Apresentação Argumento é uma revista eletrônica produzida pelos alunos do 8° período do curso de jornalismo na universidade federal do amazonas, como exercício de
conclusão da disciplina Técnica de Redação IV. O objetivo da revista é oferecer espaço para a prática de um jornalismo mais próximo da literatura e da opinião, gêneros que muitas vezes se perdem no exercício da imprensa cotidiana. A revista ARGUMENTO faz nesta edição uma viagem no tempo. Olhando para Manaus, hoje, percebemos que há uma mistura de raças, costumes e culturas. Essa miscigenação, entretanto, não é novidade. Nossos repórteres foram a lojas, casas, hospitais e outros diversos lugares para encontrar figuras que representam a história de um povo vindo para Manaus em tempos passados e que aqui fizeram história e vida. De um lado, mostramos a história de portugueses e espanhóis, os primeiros a descobrirem a Amazônia. Nativos e descendentes contam suas histórias e mostram que, apesar de muito esforço, obtiveram sucesso nessa empreitada. O “eldorado” foi descoberto e decifrado. Eles e seus familiares souberam como aproveitar a terra dos sonhos. Vamos mostrar também a história de japoneses, pessoas que vieram de um país distante e que, mesmo cheios de adversidades, conseguiram construir um novo mundo. Para contar as remotas histórias da década de 20, apenas os descendentes falaram (mas com tanta propriedade que é como mergulhar no tempo e percorrer distâncias). Se de um lado a revista ARGUMENTO mostra histórias de superação e pessoas que venceram e hoje têm, por assim dizer, uma boa condição de vida proporcionada pelo suor literal da floresta, por outro, temos histórias recentes, de pessoas que encontraram em Manaus um refúgio. Nas próximas páginas, vocês encontrarão a história não de quem viveu uma aventura, mas sim de quem está vivendo. Os haitianos, vindos para Manaus depois dos terremotos que abalaram o país, encontraram em Manaus a esperança. Espanha, Portugal, Japão e Haiti... Independente do lugar de origem ou época, as pessoas entrevistadas têm um ponto em comum: foram acolhidos por esse lugar quente em humanidade. Uma viagem no tempo e no espaço, mostrando que o presente é a construção do passado.
Disciplina Prefessor Repórteres
Técnica de Redação IV Antônio José Costa Amikoly Fatu Ana Luisa Deborah Azevedo Mariana Sodré
Cronistas
Felipe Carvalho Raphael Pimentel
Apresentação
Juliana Teles
Fotografia
Victor Castro
Diagramação
Pablo Ayres
Sumário
Vila Amazônia: a saga dos japoneses no Amazonas
Os novos amazonenses
p.3
Coragem e resistência
p.11
p.7
Portugueses no Amazonas um recomeço numa terra estranha e distante p.16
O passado e o presente Uma história contada
p.17
Vila Amazônia: a Saga dos Japoneses no Amazonas Foto: Arquivo
Por Ana Luisa Hernandes
Primeira Turma de Koutakuseis – 1931
Uetsuka, que já havia vindo antes à Amazônia, empreendeu um projeto ousado: organizar e preparar numa escola (a Escola Koutaku), durante um ano, os jovens japoneses que toparam o desafio de virem para a região. Eram jovens oriundos da classe média, a maioria de ambiente urbano, embora o que viessem fazer aqui fosse relacionado à agricultura. Em suas lições, recebiam informações a respeito da terra, das culturas agrícolas mais adequadas, do clima, da cultura local e também aprendiam um pouco da língua portuguesa. O projeto visava ainda criar um Instituto de Pesquisa para avaliar as melhores condições agrícolas e fundar uma companhia para comercializar mundialmente o que aqui fosse produzido.
Nos anos 1920, o Japão enfrentava um período de crescimento demográfico. Muitos estavam desempre-
gados e não possuíam sequer terra para plantar. O processo de imigração estava sendo incentivado pelo governo japonês. Neste mesmo período da história, a Amazônia perdia a hegemonia de seu primeiro grande ciclo econômico – a borracha –, época de grandes construções como o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, mansões dos poderosos barões, e vivia sua decadência econômica. Com um cenário desfavorecido e um território pouco habitado, carente de mão de obra, o então governador do Amazonas, Ephigênio Ferreira de Salles, em 1926, ofereceu ao embaixador do Japão 1 milhão de hectares para que os japoneses interessados implantassem no Amazonas uma colônia agrícola. Isto tanto contribuía para ajudar no problema nipônico como poderia soerguer a economia do Estado. Contudo, um primeiro grupo de japoneses chegou ao Amazonas em 1929 visando à plantação de guaraná no município de Maués, e que acabaria se revelando conturbada por problemas de falência da Companhia que os tinha enviado, de saúde (epidemia de malária e febre amarela) e de alimentação. Só em 1931 chegaram os koutakuseis, como foram chamados os japoneses que migraram sob juramento de não mais retornarem ao Japão. Esta leva de imigrantes foi organizada pelo deputado japonês Tsukasa Uetsuka e, dada sua peculiaridade, teve início na região um projeto que se notabilizaria por ser diferente de tudo o que já havia sido feito na Amazônia.
Enquanto os alunos se preparavam, Tsukasa Uetsuka volta à Amazônia, com vinte técnicos, para procurar o lugar adequado aos egressos da Escola: eram áreas de várzea – próprias para culturas rápidas, que proporcionariam retorno econômico rápido – que cobriam uma área de 300 mil hectares próximos ao município de Parintins. Mais tarde, essa área foi ampliada para 700 mil hectares, situada no lado sul do rio Amazonas, entre Parintins e a fronteira com o Pará. Esta posição era extremamente estratégica, pois os produtos poderiam ser escoados tanto para Manaus como para Belém. O lugar era chamado de Vila Batista e Tsukasa modificou o nome para Vila Amazônia. Em 21 de outubro de 1930 ocorreu a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Vila. Em 20 de junho de 1931, chegaram os primeiros 35 alunos koutakuseis, alguns acompanhados de familiares. Até o final do projeto, mais koutakuseis chegaram totalizando 249
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Foto: Victor Castro
O
engenheiro Valdir Sato, 59, se mostrou muito receptivo e feliz em poder compartilhar comigo um pouco da história dos japoneses e os motivos da vinda do pai, Yukio Sato, para o Amazonas. Ele foi um dos integrantes da primeira turma de koutakuseis que chegou à Vila Amazônia.
“As imigrações ocorreram de 1931 a 1937, e a primeira turma de koutakuseis que veio ao Amazonas era composta de 43 pessoas e partiu do porto de Yokohama, no Japão, a bordo do navio Santos Maru. Foram três meses de viagem, longa e cansativa, até finalmente chegarem ao município de Parintins em 20 de junho de 1931 e desembarcarem na Vila Amazônia. As pessoas que vieram nessa imigração eram cultas, porque já tinham o segundo grau, e naquela época eram poucos os que possuíam essa formação. Os japoneses vieram pelo idealismo, porque foram convencidos de que era um grande projeto. Por isso acreditamos que esta é uma imigração ímpar” Além do período de capacitação no Japão, os koutakuseis receberam ainda preparação e orientação para trabalhar no Instituto Amazônia, criado logo após sua chegada. Passado o período de treinamento, cada família recebeu um pedaço de terra para cultivar. A Vila foi toda planejada nos mínimos detalhes por Tsukasa para atender a demanda de japoneses na região, desde o local das plantações até a construção de moradias, escolas, hospitais, armazéns, estações meteorológicas e outros espaços.
