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3 REVISÃO DE LITERATURA
A Nova Museologia surgiu no final dos anos 1960, trouxe conceitos e métodos que se contrapõem à perspectiva mais tradicional de Museu: edifício, coleção, públicos; e propõe uma ressignificação do Museu em outra perspectiva, qual seja, reconhecer o espaço museal como um lugar repleto de vida, experiências, conhecimentos, que permite a salvaguarda do patrimônio cultural; espaço de sociabilidades e interlocuções, onde os públicos visitantes ocasionais ou usuários conheçam e reconheçam o valor das memórias e das histórias locais.
“A memória está nos próprios alicerces da História, confundindo-se com o documento, com o monumento e com a oralidade” (LE GOFF, 2003, p. 23). Nesse primeiro contato com uma literatura da Nova Museologia, compreendemos a necessidade de buscar mais fontes de conhecimento para o desenvolvimento da pesquisa, que tem como objeto o Museu de Arte Sacra de Oeiras.
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Pensar a função social do Museu, além do aspecto tangível, é perceber toda uma imaterialidade dentro dessa dinâmica simbólica. O MAS abriga um acervo representativo do patrimônio eclesiástico da cidade de Oeiras, com peças sacras que não estão totalmente musealizadas, pois são usadas no ambiente externo do Museu, nas celebrações do calendário religioso, principalmente na Semana Santa. O acervo sacro está relacionado ao patrimônio imaterial (intangível), que compreende as expressões de vida e tradições religiosas de Oeiras, pois reforça o sentimento de pertencimento e de identidade, fortalecendo os laços comunitários. O Patrimônio Cultural Imaterial foi definido na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial em Conferência na UNESCO, em Paris, no ano de 1989. Em seu artigo 2, lê-se a seguinte explicação:
As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (UNESCO, 2006).
O Museu salvaguarda mais do que obras e objetos, mas também experiências e vivências de religiosidade, de espiritualidade, elementos da cultura religiosa, da história eclesiástica, como uma função reconhecida pela comunidade local.
Com base na Mesa-Redonda de Santiago no Chile, em 1972, o ICOM compartilha a ideia de que os museus estão a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. Esse papel social dos museus tem o objetivo “[...] de aumentar a capacidade de uma coletividade de projetar seu próprio futuro e de ser sujeito ativo de sua própria história, a partir da consciência que passa a ter de si mesma” (BARBUY, 1989, p. 36). Para Santos (1993, p. 99):
Os museus são espaços de sociabilidade, de troca de saberes, de produção cultural e de encontro com a comunidade. Um lugar de participação e de ações educativas. Espaços de produção de conhecimento que favorecem a construção social da memória e a percepção crítica da sociedade. A relação entre museu e educação é intrínseca, uma vez que a instituição museu não tem como fim último apenas o armazenamento e a conservação, mas, sobretudo, o entendimento e o uso do acervo preservado, pela sociedade, para que, através da memória preservada, seja entendida e modificada a realidade do presente. Nesse sentido, a própria concepção do museu é educativa, pois, o seu objetivo maior será contribuir para o exercício da cidadania, colaborando para que o cidadão possa se apropriar e preservar o seu patrimônio, pois ele deverá ser a base para toda a transformação que virá no processo de construção e reconstrução da sociedade, sem a qual esse novo fazer será construído de forma alienante.
Diante desse contexto, é possível perceber que os museus possibilitam diferentes experiências, oferecem serviços educativos e culturais, promovem ações de mediação com os públicos. Esse diálogo com a comunidade deve “propiciar a compreensão sobre patrimônio/herança e o exercício da cidadania” (BRUNO, 1998, p. 27). De acordo com Reis (2005, p. 42):
Os museus devem ser um espaço sugestivo, lúdico e interessante onde não necessariamente as coisas devam ser explicadas como acontece na escola. E neste caso, considerar que não há uma única forma de construção do conhecimento, de aprendizagem, ele pode despertar no sujeito a afetividade instigando a emoção, o romantismo, a ação, a interação e a reflexão.
O Museu é um espaço de encontro, debates, comunicação, de participação social. Para sua gestão, se faz necessário compreender que sua função social envolve técnicas, recursos e ações socioeducativas. As atividades culturais realizadas nos museus (exposições, cursos, palestras, seminários, oficinas e outras) devem estar em consonância com as expectativas da comunidade, como organização a serviço do público. Isso reafirma o ideal da Nova Museologia, pois cumpre com o dever de salvaguardar e valorizar memórias e histórias locais. O Museu do século XXI deve celebrar a diversidade cultural, o diálogo com a comunidade e com as diversas culturas. Nesse sentido, o MAS necessita reforçar sua missão e vocação de criar laços comunitários, reafirmando sua função social.
A realização de diagnósticos tem sido uma estratégia metodológica bastante frequente no processo de avaliação e reestruturação de museus. É a partir do levantamento e análise de dados do Museu que se poderá compreender a insti- tuição, o seu perfil, sua missão e vocação para o trato com os objetos museológicos. O diagnóstico também aponta para a necessidade de avaliar se a instituição possui condições de fornecer salvaguarda ao acervo.
Enquanto estratégia metodológica para a avaliação e qualificação de museus, o diagnóstico museológico é compreendido como uma análise global e prospectiva da instituição que ‘objetiva a identificação e apreensão das potencialidades museológicas de um território ou de uma instituição, a fim de perceber as atividades desenvolvidas, as parcelas do patrimônio valorizadas e selecionadas para preservação e as lacunas existentes’ (DUARTE CÂNDIDO, 2010, p. 129).
Essa nova tendência contribuiu para o surgimento de novas definições como “Museu Aberto”, “Museu de Vizinhança”, “Museu Comunitário”, “Ecomuseu”. Com essa mudança de paradigmas, surgiu o Movimento da Nova Museologia.
