Dependência equina
O cavalo tem uma história de 8 mil anos com o homem. A relação tem origem na utilização do animal para trabalho, lazer e esporte.
Texto & fotos: Patrick Alif e Victor Sanches
E
m Mato Grosso do Sul o cavalo é fundamental no meio rural, para demandas na agricultura e pecuária e também locomoção. Em Campo Grande, os equinos são utilizados para a prática de esportes como é o caso do hipismo e atividades que envolvem trabalho, como por exemplo, tração responsável pelo transporte de carga. No cenário urbano da capital, os equinos são personagens na atividade dos carroceiros. O animal ajuda este profissional em atividades como recolhimento de entulhos, galhos de árvores, sofás velhos, geladeiras, sucata, entre outros objetos. Entretanto, o presidente da União dos Trabalhadores em Carroça de Mato Grosso do Sul, Eclevilson Pereira Silveira, afirma que não são todos os tipos de resíduos sólidos que são submetidos ao transporte dos cavalos. “Nós não recolhemos animais mortos e lixo orgânico, pois esta atividade é de responsabilidade do CCZ”, comenta.
No cenário urbano da capital, os equinos são personagens na atividade dos carroceiros
Silveira explica que os equinos possuem um horário estabelecido para trabalharem. “A carga horária adequada para a utilização do animal é em média 4 horas por dia e no período da manhã. Das 10 às 15 horas não é recomendado usar o animal, porque o sol é muito quente. Nós carroceiros conhecemos nossos animais e é um bem que temos. Se maltratarmos o cavalo poderemos ficar sem ele para a execução de nossas atividades. Então a nossa vida é dividida com a vida do cavalo”. De acordo com Silveira, os carroceiros geralmente tem um cavalo de idade abaixo de 14 anos, pelo fato de aguentar serviços mais pesados. “Depois dos 15 anos, o animal deve reduzir a carga de trabalho. O cavalo acima de 18 anos só serve para a pessoa passear, não pode carregar peso algum”. O carroceiro explica também que existe a necessidade de um local adequado para o descanso e os devidos cuidados do animal. “Eu alimento meu animal com capim e ração e cuido de sua saúde com os devidos medicamentos. Tem a chácara de um amigo, aonde deixo meu cavalo de fim de semana ou quando fico quatro ou cinco dias sem usá-lo”, completa o carroceiro. O animal ajuda este profissional em atividades como recolhimento de entulhos, sucata, entre outros objetos
Arte de montaria para fins desportivos, hipismo
O cavalo no esporte Em Campo Grande o cavalo é utilizado na modalidade esportiva do hipismo, que é a arte de montaria para fins desportivos com o animal. De acordo com Mauricio Alves, professor de hipismo, o cavalo precisa de uma rotina de treinamentos diárias e uma alimentação balanceada, para obter bons resultados nas competições. “No hipismo a atividade do cavalo não se resume ao salto. O animal pode fazer trabalho de plano, alongamento e trabalho de guia, por exemplo. Todo este treinamento deve durar em média uma hora, para não sobrecarregar o animal. Por meio da intensidade da competição se sabe a quantidade de alimentação correta que será destinada àquele cavalo”, comenta Alves. De acordo com o instrutor, o cavalo deve ter local adequado estabulado ou em campo para não se estressar. “Mesmo que saia uma hora para trabalhar, o animal deve ter um local apropriado para ficar solto durante um período e pastar”, afirma Alves.
A alimentação do cavalo é composta por uma ração feita na indústria e que vem sob medida para alimentação do equino, além de um complemento alimentar natural que é o volumoso (capim e a alfafa). “A cada 100 kg de peso vivo do animal, damos 1 kg a 1,5 kg de ração. Então um cavalo que possui 400 kg a 500 kg, deve consumir em média 7 kg de ração por dia e 12 kg de volumoso”, explica o instrutor. Além dos treinamentos e dos cuidados com a saúde e alimentação do animal, deve existir um zelo afetivo com o cavalo. De acordo com a hipista Ariana de Freitas, o atleta de hipismo deve ter cuidados específicos com o seu equino. “Para nós que praticamos hipismo, é importante ter cumplicidade e disposição com nosso cavalo, afinal temos treinos intensos de 40 minutos a uma hora por dia, para chegar nas competições e ficarmos somente um minuto na pista. Portanto o carinho e o respeito com os cavalos são importantes para eles não se sentirem desconfortáveis ou assustados e não perderem o foco no trabalho”.