“As turmas que chegavam aqui passavam por mais um ano de capacitação e depois eram submetidas a uma espécie de estágio, em que praticavam na agricultura o que haviam aprendido, realizando diversos experimentos. A partir destes testes, foram adotados critérios para determinar o principal produto agrícola do projeto, a juta. Os critérios foram: ser possível seu transporte através dos rios; produtividade durante todo o ano; fácil comercialização”, explica Valdir, que é também presidente da Associação Koutaku do Amazonas, fundada em 2001.
É importante lembrar que na época o Brasil importava cerca de 60 mil toneladas de juta da Índia, a fim de produzir sacarias para exportar feijão e café. Os japoneses, através de estudos, verificaram que o clima e as condições da Índia eram similares aos do Amazonas e que, portanto, a juta poderia também se desenvolver aqui. Porém, o tamanho da juta indiana era muito maior se comparado à brasileira. Enquanto lá os talos atingiam 4 metros, aqui eles só chegavam a 1,50 ou 1,80, e aí ela parava de crescer. De posse das terras e do conhecimento técnico, as famílias de koutakuseis passaram três anos (1931–1933) cultivando a juta em Vila Amazônia, sem, no entanto, conseguirem sucesso na meta de estabelecer uma possível concorrência com a juta indiana. Grande parte dos japoneses não agüentou e desistiu do projeto.
Valdir Sato – presidente da Associação Koutaku do Amazonas.
Segundo relatos dos próprios colonos, por volta de 1934, o agricultor Ryota Oyama, que não havia estudado na Escola Koutaku, descobriu dois pés de juta, dentre os demais, que não paravam de crescer. Um deles foi destruído à noite durante um forte temporal e as sementes do outro ele entregou para Uetsuka, que as separou em três lotes: um para Oyama, outro para Yoshimasa Nakaushi e o último para a Estação Experimental de Agricultura, onde as sementes seriam examinadas. De 1934 a 1936 os japoneses dedicaram-se a retirar as sementes da juta selecionada. Já com 10 toneladas do produto, a mercadoria foi enviada a Belém e definiu-se o preço pelo quilo. Dada a qualidade superior da juta da Vila Amazônia em relação à produzida na Índia, eles obtiveram um valor 30% superior. Os japoneses e ribeirinhos passaram então a plantar juntos e produziram 60 mil toneladas de juta, tornando o Brasil auto-suficiente em relação à Índia. Em 23 de setembro de 1935 e em 4 de fevereiro de 1936, foi fundada no Japão e no Brasil, respectivamente, a Companhia Industrial Amazonense, que comercializaria os produtos gerados pelo projeto e daria suporte financeiro a ele. A Companhia era presidida por Tsukasa Uetsuka.
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Foto: Arquivo
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período histórico brasileiro, porém, não permitiu que os koutakuseis pudessem desfrutar da independência financeira pretendida na produção de juta. Com a nova Constituição Brasileira, criada em 1934, passou a ser proibida a concessão de terras a estrangeiros superior a 10 mil hectares. Dois anos depois, o Senado decidiu não autorizar mais a concessão de 1 milhão de hectares aos japoneses, conforme acordado. Uma colônia foi desativada, mas não a Vila Amazônia, que havia sido comprada por Uetsuka. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, em meados de 1941, mais um golpe sobre a comunidade nipônica é executado. O Japão é considerado nação inimiga do Brasil e os japoneses que aqui moravam tiveram todos os seus bens confiscados e passaram a ser considerados espiões em território nacional. Com medo, muitos fugiram e se esconderam na floresta, mas os que ficaram foram maltratados e levados para um campo de concentração em Acará, no Pará. No relato de Valdir Sato um dos exemplos de autoritarismo militar e maus-tratos:
“Aconteceu com Zennoshin Shoji, koutakusei da sétima e última turma que chegou no Amazonas, em 1937. Ele recebeu 47 chibatadas com couro de peixe-boi”.
Foto: Arquivo
Após o término da II Guerra Mundial, muitos japoneses voltaram a Vila Amazônia, constituíram família e continuaram a plantação de juta.
Valdir Sato e a mãe Masuyo Sato na infância.
“Minha mãe nos criou em uma situação muito difícil, e por isso sofreu bastante. As mulheres japonesas, em geral, foram verdadeiras heroínas anônimas. Muitas vezes ficavam sem se alimentar direito, para não faltar comida ao marido e aos filhos. Para os nossos pais, o maior sucesso deles acabou sendo o grande desejo de nos educar. Eles podiam passar as maiores dificuldades no interior trabalhando, mas nos colocavam sempre nas melhores escolas e valorizavam a formação”, relembra emocionado, Valdir Sato.
Valdir Sato (meio) com dois irmãos, a mãe e uma amiga na infância. Vila Amazônia: a Saga dos Japoneses no Amazonas
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irmãos, a lembrança de sua adolescência é algo que preza com emoção, principalmente no tempo em que, junto ao pai, Kikurujo Naito, integrante da quinta turma de koutakuseis que desembarcou na Vila Amazônia, viajava pelo rio Amazonas deixando mercadorias aos agricultores nos portos do interior: Foto: Victor Castro
Foto: Victor Castro
Para o delegado de polícia aposentado Jorge Naito, 70, filho primogênito de seis
“Felizmente meu pai tinha uma ambição. Dizia que tinha deixado o Japão porque o país tinha ficado pequeno para ele. Transmitia aos filhos a idéia de conquista, de se tornar vitorioso. Na figura moderna, foi um autêntico líder, uma pessoa arrojada”. Mas as contribuições dos japoneses para o Amazonas não foram somente econômicas com a produção de juta (na Vila Amazônia) e de hortaliças (em Manaus). Eles também deixaram como herança a culinária (molho shoyu, sushi, sashimi, temaki), a dança (clássica ou folclórica), as lutas (judô, kendô, sumô), os instrumentos musicais (tambores, flautas), a língua, e agora produtos eletroeletrônicos e motos produzidos em fábricas do Pólo Industrial de Manaus.
Foto: Arquivo
Jorge Naito – delegado de polícia aposentado.
