Revista Vênus

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Julho de 2017 | no 12 | R$ 15

Surrealismo feminino Mulheres que transformaram o movimento na sombra dos homens




CARTA AO LEITOR

BEM-VINDA À VênUS!

Tarsila do Amaral (1886-1973), foi pintora e desenhista. Participou do movimento modernista brasileiro. O auto retrato Manteau Rouge (1923) foi pintado em Paris, após um jantar em homenagem a Santos Dumont.

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Na história da arte, Vênus sempre foi a representação feminina como musa ou objeto artístico. Em nossa revista, propomos revisitar esse estereótipo e colocar a Vênus como parte de nós em uma representação universal. Ao nos inserirmos no movimento feminista, percebemos que a luta das mulheres se estende em todos os setores, inclusive na arte. Mulheres pintam quadros que não vemos em museus, escrevem músicas que não ouvimos nas rádios, fazem filmes que não assistimos nos cinemas, montam cortejos que não pulamos nas ruas, mas aqui na VênUS essas mulheres tem vez e voz. E é sobre elas que queremos falar. Nossa revista surge com a proposta de dialogar com essas mulheres, entender suas particularidades no mercado de trabalho, e divulgar suas obras. De qualquer forma, a VênUS não é só para artistas, mas para todos aqueles que se interessam e apreciam a arte. Nessa edição, destacamos o trabalho de artistas surrealistas. Também, trazemos o lado contemporâneo e urbano, com as artistas que colorem os muros das cidades com seus grafittis. Tratamos de música, apresentando 5 bandas de rock com lideranças femininas, além de dicas de shows na Capital. Já ao redor do Brasil, indicamos quais exposições podem ser frequentadas. Aproveite!



ÍNDICE 10 Capa

32 Arte de rua

18 Ao Extremo

38 Museu

20 Literatura

40 Cinema

22 Entrevista

41 Entrevista

24 Opinião

42 Resenha

26 Música

44 Notícias

28 Música

50 Opinião

29 Música

52 Serviços

30 Carnaval

58 Crônica

Paradoxo Surrealista

Marina Abramovic

Senhoras Obscenas

Luma Lima

Norma Telles

Rock por mulheres

Silenciadas

Chiquinha Gonzaga

Bloco Feminista 6 VênUS - Julho

Mulheres no Grafitti

Curadorias Feministas

Cineclube das outras

Cinema Negro

Estrelas além do tempo

Museus e Cinema

Mariana Krewer

Exposiçoes e Mostras

KD Mulheres

MARINA ABRAMOVIC Página 18


VêNÓS Marina Gil, 19 anos, jornalista. Apaixonada por arte em todas as suas formas. Curiosa por natureza, feminista por escolha.Já tentei desenhar, pintar, fotografar e fazer música. Minha motivação é contruir a arte para descontruir o mundo. “Arte deve confortar o perturbado e perturbar o confortável” - Banksy

Victoria Urbani, 20 anos, jornalista. Fotógrafa nas horas vagas, feminista, interessada por todas as formas de arte, viciada em viajar e conhecer novas culturas. “Eu sempre me pergunto por que os pássaros ficam no mesmo lugar, se eles podem voar para qualquer lugar do planeta. Então eu me faço a mesma pergunta” – Harun Yahya Laura Franco, 19 anos, jornalista. Mais nova amante do Carnaval, atualmente aprendendo a tocar tamborim. Embora longe de ser artista, aprecio a arte. Feminista, incompreendida e compreensível, até. “Nada pode me cegar por muito tempo, nem mesmo eu. Tenho muita certeza do meu próprio coração” - Anaïs Nin Bárbara Debeluck, 21 anos, jornalista. Indecisa por natureza, já trocou Relações Públicas por Jornalismo e ainda não decidiu que área seguir. Se pudesse passava a vida viajando para conhecer o mundo e sonha conhecer diferentes lugares, culturas e pessoas. “Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons” - Sigmund Freud 7


CORREIO

ARTE DAS LEITORAS

Conheça o trabalho das nossas leitoras que também acreditam na arte como forma de expressão e estilo de vida

Thais Valadão, Cuiabá - 19 anos, e Eu estudo Publicidade e Propagan tenho como ponto de partida os olh acredito que eles são o espelho da n poder retratar em grafite e papel as físicas e emocionais que um simple

Julia Achutti, Porto Alegre - 19 anos, estudante Faço Design na PUCRS. Sempre gostei de desenhar, desde pequena. Vejo arte como uma coisa que tu não precisa dar explicação pra ninguém. É algo muito meu, surreal. Eu gosto de desenhar coisas estranhas, desenho de nervoso. Se não desenhar, eu roo as minhas unhas. 8 VênUS - Julho

Clara Brum, Porto Alegre - 17 anos Desde criança me dei bem com a ar apoio da família. Tomei coragem, e do ano passado, com o objetivo de meu redor (preconceitos/tabus) e o obra completa para provocar o que


estudante nda. Todos os meus desenhos eu hos. Sou apaixonada por olhares, nossa alma. O que me inspira é s mais diversas características es olhar transmite.

s, estudante rte (desenho), mas nao tive um e comecei a pintar telas em março retratar o que sinto, o que vejo ao o que me toca. Busco não deixar a estionamento de quem a vê.

Daniela Guindani, Cotiporã - 19 anos, estudante Minha maior fonte de inspiracao está nos detalhes perfeitos da natureza. Do movimento das folhas ao vento à sinuosidade de uma montanha estática; nos contrastes das luzes, formas, texturas e cores que dançam na mente e florescem em ideais.Expressá-la na criação é uma arte que me encanta.

Gabriela Berwanger, Porto Alegre - 18 anos, estudante O que me inspira é o fluxo de sentimentos no corpo; o entendimento e desentendimento com o que quero criar; o entrelaçar do autoconhecimento com a nossa liberdade de expressão. o conversar da mão com o papel; com a tinta. As coisas do mundo... tudo! 9


ARTE

O PARADOXO

SURREALISTA Apesar de ser um movimento artíistico inovador e aberto a participação feminina, as próprias mulheres acabaram se afastando Por Bárbara Debeluck

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ão se tem notícia de um movimento artístico anterior ao Surrealismo que tenha aberto tanto espaço para a participação de mulheres em seu grupo. No entanto, quando se pensa em Surrealismo, os nomes que automaticamente nos surgem à mente são André Breton, Salvador Dalí, René Magritte, Max Ernst... Somente com esforço consegue-se desencavar do arquivo escuro da memória algum nome feminino: Meret Oppenheim? Frida Kahlo? Mas a certeza parece nos abandonar nesse momento. O surrealismo foi um movimento artístico e literário nascido em Paris na década de 1920, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais. Reúne artistas anteriormente ligados ao dadaísmo ganhando dimensão mundial.

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Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas do psicólogo Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Um dos seus objetivos foi produzir uma arte que, segundo o movimento, estava sendo destruída pelo racionalismo. O poeta e crítico André Breton (1896-1966) era o principal líder e mentor deste movimento. Como pode um movimento que foi pioneiro em seu engajamento pela arte feminina não ter herdado na história nenhum nome com a altura e o peso de seus contrapartes masculinos? A obra Women Artists and the Surrealist Movement (Londres, 1997) de Whitney Chadwick é uma das primeiras a se ocupar com esse tema e é ainda hoje uma importante fonte de informações para a pesquisa sobre o papel das mulheres no movimento surrealista. Depoimento das próprias artistas (com muitas das quais Chadwick pôde


ainda discutir pessoalmente sobre o assunto) revela por um lado a agregação pioneira da qual os surrealistas foram capazes, integrando mulheres em seu grupo que não apenas acompanhavam seus parceiros, mas que também atuavam como artistas independentes. Por outro lado, o nome da maior parte dessas artistas é escassamente representado na literatura sobre a arte surrealista. A história oficial parece ter ignorado sua participação no movimento. Como as mulheres estavam representadas em grande número e tiveram uma presença ativa no grupo, cabe questionar como foi possível eximir sua participação do discurso oficial. Mero resultado do chauvinismo imperante? Mas isso não entraria em contradição com o fato de os surrealistas terem uma postura inovativa, tão aberta à participação feminina? Por um lado, os surrealistas deram o primeiro passo, mas não fizeram a caminhada completa, indispensável para realizar uma mudança concreta do estatos da mulher artista. Por outro, essas mulheres afastaram-se do movimento tão logo alcançaram uma independência artística maior, deixando o Surrealismo para trás como apenas uma etapa necessária para alcançar o objetivo final. A primeira justificativa para a estranha ausência da figura feminina na história do Surrealismo (que, diga-se de passagem, foi revisada após a publicação da obra de Chadwick), é portanto a insuficiente alteração da mentalidade reinante. As mulheres que expunham com o grupo eram raramente consultadas quando se discutia as teorias do

movimento. O trabalho de elaboração teórica era uma tarefa quase que exclusivamente restrita aos membros masculinos do grupo. Mesmo quando essas discussões tinham como tema o papel da mulher no mundo das artes, esta não quase não possuía voz. Ela continuava como objeto de análise em um mundo de sujeitos investigadores masculinos. Clara testemunha disso é a forma mística e idealizada que a mulher adquiria aos olhos dos surrealistas. Ela não era uma presença concreta e real, mas sim uma projeção, uma existência limitada à superficialidade imaginativa de uma idéia sem corpo. A idéia presente na mente masculina de uma musa com poderes ocultos e segredos indecifráveis. As mulheres reais, portanto, não faziam parte do grupo que dava forma às idéias do Surrealismo. O que não significada, no entanto, que elas não possuíssem suas próprias idéias. Tão logo essas artistas iniciantes amadureceram suas obras, abandonaram o grupo e seguiram carreiras individuais renunciando até por vezes (como no caso de Oppenheim) à presença de características surrealistas em suas obras. Hoje o trabalho dessas artistas é conhecido e apreciado, independente de sua participação no movimento surrealista. A importância do Surrealismo, mesmo com suas limitações resultadas do contexto histórico, deve ser reconhecida e apreciada. Mas ainda maior foi o empenho dessas mulheres que não apenas souberam aproveitar a oportunidade que lhes foi dada, como não se deram por satisfeitas e superaram as barreiras.

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SURREALISMO

5 MULHERES QUE NÃO SÃO FRIDA KHALO Outras mulheres produziram obras com temática de sonhos e do inconsciente. Por Marina Gil

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rtista mexicana e ícone cultural, Frida Kahlo é uma das mais conhecidas artistas surrealistas no mundo, mas outras mulheres ao redor do globo produziram obras de arte com a temática das profundezas dos sonhos e do inconsciente. Como notou a historiadora de arte Whitney Chadwick, “o legado do Surrealismo incluiu um modelo de práticas criativas que encorajou muitas mulheres a se adaptarem aos seus princípios em suas buscas por conectar suas identidades artísticas às realidades de gênero e da sexualidade feminina”. Mesmo que o movimento Surrealismo que se desenvolveu na Europa do século XX tenha sido dominada pelos homens, mulheres contribuíram para este gênero através do século – e até o período contemporâneo, como visto no trabalho Nicole Eisenman and Inka Essenhigh hoje. Assim, deixamos Frida de lado desta lista para dar lugar a outras oito mulheres surrealistas cujas carreiras englobaram desde a pintura até a poesia.

