT I

68 OSCU L U M IN FA M E

1 1 4 IG O R R R

1 8 D I A MOND HE AD

72 ÁLBUM V E R S U S

1 2 2 H E AV Y M E TA L & F U T EBOL

2 4 G R ÊL OS DE H O RTELÃ

74 CRÍTIC A S V E R S U S

126 NARGAROTH

2 6 ( S U )P O S IÇ Õ E S HARD N’ HEAVY

86

130 NEXTO TO NONE

1 0 Á LB UNS HISTÓRICOS DO ME TAL PORTUGUÊ S

1 3 4 R IV E R D O G S

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NOTÍCIAS Vagos Metal Fest - 2018 Está encotrado o 1º cabeça de cartaz para o Vagos Metal Fest - Cradle of Filth! A juntarem-se a este grande nome estão ainda os In Vein, Sinister, Bölzer, Attic, Gwydion e Blame Zeus

Therion com data dupla em Portugal Depois de um grande concerto no Vagos Metal Fest, os THERION regressam a Portugal para dois concertos em Lisboa e no Porto (Cortesia da Notredame Productions) A banda Sueca irá actuar dia 21 de Fevereiro no Hard Club no Porto, e no dia seguinte 22 de Fevereiro em Lisboa no Lisboa ao Vivo. Na bagagem trazem o já bastante aguardado trabalho de originais “Beloved Antichrist”, uma criação rock opera com 3CDS com vários capítulos a ser lançada a 26 de Janeiro. Com eles vêm também os Russos IMPERIAL AGE e os Alemães NULL POSITIV.

Epica de regresso em nome próprio Ainda na ressaca de um concerto encantador no VOA 2017, os EPICA regressam ao nosso país para apresentarem «The Holographic Principle» numa data-dupla em nome próprio, ainda antes do final do ano. Desta vez para prestações em nome próprio, na Sala Tejo e no Hard Club, nos dias 21 e 22 de Novembro, em Lisboa e no Porto respetivamente. Como “convidados especiais”, os holandeses vão contar com o enorme talento dos conterrâneos VUUR, liderados pela icónica figura de Anneke Van Giersbergen, e com a etnicidade exploratória dos tunisinos MYRATH.

Novo álbum dos Moonspell

Foto: Paulo Mendes

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“Todos os Santos” é o tema de avanço para o novo álbum dos Moonspell. «1755» marca o ano do terrível terramoto que devastou a cidade de Lisboa. 2017, no entanto, assinala o lançamento do novo álbum de originais, totalmente cantado em português e dedicado a este fatídico evento. O 13.º trabalho de estúdio da banda chega a 3 novembro. Podem escutar “Todos os Santos” Aqui


Trial by Fire VINTERSORG

SEKTARISM

BENT KNEE

Till Fjlls D e l Ii

La Mor t D e L’ Infi dšl e (Solstice-Promotion) MÉDIA: 2,5

Land A ni mal ( InsideOut Records) MÉDIA: 3,8

(Napalm Records)

MÉDIA: 3,4

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

BYZANTINE

ATROX

MUNICIPAL WASTE

The Cicad a Tre e (Metal Blade) MÉDIA: 2,7

Monocl e (Dark Essence Records) MÉDIA: 3,8

Sl i me A nd Punishm ent (Nuclear Blast) MÉDIA: 3,1

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

REX BROWN

SEPTICFLESH

IBERIA

S m ok e O n T h i s (SPV) MÉDIA: 2,5

C odex Omega (Season of Mist) MÉDIA: 3,9

M u c h H i g h e r T ha n A H o pe (Raising Legends Records)

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

MÉDIA: 3,0

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

CY TO TO X IN G am m ag e d d o n (Earsplit) MÉDIA: 3,8

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. EMANUEL R. ERNESTO M. NUNO L.

Obra - Prima Excelente Esforçado Esperado Básico

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Chester Bennington (20/03/1976 - 20/07/2017) A primeira vez que o nome Linkin Park apareceu na minha vida foi numa das edições da revista Loud!, nela um jovem Chester Bennington tinha o sonho de tornar a banda maior que os Metallica. Confesso que não os levei a sério, naqueles tempos o Nu-Metal era odiado por uns e venerado por outros, porém, a música dos Linkin Park não me enchia as medidas da mesma forma que Deftones ou Korn, no entanto admirei os «tomates» daquele menino e o poder da sua afirmação. Não sei quanto tempo passou desde esse momento mas, uma coisa é certa, os Linkin Park transformaram-se grandes, tão grandes como os Metallica, e o menino viu o seu sonho concretizado. A sua banda no topo do mundo. E eu sem continuar a levá-los a sério, mesmo com discos como Hybrid Theory ou Meteora, dos quais apreciei esta ou aquela música, mas isso agora não interessa nada. Nos últimos anos Chester Bennington esteve envolvido em algumas acesas polémicas, umas com mais sentido que outras, porém o músico entregava-se à sua tarefa com aptidões suficientes para ser levado a sério, mesmo quando ocupou o lugar de Weiland nos Stone Temple Pilots ou, mais recentemente, quando viu o mais recente disco dos Linkin Park, One More Light, ser alvo das piores criticas, não só por parte dos media mas, principalmente, pelos seus seguidores. Chester defendeu-se como pôde, como o deixaram. Ontem Chris Cornell teria o seu aniversário e, quem diria, que poucos meses depois de ver Chester a chorar a morte do amigo, o mesmo iria fazer a surpresa a Cornell e aparecer no seu aniversário. Pelos mesmos motivos, pelos mesmos actos, nas mesmas circunstâncias. O que será dos Linkin Park não se saberá. Quanto a Chester, deixa aos 41 anos a sua vida terrena, deixando mulher e seis filhos e um legado que será, porventura, difícil de reconhecer. O futuro o dirá mas, a morte tem destas coisas e, até mesmo neste momento, vejo que Chester cumpriu o seu sonho. O menino sonhou, a obra fez-se e o Homem partiu. Obrigado Chester Bennington! Nuno Lopes

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Cenotáfio

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um polónio do ego uma viagem pelos sítios mais inúteis pelos abismos menos entusiasmantes das que te fazem procurar na rosa dos ventos um ponto cardeal

que não existe viajar por aí às escuras mesmo depois de encandeares a vista numa lâmpada incandescente com as mãos à frente a tactear o vazio de que afinal nunca saíste e ler as todas as páginas do livro que te entediou nas primeiras linhas para depois perceberes que a melhor parte era o prefácio. aqui jaz, assassinada,

a realidade.

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TERRENO ANIMAL…AS EMOÇÕES O quarto álbum de originais “Land Animal” dos Bent Knee marca a sua estreia na InsideOut Music / Sony e também um piscar de olho a um maior balanço entre luz e escuridão nas suas composições. Jessica Kion, baixista e responsável também por algumas vocalizações, abriunos a porta e mostrou-nos os recantos desta casa, adornada de emoções e em constante evolução tal como a sociedade em que vivemos e a tecnologia que nos rodeia. Entrevista por: Emanuel

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Roriz


Em primeiro lugar deixa-me dizer que já faz muito tempo desde que não ouvia algo sobre o qual pudesse dizer: isto é completamente diferente de tudo o que tenho vindo a ouvir. Parabéns por isso! Quando começaram a compor para Bent Knee, era vossa intenção criar algo novo ou isto é apenas o resultado de deixarem fluir as vossas inspirações? Obrigado Emanuel! Quando nós criamos em Bent Knee, eu penso que queremos ao mesmo tempo fazer algo novo e vamos também buscar muito àquilo que nos inspira noutros artistas. Penso que a maior parte de nós, se não mesmo todos, somos excitados pela música que mexe com as nossas expectativas e limitações e, portanto, acabamos também por criar dessa forma. Para o processo de escrita de “Land Animal”, todos nós fomos inspirados pelo nosso mentor Nik Baertsch e a sua abordagem minimalista ao ritmo.

Fomos também inspirados pelo maximalismo de “To Pimp a Butterfly” de Kendrick Lamar. Penso que após quatro álbuns, estamos a melhorar o processo de escrever em conjunto.

começou com o violino quando era muito novo, tendo sido encorajado pela sua mãe que é professora de música. Ele apercebeu-se que estava pouco interessado em fazer parte de uma orquestra, mas muito mais interessado em encontrar Bent Knee consiste em diferentes novas e excitantes formas de elementos musicais, desde o utilizar o seu violino. Andou por rock até à sensualidade do pop. vários grupos de rock, refinando o Em todas estas áreas é possível seu equipamento e o seu timbre, verificar o quão talentosos vocês até chegar aos Bent Knee. O são! Quão diversificada é a vossa Vince [produtor] cresceu com formação musical? o seu pai enquanto este tocava A forma como nós abordamos cada órgão e pegou na guitarra na sua música consiste em determinar, adolescência, atraído pelo universo usualmente por instinto, que da música rock progressiva e pelo espécie de sentimento ela deveria shredding nas guitarras. O pai do ter, e tentamos conectar a forma Gavin é baterista e iniciou-o no como a música se faz sentir com o instrumento a partir do momento significado/conteúdo da letra. em que ele se conseguiu segurar Cada um de nós é proveniente sozinho em cima do banco da de contextos musicais bastante bateria. Ele apaixonou-se por Kiss, variados. A Courtney [voz e teclas] Rush e Peter Gabriel quando ainda começou com o piano quando era era muito novo. O Ben [guitarra] muito nova, tendo sido treinada também começou pelo piano, mas de forma clássica e tendo-se encontrou um grande carinho pela interessado pela música rock na guitarra por volta dos 14 anos, sua adolescência. O Chris também tendo também sido fortemente

nte a nossa “Quando atuamos para o público sentimos realme confrontada.” música, e alguma dessa escuridão do mundo é

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influenciado pelo shredding e por teatros musicais. Eu diria que comecei por cantar e depois comecei a construir o meu caminho no baixo aos 12 anos. Envolvi-me com o jazz e funk nos tempos do ensino secundário e de seguida virei-me completamente para cantora/compositora na faculdade. E como são os gostos musicais dentro da banda? Parecem ser bastante diversificados… Sim, os nossos gostos musicais foram-se tornando próximos graças a longas viagens em que partilhávamos música na nossa carrinha. Mesmo assim, eles continuam bastante diferentes uns dos outros. As bandas que todos, ou a maior parte de nós, gostam são nomes como Radiohead, Kendrick Lamar, Nick Bartsch,

Kanye West, Sufjan Stevens, Son Lux, St. Vincent, Bjork, Nine Inch Nails, Steve Reich, Stravinsky, Nick Cave and the Bad Seeds...

músicas, arranjamos instrumentos não incluídos nas atuações ao vivo; o Vince produz e mistura o álbum, e está feito.

A forma como vocês soam em Land Animal merece ser elogiada! Em que medida Vince Welch [produtor] ajudou a criar a vossa identidade musical? Eu diria que o Vince desempenha um papel importantíssimo na banda. Ele está sempre a pensar numa perspetiva alargada, e acho que ele é o único membro que tem essa perfeita noção enquanto nós estamos a compor. O nosso processo de criação tem seguido estes passos: nós escrevemos o material novo; arranjamos e refinamos esse material; tocamos o material em frente de algumas audiências; refinamos ainda mais (caso seja necessário); gravamos as

Land Animal é o quarto álbum de Bent Knee. No entanto, parece que estão naquele momento na vossa carreira em que estão a caminho de uma maior exposição a nível mundial. Também percepcionam as coisas desta maneira? Conta-nos acerca do vosso percurso ao longo dos últimos anos até alcançarem este novo acordo com a InsideOut Music/Sony. Desde os nossos primeiros dias que me lembro das pessoas nas audiências dizerem que achavam que nós estávamos prestes a “explodir”. É difícil acreditar que será verdade após ouvir isso tantas vezes e não se tornar realidade,

nossas vidas, mais “…quanto mais a tecnologia se torna parte das a nos divertirmos.” tempo iremos ter para a nossa criatividade e par

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mas, simultaneamente, temos trabalhado arduamente ao longo de tanto tempo, que cada vez que oiço “vocês estão prestes a explodir” fico a pensar que essa pessoa tem um pouco mais de razão. Honestamente penso que nunca haverá um momento em que nos iremos tornar grandes, mas sim um lento arrastar para cada vez mais vidas de pessoas.

“These Hands”, onde abordamos acreditam que nos vossos os problemas raciais que se são concertos é possível influenciar bastante relevantes nos EUA. a audiência dessa mesma forma? No geral, penso que estamos Conhecem alguma história bastante optimistas relativamente verdadeira que comprove que algo à forma como a tecnologia similar já tenha acontecido? contribui para a melhoria da Eu tenho um episódio um pouco Humanidade, mas já nos passou estranho que envolve isso. Temos pelas nossas mentes que isso pode um grupo de amigos que fomos não ser o que nos espera. Eu acho conhecendo devido a vários que quanto mais a tecnologia se concertos que demos em Boston. torna parte das nossas vidas, mais Uns anos atrás, um dos nossos Quais são os vossos planos para tempo iremos ter para a nossa amigos tinha de ser convencido a o futuro próximo em termos de criatividade e para nos divertirmos. vir aos nossos concertos porque apresentações em concerto? Para além disso, grande parte dos os temas abordados poder-sePodemos esperar uma visita a trabalhos irão desaparecer ou irão iam tornar tão obscuros que isso Portugal? tornar-se irreconhecíveis, portanto, o iria incomodar imenso. Mas Não está nada confirmado, mas não iremos ter nada melhor para quando o convenceram finalmente tenho ouvido murmurinhos sobre fazer. Na realidade, provavelmente, a aparecer ele acabou por se uma tour na Europa durante o vai ser algo entre uma distopia de divertir bastante e penso que terá próximo ano e eu adoraria que ficção cientifica como a retratada sido por causa desse sentido de Portugal estivesse incluído! No na maior parte dos episódios de comunidade. Quando actuamos entanto, “esperar” é uma palavra “Black Mirror” e no futuro de Ray para o público sentimos realmente muito forte. Também estamos Kurzweil em que tudo vai ficar bem a nossa música, e alguma dessa prestes a partir numa tour de seis com Inteligência Artifical. Humanos escuridão do mundo é confrontada. semanas nos EUA, dando uma vivem para sempre e assumirão a É como se estivéssemos todos a grande volta e indo a um grande forma que eles quiserem. enfrenta-la juntos e a derrota-la. É número de estados. uma sensação incrível quando isso Existem outras questões, sobre acontece. O tema de Land Animal fala sobre as quais tenham escrito em Land Ao longo dos últimos álbuns nós o estado atual das sociedades e Animal, que gostarias de destacar apercebemo-nos que a escuridão de várias questões do quotidiano. neste momento? presente nas nossas músicas não Na minha opinião, chegamos a um “Insides In”, em particular, é é a única forma de alcançarmos as ponto de clara incompatibilidade uma música com bastante pessoas. Penso que encontrámos entre a nossa natureza orgânica e significado para mim. Mistura um equilíbrio entre a escuridão e a o nível de progresso tecnológico algumas experiências que eu luz, entre a luta e a vitória, e espero ao qual estamos expostos nos dias tive recentemente na minha que continuemos a encontrar de hoje. Refiro-me a todo o tipo vida, e, algo que eu ainda não formas de levar as pessoas a de novos dispositivos, aplicações mencionei em outras entrevistas, experienciar emoções reais. de telemóvel que monitorizam é que um dos temas é o cancro. “tudo” o que nós fazemos, o É realmente uma força incrível, facebook.com excesso de informação (a qual inacreditavelmente destrutiva, e youtube.com nem sempre é fiável), e tudo tende por todo o encanto daquela música a ser processado cada vez mais existe também bastante raiva e rápido a cada dia que passa. desespero, que surge perto do fim Acham que estamos para além da peça. O cancro atinge tantas do ponto de equilíbrio? Que vidas e é realmente um flagelo mensagem gostariam de passar nos dias de hoje. Espero que as neste contexto? pessoas que oiçam esta música Tocamos em algumas das grandes consigam sentir isso e que saibam questões que não abordamos no que estão longe de estar sozinhas. passado, como em “The Well”, que retrata um mundo distópico onde o Vocês acreditam que a música género ganhou outra forma, muito tem o poder para unir pessoas. mais fluído e menos importante De facto, isto é realmente algo de rotular, e onde as mudanças que eu me apercebi ao ouvir as climáticas são um problema para vossas músicas! Uma espécie de as próximas gerações, uma questão boas vibrações que apelam a um a não ser abordada. Ou em senso de comunidade. Também

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“Condenados à morte”

Eis algo que o nome desta editora pretende lembrar a quem se interessa pela sua atividade. Entrevista: Cristina Sá

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Olá, Phil. É um prazer entrevistar o responsável pela poderosa Debemur Morti \m/ Phil – Olá Cristina! Tudo bem? Também é um prazer para mim responder às perguntas. Obrigado pela oportunidade de partilhar algumas ideias com os vossos leitores. Como começou esta aventura? Phil – Partiu da minha própria experiência com editoras underground e do sentimento de que faltava algo. A falta de seriedade e o amadorismo presentes em todo o lado atualmente são totalmente inaceitáveis para mim. Underground não é sinónimo de mediocridade. O que me levou a concretizar a minha ideia inicial foi a vontade de criar uma estrutura que defendesse o Black Metal enquanto abordagem Artística. Há quanto tempo já estão neste ramo? Phil – 14 anos! O tempo voa. A nossa editora surgiu em 2003. Mas que jornada! Quem te tem acompanhado neste percurso? Phil – Comecei mais ou menos sozinho. Alguns anos mais tarde, junteime à editora alemã Blasphemous Underground Productions, durante alguns anos também. Tínhamos o mesmo mail para as encomendas, mas as nossas atividades editoriais mantinham-se separadas. Quando esta colaboração acabou, devido à minha principal atividade profissional, enviei todo o meu stock para a Finlândia, onde o meu amigo da Ahdistuksen Aihio Productions passou a ocupar-se das encomendas durante uns tempos. Quando deixou de poder fazê-lo, reenviou tudo para mim, em França, e, durante alguns meses, tive de me ocupar, em simultâneo, do meu emprego e das encomendas da editora. As minhas noites eram bem curtas, garantote. Em 2009, contratei o Cédric, para tratar das atividades de

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promoção da responsabilidade da editora. No início, era só um parttime, mas acabou por se converter num verdadeiro emprego para ele. E, em 2013, contratámos a Gersende. Ela ocupa-se de tudo o que diz respeito à embalagem e ao envio das encomendas e também da contabilidade. Eu mantenho o meu emprego principal, para pagar as minhas contas. Não ganho nada com a editora, a não ser o prazer de promover bandas em que acredito. Qual é o logo da editora? O logo original foi criado pelo Haemoth (da banda do mesmo nome). Era assim:

Alguns anos mais tarde, quis mudar e um artista holandês fez-me o que temos agora.

Quando leio o nome “Debemu”, penso logo em Black Metal. É mesmo assim? Ou não concordas comigo? [Esta ideia vem-me do facto de já ter entrevistado bastantes bandas vossas – Ab Imo Pectore, Archgoat, Au Champ Des Morts, Behexen, In The Woods, Infestus, October Falls, Porta Nigra e Wallachia – e de quase todas elas criarem Black Metal.] Phil – Sim. Concordo contigo. O nome Debemur Morti designa uma marca de qualidade, no que diz respeito ao Black Metal. Este género esteve no centro da nossa atividade durante muitos

anos. Mas, um dia, resolvemos abrir o nosso catálogo a outros géneros. No entanto, o Black Metal continua a ser um dos focos da nossa atividade. A propósito: Debemur Morti é uma expressão latina? O que significa? Phil – Sim, é mesmo Latim. Tirei-a de um texto de Horácio (Ars Poetica, 63). A frase completa é: “Debemur morti nos nostraque.” Significa “Estamos condenados a desparecer, nós e tudo o que nos pertence”. Portanto, “Debemur Morti” significa “Condenados a morrer”. Qual foi a vossa primeira banda? E a última até agora? Phil – O meu primeiro lançamento foi uma versão em vinil de um álbum de Haemoth. O front man é meu amigo e, portanto, pareceume normal oferecer-me para fazer esse lançamento. O último? Bem, o último anúncio que fizemos refere-se a Aoratos. Trata-se de um projeto de Naas Alcameth, o líder de Nightbringer e Akhlys. Espero que não seja a nossa última banda. Hehe! O que mudou na interação com as bandas ao longo dos anos Phil – Para ser franco, não houve grandes mudanças. Tentei sempre manter uma boa relação com as bandas. É claro que isso nem sempre acontece. Somos todos humanos e é impossível darmonos bem com toda a gente. Mas, na maior parte dos casos, procuro manter contacto regular com as bandas e falar de tudo com os seus elementos, não apenas de música. Dirijo esta editora por paixão e devoção, logo, se a relação com as bandas não for boa, não vale a pena continuar. De um modo geral, que características deve ter uma banda para suscitar o interesse da Debemur? Phil – A sua Arte tem de ser autêntica, profunda e pura – por outras palavras, Arte “Verdadeira”


“[…] Não ganho nada com a editora, a não ser o prazer de promover bandas em que acredito.”

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(o que significa que não é artificial) – mas também precisa de ter uma dimensão espiritual, O objetivo é oferecer ao ouvinte uma obra transcendental. Uma banda que não consiga instilar na sua música uma atmosfera profundamente mística tem muito poucas possibilidades de vir a interessar à Debemur. O misticismo pode assumir muitas formas: daí resulta o ecletismo do naipe de bandas com quem trabalho. O que fazem para promover as bandas que assinaram contrato coma Debemur? Phil – Essa perguntas é para o Cédric, já que ele é que trata dessa parte da nossa atividade. Cédric – Quando o orçamento permite fazê-lo, pomos anúncios em algumas revistas europeias, para dar mais visibilidade às nossas bandas e aos álbuns que lançamos. Atualmente, propomos sempre streamings (primeiro, extratos, depois os álbuns completos) e temos uma boa dezena de parceiros na internet. O Facebook também é um fantástico instrumento de promoção, que nos permite chegar a uma imensidade de pessoas. No entanto, é difícil chamar a atenção para um álbum

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no fluxo constante de lançamentos mensais. Digamos que é uma missão quase impossível. Organizam eventos paralelos (como, por exemplo, minifestivais, compilações das “bandas da casa”, exposições de artistas gráficos que trabalham habitualmente com as vossas bandas)? Phil – Há alguns anos, fizemos uma compilação intitulada “Servants Of Chaos”. Oferecemo-la e saiu com várias revistas. Gostava de organizar um festival com bandas relacionadas com a DMP, mas, até agora, nenhuma das nossas tentativas resultou. Se chegar a concretizar essa ideia, gostava mesmo muito de expor o trabalho dos artistas gráficos que trabalham connosco. Um dos meus sonhos é também ter vídeos exclusivos com música dos nossos artistas para mostrar durante esse evento! E como vão as relações entre a Debemur e a imprensa? Para além da pequena Versus, que outras revistas especializadas em música extrema estão atentas ao trabalho da vossa editora? Phil – Parece-me que essa pergunta também é para o Cédric, mas, mesmo assim, gostaria de

dar a minha opinião. Infelizmente, a imprensa underground sofre do mesmo mal que a mainstream: se queres conquistar a sua atenção, tens de ter dinheiro. Sem isso, é difícil tal acontecer. É por isso que muitos dos seus representantes apresentam sempre o mesmo conteúdo, as mesmas bandas de capa, etc. Vê que editoras publicam anúncios nas revistas e ficas logo a perceber que bandas vão aparecer nas suas páginas. É triste, mas é verdade. Felizmente, a imprensa online goza de maior independência em relação a este circo. Cédric – O Phil resumiu perfeitamente a situação. Até há grandes revistas, que recusam tratar de um álbum, se não fizermos publicidade nas suas páginas. Felizmente, nem todos funcionam assim e, portanto, geralmente, as nossas relações com a imprensa são boas. Por outro lado, tenho consciência do facto de que essas revistas também têm necessidade de dinheiro para sobreviver e de que a publicidade é um “mal” necessário para elas. Por conseguinte, sempre que podemos, tentamos estar presentes a esse nível. Trata-se de encontrar um equilíbrio adequado, para que se crie uma relação de confiança.


Têm alguns planos especiais para 2017? O ano está a avançar muito rapidamente e o primeiro semestre já acabou. Há algum sonho da vossa editora que ainda não tenham conseguido realizar? Phil – Há muitas coisas a acontecer e teremos muito prazer em partilhá-las convosco, em breve. Estejam atentos ao nosso sítio na internet e à nossa página no Facebook. Também vamos anunciar a nossa nova colaboração através da Sundust Records, a editora que criei com o Vindsval (Blut Aus Nord): é uma banda francesa de Rock/Post Punk, que é a melhor banda que eu descobri este ano! Já alguma vez te dedicaste à música? Phil – Sim! Costumava tocar baixo em Satanic Blood (lançámos uma demo) e depois tive o meu próprio projeto a solo: Vulva Infernum,

que lançou uma demo e um split de 7”. Mas depois a falta de tempo impediu-me de continuar a tocar música. Nestes últimos tempos, tenho tentado voltar a essas atividades, mas num género completamente diferente. O tempo o dirá. Que mensagem queres deixar aos nossos leitores para fechar esta entrevista? Phil – Obrigado por lerem a entrevista! Termino com algo que incluí no texto que escrevi para comemorar o nosso centésimo lançamento: “Ritualizem”! Gostava de aproveitar esta oportunidade para sublinhar a importância de fazerem das vossas sessões de audição de música um verdadeiro ritual. Hoje em dia, estamos submersos numa quantidade infindável de álbuns, filmes, livros, informação… Cada

vez que compram um novo álbum, lançam mais umas dúzias deles ao mesmo tempo. Aprendam a ser seletivos. Gastem tempo com um álbum. Embrenhem-se nele, Profundamente. Arranhem a superfície, rendam-se à sua magia. Uma verdadeira obra de Arte, requer a vossa atenção, o vosso tempo. Têm de se fundir com ele. Aceitem o seu poder. Há mais de 10 anos que consigo apresentar aos fãs obras de Arte Total, que vos permitem encher a vossa vida com rituais adequados. Trabalhos que transformam a Arte. Trabalhos que transcendem a vossa existência. Tem sido este o meu principal objetivo desde o primeiro dia e continuará a ser por muitos mais anos. metal-archives.com facebook.com

“[…] um dia, resolvemos abrir o nosso catálogo a outros géneros. No entanto, o Black Metal continua a ser um dos focos da nossa atividade.[…]”

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Os DIAMOND

HEAD foram, ao lado de bandas

como Judas Priest ou Iron Maiden, criadores do que se acabou por tornar a NWOBHM, porém, a banda nunca atingiu mais do que o reconhecimento dos seus pares até que surgiram os Metallica, cuja devoção aos Diamond Head fez com que um maior interesse se gerasse em torno dos britânicos, gerando assim uma segunda vida a este diamante. Numa altura em que a banda celebra o primeiro ano da sua quarta década, a banda vê o seu catálogo ser relançado. Este foi o mote para a conversa com o guitarrista Brian Tatler. Entrevista: Nuno Lopes

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Passaram já 41 amos desde que os Diamond Head se formaram, alguma vez previste que a banda estaria cá passado todo este tempo? Quando és jovem começas por tocar, tens sonhos, aspirações e objectivos, existe uma inocência juvenil que te leva a escrever a primeira canção, ao teu primeiro concerto, à tua primeira sessão em estúdio. Existe sempre a esperança, mas quando começámos existiam só os sonhos. Quando tens 15 anos e olhas o futuro, 41 anos não é relevante, é uma vida! (risos) Vocês fizeram parte da NWOBHM, o que te recordas desses tempos e porque achas que, na época, tantos músicos se interessaram por este género? Acho que isso teve muito a ver com a atitude DIY que veio do Punk Rock. As estrelas de Rock pareciam viver a anos-luz de distância, quase intocáveis e para alguns jovens menos impressionáveis, o Punk mostrou que não tinhas de ser um génio da guitarra ou saber o que fazer atrás de uma bateria, a única coisa que queríamos era fazer barulho e divertir-nos com os amigos. Algumas bandas foram ficando mais sérias e profissionais e tudo explodiu! Apesar de serem uma banda dessa fase, vocês sempre se mostraram diferentes de bandas como Iron Maiden ou Judas Priest, na realidade, vocês sempre foram mais uma mistura de Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple. Concordas com esta frase e qual era a inspiração nos Diamond Head? Acertaste em cheio logo desde o inicio! (risos!) Os Black Sabbath, Zeppelin e Deep Purple foram tão importantes para nós, assim como os Rush, Free ou Priest, todos eles tem o seu lugar no que fizemos no passado. Apesar de nunca terem sido uma banda que vendesse milhões a vossa música chegou ao underground de forma tão forte que ajudaram a criar um género. Alguma vez pensaram na vossa importância para os outros e para o vosso lugar no universo musical? É com muita humildade e orgulho que vejo canções que escrevemos há 40 anos ajudarem a espalhar a imaginação de músicos em todo o Mundo e que isso leve a música Rock a outros níveis, mais rápidos e sem fronteiras e com uma energia que, por vezes, te tira o fôlego. Canterbury foi o vosso disco mais controverso, sem que para isso existisse algum motivo de concreto, mas sim devido à vossa abordagem para esse disco. Essas reacções surpreenderam-vos e qual o motivo que vos levou a fazer algo tão diferente? Tudo o que quisemos fazer foi evoluir como músicos e como escritores de canções de forma a atingirmos algo mágico. Nunca nos sentimos restringidos pelo género e estávamos dispostos a tentar tudo. Se olharmos em retrospectiva, que é uma coisa

maravilhosa, talvez devêssemos ter mantido um pouco mais as nossas raízes e talvez as coisas funcionassem de outra forma, mas nunca iremos saber, mas sinto-me orgulhoso por esse disco e os fans continuam a pedir por músicas desse disco e, ainda hoje tocamos To the Devil His Due e a Knight of thw Swords, de forma ocasional. Ao longo dos anos foram várias vezes que se separaram mas nunca pararam de fazer música e a banda acabou sempre por regressar, mesmo com mudanças de formação. Sentes que, de certa forma, esses eventos acabaram por manter o nome da banda activo? Todos os que estiveram nos Diamond Head ajudaram a que este coração continuasse a bater e a permitir que pudéssemos continuar a fazer o que adoramos. Óleo fresco ajuda sempre a máquina e dá novas ideias! Ah, e os Metallica também ajudaram a manter o nome Diamond Head bem vivo! (risos) Falavas dos Metallica e eles são, talvez, a banda que maior homenagem presta aos Diamond Head. Acham que o facto de esse gosto se ter tornado público, principalmente com a versão de Am I Evil?, por exemplo, fez com que os Diamond Head chegasse a um outro público? Acaba por ser uma faca de dois gumes, sabes! (risos!) Estou muito grato pelos Metallica falarem em nós tantas vezes e manterem o nosso nome visível mas, durante um longo período as pessoas pensaram que a Am I Evil era dos Metallica porque, no passado, existiu um tempo em que a nossa actividade era mínima, ou nenhuma, que acabou por ser difícil as pessoas acreditarem em algo mais! (risos) Mas, nos últimos 10/12 anos temos andado em tours constantes e temos tocado para muita gente e isso tem ajudado a manter o nome Diamond Head vivo. Neste momento a vossa discografia está a ser novamente lançada, porque agora e quais são as grandes diferenças para as edições originais? Assinámos um acordo com a Dissonance Records para o registo homónimo. Como temos trabalhado com eles pareceu-nos óbvio que eles queriam fazer algo mais com os Diamond Head e com o catálogo da banda. Até ao momento lançaram o All Will Be Revealed (2005), What's in Your Head (2007) e estão neste momento a lançar o Death & Progress e o Evil Live, de 1993 e 1994, respectivamente. Os discos saíram em CD e vinil. Death in Progress e o Evil Live foram lançados com um ano de diferença, esta foi uma forma de mostrar como a banda era no inicio dos anos 90 e para nos dar uma amostra do que são os músicos da banda quer em estúdio, quer ao vivo? O que muda na banda entre o estúdio e a sala de concerto? O Deth in Progress foi escrito entre 1990 e 1992 e

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foi lançado de forma a coincidir com o concerto dos Metallica no Milton Keynes Bowl, no dia 5 Junho de 1993, que nós abrimos para eles. Esse concerto foi gravado com o propósito de fazer um disco ao vivo que sairia no ano seguinte. O segundo disco de Evil Live contém cinco versões e três originais que não entraram na seleção do Death and Progress. As diferenças são brutais. Enquanto no concerto se trata de dar o melhor de ti e de puxar pelo público, no estúdio já se trata de fazer a melhor gravação possível e passar muito tempo de volta das afinações e dos tempos e isso pode levar a muitas tentativas até ficar bom! (risos) Nos últimos anos a banda tem estado mais activa, continuam satisfeitos com a atenção que a banda continua a receber? Desde que lançámos o Diamond Head em 2016 que a atenção que temos recebido tem sido muito, assim como as visualizações do nosso perfil e nós não poderíamos estar mais contentes com o que se tem passado à nossa volta. Existe um burburinho há nossa volta, trabalhamos muito e rimos ainda mais (risos) o que, verdade seja dita, quando passas dez horas num autocarro a ver as milhas passar, é algo que faz falta. Gostava que os Diamond Head crescessem mais e mais, mas eu sempre quis isso! (risos) Muita coisa mudou na música nas últimas décadas e isso deve ser algo confuso de entender para uma banda como os Diamond Head. Como é que olham para para a forma como se consome e ouve música? E como olham para todas estas mudanças na industria? A industria mudou por completo! As pessoas utilizam o stream e retiram a música para que possam ouvir nos phones e nos computadores e utilizam a música como fundo para as coisas que precisam de fazer, como se fosse uma pastilha elástica para a mente! (risos) As pessoas já não sentem a necessidade de

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juntar dinheiro para comprar o novo disco porque sabem que o mesmo vai estar no Youtube no dia do lançamento, por isso não há compromisso, por isso se a primeira música não for suficientemente boa, ou se forem chamados para jantar, as hipóteses de se esquecerem e passar para o próximo disco são muito altas. Obviamente que continuam a existir aqueles que querem absorver tudo, mas são uma minoria. Isto é algo que não acontece só na música, está a acontecer em tudo na vida e temos de saber lidar com isso, por isso é que as actuações ao vivo são tão importantes. Depois de quatro décadas o que ainda falta aos Diamond Head conquistar? Existe algo que gostassem de fazer ou algo que fariam de outra forma? Existem muitos lugares onde ainda não fomos, recebemos mensagens todos os dias de todo o mundo a pedir para lá irmos. É muito lisonjeador saber que existem pessoas com interesse nos Diamond nos quatro cantos do mundo. Os Diamond Head ainda não tocaram em países como Australia, Russia, China, América do Sul e a lista continua. Começámos agora a escrever o material para o novo disco, com o qual estou muito satisfeito, por isso, tudo está a correr bem e de forma positiva. Qual seria o teu conselho para as novas bandas? Queres deixar uma mensagem para Portugal? O conselho que dou é para escreverem canções! As canções é o que irá ficar. Continuamos a tocar malhas com 35 anos de existência e continuam a soar bem. Vão conseguir ter uma carreira na música se derem tudo. Já não vamos aí tocar há muitos anos e é um embaraço não tocarmos aí mais vezes, mas esperamos vê-los a todos no futuro. facebook.com youtube.com


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Grêlos de Hortelã Ilustração: Ana Ramalhadeiro

Que se foda... Sim...

que se foda todos os humanos e historiadores de ética

correctamente politica... Que se foda as crianças e os velhos e viva aos filhos da puta que governam o nosso sistema...

Que se foda as

religiões e os deuses sádicos que vivem no meio da nossa, tua ou deles, não sei, crença!

Que se foda

a sabedoria dos sábios

académicos e da sabedoria da tasca podre pelo tempo. Que se foda Cristo... E viva à merda de uma europa unida! Pró caralho a mais a nossa filosofia... Estou farto de ter medo do medo das pessoas! Ah... Victor Alves (o deprimido)

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(su)POSIÇÕES

HARD N’ HEAVY

Metallica - Uma breve análise Texto: Gabriel Sousa

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Às vezes diz-se muita coisa sem se pensar realmente se é verdade ou não, deixamo-nos levar por opiniões anteriores e nem sequer reflectimos sobre isso. Ponto prévio, a minha análise tem o enfoque no mainstream rock e é apenas a minha opinião, não tenciono fazer ciência ou verdade absoluta duma opinião. A discografia dos Metallica é um claro exemplo disso, os Metallica foram por muitos acusados de se terem vendido, de terem deixado de ser verdadeiros e só fazerem música “comercial”, de terem abandonado as suas origens que se encontram no Thrash Metal, bem esta última é mesmo verdade mas as outras afirmações a mim não me soam assim tão lineares e correctas. Ponto de ordem, para mim os álbuns da banda que estão mais de acordo com o que se fazia na sua respectiva época são o “…& Justice For All” e o “St. Anger” respectivamente o meu preferido e o álbum deles que eu menos gosto.

