Versus#47 - Feb/18

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SUPL EM EN T O E SP E C I AL : V E R S U S LIV E

M A LC O L M Y O U NG ( 06/ 0 1 / 1 9 5 3 - 1 8/ 11/ 2017)

W OB B LER

R AM

AN T RO D E F O LIA

... ATÉ SEM PRE, ZÉ PE D RO (1 4 /0 9 /1 9 5 6 - 3 0 /1 1/ 2017)

E NS IF E R UM

N IGHT VIPER


EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E

vErSUS MAGAZINE

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EDITORIAL

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D IR E C Ç Ã O

Até Sempre A mú sica ex trema ou alternat i va não e s t á e m cri s e m a s

Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O

d e certo q u e é for temente abalada com a pa rt i da de

Eduardo Ramalhadeiro, Marco Anes (& Rúben Fernandes)

ce r to s e leme ntos que par t i ci param e m exe ra m com o

COLABORADORES

n o s so mu nd o . Zé Pedro é sem dúv i d a um a pe s s oa que fe z mu ito no p anorama naci onal da m ús i ca rock, s e j a e l a m a i s ra d iofó nica ou mai s venenosa . Ape n a s pode mos a g rad ecer d o legado que nos é dei x a do e us a -l o como

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, Nuno Kanina, Paulo Freitas Jorge e Victor Alves

F O T O G R A F IA

referê ncia p a ra elevar a quali dade da m ús i ca cri a da n o

Créditos nas Páginas

n o s so sa grad o i mpéri o da músi c a cont rove rs a . A V E RS U S

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d e dica a lgu ma s palav ras e reflexões s obre o Zé Pe dro e s ob re Malco lm Young que nos dei xou e m Nove mbro

O U T IL IZ A D O R P O D E :

p a s sa d o , esco cês membro fundador de uma da s ma i s

copiar, distribuir, exibir a obra

fa m o sa s b a nd as de rock da hi stóri a: AC/ DC. Nã o s ó de

S O B A S S E G U IN T E S C O N DI ÇÕES: AT R IB U IÇ Ã O - O uti l i zador deve

m á s notícias é fei t a est a edi ção, dei xo-vos de s cobri r a s

dar crédi to ao autor o r iginal, da for ma especi fi cada pel o aut or ou l i cenci ante.

exce lente s ent rev i st as e rev i ews - e todos os a rt i gos e s e cçõ es esp eciai s que a nossa equi pa vos pre pa ra ra m . Ha i l! Bo a s le itu ra s, Adriano Godinho

2 / VERSUS MAGAZINE

U S O N Ã O - C O M E R C IA L . O ut ilizador não pode uti l i zar esta obr a par a fi ns comerci ai s. N Ã O A O B R A S D E R IVA D A S. O uti l i zador não pode al terar, transfor mar ou cri ar outr a obr a com base nesta.


68

GLERAKUR

C O NTE Ú DO Nº47 01/18

0 5 V I C TO R ALVE S

40 HÄIVE

86 EMANUEL JR.

0 6 MAL CO L M YO U NG

44 RAM

1 0 0 O H O M E M D A M O T O S ERRA

0 8 Z É PE DR O

48 STAHL S A R G

102 THROANE

1 6 T R IA L B Y FIR E

54 PALETE S

1 0 6 D A R K FA L L

1 7 MI GUE L T IAG O C H E G A D A

62 ENSIF ERUM

1 1 0 G A R A G E P O WE R

1 8 MORT IS MU TIL ATI

67 PLAYLIS T

114 MELHORES DE 2017

2 2 N I GH T VIP E R

72 WOBBL E R

1 1 6 G A B R IE L S O U S A

2 6 S P EC TR A L E

78 NUNO L O P E S

G R Ê L O S D E H O RTE L Ã

3 0 C A RL OS FIL IPE 3 6 E MA NU E L JR .

A N TR O D E F O L I A

H E AV Y M E TA L & F U TE B O L

M OSH

O PESO QUE VEM DO BRASIL

VEINLESS

(SU)POSIÇÕES

1 1 8 WA R A RT S P R O D U C T I ON S

80 ALBUM V E R S U S

122 DØDSENGEL

82 CRÍTI C A V E R S U S

1 2 4 C A ÏN A N D AWN

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Grêlos de Hortelã

Por: Victor Alves

Em ponto morto esperando por ti Primavera. Tu que trazes o sabor da minha perdição, a noite. Tu que embalas a minha alma a minha força, senhora da minha vontade e

cor do meu beijo,

o repetido.

Fazes-me esquecer a vergonha dos homens e embebedas-me os olhos nos seios

da mulher proibida.

Arrasta de mim todo este cinzento que me envolve.

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MALCOLM YOUNG 1953 – 2017

LET THERE BE MALCOLM (WE SALUTE YOU) Malcolm Mitchell Young (Glasgow, 6 de janeiro de 1953 – Sydney, 18 de novembro de 2017) fundou a banda australiana AC/DC em 1973, com o seu irmão mais novo Angus Young. No ano seguinte juntou-se aos AC/DC o vocalista Bon Scott. Esta parceria permitiu à banda ter uma projeção internacional com o álbum «Highway to Hell» (1979). «Back In Black» – lançado em 25 de julho de 1980 – marca a transição da era de Bon Scott para a era de Brian Johnson após a trágica morte do primeiro. É o álbum de rock mais vendido de todos os tempos e encontra-se na lista dos álbuns mais vendidos do mundo, na segunda posição, atrás apenas de «Thriller», de Michael Jackson. Até hoje, já vendeu 51 milhões de cópias. Comparando a sua postura em palco e fora dele com a do seu irmão Angus Young – guitarrista principal da banda – Malcolm Young tinha uma atitude mais discreta, low-profile. No entanto, ele era a força motriz por detrás do som de AC/DC. Como “instrumento” de trabalho, usou uma guitarra Gretsh Jet Firebird, de 1963. A título de curiosidade a sua guitarra era apelidada de “The Beast” (a Besta). Quem conhece um pouco do trabalho de AC/DC, sabe que o nome lhe “assenta que nem uma luva”. Porém, nas turnés de promoção dos álbuns «Back in Black» (1980) e «For those About to Rock» (1981), ele tocou com uma guitarra Gretsh White Falcon. Malcolm Young foi o compositor de quase todo o espólio musical da banda em parceria com o seu irmão Angus Young e, em alguns álbuns, com a participação também de Brian Johnson. Segundo Angus, Malcolm era extremamente metódico e organizado, no que dizia respeito às novas ideias musicais que lhe iam surgindo. Estas seriam guardadas criteriosamente, para serem utilizadas – ou não – em futuros trabalhos da banda. Assim, podese assumir com alguma segurança que haverá muita música da banda que ainda não chegou a ver a luz do dia. O som de AC/DC ou Malcolm Young (porque são indissociáveis) caracteriza-se por ser facilmente reconhecível até aos ouvidos menos atentos ou menos “cultos” no que toca à história da banda em si, em particular, ou do Rock, em geral. O seu estilo de composição é simples, direto e brutal. Malcolm Young não utilizava nenhum tipo de efeitos de guitarra. Limitava-se a ligar diretamente a sua guitarra ao amplificador. Músicas como “Highway to Hell” e “Problem Child” foram criadas com apenas três acordes, fórmula essa que foi insistentemente usada ao longo da sua carreira e está fortemente associada aos irmãos Young e à sua banda. A música de AC/DC é simplesmente puro Rock and Roll com um toque de blues, riffs “orelhudos” e letras que falam de mulheres, álcool e vida na estrada. O som/estilo musical de Malcolm projetado através da banda influenciou a New Wave of British Heavy Metal, que apareceu nos finais dos anos de 1970. Bandas tais como os Saxon ou Iron Maiden reconhecem a influência que os AC/DC tiveram nos seus estilos musicais. Os riffs de Malcolm inspiraram géneros musicais como Metal, Thrash e Grunge. Problemas de saúde começaram a surgir na turné de apoio ao álbum «Black Ice» (2008). Mais tarde, veio-se a saber que sofria de demência. Esta turné acaba por se revelar a sua última ao serviço dos AC/DC. O álbum «Rock or Bust» (2014), o último lançado até à data, já não contou com a presença física de Malcolm nas gravações. No entanto, todas as músicas são dele em parceria com o seu irmão. Malcolm Young fica para a história como um dos guitarristas Rock mais influentes de sempre. Basta dizer que, no que diz respeito a guitarristas ritmo de Rock and Roll influentes, Malcolm Young tem o seu lugar na história. Influenciado pelo Rock and Roll dos anos 1950 e por guitarristas dos anos 1960 e 1970, foi considerado o melhor, senão dos melhores, em parceria com outro guitarrista que também reúne muito consenso: Keith Richards, dos Rolling Stones. Tomemos a seguinte analogia: se AC/DC fosse um automóvel de grande cilindrada, Malcolm Young seria certamente o seu motor. Marco Anes

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Zé Pedro (14/09/1956 - 30/11/2017)

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Punk até ao fim “O Zé Pedro viveu a sua vida um bocado como o Lemmy: da forma que quis, sem concessões! Aproveitou-a o máximo, tirando o que de melhor ela tinha para lhe oferecer. Isso era bem patente no seu otimismo característico e naquele sorriso genuíno. Ainda antes do transplante deixou todos os vícios, mas continuou a aproveitar a sua existência terrena o melhor possível. Era uma figura genuinamente simpática, simples e sempre disponível. Nunca negava um sorriso, um autógrafo, uma foto. Tinha um enorme sentido de justiça e foi punk até ao fim: só mesmo a notícia da morte do Zé Pedro poderia relegar para segundo plano a morte, no dia anterior, do maior esclavagista português dos tempos modernos. Sempre foi um irremediável apaixonado por música. Adorava conhecer novas bandas e, mais do que isso, divulgá-las e apoiá-las. Tornei-me fã dos Xutos em 1985 e vi-os em concerto inúmeras vezes. Conheci o Zé na final do 1º Concurso de Música Moderna da Câmara Municipal de Lisboa, realizada em junho de 1991 no Cais do Sodré, em Lisboa. Naquela época eu era baterista dos Dinosaur, um dos 10 grupos finalistas. Quando inicámos a nossa atuação vários fãs enlouquecidos subiram ao palco, obrigando-nos a parar o espetáculo e a recomeçá-lo. Perderam-se dois minutos. Para “compensar” e não excedermos a meia-hora atribuída a cada banda, o técnico de som teve ordens para nos cortar o “pio”. O Zé Pedro e Xana, dos Rádio Macau, que integravam a organização e o júri, logo saíram em nossa defesa, criticando veementemente aquela atitude. As suas declarações de repúdio foram publicadas em diversos jornais nacionais. Ambos chegaram mesmo a emitir um comunicado sobre o assunto, na medida em que os Dinosaur haviam sido totalmente alheios ao facto de terem de recomeçar o espetáculo, tendo, portanto, todo o direito de o acabar, mesmo ultrapassando o tempo regulamentar. Mal saímos do palco, o Zé a Xana foram falar connosco e apoiar-nos. Já naquela altura ambos eram estrelas maiores do Rock Português, mas sempre foram como nós. Ainda tive oportunidade de falar com o Zé mais uma ou duas vezes no Johnny Guitar. Aquele sorriso e acessibilidade sempre presentes eram contagiantes. Ao longo dos últimos anos, após ler a sua biografia, pensei diversas vezes em lhe enviar um CD-R com a demo dos Dinosaur gravada e recordar-lhe esse episódio do concurso, do qual certamente se lembraria. Já não vou a tempo. Tive oportunidade de o fazer e não a aproveitei. Por isto ou por aquilo fui sempre adiando. Hoje arrependo-me. Vai em paz Zé Pedro e, estejas onde estiveres, continua sempre, mas sempre, a fazer as coisas à tua maneira. Obrigado por tudo!” Dico Jornalista, autor dos livros Breve História do Metal Português e A Portuguese Rock and Metal Route – The Underground Guide, ex-baterista dos Dinosaur e Sacred Sin

Foto retiradas de https://www.facebook.com/ZeMaduro/ e xutos.pt crédito aos seus autores

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Alex VanTrue Ex-X-Size, fundador das bandas de tributo One Vision, Innduoendo, Abba Metal, War Pigs, Original Pranksters, Alice in Pain, Slash N’ Roses, Negative Creeps e Abba Mia “Acho que o Zé Pedro era o gajo mais fixe da música em Portugal. Não tinha inimigos e toda a gente o adorava. Quando os One Vision fizeram a 1ª parte dos Xutos & Pontapés em Góis, em 2014, foi o único membro da banda com quem quis tirar uma foto e ele disponibilizou-se prontamente. É uma perda irreparável para a música nacional. Na minha opinião, se agora os Xutos encerrassem a sua atividade, seria um gesto bonito.” Rui Sidónio Bizarra Locomotiva Do ponto de vista sentimental o falecimento de um vulto como o Zé Pedro cause sempre imensa tristeza, no caso tratando--se do maior embaixador do rock´n’roll nacional, ainda por cima uma figura unânime em termos de aceitação e simpatia, é muito difícil não nos sentirmos de uma certa forma órfãos. No meu caso particular tenho para com o Zé e os Xutos uma dívida de gratidão eterna, eles apadrinharam os Bizarra acabados de se formar convidando-nos para a abertura de concertos da DDT(Direito ao Deserto Tour). Tendo esse contacto pesado no posterior convite para fazer parte do disco de tributo XX anos XX bandas para o qual contribuímos com uma versão da música Se me amas. Resumindo, para acrescentar a todo a importância que os Xutos tiveram no meu crescimento musical, forma a banda omnipresente em toda a minha fase de formação, tive também este contacto mais próximo, este privilégio de por eles ter sido tocado. Zé Pedro para sempre, Xutos para sempre! Jorge Caldeira Fundador e animador do programa “Catedral do Rock”, da Popular FM “Ficam grandes recordações do Zé Pedro. Ainda preservo as entrevistas que lhe fiz. Na última, realizada a oito de março de 2015, para o programa ‘Catedral do Rock’, perguntava-lhe se não era difícil manter uma banda ao longo de tantos anos com as mesmas pessoas e ele respondia-me que não, que era sempre um prazer desfrutar desses momentos com os restantes músicos de forma a manter uma relação forte e um grupo de trabalho unido. Nas suas palavras, é com esse espírito que os Xutos devem continuar, com um grande espírito de união como a família que são. Esta foi das melhores coisas que ouvi da boca do Zé. A humildade nunca o abandonou e fez dele a figura carismática que iremos recordar. Era um verdadeiro gentleman do Rock.” João Sérgio Reis Ibéria “Quando morre alguém como o Zé Pedro multiplicam-se as homenagens, o que, por si só, é sinal da importância que essa pessoa teve na vida de outrem. O Zé era um Ícone do Rock nacional e desde sempre que me acostumei a vê-lo no palco e fora dele. Na altura em que os Ibéria estavam a despontar e começavam a dar os primeiros passos no panorama rock nacional, os Xutos experimentavam o sucesso com álbuns como “Circo de Feras” e “88”. Apanhei-os muitas vezes, nas TV’s, nos palcos e fora deles. Não privei muito com o Zé Pedro, não serei hipócrita a esse ponto. Era mais aquela coisa de nos cruzarmos e dizermos “eu conheço-te, pá, és o fulano de tal” e ríamos. A última vez que estive com ele foi em 2010, no concerto dos Deep Purple no Coliseu. A meio do concerto o Tó Carvalho [ex-guitarrista dos Massive Roar] e o Zé Castanheira [músico e produtor] entram pelo camarote dentro com o Zé Pedro. Cumprimentámo-nos, rimos muito e ficámos na conversa e a assistir ao concerto de uma das nossas bandas favoritas. Uma vez mais, a música foi o nosso elo de ligação. Foi uma festa, como se nos conhecêssemos desde sempre e ainda partilhámos uns copos pela noite dentro. O Zé Pedro era assim: das pessoas mais honestas, mais verdadeiras e bem-dispostas que o Rock Português já conheceu. Estava bem em toda a parte. Era-lhe natural, intrínseco. Poucos são assim. Ele era-o. Sem esforço. Não era pessoa de invejas, era um músico a sério que sabia o seu valor, mas não hesitava em apoiar os outros e estar presente quando era preciso. Tive pena de não o ter conhecido melhor. Fica o seu legado, a música, essa, eterna... Estou profundamente triste, confesso. Resta-me a consolação de que, como ser humano, não sofrerá mais e espero que consiga a paz. A Eternidade, essa, já a conquistou. Bem hajas.”

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Paulo Barros Guitarrista/fundador dos Tarantula, produtor/fundador dos Rec’N’Roll Studios, fundador/professor da Rec N’ School “Não convivi muito com o Zé Pedro. Conheci-o numa jam-session durante um aniversário do antigo Hard Club, no final dos anos 90. Nessas duas horas e pouco percebi imediatamente a grandiosidade do Zé. Naquela época eu atuava com outros músicos conhecidos da nossa praça, e um deles era o nosso amigo em comum Kálu [baterista dos Xutos]. Quando saia do palco vi o Zé Pedro com aquele sorriso aberto, olhando alegremente para mim e empunhando uma Fender nova. Agarrou-me pelos ombros e disse-me: ‘He, Paulo, finalmente nos conhecemos!’ Nesse esse momento iniciou-se uma típica conversa de guitarristas — parecíamos duas crianças entusiasmadas a falar de brinquedos. [risos] No dia 30 de novembro, quando soube da sua morte, escorreram-me as lágrimas pelo rosto. O Zé Pedro emanava uma energia contagiante. Era uma verdadeira estrela musical, mas simples e humilde. O Zé vai estar sempre entre nós, pois deixou obra feita e deu felicidade a muita gente. Estou certo que irei continuar a minha conversa sobre guitarras com ele quando voltarmos a encontrar-nos. Até um dia, Zé.” Rute Fevereiro Enchantya, ex-Naven, ex-Black Widows, ex-dark Tales, ex-Djamal “O falecimento do Zé Pedro marcou todo um país e a comunidade de músicos portugueses pela tristeza da perda da boa pessoa que ele era, e também por ter sido fundador de uma banda que sempre foi um exemplo a seguir por tocar o que bem entendia, de forma genuína e sem preconceitos. Os Xutos e Pontapés influenciaram as bandas e músicos a ir para a garagem tocar, compor e expressarse enquanto artistas. Sem reservas. É triste ver partir alguém humilde, talentoso e com uma consciência superior daquilo que realmente era essencial na vida: o amor! Como ele próprio disse, o amor é algo que nos deixa bastante incompletos. Podemos dizer que foi o amor genuíno pela sua arte que tornou o Zé Pedro tão marcante para quem o conheceu ou apenas enquanto guitarrista dos Xutos e Pontapés.” Álvaro Fernandes Pitch Black e Dementia 13, ex-Withering “Cresci a ver o Zé Pedro tocar e, entre outros, foi dos músicos que me fez querer ser como ele, vestir-me da mesma forma e curtir em cima de um palco. Um amigo escreveu numa publicação exatamente aquilo que senti no momento em que soube da notícia: ‘Parecia que tinha desaparecido um amigo meu’. Nunca fomos amigos, cumprimentei-o apenas em algumas ocasiões, em eventos, concertos, mas, de certa forma, ele sempre fez parte do meu percurso. É uma daquelas lendas incontornáveis da música nacional que pensamos ser imortal e nunca me passou pela cabeça que algo assim acontecesse. Sei que a vida é mesmo assim, mas com o Zé Pedro não imaginava isso. Em miúdo via-o tocar, lia as letras dele, assistia ao ‘Vira o Video’ da RTP2 e via-o ao vivo com os Xutos. Sempre fui fã da fase inicial da banda e para mim, até hoje, o ‘88’ é o melhor álbum de Rock Português que conheço. A vida é injusta e vou sentir muito a falta de um músico que, mesmo não sendo o melhor executante da nossa praça, respirava Rock, tinha atitude, devoção e gosto. Isto é algo que não se pode dizer de todos. O Zé Pedro é único!” Rui Vieira Machinergy, Miss Cadaver, Baktheria, Cisne Negro, ex-Imunity, ex-Mortalha, ex-Coluna de Ferro, exD2A2N. Crítico e cronista musical, realizador de cinema independente “Vi os Xutos & Pontapés duas vezes ao vivo (na Incrível Almadense com os Braindead; e em Arruda dos Vinhos, com os V12) e cruzei-me com o Zé Pedro no Jonnhy Guitar, tudo isto nos anos 90. Estes foram os momentos,

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digamos, diretos que tivecom o Zé, mas o mais importante de todos chama-se ‘78-82’ [álbum de estreia dos Xutos] e o Zé foi um dos responsáveis. À exceção de algumas músicas posteriores e que realmente apreciei (como «Gritos Mudos» ou «Chuva Dissolvente») - a maior parte delas incontornáveis em termos de aiplay televisivo e/ou radiofónico - foi o ‘78-82’ que me marcou e que ainda ouço frequentemente. A sua frieza e negritude é algo que arrepia, mas, ao mesmo tempo, transporta uma mística que nos torna seus reféns. Há por ali um desconforto reconfortante. Só o facto de, naquela época, uma banda punk invocar um símbolo nacional como Fátima [em «Avé Maria»] foi de uma coragem atroz. Passagens como ‘Mãe, eu já matei o pai...’ [em «Mãe»] ou ‘E não se dão flores a quem morre de cancro’ [em «Quando eu Morrer»] é algo que nunca mais me saiu da memória. Cancro não terá sido o que matou Zé Pedro, mas foi algo muito semelhante. Vítima das consequências, da vida rock n’ roll que levou? Talvez, mas errar é humano, só que nem todos os seres têm o sorriso que ele mostrava. Muitas flores para ti, Zé Pedro.” Manuel “Animal” Machado Ex-baterista dos Sepulcro, Alkateya e Gargula “O Zé Pedro era a alma dos Xutos e pontapés, tendo dado origem a uma nova geração do Rock em Portugal, que tocava, afinal de contas, uma forma de música de intervenção e crítica social. Com a sua morte fica um vazio, que, no entanto, se preenche com o seu legado enquanto músico. Como pessoa era simples e humilde. Fica-nos a imagem do seu constante sorriso e sentido de humanidade. Que descanse em paz. Ricardo Galrão seBENTA “O Zé Pedro era um ser humano surpreendente, humilde, sincero e sempre fiel a si mesmo. Participou no single do último disco da minha banda, os seBENTA (o single chama-se “Vive”). Foi o Paulecas (baixista) que conseguiu a sua colaboração, pois eles eram amigos há quase 30 anos. Foi uma fonte de inspiração pessoal e musical que nos deixou.” João Manuel Aristides Duarte Cronista musical, divulgador de música e autor dos dois volumes do livro Memórias do Rock Português Os Xutos & Pontapés são ícones do Rock em Portugal, mas a sua carreira não foi fácil, no início. A primeira vez que os vi ainda eles eram desconhecidos da grande maioria do público. Aconteceu em Maio de 1981, no Soito (Sabugal), na abertura de um espetáculo dos UHF. Nesse concerto os Xutos tocaram pela única vez uma versão de «You Really Got Me», dos Kinks. Nessa época já o Zé Leonel tinha saído, sendo Francis o segundo guitarrista. Consta que o Zé Pedro foi uma espécie de “manager” dos Faíscas, uma das primeiras bandas Punk nacionais. Cheguei a ver os Faíscas, no Sabugal, em 1978, mas ele não os acompanhou. Nesse ano, ainda ele não tinha fundado os Xutos, vi-o numa foto na revista Rock em Portugal, num concerto dos Eddie and The Hot Rods e Aqui D’El Rock. Só muito mais tarde soube que era ele. Embora não fosse o vocalista, sempre achei o Zé Pedro o líder carismático da banda. A sua guitarra ritmo marcava bem o som dos Xutos. Vi-os ao vivo diversas vezes, mas só em 2013 tive oportunidade de cumprimentar o Zé nos bastidores do Palco 25 de Abril, na Festa do Avante, onde me foi apresentado pelo meu amigo João Quintela (à época “road manager” dos Primitive Reason). O Zé Pedro marcou toda uma geração de amantes da música, portanto foi com imensa muita tristeza que recebi a notícia do seu falecimento. Luís Silva do Ó Jornalista e divulgador musical, co-autor do livro Bookstage – Nos Bastidores do Rock Português “Em 1995 era manager da banda punk rock k2o3 e, após uma pequena tour, considerámos importante tocar no Johnny Guitar. Telefonei para a Marta Ferreira (manager dos Xutos & Pontapés) e, logo a seguir, em conversa com o Zé Pedro, ficou agendado um concerto para 1 de Novembro. O Zé garantiu-me que iria estar presente para conhecer o grupo. Depois da actuação, o Zé Pedro foi entrevistado: “Eu vou ser um defensor de k2o3. Gostei imenso e vou meter as cunhas que puder para ver se eles têm alguma hipótese”. Ainda antes de eu sair do Johnny Guitar disse-me para enviar uma maquete para o Tim [vocalista e baixista dos Xutos].

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Dois meses mais tarde, em Janeiro de 1996, os k2o3 estavam em estúdio a gravar aquele que seria o seu primeiro CD, “És Capaz!”, produzido pelo Tim e editado pela El Tatu. Nesse ano e no seguinte, os k2o3 fizeram as primeiras partes dos Xutos & Pontapés. Apesar de ter vivido outras histórias ao longo de quase três décadas de amizade com o Zé Pedro, este terá sido o meu primeiro contacto com a sua alma generosa e com a sua enorme capacidade de determinação. Para ele nada era impossível. Para conseguir é preciso acreditar. E ele sempre acreditou. Sempre. Era assim, o Zé Pedro.” Luís Fernando Amantes e Mortais, ex-Adelaide Ferreira Conheço a rapaziada do Xutos desde os anos 80. Frequentei o célebre Johnny Guitar e até cheguei a fazer parte do júri de um concurso de bandas promovido pelo Johnny. Por estar mais ligado ao Hard-Rock, a musica do Xutos nunca foi uma referência para mim, mas sempre admirei o percurso da banda, ainda mais sabendo do espírito de união que tiveram em momentos complicados, no âmbito dos quais provavelmente outras bandas teriam desistido. De facto, o Zé Pedro sempre foi um rocker na forma como encarou a vida, na sua postura e neste País é extraordinário manter essa atitude ao longo da vida. Sempre mantivemos uma relação cordial, amistosa e de respeito mútuo e com certeza que o seu legado ficará para sempre na história da Musica Portuguesa. José Pedro Ataíde (Sarrufo) Rasgo, “No inicio dos anos 80 houve uma banda que mudou a minha vida...Uma banda que me fez querer pegar na guitarra e ser músico! Essa banda é a maior banda Portuguesa de todos os tempos e chama-se Xutos & Pontapés...Lembro-me bem de ser miúdo ( 8 ou 9 anos) e o Zé Pedro me dar um autografo em Armação de Pêra...Dizia “Para o Zé Pedro do Zé Pedro, Xutos e pontapés um Abraço” Ficou emoldurado no meu quarto e sobreviveu ao Punk, ao Hardcore e ao Metal. Nunca reneguei os Xutos sempre os admirei e respeitei. Hoje é altura de agradecer a inspiração que sempre foram para mim. Para o Zé Pedro do Zé Pedro um Abraço e muito obrigado! Até Sempre” André Teixeira Low Torque Os Xutos estiveram sempre presentes nas nossas vidas e nos nosso imaginários desde jovens. Ver Xutos ao vivo já era um ritual e uma rotina. E nunca vi um mau concerto dos X&P. E o Zé para mim sempre foi a cara dos Xutos. Amigável, sereno, humilde e sempre com um sorriso para oferecer... É assim que tento encarar a minha vida e a perda dele é insubstituível. Paz à sua alma, família, amigos e colegas de banda. Oz Villarez Legacy of Cynthia Nunca fui um grande fã do trabalho dos Xutos apesar de respeitar ao máximo a obra deles. E algumas das músicas mais antigas terem acompanhado a minha adolescência. O Zé Pedro era provavelmente o único rock star nacional, genuíno com as pessoas e é com tristeza que vejo a sua partida, assim como aconteceu com o Ribas é o Rui Rocker. Fica a obra de alguém que viveu a vida à sua maneira e que deixa um imenso legado artístico. Os meus sentimentos à família e amigos. José Bonito Hourswill O retrato que fica é o de uma figura impar no panorama do rock português, que dedicou a sua vida á musica e que contribuiu de forma activa, especialmente com o Johnny Guitar, para o desenvolvimento da cena musical portuguesa da altura. Tive a oportunidade de o conhecer e através de uma troca de impressões após um concerto, confirmar a sua acessibilidade e simpatia enquanto pessoa. Quanto á sua influencia ou dos Xutos & Pontapés naquilo que fiz ou faço musicalmente, honestamente, não existe!!! Apesar de ter ouvido uma boa quantidade de vezes o ‘’circo de feras’’ quando saiu, tenho sim, o máximo respeito pela carreira deles e por tudo o que conseguiram alcançar na musica!!! Rui Duarte RAMP “Os RAMP sempre tiveram um contacto muito directo com os Xutos ao logo da sua carreira. Várias pessoas da nossa equipa de trabalho, assim como uma lista infindável de amigos, eram companheiros de

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longa data e já tinham trabalhado/ ou trabalhavam com eles. Fomos colegas de editora. A família Ferreira (O clã do Kalú) sempre teve pessoas fantásticas connosco. Aquando do seu adoecimento, ainda na altura do transplante, a sua substituição em palco foi feita pelo nosso ex guitarrista Tozé (pertença da equipa técnica actual do Xutos) que, amigavelmente, foi apelidado de “Tozé Pedro”…foi ele que o acompanhou até ao seu último espectáculo, em que a força física se esvaia. O Zé Pedro sempre acompanhou o trabalho das bandas mais novas e sempre respeitou ao máximo o sonho das mesmas. Talvez por ser alguém que se revia nesse princípio de amor e dedicação, aceitava sem complexos os convites que lhe eram feitos sendo por parte de bandas maiores ou menores sem diferenciação. Muitas lições foram aprendidas com ele (assim como com os nossos saudosos João Aguardela, João Ribas e António Sérgio) sendo que as mais importantes foram a paixão, a humildade e a generosidade. O Zé sempre foi um embaixador de todos os músicos de Rock em Portugal. Alguém que com a sua alegria contagiava e seduzia, a nós músicos e a muitos daqueles que mesmo não compartilhando a nossa” visão” se reviam em princípios universais da nossa existência humana. Alguém que, em conjunto com o Kalú, marcaram a realidade do desenvolvimento da música em Portugal com projectos como o Johnny Guitar, o HardClub, o Vira o vídeo entre outros. Ficámos mais pobres, disso não haja dúvida. Resta-nos a lição, que devemos respeitar e perpetuar: Não temos de ser os melhores tecnicamente para seguirmos os nossos sonhos, a ambição desmesurada levanos em direcções que nunca nos preencherão. A humildade genuína, a paixão e a sinceridade (mesmo que por vezes mal interpretadas) dar-nos-ão uma recompensa muito maior, a felicidade.” Augusto Peixoto Dove, Paradigma, In Solitude, Cycles, Head: Stoned e H.O.S.T., fundador e artista gráfico da IronDoomDesign “Falar do Zé Pedro é falar do homem e do músico. Não pode haver separação sobre o que ele realmente representava. Era um ser humano simples, super-acessível, simpático e de bom trato. Tive oportunidade de falar com o Zé por duas vezes, distantes temporalmente. Recordo-me particularmente, do nosso último encontro, no café Telhadinho, no C.C. Stop [Porto]. Falámos de música, claro está, pois é a música que nos move e permite desenvolver amizades, por vezes nos locais mais improváveis. Nessa última conversa notei o seu amor pela música e a forma como os seus olhos brilhavam ao falar daquilo que nos une. Recordo-me de ver um concerto dos Xutos no final de 1980 no Pavilhão Infante Sagres [Porto], que me marcou pela energia dos músicos e do sorriso do Zé a tocar a sua guitarra. Ficam os registos, ficam as lembranças de um ser especial e único. Até sempre, Zé.”

... Até Sempre 15 / VERSUS MAGAZINE


Trial by Fire ENSLAVED

A PALE DECEMBER

SORCERER

E

T h e S h r i n e O f P r i m a l F i re

The C row ni ng Of The Fi re K i ng

(Nuclear Blast)

(Avantgarde Music) MÉDIA: 2,9

( Metal Blade) MÉDIA: 3,0

MÉDIA: 3,3

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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BUTCHER BABIES

SINISTRO

CANNIBAL CORPSE

Lilith (Century Media)

Sangue C ássi a (Season of Mist) MÉDIA: 3,3

R ed B efore B lack (Metal Blade) MÉDIA: 2,4

MÉDIA: 2,0

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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DIABLO SWING ORCHESTRA

CALIGULA’S HORSE

P H I L I P H A N S E L M O THE I LLEGALS

P as cif is t (CANDLELIGHT) MÉDIA: 3,8

In Contact

C hoos i ng M ental Il l n e s s A s a Vi r t u e

(InsideOut Records) MÉDIA: 4,0

(Season of Mist) MÉDIA: 1,2

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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WIT CH E RY I A m Leg i o n (Century Media) MÉDIA: 2,0

ADRIANO G. C A R L O S F. EDUARDO R. ERNESTO M. EMANUEL R.

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Obra - Prima

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Excelente

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Básico

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Mig

chegada eis-nos à chegada do fim do cansaço para trás a inesquecível estrada as feridas da viagem fecham capítulos. o pano húmido nos lábios em que florescem rubras as peónias recompõe-me a coragem e a doçura. quando a corrente puxa a embarcação e tu estás já no cais, solta amarras.