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1. G. ABERCROMBIE

2. REMEDIOS VARO

Gertrude Abercrombie conjurou um imaginário e gótico cenário do centro-oeste. Nascida no Texas, em Austin, Abercrombie passou a maior parte de sua vida em Chicago e, por volta dos anos de 1940, ela e seu marido moraram em uma casa vitoriana na qual eles frequentemente realizavam festas extravagantes para músicos de jazz e artistas. Contrastando com sua vida pessoal exposta, as figuras chatas de Abercrombie e suas paisagens expansivas – que eram quietamente iluminadas pelo céu da noite – tornam o mundo mundano.

No início da 2ª Guerra Mundial, a pintora espanhola Remedios Varo e seu segundo marido, o poeta surrealista francês Benjamin Péret, fugiram a Espanha de Franco e a Paris ocupada por nazistas, eventualmente se fixando no México, onde Varo desenvolveu seu estilo surrealista. Muito influenciada pela literatura, natureza, religião e suas amizades com a pintora surrealista Leonora Carrington e a fotógrafa Kati Horna, Remedios Varo traduziu suas curiosidades intelectuais e espirituais em fantásticas imagens.

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3. DOROTHEA TANNING

4. HELEN LUNDEBERG

5. MERET OPPENHEIMER

A obra sedutora e assustadora de Tanning “Birthday”, de 1942, é um auto-retrato da artista com os seios nus. Ela e uma criatura mítica observam um intruso não identificado – que pode ser nós, observadores, figuras disruptivas antes de embarcar numa jornada através de um corredor infinito de portas abertas. Tanning frequentemente pintava jovens mulheres emocional e sexualmente carregadas. Ela viveu em Nova York, onde conhecer o surrealista (e depois marido) Max Ernst. Eles se mudarem para a França no final dos anos 50.

Em 1934, uma das mais relevantes mulheres surrealistas da Califórnia, Helen Lundeberg e seu marido, Lorser Feitelson, criaram o que ficou conhecido como pós-surrealismo, escrevendo o único manifesto dos Estados Unidos que desafiou o surrealismo europeu de André Breton – que defendia a expressão do “automatismo psíquico puro”. Lundeberg acreditava no emprego de uma forma de criatividade mais racional para pintar a mente inconsciente. Suas pinturas refletem os mistérios da biologia, da astronomia e da física.

Na Paris de 1930, Meret Oppenheimer esteve nos mesmos círculos que André Breton e Max Ernst, e foi a musa fotográfica de Man Ray em uma série de fotografias e retratos de nudez e erotismo. Ainda que ela tenha experimentado com a pintura e a fotografia, Meret se tornou mais conhecida por sua coleção de louças cobertas de pelos. Esta transformação de objetos cotidianos em referências simbólicas, que apontam para a exploração do corpo feminino pela sociedade, deram ela mais reconhecimento do que somente a alcunha de musa.

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CINEMA

OLHARES DO MEDITERRÂNEO

Cinema no feminino está de volta, de 29 de Setembro a 2 de Outubro, no Cinema São Jorge. O evento promove a exibição de filmes oriundos da bacia mediterrânica e pretende divulgar o papel da mulher na produção cinematográfica. Nesta edição apresenta-se uma programação composta por 33 filmes, debates, workshops, performances e uma exposição.

DOURO FILME FESTIVAL

Onze filmes, onze realizadoras. Nesta quinta edição, o Douro Filme Festival – Festival Internacional de Cinema Super 8mm do Porto, organizado pela OPPIA (OPorto Picture Academy), entrega uma câmara Super 8mm e a respectiva película a onze jovens cineastas e as desafia a realizar uma curta-metragem, em preto e branco, que não ultrapassasse os dois minutos e meio, sem temas nem abordagens obrigatórias.

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SURREALISMO

Divulgação

UNE VRAIE JEUNE FILLE: feminismo e surrealismo Longa resiste ao tempo e permanece pérola do cinema feminino Por Laura Franco

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ne vraie jeune fille, filme de estreia da diretora francesa Catherine Breillat é uma obra que, sob certos aspectos, envelheceu mal, mas que possui pontos absurdamente atuais e que casam como uma luva com o fato de que só foi lançado várias décadas depois de produzido. O longa é uma adaptação de um dos livros escritos por Breillat, “Le soupirail”. Nele, acompanhamos os devaneios de uma adolescente de 14 anos, Alice Bonnard (Charlotte Alexandra), que sai do internato para passar as férias de verão de 1963 com os pais no campo. Ali, ela experimenta tanto um despertar de sua sexualidade quanto dá continuidade a estranhos hábitos e fantasias. A barreira entre o que é real e o imaginado é a primeira marca do

filme. Alice realiza várias atividades corriqueiras como tomar sol, andar de bicicleta ou ir a um parque, e nesse entremeio, ficando a cargo do espectador identificar ou interpretar, em muitos momentos, o que de fato acontece na linha do tempo da vida da jovem e o que ela apenas fantasia. Dessa maneira, fotografia e som dão as pistas principais ao mudarem de forma mais ou menos demarcada quando, por exemplo, Alice imagina-se nua e envolta de arame farpado, entregue ao jovem trabalhador da serraria da família, Jim (Hiram Keller), o objeto de seu desejo. As questões inerentes do despertar sexual feminino são exploradas de forma marcante em “Une vraie jeune fille”. Ao mesmo tempo em que a narração em off da personagem principal denuncia a consciência das curvas proeminentes (“Meu corpo é bem desenvolvido”, fala claramente Alice), temos

uma relutância da jovem em relacionar-se inteiramente com esse corpo, demandando seu próprio tempo de assimilação do que pode fazer com e através dele. É o que vemos nas cenas em que ela troca de roupa para dormir, quando ela informa ao espectador como prefere colocar uma nova pessoa de roupa antes de se despir da próxima, pois não quer se ver completamente nua, ou na cena em que diz que “não aprecia a proximidade entre sua face e sua vagina”. Outra pista que a diretora traz é o desconforto de Alice na interação com outros homens. Especialmente em cenas que ela interage com o pai, vemos que a maneira como ele a toca e olha é um tanto dúbia, estendendo o incômodo expresso na linguagem corporal da menina. Como um prenúncio do chamado Cinéma du corps francês, A obra é curiosa dentre os filmes de diretoras mulheres.

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OBRA DELA

Nicole Chaffe Estudante de Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem 19 anos e mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

“Minha inspiração

vem de todos os tipos de arte, de texturas, fotografias, filmes e personalidades. Eu gosto de retratar pessoas e procuro sempre interpretar elas de várias maneiras, e com diferentes técnicas. As redes sociais são uma ótima fonte de ideias também, principalmente o Instagram, onde vários artistas compartilham trabalhos incríveis e fazem com que outros artistas tenham muita vontade de criar cada vez mais e melhor” 16 Vênus - Julho



ARTE

AOS EXTREMOS 18 VênUS - Julho

Conheça Marina Abramovic, a “avó da arte da performance”


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Por Marina Gil

performance é um diálogo de energia. Se é boa, pode mudar sua vida. Se é ruim, vai irritálo”, diz Marina Abramovic, o nome mais aclamado da arte da performance, a vertente mais radical das manifestações artísticas contemporâneas. Nas últimas quatro décadas, ela já apresentou mais de 50 peças utilizando o próprio corpo como veículo, todas documentadas em vídeo, sempre transcendendo os limites físicos e mentais, algumas até colocando sua vida em risco. “Para atingir esse estágio é preciso vencer nosso maior inimigo: o medo”, diz. É o seu trabalho que o Sesc São Paulo exibirá em Terra Comunal - Marina Abramovic + até 10 de maio. Com vídeos, objetos, instalações e o lançamento da biografia Quando Marina Abramovic morrer, do crítico inglês James Westcott, será a maior retrospectiva realizada no Hemisfério Sul da artista mais revolucionária da atualidade. A curadoria é do alemão Jochen Volz, que já encabeçou o time do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, com projeto expográfico da Metro Arquitetos Associados. No dia 23 de abril entra em circuito comercial o documentário, A corrente - Marina Abramovic no Brasil, uma produção da Casa Redonda com direção de Marco Aurélio del Fiol e fotografia de Cauê Ito. O filme relata a busca espiritual da artista, regis-

tra sua experiência xamânica com ayahuasca (Santo Daime) na Chapada Diamantina, seu encontro mediúnico com João de Deus e seus rituais no Vale do Amanhecer e no candomblé na Bahia. Haverá também a mostra Places of Power, com suas obras apresentadas na galeria Luciana Brito, que na SP-Arte exibe apenas trabalhos da artista. Mas, sem dúvida, o ponto alto gira em torno dos oito encontros gratuitos com a presença da própria Marina, no Teatro do Sesc Pompeia. No evento, ela explicará o Método Abramovic, o legado que deixará para as artes e as ciências no Marina Abramovic Institute (que terá sede no estado de Nova York com arquitetura holandesa), e pronunciará o Manifesto sobre a vida do artista, redigido em 2009, e que cunhou seu famoso mantra: “O artista deve ter mais e mais de menos e menos”. Ela nasceu em Belgrado, em 1946, ano em que o comunismo se instalou na Iugoslávia, hoje, Sérvia, o que a leva a declarar: “Nasci em um país que não existe”. Desde 1970, vem levando a arte da performance às últimas consequências. Ganhou os maiores prêmios, incluindo o Leão de Ouro na Bienal de Veneza, em 1997, pela instalação Balkan Baroque, e suas obras estão nos grandes museus. O trabalho que a elevou a celebridade, The Artist is Present, em 2010, no MoMA, atraiu uma visitação de mais de 850 mil, um recorde na seara nova-iorquina. A performance consistia de a artista

estar presente durante os três meses da mostra, encarando olho no olho, no mais absoluto silêncio, quem se sentasse à sua frente. “Foi o meu trabalho mais difícil. Ficar imóvel 736 horas, numa cadeira, parece fácil, não?”. Abramovic teve uma infância bem difícil, com pais comunistas e heróis de guerra e pouco afeto maternal. Formada e pós-graduada em Belas Artes, suas performances começaram nos anos 70. Brincadeiras com facas, deitar no meio de uma estrela de fogo, ficar sob efeito de drogas controladas, se colocar à disposição dos espectadores – era assim que ela mostrava a relação humana consigo e com os outros. Considera-se a “avó da arte da performance”. Explora as relações entre o artista e a plateia, limites do corpo e possibilidades da mente. Marina Abramovic, 68 anos, pratica uma vertente batizada recentemente de Duration Art ou, como prefere a artista, Long Durational Work, sob a sigla LDW. Ela define como “qualquer trabalho ininterrupto que exceda seis horas de duração”. O não-iniciado perguntará: é preciso ficar até o fim? Sim, dirão os iniciados, o objetivo é abrir as portas da percepção, surfar em diferentes níveis mentais e entrar na energia da obra. Marina também criou o novo conceito da re-performance, que é a reencarnação de uma peça performática por outro, que não é o próprio autor. A documentação é feito por meio de vídeo ou fotografia.

