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LÁ NA MANCHA

UM PROJETO DE FOMENTO À CIDADE



VICTORIA CARVALHO

LÁ NA MANCHA UM PROJETO DE FOMENTO À CIDADE

Projeto entregue à disciplina Projeto VI B (PGD fase 2), 8º semestre, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do grau de Bacharel em Design pela ESPM São Paulo. Orientador: Ágata Tinoco

São Paulo, 2016



AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha professora e orientadora Ágata Tinoco, por imergir comigo nesse projeto, todas as palavras de paciência e dedicação, sem a sua experiência e sabedoria, nunca me envolveria da mesma forma no tema. Aos professores da banca de Qualificação, Celso Cruz e Luciano Cardinali pelos questionamentos apontados e as provocações, que foram sem duvida de grande importância pro desenvolvimento do projeto final. Agradeço a uma grande parceira, Julia Krauss que há 3 anos atrás abriu meus olhos para minha própria cidade e foi idealizadora desse projeto comigo estando sempre ao meu lado, a cada crise e questionamento. Agradeço todos meus amigos de curso que adentraram o mundo do design comigo durante esses últimos anos, e aos amigos

da vida que sempre estiveram ao meu lado torcendo por esse e por outros projeto. Imensa gratidão também a todos os profissionais com quem tive o prazer de trabalhar até hoje, com certeza tem um pouco de cada um neste projeto. E aos meus pais, muito mais que gratidão, por sempre proporcionarem tudo e mais um pouco para minha formação, não só acadêmica, mas de vida, eu não sou a mesma sem vocês ao meu lado. Ao meu Irmão, quem admiro muito pelos seus valores que me inspiraram a sempre refletir e questionar a minha forma de ser e estar, sem nunca perder a criança responsável pela criatividade e espirito livre dentro de mim. Minha Gratidão a todos.


“Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” Guimarães Rosa


RESUMO

ABSTRACT

O presente projeto de graduação em design consiste num experimento sobre os signos sociais e culturais da vida urbana e do uso do espaço público. Ele tem o intuito de entender melhor o potencial do design como ferramenta de comunicação, intervenção e transformação da esfera urbana – assunto intensamente em pauta na atualidade brasileira. Por meio de intensas vivências de campo guiadas por metodologias da antropologia somadas a um olhar sensível e crítico do flanar dadaísta, o projeto caminhou para um experimento final: a produção de um material gráfico para intervir no caminho dos passantes em manchas urbanas, seguido da coleta de imagens que ajudam a entender a relação das pessoas com: cidade, manchas urbanas e intervenções gráficas que permeiam por toda a cidade de São Paulo.

This Project of Graduation in Design consists in an experiment about the social and cultural signs of the urban life and the use of public spaces. It has as objective of better understanding design potential as a tool of communication, intervention and transformation on urban centers, a subject very discussed on present context of Brazil. Trough intense living experience in the field, guided by anthropologic methodologies added to a sensitive and critic view as the Dadaist Flaneur, the project grown to a final experiment: The production of a graphic material, to interfere on the way of the passers in an specific part of the city, followed by the collect of images that help to understand the relations between citizens and the city, parts of the city and graphic interventions that fills the whole São Paulo.

Palavras chave: Design • Cidade • Comunicação Visual • Antropologia Urbana • Flanar • Espaço público • Intervenções gráficas • Lambe-lambe • Cartaz

Keywords: Design • City • Visual comunication • Urban antropology • Flaner • Public spaces • Graphic intervention • Poster


SUMÁRIO


MOTIVAÇÃO PESSOAL 11 INTRODUÇÃO 14

PARTE1. UM COMEÇO

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METODOLOGIAS INICIAIS 24 UM PROBLEMA UMA PESSOA UM CAMINHO 48

PARTE2. SEGUNDO MOMENTO 52 METODOLOGIA FINAL

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EXPERIÊNCIAS CORRELATAS EXPERIMENTOS PILOTO METODOLOGIA FINAL

76 106

ANÁLISE DO EXPERIMENTO

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ESTRATÉGIAS DE CONTINUAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS FONTES DE INFORMAÇÃO APÊNDICE 134

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127 130

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Av.São Luiz, centro de São Paulo


MOTIVAÇÃO PESSOAL

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Nasci e fui criada em São Paulo. Passei a vida toda no bairro Vila Mariana, região centro-sul da cidade, lugar em que sempre estudei, frequentei restaurantes, padarias e shopping. Mal saía da zona sul, e menos ainda do carro dos meus pais. Aos 12 anos fui estudar no colégio Bandeirantes e quando estava na sexta série as primeiras aventuras começaram. O colégio tem uma política de incentivar a liberdade de ir e vir, assim os alunos podem sair dos portões sem a necessidade de um acompanhante adulto responsável. A vigilância do colégio era tão eficiente que foi assunto numa pauta da revista Veja que divulgou a ação de seguranças que contratados pela escola tinham como ofício circular à paisana

com o intuito de vigiar as ruas no entorno das estações de metrô Paraíso e Ana Rosa. Dessa forma, criava-se assim essa rede de segurança e uma “liberdade” que sempre gostei muito, me fazia sentir um pouco independente e até adulta. No início de 2013 fui para Lisboa. Morei num bairro central e residencial, aprendi a pegar ônibus para ir a faculdade, mas não sem antes comprar um passe de dois dias no ônibus vermelho de turismo que circulava pela cidade e me pareceu a melhor ferramenta de dar uma olhada geral para entender mais sobre a região onde morava e sobre os lugares que gostaria de frequentar. Nos seis meses que estive em


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Portugal (sem carro) descobri um gosto enorme por andar de ônibus, muito mais que metrô! O ônibus demorava mais, porém podia ver muito mais da cidade e também entender melhor os trajetos, onde ficava cada ponto de interesse de cada região, facilitando assim minha localização e conhecimento sobre aquele lugar. “andando” de ônibus conheci vielas e lugares escondidos que o transporte subterrâneo não revelava. Lisboa oferece certa segurança para andar a pé até de madrugada, a sensação de liberdade que eu tive foi inigualável! Nunca fui uma pessoa andarilha, mas peguei o gosto pela coisa, principalmente por andar livremente sem ter pra onde ir nem hora chegar, simplesmente flanar. Quando estava nos meus últimos meses em Lisboa as manifestações de junho do Brasil estouraram. Com ela uma avalanche de sentimentos diferenciados tomaram meus pensamentos. Medo pela fúria e violência presente nas manifestações, apreensão por mudanças pelas quais eu não estava preparada, orgulho de ver a proporção

que as coisas tomavam com a união de tanta gente, tanta gente como eu. Mas ao mesmo tempo, eu pensei muito a respeito do que eu estaria fazendo se estivesse no Brasil, eu teria coragem de ir as ruas, acharia aquilo tudo correto e verdadeiro? Não tinha certeza. Quando voltei de Lisboa, em julho, trouxe comigo muitas vontades, vontade de ser mais independente, cozinhar em casa, andar mais de ônibus do que de carro, mas obviamente quando cheguei às vias de fato o imediatismo trouxe minha rotina antiga mais rápido do que eu imaginei. Lá estava eu, dentro do carro, dessa vez já dirigindo, presa nos mesmos caminhos de sempre, rotinas, trabalho, faculdade, mas a saudade do flanar em Lisboa ficou. Os olhos, que viram tantas oportunidades de uma vida diferente em Portugal, cegaram ao chegar a São Paulo, com o choque das alteridades de ambos os lugares.


Vista no COPAN de São Paulo,

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INTRODUÇÃO

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Quando dei início ao projeto de graduação, sabia que precisava utilizar essa oportunidade para criar algo que respondesse aos meus anseios de mudança pessoal e também colaborativa. Como cidadã ativa, o quanto eu achava que conhecia a cidade? E quanto eu precisava ainda conhecer dela? São Paulo era grande e assustadora (mesmo aos meus olhos de paulista nascida e criada) que ferramentas poderiam me ajudar a superar essa ideia? Com a intenção de fazer parte de algum movimento de transformação ou participação na esfera urbana, vi na modalidade de projeto experimental uma ferramenta mais livre de conhecimento interno e externo para concluir

o curso de design me tornando mais ativa na cidade, como pretendia quando voltei de Lisboa. E como designer? Como eu poderia aproximar o mundo do design gráfico para esse universo mais sensível e transformador como eu via as artes plásticas, esfera que veio a fazer parte da minha vida muito cedo, e até antes que o design. Sempre desconfiei da ideia crua de que a concepção de criação no design era de objeto ou bem mercadológico e seu status comercial de “prestação de serviços”. Como aproximar uma profissão que tem um histórico de ser um “raio embelezador” para algo que traga mudanças mais profundas e


atemporais do que as que permeiam a esfera do design contemporâneo em um mundo de produção barata e em massa? A palavra projeto foi o que mais me aproximou do curso de Design, a ideia de criar uma linha de pensamentos em que se planeja: pesquisa, observação, criação foi onde debitei minha confiança no desenvolvimento desse PGD que tem como objetivo principal fazer um design de forma mais humana e se tornar fomentador do espaço como um bem cultural, e pessoalmente o projeto contribui com a capacidade de ser uma cidadã e uma designer mais ativa e mais responsável pela cidade em que vivo.

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PARTE1.


UM COMEÇO _Lógica do condomínio _Cidade _Metodologias iniciais _Questões urbanas nas artes visuais _”de perto e de dentro”

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A primeira etapa desse projeto é composta por muita observação e reflexão sobre a cidade. Observei numa ficha antiga de pré projeto o nome inicial desse PGD “Uma experiência de produção, disseminação e fomento cultural democrático no espaço público de São Paulo”. A minha vontade há um ano atrás era de fazer parte de um movimento que eu via emergindo que é a ocupação do espaço público na cidade e, já naquela época as recorrências mais óbvias e intensas contavam com os movimentos culturais. Com o objetivo de descobrir como eu indivíduo e graduanda em Design poderia fazer parte desse movimento dei por início as “vadiagens” e assim muito foi visto, lido, analisado e vivenciado.


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Grafite de Mauro Neri na Rua Vergueiro


CONDOMÍNIO

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O ponto inicial da minha reflexão veio do psicanalista Cristian Dunker e a lógica do condomínio. Dunker caracteriza o condomínio como um espaço criado pelas pessoas, com muros que as protegem do mal e do feio que pode ser visto ao seu redor e nele se encontram livres para adormecer e sonhar em paz. Existe uma estatística que diz que o Brasil se tornou um dos maiores produtores de “comunidades muradas”. Por exemplo: com 64 quilômetros de extensão o muro do condomínio Alphaville em São Paulo ocupa o sexto ranking de maiores muralhas

do mundo (HANLEY, 2015) Dunker diz que construímos novas paredes para acreditar que o mal-estar da civilização ficou do lado de fora. Pelas regras do condomínio, o caos sucumbe a inexistência e as diferenças desaparecem diante da padronização das linhas arquitetônicas, garantia do estilo uniforme das fachadas (DUNKER, 2015). Foi essa reflexão que permitiu que o estudo principal desse projeto fosse a cidade de São Paulo e mais que a cidade, uma cidade para se tomar, espaços para se apropriar, novos e fora do condomínio.