Desta forma, o museu deixa de ser apenas um local de guarda de coleções e amplia o seu interesse do objeto para o sujeito e a sociedade a qual ele pertence, valorizando a cultura não apenas como traço de erudição, mas como marca da trajetória humana e da transformação contínua da realidade (ALMEIDA, 2013, p. 30).
Essa nova perspectiva sobre os museus e suas ações refletem também na gestão, orientando os museus a adotarem uma nova metodologia de gestão das instituições. Deste modo:
Para a qualificação do fazer e das instituições museológicas, é necessário o estabelecimento de parâmetros de gestão museológica e de avaliação, entre os quais o diagnóstico realizado regularmente. A avaliação e o planejamento, procedimentos nos quais o diagnóstico museológico está inserido, são potencialmente um processo educativo, sendo possível considerá-los como importante etapa da formação em serviço dos profissionais envolvidos. A renovação na Museologia passa por aí, pois implica renovação de mentalidades e técnicas para adequação entre teoria e prática museológica, e em qualificação dos corpos técnicos e administrativos (PRIMO, 1999, p. 36).
Nessa perspectiva, pensar o diagnóstico museológico é, antes de tudo, pensar o “Museu” pleno em suas funcionalidades embrionárias, de acordo com sua trajetória e reafirmação missionária-vocacional, a fim de que resultem não somente em sua manutenção, mas sobretudo que seja reconhecido, compreendido, valorizado e seja parte da comunidade, pela e para esta. Nesse sentido:
[...]levar a cabo um ‘diagnóstico da situação atual’ completo poderá ser uma tarefa enorme, mesmo para pequenos museus. Seria possível investigar todos os aspectos de todas as atividades a que o museu se dedica. Essa revisão detalhada de cada atividade deve ser feita periodicamente, mas provavelmente seria difícil fazer tudo de uma vez devido a considerações práticas tais como ‘quem vai fazê-la’ e ‘quanto tempo levará’? Assim sendo, provavelmente, você terá que ser seletivo a respeito de quais questões serão examinadas em detalhe (DAVIES, 1994, p. 33).
O enunciado de Stuart Davies leva a algumas reflexões; a primeira a destacar-se é que, sendo o diagnóstico o mapeamento de uma situação presente, ou seja, o mesmo que delinear ou estabelecer um contexto atual, subentende-se que se trata de um produto perecível e com período de validade, uma vez que a realidade muda constantemente; a segunda possível é que, sendo uma atividade complexa, há disponibilidade não só de pessoal ou prazo, como sinalizou Davies, mas também de custos que influenciam diretamente em uma ação dessa natureza.
Assim, é compreensível a necessidade de objetivá-lo, estabelecendo um recorte da realidade a ser estudada ou um olhar específico sobre determinada situação. Diagnosticar é identificar questões por meio de uma série de procedimentos, para a partir de então elencar as prioridades que permitirão criar as estratégias de ação para o futuro; dessa forma, o diagnóstico também é parte dos processos avaliativos.
Em relação ao diagnóstico nos museus, Neves (2011, p. 32) afirma:
O diagnóstico é a primeira etapa para se pensar ou repensar um museu. Ela constitui-se de levantamentos e análises de dados de toda sorte, através de reuniões com a equipe do museu (caso seja para revitalização), visitas técnicas ao local ou instalações, pesquisa bibliográfica, pesquisa de público etc.
Diversos são os processos de análise de avaliação em museus, acontecem em vários níveis, desde os estudos de público, mais comumente referenciados, até as avaliações e estudos de espaços e ambientes arquitetônicos, avaliações de acervos, no tocante à documentação e à conservação, entre tantos outros.
Manuelina Duarte (2011, p. 54) afirma que o diagnóstico museológico deve ser entendido como:
[...] uma análise global e prospectiva da instituição, isto é, não se confunde com outras formas de análise ou avaliação da instituição que enfocam uma parte de suas ações mais a fundo, como a avaliação no sentido de estudos de público ou mesmo o diagnóstico de documentação do acervo.
A mesma autora aponta que existe uma dificuldade em se estabelecer um método único em função da diversidade de museus e realidades em que estão inseridos. No Brasil, desde 2009, com a promulgação da Lei Federal nº 11.904 – Estatuto dos Museus, o diagnóstico passou a ser também uma demanda no conjunto de procedimentos para a construção de planos museológicos. O que também foi reforçado no artigo nº 23 do Decreto nº 8.124/13, que regulamentou essa Lei. Sendo assim, Manuelina Duarte (2011, p. 54) conclui:
O planejamento enquanto etapa fundamental de gestão de museus, deve tomar o diagnóstico museológico como um ponto de partida para análise e identificação de pontos críticos e de potencialidades, sintetizados estes na construção de um cenário real e de outro desejável que possa ser construído em diferentes prazos longo, médio e curto, por intermédio da implantação do plano museológico, programas e projetos.
No que concerne aos procedimentos da política de gestão de acervo, se faz necessário realizar a documentação, a conservação e a pesquisa adequada do acervo museológico, no intuito de controlá-lo, como incentivo à produção e difusão do conhecimento. É de competência da gestão de acervo: a salvaguarda das coleções, o cuidado com o bem-estar físico e de conteúdo do acervo, a segurança, o acesso ao público e a descrição das atividades realizadas pelo processo administrativo da instituição. “A política de gestão de acervo serve como um documento de orientação para os profissionais do Museu que esclarece como o Museu assume a responsabilidade de salvaguarda do seu acervo” (PADILHA, 2014, p. 27).
Para que a gestão de coleções tenha sucesso, as decisões sobre o acervo do Museu devem ser sempre tomadas de modo consistente e após consideração cuidadosa. Uma tomada de decisão eficaz fundamenta-se numa política eficaz. Por essa razão, o documento mais importante do acervo do Museu é a Política de Gestão do Acervo (LADKIN, 2004, p. 18).