Deixo aqui uma pequena retrospetiva sobre a discografia oficial de originais de Metallica e a sua respetiva contextualização histórico/musical: O primeiro álbum de Metallica lançado é 1983 é “Kill ‘Em All”, este álbum é marcado pela juventude da banda, pela sua vontade de conquistar o seu lugar na história da música. O som é furioso, veloz, puro Thrash Metal da Bay Area, com o peso do Heavy Metal influenciado por nomes da NWOBHM e nota-se também, claramente a influência da fúria do Punk. Na época do lançamento deste álbum a cena musical do Hard Rock/Heavy Metal estava ainda a dar os primeiros passos

nos anos 80, em especial nos Estados Unidos da América, uma vez que na Europa já havia o sucesso de nomes como Iron Maiden e Judas Priest. Quando em 1984 é lançado o segundo álbum de Metallica “Ride The Lightning” nota-se uma enorme diferença musical, o álbum continua a ser Thrash, mas o som já é mais polido e técnico. Já se encontram nele melodias menos intensas, como “Fade To Black” mas músicas como “Creeping Death” ou a própria “Ride The Lightning” mostram que a banda ainda tem muita fúria e peso para oferecer aos seus fãs. A aceitação do Heavy Metal/Hard Rock nesta época é crescente, juntando-se ao sucesso de Judas Priest e Iron Maiden nomes como Twisted Sister, Scorpions, Motley Crue, Quiet Riot e Ratt, o Heavy Metal/Hard Rock dispara nos Estados Unidos da América. O terceiro álbum de Metallica é “Master Of Puppets” um álbum pesado mas com muita melodia, a banda demonstra neste álbum que à medida que perde peso e intensidade no seu som ganha classe, técnica e fãs. Este álbum foi lançado em 1986 e contém pedradas como “Battery” e “Master Of Puppets”. Foi com este álbum que os Metallica tocaram pela primeira vez no mainstream. Na época do seu lançamento bandas como Bon Jovi ou Europe estavam a levar pela primeira vez o Hard Rock (também chamado de Heavy Metal/Hair Metal/ Glam Metal nos Estados Unidos da América) a uma exposição brutal ao nível das rádios e da MTV. O quarto álbum de Metallica “…& Justice For All” é lançado em 1988, é o último sopro de Thrash na discografia de Metallica, foi lançado no período de maior boom do Hard Rock/Heavy Metal e, é exactamente por isso que eu digo que este é um dos álbuns mais de acordo com o que era mainstream na época, mais comercial. Nesta época ao sucesso de bandas anteriores juntam-se nomes como Guns N’ Roses, Queensryche, Fates Warning, é também importante notar que o som dos Iron Maiden também se alterou e ganhou alguns toques progressivos que influenciaram o álbum dos Metallica. “…& Justice For All” é uma inflexão no percurso da banda, é mais

intenso que “Master Of Puppets” mas o que ganhou em intensidade e qualidade de arranjos, perdeu em peso e nisso manteve a trajectória da banda na “suavização” do som, este é o álbum mais técnico, com arranjos mais complexos que a banda algum dia fez mas apesar disso foi lançado numa época em que esses aspectos eram valorizados e por isso eu acho que o álbum está de acordo com a sua época de lançamento. Ao quinto álbum, “Metallica” (popularmente conhecido como Black Album), lançado em 1991 surge a polémica, os fãs mais true, mais Thrash abominam a trajectória que a banda toma, ao abandonar totalmente o Thrash, o mainstream delira e Metallica ganha 20 fãs por cada 1 que perde. Metallica atinge o topo do seu sucesso. Mas será que este álbum foi realmente uma concessão ao mainstream e uma tentativa de ser comercial? Ou será que foi o trabalho que a banda queria fazer e mesmo assim conseguiu um sucesso brutal? Em primeiro lugar a banda deixou de vez o Thrash e abraçou o Heavy Metal mais tradicional, porque não dizer, mais radiofónico, mas existe aqui um dado que muitas vezes é esquecido, em 1991 quando o álbum é lançado o Heavy Metal/Hard Rock estava em declínio, de todas as bandas que tinham feito sucesso anteriormente sobravam os Guns N’ Roses e os Metallica, o grunge tinha tomado as rádios de assalto e eram as bandas deste estilo que começavam a ser mainstream nesta época. Será ser comercial uma banda lançar um álbum numa fase em que o estilo do álbum está em declínio? Em “Metallica” é óbvio que a banda suavizou o som, mas acredito mais que tenha sido vontade própria e não qualquer tentativa de vender. Este álbum possui lindas baladas como “Nothing Else Matters” ou “The Unforgiven” mas também possui pedradas Heavy Metal como “Of Wolf & Man” e “Sad But True”. Foi este álbum que consagrou definitivamente os Metallica no mainstream musical e que os levou aos estádios de todo o mundo como banda principal. Depois de uma longa pausa, em 1996/1997 são lançados 2 álbuns

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que eram para ser apenas 1. Por isso a análise que faço deles é em conjunto. “Load” e “Reload” são abominados pela maioria dos fãs da banda, apesar de serem Heavy Metal, são os álbuns mais leves da carreira da banda. Eles apresentam influências Country, Pop e muito mais vincadamente de Hard Rock, Na época que foi lançado o mainstream do Rock ainda estava a ser dominado pelas bandas grunge (mas já em decadência) e por uma onda britpop com o seu Pop/Rock meloso que se destacava, em especial na Europa. É claro que o som dos Metallica se suavizou, é claro que o visual deles também se transformou mas tudo isto é motivo para tantas críticas? Não terão os álbuns boas músicas? Boas melodias? Bons riffs? Álbuns com músicas como “Devils Dance”, “The Memory Remains”, “Fuel”, “Until It Sleeps”, “Outlaw Torn”, “King Nothing”, “Unforgiven II” e até mesmo “Hero Of The Day” não podem ser considerados assim tão maus, estas músicas têm muita qualidade. E outra coisa, é assim tão estranho uma banda que tem elementos fãs de Lynyrd Skynyrd e de Deep Purple lançar álbuns com influências Southern Rock e Hard Rock? Apesar das críticas de comercialismo, para mim estes são os álbuns da carreira da banda que estão mais fora do mainstream Rock da sua época. Nova longa paragem e no novo século sai um novo álbum em 2003, “St. Anger”, este álbum volta à “violência” sonora de “Kill ‘Em All” mas perde totalmente a sua aposta ao retirar a

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técnica das faixas, ao retirar os solos, ao apostar num som totalmente básico e sem chama, só peso e poucos arranjos. Este álbum é também um dos que eu acho mais próximo do mainstream Rock da sua época, quando foi lançado eram nomes como Slipknot, Limp Biskit, Korn que eram os preferidos do Rock, o seu som básico e agressivo influenciou os Metallica que apesar de não terem a vertente “Rap” nos vocais tal como as outras bandas, a nível instrumental foram bastante influenciados por estas novas bandas. Os elementos deste álbum são também indissociáveis aos problemas internos pelos quais a banda passou. Em 2008 os Metallica lançam “Death Magnetic”, um bom álbum que conseguiu fazer sucesso, para alguns foi um regresso às origens mas acredito que não, este álbum apesar de algumas faixas mais pesadas como “All Nightmare Long” apresenta-nos o som que consagrou os Metallica no seu “Black Album”, este álbum não deixa de nos trazer uma bela balada “Unforgiven III”, a última da trilogia “Unforgiven. Nesta época (apesar do sucesso do álbum) o estilo que mais dominava o mainstream no Rock, era o Rock Alternativo com bandas como Seether, Shinedown ou Disturbed a fazer sucesso. Nova longa paragem nas gravações e só em 2016 (8 anos depois) sai o 10º álbum da banda “Hardwire... To Self Destruct”. Neste álbum os Metallica continuam na rota que apresentaram em “Death Magnetic”. O álbum é

pesado e em geral bem recebido pela maioria dos fãs, embora, na minha opinião, não tenha nenhuma música realmente marcante, nenhuma música que se possa considerar que nasceu para ser um clássico, é um álbum consistente e com qualidade acima da média na grande maioria das músicas. Nesta época o mainstream Rock não tinha um estilo único a fazer grande sucesso, o sucesso no Rock está pontuado pelo sucesso de bandas tão diferentes como Green Day, Five Finger Death Punch ou The Pretty Reckless. É impossível para uma banda grande, seja ela qual for, manter a qualidade em todos os álbuns, por um lado os elementos das bandas mudam, envelhecem, amadurecem, ganham novas experiências e novas influências e por outro lado os fãs dificilmente conseguem perceber que nem sempre a alteração do som de uma banda é uma concessão a quem quer que seja, mas apenas e só a vontade de fazer um trabalho diferente.

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Playlist Adriano Godinho

Ernesto Martins

Byzantine - The Cicada Tree Igorrr - Savage Sinusoid Nova Collective - The Further Side Bent Knee - Land Animal Nervecell - Past, Present...Torture

Edge of Sanity - Crimson Possessed - Beyond the Gates Five the Hierophant - Over Phlegethon José Cid - 10000 anos depois entre Vénus e Marte Roger Waters - Is this the life we really want

Carlos Filipe

Frederico Figueiredo

Paradise Lost - Symphony For The Lost John Carpenter - Lost Themes I & II Megadeth - Youthanasia Apocalyse Orchestra - The End Is Nigh Entrails - World Inferno Dimmu Borgir - Forces Of The Northern Night Nicole Saboun - Miman

Godflesh - Streetcleaner Sutekh Hexen - Larvae Lustmord - Paradise Disowned Skinny Puppy - Too Dark Park Gravetemple - Impassable Fears G.B.H. - Midnight Madness and Beyond

Cristina Sá

Nuno Lopes

Satyricon – Deep Caleth Upon Deep Nargaroth – Era of Threnody God Dethroned – The World Ablaze Osculum Infame – Axis of Blood Sektarism – La Mort de l’Infidèle Foscor – Les Irreals Visions

Der Weg Einer Freiheit - Finisterre Septicflesh - Codex Omega Tombs - The Grand Annihilation Ereb altor - Ulfven Rex Brown - Smoke on This

Eduardo Ramalhadeiro

Paulo Jorge

Led Zeppelin - Remasters Sully Erna - Avalon Sully Erna - Hometown Life Eluveitie - Evocation II - Pantheon Korpiklaani - Live at Masters Of Rock Bruce Dickinson - Best Of

Blazon Stone - Down In The Dark Iberia – Much Higher Than a Hope Gods Of Silence – Neverland Mike – 500 Slave Phazer - Un(Locked) Paradise Lost – Medusa

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filmes clássicos, na potência e energia brutas do heavy metal e do rock and roll. «Podemos descrever este som como “filme de terror vintage / swinging black-mass ambient”. (Prosthetic Records)

Auroch - «Mute Books» (Canadá, Blackened Death Metal) Terceiro álbum dos senhores de death metal de Vancouver, British Columbia, AUROCH. As músicas mais devastadoras da banda foram capturadas e gravadas no implacável LP «Mute Books». A sombra do caos sombrio da morte do metal revelar-se-á como a versão mais escura, mais brutal, complexa e musicalmente virulenta da banda até o momento. (Profound Lore Records) Take Over And Destroy - «Take Over And Destroy» (EUA, Black/ Sludge Metal) Desde 2008, Take Over And Destroy tem empurrado implacavelmente os limites da música pesada. Com uma amalgama de gostos ecléticos: death metal, rock clássico, doom, death rock, black metal e BOs de horror, o TOAD estabeleceuse como uma entidade verdadeiramente única, tanto sonora como estética. A obsessão coletiva dos cinco membros com o cinema resulta na incorporação dos tons mais temperamentais característico das partições de

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Light Shade - «The Essence Of Everything» (Itália, Power Metal) Light & Shade é um novo supergrupo, cujos membros já adquiriram uma grande experiência ao vivo e em estúdio, tendo em parte compartilhado o palco com bandas de renome. A vocalista Adrienne Cowan foi descrita como uma das mais talentosas e versáteis cantoras da cena. Light & Shade apresenta membros da Luca Turilli’s Rhapsody, Secret Sphere e Temperance. (Scarlet Records) Incantation - «Tribute To The Goat» (EUA, Death Metal) Reeditando a lenda de death metal dos EUA, INCANTATION, é das bandas mais requisitadas após o lançamento «Tribute to the Goat». Este trabalho foi gravado “ao vivo” num estúdio, num só dia e contém material revisitado, bem como uma capa NECROPHAGHIA. As últimas quatro faixas são tiradas da demonstração seminal de 1990. Certifique-se de não perder esta pérola de death metal rara. (Season of Mist) Shape Of Despair - «Alone In The Mist» (Finlândia, Doom Metal) Com o seu último álbum «Monotony Fields», SHAPE OF DESPAIR demonstrou que Doom vindo da Finlândia não só estava longe de ficar presa em um beco sem saída, mas era realmente tão bonita, dolorosa e majestosa quanto poderia conseguir. (Season of Mist)

Venom Prison - «Animus» (Inglaterra, Death Metal/ Hardcore) Tendo “mordido” pela primeira vez a jugular do subterrâneo com a sua demonstração autodidata «Defy The Tyrant» em 2015, VENOM PRISON continuou a abrir caminho no underground do Reino Unido com «The Primal Chaos». Representado como um zumbido que começou como um sussurro agora tão incessante como um enxame de polegadas de seu tímpano. VENOM PRISON está na orla de lançar o seu álbum de estreia «Animus» (Prosthetic Records) Ghost - «Popestar Ep» (Suécia, Heavy Metal/Rock) A oferta surpresa de cinco músicas apresenta o salmo principal «Square Hammer», uma nova faixa original e também contém interpretações de seleções de Echo e Bunnymen, Simian Mobile Disco, Eurythmics e Imperiet. (Spinefarm Records)


celebra ao seu próprio estilo rebelde. «Bethlehem» é um rejuvenescimento bem-vindo em todos os aspectos. O nono LP de Bethlehem é uma sinfonia de doença no sentido mais verdadeiro da palavra! (Prophecy Productions)

Be The Wolf - «Rouge» (Itália, Hard Rock) Formados em 2011 em Turim, Itália, Be The Wolf teve um objetivo: escrever e tocar música rock, simples, sem planos de mestres e sem a necessidade de se adequar a qualquer género, definição ou rótulo. Desde então, eles lançaram um monte de singles, vídeos e um EP que foi muito bem-recebido em todo o mundo. (Scarlet Records)

Cognitive - «Deformity» (EUA, Brutal Death Metal) A facão de death metal COGNITIVE é a mais recente adição à lista do constante crescimento da malevolência sonora da Unique Leader Records. A banda lançará o seu novo LP no final deste outono. Intitulada «Deformity», este é o segundo álbum dos COGNITIVE. (Unique Leader Records)

Fair Warning - «Pimp Your Past» (Alemanha, Hard Rock) Se alguém realmente precisasse de provas adicionais de que todas as suas músicas são intemporais, clássicas e independentes de tendências e modas, então, Fair Warning fornece essa prova incontestável com «Pimp Your Past». O álbum atual da banda do norte da Alemanha apresenta as versões 2016 das faixas mais importantes de seus primeiros três álbuns de estúdio «Fair Warning», «Rainmaker» e «Go!», originalmente lançados entre 1992 e 1997. Cada nota vê Fair Warning sublinhar o lema que eles têm escolhido para eles mesmos: uma boa música será sempre uma boa música. (Steamhammer)

Witchery - «In His Infernal Majesty S Service» (Suécia, Blackened Metal) Comemorando o vigésimo ano da existência do grupo, «In His Infernal Majesty S Service» mostra uma ilustre e renovada linha composta por membros originais. É evidente que WITCHERY mantém o curso estilístico e continua a sua infame tradição de combinar os melhores elementos da velha escola Thrash, Speed, Death, Black e, finalmente, Heavy Metal com precisão de composição composta para o máximo de prazeres auditivos. (Century Media)

I Prevail - «Lifelines» (EUA, Metalcore) Com quase dois anos na, o grupo percebeu plenamente qual era o seu estilo, combinando hooks fascinantes e um background poderoso. (Spinefarm Records)

Bethlehem - «Bethlehem» (Alemanha, Experimental Rock/ Metal) Os álbuns autointitulados costumam sugerir um “retorno às raízes” questionável ou uma reinvenção da banda. No entanto, para o surgimento das bestas de black metal, Bethlehem, o lançamento do álbum homónimo marca o 25º aniversário do grupo, o qual o grupo alemão

Fatal Fusion - «Total Absence» (Noruega, Progressive Rock) Prog Rockers Fatal Fusion estão prontos para lançar «Total Absence», o seu terceiro álbum de originais. De forma menos comum, a banda não utiliza apenas os instrumentos de rock padrão usados hoje pelas bandas, mas também usam instrumentos de rock “clássicos” como sintetizadores antigos, mellotron e órgãos de hammond, o que dá a Fatal Fusion um som muito distintivo. (Dark Essence Records)

Sarkom - «Anti-Cosmic Art» (Noruega, Black Metal) Os veteranos noruegueses do Black Metal SARKOM voltaram com seu quarto álbum «AntiCosmic Art». Tal como o seu antecessor, «Doomsday Elite», «Anti-Comsic Art» oferece um som brutalmente atraente e guitarrista, articulado com vocais necróticos, para produzir um conjunto de músicas que vão desde o Black Metal mais gélido até às composições mais experimentais que apresentam algumas blast beats nascidos no inferno. Os fãs podem esperar ouvir esse som único, esmagadoramente obscuro, que é a marca registrada da SARKOM, enquanto, ao mesmo

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tempo, a banda prova que não tem medo de sair da típica “Black Metal comfort zone”. (Dark Essence Records)

Shaman Elephant - «Crystals» (Noruega, Psychedelic Progressive Rock) A próspera cena do Rock and Prog em torno de Bergen, na Noruega, já viu o surgimento de bandas como Seven Impale, Tiebreaker, D’accorD e Ossicles, e a mais nova adição a esta cena crescente é Shaman Elephant. Ao longo dos últimos anos, este quarteto atraiu cada vez mais multidões na sua cidade natal e, depois de lançar o EP digital «More» em 2015, foram absorvidos pela Karisma Records. O som da banda está firmemente fundamentado nos finais dos anos 60 e início do estilo psicadélico e progressivo do Proto Hard Rock dos anos 70, mas misturado com um toque bem moderno. (Dark Essence Records) Booby Trap - «Booby Trap» (Portugal, Crossover) “Estabelecido em 1993 como um dos melhores atos underground português do seu género”, BOOBY TRAP regressou com uma atitude após duas décadas a enfrentar besteiras, esquivando balas, destilando o ódio e lutando. Das profundidades da cidade de Aveiro em Portugal, BOOBY TRAP convida todos vós a mergulhar numa viagem sónica de entretenimento, engraçada, sexy, assustadora, rápida, skull crushing,

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socialmente disfuncional e cerveja ... A loucura do Crossover. (Firecum Records) Créatures - «Le Noir Village» (França, Experimental Black Metal) CRÉATURES é um projeto musical a solo de horror metal. Formado em 2008 por Sparda (Hanternoz), a banda faz uso de vários instrumentos atípicos (Theremin, órgão da igreja, piano, trompete e violino) e mistura vários estilos musicais, incluindo Black, Symphonic, Death e Doom Metal, além de música ambiente. É um álbum de estreia. (Solstice Promotion)

Drescher - «Steinfeld» (Austria, Melodic Thrash/Folk/Heavy Metal) DRESCHER já ganhou críticas e fãs tanto com a premiada estreia de Thrash Metal “Erntezeit”. Agora, «Steinfeld» é a próxima grande coisa que sai da Áustria. “Steinfeld” significa “campo de pedras”, mas é tão pesado quanto parece? Sim, é isso! Isso é algo realmente extraordinário. Usando um novo tipo de música, um novo estilo e uma nova experiência, a música da DRESCHER fornece aos seus ouvintes um metal austríaco autêntico, tanto em linguagem como em som. (Napalm Records) Maschine - «Naturalis» (Inglaterra, Progressive Metal) Nos três anos que se seguiram ao lançamento do seu aclamado álbum de estreia «Rubidium»,

os Maschine tornaram-se reconhecidos como uma das bandas progressivas mais focadas em redor. E o segundo álbum «Naturalis», só irá consolidar ainda mais a sua reputação. O novo lançamento não foi apressado, mas cuidadosamente considerado e desenvolvido. (Insideout Music) Ravencult - «Force Of Profanation» (Grécia, Black/ Thrash Metal) Originário de Atenas, Grécia, RAVENCULT foi gerado para reviver o lado implacável do Black / Thrash Metal, trazendo um som orgânico e não polido para manifestar a sua escuridão mais mórbida. RAVENCULT é o primitivismo do metal mórbido da Grécia; Glorificando a mentalidade antiga e conjurando as forças de Black Thrash, batendo com devoções fanáticas. (Metal Blade) Sister - «Stand Up, Forward, March!» (Suécia, Punk/Metal) A banda de metal sueca influenciada pelo sleaze/punk, Sister, tem trabalhado arduamente durante os últimos dez anos ganhando a reputação de ser um dos melhores atos ao vivo. A vibração emanada pelos Sister com a sua música agressiva e o seu som bruto estão junto com coros maiores que o irão arrebatar. (Metal Blade) Drescher - «Erntezeit» (Austria, Melodic Thrash/Folk/Heavy Metal) DRESCHER já são amplamente conhecidos por criar música folclórica na sua forma mais original e honesta, utilizando letras in-your-face e verdadeiras histórias de vida, juntamente com os acordes de metal do estilo dos anos 90. Sim, funciona e de fato encaixa-se de forma tão coesa que se tornou sinónimo do som do DRESCHER. Com 3 faixas extras, este trabalho incluindo ainda o clássico de todos os tempos da Falco “Rock Me Amadeus”. (Napalm Records)


Diabulus In Musica - «Dirge For The Archons» (Espanha, Symphonic Metal) Se a paixão desenfreada pela música clássica atende ao metal moderno e cru, o resultado certamente será Diabulus In Musica. A banda espanhola é o maior ato de metal sinfónico que sua pátria tem para oferecer! Dois anos depois de «Argia», o quarto álbum «Dirge For The Archons» viaja connosco para longos mundos perdidos e emoções com o talento das melhores óperas, rugas ásperas, coros épicos, orquestrais intermezzo e puro metal. (Napalm Records) Wage War - «Blueprints» (EUA, Metalcore) Com mais de cinco anos de determinação inigualável, o ponto culminante do esforço dos cinco músicos da Flórida está pronto para ser desencadeado. Wage War marca o seu território com letras do coração e batidas que transcendem para uma comunidade que entende as provações e as tribulações de crescer muito bem. (Spinefarm Records) Sirenia - «Dim Days Of Dolor» (Noruega, Symphonic Metal) O mestre Morten Veland tem apenas uma coisa em mente para Sirenia: pura e total melancolia. Quase dois anos após «The seventh life path», o norueguês está pronto para libertar a sua mais recente e mais diversa visão obscura de metal gótico e sinfónico, que evita

a luz e permanece envolto no “Véu do inverno”: «Dim days of dolor» também marca o primeiro lançamento dos Sirenia com Emmanuelle Zoldan na voz - um cantor de ópera treinado que esteve com Sirenia como cantor de coro há mais de uma década! Nova vida para um dos atos mais importantes e mais populares do género, e também a prova de que a melancolia emparelhada com a grandeza elegante e um “punch” metálico pode significar pura felicidade para alguns ... (Napalm Records)

Attila - «Chaos» (EUA, Rapcore/ Metalcore) É a partir desses ingredientes essenciais, os «biscoitos» de metal frito do Sul como PANTERA e o «molho» do hip-hop como LIL JON, do qual ATTILA nasceu. Cada um desses géneros, aparentemente dispares, estão unidos em força agressiva; Numa autenticidade compartilhada; por uma determinação para mantê-lo real, e com grande dedicação para permanecer fiel ao jogo. Não se engane, ATTILA ainda está absolutamente louco e completamente in-your-face. «Chaos» apresentará essa loucura a uma porção muito maior das massas desavisadas. (Nuclear Blast Records)

Vader - «The Empire» (Polónia, Death Metal) O tanque mais longo e mais resiliente da frota do Death Metal da Polónia, ergueu mais uma vez bandeira em punho - pronta para invadir o mundo com a sua nova procissão triunfante. Eles recentemente dispararam o seu primeiro morteiro de advertência com o EP «Iron Times», e agora VADER está construindo o seu próprio império conquistador com o novo álbum de estúdio «The Empire». Sem dúvida, este pertence de imediato à categoria dos clássicos da VADER. O impressionante monumento que eles construíram com seu 13º álbum de estúdio irá encontrar imediatamente lugar na história do metal. (Nuclear Blast Records) Ulcerate - «Shrines Of Paralysis » (Nova Zelândia, Death Metal) Death Metal da Nova Zelândia na forma inovadora, traz-nos os ULCERATE com o seu quinto álbum completo, digno sucessor do aclamando «Vermis» de 2013. (Petting Zoo Propaganda) Ac Angry - «Appetite For Erection» (Alemanha, Rock ’N’ Roll) Existem álbuns com títulos que deixam pouca dúvida sobre a sua direção musical. O «Appetite For Erection» parece ... bem? ... você entendeu: como o puro rock & roll com uma atitude asskicking e um senso de humor irreprimível. Música rock clássica que é divertida e vai direto para os

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músculos da perna e do pescoço, com letras provocativas que estão totalmente à altura da missão inerente desse género musical. Os autonomeados embaixadores de rock de força intransigente e diversificado chamam-se AC Angry, saem de Saarbrücken e estão prontos para apresentar o seu segundo álbum. (Steamhammer) Mayhem- «De Mysteriis Dom Sathanas» (Noruega, Black Metal) Os ícones noruegueses de black metal, MAYHEM, estão a comemorar o lançamento de seu marco histórico «De Mysteriis Dom Sathanas» de 1994 com uma tournée por todo o mundo. Em conjunto com suas muitas aparições ao vivo, MAYHEM também lançará «De Mysteriis Dom Sathanas Alive». O álbum foi gravado ao vivo em Norrköping, na Suécia, no ano passado, durante o show da banda no Black Christmass Festival. (Earsplit)

Worm Ouroboros - «What Graceless Dawn» (EUA, Doom Metal) Com o seu terceiro LP, «What Graceless Dawn», os alquimistas doces e éreos obscuros WORM OUROBOROS trouxeram a existência do seu trabalho mais profundo e emocionante até o momento. Através de linhas de baixo obsessivas, movimentos de guitarra ambiente, camadas e toques, o entrelaçamento vocal sedutor entre Rath and Way e a percussão sutil e ainda de procissão de Dekker, «What Graceless Dawn» é uma visão

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sónica de tragédia e desespero, uma das mais tristes, mais incapacitantes e doloridas no mundo da música introspetiva pesada. (Unique Leader Records)

Devilment - «Ii The Mephisto Waltzes» (Inglaterra, Symphonic Gothic/ Groove Metal) Ameaça fica no ar. O som fraco do cacarejo aquático quebra o silêncio enquanto os tubarões circundam as suas presas. As sombras escurecem e amaldiçoam. Um céu vermelho de sangue se aproxima de uma paisagem derretida. O brilho dos olhos dos demónios derramou luz num caminho para a escuridão como «The Great And Secret Show» onde são abertas as portas pela segunda vez ... O DEVILMENT voltou e, desta vez, o horror é real. Dirigido pela ginástica vocal inequivocamente sombria do líder da banda CRADLE OF FILTH, Dani Filth, a banda rapidamente pegou a atenção do lendário produtor de música e agitador Monte Conner. (Napalm Records) Hevidence - «Nobody’S Fault» (Itália, Heavy Metal) Hevidence é uma ideia do guitarrista italiano Diego Reali. A própria história de Diego como músico, começou em 1996 com a sua primeira banda chamada DM. Graças também ao estilo de composição e composição de Diego, a banda lançou seis obrasprimas do Prog-Power Metal (“Random Access Zone”, “Mudança

de direção”, “Wings Of Time”, “DreamLand”, “Hidden Place”, “Misplaced”). (Frontiers Music)

Dario Mollo’s Crossbones - «Rock The Cradle» (Itália, Hard Rock) Mais conhecido pelas suas parcerias na The Cage com Tony Martin (ex-Black Sabbath) e Voodoo Hill com Glenn Hughes (Black Country Communion, Deep Purple, Califórnia Breed), o guitarrista italiano Dario Mollo começou a sua carreira em 1981 com a banda CROSSBONES. Com eles, ele lançou o seu primeiro álbum de estúdio em 1989, que foi produzido por Kit Woolven (Thin Lizzy Official, MAGNUM e OVNI, entre outros) antes de se envolver no lado da produção das coisas. (Frontiers Music) Enuff Znuff - «Clowns Lounge» (EUA, Hard Rock) Enuff Z’nuff é o exemplo vivo e respiratório do que um grupo de rock / pop deveria ser. Na verdade, a banda é a definição muito cromática dele. Com cada álbum e performance ao vivo cheio de bordas com perfeição rock / pop, não há sinais de que a banda diminua. «Clowns Lounge» é uma coleção de raridades e demonstrações iniciais que foram parcialmente reformuladas e regravadas pela banda. (Frontiers Music) Arstidir Lifsins - «Heljarkvida» (Islândia, Icelandic/German Pagan/Folk/Black Metal) O novo lançamento do EP de


pagan / folk / black-metallers islandês / alemão ARSTIDIR LIFSINS (“as estações da vida”). ARSTIDIR LIFSINS foi fundado em 2008 com a ideia de abordar a literatura e a arte dos Nórdicos Antigos de uma forma musical e liricamente sofisticada. A banda é composta de membros conhecidos e experientes de bandas como Helrunar, Kerbenok e a banda islandesa Carpe Noctem. (Van Records)

Eternal Idol - «The Unrevealed Secret» (Itália, Symphonic Power Metal) ETERNAL IDOL é uma nova banda formada no início de 2016 e que marca o início de uma nova aventura musical para o cantor de RHAPSODY OF FIRE e ANGRA Fabio Lione, juntamente com o experiente guitarrista italiano Nick Savio (ex-HOLLOW HAZE) e um line-up completado pela jovem estrela vocal Giorgia Colleluori, Camillo Colleluori (ambos também de HOLLOW HAZE) na bateria e Andrea Buratto (SECRET SPHERE, HELL IN THE CLUB) no baixo. Fabio cuidou da maioria das letras e melodias vocais, juntamente com três faixas, enquanto Nick Savio trabalhou duro na composição e arranjos. (Frontiers Music) Night Ranger - «35 Years And A Night In Chicago» (EUA, Hard Rock) Os icónicos ‘80s rockers Night Ranger vendeu mais 17 milhões de álbuns em todo o mundo e possui vários álbuns de platina e ouro em

seu nome. Na celebração de sua carreira de mais de 35 anos e em antecipação ao seu novo álbum de estúdio, este novo álbum ao vivo, com todos os seus sucessos clássicos e mais recentes, vê a banda no topo do jogo, entregando uma excelente performance a não perder! (Frontiers Music) Starkill - « Shadow Sleep» (EUA, Symphonic Melodeath Metal) «Shadow Sleep» apresenta 13 faixas de death metal melódico e majestoso, reforçadas pela trituração exagerada de Jameson emparelhada com uma das seções rítmicas mais apertadas da cena. (Prosthetic Records)

Syk - «I Optikon» (Itália, Progressive Extreme Metal) Segundo lançamento pela editora de Philip H. Anselmo, Housecore Records. Dirigido pelo assalto vocal niilista de Dalila Kayros, SYK canta os ouvidos com sua mistura pesada, sombria, complexa e carregada de ruído de selvageria apocalíptica. (Unique Leader Records) The Doomsday Kingdom - «Never Machine» (Suécia, Doom Metal) A história do THE DOOMSDAY KINGDOM começou há dois anos, quando o mestre dos CANDLEMASS Leif Edling decidiu que precisava de outra saída para s sua composição. Com relação a um caso grave de síndrome de fadiga crônica, Leif teve que colocar CANDLEMASS em pausa por um tempo e apenas concentre-

se em progredir. Iniciando outra banda numa situação tão difícil pode não ser o primeiro conselho que surgirá na mente de um terapeuta, mas Leif sempre andou por caminhos diferentes de todos os outros. E, portanto, a resposta a seu problema tornou-se THE DOOMSDAY KINGDOM. (Nuclear Blast Records) The Unguided - «Brotherhood» (Suécia, Melodic Groove Metal) O EP «Brotherhood» inicia um novo capítulo no universo dos Unguided e prepara caminho para a próxima trilogia de álbuns. Não só é um novo começo da banda com a adição dos vocalistas / guitarristas muito talentosos Jonathan Thorpenberg, mas também continua a história que tem sido o pivô do qual as letras e ilustrações orbitaram durante a formação da banda. (Napalm Records)

Realms Of Odoric - «Second Age» (Internacional, Classical/ Soundtrack Instrumental) O projeto da banda sonora do artista gráfico bem conhecido Kris Verwimp (Marduk, Manegarm, Tyrfing, SuidAkra) e o músico e compositor Arkadius Antonik (SuidAkra, Fall of Carthage), combinam as suas criatividades num conceito de um enorme mundo de fantasia. «Second Age» conta a história da segunda era de Odoric. A história é realizada nas composições complexas e orquestrais de Arcadius, bem como numerosas ilustrações de

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Kris Verwimp, que podem ser admiradas no livro de 80 páginas que é oferecido com o CD. Devido ao estudo e conclusão do Arkadius na Audiocaution Academy, as composições são muito mais maduras do que nunca. Pela primeira vez na história do projeto, as gravações foram gravadas com a participação de músicos convidados de todo o mundo. Duas composições deste incrível trabalho foram tocadas e gravadas pela Brandenburg State Orchestra e a Budapest Scoring Symphonic Orchestra. (MDD Records) Furia - «Ksiezyc Milczy Luty» (Polónia, Black Metal) Após o lançamento monumental de «Nocel» há dois anos, o influente ato da Polónia, FURIA, retorna com o quinto turno «Księżyc milczy luty» (aproximadamente traduzido para “Moon Silent Severe”). O álbum contém seis novas faixas. Aqueles familiarizados com os sons que a FURIA cria não ficarão desapontados com «Księżyc milczy luty». O álbum continua a marca registrada de «Nekrofolk»; no entanto, o tema lírico leva-nos à lua desta vez. Qualquer um que afirma que o black metal pode ter perdido o encanto da originalidade, deve ouvir FURIA. (Pagan Records) RUDRA - «Enemy of Duality» (Singapura, Vedic Metal) Os pioneiros do metal védico desde o início dos anos 90 retornam este ano com um álbum que é o mais ambicioso até a data. Tendo trabalhado arduamente ao longo dos anos para forjar um som único, o qual é uma mistura sublime de música clássica indiana enraizada na espiritualidade antiga e no metal extremo, que engloba death metal, black metal e thrash metal, Rudra influenciou muitos e mais importante, estabeleceram padrões. Rudra tem um seguimento de culto que permanece misteriosamente leal, ao aprimorar um som que provavelmente não é paralelo. O seu último álbum, fundado novamente nos princípios da espiritualidade

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védica, extrapolando o modelo de metal extremo convencional e atinge efeitos sonoros até então desconhecidos. Instrumentos clássicos indianos como sitar, flauta, tablas (percussão indiana) e até mesmo um didgeridoo são usados para este álbum, juntamente com vocais femininos e citações rituais para emanar uma expressão genuína e espiritual. (Transcending Obscurity)

CLOUDS OF DEMENTIA «Seventh Seal» (França, Doom Metal) Doom Metal é uma instituição real embora um pouco especial no mundo do Hard Rock Metal e, ao longo dos tempos, mudou-se para várias correntes, afastando-se da tendência tradicional dos múltiplos subgéneros alternativos. Contra a maré e as tendências, Clouds of Dementia decidiu honrar Trad Doom Metal Music para satisfazer a necessidade de riffs grandiosos. Fundada no verão de 2014 por instigação de Jujux como cantor principal. Com composições pesadas e lentas, brilhantes com mudanças rápidas no ritmo, solos habilidosamente tocados, batidas de bateria poderosas, coro etéreo e lirismo escuro, Clouds of Dementia são, por sua vez, épicos, escuros e selvagens. (Solstice Promotion)

Decayed - «The Burning Of Heaven» (Portugal, Black Metal) Sem descanso para os perversos que o dizem e para este assunto, podemos dizer isso nos últimos 26 anos porque os Filhos de Satanás voltaram com mais outro e ainda um álbum mais vicioso. Os Decayed teceram mais um trabalho de artes obscuras e «The Burning of Heaven» revela o 11º selo desses sacerdotes de metal profanos! (Helldprod) Klimt 1918 - «Sentimentale Jugend» (Itália, Indie Rock) Um deve ser um conhecedor decidido da cultura da música alternativa para associar o título «Sentimentale Jugend» (juventude sentimental) com o ato de ruído experimental de curta duração do mesmo nome, fundado por Alexander Hacke (Einstürzende Neubauten) e a sua então significativa Christiane Flescherinow (também conhecido como Christiane F. do best-seller de livros de ficção “We Children From Bahnhof Zoo”) no início dos anos 80. No entanto, é por uma razão que a bandeira italiana de rock indie Klimt 1918 nomeia o seu último álbum duplo depois desta nota de rodapé da história do pop, ou seja, uma dica consciente sobre o humor subjacente das músicas. «Sentimentale Jugend» captura o Berlim Ocidental em toda a sua gloria pulsante e niilística no final dos anos 70. (Prophecy Productions)


Famishgod - «Rootsofdarkness» (Espanha, Dark Doom/Death Metal) Depois de lançar um excelente e aclamado álbum de estreia pela crítica, FAMISHGOD está de volta com uma produção ainda mais madura, uma apresentação de melhor qualidade e sua composição e talento. A doença original que permeava a sua música está presente aqui e todo o registro reverbera com ele febrilmente. É o que traz uma música de FAMISHGOD à vida. Há muitas bandas sem vida tocando este estilo de dark death metal com influências do doom, mas algumas ainda o são verdadeiramente convincentes. Com uma voz dominante e maléfica que anda de mãos dadas com a música, o ímpeto apenas se transforma em bola de neve ao longo do álbum. (Transcending Obscurity)

Pymlico - «The Meeting Point» (Noruega, Instrumental Progressive Rock and Fusion) Pymlico é uma banda instrumental de Oslo, Noruega, liderada pelo compositor e baterista Arild Brøter. A banda reproduz principalmente o que foi descrito como uma mistura entre rock progressivo e fusão. No entanto, a sua música também oferece hooks atraentes e melodias que podem ser associadas à música pop, ao lado de temas grandiosos mais na veia das faixas de bandas sonoras de filmes. Essa combinação de géneros e um alto

nível de musical dá à banda um som distintivo. (Apollon Records) Dreaming Dead - «Funeral Twilight» (EUA, Death Metal) Dreaming Dead é a resposta de Los Angeles para a mediocridade underground e a banalidade dominante. Formados em 2006 pela líder Elizabeth Schall e pelo baterista Mike Caffell, os Dreaming Dead continuam a capturar a atenção do público e dos ouvintes de todo o mundo. (Hammerheart Records)

The Flight Of Sleipnir - «Skadi» (EUA, Stoner/Doom/Folk Metal) Após o lançamento do álbum ‘V’ de 2014, o 6º LP «Skadi» mostra-nos os individualistas do Colorado The Flight of Sleipnir mais focados e determinados. Tomando como uma inspiração o modelo de gravações anterior, este funcionou como o impulso criativo, tendo eles forjado o seu som de marca mais uma vez no esplendor de farol nórdico enrolado numa nova forma de vida. «Skadi» cria outro empreendimento extraordinário, cheio de extrema tensão de metal e polarização. (Eisenwald)

Nidingr - «The High Heat Licks Against Heaven» (Noruega, Black Metal) De Horten, Noruega emergem os NIDINGR - uma banda de black metal que já anda na cena desde 1992. NIDINGR lançou uma demo em 1999, e o seu álbum de estreia foi lançado em 2005, intitulado «Sorrow Infinite and Darkness». Em 2010 lançaram o segundo álbum, «Wolf-Eater», seguido apenas dois anos por «Greatest Of Deceivers». Eles estão agora de volta com seu quarto trabalho «The High Heat Licks Against Heaven», um álbum encharcado na mitologia nórdica. O álbum desloca-se no meio do black e death metal, mas com o tema nórdico cria um som único e fresco. (Indie Recordings) My Dynamite - «Otherside» (Australia, Rock N’ Roll) Estão prontos a ir abaixo? Estão prontos para agitar isso? Estão dispostos a testemunhar? O MY DINAMITE pode ser apenas a resposta às orações do seu rock ‘n’ soul. Esta banda de irmãos de Melbourne, Austrália, está apresentando a melhor marca de boogie de bons tempos e funky blues grooves por muitos anos. (Listenable Records)

