Lagartixa Rosa e os seres que habitam a mente de MOTTILAA

Page 1

2

LAGARTIXA ROSA

E OS SERES QUE HABITAM A MENTE DE MOTTILAA.

LABORATÓRIO CRIATIVO QUE AMPLIFICA IDEIAS

4
LAGARTIXA ROSA É UM PROJETO REALIZADO POR:

PINK GECKO

AND THE BEINGS THAT INHABIT THE MIND OF MOTTILAA.

5

REALIZAÇÃO

6
APOIO

LAGARTIXA ROSA

E OS SERES QUE HABITAM A MENTE DE MOTTILLA.

7

22-128070

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)

Motta, Felipe P. E. Lagartixa rosa : e os seres que habitam a mente de Mottilaa / Felipe P. E. Motta. -- São Paulo : Vista Art, 2022.

ISBN 978-65-998664-1-8

1. Artes gráficas - Brasil 2. Artistas gráficasBrasil - Autobiografia 3. Designers - Autobiografia 4. Mottilaa 5. Skate (Esporte) I. Título.

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

1. Mottilaa : Artistas gráficos : Autobiografia7 41.6092

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

CDD-741.609

8

Autoria, concepção e ilustrações: Felipe Motta

Leitura crítica, preparação de texto e organização de conteúdo: Marianna Cersosimo

Projeto gráfico: Frederico Antunes & Felipe Motta

Diagramação: Frederico Antunes

Revisão ortográfica e de conteúdo: Tatiana Furtado

Versão em inglês: Paola Martins e Felipe Motta

Fotografias de acervo: Pedro Macedo

Tratamento de imagens: Eric Fernandes/ Royals Studio

Vídeo: A Firma

Impressão: Gráfica Coan

Colaboração com fotografias. Muito obrigado para: André Calvão, Alex Carvalho, Bernardo Menezes, Blaze, Brian Fick, Bruno Espírito Santo, Diogo Camillo, Dhani Borges, Felipe Diniz, Fernando Martins Ferreira, Fernando Menezes Jr, Flávio Samelo, Francisco Costa, Henrique Madeira, I Hate Flash, Isabella Cardin, Júlio Detefon, Júlio ‘Tio Verde’, Marianna Cersosimo, Pedro Banilian, Renato Custódio, René Jr, Samantha Caldato, Sambacine e Sergio Roca.

Coordenação: Xande Marten

Planejamento: Bruno Deos

Produção Executiva: Grasi Ferrari

Financeiro: Gustavo Tesch

Copyright, design and illustrations: Felipe Motta

Critical reading, text preparation and content organization: Marianna Cersosimo

Graphic design: Frederico Antunes & Felipe Motta

Diagramming/ layout: Frederico Antunes

Spelling and content review: Tatiana Furtado

English version: Paola Martins and Felipe Motta

Collection photographs: Pedro Macedo

Image processing: Eric Fernandes/ Royals Studio Video: A Firma

Printed by Gráfica Coan

Collaboration with photographs. Thank you so much to: André Calvão, Alex Carvalho, Bernardo Menezes, Blaze, Brian Fick, Bruno Espírito Santo, Diogo Camillo, Dhani Borges, Felipe Diniz, Fernando Martins Ferreira, Fernando Menezes Jr, Flávio Samelo, Francisco Costa, Henrique Madeira, I Hate Flash, Isabella Cardin, Júlio Detefon, Júlio ‘Tio Verde’, Marianna Cersosimo, Pedro Banilian, Renato Custódio, René Jr, Samantha Caldato, Sambacine e Sergio Roca.

Coordination: Xande Marten

Planning: Bruno Deos

Executive Production: Grasiela Ferrari

Financial: Gustavo Tesch

9
ENGLISH PORTUGUÊS
10

“SKATE É VERDADE!”

11
“SKATEBOARDING IS TRUE” BATE BOLA, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 12 BATE BOLA, CHAPTER 10, VERSE 12

PREFÁCIO

Pouco antes da “flopada” do milênio, ou o bug do milênio, em 1999, recebi um telefonema de um jo vem skatista e artista carioca, que até então não conhecia pessoalmente mas lembrava de já ter vis to alguns desenhos dele em uma edição da revis ta 100% skate, dizendo que curtia muito a Agacê — marca de skate que eu havia co-fundado com alguns amigos alguns anos antes. Seu grande sonho era ver suas artes impressas em shapes.

A gente havia acabado de publicar um anúncio na mesma revista com um chamamento aberto para que jovens talentos do universo do skate envias sem seus portfólios. Os melhores seriam escolhi dos para desenhar futuras séries de shapes para a marca.

Me lembro que recebemos trabalhos de dezenas de artistas dos quatro cantos do país. Alguns eram fracos, outros até eram bons, mas tinham pouca personalidade. Faltava aquele algo a mais que a gente procurava. Então, resolvemos dar uma mo ral para o carioca simpático que tinha me liga do, chamado Felipe Motta (na época, ele ainda não tinha ido ao numerólogo, e o MOTTILAA ainda não existia), e encomendamos uma primeira série de artes para ele, com a temática livre.

A série Descontrole foi a primeira que ele de senhou para a marca, dando vida a cenas um tan to aleatórias, como um vovô em fúria quebrando um tabuleiro de xadrez ao meio e um moleque noiado esmurrando a tela de um fliperama, entre outras demonstrações de puro descontrole emocional. Com esse debut em grande estilo, nasceu ali também uma parceria de trabalho e, principalmente, uma sincera amizade que perdura por mais de duas dé cadas até os dias de hoje.

Vale lembrar que estamos falando de uma época em que autenticidade e criatividade andavam escas sas no mercado de skate brasileiro. A maioria das marcas em atividade, quando não copiavam descara damente marcas e artistas gringos, apelavam para o logomania, solução que sempre achei um tanto preguiçosa.

Eu poderia dividir um monte de histórias incrí veis sobre diversos trabalhos que fizemos juntos, todos muito marcantes e únicos. Mas tem uma his tória muito boa sobre um deles, que, meio que sem querer, acabou se tornando um dos desenhos mais marcantes feitos por ele para a marca.

Eu sempre curti muito caveira. É algo que sempre fez parte da cultura do skate e tinha vontade de ter uma da Agacê, mas acho que nunca tinha falado isso pro MOTTILAA. Em uma das vezes que ele veio para São Paulo e ficou comigo no escritório dese nhando o dia todo, no dia seguinte, eu literalmen te achei no lixo uma caveira que ele rascunhou com nanquim. Foi amor à primeira vista. Essa caveira foi usada durante muito tempo, virou shapes, ca misetas, adesivos e até rolou uma versão “do rap” dela com dente de ouro e boné aba reta.

Sem dúvida nenhuma o MOTTILAA foi uma figura essencial na criação da identidade que buscávamos para a marca. Com seu estilo único e ideias fora do comum, entregou autenticidade, brasilidade sem apelar para clichês, humor na medida certa e simplicidade nos traços (até hoje tenho dúvi das se ele desenhava seus personagens com mãos de pinguim por ter faltado às aulas de anatomia cor poral ou se isso sempre fez parte do seu estilo).

Além disso, tem outra característica em seu tra balho e em sua personalidade, talvez a princi pal delas, que é a sagacidade. MOTTILAA é a sa gacidade em pessoa. Ele conecta pensamentos como ninguém, observa (e absorve) tudo à sua volta nos mínimos detalhes e, de forma única, devolve tudo isso para o mundo em forma de arte.

12
PORTUGUÊS

Shortly before the millennium flop, in 1999, I got a call from a young skateboarder and artist from Rio de Janeiro, who I didn’t know personally un til then, but I remembered having seen some of his drawings in an issue of 100% Skate magazine, saying that he liked Agacê - a skateboard brand that I had co-founded with some friends a few years before - and that his big dream was seeing his arts printed on decks.

We had just published an ad in the same magazine with an open call for young talents from the ska te world to submit their portfolios and the best ones would be chosen to design future series of decks for the brand.

I remember that we received artworks from do zens of artists from the four corners of the cou ntry, some were weak, others were even good, but had little personality, they lacked something else that we were looking for. So, we decided to give a chance to that nice carioca (the way they call a person that was born in Rio de Janeiro) who had called us named Felipe Motta (at the time he hadn’t gone to the numerologist and MOTTILAA didn’t exist yet) and we ordered a first series of graphics from him, with a free theme.

“Out of Control” series was the first he desig ned for the brand, giving life to somewhat random scenes such as a furious grandpa breaking a chess board in half, or a crazy kid punching the screen of an arcade, among other demonstrations of situa tions when things got out of hand. With this debut in grand style, a working partnership was also born, and above all, a sincere friendship that has lasted for more than two decades to this day.

It is worth remembering that we are talking about a time when authenticity and creativity were scarce in the Brazilian skateboard market, and most of the popular brands, when not blatantly copying brands and artists from abroad, resor ted to logomania, a solution that I’ve always fou nd a bit lazy.

I could share a lot of amazing stories about dif ferent projects we’ve done together, all of them very striking and unique, but there’s a very good story about one of them, which kind of acciden tally ended up becoming one of the most remarkab le designs he’s ever done for the brand.

I’ve always liked skulls a lot, it’s something that has always been part of the skate culture and I wanted to have one from Agacê, but I think I had never said it to MOTTILAA. One time he came to São Paulo and stayed with me in the office dra wing all day long, I literally found a skull in the trash can that he sketched with China ink and it was love at first sight. This skull was used for a long time, it became decks, tees, stickers and there was even a “rap” version of it with golden tooth and a straight flap cap.

Undoubtedly, MOTTILAA was an essential figure in the creation of the identity we were searching for the brand, delivering authenticity, with his unique style and unusual ideas, “Brazilianness”, without resorting to clichés, humor in the right amount and simplicity in the traits (to this day I have doubts if he drew his characters with pen guin hands because he skipped body anatomy clas ses or if that was always part of his style).

In addition, he has another characteristic in his work and in his personality, perhaps the main one, which is his wit. MOTTILAA is a truly sharp, witty guy: he connects thoughts like no one else, obser ves (and absorbs) everything around him in the smallest detail and, in a unique way, gives it all back to the world in the form of art.

13
ENGLISH
PREFACE
POR TIAGO MORAES DE ALMEIDA • CO-FUNDADOR DA AGACÊ E SÓCIO DA DABBA

APRESENTAÇÃO

“O tempo é um jovem que brinca”

Nos últimos anos, junto com uma maior valoriza ção e visibilidade do skate, que incluiu a contro versa entrada nas Olimpíadas ano passado, estamos assistindo pela primeira vez a maturidade de uma geração que viveu e ainda vive essa cena. Grandes nomes como Christian Hosoi, Tony Hawk, Caballero, Lance Mountain, Rui Muleque têm hoje entre 54 e 60 anos de idade. Tony Alva, Cesinha Chaves e Come Rato estão pouco acima dos 60.

A importância dessa maturidade é sem preceden tes. Desconstrói uma série de preconceitos sociais e crenças que pairam sobre esse universo, desres peitam, marginalizam e afastam investimentos. Quem nunca ouviu que o skate é coisa de criança ou de adolescente, que é uma fase que vai passar, que é coisa de perdido ou vagabundo e que não dá futuro a ninguém? Como se fosse totalmente des vinculado de uma (contra) cultura e de uma filo sofia de vida.

Portanto, os registros, os conteúdos, a memória, depoimentos, artigos acadêmicos, teses e publi cações são essenciais para o fortalecimento, va lorização sociocultural e para embasar essas tra jetórias e histórias. Tudo isso dá corpo e força para que essa mentalidade vá sendo desmantelada. Ao mesmo tempo que apresenta às novas gerações perspectivas e a possibilidade de ser sim uma cul tura norteadora e um estilo de vida, muito além de um mero esporte olímpico.

O filósofo Byung Chul Han diz:

“Ao tempo falta hoje a estrutura firme. Ele não é casa, mas um fluxo volúvel. Desintegra-se em mera sucessão de presen tes pontuais”. ¹

Essa abolição aos rituais faz com que o tempo, a temporalidade, desapareçam. Portanto, ao enxer garmos esses rostos que beiram os 60 anos, carrei ras que contam décadas de desenvolvimento e ma turidade, como os 22 anos de projetos para o skate de MOTTILAA, devemos estabelecer marcos. Afinal, seguindo com Chul Han:

Os ritos de passagem estruturam a vida como épocas do ano. Quem ultrapassa um limiar concluiu uma fase da vida e aden tra em uma nova. Limiares como passagens dão ritmo, articulam e até mesmo narram o espaço-tempo. Tornam possível uma ex periência profunda de ordem.²

Acredito que nesse momento essa apropriação do tempo é uma grande aliada do skate. O antídoto ao estigma dos que são considerados fadados a sofrer de síndrome de Peter Pan. A chave para o reconhe cimento dos que não sucumbiram às pressões, ao padrão do que é majoritariamente valorizado pela sociedade, e seguiram sua própria via.

Essa mesma relação com o tempo e o amadureci mento proporcionado pelo mesmo conduziram com preensões gradativas em diversos níveis, que le varam MOTTILAA a criativamente transpor a vergonha e a frustração por não ter tido aquele primeiro skate preto de dragão tão desejado.

1.BYUNG-CHUL

2.IBID.,P.60.

14
PORTUGUÊS
POR MARIANNA CERSOSIMO • ARTISTA, DESIGNER E PSICOTERAPEUTA. SÓCIA DE MOTTILAA NO PETIT POIS STUDIO E SUA COMPANHEIRA HÁ QUASE DUAS DÉCADAS. HAN. O DESAPARECIMENTO DOS RITUAIS: UMA TOPOLOGIA DO PRESENTE. TRADUÇÃO DE GABRIEL SALVI PHILIPSON. PETRÓPOLIS, RJ: VOZES, 2021,P.11.

Primeiro, colando adesivos para esconder a tal Lagartixa Rosa do shape Depois, seguindo em frente e continuando a desejar os próximos skates; criando pro models de forma amadora e, em segui da, de forma profissional; revisitando toda essa história e entendendo que, de fato, a Lagartixa Rosa sempre teve muito mais a ver com a sua perso nalidade bem humorada e irônica do que o próprio dragão cuspindo fogo. E, finalmente, resgatando esse dragão agressivo numa sessão de terapia e representando-o, simbolizando. Ao se perceber na própria ilustração sendo ameaçado pela criatura e se defendendo das labaredas com um escudo, em um momento seguinte, após algumas sessões, redese nhou esse dragão já domado e selado por ele mes mo, que agora montava sua fera.

Ao montar o dragão, integra sua sombra. A cada sombra ou monstro desfeito, amadurecemos e com plementamos nossa personalidade, eliminando a ingenuidade vulnerável e ignorante do Todo. Na história de Peter Pan, é justamente por não que rer amadurecer que a sombra do personagem fugia dele sempre que podia. Quando percebe que só po deria vencer o Capitão Gancho estando completo, pede a Wendy que costure sua sombra em seus pés. Com a parte astuta, dura, Peter passa a ser capaz de criar estratégias de combate.

Lagartixa Rosa está sendo lançado quando o artis ta, designer e, acima de tudo, skatista completou processos importantes para estar à vontade e sa tisfeito com suas próprias histórias e projetos, e com suas próprias histórias e projetos no mundo, publicados. À vontade com o interno e o externo.

Envelhecer e amadurecer não necessariamente acontecem na mesma proporção, mas quanto mais representatividade desses atributos houver no skate mais disruptivo será perceber que, de to das as maneiras, a diversão, a flexibilidade e o prazer podem e devem acompanhar esses processos até o fim.

15

FOREWORD

and the possibility of being a guiding culture and a lifestyle, far beyond a mere olympic sport.

Philosopher Byung Chul Han says that

“to the time today lacks the firm struc ture. It is not a house, but a fickle flow. It disintegrates in a mere succession of punctual gifts”

“Time is a young man who plays”

HERACLITE

In recent years, along with a greater apprecia tion and visibility of skateboarding, which in cluded the controversial entry into the Olympics last year, we are witnessing for the first time the maturity of a generation that has lived and still lives this scene. Big names like Christian Hosoi, Tony Hawk, Caballero, Lance Mountain, Rui Muleque, are now between 54 and 60 years old. Tony Alva, Cesinha Chaves and Come Rato are a bit over 60.

The importance of this maturity is unpreceden ted. It deconstructs a series of social prejudi ces and beliefs that hover over this universe, dis respect, marginalize and drive away investments. Who has never heard that skateboarding is some thing for children or teenagers, that it’s a phase that will be over, that it’s something related to a lost person or a vagabond and that has no futu re to anybody? As if it were totally disconnected from a counterculture and a philosophy of life. Therefore, records, contents, memory, testimonies, academic articles, theses, publications are essen tial for the strengthening, sociocultural valori zation and for supporting these trajectories and stories. All of this gives substance and strength for this mentality to be dismantled, at the same time it presents to new generations perspectives

and this abolition of rituals makes time, tempo rality, disappear. Therefore, when we see these faces that are close to 60 years old, careers that have decades of development and maturity, such as MOTTILAA’s 22 years of skateboarding projects, we must establish milestones, after all, follo wing Chul Han,

“Rites of passage structure life as seasons. Whoever crosses a threshold has comple ted a phase of life and enters a new one. Thresholds such as passages give rhythm, articulate and even narrate space-time. They make possible a profound experien ce of order”.

I believe that at this moment this appropriation of time is a great ally of skateboarding. The an tidote to the stigma of those who are considered doomed to suffer from Peter Pan syndrome and the key to the recognition of those who didn’t suc cumb to the pressures, to the standard of what is mostly valued by society, and followed their own path. This same relationship with time and the ma turation provided by it, directed gradual unders tandings that led MOTTILAA to creatively over come the shame and frustration of not having that so desired first black skateboard with a dragon, in several levels. First sticking stickers to hide the very Pink Gecko from the deck, then moving on

1.BYUNG-CHUL HAN. O DESAPARECIMENTO DOS RITUAIS: UMA TOPOLOGIA DO PRESENTE. TRADUÇÃO DE GABRIEL SALVI PHILIPSON. PETRÓPOLIS, RJ: VOZES, 2021,P.11.

2.IBID.,P.60.

16 ENGLISH

and continuing to wish for the next skateboards, then creating pro models amateurishly and then professionally, then revisiting this whole story and understanding that in fact the Pink Gecko has always had much more to do with his humorous and ironic personality than the dragon itself spit ting fire, then, finally, rescuing this aggressi ve dragon in a therapy session to represent and symbolize, noticing himself in the illustration itself as threatened by the creature when he de fended himself from the flames with a shield, to later, in another session, redraw this dragon al ready tamed and sealed by MOTTILAA himself, who was now riding his beast.

When riding the dragon, it integrates its shadow, and in each undone shadow or monster, we mature, we complement our personality, eliminating the vulnerable and ignorant naivety of the Whole. In Peter Pan’s story, it’s precisely because he didn’t want to mature that the character’s shadow ran away from him whenever it could. When he reali zes that he can only beat Captain Hook when he’s complete, he asks Wendy to sew his shadow on his feet. With the cunning, tough part, Peter becomes able to create combat strategies.

Pink Gecko is being released when the artist, de signer and above all skateboarder has completed important processes to be comfortable and satis fied with his own stories and projects, and with his own stories and projects in the world, publi shed. At ease with the internal and the external.

Aging and maturing don’t necessarily happen in the same proportion, but the more representation of these attributes there is in skateboarding, the more disruptive it will be to realize that, in any case, fun, flexibility and pleasure can and should accompany these processes until the end.

17

PEDRO BARROS DAVE DUNCAN

“O skate faz parte da minha vida desde de um ano de idade. Minha família e meus amigos são skatistas, e tudo que sou veio dessa cultura! Vi o skate como brinquedo, depois como profissão e hoje como missão. Com ele posso ajudar muita gente e fazer coisas boas no mundo!”

SKATISTA LENDÁRIO E NARRADOR DE CAMPEONATOS / SKATEBOARD LEGEND AND CHAMPIONSHIP ANNOUNCER

“Eu amo o trabalho do MOTTILAA! Tenho uma arte incrível dele há 20 anos no meu quarto na Califórnia! Vejo todas as manhãs quando acordo! Muito inspirador!”

“Skateboarding has been part of my life since I was one year old.

My family and friends are skateboarders, so everything I am came from that culture! I saw skateboarding as a toy, then as a profession and today as a mission. With it I can help a lot of people and do good things in the world!”

“I love MOTTILAA’s work!! I have an amazing art by him for 20 years in my bedroom in California! I see it every morning when I wake up! Very inspiring!!”

DEPOIMENTOS
TESTIMONIALS

FERNANDO TORELLI

“O skate, junto com o rock ‘n’ roll, me moldou!”“Aos 41 anos posso dizer que o skateboard permeou a maior parte da minha vida. Certos gostos meus, escolhas e visões de mundo foram moldados pela convivência com amigos do skate. Como Felipe, o irmão mais velho que meus pais nunca me deram. Acompanhar sua carreira de perto e ver em primeira mão tanta coisa bonita, além de ser um privilégio é algo inspirador.” “Skateboarding, along with Rock ‘n Roll , has shaped me!”

CESINHA CHAVES HECTOR SANCHEZ

“O skate foi e sempre será o grande equalizador. A cultura não conhece fronteiras políticas, nem barreiras linguísticas. Em todo o mundo, se você vir uma criança (ou alguém realmente) andando de skate, é provável que ela seja legal e possua o espírito de um aventureiro.”

“At 41 I can say that skateboarding has permeated most of my life. Certain tastes of mine, choices and worldviews were shaped by living with skateboarding friends. Like Felipe, the older brother my parents never gave me. Following his career closely, seeing so many beautiful things first hand, isn’t only a privilege but also inspiring.”

“Skateboarding has and will always be the great equalizer. The culture knows no political boundaries, no language barriers. Across the world, if you see a kid (or anyone really) skating, chances are they are cool and possess an adventurer's spirit

SKATISTA HEAD DA EPIC GAMES PUBLISHING E PRODUTOR DE VIDEO GAMES / HEAD OF EPIC GAMES PUBLISHING AND VIDEO GAME PRODUCER SKATISTA LENDÁRIO E NARRADOR DE CAMPEONATOS / SKATEBOARD LEGEND AND CHAMPIONSHIP ANNOUNCER

INTRO

A vontade de fazer esse livro é antiga, mas muitas vezes caiu por terra. Inicialmente, por achar que precisava esperar mais um pouco, ficar mais velho, juntar mais material, fazer projetos e me desen volver. Assim os anos foram passando.

Minha curiosidade e interesse sempre me fizeram ouvir e conhecer as histórias de pessoas, até mesmo desconhecidas. Li biografias ou busquei saber mais sobre as trajetórias e experiências de artistas e gente que admiro pra compreender e contextualizar suas vidas e seus trabalhos, já que acredito que tudo que vem acompanhado de uma história boa e verdadeira fica sempre muito mais interessante!

Por esse motivo, comecei a me encorajar quando me dei conta de que muito mais do que querer, simplesmente, compilar meus trabalhos e minha arte em uma publicação, eu queria também compar tilhar histórias. Como muita coisa mudou nessas duas décadas, meu senso crítico me fez questionar o quanto seria relevante mais uma narrativa da perspectiva viciada de um homem branco, classe média, nascido na região Sudeste e que sempre teve acesso ao eixo Rio-SP, como eu.

Chegamos em 2022, momento em que decidi come morar com esse livro os 22 anos de participação profissional na cena do skate, contados desde o lançamento da primeira série de shapes que criei, em 2000. Pra contextualizar esse período, fui escavando minha infância, adolescência e a forte relação que sempre tive com a ilustração e a arte, pra chegar no skate, que é grande o fio condutor do projeto.

Durante o evento STU de 2018, Tobias Sklar e Xande Marten, amigos da agência Vista Lab¹, me convidaram para fazermos juntos um livro sobre minha trajetória. Ao enxergar através deles essa vontade, me chamaram atenção pro serviço e a im portância de existirem mais referências visuais e biográficas do skate brasileiro. Assim como a necessidade da narração e o registro de um monte de histórias que precederam a internet e as redes sociais, mal possuem registros e são pouco valo rizadas — como acontece bastante com essa cena. Essa perspectiva me libertou dos pensamentos que me faziam questionar se isso não soaria como uma egotrip minha.

20
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 01
1.ESTÚDIO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING QUE FUNCIONA COMO UM POLO DE EXPRESSÃO CRIATIVA, CONECTANDO-SE A PARCEIROS PRA COCRIAR E CONTAR GRANDES HISTÓRIAS. ORIGINADA A PARTIR DA EXTINTA REVISTA VISTA, COM ENFOQUE EM SKATE, CULTURA E ARTE. FOTO: FERNANDO MENEZES JR.

Se o skate hoje é mais valorizado, muito se deve à resistência de quem fez chegar até aqui, num mer cado nacional que não movimentava grandes cifras, mas seguia em frente por questões ideológicas graças a tantos que mantiveram a chama dessa cultura acesa (mesmo que em paralelo a outras frentes pra poder ganhar a vida). Principalmente, num país como o Brasil, subdesenvolvido, desigual e com complexo de vira-lata, e se tratando de uma cultura que foi importada na década de 1970.

Falar sobre esses anos de carreira e envolvimento com o skate é pensar que ainda estamos engati nhando em relação às questões que, assustadora mente, já foram tratadas de maneiras ainda mais insuficientes e sem a consciência que temos hoje. Seja sobre o enfrentamento do racismo, machis mo, homofobia, transfobia, questões de classe e tantos tipos de preconceito em várias esferas. Me entristeço, por exemplo, com o atraso no segmento, já que mesmo com aumento no número de mulheres skatistas, ainda haja tão pouca representativida de feminina no mercado e na cena. Gostaria de ter podido narrar aqui outras histórias, marcadas por presenças femininas, trans e pessoas não binárias.

Apesar de tudo, hoje, aos 44 anos, entendi que teria que falar honestamente do passado como ele aconteceu, sem maquiar ou usar artifícios, mesmo que fosse preciso fazer considerações. Acredito que é importante lembrar, apesar do recorte, que todos esses anos fazem parte de uma linha contí nua que segue sendo construída por novas gerações e por pessoas que, como eu, estão se transforman do, revendo atitudes, se comprometendo e assumin do novas posturas. Confio que o próprio espírito questionador do skate possa continuar sendo vanguarda, seguir puxando o nível de consciência e permanecer sendo o agente de transformação que sempre foi.

Esse livro, então, é uma relação o mais extensa e diversa possível de projetos que já desenvolvi, mas também um livro sobre minha trajetória pes soal e, principalmente, sobre conexões guiadas por uma grande paixão: o skate. O plano foi contar com muita franqueza e despretensão essas histórias e experiências engraçadas, curiosas, derrotas e acertos, e as relações que não só me transformaram como geraram frutos, que resultaram nas artes que criei ao longo desses anos e me fizeram chegar até aqui. Um caminho que percorri me mantendo fiel ao que fez e faz sentido pra mim; minhas crenças e valores, que me fazem naturalmente ir me movi mentando e criando vínculos verdadeiros. Tudo com muita paixão e ótimas companhias que quis trazer pra perto, coletando e publicando depoimentos dessas tantas vozes afetivas e importantes no cenário nacional e internacional.

Concorde ou discorde, tudo isso aconteceu sem planos de negócios ou contatos meramente estra tégicos. Como diz Bate Bola: “skate é verdade”.

21
CAPÍTULO 01

INTRO

We have got to 2022, moment which I decided to celebrate with the publishing of this book the twenty-two years of professional participation in the skateboard scene, starting with the launch of the first series of decks I created, in 2000. To contextualize this period, I went digging chil dhood, adolescence and the strong relationship I’ve always had with illustration and art, to ar rive at skate, which is the main thread of this project.

The desire to write this book is old, but it has often been abandoned. Initially because I thought I needed to wait a little longer, get older, ga ther more material, make projects and develop my self. So, years went by.

My curiosity and interest have always made me listen to and get to know the stories of people, even strangers. Many times, I ended up reading biographies or seeking to know more about the trajectories and experiences of artists and peo ple I admire, as a way of understanding and con textualizing their lives and work, since I believe that everything that comes with a good and true story is always a lot more interesting!

For this reason, I started to encourage myself when I realized that much more than simply wan ting to compile my works and my art in a publica tion, I also wanted to share stories. As a lot has changed in these two decades, my critical sense made me question how relevant another narrative would be, narrative from this same biased pers pective of a white man, middle-classed, born in the Southeast and who has always had access to the Rio-SP axis, like me.

During the 2018 STU event, Tobias Sklar and Xande Marten, friends from the Vista Lab1 agency, invi ted me to write a book about my trajectory with them. Seeing this desire through them, they called my attention to the service and the importance of having more visual and biographical references of the Brazilian skate, as well as the narration and recording of a bunch of stories that often prece ded the internet and social networks. Either be cause they barely have a record or for being so undervalued – as it is often the case with this scene. This perspective freed me from the thoughts that made me wonder if that wouldn’t sound like an ‘ego-trip’ that belonged to me.

Even because, if skateboarding is more valued no wadays, a lot of it is due to the resistance of tho se who made it get here, in a national market that often did not move large numbers, but moved on for ideological reasons through so many who kept the flame of this culture lit (even if in parallel with other means to earn a living). Mainly, in he case of underdeveloped, unequal countries with inferiority complexes such as Brazil, in relation to a culture that was imported in the seventies .

22
ENGLISH
CAPÍTULO 01
1.ESTÚDIO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING QUE FUNCIONA COMO UM POLO DE EXPRESSÃO CRIATIVA, CONECTANDO-SE A PARCEIROS PRA COCRIAR E CONTAR GRANDES HISTÓRIAS. ORIGINADA A PARTIR DA EXTINTA REVISTA VISTA, COM ENFOQUE EM SKATE, CULTURA E ARTE.

Talking about these years of career and invol vement with skate, is to think that we are still very behind when it comes to those issues that have been frighteningly addressed in even more insufficient ways and without the awareness that we have got today. Whether about facing racism, sexism, homophobia, transphobia, class issues and so many types of prejudice in various spheres. The delay in the segment makes me sad, since even with the increase in the number of female skaters, the re is still so little female representation, in the market and in the scene. I wish I could have nar rated other stories here, marked by female, trans and non-binary people.

Despite everything, today, at the age of 44, I understood that I would have to speak honestly about the past as it happened, without putting on makeup or using artifices, even if I had to make some considerations. I believe that it is impor tant to remember, despite the cut, that all the se years are part of a continuous line that conti nues to be built by new generations and by people who, like me, are transforming themselves, revie wing attitudes, committing themselves and assu ming new positions. I trust that skate’s own ques tioning spirit can continue to be avant-garde, keep pulling the level of consciousness and re main being the agent of transformation that it has always been.

This book, then, is the most extensive and diver se possible list of projects that I have already developed, but also a book about my personal tra jectory and, mainly, about connections guided by a great passion: skateboarding. The plan was to tell these stories with great frankness and unpreten tiousness, and also funny, curious experiences, defeats and successes of the relationships that not only changed me but also generated fruits, which resulted in the arts that I created over the years and that made me get here. A path I follo wed remaining faithful to what has done and ma kes sense to me, my beliefs and values, which na turally make me move and create true bonds. All of it with a lot of passion and through great compa nies that I wanted to bring close, collecting and publishing testimonials from these many affecti ve and important voices in the national and in ternational scenario.

Believe it or not, all of this happened without business plans or merely strategic contacts. As Bate Bola says: “Skateboarding is true”.

23
CAPÍTULO 01

UM POUCO DE ONDE EU VIM

Não vim de família de artistas nem de pessoas que trabalhassem com a carreira que eu segui. Desde pequeno eu sabia que queria trabalhar desenhan do. Minha mãe conta que, quando eu tinha uns 4 anos, a professora da escola apontou pros meus pais que os meus desenhos eram muito desenvolvi dos, como forma de prestarem atenção e estimula rem esse meu lado.

Sou filho de Tereza, fisioterapeuta especializada em RPG, formada pelo inventor da técnica em uma das primeiras turmas do Brasil, e de Jorge, arqui teto e piloto de helicóptero, que também é for mado em Educação Física e deu aulas de natação quando mais novo. Dois anos e meio mais velho que meu irmão Carlos Gabriel, o “Gabitto”, que sempre transitou por um universo bem diferente do meu e se formou em administração, trabalhando atual mente como diretor financeiro.

Uma família de classe média, moradora do Bairro de Fátima, centro do Rio de Janeiro, até meus 8 anos de idade. Apesar de algumas vezes ter tido limitações financeiras, felizmente não posso re clamar de ter faltado alguma coisa em casa. Muito menos, amor.

Meu pai costumava pintar quadros quando era mais novo e, ao ver que me interessava, sempre me esti mulou a desenhar e pintar. Quando estava na fa culdade de arquitetura, depois de ter parado de pilotar na Amazônia pra poder acompanhar de per to meu crescimento e do meu irmão caçula, ele me chamava pra ensinar perspectiva, como fazer som bra, perceber de onde estava vindo a luz.

Meu avô Chico, pai da minha mãe, faleceu antes de eu nascer e minha vó Marina criou os dois filhos e as duas filhas sozinha, com ajuda de sua prima portuguesa, a saudosa tia Nela.

Meu falecido avô paterno, Seu Carlinhos (marido da vó Guiomar), teve infância pobre e conseguiu a proeza de se formar em advocacia aos 50 anos e se tornar um dos maiores advogados imobiliários do país. Achava muito engraçado sempre que ele me dizia que pra ele eu era “uma espécie de Walt Disney”. Nunca esqueci de um dia, na minha ado lescência, quando ele me falou uma de suas típi cas frases marcantes: “Faça coisa de louco. Tudo de louco! E eu te dou todo meu apoio!”.

24
CAPÍTULO 02 PORTUGUÊS

TARZAN, O REI DA SELVA. SÃO LOURENÇO, MG. 1981. TARZAN, THE KING OF THE JUNGLE. SAO LOURENÇO, MG. 1981.

25 CAPÍTULO 02
FOTO: JORGE MOTTA ESSA FOTO QUE MEU TIO CHICO TIROU DE MIM AOS 4 ANOS QUASE CUSTOU A VIDA DELE. PERGUNTA PRO MEU PAI. BAIRRO DE FÁTIMA, RJ.1982 THIS PHOTO THAT MY UNCLE CHICO TOOK OF ME WHEN I WAS 4 YEARS OLD ALMOST COST HIM HIS LIFE. ASK MY DAD. BAIRRO DE FÁTIMA, RJ.1982 FOTO: FRANCISCO PRADELA EXPÓSITO FAMÍLIA COM MINHA SOBRINHA CELINA RECÉM CHEGADA. 2021 FAMILY WITH MY NEWLY ARRIVED NIECE CELINA. 2021 ANIVERSÁRIO DE 1 ANO DO GABITTO. BAIRRO DE FÁTIMA, RJ. 1981. GABITTO’S 1ST BIRTHDAY. BAIRRO DE FÁTIMA, RJ. 1981.

A LITTLE ABOUT WHERE I CAME

FROM

I didn’t come from a family of artists or people who worked with the career I followed. Since I was little, I knew I wanted to work as an artist. My mo ther says that when I was about four years old, the school teacher pointed out to my parents that I had very developed drawings, as a way of paying atten tion and stimulating this side of mine.

I am the son of Tereza, a physiotherapist spe cialized in GPR (Global Postural Re-education), taught by the inventor of the technique in one of the first groups in Brazil, and of Jorge, an archi tect and helicopter pilot, who has also gradua ted in Physical Education and has taught swimming when he was young. I’m two and a half years older than Carlos Gabriel, “Gabitto”, my brother, who has always traveled through a very different uni verse from mine and has graduated in administra tion, currently working as a financial director.

A middle-class family, Bairro de Fátima resident, downtown Rio de Janeiro, until I was eight years old. Despite sometimes having financial limita tions, luckily, I can’t complain about missing so mething at home, specially love.

My father used to paint pictures when he was you nger and, seeing that I was interested, he has al ways encouraged me to draw and paint. When I was in architecture school, my father taught me pers pective, how to cast shadows, how to notice whe re the light was coming from…This all happened after he quit flying in the Amazon Forest to be able to closely monitor me and my younger bro ther’s growth.

My grandfather Chico, my mother’s father, died before I was born and my grandmother Marina rai sed two sons and two daughters alone, with the help of her Portuguese cousin, the late aunt Nela.

My late paternal grandfather, Seu Carlinhos (grandma Guiomar’s husband), had a poor childhood and achieved the feat of graduating in law at age 50 and becoming one of the greatest real esta te lawyers in the country. I found it very funny whenever he told me that for him I was “a kind of Walt Disney”. I’ve never forgotten a day, in my adolescence, when he told me one of his typical striking phrases: “Do something crazy. Everything crazy! And I give you all my support!”.

26 CAPÍTULO 02
ENGLISH

O COISINHA. BAIRRO DE FÁTIMA, RJ, 1982 THE LITTLE THING. BAIRRO DE FÁTIMA, RJ, 1982

FOTO: JORGE MOTTA

COM

FOTO: FRANCISCO COSTA

TAPA NA GAIOLA. BARREIRINHAS, MA. 1980 TAP THE CAGE. BARREIRINHAS, MA. 1980

FOTO:JORGE MOTTA

27 CAPÍTULO 02
MINHA CUNHADA BRUNA, MEU IRMÃO, MEU PAI E MINHA MÃE EM MEU CASAMENTO COM A MARI. RJ, 2017. WITH MY SISTER-IN-LAW BRUNA, MY BROTHER, MY DAD AND MY MOM AT MY WEDDING WITH MARI. RJ, 2017.

POWER SLIDE AOS 12 ANOS. GRAJAÚ, RJ. 1990.

POWER SLIDE AT 12 YEARS OLD. GRAJAÚ, RJ. 1990.

DESENHO E SKATE, PAIXÕES DE INFÂNCIA

Sou realmente grato e honrado por ter consegui do trabalhar com duas grandes paixões: o desenho e o skate. Até hoje, ver pessoas usando algum pro duto que eu ajudei a criar não tem preço! Apesar de quando moleque sonhar em fazer parte do time de uma marca que eu curtisse, ainda cedo enten di que não tinha habilidade no skate suficien te pra conseguir patrocínio algum. Desde criança me apaixonei pelo skate, e, como sempre fui apai xonado por desenhar, acho que seria mesmo um ca minho natural querer unir os dois mundos. Acabei estreitando laços com revistas da área e, depois, com algumas marcas que admiro. Posso dizer que, de uma certa forma, aquela vontade de fazer par te do time de uma marca como profissional acabou acontecendo. Não do jeito que inicialmente imagi nei, mas colaborando através do meu ofício: do de sign e da arte.

Sempre andei por diversão, por mais que, às ve zes, ainda moleque devaneasse como seria ser pro fissional. O skate se tornou cada vez mais minha válvula de escape, em que a única cobrança sobre meu desempenho era minha, comigo mesmo. Não andei tal dia o quanto gostaria de ter andado? Problema todo meu. Com o passar do tempo, cada vez mais entendi o quanto poder estar minimamente dando um impulso já é motivo suficiente pra ser grato. Fernando Torelly, grande amigo meu e uma das mi nhas maiores inspirações na arte, quando adoles cente teve um problema na coluna. Não só parou de andar de skate como parou também de andar. Certa vez, ele me contou que sonha praticamente todas as noites que tá andando de skate. É desses tapas na cara que a gente toma, e precisa tomar, pra amadu recer nossa percepção sobre a realidade. Desde en tão, passei a entender que mesmo aqueles dias que não “rendem” já são uma grande benção simples mente por poder estar em cima do skate.

28
CAPÍTULO 03
PORTUGUÊS

DRAWINGS, SKATEBOARDING AND CHILHOOD PASSIONS

I’m really grateful and honored to have been able to work with 2 great passions: drawing and skate boarding. To this day, seeing people using a pro duct I helped create is priceless! Although when I was a kid I used to dream of being part of the team of a brand that I liked, I soon understood that I didn’t have enough skateboarding skills to get any sponsorship. Since I was a child I fell in love with skateboarding, and, as I’ve always been passionate about drawing, I think it would really be a natural path to want to unite the two worlds. I ended up strengthening ties with magazines in the area and then with some brands that I admire and I can say that in a certain way, that desire to be part of a brand’s team as a professional ended up happening. Not in the way I initially imagined, but collaborating through my work: design and art.

I’ve always skated for fun, as much as I someti mes dreamed of what it would be like to be a pro fessional, skateboarding became more and more my escape, where the only judgement about my per formance was with myself. Have I not skated that day as much as I wish I had? It’s my own busi ness. As time went by, I increasingly understood how being able to be minimally giving a boost is reason enough to be grateful. Fernando Torelly, a great friend of mine and one of my biggest ins pirations in art, as a teenager he had a problem on his spine and not only stopped skateboarding but also stopped walking. He once told me that he dreams practically every night that he is skate boarding. Sometimes we need those slaps in the face in order to mature our perception of rea lity. Since then, I’ve come to understand that even those days that seem not to pay off are a great blessing, simply for being able to be the skate… or walking.

29
AUTO RETRATO POR VOLTA DOS 4 ANOS. SELF PORTRAIT AROUND AGE 4
CAPÍTULO 03 ENGLISH

Morei até os 8 anos de idade no Bairro de Fátima, centro do Rio, que nos anos 1980 era um lugar que, volta e meia, tinha alguma confusão nos arredores. Por isso, eu não era de ficar solto na rua, e, como quase não moravam crianças no prédio, as brin cadeiras ficavam limitadas. Em compensação, meus pais moravam no mesmo andar que minha vó Marina. Logo na entrada de seu apartamento ficava uma es crivaninha antiga de madeira com gavetas, um xodó muito usado pelo meu avô materno Chico, que, in felizmente, não cheguei a conhecer. Ali era um oá sis: sempre com muito papel, canetas, lápis, gram peador, cola…

O BAIRRO DE FÁTIMA E A ESCRIVANINHA DO VÔ CHICO

Eu devia ter só uns 4 anos e já gostava demais de ficar um tempão sentado, completamente imer so no meu mundo, desenhando e fazendo revisti nhas de folhas de ofício dobradas e grampeadas. Até hoje tenho algumas guardadas, como uma do He-Man que fiz aos 6 anos. Como meu pai pintava quadros na sua juventude, volta e meia ele me en sinava algo, mostrava alguma coisa, alguma pos sibilidade. Sempre um estímulo. Uma das memórias dessa época é um quadrinho que fica na casa dos meus pais, pintado por nós dois com aquarela, em 1984. Me lembro muito bem do meu pai e eu senta dos no chão, pintando apoiados na mesinha de cen tro da sala.

Segui sempre desenhando muito. Durante a infân cia e adolescência fiz muitas histórias em qua drinhos, com uma “produção” pesada em quantida de (eu disse quantidade!). Até me assustei com esse volume, revendo recentemente as pastas que guar do. Fazer sátiras com personagens era das coisas que mais gostava, muito por influência da extin ta revista Mad, da qual eu era consumidor voraz. Por pura diversão, criei quadrinhos como “Bambo” (um Rambo fraco), “Comando Sem Calção” (zoando os G.I Joe, que foi lançado, no Brasil, com o “ma ravilhoso” nome Comandos em Ação), “He-Mel” (um He-Man esquálido), “CEATarugas Ninja” (trans formando meus amigos do colégio em versões das Tartarugas Ninja), “UltraMoura” (versão Ultraman do meu amigo Tiago Moura) ou “Surfista Metálico” (inspirado num cara que vi uma vez no condomínio onde minha vó Marina tinha casa, em Araruama).

Acredito que esses momentos de estímulo e afe to, e também os muitos momentos sozinho, sentado e desenhando compenetrado naquela escrivaninha, contribuíram muito pra alimentar essa necessida de que eu tenho de estar sempre criando meu pró prio mundo, com personagens e os seres que habi tam a minha mente.

30
CAPÍTULO 04 PORTUGUÊS

I lived in Bairro de Fátima, until I was eight years old in downtown Rio, in the eighties it was a place that every now and then things could go violent. So I wasn’t the kind of boy to be “stray” on the streets, and since there were almost no children in the building, games and plays were li mited. On the other hand, my parents used to live on the same floor as my grandmother Marina did. And right at the entrance of her apartment there was an old and cherished wooden desk with drawers that belonged to my maternal grandfather Chico and he used a lot but, unfortunately, I didn’t get to know him. It was an oasis: there were always lots of paper, pens, pencils, staplers, glue…

BAIRRO DE FÁTIMA AND GRAMPA CHICO’S DESK

I must have been only four years old and I already used to like sitting around for a long time, com pletely immersed in my world, drawing and making these little comic books out of folded and sta pled craft sheets. To this day I have some of them saved, like one of the He-Man I made when I was six years old. As my father painted pictures in his youth, every now and then he would come and tea ch me something, show me something, some possi bility. It was always a stimulus. One of the memo ries of that time is a comic that is in my parents’ house, painted by the two of us with watercolor, in 1984. I remember very well when my father and I sat on the floor, painting while leaning on the living room table.

I’ve always kept drawing a lot, and during my childhood and adolescence I made a ton of comic books with a heavy “production” in quantity (I said quantity!). I even got scared with this volu me, recently reviewing the folders I keep. Making satires with characters was one of my favori te things, largely due to the influence of the late Mad magazine, I was a voracious consumer of it. For pure fun I created comics like Bambo (a weak Rambo), Comando Sem Calção (mocking the GI Joe, in Brazil released as the “wonderful” name Comandos em Ação), He-Mel (a squalid He-Man), CEATarugas Ninja (turning my high school friends into versions of Ninja Turtles), UltraMoura (Ultraman version of my friend Tiago Moura) or Metallic Surfer (inspired by a guy I once saw in the condo where my grandmother Marina used to have a house, in Araruama).

I really believe that these moments of stimu lation and affection and also the many moments alone, sitting and drawing intently on that desk, contributed a lot to feed this need I have of al ways being creating my own world, with characters and beings that inhabit my mind.

31
CAPÍTULO 04 ENGLISH
WATERCOLOR MADE
I WAS 6 YEARS OLD TOGETHER WITH MY DAD.
AQUARELA FEITA AOS 6 ANOS JUNTO COM MEU PAI.
WHEN

“QUERO UM SKATE COM UM DRAGÃO!”

Eu tinha uns 8 anos de idade quando meus pais me levaram, junto com meu irmão Gabitto, pra uma exposição no MEC (Ministério da Educação e Cultura), no Palácio Capanema, no Centro do Rio, uma obra de arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, dentre outros, do final dos anos 1940. Dos janelões do 2º andar, vi uma cena que me hip notizou: um grupo andando de skate no pátio do térreo. Naquele momento, ainda não sabia, mas es tavam fazendo freestyle. É a lembrança que tenho do meu primeiro contato ao vivo com algo que mu daria minha vida.

Pouco antes disso, aos 7 anos, assisti “De Volta para o Futuro”. Aquela clássica cena do Marty McFly de skate, pegando carona agarrado em um carro, foi inesquecível pra mim e pra muitas crianças da minha geração. Aquilo não saiu da mi nha cabeça! O que me fez pouco tempo depois pedir um skate de natal pra minha avó materna, Marina. Tio Chico, meu padrinho, que ia pro Paraguai pra trazer umas muambas pra vender, iria comprar meu presente na viagem. Até hoje me lembro do meu pedido categórico: “Quero um skate com um dra gão!”. Sonhava com um skate com aqueles desenhos bem agressivos, de preferência um preto com o tal dragão diabólico, cuspindo fogo, rodas rosa-cho que ou verde neon — bem na paleta e a estética da Powell Peralta.

A espera foi longa. Quando ele voltou de viagem, escondeu meu presente até o Natal — mas confir mou que meu skate tinha um dragão sim! Enfim che gou o tão esperado dia e, pra minha surpresa/ frustração, ao desembrulhar o presente descobri que se tratava de um skate branco. Pra piorar, com o desenho de um bicho esquisito que mais pare cia uma lagartixa rosa, com direito a mullet loi ro, óculos escuros, surfando de chinelo num skati nho todo torto… E ainda tinha mais: o desenho se repetia também na parte superior do shape, onde vai a lixa. Que derrota! Foi exatamente o que sen ti naquele dia… Inclusive, por um tempo cheguei a cogitar chamar esse livro de “Que derrota!”, mas

acabei abandonando a ideia. Apesar de saber que o ser humano gosta de um título polêmico, e que iria atrair curiosos, preferi espantar pra lá essa fre quência de mau agouro!

Absolutamente desolado com meu skate branco de lagartixa rosa, ficava imaginando como seria che gar num lugar em que todo mundo portasse shapes com dragões, caveiras com cobras saindo da boca e monstros gosmentos com os olhos saltando pra fora da cara, e eu com o meu… Decidi cobrir toda parte de baixo com adesivos, mas por algum moti vo lembro que acabei deixando a lagartixa rosa da parte de cima. Logo a que eu mais via, vai en tender, ficou intacta. Quando percebi, já tinha me afeiçoado à tal criatura esquisita. Curioso que há pouco tempo dois amigos, o Felipe “Flip” Yung e Torelly, viram uma foto do gráfi co original do shape e os dois falaram: “Isso é um canguru!”. O pior é que faz sentido mesmo ser um canguru mal-feito. Mas como desde a primeira vez que bati o olho vi uma Lagartixa Rosa, pra mim se gue sendo até hoje!

Pode até soar como positivismo barato, mas aque le personagem estranho estampado no meu primei ríssimo skate, de certa forma, me ensinou desde moleque a não levar as coisas, nem a mim mesmo, tão a sério. Não seria um dragão macabro que me faria ser bem aceito. Me virei com o que tinha, e achar graça daquela situação acabou sendo uma li ção pra vida.

A grande ironia do destino é que, apesar de ad mirar até hoje a estética que predominava no ska te dos anos 1980, parece que foi justamente a tal “Lagartixa Rosa” que anunciou meu caminho gráfi co como designer e ilustrador, já dialogando com o tom descontraído e bem-humorado do meu traba lho e da minha personalidade.

32
PORTUGUÊS CAPÍTULO 05
33 CAPÍTULO 05

I was about eight years old when my parents took me, along with my brother Gabitto, to an exhibi tion in MEC – Ministry of Education and Culture, at ‘Palácio Capanema’ downtown Rio, it was a pro ject that belonged to architects such as Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, among others from the late forties. On the 2nd floor, through the windows, I saw a scene that mesmerized me: a group that was skateboarding on the ground floor patio. At that moment I still didn’t know, but they were doing freestyle. It’s the memory I have of my first live contact with something that would change my life.

Just before that, at age 7, I watched “Back to the Future” and that classic scene of Marty McFly on a skate, hitchhiking in a car, it was unforgettable for me and for many children of that generation. That didn’t get out of my mind! A short time later, that made me ask my maternal grandmother, Marina, for a Christmas gift – a skateboard. Uncle Chico traveled to Paraguay to bring some goods to sell, and he would also buy my gift on the trip. To this day I remember my categorical request : “I want a skateboard with a dragon!”. I dreamed of a skate board with those very aggressive graphics, prefe rably a black one with that devilish dragon, spit ting fire, hot pink or neon green wheels – right the way it is in the palette and aesthetics of Powell Peralta.

The wait was long. When he returned from his trip, he hid my gift until the Christmas’ Eve, but he confirmed that my skateboard did have a dragon! Finally, the long-awaited day arrived and, to my surprise/frustration, unwrapping the gift I dis covered that it was a white skateboard. To make matters worse, there was the design of a weird animal that looked more like a pink gecko, com pleted with a blonde mullet , sunglasses, surfing on flip-flops on a crooked little skateboard… and there was even more: the design was also on the upper part of the deck, where the sandpaper goes. What a defeat! It was exactly what I felt that day… I even considered for a while to call this

book: “What a defeat!”, but I ended up abando ning the idea, even though that people like con troversial headlines and that it would attract curious people, I decided I didn’t want to summon any negativity.

Absolutely desolate with my white pink gecko ska teboard, I kept imagining what it would be like to get to a place where everyone had decks with dra gons, skulls with snakes coming out of their mou ths and gooey monsters with their eyes popping out of their faces and I… with mine… I decided to cover the entire bottom with stickers, but for some reason I remember that I ended up leaving the pink gecko on top, so it was the one I saw the most, go figure, it was intact. When I reali zed, I had already become attached to that stran ge creature.

It’s curious that, recently, 2 friends (Felipe ‘Flip’ Yung and Torelly) saw a photo of the ori ginal graphic and both said: “that’s a kangaroo!”. It actually really makes sense to be a poorly made kangaroo, but since the first time I’ve laid my eyes on it I saw a pink gecko, for me it still is a pink gecko!

It may even sound like poor positivism, but that strange character stamped on my very first skate, in some way taught me not to take things, (or my self), so seriously. It wouldn’t be a badass dra gon that would make me welcome. I made do with what I had, and laughing at it ended up being a life lesson.

The great irony of fate is that, despite admiring the aesthetics that predominated in skate in the eighties, it seems that it was precisely that “Pink Gecko” that announced my graphic path as a de signer and illustrator, dialoguing already with the relaxed and humorous tone of my work and my personality.

34
CAPÍTULO 05 ENGLISH
“I WANT A SKATEBOARD WITH A DRAGON!”
35 CAPÍTULO 05 TIO CHICO VESTINDO A CAMISETA DA POLÊMICA FOTO QUE ELE FEZ MINHA AOS 4 ANOS E QUE ENFURECEU MEU PAI. UNCLE CHICO WEARING THE SHIRT OF THE CONTROVERSIAL PHOTO HE TOOK OF ME WHEN I WAS 4 YEARS OLD AND MADE MY DAD MAD.

A LAGARTIXA ROSA

THE PINK GECKO

Na única foto que tenho com meu primeiro skate, em que aparece a “Lagartixa Rosa” na parte supe rior do shape, o desenho tá desfocado. Desventuras típicas de uma infância nos anos 1980 com fil mes de 12 poses, câmeras analógicas e fotos sur preendentes, decepcionantes ou surpreendentemen te decepcionantes como essa! Por sorte, depois de algumas buscas pela internet, pra minha surpre sa encontrei algumas poucas imagens de um skate igual e pude rever a arte.

Na parte de baixo do shape havia uma versão mais completa com a frase “Off The Wall” — que, apesar de ser o slogan da Vans, foi usado de forma nonsen se mesmo sem ter nenhuma relação com a marca, tí pico caso dos plágios dos anos 1980, terra sem lei.

Desde o início desse projeto, minha ideia era re desenhar literalmente o personagem com meu traço, mas, por questões de direitos autorais, declinei.

Foi então que veio a ideia de fazer uma interpre tação do personagem. Como se minha versão crian ça estivesse descrevendo o tal skate da “Lagartixa Rosa” que agora está sendo representado por mim, já adulto. Um encontro dessas duas versões de mim mesmo atravessando o espaço-tempo.

I have only one photo with my first skate, where the “Pink Gecko” is shown at the top of the deck, but the image is blury. Typical misadventures of a childhood in the eighties with 12-shot films, analog cameras and surprising, disappointing or surprisingly disappointing photos like this one! Luckily, after some internet searches, to my sur prise, I found a few images of a similar skate and I was able to review the art.

On the bottom of the deck there was a more com plete version with the phrase “ Off The Wall ” –which, in spite of being the VANS slogan , was used in a nonsense way, even without having any rela tionship with the brand, typical case of plagia rism in the eighties, land with no law.

Since the beginning of this project, my idea was to literally redesign the character my style, but, due to copyright issues, I declined.

Then, that idea of making an interpretation of the character came up, as if my child version were describing what the “Pink Gecko” skateboard was like, and being represented by me, as an adult. A meeting of these 2 versions of myself crossing space-time.

36 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 06 ENGLISH
37

Quando completei 8 anos de idade (1986), nos mu damos do Bairro de Fátima pro Grajaú, Zona Norte do Rio. Quem conhece a área talvez diga que o nú mero 933 da Rua Barão de Mesquita não fica no Grajaú, e sim Andaraí. Segundo o IPTU, ali é o primeiro quarteirão do Grajaú, por isso brinco que é “Grajaí” ou “Andaraú”. Diferente de onde morávamos, esse novo prédio tinha um playgrou nd. Logo que chegamos olhei pra parte descober ta do play e, da varanda do 7º andar, vi um monte de crianças brincando. Uma delas olhou pra cima, me viu e me chamou pra descer. Começava ali uma nova fase.

Aos 9 anos, quando fui agraciado com a Lagartixa Rosa, foi o começo de uma “onda’’, não só na mi nha vida, como no prédio. Eu tinha o costume de levar um micro system pro playground e colocar Technotronic pra tocar até a fita cassete embolar. A grande diferença aconteceu quando essa “onda” do skate passou e eu não parei. Já tinha me apai xonado. Cheguei a fazer umas edições de um zine do prédio, contando o que estava rolando, e, princi palmente, incentivando a molecada a não parar de andar de skate e falando desse universo.

A partir de então, as únicas vezes que fiquei me ses sem andar foram as em que me machuquei ou, re centemente, na fase mais crítica da pandemia, no começo de 2020.