O Museu como instituição colecionadora deverá utilizar-se de sua política de acervo, quando da aquisição do objeto a ser musealizado, pois “[...] são muitos os motivos que levam os museus a salvaguardarem os objetos em seu acervo: por ser raro, por sua fabricação, pelo valor científico e cultural, pela preciosidade do material ou pela sua antiguidade” (PADILHA, 2014, p. 19).
Dentro do processo de musealização do objeto, Padilha (2014, p. 19) complementa:
Todo objeto pode ser potencialmente um objeto museológico, porém o que o elevará a essa categoria é a análise que a instituição fará no momento em que ele for adquirido. Ressalta-se a necessidade de o objeto possuir semelhança com o tipo de acervo salvaguardado pelo museu e de dialogar com a sua missão e com os seus objetivos. Assim, sua aquisição será vista como autêntica ao propósito institucional [...] o objeto passa a ser descrito sob duas circunstâncias: sua vida útil antes de fazer parte do museu e depois, quando ganha novos usos e sentidos dentro do espaço de salvaguarda.
Portanto, a musealização é esse conjunto de processos pelos quais alguns objetos são revestidos de novos significados, por conseguinte, adquirem a função de documento, constituindo-se como acervo museológico.
[...] podemos concluir que o acervo museológico é composto por documentos (peças, objetos, artefatos) que intencionalmente são guardados, pois providos de um valor documental que lhes foi intencionalmente atribuído (SMIT, 2011, p. 33).
Apresentamos, a seguir, alguns apontamentos e recomendações para a construção do diagnóstico e de um exercício da documentação museológica do Museu de Arte Sacra de Oeiras, no Estado do Piauí.
4 Metodologia
A metodologia deste trabalho esteve pautada no processo de construção do diagnóstico do Museu de Arte Sacra de Oeiras, enfocando a gestão do acervo e o planejamento em museus, construindo um exercício de documentação museológica. Delimitamos o trabalho na documentação de dez peças raras, que compõem o acervo do MAS, para pesquisa, documentação, comunicação e salvaguarda do patrimônio eclesiástico. Construímos uma narrativa que destaca o risco das peças com ênfase em diversos problemas estruturais, apontados no diagnóstico. Também sugerimos a inserção das peças raras em um repositório digital, a Plataforma Tainacan.
A Plataforma Tainacan é uma ferramenta flexível para WordPress que permite a gestão e publicação de coleções digitais com a mesma facilidade de se publicar posts em blogs, mas mantendo todos os requisitos de uma plataforma profissional para repositórios. Sendo assim, o trabalho não se encerra nele mesmo, pois sugere, para o futuro, a possibilidade desse repositório digital, a elaboração de uma nova museografia e a construção participativa de um Plano Museológico.
Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), atualmente dez Museus da Rede Ibram já usam o Tainacan, e a previsão é que, até o final de 2019, todos os demais museus da rede disponibilizem seus acervos na plataforma. As faculdades de Museologia da Universidade de Brasília (UNB), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia também utilizam a plataforma como repositório de suas exposições, além da Funarte e do Museu do Índio (Funai/MJ).
Um exemplo de boas práticas de museus que usam a plataforma Tainacan é o caso do Museu de Arqueologia de Itaipu, que publicou recentemente seu acervo digital na referida plataforma. De acordo com as informações do repositório digital, o Museu de Arqueologia de Itaipu conta com acervos museológico, arquivístico e bibliográfico.
Um aspecto a destacar para a construção do diagnóstico museológico de uma instituição museal é a própria instituição e seus funcionários estarem dispostos a serem avaliados a partir dos problemas e potencialidades, de estarem abertos aos desafios de uma sociedade da comunicação e informação; estarem abertos para as diversas análises e abordagens que serão pontos indicadores da avaliação; considerar os pontos significativos que devem compor um diagnóstico museológico global, como a densidade do acervo na exposição e reserva técnica; recursos humanos; orçamento; estrutura espacial; conservação e restauro; reserva técnica; manuseio e uso do acervo; monitoramento e controle do ambiente; segurança; salvaguarda; expografia e estudo de público. Fazendo assim a análise dos pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades (análise SWOT) da instituição museal.
Em um paralelo com o que ocorre em avaliações médicas, pode-se dizer que esses são os diagnósticos de alguns especialistas, enquanto o diagnóstico museológico seria uma abordagem de ‘clínica geral’ tentando perceber a organicidade das diferentes partes e realizar uma análise do quadro geral do funcionamento. O que indica, quando for o caso, um aprofundamento da avaliação por especialistas naqueles pontos em que foram identificados os problemas que comprometem o todo (DUARTE CÂNDIDO, 2013, p. 86).
O ponto da situação concentra atividades iniciais que já foram desenvolvidas em relação ao objeto deste trabalho. Uma parte do acervo do MAS foi documentada em 1984, sob a orientação de Ana Clélia B. Correia, museóloga contratada pela Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo do Estado do Piauí. Esse trabalho de registro durou cerca de três meses, computando um acervo de duzentas e sessenta e uma peças. Em 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, tendo como superintendente do Piauí a arquiteta Claudiana Cruz dos Anjos, realizou uma atualização na documentação museológica do MAS, através da empresa mineira, Aro Arquitetos Associados LTDA., sob a coordenação técnica de Andréia Zerbetto.
A documentação não contemplou todos os itens do Museu, deixando uma série de lacunas. Ainda no início deste trabalho, fomos incitados pela Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro, coordenadora do PPGAPM, a fazer um artigo sobre o MAS, mostrando as necessidades, o interesse de pesquisar e desenvolver uma atividade naquele equipamento cultural. Artigo este intitulado “Museu de Arte Sacra de Oeiras, Sertão do Piauí, Nordeste do Brasil”, apresentado na 10ª edição do evento Mestres e Conselheiros, que aconteceu em agosto de 2018, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.
