edição 228 • junho | julho 2014
Beleza:
Existem padrões? Mundo afora Saiba mais sobre a vida acadêmica na Austrália e nos Estados Unidos. Países onde ser universitário é ser independente
Reportagem Autoestima elevada conduz ao perdão. Entenda como e de que forma isso pode ser aplicado no resgate social de detentas
A busca pelo corpo perfeito é insaciável. Até onde seguir padrões vale a pena?
19 de junho
17 de julho
índice capa
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O LADO
A busca pelo corpo perfeito e pela forma física ideal pode custar caro. Doenças, quadros de depressão e até casos de morte levantam a reflexão: até que ponto vale a pena perseguir os padrões de beleza? ESTAÇÃO PUC mercado de trabalho
mundo afora
17 Espaços de coworking podem ser uma boa opção para jovens que pretendem começar o próprio negócio. Criatividade, interação e oportunidades de novos projetos fazem parte do dia a dia.
DNA
da
filhos da puc
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Conheça a realidade dos universitários na Austrália e Estados Unidos. Países em que ingressar na Universidade é sinônimo de independência.
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Minha bandeira é a qualidade de vida
A participação dos professores da PUCPR em eventos, lançamentos e congressos é destaque na Vida Universitária, com direito a muitas fotos.
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Fotografia que dignifica
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Fotos e registros dos acadêmicos que participaram de eventos, premiações e diversas oportunidades dentro e fora da Universidade.
Sem impedimento
pergunte pra puc
vem aí
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Estudantes e professores antenados em eventos, palestras e grandes atividades podem reservar em suas agendas um espaço para atividades selecionadas sobre a esfera acadêmica.
Dúvidas são fundamentais para gerar conhecimento. Aquilo que você não sabe pode ser a pergunta de mais universitários. Saia da dúvida e descubra a resposta.
VEJA +
reportagem
O mal das gerações
qualidade de vida
drops
REPORTAGENS
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na prática
FALANDO SÉRIO
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O refúgio
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Millôr e a cidade dos livros
Ami i vitorioso!
diário de bordo
registro
espirutualidade
Autoconhecimento que traz plenitude para a vida. Entenda como o processo de se conhecer contribui para a busca de momentos de alegria.
ENQUANTO ISSO vida docente
MUNDO MELHOR
sintonia cultural
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eleza
reportagem
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Em lembrança aos 50 anos do Golpe Militar, Vida Universitária promove um bate-papo entre um docente de História e alunos das áreas de A hora da Humanas. Confira o que democracia rolou na conversa.
reportagem
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Autoestima elevada conduz ao perdão
entrevista
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Chega de obviedade
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Confira o projeto que pretende salvar vidas em lugares remotos usando a saliva.
editorial
A Vida Universitária quer interagir com
você
Estamos constantemente buscando uma maior aproximação com a comunidade acadêmica, em especial com você, estudante, que dedica uma importante parte de seus dias à nossa Universidade. E é para dar mais voz a seus anseios, dúvidas e aspirações que a Vida Universitária cresceu: hoje, além de nossas páginas impressas, temos uma plataforma no site da PUCPR (vidauniversitaria.pucpr.br), que foi pensada de forma a garantir ainda mais interação e conteúdo para você. Seguindo a proposta de proximidade com a comunidade acadêmica, trazemos nesta edição uma matéria que ouve nossos estudantes acerda do golpe militar de 1964. Já se passaram 50 anos, mas ainda sentimos as consequências desse terrível período de nossa história. Propusemos um debate com alunos de História e Música sobre o tema e o resultado você pode conferir em nossas páginas e no site da Vida Universitária. Também discutimos o culto à beleza e suas consequências. Em busca da perfeição física, os mais jovens, especialmente, exercitam-se em demasia, consomem medicamentos sem orientação médica, aderem a dietas da moda sem supervisão profissional. Procuramos entender o limite entre a busca por uma vida saudável e a doença (distúrbios alimentares, de imagem etc.). Esse interessante debate, você também verá nas páginas seguintes. Ainda trazemos para você uma importante pesquisa que revela a possibilidade de se detectar a falência renal aguda por meio de teste salivar. O Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde comprovou a eficácia do kit de diagnóstico, que permite detectar a insuficiência renal de acordo com o nível de ureia na saliva sem a necessidade de exames laboratoriais. Isso será de extrema importância, sobretudo em locais cujo acesso a laboratórios seja difícil. Uma grande conquista que queremos compartilhar com você. Temos também muitos outros temas interessantes e esperamos que você goste dos assuntos propostos, participe e opine por meio de nossa plataforma online. Essa mudança pretende fortalecer ainda mais os laços entre comunidade acadêmica e Universidade. Queremos muito que você nos ajude a construir esse conteúdo, interaja conosco!
Boa leitura a todos! Waldemiro Gremski Reitor
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GRãO-CHANCELER Dom Moacyr José Vitti
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entrevista
Em uma conversa com a Vida Universitária, o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella comenta sobre a necessidade da sociedade se espantar mais diante da corrupção, o que é ser ético e como o querer tem imperado neste século
© Foto: Divulgação
Por Michele Bravos
Ainda dá para ouvir os manifestantes que tomaram as ruas do país, há exato um ano. Por um basta na corrupção era o clamor. Desde então, ficou declarada a indignação com relação ao mau uso do dinheiro público, à ética da conveniência e à intolerância às diferenças. Mário Sérgio Cortella*, que neste primeiro semestre lança o livro Ética e Vergonha Na Cara!, expressa sua opinião acerca desses tópicos e como a sociedade tem lidado com eles em diversas áreas, principalmente, na educação – um dos pilares para a formação do cidadão.
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Já ouvi você dizer que “está faltando espanto. Tudo é óbvio”. A conivência com a corrupção tem a ver com essa falta de espanto?
Também tem. Lembrando que temos menos corrupção hoje do que já tivemos. Imprensa livre, democracia e plataformas digitais fazem com que haja uma identifi cação maior daquilo que é ilícito e uma recusa maior da ideia de que a corrupção faz parte da vida. O fato é que não se conseguirá nunca impedir que haja corrupção. Mas, nós podemos constranger, ao máximo, a possibilidade de ela vir à tona, recusando a impunidade. Não aceitando essa prática no campo público nem no privado. Está faltando espanto em relação a algumas coisas, considerando que ainda tem gente
que supõe que a corrupção acontece só na política ou na gestão pública. É bem ao contrário. Nós temos as pequenas corrupções do cotidiano: na empresa, na família, na Universidade, na mídia. Elas são extremamente perigosas, porque são essas que criam um ambiente favorável para o discurso do “eu faço porque todo mundo faz”. Portanto, isso degrada a capacidade de integridade ética. Sem dúvida, está faltando algum espanto nisso. E vale uma antiga frase que diz que os ausentes nunca têm razão. Portanto, aquele que se omite é, no mínimo, também cúmplice.
Segundo a sua definição de ética, esse valor é formado por um conjunto de princípios que envolve: quero, posso e devo. Como a juventude tem percebido a ética aplicada a essas três ações?
Não temos apenas uma juventude que tem dificuldade em lidar com a ética dessa forma. Mas, quando observamos mais de perto a juventude com relação ao dever, vemos uma distorção que precisa ser urgentemente retrabalhada. Uma parte dos jovens de hoje confundiu desejos com direitos. Eles pensam: “quero, logo você tem que me dar”. Em outras palavras, alguém tem que providenciar a felicidade deles. Perdeu-se um pouco a ideia do esforço, da dedicação, da capa-
cidade de busca. É preciso se perguntar: o que é o meu querer, o meu poder e, ao mesmo tempo, o meu dever? A educação tem um papel muito forte nessa etapa, que é de problematizar e fazer com que tenhamos algum espanto com relação àquilo que parece óbvio, mas não é. Deveríamos ser capazes de desmontar o óbvio. É óbvio um individualismo exacerbado. Precisamos enxergar na obviedade uma conduta que é saudável para a vida coletiva.
Na sociedade do instantâneo, o querer parece ser soberano a qualquer custo, ultrapassando barreiras de uma ética que deveria ser universal. Se é que existe uma ética universal...
O que mais se aproxima de uma ética universal é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não temos uma conduta que se entenda como correta o tempo todo, em qualquer lugar, para qualquer pessoa. Talvez não a tenhamos. Há um pensamento que ajuda a refletir sobre essa questão: não seja possuído por aquilo que você possui. Algumas pessoas não param para pensar nisso. Aí, a filosofia entra para trazer à tona as possibilidades de olhar o mundo de outros modos. Por que algumas pessoas optam por atalhos que não são bons? Simplesmente, porque respondem aos interesses dela. É algo decisivo. É uma escolha. Sendo assim, uma escolha, pode-se escolher de outro modo.
A que prazo a mentalidade que permite jogar um papel no chão porque não tinha lixeira perto ou furar sinal porque se estava com pressa, muda? E como mudar?
Dependerá muito de como a sociedade encontra mecanismos de recusa a isso. A ética da conveniência é extremamente sedutora, porque ela elege como critério para a prática da convivência aquilo que me beneficia. A forma de se vencer isso é: de um lado, não se admitir a impunidade; de outro, a formação no dia a dia. Há vários grupos, organizados ou não, dentro do Brasil, nos campos das organizações partidárias, da pesquisa, das entidades, que têm prática de recusa. Então,
“Deveríamos ser capazes de desmontar o óbvio. É óbvio um individualismo exacerbado. Precisamos enxergar na obviedade uma conduta que é saudável para a vida coletiva.” desse lado, podem surgir legislações para a diminuição daquilo que degrada. Do outro lado, deve haver uma formação do cotidiano dentro da escola, da família, da mídia, que leva a uma maior consciência, na prática decente de vida. Não há um único caminho. Não é só convencer, também é preciso vencer. São múltiplas tarefas e múltiplos caminhos para uma questão que também tem múltiplas faces.
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entrevista
Por algum tempo ouvimos a sociedade falar sobre a apatia da juventude atual diante de assuntos políticos. Hoje, em algumas parcelas, há certo extremismo e se fala em uma juventude intolerante. Você a vê assim: sem tolerância?
Vivemos uma situação extremamente ambígua nesse momento. Temos uma juventude com a cabeça mais aberta, por conta da multiplicidade de possibilidades, portanto menos preconceituosa possível, mas também, a mais preconceituosa. Temos jovens absolutamente abertos ao acolhimento da pessoa que não é como ela é, ou seja, que aceita que o outro é diferente do que eu sou e não por isso ele é menos. E temos também um grupo de jovens que é absolutamente intolerante à orientação sexual, prática religiosa, pertenci-
O que leva a essa intolerância?
Parte dessa intolerância vem à medida que a ausência de valores leva a pessoa a se apegar imensamente ao grupo do qual ela está fazendo parte, seja no campo religioso, seja no futebol, seja em relação à etnia, seja em relação ao grupo de natureza ideológica. Portanto, fechar-se dentro disso é entender que qualquer um que não seja do grupo é uma ameaça. Nessa hora, a intolerância pode vir à tona com maior facilidade. Claro que do ponto de vista ético, um procedimento que é altamente necessário é não tolerar a intolerância.
Qual a grande diferença dessas discussões políticas na sua juventude para as de agora?
Por conta da situação política e social da época, tínhamos um adversário mais nítido: a ditadura. No momento em que se diluiu essa ditadura, o adversário ficou menos nítido. Quem é? É o governo? Mas qual governo, se ele foi eleito? Então, é quem elegeu que é o meu adversário? Mas quem elegeu pode ter sido iludido. Então, é a mídia! É ela que nos engana. Mas a mídia é múltipla também. Logo, essa diluição que é o foco leva, às vezes, a uma perda de rumo. Essa é uma lógica que precisa ser reexaminada para a gente não ter nem mocinhos nem bandidos com tanta facilidade.
“Do ponto de vista ético, um procedimento que é altamente necessário é não tolerar a intolerância.” 8 |
mento étnico e assim por diante. Um grupo mais fascista. Alguns confundem democracia com ausência de ordem. E democracia é ausência de opressão. A violência é opressiva. Especialmente a violência quando ela não é justificável. Existe uma violência que é justificável. É aquela que recusa a opressão e vai contra ela. Lutou-se demais nesse país pela democracia para que pequenos meliantes, com ideologias que não são claras, inclusive para uma parte desses intolerantes, atrapalhem o processo.
*Mário Sérgio Cortella esteve na PUCPR para o evento PUC Identidade Professores.
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O LADO
A busca pelo corpo perfeito e pela forma física ideal pode custar caro. Doenças, quadros de depressão e até casos de morte levantam a reflexão: até que ponto vale a pena perseguir os padrões de beleza? Mahani Siqueira, especial para a Vida Universitária
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© Fotos: Divulgação / Instagram
© Foto: Divulgação
Aos olhos de boa parte dos seguidores no Instagram e no Twitter, Daiane Dornelles era uma jovem perfeitamente normal. Mais do que isso, muitos consideravam perfeita e irretocável a forma física da gaúcha de 21 anos. Magra, esbelta, acostumada a uma vida social badalada e dona de uma verdadeira legião de fãs em suas redes sociais, Daiane recebia, todo dia, dezenas de elogios, declarações de admiradores e comentários positivos, que iam de “Maravilhosa” a “Fã eterna” e “Passa a receita de como deixar o corpo assim”. Por trás da aparência invejada nas fotos e das inúmeras opções curtir a cada novo post, porém, escondia-se uma grave doença. Sempre exaltando a preocupação com a estética do corpo, a jovem publicou várias frases de apologia à anorexia, transtorno alimentar ocasionado pela busca de um corpo supostamente perfeito. Incentivada pelo número de seguidores e likes, em maior número à medida em que perdia peso, Daiane se viu em um beco sem saída
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eleza que acabou lhe custando muito mais do que a popularidade nas redes sociais. Impossibilitada de se recuperar do vício em emagrecer para chegar à silhueta ideal, ela não percebeu que seu corpo, ao invés de perfeito, estava cada vez mais fraco e debilitado. Extremamente fragilizada fisicamente, Daiane sofria de anorexia nervosa, doença responsável pelo triste fim da jovem, que contraiu uma hepatite viral e, sem chances de defesa devido ao organismo enfraquecido, morreu em agosto de 2013. As fotos, os posts e os admiradores deram um status de glamour e sofisticação para os graves problemas enfrentados pela gaúcha, mas foram – como era de se esperar – incapazes de ajudá-la ou conduzi-la a uma possível reabilitação. Pior ainda, a popularidade serviu como um trágico incentivo para que Daiane desse continuidade à rotina que só agravou a doença enquanto o número de curtidas não parava de crescer.
ALTO RISCO “Eu sempre fui muito magra e fiz questão de me manter assim. No entanto, por volta dos 16 anos, essa minha preocupação se tornou uma obsessão e eu fazia de tudo para não engordar e ter um corpo que eu achava digno de capas de revista. Tentava vomitar toda a pouca comida que eu ingeria, procurava fazer exercícios mesmo quando estava me sentindo mal e cheguei a tomar laxantes e diuréticos indiscriminadamente. Por sorte, minha família percebeu os sintomas e me levou a um médico, que me diagnosticou com anorexia nervosa. O tratamento durou cerca de seis anos até eu realmente me sentir livre da doença”. Hoje ela ainda faz um acompanhamento semanal com o psicólogo que a tratou durante os momentos mais críticos da anorexia. O psicólogo Raphael Cangelli defende que os tratamentos de transtornos alimentares sejam realizados por equipes multidisciplinares bem entrosadas, envolvendo um psiquiatra para avaliar os quadros de depressão e ansiedade, um especialista individual que ajude o paciente a lidar com os medos e um nutricionista que acompanhe o processo de reeducação alimentar. A família deve compreender a gravidade da situação e estar preparada para um longo período de tratamento. “A recuperação é a longo prazo e não depende exclusivamente de acompanhamento médico. O paciente tem que aprender a ver o alimento não como um inimigo que causa obesidade e infelicidade, mas como um aliado que o permitirá viver. Também é necessário descobrir como lidar com os pensamentos e ideias irrealistas de que não é a magreza a única responsável por qualquer esperança de felicidade e sucesso na vida pessoal e profissional”, completa o psicólogo.