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Sublimação da morte Dela dizem que é certa, apesar de a sua hora ser incerta. Mas há quem se sinta fascinado por esse fim inevitável. Entrevista: CSA

Podes falar-nos um pouco do percurso da tua banda desde 2011? Macabre – Dei início à atividade de Mortis Mutilati da mesma forma que muitas outras bandas: lancei uma pequena demo, com poucas cópias, que eu próprio distribuí, antes de gravar o EP intitulado «Sombre Neurasthénie», que saiu em cassete. Depois, compus e gravei «Nameless Here For Evermore», o primeiro álbum, lançado em 2013, se não estou em erro. De seguida, foi a vez de «Mélopée Funèbre», em 2015, que tornou a banda conhecida em

bastantes países europeus. Agora estamos em 2018, acabámos de lançar «The Stench of Death» e temos muitas coisas previstos para todo o ano. Pelo que percebi, Mortis Mutilati já não é uma one man band. Que lugar ocupas na banda? E quer lugar dás aos outros membros? De facto, é a primeira vez que alguém que não seja eu grava um álbum de Mortis Mutilati. Faço questão de que todos os riffs sejam da minha autoria e depois, com o Rokdhan, passa-se aos arranjos rítmicos e melódicos. A

Asphodel também se ocupou dos coros neste álbum. O título do álbum pode ser desagradável, mas a música é de uma extrema beleza. Como articulas as duas partes deste aparente paradoxo? Nós amamos a Morte e eu estou numa situação que me permite ter consciência do facto de que é acompanhada por um odor particularmente desagradável. Mas não amamos menos a bela música, logo decidimos usá-la para dar um lado sublime à morte.

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“ Nós amamos a Morte […]

Mas não amamos menos a bela música, logo

decidimos usá-la para dar um lado sublime à morte.

Como descreves o som deste álbum? É muito diferente do dos três anteriores? Penso que, no conjunto, é acentuadamente dissonante e, sem dúvida, o mais violento de Mortis Mutilati. Demos muito relevo às vozes, o que não acontecia nos álbuns anteriores: por exemplo, em «Mélopée Funèbre». Também demorou muito mais tempo a compor – cerca de dois anos – o

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que, na minha opinião, revela a sua maturidade. Depois, os lançamentos anteriores foram gravados com material de má qualidade num quarto, pelo que não foi possível dar a devida atenção aos pormenores. Para «Stench of Death», pela primeira vez, gravámos num verdadeiro estúdio e o resultado prova-o de forma incontestável: a produção é muito melhor. Demorámos dez dias a gravá-lo, saindo só para ir comer. Foi cansativo, mas valeu a pena o esforço.

para “Crevant-Laveine”. Mas prefiro ser modesto e afirmar que não me posso considerar como um herdeiro da literatura francesa.

Que podes dizer-nos sobre as letras das canções? Muitos destes textos foram inspirados pelo quadro «O Trinfo da Morte», pintado por Brueghel em 1562. Outros – como, por exemplo, a letra de “Homicidal Conscience” – correspondem a citações de afirmações de assassinos em série, porque sempre me deixei fascinar por pessoas capazes de tirar a vida aos outros. A letra de “Portrait Ovaçle” foi inspirada pelo conto homónimo de Edgar Allan Poe, em que o protagonista põe a alma da sua modelo na sua pintura.

Quem criou a imagem que ilustra a capa do álbum e ajuda a interpretá-lo? A Asphodel tratou de todo o artwork e fez um trabalho admirável. Trata-se de uma foto que encontrei numa sepultura abandonada. Depois de ter exumado os corpos, decidi usá-la para o artwork do álbum.

A morte não é um tema pouco usual num álbum de Black Metal. O que é que «The Stench of Death» nos diz de novo sobre esse tema? Não é minha intenção dizer nada de novo sobre esse assunto. «The Stench of Death» é apenas o reflexo da minha fascinação pela morte, o assassínio, os cemitérios e os restos mortais humanos.

Já fizeste muitos concertos com Mortis Mutilati? Sim, temos tocado muito em França. Também fizemos digressões na Inglaterra e na Rússia e tocámos na Letónia, na Suíça, na Alemanha, em Itália…

Desse ponto de vista, vês-te como um herdeiro da literatura francesa? [Estou a pensar em poetas como François Villon, que se tornou célebre nomeadamente devido à sua “Balada dos Enforcados”.] Inspirei-me na literatura francesa sobretudo em «Melopée Funèbre», em que usei poemas de Rimbaud. Usei o «Sonet Ivre», de Jean Richepin, para a faixa intitulada “Regards d’Outre Tombes” e um poema tradicional do Auvergne

Uma curiosidade: como é que alguém tão novo como tu se sente tão atraído pela morte? Trabalho como coveiro num cemitério, logo todos os dias me confronto com a morte. Vejo cadáveres durante todo o dia e também aspiro o seu odor. Daí vem o nome do álbum: «The Stench of Death».

Como decidiram trabalhar juntos? Gostei muito das suas ilustrações para «Mélopée Funèbre», portanto é natural que tenha pensado nela para este novo álbum.

Quais são os vossos planos para 2018? Pela primeira vez, vamos tocar no outro lado do mundo, visto que partiremos para uma digressão no México, em março. Depois, em abril, vamos tocara na França e na Alemanha, em maio, na Bélgica, em outubro, na Roménia. E ainda vamos anunciar mais concertos ao longo do ano… Facebook Youtube


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Viperinos Tal como as cobras os Night Viper são viperinos e incisivos, práticos… sem grandes merdas, simplesmente atacam e descarregam um venenoso Thrash Metal Old School… nu e cru! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Photo: Sergio Albert

Este álbum foi lançado no dia 20 de Outubro. Como achas que as pessoas irão reagir? Vocês têm tido algum feedback por parte dos média? Bem, espero que as pessoas gostem, é claro. E eu acho que as pessoas irão gostar… Nós sim, com certeza! Estou à espera de muito mosh e headbanging e que as pessoas o vejam com algo de novo e excitante. Eu sempre desejei que os Metallica e Slayer fizessem mais um álbum “divertido” depois de «Kill’ em All” e “Show No Mercy” antes de terem passado para algo mais sério e, espero, que as pessoas que sentem o mesmo possam ouvir o «Exterminator» e sentir o mesmo que eu. Nós lemos alguns comentários, nomeadamente da Deaf Forever na Alemanha, que nos deu 9/10, o que foi bom. Outro crítico disse que era um dos melhores álbuns de Heavy Metal do ano, então, acho que tudo está a correr bem até agora e com este álbum, finalmente, temos algo que as pessoas podem levar para casa depois de nos ver ao vivo e dizer: “sim, esta é a banda assassina que vi esta noite”.

Foi a primeira vez que ouvi os Night Viper, para os nossos leitores (e para mim), contem-nos quem são os Night Viper e o que podemos esperar de vocês? Somos uma banda de Gotemburgo, Suécia, mas eu sou da Austrália. Tocamos Heavy Metal com muitos elementos de Thrash e Rock ‘n’ Roll, com grande enfase em melodias vocais fortes. É quase como uma mistura de «British Steel», «Kill ‘em All» e o «1916» dos Motörhead. Somos energéticos, com riffs que ficam no ouvido e irão proporcionam muitas dores de pescoço. Soamos a cinco pessoas que beberam muito café. Porquê esta abordagem para obter esse tipo de sonoridade? Acho que apenas aconteceu. Uma coisa que nos ajudou a criar nosso próprio som é que nunca decidimos realmente o estilo de música que queríamos fazer. A Sofie Lee e eu começamos a trabalhar juntos, e isto foi exactamente o que saiu. Nós nunca dissemos, "deve ser o estilo dos anos 80". Existe uma grande variedade de influências, de Coven para Entombed. E, em termos de produção, nenhum de

nós pensou que deveríamos ter uma produção moderna altamente produzida. Eu acho que isso pode funcionar para um certo tipo de banda mas sempre pensámos que os álbuns de Night Viper deveriam soar como nos concertos e crus. Isso soa aos 80? Talvez, mas para mim é apenas uma abordagem orgânica e natural no estilo da gravação. Como também acho os anos 80 foram a época dourada do heavy metal, então não é estranho soar assim, quando a maioria dos melhores álbuns foram feitos naquela década. Isto é muito do que ouvimos! A Sofie Lee encaixa-se extraordinariamente bem na banda. Como foi a sua integração na banda? Sim, ela é incrível. No entanto, eu e ela começámos os Night Viper, então, não a precisámos de integrar na banda. Mas concordo contigo, ela é perfeita para a banda e adoro a sua voz áspera e grave, além disso, nunca gostei muito de vozes agudas… um pouco mais de Paul Di'Anno do que Bruce Dickinson, se é que me entendes. Lembro-me quando lhe enviei uma demo pela primeira vez e ela

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Tocamos Heavy Metal com muitos elementos de Thrash e Rock ‘n’ Roll, com grande ênfase em melodias vocais fortes.

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respondeu com a ideia dela para a voz: fiquei abismado; pensei logo: “isto parece Judas Priest com Tina Turner na voz!” …E ela tem uma grande sensibilidade para as melodias. Apesar de ser uma metaleira, gosta também de muitas coisas melódicas, por isso, ela sabe fazer músicas que ficam no ouvido. Agradeço pela sorte de a ter conhecido. Existe muitas vezes a ideia que leva muitas pessoas a rotular uma banda cuja vocalista é uma mulher como: “female-front band”? Night Viper é um desses exemplos? Achas que hoje em dia faz sentido rotular uma banda desta maneira? A nossa baterista também é uma mulher e se calhar devemos ser chamados de "male-sided band" (risos)! Não, é totalmente ridículo, é claro. As pessoas quase tratam as bandas com mulheres como um género à parte, o que é realmente estúpido. Eu até entendo. Quando eu era mais jovem havia 150 rapazes e 5 raparigas nos concertos, então, se as pessoas ficam surpreendidas com mulheres nas bandas, acho que é compreensível. Mas, as coisas mudaram e todos têm de fazer um esforço para deixar desaparecer o antigo domínio masculino do hard rock. Já vai muito LONGE esse tempo! Vamos apoiar as miúdas no metal, pessoal! Toca a começar bandas com mulheres e saibam como é divertido dizer adeus ao eterno “festival da salsicha”! És o principal compositor da banda. Quais são as tuas principais influências? Se é que tens… O mais óbvio é Metallica, acho. Eles eram a minha banda favorita e ainda estou obcecado com eles até hoje. Aquele estilo de riffing e estilo vocal “grosseiro” realmente definiram o que o Heavy Metal é para mim. Gosto da mistura dos riffs complicados e imprevisíveis com músicas muito memoráveis, e eu tento, sempre que possível, dar uso ao downpick conforme o Sr. Hetfield recomenda! A juntar

aos Metallica também, Entombed, Judas Priest, Motörhead, Slayer e cenas rock 'n' roll como AC / DC e The Hellacopters. Todos nós ouvimos toneladas de coisas diferentes, mas para Night Viper estes são as principais influências. Na verdade, a introdução da primeira música no álbum, “No Escape”, é influenciada pelos temas da banda sonora de “Batman” do Hanz Zimmer, logo, a inspiração pode vir de qualquer lugar. Também gostei das capas dos álbuns - "Night Viper" e "Exterminator": uma mulher e cobras. O que é que representam e quem as desenhou? Obrigado! Sim, estamos muito satisfeitos com o design de ambos os álbuns. O primeiro foi feito por Mike Lawrence e o novo foi feito pelo alemão Karmazi. Na verdade, ele fez um trabalho incrível. O engraçado é que tivemos algumas ideias e ele tentou coisas diferentes, mas não estava realmente contente com nenhuma delas. Nós começamos a ficar um pouco preocupados, mas depois disse: "Acho que isto pode ser a melhor coisa que já fiz". Quando o enviou, ficámos boquiabertos. Com os Night Viper raramente discutimos sobre a música mas muitas vezes não concordamos com o aspecto visual, mas todos gostaram da capa do álbum. É rude mas elegante, um pouco como nós. O álbum chama-se «Exterminator» e há também um tema com o mesmo nome. A letra fala sobre o que é para as mulheres o mundo do hard rock e sobre a destruição do patriarcado na cena do metal. Eu acho que a capa é bastante simbólica, na medida em que mostra uma mulher guerreira com uma espada que cortou a cabeça de uma cobra gigante. A simbologia encaixa-se na música e, portanto, perfeitamente no álbum. O álbum foi produzido por Ola Ersfjord, que também trabalhou com a tua banda anterior (Horisont). Qual o papel que ele desempenhou na criação da

sonoridade dos Night Viper? Essa é outra coisa sobre a qual estamos super felizes. Ele realmente acertou na sonoridade que tínhamos em mente. Estávamos à procura de um modelo para essa sonoridade e quando ele sugeriu algo como «Seasons In The Abyss», dissemos, “sim!” Está muito coeso e bem produzido e mesmo assim soa muito orgânico, tal e qual como numa sala de ensaio. Acho que o som da bateria está espectacular e esta é a primeira vez que fiquei realmente satisfeito com o som da guitarra e ele ajudou-nos a capturar e extrair a emoção das músicas. O Ola fez um trabalho brilhante e foi um prazer trabalhar com ele; além do mais é uma pessoa divertida e talentosa. Espero que possamos voltar a trabalhar juntos. Por falar em Horisont ... porque saíste da banda? Esta foi provavelmente a decisão mais difícil que tive de tomar. Eu deitei-me a pensar nisso todas as noites durante seis semanas. Era simplesmente uma questão de tempo e agendamento. Eu estava em três bandas ao mesmo tempo e as três tentavam tocar o máximo possível. Se eu tivesse uma banda principal e dois projectos paralelos, poderia ter funcionado, mas não com três bandas ambiciosas tentando dar o seu melhor. Apenas tornou-se impossível manter todos felizes quando tive de começar a dizer não a concertos e digressões porque já estava demasiado ocupado. Gostaria de me ter clonado e ficado na banda, mas os Horisont eram já uma banda estabelecida quando me juntei e por isso tive de ficar com as bandas que eu próprio criei. Na realidade, a minha outra banda, The Order Of Israfel, tirou um ano porque o nosso guitarrista queria ir para o estrangeiro. Então, agora tenho um ano para me concentrar nos Night Viper. Facebook Youtube

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Viajando nas estrelas Eis o sentimento que acompanha o ouvinte de Spectral, o maravilhoso projeto de Jeff Grimal, guitarrista de The Great Old Ones, que despertou a atenção da LADLO. Entrevista: CSA

Olá, Jeff! Já nos conhecemos (de forma virtual) das entrevistas a The Great Old Ones. Mas Spectrale é muito diferente. Como te veio a ideia de formar esta banda? Jeff Grimal – Sempre gostei de outros estilos para além do Metal. Desde muito jovem que ouço todo o tipo de música e de bandas. Essa tendência resulta certamente da educação que recebi. A minha mãe ouvia música clássica, mas também Jazz e Rock. Penso que tudo começou nessa altura, de forma inconsciente. Aliás, Spectrale não

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é o meu primeiro projeto fora do Metal. Há uns anos atrás, tinha uma banda acústica que dava pelo nome de Elusiv e um projeto de Math Rock chamado Tormenta. Gostei sempre de me dedicar a prazeres diversificados. [Spectrale] É também o meu projeto meditativo, que surgiu de uma maneira muito instintiva, um pouco como a escrita automática. Há alguns anos que faço meditação e isso ajuda-me imenso a descontrair a compor da forma mais espontânea possível.


A música de Spectrale é verdadeiramente… ESPECTRAL! És capaz de descrever as características que levam o ouvinte a percecioná-la desta forma? O ouvinte tem de ter um espírito aberto e deixar-se levar pelas vagas de energia espaciais. Sentir-se-á rodeado por uma multidão de estrelas e começará a ter visões relacionadas com o universo em 10 dimensões. Depois de uma viagem – tão rápida como um abrir e fechar de olhos, no plano espacial e astral – regressará à Terra, onde a realidade estará completamente transformada. A viagem terá durado 40 minutos, ou seja, o tempo necessário para ouvir o álbum. Hehehe! Se eu percebi bem, este é o vosso primeiro álbum, mas já gravaram um EP e um split. - Fala-nos um pouco desses primeiros trabalhos. - Explica-nos como vos levaram a este álbum. - Comenta a evolução que teve certamente lugar entre os três lançamentos. A primeira demo foi lançada por uma pequena editora mexicana – Inductive Oppression Records – e contém três títulos. A primeira canção é “Beyond”, que é muito sombria e abissal. Eu estava a atravessar um período muito sombrio e sentia-me a cair num abismo. Estava a viver um período difícil e compus esta faixa muito rapidamente para me purgar de uma dor constante. As outras duas composições – “Libra” e “Spatial” – são muito mais luminosas. Quanto mais avanças na audição, mais sentes a cura e a calma que chega. Esta demo foi uma verdadeira purificação. Depois desta demo, apresentei outras canções à LADLO e eles ficaram convencidos da qualidade do projeto. Decidiram lançar um split nosso com In Cauda Venenum e Heir. Esse lançamento incluía três títulos de Spectrale. Parece que o número 3 é presença frequente nos meus desenhos ou projetos, associado a uma representação simbólica do tempo: passado, presente e futuro. “Sagittarius A” abre com uma ambiência sombria e inquietante, com uma melodia repetitiva. Depois de ter composto este título, fui acometido por imagens e visões, ligadas a uma viagem em direção a um “buraco negro”. A orquestra que se pode ouvir no fim desta faixa simboliza o último momento “terrestre” antes de partir para a viagem sem retorno, sem regresso. Os outros dois títulos “Al Ashfar” e “Crépuscule” são muito mais clássicos, mais Folk. Depois destes dois lançamentos, pus-me logo a compor mais música, com a ideia de fazer algo

semelhante, mas com uma progressão mais psicadélica e, sobretudo, um ponto de partida diferente, uma total liberdade nos arranjos. O álbum tem duas partes: a primeira é muito suave, parece planar, e a segunda apresenta energias mais sombrias. Para o concretizar, pedi ajuda a dois artistas. Krys Denhez canta em “Attraction”. Faz parte de um grupo maravilhoso que se chama Omrade (vai ouvir, que vale a pena). Propus-lhe fazer uma espécie de cânone vocal muito ritual e obtivemos um resultado verdadeiramente mágico. Este homem tem um imenso talento e estou certo de que voltaremos a fazer algo juntos. Pedi ao Raphaël Verguin para compor as partes de violoncelo. Também toca num grupo de que eu gosto muito: Psygnosis. Tem um ouvido perfeito e compõe muito rapidamente. E, por fim,

[Spectrale] É [...] o meu

projeto

meditativo, que surgiu de uma

maneira muito instintiva, um pouco como a escrita automática. [...] na bateria está o meu amigo de The Great Old Ones – Léo Isnar – que manteve o ritmo, bem louco, no estilo Jazz-Rock à la Magma. O álbum é feito de tudo aquilo de que eu gosto em música. As minhas influências são múltiplas, já ouvi muito Steve Reich e música repetitiva e penso que esse gosto transparece no álbum. No que diz respeito à composição – como já referi acima – trabalho de uma forma muito instintiva. Crio uma melodia, que toco de uma forma incessante – numa espécie de ciclo vicioso – e as cores harmónicas surgem naturalmente no meu espírito.

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Tu e os teus três companheiros– Raphael Verguin (violoncelista), Léo Isnard (baterista) e Xavier Godart (também na guitarra como tu) – fazem um verdadeiro trabalho de virtuoso neste álbum. - Gostava de saber o que é um guitarrista noise, designação que atribuem ao Xavier. Ele juntou-se a nós muito recentemente e não participou neste álbum. Vai desempenhar um papel duplo. Umas vezes irá tocar guitarra clássica, outras vezes criar ambiências paralelas com a guitarra ou o sintetizador, para fazer com que a canção flua de forma mais natural e ligar entre si as várias partes que a constituem. - Não deve ser fácil para o Léo tocar bateria em Spectrale, porque o vosso estilo não tem nada a ver com Metal, não é? Ele é professor de bateria e tem projetos de Jazz Rock. Pensei logo nele para este álbum. -E como conseguiste levar o Raphaël a interessar-se por este projeto? Pedi-lhe para tocar no álbum e ele adorou logo a minha música. Compôs as partes de violoncelo numa velocidade alucinante. Estou ansioso por passar à escrita do segundo álbum com a sua colaboração. A quem pertence a voz que se ouve em certas canções? Na canção “Spatial”, que faz parte da demo, aparece um amigo meu: Boris Doussy. (Aproveito novamente para fazer publicidade, recomendando-te que vás ver o seu trabalho gráfico.) Recita um poema de Victor Hugo: “L’espace est noir”. No split, no tema “Crépuscule”, usei samples de voz e, no álbum, como expliquei acima, recorri ao Kryz, que canta no tema “Attraction”. Podes também ouvir vozes em “Retour sur terre”, mas não te vou contar como as fizemos. A guitarra é o prato forte deste álbum. Tu e o Xavier sentem-se influenciados por algum guitarrista (ou vários guitarristas) em especial? Sou fã de guitarristas de estilos muito diferentes. Não vou destacar nenhum, porque tenho muitos favoritos. O artwork é muito diferente do que fazes para TGOO. - O que representa? A ascensão do Homem ao Cosmos, duas mulheres e – no meio – o astronauta que viaja em direção ao infinito. As duas mulheres representam Andrómeda, importante figura da mitologia grega, que é um epítome da bravura. Simboliza o universo, para o qual estamos orientados e com o qual nos identificamos. Está tudo ligado. Por que recorri a uma simetria, usando duas vezes a mesma deusa? Não sei explicar, fi-lo

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instintivamente. E, mais uma vez, cá aparece o 3, o número mágico. - Como relacionas estas imagens com o tema do álbum? Quis fazer um artwork suave e contemplativo, que me parece combinar bem com o ambiente deste álbum. Fala da viagem em direção às estrelas e da viagem interior, evoca o facto de o ser humano ter necessidade de se evadir e de alcançar o conhecimento. Penso que o ouvinte percebe onde eu quero chegar, observando o desenho. A que técnicas recorreste para criar esta capa? Usei marcador preto (dot technique) e depois colori a imagem recorrendo ao Photoshop. Uma curiosidade: o título da faixa “Magellan” faz referência ao navegador português que quase deu a volta ao mundo ao serviço da Coroa espanhola? Sim. Simboliza a viagem, as conquistas. As Nuvens de Magalhães [NR: duas galáxias] são conhecidas desde tempos muito antigos pelos grandes viajantes. Essa ideia veio-me ao espírito assim de repente e o nome pareceu-me dar um bom título. Já deram concertos? Onde aconteceram? [Confesso que vos vejo já a fazer parte do programa do festival de outono, que a minha universidade e a câmara da cidade onde vivo – Aveiro, em Portugal – organizam todos os anos entre o fim de outubro e o fim de novembro.] Até agora, não fizemos nenhum concerto. Mas, em maio, vamos participar no festival Feux de Beltane (organizado pela LADLO). E seria uma grande honra tocar em Portugal. Parece-te que a LADLO se sente à vontade para promover uma banda tão diferente dos seus outros “clientes”? A colaboração connosco é uma novidade para eles, mas já lançaram 3 álbuns de TGOO e são fãs do meu trabalho gráfico. Com o tempo e graças a esses projetos conjuntos, desenvolvemos uma grande confiança mútua. E parece-me que é sempre bom para uma editora abrir-se a música diferente, porque isso lhe dá a possibilidade de chegar a outros públicos. Quais são os vossos planos para o futuro? Fazer concertos, compor, passar bons momentos juntos. Facebook Videos


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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

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A Trilogia da passagem do milénio A grande pergunta que se colocava no ano de 1999 era: “O que é a matriz?”. O primeiro de uma série de 3 filmes intitulados The Matrix (1999), Matrix reloaded (2003) e Matrix Revolutions (2003) fazia o seu bruaá na viragem do novo milénio e respondia à tão enigmática questão inicial, pois a informação disponibilizada pelo marketing antes da estreia não respondiam de todo, apenas alimentavam o interesse e discussão. The Matrix marcou uma geração e uma cultura popular, tal como o cinema desse período, nada, rigorosamente nada tinha sido feito e visto até aquele ponto, daí hoje, passados 18 anos, constituir um marco cinematográfico que já parece distante e algo esquecido. O universo Matrix é obra de dois irmãos realizadores (à data do ano de 1999), conhecidos então como os Wachowski Brothers, i.e, Andy e Larry, que eram assim como uns visionários do cinema sci-fi, e que, no decorrer da sua vida, há uns anos para cá, passaram a serem conhecidas como as Wachowski Sisters, Lana e Lilly. Sim, façam lá uma pausa para respirar e absorver a coisa. Esta mutação fisiológica simplesmente é o que é, e não é o tema deste antro ficando para as calendas gregas. O que há a reter é que infelizmente, os manos… ou as manas… Whatever… não mais nos brindaram com algo do calibre da trilogia Matrix. Mas afinal o que tem de especial The Matrix? Bem, numa palavra: tudo! Mas vamos por partes. A primeira coisa a referir é que este universo, da autoria dos Wachowski, é completamente original não tendo sido nenhuma adaptação BD como hoje está tão em moda, e ao ir parar ao cinema, adivinhem, salvou-se de vir a ser uma BD primeiro. No entanto, os Wachowskis acharam que a ideia deles era boa demais para se cingir a uma BD, e sendo realizadores, decidiram então escrever um argumento que se tornou no primeiro filme “The Matrix”. O argumento original tinha tanto de brilhante como de complexo, e, com este debaixo do braço foram ter com um dos grandes produtores de cinema grande espectáculo, Joel Silver, que leu o argumento e assinou de cruz. Não percebeu nada daquilo que lhe estavam a apresentar, mas achou que era algo tão rico e bem construído que não podia deixar passar. Em boa hora, estava certo. O outro ponto central de fazer este filme foi o desafio colocado pelas cenas de acção acutilantes com toda as capacidades extraordinárias que as personagens tinham em “quebras” as regras da física, tendo sido desenvolvidos novas técnicas de efeitos visuais para suportar um filme que uns anos antes teria sido impossível e hoje, teria sido feito inteiramente em CGI (computer graphic Interface), perdendo de certeza alguma da sobriedade. actor num espectro de A a B ao longo de uma curvatura ou linha.

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Isto era inovação no seu maior expoente, tendo sido evidentemente premiado com o Óscar dos melhores efeitos visuais e hoje, está de tal maneira conectada com este filme que qualquer outro filme que o use irá ser de imediato ligado a este, ou como um plágio – se for descarado - ou como uma homenagem – se for subtil. The Matrix é protagonizada por um conjunto de actores que na altura, 1999, eram mais ou menos desconhecidos (Lawrence Fishburn e Joe Pantoliano), completamente desconhecidos (Carrie-Anne Moss e Hugo Weaving) e conhecidos do grande público como Keanu Reeves, que já tinha protagonizado o megassucesso Speed (1994) e trabalhado com nomes de renome como Bernardo Bertolucci (o pequeno Buda - 1993), Francis Ford Coppola (Drácula – 1992) ou Al Pacino (O advogado do Diabo - 1997). “Passado todo este tempo, com uma certa distanciação, é possível dar uma opinião mais madura, a qual é um

verdadeiro teste à passagem dos anos sobre um filme, pelo que em certa medida, podemos hoje verificar se os filmes envelheceram bem ou não, se as críticas foram justas ou não. Visto hoje, The Matrix era um filme muito à frente e ainda funciona tal como o primeiro dia, sendo um regalo vê-lo novamente. Para isto, há dois factores: O tom e ambiente geral do filme que consegue misturar tecnologia e ambientes futurísticos com um ambiente de outrora, algo completamente derivado de alguma BD do género, tendo sido por isso o filme facilmente ligado ao universo cyberpunk. O outro são os efeitos visuais que ainda hoje funcionam maravilhosamente bem. Os únicos elementos que denunciam a sua época são os monitores/TVs CRTs e os telemóveis portáteis que utilizam no filme. Como filme, é uma excelente história repleta de questões por responder, aumentando assim o interesse por aquela particular história, que ainda conta com personagens bem construídas, cativantes na sua essência e intrigantes o suficiente, repleto de subtilezas como demonstra o nome do protagonista “Neo” que se reordenarmos as letras dá “One”, o elemento preponderante da história: Encontrar aquele (the One) que irá acabar com aquela Matriz. Apesar de ser um filme de acção, e depois de uma cena inicial acutilante em que somos presenteados com muito do que é a matriz, o filme entra num modo de procura e descoberta da verdade, e tal como o protagonista, também “tomamos” o comprimido vermelho. Não há herói sem um grande vilão, este aqui é interpretado pelo “Emissário” da matriz, o fabuloso Agent Smith, interpretado por Hugo Weaving, um completo desconhecido que uns anos mais tarde seria o Elfo-mor Elrond de o Senhor dos Anéis. Não posso deixar passar o reconhecimento deste actor de origens inglesas, pois tem aqui uma interpretação monumental, tendo em conta que eu já o conhecia de outra interpretação completamente oposta de drag queen e também monumental em “Priscilla, Rainha do Deserto”. O homem no mínimo teria merecido o Óscar de melhor actor secundário!

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Um ponto que me chamou à atenção aquando do visionamento, e que é um excelente ponto de discussão nos dias de hoje, onde tudo o que é analógico parece ter os dias contados, onde o maravilhoso mundo digital é o futuro garantido, está no facto de os protagonistas utilizarem um telefone analógico para poderem sair da matriz. Sim um daqueles em que se tem de marcar os números rodando o disco. Apesar de toda a tecnologia e conseguirem ver o que se passa na matriz apenas com a analise de padrões de código num ecrã, o elemento puramente analógico é uma das peças centrais do filme. Irónico no mínimo e uma mensagem interessante num mundo digital de hoje.

A crítica foi unânime na aclamação de The Matrix. Os Wachowski fizeram uma obra prima da ficção científica que colocou a fasquia tão alta que seria (e foi) impossível de reproduzir nos filmes seguintes. A riqueza da história foi tal que ficou muito para mostrar a seguir, deixando a história completamente em aberto. Um problema estava colocado: como seguir com esta história? É que o seguimento não estava escrito de antemão pois ninguém pode prever o enorme sucesso que o filme teve. Por isso não é de estranhar que os Wachowski tenham demorado 4 anos para entregarem os dois capítulos seguintes, o do meio – Matrix Reloaded - o fim – Matrix Revolutions. É evidente neste momento, que estes dois filmes estão longe do nível do primeiro, tendo o Reloaded sofrido mais por ser o que veio logo a seguir ao Matrix, tendo levado com todas as espectativas acumuladas de 4 anos. O Revolutions, tal como o Reloaded ainda ficou mais aquém, mas como, entretanto, as espectativas já se tinham baixado imenso, safou-se mais ou menos, mas para mim não deixa de ser o mais fraco e desinteressante da trilogia. Os Wachowski cometeram alguns erros. Primeiro, demoraram demasiado tempo com a saída do segundo filme, tendo perdido o momento e o elã do primeiro, acumularam demasiadas espectativas e depois foi como aquela garrafa de champagne que faz “puuuff”, depois de aberta. Deviam ter acautelado o geral da história para os 3 filmes logo à cabeça. Segundo, optaram pela saída à “Regresso ao Futuro” com as filmagens em seguidas do 2 e 3, e consequente saída dos filmes com meses de distância. Funcionou bem no regresso ao futuro, mas aqui acho que se revelou um erro. O Reloaded devia ter saído para aí em 2001 e o Revolutions em 2003, e nos entretantos aproveitavam para limar a história. A critica foi particularmente voraz com o Matrix Reloaded. Tem uma

primeira parte em Zion que na altura ninguém gostou particularmente e depois o resto foi por arrasto. Visto hoje, gostei mais do filme do que quando o fui ver ao cinema em 2003. Acho que não foram justos – foi a tal coisa da gestão das espectativas – com o filme. É um bom “filme do meio” que faz bem a ponte entre o 1º e o 3º. Dá mais umas explicações e vê a continuação da evolução de Neo como aquele que irá salvar os humanos das máquinas. Tem novas personagens interessantíssimas como o Merovingian (Lambert Wilson) e a sua mulher (Monica Belluci) e os irmãos gémeos como opositores irredutíveis e uma cena de acção de retirar a respiração

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

– Toda a sequência da autoestrada, e no final temos algumas respostas acutilantes sobre a natureza da Matrix, que são respostas importantes pois atam alguns nós da história. Talvez a única crítica seja o final demasiado CGI com Neo a voar tal como o super-homem 500 km em minutos para salvar os seus amigos. Acho que o filme se perdeu um bocado lá para o fim. E o terceiro trouxe-nos uma conclusão… com a famosa máxima da informática quando o computador fica bloqueado: fazer um resert à máquina!... E começar tudo de novo. O Revolutions, de revolução só tem o nome pois a história é a mais fraca dos 3 três filmes, mostrando a decadência argumental do primeiro, que entrou a matar, até ao terceiro onde toda energia já se dissipou nos entretantos. A história do terceiro volume é salvar Zion, o último reduto humano, da aniquilação por parte das máquinas. Para isso, temos um super Neo que vai combater um Agente Smith que se tornou numa entidade física no mundo real e num vírus que destruiu a natureza da Matrix, transformando todos em entidades do próprio Smith, reescrevendo o código original da Matriz. Este Revolutions é a prova de que as coisas não foram bem geridas e tentou-se uma conclusão algo atafulhada e desinteressante. Se calhar deviam era ter feito um reset ao argumento do filme! No final, The Matrix foi um enorme sucesso com um total de quase 2.200 Milhões de dólares de receita no mundo inteiro (EUA+MUNDO) para um budget total de 363 Milhões de dólares, mas com as receitas individuais a acompanharem a qualidade dos filmes, ou seja, sempre a descer. O único ponto interessante aqui, é de que tudo isto foi fruto de um conceito puramente original onde alguém (Joel Silver) arriscou em produzir tal coisa, e isto, é algo que hoje praticamente desapareceu do mundo do cinema, ninguém põe um cêntimo num conceito novo e original sem ter por detrás algo que diminui ou elimine o risco. Hoje, The Matrix não tinha qualquer chance. Por isso não é de estranhar que com um background destes, lá está, risco controlado, já se fala num remake da trilogia Matrix… Há, e tal como referi na versus #41 aquando do antro sobre o John McTierman-parte I, de que “não há natal sem o Assalto ao Arranha-céus”. Pois bem, 2017 não falhou! Lá passou ele dia 25 à tarde, no TVCine3! Alias, este foi o ano do set completo dos filmes de natal, no dia de natal: sozinho em casa 2 (na SIC) e Música no Coração (na RTP1) – que aproveitei para ver, pois nunca o tinha visto, e não é que o filme é bastante bom e vêse bem apesar das 3 horas de duração. Um bom ano de 2018!