A alimentação do cavalo é composta por uma ração e o volumoso
De acordo com a hipista, a relação com o equino deve ser estreitada além dos treinamentos. “Depois da atividade, faço questão de dar uma ducha no meu cavalo, para ter mais contato e passar mais tempo com ele. Desta forma, adquirimos mais carinho e respeito um pelo outro”, comenta Ariana.
Segundo Alves, o equino precisa de um período de férias. “Em outubro se encerram as competições no hipismo. Se o atleta tiver uma fazenda ou um haras que tiver boa pastagem, é recomendado levar o cavalo para tirar férias neste ambiente. Durante este período, a ração do animal é reduzida e ele não precisa trabalhar”, explica o instrutor.
O cavalo precisa de uma rotina de treinamentos diårios e uma alimentação balanceada
Deve existir um zelo afetivo com o cavalo
O cavalo deve ter local adequado estabulado ou em campo para nĂŁo se estressar
Doma e casqueamento O processo fundamental para estabelecer a relação integra entre homem e cavalo no meio urbano e no meio rural, é a doma racional. Esta atividade consiste em um conjunto de técnicas para amansar equinos, com o objetivo de eliminar ações agressivas na relação e no processo de adestramento, tornando o manejo mais produtivo. Segundo o domador e instrutor do Senar/MS, Hermínio Frangiotti Cardoso, logo na primeira semana de vida do potro é possível iniciar a doma de baixo, um procedimento que vem antes mesmo da doma racional e que consiste no contato inicial com o domador. “A confiança do animal é fundamental. Para essa aproximação é necessária disciplina e paciência”, ressalta Cardoso. Neste primeiro momento, são utilizadas técnicas de comando de voz e exercícios de movimentos repetitivos. Aos dois anos de idade, o potro pode começar o processo de doma racional. “É o período em que apresenta estrutura física adequada para receber o treinamento. Uma boa doma racional pode ser concluída em um período de quatro a seis meses”, completa o instrutor. Outra prática necessária para o cuidado com o bem-estar do cavalo é o casqueamento e a manutenção dos cascos. Trata-se da higienização, correção do desvio para desenvolvimento correto da locomoção e nivelamento com o solo. Estes cuidados são fundamentais para atividades que envolvem lazer, esporte e trabalho. O casco é a base de sustentação do peso dos equídeos, interferindo na saúde e na locomoção dos animais.
O objetivo é eliminar ações agressivas na relação e no processo de adestramento
Consequências da falta de cuidado com os cascos do animal De acordo com o veterinário da Famasul Horácio Tinoco, a má limpeza do casco pode acarretar sérias consequências. “A limpeza não adequada pode produzir a podridão da ranilha, que é uma infecção bacteriana, que causa o mau cheiro e amolece a região da ranilha, comprometendo o membro locomotor do animal”, explica Tinoco.
De acordo com o carroceiro Eclevilson Silveira, a ferradura é essencial ao cavalo no cenário urbano. “Como andamos muito no asfalto, se não colocarmos a ferradura, o cavalo começa a minar sangue e a mancar, e isso prejudica o nosso trabalho.”, comenta o carroceiro.
De acordo com Horácio Tinoco, o equino responde de forma direta quando é cuidado de forma correta. “Se o cavalo é bem cuidado na parte sanitária, nutricional e locomotora, a relação e as atividades desempenhadas com o homem, terão melhores resultados”, afirma o veterinário.
Um outro problema apontado por Tinoco relacionado à manutenção incorreta do casco, é o surgimento de saliências. “Caso a bactéria se instale no casco do animal, pode transformar aquilo em um abcesso, que leva o equino a sentir dor no membro locomotor, dificultando a sua caminhada para beber água e para comer, por exemplo. Além disso, quando o cavalo tem este tipo de problema, ele não pode ser utilizado para o esporte, para o lazer e para o serviço”, atenta o veterinário. Uma terceira consequência apontada por Tinoco são as aberturas de fendas verticais, que pode começar na zona de contato com o chão. “Se o animal anda bastante em determinado terreno, a ponta do casco encosta no chão e abre uma pequena fenda. Se não corrigido de imediato, a fenda aumenta e sobe pela parede do casco. Dependendo da gravidade, pode comprometer o aparelho locomotor do animal”, explica o veterinário.
O casco é a base de sustentação do peso do animal
“Em cenário urbano ou meio rural, os devidos cuidados e respeito com o animal devem sempre existir”