“No intuito de conseguir corpos mais próximos a esse modelo, homens e mulheres dedicam tempo e dinheiro em cirurgias plásticas, exercícios em academias e dietas alimentares também divulgadas pela mídia. A perda de controle nessa busca, associada a outros fatores familiares, sociais, história de vida, baixa autoestima e outros acabam ANOREXIA OU BULIMIA? por deEm ambos os transtornos alimentares há obsessão pela perda de peso e uma busca pelo corpo supostamente perfeito. No entanto, há diferenças. sencadear transtornos ANOREXIA NERVOSA O emagrecimento é intensamente acentuado e a magreza das pacientes é a alimencaracterística física que mais chama atenção. Suas portadoras começam dietas tares.” restritivas, fazem atividades físicas exageradas, vomitam tudo o que comem e
TRATAMENTO LONGO, MAS FUNDAMENTAL A história da jovem de 25 anos que não quis se identificar é mais uma prova de quão perigosa pode ser a tentativa de seguir os padrões de beleza. Felizmente, o caso teve um desfecho positivo, mas muitos obstáculos e um longo tratamento foram necessários para que a jovem se visse, enfim, curada do transtorno alimentar com que foi diagnosticada.
[Raphael Cangelli, psicólogo clínico do Ambulim]
chegam a usar recursos extremos, como moderadores de apetite e laxante. A obsessão é mais acentuada do que na bulimia. BULIMIA NERVOSA A principal diferença em relação a anorexia é a variação de peso e as alternâncias entre longos períodos sem se alimentar e momentos de descontrole, em que a paciente come tudo o que vê pela frente e, pouco depois, vomita diversas vezes, se sentindo culpada. Assim como a anorexia, pode vir acompanhada de quadros de depressão.
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© Foto: DeviantArt
O caso de Daiane Dornelles é só um entre muitos outros tristes exemplos de quão longe os transtornos alimentares podem chegar. Segundo pesquisa divulgada pelo Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), a estimativa é de que uma taxa entre 0,5 e 4% das mulheres terá anorexia nervosa ao longo da vida. Para a bulimia nervosa, o número varia de 1 a 4,2%. Ambas as doenças se caracterizam pela intensa preocupação com o peso e pelo medo excessivo em engordar (entenda as diferenças no box ao lado). De acordo com o estudo, a anorexia nervosa, considerada uma doença grave, tem um índice de mortalidade que chega a até 15% dos casos. Segundo Raphael Cangelli, psicólogo clínico do Ambulim, as causas que levam às doenças são variadas e os transtornos podem ter origem na conjugação de diversos fatores. Ele ressalta, porém, que a busca pelos padrões de beleza divulgados pela mídia costuma ter um peso grande entre os causadores. “No intuito de conseguir corpos mais próximos a esse modelo, homens e mulheres dedicam tempo e dinheiro em cirurgias plásticas, exercícios em academias e dietas alimentares também divulgadas pela mídia. A perda de controle nessa busca, associada a outros fatores familiares, sociais, história de vida, baixa autoestima e outros, acabam por desencadear transtornos alimentares”, comenta Cangelli. O psicólogo revela, ainda, que os transtornos alimentares têm início na adolescência e se desenvolvem no início da fase adulta. Segundo ele, a distorção e a insatisfação com a imagem corporal se tornam mais fortes nessa época, o que pode levar à busca por métodos mais eficazes – embora perigosos – contra o ganho de peso. O uso de laxantes, diuréticos e dietas muito pesadas podem acarretar pioras nos quadros das doenças. Por isso, é importante ficar atento aos sintomas e tentar evitar que eles se transformem em um caso mais grave. “Os principais indícios de transtornos alimentares são a preocupação exagerada com a forma física e peso. Ficar se olhando no espelho e explicando a si mesmo que a infelicidade é causada pela insatisfação com o corpo. Restringir encontros sociais, começar dietas restritivas, idas frequentes e demoradas ao banheiro, além de depressão e desinteresse pela vida também são indicadores importantes”, avisa o médico. Outros comportamentos que podem servir de alerta são ir ao banheiro logo após as refeições, evitar comer acompanhado e cortar a comida em pequenos pedaços e, ao invés de comê-los, ficar passando de um lado para outro no prato. Sensação de boca seca, diminuição na resistência óssea, muita sensibilidade ao frio, pele amarelada e perda de gordura corporal, acompanhada de desgaste muscular, são sinais físicos típicos de transtornos alimentares e que merecem atenção tanto dos pacientes quanto de amigos e familiares.
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O TRISTE FIM DOS CARPENTERS Fundadora, ao lado do irmão, da dupla The Carpenters, e considerada uma das melhores cantoras de todos os tempos, Karen Carpenter foi uma das primeiras celebridades a trazer à luz os perigos da anorexia. Ela sofria da doença e, devido a complicações causadas pelo transtorno que a acompanhou por vários anos, morreu aos 32 anos, em 1983. Naquela época, tanto a anorexia quanto a bulimia eram doenças pouquíssimo conhecidas e, se a morte de Karen Carpenter deixou um vazio eterno no mundo da música, influenciou muitas mulheres a procurar ajuda e serviu como estímulo para novas pesquisas sobre o tema. Além disso, a família da cantora deu início a um trabalho social voltado para vítimas de transtornos alimentares. Hoje, a Carpenter Family Foundation também apoia iniciativas voltadas à arte, educação e saúde para jovens.
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Enquanto a anorexia e a bulimia são mais comuns para pacientes do sexo feminino, os homens têm maior propensão a sofrer com uma doença que ainda não é tão conhecida e nem muito estudada, mas tem origens similares aos transtornos alimentares sofridos pelas mulheres e também pode causar consequências graves. A vigorexia é um transtorno de imagem corporal em que o paciente apresenta persistente preocupação em não ser forte e musculoso o suficiente, o que provoca comportamentos de excesso de levantamento de peso, prática de perigosas dietas hiperproteicas e uso indiscriminado de suplementos ou esteroides anabolizantes. Segundo a psiquiatra Mara Fernandes Maranhão, a doença ainda não está presente em manuais diagnósticos, pois necessita de mais estudos para que seja considerada uma categoria ou um transtorno específico. Sabe-se, no entanto, que a vigorexia é – a exemplo da anorexia nervosa – caracterizada pela insatisfação constante com a aparência do corpo, o que causa dependência do exercício físico e necessidade extrema de ter o corpo muito musculoso. “Observa-se que o paciente passa a gastar um tempo cada vez maior se exercitando. O interesse se concentra todo nesse tema, em detrimento de outras atividades prazerosas que a pessoa costumava apreciar antes. Podendo se interessar e passar longos períodos pesquisando suplementos ou dietas que prometem aumentar massa muscular. Alguns, ainda que fortes e musculosos, dizem estar fracos, pequenos e, muitas vezes, sentem vergonha de sair de casa ou frequentar eventos sociais”, comenta a psiquiatra. Além de causar cansaço, irritabilidade, infelicidade e depressão, a vigorexia – também conhecida como síndrome de Adonis – pode ser responsável por uma série de lesões, e é aí que o transtorno passa a ganhar contornos graves. O ortopedista Marcelo Salvador Filardi, do Hospital Albert Einstein, afirma que o excesso de atividade física acaba machucando as articulações e os músculos, causando lesões musculares, estiramentos, lesões de ligamentos e, no grau mais preocupante, lesões de cartilagem. A psiquiatra Mara Maranhão alerta que o maior desafio do tratamento é motivar o indivíduo para a mudança, já que
os pacientes raramente procuram ajuda por iniciativa própria. “O tempo de recuperação pode variar muito e depende da gravidade do caso e da capacidade de aderir ao tratamento e conseguir avançar em direção às mudanças necessárias e indicadas pela equipe assistente, idealmente formada por nutricionista, psiquiatra, psicólogo e, quando indicado, clínico e fisioterapeuta”, finaliza a médica.
SUPERPERIGOSOS? Eles estão na moda e são considerados, por muitos – inclusive celebridades –, fundamentais para uma vida saudável e para a busca pela beleza. No entanto, os superalimentos (chamados assim graças aos seus altos teores de fitonutrientes como vitaminas, minerais, aminoácidos e antioxidantes) podem representar um risco para a saúde. Pelo menos foi o que afirmou a nutricionista inglesa Petronella Ravenshea, na edição de abril da revista Vogue americana. Confira as considerações da especialista sobre três superalimentos. Vale ficar atento e consultar um nutricionista antes de abusar dos ingredientes da moda. COUVE Segundo estudos da nutricionista, quando consumida crua, a couve pode interferir nas funções da tireoide. GRãOS De acordo com a britânica, ao contrário do que se pensa, o trigo está presente em grãos como a quinoa. Por isso, o excesso da ingestão desses alimentos pode causar irritação ao intestino. GOJI BERRY Apesar da eficiente ação antioxidade, os populares goji berries são abundantes em compostos químicos que podem causar a síndrome do intestino permeável, doença responsável por inflamação do epitélio do intestino delgado.
“Observa-se que o paciente passa a gastar um tempo cada vez maior se exercitando (...) Podendo se interessar e passar longos períodos pesquisando suplementos ou dietas que prometem aumentar massa muscular. Alguns, ainda que fortes e musculosos, dizem estar fracos, pequenos e, muitas vezes, sentem vergonha de sair de casa ou frequentar eventos sociais.” [Mara Fernandes Maranhão, psiquiatra]
© Fotos: Rossana Preziosi | Divulgação
© Foto: Divulgação
OBSESSãO PELOS MÚSCULOS
Se hoje as capas de revistas, as fotos mais curtidas nas redes sociais e os concursos de miss são importantes indicadores dos padrões de beleza vigentes no século XXI, a história da arte revela como esses ideais evoluíram ao longo do tempo. Segundo Maria Cecília Pilla, coordenadora do curso de História da PUCPR, a arte é um grande testemunho de épocas passadas e nos traz algumas ideias sobre os padrões de beleza em diferentes épocas. “é certo que na pintura, nas esculturas, na arte em geral, a literatura, os manuais de civilidade, inspiravam as pessoas e de certa forma acabavam por fornecer padrões. A dinâmica da sociedade como um todo suscitava os desejos de inserção num mundo em que a beleza dos gestos e das formas era (e ainda é) muito importante”, conta. Com a ajuda de Maria Cecília, buscamos descobrir a contribuição de diferentes épocas na história da beleza. Veja só.
GRéCIA ANTIGA A Grécia tem uma contribuição importante na história da beleza, tanto é que hoje os concursos de miss têm muitos quesitos baseados na estátua da Vênus de Milo.
IDADE MéDIA O padrão de beleza feminino era de mulheres mais longilíneas. Isso pode ser visto nas esculturas e pinturas da época.
RENASCIMENTO O padrão de beleza torna-se mais polpudo, com um contorno mais consistente. A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é um exemplo marcante desse período.
ILUMINISMO A beleza ganha um certo relativismo, mas o Retrato de Madame Recamier, pintado por Jacques-Louis David, é um marco dessa época.
SAIBA MAIS Um filme para explorar mais sobre os perigos dos transtornos alimentares e um livro sobre a evolução do conceito de beleza. Fique ainda mais por dentro dos temas com essa seleção.
LIVRO História da Beleza Organizado por Umberto Eco Editora Record Um ensaio organizado por Umberto Eco, que reflete sobre as transformações, mudanças e evoluções do conceito de beleza ao longo dos séculos, na sociedade e na história da arte.
FILME Maus Hábitos (Malos Hábitos) – 2007 Direção: Simón Bross México O filme conta a história de três mulheres e os hábitos alimentares que dominam suas rotinas e interferem em suas vidas.
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© Fotos: Divulgação
Muitas vezes vinculados à ideia de ganhar massa muscular para exibir um corpo cada vez mais perfeito - de acordo com o que mostram capas de revistas e as fotos mais populares no Instagram -, os suplementos alimentares estão em alta no dia a dia das academias, mas podem representar um alto risco para quem não tomar os devidos cuidados. A nutricionista Magda Rosa Ramos da Cruz, que dá aulas de transtornos alimentares e nutrição esportiva no curso de Nutrição da PUCPR, alerta para os perigos desses produtos. “É necessário avaliar a dieta e iniciar o uso do suplemento de forma consciente. A pessoa também deve estar ciente de que a utilização só é recomendada após o início de cuidados básicos de alimentação como consumo diário de frutas e vegetais, fontes de proteínas (carne, leite e derivados), além de comer em horários regulares e manter a hidratação adequada”, diz Magda. Perguntada acerca do momento em que o consumo extremo de suplementos pode se tornar arriscado para o organismo, a nutricionista afirma que quando o paciente não consegue ficar sem tomá-los, ou quando o consumo se torna mais importante do que qualquer outra atividade, fica caracterizada a dependência, o que pode levar a quadros de doença como, por exemplo, a vigorexia. Magda ainda falou como os produtos podem ser prejudiciais à saúde. “Quando falamos de suplementos hiperproteicos, há risco de sobrecarga renal e hepática. Quanto aos hipercalóricos ou à base de carboidratos, podem levar ao aumento de gordura corporal. É importante que as pessoas saibam que um suplemento só garantirá o seu resultado, se utilizado de forma adequada, considerando peso, altura, idade, gênero, tipo e frequência do exercício físico, alimentação e o objetivo”, avisa. Acostumada a lidar com diversos casos relacionados aos suplementos, Magda vê os padrões de beleza impostos pela sociedade e pela mídia como responsáveis parciais pelo uso desenfreado e sem acompanhamento dos suplementos. “As pessoas querem resultados rápidos e com pouco esforço. Acreditam que, com o uso de suplementos, perderão peso, ganharão massa muscular ou terão pele e cabelos mais saudáveis. Mas sem mudanças no estilo de vida, o resultado não será efetivo”, complementa a nutricionista, deixando claro que um corpo só terá chances de ser perfeito – no sentido clínico – se a rotina e alimentação do dono forem saudáveis.
AULA DE HISTÓRIA
© Fotos: Divulgação
DE OLHO NOS SUPLEMENTOS
reportagem
O mal das
© Ilustração: Percy Lau
gerações O desenho reproduz uma fotografia da obra BraziLian de Peter Fuss.
Síndrome de Li-Fraumeni afeta indivíduos jovens e gera predisposição para a incidência de diferentes tumores em um mesmo organismo. Estudos indicam que mutação foi disseminada no Sul e Sudeste por tropeiros na época do Brasil Colônia Por Claudia Guadagnin, especial para a Vida Universitária
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A “maldição hereditária”. Por gerações, foi assim que os acometidos por um tipo de câncer até então pouco conhecido definiram a ocorrência da doença, tão severa quanto presente no Sul e Sudeste do Brasil. Com o tempo, estudos mostraram que o problema tem nome e que sua incidência em cidades como Curitiba, Porto Alegre e São Paulo é expressivamente mais alta que em qualquer lugar do mundo. Enquanto que em países como os Estados Unidos, por exemplo, ele afeta uma em cada cinco mil pessoas, nessas regiões a proporção é de uma para 300. A chamada Síndrome de Li-Fraumeni foi descrita em 1969 pelos médicos norte-americanos Frederick Li e Joseph Fraumeni Jr., mas é no Brasil que ela vem sendo objeto constante de pesquisas, consideradas referências mundiais. Antes disso, apenas 280 portadores da mutação eram conhecidos globalmente. A explicação encontrada até o momento, para que a Li-Fraumeni se manifeste em membros de uma mesma família em diferentes gerações, está relacionada à época colonial do Brasil. Segundo estudos, o gene
com a mutação que dá origem à síndrome teria sido disseminado por tropeiros que circularam pelo Sul e Sudeste do país no século XVIII e tiveram filhos com várias mulheres. O fato de o gene ser dominante facilita a expressão da característica. Ele também permite que o câncer se manifeste em pessoas jovens, com menos de 45 anos. Os tumores gerados pela síndrome têm uma causa em comum: mutações no trecho de DNA que carrega informações indispensáveis para que a proteína P53 seja produzida pelo organismo. Apelidada de “guardiã do genoma”, ela tem função de impedir diariamente danos ou erros de cópia genética que induzem o surgimento do câncer. Em termos ainda mais simples, a função da P53 seria “forçar o suicídio” de uma célula que passou por mutações perigosas. Sem ela, o organismo perde uma das mais importantes defesas e fica até 90% mais predisposto a desenvolver algum tipo de câncer. É preciso entender que o que é hereditário é a mutação, por isso os tumores podem aparecer em locais diferentes a cada geração: mama, pâncreas, rim, sistema nervoso central, sarcomas (cartilagem, músculos, vasos sanguíneos) e glândula suprarrenal, por exemplo. Um caso bastante conhecido de ocorrência do problema foi o do ex-vice-presidente José Alencar. Portador da síndrome, ele passou por 17 cirurgias durante 13 anos de tratamento.