A considerar um diagnóstico global, foi possível detectar pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades do MAS, cuja direção nos abriu as portas para uma análise crítica da instituição que necessita fazer um estudo mais técnico das questões relacionadas à conservação de acervos, segurança, documentação, avaliação de exposição, missão e perfil institucional, bem como o estudo de públicos, comunicação, salvaguarda, planejamento e gestão.
Ao longo do trabalho, mantivemos uma comunicação com nossos colegas, funcionários do Museu, com os parceiros e instituições de cultura, envolvendo todos eles no trabalho realizado, para se sentirem parte e perceberem a realidade do MAS.
A nossa pretensão com este trabalho foi iniciar uma discussão no campo da gestão museológica, para reconhecer, defender e vivenciar o patrimônio do lugar onde vivemos.
4.1 Tipo de Pesquisa
Gestão e planejamento museológico, uma pesquisa qualitativa e participativa. Compreendemos que a pesquisa parte de um problema no âmbito das ciências sociais aplicadas, o que inclui a Museologia. Nessa etapa do trabalho buscamos referenciais no campo do planejamento e gestão de museus, de “Documentação e Conservação de Acervos Museológicos: Diretrizes”, orientadas pela Associação Cândido Portinari (ACAM, 2010); “Gestão de Museus, diagnóstico museológico e planejamento, um desafio contemporâneo”, Duarte Cândido (2013); para tratar de política de aquisição e descarte de acervo, sem perder de vista a relação do Museu de Arte Sacra com a paisagem cultural e sua relação com o patrimônio que versa com a missão Institucional e caracteriza a identificação com seu território, consultamos Ribeiro (2008).
Neste caso, a escolha tem como base o tipo e o caráter da pesquisa que realizamos sobre o Museu de Arte Sacra (MAS); porque envolvemos os funcionários. A pesquisa aconteceu entre 2018 e 2019.
4.2
Local de estudo
O estudo foi realizado na sede do Museu de Arte Sacra de Oeiras, localizado na Praça Visconde da Parnaíba, 72, Centro Histórico.
4.3 Coleta e análise de dados
As variáveis de estudo foram coletadas em momentos distintos, através da pesquisa em documentos disponibilizados pela Coordenação do Museu, das rodas de conversas com os funcionários do MAS, do processo de diagnóstico museológico e do inventário das dez peças escolhidas a partir de uma análise do acervo existente. Fizemos a coleta das informações e iniciamos o processo da escrita. Utilizamos, dentro desse processo museológico, técnicas de coletas de dados como: mediação, observação, diário, notas de campo e análise documental.
4.4 Aspectos éticos
O trabalho foi discutido inicialmente com a Coordenação do PPGAPM da UFPI, ainda na primeira disciplina do Mestrado: Museu e Museologia, ministrada pela Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro. A partir de então, fomos orientados para a construção de um artigo sobre o Museu de Arte Sacra de Oeiras-PI, apresentado no evento 10º Mestres e Conselheiros-UFMG, em Belo Horizonte (agosto de 2018). Assim, afirmamos que este trabalho está de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Programa de Pós-Graduação e sua relevância está inserida nos princípios da Museologia.
Na sequência, encaminhamos o projeto de pesquisa para a Coordenação do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da UFPI, Campus Ministro Reis Veloso (Parnaíba-PI); hoje o Mestrado tem sede no Museu da Vila, Bairro Coqueiro da Praia, Luís Correia-PI. Após a análise da Coordenação e encaminhamentos, prosseguimos com a pesquisa. Solicitamos à Paróquia Nossa Senhora da Vitória e Cúria Diocesana consentimento para realizar o trabalho.
5 Riscos
Toda pesquisa tem riscos, apesar de, o que realizamos neste trabalho não foi algo que traga uma drástica ou arriscada intervenção no MAS. Durante a pesquisa e documentação, bem como ao longo do estudo e acesso direto às peças sacras do MAS, aconteceram contradições, constrangimentos e aborrecimentos. No entanto, tais fatos requereram de nossa parte, como pesquisador, certo equilíbrio para trabalhar com as fontes escritas, com a oralidade e com o corpo de funcionários do Museu, sem ocasionar nenhum dano à pesquisa nem aos colaboradores.
6 Diagn Stico Do Museu De Arte Sacra De Oeiras
a) Edificação
O Sobrado João Nepomuceno foi erigido no primeiro Quartel do século XIX, e ainda conserva a mesma configuração arquitetônica. Funcionou posteriormente como Intendência Municipal, Grupo Escolar Costa Alvarenga e Palácio Episcopal. Em 1983, o prédio passou a abrigar o Museu de Arte Sacra de Oeiras, marco das comemorações dos 250 anos da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória.
b) Relação do Prédio com o entorno
A relação desse prédio com seu entorno é harmônica, pois sua arquitetura é condizente com os outros prédios que fazem parte da área vizinha. Arquitetura colonial, presente em todo o conjunto histórico e paisagístico do Centro Histórico de Oeiras.
c) Localização
O MAS está localizado na Praça Visconde da Parnaíba, próximo a Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Centro Histórico de Oeiras. É um prédio emblemático que realça o conjunto histórico e paisagístico da Primeira Capital, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2012, como patrimônio cultural do Brasil.