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LITERATURA

SENHORAS OBSCENAS SEM PUDOR

Mulheres que desde séculos passados deixam seus medos e preconceitos de lado e lutam em meio às desigualdades de gênero Por Marina Gil e Victoria Urbani

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e cigarras e pedras, querem nascer palavras./Mas o poeta mora / A sós num corredor de luas, uma casa de águas./ De mapas-múndi, de atalhos, querem nascer viagens./ Mas o poeta habita /O campo de estalagens de loucura./ Da carne de mulheres, querem nascer os homens./ E o poeta preexiste, entre a luz e o sem-nome. (Hilda Hilst) Após divulgação de uma pesquisa realizada pela Universidade do Sul da Califórnia (EUA), revelando que o número de diretoras, roteiristas e criadoras de séries não ultrapassa a faixa de 20%, o YouTube lançou o Programa Global Para Mulheres, uma campanha onde o objetivo é encorajar mulheres na produção de vídeos e suas

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publicações. Assim surge a ideia de um canal no YouTube e página no Facebook com o intuito de incentivar as mulheres a publicarem seus vídeos nas redes sociais - Senhoras Obscenas. As idealizadoras Graziela Brum e Carla Cunha, ambas escritoras, tem o intuito de apresentar nossas artistas atuais. Publicar a poesia, a prosa, o verso, o conto, que estão escondidos em gavetas, pastas e mentes, ou uma dança, música, atuação, enfim, diversas manifestações artísticas. A proposta é divulgar a escrita de muitas mulheres que estão produzindo literatura e de muitas artistas que não encontram um espaço para mostrar suas criações. Queremos salientar a necessidade de termos as mulheres inseridas ativamente neste meio, pois sabemos que existem grandes ar-

tistas que vivem às escondidas. Primeiramente o nome escolhido faz uma alusão ao livro de Hilda Hilst, “A Obscena Senhora D.” , devido admiração de todas idealizadoras à escritora. Depois, com o amadurecimento das ideias do projeto o significado ganhou outras considerações. Há séculos a mulher possuía um lugar inferior na sociedade brasileira sendo representada como uma propriedade. Primeiramente do pai, que era o responsável pelos arranjos matrimoniais, e depois do marido, onde para este último a mulher deveria ser além de um objeto para procriação, uma esmerada dona de casa, recatada e manter a “moral eos bons costumes” da família. Para piorar a situação, existia o conceito de que para exercer este papel, não necessitaria de estudos.


ARQUIVO PESSOAL

A escritora Hilda Hilst inspirou o nome do grupo com seu livro, “A Obscena Senhora D.”. Por isso, muitas mulheres eram semianalfabetas. Com o passar dos anos a mulher foi conquistando espaço na esfera intelectual, obviamente sua classe social favorecia para ser incluída neste meio. Não sendo questionadas sobre os próprios desejos, seus anseios e inquietações eram abafados por ordens. As que se aventuravam na escrita eram consideradas feministas, pois a ruptura do paradigma doméstico, a ânsia por liberdade, principalmente de expressão, a magia do pensamento e questionamento sobre essas obrigações, caracterizavam-nas como subversivas e obscenas. Este é um fato que precisamos destacar, pois mesmo há séculos, com muitas barreiras, existiram mulheres guerreiras que defenderam seus objetivos e ideais. Infelizmente até hoje no Brasil a mulher é vista em algumas situações, e por algumas mentalidades conservadoras, ainda como este ser inferior.

Porém, felizmente, gradativamente esse quadro tem se modificado através de inúmeras lutas diárias por respeito e igualdade. Mostrando a cada dia, que tão forte quanto os homens as mulheres suportam qualquer dificuldade na conquista de sua emancipação, independente da área de atuação escolhida. Outro ponto importante é que mesmo realizando grandes feitos e obras muitos fatores contribuem para uma pessoa ser desconhecida, principalmente no que tange à classe social do indivíduo. Se a pessoa que realizou estes feitos for uma mulher o reconhecimento é ainda mais prejudicado, haja vista o período em que esta viveu. Com isso, iremos também divulgar mulheres esquecidas e apresentar, fazendo uma simples explanação, do porquê de seu esquecimento. Afinal, nosso aprendizado é constante e essa interlocução só contribui para uma melhor compreensão da vida, seus

percalços e evolução. O grande vilão das novas conquistas e descobertas sempre será o medo. E este é o que empurra a mulher para seu abrigo, sua zona de conforto, onde qualquer pequena modificação gera receio. Receio do que os outros pensarão. Esse pensamento abala as estruturas, congela as ações e muitas vezes como resposta à esse medo, a culpa sobressai à falta de tempo. É sabido que sentimentos retraídos podem gerar problemas psicológicos Em suma, Senhoras Obscenas são principalmente àquelas mulheres abriram mão de outros caminhos e almejam uma carreira literária, que sentem desejos de transbordar amores, de aliviar as cargas emocionais cotidianas e que sabem que não devem ser reprimidas, lutando pela igualdade de gênero. Portanto, expressam livremente nas letras e artes suas inquietações e suas sensibilidades devendo assim incentivar as mulheres.

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LITERATURA

DE CAROLINA À LUMA

Luma fala sobre a mulher negra na literatura e lista autoras que todos deveriam conhecer 22 VênUS - Julho


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uma de Lima Oliveira, poeta e educadora social, é uma feminista intersecional que fala sobre esse tema, remexendo o dedo na ferida exposta de nossa cultura. Pesquisando Carolina Maria de Jesus e trilhando um caminho rumo à Sociolinguística, Luma nos ensina sobre o lugar da mulher negra na literatura brasileira e lista algumas autoras que todos deveriam conhecer. VênUS – Como você conheceu a obra de Carolina Maria de Jesus? Luma de Lima Oliveira – Quando conheci Carolina Maria de Jesus, estava no início da adolescência, buscando representatividade. Sempre fui muito questionadora e primeiro despertei para a busca de mulheres na literatura; depois, quando me reconheci como mulher negra, fui atrás das escritoras, entre tantas esquecidas ali estava Carolina.

Luma de Lima Oliveira, poeta e educadora social

VênUS – Apesar do resgate das obras de Carolina, muita gente ainda desconhece suas obras. Ao que você atribui esse apagamento? Luma – O principal é: Carolina Maria de Jesus não corresponde ao que seria abraçado pelo cânone literário e a sociedade brasileira daquela época e dos dias de hoje. Explicando melhor: era uma mulher negra, semialfabetizada, mãe solteira e moradora de periferia. Para a sociedade, era audácia demais que escrevesse, que soubesse ler e contasse sua história. Posso falar com certeza que ela foi

“interessante” para a sociedade hipócrita, sua figura foi celebrada de maneira pejorativa disfarçada de “boa intenção”; quando se cansaram de suas aparições e sucesso, foi descartada. VênUS – Qual é a importância do reconhecimento de Carolina para as mulheres? Luma – O principal está na representatividade. É de extrema importância para nós conseguirmos olhar através do espelho, conseguirmos enxergar que há várias de nós fazendo literatura e questionando o cânone literário racista, sexista e classista. Conhecer Carolina para a minha vida foi conseguir enxergar que o valor da literatura é dado por nós e estava na hora de começarmos a prestigiar e falar em primeira pessoa. Reconhecer Carolina Maria de Jesus tem uma importância enorme para nós como mulheres e militantes, mas é uma dor de cabeça para a academia e cânone literário brasileiro, que não mudou nada daquela época pra cá. VênUS - É possível mencionar outras escritoras negras que passaram ou passam pelas mesmas situações que Carolina e suas obras? Como por exemplo, estereótipos, exotificação ou esquecimento. Luma – Temos muitas escritoras negras ativas no seu processo de escrita, contudo só quem está inserido no meio literário e em alguns movimentos sociais as conhecem. Posso citar algumas: Cidinha

da Silva, grande escritora que procuro nos livros didáticos e não encontro; Esmeralda Ribeiro, Cristiane Sobral, Maria Firmina dos Reis, Auta de Souza, Conceição Evaristo, Lia Vieira, entre tantas outras. Todas que que citei e as que não couberam aqui permanecem no esquecimento para a sociedade como um todo. Todas as escritoras negras são permeadas por eles e pela exotificação, vistas como algo “estranho” e vítimas muitas vezes de um “não lugar” no campo literário. VênUS – É possível equiparar o machismo, que dificulta o reconhecimento das escritoras brancas, com as barreiras enfrentadas pelas escritoras negras? E como estereótipos raciais e de gênero relacionam as mulheres negras com funções hipersexualizadas ou subalternas prejudicam a visibilidade e o sucesso dessas escritoras? Luma – O machismo irá atingir todas as mulheres escritoras. Mas precisamos compreender que ele opera sobre cada grupo de mulheres de maneiras bem distintas. Em relação às mulheres brancas, temos as casadas, ricas, entre outros adjetivos que lhes conferem. Sobre as mulheres negras temos as figuras maldosas, sensuais. Colocando num pacote, sendo mulher negra e tendo nossa figura sob os estereótipos racistas e machistas: embora dominemos as linguagens, a estética, a vivência e todas as letras possíveis, continuaremos indesejáveis para o mercado editorial e para a sociedade.

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OPINIÃO

CIDADÃ do universo?

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m texto de 1932, Freud (1976) também diz que as mulheres contribuíram muito pouco nas descobertas e inventos da história da civilização. Mas descobriram ao menos uma técnica: tecer e trançar, tendo dado a natureza à mulher, o modelo para tal imitação, no crescimento dos pêlos pubianos que ocultam seus genitais. História mostra que a criação na esfera cultural sempre foi privilégio dos homens, e à mulher restava a esfera doméstica. Debruçando-nos sobre a realidade das artistas, revela-se que o papel pressuposto da mulher restrito à esfera biológica, reposto continuamente pelos principais agentes socializadores -família e escola - tem que ser rompido por elas, construindo-se na condição de autoras/ atrizes no social. Apesar desta ruptura constituir-se como uma história coletiva de lutas, dificuldades e enfrentamentos, refere-se à singularidade de cada trajetória. Para tornar-se artista profissional, a mulher necessita superar uma condição cultural adversa, adquirindo espaços para seu processo criativo além do destino biológico, através de aprendizagem, trabalho e aperfeiçoamento, e conquista do saber-fazer, reapropriando-se de sua condição. Fazer existir o que não existe, é arte (Lamas, 1993). O corpo da mulher talvez esteja aprisionado e sufocado pelo trabalho repetitivo e monótono da domesticidade, porém sua criativi-

dade não se consome neste labor, e sim, pode alcançar vôos de imaginação através do fluxo de associações livres. O brilho de uma panela bem areada não pode originar a cintilação de uma estrela? Ou o gosto de um molho bem preparado, o paladar de uma tela de Frida Kahlo? A artista ultrapassa a dimensão de cidadã do mundo, pois além de colocar os interesses da humanidade acima dos da pátria, alcança ser cidadã do universo, comete(a)ndo -como Halley - ações heróicas e revolucionárias, nascendo de novo, apesar de aparições rápidas no céu da vida artística e política. Mulheres artistas cometas viajoras viajantes amantes. A vida cotidiana da mulher artista, enriquecida por suas atividades profissionais de criação, é libertária e revolucionária, pois remete a mulher a uma autonomia questionando suas vivências anteriores. Os homens também ganham novos papéis e constroem juntos outras relações, sob pena de haver um descompasso com sua própria representação de ser masculino. Ser artista para a mulher é resgatar o mito de Lilith, substantivando predicados de valor. Findo lembrando um texto de Yoko Ono e Anais Nin, que fala da chegada das mulheres à História com valores de sensualidade, busca de intimidade, intuição, cidadania e a estética como ética do futuro. Mulheres artistas. Cidadãs do universo. Exercendo o seu direito.