O idealizador do projeto Vila Amazônia, Tsukasa Uetsuka, ganhou um monumento em sua homenagem no município de Parintins, em comemoração aos festejos de 50 anos da chegada dos koutakuseis no Estado. Em 2009 foram comemorados os 80 anos da imigração japonesa no Amazonas. Finalmente, após 70 anos de espera, em 20 de outubro de 2011, algumas reparações em relação aos japoneses foram feitas durante uma sessão especial realizada na Assembléia Legislativa do Estado: um pedido formal de desculpas do Governo do Estado pelo tratamento inadequado dado aos koutakuseis durante a Segunda Guerra Mundial, o reconhecimento da importância dos trabalhos realizados pelos koutakuseis no Amazonas; o recebimento do título de cidadão amazonense por dois koutakuseis, os senhores Chiba e Shoji; o reconhecimento da juta como ciclo econômico do Amazonas; a reconstrução do cemitério de Vila Amazônia; e a criação do curso de língua japonesa na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Monumento em homenagem a Tsukasa Uetsuka em Parintins. Vila Amazônia: a Saga dos Japoneses no Amazonas
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Crônica
U
Por Raphael Pimentel
ma coisa é certa. Desde muleque sempre tive afinidade com Japoneses. Lembro que em Curitiba, meu melhor amigo, de nome Cássio, cantava escondido, naqueles Karaoques Niponicos, tinha trofeus e tudo guardado em casa, para a familia um orgulho, para o garoto, motivo de vergonha e medo de ser zuado pelos colegas de classe. Tá, confesso que guardei o segredo, mas dai, não rir daquela cena, era pedir demais. Imagine voce, nosso amigo Cassio cantando, ITI NI SANCHI GORRO e sei lá mais o que, vibrando como se fosse um show ao vivo do U2, francamente, era meio bizarro. O destino virou minha vida de cabeça pra baixo, aos 17 anos, me vi em Manaus, praticamente só. Quando acabou o projeto do meu pai, boa parte da família resolveu voltar para o sul. Na terra dos rios colossais, apenas eu e meu irmão mais velho. A lógica seria ficar com ele certo? Errado. Isso se o rapaz, com 22 anos de idade, inspirá-se confiança em minha mãe, mas como na época o histórico dele não era lá dos melhores, a sábia matriarca, não o julgou apto, e nem digno da responsabilidade, afinal de contas, cuidar de um adolescente, não é nada fácil. Acabei por ficar na casa do meu melhor amigo, Rodrigo Makihara, neto de japoneses. Confesso que boa parte dos costumes orientais haviam sido perdidos naquela residencia, mesmo assim, o choque cultural foi inevitável. Dentro de casa, só se andava descalço. No almoço, arroz " unidos venceremos " e ainda por cima sem sal. Botar copos dentro da pia era praticamente um sacrilégio, e olhe, que não era nem preciso abrir uma sindicancia pra descobrir quem fez a merda, adivinha quem era o diferente lá? Agora, a parte mais díficil: Acordar cedo no domingo para ir ao Country Club, reduto dos Japocas em Manaus. Pra qualquer brasileiro um pouco mais preguiçoso, como eu, acordar cedo no domigo, é como levar um belo chute no saco. Por ironia do destino, foi justamente no clube, que vivi momentos únicos da minha vida. Principalmente no bingo, realizado anualmente. Danças típicas como a do Minerador, alegravam o meu dia, aprendi a gostar, até mesmo, daqueles benditos peixes crus , sashimis, sushis, temakis, hoje, sou fã de carterinha. Isso, sem falar no contato com outros descendentes de olhos puxados, que como sempre, são muito fiéis e amigos, um povo muito acolhedor e amável. Francamente, acho que os brasileiros têm muito o que aprender com eles. A primeira lição eu faço questão de ensinar, num recinto frequentado por estes seres de olhos puxados, nunca, em hipótese alguma, chame seu amigo de Japa, acredite, todos os japoneses num raio de 5km vão olhar para você. Fica a dica.
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Os novos amazonenses Por Amikoly Fatu Fonte: Google
Uma tragédia que comoveu o mundo naquela tarde ensolarada de 12 de janeiro de 2010. Às 16h53
de uma simples terça-feira um terremoto de 7 graus de magnitude atingiu Porto Príncipe, capital do Haiti, um dos países mais pobres do mundo.
Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, cerca de 200 mil pessoas morreram e 1,5 milhões ficaram desabrigados, vivendo em barracas em condições subumanas nos arredores de Porto Príncipe. Muitos sobreviventes dessa catástrofe buscaram se refugiar em países vizinhos para que pudessem ter a chance conseguir um emprego e ajudar os familiares que permaneceram no Haiti. No Brasil, Manaus se transformou numa espécie de refúgio para os desabrigados de Porto Príncipe e também a grande e única esperança de um povo sofrido que encontrou no calor dos amazonenses, a força para recomeçar. Em Manaus, os refugiados são abrigados pela Igreja Católica. A instituição os alimenta graças a doações de populares. A comida é limitada e os haitianos têm apenas um mês para aprender a língua portuguesa e encontrar um emprego. A maioria dos haitianos que estão empregados trabalha no ramo da construção civil e nas fábricas do distrito, enquanto que as mulheres trabalham como diaristas ou empregadas domésticas.
Tragédia em Porto Príncipe – 2010
Um novo recomeço A estudante haitiana, Dine Maxime, 24 anos, já está no último ano de Contabilidade e é uma refugiada da miséria subseqüente do terremoto do Haiti. Ela é uma das moradoras do abrigo da Igreja Católica, no centro. Apesar de estar na cidade há oito meses sem conseguir oportunidade de emprego, Dine aparenta estar muito esperançosa quanto à sua vinda à Manaus. Ela afirma estar ansiosa para trabalhar e assim poder ajudar seus familiares que ficaram no Haiti.
“No dia do terremoto, eu estava com meus pais na igreja. A gente se protegia do forte tremor de terra nos escombros do templo, mas meus avós não tiveram a mesma sorte e morreram em casa.”, declara emocionada a jovem haitiana. Antes do terremoto, a vida de Dine era um conto de fadas. Ela vivia para os estudos e para a vida religiosa, fazia curso de italiano, culinária e freqüentava a Universidade e a Igreja diariamente. Nas horas vagas, era professora na escola bíblica dominical da Assembléia de Deus no Haiti e saia para namorar o também haitiano Vitório Wendel, 25, que está em Tabatinga aguardando a Polícia Federal expedir seu visto provisório, que ainda pode demorar meses. Dine e Vitório passaram pelo Panamá, Equador e Peru e gastaram cerca de 5 mil reais cada um para chegar até Tabatinga, município do extremo oeste do Amazonas que faz fronteira com Peru e Colômbia. Lá, Dine sofreu muito com dores abdominais e só conseguiu se recuperar após ser socorrida por moradores locais que a trataram com remédios caseiros. A estudante acredita que ela e o namorado tenham adquirido infecção intestinal com a comida de má qualidade que era servida no barco que os trouxe até o interior do Amazonas.
Os novos amazonenses
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Foto: Victor Castro
Só depende de você
Determinação, foco e força de vontade. Essas três palavras não saem da cabeça do haitiano Loulau Foncilau, 27, que veio ao
Brasil após o desastre em Porto Príncipe. “Lalu” como é conhecido pelos colegas de trabalho foi contratado, há pouco mais de dois meses, ao cargo de garçom do restaurante Picanha Mania, na av. Constantino Nery.