O 933 era um prédio recheado de crianças e, como de praxe, todo mundo tinha apelido: Alexandre “Drudal”, Celo “Montanha”, Léo “Chucrute”, Gabriel “Kagada”, Léozinho “Liossino Putton” e eu “Sama”, não me perguntem o porquê desse apelido.

Junto com o Léo, inventamos que éramos “Lolilo e Canhonho: os agentes-biscates” (eu era o “Canhonho”, mais uma vez não me perguntem o por quê). Nossa ilusão era fazer algum trocado pra gastar. Um dos “serviços” oferecidos era o de “in vestigação” pra tentar solucionar algum mistério no prédio como detetives mirins. Foi um sucesso total, e eu e Lolilo (ninguém chama ele assim, mas o telefone dele na minha agenda de contatos é Leo “Lolilo”) ganhamos muito dinheiro, pra não dizer o contrário: fizemos xerox de panfletos pra colo car nas caixas de correspondência do prédio, mas até hoje (uns 35 anos depois) nunca recebemos ne nhuma proposta de trabalho/biscate.

Rompendo as fronteiras do prédio, meus pais começaram a me levar na pista do Tanque, em Jacarepaguá, onde cheguei a comemorar meus ani versários de 11 e 12 anos com toda a molecada do 933. Lembranças muito boas da minha infância! Por 16 anos moramos nesse endereço, onde fiz amizades que duram até hoje.

38
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 07
ANDARAÚ/ GRAJAÍ 933

When I turned into 8 years old (1986), we mo ved from Bairro de Fátima to Grajaú, North side of Rio. Those who know the area might say that number 933, Barão de Mesquita Street, is not in Grajaú, but in Andaraí. When you look at the map, it’s the first block of Grajaú, so, because of it, I make a pun: “Grajaí” or “Andaraú”. Different from the place we used to live, there was a playground in this new building. As soon as we arrived, I loo ked at the open play area and, from the 7th floor balcony, I saw a lot of children playing. One of them looked up, saw me and invited me to go down. A new phase began there.

When I was nine years old, when I got the Pink Gecko, it was the beginning of a “wave”, not only in my life, but also in the building. I used to take a micro system to the playground and played Technotronic until the cassette tape got tangled up. The big difference happened when this skate board “wave” went by and I didn’t quit it; I had already fallen in love. I even made some editions of a zine of the building, writing about what was going on, mainly encouraging kids not to stop ska teboarding and talking about this universe.

From then on, the only times I spent months wi thout skating were when I was injured or, re cently, during the most critical phase of the pan demic, at the beginning of 2020.

Number 933 was a building that was full of children and, as usual, everyone had a nick name: Alexandre “Drudal”, Celo “Montanha”, Léo “Sauerkraut”, Gabriel “Kagada”, Léozinho “Liossino Putton” and I - “Sama”, Don’t ask me why my nickname was that.

Together with Léo, we pretended to be “Lolilo and Canhonho: the odd jobs agents” (I was “Canhonho”, once again don’t ask me why). Our illusion was to make some money to spend. One of the “services” we offered was “investigation”, in order to try to solve some mystery in the building, like “chil dish” detectives. It was a” total success”, and, Lolilo and I (nobody calls him that, but his pho ne number on my tcontacts is “Leo Lolilo”). We xeroxed pamphlets to put in the mailboxes of the apartments, but until now (about 35 years later) we have never received any job/odd jobs offers.

Breaking through the boundaries of the buil ding, my parents started taking me to the Tanque Skatepark, in Jacarepaguá, where I celebrated my 11th and 12th birthdays with all the kids who li ved in 933. Very good memories of my childhood! For 16 years we have lived in this address, where I made friendships that last until today.

39 CAPÍTULO 07
ENGLISH ANDARAÚ/ GRAJAÍ 933
40 CAPÍTULO 07
41 CAPÍTULO 07
DRIGO, DRUDAL, EU, RAFFA E GABITTO NO MEU ANIVERSÁRIO DE 1 ANOS NA PISTA DO TANQUE, RJ. 1989. DRIGO, DRUDAL, RAFFA AND GABITTO ON MY 11 YEARS OLD BIRTHDAY AT TANQUE SKATEPARK, RJ. 1989

DEPOIS DA LAGARTIXA ROSA, O BONECO DE PANO

AFTER THE PINK GECKO, THE RAG DOLL

Dois anos depois (1989), minha vó Marina viajou pros Estados Unidos pra visitar minha tia (e ma drinha) Anginha, que mora desde 1980 em Boston. Dessa vez, já bem mais entendido, pedi de aniver sário o que tinha virado um sonho meu: um Powell Peralta completo! Que era como ganhar as chaves de um carro de luxo com 11 anos de idade. Dessa vez era certo vir, finalmente, um shape com o dragão do Caballero ou um McGill com uma cobra sain do da boca da caveira. Não deu outra: de novo ga nhei um skate branco, agora com um boneco-de-pa no-com-boné! Era o primeiro model do Ray Barbee, desenhado pelo Sean Cliver, que, com esse gráfico, quebrou o padrão dos tais gráficos clássicos de caveiras e dragões feitos por V. Courtlant. Era a nova década chegando, trazendo o começo dos grá ficos mais bem humorados não só na Powell, como no universo do skate. Mais uma vez, mesmo contra riado, o destino selou minha trajetória!

Foi através do shape que fui “conhecer” o Ray Barbee e comecei a buscar mais sobre ele. Lembro que vi uma foto de boné amarelo com aba curva, sorriso no rosto e me identifiquei de cara com a figura dele, sem aquela marra comum de tantos profissionais da época. Logo depois assisti a sua parte no vídeo “Ban This”, da Powell Peralta, que passou no programa “Vibração”, apresentado pelo Cesinha Chaves. De tão interessado, cheguei a es crever uma carta pro programa (que não enviei não sei o porquê) pedindo pra rever a parte do Ray Barbee.

Two years later (1989), my grandmother Marina traveled to the United States to visit my aunt (and godmother) Anginha, who has lived in Boston since 1980. This time, now much more “experi enced”, I asked her to bring me what had become a dream of mine for my birthday: a “Powell Peralta” complete, which was like winning the keys of a luxury car at the age of eleven. This time I was certain that I’d finally get what I asked for - a skateboard with Caballero’s dragon or a McGill with a snake coming out of the skull’s mouth. However, the very thing happened again: I got a white skateboard, this time a rag doll with a cap! It was the first model of Ray Barbee, designed by Sean Cliver, who, with this graphic, broke the pattern of such classic graphics of skulls and dragons made by V. Courtlant . It was the new de cade coming, bringing the beginning of more hu morous graphics, not only in Powell, but in the Skate universe. And, once again, despite my discon tent, fate sealed my path!

It was through the deck that I got to know Ray Barbee, and started looking for more about him. I remember seeing a picture of him wearing a yellow cap with a curved brim, a smile on his face and I immediately got attached with his figure, without that common force of so many professionals at the time. Soon after it, I came to watch his part in the video “Ban This”, by Powell Peralta, which was shown on the Vibração tv show hosted by Cesinha Chaves. I was so interested that I even wrote a letter to the show (which I didn’t send, I don’t know why) asking to rewatch Ray Barbee’s part.

42
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 08
ENGLISH
43 CAPÍTULO 08

BUSCANDO INFORMAÇÃO

No finalzinho dos anos 1980 e na chegada da dé cada de 1990, morar fora de São Paulo significa va receber atrasado as notícias do que estava ro lando de mais atual. São Paulo sempre foi o maior mercado de Skate no Brasil, isso é fato. Mesmo mo rando no Rio, num tempo obviamente sem as faci lidades da internet, buscar informação pra mim significava assistir o Vibração nos fins de tar de ou acompanhar as revistas Skatin e Overall. Me lembro de ser fissurado nas artes dos shapes da Lifestyle, Urgh! e Anarquia! que o Billy Argel criava e de também acompanhar com atenção os quadrinhos do Speto na Skatin

Eu era fã da marca Anarquia! e do personagem Agente Dum Dum, uma silhueta de chapéu. Por isso, costumava enviar carta para marca com desenhos e falando que era fã, só pra ter a alegria de rece ber de volta um envelope com adesivos, mini-pôs teres assinados para “Canhonho”, o tal apelido de “agente-biscate” do prédio, que nunca empla cou, graças à Deus… De tanto que curtia desenhar o Agente Dum Dum, uma vez decidi me empenhar e pro duzir uma história em quadrinhos de 3 páginas que enviaria pra marca, não fosse a ventania que bateu e levou as folhas pela janela do 7º andar! Eu ti nha uns 11 anos e lembro de meu pai descer comi go nas redondezas do prédio tentando achar as fo lhas. Mas nada feito. Perdi mesmo e fiquei só com o choro de frustração como lembrança.

Nessa fase em que as revistas se tornaram um dos objetos de desejo, vez por outra eu conseguia di nheiro com meus pais para comprar uma revis ta Thrasher em algumas das poucas bancas de jor nal que importavam essas publicações. Folheava e devorava as páginas analisando cada foto e cada anúncio. ”Estudava” os shapes, as roupas e os tê nis que os skatistas usavam.

Enviei um envelope todo desenhado pra Thrasher e, pra minha surpresa, o envelope foi publicado! Isso aconteceu poucos meses antes da minha pri meira colaboração na CemporcentoSkate ser publi cada, em 1995. Então, a 1ª arte que tive publicada na vida foi logo na bíblia do Skate. E pra feli cidade ser maior, o envelope foi também publica do no livro “Maildrop”, dedicado só aos clássi cos envelopes enviados por leitores da revista ao longo de 38 anos de publicação.

À medida que fui crescendo e chegando na adolescên cia, minha bagagem visual e cultural já era mais apro fundada e a busca por informação em revistas, dis cos e vídeos era um verdadeiro garimpo compartilhado com os amigos, e com os novos amigos que iam surgin do por compartilharem dos mesmos interesses. Esse es cambo e compartilhamento de informação (e muitas ve zes de peças de Skate, tênis e roupas) que aconteceu nos anos 1990 criou muitas pontes e contribuiu muito para a formação de muita gente que mergulhou a fundo não só no universo do Skate dessa época, como da cul tura independente. Essa busca por referências em for ma de música, vídeos e revistas era constante e apesar de muita coisa ter sido mais difícil e escassa, também por isso tinham gosto e valor especiais. Promoveram muitas trocas, conexões pessoais reais e construções que pavimentaram muito do que veio a se desenrolar, pessoal e profissionalmente, pra tanta gente.

Quem viveu o Skate dessa era, sabe bem como o norte-americano “411 video magazine” , de 1993, foi absolutamente revolucionário. No Brasil, por um bom tempo tivemos edições também do “Silly Society”, feito pelo Cris Matheus e Alexandre Vianna e lançado no mesmo ano. Tudo em VHS, o que significava que a cópia da fita matriz já sairia com qualidade inferior à original. Quem viajava pra fora ou tinha oportunidade de conseguir um vídeo original (em VHS), emprestava a fita e essa era copiada várias vezes, gerando cópias das có pias. O mesmo acontecia com fitas cassete e pos teriormente com CDs.

44 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 09
45 CAPÍTULO 09
MINI POSTER DA MARCA ANARQUIA! ANARQUIA! BRAND MINI POSTER. DESENHO DO AGENTE DUM DUM. AGENT DUM DUM DRAWING. CARTA PRA THRASHER, AGOSTO DE 1995. LETTER FOR THRASHER, AUGUST 1995. DESENHO DO AGENTE DUM DUM. AGENT DUM DUM DRAWING.
46 CAPÍTULO 09
BAIRRO DE FÁTIMA, RJ, 1989. ANÚNCIO DA MARCA LIFESTYLE COM RUI MULEQUE. LIFESTYLE BRAND ADVERTISEMENT WITH RUI MULEQUE. SPETO PRA REVISTA SKATIN. SPETO FOR SKATIN MAGAZINE.

SEEKING INFORMATION

At the end of the eighties and at the beginning of the nineties, living outside São Paulo meant get ting late news of the most current happenings. São Paulo has always been the biggest skateboard mar ket in Brazil, that’s for sure. Even though I lived in Rio, at a time obviously without the facilities of internet, looking for information, for me, meant watching Vibração in the evenings or reading the magazines Skatin and Overall. I remember being ob sessed with the deck arts of Lifestyle, Urgh! And Anarquia! The one Billy Argel used to create. I also followed Speto’s comics on Skatin closely.

I was a fan of the Anarquia! brand and of the character Dum Dum Agent, a silhouette in a hat. That’s why used I to send letters to office of the brand with drawings, and also saying that I was a fan, just to have the joy of receiving back an envelope with stickers, autographed mini-post ers to “Canhonho”, the so-called “job agent” of the building, who never made it, thank God… Since I enjoyed drawing Dum Dum Agent so much, I once decided to commit myself and produce a 3-page comic book that I would send to the brand, if it weren’t for the wind that blew and threw the pa pers through the window of the 7th floor! I was about 11 years old and I remember my father go ing around the building with me trying to find the papers. But nothing done. I really lost it and was left only with the frustration cry as memory.

In this phase, when magazines became one of the wished objects, I got money from my parents to buy a copy of Thrasher magazine at some of the few newsstands that imported these publications occasionally. I used to browse and devour the pag es, analyzing each photo and each ad. I used to “study” the decks, clothes and sneakers that skat ers used to wear.

I sent an over doodled envelope to Thrasher and, to my surprise, the envelope was published! This happened a few months before my first collabo ration with CemporcentoSkate was published, in

1995. So, the first art I had published in my life was right in the skate bible. And to make my hap piness even more eventful, the envelope was also published in the “Maildrop” book, dedicated only to the classic envelopes sent by readers of the magazine over 38 years of publication.

As I grew up and reached adolescence, my visual and cultural background was already deeper and the search for information in magazines, records and videos was a true mining shared with friends, and with the new friends that were emerging for sharing the same interests. This exchange and sharing of information (and often of skateboard parts, sneakers and clothes), that took place in the nineties, created many bridges and contrib uted a lot to the formation of many people who deeply delved not only into the skate universe of that time, but also of the independent culture scene. This search for references in the form of music, videos and magazines was constant. Because many things were scarce and more difficult, ev erything had special taste and value. They pro moted many exchanges, real personal connections and constructions that paved the way for much of what came to happen, personally and profession ally, for so many people.

Anyone who has lived the Skate of that era knows well how the North American “411 video maga zine”, from 1993, was absolutely revolutionary. In Brazil, for a long time we also used to have edi tions of “Silly Society”, made by Cris Matheus and Alexandre Vianna and, published in the same year. All in VHS, which meant that the copy of the master tape would already come out with low er quality than the original. Those who traveled abroad or had the opportunity to obtain an orig inal video, used to lend the tape, which was cop ied several times, generating copies of copies. The same happened with cassette tapes and, lat er, with CDs.

47
CAPÍTULO 09 ENGLISH

CEAT

Aos 4 anos entrei no colégio, o Centro Educacional Anísio Teixeira, uma incrível escola humanizadora e comprometida com a formação de cidadãos crí ticos. Estudei lá até me formar no 2º grau (ensino médio) e tenho saudades daquele tempo. O colégio é localizado em uma área dentro da Floresta da Tijuca e ocupa uma construção histórica: um cas telo estilo florentino, de 1949, em Santa Teresa. O bairro, de onde se avista boa parte da cidade, é famoso por ser residência de muitos artistas.

Apesar de adorar a escola, acabei repetindo dois anos, muito por conta da minha mania de estar sempre desenhando. No 3º ano, por exemplo, aos poucos fui me apossando de um dos dois murais da sala onde estudava. Ali, acabei montando pratica mente uma exposição fixa de caricaturas e char ges que retratavam alunos e professores em situa ções engraçadas. Era comum eu voltar do recreio e ter gente de outras turmas na sala, de frente pro mural, vendo e rindo.

Apesar de meu desempenho na escola infelizmente ter sido, muitas vezes, um fiasco, o CEAT foi muito importante na minha formação pessoal. Importante também por ter me proporcionado grandes amiza des que cultivo até hoje e por ter me apresentado a Mari, minha companheira que, apesar de ser cin co anos mais nova, também esbarrava comigo pelos corredores enquanto éramos alunos. Só fomos nos reencontrar seis anos depois de eu ter me forma do no ensino médio.

At the age of 4 I went to school, Anísio Teixeira Educational Center, an incredible humanizing school committed to the formation of critical citizens. I studied there until I finished high school, and I miss that time. The school is located in an area within the Tijuca Forest and occupies a historic building: a 1949 Florentine-style castle in Santa Teresa. The neighborhood, from where you can see a good part of the city, is famous for be ing the residence of many artists.

Despite loving school, I ended up repeating two years, mostly because of my habit of always draw ing. In the 3rd year, for example, I gradually took possession of one of the two murals in the room where I studied, and I ended up putting togeth er practically a fixed exhibition of caricatures and cartoons that portrayed students and teachers in funny situations. There were people from oth er classes in the room, facing the mural, watch ing and laughing - something that was common to me when I would come back from break. Although my performance at school has unfortunately often been a failure, CEAT was very important in my for mation as a person. It was also important for pro viding me with great friendships that I cultivate to this day, and for introducing me to Mari, my partner who, in spite of being five years younger, also bumped into me in the hallways while we were students. We didn’t meet again until six years af ter I finished high school.

48 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 10 ENGLISH
49 CAPÍTULO 10
NO COLÉGIO,1995. POSTER FOR SCHOOL PARTY, 1995
CARTAZ
PRA FESTA

PAPAI NOEL KILLER, UM SUJEITO ARROGANTE

Bruno “Shulyba” é um dos meus grandes amigos da vida, desde os sete anos de idade. Apesar de ter seguido carreira de técnico de som, Bruno sem pre desenhou muito e era meu grande parceiro. A gente estudava na mesma sala, desenhava sempre juntos e, aos 15 anos, chegamos a criar o “Papai Noel Killer”, um personagem ruim que destratava as crianças ansiosas pra conhecer “o bom velhi nho”. Tivemos essa ideia do personagem juntos, mas cada um se sentia livre pra desenhar sua própria versão. Eu sempre achei a versão dele mais legal.

No fim das contas, fui criando histórias que ren deram quatro volumes de revistinhas em quadri nhos, e, durante as aulas, rodavam pelas salas do colégio (os originais, olha que estupidez!). Com certeza, distraíram e atrapalharam o aprendiza do de muita gente no CEAT, único colégio que estu dei até terminar o ensino médio, dos 4 aos 19 anos.

Pra praticar injustiças com as crianças bem-com portadas, Papai Noel Killer contava com a ajuda de sua gangue, composta por São Cosme e Damião, Coelhinho da Páscoa e o Duende. Todos mal encara dos e com roupas extra-extra-large, como manda va o figurino do skate nos anos 1990.

Achei que tivesse perdido os originais, já que não existia uma cópia, mas, depois de mais de 15 anos de procura, achei as quatro em uma caixa empoei rada no sótão da casa dos meus pais (bem cena de filme)..

Bruno “Shulyba” has been one of my great friends in life, since I was seven years old. Despite hav ing followed a career as an audio technician, Bruno has always drawn a lot and has always been a great partner. We were classmates, we drew a lot together and, at the age of 15, we created the “Santa Claus Killer” , a bad character who mis treated children who were anxious to meet “the good old man”. We came up with this idea of the character together, but each one felt free to draw an own version. I always thought his version was the coolest.

In the end, I was creating stories that yielded four volumes of comic books, and, during class es they would circulate around the school rooms (the originals, see how stupid I used to be!). Of course, they certainly distracted and hindered the learning of many people at CEAT, the only school I studied until I finished high school, from 4 to 19 years old.

In order to do injustices to well-behaved chil dren, Santa Claus Killer had the help of his gang, made up of São Cosme and Damião, Easter Bunny and the elf, all of them badass looking and wearing extra-extra-large clothes, as the skaters dress code used to be in the nineties.

I thought I had lost the originals, since there was no copy, but after more than 15 years of search, one day I found the four volumes in a dusty box in the attic of my parents’ house (just like a movie scene).

50 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 11
ENGLISH
SANTA CLAUS KILLER, AN ARROGANT GUY
51 PAPAI NOEL KILLER, UM SUJEITO ARROGANTE CAPÍTULO 11

CHÁS-DE-CADEIRA & A CALÇA AZUL-ROYAL

É curioso estar reunindo todo esse material em um livro e pensar que muita gente não imagina quan tas “portas-na-cara” e “chás-de-cadeira” já to mei ao longo desses anos. Foram muitas, a primeira que lembro foi lá pelos anos 1990, com uma skate shop no Rio chamada “Suck”, que ficava na parte de trás do Tijuca Off Shopping, na Zona Norte do Rio. Por volta dessa mesma época, a MHS¹ montava seu skatepark todos os fins de semana em uma área de frente pra loja, antes de existir o Shopping Tijuca.

A história é que eu, com uns 14 pra 15 anos, sempre ia na loja e passava um bom tempo lá. Parecia até que tava fazendo um inventário de tudo que tinha disponível pra vender — como eu queria voltar no tempo e dizer pra mim mesmo: “Sai daí, que desse mato não sai cachorro!”. Foi uma fase do skate que a estética das roupas não ajudava em nada: calças muito largas, com bocas idem, pesponto branco; ca misetas com silk lateral na altura do quadril e desenhos muito toscos. Rolava ainda uma moda de camisetas pintadas com aerógrafo! Uma tendência que fazia as pessoas usarem, principalmente, per sonagens da Looney Tunes em versões street wear. Foi nessa onda que eu, infelizmente, tentei pe gar carona: comecei a fazer várias versões de per sonagens como Piu-Piu, Frajola, Pernalonga, Taz, com ‘roupa-de-skatista’, cara de mau, carteira-de -corrente e até porrete na mão(!).

Fazia esses desenhos com caneta nanquim em tama nhos relativamente pequenos e colocava em um ál bum de fotografias tamanho A4. Minha ideia era ter um álbum de artes pra mostrar nas lojas ou marcas e tentar ganhar uma graninha pra não de pender dos meus pais se precisasse comprar um shape novo, por exemplo. Apesar de ter crescido em uma família de classe média, lá em casa nunca foi “estalar os dedos e ganhar o que eu queria”. Então

sempre fui de namorar muito alguma coisa antes de poder comprar. Uma dessas coisas era a calça-lar ga da Suck, azul-royal com pesponto branco.

E a investida dessa onda Looney Tunes bootleg² que mais me marcou, no mau sentido da palavra, foi justamente na tal loja “Suck”. Tentei umas qua tro vezes marcar pra mostrar meu álbum de dese nhos pra Edilamar, dona da loja (que me conhecia e até me tratava bem), mas toda vez acontecia algu ma coisa. Morava no Grajaú, então pegava o ônibus com o álbum debaixo do braço e voltava pra casa chutando lata. Na última e derradeira vez, esperei horas sentado na loja e mais uma vez ouvi: “Felipe, ela não vai poder te atender hoje.” Nessa hora, um dos vendedores se propôs a me “ajudar” e esco lheu cinco desenhos. O esquema era mesmo precá rio: o plano era dar o desenho original do perso nagem, recortado, e pronto! Como ele sabia que eu queria a tal calça, sugeriu que ela fosse parte do pagamento. Eu concordei, orgulhoso de mim mesmo, e combinei de voltar no dia seguinte pra pegar a calça e receber.

No dia seguinte, voltei empolgado por já imaginar que, em breve, veria meus desenhos estampando as camisetas da Suck que o pessoal usava por aí! Pra minha surpresa, cheguei na loja e fiquei sabendo que o tal vendedor não trabalhava mais lá e nin guém sabia de desenho ou acordo nenhum. O “san gue-bom” me deixou sem a tal calça azul-royal, sem o dinheiro que havia combinado e com meu ál bum de desenhos bootlegs desfalcado! Nunca mais vi esse ser humano de luz, mas lembro de seu ros to e nome —cuidado ao atravessar a rua, Marcelo! Eu sei o que você fez em 1993…

52 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 12
1. MHS ERA UM NEGÓCIO INDEPENDENTE DA FAMÍLIA HERDADE, RESPONSÁVEL POR MONTAR DIVERSOS SKATEPARKS NO RIO DE JANEIRO, AO LONGO DA DÉCADA DE 1990. 2. TERMO PARA DESIGNAR UM PRODUTO/ITEM QUE NÃO É ORIGINAL, UMA CÓPIA MODIFICADA NÃO AUTORIZADA OU MESMO UMA VERSÃO RUDIMENTAR DE ALGO.
53 CAPÍTULO 12

THE LONG WAIT & THE ROYAL BLUE PANTS

It’s curious to be gathering all this material in a book and to think that many people can’t imag ine how many doors-in-the-face and “chair-teas” I’ve got over the years. There were many, the first one I remember was back in the nineties, with a skateshop in Rio called “Suck”, located at the back of Tijuca Off Shopping, North side of Rio. Around that same time, MHS* used to set up its Skatepark every weekend in an area in front of the store, even before Shopping Tijuca existed.

The story is: when I was about 14 to 15 years old, I always went to the store and spent a lot of time there, it looked like I was making an inven tory of everything that was available for me to sell. I wanted to go back in time and tell myself: “Nothing’s coming out of it”. It was a skate phase when the aesthetics of the clothes didn’t help at all: very wide pants, white topstitching; tees with side graphics at the hip and very rough designs. There was even a fashion for airbrush-painted tees! A trend that got people to wear mainly Looney Tunes characters on street wear versions. And that’s when I unfortunately tried to hitch a ride: I started making several versions of characters like Tweety, Sylvester, Bugs Bunny, Taz, wearing skate outfits, mean faces, chain wallets and even a club in the hand(!). I made these drawings with China ink in relatively small sizes and kept them in an A4 paper format album. My idea was to have a kind of portfo lio to show in stores or to brands and try to earn some money so I wouldn’t depend on my parents if I needed to buy a new deck, for example. Even because, despite having been raised in a middle-class fami ly, it was never like “snap my fingers and get what I want” back home. So I’ve always been into ‘dat ing’ something before I could buy it. One of those things was Suck ‘s baggy pants, royal blue with white topstitching.

And the investing of this bootleg* Looney Tunes* wave that impressed me the most, in the bad sense of the word, was precisely at that store. I tried to set up an appointment to show my album of drawings to Edilamar, the owner of the store (who knew me and even treated me well) four times, but every time something kept me from talking to her. I lived in Grajaú, so I took the bus with the album under my arm and came home kicking cans. For the last and “final” time, I waited for hours at the store and once again I heard: “Felipe, she won’t be able to talk to you today.” At the very moment, one of the sellers offered me some help and picked five drawings. The scheme was really precarious: the plan was to give the original design and pe riod. As he knew I wanted the pants, he suggest ed that it could be part of the payment. I nodded, proud of myself, and set up to go back the next day to pick up the pants and get paid.

The next day I went to the store, really excited because I thought that, soon, I would see my draw ings on Suck tees that people used to wear around! To my surprise, I got to the store and found out that the salesman no longer worked there, and no one knew of any drawings or agreements. The “cool guy” left me with no royal blue pants, no money (from our “agreement”) and with my boot leg graphics album out of stock! I’ve never seen him again, but I remember his face and name – be careful when crossing the street, Marcelo! I know what you did in 1993...

1. MHS WAS AN INDEPENDENT BUSINESS OF THE HERDADE FAMILY, RESPONSIBLE FOR SETTING UP SEVERAL SKATEPARKS IN RIO DE JANEIRO, OVER SEVERAL YEARS IN THE 90’S

2. TERM USED TO DESIGNATE A PRODUCT/ITEM THAT IS NOT ORIGINAL, AN UNAUTHORIZED MODIFIED COPY OR EVEN A RUDIMENTARY VERSION OF SOMETHING.

54
ENGLISH CAPÍTULO 12
55
NO TIJUCA OFF SHOPPING, RJ. 1993. MHS AT TIJUCA OFF SHOPPING, RJ. 1993 CAPÍTULO 12
MHS

CANGURU NUCLEAR

Sempre foi de praxe um skatista fazer parte de uma crew, galera ou qualquer termo que denomine um grupo. Aos 15 anos, eu fazia parte do quarteto “Canguru Nuclear”, composto pelo Bruno “Shulyba” (que tem até hoje esse apelido sem nenhum moti vo), Victor Barros (o “Vitu”) e Serginho Teles (“Garoto Sérgio”). Andávamos pra cima e pra bai xo juntos, viajávamos, e chegamos a fazer dois ví deos de skate. O nome bizarro surgiu da urgência de arrumar um nome pro vídeo que iríamos editar na casa da falecida Zeca, tia-avó do Bruno. Ela ti nha dois videocassetes, que eram os aparatos ne cessários pra se editar um vídeo amador, e, apesar de morar bem perto, tínhamos menos de uma hora pra chegar lá, já que a Zeca tinha um compromis so. Antes disso, precisávamos inventar um nome e filmar a cartela de abertura pra poder levar. Tudo muito na raça!

Tentamos vários nomes. O vencedor foi o menos horrível, mas o que mais fez a gente rir e o pri meiro que o Bruno sugeriu: “Canguru Nuclear!”. Apesar de alguém ter falado “Deus me livre, tá maluco!”, foi o que ficou.

Provavelmente por ser tão nonsense, o nome pegou e o canguru com três olhos e luvas de boxe estam pou camisetas e casacos, que fazíamos praticamen te pra uso próprio. Circulou na mão de muita gente em fitas VHS do vídeo autointitulado (de 1994) e vídeo ABZ (de 1995). Era tudo muito precário, mas também legal demais filmar, editar e ver as nos sas versões inspiradas pelos vídeos de skate que a gente assistia! Essa tendência dos vídeos ca seiros de cada galera era tão forte que foi (mui to bem) representada no filme Mid 90 ‘s (2018), do Jonah Hill.

Hoje em dia cada um mora em um canto do mundo, mas esses caras seguem sendo meus grandes irmãos e bons exemplos dos grandes presentes que o ska te pode dar na vida.

It was always customary for a skater to be part of a crew, or any term that refers to a group. At the age of 15, I was part of Nuclear Kangaroo , formed by Bruno “Shulyba” (who’s still called like this for no reason), Victor Barros (“Vitu”) and Serginho Teles (“Garoto Sérgio”). We used to be a solid crew! We used to travel and we even got to make two skate videos. The bizarre name came from the urgency of finding a name for the vid eo that we were going to edit in late Zeca’s house. She used to have two videocassete players, which were the necessary gear to edit an amateur vid eo, and, despite living very close by, we had less than one hour to get there, since Zeca had an ap pointment. Before that, we had to make up a name and film the opening scene to be able to take it. Everything really D.I.Y!

We came up with several names. The winner was the least horrible, but the one that made us laugh the most and also the first one Bruno suggested: “Nuclear Kangaroo!”. Although someone said “Damn! No way!”, that was the chosen one.

Probably because it was so nonsense, the name stuck and the kangaroo with three eyes and boxing gloves stared on tees and hoodies that we prac tically made for our own use. The videos circu lated in the hands of many people on VHS tapes of the self-titled video (from 1994) and “ABZ” vid eo (from 1995). Everything was too precarious, but also very cool - filming, editing and watching the versions inspired by the skate videos we used to watch! This trend of home videos from each crew was so strong, it was (very well) represented in Jonah Hill’s movie “Mid 90’s” (2018).

Although nowadays everyone lives far away from each other, these guys are still my brothers and good examples of the great gifts that skateboard can give in life.

56 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 13
NUCLEAR KANGOROO
57 CAPÍTULO 13

SHULYBA, VITU, SERGINHO E EU. RJ, 1995.

SHULYBA, VITU, SERGINHO AND I. RJ, 1995.

EU, RAFIINHA, VITU, SERGINHO E SHULYBA. SP, 1995.

RAFINHA, VITU, SERGINHO, SHULYBA AND I. SP, 1995.

58 CAPÍTULO 13
59
CAPÍTULO 13
OLLIE NO FLAMENGO. OLLIE IN FLAMENGO. FOTO: BERNARDO MENEZES

RUA CARUARÚ, GRAJAÚ

Quando eu tinha uns 11 pra 12 anos, volta e meia falava pro meu pai que ia na papelaria, pegava meu skate e rumava pra desbravar alguma rua das re dondezas, indo, aos poucos, cada vez mais longe, pro meio do Grajaú (bairro de classe média ca rioca, na Zona Norte, com a característica de ter ruas muito arborizadas e casas bonitas).

Por volta dos 14 anos, comecei a realmente andar de skate na rua. Época em que fazia curso de inglês e sempre ia de skate pras aulas. Quando terminava, aproveitava e saia pra desbravar os arredores do bairro. Logo passei pela rua Caruarú, ponto onde os skatistas do Grajaú se encontravam e partiam pra sessões pelos picos do bairro ou ficavam só na rua mesmo. Fui chegando e conhecendo o pessoal. Logo, logo, já estava enturmado e sendo apelida do de “Papai Noel”, por conta das revistinhas do “Papai Noel Killer”, que, às vezes, eu levava pras sessões. Aquele passava a ser também o meu pico.

Pode até ser lugar comum dizer que “o skate é uma escola”, mas é verdade. Quando me inseri nes se mundo e, principalmente, quando comecei a an dar de skate na rua, tive uma vivência que me en sinou muito sobre diversidade e respeito. Ainda mais morando no Rio, uma cidade entremeada de fa velas e contrastes. Sempre foi mais que normal em um grupo, mesmo pequeno, ter uma amostra de pes soas de raças, culturas, formações e padrões eco nômicos muito diferentes. Apesar de ter me muda do do bairro aos 22 anos, brinco que meu coração ficou lá.

60 PORTUGUÊS
NO GRAJAÚ, RJ. 1997. OLLIE IN GRAJAÚ, RJ. 1997. FOTO: BRUNO ESPÍRITO SANTO “SHULYBA” CAPÍTULO 14
OLLIE

CARUARÚ STREET, GRAJAÚ

When I was about 11 or 12 years old, every now and then I used to tell my father that I would go to the stationery store. So, I’d take my skateboard and head out to discover some nearby street, go ing little by little, further and further, to the middle of Grajaú (a middle-class carioca neigh borhood, in the north side, characterized by very tree-lined streets and many beautiful houses).

Around the age of 14, I really started to skate on the streets. At the time I was taking an English course and I always skated to classes. When the classes were finished, I used the opportu nity to explore the surroundings of the neigh borhood. Soon I passed by Caruarú Street, place where skaters from Grajaú would meet and leave for sessions on the neighborhood spots, or just hung out on the street. I came and got to know the people. Soon I was part of the group, and I got the “Santa Claus” nickname, because of the “Santa Claus Killer” comics that I also used to take to the sessions sometimes. That also became my spot.

It may even be commonplace to say that “skate boarding is a school”, but it is indeed. When I got into this world, and especially when I start ed skateboarding on the streets, I got an experi ence that taught me a lot about diversity and re spect, mainly living in Rio, a city interspersed with favelas (slums) and contrasts. It has always been more than normal in a group, even a small one, to have a sample of people of very different races, cultures, backgrounds and economic stan dards. Even though I moved out of the neighbor hood at the age of 22, I say that my heart stayed there.

61
ENGLISH
OLLIE NA RUA CARUARÚ, GRAJAÚ, RJ. 2011. OLLIE ON CARUARÚ STREET, GRAJAÚ, RJ. 2011. FOTO: JÚLIO “TIO VERDE”
CAPÍTULO 14

MAD FUN & PAGODE

Na Caruarú também testemunhei, pela primeira vez, o desenvolvimento de uma marca independen te, a Mad Fun. Guy Leal (ele mora, até hoje, na mes ma casa na rua Caruarú, bem de frente pra onde andávamos) e Beto Bianchi eram os responsáveis pela empreitada. Nessa época, ter uma marca era uma onda! Tudo, claro, com a precariedade e sim plicidade dos anos 1990, mas também com o fres cor e a empolgação de estarem montando uma mar ca própria — que começaria e acabaria pequena. Guy criava as artes, e essa foi a primeira vez que vi alguém do meu convívio aplicar sua arte em um shape, mais especificamente no model do “Pagode”, mesmo ele não sendo profissional. Lembro até hoje dos shapes de marfim-paraguaio com fórmica na última camada inferior e de um silk de duas co res, que estampava sua caricatura, com os dizeres “Model Pagode” e “Mad Fun”.

Inclusive, não posso passar por esse capítulo sem falar mais sobre essa lenda do Grajaú. Sobrinho do sambista carioca Neguinho da Beija-Flor, esse cara esguio de quase 2 metros, era dono de um estilo que impressionava muito. Quem andou de skate no Rio de Janeiro, nos anos 1990, não tem como não se lembrar dele. O figura ainda gostava de contar umas histó rias muito engraçadas e absurdas que tinham aconte cido com ele mesmo. Ele teve até uma fase funkeiro, que garantiu uma apresentação no maior programa de funk da TV aberta, Furacão 2000 (procurem por “MC Pagode” no YouTube só pra ver!).

Num tempo em que era comum que quem andasse mui to bem de skate fosse antipático com os que des sem um rolé “humilde’’, como era meu caso, ele ia na contramão com sua simpatia e seu sorriso relu zente. Hoje, Pagode é Vander Oliveira, músico que há muitos anos mora na Alemanha. Infelizmente, parou de andar de skate, mas eu sigo tentando con vencê-lo a voltar. “Água mole em pedra dura, tan to bate até que fura”.

62 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 15

It was also on Caruarú Street that I witnessed, for the first time, the development of an inde pendent brand, Mad Fun. Guy Leal (who still lives in the same house, on Caruarú Street, right in front of the place we used to hang out) and Beto Bianchi were responsible for the undertaking. At that time, having a brand was considered a very cool thing! Everything, of course, with the pre cariousness and simplicity of the nineties, but also with the freshness and excitement of setting up their own brand – which has begun and finished as a small one. Guy used to create the arts, and that was the first t time I saw someone from my acquaintance apply his art on a deck, more spe cifically on the ‘Pagode’ model , even though he wasn’t a pro. I still remember the paraguayan ivo ry wood decks having formica on the bottom lay er and a two-color silk screened graphic with his caricature, with the words “Model Pagode” and “Mad Fun”.

In fact, I cannot go through this chapter with out bringing out more about this legend of Grajaú. This slender guy, more than 6-feet tall, was ‘Neguinho da Beija-Flor’’s (carioca sambista) nephew, got a very impressive style. Anyone who skated in Rio de Janeiro in the nineties can’t help reminding him. The guy also liked to tell some very funny and absurd stories that had happened to him. He even had a funk phase (I’m talking about the Carioca Baile Funk), which guaranteed a per formance in a major funk show on open TV, Furacão 2000 (search for “MC Pagode” on YouTube just to check it out)!

At a time it was common for those who rode very well to be unsympathetic with those who didn’t skate that good, as was my case, he was complete ly different form the others, with his friend liness and his bright smile. Nowadays, “Pagode” is Vander Oliveira, a musician who has been liv ing in Germany for many years. Unfortunately, he quit skateboarding, but I’m still trying to con vince him to come back. “Water dripping day by day wears the hardest rock away”.

63
CAPÍTULO 15 ENGLISH

AS MARAVILHOSAS CAMISETAS DE TRANSFER

Em meados dos anos 1990, a cultura das camisetas, sejam elas de banda, de frase ou com algum ou tro elemento de identificação pessoal, era mui to forte. Ainda num contexto pré-internet, elas comunicavam, traduziam nossa identidade e até abriam caminho pra conversas e novos contatos. Dialogavam o tempo todo, pra cima e pra baixo. Era comum a gente prestar atenção, perceber quem era quem, e fazer uma leitura da personalidade de uma pessoa pelas camisetas usadas a cada vez que cru zássemos com ela na rua, no prédio, no ônibus. A força das camisetas, no tempo em que o acesso às bandas e aos produtos importados era muito es casso, era coisa de apaixonado. Isso era tão co mum que, numa dessas, por exemplo, a banda “Planet Hemp” surgiu. Marcelo D2 conta que seu primei ro contato com o Skunk aconteceu porque ao ver Marcelo com uma camiseta do “Dead Kennedys”, pu xou assunto por também curtir a banda. O assun to virou amizade, a amizade deu origem à banda e o resto é história.

Por isso, fazer as próprias camisetas era uma ini ciativa presente não só no meio do skate, mas da cultura independente em geral. Simplesmente por não ter grana pra comprar uma camiseta da ban da preferida, muita gente (incluindo eu) fazia

1. TÉCNICA

UM

2.TÉCNICA

3.POWELL

suas próprias versões artesanalmente. Antes de me aventurar a fazer as camisetas de transfer¹ e de pois serigrafadas², fiz muitas pintadas à mão mes mo, com caneta de tecido, ou tinta e pincel.

Mais tarde, na adolescência, quando cursava o en sino médio no CEAT, eu fazia camisetas com dese nhos do Jamiroquai, Chico Science e outras bandas pra vender no colégio. Com o contato de um bu reau que funcionava nos fundos de um estaciona mento em Vila Isabel, que veio através do meu ami go Renatim, comecei a aplicar minhas artes pelo processo de transfer a um custo bem baixo. Como conseguia camisas brancas a um preço bom, dava pra estampar meus desenhos e ainda vender bara to. Numa dessas, juntei grana pra comprar um sha pe gringo.

Dessa vez, finalmente, um primeiro shape preto com o gráfico de um raio prateado! Model do Mike Vallely, da Powell³ No primeiro rolé, quebrei o shape! Foi-se a madeira, mas até hoje tenho amigos dos tempos de colégio que lembram das tais cami sas. Há poucos meses, um deles esbarrou comigo na rua e comentou que recortou a estampa da camiseta do Chico Science e guardou até hoje, por 26 anos. Me pediu que eu fizesse uma reedição. Tá anotado.

64 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 16
DE IMPRESSÃO EM QUE É POSSÍVEL TRANSFERIR A IMAGEM DE PAPEL PRA SUPERFÍCIE DE VARIADOS TECIDOS, COMO É O CASO DAS CAMISETAS. CONSIDERADO UM DOS MÉTODOS MAIS SIMPLES E BARATOS PRA QUEM DESEJA ATUAR NESSE SEGMENTO. DE IMPRESSÃO QUE CONTA COM A APLICAÇÃO DE ESTÊNCIL DE UMA TELA DE SEDA. A TINTA É PRESSIONADA E VAZADA PRO SUBSTRATO DELA, SENDO ASSIM IMPRESSA. OU POWELL PERALTA. POR UM TEMPO A MARCA ABANDONOU O “PERALTA” NO NOME E SÓ VOLTOU A USAR ANOS DEPOIS.

THE WONDERFUL TRANSFER TEES

During the mid-nineties and the culture of tees was very strong – it didn’t matter if they stamped a band, phrase or some other element of person al identification. Even in a pre-internet context, they used to communicate, translate our identi ty and even open people for conversations and new contacts. They used to talk all the time in all situations.It was common for us to pay attention, realize who was who, and read a person’s person ality by the tees they wore every time we ran into them on the street, in the building, on the bus. The strength of tees was something to be passion ate about, in

those times when access to bands and imported products was very scarce. This was so common that, in one of these situations, for example, the band Planet Hemp popped up. Marcelo D2 says that his first contact with Skunk happened because when he saw Marcelo wearing a Dead Kennedys shirt, he brought up anything to tell him, because he also liked the band. The conversation turned into friendship, friendship gave rise to the band and everything else’s history.

Therefore, making one’s own tees was an initiative that was not only present in skateboarding, but in independent culture in general. Often simply be cause public didn’t have the money to buy a favor ite band tee, many people (including me) made their own versions by hand. Before venturing into making transfer tees *, and then silk screened *, I did many hand-painted ones, with fabric pen or ink and brush.

Later, in my teenage years, when I was in high school at CEAT, I used to make tees with Jamiroquai, Chico Science and other bands designs, to sell at school. With the contact of a bureau that ran its business in the back of a parking lot in Vila Isabel, which was introduced to me by my friend Renatim. I start ed to apply my arts through the transfer process at a very low cost. As I could get white shirts at a low cost, I could print my designs and still sell them cheaply. In one of these situations, I saved money to buy an US deck

This time, finally, a first black deck with a sil ver lightning graphic! Model by Mike Vallely, from Powell. On the first session, I broke my board! The board was gone, but to this day I have friends from high school who remember those shirts. A few months ago, one of them bumped into me on the street and said that he clipped the graphic out of the Chico Science shirt I made at that time. He keeps it until this day, for 26 years, and asked me to reprint it. I’ll think about it.

65
CAPÍTULO 16 ENGLISH
1.POWELL , OR POWELL PERALTA . FOR A WHILE THE BRAND TOOK THE “ PERALTA “ NAME OFF, YEARS LATER HE STARTED USING THE NAME AGAIN.

CEMPORCENTOSKATE

Em 1991, conheci o Alê Vianna durante uma viagem pra São Paulo. Eu tinha 13, e ele, 17 anos. Seu pai trabalhava com o pai do Drudal, amigo de infân cia que morava no mesmo prédio que eu, no Grajaú. Ele me dizia que precisava conhecer o “filho do Neves”, que andava de skate muito bem e tinha até patrocínio. Numa viagem pra São Paulo, eu e meu irmão fomos convidados e, finalmente, conheci o tal Alexandre durante um jantar na casa do Neves, no Butantã. Realmente nosso “santo bateu”! Alê me perguntou se eu conhecia o Video Days da Blind e colocou pra assistirmos. Quem viveu essa era sabe a dificuldade que era pra conseguir vídeo de skate recém-lançado. Desse dia em diante, passei a ter contato direto com ele. Algum tempo depois co mecei a ir pra São Paulo e passar dias na casa do Alê, que ainda morava com a família.

No final de 1994, se não me engano, Alê me mandou uma carta pelo correio junto com uma mixtape em uma fita cassete. Na carta, ele dizia que não esta va mais trabalhando com a revista “One” (que aca bou durando só duas edições), mas iria criar uma nova revista chamada Cemporcentoskate. Pediu, en tão, pra que eu enviasse meus desenhos e começasse a colaborar. Em 1995 nascia a revista, um zine pre to e branco tamanho A5. Minha primeira colabora ção foi na edição 3, a última em formato A5, com

uma ilustração em preto e branco, bem pequena, no editorial. Fiquei feliz demais! Não só por ver um desenho meu publicado, mas também por sentir que, de alguma maneira, fazia parte daquilo.

A partir daí, a revista foi evoluindo e continuei colaborando. Do computador no quarto, passou pra um imóvel onde funcionava a redação. Nas minhas muitas idas a SP, continuava ficando na casa do Alê, e íamos juntos pra revista. Além de fazer al gumas das ilustrações lá mesmo, conheci muita gente que frequentava a redação, desde o staff, como skatistas da cena e donos de marcas.

Nesses 27 anos da Cemporcentoskate, que continua em atividade, tenho a satisfação de ter contribuí do desde o início com inúmeras ilustrações, feito as artes das camisetas comemorativas dos 10 e 13 anos, além de ter sido o convidado da seção port fólio por duas vezes.

66 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 17

COM TIAGO MORAES E ALÊ VIANNA. SP, 2002. WITH TIAGO MORAES AND ALÊ VIANNA. SP, 2002.

MINHA 1ª COLABORAÇÃO COM ILUSTRAÇÃO NA REVISTA. MY 1ST COLLABORATION WITH ILLUSTRATION IN THE MAGAZINE.

67 CAPÍTULO 17
CAPA DA EDIÇÃO NÚMERO 3 - ISSUE 3 COVER.

In 1991, I met Alê Vianna during a trip to São Paulo. I was 13 and he was 17. His father used to work with Drudal’s father, a childhood friend who used to live in the same building I did, in Grajaú. He told me that he needed to meet “Neves’s son” who skated very well and even had sponsorship. On a trip to São Paulo, my brother and I were invit ed to go with them and I finally met Alexandre, during a dinner at Neves’s house, at Butantã. It turned out to be “friendship at first sight”. Alê asked me if I knew about Blind’s Video Days and put the tape in the VCR for us to watch. Anyone who lived through that era knows how difficult it was to get a newly released skate video. From that day on, I got in touch with him frequently. Sometime later, I started to go to São Paulo and spend days at Alê’s house, who still lived with his family.

At the end of 1994, if I’m not mistaken, Alê post ed me a letter along with a mixtape on a cas sette. In the letter, he said that he was no lon ger working with One magazine (which ended up lasting for only two issues), but would create a new magazine called “100% skate’’. He then asked me to send him drawings and start collaborating. In 1995, the magazine was born, a black and white

zine A5 size. My first collaboration was in is sue three, the last in A5 format, with a very small black and white illustration in the editorial. I was so stoked! Not only for seeing a drawing of mine published, but also to feel that, somehow, I was a part of it.

From then on, the magazine evolved and I kept col laborating. From the computer in the bedroom, he moved to a building where the newsroom was lo cated. In my many trips to SP, I continued to stay at Alê’s house, and we would go to the office to gether. Besides making some of the illustrations there, I ended up meeting a lot of people who at tended the newsroom, from the staff to skaters from the scene, and brand owners.

In these 27 years of “CemporcentoSKATE’’, which keeps working , I’m pleased to have contributed since the beginning with numerous illustrations, to have made the arts of commemorative Tees for the 10th and 13th anniversary, and also for hav ing been the guest of the ‘portfolio’ section for two times.

68
CEMPORCENTOSKATE
CAPÍTULO 17 ENGLISH
69 CAPÍTULO 17
ILUSTRAÇÃO PRA ENTREVISTA COM PEDRO SLIVAK. ILLUSTRATION FOR THE INTERVIEW WITH PEDRO SLIVAK.
70
YOUR
CHECK
HEAD CHANGED MY LIFE
ILUSTRAÇÃO EM ENVELOPE PARA A CAPITAL RECORDS, 1994. ENVELOPE ILLUSTRATION FOR CAPITAL RECORDS, 1994. CAPÍTULO 18

No início da adolescência, comecei a escutar mui to rock e “música pesada”. Lembro que, depois de assistir ao Rock in Rio de 1991 pela TV, fiquei embriagado pelo Faith No More. Posteriormente descobri Mr. Bungle e os outros projetos em que o (vocalista) Mike Patton está envolvido até hoje. Passei a escutar muito, e segue sendo uma das minhas bandas preferidas (Angel Dust, de 1992, também é um dos meus discos favoritos da vida). Entrei numa fase que meu gosto musical pratica mente era “quanto mais pesado, melhor’’. Até que no final de 1992, aos quase 15 anos, fui a uma lo cadora de games que eu frequentava, a Video Game Center. De onde eu morava no Grajaú, pegava o ôni bus 226 e ia até a galeria Vitrines da Tijuca. A locadora tinha crescido e começado a alugar tam bém CDs. Num desses garimpos em busca do que alu gar, me deparei com uma capa com uma fotogra fia em preto e branco que me chamou atenção: três caras sentados numa calçada, trajando roupas que me identifiquei imediatamente. O álbum era Check

Your Head, dos Beastie Boys! Acho que já tinha ou vido falar do grupo e resolvi alugar pra escutar, ainda sem nenhuma ideia do quanto me impactaria.

Em 20 de abril de 1995, três anos mais tarde, aconteceu o famoso show da turnê do disco Ill Communication, gravado na sequência de Check Your Head e considerado, por muitos, uma espé cie de continuação do álbum anterior. No dia do show, fui de tarde ao Imperator, uma importan te casa de espetáculos no Méier, na Zona Norte do Rio, com tradição de ser palco de bons e grandes shows fora do circuito principal, que, normalmen te, eram restritos aos bairros da Zona Sul e Barra da Tijuca. Fui acompanhar alguns amigos que ain da não tinham comprado ingresso. Saindo pra rua, vi uma van passando e reconheci o Mário Caldato, produtor dos Beastie Boys. Dei o alarme e saímos nós quatro correndo a pé atrás do carro, total mente no impulso e sem nenhuma noção. Poderíamos ter tomado um tiro, uma vez que algumas pessoas começaram a gritar: “Pega ladrão!”. Não parei pra saber se era de brincadeira! Quando o carro parou na ruazinha lateral, conseguimos chegar até lá e interceptamos o MCA (Adam Yauch, R.I.P)!

Por intuição, eu tinha levado um saco plástico com uma caneta de tecido e uma camiseta dos Beastie Boys que tinha desenhado à mão; a estampa repre sentava cada um dos integrantes como um dos três

macaquinhos sábios da cultura oriental. Fui moti vo de piada por estar levando a sacolinha! Quando me vi diante do MCA, meu integrante favorito, foi a glória! Imediatamente dei o presente pra ele e ainda tive a cara de pau de perguntar se ele pode ria tocar no show com ela. Ele assinou a camiseta que eu tava vestindo (e guardo até hoje), elogiou a que eu fiz e me agradeceu, mas falou que achava que eles já tinham um figurino separado pra usar.

Foi o show mais inesquecível da minha vida: muitos amigos do skate e da cena independente juntos, já que quem conhecia Beastie Boys e estava no Méier é porque era fã de verdade. Lembro de tudo dessa noite, até da minha roupa com detalhes: camisa -xadrez azul de botão, calça de prega cinza clara e um Puma Suede vermelho. Pra minha surpresa, no meio do show, MCA tirou o moletom que estava ves tindo e vi aparecer a camisa que dei de presente e que ele usou até o fim do show! A sensação é que eu tinha feito o gol da final da Copa do Mundo!

Duas décadas depois, Marcelo D2 me apresentou ao Mário Caldato e ficamos camaradas. Essas cone xões da vida que a gente nunca imaginaria. Contei a história da camisa no show do Imperator e ele lembrava que tinha acontecido uma história de um fã ter dado uma camisa pro Yauch.

Em 2019, eu e Serginho jantamos na casa do Mário, com suas respectivas companheiras Nicole e Samantha, em Los Angeles. Passamos um tempão con versando, conhecendo seu estúdio e ouvindo muitas histórias sobre os Beastie Boys, principalmente sobre a época e bastidores do “Check Your Head”. Que noite pra um fã como eu!

Em 21 de Abril de 2022, data em que o disco com pletou 30 anos, resolvi fazer uma homenagem com uma série limitada de pins comemorativos e ta tuei “Check Your Head” no braço, com a mesma ca ligrafia da capa, feita pelo grafiteiro nova ior quino HAZE. Foi minha primeira tatuagem e decidi fazer com o Mokoh, que hoje é um tatuador expe riente, mas foi um dos meus alunos no período que dei as oficinas de grafite no colégio Prado Jr, há 19 anos. Como diz a camiseta que fiz adaptan do a mesma caligrafia: “Check Your Head Changed My Life” (“Check Your Head Mudou Minha Vida”).

71
PORTUGUÊS CAPÍTULO 18

In my early teens, I started listening to a lot of rock and “heavy music”. I remember that, after watching Rock in Rio in 1991 on TV, I went nuts on Faith No More. Later I found out Mr. Bungle and the other projects Mike Patton (vocalist) has been involved to this day. I started to listen to it a lot, and it remains one of my favorite bands (“Angel Dust”, from 1992, is also one of my favor ite albums for life). I got into a phase where my musical taste was practically “the heavier, the better”. At the end of 1992, when I was almost 15 years old, I went to a video game store that I used to go to, called «Video Game Center». The store had grown and also started to rent CDs. In one of those “gold-digging” places, looking for something to rent, I came across a cover with a black and white photo that caught my attention: three guys sitting on a sidewalk curb, wearing clothes that I immediately related with. The al bum was “Check Your Head”, by the Beastie Boys! I think I had already heard about the group and de cided to rent it to listen, still having no idea of how much it would impact me.

On April 20, 1995, three years later, the famous concert of the tour for “Ill Communication” took place, recorded in the sequence of “Check Your Head”, and considered by many a kind of continuity of the previous album. On the day of the show, in the afternoon, I went to Imperator, an important venue in Méier, North side of Rio, with the tradi tion of being the stage for good and great shows outside the main circuit, which were normal ly restricted to the neighborhoods of the South side and Barra da Tijuca. I went there with some friends who still hadn’t bought a ticket. Back outdoors, I saw a van going by and I recognized Mário Caldato, producer of the Beastie Boys . I called their attention and the four of us started, literally, running after the car on foot, totally on an impulse and clueless, because in such a vio lent city we could have been shot, since some peo ple started screaming: “- thief!”. I didn’t stop to know if it was a joke! When the car pulled over on the side street, we managed to get there and “in tercept” MCA (Adam Yauch, RIP)!

Intuitively, I’d brought a plastic bag with a per manent marker and a hand-drawn Beastie Boys tee; the print represented each of the members as one of the three wise monkeys of oriental culture.

They made fun of me because I was bringing the little bag! When I saw myself face to face to MCA, my favorite member, it was glorious! I immedi ately gave him the tee and even got the nerve to ask him if he could wear it in the show. He signed the tee I was wearing (and I keep it to this day), praised the one I made and thanked me, but he sup posed they had already chosen an outfit for them to wear.

It was the most unforgettable concert of my life: so many friends from skateboarding and the in dependent scene together, since anyone who knew Beastie Boys back then and was at the venue could only be a real fan. I remember everything about that night, even my outfit with details: blue checkered button-down shirt; light gray pleated pants and a pair of red Puma Suedes. To my sur prise, in the middle of the show, MCA took off the hoodie he was wearing and I saw the shirt that I gave him as a gift, he wore it until the end of the show! The feeling was like I had scored the goal of the World Cup final!