CHANCES DE CURA Para o médico oncogeneticista e professor do curso de Medicina da PUCPR, José Claudio Casali da Rocha, a dificuldade em diagnosticar a característica exige que exames preventivos sejam feitos para a conquista do diagnóstico precoce. “Como ela é capaz de gerar tumores diversificados, muitas vezes, nem o médico nem a família fazem essa ligação de imediato”. Ele explica que o ideal é analisar o histórico familiar do paciente para saber se ele tem ou não predisposição a desenvolver alguns tipos de tumor. “Caso a síndrome seja detectada, várias medidas podem ser adotadas para reduzir o risco de morte precoce. Identificar o problema no começo aumenta significativamente as chances de cura”, explica. Segundo ele, os chamados Testes de Mutação Direcionada contribuem nesse sentido. Para identificar a Li-Fraumeni, a investigação atualmente é mais acessível por ser coberta pelos planos de saúde. Quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) ou não conta com um plano, ainda precisa investir valores relativamente altos nos exames. Para a primeira pessoa da família, testes compostos por análises de sangue, ecografias e ressonâncias magnéticas de corpo inteiro têm custos que variam entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Para os membros seguintes, os va-
lores reduzem para até menos da metade do total. Casali lembra, entretanto, a importância de investir na possibilidade. “Se a síndrome for diagnosticada, esperamos que a pessoa compreenda que está diante de um traço genético e não, necessariamente, de um câncer. Na fase benigna, um tumor é facilmente tratável. Prevenção e acompanhamento fazem toda a diferença”, lembra. Salmo Raskin é médico geneticista, também professor do curso de Medicina da PUCPR, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica e explica que a tendência é que exames desse tipo sejam mais democratizados daqui em diante. Ele lembra que, em fevereiro deste ano, foi instituída pela Portaria 199 a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras. A novidade promete o investimento de R$ 130 milhões na organização de uma rede de atendimento gratuita para a população. Isso significa que, pela primeira vez, o aconselhamento genético passa a ser oferecido pelo SUS, que ofertará ainda 15 novos exames de diagnóstico para doenças raras. “Os resultados devem começar a ser sentidos a partir do ano que vem, mas conquistar isso já foi um avanço muito importante”, comemora.
CONTROLE E PREVENçãO Casali é coordenador de um ambulatório para pacientes do SUS no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, e pretende intensificar ainda mais os estudos sobre a mutação neste ano, investigando a ocorrência da Li-Fraumeni no hospital especializado em câncer. “Como é uma alteração genética, a síndrome não tem cura, mas existem muitas possibilidades de controle e prevenção. Hoje, sabemos que diversas alterações químicas do organismo são resultado de maus hábitos, de um estilo de vida pouco adequado e até mesmo do estado emocional. Uma dieta equilibrada, otimismo e a prática de atividades físicas são os maiores aliados contra qualquer doença”, indica. Para Casali, pode ser essa a explicação para que 15% das pessoas que nascem com a Li-Fraumeni não desenvolvam a doença. Atualmente, famílias com casos da síndrome são acompanhadas em programas especiais de pesquisa, como o realizado no hospital A. C. Camargo, em São Paulo. No Paraná, bebês identificados com a mutação também são monitorados até os 15 anos. “É importante que as crianças sejam examinadas de seis em seis meses, e que jovens com histórico de câncer na família também busquem, a partir dos 20 anos, exames semestrais”, orienta o médico. Raskin e Casali ainda compartilham da opinião que, cada vez mais, é preciso adotar medidas necessárias na rede pública, como a garantia do acesso ao exame que identifica a
mutação e a realização de testes para detectar ou prevenir precocemente os tumores. “O acompanhamento deve se prolongar por toda a vida”, orienta Raskin. “Avançar na capacitação de mais profissionais pra que testes assim sejam popularizados também é fundamental”, complementa Casali. CÂNCER DE SUPRARRENAL E SÍNDROME DE LI-FRAUMENI No Brasil, um dos precursores na investigação da Síndrome de Li-Fraumeni é o médico Bonald Figueiredo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ao analisar a alta incidência do tumor em glândula suprarrenal em crianças com menos de dez anos no Paraná, ele criou testes de DNA para identificar os portadores da mutação. O estudo foi fundamental no tratamento do câncer de córtex adrenal. Em Curitiba, a ocorrência chegou a ser 200 vezes maior que em qualquer outro lugar do mundo. Na década de 90, o assunto despertou o interesse de dois médicos, hoje professores do curso de Medicina da PUCPR. Salmo Raskin era residente no Hospital das Clínicas quando a investigação coordenada por Bonald teve início. José Claudio Casali da Rocha foi um dos primeiros a anunciar, em parceria com outros pesquisadores e por meio de um artigo científico em inglês, que a mesma mutação era responsável pela ocorrência da síndrome de Li-Fraumeni. A comprovação acabou com o mito de que a alteração na proteína P53 era específica para o câncer de suprarrenal.
Feocromocitomas são tumores que se desenvolvem na região interna das glândulas suprarrenais.
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reportagem
15% a 25% das pessoas que nascem De
Enquanto que em países como os Estados Unidos, a mutação atinge
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pessoas
no Sul e Sudeste a proporção é de
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Com ausência da proteína P53,
o organismo perde uma das mais importantes defesas e fica
até
90%
mais predisposto a desenvolver o câncer em um ou mais locais do corpo.
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a doença
* Imagens meramente ilustrativas
BARRANDO A HEREDITARIEDADE
© Fotos: Gilberto do Rosário
Segundo o geneticista Salmo Raskin, a manifestação precoce da síndrome ocorre em virtude de ela ser hereditária. “A pessoa já nasce com a alteração. Basta herdar uma cópia alterada do DNA para que a predisposição esteja estabelecida”. Dessa forma, o interesse natural de casais em que um dos membros carrega a mutação é de que ela não seja transmitida aos filhos. Para ter a garantia, é possível recorrer à fertilização in vitro e a uma técnica chamada Diagnóstico Genético Pré-Implantacional (PGD). O método seleciona embriões que não têm a alteração genética antes da transferência para o útero materno. A alternativa custa em torno de R$ 10mil a R$ 20mil e, segundo José Casali, no Brasil, somente a USP (Universidade de São Paulo) conta, há cerca de dois anos, com a oferta pública do atendimento.
Salmo Raskin é médico geneticista, professor do curso de Medicina da PUCPR e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica. É especializado em pediatria, Genética Clínica com Habilitação em Genética Molecular, pós-graduado em Genética Molecular pela Universidade de Vanderbilt, nos EUA e doutor em Genética pela UFPR. Também é membro titular da Sociedade Brasileira de Genética Médica e um dos dez cientistas brasileiros que integram o projeto Genoma Humano da HUGO, órgão internacional de pesquisa do genoma humano. Tem mais de 60 trabalhos científicos publicados no exterior.
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José Claudio Casali da Rocha é oncogeneticista há 16 anos e professor do curso de Medicina, na PUCPR. Há 15 anos criou um núcleo de aconselhamento genético para pacientes de câncer no hospital A.C Camargo, em São Paulo. Depois de concluir o pós-doutorado em farmacogenética nos Estados Unidos, foi diretor médico do Banco Nacional de Tumores e DNA do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Atualmente, é diretor do Laboratório Mantis, coordena um ambulatório para pacientes do SUS no hospital Erasto Gaertner, em Curitiba e mantém consultórios no Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
“Se a síndrome for diagnosticada, esperamos que a pessoa compreenda que está diante de um traço genético e não, necessariamente, de um câncer. Na fase benigna, um tumor é facilmente tratável. Prevenção e acompanhamento fazem toda a diferença.” [José Casali, geneticista]
mercado de trabalho
Começar um negócio logo após se formar não é tarefa das mais fáceis. Ao mesmo tempo em que os contatos comerciais ainda são poucos, os preços para alugar um escritório se mostram inviáveis para um início de carreira e a alternativa de trabalhar em casa, além de ser um foco interminável de distrações, dificulta a realização de reuniões e encontros com clientes. Um modelo de trabalho, que vem chamando a atenção de freelancers e empresários em todo o mundo, promete solucionar boa parte desses obstáculos, tão comuns aos empreendedores de primeira viagem. Os espaços de coworking são ambientes de trabalho compartilhados e oferecem, além da economia em todos os gastos imagináveis, infinitas oportunidades de interação entre profissionais de diferentes áreas que saíram da zona de conforto do home office. Nesses espaços, os coworkers podem escolher quantas horas passam no escritório por semana e decidir qual a melhor forma de utilizar as instalações de acordo com suas necessidades. Em Curitiba, uma dessas iniciativas é o Impact Hub, que conta com 70 pessoas de diferentes perfis trabalhando em vários segmentos. Segundo Bruno Volpi, publicitário e diretor do espaço na capital paranaense (a iniciativa também tem escritórios em diversos outras cidades do mundo), as vantagens proporcionadas pelo trabalho no modelo de coworking vão muito além da economia. “O principal é a interação social. O espaço de trabalho compartilhado permite que você, além de amizades, construa relacionamentos profissionais de maneira muito dinâmica. A sua ideia é constantemente revisada e desenvolvida, mesmo sem você perceber. Isso acontece porque, além dos momentos dedicados exclusivamente ao trabalho, você compartilha seus desafios com profissionais de diferentes backgrounds“, opina Bruno. Sócia e gerente de marketing do Ambiental Office, coworking especializado no segmento de comunicação, Kelly Gequelim defende que recém-formados encontram nos ambientes compartilhados, a saída ideal para dar o primeiro pontapé na carreira sem ter que investir uma grana muito acima do
orçamento desejado. As chances de êxito, ela garante, também aumentam. “Quando você sai da faculdade com uma ideia inovadora, dificilmente tem recursos suficientes para alugar uma sala comercial e manter um escritório. Além disso, o contato com outros profissionais e a possibilidade de desenvolver novos projetos ou encontrar alguém que acredite na sua ideia é infinitamente maior dentro de um escritório colaborativo”, afirma Kelly. Tanto no Impact Hub quanto no Ambiental Office, o perfil mais comum entre os profissionais é o de jovens, freelancers ou donos de pequenas empresas, que buscam a inovação e investem na dinâmica do coworking para dar um impulso aos seus empreendimentos. É o caso do produtor de software Daniel Pakuschewski, que comanda sozinho o Rocket Studio, agência que desenvolve aplicativos para internet, tablets e smartphones e está instalada no Ambiental Office. “Eu resolvi ir atrás do coworking porque estava precisando melhorar meus horários de trabalho (em casa, é comum relaxar mais), e também porque precisava melhorar a minha imagem com os clientes e ter uma estrutura para poder recebê-los. Dentro do Ambiental, eu já consegui vários projetos e fiz diversas parcerias de negócios que me possibilitaram atender novos clientes”, conta Daniel. A lançadora de startups Ideia no Ar é a prova de como pode dar certo a opção por trabalhar em um ambiente de coworking. Os três sócios da empresa se conheceram no Impact Hub e resolveram continuar no espaço graças às trocas profissionais e às parcerias que passaram a desenvolver no escritório, que conta com iniciativas tão diferentes. “Cada vez mais pessoas iniciam seus próprios empreendimentos e no início é preciso focar em redução dos custos fixos e ampliação do networking, vantagens que os coworkings proporcionam. Para nós, do Ideia no Ar, são fundamentais as trocas de ideias, as conexões com empreendedores e o ambiente descontraído do espaço”, completa Thiago Alves, business designer e sócio da empresa.
Por Mahani Siqueira, especial para a Vida Universitária
© Fotos: Acervo pessoal
HOME OFFICE
Kelly Gequelim, da Ambiental Office (abaixo), e Bruno Volpi, da Impact Hub, a frente de espaços colaborativos que promovem a interação entre as pessoas e o desenvolvimento mútuo.
© Foto: Gilberto do Rosário
O adeus ao
Opção ideal para empreendedores iniciantes, coworking oferece vantagens, diminui gastos e gera interação entre profissionais de diferentes áreas
SERVIçO Se interessou em trabalhar em um espaço de coworking? Acesse os sites do Impact Hub e do Ambiental Office e descubra qual a melhor opção para o seu negócio ou projeto. AMBIENTAL OFFICE ambientaloffice.com.br Rua Schiller, 1797 Curitiba-PR (41) 3387-0002 IMPACT HUB curitiba.impacthub.net Rua Comendador Macedo, 233 Curitiba-PR (41) 3079-7233
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vida docente
Minha bandeira é a
qualidade de vida Professor participa de estudos sobre atividade física e a sua importância para a saúde pública no Brasil e no exterior Por Yaskara Ferreira, especial para a Vida Universitária
© Foto: Divulgação
Nos anos 90, a grade curricular dos cursos de Educação Física deixava a temática da saúde um pouco de lado. Assim, o foco esportivo ocultava assuntos que eram de interesse do então estudante Rodrigo Siqueira Reis. Foi durante o mestrado, já no início dos anos 2000, que a saúde pública entrou para valer na sua vida, a partir de leituras e do contato com pesquisadores. “Não é fácil dizer se eu escolhi essa área ou ela me escolheu”, diz. Rodrigo, hoje pós-doutor e coordenador do curso de Educação Física da PUCPR, enxerga o tema como um encontro para a sua preocupação em contribuir com a sociedade. Além de trabalhar como docente, Rodrigo também se dedica ao cargo de consultor do Ministério da Saúde. “Tem sido um grande desafio, mas também uma enorme oportunidade para compreender a complexidade que envolve a saúde pública em um país continental e desigual como o nosso”. O professor explica que o investimento na área tem sido substancial, com muitos avanços. “O Brasil está se tornando uma referência mundial”, afirma.
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FOCO NAS PESQUISAS
O brasileiro está se movimentando mais l Em cinco anos, o percentual de atividade física aumentou 11%; l Os homens são os mais ativos: 41,2% praticam exercícios no tempo livre; l O aumento da prática de exercícios entre as mulheres foi maior, passando de 22,2% para 27,4%; l Pela primeira vez em oito anos o percentual de excesso de peso e de obesidade se manteve estável. Fonte: Vigitel, 2013
INICIATIVAS DE COMBATE Em 2011, o Governo Federal lançou o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis. O objetivo é diminuir em 2% ao ano o número de mortes ocasionadas por estas doenças até 2022, hoje responsáveis por 72,4% dos óbitos dos brasileiros. “O investimento tem sido substancial e o Brasil tem potencial para se tornar referência no mundo nessa área”, afirma Rodrigo, que também atua como consultor do Ministério da Saúde e membro do Comitê Gestor do Plano. Ele lembra que foram muitos os avanços, como um sistema de monitoramento de fatores de risco para as doenças e outros inquéritos de saúde que permitem o acompanhamento dos níveis de atividade física. “Além disso, o Brasil possui um ambicioso programa de promoção de atividade física que pretende alcançar quatro mil cidades, chamado Academia da Saúde”. Essa iniciativa prevê a implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e profissionais qualificados para promover modos de vida saudáveis.
Em St. Louis, EUA, o professor Rodrigo Reis teve a oportunidade de trabalhar ao lado do Dr. Ross Brownson, reconhecido mundialmente pelo trabalho na área de saúde pública.
© Foto: Acervo pessoal
Entre 2012 e 2013, o professor cursou Pós-Doutorado na Washington University in St. Louis, Estados Unidos. Nesse período, trabalhou com o Dr. Ross Brownson, um dos maiores nomes do mundo na área de saúde pública baseada em evidências e em pesquisa translacional em saúde pública. “Realizamos juntos três grandes projetos e submetemos para financiamento outros dois. Por exemplo, analisamos o uso de evidências para tomada de decisão em mais de 500 secretarias de saúde nos Estados Unidos”, comemora. Com um grupo de pesquisadores do Brasil e do exterior, Rodrigo também esteve envolvido em uma série de estudos publicados no periódico The Lancet, do Reino Unido. “Apontamos nesse trabalho que estamos vivendo, uma pandemia de inatividade física no mundo, responsável por mais de cinco milhões de mortes relacionadas às principais doenças crônicas não-transmissíveis, incluindo doenças coronarianas, diabetes tipo II e câncer de mama”. Ele afirma que a inatividade física mata tanto quanto o tabagismo, no entanto, mais de um terço dos adultos, e quatro em cada cinco jovens, são inativos. “A atividade física é fundamental para reverter o quadro das doenças crônicas no mundo”, sentencia. Atualmente, Rodrigo participa de diversos projetos, todos relacionados com políticas e programas de atividade física, intervenções urbanas e saúde. “Alguns resultados já foram publicados, como de um estudo que estamos realizando em 15 países. Pudemos demonstrar que os níveis de atividade física da população são afetados de maneira decisiva pela forma urbana”. No trabalho, ficou constatado que nas regiões mais favoráveis de Curitiba os residentes têm o dobro de chance de realizar atividades físicas como forma de deslocamento e lazer.
“Talvez a saúde pública seja a área da saúde mais necessária para promover o avanço das condições de vida, especialmente para aqueles que mais precisam.” [Rodrigo Siqueira Reis, pesquisador e professor da PUCPR]
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mundo afora
Tipicamente universitário Entrar na Universidade tem significados diferentes ao redor do mundo. Em países como Austrália e Estados Unidos é sinônimo de conquista de independência Por Michele Bravos
FORA DO MEU PAÍS As estudantes Karoleen e Luiza pontuam acerca de suas vidas nesses países em que os jovens são incentivados a serem tão independentes desde cedo.