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Tapumes da construtora Cyrella no Parque Augusta


CIDADES

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As diferenças na origem da formação das cidades europeias e brasileiras já prenunciam as diferenças perceptíveis atuais. Cidades europeias atuais se originam de aldeias neolíticas e são resultado de um processo de desenvolvimento com a função de autodefesa da comunidade, que era formada com objetivo de proteger seus cidadãos contra inimigos. Criando assim possibilidades de um ritmo cotidiano de um lugar onde se vive e se trabalha sem preocupações com ataques externos. As cidades brasileiras não tiverem tal origem, nasceram de colônias, um aglomerado urbano, administrativo, político e prestador de serviços para a metrópole, foram construídas contra a própria cidade. A colônia se fortificou contra os inimigos internos, ou seja, se protegendo dos colonizados que ousassem se opor ao poder da metrópole. Assim a cidade sempre teve um caráter de oprimir e limitar seus próprios cidadãos. (WILHEIM,1982). Aos olhos do senso comum, uma grande cidade é vista como lugar de caos, separação e espaços onde não se estabelecem vínculos de sociabilidade. O sociólogo

George Simmel (1976) diz que na verdade as grandes metrópoles oferecem aos seus moradores um modo de vida que difere da forma de sociabilidade de pequenas cidades. A cidade existe como espaço de trocas de pessoas muito diferentes umas das outras, mas isso não ocorre quando algumas escolhem ser cativas em seus “condomínios”, evitando conflitos e contato com essa diversidade urbana. Magnani (1988) propõe duas formas para diagnosticar o caos urbano: a primeira se baseia em aspectos desagregacionais que surgem com o crescimento não planejado (típico das grandes cidades de terceiro mundo) e a segunda é baseada em aspectos semiológicos, quando o caos urbano surge da diversidade e a superposição e conflito de signos que junto com os saltos tecnológicos da era moderna tornaram estruturas urbanas de convivência coletiva obsoletas, além de romper com formas de comunicação e sociabilidade anteriores. Assim, tanto o crescimento acelerado quanto a multiplicidade de simbolismos por


toda uma cidade trazem a privatização da vida coletiva. A cidade de São Paulo tem como herança dos tempos de colônia esse seu caráter opressor e caótico e sua vergonhosa desigualdade social, somando isso a fatores mais atuais como o trânsito, alagamentos e secas, poluição do ar e sonora e outros tipos de violência contra o cidadão e que são mais claramente mapeados como sendo crimes contra a pessoa ou propriedade. Podemos observar que a principal causa de uma cidade como São Paulo ser tão problemática está no fato de ser uma megalópole que abriga quase 12 milhões de habitantes ou seja, nós somos os problemas de São Paulo. Jorge Wilheim ao falar da estrutura urbana de São Paulo a descreve como uma paisagem diante dos olhos do cidadão: “Paisagem nitidamente cultural e construída, constituída por superfícies (planas, inclinadas, curvas), por volumes (grandes, esquento, seriados, verticais), por cores, pelo ritmo de elementos repetidos (postes, arquiteturas). Por signos de legibilidade variada (“out-doors” e outras comunicações), por elementos fixos ou animados (veículos, cursos de água, nuvens ao vento), por arquiteturas (evocativas, significativas) e por elementos vivos (árvores, flores e, o mais importante, as pessoas). A paisagem é um suceder de referências e de surpresas. Ela pode ser tranquilizadora ou excitante. Orientadora ou confusa, bonita ou feia. E ela também tem significado e conteúdo, informando-nos e dando margem a associações de ideias.”

(WILHEIM,1982)

Assim, desenvolvendo a ideia de paisagem, o autor coloca como principal fator de mudança da cidade as pessoas na condição de cidadãos sensíveis, agentes socialmente vinculados que interagem e transformam a cidade com a sua existência nela. Pode se interpretar isso de forma negativa, como dito acima, nós somos os agentes responsáveis pelos grandes problemas urbanos de São Paulo, mas pode se ver isso de forma positiva também, colocando-os como responsáveis pelas mudanças que poderiam ocorrer, melhorando o bem estar físico e social da cidade.

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METODOLOGIAS INICIAIS

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Para o início desse projeto a principal ferramenta foi o andar somado a um olhar crítico preexistente que foi muito explorado ao longo do Curso de Design. Foram pesquisadas metodologias do olhar com foco nas grandes cidades e o estudo de dois mundos: o das artes visuais – com o flanar dadaísta somado aos questionamentos sociais da internacional situacionista, além de relembrar trajetórias de artistas brasileiros como o Hélio Oiticica que construiu seu próprio modo de ver e andar pela cidade – e o da antropologia, mais especificamente a antropologia urbana, estudo realizado pelo professor José Guilherme Magnani, especialista em uma metodologia que ele chama de “de perto e de dentro”.


Viaduto do chรก na noite de Sรฃo Paulo

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QUESTÕES URBANAS NAS ARTES VISUAIS

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As questões urbanas nas artes visuais ficaram mais visíveis aos meus olhos após uma breve leitura da poesia de Charles Baudelaire e o reconhecimento da palavra Flâner, que também personificou caminhadas da vanguarda do dadaísmo, deslocamentos transformados em acontecimento artísticos, por meio de ações públicas no centro de Paris no século 21. O Flâner dadaísta foi um dos primeiros passos para o fim da arte como pura estética presente apenas em salas de exposições, e o início dos trabalhos coletivos de vivência abordando questões sociopolíticas da vida urbana. Os dadaístas junto aos surrealistas alavancaram um movimento em 1957

chamado Internacional Situacionista, um grupo de pensadores e ativistas que se colocaram contra a não participação, alienação e passividade da sociedade. Buscaram, a partir desses pontos, construir um pensamento crítico diante do urbanismo modernista, por meio da reflexão a respeito dos modos do viver urbano que engessou a experiência do homem na cidade e suprimiu o espaço público. Estudar, questionar e reinventar era o objetivo, não só como urbanistas e arquitetos, mas como indivíduos marginalizados e artistas. Assim, como herdeiros dos dadaístas, os situacionistas tinham como preocupação deslocar os questionamentos artísticos para a questão urbana e política.


À procura de ambientes desprovidos do moralismo e do intelectualismo que sempre o cercou em seu condomínio, no Brasil, em 1960, o artista plástico Hélio Oiticica também fez constantes andanças pela cidade, que ele chamava de deliriam ambulatorium. Oiticica que tinha origem na elite carioca encontrou no Rio de Janeiro um mundo marginalizado no morro da Mangueira. Lá, ele se envolveu no cotidiano da comunidade e em atividades como a escola de samba do bairro entre outros. Como artista plástico ele procurou traduzir toda essa experiência por meio da ressignificação dos signos do cotidiano em arte, subvertendo no Brasil pela primeira vez as separações burocráticas de formas de arte, da alta

Estatua de Antonio Carlos Gomes em frente ao Teatro Municipal de são paulo.

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“DE PERTO E DE DENTRO”

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José Guilherme Magnani, especializado em relações urbanas diz que na antropologia urbana o principal método etnográfico, é saber “olhar de perto e de dentro” - um movimento de empatia que permite conhecer a lógica do outro na sua diferença. Sob esse olhar podem se definir regras organizacionais que contrariam o conceito de cidade generalizada e parte por entender categorias ao invés de ver na totalidade. A totalidade de São Paulo não é das mais agradáveis: caos, violência, desigualdade, trânsito, poluição, individualismo, anonimato, desencontros. Mas, São Paulo também pode ser muito rica quando analisamos fragmentos da cidade, como por exemplo: diversidade cultural, paisagens, arquitetura, comportamento e história, é disso que se formam manchas urbanas. As manchas urbanas são áreas contíguas do espaço urbano que possuem equipamentos que marcam seus limites e viabilizam uma prática predominante (MAGNANI, 2002).

Por exemplo, um conjunto de equipamentos como bares, restaurantes, cinemas, teatros, padarias, sebos, museus, galerias etc., constroem um ponto de referência para atividades de lazer em uma área da cidade criando uma mancha de lazer. Uma grande metrópole abriga infinitas manchas que competem, mas, ao mesmo tempo se complementam. O caráter de uma mancha de lazer é menos bairrista, assim recebe bem pessoas vindas de todos os lugares, pois ela é formada por pessoas de diversos lugares, celebrando a diversidade da cidade a mancha é o ponto de encontro e troca desses indivíduos tão diferentes, que se identificam tendo aquela área e aquelas atividades como ponto em comum. Esse momento de identificação de diferentes que é proporcionado por esse espaço é exatamente o que Magnani quer trazer com o seu método etnográfico, a compreensão do outro na sua diferença, o primeiro passo para uma percepção de cidadania em uma metrópole como São Paulo.


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Rua BarĂŁo de Itapetinga, vende sabĂŁo para limpeza.

um

homem


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Vista de São Paulo, do alto do COPAN


DIÁRIO DE CAMPO & INVESTIGAÇÕES INICIAIS _Parque Augusta _Consolação _Praça Roosevelt _COPAN _Anhangabaú

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O diário de campo me pareceu básico para um projeto experimental. Partindo de anotações e alguns esboços fui adiante e passei a descrever nele não só o que via, mas as lembranças passadas e sentimentos presentes. As anotações partiam de fases do experimento: a fase inicial na rua em momentos em que eu vivenciava aquilo; dias depois, ao redigir os textos no diário, revivendo e entendendo como decisões e percepções eram tomadas durante o experimento; e uma terceira, onde pesquisava mais a fundo

informações necessárias para fundamentar alguma percepções e observações que vindas de mim, como um indivíduo, não validavam o experimento por si só. As investigações iniciais de diversas manchas urbanas da cidade de São Paulo foram fundamentais para a imersão no projeto. Tudo que foi observado vira não só repertório visual e teórico, como também vivências que levaram a motivação e inspiração para a criação de um projeto final.


PARQUE AUGUSTA

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Desviando um pouco do objetivo Vila Mariana e intrigada com o evento “isso não é um parque” divulgado no Facebook, senti-me impelida a ir ao Parque Augusta. Esse lugar vem simbolizando a possibilidade de reapropriação do espaço privado para ofertá-lo ao público. A primeira vez que ouvi falar do parque foi perto do carnaval quando por outro evento do Facebook se divulgava uma festa nesse espaço e que, na ocasião, parecia-me uma festa doideira em um terreno baldio. Não era só isso, o parque Augusta é um terreno cobiçado devido a sua localização. Ele abrigou o antigo colégio Des Oiseaux onde estudavam garotas da alta sociedade paulistana, e desde o seu fechamento em 1970 havia a proposta da construção de um jardim público. Após a demolição da escola em 1974, o parque sediou shows de rock e MPB. Com o passar dos anos a área ficou estagnada e sendo usada como estacionamento até o Plano Diretor de 2002 – que previa a implantação do parque Augusta. A partir daí começou uma luta para tombar o terreno e, em 2006 um projeto de lei foi apresentado na câmara para a criação do parque. Em 2008,

o prefeito Gilberto Kassab reconheceu a utilidade do terreno como área de uso público, mas mesmo assim o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) autorizou a construção de três prédios no local. Em 2010, aconteceu a primeira grande manifestação a favor do parque Augusta, muitos moradores da região engajados participaram e divulgaram o projeto, iniciativa que é também acolhida por frequentadores da região do baixo Augusta, ampliando o movimento e dando mais voz a ele. Foi realizado um projeto para catalogar as árvores do parque e provar que o terreno é considerado a última área verde permeável do centro da cidade. É uma área revestida com vegetação (grama, arbustos ou árvores) um bosque na cidade, que conta com árvores centenárias, inclusive espécies remanescentes da Mata Atlântica, como palmeiras e jacarandás. Assim, em 2011, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente apoiou o projeto por meio de parcerias público-privadas. Mesmo assim em 2013 caiu


