Comportamento Social
Victor Sanches
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3 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS
t l c Liberdade e í i a
Oferta de bebida é variada nas noites campo-grandenses e o consumo se torna uma forma de inclusão social Patrick Alif Victor Hugo Sanches A bebida alcoólica é protagonista das noites campo-grandenses. Na maioria dos casos, o consumo é entre jovens de 20 a 30 anos. Em algumas situações, a responsabilidade se perde nos excessos da bebida. A alteração no comportamento dessas pessoas é influenciada pelos ambientes, músicas e iluminação. A diversão irresponsável pode ter consequências irreparáveis na vida de um cidadão. Por isso, a colaboração e a conscientização da população são indispensáveis. Mesmo que a fiscalização do bafômetro apresente uma pequena margem de erro, a imprudência no trânsito não permite tolerância. Excessos e exceções da noite Mesas de bilhar são realçadas por luzes difusas, que envolvem as pessoas
e permitem privacidade nos olhares. As geladeiras de bebidas se espalham por todo o espaço, sinalizadas por leds brilhantes que funcionam como bússolas para os frequentadores da noite. A atração principal ainda não subiu ao palco. Pequenos grupos se divertem de formas diferentes, na companhia do álcool. O ambiente é envolvido por solos de guitarras e uma decoração repleta de estrelas do rock internacional. A música e o álcool se sincronizam e permitem maior intimidade aos grupos. A cerveja ganha destaque no consumo e funciona como passaporte da noite, introduzindo o contato com bebidas mais fortes. Com o início do show, todo espaço é preenchido. O balcão de bebidas é longo e variado. Existe uma sintonia entre as pessoas: consumir. A caipirinha e a vodca ganham espaço na
festa. O consumo de destilados nesse momento é grande. Mudanças no comportamento já são notáveis e o efeito do álcool começa a apresentar alguns sinais. A estudante Maria Rita, 21 anos, consumiu álcool por grande parte da noite. A música a deixou mais desinibida. Com a canção Natasha, da banda Capital Inicial, fez de um taco de bilhar seu instrumento musical e parceiro de dança. Maria Rita atingiu o lustre da mesa de bilhar com o taco algumas vezes, além de realizar uma jogada que lançou uma das bolas do jogo para a pista de dança. A reposição é constante, não existe intervalo no consumo. As pessoas começam a compartilhar suas próprias bebidas, pedem ou oferecem um gole para o companheiro. O convite ao álcool é explícito. A razão é perdida momentaneamente. alguns grupos
gritam, apresentam desequilíbrio e realizam declarações de amizades exageradas. Alguns homens perdem o respeito pelas mulheres. Tentam agarrar a força ou arrastar para um espaço mais reservado. A proposta da noite é a diversão sem compromisso. O efeito do álcool é diferente entre indivíduos. O andar desequilibrado promove o choque com algumas paredes próximas ao banheiro. O excesso de euforia toma conta do rosto do jovem Ricardo, 22 anos, que ao longo de seu percurso imita o andar de um dos seguranças. Junto de seus amigos, distribui abraços e cumprimentos. Possui característica marcante de longos cabelos encaracolados, grande semelhança com o lendário guitarrista Slash.
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Continuação da pág. 3 Saideiras da noite No banheiro, nas mesas e em vários cantos há latas e garrafas vazias. Algumas pessoas ao se deslocar pelo ambiente, tropeçam. É possível notar novos efeitos da embriaguez, caracterizada pelo isolamento e uma aparente reflexão pessoal. É o caso do programador Jorge Ibiza, 30 anos, que apresenta olhar fixo e distante, com a expressão facial similar a de um zumbi. A música parece ser sua única aliada no momento de desânimo, que é refletida em seu cantar solo. Todas as luzes se acendem e o show da banda chega ao fim. Alguns
indivíduos continuam a beber. Fora do estabelecimento, alguns veículos saem em alta velocidade. Notamos um táxi no local a mais de 10 minutos. Conversamos brevemente o motorista e constatamos que sua presença se deve a uma solicitação aparentemente não correspondida. O taxista afirma ainda, que sua atuação no local acontece por volta das 4h, onde seu maior público são pessoas com sinais de embriaguez. Atravessamos a rua e analisamos três carros estacionados sobre a calçada na contramão. Nesse momento, três indivíduos se aproximam exaltados em nossa direção com gritos agressivos. Corremos no sentido oposto, desenfreadamente, até despistá-los. Por pouco, não fomos vítimas da embriaguez alheia.