“São todas

mulheres artistas cometas viajoras viajantes amantes”

Berenice Sica Lamas é psicóloga, escritora e educadora. Mestre em Psicologia Social e da Personalidade

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ROCK’N’ROLL

5 BANDAS DE ROCK LIDERADAS POR MULHERES Conheça alguns dos melhores grupos de rock com comando feminino Por Marina Gil Há muito tempo que o rock não é mais considerado “coisa de garoto”. Mas o tabu de que os homens são melhores continua vivo por aí, mesmo que ao longo da história da música, bandas de garotas tenham marcado presença e desbancado as críticas. Estamos aqui para provar que as mulheres têm talento e poder para comendar bandas de rock..

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Quem nunca cantou cherry bomb a plenos pulmões que atire a primeira pedra. A banda de rock americana, The Runaways, que lançou Joan Jett, é a primeira da nossa lista, com muito mérito. Em 2010, a história da banda ganhou filme, estrelado por uma Kirsten Stuart bem diferente de Crepúsculo e uma Dakota Fanning impressionantemente adulta e linda.

A banda americana, Paramore, com só nove anos de estrada, que conquistou os Estados Unidos e o mundo. A vocalista, Hayley Williams, ganhou destaque especialmente por uma voz poderosa com um timbre diferente, e muitas cores de cabelo. A banda está lançando um disco e já emplacou o hit Hard Times, 10o lugar no Hot Rock Songs da Billboard.

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THE RUNWAYS

PARAMORE


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No Doubt começou como cover de Madness e acabou vendendo mais de 16 milhões de cópias do terceiro álbum lançou Gwen Stefani, bem diferente do que a gente conhece hoje. Teve um hiato de quatro anos entre 2004 e 2008, mas retornou com uma turnê com Paramore e Panic! At The Disco. Em 2015, eles anunciaram que estão gravando mais um disco.

Quem diria que a magrinha Taylor Momsen, atriz de Gossip Girl, ia chocar todo mundo com uma voz poderosa, letras pra lá de provocativas e uma atitude bem diferente das outras atrizes fofinhas de 16 anos. Vocalista e guitarrista, com um ano na Pretty Reckless, já saía em turnê mundial. A banda vai vir para o Brasil esse ano no Rock in Rio.

A banda de pop rock australiana tem não uma, mas duas gatas gêmeas a frente. Jessica e Lisa Origliasso não gostam de ser chamadas de dupla feminina, segundo uma entrevista. Fizeram trilhas sonoras para vários filmes incluindo “Ela É O Cara”. Em 2016, elas lançaram o hit “On your side”. Os fãs esperam que o próximo albúm da dupla seja lançado ainda esse ano.

NO DOUBT

THE PRETTY RECKLESS THE VERONICAS

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MÚSICA

SILENCIADAS

no universo clássico

Sabine Meyer foi impedida de ser a primeira mulher efetiva na Filarmônica de Berlim

Por Bárbara Debeluck

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ada mais apropriado do que falar do quanto a mulher foi perseguida e silenciada no universo da música clássica. Embora a música fosse vista como um atrativo a mais para as mulheres de boa família, exclui-las de atividades musicais profissionais era algo considerado completamente normal até muito pouco tempo. Num passado bem próximo, orquestras como a Filarmônica de Berlim, a Filarmónica de Viena e a Filarmônica Tcheca não permitiam a entrada de mulheres em seu efetivo. Em 1982, a clarinetista alemã Sabine Meyer (1959), foi aprovada, em audição feita atrás de um biombo, como membro efetivo da orquestra Filarmônica de Berlim, ela seria a primeira mulher na história daquele conjunto, mas numa votação dos próprios músicos ela acabou não sendo aceita com 73 votos contrários e 4 favoráveis. Assus-

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tadoramente, em pleno século 20, a grande maioria dos músicos de Berlim rejeitou uma das melhores instrumentistas simplesmente por ser mulher. Outro preconceito existente é em relação às maestrinas. Por muito tempo foi considerado grotesco e as mulheres eram ridicularizadas e humilhadas por almejarem essa posição. Felizmente, os tempos mudaram e hoje mulheres estão a frente de grandes orquestras. A regente titular, desde 2012, da orquestra de São Paulo é a estadunidense Marin Alsop (1956). Um triste exemplo do preconceito contra mulheres compositoras é da judia alemã Fanny Mendelssohn (1805-1847). Irmã do afamado compositor Felix Mendelssohn (1809-1847), foi, em alguns aspectos, mais talentosa do que seu irmão. No entanto, teve suas ambições tolhidas pela família, inclusive pelo próprio irmão, sendo obrigada a casar e desistir de suas ambições musicais. Um trecho da carta de Feliz Mendelssohn a sua

mãe, também pianista, falando a respeito da irmã comprava esse preconceito: “Pelo que eu sei de Fanny eu diria que ela não tem inclinação e nem talento para a composição. Para uma mulher ela já sabe a respeito de música o suficiente. Ela administra sua casa e sua família e não se preocupa com o meio musical, e, com certeza, ela não coloca estas preocupações à frente de suas preocupações domésticas. Publicar suas obras só perturbaria estas suas preocupações, e eu não posso dizer que aprovaria isso”. A musicista Chiquinha Gonzaga (1847-1935) foi outra vítima do preconceito. No Brasil de outrora, lutou bravamente por tudo. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra, a trabalhar tocando piano em lojas de música e a compor marchinha de carnaval “abre alas”, nunca teve medo e brigou pelos seus direitos. Uma grande mulher, merecedora de todas as homenagens já realizadas a ela.


MÚSICA

AS MULHERES COMPOSITORAS QUE PROTAGONIZAM A MÚSICA BRASILEIRA E se em vez procurarmos a mulher-tema nas letras de música, que tal lançarmos um olhar para as compositoras?

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presença nas mulheres na música popular, até meados do século XX, se limitava à função de intérprete. Os compositores nunca prescindiram do timbre feminino, mas também nunca abriram espaço para trabalhos autorais das cantoras. A grande exceção é a pioneira Chiquinha Gonzaga (foto), primeira grande compositora popular e também uma mulher de atitudes que só muito depois seriam chamadas de feministas. Abre Alas, sua canção mais conhecida, parece anunciar que a mulher estava chegando para ocupar seu lugar na MPB. Ainda assim, a conquista de espaço foi lenta e difícil. As primeiras mulheres compositoras dedicavam-se à música instrumental. Muitos choros, valsas e polcas para piano foram compostos por mulheres na primeira metade do século XX. Certamente a primeira grande compositora de canções – letra e música – foi Dolores Duran, nos anos 50. Além de boa cantora, era letrista inspirada e teve parceiros como Tom Jobim. Não podemos esquecer aqui as mulheres que muitas vezes foram eclipsadas pelo talento de seus parceiros. Almira e Jackson do Pandeiro assinaram várias composições, e foram uma dupla do barulho nos anos 40 e 50. Hoje só se fala de Jackson... Um fenômeno semelhante ocorre com Anastácia e

Dominguinhos, que criaram juntos mais de 200 canções. Anastácia, autora de Só Quero um Xodó, entre tantos sucessos, tem reconhecimento regional, mas no Paísé comum as pessoas se lembrarem apenas de Dominguinhos. O velho machismo ainda deixa marcas fáceis de detectar. ARQUIVO

Por Victoria Urbani

Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR PEÇO LICENÇA PRA PODER DESABAFAR A JARDINEIRA ABANDONOU O MEU JARDIM SÓ PORQUE A ROSA RESOLVEU GOSTAR DE MIM -CHIQUINHA GONZAGA

No mundo do samba, as mulheres também vieram lentamente conquistando seu espaço como protagonistas. Dona Ivone Lara, nascida em 1921, se tornou a primeira mulher autora de um samba enredo quando fez para a Império Serrano “Os Cinco Bailes da História do Rio” (1965). Autora de grandes sucessos como Acreditar e Sonho Meu, viu surgir outra compositora, com perfil mais feminista e politizado, na ala de compositores da Mangueira na década de 70: Leci Brandão. Sob a influência da década anterior, os anos 70 viraram a época do desbunde, da liberação sexual. Em 78 o Brasil inteiro cantava com as Frenéticas: “Eu sei que eu sou/ bonita e gostosa...” e o refrão “”...dentro de mim”. Mas ainda era uma canção escrita por homens, para mulheres cantarem. O verso “sou da lira” remete a Chiquinha Gonzaga, claro. É como se a nova compositora estendesse a mão para a pioneira e dissesse “estamos juntas, somos da mesma lira”. E as cantoras/compositoras das gerações seguintes já incorporam com naturalidade essa postura de independência, de atitude perante o mundo. Não necessariamente são feministas, mas certamente femininas, acrescentando nuances ao nosso cancioneiro. Nomes como Alzira Espíndola, Ceumar, Céu, Socorro Lira, Mariana Aydar, Anelis Assumpção, Iara Rennó, Ana Costa, Antonia Adnet, Tiê.

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MÚSICA

DAS MARCHINHAS MACHIS Bloco Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só é composto por mulheres, que tocam

Por Marina Gil Brilhos, flores, saias e fitas coloridas. Instrumento por instrumento, elas afinam e ensaiam. Uma, duas vezes e param. Começam de novo. Uma, duas vezes. Agora vai, de novo. Cerca de 30 ou 40 mulheres tocam e fazem ritmo de bateria no pátio da ocupação Mulheres do Mirabal, no centro de Porto Alegre. Bumbos, tamborins, surdos e chocalhos. Um saxofone soa solitário nos braços de uma moça de biquíni vermelho. O bloco Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só representa a união do samba e do carnaval de rua, com a luta feminista perante a sociedade. O bloco, que completa um ano em meados de fevereiro, teve sua semente plantada nas redes sociais: “Cerca de 80% das integrantes da bateria dos blocos de rua de Porto Alegre são mulheres. Ao mesmo

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tempo, todas as baterias são regidas por homens. Faltava um espaço que fosse só para mulheres, regido por nós, onde onde possamos nos sentir mais à vontade. Feito isso, criamos um grupo no Facebook, e no final do dia, havia mais de quinhentas mulheres participando”, conta a socióloga e uma das fundadoras do grupo, Kátia Azambuja, de 29 anos. Ela também ressalta a construção democrática do grupo, no qual as decisões são tomadas pelo grupo, para que a informação chegue a todas as participantes de maneira horizontal. O regimento também é revezado entre cerca de quatro mestras de bateria e as instrumentistas dão suas opiniões e percepções sobre o ritmo e a harmonia da bateria. Assim, criam e mudam juntas a música feita por elas. A jornalista Bebê Baumgarten, responsável pela comunicação do

MEDO NÃO NO DESERTO FAÇO COBRA O RABO, VIRAR MEUS PÉS BÁLSAMOS, SUAVES MARIA


TAS AO BLOCO FEMINISTA do rocar ao trompete, e vão às ruas cobrar seu espaço no carnaval de Porto Alegre

ME ALCANÇA. ME ACHO, MORDER ESCORPIÃO PIRILAMPO. RECEBEM UNGUENTOS DAS MÃOS DE Maria Bethânia - Cartas de Amor

bloco Não Mexe Comigo, conta que o nome do grupo nasceu quando um grupo de meninas se deslocava em direção a Cidade Baixa após uma das primeiras reuniões de formação do bloco e foram perseguidas: “Depois do nosso primeiro encontro, que aconteceu ali no Largo Zumbi dos Palmares, cada menina foi para o seu lado. E um grupo foi caminhando pra Cidade Baixa, pra tomar uma cerveja. E como sempre, teve um grupo de homens que ficou em volta, chamando, observando, fazendo o tipo de coisa que a gente já tá acostumada a ver, e saíram atrás delas. Então, elas se juntaram e começaram a cantar a música Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só, (da cantora Maria Bethania) e nós achamos que esse seria um ótimo nome para o bloco.” Bebê toca caixa na bateria do bloco e participa da oficina de percussão do bloco Turucutá.