“Há um ano, quando cheguei a Manaus, foi tudo muito difícil. Eu já tinha experiência como garçom em Porto Príncipe, mas não possuía certificado e nem sabia falar português”, conta agora com um português bem claro. Ao ser perguntado sobre as dificuldades de se conseguir um emprego e se chegou a sofrer algum tipo de preconceito, Lalau fala sem rodeios:
“Preconceito existe em todo lugar do mundo. Se você não tiver atitude, ninguém vai te respeitar. Mas, eu acho que o Brasil é uma “mãe” para o mundo. Aqui as pessoas são bem acolhidas”. Depois de ser rejeitado em alguns lugares que procurou emprego, Lalu sabia que precisava se especializar. Estudou Hidráulica Industrial no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e em seguida fez o curso de Garçom no SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) com duração de três meses. Durante esse tempo, Lalu se dedicou muito ao português e conseguiu aprender lendo jornais, revistas e interagindo com as pessoas.
Foto: Victor Castro
Castro Victor Castro Foto: Victor Foto:
“Lalu”, em seu local de trabalho.
Com o certificado do SENAC na mão e o português na ponta da língua, Lalu conta que só foi preciso determinação e força de vontade para conseguir a vaga no restaurante Picanha Mania.
“Quando você sabe o que quer, e o que você tem que fazer, as coisas começam a dar certo.”
Atualmente, Lalu trabalha em dois períodos e sempre que pode, envia dinheiro para sua família que ficou em Porto Príncipe. Ele sonha em voltar à faculdade e terminar os dois anos que restam do curso de agronomia.
“Sempre que eu penso neles me dá vontade de chorar. Mas espero me formar e assim resolver a minha vida por aqui”, afirma esperançoso o dedicado garçom. “Lalu”, em seu local de trabalho.
“Lalu”, em seu local de trabalho.
Os Os novos novos amazonenses amazonenses
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Foto: Victor Castro
Outra história de vida na recente migração dos haitianos à Manaus é da professora Fernanda Innocent, de 30 anos,
A luz de uma nova vida
que deu à luz a pequena Betina durante a viagem de barco até o Amazonas. Fernanda afirma que sofreu com as dores de parto desde o Equador e que não suportou o tempo de viagem de quatro dias de barco. A haitiana se diz orgulhosa de ter uma filha amazonense. “Betina trouxe consigo a esperança do fim de um pesa-
delo, assim como Manaus representa o lugar em que o nosso recomeço terá início”.
Em sua terra natal, Fernanda vivia uma vida comum. Era professora do ensino primário, casada e mãe de outras duas crianças que foram soterradas por escombros da escola onde estudavam. Ela conta que quando o terremoto aconteceu estava trabalhando com o marido na escola de sua propriedade. E, o marido, desesperado em querer ajudar as crianças presas nos escombros acabou morrendo soterrado também. A professora afirma estar muito triste com a situação vivida por seus familiares e, como qualquer mãe, chora todos os dias pelos seus entes queridos mortos na tragédia. Ao mesmo tempo, ela se sente agradecida por Deus tê-la poupado com a sua vida e a do bebê em seu ventre e, agora, enfim, ter conseguido chegar até Manaus. Fernanda sente muito por não conseguir emprego em Manaus. Para ela, as dificuldades da língua a impedem de se comunicar e conseguir uma oportunidade. Enquanto isso, a pequena Betina, de apenas três meses, sofre não com as dificuldades da língua, mas com a falta de uma alimentação adequada para lactantes e a mãe sabe que a criança pode sofrer seqüelas quanto ao crescimento.
Fonte: Google
“Mesmo assim estou otimista para o que o futuro me reservar. Eu e minha filha estamos melhores que no Haiti, lá aumentou muito o número de crianças traficadas com fins de exploração doméstica e sexual e aqui em Manaus minha filha com certeza está mais segura.”, diz a professora.
Fernanda e Betina, no momento de descontração
Verdadeiros heróis
Os refugiados que aqui se encontram são considerados os heróis de suas famílias, pois vieram buscar alimento, dinheiro e saúde nos trópicos. Muitos trabalham o mês inteiro e enviam boa parte de seus salários para seus familiares, outros não encontraram o que procuram apenas mais fome, como os que ainda estão em Tabatinga sem ter como se manter e sem autorização para continuar a viagem. Para estes, resta esperar que o dia seguinte seja melhor. Dizem que os brasileiros não desistem nunca, mas nós estamos aprendendo o que não é desistir com os nossos novos companheiros de labuta. É fácil ver dezenas deles andando pelas ruas ou pegando carona em ônibus da cidade de manhã cedo, eles vão à procura de algo que nosso espírito hospitaleiro amazonense torce para que encontre. Outro dia, no ônibus 352, presenciei o motorista mandando cinco haitianos descerem e entrarem pela porta de trás e ao chegarem ao seu destino o motorista e a cobradora gritaram “Deus abençoe”. Eu acredito que esse é o desejo de todo povo amazonense, que Deus os abençoe e que consigam uma vida melhor.
Família de Haitianos Os novos amazonenses
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Faça Sua Parte Por Bruna Vieiralves
Quase dois anos após o terremoto que devastou o Haiti, a cada dia chegam mais haitianos a Manaus em busca de oportunidades de emprego, uma vez
que seu país ainda não se recuperou da tragédia ocorrida no início de 2010. Mas, embora muitos tenham chegado à capital amazonense enxergando-a como um local propício para melhorar suas vidas e superar as adversidades, ainda são muitos os haitianos que não conseguiram emprego, sendo uma das principais causas disso o não conhecimento da língua portuguesa. Isto também proporciona outras dificuldades. As condições de vida adversas no Haiti pós-catástrofe transformaram a vida dos haitianos mais sofrida. Uma migração desesperada e desorganizada tornou-se imperativa. O Brasil foi um desses países fundamentais para que os haitianos superassem seus problemas. E Manaus, por estar no Norte do país, foi uma das cidades eleitas por eles. Prova disso é o fato de que há, aproximadamente, 1500 a 2000 haitianos em Manaus. Os manauenses estão sendo colocados à prova na questão solidariedade. Apesar de parte de a população local ser contrária ao acolhimento não somente de haitianos, mas de estrangeiros provenientes de quaisquer outros países, outros se sensibilizam com o drama dos haitianos e prestam ajuda. Se pensarmos bem, os haitianos podem, sim, contribuir para o desenvolvimento da cidade a exemplo do que, no passado, fizeram japoneses, libaneses, portugueses, entre outros grupos de imigrantes que ajudaram a compor a história de Manaus e do Amazonas. Outra questão que suscita discussões a respeito dos efeitos da presença de tais migrantes na cidade é a concepção que algumas pessoas possuem de que os manauenses poderiam ser preteridos em relação aos haitianos em seleções para empregos ou que estes possam tomar “rumos diferentes”. Leia-se aqui, problemas sociais para a cidade. Mas isto só ocorrerá se a própria população não ajudá-los. Devemos contribuir para que os haitianos sejam bem-sucedidos em Manaus e se integrem de modo positivo com a população local. Isto parece óbvio, mas poucos têm essa consciência, pois, embora todos devam ser solidários para com vítimas de tragédias naturais, não é isso que se observa em algumas parcelas da população. Muitos estão alheios e não refletem sobre os motivos que estrangeiros possam ter para ir morar em um país diferente. Por outro lado, mesmo algumas pessoas favoráveis ao acolhimento dos haitianos, não procuram ajudá-los de forma prática. Os haitianos em Manaus contam com o apoio de algumas paróquias da Igreja Católica, com destaque para a de São Geraldo, apesar da maioria deles professarem e seguirem outra religião. Se parte da responsabilidade de apoiar os migrantes haitianos é do governo (federal/estadual), por outro cabe à população de Manaus exercer a solidariedade, fornecendo-lhes amparo, apoio às paróquias católicas ou fazendo doações de vestuário e alimentos. Mas, mais importante e digno, é oferecer-lhes condições de emprego para que construam sua independência e sustento financeiro. Cobramos do governo um maior envolvimento com o assunto participando ativamente da integração dos haitianos à vida da cidade, contribuindo para que eles tenham acesso a empregos e possam viver dignamente. Em suma, é importante que governo e população atuem juntos no auxílio aos haitianos, de modo que estes não fiquem sem perspectivas de vida. De fato, todos devem fazer a sua parte para ajudar os haitianos. O drama vivido por eles é triste e traumático, enchendo-os de esperança de recomporem suas vidas em Manaus. Os migrantes haitianos almejam dias melhores e este é um direito de todo ser humano. Portanto, todos os manauenses devem se preparar para receber bem os haitianos. Que cada um faça a sua parte!