Two decades later, Marcelo D2 introduced me to Mário Caldato and we became buddies - these life connections that we would never imagine. I told him the story of the shirt at the Imperator con cert, and he remembered that there had been a sto ry about a fan giving a shirt to Yauch.

In 2019, Serginho and I had dinner at Mário’s house, with their respective partners Nicole and Samantha, in Los Angeles. We spent a lot of time talking, getting to know his studio and listen ing to a lot of stories about the Beastie Boys, es pecially about the time and backstage of “Check Your Head”. What a night for a fan like me!

On April 21st, 2022, the 30th anniversary of the album, I decided to honor the date by making a limited series of commemorative set of pins. I’ve also tattooed “Check Your Head” on my arm, with the same calligraphy on the cover, made by the New Yorker graffiti artist HAZE. It was my first tat too, and I decided to have my homie Mokoh make it, who is now an experienced tattoo artist. He used to be one of my students when I led the graffiti workshops at Prado Jr public school, 19 years ago. As the tee I made, adapting the same calligraphy, shows: “Check Your Head Changed My Life”.

72
ENGLISH CAPÍTULO 18
73 CAPÍTULO 18

MORTENFÚQUIA SQUEITBÓRDS

Chegou o tempo em que vendi meu videogame Super Nintendo pra comprar meu primeiro computador, um PC 386 que não tinha nem placa de som — o ano era 1994 e tinha 16 anos. Foi quando comecei a fa zer models imaginários dos meus amigos, num pro grama de desenho muito precário chamado Paint Brush. Tudo bem bem tosco! Serginho, Shulyba, Drudal, Gabitto e Vitu foram alguns dos “contem plados” com maravilhosos layouts, pra não dizer o contrário.

Bem ou mal, aquelas foram minhas primeiras ten tativas de criar gráficos pra shapes de uma mar ca minha fictícia chamada “Mortenfúquia”. Esse admirável nome surgiu depois que um conheci do meu leu ‘motherfucker’ desse jeitinho exclu sivo. Jurava que tinha perdido os arquivos des ses models imaginários, mas o Shulyba tinha esse material guardado em um disquete e disse que iria tentar reaver essas pérolas pro livro. Pra isso, comprou um adaptador pro drive de disque te na tentativa de ler essa mídia obsoleta há mui tos anos. Descobrimos que os drives que ele tinha não estavam funcionando, e Shulyba saiu na missão de achar um drive funcionando. Então, se você vir nessa página as imagens da coleção Mortenfúquia é porque ele conseguiu… Ou não.

I sold my Super Nintendo video game to buy my first computer, a PC 386 that didn’t even come with a sound card – the year was 1994 and I was 16 years old. That’s when I started making imaginary models of my friends, in a very bad drawing soft ware called Paint Brush. Everything was extremely gross. Serginho, Shulyba, Drudal, Gabitto and Vitu were some of those “blessed” with wonderful lay outs, on the contrary.

Right or wrong, those were my first attempts to create graphics for decks from a fictional brand of mine called “Mortenfúquia”. This “wonder ful” name came up after a friend of mine read ‘Motherfucker’ in this unique way. It may not sound funny in english, but it surely does in portuguese!

I swore I had lost the files of these imaginary models, but Shulyba had this material saved on a floppy disk and he said he would try to get those “pearls” back to life. He even bought an adapter for the floppy drive in an attempt to read this obsolete media. We realized that the drives he had were not working and Shulyba set out on a mission in order to find a working drive. So, if you see the images from the Mortenfúquia collection, it’s because he made it... or not.

74 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 19 ENGLISH
75 CAPÍTULO 19

PEPA FILMES

Conheci o Renatim (Renato Godoy, profissional mente falando) enquanto eu tentava pular de ska te uma barra de ferro de Ollie, na esquina da rua onde ele morava, no Grajaú. Ele estava passando de skate, mas parou pra olhar. Ele tinha 15, e eu, qua se 18 anos.

Trocamos ideia, andamos juntos naquele dia e nos tornamos grandes amigos. Virou um irmão pra mim. Hoje, além de um baterista talentoso demais, se tornou um grande técnico de áudio. Como passei a frequentar sua casa, fui conhecendo seus amigos do prédio e ele me apresentou ao Pepa, que morava no mesmo andar e junto com outros amigos faziam filmes caseiros assinando como “Pepa Filmes” (nessa fase eram basicamente filmes de poucos minutos que sempre terminavam com alguém mor rendo). Comecei a acompanhar algumas filmagens e, como eu curtia, naturalmente fui participan do. Nesse tempo, estudando na faculdade, fazen do freelas e morando a 15 minutos do Vermont 157 (prédio onde moravam), era fácil estar de bobeira e receber uma ligação do Renatim chamando: “Chega pra cá que vâmo gravar um filme.” Muitas vezes as gravações varavam a madrugada, bonecos simulan do pessoas eram jogados da janela, gritaria e mais um monte de situações (que pediam pra dar merda) aconteciam durante as filmagens.

Era final dos anos 1990, e a internet ainda esta va engatinhando com a conexão discada. Baixar uma música em MP3 poderia demorar horas. A dissemi nação dos filmes era feita através das fitas VHS copiadas de videocassete pra videocassete, e me assustava com a quantidade de pessoas que conhe ciam os filmes, muitas vezes de fora do Rio.

Quando a conexão de internet melhorou um pou co, o Pepa criou um site onde os filmes ficavam arquivados (claro que com vídeos em qualidade baixa) e muito mais pessoas passaram a conhecer. Passamos três meses em horário nobre no programa Descontrole’, do Marcos Mion na Band, que também ajudou a Pepa Filmes a ficar ainda mais conhecida.

Foi um movimento paralelo ao pessoal do “Hermes e Renato”, com a diferença que eles conseguiram se organizar e se firmar na MTV, enquanto nós acaba mos nos dissolvendo. Começamos a ficar sem tempo, seja pelo trabalho ou pela faculdade. Pepa chegou a continuar por um período, se formou em cinema mas, infelizmente, também acabou parando com os filmes trash.

Até hoje temos contato e uma boa relação, e me di virto com o fato de cada um de nós ainda escu tar de diferentes pessoas e contextos pedidos pra Pepa Filmes voltar.

76 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 20
77 CAPÍTULO 20
COM RENATIM E PEPA. RJ, 2000. WITH RENATIM AND PEPA. RJ, 2000. UMA DAS FORMAÇÕES DA PEPA FILMES. RJ, 2002. ONE OF THE FORMATIONS OF PEPA FILMES. RJ, 2002.

PEPA FILMES

I met Renatim (Renato Godoy professionally speaking) while I was trying to ollie over some metal pole, on the corner of the street he lived, in Grajaú. He was skating too and stopped to look at my attempts. He was 15 and I was almost 18.

We skated together that day and so on, and be came a brother to me. Nowadays, besides being a very good drummer, he has become a great audio technician. As I started to go to his house, I got to know his friends in the building and he in troduced me to Pepa, who lived on the same floor. Together with other friends, he made home mov ies under the name Pepa Filmes (at this stage they were basically few-minute-lasting films that someone always died at the end). I started to be at some filming and, as I enjoyed it, I Obviously took part in the “projects”. At that time, attend ing college, being a freelancer and living 15 min utes away from Vermont 157 (the building where they used to live), it was common to be home doing nothing and get a call from Renatim inviting me: “hey, what’s up! Come by, let’s shoot a movie!”. The footage used to finish at dawn frequently, dolls simulating people who were thrown from the win dow, shouting and a lot of other situations (that asked for trouble) happened during it.

It was the late 1990s and the internet was still crawling just offering a dial-up connection, downloading an MP3 song could last hours and hours. The dissemination of the films was done using VHS tapes copied from one VCR to another, and it scared me with the amount of people that knew Pepa Filmes, often from outside Rio.

When the internet connection improved a little, Pepa created a website where the films were ar chived (of course low quality videos) and many more people came to know about it. We spent three months in prime time on (famous brazilian tv host) Marcos Mion’s «Descontrole’’ on Band (TV channel), which also helped Pepa Filmes to become even more famous.

It was a parallel movement to “Hermes and Renato” (a group of amazing independent come dians from Brazil) that, differently, managed to organize and establish themselves on MTV, while we split up. We ran out of time, either for work or college. Pepa, who kept on for a period, gradu ated in Cinema, but, unfortunately, also quit pro ducing trash movies.

To this day we get in touch and a have a good re lationship, and I get amused by the fact that each of us still listen to different people and con texts asking Pepa Filmes to come back.

78
CAPÍTULO 20 ENGLISH
79 CAPÍTULO 20
VINHETA DE ABERTURA DOS FILMES. VIDEO OPENING.

CORONEL CABELINHO VS GRAJAÚ SOLDIAZ

Em 2000, começamos a filmar o primeiro e único longa metragem da Pepa Filmes: Coronel Cabelinho vs. Grajaú Soldiaz, que contava a história de um filho de diplomata assassinado, depois de um acerto de contas, pela gangue Grajaú Soldiaz, li derada pelo temido Cão Vira Lata (interpreta do pelo Renatim). O policial Coronel Cabelinho (Pepa), afastado por condutas criminosas, volta pra solucionar o caso à sua maneira. Inclusive, foi desse longa que saiu meu personagem Cara de Cavalo, que seguiu carreira pós Pepa Filmes.

A real é que não tinha nada planejado pra ser um filme de 1h20. Pros que perguntam como eram fei tos os roteiros (desse e dos outros filmes): não havia roteiro. A única coisa escrita nesse filme foram as cenas listadas numa folha de papel ofí cio pro Pepa não se perder na hora da edição. De resto, a gente combinava o que ia acontecer e in ventava as falas, muitas vezes na hora. Em alguns momentos era caótico! Gravamos uma cena de em boscada com armas de mentira (assim como mui tas outras cenas) em plena madrugada no Grajaú. Fora isso, houve perseguição de carros na avenida Presidente Vargas, correria nas ruas com os per sonagens gritando pra parar, boneco sendo jogado de penhasco e outras várias situações. Todas sem nenhuma autorização, claro!

Lançado em 2004, depois de quatro anos sendo gra vado, até hoje o filme é uma pérola dos filmes brasileiros trash e já influenciou muita gente ao longo de quase 20 anos. Marcelo D2, por exemplo, já declarou algumas vezes que sua música “Qual é” e o clipe (no qual alguns personagens do filme fazem participação) foram inspirados em Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz. Rendeu o convite pra fazermos, em conjunto com a produtora carioca Apavoramento, o clássico curta Extorsão Total, no ano seguinte. No filme, Cara de Cavalo é parado em uma blitz onde D2 é um dos policiais que dá um enquadro no carro com documentação falsa em que seus amigos estão fumando maconha. A falsa blitz com “atores” fardados e armas de mentira foi gra vada numa rua sem saída no Grajaú, também sem au torização, mas com muita ousadia, claro!

80
PORTUGUÊS CAPÍTULO 21
81 CAPÍTULO 21
82 CAPÍTULO 21

COLONEL CABELINHO VS GRAJAÚ SOLDIAZ

We started filming the first and only long length movie by Pepa Filmes: “Coronel Cabelinho vs. Grajaú Soldiaz’’ in 2000, which told the story of a diplomat’s son who was murdered after a settling of accounts, by Grajaú Soldiaz gang, led by the feared “Cão Vira Lata” (by Renatim). Police offi cer “Coronel Cabelinho” (Pepa), away for criminal conduct, comes back to solve the case in his own way. In fact, it was from this movie that my char acter Horse Face came out, which followed his own career after Pepa Filmes.

The real thing is that there was nothing planned to be an eighty-minute-long movie, and for those who ask how the scripts were made (for this and the other movies), there was no script. The only thing that was written in this film was a sheet of an A4 paper with the scenes listed, so Pepa wouldn’t get lost when editing the film. For the rest, we would agree on what was going to happen and make up the lines, often on the spot. At times it was chaotic! We filmed an ambush scene with fake weapons (as well as many other scenes) in the middle of the night in Grajaú. Besides that, there was a car chase on President Vargas Avenue, downtown Rio, running on the streets screaming, a puppet being thrown off a cliff and several other situations without any kind of authorizing, of course!

Released in 2004, after four years filming, the movie’s still a highlight of Brazilian trash mov ies scene, and has influenced many people over al most 20 years. Marcelo D2 (famous brazilian rap per), for example, has stated a few times that his hit song ‘Qual é’ and its video clip (in which some characters from the film participate) were in spired by Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz. What ended up getting an invitation to make, together with carioca producer Apavoramento, the classic short long movie called “Total Extortion”, the following year. In the movie, Horse Face ran into a police barricade where D2 is one of the cops who frame the car with fake documents in which his friends are smoking pot. The fake barricade with “actors” in police uni forms and fake weapons was filmed on a dead-end street in Grajaú, also no authorizing, but very daring, of course!

83
CAPÍTULO 21 ENGLISH

CARA DE CAVALO

Quando eu era criança, às vezes, aparecia fanta siado encarnando algum personagem. Lembro que minha mãe sempre falava: “Olha o vô Chico aí!”, pelo meu falecido avô sempre ter tido a mania de também se fantasiar. Acho curioso ele ter faleci do no dia 3 de março de 1970, e eu nascido no dia 4 de Março, oito anos depois.

Com certeza, minha história mais marcante em re lação a isso começou quando viajei pra Boston, EUA, em 2000. Fui encontrar meu amigo Charlie (Wilkins), que atendeu a porta de casa usando uma dentadura bizarra com os dentes todos podres. Ri muito daquilo e falei que precisava comprar uma dessas pra mim também. Um mês depois, vol tei pro Brasil e o pessoal da Pepa Filmes estava começando a filmar Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz. Apareci com a dentadura, também acha ram muito bizarro e sugeriram que eu entrasse no filme. Dei ideia do personagem se chamar Cara de Cavalo (pela aparência e em referência ao nome de um bandido famoso que viveu no Rio e foi as sassinado em 1964), que seria um apadrinhado do Cão-Vira-Lata, chefe da gangue. Por ser protegi do, sempre acreditou que realmente era bonito e um grande talento do rap.

Em 2005, durante uma ida com De Leve à casa do (DJ) Castro, acabamos gravando a vinheta “Cara de Cavalo encontra De Leve”, em que ele pede uma oportunidade pra gravar um som. Eu não tava nem com a dentadura no dia e coloquei papel na gengi

va pra voz ficar como se tivesse usando a denta dura! Liguei uns dias depois pro De Leve, meio em crise, pedindo que ele não usasse a gravação por que eu não tinha achado graça. Só que ele me res pondeu que era tarde demais, já tinham mandado o disco prensar. Resultado: a tal vinheta ficou fa mosa na cena do rap nacional, e o personagem ga nhou vida fora da Pepa Filmes fazendo fama no rap!

Cara de Cavalo, então, passou a fazer apari ções em shows do De Leve, D2, em festivais como o Arte Core, no Rio, e chegou a apresentar o Troféu Cemporcentoskate, em 2011, sempre com seu estilo polêmico e egocêntrico de quem se autoproclama “a encarnação do rap”, mesmo sendo um fiasco. Em 2017, gravei três episódios de Papo Retilíneo com Cara de Cavalo em parceria com o amigo jornalis ta Bruno Natal e o Queremos!, em que ele faz crí ticas de discos de rap, sempre se colocando como superior aos rappers em foco, claro. Uma espécie de Forrest Gump do rap.

Até hoje encarno o personagem por puro prazer de me divertir e também divertir as pessoas que cur tem. Durante a fase mais crítica da pandemia de 2020, fiz algumas lives pelo Instagram que fize ram muita gente se distrair um pouco do período que nós estávamos vivendo. Eu mesmo ria sozinho revendo os vídeos, como se eu não tivesse nada a ver com aquilo! Às vezes, chego a pensar que é uma entidade do rap que “baixa” em mim.

84
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 22

JHORDÃO. SP, 2011.

CARA

JHORDÃO. SP, 2011.

FOTO:

85 CAPÍTULO 22
FOTO: RENATO CUSTÓDIO CARA DE CAVALO APRESENTADO O “TROFÉU CEMPORCENTOSKATE” COM BIANCA DE CAVALO HOSTING THE “CEMPORCENTOSKATE AWARD” WITH BIANCA RENATO CUSTÓDIO CARA DE CAVALO NA FESTA DE 5 ANOS DE ADEMAFIA. CARA DE CAVALO AT ADEMAFIA’S 5TH ANNIVERSARY PARTY. FOTO: I HATE FLASH

COM

WITH

FOTO: RENATO CUSTÓDIO

COM

FOTO:

86 CAPÍTULO 22
CHARLIE WILKINS, BOSTON, EUA. 2000. ALÊ VIANNA, BIANCA JHORDÃO E RODRIGO TX NO “TROFÉU CEMPORCENTOSKATE”. SP, 2011. ALÊ VIANNA, BIANCA JHORDÃO AND RODRIGO TX AT “CEMPORCENTOSKATE AWARD”. SP, 2011. BIANCA JHORDÃO NO “TROFÉU CEMPORCENTOSKATE”. SP, 2011. WITH BIANCA JHORDÃO AT “CEMPORCENTOSKATE AWARD”. SP, 2011. RENATO CUSTÓDIO

HORSE FACE

When I was a kid, I would sometimes appear in costume playing a character. I remember my mom always saying: “Look at grandpa Chico there!”, be cause my late grandfather always had the habit of dressing up. I find it curious that he died on March third, 1970, and I was born on March fourth, eight years later.

Certainly my most remarkable story in rela tion to this was when I traveled to Boston, USA, back in 2000. I went to meet my friend Charlie (Wilkins) who answered the door wearing bizarre dentures, teeth all rotten. I cracked up at that and said I needed to buy some of these for my self too! A month later, I returned to Brazil and the people at Pepa Filmes were starting to film “Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz”. I just showed up with my dentures, they also found it very bizarre and suggested that I be in the mov ie. I came up with the idea of the character being called “Horse Face” (from his appearance and in reference to the name of a famous thief who lived in Rio and was murdered in 1964), who’d be sort of adopted by Cão-Vira-Lata, leader of the gang. Because he was protected, he always believed that he was really handsome and a great rap talent.

In 2005, during a trip with De Leve to (DJ) Castro’s house, we ended up recording the skit “Horse Face meets De Leve”, where he asks for an opportunity to record a track. I didn’t even have my fake teeth on that day and I put paper on the

gum to make my voice sound like I was wearing dentures! I called De Leve a few days later, a bit in crisis, asking him not to use the recording be cause I hadn’t found it funny. But he replied that it was too late, they had already had the record pressed. Result: this skit became famous in the brazilian rap scene and the character came to life outside Pepa Filmes, making fame in rap!

Horse Face, then, went on to make appearances in concerts by De Leve, D2, at festivals such as Arte Core in Rio and even hosted the “Cemporcentoskate Trophy” in 2011, always with his controversial and egocentric style of someone who proclaims him self “the incarnation of rap”, even though it was a fiasco. In 2017, I recorded three episodes of “Sharp Talk with Horse Face” in partnership with Bruno Natal, a journalist friend from Queremos! channel, where he reviewed rap albums, always putting himself as superior to the rappers in fo cus, of course. A kind of of rap Forrest Gump.

To this day I play the character for the pure pleasure of having fun and also entertaining the people who enjoy it. During the most criti cal phase of the 2020 pandemic, I did some lives on Instagram that made a lot of people have a lit tle fun in the period we were living. I laughed to myself watching the videos, as if I had nothing to do with it! Sometimes I even think that it’s a rap entity “that possesses me”.

87
CAPÍTULO 22 ENGLISH

TESTIMONIALS

HELGA SIMÕES

“Minha primeira matéria de skate foi para a primeira edição do X-Games Latin America. Naquele momento algo mudou na vida.

Veio por terra a definição que skateboard era um esporte. Embora se tratasse de uma competição, a aproximação natural com quem vivia o skate desde sempre, me abriu o caminho para um novo entendimento: o skate era uma CULTURA, trazia por trás da prática, o modo de vida de pelo menos três gerações.

Estava dada a largada para a tentativa de estabelecer os limites entre as disputas entre atletas e as disputas entre skatistas. Um marco na minha vida profissional.

A partir daí, nunca mais fui a mesma. O skateboard me arrebatou. Passaria as próximas décadas nesta busca de retratar este significado forte e poderoso de se viver em cima do skate e tudo que envolve este mundo: a música, as artes, o estilo de vestir, de se relacionar. Um novo mundo, desconhecido de muitos e que outros tantos tentam transfigurar para jogar no meio de um “bololô” pasteurizado que tentam chamar de skate, mas não é.”

“My first skateboard story was at the first edition of X-Games Latin America. At that moment something changed in life.

The definition that skateboarding was a sport came to an end. Although it was a competition, the natural approximation with those who had always lived it, opened the way for me to a new understanding: skateboarding was a CULTURE, it brought, behind the practice, the way of life of at least three generations.

The attempt to establish the limits between disputes between athletes and disputes between skaters was started. A milestone in my professional life.

From then on, I was never the same. Skateboarding took me away. I’d spend the next decades in this quest to portray this strong and powerful meaning of living on top of skateboarding and everything that involves this world: music, arts, style of dressing and relating. A new world, unknown to many and that many others try to transfigure to play in the middle of a pasteurized entanglement that they try to call skateboarding, but it is not.”

DEPOIMENTOS

MÁRIO CALDATO

JR.

“Felipe sempre foi fiel a si mesmo, encontrando novas formas de expressar suas experiências de vida e criatividade em tudo que faz, de forma tão natural.”

APELIDADO XIS

“Felipe has always been true to himself, finding new ways to express his life experiences and cre ativity in everything he does, in such a natural way.”

“Motta é um dos caras mais talentosos que conhe ço. Nas artes, desenrola muito. Como ator deveria ter ganhado um Oscar com sua atuação como Cara de Cavalo, lenda no jogo do rap, sempre represen tando Grajaú Soldiaz. Tá di bobeira?!”

“Motta is one of the most talented guys I know. Talking about art, he kills it. As an actor, he should’ve won an Oscar for his performance as Horse Face, a legend in the rap game, always re presenting Grajaú Soldiaz.

TESTIMONIALS

NICOLE NANDES FABRÍCIO DA COSTA

“O skate foi minha base em tudo numa época muito importante da nossa vida; a transição da infância pra adolescência. Eu tinha 13, 14 anos, morava em Minas e meus melhores amigos andavam de skate. Ele foi responsável pela minha educação musical do rock ao rap; o jeito de me vestir mais street; o respeito e a empatia; não olhar com preconceito pra ninguém, independente de classe social; a competição saudável; e a malandragem que as ruas ensinam muito. Posso dizer que eu só não ando (já tentei, risos), mas o skate tá na veia mesmo assim desde novinha.”

“A cultura do skate me ensinou a ler a rua, vivenciar a cultura do improviso, D.I.Y, linguagens cruas associadas à técnica do rolê, matemático e obsessivo. Resiliência também: caiu, levanta, repeat, volta e… celebra de forma humilde, tranquila, mas com os homies mais felizes do mundo pela energia transmitida. A cultura criativa de todas as formas de expressão artística, design e arquitetura, que existem no skate desde sempre, foi o motivo que me levou ao design. Eu não teria construído a carreira internacional que tenho hoje, se não fosse um diferencial importante: eu sou skatista e entendo da rua. Então é isso, se não fosse o skate eu não teria seguido essa trajetória feliz na carreira criativa.”

“Skateboarding was my foundation in everything and at a very important time in our lives; the transition from childhood to adolescence. I was 13, 14 years old, I lived in Minas and my best friends were already skateboarding. It was responsible for my musical education from rock to rap, the street wear way of dressing, respect and empathy, not looking at anyone with prejudice regardless of social class, healthy competition and the wisdom that the streets teaches a lot. I can say that I just don’t skate (I’ve tried it) but skateboarding has been in my veins since I was young.

“Skateboard culture taught me to read the stre ets, experience the culture of improvisation, D.I.Y, raw languages associated with the sessions skills, mathematical and obsessive. Resilience also: fall, get up, repeat, come back and... cele brate in a humble, peaceful way, but with the ha ppiest homies in the world for the energy trans mitted. The creative culture of all forms of artistic expression, design and architecture that have existed in skateboarding since forever, was the reason that led me to a design career. I wouldn’t have built the international career I have today, if it weren’t for an important diffe rential: I’m a skateboarder and I understand the streets. So that’s it, if it wasn’t for skateboar ding I wouldn’t have followed this happy trajec tory in the creative career.”

DEPOIMENTOS

LÉO BRANDÃO

GRAZI OLIVEIRA

“Eu comecei a andar de skate numa cidade pequena, e isso por volta de 1987. De repente, o skate me mostrou que aquela cidade pacata (que não tinha nada para fazer) era legal! Pois havia na praça uma borda e várias escadas, numa determinada escola tinha uma parede inclinada, havia um corrimão ali, um degrau mais elevado lá, etc. O skate me fez enxergar o mundo com outros olhos, me trouxe amigos e um espírito lúdico que nunca mais perdi, tanto é que continuo andando de skate até hoje! Com o tempo, fui cada vez mais me interessando pela história do skate, o que me levou a ser um pesquisador desta atividade. Foi estudando o passado do skate que fiz minha graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Portanto, essa paixão de criança também se tornou parte da minha profissão.”

“O skate na realidade é o maior fator influenciador na minha vida. Sem ele, eu acho que eu não estaria onde eu estou. O skate me moldou, me abriu portas, me inspirou e me projetou pra ser a profissional que eu sou hoje. Foi através do skate que eu me encontrei na minha carreira profissional. Me ensinou a lidar com situações diferentes na minha vida, de pessoas, de comportamento, de improvisação. Todo dia ele me ensina alguma coisa nova, me conecta com outras pessoas que sem ele talvez eu nunca atingiria, nunca conseguiria ter esse acesso. O skate é uma fonte de inspiração, uma fonte de conexões com outras artes, seja ela ligada à música, seja ela ligada ao esporte, seja ligada a uma cultura mesmo. (...) A gente tá vivendo um novo momento, um momento mais popular e mais valorizado. Então, pode ser que o skate me leve a outros lugares que eu nem imagino.”

“I started skating in a small town, that was around 1987. Suddenly, skateboarding showed me that this quiet town (which I had nothing to do there) was cool! In the square there was a ledge and several stairs, in a certain school there was a sloping wall, a handrail here, a higher step there, etc. Skateboarding made me see the world with different eyes, it brought me friends and a playful spirit that I never lost, so much so that I continue skateboarding to this day! Over time, I became more and more interested in the history of skateboarding, which led me to become a researcher of this activity. It was by studying skateboarding’s past that I did my undergraduate, master’s, doctoral and postdoctoral degrees. So this childhood passion also became part of my profession.”

“Skateboarding is actually the biggest influencing factor in my life, without it I don’t think I’d be where I am. Skateboarding has shaped me, has opened doors and inspired me to be the professional I am today. It was through skateboarding that I found myself in my professional career, it taught me how to deal with many different situations in my life, people, behavior, improvisation. Every day it teaches me something new, connects me with other people that without it maybe I’d never reach, I ‘d never be able to have that access. Skateboarding is a source of inspiration, a source of connections with other arts, be it linked to music, linked to sport, or bequeathed to a culture itself. (...) We are living a new moment, a more popular and more valued moment. So maybe skateboarding will take me to other places I can’t even imagine.”

DESIGN GRÁFICO

GRAPHIC DESIGN

Por conta do meu “maravilhoso” desempenho no vestibular, acabei não conseguindo passar pra ne nhuma faculdade pública. Escolhi, então, tentar a Faculdade da Cidade, que era reconhecida pelo curso de design gráfico. Na prova de admissão, um candidato com bermuda de surfe e cabelo parafi nado terminou em uns 10 minutos, se levantou, foi arrastando o chinelo até a mesa do fiscal, entre gou a prova e falou: “Vô pá praia”. Lembro que pen sei comigo mesmo: “onde tô me metendo?”.

Mas a faculdade era boa e, apesar de me sen tir meio preso naquele prédio em Ipanema, por ser acostumado com o tamanho e a área externa do CEAT, minha vontade de cursar design gráfi co era maior. Uma das minhas grandes motivações era poder desenvolver não apenas ilustrações, mas cuidar também, por exemplo, de todo o proje to gráfico de um disco, o que inclui conceituação, diagramação e finalização. Apesar de ter levado bomba duas vezes no colégio, a experiência na fa culdade foi completamente diferente. Eu tava tão louco pra finalmente seguir minha vocação, que só repeti uma única matéria e ainda adiantei vá rias outras. Me formei em 2002, e lá se vão 20 anos de formado!

Because of my “wonderful” performance on the en trance exams, I ended up not being able to pass to any public college. So, I chose to try going to Faculdade da Cidade, which was recognized for its Graphic Design course. In the admission test, a candidate wearing surf shorts and paraffin hair. He finished the test in about ten minutes, got up, dragged his flip-flops to the inspector’s ta ble, handed in the test and said: “Imma go to the beach…” I remember thinking to myself: “what am I getting into?”.

But college was good and, despite feeling a lit tle trapped in that building in Ipanema, as I was used to the size and the outdoors of CEAT, my de sire to study Graphic Design was greater. One of my main motivations was to be able to develop not only illustrations, but also taking care, for ex ample, of the entire graphic project of an album, which includes conceptualization, layout and fi nalization. Despite having repeated twice in high school, the college experience was completely different. I was so eager to finally follow my vocation, that I only got an E on a single class. I was even ahead of the group on several others. I graduated in 2002, and there goes 20 years of graduation!

92 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 23 ENGLISH

MOTHAFUCK ICECREAM

Como projeto final, escolhi criar a identida de visual pro Mothafuck Icecream, saudoso sorve teiro que habitava o underground carioca. Amaro Ramos da Silva, seu nome de registro, estava sem pre presente nas pistas de skate, nas portas de boates e shows da cena alternativa do Rio dos anos 1990, começo dos 2000.

Minha ideia foi dividir o projeto em duas partes: a primeira criando uma identidade visual volta da pro público underground, com peças de apoio de baixo custo, como stencils e camisetas seri grafadas em apenas uma cor. Já na segunda eta pa, todo o design girava em torno de uma história fictícia em que Amaro teria vendido sua marca, e o Mothafuck Icecream havia se tornado um gigante concorrente das grandes marcas do mercado.

O sorveteiro retratado na primeira etapa com traços bem urbanos e rabiscados, agora virava um carismático personagem de cartum. Os sorvetes de nomes esdrúxulos ganharam embalagens com vi sual totalmente pop e peças gráficas grandiosas, como empenas de prédios e ônibus envelopados com a marca Mothafuck Icecream. No mínimo, uma piada, já que jamais uma marca de sorvetes gigante teria o nome de um palavrão cabeludo, mesmo que em in glês — por mais que no anos 1990 o grupo Gillette tenha cantado “Don’t want no short dick man”, no programa (infantil) da Xuxa.

Acabei ganhando 10 no projeto, e até hoje, 20 anos depois, tem gente que se formou na mesma univer sidade e vem comentar comigo sobre o trabalho. Recebi, inclusive, um convite pra ter o projeto publicado na revista Designe, publicação de de sign que a Faculdade da Cidade (que posterior mente mudou o nome pra UniverCidade) fazia, com direito a texto de introdução cheio de elogios do Ricardo Leite, conceituado designer gráfico e meu orientador no projeto. Nunca mais vi o Mothafuck Icecream. Muita gente diz que ele faleceu.

Até hoje ele é um personagem clássico do folclore urbano carioca. Ter ele como tema do meu projeto final foi inesquecível pra mim!to final foi ines quecível pra mim!

As a final project, I chose to create the visu al identity for “Mothafuck Icecream”, late ice cream seller who inhabited the carioca under ground. Amaro Ramos da Silva, his official name, was always present on the skate parks, in front of nightclubs and shows in the alternative scene in Rio in the nineties, early 2000s.

My idea was to divide the project into two parts: the first creating a visual identity aimed to the underground audience , with low-cost sup port pieces, such as stencils and one- color- silk screened tees. In the second stage, the entire design revolved around a fictional story where Amaro would have sold his brand and Mothafuck Icecream had become a giant competitor to the ma jor brands on the market.

The ice cream man portrayed in the first stage with very urban and scribbled features, now turned into a charismatic cartoon character. The weirdly -named types of ice creams got a totally pop-look packaging and grandiose graphic pieces such as building gables and buses enveloped with the “Mothafuck Icecream” brand. Of course It was a joke, since a giant ice cream brand would never be named after cuss words, although in the nine ties the Gillette group sang “Don’t want no short dick man”, on Xuxa’s children TV show.

I ended up getting an A+ in the project and even today, 20 years later, there are people who grad uated from the same university and to this day, they talk to me about it. I even got an invitation to have the project published in Designe magazine, a design publication that Faculdade da Cidade (which later changed its name to UniverCidade) used to make, with the right to an introductory text full of praises from Ricardo Leite, renowned brazilian graphic designer and my advisor on the project. I never saw “Mothafuck Icecream” again, many people say he passed away.

To this day he is a classic character of carioca urban folklore and having him as the theme of my final project was an unforgettable experienced!

94 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 24 ENGLISH
95
CAPÍTULO 24
CARTAZ DE TRIBUTO À MOTHAFUCK ICECREAM EM 2002. 2002 MOTHAFUCK ICECREAM TRIBUTE POSTER. COM AMARO SILVA, O ‘MOTHAFUCK ICECREAM”. RJ, 2002. WITH AMARO SILVA, THE ‘MOTHAFUCK ICECREAM”. RJ, 2002. FOTO: ISABELLA CARDIN

A história de usar uma Kombi como meu logo co meçou em uma aula na faculdade, em que o exercí cio era criar seu próprio cartão de visitas. Juro que não sei bem o que me deu. Resolvi fazer um car tão em formato de Kombi e escrever “Felipe Motta: Design, Ilustrações e Frete”. Sempre tive uma re lação de afeto com esse carro da Volkswagen. É um automóvel que até hoje é sinônimo de brasilidade e com um apelo muito popular.

Curiosamente, meu pai teve uma Kombi furgão. Lembro de, na minha infância, irmos pro sítio do meu avô, eu e meu irmão Gabitto, sentados em ca deiras de praia (em “total segurança”) deslizando pra lá e pra cá, já que era um carro de carga. Algo impensável nos dias de hoje!

Fiz meu primeiro site por volta de 2005, que ba tizei de Mottamobil com a ajuda do meu amigo Fábio Righetti, que conheci como cliente da Fólio Comunicação (meu primeiro estágio na época da faculdade). Criei o layout, e ele programou o site em Flash (tecnologia que era vanguarda e permitia trabalhar com animações bem fluidas). A Kombi su bia uma pinguela enquanto o site carregava e des pencava de um penhasco quando chegava no 100%, com direito a um grito estridente que o Pepa gra vou pra mim! Deu um susto em muita gente desavi sada! Inesperado que nem o atual “gemidão do zap”. Acabei mesmo adotando o carro como meu logo, tendo algumas versões de cor ao longo dos anos e ficando cada vez mais detonada com o passar do tempo. Ultimamente, tenho me divertido fa zendo versões da minha Kombi pra clássicos como a van do Scooby-Doo, Esquadrão Classe A, CaçaFantasmas, Little Miss Sunshine e etc.

Pra minha surpresa, durante um almoço de família minha mãe me contou como ela foi pra maternidade. Adivinha em que carro meus pais estavam? A histó ria do frete fez mais sentido ainda!

The story of using a Volkswagen “Bug van” as my logo started in a college class - the project was to create our own business cards. I swear I’m not sure about what was in my mind, I decided to make a bug van shaped card and write - “Felipe Motta: Design, Illustrations and Freight”. I’ve always had an affectionate relationship with this Volkswagen model. It’s, to this day, synony mous with “Brazilianness” and it’s got a very pop ular appeal in Brazil. Interestingly, my father used to have a bug van, and I remember going to my grandfather’s country house in my childhood, my brother Gabitto and I, sitting on beach chairs (in complete safety) slid ing back and forth, since it was kind of a freight car. Something unimaginable these days!

I created my first website around 2005, which I named Mottamobil, with the help of my friend Fábio Righetti, who I met as a client at Fólio Comunicação (my first internship at college). I designed the layout and he programmed the site using Adobe Flash (at the time, an avant-garde technology which made the work with very fluid animations possible): the bug van climbed a steep hill while the website loaded and plummeted from a cliff when it got 100% loaded, with the right to a shrill scream that Pepa recorded to me! It scared a lot of people who weren’t expecting to listen to it!

I ended up adopting the car as my logo, having some color versions over the years and getting more and more trashed as time goes by. Lately, I’ve been having fun making versions of my bug van for classics like the Scooby-Doo van , A-Team, Ghostbusters, Little Miss Sunshine and etc.

To my surprise, during a family lunch, my moth er told me that when she went to maternity, guess what car my parents were in? The freight story story made even more sense!

96
PORTUGUÊS MOTTAMOBIL CAPÍTULO 25 ENGLISH
97 CAPÍTULO 25

MOTTILAA COM 2 TS E 2 AS

MOTTILAA WITH 2 TS AND 2 AS

Meu nome completo é Felipe Pradela Expósito Motta, por conta da ascendência italiana e portu guesa. No meu colégio, tinha três Felipes na minha sala, então acabaram se acostumando a me chamar de Felipe Motta ou só Motta (nada mirabolante até agora).

Às vezes, acho que teria sido melhor ter começado como Felipe Pradela, já que não conheço ninguém com esse sobrenome.

Quando comecei a grafitar, em 2001, assinei Motta por alguns anos, mas sempre achei bem sem graça ser apenas meu sobrenome nas ruas. À medida em que fui fazendo meu nome no meio do skate, principalmente, começaram a acontecer algumas situações engraçadas com outro Felipe Motta. Descobri que havia um ho mônimo meu no mercado, que era snowboarder profis sional e escrevia colunas sobre o esporte na revista Observer, da mesma editora da revista Cemporcento, a Katastrophe. Já me ligaram pedindo críticas de vídeo de snowboard, já me escreveram pedindo pa trocínio da Emerica, na época em que o Felipe era distribuidor da marca no Brasil. Depois, quan do ele foi presidente do grupo do qual a Element Skateboards pertencia (e eu também fazia parte do

time), rolou muita confusão de quem era quem! Ele, por sua vez, também passou por situações de elogia rem uma arte que eu havia feito, receber email de trabalho que era pra mim e por aí vai. Quando nos encontramos pessoalmente pela primeira vez, com binamos de almoçar e foi muito engraçado cruzar mos essas histórias.

A vontade de trocar o nome que eu assinava com to das essas confusões com o Felipe Motta do sno wboard juntou a fome com a vontade de comer. Depois de ver uma garrafa de rum Montilla no mercado, tive o insight de misturar o sobrenome Motta com a palavra Godzilla (o monstro japonês) e fiquei um tempo usando Mottilla (com dois Ts e dois Ls). Por conta dos dois Ls fazerem outro som na pronúncia, acabei trocando por dois As.

Assim surgiu o atual MOTTILAA, que uso em caixa alta por influência do grafite, pra dar mais uma complicada básica! Por que não complicar?

98
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 26 ENGLISH

My full name is Felipe Pradela Expósito Motta, because of my Italian and Portuguese descent. There were three “Felipes” in my class in school, so they got used to calling me “Felipe Motta” or just “Motta” (nothing fancy so far). Sometimes I think it ’d have been better to have started as Felipe Pradela, since I don’t know anyone with that last name.

When I started graffitiing, in 2001, I used to sign ‘Motta’ for a few years, but I always thought it was very awkward to just have my last name on the streets. As I was getting recognized in skate boarding, mainly, some funny situations start ed to happen with another guy also called Felipe Motta. I discovered that there was a namesake on the market, who was a professional snowboarder and wrote articles about the sport in Observer magazine, from the same publisher of Cemporcento magazine, Katastrophe. They’ve already called me asking for snowboarding video reviews, they’ve also written asking for the sponsorship from Emerica at the time Felipe was a distributor of the brand in Brazil. Afterwards, when he was the president of a group Element Skateboards be longed to (and I was also part of the team), there

was a lot of confusion about who was who! He’s also been through situations like people praising an art I had made, getting work emails that were sent to me and so on. When we met for the first time, we agreed to have lunch and it was very fun ny to cross these stories.

The desire to change the name I used to sign with all the mess with Felipe Motta from Snowboard made me want to change it . After seeing a bot tle of Montilla (popular rum in Brazil) in the supermarket, I had the insight to mix the Motta surname with the word Godzilla (the Japanese monster). So I spent some time using “Mottilla” (twoTs and two Ls). Considering writing two Ls changed the pronunciation in spanish, I ended up exchanging the two Ls for two As.

That’s how the current MOTTILAA was born, which I write with capital letters due to the influence of graffiti, just to give it a more complicated look! Why not complicate??

99
CAPÍTULO 26
2 FELIPE MOTTAS. 2 FELIPE MOTTAS.

GRAFFITI

Na faculdade conheci um grupo de amigos que esta va começando a pintar muros no Rio. Tomaz, Bruno, Rafael e Rodrigo (respectivamente TOZ, BR, LETS e ROD), que também cursavam design gráfico. Estavam começando a Fleshbeck Crew (FBC), uma das princi pais crews de grafite no Rio até hoje.

Tomaz começou a botar pilha pra eu sair com eles, falava que meus desenhos iam ficar legais gran des nas ruas. Fiquei uns seis meses saindo com eles quando iam pintar, pra ver como era. Durante uma pintura em um muro na Lagoa, na metade de 2001, estreei pintando meu avô Carlinhos e curti mui to. Não só o desafio de transferir pro muro o que tava na minha cabeça naquela hora, mas também o estar junto, pintando com amigos. Fiquei alguns anos fazendo parte do FBC, mas minha periodicida de nos muros nunca foi muito grande. Pra ser sin cero, nem me considero grafiteiro, acho que esse título cabe pra quem tá sempre pintando na rua — sou um artista gráfico/visual que também pinta na rua e tenho o grafite como um dos suportes pra minha expressão artística.

Apesar de ter pintado durante um tempo o Negolindo, personagem inspirado em menores mo radores de rua, sempre relutei em repetir muito o que eu pintava nos muros, e isso é uma estratégia no grafite pra fazer fixar seu trabalho na cabeça das pessoas que veem seus desenhos nas ruas. Nesse sentido, tanto no grafite quanto na arte, minha avidez por novidade, a minha vontade de criar e fazer coisas novas/diferentes, evitando a repeti ção, dificultaram até um pouco meu caminho.

Curto muito pintar em grupo, principalmente com amigos. Me possibilita aprendizados, troca de in formações e convivências estimulantes. Percebo vários paralelos entre o skate e o grafite, já que os dois são atividades que nasceram nas ruas e te chamam pra estar nelas. A ocupar e repensar es ses espaços. Tudo isso tem um lado muito forte de exercício do convívio com diferenças. No skate e no grafite é normal interagirmos e fazermos ami zades com pessoas de diferentes classes sociais, de diferentes pontos da cidade, de outros estados ou de outros países. Não tem como ser insensível e não sair da própria bolha.

100 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 27 ENGLISH
GRAFITE
1º GRAFFITI. LAGOA, RJ. 2001. • 1ST GRAFFITI. LAGOA, RJ. 2001

I met a group of friends in college who were starting to paint murals in Rio. Tomaz, Bruno, Rafael and Rodrigo (respectively TOZ, BR, LETS and ROD), who also studied Graphic Design. They were starting the Fleshbeck Crew (FBC), one of the main graffiti crews in Rio until today.

Tomaz started to encourage me so I would go out with them, he said that my drawings would look great on the streets. I spent about 6 months hang ing out with them when they were going to paint, just to check what it was like. When they were painting a mural in Lagoa, in mid-2001, I finally painted for the first time. It was my grandfather Carlinhos, and I really enjoyed it; not only for the challenge of transferring to the wall what was in my mind at that time, but also being to gether, painting with friends. I was part of the FBC crew for a few years, but I didn’t actual ly paint a lot. To be honest, I don’t even consid er myself a graffitti writer, I think this ‘title’ fits those who are always painting on the streets – I’m a graphic/visual artist who also paint in door and outdoor murals, and I do have graffiti as one of the supports for my artistic expression.

Despite having painted Negolindo for a while, a character inspired in homeless kids from Rio, I was always reluctant to repeat a lot what I painted on walls, and this is a graffiti strate gy to make your work “stick” to the minds of peo ple who see your artwork on the streets. In this sense, either in graffiti or in art, i guess my ea gerness for original things and my desire to cre ate and do new/different things, avoiding repeti tion, made my path a little difficult.

I really enjoy painting in groups, mainly with homies. It allows me to learn, exchange infor mation and it also stimulates coexistence. I no tice several parallels between skateboarding and graffiti, since both are activities that were born on the streets and make you want to take part of. They also make you want to occupy and rethink these spaces. All of this has a very strong side of exercising living with differences. Skateboard and graffiti make you interact and make friends from different social classes, from different parts of the city, from other states or other countries. There isn’t a possibility of being in sensitive, it makes you get out of your own bubble.

101
CAPÍTULO 27
“CHORA BANANEIRA”. ARTE CORE, RJ. 2013. MATEO VELASCO, MENT, SWK AND MOTTILAA. LAPA, RJ. TRONKITO. LAGOA, RJ. FLESHBECK CREW E AGREGADOS: DAZE, BINHO, TOZ, LETS, ROD, MOTTILAA, CHICO, PIÁ E BR. 2003.

SOME OLD SCHOOL FLAVA

Certa vez resolvi pegar fotos antigas da minha família por parte de mãe e pai, tiradas bem antes do meu nascimento, pra fazer intervenções. Como experimento, fiz essa série de ilustrações digi tais, inserindo personagens atuais e do rap que interagem com as cenas das cinco fotos. Curti mui to ressignificar essas imagens e me inserir nelas de alguma forma.

Na foto de uma lotação cheia de gente (um tipo de ônibus comum na época em que meu avô aparece em uma das janelas), simulei um grafite na lateral do veículo e ao invés de escrever “Holla Back” escre vi sem querer “Holla Bad”. O deslize acabou vi rando uma expressão de brincadeira entre alguns amigos de Chicago. Também usei, algumas vezes, em shapes pra marca Uprise!

Depois disso, fiz outras experiências a partir de fotos, só que com pincel e acrílica. Algumas so bre fotos de desconhecidos arrematadas em fei ra de rua. Uma delas esteve na exposição coletiva “Daslu Urban Art”, em 2007.

Once I decided to take my family’s old photos, the ones taken a lot of time before my birth, to make interventions. As an experiment, I made this se ries of digital illustrations, putting current rap characters interacting with the scenes of five photos. I really enjoyed reframing these images and somehow “inserting” myself on them.

On the photo of a bus, full of people (a common type of bus at that time and where my grandfather is shown by one of the windows), I simulated a graffiti by the side of the vehicle, and instead of writing “Holla Back” on it, I accidentally wrote “Holla Bad”. A slip that turned into a joke ex pression among some friends from Chicago, and that I also used a few times in decks I made for the Uprise brand!

After that, I got to make other experiments with photos, only with brush and acrylic. Some of them using pictures of strangers bought on a flea mar ket. One of them went to the collective art show Daslu Urban Art, in 2007.

102
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 28 ENGLISH
103 CAPÍTULO 28
104 CAPÍTULO 28
105 CAPÍTULO 28

Conheci o Edu Lopes quando eu tinha 11 anos de idade. Ele morava na Equitativa, condomínio resi dencial que fica colado com o colégio onde eu es tudava. Nandinho, amigo de turma que também mo rava lá, andava de skate e, às vezes, combinávamos que eu levaria o skate pra escola pra depois da aula andarmos na quadra da Equitativa.

Nos encontrávamos também na mureta do lado de fora do colégio, onde ficávamos aglomerados tro cando ideia. Também lembro de ver o BNegão por lá algumas vezes, ainda antes deles começarem o Funk Fuckers, banda pré-Planet Hemp, por onde passaram tanto o Edu quanto o Nandinho, que chegou a ter uma repercussão no cenário independente.

Voltamos a nos reconectar quando eu tinha uns 16 anos andando de skate na rua com Serginho, Vitu e Shulyba (o quarteto Canguru Nuclear). Ele sempre foi ligado à música e, na virada de 1999 pra 2000, gravou uma demo tape com Jera e Breno Ung, ami gos nossos do skate, usando um jogo de beats do Playstation. Ali surgia A Filial, um projeto que teve diversas formações desde que começou e, ao meu ver, sempre foi liderado pelo Edu; assim como a banda Cabeça, do saudoso Fábio Kalunga.

Quando começaram a gravar o primeiro disco (o EP A FIlial), eu estava na faculdade de design gráfi co. Uma das minhas grandes vontades era justamen te unir minhas ilustrações com design e assinar projetos gráficos de discos. Breno saiu, entrou Serginho (que assumiu o codinome de Nhogi) e gra varam na casa do Jera. Era engraçado acompanhar as gravações de voz dentro do box do banheiro!

Me ofereci pra cuidar da arte do disco, o primei ro de todos que faria! Foi emocionante quando vi mos a tiragem de mil CDs pronta! Teve um sabor especial por ser uma grande conquista pra cada um de nós. Depois disso, fiz as capas dos albúns Quem menos tem é quem mais oferece, 1,99, mais um monte de artes pra A FIlial e pra várias outras bandas e artistas. Edu continua meu companhei ro de sessão de skate até hoje, mais de três déca das depois.

I met Edu Lopes when I was 11 years old. He lived in Equitativa, a residential condo that is locat ed next to the school I studied. Nandinho, a class mate who also lived there, used to skate and some times I brought my skateboard to school so that we could skate at Equitativa’s court after class. We also met on the short wall outside my school, where we’d get together talking shit. I also re member seeing BNegão there a few times, even be fore they started Funk Fuckers , a pre- Planet Hemp band where both Edu and Nandinho also played and which had an impact on the indepen dent scenario.

We met again when I was about 16 years old and used to skate with Serginho, Vitu and Shulyba (the Nuclear Kangaroo quartet). He has always been connected to music, and at the end of 1999/begin ning of 2000 he recorded a demo tape with Jera and Breno Ung, friends of ours who we used to skate, using a Playstation beats game. “A Filial” was born there, a project that has had different formations since it started and, in my point of view, it has always been a project led by Edu; the same way it happened with Cabeça band, by the late homie Fábio Kalunga.

When they started recording the first album (the “A FIlial” EP), I was in college studying Graphic Design, and one of my great desires was precise ly to unite my illustrations with design and be able to sign graphic projects for records. Breno quit it, Serginho came in (who took the codename “Nhogi”) and they recorded everything in Jera’s house. It was funny to follow the voice recordings inside the bathroom!

I offered to take care of the album artwork, the very first that I would do! It was exciting when we realized the 1,000 CDs print run was ready! It had kind of a special taste for being a great achievement for each one of us. After that I de signed the covers of the albums “Quem menos tem é quem mais oferece”, “1.99”, and a lot of artworks for “A Filial” and for several other bands and artists. Edu remains my skate sessions companion til this day, more than three decades later.

106
PORTUGUÊS A FILIAL CAPÍTULO 29 ENGLISH
107 CAPÍTULO 29
EDU LOPES, TERESÓPOLIS, RJ. 2001.

AGACÊ E PANDA

AGACÊ AND PANDA

No finalzinho dos anos 1990, os anúncios de uma marca recém-chegada no mercado começaram a me chamar atenção. Agacê kateboarding fazia gráfi cos e os anúncios cheios de tiradas. Em um deles, a marca convocou artistas a enviarem ideias pra gráficos. Liguei pro Alê (Vianna) pra tentar sa ber mais sobre a marca, de quem era, etc. Expliquei que tinha ficado com muita vontade de entrar em contato e perguntei se ele não poderia fazer uma ponte, no caso, com o Tiago Moraes (um dos fun dadores da Agacê). Foi quando ouvi do Alê: “Liga lá você, diz quem você é, que, com certeza, ele tá ligado no seu trampo!”. Confesso que desliguei o telefone meio inconformado. Pensei: “Eu colabo ro com a revista e ele não pode só fazer essa pon te pra mim?”. Mas foi a melhor coisa. Quando li guei pro Tiago, ele realmente sabia quem eu era e a sintonia aconteceu! Contei a ideia que tinha pra criar uma série de shapes e ele abraçou sem ver layout algum.

Começava aí não só uma parceria, que durou muitos anos, mas também ganhava de brinde um grande ami go, que apelidei de “Panda” (aleatoriamente ins pirado em um adesivo que vimos com um personagem chamado Panda Poo), apesar de só eu e meia dúzia de gatos pingados chamarmos ele assim.

Um tempo atrás, durante uma conversa, uma amiga ficou surpresa quando descobriu que somos ami gos. Eu falei que não só era amigo, como já tínha mos até caído de moto juntos! Foi durante uma ca rona de moto com ele em SP, mais precisamente na antiga avenida Águas Espraiadas. Ao cortar cami nho em um gramado pra chegar em casa mais rápi do, batemos em um pedregulho e voamos em slow motion. Era hora do rush, o trânsito na avenida es tava todo parado, e eu caí com a mochila e o lap top dele. No tombo, consegui cair dando uma estre la mal feita por cima do Panda. Até hoje não sei nem como. Tragicômico e diversão garantida pros engarrafados!

In the late 1990s, ads of a new brand on the bra zilian market started to catch my attention. Agacê Skateboarding made graphics and ads full of smart ideas. In one of them, the brand invit ed artists to submit ideas for graphics. I called Alê (Vianna) to try to find out more information about the brand, who owned it, etc. I explained that I really wanted to get in touch with him, and asked if he could make a brigde, in this case, with Tiago Moraes (one of the founders of Agacê). That’s when I heard from Alê: “You call him, tell’m who you are, he definitely knows about your art work!”. I confess that I hung up the phone a little bummed. I thought: “I collaborate with the maga zine, and he can’t he just make a call or whatev er?”. But that was the best thing: when I called Tiago, he really knew who I was and the tune hap pened! I told him the idea I had to create a series of decks and he embraced the idea, without even seeing any layout.

This was the beginning of not only a partner ship that lasted many years, but also of a great friendship, with who I nicknamed “Panda” (ran domly inspired by a sticker we saw, with a char acter called “Panda Poo”), even though there are just very few friends who call him by that. Sometime ago, during a conversation, a friend was surprised when she found out that Tiago and I are friends. I said that he was not only a close friend, but we had even fallen off a mo torcycle together! It was during a motorcycle ride with him in SP, more precisely on the old Águas Espraiadas Avenue that, when cutting a path through a lawn to get home “faster” we hit a boul der and flew in slow motion . It was rush hour, traffic on the avenue was at a standstill, and I fell in with his backpack and laptop. In the fall I managed to give a poorly made star over Panda. To this day I don’t even know how. Tragicomic and guaranteed fun for the bottled ones.

108
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 30 ENGLISH
109 CAPÍTULO 30
110 CAPÍTULO 30
111 CAPÍTULO 30

“DESCONTROLE” NA ESTREIA

Uma adolescente atirando um telefone sem fio num vaso de plantas, um idoso batendo em uma mesa de xadrez de praça, um moleque socando a tela de um fliperama e um gato dando uma patada na tigela de ração de um pitbull. O gato desenhado era uma re ferência à Lu, gatinha do meu amigo Serginho. O tal idoso revoltado no xadrez foi inspirado em um coroa mal-encarado que marcava ponto na pracinha do Grajaú. Toda vez que eu passava por ali imagi nava uma cena dele perdendo o controle, socando a mesa de xadrez, derrubando as peças e acaban do com o jogo. Essa história que tanto visualiza va foi o ponto de partida.

Pra essa série, fiz as ilustrações originais a lá pis; com pincel, fiz os traços em nanquim e digi talizei pra colorir no Photoshop, em um PC 486 que já estava começando a bater pino e deixou o processo bem lento! Engraçado contar isso hoje em dia, mas, na época, quando eu fazia algumas alte rações no arquivo e clicava pra salvar, demorava tanto tempo que dava pra levantar e ir resolver outras coisas — parecia até um render de um ar quivo de vídeo pesadíssimo!

Até que chegaram os anos 2000, junto com um mon te de profecias do fim do mundo, ameaças de um tal “bug do milênio” e toda a sorte de folclores. O mundo não só não acabou, como tive a alegria de finalmente ter minha primeira série de shapes produzida! “Descontrole” saiu pela marca Agacê Skateboarding apresentando quatro situações de perda de controle, sem mostrar o motivo, nem o que sucedeu após o ato. Em todas as situações, além do protagonista no ápice do descontrole, havia sem pre alguém na cena espantado com aquela reação.

Quando os shapes finalmente ficaram prontos, o Tiago me enviou por meio do Márcio “Arqueiro”, que na época era o representante da Agacê no Rio. Ele deixou o embrulho com os quatro shapes na portaria de um prédio no Centro da cidade, onde funcionou durante um tempo o escritório da extin ta revista Rio Skate Mag. Lá, fui colaborador de arte e textos por alguns anos.