Austrália Karoleen
Moradia Universidades no centro da cidade favorecem o aluguel de imóveis no entorno. Não há prédios residenciais nos Câmpus. Em contrapartida, não faltam cartazes com dizeres em busca de colegas para dividir apartamentos na região. Transporte Com valor diferenciado na passagem de ônibus, a maioria dos alunos usa o transporte público. Andar a pé e se locomover de bicicleta para a Universidade são opções comuns também. Alimentação Nos restaurantes universitários, uma variedade de lanches com influência asiática. O custo é alto, por isso, levar a comida de casa é frequente. Os refeitórios são equipados com vários microondas. Estudos Durante a semana, os alunos costumam estudar na biblioteca da Universidade. Já nos fins de semana, as bibliotecas públicas são a opção. Com cadastro, as pessoas podem locar filmes, livros e revistas gratuitamente.
EUA Luiza
Moradia A maioria das Universidades possui prédios destinados aos estudantes. Normalmente, um dormitório é dividido por duas pessoas. Luiza dividia o quarto com uma americana. Transporte Os Câmpus universitários são quase que mini-cidades. Em alguns casos, para se locomover dentro deles é preciso pegar um ônibus. Por exemplo, para ir do prédio acadêmico para o residencial. Em geral, os jovens possuem carros. Alimentação As opções dentro do Câmpus incluem restaurante universitário, minimercado e lanchonetes. Esses dois últimos próximos aos dormitórios. Estudos É comum os jovens estudarem no próprio dormitório ou no lounge do prédio residencial, onde há vários sofás e mesas. Luiza conta que, por vezes, também ia estudar em uma cafeteria que tinha por lá.
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© Fotos: Acervo pessoal
Na transição do Ensino Médio expectativa de trabalho individual bem Nos Estados Unidos, a espara a Universidade muita coisa grande. No Brasil, chega a ser até difítudante Luiza fez uma dismuda. Novos amigos, novos procil dizer o que o aluno fez fora de sala ciplina chamada Freshman fessores, fins de semanas de churde aula. Mas isso está sendo amaduExperience (Experiência de rascos. Não só a vida social passa recido por aqui”, diz a coordenadora. Calouro), que falava das difepor transformações, mas também a renças entre a Universidade De acordo com o setor de intercâme o Ensino Médio, mostrando forma de estudar e a autopercepção. bio da PUCPR, os alunos estrangeiros as regras do ambiente univerEm países como Austrália e Estados comentam que as matérias no Brasil sitário e o formato de ensino. Unidos, os alunos são preparados são até mais exigentes do que esperaAs primeiras matérias cursapara que esse momento seja o salto vam, com muitos trabalhos. das, que não são específicas para a independência. No Brasil, a da graduação escolhida, são CULTURA FAMILIAR transição é mais suave e os jovens também uma introdução do mundo universitário. Além do modelo de ensino, a cultuamadurecem durante o procesra familiar brasileira também contribui so ou, ainda, só nos últimos anos para que o universitário amadureça e seja indepencomo universitários. dente mais tarde. “O jovem brasileiro de 16, 17 anos Segundo Gabriela Finch, coordenadora do Nútem dificuldades em decidir o que realmente quer. O cleo de Intercâmbio da PUCPR, o universitário brabrasileiro tende a morar com os pais até muito tarsileiro pode ser visto como menos proativo, se comde. Esse jovem tem um respaldo financeiro grande, parado a outros países. Em parte, isso se deve ao o que faz com que ele fique na zona de conforto aprendizado centralizado no professor. Lembrando por mais tempo”, comenta Gabriela. que, por aqui, o docente é figura presente do jardim Para Karoleen Oswald, 24 anos, mestranda em de infância ao Ensino Médio, de forma muito próTecnologia de Saúde pela PUCPR e que fez parte xima. Logo, quando o aluno chega à Universidade da graduação em Fisioterapia na Austrália, o inespera o mesmo formato. Na Austrália e nos Estados gresso na Universidade é o momento do jovem se Unidos, em que, desde os primeiros anos, o centro sentir encorajado a se aprimorar e se desenvolver. do ensino está nos alunos – eles precisam buscar o Ao chegar na Oceania, morou em hostel, nos priconhecimento e não apenas recebê-lo do professor meiros dias, e depois dividiu uma casa com ami–, os jovens chegam à Universidade com mais augos. O novo contexto também exigiu que ela cotonomia. “Percebo que em lugares assim, os alunos locasse, literalmente, a mão na massa. “A comida ingressam na Universidade com mais iniciativa e iné um pouco cara e comer fora todos os dias pode dependência”, afirma Gabriela. ser pesado no fim do mês. A opção é levar uma A aluna Luiza Ferronatto, 22 anos, cursa Design comidinha de casa e aquecer em um dos vários de Moda na PUCPR e foi estudar uma temporada microondas que são fornecidos nas dependências nos Estados Unidos. Ela percebe que os alunos de das cantinas ou dos refeitórios”. lá parecem mais responsáveis. “É comum ver uniNa Austrália, o adolescente é incentivado a versitários trabalhando e com um carro (todos têm tentar trabalhar desde cedo e a migrar dentro e carro), querendo ser independente o quanto antes. fora do país. Isso começa já no Ensino Médio. A quantidade de tarefas passadas por cada matéria também é muito superior. Algo que requer mais resA BUSCA DOS BRASILEIROS ponsabilidade do aluno”. O cenário de jovens brasileiros superprotegiO fato de, tanto na Austrália quanto nos Estados está mudando. Gabriela percebe que eles já dos Unidos, não se ter vestibular, exige do aluno não querem mais ir para um intercâmbio apenas uma dedicação maior aos estudos desde o início do para aprender um novo idioma, viajar para outro equivalente ao Ensino Médio brasileiro. Nesses dois lugar, ficando na zona de conforto. “Os alunos países estrangeiros o aluno soma pontos ao longo têm procurado estágios para agregar experiência do Ensino Médio e esse resultado indicará em que técnica”. Ela completa que os jovens já têm a viUniversidades ele poderá ingressar. são de que o mercado valoriza o profissional que Por lá, o professor universitário é um ponto de consegue se integrar com outra cultura, trabalhar contato para o aluno tirar dúvidas, apresentar trabalhos. “Existe uma carga presencial menor e uma com pessoas diferentes, ser mais autônomo.
filhos da puc
Esta é a história de um homem que tomou posse do verbo sonhar
Ami i vitorioso
© Foto: Gilberto do Rosário
Por Michele Bravos
é na língua nativa, o crioulo guineense (uma mistura de português de Portugal com dialetos de tribos africanas), que Domingos Có diz com orgulho: Eu sou vitorioso. Contrariando o repertório do seu país de origem, Guiné-Bissau, uma terra independente há apenas 40 anos, destruída por guerras civis e em constante sofrimento pela corrupção exacerbada, Domingos optou por sonhar e fazer a diferença na prática. Desde 2008, ele vive no Brasil e já possui visto permanente no país. é formado em Economia, pela PUCPR. Atualmente é trainee em uma empresa de consultoria financeira e entre suas novas ambições estão estudar inglês no Canadá e trabalhar no setor público em Guiné-Bissau.
Como um cara de GuinéBissau veio parar no Brasil?
O meu sonho sempre foi estudar fora. Algo que atrapalhou muito a nossa vida por lá foi a guerra civil. Eu nunca fui perseguido. Mas a guerra vitimou muito a minha família. O meu pai era um homem lutador. Ele trabalhava com pesca comercial. O nosso sustento vinha daí. A guerra civil de 1998 arrasou o meu pai. Mesmo analfabeto, ele sempre falou que eu tinha que estudar, que me esforçar. Eu
acho que estou seguindo as pegadas dele. Então, apareceu a oportunidade de vir para o Brasil. Um conhecido meu de Guiné-Bissau que estava morando no Ceará me falou do vestibular e da possibilidade de estudar. Eu fiz um vestibular no meu país para uma Universidade em Fortaleza. Eu passei, peguei um avião e vim.
Você chegou por Fortaleza. Onde entra Curitiba nessa história?
Fiquei só sete dias em Fortaleza. Nem fui à Universidade lá. Antes de vir para o Brasil, eu fiz uma pesquisa para ver qual região do país seria mais favorável para eu me instalar bem. Eu vi que era no Sul.
Então, eu já não queria ficar em Fortaleza. Eu vim para Curitiba porque tinha um conterrâneo meu aqui. Fui recebido por ele. A nossa cultura é muito acolhedora e de se ajudar.
Como você conseguiu se estabilizar aqui? E os estudos, como ficaram?
Eu vim preparado para ficar seis meses sem precisar trabalhar, mas chegando aqui, ajudei alguns conterrâneos. O dinheiro para seis meses virou para dois. Por indicação de um amigo, eu procurei a Pastoral da Juventude (PJ). Lá, eu conheci o Renato, na época coordenador da PJ. O Renato me levou até a Pastoral do Imigrante, onde conheci o Pe. Alex e a assistente social Elizete. Eles conseguiram uma vaga para mim na Casa do Estudante, onde morei por um tempo.
Eles me sugeriram escrever uma carta, explicando quem eu era, para darmos entrada em uma solicitação de bolsa na PUCPR. Nesse tempo, eu conheci o César Ribeiro, coordenador do curso de Teologia da PUCPR, que me apoiou muito e me deu o dinheiro para pagar minha inscrição no vestibular. Conheci também um doutorando em Economia que era meu conterrâneo e pagou uma semana de cursinho para mim, para eu não ir para o vestibular sem saber nada. Assim, as coisas foram se ajeitando.
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Pelo jeito você fez boas amizades no Brasil...
Não consigo nem listar todo mundo. Além do Renato, do César, do Pe. Alex, da Elizete, outras pessoas me ajudaram. O Márcio Cassulino é um deles. Ele é como um irmão para mim. Ele me arranjou um emprego quando eu precisei e depois, em 2011, pagou minhas passagens para eu visitar a minha família em Guiné-Bissau. Depois, apareceu na minha vida também o
professor Fábio Araújo, de Economia, da PUCPR. Ele me convidou para ser trainee na empresa dele, a Brain Inteligência, onde estou há um ano. Na minha turma do curso eu também me relacionava bem com todo mundo. Até fui padrinho de casamento de um colega de classe. Eu gosto de fazer amizades e gosto de fazer as pessoas rirem.
Qual o próximo passo, agora que você já se formou e já está empregado?
Eu quero aprender inglês. Gostaria de fazer isso em um país que fale a língua. Penso no Canadá. A ideia seria ir para lá, estudar quatro meses e trabalhar quatro meses. Por isso, além do meu tra-
balho como trainee na Brain, eu ainda sou garçom em uma pizzaria, para juntar o dinheiro suficiente para essa viagem.
Se alguém lhe dissesse que tem vontade de vir para o Brasil, ter uma vida melhor. O que você diria?
Eu diria que venha, desde que tenha coragem de se esforçar e de ser verdadeiro. As maiores dificuldades que eu tive foram as financeiras. Bem no começo. É difícil você estudar, sem ter alguém que lhe garanta isso. Depois que comecei a trabalhar, as coisas melhoraram. Eu sempre soube que tinha que fazer a minha parte. É lógico que se eu tives-
se nascido em outro país, a minha vida hoje, com 33 anos, poderia ser outra. Às vezes, quem não me conhece, me vê e acha que eu não lutei para ser alguém na vida. Mas, não sabe onde eu nasci, que tipo de educação eu recebi. É por isso que tenho me esforçado para chegar aonde estou e vou continuar lutando.
Do que mais você sente falta no seu país?
Do meu país? Eu sinto saudade de tudo. O seu país é o seu país. Pode ser um país ruim, em termos de oportunidade, mas é o seu país. Eu sinto saudade dos meus amigos e da tranquilidade. Aqui é mais
desenvolvido, mas em termos de segurança na cidade, parece que em Guiné-Bissau é melhor que aqui. Lá, não há assaltos nas ruas.
Com o preparo que você tem hoje, você se vê voltando para o seu país? Acha que valeria a pena? Em maio, o país passou por eleições presidenciais democráticas, as primeiras desde o último golpe de estado, em 2012. As organizações políticas mundiais se pronunciaram sobre a importância do exercício do direito do voto e do quanto todas as nações devem estar preocupadas com a instauração de uma nova governança por lá.
Nossa, isso é lógico! Atualmente, no meu país, não há concurso público para se trabalhar no governo. É tudo por indicação. Não sei se isso vai mudar. Eu espero que sim. Ainda mais agora com as eleições. Há muita corrupção no meu país. É exagerado. Se um brasileiro visse como é lá, nem acharia que o Brasil é corrupto. Eu critico muito os governantes do meu país. Muitos estudaram na Europa, mas parece que quando voltaram para lá, esqueceram-se de suas origens. Parece que o egoísmo reina neles. Meu sonho é ser um governante um dia ou, pelo menos, trabalhar numa função pública. Eu gostaria de fazer o possível para melhorar o meu país.
AJUDANDO GUINé-BISSAU Assim como muitos ajudaram Domingos, e se agora fosse a sua vez de você ajudar alguém? Há jovens em Guiné-Bissau que param os estudos, no que seria o Ensino Fundamental brasileiro. O motivo financeiro é o principal, uma vez que a próxima etapa de estudos é paga. Pensando nesses adolescentes, um grupo de brasileiros resolveu dar início a um projeto de apadrinhamento de alunos de Guiné-Bissau. O projeto é o Nó Djunta Mon (Nós Juntamos as Mãos, em crioulo guineense). Ele existe há um ano e já atende 200 alunos no país africano. Esse número pode crescer ainda mais. Até o início de agosto, estão abertos os cadastros para novos padrinhos. O valor do apadrinhamento é de R$ 240 (anual), incluindo mensalidade, uniforme e material escolar. O contato pode ser feito pelo e-mail nodjuntamon.geral@gmail.com ou pelos telefones: 9622-6038 (Mayara) e 9267-3427 (Magda).
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pesquisa
Salvação que vem da
boca
Teste salivar pode salvar vidas em lugares remotos
Em regiões como o Norte e Nordeste do país, assim como em países da África ou Ásia, a estrutura médica precária dificulta a identificação de doenças, devido à inexistência de um laboratório de exames. Até pouco tempo, era o caso de pacientes com insuficiência renal aguda, antes só detectada pelo sangue. Um procedimento desenvolvido, recentemente, por duas instituições norte-americanas permite que a doença seja identificada por um teste salivar. É simples: o paciente cospe em um tubo; uma fita com reagentes é colocada ali e, em contato com a saliva, identifica o nível de ureia; de acordo com a cor da fita, é indicado o estágio da debilidade dos rins. O médico Roberto Pecoits Filho, vice-presidente da Sociedade Latino Americana de Nefrologia e Hipertensão e também professor da PUCPR, explica que o kit pode ser mantido em temperatura ambiente, o que facilita toda essa logística para lugares remotos. A rapidez com que ele é realizado também é outro ponto positivo. “Exatamente em um minuto é possível saber o resultado”. A eficácia dos kits foi testada pela primeira vez fora dos Estados Unidos sob o comando do professor Pecoits Filho, que o colocou
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Por Michele Bravos
à prova no Maláui (África), e em estudos clínicos em um hospital em Joinville, por meio do trabalho de doutorado da pesquisadora Viviane Silva, sua orientanda. Em espaços hospitalares, é comum o desenvolvimento da insuficiência renal aguda devido à probabilidade de infecções.
CURA O professor alerta que o mau funcionamento dos rins afeta o sistema circulatório e o sistema nervoso central. À medida que a doença se agrava pode levar a um transplante e até a morte. “Por isso é importante identificá-la na fase aguda”. Oito em cada dez casos de insuficiência renal aguda são reversíveis, se tratados no começo. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ainda é incurável. Segundo Pecoits Filho, o teste aguarda para ser submetido à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para então, o procedimento poder ser adotado pelos médicos. Outro diferencial desse kit é o preço: US$ 1 (cerca de R$ 2,20) por teste. Se ele for aprovado pela Anvisa será bem vindo, inclusive em centros urbanos, principalmente pela sua rapidez, praticidade e baixo custo.
Malária, HIV, hipertensão e infecções podem ser causas da insuficiência renal aguda.
OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA DOENçA SãO: Diminuição da urina Urina escura Olhos inchados Hipertensão Sangue nas fezes Enjoo Falta de sensibilidade nas mãos e pés
COMO é FEITO O TESTE DE UREIA COM A SALIVA
Pessoas com esses sintomas ou que tenham contraído algumas das doenças-causa são submetidas ao teste salivar.