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Fjoergyn - «Lvcifer Es» (Alemanha, Epic/Avant-garde Black Metal) Originalmente destinado a ser um projecto a solo puramente orquestral, os FJOERGYN foram fundados em 2003 pelo visionário musical Stephan L. . A sua abordagem até hoje, foi a de combinar sons orquestrais e clássicos opulentos com guitarras pesadas e aplicar uma estética metálica. Seguindo esse caminho, Stephan L. consegue composições opressivas, na obstante, com uma conotação tremenda. Devido à sua base desafiadora e à direção de ação não convencional, o resultado de seu trabalho criativo deve ser descrito como um pensamento épico e avançado. 2017, foi o ano do lançamento do LP «Lucifer Es», que é um álbum conceptual que representa críticas sociais implacáveis e uma visão desluzidora sobre a humanidade. O álbum de FJOERGYN marca uma visão cruel e áspera sobre a sociedade e as marionetas humanas. (Lifeforce Records) The Third Eye Rapists - «Hets Mot Allt» (Suécia, Black/Death Metal) THE THIRD EYE RAPISTS é o ensaio decadente de dois irmãos corrompidos (ex-Morbid Insulter), canalizando o caos da magia da morte através de evocações abismal e agudizando a seringa que assassina o mundo. (Regain Records)

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Sticky Boys - «Calling The Devil» (França, Rock N Roll) Após o lançamento de «Make Art», que recebeu aclamação da crítica, os STICKY BOYS estão de volta com o seu 3º álbum «Calling the Devil». Elusivo como sempre, o trio oferece aqui 14 músicas por 45 minutos de rock na sua forma mais pura e brutal. Rock’n ‘Roll? Hard Rock? Punk Rock? Stoner Rock? Just Rock! STICKY BOYS controla a proeza de se reinventar enquanto se apegam às armas. (Listenable Records) Fall Of Carthage - «The Longed For Reckoning» (Internacional, Thrash Groove metal) Com o seu segundo álbum, «The Longed-For Reckoning», FALL OF CARTHAGE prova que as suas intenções são graves. Depois de inúmeros shows ao vivo nos últimos meses, está claro que este não é apenas um projeto paralelo de Arkadius Antonik (SuidAkrA, Realms Of Odoric) e Martin Buchwalter (Guerra Perzonal), que puxou Sascha Aßbach na frente do microfone após um longo período de ausência da cena musical. Dezasseis músicas representam uma criatividade desafiadora de género e alegria para experimentação, bem como, seu amor por detalhes e sons naturais. (MDD Records) Oni - «Ironshore» (Canadá, Progressive Death Metal) No folclore japonês, o Oni é um demoníaco malévolo que

transforma a forma, é capaz de assumir muitas formas, e espalha dor e miséria. O som em constante mudança e em constante evolução de Ontário, Canadá, não é menos esquivo, embora, ao contrário de seu homónimo, em meio à brutalidade e à violência, eles tecem uma grande beleza e uma grande emoção, sincera. Com as suas influências enraizadas em metal progressivo, o som de Oni pode ser comparado com os pesados atacantes do género - The Human Abstract, Protest The Hero e Between The Buried And Me -, mas eles permanecem verdadeiramente únicos. Com Jake Oni manipulando as vozes, Martin Andres e Brandon White na guitarra, Chase Bryant no baixo e Joe Greulich na bateria, são talvez a primeira banda de metal que possui um teclista Xylosynth, sob a forma de Johnny D, que acrescenta Uma dinâmica intrigante para as nove músicas encontradas aqui em «Ironshore». (Metal Blade)

Grave Digger - «Healed By Metal» (Alemanha, Heavy/Power Metal) Os cortes clássicos como ‘Headbanging man’ e ‘Heavy Metal Breakdown’ rapidamente estabeleceram Grave Digger como um dos actos de metal pioneiros da Alemanha no início dos anos 80 – Após 36 anos desde a formação da banda, e sua atitude não mudou! A faixa-título (e abridor) de Healed By Metal é um hino pisoteaste, estoico e orgulhoso, mas ainda bastante atrativo e bestial. Grave


Digger permanece fiel à sua marca de metal tradicional sem frescura no álbum número 18, deixando o trovão em estradas infinitas (‘Lawbreaker’) e entregando-se a melodias épicas como ‘Call For War’. Aqui estão os dez mandamentos do metal! (Napalm Records)

Powerwolf - «Blessed Possessed Tour Edition» (Alemanha, Power Metal) “POWERWOLF é certamente uma das bandas alemãs mais bem-sucedidas do Heavy Metal! Incríveis shows ao vivo, shows como headliner esgotados, shows de festivais frenéticos em toda a Europa, provam que os POWERWOLF são um verdadeiro animal de palco! «Blessed & Possessed» será lançado como uma edição de tournée opulenta, incluindo novas obras de álbuns e um bónus especial de álbum ao vivo com o seu enorme desempenho em frente a 40.000 festejadores no festival Summer Breeze 2015! (Napalm Records) Suicide Silence - «Suicide Silence» (EUA, Deathcore) Imagine um TGV de alta velocidade na agonia de uma corrida de 275 mph, pois de repente faz uma curva nítida sem um único segundo para diminuir a velocidade. Esse é o som de SUICIDE SILENCE. Não é tanto o ruído dos famosos comboios Shinkansen do Japão, que é análogo à instituição de heavy metal da Califórnia do Sul, uma banda que definiu e desafiou

as classificações de subgéneros ao longo de cinco incríveis álbuns e inúmeros passeios internacionais. Não, o que o SUICIDE SILENCE tem em comum com o trem bala é a intensidade vertiginosa, a aceleração destemida e a eficiência sem sentido. (Nuclear Blast) Magnet - «Feel Your Fire» (Itália, Rock) Soulseller Records orgulhosamente apresenta o álbum de estreia dos rockers italianos MAGNET! «Feel Your Fire» traz uma mistura mágica de blues e rock and roll de alta energia dos 70. Com um som focado em vocais energéticos e tempos rápidos, também são lançados num vazio de ritmos lentos e sonhadores. É literalmente como sentir um fogo! (Soulseller Records)

Replacire - «Do Not Deviate» (EUA, Technical Metal) «Do not Deviate» são uma besta viciosa. Incessantemente atacando e avançando ao mesmo tempo. No entanto, REPLACIRE combina a agressão com a complexidade técnica e laca o seu duro metal fatalmente, não só com os elementos de género habituais, como inclui falhas sincopadas em cascata, assinaturas ímpares e momentos de jazz, mas também injetam uma elegância inteligente, que é bastante remanescente dos DEATH de Chuck Schuldiner, sob a influência da CYNIC. A óbvia proeza técnica da banda é aproveitada pelas necessidades de uma boa composição, em

oposição à masturbação musical autoindulgente. (Season of Mist)

Psychedelic Witchcraft - «Magick Rites And Spells» (Itália, Occult Doom Rock) Após o álbum de estreia do ano passado, «The Vision», os italianos do Ocultismo-doom-rockers PSYCHEDELIC WITCHCRAFT estão de volta com «Magick Rites and Spells». A primeira parte de «Magick Rites and Spells» oferece faixas novas e exclusivas que não foram incluídas no álbum de estreia, embora tenha um significado importante para a banda, enquanto a segunda parte apresenta o primeiro EP da banda que combina perfeitamente com a primeira metade em relação aos sons, atmosfera e magia. (Soulseller Records) Body Count - «Bloodlust» (EUA, Heavy/Thrash/Rap Metal) BODY COUNT, o coletivo de gangster-metal que fez a música terrível para a América dominante, a sua faixa renegada “Cop Killer” foi uma mensagem aos políticos, pais e autoridades policiais, quando foi lançado ao mundo um quarto de século atrás. Isso não quer dizer que Ice-T e BODY COUNT tenham ficado em silêncio nos últimos 25 anos, mas como o Ice é rápido de apontar, não se pode iniciar um movimento se as pessoas não estiveram dispostas a mudar-se. BODY COUNT nasceu de um dia em que o hip-hop era a banda sonora das ruas, trazido à vida por Bloods, Cripps e gang bangers que

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viveram e morreram por um código de street justice, as estrelas da realidade de hoje e os wannabes da internet não vão entender. Não era o som de crianças americanas de classe média a brincar de, vestir e sentir-se à moda. E metal pesado? Não era bonito e limpo para a América dominante engolir como um tiro diluído com seu spray favorito de refrigerante doce açucarado. (Century Media) Grog - «Ablutionary Rituals» (Portugal, Brutal Death Grind) Considerando situações normais após 25 anos de existência, qualquer banda provavelmente mostrará sinais normais de sua própria decadência ... então eles dizem ... Mas aqui a verdade excede esses dogmas e isso não se aplica a GROG. Aqui com o seu 4º LP, a sua capacidade de criar e jogar acima dos seus limites extremos, faz com que atingem outro nível, sendo esse o padrão esperado para esses casos. ABLUTIONARY RITUALS não é apenas a evolução natural do aclamado SCOOPING THE CRANIAL INSIDES, mas também leva a banda a uma nova extensão de loucura musical. As músicas pulverizam instantaneamente as suas percepções, mas ainda consegue esculpir sua brutalidade de uma forma muito sensível. É como ser descascado e atualizado ao mesmo tempo. O caminho mais fácil é ouvir isso como brutal death grind comum e o inferno patológico. (Helldprod) Artificial Brain - «Infrared Horizon» (EUA, Sci-fi Death Metal) «Infrared Horizon» permite aos ARTIFICIAL BRAIN viajar para um domínio sônico, onde a música tornou-se mais brutal e dissonante, técnica, atmosférica e globalmente mais além do mundo. Os temas líricos mergulham em conceitos dentro de um futuro distópico em que os robôs e os cyborgs ultrapassaram os seres humanos e que se acreditam não serem criadores dos humanos

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extintos há muito tempo, mas uma evolução mais perfeita deles. Com o «Infrared Horizon», a ARTIFICIAL BRAIN criou um álbum muito mais avançado do que o álbum de estreia, «Labyrinth Constellation». Ao levar a sua marca de brutal death metal singular, ainda que tecnológico e de ficção científica, a um novo palco galaxial, «Infrared Horizon» vê a arquitetura sonora estabelecida pela banda ir além do infinito. (Earsplit)

Wolvennest - «Wolvennest» (Internacional, Psychedelic/ Ambient/Dark/Rock) Composto por Kirby Michel (La Muerte), Corvus von Burtle (Cult Of Erinyes) e Marc De Backer (Mongolito), juntamente com John Marx (Temple Of Nothing), Shazzula (conhecido por seu filme experimental, Black Mass Rising) e Jason Van Gullick, WOLVENNEST da Bélgica ou WLVNNST é o som do krautrock dos anos 70 emparelhado com rituais enegrecidos, que lembra o black metal norueguês dos anos 90. Acabando com uma maquina de sons extremamente hipnótica e sónica, onde os laços de guitarra, os batimentos repetitivos, os sintetizadores e os sons vocais ambientais hipnóticos escurecidos são manchados em um dronescape assustador e cinematográfico (ou deveríamos realmente dizer, dronemusick?), WOLVENNEST prova que a Bélgica ainda é um viveiro de criatividade musical. (Van Records)

Deficiency - «The Dawn Of Consciousness» (França, Melodic Thrash Metal) Os DEFICIENCY musicalmente vão mais longe nos aspectos melódicos, agressivos e técnicos da sua composição. Peças pesadas, padrões modernos, pistas furiosas ou coro cativante estão reunindo para se juntarem a uma base Thrash Metal e formar uma aliança eficiente com a música extrema. «The Dawn of Consciousness» é um novo conceito de álbum que descreve o renascimento dos homens após o caos e a forma como eles aproveitam essa segunda chance, através de seis emoções primitivas compartilhadas por todo ser humano na Terra: surpresa, tristeza, alegria, raiva, medo e desgosto. O trabalho visual projetado pelo artista francês Ludovic Cordelières (RUSALKA DESIGN) é uma peça importante para complementar o conceito de música e letras. (Apathia Records) Condemned - «His Divine Shadow» (EUA, Brutal Death Metal) Brutal death metal de San Diego, CONDEMNED, estão de volta com o tão aguardado terceiro LP «Divine Shadow». Este é um vasto e horrível conto de um universo paralelo obscuro e habitado por uma civilização humanoide de insetos que vive dominada e escravizada por um governante misterioso e sombrio a quem eles chamam de “Sua Divina Sombra”. Distribuídos em dez faixas, CONDEMNED mantém o seu legado brutal com uma marca exclusiva de riffs punitivos, grooves rápidos e caóticos, quebras de ruptura de planeta, explosões de estilo Suffocation / Disgorge-ian e um ambiente geral, escuro e ameaçador. (Earsplit) Sloth Herder - «No Pity No Sunrise» (EUA, Black Metal/ Grindcore) O acompanhamento do obscuro, mas aclamado pela crítica 2012 EP, «Abandon Pop Sensibility», o «No Pity, No Sunrise» apresenta


um monstruoso ataque de 14 faixas em pouco mais de trinta e cinco minutos entregue pelo vocalista Josh Lyon, o baixista Luke Ibach, O baterista Sean Wilhide e o guitarrista Nick Craggs, e sons adicionais de Ryan Neal. Uma onda de metal extremo que se desencantou, que atrairá uma ampla gama de atos, de Antigama a Pyrrhon, Yautja a Gaza. «No Pity, No Sunrise» foi gravado por Noel Mueller, que também misturou e masterizou o álbum. (Earsplit) Tim Bowness - «Lost In The Ghost Light» (Inglaterra, Progressive Rock) «Lost In The Ghost Light» é um álbum conceitual que gira em torno das reflexões no palco e nos bastidores de um músico Rock ‹clássico› fictício no crepúsculo de sua carreira. É uma grande declaração sobre uma grande era de criação de música e um destaque indubitável da carreira de Tim Bowness. Variando do abridor hipnótico «Worlds Of Yesterday» para o clímax melancólico dos «Distant Summers», através da fúria emocionante de «Kill The Pain That›s Killing You» e a extensão orquestra de «You›ll Be The Silence», o álbum apresenta alguns impressionantes solos e composições harmonicamente ricas que representam o trabalho mais ambicioso de Bowness até à data. (InsideOut Music)

Mourners Lament - «We All Be Given» (Chile, Rock/Metal/Doom Metal)

Mourners Lament foi formado em 2004, em Valparaiso Chile, influenciado e dedicado ao som bruto e melancólico da cena inglesa do Doom Death Metal do início dos anos 90. inspirada na Santíssima Trindade, que consiste em Anathema, Paradise Lost e My Dying Bride. Depois de muitas mudanças de line-up e as demos habituais, Mourners Lament gravou o seu EP de estreia intitulado de «Solidariedade ininterrupta» em 2008. As coisas boas progridem lentamente, certamente, quando se trata de Doom / Death, pelo que os Mourners Lament voltaram para o estúdio para gravar o seu Primeiro álbum chamado «We All being given» em 2016. Eles gravaram seis faixas cheias de melancolia e uma intensidade não ouvida muitas vezes mais, uma gravação muito pesada e poderosa que é abençoada com uma excelente produção e atmosfera. (Hammerheart Records) The Mute Gods - «Tardigrades Will Inherit The Earth» (Inglaterra, Progressive Rock) The Mute Gods exploram as tendências autodestrutivas da humanidade em «Tardigrades Will Inherit The Earth». The Mute Gods foi fundado em 2015 por Beggs, um célebre baixista, Stick player, compositor e vocalista que vendeu mais de três milhões de álbuns com seus próprios grupos. As suas contribuições também agradam o trabalho de inúmeros artistas e géneros, incluindo rock progressivo, pop, Celtic, funk e alma. (InsideOut Music) Reaping Asmodeia - «Impuritize» (EUA, Technical Death Metal ) Formado em 2013 por exmembros de With Dead Hands Rising, Reaping Asmodeia lançou seu álbum de estreia, Poison of the Earth, um ano depois. O álbum foi misturado e dominado por Zack Ohren (All Shall Perish, Suffocation) e recebeu nota alta da imprensa na comunidade death metal. (Prosthetic Records)

Sanctuary - «Inception» (EUA, Old School Heavy Metal) Com vários festivais já reservados para 2017, um novo álbum, «Inception», marca o ano em que o passado e o futuro do SANCTUARY se uniem. Aguarde o próximo assalto dos soldados de aço! As legendas de metal dos EUA SANCTUARY, formados em 1985, são amplamente considerados como um dos atos mais exclusivos e cativantes que emergiram de Seattle, Washington. O álbum de estreia de 1988 da banda «Refuge Denied», produzido por nada menos que Dave Mustaine (Megadeth), rapidamente estabeleceu a banda como um nome familiar para o metal de alta qualidade. Misturando o melhor das influências britânicas e americanas, além de ter vocais sobrenaturais únicos do cantor Warrel Dane e letras poderosas. (Century Media) Hellwitch - «Syzygial Miscreancy» (EUA, Thrash Metal) HELLWITCH foi formada em 1984. Vindo da Flórida, uma banda tem (ex) membros que tocaram com outras bandas lendárias da Flórida: Alex Marquez (Solstício), Frank Watkins (Obituary, Gorgoroth), Joe Schnessel (Malevolent Creation), Gabe Lewandovski (Ressurection), acima de tudo fundador membro e compositor principal Pat Rainieri nas vozes e nas guitarras. (Vic Records)

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MIKE A 18 de setembro de 1976 na China acontecia o funeral de Mao Zedong, Revolucionário chinês e Presidente do Partido Comunista. Nesse mesmo dia, em Portugal mais precisamente na freguesia de São José no distrito de Viseu, nascia um dos mais talentosos e virtuosos guitarristas portugueses, de seu nome Paulo Jorge Martins Rodrigues que anos mais tarde passou a adoptar o nome artístico de Mike. Entrevista: Paulo Jorge

Como e quando nasceu o teu interesse pela música? Mike: Essa é uma história com antecedentes familiares, desde o meu avô na guitarra portuguesa e o meu pai na viola. Claro que é que nos anos 80, 90, quando era visível na televisão em programas musicais, como miúdo que era sonhava um dia ocupar um lugar numa dessas bandas. Nunca puxei pro futebol, nem desportos de maior hábito das crianças da época. Apareceu a escola secundária e fomos aprendendo uns acordes uns com os outros, e aí nasceu o “bichinho” da música. Para além da guitarra sei que também tocas baixo, como começou o teu percurso artístico sabendo que és um autodidata, tiveste algumas ajudas? Sim, o baixo aparece nessa mesma época do secundário, quando se experimentou e foi uma questão matemática, mais tarde já em bandas a entrada dos conceitos das escalas que eram iguais à guitarra. As ajudas foram como atrás te respondi, sempre nos ajudamos uns aos outros. O projeto Mike nasce do momento em que a vida profissional não permite assumir responsabilidades com bandas, logo ser a solo. Tocar em bandas de animação de festas populares, vulgo, grupos de baile foi uma actividade que também fez parte do teu currículo. Como surgiu a oportunidade de integrares estas bandas e o que tocavam? Foram grandes anos de diversas amizades, de troca de impressões e o ganho de experiência. A oportunidade surge pois nos anos 2000, baixista era músico de grande procura, dado à inexistência, aí sim, todo esse percurso de bandas de baile, foi sempre no baixo, coisa que em palco me dava muita liberdade e à vontade de movimento, logo nunca parava quieto, ehehehehe. Nessa altura tocava-se principalmente música portuguesa do estilo pimba, rapsódias, marchas, tangos, valsas etc. No final a rocalhada, passando por Xutos e Pontapés, Rádio Macau, Metallica etc. Fizeste muitos espetáculos em grupos de baile? Guardas na memória algum ou alguns com um carinho especial? Tenho vários... um deles a um sábado, numa aldeia por aqui perto aparece na festa um casamento inteiro, no momento em que tocávamos “qual é o melhor dia pra casar” do Quim Barreiros, outro foi em Vilar Formoso, também a um sábado, houve representação de garraiada pelos mordomos da festa no recinto, ao mesmo tempo que tocávamos, pediram pra tocar mais 2 horas, devidamente retribuídas, ainda ajudaram a carregar tudo no final. Outros tempos, acho que já não existe isso hoje. Sabendo que o Metal vende e paga pouco em Portugal não seria mais benéfico para ti continuares a tocar nestes grupos de baile, sobretudo no Verão? Essas bandas hoje requerem muito mais investimento de equipamento e tempo. Os tempos mudaram,

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deixei de ver aquele espírito de irmandade nessas bandas, e hoje se não tiveres um camião palco, já não respondes às expectativas, no meu tempo tocava-se em cima de tratores, atrelados, pelourinhos, etc. Sou da opinião que hoje é mais show off, quem tem mais arsenal e mais pessoal é o melhor. Quando decidiste deixar de ‘dar baile’ e passar a produzir material original na onda do Metal? O material original aparece com a evolução da guitarra, e despertoume o interesse de como gravar. Como ninguém nasce ensinado, eu era um zero em computadores, eheheheh, e fui mexendo, estragando, ehehehe, e evoluindo com os erros. O metal sempre foi a minha escolha de raiz, andando uns anitos perdido pelo grunge, até ouvir o primeiro álbum dos Pantera... aí colei-me mesmo... Que me recorde a primeira música que ouvi e me chamou a atenção em miúdo, foi a Pet Cemetery, dos Ramones. Uma questão incontornável neste tipo de entrevistas prendese com as influências musicais dos entrevistados. Permite-me desdobrar esta questão em duas partes, sendo a primeira referente às bandas que mais te influenciaram e que mais aprecias e a segunda parte mais orientada às tuas influências artísticas nomeadamente aos teus guitarheroes de referência. Eu sou muito puxado ao thrash e os anos 90 foram brutais, desde Metallica, Pantera, Testament, Megadeth, etc. O metal tem sempre uma mensagem nas letras, melodias, e é aí que se encontra a influência. Conheci-te há 6 anos por intermédio do nosso amigo Gil Neto dos extintos Phazer e nessa altura o primeiro tema que ouvi de tua autoria foi o “Seveteen Old Pain” e simplesmente adorei, na verdade anda hoje me arrepio ao ouvir esse tema. Foi esse o teu primeiro original? Descreve-nos o teu percurso discográfico até ao momento. Ehehehe, sim esse é o primeiro tema oficial do projeto, reflete alguns momentos menos bons que tive na adolescência, o fato de sermos ultrapassados, essa música é uma espécie de desabafo. Essa malha está no primeiro álbum o Alternative Plan, seguiu-se o ep Bluesy, o ep 500slave, fiz também uma compilação das melhores malhas de todos criando o Best of, está projetado a longo prazo novo ep chamado Flames onde já existe um cover, uma intro e um original, faltam 4 malhas. Inicialmente compuseste temas originais mas cedo gravaste várias covers onde revelaste a tua admiração e prestaste tributo a alguns ídolos como por exemplo Gary Moore, Steve Vai e Joe Satriani.

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Qual foi o mais difícil de ‘dobrar’ e qual o que te deu mais prazer? Indiscutivelmente Satriani, o homem é soberbo nas técnicas, e nem chego lá perto... ehehehe, adoro a expressividade dele. Chegando à parte da técnica de legato, que dói, dou o meu toque pessoal. Reconhece-se no teu trabalho um conteúdo muito associado à crítica social e isso sobressai no nome das tuas músicas originais, como é por exemplo o tema “500 Slave”. Não deixa de ser uma preocupação transversal a uma grande parte das bandas hard ‘n’ heavy, e tu não foges à regra. Quais as tuas maiores preocupações socias e aquelas que mais te causam uma sensação de revolta? Boa pergunta, critico nomeadamente as diferenças sociais, racismo, a rejeição, a falta de reconhecimento, a nova escravidão, etc... Como já te disse muitas vezes, o que me revolta, e muito, é conhecer artistas cheios de talento e virtuosismo como tu e não os ver integrados em grandes bandas ou mesmo sem uma banda. Achas que o facto de viver no interior é uma forte condicionante? Há poucos músicos com vontade de formar uma banda ou havendo preferem enveredar por outros tipos de música? A tua vida profissional é também ela impedimento para abraçares uma carreira musical mais efectiva? Atualmente a vida profissional e pessoal é forte condicionante para uma vida musical ativa. Penso que em Portugal o público não é muito recetivo a música instrumental do género. Quer estando num meio maior ou mais pequeno o resultado seria o mesmo, na minha opinião. Mas é a vida profissional e pessoal que são as realidades da vida, que nos pagam contas, se sente, e se constrói um futuro. Nunca olhei a música como algo profissional, foi sempre um hobby que gastava algum tempo, me mantinha ocupado com interesse e me fez evoluir até na personalidade. Para além de músico tu também produzes conteúdos para outras bandas e amigos. Fala-nos um pouco da Miki Productions e da sua colaboração com os seus parceiros e também na gravação dos teus discos e realização dos teus vídeo clips. A Miki Prod aparece de leve com os meus vídeo clips, inicialmente usando extratos de filmes que me disseram algo e se enquadravam no ambiente musical do tema. O primeiro vídeo foi da Seventeen old pain sem qualquer extrato de vídeo externo e com ajuda indispensável dum amigo fotografo. O mesmo que mais tarde ajudou a filmar, montar e produzir um vídeo clip oficial da banda PhaZer, do tema I’ve been shot, onde tu fizeste parte do elenco. Anteriormente outros vídeos promocionais, lyric videos de músicas dessa banda também foram executados na Miki Prod. O design gráfico a partir do EP bluesy também é responsabilidade da MP. Foram também feitos vídeos promocionais a espaços e locais de concerto, etc. Tu como fiel seguidor do meu trabalho verificas que a qualidade de gravação evoluiu, apenas por uma questão simples, um segredo que identifiquei em todas as musicas dos Pantera, ou seja existem guitarras diferentes a 100% na coluna da esquerda e outra na direita, tendo de gravar 2 vezes a mesma coisa optando por guitarras diferentes e amplificadores diferentes, ficando o som mais lucido e limpo. O Facebook e o Youtube foram sem dúvida mais-valias para a divulgação de projectos pessoais e colectivos independentemente da área de actividade onde se inserem. De que forma estas plataformas te ajudaram? Sentiste-te apoiado por algumas páginas? Esperavas mais por parte de outras? As redes sociais, bem usadas, são sempre uma boa forma de divulgação. Sempre me senti apoiado por todos

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à minha volta, das diversas páginas de facebook, youtube, myspace. Embora algumas terem políticas que alteraram obrigando a custos. Senti-me mais apoiado em facebook, por diversas páginas, as rádios on line, tenho pena que o povo viva a vida muito rápido, pois não há tempo pra aderir em passatempos, etc, etc A tua entrada para a administração da Metal Rock City foi benéfica na promoção do teu trabalho? Claro que sim, tratando-se duma página com visão mundial atingem-se outras metas, outros destinos outros músicos. Cheguei a trocar opiniões com diversas bandas estrangeiras dentro dum respeito mútuo fenomenal. Mais tarde a entrada para administração mostra mais o meu vínculo ao thrash metal, como anteriormente já falei. O que achei fantástico foi conhecer pessoas dentro da página com gostos e shows totalmente diferentes entre si, mostrando cada dia ao mundo um show diferente para todos os gostos. Sempre colaboraste com os programas de rádio da Metal Rock City, nomeadamente na criação dos jingles através da tua Miki Productions. Sentiste-te apoiado pelos programas da MRC e de outras rádios? Como vês e como sentes o panorama radiofónico actual e que comparação fazes com o panorama de há 4 ou 5 anos atrás? Achas que o público deveria aderir mais a este tipo de iniciativas? Penso que respondi a parte desta questão anteriormente, há 4, 5 anos atras estava eu extremamente activo, de momento é estacionário, não posso comparar. Qual a tua visão sobre o panorama ‘Metal’ em Portugal, tanto a nível de bandas e público como ao nível dos media? Achas que há bandas a mais e público a menos? Em termos de media, achas que deveriam haver mais programas radiofónicos, mais revistas e outras publicações? O metal nacional tem tido um aumento e evolução significativo. Em termos de media, nos dias de hoje já não se vê pessoal colado a uma radio, ou numa fila duma loja de música pra adquirir um cd ou disco. Vê-se pessoal a recorrer à net para adquirir uma música ou outra, de bandas diferentes de álbuns diferentes, pois a esse nível não sei qual seria a solução mais viável. Quanto a público e bandas, vejo uma forte aderência a concertos, eventos, festivais e aí sim houve um crescendo. Os concertos são na minha opinião, hoje, a maior fonte de divulgação. Não querendo menosprezar o trabalho radiofónico, pois requer muita pesquisa, conhecimento, etc, coisa que o ouvinte poderá dar pouco valor. Como teu amigo e seguidor do teu trabalho tenho notado que estás num momento de menor produção. A que se deve este momento de silêncio? É apenas devido a questões profissionais ou posso deduzir algum descontentamento com o retorno que é infelizmente usual no nosso país onde a comunidade metálica é um pouco apática? Deve se às duas coisas em simultâneo, a vida profissional tem outras responsabilidades hoje, e também o fato de fazer tudo sozinho do início ao fim é muito, mas muito trabalhoso. Não existe qualquer editora, pois é dispendioso e obriga-te a contrato que tens de respeitar, mesmo que te peçam algo contra a tua ideologia. Mas também há outras responsabilidades a nível pessoal que tomam o tempo livre. Quais os teus projectos para o futuro? Musicalmente o futuro o dirá, concluir os projetos pessoais a dois que estão em andamento e viver um dia de cada vez, ehehehehe. Que mensagem gostarias de deixar aos leitores da Revista Versus? Tanto aos leitores, como às bandas divulgadas digo: uma revista requer também trabalho de investigação, conhecimento, e gosto pelo que se faz, devemos dar o justo valor e apoiar, divulgando também a revista pelos amigos pois assim o público aumentará, o conteúdo da revista atinge mais destinos e maiores objetivos. É uma simples forma de agradecer o que fazem por nós. Obrigado e grande abraço Mike ! e-mail: mikeguitarplayer@hotmail.com Facebook: https://www.facebook.com/paulo.rodrigues.948494 Miki Productions: https://www.facebook.com/mikiproductions/ Youtube: https://www.youtube.com/user/mike67153 Os leitores da Versus poderão conhecer o trabalho deste virtuoso viriato no seu canal do Youtube onde estão muitos dos seus vídeos.

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Um artista polimorfo Talvez este adjetivo ajude a compreender a essĂŞncia do projeto da Irrwisch Design. Entrevista: Cristina SĂĄ

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Olá, Irrwisch. Foi o Seuche, dos Fäulnis, que me falou da tua arte, a propósito da capa que fizeste para «Antikult», o seu último álbum. Gostei muito dela, porque representa um animal muito sinistro (mas que desempenha uma função muito útil), de uma forma quase humorística. Concordas comigo? Irrwisch – Olá, Cristina, Antes de mais, agradeço o teu interesse pelo meu trabalho. De certo modo, concordo contigo, apesar de a abordagem humorística não ser propriamente a minha principal intenção. No entanto, reconheço que é frequente encontrarem no meu trabalho uma faceta irónica ou humorística. Escolhemos esse animal, porque ele é uma espécie de mascote para Fäulnis e também está integrado no logo da banda. Há uns tempos atrás, fiz uma t-shirt para eles, onde aparecia um abutre alcoólico e fumador, que era muito mais engraçado e se assemelhava bastante mais a uma personagem de cartoon. Portanto, para essa capa, resolvi recorrer a uma reinterpretação dessa criatura, porque o Seuche queria que ela fosse a personagem central do

artwork. As letras de Fäulnis, por vezes, são tão arrojadas que me pareceu que usar de alguma ironia seria de bom tom, tanto mais que o divertimento poucas vezes está presente nesta música. «Antikult» (na minha opinião) pretende ser uma reação contra o estado atual da cena (Black) Metal, vítima dessas pseudo “ocultas” tendências, que rastejam em torno desse subgénero. O que poderia ser mais anti esta cena do que algum divertimento e auto-ironia? Tentei encontrar uma linha para guiar a minha análise do teu (enorme) portefólio. E não foi nada fácil de encontrar, porque também encontrei nele uma grande variedade. Finalmente, ocorreu-me a ideia de que a tua obra é percorrida por três temas principais: i) terror (representado, por exemplo, na capa de «Refugium», dos Anomalie, ou no logo de Alto Lago); ii) imagens poéticas (que associo à capa de «My Endless Infinity», dos Falaise, ou ao logo de Lotus Thief, ou ao cartaz alusivo à participação de The Moon and the Nightspirit no

Prophecy Festival 2017, ou ainda à tua interpretação do logo de Mosaic); e iii) “imagens infantis” (representado por elementos como a capa para «What Makes You Pray», dos Der Blutharsch and The Infinite Church Of The Leading Hand, ou o cartaz para a participação Dool no Prophecy Fest 2017 – em que se pode ver as goelas de um gato – ou a maravilhosa capa para Minus Green). - O que pensas desta apreciação do teu trabalho? A variedade de estilos é muito importante para mim. Não é minha intenção ter um estilo reconhecível, prefiro criar uma nova entidade visual para cada banda/cliente para quem trabalhar. O meu objetivo principal é que as minhas criações visuais reflitam o som e as características da banda para quem eu estiver a trabalhar. Seria muito aborrecido para mim fazer a mesma coisa eternamente. Estou a pensar, por exemplo, no trabalho de John Dyer Baizley. Ele tem o seu estilo definido, o que te permite reconhecer imediatamente o seu trabalho. Eu quero produzir o mesmo efeito, mas para a banda

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para quem estiver a trabalhar, não para mim próprio. Pretendo trabalhar com os clientes durante muito tempo, de modo a conseguir desenvolver uma identidade visual suficientemente forte para que as pessoas a associem logo à banda em questão, não a mim. Desta forma, o trabalho também se torna mais interessante para mim, porque constituirá um permanente desafio e exigirá o recurso regular a novas técnicas. No que diz respeito aos temas que referiste, consigo perceber o que queres dizer. Mas não diria que me foco nesses temas, antes que eles surgem na minha mente, por sua própria iniciativa, quando visualizo a música em questão. A maioria dos meus clientes vem da cena Metal, daí a predominância dos temas obscuros e das imagens poéticas. O termo “imagens infantis” diverte-me bastante. Nunca pensei nesses trabalhos dessa forma, mas penso que essa designação corresponde às ilustrações mais humorísticas. Gosto da designação e não a vejo como pejorativa, porque sempre me esforcei por preservar a criança que há em mim e divertir-me o mais que puder. Essa atitude mantém-te motivado e dá-te uma mente aberta. Vejo que usas uma grande variedade de técnicas. - Como fazes os trabalhos a preto e branco (tais como a capa para «Manifest of Mortal Sickness», dos CroworD, ou a capa para «Between the Light», dos Anomalie, ou a ilustração para a t-shirt dos Savanah (em que se pode ver uma espécie de escaravelho), ou ainda o cartaz alusivo à participação de Nhor no Prophecy Fest 2017)? Como já referi, a grande diversidade de técnicas de que disponho ajuda-me a inventar um mundo visual para cada banda/ cliente. Esforço-me sempre por sair da minha zona de conforto e trabalhar com materiais que são novos para mim. O preto e branco que aparece em

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“[...] reconheço que é frequente encontrarem no meu trabalho uma faceta irónica ou humorística.[…] O que poderia ser mais anti esta cena do que algum divertimento e auto-ironia?”

ilustrações como a que fiz para a capa de «Manifest of Mortal Sickness» é produzido através do uso de tinta negra em papel branca. Para a capa de «Between the Light», também fiz um objeto físico usando tinta, mas depois colori-o digitalmente. No cartaz para Nhor, usei tinta acrílica branca misturada com água e borrifada em cima de papel preto. A maior parte do meu trabalho combina técnicas analógicas e digitais. Mas, nos cartazes para o festival da Prophecy, decidi prescindir da vertente digital e apostar na produção de uma série de originais [analógicos], que seriam exibidos no sítio do evento. Foi um verdadeiro desafio, porque é um processo muito mais demorado e não te dá a possibilidade de fazer rapidamente alterações, como acontece quando recorres a técnicas digitais. Mas aprendi muito durante este processo, que me deu a oportunidade de desenvolver imenso as minhas competências. - Usaste tinta acrílica ou a óleo para fazer ilustrações em que combinas o preto e branco com alguns toques de cor (como, por exemplo, no cartaz de Arcturus para o Prophecy Fest 2017, ou na ilustração para Our Survival Depends on Us, ou ainda na capa de «Deep Shades», dos Savanah)”? Sim, usei acrílico e um pouco de tinta a óleo no cartaz de Arcturus, juntamente com vidro estilhaçado para obter o brilho das estrelas. Nos trabalhos para Our Survival Depends on Us e Savanah, usei as mesmas técnicas que no artwork para «Refugium», para Anomalie: tinta combinada com coloração digital. - Que técnicas usas habitualmente para obter os tons pastel ou as cores brilhantes? Estava a pensar em trabalhos como o cartaz para Lotus Thief no Prophecy Fest 2017 ou a capa para Minus Green. Isso pode-se fazer usando técnicas muito variadas. No cartaz para Lotus Thief, usei aguarelas e tinta e, no trabalho para Minus Green (que não é bem uma capa, porque

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a banda o rejeitou), usei lápis de cor. - E o que usaste em trabalhos como o cartaz para o concerto de Der Blutharsch and The Infinite Church Of The Leading Hand, ou na capa para o álbum «What Makes You Pray», da mesma banda (que me fazem pensar em cinema de animação)? Em ambos os casos, trata-se de fotografias sobre as quais trabalhei muito, usando ferramentas digitais, para transformar e degradar as cores, a fim de as levar a refletir as paisagens sonoras psicadélicas típicas desta banda. O coelho que aparece no poster é uma escultura que eu fiz, enquanto a imagem para a capa de «What Makes You Pray» foi criada a partir de uma fotografia de um altar que o Albin tirou num templo de Saigão, durante uma das suas viagens. Aceitas facilmente as sugestões dos teus clientes? Ou preferes que te deixem fazer o que te parecer mais adequado a cada caso? Isso depende muito da(s) pessoa(s) com quem trabalho. Mas, de um modo geral, prefiro que me imponham o mínimo de restrições possível, para me sentir suficientemente livre para concretizar as criações que a música fizer surgir na minha mente. Por vezes – sobretudo quando se trata de alguém que conheço há mais tempo –, aceito sugestões e dicas. Esse processo pode dar resultados muito positivos, como acontece, por exemplo, com o Albin (dos Der Blutharsch), que é um dos meus clientes mais antigos. No passado, recusei trabalhar mais com alguns clientes, que se tornaram muito restritivos, pelo que, no meio do processo criativo, tentaram assumir o comando e modificar tudo. Se sabes exatamente o que queres, o melhor é fazeres tudo tu mesmo. Os clientes pagam-me para eu lhes apresentar a minha interpretação das suas ideias e não devem tentar interferir no processo criativo.