Peguei um ônibus pro Grajaú e voltei abraçado com aquele pacotão ainda fechado. Quando cheguei em casa, fui pro meu quarto, desembrulhei tudo e, quando finalmente vi ao vivo os primeiros sha pes que eu fiz na vida, escorreu aquela lágrima de alegria.

112
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 31
113 CAPÍTULO 31

“OUT OF CONTROL” AT THE PREMIERE

So the 2000s arrived, along with a bunch of dooms day prophecies, threats of a “millennium bug” and all sorts of folklore. Not only did the world survive, I also had the joy of finally having my first deck series produced! “Descontrole (Out of Control)” was released by the brand Agacê Skateboarding, presenting four situations of control loss, without showing the reason or what happened after the act. In all situations, in addi tion to the protagonist at the height of being out of control, there was always someone in the scene amazed by that reaction.

A teenage girl tossing a wireless phone into a potted plant, an elderly hitting a chess table, a kid punching an arcade screen, and a cat paw ing a pit bull ‘s food bowl . The drawn cat was a reference to Lu, my friend Serginho’s cat. The an gry old man hitting the chess table was inspired in a bad-looking old man who frequented Grajaú square. Every time I went by, I ended up imagining a scene of him losing control, punching the chess table, knocking over the pieces and interrupting the game. This story I visualized so much was the starting point.

For this series, I made the original illustrations in pencil, with a brush I made the lines in China ink and scanned to give it color in Photoshop, us ing an almost broken PC 486, the process was very slow! Funny to say that nowadays, but, at the time, when I made some changes to the file and tried to save it, it often took so long, that I could get up and go solve other things – it even looked like a render of a heavy video file!

When the decks were finally ready, Tiago asked Márcio ‘Arqueiro’ to send it to me. He was Agacê’s representative in Rio. He left a package (with the four decks) at the entrance of a building down town RIo, where for a while was the office of Rio Skate Mag, a magazine I would soon be a collabo rator of art and texts for a few years.

I took a bus to Grajaú and came back hugging that big package that was still closed. When I got home, I went to my room, unwrapped everything and when I finally saw the first decks I had ever made in my life, a tear of joy flowed.

114
ENGLISH CAPÍTULO 31
115 CAPÍTULO 31

“SERGINHO DA CRAIL”

SERGINHO OF CRAIL

Poucos anos depois, Tiago fez um acordo com o Serginho Bellinetti, dono da Crail Trucks, e a Agacê passou a ser uma marca do grupo. Tiago pas sou a cuidar do marketing das marcas (que virou então a distribuidora SUPA) e também continuou assinando a direção criativa da Agacê durante os anos em que trabalhou lá. Tenho muitas memórias boas dessa época, não só por ter frequentado mui to a Crail durante esses anos, como pelos proje tos que desenvolvi pra Agacê, pra própria Crail e pra extinta Hardply, uma outra marca de shapes do grupo voltada a skatistas iniciantes.

Tenho um carinho e um respeito muito grande pelo Serginho, não só pela pessoa como por tudo que ele já fez pelo skate no Brasil. Já testemunhei atitu des e posicionamentos que só fizeram meu respei to por ele aumentar. Ter uma marca independente, e de trucks, com mais de 30 anos de mercado brasi leiro é digno de se ganhar um busto de bronze em uma praça pública!

A few years later, Tiago made an agreement with Serginho Bellinetti, Crail trucks own er, and Agacê turned into a brand of the group. Tiago started to take care of the marketing of the brands (which then became SUPA distributor) and also continued to sign the creative direc tion of Agacê during the years he worked there. I have many good memories of that time, not only because I used to go to Crail a lot during those years, but also because of the projects I devel oped for Agacê, for Crail itself and for the for mer Hardply, another board brand from the group aimed to beginner skaters.

I have great affection and respect for Serginho, not only for him as a person, but for everything he has done for skateboarding in Brazil. I have already witnessed attitudes and positions that only made my respect for him increase. Having an independent brand, truck brand lasting more than 30 years on the Brazilian market is worthy of a bronze bust in a public square!

116
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 32 ENGLISH
TROFÉU CRAIL CUP 05. SP, 2005 CRAIL CUP 05 TROPHY. SP, 2005
117 CAPÍTULO 32
SÉRIE SELVA DE PEDRA. HARDPLY CONCRETE JUNGLE SERIES. HARDPLY
118 CAPÍTULO 32
119 CAPÍTULO 32
SÉRIE SELVA DE PEDRA 2. HARPLY CONCRETE JUNGLE 2 SERIES. HARDPLY

Viajei com Vitu pra Porto Alegre no começo de 2002 pra ficarmos na casa do Lao Cabrera, ami go que, na época, era DJ residente em uma boate de playboy de POA onde tocava rap, além de ser voca lista da banda Groove James. Passamos três sema nas entre a casa dele e a do Feijão, amigo do Lao, que também era DJ e tocava com ele na tal boate. Uma das grandes lembranças dessa viagem é o quan to rimos nessas três semanas. Embora ainda ti vesse graça, a grana foi terminando. Ainda no Sul tive uma ideia boa pra uma série nova de shapes. Resolvi, então, ligar pro Tiago (Moraes) que agora era gerente de marketing da Agacê — e de outras marcas do grupo Crail — pra saber o que ele acha va. Como ele curtiu muito a ideia de representar o rosto dos três skatistas profissionais do time (Esteban Florio, Fábio Cristiano e Sergio Garb) com máscaras de luta-livre (antigamente chama da aqui de Telecatch), sugeri ir direto pra São Paulo e lá mesmo fazer a série em um computador da Crail. Aproveitando que ele também estaria to dos os dias no escritório.

Vitu ficou em POA, e eu fui pra São Paulo, fiz a série e ainda garanti uma grana pra voltar com algum pra casa. Calhou que, na sequência, ia ro lar um tour no interior de São Paulo com o time da Crail em parceria com a Mountain Dew, marca de refrigerante norte-americana que estava en trando no mercado brasileiro. Era um tour de dois fins de semana. Fui convidado pra ir junto na com panhia do Anderson Tuca, Fabio Cristiano, Sidney Arakaki, André Hiena (R.I.P), Manoel Coimbra, Esteban Florio, Kamau e Ajamu, dentre outros. Tudo regado a refrigerante verde radioativo que bem não tinha como fazer!

Quando a série Telecatch saiu, foram produzidas camisetas e adesivos de cada uma das três másca ras. Foi muito bom ver o quanto esses itens tive ram repercussão e procura como produto, de forma até independente dos próprios shapes. Isso for taleceu a minha forma de criar as artes, já con siderando linguagem, estilo, número de cores e as aplicações como um todo. Um dos melhores elogios foi saber que o Tiago deu os adesivos pro filho do (genial) cartunista Angeli, mas o próprio Angeli travou os adesivos pra ele!

120
PORTUGUÊS TELECATCH CAPÍTULO 33
121 CAPÍTULO 33

I traveled with Vitu to Porto Alegre in early 2002, we stay at Lao Cabrera’s house, a friend who at the time was a resident DJ at a fancy night club in Porto Alegre, where he played rap, be sides being the lead singer band Groove James. We spent three weeks between his house and Feijão’s, a friend of Lao’s who is also a DJ and who played with him at that club.

One of the great memories of this trip is how much we laughed in those three weeks. Although it was still fun, I was running out of money. I had a good idea for a new series of decks, so I decided to call Tiago (Moraes), who was now the marketing manager for Agacê and other brands in the Crail group –– to find out what he thought about it. As he really liked the idea of representing the three pros in the team (Esteban Florio, Fábio Cristiano and Sergio Garb) with wrestling masks (popular ly known as“Telecatch” in Brazil back in the days). I suggested going straight to São Paulo and make the graphics using a Crail computer there, taking advantage of the fact that he’d also be at the of fice every day.

Vitu stayed in Porto Alegre and I went to SP, made the series and even guaranteed some mon ey to come home with something in my pocket. It happened that in the sequence there would be a tour in the state of São Paulo with the Crail team having a partnership with Mountain Dew, an American soft drink brand that was getting into the Brazilian market. It was a two-weekend tour and I was invited to go along with Anderson Tuca, Fabio Cristiano, Sidney Arakaki, André Hiena (RIP), Manoel Coimbra, Esteban Florio, Kamau and Ajamu, among others. All with free radioactive green soda, what a good way to do it?

When the Telecatch series came out, tees and stickers were produced for each of the three masks. It was very good to see how much these items had repercussion and demand as a product, even independently of the decks themselves. This strengthened my way of creating the arts, consid ering language, style, number of colors and appli cations as a whole. One of the best compliments was knowing that Tiago gave the stickers to the son of the great brazilian cartoonist Angeli, but Angeli himself took the stickers for him.

122
TELECATCH ENGLISH CAPÍTULO 33
123 CAPÍTULO 33

TODOSOUVIDOS 1 E 2

Lembro muito de um dia em São Paulo, ain da em 2002, quando durante um almoço com o Tiago (Moraes), tivemos a ideia de fazer a sé rie TODOSOUVIDOS — também pra Agacê. A conver sa, na real, começou a partir da vontade de fazer shapes que viessem com um brinde interessante. O “Chupeta” (Fábio Cristiano) tinha deixado o ca belo crescer e brincamos que o dele poderia vir com um pente. A gente riu, pensou que alguém po deria até achar engraçado, mas quase ninguém iria de fato usar o tal pente.

Foi aí que o Tiago pensou em encartar um CD co letânea em cada shape. Nós dois sempre fomos mui to ligados à música, inclusive sempre trocamos muitas figurinhas sobre novos sons. Eu costuma va ir pra São Paulo e ficar na casa dele, que era o momento em que fazíamos altos escambos de som. Ainda no almoço fizemos uma lista de quem pode ria estar na coletânea, já que a ideia era apre sentar novos sons e reunir artistas e bandas de diferentes gêneros em um disco.

A maioria dos nomes foi de amigos, como Parteum, A Filial, Kamau e mais um monte gente entrou na coletânea de 15 faixas. TODOSOUVIDOS contou com models do Fábio Cristiano, Guilherme Gnomo e Marcio Conrado. Haveria um quarto model do Alexandre Tizil, mas, apesar de ter chegado a sair o anúncio da nova série com os quatro shapes, ele saiu da marca e seus shapes não foram produzidos.

O disco fez sucesso na época e até hoje alguém me fala de sons que conheceu por conta da coletânea. Repetimos a dose dois anos depois da primeira edi ção com uma nova coletânea de brinde pra quem com prasse um shape da série TODOSOUVIDOS 2. Dessa vez, o disco tinha 18 faixas e, mais uma vez, fez barulho!

Pra ilustrar a nova série, Tiago me desafiou a sair do meu lugar de conforto e pensar em grá ficos com traços mais realistas pra retratar o time reformulado: Esteban Florio, Fábio Cristiano e Sergio Garb. Rafael Jacinto, fotógrafo e amigo de infância do Tiago, fez retratos dos três em es túdio pra que eu usasse as fotos como referência. No Photoshop, desenhei a maior parte dos retra tos, mas acabei adicionando alguns detalhes de senhados à mão no papel. Hoje, recordando, não en tendo direito porque fiz esses detalhes fora do Photoshop. Não faz muito sentido, mas pula essa parte!

De quebra, acabei criando mais duas artes extras: uma com a foto de um canetão (marcador) e ou tra com um toca-discos bem mal feito e um ba lãozinho saindo dele dizendo “TVUU TVUU!”, uma onomatopeia do barulho do scratch¹. Tirei isso da recém lançada faixa “Trutas e Quebradas”² dos Racionais MCs, quando o KLJay fala: “1 2, 1 2, TVUU TVUU TVUU!”. Acabamos também fazendo camiseta e na sala do Tiago por anos teve essa arte plotada grandona, logo acima de um sofá vermelho.

124
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 34 ENGLISH
1. É UMA TÉCNICA QUE PRODUZ SONS AO “ARRANHAR” O DISCO DE VINIL PRA FRENTE E PRA TRÁS REPETIDAS VEZES EM UM TOCA-DISCOS, VISANDO CRIAR SONS PERCUSSIVOS OU RÍTMICOS. NORMALMENTE É FEITO POR UM DJ QUE ESTEJA UTILIZANDO SEUS TOCA-DISCOS.
2. MÚSICA DO ÁLBUM NADA COMO UM DIA APÓS OUTRO DIA, LANÇADO EM 2002.
125 CAPÍTULO 34
126 CAPÍTULO 34

I remember the day in São Paulo, still in 2002, when during a lunch with Tiago (Moraes), we had the idea of making the TODOSOUVIDOS series –also for Agacê. The conversation really started from the desire of making decks that came with an interesting gift. “Chupeta/Pacifier” (Fábio Cristiano) stopped having his hair cut, and we joked that his deck could be brought with an at tached comb. We laughed and thought that someone might even find it funny, but almost no one would actually use such a comb. That’s when Tiago thought of inserting a compila tion CD in each deck Both of us have always been very connected to music, we even always exchanged new sounds. I used to go to São Paulo and stay at his house, which was the time when we used to do loud bartering. Still at lunch we made a list of who could be on the compilation, as the idea was to present new sounds and bring together artists and bands from different genres on one album.

Most of the names were from friends, like Parteum, A Filial, Kamau and a lot more people took part in the collection of 15 tracks. TODOSOUVIDOS fea tured Pro models of Fábio Cristiano, Guilherme Gnomo and Marcio Conrado. There would be a fourth model created of Alexandre Tizil, but de spite the announcement of the new series with the four decks, he left the brand and his decks weren’t produced. The album was a hit at the time, and, to this day, people comes and talk to me about sounds they got to know thanks to the compilation.

We repeated the dose two years after the first edition, with a new collection as a gift for any one who bought a deck from the TODOSOUVIDOS2 series. This time there were 18 tracks in the al bum, and, once again, it made noise.

To illustrate the new series, Tiago challenged me to leave my comfort zone and think of graphics with more realistic style to portray the revamped team: Esteban Florio, Fábio Cristiano and Sergio Garb. Rafael Jacinto, photographer and Tiago’s childhood friend, made portraits of the three of them in the studio so that I could use the photos as a reference. I drew most of the portraits using Photoshop, but ended up adding some hand-drawn details on paper. Today, reminding of it, I don’t quite understand why I made these details and didn’t use Photoshop. It doesn’t make much sense, but let’s just skip that part!

I ended up creating 2 extra graphics, one with the photo of a marker and another one with a poor ly made turntable and a balloon coming out of it saying “TVUU TVUU!”, an onomatopoeia of scratch noise*. I took this from the recently released track “Trutas e Quebradas”* by brazilian legend ary rap group Racionais MCs, when KLJay says “1 2, 1 2, T VUU TVUU TVUU!”]. We also ended up mak ing tees, and this large plotted art was in Tiago’s living room for years, right above a red sofa.

1.FROM THE ALBUM “ NOTHING LIKE A DAY AFTER ANOTHER DAY ”, RELEASED IN 2002.

2.SCRATCH IS A TECHNIQUE THAT PRODUCES SOUNDS BY “SCRATCHING” THE VINYL RECORD BACK AND FORTH REPEATEDLY ON A TURNTABLE, IN ORDER TO CREATE PERCUSSIVE OR RHYTHMIC SOUNDS. IT IS USUALLY DONE BY A DJ USING THEIR TURNTABLES.

127 CAPÍTULO 34
128 CAPÍTULO 34
129 CAPÍTULO 34

MACACO TÁ CERTO!

MONKEY IS RIGHT

A estética das roupas no meio do skate dos anos 1990 era bastante pasteurizada: todos usavam ba sicamente calças e camisetas muito largas. Parecia uma disputa entre quem usaria a maior calça e a camiseta mais larga e comprida. Nessa, eu cheguei a me apossar de uma camiseta vermelha do Pateta (piada pronta!) enorme, que minha mãe usava como camisola. Lembro também de alguém vir contar que tinha descoberto uma loja chamada Varga, espe cializada em roupas plus size. Eu não cheguei a ir lá, mas cheguei ao ponto de usar calça tamanho 50, quando isso significava 6 numerações acima da mi nha. A coisa estava escalonando sem controle!

De lá pra cá, apesar das mudanças estéticas na cena de skate, no começo do anos 2000, a diversi dade ainda era limitada. Imperavam basicamente dois estilos: ou você se vestia com influência do rock ou influência do rap. Juntei essa percepção com imagens que habitaram minha infância: gran des pôsteres com fotos de chimpanzés vestidos com roupas de humanos. Eu mesmo tive um no quarto ves tido de tenista!

Apesar de se gabarem por possuírem estilo pró prio, percebia muitos skatistas como os chimpan zés dos pôsteres, como se estivessem seguindo uma cartilha, cuidadosamente fantasiados. Fiz então essa dupla de shapes de macacos representando o “skatista do rock” e o “skatista do rap”. Achei vá lida a crítica na época, só não entendi até hoje como, me considerando um curioso e observador dos animais, fui capaz de colocar rabo no chimpanzé! Outra vez, que derrota!

The clothing aesthetic on the skateboarding mar ket, in the mid 90’s, was quite pasteurized, every one was basically wearing really baggy pants and tees. It looked like a contest among who would wear the biggest pants and the widest, longest shirt. Following the idea, I managed to get hold of a huge (ready joke!) red Goofy tee, which my mother used as a nightgown. I also remember some one telling me that they had discovered a store in Rio called “Varga”, specialized in plus size clothing. I didn’t get to go there, but I got to the point of wearing (brazilian) size 50 pants, which meant 6 sizes bigger than mine. Things were esca lating out of control!

Since then, despite the aesthetic changes in the skateboard scene, in the early 2000s diversity was still limited. Basically two styles prevailed: ei ther you dressed with rock influence or rap in fluence. I joined this perception with images that inhabited my childhood: large posters with pic tures of chimpanzees wearing human clothes. There was even one in the bedroom dressed as a tennis player!

Despite bragging about having “their own style”, I realized many skaters acted like those chimpan zees in the posters, as if they were following a primer, wearing costumes very carefully. So I made this pair of monkey decks representing the “rock skater” and the “rap skater”. I thought the criti cism was valid at the time, I just don’t understand to this day how, considering myself a curious ani mal observer, how could I draw a tail on the chim panzee! Again, what a defeat!

130
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 35 ENGLISH
131 CAPÍTULO 35
132 CAPÍTULO 35
133 CAPÍTULO 35

JOJÓBA, MOLEQUE RAÇA-RUIM

JOJOBA, A SPAZ BRAT

Há tempos desenho o Jojóba, moleque raça-ruim. Uma mistura de algumas crianças que passaram por minha vida de alguma maneira: Léozinho, vul go “Liossino Putton”, que morava no 933 (prédio no Grajaú), foi uma das inspirações. Fazia mui ta merda! Quando o conheci, eu tinha 8 anos, e ele, uns 6, e já tentava fazer uma fogueirinha na caixa de luz no playground do prédio, por exemplo. Tem um quê do personagem Pimentinha e também do fa moso Joãozinho das piadas infames dos anos 1980. Trajando roupa de criança antiga e comportada, suspensório, sapatinho, gravata borboleta e cabe linho penteado, eles não enganam ninguém: Jojóba é “o capeta em forma de guri”, como já cantou Serginho Mallandro.

Jojóba já fez aparições em algumas tirinhas, em vários muros, em camisetas da Crail, shape da Agacê, Uprise, entre outros produtos.

I’ve been drawing Jojóba for some time, a spaz brat. It was a mixture of some children who were somehow present in my life. Léozinho, aka “Liossino Putton”, who used to live at 933 (build ing in Grajaú) was one of the inspirations. That kid did a lot of shit! When I met him, I was 8 years old and he was about 6, and he was already trying to set fire in the light box in the build ing’s playground, for example. It has something of Dennis The Menace character and also the fa mous “Joãozinho” from infamous brazilian jokes of the 1980s.

Wearing old and well-behaved children’s clothes, suspenders, shoes, bow tie and combed hair, he couldn’t fool anyone: Jojóba is “the devil in the form of a kid”, as Brazilian comedian Serginho Mallandro once sang.

Jojoba has already showed up in some comic strips, on various graffitis, Crail tees , Agacê and Uprise decks, among other products.

134
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 36 ENGLISH
135 CAPÍTULO 36
136 CAPÍTULO 36
137 CAPÍTULO 36

NALATA!

A série NALATA!, da Agacê, marcou uma dessas apa rições de Jojóba. Cada um dos três shapes de pro model mostrava uma pessoa sendo brutalmente atingida por um objeto arremessado: um tijolo na cara, um pneu nas costas e uma garrafa de vidro estourada na cabeça. O quarto shape era explica tivo e apresentava o momento prévio dos três ar remessos: Jojóba com seu semblante de inocência, segurando o tijolo, o pneu e a garrafa.

Quando a série saiu em 2005, por algum motivo acabei não recebendo os shapes, como de costu me, pra guardar de acervo. Anos depois a série foi reeditada com apenas três dos quatro shapes ori ginais. Dessa vez, recebi um de cada, mas não vi nenhuma prova antes da produção e as cores in felizmente vieram bem erradas. Pedi pro Pedro Macedo (amigo videomaker e fotógrafo carioca que fez as fotos do acervo) pra fotografar a segunda edição da série, mas quis também publicar aqui as cores originais, pra ilustrar e exemplificar que, às vezes, nem tudo sai como a gente planeja.

The Agacê “NALATA!” series marked one of these Jojóba appearances. Each of the three pro modes showed some one being brutally hit by a thrown object: a brick on the face, a tire on the back and a broken glass bot tle crushed on the head. The forth deck was explana tory and presented the previous moment of the three throws: Jojóba showing his face of innocence holding the brick, the tire and the bottle.

When the series was released in 2005, for some rea son I ended up not getting the decks, as usual, to keep in my collection. Years later, the series was reissued with only three of the four original decks. This time I got one of each, but I didn’t see any color proofs before production and the colors unfortunately came out really bad. I asked Pedro Macedo (videomaker and photographer friend who took the photos for the col lection) to photograph the second edition of the se ries, but I also wanted to publish the original col ors here to illustrate and exemplify that sometimes things don’t happen as we plan.

138 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 37 ENGLISH
139 CAPÍTULO 37

TENHA MEDO DE THÉO22!

No Rio, e em alguns lugares, quando alguém é con siderado “um pouco além do excêntrico”, dizem que o sujeito é “22”. O número faz referência a carta do Louco no tarô.

Muitas vezes os tais seres que habitam minha men te são inspirações da vida real, como é o caso do temido e autointitulado Théo22. Conheci esse pe culiar morador do condomínio popularmente co nhecido como Tijolinho, em Vila Isabel (Zona Norte do Rio, sempre ela!), quando morava no Grajaú. Um sujeito alto, por volta de 1,90m, bem branco, cabelo bem preto, às vezes grande, às vezes um pouco mais curto, barbudo e uma cara intimi dadora de integrante de banda de death metal, por mais que não se vestisse como um. Figura folcló rica do Tijolinho, ele circulava pelas ruas des se conjunto de prédios e, volta e meia, parava em um muro, onde existe uma academia de rua com apa relhos de musculação, pra ficar de papo e mexendo com os marombeiros de plantão.

Uma vez, ele convidou Mari, Rafo Castro (amigo artista e designer gráfico) e eu pra conhecermos seu apartamento e, não sei por que, aceitamos o convite. A casa tinha várias bizarrices, como por ta-retratos com fotos do Théo22 sentado em tro

nos do Papai Noel, portas pesadíssimas por serem blindadas e também um desnível no piso por conta da tal blindagem. Ele disse: “Aqui é muito seguro! Se alguém do andar de baixo der um tiro de fuzil pra cima não acontece nada!”. Na hora pensei comi go: “E se derem um tiro do apartamento de cima?” Ficou a dúvida aí…

Junto com o Rafo fiz painéis retratando o Théo22, em dois muros do Tijolinho, em 2004. Durante a pintura de ambos, contamos com a presença do pró prio, alertando: “Só não pode colocar palavrão!” Até hoje um dos painéis continua lá, bem apagado, mas continua.

No ano seguinte, conheci um alemão chamado Lux, que estava começando uma marca chamada Subvert, na Alemanha, e patrocinando o Fábio Sleiman. Ele me chamou pra fazer o primeiro model do Sleiman pela marca, e eu tive a sagaz ideia de introduzir o Théo22 como protagonista do gráfico, sem que nin guém soubesse quem era o sujeito desenhado e nem o próprio retratado soubesse (até hoje, diga-se de passagem) que tinha ido parar num shape de ska te alemão! A cena era um cemitério de noite, com a lenda do Tijolinho saindo de dentro de uma cova ressurgindo do além. Tenso!

140
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 38
141 CAPÍTULO 38

FEAR THÉO22!

In Rio, and in some places, when someone is con sidered “a little beyond eccentric,” they say the person is “22.” The number refers to the Fool’s tarot card.

Often the beings that inhabit my mind are inspi rations from real life, as it is the case of the feared and self-styled Théo22. I met this pecu liar resident of the condo popularly known as Tijolinho (Little Brick, because of the way the buildings look), in Vila Isabel (North side of Rio), when I lived in Grajaú. A tall guy, about 6.2 feet tall, very white, extremely black hair, some times long, sometimes a little shorter, bearded and with an intimidating death metal band member face, even if he didn’t dress like one. A folklor ic figure from Tijolinho, he walked through the streets of this group of buildings, and every now and then he stayed at this long wall, where there’s sort of a ‘ghetto gym’ with weight machines, to chat and mess with the “bodybuilders” on duty.

Once he invited Mari, Rafo Castro (an artist and graphic designer friend) and I to visit his apart ment and, I don’t know why, we accepted the invi tation. There were several oddities such as framed photos of Théo22 sitting on Santa Claus thrones, very heavy doors because they are armored and also a gap in the floor due to such armoring. He said: “It’s very safe here! If someone from down stairs shoots a rifle straight up, nothing hap pens!”. At the time I thought to myself:

142
CAPÍTULO 38 ENGLISH

Together with Rafo I ended up making panels staring Théo22, on two walls of Tijolinho, in 2004. During the painting of both, we had his presence, warning: “just don’t use cuss words!” To this day one of the panels is still there, very off, but still.

The following year I met a German named Lux, who was staring a brand called Subvert in Germany and also sponsoring brazilian pro skater Fábio Sleiman. He invited me to make the graphic for Sleiman’s first model for the brand. So I had the clever idea of making Théo22 the protagonist of the graphic without anyone knowing who was that guy on the graphic, not even the portrayed him self got to know that had ended up on a German skateboard (until today, just so you know). The scene was a cemetery at night, with the legend of Tijolinho coming out of a grave, emerging from the beyond. Keyed up.

143
“What if they shoot down from the apartment up stairs?” Not really sure…
CAPÍTULO 38

Em 2000, Adriano Salgado e Mário “Arqueiro” co meçaram a Rio Skate Mag. O Rio de Janeiro já ha via tido algumas publicações anteriormente e, por proximidade com a equipe, fui me envolven do. Inicialmente, colaborava diagramando algumas páginas ou com ilustrações editoriais, até cui dar da criação do novo logo, que era uma roda de skate estilizada com raios ao redor, como um sol estilizado.

A certa altura, passei também a ser responsável por responder às cartas — função que, anos de pois, voltei a repetir por várias edições na re vista Vista. Tenho muitas lembranças boas dessa fase! O staff contava com: Adriano Salgado (vul go “Arroba Rock”) como editor; Sérginho (Teles) na redação; Dhani Borges, Kiko Lima e Breno Ung, na fotografia; Márcio na administração; Chico e Arqueiro no comercial, e eu ilustrando e zoando com a cara de quem escrevia pra redação. Fora um time grande que colaborou ao longo dos anos.

O escritório, que era no Centro da cidade, se mu dou pro Méier em uma sala ao lado da pizzaria Parmê¹. A gente se reunia lá pra ver videos de ska te em uma televisão muito pequena (de tubo, cla ro) e comer pizza da Parmê, enquanto discutíamos as pautas e ideias da próxima edição.

A revista deu muito espaço a skatistas da cena ca rioca e arredores durante as 14 edições que durou. Cheguei a fazer a capa da edição 15, com uma se quência do lendário Léo “Careca” (Léo Lopes) na Praça XV, claro! Até esse livro, essa nunca saiu do computador.

In 2000, Adriano Salgado and Mário “Arqueiro” started publishing Rio Skate Mag. Rio de Janeiro had already had some publications before, and be cause of being close to the team, I got involved. Initially, I used to collaborate diagramming some pages, or editorial illustrations, then I designed of the new logo, which was a stylized skateboard wheel with rays around it, like a stylized sun.

At a certain point, I also became responsible for answering the letters – a role that, years later, I did for several editions of Vista magazine. I have many good memories of that phase! The staff: Adriano Salgado as the editor; Sérginho Teles in the newsroom; Dhani Borges, Kiko Lima and Breno Ung in photography; Márcio in the administration; Chico and Arqueiro in the commercial field and l was responsible for illustrating and talking shit of those who wrote for the newsroom. It was a great team that collaborated over the years.

The office that was downtown, then we moved to Méier - a room next to Parmê * pizza place. We’d gather there to watch skate videos on a very small tv (tube tv, of course) and also to eat a Parmê pizzas while we discussed the agendas and ideas for the next issue.

The magazine was very open to skaters from the Rio scene and surroundings during the 14 editions it lasted. I even made the cover of issue 15, with a sequence of the legendary carioca skater Léo ‘Careca’ (Léo Lopes) in Praça XV, of course! Until this book, this one had never left the computer.

144
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 39 ENGLISH 1.PARMÊ É UMA REDE TRADICIONAL DE PIZZARIA POPULAR CARIOCA, MUITOS CONSIDERAM SUAS PIZZAS DE SEGUNDA CATEGORIA OU PIZZA DE “SUBURBANO”. 1.PARMÊ IS A TRADITIONAL CHAIN OF POPULAR PIZZERIAS IN RIO, MANY CONSIDER THEIR PIZZAS TO BE INFERIOR.
RIO SKATE MAG
145 CAPÍTULO 39
SERGINHO, ADRIANO SALGADO, EU, DHANI BORGES E BRENO UNG. SERGINHO, ADRIANO SALGADO, ME, DHANI BORGES AND BRENO UNG. ILUSTRAÇÃO PRA ENTREVISTA COM MARCELLO GOUVÊA. ILLUSTRATION FOR INTERVIEW WITH MARCELLO GOUVÊA.
146 CAPÍTULO 39
147 CAPÍTULO 39

INTRUDUZINDO… DE LEVE

Lembro como se fosse ontem do Serginho Teles vin do me falar que eu tinha que conhecer o De Leve, que ele fazia uns raps muito foda e não tinha a mínima cara de rapper. “Não tá ligado nele, não? Maluco de Niterói, que anda de chinelinho, ber muda de surfe e boné com aba curvada”. Ele levan tou tanto a bandeira, que andava com CDs do De Leve na mochila pra vender, numa de ajudar a di vulgar. Comprei Intruduzindo… De Leve e foi pai xão à primeira audição!

No verso da embalagem, tinha o telefone pessoal dele e liguei pra falar que tava viciado no disco e que tinha virado fã. Pra minha surpresa, ele me contou que o Serginho também tinha falado mui to de mim e também tinha curtido minha arte. Logo na sequência, num evento de música que teve no extinto restaurante Les Artistes, na Gávea (Zona Sul do Rio), finalmente tive a chance de encon trar De Leve, sentado numa mesa com o Serginho e mais alguns amigos. Realmente aconteceu uma sin tonia pra além da admiração mútua do trabalho de cada um. Ficamos muito amigos e, de lá pra cá, fiz muitas coisas com ele, desde três capas, logos a muitas vinhetas que entraram nos discos, como a da “Rádio Jabátiacaba 171 FM”. Acho o De Leve ge nial e faz parte do time de rappers que mais cur to no Brasil.

No final de 2004, ele foi escalado pra tocar no Tim Festival e quis levar o Chikaum (amigo que tam bém fazia filmes trash na Pepa Filmes), que tinha gravado a música “Piratão”, pra cantar o hit ao

vivo. Só que Chikaum era mais novo, tinha prova no colégio e não poderia acompanhar a banda em São Paulo. Como eu sabia a letra de cor, fui convidado pra substituir o jovem Francisco Adolpho. Comprei uma fantasia de pirata na Saara (comércio popu lar no Centro do Rio), e seja o que Deus quiser!

Mari foi junto comigo na viagem e passamos por momentos inusitados, como o Supla entrando no ca marim pra trocar ideia e o Speed Freakz (R.I.P) desfilando pelo backstage usando um cordão com pingente enorme do S de Super-Homem. Não só can tei pra algumas milhares de pessoas junto com De Leve se apresentando só de cueca samba-canção (figurino do álbum De Love), mas também apresen tei a introdução do show como Décio Pinto, o ra dialista da Rádio Jabátiacaba, imitando a cabine de silhueta do Programa do Ratinho

Ainda terminei o show fantasiado de Seu Cabral (personagem da Pepa Filmes nas esquetes Crônicas de Elevador), me passando por um vizinho revol tado, expulsando os integrantes do palco, recla mando do barulho do show e mandando todos pra casa dormir. Inclusive, foi nessa noite que conhe ci pessoalmente o (Marcelo) Yuka, que assistiu ao show do palco. Quando eu saí, falou pra mim, rin do: “Que isso?! Tu é uma figura!”. Inesquecível! Depois de muitos anos sem fazermos nenhum proje to juntos, eu e De Leve estamos com novas ideias e tenho certeza que “essa parada vai dar merda, hein?!!”

148
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 40
149 CAPÍTULO 40
FOTO: FERNANDO MARTINS FERREIRA. LAYOUT QUE NÃO FOI USADO PARA O LABEL DO DISCO DE LOVE. LABEL LAYOUT THAT ENDED UP NOT BEING USED FOR DE LOVE ALBUM

COM DE LEVE E SUPLA NO TIM FESTIVAL, SP. 2004. WITH DE LEVE AND SUPLA AT TIM FESTIVAL, SP. 2004.

150 CAPÍTULO 40

INTRODUCING… DE LEVE

ly had the chance to meet De Leve. He was at a ta ble with Serginho and some other friends. There really was a match besides the mutual admiration of each one’s work. We became very good friends and since then I have done many things with him, three covers, logos to many skits for his records, such as the “Rádio Jabátiacaba 171 FM”. I think De Leve is great and also part of hall of rappers that I like the most in Brazil.

At the end of 2004, he was scheduled to play at the Tim Festival. He wanted to take Chikaum (a friend who also made trash movies in Pepa Filmes), the one who had recorded the “Piratão” song, to sing the hit live. But Chikaum was younger, he had a test in high school, so he couldn’t follow the band in São Paulo. As I knew the lyrics by heart, I was invited to cover the young Francisco Adolpho. I bought a pirate costume in Saara (popular market downtown Rio), and here we go!

I remember as if it were yesterday: Serginho Teles told me that I had to meet De Leve, a cool rap per although he didn’t look like a rapper.. “Don’t you know him? A Niterói dude who wears flipflops, surf shorts and a curved-brimmed cap”. Serginho was a real faithful partner, he used to sell De Leve’s CDs in order to help to publicize it. I bought “‹Intruduzindo… De Leve” and it was “love at first hearing”! On the back of the case there was his personal phone number and I called him to say I was addicted to the record and that I had become a fan. To my surprise, he told me that Serginho had also spoken a lot about me and that he had also liked my art. Afterwards, at a music event that took place at the former restaurant Les Artistes, in Gávea (South side of Rio), I final

Mari went along with me on the trip and we went through unusual moments, like (brazilian sing er) Supla getting into the dressing room to chat, Speed Freakz (RIP) hanging around the backstage wearing a chain and a huge Superman’s S pendant. Not only did I sing for a few thousand people along with De Leve performing only in boxers, but I also introduced the show with Décio Pinto, the radio broadcaster of Rádio Jabátiacaba. I even finished the show dressed as Seu Cabral (a char acter from Pepa Filmes in the skits “Elevator Chronicles”), pretending to be an pissed off neighbor, kicking the members off the stage, com plaining about the noise of the show and send ing everyone home to sleep. By the way, it was that night that I met (Marcelo) Yuka, who watched the concert from the stage and when I left, he asked me laughing: “What was this?! You’re such a damn character!” Unforgettable!

After many years having no projects together, De Leve and I have new ideas for upcoming things.

151 CAPÍTULO 40
ENGLISH
152 CAPÍTULO 40
153 CAPÍTULO 40

QUINTO ANDAR, A LENDA

QUINTO ANDAR, THE LEGEND

Ter começado a andar com o De Leve me levou a conhecer o Marechal, DJ Castro, Brunão, Shawlin e mais alguns rappers de São Paulo, como Kamau, Lumbriga, Gato Congelado e Matéria Prima de BH, integrantes do lendário grupo de rap Quinto Andar. Eu ia muito ao estúdio Tomba Records, que ficava na casa do Brunão, no Pé Pequeno (Niterói). Sempre que surgia uma brecha a gente abria o mi crofone, e eu gravava um monte de asneiras. Castro é um ninja pra garimpar samples e depois usar nas músicas. Usou minha voz algumas vezes no único disco que o Quinto Andar lançou: Piratão, em 2005. A primeira frase do disco, por exemplo, sou eu fa lando: “Nesse momento, aumente o volume do seu rádio e ouça mais esse sucesso!” (com direito a um engasgo/risada na última palavra).

Gravamos também, dessa vez na casa do Castro, a vinheta Cara de Cavalo Encontra De Leve, que aca bou viralizando e ajudou o personagem a ficar fa moso no universo do rap brasileiro. Até hoje vem gente me falar que adora essa vinheta, e eu conti nuo não achando muita graça!

Apesar de ter feito alguns estudos pra capa do disco, não lembro bem porque acabei não fazen do. Mas fiz a camiseta com as caras do Castro, De Leve e Marechal (antes dele sair do grupo), além do logo do Quinto Andar, que até hoje vejo gente com o famoso prédio tatuado no braço!

Having started hanging out with De Leve led me to meet Marechal, DJ Castro, Brunão, Shawlin and a few more rappers from São Paulo, such as Kamau, Lumbriga, Gato Congelado and Matéria Prima from Belo Horizonte, members of the legendary rap group Quinto Andar. I used to go a lot to the Tomba Records studio, which was at Brunão’s house, in Pé Pequeno - Niterói.

Whenever there was a gap, I’d take the microphone and I record a lot of nonsense shit. Castro’s a “ninja” to find samples to use in the songs. He used my voice a few times on the only record Quinto Andar released: “Piratão”, in 2005. The first sentence of the record, for example, I re corded this: “Right now, turn up the volume on your radio and listen to another hit ”We also recorded, this time at Castro’s house, the skit “Horse Face Meets De Leve” which ended up going viral and it was something more that helped the character become famous in the brazilian rap uni verse. To this day people tell me that they love this skit and I still don’t think it’s funny!

Despite having done some layouts for the album cover, I don’t really remember why I ended up not doing it, but I made the tee showing Castro”s, De Leve”s and Marechal”s (before leaving the group) faces, in addition to the Quinto Andar logo. To this day I see people with the famous building tattooed on their arms!

154
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 41 ENGLISH
155 CAPÍTULO 41
LAYOUT PRA CAPA DE DISCO QUE ACABOU NÃO ACONTECENDO. LAYOUT FOR ALBUM COVER THAT ENDED UP NOT HAPPENING.

TESTIMONIALS

CARLINHOS ZODI

“O Motta fala pra todo mundo que o primeiro cara do skate que o contratou foi o Tiago da Agacê, mas eu também tenho parte nisso. Eu ainda era sócio da marca e ele teve que passar pela nossa aprovação, minha e do Rafael Jacinto… hahaha!

Motta é um dos caras mais brilhantes e engraçados que eu já conheci. Ele vê o mundo de um jeito totalmente diferente. Eu tenho certeza que enquanto ele conversa contigo, o que ele tá vendo, na real, é você numa versão desenho animado. Não sei se existe gente na mente dele ou só desenho. Acho que o mundo é um desenho animado pra ele. O trabalho dele tem muita autenticidade. Dá pra ver que ele não fica pensando muito antes de criar, simplesmente cria e pega as características dos personagens de um jeito especialmente genuíno. É de uma simplicidade e complexidade absurda ao mesmo tempo.”

SÉRGIO BELLINETTI

FUNDADOR DA CRAIL TRUCKS & SUPA DIST. E SKATISTA / FOUNDER OF CRAIL TRUCKS & SUPA DIST. AND SKATEBOARDER

“O skate está presente na maior parte da minha vida. Desde os 10 anos de idade eu sempre tive alguma relação com o skate. Em alguns períodos mais como praticante, em outros mais como trabalhador e todo tempo como entusiasta e ativista. Ele teve influência em praticamente todos os aspectos da minha vida, tanto no desenvolvimento profissional como no campo intelectual e social.

Não tenho muita coisa material, mas tudo que conquistei foi através do trabalho na indústria do skate, e tudo que eu realizei foi uma conquista para o mercado do skate, que até pouco tempo era menosprezado como atividade profissional. Eu sinto que o impacto do skate na minha vida tá nessa troca que me ensinou a construir pontes.”

“Motta tells everyone that the first skateboard guy who hired him was Tiago of Agacê , but I also have a part in it, I was still a partner of the brand and he had to go through our approval, mine and Rafael Jacinto’s… hahaha!

Motta is one of the brightest and funniest guys I’ve ever met. He sees the world in a totally different way. I’m sure that while he’s talking to you, what he’s really seeing is you in a cartoon version. I don’t know if there are people in his mind or just drawings. I think the world is a cartoon for him. His work has a lot of authenticity, you can see that he doesn’t think too much before creating, he simply creates and takes the characteristics of the characters in an especially genuine way. It is absurdly simple and complex at the same time.”

“Skateboarding is present for most of my life. Since I was 10 years old I’ve always had some relationship with skateboarding, in some periods more as a skateboarder, in others more as a worker and all the time as an enthusiast and activist. It had an influence on virtually every aspect of my life, both in professional development and in the intellectual and social field.

I don’t have much material goods, but everything I’ve achieved has been through working in the skateboard industry. And everything I’ve accomplished has been an achievement for the skateboard market, which until recently was underrated as a professional activity. I feel that the impact of skateboarding on my life is in this exchange that taught me how to build bridges.”

DEPOIMENTOS

RAPPER DE LEVE

“Eu o conheci quando ainda estávamos buscando um espaço na cena da arte no Brasil. Apesar de fazer já um tempo, ainda estamos nessa busca eterna. Desde lá atrás nos demos muito bem, talvez pelo humor que permeia nossos trabalhos e a vontade de popularizar a arte setorizada.

Além de muito talento e busca pela identidade — o que também nos aproxima —, Felipe é uma pessoa afável e criativa, que transborda em si e na arte a capacidade de comunicação fácil e prazerosa, alcançando muitas vezes um público que não é o almejado: o infantil.

O mesmo é responsável por três das quatro capas de meus álbuns, e os fez de uma maneira totalmente ímpar a seus trabalhos gráficos, o que me torna ímpar em seu trabalho.

Após 20 anos de amizade e tantos trabalhos juntos, quero que sua arte se espalhe mais e alcance novos ares em novos ambientes.”

“I met him when we were still looking for a space in the art scene in Brazil, which despite doing it for a while, we are still in this eternal search. Since then we got along very well, perhaps because of the humor that permeates our works and the will to to popularize sectorized art.

In addition to a lot of talent and search for identity - which also brings us togetherFelipe is an affable and creative person, and who overflows in himself and in art the ability to communicate easily and pleasantly, often reaching an audience that sin’t the desired one: the children.

The same is responsible for 3 of the 4 covers of my albums, and he did it in a way that is totally unique to his graphic works, which makes me unique in his work.

After 20 years of friendship and so much work together, I want his art to spread more and reach new heights in new environments.”

TESTIMONIALS

EDU LOPES

RAPPER, PRODUTOR E SKATISTA / RAPPER, PRODUCER AND SKATEBOARDER

“São 32 anos fazendo sessão com esse cara, que é um irmão que o skate me deu.

Ele sempre teve talento desenhando desde pequeno, sempre foi um cara muito criativo e com um humor característico, que é a tônica do seu comportamento. Foi natural o caminho que fizemos juntos e ele ter sido o cara responsável por todas as artes relacionadas a tudo que foi feito quando montei A Filial. Não tinha como ser outra pessoa... Ainda bem que não. A sua estética e talento foram fundamentais para tudo que construímos e conquistamos. Tenho muito orgulho desse cara pelo que ele já fez na sua trajetória e pela pessoa que ele é. O skate brasileiro ganha muito através das mãos dele. Como skatista, ilustrador, designer ou empresário do Cara de Cavalo, o Felipe com a sua mente inquieta e criativa é uma referência pra mim.”

KAMAU

RAPPER E SKATISTA / RAPPER AND SKATEBOARDER

“O skate me fez ver o mundo diferente e me abriu muitas portas. As pessoas que foram importantes em momentos-chave da minha vida eu conheci através do skate. A vontade de conhecer o mundo também veio. Eu não seria de forma alguma a pessoa que eu sou sem o skate.”

“I’ve been 32 years skating with this guy, who’s a brother that skateboarding gave me.

He always had talent drawing since he was little, always a very creative guy with a characteristic sense of humor, which is the keynote of his behavior. It was natural the path we took together and he was the guy responsible for all the artworks related to everything that was done when I created A Filial. There was no way it’d be someone else... I’m glad not. His aesthetics and talent were fundamental to everything we built and conquered. I’m very proud of this guy for what he’s done in his career and for the person he is, Brazilian skateboarding gains a lot through his hands. As a skateboarder, illustrator, designer or Horse Face’s manager, Felipe with his restless and creative mind is a reference for me.”

“Skateboarding made me see the world differently and opened many doors for me. The people who were important in key moments of my life I met through skateboarding. The desire to know the world also came. I wouldn’t be the person I am at all without skateboarding.”

DEPOIMENTOS

FLÁVIO SAMELO

FOTÓGRAFO, ARTISTA GRÁFICO E SKATISTA / PHOTOGRAPHER, GRAPHIC ARTIST AND SKATEBOARDER

“O skate é a minha vida. Desde o primeiro dia que conheci e consegui subir em um, já era! Isso aconteceu em 1985, e me lembro exatamenteo dia, do skate, da sensação e da adrenalina que senti nas veias.

Hoje, 37 anos depois, praticamente todos meus amigos vieram por causa do skate. Os melhores amigos e amigas com certeza vieram do skate, meu conhecimento, minhas experiências e vivências vieram do skate, mesmo as que não diretamente, têm de alguma forma uma ligação com skate.

O skate me moldou como ser humano, criou meu caráter e minha consciência de mundo e humanidade.”

ANDERSON TUCA

“O skate entrou na minha vida muito cedo. Desde os 12 anos de idade eu consumo a cultura do skate e é uma coisa que, realmente, me influenciou e me influencia até hoje. Da maneira que eu me visto, da maneira que eu trabalho, as coisas que eu escolho, tudo tem uma raiz no skate. Os meus relacionamentos, as conexões de trabalho, tudo que eu faço, se eu olhar e ver de onde todas essas coisas vieram, eu vou acabar chegando numa sessão de skate ou numa pessoa que eu conheci através do skate ou trabalhos que o skate me deu e acabei conhecendo pessoas. Então, realmente, o skate na minha vida é um dos pilares que me sustentam.”

“Skateboarding is my life. From the first day I met and managed to jump on one, it was a wrap! This was in 1985, and I remember exactly the day, the skateboard, the feeling and the adrenaline I felt in my veins.

Today, 37 years later, practically all of my friends came because of skateboarding, my knowledge, my experiences and life experiences came from skateboarding, even those that didn’t come directly, have somehow a connection with it.

Skateboarding has shaped me as a human being, created my character and my awareness of the world and humanity.”

“Skateboarding came into my life very early. I’ve been consuming skateboarding culture since I was 12 years old and it’s something that really influenced me and still to this day. The way I dress, the way I work, the things I choose, it’s all rooted to skateboarding. My relationships, my networking, everything I do, if I look where all these things came from, I’m going to end up on a skate session or a person that I met through skateboarding or jobs that skateboarding gave me and I ended up meeting people. So, skateboarding in my life is one of the pillars that sustain me.”

PATO FEIO

UGLY DUCK

Sempre fui vidrado em fantasias mal feitas de personagens. Na real, sempre quis ter uma fanta sia dessas! Em 2005, andando pela rua 25 de Maio, em São Paulo, entrei numa loja que tinha várias expostas e, quando vi uma versão toda torta do Pato Donald, tive uma ideia. Como ia rolar um fes tival no Circo Voador com BNegão, Quinto Andar e A Filial, da loja mesmo liguei pro BNegão pra con tar o que eu tinha encontrado! Sugeri ser o mestre de cerimônias e não só apresentar os shows, como interagir e dançar, principalmente durante a mú sica “A Verdadeira Dança do Patinho”. Foi o dia em que suei tanto quanto ri!

I’ve always been a fan of poorly made character costumes. In fact, I always wanted to have a cos tume like that! In 2005, walking around 25 de Maio Street, in São Paulo, I got into a store that had several costumes on display, and when I saw a crook ed version of Donald Duck, I had an idea. As there was going to be a festival at Circo Voador with BNegão, Quinto Andar and A Filial, I called Bnegão (still at the store) to tell him what I had found! I suggested being the festival MC and not only pres ent the shows, but also interact and dance, espe cially throughout his song “The Real Ducky Dance”. It was a day I sweated as much as I laugh’d!

160
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 42 ENGLISH

PRADO JR.

Em 2003, o TOZ começou a dar oficina de Graffiti em um colégio público no Largo do Machado, Zona Sul do Rio, e me convidou pro projeto so cial. Topei, e como eu sempre pintei personagens nos muros, combinamos que eu ficaria encarrega do dessa parte e ele se encarregaria de ensinar a parte de letras. Não me lembro bem o motivo, mas, poucos meses depois, mudamos a oficina pro Prado Jr, colégio público na Praça da Bandeira, Zona Norte da cidade.

Depois de um tempo, ele precisou sair do projeto, e eu continuei a ir aos sábados, quinzenalmente. Não recebia nenhuma ajuda de custo, mas era mui to prazeroso encontrar com aquela turma de 20 e poucos alunos, alguns que estudavam no colégio e outros que moravam nas redondezas e frequenta vam as oficinas, já que eram abertas ao público. Ao fim do ano, pintávamos o muro externo que cir cundava o colégio. Era sempre um clima de celebra ção bom demais.

Muitas vezes, eu levava meu laptop, shapes de skate e mostrava como havia criado as artes. Trocávamos muitas experiências, eu aproveitava pra explicar o que eram os programas Photoshop, Illustrator, qual a finalidade de cada um e apresentar algumas de suas ferramentas. Ensinei, mas também aprendi muito nessa época.

Até hoje encontro com alunos das oficinas, que sempre comentam comigo o quanto gostavam de frequentar os encontros. Muitos, inclusive, vi raram meus amigos e me orgulho demais das se mentes que foram plantadas. Dessa turma, muitos seguiram e se tornaram artistas, designers, ta tuadores talentosos demais, que conquistaram um lugar na cena e estão até hoje produzindo, como Cazé, Vinícius “CA$H” Carvas, Beto “FAME”, Diego “Mokoh”, Rodrigo “Doin”, Fabinho “SURTO”, Diogo Camillo, Tito e Téo Senna, Cove, entre outros.

In 2003, Toz took part in a graffiti workshop at a public school in Largo do Machado, South side of Rio, and invited me to join the social project. I agreed and as I have always painted characters on the walls, we decided that I’d be in charge of this part and he’d be in charge of teaching let ters and calligraphy. I don’t remember why, but a few months later we started the workshop in Prado Jr, a public school in Praça da Bandeira, North side of the city.

After a while, he had to leave the project and I continued to go on Saturdays fortnightly. I didn’t get any allowance, but it was very pleas ant to meet that group of about 20 students, some who studied in college and others who lived near by and attended the workshops, since they were open to the public. At the end of the year, we used to paint the external wall that surrounded the school, and it was always a very good celebration atmosphere.

I often took my laptop, skateboard decks and showed them how I had created arts. We exchanged many experiences, I took the opportunity to ex plain what the Photoshop and Illustrator soft wares were, what the purpose of each one is and introduce some of their tools. I taught but also learned a lot at that time.

To this day, I always bump into many of the work shop students, who always tell me how much they liked to attend the meetings. Many of them even became my friends and I’m very proud of the seeds that were planted. From this group, many followed the career and became artists, designers, very talented tattoo artists, who conquered a spot in the scene and are still producing a lot, such as Cazé, Vinícius “CA$H” Carvas, Beto “FAME” , Diego “Mokoh”, Rodrigo “Doin”, Fabinho “SURTO”, Diogo Camillo, Tito and Téo Senna, Cove, among others.

161 CAPÍTULO 43 PORTUGUÊS
ENGLISH
162 PORTUGUÊS CAPÍTULO 43 ENGLISH
163 CAPÍTULO 43
COM TOZ. •
TOZ.
PARTE DA TURMA DE ALUNOS DO PRADO JR EM 2004. PART OF THE PRADO JR CLASS OF STUDENTS IN 2004.
WITH

O PERIGOSO EL GOMES

THE DANGEROUS EL GOMES

A Crail Trucks fez um tour durante dois fins de semana por cidades do interior de São Paulo e, como eu tava em São Paulo, me chamaram pra ir jun to. Foram dias engraçados demais! Toda essa des compressão acabou rendendo ideias pra novos pro jetos. Um deles foi a identidade visual do pro model de trucks do Rafael Gomes, skatista que é até hoje do time da marca. Numa brincadeira em um quarto de hotel, falei com o Cidão (Sidney Arakaki, nosso Mestre Miyagi) que Rafinha tinha parentes mexicanos e que era perigoso, apesar de tímido e sorridente. Peguei nanquim e pincel, que tinha levado pra viagem, e desenhei uma caveira no braço dele com uma flâmula escrito “MATADOR”. Entramos em um quarto onde estavam outros ska tistas do time e anunciei: “Olha a tatuagem que o Rafinha fez!”. (Marcelo) Kosake tomou um sus to e achou que era de verdade: “Tatuou “MATADOR”, Rafa? Tá maluco?”.

Essa piada acabou virando a ideia pro enredo da identidade visual do truck assinado pelo Rafa, que foi batizado de “EL GOMES” e ganhou uma embala gem: uma caixa preta, com interior vermelho, cheia de ilustrações inspiradas nas suas fictícias raí zes da cultura mexicana, com ornamentos e cavei ras em referência ao Día de los Muertos. A emba lagem ficou tão ilustrada e fora do padrão das caixas de truck da época, que muita gente me con ta que guarda até hoje.

Crail Trucks made a tour of two weekends through the cities in São Paulo (inside the state) and, as I was in SP, they invited me to get on board. Those were really funny days! All this decompres sion ended up yielding ideas for new projects. One of them was the visual identity of Rafael Gomes’s pro model of trucks, a skater who is still part of the brand’s team. During a stupid joke in a hotel room, I told Cidão (Sidney Arakaki, our Master Miyagi) that Rafael had Mexican relatives and he was dangerous, in spite of being shy and smiling. I took ink and brush, which I had brought to the trip, and I drew a skull on his arm with a pennant written “MATADOR (KILLER)”. We entered a room where other team skaters were and I announced: “Check out Rafa’s new tattoo!”. (Marcelo) Kosake was frightened and thought it was real: “Have you tattooed ‘MATADOR’, Rafa? Are you crazy?”

This joke ended up becoming the idea for the plot of the visual identity of the truck signed by Rafa, which was baptized “EL GOMES”. It won a pack aging that was a black box, red inside, full of illustrations inspired in its fictional roots of Mexican culture, with ornaments and skulls in reference to the ‘Dia de Los Muertos’. The packag ing was so illustrated and out of the standard of the truck boxes of the time, that many people tell me they keep it to this day.

164 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 44 ENGLISH
165 CAPÍTULO 44
RAFA COM A TAL “TATUAGEM” DE NANQUIM QUE ORIGINOU MUITA COISA. RAFA WITH THAT “TATTOO” THAT ORIGINATED A LOT.

A CAVEIRA QUE IA PRO LIXO

THE SKULL THAT WENT TO THE TRASH

Com a intenção de testar o pincel antes de de senhar a tal “tatuagem”, que iria inspirar o seu truck, no braço do Rafinha (Rafael Gomes), pintei uma caveira bem pequenininha e muito rápido em um pedaço de papel. Já de volta a São Paulo, na Crail, o Tiago (Moraes) viu o tal desenho em meio às mi nhas coisas e me perguntou: “E essa caveira aí?” Respondi que era pra ter jogado fora, porque ti nha feito só pra testar o pincel. Ele não se con tentou e acabou pegando pra digitalizar em alta resolução, ampliando e vetorizando. Aquele pobre garrancho de caveira com três dentões que eu des cartaria, com a intervenção do Tiago, acabou vi rando camisetas, shapes, adesivos, rodas e outros itens pra Agacê.