SALIVA
1
O paciente cospe em um tubinho.
FITA COM REAGENTES
Em um minuto, a pessoa é identificada ou não com a doença e em que estágio ela se encontra. Um exame
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É colocada dentro do tubo uma fita com reagentes.
3
Em contato com a saliva, a fita indica o nível de ureia do corpo por meio de mudança de cor
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O nível é medido de acordo com uma tabela de cores, fornecida no kit do diagnóstico. A interpretação dos resultados é feita da seguinte forma:
laboratorial demora duas horas (se o paciente já estiver internado) ou até dois dias (se solicitado em um laboratório).
Identificada a doença, iniciase o tratamento. Muito líquido, soro, medicamentos e diálise peritoneal, em alguns casos.
8 em cada 10 casos
de insuficiência renal aguda são reversíveis, se tratados no começo. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ainda é incurável.
80%
Função renal normal Disfunção leve
Falência renal moderada
Falência renal severa
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reportagem
A hora da
democracia Em lembrança aos 50 anos do Golpe Militar, a Vida Universitária convidou um docente e alguns alunos da Escola de Educação e Humanidades e da Escola de Comunicação e Artes – áreas tão afetadas pela ditadura militar –, para uma conversa sobre reflexos da repressão, democracia, voto. Confira a seguir as opiniões que surgiram no bate-papo © Fotos: Creative Commons
Por Michele Bravos
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O que ter uma presidente exmilitante significa para o país?
Com o período ditatorial, houve uma quebra bastante significativa entre a sociedade, o governo e as próprias forças armadas. Na visão de Wilson Maske, professor do curso de História da PUCPR, o fato de termos uma presidente ex-militante é o caminho para a superação de vários traumas que ficaram na sociedade. Ele percebe que a figura de Dilma pode favorecer diálogos e discussões importantes sobre e entre grupos da sociedade que ainda hoje não se entendem.
Exército: mau ou bom?
O distanciamento que a sociedade civil estabeleceu com o exército é natural devido ao período de repressão que se viveu, traduzido na figura dos militares. No entanto, para o professor, essa distância é problemática. “As forças armadas são importantes e representam a segurança e a ordem nacional”. Sendo que democracia não é sinônimo de desordem, cabe, nesse modelo, dito democrático, a presença mais próxima dos militares. O professor ainda afirma que essa é uma das quebras que deve ser restaurada.
O quanto a ditadura está presente na sua vida?
Quando o pai de Mariana Abad, aluna do curso de Música, pisou no Brasil em 1972, ele nem podia imaginar que o período instalado por aqui era tão caótico quanto em seu país de origem, a Síria. “Meu pai veio para cá, fugindo da guerra. Quando ele chegou aqui, pediram para que ele servisse o exército”. O pai de Mariana conseguiu justificar a sua situação e não precisou servir. Para ela, discutir sobre a ditadura e seus reflexos nos dias atuais é também falar da sua história. Na Universidade, o professor Wilson já percebe quem são os alunos que mais se interessam pelo tema. “As turmas de Humanas, Ciências Sociais e História estão sempre dispostas à essa discussão. Falar de democracia é algo que os instiga”.
Existe democracia?
© Foto: Gilberto do Rosário
Como a sua profissão pode contribuir para a democracia?
{Danielle Barbieri}
“Poder discutir isso já é um indício de que a democracia existe”, afirma Saulo Nascimento, aluno do curso de História. Para ele, hoje, há possibilidades de escolhas e isso demonstra que o direito à democracia é real. A aluna Dominique Bolach, do curso de História, concorda e entende que poder expressar a opinião é sinônimo de liberdade e isso define um período democrático. A questão vai além quando questiona-se se o povo brasileiro está preparado para a democracia. Na visão de Wilson, uma das grandes expressões da democracia é o voto, a qual muitos ainda exercem de forma inconsciente. “É preciso avaliar se os políticos estão comprometidos com os direitos. Faz parte do exercício da democracia analisar as pessoas em quem eu vou votar, acompanhá-los e cobrá-los”.
“Toda profissão pode fazer o bem para a sociedade. Até na música há uma responsabilidade social”, diz Ana Massambani, aluna do curso de Música. Ela lembra o quanto as músicas de protesto, proibidas na época ditatorial, repercutem até hoje. Por isso, há em Ana uma certa indignação ao ver a liberdade de expressão não sendo usada à exaustão. “A música é uma ferramenta poderosa. Por que falar nela apenas o trivial? Vemos muito isso hoje. Quando eu faço música, tento fazer diferente”. Para Mariana, o que deveria imperar nas profissões hoje é a solidariedade. Na sua opinião, isso não existia nas décadas militares. “Os professores não podiam falar da música. A música não podia falar da lei e assim por diante. Hoje pode existir diálogo entre as áreas. Temos que valorizar essa interdisciplinaridade”.
{Wilson Marke} {Ana Massambani}
{Vivian Lemos}
{Dominique Bolach}
{Mariana Abad}
{Saulo Nascimento}
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reportagem
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Que prejuízos a ditadura deixou para a educação?
© Foto: Gilberto do Rosário
E qual o papel da educação na democracia hoje?
Acompanhe vídeo com trechos do debate e opine:vidauniversitaria.pucpr.br
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Naquela época, o foco estava no desenvolvimento econômico do país, logo, as profissões valorizadas eram aquelas que poderiam levar o Brasil a essa evolução. Paralelamente, havia uma necessidade de se desestimular o pensar. Áreas como Filosofia, História, Música, Jornalismo foram reprimidas e negadas por alguns anos ainda, em consequência do período ditatorial. A aluna Mariana afirma que existem 30 anos da história da Música que é como se não tivessem existido. “O Brasil parou de importar e produzir literatura sobre Música durante a ditadura e nos anos que se seguiram. É uma perda muito grande”.
As alunas de Música ressaltam que as escolas, mesmo com suas precariedades, já têm ensinado os alunos a escreverem, a lerem. É preciso ir além. “Os alunos precisam pensar”, diz Ana. Wilson pontua que não é só na escola que ele precisa pensar, lembrando que não pode ser apenas papel do professor dar esse incentivo. Na visão de Ana, o peso da escola nesse processo é grande, sim. Cabe a ela, também, dar subsídios para que crianças e adolescentes possam ser adultos que pensam, que refletem, que têm opinião própria e, portanto, adultos capazes de exercer o seu papel de cidadão com maior responsabilidade. Viver a democracia com maior comprometimento.
“É preciso avaliar se os políticos estão comprometidos com os direitos. Faz parte do exercício da democracia analisar as pessoas em quem eu vou votar, acompanhá-los e cobrá-los.” [Wilson Maske, professor do curso de História da PUCPR]
ESTAÇÃO VOLVO É tempo de cultura em Curitiba De 1º a 31 de agosto
www.volvo.com.br/cultura
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espiritualidade
Conhece-te
a ti mesmo
O caminho para o autoconhecimento é algo que deve ser trilhado de fora para dentro, experimentando sensações e realizando escolhas que nos façam felizes. Mas, será que existe alguma fórmula pronta e simples para esse processo de conhecimento de si próprio? Por Janaína Fogaça, especial para a Vida Universitária
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Em busca dessa resposta, a Vida Universitária conversou com diversas pessoas para saber qual caminho trilhar em busca do autoconhecimento e de que maneira isso pode nos tornar pessoas mais felizes. Mas, investir no autoconhecimento, exige disponibilidade e coragem, afinal de contas, não é fácil deparar-se consigo mesmo.
Autoconhecimento, caminho para a felicidade Segundo o professor da PUCPR e doutor em Teologia, Frei Clodovis Boff, a frase escrita na entrada do templo de Delfos, na Grécia Antiga, “conhece-te a ti mesmo”, é a máxima que norteia a nossa busca pela felicidade. “Sem dúvida, a felicidade depende do autoconhecimento. Se você acha que é um ser de instintos e emoções, sua felicidade não será muito diferente da de qualquer animal. Mas se você pensa que tem um coração sedento, então buscará no infinito sua felicidade”. Na concepção dele, nós podemos sim alcançar a felicidade, porém, de modo limitado, pois é impossível evitarmos todas as contrariedades e sofrimentos da vida. Não existe um caminho para o autoconhecimento que nos leve à felicidade, existe um trajeto que pode nos ensinar a nos conhecermos e nos mostrar que boas escolhas resultam em satisfação e, consequentemente, felicidade. Além disso, é importante que façamos questionamentos pessoais com certa frequência, a fim de avaliarmos se estamos felizes com as escolhas que fazemos. De acordo com a psicóloga especialista em terapia individual e familiar, Tayana Passos, para fazer essa avaliação é importante considerar se a pessoa está satisfeita com o rumo das coisas, se ela acredita que está fazendo o seu melhor, se existem outras possibilidades e como seria o caminho se estas fossem colocadas em prática. “Quando não se faz o questionamento sobre estar ou não no caminho certo, a possibilidade de se tornar rígido demais e de seguir o rumo no modo automático é maior. A consequência desse comportamento é não considerar outras perspectivas e possibilidades, podendo fechar diversas portas”, afirma. O autoconhecimento é a intenção de buscar, no seu interior, respostas e en-
© Fotos: Acervo pessoal
tendimentos para várias questões sobre si mesmo e a vida, e com isso evoluir. Na opinião de Tayana, a busca é um processo que dura a vida toda e exige perseverança e paciência. “O autoconhecimento ocorre a partir de uma autoavaliação, na qual é essencial olhar para si mesmo e perceber suas qualidades, seus pontos fracos, seus limites, assim como o que o incomoda, o que o deixa empolgado, inseguro ou com medo e assim por diante”, diz a psicóloga, que completa: “é preciso estar disposto a ir a fundo nessa busca, sem se enganar, aprendendo a lidar com os questionamentos pessoais”. A busca pela felicidade ganhou as telas do cinema, e em novembro de 2013 estreou o documentário Eu maior, fruto da busca pelo autoconhecimento e por respostas a perguntas que inquietam o ser humano. Os recursos para a realização do documentário foram captados por meio de financiamento coletivo de múltiplas fontes. O documentário é permeado por questões que abrangem o sentido da vida, o autoconhecimento e felicidade, por meio de expoentes de diferentes áreas, incluindo líderes espirituais, intelectuais, artistas e esportistas que trouxeram as suas visões pessoais sobre o tema. Entre eles estão o físico Marcelo Gleiser, o filósofo Mário Sérgio Cortella, o cronista Rubem Alves e a ex-ministra Marina Silva. De acordo com o produtor e diretor do documentário, Fernando Schultz, o Eu Maior representou uma oportunidade de unir o útil (fazer um filme, disseminar conhecimento) ao agradável (aprender mais sobre o tema, conhecer pessoas interessantes). Por meio dessa produção, Schultz obteve uma visão particular de felicidade. “Ficou mais claro para mim, que felicidade é algo que se deve entender, mais do que buscar. Até porque ela pode já estar aqui, sem percebermos. Fiquei profundamente tocado pelas ideias e experiências de vida que os entrevistados compartilharam conosco. Um sentimento forte de empatia e solidariedade cresceu em mim. Uma espécie de felicidade”, conclui.
Uma jornada pelo outro
Ser feliz é preciso
O que eu posso fazer por você agora? Com essa pergunta, a atriz Renata Quintella foi às ruas para fazer o que mais gosta: ajudar ao próximo. A ação ganhou página nas redes sociais e o projeto ficou conhecido como A nossa jornada. A ideia surgiu em junho de 2013 e parte do princípio de que todo mundo pode fazer alguma coisa por alguém. Os pedidos chegam de várias formas, inclusive por meio de cartas escritas à mão. Vão desde abraços, consultas médicas, uma palavra de carinho e de força, pequenos sonhos, até viagem para a Disney. “Acredito que estamos resgatando as pessoas no sentido de olhar para o outro. A minha jornada se tornou muito mais feliz por conta do projeto e também mais árdua, porém, desistir nunca foi uma opção”, diz Renata. E nessa corrente do bem, ela afirma ter entendido a essência da felicidade: “Os responsáveis pela nossa felicidade somos nós mesmos. Não há ninguém que possa ser feliz por nós. A vida material pode nos tirar preocupações financeiras, mas não nos traz felicidade. Eu sou feliz com as coisas mais simples, como olhar para o céu num final de tarde, ou quando consigo ajudar alguém”, conclui Renata.
Paula Abreu era advogada, com Mestrado pela Columbia University School of Law. Por muitos anos, ela via em seus empregos a forma de ganhar a vida. “Eu fazia isso para poder pagar as minhas contas – e elas eram cada vez mais altas, porque eu precisava impressionar muita gente naqueles tais ‘empregos’. Esse era o caminho que os meus pais, os meus professores e os meus amigos acreditavam ser o certo. Aprendi que trabalho e diversão não combinavam, e isso está errado”, diz ela. Em 2012, Paula decidiu dar uma guinada em sua vida. “Escolhi reaver a minha liberdade. Comecei a escrever um blog sobre as mudanças na minha vida e, em alguns meses, eu estava ajudando a outras pessoas com as minhas próprias transformações”, afirma. Foi assim que nasceu o Escolha a sua vida, um programa de coaching e desenvolvimento online, inédito no Brasil, cujo propósito é atender pessoas que buscam autoconhecimento, mas não têm tempo pra isso nas suas atuais rotinas. “Procuro auxiliar às pessoas a fazerem escolhas conscientes e alinhadas aos seus verdadeiros valores e desejos mais profundos, em busca de um trabalho e uma vida com mais propósito”.
Para se conhecer melhor A palavra chave para o autoconhecimento é questionamento. Questione-se a respeito das suas escolhas e atitudes, volte para si mesmo e perceba as suas qualidades, defeitos e limites; abra as portas para as perguntas e esteja disposto a conviver com as respostas. Pontue suas características positivas e negativas e procure atividades como meditação e ioga, elas ajudam na concentração e na introspecção do ser humano, promovendo autoconhecimento. Preste atenção às coisas corriqueiras do dia a dia e saiba, qualquer experiência vivida pode ser enriquecedora e promover a autoanálise, basta você estar aberto às mudanças e ao crescimento que elas proporcionam.
Saiba mais Na estante O efeito sombra - Deepak Chopra, Lua de papel, 2010. Eu pelo avesso - Edmundo Vieira Cortez, Alaúde, 2009. Filmes Eu maior - www.eumaior.com.br Um sonho possível - Warner Bros., 2010, Estados Unidos. Na Web anossajornada.com.br www.escolhasuavida.com.br
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© Foto: Sxc.hu
reportagem
Autoestima
elevada conduz ao
perdão 34 |
Medida alternativa na justiça pode contribuir para a diminuição na reincidência do crime Por Michele Bravos
Se pedir desculpas para aqueles que estão próximos, com quem se tem uma relação de afetividade não é fácil, em um contexto sem vínculos emocionais isso pode ser ainda mais desafiador. É por meio da premissa do direito restaurativo que o perdão e o arrependimento são inseridos no contexto criminal. Essa vertente do Direito entende que medidas alternativas -como trabalhar questões psicológicas da vítima e do agressor e, em seguida, colocá-los frente a frente -- pode contribuir para a diminuição da reincidência no crime. A professora Patrícia Piasecki, do curso de Direito da PUCPR e com ampla atuação na área criminal, pontua que, atualmente, o índice de reincidência no Brasil é de 70%. “Medidas alternativas, como as propostas pelo direito restaurativo vêm para combater essa alta taxa de recaída no crime, uma vez que se trabalha com a conscientização”. Pela ótica da neurociência, perdão, arrependimento e vingança acontecem na mesma região do cérebro (veja o infográfico na página 36), o que muda é a forma como cada pessoa ativa essas conexões neurais. E isso depende muito do quanto se está disposto a se colocar no lugar do outro. Segundo a consultora Melissa Antonychyn, que atua na gestão de conflitos, para se colocar no lugar do outro é preciso se conhecer primeiro. “A partir do momento em que eu me aceito, eu aceito os outros. Quando eu me reconheço fica mais fácil controlar e comandar os meus impulsos”. Quando se fala em autoconhecimento também está se falando em autoestima. Um estudo realizado pelo psicólogo Andrew Howell, da Universidade Grant MacEwan, no Canadá, mostra que pessoas com autoestima baixa têm dificuldades em perdoar. A lógica é: quanto menor a autoestima, menor a noção de si próprio, maior a dificuldade de se colocar no lugar do outro, maior a dificuldade de perdoar.
dãs e da busca pela autoestima fizeram parte das atividades internas. Confira na página 38 o projeto voluntário aplicado na Penitenciária com foco na autoestima e na identidade das mulheres em cárcere. A consultora reforça que “é preciso alicerçar a nossa autoestima em nós mesmos”. Dessa forma, é possível decodificar o modelo mental próprio, as formas como cada um foi ensinado a pensar e, a partir daí, mudar. “A autoestima é o que controla o equilíbrio desses modelos mentais”, explica. Patricia afirma que o resgate da autopercepção é fundamental para o processo de restauração social. “A maioria delas entra no crime por uma necessidade de se mostrar boa o suficiente para o companheiro. Há uma autoimagem desvalorizada. Elas pensam ‘eu sou pobre, não tenho estudos. Quem vai me querer?’”. Logo, a importância da realização de projetos que venham atingir esse ponto.