Nome da instituição:
Coordenadora:
Endereço:
Cidade:
E-mail:
Contato:
Horário de Funcionamento:
Museu de Arte Sacra | MAS
Zulene de Holanda Rocha
Praça Visconde da Parnaíba, 72
Oeiras | Piauí masoeiras@gmail.com
(89) 99402-3981
8h às 12h (terça-feira a domingo) d) Estrutura Organizacional e) Acervo e origem f) Número de peças que compõem o acervo g) Exposições
O Museu de Arte Sacra de Oeiras tem a seguinte estrutura organizacional: Coordenação, uma funcionária da própria casa, dois professores cedidos pela Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), um vigia (funcionário da Secretaria de Estado da Cultura), um vigia e uma zeladora (cedidos pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo | Prefeitura de Oeiras). O MAS pertence à Paróquia Nossa Senhora da Vitória, Diocese de Oeiras, há um contrato de comodato com o Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), em parceria com a Prefeitura de Oeiras, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
O acervo do Museu de Arte Sacra é oriundo das Igrejas de Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição. Uma parte origina-se de colecionadores que cederam seus acervos de família ou doaram peças para compor o acervo do Museu. Estão distribuídos em oito salas temáticas, a saber: Sala Dom Expedito Lopes, Sala Dom Edilberto Dinkelborg, Sala Dona Alina Nunes de Carvalho (Santos), Sala Dona Maria de Cota (Semana Santa), Sala Mariana (Procissões), Sala Dona Alzira Reis Tapety (Divino), Sala Dona Júlia de Carvalho Nunes (Música Sacra) e Sala Capela Nossa Senhora da Vitória.
O MAS possui um acervo raro e significativo, pois são peças com mais de duzentos anos que ainda saem do Museu em momentos celebrativos, cerimônias e procissões da Semana Santa. Inventariado pelo IPHAN, em 2009, temos cerca de 261 itens que fazem parte das exposições de longa duração, distribuídos em oito salas temáticas.
O acervo é composto por imagens de madeira policromada séculos XVII, XVIII e XIX; varas do pálio, lanternas, crucifixos, castiçais, resplendores e coroas de prata. Além de paramentos litúrgicos e outros objetos que pertenceram aos primeiros bispos da Diocese.
h) Salvaguarda do patrimônio e inventário das peças
Durante a realização deste diagnóstico, pudemos constatar que o acervo foi catalogado inicialmente em 1984, quando o Museu abriu efetivamente suas portas à visitação pública, a partir de fichas datilografadas e arquivadas em sua sede. Em 2009, o IPHAN fez nova documentação museológica, tanto do Museu, quanto das três Igrejas seculares de Oeiras: Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição. Esse material encontra-se arquivado tanto na Cúria Diocesana, quanto no Museu de Arte Sacra. Algumas peças, como a Custódia de Ouro e a imagem primitiva de Nossa Senhora da Vitória, ficaram de fora dessa segunda documentação museológica. A primeira, por estar em Teresina, sob os cuidados de uma família oeirense; e a segunda, por estar na Caixa Forte (Cofre do MAS) e de não ter sido permitida sua catalogação pela Paróquia Nossa Senhora da Vitória, naquele período, por motivo de segurança
i) Ações educativas e culturais
O MAS realiza atividades educativas e culturais desde 2013, sempre na Semana Nacional de Museus, temporada cultural coordenada pelo Ibran, que acontece todo ano em comemoração ao Dia Internacional dos Museus, 18 de maio. A cada ano, o Conselho Internacional de Museus (ICOM) lança um tema diferente para a celebração dessa data, que é, também, o mote norteador das atividades da Semana de Museus.
As atividades acontecem na Primavera de Museus, temporada cultural também coordenada pelo Ibram que acontece todo ano no mês de setembro. Além dos períodos de celebração da cidade, como Semana Santa, Divino e Padroeira do Piauí, Nossa Senhora da Vitória.
As atividades acontecem dentro e fora do Museu, como: colóquios, seminários, exposições de curta duração, concertos sacros, bate-papos, roda de conversa nas escolas e rádios locais, oficinas, visitas mediadas, exposições itinerantes, Cine MAS e shows musicais. Todas essas atividades envolvem a comunidade e são feitas em parceria com as instituições culturais da cidade, como o Instituto Histórico de Oeiras, Confraria Eça-Dagobertiana, Conselho Municipal de Cultura, Centro Cultural Major Selemérico, bem como escolas públicas e privadas da cidade, 8ª Gerência Regional de Educação, Secretaria Municipal de Educação, IFPI, UESPI, Paróquia Nossa Senhora da Vitória – Diocese de Oeiras, Fundação Dom Edilberto Dinkelborg, Fundação Nogueira Tapety, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e Secretaria de Estado da Cultura.
j) Missão e visão institucional
O MAS, mesmo com fragilidades, tenta cumprir seu papel de salvaguardar peças sacras que contam a história da cidade e que estão intimamente ligadas às tradições religiosas de Oeiras. Constitui-se um espaço onde oeirenses e públicos ocasionais ou usuários percebem o acervo com peças raras que traduzem a relevância e preservação das tradições da comunidade, valorizando a identidade cultural e fomentando possibilidades de salvaguardar as práticas ancestrais do povo de Oeiras, que vive sua fé há mais de trezentos anos.
6.1 Diagnóstico como ferramenta metodológica
A utilização de diagnósticos tem sido uma ferramenta metodológica bastante utilizada no processo de avaliação e reestruturação de museus. É considerada a primeira etapa para se pensar um Museu. A partir de um levantamento e aná- lise de dados, poder-se-á compreender a instituição. Observe-se o diagnóstico museológico:
Constitui-se de levantamentos e análise de dados de toda a sorte: através de reuniões com a equipe do museu [caso seja para revitalização], visitas técnicas ao local ou instalações, pesquisa bibliográfica, pesquisa de público etc. Mas, fundamental é a pesquisa sobre o acervo, pois é ele que vai definir o perfil do museu em termos científicos e estruturais: é a sua vocação ou, em outros termos, a identidade do museu (DUARTE CÂNDIDO, 2013, p. 202).