With the intention of testing the brush before drawing on Rafael Gomes arm the so-called ‘tat too’, which would inspire his truck, I sketched a very small skull on a piece of paper. Back in SP, at Crail, Tiago (Moraes) saw this drawing among my things and asked me: “What’s up with this skull?” I replied that I should’ve thrown it away, because I had made it just to test the brush. He wasn’t satisfied with it, and took it to scan in high res olution, enlarging and vectorizing. That poor 3-teeth skull scrawl that I’d throw away, with Tiago’s intervention, ended up turning into tees, decks, stickers, wheels and other items for Agacê.

166 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 45 ENGLISH
167 CAPÍTULO 45

Eu sempre fui de trocar ideia com quem eu admi ro, quando surge uma oportunidade. Acho que tudo é o jeito como se chega, e posso garantir que, mui tas vezes, o resultado surpreende. Foi assim que fiquei muito amigo do Charlie Wilkins. No fi nal dos anos 1990 e começo dos anos 2000, ele ga nhou bastante espaço na cena. Eu sempre acompa nhei suas aparições nas mídias pelo fato de ele ser de Boston, cidade que sempre tive uma relação de afeto por minha tia Anginha morar lá. Um dia, olhando o site da Etnies, marca de tênis que ele fazia parte do time principal, li sua biografia e, no final, tinha seu email.

Escrevi pra ele, contando que curtia muito seu skate, que minha madrinha também morava em Boston e, coincidentemente, eu estaria lá em al guns meses naquele ano (2000). Pra minha surpre sa, ele me respondeu no dia seguinte e começamos a trocar alguns emails.

Alguns meses depois estávamos nos encontrando por lá. Passei pouco mais de um mês em Boston, o que tornou possível inúmeras saídas e sessões juntos. Chegamos até a passar um dia com o time da Shorty’s, junto com Chad Muska, Peter Smolik & Cia, já que eles estavam de passagem pela cidade e pediram pro Charlie apresentar bons lugares pra

andarem. Junto com a gente estava um amigo dele, Roger Bagley, que, há alguns anos, começou o Nine Club, talvez o maior podcast de skate da atuali dade, com Chris Roberts.

Minha relação com Charlie virou uma amizade pra além das férias. Depois disso, ele já veio algumas vezes pro Brasil e cheguei a fazer um pro model na época em que ele fazia parte do time da 5Boro, marca de Nova York, fundada por Steve Rodrigues, skatista lendário da cidade. A pedido do próprio Charlie, criei a arte de seu shape fazendo uma re leitura do logo do tênis Air Jordan da Nike, com uma roda de skate no lugar da bola de basquete. Tempos depois, sugeri criarmos uma arte pra um novo pro model, dessa vez com um gráfico mais au toral, que acabou não sendo produzido.

Anos depois, achei que a tal ideia engavetada ain da fazia sentido pra ser explorada. Acabou sendo o ponto de partida pra fazer minha primeira série de shapes pra Uprise skateshop, de Chicago.

Mesmo não achando que esse gráfico, inspirado no Air Jordan, tenha minha cara, foi uma honra ter feito o pro model de um skatista que comecei ad mirando e se tornou um amigo tão querido, duran te sua passagem por uma marca que respeito muito.

168 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 46 ENGLISH
AIR WILKINS
169 CAPÍTULO 46

I’ve always liked to talk with who I admire, when there’s an opportunity. I think that approach is everything, and I assure that the result is often surprising. That’s how I became close friends with Charlie Wilkins’s. In late 90’s and early 2000’s he gained a lot of space in the scene and I’ve al ways followed his appearances on media because he’s from Boston, a city I’ve always had an affec tionate relationship with, for being the place my aunt Angie lives. One day, looking at the Etnies’ website, the shoe brand he was part of the main team, I read his biography and, at the end, there was his email.

I ended up writing him, telling him that I really liked his skateboarding, that my godmother also lives in Boston and coincidentally I’d be there in a few months that year (2000). To my surprise, he replied the next day and we started exchang ing some emails.

A few months later we met there. I spent a lit tle over one month in Boston which made many hang outs and sessions together possible. We even spent a day with the Shorty’s team, along with Chad Muska, Peter Smolik and Co, as they were vis iting town and asked Charlie to show them good spots to skate. Along with us was a friend of his, Roger Bagley, who a few years ago started The Nine Club with Chris Roberts , perhaps the most important skate podcast nowadays.

My relationship with Charlie turned into a friendship beyond the holidays. After that, he came to Brazil a few times and I even made him a pro model graphic when he was part of the 5Boro team, a NYC brand, founded by Steve Rodrigues, a legendary skater in the city. Charlie had his own request, I designed it by doing a reinterpretation of the Nike Air Jordan sneaker logo, with a skate wheel instead of a basketball ball. Sometime lat er I suggested designing a graphic for a new pro model, this time with a more authorial artwork, which ended up not happening.

Years later, I thought that idea still made sense to be explored and ended up being the starting point to make my first decks series for Chicago’s Uprise Skateshop.

Even though I don’t think this Air Jordaninspired graphic has my style, it’s been an hon or to have made the pro model of a skater that I started just admiring, and became such a good friend, during his time with a brand that I re spect so much.

170
CAPÍTULO 46
171 CAPÍTULO 46
CHARLIE E BATE BOLA DEGUSTANDO UMA FEIJOADA NO RIO. CHARLIE AND BATE BOLA ENJOYING A FEIJOADA IN RIO.

BATE BOLA SUPERSTAR

cidade dos encontros que o skate promove e devol ve isso pra vida, pra gente.

Quem me conhece sabe que eu curto inserir ami gos e amigas em trabalhos meus, sempre que te nho oportunidade. Em vários momentos, coloquei o Bate Bola escondido em algumas artes que fizemos no Petit Pois Studio, por exemplo.

Quando colaborava pra a Rio Skate Mag, convenci o time da revista a fazermos uma capa com Bate Bola e Jadson Brian, outra figura ímpar da cena do ska te carioca, que tragicamente faleceu em 2021 num acidente de moto — e realmente mereceu ter rece bido essa homenagem em vida.

Provavelmente você não conhece José Luiz do Nascimento, mas se você anda de skate no Rio de Janeiro e nunca ouviu falar do Bate Bola, alguma coisa tem de errado. Prestes a completar meio sé culo de idade, no dia 12 de outubro de 2022 (a cara dele ter nascido no Dias das Crianças!), esse mo rador de Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio, é ga rantia de alegria, risadas e celebração ao skate board, aonde quer que vá.

É hilário como sempre aparece alguém com alguma história mirabolante protagonizada por ele. Ou acontece alguma situação engraçadíssima, coisas dignas dessa figura que virou lenda no undergrou nd carioca. Na minha opinião, ele carrega a essên cia do espírito do skate! Mesmo que seu forte não sejam as manobras em si, todo seu estilo de an dar, da remada impecável, aos tombos e “capota das” nas tentativas das manobras, passando pelo modo autêntico de se vestir e de viver a vida como um apaixonado pelo espírito do skate fazem dele uma figura icônica. Bate Bola é um emocionado, no melhor sentido, se abastece da alegria e da feli

A ideia foi fazer uma matéria sobre o bom humor e pessoas que deixam a sessão de skate mais diver tida, como os dois sempre deixaram. A capa trazia a chamada “Bate Bola vs Jadson” e um retrato dos dois. A edição saiu em 2004, bem no dia do X-Games na Praia de Copacabana, e, como essa coincidên cia não poderia passar batida, arrumei um jeito de promover uma tarde de autógrafos pra essa lenda chamada Bate Bola desfrutar desse momento e as sinar suas revistas durante o evento. A alegria dele em se ver estampado na capa de uma revista de skate não teve preço!

Durante um bom tempo andou com um exemplar na mochila e quando estava no ônibus segurava a re vista perto do rosto, como se estivesse lendo, a fim de ser reconhecido. Não tem igual!

172 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 47 ENGLISH
173 CAPÍTULO 47

You probably don’t know José Luiz do Nascimento, but if you skate in Rio de Janeiro and have never heard of “Bate Bola”, there must be something wrong.

About to turn half a century old, on October 12, 2022 (perfect for him: Children’s Day), this resi dent of Vila Valqueire, West side of Rio, is pure joy, laughter and celebration to Skateboard guar antee, wherever he goes. It’s hilarious how there’s always someone telling amazing stories starring him or some very funny situation happens,. Things worthy of this figure who became a legend in the carioca underground In my opinion, he carries the essence of skateboarding spirit! Even if his tal ent isn’t on the tricks, his whole style of skating, impeccable pushing, to the tumbles and falls on his attempts, through his authentic way of dress ing himself and living life as a passionate for the spirit of skateboarding. Bate bola is emotion al, in the best sense, he’s fueled by the joy and happiness of the meetings that skateboard pro motes and gives it back to life, to us. Anyone who knows me knows that I enjoy drawing my friends in my artwork whenever possible. At many times Bate Bola was hidden in some art we made at Petit Pois Studio, for example.

When I was collaborating for Rio Skate Mag , I convinced the magazine’s team to have on the cov er Bate Bola and Jadson Brian, another unique dude in Rio skate scene, who tragically died in 2021 in a motorcycle accident – and really de served to have received this tribute in life. The idea was to write a story about how humorous peo ple make skate sessions more fun, as both always did. The cover featured “Bate Bola vs Jadson” and a portrait of both. The issue was published in 2004, right on the opening day of the X-Games on Copacabana beach. And as this coincidence couldn’t remain innocuous, I found a way to promote sort of an “autograph afternoon” to this legend called Bate Bola. He really enjoy this moment and auto graph his magazines during the event. His joy in seeing himself on the cover of a skateboard maga zine was priceless!

For a long time, he kept a copy in his backpack, and when he was on the bus, he held the magazine close to his face, as if he were reading, in or der to be recognized. There ain’t nobody like him!

174 CAPÍTULO 47
175 CAPÍTULO 47
AT
FOTO:FELIPE
NA PRAÇA XV.
PRAÇA XV.
DINIZ
BATE BOLA AUTOGRAFANDO EXEMPLARES DA RIO SKATE MAG NOS X-GAMES EM COPACABANA, RJ. 2004. BATE BOLA SIGNING COPIES OF RIO SKATE MAG AT THE X-GAMES IN COPACABANA, RJ. 2004.

ABARRÉTA

Em 2006 criei o ABARRÉTA, personagem do rap que personificava aquele cara que fala que faz e acon tece, mas não passa de história pra boi dormir, ou wannabe como são chamadas essas figuras nos Estados Unidos. Tem um quê de Vanilla Ice, que no auge do sucesso de sua carreira contou que havia levado facadas por conta de uma briga de gangue (tudo mentira pra ganhar respeito nas ruas, já que estava difícil).

Mais do que exclusivamente direcionado ao rap em si, usei o personagem pra fazer uma crítica aos falsos storytellings, esse termo em inglês usa do pra designar a importância de uma narrativa bem contada, ainda que, muitas vezes, as histó rias contadas por aí não correspondam à reali dade. Brinco que existe branding, naming e etc, e também o “caôing”, que é justamente uma espécie de storytelling pra vender algum produto ou con vencer alguém de alguma coisa contando uma his tória inventada.

Misturei as charges com esse teor crítico aos qua drinhos de uma só ilustração com o ABARRÉTA (o nome vem dos bonés com aba reta usados no rap), retratan do gírias do rap (a maioria paulista) ao pé da letra.

Fiz durante uns anos e, volta e meia, penso em vol tar com ele. Quem sabe alguma hora?

In 2006 I created ABARRÉTA, a rapper character who personified that guy who brags about himself, a true wannabe. There’s a Vanilla Ice touch, who, on the top of his career’s success, said he had been stabbed in a gang fight (all bullshit to gain street cred, since it seemed pretty hard). More than exclusively directed to rap itself, I used the character to criticize the false story tellings. I joke that in design there’re terms like “Branding ”, “Naming” but also “Bullshitting” , which is precisely a kind of storytelling to sell a product or convince someone of something by telling a made-up story.

I mixed the cartoons with this critical content to the comics of a single illustration with ABARRÉTA (the name comes from the flat-brimmed caps very used in rap) portraying rap slangs (mostly from São Paulo) literally.

I’ve done it for a few years, and every now and then I think about bringing him up again, may be sometime?

176 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 48 ENGLISH
177 CAPÍTULO 48

PETIT POIS STUDIO

Marianna Cersosimo é minha companheira de vida desde 2003. Estudamos no mesmo colégio, mas fo mos realmente nos conhecer seis anos depois que me formei no ensino médio. Ela é formada em de sign de produto na PUC, poeta, artista e, há cinco anos, também psicoterapeuta — não veio ao mundo a passeio não! Em 2006, Mari e eu começamos a pe gar projetos de design juntos depois que ela saiu do estágio em que iria ser efetivada como desig ner gráfica. Não foi um movimento planejado, mas, por oportunidades que foram surgindo, fomos fa zendo um projeto atrás do outro e descobrindo nes se processo a dinâmica e a força da nossa parceria. Não tínhamos um nome, nem logo, por isso nosso ca chorrinho Petit Pois (da raça Pug) acabou sendo a inspiração pra ambos. Em 2006, ainda não éra mos casados e nem morávamos juntos, mas abrimos empresa, alugamos um apartamento quarto e sala em um prédio de três andares no Bairro Peixoto, em Copacabana, que aceitasse cachorro pra po dermos levá-lo diariamente pra trabalhar conos co. Costumávamos brincar que era o conceito Live

Logo, onde nosso mascote ficava andando pelo estú dio. Dormindo, na verdade. Petit Pois, infelizmente, morreu em 2018, mas hoje temos o Woody e a Ginger, dois cães que adotamos e movimentam o estúdio!

De lá pra cá, são 16 anos de diferentes configu rações, com pessoas que trabalharam junto conos co (como a querida Tatiana Tabak), parcerias com profissionais que admiramos, diferentes endere ços, adaptando diversas vezes a rota do nosso di recionamento de mercado, experimentando muito e realizando sem parar projetos que a gente se or gulha demais de ter feito.

Além de termos a nossa carreira autoral de arte, há alguns anos, a Mari divide o tempo como psico terapeuta no seu consultório. Hoje em dia, o Petit Pois Studio ocupa uma parcela de tempo menor em nossas vidas, mas segue sendo o nosso ponto de convergência criativa, que destinamos a projetos especiais que façam sentido e sejam motivantes pra nossa relação e parceria.

178 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 49 ENGLISH FOTO: FELIPE DINIZ.
179 CAPÍTULO 49

Marianna Cersosimo has been my life partner since 2003. We went to the same school togeth er, but we really got to know each other 6 years after I finished high school. She has a degree in Product Design at PUC-Rio, but she’s a poet, an artist and has also been a psychotherapist for 5 years now – she ain’t playing! In 2006, Mari and I started taking design projects together after she left the trainee position in a company that she was about to be hired as a Graphic Designer. It wasn’t a planned move, but because of the oppor tunities that happened, we were making one proj ect after another and discovering the dynamics and strength of our partnership in this process.

Our company” wasn’t named, there wasn’t even a logo, so our puppy Petit Pois (a pug) ended up be ing the inspiration for both. In 2006, we weren’t married yet, nor did we live together, but we founded a company, rented a one-bedroom apart ment in a three-story building in Bairro Peixoto, Copacabana. Dogs were allowed, so we could bring him daily to work with us. We used to joke that it was the “Live Logo” concept, where our mascot was walking around the studio, sleeping actually. Petit Pois, unfortunately, died in 2018, and nowa days we’ve got Woody and Ginger, two rescue dogs that bring life to the studio!

Since then, it’s been 16 years of different con figurations, with people who worked with us (such as dear Tatiana Tabak), partnerships with profes sionals we admire, different addresses, adapting the route of our market direction several times, experimenting a lot and performing projects (one after another) that we are too proud to have done.

Besides having a partnership with me and our own art career, for some years she has been shar ing her time as psychotherapist in her office. Nowadays, Petit Pois Studio occupies a smaller amount of time in our lives, but it remains be ing our creative convergence point of interest, which we dedicate to special projects that make sense and are motivating for our relationship and partnership.

180 CAPÍTULO 49
GINGER
E WOODY. GINGER AND WOODY.
181 CAPÍTULO 49
182 CAPÍTULO 49
183 CAPÍTULO 49
184 CAPÍTULO 49
186 CAPÍTULO 49
187 CAPÍTULO 49
188 CAPÍTULO 49
189 CAPÍTULO 49

A VIBE DO FELIPÃO

FELIPÃO’S VIBE

Ainda no comecinho do Petit Pois Studio, rece bi um convite do Felipe Vital (amigo e empresá rio do skate) pra cuidar da identidade visual da Vibe, uma marca que ele havia criado com o skatis ta profissional e fotógrafo Otávio Neto e um in vestidor, que também produzia a Red Nose Shoes. Era um fixo mensal que tínhamos e, junto com a Mari, desenvolvemos várias peças pra marca, que iam desde shapes, camisetas, casacos, bermudas, adesivos, anúncios, etc.

Cuidamos de toda a parte relacionada ao design gráfico da Vibe durante alguns anos até o epi sódio da demissão do Felipão, tanto da Red Nose quanto da Vibe, marca que ele havia criado. Por não concordar com essa demissão, depois de uma conversa com a Mari, decidimos romper a relação com a marca, assim como também fizeram alguns skatistas. Foi um momento importante de nos posi cionarmos diante de uma atitude que consideramos injusta e nos mantermos juntos de quem acreditá vamos. Na época aindanão sabíamos, mas foi fun damental pra continuarmos construindo uma longa história de parceria com o Felipão.

At the very beginning of Petit Pois Studio, I got an invitation from Felipe Vital (friend and skateboard entrepreneur) to be responsable for the visual identity of Vibe, a brand he had creat ed with professional skateboarder and photogra pher Otávio Neto and an investor, who also pro duced Red Nose Shoes. It was a fixed monthly fee we had, and together with Mari we developed sev eral pieces for the brand, ranging from decks, tees, jackets, shorts, stickers, ads, etc…

We took care of everything related to Vibe ‘s graphic design for a few years until Felipão was fired, both from Red Nose and Vibe, the brand he had created. Not agreeing with this dismissal, af ter a conversation with Mari, we decided to break the relationship with the brand, as some skaters also did. It was an important moment to have a position towards an unfair attitude and to stick with those we believed in. At the time we still didn’t know, but it was fundamental for us to con tinue building a long history of partnership with Felipão.

190 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 50 ENGLISH
COM ANDERSON TUCA E FELIPE VITAL. SP, 2019. WITH ANDERSON TUCA AND FELIPE VITAL. SP, 2019.
191 CAPÍTULO 50
192 CAPÍTULO 50
193 CAPÍTULO 50
194 CAPÍTULO 50
195 CAPÍTULO 50

SANTA SÉRIE

SAINT SERIES

Fiz alguns shapes pra Vibe durante os anos que cuidamos da identidade visual da marca pelo Petit Pois Studio. A Santa Série foi inspirada nos per sonagens plus-size do pintor colombiano Bottero, com releituras parrudas de santos. A impressão da arte nos dois shapes acabou não saindo como imaginei. Por mais que a gente tente ter o máxi mo de controle possível, nem sempre conseguimos aprovar previamente o produto que vai pras lo jas. Nesse caso, a questão principal foi com re lação às cores que foram alteradas e alguns er ros de registro.

I’ve designed some graphics for Vibe during the years we took care of the brand’s visual identi ty through Petit Pois Studio. Saint Series was in spired in the plus-size characters by Colombian painter Bottero, with robust reinterpretations of saints. The printed graphics on the decks didn’t work out as I imagined, which often happens, no matter how much we try to have as much control as possible, we aren’t always able to previously approve the product that goes to stores. In this case, the main issue was regarding the colors that were different and some registration errors.

196 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 51 ENGLISH
197 CAPÍTULO 51

VITAL E SUA POSSO!

VITAL HAS A POSSO!

Depois da saída da Vibe, Felipão (Felipe Vital) decidiu juntar forças e retomar a Posso! Skateboards, sua marca independente criada em 1989, em Caçapava, interior de São Paulo. Uma fi gura muito respeitada no meio do skate brasileiro e de quem gosto muito, seja pelo seu jeito sem ro deios ou por achar engraçado ele parecer um che fe da máfia polonesa!

Sempre prezei muito por trabalhar com pessoas em que eu acreditasse, por isso tenho muito orgu lho de ter sido parte desse recomeço da Posso!, em 2008, e de ter abraçado o desafio. Além de artes pra shapes, camisetas, adesivos, bonés, etc, criei também o novo logo da marca, suas assinaturas e anúncios junto com a Mari, sempre com um toque de humor.

Um fator importantíssimo dessa parceria é a li berdade que sempre tive pra criar e propor ideias. Às vezes, até ouvindo do Felipão que eu tô mui to comportado! Até hoje colaboro com a marca com muita empolgação porque sei que lá posso dar va zão e materializar um monte de artes que seriam temidas e “gongadas” por muitas empresas.

After leaving Vibe, Felipe Vital decided to re unite forces and bring Posso! skateboards back, his independent brand created in 1989 in Caçapava, São Paulo state. He’s very respect ed figure in Brazilian skateboarding and I re ally like him, either because of his sharp way or because I think it’s funny that he looks like a Polish mafia boss!

I’ve always appreciated working with people I be lieved in, so I’m very proud to have been part of this fresh new start of Posso! in 2008 and having embraced this challenge. Besides arts for decks, tees, stickers, caps, ads, etc, I also designed the new logo for the brand, together with Mari, al ways with a touch of humor.

A very important factor in this partnership is the freedom I’ve always had to create and pro pose ideas, sometimes Felipão says I,m behav ing too well. To this day, I collaborate with the brand with great enthusiasm because I know that, there, I can vent and materialize a lot of arts that would be rejected by many companies.

198 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 52 ENGLISH
199 CAPÍTULO 52
200 CAPÍTULO 52
201 CAPÍTULO 52
202 CAPÍTULO 52
203 CAPÍTULO 52
204 CAPÍTULO 52
205 CAPÍTULO 52
206 CAPÍTULO 52
207 CAPÍTULO 52

Conheci o Marcelo, pessoalmente, em 2003, enquan to gravava o álbum A Procura da Batida Perfeita. Ele queria usar no disco um trecho de uma fala do Renatim no filme O Shaolin, da Pepa Filmes, e alguém falou pra ele que eu era da Pepa Filmes. Acabamos ficando amigos e, logo depois de o dis co sair, ele chamou a galera da produtora pra fa zermos um curta pro DVD do disco. Extorsão Total também tá na internet e é o famoso curta em que o Cara de Cavalo é parado numa blitz por dois poli ciais (um deles o próprio D2 vestido de PM) e per de o carro pro Coronel Cabelinho.

Depois disso, viajamos juntos pra gravar o pro grama Aparelhagem da MTV, ficamos amigos e ti vemos chance de fazer junto com a Mari projetos muito legais e marcantes pelo Petit Pois Studio. Marcelo gosta de cuidar de perto da conceituação dos projetos, aprecia os detalhes, a qualidade do resultado e sempre chega empolgado com referên cias do que quer fazer. É um artista que tem esse apuro estético e, naturalmente, é muito ligado no que tá rolando. Acho que daí vem sua capacidade de antever caminhos e tendências. Ao mesmo tempo, confia e deixa a gente trabalhar, propor coisas.

Assim foi com os projetos que desenvolvemos: a se gunda coleção (com 50 estampas) pra marca dele de streetwear, chamada Manifesto 33 1/3; um livro e o press kit do disco A Arte do Barulho; capa do single Desabafo; o projeto gráfico do DVD ao vivo com os elementos pra ambientação do show e um pôster serigrafado pro disco Nada Pode Me Parar

I met Marcelo in 2003, while recording the album “A Procura da Batida Perfeita’’. He wanted to use an excerpt from “O Shaolin”, by Pepa Filmes, and someone told him that I was part of Pepa Filmes. We ended up getting friends and, right after the record was released, he called Pepa Filmes to make a short film for the album DVD. “Total Extorsion” is also on the web today and i’s the famous film in which Horse Face is stopped at a police barri cade by two cops (one of them D2 dressed as a cop) and ends up losing his car to Cabelinho Colonel.

After that, we traveled together to record a MTV tv show called Aparelhagem (“Sound System”), we became friends and we had the chance to do some very cool and remarkable projects with Mari through Petit Pois Studio. Marcelo likes to take close care of the conceptualization of projects, appreciates the details, the quality of the re sult and always gets excited with references of what he wants to do. He’s an artist who has this aesthetic precision and who’s naturally very con nected to what’s going on. I think that’s where his ability to foresee paths and trends comes from. At the same time, he trusts and lets us work, pro pose things.

So it was with the projects we developed: the sec ond collection (having 50 prints) for his street wear brand Manifesto 33 1/3 ; a press kit book for the album “A Arte do Barulho”; the single cover for “Desabafo”; the graphic project for the live DVD with the elements for the setting of the show and a silk screened poster for the album “Nada Pode Me Parar”.

208 PORTUGUÊS D2 CAPÍTULO 53 ENGLISH
209 CAPÍTULO 53
210 CAPÍTULO 53
COM D2, MARI E BNEGÃO. WITH D2, MARI AND BNEGÃO.
211 CAPÍTULO 53

APARELHAGEM MTV

MTV SOUND SYSTEM(2007)

Em 2007, o próprio Marcelo comentou comigo que es tava tendo uma conversa avançada com a MTV sobre a ideia de um programa em que um time de sete pessoas viajaria do Rio até Florianópolis de carro, gerando conteúdo cultural. Fui escalado pra esse time como o integrante das artes gráficas; Flávio Samelo, como fotógrafo; Carlinhos Zodi, como videomaker; e Ademar Lucas e Will “Dent” Dias, ambos no skate. Marcelo, Fernandinho Beatbox e DJ Will formavam a vertente musical do grupo.

Viajamos 17 dias até Floripa e voltamos pra casa de avião. O plano era ir viajando e, sem muito pla nejamento, parar em algum lugar de uma cidade, abrir a mala de um dos carros preparado com um sistema de som potente, montar o equipamento do DJ e fazer um pocket show do D2 em lugares que, às vezes, tinham só três pessoas. Numa época em que o uso das redes sociais era ainda fraco pra criar esse burburinho em tempo real.

Esse projeto aconteceu ao mesmo tempo em que chegaram as peças-piloto da segunda e úl tima coleção da Manifesto 33 ⅓ , criada pelo Marcelo. As estampas dessa segunda coleção fo ram assinadas pelo Petit Pois Studio e servi ram de figurino pros integrantes do programa.

A viagem virou uma série de oito episódios de 30 minutos. Ao longo deles, minha participação como artista aconteceu com a pintura de alguns muros pelo caminho e ilustrações de cenas que aconte ceram. Samelo, que além de amigo querido é um fi guraça ambulante, foi meu companheiro de quarto. Rimos como poucas vezes ri na vida.

In 2007, Marcelo himself told me that he was hav ing an advanced conversation with MTV about the idea of a program in which a team of seven peo ple would travel from Rio to Florianópolis by car, generating cultural content. I was the graph ic artist in this team, Flávio Samelo as the pho tographer, Carlinhos Zodi as videomaker, Ademar Lucas and Will “Dent” Dias were our skateboard ers. Marcelo, Fernandinho Beatbox and DJ Will were the group’s musicians.

We traveled for 17 days to Floripa and returned home by plane. The plan was to travel and, without much planning, stop somewhere randomly in a city, open the trunk of one of the cars equipped with a powerful sound system, set up the DJ equipment and do a D2 pop up show in places that many times there were only three people. At a time when the social midia’s usage was still in its beginning, to create this buzz in real life like this was raw and inspiring.

This project took place at the same time that the pilot pieces of the second and final collection of Manifesto 33 ⅓ arrived. All the graphics of this second collection were signed by Petit Pois Studio and used by the cast members.

The trip became a series of eight episodes of 30 minutes. Throughout them, my participation as an artist happened with the painting of some walls along the way and illustrations of scenes that happened. Samelo was my roommate and we laughed our asses off as I rarely ever did in my life.

212 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 54 ENGLISH
213 CAPÍTULO 54
O TIME DE “APARELHAGEM”: FERNANDINHO BEATBOX, FLÁVIO SAMELO, DJ WILL, WILL DIAS “DENT”, MARCELO D2, EU, ADEMAR LUQUINHAS E CARLINHOS ZODI. THE “APARELHAGEM” TEAM: FERNANDINHO BEATBOX, FLÁVIO SAMELO, DJ WILL, WILL DIAS “DENT”, MARCELO D2, MYSELF, ADEMAR LUQUINHAS AND CARLINHOS ZODI. MD2 FOTO:FLÁVIO SAMELO

O DENTISTA DE RECIFE E O CANAL (DE CULTURA) SNEAKERHEAD

THE DENTIST FROM RECIFE AND THE SNEAKERHEAD (CULTURE) CHANNEL

Ricardo Nunes é um cara que admiro. Nos conhece mos quando ele começava seu o SneakersBR (há 15 anos a maior referência no Brasil quando o assun to é a cultura Sneakerhead). Pra mim, era óbvio que o criador do (ainda) blog era um designer paulista, mas minha pré-concepção tava mesmo mal das pernas: tratava-se de um dentista de Recife apaixonado por tênis. Ricardo já começou a ganhar a minha simpatia ao subverter esse estereótipo óbvio.

Quando o SneakersBR virou um site, fui indicado pra ser um dos colunistas e topei o desafio. Tive liberda de pra criar os posts que, às vezes, chegavam a ironi zar a própria cultura Sneakerhead, como um que tra zia o anúncio de (falsas) collabs da Nike com marcas brasileiras como Paçoquita, Guaraná Jesus, Correios, Casa do Pão de Queijo e o refrigerante Mineirinho.

O site passou a ter também o braço impresso e trou xe a revista SBR, uma publicação pequena no forma to, mas recheada de conteúdo e textos muito bons. Ricardo é um cara com faro fino: tem muita sensibili dade pra reconhecer tendências e dar visibilidade a marcas, pessoas e projetos que merecem esse holofo te. Por isso, me tornei cada vez mais admirador de seu trabalho, pelo compromisso em conectar tudo isso que é capaz de identificar, documentar e dar embasamen to. Além de admirador, sou muito grato a todo espaço que o SBR sempre me deu, seja online ou na revista im pressa (em especial a capa com minha primeira collab com a ÖUS e uma matéria quando fiz meu modelo de tê nis assinado com a marca), sempre cobrindo colabora ções que fiz com diversas marcas ao longo desses anos. Recentemente ainda descobri que “Ricardjém” junto com Jaime Ha (também do time SBR) são sócios da piz zaria Paul’s Boutique, em São Paulo, com nome inspira do no lendário disco homônimo dos Beastie Boys:Stop that train, I wanna be on!

Rola ainda uma piada nossa de que a Mari (minha com panheira e sócia) é a responsável por tudo que faço dentro e fora do Petit Pois Studio Abafa o caso!

Ricardo Nunes is a guy I admire. We met when he start ed his SneakersBR (15 years ago the biggest reference in Brazil when it comes to the Sneakerhead culture). For me, it was obvious that the creator of the blog was a designer from São Paulo, but my preconception was just wrong: he was a dentist from Recife who was passion ate about sneakers. Ricardo has already begun to win my sympathy by subverting this obvious stereotype.

When SneakersBR became a website, I was invit ed to be one of the columnists and accepted the challenge. I was free to create posts that some times mocked the Sneakerhead culture itself, such as one that featured (fake) Nike collabs with Brazilian popular brands such as Paçoquita, Guaraná Jesus, Correios, Casa do Pão de Queijo and the Mineirinho soft drink.

The site also started to have a printed version as SBR magazine, a small publication in the format, but full of content and very good texts. Ricardo’s a guy with a keen eye he has a lot of sensitivity to recognize trends and give visibility to brands, people and projects that de serve the spotlight. That’s why I became more and more an admirer of his work, for his commitment to connecting all that is capable of identifying, documenting and support ing. In addition to being an admirer, I’m very grateful for all the space that SBR has always gave me, whether online or in the print magazine (especially the cover with my first collab with ÖUS and an article when I made my sig nature shoe model with the brand, always publishing col laborations I made with different brands over the years.

I recently discovered that “Ricardjém” along with Jaime Ha (also from the SBR team) are partners at the Paul’s Boutique pizzeria, in SP, named af ter the legendary Beastie Boys ‘ eponymous album. “Stop that train, I wanna be on!”

There’s also a joke of ours that Mari (my wife and partner is the responsible for everything I do inside and outside Petit Pois Studio. Keep it low!

214 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 55 ENGLISH
215 CAPÍTULO 55

LAKAI

Depois que Felipão (Vital) saiu da Vibe e Red Nose, ele começou a representar a marca de tê nis Lakai, dos Estados Unidos. Fundada em 1999 por dois skatistas profissionais que sou fã — Mike Carroll e Rick Howard (também com o cineasta Spike Jonze e Megan Baltimore como sócios) —, é uma marca que sempre admirei muito. Curto muito a abordagem e o tom de humor que a Lakai sempre em pregou em seus produtos, anúncios e vídeos.

Fechei uma parceria com a distribuidora no Brasil pra eu receber apoio e usar os tênis. Por causa dessa relação, cheguei a fechar um projeto com eles, desenvolvendo a arte pro pôster de um tour com o time brasileiro, em São Paulo (2008).

A parceria acabou durando pouco tempo por con ta dessa distribuidora parar de importar a mar ca pro Brasil.

After Felipe Vital left Vibe and Red Nose, he started representing the US’ skate shoes brand Lakai. Founded in 1999 by two pro skateboarders that I’m a fan, Mike Carroll and Rick Howard (also with filmmaker Spike Jonze and Megan Baltimore as partners), it’s a brand I’ve always admired a lot. I really like the approach and sense of hu mor that Lakai has always used in its products, ads and videos.

I started a partnership with the distributor in Brazil to get support and wear the shoes. Through this relationship, I developed the artwork for the poster of a tour with the Brazilian team, in São Paulo (2008).

The partnership ended up lasting a short period of time as this distributor stopped importing the brand into Brazil.

216 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 56 ENGLISH
217 CAPÍTULO 56
MOTTILAA/ Petit Pois Studio

BOWL DO ARPOADOR

A primeira vez que dropei na minha vida foi no bowl pequeno do Arpoador. Não lembro quantos anos eu tinha, talvez uns 11 anos. Passei a fre quentar a pista, que fica no alto do morro dentro de um parque na Praia do Arpoador, entre Ipanema e Copacabana. Duvido que exista alguma pista de skate com uma paisagem tão bonita quanto essa (o pôr do sol lá é um absurdo)!

Nessa época, até fiquei preso no bowl maior (que tem quase quatro metros de profundidade). Fui pu xado pra fora pelo meu pai e uma pessoa que che gou na hora e ajudou.

Passadas duas décadas, em 2009, a Converse me con vidou pra pintar os dois bowls como parte do proje to Fix to Ride, no qual a marca reformava pistas de skate. Fiquei muito feliz pelo convite do (Frederico) Naroga, que, na época, cuidava do marketing da marca no Brasil. Subi pra ver a pista com os olhos de quem vai pintar e me dei conta que seria muito trabalho pra uma pessoa só em tão pouco tempo de execução, já que a reforma acabaria praticamente uma semana an tes da data do campeonato de inauguração, com direi to à presença do prefeito da cidade.

Conversei com o Marcelo Ment (grande amigo ar tista gráfico e grafiteiro) e combinamos de fa zer juntos, com a condição de que a arte fosse feita por nós dois. No bowl pequeno, fizemos uma boca gigante aberta com um balão saindo dela, que atravessava pro bowl grande e era recheado de doodles (um aglomerado de ilustrações). Depois de aprovado, tivemos um prazo bem corrido pra fazer e dos seis dias disponíveis, em pleno calor cario ca que parecia bater os 50ºC, perdemos um dia por conta de um dilúvio de verão.

Pedimos, mas não consertaram o holofote que havia no poste ao lado da pista. Tivemos que pintar de dia, porém em horários partidos por conta do ca lor insuportável. Nas horas em que o sol estava a pino, era impraticável ficar dentro da pista, que parecia uma panela fervendo.

Contamos com a ajuda do Magoo (Thiago Holanda, outro grande amigo), que encarou o sol forte por alguns dias nos ajudando a pintar a base branca, e, no dia do evento, com um registro em vídeo do Marcus Cida e fotos do René Jr. (que fez um re gistro lindo de helicóptero com a pista pronta no dia do campeonato).

Ver aquele bowl que frequentei muito quando era moleque reformado e pintado por nós, numa inau guração com um monte de skatistas andando muito e naquela paisagem, foi inesquecível! Recebemos muitos elogios e houve uma repercussão enor me, como um post no blog do cantor e produtor Pharrell Williams e em diversas mídias. Entrou pras memórias afetivas do skate carioca.

218 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 57 ENGLISH

ARPOADOR’S BOWL

The first time I ever dropped in a ramp in my life was in Arpoador’s small bowl I don’t remem ber how old I was, maybe 11 years old. I started to frequent the bowl, which’s on top of the hill in side a park on Arpoador beach, between Ipanema and Copacabana. I doubt that there’s any skate park with a landscape as beautiful as this one (the sunset there is absurd)!

At that time, I even got stuck inside the big gest bowl (which is almost 13 feet deep) and was pulled out by my dad and a person showed up on time and helped.

After two decades, in 2009, Converse invited me to paint the two bowls as part of the “Fix to Ride” project, in which the brand renovated skate spots. I was very stoked for the invitation from (Frederico) Naroga, who at the time was in charge of the brand’s marketing in Brazil. I went up to see the bowl with the eyes of someone who’s gonna paint it and I realized that it’d be a lot of work for only one person and with so little execution time. The renovation would finish practically one week before the inauguration championship’s date, with even the presence of the mayor of the city.

I talked to Marcelo Ment (great graphic and graf fiti artist and friend) and we agreed to do it together, but I insisted that the art was made by the two of us. In the small bowl, we paint ed an image of a huge mouth with a balloon com ing out of it, which crossed over to the big bowl and filled it with doodles (a cluster of illustra tions). After approval, we had a very quick dead line to do it and of the 6 days available, in the heat of Rio de Janeiro that seemed to hit over 120º F, we lost one day due to a summer flood.

We asked, but they ended up not fixing the big spotlight that was on the pole next to the bowl and we had to paint it during the day, but in dif ferent work shifts, because of the unbearable heat, since the hours when the sun was at its height were impractical to stay inside the bowl, which looked like a boiling pot.

We had the help of Magoo (Thiago Holanda, an other great friend), who faced the infernal sun for a few days helping us paint the white base. We also had an awesome video made by Marcus Cida and photos by René Jr, who shoot amazing photos from a helicopter.

Seeing that bowl that I frequented a lot when I was a kid renovated and painted by us, at an open ing with a lot of skaters shredding that bowl in that landscape, was unforgettable! We received a lot of props and there was a huge repercussion, such as a post on singer and producer Pharrell Williams’ blog and in various medias. It entered the affective memories of Rio skateboarding.

219
CAPÍTULO 57
220 CAPÍTULO 57 FOTO:RENÉ JR.
221 CAPÍTULO 57 FOTO:RENÉ JR.

ELEMENT ADVOCATES

Em 2009, o Tiago (Moraes) me mandou um e-mail fa lando sobre a pintura de uma pista que a Element Skateboards iria construir no FestivAlma, even to que a revista Alma Surf fazia em São Paulo. A agência dele, na época chamada Kultur, estava fazendo uma curadoria dos artistas que pintariam essa pista inspirada em um pinball.

Sempre curti muito a marca, desde que começou em 1992, e já tinha visto alguns anúncios que haviam feito com os artistas Sesper e Billy Argel por conta do programa Element Advocates, de apoio a artistas. Curti muito essa abordagem e me deu muita vontade de fazer parte. Comentei com o Tiago, e ele também achou que seria uma boa opor tunidade de conhecer o pessoal da marca e ver se rolaria alguma coisa.

Logo eu tava em São Paulo junto com Sesper, Billy e mais dois artistas: DanielOne e Pablo Etchepare pintando a pista durante cinco dias. No final, acho que todo mundo envolvido ficou muito satis feito com o resultado.

Dei o sangue nessa pintura, conheci o pessoal que trabalhava na equipe e, durante o evento, quando tudo ficou pronto e a pista já estava sendo usa da, comentei com Billy minha vontade de entrar pro time de Advocates. Ele comentou com o Roger Barbosa (que, na época, estava à frente do marke ting) e, a partir de então, comecei a ser apoiado pela marca, parceria que completou 13 anos em 2022.

In 2009, Tiago (Moraes) sent me an email talking about the painting of a crazy spot that Element Skateboards would build at FestivAlma, an event that Alma Surf magazine was doing in SP. His agen cy, then called Kultur, was curating the artists who would paint this pinball-inspired skate spot. I’ve always liked the brand a lot, since it start ed in 1992, and I had already seen some ads they had made with brazilian artists Sesper and Billy Argel on account of the Element Advocates pro gram, on which the brand supported artists. I re ally liked this approach and it made me want to be a part of it. I mentioned it to Tiago and he also thought it’d be a good opportunity to meet the brand’s people and see if something would happen.

Soon I was in SP together with Sesper, Billy and two other artists: Daniel One and Pablo Etchepare painting for 5 days. In the end, I think everyone involved was very hyped with the result.

I worked my ass off on this painting. I met the people who worked on the brand and during the event, when everything was ready and the spot was already being skated, I told Billy about my de sire to join the Advocates team. He spoke to Roger Barbosa (who at the time was in charge of market ing) about my willing and from then on I started to be supported by the brand, a partnership that completed 13 years in 2022.

222 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 58 ENGLISH
FOTO: ANDRÉ CALVÃO >
224 CAPÍTULO 58
225 CAPÍTULO 58
226 CAPÍTULO 58
227 CAPÍTULO 58
228 CAPÍTULO 58
229 CAPÍTULO 58

TESTIMONIALS

REBECA DUES

“Um dos meus primeiros jobs da vida foi em uma loja de skate em Brasília, e, desde então, as conexões e caminhos que foram vistos e abertos estiveram ligados à cultura do skate. Penso que o mais singular deste movimento é a amplitude que existe. Te conecta com a rua, com diferentes pessoas, com a música, com a arte, grafite, com a contracultura e, principalmente, a comunidade que é construída é muito especial. Galera se conecta ao redor do mundo, cria vínculos e se movimenta ao redor da potência do skate.”

CHARLIE WILKINS

“One of my first jobs in life was in a skateshop in Brasília, and since then the connections and paths that have been seen and opened have been linked to this culture. I think the most unique thing about this movement is the breadth that exists, it connects you with the streets, with different people, with music, with art, graffiti, with the counterculture and, above all, the community that’s built is very special. Guys connect around the world, create bonds and move around the power of skateboarding.”

“Desde que fui abençoado com patrocínio e como embaixador do skate, sempre quis me conectar com qualquer pessoa que gostasse do meu “skate”. Felipe e eu nos conectamos pelo site Etnies que incluiu meu email no meu perfil. Foi uma loucura quantos skatistas me escreveram, mas no geral foi divertido e positivo. O que se destacou foi o seu email. Ele disse que estava visitando parentes em Boston e perguntou se eu gostaria de me encontrar e andar de skate. Aquele foi o início de uma amizade/irmandade de vida. Eu poderia dizer naquela época que ele era um artista muito talentoso, mas foram anos depois que ele mostrou isso à comunidade do skate no Brasil E na América E no resto do mundo o quão incrível e habilidoso ele é. O shape “Air Wilkins” da 5boro que ele fez para mim era perfeito, mas uau, eu gostaria de ter sido capaz de deixá-lo solto pra fazer uma arte no estilo Motta. Ainda assim, eu amo muito esse shape porque foi feito por ele.

“Ever since I was blessed with sponsorship and being an ambassador of skateboarding, I have always wanted to connect with anyone that was stoked on my skating. Felipe and I connected over the Etnies website that had included my email on my profile. It was crazy how many skaters hit me up, but all in all it was fun and positive. The one that stuck out was his email. He said he was visiting relatives in Boston and asked if I would like to meet up and skate. That was the beginning of a lifelong friendship/brotherhood. I could tell way back then that he was a very talented artist, but it wasn’t until all the years later that he showed the skate community in Brazil AND in America AND in the rest of the world just how amazing and skilled he is. The 5boro “Air Wilkins” board he made for me was perfect, but wow, I wish I had been able to let him loose to do a proper Motta graphic. Still, I love that board so much because he created it.”

DEPOIMENTOS

KAREN JONZ

“MOTTILAA é uma figura que esteve sempre presente com a arte e ideias e contribuiu muito para enriquecer nosso cenário. Além de personalidade que alegrou muitas vezes nossos rolês.”

FELIPE VITAL

FUNDADOR DA POSSO! SKATEBOARDS E SKATISTA / FOUNDER OF POSSO! SKATEBOARDS AND SKATEBOARDER

“O Skate me influenciou em tudo na minha vida desde muito cedo, não sei falar a respeito da minha vida sem ele estar envolvido

“Skateboarding made me see the world differently and opened many doors for me. The people who were important in key moments of my life I met through skateboarding. The desire to know the world also came. I wouldn’t be the person I am at all without skateboarding.”

“Skateboarding made me see the world differently and opened many doors for me. The people who were important in key moments of my life I met through skateboarding. The desire to know the world also came. I wouldn’t be the person I am at all without skateboarding.”

TESTIMONIALS

TODD FRANCIS STEVIE “DREAD” SNYDER

“Uma coisa que sempre admirei no Felipe é sua energia implacável. Ele está sempre pronto para trabalhar no próximo projeto, na próxima ideia, no próximo desafio. Seja qual for o contrário de preguiçoso, esse é Felipe Motta”

“One thing I’ve always admired about Felipe is their relentless energy. He’s always ready to work on the next project, the next idea, the next challenge. Whatever the opposite of lazy, that’s Felipe Motta!”

SKATISTA

“O skate me deu liberdade, criatividade, a capacidade de pensar por mim mesmo, seguir minhas próprias ideias, meu próprio caminho, fazer as coisas que eu queria fazer sem ter um treinador, uma equipe ou um monte de pessoas me dirigindo. Eu fui exposto ao skate provavelmente por volta de 1966, eu tinha 4 anos, meu primo Charlies andava de skate e todas essas crianças da vizinhança andavam e eu achei que parecia legal. Eu achava que toda criança andava de skate, mas conforme fui ficando mais velho e comecei a andar cada vez mais descobri que tinha cada vez menos skatistas.

A influência que me deu foi seguir meus próprios instintos, traçar meu próprio caminho, permanecer fiel ao que acredito e passar os bons momentos pra quem consegue enxergar isso”

“Skateboarding afforded me the freedom, creativity, the ability to think for myself, follow my own ideas, my own path, do the things I wanted to do without having a coach, or a team or or a bunch of people directing that. I was exposed to skateboarding probably around 1966, I was 4 years old, my cousin Charlies skated and all these neighborhood kids skated and I just thought it looked cool.So, years passed by before I got my own skateboard, but once I got one, I thought every kid skated, but as I got older and started skating more and more I found that were less and less skaters.

The influence that it gave me was to follow my own instincts, forge my own path, stay true to what I believe and pass on the good times for those who can see it.”

DEPOIMENTOS

RICARDO NUNES

“Me aproximei do skate pelos tênis. Na infância, até ensaiei umas manobras, mas logo vi que não era pra mim…haha

Anos se passaram comigo imaginando que skate era algo muito distante da minha realidade. Ledo engano.

Já adulto, a cultura sneaker me levou a entender mais a cultura do skate e, por mais que meus amigos skatistas negassem (num primeiro momento), rapidamente percebi que skatista é das pessoas que mais se importam com o tênis que usa que eu conheço. “O modelo específico, assinado por fulano, usado no vídeo tal em que ele deu aquela manobra” nada mais é do que a essência da cultura sneaker, e um pilar importante da cultura do skate. Aos poucos, fui entendendo que skate também era sobre música, sobre moda, sobre comunidade e sobre comportamento, além de ser (muito) sobre tênis, e isso me fez entender que o “meu universo” estava muito mais próximo daquele que um dia achei não pertencer.”

“I approached skateboarding through sneakers. When I was a kid, I even tried some tricks, but I soon realized that it wasn’t for me… haha

Years passed with me imagining that skateboarding was something very far from my reality. Big mistake.

As an adult, the sneaker culture led me to understand more about skateboarding culture and, as much as my skater friends denied it (at first), I quickly realized that skaters are one of the people who care the most about the shoes they wear that I know. “The specific model, signed by so-and-so, used in the video in which he made that trick” is nothing more than the essence of sneaker culture, and an important pillar of skate culture. Little by little, I came to understand that skateboarding was also about music, about fashion, about community and about behavior, in addition to being (a lot) about shoes and that made me understand that “my universe” was much closer to the one I once thought didn’t belong.”

PUSHIN’ TREES

Um dos primeiros trabalhos que fiz pra Element foi justamente o que mais marcou até hoje: as Pushin’ Trees, projeto que acabou virando uma série. Ao ba tizar meus personagens e criações, sempre reluto em colocar nomes que não sejam em português. Nesse caso, acabou sendo em inglês porque achei que al guma coisa como “árvore skatista” seria, no míni mo, horrível. E Pushin’ Tree era exatamente o sig nificado que eu queria dar. No Rio, a tradução de “pushing” seria “dar impulso”, “remar”, mas “árvo res que remam” também soaria ruim demais!

A ideia foi imaginar como seria se as árvores, ao em prestar sua matéria-prima pros shapes, criassem per nas, desenterrassem as raízes e saíssem da imobilida de num skate feito delas mesmas, remando e conhecendo novos lugares; como nós skatistas sempre fazemos.

Depois que fiz a primeira, resmunguei comigo mesmo por causa do trabalho dado pra fazer a copa da ár vore e que podia muito bem ter desenhado uma versão simplificada. Pra minha surpresa, logo me encomen daram uma segunda arte com o personagem. Havia quase um ano que eu tinha começado a história com a marca e queria muito visitar o QG da Element

(na época) em Irvine, Califórnia. Tentei contato com o pessoal dos Estados Unidos através do Brasil, mas não tive sucesso. Depois que encontrei com o Bob (Burnquist), no campeonato Oi Vert Jam (em 2010), comentei que iria pela primeira vez pra Califórnia e tinha muita vontade de ir na sede da Element, mas não tava conseguindo contato. Ele me contou que era amigo do Ryan Kingman (na época, marketing manager da marca) e me colocaria em contato com ele.

Toda essa minha movimentação tava acontecendo porque Ricardo Nunes, fundador do site e revis ta SneakersBR, havia me indicado pra fazer live paintings em duas festas de lançamento de uma co leção da Nike, no México.

Minha ideia era aproveitar a proximidade e comprar passagem pra Los Angeles pra reencontrar o Serginho (Teles), que estava morando lá há alguns anos, e ir na sede da Element. Serginho foi comigo até lá e, na se quência, passamos a tarde na casa do Bob, onde vi pela primeira vez ao vivo a Mega Rampa no quintal do ran cho dele, depois batizada de Dreamland.

Kingman me apresentou ao Todd Francis, de quem eu era fã e, nessa época, trabalhava como diretor de arte na Element. Todd curtiu muito as Pushin’ Trees que tinham saído no Brasil e sugeriu lançar também na coleção dos Estados Unidos. As vendas foram muito boas, e ele começou a me encomendar artes direto pela Element americana por alguns anos. Logo na sequência, a divisão da Europa fez contato comigo e também encomendou artes, em sua maioria Pushin’ Trees. Das 17 artes dessa série, feitas até hoje, mais da metade acabou sendo en comendada pra fora do Brasil.

Já aconteceram algumas situações inusitadas. Já rece bi fotos de pessoas que tatuaram umas versões bootleg da árvore, e, certa vez, alguém me avisou que um came lô no Méier estava vendendo uma variedade de cores da primeira estampa que fiz, sendo que originalmente só foram produzidas duas cores diferentes.

234 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 59
235 CAPÍTULO 59
236 CAPÍTULO 59

One of the first artworks I’ve made for Element was precisely the one of the most memorable for me until today: the Pushin’ Trees, a graphic that ended up becoming a series. When naming my char acters and creations, I’m always reluctant to use names that aren’t in Portuguese. In this case, it ended up being in English because I thought some thing like “skating tree” in portuguese would sound, to say the least, weird. And “Pushin’ Tree” was exactly the meaning I wanted to give it. The idea was to imagine what it’d be like if the trees, by lending their raw material to it, cre ated legs, dug up and left immobility on a skate board made of themselves, paddling and getting to know new places; like us skaters always do.

After I did the first one, I grumbled to myself for the work involved in making the tree canopy and that I might as well have drawn a simplified version. To my surprise, I was soon ordered a sec ond art with the character.

It had been almost one year since I started the story with the brand and I really wanted to vis it the Element Headquarter (at the time) in

Irvine, California. I tried to contact US person nel through Brazil but failed. After I bumped into Bob (Burnquist) at the Oi Vert Jam championship (in 2010), I said that I was going to California for the first time and I really wanted to go to Element HQ, but I couldn’t get in touch. He told me that he was friends with Ryan Kingman’s (at the time Marketing Manager of the brand) and would put me in touch with him.

All this move was happening because Ricardo Nunes, founder of the website and magazine SneakersBR, had recommended me to do live paintings at two re lease parties for a Nike collection in Mexico.

My idea was to take advantage of being pretty near and buy a ticket to Los Angeles to see my friend Serginho (Teles), who had been living there for a few years, and go to Element headquarters. Serginho went there with me and then we spent the afternoon at Bob’s house, where I saw the Mega Ramp live for the first time in the backyard of his ranch, later called Dreamland.

Kingman introduced me to Todd Francis, who I was already a fan of and at the time worked as an art director at Element. Todd really liked the Pushin’ Trees that had been released in Brazil and sug gested bringing it to the US collection as well. Sales were very good and he started ordering art from me direct from Element USA for a few years. Soon after it, the Europe division contacted me and also commissioned artwork, mostly Pushin’ Trees. Of the seventeen artworks in this series, made to date, more than half ended up being com missioned from abroad.

There have already been some unusual situations. I’ve already received photos from people who tat tooed bootleg versions of the tree and once some one told me of a street vendor in Rio selling a va riety of colors from the first graphic I did, that originally had only two different colors produced!

237 CAPÍTULO 59
ENGLISH

O PERU DE MOTTILAA

Voltei da viagem com a cabeça fervilhando de ideias e informações. Logo na sequência, o Tiago (Moraes) me perguntou o que eu achava de fazer uma exposição solo no espaço +SOMA, que ficava em um imóvel na Vila Madalena, São Paulo, onde tam bém funcionava o estúdio Kultur (que depois vi rou Dabba, ambos do Tiago e de sua companheira Fernanda Masini). Eu nem sequer me questionei so bre o tema: representar um pouco disso tudo, des se país, era só o que se passava pela minha cabeça. Nem por um minuto pensei se seria muito regional ou bom pra evolução da minha carreira.

Em abril de 2009, viajei pro Peru com a Mari e passamos 10 dias pelo país. Estávamos num perío do intenso de trabalho, e a viagem foi uma opor tunidade que surgiu do nada a partir de um anún cio inusitado de passagem aérea pra Lima (Peru) em promoção. Como nunca tínhamos pensado em ir pra lá e, estávamos sem tempo, fomos sem mui tas expectativas e planejamento, num esquema bem mochileiro.

Fomos viajando de Lima pra Cusco, passamos por Águas Calientes, Puno, e, progressivamente, sendo arrebatados pelas cores, pelos costumes, pela cul tura, pelo povo, pelas misturas de tradição e mo dernidade, pela história e os personagens que co nheci. Inesquecível, apesar de todas as mazelas e questões sociais.

Tive pouco tempo pra produzir. Na fase final da produção, fui uma semana antes pra São Paulo, jun to com o amigo Rodrigo Senna (Motion Designer e DJ, que foi junto pra me ajudar) e ficamos na casa do Samelo pra eu terminar as obras. A ideia era justamente transmitir essa visão que tive do Peru no pouco tempo que fiquei. Retratando personagens e costumes que vi, como Wendy Sulca, uma crian ça cantora que cantava com voz esganiçada sobre temas adultos, como cerveja e lamentos, embala da por ritmos típicos peruanos. Da lhama chama da Jéssica, passando pelo Máximo flautista, a um bebê que fotografei. Escolhi fazer muitos quadros recortados, acompanhando a silhueta dos persona gens e elementos: Inka Cola, tricitaxi do Batman, por aí vai. Tentando realmente dar vida e cor po a eles.

No mês seguinte, levei parte das obras pra Homegrown (extinta loja/galeria em Ipanema, no Rio), onde fizemos uma versão pocket da exposição do espaço +SOMA.

238 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 60 ENGLISH
239 CAPÍTULO 60
240 CAPÍTULO 60
FOTOS: FERNANDO MARTINS FERREIRA

MOTTILAA’S PERU

In April 2009 I traveled to Peru with Mari and we spent ten days in the country. We were in an in tense period of work and the trip was an oppor tunity that came out of nowhere from an unusual advertisement for a flight ticket to Lima (Peru) on sale. As we had never thought about going there and we didn’t have time: we went there without many expectations and planning, in a very back packer style and as simple as possible.