o decreto que tornava o parque como utilidade pública e o prefeito Fernando Haddad com o novo Plano Diretor trouxe a possibilidade de financiamento privado para a criação de parques. Mesmo assim, em 2015 o Conpresp aprovou um novo projeto das construtoras Setin e Cyrela que prometeram entregar em 2016 o parque como parte de um projeto em que metade do terreno abrigaria duas torres comerciais e o restante seria mantido como parque público . Logo que cheguei na quadra do parque, o que me chamou atenção foram os tapumes brancos das construtoras cobrindo metade do espaço , dificultando o acesso dos cadeirantes pela entrada principal e óbvio deixando tudo com cara de terreno baldio, abandonado e vazio. Dei uma volta na quadra, observei intervenções visuais, muito interessantes, desde pixos, tags, lambe-lambes, adesivos colados nos muros/ tapumes, todos associados à apropriação do parque como espaço público. Quando achei a entrada do parque tive certa dificuldade de entrar devido aos tapumes, alguns policiais na frente intimidavam um pouco e a própria mata fechada que é a área do parque que estava aberta para visitação. O parque Augusta está mais para bosque do que parque, é recluso, não é plano, a vegetação é alta e volumosa. Pude caminhar e ver o que sobrou de caminhos, calçadas. Para mim, realmente pareceu um lugar único em São Paulo, o visitante é transportado para uma realidade muito longe da cidade. Os moradores engajados no movimento já se aglomeravam perto da casa que fica dentro do parque, uma casa bonita, grande repleta de intervenções artísticas nas paredes; pude ouvir algumas conversas e percebi que o movimento que a protege é mais espontâneo do que planejado, o grupo está

sempre por lá, discutindo, se reunindo, cuidando de tudo aquilo. Não existe uma “associação” única e isso não afeta o nível de engajamento deles. Conversando com o manobrista do estacionamento ao lado eu soube que os participantes até se prenderam às arvores como forma de protesto e que o problema do parque é que os muros isolam visualmente o parque, e muitos “baderneiros” podiam usar o local para “uso de drogas e outras obscenidades”. O parque Augusta foi meu primeiro exemplo de espaço público com alto potencial de reapropriação para lazer e cultura, não só por sua localização privilegiada mas pelo seu diferencial: uma área verde incrível remanescente da Mata Atlântica, que de uma forma ou de outra se encontra um pouco abandonado. 33


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Apesar do Tapume das construtoras Cyrella e Sattin o Parque Augusta Resite.


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Intensa comunicação gráfica em pró a conservação do Parque Augusta cobre seus muros.


RUA DA CONSOLAÇÃO, Nº...

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Descendo do carro da minha mãe para mais uma experiência como flaneur, encontro-me no final da Avenida Paulista e sigo em direção ao sebo Travessia. Ele fica em uma galeria da Rua da Consolação que na realidade é uma passagem subterrânea para pedestres que existe desde 1970 como facilitador de travessia da rua. Em 1989, sob responsabilidade do arquiteto Nadir Mezerani, o local passou por uma revitalização e desde então o espaço é usado pela Associação Via Libris de Livreiros que vende livros usados e em parceria com a subprefeitura da Sé cuida e organiza eventos e exposições no local. O sebo Travessia era um dos meus limites quando adolescente, era o máximo que eu ia andando; chegar na Consolação sempre me deixava receosa, ao meu ver era o lugar mais sinistro e perigoso. Hoje, a vejo como a

entrada para uma realidade diferente de São Paulo, a entrada para o Centro, um longo caminho de entrada que eu resolvi descer nesse dia. Sempre conheci a Rua da Consolação como a rua das luzes, devido às muitas lojas de lustres. Quando ia com minha mãe comprar lâmpadas e abajures de carro tinha a impressão de que era um lugar muito longe, acredito que por ele ser tão diferente do visual que eu estava acostumada a ver em São Paulo, a cara de Centro já se percebe na Consolação. Entrei no cemitério, por pura curiosidade, só estive antes em cemitérios parque, e nunca em cemitérios verticais. Estranho, mas dentro do cemitério não se pode fotografar sem autorização, então me contive e me conten-


tei fazer apenas desenhos. No cemitério da Consolação estão enterrados muitos paulistanos famosos, como por exemplo: os intelectuais Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato,Tarsila do Amaral e Paulo Goulart. Perto do cemitério pude perceber pouquíssimas intervenções na paisagem, os muros com muito pouco pixo, poucos carros estacionados e poucos moradores de rua, comparado a outros pontos da mesma rua, acredito que quase ninguém gosta de estar perto do cemitério. Mais adiante, no final da Rua Sergipe desembocando na Consolação um grande terreno baldio me chamou atenção, primeiramente por sua vegetação e depois por uma construção abandonada no seu interior. Como na maioria dos terrenos baldios em São Paulo lá há um estacionamento, o espaço é maior do que pode se perceber de fora. Pitangueiras, amoreiras e até mangueiras, poucos carros estacionados e restos de uma construção inacabada e abandonada. O rapaz no estacionamento não soube me dizer o que foi e deixou de ser esse lugar. No número 1075, está também um dos locais mais incríveis que conheci nas minhas andanças, a Casa Amarela.

37 Muro Cemitério da Consolação


PRAÇA ROOSEVELT

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Continuando meu caminho, havia uma expectativa sobre esse próximo encontro, algo que eu já havia planejado ao descer a Consolação em direção ao centro. A Praça Roosvelt sempre para mim foi um lugar proibido, falavam quando eu era mais nova que não era um lugar para uma menina como eu andar sozinha, mas agora eu sabia que a praça estava nova, segura e que muitos amigos meus já estavam frequentando e adorando. A praça é realmente convidativa, muito limpa e aberta, a base policial transmite segurança, mas ao mesmo tempo pelo seu tamanho e os diversos carros circulando dentro da praça também traz um sentimento de opressão. Muitas pessoas circulavam naquele local, skatistas no seu espaço todo grafitado e com muitas

muretas, rampas e escadas com corrimão, imaginei meu irmão delirando no seu skate naquele lugar. Subindo as escadas é possível ver o quão grande é a praça, os canteiros com árvores de médio porte estão distribuídos com banquinhos para sentar e fugir um pouco do Sol. Os carros da polícia militar entram e saem com muita frequência tornando a experiência um tanto agressiva. O Wi-fi gratuito conquista muitos passantes que se sentam para aproveitar uma sombra e suas redes sociais. Crianças brincam em um muro semelhante a um escorregador gigante e mais skatistas passam pela marquise. Descendo em direção a entrada da Igreja da Consolação visualizei árvores grandes que escondem o segundo acesso para uma pequena continu-


ação da praça, mesmo apresentando traços de reforma com um minúsculo parque para crianças (mais longe da base da PM) este pedaço assemelha-se mais com a ideia de praça que se tem em São Paulo, escondida, vazia, suja e cheia de pessoas em situação de rua. A Praça Roosevelt entre as décadas de 50 e 60 era uma grande área asfaltada e vazia em meio a prédios residenciais, lojas, bares, restaurantes e teatros, usada para diversos fins desde estacionamento até feiras livres. Foi na região Augusta/Consolação que importantes cantores da música popular brasileira fizeram história nos anos 60, e com a inauguração do Cine Bijou, o local virou point para o mundo do cinema arte na cidade. Por estar localizada na região central, a praça sempre esteve no meio de discussões de projetos urbanísticos de modernização da cidade como, por exemplo, a ideia de um centro comercial a ser comparado ao Lincoln Center em Nova York, os planos eram um centro de cinco andares que abrigariam estacionamento, centro esportivo e educacional, loja de souvenir e supermercado. O projeto foi deixado para trás e a degradação aconteceu com o passar dos anos; nas décadas de 80 e 90, a praça abandonada tinha pouca visibilidade por fora devido seu projeto arquitetônico com diversos níveis que servia de incentivo para violência, tráfico de drogas e prostituição. Em 2004 foram iniciadas

discussões sobre uma reforma, bem como os projetos de revitalização do centro. A “Roosevelt” era um símbolo de urbanidade e convivência entre grupos diferentes em um mesmo espaço. Em 2012 ela se apresentava reformada, com ajustes a serem realizados em seis meses e uma base da polícia militar foi instalada por lá como medida de segurança da praça. O caminho continua já bem à beira do centro. Esse fim da Consolação era um lugar que visto da janela do meu carro sempre me assustava um pouco. Como um pórtico, um lugar que não pertence a nenhuma mancha, ele funciona como uma fronteira, terra de ninguém, não é nem mais Consolação, nem centro ainda. Essa passagem sombria, que faço rapidamente sem olhar muitos para os lados me leva a um lugar em que sinto-me mais confortável, e de certa forma segura, para um dos primeiros contatos que tive com a região e um grande ícone de São Paulo – o edifício Copan.

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Intervenção em placa de transito em frente ao atelier coletivo Casa Amarela

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Carros da Polícia Militar que circulam pela praça Roosevelt durante o dia.


Farol de Travessia na Rua da Consolação com a Rua Tangará

41 Crianças Brincando em mobiliário urbano da praça Roosevelt


COPAN

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Construído em 1966, o prédio tinha em seu projeto inicial a ideia de ser um grande centro urbanístico. Acompanhando a intensa industrialização dos anos 50, com expansão urbana e ao mesmo tempo a verticalização do centro, o edifício caiu como uma luva e foi adotado como ícone da modernização em São Paulo. Porém, assim como a sua região, o edifício também foi abandonado no final dos anos 90, a ponto de ser notícia quando as pastilhas da fachada começaram a desprender, chegando até a matar um cachorro de uma passante. Em 2007, em meio ao início dos projetos de revitalização do centro, o prédio foi tombado a pedido de Oscar Niemeyer quando ele comemorou seus 100 anos de idade. Uma proposta de reforma foi aprovada e o prédio começou a voltar à vida. Meu pai, há uns três anos levou-me ao Bar da Onça, localizado na área comercial do Copan; principalmente pela sua localização icônica, o bar é o

novo point de publicitários, arquitetos, designers e outros profissionais da comunicação. Fiquei encantada ao perceber o prédio, que por incrível que pareça só havia visto em fotos (até pelo que lembrava), senti-me parte da história e naquele dia experimentei o pulso daquela região; lembro de voltar para casa conversando com meu pai sobre o Centro e o quanto visitar aquele lugar me fazia sentir em uma das nossas viagens ao exterior. Prédios antigos com ar europeu misturados a obras dos livros de história moderna, um lugar que causa estranheza por sua beleza abandonada, por sua dimensão como abrigo de movimentos culturais e pela nostalgia que está por todos os cantos, de um lugar que já foi o centro da cultura, dos negócios, da cidade. Sofreu de abandono e esquecimento e agora, vive um ressurgimento, renascimento, revitalização.


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Farol Temรกtico em frente ao COPAN


ANHANGABAÚ,

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Quando esse projeto iniciou,e eu já havia escolhido o tema para estudo, uma das razões que mais influenciou a estudar a cidade de São Paulo foi justamente pouco saber a seu respeito, meu repertório era mínimo. Um projeto experimental me parecia a oportunidade ideal para conhecer algo que pouco conhecia. Apesar de morar em São Paulo a vida toda, só passei a conviver ativamente com a cidade há menos de dois anos. Ganhei algum conhecimento sobre a cidade na primeira fase do projeto graças à técnica da pesquisa do olhar “estrangeiro imerso na realidade coti-

diana”. Passei por lugares que sempre havia frequentado, mas pouco observei e fui a lugares que pouco frequentei, mas desde o início me chamaram a atenção por uma breve percepção de algum evento por vezes até insignificante. Fui influenciada por leituras de dadaístas e que investigavam a cidade na procura de questionamentos urbanos capazes de deslocar as artes para as ruas até o estudo do trabalho de Hélio Oiticica que deslocou a realidade das ruas do Rio de Janeiro para o mundo das artes. Procurei durante meu roteiro de campo perceber não somente locais que me chamavam atenção por elementos visuais, mas


Escada de acesso ao túnel que conecta a praça do Patriarca com o Vale do Anhangabaú

também por seu potencial como palco para discussões sobre os problemas de uma grande cidade e também soluções atuais ou futuras para uma cidade que ofereça maior bem-estar. Defini como primeira mancha urbana para palco de vivências e experimentos da segunda parte deste projeto uma área do centro novo de São Paulo, delimitada entre o Vale do Anhangabaú e o Largo do Paissandu. Os pontos principais de referências prévias são o próprio Anhangabaú, a Praça Ramos de Azevedo, Teatro Municipal, Praça das Artes, Galeria do Rock, Centro cultural dos Correios,

Praça dos Correios e o prédio Farol. Em um primeiro contato fui reconhecendo locais por lá que possuem funções parecidas com outros locais citados no diário de campo das outras áreas da cidade como parques, praças, centros culturais e outros equipamentos de lazer. Mas a escolha dessa mancha como primeira a ser trabalhada pelo projeto vem do fato de ela ser uma área que ganhou amplo destaque nas discussões de urbanismo, gestão de cidade e está na pauta da revitalização do centro de São Paulo.