Onde vais buscar a ideias para os teus desenhos? Em que te inspiras? Encontro inspiração onde quer que calha, mas sobretudo no meu inconsciente. A maior parte das vezes, para chegar às imagens que a música ou o som me fazem evocar, ponho-me numa espécie de estado hipnótico: fecho os olhos e deixo a minha mente vaguear, trazendo-me todo o tipo de imagens que a música faz surgir nela. Se consigo estabelecer algum tipo de relação com ela, as imagens surgem automaticamente. Geralmente, as imagens obtidas desta forma são muito adequadas ao trabalho em questão e apenas precisam de alguns pequenos ajustamentos para produzirem o significado simbólico que complementa ou sublinha as características da música para a qual tenho de criar uma identidade visual. Além disso, nos últimos anos, percebi que quase todos essas criações decorrem de algo de natureza simbólica relacionado comigo e com a minha vida pessoal. Depois, só tenho de descobrir o que é que o meu subconsciente está a tentar dizerme. Onde obtiveste a tua formação gráfica de base? Estudei design gráfico durante três anos e, atualmente, estou a concluir um mestrado em ilustração. Durante a licenciatura, aprendi as bases da composição, da tipografia (pela qual me apaixonei por completo) e do uso de todos os programas necessários. O que fazes para aperfeiçoar cada vez mais o teu trabalho? Procuro sair da minha zona de conforto e esforço-me por trabalhar mesmo em situações imprevistas. Também evito exagerar na análise. O meu lema é pensar menos e fazer mais. E quando começaste a tua carreira? Em 2013, ao mesmo tempo que fazia a licenciatura, comecei a criar

artwork para o universo da música. Começou por ser algo que fazia para os amigos, mas depressa se converteu numa coisa muito maior. Já fizeste alguma exposição? No ano passado, participei numa exposição com os meus amigos do círculo artístico Kreis Neuer Dunkler Kunst, na Áustria. Cada um expôs algumas das suas obras. Mas a exposição que vai acompanhar o Prophecy Fest – na próxima semana – vai ser a minha primeira amostra a solo. Gostavas de ser o artista gráfico oficial de uma editora (como acontece com o Adrien Bousson e a Season of Mist)? De momento, não consigo viver do meu trabalho e, embora esteja a melhorar de ano para ano, ainda vai demorar algum tempo a acontecer. Portanto, ter a oportunidade de trabalhar para uma editora com um ordenado certo seria maravilhoso! Tens alguma experiência como músico/vocalista? Em criança, estudei violino durante alguns anos, mas, quando cheguei à adolescência, estupidamente troquei-o pela guitarra. Depois, fui perdendo a motivação e acabei por me focar nas artes visuais. Mas, nestes últimos anos, o desejo de criar música ou paisagens musicais tem-se tornado cada vez mais forte e estou certo de que começarei a fazer algo nessa área em breve, embora me pareça que – pelo menos de início – será algo para uso pessoal. Para terminar esta “conversa”, podes dizer-me: - Qual seria a melhor coisa que te poderia acontecer como um artista? E a pior? A melhor coisa seria conseguir viver do meu trabalho e não ter de me preocupar com o dia de amanhã. Quando isso acontecer, ficarei muito satisfeito. A pior coisa? Não sei… por que haveria de me preocupar com coisas hipotéticas? - Por que escolheste um flamingo

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(geralmente rosa) para ser o teu símbolo ou logo? O flamingo é o meu totem animal e também me serve de logo. Esta criatura anómala e icónica representa a singularidade e a anormalidade. Geralmente, os flamingos rosa parecem-me kitsch,

pirosos. (Pensa, por exemplo, nos flamingos de plástico usados na Califórnia, que funcionam como anões de jardim versão EUA.) Por conseguinte, o meu flamingo negro é um símbolo anti kitsch da tentativa de fazer coisas de forma diferente e de não seguir nenhuma

moda ou imagem desgastada, especialmente na cena Metal, com a qual mantenho uma relação muitíssimo ambivalente. https://www.facebook.com/Irrwisch. Artdesign/

“[…] Não é minha intenção ter um estilo reconhecível, prefiro criar uma nova entidade visual para cada banda/ cliente para quem trabalhar. […]”

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O individual pelo coletivo Eis a principal missĂŁo desta banda underground francesa. Entrevista: CSA Fotos: Gwenn Negative Art

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Quando começou esta jornada? Quais foram as principais etapas desta viagem espiritual? N. Kapalika.– Sektarism foi formada em 2005 e teve o seu primeiro lançamento em 2008: a demo «L’Offrande». Na realidade, o nosso percurso espiritual – ou antes os percursos, dado que cada membro da banda tem o seu e são todos diferentes – data de há muito mais tempo. Precisamos de algum tempo para que os projetos que queríamos concretizar amadurecessem e que encontrássemos as pessoas que interessava envolver nesse trabalho, a fim de que a extensão Doom de Apôtres [de l’Ignominie] se constituísse. Portanto, as raízes da banda são mesmo muito profundas. Sektarism faz música? Teatro? As duas coisas? Porque tudo na banda parece imbuído de um profundo dramatismo. Se quisermos associar uma só etiqueta ao nosso estilo, será qualquer coisa como Holly Ritual Doom. Penso que esta designação retrata da melhor forma o que

fazemos. É claro que Sektarism é uma entidade musical, não teatral. No entanto, pode-se dizer que há um certo grau de teatralidade na forma como nos apresentamos no palco e no que fazemos aí. Mas isso acontece com muitas outras bandas (e, de um certo modo, essa teatralidade é uma das características do Metal e até do Rock ‘n Roll, apesar de aí não abranger o vestuário usado no palco). Por outro lado, o conceito de “teatro” implica que se desempenhe um papel pré-definido, o que não tem nada a ver com o espírito de improvisação que nos anima. Basicamente produzimos uma forma de arte bruta e viva, que é sobretudo Doom, mas não exclusivamente, e que seria muito afetada por qualquer tentativa de classificação. De onde vos veio a ideia de criar um grupo capaz de produzir uma tal manifestação artística? A banda foi constituída sobretudo com a finalidade de ser um novo avatar dos Apôtres de l’Ignominie.

Na sua origem, esteve um grupo de pessoas unidas por uma relação comum com a música e o satanismo, que, inicialmente, se articulou em torno das bandas conhecidas como Malhkebre e Darvulia. Mas, rapidamente, fez-se sentir o desejo de veicular as ideias e conceções dos Apôtres sob outras formas musicais, já que o Black Metal por si só não era suficiente para exprimir de forma adequada a panóplia de emoções que experimentávamos. Por conseguinte, de forma muito natural, acabámos por nos orientar para um género musical mais lento, compacto, opressivo, que permitiria ao ouvinte apreender plenamente o transe que deve acompanhar a música sagrada. Podes mencionar bandas animadas de um espírito igual (ou semelhante) em França (ou no estrangeiro)? Há muita bandas com as quais nos identificamos e que, de certa forma, nos influenciam. No que diz respeito à França, posso referir Monarch, por exemplo. No estrangeiro, a

“[...] O sentimento de putrefação espiritual, de crueldade, de negrume desprovido de qualquer compromisso humanista é uma imensa inspiração para nós. [...]” 5 8 / VERSUS MAGAZINE


referência-chave para nós – pela sua ideologia, pela sua abordagem sonora, pela sua aura – é Stabat Mater. O sentimento de putrefação espiritual, de crueldade, de negrume desprovido de qualquer compromisso humanista é uma imensa inspiração para nós. Ouve algo como «Chambers of Torture» e compreenderás o espírito que anima Sektarism. Quem faz a música na vossa banda? É sobretudo o Messiatanik Armrek (guitarra) que escreve os riffs que vão servir de base às composições. Depois, o conjunto é trabalhado pela banda. Que influências inspiram a música das vossas produções? Este mundo desolador e decadente, a ausência de visão nos nossos contemporâneos, o espetáculo dos crimes e do sofrimento, que fazem andar perpetuamente a roda da existência, esmagando vida após vida de forma implacável… este mundo não leva a parte nenhuma, se não nos apoiarmos numa procura da elevação, qualquer que seja o caminho por onde ela nos faça seguir. Só aquele que é capaz de mergulhar no mais profundo de si mesmo pode chegar lá e só o apoio dado pelos seus irmãos e irmãs pode ajudá-lo. Sektarism usa o coletivo para elevar o individual, quando a nossa sociedade erige o indivíduo como algo de absoluto, a fim de melhor o levar a perder-se na multidão. Este mundo precisa mesmo que lhe façamos uma guerra. E quem escreve as palavras (ou antes, as “vociferações”) para as composições de Sektarism? Eklezjas’tik Berzerk e Messiatanik Armrek são responsáveis pela escrita dos textos, que são sobrepostos à música, depois de esta ter atingido a sua forma definitiva. De onde vos vem a inspiração para essa parte das vossas peças artísticas? Dos mesmos horrores e deceções que nos inspiram para a criação

da música. Faz tudo parte de uma mesma entidade. Viveram/vivem experiências que vos ajudem a criar a envolvente dramática das vossas obras e da sua apresentação? Sektarism é a materialização do que nós somos, é tão simples como isto. Cada dificuldade, cada encontro, cada meditação pode constituir uma experiência. Fazem parte da nossa vida quotidiana, acumulamolas e fazemos uso delas. É, antes de mais, um processo humano, que cada um concretiza à sua maneira. E como é gravar um álbum de Sektarism? É um processo que queremos que seja o mais natural possível. A estrutura dos títulos é trabalhada antecipadamente, mas a sua gravação é feita ao vivo no estúdio (sem público), com todos os elementos da banda ao mesmo tempo e de uma só vez. O objetivo é preservar ao máximo a espontaneidade e a autenticidade e ainda, tal como nos concertos, procurar atingir um transe que dê à música uma vibração única. É uma forma arriscada de realizar o processo, porque só dificilmente poderemos corrigir as falhas. No que diz respeito aos concertos, apenas gravámos um: a cerimónia que teve lugar em março de 2015, na Voûtes, em Paris, e que se desenrolou em condições especiais, o que representou para nós um grande sucesso. Por isso, pareceunos indispensável divulga-la através de uma gravação ao vivo de edição limitada. Este novo lançamento é muito diferente dos seus antecessores? Não. Trata-se antes do culminar de um trabalho que decorreu ao longo de vários anos e de uma evolução lógica, técnica e estilística. É o resultado de uma continuidade, apesar de comportar determinados objetivos que nós queríamos atingir, nomeadamente em termos de artwork e de duração dos temas. A quem foi confiada a tarefa de criar a ilustração para a capa deste

álbum? Tem um ar medieval (como convém a um álbum que se intitula «La Mort de l’Infidèle»). A conceção é da autoria de Mystik Dementia, colaboradora de longa data dos Apôtres, que já fez um trabalho notável, nomeadamente para Malhkebre. Mais uma vez, ela conseguiu dar forma às visões mais adequadas a esta epístola. O álbum não poderia ter uma outra “cara”. Quem é este Infiel, que se converteu no tema central deste álbum? O infiel pode apresentar-se sob várias formas. É aquele que se desvia do caminho, que renega os princípios, que abandona. É aquele que não quer continuar a ser digno da Revelação. O que rejeita os seus irmãos. O que deve ser punido, vilipendiado e perdoado, não em seu proveito, mas sim no nosso. Mas o Infiel é também aquele que não segue nenhum caminho, nem quer ter nenhum caminho a seguir, é a alma vazia, o coração frio, o materialista, o ateu, o que prega o conforto e a facilidade como um fim em si num mundo cínico, criado à sua imagem e semelhança. Ele e esse mundo devem morrer, porque não há perdão para eles, dado ser mais grave recusar enfrentar as provações que surgem no nosso caminho do que fracassar ao tentar fazê-lo. Onde vão pregar a vossa mensagem? A nossa próxima cerimónia vai acontecer no festival Homme Sauvage, em Aspet, nos Pirenéus, a 29 e 30 de setembro, em que estaremos na companhia de Stille Volk, Treha Sektori, Common Eider King Eider e muitos outros artistas de renome da cena Doom, ritual ou ambiente. Este festival é um conceito em si mesmo, uma celebração das energias primárias. Estamos impacientes por lá chegar. metal-archives.com youtube.com

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Os advogados da Natureza Talento e simpatia são certamente características de Andreas Hedlund (aka Vintersorg ou Mr V.), a “alma” da banda sueca do mesmo nome. Pegando num tema-chave da nossa cultura – os quatro elementos – a banda tem em curso a criação de uma tetralogia de que este «Naturbal» - consagrado ao fogo – é a terceira peça. Ficamos a aguardar a chegada do quarto elemento! Entrevista: CSA

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O que tem a Natureza a dizer aos humanos? Mr V: Na minha opinião, muito, porque nós humanos já quase esquecemos que ela é a nossa origem e que temos de cuidar dela. A impressão que eu tenho é que a Humanidade foi amaldiçoada com uma forma de megalomania que nos leva a pensar que a Natureza está aqui para nós a explorarmos. É uma desmoralização, já que devíamos antes tomar consciência de que fazemos parte dela e que somos apenas mais um animal integrado no sistema ecológico. O egoísmo e a ganância são os dois pilares deste edifício. Temos de regressar à base e de procurar mesmo encontrar um equilíbrio na nossa relação com a Natureza.

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Devíamos aprender com ela e não explorá-la. Como combinam preocupações com o ambiente e Metal? Não faço parte do Green Peace, mas mantenho uma relação estreita com a Natureza e passo muito tempo ao ar livre. Adoro contemplá-la e acho-a muito inspiradora e criativa. Recorro a ela como fonte de inspiração para compor a minha música e escrever as letras. Todas as letras de Vintersorg fazem referência à relação do Homem com a Natureza e foi sempre assim desde o início. Não apostamos em mensagens políticas ou religiosas, éticas, relativas aos cuidados a ter com a Natureza. Tudo o que escrevo

destina-se a fazer refletir sobre aspetos relacionados com esse tema. Não pretendo ensinar a ninguém o que deve fazer, corrigir a maneira de viver e agir dos outros, mas espero que as letras das minhas canções façam pensar no tesouro que a Natureza representa para nós e na rapidez com que a Humanidade o está a destruir. Ao que parece «Naturbal» é bastante diferente dos vossos outros álbuns. Onde reside a diferença? E o que pretende transmitir? Confesso que não pensei muito nisso. Quando componho, faço-o de uma forma emocional e apaixonada. E o que saiu desta vez


“[…] devíamos antes tomar consciência de que fazemos parte dela [Natureza] somos apenas mais um animal integrado no sistema ecológico. […]”

foi o que podes ouvir neste álbum. O que eu tinha em mente era apostar um pouco mais do que no passado numa abordagem musical próxima do folclore escandinavo e também numa abordagem mais direta. Cada álbum representa um capítulo da nossa existência e permite-nos expressar a nossa identidade. Habitualmente, não comparo os álbuns de forma tão sistemática, porque cada um deles tem uma entidade distinta, associada ao que nós somos/ éramos naquela altura. Quem convidaram para os vocais femininos? Desta vez, convidámos duas cantoras suecas e elas fizeram em excelente trabalho. Já estava a

pensar em vozes femininas, quando compus as duas faixas em questão e a sua presença era importante para criar a atmosfera adequada nas suas diferentes partes. Não se tratou apenas de criar espaço para a inserção das vozes femininas, elas faziam parte do “esqueleto” dessas canções desde o início. Normalmente, procuro determinar que efeito pretendo criar com cada canção que escrevo e parto daí para lhe dar vida. Mas, até à versão final, estou sempre a tirar e a acrescentar elementos. As duas cantoras chamam-se Frida e Helena. A primeira é da nossa cidade, mas a outra vem de uma parte diferente da Suécia e, no passado, fez parte de várias bandas de Metal.

De que forma a capa do álbum se relaciona com o seu conceito de base? Este álbum é a terceira peça da nossa tetralogia sobre os quatro elementos. Trata exclusivamente da forma como o FOGO atua na natureza e do modo como este afetou a vida humana desde o início dos tempos. Daí a enérgica imagem da capa. Gostamos que os nossos trabalhos sejam coerentes e a capa do álbum é sempre uma peça importante do conjunto. Tem de estar bem articulada com a música e as letras. Todas as partes do puzzle têm de estar ao mesmo nível. Penso que, mais uma vez, conseguimos fazê-lo.

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Que relação existe entre este álbum de Vintersorg e o folclore sueco (tendo em conta as vossas tradições culturais)? Bem, eu sempre explorei as nossas tradições folclóricas, ao longo de todos estes anos, até porque as conheço bem. Vintersorg é uma banda consagrada à adoração da natureza, muito mais do que ao folclore. Mas, de vez em quando, gosto de “dar sabor” à nossa música… de uma forma retrospetiva. Significa isto que olho para o passado da nossa cultura e procuro descortinar o que o nosso povo viu na Natureza. Não me preocupo propriamente em escrever sobre todas as criaturas que estão representadas no nosso folclore. Que planos fizeram para promover este vosso álbum? Estoou a faze-lo neste momento. Dar muitas entrevistas faz parte da nossa estratégia. Queremos falar sobre o álbum, a sua história, em suma tudo o que chamar a atenção das pessoas. O último álbum de Borknagar também tratava da Natureza. Não tens medo de que vos acusem de repetir ideias? (Estou a tentar ser um pouco provocadora.) Todos os álbuns de Vinstersorg e Borknagar falam da Natureza. Mas nós [Vinstersorg] vemo-la de ângulos diferentes, em cada um dos nossos álbuns, e adotamos uma abordagem filosófica. Não nos limitamos a falar do que nos rodeia. Alguns dos nossos álbuns até tinham uma ponta de abordagem científica, enquanto outros são mais “românticos”. Como é fazer parte de duas bandas tão produtivas em simultâneo? É o máximo!!! Estou a viver o melhor tempo da minha vida e a explorar as várias facetas musicais da minha identidade. facebook youtube

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Ad augusta per angusta Nada melhor que esta divisa latina para uma banda que nĂŁo sĂł tem um nome em latim como ainda por cima tem ultrapassado dificuldades para se impor (apesar da grande qualidade do seu Black Metal). Entrevista: CSA

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Osculum Infame começou em 1993. Já são muitos anos. Quais foram os momentos mais importantes desse longo percurso? Deviant Von Blakk – Atualmente, parece-me que ser uma das primeiras bandas de Black Metal francesas é um dos momentos mais importantes da história de Osculum Infame. Foi o que deu alicerces ao nosso nome. Depois há momentos que continuam gravados na minha memória, nomeadamente a altura em que assinámos contrato com uma editora estrangeira, já que fomos os primeiros do género em França a serem exportados. Posso também referir a nossa participação na primeira edição do Under The Black Sun, em 1997 (penso eu), que seria um dos primeiros festivais de Black Metal da história. Recordo ainda a nossa separação, em 1999, durante a gravação do álbum «The Axis of Blood”, que seria regravado mais tarde. Esse facto levou-me a formar Arkhon Infaustus. Depois, em 2008, num repente, decidi-me fechar-me com o meu baterista – o Malkira – num estúdio para compor e gravar num só fim-de-semana o EP intitulado «Quwm» [lançado em 2010]. O resto não é ainda suficientemente antigo para poder figurar na lista dos momentos importantes. «Axis of Blood» é o vosso segundo álbum. A que se devem os longos períodos que separam os lançamentos da banda? Tensões latentes no seio da banda acabaram por provocar a paragem das atividades em 1999. Isso deveu-se sobretudo à imagem politizada que nos atribuíam. Nunca me ocupei de política – nem na minha música, nem noutros campos – porque isso não me interessa minimamente. Não podia continuar na banda a sentir-me impedido de transmitir a mensagem que eu queria realmente veicular. Assim, criei Arkhon Infaustus, para poder transmitir as ideias que me animavam. Como o vocalista e o

baixista abandonaram a banda, eu e o meu baterista mantivemos a ideia de a refazer, mas queríamos primeiro livrar-nos dessa imagem política que nos tinham associado. Assim, tivemos de esperar até 2008. Sentíamos a falta de Osculum Infame há muito tempo e estava fora de questão para mim mudar-lhe o nome, porque era a MINHA história. Como descreves o som característico da vossa banda? Mudou muito entre o primeiro álbum (de 1997) e o segundo (lançado em 2015)? Não posso falar exatamente de som característico. Até «DorNu-Fauglith» [o primeiro longa duração, lançado em 1997], eu gravava com os recursos que tinha à mão. Pequenos amplificadores velhos e um microfone no mesmo estado serviam-me para tudo. Depois apaixonei-me pelo som e agora trabalho-o muito. O que poderia assemelhar-se a um simples som é produzido por 2 ou 3 amplificadores diferentes e outros tantos pedais de distorção muito específicos, para tentar atingir o que eu pretendo obter. Mas as minhas opções dependem do momento. Atualmente estamos a gravar quatro títulos novos para um miniálbum e conto conferir-lhe uma natureza mais crua e “suja”, um pouco como «QUWM», mas mais conseguido. Quais são os grandes temas dos dois álbuns e como refletem eles o amadurecimento da banda (enquanto pessoas e artistas)? Os temas das duas épocas são muito diferentes. Quando eu criei Osculum Infame, ainda era menor, vivia em casa dos meus pais e pensava que fazia parte de uma determinada elite, quando afinal não sabia nada sobre a vida. As mensagens têm de ser forçosamente muito diferentes entre um momento em que tu pensas que tens o futuro pela frente e vais mudar muitas coisas e aquele em que já viveste bastante e tomas consciência de que o

mundo, a vida, a humanidade em geral, são ainda mais imundos e ingeríveis do que imaginavas e entras num declínio sem fim. É esse o meu caso. Hoje em dia, nos meus textos, só posso falar de perdição, de autodestruição, de apocalipse. E isso também se reflete na minha maneira de compor. Já não acredito em nada, estou morto por dentro. A minha vida está presa por um fio. Há bandas (francesas ou não) que vos tenham influenciado desde o início? Em França, nenhuma. A BANDA que me fez mudar, que me fez assumir o que havia em mim, que foi uma revelação e que me levou a tudo o que aconteceu a seguir foi Deicide com o álbum «Deicide» [de 1990]. Tinha descoberto essa banda numa minúscula loja de Metal em Paris, em 1990, o CD ainda nem sequer estava disponível, de modo que eu tinha o álbum em cassete. Foi uma reviravolta na minha vida. Satanismo musical no estado puro. A partir desse momento fiquei a saber o que era e o que queria fazer e para quem o queria fazer. Mais tarde, concretizei um dos meus sonhos: fiz uma digressão europeia com Deicide, passando 24h/24h com Glen Benton e descobri que afinal é um imbecil e um campónio inculto, que não se interessa por nada. É um cobarde cheio de pose. Quase entrei em confronto físico com ele em Glasgow, mas o seu guarda-costas protegeu-o. Portanto, foi uma deceção, apesar de ele ser o autor de algo que ficou gravado em mim para sempre. Quem fez a foto da capa de «Axis of Blood»? De que forma ela ilustra o espírito do álbum? Chama-se “The Art of Hanging” e é da autoria de Sylvain Doerler, que trabalhava para a Kaosthetik. Há 10 anos que essa foto me fascinava, quando decidi pedirlhe autorização para a associar a Osculum Infame. Sempre soube que ela havia de estar na capa

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“[…] ser uma das primeiras bandas de Black Metal francesas é um dos momentos mais importantes da história de Osculum Infame. […]”

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do próximo álbum da banda. Na versão original, há três sombras que representavam os três chefes da editora Kaosthetik. O Sylvain fez uma versão sem essas sombras para «Axis of Blood». A foto fala por si só: a morte, o frio, o silêncio, o nada. Fazem concertos? Quando e onde vão ter lugar? Fizemos poucos concertos, porque esse não é o nosso objetivo primordial. E Osculum Infame sempre teve uma imagem demasiado sulfurosa para que os promotores se atrevam a propornos concertos, sobretudo devido ao crescimento desse movimento fascista que se chama “Antifas”. Trata-se de gente extremamente estúpida que avalia todos da mesma maneira. Tal como os terroristas islâmicos, os Antifas são fanáticos que se ocultam atrás de um símbolo positivo, para espalharem um caos inútil e cobarde. Se não pensares como eles, tens de ser destruído em nome do amor fraterno. Se eles descobrem que a prima do teu

padeiro vota na extrema direita, põem-te na lista negra como “ativista Nazi” e farão tudo o que estiver ao seu alcance para te impedirem de tocar. Isto não tem sentido nenhum. Portanto, de momento não temos qualquer concerto previsto, apenas algumas ideias sobre as quais iremos refletir. Que planos traçaram Osculum Infame e a Solstice Productions para promover «Axis of Blood»? Não temos nenhuns planos. A Solstice limita-se a fazer o seu trabalho de promoção e eu a atrapalhar-lhes a vida, porque não posso dizer que me sinta muito à vontade a responder a entrevistas. Falar parece-me sempre difícil e é um exercício complicado para mim. Sou uma pessoa muito introvertida. Conhecem bandas portuguesas? Já estiveram no nosso país? Toquei em Portugal uma ou duas vezes, mas com Arkhon Infaustus. E já passei algum tempo no vosso país, em férias, quando namorava com uma rapariga

oriunda do Porto. No que diz respeito a bandas, só contactei com Corpus Christii, Decayed… Também conheço Filii Nigrantium Infernalium, os lançamentos antigos de Moonspell… Lamento, mas estou longe de ser um especialista em Metal português… Este álbum foi lançado pela primeira vez em 2015. Passados dois anos, já têm material para um movo álbum? Já devo ter gravado riffs e faixas que cheguem para três álbuns de Osculum Infame, nestes vinte anos. Mas tenho sempre uma necessidade inexorável de criar, quando trabalho para um projeto. Combino ideias velhas com as que me ocorrem no momento. O miniálbum que estou a preparar resulta precisamente da combinação de ideias de há 10 anos com outras muito recentes. Mas ainda não tem um título definitivo. Vai certamente ser anunciado ainda este ano por Battles’krs. facebook.com youtube.com

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Álbum versus IGORRR «Savage Sinusoid» (Metal Blade) Finalmente! Uma banda sonora à minha vida, que tanto me fazia falta - para saborear uma vida dedicada à progressão do carácter onde o olhar escrutinador nunca absolveu a mente do ser odiado, nunca o 'Savage Sinusoid' poderia ter tocado em mim sem nunca ter sido a obra do criador tão aguardado por onde quer que se digne a ser o ser de si, o si-mesmo selvagem e inigualado. A obra não deixa margem para qualquer dúvida, a passagem de sons agressivíssimos com melodias tão melosas (que derretem ao sol), pianos clássicos, acordeões de alma camponesa gaulesa, o cantar de ópera que por vezes nos deixa de queixo caído; sobre-tomado por nova violência que redefine o que estamos a ouvir. Igorrr não parece ser um som ao acaso, todo o eu se questiona o porquê deste álbum agora; quando o significado mesmo da qualidade aqui impressa, impressiona tanto quanto assusta. Nada me tocou tanto quanto estes volumes de originalidade, de ideias homogéneas tão bem estabelecidas para alcançar uma expressão artística cabal. Esta música não tem descrição, não tem etiquetas, nem classificação. É música. São sons. Deixo a qualquer um explorar o que poderá descobrir entre as páginas deste trabalho. A qualidade do que nos é demonstrado é apenas definido pelo alcance que cada um tem do seu ser impresso no que vê. Igorrr são… é apenas um som, uma banda. Somos nós a ouvi-los e a ficar sem palavras. [10/10] AG

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CRITICA VERSUS

AD R E NAL INE M OB

ALESTORM

A P O C A LY P S E O R C H E STRA

«We The People» (Century Media)

«No Grave but the Sea» (Napalm Records)

«The End Is Nigh» (Despotz Records)

Com o desaparecimento súbito de A.J Pero os Adrenaline Mob viram-se numa encruzilhada, se por um lado a banda questionou a sua própria continuidade por outro viu-se na iminência de ter de encontrar um substituto e continuar um caminho que vinha em crescendo. Após um período de luto a banda de Russel Allen e Mike Orlando optaram pela segunda opção tendo encontrado em Jordan Cannata um substituto à altura do malogrado músico. We The People é um regresso imaculado da máfia e não belisca em nada os seus antecessores nem o passado dos músicos envolvidos. Este é um disco em que os ganchos e os riffs são disparados a uma velocidade letal a partir do momento em que King of the Ring começa a soar nas colunas, como se fosse uma marcação de território e da chegada dos Adrenaline Mob. A partir daí We the People desenrola-se numa viagem vertiginosa feita de refrões orelhudos e memoráveis, talvez os melhores jamais feitos pela banda e que vem provar que mais do que um projecto de músicos, cujo trajecto é isento de penalizações, os Adrenaline Mob são uma banda a sério e que deve ser olhada como isso mesmo e não como um supergrupo, projecto paralelo ou o que quiserem chamar. We the People é o regresso de uma banda que ao invés de se resignar decidiu olhar em frente e seguir o seu caminho, apresentando o seu melhor disco até à data. Um último destaque para a versão de Rebell Yell (de Billy Idol) que termina o disco e que termina em grande um grande regresso. [8/10] NUNO LOPES

Oba, uau… (ironiazinha) mais um álbum de Power Metal baseado em piratas… bah! Pode parecer demasiado cliché mas por mais paradoxal que possa parecer, sabe bem ouvir este «No Grave but the Sea»… e além disso, quem disse que o Metal tem de ser sério? Por mares já de si muito navegados, os Alestorm lançam-se pela quinta vez na caça ao tesouro, quais piratas ressacados de rum e cerveja. A música é simples e muito directa, no entanto, épica e divertida. Dez estórias fantásticas, muito bem alicerçadas num alegre (Pirate) Power Metal Sinfónico, cheios de riffs, harmonias e solos que ficam logo no ouvido e nos impelem a fazer uma “má figura”, digamos… quanto estamos parados num qualquer “canal do panamá”. O pináculo de «No Grave but the Sea» é sem dúvida “Fucked With na Achour” - Fuck you, you’re a fucking wanker; We’re gonna punch you right in the balls; Fuck you, with a fuckin’ anchor; You’re all cunts so fuck you all”. Mas quem nunca lhe apeteceu dizer isto a alguém? Me parece que já têm um tema para mandar alguém, com todo o respeito, carinho, vigor e convicção pró caralho! [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

A riqueza do Metal está muiticitude de géneros e sub-géneros que se foram cizelando ao longo destes anos, de tal forma, que inevitavelmente a conjugação deste e daquele estilo, a maioria das vezes, deu ainda mais corpo ao metal no seu todo. Isto não significa que a mistura de “ingredientes”, i.e., estilos, funcione sempre ou acabe por se tornar em aquilo que eu apelidava de “Salad Metal”. Mas, tal como um excelente bolo, quando todos os ingredientes são acrescentados na dose e timming certo, temos algo de verdadeiramente delicioso. É o caso destes Suecos Apocalypse Orchestra. Para já, «The End is Nigh» é um bombástico álbum de estreia que só nos deixa desejar por mais. Esta é daquelas bandas que ficamos a torcer para que tudo dê certo e que consiga manter-se à tona neste sem fim de bandas. Na bíblia da net do metal, classificam os AO como Medieval Folk/Doom Metal. Eles conseguiram tecer um tapete musical ímpar. Aos primeiros acordes de «The Garden of Eathly Delights» pensamos de imediato estar presente a uma banda de folk, mas logo a seguir a agulha muda para um som mais metal e algo progressivo para colmatar num onda mais viking folk, onde o folfk através da gaita de foles está sempre bem presente conduzindo a música em contradição com as partes mais pesadas. E a coisa continua nesta música até termos uma parte de doom metal magistral, o todo orquestrado aqui e ali. Estão a ver a coisa a compor-se? O extraordinário de isto tudo é que parece ter sido tudo arranjado para a perfeição musical. O balanceamento musical é levado ao pícaros, estando tudo bem talhado e sem nunca descuidar a sentimento mais medieval, a componente sinfónica, com uma presença vocal numa veia mais viking doom metal assinado pelo excelente Erik Larsson. «Flagellant’s Song» é talvez a melhor música de um álbum repleto de excelência musical. Era 10/10 se não fosse o primeiro trabalho: Acho que conseguem ainda melhor! [9,5/10] CARLOS FILIPE

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CRITICA VERSUS

AR C H S P IRE «Relentless Mutation» (Season of Mist)

BELOW THE SUN

B E N E AT H

«Alien World» (Temple Of Torturous)

«Ephemeris» (Unique Leader / Earsplit)

Segundo o filósofo Daniel Dennett, parece que é devido à nossa natureza intrinsecamente complexa que somos atraídos para estéticas igualmente complexas. Ora, quem é vítima, como eu, deste apelo incontrolável pela complicação no contexto do death metal, tem neste novo registo dos Archspire mais um desafio mental para lhe dar a volta ao miolo. A música é, antes de mais, a mais rápida e ultratécnica alguma vez engendrada, com uma execução insana e um front-man que é uma máquina a vociferar grunhidos clinicamente sincronizados com a percussão a mil à hora. No entanto, e como que em resposta às acusações de terem exagerado, nos discos anteriores, nas acrobacias técnicas, a formação de Vancouver apresenta agora um álbum de construção mais cuidada com passagens que são, não apenas recorrentes, tornando a audição mais fácil e os temas mais apelativos, mas também distintivas, diferenciando bem cada um dos temas em oferta. O trabalho rítmico continua demolidor e a fasquia da complexidade permanece lá em cima, mas há pelo meio transições midpaced e partes melódicas que favorecem substancialmente a música. “Involuntary doppelgänger” abre com fúria assassina, resumindo, em pouco mais de 3 minutos, os atributos do disco. “Remote tumour seeker”, “A dark horizon” e o titulo-tema, sobressaem também pelos arpeggios cativantes e os leads alucinantes de contornos neoclássicos. «Relentless Mutation» representa bem o paradigma do death metal virtuoso, de execução vertiginosa quase circence a raiar os limites do que é humanamente possível, não sendo, no entanto, tão impenetrável como muitos outros discos do género. [8/10] ERNESTO MARTINS

Os primeiros segundos de “Blind Ocean”, a faixa inicial deste “Alien World”, quase nos fazem pensar como seria o heavy metal se o género se cruzasse com o som ambiente de sessões de Yoga. Felizmente é uma sensação passageira, pois depressa aquela bizarra sonoridade dá lugar a um imponente sludge doom com muitos laivos atmosféricos e progressivos, presentes um pouco por todo o álbum mas sobretudo em “Mirrors”, “Giant Monologue” ou “In Memories”. Ora, estas influências não ficam nada mal aqui e aproximam até os Below The Sun da cena post-metal, contribuindo ainda para deixar o todo um bocadinho menos opressivo comparativamente ao que é habitual encontrar no doom. Não que a opressão esteja ausente: a voz de Quasar é suja quanto baste para provocar desconforto, mas os Below The Sun são bem mais do que isso. Baseado na obraprima da ficção científica saída da pena de Stanislaw Lem, “Solaris” (que também inspirou Tarkovski), “Alien World” é muito superior ao álbum de estreia “Envoy” e constitui uma pequena maravilha que, desafortunadamente, passará ao lado de grande parte do público metaleiro. Este segundo disco dos russos merece outra sorte, uma vez que constitui um dos bons lançamentos a que 2017 tem assistido dentro do doom metal. [8/10] HELDER MENDES

Aparece rotulado como death brutal mas contém muito mais musicalidade e dinamismo do que é habitual encontrar no género. A banda existe desde 2007 e chega-nos dum ponto do globo que não é propriamente prolífico nesta área da música extrema – a Islândia – sendo este o terceiro longa duração com o selo dos especialistas da Unique Leader, o que já dá um certo ar de respeitabilidade. O disco anterior, «The Barren Throne», foi bastante bem recebido em 2014, mas este terceiro registo eleva definitivamente os Beneath a uma liga superior. A composição baseia-se agora muito menos nas distintivas passagens em constante warpspeed, surgindo aqui mais solta e com uma malha rítmica mais trabalhada. A música respira mais, intercalando entre os segmentos mais brutais, transições bem conseguidas e partes atmosféricas que, por contraste, fazem sobressair o peso dos riffs, proporcionando também mais espaço criativo para os apontamentos técnicos dos guitarristas (irmãos?) Unnar e Johann Sigurdsson e o destaque adequado para a prestação eximia de Mike Heller, o baterista dos Fear Factory que surge aqui como convidado (assegurando as funções de Ragnar Sverrison, elemento fundador que abandonou recentemente a formação). A cereja no topo do bolo é facultada pelo magnífico som cristalino resultante da gravação, mistura e masterização da responsabilidade do mago Fredrik Nordström, que dispensa apresentações. De qualidade consistentemente elevada ao longo das suas nove faixas, «Ephemeris» é um trabalho inteligente, que nenhum fã de death metal deve deixar passar ao lado. [9/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

BETHLEHEM

B O R IS

«Land Animal» (InsideOut)

«Bethlehem» (Prophecy Records)

«Dear» (Sargent House)

Não nos podemos despegar das coisas materiais, onde somos dependentes sem nunca ter tomado a primeira bufada de borla. A nós salva-nos apenas a memória etérea dos momentos que nos marcam com a sonoridade oportuna, divina. Quem nos toma por caminhos tão desastrosos sabe sempre onde nos deixar na berma da estrada. Ao ouvir este «Land Animal» não nos marca a monotomia/monogamia; nem a depravada intenção de bater records nas vendas de pipocas em estádios eufóricos. Podemos nos contentar com simples profundidade, beleza e magnânime inteção de fazer música. De onde vem este som? Que nos é tão familiar do profeta falecido no Mississipi, com tons modernos e femininos. A história da banda passa por Berkley. Tinha de o dizer. A capacidade musical e instrumental é fluente, natural e nada frustrante onde algum virtuoso egocêntrico desta mesma escola poderia tomar por suas as nas capacidades auditivas. A música, o álbum fluiu naturalmente nestes dias onde nos dá para reflexões no parque. A voz mistifica o sexteto ao ponto de nos manter acordados, atentos a todos os momentos. A introspecção pronunciada poderá ofuscar mais do que um; não se deixem amedrontar pela vossa capacidade de compreender; tudo acabará por ser claro, no fim. [8/10] AG