É justamente a partir do levantamento e análise de dados do Museu que será possível compreendê-lo; perfil, vocação, prioridades, ameaças, oportunidades para que se planejem ações de reestruturação, requalificação e ressignificação da instituição, com base na formação e transformação de mentalidades da Equipe gestora e de seus funcionários. O diagnóstico completo da instituição pela apreciação de aspectos globais de seu funcionamento é a base para a elaboração do plano museológico, expresso no artigo terceiro da portaria normativa nº 1 / 2006 do IPHAN (DOU 11/07/2006).
Por constituir-se instrumento fundamental dentro da ação transformadora dos museus, o diagnóstico e o plano museológico “[...] ganham realce quando envolvidos em um contexto de aproximação com a produção teórica e metodológica do campo da Museologia que possa trazer novos parâmetros de avaliação” (DUARTE CÂNDIDO, 2014, p. 52).
O plano museológico auxilia no estabelecimento da missão e dos programas do Museu, tais como: gestão de pessoas, gestão dos acervos, projetos de exposições, ações educativas e culturais, elaboração e realização de pesquisas, programa arquitetônico, de segurança, estratégias de financiamento e fomento, bem como de difusão e divulgação. A criação da matriz para diagnóstico museológico, planejamento e gestão de museus está ligada às especificidades dos museus, embasados nos conceitos da museologia, além da experiência da autora no campo museal. A referida matriz associada a outras existentes “[...] aponta pontos fortes e fracos, de cada um dos aspectos mencionados no diagnóstico e baseando as tomadas de decisão que serão fundamentais na elaboração e na execução dos programas” (DUARTE CÂNDIDO, 2014, p. 54).
Quando a missão institucional não está definida, ocorre uma falta de clareza dos objetivos da instituição e sua ausência compromete a sobrevivência do museu. Isto se torna mais grave quando ocorre com o Museu tradicional que não dialoga com as novas propostas museais. Duarte Cândido (2010, p. 128) complementa:
A Museologia hoje consiste na convivência entre os museus tradicionais e as novas propostas museais. Porém o que se percebe é também um descompasso, marcado pela existência de diversas instituições que ainda seguindo modelos tradicionais sequer realizam com qualidade a gestão do seu patrimônio, a salvaguarda e a comunicação. Ao mesmo tempo em que a Museologia busca a experimentação de novos modelos, também desenvolve procedimentos técnico-científicos de excelência para o tratamento dos acervos e para a qualificação dos chamados museus tradicionais, mas muitos ficaram à margem deste processo ou o seguem de longe, por uma série de fatores, entre as quais se destacam deficiências de recursos humanos e financeiros ou mesmo o pequeno contato com a produção científica e os debates da área.
Com este trabalho inicial, pretendemos, como funcionário do MAS, realizar de forma participativa, a médio prazo, a construção do plano museológico desse equipamento cultural, a considerar sua importância como ferramenta poderosa na organização de um Museu. A sua implementação é algo que precisa ser pensado pela equipe do MAS, com objetivos e metas estabelecidas a partir da ordem de prioridades, cronograma de trabalho bem definido e participativo.
Essa construção inclui os atores, responsáveis por tal elaboração: Equipe do Museu, representantes da comunidade e benfeitores, bem como os moradores do entorno, que convivem diariamente com o Museu. A sua inexistência afeta o Museu, pois é fator preponderante para a organização institucional.
6.2 O Museu de Arte Sacra de Oeiras
O Museu de Arte Sacra da cidade de Oeiras é um equipamento público criado desde 1983, com o cunho de abrigar o acervo de arte sacra e religiosa daquela cidade. Encontra-se instalado desde essa data no Sobrado João Nepomuceno, denominado também de Palácio Episcopal (Figuras 9 e 10).
Em 1941, Sobrado João Nepomuceno foi doado à recém-criada Diocese de Oeiras, tornando-se Palácio Episcopal, e, desde 1983, transformado em Museu de Arte Sacra, dentro das comemorações dos 250 anos da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Abrindo efetivamente para visitação em 1984. No dia 26 de dezembro de 2017, no encerramento das atividades culturais dos 300 anos de Oeiras, a Secretaria de Estado da Cultura (Governo do Piauí) entregou para a comunidade oeirense a nova museografia do MAS. O Palácio Capitão-Mor João Nepomuceno possui tombamento federal, inscrito no Livro de Belas-Artes sob o nº235 e no Livro Histórico sob o nº117, ambos em 14 de janeiro de 1939.
O Museu de Arte Sacra pertence à Paróquia de Nossa Senhora da Vitória (Diocese de Oeiras) e funciona através de um contrato de comodato com o Governo do Estado do Piauí, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e da parceria com a Prefeitura Municipal de Oeiras, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Quase todo o acervo é oriundo das três Igrejas seculares: N. S. da Vitória, N. S. do Rosário e N. S. da Conceição. Uma pequena parte advém de colecionadores. O Museu está dividido em salas temáticas, a saber: Sala Dom Expedito Lopes, Sala Dom Edilberto Dinkelborg, Sala Dona Alina Nunes de Carvalho (Santos), Sala Dona Maria de Cota (Semana Santa), Sala Mariana (Procissões), Sala Dona Alzira Reis Tapety (Divino), Sala Dona Júlia de Carvalho Nunes (Música Sacra), Sala Capela Nossa Senhora da Vitória, Sala de Exposições Pe. Miguel de Carvalho e a Loja MAS (Figura 11).
O acervo é composto por imagens de madeira policromada séculos XVII, XVIII e XIX; varas do pálio, lanternas, crucifixos, castiçais, resplendores e coroas de prata. Além de paramentos litúrgicos e outros objetos que pertenceram aos primeiros bispos da Diocese. Algumas peças sacras ainda são utilizadas no período de celebrações religiosas. Visitar o Museu de Arte Sacra é conhecer a história de Oeiras, que está intimamente ligada à história da Igreja Católica nos “Sertões de Dentro”, através de tão expressiva arte.