Algumas instrumentistas do bloco vêm de outras baterias e oficinas, principalmente do Turucutá e Bloco da Laje. Já outras, tiveram o primeiro contato com os instrumentos de percussão dentro do grupo, explicou a percussionista Kátia. O bloco Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só planeja sair em seu carnaval no mês de março, sem auxílio e doações da prefeitura de Porto Alegre. Para isso, elas contam com a doação das próprias integrantes do bloco, que colaboram da maneira que podem para arcar com os custos e a manutenção das reuniões do bloco. “Carnaval é a festa do povo. E por mais que esteja ficando cada vez mais elitizado, o povo que tá na rua ainda quer sim fazer festa, ainda mais com a crise E no carnaval, o pobre pode ser a realeza, pode se fantasiar e ser quem ele quiser”, afirma Kátia.

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DIVULGAÇÃO

ARTE DE RUA

AS MINAS DO

GRAFFITI

O grafitti nacional assiste a uma nova onda de renovação: o crescimento do número de artistas mulheres. Mas, e quais são os nomes delas? Por Victoria Urbani

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onsiderado um ato subversivo nos anos 80, atualmente o graffiti vem se posicionando no âmbito das artes visuais. Uma arte contemporânea que está além dos meios urbanos, está em evidência. O grafitti deixa de ser visto como um ato de vandalismo para ser apreciado como arte que manifesta a insatisfação com o poder público e denuncia de forma concreta as mazelas de uma sociedade em desigualdade de classe, gênero e raça. É uma arte efêmera que chega para democratizar a arte. Nesse cenário, as mulheres grafiteiras vêm chamando a atenção e desafiando padrões de uma sociedade de herança machista. As mulheres que estão em voga neste movimento, questionam o espectador com seus personagens normalmente de representação feminina, com bonecas, personagens de desenhos animados, construindo um diálogo da voz da mulher para o mundo. Há diversas artistas respeitadas e conhecidas no mundo inteiro

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por suas obras de traços mais delicados, cores, mensagens contra preconceito entre gêneros ou classe. Com o empoderamento feminino à flor da pele, as paredes das cidades viram alvo de protesto e mensagens sobre temas que rodeiam o universo da mulher: violência doméstica, feminismo, câncer de mama, padrões de beleza, resistência, espiritualidade e elementos da natureza. Enfim, uma voz que ecoa através de cores e da expressão artística, que tanto altera a nossa realidade quanto nos faz sonhar com situações melhores. Outras técnicas da arte urbana, como o stencil, o bombing e o lambe lambe também surgem por mãos femininas que encontraram neste meio uma forma de reinvidicar seus direitos, mostrar seus medos, paixões e vontades numa era da qual ainda tentam sufocar suas palavras e desejos. A repressão só nos dá ainda mais força para gritar As mulheres de Panmela Castro, quase sempre com longas madeixas adornadas com flores, em nada se assemelham às de

outra artista de rua, a paulista conhecida como Magrela. Ela, que há oito anos se aventura pelos muros de sua cidade, também defende, por meio da arte, uma maior visibilidade das questões que envolvem o feminino. Influenciada pela família, aderiu ao grafite aos 23 anos de idade, Tentando fugir do estereótipo de “ser menina”, ela se dedicou à criação de personagens sem qualquer traço de candura. Sua arte chama atenção por mostrar mulheres tristes, com formas retorcidas, embrutecidas, reflexo de um sentimento que carrega e compartilha com muitas outras mulheres. O estilo pessoal e inconfundível de Magrela é fruto de muita dedicação à arte de grafitar. “A maturidade como ser humano, que tem suas dores, dúvidas e angústias, é refletida em tudo o que crio. Tudo o que sinto reverbera nas obras”, conta a artista. Nos últimos 15 anos, a presença das mulheres no graffitti se tornou mais significativa no Brasil. Elas vêm se tornando cada vez mais independente em suas ações.


As mulheres com formas retorcidas e embrutecidas de Magrela


ARTE DE RUA

DIVULGAÇÃO

Panmela possui uma ONG para ajudar mulheres que sofrem com a violência doméstica Muros dividem espaços. Mas, para a grafiteira carioca Panmela Castro, servem para aproximar pessoas e discutir os direitos das mulheres por meio de imagens. “No muro, a arte toca todas as pessoas, independentemente de sexo, raça ou gênero. Mesmo sem querer, a pessoa acaba assimilando a ideia”, diz. Ela usa o grafite e a arte de rua como ferramenta para promover uma mudança cultural. “A igualdade está escrita no papel. Mas culturalmente as coisas são diferentes. Isso precisa mudar”, diz a grafiteira de 29 anos. Mais conhecida pela assinatura Anarkia Boladona, ela teve uma trajetória muito rápida e se destacou no universo ainda predominantemente masculino do grafite. Seu trabalho tem uma importante carga autobiográfica e aborda temas como as relações de poder sobre o corpo da mulher, a sexualidade e o desbravamento do espaço urbano pelo ser feminino. São imagens de mulheres fortes que refletem sobre as relações de gênero. Através dos desenhos

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começou o “Grafite Contra a Violência Doméstica”, projeto de conscientização de comunidades carentes de sua cidade, que de lá foi levado para outras. Por causa dele foi escolhida este ano pelo Daily Beast, site do grupo da revista norte-americana Newsweek, umas das 150 mulheres que agitam o mundo. Na lista, a outra brasileira é a presidenta Dilma Roussef. Ainda em 2012 levou o DVF Awards, prêmio anual dado a mulheres que lutam para diminuir a violência e a injustiça de gênero. A iniciativa usa o grafite para divulgar essa lei aprovada em 2006 para proteger as mulheres

“NO MURO, A ARTE TOCA TODAS AS PESSOAS, INDEPENDENTEMENTE DE SEXO, RAÇA OU GÊNERO” da violência doméstica e combater a impunidade dos agressores. Um dos avanços dessa lei é considerar a violência doméstica como uma violação dos direitos humanos das mulheres. Outro é incluir na categoria de abuso as

agressões psicológicas, morais e patrimoniais. Antes, o conceito se restringia às agressões físicas e sexuais. Na companhia de uma especialista nessa lei, a advogada Ana Paula Sciammarella, e de um grupo de grafiteiras, Anarkia vai às comunidades carentes do Rio de Janeiro ministrar oficinas. Durante esses encontros, as mulheres falam sobre situações vividas no dia a dia e do seu entendimento sobre os próprios direitos. No desenrolar da conversa, Anarkia às vezes fala de episódios de agressão e omissão de direitos ocorridos com amigas, tias, primas e com ela mesma — ela morou com um rapaz que a agrediu, o que pôs fim à relação. Depois desse diálogo e de uma explicação sobre o funcionamento e o alcance da Lei Maria da Penha, as participantes pintam murais de rua com imagens e frases baseadas em suas vivências e na lei. “Assim as informações discutidas continuam sendo lembradas e passadas dentro da comunidade”, diz Panmela Castro, ou Anarkia Boladona.


Crica Monteiro tem 32 anos, nascida em São Paulo/Brasil é moradora de Embu das Artes desde os 8 anos de idade. Aprendeu a gostar de artes muito cedo, acompanhando o dia a dia de sua mãe que pintava telas e dava aulas de artes e artesanato na sua infância. Criada nesse ambiente começou a desenhar na infância, descobriu o universo do graffiti na adolescência em 1999 quando conheceu o movimento Hip Hop, despertando em si a curiosidade e o interesse em fazer essa arte. Depois de alguns anos se familiarizando com o novo ambiente cultural começou a fazer seus primeiros rabiscos nas paredes em 2001. O interesse por pintar na rua acabou à levando a querer seguir uma carreira acadêmica, pensava em algo relacionado

ao design, ilustração, vídeo e animação. Formou-se em Design de Interfaces Digitais em 2008 pelo Centro Universitário SENAC SP. Em 2014 decidiu largar o trabalho formal de escritório para se dedicar puramente aos seus trabalhos autorais com grafitti, as artes plásticas e decoração, ministrando aulas, trabalha na área digital hoje como freelancer, criando suas ilustrações, e fazendo projetos digitais para sites e peças editoriais. Hoje seu foco maior é continuar trabalhando com todas as coisas que gosta, seja sendo deisgner, grafiteira, artista plástica, ilustradora ou se dedicando aos projetos pessoais. Crica coloca seu trabalho sob várias plataformas, retratando mulheres negras com elementos da África, do circo, da natureza

e do Brasil, criando seu próprio universo lúdico. Quando questionada sobre o que a inspira, a artista conta: “como faço mulheres ando pensando muito mais nesse universo que é da mulher mesmo, o que a gira em torno da mulher negra passa através do meu grafitti. Vejo muita coisa relacionada a arte negra atualmente, e tudo que está a cerca desse diálogo. Assistir a vídeos, vejo muita fotografia, ouvir música, observar ao meu redor ou conversar com alguém.” A artista paulista acredita que ainda há barreiras que impedem as mulheres de se expressarem livremente. “sou bem feliz com os resultados que hoje eu crio, mas reparei que quando uma mulher começa a se destacar passa a incomodar alguns. DIVULGAÇÃO

Crica Monteiro cria seu universo lúdico com elementos africanos e femininos 35


OBRA DELA

Julia Tietboehl Estudante de Design na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem 19 anos e mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

“Desenho

principalmente pelo prazer de transmitir as coisas ao meu redor, e dentro de mim, com o meu próprio toque. Ver e compartilhar arte na internet é muito importante também, já que é uma porta aberta pra oportunidades, inspiração e para incentivar e conhecer outros artistas. A arte foi a maneira que eu encontrei para descobrir e aprender mais a respeito de mim mesma, fazendo com que eu sempre evolua cada vez mais” 36 Vênus - Julho



ARTE

CURADORIA FEMINISTA

Exposições com o tema mulheres artistas e de mulheres artistas estão ganhando espaço Por Bárbara Debeluck

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tualmente, devido aos avanços da comunicação com a internet, muito se fala do feminismo e das feministas. Alguns as acusam de radicalismo, outros não entendem o motivo de brigarem por uma causa específica “não deveríamos ser humanistas?” é o que se perguntam. Tais questionamentos surgem quando vemos na grande mídia nomes de mulheres que se destacam ou que estão no governo, por exemplo. No entanto, não podemos deixar que casos de exceção se tornem regras. Pois, são exceções. Infelizmente, pesquisas nacionais e internacionais vêm mostrando que a igualdade de gênero ainda está longe de ser uma realidade em grande parte do mundo. Com esse olhar mais atento, é necessário olhar o mundo das artes. O discurso padrão e imediato é o de que o gênero do artista não importa quando se vai avaliar uma obra de arte, afinal é a obra que está em foco. Porém, a história da arte nos mostra que não é assim que as coisas aconteceram. Muitas mulheres foram reco-

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nhecidas como grandes artistas em seu tempo, mas não foram inseridas na historiografia como tal, ou chegaram até nós com fortes estereótipos. Como a escultora Camille Claudel, sempre retratada como uma mulher que enlouqueceu por amor, frágil e dependente. Mas, ao estudar a obra de Camille verifica-se que a artista era apaixonada pelo seu trabalho, tenho inclusive consciência do seu papel como mulher e artista, no período em que viveu, final do século XIX Essa introdução é importante para entendermos a importância da curadoria feminista. Em síntese, curador ou curadora, é o responsável pela preparação, concepção e montagem de uma exposição.Recentemente, foi noticiada a abertura do primeiro museu feminista do mundo: o Kvinnohistoriskt museum ou o Museu da História das Mulheres, na Suécia. O Museu é um espaço para exposições temporárias e se justifica afirmando: “As mulheres não tiveram o mesmo poder e oportunidades que os homens tiveram no passado, para moldar a sociedade ou as suas próprias vidas”.