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Prédio na rua 7 de abril

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Tapume de reforma do centro cultural dos correios

Av. São João


Ă‚ngulos do Vale do AnhangabaĂş

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UM PROBLEMA UMA PESSOA UM CAMINHO 48

O artista gráfico e arquiteto Sergio Kon define que “a cidade é o homem; assim se São Paulo é complicada, deseducada, malcuidada, maltratada, vil, cruel, elitista, preconceituosa e discriminatória é porque sua gente a fez assim, é porque nós somos um a sociedade assim” (2008. Pg ). As pessoas são as principais causas e também a principais responsáveis por soluções do mal-estar que percebo na cidade. O estudo da antropologia urbana me apresentou diversas ferramentas para lidar com esse conflito por meio da empatia e das relações interpessoais na cidade. Assim o principal objetivo do projeto é criar um ponto de contato entre pessoas e essa mancha da cidade, lembrando que a mancha é o ponto de encontro na grande cidade, onde indivíduos tão diferentes podem se identificar através daquela área e atividades em comum, e podem potencializar esse encontro e a troca por meio do design.


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Linha de trem da CPTM de São Paulo, Estação da luz


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PARTE2.


SEGUNDO MOMENTO _Reflexões pós banca _Objetivo _Mais da mancha do anhangabaú

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REFLEXÕES PÓS BANCA Depois de muito visto, vivido na cidade e apontado na primeira parte do trabalho, senti que o projeto precisava de um movimento de compartilhamento de forma coletiva e colaborativa. O receio de criar um projeto superficial que não estimulasse ninguém incomodou e abriu caminho ao experimento final. A ideia de criar uma peça gráfica que reflita o estudo inicial na cidade sempre esteve em pauta. Bom, mas como fazer isso sem criar verdades individuais que existem apenas para mim e talvez para algumas pessoas que me conhecem e partilham dos meus devaneios diários? Como criar um projeto final que “prestasse algum serviço”

nem que fosse um pequeno momento de reflexão ou de provocação, mas também fosse um pouco mais além do que uma monografia, um projeto experimental que fosse além da ESPM, da Vila Mariana, de meus amigos e família, do meu condomínio?


Registro

de comunicação impressa nos tapumes da cidade

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OBJETIVO

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O projeto final faz referência à primeira reflexão do início do PGD: o fomento a cidade. Fomento por meio da criação de uma peça gráfica que reflita as vivências iniciais do projeto, as questões levantadas pelos dadaístas e pela Internacional Situacionista sobre alienação e não participação da sociedade na cidade somando a metodologia “de perto e de dentro” do Magnani. Assim foi escolhida como primeira mancha urbana o Vale do Anhangabaú com uma pequena extensão entre o Viaduto do Chá e o Viaduto Santa Efigênia e o largo do Paissandu. A mancha se configurou como tal em função de sua excentricidade e palco central do conflito de reocupação da cidade. A vontade de compartilhar minhas percepções levou a planejar um material gráfico e um modo de sua distribuição passiva por diferentes pontos da cidade, permitindo uma divulgação da cidade para a cidade na cidade e assim criar diversos pontos de provocação dos seus cidadãos. Existe um movimento nas cidades – relacionado à economia criativa e a novas empresas de inovação – que toma o espaço público como um espaço possível de ocupação e passível de ressignificação e co-criação. As ações realizadas no espaço público dão ênfase ao lugar

incorporando-o em todas as suas dimensões físicas, sociais, culturais, ambientais. Assim, os processos do projeto são visivelmente contaminados pelas dinâmicas dos espaços e passam a fazer parte do objeto por meio do trio “co-criar, ocupar e ressignificar” gerar um fomento da cidade numa linguagem contemporânea e democrática aplicada em manchas diferentes e por meios diferentes. Como experimento de design, pretende-se testar os limites da concepção da criação – como um objeto ou um bem mercadológico – sem contestar a inserção do design no mercado e a seu status comercial de serviço, mas sim uma concepção de criação baseada em uma forma relacional e humana; inserir o design em um papel de potencial fomentador do espaço como bem cultural, por meio da provocação visual. Assim, através de um objeto gráfico são propósitos deste projeto tornar a cidade um lugar de reflexão sobre um “estar no mundo” individual e coletivo, Adotando espaços da vida cotidiana físicos (ruas, praças, parques e prédios) e também desmaterializados (internet e redes sociais) como suporte pretende-se incentivar as pessoas a se deslocar do senso comum.


Registro Viaduto do Chรก

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MAIS DA MANCHA DO ANHANGABAÚ

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A “realidade cotidiana” desse lugar foi o que se destacou nas primeiras vivências da segunda parte do projeto na mancha. O vale tem uma multiplicidade de símbolos e signos do cotidiano de uma metrópole repleta de história e cultura, Largo do Paissandu, Teatro Municipal, Centro Cultural dos Correios e Praça das Artes; revestida em realidade social temos a Avenida São João, local em que está localizada a Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) e por coincidência ou apenas consequência existe uma grande aglomeração de ocupações residenciais de diversos movimentos de “sem teto”. O Vale do Anhangabaú também é um dos pontos de atuação da assistência social da prefeitura que encaminha pessoas em situação de rua

aos albergues da cidade. Como todo centro urbano, esta mancha é forrada de comércios de todos os tipos, desde pequenas lojas como a Merielly Discos e Fitas (com grande acervo audiovisual famoso por completar coleções de filmes antigos de seus clientes) até grandes lojas populares como as Casas Bahia (que fica no icônico prédio da antiga rede de loja de departamento Mappin na Praça Ramos de Azevedo). Pequenos botecos que ficam lotados principalmente no horário da manhã competem com vendedores ambulantes como por exemplo o Feitosa – que tem uma banca de lanches naturais, bolo, sucos e café na frente da saída da rua Sete de Abril do metrô Anhangabaú. O ambulante chega às cinco horas da manhã de segunda


Registro edificios no Vale do AnhangabĂş

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Edificios ocupados por movimentos sem

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Trecho da Av. SĂŁo JoĂŁo apenas para pedestres.


a sexta e diz que vende praticamente tudo em sua banca no máximo até as nove horas. Feitosa, segundo o próprio, era corretor de imóveis e largou a profissão para trabalhar na rua e ganhar por mês mais do que o dobro das comissões de venda de apartamentos. Ele disse ainda que o negócio de lanches naturais tem até firma registrada, a fiscalização e os policiais estão sempre observando o empreendimento e, de acordo com as observações dele, isso pareceu ser um dos maiores problemas de trabalhar na rua. Quando questionado sobre as pessoas em situação de rua que tanto frequentam aquela região, Feitosa diz que separa 10% dos lanches para ofertar, pois esse seria o melhor jeito de lidar com esse conflito no seu ambiente de trabalho (realidade que eu vi acontecer depois de uma conversa de dez minutos com ele em sua banca). As pessoas em situação de rua são numerosas nessa região do Centro. Pela manhã a guarda civil passa “recolhendo” essas pessoas de certos pontos da mancha, como o Teatro Municipal que abriga em suas escadarias aqueles que as fazem desde cama até mictório, esse fato é mais que perceptível pois são visíveis os vestígios deixados (cobertores) e o famoso cheiro de urina que permeia não só esse ponto mais muitos outros da região. O censo de população em situação de rua divulgado em 2015 diz que existem 15.905 pessoas vivendo nessas condições na capital e a maioria está nas re-

giões da Sé e no bairro da Mooca. Um preocupante fato é que cerca de 7.335 pessoas rejeitam os centros que acolhida oferecidos pela prefeitura e continuam dormindo nas ruas. De acordo com dados colhidos pela revista digital Vice, reclamações parecem pontuais nesse conflito pois os abrigos são impessoais e as regras como, por exemplo, os horários de entrada e saída, a impossibilidade de dormir junto com um parceiro, dentre outras , desumanizam mais ainda a condição dessas pessoas. O sistema e o seu discurso oficial oferece resposta para tudo dando um parecer que está tudo solucionado e encaminhado. A vida das pessoas é mais complexa, não é tão simples assim. As opções nesses estabelecimentos são ofertadas levando em conta quantidade e não a diversidade; a impessoalidade dos abrigos, inibe os desejos dessas pessoas de terem alguma intimidade, assim, a rua ironicamente parece ser mais acolhedora e emocionalmente mais confortável. O Vale do Anhangabaú e sua multiplicidade e excentricidade foi a primeira mancha a ser considerada para o experimento final. Com a sua riqueza cultural, comercial, histórica e visual contribui intensamente não somente como ponto de partida e inspiração, mas como símbolo de que manchas urbanas paulistanas não são completamente consolidadas e a percepção delas e fundamental para sua transformação dia a dia.

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METODOLOGIA FINAL _Experiencias Correlatas _O Cartaz _Eu sou_nossa cidade _Suportes

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O design para a cidade pode se tornar imperceptível frente às dimensões e promoções urbanas, a multiplicidade de informações de mídia e às vezes também por estarem imersos em um ambiente comunicacional diferente. Como comunicadora também percebo a necessidade de uma abordagem com reflexão na empatia, no estudo do ambiente a se trabalhar por meio de vivência e observação. A elaboração e implementação do projeto consiste em três níveis de realização: reconhecimento do campo, ação e reação. O reconhecimento do campo é fundamentado na metodologia da antropologia urbana “de perto e de dentro” que consiste em um exercício de observação combinado ao de reflexão e empatia em que se analisa não só o que se vê na percepção individual, mas tenta se colocar diante da percepção do outro.

O reconhecimento de campo também se deu por meio da observação da ergonomia do espaço, fluxo de passantes, ruídos no caminho, visibilidade e praticidade. A ação consiste em dispor o material gráfico em um espaço urbano com o aproveitamento de equipamentos da paisagem urbana de forma discreta, a fim de deixar o material intervir no espaço por si próprio e também não interferir na interação do público com o objeto. A toda ação espera-se alguma reação. O terceiro nível do projeto tratou de observar e registrar como as pessoas se relacionavam com o material gráfico disponibilizado. Evitou-se a distribuição direta ou abordagens com o intuito de ter uma percepção da reação mais pura, esta que pode ser efêmera e se dissolver, se perder, restando apenas registros, experiências ou relatos.


61 Praça das artes, no vale do anhangabaú


EXPERIÊNCIAS CORRELATAS

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É papel do comunicador, seja ele jornalista, fotógrafo ou designer potencializar as relações de comunicação entre partes. Existem alguns projetos que abordam a relação de comunicação ativa da cidade e das pessoas, procurando formas diversas melhorar esse relacionamento de forma que a interação seja mais humano, equilibrado e justa, propagando bem estar para ambos. É importante também ressaltar que essa seleção de projetos se apropriam do espaço público como lugar de conflito e portanto tem uma lógica mais ampla de comunicação, que trabalha o não planejado, rompendo uma lógica de projeto ideal, criando territórios livres para experimentação e vivências das relações da cidade, e foi no conflito e no rompimento que se achou inspiração de ferramentas potencializados de um meio de comunicação. Esses que seguem, são grandes inspirações para o caminho que tomou o projeto.