“Medidas alternativas, como as propostas pelo direito restaurativo vêm para combater essa alta taxa de recaída no crime, uma vez que se trabalha com a conscientização.” [Patrícia Piasecki, professora do curso de Direito da PUCPR]
No Paraná
Como funciona
A professora afirma que, no Brasil, a ideia ainda é nova e que apenas no Rio Grande do Sul o processo já está mais avançado. Existe a intenção para esse segundo semestre de se aplicar a medida restaurativa na Penitenciária Feminina de Piraquara. O terreno da Penitenciária vem sendo preparado desde 2012 com iniciativas que visam o resgate social e o combate à reinserção no crime, pelo Programa Ciência e Transcendência: educação, profissionalização e inserção social, coordenado pela Pastoral da PUCPR. A possibilidade de uma medida restaurativa compor os programas já realizados é vista de forma positiva e com chances reais de efetividade. Neste primeiro semestre, projetos ligados à retomada da figura das detentas como cida-
Inicialmente, as partes envolvidas são convidadas a fazerem parte do processo. Se ambas concordarem, elas serão acompanhadas individualmente por psicólogos, assistentes sociais e um membro do judiciário, durante um determinado período. Nesse tempo, a ideia é que sejam trabalhadas as questões que levaram ao ato infracional, o contexto e a tentativa de se projetar no lugar do outro. Segundo o advogado Gustavo Bussmann, mestrando em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), “a justiça surge como um elemento importante para a reconciliação, para além da concretização de seu valor intrínseco. Ela permite a revisitação do passado, a apuração da verdade e a responsa-
bilização dos agressores somada a um conforto das vítimas”. Havendo um sincero arrependimento por parte do agressor ou a vontade de perdoar pela parte lesada, é promovido um encontro assistido pelos profissionais que acompanharam o processo. “O encontro pode ser olho no olho ou sem contato, em que as partes estão separadas por um vidro, em que eu vejo o outro, mas ele não pode me ver”. Para Bussmann, essas tentativas restaurativas quebram ciclos de violência e permitem que vítimas e agressores possam prosseguir a vida em sociedade. A professora conta que o Núcleo de Prática Jurídica da PUCPR já possui uma sala equipada para receber essas situações. “O espaço até foi pintado com cores calmantes. Tudo pensando nessa proposta”.
Adaptação Segundo Patricia, como 80% dos casos da Penitenciária são de tráfico, será preciso adaptar a aplicação da medida. “Nessa situação, não há como definir as vítimas para que haja um encontro”. A ideia é promover o olho no olho entre as detentas e as famílias de dependentes químicos ou até de ex-dependentes. “Muitas das detentas não têm a consciência de que o que fazem é crime. Como se o tráfico nada mais fosse que um comércio. É preciso que haja uma conscientização de que a venda de drogas é ilegal, destrói vidas, pode levar a outros crimes e à morte”.
GUARDE ESSAS INFORMAÇÕES
O índice de reincidência no crime no Brasil é de
70% ... e quanto
menor maior a autoestima,
a dificuldade de perdoar.
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reportagem
O córtex pré-frontal é ativado sob o comando do lobo parietal e precuneus. RESULTADO: EMPATIA E PERDãO. Precuneus
JUDICIáRIO Deve ficar claro que medidas como essas correm em paralelo com o judiciário e acompanhadas por ele. Isso significa que mesmo que haja o arrependimento do agressor e o perdão pela parte lesada, a pena não é abolida. “O que pode acontecer é uma redução da pena. Desde 2008, no Brasil, a vítima passou a ter mais voz e relevância no processo. O juiz pode levar em consideração o perdão concedido e abrandar a pena”. Ela ainda explica que o fato de o agressor aceitar participar da medida restaurativa já contribui para a diminuição da pena.
Córtex pré-frontal
Lobo parietal
O córtex pré-frontal controla as emoções.
O lobo parietal e o precuneus, estruturas que permitem uma pessoa se colocar no lugar da outra, são ativadas.
GERA EMPATIA EMPATIA ESTá ASSOCIADA À AUTOESTIMA
INTERNACIONAL Há diferentes percepções sobre a relevância do perdão diante de um crime por todo o mundo. Um caso recente se passou no Irã, em que a mãe de uma vítima deveria empurrar a cadeira em que o agressor estava de pé, já com o pescoço envolto por uma corda. No entanto, em vez de conceber a morte, ela concedeu o perdão ao acusado, que foi liberto. O país entende que se a vítima ou sua família perdoa, o Estado não tem poder para julgar. Outra situação emblemática de prática restaurativa foi o caso de Ruanda. Na década de 1990, o país sofreu as atrocidades do genocídio. O advogado Bussmann explica que as cortes internacionais entenderam que a justiça local não daria conta de atender a todas as demandas de acusações apropriadamente. Sendo assim, instalou-se a Gacaca (um sistema de justiça comunitária), conduzida por juízes eleitos pela comunidade. Dessa forma, foram julgados mais de 12 mil casos pelo país. Por meio da Gacaca, os acusados tinham a oportunidade de confessar seus crimes e conceder às famílias das vítimas a realidade sobre a morte de seus parentes. O advogado explica que o envolvimento popular nesse contexto era uma esperança do governo em ter uma justiça retributiva e restaurativa. Bussmann conclui que “a justiça restaurativa deve ser entendida como uma teoria que enfatiza a reparação de injúrias, principalmente psíquicas, causadas por comportamentos criminosos. Para tanto, é importante que haja um processo de cooperativismo que leve a uma transformação nas formas de se relacionar das pessoas”. Ele ainda cita um pensamento dos membros da Truth Commission Around the World, que diz: “sem memória não haverá cura, sem perdão não haverá futuro”.
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O córtex pré-frontal é ativado sob o comando do giro temporal. RESULTADO: NADA DE EMPATIA E NADA DE PERDãO. Giro temporal Córtex pré-frontal
NADA DE EMPATIA NADA DE PERDãO
O giro temporal é acionado. Ele é responsável por interpretar as intenções dos outros. Nesse caso uma agressão é naturalmente entendida como prejudicial.
As situações variam de acordo com os modelos mentais de cada um, a forma como cada pessoa está disposta a entender o mundo, suas crenças, criação familiar etc. Fonte: Suzana Herculano–Houzel, do texto “Perdão” publicado em Fevereiro de 2014 em sua coluna na Folha de São Paulo.
DIREITO RESTAURATIVO X MEDIAçãO O direito restaurativo é aplicado em processos em que o Estado, o Ministério Público, deve ou já está intervindo. São crimes de ordem pública, como homicídios ou tráfico. O objetivo central é prestar contas à vítima e restaurar o agressor promovendo a sua reinserção na sociedade e a não reincidência no crime. A mediação é também uma medida alternativa dentro do Direito, mas normalmente aplicada em delitos de interesse individual, por exemplo, acusações de calúnia e difamação. Nesse caso, o processo pode correr longe dos olhos do Ministério Público, com um mediador – alguém de confiança das partes envolvidas – para guiar a conversa e solucionar o problema. Se, ao final, todos estiverem de acordo, o processo é arquivado e nem chega para o juiz.
Millôr
sintonia cultural
e a cidade dos livros Desde o começo da década passada, a cidade litorânea de Paraty, localizada no sul do estado do Rio de Janeiro, tem um significado diferente para os apaixonados por literatura. Conhecido pelas belezas naturais, além da bela arquitetura colonial e da importância histórica, o município passou a ser reconhecido, também, como um refúgio dos amantes de livros. Pelo menos uma vez por ano. É que, em 2003, a cidade recebeu a primeira edição da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), um evento que reúne, durante cinco dias, autores e leitores de todo o mundo para debates, mesas-redondas, palestras e uma série de outras atividades relacionadas à arte e ao estudo dos livros, nas suas mais variadas formas. Em 2014, o evento – que será realizado entre 30 de julho e 3 de agosto – chega a sua décima segunda edição com uma novidade e homenageia, pela primeira vez, um autor contemporâneo. O escolhido para esse ano foi o escritor, dramaturgo, tradutor, humorista, jornalista e cartunista Millôr Fernandes. Falecido em março de 2012 aos 88 anos, o múltiplo artista carioca passa a integrar uma seleção que já contava com nomes como Vinícius de Moraes, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Machado de Assis, Guimarães Rosa, entre outros. A diferença é que, de todos os autores homenageados na história da FLIP, Millôr foi o único que esteve em uma edição do evento, tendo participado da Tenda dos Autores em 2003. “Ele foi um dos primeiros autores convidados à FLIP. Além disso, o trabalho do Millôr sempre foi muito eclético. Ele representava toda a FLIP em um homem só: da tradução de Shakespeare ao cartum, do jornalismo ao haikai. Isso tem muito a ver com o que a Festa Literária tenta oferecer, essa riqueza e essa diversidade. Também destaco sua crítica ao poder, fundamental no Brasil de 2014”, comenta Paulo Werneck, editor e jornalista responsável pela curadoria da 12ª edição do evento.
Defensor ferrenho da liberdade de expressão e pensamento, Millôr Fernandes foi um dos primeiros artistas gráficos brasileiros a usar o computador em suas ilustrações. De estilo inconfundível nas caricaturas e humor ácido e irônico em seus textos, o artista (como não defini-lo assim?) sempre se caracterizou pela versatilidade. Escreveu dezenas de peças, traduziu diversos livros – dos mais variados estilos - e trabalhou em vários veículos de imprensa. Um deles foi a revista Pif-Paf, criada pelo próprio Millôr um mês após o golpe militar, época difícil para a liberdade de expressão e para os jornais de humor. “O Millôr sempre foi uma referência para mim. Ele sempre passou a sensação de que você pode colocar a mão na massa para fazer a sua própria revista independente. Isso foi muito importante na minha carreira e eu fico feliz de poder cultivar essa filosofia e transmiti-la agora na FLIP”, comemora Werneck.
Por Mahani Siqueira especial para a Vida Universitária
SERVIçO Os ingressos para a FLIP 2014 estão à venda pela internet no site ticketsforfun.com.br. Os bilhetes também podem ser comprados na bilheteria da FLIP em Paraty a partir do dia 30 de julho. Para mais informações sobre autores convidados, programação e opções de hospedagem na cidade, acesse www.flip.org.br. © Foto: Divulgação
© Foto: Elis Alves
Em sua décima segunda edição, FLIP homenageia pela primeira vez um autor contemporâneo e promete mais uma vez transformar Paraty na capital brasileira da literatura
CAPITAL LITERáRIA Por cinco dias, Paraty se transforma na capital mundial da literatura. A cidade ganha uma atmosfera única e todas as pousadas ficam lotadas, cheias de gente conversando sobre livros. Democrática, a FLIP oferece, além das atividades principais, a Flipinha, um evento totalmente dedicado à literatura infantil, prato cheio para as crianças. A editora de livros Camila Saraiva já esteve em três edições do evento e pretende repetir a dose em 2014. “Há possibilidade de ouvir e ver de perto grandes nomes da literatura internacional e nacional. Fiquei horas na fila para conseguir autógrafo do Neil Gaiman, do Gay Talese e do Lobo Antunes. Além disso, para quem trabalha no mercado editorial, é sempre uma oportunidade agradável de encontrar profissionais da área, como autores e ilustradores”, finaliza Camila.
Falecido em 2012, o escritor, jornalista, tradutor e cartunista Millôr Fernandes é o primeiro autor contemporâneo a ser homenageado pela FLIP
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na prática
Fotografia
que dignifica
Em parceria com a Pastoral da PUCPR, grupo de fotógrafos voluntários vai à Penitenciária Feminina do Paraná eternizar relação entre mães e filhos. Até os seis anos, crianças que nascem em cárcere podem permanecer na creche do espaço
© Foto: Bruno Volpi
Por Claudia Guadagnin, especial para a Vida Universitária
Foi num ambiente visto por muitos como hostil e pouco lembrado por grande parte da população que, em maio deste ano, 33 mulheres receberam uma homenagem pelo Dia das Mães, comemorado no início daquele mês. Entre abril e maio, onze integrantes do projeto fotográfico Help-Portrait – ajuda pelo retrato, na tradução para o português – visitaram a Penitenciária Feminina do Paraná, em Piraquara. Fotógrafos profissionais e demais voluntários, entre maquiadores, produtores de moda e assistentes de logística, ofereceram um dia diferente ao resgatar, por meio da foto, a dignidade, autoestima e feminilidade de mulheres que mantêm os filhos na creche do espaço. Quando são presas grávidas, as detentas têm seus bebês no local. Por lei, as crianças podem permanecer com elas até os seis anos de idade. Lá, o transcorrer do tempo vira dilema. Enquanto se espera que as horas passem depressa para que a pena seja logo cumprida, a eminência da distância dos filhos gera angústia.
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Help-Portrait e PUCPR Para eternizar o vínculo entre mães e crianças, a presença do Help-Portrait na unidade penal foi viabilizada pelo Programa Ciência e Transcendência: educação, profissionalização e inserção social, da PUCPR. Desde 2012, o Núcleo da Pastoral da Universidade desenvolve ações com as mulheres da penitenciária. São projetos para formação técnica, profissional e de desenvolvimento pessoal e educacional – todos voltados ao resgate social das detentas e ao combate à reincidência. No espaço, são ministradas aulas de música, teatro e oferecidos atendimentos psicológicos, odontológicos, assistência jurídica e práticas relacionadas à valorização da mulher. Além das fotos com as crianças, foram feitas outras apenas das mães. Alguns dias depois, o grupo voltou ao local para entregar as imagens e promoveu a exposição delas na creche, em uma tarde cultural, que contou com a presença do Quarteto de Cordas da Universidade.
cionantes. Luciana acredita que cabe à sociedade transformar realidades e fazer deste um mundo melhor, com mais harmonia, respeito e amor para se viver. “Sempre enxerguei o projeto como um instrumento de promoção de valores como a dignidade do ser humano, que é fortemente trabalhada no Direito. Dessa vez, conseguimos levar a iniciativa, justamente, para as pessoas que mais são afetadas pela sentença condenatória. Quando falamos em sistema prisional, acionamos um comportamento de cautela, mas o amor não tem cautela. Quando a entrega é verdadeira, ele transforma qualquer pessoa em qualquer lugar. Basta dar uma chance para ele acontecer”, sugere. Se fosse viva, a fotógrafa Dorothea Lange, famosa por percorrer o Sul e o Oeste dos Estados Unidos registrando os impactos da Grande Depressão de 1929 na vida dos camponeses, veria uma de suas frases personificada pelo projeto. Segundo ela, “a câmera é um instrumento que ensina a gente a ver sem a câmera”. Certamente esse grupo já aprendeu a fazer isso.
HELP-PORTRAIT PELO MUNDO O projeto fotográfico Help-Portrait surgiu da ideia do fotógrafo Jeremy Cowart no estado de Tenesse, nos Estados Unidos (EUA), em 2009. É integrado por fotógrafos e apreciadores da arte voluntários que buscam pessoas solitárias, em situação de risco ou vulnerabilidade social. Na proposta global, que acontece em vários países concomitantemente, eles tiram as fotos, imprimem-nas e no mesmo dia entregam aos fotografados. Taygoara Martins trouxe a ideia ao Brasil e hoje representa o projeto em nações que falam a língua portuguesa: Brasil, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Macau. Em 2012, após ter ocorrido em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, a iniciativa chegou a Curitiba (Help-Portrait CWB), onde foi adaptada para atingir um número maior de pessoas e para que o retrato pudesse ser ainda mais fiel à identidade do fotografado. Em menos de dois anos, onze edições já foram feitas e, em cada uma delas, os grupos passam dias ou até meses em contato com as pessoas ou instituições parceiras. Depois, retornam para a entrega e exposição das imagens.