Victor Sanches
Na contramão dos problemas
O consumo de álcool é uma forma de ostentação
Patrick Alif
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 4
Comportamento Social
Iluminação e cores das bebidas podem induzir ao consumo permite uma primeira reflexão de sua Quinta-feira, 10 de novembro de situação, em comparação aos demais 2011. O estudante Éder Túlio Pereira casos. “Uma noite eu reclamava de Bezerra é vitima de um acidente de trânmuita dor na perna, pedindo morfina sito provocado pelo consumo alheio ou algum outro remédio. A enfermeira e irresponsável de bebidas alcoólicas. pediu então para eu me acalmar, pois Éder retornava do velório da mãe de das sete baias da sala, eu era o único um amigo pilotando sua moto, quanque podia conversar. Todos os outros do um indivíduo alcoolizado entrou pacientes apresentavam um quadro na contramão com um automóvel e o grave, como por exemplo, traumatismo atingiu.“Foi constatado no bafômetro, craniano e estado vegetativo. A partir que a pessoa que me atropelou fez o disso, cheguei a conclusão que nós não consumo excessivo de álcool. A carteira temos problemas, somente soluções”, de habilitação foi retida, o carro apreenreflete. dido e o indivíduo encaminhado à deleApós o acidente, Éder encontrou gacia. No entanto, o condutor realizou no esporte a motivao pagamento de uma ção para o recomefiança e foi liberado”, “Foi constatado no ço. “Sempre estive lembra Éder. O estudante fi- bafômetro, que a pessoa envolvido com escou por 40 dias na que me atropelou fez o portes. Encontrei na paracanoagem uma Unidade de Trataconsumo excessivo de identificação muimento Intensivo da to forte, pois desde Santa Casa de Camálcool” pequeno gosto de po Grande, foi subágua.” Há um ano e metido a 30 cirurgias, Éder Túlio Pereira meio, Éder pratica recebeu 18 bolsas de a modalidade e já sangue e teve sérios acumula conquistas.“Obtive a minha problemas de funcionamento nos primeira medalha no Pantanal Extremo rins. A aceitação da nova realidade foi de 2013, ficando com o 4º lugar e deum processo delicado, em função do pois o 5º lugar na descida de corredeira desfecho inesperado. Ao recobrar a do Rio de Janeiro. Atualmente, sou o 5º consciência, Éder nota que perdeu a do ranking brasileiro de velocidade”, perna esquerda e o choque psicológico relata Éder. foi inevitável. “Os médicos não podiam me contar por causa da minha pressão. Impressões destiladas No dia em que percebi a amputação, A microempresária Sandra da surtei. Dormi uma semana amarrado Costa Lopes Quadros, 45 anos, free falei que minha vida tinha acabado”, quenta ao menos uma vez na semana, recorda o estudante. ambientes de música sertaneja que enA condição de outros pacientes volvam álcool. Familiarizada com esse presentes na ala de recuperação de Éder
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tipo de ambiente, ela considera o consumo exagerado.“Existe mudança de comportamento e perfil, a autoestima aumenta e as pessoas se tornam mais espontâneas. É possível notar quem já bebeu”, comenta Sandra. Nos ambientes que frequenta, grande parte do público tem entre 20 e 30 anos, com predomínio feminino. “A oferta de bebida é muito grande. O consumo é alto principalmente por grupos maiores, onde o destilado se destaca. Não existe controle. Algumas pessoas exageram tanto no consumo do álcool, que se tornam vulgares”, afirma Sandra. A psicóloga Inara Barbosa Leão, 55 anos, define o álcool como um indutor de relações sociais que funciona como marcador de status em alguns ambientes. “O consumo é algo que se torna necessário. Não que dependa da nossa vontade, mas sim pela necessidade de enquadramento social. É uma forma de ostentação”, atenta Inara. A psicóloga explica ainda, que o álcool promove dois efeitos simultâneos: o euforizante
de punição para condutores que fazem e o depressivo, que se manifestam de o consumo de álcool, com base no Cómaneiras aleatórias dependendo de cada digo de Trânsito Brasileiro. A primeira organismo. é do Artigo 165, que proíbe “dirigir Inara relata que a música, a ilumisob a influência de álcool ou de qualnação do espaço e as cores das bebidas quer outra substância psicoativa que podem induzir o indivíduo ao consumo. determine dependência”. Nesse caso, “A música tem um efeito visceral que se caracteriza infração administrativa, altera a forma de percepção da pessoa sujeita a multa de R$ 1915,40. no ambiente, permitindo maior interaA segunda situação tividade com a dança, por é referente ao Artigo 306 exemplo. A iluminação pode induzir o consu- “Algumas pessoas que proíbe “Conduzir mo de bebidas por suas exageram tanto veículo automotor com cores e contrastes, e não no álcool, que se capacidade psicomotora alterada em razão da inpropriamente pelo sabor. Essas combinações se tornam vulgares” fluência de álcool ou de outra substância psicotornam possíveis através que determine dedo efeito desinibidor que Sandra Quadros ativa pendência”. Neste caso, o álcool provoca, alterané enquadrado como crime do o comportamento, o com detenção de seis meses a três anos, perfil e a personalidade das pessoas”, multa no mesmo valor e suspensão finaliza a psicóloga. ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo Tolerância quase zero automotor. Segundo o Batalhão de Polícia A pena dos artigos tem como critéMilitar de Trânsito de Mato Grosso do rio a análise de bafômetro. A tolerância Sul, (Bptran), existem duas categorias
Comportamento Social é zero na constatação de consumo de álcool, mas é aceita uma margem de erro do equipamento de até 0.04 miligramas no teste. Quando o bafômetro indica valor igual ou superior a 0.35 miligramas, é enquadrado no artigo 306 como crime. O condutor tem o direito de se recusar a realizar o bafômetro. Porém, o policial de trânsito tem a autoridade para encaminhá-lo a delegacia quando nota sinais de embriaguez. A estratégia de fiscalização no trânsito da Bptran em Campo Grande é feita com base em estatísticas computadas mensalmente e denúncias da população pelo número 190. A atuação é mais dinâmica e permite operações em locais que apresentam maior quantidade de infrações. Os horários que acontecem as fiscalizações são aleatórios, dependendo de ocorrências e a situação do trânsito. patrickalif@hotmail.com victorhugo.sanches@hotmail.com
Victor Sanches
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Segundo o Bptran, em 2013 o álcool foi protagonista de 405 infrações de trânsito na capital