Na primeira sala (térreo), Dom Expedito Lopes, primeiro bispo de Oeiras, no período de 1949 a 1954, encontram-se objetos sacros e mobílias usadas no período em que o sobrado João Nepomuceno abrigou o Paço Episcopal (de 1950 a 1977), como conjunto de cadeiras datadas da década de 40 do século XX, constando o brasão episcopal; uma pintura jesuíta do século XVIII que pertenceu ao forro de madeira da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o báculo, cajado do pastor, de Dom Expedito Lopes, bispo mártir que foi assassinado no dia 2 de julho de 1957, com um tiro à queima-roupa, por um padre na cidade de Garanhuns em Pernambuco, quando era bispo daquela Diocese (Figura 12).
A sala seguinte (térreo) é uma homenagem ao clérigo alemão Dom Edilberto Dinkelborg, terceiro bispo de Oeiras, que presidiu a Diocese de 1959 a 1991. Foi quem passou mais tempo em Oeiras, e é o único que tem enterro na Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Nesta sala é possível constatar muitos pertences dos primeiros bispos, como, por exemplo, paramentos litúrgicos, mitras, conhecidas popularmente como chapéu episcopal, e objetos pessoais que pertenceram tanto a Dom Edilberto, quanto a Dom Expedito Lopes e Dom Raimundo Castro. Finalizando a sala há uma galeria com fotos de todos os bispos, até o atual, Dom Edilson Nobre, que chegou em Oeiras no dia primeiro de abril de 2017, totalizando o sétimo bispo da Diocese de Oeiras-PI (Figuras 13).
Ainda no térreo está a Galeria Pe. Miguel de Carvalho, uma sala de exposições de curta duração e que atualmente recebe a exposição “Impressões Afetivas da Velha Urbe” de autoria do artista plástico e arquiteto Evandro Veras. O Pe. Miguel de Carvalho foi quem implantou a Freguesia e/ou Paróquia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo da Mocha há 322 anos (Figura 14).
Alina Nunes (Santos) é nome da primeira sala do pavimento superior, é uma homenagem a essa senhora que foi diretora do Museu de Arte Sacra na década de 80 do século XX, com um legado de trabalho dedicado à cidade, através do Instituto Histórico de Oeiras, instituição cultural criada em 1972, por intelectuais da urbe e que fomenta a salvaguarda do patrimônio cultural. Há nesta sala imagens de madeira policromada século XVIII e XIX. A maior parte do acervo pertence às Igrejas seculares de Oeiras - Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Igreja de Nossa Senhora do Rosário e Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Ainda possui algumas imagens sacras, oriundas de colecionadores particulares; que cederam ou doaram para o MAS, no período de sua criação em 1983; além de formas de fazer hóstia, cortadores e sacrários de madeira (Figura 15).
Sala Maria de Cota (Semana Santa) é a segunda sala do pavimento superior e representa a memória de uma mulher caridosa, que durante muitos anos fez trabalhos comunitários, principalmente em relação à cadeia e penitenciária local; enquanto viveu, cuidou com zelo do Passo do Rosário, a primeira capela onde o Bom Jesus dos Passos faz sua parada, remete a passagem durante a Procissão na Semana Santa. A Sala é composta por uma instalação onde o público conhece a Procissão do Fogaréu em Oeiras. Há peças importantes como a Urna Eucarística, os andores usados nas procissões da Semana Santa (andor do Bom Jesus, de Nossa Senhora das Dores e o Esquife do Senhor Morto), além da matraca que substitui os sinos a partir da Quinta-Feira Santa, fazendo memória da Paixão e Morte de Cristo (Figura 16).
Na sequência do percurso expositivo, chega-se à Sala Mariana (Procissões). É uma sala dedicada à Nossa Senhora, pois Oeiras é uma cidade mariana. As principais igrejas são dedicadas à Maria, mãe de Jesus. Nesse ambiente, está exposta a imagem processional de Nossa Senhora da Vitória (Gesso - século XX), a imagem da Imaculada Conceição do século XVIII e a imagem do Imaculado Coração de Maria (Gesso – século XX). Há ainda nessa sala o Pálio Dossel com as varas e lanternas de prata do século XVIII e XIX, a imagem do Cristo Ressuscitado de madeira, século XIX, bem como a máquina do relógio da Catedral, de 1817, que veio da Inglaterra (Figura 17).
Na sequência está a Sala Alzira Reis Tapety (Divino). Uma homenagem a uma das primeiras professoras de Artes da Escola Normal Presidente Castelo Branco, escola de formação para docentes na década de 40 do século XX. Podemos perceber na sala uma imagem do Divino (Pomba do Divino) de madeira policromada, século XVIII, vários painéis fotográficos de autoria do oeirense, Olavo Brás, que demonstram a Celebração do Divino em Oeiras, além da bandeira do Divino e de outros objetos que compõem a sala (Figura 18).
Ao sair da Sala Alzira Reis Tapety, seguimos para a Sala Júlia de Carvalho Nunes (Música Sacra). O MAS homenageia dona Julinha, como era conhecida, pelo incansável trabalho caritativo à frente da Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria, uma associação religiosa que existe há mais de um século na cidade de Oeiras. Na sala está um conjunto de anjos de madeira (arte santeira do Piauí - século XXI); os anjos músicos trazem consigo instrumentos musicais, uma louvação a Nossa Senhora e a Oeiras, por todo o traço musical da cidade, reconhecida nacionalmente como a terra dos bandolins.