CIDADE PARA PESSOAS 63

Natália Garcia, jornalista, que ao trocar o carro por uma bicicleta, descobriu uma cidade no meio do caminho. Decidiu percorrer o Brasil e o mundo descobrindo historias de transformações urbanas. Criou o projeto Cidade para pessoas, uma investigação que interpreta e experimenta ideias para cidades mais humanas. Natalia defende a criação de um novo repertório, construído não somente de imagens e situações do cotidiano, dos costumes e sim da percepção de lugares diferentes, onde mesmo dentro da sua própria cidade, você entenda a origem dos problemas e suas soluções em potencial, para a criação de pequenos projetos pilotos, com margem para erro, que possam testar em pequena escala as vocações da cidade.


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THE INSIDE OUT PROJECT O artista que descobriu o poder dos retratos e como eles podem se transformar em motivadores de mudanças sociais. De lugares como a periferia de Paris, a favela Providência no Rio de Janeiro ou no Quênia onde, em vez de lambe-lambes de papel, ele utlizou vinil colado nos tetos dos barracos da maior favela da África, como forma de proteger da chuva. No desenvolvimento desses múltiplos pequenos projetos, o artista destaca: “acho que a curiosidade das pessoas que as motivam a virem aos projetos. E então

isso se torna mais. Um desejo, uma necessidade”. A soma de todos esses projetos cria o grande inside out Project, que tem como principal objetivo questionar contextos do mundo atual, invertendo papéis, trazendo contradições e ampliando o que não é visto, através de retratos expostos em grande magnitude. Utilizando a arte para não mudar coisas práticas e sim mudar percepções.


PERCA TEMPO O projeto do coletivo PORO, surgiu de uma dupla de artistas fascinados com os processos de comunicação na cidade e que sempre tem em pauta nos seus projetos o debate dos meios de comunicação oficiais e os meios de comunicação populares. Em 2009 Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada! se apropriaram de uma lógica comercial que se vale de frases como “não perca tempo” ou “tempo é dinheiro” e criou uma campanha publicitária com o slogan PERCA TEMPO. A frase foi divulgada em mídias populares como

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faixas de sinalização, panfletos, cartazes lambe-lambes e bottons. Através de suas ações pequenas e pontuais, a dupla procura desestabilizar práticas corriqueiras e abril relações subjetivas e imprevisíveis, como enigmas poéticos discretamente incorporados no cotidiano da cidade.


O CARTAZ

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A criação da peça gráfica foi simultânea aos experimentos na cidade. Foi fundamental entender a relação e reação do público com a peça para então conseguir absorver e entender o que se comunicava melhor. Com o objetivo de criar um material democrático, tornou-se necessário considerar as vivências e observações além do meu universo e entendimento visual. O material gráfico elaborado tem semelhança com um cartaz e cumpre essa função em uma das faces, já na outra ele se caracteriza mais como panfleto, com referência ao jornal (reforçado pela escolha do papel). O panfleto/cartaz tem uma linguagem visual contemporânea – presente em publicações independentes de baixo custo – e a escolha da fotocópia em preto e branco veio de uma inspiração recente. No começo do ano de 2016 um grande

evento de publicações independentes em São Paulo, a Feira Plana, teve como tema o “preto e branco” não apenas por questões estéticas, mas pelos significados conotativos dessa escolha de impressão. Preto não, é negro, né? Temos que demonstrar respeito, mesmo quando no fundo escuro que pulsa lá dentro achamos eles todos macacos. Mas dizer que é macaco não é educado. Afinal, somos todos macacos. Macacos com medo. Baratas têm medo do Detefon, mulher tem medo do homem, preto tem medo de polícia – por que, né? O pai tem medo que sua filha case com um homem negro. A mãe tem medo que seu filho case com uma mulher preta (no caso da mulher, categoria inferior, é chamar de preta mesmo, ninguém dá bola). A Regina Duarte também tem medo, mas suspeito que o medo dela seja puro teatro.

(REICHTSUL, Clarice)


Com a imensa quantidade de referencias, vi que o preto e a ausência de cor do branco, na impressão funcionava muito bem com a estética que eu estava procurando e carregava mais sentido do que apenas o estético, como mostra um pouco o manifesto de Clarice Reichtsul escrito para a Feira Plana. Quando a ideia do primeiro panfleto/ cartaz surgiu havia um receio tanto de ficar muito na obviedade quanto de ir ser tão hermético na reflexão que a peça gráfica ficasse inacessível para o público. A primeira ideia era provocar por meio do incômodo. Escolhi misturar linguagem analógica (fotos P&B, suporte impresso) sobrepondo-a com uma linguagem digital (manchetes de jornais online, notícias, postagens e comentários). Tratei de instigar através do estranhamento como ponto principal do objeto gráfico. Apresentei minhas per-

cepções em dois níveis destoantes de leitura da mancha: um primeiro layer (textual) baseado em notícias, comentários online sobre locais e estruturas sociais, algumas curiosidades publicadas sobre a mancha, e um segundo layer composta de imagens tiradas por mim em campo que fossem representativos da identidade daquele lugar.

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Material online utilizado nos primeiro experimentos para o cartaz


um pouco daqui 69

Primeiros resultados grรกficos


EU SOU

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Eu sou_nossa cidade é uma invocação poética que provoca o público a refletir sobre o seu “estar no mundo” como indivíduo (eu sou) e ao mesmo tempo aludindo ao coletivo responsável (nossa) pelo significado da cidade. A frase estourada na outra face do material tem o objetivo de se conectar com o público a ser convidado para refletir sobre a cidade considerando que nessa reflexão não existem possibilidades erradas. O convite é aberto. Foi cogitada a possibilidade de assinar o trabalho, mas cartazes sem assinatura se lançam livres às interpretações e interferências nos espaços das cidades, desenrolando propostas e imaginários, paisagens e práticas de código aberto (CAMPBELL, Brígida).

NOSSA CIDADE


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Eu sou _ nossa cidade, no vale do anhangabaĂş


SUPORTE

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No projeto foram utilizados dois tipos de suportes, o bloco de cartazes e o lambe-lambe. Nos primeiros experimentos só se utilizou o protótipo inicial do bloco de cartazes em razão de trazer menos carga simbólica que os lambe-lambes, sendo assim menos invasivo à cidade. O bloco consiste em uma série de cartazes iguais fixados a um barbante com o intuito de suspender o protótipo em mobiliários urbanos como postes, grades, lixeiras, galhos de árvore, faróis etc. O cordão não tinha medida certa, mas era extenso o suficiente para adaptar o bloco a qualquer uma das aplicações, adaptações estas que foram necessárias principalmente para anexar em diferentes al-

turas dos mobiliários, pois o foco era que a instalação ficasse à altura dos olhos do passante, preso por um nó solto que pudesse ser ajustado e até retirado caso necessário. O bloco foi grampeado e tinha sempre a primeira folha destacada, para assim indicar ao passante que aquele era uma material para ser retirado individualmente Mais adiante nos experimentos, se viu a oportunidade de tentar trazer a instalação na forma de lambe-lambes. Como visto nas experiências correlatas, os lambes são uma forma na qual artistas ocupam a cidade graficamente de forma a se apropriar dos espaços da vida cotidiana e aproximar o sujeito ao mundo.(CAMPBELL, Brígida). O lam-


be é uma forma ativa e até agressiva de comunicação, pois ela interfere na paisagem de forma fixa. Mas pra este projeto, os lambes tem a possibilidade de funcionar como reforço e até como forma de frisar pela repetição das imagens o que muitas vezes um protótipo passivo não faz com tanta intensidade. Assim, o lambe como parte de um universo de intervenções gráficas já preestabelecido e consolidado na cidade de São Paulo foi usado para potencializar a eficiência como instrumento de comunicação e disseminação do protótipo inicial.

Exemplo de suporte de bloco bem comum em postes da cidade

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Flexibilidade do suporte, preso em um portão de entrada e saída do metrô, Av. Paulista


Parede de Lambe-Lambes, em um muro na Vila Madalena

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EXPERIMENTOS PILOTO _Av.Paulista _Lá na mancha _SESC POMPEIA

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O experimentos piloto se desenvolveram de acordo com uma teoria que se assemelha ao teorema dos grandes números da probabilidade, sendo considerados como situações em que os acontecimentos possuem variabilidade de ocorrência, isto é, o mesmo experimento pode ter vários resultados diferentes (BERNOULLI, Jakob).

crático e inclusivo considerando todas e quaisquer variações que surjam de acordo com o que se observa no campo, de experimento para experimento. Os experimentos piloto foram realizados em três locais diferentes: avenida Paulista, Anhangabaú e rua Clélia sendo que no primeiro local a ação foi implementada em duas situações diferentes.

Estes experimentos foram fundamentais para criar uma metodologia precisa que servisse para a especificidade do projeto e que guiasse no caminho de uma estratégia de continuação e replicação, mas é importante refletir por vários ângulos de tal maneira que os olhares sempre devem estar atentos a mudanças, reflexões e ajustes no método para manter o espírito demo-

Inicialmente, foi adotada uma mancha que a priori não seria analisada, a Avenida Paulista, escolhida por sua importância na cidade, por ter sido escolhida pela população como cartão de visita da cidade. Foi, por muitos anos um segundo Centro econômico de São Paulo. Dois experimentos foram realizados lá: o primeiro na hora


do rush da manhã de um dia útil; e o segundo num domingo, o dia em que a via é fechada para carros e aberta ao lazer dos pedestres. A seguir, o projeto voltou para a mancha analisada, o Vale do Anhangabaú, que foi testada em sua extensão e foi lugar onde se observou as reações da metalinguagem, pois foi colocado um cartaz sobre o Anhangabaú no próprio Anhangabú. Para testar uma nova variabilidade de aplicação do projeto foi escolhida outra mancha, repensando os meios e níveis de interação de uma ação menos intensa e invasiva na porta do Serviço Social do Comércio da rua Clélia Sesc-Pompéia.

Todos esses experimentos pilotos nos levaram para uma análise de resultados e possível criação de uma metodologia a ser utilizada no experimento final.

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AV. PAULISTA

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Os primeiros experimentos foram feitos longe da mancha. A Avenida Paulista (uma mancha à parte) tem vida própria na cidade, além de ser um grande ícone é muito movimentada, independente da hora. É um dos lugares na cidade onde não existe um perfil único de frequentadores. Talvez, ela seja a mancha que abriga diversas manchas ao longo de sua extensão. É indiscutível a repercussão de tudo o que acontece lá, pois a avenida é também palco de manifestações, comemorações, intervenções, enfim, é palco da história da cidade. A ideia era trazer um pouco da mancha do Vale do Anhangabaú para a Avenida Paulista em razão de ambos locais apresentarem similaridades e

diferenças, ou seja, ao mesmo tempo que são bem iguais também são muito diferentes. Diante disso, essa troca poderia ser muito rica. Meu pai, por exemplo, apaixonado pela avenida e assíduo frequentador dos áureos anos do Centro dizia que a Paulista nasceu da necessidade de um ponto de encontro central, enquanto o Centro estava em reforma.