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Foto: Victor Castro
Portugueses no Amazonas Um recomeço numa terra estranha e distante A
Por Deborah Azevedo
história dos portugueses no Amazonas é marcada pela coragem, determinação, desprendimento e incontáveis sacrifícios. Homens, em sua grande maioria, mas também mulheres e crianças; arrostando dificuldades e vencendo desafios, levaram a cabo a tarefa gigantesca de desbravar tão grande quanto desconhecida região. O que se lerá a seguir é um pequeno relato de portugueses e descendentes que vieram para o Amazonas em busca de um recomeço, já que a Europa passava por um momento difícil devido às consequências da segunda guerra mundial. A família de Alfredo Monteiro Vieira, 45 anos, foi uma das que veio para o Brasil em busca de um recomeço.
“Meu pai era português puro, mas ao todo momento ele reconhecia e tinha um carinho por esta nação que os acolheu num momento tão difícil que se encontrava a Europa no período de pós-guerra.”, relata Alfredo.
Alfredo Vieira Monteiro é o atual presidente da Benemérita Beneficente Portuguesa
Durante a entrevista Alfredo com muito saudosismo lembrou-se das histórias da vinda dos pais para o Brasil e os momentos de alegria no ambiente familiar. A cada relato lembrado ao mesmo tempo ele assinava inúmeros documentos e atendia os funcionários com aqueles “pepinos” para ele resolver, afinal ele é o responsável de organizar tudo que cabe à função dele de presidente da Benemérita Beneficente Portuguesa em Manaus.
“Aqui é assim eu não paro um instante, sempre resolvendo as questões de documentação, pessoal e organização do hospital e parte dele está em obras aí já viu trabalho redobrado”, disse Alfredo com aquele olhar de preocupação. Alfredo Monteiro Vieira é formado em administração pela Universidade Federal do Amazonas, e tem pós-graduação em gestão hospitalar, por isso, se tornou apto a concorrer a vaga de presidente do hospital português a qual está a frente há 15 anos, resultado de um trabalho de muita dedicação que herdou de família, pois os pais portugueses são um bom exemplo, vieram para Manaus e conseguiram construir um patrimônio.
“Ah, como eu me lembro daquele olhar cansado do meu pai depois de passar um dia inteiro atrás de um balcão para garantir o sustento da família, a aparência de minha mãe não era diferente nunca nos faltou nada, mas levávamos uma vida modesta”, destacou Alfredo com as mãos ainda ocupadas por assinar docu-
mentos. Depois de horas de conversa, e um bate papo nostálgico acompanhado de um bom cafezinho ele falou que a mãe ainda viva, aos 76 anos não podia ficar de fora dessa história, por isso o próximo passo foi ir até a matriarca da família Judite da Glória Monteiro Vieira. Precisou apenas de uma ligação dele e da minha parte como mediadora desta história uma caminhada até a Rua Ferreira Pena. E lá estava ela, na loja de equipamentos esportivos da família, e me atendeu com aquele sorriso foi um pouco de surpresa, não esperava que chegasse tão rápido, mas nada disso impediu que ela falasse das intimidades da família. Portugueses no Amazonas - Um recomeço numa terra estranha e distante
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J
udite da Gloria Monteiro veio de Portugal para o Amazonas no ano de 1958 acompanhada dos pais. A vinda para uma terra estranha tinha um objetivo ter uma vida digna e conseguir erguer um patrimônio para que mais tarde fossem desfrutados pelos filhos, netos e bisnetos. “no início a vida foi difícil, afinal uma terra diferente,
com costumes diferentes, clima diferente eu sofri muito com a mudança principalmente a do clima, para você ter uma ideia nasceu vários tumores no meu corpo”, espantada disse dona Judite.
Com o tempo a terra estranha, se tornou um lar para dona Judite e os pais que abriram um restaurante no Centro de Manaus, “meu pai tinha um restaurante na Visconde de Porto Alegre lá passei parte da minha juventude ajudando minha família e foi neste restaurante que conheci o amor da minha vida”, neste momento os olhos dela encheram-se de lágrimas. Emocionada, ela ia lembrando-se de cada detalhe daquele dia tão especial, “Eu estava trabalhando como num dia normal quando chegou um grupo
de amigos, todos portugueses, um deles era o meu futuro marido Alfredo Soares Vieira. Ele passou a ir ao restaurante mais vezes e eu caprichando no visual e nas iscas de bolinhos de bacalhau, trocamos olhares e logo começamos a namorar, eu lembro ainda que ele tinha uma namorada em Portugal, mas depois ele terminou com ela pra ficar comigo”, falou a matriarca da família rindo.
Emocionada, ela ia lembrando-se de cada detalhe daquele dia tão especial, “Eu estava trabalhando como num dia normal quando chegou um grupo de amigos, todos portugueses, um deles era o meu futuro marido Alfredo Soares Vieira. Ele passou a ir ao restaurante mais vezes e eu caprichando no visual e nas iscas de bolinhos de bacalhau, trocamos olhares e logo começamos a namorar, eu lembro ainda que ele tinha uma namorada em Portugal, mas depois ele terminou com ela pra ficar comigo”, falou a matriarca da família rindo. Mas, nem tudo foi tão simples, o pai de dona Judite não permitia o namoro, por isso ela passou a encontrar Alfredo às escondidas, “Era uma aventura encontrá-lo, até
que meu pai descobriu e neste dia até uma tapa no rosto eu levei”, Falou Judite com a testa franzida de advertência.