Na França, as mulheres só puderam frequentar a Academia de Belas Artes a partir de 1897. Antes, para estudar o ofício da escultura e pintura, era necessário contratar um professor ou frequentar um ateliê particular. Isso porque, as mulheres não podiam participar das aulas de nu. No entanto, naquele período, a escultura e a pintura histórica eram consideradas as “artes nobres”. Ora, se as mulheres não podiam frequentar as aulas de modelo vivo, como ter uma percepção real do corpo humano para esculpir ou pintar um quadro mais elaborado? Para elas restavam à natureza morta e os retratos de família. No Brasil essa abertura se deu em um período próximo ao da França, e a trajetória das mulheres artistas não foi muito diferente. Apesar de elas terem permissão para participar dos Salões de exposição, que eram no período a grande vitrine de trabalho para um artista, as mulheres eram categorizadas como “amadoras”, mesmo sendo alunas e mesmo tendo resenhas de elogio dos grandes mestres da época. Em umapesquisa realizada ao acervo fixo do Museu de Arte de São Paulo, em 2012, foi constatado que, aproximadamente, do que estava exposto 380 obras em exposição eram de homens e somente 28 eram de mulheres. Já na década de 60 e 70, e com mais força na década de 80, a arte dita “arte feminista” ganhou força. As artistas começaram a reivindicar o direito de expressão e o seu lugar, utilizando sua arte para tanto. A performance surge com vigor e temas como maternidade, menstruação e aborto, que antes eram considerados tabus, ganham novos contornos com as obras dessas artistas.


ARQUIVO

O discurso é claro e objetivo, as mulheres começam a reivindicar seu espaço. Mas evidentemente esse movimento não se deu de maneira uniforme no mundo todo, certo? Essa breve linha do tempo mostra a importância da curadoria feminista. Isso porque, apesar das mulheres serem um grupo, dentro desse grupo há muitas nuances. Não basta apenas expor essas mulheres ou resgatá-las. É necessário entender o período histórico e o discurso da obra e da artista, com um olhar critico e de desconstrução da história da arte. O simples fato de a obra ser de uma mulher artista, não significa que aquela obra tem um discurso de gênero. A organização desses trabalhos é uma tarefa complexa, pois o discurso também é impactado pelo seu tempo. Portanto, identificar o discurso nas entrelinhas da obra, é conjugar o gênero do artista com o momento político em que vivia, com a classe social e o lugar que pertencia. É uma tarefa que requer um olhar atento. Levantar dados e números sem dúvida é muito importante, pois são esses indicativos que justificam uma exposição ou um projeto cultural focado em mulheres artistas, por exemplo, mas não podemos ficar apenas nessa etapa. É preciso que esse grupo “mulheres” seja olhado de perto e que seja reconheci da sua pluralidade. O gênero tem que interagir também com outras plataformas como raça, orientação sexual, classe social, período histórico, etc. Assim, a importância da curadoria feminista está na organização desses trabalhos, que nos permite receber o discurso com a crítica. Ou seja, não só expor as mulheres artistas, mas de mostrar, por meio de uma ação curatorial

Barbara Kruger, autora da foto, é uma das artístas gráficas mais reconhecidas eficaz, os motivos da exclusão, o discurso que ali estava sendo formado, qual foi a transgressão da obra, etc. O trabalho de curadoria feminista proporciona o debate sobre as questões de gênero, além do resgate das mulheres artistas que não foram inseridas na história da arte, por meio de um ponto de vista crítico. Esse resgate e a consequente valorização da mulher na arte nos dias atuais, não é tarefa simples. A desigualdade de gênero, infelizmente é um fenômeno globalizado, e na arte isso é ainda mais latente, visto que, geralmente, não é um campo onde se investiga a re-

lação de gênero com habitualidade. A criação de museus específicos e exposições sobre o tema, são um forte indício de que a curadoria feminista é uma tendência que irá se desenvolver e que veio para ficar. Temos que trazer o assunto para começar a questionar a história da arte. Felizmente, exposições com o tema mulheres artistas e de mulheres artistas estão ganhando espaço, como a realizada pela Elle em 2013. Para corrigirmos o curso da história é necessário sair do padrão. A curadoria feminista vem com o propósito: dar voz ao discurso das mulheres e valorizar sua expressão.

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CULTURA

CINEMA

NEGRO

Segundo pesquisadora, o estilo de cinema brasileiro conseguiu alcançar referência internacional

Reprodução

Por Bárbara Debeluck

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m levantamento feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 2014, apontava para a subrrepresentação da mulher negra no cinema nacional. Para a pesquisadora Janaína Oliveira, Kbela rompeu essa lógica em 2015. VênUS - O que é o cinema negro? Janaína - Não dá para definir cinema negro. É um campo político, de luta por representação, de desconstrução de estereótipos, de ampliação de representações nos espaços mais diversos. Há quem defina, eu não defini. VênUS - Qual sua primeira experiência com o formato? Janaína - Sempre gostei de cinema e muito do africano. O primeiro que vi foi Vida sobre a Terra, de Abderrahmane Sissako. VênUS - Quem produz no Brasil?

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Janaína - São poucos negros que fizeram filmes de longa-metragem de ficção na nova geração. Nesse universo, o que temos que atingiram patamar de técnica e de qualidade são os filmes feitos por mulheres negras. VênUS - Que novidades tem nos festivais? Janaína - Uma coisa bacana é que nessa conexão com o continente africano, estamos redespertando debates.Esses produtos, principalmente disponíveis no Youtube, são feitos por meninas negras brasileiras. É quase uma rede de solidariedade. O audiovisual tem a capacidade de fazer isso. VênUS - Como aumentar a demanda? Janaína - A formação de público é uma questão central. As pessoas não veem porque elas não gostam e mudar o gosto leva muito tem-

po. Enquanto você tem uma novela premiada como da Rede Globo, passando às 18h, você tem uma série como o Sexo e as Negas, em horário nobre com forte divulgação comercial e circulação. VênUS - É preciso começar a estimular? Janaína - Ainda vivemos em um contexto de imagens que precisamos desconstruir. O cinema é uma indústria, uma indústria de dinheiro que constrói imagens que querem ser vistas. Temos um padrão de cinema de Hollywood, daquilo que você espera ver. VênUS - O que é preciso fazer? Janaína - Formar redes de distribuição dos filmes junto com debates. Novas imagens têm que chegar nas aulas, criar aderência. Mais editais, parcerias e a presença do Estado, que facilita a produção.


CULTURA

Cineclube das OUTRAS ARQUIVO

Para conhecer e debater o cinema feminista

Cena integra o filme “Quem matou Eloá?” exibido na inauguração do espaço Por Bárbara Debeluck

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m meio à multiplicação de grupos feministas e do peso político alcançado pelas manifestações de mulheres no Brasil, o cinema começa a ganhar centralidade. Entre pés na porta, câmeras na mão, lutas e resistência contra o machismo, racismo e sexismo, mulheres estão ocupando todos os campos do audiovisual e questionando seus lugares históricos no setor: da representação no cinema aos papeis e cargos que desempenham nas relações de trabalho (direção, fotografia, roteiro e mais), passando pela crítica e curadoria de festivais. É nesse contexto que surge em São Paulo o “Cineclube das Outras”, um espaço coletivo para conhecer e debater a produção audiovisual de mulheres, com foco em Outras narrativas: de mulheres, negras, indígenas, LGBTs, migrantes, grupos subalternizados cuja voz soa cada vez mais alta nesta

sociedade dominada por uma elite homens brancos heterossexuais. A iniciativa voluntária é de um grupo de diferentes gerações e atuações – integrantes da Taturana Mobilização Social, da Associação Cultural Kinoforum, da produtora Doctela, do 8M Brasil e do Outras Palavras. A sessão inaugural traz três produções recentes de curta-metragem sobre violência. “Quem matou Eloá?”, documentário de Lívia Perez (São Paulo), parte do caso de Eloá Pimentel, de 15 anos, durante cinco dias mantida refém pelo ex-namorado Lindemberg Alves, de 22 anos, para fazer uma análise crítica sobre a abordagem da violência contra a mulher pela televisão – um dos motivos pelos quais o Brasil é o quinto no ranking de feminicídio. O filme foi indicado como melhor curta documentário no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2017. A idealizadora Lívia Perez estará presente no bate-papo sobre

os filmes, após a exibição. “Do portão para fora”, de Letícia Bina (SP), também um documentário, narra a vida de Jaqueline ao sair da prisão: ela recomeça sua vida no lugar onde cresceu, torna-se mãe pela segunda vez e divide seu tempo entre o trabalho e a casa. Letícia e Jaqueline também estarão presentes no debate. Já “Estado Itinerante”, de Ana Carolina Soares (MG), é uma ficção que traz a personagem Vivi, uma cobradora de ônibus que procura escapar de uma relação opressora e se fortalece com o trabalho e o apoio de outras cobradoras. A diretora não estará no debate por morar fora de São Paulo. O cineclube não conta com financiamento, a não ser a eventual contribuição voluntária das pessoas que comparecerem à sessão e alguns trocados da venda de bebidas no bar, para custear o uso do espaço. Os filmes foram cedidos gratuitamente por suas diretoras, mas a ideia é, futuramente, quando o cineclube crescer, ajudar a remunerar tanto os curtas, quanto as debatedoras que se engajam em discutir as obras conosco – fortalecendo e valorizando assim o espaço, o debate e a cadeia envolvida na distribuição de obras audiovisuais. O “Cineclube das Outras” vem se somar a iniciativas semelhantes espalhadas pelo país: Quase Catálogo e Cineclube Delas (RJ), Feministas de Quinta (ES), Cineclube da aranha (BH), Cineclube Feminista do Coletivo Matilde Magrassi (periferia de São Paulo e Guarulhos), a Mostra das MINAS (Santos), as sessões de cinedebate organizadas pela SOF (SP). O cineclube está aberto a pessoas e grupos ou entidades que queiram somar aos esforços realizados no espaço..