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Heavy Metal

&

Futebol Por: Emanuel Leite Jr.

“O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”... E em homenagem ao icónico guitarrista

Malcolm

Young, que faleceu no dia 18 de novembro de 2017, a coluna Heavy Metal & Futebol desta edição da

Magazine

Versus

vai falar sobre o Glasgow Rangers, o clube do

coração não apenas de Malcolm, mas também de seu irmão, o também guitarrista e co-fundador dos AC/DC, Angus Young.

Malcolm e Angus nasceram em Glasgow, na Escócia. Quando tinham 10 e 8 anos, respectivamente, os irmãos emigraram para a Austrália com os pais, William e Margaret, e o restante da família. Apesar de terem deixado a terra natal ainda na infância, os jovens Young tiveram tempo suficiente para serem contagiados pela paixão da família pelo Glasgow Rangers. Segundo Malcolm, ele e o irmão costumavam frequentar o Estádio Ibrox (casa do Rangers) algumas vezes nos anos 1970 e estiveram presentes em uma Old Firm (como é conhecido o escaldante dérbi com o Celtic) naquela década. E viram o clube bater o grande rival por 2 a 1.

Sobre o Glasgow Rangers O Rangers Football Club foi fundado na cidade de Glasgow em fevereiro de 1872 pelos irmãos Moses McNeil e Peter McNeil, além de Peter Campbell e William McBeath. O clube foi um dos membros fundadores da Scottish Football League, surgida na temporada 1890/91. Ao fim daquela época, o Rangers foi declarado campeão escocês ao lado do Dumbarton, após os dois clubes terem terminado a competição em igualdade pontual e ainda terem empatado (2x2) o jogo extra decisivo. Foi o primeiro dos 54 campeonatos nacionais vencidos pelo clube, que é, até hoje, o maior campeão da Escócia. Aos títulos escoceses, o Rangers soma ainda 33 títulos da Taça da Escócia, 27 Taças da Liga e 1 Taça das Taças (ganha em 1971/72). Após a conquista de seu 54º título nacional, em 2010/11, o Rangers viveu o período mais sombrio de sua história. Em fevereiro de 2012, o clube deu entrada no processo judicial de falência. Por conta disso, perdeu 10 pontos na Liga Escocesa da temporada 2011/12. Ao falhar

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a submissão de contas de 2011, o clube foi impedido de participar das competições europeias em 2012/13. O processo de falência fez surgir em julho de 2012 o The Rangers Football Club Ltd. 10 dos outros 11 clubes da Scottish Premier League votaram contra a transferência da permanência da nova companhia no mais alto escalão nacional. Assim, com a nova identidade desportiva, o clube teve que recomeçar sua trajetória no quarto escalão do futebol escocês. Logo na temporada 2012/13 o Rangers conquistou o título da Scottish League Two (quarta divisão) e foi escalando seu retorno à elite do futebol escocês, o que aconteceu com a conquista da Scottish Championship (II Liga) na temporada 2015/16. Na sua primeira temporada de volta à Scottish Premier League (2016/17), o clube ficou em terceiro lugar. Atualmente, encontra-se na terceira posição, a 11 pontos do rival Celtic, que lidera o campeonato.

Títulos 1 Taça das Taças (1971/72) 54 Campeonatos Escoceses 33 Taças da Escócia 27 Taças da Liga

Rivalidade O grande rival do Rangers é o Celtic Glasgow. O dérbi da cidade é conhecido como Old Firm e esta é uma das maiores e mais acirradas rivalidades de todo o futebol mundial. O antagonismo entre os dois clubes vai muito além da disputa desportiva, envolvendo componentes culturais, sociais e religiosas. Tradicionalmente, o Rangers representa a comunidade Unionista Protestante, enquanto o Celtic representa a comunidade católica. Estes elementos extracampo servem de combustível para que os dias de jogos da Old Firm sejam marcados por uma enorme tensão, vandalismos e confrontos violentos. O jornalista Frank Foer, autor de “Como o Futebol Explica o Mundo”, relata que entre 1996 e 2003 foram registados oito homicídios na cidade de Glasgow diretamente relacionados aos confrontos entre os adeptos de Rangers e Celtic. Os dois rivais dominam largamente o futebol escocês. O Rangers foi campeão nacional 54 vezes, enquanto Celtic conquistou 48 títulos. Desde o bicampeonato nacional do Aberdeen (então treinado por Alex Ferguson) em 1984/85, apenas Rangers e Celtic conquistaram o título escocês. O Celtic, a propósito, soma seis campeonatos consecutivos (e caminha a passos largos para o sétimo na atual temporada), coincidindo com o período de falência e escalada de retorno à elite do rival Rangers. Sectarismo A imigração de irlandeses para Glasgow ao longo do século 19 se encontra na origem do sentimento anticatólico que marcou grande parte da história do Rangers. Reflexo do sentimento sectário, anti-católico e antiirlandês da Escócia naquele período. E que se notabilizou no futebol, tendo o Rangers como representante da comunidade protestante unionista em contraposição ao Celtic, fundado por católicos irlandeses. Por conta deste sectarismo, o Rangers só viria a contratar seu primeiro jogador católico em 1989 (o Celtic, por outro lado, nunca fez este preconceito).

CURIOSIDADES Malcolm e Angus homenageados Em maio de 2010, Malcolm Young foi homenageado pelo Rangers. Campeão escocês na temporada 2009/10, o clube convidou o músico para a festa de celebração do título. O guitarrista teve a honra de participar, no Ibrox Stadium, da cerimônia que entregou à equipe a taça de campeão escocês daquele ano. Malcolm fez questão de levar seu filho Ross para a festa. O músico ainda recebeu duas camisolas, uma para ele e outra para o irmão, Angus, além de conhecer o ídolo Ally McCoist. “É fantástico voltar ao Ibrox. Caminhar pelo túnel e entrar em campo foi uma sensação incrível. Faz muito tempo que não venho aqui. Sempre fui torcedor do Rangers, então

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é ótimo estar com meu filho para assistir a um jogo. Todos em nossa família torcem para o Rangers desde que tenho memória, então é um dia especial para mim”, declarou Malcolm na ocasião. “Thunderstruck” no Mundial de 2014 No Mundial da FIFA 2014, realizado no Brasil, a música “Thunderstruck” ecoava em todos os estádios. Instantes antes das entradas das seleções nacionais, em todos os jogos daquele Mundial, ouviam-se os riffs e acordes desta icónica canção dos AC/DC. “Hells Belss” e o St. Pauli O St. Pauli, clube da cidade alemã de Hamburgo, conhecido por sua postura alternativa e associado a movimentos sociais e culturais do underground daquela cidade, tem em “Hells Bells” uma espécie de hino alternativo. Esta canção dos AC/DC costuma ser executada no Millerntor-Stadion, à entrada da equipa da casa.

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Häive

Metal “natural” Häive é Pagan Metal finlandês que reflete sobre a Natureza e a relação que os humanos mantêm com ela. Entrevista: CSA

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“ […] Tens de sentir paixão pelo que fazes, ou

acabarás afundado na mediocridade. […]

Olá, Janne! Häive é realmente uma one man band inclusive no que diz respeito ao lado gráfico do projeto. Por isso, tenho muitas perguntas para ti Janne – Saudações pagãs para Portugal!

A tua editora afirma que «Iätön» é o teu segundo álbum em 15 anos de carreira. Por que razão preferiste apostar noutros formatos de lançamento? Gosto de lançamentos mais curtos, porque me parecem mais íntimos, logo mais especiais. Além disso, também têm mais lugar para a experimentação. Fazer um álbum representa imenso trabalho para mim, mas também gosto de o fazer. É só uma experiência mais avassaladora. E porque foi importante para ti lançares este álbum agora? Senti vontade de o fazer e isso é muito importante para mim. Tens de sentir paixão pelo que fazes, ou acabarás afundado na mediocridade. Na verdade, comecei a escrever este segundo álbum em 2010-2011, mas, nessa

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altura, propuseram-me fazer parte da compilação «One and all...». Isso representou uma grande oportunidade para mim, portanto aproveitei-a, o que me fez pôr de parte o álbum durante algum tempo. Parece-me que o tema principal de «Iätön» é muito interessante. Eu também gosto de contemplar a natureza e, quando o faço, vemse sempre à mente a ideia de que tudo aquilo surgiu antes de mim e vai continuar a existir depois de eu desaparecer. Como tratas esta temática no teu álbum? «Iätön» não é um álbum conceptual, mas as letras são muito arcaicas, na sua maioria, logo os temas são mais ou menos intemporais. Gosto que os títulos tenham múltiplos sentidos, portanto o título do álbum podese referir-se à natureza, quando é associado à capa, e a vários outros temas nas letras das canções. Acreditas mesmo que a Natureza é intemporal? Afinal de contas, por vezes, algumas partes desta são completamente destruídas. O álbum trata sobretudo da forma como nós, humanos, a apreendemos. A formação rochosa que figura na capa do álbum tem mais de 10000 anos e esse lapso de tempo, para nós, é uma eternidade. Existe há mais anos do que os que a nossa espécie já viveu no Norte, mas é claro que, na ótica do nosso planeta, esse tempo é algo ínfimo. Devíamos respeitar mais o que nos rodeia e as nossas origens, já que só estamos aqui de passagem. A música deste álbum é muito diferente da do teu primeiro longa duração? Penso que, do ponto de vista do estilo, está muito próximo do anterior ou, pelo menos, tão próximo quanto possível, dado que entres os dois decorreram dez anos. Desta vez, não usei kantele ou qualquer outro instrumento folk e há mais variações de tempo. Toquei bem melhor e a produção

também tem muito mais qualidade, mas isso pode ser bom ou mau, neste género musical, dependendo de quem ouve. Pessoalmente, gosto de música dinâmica e com uma boa produção. Concordas com a tua editora, quando afirma que o som de Häive é uma combinação de Black e Folk Metal? Sim, até certo ponto. Faço parte da geração do Black Metal, portanto é natural que isso transpareça na minha música. Não me preocupo assim tanto com os géneros, tanto mais que também podes encontrar elementos de Death e Doom Metal no som de Häive e ainda de Folk Music e até de Heavy Metal tradicional. Por que fazes também a arte para todos os lançamentos de Häive? Porque, para mim, é um projeto tão pessoal que me parece absolutamente natural que seja eu a fazer também a arte visual. Mas, nestes últimos tempos, cedi um pouco nesse domínio. Em «Iätön», tirei todas as fotos e fiz a capa do álbum, mas não fui eu que tratei do layout. O Christophe Szpajdel fez o novo logo, porque eu queria algo assombroso. Que significa para ti a foto que figura na capa de «Iätön»? Em que medida ilustra a mensagem do álbum? Representa um lugar que fica no meio da zona de floresta e lago da minha aldeia natal. A formação rochosa é uma relíquia da última idade do gelo. Não é muito conhecida, nem sequer na região, portanto pareceu-me que, se aparecesse na capa do álbum, receberia a atenção que merece. Retoquei um pouco a foto, pintando-a ligeiramente, para que a montanha parecesse ainda mais majestosa e sagrada. Também trabalhas como artista gráfico para outras bandas? Não como artista gráfico. Não sou suficientemente apaixonado por essa arte para poder fazê-lo. No


entanto, gravei demos de bandas locais no estúdio que tenho em minha casa. Estudaste arte? Sim, mas só durante três anos. Decidi dedicar-me mais à música, mas continuo a gostar de fazer fotos e vídeos. Também fiz banda desenhada, quando era adolescente. Quem tirou as fotos promocionais para este álbum? Não podes ter sido tu, porque não são selfies. Por acaso, até fui eu. Usei um tripé e um temporizador! Gosto mesmo de ser eu a fazer tudo. Para ser franco, foi extremamente difícil acertar na focagem e na composição e o clima invernio não ajudou nada. Vêem-se flocos de neve nas lentes em algumas das fotos.

Fazes concertos? Se a resposta for afirmativa… - Onde e quando serão os próximos? - Quem toca contigo (uma vez que não podes fazer tudo sozinho nessa situação)? - Há algumas bandas (na Eisenwald ou noutras editoras) com quem gostasses de tocar e fazer digressões? Não fiz nenhuns concertos ao vivo com Häive. Se conseguisse encontrar pessoas adequadas, até seria interessante, mas não sei ainda se vale a pena ter esse trabalho. Häive faz o tipo de música que tu podes ouvir quando estás só ou a beber com um bom amigo. Costumas convidar outros músicos/vocalistas para participar nos teus álbuns? Sim. Fiz a voz gutural na demo «Vait», em 2004. Depois disso, tenho tido músicos de sessão para os vocais guturais, porque sou muito mau nisso. Eu encarrego-me sempre da voz limpa. Tenho pensado em convidar mais amigos para tocar nos álbuns, mas essa ideia nunca se concretizou até agora. Gostarias de vir a Portugal um dia destes? Ou já cá estiveste? Estive em Espanha, portanto perto daí. Foi em abril e o tempo estava muito quente, pelo menos para um gajo finlandês. A temperatura variava entre os 25 e os 35ºC. Na Finlândia, só temos temperaturas dessas no verão e mesmo assim é raro.

O álbum trata sobretudo da forma como nós, humanos, a apreendemos [à Natureza]. […]

Conheces bandas ou músicos portugueses? Corpus Christii! É o primeiro nome que me vem à mente. Um Black Metal excelente. Lembro-me deles bem no início dos anos 2000, porque me pareceu extremamente exótico ouvir Black Metal vindo de um país do sul da Europa. Agora há anos que é normalíssimo tal acontecer. Para além disso, conheçovos sobretudo do futebol. Facebook Youtube

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BH M O N W 4 4 / VERSUS MAGAZINE


Os RAM foram buscar a sua “personalidade” às bandas mais carismáticas do mundo do Metal, quais viajantes do tempo da NWOBHM. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro & Nuno Lopes Tradução: Ernesto Martins | Fotos: Julia Cronqvist

Olá, é um prazer conhecer-te virtualmente. «Rod» é um disco de verdadeiro Heavy Metal. Que reacções tem suscitado até ao momento? Harry Granroth: Viva, também é um prazer conhecer a VERSUS Mag. Até agora as reacções têm sido muito positivas. As novas canções que já tivemos a oportunidade de apresentar funcionam muito bem ao vivo e neste momento estamos ansiosos por ensaiar mais canções para integrar no set ao vivo.

Quais são as tuas expectativas relativamente ao «Rod»? Como é lógico, esperamos chegar a uma audiência mais alargada de forma a gerar mais oportunidades para tocar ao vivo, que é algo que gostamos muito de fazer. Para já as coisas estão a correr bem. Acabamos de regressar da BangYour-Head Weinachtsfeier e agora vamos tirar algum tempo para descansar até ao fim do ano. Em Janeiro temos uma mini-tour em Espanha e depois, em Fevereiro, temos a Road Kill 2018 com os Portrait e os Trial.

Li na vossa biografia que os RAM surgiram para combater uma "má interpretação do Metal que era comum na cena quando a banda se formou". Volvidos dezoito anos, ainda achas que essa má interpretação persiste? Não diria que foi essa a razão que nos levou a formar os RAM. Eu apenas queria tocar Heavy Metal de estilo mais clássico e na altura era quase impossível encontrar músicos interessados. Mas depois conheci o Daniel e, mais tarde, o Óscar, que viriam a formar comigo o núcleo criativo dos RAM. Na altura não simpatizávamos com

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Eu apenas queria tocar

Heavy Metal de estilo mais clássico e na altura era quase impossível encontrar músicos interessados.

a cena Metal. Tudo o que tinha guitarras distorcidas era chamado de Metal, o que na realidade não era, e isso não nos agradava. De certa maneira esta atitude perante a cena levou-nos a começar a compor a nossa música. Felizmente, penso que esse equívoco sobre o Metal desapareceu. Hoje em dia há boas bandas que conhecem as raízes do Metal e os diferentes estilos e não se confunde uma canção pop ou rap com Metal. «Rod» é já o vosso quinto álbum. Nesta altura da vossa carreira ainda ficas ansioso ou stressado quando lanças um novo disco? Penso que qualquer artista se sente um pouco nervoso quando chega a altura de revelar o seu trabalho, mas, no meu caso, isso não tem que ver com aquele receio de "o que é que os outros vão pensar". Preocupa-me mais o que eu penso. Os temas presentes neste álbum levaram bastante tempo a terminar. Começaram por surgir de um embrião, um riff, uma melodia, ao qual adicionamos depois outras partes, a letra e todas os arranjos. Depois ensaiamos as canções, gravamos, misturamos e esperamos pelo lançamento do álbum. Desta vez o processo foi bem mais rápido, pelo que quase não deu tempo para ficar com aquela perspectiva que o tempo te dá. Mas não me interpretes mal: os temas são bons. Aliás, nada que não fosse bom poderia alguma vez acabar num álbum dos RAM. Não chegamos a ter ainda a percepção do álbum enquanto tal, mas estou

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muito satisfeito com o que fizemos. Mas, claro, com tanto trabalho antes e depois do lançamento de um disco, não admira que a gente sinta algum stress. As letras e todo o conceito que lhes subjaz parecem muito interessantes. Afinal que conceito é este? O conceito é basicamente a história de uma luta interior entre extremos que é comum a muitos de nós. Por um lado temos o ”Overseer” que é uma força autoritária tão poderosa que controla até os destinos dos habitantes daquilo que era antes a Terra. Essa força fez dos habitantes imortais, providenciandolhes todas as necessidades ao ponto de os tornar sem objectivos e totalmente pacificados. Aqui entra o Ram Rod, o independente, aquele que não reconhece leis nem mestres. A sua vida é de constante conflito e luta de forma a garantir a sua liberdade. Soube que foste capa da Deaf Forever. Consideras isso um resultado do reconhecimento do vosso trabalho? Sim, certamente que interpretamos isso como um reconhecimento do nosso trabalho e é uma honra para nós fazermos a capa de uma das maiores revistas europeias de Metal. Penso que as vossas influências principais se situam entre Maiden e Priest. Qual é a diferença entre os RAM e essas bandas? Sim é uma grande verdade, tanto que as minhas bandas favoritas são justamente Black Sabbath, Judas Priest e Iron Maiden. Os Black Sabbath foram os pioneiros do Heavy Metal, os Judas Priest aperfeiçoaram o estilo e os Iron Maiden fizeram parte da nova onda. Nós não fizemos nada disso, o que é desde logo algo que nos distingue. Temos definitivamente uma influência britânica muito marcada, mas também acho que incorporamos sonoridades um pouco mais negras, inspiradas em bandas como Mercyful Fate/King Diamond. Será que podemos afirmar que a vossa música é uma evolução ou uma continuação do Heavy Metal tradicional? Eu diria que é primeiramente uma continuação. Poderá até evoluir, mas esse não é um objectivo a que nos tenhamos proposto. Eventualmente irá evoluir dentro das fronteiras do Heavy Metal. Mas podes dizer que o que fazemos é uma continuação do Heavy Metal, antes daquela volta que o tornou mais soft e pop no final dos anos 80 quando chegou o som de Seattle. Achas então que o Heavy Metal tradicional está a tornar-se ele próprio um sub-género e, ao mesmo tempo, um pouco mais underground do que devia? Sim, penso que é isso que se está a passar, o que não deixa de ser estranho uma vez que todo o Metal teve origem no Heavy Metal tradicional. Por outro lado o


Heavy Metal tradicional é hoje menos underground do que era há 10 ou 20 anos atrás. Os Iron Maiden e os Judas Priest continuam a tocar em grandes espaços ou festivais e as bandas mais pequenas também usufruem de melhores oportunidades. Os RAM formaram-se há quase 20 anos. Como é que vês o vosso crescimento, e quais são os objectivos que gostarias de alcançar com a banda? Vamos continuar a compor, a lançar discos, a tocar ao vivo e esperamos conquistar novos territórios com

a nossa música. Não conheço bem o estado actual da cena metálica nos Estados Unidos, mas presumo que estando ligado a uma editora americana não será impossível atravessar um dia o Atlântico para ir lá tocar. Também sabemos que temos alguns fãs nos países da América do Sul. O Japão seria também um destino interessante. Em suma, o objectivo é levar este barco o mais longe possível. Facebook Youtube

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A Vontade de

Sobreviver

Será esta a base da carreira desta banda de Black Metal proveniente do Reino Unido… até ver coroada de sucesso! Entrevista: CSA

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A vossa carreira começou em 2013. Podes contarnos a vossa história até agora? Krieg – Stahlsarg nasceu já com o ano de 2013 adiantado. Por essa altura, estávamos a aprimorar o nosso som e o conceito de base da banda e escrevemos canções suficientes para um set de 30 minutos e pudemos fazer-nos à estrada. Fizemos o nosso primeiro concerto no início de 2014. Essas canções foram incluídas no nosso primeiro álbum – «Comrades in Arms» – que foi lançado em outubro de 2015 pela editora dinamarquesa Mighty Music. Na nossa primeira digressão, abrimos para Handful of Hate e Excruciate 666, em França, e na Bélgica. Durante a nossa “infância”, fomos contactados pelo Hellhammer dos Mayhem, que queria ter uma t-shirt nossa. Foi uma honra para nós enviarmos-lhe uma. Nunca mais pensamos nisso até ao dia em que eu reparei que ele trazia a t-shirt numa sessão fotográfica para uma entrevista. Graças a isso, abrimos para Mayhem, no concerto de Londres, em maio de 2014, que foi o nosso primeiro no Reino Unido. Durante o resto de 2014, tocámos no Bloodstock Festival e no Beermageddon Festival, no Reino Unido, e regressámos à Bélgica, para tocar no No Compromise Festival. Em 2015, fomos cabeça de cartaz num concerto em Londres, e tocámos no Wonnemond Festival, na Alemanha, a abrir para Endstille. Também compusemos e gravámos o nosso álbum de estreia nos HVR Studios, em Suffolk, com o produtor Danny B Takoma (Lockup & Criminal) e fechámos o ano a abrir novamente para Endstille numa minidigressão no Reino Unido. Iniciámos o ano de 2016 a tocar no Grimm Extreme Fest, na Bélgica, com Endstille, Saille, Herfst e outros. Nesse mesmo ano, tivemos o nosso primeiro concerto como cabeça de cartaz em Amsterdão. Também participámos no Inferno Metal Festival, na Noruega, e no Kings of Black Metal Festival, na Alemanha, e fizemos vários concertos no Reino Unido. No início de 2017, voltámos aos HVR Studios, novamente com o Danny aos comandos e, até ao momento, temo-nos dedicado a concertos no Reino Unido, em que já apresentamos algum material novo, para seleccionarmos o que iria aparecer no novo álbum e também para o irmos promovendo.

Como vêem a cena Black Metal no Reino Unido? Atualmente, a cena musical não é forte como há cinco anos atrás. Isso torna-se evidente, quando se constata que as bandas de Black Metal que aparecem por aqui, nas suas digressões europeias, tocam em Londres e seguem logo viagem. Foi o que aconteceu com bandas como Satyricon, Watain e outras. No entanto, o número de bandas de Black Metal no Reino Unido não pára de aumentar, temos muitas bandas excelentes a fazer concertos por todo o lado no Reino Unido e a tentar tocar na Europa.

Há algumas bandas que vos inspirem (britânicas ou estrangeiras)? Todos nós temos gostos variados, que nos ajudam a trazer ideias novas para a composição. Contudo, a única banda que todos temos em comum e que nos inspira é Paradise Lost. Gostamos do som gótico da guitarra, da sonoridade Doom e da melancolia, que – penso seu – o ouvinte pode identificar na nossa música. Também gostamos de Hypocrisy, uma banda de Death Metal. Eu, pessoalmente, sou fã de Bethlehem, Immortal, Marduk, The Ruins of Beverast, Endstille e muitas mais bandas de Black Metal. Tudo isto significa que a banda dispõe de uma paleta de influências e de fontes de inspiração muito variada.

Todas as

O principal tema do vosso álbum é certamente a misantropia. Que tópicos relacionados com esse tema global tratam no vosso segundo álbum? Todas as canções de Stahlsarg estão relacionadas com a situação da Europa durante a Segunda Guerra Mundial. «Mechanisms of Misanthropy» trata de indivíduos que tiveram de resistir e lutar para sobreviver durante essa guerra. A canção intitulada “A Will to Endure” fala de Jan Baalsrud, o resistente norueguês que foi perseguido pelos Nazis, e da sua luta pela sobrevivência nas montanhas, quando tentava escapar. A canção “Das Fallbeil” gira em torno de Sophie Scholl e do White Rose Movement, referindo-se às suas reflexões nas suas últimas horas de vida. “Blonde Poison” fala de uma mulher judia, que entendeu que a melhor forma de sobreviver era

canções de

Stahlsarg estão relacionadas com a situação da Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

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colaborar com a Gestapo para se proteger e à sua família entregando aos Nazis judeus fugitivos que identificava contribuindo assim para a sua aniquilação. Há também várias canções escritas adotando a perspetiva de um soldado, que se referem a grandes batalhas e episódios-chave desta guerra e retratando, quer os seus horrores, quer a forma como as pessoas lidavam com essas situações para sobreviver. Pareceme muito interessante descobrir por mim próprio personagens e acontecimentos deste período histórico e escrever sobre eles, para levar mais pessoas a conhecer algo que eu vejo como importante e merecedor da atenção de mais pessoas, porque se trata de História trágica e recente. O vosso primeiro álbum também tratava desse tema? O primeiro álbum tratava de certas campanhas e batalhas, enquanto o segundo álbum diz respeito a indivíduos e às suas histórias de sobrevivência e resistência. «Comrades in Arms» inclui canções sobre a batalha de Borodino e a campanha para tomar Moscovo. Há uma canção sobre [a batalha de] Estalinegrado intitulada “From Factory to Fortress of Rubble & Iron”. E a canção “Wolves of the Sea” refere-se às batalhas de submarinos. Uma outra faixa – “Seelow Heights” – trata da batalha final que levou à tomada de Berlim. Portanto, como podes ver, o primeiro álbum é mais abrangente. Quem compõe em Stahlsarg? Como descrevem o som da banda? [Diria que nela há muito mais do que Black Metal. A voz parece ser muito old school dentro do género, mas a bateria é muito equilibrada e as guitarras cheias de groove e de Rock.] Em princípio, sou eu que crio o conceito de base do álbum e escrevo as letras das canções. Começo a escrever as canções e o resto da banda colabora com as suas ideias e ajuda-me a estrutura-las. Temos todos gostos musicais diferentes, pelo que podes detetar variadas tendências no nosso som. Basicamente o nosso som é Black/Death Metal com elementos de Gothic Metal. Temos tendência para incluir riffs cativantes nas nossas canções, portanto elas convertem-se facilmente em hinos memoráveis. Gosto de tornar o nosso som forte, como é apanágio do Metal contemporâneo, mas também quero dar-lhe muita claridade sem o enfraquecer. De quem veio a ideia de pôr o Destruction a tocar tuba e trombone no álbum? Ele estudou para aprender a fazê-lo? Fui eu que tive essa ideia. Ele fá-lo em “A Will to Endure”. Ele também toca numa banda de instrumentos de sopro. É uma espécie de trunfo para a banda, que eu decidi usar desta vez. Pareceu-me que nos daria um som diferente e gosto mesmo do resultado obtido. Penso que vamos continuar a usar estes instrumentos num futuro álbum e até dar-lhes

mais destaque. O Destruction fez um mestrado em música e é um instrumentista muito dotado. No início, tínhamos usado sobretudo as guitarras nessa parte da canção, mas pareceu-me que seria melhor suprimi-las e fazer entrar os instrumentos de sopro, para dar mais relevo e impacto à canção. E como tiveram a ideia de convidar Kim Dylla e Brian Moss para vos ajudar em «Mechanisms of Misanthropy»? A Kim e o Brian já eram meus amigos antes de começarmos a gravar este álbum e eu conheço perfeitamente os seus excelentes dotes musicais. Por isso, pareceu-me que fazia sentido perguntar-lhes se queriam participar no álbum. Sabia que a Kim tinha vivido em Berlim e falava fluentemente o Alemão. Isso mais o facto de ela fazer parte de Gwar e também ser vocalista de uma banda de Black Metal fez com que eu pensasse nela, quando escrevi a canção sobre Sophie Scholl. O Brian fez parte da cena Pop Synth nos anos 80 e trabalhou com Marc Almond e Andy Bel. Era teclista na sua própria banda: Vicious Pink. Além de ser dotado para as canções de Pop Eletrónica, é excelente a estruturar faixas ambientais, o que me pareceu um talento essencial para o nosso álbum. Como ele também se interessa pela Segunda Guerra Mundial, ficou entusiasmado pela ideia de se envolver na composição deste álbum. Vocês são britânicos, a banda tem um nome alemão, falam da Alemanha e da Noruega nas letras deste álbum. - De onde vem todo este multiculturalismo? - E, a propósito, o que significa o nome da banda? É verdade que somos britânicos. E o nome da banda é alemão e significa “caixão de aço”. Escrevemos sobre a guerra, o que se alia à morte. Se estiveres num tanque e ele for atingido, converte-se num verdadeiro caixão de aço. Muitas das bandas de que gostamos têm nomes alemães e noruegueses. Para nós, britânicos, um nome que soa a estrangeiro desperta bastante interesse e até tivemos muitos comentários positivos sobre o da nossa banda. Funciona muito bem no que diz respeito a chamar a atenção das pessoas, que ficam curiosas de saber o que significa e quem somos nós ao certo. O nosso tema de referência é a História da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, envolvendo toda a Europa e ainda a Rússia. A canção “Raise the Dead” refere-se ao massacre de Katyn, em que milhares de oficiais polacos foram executados pelos soviéticos entre abril e maio de 1940. Isto aconteceu antes de os alemães terem invadido a Rússia em junho de 1941, mas, como me pareceu que era uma peça importante da História, senti que todos deviam ficar a conhecê-la. Infelizmente, nos tempos que correm, as pessoas não dão a devida atenção à História e algumas até receiam que bandas como a nossa que tratam estes temas estejam a defender a guerra ou alguma ideologia de

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direita, mas não é certamente o nosso caso. Canções como as que fizemos sobre Sophie Scholl e Jan Baalsrud provam que escrevemos sobre pessoas que resistiram e lutaram pela Liberdade que temos hoje em dia. Sinto que a sua voz tem de ser ouvida e as suas histórias devem ser contadas. Também gostei muito da capa do vosso álbum. Adoro a combinação do preto e do branco, a forma como as sombras e a luz jogam umas com as outras num cenário tão sombrio, as criaturas difusas e as ruínas de arquitectura clássica, tudo isto disposto em redor de uma guilhotina. Como relacionam todos estes elementos obscuros com o tema principal do vosso álbum? [Parto do princípio de que a guilhotina está relacionada com Sophie Scholl e o White Rose Movement.] Quando tocamos ao vivo, recorremos a um visual muito baseado na combinação do preto e do branco, não só porque usamos corpse paint, mas também por causa da iluminação do palco. Quis que essa ideia fosse representada na capa do álbum. Trabalhei nela com o Simon Bossert, da Metal Artworks. Ele já tinha trabalhado para Keep of Kalessin, Necronomicon, Totengefluster, Imperium Dekadenz e outros. Viajei até Estugarda, onde ele vivia, e trabalhámos juntos na capa do álbum, começando por um esboço ao qual fomos acrescentando ideias até chegarmos ao que se pode ver no resultado final. Nesta capa, pusemos pilares clássicos partidos, que representam a queda da Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial. Entre os pilares, precisamente no seu ponto focal, pusemos a guilhotina que foi usada para matar Sophie Scholl e mais 16.000 indivíduos de nacionalidade alemã que resistiram ao regime. É de referir que nenhum deles era judeu. É um tema de que se fala muito pouco, pelo que me pareceu que a coragem de Sophie e do White Rose Movement deveria ser uma parte importante do álbum. Os mortos que figuram no fundo da imagem da capa do álbum representam as vidas – boas, más, todas – que se perderam durante a guerra. Como reagiram as pessoas ao vosso primeiro álbum? Que expectativas têm para este? O nosso primeiro álbum foi bem recebido, por conseguinte, permitiu-nos ir tocar no Kings of Black Metal Fesdtival, na Alemanha, e no Inferno, na Noruega. Foi alvo de algumas boas críticas, logo fiquei a perceber que o segundo teria de conseguir igualar o êxito do primeiro. Se conseguirmos ser chamados para participar em festivais desta categoria com este álbum, ficaremos imensamente orgulhosos. Queremos que este álbum chegue ao máximo de pessoas que for possível e que torne o nosso nome mais conhecido na cena Black Metal, para podermos ir tocar no máximo de países possível.