A fama dos germânicos Bethlehem é bem maior que o proveito que a banda retira do mesmo, no entanto, a banda é das mais respeitadas no underground germânico no que diz respeito ao Black Metal. Claro que, quando se fala de Black Metal o nome Bethlehem poderá não constar nas primeiras escolhas mas, verdade seja dita, a banda teima em agitar as águas mais turvas e negras do género sendo este mais recente registo, hómonimo, prova da vitalidade da banda e do espírito criativo que envolve a banda que, uma vez mais, utiliza a sua lingua mãe para nos impregnar no seu Black místico e poderoso. Poderemos dividir Bethlehem em duas partes distintas, se nas primeiras malhas a banda assume uma postura mais dark e pesada com temas como Fickeses Bomber Panzerplause ou Die Dunkelheit darbt, em que os arranjos são mais arrojados e sujos, numa segunda parte a banda assume uma postura mais teatral e, se quiseremos, mais intimista e conceptual em que a voz de Onielar assume o protagonismo e envolve a música dos germânicos num denso nevoeiro, exemplo disso mesmo é a faixa Arg tot Frohlockt kein Kind, uma astuta faixa que começa com um arrebatador spoken word. Este é um disco que vem elevar o estatuto dos Bethlehem e que, finalmente, os pode catapultar para outros ouvintes e que, certamente, não deixará ninguém indiferente. Um desafio imponente. [7/10] NUNO LOPES

Boris reapoderam-se dos riffs monolíticos de “Absolutego” e “Amplifier Worship”, mantendo um ligeiro teor do psicadelismo açucarado de “Akuma No Uta” e “Pink”. Vinte e cinco anos de carreira celebrados num álbum musculado, a partilhar endorfinas da primavera do grunge temperadas com uma dosagem indulgente de valium. Desde a malha titânica de “Absolutego”, passando pelo assombroso “Beyond” até à expansão cromática de shoegaze em “More”, Boris cobrem todas as bases que catalogam o seu percurso. As vocais desafetadas de Takeshi Ohtani tanto sugerem um crooning de Matt Bellamy como igualmente um Thurston Moore indisposto com expetáveis contrações linguísticas. Os efeitos são sabiamente manipulados de forma residual contra o minimalismo dos riffs, ampliando o poder massivo da esmagadora parede de som (“The Power”). Tanto a viscosidade do sludge desentranhado do tema título, como o atordoante feedback a esvair pelas colunas (ao melhor estilo de Amusement Parks on Fire) em “D.O.W.N. - Domination of Waiting Noise”, cimentam o presente álbum como um portentoso epitome de carreira. A eclética transversalidade chega mesmo a sugerir as geniais explorações de John Cale por altura de Dream Syndicate, no início de “Dystopia”. O melhor álbum que os Melvins não gravaram. [8/10] FREDERICO FIGUEIREDO

BE NT K NEE

7 6 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

CA NNA B IS CORPSE

C Y D E M IN D

«Left Hand Pass» (Season Of Mist)

D IM M U B O R G IR

«Erosion» (Independente)

««Forces of The Northern Night»» (Nuclear Blast)

Pode uma banda cujo objectivo é a paródia ser levada a sério? E será que a resposta tem alguma importância? Fazendo as contas, o que interessa é se estamos ou não perante um bom produto, e por produto queremos dizer o álbum aqui em causa e não a erva consumida pelos gémeos Hall antes, durante e depois da concepção deste “Left Hand Pass”. Mais charro ou menos charro, mais passa ou menos passa, o death metal tipicamente norte-americano dos Cannabis Corpse traçado em “Left Hand Pass” (trocadilho evidente com o clássico “Left Hand Path” dos suecos Entombed) mostra-se interessante o suficiente para sobreviver à piada, mas também não vai muito mais para além disso. Nestes 37 minutos de moca nem todas as faixas batem da mesma maneira, prova de que os Cannabis Corpse poderiam ter tripado um bocadinho melhor. Desde “The 420th Crusade”, que se destaca com o seu início muito assemelhado à “Hollow” dos Pantera, até “The Fiends that Come to Steal the Weed of the Deceased”, a viagem tem altos e baixos e não se pode dizer que seja particularmente viciante. Nota final: o autor destas linhas não se valeu, para a redacção das mesmas, de qualquer substância psicotrópica. Também não precisava: o cheiro das ganzas fumadas pelos Cannabis Corpse, em quantidade tal que deve ter parecido uma autêntica procissão das velas, mas em charros, era tão intenso que chegou até ele. [6/10] HELDER MENDES

Metal progressivo completamente instrumental, com um violinista como figura de proa, é o que nos trazem os Cydemind neste álbum de estreia publicado em Maio passado. É uma abordagem certamente pouco comum, aqui explorada com mestria por um naipe de músicos de excepção, encabeçados pelo tal violinista – Olivier Allard – que transpira influências clássicas e de jazz de fusão, lembrando por vezes o grande Jean-Luc Ponty. Beneficiando de uma produção soberba, «Erosion» inclui mais de uma hora de música fluente, uplifting, rica em mudanças de tempo e passagens apelativas, com o protagonismo a alternar, múltiplas vezes no mesmo tema, entre o violino, os teclados e (com menos frequência) as guitarras. O grande foco é, obviamente, o violino, mas o trabalho de teclados de Camille Delage não é menos notável. Nunca é fácil segurar a atenção num trabalho inteiramente instrumental, mas a banda canadiana consegue-o com graciosidade, até mesmo nos 13 minutos de “Derecho” e no épico titulo-tema de 27 minutos, graças a um talento que é manifesto na forma como compõe, na variedade dos arranjos a que recorre, e numa dose de virtuosismo que é mais do que suficiente para fazer feliz qualquer fã do género, sem nunca entrar em excessos técnicos. De entre as várias influências citadas pela banda (Symphony X, Haken, Rush), os Dream Theater são o nome que emerge de forma mais evidente – talvez até em demasia – no estilo e sonoridade de «Erosion». No entanto este é claramente um aspecto a relevar em face dos vários argumentos de qualidade deste primeiro registo. [8,5/10] ERNESTO MARTINS

Este é o pináculo da evolução musical que os Dimmu Borgir têm experimentado ao longo dos tempos. Numa parceria com a Norwegian Radio Orchestra and Choir, juntaram-se em palco mais de 100 músicos, documentando ao vivo a magnificência da criação musical dos noruegueses. Os elementos sinfónicos foramse tornando cada vez mais proeminentes a cada novo trabalho editado pelos Dimmu Borgir. “Abrahadabra”, o último disco de originais, editado em 2010, terá sido aquele em que este facto se torna mais evidente, sendo a colecção de temas onde em muitos momentos as guitarras são relegadas para o segundo plano. Não será por isso de estranhar que este seja o disco mais presente neste concerto especial. Iniciam com a interpretação de “Xibir”, passam pela espetacular “Gateways” e ainda temos direito a uma versão dupla do tema “Dimmu Borgir”, primeiro em versão orquestral e logo de seguida o tema fiel ao original. “Puritanical Euphoric Misanthropia” representou um passo em frente no que a arranjos sinfónicos diz respeito, e talvez por isso este trabalho se foque na história do grupo do ano de 2001 em diante. A versão orquestral de “Eradications Insticts Defined”, o já clássico “Kings of The Carnival Creation”, e o momento central que é a interpretação de “Progenies of The Great Apocalypse”, são alguns dos excelentes exemplos do trabalho orquestral desenvolvido e da irrepreensível prestação do coro de vozes da orquestra norueguesa. Embora se possa ficar a salivar por uma exploração maior do lado sinfónico de outros temas icónicos, ou de uma maior quantidade de temas do incontornável “Enthrone Darkness Triumphant”, a imponente “Mourning Palace”, mesmo à beira do fim, torna-se num momento “sagrado” ainda maior do que o que já era. [8,5/10] EMANUEL RORIZ

7 7 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

DOOL «Here Now, There Then» (Prophecy Records)

E N T R A IL S

F IV E T H E H IE R O P HAN T

«World Inferno» (Metal Blade)

«Over Phlegethon» (Dark Essence Records)

Os Dool são um caso sério de sucesso, desde o lançamento em 2016 do disco de estreia que os holandeses vivem tempos de glória, sendo que neste novo registo, os holandeses elevam a fasquia e demonstram que o sucesso não lhes subiu à cabeça, isto porque em Here Now, Then There mostra uma banda ciente das suas capacidades e ciente dos terrenos que pisa. Talvez os mais cépticos julgassem que o sucesso da banda seria efémero, porém, a banda sopra ao ouvido musicas que nos transportam para paisagens calmas e tranquilas que desafiam a mente a divagar pelo negrume da mente humana. A música dos Dool consegue, ao mesmo tempo, ser doce e amarga, ser negra e luminosa, isso acontece porque a voz de Ryanne Van Dorst nos embala e agarra, numa estranha dança em que o prazer do gótico se mistura com nuances de Darkwave, criando uma mistura quase Avantgarde, sendo que, na generalidade, a música dos holandeses pode ser ouvida como uma encarnação Doom. Here Now, Then There é um disco belo, mágico e transcendental. que não existam dúvidas, a banda está aí para ficar. [9/10] NUNO LOPES

Ao ouvir esta banda pela primeira vez com este seu novo trabalho «World Inferno», só me apetece mesmo é mandar foguetes e aplaudir de pé o monumental e único - nos dias actuais - som de Swedish Death Metal que eu já não oiço há mais de 25 anos! Para ser mais preciso, desde que os Entombed lançaram o que é para mim o melhor álbum alguma vez feito de Swedish Death Metal: o «Clandestine». Para perceberam o meu ponto de vista, terão de ouvir ou conhecer esta masterpiece dos Entombed. Este «World Inferno» tem uma afinação de guitarra que lhe confere uma característica sonora que jamais ou dificilmente foi reproduzida até então. Nem mesmo os Entombed o fizeram! Não quero dizer que «World Inferno» é uma cópia do «Clandestine», não, longe disso, mas oferece-nos novamente esta fabulosa afinação de guitarra que eu pensara perdido para sempre. Os Entrails começaram em 1990, mas só em 2009 é que começaram a editar coisas, aparentemente, nunca tinham ficado satisfeitos com a música que escreveram ao ponto de a gravar. Este «World Inferno» é já o seu quinto álbum, pelo que a evolução é mais do que evidente. «World Inferno» é um muito bem conseguido álbum de Death Metal, sem inventar ou inovar muito, mas bastante directo e consistente, indo rapidamente ao que interessa e com um punhado de músicas magistrais na onda do que referi anteriormente. Swedish Death Metal à boa maneira nostálgica. [9/10] CARLOS FILIPE

“Over Phlegethon” apresenta-nos uma espécie de sonho húmido onde se promiscui o distúrbio sensorial dos Cosmic Dead com a voluptuosidade insidiosa dos Morphine. Esta bizarra combustão evoca ritmos de space rock de uma pegajosidade reptiliana, encadeados com a sensualidade desarticulada de notas dissonantes de saxofone. Combinações improváveis, notas incandescentes e batidas tribais (“Queen over Phlegethon”) enfeitam esta fanfarra lovecraftiana, com o seu ápice na extravagante “Der Geist der stets Verneint”. Os sacerdotes britânicos que compõem a banda, conjuram bizarras dimensões psicogénicas para espíritos dilatados, desvelando com o seu primeiro álbum de longa duração, um eclético psicadelismo ritualizado com amplo recurso a samples e instrumentos improváveis (djembe, gongo e outros artefatos musicais tibetanos). Paisagens sonoras tecidas em emissões encriptadas (“The Omen Tree”) acentuam o ambiente de turva desorientação perceptual do álbum, bem encapsulada na magnifíca cover artwork da autoria de Odd Nerdrum. Entre jazz psicadélico, post metal e ambient, as balizas dos géneros são desconfiguradas e reconfiguradas no transe de uma dinâmica corrente hipnótica. O hierofante apresenta-nos um portal de navegação xamanística para cosmonautas e vagabundos interdimensionais. [8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

7 8 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

GO ATWH ORE

G R AV E T E M P L E

«Vengeful Ascension» (Metal Blade)

«Impassable Fears» (Svart Records)

«Much Higher Than a Hope» (Raising Legends)

A maior novidade deste disco é o facto dos norte-americanos Goatwhore terem alterado o responsável pela produção do disco, após quatro registos sobre a batuta de Erik Rutan (Hate Eternal) a banda voltou as agulhas para Jared Pritchard e, com ele os Goatwhore parecem dispostos a destruir todo o que se meta no caminho. Vengeful Ascension é um disco puro de BlackDeathThrash, onde não podiam faltar os clichés de sempre mas que, quando feito segundo as regras dos norte-americanos, cujos riffs nos penetram e torturam os tímpanos, com ganchos deliciosos que nos fazem querer a descida do inferno. Assim que Forsaken arranca, qual tribalismo, as trevas abatem-se no ouvinte e os Goatwhore são os portadores da descida dos infernos. Sem tempo para respirar, a banda liderada por Louis Falgoust II, mostra ser uma força destruidora e dignos portadores dos dias do fim. Gravado em registo reel-to-reel, Vengeful Ascension, é um disco que deve ser escutado na íntegra, tal a devastação proposta bela banda. Este é um disco imediato que nos traz memórias de tempos idos. Este é um disco oldschool sem o ser, é um registo que congrega em si mesmo, todo o poder de um Deus maior, mesmo que seja o inimigo. Os Gotwhore trazem ao sétimo o melhor disco de uma carreira que segue sólida e progressiva. Preparem-se para o Apocalipse. [8/10] NUNO LOPES

O presente álbum consiste numa ritualização sónica concebida para aplacar a ira cataclísmica de fúrias animistas. Uma performance em modo de surto asmático, exalando um pânico pervasivo; a tradução de um temor pré-uterino tatuado no ADN coletivo de uma consciência primitiva. A tridimensionalidade imersiva da narrativa a três vozes de Attila Csihar (Mayhem), Stephen O’Malley [Sunn O))] e Oren Ambarchi (guru do experimentalismo musical), assenta numa expressão de desagregada esquizofrenia criativa. Um jam de free doom jazz medieval a ecoar o som da violenta convulsão de placas tectónicas. Orquestram-se dissociativamente a gravidade asfixiante dos riffs de O’Malley, a cavernosa eloquência de Csihar e a imprevisibilidade errática da percussão de Ambarchi, que tanto tem de solene reverência como de dissonante desorientação. A amorfa genialidade com que este impromptu agrega cripticamente influências de minimalismo eletrónico, fragmentos de drone doom e pulsante improvisação de ritmos de percussão, enquadra este trabalho ensaístico na musicalidade aberrante de Abruptum ou no recente trabalho de Orthodox. Existe uma perenidade no pavor emanante do álbum, manifestada numa circularidade ausente da catárse inerente à transitoriedade. “Impassable Fears” termina num esforço de respiração que apenas promete nova asfixia. Uma experiência genuinamente desconfortável. [8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

Importa em primeiro dizer que os Iberia estão de volta aos discos de originais com este “Much Higher Than a Hope”, no momento em que também assinalam os 30 anos de carreira. Este tempo decorrido materializa-se neste novo trabalho sem qualquer evidência de erosão, mas sim com uma vivacidade e frescura surpreendente. A qualidade da produção aqui presenciada é superior a tudo aquilo que os Iberia gravaram até aos dias de hoje. A este facto alia-se o conjunto de boas canções aqui registadas. O nível de interpretação encontra-se claramente acima da média, e é possível comprovar isso nos refrões fortes e marcantes, como por exemplo o de “Sanctuary Of Dreams”, onde a força das guitarras e a interpretação vocal de Hugo Soares preenchem todo o espaço à nossa volta. O desfile de riffs e momentos que nos agarram de gancho é uma constante ao longo do disco e para isso contribui, e muito, a coesão rítmica do colectivo. Malhas como “Living a Lie” ou “Rising Inferno” vão certamente deixar-vos irrequietos. Não faltam também os momentos mais calmos e lentos, e em baladas como “How I Miss You” e “Poisoned” somos brindados com uma excelente dose de sentimento, transportado pelas melodias e solos de guitarra tocantes. Parabéns aos Iberia por ultrapassarem os 30 anos de carreira e pelo excelente esforço que é “Much Higher Than a Hope”. [8/10] EMANUEL RORIZ

IB E R IA

7 9 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

J A RB O E & FATH ER M URPHY

LOSS

M ID N IG H T R ID E R

«Jarboe & Father Murphy EP» (Consouling Sounds)

«Horizonless» (Profound Lore Records)

«Manifestation» (Massacre Records)

Apesar da duração preambular desta fecunda colaboração, é inegável a grandiosidade que se esconde nesta trama minimalista, acabando por acicatar exponencialmente a nossa vontade de assistir à atuação que se avizinha no âmbito da tour europeia. O EP é composto por dois temas com cerca de cinco minutos cada, onde se combinam a aptidão de Father Murphy (duo italiano de música experimental) na criação de sobreposições texturais de drone e outras estruturas composicionais minimalistas, com a espantosa magnitude vocal de Jarboe (conhecida pelo trabalho desenvolvido com os lendários Swans). Father Murphy tecem véus de dormente mesmerização que servem como diáfano plano de fundo para o andrógino registo de Jarboe e sua febril ternura de desconsolo. As composições de Father Murphy tanto assentam na austeridade de notas de piano a memorar os citados Swans por altura do “Greed”, como no decadente esplendor elegíaco exalado pelos pulmões de um órgão de igreja. O ambiente é dormentemente litúrgico, assentando ora em austeros crescendos de ameaça, ora na narcótica entrega da abnegação. Com uma carreira em torno da culpa e do conceito expiatório do cristianismo, Father Murphy, através da colaboração com Jarboe, consegue suavizar a queda na espiral do abandono. A culpa é o cilício da fé e este é o prenúncio da salvação. [8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

Loss apresentam-nos o seu mais recente opus miserabilis de incubação letárgica, o segundo álbum deste conjunto de sisudos cangalheiros do Tennessee. Apesar da inegável opressão com que nos sufoca o seu entorpecedor desalento, “Horizonless” manifesta alguma dificuldade em desemaranhar-se do sedentarismo caraterístico do subgénero funeral doom metal. A par de “Rust & Bone” dos Mourning Beloveth, evidencia um revivalismo da era “Serenades/Crestfallen” dos Anathema, notável sobretudo em “All Grows on Tears”. A elegância com que são entrelaçadas as harmonias das guitarras, ou as turvas pinceladas de suicidal black metal (“The Joy of All who Sorrow”), em conjunção com a guturalidade subterrânea da voz de Mike Meacham, acabam por graduar a matiz de preto que carateriza o submersivo espírito do álbum. O recurso a teclas e acústicos artifícios, sob a forma de decadentes interlúdios, perfuram ligeiramente esta mordaça tumular, fazendo aspirar o bolor da terra que nos sepulta a respiração. A tarefa das vocais é alargada aos restantes membros da banda, bem como a notórios convidados como Stevie Floyd de Taurus/ Dark Castle e Wrest dos Leviathan (em “When Death is All”), coagulando esta elegia com o sangue de cadáveres sepultados na garganta. A produção a cargo de Billy Anderson (conhecido pelo trabalho desenvolvido com Neurosis, Bell Witch, Pallbearer ou Red House Painters) enaltece a singularidade dos elementos e sela a irrespirabilidade de “Horizonless”. [7/10] FREDERICO FIGUEIREDO

Para muitos o nome Midnight Rider pode ser estranho, no entanto para os mais atentos este nome é, há muito, um tesouro bem escondido no Heavy Metal tendo iniciado a sua carreira há cerca de 13 anos e que tem vindo a cimentar a sua carreira e que vê, finalmente, chegar às lojas o muito aguardado registo de estreia. Sem quererem reinventar a roda, ou o género, os germânicos apresentam um resultado final bastante interessante e que, numa altura em que tanto se tenta inovar, nos prende pela sua simplicidade. Com uma produção que não é, de todo, um luxo, a banda apresenta um punhado de temas assentes em bons riffs e com refrões orelhudos que nos fazem bater o pé de forma (quase) instantânea, o que prova bem que o género não morreu e que os Midnight Rider são fieis discípulos dos anos dourados do Heavy Metal. Podemos dizer que Manifestation é isso mesmo e muito mais, pois a banda não se coíbe de atirar umas fartas ao sistema vigente, como em When I Spew My Hate ou Heroes and SpeedFreaks, sem, claro, perder a oportunidade para fazer suar os corpos como em Tears of Your Temptation ou Creature of The Night. Ou seja, Manifestation é um disco que encherá de orgulho os mais acérrimos seguidores de Judas Priest ou Samson e que prova que, em 2017 é ainda possível o regresso a 1977. Um mimo. [7.5/10] NUNO LOPES

8 0 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

NOE TA «Beyond Life and Death» (Prophecy Productions) Beyond Life and Death é o registo de estreia da dupla sueca que, por estes dias, são autênticos desconhecidos na cena Metal e isso é algo que, salvo raras excepções, irá continuar a acontecer mas não por culpa da dupla ou de qualquer motivo de qualidade mas sim, e na grande maioria, pela sonoridade que apresentam. A sonoridade do duo deambula, como o próprio título do disco indica, pelos meandros da vida e da morte, sendo que a música, propriamente dita se situa num limbo que, por vezes, nos faz sentir numa espécie de meio-termo, nunca indo além nem da vida e muito menos além da morte. As cadências são caminhadas por estradas pouco iluminadas cuja densidade nos aproxima de um minimalismo que, em alguns momentos tem o charme baforento da morte. Dito isto, o maior destaque de Beyond Life and Death acaba por ir para as vocalizações que nos encantam e fazem o nosso imaginário perder-se por sonhos e paisagens distantes. Este é um daqueles registos que irá apaixonar os seguidores de sons menos pesados e mais dados à melancolia, por isso, deixemse aventurar e que a magia negra vos faça renascer a alma. [6,5/10] NUNO LOPES

NUIS A N C E O F M A J O R IT Y

O S C U L U M IN FA M E

«Savage Ritual» (Toanol / Broken Silence)

«Axis of Blood» (Battlesk’rs Productions)

Os Nuisance Of Majority chegam pela primeira vez à Versus Magazine vindos directamente do Norte da Alemanha. No entanto, os NoM já andam por estas andanças vai para quinze anos e quatro álbuns. «Savage Ritual» conjuga o melódico e o agressivo; a voz é bastante versátil, sofrendo de algum tipo de desordem de identidade: ora mais Hardcore, estando no limite do que o meu gosto musical pessoal considera aceitável, e por conseguinte, audível, ora melódica, como é o caso do tema “The Big Takeover”, e ainda, agressiva do tipo Chuck Billy. A música é influenciada por uma mescla energética, bastante interessante do Metal tradicional, Punk, Death/Thrash Metal e até Doom. Com esta receita descarregam uma furiosa destruição sonora, agradável de ouvir, se é que me entendem. No entanto, devido à mescla de influências ou estilos, como lhe queiram chamar, poderá haver alguma resistência podendo vocês achar que algo não bate certo. É mesmo assim, o álbum cresce a cada audição. Ao contrário de muitas novidades que nos chegam de editoras mais alternativas, os Nuisance Of Majority cresceram e «Savage Ritual» tornou-se nisso mesmo… um ritual selvagem. [7,5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

Os Osculum Infame apresentam-nos em “Axis of Blood” um excelente e bastante variado álbum de Black Metal. Excelente porque todos os temas são de uma brutalidade fascinante e variado porque se pode encontrar de tudo por aqui. De facto, depois da introdutória faixa “ApokalupVI” somos presenteados com “Cognitive Perdition of the Insane”, um tema lento e épico com excelentes melodias. De destacar a qualidade da produção deste álbum, permitindo-nos degostar o excelente disco aqui criado. “Kaolist Serpentis” contrasta com o tema anterior e é um daqueles temas rápidos que nos força a um headbang intenso. “My Angel” e “Absolve Me Not!” voltam ao registo mais arrastado apostando na intensidade dos seus riffs e na voz devastadora de Drack, destacando-se, também, a qualidade da composição. “Let There Be Darkness” volta a acelerar o registo e demonstra a capacidade dos Osculum Infame em criarem malhas mais relacionadas com o black metal mais puro. “Inner Failing of the Glory of God” inicia com um excelente riff , evoluindo depois para um compasso mais lento aonde a banda explora o seu ódio por toda a Humanidade. Aliás, todo o disco é sobre isso mesmo. Ódio puro! “White Void” ilustra mais uma vez a genialidade deste colectivo francês ao incorporar um violino, discreto mas bastante eficaz ao realçar a beleza da melodia desta música. “Asphzxiated Light” aposta toda a sua melodia nas linhas de guitarra que denotam uma forte influência thrash. “In the Ocean of Worms” volta à fórmula mais tradicional de black metal enquanto “Solemn Faith” fecha o disco num tom mais arrastado. “Axis of Blood” é um excelente disco, com diversas influências que qualquer fã de black metal irá certamente apreciar. [9/10] EDUARDO ROCHA

81 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

PRONG

S E K TA R IS M

«Zero Days» (Steamhammer/ SPV)

«La Mort de l’Infidèle» (Zanjeer Zani)

Sem nunca terem chegado a um nível de exposição, ao contrário de alguns dos seus pares, os Prong transformaram-se numa banda de culto, venerada por músicos como Jonathan Davis, Mike Patton ou Trent Reznor. Zero Days é o novo disco da banda e não traz nada de novo, não querendo isso dizer que o resultado final é mau, longe disso. O Power Trio mantém-se fiel às suas origens e mistura, de forma eficaz, o seu Thrash/ Crossover / Sci-Fi Metal. Denota-se um maior cuidado nas letras e Tommy Viktor começa, de facto a tornar-se um melhor criador de malhas que nos fazem ficar ligados à corrente. However It May Ends inicia o disco e faz-nos pensar o que seriam os Fear Factory sem os Prong. O único pecado, se assim o pudermos dizer, é o facto de, a partir de certo ponto, as faixas se comecem a estender para lá do que o disco merecia. Existem alguns momentos interessantes como Off The Grid, Divide and Couquer e, claro, a revolta de Forced Into Tolerance, que revela o lado mordaz da banda. Art Cruz continua a ser um monstro atrás do drumkit e é, também, graças a ele, que os Prong respiram esta energia, pois muito do segredo da banda está na forma como o groove afecta e abre o caos que se gira à volta. Sem ser um disco brilhante, talvez sem estar a par de discos como Rude Awakening ou Prove You Wrong , podemos dizer que os Prong continuam iguais a si mesmos, mesmo que a novidade não passe por aqui. [7/10] NUNO LOPES

Riffs primários, um recurso rudimentar ao feedback das guitarras e uma voz a espremer irascíveis suplícios, embrulham o segundo

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álbum deste conjunto francês de funeral doom metal. Uma ritualização “musical” da monotonia com amplas referências à estigmatização cristã, apenas ultrapassada pelo ato auto-flagelatório que constitui a audição de “La Mort de l’Infidèle”. Um dos poucos fatores de redenção a serem extraídos desta oblação, assenta no fato da gravação ter sido realizada ao vivo em estúdio num só esforço, porém, este registo improvisado traduz essencialmente uma ausência de direcção (nos moldes do minimalismo das composições) que trai a suposta genuinidade da actuação. Trata-se de mais uma recorrência no universo do black metal e metal extremo de conotação (anti-)religiosa em que o discurso encontra ténue reflexo na execução, assemelhando-se a presente actuação a um ensaio de um conjunto em fase embrionária, com vontade mas incipiente capacidade de manipulação dos recursos, na suposta recriação de um ambiente de calvário. A banda, formada por membros da seita Apóstolos da Ignomínia, professa ser o chicote que lacera a pele corrupta, tornando-a pura. Esta e semelhantes incursões na teatralização medieval que a banda tenta encarnar não se traduz porém num pathos suficientemente lacerado para evangelizar este pecador. [4/10] FREDERICO FIGUEIREDO

S U N O F T H E S L E E P L ESS «To The Elements» (Prophecy Productions) O criativo e multi-tarefas Schwadorf, conhecido sobretudo pelos Empyrium e The Vision Bleak, assina aqui como Sun Of The Sleepless, um projecto solo que cai nas sonoridades black metal de toada mais melódica. O “toque” Schwadorf é claramente reconhecível, quer instrumental quer vocalmente, mesmo levando em conta que os Sun Of The Sleepless navegam em águas mais extremas do que aquelas a que o músico alemão nos tem habituado, pelo menos nas suas bandas mais afamadas. “To The Elements” soa ao black metal tal como era executado, nos anos 90 do passado século, pelos colectivos do norte da Europa e isso nunca pode ser uma coisa negativa: riffs cortantes que por vezes recordam os noruegueses Ancient, melodia, atmosfera… tudo isto faz parte deste disco, juntando-se-lhe a mais-valia que é a voz de Schwadorf, umas vezes ríspida, outras vezes aveludada (de notar os coros em “Where in My Childhood Lived a Witch” ou os três minutos da balada – sim, balada! – “Forest Crown”). Um trabalho de estreia que constitui uma das boa surpresas entregues por 2017, capaz de agradar não só aos fãs de The Vision Bleak como também aos apreciadores de bom black metal melódico. [7,5/10] HELDER MENDES


CRITICA VERSUS

T H E L U R K I N G FEAR

TO D H U E T E T U E B E L

T O M M Y S T E WA RT ’S D Y ERW ULF

«Out of the Voiceless Grave» (Century Media)

«N.A.D.A» EP (Caverna Abismal Records)

«Tommy Stewart’s Dyerwulf» (Soman Records)

Tomas Lindberg e Adrian Erlandsson dos seminais At the Gates, juntam forças com membros de Skitsystem, Disfear e God Macabre, para nos cilindrarem com uma dose de death metal do antigo, ao melhor nível de um “Left Hand Path” dos Entombed ou “Seven Churches” dos Possessed. Death metal rústico e sujo, com uma inebriante infusão de crust, a fazer o distorcido tremolo das guitarras galopar a escala em salivada fustigação. A banda, num brutalíssimo primeiro registo de longa duração (curto tempo após o lançamento do introdutório EP “Winged Death”) retoma o legado dos Death Breath na recuperação da adolescência dos Autopsy, Entombed e Death, regurgitada pela turbina laríngica de Lindberg. Esta, num registo umas oitavas abaixo do adoptado nos At the Gates, sugere a ligação de um pedal de distorção Boss HM2 ao microfone, encontrando-se mais corrosivo que nunca, assertivamente assegurando o pódio de excelência nos escarificadores de garganta no universo do metal extremo. As guitarras, por seu lado, num estilo direto e despretensioso, disparam solos e riffs da velha guarda, sem compromisso e com mercenária indisciplina, polindo o metal sem desvirtuar a nocividade da ferrugem. “Out of the Voiceless Grave” alia a adrenalina etílica do crust ao inalienável negrume do (genuíno) death metal num filha da p*t* de um álbum! [9/10] FREDERICO FIGUEIREDO

Dois anos após o reconhecimento generalizado a Malicia, o duo nacional Tod Huetel Uebel está de regresso com N.A.D.A. Não deixando que êxito lhes toldasse o raciocínio, a banda composta por Daniel C e Marcos M é, cada vez mais, um hino ao negrume que invade a alma. Composto por dois temas e com a participação especial de Sofia Loureiro, os Tod Huetel Uebel conseguem, em poucos mais de 20minutos levar o nosso imaginário até ao âmago da dor, da perca e do irracional, sempre intricada por laivos de desespero, de socorro, a música do duo ganha contornos apocalipticos. Sentimonos presos na carga negativa que a vida transporta, esuqcemo-nos de quem somos e a nossa carne é servida, a sangue frio na mesma mesa em que a vida se alimenta das nossas emoções. N.A.D.A é um EP de uma banda que cimenta a sua posição no underground nacional e na «cena» europeia, provando que Malicia foi apenas o começo de uma era, onde os Tod Huetel Uebel são servidos quentes num prato frio como o ferro como o aço que nos corta a pele. [7/10] NUNO LOPES

Não poderei dizer que Tommy Stewart’s Dyerwulf é uma banda tal como normalmente as conhecemos, mas sim é um daqueles projectos completamente fora da caixa que aparecem de tempos a tempos, em que a componente experimental tem um peso enorme na definição e caracterização musical da banda, o que é exactamente o que acontece com este duo de músicos Americanos. Tommy Stewart’s Dyerwulf é um projecto de Doom Metal experimental de Tommy Stewart no baixo e voz, e Eric Vogt na bateria e igualmente na voz. Pois... e então e as guitarras? Perguntam vocês? Bem, Tommy Stewart’s Dyerwulf é isso mesmo: Duas vozes, um baixo e uma bateria (ponto final). O lado interessante deste projecto único é a máxima de fazer tanto com tão pouco, o que é louvável, até porque devido à natureza letárgica deste Doom e a sua “sujidade” musical inerente, nem nos apercebemos que não há guitarras - Magnífico. Este é um trabalho à antiga, curto mas que marca bem a sua posição. Tudo em «Tommy Stewart’s Dyerwulf» respira Doom pesado e arrastado q.b., com uma voz letárgica e um baixo arrepiante, que nos faz esquecer a não presença das guitarras, não se esquecendo pelo caminho dos respectivos solos da praxe, que aqui estão bem presentes como em “The Man Who Sold Rope To The Gnoles”. Não ouvia um baixo tão monumental, tão presente e acutilante desde o saudoso Cliff Burton dos Metallica - Não ouve mais ninguém igual. Este é um trabalho que tem tanto de original como de experimental, que merece ser descoberto apesar de não ser nada fácil entrar no álbum nas primeiras audições. Temos de estar concentrados, emergidos na música para podermos extrair todo o esplendor que vibra nas suas entrelinhas. [10/10] CARLOS FILIPE

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VA L L E N F YRE

WA L P Y R G U S

«Fear Those Who Fear Him» (Century Media)

«Walpyrgus Nights» (Cruz Del Sur Music)

Verdadeiro festim de riffs celticfrostianos, o novo longa duração dos Vallenfyre mostra, uma vez mais, death metal de elevadíssimo calibre, com uma produção de Kurt Ballou (dos Converge) a fazer recordar, e muito, principalmente no som de guitarra, os discos produzidos por Tomas Skogsberg nos anos 90 para os Entombed e Dismember, os quais se tornaram clássicos do death metal. É esse som, com uma pedalada mais crust (veja-se “Messiah”) e groovy (veja-se “Amongst the Filth”) que aqui se faz ouvir, sem esquecer momentos em que se larga o acelerador para visitar o doom à Paradise Lost e My Dying Bride (“An Apathetic Grave”, “The Merciless Tide”). A partir deste disco, deve-se, de uma vez por todas, deixar de olhar para os Vallenfyre como o projecto paralelo de Gregor Mackintosh e amigos, neste caso Hamish Glencross dos My Dying Bride e Waltteri Vayrynen, colega de Greg nos Paradise Lost (que, acrescente-se, tem aqui um portentoso desempenho), e assumi-los como aquilo que realmente são: uma banda por direito próprio, com muito a dar à cena. E sim, podem perfeitamente coexistir com os Paradise Lost: ninguém rouba nada a ninguém e quem fica a ganhar são os fãs. Aliás, devem contar-se pelos dedos de uma mão as bandas capazes de largar uma granada death metal como “Fear Those Who Fear Him”. Aproveitemo-la, para nosso benefício. [8,5/10] HELDER MENDES

Segundo o press release os Walpyrgus são um conjunto de músicos que já passaram por bandas como Twisted Tower Dier, October 31 ou Viper, sendo este Walpyrgus Nights o seu mais registo. Não se consegue definir o que é este disco e não pode (mesmo) ser avaliado pela capa. Este é um disco que não é de Metal e os Walpyrgus usam todos os clichés imaginários, venha ele de onde vier. O disco provoca alguma curiosidade e cativa pelos refrões orelhudos e uma, quase, tendência ao Punk Rock onde os dilemas se impõem perante a dificuldade. Porém, a partir de certo ponto o disco perde-se na sua própria virtude, pois o imediato dá origem ao repetido. Sem querer ser mais do que é, podemos dizer que este é um disco Rock-Heavy-Punk-Rock e que serve para um belo convívio agora que o calor aperta por estes dias. Mas não se pense que o disco é, apenas, um reflexo de uma certa atitude que persiste e teima em resistir contra os tempos que urgem e, os Walpygus trazem esse mundo citadino e essa promiscuidade para o disco, fazendo de malhas como Dead Girls ou Lauralone canções que são histórias de todos. Um disco que cativa e que, para os mais curiosos, será uma surpresa. [6,5/10] NUNO LOPES

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WE D N E S D AY 1 3 «Condolences» (Nuclear Blast) ...E ao sétimo disco Joseph Poole sai da toca. Este é um disco que nos traz uns Wednesday 13 mais Metal, sem perder uma pitada do seu Punk Horror Show, que, bem vistas as coisas sempre foi o «cemitério» de Poole. Condolences é um disco de uma banda e não de um homem só e é isso que transparece. Diverso quanto baste e, obviamente, com muitas histórias pelo meio, imaginem um noivo cadáver. Wednesday 13 tem aqui o seu melhor disco e é impossível ficar indiferente à sequencia What the Night Brings, Blood Sick e, claro, o momento sublime no disco, Good Riddance que, no limite poderá ser visto como o adeus aos Murderdolls. Este é um disco de rompimento. É o disco de uma banda que pretende explorar o seu caminho, sem perder a sua identidade. claro que as referências do Horror estão sempre presentes, no entanto o músico pernoita entre universos que remetem para um misto de Beetlejuice com White Zombie. Isto não é um disco de Punk Horror, este é um disco Heavy Horror. Condolences é um disco, apesar do seu imediatismo começa a perder o fôlego e a entrar num registo, quase, repeat, no entanto, não afecta em nada, pois o disco parece ter o tempo que deve ter. Esta é uma das mais (des)agradáveis surpresas que se pode escutar. Assim, pudemos dizer, ao sétimo disco, que Poole nos revela que há mais vida após os Murderdolls. [7,5/10] NUNO LOPES


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10 álbuns essenciais do Metal português (1ª parte - anos 80 e 90)

Nesta edição da versus temos o imenso gosto de vos apresentar a primeira de duas partes de um extenso e ambicioso artigo sobre 20 álbuns essenciais do metal/heavy rock português. Não são poucos os longa-durações influentes na música pesada nacional e obviamente muitos ficarão de fora, pelo que as minhas escolhas são, necessariamente, subjectivas. De qualquer forma, eis os primeiros contemplados com esta singela distinção relativos às décadas de 80 e 90. Quais serão as opções para os anos 00 e 10? Descubram na próxima edição! Texto: Dico