© Fotos: Renata Salles | Elis Alvez | Bruno Volpi
A jornalista Michele Bravos, também reporter da Vida Universitária, coordena o Help-Portrait em Curitiba e explica que todas as ações organizadas pelo grupo buscam encontrar pessoas em situação de vulnerabilidade ou invisibilidade social para a interação e troca de experiências. O movimento teve início em 2009, nos Estados Unidos, e foi trazido por Michele para Curitiba em 2012 (Help-Portrait CWB). “Já trabalhamos com várias instituições. Uma ação em penitenciária foi a primeira. Nossa intenção era que as mulheres percebessem que são muito mais do que um uniforme, o número que receberam ao entrar na unidade ou as ações que as trouxeram até ali. Por trás dos muros da prisão existem histórias de desespero, paixão, angústia e sonhos. Há também histórias de mães que aprenderam a dedicar tempo aos filhos e que hoje entendem que o afeto pode contribuir para que o destino de suas crianças seja diferente e promissor. Ali tivemos a certeza de que onde há amor, há esperança”, diz. Ela explica que o Help-Portrait busca romper estereótipos. “O que fazemos não é apenas tirar fotos, mas entregar essas imagens aos fotografados e, por meio delas, dedicar nosso tempo às pessoas e uma parte de nossas vidas também”, resume. A diretora da penitenciária feminina, Rita Costa, diz que o trabalho foi carregado de beleza e equilíbrio. Segundo ela, a relação da PUCPR com a instituição desde 2012 tem superado as expectativas, mudado paradigmas e gerado benefícios significativos às detentas. “A iniciativa foi capaz de resgatar a autoestima dessas mulheres e mães ao registrar momentos importantes entre elas e suas crianças. Sem dúvidas, trouxe muita emoção a todos os envolvidos”, conta. Cleide Fernandes trabalha na creche da unidade e também acredita no valor das boas intenções. “Tudo foi maravilhoso! O trabalho conseguiu resgatar a essência e a individualidade de cada mulher e aumentou significativamente a autoestima de todas. O carinho com que as trataram também foi admirável. Quando viram as fotos, elas nem se reconheceram de imediato!”. Luciana Guiss é advogada, fotógrafa e voluntária na organização do projeto. Ela também participou de outras edições do Help-Portrait CWB, mas diz que esta foi uma das mais emo-
O PROJETO EM NÚMEROS l ONzE edições realizadas em menos de dois anos; l SETE exposições fotográficas; l 80 VOLUNTáRIOS envolvidos com o projeto em Curitiba; l MAIS DE 700 RETRATOS entregues em Curitiba, Região Metropolitana e Morretes.
vimeo.com/94623801
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© Foto: Acervo Médicos Sem Fronteiras
diário de bordo
PRIMEIRO DESLOCAMENTO Os conflitos e a seca na Somália me fizeram largar tudo, cruzar fronteiras. No deslocamento de Buale, na Somália, para o campo de Dadaab, no Quênia, tive que abandonar meu marido, pois ele estava muito doente e eu não pude carregá-lo. Foram cerca de 400 km andando. Eu e meus oito filhos. Montava o nosso abrigo para passarmos a noite com o que encontrava pelo caminho: galhos, pedaços de papelão, tecidos. Soube que estava chegando perto do campo quando vi um amontoado de pessoas na região delimitada para os refugiados. Na entrada, os armamentos são solicitados. Ninguém entra armado, não importa se você é soldado ou rebelde. Eles dizem que essa é a única forma de nos manterem seguros.
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MULTIDãO
NOVAS FORMAS
CUIDADOS
Quando entrei no campo, percebi que algumas pessoas moravam em barracas de lonas, outras em abrigos, como os que eu construí na minha saga até o campo. Desde 2008, o governo não entrega as lonas, moradias oficiais, para os refugiados. Não há o que se fazer. Hoje, o campo de Dadaab é o maior do mundo. Fala-se em mais de 470 mil pessoas. Ao caminhar ao longo das cercas que limitam o campo, é possível ver que as pessoas não param de chegar. É como se houvesse um segundo campo além do oficial, onde pessoas estão esperando para entrar e ser atendidas, como um dia eu estive. Do outro lado da cerca, não há atendimento. Há intérpretes espalhados por todo o campo. Os médicos quase nunca falam os dialetos. A maioria fala inglês ou francês. Alguns locais são treinados para ajudar nisso. Eles nos dizem que os médicos são neutros e não estão de nenhum dos lados do conflito.
Na moradia que eu precisei improvisar mora eu e meus oitos filhos. Aprendi nos últimos tempos a dormir sentada. À noite, todos ficamos escorados uns nos outros. Os médicos não são os responsáveis por nos fornecer moradia, mas dizem que o lugar onde moramos impacta em nossa saúde. Se alguém está com uma gripe e tosse pode contaminar todos. Esses dias, vi os médicos cavando buracos num determinado ponto do campo. Uns dois metros para baixo da terra. Estavam fazendo latrinas. É tudo muito ágil. De repente, o buraco já tem tampa e porta. Como somos muçulmanos, de um lado estão os banheiros femininos. Na outra margem do campo, está o espaço masculino.
É preciso que haja esse cuidado. Não se trata somente da questão da religião, mas também da preservação da moral da mulher. Já ouvi muitas histórias de abusos sexuais contra mulheres ao elas irem ao banheiro. Sei que não só as mulheres são vítimas. Homens também podem ser. Mas, ainda assim, as mulheres estão mais vulneráveis. Temo por isso. O cheiro da latrina é horrível e é preciso certo equilíbrio para usá-la. Antes de entrar, temos que pegar um pouco de água para fazer a higiene, porque não há outra forma de se limpar. Na saída, temos que lavar as mãos numa torneira improvisada. A água vem do poço e tem muito cloro. Os médicos explicam que a alta quantidade de cloro é para evitar doenças. Esses dias, eu, meus filhos e centenas de outras pessoas estávamos com diarreia. Falaram que podia ser cólera. Retiraram as portas dos banheiros e as tampas dos buracos, para evitar a contaminação. Colocaram biombos no lugar das portas. Quando as latrinas enchem, eles colocam terra, deixam a natureza agir e cavam buracos em outros lugares.
* Ao chegar à exposição, cada visitante recebeu um cartão postal com a história verídica de um refugiado. A história que você lê aqui é baseada na vida de Fatuma Badel – identidade assumida pela repórter durante a visita –, uma somaliana, com oito filhos, que teve que deixar seu marido doente. Hoje, Fatuma está no campo de Dadaab, no Quênia.
Atualmente, 45 milhões de pessoas estão deslocadas de seus territórios de origem por motivos de conflitos e violação de direitos humanos. Na tentativa de dar assistência a elas, organizações como Médicos Sem Fronteiras (MSF) atuam nos campos de refugiados. Com o intuito de sensibilizar a população, a MSF circulou por cidades do Brasil, entre elas Curitiba, com a exposição Campo de Refugiados, onde o visitante era instigado a viver na pele essa realidade. O depoimento a seguir conta uma história dentre milhões.
© Fotos: Gilberto do Rosário
Por Michele Bravos
HISTÓRIA SEM FIM
MILAGRE
CONTROLE
SEM IDENTIDADE
Passo a maior parte do meu dia na fila para pegar água para mim e meus filhos. Só tenho um galão para todos nós. Já vi pessoas com quinze galões. Aqueles que estão aqui há mais tempo roubam não só os galões, mas, às vezes, as barracas dos outros também. Por isso, não posso nunca deixar meu abrigo vazio. Ao mesmo tempo, temo muito pelos meus filhos. Os menores vêm comigo para a fila da água ou vão comigo buscar lenha. Crianças sozinhas no campo podem ser sequestradas e vendidas como soldados. Os médicos, às vezes, surpreendem-se ao ouvir isso. Mas, mesmo as pessoas já tendo perdido tudo, ainda assim não há compaixão com os seus semelhantes. O campo de Dadaab já possui suas próprias leis, seus líderes. É como uma cidade. O que deveria ser provisório não tem previsão para acabar. Os conflitos por aqui não dão trégua. Eu lembro quando cheguei ao campo com um dos meus filhos quase morto nos meus braços. Ele estava muito doente e desnutrido. O médico colocou uma fitinha no seu punho e ela se fechou tanto. Seu punho estava muito fino. O médico disse que meu filho precisava sair da desnutrição para pode tratar os outros problemas. Do jeito que ele estava não era possível nem dar uma injeção nele.
Nunca vou esquecer da Dra. Rachel Soeiro. Para matar a fome das crianças, ela entregou para elas um sachê de uma pasta. Os intérpretes me explicaram que era uma pasta feita de amendoim, rica em vitamina D, ferro e zinco e que isso ajudaria os meus filhos a se recomporem. Mas ela percebeu que um deles, o mais fraco, precisava de outro tratamento. Ele foi encaminhado para o hospital. A doutora embrulhou ele com uma manta prateada e disse que era para aquecê-lo. Foi colocada uma sonda no nariz dele e por ali ele recebeu um tipo de leite. Não é da nossa cultura tomar leite. Eu achei estranho, mas entendi que era importante. Em três dias, meu filho estava tomando leite numa caneca. Em uma semana, meu filho foi liberado do hospital. Levamos para o abrigo 10 sachês da pasta de amendoim. O meu menino deveria comer dois deles por dia. Toda semana, eu ia ver a médica. Cinco semanas depois, ele estava curado da desnutrição. Eu lembro da doutora dizer que tratar desnutrição era milagroso, porque era rápido. Milagre foi o que ela fez com ele. Eu sou muito agradecida a ela. Eu já perdi tudo. Não podia perder também o meu filhinho.
No centro de vacinação, cada enfermeiro possui 10 ajudantes. Dá para perceber que são pessoas do local, treinadas para ajudar. Eles são rápidos, mas eu sinto que se eles pudessem gostariam de ser ainda mais. Eles me disseram que, por hora, vacinam 250 crianças. Eu achei bastante. Mas quando lembrei da quantidade de gente que vive lá, percebi a gravidade do problema. Um desses ajudantes me contou que as caixas térmicas com as vacinas vêm da Europa e que há uma equipe muito grande – até maior que a equipe de médicos – cuidando para que as vacinas cheguem aos campos da melhor forma e com a temperatura certa. Depois, as caixinhas de lixo onde jogaram as seringas e as agulhas são mandadas para fora do campo e queimadas nos hospitais da cidade. Tudo nas tendas dos médicos cheira a cloro e álcool. A Dra. Rachel disse que de cada 100 pessoas que entram num espaço de atendimento da MSF, apenas 5 podem morrer. Isso significa que eles precisam ter um controle de qualidade muito grande. Por isso, tanto cloro e álcool.
Pensei que quando entrasse no campo, a minha história ficaria para trás. Mas toda a minha dor e os meus medos vieram comigo. Comigo e com meus filhos. Todos por aqui têm medo. Na tenda onde há psicólogos, há desenhos por toda a parte de cenas de horror, que mostram o temor por tudo e todos. Diferente da desnutrição, pasta de amendoim e leite não acabam com o nosso sofrimento. Uma vacina não tira de mim a dor de ter abandonado o meu marido, nem a angústia de ver meus filhos tendo que crescer num campo de refugiados. Nós perdemos a nossa identidade. Não sinto que pertenço a esse campo. Buale já está tão longe de tudo o que eu sou. Na verdade, nem sei mais quem eu sou. Sei que, hoje, existo apenas por e para meus filhos.
São por histórias assim que a Médicos Sem Fronteiras existe e luta. O andamento das missões depende de doações. Oitenta por cento do orçamento da organização é de pessoa física. Entende-se que não se pode comprometer uma ação por questões de interesses financeiros ou políticos de empresas específicas. Para ajudar esses médicos a salvarem vidas, basta acessar o site e se tornar um doador: www.
msf.org.br/doador-sem-fronteiras
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registro
© Foto: Divulgação
O reitor da PUCPR, Waldemiro Gremski, e o diretor da Agência PUC e Parque Tecnológico, Álvaro Amarente, viajaram até os Estados Unidos para visitar a University of Texas at Austin, que pretende fechar parcerias com instituições brasileiras. Na visita, que ainda contou com a presença de membros da FIEP, IBQP, Parque Tecnológico de Sorocaba e Parque Tecnológico do SENAI de Salvador, os representantes da PUCPR puderam ver de perto o desenvolvimento de inovação na cidade de Austin e verificar pessoalmente o papel da Universidade no ambiente. O grupo ainda participou de um workshop e conheceu os programas de empreendedorismo e inovação da instituição.
Mais uma vez, a PUCPR marcou presença em uma edição do encontro da NAFSA (National Association of Foreign Student Advisers). Desta vez, a Universidade teve um estande próprio no evento, o que garantiu mais visibilidade aos projetos de internacionalização da PUCPR. No total, 35 delegações – vindas de países como França, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Argentina, México, Escócia e Alemanha - visitaram o espaço.
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Representantes da Universidade de Vic – Universidade Central da Catalunia (UVic – UCC) visitaram as escolas de Negócios, Comunicação e Artes e Politécnica da PUCPR para conversar sobre os acordos de dupla diplomação entre os cursos, que tiveram o convênio assinado em 2013. Durante o encontro, as escolas de Saúde e Biociências e de Educação e Humanidades aproveitaram para tratar de possíveis intercâmbios e duplos diplomas com a Universidade catalã.
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INTERNACIONAL
PARCERIAS
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Com o objetivo de continuar aproximando a Universidade de outras instituições brasileiras, o reitor da PUCPR, Waldemiro Gremski, recebeu o reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins. Acompanhado do vice-reitor Paulo Mussi, Waldemiro já teve encontros com os reitores da UFPR, UTFPR e Unibrasil e pretende fazer visitas à PUC-SP e PUC-Rio. No início de março, foram representantes da PUC-RS que estiveram em Curitiba para conhecer a PUCPR.
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© Foto: Débora Rautmann
Uma parceria entre o Câmpus Maringá e as varas criminais da cidade, deu origem à Central de Digitalização das Varas Criminais, cujo objetivo é que todos os processos que tramitam em meio físico sejam digitalizados e inseridos no sistema PROJUDI CRIMINAL dentro do prazo de 60 dias úteis. Na central - formada por dez mesas de digitalização, compostas cada uma por um computador e um scanner ligados em rede – 20 estudantes da PUCPR separam peças dos autos físicos e as digitalizam, conforme tabela e roteiros previamente estabelecidos, sempre sob a coordenação de servidores das varas.
O X SEMIC JR., realizado no dia 23 de abril pela Coordenação de Iniciação Científica Júnior da PUCPR, marcou o encerramento de um ano de pesquisas feitas por alunos do Ensino Médio de escolas públicas e privadas. No seminário, os participantes tiveram a oportunidade de apresentar os resultados das pesquisas. Donos das duas melhores apresentações, os alunos Alexandre Andretta Chechelaky, do Colégio Santa Maria, e Tatiele Garcia da Costa, do Colégio Estadual Hasdrubal Bellegard, foram premiados com um iPod pelo sucesso no evento. Alexandre desenvolveu o Estudo de novas geometrias de tijolos ecológicos dentro de um sistema CAD, e Tatiele realizou a Pesquisa de mercado sobre consumo de carne suína na cidade de Curitiba.
Vladimir Passos de Freitas é professor do curso de Direito da PUCPR. No entanto, ao lado das alunas Ivy Sabina Ribeiro Morais e Thanmara Espínola ele está vivendo dias de autor de best seller. O livro O Poder Judiciário no regime Militar (1964-1985), publicado pelo trio, está na lista dos quatro e-books mais lidos no Google Play e já conta com mais de 2500 recomendações, segundo informações do próprio aplicativo. A obra explora, de forma inédita, a influência que o Regime Militar exerceu sobre os Tribunais, o Poder Judiciário e os Operadores do Direito entre os anos de 1964 e 1985.
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PESQUISAS
A coordenadora do curso de Enfermagem da PUCPR, Ana Beatriz Rodrigues da Costa, teve a honra de receber o Prêmio Paranaense de Excelência em Enfermagem, concedido pelo Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (COREN-PR). O prêmio é oferecido sempre às instituições, cursos e profissionais que se destacam pelo trabalho de excelência na área.
Professor do curso de música da PUCPR, o maestro Paulo Torres assumiu a cadeira 16 da Academia Paranaense de Letras. Reservada para a música, a cadeira já teve donos de muito respeito. Com a nomeação, Paulo se junta aos professores Ir. Clemente Ivo Juliatto e Antônio Celso Mendes, também integrantes da Academia.
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Em cerimônia que contou com a presença do Reitor Waldemiro Gremski, a PUCPR homenageou todos os inventores da Universidade que fizeram depósito de patente ou registro de software no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 2013 e início de 2014. Na ocasião, Gremski agradeceu a professores, alunos e pesquisadores que se dedicam a criar projetos inovadores. Segundo o Reitor, as pesquisas produzidas na PUCPR devem se transformar em riquezas e ser responsáveis pelo bem-estar social.