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Já fizeram algo para promover «Mechanisms Of Misanthropy»? Quais são os vossos planos para o promover depois do dia 31 de outubro, a data oficial de lançamento? Fizemos concertos no Reino Unido antes dessa data e tocámos algumas das canções novas, para ver como reagiam as pessoas. Agora o álbum já foi lançado e estamos à procura de oportunidades para participar em festivais e fazer concertos por todo o mundo para o promover, visto que queremos fazer o máximo de digressões possível em 2018. Já temos dois concertos no Reino Unido, marcados para antes do fim do ano: um em Goole, em que seremos cabeça de cartaz, e outro em Londres, em que abriremos para os belgas Saille. Tiveram a sorte de tocar com algumas das vossas bandas favoritas? Sem dúvida. Abrimos para Mayhem em Londres e o Hellhammer tocou o set inteiro com a nossa t-shirt vestida, o que muito nos honrou. Também fizemos vários concertos com Endstile, uma banda que adoramos. Tocámos no Wonnemond Festival, na Alemanha, num dia em que eles foram cabeças de cartaz, e estivemos juntos no Grimm Extreme Metal Fest, na Bélgica. Quando tocámos no Inferno, em 2016, faziam parte do mesmo cartaz bandas como Marduk, Suffocation, Mayhem (mais uma vez) e muitas outras. Estivemos no mesmo cartaz que Emperor, Dimmu Borgir e muitos outros, no Bloodstock Festival, em 2014. Estamos muito gratos por todos estes concertos e festivais em que pudemos tocar até agora. Gostariam de vir tocar a Portugal um dia destes? Certamente! Estamos sempre à procura de novos promotores e novas oportunidades para tocar em novos países. Portanto, está à vontade para dar o nosso nome a promotores em Portugal, incluindo os que leiam esta entrevista. Não hesitem em nos contactar. Qual é a vossa banda portuguesa favorita? Gostamos muito dos Moonspell. Aliás, o nosso amigo Jon Phipps, que é de Suffolk como nós, compôs todas as orquestrações para o novo álbum deles e está em Portugal neste momento a fazer alguns concertos com eles. É engraçado teres feito essa pergunta. Facebook youtube-link1 youtube-link2


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aletes P Novos lançamentos

Antarktis - «Ildlaante» (Suécia, Metal / Post-rock) Antarktis foi fundado pelos guitarristas Björn Pettersson (In Mourning) e Tobias Netzell (In Mourning, ex-October Tide), tendo inicialmente escrito algumas músicas que foram lançadas antes de verem a luz do dia. Com o passar dos anos, o projecto foi adiado mais uma vez, mas o que começou como um projeto paralelo, tornou-se num território desconhecido na presença da banda base do duo, os In Mourning. (Agonia Records)

King Parrot - «Ugly Produce» (Austrália, thrash/grind) Este é um passo em frente em todos os sentidos. «Ugly Produce» oferece dez faixas de músicas distintamente punitivas e poderosas, onde vincula uma veia profunda do som extremo underground. Este álbum atinge novos pícaros com letras abrasivas e serve uma odiosa pilha de sabores repulsivos. Este é uma amagada repugnante de death metal, thrash e punk rock, do mais cáustico que nunca se ouviu. (Agonia Records)

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Eskimo Callboy - «The Scene» (Alemanha, metalcore) ESKIMO CALLBOY obteve o seu apelido enquanto se fazia uma festa sob um nome diferente e mais pedestre. Entre os tiros de Kornbrand e as espingardas de cerveja, o baixista Daniel Klossek deixou escapar duas palavras “Eskimo Callboy”. A partir desse ponto, a combinação humorística ficou presa. Quando a banda decidiu mudar de nome, havia apenas uma opção: ESKIMO CALLBOY. (Century Media)

Dagoba - «Black Nova» (França, Groove/Industrial Metal) Formados em 1997 e inspirados pelos grandes da década de 90, como Pantera, Machine Head e Fear Factory, os DAGOBA expandiram rapidamente o seu furioso som repleto de elementos obscuros, sinfónicos e industriais, naquilo que culminou no seu trabalho mais forte até à data, «Black Nova». Agora, com sete álbuns na sua carreira, não é com grande surpresa que DAGOBA se tenha tornado numa banda ao vivo intensa. (Century Media)

Dead Lord - «In Ignorance We Trust» (Suécia, Hard Rock) Os rockeros suecos Dead Lord simplesmente nasceram muito tarde. Formados em 2012, os membros Hakim Krim (vocais / guitarras), Olle Hedenström (guitarras), Martin Nordin (baixo) e Adam Lindmark (bateria) estão claramente mais em casa com o ano de 1976 (o ano Thin Lizzy’s Jailbreak) do que são com o ano de 2017. Como as máquinas do tempo não existem, os membros estão presos no presente, onde eles decidiram formar uma banda de Hard Rock. Com três álbuns na carteira, sendo o mais novo este «In Ignorance We Trust», os Dead Lord não esperam que o público apareça, eles exigem que vocês se juntem a eles. Riff por riff, hook por hook, eles não são rock retro. (Century Media) The Haunted - «Strength In Numbers» (Suécia, Melodic Death/Groove Metal) Lançado em 1996 pelo guitarrista Jensen, o baixista Jonas Björler e o baterista Adrian Erlandsson, The Haunted desfrutam de um status de culto no mundo do metal, com um catálogo diversoque teria deixado outras bandas às aranhas. Se o sucesso da banda é devido a uma base de fãs de mente aberta, musica acutilante ou um senso infalível de timing quando se trata de lançar material novo - talvez uma combinação de todos os três – os The Haunted continuam sendo uma força imprevisível desde 1998. O seu novo álbum, «Strength In Numbers», é o seu último testamento dessa afirmação. (Century Media)


Throane - «Plus Une Main A Mordre» (França, Black Metal) O segundo LP dos Throane é a visão mais completa do enigmático fotógrafo / ilustrador / desenhista Dehn Sora. Uma das viagens mais deslumbrantes do ano, «Plus une Main à Mordre», busca o equilíbrio entre a luta e o abandono, passando do caos ao silencioso em movimentos circulares. Tal como a arte visual de Sora, a sua música possui uma singularidade hipnótica e quase hiper-real: meditações ultramodernas que tornam o esotérico tão familiar e o dia a dia tal como uma fantasmagoria. (Debemur Morti Productions)

Arkaik - «Nemethia» (EUA, Progressive tech death Metal) Uma continuação na saga conceitual dos dois anteriores lançamentos, onde em Nemethia, a jornada Cyrix expande-se para novas paisagens, tal como a proeza técnica e a própria criatividade da banda. ARKAIK tem trabalhado duramente na criação de uma série de álbuns de conceito psicadélico selvagem que giram em torno de um protagonista chamado Cyrix, uma personagem desiludida numa sociedade distópica. (Earsplit) Vassafor - «Malediction» (Nova Zelândia, Death Black Metal) VASSAFOR é o som do espaço entre as estrelas, o vazio de uivar no abismo, o silêncio fora do tempo ... Nada poderia ilustrar melhor o universo esotérico desta entidade lendária, que capta brilhantemente o espírito

de Black Metal e do Death Metal para criar uma nova dimensão sonora. A maldição - “Malediction” - apropriado consiste em cinco composições longas e imersivas, cinco obras-primas demoníacas perfeitamente executadas. Como foi o caso das versões anteriores, a atmosfera ocultista e um antigo sentimento ritualístico complementam partes rápidas e caóticas. A música é tanto cósmica quanto puramente bestial, e o uso criativo de paisagens sonoras verdadeiramente ocultistas, faz dela uma experiência estranha e profundamente perturbadora. (Debemur Morti Productions) Blindfolded and Led to the Woods - «Modern Adoxography» (Nova Zelândia, Technical Death Metal) A banda Neo Zelandesa de brutal metal BLINDFOLDED AND LED TO WOODS tem aqui o seu segundo de originais, «Modern Adoxography». BLINDFOLDED AND LED TO WOODS tem arrasado os palcos em toda a Nova Zelândia com o seu espantoso actuação ao vivo nos últimos sete anos, com shows frenéticos que permitiram à banda angariar uma ampla base de fãs. (Earsplit) Gridfailure- «I Shall Not Survive Another Winter» (EUA, Experimental, Dark Ambient, Power Electronics, Dark Hardcore) Os Nova Yorkinos GRIDFAILURE lançam aqui «I Shall Not Survive Another Winter», com material de estúdio gravado em diferentes sessões ao longo do ano passado. Este é o tom para o terror dos backwoods que se encontram num estilo pós-apocalíptico de horror, com elementos de jazz, música do mundo, hardcore e dark music ambiental que se funde num contágio de confrontação e demência. (Earsplit) The Pod - «The Pod» (EUA, Experimental black metal and heavy electronic beats) O projeto Pod a solo do guitarrista dos MAKE, Scott Endres. Depois do fantástico sucesso do álbum

mais recente dos MAKE, citando influências do tipo Gary Numan, Lungfish, Vangelis, Killing Joke, Godflesh, Aphex Twin e até mesmo os teclados Casio, a estreia autodidacta do THE POD é o mundo afastado do duro e bombástico doom metal dos MAKE, sendo ainda o álbum que possui uma qualidade atmosférica e fascinante. Elementos abrangentes de black metal, sintetizadores e sample blasts, o álbum é uma jornada obscura e torcida de altos e baixos, escuro e leve - um passeio emocionante, mas desafiador, com resultados verdadeiramente apaixonantes. (Earsplit)

Kryptonite - «Kryptonite» (Suécia, melodic hard rock) Às vezes, os músicos juntamse e travam conhecimento nas respectivas gravações, permitindo que um click aconteça e desencadeia um momento mágico. Foi exatamente o que aconteceu quando Jake Samuels, dos The Poodles, se encontrou com o produtor Alessandro Del Vecchio. Juntos, eles começaram a trabalhar numa nova banda que poderia oferecer conceitos líricos profundos e inteligentes, com a música dentro dos géneros em que eles se destacam e, o mais importante, tem grande energia e impacto. As sessões de gravação e escrita fluíram livremente e as músicas surgiram naturalmente. Esta banda realmente definirá um padrão para os fãs que gostam de Hard Rock melódico actual. É

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clássico, mas moderno e ao mesmo tempo groovy. (Frontiers Music)

Mr Big - «Defying Gravity» (EUA, Hard Rock) Tempo para um novo MR. BIG. Eles reuniram-se em um estúdio em Los Angeles e em seis dias, o resultado de todo esse talento musical é «DEFYING GRAVITY», o nono álbum de estúdio original. Os membros originais Eric Martin (vocalista principal), Paul Gilbert (guitarras), Billy Sheehan (baixo) e Pat Torpey (bateria) reuniram-se com o produtor Kevin Elson para uma sessão intensiva de gravação. Enquanto Torpey não conseguiu realizar algumas músicas em «DEFYING GRAVITY» devido a um diagnóstico recente da doença de Parkinson, Matt Starr substituiu-o na maioria do álbum. (Frontiers Music) Quiet Riot - «Road Rage» (EUA, Hard Rock) QUIET RIOT é um fenómeno do rock and roll. Conhecidos como a primeira banda de heavy metal no topo das tabelas do pop, o quarteto de Los Angeles tornouse uma sensação global graças ao seu enorme sucesso de 1983 «Metal Health». O QUIET RIOT continua a sua jornada histórica em 2017 com um novo álbum, «Road Rage». Musicalmente, este oferece exatamente o que os fãs esperaram dos QUIET RIOT. Uma arma pronta de hard rock com ganchos fortes e riffs infeciosos, juntamente com uma maturidade na composição que apenas uma

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banda com tal história e pedigree consegue oferecer. (Frontiers Music) World Trade - «Unify» (EUA, Progressive Rock) Composto por alguns dos mais reconhecidos e talentosos compositor de L.A., Billy Sherwood, Guy Allison e Bruce Gowdy, têm em World Trade uma banda que edita aqui o seu terceiro álbum, «Unify». Não há dúvida de que os World Trade são uma banda de classe mundial em todos os sentidos. Com excelentes composições, excelentes vocais e imensos valores de produção, este álbum irá atrair os fãs dos lançamentos mais recentes, além dos fãs de outras bandas rock progressivas. (Frontiers Music)

Kadaverdisciplin - «Death Supremacy» (Suécia, Black Metal) Álbum de estreia. O processo de composição começou com o objetivo de criar um Black Metal moderno e muito superior a outras bandas contemporâneas do género. O foco está na inclusão de músicas rápidas, directas e agressivas, porém sempre memoráveis, com raízes no Black Metal da década de 90 nos países escandinavos, inspirados de forma lírica da morte, escuridão e destruição. Este é o Black Metal sueco, na veia de Marduk e Watain, mas num nível que a maioria das bandas nunca conseguirá, e se o fizer, levará pelo menos 3 álbuns para lá chegar perto! (Hammerheart Records)

Muert - «Ye Canariae Abezan» (Espanha, Necro black metal) Muert é o som violento do fim, um metal mortuário, fresco e maduro, na essência mais hostil, inspirada na morte. O funeral bestial da vida é o fanatismo dos cemitérios. A atração por túmulos, é a autoridade necrópoles. O destino abominável e o mais negro do vazio. Muert é requiem, o último som, o buraco negro dos humanos, onde não houve e nem haverá nada igual. (Hammerheart Records)

The Tangent - «The Slow Rust Of Forgotten Machinery» (Inglaterra, progressive rock) Os The Tangent, o grupo de rock progressivo liderado por Andy Tillison, tem em «‘The Slow Rust of Forgotten Machinery» o seu novo álbum de estúdio. Este álbum vê os The Tangent mais uma vez no modo de comentador político - desta vez, concentrando na situação horrenda dos refugiados das partes do mundo destruídas pela guerra - e a forma como são tratados pelo Ocidente, em particular, pela imprensa sensacionalista. E isto numa toada de registro Progressive Rock. Repleto de complexidades, com composições desenvolvidas há muito tempo, arranjos desafiadores e guitarras virtuosas por parte de todos os membros. (InsideOut Music) The Nights - «The Nights» (Finlândia, Melodic Rock) Tanto Sami quanto Ilkka estabeleceram carreiras anto na


Finlândia como no exterior do seu país. As suas músicas, que apresentam uma excelente mistura de melodias pop clássicas e produção moderna de rock / metal melódico, são umas músicas feitas para as massas, pelo que eles se preparam para uma dose saudável de rock melódico clássico e muito íntimo! (Frontiers Music) Crimfall - «Amain» (Finlândia, Symphonic Power/Viking/Folk Metal) Usando muitas máscaras, o metal cinescópico dos CRIMFALL evita descrições fáceis. As influências ásperas de sua pátria escandinava e as suas raízes violentas conhecem ecos de Black Metal, mas tudo é gelado com orquestra épica e atmosfera de banda sonora sinfónica. As melodias transmitem paisagens sonoras de majestade e longas histórias perdidas, uma vez que a interação dos gritos demoníacos de Mikko e os vocais celestiais de Helena produzem o desespero e uma cru beleza. (Metal Blade)

Terrible Old Man - «Fungi From Yuggoth» (Alemanha, Hard Rock/ Heavy Metal) Terrible Old Man definiu um ponto de exclamação no mundo da música, concentrando-se nas obras literárias de H.P. Lovecraft, dando-lhe uma roupagem musical. «Fungi From Yuggoth» é o segundo álbum depois da estreia do conceito com «Cosmic Poems», no qual o quinteto continuará o desenvolvimento deste

conceito. Todas as músicas são na sequência do poema do mesmo nome. Os primeiros dez sonetos foram usados ​​para este álbum. Musicalmente, há novamente heavy metal de alta qualidade. Ao contrário de «Cosmic Poems», as músicas individuais são menos volumosas e mais atraentes. Na composição, havia claramente mais foco em Hooks e nas letras, mas agora têm mais espaço para se desdobrarem e, portanto, a atmosfera apertada das obrasprimas de Lovecraft pode espalhar o seu humor ainda melhor. (MDD Records) Leprous - «Malina» (Noruega, Progressive Metal) Num momento em que a música progressiva está no auge e há tantas opções disponíveis nos escaparates, é preciso coragem e personalidade para se produzir algo que vire as cabeças e capte a atenção. Os Noruegueses Leprous têm feito exactamente isso nos últimos anos, e tem sido uma satisfação vê-los a ser o centro das atenções da comunidade progressista. (InsideOut Music)

Ensiferum - «Two Paths» (Finlândia, Epic Folk Metal) Não se pode falar sobre os verdadeiros grandes do death metal melódico inspirado no folk, sem mencionar reverentemente os grandes Ensiferum e, com «Two Paths», eles afirmaram mais uma vez o seu lugar no panteão do género. «Two Paths» é ao mesmo tempo a coleção mais épica e

de longo alcance do quinteto finlandês e a mais orgânica. (Metal Blade)

Portrait - «Burn The World» (Suecia, Old School Heavy Metal) O implacável monstro de heavy metal sueco conhecido como Portrait nasceu no ano de 2006 com a intenção de exterminar o mundo inteiro. «Burn the World» é o trabalho mais feroz até à data, mantendo todos os aspectos dos Portrait dentro dele, ainda assim, de forma ainda mais dinâmica, potente e elevada do que os seus álbuns anteriores. «Burn the World» contém convidados de luxo como Set Teitan (Dissection / Watain) e Kevin Bower (Inferno). (Metal Blade) End Of Green - «Void Estate» (Alemanha, gothic/doom metal) Sombrio. Alto. END OF GREEN encontrou aqui o seu próprio ponto de vista no cosmos da música. A banda de dark rock mais forte da Alemanha. Após 25 anos de agonia, eles lançam o número nove da sua carreira. Dentro de um labirinto de Goth, Doom, Metal, Alternativa dolorosa e dor profunda, eles estão desesperados por encontrar a esperança. END OF GREEN vem de um mundo próprio; nenhuma outra banda é capaz de visualizar o isolamento no meio da beleza com esse poder de rebentar com os tímpanos. Michelle Darkness canta músicas tocantes e íntimas sobre o envelhecimento, a perda e a solidão. Cada nota é apertada

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pela melancolia e em algum lugar dessas melodias sublimes brilha uma centelha de optimismo. (Napalm Records) Cripper- «Follow Me Kill!» (Alemanha, Death/Thrash Metal) Tentando descrever o estilo musical dos CRIPPER, este pode ser um desafio. Desde o seu álbum de estreia, a banda passou de um thrash bastante técnico para uma abordagem única para o metal extremo. Durante todo o tempo, CRIPPER nunca teve medo de transgredir os limites de género, mas deu azo à sua criatividade. (Metal Blade)

Russkaja - «Kosmopoliturbo» (Austria, Ska punk, Gypsy punk, Folk metal) Num mundo onde o globalismo limpa todos e quaisquer limites, RUSSKAJA fornece uma banda sonora adequada com seu novo trabalho «Kosmpoliturbo». As músicas poderosas e optimistas balançam entre países, línguas e culturas - Malhas de Polka Ska de alta velocidade e groovy com guitarras distorcidas de forma virtuosa. Os violinos espumantes deixam os grandes vocais do barítono baixo do cantor principal Georgij Alexandowitsch Makazaria a brilharem como as estrelas. Desde 2005 que os RUSSKAJA têm explorado as suas raízes cosmopolitas austro-soviéticas. (Napalm Records)

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coisa que poderia acontecer connosco. Nós sentimo-nos frescos, livres e sem problemas”. O mundo está louco novamente. DIE APOKALYPTISCHEN REITER está de volta. (Nuclear Blast)

The New Roses - «One More For The Road» (Alemanha, hard rock) Sem dúvida, THE NEW ROSES é uma das bandas de hard rock mais promissor e bem-sucedida que a cena heavy rock alemão tem para oferecer. Agora, esses rockers pesados ​​de Wiesbaden, Alemanha, retornam com seu novo álbum «One More For The Road» e fazem isso com absoluta serenidade. (Napalm Records)

Die Apokalyptischen Reiter - «Der Rote Reiter» (Alemanha, Avant guard / Death metal melódico) A banda mais espectacular da Alemanha num nível quase bíblico: DIE APOKALYPTISCHEN REITER. Eles andaram pela terra desde 1995 com a sua marca única de melodia e peso, letras intensas e apresentações ao vivo inigualáveis. Os Cavaleiros não aderem a nenhuma regra, são inovadores e corajosos. Depois de dois anos, o lançamento de seu novo álbum «Der rote Reiter» é agora iminente. A banda diz: “A ruptura foi a melhor

Eluveitie - «Evocation Ii Pantheon» (Suiça, melodic death/ folk metal) Oito anos após os mestres de música melodic death/folclórica, os ELUVEITIE lançaram o seu álbum acústico «Evocation I», os músicos suíços lançam agora «Evocação II», uma conjura doutro tempo numa viagem pelas eras do passado. Como o título indica, o conceito do primeiro opus continuará e é inteiramente dedicado à mitologia celta. Ainda mais, «Evocation II», é uma viagem musical pelo panteão gaulo, até os deuses celtas, após o qual os títulos das músicas são simplesmente nomeados. Qualquer um que se junte ao ELUVEITIE nesta jornada notará rapidamente que a personagem de cada música é a de um Deus. Esta obra-prima não é apenas uma bonança de músicas populares fascinantes, mas também uma incursão na história da banda. (Nuclear Blast) Rage - «Seasons Of The Black» (Alemanha, Heavy/Speed/Power Metal) RAGE é imparável. Em 28 de julho de 2017, apenas 14 meses após o lançamento do seu álbum anterior, a banda em torno do mastermind Peavy Wagner lança o seu 23º álbum de estúdio, chamado de «Seasons Of The Black». As


onze músicas deste esbatam diretamente com as do álbum anterior e mostram claramente que - graças ao novo line-up - a banda praticamente está reflorescida e o retorno aos antigos pontos fortes - que já fizeram a banda grande tornou a banda mais forte do que nunca. (Nuclear Blast)

Itchy - «All We Know» (Alemanha, punk rock) É um sentimento incrível quando não há a necessidade de algo, mas sim a possibilidade do todo. Quando, uma banda de punk rock como os ITCHY, entra em cena, não precisa seguir uma determinada tendência e depois deixar-se afogar em alguma hype ou ser esquecido. Textualmente e musicalmente, «All We Know» é muito mais profundo, mais diversificado e até mais amadurecido ou «mais adulto» do que o seu trabalho anterior. (Nuclear Blast) Thy Art Is Murder - «Dear Desolation» (Australia, Death Metal) THY ART IS MURDER investe furiosamente uma vez mais contra a violação, agarrando e cuspindo contra a luz moribunda e um colapso aparentemente inevitável da existência. «Dear Desolation», o quarto e mais poderoso álbum dos australianos, é um golpe devastador contra e abraça um niilismo catastrófico numa guerra misantrópica total. Combinando elementos de death metal clássicos e autênticos que invocam

o renegado, o esmagamento espiritual, a monstruosidade dos MORBID ANGEL, CANNIBAL CORPSE e DECAPITATED com o assalto rítmico de precisão de MESHUGGAH e o salto infundido de THE BLACK DAHLIA MURDER, THY ART IS MURDER redefiniu um subgénero, orgulhosamente revigorizado e representando o melhor em extremidade. (Nuclear Blast)

Glerakur - «The Mountains Are Beautiful» (Islândia, black / doom metal) Álbum de estreia. GlerAkur é o compositor islandês e engenheiro de som, Elvar Geir Sævarsson, que escolheu representar a música cinematográfica ímpar que ele cria além de seu noivado como engenheiro de som no Teatro Nacional da Islândia. Icelandic for ‘Glass Field’, GlerAkur inspirase na música pós-rock, drone e ambiente, além de black e doom metal, misturando e dobrando som em ondas hipnóticas de atmosfera sonhadora. (Prophecy Productions) Wintersun - «The Forest Seasons» (Finlândia, Symphonic Melodic Death Metal) Volvidos mais 5 anos, temos o retorno dos WINTERSUN com seu 3º álbum de estúdio intitulado «The Forest Seasons». O seu lançamento é acompanhado por uma enorme campanha de crowdfunding. Mais pequenos detalhes sonoros se levantam e conduzem a música através dos duros versos até aos majestosos coros vocais as

grandiosas malhas, seguidos de um interlúdio instrumental fortemente crescente. No final, depois de chegar ao seu auge na forma do coro final, este retorna abruptamente ao seu tema original e desaparece devagar... (Nuclear Blast)

Affäir - «Neon Gods» (Portugal, Hard Rock) Ao contrário do que as tendências musicais da década de 1990 e a ditadura da indústria tentaram estabelecer, o Rock n Roll não precisa de ser “auto-pitiful”, inocente e pálida, e o grupo que tem por base Lisboa, os Affäire, querem provar isso mesmo com o seu som duro e incendiário de hard rock dos anos 80. Foi a cena de rock e metal portuguesa liderada por bandas como Attic Demons, Dawnrider, Divine Lust ou Iberia que influenciaram esses quatro patifes, para pegar nos seus instrumentos e criar um som de rock pesado e infecioso na veia de WASP, Mötley Crüe, Alice Cooper e LA Guns. Não espere nada além de heavy-rock pesado, perigoso e de alta. (Raging Planet) Complete Failure - «Crossburner» (EUA, Grindcore / Punk) Com o seu quarto LP, «crossburner», COMPLETE FAILURE transforma raiva em música. A banda de Pittsburgh, Pensilvânia equilibra-se habilmente na ponta afiada entre o punk e o grindcore, ao mesmo tempo que entrega um som de destruição DIY – Do It Yourself. Esta banda de

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força sonora combina velocidade feroz e agressão amarga numa posição violenta e iconoclasta. COMPLETE FAILURE deixa-o sentir a nova raiva americana e resumi-la numa palavra: “Punk!” (Season of Mist) Atriarch - «Dead As Truth» (EUA, Blackened Doom Metal/ Deathrock) Mestres apocalípticos do ritual, os ATRIARCH estgão de volta com o seu quarto trabalho «death as truth», um elixir da mente, uma embriaguez de doom. Fragmentos de póspunk, doom gótico, black metal, l sludge e noise complementam o universo desolado da banda e complementam ainda mais a sua liberação mais imediata e formidável até o momento. Os ATRIARCH prescrevem a ordem de que existe uma só verdade e uma só morte. (Relapse Records) Incantation- «Profane Nexus» (EUA, Death Metal) Os blasfemos lendários INCANTATION estão preparados para desencadear um arsenal mortal de extremidade indutor e de vertigem com seu 10º álbum de estúdio intitulado «Profane Nexus». (Relapse Records)

Psudoku - «Planetarisk Sudoku» (Noruega, Grindcore / Avantgarde) Esta é a segunda transmissão do espaço profundo da mente enlouquecida por trás de PARLAMENTARISK SODOMI e BRUTAL BLUES. Empurrando o

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mais profundo em prog e kraut rock, isto é, grindcore com veias de NAKED CITY, MAGMA e KING CRIMSON. Psudoku é fruto de um universo paralelo onde o grind não se desenvolveu com o hardcore punk e thrash metal, mas do prog de 70 do futuro. (Selfmadegod Records) Eagleheart - «Reverse» (Rep. Checa, Power Metal) Seis anos após o aclamado álbum «Dreamtherapy», o power metal checo na música de Eagleheart está de volta com um novo álbum e eles estão mais fortes do que nunca! Após algumas pequenas mudanças de linha, a banda de Brno apresentou seu mais ambicioso álbum, mais dinâmico, emocional e épico até à data. Desta vez, conta com três cantores e, novamente, com a ajuda da legenda do Power Metal, Roland Grapow (Masterplan, exHelloween). Metal clássico com uma nova abordagem pessoal que o torna relevante para os dias de hoje. (Scarlet Records)

National Suicide- «Massacre Elite» (Italia, Thrash metal) National Suicide é uma banda de Thrash metal de Trente, Itália. «Massacre Elite» exibe o potencial total do National Suicide com um som mais nítido, riffs poderosos, uma secção de ritmo monumental e vocais abrasivos com raízes profundas na cena Thrash americana dos anos oitenta, a par de algumas características distintivas que o tornam

instantaneamente reconhecível. O som do National Suicide é agudo, pesado e agressivo. (Scarlet Records) Altarage - «Endinghent» (Espanha, Death Metal) ALTARAGE entrega exatamente o que prometeu no buzz underground que se gerou em torno deles. O seu segundo LP, «Endinghent» está eriçado com uma fúria negra e dissonante de death metal que imediatamente evoca uma infinidade de imagens sinistras no cérebro. Pouco se sabe sobre este coletivo secreto de death metal, exceto a sua origem de Bilbao, Espanha. (Season of Mist)

Impureza- «La Caída De Tonatiuh» (Espanha, Hispanic Extreme Metal) Uma grande civilização não é conquistada até que esta se tenha destruído de dentro “(Ariel & Will Durant). Este é o universo de metal hispânico dos IMPUREZA. Há mais de dez anos, os conquistadores franco-espanhóis têm sido pioneiros no seu estilo único, o qual combina paisagens sonoras ibéricas com brutal death metal. IMPUREZA expressa a parte tradicional de sua herança musical através do uso de guitarras folk acústicas, padrões de ritmo flamenco e letras exclusivamente espanholas. (Season of Mist) Audn - «Farvegir Fyrndar» (Islândia, Icelandic Black Metal) Por toda a sua beleza, a Islândia


pode ser um lugar sinistro onde elementos de fúria e raiva ensinam o medo, mas também inspiram a criatividade humana. Saindo da aldeia de Hveragerði, no sul da ilha vulcânica, AUÑN são os últimos descendentes da crescente cena de black metal nesta terra de gelo e neve. Com o seu segundo LP «Farvegir Fyrndar» (literalmente significa “Ancient Riverbeds”), AUÑN continuam a sua rápida ascensão. Ao contrário da maioria de seus irmãos enegrecidos da capital de Reykjavik, essa jovem banda não se baseia num som mais ou menos no culto de DEATHSPELL OMEGA, mas volta sim para uma abordagem mais clássica de inspiração de segunda geração. (Season of Mist)

Radio Moscow- «New Beginnings» (EUA, rock psicadélico /heavyblues / hard rock) Os RADIO MOSCOW são um exemplo perfeito de um clássico trio de energia de aceleração total. Embora de forma alguma desprovida de nuances e detalhes, a primeira coisa que se percebe enquanto se está à frente desta banda, é a sensação de ser soprado de volta para um turbilhão de energia e poder. Dirigido pelo genro de Stratocaster, Parker Griggs, os RADIO MOSCOW esculpiram o seu próprio som fundindo crunching, acordes pesados ​​com um estilo Sabbath e com solos ardentes ‘Hendrixianos’ e uma intensidade bruta viciante. (Century Media)

Dephosphorus - «Impossible Orbits» (Grécia, Grindcore / Death / Black) Terceiro álbum desta banda grega Auto descrita como “astrogrind”. 9 canções de mistura negra e violenta de death metal, grindcore e até mesmo black metal. O conceito e a estética atraem influências da cosmologia, astronomia e literatura de ficção científica, bem como as repercussões sociopolíticas e existenciais associadas. Para fãs de CHERUBS, TERRORIZADOR, REGURGITATE, INSISTA com um toque de black metal. (Selfmadegod Records)

Arch Enemy- «Will To Power» (Suécia, melodic death metal) Os ARCH ENEMY estão prontos para trazer a sua feroz marca de death metal melódico mais uma vez para o público de todo o mundo. Seguindo os passos do seu álbum mais aclamado até à data, «War Eternal», que viu a banda atingir as suas melhores tabelas nos EUA e na Alemanha, «Will To Power» continuará a esmagar os registros, legitimando-se afim de ganhar o seu lugar na tabela da realeza do heavy metal. (Century Media) Fozzy - «Judas» (EUA, Heavy Metal) O presente de Jericho chegou na forma de um novo álbum dos FOZZY, «Judas». Fozzy sempre foi sobre um groove pesado e um bom momento de música. E quando se tem dois artistas de alta energia

como Rich Ward e Chris Jericho na banda, os grooves e os bons tempos são fáceis; mas esses tipos não são apenas artistas. Ward é um dos riffers mais versáteis e subestimados do rock e metal de hoje, o qual criou o seu próprio estilo de riffs pesados, coros melódicos. (Century Media) Teething- «We Will Regret This Someday» (Espanha, Grindcore) «We Will Regret This Someday» é o primeiro álbum dos cratediggers mais desagradáveis ​​da Espanha. Depois de seis longos anos de incontáveis 7’’, TEETHING retorna com 12 faixas de no bullshit, pissed-off, grindcore com ponta de hardcore. Esta cronica não é apenas o trabalho mais sincero até à data, é uma bofetada firme na cara e um trabalho impressionante. (Selfmadegod Records) Blut Aus Nord - «Deus Salutis Meae» (França, Black Metal) Deus Salutis Meæ (“Deus da minha Salvação”) é a verdadeira emissão mesmérica de BLUT AUS NORD, o grande Black Metal. Usando uma alquimia assustadora e crueldade predatória, BAN funde cada era distinta de sua existência de 23 anos com leituras inovadoras de Death Metal cavernoso e arcano, os excessos ocultos do intruso Industrial e as abominais assombrações de Doom psicotrópico. Euróboros microtonais surpreendentes ondulam com a cadência vazia do sintetizador analógico; detonado por Hanneman / Belew, leva a insinuação e abstração emaranhada; as cabeças são remodeladas num vago percussivo de êxtases impulsionado por batidas; os encantamentos invocam a mania serrilhada de facas sagradas; Corpos torturados falam línguas de loucura de amarração. (Debemur Morti Productions)

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Um caminho sério... Ao longo das últimas duas décadas o nome ENSIFERUM tem sido uma constante no panorama Folk Metal. «Two Paths» é o mais recente disco dos finlandeses e marca, também, a aproximação a uma sonoridade mais tradicional. A VERSUS esteve à conversa com Sami Hinkka, baixista e vocalista da banda para saber mais sobre este novo disco. Entrevista: Nuno Lopes | Photo: Mikael Karlblom

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Estamos sempre a fazer escolhas que terão

consequências no futuro. Todas as

escolhas tem um preço.