Foto: Aquivo
Mas, ela lutou para viver esta história de amor e enfrentou o pai, e casou-se com Alfredo Vieira Monteiro anos depois, “Foi o dia mais feliz da minha vida e fiquei ao lado dele até o dia
da sua morte.”, neste momento ela parou de falar e os olhos novamente se encheram de lágrimas. Alfredo Vieira Monteiro veio para o Brasil em 1957 ele aceitou o convite dos tios que já tinham fixado raízes no Brasil e construído um patrimônio em Manaus. Assim, Alfredo Soares Vieira passou a trabalhar na empresa J. Soares dos tios.
“Meu marido sempre foi muito trabalhador ele tinha o sonho de ter seu próprio comércio em Manaus e depois de muita dedicação ele conseguiu abrir uma mercearia no Centro de Manaus e eu o ajudava fazendo bolinhos de bacalhau e outros pratos típicos da nossa terra mãe”, falou dona Judite articulando com as mãos exemplificando como eram feitos os bolinhos. O segundo dia feliz da vida do casal de portugueses foi com o nascimento de Alfredo Vieira Monteiro, que veio ao mundo no dia 2 de fevereiro de 1966.
“Meu primeiro filho, veio para abençoar e unir cada vez mais eu e Alfredo”, disse dona Judite com um olhar nostálgico.
O casal de portugueses Alfredo Soares Vieira e Judite da Glória Monteiro
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Foto: Aquivo
Alfredo viveu e cresceu no Centro de Manaus ele recorda de uma infância alegre e feliz ao lado
dos pais e do irmão caçula Domingos Eduardo Monteiro Vieira, ele lembra que o pai trabalhava até demais os eventos no Luso Sporting clube e da Beneficente portuguesa muitas vezes o pai não se envolvia por ficar horas e horas trabalhando atrás do balcão da mercearia.
“A vida do meu pai atrás do balcão era escravizante, mas mesmo assim ele sempre chegava em casa com aquele sorriso no rosto. Destaca Alfredo”. Até que um problema nos rins fez com que o pai tivesse que se submeter a uma cirurgia que depois trouxe complicações e Alfredo Soares veio a falecer, “o dia mais triste da nossa família, uma
perda que deixou cicatrizes em nossos corações”, falou Alfredo.
Depois outra notícia triste, Alfredo Vieira Monteiro, descobriu que tinha um câncer no pulmão, e para tentar superar a doença ele contou com o apoio do Hospital português onde passou a fazer quimioterapia, “Foi um momento muito difícil na minha vida, mas graça ao apoio do hospital e da fé
em Nossa Senhora de Fátima fui curado”, falou Alfredo com aquele ar de agradecimento.
Foto: Victor Castro
Alfredo no colo dos pais Alfredo Soares e Judite
Foto: Aquivo
Pela graça alcançada ele passou a ir todos os anos a Portugal para agradecer pessoalmente a nossa Senhora de Fátima por este milagre da vida.
Dona Judite também muito religiosa agradece pela vida filho que tanto trouxe orgulho para os pais, ao ser perguntada pelo sentimento que ela tem pelo Brasil, ela finalizou seu depoimento e esta história com a seguinte frase:
“Portugal é minha terra mãe, mas eu troco meu país de origem sim pelo Brasil, afinal foi “meu marido viveu o suficiente para chegar a ver os dois filhos formados e ainda usufruir do patrimônio que construímos em Manaus e que nossos filhos, netos e bisnetos sem dúvida, darão continuidade”, disse a matriarca da família com aquele olhar marcado pela ação do tempo.
Alfredo Soares despachando como presidente da Benemérita Beneficente Portuguesa
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Foto: Victor Castro
Outro personagem escolhido, para compor esta história de recomeços, tropeços e
superações da imigração portuguesa é o empresário José dos Santos da Silva Azevedo, 78 anos, Cônsul Honorário de Portugal, desde 2000, convidado pelo próprio governo português a assumir este cargo pela comunidade luso-brasileira no Amazonas e dono de vários empreendimentos em Manaus um deles é a loja de eletrodomésticos TVLAR. Ele nos concedeu uma entrevista em seu gabinete no centro de Manaus, com o olhar preocupado, disse, “muitos pensam que é fácil ser empresário, mas são tantos compromissos”, logo entendi que tinha que ser rápida com as perguntas, mas ao começar a entrevista e passar a falar das superações que ele enfrentou para chegar onde estar hoje, ele encarou a conversa como uma boa hora para recordar de momentos que se encontravam adormecidos na memória do empresário. A imigração na família do português surgiu por iniciativa dos avós no ano de 1885, o avô era de uma família de agricultores da cidade de Albergaria Velha e avó era da cidade do Porto, vieram para Manaus com a aventura de melhores condições de vida. Os avós se conheceram no Brasil e se casaram no país, o pai José Azevedo nasceu 16 de julho de 1909 em Manaus na Barão de São Domingos na beira do rio.
José dos Santos da Silva Azevedo em seu escritório na primeira sede da TVLAR
Ele lembra que naquela época todos os comerciantes eram portugueses. “Meu pai teve parte da juventude vivida em Portugal lá ele conheceu minha mãe Maria
Azevedo e ficou na cidade de albergaria Velha por três anos foi quando eu nasci em 26 de julho de 1933, Conta Alfredo.”
No ano de 1934, José da Silva Azevedo veio no colo da mãe pela primeira vez para o Brasil, a mãe dele também pela primeira vez chegou numa terra estranha para encarar uma vida diferente. Depois de um ano ele perdeu o avô devido a uma tuberculose. “Naquela época as pessoas morriam desta doença. Meu avô ainda chegou a
tentar se recuperar em Portugal, mas não resistiu.”
Depois disso ele lembra que a avó Maria Ferreira Bernardes Azevedo se vestiu de preto veio para Manaus e rejeitou qualquer compromisso de novo casamento e passou a viver em função dos filhos e netos, “minha avó era uma mulher íntegra compromissada com família, eu me lembro do quanto se dedicou para criar eu e minha
irmã”, falou com orgulho o Cônsul.
Mais uma vez uma triste perda marcou a vida de José Azevedo, após o nascimento da irmã Maria da Conceição Azevedo, sua mãe engravidou depois de um ano, em um desastroso parto na Santa casa ela e a irmãzinha que vinha ao mundo morreram, “e assim fiquei órfão por parte de mãe aos três anos de idade”, neste momento o empresário parou de falar e começou a chorar com saudade daquela que precocemente foi levada de sua vida. A avó não abriu mão de criar e educar os netos, o empresário lembra que ela sustentava a família trabalhando arduamente na beira do tanque lavando roupas, “meu pai até dava um apoio, mas depois casou novamente e eu preferi morar com a minha avó e eu passei a minha infância ajudando-a, mas não deixava de estudar.”, relata o empresário emocionado. Portugueses no Amazonas - Um recomeço numa terra estranha e distante
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Foto: Victor Castro
José Azevedo cresceu conclui o curso técnico de contabilidade,
e resolveu trabalhar para tentar tirar a avó da vida sacrificante que levava. ”Eu não aguentava ver minha avó tão velhinha
e cansada ainda lavando roupas para os burgueses da cidade. O primeiro emprego de José Azevedo foi como radiotéc-
nico ele trabalhava consertando rádios, e com tempo percebeu que sua vocação estava na eletrônica. “Meu pai conseguiu um
emprego pra mim na Antônio Henriques consertando rádio da Philips vindos da Holanda ganhava um salário mínimo.” Relata o cônsul.do comprando os prédios ao lado”, falou com simplicidade o Cônsul. “Posso resumir que minha vida e de minha família nesta terra foi marcada de muita luta e conquistas, só posso dizer muito obrigado a um país tão acolhedor”, finalizou o empresário português.