Anos

80

Após os bem-recebidos singles Vem Daí e Trip Fixe, ambos «Forte e Feio» de 1981, que lhes trouxeram (Vadecca) [1982] significativa exposição mediática e lugar assegurado numa digressão dos UHF, os NZZN deram o passo lógico seguinte: a publicação de um álbum. As letras, em Português, denunciavam o espírito anti-“imperialismo yankee” emergente na aurora do 25 de Abril de 1974 e que o boom do Rock Português (movimento no qual a banda se enquadra) aproveitou como imperativo de sucesso. Inocentes na forma, os textos criticavam, porém, de modo incisivo, a sociedade portuguesa daquele início dos anos 80. Apesar do êxito obtido com os singles, a crítica não poupou a débil produção de Forte e Feio, um álbum predominantemente Hard Rock mas impregnado do espírito heavy metal. Os clássicos «Brigada Rock», «Vem Daí», «Heavy Metal» e «Paga e não Bufes» não foram suficientes para manter o interesse dos fãs, precipitando o fim do grupo. NZZN

Primeiro álbum de puro Heavy Metal editado por uma banda nacional, «Vasco da Gama» o longa-duração homónimo dos (Discossete) [1983] Vasco da Gama surgiu numa época em que a “cena” Underground lusa se encontrava numa fase embrionária. Apresentando óbvias influências da New Wave of British Heavy Metal (NWBHM), teve o mérito de mostrar às bandas emergentes que editar um LP se afigurava difícil, mas não impossível. «Avé Rei do Mal», «Lendas e Mitos» e «Vasco da Gama» tornaram-se os temas mais conhecidos de um álbum que levou o quarteto ao palco do Pavilhão d’Os Belenses, em Lisboa, para abrir o concerto dos Diamond Head e Spider. VA S C O D A G A M A

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O êxito obtido com o single Vampiro da Uva/Entornei o Molho, «Em Nome do Pai, do Filho…e do Rock’n’Roll» editado em 1981 pela Metro-som, (Horizonte) [1985] motivou os portuenses Xeque-mate a investir nas atuações ao vivo (participando em eventos lendários como a Grande Maratona do Rock Português ou o 1º Festival de Heavy Metal de Stº António dos Cavaleiros), mas também na composição de um LP. Em Nome do Pai, do Filho…e do Rock’n’Roll apresentou uma banda fortíssima, envolta no melhor espírito do Hard’n’Heavy. Presença assídua nas antenas televisiva e radiofónica, temas como «Às do Volante» e «Filhos do Metal» foram os grandes hinos deste álbum, que, no entanto, valia pelo todo. X E Q U E - M AT E

A Demo ’87 e o single Hollywood, editado em fevereiro do ano «Iberia» seguinte, já haviam mostrado ao (Discossete) [1988] que vinha o quarteto da Baixa da Banheira, mas se dúvidas houvesse no que respeita à qualidade do grupo, em junho de 1988 os Ibéria publicariam o muitíssimo bem-recebido álbum homónimo de estreia, com 10 temas originais. Explorando uma sonoridade hard’n’heavy com óbvias influências Glam Metal, tinha em «Warriors», «She’s So Lovely», «Sex Gun», «Lady in Black» e «No Pride» os seus grandes temas. Aliás, os Ibéria seriam a primeira banda nacional a ter airplay no histórico programa radiofónico «Friday Rock Show», transmitido na britânica BBC – Radio One e apresentado pelo mítico Tommy Vance, precisamente com «No Pride». «Lady in Black» e «Children of the World», as baladas do álbum, foram embaladas nos respetivos telediscos (hoje designados “videoclips”, ou simplesmente “clips”). IB E R IA

Adelaide Ferreira (neste segundo «Amantes e Mortais / Fast n far (álbum duplo bilingue)» álbum identificada apenas como “Adelaide”) nunca ocultou uma (MBP) [1989] certa rebeldia nem o seu amor pelas linguagens mais agrestes do Rock, mas se dúvidas houvesse todas se dispersariam com a audição deste mítico duplo álbum bilingue, em que a cantora/atriz e o seu então companheiro, o guitarrista e compositor Luís Fernando, exploram um Hard Rock/Hard FM irresistível, que fez sucesso entre os fãs portugueses de música pesada. O primeiro disco, integralmente cantado em Inglês, procurava abrir portas à artista no estrangeiro; o segundo, que era simplesmente uma versão em Português do disco 1, dirigia-se acima de tudo ao público nacional. Infelizmente, as portas além-fronteiras não se abriram como Ferreira pretendia, apesar de o álbum ter chegado a ser distribuído internacionalmente pela germânica SPV. Gravado no Angel Studio, em Lisboa; e no Studio du Palais des Congrés, em França, Amantes e Mortais / Fast n far teve produção de Jean Louis Milford, músico dos franceses Century (banda praticante de baladas Hard Rock que nos anos 80 editou dois álbuns muito bem-sucedidos, tendo chegado a atuar no Dramático de Cascais em 1987). «Amantes e Mortais», «Dava Tudo», «São Loucos» e «Carrie» obtiveram merecido destaque nos media, assumindo imediatamente o estatuto de clássicos. Na digressão promocional ao álbum, Ferreira ainda chegou a beneficiar dos préstimos do baterista Filipe, ex-Mortífera. A D E L A ID E

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Anos

90

Com Demo’87 e o bootleg Ao Vivo no RRV (gravado no Rock «V12» Rendez Vouz, em Lisboa) os V12 (PolyGram) [1990] estabeleceram-se nos anos 80 como um dos mais relevantes grupos nacionais de Heavy Metal. Seria, aliás, esta gravação pirata que, fazendo um notável percurso ao nível do tape-trading, viria estabelecer a reputação dos V12 num nível bem alto, vindo a suscitar o interesse da PolyGram para a gravação de um álbum. Contudo, este revelou-se um presente envenenado que, no melhor e no pior sentido, influenciaria a carreira do grupo – Tozé Brito, diretor da etiqueta, exigiu que a banda substituísse o vocalista e cantasse em Português. Assim foi. O álbum homónimo (e único do grupo), editado em 1990, já apresentava Jorge Martins como frontman, substituindo Rafael Maia. O quinteto obtém respeitável airplay radiofónico e televisivo, tendo nas canções «Sinais dos Tempos», «Rota da Fé», «Negócio das Almas» e «Claustrofobia» os principais momentos de V12. No entanto, a instabilidade tornar-se-ia regra, nomeadamente com mudanças frequentes de formação, vindo a banda a dar por terminada a sua existência em 1993. V12

Corrigindo os erros do álbum homónimo, editado em 1987, os «Kingdom o Lusitania» Tarantula fizeram-se acompanhar, (PolyGram) [1990] no clássico segundo longa-duração, pelo vocalista Jorge Marques (ex-baterista dos Web) e pelo baixista José Baltazar, sendo que o primeiro ainda hoje permanece na formação. Exibindo uma sonoridade, técnica e nível de composição incomensuravelmente superiores aos do registo anterior, com Kingdom of Lusitania os Tarantula mostraram ser, naquela época, a única banda nacional praticante de Metal passível de rivalizar com as congéneres internacionais. Aliás, o disco chama mesmo atenção do manager dos Helloween, que propõe a realização de uma tour com a banda alemã, apresentando igualmente a possibilidade futura de agenciar o grupo liderado pelos irmãos Barros, mas alegadamente a PolyGram inviabiliza esses acordos. Seja como for, Kingdom of Lusitania é, ainda hoje, um dos maiores clássicos do Metal luso, tendo imortalizado temas como «Higway to Glory», «Earthquake», «Lusitania» ou «At the End of the Rainbow». «Lusitania» dá mesmo origem a um teledisco, tendo a banda beneficiado de assinalável airplay televisivo e radiofónico. TA R A N T U L A

Com Promo-tape ’91 e o EP The Shades Behind (de 1992) os «Darkside» Sacred Sin já haviam mostrado (Música Alternativa) [1993] ao que vinham. A brutalidade do Death Metal que praticavam, sem nunca descartar a melodia e fazendo uso inteligente dos teclados, conferiam-lhes importantes trunfos no Underground nacional. A experiência que os seus integrantes traziam de agrupamentos anteriores assegurava a qualidade necessária a um coletivo que desde o início pautou a sua atuação pela quebra de barreiras. Na verdade, a convite da própria Vanessa Warwick, apresentadora do mítico programa da MTV “Headbangers Ball”, o quinteto grava o teledisco para o tema-título do seu álbum de estreia, Darkside. O grupo de José Costa (voz(baixo) e Tó Pica (guitarra) torna-se desta forma o primeiro coletivo nacional a beneficiar de airplay na MTV, antes mesmo de megaestrelas nacionais como os Delfins, Pedro Abrunhosa ou Da Weasel. Esta realidade transforma os Sacred Sin na primeira banda lusa praticante de Metal a internacionalizar-se em larga escala, S A C R E D S IN

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embora essa exposição não haja beneficiado do necessário follow-up. Seja como for, Darkside é, ainda hoje, considerado um clássico do Death Metal Europeu. Nele encontramos hinos como «Darkside», «The Chapel of the Lost Souls», «Gravestone Without Name», «Suffocate in Torment» e «The Shades Behind». Darkside foi alvo de várias reedições ao longo dos anos, inclusive algumas bem recentes. Se com o EP Under the Moonspell, editado em 1994 pela francesa «Wolfheart» Adipocere Records, os ex-Morbid (Century Media) [1995] God ingressaram num caminho sem retorno no que à conquista do mercado europeu se refere, através do primeiro álbum, Wolfheart, marcaram definitivamente o seu território, fazendo eclipsar eventuais dúvidas quanto à ambição manifestada. Jovens e ávidos por ultrapassar o estigma do amadorismo então associado à maioria dos grupos nacionais - incapazes de se impor no estrangeiro, à exceção dos Sacred Sin, por via do álbum Darkside -, os Moonspell mostraram à Europa e, depois, ao Mundo, que em Portugal também se fazia boa música pesada. A sonoridade Black Metal com influências góticas e Folk rapidamente seduziu o público germânico, proporcionando uma gradual mas bemsucedida incursão no restante território europeu. A penosa relação de trabalho com o produtor-estrela Waldemar Sorychta, que alegadamente não acreditava no potencial do álbum (assim como a própria Century Media), acabou por surtir efeito e Wolfheart recebeu boas críticas das mais influentes publicações europeias, motivando a realização de digressões como suporte a influentes bandas internacionais. Meses após a sua edição, Wolfheart já vendera dezenas de milhares de cópias em toda a Europa. «Alma Mater» torna-se um hino mundial, mas «Vampiria» e «Wolshade (A Werewolf Masquerade)» assumem igualmente o estatuto de clássicos. Estava, pois, encontrado o mais influente álbum de Metal português de todos os tempos e uma das mais importantes bandas a nível global no espectro do Black/Gothic Metal. Na verdade, a influência de Wolfheart é tal que, ao longo dos anos, chegaram ao mercado variadíssimas reedições. Em julho de 2010 a capa do álbum foi reproduzida num selo com valor facial de €1, no âmbito da coleção “Rock em Portugal”, emitida pelos CTT. A 31 de outubro de 2011 a banda interpreta Wolfheart na totalidade na mítica Incrível Almadense, conceito de espetáculo que tem sido repetido mais recentemente em algumas ocasiões. MOONSPELL

Ao segundo álbum, Irreligious, os Moonspell confirmaram a sua «Irreligious» posição de porta-estandartes (Century Media) [1996] do Metal português no mundo, expandindo incomensuravelmente o êxito obtido com Wolfheart. Na estrada, a vida do agora quinteto não era fácil, mas a calorosa aceitação do álbum anterior modificou radicalmente a forma como a editora e o produtor olhavam para o grupo. Com efeito, as boas reações vinham não só dos fãs, mas também da comunicação social e de reputados músicos. Novas digressões aconteceram e as presenças nos top’s de vendas europeus intensificaram-se. Apenas na Alemanha, foram 80 mil o número de exemplares vendidos. Em Portugal, Irreligious chegou a disco de prata, correspondente a 10 mil unidades vendidas. A banda consolidava-se como uma das grandes promessas do Metal europeu. «Opium»,«Awake!», «Mephisto» e «Full Moon Madness» tornam-se hinos incontornáveis da banda e nem a degradação das relações no seio da alcateia, que resultariam na saída do baixista original, Ares, travariam a trajetória sempre ascendente dos lobos lusitanos. À semelhança de Wolfheart, Irreligious tem sido interpretado na íntegra em alguns espetáculos, dos quais se destaca o de 4 de fevereiro na Praça de Touros do Campo Pequeno, registado para futura edição em DVD. MOONSPELL

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UM FOGO CHAMADO PEIDO Por: Nuno Lopes (https://www.facebook.com/hellheavenmetalmusic)

Ai Portugal! Este mês foi um sofrimento, como se não bastassem os incêndios que te fustigaram foste, ainda, abraçado por uma estranha flatulência vinda do novo heroi nacional. Muito se falou de SIRESP, de solidariedade e foram doados fundos e mais fundos para uma região destruida por um mar de chamas (quase) impossível de controlar. Como se não bastasse tudo isso, resta a ignorância de um público que não entende uma critica dirigida a si mesmo, porque isso sim, foi o peido de Sobral. Uma critica demasiado construtiva para ser destruida por piadas (mais ou menos) secas que explodiram nas redes sociais. Sabemos que Sobral vive tempos que nem ele imaginava e, por isso mesmo, o músico aproveita todas as oportunidades para se dar a conhecer e, sobretudo, para criticar o aparente estado da sociedade nacional. Essa é a maior qualidade de alguém que está no topo do Mundo (Portugal) e que tem noção de que tudo é efémero, como um peido. Ofendem-se as prima donas, nada habituadas a concertos, ofende-se aquela sociedade que tantos gazes soltam, muitas vezes pela boca. Incorente ou inoportuno são alguns adjectivos que foram utilizados porém fica a questão, quando se pode fazer uma critica? Como se pode fazer uma critica? Todos somos culpados e inocentes da mesma forma que todos soltamos Peidos. Pior do que aquele que se peida é aquele que não admite o peido e, pela primeira vez, um Peido mereceu um valente aplauso e a solidariedade de um povo que regressa, mais calmo, à normalidade. Saúda-se a iniciativa, saúda-se as vitimas e os que batalharam, quanto ao resto, são meros gases.

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Governo Alternativo Um grande bem-haja para todos. Hoje falo-vos bem-disposto e cheio de ideias. E isto porquê? Eu raramente vejo notícias, e é por isso que o meu nível de cultura geral é tão reduzido (embora na escala “secret story esteja classificado com génio). Por acaso, e porque não estava a dar futebol, tive oportunidade de rever uma notícia sobre o ex Ministro Grego das

Finanças, que como bem se lembram parece…. Um vilão de um filme do James Bond. Parece aquele boxer russo que vai deixar o Rocky paraplégico ou uma nova versão do exterminador implacável: um ciborgue que no final do filme, e só com a cabeça intacta consegue arrastar-se com os dentes e salvar aquele maricas do John Connor que passou uma vida inteira a esconder-se atrás de versões melhoradas da bimby.

Este Sr, de seu nome Yanis Varufakis, fez furor e parece-me que impôs também algum respeito, nem que seja por parecer que a qualquer momento nos vai partir o pescoço sem sequer acelerar o ritmo cardíaco. Inclusive, coincidência ou não, Angela Merkel recusou-se encontrar a sós com o Primeiro-ministro Grego, talvez com receio que o Ministro das Finanças entrasse pela janela com uma faca e a estripasse. Tal notícia pode ser vista no link em anexo. http://www.esquerda.net/artigo/empire-strikes-back-merkel-recusa-reunir-se-com-tsipras/35659 Isto levou-me a pensar que precisávamos de alguém assim no Governo Português. Aliás, não só todo o Governo, mas toda a classe política deveria ser renovada. Mas isso era tema para toda uma enciclopédia. Para já ficamos pelo seguinte: era interessante aproveitar pessoas que dado alguns dos seus talentos ou características poderiam ser muito bons na função de governantes, mesmo que a sua experiência em governar seja zero! Vamos a uma lista catita? Siga lá então! Aqui vão as minhas propostas para um novo Governo. Um Governo alternativo. Um Governo que nos faça também ser ouvidos, e porque não, temidos lá fora!

Primeiro-ministro - Quim Barreiros Se outros países tiveram Presidentes que foram actores, porque é que nós não podemos ter um Primeiroministro que é cantor? É uma espécie de Lula da Silva com acordeão. Um homem popular, trabalhador, que gera consenso, que

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percebe as classes mais baixas, e agora as mais ricas também. Uma espécie de Pai Natal maroto com bigode preto ao qual os portugueses podem confiar a 100% os filhos e filhas…mas não as suas mulheres (ninguém é perfeito). Faz parte da nossa juventude e transmitiu-nos mensagens importantíssimas ao longo de todos estes anos enquanto cantor. Por tudo isso parece-me uma boa escolha. Ensinou-nos tanta coisa que é quase obsceno considerar que não daria um bom primeiro-ministro.

Foi com ele que aprendi a apreciar os animais, pois na sua canção “Cabritinha” é dito: “Ela adivinha a hora que chego em casa E vai logo preparar os peitinhos para eu mamar”. Eu não sabia o amor que os animais podem dar aos seus donos e fiquei comovido com esta dedicação. Acho que todos

gostávamos de ter uma cabritinha assim. Os seus conselhos sentimentais também nunca os vou esquecer. Recordo-me por exemplo de uma frase famosa sua: “O melhor dia para casar é o 31 de Julho porque a seguir entra Agosto.” E no meio da crise, ele ainda nos ensina a poupar, como nos diz também numa obra de sua autoria: “Eu cá boto o meu pilim no mealheiro rechonchudo, e estou sempre a reclamar: Oh minha filha, nunca gastes tudo.” Além do mais não parece o tipo de pessoas que aceite de bom grado mais restrições económicas, e quase aposto que as combate de uma forma muito peculiar. Parece que o estou a ver em reunião com a

Chanceler Alemã, esta a comunicar-lhe que Portugal terá de aplicar novos cortes, e Quim Barreiros a rir-se às gargalhadas e responder qualquer coisa como: “Oh filha, estás bem? Se calhar o teu mal é fome! Queres que ponha a minha morcela no teu cozido?” (Quim, se tiveres a ler isto, gosto muto de ti,

mas se usares esta frase numa canção tua quero percentagem dos lucros. Já está registada!) E é isto que precisamos. Alguém simpático, afável, trabalhador, que nos defenda e que ainda nos dá preciosas lições de vida. E tão bonito que seria ver cimeiras europeias com o nosso Primeiro a fazer dançar Angela Merkel ao som de “A garagem da vizinha.” Isto tudo enquanto o ministro das finanças Grego está escondido debaixo das mesas, com pinturas de guerra enquanto prepara a melhor altura para espetar uma faca na sua nuca, claro está.

Ministra dos Negócios Estrangeiros - Erica Fontes Porque não? O que faz um Ministro dos Negócios Estrangeiros? Passeia e puxa o lustro aos governantes de outros países para se investir em Portugal, ou para nos deixar investir no país deles. E se houver alguma tensão política, resolvê-la. Pois

bem, tínhamos na Erica Fontes a Ministra ideal. Profissional em puxar lustro e em aliviar tensões, aliás, já foi reconhecida internacionalmente como tal. É uma figura de renome, conhecida nos 3 cantos do mundo que têm acesso à internet, e está habituada a conviver das mais diversas formas com todas as raças e etnias. Há ainda a seguinte vantagem: os países nos quais Portugal tem

interesse económico podiam inclusivamente ter interesse em investir na própria ministra. E com esta vontade de ambas as partes penso que havia muito mais facilidade em conseguir negócios internacionais, mais depressa, e com condições favoráveis para o nosso país. Era perfeita para o trabalho. Portugal andaria nas bocas no Mundo. Ou seria a boca da Erica que andava pelo mundo? Bem, vocês perceberam!

Ministro da Economia - Jorge Mendes Aqui sou sincero. Esta não seria a minha primeira escolha. A minha primeira escolha seria talvez Ricardo Salgado porque fez um óptimo trabalho em receber dinheiro e fazê-lo desaparecer, e isso poderia ser vantajoso para o país. Mas, como não tenho a certeza disto e o mais certo é ser exactamente o contrário, como sei onde o dinheiro iria parar, e como é de domínio público, o Sr tem tido ultimamente uma vida muito ocupada, acabei por não o considerar para o cargo em questão. E então Jorge Mendes porquê? Mr Money! (Show me the moneeeyyyy!!) Muito já foi dito sobre ele. “Toque de midas” é um termo muito utilizado para descrever o que faz, e, na minha opinião, bem atribuído. Consegue valorizar, de formas que nem imagino, os jogadores que representa…… esperem, vou

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voltar atrás: consegue sobrevalorizar e de que maneira os jogadores que representa! Ora quem consegue pegar num tronco com duas pernas e dois olhos como o Éder, que nem ameaçado de morte e de baliza aberta consegue marcar um golo, e empurrá-lo até à seleção, consegue tudo! Até

a mim o Jorge Mendes me conseguia pôr numa equipa da primeira divisão! Quem faz do Costinha um treinador que teve trabalho em vários clubes diferentes apesar do trabalho deplorável que fazia nas suas equipas por onde passava, consegue tudo. E esta capacidade de transformar montes de estrume em ouro, é o que precisamos para o nosso País. Estou em querer que Jorge Mendes consegui pegar no Burkina Faso e transformá-lo numa potência Africana. Imaginem o que conseguiria fazer com um país que ainda tem algumas potencialidades como o nosso… USA, watch out! Reis e Srs. da Europa e quiçá do Mundo! Tudo era possível. Inclusive uma transferência milionária do

nosso Cristo Rei para Espanha, enquanto nós contratávamos uma torre Eiffel, ou uma torre de Pisa em fim de contracto e a custo 0. Tudo era possível se Jorge Mendes fosse Ministro da Economia.

Ministro das Finanças Tive alguma dificuldade em escolher um candidato a ministro/ministra das finanças, confesso. Devem haver mil e uma personalidades Portuguesas com perfil para assumir esta pasta. Mas à data não consegui encontrar nenhuma que encaixasse no perfil: • Experiência em cargos semelhantes (se é que há alguma coisa semelhante a ser Ministro das Finanças, mas enfim… perceberam a ideia.) • Ter demonstrado facilidade em gerir não só bens financeiros, como recursos humanos • Não se deixar intimidar nem ceder a influências externas • Impor, logo à partida e só com a sua aparência, respeito, e porque não medo e incontinência fecal, a quem o aborda. • Ter argumentos para acabar facilmente com uma discussão • Ter argumentos para ninguém tentar, sequer, ter uma discussão com ele/ela. É um perfil muito específico e nem todos o possuem, mas nos tempos que correm e dada a situação de Portugal, é fulcral termos alguém assim. Então pensei que se calhar, teríamos de recorrer a ajuda externa. E o escolhido é:

Pierluigi Collina

! Não se está nalguma lei Exacto. que um ministro de Portugal não pode ser Português, mas se há não quero saber porque não quero estragar já este sonho. “Mas experiência em cargos semelhantes?” Oiço perguntar. Bem, o Sr.

é formado em Economia e foi consultor de um Banco, portanto e para mim, que não sou diferenciado intelectualmente e porque me dá jeito, vou considerar esta experiência como “cargo semelhante”. Como o Banco em questão nunca foi à falência, considero já isso sinal de competência e honestidade. (Ricardo Salgado, um árbitro deu-te um baile. Just saying…)

Geriu tão bem a sua carreira, que fez um contrato milionário com uma marca de carros cujo nome não vou dizer. Adianto que é alemã, começa num O e rima com mel. Portanto, naquela que é uma das profissões mais odiadas do mundo, conseguiu gerar dinheiro! Se isto não é talento, não sei o que será. Relativamente a deixar-se intimidar e ceder a influências externas, bem como impor respeito e restantes alíneas… bom, uma imagem vale mais que mil palavras. Por isso vou apresentar várias.

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Estariamos ou não bem representados na Comissão Europeia? Quando quisessem impor mais cortes a Portugal….. Se insistissem….

Se mesmo assim mais alguém tentasse….

Fim de discussão! Acabou! Grécia tem um vilão dos filmes do James Bond, nós tínhamos um Alien que evitamos olhar de frente, quanto mais aborrecê-lo! Do alto do seu 1,93m, e com este olhar, venham lá querer mais cortes venham….

Ministro da Educação - Jorge Jesus Pode chocar esta minha nomeação, mas tenho as minhas razões. A primeira é porque me apetece. Porque ache que sim. Prontezzz. Depois porque com um ministro com este domínio do Português, teríamos uma grande franja da população muito mais culta e erudita que o próprio ministro, o que nos tornava aos olhos de outros incomparavelmente mais cultos do que somos na realidade.

“Sabes que em Portugal a grande maioria da população tem um nível de estudos e de conhecimentos muito superior ao próprio Ministro da Educação” “A sério? Bem, povo muito à frente, muito culto”, diriam os restantes povos da Europa. Logo aí, sem sequer tomar qualquer medida, JJ estava já a aumentar o nível de educação da população Portuguesa. Bravo!

Embora os professores possam estar desconfiados com esta nomeação, quem vê jogos e quem o conhece minimamente através da comunicação social, sabe que os poderes que os professores perderam seriam todos repostos….e ainda viriam a ser aumentados. Porque a forma como ele fala com os seus pupilos… bem, explicando em bom português: “Não há cá merdas”, “O respeitinho é muito bonito”, ou ainda “Ou estás caladinho ou levas no focinho:” Parece que o estou a ver em visitas a escolas: JJ-“Oh tu! O jogador vale 30 milhões, o Sporting comprou-o por 5 milhões, o empresário fica com 20%, o fundo com 15%, quanto ganha o Benfica?” Aluno – “Sr Ministro… não percebi…” JJ – “NÃO PERCEBESTE?! #$&@?!!! &#”%!!!” Depois porque sabemos que o “mister” quando quer sabe extrair o máximo das capacidades de quem trabalha com ele. De Portugueses já sabemos que não, mas como esses agora vão todos para fora, ficam os estrangeiros. É portanto a sua especialidade: tornar melhores jovens estrangeiros. E fazendo isso com os alunos estrangeiros que vão ficando por cá, podíamos ter um país muita forte. Até virem as faculdades estrangeiras e

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pagarem a cláusula de rescisão, claro está. Mas sai o Matic, está cá o Manel! Ou wanderlei, ou até o Eduardo Li Peng Fung. Ele resolve!

Ministro dos assuntos parlamentares - Marco Borges Ah… Marco Borges, Marco Borges…

Na já certa ausência regular do Ministro da Defesa no Parlamento (razões que serão explicadas mais tarde), Marco Borges tem um talento que o torna o primeiro candidato a esta posição, que é saber mandar uns bons sopapos quando é preciso. Quem diz sopapos diz bicos, cotoveladas, cabeçadas (à cais Sodré e normais) e afins. Segundo o site do Governo de Portugal, o Ministro do assuntos

parlamentares “tem a responsabilidade da Presidência do Conselho de Ministros e assegura a ligação entre os Ministérios e a Assembleia da República”. Ou seja, basicamente é pôr ordem nos outros todos, a articulá-los com a Assembleia. E acredito piamente que Marco Borges com este seu talento natural, interiorizando que deve dar voz a todos, tanto no conselho de Ministros, como na assembleia, pode ser uma excelente adição a este Governo All-star. E quando eles não se entenderem: “vá chapada à bruta para aprenderem a estarem sossegadinhos, a se entenderem e a não andarem a mandar bocas uns aos outros. Porque aquilo ali não é o mercado do Bolhão! Ou portam-se bem ou levam no focinho!” Quase que o oiço dizer. A assembleia da Republica respiraria respeito. E medo. E suor também, mas mais medo e respeito. E quem sabe um leve traço a Old Spice. Parece-me o tipo de homem que usa Old Spice, não sei porquê. Atenção à ministra dos negócios estrangeiros. Pode provocar deliberadamente situações destas para apanhar o tão desejado sopapo. Há que ter em atenção esta situação. Ah e convém não abusar do poder, senão o Ministro da Defesa mesmo afastado fisicamente…..

Ministro do desporto - Emplastro The one and only! Mais uma vez, porque sim! Porque é uma figura emblemática, popular, mediática, e apesar da sua clara preferência por um clube, já foi visto a conviver com adeptos de outras cores, e inclusivamente a gritar por outros clubes. E isto mostra também que tal como qualquer bom político, ele sabe-se adaptar às circunstâncias, e à plateia que o rodeia. Por isso não menosprezem o Sr, ele será um grande ministro do desporto. E em caso de dificuldades, quando for preciso tomar decisões mais delicadas, pode sempre contar com o apoio da família. Família essa que tem experiência na área do desporto, como bem sabem. Recordo que o seu pai é Pinto da Costa.

Ministro da Defesa - Chuck Norris Sim! Esse mesmo! Não é Português, eu sei. Nem se punha a questão da nacionalização, porque os Homens regem-se pelas leis dos Homens, o

universo rege-se pelas leis de Chuck Norris.

Nem era preciso ele vir às sessões do Parlamento, já lá estão tantos outros que estarem presentes ou não, é exactamente a mesma coisa, por isso… Nem precisava de residir em Portugal. Bastava ser tornado público quem era o nosso Ministro da Defesa e pronto: esqueçam milhões gastos em submarinos decrépitos, caças em 3ª mão que os EUA já não querem, navios de guerra, Tanques ferrugentos, armas e misseis! Nada disso era necessário! Bastava

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sair uma notícia: Chuck Norris Ministro da Defesa de Portugal, e éramos reis do Mundo. Os poderosos EUA,

a mãe Rússia, e até o gajo do penteado cómico da Coreia do Norte suavam de medo só de pensar em contradizer Portugal. Intocáveis! Terrorismo? Nem escala cá faziam! E se alguém, algum país suicida quisesse entrar em conflito connosco, boa sorte! Que traga todo o seu exército. Em 20s sem se cansar, e enquanto lia a obra Stephen Hawking, Chuck Norris resolvia a situação. E depois ainda ia falar com o astrónomo e corrigir explicar-lhe porque estava errado. Ah! E caso no Ministro dos

Assuntos Parlamentares exercer abuso de poder, este será o único homem que o pode parar. Se não conhecem os feitos deste sr, é porque são de certeza de outro planeta. Para além de ser imortal, pois aparentemente não envelhece, os seus feitos são épicos. Após pesquisa na internet escolhi só alguns para terem noção da grandiosidade deste que poderia ser o melhor político de sempre. Sim! De Sempre! O comum dos mortais usam fatos do Super-homem. O Super-homem usa um fato do Chuk Norris. Chuck Norris não pestaneja. O Universo é que pausa. • Quando Chuck Norris faz flexões, ele não levanta o próprio peso. Ele empurra o planeta. • A última página do Guiness diz em letras miúdas: “Todos os recordes do mundo pertencem a Chuck Norris. Nós apenas nos démos o trabalho de listar os segundos colocados em cada categoria.” • Quando Deus disse “Que se faça a luz!”, Chuck Norris disse “Se faz favor também se diz!” • Os dinossauros tentaram atacar Chuck Norris uma vez. Uma vez apenas…. E o resto é história. • O título original de “Alien vs. Predador” era “Alien e Predador vs. Chuck Norris”. O filme foi cancelado porque ninguém pagaria para ver um filme de 14 segundos • Chuck Norris tem 12 luas. Uma delas chama-se Terra. • Que mais há a dizer? Só talvez “I pity the fool” que se mete com o Ministro da Defesa. E outras “pastas” ficaram por atribuir, como a da Justiça, a da Saúde, mas o texto já vai longo, e a vossa paciência assim como a minha imaginação, curta.

Por isso despeço-me esperançoso que um dia, quando a Comitiva Portuguesa for recebida num país estrangeiro, o Primeiro-ministro saia do avião a tocar acordeão, a Ministra dos Negócios estrangeiros preparada para tocar gaita-de-beiços, ninguém queira olhar de frente para o Ministro das finanças, e todos tenham medo que o Ministro da Defesa se zangue.

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Jardim do Éden Quatro distintas vozes ligadas ao Metal Sinfónico juntaram-se para criar um projecto… de versões. As opiniões não têm sido consensuais mas na opinião deste entrevistador até é um conjunto de versões bastante interessante. Resta saber se estas Senhoras saem do Jardim com uma maçã “envenenada”. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Transcrição e Tradução: Hugo Melo Fotos: Christian Barz Klein

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Em primeiro lugar gostaria de saber como surgiu esta ideia e como a concretizaram? Marina La Torraca - A ideia surgiu de um projecto de estúdio, onde a Amanda (Somerville) foi chamada para fazer umas gravações para uma demo, que era para ser mesmo um projecto de estúdio, mas gostaram tanto da que acharam que tinha potencial para criar uma banda. A outra vocalista que também tinha gravado vozes, a Anna Brunner, convidou a Amanda para pertencer e liderar esta banda feminina. As vozes de uma e outra são bem diferentes e acharam que seria uma boa adição à banda. Posteriormente foram procurar mais vozes femininas para completar o projecto. Foi quando ela me contactou. Já tinha trabalhado com ela em projectos de metal como os Avantasia, e perguntou se estava interessada, ao que respondi, porque não. E assim entrei. Foi um caso de

coincidências onde algo era, inicialmente, para ser uma coisa, mas acaba numa outra com um resultado melhor que o esperado inicialmente. Porque decidiram para o primeiro álbum fazer uma banda apenas de covers e não de originais? Essa era a ideia inicial, uma banda só de covers de música pop em versão metal. Não sei se ouviste o álbum, mas os arranjos foram de tal forma trabalhosa para os rapazes, como para nós, que, não sendo originais, por vezes terão dado mais trabalho. Se continuará a ser esse o caminho da banda, logo se verá. Quais os critérios de escolha? Pessoalmente escolheste alguma das versões? Quando eu me juntei as músicas já estavam quase todas escolhidas, mas não teria escolhido muito diferente.

[Sobre a versão dos Backstreet Boys] “Pensámos, é perfeita porque quem se iria lembrar de fazer uma cover deles, e que headbanger vai admitir que conhece a música?”

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Vocês têm versões de artistas que considero excelentes Bryan Adams, a Bonnie Tyler, a Lady Gaga, e até a Adele, embora, se fosse eu escolheria da Adele a «Set Fire Into the Rain». Também acho que seria uma boa escolha… Mas o que mais me intrigou foram os Backstreet Boys. Quem é que foi buscar esta versão? Existem muitas pessoas super fãs dos Backstreet Boys. Muitas pessoas no projecto gostam de Backstreet Boys, pessoas do metal, e tenho que admitir que as pessoas que escreviam as músicas para eles são bons compositores e fazem aquela música chiclete com aquele refrão épico, e esta música escolhida é um desses casos. Pensámos, é perfeita porque quem se iria lembrar de fazer uma cover deles, e que headbanger vai admitir que conhece a música?


Algum destes artistas fazem parte da tua playlist? Sou grande fã da Bonnie Tyler, adoro a “Total Eclipse Of The Heart”, adoro toda envolvência dos anos 80. E sou fã da Lady Gaga. É uma grande intérprete, compositora e performer. Quem foram os responsáveis pela passagem das músicas para o metal? Foi, como tinhas referido, a parte masculina da manda? Digamos que sim. Em termos de arranjos vocais, nós fomos as responsáveis, mas a nível instrumental sim. Na verdade, foi uma equipa enorme, nem te sei dizer quem trabalhou em que parte. Houve imensas pessoas envolvidas, quando entrei a parte instrumental já estava terminada. À data desta entrevista já tiveram feedback dos artistas originais? Não. Anda não foi lançado, creio que será em Agosto, dia 4 (a

entrevista foi realizada antes do lançamento). Como é para ti cantar algo composto por outras pessoas? É difícil para ti, colocar os teus sentimentos, se é que colocas, em composições feitas por outros músicos? Pessoalmente não tenho problemas com isso. Comecei, há 15 anos, a fazer covers, Helloween, Dio, tive uma de Evanescence durante muito tempo que foi bastante popular no Brasil. Para além disso faço teatro musical, pelo que agarrar num texto e fazer dele um texto meu, é-me natural. É diferente de fazeres o teu próprio trabalho, mas no final das contas fica bem feito. Na minha opinião o melhor neste álbum não é tanto a música em si, mas a química que envolve todo o ambiente que vocês criaram neste álbum, e eu acho que isto

está reflectido na vossa gravação. Como foi o processo de gravação, gravaram todos no mesmo estúdio ou foi algo feito à distância e cada uma gravou as suas partes? Na verdade, nós as três, eu, a Clémentine e a Anna gravámos no mesmo estúdio com os mesmos produtores, a Amanda foi ao estúdio algumas vezes, mas gravou a maioria das vozes em casa, porque ela tem o próprio estúdio. Entre vocês quatro excelentes vocalistas quem decidiu quem canta o quê? Foi um trabalho de equipa, foi decido por nós e os produtores. Foi algo que demorou muito. Algumas músicas já davam para ver directamente com quem combinavam. Por exemplo a Amanda canta sozinha o «Total Eclipse From The Heart» e nós fazemos os coros. É algo positivo porque ela fez a digressão de Rock Meets Classic tour, e ela ficou a

“[...] a Amanda canta sozinha o «Total Eclipse From The Heart» e nós fazemos os coros. É algo positivo porque ela fez a digressão de Rock Meets Classic tour [...]”