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A vossa «Demo I» foi lançada há duas décadas, desde aí os Ensiferum cresceram e transformaram-se numa banda de culto. Qual o balanço que fazem destes anos e o que recordam desses tempos? Sami Hinkka: É verdade! Quando os Ensiferum foram formados o Markus (Toivonen, vocalista) ainda era um jovem e as memórias desses tempos estão um pouco confusas mas há muito material em vídeo desses tempos e estamos com esperança de os poder colocar no futuro num DVD para que os nossos seguidores verem como tudo era no inicio. Ao longo dos anos a banda passou por algumas mudanças de formação, porém nunca pararam de lançar discos e isso fez com que se transformassem numa das bandas mais trabalhadoras da cena. Existe algo que fariam diferente ou que mudariam? As mudanças ocorreram, principalmente, porque em 2004/2005 tivemos que decidir se nos íamos focar a 100% nas digressões e em lançar novos discos ou se a banda se ia desvanecer e todos íamos regressar aos nossos trabalhos «normais». Ao fim dos primeiros anos os Ensiferum foram ficando mais coesos e unidos, muito mais que um trabalho de uma pessoa, neste caso o Markus, já que é o fundador e principal compositor, que vem para a sala de ensaios e o resto só tem de seguir as suas instruções. Claro que há coisas que gostaríamos de fazer diferente se soubéssemos o


futuro, mas a vida é isto mesmo, aprendizagem. Por vezes a melhor forma de se aprender é com os erros. Ao fim de mais de duas décadas ainda existe aquela ansiedade de cada vez que lançam um disco? Claro que sim! (risos) E antes de cada digressão também temos sempre as borboletas no estômago. (risos) O presente é «Two Paths» e, mais uma vez, trabalharam com o Anssi Kippo. Esta foi a escolha óbvia depois do sucesso de «One Man Army»? A escolha nada teve a ver com o sucesso do «One Man Army», foi uma questão de química. Trabalhar com o Anssi é fantástico e ele entende na perfeição o que queremos atingir. Ele tem grandes ideias para levar as canções até outro nível. A maior supressa deste disco acaba por ser a presença da Netta Skog. Como é que tudo aconteceu e o que trouxe ela aos Ensiferum? Já conhecemos a Netta desde 2008 quando fizemos a tour com os Turisas. Ela já tinha aparecido no «One Man Army» como convidada em algumas vozes e, pouco depois a Emmi (Silvennoinen, teclas) disse-nos que não ia poder fazer digressões muito extensas durante algum tempo, por isso falámos com a Netta. Ainda fizemos alguns concertos com ela e a certa altura a Emmi disse-nos que seria melhor sair da banda pois não conseguia dar 100%, por isso e naturalmente pareceu óbvio perguntar a Netta se queria continuar connosco, ela aceitou e o resto é história! (risos) O «Two Paths» segue o caminho dos seus antecessores, no entanto existem algumas nuances quer na música quer na escrita, existe algum conceito em torno do disco? Este disco não é conceptual no verdadeiro sentido da palavra mas existe uma ideia para o disco que pode ser entendida em cada canção do disco. Estamos sempre a fazer escolhas que terão consequências no futuro. Todas as escolhas tem um preço. Ao longo dos anos os Ensiferum estiveram ligados ao Folk Metal mas, cada vez mais, parece que se estão a transformar numa banda clássica de Heavy Metal, concordas com isso? Nem por isso! As nossas raízes continuam a estar na música Folk e na sua mitologia, assim como no Metal e nos seus subgéneros. O «Two Paths» é um disco mais directo e imediato mas estamos já a escrever material para um novo disco que vai ser, novamente, um pouco diferente. «Don't You Say» e «God is Dead» tiveram direito a duas versões no disco. A que se deveu esta escolha e qual é a tua versão favorita de cada tema em questão? Os Ensiferum sempre tiveram vozes ásperas, vozes limpas e femininas, assim como os coros, por isso é

sempre divertido fazer arranjos para as músicas porque temos muitas opções. Essas duas canções foram feitas para vozes limpas mas, para experimentar falámos com o Pete para as cantar com gutural e acabámos por gostar tanto que as tivemos que incluir no disco como versões alternativas. Eu gosto de todas as versões e vai ser interessante ver como as vamos tocar ao vivo, até porque podemos sempre alterar ou fazer uma separação das músicas. Quais são as vossas expectativas em relação ao «Two Paths»? Já conseguimos atingir alguns feitos. Já atingimos o lugar 9 no top alemão, que é incrível dada a nossa sonoridade. A longo prazo esperamos fazer uma digressão extensa pois, até ao momento, o feedback tem sido muito positivo, e isso é o que importa! É fantástico ver o público a curtir e a divertir-se com os novos temas, seja a cantar ou através do mosh! (risos) Estás a falar das digressões e, de facto, os Ensiferum são uma banda talhada para os palcos. Achas que vocês são mais uma banda de palco que de estúdio? Qual a vossa relação com a estrada? Sempre olhei para os Ensiferum como uma banda de palco e é isso que temos vindo a fazer nos últimos dois álbuns, temos tentado captar a nossa energia nos discos. A vida na estrada pode ser dura, mas podes, ou não, facilitar a tua vida, tudo depende das escolhas que fazes. Se estiveres sempre em festa é normal que passadas poucas semanas o teu corpo não aguente, por isso tens de ser esperto e tratar de ti, sem te esqueceres que deves dar 110% todas as noites em todos os palcos. Se fores para cima do palco bêbado ou com uma ressaca horrível é normal que as pessoas não gostem. Pessoalmente gosto de sentir a energia do público e de interagir com ele. Estar em cima de um palco é uma das minhas melhores experiências e estou muito grato por estar a fazer isto. Já estiveram em Portugal diversas vezes, vão voltar a estar por cá para apresentar o «Two Paths»? Tenho a certeza que sim! Vamos estar 2/3 anos na estrada e é normal que quando lançamos um disco todos querem que os Ensiferum vão tocar a esse país o mais rápido possível, porém, logisticamente não é possível, por isso tem de existir uma rota perfeita para chegar a todo o lado. Queres deixar uma mensagem para Portugal… Ouçam o «Two Paths»! Chateiem os vossos promotores para nos levar aí outra vez, já passou muito tempo desde a última vez que aí fomos. Já temos saudades do vosso público, da vossa comida e do vosso vinho português! Esperamos ver-vos em breve! Stay Metal… Facebook Youtube

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Playlist Carlos Filipe

Frederico Figueiredo

Beast in Black - Berserker Therion - Les Fleurs du Mal Desire - Locus Horrendus Desire - Infinity... (Reedição 2017) Night Viper - Exterminator Orphaned Land - Unsung Prophets & Dead Messiahs

Sadistic Intent - Resurrection of the Ancient Black Earth Old Tower - The Rise of the Specter Grave Upheaval - Demo Goblin - Their Hits, Rare Tracks & Outtakes Collection Unaussprechlichen Kulten - Keziah Lilith Medea

Helder Mendes Cristina Sá Satyricon – DeepCallethUponDeep Vulture Industries – Stranger Times Auðn – FarvegirFyrndar Throane – Plus Une Main À Mordre Tyrannosorceress – Shattering Light Wolves in the Throne Room – Thrice Woven

Dico Hammerfall - Glory to the Brave Awaiting the Vultures - Awaiting the Vultures Alcatrazz - No Parole From Rock ‘N’ Roll Sancturay - Inception

Carcass - Necroticism: Descanting the Insalubrious Psychedelic Witchcraft - Magick Rites and Spells Paatos - Breathing Emperor - In The Nightside Eclipse Paradise Lost - Icon

Gabriel Sousa H.E.A.T. - Into The Great Unknown Shiraz Lane - For Crying Out Loud Ayreon - The Source Xeque-Mate - Æternum Testamentum Gregg Allman - Southern Blood

Ivo Broncas Ernesto Martins Virvum - Illumination Akercocke- Renaissance in Extremis Pestilence - Spheres Wolves in the Throne Room - Thrice Woven Hannes Grossmann - The Crypts of Sleep

Gojira - Magma Lamb of God - Resolution Mastodon - Emperor of sand Soundgarden - Superunknown Korn - The Serinity of Suffering

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M

úsica,

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te eatro…

vasão


SerĂŁo estes os ingredientes misteriosos que fazem a beleza do som de GlerAkur? Entrevista: CSA

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“ […] usar música e

paisagens sonoras para alterar a realidade […]

permite escapar do aqui e agora. Criar música

dessa natureza equivale a uma viagem ainda mais intensa.

Como te veio a ideia de criares

o projeto a que deste o nome de GlerAkur?

Elvar – Em 2008, inesperadamente, estive dispensado do trabalho durante todo o mês de dezembro. A escuridão e o frio deixam-te mesmo sem opções a não ser escolher algo agradável que possas fazer em casa. Decidi gravar uma peça musical, que seria a minha prenda de Natal para todos. Limitei-me a sentar-me e a criar pistas. O resultado foi algo que parecia uma combinação de Mike Oldfield e Philip Glass. A minha namorada chamou a este produto GlerAkur, porque gler significa vidro e akur significa campo. Foi tão simples como isto. Sete anos

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depois, quando a Prophecy me propôs um contrato, pareceume que este seria o nome mais adequado para o meu projeto.

gravado com quatro guitarristas,

Onde foste buscar a inspiração para este projeto? Tanto quanto me lembro, sempre me deixei fascinar por viagens musicais. Fui sempre atraído pela música atmosférica. Há algo em usar música e paisagens sonoras para alterar a realidade, que permite escapar do aqui e agora. Criar música dessa natureza equivale a uma viagem ainda mais intensa.

a bom termo um processo tão

A Prophecy informa que «The Mountains Are Beautiful Now» foi

dois bateristas e um baixista na cave do Teatro

Nacional da Islândia, o Por favor,

teu local de trabalho.

conta-nos como conseguiste levar complicado.

Fizemos a gravação ao vivo. Alugámos o bar que fica na cave do Teatro Nacional da Islândia por um dia, no outono de 2016. Tentámos ficar tão afastados uns dos outros quanto possível durante as gravações e só tocámos as nossas partes algumas vezes. Mais tarde, gravámos as vozes, os teclados e todos os instrumentos acústicos. De quem são as vozes que podemos ouvir neste álbum e onde foste


buscar essas pessoas?

Na primeira faixa, sou eu que canto numa câmara de eco. Outra parte do trabalho vocal foi feita com um outro membro da banda Guðmundur Vignir Karlsson. É um compositor profissional, tem a sua própria banda (chamada Kippi Kaninus) e é um dos membros de Amiina. Também tem estudos de canto clássico e dedica-se sobretudo a cantar em funerais, portanto compreende profundamente a dor e conhece bem a música solene.

banda. O álbum corresponde à música da versão da peça de 2015, portanto relaciona-se com ela por interpretar os sentimentos das personagens e o espírito da peça. No entanto, não segue a mesma ordem que a peça. Queria criar uma narrativa musical para o ouvinte. Dessa forma, espero dar maior liberdade à imaginação das pessoas para criarem a sua própria história, à medida que vão ouvindo a música.

ideias principais da intriga da peça

Tens feito concertos com este álbum? Como te organizas para o fazer? Onde fazes esses concertos? (Calculo que festivais de Metal

que usaste como base para criar esta

não serão o melhor contexto para

Trata-se de uma peça muito especial e há muitos ensaios e livros sobre o autor – Jóhann Sigurjónsson – e as personagens. Baseia-se em factos reais, relacionados com um casal que foi exilado por ter roubado ovelhas. Sim, ovelhas. No séc. XVII, era um crime capital. Ser exilado equivalia, na maior parte dos casos, a uma sentença de morte, mas eles conseguiram sobreviver durante 16 anos, antes de se suicidarem, deixando-se levar por uma tempestade de neve. As últimas palavras que a mulher pronunciou – “As montanhas estão bonitas agora!” – significam que ela estava pronta para deixar de lutar e de sentir dor. Foi morta pela Natureza. Ficaram isolados numa cabana durante semanas, no meio de nenhures, a comida tinha acabado e a tempestade não parou durante esse tempo todo. Não pode haver nada mais islandês do que esta história. Como relacionas o álbum com essa peça? Trabalho como designer de som e compositor no Teatro Nacional da Islândia. O encenador da peça pediu-me que compusesse música para ela e eu assim fiz. Mais tarde, quando a peça deixou de ser representada, fiz arranjos para algumas das partes para as adaptar a um espetáculo ao vivo com uma

De facto, só tocámos em festivais ou concertos de Metal. Quando fazemos concertos, todos os músicos (presentes na gravação) estão no palco. Pomos no palco duas baterias e dois enormes amplificadores e o volume é regulado para a intensidade máxima. Curiosamente, constatei que suscitámos o interesse de gente muito diferenciada e até recebi comentários e críticas de pessoas que dizem não gostar de Metal, mas que adoraram a nossa música. Neste momento, a nossa possibilidade de fazer digressões é limitada, por motivos logísticos. Esperamos que, com alguma sorte e promoção, consigamos fazer uma digressão sem perdermos demasiado dinheiro.

Podes explicar-nos quais são as fantástica peça?

apresentar a tua música.)

Recebeste um prémio nacional pelo EP que anuncia este álbum. Como estão os fãs a reagir a «The Mountains Are Beautiful Now»? Lançar música associada a peças de teatro é sempre muito arriscado, porque os dois aspetos – música e dramatização – estão imensamente imbricadas. É difícil separar uma da outra e conseguir que cada uma delas faça sentido por si só. No entanto, a Prophecy assumiu esse risco e fez um trabalho maravilhoso, para conseguir reconstituir a peça ligada à música através do lançamento de um artbook e certificando-se de que

a história em torno da qual a peça gira está sempre presente. Para já, ainda não recebemos críticas negativas. Sentes-te ligado a projetos como Avantasia de Tobias Sammet? O meu primeiro encontro com o mundo do Heavy Metal passou por Iron Maiden e eu era um fã acérrimo deles, na minha adolescência. O lado épico do Metal melódico sempre me impressionou e tenho a certeza de que os fãs do Metal tradicional se aperceberão da influência dessa música em GlerAkur. Tobias Sammet é da minha idade e é óbvio que fomos beber a nossa inspiração ao mesmo caldeirão, apesar de as nossas bebidas tenham seguido receitas um tanto diferentes uma da outra. Parece-te que GlerAkur poderá tornar-se tão famosa com, por exemplo, Arcade Fire ou Sigur Rós? Tenho dificuldade em fazer previsões sobre o futuro. Penso que a música que eu faço irá sempre agradar a alguém. Uma das razões pelas quais faço música é, logicamente, ser ouvido e gostaria muito de divulgar a minha música o máximo possível. Já alguma vez estiveste em Portugal (quer como músico, quer por razões pessoais)? Não. Mas tenho amigos portugueses, uma vez que fui estudante internacional em Berlim há uns anos atrás e desde essa altura que tenho vontade de visitar o país. Facebook Youtube

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… como veludo! Nem só da Noruega nos chega o Metal mais extremo. Os Wobbler são uma das bandas de referência no que diz respeito ao Rock Progressivo Sinfónico. Uma sonoridade (quase) aveludada que “respira” o que de melhor se fez nos anos 70 por “monstros” sagrados do Rock – King Crimson, Yes, Genesis, Jethro Tull, Led Zeppelin, The Doors ou Black Sabbath. Será certamente um dos álbuns do ano e fará a delícia a muita gente que ouve este género musical. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Tradução: Hugo Melo | Fotos: Terje Skår

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“ Acredito que a mente

de um artista trabalha constantemente com

ideias para uma música que se encontra em progressão, mesmo

quando está a dormir [....]

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Olá Andreas. É um prazer conhecer-te. «From Silence to Somewhere» é um álbum bastante bom que dá gosto ouvir. Como está a ser a reacção do público? Andreas Prestmo: A resposta ao novo álbum tem sido fantástica. Estamos muito gratos e sensibilizados pelas várias criticas positivas que temos vindo a receber. Quer os ouvintes que já conheciam os «Wobbler» quer os novos ouvintes estão bastante entusiasmados. Até agora, já foi alvo de critica em 15 países diferentes e, para já, foi considerado um dos melhores álbuns de 2017 estando no top dos 30 melhores álbuns de progressivo de todos os tempos pelos arquivos do progressivo. Por isso, estamos muito satisfeitos. Como é que uma banda norueguesa acaba a tocar, de forma tão exímia, rock progressivo e sinfónico dos anos 70? Bem, é basicamente por adorarmos este tipo de música. Originalmente a banda começou por ser um projecto que tinha como objecto ver se seria possível compor música dentro da génese dos antigos mestres, quase como um dogma. Hoje em dia creio que conseguimos criar o nosso próprio som, que não é, nem uma réplica, nem uma cópia, mas que tem a mesma estética e estrutura da música dos anos 60 e 70. Quando criamos música, não tentamos emular ou copiar uma qualquer música antiga, limitamo-nos a fazer o que queremos e sentimos e, acontece frequentemente ser ou sinfónico ou soar aos anos 70. É como um pintor inspirado que pinta de um determinado estilo. Na minha opinião, é bastante ousado fazer um álbum com apenas 4 faixas e 48 minutos. Porquê esta decisão? Não planeamos o álbum para ser assim, mas, conforme fomos trabalhando, foi ficando claro que este seria o resultado final. A primeira música marca o tom para todo o álbum. Acredito que as músicas encaixam e complementam-se umas às outras, bebem a inspiração do mesmo poço. «From Silence to Somewhere» é uma entrada épica de 21 minutos. Porquê esta música em especial? Como é que uma música cresce até ter 21 minutos de duração? Comecei a escrever esta música na cozinha de um amigo, no dia a seguir a uma festa. Desde há algum tempo que andava a brincar com este conceito, de fazer uma música sobre a viagem de uma semente até se tornar uma planta. Queria encontrar uma forma de dizer algo sobre um dos mais básicos e ainda assim mais intrigantes mecanismos da vida, até porque estava a passar um período complicado com o falecimento súbdito da minha mãe. Os primeiros versos vieram

como instantaneamente e comecei a trabalhar a partir daí, criando diferentes segmentos que trabalhassem simbioticamente com os versos. Às vezes acredito que criar uma música, no fundo é deixar que a própria música se desenvolva por si, enquanto a vais escrevendo. Tens de ter paciência e ser capaz de te abrires às diferentes temáticas e temas musicais à medida que eles, lentamente, vão surgindo à superfície, sem os forçar a encaixar. A banda e eu fomos trabalhando nesta música ao longo de três anos. Acredito que a mente de um artista trabalha constantemente com ideias para uma música que se encontra em progressão, mesmo quando está a dormir ou a fazer outras coisas que não sejam realmente criar. Raramente sei exactamente onde vou acabar, mas a música evolui e eventualmente reconheço as suas formaa, e como a terminar. A «From Silence to Somewhere» teve de ter 21 minutos, outras músicas poderão ser mais curtas, ou mesmo mais longas. Quem sabe!? Parece haver uma ligação entre «From Silence to Somewhere» e o álbum antecessor, embora tenha novos sons. Musicalmente é uma continuação ou uma evolução? Sentimos que é a evolução natural. Estamos muito felizes de termos sido capazes de moldar o leve, pastoral e melódico som de «Rites at Dawn» com o lado mais introspectivo, agressivo e negro que marcou os primeiros dois álbuns. Parece que conseguimos capturar toda a palete dos Wobbler, trazendo algo de novo à mistura. As letras seguem algum conceito? Tentam investigar as ideias de metamorfose, alquimia, o crescimento individual a um nível psicológico, os mistérios da regeneração e afins. Estas ideias começaram em «Rites at Dawn», que foi lançado apenas um ano após o falecimento da minha mãe, evento que já tinha referido antes. Este período de tristeza pessoal abriu um novo capítulo para mim, quer na forma de tentar compreender a complexidade da vida e os seus vários desafios, quer na forma de ver as oportunidades que a vida oferece. O trabalho gráfico é fantástico! Quem foi responsável pelo conceito e pela forma como a capa se interliga com as letras? Há medida que ia trabalhando com o título da música rapidamente compreendi que estávamos a caminhar por um caminho melancólico, ainda assim, direitos a um local cheio de esperança. Era como as músicas tivessem uma enorme e complexa força emocional e o grafismo teria de reflectir isto mesmo. Ao trabalhar na temática do metamorfismo, alquimia, etc., lembrei-me de uma certa pintura de uma exibição de arte, que vi em

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Quando criamos música, não tentamos emular ou copiar uma qualquer música antiga, limitamo-nos a fazer o que queremos e sentimos 7 6 / VERSUS MAGAZINE


Londres, chamada “Os pré-Rafaelistas”. Retracta uma cena onde um jovem rapaz está deitado na floresta rodeado de corvos e silvas florescentes. Transmite a ideia de um sonho capturado entre a vida e a morte. Esta pintura enquadra-se de uma forma perfeita à música «From Silence to Somewhere» e marca a cadencia para a restante arte do álbum. A imagem da capa é um texto sobre alquimia de 1675, e assenta que nem uma luva na temática e conceito do álbum. Ao longo do caminho, conforme íamos trabalhando com a música e as letras, fui fazendo esboços da parte gráfica e fui discutindo os detalhes e as ideias com o baixista Kristian, que contribui no processo de esculpir toda a parte conceptual das letras. Este é o vosso primeiro trabalho com a Karisma Records. Que esperam deles? Esperamos que a Karisma nos ajude a chegar a mais pessoas, já que os Wobbler são uma banda praticamente desconhecida fora do círculo do progressivo, e a editora irmã, a Apollon, tem vindo a assinar várias bandas norueguesas, bastante interessantes, de progressivo, como os Jordsjø, Tusmørke, Seven Impale, Weserbergland ou uns Arabs in Aspic, para nomear alguns. Parece que o local ideal para se estar, nesta nova Primavera do som progressivo, é a Noruega. Porque é que a banda deixou a Termo Records? Não houve nenhuma razão especial, simplesmente sentimos que era a melhor altura para isso acontecer. Estávamos prontos para novas aventuras, e a Karisma tem uma maior exposição e consegue levar a nossa música a mais pessoas. São comparados com os Yes, ou os King Crimson, no entanto, quanto me lembro, nunca ninguém mencionou os Jethro Tull. Estas bandas influenciaram os Wobbler? Fomos inspirados por várias coisas. Literatura, história, mitologia, diferentes formas de arte, filmes antigos, a natureza norueguesa e claro um grande leque de bandas. Crescemos a ouvir Crimson, Yes, Genesis, Tull, Led Zeppelin, The Doors, Sabbath, PFM, Banco, Shylock, Änglagård, Landberk, Anekdoten, etc. Portanto, sim, fomos inspirados por essas bandas, mas também encontramos inspiração na música barroca, renascentista ou nas bandas modernas. Com apenas quatro álbuns, os Wobbler são considerados a banda principal no panorama das bandas sinfónicas norueguesas. Como vês esta classificação? É um bom reconhecimento do trabalho que investimos, mas não estamos focados nos rótulos que os outros nos atribuem.

Que outras bandas norueguesas vês como igualmente talentosas? O talento vem de várias formas, e diferentes bandas têm diferentes forças. Há os multitalentosos Håkon Oftung, os Jordsjø que são igualmente bons. Tens ainda os Tusmørke numa onda mais groovy, folk e psicadélica. Os Ring Van Moebius são um novo trio na onda dos Vdgg, que também soam bastante promissores. Ouve-os! Achas que um dia serão uma banda tão influente com os Yes ou os King Crimson? Se tudo correr bem os Wobbler irão inspirar outros músicos e outras bandas durante muitos e muitos anos. Mas não acredito que venha a haver uma cena como aquela que se desenrolou nos anos 70. Naquele tempo o progressivo era algo que estava na moda e as bandas, nos seus concertos, enchiam arenas. É pouco provável que essa experiencia se venha a repetir. E, verdade seja dita, não é algo em que pensamos muito. Fazemos tudo para que a nossa música e a arte se seja sólida por si mesma, e que tenha uma durabilidade e uma qualidade intocáveis. Se continuarmos a evoluir sem comprometermos os nossos princípios, acredito que, no final do dia, iríamos ficar satisfeitos e realizados. Muitas das bandas clássicas dos anos 70 “progrediram”, na nossa opinião, para algo bem menos interessante e não continuaram a efectuar obras de arte excepcionais. Creio que se adaptaram demasiado quer a mercado que à evolução da tecnologia, perdendo o objectivo e a inspiração que criaram tantas obras de arte. Tens um projeto paralelo, The Chronicles of Father Robin. De que trata? Salvo o erro, vais lançar uma box set em 2017, correcto? O projecto esteve sempre comigo desde o criei, em 1994… É a história de um personagem e a sua viagem através de um mundo surreal e mitológico. É como as histórias de Ulisses, mas inspirado na literatura de várias mitologias, psicologia e folclore. Já tivemos vários planos para o seu lançamento, mas para já apenas vamos lançar um vinil chamado Twilight Fields. Esperamos lançar a box completa, em 2018. Muito obrigado pelo teu tempo. O prazer foi meu! Facebook Youtube

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Zé Pedro - Crónica do Bom Malandro Por: Nuno Lopes (https://www.facebook.com/hellheavenmetalmusic)

Enquanto me preparava para este texto não sabia (nem sei!) por onde começar. Afinal de contas nunca conheci Zé Pedro, não éramos amigos e, muito menos chegados, no entanto a notícia da sua morte fez-me viajar no tempo e perceber que ele esteve sempre lá. Ao longo de toda a minha vida habituei-me a ver nos Xutos aquilo que era, mesmo que com o passar dos anos essa posição de destaque se tenha desvanecido, no entanto eles estiveram sempre lá. Assim era o Zé Pedro! Não me recordo de ver o Zé Pedro das drogas e dos abusos, não recordo o Zé Pedro enfraquecido pela vida. O que queremos recordar do Zé Pedro é aquele sorriso, aquela certa forma de estar de quem é Punk. Olhar para Zé Pedro era ver a tempestade escondida no sorriso de um adolescente. É isso, aliado a toda uma imagem aliciante, fez de Zé Pedro o ícone que (talvez nunca o que quis ser). Ver o desaparecimento de Zé Pedro é ver desaparecer uma parte dos meus 36 anos e perceber a luta e que a canção sempre foi uma arma e a guitarra a sua voz. Seja poser, seja inocente, seja aquilo que for mas, não se pode negar nunca que Zé Pedro foi, é, de facto o «Homem do Leme» que ficará «Para Sempre» numa qualquer «Manhã Submersa». Zé Pedro não morreu. Quis o destino que as suas cerimónias fossem no dia da Independência. Estranha coincidência.

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ALBUM VERSUS

«Nebula Septem»

(LADLO Productions)

Nada supera a mística universal do número 7. Sete são os dias da semana e as cores do arco-íris. Sete são os dias da criação do Genésis e sete são os pecados capitais. Sete é o numero mágico do Apocalipse e sete são as portas do inferno Islâmico. Sete são os mares e sete são os céus... O 7º registo de originais dos doomsters Monolithe contém 7 temas, cada um dos quais composto no tom de uma das 7 notas da escala diatónica, tendo exactamente 7 minutos de duração e títulos que se iniciam com as primeiras 7 letras do alfabeto. Curiosidades numerológicas à parte, este é, musicalmente, o disco que vê a banda parisiense expandir os seus horizontes sónicos muito para além daquilo que já fez em «Epsilon Aurigae» e «Zeta Reticuli». Se os três primeiros temas do alinhamento ainda conservam aquela toada trágica e pungente do doom sombrio e esmagador (“Coil shaped volutions” é aqui o caso mais paradigmático), os quatro seguintes já exploram um vocabulário sónico inédito até agora: elementos electrónicos, contornos progressivos, orquestrações subtis, mais linhas melódicas de guitarra e composições genericamente menos depressivas. Tudo isto, claro, sem desvirtuar a atmosfera doom, mas conferindo à música um carácter francamente mais aventureiro. Gravado com um septeto de músicos (mais um apelo ao simbolismo transcendente do número 7), onde se inclui um novo e convincente front man de nome Sébastien Pierre bem como um terceiro guitarrista, Rémi Brochard, «Nebula Septem» é possivelmente o trabalho mais acessível até agora do colectivo, mas representa acima de tudo um dos momentos mais geniais da banda gaulesa.

[9/10] Ernesto Martins

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CRITICA VERSUS

B U TC H E R BABIES

C A L IG U L A’S H O R S E

C A N N IB A L C O R P SE

«Lilith» (Century Media)

«In Contact» (InsideOut Music)

«Red Before Black» (Metal Blade Records)

Daqui a 100 anos, quando se fizer uma história detalhada do heavy metal e seus subgéneros, os capítulos que quase todos os leitores saltarão dirão respeito ao nu-metal e ao metalcore. Não porque estes estilos sejam maus per se – não é o caso, certamente – mas porque, contas feitas por alto, é perfeitamente argumentável que o rácio entre as propostas interessantes e as absolutamente dispensáveis seja demasiado desequilibrado para o lado destas últimas, mais do que em qualquer outro estilo do espectro metálico. Nesta balança, os (ou “as”, visto terem duas frontwomen) Butcher Babies estão mais ou menos a meio: não são do melhor que veio do nu-metal e do metalcore (a banda cruza os dois) mas também não serão do piorzinho. Em particular, Heidi e Carla, as vocalistas, conseguem introduzir alguma dinâmica ao alternarem registos melódicos e agressivos – sim, isto é o bê-á-bá do nu-metal, mas façamos de conta que não há milhões de bandas com o mesmo esquema – e as faixas, mesmo seguindo os clichés do estilo (onde se nota clara influência de Slipknot, Linkin Park, etc.), conseguem aqui e ali captar a atenção do ouvinte, como por exemplo em “POMONA (Shit Happens)”. «Lilith» é já o terceiro longa-duração dos/ das Butcher Babies, o que significa não serem um acontecimento efémero. Aposta da Century Media, justificam pelo menos que os admiradores destas sonoridades (porque também os há!) lhes prestem umas escutadelas. [6/10] HELDER MENDES

As três primeiras faixas deste disco chegam para prender de imediato a atenção de qualquer apreciador de Haken, Threshold ou mesmo Leprous. Estamos a falar, portanto, de metal progressivo, de composição inteligente, animada, rica em texturas e ganchos orelhudos, e aqueles detalhes técnicos deslumbrantes que revelam desde logo a presença de músicos de excepção. «In Contact» tem de facto um início invulgarmente cativante e consegue-o com os temas mais pesados alguma vez assinados pelo colectivo australiano: o brilhante “Dream the dead”, “Will’s song (let the colours run)”, o primeiro single a ser divulgado, e “The hands are the hardest”, um verdadeiro rádio hit. A partir daqui o disco perde alguma da força inicial. As faixas seguintes ou incluem mais elementos de rock alternativo ou são mais acústicas, e soam menos apelativas. No entanto continuam a evidenciar um aspecto chave deste trabalho: os dotes do vocalista Jim Grey, que seduz não só pela extraordinária gama tonal do seu registo, como pela expressividade e paixão com que interpreta a elevada carga emocional das letras. Volvidos estes temas, e passado também o monólogo spoken word irritante de “Inertia and the weapon of the wall”, o álbum recupera o drive do início, terminando em grande com o eloquente “Graves”, que encapsula em 15´ o melhor dos Caligula’s Horse, contando até com o sax de Jorgen Munkebi (who else!...) em alguns apontamentos. «In Contact» inclui tudo o que um fã de prog mais acessível e imediatista pode desejar, sendo também disco para repetir com facilidade o sucesso comercial que a banda alcançou com o trabalho anterior, «Bloom». [9/10] ERNESTO MARTINS

Dos Cannibal Corpse tudo se pode esperar e, nos últimos discos fomos sendo surpreendidos com a forma como os norte-americanos sabem «adocicar» o seu Death Metal. A seu favor os Cannibal Corpse tem a experiência e, claro, o enorme culto existente há sua volta. «Red Before Black» é, como tal um disco como só estes canibais conseguem. Sem qualquer espaço de manobra Corpsegrinder atinge o nosso corpo de forma copacta e somos empurrados para um autêntico mural de destruição. ao nível técnico a banda continua a ser uma máquina de destruição massiva, não falamos apenas da secção rítmica mas, talvez mais em destaque a prestação das guitarras de Rob Barrett e Pat O’Brien . Podemos mesmo dizer que os Cannibal Corpse encontraram um caminho em que conseguem misturar, de forma eximia, a sua mestria e a sua violência. Este é um disco que não defraudará os seguidores da banda. Destacando temas, podemos falar em «Code of the Slashers» ou «Corpus Delicti». Os Cannibal corpse colocam em «Red Before Black» toda a carne no assadouro. [8/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

CH E LS E A WOLFE

DIABL O S W IN G O R C H E S T R A

«Hiss Spun» (Sargent House)

«Pascifisticuffs» ((Candlelight/Spinefarm))