We traveled from Lima to Cusco, passing through Aguas Calientes, Puno, and progressively being en raptured by the colors, customs, culture, people, the mixtures of tradition and modernity and the history and characters I met. Unforgettable de spite all the ills and social issues.

I came back from the trip with my head buzzing with ideas and information, and soon afterwards Tiago (Moraes) asked me what I’d think of doing a solo exhibition at the +SOMA space, which was located in a property in Vila Madalena, SP, where

Kultur studio also functioned (which later be came Dabba, both owned by Tiago and his partner Fernanda Masini). I didn’t even question myself: representing what I’ve seen of that country was just what was going in my mind. I didn’t even think for a minute if it would be too regional or good for the evolution of my career.

I had little time to produce. In the final stage of production, I went to SP one week before, along with my friend Rodrigo Senna (Motion Designer and DJ, who went along to help me) and we stayed at Flávio Samelo’s house for me to finish the works. The idea was precisely to convey this vi sion I had of Peru in the short time I stayed, portraying characters and customs I saw, such as Wendy Sulca, a child singer who sang with a squeaky voice about adult themes such as beer and lamentations, rocked by typical Peruvian rhythms – from the llama called Jessica, pass ing by Maximo the flutist, to a baby that I pho tographed. I chose to make many cut-out frames, following the silhouette of the characters and elements: Inka Cola, Batman’s tricitaxi, and so on. Trying to really give them life and body.

In the following month, I took part of the works to Homegrown former store/gallery in Ipanema, Rio), where we made a pocket version of the +SOMA space exhibition.

241 CAPÍTULO 60

PEOPLE UNDER THE STAIRS

Na sequência, fomos convidados pra assinar a arte do disco seguinte, Highlighter! Aproveitamos o nome e conseguimos que a fábrica chegasse a um tom de marca-textos pra usarmos como única cor na arte preto e branco. Criamos uma embalagem em papel kraft. Ao abrir (tanto o CD quanto o vinil), uma ilustração mostrava a cena de uma área que remetia a um gueto de Los Angeles, sendo que todos os personagens da cena eram Thes One e Double K, personificados das mais diferentes formas.

Eu já tava muito animado de expor no espaço +SOMA. Mais ainda porque um dia depois da aber tura o People Under The Stairs tocaria lá! Virei fã do duo de rap de Los Angeles depois que o Tiago (Panda!) me apresentou Question in the Form of an Answer

Durante a montagem da expo, eles apareceram no espaço, e um dos integrantes, Thes One, ficou to cado quando viu que o tema era Peru. Ele me con tou que seus pais são peruanos e passou alguns anos de sua infância no país. Se emocionou por ter se transportado de volta àquela época e tradi ções familiares.

Acabou acontecendo uma conexão e trocamos con tatos. De volta a Los Angeles, pouco tempo depois, ele me escreveu dizendo que fariam um DVD de 10 anos de PUTS¹ e gostaria que eu fizesse a arte. Como seria um projeto de design, me juntei a Mari, e usamos como inspiração pra criar a arte o El Rey, teatro de muita tradição em Los Angeles onde foi gravado o show. Pelo fato do teatro ter um grande letreiro luminoso na fachada, usamos qua tro cores neon especiais no projeto e adaptamos a arte pra um shape edição limitada.

O projeto ganhou um prêmio de melhor embalagem em uma premiação feita entre fábricas nos Estados Unidos e foi destaque na Bienal de Design Gráfico Brasileiro, em 2013.

Em janeiro de 2021, Mike Turner (o Double K), in felizmente, faleceu. O grupo havia anunciado um ano antes que o último álbum (de 2020) seria uma despedida. Foi uma honra termos feito não só um, mas dois projetos gráficos pro PUTS e que tudo tenha acontecido de um jeito muito natural. Mais uma vez, um brinde às conexões da vida!

242 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 61
1. PEOPLE UNDER THE STAIRS
243 CAPÍTULO 61
244 CAPÍTULO 61

PEOPLE UNDER THE STAIRS

COM SERGINHO, MÁRIO CALDATO JR. E THES ONE NO ANTIGO ESTÚDIO DO MÁRIO. LOS ANGELES, 2010.

WITH SERGINHO, MÁRIO CALDATO JR. AND THES ONE IN MARIO’S OLD STUDIO. LOS ANGELES, 2010.

A connection ended up happening, we exchanged contacts and, back in LA, a short time later he wrote to me saying that they’d make a 10th anniver sary DVD of PUTS* and he’d like me to do the art.

I joined Mari, and we used El Rey as inspiration to create the art, since this traditional LA was the venue where the concert was recorded. Because the theater has a large illuminated sign on the façade, we used 4 special neon colors in the proj ect and also adapted the art for a limited edi tion deck.

I was already very excited to exhibit at the +SOMA space and even more knowing that one day after the opening People Under The Stairs would play there! I became a fan of the Los Angeles rap duo after Tiago (Panda!) introduced me to “Question in the form of an answer” in 2000.

During the assembly of the expo, they showed up at the spot and one of the members, Thes One, was touched when he saw that the theme was Peru. He told me that his parents are Peruvian and he spent a few years of his childhood in the country and was thrilled to have himself transported back to that time and family traditions.

Soon after, we were invited to sign the artwork for the next album, “Highlighter”! We used the name and Thes One managed to make the factory reach a highlighter tone to use as the only col or in black and white art. We created a Kraft pa per package and when opening both the CD and the vinyl, an illustration showed the scene of an area that resembled a Los Angeles ghetto, and all the characters in the scene were Thes One and Double K personified in different ways.

The project won an award for best packaging in an award made between factories in the USA and was featured at the Brazilian Graphic Design Biennial in 2013.

In January 2021, Mike Turner (Double K) sadly passed away. The group had announced 1 year before that the last album (from 2020) would be a fare well. It was an honor that we did not only one, but two projects for PUTS and that everything hap pened in a very natural way. Once again, here’s to life’s connections! 1.

245
ENGLISH CAPÍTULO 61
PEOPLE UNDER THE STAIRS
246 CAPÍTULO 61
247 CAPÍTULO 61

Em 2010, pintou o convite da Crail pra fazer a arte do pro model do Otávio Neto. Além de ska tista, Otávio é também fotógrafo profissional, um cara sangue bom e bem-humorado demais. Esse foi o ponto de partida pra criar o Netozilla, uma mistura engraçada de Godzilla com máquina fotográfica.

Criei uma história em quadrinhos de um monstro que invade uma cidade em que os habitantes têm um olho gigante no lugar da cabeça. Netozilla esmaga prédios enquanto tira fotos. Um dos habitantes se revolta, jogando uma pedra nos “países baixos” do monstro Netozilla. Uma crítica à invasão de uma tal de privacidade.

O próprio Otávio tomou a iniciativa e fez um vídeo de animação em stop-motion que virou um vídeo pro mo, com bonecos e cenários construídos por ele, ba seados nos personagens que criei pro projeto.

In 2010, Crail asked me to make the graphics for Otávio Neto’s pro model. Besides being a skate boarder, Otávio’s also a professional photogra pher, an awesome and a very humorous guy. That was the starting point for creating Netozilla, a funny mix of Godzilla and a camera.

I created a comic book about a monster that inva des a city where the residents have a giant eye as the head. Netozilla smashes buildings while ta king pictures. One of these residents gets pissed off, throwing a rock at Netozilla monster’s “lo wer parts”. A critique to the invasion of a thing called “privacy”.

Otávio himself took the initiative and made a stop motion animation video that turned into a promo video, with puppets and scenarios built by him, based on the characters I created for the project.

248 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 62 ENGLISH
NETOZILLA
249 CAPÍTULO 62

RETTA SKATE

Além de ter feito a identidade visual do “El Gomes”, truck assinado por Rafael Gomes (em 2010), ele, seu irmão Neto e Sidney Arakaki cria ram a Retta Skate, inicialmente como uma skate shop online baseada em Londrina, Paraná. Anos de pois, agora sem Cidão na sociedade, abriram lojas físicas em Londrina e Maringá.

Skateshops são um pilar muito importante não só pro mercado em si (por motivos óbvios), mas pra toda cultura que o skate engloba. Em tempos de re cém-entrada nas Olimpíadas, é muito importante a conscientização sobre a importância de comprar qualquer produto relacionado ao skate em lojas especializadas e que dêem suporte pros skatis tas. Seja patrocinando, apoiando,criando eventos ou movimentando a cena. Por menor que seja o ta manho do patrocínio, apoio ou evento, o foco nesse investimento e a intenção importam muito.

Até hoje a Retta tá na ativa. Fico sempre muito sa tisfeito em poder colaborar com negócios inde pendentes que fazem tanto pela cena!

Besides creating the brand identity for “El Gomes”, a truck signed by Rafael Gomes (in 2010), him, his brother Neto and Sidney Arakaki created Retta Skate, initially as an online skateshop ba sed on Londrina, Paraná. Years later, they opened physical stores in Londrina and in Maringá

Skateshops are a very important pillar, not only for the market itself (for obvious reasons), but for the entire culture that skate embraces. In ti mes of recent entry into the Olympics, it’s very important to raise awareness about the importan ce of buying any product related to skate in spe cialized stores that support skaters, whether by sponsoring, supporting, creating events or moving the scene. It doesn’t matter how small the size of the sponsorship, support or event is, the focus on that investment and the intention is what mat ters the most.

To this day Retta Skate’s active and I’m always very pleased to be able to collaborate with my work with independent businesses that help to keep the scene alive.

250 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 63 ENGLISH
251 CAPÍTULO 63

BNEGÃO

A primeira lembrança que tenho do Bê é a de um sa rau do CEAT, colégio onde estudei — e onde ele to cou pela primeira vez com o Funk Fuckers. Não fui nesse show, mas lembro que alguém apareceu com uma fita cassete da gravação do show com a ban da fazendo um cover de “Give it Away” do Red Hot Chili Peppers. Não me lembro como nos conhecemos pessoalmente, mas sempre foi um amigo, de sorri são largo, com quem me divirto quando encontro.

Em 2005, fiz o logo pro BNegão & Seletores de Frequência e, sete anos depois, assinamos pelo Petit Pois Studio o projeto gráfico de Sintoniza Lá, que ganhou o prêmio de “Melhor Disco do Ano” pelo VMB da MTV Brasil 2012. Nossa capa foi uma das 10 indicadas a melhor capa do ano. Apesar de não termos levado o prêmio, fomos ao VMB e foi bom demais estar lá quando anunciaram os nomes e termos festejado junto com a banda!

The first memory I have of Bê is a festival at CEAT, the school where I studied, where he played for the first time with Funk Fuckers. I didn’t go to that concert, but I remember someone showed up with a cassette tape of the concert recording with the band covering “Give it Away” from Red Hot Chili Peppers. I don’t remember how we met, but he’s always been a friend, with a large smile, and we always crack up when we meet!

In 2005, I did the logo for his band “BNegão & Seletores de Frequência” and, 7 years later, we signed the graphic project for “Sintoniza Lá” as Petit Pois Studio, which ended up winning the award for ‘Best Record of the Year’ on the VMB (MTV Video Music Brasil Awards) in 2012. Our co ver was one of the 10 nominees for the best cover of the year. Even though we didn’t win this award, we went to VMB and it was really cool to have been there when they announced the award and have ce lebrated together with the band!

252 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 64 ENGLISH
253 CAPÍTULO 64

NEW ERA

Em 2011, Caiê Botelho, que era gerente de marke ting na Element, foi pra New Era e me chamou pra fazer a primeira collab da marca no Brasil com um artista (o artista brasileiro Herbert Baglione já havia feito uma collab, mas com a New Era nos EUA, através da Upper Playground).

Pra esse projeto resolvi usar a Kombi, que uso como meu logo, de uma maneira bem clássica como os bonés de times. O boné saiu em 2012, quando completei 10 anos de artes pro mercado de ska te, com o forro feito com um fullprint simulando uma colagem de muitos adesivos das diversas artes feitas por mim ao longo desse período pras marcas com as quais trabalhei.

Por ser uma marca centenária, fundada em 1920, e a mais clássica dos bonés de times norte-ameri canos, foi um sonho ver meu New Era na cabeça de tanta gente que admiro: do saudoso Marcelo Yuka, Papatinho, Ment, Bob Burnquist e mais uma pá de gente passeou com minha Kombi por aí!

Foi uma honra ter iniciado essa relação com a marca. Não só desenvolvi outras três collabs (uma a convite da loja Homegrown e outras duas assina das pelo Petit Pois Studio) como tenho a New Era como uma das patrocinadoras do projeto desse li vro, com direito a boné edição limitadíssima da Lagartixa Rosa!

In 2011, Caiê Botelho, who was Marketing Manager at Element, went to New Era and invited me to do the brand’s first collab in Brazil with an artist (Brazilian artist Herbert Baglione had already done a collab with New Era in the US, through Upper Playground).

For this project I decided to use the VW Bug van that I use as my logo, in a very classic way like the classic team caps. The cap came out in 2012, my 10th anniversary on the skateboard market, with the lining made with a fullprint simulating a collage of many stickers from the various arts made by me over that period for brands I worked with.

For being a century-old brand, founded in 1920, and the most classic of North American team caps, it was a dream to see my New Era in the heads of so many people I admire: the late Marcelo Yuka RIP), Papatinho, Ment, Bob Burnquist and a bunch of people walked with my van around!

It was an honor to have started this relationship with the brand and later not only to have devel oped three other collabs (one through Homegrown store and another two signed as Petit Pois Studio) but also to have New Era as one of the sponsors of this book, with a very limited edition Pink Gecko cap!

254 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 65 ENGLISH
FOTO:BLAZE
255 CAPÍTULO 65
256 CAPÍTULO 65
257 CAPÍTULO 65

BURN BABY, BURNQUIST

Quando Bob foi lançar o app Bob Burnquist’s Dreamland, em 2012, me convidou pra criar a iden tidade visual e os personagens do jogo. Trabalhei no projeto com a Mari (Petit Pois Studio) e o transformamos em mascote: o “Bobito”, sua versão cartum com direito a cabeção e equipamentos. Ao longo do processo, tivemos todo o cuidado de fa zer ao lado dele as ilustrações dos movimentos quadro a quadro de suas manobras antes de serem animadas. Bobito era acompanhado por uma gangue de personagens inspirados nos animais da fau na da Dreamland, localizada no rancho que abri ga sua famosa Mega Rampa e sua casa, em Vista, Califórnia.

Rolou até o lançamento do app durante um cam peonato na Mega Rampa, e eu e Mari fomos pra lá em 2012. Como desdobramento do projeto, ficamos responsáveis por desenvolver uma série de artes e produtos Dreamland pra crianças, desde skates, cruisers até mochilas, merendeiras e chinelos.

Além dos produtos de Dreamland, Bob chegou a li cenciar sua marca Burnquist pra várias outras marcas, como Tilibra e C&A. Por conta disso, na sequência, também cuidamos dos gráficos e sty le guides que viraram linha de vestuário, cader nos e etc.

Tenho uma lembrança de estar customizando os shapes-troféus da premiação do Crail Cup de 2005, em São Paulo, e Bob vir falar comigo sobre meus desenhos, como quem já sabia o que eu fazia há tempos. Nos cumprimentávamos nos campeonatos, mas não tinha ideia nem se ele sabia meu nome nem nada sobre meu trabalho.

Começamos a nos falar mais nessa época, quando a gente se esbarrava por aí ou quando ele vinha pro Rio pra algum campeonato. Aos poucos, fomos nos aproximando. Somos de uma mesma geração, mas, apesar de conhecer ele há tantos anos da cena e termos muitos amigos em comum, nunca fomos “for malmente” apresentados.

Em 2018, tivemos a oportunidade de trabalhar jun tos em mais um projeto. Dessa vez, criando a iden tidade visual da sua nova marca de obstáculos BURNKIT, desenvolvidos por um time muito especial que contava com o Sylvio Azevedo e o Bruno Pires (arquitetos e fundadores da Rio Ramp Design). Depois de ir algumas vezes pra sua casa nos cam peonatos que Bob promove por lá, em 2019 fui de safiar a gravidade e lutar contra o vento com o spray pra pintar meus doodles na Mega Rampa!

258 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 66
259 CAPÍTULO 66
260 CAPÍTULO 66

I have a memory of customizing the trophy-decks for the 2005 Crail Cup Awards in São Paulo, and Bob talking to me and commenting on my drawings, as if he already knew what I was doing for a long time. We shook hands at championships, but I had no idea if he even knew my name or anything about my work.

Interestingly, in that same year, we started straightening our relationship when we bumped into each other or when he came to Rio for a cham pionship and, little by little, we got closer. We are from the same generation, but despite having known him for so many years in the scene and hav ing many friends in common, we were never “for mally” introduced.

When Bob thought of launching the “Bob Burnquist’s Dreamland” app, in 2012, he invited me to create the brand identity and characters of the game. I worked on the project with Mari (Petit Pois Studio) and we turned him into a mascot, “Bobito”, his cartoon ver sion with a big head and gear. Throughout the pro cess, we took great care to draw with him illus trations of the frame-by-frame movements of his tricks, before they were animated. Bobito was ac companied by a gang of characters inspired by the animals of the Dreamland fauna, located on the

ranch of his famous Mega Ramp and where he lives, in Vista, California.

During a championship at Mega Rampa, the app was released and Mari and I went were there in 2012. As a part of the project, we were responsible for developing a series of Dreamland graphics and products for children, like skateboards, cruisers, even backpacks, lunch boxes and flip-flops.

Besides Dreamland products, Bob even licensed his “Burnquist” brand to several other brazilian brands, such as Tilibra and C&A. Because of this, in the sequence, we also took care of the graph ics and style guides that became a clothing line, notebooks, etc.

In 2018, we had the opportunity of working to gether in another project. This time creating the brand identity of their new brand of obstacles BURNKIT, developed by a very special team that included Sylvio Azevedo and Bruno Pires (archi tects and founders of Rio Ramp Design). After go ing to his house a few times in the championships that Bob promotes there, in 2019, I went to defy gravity and fight the wind, to paint my doodles at the Mega Ramp!

261
CAPÍTULO 66
ENGLISH
BOB BURNQUIST, DANNY WAY, EU, MARI E CHRISTIAN HOSOI. VISTA, CA. 2012.

ÖUS MY GOD!

Peguei o e-mail dele e mandei uma mensagem di zendo o quanto eu admirava a ÖUS. Um pouco de pois, ele me respondeu dizendo que estava na casa do Felipão com um adesivo que fiz pra Posso! na mão quando abriu o e-mail. Resumo da ópera: co mecei a receber tênis e algum tempo depois já es távamos combinando de fazer uma collab juntos. A primeira saiu em 2012, depois fizemos um tênis inspirado no jogo do bicho (ideia que seria bar rada no jurídico de muita marca). Ainda fizemos três collabs com o Petit Pois Studio, das quais me orgulho demais do resultado.

Foi em 2015 que Narsa realizou um sonho anti go meu: a oportunidade de desenhar um mode lo de tênis. Praticamente um ano depois nascia o MOTTILAA, que carregava o slogan “Pau Pra Toda Obra” por se tratar de um tênis com visual um pouco mais social. Era possível usar tanto na ses são de skate quanto num casamento, jantar com a pessoa amada ou até em velório. Eu fiquei em êxta se com o resultado final e com todas as variantes que desenvolvemos dele.

Sempre ouvi o Samelo falar do tal do Rafael Narciso. Me contava umas histórias engraçadas de mais que tinham acontecido com ele e o quanto ele era genial. Isso na época em que Narciso ainda ti nha a Látex, marca de roupas independente que, no começo dos anos 2000, fez barulho no mercado de skate brasileiro. A marca acabou. Alguns anos de pois comecei a ver anúncios de uma nova marca de tênis que estava chegando no mercado e seria lan çada. No dia 25 de agosto de 2008, Narciso lança va a ÖUS com um teaser que me chamou a atenção e, desde então, comecei a acompanhar e admirar a marca.

Felipão (Felipe Vital) era outro que sempre fala va do Narciso e dizia que a gente precisava mui to se conhecer. Na real, muita gente jurava que nós fossemos amigos, mas eu nem sabia como era a cara dele. Cheguei até a ver umas fotos do Bruno, irmão dele, e achar que era ele.

O tênis foi fabricado durante cerca de três anos e não tenho palavras pra agradecer essa chance de concretizar um sonho que carregava desde mi nha adolescência. Até hoje guardo rascunhos de al guns devaneios (bizarros!) de quando eu era ado lescente. Graças a Deus nunca deram em nada! Ver meu modelo assinado pronto foi uma experiência legal demais!

Durante 10 anos de parceria com a ÖUS, usei com orgulho produtos dessa marca que é, na minha opi nião, a marca de tênis mais genial vinda do skate no Brasil. E, melhor ainda, “Narsa” se tornou um dos grandes amigos que tenho!

262
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 67
FOTO:DIOGO CAMILLO
263 CAPÍTULO 67
264
CAPÍTULO 67
FOTO:DIOGO CAMILLO COM RAFAEL NARCISO, O NARSA. WITH RAFAEL NARCISO, THE NARSA. FOTO:HENRIQUE MADEIRA

I always heard Samelo talk about Rafael Narciso. He used to tell me some really funny stories that had happened to him and how brilliant he was. This was at the time when Narciso still had Látex, an independent clothing brand that in the early 2000s made noise in the Brazilian skateboard mar ket. The brand was over and, a few years later, I started seeing ads for a new skate shoe brand that was entering the market and would be launched.

On August 25th, 2008, Narciso launched ÖUS with a video teaser that caught my attention and, sin ce then, I started to follow and admire the brand.

Felipe Vital was another one who always talked about Narciso and said that we really needed to get to know each other. In fact, a lot of people swore we were friends but I didn’t even know what he looked like. I even saw pictures of Bruno, his brother, and thought it was him.

I got his email address and sent him a message saying how much I admired ÖUS. He replied shortly later, saying that he was at Felipe Vital’s house holding a sticker I made to Posso! when he ope ned the email. Long story short: I started getting shoes and some time later we were already plan ning to do a collab together. The first one came out in 2012, then we released a shoe inspired by Jogo do Bicho (an idea that would be barred in the legal department of many brands). We still did three collabs with Petit Pois Studio, of which I’m very proud of the result.

It was in 2015 that Narsa fulfilled an old dream of mine: the opportunity to design a signature shoe. Practically 1 year later, the MOTTILAA was born, which carried the slogan “Jack of all tra des” because it was a shoe with a slightly more “casual” look, which made it possible to use ei ther in the skate session, or in a wedding, din ner with the loved one or even at a funeral. I was hyped with the end result and with all the co loways we developed from it.

The shoes were manufactured for about three years and I have no words to express my gratitude for this chance to fulfill a dream that I had since my ado lescence. To this day I keep sketches of some (bizar re!) daydreams from the time I was a teenager and which, thank God, never came to anything! Seeing my signature model was such a cool experience!

During 10 years of partnership with ÖUS, I prou dly used products from this brand that is, in my opinion, the most brilliant Brazilian skate shoe brand rooted in skateboarding. And even better, “Narsa” has become one of the best friends I have!

265 CAPÍTULO 67
ENGLISH
266 FOTO:DIOGO CAMILLO CAPÍTULO 67
267 CAPÍTULO 67

UPRISE: CHICAGO’S FINEST

Em 2000, conheci o Marton. Lembro do Vitu e Serginho me falando de um gringo muito figura, que era de Chicago e estava estudando na PUC-Rio. Não demorou muito pro tal Marton aparecer numa sessão, e eu, de fato, constatar que o cara era diferenciado. Um norte-americano trabalhado na ginga e com a energia de uma criança. Sangue bom demais, ele já falava português muito bem, com di reito a um vocabulário completo com gírias e pa lavrões. Ele passou a sempre andar junto, ficou muito amigo e foi, ao longo dos anos, chamando amigos de Chicago pra conhecerem o Rio.

Um desses amigos foi o Uriah, que é dono da Uprise skateshop, fundada em 1997, a mais respeitada de Chicago e sempre envolvida em ações pra apoiar a cena local. Em tempos atuais, em que o comér cio é muitas vezes sugado por lojas online, que, na grande maioria das vezes, não têm nenhum envolvi mento nem comprometimento com o skate a não ser as vendas, foi lá que vi pela primeira vez uma cai xa de rodas e de shapes usados destinados à doa ção pra skatistas que não têm dinheiro pra com prar peças novas.

Minha conexão e amizade com ele só cresceram ao longo dos anos. Nas vezes que tive a oportunida de de ir pra Chicago, fui sempre muito bem rece bido na sua própria casa e por seus amigos e fa mília. É um belo exemplo de como a comunidade do skate pode ser acolhedora, inclusive fora do país. Sempre que vem alguém de lá pro Rio e vice-ver sa, tento ao máximo dar uma assistência, da mes ma forma que sempre recebi lá. Nossa parceria já rendeu três séries de shapes coordenadas com co leções de vestuário, sendo que a última (Chi-Town Pup’ ‘Scot Series) se desdobrou em duas edições, a segunda delas lançada esse ano.

In 2000, I met Marton. I remember Vitu and Serginho telling me about a very funny grin go, who was from Chicago and was also stu dying at PUC-Rio University. It didn’t take long for Marton to show up at a session and for me to actually see that the guy was ‘different’. An American having a great swing and with the ener gy of a child. Really cool dude, he already spoke Portuguese very well, with a complete vocabulary including slang and cuss words. He started to al ways skate together, became very friendly and over the years invited friends from Chicago to get to know Rio.

One of those friends was Uriah, who owns Uprise Skateshop, founded in 1997, the most respected one in Chicago, always involved in actions to su pport the local scene. In current times, where the market is often sucked by big online stores, whi ch most of the time have no involvement or com mitment with skateboarding other than sales, it was there that I saw for the first time a box of wheels and used decks donated to skaters who don’t have the money to buy brand new hardgoods.

My connection and friendship with him has grown over the years and whenever I have had the oppor tunity to go to Chicago, I have always been warmly welcomed in his own home and by his friends and family. It’s a beautiful example of how welcoming the skate community can be, even outside the coun try. Whenever someone comes from there to Rio and vice versa, I try my best to assist and host, the same way I always welcomed there. Our partnership has already yielded three deck series coordinated with apparel collections, the last one (“Chi-Town Pup’ ‘Scot Series ”) got two editions, the second of which was launched this year, 2022.

268 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 68 ENGLISH
269 CAPÍTULO 68
FOTO:SERGIO ROCA

SANDWICH MEN

É bem normal nos EUA que as skateshops façam seus próprios shapes, mas não é comum que invistam em colaborações com artistas, menos ainda em séries. Em 2011, criei minha primeira série pra Uprise, uma das exceções às skateshops locais, e, que há anos, já tinha essa tradição.

O caminho que escolhi foi representar os “ho mens-saduíche”, aquelas pessoas paradas na rua com placas de propaganda. Tive essa ideia pra um shape do Charlie Wilkins na 5Boro, que acabou não acontecendo, e quis ressuscitar por curtir mui to. Como eu sou uma pessoa que tem um certo apre ço por coisas estúpidas, banais e cotidianas, vi no espaço das placas uma oportunidade de ouro pra escrever mensagens aleatórias em inglês e português.

Estava tudo programado pra eu ir pra festa de lançamento dessa tão aguardada primeira collab, em Chicago. Eu tenho dupla cidadania italiana e, como tava sem meu visto americano renovado no passaporte brasileiro, usei meu passaporte ita liano pra viajar. Já no aeroporto, no guichê do check-in, apesar de estar com o passaporte na va lidade, a atendente me informou que eu não pode ria embarcar, pois meu passaporte era a versão sem chip e foto digital. Conclusão: não perdi a pas sagem (fui alguns meses depois), mas perdi a fes ta de lançamento que aconteceu na noite em que eu chegaria, mas sem mim. Doeu na alma ver os ami gos mandando mensagem e fotos da festa enquanto eu tinha ficado por uma exigência que não fazia o mínimo sentido… O palhaço chorou.

It’s quite normal in the US for skateshops to make their own decks, but it’s not common for them to invest in collaborations with artists, even less in series. In 2011, I created my first series for Uprise, one of the exceptions to the local skate shops and which has had this tradition for years.

The path I chose was to represent the “sandwichmen”, those people standing on the street with advertising signs. I had this idea for a Charlie Wilkins deck at 5Boro, which ended up not ha ppening, and I wanted to resurrect it because I really enjoyed it. As I’m a person who has a “cer tain” appreciation for stupid, banal and everyday things, I saw in the popular street signs a golden opportunity to write random messages in English and Portuguese.

Everything was scheduled for me to go to the re lease party of this long-awaited first collab, in Chicago. I have dual Italian citizenship and, as I didn’t have my US visa renewed in my Brazilian passport, I used my Italian one to travel. At the airport, at the check-in desk, despite the pass port being valid, the attendant informed me that I couldn’t board because my passport was a non -chip version without a digital photo. Bottom line: I didn’t lose the ticket (I travelled a few months later), but I missed the release party that took place the night I was supposed to arrive, but without me. It hurt my soul to see friends sending messages and photos of the party while I had sta yed for a demand that made no sense at all.

270 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 69
271 CAPÍTULO 69
272 CAPÍTULO 69
273 CAPÍTULO 69

TO ALL MY FISHES

Durante um brainstorm com Uriah, chegamos na ideia de uma nova série representando peixes tí picos da região de Chicago. Ele me passou cinco espécies famosas na pesca. Usei a cabeça e cauda de cada peixe, sendo o restante dos corpos com postos de elementos cilíndricos. O nome “To All My Fishes” satiriza “To All My Bitches”, uma fra se bem típica (e machista) de bordões de rap dos anos 1990.

Quando foi lançada, em 2016, fui surpreendido com um vídeo promo que o time da Uprise gravou na orla do Lago Michigan, forjando uma pescaria onde os skates são pescados e, na sequência, usa dos numa sessão. Detalhe pra dublagem usando o áudio de um vídeo que viralizou na época, em que dois pescadores se deparam com um enorme peixe -lua e espantados, sem saberem do que se tratava, disparam um monte de exclamações chulas e cheias de sotaque.

During a brainstorm with Uriah, we came up with the idea of a new series representing typical fishes from the Chicago area. He told me about five famous fish species and I used the head and tail of each one, the rest of the bodies being composed by cylindrical elements. The name “To All My Fishes” satirizes “To All My Bitches”, a very typical (and sexist) phrase from 90s rap catchphrases.

When it was released, in 2016, I was surprised by a promo video that Uprise team shot on the sho re of Lake Michigan, forging a fishery where ska teboards are fished and then used in a session. Detail for the dubbing using the audio of an ama teur video that went viral at the time, where two fishermen come across a huge Moonfish and start led, not knowing what it was about, cussing as if there was no tomorrow.

274 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 70 ENGLISH
275 CAPÍTULO 70
276 CAPÍTULO 70
277 CAPÍTULO 70
278 FOTO: SERGIO ROCA CAPÍTULO 70
279 FOTO: SERGIO ROCA CAPÍTULO 70

CHAPLIN & CHAPOLIN

Uma série que curti fazer foi a Kronik Allstars, pra marca Kronik. Minha ideia foi pegar os pro fissionais do time e fazer versões deles com per sonagens famosos.

Fiz apenas dois models: do Carlos de Andrade, o “Piolho”, e do Wagner Ramos.

Achei que, pelo tipo do skatista Piolho, fica ria hilário ele fantasiado de Chapolin Colorado, o clássico anti-herói do seriado mexicado. Pro Wagner, aconteceu uma história curiosa: como ele sempre me lembrou o Charles Chaplin, propus criar o “Waglin”, personagem dele fantasiado de Chaplin. Depois de ter feito a arte, ele me con tou que na sua família costumava ser chamado de Chaplin quando era criança!

Infelizmente, a série acabou não ganhando mais gráficos, mas essa dupla “causou uma tremenda confusão”, como diriam aquelas chamadas de fil mes de Sessão da Tarde.

A series that I enjoyed doing was “Kronik Allstars”, for Kronik skateboards. My idea was to take the team’s pros and make versions of them with famous characters.

I made only two models, Carlos de Andrade “Piolho” and Wagner Ramos.

I thought that, by Piolho’ type, it’d be hila rious for him to dress up as Chapolin Colorado, the classic anti-hero of the Mexican series. For Wagner, a curious story happened: as he always re minded me of Charles Chaplin, I proposed to crea te “Waglin”, his character dressed as Chaplin. After I made the graphic, he told me that in his family he used to be called Chaplin when he was a kid!

Unfortunately, the series ended up not gaining more graphics.

280 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 71 ENGLISH
281 CAPÍTULO 71

DADDY’S PRO, YO!

Bruno Passos é um skatista carioca (dos bons!) que mora há muitos anos na Califórnia trabalhando como videomaker. Quando ele estava prestes a com pletar 40 anos, recebi uma mensagem do fotógrafo Brian Fick, que eu tinha conhecido na casa do Bob (Burnquist), na Califórnia. Brian disse que ele e amigos queriam fazer uma surpresa pro Bruninho e dar a ele de presente de aniversário um pro model. Apesar de nunca ter sido profissional, seria como se os próprios amigos estivessem promovendo ele pra profissional.

A proposta era ser uma tiragem bem pequena, pro duzida pela marca independente Pocket Pistols (da Califórnia), com a arte aplicada em silk-screen Pra mim é motivo de êxtase porque, além de ficar com uma acabamento lindo, é cada vez mais raro um shape com a arte impressa em silk-screen, ape sar de já ter sido muito comum nos velhos tempos.

Tive a ideia dos dois filhos do Bruninho e Rebeca estrelarem o layout. Peguei algumas fotos de re ferência e fiz Luan e Kaio, cada um em sua bicicle ta, com cara de marra.

Eu não tava na hora, mas fiquei feliz de ver as fo tos da entrega surpresa e de poder contribuir com essa homenagem a um amigo muito querido.

Bruno Passos is a skateboarder from Rio (a good one!) who has lives in California for many years working as a videomaker . When he was about to turn forty, I got a message from photographer Brian Fick, who I had met at Bob’s (Burnquist) hou se in California. Brian said that he and friends wanted to surprise Bruno and make him a pro model as a birthday present, even though he never tur ned pro, it’d be as if his friends were doing it so.

The proposal was to be a very small print, pro duced by independent brand Pocket Pistols (from California) with the art applied in silk scree ning, which for me is a reason for being stoked because in addition to having a beautiful finish, a deck with a screen printed graphic is increa singly rarer, although it was very common back in the days.

I thought it’d cool having Bruno and Rebeca’s two children starring the graphic, so I took some re ference photos and made Luan and Kaio each on their bikes, with quite a badass attitude.

I wasn’t there when it happened, but I was stoked to see the photos of the surprise delivery and being able to contribute to this tribute to a very dear homie.

282
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 72 ENGLISH
“DADDY’S PRO, YO!” • FOTO:BRIAN FICK
283 CAPÍTULO 72

BRASILIDADE

BRAZILIANNESS

Pra Copa de 2014, a Homegrown fez uma parceria com a New Era e convocou três artistas pra cria rem três bonés comemorativos, inspirados no tema ”Brasilidade”. Junto com meus amigos Marcelo Mack e Marcelo Ment, criamos nossas versões.

Parti pros elementos da sorte e fiz um emblema que tinha, no centro, uma carranca, pés de coelho, ferradura e os dizeres “É O BRASA!”. Dois ramos de folha de arruda na aba e um radinho de pilha bordado na lateral. Resgatando o espírito tor cedor que ultrapassa o tempo. Na parte traseira, vinha a terrível frase: “Máquina de meter gol!”. Seria lindo se o Brasil tivesse ganhado, mas pa receu piada pronta quando perdemos em casa bem na semifinal, tomando o traumático 7x1 da Alemanha. Naquele ano a “máquina de meter gol!” foi dispa rada, só que pelo adversário.

Bem antes desse desfecho a New Era fez uma festa de lançamento no quintal de uma casarão no Alto da Boa Vista, no Rio, com direito a uma feijoa da deliciosa que não acabava nunca. Até Cara de Cavalo apareceu pra apavorar os convidados. Das memórias boas que guardo desse projeto é que quem estava nesse dia ao menos se deu bem!

For the 2014 World Cup, Homegrown partnered with New Era and invited three artists to create each one a celebration cap, inspired by the the me “Brazilian”. Together with my friends Marcelo Mack, Marcelo Ment, we created our versions.

I went for the elements of luck and made an em blem that had, in the center, a frown, along with rabbit’s feet, horseshoe and the words «É O BRASA!” Two rue leaf sprigs on the flap and an embroidered stack radio on the side. Rescuing the cheering spirit that overcomes time. On the back, came the terrible phrase: “Goal scoring machi ne!”. It would have been beautiful if Brazil had won, but it seemed like a joke when we lost at home in the semifinals, taking the traumatic 7x1 from Germany. That year the “goal scoring machi ne!” was fired, only by the opponent.

Well before this outcome, New Era had a relea se party in the backyard of a huge house in Alto da Boa Vista, Rio, with a delicious feijoada that seemed like never ended. Even Horse Face showed up to scare the guests. Of the good memories I have of this project is that whoever was there that day did well!

284 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 73 ENGLISH
285 CAPÍTULO 73

GUSTAVO DE NIKITY

Originário de Niterói, assim como De Leve, Marechal, Castro, entre outros, Gustavo Black Alien é uma das lendas do rap no Brasil. Isso não é nenhuma novidade. Não me lembro em que situa ção nos conhecemos, mas me lembro de antes de seu primeiro disco solo (Babylon by Gus vol 1: o ano do macaco, de 2004) sair, ele me dizer que que ria que eu fizesse a capa. O tempo passou, nos de sencontramos e, quando vi, o disco já tinha saído.

Nos anos seguintes, ele voltou a falar diversas vezes que queria que eu fizesse, então, a capa do seu segundo disco. O tempo passou e, em 2011, o as sunto retornou com força. Combinei de fazer com a Mari pelo Petit Pois Studio. Nesse início, tive mos algumas reuniões. Até então, o disco tinha ou tro nome: Babylon by Gus vol 2: a lenda do santo beberrão. Gustavo passava por questões com álcool e dependência química e acabou se internando al gumas vezes. O processo todo foi lento. Depois de muita gente desacreditar não só que o álbum sai ria, mas que o Gustavo também sairia dessa fase tão desafiadora, a gente seguiu acreditando e confiando durante esses anos.

Quando Black Alien melhorou, trouxe a força de tudo que viveu pro projeto. Mudou o nome do disco pra Babylon by Gus vol 2: no princípio era o ver bo e veio até a gente com ideias fortíssimas: su geriu que usássemos a clássica cena do filme O Sétimo Selo, de Ingrid Bergman, em que o prota gonista joga uma partida de xadrez com a própria morte, como referência central. Mesclando com os peixes beta do filme Rumble Fish (O Selvagem da Motocicleta), só que nas cores do movimento Rastafári. Fomos fundo buscar a melhor forma de representar essa maravilha toda.

Antes de o disco sair, foi lançado o single Terra, do qual nós também cuidamos da arte da capa. E, em 2015, o álbum felizmente saiu!

Como esse grande retorno era solene, após um hia to de 11 anos do primeiro disco, criamos uma ilustração delicada e trabalhada, misturan do pontilhismo e hachuras, com um lettering ma nual da Mari. Uma linguagem até um pouco dife rente do que fazíamos em geral, buscando dar uma atemporalidade e uma classe que achávamos impor tante. Adicionamos alguns detalhes na composi ção, como o MAC (Museu de Arte Contemporânea de Niterói, que fica no bairro onde Gustavo morou boa parte da sua vida) e a vista do Rio, da Baía da Guanabara, mais ao fundo.

Foi muito emocionante acompanhar tudo isso de perto e ver esse projeto pronto, não só por ser mos muito fãs, antes de tudo, mas, principalmente, por ver um amigo querido vencendo uma batalha tão grande. E, melhor ainda, engrenando e continuan do a produzir na sequência mais álbuns. Impagável!

286 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 74
287 CAPÍTULO 74

GUSTAVO DE NIKITY

Originally from Niterói, as well as De Leve, Marechal, Castro, among others, Gustavo “Black Alien” is one of the rap legends in Brazil. And that’s nothing new. I don’t remember when we met , but I remember before his first solo record («Babylon by Gus vol 1: Year of the Monkey» from 2004) was released, he told me he wanted me to do the cover. Time passed, we kinda lost contact and when I realized, his debut solo album was already out.

In the following years, he told me again several times that he wanted me to make the cover of his second album. Time passed and in 2011 we finally started talking about it. I arranged to do it with Mari at Petit Pois Studio. At the beginning we had some meetings and the album had another name: “Babylon by Gus vol 2: the legend of the drunkard saint». Many people disbelieved not only that the album would come out, but that Gustavo would also get out of this very challenging phase. We kept believing and trusting during these years.

When Black Alien got better, it brought the strength of everything that lived to the project. He changed the name of the album to “Babylon by Gus vol 2: in the beginning it was the verb” and came to us with very good ideas: he suggested that we used the classic scene from the movie “The Seventh Seal” by Ingrid Bergman, in which the protagonist plays a game of chess with death – as a central reference – mixing with the beta fishes from the movie «Rumble Fish» only in Rastafarian colors. We went deep looking for the best way to represent all this wonder.

Before the album came out, the single “Terra” was released, and we also took care of the cover art. And in 2015 the album luckily came out!

As this great return was solemn, after an 11-year hiatus from the first album, we created a delicate and worked illustration, mixing pointillism and hatching, with a manual lettering by Mari, a lan guage even a little different from what we did in general, trying to give a timelessness and a clas sy look that we thought was important. We ad ded some details to the composition, such as the MAC (Museum of Contemporary Art in Niterói in the background, which is in the neighborhood whe re Gustavo lived most of his life) and the view of Rio, Guanabara Bay, further in the background.

It was very exciting to follow all this up close and see this project ready, not only because we’re big fans, first of all, but mainly to see a dear friend winning such a great battle and, even bet ter, gearing up and continuing to produce in the most albums. Priceless!

288
CAPÍTULO 74 ENGLISH
289 CAPÍTULO 74

O CIRCO CHEGOU!

Com o passar do tempo, fui ficando cada vez mais fã da genialidade de Jorge Ben (Jor) e me identi ficando mais e mais com o estilo de suas letras, composições e a própria forma de cantar suas mú sicas. Há muito tempo, tinha vontade de fazer uma exposição temática sobre algo relativo a sua obra. Entrei numa e comecei a botar a cabeça pra fun cionar em busca de algum tema, algum caminho que me motivasse e dialogasse com meu trabalho. Tava escutando direto seus álbuns, até que, ouvindo a música “O Circo Chegou”, comecei a pouco a pou co ir imaginando todos os personagens surreais que ele descreve na letra e pensando o quanto eu gostaria de criar a minha versão pra representar cada um deles.

Em 2015, estreei “O Circo Chegou! Vamos todo até lá!” (assim errado mesmo, como ele canta de pro pósito) na Galeria Homegrown, em Ipanema, Rio. Pra exposição, representei todos os 14 persona gens citados na música, como Tereré (“o palhaço que é ladrão de mulher”), a Girafa Seresteira, o Homem-foguete, o Anão-gigante, a Orquestra de Sapos e, dentre outros, também o próprio circo montado. Os quadros foram feitos em diferentes técnicas, como aquarela, lápis de cor, acrílica e nanquim. Por ironia do destino, com exceção da Grande Cartomante, a Internacional Deise (a mu lher do homem que come raio laser), todos os qua dros foram vendidos.

A inauguração teve direito a pipoca sendo distri buída diretamente da carrocinha adesivada e até palhaço — não sabia que tanta gente tinha medo/ fobia de palhaço! Pra minha surpresa, recebi men sagens de pessoas dizendo que não iriam por con ta disso.

Foi emocionante ter conseguido fazer a minha ver são pra esse clássico e ter representado o univer so todo que cabe numa só música. Uma homenagem de coração pra essa Lenda. Apesar de não ter conse guido visitar pessoalmente, Jorge Ben ficou muito feliz com a homenagem. No dia, enviou um casal de amigos pra representá-lo.Na sequência, fez ques tão de enviar convite pro show de carnaval, que faz anualmente no Circo Voador, e depois receber a gente no camarim. Inesquecível é pouco!

290 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 75
FOTO: HENRIQUE MADEIRA
291 CAPÍTULO 75
FOTO: HENRIQUE MADEIRA

THE CIRCUS ARRIVED!

As time went by, I became more and more a fan of Jorge Ben (Jor)’s genius and I related more and more with the style of his lyrics, compositions and the very way of singing his songs. For a long time I had wanted to do a thematic exhibition on something related to his work. So I started to put my mind to work in the search of some theme, some path that would motivate me and dialogue with my work. I was listening to his albums in a row, until listening to the song “O Circo Chegou!” I started little by little imagining all the surreal charac ters he describes in the lyrics and thinking how much I would like to create my version to repre sent each of them.

In 2015 I premiered “The Circus Arrived! Let’s all go there!” (so wrong, as he sings on purpose) at Homegrown Gallery – Ipanema, Rio. For the exhi bition, I represented all 14 characters mentio ned in the song, such as Tereré (“the clown who is a woman thief”), the Seresteira Giraffe, the Rocket Man, the Giant Dwarf, the Frog Orchestra and, among others, also the own circus. The pain tings were made using different techniques, such as watercolor, colored pencils, acrylic and China ink. Ironically, with the exception of the “Great Fortune Teller, International Deise (the wife of the man who eats laser beams)”, all the paintings were sold.

The opening had free popcorn being distributed directly from the sticky cart and even a clown –I didn’t know so many people were afraid of clo wns! To my surprise, I received messages from peo ple saying that they would not go because of this.

It was exciting to have been able to make my ver sion of this classic and to have represented the whole universe that fits in a single song. A heart felt tribute to this Legend. Despite not being able to visit, Jorge Ben was very happy with the tribute. On the day, he sent a couple of friends to represent him. Afterwards, he insisted on sen ding an invitation to his classic concert that ha ppens every year after the carnival holidays– at Circo Voador, Lapa. and then receiving Mari and I in the dressing room. Unforgettable is not enough!

292
ENGLISH
CAPÍTULO 75
FOTO:
293 CAPÍTULO 75
FOTO: HENRIQUE MADEIRA

TESTIMONIALS

BLACK ALIEN

“O skate tem esse poder de influenciar a vida de qualquer pessoa. Eu que venho da geração 1970 e estou passando por todo desenvolvimento desse estilo, só tenho a agradecer ao skate por todos lugares que viajei e todas as pessoas que conheci. Principalmente por ajudar de forma tão impactante a minha formação como homem. Obrigado skateboard! Skate é o motivo!”

LETRUX

“Acho que o trabalho do MOTTILAA tem uma curiosidade que é o que sempre me comove em arte no geral, arte tem que trazer curiosidade, sempre.”

“Skateboarding has the power to influence anyone’s life. I come from the 1970s generation and I’went through all the development of its style, so I just have to thank skateboarding for all the places I’ve traveled and all the people I’ve met. Mainly for helping in such an impactful way my formation as a man. Thank you skateboard! Skateboarding is the reason!

“I think MOTTILAA’s artwork has a curiosity that’s what always moves me in art in general, art has to bring curiosity, always.”

DEPOIMENTOS

SIDNEY ARAKAKI

“Felipe Motta, o meu querido amigo Mottinha, é o Millôr Fernandes da nossa geração.

Tão genial quanto o gênio, o soldado do Grajaú contagia simpatia mais que trevo de quatro folhas em jardim.

Essa graça (em todos sentidos) do Felipe Motta em reunir tantos talentos, abundando bom humor, gentileza e originalidade em seus vários projetos e plataformas como o MOTTILAA, Nego Viaja, Abarréta, Mottamobil, tocando o Petit Pois Studio com a sua amada Marianna, incorporando o Cara de Cavalo e demais personagens icônicos da Pepa Filmes, é uma dádiva que ele divide conosco, fãs do seu universo. (...)

Colaborar com tantas marcas grandes dentro de um nicho tão exigente como do skate não é fácil, pois cada uma segue uma linguagem diferente e é importante ter sua própria autenticidade. E é aí que entra a habilidade versátil do Felipe Motta, pincelando sua excêntrica personalidade para dar uma cara diferente e potente para cada marca, mas sempre levando sua inconfundível essência.”

“Felipe Motta, my dear friend “Mottinha” , is the Millôr Fernandes of our generation.

As brilliant as his genius, the “Grajaú Soldia” spreads sympathy more than a four-leaf clover in a garden.

This grace (in every way) of Felipe Motta in bringing together so many talents, abounding in good humor, kindness and originality in his various projects and platforms such as MOTTILAA, Nego Viaja, Abarréta, Mottamobil, working at Petit Pois Studio with his beloved Marianna, incorporating “Horse Face” and other iconic characters from Pepa Filmes, is a gift he shares with us, fans of his universe. (...)

Collaborating with so many big brands within a niche as demanding as skateboarding isn’t easy, because each one follows a different style and it’s important to have its own authenticity. And that’s where Felipe Motta’s versatile ability comes in, brushing his eccentric personality to give a different and powerful face to each brand, but always carrying his unmistakable essence.”

BNEGÃO

MÚSICO / MUSICIAN

“Sou fã geral do trabalho do Motta. Não é à toa que chamei ele pra fazer a capa de um disco muito importante pra minha caminhada, o disco mais premiado de todos que já tive, mesmo contando com Planet Hemp, com tudo. É uma honra brutal estar junto dessa pessoa querida, da Mari, e é sempre um prazer trabalhar junto.

Independente de qualquer coisa, também damos risada junto pra c*****. Acho excelentes seus trabalhos de arte visual, tanto de coisas impressas, game, quanto grafite... É isso! Sou feliz de te ter como camarada, como irmão. E bola pra frente que a gente tem coisa pra c****** pra fazer ainda. Vâmo nessa!”

BOB BURNQUIST

“Como skatista, artista, nós dois seguimos nossas vertentes criativas. Temos várias conexões, desde negócios, as artes, a inspiração. Independente de trabalharmos juntos, a arte do Felipe é bem criativa e improvisada. O lance dos doodles tem muito a ver com uma improvisação. Ele cria na hora, sem ter um planejamento. Eu também sempre vi o skate muito assim, quando eu ia competir ou quando vou tentar alguma manobra. Não tinha muito um plano, fazia o que vinha na mente e ia fazendo meus doodles! Felipe tem essa pegada que é bacana. Trabalhando em conjunto com o estúdio e a Mari, complementou muito bem. MOTTILAA, além de muito legal e profissional para trabalhar, é criativo, tem sua identidade própria na arte, no skate e é uma pessoa fora de série, nota 10, sem “gastação” nem “pagação”. Sou orgulhoso dele e de seu trabalho!”

“I’m a general fan of Motta’s work, it’s not for nothing that I asked him to do the cover art of a very important album for my journey, the most awarded album I’ve ever had, even counting Planet Hemp. It’s a brutal honor to be with this dear self, with Mari, always a pleasure to work together.

Regardless of anything, we also crack up as hell. I think his visual art works are sick, either prints, games and graffitis.. I’m happy to have him as a homie, as a brother. We still have a lot of shit to do! Let’s go!”

“As a skateboarder, as an artist, we both follow our creative paths. We have many connections, from business, to art, to inspiration, regardless of working together, Felipe’s art’s very creative and improvised. The Doodles thing has a lot to do with improvisation. He creates it all freehand, without having a plan. I also always saw skateboarding a lot like that, when I was going to compete or when I’m gonna try a trick. I didn’t really have a plan, I did what came to mind and I was making my own Doodles! So, Felipe has this footprint that is cool. Working together with Mari at Petit Pois Studio, it all complemented very well. MOTTILAA besides being very cool and professional to work with, creative, has his own identity in art, skateboarding and is an outstanding person. No fake ass storytelling. I’m proud of him and his work!”

DEPOIMENTOS
TESTIMONIALS

RAFAEL NARCISO

“Eu tinha tudo pra não gostar desse cara! Apesar de compartilhar de muitos interesses e grandes amigos em comum, na primeira vez que nos vimos ele me olhou com cara de decepcionado. Perguntou se eu era o Narciso, eu disse que sim, e ele lançou sem pestanejar: “Achei que tu fosse mais alto! Parece o Baixinho da Kaiser!“

Apesar desse choque inicial (ficou guardado pra me vingar num futuro que ainda não chegou), viramos grandes amigos.

No mesmo dia que nos conhecemos já entendi que o Felipe Motta redesenha quase tudo que vê ou escuta… Alguém falou “lá na casa do c****** — cinco minutos depois ele já tinha usado um guardanapo pra desenhar uma casinha pet com um cachorro em formato de c****** dentro.

Mesmo a distância e com poucas chances de nos trombarmos pessoalmente, o MOTTILAA virou um dos meus grandes amigos! Sou um grande apreciador da sua arte e visão.”

“I had everything to dislike this guy! Despite sharing many interests and great friends in common, the first time we saw each other he looked at me with a disappointed face, asked if I was Narciso. I said yes, and he blurted out: “I thought you were taller! You kinda look like Kaiser’s Shorty!” *

Despite this initial shock (which was registered to avenge me in the future - which hasn’t yet arrived), we became great friends.

The same day we met, I already understood that Felipe Motta redesigns almost everything he sees or hears… Even from a distance and with little chance of bumping into each other in person, MOTTILAA became one of my great friends! I’m a big fan of his art and vision.”

*A short guy with a mustache, who was a character for brazilian beer brand Kaiser, on tv ads back in the 80’s.

TESTIMONIALS

PEDRO MACEDO

VIDEOMAKER, FOTÓGRAFO E SKATISTA / VIDEOMAKER, PHOTOGRAPHER AND SKATEBOARDER.

“A oportunidade de registrar parte deste acervo de criações do MOTTILAA me fez passar dois dias fotografando um material que carrega muita criatividade, mudanças de traços que o tempo proporciona e o mais emocionante, muita história.”

“The opportunity to register part of MOTTILAA’s collection of creations made me spend two days photographing a material that carries a lot of creativity, changes in traits that time provides and the most exciting, a lot of history.”

DEPOIMENTOS

CHRISTOPHER “THES ONE” PORTUGAL

“Quando eu estava crescendo, o skate era praticamente tudo para mim. Os garotos mais velhos do bairro ao meu redor andavam de skate, mas era mais do que isso - por um pequeno preço, o skate representava liberdade para mim, a capacidade de sair de casa de manhã e não voltar até o sol se pôr. Uma razão para estar fora, uma razão para estar com os amigos. Meu primeiro skate foi uma porcaria, mas consegui entregar jornais e economizei para meu primeiro shape de verdade, uma Hosoi ‘Hammerhead’. Eu amei tanto o skate que na primeira noite em que o usei que dormi com ele na minha cama. Depois disso Bones Brigade, Animal Chin etc foram as coisas mais legais para mim na minha infância, e o complemento perfeito para meus outros amoreship hop e jogos de fliperama. O skate deu uma volta completa para mim quando o 411 começou a incorporar faixas de hip hop underground e o Plan B lançou o Second Hand Smoke. Mais tarde, 411 usou uma de nossas músicas (People Under The Stairs), bem como o game Tony Hawk’s Underground e o círculo estava completo - todos os amores da minha vida se reuniram. Até hoje, seja andando de skate no mini rampa que construí no meu quintal ou apenas andando por aí, o skate continua sendo uma grande parte da minha vida.”

“When I was growing up, skateboarding was pretty much everything to me. The older kids in the neighborhood around me skated, but it was more than that - for a small price, the skateboard represented freedom for me, the ability to leave my house in the morning and not be back until the sun went down. A reason to be outside, a reason to be with friends. My first skateboard was a piece of crap, but I got a paper route and saved up for my first real board, a Hosoi ‘Hammerhead’. I loved the skateboard so much the first night I had it I slept with it in my bed. After that Bones Brigade, Animal Chin etc were just about the coolest things to me in my childhood, and the perfect compliment to my other loves - hip hop and arcade games. Skateboarding came full circle for me when 411 started incorporating underground HipHop tracks and Plan B dropped Second Hand Smoke. Later, 411 featured one of our (People Under The Stairs) songs as well as Tony Hawk’s Underground video game and the circle was complete - all my life’s loves had convened. To this day, whether it’s skating the mini half pipe I built in my backyard or just cruising around, skateboarding remains a huge part of my life.”

MADE IN TIJUCA

Jorge Ben (Jor) e Tim Maia são, pra mim, os maio res que a música brasileira já teve. Infelizmente, enquanto Tim Maia ainda estava vivo, não tive a sagacidade de entender seu trabalho. Só fui “des cobrir” e ficar muito fã um bom tempo depois que ele morreu. Felizmente, me apaixonei pelo tra balho do Jorge Ben a tempo não só de vê-lo to car ao vivo, mas também de ter a oportunidade de conhecê-lo.