Dois exemplos de superações e sucesso contaram apenas uma parte da vida, luta e trajetória da imigração portuguesa, pois muitos vieram para o Brasil, mas nem todos conseguiram se acostumar com o clima da região nem mesmo constituir família e erguer José dos Santos da Silva Azevedo em seu escritório, recebendo documento. patrimônios, para esses ficaram apenas a vontade de mudar de vida e o sonho de encontrar o El dourado. O empresário depois com o fechamento da oficina de rádio da empresa que trabalhava abriu seu próprio negócio, mas enfrentava a dificuldade ainda da falta de energia elétrica em Manaus, apenas alguns pontos da cidade eram abastecidos. Por isso, ele montou a oficina em um local estratégico e pela confiança que tinha conquistado dos fregueses no seu primeiro emprego, passou a ser uma referência da eletrônica e monopolizou todo o ramo de componentes eletrônicos de Manaus da época. “A partir disso,
comecei a guardar muito dinheiro e acumular riquezas e comprei vários imóveis a vista em Manaus”, falou o empresário gesticulando e com aquele ar de missão cumprida. O último projeto audacioso e que fez com que o empresário português fixasse raízes de vez no Brasil foi a exportação de eletrônicos e eletrodomésticos, abriu sua primeira loja na Rua Henrique Martins no Centro de Manaus com o nome de TVLAR e até hoje se mantém com o nome de origem, “antes era só uma portinha um lugar simples,
depois fui ampliando comprando os prédios ao lado”, falou com simplicidade o Cônsul.
“Posso resumir que minha vida e de minha família nesta terra foi marcada de muita luta e conquistas, só posso dizer muito obrigado a um país tão acolhedor”, finalizou o empresário português. Dois exemplos de superações e sucesso contaram apenas uma parte da vida, luta e trajetória da imigração portuguesa, pois muitos vieram para o Brasil, mas nem todos conseguiram se acostumar com o clima da região nem mesmo constituir família e erguer patrimônios, para esses ficaram apenas a vontade de mudar de vida e o sonho de encontrar o El dourado. Portugueses no Amazonas - Um recomeço numa terra estranha e distante
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Coragem e resistência Por Felipe Carvalho
Foto: Victor Castro
Nem a saudade, nem o idioma. O maior problema do imigrante é um só, mas tende a se revelar de diversas maneiras: o preconceito. O grau do desafio é ampliado
para aqueles que vêm de nações marcadas por pobreza ou fatos históricos negativos. Essa é a reclamação dos libaneses, palestinos, haitianos, japoneses e chineses que chegaram a Manaus. Até os latinos fazem coro nessa lamentação. Colombianos, peruanos e bolivianos sofrem debaixo deste mesmo sol que nos afeta, mas enfrentam realidades diferentes com relação à inserção em nossa sociedade. O preconceito amedronta. Dificulta a entrada no mercado de trabalho, o bom relacionamento nas escolas, levanta comentários maldosos entre os vizinhos. Conversava com um grupo de árabes recentemente. Ora com ironia, ora com melancolia, eles comentavam o fato de a barba e o sotaque despertarem tantos olhares tortos e questionamentos sem fundamento em qualquer lugar que eles chegassem. Frequentemente eles tem a imagem associada ao terrorismo. Desde que chegaram a Manaus, no final da década de 40, libaneses e sírios viviam como seres exóticos entre brasileiros. Como resultado, se isolaram em algumas regiões da cidade. Seus cultos eram feitos em quartos e lojas de roupas e importados, longe dos olhos nativos. Apenas esse ano, eles conseguiram concluir o templo mulçumano. Reúnem-se nele, localizado na Rua Ramos Ferreira, todas as sextas-feiras, ao meio dia, para orar. Deixavam transparecer conscientemente o orgulho das próprias origens, enquanto tomavam um guaraná gelado para se refrescarem. Os japoneses enfrentaram o mesmo. Eles fugiram das devastações da 2ª Guerra, mas não conseguiram escapar da imagem de ameaça à segurança nacional. Recolheram-se no Amazonas em colônias. Adapataram a terra e mantiveram suas culturas. Demorou até serem reconhecidos como cidadãos deste Estado: apenas neste ano o Governo do Amazonas concedeu uma homenagem àqueles que buscaram abrigo no norte do Brasil. O fato ganhou repercussão nacional e o país pôde ver uma única placa sendo entregue ao único remanescente daquele grupo migratório. Apesar das diversidades, hoje, árabes e orientais são reconhecidos pela contribuição ao Amazonas. Impossível não associar o bom mercado atacadista da cidade aos libaneses, ou as grandes tecnologias da Zona Franca aos japoneses. Atualmente, os haitianos buscam esta mesma história: terem uma vida melhor e serem respeitados em nossa sociedade. É o que eles querem, simplesmente. Este também deveria ser o desejo natural de todas as pessoas no mundo. Cabe a todos os amazonenses e àqueles que aceitarem esse título contribuir para isso, como se fossemos irmãos. Contudo, este caminho está longe de ser construído. Décadas se passaram e o cenário infelizmente não mudou muito. Pessoas continuam sendo tratadas como animais exóticos apenas por causa da cor da pele, origem e sotaque. Nos jornais, os haitianos aparecem como números – a quantidade que sobreviveu a longa viagem até aqui, quanto pagaram aos “coiotes” para serem trazidos a um lugar seguro, e quanto o Estado vai gastar para mantê-los inicialmente. O preconceito é um crime, principalmente em um país tão miscigenado quanto o Brasil. Negar isso é burrice. É preciso ter coragem: tanto para enfrentar os novos desafios, quanto para aceitar e ajudar aqueles que, por acaso, se distinguem de nós.
Coragem e resistência
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O passado e o presente, uma história contada Foto: Victor Castro
Por Mariana Sodré
O Brasil é um país misto. Povos e culturas diferentes juntos formaram um povo único. Desde sua colonização, o Brasil atrai povos de toda parte do mundo. Com o passar do
tempo, o seu aspecto de “terra prometida” continuou e pessoas da Europa, Ásia, África continuaram vindo para esta terra na busca de sua identificação, em cada região do país. Assim como outros povos, a Espanha também tem sua contribuição à história deste país. Sua presença em terras brasileiras acontece mesmo desde o início do período colonial do Brasil. Porém, só se pode falar de uma efetiva imigração de espanhóis para o Brasil a partir do final do século XIX. A pobreza e o desemprego na área rural espanhola foram os principais responsáveis pela imigração no Brasil, que se iniciou na década de 1880. Conta a história que é nessa década do século XIX que se dá um maior desenvolvimento da tecnologia naval, provocando a saída de milhares de pessoas da Europa em busca de melhores condições de vida nas Américas. No caso da Espanha, a maioria optava por suas colônias ou ex-colônias, pelos laços históricos e culturais que mantinham e, por esse fato, os destinos preferidos dos imigrantes espanhóis eram a Argentina, o Uruguai e Paraguai. Todavia, alguns desses países de língua hispânica passaram a enfrentar problemas financeiros e deixaram de ser um destino atrativo para os espanhóis. Ao mesmo tempo, o Brasil estava em outra situação atraindo imigrantes. Manaus, como outras cidades do Brasil, foi um dos destinos desses imigrantes. Em 1900 eram três mil espanhóis que moravam na cidade. Sabe-se o registro exato porque, com o intuito de dividirem histórias e manterem a cultura, todos se reuniam na Rua Luis Antony, no centro da cidade.