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Travessia de pedestres na Av. Paulista em um domingo de via fechada para carros


DIÁRIO DE CAMPO

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Numa quarta-feira, por volta das oito horas da manhã, desembarquei no cruzamento das avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antônio. Planejei o experimento a caminho do meu trabalho, num ponto de ônibus bem movimentado da Paulista, na altura do número 500. Ao chegar neste ponto, senti-me familiarizada com a movimentação matutina, ou seja, com o grande fluxo de pessoas saindo do metrô Brigadeiro, outras, especificamente meninas entregando panfletos do Jornal do Metrô, outras pessoas numa grande fila em frente a porta do prédio que abriga uma empresa de seleção e recrutamento de pessoas para trabalhos diários. Ao chegar no ponto tive uma surpresa. Nunca havia notado que os novos abrigos dos pontos de ônibus são tão bem projetados que não permitem prender nada, é tudo tão encaixadinho que não encontrei maneiras de amarrar o barbante de meu bloco de cartazes. Um pouco mais a diante, no meio da rua, encontrei um poste com uma lixeira que me pareceu um suporte justo e interessante que por sua utilidade de lixo aproxima as pessoas com frequência. E lá fui eu, amarrei meu primeiro bloco de “Eu sou___ nossa cidade”. Logo que amarrei, uma moça – acompanhada do marido – que vendia café da manhã em frente ao poste pegou o primeiro. Parei e observei a interação dela com o material por aproximada-


mente um minuto, achei pouco para alguém que estava lá tecnicamente sem nada para fazer. Depois da primeira moça, mais duas mulheres pegaram. Uma delas estava próxima ao local com uma banca de frutas, ela parou ao lado do poste para fazer alguns ajustes no carrinho, olhou o cartaz por menos de um minuto. A terceira mulher aparentava ter a minha idade e até me identifiquei com seu estilo. Ela interagiu com o material até entrar no ônibus, a sua intenção foi a que levou mais tempo, entrou no ônibus ainda olhando o material, visívelmente desfrutando do material dobrou com cuidado e guardou na bolsa. Depois de um tempo, percebi que a visibilidade do cartaz não estava boa, pois o cartaz estava atrás da lixeira considerando o fluxo de pessoas que saia do metrô. Para corrigir essa situação, desloquei a penca de cartazes entre a escada rolante de saída do metrô e uma grade – que é usada quando as atividades da estação são encerradas. As interações não passavam de olhares, uma mulher inclusive pegou um cartaz e colocou na bolsa sem nem o ler, quem sabe para ler mais tarde!? Mesmo com intenso movimento de pedestres somente um homem idoso me interpelou enquanto prendia os cartazes; ele me perguntou se haveria manifestação no dia – sinal dos dias turbulentos que o país está atravessando e dos recentes eventos que acontecem na avenida Depois de mais um tempo analisando a ação no

acesso do metrô sem outras reações de interesse decidi abandonar o local. Ao entrar no ônibus, percebi que poderia prender os cartazes lá também, afinal, eu tinha 20 minutos para observar e nada a perder. Pendurei a penca de cartazes que havia sobrado numa barra da segunda parte do ônibus, depois da catraca do cobrador, e ao alcance da minha visão. Alguns olhares curiosos mostraram estranhamento e assim que eu sentei foram conferir, mas ninguém destacou uma folha. Já no ponto seguinte, os recém embarcados instantaneamente passavam e pegavam antes mesmo de se sentarem; um homem de meia idade leu o material por cerca de quatro minutos, e foi a partir desse momento que supus que o material que se comunicava muito bem comigo não estava sendo minimamente compreendido pelos outros. Ao chegar no ponto final retirei os cartazes e finalizei a minha primeira experiência com a percepção de que eram necessárias haver algumas mudanças no cartaz/panfleto já que o foco sempre foi trabalhar com uma informação acessível e democrática.

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Registros de primeiro dia de experimentos em campo


Registros de primeiro dia de experimentos em campo, jรก no onibus

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Registros de primeiro dia de experimentos em campo, na porta do metrĂ´


Depois de experimentar as interações numa quarta-feira – dia útil da semana em que as pessoas andam sempre com um lugar onde chegar dentro de um tempo predeterminado e condicionadas a seguir o caminho com menos interrupções possíveis – resolvi fazer um teste no mesmo lugar, ou seja, na Avenida Paulista, mas num dia em que tudo muda por lá. Desde agosto de 2015, a prefeitura estabeleceu uma medida de política pública de abertura dessa via como área de lazer para os pedestres aos domingos, das 9 horas às 17 horas, desde então já houve momentos de rejeição e de aceitação da medida da prefeitura, mas ultimamente sempre que vou lá vejo uma enorme aceitação, muita movimentação, às vezes tão cheia que até estenderam o horário até às 18 horas. A Avenida Paulista apesar das ressalvas iniciais e de ser polêmica se tornou uma opção de passeio. Este parque de concreto aberto aos domingos potencializou o lazer, o comércio, o entretenimento e trouxe um pouco de paz aos moradores de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, tudo isso me pareceu ser a solução de abordagem para o experimento: muitas pessoas na rua, sem muita pressa, desfrutando do tempo, descontraídas e talvez mais abertas a interações.

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As últimas reflexões levantaram muitas incertezas a respeito da sobreposição de linguagens da comunicação visual da minha peça gráfica. No olhar de alguém – já familiarizado com ambas as linguagens – o material fazia muito sentido, mas como provocação ao Homem comum era visto como um ruído que impossibilitava a informação.

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Quando pensei na peça defendi a provocação sem a intenção de criar algo compreensível, mas sim algo que provocasse o espectador sensorialmente e instintivamente. Repensando o material gráfico notei que ele precisava ter um grau de comunicação com o leitor/observador para cumprir sua função de reflexão além de ser uma peça de design. A solução adotada foi de resgatar algumas histórias e fatos da mancha para complementarem o material tornando-o mais humano e com potencial de realizar a conexão das pessoas com a mancha, lembrando a linguagem de um livro, jornal ou guia turístico.

EU SOU NOSSA CIDADE


Cartaz final, modificado depois dos primeiros testes em campo

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DIÁRIO DE CAMPO farol de calçada para atravessar a rua; em um carrinho de pipoca – expliquei brevemente o trabalho ao dono que concordou, um pouco desconfiado, em prender meu bloco na frente do seu negócio; por último em uma árvore que fica do lado da saída de ar onde muitas crianças e alguns adultos se divertem com a força do ar que sai na vertical e faz com que tudo ganhe asas momentaneamente, inclusive meus cartazes.

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O experimento teve início com um imprevisto. A gráfica em que o material reformulado foi impresso não realizava impressões em papel jornal, logo, a saída foi imprimir em papel sulfite. Esse fato mudou sensorialmente e visualmente o material, pois afastou as características de jornal, do baixo custo e desprendimento de valor, ou seja, tirou as características fundamentais para as pessoas não sentirem receio em recolher e destacar o material. Cheguei às 16 horas, mas a Paulista ainda estava bem movimentada. Distribuí seis blocos de cartazes em uma única quadra: em um poste com lixeira (ao lado de um menino que tocava violino maravilhosamente bem); no meio da ciclofaixa (em uma faixa de na travessia de pedestres); em frente ao fumódromo do prédio da Gazeta; num

Depois da distribuição passei a andar num circuito com o intuito de registrar e observar as interações num período de quase duas horas. Durante esse tempo aconteceram menos interações do que nos dias da semana, o cartaz ficou quase invisível naquele enorme parque de concreto cheio de distrações como, por exemplo, o tal duto de ar que faz as coisas voarem. Na última volta, às 18h, a Paulista já havia retornado a sua condição normal de avenida para carros. Recolhi os cartazes em cada ponto, eles ainda estavam intactos, exceto dois: o que estava no farol desapareceu e o que estava no pipoqueiro mudou de lugar, alguém desamarrou e prendeu os cartazes atrás do poste, esses eu nem busquei, pois não queria passar pelo pipoqueiro e causar uma “situação”.


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Av. Paulista em domingo fechado para carros.


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Registros dos primeiros experimentos no segundo dia de campo


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Registros dos primeiros experimentos no segundo dia de campo


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Registros dos experimentos no segundo dia de campo


No caminho de volta para casa, pensei muito numa frase lida no livro de Brigida Campbell: Se a cidade é o espaço de encontro, mas também de conflito, muitas vezes suas vozes podem ser dissonantes. O tema da cidade e da arte tem múltiplas entradas, sendo difícil ver uma linha única. São leituras divisas que se multiplicam, com um grande coro formado por diferentes vozes que falam ao mesmo tempo, diversas entradas, linhas de força, pessoas trabalhando. Tudo isso somado conduz a uma forte energia criativa, que produz a diversidade de coisas que constitui a cidade. (2015

Em seu livro “Arte para um cidade sensível” Campbell traduz dois medos que tenho e que se tornaram reais nesses primeiros experimentos. Ao mesmo tempo em que a metrópole é um lugar sensível a interações e encontros inesperados é também um lugar de muitas vozes e opiniões que de tantas e tão múltiplos podem causar conflito na comunicação e tornar certos meios invisíveis. Naquele domingo na Paulista foi exatamente isso que pareceu acontecer. Vivemos em uma economia de atenção, diz a pesquisadora e historiadora de arte Marisa Flórido, onde o ambiente urbano está cada vez mais saturado de estímulos. O contexto social é do descarte, desenvolvendo manipulação da atenção e da distração. E isso vem provocando no último século altera-

ções profundas na percepção, na experiência de tempo e comunicação. Um novo caminho se abriu depois que vi um Hostel bem na frente da minha casa; o We Hostel tem postes enfeitados pelos famosos tricôs do Coletivo Agulha, que ocupa a cidade com cores dos tricôs coloridos envolvendo troncos de árvores e postes cinzas. Já percebi mais de uma vez que o Hostel é bem movimentado e notei que talvez esse movimento concentrado e sem tantas distrações pudesse ajudar meu material a se destacar melhor na paisagem. Pendurei o feixe de cartazes por lá e dois dias depois observei que muitos haviam sido arrancados, sobrando apenas quatro desde a última vez que vi, antes de todos terem sumido. Aquilo me fez enxergar um novo caminho. Considerei que seria interessante levar aquele experimento para um evento ou um lugar de menor escala para alcançar as pessoas mais diretamente. Mais uma vez, o pensamento da antropologia “de perto e de dentro” caiu como uma luva. A segmentação de público e do local de experimento é necessária para um melhor desempenho da provocação e da reflexão. No meu terceiro dia de experimento de material resolvi testar essa teoria na própria mancha.

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94 Vale do AnhangabaĂş


DIÁRIO DE CAMPO

Naquele sábado o dia começou um pouco depois do almoço. Peguei um ônibus na Avenida Rebouças em direção à Praça Ramos de Azevedo. No caminho havia tantos engarrafamentos quanto em qualquer dia de semana. A ideia de que há menos engarrafamento nas ruas aos finais de semana não existe em mim e nunca foi aplicável em São Paulo, afinal, só não vê o movimento pela cidade quem decide não sair de casa e principalmente quem não vai ao Centro. Cheguei à saída da estação Anhangabaú, em frente à rua Sete de Abril e desci a escadaria que leva ao vale. O cheiro de urina já não me era estranho, muito menos os rapazes fumando um baseado, numa muretinha por ali. Abaixo do Viaduto do Chá tive uma surpresa deliciosa, daquelas que só existem para quem sai para as ruas aos fins de semana: encontrei o bloco afro Ilu Obá de Min. O Ilú Obá de Min (cujo significado é “mãos femininas que tocam tambor para Xangô”) é um grupo cultural composto apenas por mulheres que incentiva a educação, cultura e arte negra; as integrantes promovem cursos e oficinas em sua sede. O Ilú – como é apelidado carinhosamente – foi fundado em 2004 pela percussionista, atriz e arte-educadora Beth Beli. “Ser negra, mulher e brasileira é para mim um grande orgulho e minha maior missão. Que todas as mulheres sejam homenageadas. Somos a grande força do mundo e nosso caminhar é sagrado. Me sinto “pequena” quando recebo homenagens, mas esta me faz gigante, pois é a celebração de toda mulher brasileira. Todo meu amor e axé para as mulheres do Ilú” declarou Elza Soares, a musa homenageada em 2016 pelo bloco.