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CINEMA

Estrelas Além do Tempo: as mulheres negras esquecidas da NASA invadem o cinema

As calculistas que ajudaram a humanidade a chegar no espaço ganham reconhecimento por seu trabalho CRÉDITO: DIVULGAÇÃO

Ilustração das personagens Dorothy Vaughan, Katharine Johnson e Mary Jackson, respectivamente. Por Victoria Urbani

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ntre as décadas de 50 e 60 a corrida espacial já era uma realidade na NASA, uma vez que a União Soviética já começava a lançar seus primeiros satélites, enquanto os EUA tinham alguns problemas de lançamento. Nessa época, a Agência Espacial Americana tinha os chamados “computadores humanos”, mulheres negras que eram contratadas para fazerem os cálculos e análises de trajetórias. Estrelas Além do Tempo, filme dirigido e escrito por Theodore Melfi (Um Santo Vizinho), conta a história de três dessas mulheres que fizeram a diferença, venceram preconceitos e hoje são reconhecidas pelos seus feitos: Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson

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(Janelle Monáe). Embora a trama tenha um foco claro em Johnson, que é descrita como um prodígio da matemática desde a infância, o filme consegue equilibrar muito bem a história das três protagonistas: enquanto ela enfrenta novos desafios ao mudar de setor, Vaughan precisa se adaptar com a chegada de um computador da IBM (que poderia tirar seu emprego futuramente) e Jackson quer estudar para se tornar uma engenheira. Porém, todas essas metas são permeadas pelo forte preconceito racial da época, mostrado no filme tanto de forma aberta, quanto velada. Nessa parte, os coadjuvantes Kirsten Dunst e Jim Parsons se destacam, embora o último pareça uma versão ainda mais malhumorada de seu personagem Sheldon, de The Big Bang Theory. Não é ruim, apenas não entrega

nada novo. Kevin Costner também se destaca no elenco de apoio ao personificar uma espécie de “mentor” para a personagem de Taraji P. Henson, como o diretor da NASA Al Harrison. As conversas entre os dois são as melhores do filme ao mostrarem toda a diferença de oportunidade entre os dois - um homem branco e uma mulher negra - apesar da paixão em comum pelos números. Estrelas Além do Tempo, porém, se destaca ao não apostar no vitimismo de suas protagonistas. Seria muito fácil, com uma história assim, ficar no sofrimento oriundo do preconceito. Ao invés disso, a trama mostra que cada derrota faz com que elas tenham mais vontade de lutar, mais vontade de verem seu trabalho dar certo. E lembrar que tudo isso é baseado em uma história real só torna essas atitudes ainda mais admiráveis.



NOTÍCIAS Divulgação

O primeiro museu feminista foi inaugurado na Suécia

DE ONDE SÃO OS MUSEUS FEMINISTAS PELO MUNDO Por Laura Franco

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oi inaugurado o primeiro museu feminista do mundo. O lugar era de fato apropriado: na cidade sueca de Umeå, capital europeia da cultura em 2014, em um país onde a metade dos representantes políticos se autodefinem como feministas, onde existe um partido chamado Iniciativa Feminista – que teve suficiente popularidade para apresentar-se nas eleições – e em um Estado que está em quarto lugar no índice global da igualdade de gênero. O Kvinnohistoriskt Museum não tem coleção permanente, e está apresentando duas exposições paralelas. Uma delas trata do envelhecimento, e a outra se intitula Raízes. Para além da aparente novidade, a iniciativa se enquadra no conceito de “museus das mulheres”, que surgiu nos anos 80. Tal como descreve a austríaca Elke Krasny,

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curadora e especialista em teoria da arte, “os museus que pesquisam, colecionam e exibem as vidas e os trabalhos das mulheres nascem com a segunda onda do movimento feminista”. Dessa forma podemos encontrar os primeiros museus dedicados ao direito das mulheres de reivindicar a apresentação do papel histórico, econômico, social e político delas, já em 1982, em Bonn, na Alemanha, e pouco depois no mesmo ano, com o surgimento do Kvindemuseet (Museu das Mulheres) em Aarhus, na Dinamarca. Na década seguinte, surgiram em vários países museus sobre a história das mulheres, como o National Women’s History Museum, nos Estados Unidos, criado pela ativista Karen Staser com o objetivo não de “reescrever a história, mas de posicionar a história das mulheres e expandir o conhecimento da história nos Estados Unidos”.

Divulgação

Fotos fazem parte da exposição Os discursos de gênero não são os únicos presentes em correntes de museologia crítica. O National Museum of African American History and Culture (Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana), sobre a história das pessoas negras nos EUA já faz parte do Instituto Smithsonian. Desde a América Latina, por outro lado, incide-se que a museologia crítica precisa tratar não apenas o representado, porém os fatores históricos, estruturais, profissionais e sociais que marcam a relevância do que se torna objeto de museu e do que não, e os efeitos que as últimas crises econômicas tiveram sobre os museus. Enquanto cresce e se debate o espaço dedicado a exposições de um tipo, estão sendo abertos o Museu das Mulheres na Turquia e o Museu do Gênero na Ucrânia, e o Museu da Mulher em Buenos Aires estabelece novas iniciativas. Todos acolhem as lutas dos movimentos feministas e a história das mulheres em geral. Para além do possível otimismo, Elke Krasny avisa que a proliferação não é sintoma de uma mudança.


Divulgação

Evento ocorre o histórico Cinema São Luiz, no Paço do Frevo

FESTIVAL DE CINEMA EXIBE FILMES DE REALIZADORAS

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ulheres que fazem cinema - diretoras, roteiristas, produtoras e montadoras - discutem, no Recife, o que vem sendo feito por elas e os caminhos para ampliar a participação feminina no audiovisual. Esse é o objetivo do Festival Internacional de Cinema de Realizadoras (Fincar). O festival, que está em sua primeira edição, mostra a diversidade do audiovisual produzido por mulheres. A curadoria selecionou 30 obras de 19 países, entre curtas, médias e longas-metragens. The Arcadian Girl (Canadá), de Gabirelle Provost, retrata uma garota que vende algodão doce; The Internacional (Argentina), de Tatiana Mazú, mostra a irmã da cineasta em sua militância política e no relacionamento com a família. Já Outside (Brasil), de Letícia Bina, dá voz a uma ex-presidiária; e Kbela (Brasil), de Yasmin Thayná, usa uma narrativa repleta de simbolismos para contar o proces-

so de libertação do cabelo crespo. O único longa da noite, Retratos de Identificação (Brasil), de Anita Leandro, tem como protagonista Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dora, que lutou contra a ditadura, foi torturada e exilada em vários países, até cometer suicídio na Alemanha. Hoffmann destaca que os temas dos filmes são tão variados quanto os assuntos que interessam à parcela feminina da sociedade. “As mulheres falam sobre tudo. Imaginar que mulher só fala de mulher é um pouco restrito. Na verdade, o que se quer mostrar aqui é produção feita por mulheres”. Maria Cardozo, diretora artística e curadora do Fincar, reforça o caráter de reflexão do espaço - questões como representatividade, formação de público, estímulo ao surgimento de novas realizadoras. “Acreditamos também que ao exibir os filmes, a gente possa trazer referências para estudantes de

cinema que estão começando a lutar pelo seu protagonismo na realização cinematográfica”, diz. Na abertura de cada sessão, um dado é apresentado: menos de 20% dos filmes lançados nos últimos 20 anos foram feitos por mulheres. Levantamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine), divulgado em março deste ano, mostra que 41% das obras brasileiras tiveram produção executiva exclusivamente feminina. Nas funções de roteirista e de direção, no entanto, a participação feminina é de 23% e 19%, respectivamente. Na avaliação de Maria Cardozo, é possível encontrar semelhança entre o papel reservado à mulher na sociedade e o reflexo disso no mercado audiovisual. “No entendimento de uma sociedade machista, a mulher vem para organizar, cuidar do grupo. É como se a relação de produção, que é uma gestora de equipe, tivesse relação com uma gestora de família, como um papel que cabe à mulher, e não como autora e protagonista. Os números revelam de fato o que eu consigo visualizar no meio em que eu trabalho. E é uma questão mundial”. As inscrições de filmes para o festival demonstram: foram 2.349 obras de 11 países. Divulgação

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ARQUIVO

EXPOSIÇÃO EM FORTALEZA REÚNE RARIDADES DO ARQUIVO NIREZ AGÊNCIA BRASIL

Cerca de 300, das 141 mil peças, estão expostas

Raridades do Arquivo Nirez são mostradas em exposição em Fortaleza Por Marina Gil

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AGÊNCIA BRASIL

antiga alfândega de Fortaleza, hoje sede da Caixa Cultural, abriga até o dia 16 e abril uma exposição que mostra muitas histórias, inclusive a do próprio prédio. São fotos antigas de Fortaleza, discos de cera, rádios a válvula, microfones, revistas em quadrinhos da década de 50, caixas de fósforos, embalagens e outros

itens. A exposição tem cerca de 300 peças, de um total de 141 mil, do Arquivo Nirez, criado e mantido pelo jornalista, historiador e memorialista Miguel Ângelo de Azevedo. “Você tem o mesmo nome da Chiquinha Gonzaga”, observou Nirez ao autografar os catálogos da exposição para a repórter da Agência Brasil. O nome completo

Exposição reúne raridades da musica, do futebol e de Fortaleza

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da compositora e maestrina brasileira, que viveu entre os anos 1847 e 1935, é Francisca Edwiges Neves Gonzaga. Ao mostrar o início do arquivo, Nerez lembrou que, aos 20 anos, ao ganhar de presente de aniversário um toca-discos (naquela época, em 1954, era chamado de picape), começou a comprar discos de cera “para deleite”. Cada novo disco o levava a buscar outro e outro, especialmente reedições da década de 30. Em certo momento, essas reedições acabaram e, ansioso por continuar a coleção, Nirez resolveu seguir a dica de um dos lojistas de discos: procurar com as famílias de Fortaleza. “A dificuldade era grande porque ninguém queria se desfazer dos discos”, conta. Mas, em 1957, começou a ser vendido no Ceará o LP, que reunia mais faixas de música que os discos de 78 rotações (rpm), que só tinham uma faixa de cada lado. “Eu botava cinco LPs debaixo do braço e ia às casas das pessoas para trocá-los por discos de cera. Elas gostavam da novidade e acabavam trocando, mas como não tinham o aparelho para reproduzi-los, até os toca-discos a gente negociava em troca dos discos de 78 rotações.” Foi assim que Nirez reuniu 22 mil discos de cera, a maior discoteca particular do Brasil. As músicas de seu acervo são mostradas aos domingos no programa Arquivo de Cera, na Rádio Universitária FM, ligada à Universidade Federal do Ceará (UFC).