Chelsea Wolfe é uma daquelas artistas tão talentosas quanto versáteis. A sua carreira incliu álbuns com sonoridades dark-folk a álbuns progressivos e até mesmo electrónicos. Pode-se dizer que Chelsea já fez de tudo um pouco. Com o seu novo álbum “Hiss Spun”, a compositora abraça o sludge/doom metal de tal bela forma que nos parece que todo o propósito dos acima mencionados foi trazêla a este ponto e a este álbum. É importante notar os seus companheiros nesta aventura: Ben Chisholm, o multi-instrumentalista já veterano por estas andanças, e a estreia do produtor Kurt Ballou. O primeiro tema, “Spun”, começa com uma toada lenta e hipnótica em que a bela voz de Chelsea apimenta os pesados riffs. Uma excelente introdução! “16 Psyche” tem um daqueles inícios dramáticos focados na bela voz da compositora sendo que mais tarde as guitarras adicionam a sua muralha sonora. Nota-se que as faixas são melódicas, com uma sábia exploração do som das guitarras. “Vex”, “Particle Flux” e “The Culling” exploram batidas electrónicas sendo que o último se reveste de guitarras a conferir o peso característico deste álbum. “Twin Fawn” e “The Offering” são duas belas músicas em que Chelsea explora terrenos mais calmos e melódicos. “Welt” é um tema curto com Chelsea a solo com um belo piano precedido de uma imensa massa de ruído sonoro. “Static Hum” tem daquelas melodias pesadas, arrastadas que enriquecidas com a bela voz de Chelsea, nos viciam de maneira tal que não conseguimos de ouvir este tema. “Two Spirit” consiste na voz da talentosa compositora com uma bela guitarra acústica enquanto que “Scrape”, a última faixa do álbum, tem uma batida viciante. Em conclusão, “Hiss Spun” é um excelente disco com Chelsea Wolfe uma vez mais a provar que domina a arte de compor, seja em que género for. [9/10] EDUARDO ROCHA

Esta é a banda que podia ter singrado em qualquer um dos géneros musicais existentes. Pelo que, o facto de terem abraçado o mundo do Metal, faz de nós todos uns sortudos! Diablo Swing Orchestra é talvez a banda mais eclética e completa do mundo do Metal, e, é o que acontece quando se juntam vários músicos de qualidade numa banda. «Pascifisticuffs» é o digno sucessor do «Pandora’s Piñata» de 2012 (5 anos já!), uma continuação no mesmo estilo avangardista com novas músicas repletas de textura musical – aqui é onde reside a mais-valia desta banda – perfeitamente entrelaçadas, como estes Suecos já nos habituaram. O ritmo é de festa com uma forte presença do trompete e aqui e ali do violoncelo. Este som que mistura Metal e Rock com uma onda de Jazz e clássico, tudo amarrado com uma veia progressiva não será do gosto de todos, especialmente dos Metaleiros mais agarrados ao som pesado. Depois de ouvir «Pascifisticuffs», ficamos com um sentimento de leveza e boa disposição, e prontos para regressar à “guerra” de outros ambientes mais fortes. Todas as músicas alinham pelo mesmo diapasão, tornando este trabalho bastante coerente e singular, num álbum bem conseguido e que poderá ser do agrado de todos desde que a mente esteja aberta, em especial para o trompete que me faz sempre lembrar os mariachi mexicanos – não sei porquê. A única crítica que faço é ao facto de poder ser mais metal do que o é, mas se calhar isto sou eu a puxar a brasa à minha sardinha. Uma coisa é certa, banda mais original e bem-disposta, não vão encontrar. [8.5/10] CARLOS FILIPE

E L U V E ITIE «Evocation II - Pantheon» (Nuclear Blast) O maior elogio que se pode fazer aos suícos Eluveitie e ao seu líder Chrigel Glanzmann é que, independentemente das mudanças de formação os Eluveitie se mantém fieis à sua sonoridade e conseguem, ao mesmo tempo lançar discos coesos e que vão marcando a sua carreira. No caso de «Evocation II Pantheon», o sétimo registo longa-duração, os Eluveitie voltam a «agarrar» no conceito «Evocation», iniciado em 2009 e aproveitam para mostrar os novos elementos da sua formação onde, infelizmente, já não consta Anna Murphy. é certo que não vem nenhum mal ao mundo por isso. Sendo, principalmente um registo midtempo, os suíços envolvem-nos na sua Folk e Celta, enquanto percorremos os verdejantes, ou nem tanto, Alpes suíços. Sendo um disco bem equilibrado e com alguns momentos interessantes, falta algum peso, mas isso dependerá sempre do gosto de cada um. O que é certo é que os Eluveitie continuam a ser uma das melhores bandas de Folk Metal e este é um disco que em nada mancha o seu trajecto mas que também não traz nada de novo. [7/10] NUNO LOPES

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CRITICA VERSUS

E N D OF G R EEN «Void Estate» (Napalm Records) Quatro anos após The Painstream os germânicos End of Green estão de regresso com «The Void Estate» e, como seria de esperar Michele Darkness e os seus comparsas não desiludem. Condenados a ser uma banda de culto e uma das mais acarinhadas dentro do espectro Doom/ Gótico, os End of Green surpreendem neste novo registo por uma mudança de sonoridade que vem trazer uma outra alma à banda. Este é um registo que começa com um «Send In The Clowns», um tema que nos remete para o legado deixado por Bowie e que abre o livro para um disco cuja simplicidade se reveste de intensidade. Como sempre os End of Green atravessam terrenos negros e passeiam vultos negros por entre as vielas da dor e do tormento. Quando comparado com os registos anteriores podemos dizer que a banda tirou o pé do acelarador e criar um disco mais intimista e mais centrado no «eu» de Darkness. «The Door» é um dos grandes momentos do disco, como assim o é «Head Down» ou «Crossroads». Quem já conhece os End of Green pode aqui ver uma agradavél supresa, porém, será maior para quem esbarrar num disco intenso, subtil e cosmopolita. Este disco vem, somente, mostrar que os germânicos estão mais maduros e adultos. «The Void Estate» é um disco que faz da dor e da angústia algo estranhamente belo. [8/10] NUNO LOPES

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E P IC A

F O R T H E G L O RY

«The Solace System» (Nuclear Blast)

«Now and Forever»

A cada novo disco os holandeses Epica vão cimentando a sua posição no Power Metal Sinfónico, apesar de muitas vezes se encontrar com algum Death Melódico. Ao que parece a banda não é capaz de fazer maus discos e parece encontrar a cada disco novos motivos para que nos interessemos por eles. «The Solace System» não é excepção e acaba por ser um disco que nos obriga a um exercicio de contenção, isto porque estamos a falar de um disco de meia dúzia de faixas e que são consumidas de forma rápida e não se esgotando nas primeiras audições. Dizer que Simone Simmons é uma vocalista de excelência é dizer pouco de uma das vozes mais versáteis saídas da «escola holandesa», talvez por isso mesmo, o destaque deste registo vá para a forma como Coen Janssen enche os temas com os seus arranjos, transformando malhas como «Fight Your Demons» ou «Wheel of Destiny» em autênticos hinos. Também de destacar a forma como a banda encaixa de forma tremenda as vozes limpas de Simone com as mais ásperas dos restantes elementos. Neste EP os Épica sobem a fasquia para o que aí vem. [7/10] NUNO LOPES

A banda Portuguesa de Hardcore volta a lançar novo álbum de originais, que foi composto segundo os mesmos “com muita motivação”. Embora um álbum deste género musical nunca seja monótono (músicas enérgicas são um denominador comum, senão mesmo essencial ao mesmo), a verdade é que subjacente a toda a intensidade que apresentam neste trabalho, paira de facto como que uma aura da referida motivação. Um sentimento quase palpável ao longo de todo o álbum, que muito contribui para que a sua audição seja contagiante. Acredito que mesmo quem não seja um grande apreciador de Hardcore, tal como eu, não consegue ficar indiferente. De tal forma que considero mesmo que, se este «Now and Forever» for tocado na íntegra ao vivo, daria sem dúvida origem a um grande concerto. É interessante ver que ao longo das músicas foram introduzidos alguns elementos com clara influência de outros estilos de metal, principalmente ao nível das guitarras, mas de uma forma harmoniosa sem que o fio condutor do estilo que os define se perca, não se tornando assim objectos estranhos na estética das músicas. Por esta razão temos um álbum mais diversificado do que se poderia estar (erradamente) à espera. Embora pessoalmente gostasse de ver a banda a arriscar mais, a verdade é que aquando da audição destas músicas, a sua potência e velocidade arrasta-nos sem piedade para o seu próprio universo, onde somos contagiados com a sua energia, e não sentimos vontade de a contrariar. Antes pelo contrário. Diria mesmo que para quem não ouviu Hardcore, «Now and Forever» é uma excelente boa forma de se iniciar nestas andanças. [7/10] IVO BRONCAS

(Rastilho Records)


CRITICA VERSUS

IM PERIOUS

LENTO

«Tales of Woe - The Journey of Odysseus, Part I:

«Fourth»

From Ilion to Hades»

(ConSouling Sounds/Viral Propaganda)

«Tales of Woe - The Journey of Odysseus, Part II: From Hades to Ithaca»

(Massacre Records) Dois discos previamente publicados de forma independente, em 2015 e 2016, vêm agora a mais que merecida exposição alargada através desta reedição. «Tales of Woe» pretende traduzir musicalmente uma das mais emblemáticas obras literárias de todos os tempos: a Odisseia, de Homero, uma tarefa hercúlea que consumiu três anos de intensa labuta aos germânico Imperious, culminando num trabalho ambicioso de proporções quase tão épicas quanto as do clássico intemporal em que se baseia. Ao todo são duas horas de música de raiz black/death Metal com uma grande variedade de outros elementos estéticos e sónicos à mistura: arranjos orquestrais, temas acústicos, segmentos progressivos, muita melodia, vozes limpas e partes declamadas. As letras são bastante detalhadas e directas, transmitindo bem todo o dramatismo de cada episódio da saga. A parte I começa com a chegada do herói Ulisses à terra dos comedores de lótus, tornando-se particularmente apelativa, do ponto de vista musical, a partir do mutifacetado “A sharpened pale” (que refere o ataque ao ciclope Polifemus), à qual se segue “Insidious winds”, igualmente cheia de motivos interessantes, como as muitas vocalizações estilo power Metal, que emergem do seu meio-tempo pesadão. Outro tema fantástico é “Where cimmerian darkness dwells”, que fecha este primeiro acto num tom adequadamente épico. Na segunda parte, a música não é tão extrema e parece ter resultado um pouco melhor. Depois do apoteótico instrumental de abertura, “Of casualties (and the further way)”, a narrativa recomeça no episódio das hárpias com “Sirens”, um número tranquilo, algo melancólico, interpretado pela convidada Nadine Badewitz, que culmina num galvanizante solo de guitarra. Num trabalho como este, com várias faixas de duração bem acima dos 10’, a repetição de estruturas rítmicas pode facilmente tornar-se enfadonha. Mas não é o caso dos Imperious, que usam aqui o efeito da repetição como artifício de reforço da carga dramática da narrativa, aspecto que é particularmente evidente em “The isle of the solar god”. “Bloodbound – The bow of Odysseus” é outro tema prodigioso a destacar, com muito para oferecer em termos de musicalidade, relatando de forma quase teatral a chegada de Ulisses a Ítaca, o torneio de arco-e-flecha em que revela a sua identidade, e a chacina final dos pretendentes à alcova de Penélope. “At the olive tree” é o grand finale que um trabalho desta envergadura merece, uma peça marcada pelo soberbo piano do convidado Frank Schulze cujas notas se articulam da melhor maneira com os versos declamados por Martin Sollik. Não é a primeira vez que uma obra de Homero encontra lugar no Metal. Em 1992 os Manowar apresentaram a sua própria leitura da Ilíada no extenso “Achilles, agony and ecstasy in eight parts”, incluído no álbum «The Trumph of Steel», e em 2002 os Symphony X lançaram o álbum «Odyssey» cuja faixa titulo de 24’ conta exactamente a incontornável saga do herói grego, Ulisses. Com «Tales of Woe» os Imperious oferecem não só o primeiro tratamento da Odisseia num contexto sónico mais extremo, como fazem a devida justiça ao épico de Homero com um trabalho de grande dimensão, escrupulosamente trabalhado tanto na vertente lírica como na componente musical e até na escolha da arte das capas. PARTE I: [7.5/10]; PARTE II: [8.5/10] ERNESTO MARTINS

Formados em 2004, os italianos Lento têm vindo a apurar um estilo muito característico de metal instrumental que alcança, neste quarto álbum, um estado de notável maturidade. «Fourth» é avassalador e introspectivo em partes iguais, uma obra que transporta o ouvinte numa viagem sinuosa, que ora atravessa passagens opressivas e tortuosas, pautadas por riffs sludge massivos de distorção saturada, ora se detém em paisagens atmosféricas tranquilamente hipnóticas. A banda foi já – injustamente – equiparada aos Pelican, mas a música destes norte-americanos não contém nem metade da negritude e da ambiência inquietante que permeia a música dos Lento. Apesar de se tratar de um disco instrumental, e de ser, além disso, minimalista nos recursos técnicos e estéticos que utiliza – a banda usa apenas baixo, bateria, guitarras (sem solos!) e raros teclados – «Fourth» revela-se uma experiência auditiva permanentemente estimulante e fluente. O atroador “A penchant for persistency” cativa desde logo pelo dinamismo e pela composição fora-dacaixa. “Some disinterested pleasures” soa familiar mas, ao mesmo tempo, excitante de novidade por causa das repetidas mudanças de tempo. “Cowardly compromise” esmaga como um cilindro compressor ao passo que o fantasmagórico “Undisplaceable or a hostile levity” e o reflexivo “Let bygones be bygones”evocam não só dimensões misteriosas, como atestam do talento sonicamente abrangente deste quinteto de Roma. E há muito mais a descobrir nas restantes faixas de «Fourth». Fica a proposta, especialmente dirigida aos fãs do formato instrumental na sua vertente mais extrema. [9/10] ERNESTO MARTINS

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CRITICA VERSUS

MONA R CH

MORK

«Never Forever» (Profound Lore Records)

«Eremittens dal» (Peaceville Records)

Alerta: Se não gostam de Doom ou de baixas frequências, então este disco não é para vocês. Afastem-se. Não se deixem levar pelo Sludge que a banda evoca. O que temos neste disco é algo mais próximo do Doom mais clássico com paisagens Drone, tal a densidade destas (...) malhas que compõem este registo. Ao longo dos temas os franceses conseguem envolver o ouvinte num qualquer espaço temporal, feito de camadas cinza e negro e carregadas com o peso do vermelho sangue. Ao nível de voz o balanço entre as vocalizações grunhidas, por vezes limpas, de Eurogirl acaba por resultar e, em alguns momentos lembramos a experiência Cult of Luna com Julee Christeen. com extremo bom gosto mas, talvez, com faixas demasiado longas, esté é um disco cuja audição deve ser escolhida a preceito, pois momentos há em que ficamos submersos na trilha sonora. Um disco ocasional, apesar de ser profundo como a noite. [6.5/10] NUNO LOPES

A estirpe do black metal continua bem coagulada na frieza do sangue norueguês. A par da sepulcral hemoglobina de bandas como Gorgoroth ou Carpathian Forest, surgem os Mork, varrendo, com o seu terceiro registo de longa duração, o atual contexto do “necro” metal com uma devastadora nortada de velha guarda. “Eremittens dal” (Vale do Eremita) sugere apropriadamente o espírito desta esquálida fermentação, estagiada em jazigo familiar a álbums como “Under a Funeral Moon”, “Dark Medieval Times” ou “Pure Holocaust”. Ao anúncio de “Hedningens Spisse Brodder”, sentimos “aquele” feedback de causar frieiras, tão caraterístico do saudoso “A Blaze in the Northern Sky”, seguindo o resto do trabalho na mesma veia, a par da primitividade de uns Katharsis. Mork articulam o contemplativo midtempo de “Gravøl” com a ira sôfrega de “Holdere av Fortet”. Em “Et Rike i Nord” é introduzido um desajustado som de flauta, que desnecessariamente subtrai ambiente ao gélido conforto conjurado, mas “Mørkets Alter” consegue voltar a arrepiar a temperatura até aos graus negativos. Ao registo é acrescentada a contribuição vocal de Silenoz (Dimmu Borgir) em duas faixas, bem como a prestação de Seidemann (1349) no baixo. A capa do álbum encontrou-se a cargo de Jannicke Wiese-Hansen, notável pelo artwork de trabalhos idos de Burzum e Satyricon. Um petrificante tributo à resistência underground. [8,5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

8 6 / VERSUS MAGAZINE

NE M E C IC «The Deathcantation» (Inverse Records) «The Deathcantation» é o primeiro registo para os finlandeses Nemecic, porén, isto não quer dizer que sejam uns novatos no meio. Isto porque entre 2005/2008 a banda criou burburinho, na altura os Nemecic eram os Crossfire. Mas isso são outras vidas e o presente é «The Deathcantation» e é uma surpresa. Ao longo das 10 composições do disco a banda cria composições com groove suficiente e peso qb para nos manter o ouvinte interessado. Em alguns momentos podemos encontrar algumas semelhanças com os «nossos» The Temple. «Smoke Electric» ou «Mercury Vortex Ritual» são as primeiras de um disco que enche as medidas de qualquer apreciador de um bom Thrash/Death Metal. Percebe-se que «The Deathcantion» foi um disco feito com tempo e onde a banda soube ficar confortável nos temas, talvez por isso mesmo, este seja um excelente disco de estreia. Uma banda a ter em conta no futuro. [7/10] NUNO LOPES


CRITICA VERSUS

PHIL I P H AN SE L M O T H E ILLEG A LS «Choosing Mental Illness as a Virtue» (Season of Mist) Phil Anselmo dispensa qualquer tipo de apresentações! Desde a impressionante carreira com Pantera, passando por todos os projectos posteriores tais como Down, Phil sempre foi dos vocalistas mais activos e versáteis da nossa bem amada cena! Desta feita, este multi-facetado músico apresenta-nos o novo álbum do seu projecto “Phil Anselmo and the Illegals” intitulado de “Choosing Metal Illness As a Virtue”. E este é de facto um álbum brutal, rápido com um som bastante cru e sujo: uma receita daquelas bem apetitosas! Importante mencionar os companheiros de Phil: Mike DeLeon e Stephen “Schteve” Taylor nas guitarras, Jose “Blue” Gonzales na bateria e Walter Howard no baixo. “Little Fucking Heroes”, o primeiro tema do álbum, mostra ao que vimos: temas rápidos, recheados de blastbeats e com vozes bastante brutais. “Utopian” começa com um riff bastante melódico, daqueles quase clássicos, e imediatamente se transforma em mais um brutal tema. O resto do álbum segue esta toada brutal e frenética sendo que alguns, tais como o tema-título, demonstram o lado mais “groove” da banda. “Individual” é mais exemplo de um início rápido com um riff cheio de groove que ilustra bem como a banda sabe acrescentar peso a temas já por si brutais! “The Ignorant Point” é um tema interessante em que a banda explora alguns tons mais progressivos. “Mixed Lunatic Results”, a última e a mais longa faixa do álbum, vê a banda explorar dois registros: o mais brutal e condizente com o restante álbum e um final bastante mais experimental. Um excelente álbum mas que beneficiaria de mais alguma diversidade [7/10] EDUARDO ROCHA

S IN IS T R O

SORCERER

«Sangue Cássia» (Season of Mist )

«The Crowning Of The Fire King» (Metal Blade)

A voz anuncia: “Guardo abismos. Guardo caos.” Um convite à brandura da cicuta, à clandestinidade no sangue. Cimento noturno a cavalgar intermitente nas artérias, conjurando visões escoriadas em grafite. Season of Mist Sinistro regressam com um registo de espinhosa sensualidade, marcado pelo magnetismo crepuscular das guitarras a toldar o alvo protagonismo das vocais de Patrícia Andrade. Embora estas atinjam novos patamares de sublimidade (“Cravo Carne”), é o caráter de nebulosa nostalgia e cavernosa penitência patente na variedade dos riffs, que faz soar a “voz” do segundo registo de longa duração da banda. As cordas respiram singularidade entre a efusiva decadência indie rock de “Vento Sul” e a sensual languidez do Peaceville doom de uns My Dying Bride e Paradise Lost, em “Cosmos Controle” ou “Abismo”. É, porém, em “Gardenia” e sobretudo “Cravo Carne” que o álbum ganha apetite, com a sexual fugacidade das vocais a incitar a persecução predatória de tenebrosos riffs. A poética do conjunto continua miserável, latejante e incontornável com o espírito português derramado no amargor que macula o canto. Destaca-se também a titilante inocência das teclas, dispersas e auspiciosas, a enfatizar a textura cinemática das composições. Em “Sangue Cássia” “morre o fado que te quero contar” embrulhado no emaciado abandono desta lounge music para velórios. [9/10] FREDERICO FIGUEIREDO

O percurso lacónico dos Sorcerer que se iniciou no final da década de 80, passa a estar devidamente preenchido com o lançamento deste segundo longa duração de originais. Depois do aclamado «In The Shadow Of The Inverted Cross», editado em 2015, chega agora aos escaparates este colosso de epic doom. Neste disco os Sorcerer continuam fiéis ao que de mais tradicional o heavy metal e o doom metal podem ter. Adaptam-se, e muito bem, ao tempo em que estamos contando com uma produção e sonoridade que soam bastante modernas e muito bem limadas. Todos os elementos musicais presentes estão num grau de equilíbrio ideal dando todo o sentido e força ao rótulo epic doom que aos Sorcerer já surge “colado”. Contudo, o que de mais refrescante se ouve neste trabalho é a sensibilidade das melodias que nos podem transportar para momentos de rock quase FM, chamemos-lhe assim. Os refrões de “Ship Of Doom” ou “Abondoned By The Gods” serão bons exemplos disso. Mas, é importante que fique bem claro que estes trechos estão perfeitamente ligados e enquadrados com a totalidade da extensão dos diferentes temas. Sendo que o álbum segue todo uma mesma linha, muito bem vincada, esta sensibilidade melódica acaba por criar uma dinâmica muito interessante entre os riffs pesadões e arrastados, e os ambientes mais soturnos que aqui também se vislumbram. Já na fase final do disco, o tema título é um dos melhores exemplos da excelente forma e estado de criatividade do colectivo. «The Crowning Of The Fire King» é de facto épico em todas as suas dimensões: música, imaginário lírico e gráfico. [8/10] EMANUEL RORIZ

87 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

TA A K E

T H E B O D Y & F U L L O F HELL

«Black Phlegm» (Zanjeer Zani Productions)

«Kong Vinter» (Dark Essence Records)

«Ascending a Mountain of Heavy Light»

Houve um período no qual a França era, na Europa, uma espécie de “parente pobre” no que ao metal e seus subgéneros dizia respeito. Desde os anos 80 e 90 do passado século que nos habituámos, regra geral, a que as grandes bandas do estilo viessem de Inglaterra, da Alemanha, dos países nórdicos. A França, pese a sua importância cultural no continente europeu, estava numa espécie de Europa a duas velocidades, e a velocidade francesa era inconfundivelmente lenta. Esta situação, porém, começou a mudar há alguns anos e hoje o país tem um conjunto bastante respeitável de colectivos com qualidade indiscutível em praticamente todo o espectro do som mais pesado, mas sobretudo, há que dizê-lo, no black metal. Ora, é precisamente do país de Voltaire que nos chegam os Soyuz Bear, apresentando um sludge doom cantado (ou melhor, urrado) em inglês. «Black Phlegm» é o disco de estreia e, longe de ser notável, é pelo menos merecedor de atenção. Composto por seis temas de onde sobressaem “Human Vanity”, “Scrub” e “Swollen”, estes franceses é certo que não vêm reinventar a roda, mas não se saem mal. Talvez uma produção mais “cheia” pudesse ajudar o todo, além de se notar que os riffs tendem a não sair do básico; de qualquer forma, se o escarro dos Soyuz Bear é negro (pá, uma banda que intitula o seu disco de «Black Phlegm» está a pedir destas palavras!) não é por isso que deixa de ser interessante [7/10] HELDER MENDES

A banda do muti-instrumentista Hoest é já sobejamente conhecida pelo seu black metal de segunda geração pontuado por elementos experimentais de rock e heavy tradicional – uma mescla que o músico norueguês aprimorou no álbum de 2014, «Stridens Hus», e que agora, neste sétimo registo de originais, alarga os seus horizontes até aos domínios do rock progressivo. Sim, leram bem: progressivo! Um progressivo directo e minimalista, sem dúvida, mas ainda assim inusitado nestes meandros sónicos algo conservadores. O resultado é um conjunto de composições pautadas por longos segmentos instrumentais cheios de malhas contagiantes e mudanças de tempo que, por vezes, lembram vagamente os saudosos Ophthalamia. “Inntrenger”, “Huset i havet”, “Havet i huset” e o instrumental de dez minutos “Fra bjoergegrend mot glemselen” incorporam estas características da forma mais criativa. A sonoridade, feita de guitarras sujas e crispadas, conserva a assinatura estridente típica dos Taake, mas o disco é genericamente mais mid-paced, revertendo para o black metal rápido de linha dura de álbuns anteriores apenas nas faixas “Jernhaand” e “Sverdets vei”. O carácter invulgarmente animado de algumas melodias contrasta com a crueza da sonoridade old-school e constitui um aspecto sui generis deste disco que pode soar deslocado num primeiro contacto. Mas rapidamente se entranha. «Kong Vinter» está longe de ser um disco sem falhas, mas ilustra definitivamente uma ideia base eficaz que transporta para o seio do black metal de cariz mais retro uma abordagem refrescante. Por esse motivo merece toda a atenção. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

A segunda colaboração entre as bandas The Body e Full of Hell manifesta-se num vórtice onde as categorizações musicais se desintegram numa derrocada euclidiana. Falamos de uma combustão motinada de géneros com o seu ADN promiscuido, qual bizarra experiência cronenbergiana de teletransporte, resultando em macabras e extremas reconfigurações. O sludge experimental dos The Body é incrementado pela aspereza do deathgrind dos Full of Hell, processados numa síntese de estilos de música eletrónica nas suas facetas mais rudes e minimalistas. Esta xamânica descoordenação dos sentidos precipitanos para o transe num registo de ofegante imersividade. As influências fundem-se numa alquimia que nos remete para a ira vitriólica dos Nine Inch Nails em “Earth is a Cage”; para uns Prodigy, em modo valium, no “The King Laid Bare”; ou mesmo para a marcialidade dançável dos Skinny Puppy em “Master’s Story”. Esta movediça e mercurial transmutação estende-se igualmente por roupagens de witch house (“Didn’t the Night End”), pela devastação drone a la Nadja em “I Did Not Want to Love You So”, passando também por um escamoso harsh noise a lembrar Pharmakon (“Our Love Conducted with Shield Aloft”), ou mesmo na síntese essencial de grind e sludge em “Farewell, Man”. Contamos, ainda, com a impetuosa agilidade da bateria de Brian Chippendale dos Lightning Bolt, notável sobretudo pelo seu registo de hiperventilada síncope; como também com a imolação vocal de Chrissy Wolpert (Assembly of Light Choir). Uma excêntrica reinvenção da extremidade musical em escatológica fosforescência criativa. [9/10] FREDERICO FIGUEIREDO

S O Y U Z B EAR

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(Thrill Jockey)


CRITICA VERSUS

VU U R

WIT C H E RY

«In This Moment We Are Free - Cities»

«I Am Legion» (Century Media Records)

«Requiems and Nocturnes» (Century Media Records)

Já lá vão 20 anos desde que os Witchery se formaram. Por esses dias estes ajuntamentos de músicos eram vistos como uma forma de se «desligarem» dos seus projectos musicais. Na carreira dos suecos isso acabou por ter alguns efeitos colaterais, se por um lado a banda foi abraçada e tornou-se numa banda de culto, com discos como «Dead, Hot & Ready» ou «Symphony for the Devil», por outro veio trazer algumas dificuldades ao nível da formação e de uma constância de lançamentos. É por isso, com enorme surpresa e satisfação que se recebe este novo «I Am Legion», que surge um ano após «In His Infernal Majesty’s Service» e que nos traz uma banda apostada em recuperar o tempo perdido. «I am Legion» é um disco lançado em 2017 com as directrizes de sempre do Black/ Thrash Metal. «True North» é um autêntico hino e, acaba por ser o incio de uma bela audição, que tem em «Dry Bones», «Of Blackened Wing» outros momentos de especial relevo. Esse facto talvez se deva ao facto de a banda ter trabalhado com a mesma equipa e, talvez por isso mesmo, este disco ser mais coeso e trabalhado, destaca-se ainda, a preença de Nick Barker, Hank Shermman e Mike Wead que abrilhantam, ainda mais o disco. Se há duas décadas os Witchery eram um supergrupo, hoje os Witchery são uma banda «a sério» e merecem o devido respeito e vénia. [8/10] NUNO LOPES

Por muito que se tente disfarçar existem diferenças entre o Rock Progressivo que se faz deste lado do Atlântico e o que se faz nas terras do Tio Sam e isso fica uma vez mais visível no disco de estreia do supergrupo Witherfall, que conta nas suas fileiras com membros que já passaram pelos Circle II Circle ou Iced Earth para dizer apenas alguns dos nomes. Em termos sonoros este disco aproximase muito daquilo que as bandas citadas já fizeram e os Witherfall ficam no limbo em que tanto se aproximam do Progressivo como do Power Metal mais convencional. Por aqui encontramos peso, melodia e uma interessante versatilidade que vem conferir a este registo uma diversidade que se saúda. Em 8 malhas os músicos emprestam o seu talento em faixas que, apesar de extensas, trazem ganchos e momentos de puro virtuosismo, como se pode escutar em «Portrait», «What We are Dying For» ou «Nobody Sleeps Here». Como se tal não bastasse e sendo este um registo de parto difícil «Nocturnes and Requiems» foi o último registo de Adam Sagan, que faleceu na fase final de produção, sendo este o seu trabalho final e onde podemos escutar o seu infindavel talento. A banda dedica o disco a ele. Nós agradecemos que a banda tenha lançado o disco e, sobretudo esperamos que os Witherfall não se deixem abater, pois Sagan não merece. [7.5/10] NUNO LOPES

(InsideOut Music) O filósofo holandês luso-descendente Baruch Espinosa terminava a sua magnum opus, Ética, afirmando que “todas as coisas excelentes são tão difíceis quanto raras”. Esta frase assenta como uma luva à também neerlandesa Anneke Van Giersbergen, uma das mais notáveis vocalistas do espectro hard n’heavy (diríamos mesmo A mais notável, mas não vamos abrir polémicas escusadas). O trabalho de Anneke nos The Gathering foi uma dessas coisas excelentes e, provavelmente, irrepetíveis: o resto da carreira da vocalista tem sido desigual, quer a solo quer em colaborações, lugar onde talvez ainda assim mais se tenha aproximado em termos qualitativos daquilo que fez na banda dos irmãos Rutten – referimo-nos, evidentemente, à sua participação nos álbuns de Ayreon e, sobretudo, nos do génio louco Devin Townsend, que a obrigou a explorar outros terrenos (e não, não esquecemos “In Deference” dos Napalm Death). Ora, com estes VUUR, Anneke recupera em boa hora um registo mais pesado que se vinha ausentando da sua experiência a solo, mais virada para sonoridades pop/rock. A pergunta a fazer, todavia, será sempre esta: são os VUUR, com o seu metal progressivo, substitutos à altura dos The Gathering?! A resposta directa é negativa. Mas também não procuram ser, já que apontam a um alvo diferente da melancolia dos The Gathering. «In This Moment We Are Free - Cities» tem de ser escutado com um mindset distinto, pois só assim se reconhecerão os seus méritos, que traduzem um bom esforço embora estejam algo longe da “coisa excelente”. [7.5/10] HELDER MENDES

WIT H E R FA L L

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O peso que vem do Brasil Por: Emanuel Leite Jr.

Foto: Diego Cagnato

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Foto: Marina Melchers

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A música pesada brasileira vai muito além dos Sepultura, Krisiun, Angra, irmãos Cavalera e Ratos de Porão. De Norte a Sul daquele país de dimensões continentais há uma intensa e diversificada cena metaleira. É um pouco deste movimento que a coluna “O peso que vem do Brasil” vai buscar apresentar aos leitores da Versus Magazine. Nesta primeira edição, falamos sobre os grinders dos Desalmado, que em 6 de fevereiro lançam seu novo álbum, “Save Us From Ourselves”.

Sobre os Desalmado Os Desalmado completam 14 anos de existência em 2018. Em 2004, a banda surgia sob a denominação de El Fuego, com a qual lançou uma demo, auto-intitulada, e um álbum, “Desalmado”. Na altura, as letras do grupo eram em espanhol. Este CD foi muito bem recebido tanto pela crítica especializada como pelos fãs de grindcore. Em 2008, foi lançado o EP “Hereditas”, o primeiro como Desalmado, cantado em português, com praticamente os mesmos integrantes da formação atual, já com Ricardo Nützmann na bateria, mas com Bruno Teixeira nas guitarras e Ana Paula no baixo. Entre os meses de novembro e dezembro de 2011, os Desalmado fizeram sua primeira turnê pela Europa, passando por seis países, incluindo Portugal. O primeiro álbum full-lenght, “Desalmado”, viria em 2012, ainda com Bruno nas guitarras e Maria Piti no baixo. Após a saída de Piti, a formação se estabiliza com Bruno assumindo o baixo, Caio Augusttus nos vocais, Estevam Romera nas guitarras e Ricardo Nützmann na bateria e é com estes músicos que lançam o EP “Estado Escravo”, em 2014. Dois anos depois, veio o split CD “In Grind We Trust”, lançado em conjunto com os Homicide. Também em 2016, os Desalmado voltaram ao Velho Continente, numa digressão a cinco países e que passou novamente por Portugal, incluindo a apresentação no SWR Barroselas Metalfest e também em Aveiro. Desde os tempos do El Fuego, os Desalmado se notabilizam pelo seu grindcore com influências de nomes como Napalm Death, Extreme Noise Terror, Terrorizer, Venomous Concept, Brujeria, mas também com elementos que passam por subgêneros da música pesada como crust, death metal, thrash metal e o hardcore. Em suas letras, o grupo sempre criticou o sistema capitalista e o Estado, que se coloca a serviço dos interesses do capital e do sistema de sociedade capitalista - opressor, excludente e desigual. “Save Us From Ourselves”, álbum que vai ser lançado em 6 de fevereiro de 2018, estas críticas são aprofundadas.