“Eu era menina ainda, mas lembro de meu pai e minha mãe se arrumando para se reunirem com a Sociedade Espanhola de Socorros, na década de 30. Todas as famílias se reuniam ali. Ninguém queria perder a identidade de nossa terra”, conta Carmen Guerreiro, 86. Ela veio para o Brasil em 1925, ainda bebê.
Carmen é filha de Julio Mario e Adelaide Rodrigues. Ela é a mais velha de cinco irmãos, todos os outros nascidos em Manaus, mas todos criados com um toque de cultura espanhola. Ao falar da sua vinda para o Amazonas, abraça sua neta Larissa, que serve um chá a moda espanhola para a sua avó.
“Gosto do chá assim. Era como minha mãe fazia e como ela aprendeu a fazer com minha avó. Tem coisas que não podem mudar. É típico de Toledo”,
referindo-se a cidade onde ela e os pais nasceram.
Carmen conta que o pai, Julio Mario, trabalhava com construção e veio para o Brasil ajudar um irmão que estava morando no Pará. Quando partiu de Toledo ainda nem sabia que sua esposa estava esperando um bebê e veio para o Brasil com a intenção de voltar depois de alguns meses. Chegando aqui se apaixonou pelas terras brasileiras e resolveu ficar. Conheceu alguns espanhóis que acabaram influenciando a vinda dele para Manaus. Portugueses noOAmazonas recomeço numa terracontada estranha e distante passado e- Um o presente, uma história
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Foto: Victor Castro
“Não sei como deu certo. Meu pai mandou uma carta para minha mãe pedindo para ela vir encontrá-lo. Ela estava grávida, quase dando a luz. Esperou que eu nascesse e viemos para cá, eu, ela e meu tio caçula que acabou voltando para a Espanha.” Emocionada, Carmen diz que apesar do clima e da saudade que seus pais sentiam de Toledo, eram muito felizes aqui. Julio
Mário trabalhou em Manaus construindo muitas residências e acabou fundando uma loja de material de construção, que ficou um bom tempo na família. Ele trocou a construção pelo comércio, mas assim que faleceu em 1970 os irmãos de Carmen decidiram vender a loja. Dona Adelaide não queria nenhuma lembrança do marido e cada filho havia escolhido uma profissão diferente.
“Durante a Segunda Guerra muita coisa mudou. Muitos espanhóis foram embora de Manaus e a nossa sociedade acabou. Meus pais sentiram muito e já quase não ficavam mais na cidade. Iam para o interior e passavam muito tempo lá” explica
Carmen, pausadamente, o real motivo pelo qual muitos espanhóis se afastaram da cidade. Segundo ela, a cidade mudou completamente. “Tudo era festa e glamour. De repente, nossa sociedade acabou. Sinto falta de muitos amigos”, diz emocionada. Entretanto, Carmen diz que até hoje cultiva os amigos daquela época que ainda estão vivos. Junto com os descendentes, ela ainda se reúne regularmente. Várias famílias espanholas vieram para Manaus por diferentes motivos e encontraram nessas associações e comunidades espanholas um pouco de casa e uma forma de manterem suas origens vivas. “Amo o Brasil. Fui criada aqui. Mas a Larissa, minha neta, sabe que
é muito importante conhecermos o local de onde viemos. Todos os meus filhos conhecem Toledo e trazem um pouco de lá para cá”, sorri Carmen. Foto: Victor Castro
Carmen Guerreiro, 86 anos.
Assim como Carmen, Luis Vallejo, 50, nascido em Madri, também veio para Manaus, mas a sua história tem trajetos diferentes. Luis está em Manaus há três anos, desde que veio trabalhar na multinacional Gillette, no Distrito Industrial. A proposta de vir para Manaus foi muito significante para ele porque sua mãe é amazonense e conheceu seu pai quando ele trabalhou em Manaus nos anos 1950.
“Meu pai veio para Manaus trabalhar em um projeto de seu amigo. Conheceu a Sociedade Espanhola. Morava perto dela. Ao fim do projeto, em 1951, meu pai estava em Tefé com seu amigo Sérgio e lá conheceu minha mãe, Neuza. Ela foi para a Espanha com ele e se casaram”. Ele brinca com a coincidência e diz que não é casado, mas que poderá encontrar sua esposa no Amazonas, como aconteceu com seu pai.
Luis Vallejo, 50 anos O passado e o presente, uma história contada
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“ inda não conheci Tefé, mas irei lá certamente. Significa muito para minha mãe. Eles nunca retornaram ao Amazonas, mas virão esse ano passar o Natal comigo”, conta Luis fazendo planos. “Meu pai tem muitas lembranças de Manaus e da Sociedade, local em que se reunia com os outros espanhóis. Ele me dizia que, apesar de algumas dificuldades da época, era incrível ver a nossa cultura sendo disseminada por aqui.” Luis imigrou para o país em outra época e em outra situação, mas reflete bem a razão que envolve sempre os processos migratórios – o trabalho. Assim como seu pai, Fernando, Luis veio para Manaus com uma missão específica e a trabalho. “Vim pela Gillette e ano que vem volto para Madri. Isto é, se eu não construir uma família aqui”, brinca ainda se engasgando no sotaque. A imigração gera sempre uma mudança e visa sempre uma melhora. Os motivos são parecidos, as histórias diferentes, mas a origem e a essência são as mesmas e se cruzam. Na conversa com Carmen, ao responder se conhecera Fernando Vallejo, pai de Luis, depois de alguns segundos de silêncio, ela diz que não. “Mas não é impossí-
vel eu ter esbarrado nele uma ou duas vezes. Nós, da Espanha, atraíamos uns aos outros naquela época, mas mesmo assim éramos muitos e não me lembro de todos”. Em 2011 não é mais possível se ver comunidade hispânica que se reúna sempre em Manaus, mas com a tecnologia de comunicação as culturas tanto se agregam como se encontram. Os descendentes agora têm outros meios de encontrarem seus conterrâneos e não dependem mais de reuniões físicas da Sociedade. Assim, as histórias não só se repetem, mas se complementam. Anos depois de Fernando, seu filho Luis vem para Manaus e começa a sua própria história trazendo mais da Espanha moderna para cá e levando parte da nossa cultura para lá. Assim poderá trocar experiências com seu pai e também contribuir em outra época para a influência espanhola na cidade de Manaus.
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