As orquestras de bandolins surgiram na década de 1930, em Oeiras, mas somente em 1983, nas comemorações dos 250 anos da Igreja Catedral, despontou o grupo Bandolins de Oeiras, formado por senhoras, sempre presentes nas atividades culturais, cívicas e religiosas da comunidade. Na atualidade, a prática musical foi democratizada com inserção de crianças, adolescentes e jovens, através da Escola de Música Dona Petinha, Projeto da Secretaria de Estado da Cultura, bem como através do Projeto Núcleos de Cultura das escolas da rede municipal de Educação. Além dos anjos, a Sala possui um harmônio do século XIX, um piano do século XX e um livro de partituras de cantos sacros em latim (Figura 19).
Na Sala Capela da Imagem Primitiva está a imagem de Nossa Senhora da Vitória (Século XVII), padroeira de Oeiras e do Piauí, entronizada em um retábulo neoclássico do século XIX, que pertenceu ao antigo hospital de Caridade de Oeiras. A imagem segundo relatos dos fiéis, chegou com os padres jesuítas, que implantaram a Freguesia, em 2 de março de 1717, considerada a primeira imagem a chegar em solo piauiense.
Durante cinquenta anos, a imagem esteve em Teresina, aos cuidados de uma família de oeirenses que foram convidados a devolver a imagem a Oeiras. Fato ocorrido no dia 14 de agosto de 2015, nas comemorações dos 1970 anos da Diocese de Oeiras.
A Sala é convidativa, possui ainda crucifixo e castiçais de prata, resplendores, coroas e outros objetos litúrgicos, usados ainda em algumas celebrações na Catedral. Além de confessionários, genuflexórios e bancos de madeira, antigo mobiliário da Igreja Catedral Figura 20).
Ao concluir o percurso expográfico do MAS, o visitante pode conhecer a loja no pavimento superior, onde pode adquirir livros de autores oeirenses, camisetas das celebrações religiosas e outros souvenirs. Mesmo com dificuldades, a pequena loja sobrevive e favorece o Museu com uma renda extra. No andar térreo há a Sala da Administração com um banheiro, para uso dos funcionários do Museu. Os dois banheiros usados pelos públicos estão próximos à garagem da Casa Paroquial (térreo), onde há uma escada de cantaria que dá acesso à parte superior do prédio (Figuras 21 e 22).
Segundo manuscritos que constam no processo de tombamento, provavelmente de autoria de Paulo Thedim Barreto, o imóvel apresentava uma curiosa influência de elementos clássicos aportuguesados, e uma composição ritmada de sua fachada, em contraste com a fachada posterior, de expressão mais popular com o seu grande avarandado. O alpendre, usualmente utilizado na arquitetura rural piauiense, se configura, neste exemplar, inusitada adaptação de uma solução arquitetônica vernacular em um edifício urbano de risco erudito (Figuras 23 e 24).
Fonte: Elane Coutinho (Autoria). Acervo IPHAN-PI (2010). (Sítio eletrônico do Arquivo Noronha Santos). Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/ans/inicial.htm>.
O Museu de Arte Sacra de Oeiras está localizado na centralidade do Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras, bem tombado pelo IPHAN desde 2012, e no Bairro Centro da própria cidade, considerada Monumento Nacional desde 1989.
O imóvel que abriga o Museu está implantado em uma área onde há a presença de importantes construções de interesse de preservação, entre elas a Igreja de Nossa Senhora da Vitória e a Casa do Visconde da Parnaíba. O Sobrado João Nepomuceno se impõe por sua volumetria robusta e pelo gabarito de dois pavimentos. O entorno conta com edifícios relevantes na composição do contexto histórico e urbanístico da cidade de Oeiras, mas muitas dessas edificações sofreram descaracterizações nas fachadas e são alvos da poluição visual, decorrente da instalação de engenhos publicitários. Apesar das alterações nas fachadas, a manutenção da volumetria e do gabarito das construções do entorno tem possibilitado a preservação da visibilidade e da ambiência (Figura 25).
O imóvel que abriga o Museu é de propriedade da Diocese de Oeiras em contrato de comodato para o uso do Governo do Estado do Piauí, responsável por sua administração. Distribuído em uma edificação histórica de dois pavimentos, o acervo recebe visitação diária de terça a domingo, apenas no horário matutino. Mantém em seu quadro de funcionários um diretor; e três professores (mediadores), dois vigias e uma zeladora (serviços gerais). Cede um de seus ambientes a uma loja particular, não vinculada à administração do Museu, com venda de artigos e souvenirs com temas religiosos. O prédio possui ainda três salas utilizadas como depósitos da Paróquia Nossa Senhora da Vitória. Espaços subutilizados, que poderiam ser cedidos para a criação de uma reserva técnica e de salas para ações educativas e culturais do Museu, a fim de desafogar as salas de exposições de longa duração, contribuindo para uma expografia com menos objetos, dando mais espaço para as visitas mediadas.
O Museu, assim identificado, não se caracteriza organizacionalmente como uma instituição museológica se tentarmos enquadrá-lo nos critérios estabelecidos pelo Estatuto de Museus. Não possui decreto de criação, mas um regimento interno, criado na década de oitenta do século XX, necessitando de uma atualização. Não possui código de ética, além de outras condições mínimas para o pleno funcionamento e cumprimento da missão primordial de um Museu. O acervo está comunicado por ambientes temáticos.
Apesar de a expografia ser recente, inaugurada em dezembro de 2017, nas celebrações dos 300 anos de Oeiras, de autoria do arquiteto Paulo Vasconcellos, as questões ainda são frequentes. É possível constatar que os problemas existentes na “velha museografia” foram agravados com a implantação da nova, gerando preocupação pela quantidade de madeira, tecido, lâmpadas, problemas de instalação elétrica, causando o sufocamento do prédio com isolamento de por-