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substituir a própria Bonnie Tyler a cantar a «Total Eclipse From The Heart», pelo que pensámos que seria porreiro que essa fosse a música da Amanda, combina com a voz dela. Procurámos balancear bem as características de cada uma e para que as quatro tivessem a mesma participação no resultado final. Enquanto preparava esta entrevista fui lendo alguns comentários no Youtube e no Facebook. Eu não conhecia a música da Rihanna e quando a ouvi não gostei, gosto mais da vossa. Não fui capaz de ouvir a música dela até ao fim. Como te disse de vez em quando até gosto de ouvir a Lady Gaga, mas a Rhianna… não! Cheguei à conclusão, com base nos comentários que há sentimentos mistos. Lêem o feedback, dos comentários, fundamentados ou não, relativamente ao que dizem da música? Pessoalmente não leio todos os comentários, até porque não tenho tempo para isso e a verdade é que às vezes muitos não são propriamente simpáticos. Mas vou lendo boa parte das respostas do público e recebo muitos na minha página pessoal. Mas o feedback tem sido positivo. Há poucos dias saiu o novo dos Edguy e também tem sido criticado. O Tobias dá-se ao trabalho de responder às críticas. Não costumas responder às criticas, pois não? Não. Responder às críticas no Youtube não convém. Cada um tem direito a escrever o que quiser. Pessoalmente se algo não me agrada não comento. Se houver algo que eu não goste mesmo, mesmo nada, o máximo que acontece é colocar um dedo para baixo. Não combina comigo entrar em guerras online. Não ficas a remoer se deveria ou não responder a um comentário? Depende, já reparei se ler os comentários num momento em

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que não devia, como antes do café da manhã ou antes de dormir, se for algo pessoal, aí fico a matutar. Quem tem um trabalho público sujeita-se a ter de ouvir coisas que não gosta. Mas ninguém gosta de ouvir essas coisas. Antigamente as bandas dependiam da opinião de poucos, hoje em dia, e é uma coisa boa, é que as bandas dependem da opinião de muitos. Achas que é uma vantagem o provérbio “não me importa que digam bem ou mal de mim, desde que falem sobre mim” … Sim, com certos limites. Há coisas relativamente a mim que preferia não ter de ler. Tenho umas questões relativamente ao teu projecto pessoal «Phantom Elite». Como surgiu este projecto? Surgiu há uns anos atrás de uma conversa que estava a ter com o Sander Gommans, dos After Forever, o marido da Amanda, e ele disse que estava a pensar numa banda para tocar ao vivo as músicas do projecto de estúdio dele, os HDK. Eu aceitei e a partir daí começámos à procura dos restantes membros para aquilo que inicialmente seria denominada como HDK Live, mas musicalmente nós damo-nos muito bem, e muito mal, e acabou por haver ideias de músicas completamente diferentes e foi nascendo o sentimento de que seria bom uma banda com material próprio, e então nasceram os «Phantom Elite» que veio da letra de uma música de HDK, por isso há ligação. Nós até regravamos a música para este o novo álbum, aliás à duas regravações de músicas dos HDK, esta e uma outra que será de bónus. Ao vivo vamos tocar músicas dos HDK, mas será mais o nosso material. Mas tem uma digressão já marcada para os HDK? Sim, mas 90% do set list serão músicas dos «Phantom Elite» Espero que passem por Portugal, tenta colocar uma cunha.

Era bom, os meus pais vivem em Portugal. Achas que o metal ainda é para homens e as mulheres aparecem ainda na sombra? Tiveste problemas em integrar uma banda de metal? Sim, não… Mas a maioria são homens. Já tive problemas e vantagens e acho que nenhum dos dois é igualitário. Por exemplo quando fazia covers em São Paulo muita gente comentava que uma menina cantando Dio, vai ser horrível, por outro lado o movimento dos female fronted metal, que já é uma forma de discriminação, estão sempre à espera de uma diva, aquela “beauty queen”. Também não gosto de me rotular nos clichés. Nos «Phantom Elite» procuramos, como banda, nos mostrarmos como uma banda, e procuro não me destacar demasiado dos restantes. Procuramos não abusar da minha imagem. Os «Exit Eden» tem aquele lado teatral que eu acho que é mais conceptual do que para vender. Vão fazer alguma digressão com este projecto, «Exit Eden», ou é um projecto de estúdio? Sim, vamos. A intenção é ser uma banda ao vivo e, pessoalmente, não vejo a hora. Última questão. Há dias estive uma tarde bem passada com o Andreas Kisser e fiz-lhe a questão de como foi para ele sair do Brasil. Faço-te a mesma questão? Saí do Brasil por razões que nada tiveram a ver com música. Vim para a Alemanha para tirar o curso de arquitectura, que tem muito pouco a ver com música, e acabou por ser uma coincidência ter ficado éter conhecido todo este pessoal do heavy metal. Claro que tenho saudades, mas fui criando raízes por aqui e como os meus pais foram para Portugal, não faz muito sentido eu voltar. facebook.com youtube.com


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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

O cinema quando nasceu, nasceu a preto e branco. Nasceu pela tecnologia que os irmãos Lumière desenvolveram, o cinematógrafo, a qual revolucionou o mundo as artes, tendo desde então o cinema se transformado na chamada 7ª arte. A evolução continuou com a chegada do cinema sonoro e em 1935, as câmaras Tecnicolor trouxeram a cor para o cinema, marcando assim um dos maiores passos de evolução do cinema, tendo atingido o seu expoente máximo com a chegada do grande ecrã “widescreen” e do filme E tudo o Vento levou (Victor Fleming, 1939). Evidentemente, as evoluções cinematográficas não pararam desde então, com o 3D mais recentemente, o IMAX, os efeitos sonoros e visuais, a era do digital e de todos os seus efeitos CGI (Computer Graphic Interface), culminando hoje nas derradeiras evoluções, o 4DX e o cinema a 48 frames. Mas, a chegada da cor foi um salto tecnológico brutal que arrumou de vez o filme a preto e branco, que só continuou a existir nas décadas de 40, 50 e mesmo 60 devido ao baixo custo de alguns filmes de série B ou Z, pois a tecnologia Tecnicolor era dispendiosa e assim só acessível às grandes produções de Hollywood. Tal como na fotografia, o preto e branco hoje em dia, é utilizado no cinema de quando em vez para exprimir um contexto artístico e/ou caracterizar um filme, acrescentando-lhe textura ou dando-lhe uma atmosfera mais séria e pesada à sua história ou tema abordado na história de um filme. É assim que mais recentemente, aparecem filmes a preto e branco(P&B), como O Artista (Michel Hazanavicius, 2011) que ganhou o Óscar de melhor filme em 2012, onde o P&B está em linha com a homenagem que o filme faz em toda a linha ao cinema mudo clássico dos anos 20, ou o outro vencedor dos Óscares de 1994, A Lista de Schindler (Steven Spielberg, 1993), onde o P&B acentua o lado obscuro e dramático da temática do holocausto, ou então, noutro registo completamente diferente, o da banda desenhada, onde os dois filmes Sin City (Frank Miller e Robert Rodriguez, 2005 e 2014), em que o P&B com elementos de cor vermelho, reproduz o grafismo original da banda desenhada escrita por Frank Miller. Noutra vertente, muitas vezes o P&B é utilizado num filme a cores

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Mad Max Fury Road Black & Chrome

para exprimir o passado ou o futuro relativamente aos acontecimentos actuais do argumento, como é o caso do passado em Kill Bill: Vol. 1 e 2 (Quentin Tarantino, 2003 e 2004), América Proibida (Tony Kaye, 1998) ou Memento (Christopher Nolan, 2000), ou do futuro da personagem como podemos testemunhar na série Better Call Saul (Vince Gilligan e Peter Gould, 2015). O que é pouco comum e praticamente inexistente, é um filme de grande espetáculo, com cenas de acção e explosões de encher o ecrã, ser visto em P&B. Pois, a edição de Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller, 2015) que trago a este antro, é isso mesmo, um filme a cores trabalhado para ser projectado em P&B, em que ao branco chamaram-lhe “Chrome” para marca a parte metálica dos veículos que marcam e caracterizam este filme. A edição em Blu-ray é intitulada Mad Max Fury Road Black & Chrome e traz-nos uma experiência visual diferente e interessante este monumental filme de 2015 – 10 nomeações e 6 Óscares para um filme de acção! E não, não se limitaram a retirar a cor, como podemos fazer em qualquer TV. Os pretos e brancos foram todos trabalhados em pós-produção para atingir o expoente máximo de experiência visual. De onde vem esta ideia magnífica para uns e estapafúrdia para outros? É que o senhor George Miller queria lançar originalmente o filme em P&B para acentuar a rudeza daquele ambiente pós-apocalíptico e desta história futurística, e assim igualmente, permitir ao espectador concentrar-se na história e nos detalhes das cenas de acção, que com toda a espectacularidade da cor, se perde um bocado. Essa era a ideia original, estrear o filme em “Black&Chrome”. Claro está, nos dias de hoje, com uma superprodução, isso é praticamente impossível devido ao risco financeiro que pode acarretar uma decisão destas. Nenhum investidor permitira isso num filme de grande público – De notar que os dois filmes Oscarizados a P&B que referencio atrás não eram originalmente de grande público, tornaram-se sim devido ao seu sucesso e grandeza – pelo que Gorge Miller não teve outra forma do que deixar cair esta estranha ideia… deixar cair, mas não a esquecer. Como Mad Max Fury Road foi o sucesso planetário que todos sabemos, deixando no seu final desejo para mais, esta ideia original a B&C veio à tona novamente e foi possível investir numa versão alternativa que extraísse o máximo possível do visual do filme. Assim, foi lançado a versão Black & Chrome de Mad Max Fury Road em dezembro de 2016. Não estaria a falar deste filme se não tivesse eu esta versão… alias, tenho as três versões do filme, a 3D, a B&C e a cores 2 vezes (do Blu-ray 3D e do B&C). E qual é que gosto mais? Bem, o filme é tão espectacular que para ser sincero gosto de todas, da 3D, da normal e da B&C. Cada uma destas versões, de exactamente o mesmo filme sem por nem tirar rigorosamente nada, tem as suas particularidades e pontos de interesse, pelo que não há uma favorita. De facto, a B&C tem um “je ne sais quoi” que a torna muito interessante de visualizar. Há cenas em que a imagem tem mais riqueza e textura

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ANTRO DE FOLIA comparativamente à versão a cores, onde os pormenores são trazidos para a frente. As cenas de deserto em pleno sol são avassaladoras em B&C, onde o contraste é monumental. Todas as cenas com poeira ganham em profundidade. Todos os elementos do hardware metálico cromado parecem que saltam do ecrã nesta versão. No geral, é uma versão que vale a pena ver e que enaltece o filme, mas que não substituindo a versão a cores, como seria de esperar. No final, são duas opções do mesmo espectáculo. Não tenho a certeza, mas a única coisa que lamento é que esta versão não está disponível em Portugal. Para os interessados, só mesmo mandando vir lá de fora. Só me resta falar do filme… Bem, depois de tudo o que escrevi sobre o mesmo será que vale mesmo a pena falar? Se viram já sabem do que estou a falar: Um dos melhores filmes de acção em estado bruto – i.e., sem os CGIs se sobreporem aos efeitos clássicos - dos últimos anos, 10 nomeações nos óscares, 6 óscares da academia, uma Charlize Theron de cabelo rapado no papel de Imperator Furiosa, onde tem aqui uma performance avassaladora, e um Tom Hardy como Max Rockatansky que consegue estar ao mesmo nível que o excelente Mel Gibson da trilogia original. Se não viram, não sabem o que estão a perder, pelo que corram para ver imediatamente. Se os filmes de ação e o Mad Max não vos diz nada, o meu obrigado pelo tempo que dispensaram a ler este antro até ao fim.

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Uma linha clara nas trevas… É a esta tendência que os catalães Foscor associam o seu Metal imbuído de uma grande originalidade atmosférica e modernista. Entrevista: CSA Fotos: Raquel Garcia

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Para começar, gostaria que me dissesses se concordam com a descrição da evolução da banda apresentada pela vossa editora. Joan – Há uma coincidência de opinião, no que diz respeito ao álbum. Descrevê-lo como multifacetado parece-me uma abordagem adequada. Mas, se, nos álbuns anteriores, concluímos que não éramos capazes de fechar o círculo e apresentar um trabalho tão compacto como seria de desejar, relativamente a este temos a convicção de que conseguimos atingir esse objetivo. Temos a sensação de que há coerência entre as partes e as faixas que compõem o álbum e também entre os instrumentos, a produção e as emoções subjacentes a ele. Conseguimos inserir diferentes graus de intensidade no álbum, mas pensamos que todos eles fazem sentido e dão origem a algo coeso. A melancolia é, sem dúvida, algo que faz parte da nossa cultura e as trevas são o filtro que usamos para compreender o mundo, pondo a necessária distância entre ele e nós. O álbum pretende construir toda uma experiência a partir das partes que a constituem. Desde a música até às fotografias, convida o ouvinte a fazer parte de uma viagem cinemática. Digamos que nele é possível encontrar uma tradução sonora de paisagens emocionais… e que, tanto quanto é possível ao ser humano fazê-lo, nele se encontram padrões orais inesperados que respondem às mudanças que ocorrem na Vida. Tal como a SoM anuncia, este álbum é, de facto, surpreendente e desestabilizador. Como descreves a música que propõem ao ouvinte em «Les Irreals Visions»? Adoro o piano, que sublinha a melancolia subjacente ao álbum e faz aumentar a sensação de angústia que avassala o ouvinte. Apesar da melancolia que a nossa música expressa, ela não tem nada a ver com o desejo de regressar a

tempos passados ou a saudade de realidades inatingíveis. De facto, a mensagem que a nossa música deixa é muito viva e luminosa, apesar do lado obscuro do nosso nome. Eu descreveria a nossa música como uma coleção de texturas subtis, embebidas numa atmosfera, que corresponde ao grau de emoção que estamos sempre a tentar atingir. A produção está mais próxima do que é pedido por uma banda de Rock do que do que seria adequado para um álbum de Metal extremo. Sente-se o gosto que temos pelos anos 80 e o trabalho das guitarras segue novas direções, com uma presença menos incisiva, menos distorção e uma abordagem muito mais atmosférica. O baixo é extremamente importante e,

“Eu descreveria a nossa música como uma coleção de texturas subtis, embebidas numa atmosfera, que corresponde ao grau de emoção que estamos sempre a tentar atingir. […]” juntamente com a bateria, dá ao álbum um certo peso. Desta produção tão orgânica resultou uma paisagem sonora intemporal, que é também o resultado de um belo exercício de tradução de emoções em texturas, silêncios e espaço. Tentámos criar uma bela coleção de canções, em que menos é mais, no que diz respeito ao uso de elementos e recursos. Portanto, trata-se basicamente de saber como os usar, a fim de dar origem a

esta espécie de magia que ressalta de todo o álbum. Quem é o compositor (ou quem são os compositores) da banda? No caso deste álbum, o equilíbrio em termos de composições é nitidamente diferente do dos álbuns anteriores. O Falke e o Albert desenvolveram todas as canções da forma mais inusitada e sólida que conseguimos mostrar até agora. Eu e o Falke fomos sempre a alma da banda, mas, com o passar dos anos, apercebemonos dos pontos fortes de cada um, dos aspetos que cada um gere de forma mais hábil que os restantes. No caso deles, é claramente a capacidade de compor e de fazer arranjos, com resultados superiores aos que o Falke obtinha quando trabalhava comigo. A minha especialidade é dar coerência ao conjunto, do ponto de vista concetual e estético… Responsabilizo-me pelas letras e por tudo o que diz respeito ao discurso. Convertê-lo em música é tarefa que resulta da boa comunicação entre os elementos desta equipa. Parece que, finalmente, atingimos um verdadeiro equilíbrio entre os vários intervenientes. Lembro-me de que – quando o processo de composição começou – o Albert afirmava que tinha «Those Horrors Wither» [o álbum anterior, lançado em 2014] como referência. Também dizia que tínhamos de recuperar as intensidades e as densidades dos álbuns anteriores, que estavam um tanto ausentes deste álbum. Assim que decidimos, de comum acordo, que a única referência que interessava era o nosso próprio juízo e que pretendíamos criar algo de novo e tão único quanto possível, a “máquina” começou a andar. A que se refere este álbum? Aborda essencialmente o mapa das interações individuais e a forma como os indivíduos lidam com a memória derivada da ocupação dos espaços onde essas experiências

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ocorrem. Como acontece com os sentidos físicos, por vezes apenas consegues apreender a experiência na sua totalidade e tens dificuldade em aprofundar essa perceção, o seu significado e a forma como ela te afeta. A paisagem em que tudo isto acontece é a Cidade, composta por uma rede de lugares, de caminhos que os ligam entre si e que se apresentam como tramas e margens, em que aparecem os limites humanos e momentos de mudança. Esses lugares são ocupados por um discurso moral, que emana do coletivo e é irreal, na medida em que depende das nossas fraquezas, da nossa confiança, das nossas expetativas. Estas visões são inputs constantes, que nos afetam emocionalmente e que implicam desafios que temos de enfrentar. Neste mundo pouco hospitaleiro, está sempre à nossa espera uma nova realidade, que não conseguimos alcançar e que, por conseguinte, consideramos como

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nossa. A vida é estranha para nós, porque nunca a conseguiremos atingir. Está cheia de visões irreais. E quem escreveu as letras para as canções que ilustram esse conceito? Tal como já referi, eu ocupo-me da parte lírica e do desenvolvimento

“[…] Desde a música até às fotografias, [o álbum] convida o ouvinte a fazer parte de uma viagem cinemática.” de conceitos para Foscor. Como relacionar ideias com imagens, palavras e até com música, de forma a chegar a um discurso bem organizado, pelo menos em termos

de ideias e intenções. Quando todos já conhecem e já perceberam qual é o objetivo e como podemos explica-lo, fica tudo mais fácil. As letras não são mais importantes do que os outros aspetos/ elementos, do álbum, tais como as imagens e o design ou até a produção no estúdio. Mas surgem como um instrumento, que permite concretizar e fixar através da escrita as ideias que fluem na obra, na peça artística, tomada no seu todo. Para mim, funcionam como um resumo do que eu sinto, quando estou a juntar todas as peças do puzzle. Como se trata de um dos maiores desafios, um dos objetivos principais a atingir, no que diz respeito às letras, procuro sempre escrever da forma como gosto mais de tratar as emoções humanas, conferindo eternidade a todos os momentos e procurando reconciliar o além com o aqui e agora.


Que idioma usam para se expressarem neste álbum? Bem, a nossa língua é o Catalão. Temo-lo usado a par do Inglês nos álbuns anteriores da banda. Mas agora, com o objetivo de tornar ainda mais claros e evidentes as ferramentas e recursos que usamos para chegar ao ouvinte (em termos musicais, artísticos, etc.), apostamos no uso dos elementos que mais têm a ver com a nossa personalidade. Usar o Catalão nas letras equivale a expressar o que nós somos e a forma como nos sentimos com mais profundidade do que usando outros recursos… até mais do que através da música. Nós pensamos, sonhamos e amamos em Catalão… portanto, para nós. faz sentido apostar nessa língua, tanto mais que estamos sempre a clamar que a nossa música “fala” com a língua em que exprimimos as nossas emoções. Não interessa se estamos a perder a oportunidade de nos internacionalizarmos, associada ao uso do Inglês. Quando se trata

de emoções, sabemos que todos os seres humanos partilham uma linguagem comum, que ultrapassa os idiomas. Muitas pessoas que não são falantes de Catalão confessaram-nos que eu era bem mais credível a usar a minha língua materna em vez do Inglês. Só precisávamos de ganhar a coragem necessária para tomar essa decisão. Outra grande opção que assumimos neste álbum é o uso exclusivo da voz limpa. Trata-se de dois aspetos que determinam a sua identidade. Quem fez a capa do álbum e como a relacionam com o seu tema central? Tomei conhecimento da obra da artista holandesa Nona Limmen através de um artigo na Cvlt Nation. Apaixonei-me imediatamente pela sua forma de fotografar e a visão do mundo que esta representa. As técnicas totalmente analógicas que usa têm um lado vintage e escondem uma espécie de paixão autêntica pela criação de uma comunhão

perfeita entre o que alguém sonha, sente e vê, quando vagueia pelo caminho da vida, sempre cheio de incertezas. Num dado momento, tomei consciência de que gostaria de poder contar com material deste tipo. Portanto, assim que o conceito de base deste novo álbum e período na vida da banda ficou definido, apercebi-me de que a fotografia da Nona seria o meio ideal para traduzir o que eu tinha em mente, a música que tínhamos conseguido criar e o sentido artístico que queríamos conferir à nossa linguagem: Modernismo. Uma atitude muito específica – em termos artísticos e em relação à vida – que, no nosso país, data de tempos passados e que – talvez devido aos tempos de mudança que a nossa sociedade e todo o mundo estão a viver – voltou a fazer sentido. O diálogo com esta artista foi fantástico desde o primeiro minuto. Lembro-me de ter partilhado com ela alguns resumos e ideias sobre o título de cada faixa

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e qual deveria ser o aspeto geral do álbum. Ela propôs usar material de uma viagem à Islândia para desenvolver a ideia com uma das suas musas – Svala Johansdottir – e, apesar das duras condições atmosféricas, o resultado final ficou maravilhoso, tal como se pode ver na capa do álbum e no livrinho que o acompanha. Tenho a certeza de que continuaremos a trabalhar com ela em álbuns futuros. Onde encontraram os músicos convidados para figurarem neste álbum? O baterista [Jordi Farré] não pode ser considerado como um convidado, mas sim como um músico que nos acompanha no trabalho de estúdio. Quando o contactámos, foi com a ideia de o ter sempre por perto, quer no estúdio, quer nos concertos. Tendo em conta o facto de que atualmente faz parte de Cruciamentum e Sheidim e que ainda é membro de Ered há muito tempo, não queríamos pressioná-lo demasiado, mas sempre lhe demos a entender, de forma clara, que nos parecia que ele tinha o perfil ideal para acompanhar a nossa banda nesta fase da sua carreira. Temos ideias semelhantes sobre a música, tendo em conta aspetos como o estilo e a mesma vontade de fazer coisas. A prestação da bateria neste álbum é simplesmente o exercício mais dinâmico e intenso que que conseguimos obter até agora. No que diz respeito à participação do Alan Averill, dos Primordial, é precioso ver o papel que Portugal desempenhou nesse acontecimento. Encontrei-o há anos e, depois de uma das últimas edições do Roadburn Festival, ficámos ainda mais próximos por eu lhe ter pedido alguma ajuda. Depois de termos feito dois conceitos de apoio à sua banda – em Lisboa (no Under The Doom Fest) e Madrid – o Alan passou um dia em Barcelona, enquanto viajava de avião para outro destino. Convidou-me para

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tomar uma cerveja e eu respondilhe convidando-o para passar a tarde connosco nos Moontower Studios, onde estávamos a gravar. Passámos um tempo agradável e amistoso com ele e aproveitámos para o levar a participar com a sua voz na faixa “Ciutat Tràgica”… Só há uma palavra para descrever essa participação: brilhante. Last but not least, temos a participação do Marcelo Mercadante, um músico com uma larga experiência internacional a tocar bandonéon, que também é tio da esposa do nosso guitarrista. Estávamos a pensar em sintetizadores para certas transições e partes ambientais incluídas no álbum, quando o Albert veio com a ideia de usar este instrumento tão diferente, que nos pareceu apaixonante. Essas partes foram tocadas ao vivo de forma improvisada, ou seja, de uma só vez. Sentimo-nos muito privilegiados por termos podido contar com algo tão especial como um bandonéon, que nos ajudou a enriquecer o nosso álbum e a aumentar a sua originalidade. Parece que, mesmo sem querer, encontrámos os melhores elementos para cada um dos aspetos a ter em conta, já que todos eles se articularam da melhor forma para dar um sentido sólido ao nosso álbum. Vocês vêm de Barcelona, a cidade do grande Gaudi. De que forma essa origem afeta a vossa identidade musical? Tenho de admitir que, neste caso, foi importante ao ponto de dar sentido a todo o nosso discurso artístico. Não tem só a ver com Barcelona, mas também com a totalidade do pequeno país em que vivemos e um dos mais excitantes momentos culturais de que ele foi palco: o Modernismo (Art Nouveau, Jugendstill, etc…). Se nos perguntarem como relacionamos o conceito lírico do nosso álbum com a paisagem de sonho criada pela fotografia da Nona Limmen, a explicação reside nos fundamentos desse movimento artístico catalão.

Constituiu uma espécie de fase prévia do movimento “Fin de siècle”, do Decadentismo que se opôs ao Realismo… Caracterizavase por atribuir à Natureza uma dimensão emocional, que nos parece muito próxima das nossas conceções. O mundo precisa de ser “poeticizado” e os humanos têm de se unir mais intensamente à Natureza, para voltarem a estar vivos. O seu mundo quotidiano era uma espécie de espaço mágico e foi nesse lugar que situámos a cidade, que é o nosso cenário de base, seguindo os mesmos passos que o Modernismo: - As coisas comuns precisam de ser vistas com novos olhos, adquirindo um significado novo. - As coisas vistas adquirem uma nova aparência, secreta. - O que já se conhece ganha estatuto e dignidade de desconhecido. O Modernismo procura experiências associadas à alucinação para desenvolver aquilo a que os seus defensores chamavam a complacência dos sentidos. Esta espécie de sensualidade corresponde ao que sentimos, quando mergulhamos na Escuridão. A arquitetura de Gaudi representa apenas uma das linhas que saíram dessas conceções artísticas. «Les Irreals Visions» é, sem dúvida, uma criação muito original. Como persuadiram a SoM a lançar um álbum que alguns puristas poderiam hesitar em incluir na cena Metal? Obrigado por essas palavras. De facto, falarem de originalidade a propósito da nossa música é o melhor elogio que podemos receber. Fizemos o nosso melhor para arquitetar a proposta mais original que pudéssemos construir a partir dos elementos artísticos que reunimos… se esta chama a atenção de outrem, podemos considerar que tomámos as decisões corretas, que as nossas apostas pessoais foram coroadas de êxito. E penso que foi exatamente por isso que o


nosso trabalho chamou a atenção da SoM… o facto de propormos algo que transcende as regras, mas, ao mesmo tempo, mantém a coerência em relação a uma forma de lidar com as emoções e a escuridão já conhecida. A cena Metal e a música em geral precisam de ultrapassar largamente

“[…] nestes últimos tempos, têm surgido vários exemplos que confirmam o […] interesse pela inauguração de uma linha clara nos campos tenebrosos em que se embrenha o Metal.” os limites estabelecidos. Não é meramente uma questão de inovação, mas algo como não fechar as portas a novas formas de expressar emoções superiores da maneira mais única que for possível encontrar. A SoM nunca foi uma editora que apostasse naquilo a que podemos chamar “fast food music” ou “música fácil” e, na minha opinião, nestes últimos tempos, têm surgido vários exemplos que confirmam o seu interesse pela inauguração de uma linha clara nos campos tenebrosos em que se embrenha o Metal. Durante 15 anos, o Metal – e sobretudo o Metal extremo – não evoluiu como noutros períodos da sua história. Sucederam-se os imitadores e nada do que se produziu se comparava à expansão característica dos anos 90. Foi por isso que o revivalismo old school se manifestou com tanta força. Quando um músico precisa de procurar nova inspiração no

passado, passa-se algo anormal. E foi por isso que muitas bandas e músicos com uma base de Metal sentiram a necessidade de fundir as suas raízes com outra música de que gostassem, mas com a qual nunca lhes tinha passado pela cabeça trabalhar. Isso permitiulhes alcançar – senão recuperar – a magia dos velhos tempos. A cena Metal está definitivamente aberta a novas formas de atingir a emoção e alcançar as trevas... por vezes, através da translação de algo já conhecido, outras vezes de uma forma absolutamente pioneira. A SoM não podia passar ao lado dessa tendência... e nós sentimo-nos muito privilegiados por podermos contar com eles para enfrentar este desafio.

gostaríamos de complementar a nossa música com um espetáculo visual, que ponha o público tão perto quanto possível da experiência emocional que este álbum representa, tirando partido da magia de tocar ao vivo. Portanto, até me parece que tens razão no que dizes sobre os concertos da banda. facebook

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Vão fazer concertos? Não consigo imaginar-vos a tocar em grandes festivais, mas vejo-vos bem em clubes a apresentar a irrealidade das vossas visões retratada neste álbum. De facto, neste momento, estamos a discutir a nossa agenda para tocar ao vivo com muito cuidado, porque queremos Foscor a tocar fora das fronteiras do nosso país. Para já, temos uma primeira série de datas confirmada, em que apoiaremos os Vulture Industries, nossos companheiros de editora: entre 5 e 12 de outubro, visitaremos a Holanda, a França, a Bélgica e a Alemanha. Estamos ansiosos por todos esses concertos, não há outra maneira de expandirmos a música senão a experiência de tocar ao vivo. Acredito piamente que os nossos concertos podem ter mais sucesso em espaços mais pequenos do que em grandes festivais ou ao ar livre. Pessoalmente, prefiro os concertos em salas, porque nos permitem contactar com o ouvinte de uma forma adequada. O público é capaz de tomar consciência do sentido da nossa proposta musical de uma forma mais profunda, pessoal, emotiva. Tal como nos aconteceu com o álbum anterior, tanto quanto o apoio técnico da sala nos permita,

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Um caleidoscópio musical Eis a imagem que a música de - o exótico projeto de

Igorrr

Gauthier

Serre - nos traz à cabeça. Entrevista : CSA e Nuno Lopes Credits - Svarta Photography

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CSA – A que corresponde este Igorrr, que se converteu no nome de uma das entidades musicais que tu criaste? Para que servem esses três “r”? Igor começou por ser o nome do meu gerbil, um pequeno roedor oriundo de zonas desérticas. Era todo negro e, frequentemente, recordava-me o Igor de Frankenstein. Quando ele morreu, decidi usar o seu nome para designar as minhas experiências musicais. Não sei bem por que razão decidi usar os três “r”. Talvez para dificultar a pronúncia do nome e lhe dar um ar complicado. CSA – Já não estás no teu primeiro álbum com Igorrr. É possível distinguir fases/etapas no percurso deste avatar de Gauthier Serre? Cada álbum representou uma etapa para Igorrr. Em «Poisson Soluble», que foi a primeira demo, usei principalmente samples, porque queria reunir todos os

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grandes nomes de cada estilo (sobretudo na primeira faixa – “Petit Prélude Périmé” – em que me diverti imenso a combinar Bach e Morbid Angel). Depois surgiu «Moisissure», a minha segunda demo, mais longa e trabalhada, em que já recorri a instrumentos tocados e gravados. Depois foi «Nostril», o meu primeiro verdadeiro álbum (e também o primeiro trabalho a ser lançado oficialmente por uma editora), que marcou o verdadeiro início de Igorrr e implicou um grande trabalho de composição, para assegurar a mistura de estilos. Depois, surgiu «Hallelujah», que é o meu terceiro álbum, em que tentei introduzir novas ideias, tais como os cânticos barrocos e uma forte mistura de Metal/ Breakcore/Baroque, e em que também aparecem instrumentistas gravados, para apoiar e distorcer os velhos samples barrocos que utilizei. Com a colaboração de Ruby My Dear, lançámos um EP intitulado «Maigre», em que

aprofundámos a vertente de música eletrónica. Por fim, foi a vez de «Savage Sinusoid», o meu último álbum, que me exigiu o máximo de trabalho que fiz até agora, porque não inclui samples e apresenta uma pesquisa aprofundada ao nível da composição e do som para cada estilo, o que implicou recorrer a numerosos convidados para garantir que seriam apresentados com o máximo de qualidade possível. Entretanto, com a colaboração da cantora lírica Laure Le Prunenec, surgiu o projeto «Corpo-Mente», só para nos dar prazer e permitir-nos testar novas coisas. Portanto, cada álbum representa para mim uma nova etapa. NUNO LOPES – Não é fácil definir a tua música – se é que alguém vai ser capaz de o fazer alguma vez – devido a todas as influências e nuances que nele podemos encontrar. Qual é, para ti, a melhor descrição de Igorrr?


“Cada álbum representa para mim uma nova etapa. […] tratase de música feita por gente apaixonada pela música […]”

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Também para mim é difícil explicar o que é Igorrr. Globalmente, trata-se de música feita por gente apaixonada pela música. Em suma, quero fazer a música que gosto de ouvir. Portanto, Igorrr não tem propriamente limites. Gosto de muitos estilos musicais (seja Metal, música barroca, o folclore dos Balcãs ou música eletrónica), procuro atingir o meu ideal musical combinando todos esses universos musicais NUNO LOPES – Quais são as principais influências de Igorrr e de que forma esses géneros foram surgindo na tua vida? Influências não me faltam. Vêmme de imediato à mente entidades tão díspares como Meshuggah, Chopin, Cannibal Corpse, Scarlatti, Taraf de Haidouks ou Aphex Twin. São artistas que ouvi muito e que – penso eu – tiveram muita influência na minha forma de ver a música. Todos têm um estilo muito específico e, de facto, levaram a sua arte muito longe. Apesar das enormes diferenças de estilo que os separam, cada um consegue tirar do seu género próprio algo de muito forte. NUNO LOPES – Qua é o principal problema que tens de enfrentar devido a cultivares essa vasta paleta de sonoridades? É gerir todos esses estilos: cada um é dotado de uma riqueza e de uma complexidade incríveis. Trabalhar todos ao mesmo tempo e tentar fazê-los coabitar num mesmo álbum equivale a tentar fazer malabarismo com um milhão de bolas. NUNO LOPES – O que nos podes dizer sobre «Savage Sinusoid»? Este álbum custou-me quatro anos de trabalho: de facto, foi muito exigente. Como já disse, não queria usar samples, mas pretendia usar toda a panóplia de estilos musicais de que gosto. Também queria dar à música o ar live, uma espécie de ideal meu. Como sou fã de muitos universos

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musicais diferentes e queria incluí-los a todos neste álbum, tive de encontrar o instrumentista perfeito para que o álbum tivesse o melhor som possível. Não queria encarregar-me eu mesmo de todos os instrumentos, porque alguém que passa a sua vida a explorar um dado instrumento num estilo musical específico vai certamente tocá-lo muito melhor do que eu, que toco alguma coisa em cada um deles (sem ser especialista de nenhum). Quando era adolescente, andava sempre à procura de uma banda ou de um artista que combinasse todos os tipos de música de que eu gosto, ultrapassando todos os limites. Nunca encontrei nada nem ninguém assim. Com «Savage Sinusoid» tenho a sensação de ter feito o álbum que eu queria tanto ouvir, quando era mais novo. NUNO LOPES – Qual é a temática de «Savage Sinusid»? Há algum conceito subjacente a este álbum? Não tem propriamente um conceito. A sua finalidade é bastante simples: fazer a música de que gostamos, que temos vontade de ouvir. Não nos preocupámos em pensar se havia um conceito ou não, se a música ia agradar ou não. Limitámo-nos a fazer a música que nos agradava a nós! CSA - Em que critérios te apoiaste para escolher as misturas de estilos para cada canção do álbum? Tem alguma coisa a ver com o tema de cada uma delas? Há alguns estilos que combinam bem com outros, como o Metal e o Barroco, ou o Metal e o folclore dos Balcãs. Depois, o tema de cada canção surgiu naturalmente. É esta música que nos inspira, portanto apenas seguimos o nosso instinto de músicos. CSA – Que relação há entre a capa do álbum e o seu tema? E quem a criou? A capa representa uma bola de carne, que simboliza todos os estilos e músicos que amalgamámos neste álbum. Em

cada universo musical, há artistas que o levam um pouco muito longe. Penso que, em cada estilo, as pessoas não se apercebem do génio de outras músicas. Pôr essa gente toda a tocar junta era a minha ambição para este disco e essa bola de carne cheia de braços representa essa unidade. O contorno – feito com paternes baroques – sublinha o lado barroco do álbum e, nomeadamente, o protagonismo do cravo em «Savage Sinusoid». A capa é da autoria de Metastazis. CSA – Costumas dar carta branca aos artistas que convidas para ilustrar os álbuns de Igorrrr? Não. Dou-lhes orientações para lhes explicar a ideia e a atmosfera que se desprende do álbum. CSA – Que parte te cabe na execução/interpretação da música de Igorrr (uma vez que te ocupas sozinho da composição e das letras? Depende das canções, mas, geralmente, eu trato das guitarras, dos pianos e de algumas baterias ou baixos, além dos sons eletrónicos e dos arranjos. Em «Savage Sinusoid», um só baterista – o Sylvain Bouvier – tocou todas as baterias acústicas. NUNO LOPES – A participação de Travis Ryan, o vocalista de Cattle Decapitation, é uma das surpresas deste álbum. Como o convenceste a colaborar neste longa duração? O que é que ele trouxe ao álbum (ou, por outras palavras, por que razão era importante que fosse ele a cantar e não outro)? Adoro a voz do Travis e há muito tempo que queria fazer algo com ele. Um dia, quando acabei de compor o instrumental de “Apopathodiaphulatophobie”, pareceu-me lógico mandar-lho, para ele fazer um teste. Limitei-me a enviar-lhe um mail e começámos logo a trabalhar na canção e ele reenviou-me tudo depois dos primeiros testes. Foi assim que tudo começou. Correu tão bem que continuámos a fazer o mesmo


“[…] quero fazer a música que gosto de ouvir. Portanto, Igorrr não tem propriamente limites. […]”

Também para mim é difícil explicar o que é Igorrr. Globalmente, trata-se de música feita por gente apaixonada pela música. Em suma, quero fazer a música que gosto de ouvir. Portanto, Igorrr não tem propriamente limites. Gosto de muitos estilos musicais (seja Metal, música barroca, o folclore dos Balcãs ou música eletrónica), procuro atingir o meu ideal musical combinando todos esses universos musicais NUNO LOPES – Quais são as principais influências de Igorrr e de que forma esses géneros foram surgindo na tua vida? Influências não me faltam. Vêmme de imediato à mente entidades tão díspares como Meshuggah, Chopin, Cannibal Corpse, Scarlatti, Taraf de Haidouks ou Aphex Twin. São artistas que ouvi muito e que – penso eu – tiveram muita influência na minha forma de ver a música. Todos têm um estilo muito

específico e, de facto, levaram a sua arte muito longe. Apesar das enormes diferenças de estilo que os separam, cada um consegue tirar do seu género próprio algo de muito forte. NUNO LOPES – Qua é o principal problema que tens de enfrentar devido a cultivares essa vasta paleta de sonoridades? É gerir todos esses estilos: cada um é dotado de uma riqueza e de uma complexidade incríveis. Trabalhar todos ao mesmo tempo e tentar fazê-los coabitar num mesmo álbum equivale a tentar fazer malabarismo com um milhão de bolas. NUNO LOPES – O que nos podes dizer sobre «Savage Sinusoid»? Este álbum custou-me quatro anos de trabalho: de facto, foi muito exigente. Como já disse, não queria usar samples, mas pretendia usar toda a panóplia de estilos musicais de que

gosto. Também queria dar à música o ar live, uma espécie de ideal meu. Como sou fã de muitos universos musicais diferentes e queria incluí-los a todos neste álbum, tive de encontrar o instrumentista perfeito para que o álbum tivesse o melhor som possível. Não queria encarregar-me eu mesmo de todos os instrumentos, porque alguém que passa a sua vida a explorar um dado instrumento num estilo musical específico vai certamente tocá-lo muito melhor do que eu, que toco alguma coisa em cada um deles (sem ser especialista de nenhum). Quando era adolescente, andava sempre à procura de uma banda ou de um artista que combinasse todos os tipos de música de que eu gosto, ultrapassando todos os limites. Nunca encontrei nada nem ninguém assim. Com «Savage Sinusoid» tenho a sensação de ter feito o álbum que eu queria tanto ouvir, quando era mais novo.