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destaques
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qualidade de vida
Sem impedimento
© Foto: Gilberto do Rosário
SEM impedimento Atletas com limitações driblam as dificuldades e superam barreiras físicas e psicológicas com a ajuda do esporte. Na PUCPR, há exemplos dentro das quadras e das piscinas Por Mahani Siqueira, especial para a Vida Universitária
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As histórias estão por toda a parte. Não faltam exemplos de pessoas que tiveram os rumos de suas vidas completamente alterados graças aos diversos benefícios oferecidos pelo esporte. Profissionais ou amadores, atletas sempre têm motivos a mais para levar uma vida saudável e repleta de realizações. Para os irmãos Lucas e Ilton Jr. Barbosa, no entanto, o contato com uma atividade física tem um significado ainda mais especial e representa a prova de que a limitação física não precisa ser um obstáculo na luta pela realização de um sonho. Os irmãos – de 25 e 29 anos – são portadores de distrofia muscular congênita, uma doença que se caracteriza pela ausência da enzima merosina negativa. A deficiência provoca uma inflamação e a destruição das fibras musculares, o que causa falta de força e impede a realização de uma série de atividades simples e cotidianas, como escovar os dentes e se alimentar sem depender de ajuda. Apaixonados por esportes desde pequenos, Lucas e Ilton Jr. não permitiram que as dificuldades ocasionadas pela patologia os impedissem de jogar futebol.
© Foto: Gilberto do Rosário
torneio foi acompanhado de perto por Maria Luiza e seus dois esforçados atletas, que viveram uma experiência única durante o campeonato, realizado no Rio de Janeiro. “Foi maravilhoso. Acompanhamos uma competição de nível internacional, com a presença dos Estados Unidos, atuais campeões do mundo na modalidade. Foi uma ótima oportunidade para todos conhecerem novas culturas, comunicar-se em outras línguas, descobrir novos equipamentos do Power Soccer e confraternizar com jovens que passam pela mesma situação que eles. Acabou sendo uma experiência como a que qualquer atleta vive, em competições paralímpicas ou não”, comemora Maria Luiza, com uma satisfação que quase se equivale à alegria dos filhos quando entram em quadra.
JOGO SÉRIO Como diria Arnaldo, no Power Soccer as regras são claras. Confira algumas delas. A QUADRA A quadra deve ter entre 14 e 18 metros de largura por uma medida que varie entre 25 e 30 metros de comprimento. A BOLA A bola do Power Soccer deve ter um diâmetro de 32,5cm, bem maior do que a bola de futebol oficial. OS TIMES Os times podem ter atletas de qualquer sexo, com quatro jogadores para cada lado. CADEIRAS DE RODAS ESPECIAIS As cadeiras de rodas motorizadas do Power Soccer devem ter uma espécie de parachoque protegendo os pés dos atletas. A velocidade máxima é de 10km/h.
© Foto: Arquivo pessoal
Aprendizado com as braçadas Professor do curso de Educação Física da PUCPR desde 1987 e técnico de natação na Universidade desde 1995, Rui Menslin começou a treinar atletas com deficiência em 1999. De lá para cá, seu envolvimento com o esporte paralímpico só cresceu. Treinador da seleção brasileira, Rui já esteve nos mais diversos eventos esportivos (Jogos Parapanamericanos, Paralimpíadas e campeonatos mundiais). Na PUCPR, Rui comanda uma equipe com 18 nadadores com deficiências, muitos deles de alto rendimento. Em abril deste ano, o técnico esteve em países africanos, a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro, para oferecer treinamento e capacitação dos treinadores de movimentos paralímpicos de Moçambique e Angola. Com experiência de sobra no assunto, o professor garante que o maior ensinamento, quem passa, são seus pupilos. “Conviver com estes atletas é um grande aprendizado, uma grande aventura. A força de vontade deles é de elevada admiração, pois não há limites que os impeçam de alcançar seus objetivos e sonhos. Todas as pessoas com deficiências deveriam praticar algum tipo de atividade física. Além das melhoras físicas, há também a melhora nos aspectos sociais: autonomia, reconhecimento pela sociedade e aumento da autoestima”, finaliza.
© Foto: Arquivo pessoal
Assim que conheceu o Power Soccer – modalidade voltada para pessoas com deficiências de menor mobilidade, que utilizam cadeiras de rodas motorizadas – a dupla foi atrás de informações, pesquisou as regras, adquiriu o material necessário e, com a ajuda da mãe, foi responsável, em 2012, pela criação da segunda equipe do esporte no Brasil. O projeto se desenvolveu e a família inteira se dedicou a transformá-lo em ONG, batizada de Pontapé Inicial e responsável por convidar novos atletas para o grupo, organizar excursões para competições e ajudar a viabilizar a expansão do esporte em Curitiba e em todo o Brasil. Os treinos são realizados todos os sábados no ginásio da PUCPR, que desde o início apoiou a equipe, disponibilizando o espaço para os treinos. Mãe dos irmãos e principal incentivadora da equipe e da ONG, Maria Luiza Aguiar revela que o esporte foi responsável por uma verdadeira transformação na vida dos filhos. “Eles têm uma alegria imensa em participar do projeto, que aumentou a autoestima dos dois, por estarem fazendo algo independente, sem precisar de outra pessoa para ajudar. Na quadra, eles sentem-se livres. O Power Soccer trouxe para o cotidiano segurança, autoconfiança e satisfação. Agora eles se sentem incluídos em uma atividade social, com novos amigos, viagens e campeonatos”, comenta Maria Luiza, cujo principal objetivo com a equipe e a ONG é tirar o maior número possível de jovens e adultos cadeirantes de casa e incentivá-los a praticar esporte. No entanto, engana-se quem imagina que os treinos são só uma brincadeira ou uma terapia. Criado há mais de 30 anos na França e no Canadá, o Power Soccer é um dos esportes cotados para passar a integrar a lista de modalidades paralímpicas a partir de 2020 e, cada vez mais, se desenvolve e se profissionaliza. No Brasil, já foram realizadas duas edições do campeonato nacional, em 2012 e 2013, e o torneio promete se tornar uma tradição Em maio de 2014, o país sediou a Copa América de Power Soccer, que contou com a participação de Canadá, Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Brasil e Austrália (país convidado). A equipe de Curitiba teve três atletas selecionados para integrar o time brasileiro, além do técnico Julio Brock, responsável pelos treinos na PUCPR. O
ACIDENTE DE PERCURSO O advogado Eliseu Ricardo de Antonio tinha 39 anos quando sofreu uma queda e bateu com a nuca no canto da escada da casa do cunhado. O grave acidente causou uma fratura na coluna cervical e foram necessárias duas cirurgias para reparar os estragos. Nem assim, Eliseu conseguiu escapar da parestesia total que o acompanha até hoje e é responsável pela ausência da sensação periférica e tato em todo o corpo. Acostumado a uma vida repleta de atividades físicas, Eliseu se viu obrigado a passar seis meses em uma cadeira de rodas, totalmente dependente da esposa e dos exercícios de fisioterapia. Quatro anos e centenas de sessões de hidroterapia depois, o advogado reaprendeu a andar e a fazer todas suas atividades diárias normalmente, apesar da pequena dificuldade. Hoje, Eliseu tem certeza que, sem o esporte, sua vida não seria a mesma. “Preciso manter a atividade física em academia, ou a parestesia pode incomodar ainda mais. Posso malhar, andar e nadar. O esporte é vital para as pessoas com deficiências, seja para os menos comprometidos, como eu, ou para os severamente comprometidos. Estou certo que a qualidade de vida é diretamente proporcional ao esforço que fazemos para nos sentirmos bem”, garante Eliseu, hoje com 62 anos.
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drops
© Foto: Arquivo pessoal
visita a são paulo
27 alunos do quinto e sétimo períodos do curso de Ciências Contábeis da PUCPR Câmpus de Toledo, visitaram a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). Os alunos também visitaram a Trevisan Consultoria e Auditoria e a Empresa Irko Organização Contábil. “Foi uma viagem de excelente aproveitamento pelo fato de nossos alunos entrarem em contato com uma realidade diferente da encontrada no município de Toledo”, afirma o professor Cláudio Carrasco, da Escola de Negócios de Toledo. Os estudantes viram como funciona o Mercado de Ações, conhecerem sua história, estrutura e funcionamento.
Estudantes canadenses na capoeira
© Foto: Divulgação
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Equipe de arbitragem da PUCPR
Alunos e professores da Escola de Direito do Câmpus Curitiba da PUCPR participaram do Annual Willem C.Vis International Commercial Arbitration Moot que aconteceu em Viena, Áustria. Essa é a competição mais importante na área de arbitragem, da qual participam as melhores instituições do mundo. A equipe de arbitragem da PUCPR é composta pelos alunos Caio Silva, Cecilia Natucci, Isabela Maté, Pedro Lins, Fernando Kenji Kametani e Jordana Maia, e foi orientada pelos professores Helena de Toledo Coelho Gonçalves, Carlos Eduardo Pianovski Ruzyk e pelo mestrando Guilherme Barros.
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Alunos canadenses da Universidade de Alberta conheceram as dependências da PUCPR e participaram do Seminário de Capoeira. O evento contou com atividades de teoria e prática sobre o tema. O seminário teórico foi ministrado pelos professores Keith Sato Urbinati e Eduardo Scheeren da Escola de Saúde e Biociências e o prático contou com a presença do grupo Capoeira Brasil, supervisionado por Robson ‘’Duende’’ - egresso da PUCPR.
Mestranda em Gestão Urbana é finalista de prêmio
© Foto: Arquivo pessoal
© Imagem: Arquivo pessoal
1ª Conferência Municipal do Esporte e Lazer
Schirlei Mari Freder, Mestranda em Gestão Urbana pela PUCPR, foi uma das finalistas Alunos dos 7° e 8° períodos do curso de Educação Física da PUCPR participaram da 1° Conferência Municipal do Espor- do prêmio WEPs Brasil, que visa reconhecer organizações que promovem uma cultura de te que aconteceu em São José dos Pinhais no mês de abril. O evento teve como objetivo discutir as políticas públicas equidade de gênero em seu ambiente de trabalho. A empresa de Schirlei, Creare Gestão para o esporte e o lazer com visão para os próximos anos. Ltda., foi uma das finalistas na categoria Micro e Pequena Empresa.
© Foto: Divulgação
Curso de RP realiza visita técnica ao GRPCOM
No dia 07 de abril foi realizada a primeira visita técnica do 1° período do curso de Relações Públicas ao Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM). O objetivo dessa visita, segundo a professora Juliana Cândido Custodio, coordenadora interina do curso, é iniciar um processo de aprendizagem extraclasse, na qual os alunos puderam apreciar algumas das possibilidades de atuação do profissional de RP no mercado.
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vem aí
Programe-se CONVITE Fique mais próximo da Vida Universitária! Envie-nos suas dúvidas sobre o mundo acadêmico, sugestões de pautas, informações sobre eventos e críticas. Assim, você estará sempre conectado com a equipe da revista e vai ter acesso aos conteúdos de seu maior interesse. Participe! conteudo@grupomarista.org.br www.vidauniversitaria.pucpr.br AF_A3_Projeto Identidade.pdf 1 28/05/2014 16:26:30
© Foto: Divulgação
PROJETO IDENTIDADE Projeto de Vida • Conhecimento • Vivência
© Foto: Gilvan Barreto
Livro_do_sol Estreia, neste mês, no Museu da Fotografia, em Curitiba, uma exposição fotográfica das imagens que compõem o Livro do Sol, de Gilvan Barreto. O fotógrado percorreu o sertão, durante o verão de 2013, registrando o auge da seca e suas consequências. Diferente do estilo documental clássico, você não verá solo craquelado, sertanejos sofridos, nem gado esquálido. Barreto apresenta um sertão de cores frias a espera de uma gota de chuva. A exposição segue até 10 de agosto.
projeto_identidade Se você está buscando desenvolvimento pessoal, não podeoperder o Projeto Identidade. Um projeto vivencial com intuito de auxiliar no Um encontro que acontecerá em três etapas (nos dias 02/08, 09/08 e 20/09) com o obconhecimento pessoal, aprimoramento da liderança jetivo de aprimorar questões sobre o autoconhecimento, a identidade pessoal e projetos jovem e construção do Projeto de Vida. de vida. As fases estão interligadas, mas também seguem de forma independente. Os interessados devem se inscrever diretamente no Núcleo de Pastoral da PUCPR. O investimento é de R$30. Mais informações pelo telefone. (41) 3217-1397
1º Encontro 02/08/14 – Descobrir, inspirar. Local: FEGA – Fazenda Experimenta Gralha Azul - Fazenda Rio Grande Horário: 08h – 17h – Saída PUCPR – portão 01
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© Foto: Divulgação
2º Encontro 09/08/14 – Refletir, construir. Local: FEGA – Fazenda Experimenta Gralha Azul - Fazenda Rio Grande Horário: 08h – 17h – Saída PUCPR – portão 01
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3º Encontro 20/09/14 – Vivenciar, engajar. Local: Comunidade Ir.Henri Verges – Fazenda Rio Grande Horário: 13h – 21h – Saída PUCPR – portão 01
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© Imagem: Frida Kahlo
CROQUIS_URBANOS Informações e Inscrições Pastoral da Universidade Fone: 3271 1397 e-mail: pastoral.ctba@pucpr.br Vagas Limitadas
FRIDA_KAhLO Pela primeira vez, o Brasil recebe uma exposição dedicada inteiramente à pintora Mexicana Frida Kahlo. Entitulada Frida Kahlo - Suas Fotografias, a mostra entra em cartaz no dia 17 de julho, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. A curadoria é de Pablo Ortiz.
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Para aqueles que gostam de desenhar e ressignificar os espaços urbanos, o grupo Croquis Urbanos tem se reunido frequentemente, com saídas nos fins de semana, para registrar Curitiba de um jeito diferente. O grupo é aberto e segundo eles próprios, o “objetivo é registrar a cidade, seus habitantes e aprender uns com os outros sobre possibilidades do desenho de observação”. É possível acompanhar o grupo pela página www.facebook.com/CroquisUrbanosCuritiba.É por lá também que eles divulgam os dias de encontro. Mais informações pelo e-mail. croquisurbanoscuritiba@gmail.com.
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pergunte pra puc
E AGORA? A vida acadêmica é rica em descobertas e experiências. Um mundo novo se abre a cada livro, a cada leitura, a cada conversa ou aula. Mas, como não poderia deixar de ser, essa vivência é repleta de perguntas. Dúvidas a respeito do universo acadêmico, que envolvem, acredite, não só você, mas a mente de muitos alunos que cursam o Ensino Superior. Fomos atrás de algumas dessas questões frequentes e comuns, e buscamos respostas para você tirar suas dúvidas aqui, na Vida Universitária.
QUAIS CURSOS DA UNIVERSIDADE Já POSSUEM ENGLISH SEMESTER? QUAIS OS PRé-REQUISITOS PARA PARTICIPAR?
TODAS AS PUCS SãO MARISTAS? DÓRIS ALVES Engenharia Química 1º período
QUEM RESPONDE: Lídia Kovalski, do setor de Intercâmbio da PUCPR:
© Fotos: Arquivo pessoal
Atualmente, são 51 disciplinas sendo ofertadas em inglês nas escolas de Arquitetura e Design, Negócios, Comunicação e Artes, Educação e Humanidades, Saúde e Biociências e Politécnica. As disciplinas acontecem dependendo do número de alunos interessados. No momento não existem pré-requisitos e alunos de todos os cursos podem participar.
THAIRINE MAzUREK Relações Públicas 7º período
QUEM RESPONDE: Másimo Della Justina, Chefe de Gabinete da Reitoria da PUCPR: Nem toda PUC do Brasil é Marista. Atualmente, o Brasil tem
sete Pontifícias Universidades Católicas. Somente a PUC do Paraná e a do Rio Grande do Sul são Maristas. A PUC-Rio é Jesuíta e as outras, localizadas em Campinas, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, são mantidas pela respectiva Arquidiocese ou Diocese. Vale lembrar que ainda existem diversas Universidades Católicas, que ainda não são Pontifícias.
OUVI QUE HOJE, ONDE é A CONCHA ACÚSTICA, Já FOI UM HIPÓDROMO. VERDADE ISSO? GRASIELE NAIANE P. ANDRADE Engenharia Civil 2º período
QUEM RESPONDE: Ana Paula Campos, secretária da Diretoria de Esporte e Cultura: Sim, é verdade. O terreno onde está localizado o Câmpus Curitiba da PUCPR, antigamente, era um
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lote de terra do governador Moisés Lupion. Ele doou o terreno para a Universidade. A região onde hoje estão a Concha Acústica e o Prédio Administrativo era o circuito do hipódromo, lo-
cal onde os cavalos corriam. O museu, que está embaixo das arquibancadas em frente à Concha, ainda guarda resquícios dessa época.