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A sede do Olú fica no Centro de São Paulo, que além de ser palco das ações sociais do grupo é também o local em que os ensaios acontecem semanalmente. No carnaval de 2016, assim como tantos outros blocos, o Ilú ocupou a cidade saindo da Praça da República, passando pela Avenida São Luiz e Rua Xavier Toledo até chegar na Praça das Artes, na ocasião foi eleito pela enquete da Folha de São Paulo como o melhor bloco carnavalesco de São Paulo.

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Depois de ouvir um som delicioso, segui em frente em busca de prender os cartazes pelo vale. Pensei: faria sentido prender cartazes com informações ali? Bom, no primeiro momento vi alguns turistas e apresentei o meu trabalho, mas os peruanos não se interessaram muito e acabaram por encurtar a conversa com a pergunta “Você sabe onde fica a 25 de Março”. Expliquei o caminho e desapontada segui em frente. O Vale do Anhangabaú estava muito parecido com o mesmo Vale dos dias úteis, estava vazio, com público específicos como, por exemplo, skatistas, homens sentados no muro, pessoas em situação de rua, pessoas cochilando na sombra e algumas rodas de conversa. Sempre que vejo o vale percebo um enorme potencial de lazer sendo desperdiçado, mas ao mesmo tempo me questiono se o vale é assim por falta de estrutura ou investimento em revitalização, ou ainda se faz parte da identidade daquele espaço como mancha urbana. Segui andando em direção à Avenida São João e logo na chegada percebi a movimentação, tinham até algumas cadeiras de bares ocupando a rua e naquele meio eu vi um poste daqueles antigos que me pareceu ser um ótimo lugar para prender os cartazes, bem, pelo menos uma fotografia

desse cenário ficaria bonita. Prendi o material, fui um pouco para frente e sentei por um tempo para observar e nada; as pessoas pouco notaram, algumas se aproximaram brevemente e não mostraram interesse em pegar um cartaz/panfleto. Permaneci sentada e lembrei que a ideia inicial seria fazer toda uma performance com os cartazes naquele lugar e de certa forma agradeci que o rumo mudou, pois teria sido um fracasso.


97 Registros dos experimentos no terceiro dia de campo, Vale do AnhangabaĂş


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Registros dos experimentos no terceiro dia de campo Largo do Paissandu


Após 20 minutos segui em direção ao Largo Paissandú e deparei com mais um movimento de cultura negra, era a Festa de São Benedito, um santo católico que segundo algumas versões de sua história nasceu em 1524 na Sicília, sul da Itália, no seio de uma família economicamente desfavorecida e descendente de pessoas que vieram na condição de escravas da Etiópia. Outras versões dizem que ele foi escravizado após ter sido capturado no norte da África e levado para terras italianas, o que era muito comum no sul da Itália naquela época. Neste caso, ele seria de origem moura e não etíope. De qualquer modo, todos contam que ele tinha o apelido de “mouro” pela cor de sua pele. A festa – organizada e promovida pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial – tomou o Largo do Paissandu. O evento estava bem movimentado, com várias barraquinhas vendendo comidas típicas, roupas com estilo da cultura afro e até um lugar em que se fazia dreads de lã. A festança estava agitada, havia muita música e o público era variado, foi então que decidi colocar os cartazes. Ao prender o primeiro cartaz

senti um olhar de reprovação de um segurança que observava a festa, ele estava ao lado do poste, mas a ação dele não passou de um olhar. Fiquei ao redor da festa por cerca de uma hora. Algumas pessoas passavam pelo cartaz e apenas olhavam, porém teve um momento em que eu vi uma menina perguntando ao segurança se ela poderia pegar um cartaz, ele “deu os ombros” e ela pegou mesmo assim. Depois desse acontecimento mais umas dez pessoas pegaram os cartazes, eram jovens, mais velhos, homens e mulheres. Percebi que naquele tipo de evento – em que as pessoas estavam mais concentradas – o público apesar de diversificado tinha algum engajamento com aquele local e estava mais receptivo aos estímulos da comunicação. Para ir embora fiz o mesmo caminho de volta, passei por todos os outros cartazes, alguns permaneceram intactos e decidi retirá-los, pois naquele momento eu tive a certeza do que não fazer quando se trata de intervenções como essa.

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Registros dos experimentos no terceiro dia de campo Largo do Paissandu


101 Registros dos experimentos no terceiro dia de campo Largo do Paissandu


SESC-POMPÉIA

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O Sesc Pompéia foi um lugar pensado como segmento. Depois de experimentar ambientes muito extensos como a Avenida Paulista ou o Vale do Anhangabaú, notei a necessidade de delimitar o espaço e a ocasião de interação, com foco em me ater em eventos pontuais de ocupação cultural nas ruas. O Pompéia é conhecido por ser bem frequentado de quinta-feira a domingo devido a intensidade das atividades culturais, além disso, a história daquele lugar projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi cria uma esfera simbólica de ocupação da cidade.

Para iniciar as atividades, optei pelo período da noite, momento em que acontecem peças e shows. Reforcei a interação do material aplicando o lambe-lambe num poste perto do bicicletário e ao lado da faixa de pedestres. Observei algumas interações iniciais, mas resolvi deixar o material livre por mais tempo. Algumas horas depois voltei e reparei que alguns cartazes haviam sido retirados. Encontrei pessoas lendo o cartaz colado e depois as vi retirando uma folha do bloco para si. Curiosamente, uma das moças que levaram uma folha era Cecilia Arbolave, dona de uma editora de publicações independentes chamada Lote 42.


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Eu já havia a visto e alguns eventos e palestras desse meio. Logo em seguida, duas imagens me chamaram atenção, pois desde o início do projeto estive preocupada com a possibilidade de afetar negativamente a macha com meu material, como já vi algumas vezes, nesse tipo de meio físico, temi pelo fato do material virar lixo, ora por acidente, ora por excesso ou falta de planejamento, ou seja, esta seria mais uma lição para agregar ao próximo experimento e ao experimento final.

Registros dos experimentos no quarto dia de campo , SESC Pompéia


Registros dos experimentos no quarto dia de campo , SESC PompĂŠia

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Registros dos experimentos no quarto dia de campo , SESC PompĂŠia


METODOLOGIA FINAL _Experimento Final _Análise do experimento

Lambe-Lambes na Rua Aspicueuta, Vila Madalena

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Depois de quatros experimentos piloto, o projeto está maduro para o experimento final ser realizado de modo controlado. Pretende-se que este método possa ser utilizado como base para a replicação e expansão do projeto. Com os testes foi possível compreender que os três níveis de realização – reconhecimento do campo, ação e reação – não eram suficientes para uma boa interação. Somados a esses níveis era também necessária uma predefinição do campo baseada em uma escolha de público e ambiente receptivo considerando o alcance ao público mais familiarizado ou com referências

básicas de intervenções na rua, num ambiente menor em que as pessoas estivessem lá para ficar e não só para passar, ou seja, num lugar de permanência e não apenas de passagem. O experimento no ônibus foi muito proveitoso, pois as pessoas estavam condicionadas a ficarem lá esperando algo e não estavam apenas a caminho de algum objetivo. Assim como o ônibus, a feira no Largo do Paissandu também manteve essa característica de permanência, pois as pessoas estavam lá por ficar e não apenas de passagem, muitas delas estavam disponíveis para interações interpessoais e quem sabe também com algum material gráfico.


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E por último, percebi que material gráfico deve ter leitura que aproxime uma maior quantidade de pessoas possível por meio de uma linguagem acessível, sem grandes desafios de interpretação. A acessibilidade do material foi potencializada com um incentivo de interação mais direta, como uma lacuna a ser preenchida além da possibilidade de fazer parte daquele material e intervir nele. Assim, a metodologia final contempla os três níveis de interação: a inicial, com a pesquisa e reconhecimento de campo continua sendo a técnica “de perto e de dentro”; a segunda se configura como a interação mais ativa, uma ação vinda de mim como pes-

soa, designer, comunicadora tentando existir na capacidade de fazer parte da cidade podendo até mudá-la com esse material que passa a existir e intervir na paisagem urbana; a terceira, e a mais imprevisível e surpreendente interação que é a reação do público com o material. Aquele que em um breve momento pode absorver todas as interações anteriores planejadas e que de fato responda a elas de maneira ativa, fazendo parte dela e de onde ela existe, ou seja, da nossa cidade.


VILA MADALENA

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Dias antes do experimento final, por meio das redes sociais, tomei conhecimento de um evento a ser realizado no Armazém da Cidade. Já conhecia o local, pois havia visitado aquele espaço em domingos de música, gastronomia e artesanato. Numa sexta-feira depois do feriado a cidade se divide em duas: uma parte é daqueles de ficaram para trabalhar e a outra é daqueles que ficaram e não emendaram o feriado. O volume de pessoas esperadas para o evento foi com certeza menor e esse fato permitiu que o experimento final fosse executado com mais calma e menos problemas. Cheguei no Arma-

É engraçado, quando fiz meu primeiro lambe fora desse projeto li numa comunidade de internet algumas instruções sobre cola, papel superfície e outras técnicas de lambe. Lá também informaram que os lambes em geral não são proibidos, pois se encaixavam na lei de livre expressão, mas que existiam algumas leis específicas de proibição que variavam de prefeitura para prefeitura. Quando tomei a decisão de fazer lambes para o experimento final procurei conhecer um pouco sobre a legislação do município de São Paulo.


Há na cidade de São Paulo uma enorme quantidade de cartazes, faixas, banners e lambe-lambes que contribuem para o aumento da poluição visual urbana. Com objetivo de enquadrar os famosos “lambe-lambe” e faixas de publicidade na lei da Paisagem Urbana (Lei 13.525/03). De acordo com o artigo 11 dessa lei, “É vedada a instalação de anúncio em (...) postes de iluminação pública ou de rede de telefonia, inclusive cabines e telefones públicos, (...); torres ou postes de transmissão de energia elétrica; quando colado ou pintado nas colunas, paredes, muros e demais partes externas de edificação (...).

Bem, mais adiante constatei que a infração era passível a multa de mil reais, mesmo assim, decidi seguir com meu experimento. Com o passar do tempo, mais manchas específicas da cidade estão aceitando as intervenções gráficas que passaram a ser considderadas não mais vandalismo e sim artes visuais. Os nomes são muitos, a cidade se afeiçoou com as tintas que colorem a sua paisagem cinza e os lambes tomam o mesmo caminho. Projetos como “Mais amor por favor” – o lambe mais comentado da cidade – abrem o caminho dando coragem para esse tipo de intervenção. Na própria Vila Madalena, lambes e grafitis viraram chamativos da mancha, nos meus dias de implementação do projeto por lá pude perceber muitos passantes tirando fotos tendo como plano de fundo as paredes coloridas,

enfeitadas, e às vezes passando sem ler ou absorvendo o que a intervenção significava, mas com certeza interagiram com ela. O Beco do Batman deve ser um dos lugares mais fotografados da cidade, colecionando selfies de todos os públicos. Considerando a observação feita referente à movimentação tive coragem e senti que aquele era um caminho para uma melhor interação dos passantes com o projeto.