OBRA DELA

Martina Flach Estudante de Design Gráfico na UniRitter, tem 20 anos e mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

“Trabalho com design

gráfico e ilustração, Iniciei recentemente o estudo da tatuagem e hoje sou aprendiz, atendendo os primeiros clientes. Busco inspiração nas pessoas com quem convivo, prestando atenção em suas falas e emoções para obter resultados mais verdadeiros nas ilustrações. Além disso, o ambiente em entorno me inspira diretamente através de suas cores, cheiros e velocidades. Para buscar referências, costumo acessar o site artparasites.com e consultar livros” 48 Vênus - Julho



OPINIÃO

ARTE das Mulheres

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ocê lembra quantas artistas mulheres você estudou na escola? Quantas escritoras mulheres te foram apresentadas pel@ professor de literatura? De quantas compositoras ou instrumentistas mulheres você sabe o nome? Para a maioria das pessoas, o papel da mulher na arte é primeiramente o de musa inspiradora. Somos modelos para a tela, somos a paixão do poeta… Há infinitas músicas e poesias louvando a beleza e as características (ditas) femininas, há infinitas telas de nus femininos. Na maioria das vezes, o “mistério” é uma dessas características – a mulher não é um personagem, ela é observada apenas. O interesse está na sua figura, e não na sua identidade. Em segundo lugar, “cai bem” para a mulher lidar com o corpo e com a imagem, através da performance musical ou teatral, para interpretar a obra de outras pessoas – presumidamente homens. Mas se o trabalho artístico for focado menos na imagem e mais no uso de tecnologia (no caso dos instrumentos) e de “racionalidade” (composição, regência, produção musical), as mulheres têm muito menos apoio – e consequentemente, a quantidade de mulheres nesses meios é muito menor. O ato de criar, e principalmente de expor suas criações, é visto na nossa cultura como um ato individual, quase egocêntrico, de expressão pública dos sentimentos, sensa-

ções e opiniões pessoais do artista. Temos uma visão estereotipada da figura do artista, romanticamente, como uma pessoa excêntrica, de espírito livre, talvez um pouco (ou bastante) perturbada. Essas imagens idealizadas vão totalmente de encontro com o que é valorizado numa mulher pela sociedade, que é a mulher servil, discreta e conformada. Para a sociedade machista, nascemos para servir e não para nos expressar. Assim, mesmo podendo alcançar o meio público, a consagração e a realização, muitas artistas ainda são avaliadas por muitas outras coisas além de sua arte, julgadas pela sua aparência e vida pessoal. Muitas artistas mulheres ainda são diminuídas, e a arte feminina relegada à categoria de artesanato. Ainda há mais telas de nus femininos nos museus do que obras de artistas mulheres. Mas felizmente, as mulheres fazem e sempre fizeram muito pela arte, mesmo quando seu acesso ao meio público era limitado, e a sua participação está cada vez mais ativa e igualitária desde o início das lutas feministas. Mulheres (e homens) recitarão poesia, atuarão, lerão textos e interpretarão músicas de autoria e de autoras consagradas, compartilhando a arte feminina e colaborando para a consolidação da identidade da artista, como protagonista e observadora do seu tempo, não objeto de observação.

“Para a sociedade

machista, nascemos para servir e não para nos expressar”

Mariana Krewer é violinista, ativista blogueira e participante do Coletivo Feminino Plural

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SERVIÇO

A cantora Manu Gavassi fará, dia 27 de maio no Opinião, o show de lançamento do seu mais recente trabalho de estúdio, chamado “Manu”, com o single “Hipnose” e os sucessos já consagrados “Garoto Errado” e “Camiseta”. A abertura da casa está prevista para às 18h30 e o show inicia às 20h.

Lote 2: Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 40 Inteira: R$ 80 Lote 3: Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 50 Inteira: R$ 100

Classificação 12 anos

Pontos de venda: Bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – somente em dinheiro): Youcom Bourbon Wallig

Ingressos: Lote 1: Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 30 Inteira: R$ 60

Informações: www.facebook.com/opiniao. produtora www.twitter.com/opiniao (51) 3211-2838

Divulgação

Com a turnê do CD e do DVD “Guelã Ao Vivo”, Maria Gadú irá voltar ao Opinião, no dia 24 de junho, misturando grandes hits da sua carreira e faixas do seu mais recente trabalho de estúdio, bastante intimista, que resguarda sucessos como “Axé Acapella”, e as consagradas “Bela Flor” e “Ne Me Quitte Pas”. A abertura da casa está prevista para ás 18h30, e o show para 20h. Classificação: 14 anos Ingressos: Lote 1: Promocional: R$ 45

52 VênUS - Julho

Divulgação

SHOWS&CONCERTOS&SHOW

Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 40 Inteira: R$ 80 Lote 2: Promocional: R$ 50 Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 45 Inteira: R$ 90 Pontos de venda: Bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – somente em dinheiro): Youcom Bourbon Wallig Informações: www.facebook.com/opiniao. produtora www.twitter.com/opiniao (51) 3211-2838


WS&CONCERTOS&SHOWS&CO

Classificação: 12 anos Ingressos: Lote 1: Promocional: R$ 50 Estudantes e idosos (desconto de

A cantora Céu irá se apresentar no Opinião, mais uma vez, no dia 1º de julho, com a turnê do disco “Tropix”, com os sucessos “Varanda Suspensa”, “Malemolência” e “Amor Pixelado”. O álbum, lançado no ano passado, foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil o melhor disco de 2016 e ainda venceu dois Prêmios Grammy Latino. Classificação: 14 anos Ingressos: Lote 1: Promocional: R$ 45 Estudantes e idosos (desconto de

50%): R$ 40 Inteira: R$ 80 Lote 2: Promocional: R$ 50 Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 45 Inteira: R$ 90

50%): R$ 45 Inteira: R$ 90 Lote 2: Promocional: R$ 60 Estudantes e idosos (desconto de 50%): R$ 55 Inteira: R$ 110 Pontos de venda: Bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – somente em dinheiro): Youcom Bourbon Wallig Informações: www.facebook.com/opiniao. produtora www.twitter.com/opiniao (51) 3211-2838

Divulgação

Divulgação

Dezarie, a maior voz feminina do reggae na atualidade, vai voltar ao Brasil, dois anos depois da sua última turnê por aqui. A cantora, que subirá ao palco do Opinião, no dia 18 de outubro, estará em Porto Alegre para apresentar algumas músicas do seu sexto e ainda inédito trabalho de estúdio e todo o seu repertório de sucessos.

Pontos de venda: Bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – somente em dinheiro): Youcom Bourbon Wallig Informações: www.facebook.com/opiniao. produtora www.twitter.com/opiniao (51) 3211-2838

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AGENDA

OS CRISTAIS DE LINA A volta dos radicais cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi à exposição do acervo apresenta uma seleção de obras provenientes de diversas coleções do museu, abrangendo um arco temporal que vai do século 4 a.C. a 2008. Os cavaletes tiveram sua estreia na abertura da atual sede do museu em 1968 e foram removidos em 1996. A exposição acontece por tempo indeterminado no MASP (Avenida Paulista, 1578 Bela Vista, São Paulo – SP)

GALERIA DORIS SALCEDO RENOVADA

Uma grande obra da Coleção Inhotim está novamente aberta para a visitação do público. Neither [Nenhum (dos dois), 2004], trabalho da artista colombiana Doris Salcedo inaugurado no Instituto em 2008, foi completamente restaurado, assim como a galeria

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em que está instalado. Este é o primeiro grande projeto de restauro realizado pela instituição e reafirma o compromisso do Inhotim em exibir, de forma permanente, obras de arte contemporânea. Visite Inhotim (Brumadinho - MG)


CORPOS DE ARGILA Com dez anos de experiência na modelagem em argila, a psicóloga e professora universitária Sônia Azambuja lançou a sua primeira exposição, na galeria de arte do Ateliê Contextura (R. Dr. Armando Barbedo, 1091 - Tristeza, Porto Alegre - RS). A mostra com cerca de 20 esculturas em terracota, que representam, principalmente, imagens de mulheres e crianças, pode ser visitada até o dia 6 de maio.

O OLHAR INQUIETO Vera Reichert apresenta sua exposição, um recorte de sua produção que busca chamar a atenção para os problemas da água e da natureza. Vera desenvolveu e experimentou suportes e mídias para materializar suas ideias, inicialmente através da pintura, passando para a fotografia, com desdobramentos em instalações, além do vídeo e intervenções na paisagem. A mostra acontecerá no MARGS (Rua 7 de Setembro, Porto Alegre - RS).

ENCAIXE PERFEITO

Através do desenho, a designer Renata Rubim apresenta e trabalha a técnica básica de rapport, um tipo especial de repetição com encaixes perfeitos de um mesmo módulo, capacitando o participante a desenvolver su-

perfícies contínuas. O objetivo é proporcionar o entendimento da construção de rapports, essenciais para o design de superfícies. Os exercícios são interessantes e divertidos e fazem sucesso entre os alunos. E o melhor: o parti-

cipante não precisa ter grande habilidade em desenho, apenas alguma familiaridade com o lápis. A oficina ocorre no dia 13 de maio no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440 - Bairro Três Figueiras, Porto Alegre - RS)

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CULTURA

KD Mulheres

Escritoras, mercado e visibilidade Por Bárbara Debeluck

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ueria dizer que sou a favor de todas as lutas igualitárias. Mas, vocês não acham que deveria ter um homem nessa mesa, já que representamos a maioria, pra abrir um pouco mais a conversa?. Ocupamos tão poucos espaços de fala que mesmo naqueles com recorte de gênero há quem sugira que as sexistas somos nós! Essa, por exemplo, surgiu no debate sobre mulher na literatura realizado na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty por Martha Lopes e Laura Folgueira, criadoras do movimento KD Mulheres?, que nasceu na Casa de Lua, ONG que ajudamos a criar e da qual sou uma das diretoras. Se em 2014 o KD Mulheres? ocupou a praça pública de Paraty com seu questionamento, agora foi a Câmara Municipal da cidade que abrigou um público muito participativo e interessado em falar do tema. E, desta vez, dentro da programação oficial do evento. No debate uma das primeiras ponderações veio de uma moça que questionou o comentário da curadoria da Flip para quem a pouca presença de escritoras mulheres na Festa se deve pela recusa delas aos convites supostamente feitos. Essa mesma moça sugeriu, então, que a organização da Flip levantasse as razões das recusas e tentasse minimizá-las. O KD Mulheres? surgiu em 2014 a partir da constatação de que menos de

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15% das mesas principais da Flip naquele ano contavam com a presença de escritoras. Já no debate do KD Mulheres? uma das primeiras ponderações veio de uma moça que questionou o comentário da curadoria da Flip para quem a pouca presença de escritoras mulheres na Festa se deve pela recusa delas aos convites supostamente

REPRODUÇÃO

feitos. Essa mesma moça sugeriu, então, que a organização da Flip levantasse as razões das recusas e tentasse minimizá-las. O KD Mulheres? surgiu em 2014 a partir da constatação de que menos de 15% das mesas principais da Flip naquele ano contavam com a presença de escritoras.Das 13 edições realizadas até hoje, apenas uma escritora foi a homenageada: Clarice Lispector. Em 2015,

pouca coisa mudou e essa porcentagem praticamente não subiu. O escritor homenageado foi Mario de Andrade. “Olhe para a sua estante: quantos livros escritos por homens e quantos livros escritos por mulheres você tem?”, provocou Martha Lopes, que também ressaltou que a literatura produzida por escritoras negras é mais invisibilizada ainda. Aliás, um dos dados que as duas levantaram é que mais de 90% da literatura produzida no Brasil é de autores brancos, homens, em sua maioria.Isso quando não se coloca em dúvida a própria capacidade da autora de realizar determinada obra. Há ainda o fato de que a literatura produzida por mulheres costuma ficar restrita à nomenclatura única de “literatura feminina”, o que pode acabar essencializando a produção e criando uma categoria que não observa as especificidades literárias de cada uma, ao passo que a literatura produzida por homens está separada por ficção, prosa, poesia, novela, etc. Como dá pra perceber, há coisas a comemorar, mas ainda temos muitas perguntas a fazer, situações a questionar e muitas ações assertivas a realizar e que podem ajudar a desatar os nós dessa cadeia. O KD Mulheres? já está organizando uma série de eventos de formação para mulheres que querem escrever e publicar. Só espero que na próxima edição da Flip e em outras feiras e festas literárias tenhamos uma presença mais paritária.




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