Formação

Bruno Teixeira - baixo Caio Augusttus - vocal Estevam Romera - guitarra Ricardo Nützmann - bateria

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“ Foto: Marina Melchers

Não é exagero, sem

dúvidas este é o nosso

maior disco em todos os aspectos.

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A banda surgiu em 2004, sob o nome de El Fuego. Como El Fuego, lançaram uma demo (autointitulada) e um álbum, intitulado Desalmado. E as letras eram em espanhol. Por que em espanhol? Caio Augusttus: O espanhol foi uma ideia que tínhamos para atingir os países da América Latina, mas talvez não tenha sido uma boa escolha, estávamos começando e construindo nossa identidade, então decidimos pelo espanhol, mas não durou muito tempo e optamos pela língua portuguesa logo que assumimos o nome Desalmado. Em 2008, é lançado o EP “Hereditas”, já com uma nova formação, cantando em português e sob a denominação de Desalmado. O que motivou a mudança do nome do grupo? Bruno Teixeira: Vários fatores, mas o fato de termos gravado o Hereditas com uma nova formação e termos abandonado a ideia de

cantar em espanhol fez com que considerássemos aquele momento como uma nova fase mesmo. Além disso, encontramos um grupo de jazz e uma banda cover de RBD com o mesmo nome hehe. O nome Desalmado é muito mais forte, veio de uma música da época do El Fuego. Os Desalmado já estiveram na Europa em duas ocasiões diferentes, 2011 e 2016. Em ambas as digressões, passaram por Portugal. Na visita mais recente, estiveram no SWR Barroselas Metalfest. Como foi a receptividade do público português aos Desalmado? Quais são as lembranças que têm das cidades que visitaram em Portugal? Bruno Teixeira: A recepção foi espetacular, tanto do público quanto da organização do SWR Barroselas Metalfest. Com certeza aquele foi um dos pontos altos da nossa carreira, ter tocado em um


festival grande com vários nomes da música extrema. Conversamos bastante com o pessoal do Jucifer naquela noite e podemos reencontrar nossos amigos do Violator, que fizeram o show de encerramento do festival. Sem nenhum tipo de demagogia, lembro que no dia do festival eu disse que Portugal é a nossa segunda casa, e realmente é! Contando as duas turnês nós passamos também por Benavente, Braga, Aveiro, Elvas, Porto e podemos conhecer algumas outras cidades portuguesas. Sobre os shows, alguns com muita gente, outros nem tanto, mas em todos tivemos um grande apoio do público, que comprou bastante material da banda e alguns mantêm contato conosco até hoje. Realmente é país que queremos voltar sempre! Ricardo Nützmann: Os portugueses são pessoas muito receptivas e foram bem acolhedores conosco nas duas vezes em que passamos por aí, nos deixando bem à vontade em todos os lugares que tocamos e nos hospedamos. Portugal sem dúvida é um lugar muito especial para nós, pelas características comuns que temos em relação ao idioma e certos costumes, e também pela beleza do país e toda sua cultura que nos encantou. O vosso novo álbum, “Save Us From Ourselves”, álbum foi gravado no estúdio Family Mob, no qual o Estevam Romera é sócio com o Jean Dolabella (Ego Kill Talent, ex-Sepultura). A produção foi da própria banda junto com Hugo Silva e a masterização ficou a cargo da Absolute Master. Estaria exagerando ao dizer que este é o vosso trabalho mais profissional e mais técnico em todo o processo de gravação/ produção/masterização? Bruno Teixeira: Não é exagero, sem dúvidas este é o nosso maior disco em todos os aspectos. Nós sempre gravamos os discos do Desalmado de forma muito rápida e, desta vez, nós fizemos tudo

com mais calma, cuidando melhor dos detalhes, timbres, texturas de guitarras nas músicas etc. O Hugo nos ajudou muito, fazendo com que a banda sempre tocasse o melhor possível em cada música, o que fica perceptível ao escutar o S.U.F.O. (Save Us From Ourselves) e comparar com os discos anteriores. Temos o privilégio de ter gravado no Family Mob, um estúdio que tem uma estrutura espetacular e uma energia que faz parecer que você está gravando o disco em casa. Pra finalizar, o disco foi 100% feito no Brasil e nós temos acompanhado o excelente trabalho da Absolute Master com outras bandas, o que fez com que a escolha ficasse mais fácil. “Save Us From Ourselves” é o vosso primeiro trabalho cantado em inglês. A opção pelo inglês passa por uma estratégia de internacionalização da banda? Caio Augusttus: De certa forma sim, demoramos muito pra tomar essa decisão já que toda nossa carreira como Desalmado os álbuns eram em português. Depois de duas turnês pela Europa, entendemos que faria bem pra banda, acredito que foi uma decisão acertada. Musicalmente funcionou muito bem para a banda e nossa principal preocupação que eram os fãs, que receberam muito bem essa mudança. Em “Save Us From Ourselves” os Desalmado apresentam um manifesto crítico ao modelo de sociedade capitalista, propondo a conscientização coletiva e a manifestação organizada. O caos político vivido no Brasil e o crescimento de movimentos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e políticos como Jair Bolsonaro que exploram, acima de tudo, a alienação e o medo das pessoas, serviu de alguma forma como inspiração para as letras deste vosso novo trabalho? Caio Augusttus: Sem sombra de dúvidas. Nós sempre fomos uma banda com postura política

bem definida, afinal, a maior parte do grindcore é composta por bandas que estão contra o sistema capitalista, nós não seriamos diferentes. A ascensão do conservadorismo e fascismo no Brasil fez com que diversos grupos ligados ao antifascismo ressurgisse, então eu tomei uma decisão apoiada pelo grupo de tornar nossas letras ainda mais objetivas e críticas, com palavras de ordem contrárias a esses movimentos. Isso ficou evidente nas músicas lançadas em um split chamado In Grind We Trust, lançado em 2016 com a banda Homicide. Nesse novo álbum, as denúncias e palavras de ordem de reação a esse momento que o país vive se intensificaram, as reivindicações são diretas e contrárias a esses movimentos, nós somos parte de um movimento amplo de resistência contrário ao golpe de estado aplicado no Brasil. No mundo todo, presenciamos um período da história extremamente nebuloso, a ascensão do conservadorismo em grande parte do ocidente é fruto da crise estrutural que o capitalismo vem sofrendo desde 2008, atingiu os Estados Unidos e Europa no inicio, e agora, como parte de uma reorganização de governos dos poderosos, um dos objetivos principais é desestabilizar e super explorar países da América Latina, o Brasil é uma peça chave nesse contexto, então é necessário uma reação que parta de todas as organizações da sociedade, fundamentalmente, de todos os trabalhadores que estão sendo esmagados por esse regime. Nós enquanto banda e trabalhadores, somos parte desse movimento e a musica é nosso instrumento de expressão. O álbum vai ser lançado por alguma gravadora da Europa? Quando? Estevam Romera: Estamos negociando sim e o plano é até o final do ano termos o S.U.F.O. lançado em pelo menos 2 países por aí.

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Em fevereiro, os Desalmado saem em turnê no Brasil com os portugueses dos Besta. Vocês já se conhecem? Como é que surgiu esta oportunidade de excursionar com os lisboetas? Estevam Romera: Sempre tivemos algum contato com eles. Em 2015 nós tocamos com o Besta em Taubaté (São Paulo) durante a tour deles aqui no Brasil e nos conhecemos pessoalmente. Fiquei amigo do Rick em 2016 quando ele morou brevemente aqui em São Paulo e a partir daí fomos estreitando a conversa de uma tour com as duas bandas. Assim como fizemos com o Surra em 2017, o plano é fazer esse intercâmbio de tours, uma banda ajudando a outra, e logo estaremos por aí com eles também.

Agora com um novo álbum para divulgar, há planos de voltarem à Europa? Bruno Teixeira: Sem dúvidas, mas tudo vai depender do quanto conseguiremos tocar aqui pelo Brasil. Queremos divulgar bastante o disco por aqui e depois seguir para mais uma turnê Europeia. Ainda não temos definido o período que vamos para aí, mas pode ter certeza que vamos tocar na Europa e definitivamente em Portugal mais uma vez. Agradeço pela entrevista. Deixo este espaço para uma última mensagem. Bruno Teixeira: Nós que agradecemos o espaço, pra nós é um grande privilégio poder apresentar o nosso novo disco aqui. O Desalmado é,

essencialmente, uma banda independente, entendemos exatamente o que a expressão DIY (Do It Yourself) significa, então essa divulgação é muito importante para nós. Gostaria de propor, além de ouvir as nossas músicas, que as pessoas também leiam as nossas letras e reflitam sobre o momento em que estamos vivendo. Sem organização e sem consciência de classe nós seremos sempre o elo mais fraco dessa corrente, então precisamos nos armar de informação e agir. Estou ansioso em saber o que nossos amigos portugueses vão achar do S.U.F.O. e nos vemos em breve por aí. Valeu! Facebook Youtube

DESALMADO «Save Us From Ourselves» (Black Hole Productions) «Save Us From Ourselves» é um álbum que mostram a maturidade musical e o profissionalismo atingidos por estes grinders brasileiros. Um trabalho que evidencia a técnica apurada de seus integrantes e a excelente produção, bastante equilibrada, deixando todos os instrumentos bem audíveis, mantendo o timbre cavernoso, o peso e a agressividade essenciais para o grindcore. Em suas nove músicas, distribuídas em pouco mais de 25 minutos, «Save Us From Ourselves» destila pancadas sonoras, que te fazem bater cabeça instantaneamente. O álbum não poderia começar de maneira melhor, com “Privilege Walls”, uma faixa curta e direta, pesada e rápida, na qual os Desalmado conclamam as pessoas para que, unidas, quebrem as barreiras que as separa dos opressores para que, finalmente, assumam os rumos de seus destinos. “It’s Not Your Business” vem na sequência a mantém a toada agressiva e mostra como as influências do death metal ao hardcore podem ser encontradas em uma única canção de pouco menos de dois minutos. A faixa-título, “Save Us From Ourselves”, conta com a participação do Thiago Sonho (primeiro baterista do grupo, desde os tempos de El Fuego) na percussão e é a mais longa do álbum. Uma música pesada, com passagens de death metal, mas que se notabiliza mesmo é pelo seu groove e pela cadência que, em alguns momentos até lembra algo dos Sepultura mais moderno - uma faixa muito interessante. “Blessed By Money” é uma das minhas músicas preferidas, pesada, mas com uma levada hardcore, Caio Augusttus se destacando nos guturais e cuja letra retrata bem o sistema em que vivemos, ainda por cima quando acabamos de saber que o Banco Mundial admitiu ter manipulado dados sobre a competitividade do Chile por fins eleitorais. “Corrosion” é um petardo e é difícil ficar parado enquanto se escuta. “Exist and Resist” encerra o álbum com maestria, um manifesto à resistência através da luta pela liberdade e igualdade. Em suma, «Save Us From Ourselves» é um álbum que eleva os Desalmado a um novo patamar e que pode leválos a um outro nível de reconhecimento dentro do cenário underground não só brasileiro, mas internacional. Um lançamento que deve ser ouvido não apenas pelos fãs de grindcore, mas por todos os apreciadores das vertentes mais pesadas e agressivas do Metal. [9/10] Emanuel Leite Jr.

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A Revolução Bolchevique de 1917 foi o maior fenômeno social do século 20. Ao mesmo tempo, o futebol, outro fenômeno social, consolidou-se como esporte global. Bicampeã olímpica e primeira campeã europeia, a seleção soviética marcou história. Também as rivalidades de seu campeonato. O orgulho ucraniano, Dínamo Kiev; o time da KGB, Dínamo Moscou; do exército, CSKA Moscou; e “do povo”, Spartak Moscou. Revolução bolchevique e futebol, histórias que se entrelaçaram ao longo da “era dos extremos”. Aqui narradas como uma série de reportagens. Preço: 12€ Selo Drible de Letra, editora Multifoco (https://editoramultifoco.com.br/) Se tiver interesse, favor contatar diretamente o autor emanuel.leite.junior@gmail.com Capa de autoria de Tânia Ribeiro

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

Caríssimos leitores da Versus: Eis que que chega um novo ano! Um ano em que nos sentimos optimistas com o futuro! Ou não… Ou talvez não… Mas ainda há quem fique na dúvida! Anos houve em que essa esperança era uma miragem, ou apenas uma substância ilícita que teve mais efeito que o esperado. Precisamente para recordar esses anos, deixo-vos aqui uma carta que redigi ao nosso antigo Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho, para nos lembrarmos de todas as privações que já passámos, e como o futuro nos parecia tão negro naquela altura. Ah! E porque não tive tempo de escrever nada de novo…

“Caro Sr. Primeiro Ministro. Espero que esteja lembrado de mim pois tem-me assaltado constantemente desde que foi eleito. E nesta altura deve estar a pensar: “eu assaltei tantas pessoas em tão pouco tempo que é impossível lembrar-me de todas.” Logo aí custa... logo aí o Sr. Primeiro Ministro me magoa! Um acto tão intimista como é o assalto, e o Sr. nem se lembra do acto. Sinto-me como se tivesse sido usado! Tal e qual como aquelas Srªs carentes que levam um homem para o conforto do seu lar, fazem o amor com ele, e no dia de manhã ele não só já lá não está, com ainda por cima, como não encontrou o papel higiénico, limpou-se à toalha de rosto. Basicamente é assim que me sinto... mas tudo bem. Eu até compreendo, é muita gente... Mas se o Pai Natal também sabe de cor todas as pessoas a quem deu presentes, acho que não lhe ficava mal saber de cor todas as pessoas que assaltou. (Pai Natal -1 ; Passos Coelho -0) Magoa-me mais ainda porque o Sr mentiu, e não há nenhum sinónimo bonito que substitua o verbo mentir. “Os impostos não vão subir” disse. Afinal subiram..... “É um sacrifício necessário”, voltou a dizer. E eu até acreditei na altura...durante aí uns 5s. Mas depois reparei que a população no geral está a ser “espremida”, e não há outro termo, para que as grandes fortunas e as grandes empresas tenham perdas mínimas, saindo assim não só ilesos da crise, como, muito provavelmente, ainda mais ricos! Ora isto deu-me aqui uma azia.....!!!! Portanto antes de fazer o quer que seja fui ao Hospital porque não me estava a sentir bem. A caminho apercebo-me que teria de pagar uma scut para lá chegar mais rápido. Como já não tenho posses para tal fui pela nacional. Desmaiei a meio caminho e quem me viu espetar a minha 4L chamou uma ambulância. Os Srs Bombeiros foram super prestáveis, mas avisaram-me que para ir para casa de ambulância outra vez teria sempre que pagar. “O governo cortou isso também” disseram.... Intimamente esperava que pelo menos um polegar não tivesse partido para poder pedir boleia no regresso.

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Chegado ao Hospital fiquei a saber que para o ano se vai pagar uma brutalidade cada vez que precisarmos de assistência médica. Pensei que tal medida trazia água no bico.... quem não pode pagar morre, menos pessoas a quem se tem que pagar reformas. Afinal não! Reformas já não vai haver a partir de dada altura. Foi aí que apaguei. E acordei 2 dias depois no Miguel Bombarda, de onde mais tarde tive de fugir por não ter dinheiro para pagar o internamento. Contudo, tinha na minha posse receitas da farmácia! Ao menos teria os medicamentos que precisava! Acha?! Não!! Errado outra vez! Os medicamentos aumentaram, o médico rasurou ao de leve a receita, logo esta não era válida segundo as novas regras. Portanto ou desembolsava 50euros ou continuava doido, e por isso mesmo lhe estou a escrever esta carta. Não conformado com tamanho roubo dirigi-me a um posto da PSP com a sua foto. Apresentei queixa ao comandante do posto. Disse-me que estavam de mãos atadas, e contra si já tinham 7milhões de queixas. Foime dito “off the record” que até as forças militares estavam contra si e do lado do povo. Porém, o Sr Primeiro foi rato!.... E aumentou o orçamento das forças militares. Ah pois é!... O da Saúde diminui, mas o do exército não. Esperto! Então não me podiam também ajudar. Vou emigrar! Pronto, está decidido que vou emigrar. Ainda mais porque em vez de tentar criar mais emprego o Sr ainda incentiva as pessoas a emigrar, como é o caso dos professores. Ainda pensei que tivesse uma agência de recrutamento de professores. Vi que assim não era. Ora bem, mas se assim é não quero que fique cá num país deserto. Não Sr! E entretanto encontrei alguns países em que poderia também fazer carreira, nomeadamente Iraque, Afeganistão, Burundi, Burkina Faso e Somália. E isto são apenas alguns exemplos. Aliás, digo-lhe mais: se fosse a si, e não se preocupe porque não lhe vou cobrar por este conselho, eu emigrava era antes de toda a gente! Hã?! Que acha? Isso é que era! Siga o exemplo do seu amigo Durão Barroso! Quando a merda começou a chegar à ventoínha, deu logo de frosques. Deve estar a pensar que não é esse tipo de pessoa, e que quer cumprir o seu mandato, etc e tal. Não, a sério! Por favor! Vá! Pode não parecer mas menos uma pessoa no país pode fazer uma diferença brutal. Portanto enquanto temos um país dividido, uns querem sair, outros preferem ficar porque é a sua casa e o seu lar, temos o país unido numa coisa: Ninguém gosta de si! Ninguém gosta das suas medidas. Todo o Portugal preferia que o Sr. Primeiro Ministro emigrasse. Não é fácil ser tão consensual! Bravo! Enquanto muitos só lhe desejem mal, eu não! Desejo-lhe tudo de bom! Isso e incontinência fecal. Mas isso é bom! Repare, toda a cachupa que entra sai! Vai ficar elegante, na linha, tal e qual como todas as pessoas que não vão ter dinheiro para comprar comida devido ao aumento do IVA. Em suma, quero-lhe agradecer por estar a ajudar a arruinar o meu país com as medidas erradas no tempo errado. Não abuse do seu jantar de fim de ano. Nunca se sabe se o que desejo para si não se realiza já hoje.... Despeço-me pobre, ao contrário dos seus amigos ricos que vão ficar mais ricos. Durma bem Sr. Primeiro Ministro...não sei como o consegue fazer. Com os melhores cumprimentos: O Homem da Motoserra.”

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Throane Um “poliglota” das artes

Dehn Sora fez um nome para si no

universo das artes

gráficas e abre caminhos em termos musicais. Entrevista: CSA

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nem conseguimos expulsá-las. Sentes uma espécie de nó na garganta. Pareceu-me o termo ideal para representar o meu estado de espírito durante a criação de Throane. Também gosto de ouvir a pronúncia da palavra, que varia muito de pessoa para pessoa. Surgem pronúncias e sentidos muito pessoais, de acordo com a língua de cada um. Tenho um amigo que, depois do lançamento do primeiro álbum, me confidenciou que “Throane” queria dizer “lágrima” no seu dialeto flamengo. Gosto que as coisas façam sentido depois de já existirem. Throane é algo de espontâneo, diz respeito a algo que se organiza depois de existir, e isso é muito encorajador para mim.

Throane é um projeto novinho em folha ou nasceu de uma experiência anterior como músico? Dehn Sora – Throane nasceu espontaneamente, sem qualquer plano prévio. É claro que deve ser um eco de experiências anteriores, não penso que nada aconteça “ao acaso”. Mas pode-se dizer que o projeto se impôs por si mesmo: era mesmo necessário que existisse sob esta forma. O que significa o nome do teu projeto? Que relação há entre esse nome e os seus objetivos? Throane é uma combinação de “Throne” e “Throat” (“garganta”, em Inglês). É uma forma de representar a sensação que experimentamos quando estamos tão enervados, tão cheios de emoções incontroláveis que

Throane é o teu projeto, portanto tu fazes tudo. Como te organizas com o Grégoire para combinar os vossos esforços, a fim de dar corpo ao que crias para Throane? Throane é uma experiência solitária, mas posso dizer que estou muito bem apoiado. O Sam Vany e o Grégoire Quartier constituem Cortez, uma banda de Hard Core suíça. Ajudam-me a dar forma ao som de Throane. Eu gravo e componho sozinho. Quando as faixas estão gravadas, o Grégoire retoma as partes de bateria e toca-as dando-lhes um verdadeiro feeling. Tenho liberdade total com a [drum] machine, por vezes o som sai um tanto mecânico, fora do contexto. O Grégoire consegue dar ao som uma intensidade que eu nunca seria capaz de atingir. O Sam trata da produção. Eu explico-lhe o que sinto e ele dá corpo a cada emoção, amplifica cada sensação. Eu levo o material em bruto e esculpimo-lo juntos. Conta-nos como fizeste para garantir a colaboração de alguns dos teus amigos em «Plus Une Main À Mordre». Já tinham participado em «Derrière Nous La Lumière»? Throane começou por ser uma experiência solitária. Mas, a certa altura, tive a impressão de que

era importante dar lugar a outras vozes. Era só preciso encontrar os momentos certos, as coisas boas a exprimir. Os amigos que participaram no álbum são como irmãos e, quando os nossos caminhos se cruzam, brilha em nós uma chama comum. Só precisávamos de encontrar a ocasião certa. Gravámos as vozes na faixa homónima em determinadas condições, encontrando-nos fisicamente próximos ou à distância, em momentos em que tínhamos de validar etapas das nossas vidas. Não participaram em «Derrière Nous…», contrariamente ao que aconteceu com o Samuel e o Greg, que fazem com que este projeto soe como eu nunca conseguiria fazer. Levámos o processo mais longe desta vez. Fazes concertos? Se for o caso, com que bandas gostarias de tocar? Fizemos os primeiros concertos no passado mês de setembro, em Tallin, S. Petersburgo e Moscovo. A experiência foi muito intensa, a todos os níveis. Foi difícil, em termos físicos e mentais, mas muito desopilante. Já me sentia como se estivesse nu no palco com Treha Sektori, banda em que toco sozinho. Nos concertos, tocamos com pessoas que partilham histórias comigo. Vêlos no palco, quando olho para o lado, vivendo as emoções que eu tenho dificuldade em exprimir, com a intensidade que se via, fez com que me sentisse purificado. Houve sangue, gargantas secas. Gostaria de repetir a experiência, mas noutros contextos, com outros visuais, outras ideias. Ando a pensar nisso e a trabalhar nessas ideias. Gostaria muito, sem dúvida, de tocar com Amenra, devido à nossa história comum. Gostaria sobretudo de tocar com bandas que trabalham duramente para ir mais longe, para chegar ao âmago das questões. E com projetos que não estão propriamente ligados pela forma. É o que me entusiasma, quando abro para bandas mais

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“ Throane nasceu

espontaneamente […] É claro que deve ser um eco de experiências

anteriores, não penso

que nada aconteça “ao acaso”. […]

extremas, quando toco em Treha Sektori, que é um projeto mais abstrato e mais silencioso.

Como fazes para equilibrar as vertentes da imagem e da música na tua arte? Penso nas duas da mesma maneira. Dou-lhes igual importância. Acontece apenas que, por vezes, para dizer o que quero, é mais adequado usar o som e, outras vezes, só consigo fazê-lo através da imagem. Sempre concebi estes dois aspetos como fazendo parte de um mesmo todo. Posso ter vontade de usar uma imagem ou conter-me mais em termos musicais. São apenas duas formas diferentes de passar a mensagem, que e compensam.

Como foi recebido o primeiro álbum? Penso que de forma muito positiva. Mas sinto que não sou a pessoa

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em melhor posição para avaliar isso. Tenho tendência para pensar que as pessoas não se interessam forçosamente pelo que eu faço, com razão ou sem ela, e fico sempre embaraçado quando me elogiam. Tenho tido reações positivas de pessoas cujo trabalho me merece muito respeito, com quem tenho fortes ligações pessoais, também de pessoas que se sentiram inspiradas pela minha música, de forma mais ou menos direta. É isso que me dá coragem. Transmitir energias e vê-las transformaremse. Há alguma relação entre esse primeiro álbum e o segundo? É sempre possível estabelecer ligações. O segundo álbum não foi pensado para dar seguimento direto a «Derrière Nous,... », mas as primeiras notas foram escritas no momento em que o primeiro foi lançado. Depois desse primeiro disco, comecei a compreender certos sentimentos. É como se algo tivesse sido digerido e fosse chegada a hora de analisar e canalizar outros sentimentos. O coração continua a ser o mesmo, mas a linguagem é diferente. Que ideias estão subjacentes à capa que criaste para «Plus Une Main À Mordre»? Dei-lhe propositadamente alguma ambiguidade. Por conseguinte, até ao momento, têm feito observações muito diferentes sobre o que ela significa. Uns veem-na como algo calmo, outros como algo duro. Queria pôr uma mulher nessa capa, mas dar-lhe um ar ambíguo (rapar o cabelo, para uma mulher, pode representar uma forma de abdicação face à doença), mas eu realmente queria que ela simbolizasse a vontade de ir à luta. Não ter nenhum cabelo para atrapalhar, para falsear a sua visão. Recebi várias recusas de mulheres algo “velhas”, que associavam a ideia de rapar o cabelo à doença e que não tinham vontade de se ver assim. A minha mãe tinha acabado de passar por uma operação muito

delicada, que a enfraqueceu moral e fisicamente durante meses. E então propôs-me posar para esta foto. Curiosamente, ela, que parece sempre preocupada e inquieta, nesta foto, até tem um ar bastante sereno. E acabou por fazer todo o sentido tê-la a ela nesta capa. Afinal de contas, “Plus une main à mordre” é uma frase que traduz um pensamento muito maternal. As máquinas de cortar o cabelo antigas têm dentes (e, na minha ideia, parecem-se com dentes). Se a capa do primeiro álbum mostrava uma mão que segurava dentes caídos, na parte de trás, a contracapa deste álbum apresenta dentes que mordem, rasgam, cortam. Que “mão” é esta que queres morder? Porque escolheste um título tão violento para este álbum? Para dizer a verdade, não o considero violento. Se não há mais nenhuma mão para morder, é porque não há nenhuma mão estendida. Já tens material para um terceiro álbum? Tenho coisas escritas, mas estou a ver como vão evoluir. Continuar a não fazer planos. E como é trabalhar com a Debemur Morti? O que vão fazer juntos para promover «Plus Une Main À Mordre»? Temos uma relação ideal, pelo menos do meu ponto de vista. Trabalhamos juntos para outros projetos, além de Throane, sobretudo no que diz respeito à arte gráfica. Temos confiança um no outro e eles não se intrometem no meu processo criativo. Fazem imenso trabalho para promover o disco, mas de forma muito criativa. Têm uma visão das coisas que coincide a 100% com a minha, logo seguimos na mesma direção. Facebook Youtube


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Redenção e condenação Para Thomas Spiwak, este é o mote da atual fase –

florescente – da banda a cujos destinos preside. Entrevista:CSA Photo: Silvia Gottlieb @ Mottenlicht Photography

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Darkfall é uma banda com quase 20 anos de carreira que está agora a lançar o seu segundo álbum (embora tenham muitos lançamentos de outras naturezas). O que aconteceu? Thomas – Fazem-nos muitas vezes essa pergunta e, para ser franco, é sempre difícil responder. De qualquer modo, uma das grandes razões é o facto de Darkfall ter sofrido várias mudanças de formação no fim dos anos 90. Especialmente depois do lançamento do EP intitulado «Firebreed», em 2001, houve muitos problemas de alinhamento. Levámos muito tempo a estabilizar novamente a formação e, para dizer a verdade, estou muito orgulhoso de poder dizer que a banda ainda existe. Contudo, tudo isto pertence ao passado e, para mim – o único elemento que resta da formação inicial – o ano de 2012 foi assinalado por algo que se assemelha à ressurreição de Darkfall. Apesar de a banda nunca se ter desmembrado e de fazermos muitos concertos por ano, nunca conseguimos acabar o trabalho necessário para lançar um álbum, por razões pessoais e legais. No entanto, como já referi, o ano de 2012 marca o momento de estabilização da nossa formação e, desde essa altura, já lançámos dois álbuns – «Road to Redemption» e «At the End of Times» – que são os nossos últimos trabalhos.

O nosso objetivo era combinar uma boa dose

brutalidade

de , elementos melódicos, groove e partes que constituem um grande desafio técnico. 107 / VERSUS MAGAZINE


Como foi possível lançar assim dois álbuns em quatro anos? Usaram material que já estava escrito há algum tempo? Depois da estabilização da formação, em 2012, sentimos que era mesmo o momento de lançar um álbum, até para provarmos que “tínhamos entrado nas calhas” novamente. Dado que dois ex-membros da banda regressaram a Darkfall em 2012, decidimos rearranjar e regravar três velhas canções do nosso EP intitulado «Phoenix Rising» (2006) e uma do EP chamado «Firebreed» (2001). Além disso, agora temos a sorte de conseguir trabalhar constantemente na criação de material novo e assim conseguimos escrever seis canções em algumas semanas. Depois de as gravarmos, depressa encontrámos uma nova editora, para lançar o nosso álbum de estreia: «Road to Redemption», em maio de 2013. Depois disso, andámos ocupados com a sua promoção ao vivo, que demorou bastante tempo. No final de 2015, começámos a trabalhar em novo material e, ao fim de alguns meses, acabámos as sessões de gravação dos instrumentos para o nosso novo álbum. Enquanto os meus companheiros de banda gravavam as pistas relativas aos seus instrumentos, eu mudei-me para Inglaterra, onde permanecei por um período mais longo, e comecei a fazer os arranjos para os vocais e a escrever as letras. Depois de regressar à Áustria, gravei as minhas partes e, finalmente, o Andy Classen encarregou-se de misturar e masterizar o nosso álbum, nos Stage One Studios (na Alemanha), no início de 2017. Algumas semanas depois, assinámos novo contrato com a editora alemã Black Sunset/ MDD Records e, a 8 de setembro de 2017, o nosso

[...] ambos se baseiam numa

combinação de Thrash e Death Metal [e abordam] temas tenebrosos e apocalíticos 1 0 8 / VERSUS MAGAZINE

álbum novinho em folha – «At the End of Times» – foi lançado. Quais as semelhanças entre os dois álbuns no que diz respeito às características da música? Ambos os álbuns se baseiam numa sobreposição de Thrash e Death Metal. Esta base é combinada com riffs melódicos, bateria explosiva e vocais ásperos. Estas são as principais semelhanças entre os dois álbuns e os seus ingredientes essenciais. Na minha opinião, em «Road to Redemption», as influências de Thrash Metal são mais óbvias, mas, em «At the End of Times», o estilo prioritário é o Death Metal. É claro que as influências do Thrash estão lá, mas a atmosfera global das canções é agora mais sinistra e brutal. Há alguma ligação entre os dois álbuns (à parte o tipo de som)? Estão ligados por algum conceito, por exemplo? Bem, para além do facto de que ambos se baseiam numa combinação de Thrash e Death Metal, penso que os temas tenebrosos e apocalíticos das letras fornecem a principal ligação entre «Road to Redemption» e «At the End of Times». De um modo geral, ambos abordam os conceitos de morte e declínio. Cada canção conta uma história relacionada com pessoas, religiões, culturas ou até mundos que estão a enfrentar o seu fim. Apesar de cada uma das canções ser uma narrativa em si, a base ideológica de ambos os álbuns diz respeito a aspetos como a destruição, a morte e o caos. Adorei a combinação de elementos neste álbum: Death Metal, melodias cheias de groove, toques de Thrash Metal. Quais são os aspetos mais proeminentes do som complexo de «At the End of Times»? O nosso objetivo era combinar uma boa dose de brutalidade, elementos melódicos, groove e partes que constituem um grande desafio técnico. É claro que o equilíbrio entre estes elementos varia muito ao longo do álbum, mas, no fim de contas, este é o esquema de base de todas as canções. Os elementos básicos – como já disse – são o Thrash e o Death Metal, combinados de formas diferentes e amalgamados por gritos brutais e grunhidos. A capa é muito curiosa. Quem a fez para a banda? As personagens humanas que se veem na ilustração representam médicos do tempo da Peste Negra? É da autoria de Michael Freitag, um amigo meu de longa data. Penso que esta capa está perfeitamente adequada ao nosso estilo e ao título do álbum. O principal tema da capa é a árvore Yggdrasil, que transporta o célebre globo que é a nossa Terra, suspensa por cima de chamas. Dos lados da árvore e do globo terrestre, vêem-se duas figuras que efetivamente usam a máscara com uma espécie de bico que foi utilizada pelos médicos durante a Peste Negra. Muitos de nós conhecem essas


figuras estranhas, que circulavam entre as pilhas de cadáveres, tentando ajudar as pessoas que ainda estavam vivas e curá-las. Mas não conseguiram fazêlo. Pareciam condenados a vê-las morrer. Usámolos para criar uma espécie de metáfora. Tal como esses médicos estavam condenados a ver morrer os seus pacientes, todos nós atualmente temos de suportar a visão do declínio inevitável do nosso planeta, devido a causas variadas como guerras, injustiças sociais e fanatismo religioso levado ao extremo. Estas máscaras têm um ar muito estranho e simbolizam uma das épocas mais tenebrosas da história da Europa, em termos de doença, caos e destruição. Foi precisamente por essa razão que quisemos que essas máscaras figurassem na capa. Simbolizam o declínio da Humanidade. Na nossa opinião, o artwork corresponde à visualização perfeita do título do álbum: «The End of Times». O Michael fez um excelente trabalho e estamos encantados com o resultado final. Aliás, ele tem-se encarregado de fazer as capas para todos os nossos lançamentos, desde a nossa compilação intitulada «Through Fiery Times and Beyond», que foi lançada em 2008. Esperamos poder continuar a contar com ele para os nossos projetos futuros. Calculo que são uma banda muito focada em concertos. Já apresentaram este álbum ao público? Onde e quando aconteceu isso? De facto, estamos mesmo a meio da nossa campanha de promoção de «At the End of Times» e o concerto oficial de lançamento teve lugar na nossa cidade natal – Graz, na Áustria – a 8 de setembro de 2017. Esgotou por completo, com 300 espetadores a chegar à loucura. Uma noite absolutamente memorável. Tencionam participar em festivais e/ou organizar uma digressão (ou várias) para promover «At The End of Times»? Entre setembro e dezembro de 2017, vamos fazer cerca de trinta concertos em clubes e festivais por toda a Europa Central e uma das datas mais importantes corresponde ao concerto no Eindhoven

Metal Meeting, na Holanda: 16 de dezembro de 2017. De momento, estamos completamente focados nesses concertos e ansiosos por tocar em países como a Alemanha, a República Checa, a Eslováquia, a Eslovénia, a Sérvia, a Polónia, a Holanda e, é claro, a Áustria. Além disso, já fomos contratados para fazer concertos em vários clubes e em festivais ao ar livre no verão de 2018. Portanto, tudo indica que o próximo ano vai ser tão animado como este. Com sorte, conseguiremos também organizar uma digressão europeia. Se tivessem a oportunidade de fazer/organizar uma digressão par festejar o 20º aniversário de Darkfall, quem convidariam para terem o elenco dos vossos sonhos? Na realidade, já fizemos o concerto para comemorar o nosso 20º aniversário, mas podemos pensar no nosso 25º aniversário, em 2020. Contudo, de momento, não sei o que 2020 nos trará, mas penso que é muito provável que festejemos esse momento muito especial com os nossos fãs no Kaltenbach Open Air, o mais lendário festival de Metal extremo da Áustria. Tem sido sempre fantástico para nós tocar nesse festival, porque o local onde decorre e a sua atmosfera são muito especiais, verdadeiramente únicos. Por favor, deixem uma mensagem final aos nossos leitores, para lhes mostrar que conhecer Darkfall é indispensável para um verdadeiro metalhead? Antes de mais, vão ver os nossos novos vídeos oficiais “Ride Through The Sky” e “Ashes Of Dead Gods”, que estão no Youtube e, por favor, formem a vossa opinião sobre Darkfall e a nossa música. Se gostarem, divulguem-na, apoiem-nos e dêem-nos a conhecer o vosso interesse. Mantenham a chama viva. Saudações! Facebook Youtube

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Garage Power

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Acorda! Outra vez… Entrevista: Emanuel Roriz

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Os

Veinless

estão de regresso com o seu segundo

longa duração de originais. Num trabalho onde a língua portuguesa ajuda a dar uma expressão ainda mais autêntica e profunda à sua sonoridade, o colectivo almadense mostra que após 16 anos de existência se encontram revigorados e de olhos postos no futuro. A propósito do novo disco intitulado

“IX»” lançamos algumas

questões aos Veinless às quais responderam em conjunto e cheios de boa disposição. A sonoridade dos Veinless neste disco intitulado «IX» é bastante diversa, mas, sem nunca perder o fio condutor. Se, por exemplo, num tema como “Outra vez” há algo na forma de cantar que me traz à memória Adolfo Luxúria Canibal e a poesia musicada dos Mão Morta, logo no tema seguinte, “Land of Dust”, é a imagem de Nemetheanga e os seus Primordial que surgem no horizonte. Estas são bandas que vocês admiram e das quais bebem experiência? Pegando nas referências do nosso vocalista, sabemos que Adolfo e os Mão Morta são uma das bandas que ele admira. Quanto aos Primordial, sabemos que é uma banda que ele nem conhece. Essa associação pode ter mais que ver com a composição instrumental. Ele cantou daquela forma e saiu assim. Nós conhecemos bem Primordial, somos seguidores e até nos apercebemos dessa semelhança, mas a nível vocal só pode ter sido por acaso. O tema “Outra Vez” também terá mais a ver com o facto de ser cantada em português pois é um tema sempre a debitar, mais rápido. Compreendemos a pergunta, claro. A forma de cantar e por ser em português puxa a essa associação. São associações que não nos envergonham em nada, muito antes pelo contrário. Os Primordial também se deviam sentir orgulhosos por nós termos feito a “Land of Dust” [risos]. Ao longo do disco surgem temas ora cantados em inglês, ora cantados em português. O que levou a esta dicotomia? Não havia obrigação nenhuma. O nosso primeiro tema em português foi o “Saudade” no primeiro disco e logo aí quebramos o padrão. No “Saudade” cantámos em português e a partir daí isso começou a passar logo para os novos temas. Em português estamos à vontade e gostamos de escrever assim. Também nos apercebemos da capacidade do Tó [vocalista] em adaptar as letras em português ao metal. Ele tem facilidade em fazê-lo, para nós foi uma agradável surpresa e gostamos de começar a ouvir as coisas dessa forma, cantadas em português.