O mesmo aconteceu com Erasmo Carlos, pra quem tivemos a honra de assinar no Petit Pois o projeto gráfico do CD e DVD MeusLadosB. Além de conhe cer ele pessoalmente e me tornar fã da sua obra e da pessoa que ele é depois desse projeto (real mente um “Gigante Gentil”, como diz seu apelido).

Essas três lendas da música brasileira têm em co mum a Tijuca, bairro onde moraram e frequentaram na juventude (Jorge morava no Rio Comprido, que é do lado). Curiosamente, tenho histórias de famí lia que se cruzam com os três!

Tim Maia frequentava a casa dos meus avós pater nos quando era jovem. Meu pai me contou que uma vez chegou em casa e o Tim Maia estava na cozinha lanchando. Ele tinha ido contar que iria cantar no programa Cassino do Chacrinha pela primeira vez! Ele deu uma palinha do que cantaria. Meu pai fa lou que ele iria ser desclassificado se cantasse daquele jeito! Imagina só! Depois de já ter virado um artista de sucesso, meu avô Carlinhos foi seu advogado imobiliário durante alguns anos.

Já Erasmo era muito amigo do meu tio-avô Beto, conhecido entre eles como “China”. Durante o pro cesso de criação da arte recebemos um material inestimável de memórias dos anos 1970: além de fotos de família do seu acervo, sete cadernos com manuscritos, anotações pessoais, recados, letras originais escritas e reescritas. E então, durante a aprovação dos layouts de MeusLadosB, Erasmo veio até nós e passou algumas horas lá em casa/estúdio (que desde então também fica na Tijuca). Estar no bairro trouxe uma atmosfera nostálgica pra ele, acabamos conversando muito e ouvindo várias his tórias da época. Ele ia até a nossa varanda, res pirava e dizia: “Ah, o ar da Tijuca!”. Foi uma expe riência incrível!

Quanto a Jorge Ben, a família da Mari, minha com panheira e sócia, tem várias histórias da juven tude também na Tijuca — a família paterna dela é do mesmo bairro — sobre lugares que ele frequen tava, além de seu tio Barone ser amigo dele desde essa época. “Babá” (como Barone também é conhe cido) frequenta o Jockey Club na Gávea, na Zona Sul do Rio, e, desde a exposição, já fui ao encon tro dos dois algumas vezes lá.

Certa vez, ficamos eu e Jorge Ben apostando nos cavalos e comendo maria-mole, que ele havia leva do e deixado dentro de um saco plástico em cima da mesa em pleno Jockey, um lugar pra lá de eli tista. Não à toa maria-mole branca é cheia de sig nificados, é um dos sete doces de Cosme e Damião e representa “a espuma do mar e as ondas de Iemanjá, pra que sempre lembremos que nossa alma tem que ser maleável ao aprendizado e todos os dissabores derretem com o perdão e o amor”. Um ídolo!

300 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 76

MADE IN TIJUCA

Jorge Ben (Jor) and Tim Maia are, for me, the greatest Brazilian music has ever had. Unfortunately, while Tim Maia was still alive, I didn’t have the wit to understand his work and I only “discovered” and became a big fan a long time after he died. Fortunately, I fell in love with Jorge Ben’s work in time not only to see him play live, but also to have the opportunity to meet him.

The same happened with Erasmo Carlos, for whom we had the honor of signing at Petit Pois Studio the graphic project of the CD and DVD “MeusLadosB”, meeting personally and becoming a fan of his work and the person he is after this project (really a “ Gentle Giant”, as his nickname says).

These three legends of Brazilian music have Tijuca in common, the neighborhood where they li ved and frequented in their youth (Jorge lived in Rio Comprido, which is next door). Interestingly, I have family stories that intersect with the three of them!

Tim Maia used to go to my paternal grandparents’ house when he was young. My father told me that once he got home and he was in the kitchen having a snack, he had gone to tell him that he would sing at the TV show for the first time! He sang what he’d sing and my dad said he’d be disqualified if he sang like that! Just imagine! After becoming a

successful artist, my grandpa Carlinhos was his real estate attorney for a few years.

Erasmo, on the other hand, was a good friend of my great-uncle Beto, who was known among them as “China”. During the process of creating the art work, we received invaluable material from me mories of the 70s: in addition to family photos from its’ collection, seven notebooks with ma nuscripts, personal notes, messages, original written and rewritten lyrics. And then, during “MeusLadosB” layouts approval, Erasmo came to us and spent a few hours at our house/studio (whi ch has also been in Tijuca since then). Being in the neighborhood brought a nostalgic atmosphe re to him, we ended up talking a lot and liste ning to several stories back in these days. He’d go to our balcony, breathe and say: “- Ah, the air of Tijuca!”. It was an amazing experience!

As for Jorge Ben, Mari’s family has several sto ries from his youth in Tijuca (her paternal family is also from the same neighborhood) about places he also frequented, besides his uncle Barone being his friend since this time. “Babá” (as Barone is also known) goes to Jockey Club in Gávea (South side of Rio) and, since the exhibition, I have been there to meet both a few times.

Once, Jorge Ben and I were at the table betting on the horse tracks, eating Maria-mole, a clas sic sweet he had brought and left on the table (inside a plastic bag) right in the jockey club, a place beyond elitist. No wonder white Maria-mole is full of meanings and represents “the foam of the sea and the waves of Iemanjá, so that we al ways remember that our soul has to be malleable to learning and all the unpleasantness melts with forgiveness and love”. An idol!

302
CAPÍTULO 76 ENGLISH
303 CAPÍTULO 76

Meu avô Carlinhos comprou um sítio no interior do Rio quando eu tinha uns 4 anos de idade. A fa mília batizou de “Sítio Passatempo” e, aos poucos, foi construindo e melhorando as duas pequenas ca sas originais. Os fins de semana eram a deixa pra subirmos a Serra e ir com meus pais pro meio do mato. A oportunidade desse contato com a nature za pra uma criança em formação é incrível. Eu sem pre fui muito ligado e interessado em animais, e passei a ter muitas atividades ao ar livre, solto e sempre sujo de terra e barro.

Então, ser um apaixonado pelo street skate, que como diz o termo é uma atividade totalmente urba na, parecia uma grande contradição com minha pai xão pela natureza. Isso me fez unir essas pontas e inserir temáticas de fauna e flora no repertório do meu trabalho.

Um bom exemplo da união desses dois universos (urbano e rural) é a coleção-cápsula SELVA!, que fiz pra Element (do Brasil) com o Rodrigo Roma, na época designer e estilista da marca. Apesar de eu me considerar uma pessoa fácil de lidar, é cla ro que não é todo mundo com quem já trabalhei que sintonizei na mesma frequência. No caso do Roma, essa sintonia aconteceu. Foi muito bom trabalhar em conjunto com ele. Tanto que mesmo depois de sua saída da marca, fizemos outros projetos juntos.

A coleção foi montada em cima de uma ilustração full print¹, que fiz com animais da fauna brasi leira no meio de uma vegetação densa. Porém, cada animal sendo afetado por algum aspecto urbano: a onça-pintada falando no celular; o lobo-guará de óculos escuros; o joão-de-barro fumando charuto na frente da sua casa que tem antena parabólica; o mico-leão-dourado indignado com uma garrafa de vidro quebrada na mão; e o jacaré com uma flor de plástico na boca.

Durante um meeting da Element em que apresentei a coleção, as pessoas não sabiam da flor de plás tico e alguém perguntou: “E o jacaré?”. Não me se gurei e respondi com aquela velha piada: “o jaca ré no seco anda”. A tirada era ruim, mas sorte que riram…

304
PORTUGUÊS
CAPÍTULO 77
SELVA
1.PRO RAMO DA INDÚSTRIA TÊXTIL, A ESTAMPA TOTAL OU FULL PRINT, COMO É MAIS CONHECIDA NO MERCADO, CONSISTE EM ESTAMPAR UMA PEÇA INTEIRA E POR COMPLETO. PROPOSTA DIFERENTE DE UMA ESTAMPA LOCALIZADA, QUE OCUPA APENAS UM DETERMINADO LOCAL DA PEÇA.

My grandfather Carinhos bought a place in the countryside of Rio when I was about 4 years old. The family called it “Sitio Passatempo” and they gradually built and improved the two small hou ses. The weekends were the time to go up the mou ntain and go with my parents to the middle of the woods. The opportunity of this contact with na ture for a child formation is incredible. I, who have always been very connected and interested in animals, started to have many outdoor activities, free and always dirty with earth and mud.

So, being passionate about street skating, which as the term says is a totally urban activity, see med to be a big contradiction with my passion for nature, which made me want to unite these ends and insert themes of fauna and flora into my work’s repertoire.

A good example of the union of these two uni verses (urban and rural) is the capsule collec tion “SELVA!” that I did for Element (Brazil) with Rodrigo Roma, at the time the brand’s designer and stylist. While I consider myself an easygoing person, of course not everyone I’ve worked with has tuned into the same frequency. In Roma’s case, this harmony happened and it was great to work together with him. So much that even after he left the brand, we made other projects together.

The collection was assembled on top of a full print* illustration that I made with animals from the Brazilian fauna in the midst of dense vegeta tion. However, each animal being affected by some urban aspect: the Jaguar talking on the cell pho ne; the maned wolf in sunglasses; the bird smoking a cigar in front of its house equipped with a sa tellite dish, the indignant tamarin golden lion holding a broken glass bottle in its hand, and the alligator having a plastic flower in its mouth.

*”FULL PRINT”: FOR THE TEXTILE INDUSTRY, THE TOTAL PRINT OR FULL PRINT, AS IT IS BETTER KNOWN IN THE MARKET, CONSISTS OF PRINTING A PIECE ENTIRELY AND COMPLETELY. DIFFERENT PROPOSAL FROM LOCALIZED PRINT, WHICH OCCUPIES ONLY A CERTAIN PLACE IN THE PIECE.

306
CAPÍTULO 77 ENGLISH
JUNGLE
307 CAPÍTULO 77

ADEMAFIA, CARÁI!

Ademar Lucas é um dos grandes tesouros do skate carioca. Ponto. Eu já poderia até parar por aqui, mas como não sou besta, não vou perder a chance de falar um pouco sobre ele, ainda mais pra quem não conhece a figura.

Conheci o Luquinhas quando ele tinha uns 11 ou 12 anos de idade. Desde então, sempre me surpreendeu, não só pelo estilo de andar de skate, mas também pela personalidade. Sempre soube chegar nos luga res, sempre respeitou quem estava antes na cena, contanto que ele também fosse respeitado.

Carrego comigo a alegria de ser não só seu amigo, mas também de vários membros da família dele, in clusive de seu pai, o saudoso Sr. Ademir, que in felizmente faleceu em 2021, vítima da Covid-19. A proximidade e admiração foram construindo um elo forte entre mim e o Lucas. Essa base familiar de Luquinhas (de tanta união, parceria, amor e res peito) é um de seus maiores patrimônios. Ele sabe e valoriza isso muito bem. Uma grande lição pra muita gente que acredita que ter estrutura é ape nas uma questão econômica e ter acesso a boas es colas, mas esquece que receber valores, amor, cui dado e investimento pode ser mais essencial.

Quando começou a Ademafia, ele me perguntou se eu poderia criar um logo. Até hoje fico feliz de mais ver quanto as pessoas têm carinho por esse que fiz em 2015. Ao longo do tempo, Luquinhas e os agregados da Ademafia criaram muito conteú do pro próprio programa Adelife, que soma mais de 325 episódios online, apresentando o cotidiano dos participantes e também explorando atrações e lugares do Brasil e do mundo.

Agora sigo junto também do Instituto Ademafia, no qual, como ativista cultural e empreendedor so cial, ele faz a diferença movimentando (com a aju da da família e amigos) o lado cultural e social do morro do Santo Amaro, onde nasceu e foi criado. Como o próprio Luquinhas sempre diz: “Melhoria é o nome do peixe!¹

308 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 78
1.EXPRESSÃO USADA PRA DIZER QUE, EM CONTEXTOS NECESSITADOS, O IMPORTANTE SÃO AS MELHORIAS FEITAS E CONQUISTADAS DE TODOS OS TIPOS.
309 CAPÍTULO 78
FOTO: ALEX CARVALHO

ADEMAFIA, GODDAMNIT!

Ademar Lucas is one of the greatest treasures of skateboarding in Rio. Period. I could even stop talking about him, but as I’m not stupid, I won’t miss the chance to speak a little about him, espe cially for those who don’t know this man.

I carry with me the joy of being not only his friend, but also of several members of his fa mily, including his father, the late Mr. Ademir, who unfortunately passed away in 2021, a victim of COVID-19. This closeness and admiration built a strong bond between me and Lucas. This family base of Luquinhas (of so much union, partnership, love and respect) is one of his greatest assets and he knows and values it very well. A great lesson for

1.*EXPRESSION USED TO SAY THAT, IN NEEDY CONTEXTS, THE IMPORTANT THING IS THE IMPROVEMENTS MADE AND CONQUERED OF ALL KINDS.

many people who believe that having structure is an issue of economics and having access to good schools, but forget that receiving values, love, care and investment can be more essential. When Ademafia started, he asked me if I could create a logo. To this day, I’m very happy to see how much people love this one, which I made in 2015. Over time, Luquinhas and Ademafia’s crew created a lot of content for the Adelife show it self on Youtube, which total more than three hun dred and twenty-five episodes online, presen ting the daily lives of the participants and also exploring attractions and places in Brazil and around the world.

I follow along now also with Ademafia Institute where, as a cultural activist and social entre preneur, he makes a difference by keeping alive (with the help of family and friends) the cul tural and social side of Santo Amaro, the favela (slum) where he was born and raised. As Luquinhas himself always says: “Improvement is the name of the fish!*.

310
CAPÍTULO 78 ENGLISH
311 CAPÍTULO 78
FOTO: ALEX CARVALHO

CAINDO E LEVANTANDO SEMPRE

Ao ter acesso ao local do incêndio, Pintinho viu que milagrosamente só uma parte muito pequena do quiosque foi atingida. O prejuízo, apesar do tem po parado sem vender, foi muito menor do que a tragédia esperada.

Além de ter ficado muito feliz de poder ter cola borado com um amigo em uma situação crítica, com filho pequeno pra criar junto de sua companhei ra, o retorno que tive das pessoas que compraram a arte foi também muito gratificante!

Uma das maiores lições que o skate ensina é cair e levantar sempre. Literalmente e no sentido figu rativo também. E a vida, muitas vezes, traz algu mas surpresas difíceis, como foi o que aconteceu com o Léo “Pintinho”, amigo que tinha um quios que Skate in Rio, no Shopping Nova América, Zona Norte do Rio. Uma parte do shopping pegou fogo e, por medidas de segurança, os bombeiros isolaram o local durante muitos dias, impedindo o acesso, in clusive dos lojistas, de calcularem seus prejuízos.

Quando soube o que aconteceu, tive o impulso de criar um pôster que pudesse reverter algum di nheiro, qualquer que fosse a quantia arrecadada. Fiz uma tiragem de 50 prints A3, com a ilustra ção em nanquim de um skate com o nose¹ enfaixa do e a frase “Caindo e levantando sempre” estam pada no shape. Pra nossa alegria, os 50 esgotaram bem rápido e o valor arrecadado serviu pra que ele pudesse cobrir despesas por estar com o quios que fechado (ainda sem saber seu prejuízo, que, até então, não tinha nem tido a oportunidade de calcular).

Pouco tempo depois, conversando com o amigo e skatista profissional Marcus Cida sobre fazer uma collab com sua marca de shapes Represent, surgiu a ideia de adaptar a mesma arte pro forma to de shape. Foi uma forma de propagar ainda mais a mensagem de uma maneira metalinguística: em um shape com o desenho do skate enfaixado e a frase no shape do desenho!

312 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 79
1. UMA DAS DUAS EXTREMIDADES DO SHAPE, QUE SIGNIFICA NARIZ EM INGLÊS. PORTANTO, É A EXTREMIDADE QUE APONTA PRA FRENTE QUANDO SE ANDA. A OPOSTA, O TAIL, SIGNIFICA CAUDA.
313 CAPÍTULO 79

FALLING AND GETTING UP ALWAYS

When I knew what happened, I had the impulse to create a poster that could rase him some mo ney, whatever the amount raised. I made a limited run of fifty A3 prints with the ink illustration of a skateboard with the nose* bandaged and the phrase “Following and getting up always” writ ten on the deck. To our delight, the fifty sold out very quickly and the amount collected was used to cover the expenses of having the kiosk closed (still without even knowing the damage, which un til then didn’t have even have the opportunity to calculate).

Upon gaining access to the fire site, Pintinho saw that miraculously only a very small part of his kiosk was affected. The losses, despite the time stopped without selling, was much smaller than the expected tragedy.

One of the biggest lessons skateboard teaches is to always fall and get up. Literally and figu ratively too. And life often brings some diffi cult surprises, as happened with Léo “Pintinho”, a friend who had the “Skate in Rio” kiosk at Nova América Shopping, in the North side of Rio. A part of the mall caught fire and, due to security mea sures, firefighters isolated the place for many days, preventing access, even for shopkeepers, from calculating their losses.

Besides being very happy to have collaborated with a friend in a critical situation, having a small child to raise with his partner, the fee dback I got from the people who bought the art was also very gratifying!

Shortly after, talking to my friend and profes sional skateboarder Marcus Cida about collabo rating with his board brand “Represent”, the idea came up of adapting the same art to the format of the deck. It was a way to spread the message even more, and in a metalinguistic way: in a deck with the skateboard design bandaged and the phrase in the deck of the design!

1.*NOSE: ONE OF THE 2 ENDS OF THE DECK, IN ENGLISH IT MEANS NOSE, SO IT IS THE END THAT POINTS FORWARD WHEN YOU SKATE. THE OPPOSITE, THE TAIL, MEANS TAIL.

314
CAPÍTULO 79 ENGLISH
315 CAPÍTULO 79

I LOVE XV

A Praça XV, no Centro do Rio, passou por uma re forma gigantesca e ficou pronta em 1997. De re pente, era como se tivesse aberto um portal de acesso a um mundo imaginário pros skatistas ca riocas: um lugar gigantesco que parecia não ter fim, com chão muito liso, bordas e escadas de di ferentes tamanhos. Parecia bom demais pra ser verdade. Não deu outra: em 1999, o então prefei to Luiz Paulo Conde (um pessoa “maravilhosa”, que também manteve o Circo Voador fechado até 2002, depois que o antecessor César Maia fechou a casa de shows em 1996) assinou um decreto proibindo o skate no local.

Durante 12 anos, quem frequentou a XV teve que conviver com frustrantes visitas da polícia e da guarda municipal, que chegavam no meio de uma sessão num sábado à tarde e mandavam todos para rem de andar por conta da proibição no local, mui tas vezes de maneira pouco amigável… Quem anda há poucos anos lá, e não viveu essa época, não tem ideia do banho de água fria, pra dizer o mínimo, que era quando isso acontecia (e era toda hora).

O skate sempre trouxe muito movimento e ocu pou essa área que costumava ser perigosa pra quem saía da estação das barcas e cruzava a pra ça pra pegar ônibus, na rua 1º de Março. A presen ça dos skatistas em número intimidava ladrões e oportunistas.

Em 2007, fiz o primeiro logotipo “I LOVE XV”, uma releitura do clássico logo “I LOVE NY”, do desig ner gráfico novaiorquino Milton Glaser criado no final dos anos 1970. Em 2008, começaram os protes tos contra a proibição do skate na praça, durante os eventos “I LOVE XV”, organizados pelo Coletivo XV no Go Skateboarding Day (o Dia Mundial do Skate, comemorado no dia 21 de junho).

A atriz Cissa Guimarães esteve presente no protesto de 2010, depois que seu filho Rafael Mascarenhas foi violentamente morto quando fa zia downhill¹, atingido por um carro que batia pega em alta velocidade em um túnel fechado da Zona Sul do Rio. Cissa se tornou madrinha da nos sa causa, discursou no evento e ajudou a chamar atenção das autoridades. Em 2011, finalmente con seguimos o resultado que muitas vezes pareceu im possível: o fim da proibição do skate na XV.

Desde então, o evento “I Love XV” passou a ser também nossa comemoração a esse direito conquis tado depois de muito suor, além de sempre ter sido uma celebração ao skate. Cada ano, um skatista lo cal é homenageado. Em 2016, tive a honra de cui dar do pôster que homenageou Júlio “Tio Verde”, uma das figuras mais carismáticas da cena do ska te carioca. Tio Verde é skatista de 1962, morador do Méier (Zona Norte do Rio) e fotógrafo devo tado, que registra há décadas o cenário do skate carioca com uma disposição que muita gente nova não tem.

Criei o pôster do ano com Tio Verde como o ogro do Shrek (por ele ser um cara grande, sensível e, apesar de não ser verde, ter olhos verdes marcan tes). Conseguimos apoio da Silk Atelier, gráfica carioca especializada em serigrafia, minha par ceira e do Petit Pois Studio há quase 20 anos. Esse foi inclusive um dos últimos projetos que fiz ain da com a saudosa e querida Analúcia, amiga e fun dadora, que, infelizmente, nos deixou em 2017.

316 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 80
317 CAPÍTULO 80

Praça XV, downtown Rio, underwent a gigantic ren ovation and was ready in 1997. Suddenly, it was as if a portal had opened to an imaginary world for skaters from Rio de Janeiro: a gigantic place that seemed to have no end, with very smooth floor, edges and stairs of different sizes. It sounded too good to be true and it was no different: in 1999 then-mayor Paulo Conde (a ‘wonderful’ per son who also kept Circo Voador closed until 2002, after predecessor mayor César Maia closed the venue in 1996) signed a decree prohibiting skate boarding in the spot.

For 12 years, those who skated XV had to live with frustrating visits from the cops and the municipal guard, who used to arrive in the mid dle of a session on a Saturday afternoon and or dered everyone to stop skating because of the ban in place, often friendly… Those who have been skating there for a few years and haven’t lived through that time have no idea of the cold water bath, to say the least, which was when it happened (and it was all the time).

Skating has always brought a lot of movement and occupied this area that used to be dangerous for those leaving the ferry station and crossing the square to catch the bus, on 1º de Março street. The presence of skaters in numbers intimidated thieves and opportunists.

In 2007, I made the first “I LOVE XV” logo, a reinterpreta tion of the classic “I LOVE NY” logo by New York graph ic designer Milton Glaser created in the late 70s. In 2008, protests against the ban on skateboarding in the square began, during the “I LOVE XV” events, or ganized by Colectivo XV on “Go Skateboarding Day”.

Actress Cissa Guimarães was present at the 2010 protest, after her son Rafael Mascarenhas was vi olently killed while skating downhill, hit by a car that crashed at high speed in a closed tun nel in the South side of Rio. Cissa became the godmother of our cause, did a speech at the event and helped to get the attention of the authori ties. In 2011, we finally achieved the result that often seemed impossible: the end of the skate ban in Praça XV.

Since then, the “I Love XV” event has also become our celebration of this right conquered after a lot of sweat, in addition to having always been a celebration of skateboarding. Each year a local skater is honored and, in 2016, I had the honor of design the poster that paid tribute to Júlio “Tio Verde” (“Green Uncle”), one of the most charis matic figures in Rio skateboard scene. Tio Verde is a skateboarder from 1962, resident of Méier (North side of Rio) and a devoted photographer who has been documenting the Rio skateboard scene for decades with such energy that many young peo ple don’t have.

I designed the poster with Tio Verde as the ogre Shrek (because he’s a big, sensitive guy and de spite not being green, he has striking green eyes). We got support from Silk Atelier, a carioca print shop specialized in screen printing, which has been my partner and Petit Pois Studio’s for almost 20 years. This was even one of the last projects I did with the late and dear Analúcia, friend and founder, who unfortunately passed away in 2017.

318
CAPÍTULO 80 ENGLISH
I LOVE XV
319 CAPÍTULO 80
MANIFESTAÇÃO DURANTE O “I LOVE XV” DE 2009. PRAÇA XV, RJ. • DEMONSTRATION DURING THE “I LOVE XV” OF 2009. PRAÇA XV, RJ. FOTO: JÚLIO “TIO VERDE”

TAMENPI

Conheci o Tamenpi no finalzinho dos anos 1990. Estudei por alguns anos na mesma sala com o ir mão mais velho dele, o Diogo (Reis, que, na época, chamávamos de “Rockabilly” por conta do topete), que é DJ de música eletrônica, além de designer gráfico.

Sempre falei pro Tamenpi que ele me lembra va o Brasinha, o diabinho da turma do personagem Gasparzinho, “o fantasminha camarada”. Quando me convidou pra fazer o logotipo dele, apesar de não ser bem isso que ele tinha em mente, consegui convencê-lo pra que fizéssemos um cartum da cara dele numa versão “Brasinha” como sua marca. Acho que ele não levou muita fé, mas eu pedi uma chance e, no fim das contas, curtiu o resultado.

A ideia era trabalhar a arte como se fosse um íco ne inspirado em mascotes de times de beisebol, principalmente (sempre curti logos como o do Cleveland Indians, por exemplo).

Pouco tempo depois da arte pronta, ele fechou uma colaboração com a Starter e foi feita uma tiragem limitada de boné e camiseta com seu ícone. Nas pe ças foi possível visualizar bem esse conceito de mascote de time de beisebol.

Em 2017, seu projeto Só Pedrada Musical completou 10 anos de existência. Ele me procurou e fizemos pelo Petit Pois Studio a arte que estampou a ca misa em colaboração com a LRG. No peito, um toca discos com base de concreto com vergalhão apa rente. Nas costas, várias releituras de logos clás sicos de selos de rap, jazz, soul e reggae com Só Pedrada Musical.

I met Tamenpi in the late 90s. I was his older brother’s classmate (Diogo Reis, who at the time we called “ Rockabilly ” because of his quiff), who’s an electronic music DJ, as well as a gra phic designer.

I always told Tamenpi that he reminded me of Hot Stuff, the little devil from Casper, The Friendly Ghost’s gang. When he invited me to design his logo, despite not being quite what he had in mind, I managed to convince him to make a cartoon ver sion of him in a “Hot Stuff” version as his brand. I don’t think he liked the idea at first, but I as ked him a chance and, in the end, he was stoked on the result.

The idea was to come up with a graphic of an icon inspired in baseball team mascots, mainly (I’ve always loved logos like the Cleveland Indians’, for example).

Shortly after the artwork was finished, he made a deal for a collaboration with Starter brand and released a limited run of caps and Tees with his icon. it was possible to visualize this concept of a baseball team mascot in the items.

In 2017, his “Só Pedrada Musical” project had its 10th anniversary. He got in touch and, through Petit Pois Studio, we made the graphic for a tee in collaboration with LRG. On the front, a turn table with a concrete base with exposed rebar. On the back, several reinterpretations of classic lo gos of rap, jazz, soul and reggae artists and la bels with Só Pedrada Musical on them.

320 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 81 ENGLISH
321 CAPÍTULO 81
FOTO: PEDRO BANILIAN

DOODLE AVALANCHE

Sempre curti desenhar muvucas, cenas cheias em que você pode gastar um tempo encontrando ele mentos e situações que não enxerga logo de cara. Pra mim sempre foi mais interessante que esses elementos desenhados tivessem movimento. O ska te também influenciou essa minha busca por mo vimento. O estilo é um fator muito valorizado no skate. A fluidez dos movimentos faz muitas vezes um(a) skatista ter um estilo mais bonito não só nas manobras, mas também na maneira como volta delas com o corpo ou até como dá impulso. Acho que por ter essa percepção, eu sempre tenho buscado tal movimento também nos meus traços.

Minha característica de experimentar diferentes possibilidades, personagens e técnicas, ao longo dos meus trabalhos, foi bom por um lado. Mas, mui tas vezes, sentia falta de ter um caminho nas mi nhas ilustrações que eu pudesse reproduzir e usar como uma identidade/assinatura. Comecei a criar aglomerados de ilustrações ou os Doodles — ra biscos em inglês —, desenhos muitas vezes descom promissados e intuitivos.

Tenho muito prazer em criar composições à mão li vre, sem fazer rascunho, permitindo espontaneida de nesse processo em que um elemento vai se mol dando e se encaixando organicamente a outro que já existe e abrindo espaço pro que virá em segui da. Fluidez criativa que se soma à fluidez dos mo vimentos presentes em cada ilustração. A mesma fluidez tão buscada e apreciada no skate!

Batizei os painéis de “Doodle Avalanche” por se rem justamente uma avalanche de ilustrações à mão livre.

Há alguns anos venho fazendo esses murais, em sua maioria com marcadores. Quando o projeto é enco mendado, faço uma lista prévia (com o cliente) de elementos que fazem parte do universo da marca, empresa ou pessoa que me contratou. A partir daí, rascunho esses itens em um caderninho pra usar como referência e, já no local, vou desenhando e encaixando esses elementos na composição, for mando essa avalanche com uma composição inédita, nunca antes vista.

322 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 82
323 CAPÍTULO 82
FOTO: JULIO TIO VERDE

I’ve always enjoyed drawing crowded places, pa cked scenes in which you can spend time fin ding elements and situations that you don’t see right away. For me it was always more interes ting that these drawn elements were in motion. Skateboarding also influenced my search for mo vement. Style is a highly valued thing in skate boarding. The fluidity of the movements often ma kes a skater have a more beautiful style, not only in the tricks, but also the way the body looks when landing it or even how the pushing looks like. I think because I’ve got this perception, I’ve always looked for such movement in my ar twork as well.

My characteristic of experimenting diffe rent possibilities, characters and techniques, throughout my works, was good on one hand. But I often missed having something I could reproduce and use as an identity/signature in my illustra tions. I started creating clusters of illustra tions or Doodles that were often uncompromising and intuitive.

I feel pleasure creating freehand compositions, without sketching, allowing spontaneity in this process in which an element’s molding and or ganically fitting into another that already exists and opening space for what will come next. Creative fluidity that adds to the fluidity of the movements that are present in each illustration. The same fluidity so sought and appreciated in skateboarding!

I named these panels “Doodle Avalanche” becau se they’re precisely an avalanche of freehand illustrations.

I’ve been making these murals for a few years now, mostly with markers. When the project is com missioned, I make a preliminary list (with the client) of elements that are part of the univer se of the brand, company or person who hired me. From there, I sketch these items using a note book to use as a reference and, already on the spot, I freehand draw and fit these elements into the composition, forming this avalanche with an unprecedented composition, never seen before.

324
CAPÍTULO 82 ENGLISH
DOODLE AVALANCHE
325 CAPÍTULO 82

SESSÃO COCOON

COCOON SESSION

O Layback Park RJ, antigo Bar 399, localizado no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, é um lugar que gosto muito de ir. Não só por ter um bowl nos fundos, pela arquitetura (assinada pela Rio Ramp Design, do Sylvio Azevedo e Bruno Pires), pelo clima e pela comida, mas também por apoiar o skate desde sua abertura.Sempre rolam campeona tos de bowl que o espaço promove, e um desses foi o Sessão Cocoon, dedicado a categorias de skatis tas de idade mais avançada.Pra estampar o pôster, a camiseta e o boné do evento, fiz a arte inspira da no filme Cocoon (1985), em que idosos desco brem a fonte da juventude em casulos no formato de grandes pedras ovais (extraterrenas) encontra dos no fundo de uma piscina.

A place I really like to go to is Layback Park Rio, the old “399 Bar”, located in Recreio dos Bandeirantes, West side of Rio. Not only for ha ving a bowl in the back, for the architecture (signed by the great Rio Ramp Design of Sylvio Azevedo and Bruno Pires), for the environment and for the food, but also for supporting skateboar ding since its opening.Bowl championships are al ways promoted by the place, and one of those was the Cocoon Session, dedicated to older skaters. For the poster, tee and cap of the event, I crea ted a graphic inspired by the movie Cocoon (1985), in which elderly people discover the fountain of youth in cocoons, in the shape of large oval (ex traterrestrial) stones found at the bottom of a swimming pool.

326 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 83 ENGLISH
327 CAPÍTULO 83

COLEÇÃO-CÁPSULA DE 10 ANOS

10-YEAR CAPSULE COLLECTION

Em 2018, surgiu a ideia de fazer uma coleção -cápsula comemorativa dos meus 10 anos de par ceria com a Element. Por ter se tornado conheci da e característica dos meus trabalhos pra marca, o fio condutor pra contar essa história foram as Pushin’ Tree. Criei um mosaico com as 17 diferen tes árvores que havia feito e, em conjunto com a designer Carina Amorim, pensamos em algumas pe ças-chave: reedição de três estampas, um corta -vento cinza chumbo forrado com um fullprint do mosaico que também estampava um shape. Pro lan çamento da coleção fizemos ainda uma tiragem de adesivos e 500 pôsteres especialmente serigrafa dos na Silk Atelier.

O lançamento aconteceu em março de 2019, na Roosevelt Skateshop, com direito ao DJ Tamenpi tocando, exposição de originais no subsolo e uma sessão de umas duas horas assinando os pôste res sentado numa cadeira em formato de privada que quase estragou minha lombar. Fora esse deta lhe, o que marcou foi ter recebido muitos amigos, reencontrado muita gente e conhecido outras tan tas. Especial demais ver o pessoal todo que foi lá prestigiar!

In 2018, the idea of making a capsule collection celebrating my partnership with Element for 10 years came up. As it was well known and also was a characteristic of my works for the brand, the guiding thread to tell this story was the Pushin’ Trees. I created a mosaic with the seventeen dif ferent trees I had made for the brand and, toge ther with the designer Carina Amorim, we thought of some key pieces: reissue of three tee graphi cs, a gray windbreaker lined with a fullprint mo saic, that was also used as a deck graphic. For the release of the collection, we had a run of stic kers, and 500 posters specially screen-printed at Silk Atelier.

The capsule-collection was released in March 2019, at Roosevelt Skateshop. DJ Tamenpi was spinning, we had an exhibition of original ar tworks in the skateshop basement and a 2-hour session of poster signing sitting on a toilet -shaped chair that almost ruined my lower back! Regardless that detail, the main thing’s that it was remarkable having received many friends, mee ting many people and getting to meet many others. So special to see all the people who went there to honor it!

328 CAPÍTULO 84 PORTUGUÊS
ENGLISH
330 CAPÍTULO 84
ANDRÉ CALVÃO
FOTO:
331 CAPÍTULO 84 FOTO: ANDRÉ CALVÃO

RIDER, COLLAB DE CARNAVAL

Achei interessante como direcionamento. Assim, retratei alguns elementos clássicos do carnaval, como Bate-bola, Rei Momo, Caboclo de Lança, es tandarte, serpentinas, confetes e instrumentos, junto a rabos de peixes, buzina, folhagens, flo res, Kombi e uma cabeça “aberta”. Em uma das ver sões, essa grande mistura saía da mente aberta de um sujeito submerso nesse caldo. Talvez uma pri meira forma de representar esses “seres que habi tam minha mente”, como um bom pisciano.

Mais uma vez segui minha tendência de usar muitas cores, já que curto composições vibrantes, ainda mais se tratando de um tema como o carnaval.

Durante uma edição da Urb¹, conheci no estande da ÖUS o Mateus Bedin, que era brand manager da Rider. Trocamos ideia naquele dia e nos reencon tramos em um evento no Rio tempos depois. Dessa segunda vez, ele estava na cidade com o artista AHOL, de Miami, e saímos pra pintar no dia se guinte. Mateus já conhecia meu trabalho e falamos sobre fazermos uma colaboração juntos.

Alguns meses depois recebi dele o convite pra criarmos uma colaboração de carnaval.

A equipe chegou até mim com a informação de que gostava muito e enxergava a minha série de shapes “To All My Fishes” (Uprise) como uma referência pra esse projeto. Tanto pelas cores, quanto pela mistura de elementos improváveis e seccionados.

Fizemos uma estampa pro modelo slide e duas de tira. Os chinelos ganharam caixa exclusiva da col lab e tag. Como brinde especial de seeding² foi produzida uma toalha de praia estampada, uma bol sa e uma serigrafia assinada e numerada, produ zida na Silk Atelier. Sempre acho legal demais produzir uma serigrafia relacionada a um proje to assim. Muitas vezes acabo sugerindo ao clien te pra esse tipo de projeto, principalmente, em um tamanho que não seja muito grande. É fácil de ser enviado, fica um produto exclusivo, bonito pela impressão de alta qualidade e com bastante va lor agregado. Percebo também que é um item que as pessoas gostam muito de ganhar de presente.

Gostei muito do resultado final, além de ter sido uma experiência muito boa trabalhar com o time da Rider na criação dessa coleção, tanto na etapa pré quanto na pós. Não é sempre que isso acontece, in dependente do resultado. Por vezes, o produto fi nal sai muito legal, mas o caminho até chegar até ali é tortuoso!

Fiquei também feliz demais quando soubemos que a Rider tinha não só entrado como uma das marcas patrocinadoras do livro, como teríamos um chinelo da Lagartixa Rosa — já que o próprio personagem é representado andando de skate de chinelinho, mesmo na versão original que ganhei em 1987!

332 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 85
1. FEIRA BRASILEIRA DE NEGÓCIOS DIRECIONADOS AO MERCADO DE SKATE. 2.NA TRADUÇÃO LITERAL, SIGNIFICA SEMEAR. ESSE TIPO DE AÇÃO DE MARKETING NORMALMENTE É FEITA EM LANÇAMENTOS, PRODUTOS, CAMPANHAS, ENVIANDO UM KIT PRA PESSOAS QUE DIALOGUEM COM O PÚBLICO-ALVO DO PROJETO. TEM O INTUITO DE SEMEAR UMA INFORMAÇÃO, DIVULGANDO, DANDO VISIBILIDADE E ENGAJANDO COM QUEM RECEBEU, DE FORMA ESPONTÂNEA.
333 CAPÍTULO 85

RIDER, CARNIVAL COLLAB

I found it interesting as a direction. Thus, I por trayed some classic elements of brazilian car nival, such as Bate-bola, Rei Momo, Caboclo de Lança, streamers, confetti and instruments, along with fish tails, horn, foliage, flowers and the bug van. In one of the versions, this mixture came out of an open mind submerged in this broth. Perhaps a first way of representing these “beings that inhabit my mind”, as a good Piscean.

Once again I followed my tendency to use a lot of colors, as I like vibrant compositions, especially when dealing with a theme like carnival.

During an edition of Urb¹, at the ÖUS stand, I met Mateus Bedin, who was the brand manager at Rider brand. We talked that day and met again at an event in Rio some time later. This second time, he was in town with artist AHOL, from Miami, and we painted on the next day. Mateus already knew my work and we talked about doing a collaboration together in the future.

A few months later he invited me to create a car nival-themed collaboration for Rider.

The team came to me with the information they liked the series I’ve made for Uprise (“To All My Fishes”) as a reference for this project. Either for the colors or for the mixture of improbable and sectioned elements.

I made a graphic for the slide model and two gra phics for flip-flops The products came on an ex clusive collab box and tag. As a special seeding² gift, a printed beach towel, a bag and signed and numbered silkscreen prints were produced at Silk Atelier. I always think it’s really cool to produ ce a serigraphy related to a project like this. I often end up suggesting this item to the client on this type of project, especially in a size not too big. It’s easy to send, it’s an exclusive pro duct, beautiful due to the high-quality printing and with a lot of extra value. I also realize that it’s an item that people really like to receive as a gift.

I really liked the final result, and it was a very good experience to work with the Rider team crea ting this collection, both in the pre and post stages. This isn’t always the case, regardless the outcome. Sometimes, the final product turns out really cool, but the way to get there is tortuous!

I was also very happy when we learned that Rider hadn’t only entered as one of the sponso ring brands of the book, but we’d also have a Pink Gecko flip-flop — since the character himself is represented riding a skateboard on flip-flops, even in the original version on the skateboard I got in 1987!

1. BRAZILIAN BUSINESS FAIR AIMED AT THE SKATEBOARD MARKET.

2. IN LITERAL TRANSLATION, IT MEANS TO SOW. THIS TYPE OF MARKETING ACTION IS USUALLY DONE IN LAUNCHES, PRODUCTS, CAMPAIGNS, SENDING A KIT TO PEOPLE WHO DIALOGUE WITH THE PROJECT’S TARGET AUDIENCE. IT AIMS TO SOW INFORMATION, DISSEMINATING, GIVING VISIBILITY AND ENGAGING WITH THOSE WHO RECEIVED IT, SPONTANEOUSLY.

334
CAPÍTULO 85 ENGLISH
335 CAPÍTULO 85

COMPTON POR MOTTILAA

Já havia trabalhado com Roberta Russo, Caie Botelho e equipe durante quatro colaborações pra bonés que fizemos com a New Era, entre 2012 e 2015. Passados quatro anos do nosso último proje to, retomei contato com a Roberta, que agora es tava cuidando do desenvolvimento de produtos da marca Starter.

Conversamos sobre fazer uma colaboração e ela me deixou livre pra propor ideias. Pelo fato dos ra ppers do grupo N.W.A (em especial Eazy-E, um dos integrantes) sempre vestirem roupas e acessórios da marca durante os anos 1990, ficaram muito as sociados à Starter. Em função disso, a marca há anos passou a fazer coleções com o tema Compton, inspiradas nessa cidade no sul do condado de Los Angeles, que foi berço não só do NWA, como de mui tos outros rappers.

Por essa tradição, propus criar uma coleção-cáp sula com minha versão de Compton, em função do gosto que tenho pelo rap e meu apreço por re tratar personagens da cena. Pela boa aceita ção dessa primeira edição, fiz o volume 2 des sa collab ainda no mesmo ano. Pra ambas imaginei Eazy-E em situações ligadas ao seu universo e de senvolvi ilustrações retratando não só o próprio, como bicicletas lowrider, boomboxes e o clássico Chevrolet Impala 64, citado por ele em algumas de suas letras. Misturando esses elementos a escri tas Compton e Rap City, feitas com uma de minhas caligrafias manuais de (caneta) marcador.

I had already worked with Roberta Russo, Caie Botelho and team during four collaborations for caps that we made with New Era, between 2012 and 2015. 4 years after our last project, I got in tou ch with Roberta, who was now taking care of pro duct development at Starter brand.

We talked about collaborating and she let me free to come up with ideas. Because the rappers of NWA group (especially Eazy-E, one of the members) al ways rocked the brand’s clothing and accessories during the 90s, they got closely associated with Starter. As a result, the brand has been making Compton-themed collections for years, inspired by this city in southern Los Angeles County, whi ch was the birthplace not only of NWA, but of many other rappers.

Because of this tradition, I proposed to create a capsule collection with my version of Compton, based on my taste for rap and my appreciation for portraying characters from the scene. Due to the good acceptance of this first issue, I made volume two of this collab during the same year. For both I imagined Eazy-E in situations related to his universe and made illustrations portraying not only himself, but lowrider bikes, boomboxes and the classic Chevrolet Impala 64, mentioned by him in some of his lyrics. Mixing these elements with Compton and “Rap City” scripts, made with one of my typical hand calligraphy using markers.

336 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 86 ENGLISH
337 CAPÍTULO 86
338 CAPÍTULO 86
339 CAPÍTULO 86

BOLO DOIDO

A equipe do STU foi responsável pela organização do campeonato World Skateboarding Championship Park, em São Paulo, em 2019. Tiveram a iniciati va de produzir um zine pro evento, contando re cortes da história do skate no Brasil, e con vidaram Douglas Prieto (na época, editor da revista Cemporcentoskate) pra escrever os textos, Guilherme Theodoro pra cuidar do projeto gráfi co e a mim pra cuidar das ilustrações. Juntos, eu e Douglas selecionamos cinco fotos pra representar as cinco décadas de skate no Brasil, entre 1970 até 2010. A partir dessa triagem, fiz uma releitu ra ilustrando cada uma delas.

O zine, que acabei dando o nome de Bolo Doido da História do Skate no Brasil (por nosso skate do Brasil ser muitas vezes marcado por uma história tão confusa e difícil), foi distribuído gratuita mente durante do evento, que contou também com uma exposição na área externa, incluindo as artes ampliadas e os meu originais a nanquim expostos. De quebra, imprimiram também um pôster A3 em ri sografia. Durante os dias que estive por lá, tive a satisfação de presenciar muita gente saindo feliz por ter recebido o zine e o pôster.

The STU team was responsible for organizing the World Skateboarding Championship Park, in São Paulo, in 2019. Their team had the ideia to produce a zine for the event, telling pieces of the history of skateboarding in Brazil and invited Douglas Prieto (at the time, editor from Cemporcentoskate magazine) to write the texts, Guilherme Theodoro to take care of the graphic design and I’d to take care of the illustrations. Together, Douglas and I selected five photos to represent the five deca des of skateboarding in Brazil, from 1970 to 2010. Based on this selection, I reinterpreted each one of them.

The zine, which I ended up calling “Mad Entanglement: the history of skateboarding in Brazil” (because skateboarding in Brazil is often marked by such a confusing and difficult story), was given away during the event, which also fea tured an outdoors art show, including the en larged artwork and my originals in ink on dis play. Besides, they also printed an A3 poster in Risograph technique. During the days I was the re, I had the satisfaction of witnessing people stoked for getting the the zine and the poster.

340 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 87 ENGLISH
MAD ENTANGLEMENT
341 CAPÍTULO 87
342 CAPÍTULO 87
343 CAPÍTULO 87

TRANSIÇÃO

TRANSITION

A pandemia da Covid-19, em 2020, pegou o mun do inteiro de surpresa e mergulhou todos nós em um período obscuro da História. Enquanto escrevo esse livro, ainda estamos, tecnicamente, na pan demia, embora numa nova fase graças à vacinação! Temos novamente vida social (presencial!) e, a re tomada de projetos, eventos, shows, inaugurações, viagens e por aí vai. Pra quem trabalha por conta própria foram muitos e muitos meses de incerteza, principalmente, no primeiro ano. No meu caso, di versos projetos certos pra acontecer (tanto auto rais quanto do Petit Pois Studio) foram simples mente cancelados ou adiados sem data ou previsão. Precisei rever muita coisa e mudar algumas estra tégias. Uma delas foi repensar minha parceria com a ÖUS, que completou 10 anos em 2021. Sempre serei fã da marca por conta do apreço que tenho, por ser um reflexo da essência do Narsa (Rafael Narciso, fundador da marca), um grande amigo que a vida e o skate me deram e responsável por sacadas e so luções louváveis, de muita sagacidade e bom gosto.

Nos últimos anos que antecederam 2021, apesar de compreender questões internas e estratégicas da ÖUS, vinha me sentindo limitado às possibilida des e ao investimento em relação ao que eu e a marca ainda poderíamos explorar juntos. Acredito que um ciclo tava se esgotando mesmo, de manei ra muito natural até então. Nossa relação sempre teve essa premissa principal afetiva e ideológica, e sou feliz de ter mantido essa escolha que tanto me preencheu internamente. Por ter meu nome mui to ligado à marca por uma década, sabia que fechar esse ciclo, por hora, seria um movimento doloroso. Posso dizer que foi uma conexão frutífera, prin cipalmente considerando o fato de ser empresa nacional que não faz parte de um grande conglo merado ou grupo de marcas/investimento. Fizemos muitas coisas juntos, apesar de todos os desafios nessa última década.

A chegada da pandemia trouxe luz pra esses as suntos que estavam em aberto na minha vida. Foi um catalisador que me convocou, conforme falei, a rever coisas. Depois de pensar muito e de avaliar as possibilidades, entendi que fazia sentido pro curar uma nova parceria que eu também admiras se, que eu me enxergasse trabalhando junto e pu desse movimentar mais projetos, portanto, com uma estrutura maior. Abrindo possibilidades de ações de marketing, pinturas, projetos envolvendo arte e design pra produtos.

Pensei em duas marcas que preenchiam esses pré -requisitos. Como eu já havia feito alguns tra balhos com a Converse, por conta da proximidade maior, decidi falar com o Serginho Roballo, amigo carioca e brand manager. Só que esbarramos em al gumas questões. Pela marca estar, no momento, com um posicionamento estratégico diferente do que eu representava, o papo não foi mais pra frente.

Escrevi então pro Rodrigo “K-b-ça”, amigo da cena que conheço há mais de 20 anos e team manager da Vans — marca que sempre respeitei muito por man ter a postura “core” no meio do skate mesmo tendo crescido muito mundialmente. A conversa com ele foi boa, pé no chão, e conversamos muito sobre co meçarmos a construir um vínculo aos poucos, ex perimentando nossa dinâmica de trabalho juntos, irmos estreitando laços e construindo essa par ceria. Três meses depois dessa conversa, pintou o primeiro projeto pra fazermos juntos.

344 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 88 ENGLISH

The Covid-19 pandemic in 2020 took the who le world by surprise and plunged us all into a dark period of history. As I write this book, we’re still technically in the pandemic, but a better and new phase thanks to vaccination! We recovered our face-to-face contact with people again and the resumption of projects, events, shows, ope nings, trips and so on. For those who are self -employed, there were many, many months of uncer tainty, especially in the first year. In my case, several projects that were bound to happen — both authorial and Petit Pois Studio — were simply can celed or postponed without a forecast. I had to think a lot and change some strategies. One of them was to rethink my partnership with ÖUS, which was then a 10-year partnership. I’ll always be a fan of the brand because of the appreciation I have, for being a reflection of the essence of Narsa (Rafael Narciso, founder of the brand), a great friend who life and skateboarding gave me, and he was also res ponsible for commendable insights and solutions, with a lot of wit and good taste.

In the last years leading up to 2021, despite un derstanding internal and strategic issues at ÖUS, I had been feeling limited within the possibili ties and investment in relation to what the brand and I could still explore together. I believe that a cycle was really expiring, in a very natural way until then. Our relationship has always had this main affective and ideological premise, and I’m happy to have kept this choice that filled me so much internally. Having my name closely linked to the brand for a decade, I knew that closing this cycle, for then, would be a painful move. I can say that it was a fruitful connection, especially con sidering the fact that it is a national company that’s not part of a large conglomerate or brand/ investment group. We’ve done a lot together, des pite all the challenges over the past decade.

The arrival of the pandemic brought light to these issues that were open in my life. It was a catalyst that called me, as I said, to review things. After thinking a lot and evaluating the possibilities, I understood that it made sense to look for a new partnership that I’d also admire, that I could see myself working together and could move more pro jects, therefore, with a bigger structure. Opening possibilities for marketing actions, paintings, projects involving art and design for products.

OLLIE EM VILA ISABEL, RJ. 2004

OLLIE IN VILA ISABEL, RJ. 2004

FOTO: DHANI BORGES

I thought of two brands that fulfilled these pre requisites. As I had already done some work with Converse, due to the greater proximity, I deci ded to speak with Serginho Roballo, a friend from Rio de Janeiro and brand manager. We just run into some issues. Since the brand was, at the mo ment, with a different strategic positioning than what I represented, the conversation didn’t go any further.

So I wrote to Rodrigo “K-b-ça”, a friend of the skateboarding scene I’ve known for over 20 years and also team manager at Vans — a brand that I’ve always respected a lot for maintaining the “core” posture in skateboarding even though it has gro wn tremendously worldwide. The conversation with him was good, down to earth, and we talked a lot about starting to build a bond little by little, experiencing our dynamics of working together, strengthening ties and building this partnership. Three months after that conversation, the first project for us to do together came up .

345 ENGLISH CAPÍTULO 88

VANS

No meio do ano de 2021, a equipe de marketing da Vans me procurou pra criar a arte de uma bandana, como presente pra clientes das Vans Stores. Tive a iniciativa de usar o checkerboard, padrão xadrez característico da marca, como base do meu layout. A partir dele, recheei as partes brancas com doo dles de elementos que contassem um pouco da his tória da marca norte-americana ao longo dos mais de 50 anos, de 1966 até hoje.

Seguindo a mesma ideia, depois pintei um mural no provador da nova loja que iria inaugurar no Shopping Center Norte, em São Paulo. Os doodles criados pra bandana tiveram ainda outro desdobra mento e foram usados como tema da identidade vi sual do Sales Meeting¹ de 2022, evento que também participei pintando, ao vivo, duas réplicas gigantes do tênis Sk8-Hi e customizando, com marcador à mão livre, os 100 mini-shapes que foram entregues como presente aos participantes do evento. Gosto desse tipo de oportunidade porque acho bem importante conhecer presencialmente a equipe e as pessoas com as quais venho trabalhando de longe.

No final do ano, me contataram novamente com a ideia de criarmos um baralho tradicional todo personalizado e ilustrado, desde os naipes, núme ros, ao valete/dama/rei e coringa. Curti por ser um item que nunca tinha desenvolvido até então! Busquei representar as 54 cartas com elementos do universo da marca, dentre silhuetas dos modelos de tênis, relacionando cada naipe com os segmen tos que a Vans atua: esportes de ação, artes, cul tura de rua e música.

A proposta dessa tiragem do kit de decks assinado foi enviada a uma lista de clientes e parceiros. Tanto o processo durante o trabalho quanto a re cepção de quem recebeu os decks e do próprio time da Vans foi muito gratificante!

In mid-year 2021, Vans marketing team came to me to create a graphic a bandana, as a gift for Vans Stores customers. I took the initiative to use the checkerboard, the brand’s characteristic pattern, as the basis of my layout. From there, I filled the white parts with doodles of elements that’d tell a little of the story of the North American brand over more than 50 years, from 1966 to this day.

Following the same idea, I later painted a mural in the dressing room of the a store that’d be ope ned at Shopping Center Norte, in São Paulo. The doodles created for the bandana had yet another development, they were also used as the theme of the 2022 Sales Meeting¹ visual identity. I also took part in doing live paintings on two giant replicas of their classic Sk8-Hi skate shoes and customizing 100 mini-decks that were given as a gift to the participants of the event. I like this type of opportunity because it’s really important to meet the team and the people I’ve been working with from other cities.

At the end of the year, they called me again with the idea of creating a traditional deck of cards, all personalized and illustrated, from suits, num bers, to jack/queen/king and joker. I really li ked it for being an item that I had never develo ped until then! I tried to represent the 54 cards with elements from the brand’s universe, among silhouettes of Vans shoes, relating each suit to segments that the brand operates: action sports, arts, street culture and music.

The proposal for this edition of the signed kit of decks was sent to a list of customers and part ners. Either the process during the work or the reception of those who received the decks and the Vans team itself was very gratifying!

346 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 89
1.EVENTO INTERNO DE VENDAS QUE REÚNE REPRESENTANTES DA MARCA E EQUIPE INTERNA VANS PRA APRESENTAR A NOVA COLEÇÃO PRONTA PRA IR PRO MERCADO. 1.INTERNAL SALES EVENT THAT BRINGS REPRESENTATIVES OF THE BRAND AND VANS INTERNAL TEAM TOGETHER TO PRESENT THE NEW READY COLLECTION TO GO TO THE MARKET.
347 CAPÍTULO 89

PETTILAA

em que retratei o próprio Petit Pois, mascote meu e da Mari no Petit Pois Studio, em 2007. Esse qua dro foi minha primeira peça da expo a ser vendi da, inclusive.

Depois de um tempão, resgatei essa vontade e fui organizando a ideia desses retratos como um pro jeto dentro do meu trabalho. Na hora de nomear, fiz a fusão da palavra pet com MOTTILAA, e assim surgiu PETTILAA. Através desse projeto, crio ilus trações e pinturas encomendadas ou, simplesmente, como forma de homenagear esses amigos.

My love for animals has always been huge and, in my opinion, dogs are at the top of this ranking. I even think it’s weird when someone doesn’t like them…

Minha paixão por animais sempre foi grande e pra mim os cachorros ocupam o topo desse ranking. Inclusive, acho estranho quem não gosta deles...

Desde criança, gostava de desenhar animais, e sem pre foi um prazer conviver com eles no sítio da mi nha família. Só que o Petit Pois foi o primeiro ca chorro que convivi dentro de casa. Essa experiência cotidiana me fez perceber ainda mais o quanto esses seres se tornam parte do nosso dia a dia, da nos sa família, da nossa vida. Só fez aumentar a minha consciência sobre o quanto eles merecem ser sempre tratados com amor, respeito e cuidado.

Acho que, por essas e outras, comecei a retra tar animais de estimação. Uma forma de valorizar e celebrar a curta existência deles. Pelo que me lembro, a primeira vez que fiz uma pintura desse tipo foi na exposição coletiva “Daslu Urban Art”,

Since I was a child, I liked to draw animals, and it was always a pleasure to live with them at my family’s country place. But Petit Pois was the first dog that I had in the house. This everyday experience made me realize even more how much these beings become part of our daily lives, of our family, of our life. It only increased my awa reness of how much they deserve to always be trea ted with love, respect and care.

I think that, for these and other reasons, I star ted to portray pets. A way to value and celebrate their short existence. As far as I can remember, the first time I made a painting of this type was in the collective exhibition “Daslu Urban Art”, in SP, in which I portrayed Petit Pois, our mas cot at the Petit Pois Studio, in 2007. This pain ting was my first piece from the expo to be sold, by the way.