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NUNO LOPES – Qual é a temática de «Savage Sinusid»? Há algum conceito subjacente a este álbum? Não tem propriamente um conceito. A sua finalidade é bastante simples: fazer a música de que gostamos, que temos vontade de ouvir. Não nos preocupámos em pensar se havia um conceito ou não, se a música ia agradar ou não. Limitámo-nos a fazer a música que nos agradava a nós! CSA - Em que critérios te apoiaste para escolher as misturas de estilos para cada canção do álbum? Tem alguma coisa a ver com o tema de cada uma delas? Há alguns estilos que combinam bem com outros, como o Metal e

ocupas sozinho da composição e das letras? Depende das canções, mas, geralmente, eu trato das guitarras, dos pianos e de algumas baterias ou baixos, além dos sons eletrónicos e dos arranjos. Em «Savage Sinusoid», um só baterista – o Sylvain Bouvier – tocou todas as baterias acústicas. NUNO LOPES – A participação de Travis Ryan, o vocalista de Cattle Decapitation, é uma das surpresas deste álbum. Como o convenceste a colaborar neste longa duração? O que é que ele trouxe ao álbum

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o Barroco, ou o Metal e o folclore dos Balcãs. Depois, o tema de cada canção surgiu naturalmente. É esta música que nos inspira, portanto apenas seguimos o nosso instinto de músicos. CSA – Que relação há entre a capa do álbum e o seu tema? E quem a criou? A capa representa uma bola de carne, que simboliza todos os estilos e músicos que amalgamámos neste álbum. Em cada universo musical, há artistas que o levam um pouco muito longe. Penso que, em cada estilo, as pessoas não se apercebem do génio de outras músicas. Pôr essa gente toda a tocar junta era

(ou, por outras palavras, por que razão era importante que fosse ele a cantar e não outro)? Adoro a voz do Travis e há muito tempo que queria fazer algo com ele. Um dia, quando acabei de compor o instrumental de “Apopathodiaphulatophobie”, pareceu-me lógico mandar-lho, para ele fazer um teste. Limitei-me a enviar-lhe um mail e começámos logo a trabalhar na canção e ele reenviou-me tudo depois dos primeiros testes. Foi assim que tudo começou. Correu tão bem que continuámos a fazer o mesmo para outras canções.

a minha ambição para este disco e essa bola de carne cheia de braços representa essa unidade. O contorno – feito com paternes baroques – sublinha o lado barroco do álbum e, nomeadamente, o protagonismo do cravo em «Savage Sinusoid». A capa é da autoria de Metastazis. CSA – Costumas dar carta branca aos artistas que convidas para ilustrar os álbuns de Igorrrr? Não. Dou-lhes orientações para lhes explicar a ideia e a atmosfera que se desprende do álbum. CSA – Que parte te cabe na execução/interpretação da música de Igorrr (uma vez que te

CSA – Quem são os outros convidados? Gostei muito da voz do vocalista de Cattle Decapitation, mas também apreciei muito a da cantora que se pode ouvir em algumas das canções. Temos Teloch, de Mayhem, que toca guitarra e baixo em “Viande”. Temos também o baixista Erlend Caspersen em quase todas as canções. Há igualmente os dois cantores com quem trabalhámos há muito tempo e que fazem parte da formação ao vivo, juntamente com o baterista Sylvain Bouvier:


a cantora lírica Laure Le Prunenec e o vocalista Death Metal Laurent Lunoir. Podes também os acordeonistas Pierre Mussi e Adam Stacey, o saxofonista Yann Le Glaz, o guitarrista Nils Cheville, Katerina Chrobokova para tocar o cravo, o percussionista Stuart Dickson, o tocador de cítara e percussionista Antony Miranda e ainda Benjamin Violet, Benjamin Bardiaux, Nicolas Seguin, Pedrou Lacasa, Yasmina Barra ou Aymeric Thomas. NUNO LOPES – Serias capaz de fazer um álbum como este – completamente desprovido de samples – anteriormente? Não. Este álbum exigiu muitos conhecimentos musicais e técnicas, que tive de adquirir para o poder concretizar. Também é preciso ter em conta o aspeto financeiro: nos meus primeiros álbuns, tive de usar muito o computador por falta de meios. Com este álbum, as coisas passaram-se de modo diferente e eu pude finalmente fazer tudo como eu queria, até ao fim. CSA – Já reparaste que este álbum poderia constituir uma excelente banda sonora para um documentário, por exemplo? E por que não! Gostaria de ver com que tipo de imagens ele combinaria bem. NUNO LOPES – A tua música arrisca-se a não ser compreendida. Como pensas que «Savage Sinusoid» será recebido? O que esperas deste álbum que demoraste quatro anos a criar? Espero sobretudo que este álbum se assemelhe ao que eu queria criar e foi isso que aconteceu em absoluto. Reconheço que se arrisca a ser mal entendido ou até a não ser entendido. Mas isso faz parte do jogo, quando se faz música que não é comercial. Temos de estar preparados para as críticas dos ouvintes conservadores, que poderão até ficar um bocado irritados por uma banda os ter feito sair da sua zona de conforto. Até agora, as reacções foram

muito, muito positivas. Estamos muito surpreendidos com a abertura de espírito dos amantes de música da actualidade. CSA – Fazes muitos concertos com Igorrr? Como é que as coisas se passam (músicos, cantores no palco, a tua participação pessoal, a decoração, etc.)? E onde vão ser os próximos concertos? Neste momento, temos muitos concertos previstos. Participámos no Hellfest, há algumas semanas atrás. Depois fizemos alguns concertos locais, além de termos participado no UK Techfest, em Inglaterra, na semana passada e vamos tocar Dour Festival amanhã. Vamos também participar no Brutal Assault e no Motocultor, no que toca a festivais de verão. Vamos fazer uma digressão de quase dois meses, entre o início de outubro e o fim de novembro, para promover o álbum: a Savage Tour. Seremos quatro no palco; eu, nas máquinas; a Laure Le Prunenec e o Laurent Lunoir, nos vocais; o Sylvain Bouvier, na bateria.

NUNO LOPES – Que planos tens para o futuro de Igorrr? Para já, vamos partir em digressão té ao fim do ano, depois veremos. Vai depender principalmente da forma como o álbum for recebido, portanto ainda é um bocado cedo para falar disso. De momento, temos boas respostas, logo, se calhar, vamos fazer mais concertos. NUNO LOPES – Queres deixar alguma mensagem especial para os fãs portugueses? Espero que nos reencontremos em breve. Estivemos em Portugal em 2015 e adorámos! Tenho pressa de voltar aí. Até aprendi a dar as boas noites em Português: não me foi muito útil, mas aprendi. Boa noite [em Português, no original.] facebook

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CSA – Como é que a Metal Blade te encontrou? E por que razão decidiu patrocinar uma banda tão original como Igorrr? Toda a gente ficou muita surpreendida por ver uma editora tão popular como a Metal Blade a promover uma banda como a nossa. Ninguém estava à espera disso. Mais uma vez, a Metal Blade mostra a sua coragem e, apesar do seu palmarés impressionante, continua a apostar na música de que gosta. Fiquei muito, muito surpreendido por eles não terem feito nenhum comentário sobre a natureza do nosso estilo, muito fora das normas de uma editora que lança os álbuns de Slayer, Cannibal Corpse ou Amon Amarth. Nem sequer falaram disso. Mandei-lhes um álbum em que lhes propunha uma amálgama que incluía acordeão, cravo, guitarras Black Metal e uma cantora de ópera e eles responderam: sim.

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Heavy Metal vS Futebol

Por: Emanuel Leite Jr.

“O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”... E dando sequência a esta coluna, e como esta edição da Versus Magazine conta com uma cobertura especial da passagem dos Sepultura pela cidade do Porto, não podíamos deixar de falar sobre a relação destes brasileiros com o futebol. Da formação remanescente do grupo, Andreas Kisser e Paulo Xisto são os dois maiores fanáticos por este desporto. Não por acaso, ambos representaram, com bastante satisfação, os Sepultura em visita ao Museu do FC Porto e Estádio do Dragão a convite do clube portuense, quando estiveram na cidade invicta. Mineiro como os Sepultura, Paulo é um ferrenho adepto do Atlético-MG; ao passo que o paulista Andreas Kisser tem no São Paulo FC a sua grande paixão. Ambos fazem questão de levar as cores e símbolos de seus clubes mundo afora, quando excursionam - autocolantes nos respectivos instrumentos, meias, camisolas, dentre outros adereços fazem parte do cenário dos concertos destes ícones do heavy metal. Sobre o São Paulo O São Paulo Futebol Clube é o mais novo dos três grandes clubes da capital do estado de São Paulo (os outros dois são Corinthians e Palmeiras), tendo surgido em 1930, da fusão da Associação Atlética das Palmeiras e do Club Athlético Paulistano. Em 1935, o clube passaria por um breve período de inatividade - e é por isso que o clube é informalmente referenciado como São Paulo da Floresta no lapso temporal entre 1930-1935. Mas, ainda em 1935 o São Paulo retomaria suas atividades, dando sequência a uma das histórias mais ricas e gloriosas do futebol brasileiro. O Tricolor Paulista, assim chamado por conta das suas cores (vermelha, preta e branca), é o clube brasileiro com mais títulos internacionais (12 no total) e um dos maiores campeões nacionais, com seis títulos do Brasileirão, atrás apenas dos rivais paulistas Palmeiras (9) e Santos (8). Dentre os ídolos do clube, destacam-se jogadores históricos como Rogério Ceni (“o goleiro artilheiro”, tendo marcado 132 golos na carreira), Cafu, Ricardo Rocha, Toninho Cerezo, Kaká, Raí, Zizinho, Leônidas da Silva (“o Diamante Negro”) e Arthur Friedenreich (o primeiro brasileiro a ultrapassar a marca dos mil golos - fala-se em 1239 no total, uma média de 0,99 por jogo, superior a de Pelé, que foi 0,94). Estádio Cícero Pompeu de Toledo, popularmente conhecido por Estádio do Morumbi (devido ao bairro em que se encontra localizado), é a casa são-paulina e tem capacidade para 72.032 espectadores. Inaugurado em 2 de outubro de 1960, o Morumbi teve como jogo de abertura um amigável entre São Paulo x Sporting, em que os tricolores bateram os Leões por 1x0.

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Principais títulos No Brasil, os campeonatos estaduais são bastante tradicionais. Já foram mais importantes, principalmente quando não existia campeonato nacional (o primeiro torneio nacional surgiu apenas em 1958). Porém, na relação, vamos apenas colocar os títulos nacionais e os principais internacionais. 1 Mundial de Clubes FIFA - 2005 2 Taças Intercontinentais - 1992 e 1993 3 Taças Libertadores da América - 1992, 1993, 2005 1 Taça Sul-Americana - 2012 2 Recopas Sul-Americanas (correspondente à Supertaça Europeia) - 1993, 1994 1 Taça Conmebol - 1994 6 Campeonatos Brasileiros - 1977, 1986, 1991, 2006, 2007, 2008 Rivalidades São três os grandes rivais do São Paulo e todos por conta das disputas estaduais. A maior rivalidade é com o Corinthians, clube mais popular não apenas da cidade, mas também do estado de São Paulo. Com os corintianos, os são-paulinos disputam o dérbi conhecido por Clássico Majestoso. A seguir, a rivalidade com o Palmeiras, cujo dérbi é denominado Choque Rei. Por fim, o “San-São”, que é o clássico com o Santos. Sobre o Atlético-MG O Clube Atlético Mineiro surgiu em 1908, inicialmente com o nome de Athlético Mineiro Football Club. Fundado por um grupo de estudantes de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, as suas cores são o preto e branco. O clube também é comumente chamado de Galo, por conta de seu mascote. Até hoje, os atleticanos se orgulham de dizer que são os “primeiros campeões brasileiros”, uma vez que o Galo conquistou a primeira edição do Campeonato Brasileiro, em 1971. Contudo, em 2010 a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) unificou os títulos nacionais, reconhecendo a Taça Brasil (1959-1968) e a Taça Roberto Gomes Pedrosa (1967-1970) também como Campeonato Brasileiro. Com isso, a honra de ser o primeiro campeão nacional passou a ser do Bahia. Os atleticanos, contudo, dão pouca importância a essa correção histórica e oficial da CBF e ainda se reconhecem como os pioneiros do Brasileirão. O Atlético é o maior campeão mineiro, com 44 títulos. Na primeira década dos anos 2000, o clube passou por uma crise financeira que culminou com sua despromoção à Série B do Campeonato Brasileiro. O Galo conquistou a “segundona” em 2006 e deu início a um processo de ressurgimento, que teve como ápice o título da Taça Libertadores em 2013. Entre 1928 e 1968, os alvinegros tiveram como casa o Estádio Presidente Antônio Carlos. Com problemas financeiros e já usando com maior regularidade os estádios do Mineirão (pertencente ao governo do estado) e Independência (do América-MG), o clube vendeu o antigo estádio para a municipalidade de Belo Horizonte. Atualmente, o Atlético não tem estádio próprio. Manda seus jogos maioritariamente no Estádio Independência, que é propriedade do América e tem capacidade para 23.018 espectadores. Mas, em jogos grandes costuma atuar no Mineirão (61.846 lugares).

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Principais títulos 1 Taça Libertadores da América - 2013 2 Taças Conmebol - 1992, 1997 1 Recopa Sul-Americana - 2014 1 Campeonato Brasileiro - 1971 1 Copa do Brasil - 2014 Rivalidades O grande rival do Atlético é o Cruzeiro. Juntos, são os dois clubes mais populares de Minas Gerais e os dois mais bem sucedidos a nível nacional e internacional (o Cruzeiro, inclusive, conquistou mais Libertadores [2], Brasileiros [4] e Copa do Brasil [4] do que o Galo). Não por acaso, o dérbi é chamado de o Clássico Mineiro. Mas, antes de a rivalidade com os Celestes aflorar, o Atlético tinha como maior rival o América, também de Belo Horizonte, naquele que já foi o Clássico das Multidões. Com a decadência do América, a rivalidade com o Coelho foi perdendo expressão, significando pouco para os atleticanos. A nível nacional, o Galo tem uma rivalidade com o Flamengo, muito por conta da disputa pelo protagonismo no futebol brasileiro no início dos anos 1980 e pela forma injusta que o Atlético foi eliminado pelos flamenguistas na Taça Libertadores de 1981 (que os atleticanos consideram “o maior roubo da história”).

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CURIOSIDADES Jogo de Estrelas Entre 2002 e 2009, Paulo Xisto promoveu o “Jogo de Estrelas”, um evento beneficente em que os Sepultura formavam sua equipa de futebol para defrontar equipas de veteranos jogadores de Atlético-MG, Cruzeiro e América-MG. Os jogos sempre aconteciam em Belo Horizonte, terra do Paulo e dos Sepultura, no Estádio Independência. Dentre os craques que estiveram presentes ao longo dos anos, constam os nomes de Toninho Cerezo, Dadá Maravilha, Reinaldo, Éder e Belletti, todos com história na seleção brasileira. Carlos Alberto Silva, bicampeão português no comando do FC Porto em 1991/92 e 1992/93, chegou a ser o “treinador” dos Sepultura em algumas das edições. Como cobrança pelos bilhetes, o grupo pedia alimentos não-perecíveis, que eram doados a instituições de caridade.

Camisolas Sepultura/Futebol A paixão do grupo pelo futebol tem sido explorada através da comercialização de camisolas dos Sepultura ao estilo futebol. Quando completou 20 anos, a banda lançou uma linha de camisolas com as cores da seleção brasileira (nas duas versões, amarela e azul), que foram vendidas em todo país nas lojas de uma rede de departamentos internacional. Mais recentemente, têm sido vendidas camisolas com o famoso “S tribal” e as cores de diversos clubes brasileiros. Final do Campeonato do Mundo 1994 Em julho de 1994, os Sepultura se encontravam nos Estados Unidos em turnê de divulgação do Chaos AD (ao lado dos Pantera). No dia 17 de julho, a banda se apresentaria em Laguna Hills, na Califórnia. Na mesma data, a 200km dali, em Pasadena (na zona de Los Angeles), aconteceria a final do Campeonato do Mundo FIFA. O Brasil enfrentaria a Itália na decisão do título que consagraria o primeiro “tetracampeão mundial” no Estádio Rose Bowl. Como o jogo estava marcado para as 12h30 locais e o concerto só aconteceria à noite, Andreas Kisser, Paulo Xisto, Max e Igor Cavalera, e alguns roadies, fizeram-se à estrada. Os músicos conseguiram comprar bilhetes a US$ 350 no entorno do estádio e assistiram a seleção brasileira conquistar o Mundial depois de um hiato de 24 anos. No livro “Sepultura: Toda a História”, André Barcinski e Silvio Gomes contam como a festa naquele dia se prolongou do estádio até após o concerto, horas mais tarde. Sepultura x Sepularmy Em 2007, o Sepularmy, grupo de fãs que se dedicam a promover os Sepultura, organizaram na cidade espanhola de Huesca um Sepularmy Party. Um dia todo dedicado aos Sepultura, que terminou com um concerto do grupo, mas que contou com um convívio com os fãs. Dentre as atividades, Sepultura e Sepularmy se enfrentaram num divertido jogos de futebol.

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Sentido e Autenticidade São estas as palavras-chave que Ash atribui ao último álbum de : «Era of Threnody»!

Nargaroth

Entrevista: CSA

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Olá, Ash! Que tem Nargaroth andado a fazer? Ash – Olá. Vai-se bem. Tenho caçado, feito caminhadas, trabalhado a terra, em suma, gozado um pouco a vida. Sei que lançaram «Era of Threnody» a 16 de maio. Qual é o conceito subjacente ao vosso sexto longa duração? É minha convicção que há apenas algumas – poucas – formas musicais de expressão com um espírito masculino e a qualidade emocional que me agradam mesmo. Dado ver um arquétipo tradicional do Flamenco como uma dessas raras formas de expressão, já há algum tempo que andava a pensar em incorporá-lo na minha música. Mas o elevadíssimo nível de competência em guitarra que

de estilo nómada, que me tem feito dar a volta ao mundo – sem casa, sem objectivo. Em raros períodos de pausa, vivi em zonas rurais vulcânicas no México e nas reservas de índios no Canadá, onde as letras para as canções deste álbum foram escritas. Trata-se de um álbum triste, como o seu título sugere? Sim. Precisei de mais de um ano para ultrapassar o período de luto e os fatores que levaram aos acontecimentos ocorridos entre 2014 e 2015 e para retomar o controle da minha vida. Em tempos de tumulto emocional, a minha criatividade fica limitada, porque a melancolia – a que sucumbo por completo – apodera-se de mim. Limito-me a fazer uma retrospetiva dos factos ocorridos e a tentar

“Se eu tivesse assumido uma missão, seria a seguinte: espalhar sentido e autenticidade em tempos em que a superficialidade e a falsidade imperam.” é necessário ter para o fazer impediu-me de concretizar esse desejo durante muito tempo. Quando dei um concerto em Paris, em 2013, falei desta minha ideia ao Bernth [Brodträger], que, entre outras coisas, estava a estudar guitarra de jazz numa academia de música de Viena e fazia parte da formação de Nargaroth. Mais tarde, quando – de forma independente – as nossas vidas familiares se desmoronaram, juntámo-nos para pôr de pé este projeto. Como o flamenco original era a música de gente nómada, sem casa e de origem rural, fundiu-se perfeitamente com a minha história de vida e a história por trás deste álbum. Cada fase da nossa vida tem as suas próprias batalhas, tentações ou aberrações e muitos de nós vivem a sentir a falta de algo, que nos preencha a vida, o que, por vezes, nos deixa desesperados. Os acontecimentos que se refletem neste álbum levaram-me a optar – de moto próprio – por uma vida

encontrar uma forma de pôr a minha experiência em música, razão pela qual o álbum saiu com dois anos de atraso. Todas as canções se referem a experiências reais e acontecimentos, que, na sua maioria, ocorreram em Las Vegas ou no Deserto de Mojave. Podes fazer-nos uma visita guiada às dez canções incluídas neste álbum e falar-nos da sua relação com o tema central? As canções vão-se juntando progressivamente. Começam com uma referência à situação em que eu me encontrava, quando consegui descobrir uma centelha de esperança, e, à medida que o tempo avançava, experimentei momentos agradáveis (que transparecem nas canções), para mergulhar novamente no caos e na confusão, que me deixaram num estado bastante depressivo. Por conseguinte, é quase redundante dizer que o que despoletou este acontecimento foi uma série de episódios pouco auspiciosos

relativos a uma questão amorosa. Que mais poderia fazer um homem vacilar desta maneira e levá-lo a escrever um álbum sobre esse tema? Acabei por me converter num vagabundo, num nómada em viagem constante à volta do mundo e, dessa forma, a cumprir o destino da minha família, já que somos todos dados a vaguear. Podemos dizer que este álbum anuncia uma nova era na carreira de Nargaroth? Não. Como já disse várias vezes, na história de Nargaroth, nenhum álbum pode ser semelhante a outro. Novos sentimentos, emoções e experiências, exigem – do meu ponto de vista – formas de expressão sempre diferentes. Este álbum não é uma tentativa experimental, nem representa uma nova direção ou era de Nargaroth, mas uma continuação da tradição acima referida. O próximo álbum vai ser novamente diferente dos seus antecessores, de alguma forma. Quanto mais expectativas tu e os fãs criarem em relação ao meu trabalho, mais desapontados se sentirão, o que resulta para mim. A música neste álbum é muito curiosa por várias razões: tem muitas melodias bonitas (criadas pelas guitarras e pontuadas pela bateria), muitos contrastes (por exemplo, tu gritas, tu ruges e depois sussurras). De um modo geral, a voz parece destruir as melodias, mas, estranhamente, acaba por combinar muito bem com elas. - Concordas com estes comentários sobre a tua nova obra? - Em que medida cada um dos outros membros de Nargaroth contribuiu para a criação deste álbum tão polifónico? Talvez porque eu sou realmente fantástico… Na verdade, não posso dizer nada sobre esses comentários relativos ao meu novo álbum, porque refletem a opinião de uma só pessoa, que vive algures bem longe

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“[…] Quanto mais expectativas tu e os fãs criarem em relação ao meu trabalho, mais desapontados se sentirão […]”

daqui. Toda a gente pode ter a sua opinião e eu não levo as críticas a sério, quando apenas apresentam uma opinião. Apetece-me dizer que é cansativo ver que toda a gente acha que tem o direito de fazer prova da sua existência dando a sua opinião em público. Muitas dessas pessoas nunca criaram nada, mas gostam de lançar os seus comentários na internet. Como nada na humanidade me interessa, também não ligo nenhuma a isso. Este álbum terá os seus fãs e os seus detractores, mas, no fim de contas, deixará o seu próprio legado, muito simplesmente porque é um álbum bom! O Bernth e eu compusemos o álbum, mas todos participaram nele – como técnico de estúdio, técnico de bateria, misturador ou músico. Todos deram algo para o álbum. Quem fez a capa para o álbum? De que forma essa ilustração representa o seu espírito? O Bernth e eu discutimos o conceito subjacente à capa, eu procurei e exemplos que pudessem dar corpo à minha ideia e enviei-lhe alguns templates. Depois ele criou a capa que poderia corresponder a essas ideias, que representa Laocoonte na sua agonia. As duas serpentes simbolizam A

Tentação e o Amor Perdido, com quem o herói ferido luta até que estes consigam envenenar o seu coração. Consternada, a espada que ele segura nas suas mãos está prestes a cair, enquanto a ordem do universo, representada por pilares a desabar, se desvanece. Por trás desta cena, pode ver-se o selo de Babilónia – a “Mãe das Abominações” –, que contempla toda a tragédia sem uma sombra de comiseração. Li no Facebook que nenhuma editora vos apoiou na criação deste álbum. Como aconteceu isso? Como vais promover «Era of Threnody»? Percebeste mal. Declarei que tinha lançado eu próprio este álbum, o que dará aos fãs a oportunidade de me apoiarem, partilhando-o e promovendo-o. Lancei o álbum através da minha própria editora – a INTER ARMA PRODUCTIONS – exclusivamente dedicada à distribuição das criações de NARGAROTH. Por falar de promoção, podes dizer algo que mostre aos fãs que é indispensável terem este álbum? Mas não é isso que eu sinto. Se se sentem atraídos por Nargaroth, o meu estilo de vida, a minha filosofia de vida, convido-os a ouvirem este álbum no Youtube,

onde o poderão encontrar no nosso canal (https://www. youtube.com/watch?v=ZCYQEPS_pM&t=114s). Se vos parecer que vale a pena apoiar a banda, para que esta se possa lançar em novas aventuras, adquiram cópias digitais ou físicas do álbum ou merchandising através da página da minha editora no Bandcamp (https://interarmaproductions. bandcamp.com) ou na loja online (http://www.interarmaproductions. com). Se não gostarem, ponham-no de parte. Eu proponho, mas nunca peço! Como vês a missão da tua banda neste mundo que se aproxima rapidamente do fim da segunda década do séc. XXI? Se eu tivesse assumido uma missão, seria a seguinte: espalhar sentido e autenticidade em tempos em que a superficialidade e a falsidade imperam. facebook

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Adolescência amadurecida Os Next to None são um grupo de adolescentes que faz música de adultos. Foram impulsionados e ajudados por um tal de Mike Portnoy. Como “quem sai aos seus não degenera”, Max Portnoy “parte muita loiça” atrás do kit e os miúdos descarregam um metalcore progressivo, (quem diria) diferente e muito técnico. Com ou sem ajuda estes putos merecem toda a atenção. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Transcrição e Tradução: Hugo Melo

Este último álbum teve data de lançamento a 7 de julho. Como esperas que seja a reacção do público? Max Portnoy - Depende daquilo que gostarem. Creio que se forem fans de metal progressivo ou de metal em geral, vão gostar do álbum, porque procuramos fazer um álbum que não fosse específico de um género. Temos músicas que são curtas e claramente metal, outras tem influências de progressivo. Creio que este álbum pode ir de encontro a fã de ambos os mundos. Espero que as pessoas gostem. Para os fans portugueses que não conhecem os Next To None como definirias a vossa música? Se tivesse de a rotular creio que chamaria de metal progressivo, embora não creio que seja possível nos inserir num grupo específico. Como disse, tentamos e gostamos de fazer coisas diferentes. Estive a ouvir «Phases» e, na minha opinião é mais pesado que «A Light In The Dark». Porquê esta nova abordagem? Estamos mais sugestivos a música mais pesada do que quando fizemos o «A Light In The Dark». Creio que fomos influenciados pelo

peso dessa música e procurámos incluí-la na nossa, mais progressiva. No final gostámos imenso que que fizemos e estamos muito excitados com o resultado. É quase uma mistura do peso de uns Lamb of God e o progressivo de uns Dream Theatre. Estas mudanças tiveram a ver com a saída de Ryland? Bem, o Ryland não está a tocar connosco porque quis seguir a Universidade, tendo entrado em Berkeley, que é muito bom para ele. Como quisemos continuar a banda, tivemos de procurar um novo guitarrista e encontrámos o Eric que é um excelente músico. Muitas músicas deste álbum estão num tom mais baixo, as guitarras estavam afinadas em Ré ou Fá, coisas que nunca tínhamos feito. É um excelente músico, na medida em que consegue tocar tanto as partes mais pesadas como as malhas mais rápidas. É o guitarrista perfeito para nós. Existe uma harmonia entre as vossas várias influências? Que influências foram estas? Para mim, as maiores influências vieram de Dream Theatre, mas estou sempre a ouvir bandas mais recentes como System of a Down,

Korn, Lamb of God. Recentemente vi Tool e foi espectacular. Estas são o tipo de músicas que tenho ouvido. Mas varia de membro para membro, por exemplo o Derrick ouve as bandas mais progressivas como Opeth, Anathema, Thomas é mais adepto da cena metal core como Isis, Scarlett Drive. Assim embora tenhamos uma génese de progressivo, a nossa base de influências é diferente o que é bastante porreiro porque permitenos combinar e criar a nossa própria música. Neste álbum têm 4 faixas conceptuais. Sendo todos jovens, o que é que vos levou a escrever sobre a tristeza? As faixas foram escritas pelo Thomas, e embora não possa falar a 100% por ele, tenho quase a certeza que as várias faixas tem a ver com os vários estádios da tristeza. Assim temos a fúria, a “Clarity” é sobre a revolta e a negação, a “The Wanderer” é sobre a aceitação. Cada música é uma etapa. Para mim tem a ver com a proximidade da escrita que acaba por ser comum a todos os que perderam alguém. O pináculo do álbum é a “The Wanderer” que dura quase 20

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minutos. Porque é que dura tanto tempo e porque é que é diferente? Representou um desafio para vocês? “The Wanderer” foi a última música que compusemos. Embora o álbum não seja num todo um álbum conceptual, achámos que seria uma boa ideia incorporarmos todas as ideias das outras músicas do álbum numa única música. Ela inclui vários riffs de outras músicas, e sabíamos à partida que esta seria sempre longa. Quando começamos foi-nos natural continuar e continuar, até acabar por ser uma música de 20 minutos. A mais longa que tínhamos feito tinha sido de 10 minutos. Foi muito interessante e é uma das minhas favoritas.

Vão em digressão com a banda do teu pai, os Shattered Fortress, e já foram em digressão com os Haken. Qual é a reacção que esperas do público às músicas tocadas ao vivo? Creio que vão gostar porque com os Shattered Fortress vamos tocar as músicas mais progressistas porque acredito que são mais do estilo da audiência que vamos apanhar, e creio que vão gostar.

Estas músicas, que representam este conceito, não são seguidas, estando separadas por outras músicas. Porque é optaram por esta divisão? Podíamos as ter colocado seguidas, mas não sentimos que iria beneficiar muito o álbum. “Answer Me” sempre nos pareceu a melhor para abrir o álbum e a “The Wanderer” para o fechar.

Sendo filho do Mike Portnoy, creio que era espectável que alguns críticos te iriam “caçar”. Foste avisado desta possibilidade? Não foi propriamente um aviso, mas quando as coisas saíram eles disseram para não ler. Mas a

Poderemos esperar no próximo álbum um trabalho conceptual? Não sei, mas acredito que é algo que um dia faremos.

Como é partilhar o palco com os Haken? Foi muito interessante. Partilhámos o palco com os Haken em Abril, e estarmos juntos com os Haken e todos aqueles músicos brilhantes, foi muito bom. Já somos amigos deles todos.

verdade é que eu li e não me preocupei muito porque quando alguém critica a forma como toco bateria, é porque ficaram mais ofendidos que eu. Quando alguém não gosta da minha forma de tocar, não faz mal porque outros gostam, não ligo muito a isso. Vocês são bastante jovens, no entanto, a vossa música já demonstra muita maturidade. Têm alguma formação musical ou são essencialmente autodidactas? Pessoalmente eu tive aulas. Muitos pensam que foi o meu pai, mas não foi, uma vez que estava a maior parte do tempo em digressão e quando estava em casa queria-o como pai e não como professor, embora, é óbvio que ele de vez em quando me mostrava algumas coisas. Relativamente aos outros membros, sei que o Kris e o Derrick tiveram aulas, mas o Thomas é autodidacta e aprende tudo de ouvido. Como baterista, que sou, gosto de fazer umas questões mais específicas. Qual é o teu setup? Bateria da Tama e Pratos da Sabian? Sim, uso a bateria da Tama e os pratos da Sabian, as baquetas da Promark e as peles da Remo. Para este álbum, usei um kit maior, com 4 timbalões o que foi muito fixe,

“[...] não me preocupei muito porque quando alguém critica a forma como toco bateria, é porque ficaram mais ofendidos que eu.” 1 3 2 / VERSUS MAGAZINE


visto ter tido a possibilidade de ter várias opções. Foi agradável ter um kit grande, embora muitas vezes seja mais interessante tocar numa bateria mais pequena, mas no estúdio foi bom ter as várias opções. És patrocinado por estas marcas? Sim, sou patrocinado pela Tama, Sabian e Promark. Como afinas as tuas baterias? Afino-as de forma a soarem bem, não brinco muito com elas. A tarola deixo-a super apertada para ter um som fechado. Tendo a manter a pele de ressonância uma pouco mais solta. Recentemente vi um vídeo no youtube de um gajo que comprou no Wallmart um ride de 20” por, salvo o erro, $20. Há uma

ideia geral, na minha opinião errada, que um prato melhor faz o músico melhor. Achas que os instrumentos fazem o músico ou é ao contrário? Antes de responder a essa questão gostava de dizer que eu o Thomas e o Kris rimo-nos à brava desse vídeo porque estava sempre a aparecer nos recomendados. Creio que um bom baterista será sempre um bom baterista independente do que usar. Com melhor equipamento irá soar melhor, mas se é um bom músico, isso vai sempre transparecer independentemente do que usar. Estava a dar uma vista de olhos no meus DVD e reparei que tinha o Liquid Drum Theather do teu pai. Viste estes tutoriais do teu pai? Por acaso não os vi todos. Vi alguns, mas a maior parte vi no

youtube quando as pessoas faziam o upload deles. Não sei porquê, mas nunca os vi todos, não (risos). Vejo mais os vídeos que ele colocava a tocar para os Dream Theather. Mas provavelmente deveria vê-los… Achas que um dia farás estes DVD’s? Pode ser uma possibilidade, embora neste momento não seja um grande professor. Talvez um dia, se for capaz de arranjar forma de transmitir o que sei. Não tenho mais questões, gostei muito do vosso álbum e esperovos ver em breve em Portugal. Obrigado pelo teu tempo. Espero ir aí em breve. Obrigado. facebook.com youtube.com

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… sonho Americano Vivian Campbell é talvez o rosto mais conhecido dos Riverdogs, mais um projecto a juntar ao rol de bandas do guitarrista dos Def Leppard. Rock and Roll feito por gente muito talentosa, servido com uma pitada de Blues, sob o sol da Califórnia. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA

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Olá, Vivian! Obrigado por esta segunda oportunidade de te entrevistar. Antes de mais, espero que esteja tudo bem com a tua saúde... Vivian Campbell - Sim, obrigado. Não estou preocupado com o meu estado de saúde. Estamos todos a viver tempo emprestado. Eu só sou um sortudo por estar a ser gentilmente lembrado desse facto. Desde 1990 que a história dos Riverdogs tem tido alguns altos e baixos. Na tua opinião, porque é que este projeto não teve a continuidade e o reconhecimento que merecia? Quando o álbum original de Riverdogs saiu, em 1990, a editora a que recorremos tinha sofrido uma completa reviravolta e a maior parte das pessoas com quem tínhamos trabalhado tinha sido substituída. O novo diretor disse-nos que lhe parecia que não ia poder apoiar o lançamento do álbum e que queria que começássemos a trabalhar num segundo álbum. Tínhamos passado 18 meses a trabalhar nele e ficámos destroçados por esta falta de apoio. Todos sentimos que o álbum podia ter sido um sucesso, se lhe tivessem dado uma chance, mas mataram-no à nascença.

Têm esperança de conseguir alcançar o merecido sucesso e reconhecimento com «California»? Tenho zero expectativas em relação a este álbum. A única recompensa que temos garantida é a alegria de ter conseguido fazer o álbum. Tens uma história engraçada relacionada com este álbum, já que estava decidido que serias o seu produtor e acabaste por tocar nele… Não tenho os créditos do álbum mas chegaste a produzir o álbum? E se assim foi, como foi produzir música dos Riverdogs depois destes anos todos? “California” resultou de um esforço conjunto e foi, essencialmente, uma produção de grupo. Contudo, o Nick fez todo o trabalho de gravação e mistura, por isso o referimos como produtor Podemos dizer que, em termos musicais, «California» é uma suave mistura de Rock e Blues. Foi assim que a banda conseguiu regressar às raízes de Riverdogs? Sim, foi importante para nós mantermo-nos fiéis ao som original da banda e ao primeiro álbum. Discutimos este assunto com a Frontier Records, antes de começarmos a compor as canções

e todos estávamos de acordo sobre o facto de que era nesta direcção que queríamos seguir. És muito conhecido por tocares com Def Leppard, Dio e Whitesnake, todas bandas de referência no mundo do Rock. Contudo, eu gostaria muito de ouvir Vivian Campbell a tocar em mais um álbum de Blues... Gravei um álbum de Blues, intitulado «Two sides of if», em 2004. O Blues é uma importante componente da minha forma de tocar guitarra, dado que os guitarristas que me influenciaram todos foram inspirados por grandes músicos de Blues. Foi importante para mim seguir as pisadas dos meus heróis, para obter uma melhor compreensão da minha relação com o instrumento que toco. Sempre senti que a minha forma de tocar foi tão cunhada pelo Blues como pelo Rock. Já te perguntei isto, na entrevista a Last in Line e repito a pergunta nesta entrevista: trata-se de uma verdadeira banda ou de um projeto? Last in Line converteu-se numa banda a tempo inteiro. Temos estados a fazer o máximo de

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digressões possível e vamos começar a gravar o nosso segundo álbum em Setembro. com os Riverdogs, só me posso comprometer a fazer a gravação e vau haver um concerto de apresentação em dezembro. Vão fazer alguma digressão? De momento, não temos nenhuns planos para fazer digressões, mas, se alguém estiver interessado nisso e apresentar uma proposta, suponho que isso poderá acontecer. A propósito de bandas e projetos, quais são os teus projetos para o futuro? Como já referi, vai haver um novo álbum de Last in Line, que sairá no início de 2018 e também uma grande digressão de Leppard ao longo de 2018. Não tenho intenção de agravar mais a minha carga de trabalho.

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É difícil estar em 3 bandas ao mesmo tempo! … E agora, umas perguntas diferentes. As a viver o teu “sonho americano”? Cada dia é uma dádiva para mim e estou a fazer o trabalho que adoro, portanto penso que estou mesmo a viver um sonho. No entanto, não sei se é um “sonho americano”. Por que razão “The Heart is a Mindless Bird”? Aí está uma pergunta a que só o Rob pode responder, mas penso que todos nós já nos deixámos ludibriar pelo nosso coração, que nos arrastou para o desconhecido de forma imprudente. Podes dar aos nossos leitores “Ten (Thousand) Reasons” para ouvir «California»? Foi muito agradável para todos

nós fazer «California», portanto esperamos que este sentimento passe para quem nos ouve. Quem é “Catalina”? Mais uma vez, teria de ser o Rob a responder a essa pergunta, porque foi ele que escreveu as letras todas. Mas eu sei que ele queria que todas as personagens e histórias das letras deste álbum fossem extensões das presentes no primeiro álbum dos Riverdogs. Catalina é uma ilha ao largo da costa de Los Angeles. Muito obrigado pelo teu tempo. Foi um prazer entrevistar-te mais uma vez. Espero que estejas mesmo bem e espero ver-te em Portugal muito em breve! Obrigado. Foi um prazer para mim responder. facebook.com youtube.com


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Deep Purple Vagos Metal Fest Sepultura

Wave-Gotik Treffen VOA Laurus Nobilis

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