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Sentem-se mais perto do público português ao cantarem na nossa língua mãe? No futuro dos Veinless acham que evoluirão para temas apenas cantados em português ou então apenas cantados em inglês? É uma evolução natural, a experiência correu bem. Neste momento já estamos a trabalhar em temas novos e o Tó já manifestou vontade de os cantar em português. O estar mais próximo é natural. Muitas vezes estás num concerto e vês o público a balbuciar letras em inglês que nem existem. Se for um refrão forte cantado em português fica muito mais facilmente no ouvido. É desafiante. O mais óbvio era cantar em inglês e no metal é muito comum. Mas já existem muitas bandas que cantam apenas em português e estão a fazer trabalhos excelentes. E temos os exemplos dos Madredeus ou da Mariza, que fizeram enorme sucesso fora de portas cantando em português. Escolheram disponibilizar como faixa bónus, e gravada ao vivo, o tema “Drunken Nightmare”. Porquê esta escolha? A escolha foi algo natural porque é um dos temas do primeiro trabalho que mais nos diz. Sentimos que este tema tem uma energia que se adequa para mostrar o que é Veinless ao vivo. E também porque foi a que teve menos pregos nesse concerto [risos]. Ao vivo é uma daquelas que funciona sempre bem. Em cerca de 16 anos de história chegam apenas agora em 2017 ao segundo trabalho discográfico. Foi este um percurso natural para a banda, ou existiram condicionantes para que os discos não tenham sido em maior número? Basicamente são condicionalismos que foram acontecendo ao longo do tempo. Como em qualquer banda onde as pessoas têm outros trabalhos e não vivem exclusivamente da música, como nós gostaríamos obviamente de fazer. Temos de dar o nosso tempo também à família. Mas os trabalhos condicionam bastante até no processo dos ensaios.


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“ Se for um

refrão

de preferência acompanhados por uma garrafa de whisky… ou duas [risos]. Já existem planos em curso para o futuro próximo a nível de concertos ou novas edições? Estamos a compor neste momento. Temos aí um projecto bastante gratificante para nós também. Vamos participar num festival que reúne bandas que de alguma maneira têm a ver com Feijó e Almada, onde vão estar grupos que inclusive já não estão activos. É um festival a realizar em Março e nós somos uma das bandas que deram maior resultado. Os Veinless reúnem elementos de várias dessas bandas que já não se encontram activas e por aí vai ser muito interessante.

forte

cantado em português fica muito mais facilment no ouvido

Nunca tivemos pressa. Queríamos fazer bem, tentar fazer melhor e daí o tempo. E demorou mais do início ao primeiro disco do que do primeiro ao segundo. Até já temos temas prontos para o terceiro. O tema “Outra Vez” foi o primeiro single deste novo disco e teve direito a um videoclip. Entre ideia, realização e personagens que tipo de parcerias temos aqui envolvidas? O João Pina foi o realizador, que apesar de não ser realizador, é sim cineasta e também um amigo nosso. Convidámo-lo a assistir a um ensaio e a ouvir os discos…acho que ele ouviu [risos]. Dos temas que ele ouviu no ensaio o “Outra Vez” foi o que mais lhe despertou o interesse. Pediu para tocarmos outra vez o tema e logo a partir daí já estava a fazer o filme na cabeça dele. Explicou-nos a ideia e nós deixámo-lo à vontade e filmamos onde ele quis, da forma que quis. O vídeo é um cartão de visita muito importante. Hoje em dia para conhecer uma banda os vídeos ainda são umas das primeiras procuras que o público faz. Sobre o vídeo há dois comentários que fazem imensas vezes: Porque é que vocês aparecem tão poucas vezes e quem é esta “gaja”? Quem é a actriz? [risos]. Em suma o João Pina conseguiu aqui uma excelente captura de imagens onde documenta bem a história que construiu. Convidamos-vos a espreitarem o vídeo,

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O número 9 está de alguma forma presente no imaginário deste trabalho. O que representa para a banda e de que forma o exploraram? O «IX» surgiu a partir de um livro de poesia do Tó, em que o último poema era exactamente intitulado de «IX». Achamos piada à constante repetição da palavra no início de cada verso e perguntamos “vamos musicar isto?”. Foi a primeira vez que compusemos a partir de uma letra já escrita. O que nos surgiu logo na ideia foi fazermos o tempo 9x4 (nove por quatro) [risos]. Reparámos também que foi uma das últimas músicas a ser composta e que aí tínhamos precisamente nove temas escritos. A partir daí fizemos também alguma pesquisa em volta do número 9 e tudo o que tem a ver com a sua simbologia. Quando estávamos a fazer a pesquisa para compor o aspecto gráfico do disco o nove fez ainda mais sentido quando surgiu a ideia do eneagrama. Opah isto é tudo treta… nós tirámos isto dos livros do Pato Donald [risos].


Melhores 2017 Carlos Filipe

Ernesto Martins

1. Apocalypse Orchestra - The End Is Nigh 2. Entombed - Clandestine Live -

1. 2. 3. 4. 5.

Act I the Orchestra Feat. Entombed

3. Ex Deo - The Immortal Wars 4. Paradise Lost - Medusa 5. Fjoergyn - Lvcifer Es

Nova Collective - The Further Side Immolation - Atonement Pryapisme - Diabolicus Felinae Pandemonium The Night Flight Orchestra - Amber Galactic White Ward - Futility Report

Nacionais

Emanuel Leite Jr.

1. Process of Guilt - Black Earth 2. Iberia - Much Higher Than A Hope

1. 2. 3. 4. 5.

Cristina Sá 1. 2. 3. 4. 5.

Moonspell – 1755 Blaze of Sorrow – Astri Farsot – FailLure Fjoergyn – Luciferes Foscor – Les Irreals Visions

Moonspell - 1755 Sepultura - Machine Messiah Kreator - Gods of Violence Paradise Lost - Medusa Pallbearer - Heartless

Nacionais 1. Moonspell - 1755 2. Sinistro - Sangue Cássia 3. Process of Guilt - Black Earth

Frederico Figueiredo Dico 1. 2. 3. 4. 5.

Sanctuary - Inception Cavalera conspiracy - Psychosis Kreator - Gods of Violence Obituary - Obituary Deep Purple - Infinite

Nacionais: 1. 2. 3. 4. 5.

Moonspell - 1755 Rasgo - Ecos da Selva Urbana Disaffected - The Trinity Threshold Grog - Ablutionary Rituals Process of Guilt - Black Earth

1. 2. 3. 4. 5.

Wolves in the Throne Room - Thrice Woven The Body & Full of Hell Ascending a Mountain of Heavy Light Dale Cooper Quartet & The Dictaphones Astrild Astrild Unaussprechlichen Kulten Keziah Lilith Medea (Chapter X) Spectral Voice - Eroded Corridors of Unbeing

Nacionais 1. Black Cilice - Banished From Time 2. Tod Huetet Uebel - N.A.D.A.

Ivo Broncas Mastodon - Emperor of Sand Body Count - 'Bloodlust' Glassjaw – Material Control Dead Cross – Dead Cross Sepultura - Machine messiah Nacional: Moonspell - 1755

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(su)POSIÇÕES HARD N’ HEAVY Por: Gabriel Sousa

White Metal

Algumas noções sobre…

O que é o

“White Metal” como estilo musical?

Há várias denominações relativas ao Hard Rock/Heavy Metal que me causam uma enorme urticária, “White Metal” é uma dessas denominações. Nem sempre é o significado da denominação que me incomoda, por vezes é o que os ouvintes dizem sobre tudo que sai “debaixo dessa denominação” que me incomoda, a forma como essa denominação é usada. “White Metal” é uma amálgama, é um conjunto de bandas tão diferentes que não podem ser unidas dentro do mesmo estilo mas sim dentro da mesma temática das letras que no caso do “White Metal” é a temática religiosa. Achar que White Metal é um estilo musical é tão ridículo, como chamar Politic Metal a todas as bandas que têm letras de cariz político. O “White Metal” não é um estilo musical por si só já que abrange bandas tão diferentes como Stryper e Mortification, podemos encontrar bandas que podem ser consideradas de “White Metal” em todos os estilos de Metal e de Hard Rock. Dentro do “White Metal” há um termo que eu ainda tenho mais dificuldades em perceber, o “Unblack Metal”. Pode-se dizer que o “Unblack Metal” é um instrumental de Black Metal com letra de apelo religioso. Outra das críticas feitas ao “White Metal” que me deixa sempre preocupado com a sanidade das pessoas é o

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facto de dizerem que a religião não tem lugar no Rock e no Metal porque a religião sempre foi contra o Rock e o Metal, para mim, esta deliberação é confundir a árvore com a floresta e não perceber nada do que é o Rock e o Metal. Quem conhece a História sabe que muitos dos primeiros Rockers (Little Richards, Elvis Presley por exemplo) surgiram no seio do Gospel. Outra coisa, o Rock e o Metal abarcam TUDO que os músicos que o fazem queiram referir, não importa o que diz a patrulha para o cumprimento das regras tr00, 100% Metal. Por isso acho ridículo quando dizem que a religião não pode entrar no Hard Rock/Metal. Tal como em todos os géneros, todos têm direito de gostar de umas bandas e não de outras, agora quando as bandas são quase iguais e não se gosta de uma apenas e só porque é considerada de “White Metal” já me parece um preconceito que não cabe na minha mente. Consigo facilmente perceber que um fã de AC/DC possa não gostar do som mais complexo de Narnia ou de Tourniquet mas já se torna difícil perceber que alguém diga adorar Skid Row ou WASP e diga que Stryper e Bride são uma porcaria. Eu como Agnóstico não tenho nenhuma ligação à religião e em termos musicais sempre prefiro músicas que goste do instrumental do que propriamente valorizar as letras mas custa-me perceber que muitos preferem uma letra que louve a destruição, que louve Satan ou outros deuses que escravizam as almas em vez de gostarem de uma letra que fale de amor e que louve Deus. Para finalizar vou deixar uma lista de várias bandas que são consideradas de “White Metal“ dentro de alguns dos vários estilos de Hard Rock/Metal: Hard Rock – Stryper AOR – Angelica Hard N Heavy – Whitecross Rock Clássico – Petra Rock Progressivo – King’s X Female Hard Rock – Rosanna’s Raiders Metal Neoclássico - Imppelitteri

Heavy Metal – Neon Cross Power Metal – Narnia Thrash Metal – Tourniquet Metal Progressivo – Deliverance Doom Metal – Veni Domine Death Metal – Mortification Black Metal (Unblack Metal) – Horde Nu Metal – P.O.D.

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Uma atitud e

punk

Entrevista: CSA

É assim que Tiago Correia, responsável pela War Arts Productions, uma editora portuguesa muito underground, mas bem conhecida descreve a sua forma de ver o que faz.

visto que tinham acabado de sair de uma editora alemã. Eu, como também já não devia estar nas minhas plenas faculdades mentais, aceitei. Criei a War Arts só por causa desse lançamento.

Olá, Tiago! É um prazer estar a entrevistar uma empresa nacional devotada ao Black Metal. Olá Cristina. Obrigado pelo convite.

Qual é a vossa divisa? Quais são os vossos grandes objetivos? Sinceramente não sei. As coisas vão acontecendo naturalmente sem grande preocupação. A War Arts é uma editora de Black Metal, mas com uma atitude muito punk em relação às coisas.

Podes contar-nos como surgiu a War Arts Productions? A War Arts surgiu em 2006 através de uma conversa com um amigo em Sintra. Ele é italiano e tocava numa banda chamada Sturmkaiser. No meio de copos de cerveja e música, ele mostrou-me alguns temas que tinha acabado de gravar e eu achei que estavam fenomenais. Então ele, como estava bêbado, desafioume a lançar essas musicas em split com os Vidharr,

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Tanto quanto percebi, a War Arts funciona como editora e distribuidora. No que diz respeito à parte de edição, como seria de esperar, verifiquei que o vosso catálogo inclui sobretudo bandas portuguesas (Irae e Morte Incandescente são bons exemplos).


- Como encontras e selecionas os teus clientes? Eu sou um comprador/colecionador de música, especialmente em formato analógico. Normalmente o pessoal das bandas envia-me uma master para eu ouvir e, se eu achar que compraria essa música, já é meio caminho andado para lançar. No caso das bandas portuguesas, que me lembre, conheço todos os seus membros pessoalmente. Aliás, alguns são meus amigos. Se curtir o som e souber que a cena que fazem é séria, também ajuda a seguir para o lançamento. - Que tipo de serviços lhes ofereces? O que eu faço é lançar o trabalho das bandas da melhor maneira possível, em CD ou cassete, e promovê-los divulgando a sua arte. - Como fazes para o lado gráfico do lançamento dos seus trabalhos? Tens algum artista mais ou menos “anexado” à War Arts? Não tenho nenhum. O meu background são as artes gráficas. É fácil para mim criar e montar uma capa completa com booklet, labels e inlay no Photoshop, Indesign, etc... Já fiz isso para dezenas de bandas portuguesas e estrangeiras até fora do Metal. Se a banda precisar, posso dar uma “mãozinha”. Ás vezes faço-o, outras vezes a banda já tem tudo feito e só tenho de enviar para a fábrica. - E o lado do merchandising? Como funciona? O lado do merchandising funciona da mesma maneira. Umas vezes sou eu que crio os desenhos, outras vezes são as bandas que os enviam. - Como acompanhas as vossas bandas quando estas fazem concertos? Tento sempre acompanhar as bandas em quase todos os concertos, até porque é um bom pretexto para passar um bom momento com o pessoal e beber uns copos. - A War Arts é pequena, logo gostaria certamente de crescer. Dentro do vosso subgénero, que bandas gostarias de ter a assinar contigo? Nunca pensei muito nisso, Como te disse anteriormente, as coisas vão acontecendo de uma forma muito natural e sem grandes stresses ou preocupações. Não penso muito na parte monetária. Seria impossível para mim lançar pela War Arts uma banda de cujo som eu não gostasse do som, mesmo sabendo que iria facturar muito. Teria de ser sempre uma banda do meu agrado e cujo material costume rolar muito em minha casa. Talvez Archgoat, Morbosidad ou Furze. No que se refere à distribuição, constatei que muito do material que tens disponível já é antigo.

- É teu propósito trabalhar com colecionadores e/ou com fãs recentes de bandas veteranas que pretendem completar as suas coleções/atualizar-se? Neste momento, o material antigo que tenho na mailorder é Bathory, Darkthrone, Mayhem ou Marduk. Qualquer distribuidora de Black Metal que se preze, tem de ter estes discos (mesmo que não os venda) na prateleira da loja a ganhar pó. Também temos muitos lançamentos recentes na Mailorder. - Como obténs o material que vendes? Obtenho esse material como todo o pessoal que vende discos. Ou faço trocas com outras editoras ou então compro-os para revenda.

Trabalhas sozinho ou tens alguém a ajudar-te? Caso tenhas um staff, como divides as tarefas? Somos cinco pessoas. Eu (Tiago) que sou presidente, CEO, embrulhador, escravo, secretário etc., dois promotores, o Miguel, que é o Director de Exportações (o gajo que vai aos correios meter as encomendas), e o Sr. Carlos, que é

[…] As coisas vão acontecendo naturalmente sem grande preocupação.

A War

Arts é uma editora de Black Metal, mas com uma atitude muito punk […]

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o senhor da tasca ao lado da minha casa, que recebe o correio (se calhar, posso chamar-lhe Director de Importações) Duas últimas perguntas: - És ou já foste músico? - Se foste, esse envolvimento com a música tem sido importante nas tuas atividades de edição e distribuição? Sou o que se chama um músico frustrado. Sei tocar guitarra e baixo. Algumas vezes junto-me com pessoal para mandar umas palhetadas nas salas de ensaios, mas são coisas que ficam ainda mais abaixo do undergound (na gaveta). Estas atividades são sempre importantes. Respiro música desde que me conheço. Claro que o meu envolvimento nas salas de ensaio com outros músicos influencia as minhas actividades na editora. Queres aproveitar a ocasião para anunciar alguma novidade relativa às atividades da War Art Productions que possa interessar aos nossos leitores? Não há assim nada de especial até ao fim do ano. Este mês de Novembro, sai em cassete o split de Ildjarn com Hate forest, o «Fuck Me Jesus» e o «Those of the Unlight» de Marduk também em cassete e acho que é só isso. Lá para Janeiro/Fevereiro de 2018 é que vamos lançar em LP e cassete o novo álbum de Ruach Raah e o primeiro álbum de uma banda americana chamada Wørsen, que está uma bomba. São uns putos da Florida a tocar Black Metal com muita influência D-beat. Facebook 1 Facebook 2 war art productions

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Tento sempre acompanhar as bandas em quase todos os

concertos, até porque é um bom pretexto para passar um bom momento com o pessoal […]


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Uma jornada interior É assim que Kark descreve a arte de

Dødsengel de que

«Interequinox» é a última manifestação. Entrevista: CSA

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Dødsengel é certamente uma banda espiritual e parece ter raízes muito antigas. Estou a pensar nos símbolos do Antigo Egito que aparecem no vosso logo e na máscara e no objeto que um de vocês tem nas mãos numa foto. Podes comentar esta ideia?

Kark – Essas tuas observações estão corretas! A base ideológica de Dødsengel assenta em Thelema e encontrarás elementos e símbolos dessa religião/ corrente filosófica [criada por Aleister Crowley] em quase todos os nossos trabalhos, em termos sónicos, visuais e líricos. Essa corrente de pensamento dá-nos os instrumentos de que necessitamos para exprimir de forma adequada/completa o que temos para dizer.

A palavra equinox faz-me pensar em estações do ano, viagens, mistério, talvez porque sou portuguesa, portanto descendente e um povo de antigos marinheiros. Que ingredientes destes podemos encontrar em «Interequinox»? Interequinox é o espaço intermédio.

Infelizmente não consegui abrir o ficheiro que tinha as letras deste álbum. Podes dizer-nos quem as escreveu e de que temas tratam?

«Interequinox» refere-se ao espaço entre os éons. Faz-te embarcar numa jornada que te leva através da destruição e da confusão e te envolve na demanda do núcleo duro de um éon que ainda há de aparecer, que ainda está para vir. Cada canção representa um estádio diferente dessa demanda. Encontrar-te-ás cercada pelos fantasmas e pelos restos despedaçados do que dantes existia e essas entidades contar-te-ão a sua história e cantarão para ti a sua canção. Só tens de ouvir e senti-la a ressoar no mais profundo do teu ser.

Como relacionas a capa que Anders Rokkum criou para o álbum com a sua essência? A ilustração é intrigante e, ao mesmo tempo, fascinante.

Eu sei o que ela significa para mim e de que forma a banda a vê em função do tema lírico e musical do álbum, mas não me parece nada interessante revelarte essa nossa interpretação. Cada ouvinte tem de criar a sua própria interpretação dessa ilustração. De qualquer modo, posso revelar-te que, neste caso, a ilustração foi criada antes da maior parte das letras e do tema. No entanto, no processo da respetiva criação, acabaram por se encontrar e por se completar mutuamente da forma mais fascinante.

Quem compõe a música para Dødsengel? Como produzem a essência dramática do vosso Black Metal?

Só escrevemos o que parece natural aos nossos olhos e os nossos lançamentos são o resultado direto dessa opção. Estamos longe de ser unidimensionais em todos os aspetos, daí o registo emocional e dinâmico que caracteriza a música que criamos.

Convidaram outros músicos para participar neste álbum? (Suponho que sim, porque a Debemur menciona vozes masculinas e femininas e a banda só conta com dois homens.) Quem são essas pessoas e o que fizeram em «Interequinox»? Sim, desta vez contámos com a vocalista feminina de Rubedo e Illusions. Ela agraciou-nos com a sua presença em muitas ocasiões anteriormente e isso foi sempre um verdadeiro prazer. Por vezes, é literalmente indispensável recorrer à união das energias masculina e feminina e que melhor forma do que esta para concretizar essa união?

Como é Dødsengel no palco? Onde deverei ir para ver um dos vossos concertos para promover este álbum?

De momento, suspendemos toda a atividade ao vivo. Essa decisão deve-se a razões pessoais.

Dedicam-se exclusivamente à música? Como fazem para lidar com as necessidades da vida quotidiana, quando a vossa música parece mergulhar-vos num universo espiritual bastante fora deste mundo?

A música é certamente o que consome a maior parte do meu tempo. A música tem tantas facetas diferentes que raramente preciso de fazer uma pausa, de me afastar dela. E, quando o faço, é apenas para tentar alcançar uma nova perspetiva, saboreá-la, explorá-la de diferentes ângulos. Nunca é porque me aborreci ou porque estou cansado dela. Para mim, é a forma de arte e de expressão mais viva que pode existir. Podemos ser completamente absorvidos por ela. Quer estejamos a ouvi-la, quer a criá-la, interpretá-la. Há incontáveis formas de a experienciar, de a viver! Pode-se dizer que a nossa música é uma manifestação direta da forma como exploramos o nosso universo espiritual, a nossa jornada interior. A arte que criamos é um mundo de pleno direito e podemos embrenharnos nele em qualquer nível que queiramos em qualquer momento. Também me parece saudável encontrar outras formas de expressar a sua criatividade, Explora! Encontra o que faz eco em ti e apropria-te disso. Facebook Youtube

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Um caos organizado espírito que anima Caïnan Dawn, em

Poder-se-á descrever assim o

ascensão no universo do Black Metal francês. Entrevista: CSA

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O vosso som parece-me ser um Black Metal bastante old school e muito bem acompanhado por melodias. Reconhecem-se nesta caracterização. Heruforod – Trata-se mais propriamente de uma história de sentimentos, de uma maneira de criar e de construir, que leva a este resultado. Trata-se de uma verdade interior, que se anima na fase da composição e que faz com que soemos old school. Dito isto, estamos em evolução, o que, felizmente, nos levará a algo diferente. Não há nada pré-determinado. Que traz Caïnan Dawn ao rico panorama da cena Black Metal francesa? Sim, somos franceses. Sim, criámos música que é classificada com sendo Black Metal, mas, no fim de contas, isso não quer dizer nada. Não vamos acrescentar nenhuma pedra a nenhum edifício, porque já não é esse o foco. O que nos motiva mesmo é conhecer a verdade utilizando a música como instrumento de investigação.

Que papel cabe a cada membro de Caïnan Dawn neste grupo votado à criação musical? A maior parte das composições e ambientes são da minha autoria. Depois, os textos articulam-se

[...] Não vamos acrescentar nenhuma pedra a nenhum edifício [...] O que nos

motiva mesmo é conhecer a

verdade utilizando a

música como instrumento de investigação. [...]

facilmente com a música. Assim que damos uma canção por concluída, juntamo-nos todos para a ouvir e discutir. Na altura da gravação final, cada um dos membros introduz alguns melhoramentos na canção. O que quer dizer «F.O.H.A.T»? Faz-me lembrar o «F.O.A.D.» dos Darkthrone, mas calculo que não tenha nada a ver com ele. De facto, estamos longe do sentido de «Fuck Off And Die», mas, se calhar, nem tanto… FOHAT é a designação dada a uma força eléctrica e vital que une todas as formas que coexistem no mundo cósmico. É ela que o impulsiona e funciona como um eco desta criação, em que nos revelamos. Não estudei Grego (infelizmente), mas o meu conhecimento dessa língua ainda me permite divisar – no título da primeira canção – uma oposição muito importante (Chaos vs Cosmos) e uma relação entre esses dois termos e um terceiro (Theos). Concordas com esta interpretação? Que relação há entre esse título e o tema central do álbum? É muito difícil fazer uma síntese do tema do álbum, porque ele não pode ser apenas visto como um excerto de um todo. Mas, em poucas palavras, a divindade tripla – Caos, Cosmos e Theos – representa apenas três aspetos da sua síntese: o Espaço. O vácuo desconhecido do cubo primordial. É a câmara de incubação, que permite ao Logos manifestar-se, atuar, para que a criação da nossa realidade possa muito simplesmente ocorrer. Reencontramos essa trindade em muitos escritos e crenças. O álbum é dedicado a Helena Blavatsky e à sua "Doutrina Secreta”. Estes temas são amplamente tratados nos seus escritos, que lhe foram transmitidos pelos brâmanes. Quais são as características do vosso som neste álbum? Eu queria obter uma densidade sonora que se pudesse traduzir pela combinação de um lado claro e de um lado cru nos instrumentos. Essas caraterísticas deviam ser a continuidade dos temas abordados no álbum: a pureza da criação combinada com as trevas do caos. São estes os temas abordados neste álbum. Portanto, é muito natural que tenhamos sido nós próprios a ocuparmo-nos do som, como é costume, sobretudo no que diz respeito às guitarras, ao baixo e às vozes. Só a bateria foi gravada por um bom amigo nosso, do Studio Laforge, que conhece bem a banda, logo sabe perfeitamente que tipo de som nós queríamos. Fez um trabalho notável! Por último, queríamos dar um aspeto diferente à masterização do álbum, daí que tenhamos escolhido o WSL Studio para essa parte, também com um resultado excelente Juntaram cânticos à voz principal? Como fizeram isso? Nós trabalhamos sempre com coros, para inserir na

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nossa música cânticos rituais, como se pode ouvir numa canção como “By My Oath”, que faz parte de «Nibiru» [o álbum anterior]. Além da minha voz, quis que o nosso baixista Keithan desempenhasse um papel mais importante na parte vocal. Ele faz um trabalho notável neste domínio com a sua banda Barús e pareceu-nos evidente que deveria gravar partes vocais com características muito peculiares. Também usamos o sânscrito em “Ylem”, porque trata do fim do ciclo de Saṃsāra e os textos que usámos não podiam ser traduzidos em nenhuma língua. Como se articula este álbum com os dois que o precederam? Podemos falar de uma trilogia? Foi algo em que reparei, quando estávamos na fase da gravação. Trata-se de uma trilogia, mas invertida, visto que «FOHAT» é o começo de tudo, seguido por um período de calma – representado por «Thavmial» - e desembocando na destruição – que corresponde a «Nibiru». O que é estranho é que, mesmo ao nível dos textos, está tudo correlacionado. É sempre assim: tudo escapa ao nosso controlo, como aconteceu com o Dr. Frankenstein e a sua criatura… Mas tudo evolui, logo o objetivo final, que assume determinados contornos no presente, será completamente diferente no futuro. Que vai fazer a Osmose para assegurar a promoção do vosso álbum? Trata-se de uma editora que já não precisa de apresentação e faz um trabalho notável, de todos os pontos de vista. O mais importante para nós é estabelecer de forma precisa as datas dos concertos, para podermos pôr o álbum em cena. Já sabia que tinham encomendado a arte do álbum ao Vincent Fouquet (Above Chaos). É um talento fantástico, que também já entrevistei para a Versus Magazine. Como o encontraram? E como é trabalhar com ele? Entrei em contacto com o Vincent bastante tarde, quando já estávamos a desenvolver o álbum. É sempre difícil encontrar artistas competentes para um trabalho preciso e, depois de ter procurado durante muito tempo, pareceu-me que só ele poderia

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assegurar o design para «FOHAT». É um artista muito profissional e muito disponível. A interação decorreu de forma muito natural, do início ao fim da nossa colaboração. Que pensam da ilustração que ele criou para a capa do vosso álbum? Tem um estilo muito próprio para traduzir em imagens as ideias e as emoções, pelo que o resultado final me deixou completamente siderado, logo da primeira vez que o vi. Tu tens uma visão, organiza-la na tua mente, apresenta-la de forma detalhada a alguém e, quando essa pessoa concretiza em papel, não podes ficar mais contente! Podes comentar para a Versus Magazine a imagem que criaste para a capa do terceiro álbum de Caïnan Dawn? Vincent Fouquet – O conceito do álbum é bastante complexo e profundo. Aborda conceitos religiosos e filosóficos universais e transversais, inseridos numa cultura orientada para o budismo e o hinduísmo. Fiz muita pesquisa sobre esses conceitos, para me situar na atmosfera adequada e não cair em contradições relacionadas com esses conceitos muito precisos e detalhados. Portanto, procurei sintetizar várias dessas noções numa só imagem, que ilustraria a capa do álbum: dualidade e ciclo vida/morte, a suástica hindu, que simboliza os quatro mundos ou quatro elementos em que o tempo se desenrola, a energia vital que emana dos seres humanos, a roda solar, o ovo do mundo, entre outros. Esta parceria artística veio para durar? O universo de Caïnan Dawn é muito rico e interessante. É muito inspirador para mim e há muitas ideias a desenvolver a partir desses referentes complexos. Ficarei encantado, se tiver a oportunidade de prosseguir o trabalho que comecei com este álbum. Mas só eles podem decidir se a minha abordagem artística corresponde às suas expetativas relativas aos conceitos a explorar nos seus futuros álbuns. Facebook Youtube


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