After a while, I started the idea of organizing these portraits as a project within my work. When naming, I merged the word pet with MOTTILAA, and thus PETTILAA was born. Through this project, I create commissioned illustrations and paintings or, simply as a way of honoring these friends.

348 PORTUGUÊS
ENGLISH CAPÍTULO 90
LUA
349 CAPÍTULO 90 MILOU
350 XADÔ
CAPÍTULO 90
LONA
351 CAPÍTULO 90 ZERO

BLAZE X SPVIC

Ainda no mesmo ano de 2021, Sandro Bertolucci, dono da marca paulista Blaze, começou a concepção de uma collab com o rapper SPVIC (do Haikaiss) e me convidou pra criar uma arte tendo como ins piração o DeLorean, clássico carro do filme De Volta para o Futuro. Foi o primeiro projeto que fiz com a marca e tive o prazer de trabalhar pela segunda vez em parceria com a estilista Carina Amorim, que assinou o desenvolvimento dessa co leção-cápsula em comemoração ao lançamento do single Odisseia

Still in the same year, 2021, Sandro Bertolucci, São Paulo’ Blaze brand’s owner ,started the con ception of a collab with the rapper SPVIC (from the group Haikaiss) and invited me to create an graphic inspired by DeLorean, the classic car from the movie Back to the Future. It was the first project I made working with the brand, and I had the pleasure of working for the second time in partnership with stylist Carina Amorim, who sig ned the development of this capsule-collection celebrating the release of the single Odisseia.

352 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 91
353 CAPÍTULO 91

DOCE BRASA

SWEET BRASA

A ideia pra essa série acabou sendo acidental, já que o Felipão (Vital, da Posso! Skateboards) me encomendou o primeiro pro model do Elton Melonio, também conhecido como “Pirulito”. Pra ele, criei um shape literalmente com um pirulito embalado. Foi então que, na sequência, recebi a en comenda de três novas artes desse mesmo tema, com a intenção de formar uma série de quatro shapes representando os profissionais da marca.

Fui em busca de outros doces de baixo custo que poderiam fazer uma composição com o pirulito, tendo o cuidado de pensar em doces que tivessem embalagem, pra que eu pudesse criar um layout pra cada uma. Foi assim que a paçoca virou o model do Felipe Marcondes, “chup-chup” de doce de leite, o do skatista Marcos Hiroshi, e Otavio Neto foi agraciado com o pé de moleque!

Todos os quatro doces, por serem muito populares, são reconhecidos por todos e povoam o imaginá rio brasileiro. Podem ser facilmente encontrados em mercadinhos e em qualquer loja de bairro pelo Brasil. Por isso, batizei a série de Doce Brasa.

The idea for this series ended up being acciden tal, since Felipe Vital (from Posso! skateboards) commissioned me the first pro model of Elton Melonio, also known as “Lollipop”, so I designed literally a deck with a packed lollipop. It was then that three new graphics of the same theme with the intention of completing a series of four decks representing the brand’s pros.

I looked for other low-cost kinds of brazilian candies and sweets that could make a composition with the lollipop, being careful to think I nee ded wrapped products, so that I could create a layout for each one. That’s how paçoca (Brazilian candy prepared with peanuts) became Felipe Marcondes’ model, “chup-chup” de doce de lei te” (another brazilian cheap sweet), the skater Marcos Hiroshi’s, and Otavio Neto’s got pé de mo leque (a classic prepared with peanuts)!

These kinds of candy, for being very popular, are recognized by everyone and inhabit the Brazilian imagination. They can be easily found in gro cery stores and in any neighborhood store across Brazil. That’s why I named the series Sweet Brasa.

354 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 92
356 CAPÍTULO 92
357 CAPÍTULO 92

CHI-TOWN PUP’ ‘SCOTS

A série Chi-Town Pup’ ‘Scots saiu quatro anos de pois da série To All My Fishes, de 2016. Quando faço colaborações com a Uprise procuro sempre mesclar elementos locais do Rio/Brasil com ele mentos de Chicago/Estados Unidos.

Dessa vez, minha ideia foi fazer uma homenagem à cidade com fantoches dos mascotes de times lo cais, aproveitando pra preencher os braços que os seguram com tatuagens de mensagens subliminares e citações.

Entreguei os arquivos com os gráficos em janei ro de 2020, exatamente dois meses antes da pande mia ser decretada no mundo. Já tínhamos planejado lançar uma coleção (com camisetas, casacos, ja queta, boné, etc), junto com os seis shapes. A ideia era celebrar e compensar o lançamento frustrado da série Sandwich Men (2011), quando fui impedido de embarcar e estar presente na festa de lança mento. De repente, em março estoura a pandemia e não só o evento de lançamento que aconteceria foi por água abaixo, como todos os planos mudaram. Tudo fechou, as matérias-primas ficaram escas sas e todos os eventos ou jogos foram cancelados.

Das três séries que fizemos até hoje, essa teve uma curiosidade especial: tive a ideia de fazer minhas versões pros mascotes sem imaginar o momento mun dial que viria pela frente e sem imaginar que os aficionados pelos times (sejam de basquete, bei sebol, futebol americano ou hóquei) estariam num período de saudosismo tão grande devido ao longo lockdown. A série saiu quando qualquer jogo estava suspenso e pode até ter parecido que foi uma movi mentação planejada pra vender pros fãs momentanea mente órfãos, mas não foi.

As vendas foram muito boas, a série esgotou e, em 2022, decidimos fazer uma reedição com algumas alterações. Dessa vez trazendo um shape a mais, pra incluir o mascote do time de futebol Chicago Fire.

Detalhe pro vídeo teaser gravado com “Southpaw”, o mascote do White Sox, que por conta de amigos em comum, topou participar. O vídeo ainda teve a participação do Chaz Ortiz, skatista profissio nal de Chicago, que vestiu a fantasia e serviu de dublê nas manobras. Mais uma vez as “conexões” e o acaso que sempre levam a caminhos muitas vezes bem surpreendentes!

358 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 93
359 CAPÍTULO 93

CHI-TOWN PUP’ ‘SCOTS

The Chi-Town Pup’ ‘Scots series was released four years after the 2016 To All My Fishes series . When I work with Uprise, I always try to mix local Rio/Brazil elements with Chicago/United States ones.

This time, my idea was to honor the city with pu ppets of the mascots of local teams, taking the opportunity to fill the arms that hold them with tattoos of subliminal messages and quotes.

I sent in the graphics files in January 2020, exactly two months before the pandemic was an nounced in the world. We had already planned to launch a collection (with tees, coats, jacket, cap, etc.), along with the six decks. The idea was to celebrate and make up for the frustrated re lease of the Sandwich Men series (2011), when I couldn’t fly and be the release party. Suddenly, in March, the pandemic breaks out and not only did the launching event that’d take place went down the drain, but all plans changed. Everything clo sed, raw materials became scarce and all events or games were cancelled.

Of the three series we’ve done so far, this one had a special curiosity: I had the idea of making my versions for the mascots without imagining the world moment that would come ahead and without imagining that fans of the teams (whether baske tball, baseball, football or hockey) would be in such a period of nostalgia due to the long lock down. The series was released when all games were suspended and it may have sounded like a planned move to sell it to momentarily orphaned fans, but it wasn’t.

Sales were very good, the series was sold out, and in 2022 we decided to reissue it with some chan ges. This time bringing an extra deck in order to include the mascot of the Chicago Fire soc cer team.

Detail: the teaser video recorded with “Southpaw”, the White Sox’s mascot, who, due to mutual friends, agreed to participate. The video also had the participation of Chaz Ortiz, pro skateboar der from Chicago, who wore the costume and acted like a stunt man in the tricks footage. Once again, the “connections” and chance that always lead to very surprising paths!

360
ENGLISH
CAPÍTULO 93
361 CAPÍTULO 93
362 CAPÍTULO 93
363 CAPÍTULO 93

RIBEIRO

“Desde pequeno sempre que eu escutava falar de MOTTILAA ou via esse nome em alguma coisa, relacionava com arte, com alguma forma de arte. E até hoje essa é a relação que tenho com o nome MOTTILAA.”

PAULINHO CORUJA

“O skate foi a minha segunda paixão, mesmo eu sendo péssimo skatista! (risos). Ele chegou na minha vida através do meu grande amor que é o punk/hardcore e toda a atitude e estética do esporte seguem na minha vida até hoje.”

“Since I was little, whenever I heard about MOTTILAA or saw that name on something, I related it to art, to some form of art. And to this day this is the relationship I have with the name MOTTILAA.”

“Skateboarding was my second passion, even though I’m a terrible skater! It came into my life through my great love which is punk/ hardcore and the whole attitude and aesthetic of the sport continues in my life to this day.

DEPOIMENTOS
TESTIMONIALS
VOCALISTA

ADEMAR LUQUINHAS DJ TAMENPI

SKATISTA E ATIVISTA SOCIAL / SKATEBOARDER AND SOCIAL ACTIVIST

“O skate me mostrou que existe um mundo fora da favela para conhecer, me deu a oportunidade de voltar e trazer essas visões do mundo para quem é daqui de dentro e não teve oportunidade ainda de conhecer.”

DJ, JORNALISTA, PESQUISADOR MUSICAL E PRODUTOR CULTURAL / DJ, JOURNALIST, MUSIC RESEARCHER AND CULTURAL PRODUCER

“A minha relação com o skate é muito mais pela questão da música e das amizades. Nunca andei de skate de fato, só quando era muito moleque e nem imaginava a dimensão de que era uma cena. Posteriormente, o meu envolvimento com a música acabou me levando pra esse mundo do skate, através da relação com a rua, com a cultura hiphop e as amizades criadas na caminhada.”

“Skateboarding showed me that there’s a world outside the favela to get to know, it gave me the opportunity to go back and bring these visions of the world to those who are from here and haven’t had the opportunity to get to know it yet.”

“My relationship with skateboarding is much more about music and friendships. I’ve never actually skated, only when I was very young and had no idea how big the scene was. Later, my involvement with music ended up taking me to the skateboarding world, through the relationship with the streets, with the hip-hop culture and the friends I’ve made on this journey”

BRUNO NATAL

“MOTTILAA consegue imprimir humor e diversão em tudo que faz, seja no design gráfico, seja nos personagens que cria (desenhando ou atuando), com uma habilidade de rir de si mesmo que é única. Isso tudo sem ser “engraçadinho” e sim sagaz. Num mundo marcado pela pose (e no skate não é diferente), essa característica tem a capacidade de destrancar emoções que suavizam as experiências. Às vezes mensagens profundas estão disfarçadas numa frase aparentemente simples. O maior ensinamento do skate para mim é que cair dói pra caramba, mas faz parte do aprendizado e o importante é levantar e tentar de novo, sempre (acho que vi essa arte em algum lugar).”

MARCELO MENT

ARTISTA GRÁFICO E GRAFITEIRO / GRAPHIC ARTIST AND GRAFFITI WRITTER

“Nos conhecemos no final dos anos 1990 ou início dos 2000, mas em 2009 estava passando por uma fase bem difícil na minha família, quando o Motta me convidou para fazer o bowl do Arpoador. Além de nos aproximar mais, sendo um camarada e artista que admirava, acompanhava o trabalho solo e com genial a Mari, no Petit Pois. Vejo e sinto que esse projeto foi uma ferramenta de conexão e fortalecimento da nossa amizade e respeito mútuo.”

“MOTTILAA manages to imprint humor and fun in everything he does, whether in graphic design or in the characters he creates (drawing or acting), with an ability to laugh at himself that’s unique. All this without being “wannabe funny” but sagacious. In a world marked by posing (and skateboarding is no different), this characteristic has the ability to unlock emotions that soften experiences. Sometimes deep messages are disguised in a seemingly simple sentence. The biggest lesson of skateboarding for me is that falling hurts like hell, but it’s part of learning and the important thing is to get up and try again, always (I think I saw this art somewhere).”

“We met in the late 1990s or early 2000s. My family was going through a very difficult period in 2009, when Motta invited me to join the Arpoador bowl project. Besides getting us closer, as a great friend and artist that I admired, I followed his solo work and the genius Mari, at Petit Pois. I see and feel that this project was a tool for connecting and strengthening our friendship and mutual respect.”

DEPOIMENTOS
TESTIMONIALS

DOUGLAS PRIETO ANDY JENKINS

“Muitas vezes me pego pensando onde o skate não teve influência na minha vida, e me assusto em não encontrar nada. Tudo que faço tem a cabeça do skatista e, quase sempre, isso é positivo, já que aí entram coisas como respeitar as diferenças, adaptação às situações adversas, cair e levantar mais consciente e preparado para a nova tentativa. Claro que essa atitude também nos induz a erros em determinadas situações, mas posso garantir que skatistas são seres mais bem preparados para a vida. E capazes de levála de uma maneira mais leve, mais humana, mais divertida até.”

“Conheci o Felipe nos escritórios de uma empresa de skate há alguns anos. Mas já o conhecia antes disso. Seu trabalho tem uma presença marcante que o acompanha - nem sei se ele percebe isso. Gostei dele logo de cara. Ele é uma alma humilde com criatividade positiva que flui dele em ondas. Constante como ondas. É essa persistência natural que traz uma bomba inusitada de 3 metros que te derruba. Ele nunca vai parar, é da natureza dele. Não para mencionar, seu trabalho de caneta está na tradição dos grandes artistas do skate - excelente. O skate é uma cultura melhor com MOTTILAA nele.

“I often find myself wondering where skateboarding hasn’t had influence on my life, and I’m scared to find nothing. Everything I do has the skaterboarders mind and, almost always, this is positive. Things like respecting differences, adapting to adverse situations, falling and getting up more consciously and prepared for the next attempt come into play. Of course, this attitude also leads us to mistakes in certain situations, but I can guarantee that skateboarders are beings better prepared for life. And able to take it in a lighter, more human, even funnier way.”

“I met Felipe in the offices of a skateboard company a few years back. But I knew of him before that. His work has a loud presence that proceeds him - I’m not sure he even realizes that. I liked him right away. He’s a humble soul with positive creativity that flows out of him in waves. Constant like waves. It’s that natural persistence that brings in the occasional 10 footer that knocks you on your ass. He’ll never stop, it’s in his nature. Not to mention, his pen line-work is in the tradition of the great skate artists - excellent. Skateboarding is a better culture with MOTTILAA in it.”

DESIGNER

TESTIMONIALS

RODRIGO “K-B-ÇA”

“É engraçado como eu conheci o trabalho do Motta. Foi através de uma camiseta de uma marca muito doida chamada Canguru Nuclear que ganhei do Serginho lá em 1998 e, desde então, venho acompanhando seu trampo e vendo o quanto é legal o bom humor que coloca no skate. O skate tende a se levar muito a sério, e eu acho que o principal do seu trabalho é colocar humor. Na verdade, não é o skate, quem se leva muito a sério são os skatistas. É legal ver esse humor que ele coloca e que o skate precisa. Precisa rir de si mesmo, os skatistas precisam rir de si mesmos.

(...) Aquele cara que não se fecha numa só mídia, não se fecha numa só superfície pra desenhar, não se fecha num só personagem. Então, o que mais me chama atenção no seu trabalho é o bom humor, e é o que mais me chama atenção na sua vida também. É legal, pois ele consegue levar isso pra vida de outras pessoas. Me sinto muito honrado de fazer parte dessa lista seleta de pessoas que podem falar dele. E muito mais honrado ainda de poder dizer que somos amigos.”

“It’s funny how I got to know Motta’s artwork. It was through a tee from a crazy brand called “Nuclear Kangaroo” that I got from Serginho back in 1998 and, since then, I’ve been following his job and seeing how cool the good mood he puts on skateboarding is. Skateboarding tends to take itself very seriously and I think the main thing about his job is to put humor into it. It’s not actually Skateboarding, the skaters are the ones who take themselves very seriously. It’s cool to see that humor he puts on and that’s what skateboarding needs. Needs to laugh at yourself, skaters need to laugh at themselves.

(...) That guy who doesn’t confine himself to a single media, doesn’t confine himself to a single surface to draw, doesn’t confine himself to a single character. So, what strikes me the most in his work is the good humor and that’s what strikes me the most in his life as well. It’s nice that he can bring that into other people’s lives. I feel very honored to be part of this select list of people who can talk about him, and even more honored to be able to say that we are friends.”

DEPOIMENTOS
LIMA

PARTEUM

“Acho difícil contar a história do design de skate brasileiro sem passar pelo trabalho do Motta. Acho, também, irresponsável tentar contar essa história sem falar da importância e do alcance das obras e do amor desse camarada pelo skate. Todo designer do skate já trampou de graça, ajeitou o trabalho iniciado por outro profissional, bateu de frente com dono de marca que não fazia ideia do que lançar ou apenas tentava copiar algo lá de fora. Felipe já fez isso tudo, vamos dizer, algumas vezes. Além da amizade de muitos anos, existe a surpresa incrível e agradável de pegar um shape, um boné, um tênis, um jogo eletrônico, uma coleção de acessórios e reconhecer o traço e a direção do mano MOTTILAA. De novo, o lance da identidade.

Eu tenho muitas “estórias” pra contar sobre o Motta. A gente pode ficar meses sem se falar, mas a conversa sempre continua. Já fizemos uns rolês engraçados pelo Rio, Florianópolis, Curitiba… O bicho tem mania de mimar os amigos. Uma simples visita a uma loja de conveniência vira espetáculo.

E mais uma coisa: baita professor! Se ele estiver ministrando um curso, workshop, bate-papo por aí, inscreva-se!”

“ I think it’s hard to tell the story of brazilian skateboard design without going through Motta’s work. I also find it irresponsible to try to tell this story without mentioning the importance and scope of this guy’s works and love for skateboarding. Every skateboard designer has worked for free, fixed work started by another professional, clashed with a brand owner who had no idea what to release or was just trying to copy something from abroad. Felipe has done it all, let’s say, a few times. In addition to the friendship of many years, there’s the incredible and pleasant surprise of picking up a deck, a cap, a shoe, an electronic game or a collection of accessories and recognizing the style and direction of brother MOTTILAA. Again, the identity thing.

I have many “stories” to tell about Motta. We can go months without speaking, but the conversation always continues. We’ve done some fun tours around Rio, Florianópolis, Curitiba… The man has a habit of pampering his friends. A simple visit to a convenience store becomes a spectacle.

And one more thing: great teacher! If he’s teaching a course, workshop, chat out there, sign up!”

TRAPPED SERIES

Apesar da relação desde 2009 com a Element, só vim a fazer minha primeira série pra marca em 2021, que saiu no mercado no ano seguinte. Bom exem plo pra quem acha que as coisas acontecem rápi do ou na hora que a gente quer. A real é que, ape sar de querer muito, bateu na trave algumas vezes. Na primeira, Todd Francis, artista e diretor de arte, me escreveu dizendo “pensa em uma série de pro model, tá na hora de você fazer uma!”. Por iro nia do destino, 10 dias depois ele saiu da marca e me escreveu falando pra eu continuar batendo nes sa tecla, que alguma hora iria rolar.

Em 2019, viajei pra Califórnia pra fazer pintu ras na Mega Rampa do Bob (Burnquist) e aprovei tei pra marcar uma visita ao QG, que tinha se mu dado pra Huntington Beach. Isso aconteceu durante a passagem do Andy Jenkins como diretor de cria ção da Element. Sempre curti muito o trabalho do Andy, que também foi o diretor de arte da Girl e Chocolate por 23 anos, e estava lá desde que as marcas foram fundadas. Quando soube que ele entrou na Element, fiz contato me apresentando. Aproveitei que estaria perto e entrei em contato pra tentar marcar de nos conhecermos pessoalmen te. Passei uma semana pintando um monte de doo dles de plantas nas bordas das rampas e, no último dia, Serginho apareceu, assistimos ao campeonato na Mega Rampa e depois rumamos pra Los Angeles, onde eu passaria a semana na casa dele.

No encontro com Andy, entre outras coisas, con versamos sobre fazer uma série de shapes. Voltei pro Brasil e continuamos o papo, até que ele tam bém acabou saindo da marca. Mais uma vez bateu na trave. Continuei conversando com a equipe de design pra não deixar a ideia morrer, cheguei a fazer alguns layouts, mas acabou não acontecen do novamente.

A série Trapped acabou finalmente saindo três anos depois, em 2022, com três pro models: Brandon Westgate, Tom Schaar e Madars Apse. Cada gráfi co, trazia os animais que representam cada um dos três skatistas (um lince, um coelho e um avestruz) sendo enrolados por cipós, lutando pela sobrevi vência. Misteriosamente, o shape do Madars Apse não foi produzido e comercializado no Brasil…

No final das contas acho que essa primeira série poderia até ter saído anos antes. Não imaginava que iria demorar 13 anos desde que minha parceria com a marca começou. Ao mesmo tempo, assim como várias situações ao longo da minha vida, serviu pra me mostrar o quanto a gente não tem contro le sobre as coisas. A única coisa que podemos ter certeza é do quanto a gente se articula, se movi menta, persevera, vai em busca de realizar o que queremos. Mas, ao mesmo tempo, precisa ter bom senso pra perceber as situações, não pressionar ou forçar além da conta, porque tudo acaba aconte cendo quando tem de acontecer. E, em alguns casos, até não acontecem por motivos que a gente talvez nunca vá saber.

Tenho meu lado ansioso que me mata, às vezes, mas situações como essa serviram de exercício pra aprender a esperar e respeitar o tempo das coisas. Nesses últimos 22 anos, tivemos agravantes, mu danças que geraram uma aceleração e um senso de urgência pra tudo. Muito provável que as gerações que vieram antes achem a minha geração afobada, mas percebo as gerações mais novas com pouca dis posição pra deixar o tempo agir. Querem tudo rá pido, mastigado e pra ontem. Acredito que exerci tar essa percepção pode aliviar muita ansiedade e frustração.

370 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 94
371 CAPÍTULO 94

TRAPPED SERIES

Despite the relationship since 2009 with Element, I only came to make my first series for the brand in 2021, which came out on the market the fol lowing year. A good example for those who think that things happen fast or when we want them to. The real thing is that, despite wanting a lot, it was a near miss. In the first one, Todd Francis, artist and art director, wrote to me saying “think about a pro model series, it’s time you make one!”.

By irony , ten days later he left the brand and wrote me telling me to keep trying, that at some point it’d happen.

In 2019, I traveled to California to make paintings on Bob Burnquist’s Mega Ramp and took the oppor tunity to schedule a visit to the HQ, which had mo ved to Huntington Beach. This happened during Andy Jenkins’ stint as creative director at Element. I’ve always really enjoyed Andy’s work, who was also the art director for Girl e Chocolate for 23 years, and has been there since the brands were founded. When I heard he joined Element, I made contact intro ducing myself. I took advantage of being close and got in touch to try to arrange to meet him. I spent a week painting a bunch of doodles on the edges of the ramps, and on the last day, my friend Serginho showed up, we watched the Mega Ramp championship and then headed to Los Angeles, where I’d spend the week at his house.

At the meeting with Andy, among other things, we talked about making a deck series. I returned to Brazil and we continued the conversation, until he also ended up leaving the brand. A near miss once again. I kept talking to the design team not to let the idea die, I even made some layouts, but it didn’t happen again.

The Trapped series ended up being released 3 years later, in 2022, with three pro models: Brandon Westgate, Tom Schaar and Madars Apse. Each gra phic featured the animals representing each of the three skaters (a lynx, a rabbit and an ostrich) being wrapped around vines, fighting for survival. Mysteriously, Madars Apse’s deck was not produced and sold in Brazil…

At the end, I think this first series could even have come out years earlier. I had no idea that it’d take 13 years since my partnership with the brand began. At the same time, like many situa tions throughout my life, it served to show me how much we don’t have control over things. The only thing we can be sure of is how much we articula te, move, persevere, go in search of accomplishing what we want. But, at the same time, you need to have common sense to understand situations, not push or force too much, because everything ends up happening the way it has to. And, in some ca ses, they don’t even happen for reasons that we may never know.

I have an anxious side that kills me sometimes, but situations like this serve as an exercise to learn to wait and respect the timing of things. In these last 22 years, we have had aggravating factors, changes that have generated an acce leration and a sense of urgency for everything. It’s very likely that the generations that came before think my generation as hasty, but I see the younger generations with little willingness to let time act. They want everything fast, rea dy to go and urgently. I believe that exercising this awareness can alleviate a lot of anxiety and frustration.

372
ENGLISH CAPÍTULO 94
373 CAPÍTULO 94
ALGUNS LAYOUTS QUE ACABARAM NÃO SENDO APROVADOS. A FEW LAYOUTS THAT ENDED UP NOT BEING APPROVED.
374 CAPÍTULO 94
375 CAPÍTULO 94

CARAVANA APAVORO

PANIC CARAVAN

Já contei que sempre tive uma queda por fanta sias mal feitas de personagens. Então já dá pra imaginar o quanto eu ri quando surgiu a Carreta Furacão, grupo de dançarinos fantasiados de per sonagens em versões mal feitas do Homem-Aranha, Capitão América, Homem-de-Ferro, Picapau (e por aí vai), agarrados em um trenzinho de rodas, fa zendo coreografias e protagonizando cenas e si tuações hilárias.

Como essas coisas grudam na minha cabeça e não saem, sabia que precisava fazer uma série de sha pes com minha versão exaltando essa pérola da cultura popular brasileira. Pela total liberdade de criação que tenho e, por ser uma marca brasi leira, tinha que ser pra Posso!

Me diverti no processo de criação, imaginan do cada um dos personagens pendurados no tal trenzinho e as crianças apavoradas, daí o nome “Caravana Apavoro”.

Além do mais, a cultura do skate sempre foi obvia mente muito influenciada pela cultura norte-ame ricana, então é sempre bom demais poder colocar um tempero brasileiro nesse caldo do nosso skate.

I’ve already said that I’ve always had a thing for poorly made character costumes. So you can ima gine how much I laughed when “Carreta Furacão” (something like “Hurricane Cart”) appeared in Brazil, a group of dancers dressed as characters in poorly made versions of Spider-Man, Captain America, Iron Man, Woody Woodpecker (and so on), clinging to a little wheel train, doing choreo graphies and starring in hilarious scenes and situations.

As these things stick in my mind and don’t come out, I knew I needed to make a deck series with my version extolling this pearl of Brazilian popular culture. For the total creative freedom I have and, as it’s a Brazilian brand, it had to be for Posso!

I had fun in the creation process, imagining each of the characters hanging on that little train and the terrified children, hence the name “Panic Caravan”.

Besides, skateboard culture has obviously always been very influenced by North American culture, so it’s always great to be able to put a Brazilian flavor in our skateboarding broth.

376 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 95
377 CAPÍTULO 95

STU OPEN RIO 2022

Fora alguns campeonatos de vertical que acon teciam no Rio, o circuito de street esteve mui to restrito a São Paulo. Nos últimos cinco anos, esse cenário mudou com a chegada do STU (sigla pra Skate Total Urbe) aqui na cidade, o que foi um facilitador pra estar presente em todas as edi ções desde então. Nem sempre só como espectador, mas fazendo exposição no evento e dando oficinas de arte pra molecada. Virou parte do calendário e já contava com esse momento de encontros impor tantes, com os amigos e marcas do Rio, de outras cidades e países.

Na pandemia, infelizmente, a edição de 2020, in cluindo as competições, foi toda transmitida on line. Um ato de resistência e reinvenção da or ganização, mas uma perda por tudo que o evento presencial possibilita e movimenta.

Em 2021, o STU retornou ao presencial. Foi legal demais ver a estrutura que o evento foi alcan çando ano após ano, e, naturalmente, me instiga va a querer fazer parte dele de uma maneira mais representativa.

Pra minha surpresa, no final desse mesmo ano re cebi uma ligação do Bill (Tassinari, curador de arte do STU e antigo conhecido dos tempos da ga leria e loja Homegrown) me convidando pra assinar a identidade visual do STU Open 2022, na Praça “Duó”, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O campeonato mundial, que até então era um evento de quatro dias, passou a ter 11 dias, sendo uma se mana de street e outra de park (fora muitas atra ções musicais e culturais).

Fiquei muito honrado e feliz demais com o convi te! Contribuir e fazer parte de um grande even to de skate com o meu trabalho é estar dentro do universo que me reconheço, que traz sentido e se conecta diretamente com o que faço. Diante disso, achei uma grande oportunidade de espalhar meus “Doodle Avalanches” por toda a Praça “Duó”!

Enquanto escrevo esse capítulo, estou também tra balhando pra entregar arquivos das artes que irão povoar todo o evento. Junto a isso, tenho o proje to do livro que você tem nas mãos e uma exposição de acervo também pra organizar. Tô muito cansa do, mas muito agradecido! Uma mistura de correria, ansiedade pro tempo passar logo e chegar outubro. Mesmo sabendo que até lá muita coisa vai aconte cer, inclusive a eleição presidencial brasileira mais esperada (e necessária) dos últimos tempos, diga-se de passagem!

378 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 96

STU OPEN RIO 2022

Apart from some vertical championships that took place in Rio, the street circuit was very restric ted to São Paulo. In the last 5 years, this scena rio has changed with the arrival of STU (acronym for Skate Total Urbe) here in the city, which was a facilitator to be present in all editions since then. Not always just as a spectator, but doing an exhibition at the event and giving art workshops to kids. It became part of the calendar and alrea dy had this moment of important meetings, with friends and brands from Rio, from other cities and countries.

In the pandemic, unfortunately, the 2020 edition, including the competitions, was all broadcasted online. An act of resistance and reinvention of the organization, but a loss for everything that the face-to-face event makes possible and moves.

In 2021, STU retuned alive and kicking, everybo dy working at the company. It was really cool to see the structure that the event was achieving year after year, and, naturally, it encouraged me to want to be part of it in a more representati ve way.

To my surprise, at the end of the same year, I got a call from Bill (Tassinari, art curator at STU and old acquaintance from the days of the Homegrown store and gallery) inviting me to sign the visual identity of STU Rio Open 2022, in Praça “Duó”, in Barra da Tijuca, West side of Rio. The world championship, which until then was a 4-day event, now has 11 days, being a week for Street and another for Park (apart from many musical and cultural attractions).

I was very honored and stoked with the invitation! Contributing and being part of a great skateboar ding event with my work is to be within the uni verse where I recognize myself, which brings mea ning and connects directly with what I do. In view of that, I found a great opportunity to spread my “Doodle Avalanches” all over the “Duó” Square!

As I write this chapter, I’m also working to de liver files of the graphic that will populate the entire event. Along with that, I have the book pro ject that you have in your hands and an art show of my deck collection also to organize. I’m very tired, but very grateful! A mixture of rush, an xiety for time to pass soon and October to arri ve. Even knowing that a lot will happen until then, including the most awaited (and needed) Brazilian presidential election in recent times, by the way!

380
ENGLISH
CAPÍTULO 96
381 CAPÍTULO 96

SBS

Enquanto Bob (Burnquist) ainda era presidente da CBSK (Confederação Brasileira de Skate), me es creveu dizendo que precisavam de um logo pra se leção brasileira de skate, já que recentemente o skate tinha sido incluído nas Olimpíadas.

Apesar de toda polêmica gerada em torno dessa in clusão nas Olimpíadas, não só fiquei honrado com o convite, como acho que, de certa forma, esse é um movimento que faz parte da trajetória do skate. O skate subversivo nunca vai deixar de existir, mui to menos toda a cultura e o estilo de vida que são a base desse nosso universo.

Durante a estreia da modalidade em 2021, mais do que a questão esportiva e a competição, isso foi uma das coisas que mais roubou a cena: a diversida de de estilos e perfis dos competidores, assim como a mentalidade e atitude de skatistas que competi ram e subverteram o clima competitivo da grande maioria dos esportes, se apoiando, torcendo pra uns (umas) pelo(a)s outro(a)s pra puxar o nível da ro dada. Dando um nó na cabeça de muita gente, que não entendia como alguém representando um país come morava os acertos de seus oponentes.

Então, topei o convite pra criar o logotipo da se leção brasileira de skate, e, mais uma vez junto com a Mari, assinamos como Petit Pois Studio pra criar o emblema.

Nossa ideia foi usar folhas de bananeira contor nando e adornando o skate. Apesar da banana não ter origem brasileira, é a fruta mais popular do Brasil. Carrega nossas cores — vai do verde ao amarelo quando se torna madura —, possui um va lor nutricional alto que ajuda no desempenho de atividades físicas, são versáteis pra comer, pro preparo de doces e salgados, e também uma grande aliada dos atletas com cãibras. Além de tudo isso, como são facilmente encontradas em qualquer lu gar do país, fazem uma analogia à quantidade de skatistas que brotam, mesmo sem muita estrutura, em todos os cantos do país.

While Bob (Burnquist) was still president of CBSK, he wrote to me saying that they needed a logo for the Brazilian skateboard team, as skateboarding had recently been included in the Olympics.

Despite all the controversy generated around this inclusion in the Olympics, not only was I hono red by the invitation, but I think that, in a way, this is a movement that is part of the trajectory of skateboarding. Subversive skateboarding will never cease to exist, much less the entire cultu re and lifestyle that are the basis of this uni verse of ours.

During skateboarding debut in 2021, more than the sports issue and competition, this was one of the things that most called people’s attention: the diversity of styles and profiles of competitors, as well as the mentality and attitude of skaters who competed and subverted the competitive cli mate of the vast majority of sports, by suppor ting each other, cheering for the others to push the level of the round. It blew people’s minds who didn’t understand how someone representing a cou ntry celebrated the successes of their opponents.

So, I accepted the invitation to create the logo of the Brazilian skate team, and once again toge ther with Mari, we signed as Petit Pois Studio to create the emblem.

Our idea was to use banana leaves around and adorning a skateboard. Although the banana isn’t originally Brazilian, it’s the most popular fruit in the country. It carries our colors — it goes from green to yellow when it becomes mature — it has a high nutritional value that helps in the performance of physical activities, they’re versa tile for eating, for the preparation of sweets and snacks, and also a great ally for athletes with cramps. In addition to all this, as they’re easily found anywhere around, they make an analogy to the number of skaters that spring up, even without much structure, in all corners of Brazil.

382 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 97
383 CAPÍTULO 97

MEU SHAPE, MINHAS REGRAS

MY BOARD, MY RULES

Relembrar o antigo sonho de ver skatistas andando com shapes que eu tinha desenhado, sempre me fez imaginar como seria se na minha infância eu ti vesse tido a oportunidade de ter uma vivência com alguém que já tivesse trilhado esse caminho antes.

Há alguns anos, comecei a dar oficinas de arte e escolhi o shape como suporte. Dei a esse projeto o nome de “Meu shape, minhas regras”. É uma ativi dade lúdica que faço com crianças a partir dos 4 anos até adolescentes, em que explico a importân cia do pro model na vida de um skatista que pas sa da categoria amador pra profissional e convi do os alunos a imaginar como gostariam que fosse seu shape.

A criação normalmente é feita em cima de um sha pe cru: uma versão decorativa com três camadas de madeira (ao invés das sete de praxe), que pode ser pendurado na parede, ou, simplesmente, com cartolinas cortadas no mesmo formato em tama nho real, quando não temos viabilidade pra ver são em madeira.

Na maioria das vezes, os alunos são crianças, e muitas meninas sempre participam. No processo, elas pensam quais são os elementos que as repre sentam, as cores, criam composições, experimentam materiais, normalmente passeiam pra ver o que os outros amigos estão criando, olham referências que levo e assumem o protagonismo da criação. Elas se sentem valorizadas e visibilizadas ao termi nar, com o gostinho da conquista do seu primeiro pro model em mãos!

Parece corriqueiro, mas muitas crianças dessa ge ração de telas têm pouca ou nenhuma oportunidade de estar em contato com diferentes canetas, tin tas, stencil, pincel, lápis e apontador. Ou sequer possuem essa pegada e o controle fino pra segurar uma caneta ou um pincel. Sendo assim, mais do que nunca percebo a importância desse tipo de ativi dade. E assim a semente vai sendo plantada.

Remembering the old dream of seeing skaters ri ding boards I had designed, always made me imagi ne what it’d be like if in my childhood I had had the opportunity to have an experience with someo ne who had walked this path before.

A few years ago, I started offering art workshops and chose decks as support. I named this project “My board, my rules”. It’s a fun activity that I do with children who are mostly 4 years old up or teenagers, in which I explain the importance of the pro model in the life of a skater who goes from the amateur to professional category and invite students to imagine how they’d like their deck to be.

The creation’s usually made on a raw deck: a deco rative version with three ply of wood (instead of the usual seven), which can be hung on the wall, or simply with cardboard cut in the same life-si ze format, when we don’t have the possibility for a wooden version.

Most of the time, the students are children, and many girls always participate. In the pro cess, they think about the elements that repre sent them, the colors, create compositions, ex periment with materials, usually walk around to see what other kids are creating, look at referen ces I take with me and assume the leading role in creation. They feel valued and visible when they finish, with the taste of conquering their first “pro model” in hand!

It seems commonplace, but many children of this generation of screens have little or no opportu nity to be in contact with different pens, inks, stencils, brushes, pencils and sharpeners. Or they don’t even have that grip and fine control to hold a pen or brush. Therefore, more than ever I reali ze the importance of this type of activity. And so a seed is being planted.

384 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 98
385 CAPÍTULO 98

DIABO VERDE DO PAULINHO CORUJA

Apesar do rap e do hardcore serem dois gêneros musicais que sempre estiveram presentes no uni verso do skate e no meu gosto musical, curio samente a maioria dos projetos que fiz foi pra artistas do rap. Foi um caminho que aconteceu na turalmente, mas que, muitas vezes, me fez sentir falta de pegar projetos pra bandas de hardcore ou outros gêneros (apesar de já ter feito trabalhos pelo Petit Pois Studio pra, por exemplo, Erasmo Carlos e Lenine).

Um projeto que me marcou muito, por vários moti vos, foi o Losar, da Diabo Verde, banda de hardcore originária da Zona Norte do Rio e liderada pelo Paulinho “Coruja”, que, além de vocalista, é tam bém radialista e barbeiro dos bons.

Fui apresentado pro Paulinho em um aniversário do (Thiago) “Magoo”, e foi um daqueles casos que um grande amigo te apresenta alguém que se tor na outro grande amigo. Aconteceu o mesmo com o (Marcelo) Yuka, a quem eu apresentei ao Magoo e os dois também ficaram muito amigos. Como falei na introdução desse livro, todos esses projetos e artes publicados aqui foram costurados por pon tes que deram muitos frutos. Frutos que não te riam nascido não fosse a vontade maior de cons truir pontes genuínas. E, pra mim, não tem nada mais valioso que uma relação legítima.

Ainda em 2019, Paulinho me falou que a banda es tava gravando material novo e gostaria muito que eu assinasse a arte do disco. Fiquei com mais von tade ainda de abraçar essa missão quando ele me contou que seria um EP com quatro faixas que, jun tas, contavam uma história inspirada na trajetó ria de vida do Yuka¹, um grande amigo meu e do Paulinho.

O título do disco, Losar, se refere ao ano novo tibetano (outra referência a Yuka, que era budis ta). Criei toda a arte baseada em elementos e co res dessa filosofia. A capa traz uma figura ins pirada em Nataraja, representação do deus hindu Shiva, porém com o rosto de Yuka.

O álbum foi lançado em junho de 2020, quando a pandemia já tinha começado e ainda não havia nem sinal de vacina contra a Covid-19. Pouco antes da data do lançamento, a banda fez algumas li ves apresentando as quatro faixas do disco e con versando com os fãs. Meses depois, veio a notícia: Paulinho foi infectado, foi pra UTI, ficou 63 dias internado, sendo 42 dias em coma e três vezes em ECMO (pulmão artificial). Foi muito angustiante receber os boletins diários do seu estado de saú de. Um caso muitíssimo grave, que lhe deu o apeli do de “Milagre” pela equipe médica. Nem consigo traduzir a emoção quando vi as imagens dele vol tando pra casa, pra família, companheira e seus três filhos.

Apesar de, por defesa, termos vontade de esque cer ou de diminuir os impactos de tudo que acon teceu durante essa pandemia, acredito que seja um período da história humana importante pra repen sarmos muita coisa.

386 PORTUGUÊS
ENGLISH
CAPÍTULO 99
1.MÚSICO, COMPOSITOR, POETA, PINTOR E ATIVISTA, FALECEU AOS 53 ANOS EM 18 DE JANEIRO DE 2019. FIGURA MUITO IMPORTANTE PRA CULTURA BRASILEIRA E UM GRANDE PENSADOR DA ATUALIDADE.
387 CAPÍTULO 99

PAULINHO CORUJA’S DIABO VERDE

Although rap and hardcore are two musical gen res that have always been present in the world of skateboarding and in my musical taste, curiously most of the projects I did were for rap artists. It was a path that happened naturally, but that, many times, made me miss taking projects for hardco re bands or other genres (despite having already done projects at Petit Pois Studio, for example, for great brazilian singers like Erasmo Carlos and Lenine).

A project that impressed me a lot, for several reasons, was Losar, from Diabo Verde, a hardco re band from the North side of Rio and led by Paulinho “Coruja” (“Owl”), who, besides being a vocalist, is also a radio presenter and a good barber.

I was introduced to Paulinho on (Thiago) “Magoo’s birthday, and it was one of those cases where a great friend introduces you to someone who beco mes another great friend. The same happened with (Marcelo) Yuka, whom I introduced to Magoo and the two also became close friends. As I said in the introduction, all these projects and arts pu blished here were stitched together by bridges that have borne much fruit. Fruits that wouldn’t have been born, but there was a greater desire to build genuine bridges. And for me, there’s nothing more valuable than a legitimate relationship.

Still in 2019, Paulinho told me that the band was recording new material and would really like me to design the album artwork. I was even more wil ling to embrace this mission when he told me that it’d be an EP with four tracks that, together, told a story inspired by the life trajectory of Yuka¹, a great friend of mine and Paulinho.

The album’s title, Losar, refers to the Tibetan New Year (another reference to Yuka, who was a Buddhist). I created all the art based on elements and colors of this philosophy. The cover features a figure inspired by Nataraja, a representation of the Hindu god Shiva, but with the face of Yuka.

The album was released in June 2020, when the pan demic had already started and there was still no sign of a vaccine against Covid-19. Shortly befo re the release date, the band did some lives pre senting the four tracks of the album and tal king to the fans. Months later, the bad news came: Paulinho was infected, went to the ICU, was hos pitalized for 63 days, 42 days in a coma and three times in ECMO (artificial lung). It was very dis tressing to receive the daily health reports. A very serious case, which gave him the nickname “Miracle” by the medical team. I can’t even ex press the emotion when I saw the images of him returning home, to his family, wife and his three children.

Although, for defense, we want to forget or redu ce the impacts of everything that happened during this pandemic, I believe that it’s an important period in human history for us to rethink a lot.

1.MUSICIAN, COMPOSER, POET, PAINTER AND ACTIVIST, DIED AT THE AGE OF 53 ON JANUARY 18, 2019. A VERY IMPORTANT FIGURE FOR BRAZILIAN CULTURE AND A GREAT THINKER TODAY.

388
ENGLISH
CAPÍTULO 99
389 CAPÍTULO 99

YUKA VIVE!

Yuka era um contador de histórias dos melhores que já conheci. Tinha um apreço grande por contar histórias com um tom de derrota, como a vez que pagou a passagem de ônibus só com moedas de um e de cinco centavos, e o trocador ficou revoltado, jogando todas as moedas de um centavo pela jane la. Era um cara engraçado demais, irônico e muito sensível, por mais que tivesse uma cara de invo cado nas fotos de divulgação. No YouTube, tem uma entrevista no programa do Jô Soares com O Rappa, banda que ele foi baterista, em que ele conta al gumas histórias e é engraçado demais.

Conheci Marcelo Yuka no tal show do De Leve, no Tim Festival, que fiz participação em 2004. Um tempo depois comecei a frequentar sua casa, aqui na Tijuca, frequentada por muitos amigos e um lu gar de encontros improváveis e interessantíssi mos. Todo mundo que ia lá brincava que o lugar era o portal pra uma outra dimensão, que a gente en trava e perdia a noção do tempo. Várias vezes saí de madrugada de lá achando que era bem mais cedo.

Numa dessas noites, por exemplo, cheguei lá e es tavam em seu quarto só ele e Paulo Lins, autor de Cidade de Deus. Ficamos horas conversando, Paulo me contou curiosidades sobre o livro, saímos de madrugada e acabei dando carona pra ele.

Em 2010, Yuka convidou eu e Marcelo Ment pra pin tarmos a fachada da casa dele. Pedimos que tives se um andaime montado, ele disse que estava “tudo no esquema” e que uns amigos italianos iriam es tar no dia pra preparar um almoço. Levei o Magoo junto comigo (foi, inclusive, o dia em que os dois se conheceram). Ao chegarmos não tinha nenhum an daime montado, apenas um pessoal que trabalha va na casa começando a montar um andaime bambo, muito suspeito. Ment e eu, no auge da juventude, topamos a missão e subimos que nem macacos na es trutura sacolejante. Ainda colocamos sobre o úl timo nível do tal andaime uma escada escorada no paredão da casa. Em uma das fotos aqui no livro dá pra ver Ment segurando a escada e eu lá no alto, com todos os quesitos de insegurança marcados!

Pintamos o lado esquerdo de um boombox, já que a estrutura não pôde chegar ao lado direito do paredão por conta do canil que impedia o aces so. Durante a pintura, Yuka ficou junto de nós no pátio, conversando e falando besteira, como, por exemplo, a frase que nunca mais vou esquecer na vida: “Motta, cuidado pra não cair daí e ficar que nem eu na cadeira de rodas!”. Piada tenebrosa, mas totalmente compreensível pra quem conheceu pes soalmente o humor dessa peça-rara. O tal andaime

390 PORTUGUÊS
CAPÍTULO 100
*É UMA CONDIÇÃO DE RESPOSTA EXAGERADA A UMA INFECÇÃO NO CORPO CAUSADA POR BACTÉRIAS, VÍRUS OU FUNGOS. PODE CAUSAR UMA SÉRIE DE ALTERAÇÕES QUE DANIFICAM DIVERSOS SISTEMAS DE ÓRGÃOS, LEVANDO-OS A FALHAR E, ÀS VEZES, RESULTANDO EM MORTE.

pra finalizarmos o lado direito da pintura nunca foi instalado, e, por anos, o boombox mono perma neceu lá. A tinta começou a perder a saturação, e a fachada foi pintada de cinza, permanecendo até hoje somente o tape-deck que desenhei na jane la de seu estúdio Observatório de Ecos, reativado recentemente por seu irmão caçula Pedro.

Yuka era um amigo que eu gostava muito de encon trar, conversar e rir, apesar de todas as dores e desafios que enfrentava diariamente após o assal to que deixou ele numa cadeira de rodas. Além de ser um grande pensador da atualidade, um críti co sagaz e de uma criatividade incansável. Pouco antes de partir, fomos vê-lo em um show inesque cível no Circo Voador, após meses de internação e uma septicemia¹. Uma verdadeira fênix.

Foi triste me despedir de um grande ser humano como ele e um amigo tão querido. Até o seu veló rio, na Sala Cecília Meireles (uma sala de concer tos localizada no bairro da Lapa), não teve nada de trivial. Foi lugar de reencontros e de relem brar suas histórias. Artistas, ativistas, produto res, moradores de rua, bêbados da Lapa pararam e prestaram sua homenagem, cantaram suas músicas.

Por isso, não me canso de fazer homenagens sin ceras a ele e, in memoriam, não poderia terminar esse livro sem dizer a figura importante que foi em minha trajetória.

Um brinde às conexões da vida! Marcelo Yuka vive!

391
CAPÍTULO 100

YUKA LIVES!

On one of those nights, for example, I got there and it was just him and Paulo Lins, author of City of God, in his room. We spent hours talking, Paulo told me facts about the book, we went out at dawn and I ended up giving him a ride home.

Yuka was one of the best storytellers I’ve ever met. He was very fond of telling stories with a tone of defeat, like the time he paid for his bus fare with only pennies and five cents, and the driver got pissed off, throwing all the pennies out the window. He was a very funny guy, ironic and very sensitive, even though he had a grumpy face in the publicity photos. On YouTube, there’s an interview on Jô Soares’ tv show with O Rappa, a band he was drummer, in which he tells stories and is so damn funny.

I met Marcelo Yuka at De Leve’s concert at Tim Festival, that I participated in, in 2004. A while later I started going to his house, here in Tijuca, as many friends did, and it was a place of unlikely and very interesting encounters. Everyone who went there joked that the place was the portal to another dimension, that we entered and lost track of time. Several times I left there at dawn thin king it was much earlier.

In 2010, Yuka invited Marcelo Ment and I to paint the façade of his house. We asked him to have a scaffold set up, he said that “everything was in order” and that some Italian friends would be there to prepare lunch. I took Magoo along with me (it was, by the way, the day the two met). When we arrived, there was no scaffolding set up, only people working in the house starting to assemb le a wobbly scaffolding, very sketchy. Ment and I, in the prime of our youth, took to the mission and climbed like monkeys on the bouncing structure. We also placed a ladder on the top of the scaf folding that was anchored to the wall of the hou se. In one of the photos here in the book, you can see Ment holding the ladder and see me at the top, with all the unsafety issues ckecked.!

392
ENGLISH
CAPÍTULO 100
*IT IS A CONDITION OF EXAGGERATED RESPONSE TO AN INFECTION IN THE BODY CAUSED BY BACTERIA, VIRUSES OR FUNGI. IT CAN CAUSE A SERIES OF CHANGES THAT DAMAGE VARIOUS ORGAN SYSTEMS, CAUSING THEM TO FAIL AND SOMETIMES RESULTING IN DEATH.

We painted the left side of a boombox, as the structure couldn’t reach the right side of the wall because of the kennel that prevented access. During the painting, Yuka stayed with us on the patio, chatting and talking shit, like the war ning I’ll never forget in my life: “Motta, be care ful not to fall out of there and get like me in a wheelchair!”. Bad joke, but totally understandable for anyone who has personally known the humor of this rare guy. The scaffolding to finish the right side of the painting was never installed, and for years, the mono boombox remained there. The paint began to lose its saturation, and the façade was painted gray, remaining to this day only the ta pe-deck that I drew in the window of his Echo Observatory’s studio, recently reactivated by his younger brother Pedro.

Yuka was a friend I really enjoyed meeting, tal king to and laughing with, despite all the pain and challenges he faced daily after the assault that left him in a wheelchair. In addition to being a great thinker of our time, a sagacious critic with a tireless creativity. Just before lea ving, we went to see him at an unforgettable con cert at Circo Voador, after months of hospitali zation and septicemia¹. A true phoenix.

It was sad to say goodbye to a great human being like him and such a dear friend. Even his wake, at Sala Cecília Meireles (a concert hall located in Lapa neighborhood, downtown Rio), was anything but trivial. It was a place of reunions and of re membering his stories. Artists, activists, produ cers, homeless people, drunks from Lapa stopped and paid their respects, sang his songs.

For that reason, I never tire of making sincere tributes to him and, in memoriam, I couldn’t fi nish this book without mentioning the important figure that he was in my trajectory.

A toast to life’s connections! Marcelo Yuka lives!

393
CAPÍTULO 100
394 CAPÍTULO 100
395 CAPÍTULO 100
396 CAPÍTULO 100
397 CAPÍTULO 100

A Lagartixa Rosa e o dragão integrados, como po los opostos e complementares formando o Yin e Yang estilizado marcam o fechamento desse pro cesso intenso que foi escrever e conceber esse li vro. Inicialmente pensado para ter 200 páginas, 50 capítulos e alguns depoimentos, ele dobrou! se tornou uma publicação de 400 páginas, com 100 ca pítulos e mais de 40 depoimentos. Ainda assim é um recorte, mas também a realização de um sonho. Não à toa esse foi realmente o último layout a ser criado, cheio de significado, pra fechar o livro com o mesmo cuidado e amor que iniciei, e imen samente grato.

The pink gecko and the dragon integrated, as opposite and complementary poles forming the stylized Yin and Yang, mark the closing of this intense process that was to write and conceive this book. Initially thought to have 200 pages, 50 chapters and a few testimonials, it doubled! Became a 400-page publication, with 100 chapters and over 40 testimonials. Even so, it’s a cutout, but also the realization of a dream. No won der this was really the last layout to be crea ted, full of meaning, to close the book with the same care and love that I started, and immensely grateful.

398

AGRADECIMENTOS

Essa parte de agradecimentos é quase tão cruel quanto uma lista de convidados de casamento! Então vou ser breve e simplificar, pra não virar algo parecido com as listas de agradecimentos de encartes de rap. A vontade de agradecer pessoa por pessoa é enorme, mas detestaria correr o risco de esquecer de pessoas importantes na minha traje tória até aqui. Então, muito obrigado:

À minha companheira de vida Marianna Cersosimo, por ser figura fundamental pra que esse livro/ sonho se tornasse uma realidade e por estar jun to não só nos momentos bons, mas principalmente nos momentos difíceis; a todo o time da Vista Lab por acreditarem nesse projeto e colocarem tan to empenho em chegar até o formato físico; aos meus pais, Jorge e Tereza e meu irmão Gabitto, por sempre me darem tanto amor mesmo que muitas ve zes pensarem diferente de mim em alguns aspectos; à minha família paterna (Motta) e minha famí lia materna (Pradela Expósito) por sempre me tra tarem com tanto carinho; aos meus sogros e toda família paterna e materna de minha companhei ra Mari, por sempre me acolherem com tanto amor;; aos meus amigos e amigas que tenho muito orgulho e honra de ter conhecido nessa passagem; A Paola Martins pelo empenho em fazer a versão em inglês e Marton Merrit pela ajuda também nessa função; A Tatiana Furtado também pelo empenho na revisão ortográfica e de conteúdo; as pessoas que traba lham ou já trabalharam nas marcas com que já co laborei e em algum momento me ajudaram de algu ma maneira; a todos os tipos de artistas e pessoas que já me influenciaram de alguma maneira ao lon go da minha vida; a você que leu esse livro e se interessou por minha história; aos que propagam o amor e lutam contra qualquer tipo de preconceito nesse mundo; ao skate por ter mudado minha vida!

Dedico esse livro à memória de pessoas mui to queridas que de alguma forma passaram em mi nha vida e deixaram uma marca em mim: Vó Marina, Vô Carlinhos, Vó Guiomar, Tia Nela, Ana Maria Cersosimo, Sr. Ademir, Fábio Kalunga, Jadson Brian, Marcelo Yuka, Adam Yauch e Petit Pois.

Amo vocês.

A todas as marcas patrocinadoras e apoiadoras que também fizeram esse projeto se tornar realidade:

Rider New Era Gordon's CBRN indústria e Confecção Crail trucks

A Firma IBL skateboards Posso! skateboards Silk Atelier Sticker Squid Uprise skateshop VISTA

400
PORTUGUÊS

ACKNOWLEDGEMENTS

Writing acknowledgements is almost as cruel as making a list of guests for a wedding ceremo ny! Then, I’m gonna keep it short and simple, so it doesn’t turn into something like an acknowl edgements list in the booklet of a rap album. The desire to thank person by person is huge, but I wouldn’t run the risk of forgetting important people in my path so far. So, thank you very much:

To my life partner Marianna Cersosimo, for being a fundamental figure for this book/dream to come true and for being together not only in good times, but especially in hard times; to the entire Vista Lab team for believing in this project and put ting so much effort into reaching the physical for mat; to my parents, Jorge and Tereza, and my broth er Gabitto, for always giving me so much love, even though they often think differently from me in some aspects; to my paternal family (Motta) and my ma ternal family (Pradela Expósito) for always treat ing me with so much affection; to my in-laws and all the paternal and maternal family of my part ner Mari for always welcoming me with so much love; to my friends that I’m very proud and honored to have met in this passage; to Paola Martins for her effort in making the English version and Marton Merrit for helping in this role as well; to Tatiana Furtado for her effort in the spelling and content review; to people who work or have worked in the brands I’ve collaborated with, and, at some point, also helped me in some way; to all kinds of art ists and people who have influenced me in some way throughout my life; to you who read this book and were interested in my story; to those who spread love and fight against any kind of prejudice in this world; to skateboarding for having changed my life!

I dedicate this book to the memory of very dear people who somehow were present in my life and left a mark on me: Gradma Marina, Grandpa Carlinhos, Grandma Guiomar, Auntie Nela, Ana Maria Cersosimo, Mr. Ademir, Fábio Kalunga, Jadson Brian, Marcelo Yuka, Adam Yauch and Petit Pois.

I Love you.

to all the sponsoring and supporting brands that were also part of this project helping it come true:

Rider New Era Gordon's CBRN indústria e Confecção Crail trucks A Firma IBL skateboards Posso! skateboards Silk Atelier Sticker Squid Uprise skateshop VISTA

401
ENGLISH

Esta obra foi composta por Frederico Antunes em Cartograph Sans e Mono de Connary Fagen & Rodger de Mark Butchko e impressa pela gráfica Coan sobre papel couche fosco para o autor.

402
403
404 9786599866418 ISBN 978-65-998664-1-8

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.