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Aplicação de Lambe-Lambes

eu sou

_ nossa cidade na Vila Madalena


Andei um pouco pelos arredores e busquei opções de locais com boa visibilidade e que interviria com menos estranhamento naquela paisagem para melhor receptividade. Ao lado do Armazém da Cidade está localizada a galeria Choque Cultural que já frequentei várias vezes. A galeria promove artistas novos como, por exemplo, os artistas de rua que são famosos por intervenções na cidade; um dos trabalhos mais conhecidos é o LABCIDADE, uma exposição que acontece no espaço urbano e propõe transformar a cidade num laboratório de novas experiências artísticas. A fachada da Choque Cultural é forrada por lambes, a maioria deles são da própria galeria. Talvez, por ser minha primeira ação, não me senti confortável de me apropriar daquela fachada como outros fizeram antes de mim. Pequenos passos também fazem parte do desenvolvimento de um projeto de intervenção como esse, assim me contentei com a casa ao lado. A casa me pareceu abandonada, estava toda tomada por tags, pixos e alguns lambes. Confiante, tratei de fazer minha parede forrada de lambe por lá. Queria sobrepor os lambes e criar uma área extensa para formar um painel interativo. Nessa casa colei apenas o lado cartaz do lambe deixando visível a frase com a lacuna para ser preenchida pelos passantes. Por último colei um pouco mais acima (ao lado de fotos e textos) na altura dos olhos em virtude de facilitar a visão daqueles que quisessem parar e ler.

Depois disso, no mesmo local, passei o lambe em mais alguns suportes (paredes, muros e postes) sempre variando o lado, numa boa altura para facilitar a legibilidade e quantidade de lambes, considerando que a variação de experimentos gera mais chances de resultados atingidos. Para finalizar, pendurei estrategicamente um protótipo num poste em frente à entrada do Armazém, ao lado do escadão recém reformado, que é o local onde as pessoas frequentemente posam para selfies. Observei por aproximadamente uma hora e logo obtive resultados incentivadores, a parede cheia de lambes chamava a atenção dos passantes que paravam diante dela, tiravam fotos ou apenas observavam. Um fotógrafo com uma senhora e uma menina parou diante da parede e tirou algumas fotos, percebi que se tratava de algo profissional, pois ele tinha uma assistente com um refletor na mão. Curiosa, perguntei para ele sobre a foto, ele me disse que a sessão era pessoal, a conversa foi bem rápida, mas mesmo assim ele me perguntou do projeto, elogiou e me passou o contato para eu pegar as fotografias que ele havia tirado.

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Aplicação gerais do projeto eu sou

_ nossa cidade na Vila Madalena


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Aplicação de Lambe-Lambes

eu sou

_ nossa cidade na Vila Madalena


Aplicação de Lambe-Lambes eu sou _ nossa cidade na Vila Madalena, dois dias depois da aplicação

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Dois dias depois, voltei ao Armazém para coletar algumas imagens do que havia acontecido com os lambes instalados, e o resultado não poderia ter sido mais gratificante, havia ocorrido interações em praticamente todas as instalações. Começando pela parede de lambe que foi toda rabiscada e teve suas colunas preenchidas por diferentes pessoas (imagino eu), pois cada escrita tinha uma cor, um tipo de caneta, giz etc. Os cartazes no bloco protótipo também foram arrancados e levados, não restou nenhum. Uma segunda parede de lambes num muro na calçada parecia estar intacta, exceto as bordas que pareciam ter sido puxadas, pode até ser que seja algum vestígio de alguém ansioso ou impaciente que gosta de fazer algo com as mãos enquanto fuma cigarro ou toma cerveja, numa interação de encostar no muro e cutucar os cartazes até retirar um pedaço.


115 Aplicação de Lambe-Lambes eu sou _ nossa cidade na Vila Madalena, dois dias depois da aplicação


Aplicação do bloco de cartazes eu sou

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_ nossa cidade na Vila Madalena


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Aplicação do bloco de cartazes eu sou _ nossa cidade na Vila Madalena, dois dias depois.


ANÁLISE DO EXPERIMENTO

Aplicação dos lambe-lambes eu sou _ nossa cidade na Vila Madalena.

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O experimento final atendeu a todos os aspectos da metodologia criada para a implementação projeto e por isso teve resultados mais próximos ao esperado. Por ser um projeto experimental não há um modo de aferir resultados a não ser pela sensibilidade. No entanto mesmo na área das humanidades, é necessária a metodologia para prever quais são as circunstâncias que possam prejudicar o processo experimental em um ambiente volátil e pouco previsível como objetivo de fundamentar conclusões e aprendizado que cada experimento pode trazer. Por meio do experimento foi possível

também observar o design de forma ativa e reativa ao mesmo tempo, entendendo melhor os traços da comunicação visual que devem ser levados como vivência e bagagem por todo esse extenso e múltiplo mundo que é o design gráfico e a comunicação visual. Desse experimento final, foram reafirmados um passo a passo de execução do projeto "eu sou _ nossa cidade". Além dos três níveis de interação (reconhecimento do campo, ação e reação) é necessário retomar alguns fatores que estão inseridos em todo o contexto do trabalho já pontuados na


119 (FOTO DE HZERO)

primeira parte do projeto, como a empatia e o conhecer da lógica do outro a partir da sua diferença, o estudo do ambiente através de um pensamento crítico, a vivência e a observação que nos removem de uma participação passiva diante do cotidiano urbano que alienam e engessam nossa capacidade se sociabilidade no espaço público. Levo desse experimento um principal aprendizado a ser levado não só na extensão futura do projeto, mas em minha carreira como designer ou qualquer outra profissão.

Subestimar o poder de sensibilidade que as pessoas têm e a vontade de interagir com a cidade acreditando que o caos sucumbe qualquer sentimento de cidadania, convivência, coletividade e colaboração é o pior erro que se pode cometer morando em uma cidade como São Paulo, e é esse erro que inibe os movimentos de mudança, como me inibia há um ano atrás. A empatia do eu é o que transforma a nossa cidade.


120 Interação com os lambe-lambes eu sou _ nossa cidade aplicados na Vila Madalena


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ESTRATÉGIAS DE CONTINUAÇÃO

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O projeto de graduação experimental é uma fonte de referências, vivências e inspirações que seriam desperdiçadas se isso não passasse de relatos em uma monografia de graduação. Assim, foquei na criação de um projeto que pudesse se expandir mesmo depois da graduação. O projeto “Eu sou_nossa cidade” é um fomento das manchas urbanas de grandes cidades. Assim devem ser elaborados uma série de cartazes como o desenvolvido para essa monografia, trabalhando diversas manchas da cidade de São Paulo, além de outras cidades do país, como também grandes metrópoles fora do Brasil, sempre seguindo o processo completo de investigação da cidade como um todo e de manchas específicas para criação do material de ações com o cartaz em diversos locais da cidade.


123 Aplicaçþes eu sou _ nossa cidade na Vila Madalena


INSTAGRAM

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A geração da qual faço parte foi a última geração que cresceu entre a rua e a internet, entre os muros físicos e os que limitavam o ir e vir e a diluição das fronteiras muito além da globalização, entre a dispersão dos antigos laços sociais e a conectividade compulsiva de comunidades virtuais. Por isso essa geração opera muito bem o cruzamento entre o espaço urbano e o ciberespaço. E através desse cruzamento exploram a potência transformadora de sociabilidade e de mobilização que o fluxo de informações na internet e a conectividade podem proporcionar (FLÓRIDO, Marisa, 2015). Assim para dar continuação ao projeto e potencializar sua capacidade

sensibilizadora e transformadora foi criado um perfil no instagram @eusou_nossacidade. O instagram é uma ferramenta em que as imagens são o meio de comunicação principal, por essa razão ela foi a rede social escolhida pra representar esse projeto tão gráfico e imagético. No perfil são trabalhadas fotos das manchas da cidade onde ações acontecem, cartazes são pendurados, fotos e histórias de manchas de diferentes locais e cidades também, para complementar e expandir o a forma de comunicação da rede social. Assim a rede social pretende potencializar o objetivo de fomento ao espaço urbano, seja ele onde for.


125 prints do material publicado no instagram @eusou_nossacidade, na sua primeira semana, jรก com 66 seguidores


126 Registros na mancha Vale do AnhangabaĂş


CONSIDERAÇÕES FINAIS Não é uma cidade fácil, São Paulo. Nem para viver, nem para entender. O caos da cidade que oprimi seus próprio cidadãos, desde que surgiu como colônia, e os contrastes da multiplicidade das origens em um território com mais de 12 milhões de habitantes muitas vezes nos afastam do outro. Criamos cercas, muros, que nos protegem do mal estar da civilização como se refere Cristian Dunker sobre a lógica do condomínio. Queremos o descomplicado e nada em São Paulo o é, porém no intimo das suas entranhas urbanas desponta uma vibração que seduz, uma vibração que não sabe bem de onde vem e que foi o desparador da vontade de um experimento que buscasse uma melhor compreensão dessa dinâmica de amor e ódio com a cidade. O projeto foi pessoalmente uma renovação de votos de uma paulista com a sua cidade, passei a conhece-la mais intensamente, e viver-la mais ativamente. Através do olhar da antropo-

logia urbana, da empatia do “de perto e de dentro”, método que defende o olhar do próximo através de intensa observação e vivência dentro de manchas urbanas e de uma metodologia da intervenção gráfica, herdada de correntes artística extremamente engajada com a vida urbana desde o século 20, foi possível aproximar o design da cidade o tornando também mais ativo e mais responsivo a diversas exigências, observadas em campo durante o ultimo ano. A criação do projeto “eu sou_nossa cidade” foi uma forma de fomento a São Paulo, buscando provocar e dar voz para cada um renovar seus votos com a cidade e se descobrir responsável pelo que ela é. A cidade somos nós. A partir das exigências que temos diante dela, a transformamos. Exigências que vem desde questões pessoais e individuais que abrangem um território mais privado da cidade, como também desejos mais coletivos de âmbito públi-

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Vista no Vale do Anhangabaú

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co, que nesse projeto foram ressaltadas por serem mais pulsantes ao meu olhar atual. Através desse olhar também ampliou-se os limites da concepção de criação no design, indo além do desenvolvimento de bens materiais e comerciais. Durante esses 4 anos de curso conheci diversas práticas de um design mais democrático, como o projeto Cidade para Pessoas que transforma a cidade através de ferramentas digitais, interativas e acessíveis, os trabalhos do coletivo PORO que procuram intervir no cotidiano da cidade com reflexões sobre a mesma, entre outros que também possuem uma visão da prática do design como ferramenta que transforma em pró de uma comunicação mais humana. Com a conclusão desse projeto, sinto que esse é apenas um começo de uma conversa mais próxima entre a a sociedade e o design que eu pretendo praticar. Trabalhando encima de

um deslocamento do designer como detentor do poder da comunicação visual para o designer que da potência a um direito, uma necessidade de comunicação que existe dentro de cada indivíduo. Assim nasce o projeto “eu sou_ nossa cidade”, meu primeiro movimento dentro desse design mais democrático, que busca dar o suporte e o espaço para quem quiser se comunicar, ao invés de se apropriar dessa vontade de comunicar que pulsa dentro das pessoas. Aqui só começa a formação de uma designer, como comunicadora visual, cidadã ativa, reativa e colaborativa para a cidade de São Paulo.


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APÊNDICE

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Todas as imagens utilizadas nessa monografia são autorais e foram resultado do registro de extensas vivências na cidade no ultimo ano, durante a realização das diversas etapas do projeto. Esse é um catálogo com todos os registros fotográficos realizados, separados cronolgicamente, por dias de campo. Essa coleção de registros é fundamental no trabalho experimental, devido a sensibilidade e sutileza do processo, que não se apresenta só no resultado final, mas também no caminho percorrido.


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